Testes de avaliação do condicionamento físico de cavalos de Pólo

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Testes de avaliação do condicionamento físico de cavalos de Pólo
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MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO
TESTES DE AVALIAÇÃO DO CONDICIONAMENTO FÍSICO DE
CAVALOS DE POLO
Chrystian Henry Brito Cardoso – 1o Ten Cav
Rio de janeiro
2010
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MINISTÉRIO DA DEFESA
EXÉRCITO BRASILEIRO
ESCOLA DE EQUITAÇÃO DO EXÉRCITO
TESTES DE AVALIAÇÃO DO CONDICIONAMENTO FÍSICO DE
CAVALOS DE POLO
Chrystian Henry Brito Cardoso – 1o Ten Cav
Monografia apresentada à Escola de Equitação do
Exército como requisito parcial à obtenção do
título
de
Pós-graduação
(latu
sensu)
em
Equitação.
Orientador: Fernando Queiroz Almeida (Doutor)
Rio de Janeiro
2010
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CHRYSTIAN HENRY BRITO CARDOSO – 1º Ten Cav
TESTES DE AVALIAÇÃO DO CONDICIONAMENTO FÍSICO DE CAVALOS DE POLO
Monografia apresentada à Escola de Equitação do
Exército como requisito parcial à obtenção do
título
de
Pós-graduação
(latu
sensu)
em
Equitação.
Orientador: Fernando Queiroz Almeida (Doutor)
Aprovada em ___ de setembro de 2010
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________
-
Cav
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Cav
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Cav
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AGRADECIMENTOS
Inicialmente agradeço a Deus por permitir a conclusão deste curso tão importante e
almejado por mim.
A minha amada esposa, Mariana Cardoso, por sua total compreensão ao meu
comprometimento com o projeto, que dela me furtou, muitas vezes, o convívio livre das
pressões ditadas pelo tempo escasso e pelas obrigações discentes. Sem seu apoio não teria
sido possível concluir esta obra, que tem a co-autoria do amor que nos une.
Ao meu Orientador, Dr. Fernando Queiroz Almeida, meus sinceros agradecimentos
pelo apoio, pela paciência, atenção e pelos ensinamentos. Desde o primeiro contato, quando
me acolheu em sua equipe, percebi que suas orientações estavam envoltas de sabedoria e que
a mim cabia ouvir e assimilar o conhecimento virtuoso, que engrandece e dignifica o homem
e o equitador.
Aos alunos dos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, que apoiaram neste projeto, com as pesquisas, análises laboratoriais e
mensurações dos animais.
Aos meus familiares, pelo amor, educação, por sempre me motivarem a nunca desistir
de meus objetivos, com exemplos de perseverança, que asseguraram a força e a fé na missão
em que me lancei.
Agradeço também aos fiéis companheiros, Falcão, Bela Vista, Fada, Nanzuque,
Zealote, Estampa, Ferradura, que motivaram a arte da equitação e me ajudaram a alcançar
meus objetivos. No cumprimento da missão me emprestaram seus dorsos e obedeceram meus
comandos com lealdade e incondicionalmente.
Por fim, a todos que cooperaram com este trabalho diretamente ou indiretamente, seja
com conselhos, pesquisas ou com críticas construtivas.
5
O
equipamento
mais
importante
no
treinamento de cavalos é a mão que segura a
rédea. Equus foi meu professor, meu amigo e
provedor; ele pode ser o seu também.
“MONTY ROBERTS, o mais brilhante
domador de cavalos”.
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RESUMO
A fisiologia do exercício é área da ciência que estuda as variações metabólicas
envolvidas durante os esforços físicos, avaliando o desempenho atlético. O presente trabalho
tem por objetivo a realização de testes do condicionamento físico de cavalo de Polo a campo,
analisando as variáveis fisiológicas, as quais constituem uma ferramenta importante nos
treinamentos de cavalos atletas. O lactato é uma variável estudada e a sua concentração no
sangue reflete as reais condições metabólicas aeróbico e anaeróbica do sistema músculoesquéletico, a produção de lactato aumenta durante o exercício quando há a necessidade de
mais energia por unidade de tempo. O trabalho avaliou a lactacidemia e a variação da
frequência cardíaca, em equinos de Polo submetidos a testes de esforço físico. Foram
utilizados doze cavalos pertencentes ao Exército Brasileiro, dentre eles, machos castrados e
fêmeas, com faixa etária de cinco a dezesseis anos. O presente estudo foi conduzido na Seção
de Polo do 2° Regimento de Cavalaria de Guardas, em parceria com a Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro. Foram realizados três tipos de testes de esforço físico. No Teste 1
foram executados estepes num percurso de 200m, iniciou-se por um aquecimento de 15
minutos (passo e trote), seguido pelo percurso realizado ao trote (4m/s), cânter (6 m/s) e duas
execuções ao galope franco, 09 m/s e a 10 m/s. Ao final, um período de recuperação de 30
minutos. O Teste 2, iniciou-se com o mesmo aquecimento e na mesma distância, seguido de
quatro execuções ao galope franco (Sprint) a 12 m/s, com recuperação de 30 minutos. O Teste
3, teve o mesmo aquecimento, em seguida, executado um percurso de 400m nas andaduras ao
trote (4m/s), cânter (6 m/s), e dois galopes a 10 m/s e a 12 m/s. Ao final, recuperação de 30
minutos. Para monitoramento da frequência cardíaca foi utilizado frequencímetro cardíaco
Polar®. Para avaliação de lactacidemia coletou-se sangue dos animais em repouso, ao fim do
aquecimento, ao final dos percursos realizados, a 10 e 30 minutos de recuperação. Os
resultados da concentração plasmática de lactato foram submetidos a análise de regressão em
função do número de galopes e também foram analisadas as variações das frequências
cardíacas. Os equinos apresentaram resposta linear e crescente da concentração plasmática de
lactato durante os testes, mantendo a frequência cardíaca nos patamares de 170 a 205bpm.
Demonstrou-se que as análises de lactacidemia e da frequência cardíaca têm grande eficiência
na avaliação de condicionamento físico em equinos de Polo.
Palavras-chave: EQUINOS, LACTACIDEMIA, POLO, TESTE DE ESFORÇO FÍSICO
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RESUMEN
La fisiología del ejercicio es un área de la ciencia que estudia los cambios metabólicos
durante el esfuerzo físico, para evaluar el rendimiento atlético. Este artículo tiene como
objetivo probar la capacidad de un caballo de Polo, haciendo análisis de las variables
fisiológicas, que constituyen una herramienta importante en la formación de caballos
deportivos. El lactato es una variable estudiada y su concentración en sangre refleja las
condiciones reales del metabolismo aeróbico y anaeróbico del sistema músculo-esquelético,
producción de lactato aumenta al hacer ejercicio cuando hay una necesidad de más energía
por unidad del tiempo. El estudio evaluó el lactato y la variación de la frecuencia cardíaca en
los caballos de Polo probados durante el esfuerzo físico. Se utilizaron doce caballos
pertenecientes al Ejército del Brasil, entre ellos, los machos castrados y hembras, con edades
entre cinco hasta dieciséis. Este estudio se realizó en el Departamento de Polo de lo 2°
Regimiento de Caballería de Guardias, en colaboración con la Universidad Federal Rural de
Río de Janeiro. Eran tres tipos de pruebas de esfuerzo físico. En la Prueba 1 se realizó a través
de un tramo de 200 metros de la estepa, iniciado por un calentamiento de 15 minutos (a paso y
trote), en seguida al trote (4 m/s), galope (6 m/s) y dos galope franco, 09 m/s y 10 m/s. Por
último, un período de recuperación de 30 minutos. Prueba 2, comenzó con lo mismo
calefacción ya la misma distancia, seguido de cuatro rutas al galope franco (Sprint) a 12 m/s,
con una recuperación de 30 minutos. Prueba 3, empezó con lo mismo calefacción, ejecutaron
una distancia de 400 metros, al trote (4 m/s), galope (6 m/s), y dos al galopes franco a 10 m/s
y 12 m/s. Finalmente, la recuperación de 30 minutos. Para el control de la frecuencia cardiaca
se utilizó medidor de frecuencia cardiaca Polar®. Para la evaluación de lactato se recogió
sangre de los animales en reposo, después del calentamiento al final de los ejercicios, al final
de 10 y 30 minutos de recuperación. Los resultados de la concentración plasmática de lactato
fueron sometidos a análisis de regresión en función del número de galope y se analizaron
también las variaciones en la frecuencia cardíaca. Los caballos mostraron una respuesta lineal
y la concentración plasmática de lactato durante las pruebas, manteniendo la frecuencia
cardiaca en alturas de 170 a 205bpm. Se demostró que el análisis de lactato y la frecuencia
cardíaca tienen una gran eficacia en la evaluación de la aptitud de los caballos de polo.
Palabras Claves: CABALLOS, LACTATO, POLO, PRUEBA DE ESFUERZO
8
1. SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO....................................................................................................
10
2.
PRESSUPOSTOS BÁSICOS..............................................................................
12
2.1
O Polo....................................................................................................................
12
2.2
A Fisiologia do Exercício.....................................................................................
15
2.3
A Lactacidemia em Equinos................................................................................
18
2.4
A Frequência Cardíaca.......................................................................................
19
3.
MATERIAL E MÉTODOS................................................................................
21
3.1
Local do Teste.......................................................................................................
21
3.2
Animais em Estudo..............................................................................................
21
3.3
Treinamento.........................................................................................................
22
3.4
Os Testes...............................................................................................................
22
3.4.1
Teste 1....................................................................................................................
23
3.4.2
Teste 2....................................................................................................................
25
3.4.3
Teste 3....................................................................................................................
26
3.5
Avaliações Fisiológicas dos Equinos de Polo.....................................................
28
3.6
Análises Estatísticas.............................................................................................
30
4.
RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................
31
9
4.1
Análise dos Resultados do Teste 1......................................................................
31
4.2
Análise dos Resultados do Teste 2......................................................................
33
4.3
Análise dos Resultados do Teste 3......................................................................
35
5.
CONCLUSÃO......................................................................................................
39
6.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................
40
10
1. INTRODUÇÃO
O cavalo sofreu inúmeras transformações biológicas em função de sua locomoção.
Como presa fácil, precisou adaptar seu organismo, sacrificando-o em razão da sua velocidade.
Fato é que uma falha nesta adaptação poderá lhe causar a vida. Devido sua característica de
locomoção e beleza exuberante chamou a atenção do homem pré-histórico. Há relatos da
utilização do esforço do cavalo pelo homem em pinturas paleolíticas no continente europeu.
A metodologia científica sobre a domesticação de cavalos tem seus primórdios nas
sociedades nômades da Ásia Central. A vida nas estepes propiciou a compreensão da
psicologia do cavalo e a verdadeira natureza da equitação, pois de alguma forma havia a
ligação com o cavalo na sociedade nômade. O total conhecimento psicológico e funcional
estava na base da boa equitação, iniciada na infância e dispensava os trabalhos de registro
para repassar os conhecimentos às novas gerações, o que não ocorria, nas sociedades urbanas.
Nelas se fazia necessário o registro das técnicas equestres para serem ensinadas às novas
gerações. Começa neste momento a fase da equitação científica.
Grandes mestres da equitação sistematizaram a arte equestre. Xenofonte, general
grego, escreveu o Manual da Cavalaria, catalogado como a mais antiga obra sobre a
equitação. Mesmo depois de séculos, ainda é um excelente guia sobre equitação e manejo do
cavalo, contendo diversas informações e linhas de pensamento seguidas até os tempos atuais.
Com os Jogos Olímpicos na Grécia surgiram novos desafios para a compreensão dos
fenômenos metabólicos ligados a fisiologia do exercício. A partir deste período buscou-se
utilizar esta área da ciência para evolução da capacidade física e o aperfeiçoamento das
técnicas do homem atleta. Com o mesmo impulso, porém tratando-se de equinos, inicia o
estudo sobre as funções orgânicas e processos vitais envolvidos no esforço físico.
A fisiologia do exercício surge com o propósito de estudar as variações orgânicas
decorrente do esforço físico. Utilizando testes de esforços, realizados no campo ou nas
esteiras, com objetivo de avaliar o desempenho, vem se tornando uma ferramenta
fundamental no estabelecimento da intensidade do treinamento e avaliação de atletas da
espécie equina. A base científica, ao agregar os conhecimentos técnicos na preparação do
animal atleta resultando em maior rendimento e diminuição de lesões por esforços
demasiados.
Assim como as corridas de cavalo e o concurso completo de equitação (CCE), o Polo
também se destaca como um esporte de grande exigência do condicionamento físico do
cavalo. Devido aos inúmeros galopes de curta duração, realizados durante uma partida e com
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base no exposto acima, certifica-se que há uma necessidade de treinamento com base
científica, para o aprimoramento do desempenho atlético e manutenção da saúde do animal.
No Exército Brasileiro, diversas unidades de cavalaria possuem cavalos destinados à
pratica desportiva de Polo, porém, no que diz respeito a fisiologia do exercício, este esporte
não possui preparação adequada, devido a falta de estudos científicos sobre o tema. A maioria
dos atletas deste esporte enfrenta o paradigma errôneo sobre os cavalos de polo, que consiste
na premissa de que eles não necessitam de treinamentos específicos.
O presente estudo tem por finalidade avaliar as respostas fisiológicas dos cavalos de
Polo do 2° Regimento de Cavalaria de Guarda em teste de esforço físico a campo. Assim
demonstrar-se-á que os estudos de variáveis fisiológicas constituem uma ferramenta
importante e indispensável na avaliação do treinamento de cavalos atletas.
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2. PRESSUPOSTOS BÁSICOS
2.1 O Polo
São duas as vertentes aceitas para explicar a origem do Polo. Uma delas relata que este
esporte surgiu no Tibete, 600 anos AC, do costume da caça a ratos selvagens. Os caçadores
seguiam a cavalo com bastões, e na ausência de ratos eram improvisadas bolas recobertas de
pele imitando a caça. Convenientemente cabe relatar que a denominação do esporte pode ter
sua origem neste período, derivado de “pulu” que significa pelota no idioma tibetano.
Outra vertente relata que o Polo teve a sua origem no continente Asiático. Passatempo
semelhante ao Polo era praticado por nobres, califas, sultões e imperadores, por suas
características relacionadas ao treinamento de guerreiros. O costume despertou o interesse dos
persas, os quais praticavam a modalidade em campos com cerca de 500 metros de extensão,
com traves de pedras e bolas confeccionadas com ossos.
Contudo, é na Índia, por meados do século XVIII, que se tem os relatos da forma mais
próxima do jogo atual, entretanto, disputado com até 200 jogadores em campo. Com a
colonização da Índia pela Inglaterra, os oficiais de cavalaria, ao observarem a técnica
equestre, até então desconhecida, ficaram cativados com tamanha criatividade, apelidando o
esporte de hóquei a cavalo. Ao retornarem ao país de origem, trouxeram o novo esporte,
porém, de maneira reformulada. Este fato constitui o marco de ocidentalização do Polo, eis
que foi levado pelos ingleses, sofrendo as primeiras regulamentações e em seguida difundido
por todo ocidente.
Figura 1 – Pinturas encontradas em antigos livros persas. Fonte:
www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/hipismo/imagens/hipismo-15.jpg
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O primeiro clube de Polo no ocidente foi fundado pelos europeus em 1869, o clube
SILCHAR. Contudo a primeira partida realizada oficialmente ocorreu em 1873, no clube
Hurlingham, na Inglaterra. Em 1876, através da imprensa norte americana, o polo começa a
ser introduzido nos Estados Unidos, sendo que no ano de 1890 já havia mais de vinte clubes
disputando a modalidade. A marinha inglesa foi a responsável por difundir o polo na América
Central e América do Sul. Atualmente, se constitui num esporte praticado nos cinco
continentes, tendo sido, inclusive, disputado em Olimpíadas.
Figura 2 - Primeiros jogos oficiais - Calcutta Polo Club (Índia), fundado em 1862.
Fonte: www.rspc.org.my
Países como a Argentina, Inglaterra, Espanha e Estados Unidos da América são
consideradas as maiores potências atuais do esporte.
No Brasil, na década de 20, mais precisamente no interior do estado de São Paulo, o
esporte foi difundido por engenheiros ingleses atraídos ao país para a construção de ferrovias.
Partindo da premissa que o esporte trazia consigo inúmeros empecilhos, tais como a
dificuldade das regras, atraso comparado aos demais países, exigência de estrutura para os
jogos e treinos, bem como animais específicos para a prática do esporte, o país se encontrava
em desvantagem aos demais.
Entretanto, apesar dos obstáculos, os cavalos que até então eram utilizados para o
trabalho rural desenvolveram habilidades extraordinárias, tornando-se aptos para a prática do
esporte.
Os primeiros jogos foram praticados em campos de futebol, pistas de aviação e em
pastos planos. Com o tempo, militares e famílias tradicionais investiram no esporte criando
torneios e difundindo ainda mais o Polo. A Federação Internacional de Polo, criada em 1982,
trouxe a inovadora idéia, de criar uma Copa Mundial de Polo, que mais tarde, em 1987, teve
sua realização, sagrando-se campeã a Argentina, país sede da primeira Copa, ficando o Brasil
em terceiro lugar.
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O Brasil sagrou-se campeão do mundo em 1995 em Sankt Moritz na Suiça, em 2001,
em Melbourne na Austrália; e em 2004, em Chantilly na França. Outros resultados
expressivos foram os obtidos em 1998, Santa Bárbara nos Estados Unidos, e em 2008 na
Cidade do México no México, ao se classificar em segundo lugar.
O Polo é um jogo de equipes, em que cada time, coloca a campo quatro jogadores,
podendo ter no máximo dois reservas. Em uma partida, duas equipes se confrontam tendo
como objetivo fazer o máximo número de gols no adversário. Para isso é preciso conduzir a
bola, de fibras de plástico ou de madeira, entre as traves do gol, por meio de um taco com
aproximadamente três metros de cumprimento. O jogo é realizado em campo plano, gramado
com dimensões de 275m x 180m (duzentos e setenta e cinco metros por cento e oitenta
metros).
Com a intensidade do jogo, há uma grande exigência física dos cavalos durante as
partidas, tendo em vista que as disputas duram aproximadamente uma hora de duração,
dividida em até oito tempos (Chukkar) de sete minutos. A substituição do cavalo deve ser
realizada a cada tempo, sugerindo-se que cada cavalo participe, no máximo, de dois tempos
intervalados em uma partida, para que haja recuperação.
Como acima relatado, um cavalo joga um “chukkar”, no máximo dois, dependendo da
estratégia de jogo e condições físicas do equino. Durante um tempo de jogo, o animal executa
vários “sprints”, podendo, eventualmente, chegar a 100% de sua velocidade. Também
ocorrem paradas bruscas que exigem ainda mais do condicionamento físico. De acordo com
as características de cada jogador, o cavalo se adapta às necessidades impostas a cada
posicionamento. Para exemplificar, o jogador número 1 é o mais veloz do time. Ele necessita
de um cavalo que ganhe do adversário nos galopes e que retome o mais rápido possível, para
tirar vantagens na próxima escapada em direção ao gol.
Devido aos intensos esforços realizados durante o jogo de Polo, os equinos apresentam
uma grande variação fisiológica, ainda pouco explorada. Nitidamente, após um “chukkar”,
observa-se elevado desgaste físico. Tomando por base que o equino jogou somente um tempo
e que em um simples torneio haverá no mínimo três confrontos, espera-se que os cavalos
atletas joguem com as mesmas intensidades de esforços nas três partidas.
Comumente, a falta de treinamentos com embasamento científico tem ocasionado
inúmeras lesões em campo, chegando a acarretar a grandes perdas da vida atlética dos
animais, eis que o esforço solicitado foi maior do que podia aguentar. Fato é, por ser um jogo
de muito contato e pela falta de interesse dos praticantes, num devido aprofundamento na
questão, tem-se comprovado um elevado número de inflamações nas articulações. Como pode
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ser observado no estudo de RASERA (2007), sobre influência da atividade física na
articulação metacarpofalageana de cavalo de Polo:
A atividade física, dependendo da intensidade e duração, provoca uma
resposta inflamatória nos tecidos articulares dos eqüinos. Como ocorre nos
cavalos de pólo que percorrem grandes distâncias em alta velocidade com
paradas bruscas do movimento, submetendo suas articulações a esforços
intensos e constantes (...). Conclui-se que um processo inflamatório articular
é desencadeado após o exercício intenso, e a resposta dos tecidos articulares
frente a este insulto mecânico, com maior intensidade 3 horas após o término
da atividade esportiva, e retornando aos valores basais 24 horas após, revela a
excelente adaptação articular ao estresse físico.(RASERA 2007).
Diante do exposto acima, torna-se de grande relevância o acompanhamento técnicocientífico para avaliação do desgaste físico dos animais e criar protocolos de treinamentos,
pois nesse esporte é indispensável o adequado condicionamento físico.
2.2 A Fisiologia do Exercício
A Fisiologia do Exercício é a parte da Biologia destinada à investigação das funções
orgânicas e dos processos vitais envolvidos no esforço físico. Estritamente, busca-se entender
o que é o esforço, seu custo para o organismo, bem como os estímulos atuantes na estrutura
fisiológica do cavalo e de que forma respondem na acomodação desses estímulos.
Com o objetivo de estudar o metabolismo energético durante trabalhos realizados por
cavalos de tração, Procter (1934), tornou-se pioneiro no estudo da fisiologia do exercício
equino. O segundo marco da medicina esportiva equina ocorre nas décadas de 50 e 60 com
Irvaine (1958) e Pearsson (1967), ao apresentarem os resultados dos estudos sobre as
alterações hematológicas relacionadas ao exercício. Também Karlsen e Nadaljak (1964), em
estudos sobre a ventilação e o uso de oxigênio associados às variáveis em cavalos de corrida
durante o exercício máximo, revelaram o avanço da fisiologia do exercício.
Na década de 80 foram desenvolvidos estudos que uniram os conhecimentos da
fisiologia em geral, notadamente da biodinâmica dos cavalos, da bioquímica da energia, do
sistema cardiocirculatório, do sistema respiratório, do sistema nervoso, do sistema músculoesquelético, da genética e da saúde animal. Todos estes conhecimentos foram interligados e
desenvolvidos a favor da fisiologia do exercício. Alguns trabalhos se destacam como os de
Wagner et al. (1989); Rose e Hodgson (1994); Derman & Noakes, (1994) e Evans et al.,
(1995).
16
Como acima relatado, observou-se a necessidade da criação de métodos mais simples,
para a obtenção da melhor capacidade física do cavalo. Assim sendo, a integridade destes
sistemas frente ao exercício representam um índice substancialmente importante na
determinação do potencial ou melhoria de rendimento.
Com a evolução dos esportes equestres, a busca pela melhora da capacidade física é
cada vez maior, objetivando ainda mais a superação de marcas de velocidade e da capacidade
de resistência, como desafio à natureza do organismo. Chegou-se ao conhecimento de que os
diversos fenômenos metabólicos ligados à fisiologia do exercício podem contribuir para o
aperfeiçoamento de técnicas e preparação voltadas para um melhor desempenho dos equinos
atletas.
O treinamento do atleta humano ocorre de forma cíclica através de repetições e
aumento da carga de esforços de maneira progressiva visando o aumento do desempenho
(WEINECK, 1989). Os equinos atletas são exercitados de maneira involuntária, elevando-se a
importância do monitoramento de seu desempenho e das respostas adaptativas ao exercício
(GONDIM, F. J,1999).
Na atualidade, o improviso e a falta de métodos científicos para o condicionamento
físico, nas preparações com atividades físicas desastrosas, têm retirado definitivamente de
trabalhos e competições importantes, cavalos atletas e animais promissores nas diversas
modalidades equestres.
Os programas de treinamento devem ter como objetivo aumentar a capacidade do
animal ao exercício (metabolismo aeróbico), postergar o tempo de início da fadiga
(metabolismo anaeróbico), melhorar o desempenho físico, considerando-se a destreza, a força,
a velocidade e a resistência do animal e por fim, diminuir os riscos de lesões (ROSE, 2000),
principais causas de retirada de animais de competições e término precoce de sua vida
atlética.
Segundo Weineck (1989) durante o planejamento anual e de acordo com a modalidade
esportiva envolvida, existem variações nos ciclos de treinamento para as competições e
também nas quantidades de provas disputadas. No início do ciclo há predominância de
atividades aeróbicas de menor intensidade e maior duração, sendo que, de acordo com a
aproximação do período de competições irão se alterar a forma de treinamento, passando para
atividades de maior intensidade e menor duração, caracterizando nesta fase, o metabolismo
anaeróbio como promotor de ATP, durante o período de exercício (DENADAI, 1995). Neste
tipo de treinamento intermitente, os exercícios são intercalados com uma pausa curta, onde
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predomina o metabolismo aeróbio, o que permite reposição de reservas musculares,
especialmente de fosfocreatina.
Outra observação importante é que de acordo com o tipo de desporto praticado
determina-se a porcentagem de treinamento contínuo ou intermitente, como por exemplo, no
Polo, observa-se grandes arranques em alta velocidade, contudo deve-se ter um percentual
maior de treinamentos intermitentes comparado a uma atividade requerente de maior
resistência, como na modalidade enduro, onde haverá um percentual maior de treinamentos
contínuos.
Quando se chega ao final de um ciclo de treinamento, supõe-se que o atleta tenha
atingido o pico de sua forma física, podendo render seu máximo na competição (DENADAI,
1995).
Cabe aos treinadores e competidores o profundo conhecimento destes princípios
científicos para que os programas e os protocolos utilizados em treinamento não atinjam o
limite entre o máximo de esforço suportável pelo seu organismo e o excesso de treinamento
do equino, evitando possíveis lesões.
As avaliações fisiológicas durante os exercícios têm como base as concentrações de
lactato no sangue, produzidos durante o metabolismo anaeróbico, concentração esta que
indica o início da fadiga e a diminuição do rendimento do cavalo atleta. Outro parâmetro
estudado é a frequência cardíaca, fator que auxilia bastante na constatação do
condicionamento físico, eis que quanto maior a capacidade de retorno à normalidade, melhor
será a condição física do cavalo. A relação destes dois fatores proporciona o interesse pela
busca da maximização do rendimento.
Dentre as subdivisões da fisiologia do exercício, a parte que avalia o desempenho
atlético pode ser executado tanto por meio de testes físicos realizados em esteiras (FERRAZ
et al.,2006) quanto por meio de testes físicos realizados a campo (LINDNER et al., 2006;
ERCK et al., 2007). Estes determinam a dinâmica de variáveis fisiológicas, como o lactato e a
frequência cardíaca (FC) citados acima. O emprego de testes para a avaliação do desempenho
atlético realizados a campo (pista), juntamente com as respostas fisiológicas obtidas pela ação
do exercício e do treinamento serão uma valiosa ferramenta para maximização dos resultados
obtidos nas competições.
O programa de treinamento deixa de ser realizado somente de maneira empírica
tornando-se um processo técnico, com embasamento clínico e fisiológico (LINDNER et al.,
2006; ERCK et al., 2007). Além disso, os testes a campo possuem utilidade clínica no
monitoramento de enfermidades respiratórias e musculo-esqueléticas (COUROUCÉ, 1997).
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Observa-se que as aplicações do conhecimento científico aos protocolos de
treinamentos passam a ser necessárias para assegurar um melhor rendimento da capacidade
física dos equinos, sem o risco de lesões ou falso condicionamento físico. A fisiologia
aprimora-se cada vez mais para que a melhora dos resultados seja alcançada. Chega-se ao
ponto em que prosseguir num treinamento empírico, para superar um resultado obtido por
treinamento com base científica, torna-se totalmente ineficaz.
Cabe salientar que é inócua a aplicação do estudo científico para um melhor
rendimento se o plantel não possuir conformações físicas regulares, além de suas
características naturais, tais como destreza, equilíbrio, flexibilidade e calma, normalmente
buscadas no animal. E também, fazer algumas observações que são indispensáveis no
desenvolvimento de um cavalo, tais como o exame da raça, origens, desenvolvimento do
animal para desportos específicos.
2.3 A Lactacidemia em Equinos
O lactato é um produto da glicogenólise (glicogênio muscular e hepática) e da
glicólise anaeróbica (catabolismo da glicose). Em um organismo sadio, a produção de lactato
aumenta durante o exercício quando se necessita mais energia por unidade de tempo do que a
que pode ser produzida por metabolismo oxidativo (BOOFI,2007).
Durante o repouso, o lactato é produzido em diversos tecidos como intestinos,
músculo esquelético, fígado e nas hemácias onde é formado através da glicólise, indicando ser
sua maior fonte de produção. A remoção se dá em locais como coração, rins, fígado e fibras
musculares. É difundido pelo sangue e carregado para os tecidos aeróbicos como o coração e
outras fibras musculares, onde é metabolizado aerobiamente produzindo energia.
A concentração do lactato indica a diferença entre a velocidade de seu transporte pelo
sangue, de onde é produzido e a de sua metabolização nos tecidos. Todavia, uma elevação na
lactatemia, significa um aumento na produção do lactato, propiciando aumento na
concentração do lactato na circulação.
O lactato é contínua e frequentemente formado e eliminado em alta velocidade,
mesmo em repouso, em músculos adequadamente oxigenados (CORNNETT ,1984).
Embora o nível de lactato durante o exercício seja dependente de diversos fatores, a
duração e intensidade do exercício se constituem nas determinantes principais. Com isso,
grande parte do aumento da demanda por energia no início do exercício, será suprida pela
quebra incompleta da molécula de glicose basicamente através da glicogenólise e glicólise
anaeróbia.
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Utilizado como parâmetro para avaliação de desempenho atlético de equinos, o lactato
produzido durante o exercício era considerado um metabólito final da glicólise anaeróbia, cuja
acumulação durante um intenso exercício induzia a fadiga.
A concentração de lactato é a variável que apresenta melhor correlação com a
performance competitiva do animal (LINDNER, 2000).
Segundo Lindner (2000) a análise da concentração do lactato presente no sangue, vem
sendo utilizada rotineiramente e com precisão, quanto aos parâmetros clínicos, fornecendo
informações suplementares sobre o condicionamento atual do atleta. Testes de desempenho a
campo são mais específicos e realistas, principalmente se forem similares às condições de
competição (MARLIN & NANKERVIS, 2002).
2.4 Frequência Cardíaca
Outra importante variável que tem correlação com o desempenho atlético é a
frequência cardíaca. As mensurações da frequência cardíaca durante o exercício em cavalos
atletas são empregadas para quantificar a intensidade da carga de trabalho, monitorar o
condicionamento físico e para estudar os efeitos do exercício sobre o sistema cardiovascular.
A frequência cardíaca (FC) no momento do repouso se torna um importante indicador
de saúde para o cavalo. Normalmente varia de 25 (vinte e cinco) a 40 (quarenta) batimentos
por minuto (bpm). Acima de 60 (sessenta) bpm, constitui-se como indicador de estresse, que
pode ser originário de uma excessiva sessão de treinamento do dia anterior ou uma lesão que
ainda não se manifestou clinicamente (CRAIG; NUNAN, 1998).
A frequência cardíaca tem um aumento linear proporcional ao aumento da velocidade,
durante o exercício, que se aproxima do valor de 200 bpm. No instante em que a frequência
cardíaca atinge um valor máximo, e não se elevando mesmo com o aumento da intensidade do
exercício, é denominanda frequência cardíaca máxima (FCmáx). Normalmente em cavalos de
corridas situa-se em torno de 240-250 bpm.
Durante um exercício, quando a frequência cardíaca atinge o valor de 200bpm a uma
certa velocidade, tem-se o índice V200, no qual a velocidade do exercício disponibiliza
informação útil para avaliar a capacidade de trabalho aeróbico do cavalo. Entretanto, como já
foi citada, a frequência cardíaca máxima não se altera com a condição de treinamento, de
forma que a velocidade na qual é obtida pode ser maior em animais com melhor
condicionamento e menor naqueles que apresentam, por exemplo, doença pulmonar
obstrutiva crônica, hemorragia pulmonar induzida por exercício ou enfermidade cardíaca. A
elevação do V200 durante o treinamento sugere um aumento do máximo poder aeróbico e a sua
20
diminuição pode sugerir perda de condicionamento cardiovascular, enfermidade pulmonar ou
cardíaca, ou a presença de claudicação.
De acordo com Rose e Hodgson, (1994) uma outra forma de se avaliar o nível de
condicionamento de um equino, seria por meio da FC pós-exercício, ou seja, no período de
recuperação, quanto mais rápido o retorno à normalidade, melhor seria sua condição física ao
longo de um treinamento.
Testes a campo, monitorados por Geo-Posicionamento por Satélite (GPS) e
frenquêncímetro digital, mostraram que a relação entre a velocidade máxima (Vmáx) e a
velocidade observada durante a frequência cardíaca máxima (VFC máx) podem auxiliar na
predição
de
performance
das
diversas
modalidades
esportivas
equestres
(GRAMKOW;EVANS, 2006).
Segundo Craig & Nunan (1998), a frequência cardíaca é comumente usada como
medida padrão para a intensidade do treinamento. Eis que quanto mais intenso, maior se
espera a mensuração da frequência cardíaca.
21
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. Local do Teste
Os experimentos foram conduzidos na Seção de Polo do 2° Regimento de Cavalaria de
Guardas, Rio de Janeiro, RJ, e as análises dos resultados experimentais foram realizadas no
Laboratório de Avaliação do Desempenho de Equinos da Escola de Equitação do Exército, na
Vila Militar, Deodoro, Rio de Janeiro.
Os protocolos foram realizados no campo de Polo do 2° RCG, de 7h ás 9h. Nas
dimensões do campo de polo (Figura 3) foi demarcado um percurso de 200 metros para a
execução dos testes 1 e 2 e um percurso de 400 metros para a execução do teste 3. Os locais
de coletas de sangue para análise de lactato foram distribuídos no início e no fim do percurso
e com auxílio do frequencímetro foram repassados os batimentos cardíacos iniciais e finais da
extensão do percurso.
Figura 3 – Campo de Polo do 2° RCG.
Fonte: Google Earth
3.2 Animais em Estudo
Foram utilizados um total 12 equinos da Seção de Polo, entre eles, mestiços das raças
Puro Sangue Inglês (PSI), Brasileiro de Hipismo (BH) e Sem Raça Definidas (SRD), machos
castrados e fêmeas, dentro da faixa etária de 05 a 16 anos e peso médio de 412 kg. A escolha
dos cavalos foi relacionada ao desempenho dos animais na modalidade de polo da equipe do
2° RCG. Os animais foram exercitados de segunda a sábado, tendo o descanso no domingo e
todos foram alimentados diariamente com 5 kg de ração concentrada e 4 kg de feno de capim
Coast-cross.
22
Para cada teste foram utilizados quatro equinos, os quais foram divididos em dois
grupos: Grupo A composto por animais empiricamente de excelente desempenho e o grupo B
composto por animais de desempenho regular.
A divisão dos grupos teve como critério de classificação as informações fornecidas
pelos atletas do 2° Regimento de Cavalaria de Guardas que utilizam os animais nos treinos
preparatórios e nas competições de polo.
3.3 Treinamento
Os treinamentos dos cavalos ocorreram de maneira aleatória sem base científica,
somente com os conhecimentos dos atletas, fator importante para a constatação do
condicionamento físico no teste. Os treinos ocorreram de segunda-feira a sexta-feira, com
duração média de 30 minutos. Nas quartas-feiras e sábados, ocorreram jogos treinos, os quais
simulam partidas de torneios com a mesma intensidade e duração. No domingo, houve o
repouso e descanso dos equinos.
Os seis dias de trabalho são divididos em dois dias de flexionamento, visando o
desenvolvimento e aprimoramento da aptidão e qualidade técnica como: equilíbrio,
flexibilidade e condução, fatores indispensáveis para dar condições de jogo ao cavaleiro
durante uma partida; dois dias de taqueio, visando aperfeiçoar o jogador e o cavalo durante as
tacadas, eis que aprimora a calma do cavalo, a regularidade das andaduras, e facilitar a
execução do jogo; e por último, foram executados dois dias de jogos treinos, buscando-se a
interação e o ritmo de jogo dos cavalos, tendo em vista que coloca as dificuldades e as
exigências necessárias para o cavalo de polo.
3.4 Os Testes
Os testes foram realizados a campo em dois dias, num horário pré-estabelecido entre
7:00h ás 9:00h, executando o protocolo no primeiro dia com o teste 1 e teste 2, e o teste 3 no
segundo dia. No primeiro dia de experimento, foram utilizados oito cavalos, divididos em
duas etapas, o teste incremental com quatro cavalos (Teste 1) e o teste de galopes sequenciais
com a velocidade constante (Teste 2), também com quatro cavalos. No terceiro ensaio, foram
utilizados outros quatro cavalos, dividindo o teste 3 em duas etapas com dois cavalos.
Inicialmente, foram executadas as coletas de sangue basal, com os equinos em
repouso, os exames clínicos e toda a preparação destes animais como encilhagem com
material de polo, a colocação dos GPS e o frequencímetro digital Polar®, em todos os
cavalos, conforme ilustram as figuras 4 e 5.
23
Figura 4 – Coleta de sangue em repouso e a encilhagem dos animais.
Figura 5- Utilização do frequencímetro.
3.4.1 Teste 1
Neste teste foram utilizados quatro cavalos. O experimento teve início com o
aquecimento dos cavalos ao passo durante dez minutos. Em seguida ao trote médio durante
cinco minutos. O primeiro teste teve a extensão percorrida de 200m, com pontos de coletas
mobilizados no início e no fim do trajeto.
O primeiro percurso foi realizado ao trote, velocidade média de 4 m/s. O segundo, em
galope (cânter), velocidade média de 6 m/s, seguido por mais dois percursos ao galope, com
velocidades de 8 m/s, 10 m/s respectivamente (Figura 6). Todas as fases do ensaio estão
descritas na Tabela 1. Após cada percurso realizado houve a coleta de amostras de sangue,
não excedendo a um minuto do término do trajeto percorrido até as coletas do sangue (Figura
7). Em seguida a cada percurso, foram concedidos intervalos de cinco minutos ao passo até a
24
próxima realização do esforço físico.
No último percurso e após a coleta, os animais foram mantidos ao passo durante dez
minutos para recuperação, sendo então coletada uma amostra de sangue. Após a recuperação,
os cavalos foram conduzidos às instalações, sendo efetuada a última coleta após 30 minutos
de repouso.
Realizadas as coletas, os tubos foram resfriados em recipiente com água e gelo e
conduzidos imediatamente para as análises no Laboratório de Avaliação do Desempenho de
Equinos (LADEq) da Escola de Equitação do Exército. Ainda, ao término do Teste número 1,
os animais foram examinados clinicamente, e observados os parâmetros da frequência
cardíaca.
Figura 6 – Execução de um galope franco a 10 m/s.
Figura 7 – Realização da coleta de sangue após o estepe.
25
Tabela 1. Tempo e velocidades no protocolo do Teste 1.
Fases do Teste
Velocidade
Tempo
Andadura
Repouso
Aquecimento
1,7 m/s
10 min
Repouso
Passo
Aquecimento
3,0 m/s
5 min
Trote
Trote
4,0 m/s
50 s
Trote
Cânter
6,0 m/s
34 s
Galope
1° Galope
8,0 m/s
22 s
Galope
2° Galope
10 m/s
17 s
Galope
Recuperação
1,7 m/s
10 min
Passo
Recuperação
-
30 min
Repouso
3.4.2 Teste 2
Após o término do teste 1 foi realizado um intervalo para as trocas dos animais e
dando prosseguimento ao experimento com o início do teste 2. Foram utilizados neste teste
quatro cavalos, seguindo o mesmo protocolo de aquecimento do teste 1, em que consiste de
um período de aquecimento de 10 minutos ao passo e 5 minutos ao trote (Figura 8).
Figura 8 – Aquecimento ao passo.
Logo em seguida ao aquecimento houve a realização de quatro percursos ao galope,
realizados com a velocidade constante de 12 m/s. Ao final de cada galope, os cavalos foram
submetidos às coletas de sangue e a mensuração da frequência cardíaca (Figura 9). Foram
concedidos, cinco minutos de intervalo ao passo intercalando os galopes dos estepes.
Entretanto, ao final do último percurso, houve o período de recuperação de dez
minutos ao passo (Tabela 2), seguido de uma nova coleta de sangue. Sendo os animais
conduzidos às baias e após 30 minutos de repouso, foi procedida a última coleta de sangue.
26
Terminada as coletas, os tubos foram resfriados no mesmo recipiente do Teste 1
contendo água e gelo e foram conduzidos imediatamente para as análises no LADEq da
Escola de Equitação do Exército. Da mesma forma, ao término deste teste, os animais foram
examinados clinicamente, e observados os parâmetros da frequência cardíaca.
Figura 9 – Término do galope / Mensuração da Frequência Cardíaca.
Tabela 2. Tempo e velocidade no protocolo do teste 2.
Fases do Teste
Velocidade
Tempo
Andadura
-
-
Repouso
Aquecimento
1,7 m/s
10 min
Passo
Aquecimento
3,0 m/s
5 min
Trote
1° Galope
12 m/s
17 s
Galope
2° Galope
12 m/s
17 s
Galope
3° Galope
12 m/s
17 s
Galope
4° Galope
12 m/s
17 s
Galope
Recuperação
1,7 m/s
10 min
Passo
Recuperação
-
30 min
Repouso
Repouso
3.4.3 Teste 3
Este teste foi executado com quatro animais e sendo percorrida uma distância de 400
metros, delimitada no campo de Polo do 2° RCG. Iniciou-se com o mesmo período de
aquecimento dos testes anteriores, ou seja, 10 minutos ao passo e depois 5 minutos ao trote.
Após o término do aquecimento, deu-se a realização do primeiro percurso ao trote na
velocidade de 4 m/s. Terminado o percurso, realizou-se, imediatamente, a coleta de sangue e
27
aferição da frequência cardíaca. Ao final dos 5 minutos de intervalo, deu-se o inicio do
segundo percurso ao galope reunido (Cânter) atingindo uma velocidade constante de 6 m/s.
Ao término do percurso, houve a coleta de sangue e a tomada da frequência cardíaca, seguido
por mais um período de intervalo de 5 minutos.
Dando continuidade ao teste, foram executados outros dois galopes nas velocidades de
10 m/s e 12 m/s, respectivamente (Figura 10). Da mesma forma, ao final de cada galope
foram realizadas as coletas para as análises laboratoriais (Figura 11), sendo observados os 5
minutos de intervalos entre cada estepe.
Todas as fases deste programa estão descritas na Tabela 3. Por fim do último galope
foram realizadas as coletas após 10 minutos de recuperação ao passo e após 30 minutos de
repouso.
Terminada as coletas, seguindo os protocolos dos programas anteriores, os tubos
foram resfriados no recipiente com água e gelo e conduzidos imediatamente para as análises
no LADEq da Escola de Equitação do Exército.
Figura 10 – Realização do galope a 12 m/s do Teste 3.
Figura 11 – Realização da coleta de sangue após o galope executado.
28
Tabela 3. Tempo e velocidades no protocolo do Teste 3.
Fases do Teste
Velocidade
Tempo
Andadura
-
-
Repouso
Aquecimento
1,7 m/s
10 min
Passo
Aquecimento
3,0 m/s
5 min
Trote
Trote
4,0 m/s
100 s
Trote
Canter
6,0 m/s
67 s
Galope
1° Galope
9,0 m/s
44 s
Galope
2° Galope
12 m/s
33 s
Galope
Recuperação
1,7 m/s
10 min
Passo
Recuperação
-
30 min
Repouso
Repouso
3.5 Avaliações Fisiológicas dos Equinos de Polo
As mensurações das frequências cardíacas foram realizadas com a utilização do
frequencímetro digital e GPS “Polar®” (Figura 12). A avaliação clínica é fundamental no
monitoramento da saúde dos equinos atletas durante as competições (GUTHRIE e LUND,
1998).
Este processo foi realizado em todos os percursos dos testes 1, 2 e 3 e os resultados
objetivos foram processados através do programa Polar ProTrainer Equine Edition (Figura
13). O programa analisa e cria planilhas individuais, expressando a velocidade, tempo,
frequência cardíaca mínima, média e máxima, relacionando os dados para as avaliações do
condicionamento físico do animal estudado, também detecta em milissegundos o
comportamento cardíaco, facilitando a análise da variabilidade de frequência cardíaca do
cavalo e permite selecionar a intensidade do treinamento do animal baseado nas faixas de
intensidade de desporto.
Figura 12 – Frequencímetro digital e o GPS Polar®.
29
Figura 13 – Interface gerada pelo programa Polar ProTrainer Equine Edition.
As coletas sanguíneas foram realizadas por punção da veia jugular esquerda com
agulhas para coleta de sangue a vácuo “Vacuette®”, 21G, em tubo para coleta a vácuo “BD
Vacutainer®”, contendo fluoreto de sódio para a obtenção de plasma. As coletas foram
realizadas no momento basal, ao final de todos os estepes executados, e aos 10 e 30 minutos
do período de recuperação. Os materiais utilizados para as coletas foram: agulhas, algodão
com álcool iodado, luvas esterilizadas, tubos a vácuo e estante de tubos (Figura 14).
Figura 14 – Materiais para coleta de sangue: Algodão com álcool iodado, tubos a vácuo,
luvas, estante de tubos, agulhas.
Após a realização das coletas, os tubos foram resfriados em recipiente com água e gelo
e conduzidos imediatamente para a análise no laboratório de Avaliação do Desempenho de
Equinos (LADEq) da Escola de Equitação do Exército, onde foram centrifugados a 3000rpm
30
por 10 minutos, para a separação do plasma (Figura 15). As alíquotas foram divididas em
eppendorfs e congeladas a -18°C para as análises posteriores.
Figura 15 – Centrifuga.
As amostras foram analisadas em espectofotômetro “BioSystems 310” com kit
“Katal®” (Figura 16), para a determinação da concentração plasmática do lactato no sangue.
Figura 16 - Espectofotômetro “BioSystems 310”.
3.6 Análises Estatísticas
As variáveis analisadas foram: a concentração do lactato durante o teste incremental e
teste a galopes francos; a verificação da velocidade quando o lactato atinge 2mmol (VL2), a
velocidade quando o lactato atinge 4mmol(VL4) e a velocidade quando o lactato atinge
6mmol (VL6); a mensuração da frequência cardíaca de todos os animais ao final de cada
percurso realizado e a velocidade do momento em que a frequência cardíaca atinge
200bpm(V200). Foi realizada a análise descritiva das variáveis mensuradas.
31
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os programas de treinamento devem ter como metas incrementar a capacidade do
animal ao exercício, postergar o tempo de início da fadiga e melhorar o desempenho físico
considerando-se a destreza, a força, a velocidade e a resistência do animal (ROSE, 2000).
Com este princípio, utilizou a metodologia de teste de esforço físico a campo, com o objetivo
de estudar as variáveis fisiológicas na otimização do desempenho do atleta equino.
A frequência cardíaca é um parâmetro que acompanha a intensidade do exercício.
Sendo assim, quando a frequência cardíaca estiver num patamar elevado durante o teste,
caracteriza um exercício de maior intensidade. Neste momento, possibilitam também o fluxo
sanguíneo acelerado até o tecido muscular, contribuindo para uma oxidação mais rápida do
lactato além da eliminação de diversos metabólitos gerados durante o exercício físico.
Os protocolos foram divididos em dois tipos de execução. O primeiro, composto pelo
teste 1 e 3, de forma incremental variando as velocidades. O segundo, composto pelo teste 2,
foi realizado em galopes de curta duração com velocidade constante. Os valores médios das
frequências cardíacas e das concentrações plasmáticas de lactato de todos os equinos durante
os testes a campo, estão representados nas tabelas dos subtópicos seguintes.
4.1 Análise dos Resultados do Teste 1
Observou-se que este teste obteve resultados poucos expressivos em relação ao lactato
e frequência cardíaca, devido ao nível de condicionamento dos cavalos, uma vez que a
exigência do teste, com percurso a 200m, foi pequena e as variações metabólicas foram baixas
para a análise estatística. Obtendo um valor máximo do lactato em 5,40 mmol/L, no galope 2
pelo equino Falcão e FC máxima de 197 bpm, no galope 2 pelo equino Neutral (Tabela 4).
Os equinos do Teste 1, apresentaram resposta exponencial crescente da concentração
plasmática de lactato durante o teste, com valores médios de 0,78 ± 0,38; 1,22 ± 0,39; 2,65 ±
0,93; 4,16 ± 1,13 mmol/l, respectivamente após o trote, canter, galope 1 e galope 2. A
equação que descreve a lactacidemia nos equinos foi assim definida: Y = 0,4276e0,5786x
r2=0,9822, onde x é o número de galopes. A frequência cardíaca média ao final dos galopes
foi de 125,25; 151; 168,25; e 190,75bpm, respectivamente, no trote, canter, galope 1 e galope
2. Os equinos responderam metabolicamente ao esforço físico intervalado, com carga
diferenciada, com produção crescente de lactato, mantendo a FC nos patamares de 125 a
191bpm.
32
A FC e o lactato correspondem ao aumento dependente do incremento da intensidade
de esforço. Conforme demonstrado na tabela 4 e na figura 17, a frequência cardíaca máxima
foi atingida na etapa do galope 2 na velocidade constante de 10 m/s, sendo o valor médio
obtido igual a 147 ± 2 bpm.
Os valores médios das frequências cardíacas e das concentrações plasmáticas de
lactato dos equinos neste teste incremental, com cargas diferenciadas, estão representados na
tabela abaixo.
Tabela 4. Lactacidemias (mmol/L) e Frequência Cardíaca (bpm) do Teste 1, incremental na
distância 200m. Equinos com maior desempenho (Grupo A) e menor desempenho (Grupo B).
TESTE 1
Animal
Grupo
Aquec
Trote
Canter
Galope1
Galope2
Rec
Rec
------------------------------------ Lactato (mmol/L) ------------------------------------ESTAMPA
HIPOLISE
FALCÃO
NEUTRAL
A
B
0,38
0,30
0,76
1,37
2,72
0,85
0,57
0,62
0,68
1,15
3,46
3,93
1,53
0,84
0,85
0,98
1,25
2,58
5,40
1,84
0,98
1,48
1,17
1,72
3,19
4,57
1,89
1,99
----------------------------------- Frequência Cardíaca (bpm) --------------------------ESTAMPA
HIPOLISE
FALCÃO
NEUTRAL
A
B
105
119
141
153
180
65
37
107
126
154
173
192
70
40
76
120
150
166
194
63
42
110
136
159
181
197
86
40
Os animais empiricamente com maior desempenho, segundo os atletas, apresentaram,
apesar de uma diferença pequena, melhores condicionamentos físicos que os animais de
menor desempenho.
Neste teste, as concentrações plasmáticas de lactato no sangue, dos animais do Grupo
A foram menores e não ultrapassaram 4 mmol/L, dificultando expressar o VL4 , ou seja, o
início do metabolismo anaeróbico.
Os valores médios da frequência cardíaca demonstram que os equinos do grupo A
(maior rendimento) obtiveram uma intensidade de exercícios menor que os equinos do grupo
B (menor rendimento), atingindo uma frequência cardíaca média menor em todos os estepes
realizados (Figura 17).
33
Figura 17 – Mensuração da Frequência Cardíaca média dos equinos do Teste 1.
4.2 Análise dos Resultados do Teste 2
Na tabela 5, percebe-se a grande concentração de lactato ocorrida neste teste de
galopes sequenciais com a velocidade constante de 12 m/s. Estes resultados demonstram
como os cavalos de polo atingem com facilidade o metabolismo anaeróbico. A referida tabela
demonstra que o grau das alterações destas variáveis fisiológicas está relacionado com a
intensidade e duração do exercício teste.
No teste, obteve um valor máximo da concentração plasmática de lactato em 25,77
mmol/L, no galope 4 pelo equino Fiscal e a frequência cardíaca máxima de 213 bpm, no
galope 3 pelo equino Fiscal (Tabela 5).
Os equinos do programa 2, apresentaram resposta linear e crescente da concentração
plasmática de lactato durante o teste, com valores médios de 8,9 ± 0,51; 14,6 ± 2,6; 17,3 ±
1,91; 20,4 ± 3,82 mmol/l, respectivamente após o primeiro, segundo, terceiro e quarto galope.
A equação que descreve a lactacidemia nos equinos foi assim definida: Y = 3,727x – 5,963
r2=0,97, onde x é o número de galopes. A frequência cardíaca média dos equinos ao final dos
galopes foi de 180; 182; 194; e 191bpm, respectivamente, no primeiro, segundo, terceiro e
quarto galope. Os equinos na modalidade polo responderam metabolicamente ao esforço
físico intervalado, com carga constante, com produção crescente de lactato, mantendo a
frequência cardíaca nos patamares de 180 a 190bpm.
34
Tabela 5. Lactacidemias (mmol/L) e Frequência Cardíaca (bpm) do Teste 2, galopes
sequenciais com a mesma velocidade, na distância de 200m. Equinos com maior desempenho
(Grupo A) e menor desempenho (Grupo B).
TESTE 2
Animal
Grupo Aquec Galope 1 Galope 2 Galope 3 Galope 4 Rec 1 Rec 2
----------------------------------- Lactato (mmol/L) ---------------------------------FERRADURA
FISCAL
FENO
ZAGRITA
A
B
1,31
9,39
11,14
15,16
17,26
9,57
7,15
1,13
9,04
17,4
19,2
25,77
23,55 10,54
1,22
8,8
15,5
20,4
24,21
16,18 15,48
0,65
8,18
14,42
18,54
18,14
17,52 13,88
-------------------------------- Frequência Cardíaca (bpm) -------------------------FERRADURA
FISCAL
FENO
ZAGRITA
A
B
101
191
200
206
211
130
60
96
196
187
213
209
121
73
126
142
163
168
146
120
52
97
191
179
187
196
114
73
Abaixo seguem os gráficos de representação da concentração plasmática do lactato
incrementada de acordo com a intensidade do teste.
Lactato dos equinos do Grupo A (maior desempenho):
Figura 18- Gráfico da concentração de lactato Figura 19- Gráfico da concentração de lactato
da égua Ferradura.
do cavalo Fiscal.
Lactato dos equinos do Grupo B (menor desempenho):
Figura 20- Gráfico da concentração de lactato
do cavalo Feno.
Figura 21- Gráfico da concentração de lactato
da égua Zagrita.
35
Observou-se pelos gráficos anteriores que o cavalo Fiscal, pertencente ao Grupo A
(melhor desempenho), apresentou uma concentração maior que os equinos do Grupo B.
Demonstrando assim, um menor condicionamento físico que os cavalos do Grupo B,
empiricamente de menor rendimento.
Os valores médios da Frequência Cardíaca demonstraram que os equinos de maior
rendimento obtiveram resultados mais altos que os de menor rendimento. Atingindo uma
frequência média maior em todos os estepes (Figura 22). Este resultado não define que o
condicionamento físico dos cavalos do Grupo A é pior que o Grupo B, o gráfico expressa que
neste momento o exercício teve maior intensidade para os cavalos do Grupo A do que para os
cavalos do Grupo B.
Figura 22 – Mensuração da Frequência Cardíaca média dos equinos do Teste 2.
4.3 Análise dos Resultados do Teste 3.
A tabela 6 demonstra os resultados da concentração de lactato e frequência cardíaca
ocorrida neste teste incremental. O Teste 3 obteve um valor máximo da concentração
plasmática de lactato em 10,62 mmol/L, no galope 2 pelo equino Abaeté e a frequência
cardíaca máxima de 206 bpm, no galope 2 pelo equino Halves.
Os equinos do Teste 3, apresentaram resposta exponencial e crescente da concentração
plasmática de lactato durante o teste, com valores médios de 0,32 ± 0,03; 1,09 ± 0,33; 3,75 ±
36
1,10; 7,82 ± 2,22 mmol/l, respectivamente após o trote, canter, galope 1 e galope 2. A
equação que descreve a lactacidemia nos equinos foi assim definida: Y = 0,1193e1,0827x
R2=0,9878, onde x é o número de galopes. A frequência cardíaca média dos equinos ao final
do teste foi de 122,5; 134,25; 177; e 194,75 bpm, respectivamente, no trote, canter, galope 1 e
galope 2. Os equinos na modalidade polo responderam metabolicamente ao esforço físico
intervalado, com carga diferenciada, com produção crescente de lactato, mantendo a
frequência cardíaca nos patamares de 120 a 195 bpm.
Tabela 6. Lactacidemias (mmol/L) e Frequência Cardíaca (bpm) do Teste 3, incremental na
distância de 400m. Equinos de maior desempenho(Grupo A) e menor desempenho (Grupo B).
TESTE 3
Animal
Grupo Aquec
Trote
Canter
Galope 1 Galope 2 Rec1 Rec2
------------------------------------- Lactato (mmol/L) --------------------------------ESCONDIDO
LUIS
HALVES
ABAETE
A
B
0,94
0,30
1,15
3,01
7,69
6,41
2,09
0,47
0,31
0,7
2,64
5,2
4,28
0,496
0,36
0,36
1,01
4,39
7,78
4,06
2,05
0,52
0,31
1,49
4,95
10,62
6,87
5,15
-------------------------------- Frequência Cardíaca (bpm) --------------------------ESCONDIDO
LUIS
HALVES
ABAETE
A
B
100
144
109
149
187
95
65
98
112
136
169
184
93
57
100
120
164
194
206
67
58
95
114
128
196
202
93
57
Neste teste foi calculado o VL4, ou seja, a velocidade quando o lactato atinge 4
mmol/L. O resultado do cavalo Luiz demonstrou o valor VL4 maior que todos os demais
equinos, o mesmo ocorreu com o Grupo A, uma vez que o valor do VL4 é maior que o do
Grupo B (Tabela 7). Resultado este que constata o melhor condicionamento físico dos
equinos do Grupo A do que o Grupo B.
O significado deste resultado é que o cavalo Luiz inicia a trabalhar com a
concentração do lactato a 4 mmol/L, no metabolismo anaeróbico, quando este equino
imprimir uma velocidade maior ou igual que 4,89 m/s. Os demais cavalos atingirão o
metabolismo anaeróbico mais rapidamente, porém numa velocidade inferior a do cavalo Luiz.
Contudo, pode-se dizer que o cavalo Luiz tem maior condicionamento físico que os demais.
37
Tabela 7 – Variáveis VL2, VL4 e VL6 do Teste 3. Equinos com maior desempenho em azul
(Grupo A) e menor desempenho em vermelho (Grupo B).
Animais
VL 2 (m/s)
VL4 (m/s)
VL6 (m/s)
R2
3,9
4,89
5,48
84,6
LUIZ
3,44
4,51
5,13
70,2
ESCONDIDO
3,45
4,25
4,72
93,0
HALVES
3,21
3,99
4,45
87,9
ABAETÉ
3,5
4,4
4,9
Média
Abaixo seguem os gráficos de representação da concentração plasmática do lactato
incrementada de acordo com a intensidade do teste.
Lactato dos equinos do Grupo A (maior desempenho):
Figura 23- Gráfico da concentração de lactato
do cavalo Escondido.
Figura 24- Gráfico da concentração de lactato
do cavalo Luiz.
Lactato dos equinos do Grupo B (menor desempenho):
Figura 25- Gráfico da concentração de lactato
do cavalo Halves.
Figura 26- Gráfico da concentração de lactato
do cavalo Abaeté.
Observou-se nos gráficos acima que o cavalo Abaeté, pertencente ao Grupo B (menor
desempenho), apresentou uma concentração de lactato maior que todos os demais equinos.
Demonstrando assim, um menor condicionamento físico que todos os cavalos do teste.
Observou ainda, que os cavalos do Grupo B, empiricamente de menor rendimento, possuem a
concentração plasmática de lactato menor que os do Grupo A, confirmando o desempenho
físico inferior.
38
Os valores médios da frequência cardíaca demonstram que os equinos de maior
rendimento obtiveram resultados menores que os de menor rendimento. Atingindo uma
frequência média menor em todos os estepes (Figura 27).
Figura 27 – Mensuração da Frequência Cardíaca média dos equinos do Teste 3.
Neste teste foi possível calcular o V200, ou seja, a velocidade em que o batimento
cardíaco atinge 200 bpm. No entanto ocorreu nos cavalos de menor rendimento, com V200 =
10,83 m/s, onde a equação que expressa esse resultado é a seguinte: Y= 11,333x + 77,667
(Figura 28).
Figura 28 – Frequência cardíaca média do grupo B, com a equação que descreve o V200.
39
5. CONCLUSÃO
Concluiu-se que a determinação das concentrações de lactato ao final dos testes, a
observação da capacidade do organismo em produzi-los sobre o esforço físico e a mensuração
da frequência cardíaca ao final de todos os exercícios ao quais os animais foram submetidos,
são excelentes parâmetros para a avaliação do condicionamento físico do cavalo de polo.
Os testes propostos tiveram como objetivos a avaliação da veracidade de que os
equinos do Grupo A apresentavam melhor condicionamento físico do que os equinos do
Grupo B, segundo os cavaleiros que trabalham os cavalos.
Os animais do Teste 1 realizaram pouco esforço físico, demonstrando uma pequena
concentração do lactato no sangue, devido ao bom condicionamento físico para a exigência ao
qual foram submetidos neste teste. Porém, percebe-se uma pequena diferença dos cavalos do
Grupo A, que não alcançaram 4 mmol/L de lactato, quanto aos equinos do Grupo B, que
ultrapassaram a concentração de 4 mmol/L.
No Teste 2, observou-se que a frequência cardíaca do Grupo A foi mais elevada,
porém, este resultado indica que a intensidade do exercício foi maior para os equinos deste
grupo. Os resultados do lactato no teste confirmaram o condicionamento físico do Grupo A
(maior rendimento) sendo inferior do que a do Grupo B (menor rendimento).
O Teste 3, por sua vez, foi conceituado como o mais completo. As avaliações do VL4
demonstraram com clareza e precisão a diferença do condicionamento físico, direcionando em
que momento de um exercício os equinos iniciam o trabalho anaeróbico. Informações estas
que auxiliam o treinamento para que não atinjam o esforço máximo do cavalo a todo o
momento, evitando futuras lesões.
Por fim, os testes realizados nos equinos atletas, da modalidade Polo, comprovam a
importância das análises metabólicas de cada animal e a necessidade de prosseguir num
treinamento seguro, para que não ultrapasse o limite físico do animal, eis que o objetivo final
é atingir a maximização dos resultados esperados.
Os testes a campo reproduzem de maneira mais próxima a realidade, devido as
variáveis da temperatura, piso e local, obtendo um resultado mais verossímil. Desta forma, o
teste de condicionamento físico de cavalos de Polo avalia com eficiência as alterações
fisiológicas dos equinos, devendo ser aplicada aos treinamentos de cavalos de Polo.
40
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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