rotas de sonho - Mercedes-Benz
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rotas de sonho Em terras de dragões texto heiner uber fotos dirk eisermann Hoan Kiem, Dzay e Dzao, Song Hong, Halong e Nguyen Hai – estes são alguns dos locais e tribos que conhecerá se viajar pelo norte do Vietname. Poderá também visitar um teatro dentro de água, viajar até ao submundo e ouvir as histórias do dragão no céu. Sa Pa W Hanói 14 Halong Ninh Binh > Montanhas e planícies elevadas marcam a paisagem do Vietname. A atmosfera rural perto das fronteiras de Laos e da China lembra os Alpes. A capital, Hanói, está situada na planície do delta do Rio Vermelho. China Hanói Burma • Laos Mar da China Oriental Tailândia V ie t n am e Camboja P 16 oucas rotas no mundo se comparam com esta. Por toda a viagem, a água é sempre o denominador em comum. O cenário é incrível: vilas flutuantes, marionetas na água, búfalos e figuras míticas vivem por detrás de quedas de água. Em particular, um colossal dragão. A viagem começa em Sa Pa, uma pequena aldeia montanhosa na parte mais a norte do Vietname, a menos de 40 km da fronteira chinesa. Durante a noite, ocorreu uma espectacular tempestade – com trovões, relâmpagos e chuvas torrenciais que só se podem ver nos trópicos. Os habitantes são membros do H’Mong, uma tribo das montanhas que vive em meia dúzia de aldeias. No próximo vale estão os Dzao, e no seguinte, os Dzay. Cada grupo tem a sua própria língua e roupa típica, mas todos acreditam que o responsável pelos brilhantes relâmpagos e pelos trovões ensurdecedores é um enorme dragão, que habita na bruma que envolve os picos da montanha. Portanto, a trovoada deve-se ao rugido desse animal. Reza a lenda que, há muitos anos, o dragão teve uma acesa discussão com uma linda fada acerca do que se deveria fazer à água que descia pelas íngremes montanhas e chegava às aldeias. Enquanto o dragão pretendia criar um lago para que a população tivesse água potável, a fada queria uma cascata cujas águas puras limpassem para Os picos cársticos elevam-se no horizonte. > Enormes falésias: na Baía de Halong, os pescadores vivem na água. sempre o espírito e a alma daqueles que nela se banhassem. Não chegaram a um acordo e é por isso que existe um lago e uma cascata nas colinas de Sa Pa. “Thai Bac” (Braçadeira de Prata em Água) é o nome dado pelos H’Mong à queda de água, que parece emergir das nuvens antes de descer centenas de metros por uma parede de rochas. Os colonialistas franceses na Indochina (tal como se chamava antigamente) eram grandes apreciadores do ar puro da montanha. Nos meses quentes fugiam do clima > 17 húmido de Hanói e subiam até às residências de Verão, que se localizavam a centenas de quilómetros. Sa Pa cresceu rapidamente e converteu-se numa pequena vila com inúmeras casas de campo em estilo colonial. Os franceses distraíam-se a caçar ursos e tigres nas aldeias vizinhas, até os animais serem extintos. Seguimos o percurso que conduz à cascata prateada. Nas encostas foram esculpidos pequenos socalcos para cultivar arroz e milho. A cascata arrasta areia e barro e, no processo, torna a água barrenta. Une-se a ribeiros e ria- > Herança colonial: os ministérios estão sedeados em palácios antigos. < Herança cultural: a tribo H’Mong tem a sua própria língua e indumentária. A viçosa vegetação brilha resplandecente ao sol. 18 chos e abre um enorme leito na aldeia seguinte, rugindo sobre os rápidos e terminando num largo rio a quem deram o nome de Song Hong (Rio Vermelho), devido à sua cor. As florestas dão lugar a plantações de banana e os estreitos socalcos a grandes campos de arroz. A viçosa vegetação brilha ao sol, como se a clorofila tivesse sido inventada nesta parte do mundo. Só há uma palavra para descrever a vegetação: exuberante! 19 scondidas por detrás dos troncos maciços das árvores e das folhas largas das bananeiras, podemos ver ocasionalmente casas tropicais em madeira de lei, colocadas em palafitas, com telhados cobertos de folhas de palmeira. Numa destas residências vive Tran Ngoc Na, um homem de cabelo grisalho com corte militar, de sorriso no rosto e olhos brilhantes. Ao contrário de muitos vietnamitas mais velhos, ele não fala francês, nem aprendeu inglês como a geração mais jovem. Mas, com a ajuda de sons, expressões e gestos, consegue relatar pormenores acerca da sua vivência e filosofia de vida. Com uma combinação de dedos, Tran Ngoc Na diz-nos que anda na casa dos 60 anos. Retira de um armário uma fotografia e uma pequena caixa, que nos contam a história da sua vida. O retrato apresenta-o com a farda de oficial do exército do Vietname do Norte. A caixa contém as medalhas vermelhas e douradas, com que foi distinguido durante a guerra. “Bang-bang-bang-Americaan”, declara, com os braços a simularem que tem uma arma e que está a dar tiros. É o suficiente para percebermos o que fazia há 40 anos. “Bang-bang-bang-Vietnaam”, diz de novo, repetindo os gestos para representar os americanos. E depois adopta uma postura de desalento, para mostrar como a guerra foi terrível e dolorosa. Aponta para o coração e faz um gesto de dar e receber. Bang-bang-bang e coloca os polegares E > < Herança natural: o Vietname é o “prato de arroz” da Ásia, pois possui milhares de campos em socalcos. < Herança tradicional: o cenário é dominado por riquexós vermelhos e barraquinhas que vendem artefactos coloridos. para baixo. Depois, aponta-os para cima e leva novamente as mãos ao peito. Durante os terríveis anos de napalm, granadas e minas, Tran Ngoc Na aprendeu que a paz é melhor que a guerra. Antes do Song Hong (agora um grande rio) chegar a Hanói e ao seu delta, viramos à direita em direcção a uma paisagem plana, que parece uma vila infindável ao longo de uma estrada repleta de comerciantes. As mulheres acenam-nos de banquinhas feitas de bambu, onde vendem ananases, bananas e melancias. Mesmo ao lado, há pequenas lojas com praticamente tudo, desde CD a armadilhas Inúmeros comerciantes ocupam a estrada. 20 para peixes. Depois, encontra-se um pequeno mercado > Entrada para um com imensos vasos kitsch da dinastia Ming e, logo a reino de contemplação: o templo no Parque seguir, barracas para a reparação de motos e camiões. Nacional Tam Coc, Vende-se de tudo – desde ventoinhas a impermeáveis para perto de Ninh Binh. a chuva. Entre a estrada e uma casa, deparamo-nos com um grande espelho e uma cadeira. Trata-se de uma barbearia ao ar livre, montada à sombra de uma árvore de manga. Enquanto aguardam a sua vez, os clientes conversam sobre a actualidade e o preço do arroz. Falam de decisões políticas e de grandes penalidades falhadas. Os vietnamitas são, logo a seguir aos brasileiros, os maiores apaixonados por futebol. um percurso de 200 km cruzamo-nos com chuva, capas, vasos, campos de arroz, ventoinhas, ananases, pessoas, etc. Concluímos também que a buzina é um dos elementos mais importantes de um veículo, no Vietname. Serve de aviso, ajuda a desimpedir a estrada e é uma forma de auto-afirmação. Apito, logo existo. A próxima etapa da viagem leva-nos até Ninh Binh, uma província perto do Golfo de Tonkin. A vila em si não é nada de especial, mas os arredores são de cortar a respiração. O Parque Nacional Tam Coc tem uma das mais espectaculares paisagens do sudoeste asiático. Local de eleição para pescadores com barquinhos achatados, chamados thuyen, o rio Ngo Dong corre num cenário primitivo onde falésias vertiginosas fazem sombra à floresta de bambu. Recomenda-se aos visitantes que aluguem um thuyen, normalmente conduzido por um local, que os leva a duas grutas esculpidas pelo rio nos penhascos. É uma experiência estranha: sozinhos, no escuro, ouvindo apenas o som dos remos a chapinhar na água. Quando finalmente voltamos à luz do dia, o barco pára em frente a uns degraus que dão acesso a umas grutas. Guardadas por tigres em miniatura, N > 21 < Tribos das montanhas: as camponesas vestem-se tradicionalmente. > Marionetas de água: esta tradição quase que se perdeu há 30 anos atrás. < Lótus, orquídeas e bananas: o Vietname também é um país com uma exuberante flora. que aí foram talhados, estas cavernas albergam santuários, dedicados não só ao Buda, mas também a vários espíritos naturais. O sistema cárstico estende-se por uns 300 km, desde o Parque Nacional Tam Coc até à famosa Baía de Halong. Os geólogos têm uma explicação simples para este extraordinário fenómeno natural: durante um período de 500 milhões de anos, as monções [vento sazonal associado à alternância entre a estação seca e a estação das chuvas] lavraram as falésias, com a erosão das pedras calcárias a resultar em formas bizarras. A água do mar inundou os vales e criou as paisagens que hoje se observam. < Gigantes adormecidos: escarpas cársticas parecem dragões a dormir. aspecto invulgar dos penhascos dá asas à imaginação: um parece um macaco; outro um cão; uma escarpa sugere um dedo a apontar para o céu; outra assemelha-se a uma tartaruga. Há ainda uma falésia que assume a forma da cabeça de um dragão. A lenda conta que o dragão veio do Hong Song (em Pa Sa, nas montanhas), para ajudar os pescadores na sua luta contra os demónios. Com um golpe de cauda, rachou a falésia ao meio, criando as irregularidades. Quando mergulhou no mar, o animal gerou uma onda tão grande que cobriu a terra, deixando apenas expostas as falésias. A UNESCO já atribuiu a esta paisagem mítica, o estatuto de Património Mundial. Uma área superior a 1.500 km2 e cerca de 2.000 penhascos cársticos erguem-se das profundezas do mar, não havendo lugar para as cabanas dos pescadores, que vivem em jangadas. As famosas aldeias flutuantes do povo de Halong possuem tudo o que se encontra nas aldeias em terra – cães a ladrar, ervas aromáticas plantadas em cestas de bambu, uma escola e até um banco funciona num pequeno barquinho. Saímos deste milagre natural em direcção a um milagre económico. Apanhamos a auto-estrada de Halong para dos negócios. Além de docente, ele é director de um dos mais importantes templos confucionistas do sudoeste da Ásia. Situado no coração de Hanói, o vasto Templo Van Mieu de Literatura exibe grandes campos de lótus, bibliotecas antigas e salas de estudo, pátios espaçosos, portões pintados de vermelho, lanternas cintilantes e pagodes com nomes poéticos como “Santuário de Grande Sucesso” ou “Santuário em Honra dos Pais de Confúcio”. As cristas dos telhados estão decoradas com dragões, que protegem do mal e representam força, vida longa e felicidade. Diz-se que o Templo de Literatura, com mais de mil anos, é a mais antiga universidade do Vietname – um local onde se estuda Filosofia, Ética, Astronomia e Feng Shui. O 22 a tranquilidade do templo passamos para a agitada Hanói, a capital do Vietname e a segunda maior metrópole. Tal como uma colmeia, a cidade trabalha noite e dia ao som dos ciclomotores, motociclos e riquexós motorizados. A maioria circula à volta do lago Hoan Kiem, o centro nevrálgico de Hanói. Os madrugadores encontram-se aí para os seus exercícios de Tai Chi, os corredores chegam mais tarde e, por fim, aparecem recém-casados para tirar fotografias. Os noivos vestem-se irrepreensivelmente, como se estivessem no papel de apresentadores de programas televisivos, ao passo que as noivas parecem bonecas enfeitadas, com orquídeas no cabelo e vestidos de cores variadas, do branco ao vermelho, dignos de contos de fadas. Em segundo plano, os retratos revelam as curvas graciosas de Huc Bridge (“Ponte do Sol Matinal”). A ponte, que simboliza a felicidade futura, vai desde os bancos do lago até a uma minúscula ilha. Nesse pequeno ilhéu instala-se o Templo de Ngoc Son (“Montanha de Jade”), onde milhares de paus de incenso se desfazem em recipientes guardados por dragões, enquanto os vietnamitas – novos e velhos – oferecem flores e fruta, curvando-se diante das imagens dos sábios e das divindades. O final da nossa viagem traz-nos de volta a dois temas que nos acompanharam – água e dragões. Visitámos o Teatro de Marionetas de Água Thang Long, que constitui um exemplo de uma tradição cultural única, confinada sobretudo à zona norte do Vietname. O teatro de marionetas é uma manifestação artística secular, que começou com os camponeses que usavam o lago como palco. Na versão urbana, o palco é uma enseada com a dimensão de uma sala de estar, onde actuam marionetas do tamanho de crianças, a que os profissionais – por detrás da cortina e com água até à cintura – dão vida, manipulando um complexo conjunto de alavancas. A actuação é acompanhada por duas cantoras femininas e por uma pequena orquestra que nos conta lendas vietnamitas. Vemos um espírito de água encantador, pescadores em duelos e eis que surge, finalmente, um poderoso dragão cuja cauda é capaz de dividir montanhas ao meio. O argumento desta peça teatral parece-me familiar… D Informações de viagem Viajar para o Vietname é fácil. Os mais velhos falam francês, enquanto os mais jovens dominam o inglês. Os vietnamitas gostam de conviver com estrangeiros – é um país muito seguro. A rede viária é, em muitos casos, semelhante à do Ocidente. A melhor altura para viajar é entre Novembro e Abril, quando o tempo está seco e as temperaturas agradáveis. www.ticvietnam.com Onde ficar Victoria Sapa, Sa Pa, www.victoriahotels-asia.com Uma luxuosa unidade hoteleira de estilo colonial na orla da cidade. A corrente prateada de água mergulha nas profundezas. Sofitel Legend Metropole, Hanói, www.sofitel.com Um hotel de luxo construído em 1911, totalmente remodelado. Graham Greene e Somerset Maugham ficaram aqui hospedados. Onde comer Bobby Chinn, Hanói, www.bobbychinn.com Elegante restaurante com uma sala independente, para quem quiser fumar cachimbo de água. Hanói, o que, não sendo uma viagem muito atractiva, não deixa de ser fascinante. À esquerda e à direita, impõem-se enormes outdoors luminosos a publicitar smartphones e plasmas, o Vietcom Bank e a VietTell, a operadora nacional de telecomunicações. “O Vietname será a próxima nação asiática a evidenciar-se”, antecipa Nguyen Hai. O magro professor de 60 anos, que lecciona Literatura e Filosofia, não é o tipo de pessoa de quem se deva esperar uma análise do mundo Cultura Museu Ho-Cho-Minh, Hanói Exibição da história recente do Vietname. A casa de IIo Chi Minh e o mausoléu também recebem visitas. Teatro Thang Long Water Puppet Theater, Hanói www.thanglongwaterpuppet.org < Ao sabor do vento: quem não se mexe em Hanói perde a pedalada. 23