Só Ela Nos Pode Valer!
Transcrição
Só Ela Nos Pode Valer!
APÊNDICE II O Embuste do Golfo de Tonkin Eis o que Charle Goyette escreveu sobre o Incidente do Golfo de Tonkin – que haveria de ser o pretexto para a Guerra do Vietname – no seu livro Red and Blue and Broke All Over: “Muitas vezes se diz que a verdade é a primeira vítima de uma guerra. O embuste começa muitas vezes ainda antes de haver soldados a marchar e balas a voar. A 5 de Agosto de 1964, podia ler-se num título do Washington Post: ‘Aviões Americanos Dispararam sobre o Vietname do Norte Após 2.º Ataque aos Nossos Destroyers; Medida Tomada para Impedir Nova Agressão.’ “O incidente do Golfo de Tonkin que a História descreve consiste em dois eventos. A 2 de Agosto, fazendo parte de um programa chamado Operação Plano (OPLAN) 34A, Forças Especiais Americanas prestaram assistência às Forças do Vietname do Sul num ataque a uma estação de rádio norte-vietnamita, numa ilha ao largo da costa. O USS Maddox estava a manobrar em sincronia com esse ataque, como parte de uma campanha ‘oficiosa’ de pressão militar sobre o Norte, que estava em curso. “O Maddox entrou em combate contra três barcos PT do Vietname do Norte. Só quatro anos depois é que o Secretário da Defesa Robert Strange McNamara veio admitir, perante o Congresso, que houve barcos dos E.U.A. a participar em ataques do Vietname do Sul contra os norte-vietnamitas. “Atendendo às circunstâncias, o incidente de 2 de Agosto passou despercebido. Foi preciso um segundo incidente, a 4 de Agosto, para que o Presidente Johnson agarrasse nessa oportunidade para fazer a guerra. “Sem perder tempo, com uma eleição presidencial próxima, apenas dali a três meses, Johnson foi no mesmo dia à televisão nacional para descrever ao Povo Americano que ‘um certo número de navios inimigos atacou dois destroyers dos E.U.A. com torpedos.’ Johnson autorizou imediatamente raides aéreos sobre o Vietname do Norte. “Dois dias mais tarde, o Congresso aprovava a Resolução do Golfo de Tonkin, dando a Johnson o mesmo tipo de autoridade alargada – para usar de forças militares convencionais no Sudeste da Asia – que mais tarde seria dada a George W. Bush para fazer a guerra no Médio-Oriente. “Eis o modo como a revista Time relatou o ataque de 4 de Agosto contra o Vietname do Norte: “Através da escuridão, vindos do Oeste e do Sul, os intrusos apareceram, com ousadia. Eram seis, pelo menos, os navios de guerra Swatow de desenho Russo, armados com metralhadoras de 37mm e de 28mm, e P-4’s. Às 9:52 abriram fogo sobre os destroyers com armas automáticas, e desta vez apenas à distância de 2.000 jardas. A noite brilhava estranhamente com um clarão de pesadelo, com as luzes de sinal vindas do ar e os faróis de busca dos barcos. Dois dos barcos inimigos foram afundados. “É uma narrativa impressionante, e tão precisa que chega a descrever o calibre das metralhadoras e a hora exacta a que se deu o ataque. Uma excelente peça jornalística, excepto num pormenor: é que, tal como as histórias das armas de destruição em massa que não existiam no Iraque, isto também não era verdade. O segundo ataque contra o Maddox não aconteceu. “Bem antes de Johnson se ter dirigido à Nação, muitíssimo antes de ele ter autorizado um ataque aéreo de retaliação, o Capitão John Herrick, Comandante das Forças Especiais no Golfo de Tonkin, era avisado de que a totalidade do evento era ‘duvidosa.’ Rapidamente ele transmitiu por cabo as dúvidas que tinha aos seus superiores: ‘Estranhos efeitos do tempo no radar,’ ‘Homens do sonar entusiastas demais,’ ‘Não há um verdadeiro campo visual,’ ‘Sugiro avaliação completa antes de se avançar com qualquer outra acção.’ ‘Toda a acção deixa muitas dúvidas …’ “James Stockdale foi prisioneiro de guerra no Vietname do Norte e, depois de ter sido libertado, ascendeu até à patente de Almirante da Marinha. Mas, neste dia 4 de Agosto de 1964, ele era um Comandante da esquadrilha que voava sobre o Golfo de Tonkin, durante o ‘ataque que não aconteceu’. Ordenaram a Stockdale que se mantivesse calado a respeito do ataque-fantasma; mas após sete anos como PdG, ele pensou que a verdade era tão importante que merecia ser contada. “‘[Eu] assisti de camarote a esse evento, e os nossos destroyers estavam só a atirar a alvosfantasma — não havia ali quaisquer barcos PT. … Ali não havia nada, além das águas negras e do poder de fogo Americano.’ “Um ano após este ‘não-evento’, o Presidente Johnson dizia a Bill Moyers, Secretário para a imprensa: ‘-Por aquilo que sei, a nossa Marinha estava lá a disparar às baleias.’ “Um relatório da Agência de Segurança Nacional sobre o incidente do Golfo de Tonkin (que deixou de ser secreto em 2005) era explícito: ‘Não houve qualquer ataque naquela noite.’ Segundo o New York Times, o relatório poderia ter sido publicado dois anos antes, mas havia oficiais que temiam que isso minasse os planos de Bush para a invasão do Iraque.”1 1 Charles Goyette, Red and Blue and Broke All Over, Sentinel HC, 2012.