As Ações, Reações e Inações dos Alunos/Musicoterapeutas nas

Transcrição

As Ações, Reações e Inações dos Alunos/Musicoterapeutas nas
As Ações, Reações e Inações dos
Alunos/Musicoterapeutas nas “Experiências
Musicoterápicas” de 20001.
Lia Rejane Mendes Barcellos2.
Resumo
Este projeto pretende apresentar a pesquisa que será desenvolvida nos dois
próximos anos e que objetiva estudar as “Ações, Reações e Inações do
Aluno/Musicoterapeuta nas Experiências Musicoterápicas de 2000”. As Experiências
Musicoterápicas foram o centro de estudos da pesquisa anterior desta autora, que se
debruçou sobre esta atividade para saber da pertinência de sua inclusão nos cursos de
formação de musicoterapeutas. A partir dos resultados obtidos, que demonstraram a
importância desta atividade e apresentaram os aspectos que justificam essa relevância,
decidiu-se por estudar as ações, reações e inações do aluno/musicoterapeuta, na medida
em que estas podem ser consideradas como eixos ou pilares que potenciam fenômenos
de níveis, intensidades e amplitudes diferentes e que acabam por ter um papel de
organizadores do processo terapêutico. Uma melhor compreensão destas ações poderá
dar, ainda, subsídios para uma reorganização do conjunto de disciplinas de
musicoterapia e da grade curricular desse curso o que contribuirá para uma maior
competência do musicoterapeuta e, consequentemente, converter-se-á em ganho para
aqueles que serão atendidos por este profissional.
1
Esta pesquisa será desenvolvida pela seguinte equipe:
Pesquisadora principal: Profa. MT. Lia Rejane Mendes Barcellos.
Pesquisadores: MT. Heloisa Helena Souza e Silva Santos, MT. Nívea Raquel de Carvalho Lima, MT.
Albelino Silva Carvalhaes, Bianca Panetti de Andrade Fialho (3º ano), Paulo Henrique Amaral Ardex (3º
ano), Elizabeth Petersen (2º ano).
2
Graduada em Piano e Musicoterapia, Especialista em Educação Musical pelo CBM, Mestre em Musicologia
pelo CBM. Professora dos cursos de graduação e pós-graduação em Musicoterapia do CBM, professora
convidada do curso de pós-graduação em Musicoterapia da Universidade Federal de Pelotas – RS, professora
convidada do curso de pós-graduação em Musicoterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina, editora da
América do Sul do jornal eletrônico Voices editado na Noruega, editora da Revista Brasileira de
Musicoterapia, autora dos Cadernos de Musicoterapia (quatro volumes) e dos livros Musicoterapia:
transferência, constratransferência e resistência (1999) e Musicoterapia: alguns escritos (2003).
2
1. Introdução
Atualmente entendo que a formação do musicoterapeuta deve ser constituída por
cinco áreas: a que abrange os conhecimentos científicos; a que objetiva desenvolver as
habilidades musicais numa direção terapêutica; a que pretende a sensibilização do
aluno, isto é, desenvolver seu campo perceptivo e a sensibilidade em relação a si mesmo
e ao outro; a prática de estágio supervisionado e as Experiências Musicoterápicas –
EM.
Habilidades Musicais
Sensibilização
Experiências
Musicoterápicas
Prática de estágio
Supervisionado
Conhecimentos
Científicos
As áreas científica, musical e a prática de estágio supervisionada fazem parte de
todos os cursos e têm sido objeto de estudo por parte de todos aqueles que têm como
responsabilidade a formação de musicoterapeutas. A área de sensibilização tem
formatos diferentes nos vários cursos e as EM só mais recentemente têm despertado a
atenção daqueles diretamente ligados à formação, nos diversos níveis oferecidos no
mundo, embora seja uma atividade existente desde a década de 70.
Apesar de as EM ocuparem hoje um lugar de destaque e serem consideradas
como um diferencial na formação do musicoterapeuta, poder-se-ia pensar em três pólos
pioneiros nessa atividade por terem-na incluído em suas formações na década de 70: a
Universidade de N. York – com Barbara Hesser, Mary Priestly – na Inglaterra
(Analytical Music Therapy) e Rolando Benenzon – na Argentina.
No Brasil, quatro grupos destas experiências, com a denominação de
Musicoterapia Didática, foram organizados pelo Conservatório Brasileiro de Música na
década de 80 (em anos diferentes), tendo o psiquiatra e musicoterapeuta argentino Dr.
3
Rolando
Benenzon
como
líder/observador
e
Ana
Sheila
Uricoechea
como
musicoterapeuta. No entanto, estas experiências tinham formatos distintos das hoje
realizadas por Barcellos. Os grupos não eram formados pelos alunos do Curso de
Musicoterapia; para fazer parte da atividade era necessário ser musicoterapeuta
formado; a musicoterapeuta foi escolhida pelo Dr. Benenzon em acordo com a direção
do curso do CBM e tinha-se como exigência estar em tratamento psicoterápico. O
objetivo, a meu juízo, era primordialmente terapêutico, embora a denominação da
atividade fosse Musicoterapia ‘Didática’, certamente por analogia à Análise Didática,
parte integrante da formação de psicoterapeutas/psicanalistas.
Uricoechea e Alencar 3 organizaram um grupo de quatro estudantes do Curso de
Musicoterapia do CBM, do qual fazia parte também uma musicoterapeuta formada e,
baseadas no modelo da Musicoterapia Didática de Benenzon, iniciaram um trabalho –
realizado fora do espaço do CBM – sobre o qual discorrem em artigo escrito para
apresentação no VI Congresso Mundial de Musicoterapia, realizado no Rio de Janeiro,
em 1990. Nesse artigo, as autoras não se referem claramente aos objetivos do trabalho.
No entanto, pela formação das mesmas – musicoterapeuta e psicoterapeuta – e pelo
relato da experiência, percebe-se que o objetivo central é terapêutico. Há uma referência
a este aspecto quando se lê: “Diante do objetivo do nosso trabalho terapêutico”...
4
Também em vários momentos do artigo as autoras fazem menção aos aspectos
inconscientes embora não coloquem como “tarefa” do psicoterapeuta elaborar os
mesmos. A presença deste profissional é justificada da seguinte forma:
Na segunda fase [da sessão] o psicoterapeuta a partir do que foi observado e
após as avaliações dos membros [dos pacientes] e do musicoterapeuta,
procurará transmitir uma síntese dos fenômenos transcorridos durante o aqui
e agora de cada sessão.5
As autoras também não se referem à utilização de material da literatura para
apoiar os debates existentes o que ratifica a hipótese de que se tratou de uma
experiência terapêutica.
Mas, apesar de ser realizada no mundo desde a década de 70 e no Brasil desde a
de 80 (com Benenzon e posteriormente Uricoechea num trabalho de curta duração – 12
sessões), só mais recentemente esta atividade vem sendo estudada com atenção especial
3
URICOECHEA, A. S. e ALENCAR, M. P. 1990.
Ibid, p. 21.
5
Ibid, p. 22.
4
4
tendo sido, inclusive, objeto de realização de um Simpósio específico sobre o tema, no
último Congresso Mundial de Musicoterapia realizado em Oxford, em julho de 2002.
Reuniram-se
nesse
Simpósio,
organizado
pela
Federação
Mundial
de
Musicoterapia Inc. e coordenado pela Dra. Barbara Wheeler – USA, representantes de
aproximadamente 25 países sendo que, destes, 12 apresentaram trabalhos sobre a
inserção da atividade em seus cursos e ratificaram como sendo a mesma um diferencial
na formação de musicoterapeutas.
Nessa ocasião foi apresentada a pesquisa “Students’ Experience of Experiential
Music Therapy – a Qualitative Research Study”6, que estava sendo realizada no
Conservatório Brasileiro de Música desde 2000 e ainda não apresentava os resultados
finais. Esta pesquisa teve por objetivo estudar a relevância da inserção deste tipo de
experiência na formação do musicoterapeuta e por que essa atividade se constitui como
importante, do ponto de vista dos alunos participantes e dos pesquisadores, e foi
finalizada em 2002 7. Os resultados finais ratificaram a relevância da inclusão da
atividade nos cursos de formação de musicoterapeutas e alunos e pesquisadores
apontaram os motivos pelos quais esta inserção deve ser recomendada.
No entanto, considera-se que outros aspectos que fazem parte das EM deverão ser
objeto de estudo pois contribuirão para uma melhor compreensão da atuação do
musicoterapeuta,
para
o
desenvolvimento
do
aluno
como
terapeuta
e,
consequentemente, para um melhor atendimento à comunidade que necessitar desse
profissional.
Vale ressaltar, ainda, que uma maior compreensão da atividade poderá dar
subsídios para uma reorganização do conjunto formado pelas disciplinas de
musicoterapia e um reestudo da grade curricular dos cursos de formação de
musicoterapeutas.
6
7
BARCELLOS, L. R. M. 2002
BARCELLOS, L.R.M.. et al. 2002.
5
2. Justificativa
O desenvolvimento de qualquer processo terapêutico pode ser facilitado por um
conjunto de ações do terapeuta. Fiorini refere-se à existência de “um conjunto de
mecanismos de ação” e de um “complexo entrecruzamento de influências de
modificação”. 8
Fiorini ainda questiona a possibilidade de se avançar um pouco além do
reconhecimento inicial da existência desse conjunto de influências de modificação,
pensando “’localizar certos eixos’ no movimento impulsionado por aquelas
influências”. 9 O autor pretende que sejam identificados certos fenômenos, denominados
por ele de “pilares” que também se movimentem e constituam como um marco de
organização das ditas influências e de seus efeitos. Esses fenômenos-eixo, como ele
acaba por definir tais mecanismos de ação, desempenham, a seu juízo, “um papel de
organizadores de um processo no qual se acoplam e se potenciam fenômenos de
modificação de diferente nível, ritmo, intensidade e amplitude”. 10
Também Fregtman refere-se ao que entendo serem as ações do terapeuta, quando
diz que o musicoterapeuta não desenvolve um programa mas que este “reage, propõe,
intervém, intui e acompanha”.11
Analisando-se o artigo no qual Barcellos discorre sobre “A Movimentação
Musical em Musicoterapia: Interações e Intervenções”12, pode-se perceber que a
‘movimentação’, à qual a autora se refere, em musicoterapia assume um caráter
específico pela presença da música.
A autora apresenta nesse artigo o que denomina “momentos” que, sem dúvida,
mais adequado seria intitular “ações do terapeuta”. Estes momentos/ações, apresentados
por Barcellos são: ouvir, estimular / induzir, interagir e intervir. Uma única ação
apresentada por Barcellos – ouvir o paciente quando este se expressa – tem uma direção
que é do paciente para o terapeuta o que poderia se configurar como uma ‘inação’ do
terapeuta. No entanto, apesar de o terapeuta estar aparentemente passivo no momento
8
FIORINI, Hector J. 1976, p. 85.
Ibid.
10
Ibid.
11
FREGTMAN, C. 1982, p. 42.
12
BARCELLOS, L. R. M. 1992, p. 6.
9
6
em que escuta o paciente, ele está receptivo, atento e perceptivo, para poder ter uma
compreensão do paciente e decidir qual será a sua ação subsequente.
Partindo-se do exposto acima e refletindo-se sobre as ações, e inações do
musicoterapeuta pode-se pensar, ainda, que, em alguns momentos, o terapeuta reage
àquilo que é trazido pelo paciente – o que se constituiria como as “reações” do
musicoterapeuta.
Para que se possa ter uma maior compreensão do que se pensa como ações,
reações e inações do musicoterapeuta decidiu-se definir esses termos.
Ação: ato ou efeito de agir – de atuar, atuação, ato feito obra, influência 13.
Neste trabalho estamos definindo as ações do musicoterapeuta como atitudes
deste que objetivam preparar o paciente para uma atividade – através da condução de
um relaxamento e/ou aquecimento –, e incentivar o paciente a movimentarse/expressar-se de alguma forma – através de propostas de atividades de qualquer tipo.
Assim, numa primeira reflexão, identificamos como ações do musicoterapeuta:
-
conduzir um relaxamento
-
conduzir um aquecimento e
-
apresentar propostas de atividades verbal ou musicalmente (estimular).
Define-se como inação, aquela na qual o musicoterapeuta se coloca em estado de
atenção para e percepção e escuta de conteúdos veiculados / expressos pelo paciente.
Define-se desta forma por não ser uma ação perceptível, já que acontece internamente,
ou que é “passado unicamente no espírito de uma pessoa” ou “é válido para um só
sujeito e que só a ele pertence, pois integra o domínio das atividades psíquicas,
sentimentais, emocionais, volitivas, etc. deste sujeito 14.
Pode-se identificar na inação dois momentos ou fases:
-
primeira fase: a ação receptiva ou o momento da escuta – em que o
musicoterapeuta percebe o paciente como um todo e aquilo que ele veicula
e/ou expressa.
-
segunda fase: a ação subjetiva ou o momento em que o musicoterapeuta
processa os elementos veiculados/expressados pelo paciente e se prepara para
responder / reagir.
13
14
FERREIRA, A. B. de H. 1999, p. 24.
Ibid., p. 1893.
7
Mas, poder-se-ia pensar que a inação seria quase sempre constituída de uma
“escuta” do paciente e da preparação para uma reação do musicoterapeuta. Algumas
vezes, no entanto, a escuta e a preparação podem levar a uma outra inação. Isto
aconteceria no momento, por exemplo, em que o musicoterapeuta “paralisa”, isto é, que
não sabe o que fazer ou que não quer agir por considerar inadequado para o momento /
situação. Ou ainda, quando o paciente pede para o musicoterapeuta se manter só
observando.
Como inações do musicoterapeuta são aqui apresentadas:
-
a escuta do paciente em todos os sentidos e o
-
processamento do que foi escutado para preparar uma (re)ação.
As reações seriam definidas como as ações do musicoterapeuta decorrentes da
atuação do paciente e poder-se-ia apontar como reações:
-
interagir com o paciente e
-
intervir.
Estes dois tipos de ações são realizados a partir da atuação do paciente. Por isto
estamos considerando os mesmos como reações. O musicoterapeuta decide interagir, e a
forma como isto será feito, a partir da atuação do paciente, bem como fará e escolherá o
tipo de intervenção a ser feita, na medida em que considerar necessário e que
compreender a atuação do paciente.
Sem dúvida, percebe-se que tanto as inações como as reações são desdobramentos
das ações do musicoterapeuta. Mas, considera-se que para este estudo, melhor será
compreender e definir estes fenômenos separadamente.
Ainda mais, refletindo-se sobre estas ações, reações e inações e, articulando-se o
que foi aqui definido com a prática clínica, pode-se perceber que estas podem acontecer
numa sessão de uma forma que, para efeitos didáticos, poderia ser representado
graficamente da seguinte maneira:
8
Musicoterapeuta
Inações
Reações
Ações
Inações
Escuta
Preparação
Deve-se salientar, entretanto, que o aparecimento das mesmas não acontece
sempre numa ordem determinada e que estas estão intimamente ligadas ao tipo de
liderança empregado. Entende-se que o esquema anterior representa as possibilidades de
uma sessão cuja liderança é democrática ou não diretiva.
Assim, poder-se-ia pensar no conjunto dessas ações, reações e inações, como
eixos que facilitam o processo terapêutico, organizam-no e que potenciam fenômenos
de modificação em diferentes níveis, ritmos, intensidades e amplitudes.
Deve-se considerar ainda que as mesmas – que fazem parte do processo
terapêutico –, devem ser aprendidas e apreendidas em disciplinas teóricas que fazem
9
parte da grade curricular do curso de musicoterapia mas, sobretudo, podem e devem ser
colocadas em prática nas Experiências Musicoterápicas.
Como as Experiências Musicoterápicas têm por objetivo melhor instrumentalizar
o aluno para sua prática como futuro musicoterapeuta, estudar-se as ações, reações e
inações dos alunos / musicoterapeutas na ‘prática assistida’15 significa dar subsídios
para a própria formação. A partir desse estudo pode-se avaliar as necessidades e
prioridades na formação dos alunos e procurar-se preencher as lacunas que,
possivelmente, serão encontradas. Assim, num mecanismo de feedback poder-se-á
melhorar o conteúdo das disciplinas que mais de perto contribuem para a competência
dos alunos no que se refere à prática clínica.
3. Objetivos
O objetivo geral da pesquisa é verificar e analisar o desempenho do aluno /
musicoterapeuta, isto é, o seu modo de atuação no que se refere ao contato com aspectos
que dizem respeito às suas relações com o mundo sonoro / musical e à interação intra /
interpessoal e musical com seus pares; e se / como isto pode contribuir para a formação
do musicoterapeuta, o que poderá ter desdobramentos na reelaboração do programa do
conjunto de disciplinas de musicoterapia.
A pesquisa tem como objetivo principal responder à questão:
“Quais são as ações, reações e inações significativas dos alunos no desempenho
do papel de musicoterapeuta nas Experiências Musicoterápicas de 2000?”
Além disto, poderão ser ainda considerados os aspectos significativos do co /
musicoterapeuta e do observador.
4. Quadro Teórico e Revisão Bibliográfica
O quadro teórico a emoldurar a pesquisa, como dito anteriormente, vem da
terapia e da área da música. No entanto, tanto os aspectos teóricos quanto a revisão
bibliográfica – no que tange às Experiências Musicoterápicas – deverão ser adequados
também de campos adjacentes, já que o objeto da pesquisa é um tema ainda muito
10
pouco estudado e raramente apresentado à comunidade, o que faz com que a
bibliografia específica seja bastante escassa.
5. Metodologia
Para se estudar as ações, reações e inações do musicoterapeuta serão utilizados e
analisados, como dados, os dez vídeos gravados nas dez sessões das EM realizadas em
2000.
Na escolha da metodologia para a análise desses dados levou-se em consideração
que, num contexto terapêutico, as ações, reações e inações do musicoterapeuta estão
intimamente ligadas ao paciente ou às ações deste. Por isto será utilizada a metodologia
de Aldridge 16 e Aldridge e Aldridge 17, seguida da criação de instrumentos que possam
dar conta da leitura de cada uma das ações/reações/inações, caso isto se apresente como
necessário.
A metodologia de Aldridge 18 apresentada no artigo aqui referido tem por objetivo
analisar uma melodia improvisada por um paciente com um quadro de depressão, na 16ª
e última sessão de um processo terapêutico, e esta análise foi parte de um projeto de
pesquisa que incluiu passos metodológicos cuidadosos. Esta improvisação foi feita no
vibrafone,
tendo
o
paciente
sido
acompanhado
pela
musicoterapeuta
que,
simultaneamente, improvisou uma harmonia ao piano. A melodia improvisada foi pela
musicoterapeuta denominada: “Melodia de Adeus” e o objetivo da autora foi pesquisar
se apareciam elementos significativos [musicais] nas improvisações terapêuticas das
sessões precedentes que apontavam para a melodia emergente na última sessão. Para
esta análise, a autora começa dividindo as sessões em episódios selecionados a partir do
aparecimento de momentos no quais apareça algum acontecimento musical que tenha,
ao mesmo tempo, relação com o desenvolvimento da melodia e significado terapêutico.
A partir disto, a autora faz um mapa onde relaciona os episódios entre si e constrói
eixos que demonstram através da evolução musical do paciente, a evolução do quadro
clínico.
15
BARCELLOS, L.R.M et al. 2002, p.1.
ALDRIDGE, G. 1998.
17
ALDRIDGE, D. e ALDRIDGE, G. 2002.
18
ALDRIDGE, G. 1998, p. 7.
16
11
Desta metodologia vamos utilizar a divisão da sessão em episódios que serão
demarcados por:
-
Propostas / sugestões do musicoterapeuta, ou
-
aparecimento de acontecimentos musicais significativos,
-
aparecimento ou mudança de atividades que se constituam como
significativas, ou
-
acontecimentos julgados como significativos, isto tudo relacionado às ações,
reações ou inações do musicoterapeuta.
A metodologia de Aldridge & Aldridge 19 é denominada “Análise da Narrativa
Terapêutica” e é o resultado de estudos apresentados em textos anteriores escritos por
David Aldridge.20
No centro desta metodologia está ainda a idéia de episódio, entendido pelo autor
“como um evento, incidente ou seqüência de eventos que formam parte da narrativa”.21
Esses episódios são considerados como “as unidades básicas” dessa metodologia 22 e a
narrativa será a história que estes episódios fazem emergir. Para isto podem ser
utilizados vários tipos de materiais, ou seja: relatórios escritos, histórias faladas, meios
visuais, material gravado em áudio e material musical para “contar a história”. 23
Nesta pesquisa pretendemos analisar cada vídeo, selecionar os eventos
significativos que podem se constituir como episódios para, a partir daí, dar um título a
cada sessão e articular com as ações, reações e inações dos musicoterapeutas, as
implicações destas no desenvolvimento do processo e a compreensão que se pode ter
deste complexo de fenômenos.
É importante frisar, entretanto, que se trata de uma metodologia adotada como
ponto de partida e que esta poderá ser modificada e/ou abandonada caso se perceba, no
decorrer do trabalho, que não se constitui como a mais adequada para que os objetivos
sejam atingidos.
Além disto, como as EM transitam também na área musical é necessário adotar-se
uma metodologia que dê conta da leitura desse campo.
19
ALDRIDGE G. & ALDRIDGE, D. 2002.
ALDRIDGE, D. 1985; 1988; 1990; 1992b; 1996; 1998b; 1999; e ALDRIDGE e ROSSITER, 1983.
21
ALDRIDGE G. & ALDRIDGE, D. 2002, p. 2.
22
Ibid.
23
Ibid.
20
12
Assim, para os aspectos que dizem respeito à música, será utilizada uma
metodologia da Teoria da Música – a análise Semiológica de Molino / Nattiez –
utilizando-se especificamente o modelo da Poï étique indutiva para dar conta dos
processos de produção dos alunos / musicoterapeutas (improvisação ou recriação). 24
6. Considerações finais
A realização desta pesquisa tem por objetivo principal estudar as ações do
musicoterapeuta nas Experiências Musicoterápicas. A partir deste estudo, ter-se-á,
como ganho indireto, sem dúvida, a possibilidade de diagnosticar os aspectos que
advêm das ações do aluno/musicoterapeuta, que podem ser modificados no conjunto de
disciplinas de musicoterapia ou, ainda, na grade curricular. Com isto se pretenderia uma
melhor qualidade na formação do musicoterapeuta e, consequentemente, no futuro
atendimento deste, àqueles que necessitam de tratamento musicoterápico para enfrentar
o sofrimento e as adversidades advindas das várias patologias / seqüelas / situações e,
assim, poderem chegar a ter uma vida melhor ou, até, uma melhor qualidade de morte.
24
NATTIEZ, J. J. 1990, p. 50.
13
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