Compreensão da sinalética Serão os sinais de

Transcrição

Compreensão da sinalética Serão os sinais de
Compreensão da sinalética
Serão os sinais de segurança compreendidos?
M. Emília C. Duarte
F. Rebelo
IADE. UNIDCOM. Av. D. Carlos I, nº4
1200-649 Lisboa, Portugal,
Tel. (+351) 21 393 96 00,
Fax: (+351) 21 397 85 61,
e-mail: [email protected]
Faculdade de Motricidade Humana da
Universidade Técnica de Lisboa, Laboratório
de Ergonomia. Estrada da Costa
1495-688 Cruz Quebrada, Portugal
Tel. (+351) 21 419 67 77
e-mail: [email protected]
Sumário
Este estudo avalia as taxas de sucesso de compreensão do significado de sinais utilizados em segurança. As
avaliações foram feitas através do método de resposta aberta com um contexto onde normalmente estes sinais são
utilizados. Um total de 30 adultos com vida activa participou neste teste. Os procedimentos e os critérios de
avaliação adoptados foram adaptados aos sugeridos pela ISO, nas normas ISO 3864-1 e ISO 9186 [2001]. Os
resultados indicam que a maioria dos sinais não é correctamente compreendido pelos participantes, o que nos leva
a colocar algumas questões pertinentes: Até que ponto os símbolos e pictogramas têm verdadeiro sucesso na
transmissão de uma mensagem específica? Quais são as suas limitações inerentes, como meio de comunicação?
Palavras-chave
Pictograma, Compreensão, Interface, Design, Ergonomia
1. INTRODUÇÃO
O uso de linguagens gráficas, símbolos, ícones ou
pictogramas, desde que bem concebidas tem, entre outras
vantagens, a capacidade de transmissão de informação a
indivíduos com dificuldades em ler mensagens escritas,
ou com conhecimento inadequado da linguagem usada e
uma maior rapidez de transmissão tanto em grandes
como em pequenos formatos. Em alguns casos as
vantagens são óbvias, como nas situações de interacção
com interfaces de dimensões reduzidas, como é o caso
dos actuais sistemas tecnológicos de informação e
comunicação, ou em situações de uso e/ou manipulação
de substâncias perigosas, ou ainda, em situações de
emergência onde o tempo de decisão escasseia. Nestes
casos, onde o uso da linguagem verbal pode ser um
obstáculo ao bom desempenho humano, devem ser
usados pictogramas. Os pictogramas englobando, num
sentido lato e comum, os símbolos e os ícones, são
definidos pela ISO 7001 como uma figura, perceptível
visualmente, que é usada para transmitir informação
independentemente da linguagem. Noutros casos porém,
as vantagens da transmissão de mensagens, gerais e de
segurança em particular, através sinais e de pictogramas
podem ser pequenas, se pensarmos que uma compreensão
errada pode provocar erros muito perigosos. Para tentar
evitar, ou minimizar, tais erros e os inerentes problemas
de acessibilidade e de usabilidade dos sistemas, a
concepção de uma mensagem gráfica, para qualquer
interface, deverá ser abordada de forma interactiva ou
participativa. O mesmo é dizer que, o utilizador final
deverá assumir o papel de parceiro de concepção,
disponibilizando-se para responder a inquéritos, para a
realização de testes empíricos ou para a avaliação de
maquetes ou protótipos, entre outros métodos
considerados importantes para avaliar a usabilidade e
acessibilidade dos projectos. Este tipo de métodos de
concepção deve ser utilizado, não apenas no momento da
concepção inicial mas, também, para determinar se
alguns sinais e pictogramas devem ser redesenhados. Este
procedimento deverá ser repetidamente aplicado até se
alcançarem valores aceitáveis de compreensão.
O sucesso dos pictogramas depende, não só, da
velocidade com que são detectados mas, especialmente,
do facto de a sua mensagem ser correctamente
compreendida. A compreensão é pois um dos critérios de
maior importância para a avaliação da qualidade do
pictograma. Nesse sentido, um dos primeiros passos do
processo deverá ser o testar da compreensão do
significado dos pictogramas, pelos prováveis utilizadores
desse sistema, bem como o seu entendimento das tarefas
previstas. O American National Standard Institute com a
norma ANSI Z535.1-5 [1991] e a Organization for
International Standardization com a ISO 3864 [1984],
fornecem taxas de sucesso de compreensão, que
funcionam como critério para avaliação da qualidade de
um pictograma. Segundo estas normas, os pictogramas
devem alcançar, respectivamente, um critério de pelo
menos 85% ou 67% de sucesso de compreensão
(respostas correctas) e um critério não superior a 5% de
confusão crítica (resposta oposta à correcta), para serem
aceites.
Para fazer uma avaliação das taxas de compreensão, de
vários sinais de segurança, este estudo assentou na
pesquisa de informação junto de uma amostra da
população de prováveis utilizadores. Algumas
características desses utilizadores, tais como, o nível de
escolaridade, a experiência com computadores, entre
outras, permitirão antecipar as principais dificuldades da
população face às interfaces.
No presente estudo foram obtidas taxas de compreensão
para vários sinais de segurança, (que pretendem
transmitir mensagens de categorias como: obrigação;
proibição; emergência; perigo; luta contra os incêndios e
substâncias perigosas), referentes a uma população de
adultos com vidas activas. Os resultados obtidos
demonstram que, na sua maioria, as taxas de sucesso de
compreensão não atingem os valores estipulados pelas
normas para serem considerados aceitáveis, logo, serão
obstáculos à usabilidade e acessibilidade dos sistemas
onde forem inseridos, bem como prováveis promotores
de insegurança e baixa produtividade dos sistemas.
2. MÉTODO
Em relação à compreensão de pictogramas têm sido
frequentemente usados dois métodos de avaliação: o de
escolha múltipla e o de resposta aberta. Na ANSI Z
535.1.5 [1991], ambos os testes são aceites, apesar de ser
dada preferência aos testes de resposta aberta. No
presente estudo, será usado o teste de resposta aberta.
[Wogalter et al 1998] sugerem que o método de resposta
aberta é melhor para testes de compreensão realizados de
acordo com a ISO 9186 [2001]. Estes autores mencionam
algumas preocupações quanto ao teste de escolha
múltipla, devido sobretudo à escolha das opções que
funcionam como distracção (respostas erradas), pois estas
podem influenciar a avaliação da compreensão. Mas
também devido ao facto da fraca validade ecológica do
mesmo, pois as operações envolvidas num teste de
escolha múltipla não reflectem o processo habitual dos
indivíduos quando se deparam com um pictograma no
mundo real. Não são habituais situações do quotidiano,
onde os indivíduos tenham que escolher as respostas
entre um conjunto de alternativas.
No método de resposta aberta, existirão sempre,
influências subjectivas na avaliação da correcção das
respostas obtidas, por isso, seria desejável que as
respostas fossem avaliadas por mais do que um júri. Para
este trabalho foi constituído um júri, composto por 2
professores de design visual que procederam à avaliação
independente de todos os sinais. Caso não haja
divergências, sobre a avaliação obtida pelos 3
avaliadores, deverá ser discutida até que se alcance uma
avaliação consensual.
Outra questão que se coloca é a apresentação ou não do
pictograma inserido num contexto. Sobre este assunto,
[Wogalter et al 1998] afirmam que no mundo real os
pictogramas existem inseridos num contexto, que afecta
necessariamente a sua compreensão. Sem a existência de
pistas contextuais, os resultados obtidos podem ser
falsos, pois sem o contexto presente, os indivíduos
poderão criar, eles próprios, um contexto (quadro mental)
que pode não coincidir com o contexto real. O contexto é
definido como a informação relacionada com os
ambientes prováveis, nos quais os pictogramas irão
aparecer. Neste trabalho, o contexto é manipulado com a
existência de fotos onde é visível a aplicação do
pictograma num contexto realista. Dewar, [1994],
também mencionado por Wogalter et al [1998], afirma
que o uso de fotos é um bom método para fornecer
indicações de contexto. Uma vez que um dos propósitos
dos pictogramas é fornecer informação a pessoas com
dificuldades no uso da linguagem, um contexto pictórico
e não verbal parece ser uma solução óbvia. No entanto,
são necessários alguns cuidados com as fotos apresentadas, [Wogalter et al 1998] pois as fotos podem afectar
as interpretações, uma vez que as imagens podem
enfatizar certos objectos ou comportamentos. Assim, uma
foto elucidativa do contexto deve mostrar o ambiente em
vez de pessoas. Se eventualmente, a foto ilustrar pessoas,
não deve mostrar essas pessoas envolvidas num
comportamento proibido ou indesejável para o qual o
símbolo alerta, pois isso poderia falsear a resposta do
indivíduo.
2.1. Amostra
Participaram, neste estudo, um total de 30 indivíduos, de
ambos os sexos (13 homens e 17 mulheres), residentes na
área da grande Lisboa. As suas idades variam entre os 21
e os 62 anos, com uma média de idades de 44 anos.
Todos os respondentes têm uma vida activa com uma
distribuição por diferentes profissões. A maioria dos
respondentes, 33,3%, são técnicos profissionais de nível
intermédio, 20% são pessoal administrativo e similares,
seguidos de 13,3% de operários, artífices e trabalhadores
similares, mais 10% de especialistas das profissões
intelectuais e científicas, 10% de operadores de
instalações e máquinas e trabalhadores da montagem e os
restantes 13,4% são divididos por pessoal dos serviços,
vendedores, trabalhadores não qualificados, militares e
profissionais liberais.
A sua escolaridade varia entre o 1º ciclo básico e o
mestrado. Dos 30 inquiridos, 20% têm o ciclo básico,
6,7% têm o 2º ciclo, 6,7% têm o 3º ciclo, 36,7% têm o
ensino secundário ou equivalente, 16,7% têm o
bacharelato, 10% a licenciatura e 3,3% têm o mestrado.
2.2. Protocolo - Materiais / Instrumentarium
Foram seleccionados 17 pictogramas, constantes em
sinais de segurança comercializados em Portugal. (fig. 1).
A selecção dos sinais foi feita após um inquérito,
realizado a um pequeno grupo de cerca de 10 pessoas,
escolhidas aleatoriamente entre alunos, professores e
funcionários e colegas dos autores que visava, primeiro,
saber se sabiam o significado daqueles sinais e, segundo,
calcular por estimação a percentagem de pessoas que, no
seu entender, iriam compreender correctamente o seu
significado. Com base nessa informação foram
escolhidos 15 sinais com piores resultados prévios e 2
com melhores resultados (A5 e F1) para servirem de
termo de comparação. Um sinal (D2) foi excluído por ter
sido considerado redundante para o estudo.
Um outro critério seguido foi a obrigação de inclusão de
sinais de diferentes tipologias e com diferentes níveis de
associação de perigo. Na lista seguinte estão listados
todos os sinais avaliados e a sua respectiva tipologia.
ƒ SINAIS DE OBRIGAÇÃO – Referentes: A1 –
Obrigatório usar protector; A2 – Obrigatório manter a
porta fechada; A3 – Obrigatório avisar antes de por em
funcionamento; A4 – Obrigatório consultar instruções;
A5 – Obrigatório usar máscara de protecção;
ƒ SINAIS DE EMERGÊNCIA – Referentes: B1 –
Lava-olhos de emergência;
ƒ SINAIS DE PROIBIÇÃO – Referentes: C1 –
Proibida a entrada a pessoas com pacemaker; C2 –
Proibido desligar; C3 – Proibido reparar a máquina em
funcionamento
ƒ SINAIS DE PERIGO – Referentes: D1 – Perigo de
raios laser; D2 – Perigo de temperaturas altas; D3 –
Perigo de objectos fixos a baixa altura;
ƒ SINAIS DE LUTA CONTRA OS INCÊNDIOS –
Referentes: E1 – Manta apaga fogos; E2 – Porta cortafogo;
ƒ SINAIS
PARA
IDENTIFICAÇÃO
DE
EMBALAGENS – Referentes: F1 – Perigoso para o
ambiente; F2 – Irritante;
ƒ PARA ARMAZENAMENTO E TRANSPORTE DE
MATERIAIS PERIGOSOS – Referente: G1 -Inflamável
em contacto com a água.
A1
A2
A3
A4
A5
B1
C1
C2
C3
D1
D3
D4
E1
E2
F1
F2
G1
Figura 1 – Sinais
avaliados neste
estudo
Estes sinais foram apresentados impressos numa folha, na
sua cor real, com uma dimensão aproximada de 6x6cm e
identificados com um número para posterior avaliação.
Foram acompanhados de uma fotografia a cores, obtida
de catálogos, revistas, Internet ou de locais reais, que
representem o ambiente onde o símbolo poderá ser
colocado. Todo este material foi aplicado em páginas A4
brancas, inseridas em saquetas protectoras.
Foi elaborada uma folha de registo (formulário), divida
em duas zonas. Uma zona para registo das perguntas de
carácter demográfico e uma outra zona, onde consta o
número do pictograma e o espaço para o investigador
registar as respostas ao questionário relativo à
interpretação e compreensão do pictograma.
Foi usada uma máquina de filmar, com boa qualidade de
registo áudio e um tripé.
2.3. Procedimento
A recolha de dados foi efectuada, através de uma
conversa directa com os voluntários filmada, realizada
numa sala com iluminação suficiente para leitura de
pormenores e de cores e protegida de barulho para não
perturbar a gravação áudio. A abordagem aos
participantes foi iniciada com uma explicação genérica
dos objectivos do presente estudo, complementadas com
instruções orais, acompanhadas de uma exemplificação
do que deverão fazer. Um pictograma de proibido fumar
serve de exemplo para ilustrar a tarefa. De seguida foram
dadas aos respondentes, numa sequência aleatória, as
folhas onde estavam impressos os sinais juntamente com
uma foto ilustrativa do contexto provável onde este se
poderá encontrar. Perante isto, os indivíduos
responderam ás seguintes perguntas: Qual é o significado
do pictograma? O que se deve fazer ao avistar este sinal?
Já conhecia o pictograma? Em que outros contextos o
costuma encontrar? Foram também colocadas perguntas,
de estimação ou de avaliação, para saber o grau de
certeza com que foram dadas cada uma das respostas. A
pergunta será: qual o grau de certeza que tem sobre a
resposta que deu? E a resposta será dada sobre escala do
tipo Likert: 0- Certeza Total; 1- Com muita certeza; 2Com alguma certeza; 3- Com pouca certeza; 4- Sem
nenhuma certeza (palpite). Não foram colocadas
restrições de tempo.
O inquérito terminou com o preenchimento de um
questionário que visa a identificação do perfil do
respondente: sexo; idade, profissão, número de anos
nessa profissão, nível de escolaridade, formação
complementar, passatempos preferidos, experiência com
sistemas homem-computador, hábitos de uso de sistemas
tecnológicos de comunicação e informação, máquinas
que utiliza nas tarefas profissionais, tipo de transporte
utilizado quotidianamente, entre outros dados de
interesse.
3. RESULTADOS
Foram avaliadas 3 aspectos distintos: a compreensão do
significado do pictograma; a compreensão do significado
da forma e cor do sinal e também a adequação
comportamento declarado. A compreensão foi avaliada e
classificada, de forma idêntica à sugerida pela ISO 9186
(2001), numa das 5 categorias seguintes:
1. Correcto ou quase correcto. (prob. estimada> 80%);
2. Muito provável (prob. estimada> 66% <80%);
3. Provável (prob. estimada> 50%> 66%);
4. Outra resposta/errado; não sabe;
5. Resposta oposta.
Foi realizada a contagem das frequências de cada uma
das categorias, esse valor foi, de seguida, transformado
em percentagem e posteriormente ponderado de acordo
com os valores propostos pela ISO 9186 [2001]. A
percentagem obtida para as respostas da categoria 1 foi
mantida em absoluto. A percentagem obtida para as
respostas da categoria 2, foi multiplicada por 0,75 e a da
categoria 3 foi multiplicada por 0,5. Estes valores foram
somados e foi-lhe retirada a percentagem obtida na
categoria 5. Todas as respostas da categoria 4 têm valor
0, e por isso não são contabilizadas.
O valor final corresponde à classificação, ou taxa de
sucesso, para aquele sinal e serve para verificar a sua
aceitabilidade, face aos critérios definido pela ISO 3864
[1984]. Para ser aceite deverá ultrapassar os 67% e não
exceder 5% de respostas opostas. Os valores obtidos são
apresentados na tabela seguinte. (tabela 1)
A1
A2
A3
A4
A5
B1
C1
C2
C3
D1
D3
D4
E1
E2
F1
F2
G1
Compreensão
do pictograma
G1
90,00%
A5
82,50%
D3
75,83%
Aceitável
Não aceitável
F1
F2
A2
A4
C1
D1
D4
A1
C3
A3
E2
B1
C2
E1
Adequação do
comportamento
A5
79,17%
A5
D1
A2
A4
F1
A1
A3
E2
E1
G1
B1
F2
D4
A2
C1
D3
F1
A4
D1
C3
E2
A1
B1
A3
C2
G1
64,17%
45,00%
41,67%
30,00%
25,00%
24,17%
20,00%
10,00%
3,33%
-1,67%
-3,33%
57,50%
50,83%
50,00%
43,33%
39,17%
38,33%
36,67%
30,00%
15,00%
10,83%
10,00%
3,33%
2,50%
1,67%
0,00%
Tabela 2 – Tabela classificativa dos sinais face aos critérios
de aceitabilidade da ISO 3864.
Compreensão do
pictograma
Respostas
opostas
Compreensão da
forma e cor
30,00%
55,83%
15,83%
50,00%
82,50%
8,33%
46,67%
1,67%
18,33%
42,50%
75,83%
39,17%
-23,33%
15,83%
65,83%
58,33%
90,00%
3,33%
24,17%
41,67%
20,00%
30,00%
64,17%
-3,33%
78,33%
70,00%
72,50%
45,00%
70,83%
69,17%
3,33%
10,00%
25,00%
96,67%
-1,67%
26,67%
65,83%
58,33%
55,83%
50,00%
46,67%
42,50%
39,17%
30,00%
18,33%
15,83%
15,83%
8,33%
1,67%
-23,33%
Compreensão da
forma e cor
F2
96,67%
C1
78,33%
C3
72,50%
D3
70,83%
C2
70,00%
D4
69,17%
Respostas
opostas
6,67%
3,33%
Adequação do
comportamento
10,00%
50,00%
2,50%
36,67%
79,17%
3,33%
43,33%
1,67%
15,00%
30,00%
39,17%
50,83%
-11,67%
10,83%
38,33%
57,50%
0,00%
Respostas
opostas
3,33%
6,67%
13,33%
Tabela 1 – Taxas de sucesso na compreensão dos sinais de segurança
Podemos verificar, na tabela 2, quais os sinais que podem
ser considerados aceitáveis face aos critérios da referida
norma.
Para se ter uma ideia sobre qual é a resposta mais
frequente, foi calculada a moda das respostas obtidas.
Nas 51 respostas obtidas, correspondentes aos três
critérios avaliados (Compreensão do pictograma;
compreensão da forma e cor do sinal e adequação do
comportamento) nos dezassete sinais, a resposta do tipo 4
(Errado, não sabe, outra resposta) foi a mais obtida, com uma
frequência de 34 vezes ou 66,66%; a resposta do tipo 1
(Correcto ou quase correcto - probabilidade> 80%) foi a
segunda resposta mais frequente, com 15 respostas ou 29,41%,
sendo as respostas do tipo 3 (Provável - probabilidade> 50%
<66%) as menos frequentes, com 2 respostas ou 3,92%. As
respostas do tipo 2 (Muito provável - probabilidade> 66%
<80%) e do tipo 5 (Resposta oposta) nunca foram consideradas
moda de resposta.
A certeza declarada pelos indivíduos, sobre as repostas
dadas, foi compilada numa tabela (tabela 3). Esta
avaliação permite saber quais são os sinais que colocam
mais dúvidas aos respondentes.
Tota
A1
A2
A3
A4
A5
B1
C1
C2
C3
D1
D3
D4
E1
E2
F1
F2
0,00%
13,30%
0,00%
0,00%
33,30%
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
3,30%
13,30%
3,30%
6,70%
0,00%
3,30%
36,70%
Muita
16,70%
10,00%
3,30%
6,70%
26,70%
3,30%
10,00%
0,00%
23,30%
3,30%
20,00%
6,70%
10,00%
3,30%
23,30%
36,70%
Alguma
Pouca
23,30%
36,70%
13,30%
26,70%
36,70%
33,30%
33,30%
23,30%
36,70%
13,30%
40,00%
43,30%
30,00%
13,30%
30,00%
20,00%
33,30%
23,30%
33,30%
26,70%
0,00%
16,70%
13,30%
26,70%
36,70%
36,70%
16,70%
23,30%
40,00%
23,30%
23,30%
6,70%
Nenhuma
26,70%
16,70%
50,00%
40,00%
3,30%
46,70%
43,30%
50,00%
3,30%
43,30%
10,00%
23,30%
13,30%
60,00%
20,00%
0,00%
Tabela 3 – Certeza das respostas dadas
A divulgação do sinal entre os participantes também foi
avaliada. Através das respostas dadas sobre se já
conheciam o sinal, antes de efectuarem este teste,
podemos ficar a saber quais são os mais desconhecidos e
os mais familiares. Dos sinais avaliados, apenas 2 (A5 –
50% e F2 – 97%) obtêm mais de 50% de respostas
positivas face ao seu conhecimento prévio. Todos os
restantes são desconhecidos da maioria dos respondentes.
Os sinais A1, A4, B1, D1, D4, E1, E2 e F1 são
desconhecidos por mais de 90% dos participantes,
destacando-se também os sinais A3, C1, C2 e C3 com
100% de desconhecimento.
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
No que diz respeito à compreensão do significado do
pictograma, apenas 3 dos 17 sinais avaliados obtêm uma
classificação superior a 67% (Sinais G1; A5 e D3). Os
sinais F1, F2, A2 e A4 obtêm uma percentagem superior
a 50%, mas inferior ao exigido pela ISO. Do total de 17
sinais avaliados 10 ficam abaixo dos 50% de sucesso de
compreensão. Devem ser especialmente estudados os
sinais B1=8,33%; C2=1,67% e E1=-23,33%, pois o
insucesso é imenso. Nesta categoria, o sinal E1 obteve
26,67% de respostas opostas, o que excede muito os 5%
recomendados pela norma.
Ao avaliar as taxas de sucesso da compreensão da forma
e cor do sinal, os resultados são ligeiramente melhores.
Nesta avaliação, são 6 os sinais que obtêm um valor
superior a 67%, ficando também 10 com percentagens
inferiores a 50%. Nesta categoria deve ser dada especial
atenção aos sinais: E2=10%; E1=3,3%; G1=-1,67% e
B1=-3,3%, pois obtêm valores muitíssimo baixos, alguns
até negativos, de sucesso de compreensão da forma e cor.
O sinal B1 obteve 6,67% de respostas opostas.
Avaliando as respostas dadas sobre qual o
comportamento adequado a ter ao avistar o sinal,
obtemos valores bem mais baixos, apenas um sinal
obteve um valor superior a 67%, o sinal A5 com uma
taxa de sucesso de 79,17%. São 13 os sinais que ficam
abaixo dos 50%, sendo que 7 destes obtêm percentagens
entre os 15% e os 0%. O sinal E1 é um caso preocupante
pois obteve 13,33% de respostas opostas nesta categoria,
tal como o sinal B1 que obteve 6,67%.
Neste conjunto de sinais, é de destacar o caso do sinal
G1, que obtém uma classificação de 90% no
entendimento do pictograma, mas que obtém -1,67% na
compreensão da forma e da cor do sinal e 0% na
adequação do comportamento. O que nos leva a pensar
que grande parte da mensagem não foi de facto
compreendida e que existem grandes possibilidades de
ser adoptado um comportamento inadequado. Nenhum
dos sinais obtém uma classificação satisfatória nas 3
categorias. É também preocupante o caso dos sinais B1 e
E1, pois são aqueles que obtém menores classificações
em geral e maiores taxas de respostas opostas, tal como
foi descrito anteriormente.
Perante estas taxas de compreensão, não ficamos
surpreendidos ao constatar que a moda de resposta (mais
frequente) foi quase sempre 4 (errado, não sabe ou outra
resposta). Na classificação do entendimento do
significado do pictograma, a resposta 4 foi mais frequente
em 11 dos 17 sinais avaliados. Na classificação do
entendimento do significado da forma e cor do sinal, a
resposta 4 foi mais frequente em 10 dos 17 sinais. E
quanto ao comportamento, a resposta 4 foi mais frequente
em 13 dos 17 sinais.
A maioria dos respondentes não conhecia os sinais que
lhes foram mostrados. Os sinais A5 e F2 são dos poucos
que já eram do conhecimento dos respondentes, com 50%
e 97% de respostas positivas respectivamente. Todos os
outros obtêm mais de 70% de respostas negativas. É de
destacar o caso do sinal G1, que obteve 43% de repostas
positivas, mas perante os resultados obtidos, é possível
supor que a maioria destas pessoas terá ignorado a cor
azul do sinal tendo respondido como se ele fosse laranja,
sendo esse sinal do seu conhecimento.
Os valores de insucesso são coerentes com as baixas
certezas declaradas sobre as respostas dadas. Apenas o
sinal F2, que já era conhecido por 92% dos respondentes
obteve 36,7% de respostas com certeza total; 36,70%
com muita certeza e 20% com alguma certeza. O sinal
A5, que era conhecido por 50% dos respondentes obteve
33,30% de respostas com certeza total; 26,70% com
muita certeza e 36,70% com alguma certeza. No extremo
oposto encontramos os sinais A3; A4; B1; C1; C2; D1;
E2, que obtiveram mais de 40% de respostas com
nenhuma certeza, ou seja, por palpite.
5. CONCLUSÃO
A informação transmitida graficamente deve ser
rapidamente entendida, sem ambiguidade, especialmente
se disser respeito a mensagens de segurança. Os
resultados deste estudo oferecem-nos boas pistas para
responder às questões colocadas no resumo: Até que
ponto os símbolos e pictogramas têm verdadeiro sucesso
na transmissão de uma mensagem específica? Quais são
as suas limitações inerentes, como meio de comunicação?
Quanto ao sucesso na transmissão de uma mensagem
específica podemos concluir que, é muito difícil, um sinal
obter uma taxa de sucesso satisfatória, numa população
universal. O que levanta alguns entraves à sua
standardização ou universalização, tão necessárias numa
sociedade cada vez mais global.
Nenhum dos respondentes deste estudo tinha tido
formação específica sobre sinais de segurança, o que
poderá explicar o insucesso.
Quanto ás limitações inerentes, estes resultados
confirmam a necessidade do sinal ser acompanhado de
um texto, tal com é sugerido na literatura.
A maioria dos sinais é pouco conhecida pelos indivíduos
que não tiveram formação em segurança ou que não
trabalham em locais onde sinais deste tipo são frequentes.
Estudos deste tipo podem ser muito proveitosos na
concepção de interfaces homem-máquina, pois podem
auxiliar a avaliar as taxas efectivas de compreensão de
mensagens transmitidas através de pictogramas em
interfaces gráficos. Como o objectivo principal do
pictograma é promover um comportamento adequado,
podemos afirmar, talvez de uma forma idealista, que
todos os pictogramas, sinais ou ícones existentes em
interfaces deveriam ser testados com utilizadores reais
antes de serem incluídos nos sistemas. Este tipo de testes
é demorado, e contém alguma percentagem de
subjectividade na avaliação das respostas, mas os
resultados são compensadores pois permitirão uma
concepção interactiva e promoverão a usabilidade dos
sistemas.
Wolff & Wogalter [1998] referem o estranho facto de
que, apesar da existência destas normas, e de estudos que
evidenciam estas problemáticas, os pictogramas
continuam a ser aplicados sem nenhuma avaliação face
aos futuros utilizadores.
Para finalizar as conclusões principais, devem ser
referidos dois aspectos importantes deste estudo.
Primeiro, foram avaliados sinais de segurança e não
especificamente ícones ou pictogramas existentes em
interfaces de sistemas homem-máquina. Os resultados
obtidos não podem ser generalizados a todo o universo de
aplicações, mas dão-nos importantes alertas para não
sobrestimarmos as capacidades de compreensão do
utilizador comum. O segundo aspecto tem a ver com a
inferência estatística que se poderá fazer, correlacionando
as taxas de sucesso de compreensão obtidas, com
variáveis como a experiência dos utilizadores com
interfaces homem-máquina; a escolaridade; a profissão,
entre outros aspectos interessantes. Essa análise será
efectuada numa fase posterior deste estudo. Tal como o
alargamento da amostra incluindo jovens universitários e
pessoas com paralisia cerebral, alargando assim o estudo
a pessoas com necessidades especiais.
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