Sem título-4 - Busca rápida - Conselho Regional de Contabilidade
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Sem título-4 - Busca rápida - Conselho Regional de Contabilidade
ISSN 1519-0412 Ano V I • Nº 20 • Mai/Jul - 2003 On line Visite nosso site Home page: www.crc.org.br E-mail: [email protected] Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Editorial PRÊMIO GERALDO DE LA ROCQUE A edição especial da revista “Pensar Contábil” justifica-se por demonstrar o crescimento quantitativo e qualitativo da produção literária contábil nos últimos anos e consagra a existência de um prêmio, o GERALDO DE LA ROCQUE, que vem se consolidando junto aos pesquisadores da Contabilidade, desde a sua criação. Antes de tecermos comentários sobre a matéria que integra esta edição, temos o dever de fazer breves comentários sobre o titular do prêmio: o contador e professor GERALDO DE LA ROCQUE. O professor GERALDO DE LA ROCQUE é um nome de referência para a escola brasileira de contabilidade, pela sua produção literária e pelo exercício do magistério em instituições de ensino importantes no cenário brasileiro, como o DASP – Departamento de Aperfeiçoamento do Serviço Público e a EBAP – Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas, onde lecionou cursos de Contabilidade Pública, Contabilidade Geral, Técnicas de Tributação, Didática e Conteúdo de Contabilidade, Auditoria e Contabilidade Industrial. Produziu mais de 30 obras contábeis, obras essas que apresentam temas variados e aprofundados (Contabilidade Pública, Auditoria e Análise de Balanço, Dicionário Fisco-Contábil do Imposto de Renda, etc). Trabalhou 34 anos no serviço público federal, como Auditor Fiscal do Tesouro Nacional, mediante ingresso por aprovação em concurso público, em 1940. Foi vitorioso na carreira pública, pois exerceu posições de destaque como: Contador Geral da República (último profissional a ocupar tal Índice 4 José Paulo Cosenza A Qualidade das Demonstrações Contábeis Convertidas em Ambiente Econômico Estável e Desvalorização Cambial .......................................... 15 Áurea de Carvalho Martins Fraudes com Derivativos: O Caso Barings ........................... 19 Fluxos de Caixa e Capital de Giro 27 Andréa Alves Silveira Monteiro Desperdício: Miopia Informativa da D.R.E, ........................... Pensar Contábil ISSN 1519-0412 CONSELHO DIRETOR Sebastião Bergamini Júnior – Uma adaptação do Modelo de Fleuriet .............................. Antonio Miguel Fernandes Vice-presidente de Desenvolvimento Profissional Expediente Contabilidade criativa: as duas faces de uma mesma moeda ................................... cargo no país), Delegado Regional do Imposto de Renda, Secretário de Assuntos Legislativos, Assessor do Ministro da Fazenda e Contador do Ministério do Planejamento. Ao se aposentar em 1974, deu continuidade às suas atividades profissionais, como empresário contábil, professor, autor e articulistas dos principais jornais em circulação no país (O GLOBO, JORNAL DO COMMERCIO, GAZETA MERCANTIL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DE SÃO PAULO, FOLHA DE SÃO PAULO e ÙLTIMA HORA). Foi por mais de 20 anos conselheiro do CRC-RJ, tendo inclusive ocupada a vice-presidência da entidade. Partiu para outra etapa da vida em 1982, aos 63 anos, tendo nos deixado além da sua obra e carreira profissional brilhantes, dois filhos, entre eles o nosso ex-presidente e atual conselheiro o contador CARLOS DE LA ROCQUE. Considerando o caráter especial da edição, estamos publicando os cinco primeiros premiados no último evento, trabalhos que muito contribuirão para auxiliar aos alunos dos cursos de graduação e pós-graduação (lato e strictu senso) na absorção dos conhecimentos tratados em cada um dos artigos selecionados. Esperamos que os leitores aproveitem bem esta edição e que possam contribuir com artigos para o próximo prêmio GERALDO DE LA ROCQUE, e para a própria PENSAR CONTÁBIL. 35 Presidente: Nelson Monteiro da Rocha Vice-Presidente de Desenvolvimento Profissional: Antonio Miguel Fernandes Vice-Presidente de Administração e Finanças: Diva Maria de Oliveira Gesualdi Vice-Presidente de Fiscalização do Exercício Profissional: Vitória Maria da Silva Vice-Presidente de Registro: Carlos de La Rocque Vice-Presidente de Controle Interno: Paulo Cesar de Castro Vice-Presidente de Interior: Cezar Stagi Pensar Contábil Fabiano Simões Coelho CONSELHO EDITORIAL José Carlos Sardinha Gestão dos Custos da Qualidade Ambiental ....................... Maria Elisabeth Kraemer Uma publicação do 43 Coordenador: Antonio Miguel Fernandes Conselheiro Jorge Ribeiro dos Passos Rosa Conselheiro Josir Simeone Conselheiro Walter Conceição Conselheiro Waldir Ladeira Editora: Rosa Helena Martire (MT 21405) Projeto Gráfico: W&C- Comunicação Diagramação: Adriano Antunes dos Santos Revisão: Claudia Stivelman Estagiário: Marcelo Bernardo Pereira CONSELHO REGIONAL DECONTABILIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Praça Pio X, 78 - 6º, 8º e 10º andares Rio de Janeiro - RJ - CEP 20091-040 Tel. (21) 2216-9595 - Fax (21) 2516-0878 Home Page: www.crc.org.br E-mail (envio de artigos): [email protected] E-mail (assinatura): [email protected] 3 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 1º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque Contabilidade criativa: as duas faces de uma mesma moeda José Paulo Cosenza Bacharel em CC, doutorando na Universidade de Zaragoza, mestre em Contabilidade, professor na UERJ, contador no BNDES 1 – INTRODUÇÃO Com a internacionalização econômica dos mercados, as empresas se viram forçadas a desenvolver suas atividades em um ambiente mais competitivo e complexo. Neste contexto, a contabilidade assume um papel preponderante, já que permite o efetivo conhecimento da situação real do patrimônio das entidades. Assim, a informação de caráter econômico-financeiro que as companhias elaboram e divulgam anualmente constitui uma variável chave para a tomada de decisão por parte dos usuários, pois é o principal meio de comunicação dessas empresas com os distintos agentes, interessados em suas situações econômicas e na evolução de seus patrimônios. Como, a princípio, somente os proprietários, visando o processo de gestão, e o governo, a fim de conhecer os resultados obtidos pelas empresas e fiscalizá-las com base nos registros de suas atividades, teriam interesse em tais informações, não havia muita preocupação com esse aspecto. No entanto, o surgimento de novos interessados na informação contábil-financeira, na literatura denominados stakeholders (credores, dirigentes não proprietários, acionistas, sindicatos, fundos de previdência, etc.), acabou por elucidar a magnitude da ineficácia dos sistemas de informação contábil1 . Na literatura acadêmica, já há algum tempo se vem debatendo sobre quais seriam os usuários interessados no conhecimento da informação contábil e se desenvolvendo pesquisas sobre a utilidade da contabilidade, dirigida a diferentes objetivos dentro do processo de análise da gestão. Contudo, o grande problema é que cada um desses usuários possui objetivos distintos a respeito da informação econômico-financeira, acarretando, assim, um conflito de interesses, já que cada um deseja que os dados contábeis sejam gerados segundo suas conveniências particulares; fato que tem levado o debate sobre a legalidade, a legitimidade, a conveniência e o sigilo da informação contábil a estar sempre presente em Pensar Contábil congressos, conferências, seminários e publicações especializadas. Todavia, o principal problema neste momento está relacionado à forma como se elabora essa informação, pois, dependendo do modo como os valores são calculados e da maneira como podem ser publicados em cada país, é possível a obtenção de resultados mais ou menos favoráveis, levando os usuários a fundamentarem suas decisões em resultados talvez enganosos em essência. São as ambigüidades dos critérios contábeis que dão margem a contabilizações distintas de um mesmo fato e, portanto, a grandes diferenças na representação de uma mesma realidade patrimonial2 . E neste contexto são canalizadas as práticas ditas de contabilidade criativa, cujos fundamentos estão embasados no aproveitamento das subjetividades, flexibilidades e omissões das normas contábeis para que se consiga apresentar as contas de forma a melhor demonstrar a imagem desejada por quem a elabora. Partindo dessas considerações iniciais, iremos analisar e explorar os aspectos relevantes associados ao fenômeno conhecido na literatura como contabilidade criativa ou earnings management, como lhe denominam os autores internacionais, e demonstraremos, também, que a norma contábil mundial oferece possíveis campos para práticas neste sentido. Nosso objetivo é abordar e explicar os aspectos indutores da contabilidade criativa, discutindo seu significado, sua natureza e os fatores que mais a motivam. 2 – O ALCANCE E O SIGNIFICADO DO TERMO CONTABILIDADE CRIATIVA O termo contabilidade criativa é de origem anglo-saxônica — tanto em sua forma prática, quanto em sua estratégia — e já foi objeto de grandes debates e pesquisas no meio acadêmico, principalmente no Reino Unido3 , porém esse fenômeno ainda se apresenta como um tema atual na prática contábil internacio- 1 Em geral, os sistemas contábeis são estruturados para atender as demandas de informação direcionadas aos proprietários e administradores. Isto pode gerar, em certas ocasiões, conflitos de interesses, já que a contabilidade nem sempre consegue atender aos interesses dos demais usuários que necessitam de dados que ponham em evidência outros tipos de informes diferentes daqueles contidos nas demonstrações contábeis tradicionais. 2 Giner, 1992. 3 Em função da flexibilidade presente nas normas contábeis daquela sociedade (ver Naser, 1993). 4 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 nal, uma vez que tem ganhado importância na informação contábil-financeira que se divulga para os usuários e comunidade empresariais4 . O tema contabilidade criativa pode ser analisado sob varia- Conselho Regional de Contabilidade do RJ das perspectivas e sua conceituação depende da extensão que se lhe queira outorgar5 . Por conseqüência, distintos autores têm identificado esse mesmo fenômeno sob os mais diferentes enfoques: AUTOR ANO ABORDAGEM CONCEITUAÇÃO Ian Griffiths 1988 e 1995 Jornalística A contabilidade criativa seria uma prática negativa de manipulação da realidade empresarial para distorcer os resultados e a posição financeira de maneira que reflitam a situação desejada por quem a moldou. Michael Jameson 1988 Contábil Entende ser uma prática inadequada, mesmo operando dentro da legislação e das normas contábeis, porque distorce os resultados e a posição financeira da empresa, induzindo os usuários a decisões econômicas ineficientes. Terry Smith 1992 Analista de Mercado Vê a contabilidade criativa como um problema muito grave, já que serve como instrumento de manipulação contábil para se apresentar indicadores de crescimento econômico e financeiros não reais, que, em um segundo momento, podem se tornar verdadeiros colapsos empresariais. Kamal H.M. Naser 1993 Acadêmica A contabilidade criativa é o resultado da intenção de se transformar os fatos contábeis de aquilo que verdadeiramente são, para aquilo que se deseja que eles sejam, aproveitando-se as lacunas das normas existentes, ou mesmo ignorando-as. Jose María Gay Saludas 1997 e 1999 Jurídica Identifica a contabilidade criativa sob uma perspectiva de engenhosidade, como uma arte, onde os grandes artistas da contabilidade – os contadores e os auditores – se aproveitam das brechas oferecidas pelas rigorosas normas para imaginar uma engenharia fiscal-financeira que lhes permita espelhar a imagem fiscal ou societária desejada para a companhia. A contabilidade criativa pode ser catalogada como uma magnífica falsidade de obras de arte contábil, demandadas de estruturas de verdadeira engenharia contábil. Pensar Contábil Fonte: Elaboração própria do autor. Além dos autores citados, outros, ainda, têm dado suas próprias interpretações para definir este fenômeno, conceituando a contabilidade criativa sob os mais variados enfoques de abordagem, seja no âmbito legal, ético, contábil, ou financeiro6 . Todavia, na leitura de tais referenciações se observa que todos são unânimes em associá-la a dois fatores: 1o) a manipulação contábil; e 2o) a intenção de enganar. Podemos deduzir, então, que a contabilidade criativa, na verdade, se trata de uma maquiagem da realidade patrimonial de uma entidade, decorrente da manipulação dos dados contábeis, para se apresentar a imagem desejada pelos gestores da informação contábil. Portanto, identificar quais seriam os incen- tivos que as companhias teriam para praticá-la seria o ponto central para a explicação dessa problemática. Por isso formular uma definição exata deste fenômeno pode ser muito difícil, dada a complexidade do tema e seu caráter nebuloso. Entretanto, o termo contabilidade criativa pode ser entendido como a seleção de alternativas possíveis, segundo os princípios e as normas de contabilidade vigentes, utilizadas para se conseguir a apresentação mais favorável da informação contábil-financeira da empresa em um momento determinado. De qualquer modo, para praticar a contabilidade criativa, o profissional da área contábil se vale, principalmente, da flexibilidade presente nos princípios contábeis e na norma contábil- 4 A manipulação na contabilidade não é uma coisa recente, apenas se torna mais conhecida agora devido aos freqüentes escândalos que ocorrem mundialmente (Bauch & Lomb, em 1995, Long Term Capital Portfolio, em 1998, Rite Aid e Cendant, em 1999, Sunbeam, Waste Management, Enron e Superior Bank, em 2001, Dollar General, em 2002, todos nos Estados Unidos; Banesto, em 2000, Gescartera, em 2001, e BBVA, em 2002, na Espanha; Comroad, em 2000, na Alemanha; e no caso do Brasil, os bancos Nacional, Econômico, Boavista e Noroeste; para não citar diversos outros exemplos mundo afora). 5 Rodríguez, 1996. 6 Ver Giner, 1992; Monterrey, 1997; Blasco, 1998; Laínez e Callao, 1999; Amat e Blake,2000; Cordobes e Sanchez,2000. 5 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 societária, aos quais está subordinado. Assim, apesar de certas restrições quanto à elaboração, contabilização e evidenciação da informação econômico-financeira, em muitos casos é possível contemplar certo grau de arbitrariedade na escolha de procedimentos que melhor se adaptem aos requerimentos estratégicos da entidade, muitas vezes em detrimento da apresentação da imagem fiel da companhia, prejudicando, até mesmo, os interesses de alguns dos usuários da informação divulgada. 3 – A NATUREZA E OS OBJETIVOS DA CONTABILIDADE CRIATIVA A literatura contábil-financeira está repleta de estudos empíricos sobre a manipulação da informação contábil, cada qual dirigido a diferentes objetivos dentro do processo de análise da gestão, principalmente à hipótese de eficiência do mercado7 . Embora o primeiro trabalho que analisou seriamente as motivações econômicas que os administradores teriam para manipular a informação contábil tenha sido produzido nos anos 60,8 as principais evidências empíricas, neste campo, foram obtidas na década seguinte com um trabalho de caráter autenticamente inovador em que seus autores estabeleceram o paradigma da utilidade, baseando-se na hipótese da eficiência9 . Os autores desse trabalho, particularmente, analisaram o aspecto da evidenciação contábil, se centrando na realidade econômica e nas motivações determinantes da regulamentação contábil; para isso, enfocaram a conduta dos usuários e suas reações diante da informação do sistema contábil10 . Suas hipóteses foram baseadas, fundamentalmente, nas teorias da rede contratual11 , da regulamentação econômica12 e da agência13 . Em uma pesquisa posterior, esses mesmos autores sustentaram, também, a hipótese de que a divulgação de benefícios extraordinários, mais especificamente de lucros, põe a empresa em evidência ante os usuários externos, exibindo uma imagem positiva da companhia14 . Assim, segundo eles, tais empresas estariam mais suscetíveis a manipulações contábeis visando a redução dos benefícios divulgados, para não prejudicar politicamente sua imagem externa, principalmente em situações de elevações de preços de seus produtos. Em etapas subsequentes, outros estudos foram realizados, seguindo esse mesmo raciocínio, sobre a arbitrariedade de que dispõem as empresas para manipular os ajustes em suas con- Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJ tas de giro, sobre as restrições às importações15 e sobre as práticas antitruste16 . Todavia, nenhuma pesquisa havia estudado, até então, os efeitos do earnings management relacionado à ótica de crescimento dos preços dos produtos consumidos, o que foi realizado em um estudo para identificar até que ponto as empresas petrolíferas estariam vulneráveis às manipulações contábeis, devido aos lucros extraordinários que obtiveram durante a crise do Golfo Pérsico, em 199017 . Essa pesquisa buscava testar a hipótese exposta no estudo de Watts e Zimmerman18 e para isso estabeleciam que as companhias petrolíferas de refinamento, ao contrário daquelas de extração, estariam mais suscetíveis a realizar ajustes em sua contabilidade, na determinação dos seus resultados. Tal manipulação ocorreria em função do maior grau de exposição política e social que teriam estas últimas empresas, por gerarem riqueza diretamente de sua relação com o consumidor final de sua cadeia produtiva. Uma segunda hipótese formulada, ainda, por esses autores foi de que estas mesmas empresas também pesavam os benefícios para liberar ou não oportunamente ao público a informação dos lucros obtidos com o aumento dos preços de seus produtos19 . Para contrastar suas hipóteses utilizaram dois estudos, os quais estabeleciam que as empresas com grandes crescimentos de lucro, em períodos politicamente sensíveis, teriam como incentivo antecipar a divulgação de seus informes financeiros positivos, pois assim atrairiam a atenção pública adicionalmente, ou vice-versa, quando fossem resultados negativos20 . A constatação de que a informação contábil divulgada pode debilitar ou fortalecer o valor da empresa tem sido objeto de muitos estudos empíricos nos últimos anos21 , sendo unanimidade o fato de que as entidades medem os custos políticos na escolha de estratégias contábeis que reflitam suas cifras de negócio22 . Em geral, a contabilidade criativa está associada à estratégia para transmitir a visão mais otimista possível da companhia para os distintos agentes econômicos. Contudo, pode, também, favorecer outros tipos de práticas, como melhorar ou piorar os resultados econômicos por diversas razões, além da adequação da estratégia empresarial23 , divulgação de performance da com- 7 Ver Copeland, 1968; Cushing, 1969; White, 1970; Ball, 1972; Ball e Watts, 1972; Barefield e Comiskey, 1972; Sunders, 1975; Smith, 1976, dentre outros. 8 Gordon, 1964. 9 Watts e Zimmerman, 1978 (desde então, diversas pesquisas foram realizadas tomando tal estudo como base, abordando principalmente a temática do disclosure relativo às companhias que negociam ações no mercado de capitais). 10 Watts e Zimmerman, 1978. 11 A teoria da rede contratual pode ser definida como um conjunto de interrelações (contratos) entre grupos, com finalidades discordantes, o que origina conflitos de interesses. 12 A teoria da regulamentação econômica entende que os organismos governamentais, mediante a adoção de medidas que regulam a atividade econômica (estabelecimento de tarifas de serviços públicos, impostos e subvenções), tem o poder de levar a cabo as redistribuições da riqueza entre os agentes econômicos, o que supõe para as empresas uns custos de regulação, também denominados custos políticos (surgidos para evitar ou conseguir transferência de riqueza da empresa para o exterior), gerando-se outra série de conflitos entre a entidade e o ambiente onde desenvolve suas atividades. 13 A teoria de agência enfoca sua atenção nas relações e conflitos havidos pelas disparidades de interesses entre a propriedade da empresa e a gerência, decorrentes da delegação que o principal (acionista ou proprietário) faz para o agente (gerente) para realizar algo em seu interesse, mediante uma contraprestação que pode ser financeira ou não. 14 Watts e Zimmerman, 1986. 15 Jones, 1991. 16 Cahan, 1992. 17 Han e Wang, 1998. 18 Watts e Zimmerman, 1986. 19 Han e Wang, 1998. 20 Chambers e Denman, 1984; Kross e Schroeder, 1994. 21 Ver Hagerman e Zmgewski, 1979; Dhaliwal, 1980; Ronen e Sadan, 1980 e 1981; Suarez, 1989. 22 Skinner, 1994. 23 Zmijewski e Hagerman, 1981. 6 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 panhia24 , avaliação de desempenho dos administradores25 , obtenção de benefícios26 , subsídios ou isenções governamentais27 , conduta para comunicar boas e más notícias28 ou melhorias sociais e medidas medio-ambientais29 . Por este motivo, é muito difícil analisar e explicar os mecanismos de escolha contábil, dada a forma sutil como são realizados e a heterogeneidade que existe de um segmento econômico para o outro. Entretanto, a razão fundamental para a sustenção da contabilidade criativa é a forte assimetria de informação que existe entre os ambientes interno e externo da organização, portanto, os gerenciadores da informação contábil dispõem de um certo grau de arbitrariedade que lhes permite condutas que podem chegar a não ser conhecidas pelos usuários externos, se esses mesmos gerentes assim o quiserem, e cuja percepção é muito difícil desde fora da organização. O caso Enron Corporate é um exemplo recente desse tipo de problema30 , que, por sinal, tem posto, também, em xeque-mate a própria credibilidade da profissão contábil31 . 4 – A CONTABILIDADE CRIATIVA FRENTE AO CONCEITO DE IMAGEM FIEL A finalidade principal da contabilidade, como ciência, consiste na análise, descrição e explicação dos fenômenos patrimoniais que afetam a riqueza de uma entidade e gerar, dessa maneira, uma informação que permita a formação de opinião exata e fidedigna sobre determinada realidade empresarial. Todavia, plasmar de uma maneira simples, em um documento contábil, todos os fatores e variáveis que influem em uma atividade econômica, é algo quase impossível de captar de uma forma unívoca e definitiva, dadas as incertezas que circundam toda atividade econômica e financeira desenvolvida pelas empresas32 . No sentido de limitar o campo de arbitrariedade na eleição e representação dos fatores econômicos, se recorre ao estabelecimento de normas e procedimentos contábeis, homogeneizando e facilitando, assim, o processo de entendimento e comparação para que cada agente econômico possa tomar suas decisões de forma racional e equilibrada. Ocorre, entretanto, que a teoria contábil tem se mostrado limitada e ineficaz para se defrontar com os problemas econômico e financeiros derivados do crescimento da complexidade empresarial nas últimas décadas, como por exemplo, a preponderância dos mercados de capitais, a desvalorização da moeda, a rápida obsolescência dos bens e produtos, a primazia dos ativos intangíveis sobre os tangíveis, etc. Dessa incapacidade, deriva a contabilidade criativa, que encontra terreno fértil nessa Conselho Regional de Contabilidade do RJ falta de clareza e de consenso em torno dos aspectos mais conflitantes e nebulosos do campo contábil. Não obstante, é errado considerar que a contabilidade criativa é um modismo recente, ela existe na atividade econômica organizada, desde as mais remotas épocas33 . Fato é que, atualmente, essas práticas adquiriram maior importância, pois seu fenômeno se vincula à transcendência que há na informação contábil para a empresa e seu ambiente, já que cresce a preocupação com a entidade e a imagem que dela se tem na sociedade. O mundo contemporâneo caracteriza-se por iniciativas voltadas a um conjunto de fatores que coloque em prática a cidadania responsável. As empresas, por importantes que são para o desenvolvimento da comunidade, estão tendo que assumir um posicionamento mais crítico na busca de princípios de gestão fundamentados em iniciativas sustentáveis, onde estejam refletidas suas relações com o meio ambiente e a comunidade. O conceito de imagem fiel é derivado da literatura contábil anglo-saxônica, quando foi aplicado na norma para as sociedades comanditas britânicas, em 184434 . Ainda que este conceito, desde 1947, venha representando um papel central na legislação mercantil inglesa, no que se refere à contabilidade, não existe nenhuma definição sobre seu significado nas leis do Reino Unido. Além disso, não existe uma doutrina internacional que defina precisamente a interpretação da imagem fiel - true and fair view -, que no seu sentido literal poderia ser traduzida como verdadeira e real, ou clara, correta e leal, ou verdadeira e apropriada, ou também, sinteticamente, visão real e correta. Para alguns autores, é impossível definir a expressão imagem fiel, por ser um fato de caráter conceitual muito filosófico o qual não é suscetível de uma definição mediante um conjunto de regras detalhadas35 . A característica fundamental e essencial desse conceito, entretanto, está centrada na discussão “conteúdo/forma”, ou seja: o texto da lei (true), que representa a forma, deverá ter primazia sobre o espírito econômico (fair), que representa o conteúdo, ou vice-versa? Há duas correntes na investigação dessa temática: uma legalista e, outra, econômica; a primeira entende que a imagem fiel é um objetivo derivado, em definitivo, da conformidade com as disposições legais, de forma que seja um sistema informativo legal36 ; para a segunda, a imagem fiel seria algo equivalente à realidade econômica, onde o fundo tem predominância sobre a forma e a informação útil para os usuários deve ser priorizada37 . Pensar Contábil 24 DeAngelo, 1988; DeAngelo, DeAngelo e Skinner, 1994. 25 Strong e Meyer, 1987; Elliot e Shaw, 1988; Pourciau, 1993; Francis, Hanna e Vincent, 1996. 26 Choi, Gramlich e Thomas, 2001. 27 Healy e Palepu, 1993. 28 Skinner, 1994; Han e Wang, 1998; Giner e Rees, 2001; Basu, 2001. 29 García e Monterrey, 1993. 30 BusinessWeek, 2001. 31 BusinessWeek, 2002. 32 Giner, 1992. 33 Por exemplo, acredita-se que a terminologia contábil “inventário” deriva do verbo inventar, pois os contadores, ao realizarem os levantamentos da situação física dos estoques, criavam números fictícios para poder conciliar com os saldos dos livros contábeis. 34 Amat, Blake e Oliveras, 1997. 35 Túa, 1985; Niño, 1992. 36 Gondra, 1991. 37 Gonzalo, Castro e Gabás, 1985. 7 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Parece, então, que em relação ao que se entende por imagem fiel, tanto acadêmico, empresarial, profissional quanto juridicamente, há o consenso de que ela é resultante da aplicação sistemática e regular dos princípios e normas contábeis, os quais expressam a realidade econômica das transações realizadas. Logo, os conceitos de imagem fiel e contabilidade criativa estão fortemente vinculados e interdependentes, como as duas faces de uma mesma moeda. Perfilar seus limites, alcances e conteúdo, aproximando-os da realidade empresarial, seria a forma de se evitar suas manipulações conceituais38 . 5 – A CONTABILIDADE CRIATIVA FRENTE AO POSICIONAMENTO ÉTICO A aplicação de práticas de contabilidade criativa nem sempre está evidentemente clara na informação financeira que as empresas oferecem aos seus usuários, uma vez que a maioria das companhias domina tão bem esse tema, que consegue embutir tais práticas no complexo conjunto de informações que compõe os relatórios anuais divulgados. Na prática, as demonstrações contábeis publicadas são ou de reduzido conteúdo, quando não se quer informar um aspecto determinado, ou de excessiva informação, quando se divulga o fato por obrigatoriedade. No primeiro caso, a quase omissão informativa, torna até mesmo impossível a análise e a identificação da utilização ou não de práticas de contabilidade criativa. Já no segundo caso, busca-se confundir os usuários, com demasiada informação, de conteúdo sem relevância e desassociada do tema que se teria que divulgar39 . Contudo, o aspecto ético relativo ao profissional que elabora as demonstrações contábeis deveria prevalecer, pois ele tem a missão de administrar a evidenciação do patrimônio da entidade, de forma que essa represente a imagem fiel da organização. A postura ética profissional está fundamentada na adoção da norma técnica necessária, que permita oferecer informação útil, oportuna e exata a todos os usuários da informação contábil e no acatamento de parâmetros gerais de comportamento de independência, apesar da relação capital-trabalho existente. Está óbvio, então, que o tema contabilidade criativa introduz simultaneamente, outra importante discussão, que está relacionada com o aspecto da ética profissional. Com isso queremos dizer que a contabilidade criativa serpenteia por um caminho de meias verdades que moralmente pode ser discutível, levando ao questionamento sobre se os fins justificariam os meios, já que ela se move numa linha bem próxima do permissível e do ilegal, ficando muito difícil delimitar onde começa uma e termina a outra, ou vice-versa. Se entendermos por ética profissional o conjunto de normas e parâmetros gerais que regulamentam o comportamento moral e profissional do contador ante seus companheiros de trabalho e de profissão, os usuários da informação que ele elabora, o seu empregador, e os seus órgãos de classe, podemos inferir que estas regras de comportamento outorgam certo tipo de independência profissional caracterizada pela Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJ necessária submissão a tais regras gerais de conduta. O conflito se apresenta quando, nesse contexto, o profissional de contabilidade tem que executar e operacionalizar uma atividade caracterizada ou tipificada como contabilidade criativa, previamente concebida e desenhada como uma estratégia organizacional pela alta administração da entidade; já que ao funcionário compete somente sua realização, sem a devida consideração de seus efeitos adversos para os demais usuários, sob pena de pôr em risco seu posto de trabalho, caso não concorde em realizar tal prática. Por isso, não é tão simples, assim, dirimir esta questão. Neste estudo, não entraremos no mérito da discussão dessa problemática porque, assim, estaríamos caminhando para a análise de outro tema igualmente importante e complexo. Cabe, apenas, ressaltar que ao efetuar práticas ditas criativas é possível amodificação da imagem fiel da companhia, com reflexos em suas informações publicadas, que, como pode ser visto, possui um aspecto de difícil interpretação, a intencionalidade, a qual pode apresentar problemas relativos ao campo da ética profissional e da moral. A normatização no campo contábil e a harmonização das normas internacionais podem vir a reduzir as alternativas de eleição entre princípios contábeis ou regras específicas de valoração, como os critérios de amortização, depreciação, provisão, etc., os quais podem ser determinantes para induzir às práticas de contabilidade criativa. A partir da ambiguidade das normas e princípios contábeis, gera-se um campo fértil para estimativas subjetivas, calculadas e aplicadas sob as mais variadas diversidades de critérios alternativos, o que pode gerar comportamentos discordantes dos valores éticos e morais40 . 6 – O ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA CONTABILIDADE CRIATIVA A contabilidade criativa tem sua aplicação nas subjetividades das normas e princípios de contabilidade que proporcionam uma ampla margem de escolha dos critérios e métodos contábeis a empregar, assim como da forma de informá-los a terceiros. Isso permite uma imensa gama de formatações e procedimentos que, geralmente, são muito difíceis de se detectar, sem uma análise mais criteriosa e profunda, a nível de auditoria. Todas estas práticas podem ter mais ou menos importância ou estar estendidas em um grau maior ou menor de complexidade, dependendo, antes de tudo, das probabilidades que têm os auditores de detectá-las e das necessidades de cada companhia em realizá-la. Por isso que os auditores independentes desempenham um papel fundamental no levantamento e divulgação destas práticas em seus pareceres de auditoria41 . Embora a contabilidade criativa, normalmente, seja motivada por objetivos de cunho especulativo de curto prazo, ela pode, também, estar associada a efeitos de longo42 . No entanto, em sentido geral, os gerentes se deixam conduzir por medidas de curto prazo, já que lhes preocupam mais suas necessidades momentâneas que suas rentabilidades futuras: estão obrigados 38 Rodríguez-Vilariño, 1998. 39 Algumas empresas oferecem pistas, divulgando tais fatos nas suas notas explicativas ou no relatório da administração, mas o fazem de maneira tão engenhosa, que a maioria dos usuários não presta atenção a esses trechos escritos em um impecável, impenetrável e enfadonho jargão contábil-jurídico. 40 Para um estudo visando aprofundar esse tema, ver Leung e Cooper, 1995; Fischer e Rosenzweig, 1995; Amat, Blake e Dowds, 1999. 41 Monterrey, 1997. 42 Rojo, 1993. 8 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 a buscar, no curto prazo, soluções contábeis que possam dar respostas à necessidade de informações direcionadas para a manutenção da atividade da empresa no futuro. Este conflito leva ao confronto da contabilidade como um sistema de informação, com as necessidades dos gerentes em viver o hoje, aproveitando-se das vantagens que se apresentam no momento, para poder passar ao amanhã43 . O pensamento de curto prazo é o causador, em grande parte, do surgimento da contabilidade criativa44 ; contudo há um limite pois, apesar de sua característica de manipular as cifras contábeis45 , ela não pode fazer parecer boa eternamente, a situação econômico-financeira de uma empresa que atravesse autênticas e continuadas dificuldades: apenas serve para atrasar e suavizar as más notícias46 ; uma vez que seria impossível convertê-las em boas permanentemente, sem recorrer à verdadeira fraude47 . As práticas de contabilidade criativa podem ocorrer nos seguintes âmbitos48 : i) Práticas baseadas no incumprimento dos princípios contábeis; ii) Práticas estruturadas em contabilizações incorretas das operações contábeis; iii) Práticas alicerçadas em classificações erradas das partidas contábeis; iv) Práticas fundamentadas em operações vinculadas49 . A verdade é que todas essas práticas podem ter os mais diversos efeitos na situação patrimonial da entidade — aumento, redução ou mesmo simples permuta50 . Todas elas podem acarretar implicações negativas na tomada de decisão dos usuários da informação contábil. Um paliativo para minimizar esta problemática seria a conscientização dos usuários de que, nas informações que as empresas publicam anualmente, há a possibilidade de manipulações a fim de apresentar determinada imagem econômico-financeira da companhia que, não necessariamente, é a verdadeira51 . 7 – AS MEDIDAS CONTRA A CONTABILIDADE CRIATIVA Na leitura de distintos autores, se nota que há o consenso quanto ao fato de a impossibilidade de se extinguir as práticas de contabilidade criativa52 , entretanto, todos sugerem a criação Conselho Regional de Contabilidade do RJ de medidas com a finalidade de limitar seu campo de ação e restringir sua proliferação, e apontam algumas alternativas possíveis como soluções: a) Maior envolvimento dos auditores independentes nesta questão; b) Implantação efetiva de comitês de auditoria; c) Incorporação de conselheiros externos nos conselhos de administração; d) Melhoria do nível de revelação da informação contábil; e) Estabelecimento de uma norma contábil mais precisa e concreta; f) Limitação da liberdade dos gerentes na escolha das alternativas contábeis; g) Eliminação do resultado das transações que envolvam estimativas subjetivas. Outro ponto seria estabelecer mecanismos legais para controle da existência da contabilidade criativa, que permitiria haver uma penalidade jurídica por praticá-la, criando, assim, um obstáculo importante para a manipulação da informação contábil. 8 – ALGUNS CASOS DE CONTABILIDADE CRIATIVA53 Não há dúvida de que os gerentes seriam os principais beneficiados com manipulação contábil, pois, além de possuírem motivos para tal, controlam os mecanismos que possibilitam executá-la54 . Os instrumentos para a manipulação contábil são as variáveis nas quais o gerente ou o contador podem influir para lograr os efeitos desejados55 . Considerando que a maioria desses efeitos econômicos tem reflexo imediato ou futuro no resultado contábil, o principal relatório manipulado é a demonstração do resultado, através de técnicas de manipulação dos ingressos ou dos gastos. Tal conflito associado ao reconhecimento das receitas e despesas está formado por uma tríplice vertente: 1) as condições que se devem cumprir para registrá-las contabilmente e os critérios para decidir quando incorporá-las (temporalidade); 2) o importe monetário pelo qual deverão ser registradas (valoração); e 3) a forma de conceituação a qual correspondem em função da atividade da empresa (classificação)56 . Como exemplo concreto de uma técnica contábil com fim de Pensar Contábil 41 Monterrey, 1997. 42 Rojo, 1993. 43 Rojo, 1993. 44 Rojo, 1993. 45 Griffiths, 1995. 46 Griffiths, 1988. 47 Laínez e Callao, 1999. 48 Monterrey, 1997. 49 Esta prática tem sido o principal foco de problemas identificados nos casos recentes de contabilidade criativa, uma vez que boa parte das companhias norte-americanas vêm se utilizando da criação de estrutura jurídicas enigmáticas, freqüentemente denominadas entidades para propósito específico (SPEs – Special Purposes Entitities), que nada mais são que sociedades extra-oficiais que servem para ocultar ativos e passivos que representem risco para a empresa controladora, uma vez que essa não está obrigada legalmente a consolidar o patrimônios destas sociedades quando investe mais de 3% do capital dessas sociedades para fins especiais. 50 Para mais detalhes, ver trabalho de Monterrey, 1997. 51 Amat, Moya e Blake, 1997. 52 Amat, Moya e Blake, 1997; Laínez e Callao, 1999; Monterrey, 1997; Naser, 1993; Blasco, 1998. 53 Como a linha de interesse deste trabalho é também pesquisar possíveis casos de práticas de contabilidade criativa, foi realizada uma consulta na imprensa internacional no sentido de encontrar possíveis manipulações contábeis, de onde destacamos alguns exemplos que poderiam ser classificados nesta situação específica. 54 É praxe no mercado que a remuneração paga aos executivos contratados tenha sua maior parcela calculada de forma variável, associada ao desempenho econômico-financeiro da empresa e alguns critérios e indicadores de performance previamente acordado entre as partes. Assim, quanto melhor os resultados da companhia, maior serão os benefícios usufruídos por tais elementos em suas contas bancárias. 55 Apellándiz, 1991. 56 Cano, 2001. 9 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 influir no resultado através das receitas, aumentando-as quando para inflar o resultado do exercício, ou, diminuindo-as quando se deseja reduzi-lo, citamos o caso da Coca-Cola57 que regula convenientemente a quantidade de produto concentrado (xarope) que vende para as companhias associadas que produzem e engarrafam esse refrigerante. Esta empresa quando necessita incrementar seus resultados contábeis, envia maior quantidade desse produto, obrigando as fábricas a manterem essa sobre compra em seus estoques até que se possa utilizá-la na fabricação do refrigerante; e, de maneira inversa, reduz a venda do concentrado, quando suas perspectivas de lucro já são boas e, evitando, assim, incrementar mais seus resultados contábeis. Um outro exemplo claro de manipulação dos resultados, desenhando o nível de ingresso desejado, é realizado pela Microsoft58 , a qual não contabiliza suas vendas no ato em que são realizadas, tendo como justificativa o fato de que ainda restam serviços por prestar — as atualizações dos produtos e a assistência técnica. Desde que desenvolveu o sistema Windows 95, essa companhia tem utilizado uma metodologia contábil conservadora diante das licenças vendidas para a utilização do software. Portanto, tendo o cliente direito às atualizações do software, assim como ao apoio técnico durante dois anos, a Microsoft atrasa o reconhecimento contábil das vendas de um produto, até bastante tempo após a venda e entrega do produto. Com isso, essa empresa consegue retardar o reconhecimento dos seus resultados contábeis, podendo mostrar um gráfico de crescimento de suas vendas mais ameno ao longo do tempo, já que se assim não o fizesse, apresentaria grandes picos de ingressos nos anos em que aparecessem novos programas59 . A problemática da contabilidade criativa também tem aparecido no caso das empresas ditas da nova economia, ou “empresas pontocom”. O valor de mercado destas companhias é estabelecido com base na expectativa de seus resultados futuros, já que não se pode ponderar seus resultados passados e presentes por estarem associados a perdas bastante elevadas, já que estão iniciando seus negócios. Como as expectativas de vendas futuras servem como base de medição para o cálculo de tal valor, essas empresas procuram inflar seus ingressos, mesmo sem apresentar efeito sobre seu resultado final. Uma dessas companhias, a PriceLine.com60 , que se dedica à venda de passagens aéreas e reservas de hotéis por Internet, costuma contabilizar suas vendas pelo valor total pago pelo cliente - o valor da comissão cobrada por sua intermediação na transação, mais o importe relativo à compra da passagem aérea e da reserva do hotel — só posteriormente, essa empresa registra os gastos relativos à passagem e à reserva. Contabilmente, o correto seria efetuar apenas o registro do valor da comissão recebida e utilizar contas de compensação para refletir os outros dois fatos contábeis, tal como o fazem as agências de viagem. Todavia, a PriceLine argumenta que, di- Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJ ferentemente das agências de viagem, ela assume o risco no caso do não pagamento pelo cliente. Então, o mais adequado seria efetuar uma provisão para perdas futuras ou algo de mesma natureza contábil. Os casos típicos de alteração temporal dos gastos estão associados à decisão de a ativar ou não determinado desembolso em um exercício concreto, principalmente aqueles correspondentes a pesquisas e desenvolvimento (P&D). A American On Line (AOL) é exemplo real de capitalização das despesas com marketing e pesquisa e desenvolvimento61 . A partir de 1995, a AOL decidiu amortizar tais gastos ativados durante um período de 41 meses, ao invés de 25 meses como costumava praticar, justificando que havia ocorrido um incremento na vida média das contas de Internet para 3 anos e 5 meses, segundo projeções realizadas internamente. Com isso, a AOL conseguia manter ativado no diferido os gastos que deveriam ser considerados como despesas do exercício. Entretanto, sabese que esta companhia não possuia clientes com aquele perfil na data em que tomara tal decisão, pois a grande maioria dos seus clientes havia sido conquistada nos últimos 36 meses, não mais. Outro truque empregado pelas empresas para evitar que uma despesa seja considerada permanente é utilizar a técnica de classificá-la em um grupo considerado extraordinário, para assim, poder apresentar um desempenho operacional mais estável no tempo, além de argumentar que o mal resultado final apresentado foi causado por atividades extraordinárias, conjunturais, que provavelmete não se repetirão62 . Neste caso específico, estão determinadas empresas que realizam vendas por Internet (por exemplo, Amazon.com, eToys, 1800 Flowers), as quais classificam seus custos relativos ao cumprimento dos pedidos (armazenamento, embalagem e distribuição) como despesas comerciais, ao invés de incluí-los no custo dos produtos vendidos63 . Apesar de parecer um prática inofensiva, tal reclassificação tem um efeito considerável no resultado contábil, pois apresenta indicadores de rentabilidade, no caso a margem bruta, superiores ao que efetivamente são; ocultando, com isso, uma possível ineficiência operacional dessas empresas ao aliviar suas margens de contribuição, que, por si só, já são bastantes estreitas por motivos de uma forte competitividade no setor. Também permite misturar esses custos com as efetivas despesas de marketing, que, sabidamente, são o grande desembolso dessas companhias na conquista de clientes, como tais despesas tendem a ser mais elevadas durante os primeiros anos, nos quais essas companhias buscam consolidar seu market share, reduzindo-se a partir de então, essa prática é importante na manutenção do valor de mercado dessas empresas, uma vez que permite iludir a atenção dos investidores, ocultando uma série de custos permanentes e notadamente importantes. 57 Fox, 1997. 58 Fox, 1997. 59 Por exemplo, em 1995, 1998 e 2000, quando lançou os Windows 95 e 98 e o Millenium, seguidos de notáveis decréscimos nos anos seguintes. 60 Kahn, 2000. 61 NewsWeek, 1995. 62 Cano, 2001. 63 Kahn, 2000. 10 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 9 – CONCLUSÃO A contabilidade é considerada uma fonte de informação para os interessados na marcha da empresa. No entanto, face a suas limitações para harmonizar os fatores internos e externos ante os princípios e normas contábeis, podem induzir a informações imprecisas ou manipuladas, o que na literatura se denomina como contabilidade criativa. Assim, tomando como base a literatura existente sobre o earnings management, este trabalho objetivou analisar e explorar os aspectos relevantes relacionados à problemática da aplicação da contabilidade criativa, detectando tais práticas em empresas, a partir de exemplos documentados na imprensa internacional. O estudo permitiu observar que, não obstante as normas, os princípios e os procedimentos contábeis regulamentem, nacional e internacionalmente, o registro, a elaboração e a apresentação da informação econômico-financeira gerada, as empresas sempre encontram argumentos para justificar aqueles procedimentos contábeis que, segundo seus interesses, melhor reflitam suas circunstâncias econômicas e financeiras. Muito embora não explicitado, é possível admitir que as prá- Conselho Regional de Contabilidade do RJ ticas ou estratégias de contabilidade criativa obedecem não a uma casualidade, mas sim, a uma política empresarial bem pensada e desenhada para inferir ou modificar a visão que terão os usuários da informação contábil e financeira64 . Tudo indica que essas políticas não só são aprovadas pelas altas esferas hierárquicas da organização, como também são muito inteligentemente desenhadas por elas, fazendo com que os profissionais da área de contabilidade apareçam apenas como simples responsáveis pela operacionalização de tais práticas. Embora seja possível identificar um amplo campo para discussão acadêmica sobre as práticas de manipulação contábil, formar conclusões sobre o assunto é complexo e demasiado leviano, tanto pela subjetividade do tema, quanto pelos aspectos que a ele estão associados — ética profissional, conceito de imagem fiel, paradigma da utilidade da informação contábil-financeira para os usuários, fraude etc. Os esforços no sentido de se buscar um referencial conceitual que harmonize todas as práticas e uniformize a justificativa racional da norma contábil são quem irão permitir, por um lado, respaldar as decisões de separação da norma concreta, quando não ofereça a imagem fiel e, por outro lado, reduzir o número de opções contábeis sobre um mesmo fato patrimonial. 64 Verrecchia, 1983. BIBLIOGRAFIA AMAT, O.; BLAKE, J. La Contabilidade Creativa: naturaleza y motivaciones. Técnica Contable, v. 47, n. 562, p. 653-660, octubre, 1995. ———. Contabilidad Creativa. 3. ed. Barcelona: Gestión 2000, 1999. 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Maiores informações no Departamento de Desenvolvimento Profissional (Despro) Tels: (21) 2216-9543/2216-9544/2216-9571 14 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 2º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque A Qualidade das Demonstrações Contábeis Convertidas em Ambiente Econômico Estável e Desvalorização Cambial 1- INTRODUÇÃO. Cada vez mais, as empresas brasileiras se relacionam com entidades estrangeiras, seja através da compra e venda de mercadorias, captação de recursos, emissão de ações em bolsas de valores de outros países, ou outras transações de interesse dos sócios e acionistas. Quando a empresa almeja captar recursos no mercado norte-americano, as exigências sobre as informações a serem divulgadas variam conforme o título a ser emitido. Segundo Martins (1995 pág. 216) “Se uma empresa vai lançar títulos no mercado norte-americano, por exemplo, há situações em que, por se tratar de colocações fechadas, não públicas, não são pedidas demonstrações convertidas, nem demonstrações elaboradas à base dos procedimentos daquele país; mas, no caso de lançamento primário ou público normalmente se exige a re-elaboração das demonstrações conforme a contabilidade de lá”. Muitas empresas brasileiras convertem suas demonstrações contábeis para outras moedas não só com a finalidade de captar recursos no exterior, mas também de consolidar as informações contábeis de um grupo empresarial, comparar-se com concorrentes do mesmo ramo, entre outras. Em se tratando do mercado norte-americano, a padronização do processo de conversão das demonstrações iniciou-se em outubro de 1975, quando o Financial Accounting Standards Board - FASB normatizou o processo através do FAS 8 (Financial Accounting Standards Borad Statement n.º 8). Este pronunciamento determinava que fosse usada uma única metodologia para a conversão em países de economia estáveis ou não, e em dezembro de 1981 foi substituído pelo pronunciamento n.º 52, que contém duas metodologias para o processo de conversão. Este pronunciamento encontra-se em vigor atualmente. 2- MÉTODOS ATUAIS DE CONVERSÃO. O processo de conversão das demonstrações contábeis para moeda estrangeira varia conforme a estabilidade econômica do país em que a empresa está localizada e a moeda funcional utilizada. O parágrafo 39 do FAS 52 define moeda funcional como “a moeda do principal sistema econômico em que a entidade opera; dependendo das circunstâncias, é a moeda do sistema em que a entidade gera e despende fundos”. Empresas localizadas em países de economia considerada estáveis, ou seja, cujo somatório da inflação dos três últimos anos for inferior a 100%, e que tenham a moeda local como Áurea de Carvalho Martins Contadora, mestranda em Ciências Contábeis pela UFRJ moeda funcional, devem utilizar a metodologia de conversão denominada “Translation”. Mas, se o somatório dos índices de inflação for próximo ou superior a 100% nesse mesmo período, a economia é considerada hiperinflacionária, a empresa não pode, para fins de conversão, basear-se em seus registos feitos em moeda local, devendo usar a metodologia do “Remeasurement”. Sobre a utilização das metodologias, Gomes Neto (1999, pág.77) esclarece ainda que o Remeasurement. “...não se aplica apenas a economias altamente inflacionárias, como correntemente se descreve, mas também a entidades, que apesar de localizadas em países de economias estáveis, tem suas operações preponderantemente dependentes da matriz norte-americana”. Pensar Contábil Os dois métodos de conversão estão resumidos abaixo: TRANSLATION a) Todas as contas patrimoniais, tanto os monetários quanto os não monetários, são convertidos pela taxa de venda do dólar em 31 de dezembro. b) As contas de resultado são convertidas pela taxa de câmbio do dia da operação, entretanto, existe a possibilidade da empresa utilizar a taxa média mensal do período se for impraticável a utilização da taxa do dia da operação. c) A conta Capital Social é convertida pela taxa de câmbio do dia da integralização. d) O ajuste da oscilação cambial é registrado no Patrimônio Líquido, em uma conta separada, denominada Cumulative Translation Adjustment – CTA. REMEASUREMENT a) Itens monetários são convertidos pela taxa de venda do dólar em 31 de dezembro. b) Itens não monetários, são convertidos pela taxa de do dia da operação, ou seja, a taxa histórica. c) As contas de resultado são convertidas pela taxa de câmbio do dia da operação, entretanto, existe a possibilidade da empresa utilizar a taxa média mensal do período, se for im- 15 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 praticável a utilização da taxa do dia da operação. d) A conta Capital Social é convertida pela taxa de câmbio do dia da integralização. e) O ajuste da oscilação cambial é registrado no resultado do exercício, na conta denominada Translation Gain or Loss – TGL. Conselho Regional de Contabilidade do RJ Nessa conjuntura econômica, o Brasil é um país de baixa inflação desde primeiro de julho de 1997, e o real é considerado moeda forte. Desde 1998, as empresas brasileiras que possuem o real como moeda funcional, estão fazendo a conversão das demonstrações contábeis pelo método de economia estável, o “Translation”. Independente do método utilizado, antes de iniciar a conversão, é necessário adequar os Princípios da contabilidade local aos princípios contábeis geralmente aceitos nos Estados Unidos – US GAAP. 3- CONJUNTURA ECONÔMICA BRASILEIRA. Seguindo as orientações de conversão das demonstrações contábeis para moeda estrangeira impostas pelo FAS 52, Bufoni, Gonçalves e Marques elucidam que na metodologia que está sendo usada no Brasil, “... todos os eventos econômicos sujeitos ao reconhecimento contábil são quantificados em Há pouco mais de cinco anos, o Brasil está conseguindo conter a inflação em níveis bastante baixos, se comparados com os anteriores que superavam os 40% ao mês. O Gráfico abaixo mostra que, segundo o medidor de inflação oficial do governo – IPCA, nos últimos cinco anos a inflação mantevese abaixo de 2%, exceto no último trimestre de 2002 quando chegou a 3,02 % GRÁFICO 1 - INFLAÇÃO BRASILEIRA MEDIDA PELO IPCA Reais, não sendo reconhecido nenhum efeito da oscilação do poder aquisitivo médio da moeda funcional no Resultado da empresa.” A padronização do FAS 52, foi formulada com o conceito de oscilação da moeda reproduzido na dissertação de Gomes Neto (1999, pág. 20), distinguindo-a de três maneiras : “a) Flutuação – caracterizada quando as alterações da taxa cambial entre dois períodos contábeis, delimitados por demonstrações financeiras, se situam numa faixa muito estreita, consoante os parâmetros recomendados pelo Fundo Monetário Internacional – FMI (variação de, no máximo 2,25% para mais ou para menos, entre as taxas de câmbio oficial do país praticadas no período). b) Desvalorização ou Depreciação – quando a taxa cambial do país sofrer modificações radicais entre duas datas distintas, Pensar Contábil expressando substancial perda de consistência em relação às moedas estrangeiras, em razão de expressivo processo inflacionário. c) Valorização ou Apreciação – quando a taxa cambial expresFonte: o autor Já, segundo um indicador muito utilizado pelo mercado, o IGP-M, a inflação também se manteve relativamente baixa, superando três pontos percentuais apenas em quatro meses, nos últimos cinco anos. GRÁFICO 2 - INFLAÇÃO BRASILEIRA MEDIDA PELO IPCA Fonte: o autor 16 sar elevação do valor da moeda local em relação à moeda estrangeira.” A premissa do pronunciamento é que, empresas situadas em países com economias estáveis e moeda forte, possuem variações de câmbio pequenas e transitórias, logo, essas variações não são reconhecidas como despesas ou receitas do exercício. O valor referente a essa variação, encontra-se no Patrimônio Líquido em uma conta denominada CTA (Cumulative Translation Adjustment). O CTA é compensado com a variação dos exercícios posteriores, pois acredita-se que essa variação é transitória. A observação das taxas de câmbio brasileiras mostram que o real vem se desvalorizando frente ao dólar. As perdas são efetivas, e a pequena recuperação do poder aquisitivo do real perante ao dólar, só pode ser observada após períodos de forte especulação que desencadearam em uma maxidesvalorização em nossa moeda - bem exemplificado no período pré-eleitoral de 2002. Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Desde a estabilidade da economia brasileira, as variações nas taxas médias mensais de câmbio foram: GRÁFICO 3 - TAXAS MÉDIAS MENSAIS DA VARIAÇÃO DO DÓLAR Comparando a variação anual da inflação, a taxa final do dólar nos últimos cinco anos e a variação acumulada do mesmo período temos: COMPARAÇÃO ENTRE A VARIAÇÃO DA INFLAÇÃO E DO DÓLAR 1998 1999 2000 2001 2002 1998-2002 1,66% 8,94% 5,97% 7,67% 12,53% 42,20% VARIAÇÃO ANUAL DO DÓLAR 1998 1999 2000 2001 2002 1998-2002 5 – ANÁLISE DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL CONVERTIDA NAS EMPRESAS BRASILEIRAS. A qualidade da informação contábil será analisada considerando os registros de uma empresa hipotética brasileira que possui o real como moeda funcional, no período de 1º de janeiro de 1998 a 31 de dezembro de 2002. Em 1º de janeiro de 1998 a empresa foi constituída com o Capital Social de R$ 500.000,00 integralizado em dinheiro. Em 1º de março de cada ano, a empresa adquire mercadorias por R$ 100.000,00 e as vende em 1º de outubro de cada ano por R$ 200.000,00 - as operações são efetuadas a vista. Nenhum lucro foi distribuído. Para fins didáticos serão desconsiderados os impostos, despesas e centavos. Fonte: o autor VARIAÇÃO DA INFLAÇÃO IPCA Conselho Regional de Contabilidade do RJ 8% 48% 9% 19% 52% 217% Fonte: o autor BALANÇO PATRIMONIAL EM REAIS Ativo Caixa Total Passivo Capital Social Lucros Acumulados Total 1998 600.000 600.000 1999 700.000 700.000 2000 800.000 800.000 2001 900.000 900.000 2002 1.000.000 1.000.000 1998 1999 2000 2001 2002 500.000 500.000 500.000 500.000 500.000 100.000 600.000 200.000 700.000 300.000 800.000 400.000 900.000 500.000 1.000.000 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO EM REAIS DRE Receita CMV Lucro Bruto 1998 1999 2000 2001 2002 200.000 200.000 200.000 200.000 200.000 (100.000) (100.000) (100.000) (100.000) (100.000) 100.000 100.000 100.000 100.000 100.000 Pensar Contábil No Brasil, taxas de câmbio e inflação não registram variações proporcionais. Nos cinco últimos anos, a economia foi considerada estável e, a variação cambial só foi “pequena” no ano de 2000. Analisando a Demonstração do Resultado do Exercício em Reais, observa-se um aumento substancial no fluxo de caixa da Companhia oriundo do resultado operacional, ou seja, todo o lucro que a empresa gera transforma-se em caixa. 4 – O PAPEL DA CONTABILIDADE. A conversão das demonstrações contábeis para moeda estrangeira conforme o FAS 52 será efetuada seguindo a metodologia Translation, onde o caixa será convertido pela taxa corrente (31 de dezembro de cada ano), o Capital Social pela taxa histórica (em 01/01/98, US$ 1,00 = R$ 1,1164), as receitas e despesas pela taxa do dia em que a operação foi realizada. Não é feita a conversão da conta Lucros Acumulados por nenhuma taxa específica, o valor a ela referente é obtido através do cálculo da DRE em dólares. A ciência contábil é responsável por fornecer informações fidedignas sobre o patrimônio das entidades sob os aspectos econômicos e financeiro, aos seus usuários. Entende-se por informações fidedignas, relatórios que possuam credibilidade, respeitem os princípios contábeis e expressem a realidade da Companhia. Hendriksen e Van Breda (1999 pág. 105) esclarecem que, segundo o Fundamento da Incerteza e Conservadorismo, instituído pelos órgãos normatizadores norte-americanos, “... os contadores devem divulgar o menor dos vários valores possíveis para ativos e receitas e o maior dos vários valores possíveis de passivos e despesas. Também significa que as despesas devem ser reconhecidas mais cedo e não mais tarde, e que as receitas devem ser reconhecidas mais tarde, e não mais cedo”. (grifo nosso) As taxas de câmbio de venda no período segundo o Banco Central do Brasil foram: 1998 1999 2000 2001 2002 01 de março 01 de outubro 31 de dezembro 1,1304 2,0284 1,7678 2,0428 2,3596 1,1807 1,9565 1,8437 2,6866 3,7467 1,2087 1,7890 1,9554 2,3204 3,5333 17 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Logo, temos os seguintes demonstrativos em US$. (Desprezando os centavos). BALANÇO PATRIMONIAL EM DÓLAR Ativo Caixa Total Passivo Capital Social CTA Lucros Acumulados Total 1998 496.401 496.401 1999 391.280 391.280 2000 409.123 409.123 2001 387.864 387.864 2002 283.021 283.021 1998 1999 2000 2001 2002 447.868 447.868 447.868 447.868 447.868 (74.567) (368.148) (542.265) (896.564) (1.514.787) 123.100 496.401 311.560 391.280 503.520 409.123 836.560 1.349.940 387.864 283.021 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO EM DÓLAR DRE Receita CMV Lucro Bruto 1998 1999 2000 2001 2002 236.140 391.300 368.740 537.320 749.340 (113.040) (202.840) (176.780) (204.280) (235.960) 123.100 188.460 191.960 333.040 513.380 Analisando a Demonstração do Resultado do Exercício em Dólares, observa-se o lucro crescente, e o Balanço Patrimonial no ano de 2002 informa que a empresa espera um aumento em seu caixa de US$ 1.514.787 oriundo exclusivamente da valorização do real. 6 - CONCLUSÃO. As demonstrações contábeis convertidas, não expressam corretamente o resultado das atividades da empresa quando são elaboradas em ambientes de baixa inflação e grande variação no poder aquisitivo da moeda. Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJ No nosso exemplo, embora a empresa consiga, através da atividade, gerar reais, em dólares, a liquidez está diminuindo, pois o lucro em reais é menor que a desvalorização cambial do período. A demonstração contábil convertida, informa que no futuro, somente com a variação positiva do dólar a empresa irá “ganhar” dólares, sem que realize nenhuma atividade. Essa informação não é verdadeira. Na conjuntura econômica do Brasil não há expectativa de valorização do real para se equiparar às perdas registradas desde 1998, ano que o Brasil, pela estabilidade econômica, alterou a metodologia de conversão das demonstrações contábeis em moeda estrangeira. A metodologia atualmente utilizada no Brasil, não reconhece uma variação da perda do poder aquisitivo da moeda em 217%, e desrespeita um Fundamento contábil norte-americano, o da Incerteza e do Conservadorismo. A fidedignidade da informação contábil é relevante, pois, baseada nessas informações, entidades estrangeiras concedem ou negam empréstimos para empresas brasileiras, logo a qualidade da informação está diretamente relacionada ao ingresso de recursos financeiros no Brasil. Gomes (2000 pág. 57) esclarece que no mercado norte americano “... todas as informações disponíveis ao público influenciam os preços dos títulos negociáveis de forma integral, instantânea e sem tendenciosidade”, é possível que os valores dos títulos das empresas brasileiras estejam distorcidos. A comunidade científica contábil brasileira precisa promover discussões sobre o assunto de modo a garantir a qualidade da informação dos demonstrativos das empresas brasileiras tanto em reais, reconhecendo a inflação, como em dólares, reconhecendo a perda do poder aquisitivo de nossa moeda perante a outras moedas. 7 – BIBLIOGRAFIA. BUFONI, André; GONÇALVES, Paulo e MARQUES, José Augusto. O Impacto da Inflação nas Demonstrações Financeiras das Empresas Brasileiras. BALAS Annual Conference, EUA. Financial Accounting Standards Board – FASB. Translation of foreing currency. FASB Statement n.º 52, 1982. HENDRIKSEN, Eldon S. e VAN BREDA, Michael F. Teoria da Contabilidade. 5ed. São Paulo: Atlas, 1999. GOMES, Amaro Luiz de Oliveira. As Informações Contábeis e o Ambiente Econômico. Brasília: UnB Contábil. n.º 1, vol.3, p. 51-77, 2000. GOMES NETO, Francisco de Paula. Conversão das Demonstrações Financeiras Real X Dólar. Dissertação de Mestrado Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 1999. MARTINS, Eliseu. Conversão das Demonstrações Contábeis em Moeda Estrangeira - Introdução e “FAS 8” , Boletins 24 a 27, Temática Contábil, IOB, 1995 . Conversão das Demonstrações Contábeis em Moeda Estrangeira - O FAS 52, Boletins 30 a 32, Temática Contábil, IOB, 1995 . Análise Comparativa dos Métodos FAS 8 e FAS 52 de Conversão das Demonstrações Contábeis em Moeda Estrangeira, Boletins 35 a 37, Temática Contábil, IOB, 1995 . O “Método Brasileiro” de Conversão das Demonstrações Contábeis em Moeda Estrangeira, Boletins 42 a 44, Temática Contábil, IOB, 1995. SZUSTER, Natan, e GONÇALVES, Paulo. Conversão das Demonstrações Contábeis em Moeda Estrangeira - Considerações sobre o Tratamento Monetário em Decorrência do Real ser Considerado como Moeda Forte a Partir de 1998. Semana de Contabilidade do Banco Central do Brasil, Rio de Janeiro, 1998. Banco Central do Brasil <www.bcb.gov.br> acesso em 20 de fevereiro de 2003. O Estadão <www.estadao.com.br/ext/economia/financas/historico> acesso em 20 de fevereiro de 2003. 18 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 3º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque Fraudes com Derivativos: O Caso Barings Sebastião Bergamini Júnior Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade Moraes Júnior (1975); pós -graduado em Finanças Corporativas pela Fundação Getúlio Vargas (1994); técnico do BNDES, desde 1977; atualmente exercendo o cargo de Gerente de Crédito na Área de Crédito. INTRODUÇÃO Os instrumentos financeiros derivativos, como os contratos de futuros e de opções, não são produtos novos, mas seu uso cresceu enormemente nos últimos anos como reflexo da crescente globalização e da redução nos controles da movimentação das moedas estrangeiras. A maior parte dos bancos dos grandes centros financeiros obteve êxito em utilizá-los para administrar seus negócios e em oferecer serviços de administração de risco aos seus clientes. No entanto, a história registra episódios de grandes perdas decorrentes do uso desses instrumentos, salientando que esses prejuízos têm sido acarretados por diversos fatores, como administração pouco previdente, risco de modelo, técnicas de hedge inadequadas, movimentação inesperada do mercado, risco excessivo com relação ao capital e fraudes. Esse artigo descreve um caso notório de perdas decorrentes de fraudes com derivativos, que eclodiu no início de 1995, acarretando a quebra do Banco Barings. O trabalho aborda o assunto em duas etapas: na primeira são relatadas as circunstâncias da falência do Barings e, na segunda, são comentadas as influências da cultura organizacional sobre o processo de gestão do risco operacional; as falhas dos controles internos no Barings, que estão no cerne de sua quebra; e, finalizando, a constatação da existência de um campo de atuação pouco explorado pelos contabilistas, representado pelo apoio ao desenvolvimento e implantação de controles internos nas empresas. No Apêndice são apresentados os conceitos essenciais sobre os mercados e as operações com derivativos, necessários ao pleno entendimento do artigo. 1. FRAUDES NO BARINGS O ambiente de operações com derivativos do Barings, em meados da década de 90, era diferente do atual. O volume global de negócios multiplicou por dezesseis entre 1986 e 1995. As perdas com o uso de instrumentos derivativos foram de US$ 16,4 bilhões em 1995, dos quais cerca de pouco menos de US$ 1 bilhão decorreram da quebra do Barings. Os valores envolvidos nessa falência não constituíram parcela tão relevante das perdas totais do mercado, se considerada a ampla divulgação que o fato recebeu na época. A falência do Barings decorreu de fraudes cometidas pelo seu principal operador local, Nicholas William Leeson, em operações com derivativos transacionados na bolsa de Cingapura, a Singapore International Monetary Exchange- SIMEX. Era um pequeno e tradicional banco inglês, fundado em 1763 por Sir Francis Baring. Seu capital acionário, na época da falência, era de 470 milhões de libras, o que permitia um nível de operações de pouco mais de 5 bilhões de libras. A família Barings ainda participava do controle do banco, sendo representada por Peter Barings, presidente do Conselho de Administração. As perdas em libras - não registradas até a sua descoberta - foram ascendentes: no final de 1992 eram de cerca de 150 mil libras; em 1993 de 23 milhões; em 1994 de 170 milhões, culminando com uma perda acumulada, em 23 de fevereiro de 1995, de cerca de 600 milhões de libras - equivalentes a cerca de 960 milhões de dólares. Em contraste, os ganhos de Leeson sob a forma de bonificações passaram de 100 mil libras sobre os resultados de 1993, e para 400 mil libras sobre os de 1994, ressaltando que esse último valor representava oito vezes os seus salários fixos anuais, da ordem de 50 mil libras. Pensar Contábil 1.1. Cronologia dos fatos Leeson deu a sua versão dos fatos, a qual constitui a matéria-prima básica desse relato (Leeson, 1997): em 10 de julho de 1989, com vinte e dois anos, começou a trabalhar no Barings, de Londres, inicialmente no back office, unidade responsável pela liquidação, documentação-suporte e registro contábil de operações com derivativos. Em fevereiro de 1992 foi designado para o cargo de gerente-geral da Barings Future Singapore-BFS, subsidiária criada em Cingapura para atuar no mercado local de derivativos, tendo então a incumbência de contratar os operadores e o pessoal do back office. Foi nesse curto espaço temporal de três anos - entre fevereiro de 1992 e fevereiro de 1995 que ocorreram os fatos que levaram o Barings à bancarrota. As fraudes começaram em 17 de julho de 1992, com a utilização de “conta erro” em duplicata para, alegadamente, enco- 19 Pensar Contábil brir uma falha de funcionária do back office, envolvendo a compra de 20 contratos de futuros de títulos de emissão do Tesouro japonês - os Japan Governmental Bond (JGB’s) - com perdas estimadas em 20 mil libras. Leeson utilizou essa conta logo após para encobrir falha de um operador e, em seguida, para realizar transações não autorizadas. Entre setembro e dezembro daquele ano foram realizadas trinta transações não autorizadas. Em janeiro de 1993 a conta erro continha 420 contratos de futuros, com valor de mercado de cerca de 150 mil libras, envolvendo transações de cerca de oito milhões de libras, todas originadas por transações não autorizadas. Para encobri-las, Leeson passou a operar com opções, o que era uma necessidade, não uma alternativa. Além de manter suas operações não-autorizadas em sigilo para a Divisão de Contabilidade Interna, Leeson precisava providenciar, também, a cobertura de margem diária. A margem inicial para futuros e opções no SIMEX podia ser feita em dólares ou ienes, porem as margens diárias eram liquidadas em ienes, e para obtê-los era necessário lançar opções. A SIMEX operava com ienes, dólares e libras, numa salada de moedas que trazia dificuldades adicionais para as atividades de controle. As cotações no período foram, em média, de uma libra por 1,60 dólares e de 100 ienes por dólar. Em março de 1993 a fraude se sofistica: Leeson passa a operar com opções straddle. No mês de julho, ou seja, quatro meses depois, em uma operação arriscada, Leeson estabelece uma posição comprada em futuros e uma posição vendida a descoberto em opções de compra, revertendo sua posição de perda de seis milhões de libras para uma de “lucro glorioso”. Porém, em pouco tempo voltou a realizar transações não autorizadas e, em setembro, detinha uma perda acumulada de pouco mais de um milhão de libras. No início de 1994 o Barings divulgou lucros de 200 milhões de libras, relativas ao ano anterior, pagando metade desse valor em bonificações à Diretoria e funcionários, conforme era usual no banco. Escondida nas demonstrações contábeis havia perdas não registradas de 23 milhões de libras. Leeson recebeu uma bonificação de 100 mil libras, equivalente ao dobro dos salários recebidos durante o ano. Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Em julho de 1994 uma auditoria interna que durou três semanas nada apurou, embora o relatório final apontasse para o fato de que as chefias no pregão e no back office eram exercidas pela mesma pessoa, o que lhe permitia “efetuar transações por conta do Grupo e depois garantir que fossem ajustadas e registradas de acordo com as suas próprias instruções”. Dos 50 milhões de libras em lucros auferidos oficialmente pelo Barings no primeiro semestre de 1994, cerca de 50% provinham das atividades do BFS. Curiosamente, as perdas cristalizadas no final de julho eram de 50 milhões de libras, o equivalente à totalidade dos lucros oficiais do Barings naquele período. Em dezembro de 1994 as perdas não registradas de Leeson eram de 170 milhões de libras, dos quais 50 milhões repousavam na conta erro, sendo a diferença representada por margens em poder do SIMEX. Oficialmente as atividades do BFS naquele ano tinham gerado lucros de 28 milhões de libras. Na distribuição de bonificações estava sendo discutida a participação de Leeson, em torno de 400 mil libras. Em 02 de fevereiro de 1995, Leeson falsificou duas cartas simulando uma operação de balcão financiada pelo Barings, realizada em 02.12.94 e com vencimento em 30.12.94, envolvendo uma transação de opções entre a Spear, Leeds & Kellogg (SLK) - uma corretora de Cingapura especializada em futuros e opções - e o Banque Nationale de Paris, no valor de 7,78 bilhões de ienes (equivalentes a 50 milhões de libras). Em seguida, manipulou extratos bancários do Citibank para simular o pagamento pela SLK em 02.02.95. Esses documentos forjados induziram a empresa de auditoria independente Coopers & Lybrand (C&L) a isentá-lo, em 3 de fevereiro, através do relatório preliminar de auditoria sobre a consolidação das operações do BFS. Em 10 de fevereiro de 1995 as perdas ascendiam a 200 milhões de libras, porém a falência do Barings ainda seria evitável. Nas duas semanas seguintes as perdas triplicaram, chegando a mais de 600 milhões de libras, engolindo o capital acionário do banco, de pouco menos de 500 milhões de libras. Em 24 de fevereiro de 1995, dia do pagamento das bonificações relativas ao ano de 1994, Leeson fugiu de Cingapura, sendo preso no dia 2 de março de 1995, em Frankfurt. Depois de uma demora de oito meses por alegados problemas de jurisdição, foi recambiado para Cingapura. Em 1º de dezembro daquele ano se declarou culpado de dois crimes para enganar os auditores externos do Barings e um para fraudar a SIMEX, sendo condenado a seis anos e meio de prisão. Na época tinha vinte e oito anos. Pensar Contábil 20 1.2. Análise das fraudes Leeson executou suas fraudes na seguinte seqüência: aproveitou sua expertise para operar uma “conta erro”, a partir de julho de 1992, na qual descarregava provisoriamente os resultados de suas operações não autorizadas; “criou” ativos inexistentes nas datas dos fechamentos mensais ou anuais, pois a conta erro – que era uma conta transitória de resultados - deveria estar zerada ao encerrar o período de apuração dos resultados; registrou um recebível, no final de 1994, para poder fechar o balanço daquele ano, com base em uma suposta operação de balcão; produziu documentação-suporte, no início de fevereiro de 1995, falsificando assinaturas de terceiros para simular a referida operação de balcão, visando manter o sigilo das fraudes cometidas. A ocorrência de falhas humanas na realização de operações financeiras é relativamente comum, sendo a inversão de ordem (de compra para venda, e vice-versa) a mais comum. A sua reversão exigia a realização de duas transações no mercado, gerando dois lançamentos na “conta erro”. O resultado da reversão - representado por lucro ou prejuízo - era apropriado, posteriormente, aos resultados correntes. No início das atividades do BFS, Leeson operava com uma conta erro, de número 99905, na qual eram descarregados os erros, antes que fossem transferidos para Londres. Porem, dado o número elevado de erros diários - cerca de cinqüenta, o que acarretava o dobro de registro para cancelá-los - o pessoal da matriz em Londres permitiu a criação de uma conta erro local, de número 88888. Algumas semanas depois, Londres determinou a desativação da conta 88888, passando a registrar todos os erros de forma centralizada. Em julho de 1993, Leeson passou a utilizar fraudulentamente a conta 88888 – que deveria permanecer inativa - com o duplo objetivo de executar transações sem autorização de Londres e de manter suas perdas provisoriamente em sigilo, pois nos fechamentos mensais e Pensar Contábil anuais essa conta deveria estar zerada. As perdas eram mascaradas por Leeson, no fechamento dos balancetes e do balanço anual, sob a forma de saldo de recebíveis inexistentes, na figura contábil de uma insubsistência ativa. Note-se que essas perdas também podiam estar transitória e parcialmente ocultas na forma de margens depositadas na SIMEX, porém se cristalizavam nas datas dos vencimentos dos contratos de futuros ou de opções. Por exemplo, o déficit em torno de 50 milhões existentes em julho de 1994 foi encoberto pelo expediente de registrar um depósito no Citibank de 50 milhões de libras. Era uma maneira absurda de esconder o dinheiro desaparecido, pois se cruzassem os dados contábeis com os do extrato do Citibank confirmariam a inexistência dos 50 milhões de libras. Leeson não tinha autorização para operar no mercado de balcão, mas simulou a execução de uma operação de financiamento entre a SLK e o Banque Nationale de Paris, o que envolveria, se tivesse sido realizada, a avaliação de risco de crédito do financiado SLK. O Comitê de Administração do Barings em Londres tomou conhecimento de que cerca de 80 milhões de dólares de dinheiro do banco teriam passado dois meses longe do banco sem que ninguém tivesse percebido. Seus superiores não somente aceitaram sem protestos a pretensa realização, por Leeson, de uma operação não autorizada em uma modalidade não autorizada, como também não investigaram o fato de uma transação concluída em 30.12.1994 não tivesse sido tempestivamente liquidada. Essa situação demonstra o reduzidíssimo nível de controle. As atividades ilícitas de Leeson começaram com a realização operações não autorizadas, ou seja, com fraudes de natureza operacional que, para serem encobertas, acarretaram a execução de fraudes contábeis. Essas consistiam na omissão ou falsificação dos registros dessas transações e de seus resultados. Manter suas atividades em sigilo por dois anos e meio revela muito do caráter calculista de Leeson e denota a existência de circunstâncias facilitadoras. Leeson conseguiu esse feito por conhecer as operações com derivativos e seu registro contábil; por atuar sem supervisão efetiva; por ter conseguido enganar as auditorias interna e externa; por iludir a SIMEX e , finalmente, pelo Barings ter obtido a complacência do Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Banco da Inglaterra com relação ao seu desenquadramento às regras bancárias vigentes. Por ser capaz de atuar nos dois lados do balancete, Leeson reincidia na execução de transações não autorizadas. Seu conhecimento sobre a contabilização das operações com derivativos, o desconhecimento ou desinteresse de seus supervisores sobre o registro dessas transações, sua condição de operador de pregão, o fato de ter clientes com transações volumosas, sua contribuição aparentemente positiva para os resultados do Barings em períodos anteriores formavam um conjunto de motivos que faziam com que seus pedidos de transferência de recursos de Londres para Cingapura – destinados em grande parte para margear suas transações não autorizadas - fossem atendidos sem questionamento sobre as suas destinações específicas. Leeson se reportava diretamente a quatro pessoas: seu supervisor direto, lotado em Cingapura, era o gerente regional de operações do Barings no sul da Ásia, que não se interessava pela parte de futuros e opções, não exercendo nenhuma supervisão sobre suas atividades; outro chefe nominal era o gerente global de futuros e opções baseado em Tóquio; e, por último, Leeson estava subordinado a dois executivos do Grupo de Produtos Financeiros do Barings, lotados em Londres. O fato de ser reconhecido como um operador competente e de suas linhas de comando serem cruzadas e nebulosas contribuíam para que a falta de supervisão mínima e para que seus pedidos de transferência de recursos fossem feitos sem perguntas. A auditoria interna estava mais preocupada em quanto tempo o BFS poderia produzir lucros tão espetaculares, em vez de se interessar pela natureza dos lucros. Os auditores internos pareciam entender a mecânica das transações, mas não as especificidades de seu registro contábil. A manipulação das demonstrações contábeis por Leeson e seu conhecimento dos procedimentos de registro permitiam despachá-los com respostas vagas e sem sentido. O relatório de auditoria interna continha uma relação dos limites fixados pelo Comitê de Riscos do Barings sobre as posições máximas que o BFS podia assumir cada dia, não sendo autorizada nenhuma posição de um dia para o outro. No começo de setembro de 1994 Leeson tinha 5.000 futuros de Nikkey 225 (contratos autorizados: 200); 2.000 futuros de JGB’s (autorizados: 10); 1.000 futuros de Euroyen (autorizados: 500); e 20.000 opções (não autorizados). Era evidente que Leeson atuava sem qualquer supervisão, pois os limites operacionais não eram efetivamente acompanhados pela sua chefia imediata, pelos seus superiores hierárquicos, pelos membros do Comitê de Riscos ou pelos auditores. A C&L, auditores externos do Barings, foram iludidos por documentos forjados e a quebra do Barings respingou em sua reputação de forma indevida, pois a documentação-suporte relativa à operação de balcão estava em ordem. A C&L teve sua desforra no julgamento, no qual Leeson se declarou culpado de dois crimes para enganá-los, de forma passível a causar danos à sua reputação. A SIMEX remeteu um memo, datado de 11.01.95, pedindo justificativa para o fato do Barings ter violado a norma que proíbe os membros de financiarem as margens operacionais de seus clientes, pois até então os registros da SIMEX computavam parte das posições relativas às transações não autorizadas como se fossem transações de clientes. Antes de ser respondido pelo Barings, a SIMEX mandou outro memo, datado de 16.01.95, questionando a separação inadequada de recursos dos clientes e a computação imprópria de recursos dos clientes para atender as exigências financeiras de margens. A SIMEX estava tomando ciência das irregularidades praticadas por Leeson, mas provavelmente ignorava a sua extensão. O fato de Leeson ser responsável, na época, por cerca de 40% do movimento do mercado de Cingapura, recomendava um tratamento cauteloso da SIMEX. O Barings comunicou ao Banco da Inglaterra, no mês de setembro de 1994, que tinha remetido, em descumprimento da legislação bancária britânica então vigente, mais de 25% de seu capital acionário para Cingapura, destinados à cobertura de margens. Essa carta ficou na “bandeja de entrada” de Christopher Thompson, executivo do Banco da Inglaterra encarregado da supervisão dos bancos de investimentos. O Barings tinha auferido resultados medíocres e preocupantes alguns anos antes e se, para melhorar seu desempenho tivesse que operar em outros mercados, as autoridades reguladoras da Inglaterra teriam complacência, Pensar Contábil 21 Pensar Contábil portanto deram a sua autorização tácita. Mais tarde, Thompson foi demitido em razão de sua leniência com o Barings. Esse fato deve ter contribuído para a posterior oposição das autoridades britânicas em recambiar Leeson da Alemanha para a Inglaterra em 1995, para responder por crimes financeiros contra o Barings, pois seu depoimento iria, provavelmente, comprometer a imagem do Banco da Inglaterra. 2. CONTROLES INTERNOS NA GESTÃO DAS EMPRESAS O caso Barings tornou-se um divisor de águas: antes se buscava estimar quanto deveria ser aplicado em derivativos para garantir flexibilidade a uma carteira de investimentos e reduzir o risco dos bancos e de seus clientes; posteriormente, o centro das preocupações dos investidores deslocou-se para o risco operacional inerente à cultura de risco das organizações, levando os investidores a refletir sobre a estrutura e a forma de operação dos mercados nos quais esses produtos financeiros são negociados e sobre os controles internos necessários para bem geri-los. As causas da quebra do Barings residiram, segundo Altman (2000), na sua cultura de gestão de risco, ficando evidente que o banco não tinha técnicas adequadas de monitoramento, administração e controle de risco para a importância e magnitude dos riscos envolvidos nas operações com derivativos, portanto, a sua cultura de gestão de risco não se adequava às atividades nas quais o Barings estava envolvido. Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ relacional; enquanto que a valorização do trabalho, o reconhecimento e o estímulo das diferenças individuais, predominantes na sociedade americana, geraram uma cultura mais influenciada pelos conceitos da meritocracia. Essa diferença remonta à evolução das empresas no contexto da formação social dos países. A empresa privada teve um papel decisivo no processo da formação da sociedade americana, portanto ambas cresceram juntas, sendo a primeira uma expressão concreta de noções como livre iniciativa, liberdade econômica e direito individual. No Brasil esse processo ocorreu de forma diferente, muito provavelmente devido ao desenvolvimento tardio do capitalismo. A empresa privada nacional passou a influenciar o processo de formação histórica e econômica do país apenas em meados do século XX, e mesmo assim, com vínculos de forte dependência do Estado. Os diferentes tipos de cultura das organizações irão acarretar tratamentos diversos com relação aos métodos de gestão das operações: uma cultura relacional, como a brasileira, irá se basear nas pessoas, tendo grande dependência de prepostos de confiança da família proprietária da empresa para ocupar as funções de controle, valorizando os sistema de controles poucos rigorosos e formais; ao passo que uma cultura meritocrata dará preferência a sistemas estruturados, privilegiando o uso de controles formais detalhados e a sua aplicação de forma impessoal. Um tipo de cultura não parece ser intrinsecamente melhor do que outra, com as inferências apontando para a existência de culturas com variados graus de adequação com relação às atividades desenvolvidas pela empresa, o que fortalece a crença de que uma cultura organizacional do tipo relacional estará pouco instrumentalizada para gerir atividades de risco operacional elevado. vante para os diferentes mercados de derivativos, devido às características comuns desses mercados: operam com informações atualizadas; dependem dos recursos da telemática; embutem um alto nível de risco; possibilitam um elevado nível de alavancagem de resultados; exigem uma grande agilidade no processo negocial; e requerem a disponibilidade de pessoal altamente especializado. A decisão de utilizar instrumentos derivativos representa, para as instituições financeiras, assumir riscos - principalmente os de crédito, os operacionais e os de mercado. O uso do hedge estrutural transformou o risco do overnight no único risco de crédito relevante nos mercados de transações com derivativos padronizados, contudo o risco de crédito ainda constitui o principal vetor de risco para o conjunto de atividades desenvolvidas pelas instituições financeiras. Estudo elaborado no final da década de 90 pela Oliver, Wyman & Co., consultora especializada em análise de risco de instituições financeiras, revelou a importância relativa de cada tipo de risco para a formação de resultados dos bancos - 65% para o risco de crédito, 25% para o operacional e 10% para o de mercado – confirmando a pouca divulgada relevância do risco operacional. A falência do Barings demonstrou como é essencial o desenvolvimento de uma cultura organizacional adequada para gerir os riscos envolvidos na utilização dos instrumentos financeiros derivativos, principalmente o risco operacional. Essa cultura está consubstanciada, em parte, pelos seus controles internos. Para avaliar os pontos fracos desses controles e sua influência na quebra do Barings, é necessário relembrar alguns conceitos (baseados em Atie, 1995). Pensar Contábil 2.1. Cultura organizacional A descrição de Leeson revela que a cultura organizacional do Barings privilegiava as relações interpessoais, com controles exercidos num clima de alta informalidade e de excessiva confiança. Essa particularidade guarda grande similaridade com a cultura organizacional da maioria expressiva das empresas brasileiras, que é de propriedade familiar. As culturas das organizações refletem, segundo Barbosa (1999), os valores de uma sociedade: a baixa valorização do trabalho no Brasil fez com que tempo de casa e relações pessoais e políticas contassem mais do que o bom desempenho medido de forma fria e objetiva, resultando numa cultura organizacional fortemente 22 2.2. Risco operacional O risco operacional surge da probabilidade de ocorrerem perdas acarretadas por erros, fraudes e falhas em equipamentos, portanto se referem à organização, qualificação e treinamento dos funcionários, bem como aos recursos materiais utilizados pela empresa, principalmente, os relacionados à informática. Esse tipo de risco torna-se muito rele- 2.3. Barings e os controles internos A definição do Comitê de Procedimentos de Auditoria do Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados é que “o controle interno compreende o plano de organização e todos os métodos e medidas adotadas na empresa para salvaguardar seus ativos, verificar a exatidão e fidelidade dos dados contábeis, desenvolver a eficiência nas operações e estimular o seguimento das políticas administrativas prescritas”. Seus objetivos são os de obter um controle eficiente sobre todos os aspectos vi- Pensar Contábil tais do negócio, e consistem em (a) estimular a eficiência dos funcionários, mediante o acompanhamento através dos relatórios; (b) identificar erros e desperdícios, promovendo ao mesmo tempo a uniformidade e correção ao registrarem-se as operações; (c) salvaguardar os ativos; (d) prevenir fraudes e, em caso de sua ocorrência, ter meios de descobri-las rapidamente e determinar a sua extensão; e (e) comprovar a veracidade dos informes e relatórios contábeis, financeiros e operacionais; Os princípios de controle interno correspondem ao conjunto harmônico de regras detalhadas que devem ser formalizadas nas políticas, sistemas e organização. São representados pelas seguintes medidas: clara atribuição de responsabilidades, formalização dos procedimentos, efetiva capacitação dos funcionários, divisão de tarefas com a segregação de funções, periódica rotação de funções, exigência de garantias formais para a ocupação de cargos sensíveis (tesoureiro, por exemplo), preferência pelos controles mecanizados, e realização de revisão independente por pessoal capacitado. O caso Barings mostra que a maioria dos princípios de controles internos foi violada: - as linhas de comando eram nebulosas e Leeson atuava sem supervisão (clara atribuição de responsabilidades); - os limites operacionais diários para as transações proprietárias eram diariamente desrespeitados (formalização dos procedimentos); - a modalidade de transação no mercado de balcão não estava autorizada à Leeson, que apesar disso simulou operar nesse mercado (formalização dos procedimentos); - o chefe do back office, responsável pelos registros das operações e pelo margeamento das operações, acumulava a função de operador de pregão, responsável por realizá-las (divisão de tarefas com segregação de funções); e - a auditoria interna era realizada por funcionários sem o adequado conhecimento para comprovar a aderência das transações às exigências das normas internas (realização de revisão independente por pessoal capacitado). Os controles internos se desdobram em dois tipos: os administrativos e os contábeis. Os primeiros são mais abrangentes e compreendem o plano de organização, Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ os métodos e procedimentos relacionados com a eficiência das operações, voltadas diretamente para a implementação da política de negócios da empresa e, indiretamente, com os seus registros financeiros. Os controles contábeis – que constituem parte dos controles administrativos, complementando-os - abrangem o plano de organização e todos os métodos e procedimentos relacionados com a salvaguarda do patrimônio e a adequação dos registros contábeis, sendo compostos por três sistemas: de segregação de funções, de autorizações e de registros. O caso Barings revela que os sistemas de controles contábeis também estavam claramente comprometidos: - sistema de segregação de funções: não havia independência no exercício das diversas funções. A execução operacional (operação no pregão), a custódia de bens patrimoniais (manutenção das margens das operações), e a contabilização das operações (registros feitos pelo back office) eram realizados e controlados pela mesma pessoa; - sistema de autorização: o controle das operações através de métodos de aprovações, de acordo com as responsabilidades e os riscos envolvidos, não era realizado. No Barings, esse sistema era constituído pelos limites diários para a execução de operações com derivativos que, embora existisse formalmente, não era acompanhado de forma efetiva; - sistema de registros: as normas que regiam a utilização de uma estrutura formal de contas, a preparação das demonstrações contábeis e o uso correto das disposições constantes de um manual descritivo do uso das contas, não eram seguidas. Esse fato é corroborado pelo uso não autorizado de uma conta erro em duplicata. A comprovação de que, no Barings, os princípios de controles internos não eram respeitados e que os sistemas de controles contábeis estavam comprometidos contribuiu para evidenciar uma falha comum encontrada, de forma recorrente, na administração de empresas brasileiras de propriedade familiar: a existência de controles internos que não são efetivamente utilizados nas atividades rotineiras das empresas, o que pode ser diagnosticada na fase de verificação da aderência das práticas organizacionais com relação às previstas (compliance). Esse tipo de falha decorre, geralmen- te, da falta de assertividade da alta administração - responsável pela implementação dos padrões da cultura organizacional - em exigir o efetivo cumprimento das normas. Altman (2000) compartilha dessa idéia, quando afirma que “uma organização pode estabelecer políticas e procedimentos complexos como freios e contrapesos para controlar os seus riscos, mas se faltar um núcleo cultural forte, esses serão de pouca utilidade”. 2.4. Um campo de atuação pouco explorado O caso Barings indicou a relevância que o risco operacional tem para as empresas que atuam em qualquer ramo de atividade, porem assume especial importância para as instituições financeiras, pelo fato de sua mercadoria – o dinheiro - ter liquidez imediata, exigindo controles mais restritivos. No entanto, os conceitos de controles internos voltados para a administração do risco operacional podem e devem ser aplicados às pequenas e médias empresas (PME’s), cujo processo de sobrevivência e crescimento dependem, em grande parte, de um nível mínimo de formalização e do desenvolvimento integrado desses controles. As PME’s apresentam um histórico de reduzida utilização de controles internos formais e/ou de desenvolvimento desses controles embasado na implementação de sistemas naturais. Esses decorrem da adoção de procedimentos isolados - e muitas vezes, inconsistentes ou conflitantes com os demais controles internos – visando à resolução de problemas específicos. Esse tipo de sistema se contrapõe ao sistema planejado de controles internos, elaborados a partir de uma visão conjunta e estruturada dos controles internos necessários ao bom desenvolvimento das atividades da empresa (adaptado de Peleias, 2002). A elevada taxa de mortalidade nos novos negócios abertos pelas PME’s no Brasil decorre, em parte, da ausência de uma cultura adequada ao exercício de suas atividades, acarretando o aumento do seu risco operacional. Esse agravamento de risco parece decorrer, em grande parte, da cultura relacional predominante no país, fundada em relações pessoais, implicando tanto na ausência ou baixa utilização de controles formais quanto na prevalência do uso de sistemas naturais de controles internos. Pensar Contábil 23 Pensar Contábil Os contabilistas vinham há muito, de forma não sistemática, difundindo as técnicas de gestão empresarial entre as PME’s, colaborando para a diminuição do seu risco operacional. Essa contribuição pode aumentar de forma significativa, como permitem inferir os seguintes dados: apenas 5% das redes brasileiras de franquias têm sistemas profissionais de administração e cerca de 60% das PME’s do Brasil tem no contador sua principal fonte de consulta; dados que sinalizam tanto a existência de demanda reprimida para esse tipo de consultoria, quanto a oportunidade dos contabilistas virem a ter uma participação expressiva no desenvolvimento dessas atividades. Os organismos de apoio às atividades das PME’s também chegaram à conclusão semelhante, confirmando a importância dos controles internos na redução do risco dos novos empreendimentos. Com base nesse diagnóstico, passaram a ofertar treinamento para contabilistas que trabalham com micros e pequenas empresas nas áreas de planejamento e controle, inclusive em controles internos. Esse é um campo de atuação pouco explorado pelos contabilistas que se afigura com grande potencial de desenvolvimento: apoiar as PME’s brasileiras, dotando-as de controles internos indispensáveis a um crescimento sustentado. Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ pação nos lucros, assumiu um valor reconhecidamente elevado, mesmo para os padrões do mercado financeiro. Leeson teve seu perfil traçado por Altman (2000), segundo o qual ele seria um traders option: “como estou jogando com as suas fichas, se eu ganhar, nós ganhamos; mas se eu perder, só você perde.” Leeson participava dos lucros do banco, mas não precisava pagar pelas perdas. O Barings falhou ao deixar de implantar meios de controle adequados, porém o fato é que, quando os negócios foram lucrativos, a direção em Londres ficou satisfeita em receber os lucros sem fazer perguntas. Na época, esse episódio deslocou o foco dos investidores dos possíveis benefícios trazidos pela flexibilidade de uma carteira de ativos para o risco operacional envolvido nas transações com derivativos. Outra conseqüência foi que os contratos de derivativos mais complexos perderam popularidade em benefício dos produtos padronizados mais simples ofertados pelos mercados futuro e de opções. No final do ano de 1995, os mercados se acalmaram, depois de vários meses de pânico e de redução no volume de negócios com derivativos. deriva do preço do mesmo ativo negociado no mercado à vista, podendo ser identificados os mercados de futuros, os mercados de opções, os mercados a termo e os mercados de swaps. Esses mercados negociam dois tipos de contratos: o padrão, no qual o vencimento, o prazo e as condições de entrega e liquidação são padronizados e, uma vez efetuada a transação, a relação contratual passa a ser entre cada parte e a bolsa ou câmara de compensação, o que é possibilitado pelo hedge estrutural; e o individual, feito para atender as necessidades específicas de um cliente e que não segue as regras padronizadas dos mercados de bolsas, sendo transacionado diretamente entre as partes no sistema de balcão. O artigo está focado nos contratos padronizados de futuros e de opções, cujo conhecimento básico é necessário para o entendimento das circunstâncias que envolveram a quebra do Barings. As operações com derivativos padronizados são realizadas através das bolsas, que estabelecem as regras de transação, definindo o objeto, a forma e a unidade de negociação; os meses de vencimento, a data de vencimento e último dia de negociação; o preço de exercício, a oscilação máxima diária, a margem de garantia; etc.. O objetivo básico dos mercados de futuros é a proteção dos agentes econômicos contra as oscilações de preços de seus produtos e de seus investimentos em ativos financeiros constituindo um instrumento efetivo para eliminar o risco de um investidor que detenha uma determinada posição de mercadorias ou ativos financeiros. Ao transacionar com contratos de futuros, o investidor está capacitado a fixar um valor futuro, ficando protegido das conseqüências de um cenário desfavorável; no entanto, caso ocorra o cenário favorável, esse investidor fica impossibilitado de tirar proveito da situação porque tem a obrigação de liquidar a operação aos preços previamente definidos. No mercado de derivativos existe um instrumento que possibilita o uso do hedge apenas no cenário desfavorável, não constituindo obrigação caso esse cenário se revele favorável: as opções de compra e venda, que são contratos que têm uma característica especial com relação aos demais instrumentos: a assimetria de obrigações. BIBLIOGRAFIA 1. Altman, Edward; Caouette, John; Narayanan, Paul. Gestão do risco de crédito: o próximo grande desafio financeiro. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 2000. 2. Attie, William. Auditoria: conceitos e aplicações. São Paulo: Ed.Atlas, 1995. 3. Barbosa, Lívia. Igualdade e meritocracia: a ética do desempenho nas sociedades modernas. Rio de Janeiro: FGV Editora; 1999. 4. Fortuna, Eduardo. Mercado financeiro: produtos e serviços. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1997. 5. Leeson, Nicholas W. A história do homem que levou o Banco Barings à falência. Rio de Janeiro: Ed.Record, 1997. 6. Peleias, Ivam R. Falando sobre controle interno. IOB, Temática Contábil e Balanços; Ano XXXVI, nº 50, dez.2002. Pensar Contábil CONCLUSÕES O caso Barings demonstrou que todas as empresas, independente da natureza dos seus negócios, precisam administrar seu risco operacional, através da utilização de um sistema de relatórios compreensível para a maioria das pessoas envolvidas em funções de supervisão, de um adequado sistema de verificações independentes e de demonstrações contábeis transparentes. O seu colapso foi conseqüência direta das perdas causadas pela falta de controles adequados sobre as ações de seu jovem operador em Cingapura, que acumulava funções incompatíveis e não tinha supervisão adequada. No entanto, as causas mais profundas devem ser buscadas no sentimento de ganância generalizada que sempre existiu nos mercados financeiros, aliado ao conflito de interesses. Esse se materializou quando a parcela variável da remuneração do funcionário, paga como bonificação à título de partici- 24 Apêndice: MERCADO DE INSTRUMENTOS FINANCEIROS DERIVATIVOS A. Instrumentos financeiros derivativos Os derivativos são instrumentos financeiros cuja formação de preço decorre ou Pensar Contábil Os pontos essenciais para se entender o funcionamento desses dois mercados se referem a três características básicas: precificação; estratégias dos participantes e esquema de garantias (baseado em Fortuna, 1997). Esses pontos permitem entender os fatores representativos do risco operacional envolvidos nas operações com derivativos padronizados. B. Mercado de futuros A formação de preços nos mercados de futuros depende da base, que correspondente, em valor, aos custos de manter a posse da mercadoria física ou do ativo financeiro até a data de vencimento do contrato futuro, em situação normal de mercado. Esses custos se referem à armazenagem, seguros, custos financeiros, transporte, impostos e lucro. Essa base evolui porque existem diferentes expectativas que podem afetar cada um dos seus componentes de custo. Ao transacionarem nos mercados de futuros, os agentes econômicos envolvidos podem assumir a posição de hedger ou de especulador. O hedger assume uma posição no mercado de futuros contrária à posição assumida no mercado à vista, por ter o objetivo de buscar proteção (hedge) contra oscilações no preço de mercadorias ou ativos financeiros objeto de suas atividades. Essa proteção equivale a um seguro para limitar eventuais perdas. O especulador assume a posição contrária ao hedger procurando obter ganhos em função de suas expectativas com relação à evolução futura do mercado, assumindo riscos e dando liquidez a esse mercado. O preço futuro e o preço à vista tendem a mover-se de forma convergente - embora não necessariamente ao mesmo tempo e na mesma ordem de grandeza – geralmente com o preço futuro declinando e o preço à vista aumentando com relação à data do vencimento do contrato, refletindo as influências da volatilidade do ativo e do principal componente da base: o custo do dinheiro. Essa base tende a zero na data do vencimento do contrato futuro, com o preço de vencimento futuro e o preço à vista afetando-se mutuamente, pois na data do vencimento o contrato futuro deve ser liquidado pelo preço à vista vigente no mercado. As transações de futuros podem ser de operações de financiamento ou arbitragem e operações de caixa. As primeiras Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ ocorrem quando o preço futuro do ativo supera o seu preço à vista acrescidos os custos de transação, enquanto que as segundas ocorrem numa situação inversa, no qual o preço futuro do ativo é inferior ao seu preço à vista acrescidos os custos de transação. A discrepância entre os preços futuro e à vista, em ambas as transações, é que acarreta a possibilidade de concretizá-las com resultados positivos. As oscilações definem os ganhadores e perdedores: quem está comprado ganha se o preço no mercado à vista sobe e perde se esse preço cai; enquanto que o vendido está na situação inversa. As operações de futuros são, em sua grande maioria, liquidadas financeiramente, ou seja, apenas um percentual residual das operações é liquidado pela tradição efetiva do bem negociado. A compra e venda de mercadorias e ativos financeiros nos mercados de futuros se dão apenas no papel, o que torna crucial o controle do risco operacional das entidades envolvidas nesse tipo de operação. Para cobrir esse tipo de risco, as bolsas de futuros operam com um esquema de garantias sucessivas, chamado hedge estrutural, constituído conjunto de margens e de garantias, que visam assegurar a liquidação de todas as operações. C. Mercado de opções No mercado de opções o vendedor ou lançador tem apenas obrigações, enquanto que o comprador ou titular da opção de um ativo tem um direito, que poderá ser exercido ou não: se a opção for de compra (call), o titular tem o direito de comprar, e se for de venda (put), o direito de vender. Os direitos são negociados pelo valor do prêmio, recebido pelo lançador e pago pelo investidor. A oscilação do valor da opção é derivada da variação do preço do ativo no mercado à vista. O titular de uma opção de compra acredita que o preço do ativo irá subir alem do preço de exercício pré-fixado, enquanto que o lançador acha que vai cair; o titular de uma opção de venda acredita que o preço do ativo irá cair aquém do preço de exercício, enquanto o lançador espera que suas cotações subam, de forma a não ser exercido. Nos casos em que o lançador espera uma baixa volatilidade, pode realizar operações de straddle, que consiste na venda simultânea de uma opção de compra (call) e de uma opção de venda (put) pelos mesmos preços de exercício e com as mesmas datas de vencimento. Os contratos de futuros têm uma volatilidade menor quando comparados com os de opções e as operações de straddles (estando essas últimas em um patamar mais elevado de risco), indicando que a concretização de operações a descoberto - ou seja, realizadas sem o lastro do ativo-objeto - podem resultar em perdas elevadas, dependendo da volatilidade do derivativo e da quantidade de contratos envolvidos. Essa situação pode ser consideravelmente agravada quando os agentes econômicos que atuam na ponta contrária têm ciência do fato. No mercado de opções são negociados apenas os direitos de compra e venda dos ativos, mas não os ativos. A opção americana pode ser negociada a partir do dia seguinte ao seu lançamento, podendo ser exercida a qualquer tempo até o dia do vencimento. Uma opção não exercida implica na perda integral do valor aplicado pelo investidor (diz-se que “virou pó”). A reversão de posição ocorre quando o lançador faz uma operação inversa à anteriormente realizada envolvendo o mesmo volume de ativos da mesma série, acarretando o encerramento da posição é encerrada. Portanto, as obrigações assumidas pelo lançador podem ser extintas pelo exercício da opção pelo titular, pelo seu vencimento sem que tenha havido o exercício e pelo encerramento da posição através da reversão de posição. O lançador é obrigado, nesse mercado, a depositar garantias de forma a poder cumprir os compromissos assumidos. O valor da garantia corresponde, em geral, ao dobro do prêmio médio do mercado ou se seu valor arbitrado pela bolsa. As posições margeadas terão que manter o nível até o vencimento, com ajustes sendo calculados diariamente. O lançador coberto – ou seja, aquele que detém a posse do ativo-objeto - poderá depositálo como garantia. D. Hedge estrutural e risco operacional A atuação das câmaras de compensação e das bolsas de derivativos é direcionada para obter o hedge estrutural, ou seja, o conjunto de instrumentos para a redução dos riscos, representado pelo posicionamento líquido, exigência de margens, prestação de garantias, referência ao mercado e gatilhos de rebaixamento. Essa combinação provou ser altamen- Pensar Contábil 25 Pensar Contábil te eficaz, funcionando melhor com produtos padronizados negociados em grandes volumes. O posicionamento líquido – a prática de compensar pagamentos em um sentido com pagamentos no sentido oposto – é a principal ferramenta de gestão de risco das câmaras de compensação e das bolsas. Permite que os agentes de mercado tenham uma visão precisa de sua exposição com relação aos demais agentes. Os fluxos entre as instituições não são iguais, portanto os agentes aceitam, até certo ponto, o crédito de outros, a partir do qual exigem alguma forma de garantia para realizar mais negócios; e essa garantia vem sob a forma de garantias reais. O tempo constitui um aspecto crítico do risco da contraparte devido ao valor dos derivativos ser altamente volátil, fazendo com que as bolsas e as câmaras de compensação passem a exigir que os participantes do mercado referenciem suas carteiras ao mercado (mark to market), usando esse valor no fechamento do pregão para determinar o valor de cada instrumento que detêm. Com isso margens e garantias podem ser ajustadas diariamente. O hedge estrutural é complementado Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ pela utilização de gatilhos de rebaixamento, portanto, se uma das partes for rebaixada alem de um determinado limite, deverá apresentar garantias reais para continuar a negociar. As operações com derivativos têm que estar claramente segregadas entre as que compõem a carteira própria - denominadas de transações proprietárias - e as realizadas por conta de clientes, o que é crucial para o adequado cumprimento das exigências de margeamento diário previstos em seus esquemas de garantias. Adicionalmente, as bolsas têm exigências que incluem depósitos de garantia, vigilância de crédito e monitoramento de seus membros. As câmaras de compensação também investem em sistemas de processamento para garantir alta confiabilidade, desenvolvem procedimentos para lidar com a inadimplência de seus membros, estabelecem reservas financeiras para suportar eventos causadores de desequilíbrio, mantêm relacionamento com órgãos regulamentadores e podem obter apoio governamental em tempos de crise. Algumas câmaras têm poderes para, esgotados os seus recursos em decorrên- cia das perdas sofridas, impor um confisco de bens de seus membros. Com o esquema de exigência de margens, as bolsas facilitam a negociação de derivativos e praticamente eliminaram o risco da contraparte entre comprador e vendedor, fazendo com que o risco de crédito que remanesça seja o do overnight – a possibilidade de que a contraparte não proporcione a margem do dia seguinte. Esse esquema é complementado pela atuação das câmaras de compensação, que foram desenvolvidas para permitir que as instituições que fazem muitos negócios umas com as outras compensem suas transações. Ao final do dia, a câmara de compensação tem um livro perfeitamente equilibrado de contratos e, assim, não incorre em risco de mercado. A câmara de compensação fica exposta ao risco – em grande parte, controlado - de seus membros. Com a participação das câmaras de compensação, o risco de crédito entre os participantes do mercado é diluído entre o baixo risco operacional inerente ao funcionamento dessas câmaras, e o risco de crédito da contraparte, de natureza residual, ao qual as câmaras estão expostas, representado por seus clientes. Anuncie aqui! Pensar Contábil Verifique os valores dos nossos anúncios. Divulgue seus serviços, produtos ou empresa. Ligue: (21) 2216-9504 26 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 4º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque Fluxos de Caixa e Capital de Giro – Uma adaptação do Modelo de Fleuriet 1 – INTRODUÇÃO O objetivo principal de qualquer administrador de empresa deve ser o de maximizar a riqueza dos proprietários, que é medida pelo preço da ação. Este, por sua vez, baseia-se na ocorrência dos fluxos de caixa (retorno), em sua magnitude e seu risco. Esta consideração, permite-nos afirmar que as informações mais relevantes que uma empresa pode gerar são aquelas relacionadas ao seu caixa. Para qualquer natureza de decisão, seja operacional, de investimento ou de financiamento, conhecer os reflexos de curto e de longo prazo no caixa para cada atitude tomada é o que realmente importa. Stancil (1987, p.38) considera a capacidade de geração de caixa uma informação essencial. Afinal, em sua opinião, uma empresa não pode pagar contas com lucros, apenas com o caixa. O próprio pagamento dos lucros é diretamente dependente dos saldos de caixa da empresa. Para Stancil, por trás do interesse sobre a potencialidade de lucros de uma organização, está o desejo de saber quanto em caixa ela está gerando. Contudo, casos recentes de fracasso empresarial têm fortalecido a convicção de que os enfoques previsivo e preventivo da análise dos fluxos de caixa não são explorados em toda sua potencialidade. A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) resguarda, na sua simplicidade, capacidades essenciais para o sucesso na condução de qualquer porte ou atividade empresarial, que permite, como por exemplo: (a) apoiar o estudo para a previsão de falência; (b) analisar a relação lucro versus caixa; (c) avaliar os efeitos no caixa das transações de investimentos e financiamentos e (d) indicar as possibilidades futuras de liquidação de obrigações. Estas, entre outras, corroboram com a idéia de que, quando a questão é o estudo da liquidez, a DFC é o relatório mais eficaz na gestão empresarial. Além disso, “dez entre dez analistas utilizam o Fluxo de Caixa para saber o verdadeiro valor de uma empresa” (Alperowitch, 1999, p.24). O Modelo do Fluxo de Caixa Descontado foi considerado por Miller e Modigliani como a metodologia mais abrangente para avaliação de ativos e de empresas. Eles afirmaram que a abordagem do fluxo de caixa desconta- Andréa Alves Silveira Monteiro Bacharel em C.C. pela Moraes Júnior, graduada em Matemática pela FEFACEL, mestre em C.C. pela UERJ. do pode “ser aplicada a toda empresa, a qual pode ser vista como um grande e complexo equipamento”. ( in Paxson & Wood, 2001, p.181). Desde 1988 os Estados Unidos reconhece a relevância da DFC e formalizou esta posição ao substituir, naquele ano, a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos (DOAR) pela DFC. Os critérios de elaboração e divulgação foram normatizados pelo Financial Accounting Statement Board (FASB), através do Statement Financial Accounting Standard (SFAS) 95. No Brasil, estamos na eminência de passarmos pela mesma substituição, conforme proposta de modificações para a Nova Lei das S/A. Se aprovada, a Demonstração dos Fluxos de Caixa passará ser relatório obrigatório para as Sociedades Anônimas, sendo acatado o modelo americano, como sucintamente determinou a Normas e Pronunciamento de Contabilidade (NPC)20, do IBRACON. À luz do que pesquisamos, o Brasil tende a seguir o êxodo americano em direção ao uso da DFC como fonte de informações. No entanto, importantes questionamentos ainda aguardam o posicionamento da comunidade contábil. Parte relevante das indagações está relacionada a taxonomia, ao método de elaboração do Fluxo de Caixa Operacional e a qualidade das informações sobre o caixa gerado ou consumido pelos três fluxos. A comparabilidade, como uma característica informacional essencial, pode ficar comprometida por incongruências que se acentuam de acordo com as peculiaridades empresariais. A DFC adotada como peça importante do conjunto das Demonstrações Financeiras, será exaustivamente dissecada por usuários interessados por respostas para as variações de performance apresentada pelas organizações. A sua natureza dinâmica, demanda critérios próprios para sua análise, distintos dos utilizados para o Balanço Patrimonial. Os parâmetros de análise de Balanço foram criticados, pelo Pensar Contábil 27 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 professor francês Michel Fleuriet, principalmente quanto as limitações dos índices de liquidez. Na sua opinião, a interpretação da situação financeira de uma empresa, quando baseada no balanço, tende a ser uma visão estática incompatível com o dinamismo do cotidiano empresarial. Seu interesse por este assunto veio atender as dificuldades existentes no Brasil, já existentes na década de 70. Junto com a Fundação Dom Cabral, Fleuriet desenvolveu pesquisas no sentido de identificar um modelo de análise para as estruturas financeiras brasileiras. Seu principal norteador foi a construção de um método que se adaptasse a um cenário sob constante mutação e imprevisibilidade, e não uma simples importação de modelos exógenos à nossa realidade. O enfoque estático do Balanço foi revisto a partir da reclassificação dos elementos patrimoniais em três naturezas: (a) operacionais, (b) financeiros e (c) não circulantes. Desta segregação, foram extraídas três variáveis interdependentes, as quais representam o fio condutor das pesquisas de Fleuriet: (a) Necessidade de Capital de Giro (NCG), (b) Saldo de Tesouraria (ST) e (c) Capital de Giro (CDG). Estas, a partir de um modelo de combinação, resultaram em seis tipos de estruturas financeiras, servindo como diagnóstico e parâmetro para decisões operacionais, táticas e estratégicas. Nosso trabalho teve como objetivo principal verificar a possibilidade de aplicação dos diagnósticos do Fleuriet sobre a DFC, mantido o formato estabelecido pelo SFAS 95. Para tanto, estudamos e organizamos as combinações das variáveis, propondo uma tabela-resumo dos 6 tipos de estruturas financeiras. A seguir, desenvolvendo uma demonstração lógica da compatibilidade entre o Balanço Patrimonial e a DFC, provamos que é possível isolar, a partir dos Fluxos de Caixa, as mesmas variáveis do Modelo Dinâmico de Capital de Giro. Com base nos dados publicados por empresas selecionadas do setor de comércio varejista, aplicamos o modelo proposto sobre as Demonstrações Financeiras da controladora para o período de 01 de janeiro de 1997 a 31 de dezembro de 2000. Foram escolhidas para base de teste quatro organizações importantes deste setor, que para efeito desta publicação, chamaremos de empresas A, B, C e D. Pensar Contábil 2 – A DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA, SEGUNDO O FASB A DFC é um relatório que evidencia, historicamente, as entradas e saídas caixa de uma entidade, em um determinado período. O termo caixa, deve ser tratado no seu sentido amplo, como o somatório de Caixa, Bancos e Aplicações Financeiras. Para este último caso, o SFAS 95 orienta sobre o que considerar como equivalente de caixa. Entre as considerações mais relevantes, 28 Conselho Regional de Contabilidade do RJ está o prazo de resgate em até 90 dias. O FASB determina que a DFC seja segregada em três atividades: operacional, investimento e financiamento. As atividades operacionais referem-se as entradas e saídas de caixa necessárias à manutenção dos negócios da entidade. O parágrafo 21 do SFAS 95 determina que neste fluxo estejam representadas todas as transações que envolvam a produção e entrega de bens, mercadorias e serviços, e que não estejam enquadradas em nenhuma das características de operações de investimentos ou financiamentos preconizadas pelos parágrafos 15 ao 20. O FASB não faz menção a respeito da segregação entre curto e longo prazo. O Fluxo Operacional pode ser evidenciado por dois métodos: direto ou indireto. O Método Direto consiste na composição dos valores de entradas e saídas que efetivamente geraram ou consumiram caixa das operações. O Método Indireto, consiste na conciliação do Resultado Líquido do exercício com a efetiva variação do caixa. Para compor esta relação, são aplicados os seguintes ajustes: (a) expurgo dos efeitos das transações incluídas na Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) que não afetaram o Capital Circulante Líquido, como por exemplo: Depreciação, Resultados de Equivalência Patrimonial e Imposto de Renda Diferido, e (b) expurgo das variações dos ativos e passivos por representarem valores relativos às transações de caixa decorridas antes ou após o período de apuração do resultado. As atividades de financiamento são tratadas no parágrafo 18 do pronunciamento e incluem: (a) a obtenção de recursos de acionistas e o pagamento de um retorno (dividendos) sobre seus investimentos e (b) a obtenção de empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo, incluindo os seus respectivos pagamentos. Estas atividades estão diretamente relacionadas com a estrutura de capital da empresa e envolvem as modificações que afetaram o caixa nos exigíveis onerosos de curto e longo prazo e no Patrimônio Líquido. As atividades de investimentos são vinculadas às mudanças da estrutura de investimento de curto ou longo prazo que afetaram o caixa, porém não de natureza operacional. O parágrafo 15 inclui as operações de execução e arrecadação de empréstimos, aquisição e disposição de aplicações financeiras e compra e venda de ativos permanentes. A seguir, apresentamos um exemplo hipotético de movimentação de caixa de uma entidade e como deveriam ser evidenciados, segundo a estrutura determinada pelo FASB. Consideremos os seguintes dados para X1: (a) saldo inicial em 1o de janeiro de X1: $10.000,00; (b) Fluxo Líquido das Atividades Operacionais: $80.000,00; (c) Fluxo Líquido das Atividades de Investimento: ($100.000,00) e (d) Fluxo Líquido das Atividades de Financiamento: $60.000,00. Neste caso, a Demonstração dos Fluxos de Caixa fica assim representada: Fluxo de Caixa Líquido das Atividades Operacionais ---------------------------------------------------------------- $ 80.000 (+/-) Fluxo de Caixa Líquido das Atividades de Investimento ------------------------------------------------------ ($ 100.000) (+/-) Fluxo de Caixa Líquido das Atividades de Financiamento --------------------------------------------------- $ 60.000 (=) Acréscimo /Decréscimo de caixa no período ----------------------------------------------------------------------- $ 40.000 (+) Saldo inicial de caixa em 1º de janeiro ------------------------------------------------------------------------------- $ 10.000 (=) Saldo final de caixa em 31 de dezembro ---------------------------------------------------------------------------- $ 50.000 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 O acréscimo ou decréscimo de caixa no período é determinado pelo somatório dos três fluxos líquidos. Chamamos esta variação de caixa gerado, se positiva, ou consumido, se negativa. O saldo final é determinado, acrescentando o saldo inicial àquela variação. Este formato permite uma visualização da movimentação dos recursos existentes entre os três fluxos. No exemplo dado, as atividades operacionais e as atividades de financiamento produziram em caixa, respectivamente, $80.000 e $60.000. Desse total de $140.000, foram utilizados $100.000 nas atividades de investimentos da empresa, restando $40.000 os quais foram adicionados ao caixa inicial de $10.000, o que derivou seu montante final para $50.000. Apesar da simplicidade, o critério de classificação quanto às suas atividades é o ponto de maior discussão e questionamento sobre o modelo norte americano. Problemas de taxonomia podem resultar em distorções nos valores demonstrados por cada fluxo de caixa. 3 – O MODELO DINÂMICO DE CAPITAL DE GIRO A partir da reclassificação do Balanço Patrimonial em operacional, financeiro e não circulante, Fleuriet isolou e combinou três variáveis, permitindo interpretar as decisões dos gestores, identificar suas conseqüências e nortear os rumos para o futuro. São estas: 1. O Capital de Giro (CDG) é a diferença entre os Passivos Não Circulantes (PNC) e os Ativos Não Circulantes (ANC). Como PNC, estão inclusos os Passivos Exigíveis a Longo Prazo e o Patrimônio Líquido, já o ANC, considera os Ativos Realizáveis a Longo Prazo e o Ativo Permanente. O CDG possui o mesmo valor absoluto que o Capital Circulante Líquido (CCL), apenas seu cálculo é realizado de maneira diferente (Fleuriet,1978,p.20). Metaforicamente, o CCL é o reflexo no espelho do CPL: imagens iguais para composições diferentes. Este termo é entendido por alguns autores como sinônimo de Capital de Giro Líquido e de Capital Circulante Líquido, o que é ratificado por Stickney e Weil (2001, p.806), que consideram uma redundância a terminologia “líquido”. Neste trabalho, adotaremos a definição Capi- Tipo Conselho Regional de Contabilidade do RJ tal Permanente Líquido (CPL), aceita por alguns autores, como Silva (2001, p.371), para melhor diferenciar do termo Capital Circulante Líquido utilizado em explanações que seguem. Quando o CPL é positivo, significa que as origens de recursos de longo prazo e o capital próprio superam o valor investido em longo prazo, destinando esta sobra para o CCL. Se o CPL é negativo, as aplicações de longo prazo utilizam recursos de curto prazo. 2. A Necessidade de Capital de Giro (NCG) é a diferença entre Ativos e Passivos Operacionais. É positiva quando o ciclo operacional for maior que o prazo médio de pagamento e negativa quando o contrário ocorrer. A NCG tende a ser positiva e diretamente crescente em relação a evolução das vendas, se o volume de negócios cresce a demanda de investimento em giro também aumenta. Neste sentido, o CPL precisa acompanhar esta evolução, fazendo face ao lastro necessário para o crescimento das operações. Quando isto não ocorre, a empresa tende a utilizar capital financeiro de curto prazo e a apresentar Saldo de Tesouraria negativo, apesar do crescimento das vendas. Este fenômeno, conhecido como “Efeito Tesoura”, foi tratado por Fleuriet como evidencia da interdependência das variáveis por ele isoladas. 3. O Saldo de Tesouraria (T) é a diferença entre os Ativos Financeiros (AF) e Passivos Financeiros (PF) de Curto Prazo, e será positiva quando os AF forem superiores aos PF e negativa quando o contrário ocorrer. As decisões operacionais e as políticas de autofinanciamento são determinantes de T. 4 – MODELO PROPOSTO: INTEGRAÇÃO FLUXOS DE CAIXA VERSUS CAPITAL DE GIRO A partir da combinação das variáveis CPL, NCG e T, Fleuriet diagnosticou 6 tipos de situações financeiras. Originalmente, sua obra demonstrou 4 tipos, fazendo apenas menção a mais dois que posteriormente, foram estudados por Braga (1999, p.17). Nossas pesquisas permitiram construir a tabela abaixo, facilitando visualizar os diagnósticos: Pensar Contábil CPL = T + NCG Interpretação 1 + = + + - Situação de Excelente Liquidez 2 + = + + + Situação Financeira Sólida 3 + = - + + Situação Financeira Insatisfatória 4 - = + + - Alto Risco de Insolvência 5 - = - + - Situação Financeira Muito Ruim 6 - = - + + Péssimo 29 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Estes são os fatores que contribuem para a modificação das variáveis: CPL = Passivos Não Circulantes – Ativos Não Circulantes = CCL = NCG + T NCG = Ativos Cíclicos – Passivos Cíclicos Variável Característica De natureza operacional Quando positiva: o ciclo operacional é mais longo que o prazo médio de pagamento, necessitando de investimento em giro operacional. Neste caso, uma situação desfavorável Quando negativa: o ciclo operacional é menor que o prazo médio de pagamento, representando recursos financiados por terceiros (não onerosos). Neste caso uma situação favorável. De natureza estratégica e operacional Função espelho com o CCL. Se aumenta o CPL, aumenta o CCL. Se diminui o CPL, diminui o CCL Quando Positivo: fonte líquida de recursos de permanentes, dando fôlego ao CCL. Neste caso, situação favorável Quando Negativo: aplicação em itens permanentes. Incapacidade da empresa de ter giro com capital próprio ou de longo prazo. Neste caso, situação desfavorável T = Ativos Financeiros – Passivos Financeiros = CPL - NCG Pensar Contábil De Natureza errática Dependente do NCG e do CPL Quando positiva: empresa com sobra de recursos financeiros de curto prazo. Neste caso, situação favorável Quando negativa: empresa dependente de recursos financeiros de curto prazo. Neste caso, situação desfavorável Aumenta com Crescimento no volume de vendas Esticamento da estocagem Esticamento do processo de produção Políticas de crédito agressivas, com aumento do prazo de recebimento Redução do prazo de pagamento Geração de Lucros Aporte de Capital Captação de recursos onerosos de longo prazo Diminuição de investimentos em Ativos Não Circulantes Diminui com Redução das Vendas Velocidade no giro dos estoques Velocidade no processo produtivo Políticas de crédito mais conservadora Esticamento do prazo com fornecedores Geração de Prejuízo Retirada de Capital Distribuição de Lucros Amortização de financiamentos Aumento de Investimentos em Ativos Não Circulantes Aumento do CCL Redução do NCG Redução do CCL Aumento da NCG Fonte: adaptado de Joanília Cia (1988, p.62) O acompanhamento do comportamento destas variáveis e a relação entre elas pode representar a diferença entre o fracasso e o sucesso da gestão financeira de uma empresa. Para tanto, há necessidade que de esta ação seja preventiva e dinâmica como o próprio modelo propõem. A tempestividade da DFC, utilizada por muitas empresas até diariamente na condução de seus negócios, veio ao encontro desta necessidade, superando a estaticidade peculiar do Balanço Patrimonial. Este fato foi o principal norte para a proposta de verificarmos a adaptabilida- 30 de do Modelo Dinâmico de Capital de Giro para a DFC. Contudo, o modelo adotado para evidenciação dos Fluxos de Caixa tem critérios de evidenciação que dificultam a extração das variáveis para análise dinâmica do Capital de Giro. O principal obstáculo é a junção de operações de curto com longo prazo em um mesmo fluxo de caixa, o que impede a segregação das operações para composição de CPL, NCG e T. Em decorrência, propomos a reclassificação das transações que compõem os fluxos em curto e longo prazo, da seguinte forma: Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Operação Eventos (=) Resultado Líquido (+) Ajustes (=) Resultado Líquido Ajustado = (1) (-) Variações de Ativos Circulantes Operacionais = (2) (+) Variações de Passivos Circulantes Operacionais = (3) (=) Variação da Necessidade de Capital de Giro = (2) – (3) = (4) (-) Variações de Ativos Não Circulantes Operacionais = (5) (+) Variações de Passivos Não Circulantes Operacionais = (6) (=) Geração de Caixa Operacional = (1) - (4) – (5) + (6) = (7) (=) Investimentos Estratégicos = (8) – (9) = (10) (+) Entradas de Investimento de Longo Prazo = (8) Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais Fluxo de Caixa das Atividades de Investimento (-) (=) (+) Saídas de Investimento de Longo Prazo = (9) Investimentos Táticos = (11) – (12) = (13) Entradas de Investimento de Curto Prazo = (11) (-) Saídas de Investimento de Curto Prazo = (12) (=) Geração de Caixa de Investimento = (10) + (13) = (14) (=) Financiamentos Estratégicos = (15) - (16) = (17) Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento (+) Entradas de Financiamento de Longo Prazo (15) (-) Saídas de Financiamento de Longo Prazo (16) (=) Financiamentos Táticos = (18) - (19) = (20) (+) Entradas de Financiamento de Curto Prazo (18) (-) Saídas de Financiamento de Curto Prazo (19) (=) Geração de Caixa de Financiamento = (17) + (20) = (21) (=) Total do Caixa Gerado = (7) + (14) + (21) (+) Saldo inicial de caixa = (23) (=) Saldo final de caixa = (21) + (23) = (24) (=) Variação do Saldo de Tesouraria = (21) + (13) – (20) = (25) (=) Variação do Capital Permanente Líquido = (4) + (25) = (26) Este modelo não contraria as exigências da NPC 20 que segue as orientações do FASB. Mas, tão somente, consiste em segmentar os fluxos de atividades em curto e longo prazo, viabilizando a extração da variáveis: (a) a NCG, como a diferença entre a variação dos Ativos Circulantes e Passivos Circulantes Operacionais (item 4); (b) o ST, como somatório do Total do Caixa Gerado acrescido dos Investimentos Táticos e subtraído os Financiamentos Táticos (item 25) e (c) o CPL, como o somatório das variações da NCG e ST (item 26). A restrição deste modelo é a falta dos saldos iniciais de NCG e ST, já que a DFC permite apenas isolar as variações das mesmas. No entanto, este fato pode ser contornado a partir do conhecimento dos saldos iniciais destas variáveis, os quais são obtidos do Balanço Patrimonial imediatamente anterior ao período da DFC. Estas informações podem ser inseridas em notas de rodapé dos Fluxos de Caixa, quando apresentados isolados do Balanço Patrimonial. Estas providências tornariam viável a aplicação dos diagnósticos de Fleuriet sobre a DFC, conferindo a este relatório a transparência e a consistência informacional suficientes para sustentar a inter- Conselho Regional de Contabilidade do RJ pretação por parte dos usuários sejam eles internos ou externos. Considerando que para o isolamento das variáveis é necessário acrescentar à variação os saldos iniciais de Balanço, é possível aplicarmos as seguintes fórmulas na determinação das variáveis, onde: NCG = NCGi + DAocp - DPocp T = Ti + TCG - EIt + SIt - EFt + SFt CCL = NCG + T CPL = CCL A aplicação do modelo, baseou-se nos seguintes procedimentos: (a) seleção das Demonstrações Financeiras e transcrição das mesmas para uma planilha eletrônica (Excel); (b) reorganização do Balanço Patrimonial em: cíclico, financeiro e não circulante; (c) isolamento das variáveis: NCG, ST e CPL; (d) aplicação da tabela resumo dos diagnósticos sobre o Balanço Patrimonial; (e) elaboração da DFC conforme o modelo adaptado; (f) isolamento das variáveis: NCG, ST e CCL, a partir dos Fluxos de Caixa; (g) aplicação da tabela resumo dos diagnósticos sobre a DFC; (h) comparação entre os resultados (d) e (g); (i) verificação da consistência do diagnóstico obtido pelo confronto com as informações divulgações sobre a situação da empresa; e (j) conclusões sobre os testes. O teste possibilitou o isolamento das variáveis NCG, ST e CCL, assim como revelou seus valores iguais aos existentes no Balanço Patrimonial. Em decorrência, verificamos que os diagnósticos de Fleuriet podem ser aplicáveis para análise da DFC. Para tanto, o analista deve conhecer apenas os saldos iniciais de NCG e T. O modelo também permitiu ratificarmos a situação divulgada pelas empresas e ainda conhecermos mais detidamente o comportamento de suas políticas estratégica, operacional e financeira. Como segue: Pensar Contábil 1. Desempenho Geral: visualizamos o bom desempenho das empresas A, B e D, esta última já apresentando um Efeito Tesoura em 2000. A situação da empresa C também transpareceu ratificando uma estrutura financeira que inspira muitos cuidados e revisão das estratégias atuais. O gráfico demonstra a performance geral, através da aplicação do Diagnóstico, combinando as decisões estratégicas (CPL), operacionais (NCG) e financeiras (ST). Neste caso a empresa D foi a mais eficiente, apesar do ano de 2000 ter sido desfavorável. O desempenho veio seguido das empresas A, B e C, nesta ordem. 31 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 2. Decisões Estratégicas: a empresa B foi a mais conservadora, seguida de D e A . Estas mantiveram seu CPL positivo durante todo o período, no entanto diminuíram seu CCL a medida que realizaram investimentos não circulantes. O gráfico abaixo mostra o resumo destas decisões através da medida ANC/PNC (índice de Imobilização do PNC): Conselho Regional de Contabilidade do RJ é demonstrado graficamente: 5 – CONCLUSÃO 3. Decisões Operacionais: podem ser sintetizadas pelo índice Pop/Aop (financiamento dos Ativos Operacionais por Passivos Operacionais). O índice indicou que a empresa A foi a mais eficiente. No entanto, a empresa D também teve um ótimo comportamento em 1998 com 1,18 de financiamento de seus Ativos Operacionais por Passivos Operacionais, o que não conseguiu manter nos anos seguintes. Em terceiro ficou B, seguida de C. O comportamento destas decisões foi assim demonstrado pelo gráfico: Pensar Contábil 4. Decisões Financeiras: foram medidas pela capacidade de liquidação de Passivos Erráticos com Ativos Erráticos e foi definido pelo índice Ae/Pe. Cabe ressaltar, que o termo errático é equivalente ao termo financeiro utilizado por Fleuriet. A empresa B apresentou a melhor gestão de Tesouraria no período. Esta medida deve ficar perto de 1. Valores expressivamente acima disto, indica excesso de dinheiro em tesouraria e abaixo, sinaliza insuficiência para pagamentos financeiros de curto prazo. O índice médio da empresa B no período foi de 1,73, seguido de 3,88 da empresa D e 7,97 de A . A empresa C apresentou Saldo de Tesouraria negativo no período e sua média de cobertura de passivos erráticos foi de 0,26. O desempenho neste item, 32 A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) tem como finalidade evidenciar a geração ou consumo do caixa relativo a três atividades: (a) operação, (b) financiamento e (c)investimento. É considerada essencial no estudo da liquidez e da capacidade de continuidade organizacional. Em decorrência de sua riqueza informacional a DFC faz parte do elenco de mudanças propostas para a Nova Lei das S.A., onde está sendo cogitada a inclusão deste relatório em substituição a Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos. À luz do que pesquisamos, o Brasil tende a seguir o êxodo americano em direção ao uso da DFC, adotando os critérios preconizados pelo FASB através do SFAS 95. Devido a sua natureza dinâmica, a análise da DFC demandará critérios próprios, distintos dos tradicionalmente adotados para o Balanço Patrimonial. O enfoque dinâmico da empresa foi estudado por Michel Fleuriet que criticou a estaticidade dos modelos tradicionais de análise. Sua pesquisa foi norteada pela reclassificação dos elementos patrimoniais, de onde foram extraídas três variáveis interdependentes: (a) Necessidade de Capital de Giro(NCG); (b) Saldo de Tesouraria(T) e (c) Capital Permanente Líquido(CPL). A combinação destas resultaram no Modelo Dinâmico de Capital Giro, compondo 6 tipos de diagnósticos sobre a situação financeira de uma empresa. Nossa pesquisa teve como objetivo verificar a possibilidade de aplicação dos diagnósticos do Fleuriet sobre a DFC. Para tanto, foi apresentada uma revisão teórica sobre a DFC e o Capital de Giro, seguido de uma demonstração lógica da compatibilidade entre os dois temas. Conseguimos desenvolver um modelo adaptado que permitiu isolar, a partir dos Fluxos de Caixa, as mesmas variáveis utilizadas por Fleuriet. O modelo foi testado sobre as Demonstrações Financeiras de quatro empresas importantes no setor de varejo, o que permitiu concluir que é possível aplicar os diagnósticos do Modelo Dinâmico de Capital de Giro também sobre o modelo norte americano de Demonstração dos Fluxos de Caixa. Para tanto, é necessário conhecer os saldos iniciais de Balanço da NCG e ST e segregar nos Fluxos de Caixa as transações de curto prazo das de longo prazo. Também podemos concluir que os diagnósticos sobre a situação financeira das empresas concebidos, a partir da aplicação do modelo adaptado, sinalizaram informações equivalentes àquelas divulgadas pelas empresas ao mercado. Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 6 – BIBLIOGRAFIA 4 BAHSON, P. R., MILLER, P. B., BUDGE, B. P. 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Universidade de São Paulo – USP, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade Departamento de Contabilidade e Atuária, São Paulo, agosto de 2000. 29 MARTINS, Eliseu. Contabilidade Versus Fluxo de Caixa. Universidade de São Paulo (USP), Departamento de Contabilidade e Atuária, Caderno de Estudos Fipecafi, São Paulo, jan./abr., 1999. 30 OHLSON, James A., ZHANG, Xiao-Jun. On the Theory of Forecast Horizon in Equity Valuation. Journal of Accounting Research, vol. 37, no.2, 1999. 31 PADOVEZE, Clovis Luis. Análise do Índice de Liquidez sob o conceito de avaliação econômica da empresa. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, jul./ago., 2000. 34 REICHELSTEIN, Stefan. Providing Managerial Incentives: Cash Flows versus Accrual Accounting. Journal of Accounting Research, vol. 38, no. 2, 2000. 37 ROSS, Stephen A, WESTERFIELD, Randolph W., JORDAN, Bradford D. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2000. 39 SALES CIA, Jonília Neide de. Sistema de Gerenciamento de Liquidez sob a ótica da teoria das restrições: uma adaptação da Metodologia de Fleuriet. Tese de Doutoramento. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998. 40 SANTOS, Ariovaldo, LUSTOSA, Paulo Roberto. Demonstração de Fluxo de Caixa: uma reflexão sobre a objetividade (ou falta de) do Fluxo de Caixa. Boletim IOB, Temática Contábil de Balanços, São Paulo, n.14, 1999. 41 _______. Demonstração dos Fluxos de Caixa: Alternativas para Tratamento dos Estoques: Atividades Operacionais ou de Investimentos. Boletim IOB, Temática Contábil de Balanços, São Paulo, n. 21, 1999. 42 _______. Juros e Dividendos Pagos: Onde Classificá-los na Demonstração do Fluxo de Caixa. Boletim IOB, Temática Contábil de Balanços, São Paulo, n.39, 1999. 44 SILVA, José Pereira. Análise Financeira das Empresas. 5.ed. São Paulo: Altas, 2001. 45 SOFFER, Leornard C. SFAS n. 123 Disclosures and Discounted Cash Flow Valuation. Accounting Horizons, vol.14, no. 2, June 2000. 46 SOUZA, Milanez Silva, FAMÁ, Rubens. Gestão do Capital de Giro na Corporação Virtual. Revista Contabilidade Vista & Revista, Belo Horizonte, junho,1998. 47 STANCILL, James McNeil. “When is there Cash in Cash Flow?” In Harvard Business Review, Boston, vol. 65, n. 3/4, mar./abr., 1987. 48 STICKNEY, Clyde P., WEIL, Roman L. Contabilidade Financeira: uma introdução aos conceitos, métodos e usos. São Paulo: Atlas, 2001. 49 SZUSTER, Natan. Cálculo e Análise Contábil do Lucro Passível de Distribuição. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília, n. 58, 1986. 55 WAHLEN, James M., BOASTMAN, Jams R., HERZ, Robert H. American Accounting Association’s Financial Accounting Standards Commitee. Accounting Horizons, vol. 14, no. 4, december 2000. 56 WILLIANS, Jan R. GAAP GUIDE – Generally Accepted Acconunting Principles – Ed. Harcourt Brace & Company, 1996, pág. xvi, xvii, xviii, xix, xx, xxi, xxii, xxiii, xxiv e xxi; Pensar Contábil 33 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ QUER TER SEU ARTIGO PUBLICADO NA PENSAR CONTÁBIL? Pensar Contábil PROCEDIMENTOS: 1- Envie seu artigo para o e-mail [email protected]; 2- Ou envie através do correio uma cópia impressa e outra em meio magnético (disquete); 3- Escreva, no máximo, 10 páginas em corpo 12, entrelinha padrão, fonte Times New Roman, no Word (versão 2000 ou anterior). Caso seu artigo seja aprovado pelo Conselho Editorial, será publicado na Revista Pensar Contábil. Para informar-se em qual edição publicaremos, entre em contato com a Assessoria de Comunicação (tel: (21) 2216-9504). Informações sobre assinatura da revista ou renovação, ligue para os ramais 2216-9544/2216-9543/2216-9571. 34 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 5º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque DESPERDÍCIO MIOPIA INFORMATIVA DA D.R.E, Fabiano Simões Coelho José Carlos Sardinha 1 - INTRODUÇÃO Ultimamente, estamos sendo abarrotados de novas expressões que almejam direcionar a modernização da gerência empresarial. Cada vez mais estamos conhecendo “uma série de recursos (que) pode ser utilizada para a condução e o desenvolvimento de um processo da análise e mudanças do ambiente interno. Corresponde, em sua maioria, a novos termos que têm aflorado na administração para caracterizar processos e práticas nem sempre novos”1 . Termos estes como, entre vários, benchmarking, downsizing e Theory of Constrains. Entretanto, um erro comum é a utilização de conceitos e mudanças estruturais, que, em sua aplicabilidade, se perdem por simples miopia estratégica. Decisões de investimentos, cortes de custos, novos investimentos ou reduções dos mesmos e expressões como “cortar a gordura da organização” são realizadas sem a devida visão sistêmica da contabilidade e, de forma mais pragmática, da contabilidade de custos. Sua importância dentro da organização é imprescindível ao sucesso organizacional, afinal “o sistema contábil é o principal – e o mais confiável – sistema de informação quantitativo em (...) todas as organizações”2 , pois é, basicamente, o único “meio de coletar, resumir, analisar e relatar informação acerca dos negócios”3 de uma empresa, onde a contabilidade de custos agrega um valor inestimável à empresa, pois estas necessitam cada vez mais de “informações precisas sobre custos em todos os aspectos de sua empresa, do projeto e desenvolvimento à produção, marketing e entrega de serviços ao cliente pós compra”4 . Ou seja, as empresas estão vivenciando um cenário de grande concorrência e necessitam tornarem-se cada vez mais eficientes e enxutas. Ao mesmo tempo esquecem a contabilidade como principal fonte de informação. O objetivo deste trabalho é mostrar como um relatório contábil, a Demonstração de Resultado de Exercício, pode ser um Bacharel em C.C. pela UERJ, pós-graduado em C.C. pela FGV, mestre em C.C. pela UERJ. Coordenador de Área da FGV Manegement. Doutor e Mestre em Ciência em Administração de Empresas pela University of Southern Califórnia. importante instrumento de tomada de decisão gerencial ao ser utilizado de forma a gerar informações dependendo do grau de evidenciação disposta na mesma. Não é propósito deste trabalho questionar todo o referencial teórico quanto ao pensamento e aplicação de nova cultura organizacional. O que iremos discutir é como utilizar todo este conhecimento que aflora a cada dia no mundo em consonância com a realidade empresarial. O enfoque deste trabalho, de forma mais objetiva, ao entendimento de um poderoso instrumento, a Demonstração de Resultado de Exercício, para agregar valor a tomada de decisão. Pensar Contábil 2 - A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA CONTÁBIL A Contabilidade é, objetivamente, um sistema de informação e avaliação destinado a prover seus usuários com demonstrações e análises de natureza econômica, financeira e de produtividade, com relação à entidade, objeto de contabilização. Essas informações são fornecidas a diversos tipos de usuários, que subsidiem a tomada de decisão: para o cliente interno as informações o auxiliam no planejamento e controle; para o cliente externo informa a situação econômica e financeira da empresa, que o permite tomar decisões de investimento. Assim sendo, a contabilidade é a ciência que tem por função registrar, controlar e analisar os atos e fatos administrativos de uma atividade econômica: a) Registro - Ato de acumular dados de efeitos econômicos permitindo a transcrição dos mesmos em contas a serem agrupadas nos demonstrativos econômico-financeiros (Balanço, DEREX, DOAR, etc) como caixa, estoque, etc. 1 TAVARES, Mauro Calixta. Gestão estratégica. São Paulo: Atlas, 2000. p. 284 2 HORNGREN, Charles T., et al. Contabilidade de custos. Tradução de “Cost accounting” 9 ed., por José Luiz Paravato. 9 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. p.2 3 ANTHONY, Robert N. Contabilidade gerencial. Tradução de Management accounting principles, por Luiz Aparecido Caruso. São Paulo: Atlas, 1975. p.17 4 HANSEN, Don R. e MOWEN, Maryanne M. Gestão de custos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. p. 54 35 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 b) Controle - Processo pelo qual a alta administração se certifica, na medida do possível, de que a organização está atingindo em conformidade com os planos e políticas traçados pelos donos do capital. Como a mensuração é periódica e sistemática, os dados contidos nos demonstrativos econômicos e financeiros permitem avaliar os resultados vis-à-vis aos planejados. c) Análise - Técnica utilizada para saber o que está errado, o que pode ser corrigido, o que está funcionando e o que pode funcionar melhor. Integrado neste sistema, há a Contabilidade de Custos, que, em um sentido amplo, tem como principal objetivo registrar informações suficientes para abastecer a Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial. A Contabilidade, bem como a Contabilidade de Custos, sempre existiram, mas seu progresso e desenvolvimento cresceram em velocidade progressiva nos últimos 40 anos frente as novas necessidades informativas de seus usuários. Hansem5 define de maneira precisa este novo cenário: “O ambiente econômico atual criou a necessidade de uma reestruturação da gestão de custos. Pressões competitivas mundiais, o crescimento do setor de serviços e os avanços nas tecnologias de informação e de manufatura mudaram a natureza de nossa economia e fizeram com que muitos fabricantes dos EUA mudassem drasticamente sua maneira de operar seus negócios.” Essas alterações dramáticas tornam a contabilidade de custos uma necessidade em toda a organização. Entretanto, expressões, modelos e técnicas como o Just in time6 , Administração total da qualidade7 , Benchmarking8 , Reengenharia9 , Theory of Constrains10 , Downsizing11 , entre outros, estão sendo constantemente aplicados na entidade sem as devidas noções inerentes a seus efeitos colaterais. Além disso, a empresa e seus gestores esquecem que há um impacto comportamental das informações de custos, além da simples necessidade informacional. Um pensamento equivocado é que a contabilidade de custos, bem como o sistema contábil, é um mero instrumento que reflete o que está acontecendo de forma imparcial. “Ao invés disso, um sistema de informações de contabilidade de custos também molda a empresa”12 . A idéia básica de custos, atualmente, é de que eles devem ser determinados, tendo em vista o uso a que se destinam. A diversidade de objetivos da Contabilidade de Custos torna difícil estabelecer um só tipo de custo da produção, que se adapte a todas as necessidades. Cada utilização de custo requer, de fato, diferentes tipos de custos. Por isso, a Contabilidade de Custos, quando acumula os custos e os organiza em informações relevantes, pretende atingir três objetivos principais: a de- Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJ terminação do lucro, o controle das operações e a tomada de decisões. Os dados de custos necessários para a determinação do lucro podem ser extraídos diretamente dos registros convencionais da Contabilidade. Uma ou outra compilação deverá ser feita para transformá-los em informações úteis. Por exemplo, a separação dos custos em aplicados e periódicos já vai fornecer resultados mais realísticos à Administração. A acumulação dos custos por fases de fabricação, por departamentos e por produtos resultará em apropriações mais racionais. O atendimento do princípio contábil da competência, na qual para toda renda devem ser computados os custos necessários para realizá-la, é a maneira mais usada e correta para o levantamento do lucro do período. Considerando os mesmos dados básicos, pode a Contabilidade, por meio de classificações especiais, atender ao controle. Quando o contador acumula os custos por centros de responsabilidade e dentro de cada centro classifica os custos por função, por natureza e por possibilidade de controle, dota a Administração de meio eficaz para a determinação dos custos por componente da organização e, conseqüentemente, para o exercício de controle mais efetivo sobre o desempenho de cada um dos responsáveis por esses mesmos componentes. O sistema de custos-padrão, adotado pelas empresas industriais e que também pode ser empregado para o controle de outras atividades, é instrumento valioso à disposição do administrador o qual permite a criação de metas, bem como medir os resultados. A separação dos custos em relação ao volume, isto é, custos fixos e custos variáveis, fornecerá ao contador meios para dar melhores informações à administração em termos de controle (por exemplo, os orçamentos flexíveis) e de auxílio ao processo decisório (por exemplo, a análise do ponto de equilíbrio). Tratando-se das relações entre a Contabilidade de Custos e o processo de decisão, vale lembrar a existência de diversos tipos de custos que devem atender a várias finalidades. Neste ponto é que reside a maior utilidade das técnicas de Custos. Os dados de custos são manipulados de formas diferentes, objetivando emprestar-lhes a significação exigida para a solução dos mais complexos problemas que enfrenta o administrador. O custeamento dos planos e das alternativas, das atividades de distribuição e dos inventários por meio de tipos diferentes de custos, permitirá ao administrador tomar decisões mais científicas. É sabido que existem fatores qualitativos de extrema importância que devem ser levados em conta ao se tomar uma decisão. Todavia, mesmo reconhecendo que existem elementos imponderáveis na escolha de uma alternativa, este processo será mais válido se auxiliado por fatores de natureza quantitativa. Em resumo, a Contabilidade de Custos fornece informações para: 5 HANSEN, Don R. e MOWEN, Maryanne M. Op cit. p. 30 6 Em produção ou compras, cada unidade é adquirida ou fabricada exatamente antes de ser utilizada. 7 Métodos gerenciais de acordo com o qual a organização procura apresentar desempenho excelente em todas as dimensões; o cliente é quem define qualidade. 8 O processo contínuo de acordo com o qual uma organização avalia seus produtos, serviços e atividades contra os melhores níveis de desempenho. 9 Redesenho radical dos processos organizacionais, de maneira a promover melhoria no desempenho. 10 Teoria das Restrições - Método gerencial que focaliza a maximização de lucros mediante a identificação de restrições de capacidade e aumento da capacidade. 11 Redução do tamanho da organização, representada pela diminuição dos níveis hierárquicos e, às vezes, de pessoas. 12 HANSEN, Don R. e MOWEN, Maryanne M. Op cit. p. 37 36 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 a) A determinação dos custos dos fatores de produção; b) A determinação dos custos de qualquer natureza; c) A determinação dos custos dos setores de uma organização; d) A redução dos custos dos fatores de produção, de qualquer atividade ou de setores da organização e controle das operações e das atividades de qualquer organização; e) A administração, quando esta deseja tomar uma decisão, estabelecer planos ou solucionar problemas especiais; f) O levantamento dos custos dos desperdícios, do tempo ocioso dos operários, da capacidade ociosa do equipamento, dos produtos danificados, do trabalho necessário para conserto, dos serviços de garantia de produtos; g) A determinação da época em que se deve desfazer de um equipamento, isto é, quando as despesas de manutenção e reparos ultrapassam os benefícios advindos da utilização do equipamento; h) A determinação dos custos dos pedidos não satisfeitos; i) A determinação dos custos dos inventários com a finalidade de ajudar o cálculo do estoque mínimo, do lote mais econômico de compra, da época de compra; j) O estabelecimento dos orçamentos. Conselho Regional de Contabilidade do RJ 3 - COMO CORTAR CUSTOS SEM DERRAMAR SANGUE?13 A contabilidade em geral e todos os seus ramos, como a auditoria, contabilidade de custos, perícia contábil, análise econômica e financeira, entre outros importantes e geradores de informações para a empresa, são instrumentos poderosos para o gestor e a própria continuidade empresarial. Entretanto, como qualquer mecanismo, pode ser utilizado corretamente ou não e saber manipulá-lo vai decidir sobre a possibilidade de sucesso ou fracasso na assertividade informacional. Sua utilidade será questionada quando for utilizada da maneira incorreta. O problema, portanto, consiste que tais decisões, visando alcançar objetivos determinados, são feitas sem conhecimento suficiente de todo ferramental contábil podendo, assim, causar alguns efeitos negativos. A seguir serão dispostos algumas decisões encontradas no dia-a-dia da empresa e seus possíveis efeitos negativos: OBJETIVO DECISÕES FATORES NEGATIVOS SE UTILIZADOS DE MANEIRA ERRADA14 Calcular o resultado de cada departamento Divisão da empresa em unidades de negócios e cálculo do lucro que cada unidade gera Ao transformar unidades de centro de custos ou receita em centros de lucro ou investimento, cada unidade pode se preocupar em buscar apenas seus resultados, não se preocupando com a empresa como um todo, afinal o somatório do melhor de cada não será o melhor para a empresa. Atingir metas a qualquer custo Remuneração de executivos e gerentes atrelados a metas orçamentárias “Se o gerente apresenta um número que é aprovado e, depois, ultrapassa esse número, ele fica tentado a esconder o fato, transferindo os custos para outro período”15 Aumentar resultados e melhorar desempenho Redução de Custos - Parte 01 Visão genérica “Há muitas companhias em que o crescimento do lucro é muito maior que o crescimento das receitas, porque eles cortam custos, mas não geram novas receitas. Sabemos que isso é um jogo que acaba abruptamente. A empresa chega num ponto que simplesmente não consegue cortar mais nada. Você não consegue criar mais lucro sem criar novas receitas”16 . Aumentar resultados e melhorar desempenho Redução de Custos - Parte 02 Corte de pessoal A demissão de pessoas é a mais rápida e mais fácil forma de cortar custos, entretanto ela pode causar a médio e longo prazo uma deficiência operacional sentida pelos clientes. Calcular custos unitários Utilizado para valorar o estoque e resultado A visão estrita do custo unitário pode levar a empresa a esquecer do comportamento de custos, tomando, assim, decisões erradas inerentes a curto prazo, como decisões de aceitar ou rejeitar uma proposta, concorrência, entre outros. Pensar Contábil A falta de conhecimento quanto aos mecanismos contábeis fazem com que os dados produzidos dentro da empresa sejam meras peças soltas. Então, como cortar custos sem derramar sangue? A resposta bem simplificada desta questão é: conhecendo a empresa e todos os processos inerentes a evolução patrimonial. Deve-se esclarecer que o ambiente competitivo da atualidade exige uma estrutura mais enxuta e, por isso, o corte de custos muitas vezes é necessário, mas o mesmo não deve ser feito, necessariamente, através de processos “sangrentos”, nem através de fatos ilícitos como está acontecendo com algumas em- 13 COPELAND, Tom. Cutting costs without drawing blood.Harvard Business Review. Set-Oct / 2000. p. 155. 14 Não é propósito comentar que todos os cenários causam problemas para a empresa, mas que os mesmos, se utilizados de maneira inadequada, poderão distorcer a informação a ser gerada. 15 LEVI, William. in SANVICENTE, Antonio Zoratto. As 10 maiores armadilhas do orçamento. HSM Management. N 32, ano 6, maio-junho 2002. p. 140. 16 HAMEL, Gary. O pior inimigo é a tradição. Exame n 737, ano 35 abril/2001. p. 98. 37 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 presas nos E.U.A. e que provavelmente acontece com várias outras no mundo inteiro17 . Entretanto, deve-se saber que o objetivo das empresas não é cortar custos. Ao se voltar estritamente para a política de redução de custos e tentativa de alavancar lucros sem devido conhecimento do processo como um todo, muitas vezes, o foco empresarial se perde. A forma mais sensata de cortar custos é se tornando mais eficiente. Evita-se, assim, o desperdício dentro do processo operacional, como será abordado a seguir. 3.1 - Eficiência Empresarial Todo entendimento é bastante nebuloso dentro do arcabouço, pois há uma imensa confusão entre a diferença de eficiência e eficácia. Segundo Anthony18 : “In summary, (...) is efficient if it does things right, and it is effective if it does the right things”. Ou seja, eficácia é a relação entre as saídas e seus objetivos, portanto, se a empresa alcançar seus objetivos da maneira correta, então será eficaz. Eficiência é a relação existente entre entradas e saídas. Sardinha complementa afirmando que “o retorno sobre o ativo é o retorno sobre o investimento: sendo, uma medida de performance gerencial. Esta informação permite o investidor conhecer se a empresa A teve performance superior a B, porque: (1) apesar de ambas apresentarem o mesmo resultado operacional, os ativos da empresa A são inferiores aos da empresa B; ou, (2) ambas possuem o mesmo investimento, mas a empresa A apresenta um lucro superior ao da empresa B. Este conceito expressa: a empresa A é mais eficiente, pois exige menos recursos para obter os mesmos resultados ou com os mesmos recursos obtém resultados superiores.”19 Conforme pode ser inferido, a eficiência está associada com o fazer tarefas, processos, ou similares, de forma correta; ou seja, está próxima ao nível tático ou operacional. Já a eficácia está associada ao alcance/obtenção de resultados (nível estratégico). À medida que o administrador se preocupa em fazer corretamente as coisas, ele está se voltando para a eficiência (melhor utilização dos recursos disponíveis). Porém, quando ele utiliza os instrumentos e resultados fornecidos por aqueles que executam para avaliar o alcance dos resultados, isto é, se as coisas bem feitas são as que realmente importam para o alcance dos objetivos e metas organizacionais, então ele está se voltando para a eficácia (alcance dos objetivos através dos recursos disponíveis). Portanto, uma empresa eficaz é aquela capaz de produzir um resultado desejado afim de alcançar algum objetivo; mas a mesma só será eficiente se, no alcance de tais objetivos, sua produção for feita com o mínimo de perdas, gastos e esforços. Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJ 4 - CORTAR DESPERDÍCIOS E CAUTERIZAR UM DOS LADRÕES DE LUCROS Sendo assim, quando uma empresa não é eficiente, ela passa a ser geradora de desperdícios. Para promover uma melhoria organizacional e tornar-se mais eficiente a empresa deve promover a redução dos desperdícios dentro da entidade. Para isso, antes de mais nada, todo o processo dentro da organização deve estar claro, bem definido e estipulado. Desde a seleção de uma estratégia bem definida, passando por um plano de contas bem estruturado e a utilização dos mecanismos contábeis são processos essenciais para tornar um desperdício em condições de ser percebido. A chave para o crescimento sustentável, neste caso, é focar em encontrar e eliminar desperdícios valorando cada fato nos devidos lugares. Sua importância existe porque, segundo McNair20 , “o desperdício expulsa os lucros da firma. Apenas tornando o desperdício visível e trabalhando ativamente no sentido de eliminá-lo, a companhia poderá obter um controle de longa duração sobre seus lucros”. O problema é que o desperdício está oculto dentro de todo o processo operacional da empresa. A mensuração do que fizemos de errado (desperdício) é raro, pois o registro atual e a forma de utilização dos relatórios contábeis acabam, muitas vezes, mesclando o que é bom (trabalho eficiente) com o ruim (trabalho ineficiente). A Demonstração de Resultado de Exercício poderia se encaixar neste contexto, pois o uso do D.R.E. muitas vezes mistura variáveis que poderão confundir o gestor no momento da tomada de decisão, distorcendo, assim, a geração de informação. Para isso é necessário entender os elementos inerentes ao D.R.E., o desperdício e sua classificação. 4.1 - Elementos Básicos Para que o desperdício possa ser localizado e evidenciado, deve-se definir de maneira precisa os termos e elementos básicos a serem abordados, como será visto a seguir: a) Custo das Mercadorias Vendidas e Despesas Operacionais - Gastos relativos a bens ou serviços consumidos direta ou indiretamente para a obtenção de receita. São os gastos que agregam valor ao produto ou que não agregam valor, mas são necessários. Ou seja, são os valores econômicos de recursos necessários para se fabricar produtos, fornecer serviços ao cliente ou para sustentar a organização; b) Despesa Não Operacional - Eventos e transações de caráter significativamente diferente das atividades típicas ou usuais da entidade. São decréscimos pela participação de transações periféricas ou incidentais de uma entidade, e em outras transações ou outros eventos e circunstâncias, afetando a entidade durante um período; c) Desperdício - Valor de todas as atividades utilizadas de 17 Os casos mencionados são da WorldCom, Xerox, Enron entre outras que inflacionaram e fraudaram resultados e balanços. 18 ANTHONY, Robert N. e GOVINDARAJAN, Vijay. Management control system. 8a ed. Irwin, 1995, p. 111 19 SARDINHA, Carlos José. Apostila de formação de preços. FGV/RJ, 2002. p.120. 20 MCNAIR, Carol J. Maximizando o lucro final - alto desempenho em todas as linhas do “lucro e perdas”. São Paulo: Makron Books, 2000. p. XVI 38 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 forma ineficiente ou pelas quais os clientes não estão dispostos a pagar. Torna-se, portanto, o ladrão de lucro da empresa. São: Máquinas ociosas, pessoal subutilizado, material desnecessário, filas, retrabalhos, redundâncias operacionais, variações excessivas, ajustes, superprodução, etc. Ou seja, dentro da estrutura empresarial, há dois tipos de esforços: aqueles que agregam valor ao bem, que compreende as atividades que realmente aumentam o valor do produto (normalmente condicionadas às atividades de transformação) e aqueles que não agregam valor ao bem, mas proporcionam suporte para o trabalho efetivo. Os desperdícios não adicionam valor aos produtos e também não são necessários ao trabalho efetivo. Algumas empresas, inclusive, estão utilizando tal para mensurar itens que não adicionam valor ao produto no enfoque do consumidor. Dependendo da percepção que o cliente tenha dos bens ou serviços, algumas características dos mesmos podem estar, inclusive, diminuindo o valor dos produtos. Portanto, ao se estruturar e manipular os demonstrativos contábeis de forma a fazer submergir os desperdícios, focando, assim, em sua eliminação ou redução, a empresa se tornará mais eficiente. Enquanto não fizer isso, sua miopia contábil poderá levá-la a descontinuidade. Percebe-se que um desperdício poderia ser classificado como Despesa não Operacional, entretanto, como não há a devida noção da importância informativa da localização e devida separabilidade dos desperdícios, os mesmos acabam configurando os custos e despesas. 4.1.1 - Tipos de Desperdícios A partir dos conhecimentos de Shingo21 e McNair22 pode-se classificar: a) Desperdícios de superprodução - Refere-se à produção de itens acima do necessário ou antecipadamente. Com isso, há um aumento dos estoques, podendo mascarar imperfeições do processo. Para ser completamente eliminado, a empresa deve produzir uma quantidade próxima ao necessário; b) Desperdícios por transporte - Refere-se às atividades de movimentação de materiais. Sua eliminação ou redução está atrelada a reorganização física da fábrica; c) Desperdícios no processamento - Correlacionados às atividades de transformações desnecessárias para que o produto adquira suas características básicas de qualidade, ou seja, consistem em se trabalhar fazendo peças, detalhes ou complexidades produtivas excessivas. Além disso, define-se que parte deste desperdício está intimamente relacionada com a percepção que o cliente tem do produto. Se o bem ou serviço possuem peças e partes que são dispensáveis do ponto de vista do consumidor, então os custos dos mesmos não agregam valor para o produto final e, portanto, são gastos que não visam a geração de receita. Sua eliminação depende de técnicas de análise do valor de produto e de processo, bem como um pós venda bem estruturado; d) Desperdícios por fabricação de produtos defeituosos Relacionado à produção de itens fora das especificações de Conselho Regional de Contabilidade do RJ qualidade. Este talvez seja o mais comum e o mais fácil de ser identificado. Sua eliminação depende de uma confiabilidade no processo e na rápida identificação e solução de problemas; e) Desperdícios no movimento - Relaciona-se à movimentação inútil na consecução das atividades. Sua eliminação está no esforço de estabelecer padrões de desempenho, bem como o de atingir tais metas; f) Desperdícios por espera - Formados pela capacidade ociosa, ou seja, trabalhadores e máquinas paradas. Seus principais geradores são: elevado tempo de preparação, ajustes necessários, mudanças de layout da linha de produção, falta de sincronização da produção e falhas não previstas no sistema produtivo. Devem ser através da redução o tempo de processamento, tempo de ajustes, filas, balanceamento da produção e aumento da confiabilidade do sistema; g) Desperdícios de estoques - Gerado basicamente pela superprodução ou falhas no processo que podem resultar em gargalos e, consequentemente, em excesso de estoques em processo. Para sua eliminação deve ser localizado tais gargalos, bem como adequação da produção à necessidade do mercado; h) Desperdícios de matéria-prima - Relacionados ao desperdício de matérias-primas despendidas de maneira anormal ou acima do estritamente necessário à confecção do produto. Confunde-se com desperdício de processamento, entretanto este é mais fácil de ser localizado. Para isso localiza-se variação excessiva do padrão estabelecido; i) Desperdícios de capacidade humana - São aqueles muitas vezes associadas em outros processos, mas que estão relacionados ao conhecimento dos funcionários. Existem a partir de treinamentos inadequados, funcionários sem poder de decisão ou de flexibilidade, imperícia e erros no processo, ou até comunicações ineficientes transmitidas de cima para baixo ou vice versa. Sua eliminação deve estar condicionada a uma gerência de RH bem estruturada; j) Outros desperdícios - Há ainda uma gama de desperdícios não alocados em nenhum anterior, por ser inclusive possível alocá-los em todos. São aqueles como redundância operacional, burocratização, erros de remessa, promessas descumpridas, insatisfação de clientes, entregas atrasadas, retrabalhos, inspeções para tentar apurar falhas não encontradas, paralisações não esperadas, e qualquer outro gasto que não visa receita e reduz o lucro da organização. Muito em voga a tentativa da empresa em minimizar ou eliminar por completo os desperdícios na busca pela eficiência empresarial. Entretanto, percebe-se que, muitas vezes, a eliminação de um desperdício causa a maximização de outro. Assim como acontece no estudo do LEC (Lote Econômico de Compra), que, por exemplo, a escolha do mínimo custo de estocagem causa a maximização do custo de pedido, então a empresa irá calcular um ponto onde o custo será mínimo. O mesmo ocorre com desperdícios, como é o caso de superprodução e por espera. Caso a empresa elimine por completo a ociosidade, pode acarretar maximização de produção e de custo de estoques, causados por esta superprodução. Pensar Contábil 21 SHINGO, Shigeo. Study of Toyota production system from industrial engineering viewpoint. Tokyo, Japan: Japan Manegement Association, 1981 in BORNIA, Antonio Cezar. Análise gerencial de custos: aplicação eme empresas modernas. São Paulo: Bookman, 2002. p. 31. 22 MCNAIR, Carol J. Op cit. p. 07 39 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 4.2 - Otimizar a utilização do D.R.E. A partir destas definições podermos reformular o D.R.E. de acordo com nossas expectativas, com intuito de valorar a demonstração e evidenciação. Lembre-se que podem existir várias “versões” do mesmo relatório para usuários diferentes, ou seja, esta reformulação pode ser naturalmente feita, desde que seja gerencial. Os valores apresentados no relatório do Demonstrativo de Resultados, de acordo com a Contabilidade Financeira, utilizam o método da competência. Esse método tem por objetivo apropriar os gastos que foram necessários à organização para obter a receita que está sendo apresentada. De uma forma geral, o Demonstrativo de Resultado empregado na Contabilidade Financeira tem a seguinte estrutura de informação: DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO Receita Operacional Bruta (de vendas ou serviços) $ (-) Deduções $ (=) Receita Operacional Líquida $ (-) Custo das Mercadorias / Produtos Vendidos (CMV / CPV ) $ (=) Lucro Operacional Bruto $ (-) Despesas Operacionais (comerciais, administrativas, gerais) $ (=) Lucro Operacional Líquido $ (+ / -) Resultados Não Operacionais $ (=) Lucro Antes do Imposto de Renda $ $ (=) LUCRO ou PREJUÍZO Pensar Contábil LÍQUIDO DO EXERCÍCIO Custo Variável Por unidade MAD MOD Outros Nunca é demais recordar que a Demonstração do Resultado do Exercício possui, como objetivo, informar aos usuários das demonstrações contábeis uma série de informações acerca de seus objetivos. Algumas delas: a rentabilidade da empresa no decorrer do tempo, a margem que cada processo etapa do processo gera, o resultado do período como medida de desempenho das atividades da empresa, o peso de cada rubrica frente à receita, o comportamento de cada linha ao longo do tempo, entre outras. Nesse sentido, o contador deve evitar processos sofisticados que interfiram no entendimento da informação contábil. As Demonstrações de Resultado dos Exercícios deverão informar a tendência do empreendimento. Por exemplo, saber uma possível correlação existente entre Receita e Custo dos Produtos Vendidos, evidenciando ou não uma eficiência; o peso das despesas financeiras que impactam o resultado e o risco inerente à empresa; uma possível relação entre o preço cobrado e o lucro atingido, de forma a entender o comportamento do mercado e aproveitar uma maior sinergia deste conhecimento. Dentro deste relatório, pode-se visualizar melhor os desperdícios ocorridos ao expurgá-los das classificações, onde normalmente são inseridas (Custo das Mercadorias / Despesas Operacionais), lançando-os em despesas não operacionais. Isso agregaria mais informação ao gestor, indicando com maior precisão e assertividade, onde a empresa poderá se esforçar para melhorar resultados, inclusive em índices e análises. Com o exemplo a seguir, será exposta a melhoria informacional. 4.3 - Exemplo Uma empresa chamada Lost’n’notfound tentava se encontrar dentro do próprio processo de geração de valor. Seu único produto, o energetion, tem um preço de $ 250,00 por unidade. Apesar do mercado absorver 1.000 unidades por mês, sua capacidade é de 2.000 unidade / mês. Seu contador informou, ainda, os seguintes dados: (-) Contribuição Social / Provisão para Imposto de Renda Conselho Regional de Contabilidade do RJ $ $ 110,00 $ 80,00 $ 20,00 $ 10,00 Custo Fixo Despesa Variável Despesa Fixa Custo de Estocagem $ 80.000,00 $ 30,00 / unid $ 25.000,00 $ 45,00 / unid Em uma melhor apuração, estipulou-se e apurou-se ainda: Eficiência 5,0 Kg / unid $ 16,00 / Kg MAD 10,0 h / unid $ 2,00 / hora MOD $ 80,00 / unid $ 20,00 / unid Dados dos fatos ocorridos 5,1 Kg / unid $ 16,30 / Kg MAD 40 $ 2,15 / hora MOD $ 83,13 / unid Produção 10,3 h / unid 1.200 unidades $ 22,04 / unid Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 O seguinte D.R.E. poderia ser montado a partir das informações acima: Receita $ 250.000,00 (-) C.M.V. $ 181.834,17 = Lucro Bruto $ 68.165,83 (-) Despesas $ 64.000,00 = Lucro Operacional $ 4.165,83 (-) Result Não Oper $ = LAIR $ 0,00 4.165,83 A fim de tornar este relatório mais condizente com a funcionalidade contábil bem como gerador de informação, remodela-se o D.R.E. estruturando-o da seguinte maneira: Receita $ 250.000,00 Custos Variáveis $ 110.000,00 Despesas Variáveis $ 30.000,00 Margem de Contribuição $ 110.000,00 Custos Fixos $ 40.000,00 Despesas Fixas $ 25.000,00 Lucro Operacional $ 45.000,00 Ociosidade $ 26.666,67 Estocagem $ 9.000,00 Variação MOD $ 2.037,50 Variação MAD $ 3.130,00 $ 4.165,83 Result Não Oper LAIR Percebe-se que o LAIR dos dois relatórios não possui diferença, entretanto a análise a ser formulada é mais detalhada. A relevância da informação gerencial amplia-se, visto que cada desperdício necessita uma ação específica e “a quantificação dos mesmos permite a formação de prioridades para a atuação gerencial no combate aos desperdícios”23 . Isso agregaria ao gestor mais valor à importância do sistema contábil como fonte de informação, pois garantiria à sua tomada de decisão uma maior assertividade e certeza. 5 - CONCLUSÃO O controle organizacional é imprescindível ao sucesso do Conselho Regional de Contabilidade do RJ empreendimento. Seu principal mecanismo, a Contabilidade, bem como todas suas engrenagens, fazem com que haja uma maior precisão na identificação dos problemas internos de uma organização. Como exemplo, cita-se a Tigre que “sabe exatamente quanto custa cada novo microcomputador, cada funcionário da assistência técnica, cada máquina que processa as informações corporativas. Com essas informações ele conseguiu um ganho de eficiência notável”24 . Outro exemplo é a Basf que “implementou seu sistema integrado de gestão, ou ERP, dentro do prazo e a um custo 30 % inferior”25 resultado de cobranças e cumprimento de custos e prazos. “A era da informação criou mercados hipercompetitivos. Os compradores estão mais informados a respeito das ofertas dos concorrentes, mais conscientes em relação ao preço e mais exigentes quanto às características dos produtos e serviços, do que em qualquer outra época e em qualquer outro mercado.”26 Por isso, no mundo turbulento dos negócios, há exigências das empresas tornarem-se enxutas. A partir disso, o corte de custos muitas vezes é implementado, em que a demissão de pessoas passa a ser um mecanismo atraente por proporcionar resultados a curto prazo. Todavia, a redução de custos deve ser realizada de maneira coerente e inteligente atrelado ao enfoque estratégico, bem como ao controle proporcionado pela Contabilidade Gerencial, evitando, portanto, que um possível corte de custos possa ser feito sem que ocorra algum revés inesperado ou afete negativamente o cenário de médio e longo prazos. Ou seja, muitas vezes o corte de custos pode e deve ser realizado, mas decisões ineficazes podem resultar em processos operacionais ineficientes, chocando-se diretamente com a performance estrutural e econômica das empresas. Com a Contabilidade gerencial, através de mecanismos eficientes da gestão orçamentária, o processo de redução de custos torna-se mais preciso, proporcionando, assim, otimização dos gastos empresariais, efetivando-se numa profícua ferramenta para avaliação de desempenho e maximização de resultado. Só que para sua melhor utilização o gestor pode melhor utilizar os relatórios existentes, como a D.R.E., a fim de saber localizar e evidenciar os problemas, como no caso exemplificado, os desperdícios. O objetivo deste trabalho foi mostrar que os relatórios contábeis são de imensa importância para os gestores que buscam mensurar as variáveis que podem levar a empresa a descontinuidade, afinal tudo aquilo que não é medido, controlado ou evidenciado, não é gerenciado. Pensar Contábil 23 BORNIA, Antonio Cezar. Op cit. p. 65. 24 TEIXEIRA JUNIOR, Sérgio. Chega de desperdício. Revista Exame. Ed 760, ano 36, n 4, fev/2002. p. 34 25 TEIXEIRA JUNIOR, Sérgio. Op cit. p. 35 26 KOTLER, Philip, JAIN, Dipak e MAESINCEE, Suvit. Marketing em ação. Rio de Janeiro: Campus, 2002. p.06 41 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTHONY, Robert N. Contabilidade gerencial. Tradução de Management accounting principles, por Luiz Aparecido Caruso. São Paulo: Atlas, 1975. BORNIA, Antonio Cezar. Análise gerencial de custos: aplicação eme empresas modernas. São Paulo: Bookman, 2002. COPELAND, Tom. Cutting costs without drawing blood.Harvard Business Review. Set-Oct / 2000. DIEGUEZ, Consuelo. O futuro está em jogo. Revista Exame. Ed 760, ano 36, n 4, fev/2002. HAMEL, Gary. O pior inimigo é a tradição. Exame n 737, ano 35, abril/2001. HANSEN, Don R. e MOWEN, Maryanne M. Gestão de custos. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. HORNGREN, Charles T., et al. Contabilidade de custos. Tradução de “Cost accounting” 9 ed., por José Luiz Paravato. 9 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2000. KOTLER, Philip, JAIN, Dipak e MAESINCEE, Suvit. Marketing em ação. Rio de Janeiro: Campus, 2002. MCNAIR, Carol J. Maximizando o lucro final - alto desempenho em todas as linhas do “lucro e perdas”. São Paulo: Makron Books, 2000. NAGLE, Thomas. Cuidado com o preço. HSM Management, n 21. Julho-Agosto 2000. SANVICENTE, Antonio Zoratto. As 10 maiores armadilhas do orçamento. HSM Management. N 32, ano 6, maio-junho 2002 TAVARES, Mauro Calixta. Gestão estratégica. São Paulo: Atlas, 2000. TEIXEIRA JUNIOR, Sérgio. Chega de desperdício. Revista Exame. Ed 760, ano 36, n 4, fev/2002. EDUCAÇÃO EDUCAÇÃO CONTINUADA CONTINUADA Pensar Contábil O CRC-RJ ofereceu, em 2002, cerca de 370 cursos abrangendo áreas diversas da Contabilidade, abertos aos profissionais e estudantes. NÃO PERCA!! Em 2003, o CRC-RJ quer bater seu próprio recorde de cursos oferecidos. Fique atento. Inscreva-se. Não desperdice as oportunidades que o CRC-RJ disponibiliza através de seus cursos. Atualize-se. Informe-se. Ligue (21) 2516-4510/2516-7362 - INTERNET: www.crc.org.br 42 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 5º colocado no Prêmio Geraldo de La Rocque GESTÃO DOS CUSTOS DA QUALIDADE AMBIENTAL 1 – INTRODUÇÃO O novo contexto econômico caracteriza-se por uma rígida postura dos clientes, voltada à expectativa de interagir com organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no mercado, e que atuem de forma ecologicamente responsável. Diante deste novo cenário, as organizações necessitam direcionar suas estratégias para a variável ambiental, a fim de obter vantagem competitiva. As estratégias da empresa devem levar em conta, a preocupação com gastos relevantes por natureza e volume, principalmente em função da relação custo/benefício. Estes gastos tornam-se relevantes para a organização, bem como para a qualidade de vida da população atual e das gerações futuras. Nestas condições, um gerenciamento dessa variável exige ferramentas gerenciais para o controle dos custos e despesas. Isto exposto, se faz necessário que os gastos de natureza ambiental devam ser controlados e gerenciados continuamente. Para isso, as empresas podem adotar sistemas de custos da qualidade ambiental, a fim de apurar os seus números que, na maioria das vezes, estão distorcidos por outros custos da empresa. 2 – MEIO AMBIENTE E CUSTOS DA QUALIDADE AMBIENTAL A busca pela preservação do meio ambiente tomou forma e começou sensibilizar a sociedade e as autoridades. Hoje, após anos de intensas discussões, conclui-se que a ausência de crescimento ou desenvolvimento é nociva ao meio ambiente e que a grande questão atual é torná-lo sustentável. De acordo com Alves (2001), a variável ambiental é um aspecto significativo a ser considerado e tratado na estratégia das organizações. A gestão ambiental, por sua vez, deve ser gerida eficientemente, monitorando-se os custos de controle, a poluição e os custos das falhas da falta de controle de gestão. Moura (2000) diz que os custos da qualidade ambiental devem ser utilizados na avaliação e melhoria da posição de competitividade das companhias, com relação aos seus concorrentes. Daí a sua importância. Enfatiza também que a gestão de custos da qualidade ambiental é uma ferramenta fundamental para o gerenciamento do sistema de gestão ambiental, pois fornece ele- Maria Elisabeth Pereira Kraemer Contadora, CRC/SC nº 11.170, Professora e Membro da equipe de Ensino e Avaliação na Pró-Reitoria de Ensino da UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí. Mestre em Relações Econômicas Sociais e Internacionais pela Universidade do Minho-Portugal. Doutoranda em Ciências Empresariais pela Universidade do Museu Social da Argentina. Membro da Corrente Científica Brasileira do Neopatrimonialismo e da ACIN – Associação Científica Internacional Neopatrimonialista. mentos para a alta administração das empresas à tomada de decisões, direcionando a melhoria do desempenho ambiental. Desse modo, o gerenciamento ambiental passa a ser um fator estratégico que a alta administração das organizações deve analisar. A Gestão Ambiental inclui uma série de atividades que devem ser administradas, tais como: formular estratégias de administração do meio ambiente, assegurar que a empresa esteja em conformidade com as leis ambientais, implementar programa de prevenção à poluição, gerir instrumentos de correção de danos ao meio ambiente, adequar os produtos às especificações ecológicas, além de monitorar o programa ambiental da empresa. Além dessa ferramenta, a problemática ambiental envolve também o gerenciamento dos assuntos pertinentes ao meio ambiente, por meio de sistemas de gestão ambiental, da busca pelo desenvolvimento sustentável, da análise do ciclo de vida dos produtos e da questão dos passivos ambientais. Pensar Contábil 3 – GESTÃO AMBIENTAL A nova consciência ambiental, surgida no bojo das transformações culturais que ocorreram nas décadas de 60 e 70, ganhou dimensão e situou o meio ambiente como um dos princípios fundamentais do homem moderno. Nos anos 80, os gastos com proteção ambiental começaram a ser vistos pelas empresas líderes não primordialmente como custos, mas como investimentos no futuro e, paradoxalmente, como vantagem competitiva. A inclusão da proteção do ambiente entre os objetivos da organização moderna amplia substancialmente todo o conceito de administração. Administradores, executivos e empresários 43 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 introduziram em suas empresas programas de reciclagem, medidas para poupar energia e outras inovações ecológicas. Essas práticas difundiram-se rapidamente, e em breve vários pioneiros dos negócios desenvolveram sistemas abrangentes de administração de cunho ecológico. Esse novo paradigma precisa ser acompanhado por uma mudança de valores, passando da expansão para a conservação, da quantidade para a qualidade, da denominação para a parceria. A gestão ambiental demanda uma dimensão ética, cujas principais motivações são a observância das leis e a melhoria da imagem da organização. É motivada por uma ética ecológica e por uma preocupação com o bem-estar das futuras gerações. Não questiona a ideologia do crescimento econômico, que é a principal força motriz das atuais políticas econômicas e, tragicamente, da destruição do ambiente global. Assim, para que uma empresa passe a realmente trabalhar com gestão ambiental deve, inevitavelmente, passar por uma mudança em sua cultura empresarial; por uma revisão de seus paradigmas. 4 - DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. Ele contém dois conceitos-chave: 1) o conceito de “necessidades”, sobretudo as necessidades essenciais dos pobres no mundo, que devem receber a máxima prioridade; 2) a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras. Além disso, desenvolvimento sustentável introduz uma dimensão ética e política que considere o desenvolvimento como um processo de mudança social, com conseqüente democratização do acesso aos recursos naturais e distribuição eqüitativa dos custos e benefícios do desenvolvimento. Para a existência de uma sociedade sustentável, Meyer (2000) diz que é necessária a sustentabilidade ambiental, social e política, constituindo-se em alinhamentos e ajustes ao longo do processo, a fim de se buscar um estágio final equilibrado. O desenvolvimento sustentável, além de equidade social e equilíbrio ecológico, segundo Donaire (1999), apresenta, como terceira vertente principal, a questão do desenvolvimento econômico. Induz um espírito de responsabilidade comum como processo de mudança no qual a exploração de recursos materiais, os investimentos financeiros e as rotas do desenvolvimento tecnológico deverão adquirir sentidos harmoniosos. Neste sentido, o desenvolvimento da tecnologia deverá ser orientado para metas de equilíbrio com a natureza e de incremento da capacidade de inovação dos países em desenvolvimento, e o progresso será entendido como fruto de maior riqueza, maior benefício social eqüitativo e equilíbrio ecológico. Então para solucionarmos este conflito, temos que passar por uma mudança de valores e de orientação nos sistemas produtivos das organizações e da sociedade, com a produção e o consumo, visando à minimização de danos e impactos ambientais negativos normalmente causados Pensar Contábil 44 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 5 - CICLO DE VIDA DOS PRODUTOS O ciclo de vida do produto tem sido estudado em ampla gama de contextos organizacionais, influenciando as relações comerciais entre países exportadores e importadores, tendo como preocupações de caráter ambiental aspectos que compreendem desde o processo produtivo e seus produtos, o uso, até o posterior descarte. A série ISO 14000, na organização do seu comitê técnico TC207 – Gestão Ambiental, encarregado da elaboração das normas e guias internacionais para o SGA – Sistema de Gerenciamento Ambiental, Nahuz (1995), criou o subcomitê SC-5 para Avaliação do Ciclo de Vida, considerando os impactos causados ao meio ambiente desde a extração da matéria-prima usada na geração do produto, e por todo processo produtivo, levando em conta as emissões de efluentes, até o descarte do produto com sua reintegração ao meio ambiente. A avaliação do ciclo de vida do produto é definida por Chehebe (1998) como uma técnica para avaliação dos aspectos ambientais e dos impactos potenciais, associados a um produto, compreendendo etapas que vão desde a retida da natureza das matérias-primas elementares que entram no sistema produtivo (berço) à disposição final (túmulo). O referido autor diz que a análise do ciclo de vida pode ser utilizada com um enfoque gerencial para vários propósitos, pois ajuda no seguinte: - a identificar oportunidades de melhoramentos dos aspectos ambientais, considerando as várias fases de um sistema de produção. - na tomada de decisão, por exemplo, no estabelecimento de prioridades ou durante o projeto de produtos e processos, podendo levar à conclusão de que a questão ambiental mais importante para uma determinada empresa pode estar relacionada ao uso de seu produto, e não as suas matérias-primas ou ao processo produtivo. - como parte do processo para avaliar a seleção de componentes feitos de diferentes materiais. - Na avaliação da performance ambiental. Na realidade, a análise do ciclo de vida propõe-se a responder às questões e às dúvidas mais comuns quando da concepção de um produto. De acordo com Alves (2001): que embalagens causam menos danos ao meio ambiente: retornáveis ou recicláveis? Quais dessas alternativas são mais viáveis economicamente? Essas e outras questões são importantes, pois as empresas são responsáveis pelo produto até a disposição final, conforme a legislação brasileira atual. 6 – PASSIVO AMBIENTAL O passivo ambiental são as obrigações contraídas pela empresa perante terceiros, que têm como origem um gasto ambiental (ativos, custos, despesas etc). Assim, segundo Ribeiro & Gonçalves (2002), constituem-se obrigações ambientais aquelas decorrentes de compras de ativos ambientais, de elementos consumidos durante o processo de produção e aqueles provenientes de penalidades impostas às organizações por infração à legislação ambiental, por danos ao meio ambiente e à propriedade de terceiros. Com a dinâmica dos negócios, os passivos ambientais devem ser tratados com muita atenção e devem fazer parte da Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 tomada de decisões das organizações na aquisição de outras empresas, na formação de cluster, nas fusões, nas análises de riscos do negócio, na venda da empresa e na concepção de novos produtos, dentre outras transações pertinentes ao assunto. Para a ONU apud Ribeiro (1998), existem três tipos de obrigações decorrentes do passivo ambiental: 1) - Legais – são as provenientes de instrumentos legais. 2) Construtivas – são aquelas que a empresa propõe-se a cumprir espontaneamente, excedendo as exigências legais. 3) Justas (equitable) – refletem a consciência de responsabilidade social; ou seja, a empresa cumpre em razão de fatores éticos e morais. Alves (2001) ressalta que a variável custos da qualidade ambiental decorrente de gastos para manter o padrão de emissão dos resíduos, em conformidade com as leis que regulamentam a questão ambiental no Brasil, bem como as despesas originadas pela falta de controle, como os passivos ambientais e os demais custos envolvidos (dentre eles: ciclo de vida de produtos, manutenção dos sistemas de gestão e custos dos estudos de novas tecnologias menos impactantes ao meio ambiente), deverão fazer parte do controle de custos gerenciais das organizações. 7 - CUSTOS DA QUALIDADE Com o propósito de participar de forma efetiva neste mercado com tendências à globalização, os fatores de produção sempre estiveram constituindo o núcleo de preocupações dos gestores empresarias, tanto no contexto de ambiente produtivo em si, como também no que diz respeito à dinamicidade de fatores externos de qualquer forma, associados aos núcleos de transformação das empresas. Os conceitos de custos da qualidade passaram a ser disseminados com a bibliografia que tratava do controle da qualidade e buscava oferecer suporte às ações de melhorias, além de tentar medir a qualidade das empresas. A partir daí, surgem conceitos iniciais de custos da qualidade, buscando oferecer suporte às ações de melhoria e como forma de medir a qualidade das empresas. Para SÁ (1995), custo da qualidade é a aplicação de capital no sentido de oferecer o produto que se elabora um caráter distintivo, que lhe atribui condições para a plena satisfação do cliente, quer quanto à utilização, quer quanto ao preço. Os custos da qualidade são um importante indicativo para avaliar quanto às empresas estão perdendo ou deixando de ganhar por não estarem produzindo com qualidade. Então custos da qualidade buscam identificar e apontar as falhas existentes, assim como os custos para se prevenir problemas decorrentes dessas falhas. Esses custos são classificados em dois grandes grupos: os Custos do Controle e os Custos de Falhas no Controle. Os Custos do Controle se subdividem em Prevenção e Avaliação e no caso dos Custos de Falhas no Controle em Custos de Falhas Internas e Custos de Falhas Externas. Abaixo, será detalhado cada custo de acordo Shank & Govindarajan (1995). Custos de Prevenção – A soma de todos os custos associados a medidas tomadas para planejar o processo de modo a garantir que não ocorrerão defeitos. Por exemplo, projetar um processo de fabricação sem defeitos, um projeto de produto es- Conselho Regional de Contabilidade do RJ tável, treinamento e desenvolvimento de empregado, etc. Custos de Avaliação – Aqueles custos associados à medição do nível de qualidade obtido pelo sistema ou, em outras palavras, custos associados à inspeção para garantir que as exigências do cliente sejam atendidas. Por exemplo, inspeção e teste de protótipo, inspeção e teste de recebimento, inspeção durante o processo, e auditoria de qualidade em produtos acabados. Custos de Falha Interna – Aqueles custos incorridos para corrigir a produção defeituosa antes que ela chegue ao cliente. Por exemplo, refugo, retrabalho, reparo, reprojeto, reinspeção de retrabalho, paralisação devido a defeitos e custo de oportunidade de vendas perdidas causadas por ter produção insuficiente para vender. Custos de Falha Externa – Aqueles custos associados à entrega de produtos com defeito ao cliente. Por exemplo, ajustes de garantia, investigação de defeitos, devoluções, cancelamentos, processos judiciais e perda da boa vontade do cliente. 8 - COMO MEDIR OS CUSTOS DA QUALIDADE Segundo Coral (1996), existem dois enfoques para se medir os custos da qualidade: o enfoque tradicional e uma nova tendência que se baseia na utilização de valor agregado. No enfoque tradicional, os custos da qualidade são obtidos através da identificação de itens de prevenção, avaliação, falha interna e falhas externos em uma organização. Os cálculos dos custos são retirados de relatórios contábeis e através de ajustes em sistemas de custos tradicionais, levando aos mesmos problemas dos sistemas tradicionais de custos, uma vez que os itens dos custos da qualidade são separados em grandes blocos de custos e não relacionam tais itens as suas causas. Neste enfoque, adiciona-se um relatório financeiro de falhas, que serve para medir a qualidade em uma empresa, porém não aponta as causas de falhas, não possuindo efeito significativo no gerenciamento da qualidade. Já no enfoque da utilização do valor agregado aos custos da qualidade, relaciona os itens de prevenção e falhas com as atividades que agregam valor para o consumidor. Portanto o gerenciamento da qualidade baseia-se na eliminação de atividades que não agregam valor e que resultam em custos desnecessários para a organização. Nesta metodologia, os custos da qualidade são obtidos através de sistemas de custeio baseados em atividades. Para Juran & Gryna, apud Alves (2001), a mensuração dos custos da qualidade é vista pelos administradores como a forma de se atender a vários objetivos ou questões, dentre os quais se destacam: -aumentar a produtividade através da qualidade; -avaliar os programas de qualidade por intermédio de quantificações físicas e monetárias; -conhecer na realidade o quanto à empresa está perdendo pela falta de qualidade; -revelar o impacto financeiro das decisões de melhoria; -tornar a qualidade um dos objetivos estratégicos da organização; -identificar as oportunidades para diminuir a insatisfação dos clientes; -identificar as principais oportunidades para a redução dos custos; -expandir os controles orçamentários e de custos da qualidade; e Pensar Contábil 45 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 -estimular o aperfeiçoamento da qualidade por meio de divulgação. Verifica-se, portanto, diante do exposto que os conceitos de custos da qualidade são aplicáveis também aos custos da qualidade ambiental. 9 – CUSTOS DA QUALIDADE AMBIENTAL Os custos de qualidade, na realidade, buscam identificar e apontar as falhas existentes, bem como os custos para se prevenir problemas decorrentes destas falhas. Para Bovenberg & Goulder, apud Alves (2001) a interface entre a competitividade e a preservação do meio ambiente dáse por meio da gestão dos custos da qualidade ambiental. As empresas, para se adequarem à nova postura de preservação ambiental e buscarem uma política de qualidade ambiental na gestão da sua organização, devem se preocupar também com os custos da relação meio ambiente e meio empresarial, destacando estes custos dos demais. Neste sentido, Campos (1996) diz, que o meio empresarial deverá se preocupar com dois aspectos relacionados aos seus custos da qualidade ambiental: o primeiro, e mais complexo, buscar formas de considerar os custos tratados, até então, como “externalidades”, ou seja, internalizá-los; o segundo, identificar e obter, para em seguida avaliar, os custos ambientais, sejam tanto os relacionados aos processos empresariais, quanto os relacionados aos processos produtivos e a apuração destes custos tornar-se uma ferramenta imprescindível ao direcionamento das tomadas de decisões. Para melhor entendimento dos conceitos dos custos da qualidade ambiental e da sua padronização, a GEMI, Global Environmental Management Initiative, e a USEPA, U.S. Environmental Protection Agency apud Alves (2001), atribuíram quatro categorias de custos da qualidade ambiental e sugerem a seguinte classificação: - Custos Convencionais: incluem os custos que, na maior parte das vezes, recebem atenção especial na contabilidade gerencial, tais como: investimentos em equipamentos, matériaprima, mão-de-obra e materiais indiretos. Incluem todos custos associados aos aspectos ambientais tangíveis de tais processos e atividades. Seu controle conduz ao aumento da eficiência produtiva, por eliminar o desperdício. - Custos Potencialmente Ocultos: são aqueles ligados a todas as atividades necessárias para que a empresa se mantenha em conformidade com as leis e outras políticas ambientais inerentes à própria organização. Alves (2001) dá como exemplo os custos com o monitoramento ambiental, treinamento e relatório ambiental. - Custos com Contingências: são os gastos que podem ou não ocorrer devido a futuros custos de regulamentações, multas e penalidades, gastos com recuperação de recursos naturais danificados, etc. Se o fato gerador de tais custos é conhecido antecipadamente, possibilita à empresa definir ações a fim de evitá-los. - Custos de Imagem e Relacionamento: envolvem a percepção e o relacionamento que os acionistas, comunidade e governo desenvolvem com a companhia. Para Alves (2001), apesar de difícil quantificação, o desempenho ambiental pode melhorar ou prejudicar o relacionamento da empresa com terceiros, e os impactos gerados podem ter custos e/ou implicações financeiras. Pensar Contábil 46 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Os custos da qualidade ambiental para Moura (2000), referem-se à definição, criação e montagem de um sistema de controle da qualidade ambiental, bem como da avaliação, de conformidade com os objetivos e metas derivados da política ambiental, de normas legais e outros compromissos assumidos pela empresa, além de outros custos associados com as conseqüências de falhas ambientais, acidentes e incidentes. Para se ter um efetivo controle dos investimentos e gastos na área ambiental, Alves (2001) diz que o sistema de custos da qualidade ambiental pode auxiliar, sobremaneira, a competitividade e sobrevivência das organizações, principalmente por apontar deficiências na gestão da qualidade ambiental, podendo construir para as ações de melhoria contínua no desempenho ambiental da empresa. Para implantação de um sistema de custos da qualidade ambiental Moura (2000) segue os mesmos procedimentos empresariais tradicionais que consistem em: - preparação do gerenciamento geral do programa de custos da qualidade ambiental; - identificação dos itens de custos da qualidade ambiental; - identificação dos centros de responsabilidade (centros de custos); -preparação dos formulários de coleta de dados dos custos da qualidade; - treinamento das pessoas responsáveis pela obtenção dos dados e do pessoal da contabilidade; - levantamento dos custos pelas pessoas responsáveis (coleta de dados); e - preparação dos relatórios de análise. 10 – GESTÃO DE CUSTOS AMBIENTAIS A gestão dos custos ambientais é um instrumento estratégico para aumentar e reduzir os custos, conduzindo a um processo de mudanças em desenvolvimento contínuo. É por intermédio da gestão dos custos ambientais que se fortalece os sistemas de gestão ambiental existentes ou facilita o estabelecimento de sistemas padronizados. Ela gera informações básicas, ajuda a formar consciência e a criar estrutura que podem ser utilizadas como primeiros passos para o processo ISO 14001. Ela enfoca o fluxo de material, energia e água, não a racionalização. Ao contrário da maioria das outras ferramentas da gestão dos custos, ela não objetiva primordialmente a redução de (custos do) trabalho evitando, portanto, dois tipos de conflitos sociais: com os empregados (emprego) e com a opinião pública (impacto ambiental). Com o aumento da competitividade mundial, segundo Campos (1996), as empresas começaram a se preocupar mais em controlar e gerenciar seus custos, juntamente com seus programas de qualidade. Neste contexto, trabalhar com custos da qualidade passa a ser fundamental para medir e guiar a qualidade, as estratégias de custos e a diferenciação das empresas modernas. Com isso, surgem novos sistemas de custos para substituir a obsolescência e imprecisão dos sistemas de custos tradicionais, já que, por sua vez, por sua natureza, a maioria destes custos se enquadra na classificação de Custos Indiretos de Fabricação, dificultando, com isso, sua identificação e alocação. De acordo com estudos realizados e constatações práticas, os atuais sistemas de custos repassam muitas vezes custo ao Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 produto final que não lhe pertencem. Portanto, necessita-se de ferramentas gerenciais que condiz com a realidade. Neste cenário, o Custeio Baseado em Atividades (ABC) temse mostrado como o mais apropriado, para auxiliar a gestão dos custos ambientais, inclusive para contribuir no gerenciamento do controle dos impactos ambientais. O ABC preocupa-se em melhorar a apropriação dos custos aos produtos, sendo um sistema de custeio que se destaca por detalhar, principalmente, os custos indiretos. Vêm tentando minimizar os impactos de alocações inadequadas, através do custeamento das atividades exigidas pelos produtos ou demais atividades operacionais. Ele constitui o ponto culminante da análise estratégica dos custos e, em conseqüência, contribui significativamente para o processo de planejamento estratégico da empresa. Este sistema não é centrado apenas em números. Isto é, ele não se preocupa exclusivamente com os aspectos monetários, mas procura contemplar aspectos físicos das atividades, analisando fatos, atividades e processos. Assim, são definidos como elementos importantes desta abordagem de custeio, conforme Zardo & Schlosser (2002): - Função: grupo de processos desempenhados com uma finalidade específica, como a função de marketing e vendas e, por exemplo, a de controle ambiental. - Processo: conjunto de atividades encadeadas com um fim específico, como por exemplo, uma linha de montagem de um produto ou o conjunto de procedimentos necessários para o tratamento de uma determinada quantidade de resíduos poluentes, em um período em particular. - Atividades: ação empreendida a recursos consumidos para se chegar a um dado objetivo, como estudar o processo de produção para verificar, por exemplo, o que causa a poluição. - Tarefa: trabalho desenvolvido para a execução das atividades, como, por exemplo, selecionar os pontos passíveis de produção de resíduos poluentes. - Operações: operacionalização das tarefas, ou seja, a menor fração de trabalho, como visitar pontos passíveis de produção de resíduos poluentes. O fato do método em questão dividir a empresa em atividades, sua implantação resulta numa base de apoio adequada para a definição de metas de resultados e para a obtenção de excelência empresarial, a qual, segundo Brimson (1996), é a integração eficaz do custo das atividades de todas as unidades de uma empresa para melhorar, continuamente, a prestação dos serviços que satisfaçam ao cliente. De acordo com Brimson (1996), a capacidade de alcançar e manter a excelência empresarial requer a melhoria contínua e deliberada de todas as atividades dentro de uma empresa. Nesse sentido, o autor aponta, como elementos-chave, a eficácia em custos, a integração de atividades, a coerência interna em todas as unidades da empresa, a satisfação do cliente e a alocação correta de custos. Quanto à eficácia em custos, as atividades devem ser realizadas com tanta eficácia quanto possível. Isso significa que a empresa produz a custo baixo, mas não necessariamente ao menor custo. Ter custos baixos significa que os custos totais estão abaixo da média de todos os concorrentes que oferecem produ- Conselho Regional de Contabilidade do RJ tos ou serviços equivalentes ao mesmo segmento de cliente Quanto à integração de atividades, as empresas são organizadas com rígidas especializações por assunto, de maneira que os relatórios gerenciais enfatizam as unidades organizacionais individuais, quase como se fossem independentes e auto-suficientes. Portanto, estas e outras questões afins poderão ser facilmente respondidas, quando os gerentes dispõem de um sistema de gestão e de apuração dos custos fundamentado no método de custeio ABC. Segundo Martins (1996), nada melhor do que conhecer os custos de todas as atividades para daí se ter condições de verificar quais as atividades que não adicionam valor e que precisam ter seus gastos reduzidos ou anulados, e quais as atividades que podem sofrer processo de racionalização (às vezes de reengenharia) para se chegar a esta adaptação ao mundo real. Enfim, o ABC é uma ferramenta de gestão que dá às organizações uma visão mais clara de sua economia interna e externa, através do qual os custos passam a ser visíveis, e dessa forma, podem ser alvo de programas que objetivem melhores resultados para a empresa. Além disso, proporciona o cálculo mais acurado do custo dos produtos, o qual suporta diversos tipos de decisões. Portanto, os recursos da área de gestão ambiental, conforme Zardo & Schlosser (2002) devem ser rigorosamente mensurados e avaliados econômico, financeira e fisicamente de forma a garantir um adequado balanceamento de recursos possuídos pela empresa, para assegurar a eficácia da aplicação destes recursos e para satisfazer as exigências do público externo, ou mais precisamente, para o cumprimento da responsabilidade social da empresa. A análise dos custos da qualidade ambiental mostra-se uma ferramenta gerencial importantíssima não somente à tomada de decisão, mas também à gestão ambiental de forma equilibrada e concisa. Pensar Contábil 11 – CONCLUSÃO As despesas e os investimentos na área ambiental constituem itens que não podem faltar no rol da gestão econômica das organizações, bem como os custos da qualidade ambiental, ferramenta pela qual as mesmas estão usufruindo para atingir as metas do desafio do crescimento econômico, da administração dos passivos ambientais, da análise do ciclo de vida e da contribuição para o desenvolvimento sustentável. Para se ter um efetivo controle dos investimentos e gastos na área do meio ambiente, o sistema de custos da qualidade ambiental pode auxiliar a competitividade e sobrevivência das organizações, porque aponta deficiências na gestão da qualidade, contribuindo para a melhoria contínua no desempenho ambiental da organização. Os custos da qualidade ambiental, na sua maioria são compostos por atividade indireta, e para apuração ser mais eficiente o Custeio por Atividade retrata a realidade, uma vez que o foco está na atividade, podendo com isto proporcionar eliminação de custos de falhas e desperdícios, melhorias no processo produtivo e conseqüente aumento da competitividade. 47 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 12 – REFERENCIAIS ALVES, I. C. Metodologia para apuração e controle de custos da qualidade ambiental. Florianópolis. 2001. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. BRIMSON, J. A. Contabilidade por atividade: uma abordagem de custeio baseado em atividades. São Paulo: Atlas, 1996. CAMPOS, L. M. S. SGADA – Sistema de gestão e avaliação de desempenho ambiental: uma proposta de implementação. Florianópolis. 2001. 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Pensar Contábil Contabilista Crie seu e-mail gratuitamente com o domínio @crcrj.org.br Visite o portal do CRC (www.crc.org.br) e cadastre-se 48 Pensar Contábil Mai/Jul - 2003 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Salte na Frente Pensar Contábil Faça os cursos do CRC-RJ Veja a programação na Tribuna do Contabilista, no site www.crc.org.br e na sede do Conselho. Informações: (21) 2216-9544 / 2216-9545 / 2216-9571 49 PENSAR CONTÁBIL Assinatura anual (04 edições) - Condição: 1 - ASSINATURA 2 - PEDIDO DE RENOVAÇÃO* Preço da assinatura R$ 16,00 DESEJO RECEBER A PARTIR DA PRÓXIMA EDIÇÃO PESSOA FÍSICA NOME: DATA NASC.: N.º REG.: CAT.: NATURALIDADE: NACIONALIDADE: FUNÇÃO: ENTIDADE: CPF: IDENTIDADE: ÓRGÃO: UF: END. RESID.: N.º: BAIRRO : CIDADE: DDD : TEL.: APTº : ESTADO: FAX : CEP.: END. ELETRÔNICO : PESSOA JURÍDICA NOME FANTASIA: CONTATO: CNPJ: INSC. ESTADUAL: END. COM.: INSC. MUNICIPAL: N.º: BAIRRO : CIDADE: DDD : TEL.: FAX : ANDAR: ESTADO: SALA: CEP.: END. 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