Avaliação das comunidades coralinas e ictiologi

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Avaliação das comunidades coralinas e ictiologi
AVALIAÇÃO DAS COMUNIDADES CORALINAS E ICTIOLÓGICAS
DO BAIXO SÃO JOÃO, RESERVA MARINHA PARCIAL DA PONTA DO OURO
Relatório de Investigação No 7
Por
Michael H. Schleyer, PhD.
Marcos A M Pereira, MSc.
Raquel S Fernandes, MSc.
Submitido e implementado com o apoio de:
Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro
e
Peace Parks Foundation
Maputo, Novembro 2015
Centro Terra Viva - Estudos e Advocacia Ambiental
Ouro
Reserva Marinha Parcial da Ponta do
O Centro Terra Viva (CTV) e a Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (RMPPO),
assinaram em Setembro de 2013 um Memorando de Entendimento (MdE) com vista ao
desenvolvimento de actividades relacionadas com investigação e monitoria de espécies
e ecossistemas na RMPPPO, promovendo a sua protecção e conservação. A presente
publicação resulta de actividades desenvolvidas no âmbito deste MdE.
Centro Terra Viva (CTV) and the Ponta do Ouro Partial Marine Reserve (POPMR) have
established in September 2013 a Memorandum of Understanding (MoU) in order to develop
several activities related to research and monitoring of species and ecosystems within the
POPMR, promoting their protection and conservation. The present publication is a result of
activities undertaken under the MoU.
Citação Sugerida:
Schleyer, M. H., M. A. M. Pereira & R. S. Fernandes (2015). Avaliação das comunidades
coralinas e ictiológicas do Baixo São João, Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro. Relatório
de Investigação No 7: 11 pp. Maputo, CTV.
Capa: Imagem típica do Baixo São João, com elevada cobertura de corais e topografia
relativamente plana. Foto: Raquel Fernandes.
Direitos Reservados
Direitos de autor aplicam-se a esta obra. Esta publicação seja por inteiro ou em partes,
não poderá ser reproduzida independentemente do formato ou meio, seja electrónico,
mecânico ou óptico, para qualquer propósito, sem a devida autorização expressa, por
escrito, do Director Geral do Centro Terra Viva.
Schleyer, Pereira & Fernandes
Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
RESUMO
O Baixo São João é um maciço rochoso localizado na secção norte da Reserva Marinha Parcial
da Ponta do Ouro, sul de Moçambique. Um estudo das comunuidades bentónicas e ictiológicas
foi conduzido em Julho de 2015 para investigar o mérito de se elevar o estatudo de proteção do
recife, num santuário. Este envolveu a análise de intercepção de pontos em transectos de fotoquadratos registados nas zonas sul, centro e norte do recife, includindo a zona topo, e declives
interiores e exteriores. Ténicas visuais semi-quantitativas foram usadas para descrever
superficialmente as comunidades ictiológicas. A comunidade de coral mostrou-se relativamente
rica e uniforme em todas as zonas do recife, mas sem nenhuma espécie única ou especialmente
vulnerável. Os corais duros dominaram com uma cobertura média de 32.3%; a cobertura média
dos corais moles foi de 12.8%. Um total de 97 espécies de peixes de recife, em 30 famílias, foram
observadas. Exemplares de tamanho relativamente grande (>30 cm) eram comuns includindo
espécies de interesse comercial, além de predatores de topo como a garoupa batata (Epinephelus
tukula) e várias espécies de tubarões e raias, o que dá uma boa indicação do estado de
conservação da ictiofauna. Muito poucos danos aos corais foram observados e, apesar de não
possuir atributos especiais, o recife necessita de protecção adicional, baseado em: i) está
localizado numa zona remota, com pouca interferência humana; ii) está localizado
relativamente longe da costa em águas profundas, o que o protege de muitos potenciais efeitos
das mudanças climáticas; poderá providenciar um refúgio de reproducção de coral para a
repopulação de recifes localizados mais a Sul; e iii) poderá servir de base de referência, muito
útil para estudos comparativos futuros. Adicionalmente, está localizado perto do posto de
fiscalização de Milibangalala, o que poderá facilitar o seu controlo.
ABSTRACT
Baixo São João is a rocky massif in the northern section of the Ponta do Ouro Partial Marine
Reserve, southern Mozambique. A benthic and fish survey was conducted on the reef in July
2015 to investigate the merits of protecting it within a sanctuary. This involved point intercept
analysis of photo-quadrat transects recorded in the northern, central and southern parts of the
reef on the reef top and its inshore and offshore slopes. Semi-quantitative, visual tecniques were
used to superficially describe the fish community. The coral community on the reef proved to
be relatively rich and uniform within all reef zones, but with no unique or over-vulnerable
species. Hard corals were predominant with a mean cover of 32.3%; the mean cover of soft
corals was 12.8%. A total of 97 species of reef fish, in 30 families, were observed. Relatively large
specimens (>30 cm) were common, including species of commercial importance, as well as top
predators such as the potato bass (Epinephelus tukula) and several species of sharks and rays,
which gives a good indication of the status of the fish fauna. Little coral damage was evident
and, despite not having any special attributes, the reef would warrant protection based on the
following premises: i) it is remote, rendering human interference unlikely; ii) it is located
offshore in deeper water, protecting it from many of the potential effects of climate change; it
could provide a coral breeding refuge for replenishment of more southern reefs; and iii) it
would provide a useful reference site for baseline and comparative studies. Furthermore, it is
close to the ranger post at Milibangalala which could facilitate compliance.
ii
Schleyer, Pereira & Fernandes
Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
ÍNDICE
RESUMO………………………………………………………………………………………….....
ii
ABSTRACT………………………………………………………………………………………….
ii
1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………………..
1
2. MATERIAIS E METÓDOS…………………………………………...…………………………
1
2.1. Área de Estudo……………………………………………………………………………...
2.2. Colecta de Dados…………………………………………………………………………....
2.3. Análise de Dados……………………………………………………………………………
1
1
2
3. RESULTADOS…………………………………………………………………………………...
3.1. Comunidades Coralinas……………………………………………………………………
3.2. Comunidades Ictiológicas………………………………………………………………….
3
3
7
4. DISCUSSÃO……………………………………………………………………………………...
8
5. AGRADECIMENTOS…………………………………………………………………………...
9
6. REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………………..
9
7. ANEXOS…………………………………………………………………………………….........
11
iii
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Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
1. INTRODUÇÃO
Os recifes de coral estão em declínio a nível global, largamente devido a várias causas
antropogénicas (Wilkinson, 2008). Os recifes são ricos em biodiversidade que atraem o
desenvolvimento do turismo, mergulho e pesca e tornando-os assim, num valioso recurso para
as comunidades locais e sector recreativo.
O Baixo São João localiza-se na secção norte da Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro, a
cerca de 15 milhas naúticas da Ilha da Inhaca. Em 1996, uma avaliação superficial, levada a cabo
no âmbito de um estudo sobre o potencial de desenvolvimento da zona sul de Moçambique,
revelou através de métodos visuais, que a cobertura bentónica média era de 33% (Robertson et
al., 1996). Através de um levantamento recente da biodiversidade do recife, Pereira et al . (2015)
observaram que este havia melhorado substancialmente, recomendando que fosse feita uma
avaliação mais detalhada. Assim, o presente estudo foi efectuado, para investigar se o recife
merece um regime de protecção adicional na forma de santuário, dado estar localizado numa
zona remota e não estar sujeito a uma elevada pressão humana.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Área de Estudo
O Baixo de São João é um maciço rochoso localizado aproximadamente a 4 km da costa sul de
Moçambique, na Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro, entre as coordenadas 26.351°S 26.363°S e ~32.974°E. Possue uma estrutura similar a outros recifes da região, nomeadamente
Baixo Danae (norte da Ilha da Inhaca) e Aliwal Shoal (sul de Durban em KwaZulu-Natal, África
do Sul). Estes consistem de rocha dunar conhecida como aeolianite que se formaram através da
fossilização de dunas de praia antes da mais recente subida dos níveis do mar (Ramsay, 1996).
Assim, o Baixo São João está orientado paralelamente à costa e é um extenso recife com uma
pequena bifurcação na base da zona sul do recife (Figura 1). Tem um comprimento aproximado
de 1 km e cerca de 400 m na zona mais larga. O recife começa a uma profundidade de cerca de
30 m na sua perferia até 12 m no topo.
2.2. Colecta de Dados
A colecta de dados decorreu entre 22-25 de Julho de 2015. O estudo batimétrico preliminar foi
efectuado usando um combo GPS/ecosonda Garmin GPSMap 441s e antecedeu a colecta de
dados bentónicos. Usando uma grelha pré-determinada que se sobrepôs às cartas de navegação
existentes, informação sobre a profundidade e as coordenadas geográficas foi colhida ao longo
recife e analizada usando o Software Surf 12, seguindo a metodologia descrita por Heyman et
al. (2007). A representação da estrutura do recife em 3D (Figura 1), foi posteriormente usada
para determinar os locais de amostragem.
Usando equipamento SCUBA e uma cámara digital encapsulada numa caixa estanque, fototransectos foram efectuados de modo a recolher informação sobre a composição bentónica em
zonas batimétricas e fisiognómicas, na parte central, norte e sul do recife e cobrindo igualmente
os declives interiores, exteriores e topo do recife. As fotografias foram tiradas em ângulos rectos
em relação ao substrato a uma distância constante de 93 cm, através de uma barra de
espaçamento fixa à caixa estanque. A área fotografada manteve-se, assim, constante, sendo de
0.32 m2, e a distância entre cada fotografia foi de 2-4 m, distância ditada pela pausa no sistema
de gravação da cámara fotográfica (Nikon Coolpix 4800). O percurso do transecto foi registado
usando um GPS flutuante (Garmin eTrex). As comunidades ictiológicas foram avaliadas usando
um metódo semi-quantitativo de abundância, onde as espécies observadas ao longo dos
1
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Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
mergulhos foram agrupadas em três grupos: presentes (< 5 indivíduos), comuns (6-10) e
abundantes (>10).
10 km
Figura 1. Localização, batimetria e coordenadas geográficas do Baixo São João, Reserva Marinha Parcial da Ponta do
Ouro.
2.3. Análise de Dados
Os dados foram extraídos usando a técnica de ponto de intercepção onde as imagens
fotográficas, ou foto-quadratos, foram projectadas num ecrâ de computador como imagens
JPEG usando o Software Coral Point Count with Excel extensions (CPCe) (Kohler & Gill, 2006).
O substrato ou organismos bentónicos debaixo de 10 pontos colocados aleatoriamente sobre a
imagem, foram identificados até ao nível de género, sempre que possível. O número de
intercepções em cada categoria, foi considerado directamente proporcional à área plana coberta
por essa categoria (Carleton & Done, 1995); a percentagem de cobertura foi assim calculada
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Schleyer, Pereira & Fernandes
Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
usando o software CPCe. Isto resultou em dados sobre a estrutura da comunidade bentónica
nos locais de amostragem e os dados não transformados foram subsequentemente sujeitos à
análise de similaridade, usando o software Primer (http://www.primer-e.com).
3. RESULTADOS
3.1. Comunidades Coralinas
Um total de 721 fotografias foram registadas em oito transectos (Tabela 1). Apesar de
inicialmente terem sido planeadas mais, o estado do tempo não permitiu a colecta de mais
informação. A baixa visibilidade condicionou a identificação dos organismos bentónicos para
além do nível de género, assim os dados foram extraídos e analizados até a esse nível
taxonómico.
Tabela 1. Lista de transectos efectuados no Baixo São João e número de foto-quadratos analisados em cada
transecto. N=zona Norte, C=zona central e S=zona Sul; I=zona de declive interior; T=topo do recife e O=zona de
declive exterior.
Zona do recife
NI
NT
NO
CT
CO
SI
ST
SO
No
53
150
80
54
90
88
184
22
Profundidade (m)
15-23
12-15
15-20
12-18
18-26
14-18
12-14
15-22
Em termos estruturais o recife não é muito rugoso, e apresenta pouca variação topográfica
relativamente à abundante vida (foto de capa e Figura 2). Os resultados da análise dos fotoquadratos em CPCe (Tabela 2), revelaram que a cobertura média (±DP) de algas (17.5±16.5%),
primariamente algas turfosas e encrustações coralinas, foi elevada. Os corais duros foram
predominantes com uma cobertura de 32.3±25.3%; a cobertura média dos corais moles foi de
12.8±21.9%. Montipora (13.5±19.2%), Astreopora (5.7±14.2%), Pocillopora (3.6±7.8%) e Acropora
(3.0±9.3%) foram os corais duros mais abundantes e Sinularia (8.8±20.0%), o coral mole mais
abundante. Substrato livre de organismos vivos (e.g. rocha, areia, coral morto antigo)
representaram 34.3±21.1% da superfície do recife. De facto, grande parte da superfície do recife
esteve ligeiramente coberta de areia. Pouco coral danificado, sinais de doenças or mortalidade
foram observados (obs. pess. e coral morto, CM na Tabela 2). As médias calculadas apresentam
desvios padrão elevados; isto é indicativo da relativa baixa intensidade da amostragem imposta
pelas condições meterológicas e dificuldades logísticas, bem como pelo facto de os bentos
ocorrerem de forma dispersa.
Análise adicional dos dados obtidos através do CPCe, nas diferentes zonas do recife, revelaram
pequenas nuances no que se refere à diferente abundância das principais categorias bentónicas
(Tabela 3). A análise multidimensional dos dados mostrou que as zonas do topo do recife, eram
similares, à aquelas localizadas nos declives interiores; as zonas zonas de declive exterior foram
divergentes (Figura 3). A divergência foi causada essencialmente por diferenças na abundância
de Alveopora, Montipora, Sinularia e algas (Tabela 4). De qualquer modo, os níveis de
similaridade entre todas a zonas do recife foram altos (Tabela 5).
Finalmente, para além dos bentos listados na Tabela 3, foram observados outros organismos
bentónicos no Baixo São João: o pepino-do-mar Holothuria nobilis, a anemona gigante Heteractis
3
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magnifica e o coral duro Goniopora. Apesar das esponjas terem sido agrupadas nas análises, o
género Theonella foi dominante, seguido de Jaspis e Callyspongia.
Figura 2. Vista do Baixo São João, mostrando o perfil relativamente plano (Foto: Raquel Fernandes).
Localização
▲ Norte
■ Central
▼ Sul
Figura 3. Análise multi-dimensional dos dados obtidos através de CPCe dos transectos efectuados em diferentes
zonas do recife no Baixo de São João. N=zona Norte, C=zona central e S=zona Sul; I=zona de declive interior;
T=topo do recife e O=zona de declive exterior.
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Tabela 2. Lista de organismos vivos e substracto registados nos foto-quadratos no Baixo São João, e sua
percentagem de cobertura (±DP). A informação em negrito é discutida no texto.
CATEGORIAS % cobertura
DP
CATEGORIAS
% cobertura
DP
Coral duro
Coral mole (cont.)
Acanthastrea
Lobophytum
0.4
2.8
1.1
6.9
Acropora
Rumphella
3.0
9.3
<0.1
1.5
Alveopora
Sarcophyton
1.5
10.4
1.1
6.7
Astreopora
Sinularia
5.8
14.2
8.8
20.0
Coscinaraea
Stereonephthya
<0.1
0.6
<0.1
0.6
Cyphastrea
Tubipora
<0.1
0.4
<0.1
1.1
Echinopora
1.1
7.0
Outros Cnidários
Favia
0.4
2.3
Corallomorpharia
<0.1
0.4
Favites
0.7
3.6
Bivalves
Fungia
Tridacna
<0.1
0.4
<0.1
0.8
Galaxea
<0.1
0.8
Macroalgas
Goniastrea
0.2
1.9
Macroalgae
0.1
1.1
Goniopora
Padina
<0.1
0.4
<0.1
0.4
Gyrosmilia
<0.1
0.8
Turfosas
14.6
15.5
Hydnophora
<0.1
0.8
Other
Leptoria
Diplosoma
<0.1
0.8
0.2
2.2
Montastrea
Diadema
<0.1
0.4
0.1
1.0
Montipora
13.5
19.2
Ouriços
<0.1
0.8
Mycedium
<0.1
0.4
Esponjas
0.4
3.3
Outros poritídeos
<0.1
0.8
Coral morto (CM)
Oulophyllia
0.2
1.9
CM + alga
0.1
1.5
Platygyra
0.8
4.1
CM antigo
0.8
3.0
Pocillopora
3.6
7.8
CM recente
0.6
2.5
Alga coralina
Porites
1.3
7.3
Algaecoralina
Alga
Psammocora
<0.1
0.4
2.7
0.8
algae
Rocha, areia
Turbinaria
<0.1
0.8
ubble
Outros favídeos
0.4
2.3
Rocha
21.4
17.4
Coral mole
Calhau
6.9
12.3
Anthelia
0.8
3.4
Areia
5.3
10.1
Cladiella
0.9
5.0
Não identificado
Dendronephthya
<0.1
0.8
Não identificado
1.0
2.7
5
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Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
Tabela 3. Resultados da análise CPCe dos dados extraídos dos foto-quadratos registados no Baixo São João; somente os primeiros 15 géneros/grupos são apresentados.
N=zona Norte, C=zona central e S=zona Sul; I=zona de declive interior; T=topo do recife e O=zona de declive exterior; os números entre parentesis aos os códigos dos
transectos representam o número de gáneros registados nos foto-quadratos.
NO (18)
NT (29)
NI (23)
CO (33)
CT (24)
SI (25)
ST (28)
SO (14)
Taxon
%
Taxon
%
Taxon
%
Taxon
%
Taxon
%
Taxon
%
Taxon
%
Taxon
%
Algas
36
Montipora
27
Algas
34
Algas
27
Algas
26
Algas
38
Sinularia
23
Montipora
36
Alveopora
23
Algas
21
Astreopora
20
Montipora
18
Montipora
24
Astreopora
19
Montipora
23
Algas
34
Astreopora
16
Sinularia
13
Montipora
17
Sinularia
13
Sinularia
13
Montipora
18
Algas
23
Esponjas
7
Montipora
6
Acropora
9
Acropora
4
Astreopora
11
Pocillopora
7
Sinularia
6
Pocillopora
8
Acropora
7
Sinularia
6
Pocillopora
6
Echinopora
4
Porites
7
Acropora
6
Pocillopora
3
Acropora
6
Pocillopora
4
Pocillopora
4
Astreopora
4
Porites
4
Echinopora
6
Astreopora
4
Acropora
2
Astreopora
5
Astreopora
2
Porites
3
Sarcophyton
3
Sinularia
3
Sarcophyton
3
Cladiella
4
Anthelia
2
Lobophytum
2
Favia
2
Sarcophyton
2
Lobophytum
3
Pocillopora
3
Lobophytum
2
Favites
2
Favites
2
Anthelia
1
Goniastrea
2
Platygyra
1
Cladiella
3
Outros favídeos
2
Pocillopora
2
Platygyra
2
Sarcophyton
1
Acanthastrea
1
Porites
2
Favites
1
Platygyra
2
Favites
1
Cladiella
2
Porites
2
Platygyra
1
Cladiella
1
Sinularia
2
1
Sarcophyton
<1
Favites
<1
Echinopora
<1
Porites
1
Outros
1
Anthelia
1
Outros favídeos
2
Porites
Lobophytum
<1
Anthelia
1
Platygyra
1
Favites
1
Lobophytum
2
Echinopora
<1
Echinopora
<1
Montastrea
<1
Anthelia
<1
Echinopora
1
Alveopora
<1
Oulophyllia
1
Echinopora
1
Diplosoma
<1
Platygyra
<1
Platygyra
<1
Acanthastrea
<1
Favia
1
Goniastrea
<1
Favia
Outros favídeos
<1
Esponjas
<1
Sarcophyton
<1
<1
Outros
<1
6
Schleyer, Pereira & Fernandes
Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
Tabela 4. Resultados da análise CPCe dos dados extraídos dos foto-quadratos registados no Baixo São João
agrupados de acordo com a separação feita na análise MDS; somente os primeiros 15 géneros/grupos são
apresentados. N=zona Norte, C=zona central e S=zona Sul; I=zona de declive interior; T=topo do recife e O=zona
de declive exterior. A informação em negrito é discutida no texto.
Declive exterior
Topo
Declive interior
N
O
S
Taxon
Montipora
%
25
Taxon
Algas
%
36
Taxon
Algas
%
36
Taxon
Algas
%
27
Taxon
Montipora
%
36
Algas
Sinularia
23
Astreopora
19
Alveopora
23
Montipora
18
Algas
34
16
Montipora
17
Astreopora
16
Sinularia
13
7
Pocillopora
7
Sinularia
5
Montipora
6
Astreopora
11
Esponjas
Acropora
6
Acropora
7
Acropora
3
Sinularia
5
Porites
7
Pocillopora
4
Astreopora
4
Pocillopora
3
Pocillopora
4
Echinopora
6
Astreopora
2
Cladiella
3
Echinopora
2
Porites
3
Sarcophyton
3
Favia
2
Lobophytum
2
Porites
2
Sarcophyton
2
Lobophytum
2
Goniastrea
2
Platygyra
2
Favites
2
Platygyra
1
Pocillopora
2
Porites
2
Sarcophyton
1
Anthelia
1
Favites
1
Cladiella
2
Sinularia
2
Favites
1
Outros favídeos
1
Echinopora
<1
Anthelia
1
Favites
<1
Porites
1
Platygyra
1
Lobophytum
<1
Favites
1
Montastrea
<1
Echinopora
1
Outros
<1
Anthelia
<1
Oulophyllia
Platygyra
<1
Anthelia
1
Sarcophyton
<1
Acanthastrea
<1
Favia
Sarcophyton
<1
1
<1
Tabela 5. Níveis de similaridade entre as diferentes zonas de recife no Baixo São João geradas pela análise SIMPER
do software Primer. N=zona Norte, C=zona central e S=zona Sul; I=zona de declive interior; T=topo do recife e
O=zona de declive exterior.
NO
NT
NI
CO
CT
SI
ST
NT
48.14
NI
69.70
60.46
CO
59.12
73.26
72.99
CT
51.98
86.43
68.71
74.09
SI
72.18
64.25
84.57
73.35
67.95
ST
47.67
83.25
60.90
71.13
83.16
64.01
SO
51.73
67.49
66.38
56.92
68.94
64.92
63.21
3.2. Comunidades Ictiológicas
Um total de 97 espécies de peixes de recife, em 30 famílias, foram observadas (Anexo 1). Destas,
a grande maioria (64.9% equivalente a 63 espécies) ocorreram em baixa densidade (inferior a 5
indivíduos observados por mergulho), 14 espécies foram classificadas como comuns (6-10
indivíduos) e 20 espécies como abundantes (> 10 indivíduos). O relativo número baixo de
espécies identificadas reflete a baixa intensidade de amostragem causada pelas condições
meteorológicas e logísticas. A ictiofauna do Baixo São João é constituída essencialmente por
espécies do Indo-Pacífico, onde as famílias com maior riqueza específica foram Labridae,
Chaetodontidae e Acanthuridae com 15, 12 e oito espécies respectivamente (Tabela 6).
Exemplares de tamanho relativamente grande (>30 cm) foram comumente observados
includindo espécies de interesse comercial além de predadores de topo como a garoupa batata
(Epinephelus tukula) e várias espécies de tubarões e raias (Figura 4), o que dá uma boa indicação
do estado de conservação da ictiofauna.
7
Schleyer, Pereira & Fernandes
Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
Tabela 6. Famílias de peixes com maior riquesa específica, Baixo São João.
Família
Labridae
Chaetodontidae
Acanthuridae
Pomacentridae
Serranidae
Balistidae
Pomacanthidae
Nr espécies
15
12
8
7
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Figura 4. Predadores de topo (Nebrius ferrugineus e Epinephelus tukula) observados no Baixo São João. Fotos:
Raquel Fernandes e Marcos Pereira.
4. DISCUSSÃO
Apesar de o Baixo São João ser uma massiva estrutura submarina, o recife por si só apresenta
um perfil muito baixo e oferece pouca variação topográfica à vida que existe e sustenta. Dois
estudos quantitativos relativamente aos bentos foram efectuados: o presente e o de Robertson et
al. (1996). Os resultados sugerem que que a cobertura de coral mudou durante o período em
que os dois estudos foram realizados sendo actualmente superior (45%) ao que foi reportado em
1996 (33%). Ademais, os géneros de coral duro mais abundantes no recife (Acropora, Astreopora,
Montipora, Pocillopora) são conhecido pelo seu rápido crescimento. Assim, é possível, que a
abundância de coral no Baixo São João varie com a a flutuação das populações que pode estar
associada vulnerabilidade deste recife de baixa topografia à elevada turbulência, tubidez e
substancial movimento de areia. Evidências desta dinâmica local podem ser encontradas nas
fortes correntes que passam pelo recife, a distribuição alargada de sedimento na sua superfície e
a ausência de géneros frágeis de coral. Os corais duros Blastomussa, Leptoseris, Seriatopora,
Stylophora e certos fungídeos; e dentre os corais moles, Heteroxenia e Xenia, constituem exemplos
de corais frágeis, ausentes neste recife mas relativamente comuns em recifes mais abrigados da
região.
Recifes localizados imediatamente à sul e mais perto da costa possuem maior cobertura e
diversidade de corais. A título de exemplo, uma cobertura ≥65% foi registada em Techobanine
(Pereira, 2003) e em recifes na África do Sul (Schleyer, 2000), onde foram registados 55 géneros
comparivamente aos 34 no Baixo São João. Sem dúvida que uma maior diversidade de corais
seria encontrada no Baixo São João com a realização de mais estudos, no entanto, deve-se ter em
conta que a variabilidade de habitats no recife é pequena. Ademais, as condições ambientais
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Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
prevalescentes no recife impediriam a sua colonização pelos géneros frágeis mencionados
anteriormente.
Com base nestes factos, não parece haver mérito para a elevação do nível de protecção do Baixo
São João num santuário. No entanto, outros factores precisam de ser considerados. O Baixo
Danae, localizado aproximadamente 50 km à Norte, é similar em muitos aspectos ao Baixo São
João, mas é muito mais acessível e está debaixo de uma grande pressão de pesca (Pereira & van
der Elst, 2014) e mergulho (dados não publicados; obs. pess.). Aliwal Shoal, por sua vez,
localiza-se a 500 km à Sul e está assim, abaixo dos limites latitudinais para o óptimo crescimento
de corais. Está incluído numa área marinha protegida, mas suporta uma elevada pressão de
mergulho e sofreu virtualmente um colapso de sobre-pesca antes de receber estatuto de
protecção (Olbers et al., 2009).
Assim, o Baixo São João possui atributos únicos na região. As suas comunidades de coral e
peixes, apesar de não serem tão ricas como as dos recifes menos profundos e junto à costa, estão
em boas condições. O recife está localizado numa zona remota e não foram observados sinais de
danos durante o estudo; parece estar naturalmente protegido de distúrbio humano. Estando
localizado numa zona profunda, estará por ventura protegido até certo ponto do fluxo de águas
mais quentes direccionadas para terra, que está associado às mudanças climáticas; isto deverá
providenciar em certa medida alguma protecção contra o branqueamento dos corais (Graham et
al., 2015). Os corais localizados em recifes desta natureza mais profundos, tendem a ser mais
fecundos (Holstein et al., 2015) e o Baixo São João poderá servir de refúgio de reprodução de
corais, para os recifes localizados mais à Sul. Outro aspecto a considerer é que o recife encontrase localizado perto do posto de fiscalização de Milibangalala, o que poderá facilitar o seu
controlo se declarado santuário.
Finalmente, poderá ser um ponto de referência extremante útil para estudos comparativos se for
protegido. Isto poderá parecer uma razão mundana para a sua proteção, mas o valor de tais
locais normalmente é pouco apreciado. Muitas vezes é difícil perceber se mudanças que
ocorrem em locais debaixo de uso humano, são derivadas da acção antropogénica ou eventos
naturais; assim, locais como o Baixo São João poderão providenciar evidências decisivas nesta
matéria se protegidos.
Em conclusão, existem certamente razões para a elevação do estatuto de protecção do Baixo São
João na forma de um santuário.
5. AGRADECIMENTOS
Este estudo foi financiado pela Peace Parks Foundation. Apoio durante o trabalho de campo foi
providenciado por Mark “Spigles” Eardley e Filimone Javane. Apoio logístico foi providenciado
pela Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro e Anvil Bay Lodge em Chemucane. Oceana
Diving gentilmente providenciou equipamento de mergulho e a análise de dados no Software
Primer foi efectuada pelo Dr Sean Porter.
6. REFERÊNCIAS
Carleton, J. H. & T. J. done (1995). Quantitative video sampling of coral reef benthos: large-scale
application. Coral Reefs, 14: 35-46.
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Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
Graham, N. A. J., S. Jennings M. A. MacNeil, D. Mouillot, & S. K. Wilson (2015). Predicting
climate-driven regime shifts versus rebound potential in coral reefs. Nature, 518: 94-97.
Heyman, W. D., J. B. Ecochard & F. B. Biasi (2007). Low-cost bathymetric mapping tool for
tropical marine conservation - A focus on reef fish spawning aggregation sites. Marine
Geodesy, 30: 37-50.
Holstein, D. M., T. B. Smith, J. Gyory & C. B. Paris (2015). Fertile fathoms: deep reproductive
refugia for threatened shallow corals. Scientific Reports 5: 12407; doi: 10.1038/srep12407.
Kohler, K. E. & S. M. Gill (2006). Coral Point Count with Excel extensions (CPCe): A Visual Basic
program for the determination of coral and substrate coverage using random point
count methodology. Computers and Geosciences, 32: 1259-1269.
Olbers, J. M., L. Celliers, & M. H. Schleyer (2009). Zonation of benthic communities on the
subtropical Aliwal shoal, durban, Kwazulu-Natal, South Africa. African Zoology 44: 823.
Pereira, M. A. M. (2003). Recreational scuba diving and reef conservation in southern
Mozambique, 109 pp. MSc thesis. Durban, University of Natal.
Pereira, M. & R. van der Elst (2014). Recreational and sport fishing in Maputo bay. In: Bandeira,
S. & J. Paula (eds). The Maputo bay ecosystem. 341-344 pp. Zanzibar Town, WIOMSA.
Pereira, M. A. M., R. S. Fernandes & C. M. M. Louro (2015). Monitoring of reef communities at
the Ponta do Ouro Partial Marine Reserve: Preliminary reef assessment at the northern
section, 6 pp. Maputo, CTV.
Ramsay, P. J. (1996). Quaternary marine geology of the Sodwana Bay continental shelf,
northern Kwazulu-Natal. Bulletin of the Geological Survey of South Africa, 117: 1-86.
Robertson, W. D., M. H. Schleyer, P. J. Fielding, B. J. Tomalin, L. E. Beckley, S. T. Fennessy, R. P.
van der Elst, S. Bandeira, A. Macia & D. Gove (1996). Inshore marine resources and
associated opportunities for development of the coast of southern Mozambique: Ponta
do Ouro to Cabo de Santa Maria. Oceanographic Research Institute Unpublished Report,
130: 1-51.
Schleyer, M. H. (2000). South African coral communities. In: McClanahan, T., C. Sheppard &
D. Obura (eds.). Coral reefs of the Indian Ocean: their ecology and conservation, 83-105
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Wilkinson, C. (ed.) (2008). Status of coral reefs of the world: 2008, 298 pp. Townsville, Global
Coral Reef Monitoring Network and Reef and Rainforest Research Centre.
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Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO
7. ANEXOS
Anexo 1. Abundância relativa de peixes de recife observados no Baixo São João. + =
presente (1-5 indivíduos); ++ comum (6-10) e +++ abundante (+10).
Acanthuridae
Acanthurus leucosternon +
Acanthurus mata +
Acanthurus tennenti +
Acanthurus thompsoni +
Ctenochaetus strigosus +
Naso hexacanthus +++
Naso lituratus +
Paracanthurus hepatus +
Dasyatidae
Himantura gerrardi +
Taeniura melanospilos +
Aulostomidae
Aulostomos chinensis +
Grammistidae
Grammistes sexlineatus+
Balistidae
Balistapus undulatus +
Balistoides conspicillum +
Odonus niger +++
Sufflamen bursa+
Sufflamen chrysopterus +
Xanthichtyhs auromarginatus+
Haemulidae
Plectorhinchus flavomaculatus ++
Plectorhinchus playfairi+
Caesionidae
Caesio caerularea++
Caesio xanthonota+++
Istiophoridae
Istiophorus platypterus+
Carangidae
Caranx melampygus +
Carcharhinidae
Carcharhinus amblyrhynchos+
Carcharhinus melanopterus+
Chaetodontidae
Chaetodon auriga +
Chaetodon guttatissimus ++
Chaetodon kleinii +++
Chaetodon lineolatus+
Chaetodon lunula +++
Chaetodon madagaskariensis++
Chaetodon meyeri ++
Chaetodon unimaculatus+++
Chaetodon vagabundus +++
Forcipiger flavissimus ++
Hemitaurichthys zoster +++
Heniochus acuminatus ++
Cirrhitidae
Cirrhitichthys oxycephalus+++
Paracirrhites arcatus +
Paracirrhites forsteri ++
Ginglymostomatidae
Nebrius ferrugineus+
Gobiidae
Nemateleotris magnifica +
Holocentridae
Sargocentron caudimaculatum ++
Sargocentron diadema +
Labridae
Anampses caeruleopunctatus +
Anampses meleagrides ++
Bodianus bilunulatus +++
Bodianus diana +
Cirrhilabrus exquisitus +
Coris caudimacula +++
Coris formosa+
Halichoeres hortulanus +
Hemigymnus fasciatus +
Labroides bicolor +
Labroides dimidiatus +++
Novaculichthys taeniourus+
Scarus ghobban +++
Scarus rubroviolaceus +++
Thalassoma hebraicum +
Lethrinidae
Lethrinus lentjan +++
Lethrinus nebulosus +++
Lutjanidae
Aprion virescens +
Paracaesio sordida+
Monacanthidae
Cantherines pardalis +
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Pomacentrus caeruleus ++
Mullidae
Parupneus bifasciatus ++
Parupneus cyclostomus +
Parupneus rubescens +
Muraenidae
Gymnothorax favagineus +
Gymnothorax javanicus+
Pinguipedidae
Parapercis punctulata ++
Pomacanthidae
Apolemichthys trimaculatus +
Centropyge acanthops+++
Centropyge multispinis+++
Pomacanthus imperator+
Pomacanthus rhomboides+
Pomacentridae
Amphiprion allardi +
Chromis dimidiata +++
Chromis lepidolepis +
Chromis nigrura +
Dascyllus trimaculatus ++
Plectroglyphidodon leucozonus +
Pseudochromidae
Pseudochromis dutoiti +
Scombridae
Scomberomorus commerson +
Serranidae
Aethaloperca rogaa +
Anthias squamipinnis +++
Cephalopholis miniata +
Epinephelus fasciatus +
Epinephelus tukula +
Variola louti +
Settleback coral rockcod +
Sparidae
Diplodus cervinus hottentotus +
Tetraodontidae
Arothron nigropunctatus +
Canthigaster valentini
+
Zanclidae
Zanclus canescens +
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