rotas de sonho - Mercedes-Benz

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rotas de sonho - Mercedes-Benz
rotas de sonho
Em terras
de dragões
texto heiner uber
fotos dirk eisermann
Hoan Kiem, Dzay e Dzao, Song Hong, Halong e Nguyen Hai – estes são
alguns dos locais e tribos que conhecerá se viajar pelo norte do Vietname.
Poderá também visitar um teatro dentro de água, viajar até ao submundo
e ouvir as histórias do dragão no céu.
Sa Pa
W
Hanói
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Halong
Ninh Binh
> Montanhas e planícies
elevadas marcam a paisagem do
Vietname. A atmosfera rural perto das
fronteiras de Laos e da China lembra os
Alpes. A capital, Hanói, está situada
na planície do delta do Rio Vermelho.
China
Hanói
Burma
•
Laos
Mar da China
Oriental
Tailândia
V
ie
t
n
am
e
Camboja
P
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oucas rotas no mundo se comparam com esta. Por
toda a viagem, a água é sempre o denominador em comum.
O cenário é incrível: vilas flutuantes, marionetas na água,
búfalos e figuras míticas vivem por detrás de quedas de
água. Em particular, um colossal dragão.
A viagem começa em Sa Pa, uma pequena aldeia montanhosa na parte mais a norte do Vietname, a menos de 40
km da fronteira chinesa. Durante a noite, ocorreu uma espectacular tempestade – com trovões, relâmpagos e chuvas torrenciais que só se podem ver nos trópicos. Os habitantes são membros do H’Mong, uma tribo das montanhas
que vive em meia dúzia de aldeias. No próximo vale estão
os Dzao, e no seguinte, os Dzay. Cada grupo tem a sua
própria língua e roupa típica, mas todos acreditam que o
responsável pelos brilhantes relâmpagos e pelos trovões
ensurdecedores é um enorme dragão, que habita na bruma que envolve os picos da montanha. Portanto, a trovoada deve-se ao rugido desse animal.
Reza a lenda que, há muitos anos, o dragão teve uma
acesa discussão com uma linda fada acerca do que se deveria fazer à água que descia pelas íngremes montanhas e
chegava às aldeias. Enquanto o dragão pretendia criar um
lago para que a população tivesse água potável, a fada
queria uma cascata cujas águas puras limpassem para
Os picos cársticos elevam-se
no horizonte.
> Enormes falésias:
na Baía de Halong,
os pescadores vivem
na água.
sempre o espírito e a alma daqueles que nela se banhassem. Não chegaram a um acordo e é por isso que existe um
lago e uma cascata nas colinas de Sa Pa. “Thai Bac” (Braçadeira de Prata em Água) é o nome dado pelos H’Mong à
queda de água, que parece emergir das nuvens antes de
descer centenas de metros por uma parede de rochas.
Os colonialistas franceses na Indochina (tal como se
chamava antigamente) eram grandes apreciadores do ar
puro da montanha. Nos meses quentes fugiam do clima
>
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húmido de Hanói e subiam até às residências de Verão,
que se localizavam a centenas de quilómetros. Sa Pa cresceu rapidamente e converteu-se numa pequena vila com
inúmeras casas de campo em estilo colonial. Os franceses
distraíam-se a caçar ursos e tigres nas aldeias vizinhas,
até os animais serem extintos.
Seguimos o percurso que conduz à cascata prateada.
Nas encostas foram esculpidos pequenos socalcos para
cultivar arroz e milho. A cascata arrasta areia e barro e,
no processo, torna a água barrenta. Une-se a ribeiros e ria-
> Herança colonial:
os ministérios estão
sedeados em
palácios antigos.
< Herança cultural:
a tribo H’Mong tem
a sua própria língua
e indumentária.
A viçosa vegetação brilha
resplandecente ao sol.
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chos e abre um enorme leito na aldeia seguinte, rugindo
sobre os rápidos e terminando num largo rio a quem deram o nome de Song Hong (Rio Vermelho), devido à sua
cor. As florestas dão lugar a plantações de banana e os
estreitos socalcos a grandes campos de arroz. A viçosa
vegetação brilha ao sol, como se a clorofila tivesse sido
inventada nesta parte do mundo. Só há uma palavra para
descrever a vegetação: exuberante!
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scondidas por detrás dos troncos maciços das árvores e das folhas largas das bananeiras, podemos
ver ocasionalmente casas tropicais em madeira de lei, colocadas em palafitas, com telhados cobertos de folhas de
palmeira. Numa destas residências vive Tran Ngoc Na, um
homem de cabelo grisalho com corte militar, de sorriso no
rosto e olhos brilhantes. Ao contrário de muitos vietnamitas mais velhos, ele não fala francês, nem aprendeu inglês
como a geração mais jovem. Mas, com a ajuda de sons, expressões e gestos, consegue relatar pormenores acerca da
sua vivência e filosofia de vida.
Com uma combinação de dedos, Tran Ngoc Na diz-nos
que anda na casa dos 60 anos. Retira de um armário uma
fotografia e uma pequena caixa, que nos contam a história
da sua vida. O retrato apresenta-o com a farda de oficial do
exército do Vietname do Norte. A caixa contém as medalhas vermelhas e douradas, com que foi distinguido durante a guerra.
“Bang-bang-bang-Americaan”, declara, com os braços
a simularem que tem uma arma e que está a dar tiros. É o
suficiente para percebermos o que fazia há 40 anos.
“Bang-bang-bang-Vietnaam”, diz de novo, repetindo os
gestos para representar os americanos. E depois adopta
uma postura de desalento, para mostrar como a guerra foi
terrível e dolorosa. Aponta para o coração e faz um gesto
de dar e receber. Bang-bang-bang e coloca os polegares
E
>
< Herança natural:
o Vietname é o “prato
de arroz” da Ásia,
pois possui milhares
de campos em
socalcos.
< Herança tradicional:
o cenário é dominado por riquexós
vermelhos e barraquinhas que
vendem artefactos coloridos.
para baixo. Depois, aponta-os para cima e leva novamente
as mãos ao peito. Durante os terríveis anos de napalm,
granadas e minas, Tran Ngoc Na aprendeu que a paz é
melhor que a guerra.
Antes do Song Hong (agora um grande rio) chegar a
Hanói e ao seu delta, viramos à direita em direcção a uma
paisagem plana, que parece uma vila infindável ao longo
de uma estrada repleta de comerciantes. As mulheres acenam-nos de banquinhas feitas de bambu, onde vendem
ananases, bananas e melancias. Mesmo ao lado, há pequenas lojas com praticamente tudo, desde CD a armadilhas
Inúmeros comerciantes
ocupam a estrada.
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para peixes. Depois, encontra-se um pequeno mercado
> Entrada para um
com imensos vasos kitsch da dinastia Ming e, logo a reino de contemplação:
o templo no Parque
seguir, barracas para a reparação de motos e camiões.
Nacional Tam Coc,
Vende-se de tudo – desde ventoinhas a impermeáveis para
perto de Ninh Binh.
a chuva. Entre a estrada e uma casa, deparamo-nos com
um grande espelho e uma cadeira. Trata-se de uma barbearia ao ar livre, montada à sombra de uma árvore de
manga. Enquanto aguardam a sua vez, os clientes conversam sobre a actualidade e o preço do arroz. Falam de
decisões políticas e de grandes penalidades falhadas.
Os vietnamitas são, logo a seguir aos brasileiros, os maiores apaixonados por futebol.
um percurso de 200 km cruzamo-nos com chuva, capas, vasos, campos de arroz, ventoinhas, ananases,
pessoas, etc. Concluímos também que a buzina é um dos
elementos mais importantes de um veículo, no Vietname.
Serve de aviso, ajuda a desimpedir a estrada e é uma forma de auto-afirmação. Apito, logo existo.
A próxima etapa da viagem leva-nos até Ninh Binh,
uma província perto do Golfo de Tonkin. A vila em si não
é nada de especial, mas os arredores são de cortar a respiração. O Parque Nacional Tam Coc tem uma das mais espectaculares paisagens do sudoeste asiático. Local de eleição
para pescadores com barquinhos achatados, chamados
thuyen, o rio Ngo Dong corre num cenário primitivo onde
falésias vertiginosas fazem sombra à floresta de bambu.
Recomenda-se aos visitantes que aluguem um thuyen, normalmente conduzido por um local, que os leva a duas grutas esculpidas pelo rio nos penhascos. É uma experiência
estranha: sozinhos, no escuro, ouvindo apenas o som dos
remos a chapinhar na água. Quando finalmente voltamos
à luz do dia, o barco pára em frente a uns degraus que dão
acesso a umas grutas. Guardadas por tigres em miniatura,
N
>
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< Tribos das montanhas:
as camponesas vestem-se
tradicionalmente.
> Marionetas
de água: esta tradição
quase que se perdeu
há 30 anos atrás.
< Lótus, orquídeas
e bananas: o Vietname
também é um país com
uma exuberante flora.
que aí foram talhados, estas cavernas albergam santuários, dedicados não só ao Buda, mas também a vários espíritos naturais.
O sistema cárstico estende-se por uns 300 km, desde
o Parque Nacional Tam Coc até à famosa Baía de Halong.
Os geólogos têm uma explicação simples para este extraordinário fenómeno natural: durante um período de
500 milhões de anos, as monções [vento sazonal associado
à alternância entre a estação seca e a estação das chuvas]
lavraram as falésias, com a erosão das pedras calcárias a
resultar em formas bizarras. A água do mar inundou os
vales e criou as paisagens que hoje se observam.
< Gigantes adormecidos:
escarpas cársticas parecem
dragões a dormir.
aspecto invulgar dos penhascos dá asas à imaginação: um parece um macaco; outro um cão; uma escarpa sugere um dedo a apontar para o céu; outra assemelha-se a uma tartaruga. Há ainda uma falésia que assume
a forma da cabeça de um dragão. A lenda conta que o
dragão veio do Hong Song (em Pa Sa, nas montanhas),
para ajudar os pescadores na sua luta contra os demónios.
Com um golpe de cauda, rachou a falésia ao meio, criando
as irregularidades. Quando mergulhou no mar, o animal
gerou uma onda tão grande que cobriu a terra, deixando
apenas expostas as falésias.
A UNESCO já atribuiu a esta paisagem mítica, o estatuto de Património Mundial. Uma área superior a 1.500
km2 e cerca de 2.000 penhascos cársticos erguem-se das
profundezas do mar, não havendo lugar para as cabanas
dos pescadores, que vivem em jangadas. As famosas aldeias
flutuantes do povo de Halong possuem tudo o que se encontra nas aldeias em terra – cães a ladrar, ervas aromáticas plantadas em cestas de bambu, uma escola e até um
banco funciona num pequeno barquinho.
Saímos deste milagre natural em direcção a um milagre económico. Apanhamos a auto-estrada de Halong para
dos negócios. Além de docente, ele é director de um dos
mais importantes templos confucionistas do sudoeste da
Ásia. Situado no coração de Hanói, o vasto Templo Van
Mieu de Literatura exibe grandes campos de lótus, bibliotecas antigas e salas de estudo, pátios espaçosos, portões
pintados de vermelho, lanternas cintilantes e pagodes com
nomes poéticos como “Santuário de Grande Sucesso” ou
“Santuário em Honra dos Pais de Confúcio”. As cristas dos
telhados estão decoradas com dragões, que protegem do
mal e representam força, vida longa e felicidade. Diz-se
que o Templo de Literatura, com mais de mil anos, é a mais
antiga universidade do Vietname – um local onde se estuda Filosofia, Ética, Astronomia e Feng Shui.
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a tranquilidade do templo passamos para a agitada
Hanói, a capital do Vietname e a segunda maior
metrópole. Tal como uma colmeia, a cidade trabalha noite e
dia ao som dos ciclomotores, motociclos e riquexós motorizados. A maioria circula à volta do lago Hoan Kiem, o centro
nevrálgico de Hanói. Os madrugadores encontram-se aí
para os seus exercícios de Tai Chi, os corredores chegam
mais tarde e, por fim, aparecem recém-casados para tirar
fotografias. Os noivos vestem-se irrepreensivelmente, como
se estivessem no papel de apresentadores de programas
televisivos, ao passo que as noivas parecem bonecas enfeitadas, com orquídeas no cabelo e vestidos de cores variadas, do branco ao vermelho, dignos de contos de fadas.
Em segundo plano, os retratos revelam as curvas graciosas de Huc Bridge (“Ponte do Sol Matinal”). A ponte, que
simboliza a felicidade futura, vai desde os bancos do lago
até a uma minúscula ilha. Nesse pequeno ilhéu instala-se
o Templo de Ngoc Son (“Montanha de Jade”), onde milhares
de paus de incenso se desfazem em recipientes guardados
por dragões, enquanto os vietnamitas – novos e velhos –
oferecem flores e fruta, curvando-se diante das imagens
dos sábios e das divindades.
O final da nossa viagem traz-nos de volta a dois temas
que nos acompanharam – água e dragões. Visitámos o
Teatro de Marionetas de Água Thang Long, que constitui
um exemplo de uma tradição cultural única, confinada sobretudo à zona norte do Vietname. O teatro de marionetas
é uma manifestação artística secular, que começou com os
camponeses que usavam o lago como palco. Na versão urbana, o palco é uma enseada com a dimensão de uma sala
de estar, onde actuam marionetas do tamanho de crianças,
a que os profissionais – por detrás da cortina e com água
até à cintura – dão vida, manipulando um complexo conjunto de alavancas. A actuação é acompanhada por duas
cantoras femininas e por uma pequena orquestra que nos
conta lendas vietnamitas. Vemos um espírito de água encantador, pescadores em duelos e eis que surge, finalmente, um poderoso dragão cuja cauda é capaz de dividir
montanhas ao meio. O argumento desta peça teatral parece-me familiar…
D
Informações de viagem
Viajar para o Vietname é fácil. Os mais velhos falam
francês, enquanto os mais jovens dominam o inglês.
Os vietnamitas gostam de conviver com estrangeiros
– é um país muito seguro. A rede viária é, em muitos
casos, semelhante à do Ocidente. A melhor altura
para viajar é entre Novembro e Abril, quando o tempo
está seco e as temperaturas agradáveis.
www.ticvietnam.com
Onde ficar
Victoria Sapa, Sa Pa, www.victoriahotels-asia.com
Uma luxuosa unidade hoteleira de estilo colonial
na orla da cidade.
A corrente prateada de água
mergulha nas profundezas.
Sofitel Legend Metropole, Hanói, www.sofitel.com
Um hotel de luxo construído em 1911, totalmente
remodelado. Graham Greene e Somerset Maugham
ficaram aqui hospedados.
Onde comer
Bobby Chinn, Hanói, www.bobbychinn.com
Elegante restaurante com uma sala independente,
para quem quiser fumar cachimbo de água.
Hanói, o que, não sendo uma viagem muito atractiva, não
deixa de ser fascinante. À esquerda e à direita, impõem-se
enormes outdoors luminosos a publicitar smartphones e
plasmas, o Vietcom Bank e a VietTell, a operadora nacional de telecomunicações.
“O Vietname será a próxima nação asiática a evidenciar-se”, antecipa Nguyen Hai. O magro professor de 60
anos, que lecciona Literatura e Filosofia, não é o tipo de
pessoa de quem se deva esperar uma análise do mundo
Cultura
Museu Ho-Cho-Minh, Hanói
Exibição da história recente do Vietname. A casa de IIo
Chi Minh e o mausoléu também recebem visitas.
Teatro Thang Long Water Puppet Theater, Hanói
www.thanglongwaterpuppet.org
< Ao sabor do vento:
quem não se mexe em
Hanói perde a pedalada.
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