24 Março 2012 - Revista Warm Up
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24 Março 2012 - Revista Warm Up
24 Março 2012 O Almanaque WARM UP é a coletânea impressa das melhores matérias da edição online da Revista WARM UP. Imagens ilustrativas Compre já a sua!!! COMPR E AQUI! R$ 24 ,90 + envio Carta do Editor Nova casa, novo ciclo, nova vida Definitivamente, março de 2012 foi um mês histórico para todos nós do site Grande Prêmio e da Revista Warm Up. Depois de 12 longos anos no iG — uma vida, diriam alguns —, estamos todos de casa nova e passamos a integrar o rol de parceiros do portal MSN, o que é um baita orgulho e satisfação para cada um de nós, já que todos teremos a chance de prosseguir com o jornalismo isento e de qualidade. Essa, certamente é uma mudança que vai marcar época e, seguramente, trará bons frutos para todos e, principalmente, para você, leitor. Mas claro que uma mudança de tal amplitude acarreta alguns problemas, o que é absolutamente natural, ainda mais em um período deveras complicado. Além de toda a adaptação a um site novo, novas estruturas, novas diretrizes, março também foi um mês bastante cheio, porque representou a confirmação da ida de Rubens Barrichello à Indy, o fim da pré-temporada da F1 e o início do Mundial, além do campeonato da Indy, já na última semana. Ou seja, trabalho e mais trabalho, o que é sempre bom. Diante de todos os fatos — e argumentos —, se faz necessária a explicação sobre o fato de a edição 24 da Revista Warm Up ser veiculada no começo de abril, e não março, seguindo o cronograma original todo. Levando em consideração o fato de que este foi um mês completamente atípico, é preciso dizer que este foi um período bastante difícil, como são os períodos de transição, o que, inevitavelmente, acabou atrasando um pouco o planejamento. Março acabou, mas a gloriosa e laureada Warm Up está no ar. E foi uma luta, diga-se, como tem sido desde a primeira edição. Já se vão dois anos desde que Victor Martins, Flavio Gomes, Ivan Capelli e Bruno Mantovani tiveram a ideia — brilhante — de conceber o chamado Projeto Secreto. Desde então, a Revista Warm Up, que celebra seu segundo aniversário, vem cumprindo à risca, mês após mês, seu papel, aliás, seus vários papéis: jornalismo crítico, isento, de qualidade, mas fugindo daquela correria toda e do imediatismo das hard news, partindo para reportagens de maior amplitude e que levam mais tempo para serem apuradas. Apesar de sermos um veículo destinado à internet — embora já com dois Almanaques, em versão impressa, publicados —, é possível dizer que a Warm Up tem bom alcance e boa aceitação, também. Isso é possível de mensurar através dos inúmeros comentários, sobretudo nas redes sociais, que acabam sendo o nosso termômetro. Isso, por si só, é gratificante. Mas tudo ficou ainda mais especial — e nos deu a todos a sensação do dever cumprido — quando Martins e Flavio, acompanhados por toda a equipe, escreveram a reportagem ‘Resultado muito adverso’, carro-chefe da edição 13, de abril do ano passado. Uma verdadeira lição de jornalismo, modéstia à parte. Os desdobramentos foram inúmeros, o que, por si só, já era um baita reconhecimento do bom trabalho realizado pela equipe. E a (boa) surpresa, o prêmio de melhor repórter da ACEESP (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo), concedido ao Martins pela reportagem, foi apenas a cereja do bolo, e representou que todos nós, mesmo com todas as dificuldades que temos, estamos no caminho certo na nossa missão número 1: jornalismo isento e de qualidade. E isso é o mais importante, definitivamente. Iniciamos um novo ciclo em 2012, com uma nova casa, mas com os mesmos ideais de outrora. Para este que vos escreve, março foi deveras significativo por marcar — além dos meus poucos 32 anos de idade —, dois anos prestando humildes serviços ao Grande Prêmio e à Warm Up. Dois anos em que aprendi e me desenvolvi demais, embora saiba que ainda tenho uma enorme estrada para percorrer. Aprendi aqui o que certamente nenhuma faculdade, por melhor que fosse, poderia me ensinar. Aprendi que a ética, a isenção e o bom trabalho estão acima de todas as coisas. Vida longa a todos, vida longa ao Grande Prêmio, vida longa à Revista Warm Up. Avante! Fernando Silva Editor Expediente ndice Ano II - número 24 36 Projeto e Coordenação Editorial: Bruno Mantovani, Ivan Capelli e Victor Martins Editor-chefe: Victor Martins Editores: Bruno Mantovani e Fernando Silva Revisão: Victor Martins Repórteres: Evelyn Guimarães Felipe Giacomelli Felipe Paranhos Juliana Tesser Mauro de Bias Victor Martins 18 Arte e projeto gráfico: Bruno Mantovani Assistente de arte: Rodrigo Berton Jornalista Responsável: Victor Martins (MTb 44.629) Agência Warm Up Diretor-geral: Flavio Gomes Editor-chefe: Victor Martins Editores: Evelyn Guimarães Repórteres: Felipe Giacomelli Fernando Silva Juliana Tesser Mauro de Bias A Revista Warm Up é uma publicação da Warm Up Informações Especializadas S/C Ltda. Sede: Av. Paulista, 807, conj. 802, São Paulo/SP, Brasil. Fone: (11) 3284.2956 E-mail: [email protected] 58 42 10 Grandes Entrevistas Periodicidade: Mensal 48 Análises 114 Click otnopartno Contraponto Tema Quatro jornalistas, cinco temas. Todos respondem às mesmas questões, em 140 caracteres. Ou um pouco mais. Flavio Gomes Fernando Silva As duas primeiras corridas no ano permitem dizer que Massa não é piloto de ponta e deve ser trocado na Ferrari? Não acho que deva ser trocado. Ainda. Talvez seja mais prudente esperar as próximas duas. Quanto a não ser piloto de ponta, digamos que ele foi entre 2006 e 2008. Depois, deixou de ser. Não é a primeira vez que isso acontece na F-1. Sim, Felipe está longe de ser um piloto padrão Ferrari hoje, e sua saída só fará bem, tanto para ele quanto para a equipe. A reação de Vettel com Karthikeyan, chamando-o de idiota após o incidente no GP da Malásia, já mostra seu desconforto por o carro da Red Bull não ser o melhor? Sem dúvida. O menino precisa acalmar o facho. É um dos melhores de todos os tempos, se considerada sua carreira até aqui. Mas destruir tal reputação é fácil, com atitudes como essa. Atitude ridícula, diga-se. E como as coisas já não estão mais tão fáceis quanto antes, a máscara começou a cair. Quem é o favorito ao título da F1 em 2012? Button. É o que tem mais cabeça. Lewis Hamilton. Uma vitória de Barrichello na Indy vai ser mais difícil do que se imaginava? Vai. A KV é uma equipe muito média demais. E Rubens não é Mansell. Até fui um dos que esperavam uma vitória dele logo de cara, mas é nítido que Rubens precisa ter mais tempo para se adaptar ao padrão americano de competição. 2 anos de Warm Up: como você define esta revista? A única coisa que presta sobre automobilismo nesse formato. Vencedora em todos os seus objetivos: informar seu leitor e sem jamais perder o foco do senso crítico e da verdade, doa a quem doer. Para fazer sua pergunta, envie uma mensagem para o twitter @revistawarmup. Evelyn Guimaraes Ivan Capelli Permitem. A diferença de desempenho para Alonso é enorme. E acho realmente que Massa deve procurar novos ares. Eu diria que ele não "está" piloto de ponta. Já foi, mas atualmente anda muito mal. Acho que não. Para mim, foi mais reação de cabeça quente, a corrida foi toda errada para o pessoal da Red Bull. Sem dúvida. A reação foi extremada, desproporcional ao acontecido. Numa temporada como 2011 ele não ficaria tão enfurecido por perder um quarto lugar. Button. Eu voto em Jenson Button. Certamente. Ele ainda precisa de mais tempo de pista para encontrar o melhor desempenho na Indy. A julgar pela corrida de estreia, vai. A KV é um time médio e ele, dos três pilotos, foi o que andou mais atrás. Vai ter que cortar um dobrado para vencer. Liberdade. Uma loucura que dá certo. Coluna Fernando Rees O NOVO CAMPEONATO MUNDIAL DA FIA Sábado, 17 de março, marcou a estreia do Campeonato Mundial de Endurance da FIA, apelidado de FIA WEC (do inglês, FIA World Endurance Championship). A corrida de abertura aconteceu na pista de Sebring, na Flórida, que representou o evento norte-americano desse novo campeonato. A proposta é interessante: em uma união do Automobile Club de l'Ouest (ACO) com a FIA, determinar os pilotos e as marcas campeões mundiais de endurance. Em outras palavras: se Sebastian Vettel detém hoje o título de campeão mundial de F1, e Sébastien Loeb o de campeão mundial de rali, em 2012 passaremos a ter também os pilotos campeões mundiais da modalidade endurance. Em contrapartida, os campeonatos de endurance da Le Mans Series americana e europeia se tornaram secundários, representando títulos continentais da modalidade. A abertura do campeonato foi um sucesso. Momentos antes da largada, Jean-Claude Plassart (presidente da ACO) e Jean Todt (presidente da FIA) se apresentaram diante do grid tecendo agradecimentos a parceiros e demonstrando o comprometimento de ambas as organizações com o novo campeonato mundial. A ausência da Peugeot das competições de endurance, motivo de decepção para alguns, foi preenchida com outras marcas e pilotos de peso, que fizeram jus às ambições do novo projeto. E competindo lado a lado com os carros da American Le Mans (ALMS), a superioridade dos competidores do FIA WEC se tornou evidente. Em um fim de semana de muito sol, as doze horas da corrida de Sebring voaram, deixando a todos, organizadores, competidores, e fãs, ansiosos para a próxima etapa do certame. A segunda etapa do campeonato abrirá a temporada europeia, e acontecerá em SpaFrancorchamps, em maio. Se houve um acontecimento que deu o que falar em Sebring foi a questão dos competidores da ALMS correrem junto com os do FIA WEC. Essa decisão colocou 64 carros na pista de Sebring, que tem 5,95 km de distância, mas é certamente mais estreita do que longa. O resultado disso foi uma bagunça geral: não era incomum ver alguns carros perderem mais de 10 segundos em uma única volta negociando ultrapassagens sobre retardatários – lembrando que no endurance, ao contrário da F1, os retardatários não tem a obrigação de sair do traçado e ceder a ultrapassagem. A calma, frieza, paciência, e maturidade prevaleceram sobre a velocidade, garra, e ousadia – o que não diminui em nada o mérito dos vencedores. Mas em todo caso, o congestionamento competitivo que marcou a corrida de Sebring foi motivo de críticas por boa parte das equipes: os treinos livres foram constantemente interrompidos por bandeira vermelhas, umas vez que a disputa entre os pilotos por espaço na pista para uma volta livre se tornou um desafio quase que inatingível; muitas equipes tiveram um prejuízo não esperado com a troca de peças danifi- cadas; houve caso de pilotos que não conseguiram nem sequer fazer uma volta rápida nos treinos; e para encerrar, como era previsto, alguns abandonaram a corrida prematuramente devido a acidentes que eram praticamente inevitáveis. Mas no automobilismo endurance, vencer significa se sobressair sobre tudo isso. Não basta velocidade e constância – é necessário ir além disso, assumir uma habilidade de camaleão, sendo capaz de levar a garra e a ousadia ao limite quando possível, mas ao mesmo tempo se contentar com a calma e paciência quando a situação demandar devida atenção. Sendo assim, pode-se dizer que o congestionamento de Sebring colocou em prova o melhor do endurance – justamente o que o FIA WEC propõe. Para nós brasileiros, a etapa do FIA WEC em Interlagos (que acontecerá no fim de semana de 15 de setembro) será uma excelente oportunidade de apreciar esse novo campeonato mundial. Para os verdadeiros amantes de automobilismo, que procuram ultrapassagens a todo o momento, disputas acirradas, muitos carros na pista, de todos os tipos, com dezenas de roncos de motores diferentes, e pouco (ou quase nada) das regras que impossibilitam a competição, vale a pena pensar duas vezes sobre ir assistir o GP do Brasil de F1 esse ano na pista paulista. Fernando Rees é piloto há 15 anos e compete na Le Mans Series desde 2007. É formado em Jornalismo desde 2008 e mestre em Comunicação Internacional na Universidade Americana de Paris (AUP). A combinação resultou nesse piloto-jornalista. “Nas colunas aqui, vou tentar ao máximo combinar esses dois elementos’, diz. Grandes Entrevistas - Ingo Hoffmann “PELO POUCO TEMPO QUE ESTIVE LÁ NA CBA, ELA ESTÁ TÃO, TÃO, TÃO DEFASADA COM RELAÇÃO AO PONTO QUE ELA DEVERIA ESTAR QUE É DIFÍCIL MUDAR ESSA ESTRUTURA. DEVERIA MUDAR TUDO O QUE EXISTE LÁ” FERNANDO SILVA, de Campinas ngo Hoffmann é daquele tipo de pessoa que não tem Ipapas na língua, que fala aquilo que sente e acredita doa a quem doer. Dono de personalidade forte, o maior vencedor da história da Stock Car, com nada menos que 12 títulos, vislumbra dias difíceis para o automobilismo brasileiro em um futuro próximo. A começar pela perspectiva cada vez mais sombria para o país na F1. Outra questão abordada com propriedade pelo 'Alemão' é a falta de uma categoria de base sólida e que dê ao jovem talento a capacidade real de se desenvolver por aqui, como era antigamente. Evidente que Ingo não deixou de falar sobre a Stock Car. Fez rasgados elogios ao nível atual que a categoria atingiu e destacou, principalmente, o forte grid, composto por pilotos como Thiago Camilo, Allam Khodair, Átila Abreu, Ricardo Maurício, Max Wilson e Cacá Bueno, a quem o 'Alemão' definiu como completo, brilhante e se revelou fã do carioca da Red Bull. Se as palavras para Cacá foram só de elogios, Ingo não poupou críticas à atual gestão da Confederação Brasileira de Automobilismo. Membro da comissão desportiva até o ano passado, o ex-piloto, atualmente com 59 anos, disparou contra a administração da entidade comandada por Cleyton Pinteiro e defendeu mudanças drásticas na estrutura da CBA. Hoffmann disparou contra a inoperância do grupo principalmente pela falta de uma construção definitiva na altura da curva do Café, em Interlagos, local onde morreu Gustavo Sondermann há quase um ano. No lugar, foi construída uma chicane, que serviu apenas como paliativo. Na entrevista a seguir, Ingo falou também sobre o que espera do futuro de Rubens Barrichello. O piloto mais experiente da história da F1, com 323 largadas, homenageou Ingo no GP do Brasil de 2008 ao usar um capacete com sua tradicional pintura amarelo e vermelha, justamente no ano em que o 'Alemão' se despediu das pistas. A entrevista foi concedida à Revista WARM UP no Instituto Ingo Hoffmann, projeto social que o ex-piloto desenvolve junto com a equipe chefiada por Regina Barsotti, em Campinas. Revista Warm Up: Como você avalia o automobilismo brasileiro atual como um todo? Ingo Hoffmann: Cara, eu poderia responder da seguinte forma: está tudo muito bem e tudo muito mal. Muito bem pela seguinte forma: temos categorias super estabelecidas, como a Stock Car, que está super solidificada, está indo muito bem, e nesse ano ela conta com 12 etapas com transmissão ao vivo, o que é positivo, muito bom, mesmo. Temos também uma F-Truck, que também está muito forte, bem sólida, e isso é muito bom. E ao mesmo tempo, temos muitas outras categorias, o que pode ser bom, por um ponto de vista, mas pode ser ruim por outro. Bom porque quanto mais, melhor. Mas por outro lado é ruim porque não há tanto 'freguês' para tanta categoria. Tudo tem um custo, ninguém corre de graça. Tudo custa, qualquer categoria, desde Linea, Mini Challenge, GT3, tudo custa e muito caro. Não há tanta gente para tanta categoria. E outra: falta uma categoria forte de monoposto, para formar pilotos que queiram seguir carreira internacional de fórmula lá fora. E isso nós quase não temos mais hoje: tem o kart, tem a F-Futuro, que é a que o [Felipe] Massa criou, que nunca acompanhei no local, mas pelo que eu vejo através da imprensa, tem poucos participantes. É uma categoria boa, mas que precisava ter um grid mais forte, com mais pilotos. A F3 tá morta, né? Só esqueceram de enterrar, na minha opinião... lamentavelmente está acabada. Enfim, não há categorias de monoposto para formar pilotos que queiram correr internacionalmente. Agora tem o outro lado que eu queria analisar, também. Talvez a Stock Car esteja tão solidificada hoje, proporcionando oportunidades para pilotos que queiram ganhar dinheiro correndo no Brasil, que muitos deles deixam de olhar para as categorias de monoposto porque sabem que podem ser profissionalizados aqui. Mas precisa ter uma categoria de base forte e eu não vejo isso acontecer. Para que isso pudesse acontecer, teria de haver uma montadora muito forte por trás, como existe na Europa, por exemplo a F-Renault, F-BMW, e aqui no Brasil isso não existe. Até porque a CBA não vai fazer [esse meio-decampo] nunca, né? RWp: E essa falta de renovação acaba se refletindo na pista, com cada vez menos pilotos na F1, não? O que você vislumbra para o futuro do Brasil na categoria, agora com Bruno Senna substituindo Barrichello? IF: É muito cedo para falar alguma coisa sobre isso. Eu tenho uma opinião muito clara sobre isso: acho que quem entra em uma categoria como a F1, pagando por isso, jamais vai ser contratado por uma McLaren ou por uma Ferrari. Tem que andar muito bem demais para isso. E todas essas equipes já têm seus próprios programas de base, têm equipes, observadores nas categorias de base na Inglaterra, de toda a Europa... E eu não vejo um brasileiro chegando. E outra, para um brasileiro chegar e disputar um título, ele tem de ser por essas duas ou três equipes de topo. A não ser que seja um talento excepcional, que ele consiga despontar. Mas dificilmente algum brasileiro entraria em uma dessas equipes. Acabou! Hoje o piloto tem de estar na equipe certa. É diferente de antigamente, quando eram muitas equipes com chance de ganhar o campeonato. Hoje em dia são duas, quando muito, três. E tem de ser a equipe certa na hora certa. Veja o caso do Massa na Ferrari. Ele tem o Alonso como colega, que é incontestavelmente melhor. O próprio Rubinho estava na Ferrari ao lado do Schumacher, então não tem jeito. Mas por outro lado, talvez seja melhor ser o segundo piloto em uma equipe de ponta do que ser o primeiro em uma média ou pequena. E outra também, o brasileiro costuma ser muito cruel, o cara diz 'ah, mas fulano de tal tem de estar na Ferrari como primeiro piloto', mas primeiro piloto não vai ser nunca, porque não há mais base, não há mais nada, entendeu? Quer ver um exemplo? Hoje eu recebi um e-mail do Ricardo Divila. Ele mandou um e-mail falando sobre a escola de formação de pilotos da Nissan. E a Nissan nem tem tanta tradição assim no automobilismo, e eles têm uma escola de formação que é um absurdo, fiquei abismado quando eu vi o vídeo. Por isso eu digo, como o brasileiro vai ter chance num mundo desse? Nenhuma, cara, nenhuma. Lamentavelmente acho que nunca mais vamos ver um brasileiro sendo campeão na F1. RWp: E o Felipe Nasr? Qual sua opinião sobre ele? IF: É um rapaz muito bem assessorado, ele é muito bom, mas vamos ver. Se ele não estiver em uma dessas duas ou três equipes de ponta na hora certa, fica muito difícil, por melhor que seja. Mas vamos ver. RWp: Por isso, como você falou, sem renovação, cada vez mais e mais pilotos jovens que tentam as categorias de fórmula acabam voltando... IF: Tanta gente: Allam Khodair, Cacá Bueno, que nunca tentou monoposto porque sempre foi muito bem no turismo, Ricardo Maurício que voltou, Max Wilson que voltou, e tantos outros que optaram por construir a carreira aqui na Stock Car do que gastar dinheiro lá fora, tendo de encarar outros costumes, outro idioma, outra vida. E outra, aqui o piloto tem mais chance de garantir um retorno para o patrocinador do que lá fora, por exemplo. Veja só: um cara, para correr aqui na Stock Car, precisa de R$ 2 milhões. Para correr em uma categoria de base na Europa [como a GP2], são € 2 milhões, é mais que o dobro. Fica difícil. RWp: Falando nos pilotos da Stock Car, e mais especificamente no Cacá Bueno, você o considera o melhor em atividade no automobilismo brasileiro? IF: Ah, sim! Tranquilo! Li que ele foi segundo ou terceiro na Argentina, no TC2000, vai correr no GT Brasil também. E veja: ele corre em um campeonato de pilotos do nível de um Thiago Camilo, Ricardo Maurício, Max Wilson, Allam Khodair, estou até me esquecendo de alguns nomes, tem muito piloto bom. Mas é um grid fantástico e com muita gente com reais chances de ser campeão. Mas desses todos, o Cacá é diferenciado, ele tem um algo a mais. Ele é um cara realmente muito bom, completíssimo. Nas corridas ele é brilhante. Sou fã dele (risos). RWp: E depois de tanto tempo correndo, depois de ganhar tantos títulos, como é acompanhar tudo, agora pelo lado de fora? IF: Ah, eu acho natural. O que tinha de fazer, eu já fiz. Tive uma trajetória muito longa, muito duradoura dentro do automobilismo, e hoje vejo tudo do lado de fora e sem nenhuma vontade de voltar a estar do lado de dentro. Nenhuma, mesmo. Olha, cada vez eu me vejo mais afastado do automobilismo, por incrível que pareça, cada vez mais afastado. Porque aí tem uma condição, que é assim, eu estava pensando nisso dias atrás: eu tenho uma puta bagagem, uma puta experiência. E no Brasil não existe um ex-piloto como eu em uma função como diretor de equipe, diretor esportivo, ou mesmo diretor de corrida, não existe isso. E aí você vê como o Brasil é diferente de outros lugares quanto a isso: um cara como eu, na Europa, estaria trabalhando na equipe que quisesse, fácil, fácil. E aqui não existe isso. E quer saber, eu não quero ir atrás, não vou atrás, até porque eu sei que aqui no Brasil não existe essa cultura. RWp: Mas se você fosse convidado para trabalhar em uma equipe, como chefe de equipe, mesmo, você aceitaria? IF: Depende, cara. Eu até recebi algumas sondagens no meio do ano passado, mas não tive interesse, era uma função que não me interessava. Mas não sei, não posso te dizer que sim ou que não. Depende muito de quem te faz o convite, das condições, da equipe, da estrutura para fazer um bom trabalho, teria de ser um projeto forte. E dos poucos projetos bons e fortes que existem por aí, acho que não teria lugar para mim, até porque neles já existem as pessoas certas nos lugares certos. Eu tentei fazer um trabalho assim quando eu parei, em 2008, na AMG. Mas aí, por uma série de razões, como descontinuidade dos patrocinadores, a coisa não engrenou. RWp: Seguindo a mesma linha, se você tivesse a oportunidade de ser presidente da CBA, você aceitaria? IF: Não, de jeito nenhum. Acho que, na realidade, a CBA precisa urgentemente de alguém do ramo, mas veja só. Até ano passado, eu era membro do conselho desportivo, mas entreguei o cargo. Pelo pouco que eu vi, pelo pouco tempo que estive lá, ela está tão, tão, tão defasada com relação ao ponto que ela deveria estar, com tanto vício, com tanta coisa errada, que é difícil mudar essa estrutura. Deveria haver um choque de gestão, mudar tudo o que existe lá. Mas para fazer isso você tem de ser muito político, e eu não sirvo para isso, sou muito alemão, né? (risos). Até tentei ajudar, mas de uma maneira muito discreta, muito humilde, sabe? Eles me convidaram, eu aceitei, Aceitei, meio a contragosto, mas aceitei, até para ver como era. Aí eu percebi que esse pseudo-cargo que eu tinha lá era meramente figurativo. Se havia alguma questão, se eu podia agregar algo em que pudesse ajudar, raramente era consultado, não vou dizer que nunca, mas raramente. Mas eu penso o seguinte: eu era um cara que só tinha a perder, não tinha nada a ganhar, nada, nada. E todo meu patrimônio é o meu nome. E com meu nome lá, com grandes chances de ser queimado... mas nem se eu ganhasse uma fortuna. Então eu vejo tantas outras pessoas, não somente da CBA, mas diretor de prova, organizador de corrida, de campeonato, promotores, enfim, muita gente engolindo sapo, não porque eles querem, mas porque esse povo faz parte de um negócio, é o trabalho deles. É complicado, cara... aquilo ali é muito ego, muita política, muita vaidade. Vou te dar um exemplo. Ano passado, nós fomos para uma reunião na FIA, em Paris, logo depois da morte do Sondermann, para pleitear a reforma na curva do Café. A reunião foi maravilhosa, eles queriam a mesma coisa que a gente queria, ou seja, afastar o muro, fazer uma enorme área de escape... a FIA tinha uma planta pronta, igual a que nós tínhamos aqui no Brasil. Aí fizeram um estudo do que teria de ser gasto de construção da arquibancada, custo disso e daquilo... certo. O Charlie Whiting veio ao Brasil, tirou foto, tudo acertado... Nada, nada, cara, não aconteceu nada. Aí, no final do ano, na comemoração, acho que dos 50 anos da CBA, veio todo mundo da FIA, veio o Jean Todt, aí disseram: “Ah, mas lá não precisa mudar nada”. Eu tô fora. Aí você vai mexer, tem jogo político, mexe com prefeitura, tem capitalização com não sei o que. Pelo amor de Deus, não dá, sem chance. Sou muito mais o Instituto aqui, que funciona do meu jeito, funciona que é uma maravilha, sabe? Estou muito feliz aqui. Então precisa mudar muita coisa lá, muita coisa. RWp: E você vê um nome capaz de mudar esse panorama todo da CBA? IF: Eu vejo um nome sim, mas sei também que ele não quer fazer. Seria o Carlos Col. Ele é político, tenho uma grande afinidade com ele, é um cara talhado, certo para trabalhar nisso. Tem uma capacidade técnica, intelectual, política, ele tem todos os predicados necessários para ser o cara. Mas sei que ele não vai querer e dou toda a razão para que ele não queira também. Mas ele seria um cara talhado para fazer isso, sem sombra de dúvidas. E o mais importante de tudo, ele tem paixão pelo negócio. E aí, junto com a paixão, teria de formar equipe, tirar todo aquele pessoal que tá lá... Então ele é um cara que gostaria de ver lá. Mas não seria nada em curto prazo, já que essas coisas não mudam do dia para a noite, com uma canetada. Precisaria de tempo. Colocaria a mão no fogo por ele. Mas ele está numa fase da vida dele que ele não encararia essa bucha de jeito nenhum. É uma pena. Para você ter uma ideia: quando eu comecei no automobilismo, em 1972, corri em categorias como a Divisão 3, Divisão 4, carros de turismo preparados, que a gente ganhava prêmio da Federação Paulista de Automobilismo. Naqueles anos todos, o que eu ganhava de prêmio dava para comprar carro importado, que era coisa de marajá naquela época. Premiação de corrida da Federação, cara! E hoje a Federação só serve para emitir carteirinha, mais nada. Então veja como as coisas mudam. É triste. E hoje eu fico pensando: ainda bem que eu tive uma carreira longa, uma carreira bonita e saí fora, saí por cima, até mesmo pelo lado financeiro. Veja só: hoje para correr na Stock Car, o piloto precisa de R$ 1,8 mi a 2 milhões; a vida inteira eu captava meus patrocínios e contratava quem fazia o serviço para mim. Até nisso eu saí bem, saí quando ainda era viável correr. Outra coisa que eu não entendo: por que hoje é tudo tão caro? Tudo é controlado, absolutamente tudo: número de pneu, motor, câmbio, mola, tudo é controlado... complicado. Seria difícil arrumar essa grana hoje. RWp: Falando em dinheiro, eu lembro o caso do Barrichello, que não conseguiu dinheiro suficiente para ficar na F1 e acabou mudando para a Indy levando bem menos dinheiro. IF: Aí eu acho outra coisa totalmente errada. Eu acho um absurdo o Rubinho pagar para correr na F1. Até fiquei sabendo que ele estava correndo atrás de dinheiro. Teve um dia que ele me ligou e eu falei: 'como pode, você, em sua posição, deixando de ganhar salário alto para pagar para correr? Tá louco?'. Mas cada um é cada um, não é? Tem uns caras que sempre vão ganhar bem, caso do Alonso, do Schumacher, os top-drivers. Mas cada vez mais vai ter piloto pagante, cada vez menos a F1 seleciona pelo talento e mais pelo bolso. Tá tudo errado, tá tudo na contramão. Piloto pagante, se não arrumar para correr em uma das duas ou três melhores equipes do grid, vai ser pagante a vida toda. RWp: E para fechar, qual sua opinião sobre a ida do Barrichello para a Indy? Você acha que ele vai se dar bem? Quais serão os desafios dele na América do Norte? IF: Acho que ele vai se dar bem, sim. Mas acho que ele vai ter duas dificuldades: uma grande e outra não tão grande assim. Acho que o maior problema será nos circuitos ovais, que é algo totalmente diferente do que ele conhece. E outra será nas pistas que ele não conhece. Mas o Rubinho, um piloto do nível dele, domina qualquer pista em um dia por completo. Lembro que o Mansell foi pra lá e dominou, Zanardi, Sébastien Bourdais... então não tenha dúvida de que ele irá bem na Indy. DEPOIS DE UM PERÍODO DE VACAS MAGRAS NO AUTOMOBILISMO DE BASE, O ANO DE 2012 TERÁ UMA SÉRIE DE BRASILEIROS NA BUSCA PELO SONHO DE CHEGAR ÀS PRINCIPAIS CATEGORIAS DO ESPORTE A MOTOR MUNDIAL. A REVISTA WARM UP ANALISOU A CARREIRA DESSES GAROTOS E CHEGOU A UMA LISTA DE DEZ NOMES EM QUE SE DEVE FICAR DE OLHO NESTA TEMPORADA E MAIS UM PILOTO-BÔNUS, QUE SÓ VAI PODER COMPETIR NO FIM DESTE PRIMEIRO SEMESTRE. Foto: GP2 FELIPE GIACOMELLI de Brasília Pietro Fantin pisando fundo na F3 Ten and a half men bilismo europeu era quase que inexistente. Rafael Suzuki era o único representante do país em um campeonato de F3, enquanto Pipo Derani, Cesar Ramos e Adriano Buzaid disputavam versões variadas da FRenault, esperando uma chance de dar um passo maior na carreira. Esse período de vacas magras geralmente é chamado de entressafra. No automobilismo ele acontece quando todos os pilotos de um país de uma determinada geração conseguem avançar degraus na escada rumo à F1, mas não há nenhum piloto para ocupar os andares inferiores. Voltando ao exemplo acima, quando Luiz Razia, Diego Nunes e Bruno Senna conseguiram chegar à GP2, eram poucos os brasileiros que estavam no exterior. Assim, não houve substitutos nas categorias imediatas. Consequentemente, com Senna chegando à F1 e Nunes retornando ao Brasil para correr na Stock Car, Razia foi o único representante do país na categoria de acesso da F1 durante muitos e muitos anos. Isso também refletiu na categoria principal. Nesses últimos anos, o baiano foi o único atleta brasileiro capaz de avançar à F1, ainda que na condição de reserva (da Lotus, hoje chamada Caterham) – levando em conta que Bruno Senna e Lucas Di Grassi já a tinham alcançado, mas sem se firmarem. Essa situação, entretanto, mudou bastante nos últimos anos. Embora anunciar que o automobilismo brasileiro está crise esteja na moda, não é bem isso o que acontece nas pistas do mundo inteiro. Com a economia do país estabilizada e um trabalho — ainda que muito tímido — na formação de atletas em desenvolvimento aqui no Brasil, cada vez mais garotos que sonham em alcançar os principais campeonatos do esporte a motor saem do país. Para aproveitar essa nova geração de pilotos brasileiros, a Revista WARM UP decidiu ir a fundo e analisar o desempenho de cada um deles nos últimos anos. O resultado é uma lista de dez pilotos quem têm tudo para conseguirem grandes resultados em 2012 e, quem sabe, até mesmo brigarem por títulos. Foto: Jakob Ebrey m um passado não muito distante, a presença dos Epilotos brasileiros nas categorias de base do automo- Os dez escolhidos Fazer uma lista de dez pilotos, na verdade, é uma tarefa complicada, pois as chances de alguém ser injustiçado são muito elevadas. Afinal, quem fica de fora nunca está completamente satisfeito, por isso a necessidade de se estabelecer critérios objetivos na avaliação desses garotos. só o resultado na tabela de tempos, mas a comparação com os demais pilotos do mundo. Afinal, é indiscutível que a chance de um garoto evoluir em um grid cheio de representantes dos programas de jovens pilotos das equipes da F1 é maior que em um certame onde há presença massiva de pilotos pagantes. Para fazer a seleção dos dez pilotos brasileiros em que vale à pena ficar de olho, a WARM UP optou por seguir uma série de requisitos. Em primeiro lugar, é essencial deixar claro que essa lista diz respeito apenas à temporada de 2012. Ou seja, não importa quem tem possibilidades maiores de alcançar a F1, nesta lista estão apenas quem pode brilhar neste ano. Mesmo com esses critérios sendo obedecidos de forma rígida na hora de fechar os dez nomes alguém acaba ficando de fora. O escolhido — se é que podemos chamar assim — foi André Negrão. Dito isso, já foi possível fazer alguns cortes. Fábio Gamberini, por exemplo, terminou a F3 Espanhola na terceira colocação na temporada passada e demonstrou um bom desempenho nos treinos da GP3. Apesar disso, o paulista ainda não confirmou onde vai correr no novo ano, então foi logo descartado. O mesmo vale para Cesar Ramos, que sofreu com problemas de patrocínio em 2011, rondou o paddock da GP2 na última sessão de treinos coletivos, mas já admitiu a possibilidade de seguir no Brasil, possivelmente no GT. A reportagem também levou em conta o currículo de cada piloto na hora de formular a lista dos dez mais promissores, assim, títulos e decepções pesaram na hora de definir a ordem dos selecionados. Além disso, quem estreia em campeonatos mereceu atenção especial, principalmente em certames em que novatos costumam ter mais dificuldades para se afirmar. Por fim, o rendimento de cada um nos treinos coletivos das respectivas categorias também foi avaliado. Não O paulista andou muito bem nos treinos coletivos da World Series, sendo presença constante no top-10 nos dois dias de atividades no circuito de Paul Ricard, na segunda semana de março. No entanto, por ter uma carreira até agora marcada por altos e baixos, ele ficou com a 11º no ranking da revista. E foi justamente o histórico que pesou contra. Em 2009 e 2010, a expectativa por bons resultados de Negrão após os treinos no inverno europeu era muito grande, mas nas duas ocasiões o garoto não conseguiu corresponder completamente e por isso ficou de fora. Evidentemente, isso não significa que ele não tenha chances de ir bem na atual temporada. Ele tem. E seria muito bom para o automobilismo brasileiro caso ele consiga avançar ainda mais e, quem sabe, fazer parte desta lista em 2013. Agora que os critérios já estão explicados e as principais ausências na lista foram justificadas, confira a lista dos dez pilotos brasileiros que podem chegar às glórias em 2012. Foto: Jakob Ebrey Ten and a half men Pódio da F-Futuro em 2011 com Guilherme Silva, Victor Franzoni e Luir Miranda Foto: GP2 10) Felipe Nasr – (Dams/GP2) Felipe Nasr é o atual campeão da F3 Inglesa e que também conta com o título da F-BMW Europeia no currículo, Felipe Nasr teria todas as condições de estar no topo de todas as listas de pilotos promissores. E ele está. No entanto, a WARM UP gosta de ser diferente. Se em todos os outros lugares o brasilense deve ocupar a primeira posição, aqui ele ocupa a outra ponta da tabela. Isso não é nenhuma perseguição, evidente. Os motivos são claros. Nasr já é uma realidade no automobilismo. Depois do título na Inglaterra e dos pódios em Macau e em Daytona, a expectativa é que Felipe seja o próximo brasileiro a alcançar a F1. Assim, é até injusto com os demais concorrentes colocá-lo em uma relação que classifica apenas os promissores. Outro fator que pesou contra o garoto foi o desempenho na pré-temporada da GP2. Na primeira atividade coletiva, em Jerez de la Frontera, o brasileiro foi bem, ao terminar em 11º e 13º na soma dos tempos, levando em conta que ainda era o primeiro contato com o carro. Em Barcelona, no entanto, as coisas desandaram. O melhor resultado foi o 18º lugar no primeiro dia de testes, quando já estava mais adaptado ao carro e em uma pista em que já conhecia — ao contrário de Jerez. O que também não ajuda Nasr é o desempenho dos novatos na GP2. Em 2011, a categoria estreou o novo carro fabricado pela Dallara, que se assemelha ao F1 das regras dos últimos anos. Na ocasião, o melhor estreante foi Stefano Coletti, que ficou com a 11ª colocação na classificação final, com 22 pontos mar- cados. O campeão, Romain Grosjen, somou 89. Entretanto, o monegasco já havia disputado três rodadas da GP2 há dois anos, então já tinha alguma experiência na categoria. Entre os pilotos que eram completamente novos ao certame, Esteban Gutiérrez, então campeão da GP3, foi o mais bem classificado. O mexicano terminou a temporada na 13ª colocação, com 15 pontos. Ainda falando sobre estreantes, a Dams também teve um novato em 2011. Foi Pal Varhaug, que não marcou nenhum ponto, mesmo tendo Grosjean como companheiro de equipe. Por isso, uma boa expectativa para Nasr neste primeiro ano na categoria é tentar terminar a corrida longa, disputada no sábado, na oitava colocação e se aproveitar da regra do grid invertido para tentar converter a pole-position em vitória, no dia seguinte. Foi assim que o holandês Giedo Van Der Garde apareceu há alguns anos e o próprio Coletti chamou a atenção no campeonato passado. Além disso, seria importante que o brasileiro chegasse ao pódio em alguma etapa do sábado, para comprovar que também pode andar entre os primeiros. Embora Nico Hülkenberg e Lewis Hamilton tenham sido campeões da GP2 quando ainda eram novatos, as chances de Nasr — ou algum outro — repetir o desempenho em 2012 é baixíssima, visto que os dois últimos pilotos a levantarem o caneco – Grosjean e Maldonado – já eram veteraníssimos do campeonato de acesso. Ten and a half men 9) André Pedralli – F-Futuro Ter tantos pilotos brasileiros correndo no exterior em 2012 indica que o trabalho na base, principalmente no kart, está sendo feito. É verdade que ainda há muito e muitos problemas em questão de estrutura precisando ser resolvidos, mas o Brasil começa a colher os frutos dessa nova geração. assim terminou as duas corridas da rodada dupla entre os cinco primeiros. Há dois anos, quando John Louis acertou a transição para a F-Futuro, o kartismo brasileiro passou a ser dominado por quatro nomes: Felipe Fraga, Felipe Donato, Victor Franzoni e André Pedralli. Do quarteto, o paranaense de Cascavel é o único que ainda nãoconseguiu se firmar. Agora, em 2012, Pedralli está esperando a chegada de um novo investidor para continuar a carreira. Enquanto isso, tem recebido propostas de diversas equipes, mas sempre esbarrando na necessidade de levar dinheiro para correr. Dias desses, o cascavelense adotou uma estratégia inusitada, e ao mesmo tempo bem-sucedida, para participar do Super Kart Brasil. O piloto fez uma campanha na internet e conseguiu juntar orçamento suficiente para bancar sua presença na competição. André sofre com aquele velho problema que atormenta a maior parte dos pilotos no mundo: a falta de dinheiro. O garoto disputou apenas uma etapa da FFuturo em 2011 e precisou parar, sem grana. Mesmo Enquanto não define a vida, o garoto segue no kart e pode aparecer na F-Futuro com a esperança de se juntar aos antigos companheiros rumos às principais categorias do esporte a motor mundial. 8) Felipe Fraga – (F-Renault ALPS/Tech 1) Nascido no Pará, mas estabelecido em Palmas, no estado do Tocantins, Felipe Fraga se tornou um dos principais pilotos do kartismo brasileiro nos últimos anos. O garoto cansou de vencer os torneios disputados no país, como o Campeonato Brasileiro, a Copa Brasil e o Sul-americano. Além disso, Fraga também conseguiu colocar no currículo a taça da Seletiva Petrobras e de torneios internacionais, como o SKUSA e o Gatorz Challenge. Todo esse sucesso, obviamente, se transformou em ansiedade na hora de fazer a transição para os monopostos. Esse trabalho de mudança de carro foi iniciado ao longo do ano de 2011, quando Felipe aproveitou o prêmio da conquista da Seletiva Petrobras para treinar com a equipe Hitech, da F3 Sul-americana. O piloto começou as atividades na pista de Campo Grande, onde igualou o tempo da pole-position marcada por Fabiano Machado — que seria o campeão no final do ano — e seguiu por Santa Cruz do Sul e Interlagos. Ten and a half men 7) Guilherme Silva (F-Renault Europeia e F-Renault ALPS / Interwetten) Campeão da F-Futuro em 2011, o mineiro Guilherme Silva recebeu como prêmio uma bolsa para participar de um campeonato europeu de acesso. O garoto escolheu disputar os dois campeonatos da F-Renault pela equipe austríaca Interwetten. No último ano, Guilherme rapidamente chamou a atenção, quando liderou tanto a F-Futuro quanto a F3 Sul-americana após a primeira rodada de cada um dos campeonatos. Entretanto, como o calendário desses torneios tinha choque de datas logo na segunda corrida, o garoto foi obrigado a escolher onde correr. É verdade que ele até tentou continuar a competir em ambos de forma concomitante, voando — literalmente — de uma pista para a outra, mas a experiência não deu certo e ele acabou perdendo a ponta nos dois os campeonatos. No fim, Silva abriu mão da F3 e focou apenas na FFuturo. A tática deu certo e o garoto conquistou o título do torneio ao vencer a corrida decisiva da temporada 2011, no Velopark. Apesar disso, não foi pelas vitórias que Guilherme chamou a atenção. Em 31 corridas disputas no ano passado, o garoto terminou na primeira colocação em apenas sete oportunidades, mas foram 19 pódios entre F3 e F-Futuro. Dotado de uma frieza impressio- nante, o mineiro conseguiu se destacar justamente pela regularidade e por cometer pouquíssimos erros. Em 2012, correndo na F-Renault, o piloto não deve ser considerado favorito ao título da categoria. A Interwetten é uma equipe boa, mas apenas mediana. E os próprios companheiros do brasileiro — o inglês Melvin McKee e o sueco Timmy Hansen — são muito experientes nas categorias de base europeias. Mesmo assim, o mineiro está em um bom caminho para seguir os passos dos conterrâneos Cristiano da Matta e Raphael Matos. Uma boa temporada agora pode significar um acordo com uma equipe grande em 2013, quando poderá entrar no duelo pela taça. Outro trunfo de Guilherme é que experiência internacional ele tem de sobra. Ainda no kartismo, o garoto se habituou a andar de igual para igual contra gente como Kyvat, Albon, Carlos Sainz Jr. (todos da Red Bull), Raffele Marciello (Ferrari) e o badalado Nyck De Vries (McLaren). Por outro lado, pesa contra ele o desempenho na prétemporada, quando começou andando constantemente entre os dez primeiros, mas acabou ficando de fora do top-20 nas últimas atividades. É claro que treino coletivo não é sinônimo de corrida, mas fica a impressão de que ele é capaz de andar mais próximo dos líderes. 6) Victor Franzoni (F-Renault ALPS / Koiranen Bros) Não existe receita para ser bom piloto. Pensando na F1, a McLaren conta com uma dupla bastante interessante. Enquanto Jenson Button é cerebral, habilidoso e tenta vencer as corridas aliando estratégia à toada do carro, Lewis Hamilton é arrojado e bastante pirotécnico. Como decidir qual dos dois ingleses é melhor? Eles têm características tão distintas! Mas reconhecer a habilidade de Hamilton não significa diminuir Button e vice-versa. Franzoni aparece na sexta posição justamente por fazer parte da escola Hamilton de pilotagem. Embora o garoto tenha sido apenas o quinto colocado na FFuturo, em 2011, o piloto avançou nesta lista justamente pelo arrojo incomum que apresentou no ano de estreia nos monopostos. Esse talento resultou em um 2011 de altos e baixos. Aos 15 anos, Franzoni se tornou o piloto mais jovem a vencer em um campeonato nacional ao terminar na frente na segunda corrida da rodada da F-Futuro, em Interlagos. Porém, a partir daí, nas seis provas seguintes, o garoto foi ao pódio apenas uma vez, colecionou um desclassificação em Brasília e abandonou na segunda etapa no circuito paulista ao cometer um erro quando estava liderando a prova. Apesar disso, o garoto mostrou evolução no final do ano e terminou com três pódios consecutivos, incluindo uma vitória em Curitiba. Para 2012, a intenção de Franzoni era participar tanto da F-Renault Europeia quando versão Alps do certame pela Cram Competition, uma equipe italiana conhecida como porta de entrada dos pilotos brasilei- ros ao Velho Continente. Entretanto, depois de uma pré-temporada irregular — quando começou andando dentro do top-10, mas teve dificuldades para fechar entre os 20 primeiros nas últimas atividades —, o brasileiro resolveu mudar tudo no último minuto e decidiu trocar de equipe. Mesmo tendo inscrito para a pré-temporada a italiana Giada De Zen e o britânico Emil Berstorff, a Cram não conseguiu fechar contrato com outro piloto para ser companheiro de Franzoni. Assim, o brasileiro optou por rescindir o contrato e focar apenas na F-Renault Alps, onde será inscrito pela Koiranen. Nessa mudança, o problema da falta de companheiros de equipe como parâmetro foi resolvida, já que o paulista estará competindo no mesmo time de Daniil Kyvat e Stefan Wackenbauer (apoiados pela Red Bull) e do brasiliense Gustavo Lima. O grande problema de Franzoni para 2012 será a adaptação ao novo time, já que ele não participou de nenhum teste com a equipe finlandesa. Apesar disso, a Koiranen é um time mais estruturado que a Cram e deve proporcionar ao brasileiro maiores chances de brigar por vitórias e, talvez, pelo título. Franzoni já admitiu que o plano é aprender em 2012 e disputar a taça da F-Renault Europeia na próxima temporada. No entanto, já estando em uma equipe competitiva, nada melhor que começar a carreira internacional por cima. Agora, resta ver se o garoto vai conseguir demonstrar no continente europeu as mesmas habilidades que encantaram os brasileiros. Ten and a half men O paulista Bruno Bonifácio é dono de uma das carreiras mais curiosas do automobilismo. O garoto de apenas 17 anos se inscreveu para participar da F3 Sulamericana, em 2011, na divisão Light, onde se tornou campeão com facilidade ao vencer 12 vezes ao longo do ano. O problema é que ele foi o único participante de forma integral do certame, então literalmente foi campeão correndo sozinho. Apesar desse detalhe curioso, o ano de Bruno não foi ruim. O piloto andou de igual para igual com os carros da divisão principal da F3 em todas as etapas em que disputou, tendo inclusive marcado a pole-position para a etapa de abertura no Velopark, quando se igualou a João Paulo de Oliveira como o único piloto da divisão menor a obter uma vaga na posição de honra na classificação geral. Quando Bonifácio garantiu matematicamente a taça da divisão Light, o garoto se mandou para a Europa, onde foi disputar as etapas restantes da F-Abarth, pela equipe Prema. O piloto foi presença constante na zona de pontos, mas não conseguiu andar no mesmo ritmo dos ponteiros, ficando limitado à posição de melhor entre os estreantes do meio do campeonato. Por outro lado, conseguiu andar na frente do badalado neozelandês Nick Cassidy. Aliás, Boni voltaria a se encontrar com Cassidy no início de 2012, quando os dois disputaram um campeonato apoiado pela Toyota, na Nova Zelândia, ao longo de cinco semanas entre janeiro e fevereiro. Conhecendo o carro e as pistas como a palma da mão, Nick foi campeão sem maiores dificuldades, mas Bruno causou uma boa impressão ao estar sempre entre os mais rápidos durante os treinos livres. O brasileiro, no entanto, pecou nas largadas e relargadas, além de ter cometido erros durante as provas. No entanto, se levar em conta que esse foi o primeiro campeonato que Bruno disputou de forma integral na carreira, o resultado foi promissor. Com a Nova Zelândia ficando para trás, Bruno escolheu retornar à F-Abarth onde vai lutar pelo título da temporada de 2012. O piloto renovou com a Prema para a nova temporada e já pode ser considerado um dos favoritos ao título. Nos poucos treinos da prétemporada até agora terminou na segunda colocação, ficando atrás apenas do companheiro de equipe, o italiano Luca Ghiotto. Foto: Divulgação 5) Bruno Bonifácio (F-Abarth/Prema) 4) Pietro Fittipaldi (Nascar All American / Lee Faulk) O ano de 2012 começou com Pietro Fittipaldi sendo presença constante no noticiário. Menos pelos resultados na pista e mais pela polêmica envolvendo a Lei de Incentivo ao Esporte. Via Instituto Emerson Fittipaldi, o garoto conseguiu que o Ministério do Esporte liberasse a captação de R$ 1 milhão em recursos para disputar a temporada 2012 da Nascar All American. Embora a medida polêmica não tenha pegado bem para o garoto, o talento de Pietro, de apenas 15 anos, não é medido pelos seus investidores. Em 2011, longe de qualquer controvérsia, o piloto conquistou o título da categoria em que disputou na pista oval de Hickory, no estado da Carolina do Norte. Mesmo sendo um estreante no torneio, Pietro rapidamente se tornou presença constante no top-5, e conquistou quatro vitórias ao longo do ano. Agora, mais experiente, o brasileiro — mas americano de nascimento — poderá defender o título conquistado. Pietro ainda não confirmou onde vai correr, mas já declarou que pretende continuar correndo em Hic- kory – na divisão All American da Nascar – e também participar de campeonatos que passem por outras pistas, principalmente na região leste e sudeste dos Estados Unidos. Na primeira corrida do ano, Pietro não começou bem. Poucos dias antes da notícia sobre a Lei do Incentivo ao Esporte estourar, o neto de Emerson largou na oitava colocação, em Hickory, mas ainda estava brigando para permanecer no top-10 quando o motor estourou e foi obrigado a abandonar. Ainda assim, não faz sentido avaliar o desempenho do garoto por uma quebra no equipamento. A expectativa é que Pietro dispute alguma corrida da Nascar East já na temporada 2012, embora o piloto ainda não tenha falado a respeito. Como a categoria permite que garotos com 15 de idade se inscrevam, não deve demorar muito para que o brasileiro dê esse passo na carreira. Foto: Roberto Castro Ten and a half men 3) Lucas Foresti (World Series/Dams) Prestes a completar 20 anos de idade, Lucas Foresti assumiu uma posição de respeito no automobilismo internacional. Longe do Brasil desde o início de 2010, o brasiliense enfrentou uma série de dificuldades antes de se firmar como um dos nomes mais promissores da atual geração de jovens pilotos. Mas o esforço foi recompensado e o piloto figura em listas de favoritos ao título da World Series, embora a escolhe pela Dams tenha sido motivo de lamento para quem acompanha a categoria a fundo. A equipe francesa estreia no campeonato em 2012, tomando a vaga que era da Epic (ex-Epsilon Euskadi) até a temporada passada. Nos treinos realizados no final do ano passado, o time não foi bem com os promissores Felipe Nasr e Adrian Quaife-Hobbs ficando presos na metade do grid. Só que os dois haviam testado com o carro antigo da categoria. Lucas, por sua vez, pôde participar da pré-temporada já com o novo equipamento. Nos dois dias de treinos em Paul Ricard, o brasileiro ficou com a 14ª coloção como melhor resultado — embora tenha terminado entre os dez primeiros em uma das sessões, antes de a combinação de tempos ser realizada. Em um grid competitivo quanto o da categoria, o resultado é bastante promissor se levado em conta que Lucas é um novato e que nunca disputou uma corrida na pista francesa, ao contrário dos adversários que fizeram carreira na F-Renault, tendo o circuito de Le Castellet como quintal de casa. Apesar disso, é verdade que havia a expectativa por um resultado melhor do brasileiro, principalmente após o início avassalador na F3 Inglesa em 2011, quando conseguiu três vitórias e três segundos lugares em 12 corridas, chegando até mesmo a brigar pelo título do campeonato. Isso tudo comparado a um ano de adaptação, em 2010, quando a terceira posição em Silverstone foi praticamente o único resultado dentro do top-5. Assim, tomando por base o histórico de Foresti, não seria surpresa se o piloto usasse a temporada 2012 da World Series como uma forma de se adaptar à categoria, lutando pelo título no próximo ano, quando poderia assinar com uma equipe maior. De qualquer forma, seja lá qual for a decisão que o garoto tomar, será bem fundamentada, já que ele conta com o ex-piloto Roberto Pupo Moreno supervisionando a carreira. Foto: Divulgação 2) Victor Carbone (Indy Lights/Sam Schmidt) Até o momento, a temporada 2012 da Indy vai contar com três brasileiros: Helio Castroneves, Tony Kanaan e Rubens Barrichello. É inegável que o trio esteja mais próximo de se aposentar da categoria do que do início da carreira no automobilismo. Portanto, está mais do que na hora de haver alguma renovação entre os pilotos brasileiros nos Estados Unidos. O principal nome para começar esse processo é o de Victor Carbone, de 19 anos. O garoto faz parte da mesma geração de pilotos que revelou Lucas Foresti e Felipe Nasr, mas foi nos Estados Unidos em que ganhou mais destaque. Em 2009, quando já estava na terra de Barack Obama, Carbone ganhou reconhecimento ao vencer um importante torneio de kart realizado na Flórida. Pela conquista, o piloto foi convidado a disputar a temporada da F2000 pela equipe Alegra, que vinha dos protótipos. No primeiro ano juntos, Victor foi apenas o nono colocado. Ainda assim, a parceria permaneceu em 2010, e o garoto foi campeão ao vencer seis das 14 corridas disputadas no ano. Seguindo o caminho natural do esporte a motor nos Estados Unidos, o brasileiro deveria ter ido para a Star Mazda. Mas Victor surpreendeu a todos ao fechar com o time de Sam Schmidt para disputar o campeonato passado da Indy Lights. Sendo o caçula do grid, o piloto precisou superar a desconfiança e o olhar torto dos adversários. Nesse clima de tensão, o brasileiro voltou a surpreender. Nas primeiras oito corridas do ano, Victor acumulou três abandonos e o sexto lugar como melhor resultado. Nas últimas seis, só não terminou uma etapa, chegou ao pódio em duas e conquistou a vitória no encerramento da temporada, em Las Vegas, no fatídico final de semana da Indy. Agora, mais experiente, Carbone é favorito ao título da Indy Lights. O brasileiro será obrigado a usar tudo o que aprendeu no último ano para ficar com a taça. Apesar disso, o brasileiro já conseguiu superar a desconfiança uma vez e, finalmente adaptado ao torneio, tem tudo para repetir o desempenho avassalador na F2000. A grande dificuldade do paulista em 2012 será superar adversários ainda mais experientes. Gente como Sebastian Saavedra, que correu na Indy no ano passado, e Gustavo Yacaman em seu quarto ano na categoria devem dificultar as coisas. Fora os próprios companheiros da equipe Sam Schmidt: Oli Webb e Tristan Vaultier. Ten and a half men 1) Pietro Fantin (F3 Inglesa/Carlin) Pietro Fantin é o sucessor de Felipe Nasr na F3 Inglesa. E quem disse que isso é o próprio brasiliense, atual campeão da categoria. Apesar dos elogios trocados entre os dois, há algumas coincidências entre ambos. Nasr começou a carreira no campeonato britânico pela Double R, mesma equipe em que Fantin fez parte antes de assinar com a Hitech, no último ano. O brasiliense conquistou a primeira vitória da carreira na F3 em Rockingham, justamente onde o paranaense venceu ano passado – e é considerado um especialista. Nasr foi campeão pela Carlin no segundo ano na categoria e é justamente por essa equipe em que Pietro vai correr em 2012. Com tantas coincidências assim, é evidente que Fantin é favorito absoluto ao título da F3 Inglesa, certo? Errado. As semelhanças entre os dois param por aí. Nasr deu toda a sorte do mundo ao assinar com a Carlin em um ano em que a Red Bull não tinha um piloto para competir na categoria. Assim, o melhor equipamento do time inglês ficou com o brasileiro. Fantin, por sua vez, terá a concorrência pesada do rubro-taurino Carlos Sainz Jr., que assumiu o time em que Felipe fora campeão. Apesar disso, e bastante complicado avaliar a prétemporada da F3 Inglesa. Praticamente todos os pilotos da Carlin ficaram com a primeira colocação em algum momento, mas mesmo testando em Rockingham, Pietro reclamou bastante do acerto do carro. Assim, talvez o grande desafio do brasileiro seja descobrir uma maneira de contabilizar vitórias e boas atuações mesmo sabendo que os companheiros possam ter um desempenho melhor nas corridas. Ten and a half men Bônus – Eric Granado (Moto2/JiR) Desde que Alexandre Barros deixou a MotoGP, há alguns anos, o Brasil não tinha um representante na categoria no Mundial de Motovelocidade. A situação mudou em 2012 e Eric Granado vai disputar a temporada da Moto2 pela equipe JiR. O brasileiro, na realidade, só vai poder estrear no GP da Inglaterra, marcado para o dia 17 de junho, quando completar 16 anos de idade. A expectativa que ronda o garoto é bastante grande. Eric trocou o Brasil pela Espanha já faz alguns anos para se desenvolver como piloto. Ele rapidamente ganhou destaque disputando campeonatos principalmente na pista de Valência e começou a receber propostas das equipes da Moto3 — antiga 125cc — e da Moto2 para fazer a transição para o Mundial de MotoGP. O garoto optou pelo campeonato intermediário, mas o custo foi esperar até metade do ano, quando faz aniversário, para poder correr. Eric entra como bônus nessa lista por dois motivos. O primeiro, evidentemente, é que ele é o único representante do motociclismo por aqui. Todos os demais fazem carreira nas quatro rodas. A segunda razão é que dificilmente ele consiga grandes resultados nessa temporada de estreia. Levando em conta os treinos da pré-temporada, o garoto ficou na parte do fim do grid, mas não ficou muito atrás do companheiro de equipe, o francês Johann Zarco, recém-graduado da 125cc. Os primeiros anos de Eric no Mundial vão servir como aprendizado, mas a expectativa é que ele consiga andar entre os primeiros colocados conforme evolua na carreira. Para não ficar totalmente fora do mundo das quatro rodas, Granado fechou contrato com Emerson Fittipaldi, que vai chefiar a carreira do garoto a partir de agora. Lembrando que mesmo com o acordo ele vai continuar correr de moto. O Grande Prêmio está de casa nova Entre e fique sempre bem informado. www.grandepremio.com.br Cool! CAMPEÃO MUNDIAL DE KART EM 1998, RUBEN CARRAPATOSO ENCONTROU EM OUTRO TIPO DE PISTA UM HOBBY QUE JÁ ESTÁ LHE RENDENDO UMA CARREIRA PARALELA: A DE DJ. A MÚSICA ELETRÔNICA, GOSTO DO PILOTO DESDE 12 ANOS, JÁ O FEZ TOCAR EM CASAS CONCEITUADAS EM SÃO PAULO Foto: Getty Images MAURO DE BIAS de Belford Roxo Carrapatoso é hoje um polivalente da velocidaRde,ubendigamos assim. Dono de um histórico campeonato mundial de kart, conquistado em Ugento, na Itália, em 1998, esse jovem paulista, ainda com 30 anos de idade, já vivenciou muita coisa nas pistas de todo o mundo, desde a ascendente Stock Car até à extinta A1GP. Ruben jamais abandonou as pistas e sempre encontra uma forma ou outra de ficar perto daquilo que mais gosta: as competições, o ronco dos motores, o cheiro de gasolina, a convivência com os colegas de profissão. Foto: Getty Images É dessa forma que Carrapatoso criou, com mais um seleto grupo de pilotos vitoriosos no kart, o Super Kart Brasil, maior iniciativa privada que visa desenvolver o esporte antes tão esquecido por essas bandas. Mas Ruben consegue arrumar tempo para fazer mais, muito mais. Além de se dedicar com afinco ao desenvolvimento do SKB, o piloto trabalha como analista de dados na equipe Carlos Alves, na Stock Car, e também tornou-se um apaixonado pelo rali de velocidade, tendo inclusive já vencido uma etapa do Campeonato Paulista, no ano passado. Não contente com a vida agitada dentro das pistas de corrida, Carrapatoso tem a música eletrônica como hobby. DJ nas horas vagas, o campeão mundial de kart encontra no techno uma forma de festejar e divertir também os amigos nas pistas de dança. A WARM UP conversou com o consagrado piloto, que revelou seu trabalho no SKB, bem como seu início de carreira no rali, fazendo até uma comparação com o ambiente competitivo da Stock Car. Sem falar na a divertida vida que leva como DJ vez ou outra. Caçador de talentos O kart é o primeiro passo de quase todo competidor que sonha em trilhar uma carreira vitoriosa no automobilismo. A mais básica das modalidades sob quatro rodas é escola de pilotos e também objeto de diversão para quem pratica o esporte de forma amadora. Nos kartódromos do Brasil, ele já foi laboratório onde se desenvolveram grandes nomes que fizeram e ainda fazem carreira internacional de sucesso, mas nas últimas duas décadas, sofreu pelo esvaziamento de corredores e principalmente, patrocinadores e exposição na mídia. Aos 30 anos de idade, Ruben Carrapatoso, campeão mundial de kart em 1998, hoje foca sua carreira em mudar a situação do kart no Brasil e promover o desenvolvimento de jovens talentos do automobilismo. Depois de dedicar a vida ao esporte a motor, o piloto resolveu concentrar seus esforços em tentar reestruturar a 'base da base' através do Super Kart Brasil (SKB). O Super Kart Brasil é uma empresa fundada por Carrapatoso junto com os colegas e amigos de longa data no kart: André Nicastro, Danilo e Dennis Dirani, Paulo Carcasci, Renato Russo e Sérgio Jimenez. O objetivo da companhia é organizar campeonatos de kart para estimular a participação de pilotos em desenvolvimento e colocá-los em disputas de alto nível com nomes consagrados, como Rafael Suzuki e Nelsinho Piquet. Os próprios fundadores da organização competem para dividir experiência com os mais novos e chamar mais atenção para os eventos. O próximo certame será realizado ainda este mês, no dia 31, no kartódromo de Interlagos e vai se chamar Troféu Gustavo Sondermann, como homenagem ao piloto morto em um acidente em abril do ano passado no mesmo autódromo, na abertura da Copa Montana. Será a sexta etapa do SKB, que já acontece desde outubro de 2010. "A gente entrou num acordo, todo mundo junto. O Sérgio que deu o 'start', mandou e-mail para mim, para o Danilo, para o André e aí depois chamamos os outros", diz Ruben em entrevista à WARM UP. Depois de muitos debates sobre qual seria a verdadeira utilidade do SKB, os pilotos chegaram a um acordo: "'Vamos fazer campeonato em que a gente consiga fazer um fim de semana com o máximo de aprendizado possível, com o que nós achamos de melhor para o kart'. Com a nossa experiência a gente tem que agregar isso para os novos pilotos", afirma. O piloto disse ainda que a intenção era organizar um evento onde os participantes pudessem terminar o fim de semana sabendo que aprenderam o máximo possível. "O objetivo é fomentar o automobilismo. O objetivo é, daqui a dez anos, ter pilotos indo para a Indy, para a Europa. Nossa ideia é dar as oportunidades que nós não tivemos", ressalta o paulista. Outra forma de estímulo está nas premiações. Em uma etapa, o SKB chega a distribuir R$ 40 mil em prêmios para os vencedores. "A gente quer dar a base para os moleques. A base que não tivemos", explica. "Queremos que o SKB cresça e que a gente nem precise mais correr para divulgar", acrescenta. Como empresário, Ruben não se aventura somente na organização de eventos, mas também na fabricação de carburadores para karts. Rali: a descoberta de uma nova paixão Amante da velocidade, Carrapatoso, que já correu na Stock Car, hoje encontrou uma paixão que não pensa em largar tão vedo: o rali. Atendendo a um convite do chefe da equipe APS, Alexandre Silva, o piloto entrou para as competições e tomou gosto. "Adoro desafio, então aceitei", diz. "Participei da terceira etapa do Paulista no ano passado, em Guararema e gostei muito", ressalta. Ruben disse que o principal motivo que o fez gostar do rali foi o famoso clima de coleguismo entre os competidores. "É muito legal, muito divertido. O ambiente é bem 'light', bem leve. Não tem aquela pressão toda, é uma O Senhor das Pistas grande família", destacou. "É um ambiente parecido com o do kart. Não é bem aquele da Stock Car, onde todo mundo quer matar todo mundo", compara o piloto, que hoje atua na principal categoria turismo do Brasil como analista de dados de telemetria da equipe Carlos Alves. "No rali, todo mundo torce para todo mundo. Ele tem uma competição diferente. É contra o relógio, você não divide freada. Isso torna o ambiente muito legal. Foi o que me atraiu mais." Em 2012, Carrapatoso quer participar de uma temporada completa do Campeonato Paulista de Rali. "Estou em uma fase da minha carreira em que desafios ovos me excitam mais. Fico mais interessado. Por isso decidi entrar nessa nova empreitada. Agora quero fazer o campeonato inteiro. No ano passado perdi as primeiras etapas", conta o piloto, que venceu a etapa de Ibaté, última da temporada de 2011. "Só me deu mais motivação.” Das pistas de corrida para as de dança Como o campeão mundial de kart não consegue ficar longe de uma pista, seu hobby também está ligado às pistas. Mas de dança. O paulista agita as noites de amigos, conhecidos e indicados com batidas de Techno e música eletrônica. Sua preferência pelo estilo ganhou um impulso especial enquanto o piloto dava seus passos na carreira automobilística na Europa. "Corri de F-Renault Inglesa, F-Renault Italiana, F3 Europeia, A1GP", enumera. No total, Ruben passou dez anos no Velho Mundo em busca de uma vaga na F1. Como centro do cenário eletrônico e berço de DJs mundialmente famosos, a Europa se mostrou o lugar ideal para Ruben aprender e se interessar cada dia mais pelo estilo que gosta de tocar hoje. "Gosto muito de música eletrônica. Gosto desde os 12, 13 anos. Como morava na Europa, ia às melhores boates e adquiri bastante conhecimento", conta Carrapatoso. "Além disso, eu tinha muitos amigos DJs, produtores. Ajudava", lembra Outros amigos bem conceituados no Brasil colaboraram para que o aspirante a DJ desse o pontapé inicial na sua carreira na música eletrônica em terras tupiniquins. "Hoje eu ganho um dinheiro simbólico com isso. Com parado com meus outros trabalhos, isso não é nada", observa. Mas deixar o hobby tomar mais tempo e, talvez, se tornar a carreira principal um dia é algo que Carrapatoso considera. "Quem sabe daqui a uns 20 anos não seja a minha aposentadoria? Eu me vejo com 50 anos tocando. Tem muito DJ com essa idade por aí. Um dos criadores do Techno está até hoje em atividade", completa. Ruben lembrou ainda de outro piloto que resolveu investir na carreira de DJ, Raul Boesel. O campeão mundial de Marcas, com a Jaguar, em 1989, no entanto, transformou o hobby em ganha-pão e hoje é um dos principais nomes da música eletrônica nacional. Mas Carrapatoso indicou que não pretende seguir os mesmos caminhos do hoje DJ Raul Boesel. "É um hobby que eu deixo em segundo plano. Eu toco quando tem uma festa que não coincide com nenhuma data importante. Não deixo o meu trabalho para tocar", diz. "Já toquei na Disco, em São Paulo, muita festa de amigo... É mais por diversão. É um hobby mesmo,” considera. Feliz com o Super Kart Brasil, com a fabricação de carburadores, com o rali e com a agitada vida noturna regada à música eletrônica, Carrapatoso prefere nem pensar em um possível retorno à Stock Car na condição de piloto. "Só voltaria se fosse para uma equipe muito boa. A diferença de carro lá é brutal. Só volto se tiver condições de vencer. Se for para fazer número, prefiro ficar em casa.” Horizonte azul O piloto compara ainda a vida na categoria de turismo mais popular do país com a experiência vivida no Paulista de Rali. "Você depende muito mais de você e da sua pilotagem do que de um motor, de uma equipe bem estruturada, de ter dinheiro para comprar uma peça nova, que era o ambiente que tinha na Stock Car e eu não gostava", recorda. Carrapatoso atacou ainda o excesso de política na categoria. "Lá tem muito dinheiro envolvido. Onde tem muito dinheiro, tem muito política. E muita política é ruim para o esporte", brada o novo ralizeiro, criticando ainda a postura que ele próprio teve na época em que competiu na Stock Car — em 2006 e 2007. "Eu não tenho problema com meu ego. Não preciso ficar aparecendo na TV para mostrar que sou melhor. Já fiz esse papel, mas não preciso mais", conclui o piloto multimídia. Vivendo entre o asfalto, a terra batida e as pick-ups, Ruben traçou perspectiva bastante positiva quanto ao seu futuro: hoje o piloto se mostra muito feliz com as opções que fez na carreira e na vida, seguindo à frente de um projeto que, a longo prazo, pode resgatar o automobilismo de base nacional. O Senhor das Pistas Carro-chefe EVELYN GUIMARÃES e JULIANA TESSER, de São Paulo .Apoio financeiro, vaga comprada, piloto pagante. DNunca se falou tanto no impacto do dinheiro no automobilismo quanto agora. E principalmente no Brasil. É evidente que o fator financeiro sempre esteve atrelado ao esporte a motor em todo mundo, não é um privilégio tupiniquim, portanto. Afinal, automobilismo é um esporte caro, que exige uma estrutura idem e sólida, além de um tanto elitista. Ou seja, não é para todo mundo. Por isso, é notória e reincidente a reclamação de pilotos e equipes com relação à falta de patrocinadores. Quantas carreiras foram ceifadas por conta da ausência de suporte financeiro? As histórias vêm de todos os lados. Acontece que o esporte a motor no Brasil atravessa um período curioso neste momento no que diz respeito à grana. Diante de um crescimento econômico consistente, o país acompanha um boom de empresários e instituições públicas concentrando as atenções para o automobilismo. Mas não na base, na formação e, sim, em 'produtos' já consagrados ou com grande potencial para chegar lá, a chamada promessa do esporte. No topo da lista dos novos investidores brasileiros está o bilionário Eike Batista, empreendedor nato e dono do conglomerado EBX, que atua em diversos segmentos. O empresário mineiro é o responsável por boa parte do combustível financeiro que bancou a vaga de Bruno Senna na Williams e também pelo apoio a Felipe Nasr, jovem brasiliense que vai estrear neste ano na GP2, principal categoria de acesso à F1. Os valores são altos, certamente, mas apenas pontuais. E esse cenário se repete com outras empresas brasileiras, que delimitam muito bem suas áreas de atuação no automobilismo. De novo, não é para qualquer um. Batista, então, não está só neste barco. Rubens Barrichello, 19 anos de F1 e recordista de GPs, ficou sem lugar na principal categoria do automobilismo e enxergou na Indy o caminho para se manter na ativa. Porém, mesmo com um currículo expressivo, Barrichello precisou correr atrás de dinheiro para garantir vaga no campeonato norteamericano. Aqui vale um adendo: para seguir na F1, o brasileiro também necessitava de um forte aporte financeiro e corria atrás de um até que as chances acabaram quando Senna entrou na jogada. Bruno fechou com os ingleses, munido de um consistente apoio da marca OGX, de Eike, além da Gillette, da Embratel — o patrocínio do Banco Santander foi fechado pouco antes do GP da Austrália. Nem o sobrinho de Ayrton, com todo o sobrenome que tem, escapou do trabalho de buscar patrocínios. Barrichello, entretanto, acabou encontrando o caminho das pedras por meio da brasileira BMC, ou Brasil Máquinas de Construção, empresa fundada em 2007 e que trabalha com equipamentos de construção e movimentação de cargas em todo país. Embora jovem, a companhia, com sede em São Paulo, não é bem uma estreante no campo dos patrocínios esportivos. No ano passado, a empresa iniciou um trabalho de marketing na Stock Car, com o apoio ao piloto paulista Tuka Rocha e também deu nome como patrocinadora da Corrida do Milhão. A experiência bem-sucedida na Stock fez a companhia almejar voos mais altos no automobilismo. Ou seja, a F1. O plano de alcançar o mais importante campeonato de monoposto do mundo tinha como principal protagonista Rubens Barrichello. A ideia era ajudar o piloto a seguir na categoria, mas a estratégia não fora bem-sucedida. A batalha, porém, não estava totalmente perdida. Uma vez que a chance na Indy se tornou concreta, a BMC viu nova oportunidade para um grande investimento. O primeiro contato com Barrichello aconteceu em 2011, durante o Desafio das Estrelas, evento de final de ano, organizado por Felipe Massa. Em Florianópolis, acompanhando Tuka, Christiano Kunzler, um dos proprietários da BMC, soube dos planos de Rubens para tentar seguir na F1. Três meses depois, a parceria resultou no acordo do piloto brasileiro de 39 anos com a KV na Indy. “O carro chefe esse ano vai ser a Indy, com certeza. O Rubens Barrichello tem um carisma excepcional. Ele é incrível e por onde passa chama a atenção. Logo depois que nós anunciamos o patrocínio ao Barrichello, eu recebi e-mails do mundo inteiro. Nunca vi nada igual. Então, ele é um imã. Realmente atrai todo mundo. Para nós, é uma grande satisfação ter um profissional como ele. Um esportista que não tem o que falar. É um exemplo. Nós, como uma empresa brasileira, temos orgulho de patrocinar um atleta como Barrichello”, afirmou Kunzler, em entrevista à WARM UP. “O primeiro contato com ele aconteceu no Desafio das Estrelas. O Tuka Rocha, que é nosso piloto, estava lá também. E foi lá em Florianópolis que começamos as conversas com o Barrichello. O Rubens queria continuar na F1 e nós compramos a ideia para embarcar junto com ele na F1. Infelizmente ou felizmente, porque acho que as coisas sempre acontecem para melhor, acabamos fechando com a Indy. Acho que foi acertado, a começar pelo desempenho dele nos primeiros treinos neste ano, que foi excepcional. As coisas aqui sempre dão certo, até quando parecem que vão dar errado. Eu acredito, a empresa e nossos clien- Foto: Divulgação O espetáculo do patrocínio tes também, que ele vai polarizar as atenções e vai roubar a cena na Indy neste ano”, completou. Questionado sobre a razão de investir no automobilismo, o executivo afirmou que a decisão de entrar no esporte foi motivada pela busca por estreitar o relacionamento com os clientes da empresa. “Nós percebemos que os nossos clientes possuem uma enorme identificação com corridas, com carros. Porque quando você fala de carro, você também fala de desempenho, velocidade, potência, e isso tem tudo a ver com o nosso negócio. Nós vendemos máquinas que são para produção, ou seja, então tem de ter maquinas que possuam performance, velocidade, potência, capacidade”, explicou. “Nós começamos com o Tuka (Rocha) no ano passado. E começamos a expor a nossa marca em todas as corridas, por meio dos camarotes. Posso dizer que foi um sucesso. Nós levamos o cliente para outro ambi- ente, diferente da atmosfera de trabalho. Levar o cliente para um fim de semana de corrida foi fundamental para que a gente conseguisse se aproximar ainda mais desse cliente. Na verdade, o investimento no automobilismo foi feito para estreitar essa relação com o cliente”, acrescentou. Kunzler não fala em números, como é de praxe, e afirma que a conta de um investimento desse tamanho é complexa e envolve vários fatores, mas diz que o momento econômico é propício. “É uma conta bem complexa saber o tamanho do investimento, porque não é só o carro, tem o camarote, são viagens também. Mas o nosso compromisso com os pilotos é investir para que eles tenham sempre carros competitivos, em condições de brigar por poles e vitórias. E esse é o momento certo”, salientou. O retorno Mas o que pesa na hora de se fechar um patrocínio? Uma das explicações para o boom de patrocínios nacionais às caras mais conhecidas está exatamente na visibilidade que esses nomes acabam tendo, mesmo fora dos carros mais competitivos do grid. E isso, segundo Kunzler, é a principal questão do ponto vista empresarial. O apoiador quer retorno. E imediato, se possível. “Do ponto de vista do empresário, expor a marca não é o problema. O problema é o quanto você quer investir. Não adianta querer investir na Indy e pensar que vai gastar o mesmo que na Stock Car. A dificuldade é o empresário enxergar o retorno. Porque a partir do momento que o empresário enxerga o retorno, como nós estamos vendo na Stock Car hoje, fica mais fácil. E nós acreditamos que poderemos, depois da experiência na Stock, conseguir o mesmo com a Indy”, esclareceu. O empresário ainda falou em coragem e disse que um patrocínio pode, sim, ser visto como um tiro no escuro. “O ponto principal é ter coragem para investir. Porque é uma coisa intangível. O marketing é uma coisa intangível. Não tem como mensurar se você vai fazer um gol ou não. Tem campanhas publicitárias que são show, explodem, o patrocinador se arrebenta de vender os produtos e tem outras que não, que não acontece nada disso. O desafio sempre é ter a coragem de enfrentar e pagar para ver. É praticamente um tiro no escuro”, disse, justificando que o sucesso do investimento depende de diferentes situações. “Porque é uma série de fatores. Imagina assim: o Barrichello vai e ganha o título da Indy. Quer dizer, quebra tudo aqui. Aí vou querer um carro 100% BMC na F1. Então, depende de um monte de coisa: da performance do carro, do piloto, de como a empresa vai aproveitar toda essa exposição da marca. Para virar um acerto campeão depende do empresário, do piloto, da equipe e até mesmo da mídia se interessar pelo assunto”, destacou. “Há dois anos, eu não imaginava que teria dois carros de corrida [na Stock]. Hoje, eu tenho dois carros com 100% de patrocínio nosso e um carro na Indy com 80%. Quer dizer, cada dia é uma surpresa. Vou te dizer que nós estamos aberto a tudo”, completou. O planejamento da BMC está voltado para as categorias top, portanto um eventual investimento no automobilismo de base, na formação de pilotos, está fora de cogitação neste momento. “Hoje nosso foco é na Stock Car e na Indy. Não temos nenhum projeto para o automobilismo de base. Na verdade, a gente já patrocinou alguns pilotos de kart, mas não tem nada em vista agora”, explicou o executivo. Foto: moto.it O espetáculo do patrocínio Investimento público Claro que algumas empresas buscam, de uma forma ou de outra, investir em categorias de base, mas não no desenvolvimento dos pilotos, mas sim na aplicação de dinheiro visando ajudar um competidor a dar um passo final rumo à F1, por exemplo. Dessa forma, outra empresa nacional que busca categorias top é o Banco do Brasil, que neste ano vai iniciar um acordo de patrocínio a Felipe Nasr. Campeão da F3 Inglesa no ano passado, Nasr vai disputar a temporada de 2012 na GP2. O brasiliense de 19 anos vai correr pela Dams, equipe que ajudou Romain Grosjean na conquista do título da principal categoria de acesso à F1 em 2011. É bom dizer que o jovem e bom franco-suíço é hoje companheiro de equipe de Kimi Raikkonen na Lotus, também por conta de um forte aporte financeiro, este vindo da petrolífera gaulesa Total. Evidentemente, pesou a favor da GP2, em detrimento da World Series, o fato de a categoria promovida por Bruno Michel fazer as preliminares da F1, sobretudo na fase europeia do Mundial. O piloto, de família tradicional no automobilismo, é filho de Samir e sobrinho de Amir Nasr. Sua carreira nos monopostos é baseada no automobilismo europeu. Felipe foi campeão na F-BMW em 2009, e logo ascendeu à F3, campeonato que revelou recentemente, entre outros valores, nomes como Jaime Alguersuari, Daniel Ricciardo e Jean-Éric Vergne. Estes últimos, titulares da Toro Rosso na F1. Na Inglaterra, depois de um ano de aprendizado pela Double R em 2010, quando terminou o campeonato em quinto lugar, Nasr deu um salto de qualidade na temporada seguinte ao assinar pela Carlin, chegando ao título após sete vitórias e 318 pontos, travando intensa rivalidade com Kevin Magnussen, que é membro do programa de jovens pilotos da McLaren. Os números, as vitórias e as conquistas elevaram Nasr ao título de maior promessa do automobilismo brasileiro na atualidade. E foi isso que seduziu o Banco do Brasil. A instituição bancária pública sempre teve o nome envolvido com esporte, mas nunca com automobilismo. O BB começou sua história com o esporte brasileiro em 1991, com o vôlei. Atualmente, patrocina as seleções feminina e masculina da modalidade, adultas e de base, além da seleção de futsal e o vôlei de praia. Os iatistas Robert Scheidt e Bruno Prada, o Instituto Gustavo Kuerten e a Escola de Vôlei Bernardinho também são atendidos pelo Banco. A escolha por Nasr, portanto, não é aleatória. O projeto de patrocínio faz parte do planejamento de estratégico de internacionalização da marca. O apoio a Felipe, na verdade, é pontual. O banco pretende repetir com o jovem piloto de 19 anos o mesmo caminho que trilhou com o astro nacional do tênis Gustavo Kuerten. Ou seja, associar cedo a marca ao um jovem com potencial para ser campeão na F1, evidentemente. “Felipe Nasr é, segundo especialistas, aos 19 anos, uma das maiores promessas do automobilismo mundial, justamente no momento em que o Banco do Brasil busca consolidar sua marca no exterior, como parte da estratégia de internacionalização da Empresa. Por ele ter sido campeão da F-3 Inglesa em 2011, nós sabemos inclusive que já desperta interesse de grandes equipes da F1. Conversamos e percebemos que se trata de alguém perseverante, determinado e sentimos que ele tem tudo para repetir, por exemplo, o fenômeno Gustavo Kuerten, um jovem tipicamente brasileiro, carismático, cuja carreira esportiva pelo mundo afora desde o início esteve sempre associada à marca BB”, explicou Hayton Jurema da Rocha, diretor de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, à WARM UP. Mesmo que a princípio, o patrocínio a Nasr seja de um ano, a ideia é acompanhar o piloto em toda a carreira, em algo semelhante ao que o extinto Banco Nacional fez com Ayrton Senna. “O acordo inicial é para esta temporada, mas é lógico que a gente quer apoiar o Felipe durante toda a carreira. O Nacional foi vitorioso. Ele entrou desde o início da carreira do Senna, e o Banco do Brasil também quer estar desde o início, não é bem o início, mas que estar junto em todos os passos daqui para frente”, afirmou Hugo Paiva, gerenteexecutivo do Banco do Brasil, durante a entrevista cole- Foto: Divulgação O espetáculo do patrocínio tiva à época do anúncio de Nasr pela Dams na GP2. A batalha dos energéticos Passada a primeira etapa da temporada de 2012 da F1, não resta dúvida de que a Ferrari mais uma vez errou a mão no projeto do carro. Apesar da instabilidade da F2012, a equipe italiana segue entre as 100 marcas mais valiosas do mundo. Segundo dados divulgados ano passado pela consultoria de branding Interbrand, a marca vermelha é a 99ª mais valiosa do mundo, com valor estimado em US$ 3,591 bilhões (cerca de R$ 6,465 bilhões). A presença da italiana no ranking liderado pela Coca-Cola só comprova o status da montadora, uma das mais lendárias escuderias da F1. Com isso em mente, o Grupo Petrópolis, segundo maior do setor cervejeiro do Brasil, optou por estratégia ousada e anunciou em meados de março uma parceria com time de Fernando Alonso e Felipe Massa. A partir de agora, o energético TNT passa a ser fornecedor oficial da esquadra do Cavalinho Rompante. Não precisa nem mencionar com quem o grupo carioca vai rivalizar nas pistas. O acordo com o time chefiado por Stefano Domenicali é válido por três anos, podendo ser renovado por mais dois. Além disso, a fabricante brasileira também assinou com Felipe Massa, que agora passa a integrar o grupo formado ainda por Helio Castroneves e Tony Kanaan, ambos da Indy. Tão logo o acordo foi divulgado, surgiu na imprensa a inevitável comparação com a Red Bull. De acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas (Abir), entre 2006 e 2010, a venda de energéticos aumentou 325% no país. Estima-se que mais 130 marcas já estejam à venda no mercado nacional, mas, apesar da redução da liderança dos austríacos, os rubro-taurinos seguem dominando o setor. Um dos grandes trunfos da empresa de Dietrich Mateschitz foi a estratégia de marketing adotada. Com um produto dirigido ao público jovem, a Red Bull investe pesado em ações ligadas ao mundo esportivo, uma das principais, é claro, é a equipe homônima da F1. No mercado brasileiro, o energético do Grupo Petrópolis ainda briga pelo segundo lugar em vendas na região sudeste com o Burn, produzido pela Coca-Cola, mas viu na associação com a Ferrari uma oportunidade de expandir os negócios. Em entrevista à WARM UP, Douglas Costa, diretor de marketing e relações com o mercado da empresa nacional, admitiu que o Grupo já esperava por essa comparação com a Red Bull e, mesmo reconhecendo que a exposição do time de Sebastian Vettel e Mark Webber é Foto: Getty O espetáculo do patrocínio maior — afinal a marca dá nome à escuderia, além de aparecer estampada na Toro Rosso —, garante que a meta é lutar em pé de igualdade. “Com essa associação com a Ferrari eu não tenho dúvida disso. A marca, obviamente, se projeta e vai brigar em igualdade com a Red Bull”, avaliou. “A gente entende que, é claro que eles têm uma exposição muito maior, porque nós estamos falando de praticamente dois times da F1. Então eles têm aí uma equipe inteira caracterizada com a marca, e a gente sabe que a exposição acaba sendo muito maior, mas entendemos que é um início de trabalho e que vamos conseguir brigar em igualdade”, continuou. O investimento na F1, aliás, não é uma novidade para o grupo cervejeiro. Na temporada de 2009, a empresa colocou seu nome na Brawn, que foi a campeã daquele ano, estampando as marcas da cerveja Itaipava e também do energético TNT. “Em 2009, a gente teve um patrocínio pontual no GP do Brasil com a Brawn, que hoje até nem existe mais. E aí, de lá para cá, a gente foi contatado por praticamente todas as escuderias da F1”, revelou Douglas, justificando a escolha por Maranello. “A Ferrari é uma escuderia top da F1”, avaliou. “Fomos nós que fomos consultá-los para iniciar uma conversa com relação a algum tipo de associação. A gente fez uma análise de todas essas equipes, mas tendo a Ferrari como a mais tradicional e o Felipe Massa como piloto brasileiro lá dentro, obviamente que nós entendemos que seria a melhor oportunidade.” “Nós iniciamos as conversas há praticamente seis meses e ao longo do tempo fomos desenvolvendo e entendendo com a Ferrari quais seriam os possíveis formatos de participação da marca TNT. E foi quando nós entendemos que essa caracterização de 'official supplier', ou seja, energético oficial da escuderia poderia ser o melhor formato para a gente trabalhar”, explicou, afirmando que, por contrato, não pode divulgar os valores envolvidos no acerto com o time e com o piloto. “Com certeza, a F1 trabalha com orçamentos bastante expressivos, mas nesse acordo a gente teve algo bastante factível para poder dar andamento no que chamamos de primeiro 'step'. O segundo passo nosso é fazer uma avaliação após seis meses do retorno que tivermos em torno deste investimento e a gente pretende até, se possível, ampliar um pouco mais a visibilidade da marca TNT dentro da própria escuderia Ferrari”, revelou. Neste ano, o vínculo de Massa com o time presidido por Luca di Montezemolo chega ao fim e a permanência do brasileiro no posto de companheiro de Alonso ainda é dúvida. Mesmo assim, o representante da TNT garante que o acordo com a equipe segue mesmo que o piloto seja substituído. “Ele já vem há sete anos tendo um desempenho que o vem mantendo na equipe e a gente tem certeza de que ele permanece”, afirmou Douglas. “O acordo com a Ferrari, obviamente, continua. Até porque a estratégia desse acordo é, principalmente, posicionar a marca como o energético da escuderia. E não especificamente de algum piloto. É claro que aproveitamos a questão do Massa, por ser um piloto brasileiro, reconhecido, e aí avançamos na parceria com ele, mas também aproveitando o momento dele estar dentro da equipe e também fazer um trabalho de endosso para a marca TNT durante esse período”, relatou, revelando que não descarta a possibilidade de fazer um acordo individual com o espanhol. “A gente avalia a possibilidade, mas isso não seria nesse momento, até por uma estratégia um pouco mais para frente de trabalhar a marca TNT fora do país”, disse. “Hoje, na verdade, o mercado brasileiro é muito forte, tem um crescimento muito grande no que diz respeito aos energéticos. Nossa atuação hoje é basicamente no Sudeste e no Centro-Oeste, e ainda temos muito para crescer no mercado brasileiro”, completou. “Podemos dizer que a nossa metal atual é cobrir e crescer a nossa participação no Brasil, porém, já pensamos em uma estratégia internacional e em médio prazo. Para isso, sabemos que tendo essa parceria com a Ferrari já temos uma base estruturada para poder fazer esse trabalho acontecer”, destacou. Além do investimento na categoria máxima do esporte a motor, o Grupo Petrópolis também atua em outros campeonatos, como a Indy, a Stock Car e o GT Brasil, tendo, inclusive, batizado esta categoria até a temporada passada. Questionado se a companhia avalia ampliar sua presença na categoria norteamericana, por exemplo, Costa explicou que o vínculo com a Ferrari impõe algumas limitações comerciais neste sentido. “É óbvio que a gente tem restrições de se associar com outras escuderias de F1, o que faz sentido, e, também, dentro do esporte a motor. Nós temos de ter o cuidado de não associar a marca TNT a esportes onde existam empresas que forneçam motor para a F1, por exemplo”, disse. “Só que isso não atrapalha a nossa estratégia. Na verdade, a gente tem três marcas para usar: TNT, a gente tem o caso da Crystal, com a F- Truck, que é mais adequado ao perfil do público, mas nós temos muito forte a questão de Itaipava e agora Foto: Divulgação O espetáculo do patrocínio Investindo em um sonho Em meados de fevereiro, a Force India anunciou uma parceria com a Aethra, empresa brasileira que atua no ramo de sistemas automotivos e está instalada em Contagem, Minas Gerais. Para o grande público, a parceria pode ter passado despercebida, mas o fã mais atento certamente se lembrou de que o grupo mineiro já esteve ao lado de Felipe Massa na passagem do brasileiro pela Sauber, no começo da década passada. Mas a empresa mineira corre em outra estrada. “Tem uns 12 anos que a gente está no automobilismo”, contou Rafael Sportelli, presidente da Aethra, em entrevista à WARM UP. “A gente sempre teve esse envolvimento com automobilismo, até porque nós somos uma indústria que vive de fabricar componentes para carro, então tem todo sentido para a gente ter esse envolvimento com automobilismo, além de eu gostar muito, de ser um hobby meu, uma paixão minha e uma coisa que eu sempre fiz, eu já corri.” A marca, aliás, já foi exibida na camisa do Cruzeiro, um dos maiores clubes do futebol mineiro. Ao contrário da maioria dos investidores nacionais, a Aethra não vê motivos para apoiar o esporte mais popular do Brasil. “Foi mais para tornar a marca um pouquinho mais conhecida”, afirmou Sportelli. estava pensando em comprar a equipe, ele me consultou, conversou comigo, a gente fez tudo junto e eu falei que dava patrocínio, porque a gente sempre conversou tudo antes de fazer as coisas.” A relação com Nicolas foi o que gerou o envolvimento da mineira Aethra com o francês Jules Bianchi. O jovem piloto, pupilo da Ferrari, tem como principais conquistas o título de 2007 da F-Renault francesa, a vitória no GP de Macau de F3 em 2008, e o triunfo na F3 Europeia em 2009. “O futebol é para companhia que tem produto para consumidor. A gente não tem esse tipo de produto. Por isso, a gente não tem interesse, nem tem necessidade de fazer esse tipo de marketing de quem faz para futebol. Então nunca vai acontecer. Não é uma coisa que faz sentido para a gente.” O patrocínio ao piloto de 22 anos, no entanto, não passou em brancas nuvens entre os fãs do esporte a motor, que criticaram o envolvimento do grupo nacional com um piloto estrangeiro. “Porque um piloto francês e não um brasileiro? Porque a gente começou a trabalhar com o Jules desde o kart”, explicou o presidente da Aethra. “Não aconteceu ainda de encontrar um piloto brasileiro. Foi só uma questão de não ter achado na época. A gente olhou vários, a gente está sempre olhando pilotos para trabalhar.” Além do envolvimento com a equipe indiana, o empresário mineiro é sócio de Nicolas Todt, filho de Jean Todt, presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), e empresário de Pastor Maldonado, Jules Bianchi — novo reserva da Force India — e de Massa, na ART, equipe presente em várias divisões do automobilismo mundial. “A gente é muito amigo, tem vários anos, e quando ele Sportelli não esconde o desejo de ajudar na formação do próximo piloto brasileiro a se sagrar campeão na F1. “Nós queremos uma estrela, se a estrela vier da Uganda, da Zâmbia, do Brasil ou da França, tudo bem”, considerou. “Lógico, eu tenho um grande sonho de levar um grande campeão do Brasil para a F1, mas enquanto isso não acontece, eu tenho de fazer alguma coisa”, destacou. Foto: Divulgação O espetáculo do patrocínio de levar alguém mesmo, fazer um trabalho maior, isso vai acontecer ainda. Um dia eu sei que vai. Por falta de busca, não está sendo.” Na procura pela próxima estrela da F1, Rafael e Nicolas decidiram entrar no kartismo por meio da ART, uma das fabricantes que aproveitou a abertura do processo de homologação de chassis no Brasil para entrar no mercado nacional. O mineiro espera aproveitar essa estreia nas competições tupiniquins para seguir sua busca pelo piloto ideal. “No ano passado, Nicolas e eu decidimos entrar no setor do kart também. Nós montamos uma fábrica e estamos fabricando chassis na Europa. Com esta fábrica a gente também montou o time de competições da ART”, detalhou. “Paralelamente, eu estou trazendo aqui para o Brasil. E o objetivo é montar uma equipe. Não a mesma estrutura da Europa, mas uma estrutura onde a gente possa fazer essa seleção de quem vão ser as estrelas que nós vamos levar para a Europa para tentar subir”, afirmou. “Eu também não posso sair por aí pegando garotos que eu não sei se vão ser... Na verdade, saber se vai ser, eu também não tenho como saber, mas a gente tem de olhar bastante o potencial antes de investir na pessoa, porque custa muito dinheiro e dá muito trabalho”, disse o executivo, revelando uma curiosa situação depois do acordo com a Force India. “Depois desse negócio da Force India, acho que o pessoal pensa que somos uma instituição beneficente, porque o tanto de piloto que me manda currículo, me procura, arruma o meu telefone, além de pai vem na porta da minha casa, e não sei o quê”, contou. “Enfim, eu quero muito ajudar, se eu pudesse, eu ajudava todo mundo. Infelizmente, a gente tem de ajudar só os bons, e para você ajudar o bom, você tem de descobrir se ele é bom ou não, tem de ter certeza, conhecer a família, ver o comprometimento do cara com o esporte, ver o comprometimento do cara com a própria vida, porque não é fácil”, defendeu. “Infelizmente não aconteceu. Aconteceu com o Felipe de o patrocinarmos na época da Sauber, mas a parte Como já era de se esperar, a escolha desses novatos passará pelos resultados obtidos nas pistas. “A característica fundamental: andar na frente dos outros. Se não for um cara rápido, não adianta a gente olhar. A primeira coisa é o cara ser melhor do que os outros”, resumiu. “Eu acho que não tem jeito, ou o cara é bom ou ele volta para casa. Para mim não tem outra história. Não adianta a gente tentar tirar água de pedra porque não sai.” Apesar do investimento na principal divisão do esporte a motor, a Aethra não pretende expandir seus investimentos ao mercado norte-americano. Questionado se havia interesse em entrar na Indy, o representante da empresa justificou que os Estados Unidos contam com um mercado muito diferente e que a mudança comprometeria o orçamento. “Não, porque primeiro a gente está com toda essa estratégia de Europa, de F1, e fazer as duas coisas, nesse caso, o orçamento ficaria muito comprometido”, ponderou. “O investimento que eu faço nesses caras é alto, então eu fazer esse mesmo trabalho nos Estados Unidos, que é um mercado completamente diferente, não faz muito sentido. Poderia fazer sentido na questão de Aethra, por força da marca e tudo, como marketing pode ser até interessante, mas eu acho que o público que a gente quer atingir nos Estados Unidos não acompanha muito, então acho que não faria muita diferença.” No caso das categorias nacionais, Rafael considera a possibilidade de apoiar a Stock Car, mas a única coisa certa até aqui é o suporte ao Trofeo Linea, categoria que integra o Racing Festival, evento criado pelo piloto da Ferrari, Felipe Massa. “Em categoria nacional, talvez, a Stock Car. A gente sempre faz alguma coisa do Trofeo Linea, para dar um apoio para a Fiat, que é cliente nossa, enfim, o pessoal do Felipe, que é muito amigo, mas a gente vai continuar fazendo alguma coisa lá. Não sei o quê”, admitiu. “Mas para a Stock, eu não sei ainda se a gente vai, porque o foco nosso é realmente nos jovens pilotos. Esse é o objetivo. E crescer o meu time, o nosso time lá com o Nicolas, fazer isso aumentar de tamanho.” Mas o que leva um empresário a investir uma alta soma em automobilismo? “A gente tem esse sonho juntos aí de ter uma equipe de F1. E a gente nunca escondeu isso. Então um dia isso vai acontecer. Não sei quando, não sei como, porque aí a gente vai ter mais condições, mais possibilidades de dar oportunidades a pilotos brasileiros. É lógico, é aquilo que eu falei, a oportunidade vai vir para quem realmente tiver condições. Se não tiver nenhum piloto em condições de fazer alguma, como é que a gente vai fazer alguma coisa? Não tem como”, justificou. “Tem vários caras bons, mas a gente tem de encontrar. O problema é que, às vezes, os caras bons já estão com management com outras pessoas, ou já tem contratos com outras pessoas, já teve piloto assim que eu conversei quando eu estava começando a mexer com isso, que eu fui conversar com o pai. Cara assim que, na época, e até hoje, é piloto de kart, que está com 30, 30 e poucos anos, continua trabalhando com kart aqui no Brasil e na época eu era menino novo e eu virar para o pai e falar: 'Poxa, tô começando a mexer com isso, eu tenho uns contatos na Europa, você quer que eu ajude a carreira do seu filho?'. 'Não, a carreira do meu filho já está toda resolvida.' E aí hoje o cara tá aqui no Brasil. Passaram-se aí 12 anos, 15 anos, e o cara tá aí”, recordou. “A carreira está resolvidíssima. Tem que ver o cavalo e montar em cima, você não pode perder o cavalo e o deixar passar assim. Mas cada um sabe o que tem de fazer.” “Agora, a gente tem esse sonho de realmente um dia de chegar lá. Não sei quando é que vai ser, enfim, tem tantas coisas, que é difícil para a gente ter uma questão de tempo, porque o orçamento de F1 é, todo mundo sabe, são cifras maciças e as coisas não estão nada fáceis. Parece um sonho de maluco, mas é um esporte de sonho. Se não fosse um esporte de sonho, não estava ninguém lá”, encerrou. Foto: Divulgação O espetáculo do patrocínio Superfinal FERNANDO SILVA de Campinas LENDA DO AUTOMOBILISMO BRASILEIRO, INGO HOFFMANN CONQUISTA SUA MAIOR VITÓRIA, NÃO NAS PISTAS, MAS NA VIDA. EM PARCERIA COM O CENTRO INFANTIL BOLDRINI, O 'ALEMÃO' COMANDA O PROJETO DE CASAS DE APOIO ÀS FAMÍLIAS DE CRIANÇAS PORTADORAS DE CÂNCER EM CAMPINAS. A REVISTA WARM UP CONHECEU DE PERTO A ESTRUTURA DO INSTITUTO QUE LEVA SEU NOME E QUE DESENVOLVE TRABALHO JAMAIS VISTO EM TODO O MUNDO Foto: Getty Images Instituto do Amor de Ingo Hoffmann dentro das pistas apeOnascurrículo atesta que o ex-piloto é uma das sumidades do automobilismo brasileiro. Dono de 12 títulos na Stock Car, mais passagens por F1 — pela Fittipaldi, entre 1976 e 1977 —, GT Brasil, na temporada de 2008, e outras tantas participações no Rali dos Sertões, o 'Alemão' escreveu uma das mais belas páginas na história do esporte nacional. Só que outra, mais nobre que todos os feitos alcançados por Ingo na pista, começou a ser escrita em 2005. O paulista, com 59 anos recém-completados, é o presidente do Instituto Ingo Hoffmann. Trata-se de uma entidade beneficente sem fins lucrativos — e sem contar com um centavo de dinheiro público, como Ingo faz questão de frisar — que funciona em parceria com o Centro Infantil Boldrini, referência mundial, para auxiliar famílias de crianças portadoras de câncer. A sede do Instituto fica localizada exatamente ao lado do Boldrini, em Barão Geraldo, distrito de Campinas que fica ao lado da Unicamp. O projeto chamado 'Casa de Apoio à Criança e à Famí- lia' é pioneiro em todo o mundo e visa dar todo o suporte, como moradia, alimentação, assistência médica e psicológica a pessoas que não têm condições de estar próximos aos filhos durante o tratamento, que é realizado no Boldrini. Embora Ingo seja o líder desse projeto que já atendeu, até o fechamento desta edição, 1.568 pacientes e ofereceu 13.971 refeições desde quando os números passaram a ser contabilizados, em 17 de abril de 2007, a responsável por administrar toda a estrutura é Regina Barsotti, advogada de formação e que criou o Instituto junto com Ingo. Mas como nada sobrevive sem ajuda externa, a obra social ainda conta com doações de empresas, muitas delas ligadas à Stock Car, e também de equipes, pilotos, ex-pilotos e fornecedores da categoria. A WARM UP esteve no Instituto Ingo Hoffmann e conheceu as nuances desse projeto que, segundo o próprio ex-piloto costuma dizer, foi sua maior vitória na vida, muito mais que todos os títulos conquistados nas pistas ao redor do Brasil e do mundo. Instituto do Amor Muito antes de pensar em parar de correr em 2008, Ingo já vinha pensando em uma forma de desenvolver um projeto social e ajudar pessoas carentes. Cinco anos antes, 'Alemão' aceitou o desafio e se inscreveu para correr no Rali dos Sertões pela equipe oficial da Mitsubishi. Mal sabia que sua participação na maior prova off-road do Brasil mudaria para sempre, não apenas sua vida, mas a de milhares de famílias. Naquele ano, o Rali tinha percurso previsto entre Goiânia e São Luís, capital do Maranhão — que será o ponto de largada para a prova de 2012. O trecho compreendia também passagens pelo Tocantins, desbravando o sertão maranhense até chegar à cidade litorânea. Ciente das dificuldades do povo sertanejo morador no trecho por onde ia passar o Sertões, Ingo desenvolveu um projeto em parceria com outro piloto, este ainda em atividade: Valmir Benavides, o Hisgué, que atualmente corre na F-Truck. “A ideia, mesmo, eu tive quando disputei o Rali dos Sertões, em 2003, pela equipe oficial da Mitsubishi. E eu logo falei para o pessoal que queria fazer uma ação social paralela ao rali. E eu lembro que tinha falado para eles: 'Ou eu faço com vocês ou faço sem vocês. Vou fazer de um jeito ou de outro'”, conta Hoffmann. “Logo no dia seguinte, me ligaram da Mitsubishi, acharam a ideia legal. Fomos lá e montamos um pro- jeto que existe até hoje, chamado Mitsubishi Racing Pró Brasil. Fui atrás de doadores, pessoas conhecidas, e a ideia era arrecadar dinheiro, transformar esse dinheiro em cesta básica, e distribuir essas cestas básicas no decorrer do Rali dos Sertões paralelo à competição. Então, meus amigos, chefiados pelo Hisgué, com a esposa dele, minha esposa, minha filha, todo mundo. No primeiro ano, conseguimos juntar 52 toneladas de cestas básicas. Foi muito mais do que a gente imaginava, tanto é que a Mitsubishi ajudou com duas carretas lotadas, com cestas específicas para aquela região do Brasil, tanto pelos itens, quanto pelo peso. Em 2004, repetimos essa ação social no Sertões e arrecadamos 72 toneladas, foi muita coisa”, lembra o 'Alemão'. O projeto originou um trabalho social que é desenvolvido até hoje pela Dunas Race, organizadora do Rali dos Sertões, compreendendo distribuição de alimentos e trabalho de atendimento médico, desenvolvimento cultural e do meio-ambiente nas cidades próximas à rota da prova. Surpreso pelo sucesso obtido em apenas duas edições do Sertões, Ingo queria ajudar ainda mais gente e deu início a um projeto de trabalho social permanente. “Eu percebi que meu nome tinha credibilidade para arrecadar a parte financeira [de uma ação social]. E Foto: Getty Images Rali dos Sertões, o começo de tudo outra, a gente fazia tudo, um baita trabalho desses, mas isso só se resumia ao tempo no rali. Queria fazer alguma coisa mais perene, algo que tivesse vida longa. Aí estava na praia, com a minha família e a da Regina, e eu lembro que comentei com ela: 'Tá na hora de fazer esse projeto, vamos fazer e você vai tocar'”, diz o ex-piloto. “Pensamos em vários tipos de projeto, desde casa de apoio, centros esportivos, casas de repouso. No fim das contas, nós optamos por trabalhar mesmo com casa de apoio para crianças com câncer”, relata Ingo, recordando que o embrião do projeto todo nasceu no fim de 2004. Hoffmann conta que a primeira ideia era levar seu projeto para Vinhedo, no interior de São Paulo, cidade onde fixou residência há pouco tempo. Até mesmo um terreno havia sido doado pela prefeitura local para abrigar a instituição, cujo projeto foi desenvolvido gratuitamente por um arquiteto e compreendia a construção de 30 casas. A parte burocrática também já estava preparada, com todos os contratos de concessão devidamente assinados. Estava tudo certo para oficializar o projeto, ou quase. “Foi na última reunião dos vereadores na Câmara, em dezembro, eles pediram para eu ir lá, muito mais para tirar fotos. Eu nunca tinha ido a uma Câmara. Explicamos o projeto, tudo mais. Todo mundo aprovou, com Instituto do Amor exceção de um. E eu digo que aquele cara foi o anjo da guarda de tudo isso aqui. Ele colocou em dúvida a minha pessoa e o meu projeto. Só que ele ia assumir como vice-prefeito de Vinhedo em janeiro. Dias depois disso eu falei para a Regina: 'Desfaz todos os contratos. Vai lá e desfaz tudo, não quero nada com aqueles caras'”, revela. Foi o início de outra luta a partir de então. Ingo e Regina, lado a lado, não desistiram do sonho e buscaram outra maneira de torná-lo realidade. E a concretização disso tudo veio da maneira mais inesperada e surpreendente possível. “Partimos para comprar um terreno e, nesse meio tempo, marcamos uma reunião com a Dra. Silvia Brandalise, que é a chefe do Centro Boldrini. Já estávamos tentando marcar essa reunião com ela há tempos”, recorda. Empolgada com as lembranças de um projeto que já nasceu vencedor, Regina comentou como chegou até a renomada doutora. “Ela estava lá, toda séria... Eu lembro que ela olhava para o projeto, olhava para mim, e eu lá, toda sem graça, né? E eu sem entender nada. E ela começou a chorar. Ela tinha o mesmo projeto de construir 30 casas aqui ao lado, mas me lembro que ela disse algo assim: 'O projeto de vocês é melhor que o meu'.” Ingo complementou ao dizer que o projeto se encaixou perfeitamente à área reservada pelo Boldrini. Estava tudo pronto para o pontapé inicial. Apoio em todos os sentidos Em conversa com Regina, a coordenadora revela que vez ou outra é procurada por pessoas do Brasil e do exterior, interessadas em conhecer o projeto, que pelo menos por enquanto, não tem precedentes. Não é à toa que o Instituto Ingo Hoffmann está localizado logo ao lado do Centro Boldrini, talvez o maior hospital das Américas no trabalho de tratamento de crianças portadoras de câncer. Trabalhando em conjunto com a tradicional instituição campineira, o projeto capitaneado por Ingo oferece todo o suporte para que uma família, em sua maioria de baixa renda, possa ficar 100% focada no tratamento do filho. Estrutura para isso não falta. Ao todo, são 6.000 m² de terreno cedido pelo Boldrini. A área compreende 30 chalés, divididos em dez grandes vilas, cada uma delas devidamente organizada e que leva o nome de uma empresa doadora. Muitos desses patrocinadores do Instituto são oriundos do automobilismo. Dessa forma, é comum ver empresas ligadas à Stock Car com suas marcas dando nome às casas, como a organizadora Vicar, as equipes AMG e Action Power ou também as farmacêuticas Medley e Eurofarma. Mas a estrutura do Instituto é muito maior e engloba muitos lugares onde as crianças e seus respectivos pais possam permanecer com todo o conforto enquanto atravessam o difícil período do tratamento. A casa de apoio conta com biblioteca, sala de informática, brinquedoteca, sala de aula para cursos, além de churrasqueira, onde os pais podem passar um dia do fim de semana e relaxar um pouco. O local conta também com amplo refeitório, lavanderia, e reservou um cômodo para abrigar um minissalão de beleza para que as mães possam cuidar um pouco da autoestima também. Todos os detalhes do Instituto foram apresentados diretamente por Ingo, que se mostrou orgulhoso de cada detalhe e também do cuidado do projeto. Em muitos lugares, como por exemplo, no almoxarifado, tudo é tão organizado que lembra um pouco um box de uma equipe de F1. Em todo o espaço, crianças e adultos têm total privacidade, mas também podem ter momentos de interação e descontração durante cursos profissionalizantes e palestras com especialistas. O Instituto já recebeu crianças do Brasil e também da América Latina e quer fazer mais, muito mais. Instituto do Amor O grande desafio É claro que um projeto dessa envergadura, concebido para ajudar crianças e suas famílias, e sem contar com um centavo de dinheiro público, tem suas dificuldades para permanecer ativo. Ingo fala que a grande dificuldade tem sido manter o bom padrão alcançado pelo Instituto há cinco anos. Através do site oficial (www.ingohoffmann.org.br), o projeto tem à disposição o número de uma conta corrente destinada às doações com o único objetivo de manter o projeto. Hoffmann dá detalhes dos valores que compreendem o trabalho social e deixou claro que a luta é diária para seguir ajudando às famílias das crianças portadoras de câncer. “Não chega a ser uma dificuldade, mas grande a preocupação é sempre a seguinte: manter isso aqui funcionando no mesmo nível. Porque hoje, graças a Deus, a gente consegue atender todas as 30 famílias e não falta nada para ninguém”, comenta o 'Alemão'. “Mas é uma responsabilidade muito grande, já que cada família tem um custo/mês de quase R$ 1.500, mais de R$ 35 mil por mês que nós temos de custo fixo aqui. Como eu disse no dia de inauguração do projeto aqui: o avião levantou voo, e nós temos de abastecer esse avião em pleno voo, não dá mais para voltar atrás. A luta é toda essa, captar recursos para manter o projeto”, explica. Hoffmann esclarece que, muito mais que qualquer participação do poder público no desenvolvimento do Instituto, seu nome e credibilidade são fatores cruciais para que nada falte ao projeto. É dessa forma, unindo a importância de uma personalidade como Ingo Hoffmann na captação de recursos ao trabalho capitaneado por Regina e sua equipe, que o Instituto sobrevive e tem feito a diferença a cada dia que passa. A transformação Dono de personalidade marcante dentro das pistas, Ingo revela que muita coisa mudou em sua vida desde que passou a comandar o projeto social na Casa de Apoio à Criança e à Família. Lidar com problemas tão extremos como o combate ao câncer definitivamente tornou o 'Alemão' ainda mais feliz, principalmente por fazer sua parte e ser fundamental no futuro de outras tantas pessoas. “A mudança é constante, cara. Toda vez que eu venho aqui, fico emocionado. Você fica feliz por proporcionar dignidade às famílias. E toda vez que eu volto, fico pensando: 'Poxa, e se não tivesse isso aqui, como as pessoas fariam?'. Acho que isso é o que mais mudou. É o fato de saber que você está fazendo a diferença na vida das pessoas. A equipe toda que está aqui faz grande diferença na vida das pessoas”, diz. “Sabe, tenho certeza absoluta que a gente não consegue medir o quão importante nós somos para essas famílias. Não consigo.” Seu discurso é endossado pela fiel amiga Regina. “É impossível de mensurar. Acho que a mudança maior é a que a gente entende que tem de fazer. Se a gente não fizesse é que seria muito pior”, comenta a coautora do projeto do Instituto Ingo Hoffmann. Ingo apenas lamenta o fato de que mais pessoas, principalmente o poder público, poderiam ajudar, o que quase nunca acontece, e lastima que tanto dinheiro, às vezes gasto na construção de estádios, nem sempre é aplicada em alguns projetos sérios similares ao que comanda. “Outra coisa que mudou é que hoje eu estou muito mais ligado nessas notícias de política do que em outros tempos. Eu vejo aqui, por exemplo: o projeto aqui é tocado de uma forma legal, séria, sem falcatrua, sem bandalheira, sem nada... nós somos uma gota no oceano, nós somos um grão de areia no deserto. Mas se eles quisessem fazer, seria uma maravilha, teríamos muito menos dificuldades do que temos hoje. Imagina o que não tem de desvio de verba por aí! Isso me incomoda, sabe? Porque se todo mundo fosse correto, talvez isso tudo aqui nem seria tão necessário.” Sem querer fazer alarde sobre a forma como tem trabalhado no social, Ingo sabe que deixará um legado para as gerações futuras e, principalmente, carrega o orgulho por ter cumprido com louvor seu objetivo. “Acho que há dez ou 15 anos atrás eu jamais imaginaria que estaria à frente de um projeto desse porte, que envolve tantas famílias, tantos seres humanos. Então isso mudou, sabe? Olho para trás com orgulho, feliz por ter feito a diferença. Mas isso tudo mudou de uma maneira muito íntima, sabe? Não fico alardeando isso, ao contrário. Fazemos da forma mais lowprofile, a mais discreta possível, e está funcionando”, fala Hoffmann. Instituto do Amor Instituto do Amor O papel de cada um Ao circular pelo Instituto, conhecer o trabalho desenvolvido por Ingo e sua equipe e ver o sorriso de uma criança ou mesmo a satisfação no rosto de um pai que trava ali sua maior batalha, tudo dá mesmo a sensação de que cada um pode fazer mais. Nem sempre se pode desenvolver um projeto de tamanha envergadura, mas sempre é possível fazer algum bem para a sociedade aqui e ali. Claro, fazer o bem não significa achar que está 'fazendo a diferença' em uma mera corrente no Facebook, mas colocando a mão na massa, mesmo. Seja exercendo um trabalho como voluntário em uma instituição, seja como doador de recursos ou até mesmo levando cestas básicas, roupas e agasalhos para quem realmente precisa. O exemplo que Ingo deixa é que, sem dúvidas, cada um, à sua maneira, pode fazer a diferença nessa sociedade. Click Para nossa alegria A emoção sincera do suiço Peter Sauber pelo segundo lugar de Sérgio Perez no GP da Malásia contagiou toda a equipe. Getty Images 24 Março 2012 DEPOIS DE UM PERÍODO DE VACAS MAGRAS NO AUTOMOBILISMO DE BASE, O ANO DE 2012 TERÁ UMA SÉRIE DE BRASILEIROS NA BUSCA PELO SONHO DE CHEGAR ÀS PRINCIPAIS CATEGORIAS DO ESPORTE A MOTOR MUNDIAL.