Irmãos espíritas! Na conquista dos conhecimentos

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Irmãos espíritas! Na conquista dos conhecimentos
ESOTERISMO
Irmãos espíritas! Na conquista dos conhecimentos indispensáveis, ao nosso desenvolvimento espiritual, é
necessário um maior esclarecimento sobre as Filosofias referidas na questão 628 de O Livro dos Espíritos. Nessas
Filosofias são tratados assuntos de nossos interesses imediatos, apesar de ainda não serem compreendidos por
aqueles que se dizem espíritas.
A necessidade de que falo surge da compreensão que tenho sobre o comportamento de meus irmãos, que
são impulsivos em sua “vontade de servir”. Esta impulsividade leva-os até, à leviandade.
O assunto exige responsabilidade, portanto, meu irmão, não saia desesperado em busca de livros esotéricos,
pois os autores ou ainda, os tradutores de muitos livros consideram que seus leitores possuem a necessária maturidade para se envolverem nesses assuntos, por isso não se preocupam em alertá-los sobre os riscos que a conduta
inadequada pode oferecer. Estou falando de riscos, inclusive de vida. O iniciado deve, em primeiro lugar, desenvolver a paciência, pois sem ela não é possível nenhum progresso, portanto, ele jamais agirá por impulso. Ele somente
agirá quando já detém o conhecimento racional sobre a ação a ser executada. Ele já compreende os detalhes
daquilo que irá fazer ou experimentar.
Algumas escolas recomendam o uso de plantas alucinógenas. Escolas que recomendam esse caminho devem
ser evitadas, por mais sedutora que seja. O uso de substâncias psicotrópicas, quando acompanhada de um Mestre,
um Mestre verdadeiro, podem auxiliar o discípulo, porém, a agressão recebida é desvantajosa para ele. Agora,
com o uso racional da Doutrina Espírita que, unida às descobertas da Ciência Acadêmica, tornam essas práticas
totalmente obsoletas. O Caminho a ser seguido, pelo moderno iniciado, deverá obedecer às conquistas destas duas
Escolas de pesquisas.
Não estou alertando-o com o intuito de amedrontá-lo. O perigo existe e o afoito pagará caro por todo ato de
irresponsabilidade. Nunca se esqueça de que, a primeira virtude a ser desenvolvida, exigência de todas as Escolas,
é a paciência. Veja um acontecimento trágico que serve para aclarar o que digo:
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Um “Guru” já famoso, com destaque suficiente para levá-lo aos dois mais importantes programas de entrevistas
dos Estados Unidos, foi preso e acusado de homicídio culposo pela morte de três pessoas que ocorreram em
consequência de um retiro espiritual, dirigido por ele, no Centro de Retiros de Angel Valley, no Estado do Arizona, a 180
km de Phoenix. A notícia infeliz foi publicada nos principais jornais do mundo. Você pode obter maiores informações
pela internet, e é bom obtê-las.
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Como se pode constatar com este trágico episódio, o afoito corre perigo e coloca em risco a saúde e a vida
daqueles que confiam em sua “Sabedoria”, além de colocar em rico a si mesmo.
Agora veremos algumas armadilhas que surgem da conduta irresponsável dos afoitos. Vejamos alguns relatos
de Waldo Vieira contidos no livro: Projeções da Consciência. Vejamos inicialmente o que o levou a escrevê-lo.
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(...) “Obviamente, não tendo nada para esconder, optei pela última alternativa, com o beneplácito dos Amparadores
que me apresentaram sugestões irresistíveis: obter informes, transmitir conclusões, grafar tudo o que pensasse,
sentisse, visse, o que recordasse das excursões instrutivas fora do corpo físico, que receberia assistência nos registros. ...
Envio daqui o preito de reconhecimento público aos amparadores, co-autores deste volume, especialmente a
Transmentor, André Luiz, Eurípedes Barsanulfo, José Grosso, Aura Celeste, Aristina, Prof. Aléx, Tao-Mao, Maria Clara,
e tantos outros que não desejam se identificar, e que no decurso do tempo têm-me levado consigo daqui para ali, a
reboque nas excursões assistenciais, qual lastro pesado de prestabilidade duvidosa”.
Projeções da Consciência, Editora Lake — Waldo Vieira, págs. 7 e 10.
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Agora veremos o primeiro exemplo de armadilha existente no mundo espiritual que podem destruir os rumos
do iniciado incauto.
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1 — As Transfigurações — 13 de Julho de 1979, sexta-feira. ...
E o desejo intenso de projetar-me fora do físico teve êxito. Senti a consciência vívida num lugar à meia-luz, mas
era noite. Experimentava a sensação de estar na condição de um projetor-penetra, em extenso anfiteatro com muitas
pessoas dispersas. Ao sair flutuando pelo espaço, embora sem ter asas, bem acima da abertura do anfiteatro, a minha
presença e a volitação rápida chamaram a atenção de entidades desencarnadas.
Um espírito de mulher, com inconfundíveis intenções sensuais, fez propostas mentais, exibindo o corpo espiritual desnudo. Fiz um afastamento cordial, mas alguma coisa indefinível forçou-me a retornar ao físico. Passei pela
volta sem interiorização completa, com aproximação do físico, sensação das vibrações de novo, o período desconfortável
rápido e a nova decolagem”. ...
Projeções da Consciência, Editora Lake — Waldo Vieira, pág. 17.
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A experiência acima, descrita por Waldo Vieira, mostra um tipo de armadilha comum no mundo espiritual
inferior, e é justamente por isso que o iniciado deve aprender a controlar a si mesmo e possuir a resistência necessária, conforme alertou Platão. Recorde-se.
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“E é preciso defender esta opinião com absoluta inflexibilidade ao descer ao Hades, para que também lá não se
deixe deslumbrar pelas riquezas e pelos miseráveis objetos desta natureza; não se exponha, lançando-se sobre
tiranias ou condições afins”. ...
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O alerta de Platão deve ser considerado como fundamental. O mundo espiritual em que se projeta inicialmente o indivíduo é o Astral Inferior, um verdadeiro depósito de espíritos obsessores, que atuam em diversas áreas.
Raciocine sobre o acontecido com o Waldo, observe que, as propostas mentais da mulher que o abordou foram
intensas, o suficiente para desequilibrá-lo, este desequilíbrio determinou sua volta imediata ao corpo físico, e no
momento em que suas vibrações começaram a adaptar-se ao corpo físico, o condicionamento que determinou a
volta foi desativado, e ele pôde retornar ao Astral e continuar suas experiências. Ele teve condições de resistir ao
forte impulso sexual, raciocine sobre essa necessidade.
Agora veremos um exemplo de mau uso das informações contidas em livros esotéricos em que a vítima foi o
próprio afoito:
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2 — “Formas-Pensamentos” — “18 de Julho de 1979, quarta-feira. ...
Despertei-me fora do físico junto de alguns espíritos conhecidos em tratamento há tempos. Dentre as cinco entidades,
destacava-se um homem alto, cabelo liso e nariz aristocrático, envergando amplo xale, ao modo de capa.
Vi claramente tratar-se de um doente em convalescença, mas dotado de intensa força mental de plasmagem de
formas-pensamentos ou compostas e animadas pela vontade. Reconheci a personalidade de Carnot, amigo excêntrico
da infância em Monte Carmelo, minha cidade natal em Minas Gerais. Ali se encontrava recuperando de doença mental
prolongada através da utilização das formas-pensamentos para o bem, promovendo a diversão de espíritos carentes de
distração para se melhorarem. Era o lazer funcionando em favor da evolução espiritual.
De Carnot diziam ser pessoa que perdera a razão depois de estudar em excesso. Ele mudou bastante nas
excentricidades e na aparência. Fez algumas demonstrações com a força do pensamento, parecendo a realização
plena dos prodígios do Mandraque, o mágico. A “substância” extrafísica, sensível ao pensamento, ao espírito que sabe
manipulá-la, torna-se massa capaz de operar maravilhas de modo instantâneo. Ele arranjava roupas extravagantes
vestindo-se ou vestindo os presentes com formas-pensamentos. Criava de modo relampagueante incríveis objetos
pequenos. Fazia brotar máscaras as mais horríveis e as mais belas à frente de todos para qualquer um, a começar de
si mesmo.
As outras entidades não conseguiam formular ou plasmar objetos e formas, ao serem instadas insistentemente
por ele. O processo parecia exigir muita energia mental, concentração, pensamento único imediato, prática, atenção
aos detalhes e ambiente adequado às vibrações do espírito. Qual será a técnica de criação mental de uma duplicata do
psicossoma?
Naquela atmosfera, o Espírito Carnot domina tudo. É o peixe soberano na água, o mago absoluto da fantasia
que faz tornar realidade bruscamente as mais absconsas criações imaginativas.
Os circunstantes não ocultavam o evidente temor pela sua força. Precisei tratá-lo como antigo companheiro,
sem nenhum receio, entendendo-o, ao modo de alguém que visita um hospital de enfermos mentais e participa das
brincadeiras e criancices do interno mais alegre e travesso.
Com mil pensamentos positivos, auguro que Carnot fique recuperado logo e busque usar sua fabulosa energia
mental no campo da criatividade humana”. ...
Projeções da Consciência, Editora Lake — Waldo Vieira, págs. 20 e 21.
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Antigamente era muito comum ouvirmos relatos de pessoas que haviam enlouquecido por estudarem muito,
porém, ninguém relatava o assunto que estudavam aqueles que enlouqueciam, agora podemos compreender que
esses relatos tinham fundamento, pois, descobrimos o que estudavam.
Continuando a aproveitar as experiências de Waldo Vieira, veremos também um exemplo de ação de indivíduos, que o Mestre Jesus simbolizou com a característica canina e que deveriam ser mantidos distantes do que é
santo, para que não se voltem contra nós, e que é um exemplo de loucura que está à espreita dos incautos. Veja!
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26) “Sugestões de Investimento”
“23 de setembro de 1979, domingo. Temperatura ambiente: 22graus centígrados. Recolhi-me ao leito às 18:57
horas, em decúbito dorsal. Depois de alguns minutos, virei-me para o lado esquerdo.
A minha consciência estava plenamente desperta num distrito humano em metrópole europeia. Dentro de amplo
edifício, eu acompanhava uma entidade desencarnada que solicitou calma nas atitudes e apuro na observação do
ambiente circundante.
Atravessamos algumas dependências de escritórios e atendimento público, muito bem mobiliadas, confortáveis
e ricamente decoradas, que se mostravam desertas no momento.
Numa das salas contíguas, vimos, elegante senhor encarnado, idade avançada, aparência de extrema integridade, às voltas com documentos e às portas de imensa caixa-forte.
Na peça à esquerda das instalações do cavalheiro, outro homem, na casa dos quarenta, sozinho, sobre uma poltrona,
com as pálpebras cerradas e os braços sobre os espaldares, parecia profundamente concentrado.
Dois outros cômodos à direita eram ocupados, um por outro senhor maduro e o último por dois encarnados,
todos bem acomodados em poltronas, postados à frente de escrivaninhas, e completamente ensimesmados.
Ao atingir a visão global dos escritórios luxuosamente instalados, junto à entidade atenta e tranquila, identifiquei
as projeções nascidas das cabeças dos cavalheiros concentrados. E senti um choque emocional, contido a custo
graças às surpresas chocantes do passado, ao entender em segundos, a natureza e a extensão das atividades
daqueles homens, no horário noturno, entre um domingo e uma segunda feira, sozinhos, no silêncio absoluto, sem
nenhum assistente ou empregado do terceiro escalão. Eles estavam, nada mais, nada menos, que transmitindo
sugestões mentais intensivas a determinadas personalidades, também encarnadas, através da atuação do pensamento à distância!
As cenas nas psicosferas dos homens isolados eram iniludíveis. Um deles se concentrava com tamanho empenho que enrugava as faces congestas. E a finalidade dos esforços mentais rotineiros também surgia clara. Procuravam
induzir homens de negócios nas decisões sobre altos investimentos que possivelmente vão ser tomadas amanhã,
segunda–feira.
Atônito com a descoberta do escopo da hipnose teleguiada. Precisei aproximar-me ainda mais do senhor da
direita e à frente da poltrona onde jazia sentado. Sobre a mesa de escritório, esparramava-se vasta cópia de documentos e, sobressaia a foto grande de outro cavalheiro grisalho, desconhecido. Era a vítima, o cliente em potencial cuja
imagem surpreendentemente vinha à tona da sugestão de longe, mais sofisticada e desonesta que eu jamais pensara
existir. É a influenciação técnica de encarnados entre si, na guerra de pensamentos, com repercussões inconcebíveis
nos dois mundos. Vodu eletrônico usado na caça aos cifrões com objetivos inferiores sutis, sem qualquer intenção
pura.
Revelou-me o fato a exploração psíquica levada ao máximo grau, porque a força de atuação age sobre as
criaturas incautas ou com as mentes desprotegidas, à testa de empreendimentos ou empresas das quais depende a
sobrevivência física às vezes de milhares de pessoas.
Ainda abalado com os detalhes dos papéis, da foto e das projeções mentais, sem nem mesmo desejar aceitar
a realidade dessas inoculações mentais, provenientes das irradiações de ideias fixadas pelo homem, a minha solução
foi observar as outras duas salas e o fato, infelizmente se confirmou. A única diferença era que os dois homens de
“colarinhos brancos”, na câmara de controle dos pensamentos, evidenciavam a concentração conjunta monoideíca nos
processos de vampirização, tecendo correntes mentais imperturbáveis, sem quebra de ritmo, tentando com vontade
vigorosa modificar o tônus mental de uma só vítima.
A entidade ao lado seguia mentalmente minhas observações e descobertas considerando a extensão dos desvios humanos, quando os encarnados subvertem os recursos mais sublimes das energias do pensamento, que podem
trazer a cura e o soerguimento espiritual criando alegrias imorredouras, com a finalidade de influenciar homens de
negócios, preparando terreno para persuadir e dobrar opiniões, em busca, exclusivamente, de vantagens econômicofinanceiras, na luta pelo vil metal que sempre acabará ficando na matéria densa mesmo.
Esclareceu-me que a atmosfera corriqueira dos escritórios era um pouco mais pesada e difícil devido à invasão
de entidades caprichosas e enfermiças, obsessores potentíssimos nos jogos mentais desonestos, que “auxiliavam” os
hipnotizadores contra os hipnotizados sob controle remoto e que, na oportunidade, tinham sido temporariamente
afastados para possibilitar a nossa visita tranquila e o exame minucioso do ambiente. E rematou as ponderações:
— Respondendo às insistentes indagações, vemos aqui o obstáculo natural à generalização do fenômeno dos
desprendimentos espirituais. Já pensou o projetor que alimente essas intenções? As sugestões inferiores poderão ser
diretas e muito mais desastrosas. Contudo, ninguém engana a justiça maior. Os ressarcimentos inevitáveis podem
aparentemente demorar, mas chegam sempre. Ninguém está livre de ser vítimas das próprias obras.
Quando Mesmer, Charcot e outros luminares da história do magnetismo animal poderiam pensar num serviço
desses, tão bem sistematizados, sobre pisos tão sólidos e alicerces tão carcomidos? O caráter sigiloso e metódico
das atividades no ambiente era um fato e a seriedade do empreendimento, infelizmente, não deixa margens a dúvidas.
Os desmandos estão sendo praticados permanecendo insuspeitados e, o pior de tudo, impunes porque inalcançáveis
pelas leis humanas, cujos códigos penais e civis ainda não puderam estender parágrafos para coibir avanços de
infrações desse quilate. Por outro lado, as organizações policiais ainda não despertaram para tal realidade, estando
muito atarefadas com os assaltos comuns para cogitar o uso indevido da arma mais poderosa de todas, nas mãos dos
malfeitores, a força do pensamento mal conduzida que atinja as criaturas que alimentam as mesmas influências. É a
oportunidade de se perguntar: Qual o limite de atuação da mente? Até onde chegarão os artifícios na luta pelos
interesses humanos? Se a deliberação premeditada pode ser influenciada por encarnados, o que dizer da decisão
precipitada e da influência dos desencarnados?
Não presenciei o fato porque não acompanhei o desenrolar dos acontecimentos pela noite adentro até de
madrugada, contudo, quem, pode afirmar que um ou outro desses senhores, tão dedicados ao mister de transmitir
sugestões à distância, ali mesmo ou em sua casa, hoje ainda, noite alta, não deixará o físico e fará a persuasão direta
à mente indiferente a tais artifícios, com a transmissão no local e em condições extrafísica”?
Projeções da Consciência, Editora Lake — Waldo Vieira, págs. 94 a 96.
Creio que ninguém terá dificuldade em compreender que o processo observado trata de obsessões de
encarnados sobre encarnados. Creio também, que todos compreendem que os obsessores encarnados estão sendo vítimas de obsessões praticadas por seres poderosos do mundo das trevas. Creio também, que todos compreendem os motivos do alerta do Mestre Jesus sobre o cuidado com o que é “santo”.
Sei que muitos dos meus irmãos espíritas devem estar ressentidos comigo por causa do Manifesto, pois ainda
não compreenderam corretamente meu objetivo. Depois, quando o compreenderem, após desenvolver maior maturidade espiritual, sei que ficarão gratos.
A palavra esoterismo abriga diversas fontes de conhecimentos espirituais. Entrei em contato com essas fontes
em radical obediência ao conselho dos Espíritos, que responderam a Kardec, a questão 628 de O Livro dos
Espíritos. Antes de compreender corretamente a resposta a esta questão, nunca tive o menor interesse nesses
assuntos.
Ao meditar sobre a resposta desta questão, compreendi que tinha um grande trabalho pela frente; e também
que, de nada adiantaria reclamações ou preguiça ou ainda as tão comuns desculpas. Assim, parti em busca dos
livros necessários para o estudo. Tiver a felicidade de encontrar os mais importantes, com trabalho relativamente
pequeno, porém vasculhei os sebos por anos a fio.
Hoje, depois de ter analisado dezenas de obras, das mais diversas, sobre as principais escolas espiritualistas,
eu as classifico em dois grandes grupos: no primeiro grupo estão as Escolas Fundamentadas no princípio da Alteridade
e o outro grupo é composto pelas escolas que ignoram este princípio.
Do grupo que se fundamenta na Alteridade temos as escolas orientais e as semitas como a da Cabala e a
escola Sufi.
Daquelas que ignoram a Alteridade temos as escolas do nagualismo mexicano, as de origem africana e a da
polinésia.
De cada um desses grupos surgiram ramificações que contrariam a origem nesse item. Temos, por exemplo,
escolas com origem na Cabala que o ignoram e iremos observar que da escola mexicana, o mestre Dom Juan
ensinava a Alteridade, como veremos mais adiante.
Vejam como o assunto é difícil, sei que a maioria das pessoas não conhece o conceito da Alteridade, isso me
obriga a explicá-lo:
Alteridade é o respeito total e radical a todos os seres vivos. Todos os seres vivos representam Deus, O
Criador, pois cada ser vivo traz consigo a Emanação de Deus, todos têm uma alma.
Este respeito, assim, aparentemente tão amplo, é apenas o respeito comum que se deve ter por todos e por
tudo. Ele surge quando conseguimos compreender melhor a nós mesmos, ao analisamos as fases por que já passamos, e como fomos modificando nossas ideias e sentimentos no decorrer do tempo.
Com esta análise nos recordamos daqueles que desejaram nos auxiliar a desenvolver raciocínios mais adequados para nossa vida e o quanto, o egoísmo, a vaidade, a rebeldia e a arrogância que nos são características, nos
tornaram refratários a todo tipo de auxílio que nos ofereceram. A consequência direta dessa análise é a compreensão de que devemos respeitar as fases de desenvolvimento do raciocínio e do comportamento de todas as pessoas.
Também devemos nos recordar novamente, aqui, o conselho de Platão: “e não perdendo de vista a natureza da
alma”.... Não podemos nos esquecer, jamais, que reencarnamos incontáveis milhares de vezes, e que em nosso
passado nós agimos de modo muito pior do que aqueles, que hoje podemos observar na conduta de nossos irmãos.
Ao analisarmos a nós mesmos compreenderemos também que é impossível modificar a conduta alheia e que
nossas ideias sobre o que seja o melhor para os outros, quase sempre, se não for sempre, não é o que os outros
desejam, ou estão preparados para vivenciar. Outra consequência de tudo isso, é que devemos cuidar de nossa
própria vida, e deixarmos que cada um cuide de si mesmo.
Evidentemente não estou aqui a pregar o egoísmo ou a omissão, mas, sim, a interdição de todo ato de
imposição ou de manipulação, e para que você, meu irmão, compreenda melhor o que digo, busco o auxílio do
Mestre Jesus, de Emmanuel e de André Luiz. Veja!
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Não Julgar — Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados,
e com a medida que medis sereis medidos. Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não
percebes a trave que está no teu? Ou como poderás dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu
mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho
do teu irmão.
A Bíblia de Jerusalém, Novo Testamento e Salmos; Edições Paulinas, Mateus, cap. 7, vers. 1 ao 5, pág. 34.
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Creio que até a pessoa mais obtusa consegue compreender que o Mestre Jesus aconselha que cada um de
nós, cuide da própria vida, e deixe que cada um dos outros cuide da própria e, caso alguém deseje cuidar da vida
alheia, que tire, primeiro, a trave que obscurece sua visão, que busque, primeiro, o conhecimento, pois só assim se
pode realmente ser útil ao próximo. Este é o princípio de Alteridade. Vejamos agora Emmanuel manifestando ideia
semelhante.
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ENTENDER E AUXILIAR
As vítimas da incompreensão.
Acham-se em toda parte.
Hoje, são aqueles que recalcitram contra a verdade.
Ontem, fomos nós, quando nos comprazíamos com idênticos desajustes.
Não perca tempo com palavras estéreis.
Aceita os outros tais quais são e coloca-os em tua lista de bênçãos.
Não fomos situados á frente dos semelhantes, a fim de aperfeiçoá-los,
e sim para aperfeiçoar a nós mesmos.
Os outros, por mais errados estejam, rogam simpatia, não censura.
Compreendamos o próximo, a fim de que o próximo nos venha a compreender.
EMMANUEL
F. C. Xavier, Sinais de Rumo, Centro Espírita E. Barsanulfo, S. J. do Rio Preto.
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Agora veremos André Luiz manifestando ideia semelhante.
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ITENS DE AUXÍLIO
Respeite os problemas alheios sem interferir neles,
a menos que a sua cooperação seja solicitada.
Não pronuncie palavras que ofendam e depreciem.
Quanto possível, dê sempre alguma frase de consolo e esperança a quem sofre.
Não se faça estação de pessimismo ou desânimo.
Esqueça o mal que receba e nunca faça a cobrança do bem que tenha podido distribuir.
Não impulsione para frente qualquer questão desagradável.
O trabalho no desempenho do seu dever é o capital que lhe valoriza as orações.
Lembre-se da parcela de socorro que sempre devemos
aos companheiros mais necessitados que nós mesmos.
Quanto possível faça algo ou aprenda a ser útil
para que seu dia de hoje seja melhor que o de ontem.
Nunca se esqueça de que todas as vantagens ou benefícios
que desfrutemos da vida são empréstimos de Deus.
André Luiz
Do livro Momentos de ouro, F. C. Xavier, Editora GEEM, Grupo Espírita Os mensageiros.
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Emmanuel manifesta-se novamente com mensagem de alteridade, veja:
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LIGAÇÕES FAMILIARES
Se depois de sacrifícios inumeráveis em favor de parentes determinados,
e isso acontece frequentemente entre pais e filhos
notas, no íntimo, que a tua consciência se reconhece
plenamente quitada para com eles,
sem que esses mesmos familiares, após longo tempo
de convivência,
demonstrem o mínimo sinal de renovação para o bem,
deixa que sigam a estrada que melhor se lhes adapte ao
modo de ser,
porque as Leis da Vida não te obrigam a morrer, pouco a pouco,
a pretexto de auxiliar aos que te recusam o amor.
Emmanuel
Fragmento da mensagem recebida por F. C. Xavier, livro Calma, Editora GEEM. Ielar, S. J. do Rio Preto.
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Creio que não há mais o que discutir a respeito da necessidade de incorporação da Alteridade em nossa vida.
Sem a radical submissão a esse respeito pelo próximo, tudo se torna difícil e nosso desenvolvimento espiritual,
impossível, mesmo que o desrespeito praticado, a intromissão indevida, nos problemas alheios seja sustentada pela
ideia de servir.
Uma vez compreendido o que seja a Alteridade, veremos algumas lições esotéricas apenas para se conseguir
uma ideia a respeito e quebrar preconceitos.
As culturas do Oriente sempre receberam grande influência dos Mestres de escolas esotéricas, com isso os
povos orientais sempre observaram seus irmãos com um sentimento maior ou menor de Alteridade. O taoismo
chinês e, o budismo hindu, que no Extremo Oriente recebeu grande influência do confucionismo. Essas duas escolas
possuem também conteúdos esotéricos em que a Alteridade é fundamental, como no próprio confucionismo. Outras escolas hindus também sempre consideram a Alteridade como fundamental.
Entre as escolas semitas dá-se o mesmo. Tanto na escola da Cabala, quanto na Sufi, a Alteridade é também
um fundamento. Ou seja, repetindo: os adeptos dessas escolas, os iniciados, aprendem em primeiro lugar, a respeitar integralmente todas as pessoas, assim como a todos os seres vivos, pois compreendem que em todos os seres
vivos manifesta-se a Emanação Divina, e não esquecendo, respeitar as pessoas é respeitar também suas provações, pode-se auxiliar uma pessoa, mas não subtraí-la de sua provação.
Em outras escolas em que as conquistas espirituais são menores, a Alteridade é ignorada. Temos, principalmente, as escolas de origem africana, o Nagualismo do México, e os Kahunas da Polinésia.
Estas são as principais escolas espiritualistas que conheci, e que mantém seus conhecimentos distantes dos
não iniciados, são, portanto, esotéricas.
Não podemos nos esquecer, que entre aquelas escolas que consideram a Alteridade como princípio fundamental, desenvolveram-se ramificações, em que esse princípio não é integralmente observado ou ainda totalmente
ignorado, e também temos exemplo de obediência a esse princípio no Nagualismo mexicano, como veremos mais
adiante.
Vejamos, muito superficialmente, o que se ensina a escola cabalista.
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“Zoar — Introdução
Posicionamento histórico do Zoar”
“O Zoar, a mais importante obra da Cabala, permanece de certa forma inacessível e silente, como convém a um
trabalho de conhecimento secreto. Nenhuma das grandes produções literárias de nossos escritores medievais exerceu influência parecida ou atingiu êxito similar, embora muitas delas nos pareçam mais esclarecedoras e familiares do
que o próprio Zoar”. ...
“O grande banquete
(...) Além disso, conforme já vimos, a um homem, na hora da morte, é-lhe permitido ver parentes e companheiros
que já estão no outro mundo. Todos se alegram e o saúdam, se ele é virtuoso. Caso contrário, apenas os pecadores,
que diariamente são lançados no Gehinnom, o reconhecem. Todos estão mergulhados em trevas e sua conversa
começa e acaba em um lamento. Erguendo os olhos, ele os vê, como uma chama dardejando fogo e, junto com eles,
exclama: “Ai!”
Sabemos que quando a alma de um homem o deixa, é recebida pelas dos seus parentes e amigos que o
precederam na morte. Elas o guiam para o reino das delícias ou para o local das torturas. Se foi um justo, terá seu
lugar reservado para gozar as delícias do outro mundo. Caso haja sido iníquo, permanecerá nesse mundo até que seu
corpo tenha sido queimado na terra, depois do que os executores se apoderarão dele e o levarão perante Duma, o
príncipe de Gehinnom, onde ele receberá o seu quinhão.
O Rabino Judá disse: Por sete dias a alma perambula de sua casa a seu túmulo, e vice-versa, indo e vindo,
lamentando a perda de seu corpo, como diz o versículo: “É somente por ele que sua carne sofre; sua alma só se
lamenta por ele” (Jó, 14,22). Ao notar a tristeza da casa, também se aflige.
Sabemos que ao término dos sete dias começa a deterioração do corpo, e então a alma segue em direção a seu
destino. Primeiro, vai à caverna de Machpelah, em determinado ponto, de acordo com seus méritos. Depois, segue
para o Jardim do Éden, onde encontra os querubins e a espada flamejante que está na parte mais baixa do Jardim.
Caso seja considerada merecedora, poderá aí entrar.
Sabemos, outrossim, que lá existe quatro sustentáculos, tendo em suas mãos a forma de um corpo, ao qual a
alma se ajustará como às suas roupas, e então permanecerá no círculo que lhe corresponder, no Jardim Inferior, por
determinado tempo. Depois um arauto fará a proclamação e será mostrado um sustentáculo com três matrizes,
denominado “a morada do Monte Sião” (Is., 4,5). Por esse sustentáculo a alma ascenderá ao portão da equidade, onde
se encontram Sião e Jerusalém. Feliz da alma que é considerada merecedora de ascender ao alto, porque aí se reunirá
ao Corpo do Rei! Caso ela não mereça atingir o alto, então: “O que restar de Sião, os sobreviventes de Jerusalém,
serão chamados santos... (Is., 4,3). Mas quando a alma logra chegar ao alto, vê ante si a glória do Rei e lhe será
concedido gozar da delícia suprema, na região conhecida pelo nome de Céu. Afortunado é aquele a quem foi concedida
tal graça”!
ZOAR — O LIVRO do ESPLENDOR, por Gershom Scholem, Editora Renes, pág. 51 e 52.
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Como se pode observar, as ideias encontradas há milênios, entre os mestres da Cabala, são as mesmas
ideias que ressurgem na Doutrina Espírita. Veja a próxima parábola e vamos compará-la com ensino do Evangelho
do Mestre Jesus.
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“Maior que José
Estando um dia sentado ao portão de Lydda, o rabino Abba viu aproximar-se um homem, que se acomodou na
ponta de um rochedo que sobressaía no terreno. O homem, cansado da longa caminhada, adormeceu. O rabino Abba
notou que uma serpente rastejava por detrás do homem e já quase o alcançava quando de uma árvore caiu um galho
que a matou. Nesse momento, o homem acordou e deu um salto quando viu a serpente à sua frente. Nesse exato
instante, a pedra sobre a qual estivera sentado soltou-se e rolou ribanceira abaixo.
O rabino Abba então dirigiu-se ao homem e lhe perguntou: O que fez você para que Deus se dignasse concederlhe dois milagres?
O homem respondeu: Sempre perdoei e estive em paz com qualquer que me tenha ofendido. Quando não
conseguia perdoar imediatamente, não desistia enquanto não perdoasse e estendesse esse perdão a todos que já me
haviam ofendido. Jamais me preocupei com possíveis injúrias que sofresse; ao contrário, se tal ocorria, redobrava
esforços de bondade para com o meu ofensor.
Ao ouvir isso, o rabino Abba chorou e disse: Os feitos desse homem ultrapassam os de José, pois José pode ter
sido indulgente com seus irmãos e era apenas natural o ter-lhes compaixão. Mas esse homem foi ainda mais além e
é por isso que o Ente Sagrado opera sucessivos milagres para ele”. ...
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Agora veremos o Mestre Jesus ensinando uma ideia semelhante:
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Portanto, se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa
contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e depois virás apresentar a tua
oferta. Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não
acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão. Em
verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo.
A Bíblia de Jerusalém, Novo Testamento e Salmos; Ed. Paulinas, Mateus, cap. 5, vers. 23 ao 26, págs. 30 e 31.
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Meus irmãos observem que, os ensinos da Cabala não são demoníacos como a propaganda desonesta
sempre pregou. As ideias ensinadas nessa escola são fundamentadas na Alteridade. Não quero dizer com isso que
não existam ramificações que ignoram este princípio. Estas ramificações existem.
Quanto à Escola do Nagual, escola mexicana de origem Toltec, a Alteridade é ignorada, porém, um de seus
mestres transcendeu à tradição e a introduziu na Escola, criando um novo ramo. O que veremos pertence a esse
novo ramo.
Esta escola tornou-se conhecida através das obras de um antropólogo da Universidade da Califórnia, que
adotou o pseudônimo de Carlos Castañeda. Tudo começou quando ele, ainda estudante de pós-graduação, estava
pesquisando plantas medicinais.
Vejamos como tudo começou, usando as palavras do próprio autor, Carlos Castañeda.
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“Há dez anos, tive a felicidade de conhecer um índio yaki do Noroeste do México. Eu o Chamo “Don Juan”. Em
espanhol, don é um título usado para demonstrar respeito. Conheci Dom Juan por um acaso total. Estava sentado com
Bill, um amigo meu, numa estação rodoviária numa cidade de fronteira do Arizona. Estávamos muito calados. Era de
tardinha, e o calor parecia insuportável. De repente, ele se debruçou e bateu em meu ombro.
— Lá está o homem sobre quem lhe falei — disse ele, em voz baixa. Fez um sinal para a entrada. Um velho tinha
acabado de entrar.
— O que foi que você me contou a respeito dele — perguntei.
— É o índio que sabe a respeito do peiote. Lembra-se?
Lembrei-me de que eu e Bill certa vez tínhamos passado o dia todo rodando de carro, procurando a casa de um
índio mexicano “excêntrico” que morava no lugar. Não encontramos a casa do sujeito e eu tinha a impressão de que os
índios a quem havíamos pedido informações tinham nos enganado de propósito. Bill me disse que o homem era um
yerbero, pessoa que coleta e vende ervas medicinais, e que ele sabia muita coisa sobre o cacto alucinógeno, o peiote.
Disse ainda que valia a pena para mim conhecê-lo. Bill era meu guia no Sudoeste, na minha coleta de informações e
espécimes de plantas medicinais usadas pelos índios da região”. ...
Uma Estranha Realidade, Carlos Castañeda, Editora Record, pág. 7.
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O estudante de Antropologia iniciou desse modo um contato com o velho índio, logo descobriu que se
tratava de um feiticeiro. Seus professores o encorajaram a descobrir o que seria a feitiçaria, claro que o interesse
era acadêmico. Foi assim que se iniciou o aprendizado do estudante nessa arte. Seu primeiro livro em que descreve
esse aprendizado recebeu o título de: Os ensinos de Dom Juan, e foi publicado por um departamento da Universidade: copyright de 1968 by The Regents of the University of Califórnia. Foi lançado no Brasil com o título: A erva
do diabo. Neste livro ele descreve principalmente o uso de plantas alucinógenas, ou seja: psicotrópicas.
Carlos Castañeda foi durante quinze anos, um discípulo de Dom Juan e nos descreve as várias fases do seu
aprendizado através de diversos livros que foram sendo escritos no decorrer do mesmo. Vejamos, agora, a postura
de Dom Juan, e o sentimento de Alteridade que ele cultivava.
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De onde eu estava sentado, via o grupo de garotos pela vidraça. Dois rapazes sentaram-se a uma das mesas e
os garotos os rodearam, pedindo para engraxar os sapatos deles. Os rapazes recusaram e fiquei abismado ao ver que
os garotos não insistiram, voltando a sentar no meio-fio. Depois de certo tempo, três homens de terno levantaram-se e
os garotos correram para a mesa deles e começaram a comer as sobras de comida; em alguns segundos, os pratos
estavam raspados, O mesmo aconteceu com os restos em todas as outras mesas.
Reparei que os garotos eram bastante cuidadosos; se derramavam água, enxugavam-na com seus próprios
panos de engraxar. Notei, também, como eram meticulosos em seus métodos de limpeza. Comiam até os cubinhos
de gelo deixados nos copos d’água e as fatias de limão do chá, com casca e tudo. Não desperdiçavam absolutamente
nada.
Durante o tempo em que fiquei no hotel, descobri que havia um acordo entre os garotos e a gerência do
restaurante: era permitido aos garotos ficarem no local para ganhar algum dinheiro dos hóspedes e também comer os
restos, desde que não apoquentassem ninguém nem quebrassem nada. Havia onze deles ao todo, de cinco a doze
anos de idade; mas o mais velho era mantido a distância do resto do grupo. Os outros o ignoravam propositadamente,
provocando-o com uma cantilena de que já tinha pelos púbicos e que era muito velho para estar entre eles.
Depois de passar três dias vendo-os procurarem como abutres os mais parcos restos, fiquei muito desanimado,
e saí daquela cidade achando que não havia esperança para aquelas crianças, cujo mundo já era moldado por sua luta
quotidiana por migalhas.
— Tem pena deles? — exclamou Dom Juan, em tom de pergunta.
— Por certo — disse eu.
— Por quê?
— Porque me preocupo com o bem-estar de meus semelhantes. São crianças e o mundo deles é feio e vulgar.
— Espere! Espere! Como pode dizer que o inundo deles é feio e vulgar? — perguntou Dom Juan, fazendo pouco
de minha declaração. — Você acha que sua sorte é melhor, não é?
Respondi que sim; e ele me perguntou por quê; disse-lhe que, em comparação com o mundo daquelas crianças,
o meu era infinitamente mais variado e rico de experiências e oportunidades para a satisfação pessoal e o desenvolvimento. O riso de Dom Juan era simpático e sincero. Falou que eu não estava tendo cuidado com minhas palavras, que
eu não podia saber da riqueza e oportunidade do mundo daquelas crianças.
Achei que Dora Juan estava sendo teimoso. Pensei mesmo que ele estava adotando o ponto de vista oposto só
para me aborrecer. Acreditava sinceramente que aquelas crianças não tinham a menor possibilidade de desenvolvimento intelectual.
Discuti meu ponto de vista mais um pouco e então Dom Juan me perguntou, abruptamente;
— Você uma vez não me disse que, em sua opinião, a maior realização da pessoa era tornar-se um homem de
conhecimento?
Eu tinha dito aquilo, e repeti que, em minha opinião, ser um homem de conhecimento era uma das maiores
realizações intelectuais.
— Acha que o seu mundo muito rico algum dia o ajudaria a tornar-se um homem de conhecimento? — perguntou
Dom Juan, com um ligeiro sarcasmo.
Não respondi, e ele tornou a fazer a pergunta, de maneira diferente, coisa que sempre faço com ele quando acho
que não está entendendo.
— Em outras palavras — disse ele, sorrindo abertamente, sabendo certamente que eu estava vendo seu artifício
— a sua liberdade e oportunidades o ajudam a tomar-se um homem de conhecimento?
— Não! — respondi, enfaticamente.
— Então, como é que pôde ter pena daquelas crianças? — continuou ele, muito sério. — Qualquer delas pode
tornar-se um homem de conhecimento. Todos os homens de conhecimento que conheço foram garotos como os que
você viu comendo sobras e lambendo as mesas.
O argumento de Dom Juan deixou-me com uma sensação incômoda. Eu não tinha sentido pena daquelas
crianças desprivilegiadas por não terem o que comer, mas sim porque, a meu ver, o mundo delas já as condenara a
serem intelectualmente inadequadas. E, no entanto, para Dom Juan qualquer delas poderia conseguir o que eu acreditava ser a epítome da realização intelectual do homem, o objetivo de ser um homem de conhecimento. Meu motivo de
compaixão por elas era incongruente. Dom Juan me pilhara direitinho.
— Talvez você tenha razão — disse eu. — Mas como é que se pode evitar o desejo, o desejo sincero, de ajudar
a seu semelhante?
— De que modo você acha que se pode ajudá-los?
— Aliviando a carga deles. O mínimo que se pode fazer por seu semelhante é procurar modificá-lo. Você mesmo
está empenhado nisso. Não está?
— Não estou não. Não sei o que modificar nem por que modificai nada em meus semelhantes.
— E eu, Dom Juan? Não me estava ensinando para eu poder modificar-me?
— Não. Não estou tentando modificá-lo. Pode acontecer que um dia você se torne um homem de conhecimento,
não há meio de se saber isso, mas tal fato não o modificará. Um dia talvez você consiga ver os homens de outro modo
e então compreenderá que não há meio de modificar nada neles.
— Qual é esse outro modo de ver, Dom Juan?
— Os homens parecem diferentes quando você vê. O fuminho o ajudará a ver os homens como fibras de luz.
— Fibras de luz?
— Sim, Fibras, como teias de aranhas brancas. Fios muito finos que circulam da cabeça ao umbigo. Assim, o
homem parece um ovo de fibras circundantes. E seus braços e pernas são como espinhos luminosos, espocando em
todas as direções.
— É assim que todos aparecem?
— Todos. Além disso, todos os homens estão em contato com tudo o mais, não por suas mãos, mas por meio
de um punhado de fibras compridas que saem do centro de seu abdômen. Essas fibras ligam o homem a seu ambiente; mantêm seu equilíbrio; dão-lhe estabilidade. Assim, como algum dia você poderá ver, o homem é um ovo luminoso,
quer ele seja mendigo ou rei, e não há jeito de modificar nada, ou melhor, o que poderia ser modificado naquele ovo
luminoso? O quê?
Uma Estranha Realidade, Carlos Castañeda, Editora Record, págs. 24 a 27.
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Veja agora uma nova abordagem da Alteridade e uma das muitas inconveniências das técnicas desta escola.
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Dom Juan não discutiu mais o domínio da consciência comigo até meses depois. Nessa época, estávamos na
casa onde vivia o grupo do nagual.
— Vamos sair para um passeio — disse Dom Juan, colocando a mão em meu ombro. — Melhor ainda, vamos
até a praça da cidade, onde há bastante gente, sentar e conversar.
Fiquei surpreso quando falou comigo, pois eu já estava na casa há vários dias e ele não havia dito nem sequer
um alô.
Quando Dom Juan e eu estávamos saindo, La Gorda interceptou-nos e exigiu que a levássemos junto. Parecia
determinada a não aceitar um não como resposta. Dom Juan, em uma voz muito ríspida, disse-lhe que tinha que
discutir algo em particular comigo.
— Vocês vão falar a meu respeito — disse La Gorda, seu tom e seus gestos traindo tanto suspeita como
aborrecimento.
É verdade — replicou Dom Juan secamente. E passou por ela sem virar-se para olhá-la.
E o segui, e caminhamos em silêncio para a praça da cidade. Quando nos sentamos, perguntei-lhe por que
diabo iríamos nos encontrar para discutir sobre La Gorda. Ainda sentia o olhar de ameaça que ela nos lançara ao
deixarmos a casa.
— Não temos nada a discutir sobre La Gorda ou quem quer que seja — disse ele. — Disse-lhe aquilo apenas
para provocar sua enorme vaidade. E funcionou. Ela está furiosa conosco. Se a conheço, nesse momento terá conversado consigo mesma o suficiente para aumentar sua convicção e indignação por ter sido recusada e feito papel de
tonta. Não ficaria surpreso se ela irrompesse aqui no banco da praça.
— Se nós não vamos falar sobre La Gorda, o que vamos discutir?
Vamos continuar a conversa que começamos em Oaxaca — replicou ele. — Compreender a explicação da
consciência irá requerer seu máximo esforço e sua disposição de ficar mudando de níveis de consciência. Enquanto
estivermos envolvidos em nossa discussão, peço sua total concentração e paciência.
Meio queixoso, disse lhe que havia feito com que me sentisse muito desconfortável, recusando-se a falar
comigo nos últimos dois dias. Ele olhou-me e arqueou as sobrancelhas. Um sorriso brincou em seus lábios e desvaneceu-se. Percebi que estava dando-me, a saber, que eu não era melhor que La Gorda.
— Estava provocando sua vaidade — disse com expressão de censura. — A vaidade é nosso pior inimigo, pense
sobre isso... o que nos enfraquece é nos sentirmos ofendidos pelos feitos e desfeitas de nossos semelhantes. Nossa
vaidade faz com que passemos a maior parte de nossas vidas ofendidos por alguém.
“Os novos videntes recomendavam que todo esforço devia ser feito para erradicar a vaidade da vida dos guerreiros. Eu segui aquela recomendação, e muito dos meus esforços com você têm sido dirigidos a mostrar-lhe que, sem
vaidade, somos invulneráveis”.
Enquanto eu escutava, seus olhos repentinamente se tornaram muito brilhantes. Estava pensando comigo
mesmo que ele parecia estar a ponto de rir e que não havia razão para isso, quando fui surpreendido por uma bofetada
abrupta e dolorosa no lado direito do meu rosto.
Saltei do banco. La Gorda estava parada atrás de mim, com a mão ainda levantada. Seu rosto estava vermelho
de raiva.
— Agora você pode dizer o que quiser sobre mim e com mais razão — gritou ela. — Se tem alguma coisa a
dizer, em todo caso, diga-o na minha cara!
A explosão pareceu tê-la extenuado, pois sentou-se no cimento e começou a chorar. Dom Juan estava petrificado, com uma alegria inexprimível. Eu, paralisado de verdadeira fúria. La Gorda olhou-me e então voltou-se para Dom
Juan, humildemente, disse que nós não tínhamos o direito de criticá-la.
Dom Juan riu tanto que quase se dobrou até o chão. Não conseguia nem mesmo falar. Tentou duas ou três vezes
dizer-me algo, mas desistiu e afastou-se, seu corpo ainda sacudido por espasmos de riso.
Eu estava a ponto de correr atrás dele, ainda zangado com La Gorda — naquele momento eu a achava desprezível — quando algo extraordinário aconteceu. Eu percebera o que Dom Juan havia achado tão hilariante. La Gorda e
eu éramos horrorosamente parecidos. Nossa vaidade era monumental. Minha surpresa e fúria por ter sido esbofeteado
eram extremamente iguais aos sentimentos de raiva e suspeita de La Gorda. Dom Juan estava certo. O peso da
vaidade é um empecilho terrível.
Corri atrás dele, emocionado, lágrimas descendo pela face. Alcancei-o e contei o que havia descoberto. Seus
olhos estavam brilhantes de malícia e deleite.
— O que devo fazer quanto a La Gorda? — perguntei.
— Nada — replicou. — As descobertas são sempre pessoais. Mudou o tema e disse que os presságios
estavam-nos dizendo para continuar nossa conversa em casa, fosse um aposento grande com cadeiras confortáveis
ou pátio posterior, que era cercado por um corredor coberto. Disse que, sempre que conversássemos dentro da casa,
aquelas duas áreas ficariam proibidas para qualquer outra pessoa.
Voltamos para casa. Dom Juan contou a todos o que La Gorda havia feito. O prazer que todos os videntes
demonstraram em zombar dela tornou a posição de La Gorda extremamente desconfortável.
— A vaidade não pode ser combatida com delicadeza — comentou Dom Juan quando expressei minha preocupação com La Gorda.
Pediu então a todos que deixassem o aposento. Sentamos e Dom Juan começou suas explicações.
Contou que os videntes, antigos e novos, são divididos em duas categorias. A primeira é composta por aqueles
que se dispõem a exercitar o autocontrole e são capazes de canalizar suas atividades para metas pragmáticas, que
iriam beneficiar outros videntes e o homem em geral. A outra categoria é formada pelos que não se interessam pelo
autocontrole ou qualquer meta pragmática. É consenso entre os videntes que os últimos não conseguiram resolver o
problema da vaidade.
— A vaidade não é algo simples e ingênuo — explicou. — De um lado é o núcleo de tudo que é bom em nós e,
por outro, o núcleo de tudo que não presta. Livrar-se da vaidade que não presta requer prodígios de estratégia. Através
dos tempos, os videntes renderam homenagens àqueles que conseguiram.
Fogo Interior, Carlos Castañeda, Editora Record, págs. 25 a 28.
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Os discípulos de Dom Juan são pessoas simples e de grande limitação intelectual, apenas Carlos Castañeda
se destaca intelectualmente, no entanto, todos conseguem superar os nossos intelectuais espíritas, quando se trata
de assunto espiritual. Nossos intelectuais é que se mostram extremamente ignorantes.
Meu irmão, e minha irmã, raciocinem sobre tudo que surge em sua vida, o raciocínio é um poderoso exercício
psíquico que o prepara para compreensão de nossa realidade espiritual. O uso da razão reestrutura, de modo
suave, todo seu psiquismo, não se esqueça, nunca: somente o conhecimento nos libertará.
Recordemos O Espírito Verdade:
Espíritas! Amai-vos; este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.
Pedro Pereira da Silva Neto