simão bacamarte e as trocas impossíveis:percepções

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simão bacamarte e as trocas impossíveis:percepções
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REVISTA A BARRIGUDA
SIMÃO BACAMARTE E AS TROCAS IMPOSSÍVEIS:PERCEPÇÕES
SOBRE A RESPONSABILIDADE CIVIL DO PSIQUIATRA POR ERRO DE
DIAGNÓSTICO NA INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA COMPULSÓRIA
Simão Bacamarte and exchanges impossible: perceptions about the psychiatrist's civil liability of
diagnosis error in psychiatric hospital compulsory
FÁBIO DE HOLANDA MONTEIRO
RICARDO ARONNE
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo fazer uma
abordagem sobre responsabilidade civil em
decorrência de erro de diagnóstico na internação
psiquiátrica compulsória. Em que pese a
internação compulsória ser determinada por
ordem judicial, não se deve desconsiderar que a
complexidade das questões que a circundam têm
ocasionado um número crescente de demandas
judiciais, envolvendo não somente os casos de
medidas de segurança e dos que ofereçam risco
para os próprios pacientes, para seus familiares e
para a sociedade, mas também no tratamento e
no fornecimento de medicamentos das patologias
da mente, cuja consequência pode ser a de trazer
sérios riscos para a saúde do paciente.
PALAVRAS-CHAVE
SAÚDE MENTAL. ERRO DE DIAGNÓSTICO.
INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA COMPULSÓRIA.
RESPONSABILIDADE CIVIL.
ISSN 2236-6695
ABSTRACT
This article aims to present an approach to civil
liability as a result of misdiagnosis in compulsory
psychiatric hospitalization. In spite of the
compulsory hospitalization be determined by
judicial order, you must not disregard the
complexity of the issues that surround it have led
a growing number of lawsuits involving not only
the cases of security measures and offering risk
to themselves patients, to their families and
society, but also in the treatment and supply of
medicines of diseases of the mind, whose
consequence may be to bring serious risks to
patient health.
KEYWORDS
MENTAL HEALTH. DIAGNOSTIC ERROR.
COMPULSORY PSYCHIATRIC HOSPITALIZATION.
CIVIL LIABILITY.
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INTRODUÇÃO
Ponto pacífico no recente paradigma que colonizava a recente legislação e jurisprudência
brasileira, desde a chamada reforma psiquiátrica passou-se a controverter sobre a internação compulsória
de pacientes psiquiátricos e seus limites. Com isso, natural a extensão do tema à responsabilidade civil
do médico responsável.
Se, na sociedade brasileira patriarcal e oitocentista, gestora e bem representada pela codificação
civil de 1916, era natural o discurso de Simão Bacamarte e as internações na Casa Verde1, no cítrico
texto machadiano, a contemporaneidade digere o tema com outros ácidos.
Não apenas o orientador deôntico da proporcionalidade, gestor da exigível razoabilidade da
medida, é presença normativa pulsante, como, especialmente a o princípio da dignidade humana se
projeta aqui, como notável vigor.
Ao atribuir o direito à saúde como um direito fundamental necessário à preservação da
dignidade humana, a Constituição Federal de 1988 abrange também a saúde mental.
É de salientar-se que, segundo dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), cujas
informações constam do Plano de Ação para Saúde Mental 2013-2020, as doenças mentais representam
13% do total das doenças do mundo. As estimativas dão conta de que cerca de 350 milhões de pessoas
deverão sofrer de depressão e 90 milhões terão alguma desordem por abuso ou dependência de
substâncias.
A depender da situação e do grau do transtorno mental que venha acometer determinada pessoa,
assume especial destaque o tratamento psiquiátrico, o qual demanda um diagnóstico sério e
consciencioso que deve ater-se às circunstâncias do caso específico, levando-se em conta o estado do
paciente e o contexto terapêutico. Não se deve descurar que o portador de transtorno mental tem direito
à melhor terapia, mais adequada a seu caso, sendo o diagnóstico correto de primordial importância para
a determinação do tratamento, escolha da instituição hospitalar adequada e indicação da medicação mais
adequada ao caso.
Não obstante, a própria noção de loucura é uma construção moderna, oriunda do recente
discurso científico que colonizou a ontologia ocidental nos últimos séculos, ocupando o lugar do
discurso religioso2.
Mesmo o apartamento social, núcleo temático desse estudo, daquele outrora considerado
especial no seio da comunidade, então designado louco, também é prática moderna, mergulhada no
paradigma iluminista.3
ASSIS, Machado de. O Alienista.
NIETZSCHE, Friedriech. O Crepúsculo dos Deuses.
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FOUCAULT, Michel. A História da Loucura.
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O discurso, pois, do alienista (àquele que aparta, separa, aliena), sem dúvida tombou sob o peso
de sua proposta solidez, que viu-se evaporar como o sonho cartesiano disciplinar. Afinal, “tudo que é
sólido se desmancha no ar”4.
2 O DIREITO À SAÚDE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
A OMS dispõe, no preâmbulo de sua Constituição, que “a saúde é um estado de completo
bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou enfermidade.”
Terminou-se por alargar o conceito de saúde anteriormente restrito à seara curativa e preventiva,
propondo-a não somente como a ausência de doenças, mas também um perfeito bem-estar físico, mental
e social.5
Na ordem jurídico-constitucional brasileira, o direito à saúde possui estreita correlação com a
dignidade da pessoa humana e com o direito à vida, encontrando-se expressamente consagrado como
direito fundamental social pelo art. 6º da Constituição de 1988.
O art. 196 do Texto Constitucional, por sua vez, dispõe que a saúde é direito de todos e dever
do Estado. Tal dispositivo estabelece uma relação jurídico-constitucional que confere a todos o direito à
saúde, bem como uma cláusula obrigacional imposta como um dever do Estado. Noutras palavras, o
constituinte terminou por conceder a todas as pessoas o “acesso às ações e serviços de saúde”,
independentemente de nacionalidade, cor, sexo, religião, poder econômico, etc., dispensando um
tratamento igualitário entre os indivíduos, sem quaisquer distinções ou diferenças.6
Para Ingo Sarlet, o direito à saúde, além de possuir vinculação com o direito à vida, encontrase estreitamente ligado não somente à ideia de integridade corpórea, mas também à de integridade
psíquica do ser humano.7
Contudo, em que pese sua previsão no art. 6º da Lei Suprema, Ingo Sarlet destaca que o
direito à saúde encontra sua concretização de maneira mais efetiva nos art. 196 e ss., ao estabelecer a
necessidade de uma regulamentação normativa infraconstitucional, assegurando que tal direito, além de
pertencer a todos, impõe aos poderes públicos o dever de promoção de políticas sociais e econômicas
MARX, Karl; ENGELS, Friedriech. Manifesto do Partido Comunista…
SCHWARTZ, Germano. Direito à saúde: efetivação em uma perspectiva sistêmica. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2001. p. 35.
6
MAPELLI JÚNIOR, Reynaldo; COIMBRA, Mário; MATOS, Yolanda Alves Pinto Serrano de. Direito sanitário. São
Paulo: Ministério Público, Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Cível e de Tutela Coletiva, 2012. p. 18.
7
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 2ª ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 589.
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que busque a diminuição do risco de doenças e de outros agravos, bem como a permissão de acesso
universal e igualitário às ações e prestações que lhes digam respeito.8
No plano infraconstitucional, em compasso com os artigos 197 e 24, inciso II, da
Constituição Federal, foi editada, em 19 de setembro de 1990, a Lei nº 8.080, intitulada Lei Orgânica
da Saúde (LOS), estabelecendo, logo em sua disposição preliminar, que se destina a regular, em todo
território nacional, as ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter
permanente ou eventual, tanto por pessoas naturais como por pessoas jurídicas de direito público ou
privado.
Em relação à saúde mental, a Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, redirecionou o modelo
assistencial, buscando, através da desinstitucionalização, conferir ao portador de transtorno mental um
tratamento antidiscriminatório, cujo objetivo maior é sua reinserção social, com consequente
preservação de sua cidadania.
O apartear, mediante internação forçada, necessariamente perde a ordinariedade natural que a
modernidade lhe deu. O discriminar, que estava no cerne da perspectiva psicoterápica moderna, passa a
ser percebido com reservas. Muito diferente de outrora.
“Com efeito, era difícil imaginar mais racional sistema terapêutico. Estando os loucos
divididos por classes, segundo a perfeição moral que em cada um deles excedia às outras,
Simão Bacamarte cuidou em atacar de frente a qualidade predominante. Suponhamos um
modesto. Ele aplicava a medicação que pudesse incutir-lhe o sentimento oposto; e não ia logo
às doses máximas, — graduava-as, conforme o estado, a idade, o temperamento, a posição
social do enfermo. Às vezes bastava uma casaca, uma fita, uma cabeleira, uma bengala, para
restituir a razão ao alienado; em outros casos a moléstia era mais rebelde; recorria então aos
anéis de brilhantes, às distinções honoríficas, etc. Houve um doente, poeta, que resistiu a
tudo. Simão Bacamarte começava a desesperar da cura, quando teve a idéia de mandar correr
matraca, para o fim de o apregoar como um rival de Garção e de Píndaro.”9
.
3 CONCEITO DE DOENÇA MENTAL
Na contemporaneidade, a proposição de uma conceituação precisa da saúde mental encontra
certa dificuldade, posto que o comportamento de uma pessoa pode fornecer indício de sua saúde
mental, vez que cada indivíduo, dependendo dos valores e crenças, pode ter uma visão ou interpretação
diferenciada de um comportamento, tornando, com isto, difícil individuar a saúde mental.
Maneira geral, as pessoas que conseguem desempenhar suas atividades, mantendo um padrão
“apropriado e adaptativo são consideradas saudáveis”. Já as que não conseguem desenvolver suas
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 2ª ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 590.
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ASSIS, Machado de.
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funções ou assumir responsabilidades, apresentando ainda um comportamento inapropriado, são
consideradas doentes. 10
Independentemente de uma definição exata do que seja saúde mental, deve ter-se em mente que
a ordem jurídica constitucional não admite qualquer forma de tratamento discriminatório aos
portadores de transtornos mentais, mostrando-se pertinentes os ensinamentos de Ingo Sarlet, para quem
a dignidade da pessoa humana independe de circunstâncias concretas, por ser inerente a toda e qualquer
pessoa.
Segundo o jurista gaúcho, a autonomia de cada ser humano deve ser:
Considerada em abstrato, como sendo a capacidade potencial que cada ser humano tem de
autodeterminar sua conduta, não dependendo da sua efetiva realização no caso da pessoa em
concreto, de tal sorte que o absolutamente incapaz (por exemplo, o portador de grave
deficiência mental) possui exatamente a mesma dignidade que qualquer outro ser humano
física e mentalmente capaz.11
A complexidade que circunda a definição de doença mental, no tocante ao “normal” e ao
“patológico”, mostra-se mais evidente com as alterações ocorridas no sistema de classificação da
Associação Americana de Psiquiatria, firmada pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Desorders (DSM)12, cuja 1ª edição, de 1952, trazia 160 perturbações. A quarta versão, DSM-IV, de
1994, aponta 410. No intervalo de sete anos transcorridos entre a publicação do DSM-III-R (1987) e
o DSM-IV (1994) houve mudanças de critérios em relação a 120 perturbações, com os acréscimos de
13 novas e a eliminação de oito.13 A mais recente versão do manual, o DSM-V, de maio de 2013,
cataloga 450 novas categorias diagnósticas.
Sem deixar de levar em conta a dificuldade de precisar-se a definição de doença mental, Luís
Rey a conceitua como o “termo geral para os distúrbios da mente, afetividade, percepção e
comportamento, como manifesta incapacidade resultante dessas perturbações percebidas tanto pelo
paciente como pelos seus próximos.”14
Para Javier Truffino, a saúde mental “es armónico equilibrio entre las diferentes funciones
psíquicas, que permite uma buena interacción y comunicación com lós demás, y afrontar lãs situaciones
enriqueciendo y enriqueciéndose.”15
VIDEBECK, Sheila A. L. Enfermagem em saúde mental e psiquiatria. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 16-17.
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. 9ª ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012. p. 54 – 56.
12
O DSM, como uma espécie de dicionário de psiquiatria, classifica os diversos distúrbios mentais, oferecendo parâmetros
para o diagnóstico de cada um deles. A cada atualização apresenta novas categorias de doenças, alterando as diretrizes
consolidadas pelas edições anteriores.
13
MENDES, Karyna Rocha. Curso de direito da saúde. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 61.
14
REY, Luís. Dicionário de termos técnicos de medicina e saúde. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 273.
15
TRUFFINO, Javier Cabanyes. La salud mental em el mundo de hoy. Navarra: EUNSA, 2012. p. 73.
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Não há um modo preciso de estabelecimento para o conceito de doença mental que seja
universalmente aceito, posto que quase todas as definições não contribuem para uma aplicação imediata
no tratamento dos pacientes. O que se deve levar em conta é se determinada pessoa apresenta, ou não,
um padrão de comportamento que pode ser indicador de determinada patologia para que, então, possase escolher a melhor alternativa de tratamento válido cientificamente.16
4 O DIAGNÓSTICO EM DOENÇA MENTAL
Etimologicamente, diagnóstico é definido como “identificação ou determinação da natureza e
da causa de uma doença pelos sintomas”.17 Na medicina, é tido como a “arte ou técnica de identificar
uma infecção, doença ou enfermidade pela anamnese e exame dos sintomas e sinais clínicos apresentados
pelo paciente, ou mediante exames de laboratório, técnicas de imageamento, etc.”18
É por meio do diagnóstico que se deve precisar os caracteres distintivos que permitem definir
uma doença ou enfermidade, devendo o médico considerar todos os sinais, manifestações e sintomas
apresentados pelo paciente, levando-se em conta a anamnese.
Segundo Fernanda Schaefer:
O ato de diagnosticar deve ser extremamente sério, além de se configurar um trabalho
eminentemente intelectual (raciocínio clínico), sendo o prognóstico uma fase complementar à
do diagnóstico. Por este motivo, deve-se buscar a maior precisão possível ao se diagnosticar,
evitando-se desta maneira, criar ansiedades desnecessárias no paciente.19
Em seu clássico estudo sobre a responsabilidade civil do médico, Ruy Rosado de Aguiar Jr.
afirma que:
O diagnóstico consiste na determinação da doença do paciente, seus
caracteres e suas causas. O erro no diagnóstico não gera responsabilidade,
salvo se este for realizado sem atenção e precauções conforme o estado da
ciência, apresentando-se como erro manifesto e grosseiro. Comete-o o médico
que deixa de recorrer a outro meio de investigação ao seu alcance ou profere
um juízo contra princípios elementares de patologia. 20
Importante ponto destacado por Aguiar Jr. é a responsabilização em decorrência
do diagnóstico desatento, sem as devidas precauções, com erro manifestadamente
MENDES, Karyna Rocha. Curso de direito da saúde. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 56.
SACCONI, Luiz Antonio. Grande dicionário Sacconi: da língua portuguesa: comentado, crítico e enciclopédico. São
Paulo: Nova Geração, 2010. p. 674.
18
REY, Luís. Dicionário de termos técnico em medicina e saúde. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. p. 247.
19
SCHEFER, Fernanda. Responsabilidade civil do médico e erro de diagnóstico. 1ª ed. 10ª reimpressão. Curitiba: Juruá,
2011. p. 66.
20
AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do médico. In: Direito e medicina: aspectos jurídicos da medicina.
Sálvio de Figueiredo Teixeira (Coord.). Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 143.
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grosseiro. Tal situação não demanda maiores dúvidas acerca do dever de responder pelos
danos causados ao paciente.
Sem deixar de desconsiderar os avanços nas diversas áreas da medicina, permanece a falibilidade
no campo do diagnóstico, com consequente aumento da responsabilidade médica por erros de
diagnósticos. Tais erros decorrem, precipuamente, da interpretação equivocada de exames realizados ou
dos que não se realizou.21
Um diagnóstico errado pode ocorrer, por exemplo, quando o médico atue sem dispor de
capacidade técnica suficiente para diagnosticar; dá o diagnóstico sem exame prévio do paciente;
apresenta um diagnóstico sem observar sintomas evidentes ou sem levar em conta hipóteses remotas; e
elabora diagnóstico tardio ou com atraso sem justificativa.22
No atinente ao diagnóstico psiquiátrico, são identificadas duas posições divergentes. A primeira
tem o diagnóstico como desprovido de qualquer valor, dado ao fato de que toda e qualquer pessoa é
possuidora de uma realidade única não sujeita à classificação. Nessa perspectiva, o diagnóstico
psiquiátrico se presta tão somente para rotulação de pessoas diferentes de forma a permitir o poder
médico e o controle social sobre o indivíduo “desadaptado ou questionador.” A segunda corrente
defende o diagnóstico psiquiátrico, o qual assumiria semelhança com os diagnósticos das demais
especialidades médicas. Nessa acepção, o diagnóstico constitui o principal e mais importante elemento
da prática psiquiátrica. 23
A dificuldade do diagnóstico em psiquiatria advém do fato de envolver enfermidades que não
são detectadas por meio de exames de órgãos do corpo humano, ou mesmo de um exame de imagem,
ainda que estes estejam cada vez mais avançados com o mapeamento de áreas do cérebro apontadas
como a origem dos transtornos mentais, juntamente com o desequilíbrio de neurotransmissores como a
serotonina, a dopamina e a noradrenalina, dentre outros.
O diagnóstico psiquiátrico ainda depende de importantes descobertas para fins de confirmação
das “entidades nosológicas”24 até então descritas, baseadas na descrição clínica do examinando,
permanecendo ainda, contudo, vulnerável à subjetividade dos avaliadores. Dessa forma, dado ao fato de
as doenças ou transtornos mentais ainda não terem suas causas completamente esclarecidas, em que pese
o avanço das pesquisas, utiliza-se o critério clínico, refletindo tão somente sinais e sintomas nas pessoas
avaliadas sem nada apontar sobre sua causalidade.25
RAPOSO, Vera Lúcia. Do ato médico ao problema jurídico. Coimbra: Almedina, 2013. p. 248.
RAPOSO, Vera Lúcia. Do ato médico ao problema jurídico. Coimbra: Almedina, 2013. pp. 249 - 250.
23
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
p. 39.
24
Conforme Anita Alves Sampaio, a nosologia refere-se ao estudo e à classificação das doenças. In: Dicionário de medicina.
São Paulo: Andrei, 2003. p. 280.
25
LOUZÃ NETO, Mario Rodrigues; ELKIS, Hélio. Psiquiatria básica. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 32.
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Comumente, o diagnóstico psiquiátrico é pautado no estabelecimento da gravidade ou
persistência do transtorno mental, não fornecendo acerca da ocorrência e da causa da patologia. Tal
situação termina por resultar em discordâncias entre os avaliadores que se valem de pressupostos
teóricos diversos.
O diagnóstico prevalecente em psiquiatria, embora não faltem posicionamentos contrários,
ainda é baseado na “descrição do quadro clínico”, valendo-se de critérios de classificação para fins de
auxiliar na identificação das patologias da mente e no tratamento dos pacientes.26
Consoante Carrasco Gómez, a dificuldade de se considerar critérios de diagnósticos que sejam
aceitos por todos se deve às diferentes concepções que se têm sobre o transtorno mental, às diversas
escolas e à influência de vários fatores sociais e culturais no surgimento e na evolução da enfermidade
mental.27
Os dois principais sistemas de diagnósticos utilizados em psiquiatria é o do Manual diagnóstico
e estatístico de transtornos mentais da Associação de Psiquiatria Americana (DSM-V) e o da
Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-10). Tanto o DSM
como o CID utilizam os mesmos códigos numéricos a serem utilizados na descrição de cada transtorno
mental.28 Contudo, não se pode deixar de levar em consideração a particularidade de cada portador de
transtorno mental na fixação do diagnóstico.29
A complexidade no entorno do diagnóstico psiquiátrico não deve permitir que o psiquiatra
realize um simples levantamento ou agrupamento de sintomas, fazendo-se necessária uma análise
organizada visando um diagnóstico que leve em conta a particularidade do examinando, sua história,
assim como o contexto social, cultural e ambiental em que vive.30
A gravidade do erro torna-se de maior quando o médico se utiliza de diagnóstico padronizado e
errôneo, sem uma investigação mais detida na anamnese ou exames complementares. Referida prática
pode levar o paciente a interdições desnecessárias e internações indevidas, com consequente
responsabilização pelos danos ocasionados.31
A responsabilização por erro de diagnóstico ocorre quando outro médico, em igual situação e
de forma prudente, não viesse a cometer o mesmo erro. Nesse caso, o erro torna-se inescusável, seja por
WANG, Yuan-Pang; HUMES, Eduardo Castro; ANDRADE, Laura Helena Silveira Guerra de. Diagnóstico e
classificação em psiquiatria. In: Psiquiatria básica. Mauro Rodrigues Louzã Neto, Hélio Elkins. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed,
2007. p. 32.
27
GÓMEZ, Juan José Carrasco. Responsabilidad médica y psiquiatria. 2ª ed. Madrid: Colex, 1998. p. 95.
28
SADOCK, Benjamin J. Manual de psiquiatria clínica: referência rápida. Benjamin J. Sadock, Virginia A. Sadock; tradução
Régis Pizzato; revisão técnica: André Campos Gross, Felipe Almeida Picon, Gustavo Schestatsky. 5ª ed. Porto Alegre:
Artmed, 2012. p. 15.
29
GOODWIN, Donald W.; GUZE, Samuel B. Diagnóstico da doença mental. Trad. de Jurema Alcides Cunha. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1981. p. 193.
30
PORTO, Celmo Celeno. Semiologia médica. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. p. 1278.
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KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 299.
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deficiência na formação profissional, seja por não fazer uso dos meios necessários para fixação de um
diagnóstico correto, ou mesmo proferindo diagnóstico apressado sem exame adequado do paciente.32
Tal raciocínio aplica-se ao diagnóstico psiquiátrico.
Perceba-se que o determinismo moderno não pode orientar tal perspectiva de análise médica, tal
qual não pode estar na jurídica que venha a debruçar-se sobre o tema. Aqui, novamente, os princípios
jurídicos oferecem a única semiologia normativa apta a embasar o aplicador do Direito no
enfrentamento de suas concretudes.
5 A LEI DA REFORMA PSIQUIÁTRA
A reforma psiquiátrica no Brasil surgiu em decorrência um movimento histórico, já instalado
na Modernidade Líquida33, de caráter político, social e econômico influenciado pela ideologia de grupos
dominantes, incluindo pacientes, familiares e profissionais da saúde mental. Um das principais vertentes
do processo da reforma consiste na desinstitucionalização, e, consequentemente, a desconstrução do
manicômio e dos paradigmas que o sustentam.
O modelo de assistência psiquiátrica até então predominante no Brasil, pautado na legislação
de 1934, desenvolvida na Modernidade Tardia34, é considerado, dias de hoje, falido e desmitificado,
posto que a hospitalização e o asilamento do portador de transtorno mental, na busca de atender a
segurança da ordem e da moral pública, não atende às diretrizes imposta pela Constituição de 1988 na
prestação dos serviços de saúde, que têm como fundamentos a dignidade humana e o direito à vida.
Nesse contexto, os portadores de transtornos mentais passam a fazer parte de um grupo
vulnerável da população, o que, de certa forma, já vem passando por mudanças implementadas por
movimentos que buscam a conscientização de que é fundamental a luta pela preservação de seus direitos.
Destarte, a Lei nº 10.216, de 06 de abril de 2001, que implantou a Reforma Psiquiátrica no Brasil,
assume um importante papel no tratamento e na reinserção social dessas pessoas, objetivando lhes
conferir um tratamento humano mais digno.
Permita-se voltar à prosa machadiana, ao fecho de O Alienista:
Isso é isto. Simão Bacamarte achou em si os característicos do perfeito equilíbrio mental e
moral; pareceu-lhe que possuía a sagacidade, a paciência, a perseverança, a tolerância, a
veracidade, o vigor moral, a lealdade, todas as qualidades enfim que podem formar um
acabado mentecapto. Duvidou logo, é certo, e chegou mesmo a concluir que era ilusão; mas
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 299.
BAUMAN, Zigmunt. Modernidade Líquida.
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ARONNE, Ricardo. Razão e Caos no Discurso Jurídico.
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sendo homem prudente, resolveu convocar um conselho de amigos, a quem interrogou com
franqueza. A opinião foi afirmativa.
— Nenhum defeito?
— Nenhum, disse em coro a assembléia.
— Nenhum vício?
— Nada.
— Tudo perfeito?
— Tudo.
— Não, impossível, bradou o alienista. Digo que não sinto em mim essa
superioridade que acabo de ver definir com tanta magnificência. A simpatia é que vos faz
falar. Estudo-me e nada acho que justifique os excessos da vossa bondade.
A assembléia insistiu; o alienista resistiu; finalmente o Padre Lopes explicou
tudo com este conceito digno de um observador:
— Sabe a razão por que não vê as suas elevadas qualidades, que aliás todos nós
admiramos? É porque tem ainda uma qualidade que realça as outras: — a modéstia.
Era decisivo. Simão Bacamarte curvou a cabeça, juntamente alegre e triste, e
ainda mais alegre do que triste. Ato contínuo, recolheu-se à Casa Verde. Em vão a mulher e
os amigos lhe disseram que ficasse, que estava perfeitamente são e equilibrado: nem rogos
nem sugestões nem lágrimas o detiveram um só instante.
— A questão é científica, dizia ele; trata-se de uma doutrina nova, cujo primeiro
exemplo sou eu. Reúno em mim mesmo a teoria e a prática.
— Simão! Simão! meu amor! dizia-lhe a esposa com o rosto lavado em lágrimas.
Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou
os ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa Verde,
entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas que ele morreu dali a
dezessete meses, no mesmo estado em que entrou, sem ter podido alcançar nada. Alguns
chegam ao ponto de conjeturar que nunca houve outro louco, além dele, em Itaguaí; mas esta
opinião, fundada em um boato que correu desde que o alienista expirou, não tem outra prova,
senão o boato; e boato duvidoso, pois é atribuído ao Padre Lopes, que com tanto fogo
realçara as qualidades do grande homem.
Seja como for, efetuou-se o enterro com muita pompa e rara solenidade.
A Lei da Reforma Psiquiátrica concede, no parágrafo único de seu art. 2º, diversos direitos às
pessoas portadoras de transtornos mentais, com especial destaque para melhor tratamento do sistema de
saúde conforme suas necessidades; tratamento humanitário e respeitoso no interesse exclusivo de
beneficiar sua saúde, proporcionando sua inserção na família, no trabalho e na comunidade; proteção
contra qualquer forma de abuso e exploração; ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos
invasivos possíveis; ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.
O processo da Reforma Psiquiátrica no Brasil é caracterizado primordialmente por novos
conceitos, como cidadania, atenção integral e busca da colocação da saúde como referencial no lugar da
doença. Busca a transformação nas relações cotidianas entre os profissionais de saúde mental, usuários,
famílias, sociedade e serviços, com fins de buscar a desinstitucionalização e a humanização das relações
sociais.35 Propõe-se o fechamento de hospitais psiquiátricos (hospícios), com a redução gradativa de
CORREIA, Joelma de Sousa. Saúde mental na contemporaneidade: aspectos psicossociais. In: Saúde mental e o direito:
ensaios em homenagem ao professor Heitor Carrilho. Cristiano Carrilho Silveira de Medeiros (org.). São Paulo: Método,
35
2004. p. 73.
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leitos, a municipalização dos serviços, o questionamento das internações involuntárias, a vigilância,
avaliação e acompanhamento pelas omissões locais de saúde.36
Há que se destacar que a questão dos portadores de transtornos mentais continua a representar
um grande desafio para todos os que se interessam pela prevenção, pelo estudo, e pelo tratamento, posto
existir uma conjuntura social, econômica, e política, que não propicia a saúde do indivíduo do ponto de
vista físico, psíquico, social, e econômico, reforçando, em decorrência disto, o adoecimento e a exclusão
social.
Mostra-se incabível, perante a ordem jurídico-constitucional pátria, um tratamento
antiisonômico entre os seres humanos, posto que seus valores encontram-se assentados, sobremaneira,
no princípio da dignidade humana.
A dignidade humana impõe um tratamento igualitário, devendo-se levar em conta inclusive a
igualdade social, cuja efetividade demanda respeito às diferenças, observando-se que os indivíduos com
maiores dificuldades sociais, econômicas, e mentais, devem ter maior amparo por parte do Estado e de
toda a sociedade, buscando superar as dificuldades, proporcionando-lhes uma participação ativa da
“vida comunitária e social em geral”.37
É assente que os portadores de transtornos mentais necessitam de um tratamento específico
com base em técnicas médicas, farmacológicas e sociais próprias, representando a Lei da Reforma
Psiquiátrica um grande avanço no tratamento e na convivência com as pessoas acometidas de patologia
mental.
Aludida lei constituiu-se num verdadeiro marco na busca do respeito às pessoas afetadas por
transtornos mentais, em sintonia com as diretrizes preconizadas pela Constituição de 1988, mostrandose contrária a discriminações, repudiando qualquer manifestação de intolerância e de desrespeito à
dignidade da pessoa humana.38
Simão Bacamarte teve seu freio imposto.
CORREIA, Joelma de Sousa. Saúde mental na contemporaneidade: aspectos psicossociais. In: Saúde mental e o direito:
ensaios em homenagem ao professor Heitor Carrilho. Cristiano Carrilho Silveira de Medeiros (org.). São Paulo: Método,
36
2004. p. 73 – 74.
37
SANTOS, Marcos André Couto. Transtornos mentais e dignidade da pessoa humana. In: Saúde mental e o direito:
ensaios em homenagem ao professor Heitor Carrilho. Cristiano Carrilho Silveira de Medeiros (org.). São Paulo: Método,
2004. p. 52.
38
PINHEIRO, Gustavo Henrique de Aguiar. Comentários à lei da reforma psiquiátrica: uma leitura constitucional da lei nº
10.216, de 06 de abril de 2001. Fortaleza: Editora Tear da Memória, 2010. p. 18.
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6 MODALIDADES DE INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA
A internação psiquiátrica, especialmente a internação psiquiátrica involuntária, é tratada pelo
ordenamento jurídico nacional nos artigos 4º, 6º, 7º, 8º e 9º, da Lei nº 10.216/2001, Lei da Reforma
Psiquiátrica.
Consoante o disposto no art. 4º, caput, da aludida Lei, a internação psiquiátrica, seja qual
modalidade for, somente se mostra cabível quando os recursos extra-hospitalares forem tidos como
insuficientes, havendo risco à integralidade física, à saúde ou à vida dos portadores de transtorno mental
ou a terceiros.39
Aqui, a liberdade individual privada, resguardada pela legalidade que amarra a conduta médica
no exercício de tal poder, qual Ulisses é amarrado ao mastro do navio, para ouvir o canto das sereias,
enquanto seus marinheiros têm cera nos ouvidos40.
O art. 6º, caput, estabelece que a internação psiquiátrica exige laudo médico que a justifique.
No parágrafo único do mesmo dispositivo legal, encontram-se previstos como modelos de internação a
voluntária, a involuntária, e a compulsória.
Na internação voluntária há o consentimento do paciente, que deverá assinar uma declaração
atestando sua escolha por este tipo de tratamento (art. 7º, caput). Referida declaração faz-se essencial
para que a internação seja reconhecida como voluntária, cujo término ocorrerá a pedido do próprio
paciente ou por determinação médica, caso seja constatada a desnecessidade de continuidade do
tratamento (art. 7º, parágrafo único).
A internação involuntária dá-se sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro, cujo
término somente ocorrerá por solicitação escrita do familiar ou responsável legal, ou ainda quando
houver manifestação do médico responsável pelo tratamento (art. 8, § 2º). Nesse caso, tanto a
internação como a alta do paciente devem ser comunicadas no prazo de setenta e duas horas ao
Ministério Público estadual, por ser este o órgão encarregado de proteger os interesses difusos e
coletivos, assim como os interesses dos incapazes (art. 8º, § 1º).
Simão Bacamarte, qual Ulisses, está amarrado, pois a internação compulsória, nos termos do
inciso III do parágrafo único do art. 6º da Lei nº 10.216/2001, é decorrente de ordem judicial. Tal
tipo de internação deve observar as normas aplicáveis à internação psiquiátrica involuntária.41
SANTORO FILHO, Antonio Carlos. Direito e saúde mental à luz da lei 10.216 de 06 de abril de 2001. São Paulo:
Verlu Editora, 2012. p. 36.
40
HOMERO. A Odisséia.
41
PINHEIRO, Gustavo Henrique de Aguiar. Comentários à lei da reforma psiquiátrica: uma leitura constitucional da lei nº
10.216, de 06 de abril de 2001. Fortaleza: Tear da Memória, 2010. p. 86.
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7 A INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA COMPULSÓRIA
A internação psiquiátrica compulsória, nos termos do art. 4º, caput, da Lei nº 10.216/2001,
somente será cabível quando os recursos extra-hospitalares restarem insuficientes e houver possibilidade
de risco à integralidade física, à saúde ou à vida do portador de transtorno mental ou a terceiros.42
Consoante referida Lei, a situação de perigo concreto deve constar de laudo médico
circunstanciado, caso contrário, a internação não será obrigatória. Acaso haja necessidade de
internamento, este deverá buscar cessar o estado de perigo, com consequente reinserção social do
portador de transtorno mental em seu meio.
Pode-se entender a internação compulsória como um “procedimento judicial cautelar ou de
mérito” que deve observar o direito fundamental da dignidade da pessoa humana. Tal modalidade de
internamento, como bem salientado por Mariano Jara, constitui-se “en la prática professional el
psiquiatra se ve en la necesidad de realizar actividades terapéuticas a favor del enfermo que
comprometen algunos de sus derechos fundamentales, como es el de la libertad”.43
Em sendo a liberdade um dos corolários da dignidade humana,44 não resta nenhuma dúvida que
o internamento compulsório deve observar, sob todos os aspectos, tão relevante fundamento da
Constituição da República Federativa do Brasil, previsto expressamente em seu art. 1º, III.
8 RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO
A responsabilidade civil funda-se na conduta do agente, no fato da coisa ou no risco da
atividade. Nesta, tem-se a responsabilidade objetiva, cujo dever de indenizar independe da existência de
culpa ou dolo do agente. Naquela, a obrigação de indenizar decorre da existência de dolo ou culpa do
agente, bem como da relação causal que ocasionou o dano, configurando a responsabilidade subjetiva.45
Com a responsabilização civil, tradicionalmente percebida, busca-se reparar os prejuízos
causados pelo ofensor ao patrimônio ou à pessoa do lesado, bem como à sua personalidade.46
SANTORO FILHO, Antonio Carlos. Direito e saúde mental à luz da lei 10.216 de 06 de abril de 2001. São Paulo:
Verlu Editora, 2012. p. 36.
43
JARA, Mariano Gómez. Transtornos psiquiátricos y derecho: responsabilidad penal, internamientos, incapacitación, etc.
Barcelona: Atelier, 2008. p. 75.
44
MORAES, Maria Celina Bodin de. Na medida da pessoa humana: estudos de direito civil-constitucional. Rio de Janeiro:
Renovar, 2010. p. 85.
45
NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil comentado. 9ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2012. p. 920.
46
BITTAR, Carlos Alberto. Responsabilidade civil: teoria e prática. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1989. p. 1.
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Muito aquém do contemporâneo Direito de Danos, a disciplina codificada da responsabilidade
civil encontra-se delineada, maneira geral, nos arts. 186 e 927 do Código Civil de 2002:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Na seara do exercício profissional, a possibilidade de causar dano a outrem decorre da própria
falibilidade inerente ao ser humano. Contudo, profissões há que, dados os riscos a que a sociedade fica
sujeita, submetem-se a uma disciplina específica que visa à observância dos requisitos mínimos
necessários ao exercício das atividades laborais. Dentre elas, a profissão médica assume especial
destaque.47
Em específico, a responsabilidade médica está prevista no art. 951 do Código Civil, o qual trata
da responsabilidade dos profissionais liberais como um todo:
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida
por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou
imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para
o trabalho.
O profissional médico, no exercício de suas atividades como profissional liberal, também
responde pelos danos por ventura ocasionados ao paciente em decorrência de culpa, consoante
disciplina do art. 14, § 4º, do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990).
48
Tal
responsabilidade é subjetiva, havendo necessidade da comprovação da ocorrência de negligência,
imprudência ou imperícia na prática do ato médico.
Mesmo na percepção mais conservadora do Direito Privado, comprovado em juízo, de forma
satisfatória, o dano (nexo causal entre a ação ou omissão médica e o resultado), a indenização civil se
instala, com assento nas previsões geral dos arts. 186 e 927 e específica do art. 951 do CC/2002.
Quando o lesado é o paciente e o autor do dano é o médico, há a responsabilidade civil médica,
impondo-se ao profissional da medicina o dever de reparar os danos ocasionados de forma ilícita e
culposa.49
No campo civil, ainda na percepção mais tradicional, a responsabilidade do médico pode ser
contratual – quando há a celebração de um contrato com o paciente para a prestação de serviços, ainda
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 428.
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 430.
49
RAPOSO, Vera Lúcia. Do ato médico ao problema jurídico. Coimbra: Almedina, 2013. p. 29.
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que tacitamente -, e extracontratual, quando inexiste qualquer relação contratual.50 Dessarte, a
responsabilidade civil do médico pressupõe a prática de ato médico violador do dever profissional,
“imposto pela lei, pelo costume ou pelo contrato, imputável a título de culpa, causador de um dano
injusto, patrimonial ou extrapatrimonial.”51
Em se tratando de vínculo jurídico-obrigacional entre o médico e o paciente, este como
destinatário final, aquele na qualidade de fornecedor de serviços, aplicar-se-á o Código de Defesa do
Consumidor. Neste caso, sendo o prestador dos serviços o médico que atua como profissional liberal,
aplica-se a regra do art. 14, § 4º, do CDC, demandando a apreciação da culpa.52
O médico também pode ser responsabilizado por ato de terceiros causador de danos, desde que
estes estejam vinculados às suas ordens, como soa ocorrer com enfermeiros e outros profissionais da
saúde.53
Na relação contratual, o objetivo não é a cura do paciente, ou seja, a obrigação de resultado, mas
sim o compromisso do tratamento diligente, consciencioso, com utilização dos recursos e meios
adequados e disponíveis, caracterizando obrigação de meio. A responsabilidade surge quando restar
demonstrada a culpa.
Ressalte-se que, via de regra, a responsabilidade civil do profissional da área da saúde, como é o
caso do médico, afigura-se obrigação de meio, posto que o resultado não depende apenas da atuação do
profissional contratado, mas também das condições orgânicas do paciente.54
Contudo, não se pode deixar de obervar que as condições psíquicas também são importantes
para uma melhor resposta ao tratamento, mais ainda em se tratando de patologia mental, tanto na que
tem suas causas orgânicas como nas que não têm causa determinada.
Com relação ao médico psiquiatra em particular, há o dever de por à disposição do paciente
todos os conhecimentos, cuidados e habilidades visando proporcionar o melhor tratamento possível na
busca da cura almejada. Não se pode descurar da diligência necessária, na aplicação das “regras da
ciência psiquiátrica contemporânea ao tratamento”, visando atenuar o sofrimento do portador de
transtorno mental.55
RAPOSO, Vera Lúcia. Do ato médico ao problema jurídico. Coimbra: Almedina, 2013. pp. 29 - 30.
AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do médico. In: Direito e medicina: aspectos jurídicos da medicina.
Sálvio de Figueiredo Teixeira (Coord.). Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 137.
52
BORGES, Gustavo. Erro médico nas cirurgias plásticas. São Paulo: Atlas, 2014. p. 218.
53
MALUF, Carlos Alberto Dabus; MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus. A responsabilidade civil na relação dos
profissionais da área de saúde e paciente. Direitos do paciente. Álvaro Villaça Azevedo, Wilson Ricardo Ligiera (Coords.).
São Paulo: Saraiva, 2012. p. 520.
54
SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Código civil comentado. Coordenador até a 5ª ed. Ricardo Fiuza. 6ª ed. Regina Beatriz
Tavares da Silva (Coord.). São Paulo: Saraiva, 2008. p. 928.
55
KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade civil do médico. 8ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 298.
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A responsabilidade médica deve ser examinada sob dois aspectos. Primeiro a responsabilidade
decorrente da prestação de serviços por profissionais liberais. Segundo, quando a responsabilidade
advier de serviços médicos prestados por empresas, tais como hospitais, clínicas, laboratórios, etc.56
Para José G. V. Taborda, a responsabilidade médica “é o dever jurídico do médico de responder
por atos praticados durante o exercício da profissão sempre que estes violem bens tutelados em lei e de
reparar os danos.”57
Porém é inevitável perquirir se essa reparação poderia ser integral ? Fosse qual fosse o valor
alcançado pelo responsável ao lesado, as sequelas oriundas de uma equivocada internação forçada em
uma clínica psiquiátrica, são possíveis de serem reparadas patrimonialmente.
Na esteira de Boudrillard58, cumpre perquirir se tal troca seria possível. Se a não realização do
direito fundamental do paciente, de modo integral, decorrente de ato assim, poderia ser indenizada de
modo a compreender-se realizado o Direito ?
Esse tipo de interrogação, oriundo da nova percepção do direito de danos, em detrimento do
restrito horizonte da responsabilidade civil, ainda pende de tratamento na matéria em apreço.
9 A
RESPONSABILIDADE CIVIL DO PSIQUIATRA POR ERRO DE DIAGNÓSTICO NA INTERNAÇÃO
PSIQUIÁTRICA COMPULSÓRIA
As primeiras atividades no campo da medicina, ocorridas no período da Antiguidade,
restringiam-se, precipuamente, na preocupação da busca de meios de cura por meio do empirismo, sem
conferir maior importância ao estudo das patologias.59
Hodiernamente, o desenvolvimento da medicina - aliado a medicamentos mais eficazes,
juntamente com novas técnicas e equipamentos -, embora confira ao médico um “maior controle sobre a
saúde, a vida e a morte do paciente”, também proporciona maior possibilidade de cometimento de erros,
decorrentes de diversos fatores, tais como erros de exames laboratoriais, prescrições inadequadas de
medicamentos e diagnósticos equivocados ou inapropriados.60
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. p. 431.
TABORDA, José G. V. Responsabilidade civil do psiquiatra. In: Psiquiatria forense. José G. V. Taborda, Elias AbdallaFilho, Miguel Chalub. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 276.
58
BOUDRILLARD, Jean. A Troca Impossível…
59
MELO, Nehemias Domingos de. Responsabilidade civil por erro médico: doutrina e jurisprudência. 2ª ed. São Paulo:
Atlas, 2013. p. 3.
60
MELO, Nehemias Domingos de. Responsabilidade civil por erro médico: doutrina e jurisprudência. 2ª ed. São Paulo:
Atlas, 2013. p. 8.
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Os erros médicos, em que pese a frequência crescente, inclusive pelo fato de haver pacientes
cada vez mais conscientes de seus direitos, não se constituem a regra, mas sim exceções ao levar-se em
conta a quantidade de atendimentos, consultas, exames, cirurgias e internações ocorridos diariamente.61
Há de se destacar, contudo, que não se faz necessário que a culpa do médico seja grave para
restar configurada a responsabilidade, bastando a culpa levíssima e a existência do dano. Contudo, o
Código Civil, em seu parágrafo único do art. 944, admite a redução da indenização por equidade caso
reste comprovado a desproporção entre o dano e a culpa.62
No tocante ao médico especialista, como é o caso do psiquiatra, a responsabilidade torna-se
maior, posto demandar maior habilidade nos diagnóstico, tratamento e prognóstico da patologia mental.
No que diz respeito à possível existência de doença ou transtorno mental, dada à
impossibilidade de uma aferição orgânica ou causal acerca de determinada patologia, o diagnóstico é
realizado “pelo estudo do padrão de sintomas, investigação de fatores do passado, análise de
relacionamentos significativos e, quando indicado, administração de testes psicológicos.”63
Segundo Ruy Rosado de Aguiar Jr.:
O médico tem o dever de agir com diligência e cuidado no exercício da sua
profissão, conduta exigível de acordo com o estado da ciência e as regras
consagradas pela prática médica. 64
Para fins de realização de um diagnóstico correto, o médico deve observar e
considerar “todos os sinais, manifestações e sintomas apresentados pelo paciente”,
levando-se em conta ainda a anamnese. 65
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, situação que venha configurar erro de
diagnóstico – consistente na determinação da doença e suas causas -, não resulta em
responsabilidade se o erro for escusável levando-se em conta o atual estado das ciências
médicas, e desde que não tenha causado danos. 66
O que se faz necessário é que o psiquiatra faça o melhor uso possível dos seus
conhecimentos técnicos e científicos na busca de proporcionar um alívio ou cura para o
portador de transtorno mental, embora não assuma o dever da cura parcial ou definitiva
POLICASTRO, Décio. Erro médico e suas consequências jurídicas. 4ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2013. p. 1.
BDINE JÚNIOR, Hamid Charaf. Responsabilidade pelo diagnóstico. In: Responsabilidade civil na área da saúde. Regina
Beatriz Tavares da Silva (Coord.). 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 90.
63
VANDENBOS, Gary R. (Org.). Dicionário de psicologia da APA. Tradução Daniel Bueno, Maria Adriana Veríssimo
Veronese e Maria Cristina Monteiro; revisão técnica Maria Lucia Tiellet Nunes. Porto Alegre, 2010. p. 283.
64
AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do médico . Direito e medicina: aspectos jurídicos da medicina. Belo
Horizonte: Del Rey, 2000. p. 140.
65
SCHAEFER, Fernanda. Responsabilidade civil do médico e erro de diagnóstico. Curitiba: Juruá, 2002. p. 65.
66
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 15ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 344.
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da patologia que lhe foi apresentada. A doença ou transtorno mental, como qualquer outro
objeto, demanda observações cuidadosas de suas manifestações.67
Do
ordenamento
jurídico
brasileiro,
extraem-se,
os
seguintes
elementos
caracterizadores de erro médico: prática do ato médico, comissivo ou omissivo; dano ou
prejuízo ao paciente; liame causal entre o ato praticado e a lesão sofrida; e a culpa, por
meio da imprudência, negligência ou imperícia. 68
A internação psiquiátrica compulsória se apresenta como um dos procedimentos com mais
risco de responsabilização para o psiquiatra por erro médico, cuja prevenção demanda a observância de
dispositivos previstos da Lei da Reforma Psiquiátrica, tais como os arts. 2º, parágrafo único, I, II, V,
VII, VIII; 4º, §§ 1º, 2º e 3º; 6º, caput, parágrafo único, III; ; 9º; 10 e 11. 69
Contudo, referida Lei não traz de forma explícita e detalhada em que situações a internação
compulsória pode ser realizada. Apenas ressalta, genericamente, que será indicada quando os recursos
extra-hospitalares restarem insuficientes (art. 4º, caput); houver laudo médico pormenorizado (art. 6º,
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
p. 29.
68
TABORDA, José G. V. Responsabilidade civil do psiquiatra. In: Psiquiatria forense. José G. V. Taborda, Elias AbdallaFilho, Miguel Chalub. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 280.
69
Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão
formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação
pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;
(...)
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização
involuntária;
(...)
VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;
Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem
insuficientes.
§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio.
§ 2o O tratamento em regime de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de
transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos, ocupacionais, de lazer, e outros.
§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de transtornos mentais em instituições com características asilares, ou seja,
aquelas desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que não assegurem aos pacientes os direitos enumerados no
parágrafo único do art. 2o.
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus
motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:
(...)
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.
Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em
conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.
Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência clínica grave e falecimento serão comunicados pela direção do
estabelecimento de saúde mental aos familiares, ou ao representante legal do paciente, bem como à autoridade sanitária
responsável, no prazo máximo de vinte e quatro horas da data da ocorrência.
Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou terapêuticos não poderão ser realizadas sem o consentimento expresso
do paciente, ou de seu representante legal, e sem a devida comunicação aos conselhos profissionais competentes e ao
Conselho Nacional de Saúde.
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caput); existir ordem judicial (art.6º, parágrafo único, III); e for realizada em conformidade com a
legislação em vigor, por ordem do juiz competente (art. 9º).
Ainda que haja opiniões de que o Decreto nº 24.559/1934 esteja revogado, tal instrumento
normativo constitui-se no único texto legal a abordar o tema da internação psiquiátrica, ainda que por
meio de artigos esparsos. Segundo José G. V. Taborda – embora fazendo alusão à internação
involuntária, mas que se aplica à internação compulsória por ser esta uma internação involuntária
realizada por ordem judicial -, devem ser observados os seguintes requisitos para sua ocorrência:
presença de transtorno mental; risco de autoagressão; risco de heteroagressão a pessoa difusa ou
determinada; risco de agressão à ordem pública; risco de exposição social; e incapacidade de
autocuidados.70
Segundo Ruy Rosado de Aguiar Jr., ocorre erro de diagnóstico se não houver :
Atenção e precauções conforme o estado da ciência, apresentando-se como erro manifesto e
grosseiro. Comete-o o médico que deixa de recorrer a outro meio de investigação ao seu
alcance ou profere um juízo contra princípios elementares de patologia.71
Para Hamid Charaf Bdine Júnior, haverá culpa, sujeita à responsabilização, “se o diagnóstico
houver sido feito de modo equivocado porque o médico deixou de se valer dos recursos técnicos
disponíveis e concluiu de modo impreciso.”72
É mais comum o erro de diagnóstico decorrente da culpa por negligência. Entretanto, também
pode ser ocasionado por imperícia, por falta de conhecimento ou despreparo técnico ante o caso
concreto.
Para que se procure evitar o erro de diagnóstico, o médico-psiquiatra deve buscar contato com o
paciente para fins de identificar “características pessoais, físicas e psicológicas, que possam contribuir
para o reconhecimento da doença.”73
O diagnóstico relacionado à enfermidade mental torna-se mais complexos que o de outros
ramos da medicina não somente pela impossibilidade de se estabelecer a causa de determinada patologia,
mas também pelas diversidades de concepções teóricas e técnicas reconhecidas. Em muitos casos, o ato
médico-psiquiátrico contém elevada carga de subjetividade do profissional, o que, em um mesmo
contexto, pode levar a diferentes conclusões válidas.74
TABORDA, José G. V. Responsabilidade civil do psiquiatra. In: Psiquiatria forense. José G. V. Taborda, Elias AbdallaFilho, Miguel Chalub. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 284.
71
AGUIAR JR., Ruy Rosado de. Responsabilidade civil do médico . Direito e medicina: aspectos jurídicos da medicina. Belo
Horizonte: Del Rey, 2000. p. 143.
72
BDINE JÚNIOR, Hamid Charaf. Responsabilidade pelo diagnóstico. In: Responsabilidade civil na área da saúde. Regina
Beatriz Tavares da Silva (Coord.). 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 97.
73
BDINE JÚNIOR, Hamid Charaf. Responsabilidade pelo diagnóstico. In: Responsabilidade civil na área da saúde. Regina
Beatriz Tavares da Silva (Coord.). 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 103.
74
KRAUT, Alfredo J. Responsabilidad civil de lós psiquiatras en el contexto de la prática médica. Buenos Aires: La Rocca,
1998. p. 101.
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Existe certo consenso entre os autores acerca da dificuldade da análise dos sintomas para se
precisar a enfermidade mental, fazendo-se necessário a realização de um exame clínico completo para
fins de se evitar um diagnóstico rotineiro,75 levando-se em consideração as particularidades de cada caso
e dos pacientes, e, se houver necessidade, a realização exames mais detalhados e a análise por outros
profissionais da saúde, como médico-neurologista e psicólogo.
Alfredo Kraut destaca que:
Las derivaciones de los errores diagnóticos son particulamente dañosas e pueden ser a causa
de internaciones involuntárias injustas, externaciones inoportunas, interdicciones innecesarias,
y uma multiplicidad de afectaciones derivadas de la defectuosa costumbre de emitir
diagnósticos etiqueta, muchas veces apresuradamente.76
De igual modo opina Carrasco Gómez, para quem:
Uma de lãs dificultades en el diagnóstico psiquiátrico, proviene por ejemplo, de la nosologia
psiquiátrica. Las diferentes concepciones que hay sobre la enfermedad mental, lãs diversas y
contrapuestas escuelas y la diversa influencia de factores sociales y culturales en la aparición y
evolución de la enfermidad mental hacen que hoy dia no existan unos critérios diagnósticos
que Sean considerados por todos [...].77
Com relação às implicações decorrentes do erro de diagnóstico em psiquiatria, as precisas lições
de Carrasco Gómez, ao afirmar que:
Las consecuencias de um error diagnóstico em psiquiatria y del que pueden drivarse acciones
de reclamación judicial, son variadas y entre ellas, por ejemplo, la aplicación de tratamientos
inadecuados, innecesarios o ante el fallo de éstos, o como errores judiciales por um error
diagnóstico em el informe pericial, em casos de declaración de incapacidad civil, separación
matrimonial o incluso em sentencias penales sobre imputabilidad em la comisión de um
hecho delictivo, o sobre la valoración de la perigrosidad. Em otros casos cllínicos, el error
diagnóstico llega a trascender a la persona sobre la que se há emitido, em su médio familiar,
social y especialmente em el laboral.78
Os danos causados por diagnóstico errado que leve à determinação da internação psiquiátrica
compulsória mostram-se presentes com o sofrimento desnecessário imposto ao paciente, levando-o
inclusive ao isolamento e a prescrições medicamentosas desnecessárias, na medida em que é considerado
com um quadro patológico mais gravoso que o realmente apresenta. Isso sem falar no estigma que
sempre cerca as pessoas acometidas por algum transtorno mental, mormente numa sociedade
desinformada e preconceituosa.
É indene de dúvidas que cabe a responsabilização civil do médico-psiquiatra em decorrência
de diagnóstico errôneo que leve o paciente à internação psiquiátrica compulsória, ainda mais quando se
KRAUT, Alfredo J. Responsabilidad civil de lós psiquiatras en el contexto de la prática médica. Buenos Aires: La Rocca,
1998. p. 103.
76
KRAUT, Alfredo J. Responsabilidad civil de lós psiquiatras en el contexto de la prática médica. Buenos Aires: La Rocca,
1998. p. 105.
77
GÓMEZ, Juan José Carrasco. Responsabilidad médica y psiquiatria. 2ª ed. Madrid: Colex, 1998. p.95.
78
GÓMEZ, Juan José Carrasco. Responsabilidad médica y psiquiatria. 2ª ed. Madrid: Colex, 1998. p. 98.
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tem nesta modalidade a mais extremada de internamento, cujo tratamento inadequado pode resultar em
risco para terceiros e para o próprio paciente.
Ao portador de transtorno mental submetido a tratamento, o psiquiatra deve assumir o dever de
colocar à sua disposição “o máximo de cuidado, habilidade e conhecimentos tendentes à cura almejada”.
Cabe a ele atuar com a máxima diligência, valendo-se das “regras da ciência psiquiátrica contemporânea
ao tratamento”.79
Torna-se inadmissível que o portador de transtorno mental fique a mercê de erros de
diagnósticos em psiquiatria cujas consequências, dentre outros, pode ocasionar em internação
compulsória desnecessária, podendo não somente incorrer em um agravamento do estado de saúde por
tratamento ou uso de medicação inadequada, que podem resultar, a depender da gravidade do caso, não
somente em autolesão ou heteroagressão, mas até mesmo no ato extremo do suicídio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do aviltante crescimento dos transtornos mentais no Brasil, com especial destaque para
os problemas ligados aos vícios com drogas e álcool, bem como pelo constante crescimento dos casos
transtornos mentais, principalmente os relacionados à depressão, faz-se necessário que os profissionais
da medicina, em especial o psiquiatra, o dever de conferir um tratamento mais humano aos pacientes,
priorizando o doente ao invés da doença, valendo-se de todos os meios cientificamente disponíveis para
a determinação de um diagnóstico correto, que venha a contribuir não somente com o tratamento
adequado à enfermidade mental detectada, mas permitir a estes pessoas a uma vida digna..
O diagnóstico errôneo pode não somente levar o portador de enfermidade mental a internação
compulsória desnecessária - caso lhe seja atribuída uma patologia com um estado de gravidade maio que
ele apresenta -, mas também a um tratamento não condizente com a o seu real quadro de saúde, cujo
isolamento e a prescrição de medicamentos inadequados ou em doses mais elevadas, além de poderem
ocasionar agravamento de seu estado, pode culminar até mesmo no cometimento de suicídio.
O risco de erro torna-se maior quando ó diagnóstico psiquiátrico é feito de forma genérica, sem
levar em consideração a individualidade de cada paciente, inclusive os que apresentem indícios de
padecerem dos mesmos sintomas patológicos, assim como sua história familiar e hábitos rotineiros.
Embora ainda persistam alguns entendimentos que somente o erro de diagnóstico grosseiro
possa levar à responsabilidade civil do médico, mormente o diagnóstico em psiquiatria, há de se
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considerar que, a depender da situação, até mesmo os erros mais moderados são passíveis de
responsabilização.
E mais, mesmo essa indenização se “concedida”, não realizaria o direito que se perdeu, na esteira
das trocas impossíveis que o paradigma moderno insiste em se autoenganar. Tal fato, sem dúvida,
acentua ainda mais a responsabilidade do magistrado ao apreciar a concessão de medida nesse sentido.
A internação voluntária de Simão Bacamarte jamais teve o condão de abrandar as tantas que seu
diagnóstico determinou. Assim se dá com a responsabilidade civil aplicada ao tema. Apenas uma troca
impossível.
Porém abre-se aqui a o vão para pensar as possibilidades do atual direito de danos, quando
projetado ao tema, com vistas ao que postula-se uma reparação integral daqueles que possam vir a ser
vítimas de equivocadas internações compulsórias em instituições psiquiátricas.
Tal percepção, naturalmente asfaltada em Machado de Assis, mostra o quanto o passado pode
fazer-se presente, na não rara atualidade concreta da Casa Verde, para tantos homens e mulheres assim
reduzidos, de verdadeiros sujeitos à sombras de sujeitados.
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Fábio de Holanda Monteiro
Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul - PUCRS. Especialista em Processo Administrativo pela
Universidade Federal do Ceará - UFC. Especialista em Direito Tributário
pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Graduação em Direito pela
Universidade Estadual do Piauí - UESPI. Graduação em Engenharia Civil
pela Universidade Federal do Piauí - UFPI. Professor Efetivo do Curso de
Direito da Universidade Estadual do Piauí - UESPI. Ex-Professor do Curso
de Direito da Faculdade Santo Agostinho - FSA. Procurador do Estado do
Piauí. Advogado. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em
Direito Tributário, Direito Administrativo, Direito Constitucional, Direito
Processual Civil e Direito da Saúde.
Ricardo Aronne
Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul. Mestre em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Doutor em Direito pela
Universidade Federal do Paraná. Pós-doutor em Direito pela
Universidade Federal do Paraná. Professor titular da Pontifícia
Universidade
Católica
do
Rio
Grande
do
Sul.
Advogado.
[email protected].
RECEBIDO EM 04/10/2014
APROVADO EM 10/12/2014
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