Programa setembro 2013 (pr)

Transcrição

Programa setembro 2013 (pr)
 SEMINÁRIO DOUTORAL TRANSATLÂNTICO
IRI/PUC-Rio – Université Paris Est-Créteil (UPEC)
Com o apoio do consulado da França no Rio de Janeiro, do Centro Michel Foucault (Paris)
E do laboratório TRIANGLE (CNRS-UMR 5206, ENS Lyon, France)
Das “sociedades de segurança” ao (neo)liberalismo
Foucault e a “política internacional”
IRI/PUC-Rio, Rio de Janeiro, Brasil
Dia 25-27 de setembro 2013
A relação entre Foucault e a área de conhecimento hoje mais particularmente associada à
chamada disciplina de “Relações Internacionais” é, no mínimo, estranha. Entre o fim dos anos
1970 e o meio dos anos 1990, os trabalhos de Michel Foucault fundamentaram uma crítica radical
dos pressupostos onto-epistemológicos das principais “teorias de relações internacionais” (RI).
Entretanto, tal crítica não se baseou nos trabalhos de Foucault que mais se aproximam dessa
“área de conhecimento” (pensamos, aqui, notadamente nas últimas aulas da série Segurança,
Território, População), mas naquilo que a tradição anglo-saxã caracterizou como o “primeiro
Foucault”.
Tal crítica – hoje mais particularmente associada aos nomes R.B.J. Walker, Michael
Shapiro, Richard Ashley, William Connolly, Nicholas Onuf, Michael Dillon, David Campbell e
James Der Derian – encontrou no Foucault dos livros As Palavras e as Coisas e A Arqueologia do
Saber um ponto de apoio para inserir o estudo das práticas discursivas no estudo das “relações
internacionais”. As opções teóricas desenvolvidas por estes autores funcionavam, então, no
interior de uma ontologia pluralista, insistindo sobre a multiplicidade ao invés da unidade, a
diferença ao invés da identidade, a heterogeneidade ao invés da homogeneidade.
De um ponto de vista epistemológico, o movimento arqueo-genealógico que foi sendo
articulado progressivamente na disciplina de RI e no tipo específico de conhecimento que esta
viera a envolver permitiu contestar os pressupostos universalistas do realismo epistêmico que
havia, até então, dominado as teorias de Relações Internacionais (SHAPIRO; DER DERIAN,
1989; ASHLEY; WALKER, 1990; DER DERIAN, 1995). Assim, tornou-se possível lançar luz sobre
as práticas históricas que contribuíram para a construção daquilo que viemos a chamar de Estado,
de soberania e de internacional (BARTELSON, 1995), mas também de diplomacia (DER DERIAN,
1987; CONSTANTINOU, 1996), política externa (CAMPBELL, 1998) ou segurança (DER DERIAN,
1993; DILLON, 1996). Todas estas passaram a ser destacadas como práticas históricas tornadas
invisíveis por um uso não problematizado desses conceitos que, na disciplina, haviam passado a
funcionar como elementos tomados como dados.
Tal literatura “crítica” resultou, notadamente, em uma genealogia, ao menos parcial, da
própria disciplina (ASHLEY, 1987; WALKER, 1993). Esta não somente permitiu levantar questões
sobre como os estudos de relações internacionais haviam sido constituídos historicamente como
um domínio particular de saber dentro de uma disciplina acadêmica, mas também colocar em
evidência como as próprias teorias de RI eram muito mais expressões de um imaginário espacial
e político particular e historicamente situado do que as explicações da política mundial que
pretendiam ser. A “virada crítica” contribuiu, portanto, a determinar o caráter historicamente
contingente da própria disciplina.
Tarefa esta que Michel Foucault havia ele mesmo iniciado nas aulas dos dias 22 e 29 de
março de 1978, na série Segurança, Território, População. Nessas aulas, Foucault expõe a
formação de um sistema diplomático-militar, apresentado pelo autor como um dos dois conjuntos
tecnológicos da razão governamental formulada na virada dos séculos XVII e XVIII. Dispositivo
diplomático-militar este que vai, gradualmente, ser colocado a serviço da preservação do nascente
“equilíbrio europeu” entendido como um equilíbrio das forças presentes. Discutindo a idéia de
Europa como esta surge nessa época, Foucault põe em evidência como a passagem do direito
dos soberanos à “física dos Estados” assinala uma “profunda transformação do pensamento
político” que passa a ser “ao mesmo tempo uma estratégia e uma dinâmica das forças”. Com isso,
Foucault lança as bases para uma verdadeira arqueo-genealogia da disciplina de “Relações
Internacionais” e das teorias (notadamente realistas e neo-realistas) que ali serão desenvolvidas e
nas quais o conceito de “equilíbrio de poder” (balance of power) terá um papel fundamental.
Nesse contexto, coloca-se a questão: como é possível que Foucault não tenha estabelecido tal
conexão? Será este um silêncio deliberado? Estratégico? Nesse caso, por que? Tais perguntas
ganham força dado que é difícil conceber que Foucault não tenha tido conhecimento dessa região
do saber que, a despeito de ter se instituído principalmente fora da França, não deixa de contar
com intelectuais tais como Raymond Aron e Pierre Hassner, hoje tidos como os dois principais
nomes franceses no estudo das “Relações Internacionais”.
Mas tal série de perguntas volta-se imediatamente sobre aqueles que, hoje, na disciplina
de Relações Internacionais, utilizam abundantemente conceitos como governamentalidade e
biopolítica sem jamais (ao nosso conhecimento) evocar essas duas aulas. À época da “virada
crítica”, a série Segurança, Território, População não estava disponível, nem em francês, nem em
inglês. Apenas algumas gravações dos cursos de Foucault circulavam. Assim, não surpreende
que ninguém tenha se interrogado sobre este estranho silêncio de Michel Foucault sobre as
“teorias de Relações Internacionais” nessas aulas dos dias 22 e 29 de março de 1978. Mas este
não é mais o caso hoje, quando Segurança, Território, População está disponível em francês há
quase dez anos e, em inglês, há quase sete.
Partindo desta constatação, os participantes deste seminário doutoral propõem-se a: (1)
interrogar esta relação de ignorância recíproca; (2) trabalhar na direção de uma genealogia da
disciplina das Relações Internacionais; (3) explorar a forma pela qual os trabalhos de Foucault
sobre a segurança, o liberalismo e, mais amplamente, a arte de governar, podem hoje ajudar a
pensar em novas formas o que as teorias de Relações Internacionais progressivamente passaram
a se dar como seu objeto de estudo: a “política internacional”.
2 PROGRAMA PRELIMINAR
PARTICIPANTES:
Arianna Sforzini, Doutoranda, UPEC, França
Claudio Tellez, Doutorando, IRI/PUC-Rio, Brasil
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Dr. Alexis Cartonnet, TRIANGLE, CNRS/ ENS
Lyon e C.M.R.P. Montesquieu Bordeaux IV
França
Fernando Brancoli, Doutorando, Programa
Santiago Dantas,
Unesp/Unicamp/PUCSP, Brasil
Natalia Félix, Doutoranda, IRI/PUC-Rio, Brasil
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Paulo Chamon, Doutorando, IRI/PUC-Rio, Brasil
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Pr. Dr. Carolina Moulin, IRI/PUC-Rio, Brasil
Pr. Dr. Frédéric Gros, UPEC, França
Pr. Dr. João Nogueira, IRI/PUC-Rio, Brasil
Pr. Dr. José M. Gomez, IRI/PUC-Rio, Brasil
Pr. Dr. Marta Moreno, IRI/PUC-Rio, Brasil
Pr. Dr. Nicholas Onuf, IRI/PUC-Rio, Brasil
Pr. Dr. Paulo Esteves, IRI/PUC-Rio, Brasil
Pr. Dr. Philippe Bonditti, IRI/PUC-Rio, Brasil
Pr. Dr. Thiago Rodrigues, UFF, Brasil
IDIOMA DE TRABALHO: Inglês
--------------------------- Dia 25 de setembro --------------------------(Aberta ao público)
15h00-17h00 – Palestra de abertura, Auditório B8
PRESIDENTE E MODERADOR: João Nogueira
The Figure of Foucault and the Field of International Relations
Nicholas Onuf
17h30-18h30 – Recepção de boas vindas, sala de aula, IRI (Fechada)
20h00-22h30 – Jantar
--------------------------- Dia 26 de setembro --------------------------Sala de reunião do Decanato do CTC
09h30-09h45 – Alocução de boas vindas e introdução
Paulo Esteves e Philippe Bonditti
09H45-12H30 – SESSÃO 1
PRESIDENTE E MODERADORA: Marta Moreno
09h45-10h05 – Archeology of reason of state & genealogy of balance of power in Foucault's work
Alexis Cartonnet
10h05-10h25 – Time Traveling with Alker and Foucault: The Origin of Property as a
Fundamental Institution in Early Modernity
Claudio A. Tellez Zepeda
10h30-11h00 – DEBATEDOR: Nicholas Onuf, e discussão
11h00-11h15 – Pausa
11h15-11h35 – Foucault crosses the English Channel: interpreting “international politics” in
Security, Territory, Population and The Anarchical Society
Paulo Chamon
3 11h35-11h55 – Foucault and Europe
Arianna Sforzini
12h00-12h30 – DEBATEDOR: Thiago Rodrigues, e discussão
12h30-14h30 – Almoço
14H30-16H30 – SESSÃO 2
PRESIDENTE & MODERADORA: Carolina Moulin
14h30-14h50 – Reshaping Security Governmentality: Private Military Companies in Libya
and the resignificance of Neoliberal practices
Fernando Brancoli
14h50-15h10 – Foucault and the tragic tradition of international political thought
Natalia Maria Félix de Souza, Doutoranda, IRI/PUC Rio
15h15-15h45 – DEBATEDOR: José Maria Gomez, e discussão
15h45-16h00 – Pausa
16h00-16h30 – Discussão geral
20h00 – Jantar
--------------------------- Dia 27 de setembro --------------------------(Aberta ao público)
10H30-12H30 – Palestra de encerramento, Auditório B8
PRESIDENTE & MODERADOR: Philippe Bonditti
The principle of security
Frédéric Gros
12h30 - 14h00 Almoço
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