Avaliação das comunidades coralinas e ictiologi
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Avaliação das comunidades coralinas e ictiologi
AVALIAÇÃO DAS COMUNIDADES CORALINAS E ICTIOLÓGICAS DO BAIXO SÃO JOÃO, RESERVA MARINHA PARCIAL DA PONTA DO OURO Relatório de Investigação No 7 Por Michael H. Schleyer, PhD. Marcos A M Pereira, MSc. Raquel S Fernandes, MSc. Submitido e implementado com o apoio de: Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro e Peace Parks Foundation Maputo, Novembro 2015 Centro Terra Viva - Estudos e Advocacia Ambiental Ouro Reserva Marinha Parcial da Ponta do O Centro Terra Viva (CTV) e a Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (RMPPO), assinaram em Setembro de 2013 um Memorando de Entendimento (MdE) com vista ao desenvolvimento de actividades relacionadas com investigação e monitoria de espécies e ecossistemas na RMPPPO, promovendo a sua protecção e conservação. A presente publicação resulta de actividades desenvolvidas no âmbito deste MdE. Centro Terra Viva (CTV) and the Ponta do Ouro Partial Marine Reserve (POPMR) have established in September 2013 a Memorandum of Understanding (MoU) in order to develop several activities related to research and monitoring of species and ecosystems within the POPMR, promoting their protection and conservation. The present publication is a result of activities undertaken under the MoU. Citação Sugerida: Schleyer, M. H., M. A. M. Pereira & R. S. Fernandes (2015). Avaliação das comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro. Relatório de Investigação No 7: 11 pp. Maputo, CTV. Capa: Imagem típica do Baixo São João, com elevada cobertura de corais e topografia relativamente plana. Foto: Raquel Fernandes. Direitos Reservados Direitos de autor aplicam-se a esta obra. Esta publicação seja por inteiro ou em partes, não poderá ser reproduzida independentemente do formato ou meio, seja electrónico, mecânico ou óptico, para qualquer propósito, sem a devida autorização expressa, por escrito, do Director Geral do Centro Terra Viva. Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO RESUMO O Baixo São João é um maciço rochoso localizado na secção norte da Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro, sul de Moçambique. Um estudo das comunuidades bentónicas e ictiológicas foi conduzido em Julho de 2015 para investigar o mérito de se elevar o estatudo de proteção do recife, num santuário. Este envolveu a análise de intercepção de pontos em transectos de fotoquadratos registados nas zonas sul, centro e norte do recife, includindo a zona topo, e declives interiores e exteriores. Ténicas visuais semi-quantitativas foram usadas para descrever superficialmente as comunidades ictiológicas. A comunidade de coral mostrou-se relativamente rica e uniforme em todas as zonas do recife, mas sem nenhuma espécie única ou especialmente vulnerável. Os corais duros dominaram com uma cobertura média de 32.3%; a cobertura média dos corais moles foi de 12.8%. Um total de 97 espécies de peixes de recife, em 30 famílias, foram observadas. Exemplares de tamanho relativamente grande (>30 cm) eram comuns includindo espécies de interesse comercial, além de predatores de topo como a garoupa batata (Epinephelus tukula) e várias espécies de tubarões e raias, o que dá uma boa indicação do estado de conservação da ictiofauna. Muito poucos danos aos corais foram observados e, apesar de não possuir atributos especiais, o recife necessita de protecção adicional, baseado em: i) está localizado numa zona remota, com pouca interferência humana; ii) está localizado relativamente longe da costa em águas profundas, o que o protege de muitos potenciais efeitos das mudanças climáticas; poderá providenciar um refúgio de reproducção de coral para a repopulação de recifes localizados mais a Sul; e iii) poderá servir de base de referência, muito útil para estudos comparativos futuros. Adicionalmente, está localizado perto do posto de fiscalização de Milibangalala, o que poderá facilitar o seu controlo. ABSTRACT Baixo São João is a rocky massif in the northern section of the Ponta do Ouro Partial Marine Reserve, southern Mozambique. A benthic and fish survey was conducted on the reef in July 2015 to investigate the merits of protecting it within a sanctuary. This involved point intercept analysis of photo-quadrat transects recorded in the northern, central and southern parts of the reef on the reef top and its inshore and offshore slopes. Semi-quantitative, visual tecniques were used to superficially describe the fish community. The coral community on the reef proved to be relatively rich and uniform within all reef zones, but with no unique or over-vulnerable species. Hard corals were predominant with a mean cover of 32.3%; the mean cover of soft corals was 12.8%. A total of 97 species of reef fish, in 30 families, were observed. Relatively large specimens (>30 cm) were common, including species of commercial importance, as well as top predators such as the potato bass (Epinephelus tukula) and several species of sharks and rays, which gives a good indication of the status of the fish fauna. Little coral damage was evident and, despite not having any special attributes, the reef would warrant protection based on the following premises: i) it is remote, rendering human interference unlikely; ii) it is located offshore in deeper water, protecting it from many of the potential effects of climate change; it could provide a coral breeding refuge for replenishment of more southern reefs; and iii) it would provide a useful reference site for baseline and comparative studies. Furthermore, it is close to the ranger post at Milibangalala which could facilitate compliance. ii Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO ÍNDICE RESUMO…………………………………………………………………………………………..... ii ABSTRACT…………………………………………………………………………………………. ii 1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………………….. 1 2. MATERIAIS E METÓDOS…………………………………………...………………………… 1 2.1. Área de Estudo……………………………………………………………………………... 2.2. Colecta de Dados………………………………………………………………………….... 2.3. Análise de Dados…………………………………………………………………………… 1 1 2 3. RESULTADOS…………………………………………………………………………………... 3.1. Comunidades Coralinas…………………………………………………………………… 3.2. Comunidades Ictiológicas…………………………………………………………………. 3 3 7 4. DISCUSSÃO……………………………………………………………………………………... 8 5. AGRADECIMENTOS…………………………………………………………………………... 9 6. REFERÊNCIAS………………………………………………………………………………….. 9 7. ANEXOS……………………………………………………………………………………......... 11 iii Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO 1. INTRODUÇÃO Os recifes de coral estão em declínio a nível global, largamente devido a várias causas antropogénicas (Wilkinson, 2008). Os recifes são ricos em biodiversidade que atraem o desenvolvimento do turismo, mergulho e pesca e tornando-os assim, num valioso recurso para as comunidades locais e sector recreativo. O Baixo São João localiza-se na secção norte da Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro, a cerca de 15 milhas naúticas da Ilha da Inhaca. Em 1996, uma avaliação superficial, levada a cabo no âmbito de um estudo sobre o potencial de desenvolvimento da zona sul de Moçambique, revelou através de métodos visuais, que a cobertura bentónica média era de 33% (Robertson et al., 1996). Através de um levantamento recente da biodiversidade do recife, Pereira et al . (2015) observaram que este havia melhorado substancialmente, recomendando que fosse feita uma avaliação mais detalhada. Assim, o presente estudo foi efectuado, para investigar se o recife merece um regime de protecção adicional na forma de santuário, dado estar localizado numa zona remota e não estar sujeito a uma elevada pressão humana. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Área de Estudo O Baixo de São João é um maciço rochoso localizado aproximadamente a 4 km da costa sul de Moçambique, na Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro, entre as coordenadas 26.351°S 26.363°S e ~32.974°E. Possue uma estrutura similar a outros recifes da região, nomeadamente Baixo Danae (norte da Ilha da Inhaca) e Aliwal Shoal (sul de Durban em KwaZulu-Natal, África do Sul). Estes consistem de rocha dunar conhecida como aeolianite que se formaram através da fossilização de dunas de praia antes da mais recente subida dos níveis do mar (Ramsay, 1996). Assim, o Baixo São João está orientado paralelamente à costa e é um extenso recife com uma pequena bifurcação na base da zona sul do recife (Figura 1). Tem um comprimento aproximado de 1 km e cerca de 400 m na zona mais larga. O recife começa a uma profundidade de cerca de 30 m na sua perferia até 12 m no topo. 2.2. Colecta de Dados A colecta de dados decorreu entre 22-25 de Julho de 2015. O estudo batimétrico preliminar foi efectuado usando um combo GPS/ecosonda Garmin GPSMap 441s e antecedeu a colecta de dados bentónicos. Usando uma grelha pré-determinada que se sobrepôs às cartas de navegação existentes, informação sobre a profundidade e as coordenadas geográficas foi colhida ao longo recife e analizada usando o Software Surf 12, seguindo a metodologia descrita por Heyman et al. (2007). A representação da estrutura do recife em 3D (Figura 1), foi posteriormente usada para determinar os locais de amostragem. Usando equipamento SCUBA e uma cámara digital encapsulada numa caixa estanque, fototransectos foram efectuados de modo a recolher informação sobre a composição bentónica em zonas batimétricas e fisiognómicas, na parte central, norte e sul do recife e cobrindo igualmente os declives interiores, exteriores e topo do recife. As fotografias foram tiradas em ângulos rectos em relação ao substrato a uma distância constante de 93 cm, através de uma barra de espaçamento fixa à caixa estanque. A área fotografada manteve-se, assim, constante, sendo de 0.32 m2, e a distância entre cada fotografia foi de 2-4 m, distância ditada pela pausa no sistema de gravação da cámara fotográfica (Nikon Coolpix 4800). O percurso do transecto foi registado usando um GPS flutuante (Garmin eTrex). As comunidades ictiológicas foram avaliadas usando um metódo semi-quantitativo de abundância, onde as espécies observadas ao longo dos 1 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO mergulhos foram agrupadas em três grupos: presentes (< 5 indivíduos), comuns (6-10) e abundantes (>10). 10 km Figura 1. Localização, batimetria e coordenadas geográficas do Baixo São João, Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro. 2.3. Análise de Dados Os dados foram extraídos usando a técnica de ponto de intercepção onde as imagens fotográficas, ou foto-quadratos, foram projectadas num ecrâ de computador como imagens JPEG usando o Software Coral Point Count with Excel extensions (CPCe) (Kohler & Gill, 2006). O substrato ou organismos bentónicos debaixo de 10 pontos colocados aleatoriamente sobre a imagem, foram identificados até ao nível de género, sempre que possível. O número de intercepções em cada categoria, foi considerado directamente proporcional à área plana coberta por essa categoria (Carleton & Done, 1995); a percentagem de cobertura foi assim calculada 2 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO usando o software CPCe. Isto resultou em dados sobre a estrutura da comunidade bentónica nos locais de amostragem e os dados não transformados foram subsequentemente sujeitos à análise de similaridade, usando o software Primer (http://www.primer-e.com). 3. RESULTADOS 3.1. Comunidades Coralinas Um total de 721 fotografias foram registadas em oito transectos (Tabela 1). Apesar de inicialmente terem sido planeadas mais, o estado do tempo não permitiu a colecta de mais informação. A baixa visibilidade condicionou a identificação dos organismos bentónicos para além do nível de género, assim os dados foram extraídos e analizados até a esse nível taxonómico. Tabela 1. Lista de transectos efectuados no Baixo São João e número de foto-quadratos analisados em cada transecto. N=zona Norte, C=zona central e S=zona Sul; I=zona de declive interior; T=topo do recife e O=zona de declive exterior. Zona do recife NI NT NO CT CO SI ST SO No 53 150 80 54 90 88 184 22 Profundidade (m) 15-23 12-15 15-20 12-18 18-26 14-18 12-14 15-22 Em termos estruturais o recife não é muito rugoso, e apresenta pouca variação topográfica relativamente à abundante vida (foto de capa e Figura 2). Os resultados da análise dos fotoquadratos em CPCe (Tabela 2), revelaram que a cobertura média (±DP) de algas (17.5±16.5%), primariamente algas turfosas e encrustações coralinas, foi elevada. Os corais duros foram predominantes com uma cobertura de 32.3±25.3%; a cobertura média dos corais moles foi de 12.8±21.9%. Montipora (13.5±19.2%), Astreopora (5.7±14.2%), Pocillopora (3.6±7.8%) e Acropora (3.0±9.3%) foram os corais duros mais abundantes e Sinularia (8.8±20.0%), o coral mole mais abundante. Substrato livre de organismos vivos (e.g. rocha, areia, coral morto antigo) representaram 34.3±21.1% da superfície do recife. De facto, grande parte da superfície do recife esteve ligeiramente coberta de areia. Pouco coral danificado, sinais de doenças or mortalidade foram observados (obs. pess. e coral morto, CM na Tabela 2). As médias calculadas apresentam desvios padrão elevados; isto é indicativo da relativa baixa intensidade da amostragem imposta pelas condições meterológicas e dificuldades logísticas, bem como pelo facto de os bentos ocorrerem de forma dispersa. Análise adicional dos dados obtidos através do CPCe, nas diferentes zonas do recife, revelaram pequenas nuances no que se refere à diferente abundância das principais categorias bentónicas (Tabela 3). A análise multidimensional dos dados mostrou que as zonas do topo do recife, eram similares, à aquelas localizadas nos declives interiores; as zonas zonas de declive exterior foram divergentes (Figura 3). A divergência foi causada essencialmente por diferenças na abundância de Alveopora, Montipora, Sinularia e algas (Tabela 4). De qualquer modo, os níveis de similaridade entre todas a zonas do recife foram altos (Tabela 5). Finalmente, para além dos bentos listados na Tabela 3, foram observados outros organismos bentónicos no Baixo São João: o pepino-do-mar Holothuria nobilis, a anemona gigante Heteractis 3 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO magnifica e o coral duro Goniopora. Apesar das esponjas terem sido agrupadas nas análises, o género Theonella foi dominante, seguido de Jaspis e Callyspongia. Figura 2. Vista do Baixo São João, mostrando o perfil relativamente plano (Foto: Raquel Fernandes). Localização ▲ Norte ■ Central ▼ Sul Figura 3. Análise multi-dimensional dos dados obtidos através de CPCe dos transectos efectuados em diferentes zonas do recife no Baixo de São João. N=zona Norte, C=zona central e S=zona Sul; I=zona de declive interior; T=topo do recife e O=zona de declive exterior. 4 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO Tabela 2. Lista de organismos vivos e substracto registados nos foto-quadratos no Baixo São João, e sua percentagem de cobertura (±DP). A informação em negrito é discutida no texto. CATEGORIAS % cobertura DP CATEGORIAS % cobertura DP Coral duro Coral mole (cont.) Acanthastrea Lobophytum 0.4 2.8 1.1 6.9 Acropora Rumphella 3.0 9.3 <0.1 1.5 Alveopora Sarcophyton 1.5 10.4 1.1 6.7 Astreopora Sinularia 5.8 14.2 8.8 20.0 Coscinaraea Stereonephthya <0.1 0.6 <0.1 0.6 Cyphastrea Tubipora <0.1 0.4 <0.1 1.1 Echinopora 1.1 7.0 Outros Cnidários Favia 0.4 2.3 Corallomorpharia <0.1 0.4 Favites 0.7 3.6 Bivalves Fungia Tridacna <0.1 0.4 <0.1 0.8 Galaxea <0.1 0.8 Macroalgas Goniastrea 0.2 1.9 Macroalgae 0.1 1.1 Goniopora Padina <0.1 0.4 <0.1 0.4 Gyrosmilia <0.1 0.8 Turfosas 14.6 15.5 Hydnophora <0.1 0.8 Other Leptoria Diplosoma <0.1 0.8 0.2 2.2 Montastrea Diadema <0.1 0.4 0.1 1.0 Montipora 13.5 19.2 Ouriços <0.1 0.8 Mycedium <0.1 0.4 Esponjas 0.4 3.3 Outros poritídeos <0.1 0.8 Coral morto (CM) Oulophyllia 0.2 1.9 CM + alga 0.1 1.5 Platygyra 0.8 4.1 CM antigo 0.8 3.0 Pocillopora 3.6 7.8 CM recente 0.6 2.5 Alga coralina Porites 1.3 7.3 Algaecoralina Alga Psammocora <0.1 0.4 2.7 0.8 algae Rocha, areia Turbinaria <0.1 0.8 ubble Outros favídeos 0.4 2.3 Rocha 21.4 17.4 Coral mole Calhau 6.9 12.3 Anthelia 0.8 3.4 Areia 5.3 10.1 Cladiella 0.9 5.0 Não identificado Dendronephthya <0.1 0.8 Não identificado 1.0 2.7 5 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO Tabela 3. Resultados da análise CPCe dos dados extraídos dos foto-quadratos registados no Baixo São João; somente os primeiros 15 géneros/grupos são apresentados. N=zona Norte, C=zona central e S=zona Sul; I=zona de declive interior; T=topo do recife e O=zona de declive exterior; os números entre parentesis aos os códigos dos transectos representam o número de gáneros registados nos foto-quadratos. NO (18) NT (29) NI (23) CO (33) CT (24) SI (25) ST (28) SO (14) Taxon % Taxon % Taxon % Taxon % Taxon % Taxon % Taxon % Taxon % Algas 36 Montipora 27 Algas 34 Algas 27 Algas 26 Algas 38 Sinularia 23 Montipora 36 Alveopora 23 Algas 21 Astreopora 20 Montipora 18 Montipora 24 Astreopora 19 Montipora 23 Algas 34 Astreopora 16 Sinularia 13 Montipora 17 Sinularia 13 Sinularia 13 Montipora 18 Algas 23 Esponjas 7 Montipora 6 Acropora 9 Acropora 4 Astreopora 11 Pocillopora 7 Sinularia 6 Pocillopora 8 Acropora 7 Sinularia 6 Pocillopora 6 Echinopora 4 Porites 7 Acropora 6 Pocillopora 3 Acropora 6 Pocillopora 4 Pocillopora 4 Astreopora 4 Porites 4 Echinopora 6 Astreopora 4 Acropora 2 Astreopora 5 Astreopora 2 Porites 3 Sarcophyton 3 Sinularia 3 Sarcophyton 3 Cladiella 4 Anthelia 2 Lobophytum 2 Favia 2 Sarcophyton 2 Lobophytum 3 Pocillopora 3 Lobophytum 2 Favites 2 Favites 2 Anthelia 1 Goniastrea 2 Platygyra 1 Cladiella 3 Outros favídeos 2 Pocillopora 2 Platygyra 2 Sarcophyton 1 Acanthastrea 1 Porites 2 Favites 1 Platygyra 2 Favites 1 Cladiella 2 Porites 2 Platygyra 1 Cladiella 1 Sinularia 2 1 Sarcophyton <1 Favites <1 Echinopora <1 Porites 1 Outros 1 Anthelia 1 Outros favídeos 2 Porites Lobophytum <1 Anthelia 1 Platygyra 1 Favites 1 Lobophytum 2 Echinopora <1 Echinopora <1 Montastrea <1 Anthelia <1 Echinopora 1 Alveopora <1 Oulophyllia 1 Echinopora 1 Diplosoma <1 Platygyra <1 Platygyra <1 Acanthastrea <1 Favia 1 Goniastrea <1 Favia Outros favídeos <1 Esponjas <1 Sarcophyton <1 <1 Outros <1 6 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO Tabela 4. Resultados da análise CPCe dos dados extraídos dos foto-quadratos registados no Baixo São João agrupados de acordo com a separação feita na análise MDS; somente os primeiros 15 géneros/grupos são apresentados. N=zona Norte, C=zona central e S=zona Sul; I=zona de declive interior; T=topo do recife e O=zona de declive exterior. A informação em negrito é discutida no texto. Declive exterior Topo Declive interior N O S Taxon Montipora % 25 Taxon Algas % 36 Taxon Algas % 36 Taxon Algas % 27 Taxon Montipora % 36 Algas Sinularia 23 Astreopora 19 Alveopora 23 Montipora 18 Algas 34 16 Montipora 17 Astreopora 16 Sinularia 13 7 Pocillopora 7 Sinularia 5 Montipora 6 Astreopora 11 Esponjas Acropora 6 Acropora 7 Acropora 3 Sinularia 5 Porites 7 Pocillopora 4 Astreopora 4 Pocillopora 3 Pocillopora 4 Echinopora 6 Astreopora 2 Cladiella 3 Echinopora 2 Porites 3 Sarcophyton 3 Favia 2 Lobophytum 2 Porites 2 Sarcophyton 2 Lobophytum 2 Goniastrea 2 Platygyra 2 Favites 2 Platygyra 1 Pocillopora 2 Porites 2 Sarcophyton 1 Anthelia 1 Favites 1 Cladiella 2 Sinularia 2 Favites 1 Outros favídeos 1 Echinopora <1 Anthelia 1 Favites <1 Porites 1 Platygyra 1 Lobophytum <1 Favites 1 Montastrea <1 Echinopora 1 Outros <1 Anthelia <1 Oulophyllia Platygyra <1 Anthelia 1 Sarcophyton <1 Acanthastrea <1 Favia Sarcophyton <1 1 <1 Tabela 5. Níveis de similaridade entre as diferentes zonas de recife no Baixo São João geradas pela análise SIMPER do software Primer. N=zona Norte, C=zona central e S=zona Sul; I=zona de declive interior; T=topo do recife e O=zona de declive exterior. NO NT NI CO CT SI ST NT 48.14 NI 69.70 60.46 CO 59.12 73.26 72.99 CT 51.98 86.43 68.71 74.09 SI 72.18 64.25 84.57 73.35 67.95 ST 47.67 83.25 60.90 71.13 83.16 64.01 SO 51.73 67.49 66.38 56.92 68.94 64.92 63.21 3.2. Comunidades Ictiológicas Um total de 97 espécies de peixes de recife, em 30 famílias, foram observadas (Anexo 1). Destas, a grande maioria (64.9% equivalente a 63 espécies) ocorreram em baixa densidade (inferior a 5 indivíduos observados por mergulho), 14 espécies foram classificadas como comuns (6-10 indivíduos) e 20 espécies como abundantes (> 10 indivíduos). O relativo número baixo de espécies identificadas reflete a baixa intensidade de amostragem causada pelas condições meteorológicas e logísticas. A ictiofauna do Baixo São João é constituída essencialmente por espécies do Indo-Pacífico, onde as famílias com maior riqueza específica foram Labridae, Chaetodontidae e Acanthuridae com 15, 12 e oito espécies respectivamente (Tabela 6). Exemplares de tamanho relativamente grande (>30 cm) foram comumente observados includindo espécies de interesse comercial além de predadores de topo como a garoupa batata (Epinephelus tukula) e várias espécies de tubarões e raias (Figura 4), o que dá uma boa indicação do estado de conservação da ictiofauna. 7 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO Tabela 6. Famílias de peixes com maior riquesa específica, Baixo São João. Família Labridae Chaetodontidae Acanthuridae Pomacentridae Serranidae Balistidae Pomacanthidae Nr espécies 15 12 8 7 7 6 5 Figura 4. Predadores de topo (Nebrius ferrugineus e Epinephelus tukula) observados no Baixo São João. Fotos: Raquel Fernandes e Marcos Pereira. 4. DISCUSSÃO Apesar de o Baixo São João ser uma massiva estrutura submarina, o recife por si só apresenta um perfil muito baixo e oferece pouca variação topográfica à vida que existe e sustenta. Dois estudos quantitativos relativamente aos bentos foram efectuados: o presente e o de Robertson et al. (1996). Os resultados sugerem que que a cobertura de coral mudou durante o período em que os dois estudos foram realizados sendo actualmente superior (45%) ao que foi reportado em 1996 (33%). Ademais, os géneros de coral duro mais abundantes no recife (Acropora, Astreopora, Montipora, Pocillopora) são conhecido pelo seu rápido crescimento. Assim, é possível, que a abundância de coral no Baixo São João varie com a a flutuação das populações que pode estar associada vulnerabilidade deste recife de baixa topografia à elevada turbulência, tubidez e substancial movimento de areia. Evidências desta dinâmica local podem ser encontradas nas fortes correntes que passam pelo recife, a distribuição alargada de sedimento na sua superfície e a ausência de géneros frágeis de coral. Os corais duros Blastomussa, Leptoseris, Seriatopora, Stylophora e certos fungídeos; e dentre os corais moles, Heteroxenia e Xenia, constituem exemplos de corais frágeis, ausentes neste recife mas relativamente comuns em recifes mais abrigados da região. Recifes localizados imediatamente à sul e mais perto da costa possuem maior cobertura e diversidade de corais. A título de exemplo, uma cobertura ≥65% foi registada em Techobanine (Pereira, 2003) e em recifes na África do Sul (Schleyer, 2000), onde foram registados 55 géneros comparivamente aos 34 no Baixo São João. Sem dúvida que uma maior diversidade de corais seria encontrada no Baixo São João com a realização de mais estudos, no entanto, deve-se ter em conta que a variabilidade de habitats no recife é pequena. Ademais, as condições ambientais 8 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO prevalescentes no recife impediriam a sua colonização pelos géneros frágeis mencionados anteriormente. Com base nestes factos, não parece haver mérito para a elevação do nível de protecção do Baixo São João num santuário. No entanto, outros factores precisam de ser considerados. O Baixo Danae, localizado aproximadamente 50 km à Norte, é similar em muitos aspectos ao Baixo São João, mas é muito mais acessível e está debaixo de uma grande pressão de pesca (Pereira & van der Elst, 2014) e mergulho (dados não publicados; obs. pess.). Aliwal Shoal, por sua vez, localiza-se a 500 km à Sul e está assim, abaixo dos limites latitudinais para o óptimo crescimento de corais. Está incluído numa área marinha protegida, mas suporta uma elevada pressão de mergulho e sofreu virtualmente um colapso de sobre-pesca antes de receber estatuto de protecção (Olbers et al., 2009). Assim, o Baixo São João possui atributos únicos na região. As suas comunidades de coral e peixes, apesar de não serem tão ricas como as dos recifes menos profundos e junto à costa, estão em boas condições. O recife está localizado numa zona remota e não foram observados sinais de danos durante o estudo; parece estar naturalmente protegido de distúrbio humano. Estando localizado numa zona profunda, estará por ventura protegido até certo ponto do fluxo de águas mais quentes direccionadas para terra, que está associado às mudanças climáticas; isto deverá providenciar em certa medida alguma protecção contra o branqueamento dos corais (Graham et al., 2015). Os corais localizados em recifes desta natureza mais profundos, tendem a ser mais fecundos (Holstein et al., 2015) e o Baixo São João poderá servir de refúgio de reprodução de corais, para os recifes localizados mais à Sul. Outro aspecto a considerer é que o recife encontrase localizado perto do posto de fiscalização de Milibangalala, o que poderá facilitar o seu controlo se declarado santuário. Finalmente, poderá ser um ponto de referência extremante útil para estudos comparativos se for protegido. Isto poderá parecer uma razão mundana para a sua proteção, mas o valor de tais locais normalmente é pouco apreciado. Muitas vezes é difícil perceber se mudanças que ocorrem em locais debaixo de uso humano, são derivadas da acção antropogénica ou eventos naturais; assim, locais como o Baixo São João poderão providenciar evidências decisivas nesta matéria se protegidos. Em conclusão, existem certamente razões para a elevação do estatuto de protecção do Baixo São João na forma de um santuário. 5. AGRADECIMENTOS Este estudo foi financiado pela Peace Parks Foundation. Apoio durante o trabalho de campo foi providenciado por Mark “Spigles” Eardley e Filimone Javane. Apoio logístico foi providenciado pela Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro e Anvil Bay Lodge em Chemucane. Oceana Diving gentilmente providenciou equipamento de mergulho e a análise de dados no Software Primer foi efectuada pelo Dr Sean Porter. 6. REFERÊNCIAS Carleton, J. H. & T. J. done (1995). Quantitative video sampling of coral reef benthos: large-scale application. Coral Reefs, 14: 35-46. 9 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO Graham, N. A. J., S. Jennings M. A. MacNeil, D. Mouillot, & S. K. Wilson (2015). Predicting climate-driven regime shifts versus rebound potential in coral reefs. Nature, 518: 94-97. Heyman, W. D., J. B. Ecochard & F. B. Biasi (2007). Low-cost bathymetric mapping tool for tropical marine conservation - A focus on reef fish spawning aggregation sites. Marine Geodesy, 30: 37-50. Holstein, D. M., T. B. Smith, J. Gyory & C. B. Paris (2015). Fertile fathoms: deep reproductive refugia for threatened shallow corals. Scientific Reports 5: 12407; doi: 10.1038/srep12407. Kohler, K. E. & S. M. Gill (2006). Coral Point Count with Excel extensions (CPCe): A Visual Basic program for the determination of coral and substrate coverage using random point count methodology. Computers and Geosciences, 32: 1259-1269. Olbers, J. M., L. Celliers, & M. H. Schleyer (2009). Zonation of benthic communities on the subtropical Aliwal shoal, durban, Kwazulu-Natal, South Africa. African Zoology 44: 823. Pereira, M. A. M. (2003). Recreational scuba diving and reef conservation in southern Mozambique, 109 pp. MSc thesis. Durban, University of Natal. Pereira, M. & R. van der Elst (2014). Recreational and sport fishing in Maputo bay. In: Bandeira, S. & J. Paula (eds). The Maputo bay ecosystem. 341-344 pp. Zanzibar Town, WIOMSA. Pereira, M. A. M., R. S. Fernandes & C. M. M. Louro (2015). Monitoring of reef communities at the Ponta do Ouro Partial Marine Reserve: Preliminary reef assessment at the northern section, 6 pp. Maputo, CTV. Ramsay, P. J. (1996). Quaternary marine geology of the Sodwana Bay continental shelf, northern Kwazulu-Natal. Bulletin of the Geological Survey of South Africa, 117: 1-86. Robertson, W. D., M. H. Schleyer, P. J. Fielding, B. J. Tomalin, L. E. Beckley, S. T. Fennessy, R. P. van der Elst, S. Bandeira, A. Macia & D. Gove (1996). Inshore marine resources and associated opportunities for development of the coast of southern Mozambique: Ponta do Ouro to Cabo de Santa Maria. Oceanographic Research Institute Unpublished Report, 130: 1-51. Schleyer, M. H. (2000). South African coral communities. In: McClanahan, T., C. Sheppard & D. Obura (eds.). Coral reefs of the Indian Ocean: their ecology and conservation, 83-105 pp. New York, Oxford University Press. Wilkinson, C. (ed.) (2008). Status of coral reefs of the world: 2008, 298 pp. Townsville, Global Coral Reef Monitoring Network and Reef and Rainforest Research Centre. 10 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO 7. ANEXOS Anexo 1. Abundância relativa de peixes de recife observados no Baixo São João. + = presente (1-5 indivíduos); ++ comum (6-10) e +++ abundante (+10). Acanthuridae Acanthurus leucosternon + Acanthurus mata + Acanthurus tennenti + Acanthurus thompsoni + Ctenochaetus strigosus + Naso hexacanthus +++ Naso lituratus + Paracanthurus hepatus + Dasyatidae Himantura gerrardi + Taeniura melanospilos + Aulostomidae Aulostomos chinensis + Grammistidae Grammistes sexlineatus+ Balistidae Balistapus undulatus + Balistoides conspicillum + Odonus niger +++ Sufflamen bursa+ Sufflamen chrysopterus + Xanthichtyhs auromarginatus+ Haemulidae Plectorhinchus flavomaculatus ++ Plectorhinchus playfairi+ Caesionidae Caesio caerularea++ Caesio xanthonota+++ Istiophoridae Istiophorus platypterus+ Carangidae Caranx melampygus + Carcharhinidae Carcharhinus amblyrhynchos+ Carcharhinus melanopterus+ Chaetodontidae Chaetodon auriga + Chaetodon guttatissimus ++ Chaetodon kleinii +++ Chaetodon lineolatus+ Chaetodon lunula +++ Chaetodon madagaskariensis++ Chaetodon meyeri ++ Chaetodon unimaculatus+++ Chaetodon vagabundus +++ Forcipiger flavissimus ++ Hemitaurichthys zoster +++ Heniochus acuminatus ++ Cirrhitidae Cirrhitichthys oxycephalus+++ Paracirrhites arcatus + Paracirrhites forsteri ++ Ginglymostomatidae Nebrius ferrugineus+ Gobiidae Nemateleotris magnifica + Holocentridae Sargocentron caudimaculatum ++ Sargocentron diadema + Labridae Anampses caeruleopunctatus + Anampses meleagrides ++ Bodianus bilunulatus +++ Bodianus diana + Cirrhilabrus exquisitus + Coris caudimacula +++ Coris formosa+ Halichoeres hortulanus + Hemigymnus fasciatus + Labroides bicolor + Labroides dimidiatus +++ Novaculichthys taeniourus+ Scarus ghobban +++ Scarus rubroviolaceus +++ Thalassoma hebraicum + Lethrinidae Lethrinus lentjan +++ Lethrinus nebulosus +++ Lutjanidae Aprion virescens + Paracaesio sordida+ Monacanthidae Cantherines pardalis + 11 Schleyer, Pereira & Fernandes Comunidades coralinas e ictiológicas do Baixo São João, RMPPO Pomacentrus caeruleus ++ Mullidae Parupneus bifasciatus ++ Parupneus cyclostomus + Parupneus rubescens + Muraenidae Gymnothorax favagineus + Gymnothorax javanicus+ Pinguipedidae Parapercis punctulata ++ Pomacanthidae Apolemichthys trimaculatus + Centropyge acanthops+++ Centropyge multispinis+++ Pomacanthus imperator+ Pomacanthus rhomboides+ Pomacentridae Amphiprion allardi + Chromis dimidiata +++ Chromis lepidolepis + Chromis nigrura + Dascyllus trimaculatus ++ Plectroglyphidodon leucozonus + Pseudochromidae Pseudochromis dutoiti + Scombridae Scomberomorus commerson + Serranidae Aethaloperca rogaa + Anthias squamipinnis +++ Cephalopholis miniata + Epinephelus fasciatus + Epinephelus tukula + Variola louti + Settleback coral rockcod + Sparidae Diplodus cervinus hottentotus + Tetraodontidae Arothron nigropunctatus + Canthigaster valentini + Zanclidae Zanclus canescens + 12