simão bacamarte e as trocas impossíveis:percepções
Transcrição
simão bacamarte e as trocas impossíveis:percepções
194 REVISTA A BARRIGUDA SIMÃO BACAMARTE E AS TROCAS IMPOSSÍVEIS:PERCEPÇÕES SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PSIQUIATRA POR ERRO DE DIAGNÓSTICO NA INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA COMPULSÓRIA Simão Bacamarte and exchanges impossible: perceptions about the psychiatrist's civil liability of diagnosis error in psychiatric hospital compulsory FÁBIO DE HOLANDA MONTEIRO RICARDO ARONNE RESUMO O presente artigo tem como objetivo fazer uma abordagem sobre responsabilidade civil em decorrência de erro de diagnóstico na internação psiquiátrica compulsória. Em que pese a internação compulsória ser determinada por ordem judicial, não se deve desconsiderar que a complexidade das questões que a circundam têm ocasionado um número crescente de demandas judiciais, envolvendo não somente os casos de medidas de segurança e dos que ofereçam risco para os próprios pacientes, para seus familiares e para a sociedade, mas também no tratamento e no fornecimento de medicamentos das patologias da mente, cuja consequência pode ser a de trazer sérios riscos para a saúde do paciente. PALAVRAS-CHAVE SAÚDE MENTAL. ERRO DE DIAGNÓSTICO. INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA COMPULSÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL. ISSN 2236-6695 ABSTRACT This article aims to present an approach to civil liability as a result of misdiagnosis in compulsory psychiatric hospitalization. In spite of the compulsory hospitalization be determined by judicial order, you must not disregard the complexity of the issues that surround it have led a growing number of lawsuits involving not only the cases of security measures and offering risk to themselves patients, to their families and society, but also in the treatment and supply of medicines of diseases of the mind, whose consequence may be to bring serious risks to patient health. KEYWORDS MENTAL HEALTH. DIAGNOSTIC ERROR. COMPULSORY PSYCHIATRIC HOSPITALIZATION. CIVIL LIABILITY. REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 195 REVISTA A BARRIGUDA INTRODUÇÃO Ponto pacífico no recente paradigma que colonizava a recente legislação e jurisprudência brasileira, desde a chamada reforma psiquiátrica passou-se a controverter sobre a internação compulsória de pacientes psiquiátricos e seus limites. Com isso, natural a extensão do tema à responsabilidade civil do médico responsável. Se, na sociedade brasileira patriarcal e oitocentista, gestora e bem representada pela codificação civil de 1916, era natural o discurso de Simão Bacamarte e as internações na Casa Verde1, no cítrico texto machadiano, a contemporaneidade digere o tema com outros ácidos. Não apenas o orientador deôntico da proporcionalidade, gestor da exigível razoabilidade da medida, é presença normativa pulsante, como, especialmente a o princípio da dignidade humana se projeta aqui, como notável vigor. Ao atribuir o direito à saúde como um direito fundamental necessário à preservação da dignidade humana, a Constituição Federal de 1988 abrange também a saúde mental. É de salientar-se que, segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), cujas informações constam do Plano de Ação para Saúde Mental 2013-2020, as doenças mentais representam 13% do total das doenças do mundo. As estimativas dão conta de que cerca de 350 milhões de pessoas deverão sofrer de depressão e 90 milhões terão alguma desordem por abuso ou dependência de substâncias. A depender da situação e do grau do transtorno mental que venha acometer determinada pessoa, assume especial destaque o tratamento psiquiátrico, o qual demanda um diagnóstico sério e consciencioso que deve ater-se às circunstâncias do caso específico, levando-se em conta o estado do paciente e o contexto terapêutico. Não se deve descurar que o portador de transtorno mental tem direito à melhor terapia, mais adequada a seu caso, sendo o diagnóstico correto de primordial importância para a determinação do tratamento, escolha da instituição hospitalar adequada e indicação da medicação mais adequada ao caso. Não obstante, a própria noção de loucura é uma construção moderna, oriunda do recente discurso científico que colonizou a ontologia ocidental nos últimos séculos, ocupando o lugar do discurso religioso2. Mesmo o apartamento social, núcleo temático desse estudo, daquele outrora considerado especial no seio da comunidade, então designado louco, também é prática moderna, mergulhada no paradigma iluminista.3 ASSIS, Machado de. O Alienista. NIETZSCHE, Friedriech. O Crepúsculo dos Deuses. 3 FOUCAULT, Michel. A História da Loucura. 1 2 ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 REVISTA A BARRIGUDA 196 O discurso, pois, do alienista (àquele que aparta, separa, aliena), sem dúvida tombou sob o peso de sua proposta solidez, que viu-se evaporar como o sonho cartesiano disciplinar. Afinal, “tudo que é sólido se desmancha no ar”4. 2 O DIREITO À SAÚDE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO A OMS dispõe, no preâmbulo de sua Constituição, que “a saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou enfermidade.” Terminou-se por alargar o conceito de saúde anteriormente restrito à seara curativa e preventiva, propondo-a não somente como a ausência de doenças, mas também um perfeito bem-estar físico, mental e social.5 Na ordem jurídico-constitucional brasileira, o direito à saúde possui estreita correlação com a dignidade da pessoa humana e com o direito à vida, encontrando-se expressamente consagrado como direito fundamental social pelo art. 6º da Constituição de 1988. O art. 196 do Texto Constitucional, por sua vez, dispõe que a saúde é direito de todos e dever do Estado. Tal dispositivo estabelece uma relação jurídico-constitucional que confere a todos o direito à saúde, bem como uma cláusula obrigacional imposta como um dever do Estado. Noutras palavras, o constituinte terminou por conceder a todas as pessoas o “acesso às ações e serviços de saúde”, independentemente de nacionalidade, cor, sexo, religião, poder econômico, etc., dispensando um tratamento igualitário entre os indivíduos, sem quaisquer distinções ou diferenças.6 Para Ingo Sarlet, o direito à saúde, além de possuir vinculação com o direito à vida, encontrase estreitamente ligado não somente à ideia de integridade corpórea, mas também à de integridade psíquica do ser humano.7 Contudo, em que pese sua previsão no art. 6º da Lei Suprema, Ingo Sarlet destaca que o direito à saúde encontra sua concretização de maneira mais efetiva nos art. 196 e ss., ao estabelecer a necessidade de uma regulamentação normativa infraconstitucional, assegurando que tal direito, além de pertencer a todos, impõe aos poderes públicos o dever de promoção de políticas sociais e econômicas MARX, Karl; ENGELS, Friedriech. Manifesto do Partido Comunista… SCHWARTZ, Germano. Direito à saúde: efetivação em uma perspectiva sistêmica. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2001. p. 35. 6 MAPELLI JÚNIOR, Reynaldo; COIMBRA, Mário; MATOS, Yolanda Alves Pinto Serrano de. Direito sanitário. São Paulo: Ministério Público, Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Cível e de Tutela Coletiva, 2012. p. 18. 7 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 589. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 4 5 197 REVISTA A BARRIGUDA que busque a diminuição do risco de doenças e de outros agravos, bem como a permissão de acesso universal e igualitário às ações e prestações que lhes digam respeito.8 No plano infraconstitucional, em compasso com os artigos 197 e 24, inciso II, da Constituição Federal, foi editada, em 19 de setembro de 1990, a Lei nº 8.080, intitulada Lei Orgânica da Saúde (LOS), estabelecendo, logo em sua disposição preliminar, que se destina a regular, em todo território nacional, as ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, tanto por pessoas naturais como por pessoas jurídicas de direito público ou privado. Em relação à saúde mental, a Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, redirecionou o modelo assistencial, buscando, através da desinstitucionalização, conferir ao portador de transtorno mental um tratamento antidiscriminatório, cujo objetivo maior é sua reinserção social, com consequente preservação de sua cidadania. O apartear, mediante internação forçada, necessariamente perde a ordinariedade natural que a modernidade lhe deu. O discriminar, que estava no cerne da perspectiva psicoterápica moderna, passa a ser percebido com reservas. Muito diferente de outrora. “Com efeito, era difícil imaginar mais racional sistema terapêutico. Estando os loucos divididos por classes, segundo a perfeição moral que em cada um deles excedia às outras, Simão Bacamarte cuidou em atacar de frente a qualidade predominante. Suponhamos um modesto. Ele aplicava a medicação que pudesse incutir-lhe o sentimento oposto; e não ia logo às doses máximas, — graduava-as, conforme o estado, a idade, o temperamento, a posição social do enfermo. Às vezes bastava uma casaca, uma fita, uma cabeleira, uma bengala, para restituir a razão ao alienado; em outros casos a moléstia era mais rebelde; recorria então aos anéis de brilhantes, às distinções honoríficas, etc. Houve um doente, poeta, que resistiu a tudo. Simão Bacamarte começava a desesperar da cura, quando teve a idéia de mandar correr matraca, para o fim de o apregoar como um rival de Garção e de Píndaro.”9 . 3 CONCEITO DE DOENÇA MENTAL Na contemporaneidade, a proposição de uma conceituação precisa da saúde mental encontra certa dificuldade, posto que o comportamento de uma pessoa pode fornecer indício de sua saúde mental, vez que cada indivíduo, dependendo dos valores e crenças, pode ter uma visão ou interpretação diferenciada de um comportamento, tornando, com isto, difícil individuar a saúde mental. Maneira geral, as pessoas que conseguem desempenhar suas atividades, mantendo um padrão “apropriado e adaptativo são consideradas saudáveis”. Já as que não conseguem desenvolver suas SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 590. 9 ASSIS, Machado de. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 8 198 REVISTA A BARRIGUDA funções ou assumir responsabilidades, apresentando ainda um comportamento inapropriado, são consideradas doentes. 10 Independentemente de uma definição exata do que seja saúde mental, deve ter-se em mente que a ordem jurídica constitucional não admite qualquer forma de tratamento discriminatório aos portadores de transtornos mentais, mostrando-se pertinentes os ensinamentos de Ingo Sarlet, para quem a dignidade da pessoa humana independe de circunstâncias concretas, por ser inerente a toda e qualquer pessoa. Segundo o jurista gaúcho, a autonomia de cada ser humano deve ser: Considerada em abstrato, como sendo a capacidade potencial que cada ser humano tem de autodeterminar sua conduta, não dependendo da sua efetiva realização no caso da pessoa em concreto, de tal sorte que o absolutamente incapaz (por exemplo, o portador de grave deficiência mental) possui exatamente a mesma dignidade que qualquer outro ser humano física e mentalmente capaz.11 A complexidade que circunda a definição de doença mental, no tocante ao “normal” e ao “patológico”, mostra-se mais evidente com as alterações ocorridas no sistema de classificação da Associação Americana de Psiquiatria, firmada pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Desorders (DSM)12, cuja 1ª edição, de 1952, trazia 160 perturbações. A quarta versão, DSM-IV, de 1994, aponta 410. No intervalo de sete anos transcorridos entre a publicação do DSM-III-R (1987) e o DSM-IV (1994) houve mudanças de critérios em relação a 120 perturbações, com os acréscimos de 13 novas e a eliminação de oito.13 A mais recente versão do manual, o DSM-V, de maio de 2013, cataloga 450 novas categorias diagnósticas. Sem deixar de levar em conta a dificuldade de precisar-se a definição de doença mental, Luís Rey a conceitua como o “termo geral para os distúrbios da mente, afetividade, percepção e comportamento, como manifesta incapacidade resultante dessas perturbações percebidas tanto pelo paciente como pelos seus próximos.”14 Para Javier Truffino, a saúde mental “es armónico equilibrio entre las diferentes funciones psíquicas, que permite uma buena interacción y comunicación com lós demás, y afrontar lãs situaciones enriqueciendo y enriqueciéndose.”15 VIDEBECK, Sheila A. L. Enfermagem em saúde mental e psiquiatria. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 16-17. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 9ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012. p. 54 – 56. 12 O DSM, como uma espécie de dicionário de psiquiatria, classifica os diversos distúrbios mentais, oferecendo parâmetros para o diagnóstico de cada um deles. A cada atualização apresenta novas categorias de doenças, alterando as diretrizes consolidadas pelas edições anteriores. 13 MENDES, Karyna Rocha. Curso de direito da saúde. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 61. 14 REY, Luís. Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 273. 15 TRUFFINO, Javier Cabanyes. La salud mental em el mundo de hoy. Navarra: EUNSA, 2012. p. 73. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 10 11 199 REVISTA A BARRIGUDA Não há um modo preciso de estabelecimento para o conceito de doença mental que seja universalmente aceito, posto que quase todas as definições não contribuem para uma aplicação imediata no tratamento dos pacientes. O que se deve levar em conta é se determinada pessoa apresenta, ou não, um padrão de comportamento que pode ser indicador de determinada patologia para que, então, possase escolher a melhor alternativa de tratamento válido cientificamente.16 4 O DIAGNÓSTICO EM DOENÇA MENTAL Etimologicamente, diagnóstico é definido como “identificação ou determinação da natureza e da causa de uma doença pelos sintomas”.17 Na medicina, é tido como a “arte ou técnica de identificar uma infecção, doença ou enfermidade pela anamnese e exame dos sintomas e sinais clínicos apresentados pelo paciente, ou mediante exames de laboratório, técnicas de imageamento, etc.”18 É por meio do diagnóstico que se deve precisar os caracteres distintivos que permitem definir uma doença ou enfermidade, devendo o médico considerar todos os sinais, manifestações e sintomas apresentados pelo paciente, levando-se em conta a anamnese. Segundo Fernanda Schaefer: O ato de diagnosticar deve ser extremamente sério, além de se configurar um trabalho eminentemente intelectual (raciocínio clínico), sendo o prognóstico uma fase complementar à do diagnóstico. Por este motivo, deve-se buscar a maior precisão possível ao se diagnosticar, evitando-se desta maneira, criar ansiedades desnecessárias no paciente.19 Em seu clássico estudo sobre a responsabilidade civil do médico, Ruy Rosado de Aguiar Jr. afirma que: O diagnóstico consiste na determinação da doença do paciente, seus caracteres e suas causas. O erro no diagnóstico não gera responsabilidade, salvo se este for realizado sem atenção e precauções conforme o estado da ciência, apresentando-se como erro manifesto e grosseiro. Comete-o o médico que deixa de recorrer a outro meio de investigação ao seu alcance ou profere um juízo contra princípios elementares de patologia. 20 Importante ponto destacado por Aguiar Jr. é a responsabilização em decorrência do diagnóstico desatento, sem as devidas precauções, com erro manifestadamente MENDES, Karyna Rocha. Curso de direito da saúde. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 56. SACCONI, Luiz Antonio. Grande dicionário Sacconi: da língua portuguesa: comentado, crítico e enciclopédico. São Paulo: Nova Geração, 2010. p. 674. 18 REY, Luís. Dicionário de termos técnico em medicina e saúde. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 247. 19 SCHEFER, Fernanda. Responsabilidade civil do médico e erro de diagnóstico. 1ª ed. 10ª reimpressão. Curitiba: Juruá, 2011. p. 66. 20 AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do médico. In: Direito e medicina: aspectos jurídicos da medicina. Sálvio de Figueiredo Teixeira (Coord.). Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 143. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 16 17 REVISTA A BARRIGUDA 200 grosseiro. Tal situação não demanda maiores dúvidas acerca do dever de responder pelos danos causados ao paciente. Sem deixar de desconsiderar os avanços nas diversas áreas da medicina, permanece a falibilidade no campo do diagnóstico, com consequente aumento da responsabilidade médica por erros de diagnósticos. Tais erros decorrem, precipuamente, da interpretação equivocada de exames realizados ou dos que não se realizou.21 Um diagnóstico errado pode ocorrer, por exemplo, quando o médico atue sem dispor de capacidade técnica suficiente para diagnosticar; dá o diagnóstico sem exame prévio do paciente; apresenta um diagnóstico sem observar sintomas evidentes ou sem levar em conta hipóteses remotas; e elabora diagnóstico tardio ou com atraso sem justificativa.22 No atinente ao diagnóstico psiquiátrico, são identificadas duas posições divergentes. A primeira tem o diagnóstico como desprovido de qualquer valor, dado ao fato de que toda e qualquer pessoa é possuidora de uma realidade única não sujeita à classificação. Nessa perspectiva, o diagnóstico psiquiátrico se presta tão somente para rotulação de pessoas diferentes de forma a permitir o poder médico e o controle social sobre o indivíduo “desadaptado ou questionador.” A segunda corrente defende o diagnóstico psiquiátrico, o qual assumiria semelhança com os diagnósticos das demais especialidades médicas. Nessa acepção, o diagnóstico constitui o principal e mais importante elemento da prática psiquiátrica. 23 A dificuldade do diagnóstico em psiquiatria advém do fato de envolver enfermidades que não são detectadas por meio de exames de órgãos do corpo humano, ou mesmo de um exame de imagem, ainda que estes estejam cada vez mais avançados com o mapeamento de áreas do cérebro apontadas como a origem dos transtornos mentais, juntamente com o desequilíbrio de neurotransmissores como a serotonina, a dopamina e a noradrenalina, dentre outros. O diagnóstico psiquiátrico ainda depende de importantes descobertas para fins de confirmação das “entidades nosológicas”24 até então descritas, baseadas na descrição clínica do examinando, permanecendo ainda, contudo, vulnerável à subjetividade dos avaliadores. Dessa forma, dado ao fato de as doenças ou transtornos mentais ainda não terem suas causas completamente esclarecidas, em que pese o avanço das pesquisas, utiliza-se o critério clínico, refletindo tão somente sinais e sintomas nas pessoas avaliadas sem nada apontar sobre sua causalidade.25 RAPOSO, Vera Lúcia. Do ato médico ao problema jurídico. Coimbra: Almedina, 2013. p. 248. RAPOSO, Vera Lúcia. Do ato médico ao problema jurídico. Coimbra: Almedina, 2013. pp. 249 - 250. 23 DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 39. 24 Conforme Anita Alves Sampaio, a nosologia refere-se ao estudo e à classificação das doenças. In: Dicionário de medicina. São Paulo: Andrei, 2003. p. 280. 25 LOUZà NETO, Mario Rodrigues; ELKIS, Hélio. Psiquiatria básica. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 32. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 21 22 REVISTA A BARRIGUDA 201 Comumente, o diagnóstico psiquiátrico é pautado no estabelecimento da gravidade ou persistência do transtorno mental, não fornecendo acerca da ocorrência e da causa da patologia. Tal situação termina por resultar em discordâncias entre os avaliadores que se valem de pressupostos teóricos diversos. O diagnóstico prevalecente em psiquiatria, embora não faltem posicionamentos contrários, ainda é baseado na “descrição do quadro clínico”, valendo-se de critérios de classificação para fins de auxiliar na identificação das patologias da mente e no tratamento dos pacientes.26 Consoante Carrasco Gómez, a dificuldade de se considerar critérios de diagnósticos que sejam aceitos por todos se deve às diferentes concepções que se têm sobre o transtorno mental, às diversas escolas e à influência de vários fatores sociais e culturais no surgimento e na evolução da enfermidade mental.27 Os dois principais sistemas de diagnósticos utilizados em psiquiatria é o do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais da Associação de Psiquiatria Americana (DSM-V) e o da Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-10). Tanto o DSM como o CID utilizam os mesmos códigos numéricos a serem utilizados na descrição de cada transtorno mental.28 Contudo, não se pode deixar de levar em consideração a particularidade de cada portador de transtorno mental na fixação do diagnóstico.29 A complexidade no entorno do diagnóstico psiquiátrico não deve permitir que o psiquiatra realize um simples levantamento ou agrupamento de sintomas, fazendo-se necessária uma análise organizada visando um diagnóstico que leve em conta a particularidade do examinando, sua história, assim como o contexto social, cultural e ambiental em que vive.30 A gravidade do erro torna-se de maior quando o médico se utiliza de diagnóstico padronizado e errôneo, sem uma investigação mais detida na anamnese ou exames complementares. Referida prática pode levar o paciente a interdições desnecessárias e internações indevidas, com consequente responsabilização pelos danos ocasionados.31 A responsabilização por erro de diagnóstico ocorre quando outro médico, em igual situação e de forma prudente, não viesse a cometer o mesmo erro. Nesse caso, o erro torna-se inescusável, seja por WANG, Yuan-Pang; HUMES, Eduardo Castro; ANDRADE, Laura Helena Silveira Guerra de. Diagnóstico e classificação em psiquiatria. In: Psiquiatria básica. Mauro Rodrigues Louzã Neto, Hélio Elkins. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 32. 27 GÓMEZ, Juan José Carrasco. Responsabilidad médica y psiquiatria. 2ª ed. Madrid: Colex, 1998. p. 95. 28 SADOCK, Benjamin J. Manual de psiquiatria clínica: referência rápida. Benjamin J. Sadock, Virginia A. Sadock; tradução Régis Pizzato; revisão técnica: André Campos Gross, Felipe Almeida Picon, Gustavo Schestatsky. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 15. 29 GOODWIN, Donald W.; GUZE, Samuel B. Diagnóstico da doença mental. Trad. de Jurema Alcides Cunha. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981. p. 193. 30 PORTO, Celmo Celeno. Semiologia médica. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. p. 1278. 31 KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 299. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 26 202 REVISTA A BARRIGUDA deficiência na formação profissional, seja por não fazer uso dos meios necessários para fixação de um diagnóstico correto, ou mesmo proferindo diagnóstico apressado sem exame adequado do paciente.32 Tal raciocínio aplica-se ao diagnóstico psiquiátrico. Perceba-se que o determinismo moderno não pode orientar tal perspectiva de análise médica, tal qual não pode estar na jurídica que venha a debruçar-se sobre o tema. Aqui, novamente, os princípios jurídicos oferecem a única semiologia normativa apta a embasar o aplicador do Direito no enfrentamento de suas concretudes. 5 A LEI DA REFORMA PSIQUIÁTRA A reforma psiquiátrica no Brasil surgiu em decorrência um movimento histórico, já instalado na Modernidade Líquida33, de caráter político, social e econômico influenciado pela ideologia de grupos dominantes, incluindo pacientes, familiares e profissionais da saúde mental. Um das principais vertentes do processo da reforma consiste na desinstitucionalização, e, consequentemente, a desconstrução do manicômio e dos paradigmas que o sustentam. O modelo de assistência psiquiátrica até então predominante no Brasil, pautado na legislação de 1934, desenvolvida na Modernidade Tardia34, é considerado, dias de hoje, falido e desmitificado, posto que a hospitalização e o asilamento do portador de transtorno mental, na busca de atender a segurança da ordem e da moral pública, não atende às diretrizes imposta pela Constituição de 1988 na prestação dos serviços de saúde, que têm como fundamentos a dignidade humana e o direito à vida. Nesse contexto, os portadores de transtornos mentais passam a fazer parte de um grupo vulnerável da população, o que, de certa forma, já vem passando por mudanças implementadas por movimentos que buscam a conscientização de que é fundamental a luta pela preservação de seus direitos. Destarte, a Lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001, que implantou a Reforma Psiquiátrica no Brasil, assume um importante papel no tratamento e na reinserção social dessas pessoas, objetivando lhes conferir um tratamento humano mais digno. Permita-se voltar à prosa machadiana, ao fecho de O Alienista: Isso é isto. Simão Bacamarte achou em si os característicos do perfeito equilíbrio mental e moral; pareceu-lhe que possuía a sagacidade, a paciência, a perseverança, a tolerância, a veracidade, o vigor moral, a lealdade, todas as qualidades enfim que podem formar um acabado mentecapto. Duvidou logo, é certo, e chegou mesmo a concluir que era ilusão; mas KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 299. BAUMAN, Zigmunt. Modernidade Líquida. 34 ARONNE, Ricardo. Razão e Caos no Discurso Jurídico. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 32 33 REVISTA A BARRIGUDA 203 sendo homem prudente, resolveu convocar um conselho de amigos, a quem interrogou com franqueza. A opinião foi afirmativa. — Nenhum defeito? — Nenhum, disse em coro a assembléia. — Nenhum vício? — Nada. — Tudo perfeito? — Tudo. — Não, impossível, bradou o alienista. Digo que não sinto em mim essa superioridade que acabo de ver definir com tanta magnificência. A simpatia é que vos faz falar. Estudo-me e nada acho que justifique os excessos da vossa bondade. A assembléia insistiu; o alienista resistiu; finalmente o Padre Lopes explicou tudo com este conceito digno de um observador: — Sabe a razão por que não vê as suas elevadas qualidades, que aliás todos nós admiramos? É porque tem ainda uma qualidade que realça as outras: — a modéstia. Era decisivo. Simão Bacamarte curvou a cabeça, juntamente alegre e triste, e ainda mais alegre do que triste. Ato contínuo, recolheu-se à Casa Verde. Em vão a mulher e os amigos lhe disseram que ficasse, que estava perfeitamente são e equilibrado: nem rogos nem sugestões nem lágrimas o detiveram um só instante. — A questão é científica, dizia ele; trata-se de uma doutrina nova, cujo primeiro exemplo sou eu. Reúno em mim mesmo a teoria e a prática. — Simão! Simão! meu amor! dizia-lhe a esposa com o rosto lavado em lágrimas. Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa Verde, entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas que ele morreu dali a dezessete meses, no mesmo estado em que entrou, sem ter podido alcançar nada. Alguns chegam ao ponto de conjeturar que nunca houve outro louco, além dele, em Itaguaí; mas esta opinião, fundada em um boato que correu desde que o alienista expirou, não tem outra prova, senão o boato; e boato duvidoso, pois é atribuído ao Padre Lopes, que com tanto fogo realçara as qualidades do grande homem. Seja como for, efetuou-se o enterro com muita pompa e rara solenidade. A Lei da Reforma Psiquiátrica concede, no parágrafo único de seu art. 2º, diversos direitos às pessoas portadoras de transtornos mentais, com especial destaque para melhor tratamento do sistema de saúde conforme suas necessidades; tratamento humanitário e respeitoso no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, proporcionando sua inserção na família, no trabalho e na comunidade; proteção contra qualquer forma de abuso e exploração; ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. O processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil é caracterizado primordialmente por novos conceitos, como cidadania, atenção integral e busca da colocação da saúde como referencial no lugar da doença. Busca a transformação nas relações cotidianas entre os profissionais de saúde mental, usuários, famílias, sociedade e serviços, com fins de buscar a desinstitucionalização e a humanização das relações sociais.35 Propõe-se o fechamento de hospitais psiquiátricos (hospícios), com a redução gradativa de CORREIA, Joelma de Sousa. Saúde mental na contemporaneidade: aspectos psicossociais. In: Saúde mental e o direito: ensaios em homenagem ao professor Heitor Carrilho. Cristiano Carrilho Silveira de Medeiros (org.). São Paulo: Método, 35 2004. p. 73. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 REVISTA A BARRIGUDA 204 leitos, a municipalização dos serviços, o questionamento das internações involuntárias, a vigilância, avaliação e acompanhamento pelas omissões locais de saúde.36 Há que se destacar que a questão dos portadores de transtornos mentais continua a representar um grande desafio para todos os que se interessam pela prevenção, pelo estudo, e pelo tratamento, posto existir uma conjuntura social, econômica, e política, que não propicia a saúde do indivíduo do ponto de vista físico, psíquico, social, e econômico, reforçando, em decorrência disto, o adoecimento e a exclusão social. Mostra-se incabível, perante a ordem jurídico-constitucional pátria, um tratamento antiisonômico entre os seres humanos, posto que seus valores encontram-se assentados, sobremaneira, no princípio da dignidade humana. A dignidade humana impõe um tratamento igualitário, devendo-se levar em conta inclusive a igualdade social, cuja efetividade demanda respeito às diferenças, observando-se que os indivíduos com maiores dificuldades sociais, econômicas, e mentais, devem ter maior amparo por parte do Estado e de toda a sociedade, buscando superar as dificuldades, proporcionando-lhes uma participação ativa da “vida comunitária e social em geral”.37 É assente que os portadores de transtornos mentais necessitam de um tratamento específico com base em técnicas médicas, farmacológicas e sociais próprias, representando a Lei da Reforma Psiquiátrica um grande avanço no tratamento e na convivência com as pessoas acometidas de patologia mental. Aludida lei constituiu-se num verdadeiro marco na busca do respeito às pessoas afetadas por transtornos mentais, em sintonia com as diretrizes preconizadas pela Constituição de 1988, mostrandose contrária a discriminações, repudiando qualquer manifestação de intolerância e de desrespeito à dignidade da pessoa humana.38 Simão Bacamarte teve seu freio imposto. CORREIA, Joelma de Sousa. Saúde mental na contemporaneidade: aspectos psicossociais. In: Saúde mental e o direito: ensaios em homenagem ao professor Heitor Carrilho. Cristiano Carrilho Silveira de Medeiros (org.). São Paulo: Método, 36 2004. p. 73 – 74. 37 SANTOS, Marcos André Couto. Transtornos mentais e dignidade da pessoa humana. In: Saúde mental e o direito: ensaios em homenagem ao professor Heitor Carrilho. Cristiano Carrilho Silveira de Medeiros (org.). São Paulo: Método, 2004. p. 52. 38 PINHEIRO, Gustavo Henrique de Aguiar. Comentários à lei da reforma psiquiátrica: uma leitura constitucional da lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001. Fortaleza: Editora Tear da Memória, 2010. p. 18. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 REVISTA A BARRIGUDA 205 6 MODALIDADES DE INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA A internação psiquiátrica, especialmente a internação psiquiátrica involuntária, é tratada pelo ordenamento jurídico nacional nos artigos 4º, 6º, 7º, 8º e 9º, da Lei nº 10.216/2001, Lei da Reforma Psiquiátrica. Consoante o disposto no art. 4º, caput, da aludida Lei, a internação psiquiátrica, seja qual modalidade for, somente se mostra cabível quando os recursos extra-hospitalares forem tidos como insuficientes, havendo risco à integralidade física, à saúde ou à vida dos portadores de transtorno mental ou a terceiros.39 Aqui, a liberdade individual privada, resguardada pela legalidade que amarra a conduta médica no exercício de tal poder, qual Ulisses é amarrado ao mastro do navio, para ouvir o canto das sereias, enquanto seus marinheiros têm cera nos ouvidos40. O art. 6º, caput, estabelece que a internação psiquiátrica exige laudo médico que a justifique. No parágrafo único do mesmo dispositivo legal, encontram-se previstos como modelos de internação a voluntária, a involuntária, e a compulsória. Na internação voluntária há o consentimento do paciente, que deverá assinar uma declaração atestando sua escolha por este tipo de tratamento (art. 7º, caput). Referida declaração faz-se essencial para que a internação seja reconhecida como voluntária, cujo término ocorrerá a pedido do próprio paciente ou por determinação médica, caso seja constatada a desnecessidade de continuidade do tratamento (art. 7º, parágrafo único). A internação involuntária dá-se sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro, cujo término somente ocorrerá por solicitação escrita do familiar ou responsável legal, ou ainda quando houver manifestação do médico responsável pelo tratamento (art. 8, § 2º). Nesse caso, tanto a internação como a alta do paciente devem ser comunicadas no prazo de setenta e duas horas ao Ministério Público estadual, por ser este o órgão encarregado de proteger os interesses difusos e coletivos, assim como os interesses dos incapazes (art. 8º, § 1º). Simão Bacamarte, qual Ulisses, está amarrado, pois a internação compulsória, nos termos do inciso III do parágrafo único do art. 6º da Lei nº 10.216/2001, é decorrente de ordem judicial. Tal tipo de internação deve observar as normas aplicáveis à internação psiquiátrica involuntária.41 SANTORO FILHO, Antonio Carlos. Direito e saúde mental à luz da lei 10.216 de 06 de abril de 2001. São Paulo: Verlu Editora, 2012. p. 36. 40 HOMERO. A Odisséia. 41 PINHEIRO, Gustavo Henrique de Aguiar. Comentários à lei da reforma psiquiátrica: uma leitura constitucional da lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001. Fortaleza: Tear da Memória, 2010. p. 86. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 39 REVISTA A BARRIGUDA 206 7 A INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA COMPULSÓRIA A internação psiquiátrica compulsória, nos termos do art. 4º, caput, da Lei nº 10.216/2001, somente será cabível quando os recursos extra-hospitalares restarem insuficientes e houver possibilidade de risco à integralidade física, à saúde ou à vida do portador de transtorno mental ou a terceiros.42 Consoante referida Lei, a situação de perigo concreto deve constar de laudo médico circunstanciado, caso contrário, a internação não será obrigatória. Acaso haja necessidade de internamento, este deverá buscar cessar o estado de perigo, com consequente reinserção social do portador de transtorno mental em seu meio. Pode-se entender a internação compulsória como um “procedimento judicial cautelar ou de mérito” que deve observar o direito fundamental da dignidade da pessoa humana. Tal modalidade de internamento, como bem salientado por Mariano Jara, constitui-se “en la prática professional el psiquiatra se ve en la necesidad de realizar actividades terapéuticas a favor del enfermo que comprometen algunos de sus derechos fundamentales, como es el de la libertad”.43 Em sendo a liberdade um dos corolários da dignidade humana,44 não resta nenhuma dúvida que o internamento compulsório deve observar, sob todos os aspectos, tão relevante fundamento da Constituição da República Federativa do Brasil, previsto expressamente em seu art. 1º, III. 8 RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO A responsabilidade civil funda-se na conduta do agente, no fato da coisa ou no risco da atividade. Nesta, tem-se a responsabilidade objetiva, cujo dever de indenizar independe da existência de culpa ou dolo do agente. Naquela, a obrigação de indenizar decorre da existência de dolo ou culpa do agente, bem como da relação causal que ocasionou o dano, configurando a responsabilidade subjetiva.45 Com a responsabilização civil, tradicionalmente percebida, busca-se reparar os prejuízos causados pelo ofensor ao patrimônio ou à pessoa do lesado, bem como à sua personalidade.46 SANTORO FILHO, Antonio Carlos. Direito e saúde mental à luz da lei 10.216 de 06 de abril de 2001. São Paulo: Verlu Editora, 2012. p. 36. 43 JARA, Mariano Gómez. Transtornos psiquiátricos y derecho: responsabilidad penal, internamientos, incapacitación, etc. Barcelona: Atelier, 2008. p. 75. 44 MORAES, Maria Celina Bodin de. Na medida da pessoa humana: estudos de direito civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. p. 85. 45 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil comentado. 9ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 920. 46 BITTAR, Carlos Alberto. Responsabilidade civil: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989. p. 1. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 42 207 REVISTA A BARRIGUDA Muito aquém do contemporâneo Direito de Danos, a disciplina codificada da responsabilidade civil encontra-se delineada, maneira geral, nos arts. 186 e 927 do Código Civil de 2002: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Na seara do exercício profissional, a possibilidade de causar dano a outrem decorre da própria falibilidade inerente ao ser humano. Contudo, profissões há que, dados os riscos a que a sociedade fica sujeita, submetem-se a uma disciplina específica que visa à observância dos requisitos mínimos necessários ao exercício das atividades laborais. Dentre elas, a profissão médica assume especial destaque.47 Em específico, a responsabilidade médica está prevista no art. 951 do Código Civil, o qual trata da responsabilidade dos profissionais liberais como um todo: Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho. O profissional médico, no exercício de suas atividades como profissional liberal, também responde pelos danos por ventura ocasionados ao paciente em decorrência de culpa, consoante disciplina do art. 14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990). 48 Tal responsabilidade é subjetiva, havendo necessidade da comprovação da ocorrência de negligência, imprudência ou imperícia na prática do ato médico. Mesmo na percepção mais conservadora do Direito Privado, comprovado em juízo, de forma satisfatória, o dano (nexo causal entre a ação ou omissão médica e o resultado), a indenização civil se instala, com assento nas previsões geral dos arts. 186 e 927 e específica do art. 951 do CC/2002. Quando o lesado é o paciente e o autor do dano é o médico, há a responsabilidade civil médica, impondo-se ao profissional da medicina o dever de reparar os danos ocasionados de forma ilícita e culposa.49 No campo civil, ainda na percepção mais tradicional, a responsabilidade do médico pode ser contratual – quando há a celebração de um contrato com o paciente para a prestação de serviços, ainda CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 428. CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 430. 49 RAPOSO, Vera Lúcia. Do ato médico ao problema jurídico. Coimbra: Almedina, 2013. p. 29. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 47 48 REVISTA A BARRIGUDA 208 que tacitamente -, e extracontratual, quando inexiste qualquer relação contratual.50 Dessarte, a responsabilidade civil do médico pressupõe a prática de ato médico violador do dever profissional, “imposto pela lei, pelo costume ou pelo contrato, imputável a título de culpa, causador de um dano injusto, patrimonial ou extrapatrimonial.”51 Em se tratando de vínculo jurídico-obrigacional entre o médico e o paciente, este como destinatário final, aquele na qualidade de fornecedor de serviços, aplicar-se-á o Código de Defesa do Consumidor. Neste caso, sendo o prestador dos serviços o médico que atua como profissional liberal, aplica-se a regra do art. 14, § 4º, do CDC, demandando a apreciação da culpa.52 O médico também pode ser responsabilizado por ato de terceiros causador de danos, desde que estes estejam vinculados às suas ordens, como soa ocorrer com enfermeiros e outros profissionais da saúde.53 Na relação contratual, o objetivo não é a cura do paciente, ou seja, a obrigação de resultado, mas sim o compromisso do tratamento diligente, consciencioso, com utilização dos recursos e meios adequados e disponíveis, caracterizando obrigação de meio. A responsabilidade surge quando restar demonstrada a culpa. Ressalte-se que, via de regra, a responsabilidade civil do profissional da área da saúde, como é o caso do médico, afigura-se obrigação de meio, posto que o resultado não depende apenas da atuação do profissional contratado, mas também das condições orgânicas do paciente.54 Contudo, não se pode deixar de obervar que as condições psíquicas também são importantes para uma melhor resposta ao tratamento, mais ainda em se tratando de patologia mental, tanto na que tem suas causas orgânicas como nas que não têm causa determinada. Com relação ao médico psiquiatra em particular, há o dever de por à disposição do paciente todos os conhecimentos, cuidados e habilidades visando proporcionar o melhor tratamento possível na busca da cura almejada. Não se pode descurar da diligência necessária, na aplicação das “regras da ciência psiquiátrica contemporânea ao tratamento”, visando atenuar o sofrimento do portador de transtorno mental.55 RAPOSO, Vera Lúcia. Do ato médico ao problema jurídico. Coimbra: Almedina, 2013. pp. 29 - 30. AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do médico. In: Direito e medicina: aspectos jurídicos da medicina. Sálvio de Figueiredo Teixeira (Coord.). Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 137. 52 BORGES, Gustavo. Erro médico nas cirurgias plásticas. São Paulo: Atlas, 2014. p. 218. 53 MALUF, Carlos Alberto Dabus; MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. A responsabilidade civil na relação dos profissionais da área de saúde e paciente. Direitos do paciente. Álvaro Villaça Azevedo, Wilson Ricardo Ligiera (Coords.). São Paulo: Saraiva, 2012. p. 520. 54 SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Código civil comentado. Coordenador até a 5ª ed. Ricardo Fiuza. 6ª ed. Regina Beatriz Tavares da Silva (Coord.). São Paulo: Saraiva, 2008. p. 928. 55 KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 298. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 50 51 REVISTA A BARRIGUDA 209 A responsabilidade médica deve ser examinada sob dois aspectos. Primeiro a responsabilidade decorrente da prestação de serviços por profissionais liberais. Segundo, quando a responsabilidade advier de serviços médicos prestados por empresas, tais como hospitais, clínicas, laboratórios, etc.56 Para José G. V. Taborda, a responsabilidade médica “é o dever jurídico do médico de responder por atos praticados durante o exercício da profissão sempre que estes violem bens tutelados em lei e de reparar os danos.”57 Porém é inevitável perquirir se essa reparação poderia ser integral ? Fosse qual fosse o valor alcançado pelo responsável ao lesado, as sequelas oriundas de uma equivocada internação forçada em uma clínica psiquiátrica, são possíveis de serem reparadas patrimonialmente. Na esteira de Boudrillard58, cumpre perquirir se tal troca seria possível. Se a não realização do direito fundamental do paciente, de modo integral, decorrente de ato assim, poderia ser indenizada de modo a compreender-se realizado o Direito ? Esse tipo de interrogação, oriundo da nova percepção do direito de danos, em detrimento do restrito horizonte da responsabilidade civil, ainda pende de tratamento na matéria em apreço. 9 A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PSIQUIATRA POR ERRO DE DIAGNÓSTICO NA INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA COMPULSÓRIA As primeiras atividades no campo da medicina, ocorridas no período da Antiguidade, restringiam-se, precipuamente, na preocupação da busca de meios de cura por meio do empirismo, sem conferir maior importância ao estudo das patologias.59 Hodiernamente, o desenvolvimento da medicina - aliado a medicamentos mais eficazes, juntamente com novas técnicas e equipamentos -, embora confira ao médico um “maior controle sobre a saúde, a vida e a morte do paciente”, também proporciona maior possibilidade de cometimento de erros, decorrentes de diversos fatores, tais como erros de exames laboratoriais, prescrições inadequadas de medicamentos e diagnósticos equivocados ou inapropriados.60 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 431. TABORDA, José G. V. Responsabilidade civil do psiquiatra. In: Psiquiatria forense. José G. V. Taborda, Elias AbdallaFilho, Miguel Chalub. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 276. 58 BOUDRILLARD, Jean. A Troca Impossível… 59 MELO, Nehemias Domingos de. Responsabilidade civil por erro médico: doutrina e jurisprudência. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 3. 60 MELO, Nehemias Domingos de. Responsabilidade civil por erro médico: doutrina e jurisprudência. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 8. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 56 57 210 REVISTA A BARRIGUDA Os erros médicos, em que pese a frequência crescente, inclusive pelo fato de haver pacientes cada vez mais conscientes de seus direitos, não se constituem a regra, mas sim exceções ao levar-se em conta a quantidade de atendimentos, consultas, exames, cirurgias e internações ocorridos diariamente.61 Há de se destacar, contudo, que não se faz necessário que a culpa do médico seja grave para restar configurada a responsabilidade, bastando a culpa levíssima e a existência do dano. Contudo, o Código Civil, em seu parágrafo único do art. 944, admite a redução da indenização por equidade caso reste comprovado a desproporção entre o dano e a culpa.62 No tocante ao médico especialista, como é o caso do psiquiatra, a responsabilidade torna-se maior, posto demandar maior habilidade nos diagnóstico, tratamento e prognóstico da patologia mental. No que diz respeito à possível existência de doença ou transtorno mental, dada à impossibilidade de uma aferição orgânica ou causal acerca de determinada patologia, o diagnóstico é realizado “pelo estudo do padrão de sintomas, investigação de fatores do passado, análise de relacionamentos significativos e, quando indicado, administração de testes psicológicos.”63 Segundo Ruy Rosado de Aguiar Jr.: O médico tem o dever de agir com diligência e cuidado no exercício da sua profissão, conduta exigível de acordo com o estado da ciência e as regras consagradas pela prática médica. 64 Para fins de realização de um diagnóstico correto, o médico deve observar e considerar “todos os sinais, manifestações e sintomas apresentados pelo paciente”, levando-se em conta ainda a anamnese. 65 Segundo Carlos Roberto Gonçalves, situação que venha configurar erro de diagnóstico – consistente na determinação da doença e suas causas -, não resulta em responsabilidade se o erro for escusável levando-se em conta o atual estado das ciências médicas, e desde que não tenha causado danos. 66 O que se faz necessário é que o psiquiatra faça o melhor uso possível dos seus conhecimentos técnicos e científicos na busca de proporcionar um alívio ou cura para o portador de transtorno mental, embora não assuma o dever da cura parcial ou definitiva POLICASTRO, Décio. Erro médico e suas consequências jurídicas. 4ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2013. p. 1. BDINE JÚNIOR, Hamid Charaf. Responsabilidade pelo diagnóstico. In: Responsabilidade civil na área da saúde. Regina Beatriz Tavares da Silva (Coord.). 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 90. 63 VANDENBOS, Gary R. (Org.). Dicionário de psicologia da APA. Tradução Daniel Bueno, Maria Adriana Veríssimo Veronese e Maria Cristina Monteiro; revisão técnica Maria Lucia Tiellet Nunes. Porto Alegre, 2010. p. 283. 64 AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do médico . Direito e medicina: aspectos jurídicos da medicina. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 140. 65 SCHAEFER, Fernanda. Responsabilidade civil do médico e erro de diagnóstico. Curitiba: Juruá, 2002. p. 65. 66 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 344. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 61 62 211 REVISTA A BARRIGUDA da patologia que lhe foi apresentada. A doença ou transtorno mental, como qualquer outro objeto, demanda observações cuidadosas de suas manifestações.67 Do ordenamento jurídico brasileiro, extraem-se, os seguintes elementos caracterizadores de erro médico: prática do ato médico, comissivo ou omissivo; dano ou prejuízo ao paciente; liame causal entre o ato praticado e a lesão sofrida; e a culpa, por meio da imprudência, negligência ou imperícia. 68 A internação psiquiátrica compulsória se apresenta como um dos procedimentos com mais risco de responsabilização para o psiquiatra por erro médico, cuja prevenção demanda a observância de dispositivos previstos da Lei da Reforma Psiquiátrica, tais como os arts. 2º, parágrafo único, I, II, V, VII, VIII; 4º, §§ 1º, 2º e 3º; 6º, caput, parágrafo único, III; ; 9º; 10 e 11. 69 Contudo, referida Lei não traz de forma explícita e detalhada em que situações a internação compulsória pode ser realizada. Apenas ressalta, genericamente, que será indicada quando os recursos extra-hospitalares restarem insuficientes (art. 4º, caput); houver laudo médico pormenorizado (art. 6º, DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 29. 68 TABORDA, José G. V. Responsabilidade civil do psiquiatra. In: Psiquiatria forense. José G. V. Taborda, Elias AbdallaFilho, Miguel Chalub. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 280. 69 Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; (...) V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; (...) VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. § 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio. § 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros. § 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no parágrafo único do art. 2o. Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: (...) III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários. Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência. Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas sem o consentimento expresso do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao Conselho Nacional de Saúde. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 67 212 REVISTA A BARRIGUDA caput); existir ordem judicial (art.6º, parágrafo único, III); e for realizada em conformidade com a legislação em vigor, por ordem do juiz competente (art. 9º). Ainda que haja opiniões de que o Decreto nº 24.559/1934 esteja revogado, tal instrumento normativo constitui-se no único texto legal a abordar o tema da internação psiquiátrica, ainda que por meio de artigos esparsos. Segundo José G. V. Taborda – embora fazendo alusão à internação involuntária, mas que se aplica à internação compulsória por ser esta uma internação involuntária realizada por ordem judicial -, devem ser observados os seguintes requisitos para sua ocorrência: presença de transtorno mental; risco de autoagressão; risco de heteroagressão a pessoa difusa ou determinada; risco de agressão à ordem pública; risco de exposição social; e incapacidade de autocuidados.70 Segundo Ruy Rosado de Aguiar Jr., ocorre erro de diagnóstico se não houver : Atenção e precauções conforme o estado da ciência, apresentando-se como erro manifesto e grosseiro. Comete-o o médico que deixa de recorrer a outro meio de investigação ao seu alcance ou profere um juízo contra princípios elementares de patologia.71 Para Hamid Charaf Bdine Júnior, haverá culpa, sujeita à responsabilização, “se o diagnóstico houver sido feito de modo equivocado porque o médico deixou de se valer dos recursos técnicos disponíveis e concluiu de modo impreciso.”72 É mais comum o erro de diagnóstico decorrente da culpa por negligência. Entretanto, também pode ser ocasionado por imperícia, por falta de conhecimento ou despreparo técnico ante o caso concreto. Para que se procure evitar o erro de diagnóstico, o médico-psiquiatra deve buscar contato com o paciente para fins de identificar “características pessoais, físicas e psicológicas, que possam contribuir para o reconhecimento da doença.”73 O diagnóstico relacionado à enfermidade mental torna-se mais complexos que o de outros ramos da medicina não somente pela impossibilidade de se estabelecer a causa de determinada patologia, mas também pelas diversidades de concepções teóricas e técnicas reconhecidas. Em muitos casos, o ato médico-psiquiátrico contém elevada carga de subjetividade do profissional, o que, em um mesmo contexto, pode levar a diferentes conclusões válidas.74 TABORDA, José G. V. Responsabilidade civil do psiquiatra. In: Psiquiatria forense. José G. V. Taborda, Elias AbdallaFilho, Miguel Chalub. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 284. 71 AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do médico . Direito e medicina: aspectos jurídicos da medicina. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 143. 72 BDINE JÚNIOR, Hamid Charaf. Responsabilidade pelo diagnóstico. In: Responsabilidade civil na área da saúde. Regina Beatriz Tavares da Silva (Coord.). 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 97. 73 BDINE JÚNIOR, Hamid Charaf. Responsabilidade pelo diagnóstico. In: Responsabilidade civil na área da saúde. Regina Beatriz Tavares da Silva (Coord.). 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 103. 74 KRAUT, Alfredo J. Responsabilidad civil de lós psiquiatras en el contexto de la prática médica. Buenos Aires: La Rocca, 1998. p. 101. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 70 213 REVISTA A BARRIGUDA Existe certo consenso entre os autores acerca da dificuldade da análise dos sintomas para se precisar a enfermidade mental, fazendo-se necessário a realização de um exame clínico completo para fins de se evitar um diagnóstico rotineiro,75 levando-se em consideração as particularidades de cada caso e dos pacientes, e, se houver necessidade, a realização exames mais detalhados e a análise por outros profissionais da saúde, como médico-neurologista e psicólogo. Alfredo Kraut destaca que: Las derivaciones de los errores diagnóticos son particulamente dañosas e pueden ser a causa de internaciones involuntárias injustas, externaciones inoportunas, interdicciones innecesarias, y uma multiplicidad de afectaciones derivadas de la defectuosa costumbre de emitir diagnósticos etiqueta, muchas veces apresuradamente.76 De igual modo opina Carrasco Gómez, para quem: Uma de lãs dificultades en el diagnóstico psiquiátrico, proviene por ejemplo, de la nosologia psiquiátrica. Las diferentes concepciones que hay sobre la enfermedad mental, lãs diversas y contrapuestas escuelas y la diversa influencia de factores sociales y culturales en la aparición y evolución de la enfermidad mental hacen que hoy dia no existan unos critérios diagnósticos que Sean considerados por todos [...].77 Com relação às implicações decorrentes do erro de diagnóstico em psiquiatria, as precisas lições de Carrasco Gómez, ao afirmar que: Las consecuencias de um error diagnóstico em psiquiatria y del que pueden drivarse acciones de reclamación judicial, son variadas y entre ellas, por ejemplo, la aplicación de tratamientos inadecuados, innecesarios o ante el fallo de éstos, o como errores judiciales por um error diagnóstico em el informe pericial, em casos de declaración de incapacidad civil, separación matrimonial o incluso em sentencias penales sobre imputabilidad em la comisión de um hecho delictivo, o sobre la valoración de la perigrosidad. Em otros casos cllínicos, el error diagnóstico llega a trascender a la persona sobre la que se há emitido, em su médio familiar, social y especialmente em el laboral.78 Os danos causados por diagnóstico errado que leve à determinação da internação psiquiátrica compulsória mostram-se presentes com o sofrimento desnecessário imposto ao paciente, levando-o inclusive ao isolamento e a prescrições medicamentosas desnecessárias, na medida em que é considerado com um quadro patológico mais gravoso que o realmente apresenta. Isso sem falar no estigma que sempre cerca as pessoas acometidas por algum transtorno mental, mormente numa sociedade desinformada e preconceituosa. É indene de dúvidas que cabe a responsabilização civil do médico-psiquiatra em decorrência de diagnóstico errôneo que leve o paciente à internação psiquiátrica compulsória, ainda mais quando se KRAUT, Alfredo J. Responsabilidad civil de lós psiquiatras en el contexto de la prática médica. Buenos Aires: La Rocca, 1998. p. 103. 76 KRAUT, Alfredo J. Responsabilidad civil de lós psiquiatras en el contexto de la prática médica. Buenos Aires: La Rocca, 1998. p. 105. 77 GÓMEZ, Juan José Carrasco. Responsabilidad médica y psiquiatria. 2ª ed. Madrid: Colex, 1998. p.95. 78 GÓMEZ, Juan José Carrasco. Responsabilidad médica y psiquiatria. 2ª ed. Madrid: Colex, 1998. p. 98. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 75 REVISTA A BARRIGUDA 214 tem nesta modalidade a mais extremada de internamento, cujo tratamento inadequado pode resultar em risco para terceiros e para o próprio paciente. Ao portador de transtorno mental submetido a tratamento, o psiquiatra deve assumir o dever de colocar à sua disposição “o máximo de cuidado, habilidade e conhecimentos tendentes à cura almejada”. Cabe a ele atuar com a máxima diligência, valendo-se das “regras da ciência psiquiátrica contemporânea ao tratamento”.79 Torna-se inadmissível que o portador de transtorno mental fique a mercê de erros de diagnósticos em psiquiatria cujas consequências, dentre outros, pode ocasionar em internação compulsória desnecessária, podendo não somente incorrer em um agravamento do estado de saúde por tratamento ou uso de medicação inadequada, que podem resultar, a depender da gravidade do caso, não somente em autolesão ou heteroagressão, mas até mesmo no ato extremo do suicídio. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do aviltante crescimento dos transtornos mentais no Brasil, com especial destaque para os problemas ligados aos vícios com drogas e álcool, bem como pelo constante crescimento dos casos transtornos mentais, principalmente os relacionados à depressão, faz-se necessário que os profissionais da medicina, em especial o psiquiatra, o dever de conferir um tratamento mais humano aos pacientes, priorizando o doente ao invés da doença, valendo-se de todos os meios cientificamente disponíveis para a determinação de um diagnóstico correto, que venha a contribuir não somente com o tratamento adequado à enfermidade mental detectada, mas permitir a estes pessoas a uma vida digna.. O diagnóstico errôneo pode não somente levar o portador de enfermidade mental a internação compulsória desnecessária - caso lhe seja atribuída uma patologia com um estado de gravidade maio que ele apresenta -, mas também a um tratamento não condizente com a o seu real quadro de saúde, cujo isolamento e a prescrição de medicamentos inadequados ou em doses mais elevadas, além de poderem ocasionar agravamento de seu estado, pode culminar até mesmo no cometimento de suicídio. O risco de erro torna-se maior quando ó diagnóstico psiquiátrico é feito de forma genérica, sem levar em consideração a individualidade de cada paciente, inclusive os que apresentem indícios de padecerem dos mesmos sintomas patológicos, assim como sua história familiar e hábitos rotineiros. Embora ainda persistam alguns entendimentos que somente o erro de diagnóstico grosseiro possa levar à responsabilidade civil do médico, mormente o diagnóstico em psiquiatria, há de se KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 8ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. p. 298. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 79 215 REVISTA A BARRIGUDA considerar que, a depender da situação, até mesmo os erros mais moderados são passíveis de responsabilização. E mais, mesmo essa indenização se “concedida”, não realizaria o direito que se perdeu, na esteira das trocas impossíveis que o paradigma moderno insiste em se autoenganar. Tal fato, sem dúvida, acentua ainda mais a responsabilidade do magistrado ao apreciar a concessão de medida nesse sentido. A internação voluntária de Simão Bacamarte jamais teve o condão de abrandar as tantas que seu diagnóstico determinou. Assim se dá com a responsabilidade civil aplicada ao tema. Apenas uma troca impossível. Porém abre-se aqui a o vão para pensar as possibilidades do atual direito de danos, quando projetado ao tema, com vistas ao que postula-se uma reparação integral daqueles que possam vir a ser vítimas de equivocadas internações compulsórias em instituições psiquiátricas. Tal percepção, naturalmente asfaltada em Machado de Assis, mostra o quanto o passado pode fazer-se presente, na não rara atualidade concreta da Casa Verde, para tantos homens e mulheres assim reduzidos, de verdadeiros sujeitos à sombras de sujeitados. REFERÊNCIAS AGUIAR JR., Ruy Rosado. Responsabilidade civil do médico. In: Direito e medicina: aspectos jurídicos da medicina. Sálvio de Figueiredo Teixeira (Coord.). Belo Horizonte: Del Rey, 2000. BDINE JÚNIOR, Hamid Charaf. Responsabilidade pelo diagnóstico. In: Responsabilidade civil na área da saúde. Regina Beatriz Tavares da Silva (Coord.). 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. BITTAR, Carlos Alberto. Responsabilidade civil: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989. BORGES, Gustavo. Erro médico nas cirurgias plásticas. São Paulo: Atlas, 2014. CAMPBELL, Robert J. Dicionário de psiquiatria. 8ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. CORREIA, Joelma de Sousa. Saúde mental na contemporaneidade: aspectos psicossociais. In: Saúde mental e o direito: ensaios em homenagem ao professor Heitor Carrilho. Cristiano Carrilho Silveira de Medeiros (org.). São Paulo: Método, 2004. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. GÓMEZ, Juan José Carrasco. Responsabilidad médica y psiquiatria. 2ª ed. Madrid: Colex, 1998 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. GOODWIN, Donald W.; GUZE, Samuel B. Diagnóstico da doença mental. Trad. de Jurema Alcides Cunha. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981. JARA, Mariano Gómez. Transtornos psiquiátricos y derecho: responsabilidad penal, internamientos, incapacitación, etc. Barcelona: Atelier, 2008. KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. KRAUT, Alfredo J. Responsabilidad civil de lós psiquiatras en el contexto de la prática médica. Buenos Aires: La Rocca, 1998. LOUZà NETO, Mario Rodrigues; ELKIS, Hélio. Psiquiatria básica. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. MALUF, Carlos Alberto Dabus; MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. A responsabilidade civil na relação dos profissionais da área de saúde e paciente. Direitos do paciente. Álvaro Villaça Azevedo, Wilson Ricardo Ligiera (Coords.). São Paulo: Saraiva, 2012. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 REVISTA A BARRIGUDA 216 MAPELLI JÚNIOR, Reynaldo; COIMBRA, Mário; MATOS, Yolanda Alves Pinto Serrano de. Direito sanitário. São Paulo: Ministério Público, Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Cível e de Tutela Coletiva, 2012. MELO, Nehemias Domingos de. Responsabilidade civil por erro médico: doutrina e jurisprudência. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2013. MENDES, Karyna Rocha. Curso de direito da saúde. São Paulo: Saraiva, 2013. MORAES, Maria Celina Bodin de. Na medida da pessoa humana: estudos de direito civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2010. NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil comentado. 9ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. PINHEIRO, Gustavo Henrique de Aguiar. Comentários à lei da reforma psiquiátrica: uma leitura constitucional da lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001. Fortaleza: Tear da Memória, 2010. POLICASTRO, Décio. Erro médico e suas consequências jurídicas. 4ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2013. PORTO, Celmo Celeno. Semiologia médica. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. RAPOSO, Vera Lúcia. Do ato médico ao problema jurídico. Coimbra: Almedina, 2013. REY, Luís. Dicionário de termos técnico em medicina e saúde. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. SACCONI, Luiz Antonio. Grande dicionário Sacconi: da língua portuguesa: comentado, crítico e enciclopédico. São Paulo: Nova Geração, 2010. SADOCK, Benjamin J. Manual de psiquiatria clínica: referência rápida. Benjamin J. Sadock, Virginia A. Sadock; tradução Régis Pizzato; revisão técnica: André Campos Gross, Felipe Almeida Picon, Gustavo Schestatsky. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. SAMPAIO, Anita Alves. Dicionário de medicina. São Paulo: Andrei, 2003. SANTOS, Marcos André Couto. Transtornos mentais e dignidade da pessoa humana. In: Saúde mental e o direito: ensaios em homenagem ao professor Heitor Carrilho. Cristiano Carrilho Silveira de Medeiros (org.). São Paulo: Método, 2004. SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 9ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012. SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. SANTORO FILHO, Antonio Carlos. Direito e saúde mental à luz da lei 10.216 de 06 de abril de 2001. São Paulo: Verlu Editora, 2012. SCHAEFER, Fernanda. Responsabilidade civil do médico e erro de diagnóstico. Curitiba: Juruá, 2002. SCHWARTZ, Germano. Direito à saúde: efetivação em uma perspectiva sistêmica. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2001. SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Código civil comentado. Coordenador até a 5ª ed. Ricardo Fiuza. 6ª ed. Regina Beatriz Tavares da Silva (Coord.). São Paulo: Saraiva, 2008. SOARES, Marcos Hirata. Apresentando novas ferramentas: gerenciamento de casos de saúde mental. In: Saúde mental novas perspectivas. SOARES, Marcos Hirata; BUENO, Sônia Maria Villela (org.). São Caetano do Sul – SP, 2011. TABORDA, José G. V. Responsabilidade civil do psiquiatra. In: Psiquiatria forense. José G. V. Taborda, Elias Abdalla-Filho, Miguel Chalub. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. TRUFFINO, Javier Cabanyes. La salud mental em el mundo de hoy. Navarra: EUNSA, 2012. VANDENBOS, Gary R. (Org.). Dicionário de psicologia da APA. Tradução Daniel Bueno, Maria Adriana Veríssimo Veronese e Maria Cristina Monteiro; revisão técnica Maria Lucia Tiellet Nunes. Porto Alegre, 2010. VENTURA, Carla A. Arena. Aspectos da interface entre o direito e a saúde mental. In: Saúde mental novas perspectivas. Marcos Hirata Soares; Sônia Maria Vilela Bueno (org.). São Caetano do Sul – SP, 2011. VIDEBECK, Sheila A. L. Enfermagem em saúde mental e psiquiatria. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. WANG, Yuan-Pang; HUMES, Eduardo Castro; ANDRADE, Laura Helena Silveira Guerra de. Diagnóstico e classificação em psiquiatria. In: Psiquiatria básica. Mauro Rodrigues Louzã Neto, Hélio Elkins. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014 REVISTA A BARRIGUDA 217 Fábio de Holanda Monteiro Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS. Especialista em Processo Administrativo pela Universidade Federal do Ceará - UFC. Especialista em Direito Tributário pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Graduação em Direito pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI. Graduação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Professor Efetivo do Curso de Direito da Universidade Estadual do Piauí - UESPI. Ex-Professor do Curso de Direito da Faculdade Santo Agostinho - FSA. Procurador do Estado do Piauí. Advogado. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Tributário, Direito Administrativo, Direito Constitucional, Direito Processual Civil e Direito da Saúde. Ricardo Aronne Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Pós-doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Advogado. [email protected]. RECEBIDO EM 04/10/2014 APROVADO EM 10/12/2014 ISSN 2236-6695 REVISTA A BARRIGUDA, CAMPINA GRANDE 4 [3]| P. 194-0217| SET-DEZ 2014
Documentos relacionados
Direito, Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica
A humanidade vem pautando a orientação do seu desenvolvimento a partir do domínio e controle daquilo que lhe é desconhecido, intrigante e ameaçador. A história da relação do ser humano com a loucur...
Leia mais