Mário Rui Freitas Coelho Comportamento da ligação de laminados
Transcrição
Mário Rui Freitas Coelho Comportamento da ligação de laminados
Universidade do Minho Escola de Engenharia Mário Rui Freitas Coelho Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Dissertação de Mestrado Grau de Mestre em Engenharia Civil Área de Conhecimento em Estruturas Trabalho efectuado sob orientação científica do Professor Doutor José Sena Cruz Abril de 2010 AGRADECIMENTOS Reservo este espaço para deixar uma palavra de gratidão a todos os familiares e amigos que, directa ou indirectamente, me ajudaram e acompanharam ao longo desta fase do meu percurso académico. Neste momento, em que mais uma meta é atingida, deixo alguns agradecimentos especiais. Ao meu orientador Professor Sena Cruz, por todos os ensinamentos partilhados (tanto os teóricos como os práticos) e por toda a ajuda e tempo que colocou à minha disposição ao longo de todo este trabalho. Ao Professor Joaquim Barros pelos concelhos que me deu em várias fases do trabalho. Ao Engenheiro João Carvalho, pelo desenvolvimento de todo o trabalho preliminar fundamental à presente dissertação. Ao meu amigo Luis Silva que sempre me acompanhou ao longo deste trabalho, agradeço em particular a participação activa nas campanhas de ensaios e, em geral, a amizade e companheirismo com que sempre me brindou. Aos funcionários do Laboratório de Estruturas da Universidade do Minho, Sr. António Matos e Marco Jorge, pelo auxílio prestado durante a preparação e a realização da parte experimental deste trabalho. O presente trabalho foi PTDC/ECM/74337/ 2006 da FCT. financiado pelo programa PIDDAC, projecto no. Por último, destaco algumas entidades cujo contributo foi primordial para a realização deste trabalho, nomeadamente, o Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial da Universidade do Porto (INEGI), na pessoa da Eng.ª Célia Novo, pela especial colaboração dada na produção dos laminados, à qual me permitiu assistir; à S&P pelo fornecimento dos laminados unidireccionais e do adesivo epoxy; à Moniz Dias, Lda. e à TSwaterjet, Lda. pelo corte dos laminados; à SECIL pelo fornecimento do betão utilizado no fabrico dos provetes; à Hilti Portugal Produtos e Serviços, Lda. pelo fornecimento dos sistemas de ancoragem e aos Engs. Sérgio Rodrigues e Jorge Gramaxo pela assistência técnica fornecida. i RESUMO A aplicação de materiais compósitos no reforço de estruturas de betão armado tem vindo a merecer cada vez maior aceitação no seio da comunidade da Engenharia Civil, existindo já sistemas de reforço tipo com materiais e técnicas bem definidos. Uma das principais técnicas de reforço consiste na aplicação de mantas ou laminados de polímeros reforçados com fibras (FRP, Fibre Reinforced Polymers, na nomenclatura inglesa) colados na superfície do elemento estrutural a reforçar (EBR, Externally Bonded Reinforcement, na nomenclatura inglesa). Uma das principais deficiências desta técnica prende-se com o destacamento precoce da ligação FRP/betão nas extremidades do elemento de reforço. A proposta de solução para este problema que neste trabalho se apresenta consiste na aplicação de ancoragens no material de reforço adicionalmente à ligação colada entre este e o betão. Neste contexto foi concebido um laminado multi-direccional constituído por várias camadas de dois laminados poliméricos reforçados com fibras de carbono (MDL-CFRP, Multi-Directional Laminate of Carbon Fibre Reinforced Polymer, na nomenclatura inglesa). O MDL-CFRP foi projectado de modo a suportar, para além das acções induzidas pelo sistema EBR, as que resultam da introdução de ancoragens. O laminado desenvolvido foi então caracterizado geométrica e mecanicamente através de um programa experimental adequado. Com vista à avaliação do comportamento da ligação ancorada e colada entre laminados multi-direccionais e o betão foi realizada uma campanha de ensaios de arranque directo. Por último, através da inclusão de novas funcionalidades ao software de elementos finitos FEMIX, foram efectuadas simulações numéricas de alguns dos ensaios experimentais efectuados com vista a melhor caracterizar e compreender o laminado multi-direccional. PALAVRAS-CHAVE: MDL-CFRP, MF-EBR. iii ABSTRACT The use of composite materials (FRP – fiber reinforced polymer) in the context of retrofitting concrete structures has seen increasing acceptance within the Civil Engineering community and there are already typified materials, systems and techniques. The Externally Bonded Reinforcement (EBR) is the main strengthening technique and consists on the application of fabrics or laminates of fiber-reinforced polymers (FRP) bonded on the surface of the structural element to be strengthened. One of the main shortcomings of this technique is the premature detachment of FRP/concrete connection at the ends of the reinforcement element. To solve this problem, the solution proposed in the present work consists on the use of anchors in the FRP’s in addition to the EBR technique. In this context a Multi-Directional Laminate of Carbon Fiber Reinforced Polymer (MDLCFRP) was developed. The MDL-CFRP was designed in order to support, in addition to the actions induced by EBR system, those resulting from the inclusion of the anchors. The developed laminate was geometric and mechanically characterized through an appropriate experimental program. In order to evaluate the performance of the anchored and bonded connection between multi-directional laminates of CFRP and concrete an experimental program of pull-out tests was carried out. Finally, by adding new tools to the finite element program FEMIX, were carried out numerical simulations of some experimental tests in order to better characterize and understand the MDL-CFRP. KEYWORDS: MDL-CFRP, MF-EBR. v Índice ÍNDICE Agradecimentos ...................................................................................................................... i Resumo .................................................................................................................................iii Abstract.................................................................................................................................. v Índice ....................................................................................................................................vii 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 1 1.1 ENQUADRAMENTO DO TRABALHO.............................................................................. 1 1.2 OBJECTIVOS .................................................................................................................. 2 1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ................................................................................... 3 2 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS ........................................................................................ 5 2.1 NOÇÕES GERAIS SOBRE FRP’S................................................................................... 5 2.2 NORMAS PARA CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS ............................................ 10 2.3 RESISTÊNCIA AO ESMAGAMENTO DE MATERIAIS COMPÓSITOS.......................... 11 2.4 COMPORTAMENTO DA LIGAÇÃO DE FRP’s COLADOS AO BETÃO ......................... 15 3 DESENVOLVIMENTO DO MDL-CFRP............................................................................. 17 3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 17 3.2 PROGRAMA EXPERIMENTAL ...................................................................................... 18 3.3 PRODUÇÃO DO MDL.................................................................................................... 19 3.4 PROVETES DE ENSAIO ............................................................................................... 21 3.4.1 Ensaios de Tracção..................................................................................................... 22 3.4.2 Ensaios de Flexão....................................................................................................... 26 3.4.3 Ensaios de Esmagamento........................................................................................... 27 3.5 CONFIGURAÇÃO DE ENSAIO...................................................................................... 29 3.5.1 Ensaios de Tracção..................................................................................................... 30 3.5.2 Ensaios de Flexão....................................................................................................... 31 3.5.3 Ensaios de Esmagamento........................................................................................... 32 3.6 RESULTADOS............................................................................................................... 34 3.6.1 Ensaios de Tracção..................................................................................................... 34 vii Índice 3.6.2 Ensaios de Flexão.......................................................................................................42 3.6.3 Ensaios de Esmagamento...........................................................................................45 4 REFORÇO COM MDL-CFRP............................................................................................51 4.1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................................51 4.2 PROVETES DE ENSAIO ...............................................................................................52 4.3 CONFIGURAÇÃO DE ENSAIO......................................................................................59 4.4 RESULTADOS...............................................................................................................62 5 MODELAÇÃO NUMÉRICA...............................................................................................69 5.1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................................69 5.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS MODELAÇÕES EFECTUADAS ....................72 5.3 ENSAIO DE TRACÇÃO UNIAXIAL DO LAMINADO CFK...............................................72 5.4 ENSAIO DE TRACÇÃO UNIAXIAL DO LAMINADO HS.................................................75 5.5 ENSAIO DE TRACÇÃO UNIAXIAL DO LAMINADO MDL ..............................................77 5.6 ENSAIO DE ESMAGAMENTO DO LAMINADO MDL.....................................................78 6 CONCLUSÕES.................................................................................................................85 6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................85 6.2 FUTUROS DESENVOLVIMENTOS ...............................................................................86 Referências..........................................................................................................................89 Anexos .................................................................................................................................93 viii 1 INTRODUÇÃO 1.1 ENQUADRAMENTO DO TRABALHO A aplicação de materiais compósitos no reforço de estruturas de betão armado tem vindo a merecer cada vez maior aceitação no seio da comunidade da Engenharia Civil, existindo já sistemas de reforço tipo com materiais e técnicas bem definidos. Actualmente, mais do que procurar novas técnicas de aplicação destes materiais, a atenção tem-se voltado para a melhoria dos sistemas de reforço existentes, tanto ao nível dos materiais como dos métodos a aplicar, de modo a colmatar algumas deficiências que ainda persistem nas técnicas existentes. Nesse contexto surge o trabalho presente nesta dissertação, o qual se refere à tentativa de melhoria de uma das técnicas existentes. A técnica em causa consiste na aplicação de mantas ou laminados de polímeros reforçados com fibras (FRP, Fibre Reinforced Polymers, na nomenclatura inglesa) colados na superfície do elemento estrutural a reforçar (EBR, Externally Bonded Reinforcement, na nomenclatura inglesa). Uma das principais deficiências desta técnica prende-se com o destacamento precoce do FRP em relação ao betão fundamentalmente ao nível das extremidades do elemento de reforço. No sentido de colmatar este problema têm sido aplicados alguns complementos à técnica EBR, como sejam a aplicação, nas extremidades do reforço, de chapas metálicas aparafusadas, ou cintas com manta de FRP. Este tipo de intervenção localizada exige trabalhos de preparação diferenciados e morosos que podem comprometer a sua viabilidade em determinadas aplicações. Na última década surgiu uma nova técnica, designada de MF (Mechanically Fastened, na nomenclatura inglesa), que elimina este problema na sua raiz, uma vez que recorre a ancoragens metálicas como meio de transmissão de carga em alternativa aos adesivos utilizados na técnica EBR. Esta técnica, uma vez que implica a inserção de ancoragens no elemento de reforço, substitui os laminados unidireccionais usualmente aplicados na técnica EBR, por laminados multi-direccionais híbridos com fibras de vidro e de carbono apenas ancorados ao betão (Bank e Arora 2007, Elsayed et al. 2009). A proposta sugerida neste trabalho procura explorar os pontos fortes das duas técnicas atrás referidas. Por um lado, não substitui a colagem pelo uso de ancoragens, Capitulo 1 - Introdução usando ambas para efectuar a ligação, por outro lado, apresenta um novo tipo de laminado multi-direccional constituído apenas por fibras de carbono. Normalmente os laminados aplicados com recurso à técnica EBR são unidireccionais e ortotrópicos, isto é, são materiais com elevadas propriedades mecânicas na direcção do seu eixo principal, contudo, muito limitados nas outras direcções. Como se pretende introduzir um elemento no laminado que irá mobilizar a resistência deste sobretudo na direcção perpendicular ao seu eixo principal, é necessário que este tenha alguma capacidade de absorção de carga nessa direcção sem comprometer o seu comportamento na direcção do seu eixo. Para isso foi desenvolvido um novo tipo de laminado resultante do empilhamento de várias camadas de laminado unidireccional, dispostas em diferentes direcções em relação ao seu eixo. As alterações propostas às técnicas EBR e MF foram designadas com a sigla MF-EBR (Mechanically Fastened and Externally Bonded Reinforcement, na nomenclatura inglesa). Com esta “nova” técnica alarga-se o campo de aplicação dos laminados de FRP colados externamente a elementos estruturais de betão. Enquanto com a técnica EBR a aplicação destes era essencialmente feita em lajes e vigas no reforço ao corte e/ou flexão, com a técnica MF-EBR estes passam a poder ser aplicados, por exemplo, na reparação e/ou reforço de nós de pórticos de betão armado, conduzindo a um aumento da capacidade de carga e da ductilidade do nó. A presente dissertação divide-se em duas partes, uma primeira parte relativa ao desenvolvimento e caracterização geométrica e mecânica do novo laminado multidireccional de CFRP e uma segunda parte com uma campanha de ensaios de arranque realizada com vista à caracterização do comportamento da ligação laminado/betão de provetes de betão reforçados com recurso à técnica MF-EBR. A componente experimental presente nesta dissertação foi realizada no Laboratório de Estruturas do Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho. 1.2 OBJECTIVOS O presente trabalho tem como principais objectivos: a) Revisão bibliográfica sobre alguns aspectos relacionados com os laminados multidireccionais e as técnicas de reforço abordadas; b) Desenvolvimento de um laminado multi-direccional de CFRP (MDL-CFRP); c) Caracterização geométrica e mecânica do MDL-CFRP; d) Caracterização da ligação entre laminados de MDL-CFRP e o betão, quando estes se encontram simultaneamente ancorados e colados; e) Simulação numérica de alguns ensaios. 2 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão 1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO No Capítulo 2, são apresentados alguns conceitos gerais sobre cada um dos constituintes dos FRPs. São também apresentadas algumas das principais normas utilizadas na caracterização mecânica dos FRP’s, com particular enfoque na caracterização do comportamento destes ao esmagamento, por se tratar de um aspecto crucial no âmbito deste trabalho. No Capítulo 3, é abordado o desenvolvimento do novo laminado multi-direccional. Começa por se apresentar uma descrição geral do modo como se chegou à solução final apresentada. De seguida é definido um programa de ensaios, incluindo todos os parâmetros em estudo e variáveis de partida para as várias séries de ensaios a realizar. É também referida a instrumentação usada e, por fim, apresentam-se e analisam-se os resultados obtidos. No Capitulo 4, é definida uma campanha de ensaios de arranque com vista a caracterização do comportamento da ligação colada e ancorada entre o laminado multidireccional e provetes de betão. É feita a caracterização dos materiais usados na campanha de ensaios, nomeadamente, o betão e o adesivo, já que o laminado já foi caracterizado no Capítulo 3. Faz-se a descrição das várias etapas de preparação dos provetes para o ensaio. É também descrita a aplicação do reforço nos provetes de betão. São ainda apresentados e analisados os resultados dos ensaios efectuados. No Capítulo 5, são apresentadas simulações numéricas de alguns dos ensaios realizados e descritos no Capítulo 3. Para a realização dessas simulações foi necessário implementar um critério de rotura no código computacional. Através destas simulações foi possível ter uma melhor percepção e interpretação dos resultados obtidos por via experimental. Por fim, no Capitulo 6, são apresentadas as principais conclusões a retirar deste trabalho. 3 2 CONCEITOS INTRODUTÓRIOS 2.1 NOÇÕES GERAIS SOBRE FRP’S Os polímeros reforçados com fibras (FRP, Fibre Reinforced Polymers) são constituídos por duas ou mais fases (materiais) distintas que são pensadas de modo a que o resultado final, i.e. o FRP, tenha propriedades superiores às dos seus constituintes individualmente. De notar que, as propriedades aqui referidas, incluem não só as mecânicas, como também as físicas e funcionais do produto final. Um exemplo do que se acaba de afirmar é o caso da resistência mecânica à tracção, pois neste caso o produto final revela-se menos resistente que um dos seus constituintes, nomeadamente, as fibras, conforme se pode constatar na Figura 2.1 (CNR-DT 200: 2004). Por norma podem ser identificadas nos FRP’s as seguintes fases: o reforço (fibras), a matriz (elemento de ligação) e a interface entre os dois anteriores. f fib,max Fibra FRP Matriz f m,max εfib,max εm,max Figura 2.1: Relação Tensão versus Extensão da fibra, da matriz e do FRP final (adaptado de CNRDT 200: 2004) Capítulo 2 – Conceitos Introdutórios As fibras apresentam-se normalmente sob a forma de pequenos filamentos, têm elevado módulo de elasticidade e resistência à tracção, baixa densidade e comportamento tipicamente frágil. Esta fase é responsável pela rigidez e resistência do produto final. Em função da orientação destas, os FRP’s podem ser unidireccionais (fibras orientadas numa só direcção) ou multi-direccionais (fibras orientadas em várias direcções). Em função do tipo de fibra usado, os FRP’s podem ser classificados como: GFRP – Glass Fiber Reinforced Polymer, CFRP – Carbon Fiber Reinforced Polymer ou AFRP – Aramid Fiber Reinforced Polymer, entre outros. As fibras mais usadas em aplicações de Engenharia Civil são as de carbono, vidro e aramida. De entre estas, as mais usadas no contexto do reforço de estruturas são as de carbono pois apresentam melhores propriedades mecânicas (mais resistentes à acção de agentes químicos, imunes à corrosão e não absorvem água), seguindo-se as fibras de vidro (têm menor custo mas maior peso específico além de apresentarem grande sensibilidade a meios alcalinos e serem menos resistentes a acções de fadiga) e, por último, as de aramida (devido às dificuldades de moldagem, à baixa resistência à compressão e a serem sensíveis à fluência, à acção dos raios ultra-violeta e às temperaturas elevadas) (Barros 2004). Na Tabela 2.1 apresentam-se algumas propriedades típicas dos três tipos de fibra acima referidos (FIB 2007). Tabela 2.1: Propriedades típicas das fibras usadas nos FRP’s (FIB 2007) E-vidro Carbono (alta resistência) Aramida (Kevlar 49) Densidade [kg/m3] 2500 1750 1440 Resistência à tracção [MPa] 3450 3500 3620 Módulo de elasticidade longitudinal [GPa] 72 240 124 Extensão última à tracção [%] 2,4 1,1 2,2 5 -0,6…-0,2 -2,0 longitudinal 59 radial 0,22 0,20 0,35 Propriedade Coeficiente de expansão térmica [10-6/ºC] Coeficiente de Poisson A matriz é normalmente contínua, menos rígida e resistente, sendo a sua principal função, garantir que as fibras funcionem em conjunto, protegendo-as das agressões ambientais, dos danos mecânicos e dos fenómenos de instabilidade e garantir a transferência local de tensões entre reforços (Santiago 1998). Assim sendo, em termos de comportamento estrutural, as suas propriedades mecânicas mais relevantes são a resistência ao corte e à tracção. Existem diversos tipos de matriz entre as quais se destacam as seguintes no fabrico de compósitos: poliméricas, metálicas, cerâmicas e de 6 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão carbono. No campo da Engenharia Civil as mais utilizadas são as matrizes poliméricas. Estas podem ser divididas em termoendurecíveis e termoplásticas. Os compósitos de matriz termoplástica apresentam um ponto de saturação mais baixo que os compósitos de matriz termorrígida (também designadas de termofixas ou termoendurecíveis). No caso dos primeiros o ponto de saturação é atingido para uma absorção de aproximadamente 1% do seu peso em água, já nos segundos esse valor é de aproximadamente 10% (Selzer e Friedrich 1997). Destes dois tipos de matriz, as termoendurecíveis são as mais aplicadas, nomeadamente, as resinas do tipo polyester e epoxy, devido às suas excelentes propriedades em termos de aderência à maior parte dos materiais e de resistência mecânica e física às agressividades do meio ambiente. Em relação a este último aspecto verifica-se que a humidade exerce menor efeito do que a temperatura na tensão de rotura dos compósitos, sobretudo nos compósitos com matriz de resina epoxy (Shen e Springer 1981). Na Tabela 2.2 identificam-se algumas das principais propriedades desses dois tipos de resina (FIB 2007). Tabela 2.2: Propriedades de resinas utilizadas em materiais compósitos (FIB 2007) Matriz Propriedade Polyester Densidade [kg/m3] Epoxy 1200-1400 1200-1400 Resistência à tracção [MPa] 34,5-104 55-130 Módulo de elasticidade longitudinal [GPa] 2,1-3,45 2,75-4,10 Coeficiente de Poisson 0,35-0,39 0,38-0,40 55-100 45-65 0,15-0,60 0,08-0,15 Coeficiente de expansão térmica [10-6/˚C] Teor de humidade [%] Por último, falta referir a terceira das três fases que constituem os FRP’s, isto é, a interface ou interfase, como também é designada. Esta é geralmente constituída por uma camada muito fina (por vezes de apenas um único átomo) existente entre a fibra e a matriz. A interface existe como consequência das interacções químicas entre a matriz e o reforço e controla os mecanismos de rotura (CNR-DT 200: 2004). Muito do que foi acima descrito para os FRP’s em geral é aplicável ao caso particular do CFRP. Este tipo específico de FRP tem vindo a registar grande crescimento em termos de procura arrastando igual aumento na investigação sobre os mesmos, e vice-versa. 7 Capítulo 2 – Conceitos Introdutórios Como meio de comparação e justificação da escolha do CFRP para a realização deste trabalho, em detrimento de FRP’s com outro tipo de fibra, na Tabela 2.3 apresentam-se as propriedades mecânicas típicas dos três principais tipos de FRP’s usados na Engenharia Civil (FIB 2007). Para além dos parâmetros presentes na tabela, refere-se ainda que a fibra de carbono é menos sensível à rotura por fluência e/ou fadiga e revela uma redução da resistência à tracção a longo prazo menor que as restantes (CNR-DT 200: 2004). Tabela 2.3: Propriedades mecânicas típicas do GFRP, AFRP e CFRP (FIB 2007) Propriedade Fracção de volume em fibras E-vidro/ Kevlar 49/ Carbono/ epoxy epoxy epoxy 0,55 0,60 0,65 2100 1380 1600 Módulo de elasticidade longitudinal [GPa] 39 87 177 Módulo de elasticidade transversal [GPa] 8,6 5,5 10,8 Módulo de corte no plano [GPa] 3,8 2,2 7,6 Coeficiente de Poisson maior 0,28 0,34 0,27 Coeficiente de Poisson menor 0,06 0,02 0,02 Resistência à tracção longitudinal [MPa] 1080 1280 2860 Resistência à tracção transversal [MPa] 39 30 49 Resistência ao corte no plano [MPa] 89 49 83 Extensão última à tracção longitudinal [%] 2,8 1,5 1,6 Extensão última à tracção transversal [%] 0,5 0,5 0,5 Resistência à compressão longitudinal [MPa] 620 335 1875 Resistência à compressão transversal [MPa] 128 158 246 3 Densidade [kg/m ] Os FRP’s, tal como todos os materiais, seguem um percurso de desenvolvimento, desde a obtenção da matéria-prima até à conclusão do produto final. A compreensão do comportamento do material ao longo de todo este processo é essencial para depois se perceber o funcionamento e o desempenho do mesmo na fase de exploração. Nesse contexto importa situar os FRP’s utilizados neste trabalho nessa cadeia de desenvolvimento. Na Figura 2.2 apresenta-se um esquema elucidativo dos vários níveis de desenvolvimento que podem existir quando se fala em FRP’s, bem como a escala de análise que conduz à transição entre os vários níveis. 8 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Matriz Lamina Fibra Micromecânica Macromecânica Estrutura Análise Estrutural Laminado Figura 2.2: Níveis e tipo de análise utilizados em materiais compósitos (adaptado de Daniel e Ishai 1994) O presente trabalho, conforme já foi dito, compreende duas fases, uma primeira em que será desenvolvido um novo tipo de laminado multi-direccional e uma segunda em que se procura compreender o comportamento da ligação colada e ancorada entre o laminado multi-direccional desenvolvido e o betão. Assim, a primeira fase deste trabalho situa-se entre os níveis da lâmina e do laminado (macromecânica), e serão realizados ensaios de caracterização geométrica e mecânica, quer das lâminas de fibras contínuas e unidireccionais, quer do laminado resultante do empilhamento destas. Na segunda fase, o trabalho situa-se entre o nível do laminado e da estrutura, uma vez que, embora não se analise um produto acabado constituído exclusivamente por FRP (estrutura), é analisado um sistema estrutural do qual o laminado desenvolvido é parte integrante. Ao nível do laminado a designação normalmente atribuída está associada ao tipo de FRP que constitui as várias lâminas. Se as lâminas não forem todas do mesmo tipo de material, o laminado designa-se de híbrido. Se a orientação destas variar, então o laminado é designado de multi-direccional. Adicionalmente, os laminados são designados pela sua sequência de empilhamento. Na Tabela 2.4 apresentam-se alguns exemplos da forma como a sequência de empilhamento é usualmente representada. No caso em estudo o laminado é multi-direccional, apenas constituído por CFRP e tem a sequência de empilhamento [45/-45/0/-45/45] ou de forma mais reduzida [±45/0]S. 9 Capítulo 2 – Conceitos Introdutórios Tabela 2.4: Exemplos de designação da forma de empilhamento dos laminados (adaptado de Daniel e Ishai 1994) Tipo de laminado Configuração de empilhamento Laminado unidireccional com 6 camadas [ 0 / 0 / 0 / 0 / 0 / 0 ] = [ 06 ] Laminado ortogonal simétrico Laminado angular simétrico Laminado angular assimétrico Laminado multidireccional Laminado híbrido [0 / 90 / 90 / 0] = [0 / 90]S [0 / 90 / 0] = [0 / 90]S [ +45 / −45 / −45 / +45] = [ ±45]S [30 / −30 / 30 / −30 / −30 / 30 / −30 / 30] = [ ±30]2S [30 / −30 / 30 / −30 / 30 / −30 / 30 / −30] = [ ±30]4 [0 / 45 / −45 / −45 / 45 / 0] = [0 / ±45]S [0 / 0 / 45 / −45 / 0 / 0 / 0 / 0 / −45 / 45 / 0 / 0] = [02 / ±45 / 02 ]S [0 / 15 / −15 / 15 / −15 / 0] = [0 / ±15 / ±15 / 0]T = 0 / ( ±15 )2 / 0T G 0K / 0K / 45C / −45C / 90G / −45C / 45C / 0K / 0K = 0K2 / ±45C / 90 S T Notas: número subscrito = número de camadas ou grupo de camadas; S = Sequência simétrica; T = Total de camadas; = camada que define o plano de simetria; K, C e G = Kevlar, Carbono e Vidro, respectivamente. 2.2 NORMAS PARA CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITOS Em qualquer trabalho de carácter experimental é necessária a caracterização dos materiais intervenientes pois só assim se pode interpretar correctamente os resultados obtidos e retirar conclusões com vista a generalização de comportamentos e procedimentos em situações idênticas. Essa caracterização deve ser, sempre que possível, efectuada de acordo com regras internacionais (normas), de modo a que, por exemplo, caracterizações feitas em laboratórios diferentes sejam comparáveis. Assim sendo, no âmbito do presente trabalho revela-se crucial definir desde o início as características dos materiais utilizados, nomeadamente, as propriedades geométricas e mecânicas do laminado multi-direccional de CFRP (MDL), bem como as normas através das quais essas propriedades foram obtidas, uma vez que é pouco recomendável comparar propriedades obtidas por normas diferentes. Na Tabela 2.5 apresentam-se algumas normas, ASTM (American Society for Testing and Materials) e ISO (International Organization for Standardization), que permitem determinar algumas propriedades mecânicas de materiais compósitos de matriz polimérica. Em termos de propriedades mais genéricas, como sejam as propriedades associadas ao comportamento em tracção, compressão, flexão, fadiga e fluência, são apresentadas as duas normas (ASTM e ISO), para as restantes, por se tratar de propriedades mais 10 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão específicas e cuja equivalência entre normas não é tão directa, apenas se apresentam as versões ASTM, uma vez que estas normas são mais frequentemente utilizadas nesses casos. Tabela 2.5: Normas usadas na caracterização mecânica de materiais compósitos Parâmetro em análise ASTM Regras de acondicionamento de plásticos para ensaios D618-05 ISO 291:2008 Propriedades à tracção de materiais compósitos de D3039/D3039M matriz polimérica 527:1993 Propriedades à compressão de materiais compósitos de D 3410/D3410M–03 matriz polimérica 14126:1999 Resistência à tracção de compósitos de matriz D5766/5766M-02a polimérica com furo aberto ou entalhe Resistência à compressão de compósitos de matriz D6484/6484M-02 polimérica com furo aberto Resistência à tracção e compreensão de compósitos de D6742/6742M-02 matriz polimérica com furo preenchido Propriedades em flexão D790–03 178:2001 Resistência ao esmagamento de laminados compósitos D5961/D5961M-05 de matriz polimérica Comportamento à fadiga por esmagamento laminados compósitos de matriz polimérica Comportamento em fluência de D6873-03 13003:2003 D2990–01 899-1:2003 Resistência ao arranque dos parafusos de compósitos D7332/D7332M-07 de matriz polimérica reforçados com fibras 2.3 RESISTÊNCIA AO ESMAGAMENTO DE MATERIAIS COMPÓSITOS O uso de FRP’s na reparação e/ou reforço de estruturas de betão tem vindo a assumir-se como alternativa às técnicas tradicionalmente usadas, nomeadamente, encamisamento com betão, aplicação de pré-esforço externo ou utilização de chapas metálicas. Esta situação deve-se sobretudo às vantagens consideráveis que o uso dos FRP’s fornecem, nomeadamente, maior resistência mecânica, maior durabilidade, excelente resistência à corrosão, elevado rácio rigidez/peso e força/peso quando comparados com os materiais de construção convencional, baixa expansão térmica, bom desempenho à fadiga e tolerância ao dano, propriedades não magnéticas, facilidade de transporte e manuseio, baixo consumo de energia durante a fabricação da matéria-prima e da estrutura final, e ainda o potencial para a monitorização em tempo real. A maior vantagem dos FRP’s para aplicação em 11 Capítulo 2 – Conceitos Introdutórios Engenharia Civil, para além das referidas, é a capacidade de adaptabilidade geométrica, isto é, o reforço de FRP pode ser organizado de acordo com as condições de carregamento de modo a que este possa ser optimizado para o desempenho pretendido (ACI COMMITTEE 440 2002, Dias et al. 2004, Hejll et al. 2005). No contexto do presente trabalho pretende-se explorar essa capacidade de adaptação geométrica dos FRP’s. Para isso será necessária a colocação de ancoragens, tal como atrás referido, para melhorar a ligação do material de reforço ao substrato de betão. É neste contexto que se coloca a necessidade de avaliação da resistência ao esmagamento do material. Para melhor compreender o comportamento dos FRP’s ao esmagamento, neste capítulo são apresentados alguns aspectos que influenciam esse mesmo comportamento. A resistência ao esmagamento depende essencialmente dos seguintes parâmetros: rácio e/d, rácio w/d, área de ancoragem, momento de aperto das ancoragens, sequência de empilhamento e rácio camadas a 0/±α˚ do FRP (Collings 1977, Akay e Kong Ah Mun 1995, Thoppul et al. 2009). Na Figura 2.3 são apresentados os parâmetros geométricos referidos, nomeadamente, o diâmetro (d), a distância ao bordo (e), a largura (w) e a espessura (t). w d t e (a) (b) Figura 2.3: Definição dos parâmetros geométricos com influência na resistência ao esmagamento: (a) planta; (b) vista lateral Os três principais modos de rotura associados ao colapso de materiais compósitos quando solicitados por esforços de esmagamento são a tracção, o corte e o esmagamento. A rotura por tracção pura, está associada à rotura à tracção das fibras e da matriz devido a concentrações de tensões nas proximidades do furo e ocorre sobretudo quando o rácio w/d é pequeno. A rotura por corte é facilmente identificável pelas linhas de corte paralelas à direcção do carregamento que surgem desde a zona do furo até ao bordo (ao longo da dimensão e) e ocorre sobretudo quando o rácio e/d é muito pequeno e/ou em materiais altamente ortotrópicos. A rotura por esmagamento surge quando o diâmetro é pequeno relativamente aos valores de w e e, sendo uma rotura gradual e progressiva enquanto as anteriores são catastróficas (frágeis). As roturas por corte e esmagamento resultam essencialmente da rotura por corte e compressão das fibras e da matriz. Na Tabela 2.6 apresentam-se imagens dos modos de rotura referidos bem como as formulas que permitem a obtenção da resistência última em cada caso. 12 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Tabela 2.6: Modos de rotura por esmagamento (ASTM D5961, 2005) Tracção σ un = Corte Pu (w − d ) t σ uxy = Pu 2et Esmagamento σ ubr = Pu dt Notas: = resistência última à tracção; = resistência última ao corte; = resistência última ao esmagamento; = Força última; os restantes parâmetros estão definidos na Figura 2.3. Para além destes três principais modos de rotura, podem surgir outros modos secundários como o “tearout” (rasgar do laminado) e o “cleavage” (rachadura do laminado). Estes modos só ocorrem após ocorrer esmagamento pelo que, por exemplo, na caracterização da resistência ao esmagamento de laminados compósitos de matriz polimérica, sempre que estes modos de rotura surjam os resultados desses ensaios são considerados como inválidos. Normalmente o aparecimento destes modos secundários está relacionado com valores inadequados de w e e, i.e., são grandes ao ponto de mobilizarem o esmagamento do material, mas não suficientemente grandes, pelo que uma ligeira diminuição de uma destas dimensões (devido ao esmagamento) altera o modo de rotura. Tal como já foi referido, existem vários parâmetros que influenciam a resistência ao esmagamento dos materiais compósitos. A maior dificuldade na compreensão da influência destes parâmetros prende-se com o facto de não ser possível analisar cada um deles em separado uma vez que a resistência ao esmagamento varia conforme a combinação destes. Ainda assim, independentemente dos restantes parâmetros, pode dizer-se que a resistência ao esmagamento é directamente proporcional ao rácio e/d, isto é, quanto maior for a distância à extremidade ortogonal à direcção de carregamento (e), maior será a resistência. Mais ainda, verifica-se a existência de um valor critico para os rácios e/d e w/d a partir do qual o modo de rotura passa de rotura por tracção ou corte (modos indesejados por serem muito frágeis) para uma rotura por esmagamento (modo desejado por ser mais dúctil) (Thoppul et al. 2009). O valor destes rácios, tal como referido, depende de outros parâmetros pelo que só é possível definir estes rácios caso a caso. Na Tabela 2.7 apresenta-se um exemplo destes para o caso específico de um laminado de CFRP com diferentes configurações de empilhamento mantendo constantes os restantes parâmetros, nomeadamente, diâmetro (d=6,35 mm), momento de aperto no parafuso ( σ z =22 MPa), número de camadas (12 13 Capítulo 2 – Conceitos Introdutórios camadas) e consequentemente igual espessura (t=3 mm). As únicas variáveis em estudo eram os rácios e/d e w/d (Collings 1977). Tabela 2.7: Rácios mínimos que conduzem a rotura por esmagamento (Collings 1977) Configuração de Empilhamento Rácio e/d Rácio w/d 0°/90° >5 ≥4 ∓45° >4 ≥8 0/±45° ≥3 ≥4 0/±60° ≥3 ≥5 Outro parâmetro referido que influencia a resistência ao esmagamento é a existência ou não de pré-esforço e o seu valor. Os estudos existentes que abordam este parâmetro normalmente recorrem a pernos (elementos sem zona roscada), nos casos em que não é aplicado qualquer tipo pré-esforço, ou parafusos, nos casos em que este é aplicado. Existem resultados experimentais que permitem afirmar que, para laminados de carbono/epoxy, a resistência ao esmagamento de ligações com parafusos que apenas são ajustados à “mão livre” é muito superior à resistência de ligações efectuadas com pernos (sem qualquer tipo de aperto) (Collings 1977, Thoppul et al. 2009). Com o aumento do préesforço no parafuso a resistência ao esmagamento aumenta, chegando por vezes a ser quase o dobro da resistência de delaminação por esmagamento. Esta situação pode ser devida ao facto de o início da delaminação ser retardado pelo pré-esforço inicial, o que faz com que o modo de rotura seja progressivo e não catastrófico conforme se verifica nas ligações com pernos. Na ausência de travamento lateral, a resistência ao esmagamento é inversamente proporcional ao rácio d/t para a maioria dos materiais. Teoricamente, a máxima resistência ao esmagamento é atingida para d/t=1; sendo que a probabilidade de rotura por corte no perno/parafuso aumenta para d/t<1 (Akay e Kong Ah Mun 1995). Em laminados de CFRP, dependendo do tamanho do furo, foram registados aumentos de 60 a 170% na resistência ao esmagamento em ligação aparafusadas com momento de aperto nos parafusos que conduzem a uma tensão normal de confinamento de 22 MPa (Collings 1977). Ficou também demonstrado que o acréscimo de resistência para valores de momento de aperto superiores é residual e que o risco de o laminado ficar danificado aumenta, isto é, existe em cada caso um valor óptimo de momento de aperto acima do qual não se obtêm benefícios em termos de resistência. Tendo em conta que os materiais compósitos existentes hoje em dia resultam de métodos construtivos melhores que os usados à data em que estes resultados foram obtidos (década de 70) verifica-se que o valor 14 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão do pré-esforço de aperto para o qual se obtém a máxima resistência ao esmagamento sem danificar o laminado é superior a 22 MPa (Akay e Kong Ah Mun 1995). Dos parâmetros referidos, no âmbito deste trabalho, nomeadamente na campanha de ensaios de esmagamento em provetes de MDL, será dado especial enfoque à influência do pré-esforço na resistência ao esmagamento. 2.4 COMPORTAMENTO DA LIGAÇÃO DE FRP’s COLADOS AO BETÃO Conforme já foi referido, o presente trabalho tem como um dos objectivos a melhoria da técnica de reforço EBR através da aplicação de ancoragens mecânicas em adição à colagem. Neste capítulo apresentam-se alguns aspectos relacionados com ligação colada de laminados de FRP, com destaque para o problema do destacamento precoce desta, justificando-se assim a motivação deste trabalho. Desprezando outras acções externas, a resistência de uma ligação colada está associada à forma como se consegue garantir uma boa aderência entre os materiais envolvidos nessa ligação, coincidindo a máxima resistência da ligação com o menor valor de aderência entre as várias partes. O destacamento (perda de adesão) na ligação de FRP’s colados a elementos de betão pode assim ocorrer ao nível do betão, do adesivo e/ou do FRP (ver Figura 2.4). Em princípio, sendo este último o mais resistente dos três, a resistência ao destacamento da ligação não será condicionada pelo FRP. Contudo esta pode ocorrer, por exemplo, no caso de laminados multi-direccionais em que ocorra o destacamento na interface entre duas camadas consecutivas cujas fibras tenham diferente orientação (delaminação). Este problema em princípio não deverá ser colocado, se o material de reforço aplicado for correctamente fabricado. O destacamento ao nível do adesivo pode manifestar-se em três zonas distintas, nomeadamente, na interface entre este e o FRP, na interface entre este e o betão ou ainda no próprio adesivo. Os primeiros dois casos só ocorrem se o tratamento das superfícies não for devidamente executado. O aparecimento do último caso, de acordo com a pesquisa bibliográfica efectuada, ainda não foi reportado pelo que se pode considerar como um caso teórico. O destacamento ao nível da camada superficial de betão será, em princípio, o mais frequente, uma vez que este será o elo mais fraco no conjunto dos três constituintes da ligação, até porque, no cenário de aplicação deste tipo de sistemas de reforço, o material de base (betão) apresenta-se normalmente com propriedades inferiores às que tinha no estado virgem, devido ao desgaste proveniente da sua utilização, enquanto o material de reforço e o adesivo estarão ainda com as suas propriedades máximas. No âmbito do presente trabalho não são apresentadas considerações mais aprofundadas sobre o comportamento da ligação entre o FRP e o betão, visto que nos últimos anos este assunto tem sido substancialmente aprofundado. Informação relevante 15 Capítulo 2 – Conceitos Introdutórios nesta área poderá ser encontrada em vários documentos (e.g. FIB 2001, CNR-DT 200:2004, ACI 2008). Desintegração do betão de recobrimento Destacamento na interface adesivo-betão Destacamento do Adesivo Betão Adesivo FRP Destacamento do FRP Figura 2.4: Zonas de destacamento em ligações FRP/betão coladas (adaptado de CNR-DT 200:2004) Juvandes (1999) apresentou um resumo bastante abrangente dos principais tipos de ensaios já realizados com vista a caracterização, por via experimental, da aderência entre provetes de betão e placas de laminado de FRP. Os ensaios foram separados e designados de acordo com o tipo de carregamento principal do ensaio, nomeadamente, corte, flexão ou tracção, resultando três grupos de ensaios de aderência – ensaios de corte, de flexão ou ensaios directos de tracção e/ou torção (ensaios de arrancamento), respectivamente. No contexto do presente trabalho considerou-se que os sistemas mais eficazes e representativos do comportamento real da ligação FRP/betão são os ensaios de corte. Estes, segundo o mesmo autor, podem ser divididos em dois tipos de ensaios, de acordo com o número de superfícies de corte existentes nos provetes de betão. Surgem assim os modelos de junta simples ou de junta dupla. O sistema de ensaio adoptado neste trabalho trata-se de um modelo de corte com junta simples adaptado de um outro trabalho (Täljsten 1997). 16 3 DESENVOLVIMENTO DO MDL-CFRP 3.1 INTRODUÇÃO Conforme anteriormente referido, no âmbito do projecto em que este trabalho se insere foi necessário desenvolver um novo tipo de laminado multi-direccional. Foi também dito que os laminados de fibras de carbono são os que apresentam melhores propriedades mecânicas. Assim, ficou desde logo definido que o material de base para o novo laminado seria o CFRP. Dos vários métodos de produção de laminados existentes, aquele que revelou ser o mais vantajoso nesta fase foi o método de fabrico por autoclave. Embora existam outros métodos de fabrico mais competitivos em termos económicos, nomeadamente a pultrusão, o fabrico de laminados por autoclave, conduz a um produto final esbelto, com superfícies exteriores de acabamento regular e a nível interno bem consolidado, isto é, com índice de vazios relativamente baixo (Akay e Kong Ah Mun 1995). Collings (1977) desenvolveu um trabalho de investigação de modo a procurar determinar a configuração de laminado (orientação de cada lamina e número de lâminas) que melhor comportamento apresentasse para o caso de ligações aparafusadas. Verificouse que o melhor empilhamento de camadas a 0˚ e ±45˚, em termos de comportamento ao esmagamento, teria ente 30 a 50% de camadas a ±45˚. Assim sendo, tendo em conta as propriedades geométricas e mecânicas dos materiais seleccionados para fabricar o MDLCFRP optou-se pela configuração de empilhamento quasi-isotrópica apresentada na Figura 3.1. Com esta configuração consegue-se uma percentagem de camadas a ±45˚, em termos de volume, de cerca de 30 a 35%. O MDL-CFRP produzido é então constituído por duas camadas de pré-impregnado unidireccional de carbono/epoxy (SEAL, TEXIPREG® HS 160 REM) orientadas a ±45˚ em ambas as faces de uma camada de laminado unidireccional de carbono/epoxy (S&P, CFK® 150/2000) orientada a 0˚. No que se segue deste trabalho estes dois tipos de laminados serão referidos como HS e CFK, respectivamente, e o MDL-CFRP será abreviado para MDL. Com esta configuração pretende-se obter um material com propriedades ortotrópicas, isto é, um material que revele elevadas propriedades mecânicas na direcção das fibras de Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP Secção Transversal CFK e, ao mesmo tempo, consiga mobilizar alguma resistência na direcção ortogonal a esta, de modo a absorver a concentração de tensões provenientes das ligações aparafusadas. +45º TEXIPREG® HS 160 REM -45º 0º CFK® 150/2000 -45º TEXIPREG® HS 160 REM +45º Figura 3.1: Sequência de empilhamento das camadas que constituem o MDL Os dois constituintes do MDL eram fornecidos em rolo, tendo 600 mm e 120 mm de largura os rolos de HS e CFK, respectivamente. De acordo com os respectivos fabricantes, as propriedades destes dois materiais são as apresentadas na Tabela 3.1. Tabela 3.1: Propriedades dos materiais que constituem o MDL Propriedade Espessura [mm] CFK HS 1,4 0,15 Resistência tracção [MPa] 2000 1700 Modulo elasticidade [GPa] 165 150 3.2 PROGRAMA EXPERIMENTAL O programa experimental foi definido tendo como objectivo a caracterização geométrica e mecânica do MDL. Na Tabela 3.2 apresenta-se o programa experimental desenvolvido, bem como a designação de cada série, número de provetes e correspondente geometria. Tabela 3.2: Programa experimental Tipo Ensaio UDL MDL 18 Designação Nº Provetes Geometria [mm3] Propriedades Tracção 0˚ CFK-TP_d0 6 250 x 25 x 1.4 Propriedades Tracção 90˚ CFK-TP_d90 6 120 x 25 x 1.4 Propriedades Tracção 45˚ CFK-TP_d45 HS-TP_d45 6 6 140 x 25 x 1.4 120 x 25 x 1.4 Propriedades Flexão 0˚ CFK-FS_d0 6 60 x 20 x 1.4 Propriedades Tracção 0˚ MDL-TP_d0 6 250 x 25 x 1.4 Propriedades Tracção 90˚ MDL-TP_d90 6 120 x 25 x 1.4 Resistência Esmagamento MDL-BS_d0 6 175 x 60 x 2.2 Propriedades Flexão 0˚ 6 60 x 20 x 1.4 MDL-FP_d0 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão De acordo com as necessidades materiais definidas no programa de ensaios foram produzidas três placas de MDL das quais seriam extraídos os provetes de ensaio. Estes foram obtidos por corte a jacto de água das placas produzidas, tendo-se definido várias orientações do corte de acordo com o programa de ensaios definido. A produção das placas realizou-se no INEGI – Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial da Universidade do Porto. De acordo com as dimensões atrás referidas foi necessário fazer um arranjo geométrico nas camadas unidireccionais de modo a obter-se o empilhamento definido na Figura 3.1. Na Figura 3.2 é apresentada a forma como o arranjo geométrico foi realizado. No momento de cortar os provetes necessários das placas de MDL produzidas, excluiu-se a zona central destas por aí existir uma zona de sobreposição de HS. HS [+45º] HS [+45º] HS [-45º] HS [-45º] CFK [0º] HS [-45º] HS [-45º] HS [+45º] HS [+45º] Figura 3.2: Arranjo geométrico utilizado no fabrico das placas de MDL A análise do material incluiu a inspecção visual aos provetes, antes e depois dos ensaios, e os resultados obtidos a partir destes, nomeadamente os valores na rotura de força, tensão e extensão, e ainda o módulo de elasticidade. 3.3 PRODUÇÃO DO MDL O laminado multi-direccional foi produzido a partir de dois laminados diferentes que necessitaram de tratamentos diferenciados no momento da produção. O pré-impregnado de matriz epoxy é fornecido na forma de “tape” protegida com duas camadas de papel ou plástico. Enquanto não for utilizado deverá permanecer numa câmara climática a uma temperatura próxima dos -18˚C e ser retirado desta cerca de seis horas antes da sua utilização. Após o período de aquecimento à temperatura ambiente definido pelo fabricante, 19 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP o pré-impregnado foi cortado a 45˚. As películas protectoras foram removidas apenas no momento do empilhamento. O laminado unidireccional CFK é fornecido na forma de rolo sem qualquer tipo de protecção pelo que necessitou de cuidados adicionais. Primeiro foram cortadas do rolo três faixas com 1300 mm. Este comprimento foi essencialmente condicionado pelas dimensões operacionais do autoclave. De seguida estas foram lixadas com lixa fina (ver Figura 3.3a). A lixagem tem dois propósitos, remover quaisquer resíduos superficiais que pudessem dificultar o empilhamento e facultar alguma rugosidade à superfície do laminado de modo a melhorar a adesão entre as camadas. Por fim as placas foram limpas com acetona para remover os resíduos gerados na lixagem. O empilhamento das camadas foi efectuado numa maca própria para depois ser colocada no autoclave (Figura 3.3c). Na face da maca em contacto com o HS foi aplicado desmoldante e na sua periferia foi aplicada uma fita adesiva para funcionar como vedante. As camadas previamente cortadas foram empilhadas e compactadas de modo a evitar a formação de bolsas de ar na interface entre as camadas. Para conferir um acabamento rugoso, no topo do empilhamento foi ainda aplicada uma camada de peel-ply (Figura 3.3d) e, por cima desta, foi colocada uma chapa metálica, previamente untada com desmoldante (Figura 3.3b), para garantir uma distribuição uniforme da pressão ao longo do laminado durante o processo de cura. Por fim foram aplicados uma manta e um saco de vácuo colado nas fitas vedantes que haviam sido aplicadas na periferia da maca. No saco de vácuo foram colocados dois dispositivos que permitiram a ligação ao sistema de vácuo (Figura 3.3e). Após removido o ar no interior do saco, a maca foi introduzida no autoclave para se proceder à cura do sistema (Figura 3.3f). Durante este processo, devido ao aumento de temperatura e pressão, a resina do pré-impregnado fluidifica e espalha-se na interface entre as várias camadas, solidarizando-as e formando assim o produto final – MDL. O processo de cura compreende as seguintes etapas: • Aquecimento à taxa de 3˚C/min até 140 ˚C; • Patamar de 1 hora a 140 ˚C com 2 bar de pressão; • Arrefecimento à taxa de 3˚C/min até à temperatura ambiente. Após retirar a maca da máquina de autoclave desmoldou-se o sistema de modo a aceder às placas de MDL-CFRP produzidas. O processo de corte iniciou-se com o desenho em CAD dos provetes que se pretendiam extrair das placas de MDL-CFRP. Nesta fase foi necessário ter em conta a espessura da linha de corte gerada pelo jacto de água, de modo a que as dimensões obtidas coincidissem com a geometria final pretendida para cada provete. Foi necessário desenvolver um sistema de amarração das placas de MDL-CFRP durante o corte, uma vez que estas são muito leves e não estando fixas poderiam deslocar-se o que resultaria em cortes mal realizados. 20 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão A fase de corte expõe o MDL-CFRP ao contacto com grandes quantidades de água. Assim, após o corte, os provetes foram colocados numa câmara com ambiente controlado durante uma semana. (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 3.3: Processo fabrico do MDL: (a) lixagem das placas de CFK; (b) aplicação de desmoldante nas chapas metálicas; (c) empilhamento das camadas de CFK e HS; (d) aplicação de peel-ply no topo do empilhamento das camadas CFK e HS; (e) aplicação do saco de vácuo na fita adesiva aplicada na periferia da maca e aplicação dos dispositivos para fazer a ligação ao sistema de vácuo; (f) entrada da maca na máquina de autoclave 3.4 PROVETES DE ENSAIO De acordo com o programa de ensaios definido foi necessário cortar provetes dos três tipos de material, nomeadamente, HS, CFK e MDL. O processo de corte dos provetes unidireccionais foi idêntico ao atrás descrito para os provetes multi-direccionais. As dimensões foram definidas, sempre que possível, de acordo com as normas referentes a cada um dos ensaios realizados. Os provetes foram identificados de acordo com a nomenclatura M_E_d_i, em que: • M – Tipo de material usado, podendo este ser CFK, HS ou MDL; • E – Tipo de ensaio, podendo este ser TP, ensaio à tracção (Tensile Properties, na nomenclatura inglesa); FP, ensaio à flexão (Flexural Properties, na nomenclatura inglesa) ou BS, ensaio de esmagamento (Bearing Strength, na nomenclatura inglesa); 21 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP • d – Direcção de aplicação da força, em relação à orientação das fibras da camada de CFK (em graus); • i – Número de ordem do provete. 3.4.1 Ensaios de Tracção Os ensaios de tracção uniaxial efectuados foram definidos de modo a conseguir-se caracterizar satisfatoriamente o comportamento do MDL. A caracterização foi dividida em três séries diferentes de acordo com o ângulo definido entre as fibras da camada de CFK existente no núcleo do MDL e a direcção de aplicação do carregamento, nomeadamente, 0˚, 45˚ e 90˚. Os ensaios a 0˚ foram efectuados com CFK (uma camada orientada a 0˚ – ver Figura 3.4a) e MDL (ver Figura 3.4b) de modo a verificar a resposta destes para a direcção principal. De facto, aquando da aplicação do MDL nas faces do betão (elemento a reforçar), será esta a direcção mais solicitada. Adicionalmente foram também realizados ensaios com laminados de CFK de modo a determinar a contribuição deste na resistência à tracção a 0˚ do MDL. Os ensaios a 45˚ foram efectuados com CFK (uma camada orientada a 45˚ – ver Figura 3.4c) e HS (quatro camadas orientadas a ±45˚ – ver Figura 3.4d) de modo a procurar entender o comportamento destes para uma situação intermédia entre 0˚ e 90˚. Os ensaios a 90˚ foram efectuados com CFK (uma camada orientada a 90˚ – ver Figura 3.4e) e MDL (ver Figura 3.4f) de modo a avaliar o comportamento do MDL nesta direcção de carregamento e ainda verificar a contribuição da camada de CFK neste caso comparativamente às de HS avaliadas no cenário anterior. Na Figura 3.5 apresentam-se de forma esquemática os provetes extraídos de cada placa. (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 3.4: Séries de ensaio de tracção uniaxial: (a) CFK 0˚; (b) MDL 0˚; (c) CFK 45˚; (d) HS 45˚; (e) CFK 90˚; (f) MDL 90˚ 22 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Figura 3.5: Esquema de corte dos provetes de CFK, HS e MDL Todos os ensaios de tracção foram efectuados de acordo com a ISO 527-4 (1997). Na Figura 3.6 apresenta-se o esquema tipo dos provetes com indicação das dimensões relevantes, eixos de referência e “end tabs”. Na Tabela 3.3 apresentam-se os valores das dimensões recomendadas na norma e das dimensões dos provetes ensaiados. 2 LT L2 L3 end tab hT b1 1 LT Laminado h Figura 3.6: Geometria e eixos dos provetes para os ensaios de tracção Tabela 3.3: Dimensões dos provetes Variável Dimensões referidas na norma [mm] Dimensões dos provetes [mm] 0˚ 90˚ 0˚ 45˚ 90˚ L3 L2 250 150±1 250 150±1 250 150 140 80 120 60 b1 15±0,5 25±0,5 25 25 25 h* 1±0,2 2±0,2 ̶ ̶ ̶ LT ≥ 50 ≥ 50 50 30 30 hT 0,5 a 2 0,5 a 2 2 2 2 * A espessura h varia conforme se trate de CFK, HS ou MDL. Para cada um dos provetes foram efectuadas as medições das grandezas apresentadas na Figura 3.6, nomeadamente os comprimentos L2 e L3, e em três secções S1, S2 e S3, representadas na Figura 3.7, mediu-se a largura b1 e a espessura h. Todas as medições foram efectuadas com paquímetro digital, com leitura em [mm] e resolução de 23 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP 0,01 mm. Nas Tabelas 3.4 a 3.7, apresentam-se os resultados das medições dos provetes para os ensaios de tracção uniaxial. 5 5 S1 S2 S3 Figura 3.7: Secção medidas nos provetes Tabela 3.4: Medições efectuadas aos provetes de CFK e MDL para os ensaios de tracção a 0˚ Secção S1 Provete Secção S2 Secção S3 L2 L3 b1 h b1 h b1 h [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] CFK-TP_d0_1 140,0 240,0 22,50 1,41 22,49 1,40 22,51 1,41 CFK-TP_d0_2 147,0 247,0 22,65 1,41 22,57 1,40 22,69 1,41 CFK-TP_d0_3 148,5 248,5 22,59 1,42 22,41 1,42 22,43 1,42 CFK-TP_d0_4 147,0 247,0 22,48 1,41 22,52 1,40 22,45 1,41 MDL-TP_d0_1 149,5 249,5 24,56 2,04 24,58 2,07 24,50 2,06 MDL-TP_d0_2 149,0 249,0 24,25 2,02 24,27 2,05 24,30 1,98 MDL-TP_d0_3 149,5 249,5 24,33 2,01 24,40 2,05 24,40 2,05 Dimensões médias b1 h [mm] [mm] 22,50 1,41 (0,0%) (0,4%) 22,64 1,41 (0,3%) (0,4%) 22,48 1,42 (0,4%) (0,0%) 22,48 1,41 (0,2%) (0,4%) 24,55 2,06 (0,2%) (0,7%) 24,27 2,02 (0,1%) (1,7%) 24,38 2,04 (0,2%) (1,1%) Nota: Os valores dentro de parênteses correspondem aos respectivos coeficientes de variação. Tabela 3.5: Medições efectuadas aos provetes de CFK para os ensaios de tracção a 45˚ Secção S1 Provete Secção S2 Secção S3 L2 L3 b1 h b1 h b1 h [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] CFK-TP_d45_1 67,5 127,5 22,71 1,40 22,59 1,39 22,50 1,39 CFK-TP_d45_2 66,5 126,5 22,51 1,41 22,40 1,41 22,32 1,40 Dimensões médias b1 h [mm] [mm] 22,60 1,39 (0,5%) (0,4%) 22,41 1,41 (0,4%) (0,4%) Nota: Os valores dentro de parênteses correspondem aos respectivos coeficientes de variação. 24 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Tabela 3.6: Medições efectuadas aos provetes de HS para os ensaios de tracção a 45˚ Secção S1 Provete Secção S2 Secção S3 Dimensões médias L2 L3 b1 h b1 h b1 h [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] HS-TP_d45_1 59,0 119,0 24,25 0,66 24,29 0,69 24,30 0,64 HS-TP_d45_2 59,5 119,5 24,32 0,68 24,28 0,66 24,19 0,63 HS-TP_d45_3 57,5 117,5 26,70 0,63 26,90 0,67 26,73 0,66 HS-TP_d45_4 58,0 118,0 25,49 0,66 25,76 0,68 25,77 0,68 HS-TP_d45_5 58,5 118,5 25,67 0,66 25,60 0,69 25,33 0,66 HS-TP_d45_6 58,5 118,5 26,00 0,60 26,04 0,62 25,99 0,64 b1 [mm] h [mm] 24,28 0,66 (0,1%) (3,8%) 24,26 0,66 (0,3%) (3,8%) 26,78 0,65 (0,4%) (3,2%) 25,67 0,67 (0,6%) (1,7%) 25,53 0,67 (0,7%) (2,6%) 26,01 0,62 (0,1%) (3,2%) Nota: Os valores dentro de parênteses correspondem aos respectivos coeficientes de variação. Tabela 3.7: Medições efectuadas aos provetes de CFK e MDL para os ensaios de tracção a 90˚ Secção S1 Provete Secção S2 Secção S3 L2 L3 b1 h b1 h b1 h [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] CFK-TP_d90_1 57,5 117,5 26,97 1,48 26,77 1,50 26,80 1,51 MDL-TP_d90_1 59,6 120 24,68 2,39 24,72 2,39 24,79 2,37 MDL-TP_d90_2 58,5 119 24,74 2,07 24,81 2,10 24,68 2,09 MDL-TP_d90_3 58,5 119 24,72 2,08 24,74 2,11 24,61 2,06 MDL-TP_d90_4 58 118 26,48 2,44 26,54 2,42 26,07 2,31 MDL-TP_d90_5 58 118 26,07 2,31 26,10 2,38 26,09 2,36 MDL-TP_d90_6 59 119 25,85 2,15 25,70 2,22 26,58 2,19 Dimensões médias b1 h [mm] [mm] 26,85 1,50 (0,4%) (1,0%) 24,73 2,38 (0,2%) (0,5%) 24,74 2,09 (0,3%) (0,7%) 24,69 2,08 (0,3%) (1,2%) 26,36 2,39 (1,0%) (2,9%) 26,09 2,35 (0,1%) (1,5%) 26,04 2,19 (1,8%) (1,6%) Nota: Os valores dentro de parênteses correspondem aos respectivos coeficientes de variação. O valor médio da largura b1 de cada provete não sofreu grandes variações sendo o maior coeficiente de variação de 1,8%. Este dado revela a eficiência do método de corte adoptado já que se obtiveram provetes uniformes na direcção de maior extensão do corte. 25 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP O valor médio da espessura h dos provetes de CFK quase não varia uma vez que os provetes foram cortados directamente do material proveniente do fornecedor. Já os provetes de HS e MDL revelam algumas variações na espessura, fundamentalmente devido ao processo de fabrico. Contudo os valores obtidos nunca excederam os 4%. A zona de fixação dos provetes às amarras da máquina de tracção foi materializada, tal como atrás referido, através de “end tabs”. Os “end tabs” tinham espessura hT = 2,0 mm e comprimento LT = 50,0 mm ou LT = 30,0 mm conforme se trata-se de ensaios de tracção uniaxial a 0˚ ou a 45˚/90˚, respectivamente. O material escolhido para a realização destes foi uma liga de zinco (ver Figura 3.8). A principal função dos “end tabs” era minimizar a concentração de tensões na zona das amarras, resultantes do aperto destas, de modo a induzir a rotura na zona central do provete. (a) (b) Figura 3.8: Exemplo de provete para ensaios de tracção uniaxial (pormenor dos “end tabs”): (a) vista de cima; (b) vista lateral 3.4.2 Ensaios de Flexão Os ensaios de flexão foram efectuados em provetes de CFK e MDL. O principal propósito destes ensaios foi aferir a qualidade da ligação entre as camadas de HS e a camada central de CFK que constituem o MDL. Adicionalmente obteve-se o valor do módulo de elasticidade em flexão. Os ensaios foram realizados de acordo com a ASTM: D 790 – 03 (2006). Na Figura 3.9 apresenta-se a configuração de ensaio com indicação das dimensões relevantes. Os valores recomendados pela norma foram utilizados, nomeadamente, LT = 60,0 mm e LS = 40,0 mm, respectivamente, comprimento total do provete e vão do sistema de três pontos de carga usado no ensaio. S2 S3 b S1 LT (a) LS (b) Figura 3.9: Configuração dos ensaios de flexão: (a) Dimensões dos provetes (vista em planta); (b) Setup de ensaio (vista lateral) 26 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Para cada um dos provetes mediu-se a largura b e a espessura h nas secções dos apoios e do ponto de carga (meio vão). Os resultados das medições são apresentados na Tabela 3.8. As medições foram efectuadas com paquímetro digital, com leitura em [mm] e resolução de 0,01 mm. Tabela 3.8: Medições efectuadas aos provetes de flexão Secção S1 Provete b Secção S2 h b h Secção S3 b h [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] Dimensões médias b h [mm] [mm] CFK-FP_1 19,95 1,45 20,03 1,44 20,03 1,45 20,00 (0,2%) 1,45 (0,4%) CFK-FP_2 20,20 1,44 19,90 1,45 19,90 1,46 20,00 (0,9%) 1,45 (0,7%) CFK-FP_3 19,80 1,45 20,30 1,44 19,90 1,46 20,00 (1,3%) 1,45 (0,7%) CFK-FP_4 19,90 1,44 20,20 1,45 19,90 1,45 20,00 (0,9%) 1,45 (0,4%) MDL-FP_1 14,99 2,03 15,00 2,06 15,00 2,05 15,00 (0,0%) 2,05 (0,7%) MDL-FP_2 15,00 2,03 15,00 2,00 15,01 2,01 15,00 (0,0%) 2,01 (0,8%) MDL-FP_3 15,00 2,10 14,99 2,09 15,00 2,09 15,00 (0,0%) 2,09 (0,3%) Nota: Os valores dentro de parênteses correspondem aos respectivos coeficientes de variação. O valor médio da largura b e da espessura h de cada um dos provetes não sofreu grandes variações traduzindo a eficácia do método de corte utilizado. Nestes provetes não é tão evidente a influência do fabrico na espessura dos provetes, uma vez que o comprimento destes é mais pequeno comparativamente com os provetes dos ensaios de tracção. 3.4.3 Ensaios de Esmagamento A caracterização do MDL incluiu também a avaliação do seu comportamento mecânico ao esmagamento através da realização de ensaios de esmagamento. Para tal foram preparados seis provetes de MDL de acordo com as prescrições incluídas na norma ASTM D5961 – 05 (2005). Adicionalmente, como forma de verificar a importância da incorporação do HS, efectuaram-se ensaios de esmagamento em provetes de CFK. Embora não exista consenso quanto ao método mais eficiente para realizar a furação dos laminados, existe quanto à necessidade de esta ser bem executada pois tem influência directa nos resultados obtidos. No âmbito do presente trabalho foram realizados testes preliminares em partes de laminado que sobraram do corte dos provetes. Desses testes concluiu-se que o sistema de corte que conduzia a furos com superfície interna mais regular e com menor delaminação do bordo do furo era constituído por uma broca normal para madeira com a dimensão final do furo, máquina de furação de base fixa e suporte dos provetes no meio de duas placas de acrílico. A furação foi realizada de forma gradual de 27 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP modo a que o desperdício originado pudesse ir saindo da zona do furo em vez de ficar acumulado neste. As placas de acrílico têm como objectivo diminuir a delaminação provocada pela entrada (em cima) e pela saída (em baixo) da broca. Foram usadas placas de acrílico transparentes de modo a se poder localizar a marcação do furo. Na Figura 3.10 apresenta-se um esquema tipo dos provetes usados nos ensaios de esmagamento com indicação das dimensões relevantes. 2 1 LT L2 L3 end tab hT Laminado h 5 a1 w d a2 S1 S2 b S3 Figura 3.10: Geometria, eixos e dimensões dos provetes para os ensaios de esmagamento Nas Tabelas 3.9 e 3.10 apresentam-se os resultados das medições efectuadas aos provetes de CFK nas secções S1, S2 e S3, acima definidas, com um paquímetro digital com 0,01 mm de resolução. Tabela 3.9: Medições efectuadas aos provetes de esmagamento Secção S1 Secção S2 Secção S3 Dimensões médias Provete L2 L3 w h w h w h w h [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] 58,73 1,41 CFK-BS_1 124 174 58,85 1,41 58,60 1,41 58,75 1,41 (0,2%) CFK-BS_2 126 176 59,19 1,41 58,83 1,41 59,20 1,42 CFK-BS_3 128 178 57,76 1,42 58,30 1,42 59,40 1,41 CFK-BS_4 125 175 59,65 1,40 60,30 1,41 59,87 1,42 1,41 (0,4%) (0,4%) 58,49 1,42 (1,4%) (0,4%) 59,94 1,41 (0,6%) (0,7%) Nota: Os valores dentro de parênteses correspondem ao coeficiente de variação. 28 (0,0%) 59,07 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Tabela 3.10: Medições efectuadas aos provetes de esmagamento Secção S1 Secção S2 Secção S3 Dimensões médias Provete L2 L3 w h w h w h w h [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] 59,35 2,09 MDL-BS_1 124 174 59,37 2,08 59,37 2,10 59,32 2,08 (0,0%) MDL-BS_2 124 174 59,52 2,07 59,37 2,07 59,45 2,14 MDL-BS_3 125 175 59,30 2,06 59,32 2,13 59,38 2,10 MDL-BS_4 125 175 59,41 2,08 59,41 2,06 59,37 2,08 MDL-BS_5 124 174 59,41 2,05 59,22 2,06 59,33 2,05 MDL-BS_6 126 176 59,16 2,08 59,28 2,12 59,30 2,07 (0,6%) 59,45 2,09 (0,1%) (1,9%) 59,33 2,10 (0,1%) (1,7%) 59,40 2,07 (0,0%) (0,6%) 59,32 2,05 (0,2%) (0,3%) 59,25 2,09 (0,1%) (1,3%) Nota: Os valores dentro de parênteses correspondem ao coeficiente de variação. Na Tabela 3.11 são apresentadas as restantes medições efectuadas, nomeadamente, os valores de a1, a2 e b, que permitem definir a localização do furo, e ainda dm que é o valor médio do diâmetro do furo. Tabela 3.11: Medições efectuadas aos provetes de esmagamento Provete a1 [mm] Zona do Furo a2 b [mm] [mm] MDL-BS_1 25,16 24,29 25,42 9,85 MDL-BS_2 24,75 24,53 24,91 10,05 MDL-BS_3 24,44 24,91 24,80 10,00 MDL-BS_4 24,36 25,06 25,86 9,93 MDL-BS_5 25,09 24,34 25,02 9,99 MDL-BS_6 25,42 24,36 25,99 9,94 CFK-BS_1 23,54 25,07 25,89 9,88 CFK-BS_2 25,77 23,86 27,24 9,81 CFK-BS_3 24,86 24,57 29,25 9,85 CFK-BS_4 23,43 26,60 26,82 9,93 dm [mm] Pela variação do valor médio da largura b, pode-se dizer que o provete CFK-BS_3 apresenta defeito de corte comparativamente aos restantes, ainda assim não se trata de uma variação comprometedora dos resultados deste provete. Os parâmetros de definição do furo revelam alguns provetes com excentricidade do furo em relação ao eixo principal 1. Nestes houve o especial cuidado de tentar minimizar o efeito dessa excentricidade colocando-os no dispositivo de amarração de modo a anular a 29 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP excentricidade existente. Em relação ao furo, verifica-se que este está ligeiramente abaixo do diâmetro do parafuso utilizado (M10). Assim garante-se desde logo que o parafuso está em contacto com o laminado desde os primeiros instantes de ensaio. 3.5 CONFIGURAÇÃO DE ENSAIO A configuração de cada tipo de ensaio teve em conta as recomendações da respectiva norma nomeadamente no que diz respeito a velocidade de ensaio, parâmetros de aquisição de dados e setup de ensaio. Nas secções que se seguem é feita uma abordagem mais detalhada da configuração de ensaio utilizada em cada caso. 3.5.1 Ensaios de Tracção Devido ao nível de força expectável em cada uma das três séries de ensaios de tracção, estes tiveram de ser realizados em equipamentos diferentes. Os ensaios de tracção a 0˚ foram realizados numa prensa universal de fadiga com uma célula de carga de ±200 kN (precisão 0,5%). O ensaio foi realizado a uma velocidade de 2 mm/min sendo o controlo efectuado pelo transdutor interno do equipamento. A aquisição de dados incluiu o deslocamento interno do actuador, a força aplicada por este e, nos ensaios com aquisição de módulo de elasticidade, o “clip gauge” (precisão 0,2%). Os ensaios de tracção a 45˚ e 90˚ foram efectuados numa prensa com um servoactuador de tracção/compressão com uma célula de carga de 50 kN. O controlo dos ensaios foi efectuado com recurso a um transdutor externo (precisão 1,0 µm) colocado no equipamento de modo a melhorar o controlo já que as forças envolvidas nestes ensaios eram previsivelmente muito pequenas. A velocidade de ensaio foi igualmente menor, sendo 1 mm/min de acordo com a norma utilizada. As variáveis de aquisição utilizadas foram as mesmas que nos ensaios de tracção a 0˚, acrescidas do transdutor externo que foi usado nestes ensaios. Em ambos os casos, a aquisição dos vários parâmetros atrás referidos foi efectuada com uma frequência de 10 Hz até à rotura dos provetes com excepção para o caso dos provetes com “clip gauge”. De modo a não danificar o “clip gauge”, este foi utilizado apenas até ao instante em que se verificou uma variação do comprimento de referência, L0, de cerca de 0,30 mm, correspondente a uma extensão de 0,6% (ver Figura 3.11 e Figura 3.12). 2 1 L0 Figura 3.11: Comprimento L0 de medição do “clip gauge” 30 Comportamento da a ligação de laminados multi-direccionais multi direccionais colados e ancorados ao betão Na colocação dos provetes houve especial cuidado em garantir que o eixo do provete ficasse alinhado com o eixo da máquina e que o valor de força inicial fosse praticamente nulo. Iniciou-se a fixação do provete pelo aperto das cunhas inferiores e posteriormente posteriorm as superiores. Nos ensaios de tracção a 0˚ 0 ass cunhas eram fechadas pela actuação de um mecanismo hidráulico, garantido uma pressão inicial no “end tab” constante. Nos ensaios de tracção a 45˚ e 90˚ as cunhas eram fechadas manualmente. Após a conclusão do processo de fixação procedeu-se se à colocação do “clip gauge” e de seguida iniciou-se iniciou o ensaio. Figura 3.12: Medição com o “clip gauge” 3.5.2 Ensaios de Flexão actuador de tracção/compressão tr Os ensaios de flexão foram efectuados com um servo-actuador dispondo de uma célula de carga de 50 kN. O controlo dos ensaios foi efectuado por um transdutor externo (precisão 1,0 µm) m) acoplado ao equipamento. A velocidade de ensaio era variável, em função da geometria de cada provete, contudo mantinha-se se constante ao longo de cada ensaio. Segundo a norma utilizada, a velocidade de aplicação do carregamento deveria ser tal que a fibra mais externa do provete se deformasse a uma taxa de 0,01 mm/mm/min,, isto é, que a extensão dessa fibra fosse aumentando aumentando 1%/min. Assim sendo, de modo a ter em conta a diferente geometria de cada provete, o valor da velocidade de carregamento seria definido de d acordo com a expressão (3.1). R = (0, 0 1L2S ) 6 d (3.1) sendo, provete d – Espessura do provete; LS – Vão do ensaio (ver Figura 3.9b); apresentam se os valores da velocidade de ensaio adoptadas para Na Tabela 3.12 apresentam-se cada a provete calculada de acordo com a expressão (3.1). 1). O valor de LS mantinha-se 31 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP constante em todos os ensaios uma vez que este dependia do dispositivo utilizado nos ensaios, não permitindo este que esse valor variasse. As variáveis de aquisição utilizadas foram oram o deslocamento interno do actuador, a força medida por este e ainda o deslocamento do transdutor externo que havia sido acoplado ao actuador. Tabela 3.12: 3. Velocidade nos ensaios de flexão Provete d [mm] R [mm/min] CFK--FP_1 1,45 1,84 CFK--FP_2 1,45 1,84 CFK--FP_3 1,45 1,84 CFK--FP_4 1,45 1,84 MDL--FP_1 2,05 1,30 MDL--FP_2 2,01 1,33 MDL--FP_3 2,09 1,28 3.5.3. Ensaios de Esmagamento Os ensaios de esmagamento foram realizados num servo-actuador actuador de tracção/compressão tracção/compres com uma célula de carga de 300 kN. Para estes ensaios foi necessário desenvolver um conjunto de peças metálicas que permitissem a amarração dos provetes e outro que permitisse a colocação dos transdutores para se efectuar a aquisição de dados. dados Na Figura 3.13 apresenta-se se o aparato utilizado onde se pode identificar o sistema de aquisição, nomeadamente, as peças onde estão fixos os transdutores que lêem o deslocamento desloc relativo na zona do furo e as peças que estão fixas ao provete e servem de batente para os transdutores. Pode-se se ainda ver o sistema de amarras rotuladas que faz a ligação do provete ao actuador na zona dos “end tabs”. 1 2 3 4 Legenda: 1 – Laminado 2 – Batentes dos LVDTs 3 – Parafuso M10 4 – Peças que suportam os LVDTs (a) (b) Figura 3.13: Setup up dos ensaios de esmagamento: esmagamento (a) fotografia; (b) esquema da instrumentação na zona do furo 32 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Este sistema de amarração foi dimensionado admitindo que a zona crítica deste seria nos tirantes metálicos que unem as peças que fazem a amarração do provete na zona dos “end tabs” ao actuador (ver Figura 3.13a). As propriedades do aço utilizado para as peças que constituem este sistema, de acordo com os dados do fornecedor, são as apresentadas na Tabela 3.13. Tabela 3.13: Propriedades do aço utilizado no sistema de amarras rotuladas Dureza [MPa] Tensão de rotura [MPa] Tensão limite convencional de proporcionalidade a 0,2% [MPa] 290/330 1000/1150 930 Os tirantes foram modelados com recurso ao software de elementos finitos FEMIX 4.0 (Sena-Cruz et al. 2007). A estrutura foi modelada admitindo um comportamento em estado plano de tensão. Na Figura 3.14 ilustra-se a malha utilizada para modelar os tirantes. Os nós da metade inferior do furo de baixo (pontos a negro) foram impedidos de se deslocar segundo x3 e nos nós da metade superior do furo de cima (entre os pontos A e B) foi aplicado um carregamento distribuído na face dos elementos equivalente a uma força de 50kN. Na Figura 3.15 apresentam-se os resultados da modelação efectuada para a direcção em que os tirantes são mobilizados durante os ensaios. Estes revelaram deslocamentos quase nulos e tensão de cedência e correspondente extensão muito abaixo dos valores limite de ambos. A B x3 x1 x2 Figura 3.14: Malha e condições de apoio para a modelação dos tirantes 33 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP (a) (b) (c) Figura 3.15: Resultados da modelação dos tirantes para o sistema de amarras rotulada (direcção vertical): (a) deslocamentos [mm]; (b) Extensões [mm/mm]; (c) Tensões [MPa] O controlo dos ensaios foi efectuado por um transdutor externo (precisão 1,0 µm) acoplado ao equipamento. A velocidade de ensaio utilizada e recomendada na norma é de 2,0 mm/min. As variáveis de aquisição adoptadas foram o deslocamento interno do actuador e a força medida por este, o deslocamento do transdutor externo que havia sido acoplado ao actuador e ainda os deslocamentos medidos pelos dois transdutores colocados na zona do furo. 3.6 RESULTADOS Nas secções que se seguem são apresentados os principais resultados obtidos nos ensaios efectuados. Sobre estes são tecidas algumas considerações que ajudam a percebê-los. 3.6.1 Ensaios de Tracção A partir dos resultados dos ensaios de tracção uniaxial foi possível calcular algumas propriedades relevantes para a caracterização do material. Por série são apresentados os principais resultados obtidos, bem como os valores médios dos parâmetros calculados, e ainda as curvas que traduzem a relação entre a tensão e a extensão. A extensão aqui apresentada corresponde ao deslocamento registado pelo transdutor interno dividido pela distância inicial entre amarras. O referido deslocamento corresponde ao somatório da 34 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão variação de comprimento do provete com o deslizamento na zona de amarração e ainda com a deformação interna da máquina, i.e., corresponde ao deslocamento total do sistema. Conforme se pode constatar, no provete CFK-TP_d0_1 não foi feita aquisição de dados com o “clip gauge”. A explicação para isto prende-se com o facto de que, numa fase inicial, existia alguma incerteza quanto ao comportamento do material naqueles ensaios e não se querer danificar o equipamento. Assim sendo, em alguns casos optou-se por realizar os primeiros ensaios sem aquisição do “clip gauge”. Na Tabela 3.14 apresentam-se os resultados obtidos nos provetes de tracção a 0˚. Os parâmetros envolvidos nesta tabela são apresentados nas expressões (3.2) a (3.4). Tabela 3.14: Resultados dos ensaios de tracção a 0˚ Provete Ff ,m ax [kN] ff ,max [MPa] ε f ,f m ax [%] E [GPa] CFK-TP_d0_1 83,09 2625,39 n.d. n.d. CFK-TP_d0_2 76,08 2389,17 1,58 150,79 CFK-TP_d0_3 76,04 2382,33 1,47 161,73 CFK-TP_d0_4 74,05 2341,53 1,45 161,29 Média 77,32 2434,60 1,50 157,94 Desvio Padrão 3,97 128,92 0,07 6,19 CoV (%) 5,13 5,30 4,74 3,92 T-Student 70,99 2229,10 1,39 148,07 MDL-TP_d0_1 89,23 1767,40 1,49 118,73 MDL-TP_d0_2 95,90 1959,17 1,62 121,07 MDL-TP_d0_3 92,94 1872,09 1,64 114,46 Média 92,69 1866,22 1,58 118,08 Desvio Padrão 3,35 96,02 0,08 3,35 CoV (%) 3,61 5,15 5,08 2,84 T-Student 84,38 1627,67 1,38 109,76 Nota: n.d. – não disponível. O valor da força máxima, Ff ,m ax , foi obtido por leitura directa do valor máximo da força registada pela célula de carga ao longo de cada ensaio. A tensão normal máxima, ff ,max , foi calculada através do quociente entre a força máxima e a área média da secção transversal, A, de cada provete (ver Tabela 3.4): ff ,max = Ff ,m ax A (3.2) 35 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP A extensão de cada provete ao longo do ensaio, ε , para efeitos de determinação do módulo de elasticidade, foi determinada com base nos deslocamentos medidos pelo “clip gauge” e no comprimento de referência deste, L0, em que ∆ L 0 corresponde à variação do comprimento L0: ε = ∆ L0 L0 (3.3) A partir desta extensão foi possível determinar o módulo de elasticidade, E, sendo este igual ao valor do declive da recta obtida por regressão linear da curva em que esta extensão figura nas abcissas e a tensão nas ordenadas, para o intervalo entre ε 1 = 0,0005 e ε 2 = 0,0025 . A extensão correspondente ao valor da máxima tensão, ε f ,f m ax , foi determinada pelo quociente entre a tensão máxima e o módulo de elasticidade, atrás calculados: ε f ,f max = ff ,max E (3.4) Na Figura 3.16 apresenta-se a curva extensão versus tensão para os provetes de CFK ensaiados à tracção a 0˚ e na Figura 3.17 apresenta-se a mesma curva para os provetes de MDL também ensaiados à tracção a 0˚. 3000 CFK-TP_d0_1 CFK-TP_d0_2 CFK-TP_d0_3 CFK-TP_d0_4 Tensão, σ [MPa] 2500 2000 1500 1000 500 0 0 1 2 3 4 5 6 Extensão, ∆L/L [%] Figura 3.16: Resultados dos ensaios de tracção a 0˚ nos provetes de CFK 36 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão 2000 MDL-TP_d0_1 MDL-TP_d0_2 MDL-TP_d0_3 Tensão, σ [MPa] 1500 1000 500 0 0 2 4 6 8 Extensão, ∆L/L [%] Figura 3.17: Resultados dos ensaios de tracção a 0˚ nos provetes de CFK As curvas obtidas variam menos no caso dos provetes de CFK comparativamente com os de MDL, o que poderá estar associado ao facto de no CFK existir apenas uma camada de um único material e no MDL isso não acontecer. Todos os provetes de CFK tiveram um comportamento idêntico sendo este praticamente linear em termos de resposta tensão versus extensão até à rotura. O momento da rotura é identificável através do som típico de materiais frágeis que os provetes emitem instantes antes da rotura. Em alguns provetes de MDL (ver Figura 3.17) verifica-se a existência de dois “picos” na rotura contrariamente ao pico único dos provetes de CFK. Este comportamento deve-se à existência de duas respostas distintas na secção transversal do MDL, sendo o primeiro pico correspondente à rotura da camada central de CFK e o segundo a rotura das camadas externas de HS. O modo de rotura dos provetes de CFK é apresentado na Figura 3.18, sendo o modo de rotura I (Figura 3.18a) correspondente aos provetes 1 a 3 e o modo de rotura II (Figura 3.18b) correspondente ao provete 4. Também na Figura 3.18 (c e d) se apresenta o modo de rotura dos provetes de MDL. Este foi idêntico em todos os provetes e compreende dois instantes distintos, um primeiro em que ocorre a rotura tipo I já referida nos provetes de CFK, e um segundo instante em que, ao nível da zona central do provete, se dá a rotura de uma ou ambas as faces de HS. 37 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP (a) (b) (c) (d) Figura 3.18: Modos de rotura obtidos nos provetes de tracção a 0˚: (a) CFK, modo I; (b) CFK, modo II; (c) MDL, vista frente; (d) MDL, perfil Na Tabela 3.15 apresentam-se os resultados obtidos nos provetes de tracção a 45˚. Os parâmetros envolvidos foram obtidos de forma idêntica à apresentada para os provetes de tracção a 0˚. Os provetes de HS vieram confirmar aquilo que à partida se suspeitava, isto é, que a resistência à tracção a 0˚ do MDL é praticamente conseguida à custa do CFK. Se analisarmos em termos de valores médios, a força máxima à tracção a 0˚ do MDL foi de 92,69 kN enquanto a mesma força obtida para as quatro camadas de HS orientadas a ±45˚ foi apenas 2,24 kN, o que corresponde a cerca de 2,5% da força máxima do MDL a 0˚. Outra conclusão que daqui se retira é a de que, embora a contribuição individual das camadas externas de HS para a resistência à tracção a 0˚ seja residual, a sua contribuição em termos de conjunto (CFK + HS) é significativa, já que, comparando também em termos de valores médios, a força máxima obtidas no MDL (92,69 kN) é superior em cerca de 17% à soma das forças máximas obtidas no CFK (77,32 kN) e no HS (2,24 kN) individualmente. Dos seis provetes de CFK previstos para os ensaios a 45˚ apenas dois dos resultados foram considerados válidos. Este tipo de provetes é muito frágil pelo que alguns nem chegaram a ser ensaiados por já estarem danificados. 38 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Tabela 3.15: Resultados dos ensaios de tracção a 45˚ Provete Ff ,m ax [kN] ff ,max [MPa] ε f ,f m ax [%] E [GPa] CFK-TP_d45_1 1,07 34,08 0,40 8,43 CFK-TP_d45_2 1,13 35,88 0,45 7,93 Média 1,10 34,98 0,43 8,18 Desvio Padrão 0,04 1,27 0,03 0,35 CoV (%) HS-TP_d45_1 3,72 2,05 3,65 125,93 7,93 13,00* 4,29 n.d. HS-TP_d45_2 2,26 141,93 15,80* n.d. HS-TP_d45_3 2,30 126,32 9,37* 12,35 HS-TP_d45_4 2,25 130,10 10,67* 9,29 HS-TP_d45_5 2,32 121,25 10,50* 9,60 HS-TP_d45_6 2,16 134,13 9,88* 8,35 Média 2,22 129,94 11,54 9,90 Desvio Padrão 0,10 7,29 2,43 1,72 CoV (%) 4,58 5,61 21,08 17,37 T-Student 2,12 122,29 8,98 8,09 Nota: n.d. – não disponível. * A resposta nestes casos foi aproximadamente bi-linear pelo que, os valores das extensões correspondentes à máxima tensão, foram lidos nas curvas apresentadas na Figura 3.20. Na Figura 3.19 apresenta-se a curva extensão versus tensão para os provetes de CFK ensaiados à tracção a 45˚ e na Figura 3.20 apresenta-se a mesma curva para os provetes de HS também ensaiados à tracção a 45˚. 40 CFK-TP_d45_1 CFK-TP_d45_2 Tensão, σ [MPa] 30 20 10 0 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Extensão, ∆L/L [%] Figura 3.19: Resultados dos ensaios de tracção a 45˚ nos provetes de CFK 39 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP 150 Tensão, σ [MPa] 125 100 75 HS-TP_d45_1 HS-TP_d45_2 HS-TP_d45_3 HS-TP_d45_4 HS-TP_d45_5 HS-TP_d45_6 50 25 0 0 5 10 15 20 Extensão, ∆L/L [%] Figura 3.20: Resultados dos ensaios de tracção a 45˚ nos provetes de HS Na Figura 3.21 apresenta-se o modo de rotura tipo obtido nos provetes de CFK e de HS. Estas imagens vêm corroborar aquilo que os gráficos mostram, isto é, como os provetes de CFK só têm uma camada de material, assim que esta rompe a curva da força cai de forma abrupta. No caso dos provetes de HS, como existem quatro camadas de material a resistir, a primeira quebra na curva coincide com a rotura das duas camadas externas e a queda total da curva coincide com a rotura das camadas mais interiores. (a) (b) Figura 3.21: Modos de rotura obtidos nos provetes de tracção a 45˚: (a) CFK – vista frente; (b) CFK – perfil; (c) HS – vista frente; (d) HS – perfil 40 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Na Tabela 3.16 apresentam-se os resultados obtidos nos provetes de tracção a 90˚. Os parâmetros envolvidos foram obtidos de forma idêntica à apresentada para os provetes de tracção a 0˚. Tal como nos ensaios de tracção a 45˚, os ensaios a 90˚ revelaram-se muito difíceis de executar pois os provetes, para além de serem de dimensões reduzidas, são muito frágeis e requerem cuidado especial no seu manuseamento. Na Figura 3.22 apresentam-se as curvas extensão versus tensão para os provetes de MDL e CFK ensaiados à tracção a 90˚. Da análise destas curvas retiram-se duas conclusões importantes: a resistência do MDL a 90˚ é residual e a contribuição do CFK para a pouca resistência que o MDL revela a 90˚ é praticamente nula. Este último aspecto pode estar associado ao facto de as fibras criarem superfícies de descontinuidade na matriz, caso contrário, seria espectável que a resistência do CFK nesta direcção fosse próxima do valor da resistência à tracção da matriz, que é muito superior ao valor obtido. Na Figura 3.23 apresentam-se os modos de rotura verificados nos ensaios de tracção a 90˚. No MDL o modo de rotura é muito similar ao obtido caso anterior (provetes a 45˚), i.e., a capacidade de carga é esgotada em duas fases. A primeira fase, que corresponde à tensão máxima, ocorre na iminência da rotura da camada de CFK; na segunda fase, com a rotura da camada de HS, dá-se o esgotamento da capacidade de carga do provete. Tal comportamento é devido ao facto de, para a direcção a 90˚, o material CFK ter menor resistência que o material HS. Tabela 3.16: Resultados dos ensaios de tracção a 90˚ Provete Ff ,m ax [kN] ff ,max [MPa] ε f ,f m ax [%] E [GPa] MDL-TP_d90_1 2,89 48,98 n.d. n.d. MDL-TP_d90_2 2,57 49,73 n.d. n.d. MDL-TP_d90_3 2,31 45,00 n.d. n.d. MDL-TP_d90_4 2,54 40,30 0,57 7,08 MDL-TP_d90_5 3,50 57,13 0,72 7,93 MDL-TP_d90_6 3,40 59,69 0,63 9,54 Média 2,87 50,13 0,64 8,18 Desvio Padrão 0,49 7,28 0,08 1,25 CoV (%) 17,00 14,52 11,96 15,31 T-Student 2,36 42,50 0,45 5,07 CFK-TP_d90_1 0,13 3,52 0,14 2,54 Nota: n.d. – não disponível. 41 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP 60 MDL-TP_d90_1 MDL-TP_d90_2 MDL-TP_d90_3 MDL-TP_d90_4 MDL-TP_d90_5 MDL-TP_d90_6 Tensão, σ [MPa] 50 40 30 20 10 0 0 5 10 15 20 Extensão, ∆L/L [%] (a) 4 CFK-TP_d90_1 Tensão, σ [MPa] 3 2 1 0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 Extensão, ∆L/L [%] (b) Figura 3.22: Resultados dos ensaios de tracção a 90˚: (a) provetes de MDL; (b) provete de CFK (a) (b) (c) (d) Figura 3.23: Modos de rotura obtidos nos provetes de tracção a 90˚: (a) MDL – vista frente; (b) MDL – perfil; (c) CFK – vista frente; (d) CFK – perfil 42 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão 3.6.2 Ensaios de Flexão A partir dos resultados dos ensaios de flexão calcularam-se algumas propriedades importantes para a caracterização do material de acordo com as expressões indicadas na norma ASTM: D 790 – 03 (2006). Na Tabela 3.17 são apresentados os principais resultados obtidos, bem como os valores médios dos parâmetros calculados. Os parâmetros envolvidos nesta tabela são apresentados nas expressões (3.5) a (3.7). Tabela 3.17: Resultados dos ensaios de flexão Provete Ff ,m ax [N] ff ,max [MPa] ε f ,m ax [%] EB [GPa] CFK-FP_1 1098,00 1566,71 1,29 125,12 CFK-FP_2 1244,00 1775,03 1,44 130,16 CFK-FP_3 1218,00 1737,93 1,34 125,85 CFK-FP_4 1049,00 1496,79 1,35 124,40 Média 1152,25 1644,11 1,35 126,38 Desvio Padrão 93,71 133,71 0,06 2,58 CoV (%) 8,13 8,13 4,53 2,04 T-Student 1003,16 1431,38 1,25 122,27 MDL-FP_1 905,00 861,39 1,97 45,61 MDL-FP_2 865,00 856,41 1,70 48,75 MDL-FP_3 960,00 879,10 2,04 43,60 Média 910,00 865,64 1,90 45,99 Desvio Padrão 47,70 11,92 0,18 2,60 CoV (%) 5,24 1,38 9,39 5,65 T-Student 791,50 836,01 1,46 39,53 O valor da força máxima, Ff ,m ax , foi obtido por leitura directa do valor máximo da força registada ao longo de cada ensaio. A tensão normal máxima, ff ,max , na fibra mais exterior, corresponde ao máximo valor da tensão ff nessa fibra, calculado através da seguinte expressão: ff = 3 PL 2 bd 2 (3.5) sendo, P – Força registada pelo actuador em cada instante; L – Comprimento do vão de ensaio; b – Largura do provete; d – Espessura do provete. 43 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP A extensão máxima, ε f ,m ax , na fibra mais exterior, corresponde ao máximo valor da extensão nessa fibra, ε f , foi determinada da seguinte forma: ε f = 6 Dd L2 (3.6) sendo, D – Máxima deflexão registada no centro do provete; d – Espessura do provete; L – Comprimento do vão de ensaio. O valor do módulo de elasticidade em flexão, EB , foi calculado da seguinte forma: E B = L3 m 4 bd 3 (3.7) sendo, L – Comprimento do vão de ensaio; m – declive da recta inicial do gráfico deflexão/carregamento; b – Largura do provete; d – Espessura do provete. Na Figura 3.24 apresentam-se as curvas extensão versus tensão obtidas no CFK. 2000 CFK-FP_1 CFK-FP_2 CFK-FP_3 CFK-FP_4 Tensão, σ [MPa] 1500 1000 500 0 0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 Extensão, ε [mm/mm] Figura 3.24: Resultados dos ensaios de flexão nos provetes de CFK 44 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Na Figura 3.25 apresentam-se as curvas extensão versus tensão obtidas nos provetes de MDL. 1000 MDL-FP_1 MDL-FP_2 MDL-FP_3 Tensão, σ [MPa] 750 500 250 0 0.00 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 Extensão, ε [mm/mm] Figura 3.25: Resultados dos ensaios de flexão nos provetes de MDL As curvas obtidas são muito similares, quer ao nível dos provetes numa mesma série, quer entre séries. De acordo com o referido na norma, o valor do módulo de elasticidade determinado deveria ser semelhante ao valor do módulo de elasticidade longitudinal obtido nos ensaios de tracção a 0˚. Contudo isso não se verifica. Se no caso dos provetes de CFK essa diferença é significativa (cerca de 20%), nos provetes de MDL a diferença é ainda mais considerável (cerca de 60%). Da inspecção visual efectuada aos provetes de MDL (ver Figura 3.26), após a realização dos ensaios, foi possível concluir que a rotura prematura e o menor módulo de elasticidade (quando comparado com o obtido nos ensaios de tracção uniaxial) se devem fundamentalmente ao menos eficiente comportamento mecânico da interface HS/CFK para acções de flexão. Adicionalmente, o efeito de "cunha" do CFK na zona de aplicação da força promoveu, também, esta menor performance. (a) (b) (c) (d) Figura 3.26: Modos de rotura obtidos nos provetes de flexão: (a) MDL – vista superior; (b) MDL – vista frente; (c) CFK – vista superior; (d) CFK – vista frente 45 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP 3.6.3 Ensaios de Esmagamento Os ensaios de esmagamento, conforme atrás referido, foram divididos em três séries. Uma série de três provetes de MDL sem pré-esforço no parafuso, uma série de três provetes de MDL com um pré-esforço resultante da aplicação de um momento de aperto de 20Nxm e uma série de quatro provetes de CFK sem pré-esforço no parafuso. Por dificuldades técnicas, nas séries MDL apenas se obtiveram os valores de força e tensão de esmagamento máxima. Nos ensaios de CFK foi possível obter adicionalmente o valor da extensão de esmagamento correspondente ao ponto de ocorrência da tensão de esmagamento máxima. Os parâmetros referidos foram calculados de acordo com as expressões indicadas na norma ASTM D5961 – 05 (2005). Na Tabela 3.18 apresentam-se os resultados das séries com MDL sem (1 ao 3) e com (4 ao 6) pré-esforço de 20Nxm. Na Tabela 3.19 apresentam-se os resultados da séria com CFK. O valor da força máxima, Ff ,m ax , foi obtido por leitura directa do valor máximo da força registada ao longo de cada ensaio. Os restantes parâmetros foram calculados de acordo com as indicações da norma na qual os ensaios se basearam, nomeadamente, a ASTM D5961 – 05 (2005). Assim, a tensão de esmagamento máxima, ff ,bru , corresponde ao máximo valor da tensão, ff ,br , calculado da seguinte forma: ff ,br = P kDt (3.8) sendo, P – Força registada pelo actuador em cada instante; k – Factor que entra em conta com o numero de parafusos utilizados no ensaio, sendo k=1,0 se for usado um parafuso e k=2,0 no caso de serem utilizados dois parafusos; D – Diâmetro do furo; t – Espessura do provete. A extensão correspondente ao valor da máxima tensão, ε f ,fbru , corresponde ao valor da extensão, ε f ,fbr , calculada para o mesmo instante em que ff ,bru ocorre. Essa extensão foi calculada da seguinte forma: εf ,fbr = (δ1 + δ2 ) 2 kD 46 (3.9) Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão sendo, δ – Deslocamento medido pelos transdutores 1 e 2 colocados nas faces laterais do provete na zona do parafuso; k – Factor que entra em conta com o numero de parafusos utilizados no ensaio, sendo k=1,0 se for usado um parafuso e k=2,0 no caso de serem utilizados dois parafusos; D – Diâmetro do furo. Tabela 3.18: Resultados dos ensaios de esmagamento em provetes de MDL Ff ,m ax [kN] ff ,bru [MPa] Provete MDL-BS_d0_1 8,17 397,40 MDL-BS_d0_2 8,05 382,55 MDL-BS_d0_3 6,63 316,30 Média 7,62 365,41 Desvio Padrão 0,86 43,18 CoV (%) 11,25 11,82 T-Student 5,49 258,14 MDL-BS_d0_4 13,27 644,38 MDL-BS_d0_5 12,12 590,70 MDL-BS_d0_6 12,01 578,11 Média 12,47 604,40 Desvio Padrão 0,70 35,19 CoV (%) 5,60 5,82 T-Student 10,73 516,96 Tabela 3.19: Resultados dos ensaios de esmagamento em provetes de CFK Provete Ff ,m ax [kN] ff ,bru [MPa] ε f ,f m ax [%] CFK-BS_1 1,40 68,10 0,06 CFK-BS_2 1,96 93,14 0,11 CFK-BS_3 1,50 71,56 0,05 CFK-BS_4 2,19 106,34 0,10 Média 1,76 84,79 0,08 Desvio Padrão 0,38 18,15 0,03 CoV (%) 21,28 21,40 36,04 T-Student 0,83 39,70 0,01 47 Capítulo 3 – Desenvolvimento do MDL-CFRP Na Figura 3.27 apresentam-se as curvas que traduzem a relação entre a força e o deslocamento no transdutor de controlo para as três séries de ensaios. 14,0 MDL-BS_1 MDL-BS_2 MDL-BS_3 MDL-BS_4 MDL-BS_5 MDL-BS_6 Força [kN] 10,5 7,0 3,5 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 Deslocamento [mm] (a) 3,0 CFK-BS_1 CFK-BS_2 CFK-BS_3 CFK-BS_4 2,5 Força [kN] 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 Deslocamento [mm] (b) Figura 3.27: Resultados dos ensaios de esmagamento: (a) provetes de MDL; (b) provetes de CFK Pela análise dos resultados é possível concluir que o MDL apresenta uma resistência ao esmagamento cerca de quatro vezes superior à que se obtém no CFK. Por outro lado, a aplicação de pré-esforço à ancoragem conduziu a um aumento significativo da resistência 48 Comportamento da a ligação de laminados multi-direccionais multi direccionais colados e ancorados ao betão ao esmagamento, podendo-se podendo concluir que a aplicação de pré-esforço esforço às ancoragens conduz a benefícios importantes. Na Figura 3.28 apresentam-se apresentam se os modos de rotura obtidos. Em todos os ensaios efectuados ocorreu um modo de rotura misto com corte (“shearout”) e esmagamento (“bearing”). A componente de esmagamento ocorreu essencialmente nas camadas de HS, enquanto a rotura por corte se observou apenas na camada de CFK. Também se constatou que com a aplicação de pré-esforço pré à ancoragem, a “cunha” de rotura por corte é mais larga (ver Figura 3.28 b e Figura 3.28 3. c), corroborando os resultados numéricos méricos obtidos. (a) (b) (c) Figura 3.28: Modos de rotura obtidos nos ensaios de esmagamento: (a) vista global de todos os provetes; (b) provete (MDL-BS_1) (MDL sem aplicação de pré-esforço; esforço; (c) provete (MDL-BS_6) (MDL com aplicação de pré-esforço 49 4 REFORÇO COM MDL-CFRP 4.1 INTRODUÇÃO O objectivo do projecto em que esta dissertação se insere é o reforço de nós de pórticos de betão armado com laminados multi-direccionais de CFRP (MDL-CFRP) através da técnica de reforço MF-EBR, mais à frente explicada. O programa experimental que aqui se apresenta é relativo ao programa de ensaios preliminar realizado com vista a averiguar se a configuração de ensaio proposta é adequada para a caracterização da ligação entre laminados de MDL-CFRP e o betão. Adicionalmente pretende-se averiguar a importância de algumas propriedades, nomeadamente, o número de ancoragens e o nível de pré-esforço. Assim sendo, achou-se pertinente realizar uma campanha preliminar de ensaios de arranque, por estes serem representativos do tipo de comportamento expectável nos ensaios de grande dimensão previstos. O programa experimental teve como objectivo a caracterização do comportamento da ligação MDL/betão em provetes de betão reforçados com placas de MDL com diferentes configurações de reforço. Para isso foram betonados 10 provetes cúbicos com 200 mm de aresta e foram fabricadas 10 placas de MDL de acordo com a campanha experimental definida na Tabela 4.1. Tabela 4.1: Programa experimental de reforço com MDL Técnica Nº Largura MDL Momento Aperto Nº Designação de reforço Provetes [mm] Ancoragens [Nxm] EBR EBR 2 60 ̶ ̶ MF-EBR MF1-T0 3 60 1 0 MF-EBR MF1-T20 3 60 1 20 MF-EBR MF2-T0 1 60 2 0 MF-EBR MF2-T20 1 60 2 20 Capítulo 4 – Reforço com MDL-CFRP A análise do comportamento da ligação incluiu a inspecção visual aos provetes, antes e depois dos ensaios, e os resultados obtidos a partir destes, nomeadamente os valores na rotura e imediatamente após a rotura da força e do deslocamento. 4.2 PROVETES DE ENSAIO Os provetes de betão foram obtidos através da betonagem de moldes cúbicos com 200 mm de aresta de acordo com os procedimentos normais usados no fabrico de elementos de betão simples. Foram betonados 6 cilindros com 150 mm e 300 mm de diâmetro e altura, respectivamente, para caracterização do betão, e os 10 cubos com 200 mm x 200 mm x 200 mm, para a campanha experimental. Todos os provetes (cilíndricos e cúbicos) foram compactados com um vibrador de 2110 W de potência durante 30 segundos. Por fim, a superfície superior dos provetes foi manualmente regularizada. Os provetes foram deixados a curar à temperatura e humidade ambiente do laboratório e, uma semana depois foram descofrados. Para caracterizar a resistência à compressão (Figura 4.1a) e o valor do módulo de Young (Figura 4.1b) do betão foram realizados ensaios de compressão uniaxial aos 28 dias de idade do betão nos provetes cilíndricos de acordo com as indicações das normas NP EN 12390-3:2009 (2009) e LNEC E397-1993 (1993), respectivamente. Os ensaios de compressão foram realizados em controlo de força à velocidade de 0,5 MPa/s. (a) (b) Figura 4.1: Caracterização das propriedades mecânicas do betão: (a) ensaio para obtenção do módulo de elasticidade; (b) ensaio para obtenção da resistência à compressão do betão Para determinar o módulo de elasticidade, foram efectuados 5 ciclos de carga/descarga em cada provete cilíndrico (ver Figura 4.2). O valor do módulo de elasticidade foi obtido considerando apenas as zonas em carga (tramos rectos do gráfico em que o deslocamento aumenta). Para cada tramo, o critério de validação da leitura usado foi ε a − ε b ≤ 1× 10−5 , sendo ε a o valor da extensão média no ponto máximo da recta em carga (zona em patamar), e ε b o valor da extensão no ponto mínimo da recta em carga (ponto de 52 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão inflexão da recta em descarga para a recta em carga). Para os tramos válidos, o valor do módulo de elasticidade foi obtido através do quociente entre a diferença de tensões e extensões nos pontos extremos desse tramo, ME = (σ a − σ b ) ( ε a − ε b ) . O valor final do módulo de elasticidade para cada provete é igual ao obtido da forma acima descrita, para o segundo de dois tramos consecutivos válidos. A variação do comprimento da zona central dos provetes foi registada com a colocação de três LVDTs, espaçados 120º entre si (Figura 4.1b). Deslocamento [mm] 0,6 0,4 0,2 0,0 0 200 400 600 800 Ciclos Figura 4.2: Carregamento tipo usado na quantificação do módulo de elasticidade A classe de resistência do betão seleccionado foi a C20/25 por se tratar de uma classe média representativa dos cenários em que o sistema de reforço em estudo poderá ser aplicado. Os ensaios de caracterização do betão à compressão revelaram valores médios de 28,4±1.6 MPa e 29,8±0,29 GPa para resistência à compressão e módulo de elasticidade, respectivamente. Na data de realização dos ensaios de arranque estimou-se, de acordo com as expressões (3.1) e (3.2) da EN 1992-1-1:2004 (2004), o valor da resistência à compressão do betão, tendo-se obtido o valor de 32,8 MPa. As placas de MDL foram obtidas por corte, a jacto de água em placas de MDL produzidas e caracterizadas mecanicamente de acordo com o definido no Capitulo 3. O adesivo epoxy usado neste trabalho é do tipo S&P®Resin 220 epoxy adhesive. Este é fornecido em dois componentes separados, A e B, sendo depois misturados no momento da aplicação. A razão de mistura recomendada, em volume e em peso, é de 4 unidades de componente A por cada unidade de componente B. As propriedades indicadas pelo fornecedor para o adesivo usado são as apresentadas na Tabela 4.2. 53 Capítulo 4 – Reforço com MDL-CFRP Tabela 4.2: Propriedades do adesivo Resin 220 epoxy adhesive Propriedade 3 Valor Densidade [g/cm ] 1,75 Resistência Compressão [MPa] > 90 Resistência Tracção por Flexão [MPa] > 30 Resistência do Adesivo – betão; 3 dias; 20°C [MPa] 3 Resistência do Adesivo – Laminado CFK da S&P [MPa] 3 Validade do adesivo pronto [minutos] > 60 Idade mínima do betão antes aplicar adesivo [semanas] 3a6 Razão de mistura [A/B] 4/1 No âmbito do presente trabalho utilizou-se um sistema de ancoragens químicas Hilti®, constituído pelo químico HIT-HY 150, varões roscados M10 de classe 5.8 e anilhas de aba larga DIN9021. No anexo II encontram-se as propriedades de cada um dos componentes deste sistema, bem como as indicações de aplicação e dimensionamento do fabricante. A aplicação do reforço com recurso à técnica EBR compreendeu as seguintes principais etapas: • Marcação, na superfície do betão, da zona onde o MDL seria colado; • Tratamento dessa zona com recurso a um martelo de agulhas de modo a conferir alguma rugosidade e facilitar a aderência; • Limpeza da superfície com jacto de ar para remover os resíduos gerados na etapa anterior; • Aplicação de uma máscara com fita adesiva em torno da zona de colagem de modo a garantir que a área de colagem fosse a pretendida. Este procedimento realizava-se no betão e no MDL; • Aplicação do adesivo epoxy na zona de colagem dos dois materiais; • Colocação do MDL na zona de colagem e aplicação de uma pressão manual de modo a que este fique nivelado e a espessura da camada de epoxy seja aproximadamente 1 a 2 mm. A aplicação do reforço com recurso à técnica MF-EBR consistiu nas seguintes principais etapas: • Marcação, na superfície do betão, da zona onde o MDL seria colado; • Marcação do furo e realização do mesmo. A furação é feita a dois tempos, primeiro com recurso a uma broca de 6 mm até à profundidade recomendada e depois com uma broca de 12 mm para se obter o diâmetro final exigido. Durante a furação tentouse garantir a verticalidade do furo; • Tratamento da zona de colagem com recurso a um martelo de agulhas de modo a conferir alguma rugosidade e facilitar a aderência; 54 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão • Limpeza da superfície e do furo com jacto de ar para remover os resíduos gerados anteriormente; • Aplicação da ancoragem. Primeiro introduz-se o químico de acordo com a dosagem definida pelo fornecedor do mesmo, e de seguida aplica-se o parafuso até à profundidade pretendida. O químico aplicado necessitou de pelo menos uma semana de cura; • Marcação do furo no MDL, em função da posição final do furo no betão. A furação do MDL foi realizada numa máquina de furação de base fixa de modo a garantir que o furo ficasse onde desejado; • Aplicação de uma máscara com fita adesiva em torno da zona de colagem de modo a garantir que a área de colagem fosse a pretendida. Este procedimento realiza-se no betão e no MDL; • Aplicação do adesivo epoxy na zona de colagem dos dois materiais. No MDL houve especial cuidado para não obstruir o furo; • Colocação do MDL na zona de colagem através do parafuso e aplicação de uma pressão manual de modo a que este fique nivelado e a espessura da camada de epoxy seja aproximadamente 1 a 2 mm. (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 4.3: Aplicação do reforço de MDL nos provetes de betão simples: (a) aspecto dos provetes para EBR antes da aplicação do adesivo epoxy; (b) aplicação do adesivo epoxy nos provetes para EBR; (c) aspecto dos provetes para MF após aplicação do parafuso e cura do químico; (d) aplicação do adesivo epoxy nos provetes para MF; (e) aplicação do MDL já furado na zona definida pela máscara de fita adesiva; (f) aspecto final dos provetes já reforçados 55 Capítulo 4 – Reforço com MDL-CFRP Os provetes utilizados na presente campanha de ensaios foram identificados de acordo com a nomenclatura Rn-T_i, em que: • Rn – Técnica de reforço aplicada, podendo esta ser EBR ou MF-EBR; o índice n traduz o número de ancoragens aplicadas em cada caso; • T – Valor do pré-esforço aplicado nas ancoragens, representado pelo correspondente momento de aperto (em Nxm); • i – Número de ordem do provete. Na Figura 4.4 apresenta-se o esquema tipo dos provetes da série EBR com indicação das dimensões relevantes, eixos de referência e “end tabs”. Para cada provete foram efectuadas as medições apresentadas na Figura 4.4, nomeadamente os comprimentos L1 e L3, e em três secções S1, S2 e S3, mediu-se a largura b e a espessura h. Todas as medições foram efectuadas com paquímetro digital, com leitura em mm e resolução de 0,01 mm. Na Tabela 4.3, apresentam-se os resultados das medições efectuadas nos provetes da série EBR. 2 LT b 1 L2 L1 L3 end tab hT Laminado h 5 5 2 1 S1 S2 S3 Figura 4.4: Geometria, eixos e dimensões dos provetes para os ensaios da série EBR Tabela 4.3: Resultados das medições efectuadas nos provetes da série EBR Secção S1 Provete L1 L3 b h Secção S2 b h Secção S3 b h [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] Dimensões médias b h [mm] [mm] EBR_1 199,5 385,0 60,00 2,11 59,82 2,15 60,07 2,18 59,96 (0,2%) 2,15 (1,6%) EBR_2 200,0 386,0 60,17 2,10 60,17 2,14 60,03 2,14 60,12 (0,1%) 2,13 (1,1%) Nota: Os valores dentro de parêntesis correspondem aos respectivos coeficientes de variação. 56 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Na Figura 4.5 apresenta-se o esquema tipo dos provetes da série com uma ancoragem (MF1) com indicação das dimensões relevantes, eixos de referência e “end tabs”. Para cada provete foram efectuadas as medições apresentadas na Figura 4.5, nomeadamente os comprimentos L1 e L3, e em quatro secções S1, S2, S3 e S4, mediu-se a largura b e a espessura h. Todas as medições foram efectuadas com paquímetro digital, com leitura em mm e resolução de 0,01 mm. Nas tabelas 4.4 e 4.5, apresentam-se os resultados das medições efectuadas nos provetes da série MF1. 2 LT b 1 L2 L1 L3 end tab hT Laminado h 5 5 a1 d 2 b 1 a2 S1 S2 S3 S4 Figura 4.5: Geometria, eixos e dimensões dos provetes para os ensaios da série MF1 Tabela 4.4: Resultados das medições efectuadas nos provetes para a série MF1 Secção S1 Provete b h Secção S2 b h Secção S3 b h Secção S4 Dimensões médias b h [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] MF1-T0_1 58,01 2,02 58,71 2,01 59,00 2,05 58,98 2,01 MF1-T0_2 59,34 2,06 59,38 2,04 59,32 1,98 59,38 1,98 MF1-T0_3 58,88 2,06 59,91 2,10 60,58 2,07 61,32 2,10 MF1-T20_1 57,64 2,09 58,01 2,12 58,79 2,07 59,51 2,06 MF1-T20_2 59,67 2,09 59,75 2,08 59,62 2,08 59,96 2,05 MF1-T20_3 60,08 1,98 59,53 1,99 59,29 2,02 59,25 2,01 b h [mm] 58,68 [mm] 2,02 (0,8%) 59,36 (0,1%) 60,17 (1,7%) 58,49 (1,4%) 59,75 (0,3%) 59,54 (0,6%) (0,9%) 2,02 (2,0%) 2,08 (1,0%) 2,09 (1,3%) 2,08 (0,8%) 2,00 (0,9%) Nota: Os valores dentro de parêntesis correspondem aos respectivos coeficientes de variação. 57 Capítulo 4 – Reforço com MDL-CFRP Tabela 4.5: Resultados das medições efectuadas nos provetes para a série MF1 (continuação) Zona do Furo Provete L1 [mm] L3 [mm] a1 [mm] a2 [mm] b [mm] dm [mm] MF1-T0_1 200,0 399,5 24,56 24,74 93,93 9,95 MF1-T0_2 200,0 399,0 24,38 25,10 94,84 9,90 MF1-T0_3 200,0 399,0 24,51 26,04 93,97 9,89 MF1-T20_1 200,0 398,5 24,84 24,08 98,81 9,98 MF1-T20_2 199,5 399,0 24,11 25,79 93,04 9,87 MF1-T20_3 199,5 399,0 24,39 25,13 94,67 9,90 Na Figura 4.6 apresenta-se o esquema tipo dos provetes para a série MF com duas ancoragens (MF2) com indicação das dimensões relevantes, eixos de referência e “end tabs”. Para cada provete foram efectuadas as medições apresentadas na Figura 4.6, nomeadamente os comprimentos L1 e L3, e em cinco secções S1 a S5, mediu-se a largura b e a espessura h. Todas as medições foram efectuadas com paquímetro digital, com leitura em mm e resolução de 0,01 mm. Nas tabelas 4.6 e 4.7, apresentam-se os resultados das medições efectuadas nos provetes para a série MF2. 2 LT b 1 L2 L1 L3 hT end tab Laminado h a1 d1 2 b1 1 a2 S1 S2 a3 d2 b2 a4 S3 S4 Figura 4.6: Geometria, eixos e dimensões dos provetes para os ensaios da série MF2 Tabela 4.6: Resultados das medições efectuadas nos provetes para a série MF2 Dimensões médias Provete L1 L3 [mm] [mm] 58 b h [mm] [mm] MF2-T0_1 199 400 59,4 2,0 MF2-T20_1 191 399 59,6 2,0 S5 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Tabela 4.7: Resultados das medições efectuadas nos provetes para a série MF2 (continuação) Zona do Furo 1 Provete a1 a2 b1 Zona do Furo 2 d1m a3 a4 b2 d2m [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] [mm] MF2-T0_1 28,2 21,5 70,0 9,8 21,8 27,3 53,6 10,7 MF2-T20_1 24,2 24,4 47,5 11,5 25,3 24,4 66,2 9,9 4.3 CONFIGURAÇÃO DE ENSAIO Os ensaios foram realizados num pórtico com um servo-actuador de tracção/compressão com uma célula de carga de 300 kN. Neste tipo de ensaio foi utilizado o sistema de amarras rotuladas concebido e utilizado nos ensaios de esmagamento. O controlo dos ensaios foi efectuado por um transdutor externo (precisão 1,0 µm) acoplado ao equipamento. A velocidade de ensaio utilizada foi de 1 µm/s por se tratar de ensaios com betão nos quais se deve adoptar velocidades baixas e ainda por se estar a fazer o controlo fora da zona de carregamento e só com velocidades baixas se conseguir obter o máximo de informação nas zonas instrumentadas. A aquisição de dados incluiu o deslocamento interno do actuador e a força medida por este, o deslocamento do transdutor externo que havia sido acoplado ao actuador e ainda os deslocamentos medidos pelos transdutores colocados em diferentes zonas do provete consoante o tipo de ensaio. Nos ensaios da série EBR (ver Figura 4.7a) foram colocados dois transdutores, um em cada extremidade da ligação laminado/betão de modo a ler o comportamento da ligação nas duas extremidades, carregada e livre. Nos ensaios da série MF1 (ver Figura 4.7b) foram adoptados três transdutores, sendo dois colocados nas extremidades como no caso do EBR, e o terceiro colocado na zona da ancoragem. No caso da série MF2 (ver Figura 4.7c) foram adoptados quatro transdutores, sendo tudo idêntico à série MF1 com o quarto transdutor a servir para registar os deslocamentos na segunda ancoragem. Nas séries em que houve necessidade de aplicar pré-esforço, este foi aplicado em duas fases. Um primeiro aperto (20 Nxm) foi efectuado um dia antes da realização do respectivo ensaio e um segundo aperto foi dado no dia do ensaio, com o mesmo valor de momento de aperto. Para tal recorreu-se a uma chave dinamométrica com amplitude de 10 a 110 Nxm. Conforme já foi referido atrás e se poderá constatar mais à frente, o valor do préesforço tem influência nos resultados obtidos. 59 Capítulo 4 – Reforço com MDL-CFRP 60 60 60 LVDT2 LVDT4 80 100 LVDT1 60 LVDT2 LVDT2 LVDT3 60 LVDT3 100 LVDT1 200 LVDT1 80 F 80 F 80 F 200 200 200 (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 4.7: Configuração de ensaio: (a) Esquema da série EBR; (b) Esquema da série MF1; (c) Esquema da série MF2; (d) Foto da série EBR; (e) Foto da série MF1; (f) Foto da série MF2 De modo a perceber e ter controlo sobre o pré-esforço foram realizados alguns testes de calibração da chave dinamométrica usada. Estes testes consistiram no aperto de um parafuso igual aos usados na campanha de ensaios, estando este colocado no interior de uma célula de carga de 50 kN. Foram aplicados valores de momento de aperto de 10, 20, 30 e 40 Nxm no parafuso e, para cada um destes valores, foi registado o valor do pré-esforço (em kN) no parafuso que era lido pela célula de carga. Chegando ao valor máximo desaparafusava-se tudo e repetia-se o teste com um novo parafuso. Na Tabela 4.8 apresentam-se os resultados dos testes efectuados. Para cada teste apresenta-se a variação do valor do pré-esforço no parafuso em função da variação do momento de aperto aplicado. 60 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Tabela 4.8: Resultados dos testes de calibração da chave dinamométrica Momento de aperto [Nxm] Teste 10 20 30 40 1 2,74 4,64 7,14 8,50 2 3,02 5,40 8,60 9,60 3 5,00 6,60 8,30 10,03 4 2,30 4,40 6,23 8,30 5 2,70 4,44 5,78 9,00 Média 3,15 5,10 7,21 9,09 Desvio Padrão 1,06 0,93 1,24 0,73 CoV 33,8% 18,3% 17,2% 8,0% Na Figura 4.8 apresentam-se os mesmos resultados sob a forma de um gráfico modo a facilitar a interpretação dos resultados. Conforme se pode constatar o grau incerteza na aplicação do pré-esforço nos parafusos é considerável para valores momento de aperto baixos. Conforme este valor vai aumentando, diminui a variação valor do pré-esforço nos parafusos de teste para teste. 12 10 20 30 40 9 Força [kN] de de de do 6 3 0 0 1 2 3 4 5 6 Teste Figura 4.8: Resultados dos testes de calibração da chave dinamométrica 4.4 RESULTADOS Os ensaios de arranque com ancoragens, conforme atrás referido, foram divididos em três séries. Uma série de três provetes com apenas uma ancoragem sem pré-esforço (série 61 Capítulo 4 – Reforço com MDL-CFRP MF1-T0), uma série de três provetes com apenas uma ancoragem com pré-esforço equivalente a um momento de aperto de 20 Nxm (série MF1-T20) e uma série de dois provetes com duas ancoragens, um com e outro sem pré-esforço, MF2-T0 e MF2-T20, respectivamente. Para cada provete são de seguida apresentadas as curvas que traduzem a relação entre a força registada pela célula de carga e o deslizamento relativo entre o MDL e o betão nas zonas onde foram colocados LVDT’s (Curvas F-s). Nestas só se apresenta o comportamento até ao ponto de carga máxima. No anexo III é possível ver a totalidade do comportamento de cada provete. Por série são também apresentadas fotos relativas aos modos de rotura obtidos, uma vez que estes são idênticos em cada série. Na Figura 4.9 são apresentadas as curvas F-s dos provetes da série EBR. Constatase que a resposta nos dois provetes é bastante similar e quase linear até cerca de meio da carga máxima que cada um suporta. Constatou-se no final do ensaio que a camada de adesivo no provete EBR_1 era ligeiramente mais espessa que a camada de adesivo no provete EBR_2. Tal facto poderá ter contribuído para uma maior capacidade de carga do sistema. 25 Força [kN] 20 15 10 5 0 0,0 EBR_1 EBR_2 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 Deslocamento [mm] Figura 4.9: Curvas F-s (extremidade carregada) dos provetes da série EBR Na série MF1-T0 não são apresentados os resultados do provete MF1-T0_1 pois, tendo este sido o primeiro provete ensaiado, experimentou-se fazer o controlo do ensaio pelo transdutor colocado na extremidade carregada da ligação. Esta opção, embora teoricamente desejável, revelou-se na prática pouco fiável devido ao comportamento 62 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão 25 25 20 20 15 15 Força [kN] Força [kN] catastrófico da ligação perto da rotura. Na Figura 4.10 apresentam-se as curvas F-s para os provetes da série MF1-T0. 10 10 Carregada Ancoragem Livre 5 0 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 5 Ancoragem Livre 0 -0,02 0,4 0,00 30 25 25 20 20 15 10 Carregada Ancoragem Livre 5 0,0 0,1 0,2 0,3 Deslocamento [mm] (c) 0,04 0,06 (b) Força [kN] Força [kN] (a) 30 0 -0,1 0,02 Deslocamento [mm] Deslocamento [mm] 0,4 15 10 5 0,5 0 -0,04 Ancoragem Livre -0,02 0,00 0,02 0,04 Deslocamento [mm] (d) Figura 4.10: Curvas F-s: (a) MF1-T0_2 (Pico); (b) MF1-T0_2 (Pormenor); (c) MF1-T0_3 (Pico); (d) MF1-T0_3 (Pormenor) Como é possível observar nas curvas acima apresentadas, a resposta é não linear até ao pico. O facto de existir uma ancoragem a meio do comprimento de aderência fez com que a resposta tenha sido diferente da que normalmente ocorre nos casos típicos de reforço de acordo com a técnica EBR. A perda significativa de rigidez ocorre quando a “onda” de transferência de tensões tangenciais intercepta a ancoragem e está associada à perturbação do campo de tensões tangenciais criada por esta ancoragem. Esse aspecto é corroborado pelo facto de até esse nível de carga os deslizamentos nas zonas livre e da ancoragem serem praticamente nulos. É também possível observar que o deslizamento registado ao nível da zona de ancoragem sofre uma perturbação significativa, apresentando numa fase intermédia (aquando do evento referido anteriormente), um deslizamento contrário ao do resto das restantes zonas monitorizadas. 63 Capítulo 4 – Reforço com MDL-CFRP Nas figuras 4.11 a 4.13 apresentam-se as curvas F-s para os provetes da série MF1T20. Devido à dificuldade em garantir exactamente o mesmo pré-esforço em todos os provetes, não se verifica um comportamento tão regular como nos provetes da série MF1T0. 30 30 25 25 20 20 Força [kN] Força [kN] Com a série MF1-T20 é possível adicionar uma conclusão àquelas que foram atrás referidas. Verifica-se agora que, em termos gerais, a resposta é similar nas séries com e sem pré-esforço. A principal diferença é que esta resposta é mais suave nas séries com préesforço, não sendo tão vincado o ramo da curva a partir do qual a ancoragem entra em funcionamento. A principal razão para este comportamento está directamente ligada ao facto de o pré-esforço na ancoragem conduzir a um estado de tensão no laminado e, consequentemente na ligação, que reduz o efeito da descontinuidade física induzida pela ancoragem. 15 10 Carregada Ancoragem Livre 5 0 -0,1 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 15 10 5 0 -0,03 0,6 Ancoragem Livre -0,02 -0,01 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 Deslocamento [mm] Deslocamento [mm] (a) (b) 30 30 25 25 20 20 Força [kN] Força [kN] Figura 4.11: Curvas F-s: (a) MF1-T20_1 (Pico); (b) MF1-T20_1 (Pormenor) 15 10 Carregada Ancoragem Livre 5 0 -0,1 0,0 0,1 Deslocamento [mm] (a) 0,2 15 10 5 0,3 0 -0,02 Ancoragem Livre -0,01 0,00 0,01 Deslocamento [mm] (b) Figura 4.12: Curvas F-s: (a) MF1-T20_2 (Pico); (b) MF1-T20_2 (Pormenor) 64 0,02 0,03 25 25 20 20 15 15 Força [kN] Força [kN] Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão 10 5 Carregada Ancoragem Livre 5 0 -0,05 0,00 0,05 10 0 -0,04 0,10 Ancoragem Livre -0,02 0,00 0,02 0,04 Deslocamento [mm] Deslocamento [mm] (a) (b) Figura 4.13: Curvas F-s: (a) MF1-T20_3 (Pico); (b) MF1-T20_3 (Pormenor) Na Figura 4.14 apresentam-se as curvas F-s para os provetes da série MF2. Nestes casos não se apresentam gráficos com o pormenor do deslizamento relativo aos LVDT’s da extremidade livre e das ancoragens, uma vez que o deslizamento até se atingir o pico é muito baixo. 40 35 35 30 30 25 Força [kN] Força [kN] 25 20 15 5 0 -0,05 0,00 0,05 Deslocamento [mm] (a) 0,10 15 10 Carregada Ancoragem Cima Ancoragem Baixo Livre 10 20 Carregada Ancoragem Cima Livre 5 0,15 0 -0,05 0,00 0,05 0,10 0,15 Deslocamento [mm] (b) Figura 4.14: Curvas F-s: (a) MF2-T0_1; (b) MF2-T20_1 Para a série MF2 verifica-se que, além do aumento da capacidade de carga se observa que o deslizamento no início da zona carregada sofre variações consideráveis. Tal comportamento poderá ser devido a singularidades provocadas pelas ancoragens, bem como ao facto do MDL ser constituído por diferentes camadas e direcções, com eventuais deformações distintas. Na Figura 4.15 apresenta-se o modo de rotura típico observado em todos os ensaios de arranque efectuados, nomeadamente, o estado do provete de betão e de MDL no final do 65 Capítulo 4 – Reforço com MDL-CFRP ensaio. A partir destas fotos constata-se que a rotura ocorre na interface betão/epoxy. Na vizinhança das ancoragens é possível observar uma cor distinta das restantes zonas. Tratase do químico usado nas ancoragens. Refira-se ainda que se observou o esmagamento do laminado junto às zonas de ancoragem. (a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 4.15: Modo de rotura tipo dos provetes dos ensaios de arranque: (a) provete de betão EBR_2; (b) provete de betão MF1_T20_1; (c) provete de betão MF2_T20_1; (d) laminado MDL da série MF1 – vista de frente; (e) laminado MDL da série MF2 – vista de frente; (f) laminado MDL-CFRP – vista de lado (pormenor da camada superficial de betão arrancada) Na Tabela 4.9 sintetizam-se os principais resultados obtidos a partir dos ensaios de arranque efectuados. Assim, para cada provete inclui-se a força máxima obtida, Fmax, a força residual (após o pico), Fr, e os modos de rotura. 66 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Tabela 4.9: Principais resultados obtidos na campanha de ensaios de arranque Provete Fmax [kN] Fr [kN] Modo de rotura EBR_1 22,88 ̶ D EBR_2 20,34 ̶ D MF1-T0_1 26,08 1,50 (5,8%) D+E MF1-T0_2 23,56 4,27 (18,1%) D+E MF1-T0_3 28,36 4,51 (15,9%) D+E MF1-T20_1 28,50 17,04 (59,8%) D+E MF1-T20_2 27,76 7,45 (26,8%) D+E MF1-T20_3 23,57 12,64 (53,6%) D+E MF2-T0_1 35,76 25,73 (72,0%) D+E MF2-T20_1 33,51 28,64 (85,5%) D+E Nota 1: D = destacamento ao nível da interface betão/epoxy; D+E = destacamento ao nível da interface betão/epoxy + esmagamento do laminado ao nível da ancoragem. Nota 2: Os valores dentro de parênteses correspondem ao valor percentual de Fmax que Fr representa. Tal como seria de esperar, a inclusão de ancoragens conduziu a um acréscimo da capacidade de carga do sistema de reforço e também a um aumento significativo da resistência pós-pico. Os acréscimos médios de capacidade resistente, quando comparados com a técnica EBR, são de 20%, 23% e 60% para o caso das séries MF1_T0, MF1_T20 e MF2, respectivamente A partir destes resultados não é conclusivo que a aplicação de ancoragens préesforçadas conduza a maiores valores de resistência máxima, pois em termos médios verifica-se um acréscimo marginal. Tal facto poderá estar associado ao facto de haver alguma dificuldade em controlar, com rigor suficiente, o valor do momento de aperto aplicado. Por outro lado, após a conclusão dos ensaios os provetes foram analisados, tendo-se verificado que a aplicação do adesivo epoxy não foi feita de forma uniforme, o que poderá ter contribuído para uma maior dispersão dos resultados. 67 5 MODELAÇÃO NUMÉRICA 5.1 INTRODUÇÃO A utilização de ferramentas numéricas, nomeadamente a análise não linear material suportada no método dos elementos finitos, na simulação de estruturas ensaiadas experimentalmente apresenta inúmeras vantagens, destacando-se o facto de permitir uma melhor interpretação/análise dos resultados experimentais e a calibração de leis constitutivas para análises numéricas. Assim, neste capítulo detalham-se os resultados das simulações numéricas efectuadas relativamente a alguns dos ensaios experimentais realizados no âmbito da presente dissertação. Para tal foram seleccionados quatro dos ensaios realizados, nomeadamente, os ensaios de caracterização das propriedades à tracção do laminado unidireccional de CFK, do pré-impregnado unidireccional de HS e do MDL, e ainda os ensaios de caracterização do comportamento ao esmagamento do MDL. As simulações numéricas foram realizadas no software de elementos finitos FEMIX 4.0 (Sena-Cruz et al. 2007). Recorreu-se a elementos finitos do tipo casca plana (formulação de Reissner-Mindlin), com os seguintes principais pressupostos de cálculo (Barros 1995): • Os deslocamentos normais ao folheto médio da casca, de qualquer ponto da estrutura são pequenos quando comparados com a espessura desta e as inclinações do plano médio são pequenas quando comparadas com a unidade (hipótese das pequenas deformações); • Admite-se que as tensões normais ao folheto médio são nulas; • Uma “fibra” normal à superfície média do elemento indeformado mantêm-se rectilínea (não necessariamente ortogonal) a esta durante a deformação do elemento; • A espessura do elemento é dividida num determinado número de camadas, sendo a variação de cada propriedade, na espessura do elemento, avaliada pelos valores determinados na superfície média de cada camada. Em cada camada é admitido comportamento em estado plano de tensão. Foi implementado um modelo constitutivo no software FEMIX para a simulação de FRP’s, dado que este não dispunha de tal funcionalidade. A selecção do modelo baseou-se Capitulo 5 – Modelação Numérica na pesquisa efectuada na qual se concluiu que existem essencialmente três grupos de critérios de rotura para FRP's (Daniel e Ishai 1994): • Critérios de variáveis independentes (critério da tensão e extensão máxima); • Critérios quadráticos (Tsai-Wu, Hoffman e Tsai-Hill); • Critérios de interacção parcial (Puck simples, Puck modificado e Hashin). Por ser o critério de rotura mais simples de se implementar e apresentar resultados bastante razoáveis optou-se pelo critério de Tsai-Wu. A expressão geral deste critério de rotura bem como os coeficientes de Tsai-Wu (f1, f11, f2, f22, f6 e f66), admitindo comportamento em estado plano de tensão é definido pelas seguintes equações: 2 f = f11σ12 + f22σ 22 + f66τ12 + 2f12σ1σ 2 + f1σ1 + f2σ 2 + f6τ12 = 1 (5.1) f1 = 1 1 − F1t F1c (5.2) f11 = 1 F1t F1c (5.3) f2 = 1 1 − F2t F2c (5.4) f22 = 1 F2 t F2c (5.5) f66 = 1 F62 (5.6) f6 = 0 (5.7) Os parâmetros F1t, F1c, F2t, F2c e F6 presentes na formulação dos coeficientes de TsaiWu são as resistências elementares do material à tracção longitudinal (direcção da orientação das fibras), à compressão longitudinal, à tracção transversal, à compressão transversal e ao corte, respectivamente, definidas no sistema coordenado material. As restantes variáveis envolvidas na formulação (σ1, σ2 e τ12) correspondem às tensões normais (σ1, σ2) e de corte (τ12) em estado plano de tensão definidas no sistema coordenado material. 70 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão O parâmetro f12 da expressão geral pode ser obtido por duas formas. Se for possível realizar ensaios de tracção em que as fibras do material estejam orientadas 45˚ em relação à direcção de carregamento, obtendo-se assim o valor de F45t, usa-se a seguinte expressão (Daniel e Ishai 1994): f12 = 2 F425t F45t 1 − 2 1 1 1 1 F452 t − + − − 4 F1t F1c F2t F2c 1 1 1 + + 2 F1t F1c F2t F2c F6 (5.8) No caso de não ser possível obter a resistência à tracção a 45˚ e/ou no caso de este parâmetro não ser critico, pode-se utilizar a seguinte fórmula simplificada: f12 ≈ − 1 1 ( f11f22 ) 2 2 (5.9) Na Figura 5.1 apresentam-se, os sistemas coordenados intervenientes neste tipo de análise: sistema coordenado global (x1, x2, x3), sistema coordenado local (l1, l2, l3) e sistema coordenado material (m1, m2, m3). No sistema coordenado global é definida a geometria da estrutura em análise e o campo de deslocamentos generalizado, excepto as rotações de nós coplanares (Barros 2000). A formulação pelo método dos elementos finitos do elemento de casca plano no espaço é desenvolvida ao nível do sistema coordenado local (Barros 2000). O sistema coordenado material é utilizado para a definição da matriz constitutiva da lâmina (camada) e verificação do critério de rotura. m3 l3 m2 x3 l2 x2 θ m1 l1 x1 Figura 5.1: Sistemas coordenados utilizados Dado que o FEMIX já incluía todas as funcionalidades para inclusão de leis constitutivas em materiais ortotrópicos, apenas foi necessário implementar o critério de rotura atrás referido. Assim, na determinação das forças nodais equivalentes (Sena-Cruz 2005), quando num determinado ponto de integração e para uma determinada camada (lâmina) o critério era violado, i.e., f > 0, esta deixava de ter contribuição para os esforços internos no elemento finito em causa. Ao nível da matriz de rigidez optou-se, por 71 Capitulo 5 – Modelação Numérica razões de estabilidade numérica, por considerar uma matriz constitutiva residual de 0.1% da matriz constitutiva elástica ortotrópica. 5.2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE AS MODELAÇÕES EFECTUADAS Em todas as simulações efectuadas recorreu-se a elementos de casca plana (formulação de Reissner-Mindlin), sendo as malhas de elementos finitos definidas no plano x2, x3 (do sistema coordenado global x1, x2, x3). Utilizaram-se elementos finitos tipo Serendipity de quatros nós e uma integração numérica de Gauss-Legendre com 2×2 pontos de integração devido à estabilidade numérica que estes apresentam em análise não linear material. Para evitar instabilidades numéricas, todos os nós das malhas de elementos finitos, foram impedidos de se deslocar na direcção x1. Em todas as simulações a estrutura foi solicitada na direcção x2. No processo incremental iterativo utilizou-se o método Newton-Raphson geral para resolver o sistema de equações não lineares. Adoptou-se o critério de convergência em força, com uma tolerância de 1×10-3 (Sena-Cruz 2005). As simulações foram realizadas sob controlo de deslocamento prescrito até à rotura, definida como sendo o incremento a partir do qual não se obteve convergência. Optou-se por realizar a modelação numérica de forma faseada, começando pelos ensaios em que só existe um tipo de material envolvido (ensaios de tracção com CFK e HS) e, com as propriedades materiais calibradas nesses ensaios, avançando para os restantes casos. 5.3 ENSAIO DE TRACÇÃO UNIAXIAL DO LAMINADO CFK Para se modelar a série CFK-TP_d0 (ver Capítulo 3) adoptou-se uma malha de elementos finitos constituída por 96 elementos (24×4), simplesmente apoiada na direcção x2 nas extremidades esquerda e direita, como se ilustra Figura 5.2. De modo a garantir simetria e a isostaticidade da estrutura, ao longo do alinhamento horizontal intermédio, os nós foram impedidos de se deslocar na direcção x3. x3 x1 x2 Figura 5.2: Malha de elementos finitos adoptada para os ensaios de tracção uniaxial do CFK (série CFK-TP_d0) 72 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão A espessura da casca foi simulada com recurso a uma única camada com espessura constante de 1,4 mm. Devido à dificuldade em avaliar com rigor suficiente, não foram simuladas as condições reais de apoio, nomeadamente os end tabs, o efeito da pressão exercida pelas amarras e o escorregamento entre o laminado e os end tabs. Assim, o provete simulado tinha 150 mm × 25 mm (geometria inicial do provete descontando as zonas dos end tabs). Todavia, dado que os resultados numéricos são apenas comparados com os valores obtidos pelo clip gauge, colocado na zona central do provete, durante a realização dos ensaios experimentais, estes efeitos não têm qualquer significado. As propriedades mecânicas utilizadas para a simulação do laminado unidireccional de CFK são apresentadas na Tabela 5.1. Os valores de resistência à tracção longitudinal, módulo de elasticidade longitudinal e módulo de elasticidade transversal, foram obtidos com base nos resultados experimentais detalhados no Capítulo 3. Os restantes parâmetros foram adaptados de bibliografia existente com propriedades de laminados unidireccionais de carbono/epoxy (Daniel e Ishai 1994). Tabela 5.1: Propriedades do laminado unidireccional de CFK Propriedade Sigla Unidade Resistência à tracção longitudinal Resistência à compressão longitudinal Resistência à tracção transversal Resistência à compressão transversal Resistência ao corte Módulo de Young longitudinal Módulo de Young transversal Coeficiente de Poisson ν 12 Módulo de corte G12 Experimental Bibliografia Adoptado F1t MPa 2434,60 ± 128,92 - 2435 F1c MPa - 1440 1440 F2t MPa - 57 57 F2c MPa - 228 228 F6 MPa - 71 71 E1 GPa 157,94 ± 6,19 - 158 E2 GPa 2,54 - 3 - 0,28 0,28 - 7,2 7 GPa Na Figura 5.3 inclui-se a evolução do critério de rotura adoptado tendo por base as propriedades definidas na Tabela 5.1. Nesta figura o parâmetro k é dado pela relação τ12/F6. Na Figura 5.4 apresenta-se a curva extensão versus tensão obtida numericamente, bem como a envolvente experimental obtida nos ensaios de tracção uniaxial com CFK. Conforme se pode verificar a resposta é muito similar em termos de rigidez, resistência e deformação. 73 Capitulo 5 – Modelação Numérica 100 50 0 σ 2 [MPa] -50 -100 -150 -200 k=0,00 k=0,50 k=0,75 k=1,00 -250 -300 -3000 -2000 -1000 0 1000 2000 3000 σ1 [MPa] Figura 5.3: Critério de rotura adoptado para a simulação do laminado CFK, para diferentes valores de k 2500 Tensão, σ [MPa] 2000 1500 1000 500 0 0.0 Experimental Numérico 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 Extensão, ε [%] Figura 5.4: Gráfico extensão versus tensão para os ensaios de tracção uniaxial com CFK (comparação com o valor numérico obtido) 74 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão 5.4 ENSAIO DE TRACÇÃO UNIAXIAL DO LAMINADO HS Para modelar a série HS-TP_d45 (ver Capítulo 3) adoptou-se uma malha de elementos finitos constituída por 90 elementos (15×6) ilustrada na Figura 5.5. Adoptaram-se condições de apoio idênticas às da série anterior. x3 x1 x2 Figura 5.5: Malha de elementos finitos adoptada para os ensaios de tracção uniaxial do HS A espessura da casca foi simulada com recurso a quatro camadas com espessura constante de 0,15 mm. Os end tabs não foram simulados tal como no caso anterior. Assim, o provete simulado tinha 60 mm × 25 mm (geometria inicial do provete descontando as zonas dos end tabs). As propriedades mecânicas utilizadas para a simulação do laminado unidireccional de HS são apresentadas na Tabela 5.2. Estas foram adaptadas de um outro trabalho em que este material também é utilizado e extensivamente caracterizado (Tavares 2003). A única propriedade alterada foi a resistência à tracção transversal (F2t), cujo valor foi aumentado de 45 MPa para 80 MPa de modo a permitir melhor ajustar o resultado numérico ao experimental. O modelo de casca plana utilizado não consegue captar na totalidade a interacção entre as várias lâminas que constituem o laminado de HS, além disso, estando estas orientadas a ±45˚, esta limitação ainda se torna mais evidente. Para colmatar esta situação foi necessário aumentar a resistência à tracção transversal sendo que, apesar de não ser o valor de referência, é um valor bastante razoável para laminados pré-impregnados com teores de fibras usuais (60% a 70%). Na Figura 5.6 inclui-se a evolução do critério de rotura adoptado tendo por base as propriedades definidas na Tabela 5.1. Nesta figura o parâmetro k tem o mesmo significado que o definido na secção anterior. 75 Capitulo 5 – Modelação Numérica Tabela 5.2: Propriedades do laminado unidireccional de HS Propriedade Sigla Unidade Bibliografia Adoptado Resistência à tracção longitudinal F1t MPa 2406 ± 93 2406 Resistência à compressão longitudinal F1c MPa 697 ± 56 697 Resistência à tracção transversal F2t MPa 44,55 ± 2,8 80 Resistência à compressão transversal F2c MPa 140,9 ± 13,8 141 Resistência ao corte F6 MPa 43,3 ± 7,0 43 Módulo de Young longitudinal E1 GPa 131,6 ± 8,26 132 Módulo de Young transversal E2 GPa 8,68 ± 0,32 8 Coeficiente de Poisson ν 12 0,332 ± 0,042 0,33 Módulo de corte G12 3,53 ± 0,34 3 GPa 200 σ 2 [MPa] 100 0 -100 -200 -1000 k=0,00 k=0,50 k=0,75 k=1,00 0 1000 2000 3000 σ1 [MPa] Figura 5.6: Critério de rotura adoptado para a simulação do laminado HS, para diferentes valores de k Na Figura 5.7 apresenta-se a envolvente experimental em termos de extensão versus tensão obtida nos ensaios de tracção uniaxial com HS, e registada pelo clip gauge, e a curva obtida através do modelo numérico utilizado. Conforme apresentado no Capítulo 3, as curvas obtidas nos ensaios com HS a ±45˚ eram bi-lineares. O modelo computacional utilizado neste trabalho apenas permite obter a resposta para o primeiro tramo até ao momento em que ocorre a primeira não linearidade. 76 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão 100 Tensão, σ [MPa] 80 60 40 20 0 0.0 Experimental Numérico 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 Extensão, ε [%] Figura 5.7: Gráfico Extensão versus Tensão para os ensaios de tracção uniaxial com HS (comparação com o valor numérico obtido) 5.5 ENSAIO DE TRACÇÃO UNIAXIAL DO LAMINADO MDL Tendo por base as propriedades definidas nos dois casos anteriores (CFK e HS), foi modelado um provete de MDL para simular um ensaio de tracção uniaxial deste a 0˚. A geometria, a malha de elementos finitos utilizada e condições de apoio, para este caso eram iguais às anteriormente apresentadas para os provetes de CFK à tracção uniaxial (ver Figura 5.2). A espessura da casca foi simulada através de cinco camadas, quatro de HS com espessura igual a 0,15 mm e uma de CFK com 1,4 mm. A disposição das camadas foi a mesma que nos ensaios experimentais, i.e., uma camada de CFK na zona central com duas camadas de HS a ±45˚ em cada uma das suas faces. Uma vez que o modelo não consegue captar a interacção entre as diferentes camadas, a resposta do MDL será previsivelmente a soma das respostas numéricas obtidas no caso do CFK a 0˚ e das quatro camadas de HS a ±45˚, pelo que será ligeiramente inferior, em termos de rigidez, à resposta obtida em laboratório, como se pode constatar a partir da Figura 5.7. 77 Capitulo 5 – Modelação Numérica 2000 1750 Tensão, σ [MPa] 1500 1250 1000 750 500 Experimental Numérico 250 0 0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 Extensão, ε [%] Figura 5.8: Gráfico Extensão versus Tensão para os ensaios de tracção uniaxial com MDL (comparação com o valor numérico obtido) 5.6 ENSAIO DE ESMAGAMENTO DO LAMINADO MDL Para se modelar a série MDL-BS (ver Capítulo 3) adoptou-se uma malha de elementos finitos constituída por 392 elementos simplesmente apoiada na direcção x2, na extremidade esquerda e na zona do furo, como se ilustra na Figura 5.9. De modo a garantir a simetria e a isostaticidade da estrutura, ao longo do alinhamento horizontal intermédio, os nós foram impedidos de se deslocar na direcção x3. Nesta figura os nós apoiados estão representados por círculos pretos. A espessura da casca e as propriedades dos materiais são as mesmas que no caso anterior, Secção 5.5, uma vez que se trata do mesmo material. A geometria da malha é igual à dos provetes ensaiados subtraindo os end tabs, tal como nos casos anteriores. Para simular o ensaio de esmagamento foi aplicado um deslocamento prescrito segundo x2 nos apoios definidos na zona do furo (ver Figura 5.9). Por haver alguma incerteza quanto à melhor forma de simular as condições reais de carregamento foi realizada uma análise comparativa entre três cenários distintos. Um primeiro cenário em que foram bloqueados todos os nós da zona do furo indicados com um círculo negro na Figura 5.9 (CA_1), um segundo caso em que, comparativamente ao caso 1, se retiram os apoios A e B (CA_2) e um terceiro caso em que se retiram os apoios A a D (CA_3). 78 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão AB CD x3 x2 x1 Figura 5.9: Malha de elementos finitos adoptada para os ensaios de esmagamento do MDL Na Figura 5.10 apresentam-se os resultados das simulações efectuadas para os três casos referidos. Conforme se pode verificar, a resposta é, em termos globais, muito similar nos três casos. As principais diferenças surgem em alguns parâmetros notáveis como sejam o ponto de força máxima, que é bastante superior no caso CA_2 comparativamente aos restantes, e a rigidez, que é um pouco menor que no caso CA_1. Não foi efectuada uma comparação destas simulações com os resultados experimentais obtidos devido ao facto de nestes ensaios não ter sido possível utilizar a informação resultante da instrumentação que permitiria avaliar as deformações na zona do furo (ver Capítulo 3). Contudo, comparando o valor da força máxima obtido numericamente (5,7 kN) com o valor médio registado experimentalmente (7,6 kN) constata-se que a diferença é de cerca de 32%. 6000 CA_1 CA_2 CA_3 5000 Força [N] 4000 3000 2000 1000 0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 Deslocamento [mm] Figura 5.10: Gráfico deslocamento versus força para os ensaios de esmagamento com MDL (comparação entre os três casos com diferentes condições de apoio) 79 Capitulo 5 – Modelação Numérica Uma das razões para esta significativa diferença pode ser constatada através das deformadas obtidas nos três casos. Em qualquer dos casos verifica-se o avanço do material da periferia do furo para o interior do mesmo, sendo este avanço maior conforme se passa do caso CA_1 (ver Figura 5.11) para o CA_2 (ver Figura 5.12) e depois para o CA_3 (ver Figura 5.13). Tal situação constitui uma impossibilidade, visto que aí existe o parafuso. Contudo, a opção deste tipo de simulação deveu-se às limitações existentes no FEMIX. Figura 5.11: Deformada segundo x2 CA_1 Figura 5.12: Deformada segundo x2 CA_2 80 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão Figura 5.13: Deformada segundo x2 CA_3 Na Figura 5.14 representam-se os referenciais materiais para a camada de HS e para a camada de CFK de modo a facilitar a interpretação dos diagramas de tensões que posteriormente se apresentam para os três casos estudados. m2 m1 σ2 σ1 HS m2 σ 2 m1 CFK σ 1 Figura 5.14: Referencial material da camada de HS e da camada de CFK Na Figura 5.15 apresentam-se os digramas das tensões normais segundo o eixo material m1 (σ1) para as camadas de HS e CFK. Conforme se pode verificar, o valor desta tensão no CFK é muito superior comparativamente ao HS. 81 Capitulo 5 – Modelação Numérica (a) (b) Figura 5.15: Tensão normal σ1: (a) Camadas de HS; (b) Camada de CFK Na Figura 5.16 apresentam-se os digramas das tensões normais segundo o eixo material m2 (σ2) para as camadas de HS e CFK. Neste caso o valor maior diz respeito ao 82 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão HS, o que confirma que, tal como esperado, na direcção transversal o contributo do HS é muito significativo. (a) (b) Figura 5.16: Tensão normal σ2: (a) Camadas de HS; (b) Camada de CFK 83 Capitulo 5 – Modelação Numérica Na Figura 5.17 apresentam-se os digramas das tensões de corte (τ12) para as camadas de HS e CFK. Conforme se pode verificar, o valor desta tensão no CFK é muito superior ao verificado no HS. (a) (b) Figura 5.17: Tensão de corte τ12: (a) Camadas de HS; (b) Camada de CFK 84 6 CONCLUSÕES 6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho insere-se num projecto de investigação que visa estudar o comportamento de laminados multi-direccionais de CFRP (MDL-CFRP) ancorados e colados ao betão, no reforço de estruturas existentes de betão armado. Neste contexto e no âmbito da presente dissertação, foi desenvolvido e caracterizado o MDL-CFRP, bem como o comportamento da ligação entre este e o betão através de campanhas de ensaios experimentais. O MDL-CFRP é constituído por um laminado pré-fabricado unidireccional de carbono CFK 150/2000 (CFK) localizado ao nível do folheto médio e com as fibras a 0º. Em ambas as faces deste laminado são aplicadas duas camadas a ±45º de um pré-impregnado unidireccional de carbono/epoxy TEXIPREG HS 160 REM (HS). A espessura total do MDL é de 2.04 mm, dos quais 69% são relativos ao CFK. O processo de cura do MDL-CFRP foi realizado com recurso a autoclave. Efectuou-se a caracterização mecânica do MDL-CFRP através de ensaios para a avaliação das propriedades em tracção, flexão e esmagamento. Dos ensaios de tracção uniaxial efectuados obtiveram-se valores médios de resistência à tracção, módulo de elasticidade e extensão última iguais a 1866 MPa, 118 GPa e 1.58%, respectivamente. Nestes ensaios obtiveram-se modos de rotura típicos, nomadamente rotura das fibras do CFK e HS a meio do provete. Ainda no âmbito da caracterização uniaxial à tracção através de ensaios ao HS e CFK, verificou-se que este se funcionasse separadamente apenas de obteria cerca de 85% da capacidade que resulta do funcionamento em conjunto (MDL-CFRP). Da avaliação das propriedades à flexão foram obtidos os valores médios de tensão máxima e módulo de elasticidade de 866 MPa e 46 GPa, respectivamente. Estes valores ficaram aquém do expectável devido, fundamentalmente, ao menos bem conseguido comportamento da interface entre o HS e o CFK. Nestes casos a rotura iniciou-se na interface. Dos ensaios de Capitulo 6 – Conclusões resistência ao esmagamento, efectuados com parafusos com 10 mm de diâmetro, obteve-se uma tensão de esmagamento média de 316 MPa para os casos em que o aperto foi apenas manual. Nos casos em que se recorreu à aplicação de pré-esforço da ligação, obteve-se um valor médio de 604 MPa. A caracterização mecânica da ligação entre MDL-CFRP e o betão, através de um processo de fixação que recorre a ancoragens e colagem, foi efectuada através de ensaios de arranque directo. Procurou estudar-se a influência no comportamento da ligação em termos da técnica de reforço usada (EBR – Externally bonded reinforcement ou MF-EBR – Mechanically Fastened and Externally Bonded Reinforcement), do número de ancoragens e do nível de pré-esforço aplicado nestas. De uma forma geral poder-se-á dizer que, quando comparada com a técnica EBR, a utilização de ancoragens conduz a aumentos que variam entre os 20% (para uma única ancoragem) e os 60% (para duas ancoragens). A aplicação de pré-esforço às ancoragens não conduziu a aumentos significativos da capacidade de carga comparativamente ao uso de ancoragens sem pré-esforço. Contudo, com pré-esforço observou-se um aumento significativo da resistência pós-pico (um acréscimo de cerca de 60%). A resposta do sistema de reforço em termos de força de arranque versus deslizamento (F – s) é vincadamente não linear, marcada pela existência de ancoragens, observando-se aquando da entrada em serviço destas um ligeiro patamar nas curvas F – s. Tal patamar é muito menos expressivo nos casos em que a ancoragem é pré-esforçada. Por último será de referir que, com a geometria adoptada para o provete observou-se que ocorriam alguns movimentos de rotação não negligenciáveis, pelo que em futuros ensaios a geometria destes deverá ser revista. As simulações numéricas realizadas permitiram desde logo adicionar um novo modelo constitutivo à biblioteca do código computacional utilizado. Com base nos resultados experimentais obtidos na caracterização dos laminados (unidireccionais e multi-direccional) procurou-se calibrar e/ou validar a aplicação do modelo de casca plana para o cálculo de compósitos de matriz polimérica em estado plano de tensão. De um modo geral pode dizerse que o modelo apresenta algumas limitações na consideração da interacção entre várias camadas. No caso particular da lei constitutiva do material pode dizer-se que esta se ajusta bem traduzindo-se esse ajuste por valores das resistências na rotura bastante próximos do valor médio dessas mesmas resistências obtido experimentalmente. 6.2 FUTUROS DESENVOLVIMENTOS Habitualmente, os trabalhos de investigação procuram dar resposta a diversas perguntas que surgem ao longo dos mesmos. Contudo, na presente dissertação, face ao carácter inovador do tema no qual se insere, surgiram diversas perguntas para as quais ainda não 86 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão existem respostas. Assim, considera-se fundamental que este trabalho tenha continuidade dando especial enfoque nos seguintes tópicos: • • • Desenvolvimento de campanhas de ensaios experimentais adicionais e completares de caracterização do laminado unidireccional em termos de propriedades à tracção e resistência ao esmagamento. No caso particular da resistência ao esmagamento, deverão ser desenvolvidas campanhas de ensaios de modo a avaliar os rácios geométricos críticos (e/d e w/d) e permitir determinar as tensões de rotura por tracção, corte e esmagamento; Realização de um programa experimental mais extenso de estudo da ligação de laminados multi-direccionais de CFRP colados e ancorados ao betão de modo a avaliar a influência do valor do momento de aperto na ancoragem (pré-esforço), da disposição e número de ancoragens. Adicionalmente, deverá ser previsto o desenvolvimento de um provete mais alongado de modo a minimizar os efeitos de rotação do mesmo; No que respeita aos estudos numéricos, deverão ser adicionadas novas funcionalidades ao FEMIX de modo a que seja possível efectuar simulações numéricas com elementos de volume e ainda a implementação de elementos de interface adequados à simulação do comportamento real de ensaios de esmagamento. 87 REFERÊNCIAS ACI Committee 440 (2002), “Guide of the design and construction of externally bonded FRP systems for strengthening concrete structures”, ACI. ACI Committee 440.2R-08 (2008), “Guide for the Design and Construction of Externally Bonded FRP Systems for Strengthening Concrete Structures, ACI. Akay, M., Kong Ah Mun, S. (1995), "Bearing strength of autoclave and oven cured Kevlar/epoxy laminates under static and dynamic loading" Composites, 26, pp. 451456. ASTM D 618-05 (2005), “Standard practice for conditioning plastics for testing” Vol.8.01. Plastics, ASTM International, West Conshohocken, PA. ASTM D 790 – 03 (2006), “Standard test methods for flexural properties of unreinforced and reinforced plastics and electrical insulating materials” Vol.8.01. Plastics, ASTM International, West Conshohocken, PA. ASTM D2990 – 01 (2001), “Standard test methods for tensile, compressive, and flexural creep and creep-rupture of plastics” Vol.8.01. Plastics, ASTM International, West Conshohocken, PA. ASTM D3039/D3039M-00 (2006), “Standard test method for tensile properties of polymer– matrix composite materials” Vol.15.03. Composite Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA. ASTM D3410/D3410M-03 (2003), “Standard test method for compressive properties of polymer matrix composite materials with unsupported gage section by shear loading” Vol.15.03. Composite Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA. ASTM D5766/D5766M-02a (2007), “Standard test method for open hole tensile strength of polymer–matrix composite laminates” Vol.15.03. Composite Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA. ASTM D5961/D5961M-05e1 (2005) “Standard test method for bearing response of polymer– matrix composite laminates” Vol.15.03. Composite Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA. Referências ASTM D6484/D6484M-04 (2004), “Standard test method for open-hole compressive strength of polymer–matrix composite laminates” Vol.15.03. Composite Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA. ASTM D6742/D6742M-02 (2007), “Standard practice for filled-hole tension and compression testing of polymer–matrix composite laminates” Vol.15.03. Composite Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA. ASTM D6873-03 (2003), “Standard practice for bearing fatigue response of polymer–matrix composite laminates” Vol.15.03. Composite Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA. ASTM D7332/D7332M-07 (2007), “Standard test method for measuring the fastener pullthrough resistance of a fiber-reinforced polymer–matrix composite” Vol.15.03. Composite Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA. Barros, J.A.O. (1995), “Comportamento do betão reforçado com fibras. Análise experimental e simulação numérica.” Tese de Doutoramento, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Barros, J.A.O. (2000), “Lajes e cascas segundo o método dos elementos finitos” Relatório 00-DEC/E-2, Universidade do Minho, Departamento de Engenharia Civil, 132 pp. Barros, J.A.O. (2004), “Materiais compósitos no reforço de estruturas”, Jornadas de Engenharia Civil 2004, Guimarães, 14 p. CNR-DT 200/2004 (2004), “Guide for the Design and Construction of Externally Bonded FRP Systems for Strengthening Existing Structures”, Itália. Collings, T.A. (1977), "The Strength of Bolted Joints in Multi-Directional CFRP Laminates" Composites, 8, p. 43-54. Daniel, M.I.; Ishai, O. (1994), “Engineering Mechanics of Composite Materials” Oxford University Press, pp. 395. Dias, S.J.E.; Barros, J.A.O. (2004), “Materiais compósitos de CFRP no reforço ao corte de vigas de betão armado”, Relatório técnico 04-DEC/E-03, DEC-EEUM, 66 pp. EN 1992-1-1:2004. “Eurocode 2: Design of concrete structures - Part 1-1: General rules and rules for buildings” European Committee for Standardization. FIB (2001), “Externally bonded FRP reinforcement for RC structures”, Technical report prepared by a working party of Task Group 9.3 FRP reinforcement for concrete structures. FIB (2007), “FRP reinforcement in RC structures” Technical report prepared by a working party of Task Group 9.3, FRP reinforcement of concrete structures. Hejll, A.; Täljsten, B.; Motavalli, M. (2005), “Large scale hybrid FRP composite girders for use in bridge structures – theory, test and field application”, Composites: Part B, volume 36, pp 573–585. 90 Comportamento da ligação de laminados multi-direccionais colados e ancorados ao betão ISO 178:2001, “Plastics – Determination of flexural properties” International Organization for Standardization (ISO), Genève, Switzerland. ISO 291:2008, “Plastics – Standard atmospheres for conditioning and testing” International Organization for Standardization (ISO), Genève, Switzerland. ISO 527:1993 (E), “Plastics – Determination of tensile properties” International Organization for Standardization (ISO), Genève, Switzerland. ISO 13003:2003, “Fibre-reinforced plastics – Determination of fatigue properties under cyclic loading conditions” International Organization for Standardization (ISO), Genève, Switzerland. ISO 14126:1999 (E), “Fibre-reinforced plastic composites – Determination of compressive properties in the in-plane direction” International Organization for Standardization (ISO), Genève, Switzerland. Juvandes, L. (1999), “Reforço e Reabilitação de Estruturas de Betão Usando Materiais Compósitos de "CFRP"” Tese de Doutoramento, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, Setembro, 396 pp. LNEC E397-1993 (1993), “Concrete - Determination of the elasticity young modulus under compression” Portuguese specification from LNEC. NP EN 12390-3:2009 (2009), “Testing hardened concrete. Part 3: Compressive strength of test specimens”. Santiago, M.O. (1998), “Los Composites, Nuevos Materials de la Construcción: Compósites y Características Técnicas” Livres de actes de la II Conference Internationale Sur, Bordeaux, Outubro, pp.17-41. Selzer, R., Friedrich, K. (1997) "Mechanical properties and failure behaviour of carbon fibre-reinforced polymer composites under the influence of moisture", Composites Part A, 28A, pp. 595-604. Sena Cruz, J.M. (2005) “Strengthening of concrete structures with near-surface mounted CFRP laminate strips.” Dissertação para obtenção do grau de Doutor em Engenharia Civil pela Universidade do Minho, 198 pp. Sena-Cruz, J.M., Barros, J.A.O., Azevedo, A.F.M., Ventura Gouveia, A. (2007), “Numerical simulation of the nonlinear behavior of RC beams strengthened with NSM CFRP strips.” CMNE/CILAMCE 2007, Artigo nº 485 published in CD – FEUP, Porto, 20 pp. Shen, C.H., Springer, G.S. (1981), "Environmental Effects on Composite Materials" G.S. Springer (Ed.), Technomic Publishing Co., Inc., Lancaster, PA, pp. 15–33. Tavares, C. M. L. (2003), "Efeito da utilização de insertos metálicos nas características de juntas aparafusadas em compósitos" Tese de Mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Departamento de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial. 91 Referências Täljsten, B. (1997) “Defining anchor lengths of steel and CFRP plates bonded to concrete” International Journal of Adhesion and Adhesives, 17(4), 319-327. Thoppul, S.D.; Finegan, J.; Gibson, R.F. (2009), “Mechanics of mechanically fastened joints in polymer–matrix composite structures – A review.” Composites Science and Technology, 69, 301–329. 92 ANEXO I FICHA TÉCNICA DO LAMINADO UNIDIRECCIONAL CFK E DO PRÉ-IMPREGNADO HS Anexo I 95 Anexo I 96 Anexo I 97 Anexo I 98 ANEXO II FICHA TÉCNICA DO SISTEMA DE ANCORAGEM QUÍMICA UTILIZADO Anexo II 102 Anexo II 103 Anexo II 104 Anexo II 105 Anexo II 106 Anexo II 107 Anexo II 108 Anexo II 109 ANEXO III RESULTADOS TOTAIS DOS ENSAIOS DE ARRANQUE Anexo III Gráficos Totais da Série EBR 25 EBR_1 Força [kN] 20 15 10 5 0 0,0 0,5 1,0 1,5 Deslocamento [mm] EBR_1 25 EBR_2 Força [kN] 20 15 10 5 0 0,0 0,5 1,0 1,5 Deslocamento [mm] EBR_2 113 Anexo III Gráficos Totais da Série MF1 25 30 Carregada Ancoragem Livre 20 Carregada Ancoragem Livre 25 Força [kN] Força [kN] 20 15 10 5 15 10 5 0 0 -1 0 1 2 3 4 5 -1 0 1 2 Deslocamento [mm] MF1-T0_2 5 6 30 Carregada Ancoragem Livre 25 Carregada Ancoragem Livre 25 20 20 Força [kN] Força [kN] 4 MF1-T0_3 30 15 10 15 10 5 5 0 0 -1 0 1 2 3 4 5 -1 6 0 1 Deslocamento [mm] Deslocamento [mm] MF1-T20_1 MF1-T20_2 25 Força [kN] 20 15 10 Carregada Ancoragem Livre 5 0 -1 0 1 2 3 Deslocamento [mm] MF1-T20_3 114 3 Deslocamento [mm] 4 5 6 2 3 Anexo III Gráficos Totais da Série MF2 40 35 30 Força [kN] 25 20 15 Carregada Ancoragem Cima Ancoragem Baixo Livre 10 5 0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Deslocamento [mm] MF2-T0_1 35 30 Força [kN] 25 20 15 10 Carregada Ancoragem Cima Livre 5 0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 Deslocamento [mm] MF2-T20_1 115