Produção Integrada - Embrapa Mandioca e Fruticultura

Transcrição

Produção Integrada - Embrapa Mandioca e Fruticultura
Raiz & Fruto
Informativo da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
Ano 22
No 63
jul./ago./set. 2010
Produção Integrada
se espalha pelo país
Agora é a vez de o Amazonas ser beneficiado
com o programa de citros coordenado pela
Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
págs. 4 e 5
EDITORIAL
AGENDA
PROMUSA 2011
O Brasil será sede pela primeira vez do
Simpósio Internacional ISHS ProMusa,
o mais importante evento internacional relacionado com a cultura da bananeira. Com o tema “Bananas e Plátanos – produção global sustentável e
usos alternativos”, a edição de 2011 vai
acontecer de 10 a 14 de outubro no
Bahia Othon Palace, em Salvador (BA).
O programa de melhoramento genético de banana da Embrapa Mandioca
e Fruticultura Tropical — uma das organizadoras do evento — tem entre
os objetivos desenvolver genótipos resistentes a doenças, além de disponibilizar híbridos com boa produtividade e
qualidade de frutos. Confira a programação no endereço eletrônico www.
promusa.org/symposium_2011.
PAPAYA BRASIL 2011
O Papaya Brasil: Simpósio do Papaya
Brasileiro é hoje o principal fórum
de integração dos agentes da cadeia
produtiva do mamão no país. A edição de 2011 será de 31 de outubro
a 4 de novembro, no Náutico Praia
Hotel & Convention Center, em
Porto Seguro (BA). Organizado pela
Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical, com o apoio de entidades
parceiras, o Papaya Brasil 2011 traz
como tema central “Inovação e sustentabilidade”. A programação estará disponível na página da Unidade
(www.cnpmf.embrapa.br).
Novo ciclo
Caros leitores,
Como vocês puderam notar, nosso informativo
ganhou nova roupagem, não só em relação à
parte gráfica, mas também de seu conteúdo
editorial. Nosso objetivo foi modernizá-lo para
tornar a leitura mais prazerora e atraente. Também
procuramos dar mais destaque às pesquisas desenvolvidas pela
Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, equilibrando matérias sobre
resultados de projetos e ações de transferência de tecnologia com a divulgação dos
acontecimentos promovidos pela Unidade — localizada em Cruz das Almas (BA) — e
da participação de pesquisadores e demais funcionários em eventos e ações externas.
Contamos com a sua opinião, sugestões e críticas para melhorarmos cada edição.
Na reportagem principal, você poderá conferir a ação que a equipe de citros da
Unidade começou a realizar no Amazonas, com a sensibilização dos produtores da
região para a importância de aderirem ao projeto de Produção Integrada de citros para
a sustentabilidade de seus negócios agrícolas naquele estado.
Poucos sabem também que essa Unidade da Embrapa no interior da Bahia é uma
das mais requisitadas no que diz respeito à cooperação internacional, em função da
grande variedade de produtos com que trabalha, sendo, nesse caso, a mandioca o mais
procurado. Em entrevista para uma reportagem da edição de julho da revista Almanaque
Brasil, a chefe de cozinha Ana Luiza Trajano afirmou: “tem uma coisa que une o Brasil e
não é o arroz com feijão. Existe um esteriótipo, mas em muitos lugares, a começar pela
Amazônia, não é uma verdade. A verdade no país inteiro é a mandioca. Seja em forma
de farinha, polvilho, tucupi, ela está presente de norte a sul”. Pelo que podemos ver no
pingue-pongue da página ao lado, com o articulador internacional da Unidade, Francisco
Laranjeira, o poder da mandioca rompeu as fronteiras do país e se alastra mundo afora.
Bom, esperamos que gostem das novidades. Boa leitura!
Espaço do leitor
Este espaço é dedicado a você, leitor. Envie sugestões e críticas. Sua opinião é muito importante
para garantir a qualidade de nosso informativo.
Pelo correio, escreva para:
Área de Comunicação Integrada (ACI)
Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
Rua Embrapa s/n – Caixa postal 007 – CEP: 44.380-000
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EXPEDIENTE
Raiz & Fruto é o informativo oficial da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Endereço: Rua Embrapa, s/n, Caixa Postal 007 - CEP: 44.380-000 - Cruz das Almas (BA).
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• Chefe adjunto de P&D Aldo Trindade • Chefe adjunto de Administração Marcelo Amaral • Supervisora da Área de Comunicação Integrada Marcela
Nascimento • Jornalista responsável Léa Cunha (DRT-BA 1633) • Edição Alessandra Vale (Mtb-RJ 21215) • Redação Alessandra Vale e Léa Cunha • Projeto
gráfico e editoração eletrônica Alessandra Vale • Fotos Arquivo Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical; Rinelle/Stock.xpert (capa); Hoefi/Stock.xchng
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Os textos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.
É livre a transcrição de matérias, com citação da fonte.
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R AIZ & F RUTO
ENTREVISTA
Da Bahia para
o mundo
A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical é uma das unidades da Embrapa
mais demandadas no que se refere à cooperação internacional. E é uma via de mão
dupla. Da mesma forma que os estrangeiros estão sempre aterrissando por aqui,
nossos pesquisadores se enveredam frequentemente por missões internacionais,
disseminando as inovadoras tecnologias desenvolvidas em terras brasileiras
pelo mundo afora. Nesta entrevista, o articulador internacional da Unidade, o
pesquisador Francisco Laranjeira, fala sobre esse trabalho desafiador.
Nossa Unidade é uma
das mais requisitadas,
tanto para receber
estrangeiros quanto
para realizar missões
no exterior
O que já foi realizado em 2010 e o
que está previsto até o fim do ano?
FL – Entre outras ações, já tivemos treinamento de um técnico moçambicano, seis técnicos do Suriname, dois cursos para técnicos
da Nigéria — no total de dez técnicos, sendo
cinco para mandioca e cinco para fruteiras
—, o curso para os cinco técnicos da Costa
Rica, além do V Curso Internacional sobre
Produção de Frutas Tropicais, dado recentemente para 11 técnicos de países africanos
de língua portuguesa. Esse curso já é uma
tradição na Unidade e conta com o apoio
da ABC [Agência Brasileira de Cooperação]
e da Jica, que é a agência de cooperação japonesa, uma das maiores do mundo.
Estão programados ainda treinamentos
para quatro técnicos do Haiti e dois do México. Esses são treinamentos na Unidade, fora
as missões daqui para o exterior. Nesse caso,
já tivemos uma para a Nicarágua e temos
previstas, ainda para 2010, missões para o
Suriname, México, Haiti e Togo, com uma ou
duas pessoas em média cada uma. Falei até
aqui das cooperações técnicas. Há ainda as
viagens de cooperação científica. Já fizemos
para Cuba, Inglaterra,Venezuela, sem falar nas
participações em congressos internacionais.
Para 2011, também se desenha uma agenda
robusta. Temos bastante trabalho pela frente.
Como se dão efetivamente os acordos de cooperação?
FL – Normalmente a Embrapa assina os acordos e a SRI faz a articulação com as unidades
para cumpri-los, podendo envolver mais de
uma Unidade. O projeto é sempre assinado
pela instituição do outro país e a Embrapa. A
Foto: Léa Cunha
Como funciona o trabalho de articulação internacional?
Francisco Laranjeira – Existem diversas
facetas desse trabalho. Uma das principais é
o apoio na organização de cursos. A Unidade
é bastante demandada. Colaboramos com
o Núcleo de Transferência de Tecnologia e
Negócios Tecnológicos para fazer com que
esses treinamentos aconteçam. Além disso,
qualquer questionamento que os funcionários tenham em relação à cooperação com
instituições do exterior ou relacionado a cursos de pós-graduação, por exemplo, temos
como função dar suporte também. Trabalhamos junto com a Secretaria de Relações
Internacionais [SRI], da Embrapa Sede. Por
exemplo, missões do exterior que venham
para a Unidade, não necessariamente para
treinamento, para visita ou para contato com
pesquisadores, também são feitas por meio
da articulação internacional. Cuidamos ainda de viagens de pesquisadores nossos para
cumprir missões no exterior. Então, o nome
“articulação” já diz tudo: somos o meio de
campo entre os parceiros externos, a SRI e
as atividades da Unidade.
logística depende de cada acordo. Nos projetos tem especificado quando idealmente as
atividades têm de ser feitas. Portanto, procuramos adequar as agendas e encontrar uma
data conveniente para ambas as partes.
Qual é sua avaliação sobre a importância que a Embrapa dá à cooperação internacional?
FL – A Embrapa sempre deu importância
à cooperação internacional. Isso tomou impulso depois da criação dos laboratórios no
exterior [Labex].Tudo se intensificou a partir
dessa iniciativa e teve impulso ainda maior
depois da criação da Embrapa África. Podese dizer que, nos últimos quatro anos, a Embrapa intensificou sua atuação no exterior,
embora sempre tenha dado importância.
Quais são os países mais interessados
nas pesquisas daqui, da Unidade?
FL – Os países da África. Atuamos bastante
também na América Latina. A nossa Unidade
é uma das mais requisitadas, tanto para receber estrangeiros quanto para realizar missões
ao exterior, em função dos nossos produtos.
E a mandioca é o mais demandado.
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Produção Integrada de citros
Q
ue o Brasil é um dos maiores
produtores e exportadores de
alimentos do mundo não
é novidade para ninguém.
“Agora precisamos mostrar que temos
condições de apresentar produtos
sustentáveis do ponto de vista ambiental,
social e tecnológico e com diferencial
de origem”, afirmou recentemente
o secretário de Desenvolvimento
Agropecuário e Cooperativismo do
Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa), Márcio
Portocarrero. Dentro dessa filosofia, o
Mapa encampou projetos de Produção
Integrada (PI) de diversas culturas pelo
país. Trata-se de um sistema moderno,
com o objetivo de aperfeiçoar o processo
produtivo, privilegiando a otimização
e preservação dos recursos naturais. As
tecnologias empregadas reduzem o uso
de insumos contaminantes — o que
leva a produtos de melhor qualidade,
sem riscos à saúde do consumidor — e
permitem o monitoramento do processo
e rastreabilidade de toda cadeia, desde
as áreas de cultivo até o ponto de
venda. No caso específico de citros, o
Amazonas é o mais recente estado a
receber o projeto de Produção Integrada.
4
R AIZ & F RUTO
A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical coordena cinco projetos de Produção Integrada pelo país: citros (Bahia e Paraná), lima ácida
‘Tahiti’ (norte de Minas Gerais), mamão (sul da Bahia), abacaxi (Tocantins,
Pará e Amazonas) e mandioca (Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso
do Sul, Bahia e São Paulo). Dos projetos coordenados pela Unidade, há
atualmente produtores certificados no cultivo da laranja, mamão e lima
ácida ‘Tahiti’. No caso de citros, a Bahia saiu na frente, com dois produtores certificados em 2008 (hoje são três no estado). No panorama
da produção de citros no país, existe ainda um produtor de tangerina
certificado em São Paulo, em um projeto desenvolvido pela Agência
Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), que conta com o apoio
da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical. A Unidade também vem
dando suporte a um projeto do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae) de Alagoas para a implantação de projeto de PI em
unidades produtivas de laranja lima no Vale do Mundaú.
Agora chegou a vez de o Amazonas ser contemplado com o projeto de citros. No dia 18 de agosto, quatro pesquisadores da Unidade
desembarcaram em Rio Preto da Eva, um dos principais municípios
produtores de citros do estado, para, em um seminário, mostrar a
mais de 90 produtores da região as vantagens de obter o selo de
certificação para a sobrevivência de seus negócios nesse mercado
cada vez mais exigente e competitivo.
“Já fizemos algumas ações para implantação da Produção Integrada na região, mas podemos dizer que esse seminário foi o
marco zero, visto que, efetivamente depois do recurso liberado,
foi o primeiro evento que realizamos. O desdobramento agora é
encaminhar o termo de adesão para os produtores que já se comprometeram e conseguiram enxergar que a PI é o caminho para
a sustentabilidade do seu negócio agrícola”, disse o pesquisador da
Unidade e coordenador geral do projeto de Produção Integrada
de citros, José Eduardo Borges de Carvalho.
O projeto de desenvolvimento da citricultura e implantação
da PI de citros no Amazonas é coordenado pelo pesquisador da
Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus – AM) Marcos Garcia e
realizado em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (Inpa), o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e
Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), a Universidade
CAPA
chega ao Amazonas
Federal do Amazonas (Ufam) e a Associação Amazonense de Citricultores (Amazoncitrus). Conta ainda com o apoio do Serviço de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e da Superintendência Federal
de Agricultura (SFA) do Mapa. Os recursos provêm da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e da Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror).
Cenário
A citricultura no estado envolve diretamente 2,4 mil produtores e conta com uma área plantada superior a 4 mil hectares entre
laranja, limão e tangerina, que se concentra praticamente em Manaus e
municípios vizinhos (Iranduba, Rio Preta da Eva, Manacapuru, Itacoatiara,
Novo Airão, Presidente Figueiredo e Careiro). Conforme diagnosticado
no projeto, as limitações tecnológicas e o manejo inadequado dos pomares representam ameaças à sustentabilidade da cultura no estado.
“É uma região ‘zerada’, digamos assim, em termos de geração de tecnologia. Estamos levando algumas técnicas já comprovadas para implantar
a PI na região, adaptando-as às condições locais”, informou José Eduardo.
Projeto piloto
O projeto piloto está sendo desenvolvido na Fazenda Brejo do
Matão, em Manaus, que funciona como uma espécie de laboratório de
pesquisa dos gargalos existentes no que se refere ao sistema produtivo.
Dois alunos da Ufam realizam suas pesquisas de mestrado no local. Segundo José Eduardo, que atua como coorientador desses mestrandos,
um trabalho aborda o período crítico de interferência de plantas infestantes na cultura de citros; o outro, o manejo de coberturas vegetais na
cultura de citros no Amazonas.
Selo de certificação
Os produtos são certificados por empresas que realizam
auditorias nas propriedades que aderem ao sistema, e o selo
tem a chancela oficial do Mapa e do Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro).
O grupo de pesquisadores e técnicos em uma
das visitas para mostrar aos agricultores as
vantagens de adotar o sistema de PI
Como começou o trabalho no AM
O início da Produção Integrada de citros no Amazonas aconteceu em
novembro de 2008, quando os pesquisadores da Embrapa Mandioca
e Fruticultura Tropical José Eduardo Borges de Carvalho, Cláudio
Leone, Hermes Peixoto, Luciano Souza (hoje aposentado e professor da
Universidade Federal do Reconcâvo da Bahia - UFRB) e Orlando Passos
participaram de um seminário sobre a cultura de citros em Manaus,
envolvendo um primeiro curso de sensibilização em Produção Integrada.
Já em abril do ano passado, os pesquisadores retornaram ao estado
para realizar dois treinamentos. O primeiro foi de pragueiros
(inspetores fitossanitários responsáveis por fazer a ocorrência de
todas as pragas da unidade produtiva), na Fazenda Brejo do Matão;
e o segundo, realizado no Sebrae-AM, que abordava as normas
técnicas específicas de Produção Integrada de citros.
Em novembro, José Eduardo proferiu palestra em workshop
promovido pelo Inpa e ministrou, junto com Cláudio e Hermes,
outro treinamento de inspetores fitossanitários, tendo realizado
ainda atividades em campo e reunião técnica na Fazenda Brejo
do Matão. Este ano, em junho, também houve a participação dos
pesquisadores em seminário sobre os Sistemas Agropecuários de
Produção Integrada no Amazonas, promovido pela SFA-AM.
RAIZ & FRUTO
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FRUTICULTURA
Simpósios internacionais
A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical representou o país em dois
importantes eventos internacionais sobre fruticultura nos últimos meses. No
7º Simpósio Internacional de Abacaxi, realizado em julho, em Johor Bahru, na
Malásia, o chefe geral da Unidade, Domingo Haroldo Reinhardt, atuou como
coordenador e debatedor de painéis, na condição de coordenador mundial
do grupo de trabalho de abacaxi da seção de frutas tropicais e subtropicais
da Sociedade Internacional de Ciências Hortícolas (ISHS). Mais dois pesquisadores da Unidade marcaram presença: Aristoteles Matos participou como
palestrante convidado, e Eduardo Chumbinho fez apresentação de trabalho.
Os participantes do
Segundo Haroldo, diversas possibilidades de intercâmbio técnico-científicas
simpósio da Malásia
em excursão técnica
foram desenhadas. “Inclusive com o Mardi [Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Agricultura da Malásia, organizador do evento], que já nos convidou
a participar do comitê científico de outro simpósio, cujo tema será o manejo
pós-colheita de frutas de um modo geral”. Apresentado sob a forma de pôsteres, o
trabalho “Utilização da metodologia de superfície de resposta para otimizar o processo de extração de enzimas da polpa do abacaxi”, coordenado pela pesquisadora Fernanda
Vidigal, recebeu o prêmio de Melhor Pôster.
Em agosto, Haroldo e mais seis pesquisadores da Unidade participaram do 28º Congresso Internacional de Horticultura, em Lisboa. O chefe geral, que é um dos organizadores e representante indicado pela diretoria da Embrapa no simpósio “Bananas e outras frutas tropicais em condições subtropicais: desafios e soluções inovadoras”, apresentou o trabalho sobre uma nova
variedade desenvolvida pela equipe de abacaxi da Unidade. Os demais pesquisadores participaram de outros simpósios, com trabalho sobre
citros (Orlando Passos e Eduardo Stuchi), mamão (Eder Oliveira), banana (Edson Perito Amorim), fruticultura ornamental (Janay Santos-Serejo
e Fernanda Vidigal) e embriogênese in vitro de mandioca (Fernanda Vidigal).
Tradicional curso para técnicos africanos
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R AIZ & F RUTO
Foto: Léa Cunha
De 9 de agosto a 3 de setembro, a
Unidade realizou o V Curso Internacional
sobre Produção de Frutas Tropicais para
técnicos de países africanos de língua portuguesa. Esse treinamento, uma tradição na
Unidade, é realizado desde 2001 por meio
do acordo de cooperação técnica entre a
Agência Brasileira de Cooperação (ABC)
e a Agência de Cooperação Internacional
do Japão (Jica), alternando cada ano entre
mandioca e fruteiras.
Os 11 participantes, de formação variada — técnicos agrícolas a profissionais com
doutorado —, eram oriundos de quatro
países: Guiné-Bissau, Moçambique, Angola
e São Tomé e Príncipe. O curso englobou
parte teórica e prática nos campos experimentais da Unidade, além de excursões
técnicas a áreas produtivas localizadas nos
municípios baianos de Itaberaba, Iaçu, Rio
Real e Tancredo Neves.
Os africanos pretendem aplicar o que aprenderam em projetos de combate à fome e à pobreza
“O curso seguiu uma sequência lógica:
planejamento e instalação do pomar, cuidados com o pomar do ponto de vista fitotécnico e quanto ao manejo de pragas e
doenças e depois manejo pós-colheita, métodos de conservação e processamento”,
explicou o pesquisador Francisco Laranjei-
ra, articulador internacional da Unidade e
coordenador do curso.
No fim do curso, cada par ticipante
apresentou um projeto no qual descreveu
o que pretende fazer em seus países com
os conhecimentos adquiridos para combater a fome e a pobreza.
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Parceria reforçada
T
rês representantes do Centro Internacional de Agricultura Tropical
(Ciat), com sede em Cali (Colômbia), cumpriram, de 13 a 15 de setembro,
intensa agenda para conhecer os programas de mandioca e de fruteiras da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical. Uma
demonstração do interesse institucional do
Ciat em estreitar e reforçar as relações com
a Unidade, como afirmou o diretor de Pesquisa para a América Latina e Caribe, o brasileiro Elcio Guimarães, que era da Embrapa
Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás –
GO). Em entrevista, Elcio, Joe Thome, diretor de Pesquisa de Agrobiodiversidade, Luis
Fernando Vieira, membro do Conselho de
Administração do Ciat, que foi da Embrapa
Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro – RJ), e o chefe geral Domingo Haroldo
Reinhardt, fizeram um balanço da visita.
Mandioca
Fotos: Francisco Laranjeira
Foto: Francisco Laranjeira
O Ciat tem longa tradição de cooperação com a Unidade no que se refere à
mandioca, com importantes projetos, como
relembrou Joe Thome, que colaboraram
não só para o desenvolvimento do setor
de mandioca no Brasil e na América Latina como também para a agricultura global,
principalmente na África. Um exemplo é o
projeto de biofortificação para aumentar o
nível de betacaroteno (fonte de vitamina
A) da mandioca para países africanos. Joe
destacou, portanto, como um dos itens que
mais lhe interessou na visita a parte de melhoramento e de biotecnologia. “São áreas que podem ser pontos de partida para
nova interação entre o Ciat e a Unidade.”
Haroldo confirmou que intercâmbio
e interações impor tantes em apoio ao
melhoramento genético serão fortalecidos com relação ao uso de ferramentas
modernas de biotecnologia, bioinformática
e genômica. “Assim como tecnologias de
conservação in vitro de recursos genéticos
e sua indexação quanto a doenças importantes, especialmente viroses.”
O chefe geral explicou que o Ciat demonstrou interesse em fazer parte de um
acordo entre a Unidade e a National Starch
(indústria de amido) para introduzir o gene
da mandioca cerosa e desenvolver variedades a partir dele que tenham boa performance agronômica nas condições brasileiras. “A ideia é fazer os cruzamentos no
Ciat, trazê-los para a Unidade, multiplicá-los
e levá-los para testes nas regiões produtoras do país, com atenção para o Norte e
Nordeste, onde a produção industrial de
amido de mandioca vem crescendo rapidamente”, complementou.
Outra grande ação em vias de implantação é o projeto conjunto na área de
fitossanidade. A consultoria vem sendo
dada por Anthony Bellotti, entomologista
do Ciat que ficou um mês na Unidade.
De acordo com Haroldo, o pesquisador
Rudiney Ringenberg foi convidado a participar de viagem junto com Bellotti à Tailândia, visando conhecer experiências no controle de pragas de mandioca, que poderão
ser ajustadas para as condições brasileiras.
Viagem recente dos dois às áreas produtoras do Sul do país mostrou a urgência do
desenvolvimento de ações integradas para
o controle de uma série de pragas.
O pesquisador
Vanderlei Souza
(à esq.), o chefe
adjunto de P&D,
Aldo Vilar (ao
fundo), o articulador
internacional da
Unidade, Francisco
Laranjeira (autor da
foto), acompanham
Luis Vieira, Joe
Thome e Elcio
Guimarães em
visita aos campos
experimentais
Fruticultura
Com seu programa de fruteiras ainda
novo, o Ciat busca, como destacou Elcio,
trocar experiências com a Unidade sobre o tema e citou como uma das prioridades a possibilidade de parceria na caracterização de diversidade genética, em
apoio aos programas de melhoramento,
o que inclui a caracterização nutricional
de acessos (coleção de variedades) e genótipos melhorados, o aprimoramento de
ferramentas biotecnológicas e avaliação
de resistência a importantes doenças e
eventualmente pragas das fruteiras. “Talvez usando a nossa experiência na área
de biotecnologia possamos encontrar um
ponto de convergência de interesses com
relação a estudos para entender melhor
a diversidade da banana, do mamão, do
abacaxi etc.”, disse Elcio.
Capacitação
O aspecto que mais impressionou Luis
Vieira foi a renovação do quadro de pesquisadores. “Parece ser o momento de
estabelecer nova estratégia para os programas de melhoramento aproveitando
essa renovação de pessoas.” Elcio afirmou
que a área de capacitação representa um
campo aberto para interação, e Haroldo
contou que foi aventada a possibilidade de
o Ciat tornar-se parceiro no treinamento
de estudantes de pós-graduação dos cursos que a Unidade realiza em associação
com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Ainda no que tange à capacitação, Elcio
salientou que a relação entre o Ciat e a
Embrapa mudou muito. “No começo, era
mais uma relação em que os pesquisadores da Embrapa iam para o Ciat aprender
tecnologias. Ao longo do tempo, passamos
de capacitadores a parceiros. Hoje existem
tecnologias da Embrapa que estão muito
mais avançadas do que as do Ciat.”
Quanto à estratégia para a efetiva concretização das ações priorizadas, o Ciat propôs, de acordo com Haroldo, a ida de um
grupo de quatro ou cinco pesquisadores da
Unidade ao Centro para elaboração dessas
propostas, de preferência ainda em 2010.
R AIZ & F RUTO
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MANDIOCA
Os encantos da Formosa
Uma variedade de mandioca de uso industrial tem mudado a realidade dos produtores familiares do Centro-Sul baiano, em
especial dos municípios de Caetité e Guanambi. Recomendada pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, a BRS Formosa
é resistente à bacteriose, doença que encontra na mesorregião condições excelentes para seu desenvolvimento, acometendo
folhas e hastes da planta, levando-a à morte.
Em decorrência da bacteriose, o Banco do Brasil chegou a interromper o financiamento para custeio da produção de
mandioca e muitos produtores já tinham
desistido da lavoura. Os relatos foram tão
impressionantes depois da adoção da Formosa que mereceram, em 2008, um estudo de avaliação de impactos, realizado
pelo pesquisador Clóvis Almeida, da área
de socioeconomia da Embrapa Mandioca e
Fruticultura Tropical. Os resultados estão
descritos no livro “Memórias Formosas – a
trajetória de uma variedade de mandioca
da seleção à avaliação de impactos”, editado por Clóvis em parceria com a melhorista Wania Fukuda, hoje aposentada.
A Formosa foi desenvolvida a partir de
cruzamentos como parte do Projeto de Revitalização da Cultura da Mandioca na Região Sudoeste do Estado da Bahia, desenvolvido em parceria com a Embrapa Cerrados
(Planaltina – DF) e a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA). De 1997 a
2001, foi usada a metodologia participativa,
em que o produtor é, além da parte mais
interessada, a mais importante do processo.
“No Brasil, as variedades locais ainda são
mais usadas que as melhoradas. Talvez isso
ocorra porque estas não correspondam às
demandas do produtor ou não sejam difundidas adequadamente. A metodologia participativa minimiza esses problemas”, afirma.
Foto: Léa Cunha
Impacto
Clovis (centro) e o assistente Bibiano Ferreira entrevistam produtor
Para avaliar os impactos ambientais, sociais e
os ganhos de rendimento após a adoção da variedade, Clóvis utilizou
o Sistema de Avaliação
de Impacto Ambiental
de Inovações Tecnológicas Agropecuárias (Ambitec), desenvolvido pela
Embrapa Meio Ambiente
(Campinas
– SP), e, de
14 a 18 de outubro
de 2008, entrevistou 14
produtores em fase similar de
adoção da cultivar. Esse número atende à
recomendação mínima de amostra sugerida pela Embrapa.
A avaliação pela ótica social envolveu
quatro aspectos (emprego, renda, saúde
e gestão e administração), todos positivos,
assim como o impacto ambiental. “Em
decorrência da Formosa, os agricultores
abandonaram a ilusão de tentar controlar
a bacteriose com o uso de agrotóxico,
sabidamente ineficaz nesse caso. Mais grave ainda: faziam as aplicações sem Equipamentos de Proteção Individual [EPIs] e
sem nenhum treinamento, colocando em
risco a sua própria saúde e a do consumidor”, explica Clóvis.
Na ótica econômica, o ganho de rendimento e a maior flexibilidade no tempo
de colheita foram as maiores conquistas:
as cultivares locais tinham colheita com 18
a 24 meses após o plantio e rendimento
médio de 10 t/ha; a Formosa pode ser
colhida a partir do oitavo mês, com rendimento superior ao das variedades locais.”
Além de contar um pouco a história
da Formosa, o livro traz fotos de 20 variedades de mandioca geradas pelo programa de pesquisa participativa da Unidade,
bem como suas principais características.
Sistemas de produção para o Maranhão
Pesquisadores da Unidade foram em junho
para o Maranhão apresentar a agricultores o
Sistema de Produção, Processamento e Usos
da Mandioca para o Estado do Maranhão e a
Cartilha de Instruções Práticas, publicações editadas pela
Unidade em parceria com a Embrapa Meio Norte (Teresina
– PI). Luciano Souza e Wania Fukuda (pesquisadores aposentados) e o pesquisador Vanderlei Santos são os editores
técnicos das duas publicações, que contam com diversos autores. O supervisor do Núcleo de Transferência de Tecnolo-
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gia e Negócios Tecnológicos (NTT), Carlos Estevão Cardoso,
e Vanderlei apresentaram as publicações durante um dia de
campo, em Chapadinha. Na ocasião, eles fizeram um balanço
das atividades realizadas desde 2002, mostrando que genótipos coletados no estado, quando submetidos à melhoria do
ponto de vista do manejo, responderam muito bem em termos de produtividade. “São indícios de que assistência técnica
com foco no melhor manejo da cultura pode dar resultados
positivos. Boa parte das demandas até então no Maranhão é
de transferência de tecnologia”, salientou Estevão.

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