04 Exegese academica
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04 Exegese academica
Jörg Garbers METODOLOGIA EXEGÉTICA DO AT PASSOS DE EXEGESE 1 LEITURA • • • 2 Em voz alta Repetidamente Com entonação certa PRIMEIRA APROXIMAÇÃO Pegue um papel, feche a tua bíblia depois da primeira leitura e anote as seguintes itens: • • • • 3 COMPARAÇÃO DE TRADUÇÕES DIFERENTES • • • • 4 Sentimentos (imagine os sentimentos das pessoas envolvidas e anote os sentimentos teus que acordaram durante a leitura) Associações (lembranças, imagens, palavras, textos bíblicos, filmes, músicas, etc. que surgiram na tua cabeça durante a primeira leitura do texto) Perguntas (tudo que você gostaria saber ou não compreendeu) O que impressionou (aquilo que ficou na cabeça depois que você fechou a Bíblia, aquilo que te surpreendeu) De preferência pegue pelo menos três traduções diferentes da língua portuguesa. Se dominares outras línguas estrangeiras consulte a tradução do texto também nestas versões. Trabalhe de forma bem detalhada e observa as pequenas mudanças que a escolha de palavras diferentes causa. Formule perguntas a partir da comparação que te ajudem ficar atento na própria tradução. PRIMEIRA TRADUÇÃO: LITERAL A primeira tradução devia ser o mais possível literal, mesmo se o estilo em português não é o melhor, porém devia ser um português inteligível. Mantém nos verbos especialmente pessoa, número, gênero, tempo e modo de ação. Cuido dos artigos e demais detalhes do texto original. 5 CRÍTICA TEXTUAL (CT) 5.1 DEFINIÇÃO E TAREFA DA CRÍTICA TEXTUAL A CT procura iluminar a história do texto desde a versão canônica final (não existente) até as cópias em nossas mãos. A CT tenta a avaliar as variantes existentes e aproximar se assim ao texto “original”. 5.2 PASSOS DA CRÍTICA TEXTUAL 5.2.1 CONSTATAR AS VARIANTES • • • Constatar as variantes usando o texto da BHS Escrever cada variante em extenso. Traduzir cada variante. 5.2.2 AVALIAR AS VARIANTES 5.2.2.1 CRITÉRIOS EXTERNOS • • • A idade dos manuscritos (preferir antigos) A distribuição geográfica dos manuscritos (preferir manuscritos de ampla distribuição) A independência e dependências dos manuscritos observar 5.2.2.2 CRITÉRIOS INTERNOS • • • • • Lectio difficilior é preferível (estilo / linguagem / teologia) Lectio brevior é preferível Variantes que concordam em estilo e teologia com o provável autor Leituras não harmonizadas com textos bíblicos paralelos Que variante explica melhor as demais 5.2.2.3 EXPLICAR A ORIGEM DAS VARIANTES Através dos possíveis mudanças conscientes e inconscientes tente explicar a partir da versão que achas a mais original explicar as demais. Quais mudanças podem existir? 5.2.2.3.1 MUDANÇAS INCONSCIENTES • • • Erro de auditivo o Troca de letras com sons semelhantes o Haplografia (junção de sons semelhantes) o Ditografia (separação de sons semelhantes) Erro visual o Paráblepsis (o autor pula uma linha) Homoioteleuton (linhas consecutivas terminam de forma igual) Homoioarchon (linhas consecutivas começam de forma igual) o Confusão de letras semelhantes no hebraico (ד, ר/ ה, ח, )ת Erro mental (cansaço) o Metátese (transposição de letras) o Omissões o Substituições o Inversões 5.2.2.3.2 MUDANÇAS CONSCIENTES o o Correções de ortografia, gramática, estilo, geográficos, teológicos Glosa: Acréscimos explicativos 5.2.3 DECIDIR-SE POR UMA VARIANTE Finalmente é necessário decidir-se por uma variante. Essa versão do texto então vai ser trabalhado durante toda a exegese. 6 CRÍTICA LITERÁRIA (CL) 6.1 DEFINIÇÃO DA CRÍTICA LITERÁRIA: A CL procura iluminar a delimitação, estrutura e história do texto desde a primeira versão por escrita até a versão final. A CL pressupõe que o texto pode ter uma história anterior, que pode ser detectado, e que um texto ou um livro pode ser composto de várias fontes, que podem ser distinguidas. 6.2 TAREFAS DA CRÍTICA LITERÁRIA: 6.2.1 DELIMITAÇÃO DO TEXTO: ACHAR A PERÍCOPE 6.2.1.1 CRITÉRIOS GERAIS: • • Coesão Mudanças 6.2.1.2 CRITÉRIOS PARA ACHAR O INÍCIO OU O FIM DE UMA PERÍCOPE • • • • • • • • • Mudança de tempo Mudança de localidade Mudança de personagens ou chegada de novas personagens Mudança de assunto Mudança de destinatários Título inserido pelo autor Mudança de estilo (Poesia / Prosa) Comentários redacionais Sumários 6.2.2 ESTUDAR A ESTRUTURA DO TEXTO 6.2.2.1 DIVIDIR O TEXTO EM SCENAS A unidade selecionada na delimitação do texto agora é dividida em cenas pequenas. 6.2.2.2 FORMAS ESPECÍFICAS / RELAÇÃO DAS PARTES 6.2.2.2.1 PARALELISMO: o o o Sintético Antitético Sinônimo 6.2.2.2.2 SIMETRIAS o o Quiasmo Estruturas concêntricas 6.2.3 ESTUDAR A INTEGRIDADE DO TEXTO Esse passo avalia a possibilidade, se o texto em questão forma uma unidade literária ou está composto de fontes diferentes, antigamente separadas. 6.2.3.1 AVALIAÇÃO ATRAVES DE CRITÉRIOS COMO: • • • • • • • • • Estilo Forma Conteúdo Duplicações / Repetições Contradições Tensões Quebras e mudanças abruptas etc.: o Verbos (pessoa / gênero / número) o Destinatários o Adjetivos o Tema o Localidade Acréscimos Glosas 6.2.3.2 FORMULAR UMA HIPÓTESE DE SOLUÇÃO: • • • • Fontes escritas diversas? Fontes orais diversas? Estilo antigo apenas e assim feito de forma intencional? Redacional? 7 7.1 CRÍTICA DA TRADIÇÃO (CTR) DEFINIÇÃO DA CRÍTICA DA TRADIÇÃO O termo tem duas conotações e definições bem distintas na literatura, que até se misturam e confundem facilmente. • A CTr estuda a história de uma perícope antes da sua primeira forma por escrita. Ela tenta iluminar a transmissão oral de uma certa perícope. • A CTr estuda as tradições de uma perícope (motivos, idéias, temas etc.) Muitas vezes a segunda tarefa está sendo entendida como o fundamento da primeira. 7.2 • • • • • • TAREFAS DA CRÍTICA DA TRADIÇÃO Comparar a perícope em questão com textos e materiais semelhantes (bíblico ou extra-bíblico). Tentar explicar semelhanças e diferenças a partir de estágios cronologicamente diferentes. Reconhecer motivos, idéias, temas, tópicos, etc. que perpassam a perícope e se encontram também em outros textos bíblicos ou textos contemporâneos. Estudar cada texto de forma detalhada para detectar semelhanças e diferenças. Explicar as observações de forma teológica e traditiva. A finalidade é de entender melhor o surgimento da perícope e compreender melhor a teologia, o conteúdo e o propósito que está por trás da perícope. 8 CRÍTICA DA REDAÇÃO (CR) 8.1 DEFINIÇÃO A CR parte dos textos finais delimitados pela CL e estuda o processo da compilação dos textos até a versão canônica dos livros. Com esse passo se completa a história dos textos na língua original que nós temos na mão. 8.1.1 TAREFAS E CRITÉRIOS DA CR 8.1.1.1 DETECTAR COMENTÁRIOS REDACIONAIS E COSTURAS: ISSO É MAIS FÁCIL QUANDO SE TEM VERSÕES DIFERENTES DA MESMA HISTÓRIA. COMO ISSO NORMALMENTE NÃO OCORRE NO AT PRECISAMOS SABER O QUE UM REDATOR PODE FAZER COM O MATERIAL QUE ELE TEM NA MÃO. O REDATOR USUALMENTE PODE ATUAR EM QUATRO ÁREAS: • • • • A escolha do material tradicional A estruturação geral da obra A moldura (costura) A modificação do material tradicional Os seguintes critérios podem ajudar: • • • Correções o Estilísticas o Gramaticais o Lingüísticas o Omissões o Abreviações de fontes o De conteúdo Acréscimos o explicações o outras tradições o ditos errantes o ditos tradicionais o relatos complementares o “palavra – gancho” o conexões hermenêuticas de textos independentes o sumários o indicações geográficas e topográficas o fórmulas (cumprimento) o referências bibliográficas o Motivos condutores (Leitmotive) o títulos e subtítulos Transposições o De imagem o De textos tradicionais o Deslocamentos ou inversões 8.1.1.2 INVESTIGAR A COLOCAÇÃO LITERÁRIA DA MENOR UNIDADE ATÉ A OBRA COMPLETA, CUIDANDO DO CONTEXTO PRÓXIMO, CONTEXTO REMOTO, DO PLANO E DO ESCOPO, VERIFICANDO A INSERÇÃO DE CADA SEÇÃO (PERÍCOPE → SUBSEÇÃO → SEÇÃO → PARTE → OBRA) 8.1.1.3 EXPLICAR A REDAÇÃO OU COM OUTRAS PALAVRAS TENTAR A COMPREENDER O PROPÓSITO E A INTENÇÃO TEOLÓGICA E A PARTICULARIDADE DO REDATOR (ORIGEM / DATA / ETC.) 9 CRÍTICA DA FORMA (CF) 9.1 DEFINIÇÃO A CF estuda as fórmulas lingüísticas e a forma de um texto para detectar a qual gênero literário ele pertence. Com esse estudo quer se descobrir o “lugar vivencial” e a intenção do texto. Alerta: Não existe uma nomenclatura clara e unificada no âmbito da teologia. Cada autor uso os seu próprio vocabulário. 9.2 DEFINIÇÕES BÁSICAS PARA A CF: • Fórmulas: expressões comuns, conjunto de palavras empregados por textos diferentes. A análise das fórmulas faz parte da CTr. • Formas: O perfil lingüístico de um texto, a soma das características estilísticas, sintáticas e estruturais. • Gênero: Textos com as mesmas características formais formam um gênero literário. • “Sitz im Leben” – “Lugar vivencial”: Uma situação que serve para empregar certa narrativa ou certo discurso. A situação em geral é repetível, institucionalizada em circunstâncias típicas. Um “Sitz im Leben” pode gerar vários gêneros literários. O mesmo Gênero pode ser empregado em vários “Lugares vivenciais”. O lugar vivencial é diferente do lugar histórico da origem dos acontecimentos. 9.3 TAREFAS E CRITÉRIOS DA CF 9.3.1 ESTUDAR A FORMA DE UM TEXTO • • • • • • Poesia ou prosa Discurso direto ou indireto Tempo dos verbos Tipos de frases usadas (retórica / condicionais / concessivas / etc.) Sujeitos gramaticais Conteúdo central 9.3.2 DEFINIR A QUAL GÊNERO PERTENCE UM TEXTO • • Narrativa o Sagas o Lendas o História o Mito o Novela o Etc. Discurso o Parábola o Comparação o Ditos proféticos • • • • • • o Mandamentos o Exortação o Consolo o Etc. Listas Genealogias Descrições Hinos Orações Lamentações o Etc. 9.3.3 DESCOBRIR O SEU “LUGAR VIVENCIAL” (VAI SEMPRE FICAR HIPOTÉTICO) • • • • Quem é a pessoa que fala / escreve? Quem são os ouvintes / leitores? Que atmosfera é determinante na situação? Que reação é intencionada? 9.3.4 VERIFICAR A INTENCIONALIDADE DO TEXTO (VAI SEMPRE FICAR HIPOTÉTICO) • • • • • • Função expressiva (emotiva) Função diretiva (conativa) Função referencial (informativa) Função poética Função de contato Etc. É importante diferenciar entre a intencionalidade explícita e implícita e entre a intencionalidade genérica e especifica. Perguntas que podiam ajudar conforme Egger: • Narrativas: o Com que pessoas do texto simpatiza o texto mesmo? o Em que medida o texto explicita a que leitor se dirige? o Que possibilidades de solução propõe o texto acerca de determinadas problemas da comunidade (ou do leitor)? o Com que pessoas simpatiza (ou se identifica) o leitor? • Discurso o Quais são os dados explícitos do texto acerca da finalidade do falar/escrever? o Que instruções diretas ou indiretas para o pensamento e a ação dos leitores aparecem no texto? o Em que medida emergem problemas nas relações entre o autor e o leitor? o Que valores propõe o texto ao leitor? 10 ANÁLISE DO CONTEÚDO (AC) 10.1 DEFINIÇÃO A análise do conteúdo pretende mergulhar no conteúdo da passagem bíblica. Ela é considerada o coração da exegese. Perguntas a serem respondidas: • • • Que conteúdos apresenta o texto? Que significados tinham estes conteúdos na época da sua formulação? Qual é a intenção do texto? 10.2 TAREFA DA AC 10.2.1 ANÁLISE LINGÜÍSTICA – SINTÁTICA • • • • • • Análise da palavras sob aspecto gramatical (substantivos, verbos, etc.) Conexão (conjunções) Coordenativas Subordinativas Estilo Estrutura e disposição 10.2.2 ANÁLISE HISTÓRICA • • • • • • • Dados geográficos Dados sociais Dados econômicos Dados políticos Dados culturais Dados religiosos Dados das personagens 10.2.3 ANÁLISE SEMÂNTICA • • • Das palavras o Escolher as palavras chaves o Procurar na chave bíblica hebraica o Conferir os VV. o Tentar parafrasear o texto em questão o Verificar no dicionário e complementar com através das informações do dicionário o Conclusão Da frase Do texto 10.2.4 ANÁLISE DO EIXO E DA INTENÇÃO • • Qual é o/os conteúdo/os conteúdos principal/principais do texto? Qual é a intenção do autor? o O que o conteúdo do texto procura ressaltar? o Que objetivos persegue com aquilo que destaca? o A favor do que ou de quem toma partido? o O que ou quem defende? o Contra o que ou quem toma partido? o O que ou quem critica? o Que razões apresenta o conteúdo do texto para tomar a sua opção? o Com base em que a fundamenta? 10.2.5 ANÁLISE TEOLOGICA • Quais temas teológicas são presente no texto o Classificar os temas o A contribuição do texto para esses temas 11 ATUALIZAÇÃO DO TEXTO (AT) 11.1 DEFINIÇÃO DA AT A AT procura conectar o texto com o leitor / ouvinte atual, ela pretende ensinar e edificar a comunidade e a cada individuo da comunidade em seu contexto atual. 11.2 TAREFAS 11.2.1 ENSINO TEOLOGICO • • • Os temas teológicos detectadas no passo anterior precisam ser comparados e atualizados a partir de outros textos bíblicos. Precisa se verificar a contribuição dos outros textos do AT e NT (diferenças e semelhanças). Formular teses ou ensinos sólidos a partir do texto. 11.2.2 OBSERVAR ÂNGULOS DIFERENTES • • É importante que o exegeta tenha em mente outras pessoas que podiam ler ou ouvir a sua exegese, para que ele não apenas interpreta ou ensina da sua posição particular. Grupos possíveis que podiam ser imaginados o Diferentes classes sociais o Pessoas de origem diferentes o Etnias diferentes o Sexo diferente do exegeta o Contexto vivencial social (casados / solteiros / divorciados ou separados / crianças / pais / deficientes / etc.) 11.2.3 APLICAÇÃO PRÁTICA • • • Aplicação pessoal (O que aprendi? O que posso mudar nos meus conceitos intelectuais e na minha prática?) Aplicação individual (O que cada membro da comunidade pode aprender e praticar?) Aplicação institucional (O que muda a partir desse texto para a comunidade ou instituição? Precisamos mudar conceitos teológicos? Precisamos iniciar algo? ....)