Jornal Informativo

Transcrição

Jornal Informativo
APFT
Ano 5 Nº 1.215
Associação Paulista
de Fomento ao Turfe
Jornal
Informativo
Acesse nosso Website
www.apfturfe.com.br
QUINTA-FEIRA 13 DE JUNHO DE 2013
LAGARDÈRE E A REVOLUÇÃO DO TURFE
FRANCÊS
Google Images
Por Sergio Barcellos
Ele era engenheiro por formação, casado com
brasileira, agraciado com a Ordem do Cruzeiro do
Sul pelo governo do país, e construiu um império
industrial que incluía a Matra, empresas aeronáuticas,
de defesa, a tradicional editora Hachette, e vários outros
empreendimentos.
Google Images
Restless Kara
Jean-Luc Lagardère
Mas sua grande paixão sempre foram os cavalos
de corrida.
Em 1967, começou comprando uma potranca nos
leilões de Deauville , Reine des Sables, boa ganhadora,
que veio a se tornar avó de Restless Kara, vencedora do
Diana francês de 1988. Em 1969, adquiriu sua primeira
égua-mãe, Lutine, futura avó de Linamix, que ele instalou
em seu haras de Val Henry, na Normandia, criado em 1967.
Em 1981, após a morte de François Dupré,
incorporou o histórico Haras d’Ouilly a Val Henry. Sua
admiração pela criação d’Ouilly era tanta, que, em 1986,
adotou nas pistas as mesmas cores Dupré: cinza, boné
rosa.
Cerca de vinte anos depois de ter começado Val
Henry, em 1988, Jean-Luc Lagardère tornou-se o número
um dos criadores franceses, estatística que ele venceu
onze vezes. Em 1995, realizou, afinal, seu grande sonho
de éleveur: Linamix, ganhador clássico em 1990 (Poule
d’Essai des Poulains), produziu em seu primeiro ano
de monta a um outro vencedor de Grupo I, a excelente
milheira Miss Satamixa (Prix Jacques Le Marois, linha
reta, Deauville). Miss Satamixa foi o sinal de que seu pai,
construído inteiramente por Lagardère, iria se transformar
em um dos melhores reprodutores já nascidos e criados
em solo francês. Ao saber, chamam de sorte...
APFT - Jornal Informativo - 13/06/13 - Página 2 de 6
Google Images
2
“Meu único credo, e minha única certeza, é que as corridas
representam um fantástico capital. E este empreendimento
não somente pode ser redesenhado, como melhorado,
desde que falemos a mesma linguagem, e expressemos,
todos, a mesma inabalável vontade de mudar o atual estado
das coisas.”
E concluiu:
“Para isso, é fundamental que nos deixemos levar
pela mesma paixão em relação àquilo a quem, a partir
desse momento, desejamos servir: o turfe da França.”
Linamix
Quando indagado a respeito do tempo e dos
investimentos despendidos para consumar este sonho,
Lagardère explicou:
“Eu diria que é mais fácil ser o número um no campo
tecnológico, que ser o mesmo como criador de cavalos
de corrida. No domínio da tecnologia, os imponderáveis
são menores que na criação. Nesta, o trabalho de planejar
cuidadosamente os cruzamentos, e o sucesso que daí
pode eventualmente advir, resulta sempre de uma espécie
de delicado equilíbrio entre o fruto do que imaginamos
e daquilo que realmente ocorre. Refletir, observar, e
observando, poder repensar, é um excitante jogo de
paciência com a natureza.”
Dirigente e grande renovador do turfe francês
O ano de 1995, foi também o da eleição de JeanLuc Lagardère para comandar a France Galop, a entidade
máxima do turfe do país, que vivia, à época, uma de
suas maiores crises. Aos 67 anos, este homem calmo e
silencioso – sempre mais disposto a ouvir do que falar –,
mas um observador atento do que ocorria na atividade e
impedia seu desenvolvimento, disse em seu discurso de
posse:
“Não aceitei este mandato para gerir um declínio julgado
inexorável.”
Prosseguiu:
Foram cinco as grandes vertentes que perenizaram
a atividade, e produziram uma verdadeira revolução no
turfe do país:
1. Aproximar o turfe do estado francês, mostrando às
autoridades governamentais quão importante era: primeiro,
a geração de empregos e, segundo, o recolhimento de
impostos proporcionado pelas corridas de cavalo (hoje,
a atividade é responsável por 66.000 empregos diretos,
quase o dobro disso se considerarmos as atividades
colaterais, e o recolhimento de mais de 1,2 bilhões de
euros/ano entre impostos e taxas);
2. Reconciliar as corridas rasas com o trote, que alguns,
equivocadamente, haviam colaborado, durante anos, para
separar;
3. Descentralizar a atividade, com a criação de pólos
regionais, na Normandia e no sul do país, prestigiados e
protegidos politicamente pelas prefeituras locais (antes
dele, o turfe francês estava praticamente concentrado
em torno do centro de treinamento de Chantilly e dos
hipódromos das cercanias de Paris);
4. Transformar o jogo de apostas em corridas de cavalo
em algo nacional e simples, reformando de cima a baixo
a estrutura e os métodos de um adormecido e letárgico
PMU – Pari Mutuel Urbain, até torná-lo um poderoso e
dinâmico instrumento de captação de novos recursos para
a indústria do puro sangue (hoje existem 11.000 agências
credenciadas de apostas do PMU na França, cobrindo
todo o território do hexágono, e o investimento em apostas
via INTERNET é mais que significativo).
3
APFT - Jornal Informativo - 13/06/13 - Página 3 de 6
Em 1998, todo o apaixonado envolvimento de
Lagardère com a France Galop e a criação (que ele dizia
ser a base e o princípio de tudo nessa indústria) chegou
ao seu clímax quando Sagamix venceu o Prix de l'Arc
du Triomphe, e Linamix liderou pela primeira vez as
estatísticas de reprodutores. E ele próprio, Jean-Luc,
terminou a temporada como líder de proprietários e
criadores.
5. Fazer com que as corridas penetrassem em todas as
camadas da população através da televisão, criando
com isso uma nova audiência e um novo público para
o turfe, sem menosprezar seu público tradicional, que
ele fez retornar em massa aos hipódromos, cuidando e
modernizando suas instalações.
Nenhuma decisão a respeito da evolução do dia
a dia desse programa, jamais foi tomada por Lagardère
sem consulta a todos os interessados envolvidos no turfe
francês, e discutindo com eles cada novo passo a ser dado.
Como também, nenhuma mudança foi
implementada, sem antes debater exaustivamente o
assunto com os "Comitês Técnicos" de criadores,
proprietários e profissionais da atividade, criados por
ele na estrutura da France Galop (que funcionam até hoje).
Sob as cores cinza, boné rosa, seus animais
ganharam um total de 12 provas de Grupo I: o Diana
(com Restless Kara, 1988); a Poule d'Essai des Poulains
(com Linamix, em 1990); o Jacques Le Marois (com Miss
Satamixa, em 1995); o Saint Alary (com Luna Wells, em
1996); o Grand Prix de Saint-Cloud (com Fragant Mix,
em 1998) e o Prix de l'Arc du Triomphe (com Sagamix,
também em 1998); o Grand Prix de Paris (com o tordilho
Slickly, em 1999, hoje excelente reprodutor) e o Prix
Royal Oak (com Amilynx, em 1999 e 2000); o Criterium
de Saint-Cloud (com Sagacity, em 2000); e a Poule d'Essai
des Poulains e o Jacques Le Marois (com Vahorimix, em
2001).
Google Images
Fazia parte de sua personalidade calma e
equilibrada, incentivar o debate e reunir em torno de si
as melhores cabeças do esporte, em prol da causa comum
de reerguer a indústria do cavalo de corridas na França.
Este processo, de liderar pelo consenso e usar de
toda sua paixão para incentivar ao invés de dispersar –
já aplicado por Lagardère para erguer e consolidar seu
império industrial –, durou praticamente oito anos (19952003), período no qual ele mudou a face do turfe local.
Entra o destino, permanece a obra
Ao final do ano de 2003, quando estava para ser
reconduzido por aclamação ao seu terceiro mandato à frente
da entidade, Lagardère faleceu súbita e inesperadamente,
aos 75 anos de idade. A esta época, porém, a France Galop
e, principalmente, o PMU (a empresa que dirige as apostas
na França) já estavam inteiramente consolidados.
Sagamix
Com os animais vendidos por ele em leilão, ou
particularmente a vários proprietários, a criação Val Henry
venceu mais quatro provas de Grupo I, com Polytain
(Derby francês), Slickly (Moulin de Longchamp), Val
Royal (Breeders' Cup Mile), e Fair Mix (Prix Ganay). Dois
meses após sua morte, um dos poucos animais retidos pela
família, Clodovil, ganhou a Poule d'Essai des Poulains.
APFT - Jornal Informativo - 13/06/13 - Página 4 de 6
Google Images
4
fé e confiança no futuro. E um essencial: a paixão pelo
empreendimento.
Mas paixão é coisa da alma. Paixão não se inventa.
Paixão não se improvisa. Ou se é, ou não se é apaixonado
por aquilo que realmente toca a nossa sensibilidade. E
quando não toca, não há paixão.
Google Images
Slickly
Mas na primavera de 2005, os herdeiros cederam,
em um só bloco, porteira fechada, toda a criação Lagardère
ao Príncipe Karim Aga Khan. E as cores cinza, boné rosa,
que remontavam a François Dupré, deixaram de existir.
Os produtos do Haras d'Ouilly, entretanto,
continuaram a brilhar nas pistas européias, e no mais alto
nível, com Valixir (Prix Ganay e Queen Anne Stakes),
Vadawina (Prix Saint Alary) e Carlota Mix (Criterium
Internacional).
Pode até haver simpatia - afinal, as etimologias são
iguais: tudo vem de pathos. Pode até haver o prazeroso
desfrute da coisa. Mas paixão, essa espécie de virtude
ensandecida que move o ser humano, isso não há. E
quando não há, só se vê problemas, onde o apaixonado
pela coisa só enxerga soluções.
Jean-Luc Lagardère era um apaixonado pelo turfe,
em todos os seus sentidos e formas, da criação às corridas;
da presença constante nos hipódromos, às viagens para
assistir os leilões de potros. Sua segunda natureza, não
era outra, senão a paixão pelos cavalos de corrida e tudo
que a eles se refere.
Google Images
Tempos depois, a France Galop resolveu dar o
nome de seu grande renovador à mais antiga (1858) e
melhor dotada prova de Grupo I de seu calendário clássico
reservada aos produtos e 2 anos de idade, chamando o
Grand Criterium de Prix Jean-Luc Lagardère.
E fazendo-o correr no maior dia do turfe francês,
o 1º de outubro do Prix de l'Arc du Triomphe.
Para qualquer juvenil, ganhar o Prix Jean-Luc
Lagardère, 1.400 metros, em Longchamp, no difícil
percurso da pista nova, segundo disco de chegada, é
hoje considerado o grande trampolim para uma brilhante
carreira clássica aos 3 anos de idade.
Algumas reflexões
Todo empreendimento humano necessita sempre
de um homem especial que o transforme, quando a maioria
ao redor parece ter perdido a capacidade de enxergar saídas
e soluções. Mas para isso são necessários dois atributos:
Suas palavras no dia da posse na France Galop,
são definitivas: "Não aceitei este mandato para gerir um
declínio julgado inexorável."
Para ele, nada era inexorável e derradeiro
em relação ao turfe francês. Ao contrário, tudo era
perfeitamente possível, e todos os caminhos para resgatar
a atividade do fosso em que fora atirada, perfeitamente
claros. Com uma clareza apaixonada de ofender a vista.
APFT - Jornal Informativo - 13/06/13 - Página 5 de 6
5
Era essa mesma paixão pelo turfe, aquela que
animava e alimentava os fundadores do Jockey Club
Brasileiro.
E melhor definição não há, que a frase escrita por
eles, em 1926, na placa de bronze da entrada da tribuna
social do hipódromo da Gávea, ao se referir à mera
"sympathia" (na época era assim a grafia da palavra) do
Poder Público, em relação ao custo da majestosa obra.
Os fundadores do clube eram, sem dúvida,
apaixonados pelas corridas e pelo hipódromo. E
encontraram meios e formas de erguê-lo cercados por todas
as dificuldades. O Poder Público, embora desfrutando do
empreendimento, era apenas "sympathico" a ele.
Eis a abissal diferença entre as duas coisas.
14.09.2011
Sergio Barcellos - Proprietário desde 1975.
Ex-comissário de corridas e vice-presidente da
Comissão de Corridas do JCB (1992 - 2000).
Atualmente, Barcellos é vice-presidente (marketing)
do JCB e segundo vice-presidente da OSAF Organização Sul-Americana de Fomento.
Autor do livro "Cavalos de Corridas Uma Alegria Eterna" (Topbooks, 2002).
PREVIEW CLÁSSICO: CRISTAL
Quinta-Feira, 7º Páreo – CRISTAL – 19h10 – CLÁSSICO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO, 1609m, Areia
– Produtos de 3 e mais anos - Prêmio ao 1º R$ 3.200,00
1-Nhoque
2-Joint Chief 3-Greed Is Good
4-Antiveneno 5-Caapuã 6-Herói Fon 7-Telmo Velox
8-Ausone
9-Black Night
10-Escrow 11-Ask Me Not
12-Susumo G. Gentleman A.F. Chaves
Yagli C.A. Garcia
Holzmesiter A.F. Chaves
Our Emblem N. Canut
Fahim E.S. Machado
Public Purse H.P. Machado
Avanzado
M. Rosa
F. American I.J. Ferreira
Bonapartiste H. Pires
Yagli M. Oliveira
Araçaí
J. Rodrigues
Wild Event E.S. Machado
Quinta-Feira, 8º Páreo – CRISTAL – 19h45 – CLÁSSICO
EMANOEL PATA, 1400m, Areia – Produtos de 3 e mais
anos - Prêmio ao 1º R$ 3.200,00
1-Time Bomb 2-Dani California
3-Imposible 4-True Cat 5-Estrela D’Agua 6-Iabud
7-Já Fiz
8-Agyness 9-First At Last
10-Emoção Demais
Our Emblem L.C. Santos
Meteor Storm O.D. Serrão
M. Alado
H.P. Machado
T. Confidence C. Silva
F. American D. Peres
Dubai Dust H.P.Machado
Minion
C. Silva
T. Confidence A. Vasconcellos
Holzmeister A.F. Chaves
Public Purse F. Silva
APFT - Jornal Informativo - 13/06/13 - Página 6 de 6
6

Documentos relacionados