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Faculdade Castelo Branco
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Os Rituais Funerários do Antigo Egito:
Os materiais, as práticas e crenças que fundamentam a passagem para a vida eterna
The Funeral Rituals of Ancient Egypt:
Materials, practices and beliefs that underlie the passage to eternal life
CORONA,George Francisco
Resumo
O presente ensaio bibliográfico lança um olhar sobre as práticas funerárias do Egito Antigo, mais
especificamente de acordo com as pesquisas do egiptólogo e arqueólogo britânico Wallis Budge,
baseadas principalmente no papiro de Ani, um manuscrito funerário da XIX dinastia, datado
aproximadamente entre 1300 a 1200 a.C. Verifica-se como o ritual mortuário e cada material usado
nele estão intimamente ligados com os mitos da criação e da ressurreição do deus Osíris, e o
desenvolvimento das ideias de julgamento da conduta moral (o juízo final), salvação e aniquilação da
alma, paraíso e vida eterna. O egípcio morto devia empreender uma passagem desta vida para a outra,
mas para tanto ele devia enfrentar os perigos do mundo dos mortos. A mumificação, os amuletos, as
palavras e fórmulas de poder sobre os espíritos e sobre a matéria, os hieróglifos, as pinturas, as estátuas
e os túmulos eram elementos obrigatórios e preciosos para que se atingisse a imortalidade.
Palavras-chave: Livro dos Mortos - Imortalidade - Mumificação
Abstract
This bibliographic essay takes a look at the burial practices of Ancient Egypt, more specifically
according to research by the British archaeologist and Egyptologist Wallis Budge, based mainly on
papyrus of Ani, an undertaker manuscript of the nineteenth dynasty, dating from approximately 1300
Mestre em Ciências das Religiões - Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões - Faculdade Unida de Vitória Rua Engenheiro Fábio Ruschi - Nº 161 - Bento Ferreira - Vitória - ES - Brasil - CEP.: 29.050-670 - Tel.: (27) 3325 - 2071 /
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to 1200 BC it is found as mortuary ritual and every material used in it are closely connected with the
myths of creation and resurrection of the god Osiris, and the development of ideas and judgments of
moral conduct (the final judgment), salvation and annihilation of the soul, paradise and eternal life. The
dead Egyptian should undertake a passage from this life to another, but to do so he must face the dangers
of the underworld. The mummification, amulets, words and formulas of power over the spirits and
matter, hieroglyphics, paintings, statues and tombs are mandatory and precious in order to attain
immortality elements.
Keywords : Book of the Dead - Immortality - Mummification
1. AS CRENÇAS NA VIDA APÓS A MORTE
1.1 A Crença na Imortalidade
Entre os egípcios a ideia de imortalidade, que permaneceu inalterada por milhares de anos, formou o
eixo sobre o qual a vida religiosa e social dos egípcios antigos realmente girou. Do início ao fim de sua
vida, o principal pensamento do egípcio era sobre a vida além-túmulo: esculturas, sepulturas, mobílias,
ou seja, tudo estava firme no pensamento deles para a hora que a múmia seria levada para sua morada
eterna (Cf. BUDGE, 2004, p.10). "A ressurreição era o objetivo com que se recitava cada oração e se
celebrava cada cerimônia, e todos os textos, amuletos e fórmulas, de todos os períodos, destinavam-se a
permitir ao mortal revestir-se de imortalidade e viver eternamente num corpo transformado e
glorificado". (BUDGE, 1990, p.119)
De fato essa crença na vida após a morte se encontra registrada em hieróglifos, nas paredes das Câmaras
mortuárias, em templos religiosos, nos sarcófagos e especialmente em diversos manuscritos em tiras de
linho e folhas de papiro. Esses manuscritos, uma grande compilação de textos religiosos, são
conhecidos como Livro dos Mortos (Cf. BUDGE, 2004, p.10). A Crença na vida futura, a doutrina da
ressurreição, os ideais e aspirações, as reverências a objetos sagrados, ritos mágicos e encantamentos,
ou seja, uma tradição que cobre um período de cerca de cinco mil anos se encontra condensada nesse
livro. Essa obra será o centro de investigação desta pesquisa. A obra base para a investigação desses
textos funerários é O Livro Egípcio dos Mortos, uma tradução inglesa dos hieróglifos empreendida
pelos egiptólogos Kegan Paul, Trench e Trübner, além do autor da referida obra analisada, o egiptólogo
britânico Sir. Ernest Alfred Thompson Wallis Budge (1857-1934). O livro supracitado é de tradução
para o português de Octavio Mendes Cajado, da editora Pensamento, obra que a princípio era em três
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volumes, mas que na última edição foi organizada em volume único, publicada em 1993. Também será
confrontado com outra tradução do Livro dos Mortos do Antigo Egito, de Edith de Carvalho Negraes,
da editora Hemus, publicado em 1982. A análise e interpretação da escrita hieroglífica, assim como das
vinhetas e símbolos que se encontram nos rolos, serão embasadas nas obras do egiptólogo britânico
Ernest Alfred Thompson Wallis Budge (1857-1934). Foi Budge quem encontrou o Papiro de Ani, em
1887, a versão mais famosa e bem conservada do Livro dos Mortos. Esse manuscrito foi elaborado na
XIX dinastia, entre 1307 a 1196 a.C., sendo que muitas das mesmas ideias dos egípcios sobre a crença
no pós-morte também são encontradas em escritos da V e VI dinastias, por volta de 3500 a.C (Cf.
BUDGE, 1993, p.10-11).
1.2 O Livro Egípcio dos Mortos
O chamado Livro dos Mortos forma uma coleção representativa das várias composições que os
egípcios inscreveram nas paredes de túmulos e sarcófagos, esquifes e estelas fúnebres, papiros e
amuletos, a fim de assegurar aos seus mortos o bem-estar no mundo do além-túmulo. Esse livro é uma
tradução de hieróglifos encontrados sobretudo em Tebas, e por isso são conhecidos, em conjunto, como
Recensão Tebana do Livro dos Mortos, ou seja, a Recensão da grande obra funerária nacional, copiada
pelos escribas para si mesmos, para reis e rainhas, nobres, pessoas de elevada posição social e inclusive
para os humildes, desde 1600 a.C até 900 a.C. aproximadamente (Cf. BUDGE, 1993, p.09).
O nome Livro dos Mortos em si é insatisfatório, pois não traduz o antigo título egípcio dado aos
manuscritos: Reu Nu Pert Em Hru, cuja tradução seria Capítulos do Sair à Luz, ou De como sair à Luz
(Cf. BUDGE, 1993, p.13). O Nome Livro dos Mortos provém de uma primeira tradução dos
hieróglifos dos papiros funerários que foram publicados pelo egiptólogo alemão Karl Richard Lepsius,
em 1842, sob o título de Das Todtenbuch der Aegypter, título em alemão que se traduz por O Livro dos
Mortos, a mesma tradução que Budge usa: The Book of de Dead (Cf. BUDGE, 1993, p.10-11). Grande
parte das composições do Livro se refere aos mortos e ao que acontece com eles no mundo alémtúmulo, sendo que uma pequena parte se refere aos rituais a serem praticados pelos sacerdotes e pelos
Recensão: do latim, Recensione, ou seja, o conjunto, uma relação dos manuscritos antigos; um confronto do texto de uma
edição com os manuscritos originais, um exame crítico de um texto. Cf. Dicionário Latim-Português, Portiguês-Latim.
Porto: Porto Editora, 2011. p.426. Cf. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa.
2. ed. Rio de Janeiro, 1986. p.1461.
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próprios mortos durante a passagem para a outra vida. Nenhum papiro contém todos os capítulos e
vinhetas da Recensão Tebana do Livro dos Mortos, e não existem dois papiros que concordem no
conteúdo ou no número de capítulos. Portanto, só foi possível organizar uma edição do Livro dos
Mortos recorrendo-se a vários papiros (Cf. BUDGE, 1993, p.10).
O Livro contém cerca de duzentos capítulos - ou estrofes - além de hinos e rubricas. Não há, por assim
dizer, um volume do Livro dos Mortos completo: a escolha das estrofes escritas em cada papiro variava
de acordo com o tamanho do rolo de papiro, a preferência do cliente e a opinião do sacerdote e do
escriba que fazia a escrita; um Livro dos Mortos continha, em média, de quarenta a cinquenta estrofes
(ou capítulos) (Cf. NETTO, 2013).
Posto que os capítulos do Livro dos Mortos representam crenças pertencentes a vários períodos da
longa vida da nação egípcia, desde o período pré-dinástico, cerca de 3200 a.C., e opiniões sustentadas
por diversas escolas de pensamento, pode-se dizer que o objetivo de todos eles é beneficiar o morto.
Davam-lhe o poder de possuir a vida eterna, além de tudo o que precisasse no Outro Mundo, como a
vitória sobre os inimigos e armadilhas e a amizade dos seres benéficos que ali habitavam. Dava-lhe
poder de ir e vir, como e quando quisesse a todas as partes, e também dava o dom de conservar intactas e
unidas todas as partes de seu corpo mumificado. Também permitia ao morto atingir os Campos Elísios,
a morada dos deuses, o Reino de Osíris, onde havia a felicidade eterna (Cf. BUDGE, 1993, p.47).
De acordo com a crença dos egípcios esse conjunto de textos era considerado como obra do deus Thoth.
As fórmulas contidas nesses escritos garantiam ao falecido uma viagem segura para a outra vida, e
como estavam grafadas sobre o papiro, um material de baixo custo, proporcionavam que qualquer
pessoa tivesse acesso ao mundo da vida eterna (Cf. NETTO, 2013).
1.3 O mito da Criação e a história de Osíris
Para que se possa compreender o sentido das práticas funerárias dos antigos egípcios se faz necessário o
conhecimento do mito que forneceu os principais elementos da crença na ressurreição e na
imortalidade do ser humano. O mito não é um fruto de pura ficção de mentalidades primitivas. O Mito
justifica e explica as práticas rituais. Como diz Regis Debray, a função verdadeira dos mitos é reparar,
em nós, os desgastes do tempo. Se uma religião não fosse anacrônica, perderia a mais profunda razão de
ser, que é medicar nossa contingência, conferindo ao ontem a dimensão de um sempre (DEBRAY,
2004, p.160; p.361). Tal mito é a história do homem-deus sofredor Osíris, uma história que embasou
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uma crença amplamente espalhada pelo Egito antigo: a história que relata sobre a possibilidade de o
ser humano continuar a viver após a morte (Cf. BUDGE, 2004, p.53).
Assim se expressa Budge antes de iniciar a narrativa do Mito de Osíris:
Os primeiros autores dos antigos textos hieroglíficos fúnebres e seus compiladores recentes
assumiram tão completamente que a história de Osíris era conhecida por todos os homens, que
nenhum deles, até onde nós sabemos, pensou que fosse necessário registrar uma narrativa relacionada
à vida e sofrimentos desse deus sobre a terra, ou se eles o fizeram, não chegou até nós (BUDGE, 2004,
p.41).
Budge quis afirmar que não há uma compilação crítica e oficial do Mito da criação do mundo e da
história de Osíris. Os desenhos nas paredes dos templos e papiros apenas relatam uma história já
conhecida dos egípcios. Portanto, Budge lança mão do texto do autor grego Plutarco, do séc. I d.C, o
qual, apesar das impróprias relações que faz entre os deuses gregos e egípcios, traça uma narrativa
cheia de elementos da cultura egípcia (Cf. BUDGE, 2004, p.42). Pode-se descrever, de modo
generalizado, o mito de Osíris da seguinte forma:
No começo não havia nada, a não ser apenas um imenso oceano primitivo e informe, repleto de um
espírito divino e do germe de todas as coisas, conhecido por Nu (ou Num) (Cf. BUDGE, 2004, p.84), e
a sua volta havia apenas o silêncio, as trevas e o caos em fim. Então, misteriosamente esse oceano
desperta de seu sono profundo, e poderosas tempestades fazem suas águas se agitarem intensamente.
De dentro desse oceano informe surge uma ilha, uma porção de terra seca. Do meio dessa ilha surge
uma flor de lótus (ou em outras versões, um Ovo) (Cf. Cf. BUDGE, 2004, p.27), e de dentro dessa flor
- ou Ovo - surge o deus-sol Rá, que é a encarnação do poder onipotente do espírito divino. Ao abrir seus
olhos, o deus Rá enche todo aquele espaço vazio com sua forte luz. Essa luz deu início à criação. Do
olho de Rá escorre uma lágrima, da qual surgem os seres humanos. Em seguida, Rá fecha seus olhos e
começa a criar os deuses que lhe farão companhia: Tefnut (deusa da água) e Shu (deus do ar). Os
deuses Shu e Tefnut deram luz a Geb e a Nut. Geb - ou Keb, ou Seb, dependendo da tradução - (deus da
terra) e Nut (deusa do céu), deram luz a quatro filhos: Osíris, Ísis, Seth e Néftis. Osíris era irmão e
marido de Ísis, enquanto Seth era irmão e marido de Néftis (Cf. COUTO, 2008, p.68).
Osíris governou toda a terra conhecida - ou seja, tornou-se o rei do Egito - e começou a civilizar os
seres humanos através da educação, criando leis, ensinando técnicas agrícolas, o modo de dominar os
animais e ensinou a reverência e o culto aos deuses. Osíris viaja então pelo mundo para disciplinar
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outros povos, enquanto isso sua irmã-esposa Ísis governava o Egito em seu lugar. Seu irmão Seth,
invejoso do sucesso de Osíris, trama um plano para matá-lo. Conspirou com outras 72 pessoas e
construiu um magnífico sarcófago, com as medidas exatas do corpo de Osíris. Seth e os conspiradores
armam um banquete importante e convidam o rei. Durante a festa, Seth quis agradar aos convidados,
dizendo que daria de presente o belo sarcófago para aquele que tivesse o tamanho certo para caber nele.
Os convidados experimentavam e não se encaixavam nas medidas, até que chegou a vez de Osíris. Ao
entrar no sarcófago para experimentar, Seth e os conspiradores fecharam rapidamente o sarcófago,
pregando a tampa e jogando chumbo derretido por cima (Cf. BUDGE, 2004, p.44). Então jogaram o
sarcófago no Rio Nilo, cuja correnteza arrastou-o até o Mar Mediterrâneo, parando entre os ramos de
uma pequena árvore de tamarisco, na cidade de Biblos, na região dos pântanos de papiros do delta. Essa
árvore cresceu e envolveu o sarcófago, escondendo-o dentro do seu tronco. Tempos depois, o Rei dessa
cidade, maravilhado com o esplendor e tamanho daquela árvore, mandou cortá-la para servir de coluna
em seu palácio.
Ao saber da tragédia, Ísis saiu angustiada à procura de seu marido Osíris. Durante a sua busca, ficou
sabendo que Osíris havia sido enganado por sua irmã Néftis, que estava apaixonada por ele. Osíris
havia tido uma relação com Néftis, pensando ser ela Ísis, e dessa relação nasceu um filho. Néftis,
temendo a reação de seu marido Seth, decidiu abandonar a criança. Ísis então se empenha em procurar
a criança abandonada, e depois de muita dificuldade consegue achar a criança com a ajuda de cães, que
a conduziram ao local exato onde ela se encontrava. Ísis então criou essa criança, e ele se tornou seu
constante guardião e servo, assim como os cães fazem com os homens. Esse filho de Osíris se chamou
Anúbis (Cf. BUDGE, 2004, p.47).
Através de informantes, Ísis chegou até a cidade de Biblos. Depois de ter feito uma profunda amizade
com a rainha da cidade, Ísis conseguiu que lhe desse a coluna daquele palácio, a qual cortou e tirou dali
o sarcófago. Ela enrolou o restante da coluna com linho, derramou óleo perfumado sobre ela e
devolveu aos reis de Biblos (Cf. COUTO, 2008, p.69). Ísis pranteou e lamentou muito sobre o corpo
morto de seu marido, e depois disso trouxe de volta para o Egito e o escondeu em lugar secreto.
Seth, ao saber do resgate do corpo de Osíris, consegue localizar Osíris e então corta seu corpo em
vários pedaços e os espalha por todo o Egito. O número de pedaços em que o corpo foi cortado varia, de
acordo com as versões da história, de 14 a 42, pois seriam associados ao número de dias entre a lua
cheia e a lua nova (14) e o número de nomos - ou províncias - que formavam o Egito (42) (Cf. COUTO,
2008, p.69). Ísis parte mais uma vez à procura dos fragmentos espalhados do corpo de seu marido,
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dessa vez com ajuda da sua irmã Néftis. Ela utilizou um barco feito de junco para navegar pelos
pântanos de papiro do Rio Nilo. Ísis fazia um sepulcro para Osíris em cada cidade, à medida que ela
encontrava os pedaços do corpo, a fim de homenagear tal local e ao mesmo tempo enganar e dificultar a
maliciosa procura de Seth e seus seguidores. Ísis encontrou e juntou todas as partes do corpo de Osíris,
exceto uma: seu pênis. Esta parte foi lançada no Rio Nilo por Seth, logo que cortou seu corpo, e os
peixes o devoraram. Para substituir esse órgão, Ísis criou um pênis com caules vegetais (Cf. COUTO,
2008, p.69).
Ocorre então o primeiro processo de mumificação, em que Ísis e Néftis recebem ajuda de Anúbis - filho
de Osíris com Néftis. O corpo do morto foi embalsamado, recebeu uma série de amuletos que o
protegiam de todo mal existente e foram recitadas várias fórmulas mágicas, escritas por Thoth, ditas
por Ísis (Cf. BUDGE, 1993, p.18). Então Ísis se transforma em um milhafre, e, planando sobre o corpo
de Osíris, bate as asas e faz um vento mágico que o ressuscita. Ao mesmo tempo, a Ísis em forma de
milhafre tem uma relação com Osíris e nasce assim Hórus. Ísis, tendo dado luz a Hórus, amamentou-o e
este cresceu e se tornou forte. Quando adulto guerreou contra Seth diversas vezes e sempre o vencia,
vingando a morte de seu pai Osíris e sendo assim seu sucessor no trono do Egito (Cf. BUDGE, 1993,
p.53). Osíris passa a governar, então, o mundo dos mortos, chamado de Amenti (ou Amentet), enquanto
Hórus governa o mundo dos vivos (Cf. BUDGE, 1993, p.95).
1.4 A Crença em Osíris e na vida após a morte.
A crença na vida após a morte e na ressurreição do homem está baseada nesse mito, onde Osíris, deushomem e rei, sofreu a morte e a mutilação, foi mumificado, recebeu de suas irmãs Ísis e Néftis uma série
de amuletos que o protegiam de todo o mal no mundo dos mortos, além de ter recebido várias fórmulas
mágicas, recitadas por elas e escritas por Thoth, alcançando assim a vida eterna. Esta era a mais
importante de todas as crenças encontrada no Livro dos Mortos (Cf. BUDGE, 1993, p.18).
Era muito ampla a fé no deus Osíris por todo o Egito desde tempos muito antigos. O seu culto era quase
universal, e foi considerado um tipo de deus nacional. Foram atribuídos a Osíris os poderes e
qualidades dos outros deuses mais antigos, e era visto não só como o deus dos mortos, mas também
como fonte e origem de toda a realidade existente. Foi igualado ao seu pai, o deus Rá, e posto
praticamente como o maior dos deuses (Cf. BUDGE, 1993, p.56).
Osíris passou a representar para os egípcios a ideia de um homem-deus, que viveu como um homem,
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sofreu os sofrimentos humanos, morreu e ressuscitou, vivendo eternamente em seguida, no outro
mundo. Por ter uma personalidade humana, os egípcios se identificaram facilmente com Osíris.
Portanto, se Osíris viveu, morreu, passou por rituais de mumificação e de palavras e atos mágicos e por
isso ressuscitou, então o egípcio poderia seguir o mesmo caminho.
Os egípcios criaram todo um aparato religioso, incluindo templos, sacerdotes, sepulturas, materiais
para mumificação, amuletos, estátuas, símbolos, fórmulas mágicas e toda sorte de rituais a fim de imitar
a passagem que Osíris fez para o outro mundo, para a vida eterna.
A grande ênfase dessa passagem é a múmia:
Símbolo do mistério que a civilização egípcia representa, as múmias são bem mais do
que um simples corpo humano transformado em objeto de estudo. Aquelas tentativas
de preservação dos corpos de seus poderosos monarcas fornecem vários e precisos
dados sobre o pensamento religioso vigente na civilização faraônica e são testemunhas
mudas de suas antigas crenças numa ressurreição da alma por meio da conservação de
seu "habitat natural", por assim dizer (COUTO, 2008, p.64).
Assim como Osíris, o corpo devia ser conservado após a morte, pois sem ele seria impossível alcançar a
imortalidade (COUTO, 2008, p.70). Mais adiante será analisada a questão da importância da imitação
do gesto fundador, ou seja, a imitação das atitudes de Osíris.
Foram exatamente por causa de palavras escritas, fórmulas mágicas e o modo de recitá-las sobre o
defunto que se garante, de acordo com o mito, a ressurreição do morto. Tais palavras foram criadas e
escritas - de acordo com a crença - por Thoth e ditas pela boca de Ísis (Cf. BUDGE, 1990, p.104). Logo,
o que se procura, então, nos rituais funerários de mumificação é garantir os meios materiais necessários
para que, ao proferir as palavras sagradas, ocorra a ressurreição e a passagem para a vida eterna. Antes
de tratar das palavras sagradas do Livro dos Mortos é importante compreender a concepção de homem
para o egípcio antigo.
1.5 As palavras sagradas na mumificação de Osíris
Como relatado no mito, foi o deus Thoth que deu à deusa Ísis as palavras sagradas que possibilitaram a
ressurreição de Osíris e um corpo sahu eterno (Cf. BUDGE, LM, 1993, p.33). O Livro dos Mortos
fornecia a coleção de todos os textos e fórmulas que sobre o falecido teriam de ser recitados a fim de
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garantir êxito. Porém as palavras deviam ser pronunciadas da maneira adequada e ditas num tom
apropriado de voz, para que tivessem efeito sobre os poderes do mundo inferior (Cf. BUDGE, 1990, p.
90). Ou seja, as palavras deviam ser as mesmas de Thoth, e pronunciadas da mesma forma que Ísis as
pronunciou sobre o corpo de Osíris.
Pelo fato de serem executadas sobre o corpo do falecido as mesmas ações que Ísis, Néftis e Anúbis
fizeram sobre Osíris, acreditava-se que tudo o que ocorreu com o deus ressuscitado ocorreria com o
falecido, o que levou a haver uma identificação muito forte do morto com o próprio Osíris (Cf.
BUDGE, LM, 1993, 31). Por isso, em toda parte dos textos do Livro dos Mortos o falecido é chamado
de Osíris, desde 3400 a.C aproximadamente (Cf. BUDGE, 1990, p.90). No papiro de Ani, o texto do
Livro dos Mortos mais bem conservado da atualidade, assim está escrito:
Ó Senhor do Amentet, estou em tua presença. Não há pecado em mim, não menti de
caso pensado, nem fiz coisa alguma com o coração falso. Concede que eu seja um
Osíris muito favorecido do formoso deus e amado do Senhor do mundo, [eu], o escriba
real de Maat, que o ama, Ani, triunfante diante de Osíris (BUDGE, 1990, p.93).
Também era aplicada ao falecido a expressão maa kheru, que se traduz por triunfante, verdadeiro de
voz, certo de palavra. Aquele que adquiria essa expressão por título passava a ter poder de usar sua voz
de maneira que todos os seres que encontrasse no outro mundo pudessem ser dominados. Isso evitava
causar problemas no uso das fórmulas sagradas, visto que o emprego do som ou do tom da voz de
maneira errada poderiam acarretar desastrosas consequências ao homem que as pronunciasse,
inclusive a própria destruição (Cf. BUDGE, 1990, p.90).
Os egípcios acreditavam que toda palavra dita em certas circunstâncias sempre gerava um efeito bom
ou mau. Se a palavra fosse proferida por um homem cerimonialmente puro, em nome de uma
divindade benéfica, no lugar apropriado e do modo e no tom de voz devidos, em favor de algo ou
alguém, um efeito bom e favorável aconteceria por força dessa palavra. Do contrário, uma palavra
proferida contra algo ou alguém, em nome de um ser maléfico, resultaria fatalmente em maldição para
o homem que proferiu ou o para aquele que fosse objeto dessa palavra (Cf. BUDGE, 1993. p.41).
Tudo isso resulta da crença mítica de que todo o universo foi criado pelo poder da palavra dita pelos
deuses primordiais, e que foram interpretadas e escritas pelo deus Thoth. O correto conhecimento do
nome de um deus, demônio ou ser humano implicava domínio sobre o ser dele (Cf. BUDGE, 1986,
p.107). Se as palavras foram potentes em eficácia para criar todas as coisas e para ressuscitar Osíris, as
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mesmas eram empregadas pelo sacerdote diante do cadáver, de forma falada ou escrita.
1.6 O Tribunal de Osíris e Maat - O Julgamento
Será descrito detalhadamente o ponto alto da passagem definitiva da alma do falecido para a
eternidade, ou seja, o momento do julgamento em um tribunal. Existe aqui uma clara questão de
avaliação moral do indivíduo que terá julgado pelos deuses seu comportamento quando estava em vida
no corpo físico (Cf. BUDGE, 2004, p.91).
Desde o momento em que se iniciam os rituais de mumificação, procede-se ao início da viagem da alma
pela região dos mortos - o Ament (ou Amentet) - que é cheio de perigos e demônios. Entenda-se aqui que
a expressão Demônio, que é de origem grega (δαίμων - daimon), significa um ser divino em geral,
porém secundário, abaixo das divindades superiores (Cf. ABBAGNANO, 2003, p.239), representam
divindades inferiores e inimigas do deus-sol Rá, que pretendem dificultar e impedir a chegada da alma
até o Tribunal do Julgamento.
Antes de comparecer ao julgamento, o falecido declama hinos em louvor a Rá e a seu filho Osíris (Cf.
BUDGE, 2004, p.100). Logo depois ele se encontra para o julgamento no chamado Tribunal de Maat.
De acordo com Budge, "desde os tempos mais antigos, a Maat eram as duas deusas Ísis e Néftis, e elas
eram assim chamadas porque representavam as ideias da honestidade, integridade, justeza, o que é
correto, a verdade (...)" (BUDGE, 2004, p.100). Essas deusas permaneciam ao lado de Osíris, deus e
juiz dos mortos. Juntamente com estes se encontravam mais 42 deuses. Então, diante dessas
divindades, o finado enumerava os pecados que ele não cometeu. Passando diante de cada deus, o
falecido citava seu nome sagrado e a ofensa que não empreendeu em vida. Esse momento ficou
conhecido como Confissão Negativa, por ser uma negação do cometimento de faltas morais (Cf.
BUDGE, 2004, 107).
Em seguida era colocada uma balança onde o coração do falecido seria pesado. Enquanto num dos
pratos era depositado o coração do falecido - Ib - no outro prato era colocada uma pluma de Maat,
símbolo da lei, da justiça, da verdade. O nível da balança era examinado pelo deus Anúbis e um animal
em forma de macaco, que se encontrava acima da balança, avisavam ao deus Thoth para registrar o
resultado. Caso houvesse desequilíbrio entre o coração e a pluma de Maat, esse coração - ou seja, todo o
ser do falecido - seria imediatamente devorado por uma criatura com corpo de leão e cabeça de
crocodilo chamado de Am-mit (Cf. BOVO, 2008, p.16). Caso o coração se equilibrasse em peso com a
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pluma de Maat, o deus Thoth registraria tal resultado e proferiria o seguinte discurso aos deuses
presentes:
Ouçam agora o julgamento. O coração de Osíris foi pesado com muita verdade e sua
alma permaneceu como uma testemunha para ele; foi julgado verdadeiro pela prova na
Grande Balança. Não foi encontrada nenhuma perversidade; ele não inutilizou as
oferendas nos templos; ele não causou prejuízos com seus atos; e ele não espalhou más
notícias pelo mundo afora enquanto esteve sobre a terra (BUDGE, 2004, p.112).
Perante esse discurso proferido por Thoth, o Grande grupo de deuses respondia, emitindo assim o
resultado da sentença:
Aquele que sai da tua boca, oh Thoth, (...) está confirmado. Osíris, o escriba Ani,
triunfante, é sagrado e justo. Ele não pecou nem fez maldade contra nós. O Devorador
Am-mit não será permitido preponderar sobre ele, e oferendas de alimento e a entrada à
presença do deus Osíris serão consentidas para ele, em conjunto com uma morada para
sempre no Campo da Paz, como para os seguidores de Hórus (BUDGE, 2004, p.112).
Depois disso o falecido, absolvido no julgamento, era tomado pela mão pelo deus Hórus e conduzido
ao santuário. Ali se encontrava sentado em seu trono o deus Osíris, usando uma coroa branca com
plumas, e nas mãos um cetro, um cajado e um chicote, que representavam sua soberania e poder. Ao
lado direito estava Néftis e à esquerda Ísis. Diante dele, de pé por cima de uma flor de lótus estavam os
quatro filhos de Hórus: Mestha, Hapi, Tuamutef e Qebhsennuf. Esses quatro deuses habitavam as
chamadas nuvens divinas, e eram os deuses dos pontos cardeais, e os pilares que sustentavam o piso da
Morada dos deuses, os Campos Elísios. Esses quatro deuses presidiam os principais órgãos internos do
corpo humano (Cf. BUDGE, 2004, p.96). Então, deixando ali o falecido, Hórus se dirigia a seu pai
Osíris com as seguintes palavras:
"Eu vim a ti, oh Un-Nefer, e te trouxe o Ani de Osíris a ti. Seu coração foi julgado justo e
saiu da balança; ele não pecou contra nenhum deus ou nenhuma deusa. Thoth o pesou
de acordo com o decreto emitido para ele pelo grupo dos deuses; e é muito verdadeiro e
justo. Concede-lhe doces e ale [uma espécie de cerveja escura-amarga]; e deixa-o
entrar em tua presença; e que ele possa ser como os
seguidores de Hórus para
sempre!" (Cf. BUDGE, 2004, p.114).
A seguir o falecido se postava de joelhos perante Osíris e declamava um discurso perante todos os
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deuses, com voz de um maa Kheru, ou seja, com poder sobre as palavras e poder de convencer (Cf.
BUDGE, 1990, p.90). O finado fazia várias súplicas e preces implorando a proteção e aceitação de sua
presença no meio dos deuses, sendo também um deus, assim como eles. Após as preces o finado
travava um diálogo com cada parte do tribunal de Maat, numa espécie de jogo enigmático de perguntas
e respostas. As partes do Tribunal eram os ferrolhos das portas, as colunas, a soleira, a argola do
cadeado e o chão. Cada uma dessas partes representava um ser, e o falecido devia conhecer o nome de
cada um para assim obter permissão de passar. A parte final se dava quando o porteiro questionava o
falecido se ele sabia seu nome, o qual revelava ser Thoth. Então ocorria o momento crucial para a
entrada do falecido no convívio eterno no outro mundo: Thoth fazia a menção de seu nome (Ren)
perante todos os deuses. Depois de passar por estas difíceis provações do Tribunal de Maat, o falecido
se tornava um deus junto dos outros deuses (Cf. BUDGE, 2004, p.119).
1.7 O paraíso: os Campos Elísios
Graças ao poder de proferir palavras verdadeiras (maa kheru) e reconhecidas como tal perante todas as
divindades, as portas do paraíso se abriam e todos os seres que ali se encontravam obedeciam as ordem
do morto triunfante no julgamento. Esse paraíso era conhecido como Campos Elísios e nele havia
regiões distintas como o Sekhet Hetep ou Sekhet Hetepet (Campos da Paz), o Sekhet-Aaru (Campo dos
Juncos). Este era um local onde as almas dos bem-aventurados que foram absolvidos no julgamento do
Tribunal de Osíris viveriam eternamente em felicidade. O lugar tinha as características parecidas com
a vida na terra, e acreditava-se que era uma continuação da outra. Era uma espécie de grande fazenda,
cortada de canais e lagoas, campos com plantações e várias regiões, assim como a terra dos vivos. O
falecido esperava ter no outro mundo, em abundância, os confortos materiais que havia desfrutado
enquanto vivo, bem como encontrar seu pai, mãe, esposa, filhos e seu próprio deus.
O egípcio fazia do seu mundo futuro um equivalente do Egito que ele conhecia e
amava, e dava-lhe equivalentes celestiais de todas as suas cidades sagradas, (...) da
existência de um curso de água como o Nilo, com tributários e ramificações, em que
pudesse navegar e levar a cabo suas jornadas (BUDGE, 1993, p.40).
Os Campos Elísios estavam acima da terra, no céu, e era uma grande superfície de ferro que constituía
o chão do lugar. Cada um dos quatro cantos dessa superfície era sustentado por um pilar, um em cada
ponto cardeal. Para alcançar esse lugar era necessário uma escada sagrada (Cf. BUDGE, 1993, p.41).
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O Céu era considerado pelos antigos egípcios como a morada das divindades, pois era a parte que
ocupava o lugar mais próximo da circunferência externa do universo, onde se acham o Sol, a Lua e os
demais astros. Era um local incorruptível e eterno (Cf. ABBAGNANO, 2003, p.133). Os Campos
Elísios fornecem uma compreensão bem próxima do que se entende pelo Céu do cristianismo e do
Islamismo. Também era assim chamado, na mitologia grega, o lugar para onde iriam os heróis e os
justos após a morte (Cf. CUNHA, 2012, p. 238).
2. OS RITUAIS FUNERÁRIOS EGÍPCIOS
2.1 A Mumificação
No mito relatado, Ísis encontra o corpo do marido, reúne as partes dispersadas, e o protege dos inimigos
que querem destruí-lo. Em seguida, com a ajuda de Néftis e Anúbis preparam o cadáver de Osíris para
que a própria deusa Ísis, sob a forma de uma ave de rapina, recite as palavras sagradas de Thoth e faça
Osíris ressuscitar para uma existência eterna. Logo, o corpo de todo e qualquer morto precisava ser
conservado porque sem ele era impossível alcançar a imortalidade da mesma maneira que Osíris a
obteve (Cf. COUTO, 2008, p.70). Aqui então está a justificação mítica para que se conserve o corpo.
Com esta inspiração os egípcios começaram a desenvolver técnicas para que o cadáver fosse
preservado da ação da natureza, do tempo, dos perigos do Amenti (Mundo dos Mortos) e inclusive
maneiras de protegê-lo de profanadores.
Os mortos eram mumificados e envolvidos em ataduras de linho, e, por meio de cerimônias e palavras
mágicas, procurava-se devolver aos seus membros o vigor necessário para que pudessem comer, beber,
falar, pensar e caminhar à vontade tanto no mundo dos vivos como no dos mortos. Tudo exatamente
como se acreditava que teria acontecido com o deus Osíris (Cf. BUDGE, 1986, p.120).
De acordo com o historiador grego Herótodo (Cf. HERÓDOTO apud COUTO, 2008, p.72), os
embalsamadores começavam por extrair o cérebro pelas narinas com um gancho de ferro. Em seguida
abriam o abdômen e retiravam as vísceras e limpavam cuidadosamente a cavidade, preenchendo-a com
substâncias e ervas aromáticas. Depois o cadáver ela colocado em submersão em natrão - um mineral
que era natural da região do Egito, composto de carbonato de sódio hidratado (Cf. FERREIRA, 1986.
p.1182) - onde permanecia por cerca de setenta dias. Este procedimento visava à desidratação dos
tecidos internos e externos do corpo e o combate às bactérias, preservando assim o corpo.
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Então o cadáver era lavado e se iniciava um longo processo de aplicação de óleos e ataduras em cada
parte do corpo: na cabeça, nos braços, nas mãos, nos pés, nas pernas, no abdômen e coluna. A cada parte
enfaixada, o pedaço de atadura usada era consagrado a um deus específico, e entre as ataduras eram
depositados diversos amuletos sagrados (os quais serão descritos mais adiante). Os sacerdotes
acompanhavam cada detalhe desse processo, seja depositando os amuletos, enfaixando e
pronunciando as palavras sagradas do Livro dos Mortos (Cf. BUDGE, 1986, p.123).
As vísceras da múmia eram depositadas em recipientes chamados Vasos Canopos. Eram quatro vasos
feitos de pedra, porcelana, cerâmica ou madeira. Cada um deles era consagrado às quatro divindades
filhas de Hórus, que representavam também os quatro pontos cardeais: Mestha (ou Amset ou Imset),
com cabeça humana, representava o sul, e guardava o estômago; Hapi, com cabeça de macaco,
representava o norte, e guardava os intestinos; Tuamutef (ou Duamoutef), com cabeça de cão (ou
chacal), representava o leste e guardava os pulmões e o coração; e Qebhsennuf (ou Quebekhsnouf),
com cabeça de falcão, representava o oeste e guardava o fígado (Cf. COUTO, 2008, p.75; Cf.
BUDGE, 1986, p.64).
Esses órgãos eram removidos do corpo antes que fosse mumificado e embebidos em substâncias
conservantes, como o betume, depois envoltas em ataduras e depositadas nestas quatro jarras. Suas
tampas tinham o formato da cabeça da divindade a qual era consagrada. Cada jarra continha uma
inscrição sagrada, e assim passava a ser a morada do deus. Logo, os egípcios acreditavam que o órgão
do morto permanecia realmente dentro do deus. Era realmente importante para o morto que seus órgãos
fossem consagrados a estes quatro deuses, pois somente assim poderia se realizar o desejo de se mover
livremente no outro mundo, visto que cada um desses deuses eram os guardiões e suportes dos quatro
cantos da terra (Cf. BUDGE, 1986, p.66).
Ao terminar a cerimônia de enfaixamento do corpo, cada um dos seus membros estava protegido por
toda a eternidade, pois as palavras mágicas pronunciadas mudavam as substâncias perecíveis em
imperecíveis. Por fim, a múmia era coberta por um lençol de púrpura ou linho branco, depositada em
seu sarcófago e assim estava pronta para o túmulo (Cf. BUDGE, 1986, p.124).
2.1.1 Os Amuletos Sagrados
Amuleto é o nome dado a uma classe de objetos feitos de várias substâncias que eram usados pelos
egípcios para proteger o corpo humano, vivo ou morto, das más influências e dos ataques inimigos
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visíveis e invisíveis de toda espécie. Devido à crença de que o corpo físico (Khat) deve ser protegido
contra a putrefação por ser a base da qual surge o corpo incorruptível e eterno (Sahu), vários amuletos
eram empregados na mumificação (Cf. BUDGE, 1986, p.31). Com a finalidade de proteger cada parte
do corpo de serpentes, vermes, mofo, desgaste, apodrecimento e perigos do Mundo dos Mortos, eram
introduzidos entre as faixas que cobriam a múmia os seguintes amuletos, principalmente:
a) Amuleto Udjad (ou Udjat ou Udyat ou Utchat): representa o Olho de Hórus e significa a integridade
física reconquistada (Cf. BOVO, 2008, p.16); O Olho de Hórus podia ser representado como virado do
lado esquerdo e direito, sendo os dois olhos de Hórus. Representam também o Sol e a Lua. Tal amuleto,
para a finalidade de ser depositado na múmia, deveria ser feito de dois tipos: um de pedra lápis-lazúli e
folheado a ouro, e outro de pedra jaspe, e deveriam ser apresentados como oferendas ao solstício de
verão. Nessa época é que o Sol está mais forte e brilhante, e seriam essas características de força, saúde,
vigor que seriam passadas ao morto em sua outra vida (Cf. BUDGE, 1986, p.48). No capítulo CXL do
Livro dos Mortos se encontram as palavras que o sacerdote devia recitar no ato de oferecer e consagrar
o amuleto Udjat no Solstício de Verão:
Olha, um deus poderoso se levanta no Horizonte! Eis que surge Tum rodeado de
nuvens odoríferas. Todo o céu está, vede, abrasado por causa das radiações dos
espíritos Santificados (...) Que o Olho divino se aproxime dos seus membros! Que
torne poderosos seus braços, para que executem as ordens do deus! (LIVRO DOS
MORTOS, 1982, p.164)
Depois de ofertado e consagrado ao Sol, o amuleto era depositado entre as faixas de linho da múmia e
realizava seus efeitos de transmitir as forças solares ao morto.
b) Amuleto Djed (ou Tet): um pilar com quatro barras horizontais: a primeira barra significa a
ressurreição, a segunda a eternidade, a terceira a imutabilidade e a quarta a força inesgotável; esse
símbolo representa a coluna onde, no mito, Ísis encontrou o corpo de Osíris. Significa também a coluna
vertebral de Osíris, o eixo do mundo. A cerimônia de colocação do Djed consistia no endireitamento da
múmia, onde esta era colocada de pé e isto simbolizava a vitória sobre a inércia e a morte, ao mesmo
tempo que significava a ressurreição de Osíris (Cf. BOVO, 2008, p.16). Esse amuleto era colocado na
mão esquerda da múmia e era feito ora de madeira, ora de ouro (Cf. BUDGE, 1986, p.43).
c) Amuleto da Fivela: Representa a fivela do cinto de Ísis e era feito de pedra jaspe vermelha ou de
ouro. Geralmente se inscrevia neste amuleto a seguinte passagem do Capítulo CLVI do Livro dos
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Mortos: "O sangue de Ísis e o vigor de Ísis e as palavras mágicas de Ísis serão bem fortes para agirem
como poderes para proteger este grande divino ser, e para livrá-lo de qualquer coisa que ele abomine"
(BUDGE, 1986, p.41). O Amuleto assegurava ao morto a proteção do sangue de Ísis e de suas palavras
mágicas, as mesmas que fizeram com que o cadáver de Osíris ressuscitasse. Também dava ao morto
acesso a todos os lugares do Amenti, ou seja, liberdade de se mover no Mundo dos mortos (Cf.
BUDGE, 1986, p.42). Esse amuleto era colocado na mão direita da múmia.
d) Amuleto do Escaravelho: Este amuleto representava um animal sagrado, e era comparado com o Sol
e com o deus Quepera, que era a força invisível da criação e movimentadora do Sol. O rolar da bolota
de excremento pelo inseto foi comparado com o curso do Sol durante o dia. O escaravelho deposita
seus ovos dentro da bolota e de dentro dela saem seus filhotes, assim como o Sol, que era visto como a
fonte da vida e de toda criação:
O corpo humano morto, porém, de certo modo continha o germe da vida, quer dizer, o
germe do corpo espiritual, que era chamado à existência por meio de preces recitadas e
cerimônias realizadas no dia dos funerais; sob este ponto de vista, a bolota com os ovos
do inseto e o cadáver eram idênticos (BUDGE, 1986, p.39).
Assim, o escaravelho era símbolo e exemplo da ressurreição, da geração da nova vida. Ele era
depositado no lugar do coração da múmia, o qual representava a sede da vida e da consciência da
pessoa. O Amuleto garantia a proteção de Rá e de Osíris contra o inimigo devorador de corações do
Amenti (Mundo dos Mortos), e nele havia palavras mágicas que afirmavam que o morto praticou o
bem e merecia entrar no Paraíso (BUDGE, 1986, p.35).
Esses são, de acordo com o egiptólogo Budge, os amuletos mais encontrados nas múmias. No entanto
além destes havia outros, mais raros, como o de Sam, o do Chen, o de Degraus, o da Rã, da Coroa
Branca do Sul, a Coroa Vermelha do Norte, do Horizonte, do Ângulo, dos Chifres, do Disco e Plumas e
do Fio de Prumo. Além desses, os anéis, pingentes, ornamentos ou qualquer objeto no qual fosse
escrito ou gravado o nome de um deus, seu emblema, figura ou palavras sagradas do Livro dos Mortos
tornava-se um amuleto repleto de poderes protetores (Cf. BUDGE, 1986, p.52).
2.1.2 O Ritual de Abertura da Boca
Este era o ritual mais importante do processo de mumificação, pois visava fazer o morto recuperar as
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capacidades de comer, beber e principalmente falar, visto que as palavras tinham enorme poder sobre
os deuses e também os inimigos do outro mundo. Devido ao fato de a múmia estar com a cabeça envolta
em faixas, sua boca estava comprimida e coberta. Tais obstáculos à fala era atribuídos à intervenção do
deus Seth, inimigo de Hórus e Osíris. Era suplicado ao deus Thoth, deus das palavras mágicas, que
fossem desatadas tais faixas e lançadas nas bocas daqueles que pretendiam prendê-lo com elas. De
acordo com a crença mítica egípcia, o deus Hórus desamarrou as faixas que tapavam a boca dos deuses
e o deus Anúbis lhes abriu a boca com uma faca de ferro (Cf. BUDGE, 1993, p.58).
Esse ritual era realizado na própria múmia ou em uma estátua que representava o morto, visto que os
egípcios acreditavam que a estátua em si era habitação da alma do falecido. Ou seja, o que se fizesse
com a estátua da pessoa falecida era como se fosse feito à própria múmia. Desta cerimônia
participavam sacerdotes, um amigo íntimo do falecido, o filho do falecido ou seu representante, duas
mulheres que representavam Ísis e Néftis, e um certo número de pessoas que representavam a guarda
armada de Hórus. Todos esses rememoravam os mesmos acontecimentos feitos no funeral mítico de
Osíris, deus com o qual o morto era identificado (Cf. BUDGE, 1986, p.124.).
O ritual se iniciava com uma purificação do local e da múmia - ou sua estátua - usando água e
queimando incenso. Esse ato tinha o objetivo de ajudar a abrir a boca do defunto, fortalecer seu coração
e restituir o uso de sua cabeça. Ao fim das purificações os presentes acreditavam que o caibit (sombra)
voltava a se unir ao Khat (corpo físico) do falecido, que haviam se separado no momento de sua morte.
Terminada as purificações, os homens que representavam a guarda de Hórus se aproximavam. Um
deles, representando o próprio Hórus filho de Osíris e de Ísis, tocava a boca da múmia - ou da estátua com o dedo. Um dos sacerdotes iniciava os sacrifícios de animais, o que rememorava a matança mítica
dos comparsas de Seth, que ajudaram a matar Osíris. Eram sacrificados um ou dois touros, duas gazelas
ou antílopes e patos. A pata dianteira e o coração do touro eram retirados e oferecidos à estátua ou à sua
múmia. O sacerdote tocava a boca do morto por quatro vezes usando a pata do touro. Os antílopes e
patos eram apenas oferecidos diante do falecido. Em seguida outro sacerdote se aproximava e tocava a
boca do morto com dois instrumentos chamados de Seb-ur e Tutnet - que tinham formas de
instrumentos de carpintaria. Esses instrumentos representavam aquele que o deus Anúbis havia usado
no mito. Ao tocar a boca da múmia o sacerdote proferia o seguinte discurso:
A tua boca estava fechada, mas pus em ordem para ti a tua boca e os teus
dois olhos. Abri para ti a tua boca com o instrumento de Anúbis, com a
ferramenta com que são abertas as bocas dos deuses. Hórus, abre a boca!
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Hórus, abre a boca! Hórus abriu a boca do morto, como nos velhos
tempos abriu a boca de Osíris, com o ferro que veio de Seth, com a
ferramenta com que abriu as bocas dos deuses. Ele abriu a tua boca com
ela. O morto caminhará e falará, e o seu corpo estará com o grande
séquito dos deuses, na Grande Casa do Ancião em Anu, e receberá ali a
coroa ureret de Hórus, o senhor da humanidade (BUDGE, 1986, p.126).
Assim era aberta a boca do morto. Em seguida outro sacerdote tomava em suas mãos um instrumento
de madeira sinuosa na qual uma das extremidades era em forma de cabeça de carneiro com um Uraeus
(imagem de serpente). Este instrumento se chamava ur-Hecau, que significa Poderoso em Palavras, e
com ele tocava a boca do morto quatro vezes. Assim, o morto teria o poder da palavra nos quatro cantos
do mundo, ou seja, em toda a parte. Durante esse ato outro Sacerdote pronunciava uma longo discurso,
no qual afirmava que estavam sendo asseguradom ao morto todos os benefícios assegurados ao deus
Osíris. Em seguida procedia-se a finalização do ritual em que era ensinado ao morto o hecau, ou seja, as
palavras mágicas e a maneira certa de recitá-las no outro mundo. Desse modo os deuses e qualquer
outro ser se submeteria e obedeceria ao falecido, pelo poder dessas palavras. Mas isso só foi possível
graças ao ritual que abriu a boca do morto (Cf. BUDGE, 1986, p.126).
2.1.3 As Oferendas Sepulcrais
Além de recuperar as funções de comer, beber, falar, se movimentar livremente, era oferecida
regularmente à múmia uma série de oferendas destinadas a alimentar o seu Ka e para a manutenção da
capela mortuária e dos sacerdotes que trabalhavam ali. Era crença firme entre todos os egípcios que se o
Ka do morto não fosse devidamente alimentado este seria obrigado a deixar o túmulo e vagar pelos
arredores, comendo imundícies - ou seja, alimentos impuros - que encontrasse pelo caminho. No Livro
dos Mortos isso pode ser verificado no capítulo LII e no capítulo CLXXXIX, onde o morto pede para
que não seja obrigado a beber água suja (Cf. BUDGE, 1986, p.76).
Muitas vezes essa manutenção com oferendas orgânicas era possível apenas aos mais ricos da
sociedade, devido ao alto custo. No entanto, havia outra maneira de suprir o Ka com oferendas
alimentares necessárias: podia-se esculpir em pedras os alimentos ofertados ou mesmo pintá-los nas
paredes do túmulo ou nos papiros. Para que surtisse o efeito desejado, eram recitadas palavras mágicas
sobre tais objetos e pinturas, a fim de se tornarem oferendas reais para o Ka consumir e assim evitar ter
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que comer imundícies e beber água suja.
Eram ofertados vasos com água, cerveja, pães, bolos, frutas, carnes, leite, azeitonas e ervas. Além
disso, eram também depositados junto à múmia sandálias, bastão, vestimentas, armas de combate,
móveis e objetos de uso cotidiano (Cf. LIVRO DOS MORTOS, p.171; p.211). Também esses objetos
de uso podiam ser pintados nas paredes ou nos papiros, pois ao se recitar as palavras ritualísticas
determinadas, tudo se tornava real para o morto no outro mundo. No Livro dos Mortos, em diversas
passagens, percebe-se que o morto ficava aterrorizado com a possibilidade de lhe faltar ar para
respirar, água para beber e os alimentos necessários. Isso era resolvido graças aos desenhos e fórmulas
mágicas presentes nos papiros (Livros dos Mortos) que eram depositados juntos das múmias (Cf.
BUDGE, 1986, p.78).
3. Conclusão
Como observado nos detalhes e cuidados das práticas de preparação do corpo para ser depositado no
túmulo, pode-se verificar como os antigos egípcios davam extrema importância à questão da morte.
Como a natureza, os egípcios aprenderam que a vida segue um ritmo eterno: se o sol nasce todas as
manhãs, se o Nilo transborda todos os anos, se os grãos brotam da terra todos os verões, então devia ser
possível que os homens ressurgissem dos mortos. O tema central é que a vida é cíclica e recomeça
muitas e muitas vezes e por isso é eterna, por isso todo esforço era feito para poder ajudar os mortos em
sua ressurreição. Nenhuma outra civilização no mundo investiu tanto tempo e recursos na construção
de túmulos. A decoração com as pinturas, hieróglifos das fórmulas sagradas e o mobiliário eram
essenciais para que empreendessem uma jornada segura para a vida póstuma. Tudo isso se
transformou em uma fonte preciosa de dados para a arqueologia, história, filosofia, ciências das
religiões, psicologia, antropologia e todas as áreas do conhecimento que desejam conhecer a fundo o
ser humano naquilo que ele pensa sobre a morte, sobre si mesmo e a realidade.
A morte de um faraó poderia ser um caos, a não ser que ele pudesse passar para a vida no além. Para
isso, as pinturas e hieróglifos tinham que ser perfeitos. Mesmo após a morte, o faraó tinha que manter a
ordem no mundo dos vivos. E ele precisava do seu corpo preservado para que tudo isso fosse possível,
assim como aconteceu com o deus Osíris, na crença egípcia, e conhecer cuidadosamente cada palavra
contida no Livro dos Mortos era de extrema importância, pois ali estavam todas as orientações para
que a passagem para a vida eterna pudesse acontecer, principalmente no momento do julgamento final
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perante Osíris.
Pode-se dizer que a religião no Antigo Egito era uma cola que mantinha o povo unido, algo que
realmente criava um vínculo emocional entre todos os egípcios. Para eles, vida, morte e vida póstuma
eram uma só coisa, celebrada em monumentos maravilhosos que resistiram aos milênios. Pirâmides,
textos, amuletos, ferramentas, objetos cotidianos, templos e túmulos testemunham a ideia de como o
povo interpretava a vida e a morte.
Referências Bibliográficas
BOVO, Elisaberta. História das Religiões: origem e desenvolvimento das religiões. Trad. Carlos
Nougué. Barcelona: Editora Folio, 2008.
BUDGE, E. A. Wallis. O Livro Egípcio dos Mortos. Trad. Octavio Mendes Cajado. São Paulo:
Pensamento, 1993.
_________. Magia Egípcia. São Paulo: Ediouro, 1986.
_________. As Idéias dos Egípcios sobre a Vida Futura. São Paulo: Masdras, 2004.
_________. A Religião Egípcia. Trad. Octavio Mendes Cajado. São Paulo: Cultrix, 1990.
COUTO, Sérgio Pereira. Desvendando o Egito. São Paulo: Universo dos Livros, 2008.
CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro:
Lexikon, 2012.
DEBRAY, Regis. Deus, um Itinerário: Material para a história do Eterno no Ocidente. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2.ed. Rio de
Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986.
LIVRO DOS MORTOS DO EGITO ANTIGO. Trad. Edith de Carvalho Negraes. São Paulo: Editora
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NETTO, Ismael Sá. O Fascínio do Antigo Egito: O Livro dos Mortos. Encontrado em: <<http:\\
http://www.fascinioegito.sh06.com/livromor.htm>>. Acessado em 08 dez. 2013.
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