O “BOM” PROFESSOR UNIVERSITÁRIO: UMA REFLEXÃO A
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O “BOM” PROFESSOR UNIVERSITÁRIO: UMA REFLEXÃO A
O “BOM” PROFESSOR UNIVERSITÁRIO: UMA REFLEXÃO A PARTIR DOS PRINCÍPIOS DE ANTÓNIO NÓVOA Naiara Sousa Vilela – UFU Geovana Ferreira Melo – UFU Marly Nunes de Castro Kato – UFU Vera Lúcia Lacerda Resende - UFU Eixo 07: Formação e desenvolvimento profissional de professores do ensino superior Apoio: CNPq e FAPEMIG [email protected] Resumo O presente estudo tem como objetivos analisar as diferentes concepções de docentes universitários mediante o seguinte questionamento: Para você o que é ser um bom professor? A fim de discutir tal indagação, recorreremos à obra de António Nóvoa (2009) “Professores - imagens do futuro presente”. Para o desenvolvimento desta análise, utilizamos dados coletados de professores atuantes nas diversas áreas do conhecimento, participantes de ações formativas desenvolvidas pela Divisão de Formação Docente da Pró-Reitoria de Graduação de uma instituição federal localizada no Triângulo Mineiro. Os questionamentos norteadores para a investigação foram: Nas concepções educativas de docentes universitários o que é ser um bom professor? De que forma, ações formativas contínuas contribuem para que os professores possam refletir tal questionamento? Mediante a participação dos docentes universitários em ações formativas, quais foram as principais mudanças nas práticas dos professores e suas concepções de ensino? Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, em que grande parte dos dados foi obtida por meio de questionário e entrevistas respondidas pelos professores participantes de ações formativas. Os resultados indicaram que as participações dos professores em cursos de formação continuada contribuíram de forma efetiva para o aprimoramento de saberes pedagógicos essenciais para compreensão de aspectos relacionados ao exercício à docência. Além do mais, o questionamento proposto aos professores os fizeram refletir aspectos relacionados aos saberes inerentes à profissão, contribuindo assim, para a construção da identidade docente. Palavras – Chave: Docentes universitários. Formação Continuada. Concepções de ensino. 1. Introdução O presente estudo é um recorte de uma pesquisa maior intitulada: “Desenvolvimento Profissional de Professores na Educação Superior: a pesquisa-ação como estratégia formativa”. Neste sentido, a referida pesquisa representa a continuidade de estudos sobre a temática o Desenvolvimento Profissional Docente junto aos professores efetivos da Universidade Pesquisada, 5341 dando continuidade a investigações1 iniciadas há mais de dez anos, em torno de questões referentes à docência universitária. Nesse artigo, apresentaremos dados obtidos a partir da segunda e terceira edição do curso de formação continuada propiciada pela Divisão de Formação Docente aos docentes da instituição pesquisada. Nortearemos nossa investigação com os seguintes questionamentos: Nas concepções educativas de docentes universitários o que é ser um bom professor? De que forma, ações formativas contínuas contribuem para que os professores possam refletir tal questionamento? Mediante a participação dos docentes universitários em ações formativas, quais foram as principais mudanças nas práticas dos professores e suas concepções de ensino? O curso de formação propiciado pela instituição contou com a participação de trinta docentes universitários, e foi composto por oito módulos com os respectivos temas: Identidade docente / História de vida e Ensino superior; Aspectos gerais da docência universitária; Planejamento na Educação Superior; Metodologia ativa e Ferramentas de ensino-aprendizagem; Técnicas de ensino e Recursos didáticos; Avaliação em Educação superior; Instrumentos de avaliação e Concepção de Educação. Os encontros demandaram uma carga horária semanal de 4 horas, totalizando 32 horas. A metodologia utilizada foi aula dialogada, com recursos multimídia, dinâmicas de grupo, discussões, debates e filmes, que possibilitaram aos docentes uma ampla interação com seus pares. Todos os professores receberam o material de apoio, ou seja, textos sobre os temas acima explicitados, com amplos referenciais teóricos para leitura prévia (BERBEL, 2011; CINTRA, 2014; CUNHA, 2006; GARCIA, 2009; MALUSÁ e FELTRAN, 2003; MASETTO, 2003; MIRANDA, 2012; MITRE, 2008; RIBEIRO, 2010; ROMANOWSKI, 2006). Os professores participantes da ação formativa são oriundos de diversas áreas do conhecimento: Administração; Agronomia; Arquitetura; Artes e Comunicação Social, Educação Física e Educação Artística; Biologia; Ciência da Computação; Economia; Engenharia Ambiental; Engenharia de Produção; Engenharia Elétrica; Engenharia Química; Fisioterapia; Medicina Veterinária; Odontologia; Química; Zootecnia. A diversidade das áreas de atuação dos professores participantes, contribuiu de forma significativa para a promoção de diálogos entre os docentes, favorecendo a troca de experiência e uma percepção maior acerca dos problemas enfrentados pelos docentes nos diferentes contextos da instituição. 2. O que é ser bom professor: concepções e análise de dados a partir dos conceitos de António Nóvoa 5342 No livro Professores – imagens do futuro presente, escrito por António Nóvoa é instigada à discussão de alguns parâmetros que embasem a formação do professor universitário. Em primeiro instante o autor menciona que, a profissão docente necessita ser permeada por reflexões coletivas que proporcione: Análise coletiva dos casos ocorridos no contexto escolar; uma análise coletiva de práticas pedagógicas; que os docentes sejam persistentes para responder necessidades e anseios dos alunos e que tenham compromisso social e vontade de mudança (NÓVOA, 2009, p. 19). A primeira medida citada pelo autor António Nóvoa, traz o relato da cordialidade dos trabalhos dos médicos que, diante a enfermidade de seus pacientes atuam sempre a partir de “um envolvimento real na melhoria e na mudança das práticas hospitalares (NÓVOA, 2009, p. 18)”, priorizando e persistindo na melhora da vida dos enfermos. Nesse sentido, Nóvoa (2009) relaciona tal fato ao trabalho do professor que, a todo o momento, mesmo reconhecendo as limitações e dificuldades dos alunos devem proporcionar e persistir em prol da aprendizagem dos alunos sem nenhum tipo segregação. Quanto à segunda medida, o autor reforça a necessidade de “colegialidade, partilha, reflexão coletiva e culturas profissionais”, ações que corroborem para o desenvolvimento profissional do docente e para a construção de sua identidade. Para a terceira medida, Nóvoa (2009, p. 19) propõe “reforçar as comunidades de prática”, reforçando a ideia de que é necessário que os professores tragam a profissão para dentro da profissão, ocupando discussões e posições que muitas vezes “são fortemente influenciados pelas organizações internacionais que tendem a ocupar um espaço que deveria ser da responsabilidade dos professores mais experientes”. Além do mais, o autor propõe a formação continuada como espaço de autoformação, que também proporcione ao docente a partilha e o diálogo profissional. Diante isso, a partir de todas as medidas citadas, António Nóvoa inicia uma discussão do que seria ser um bom professor, questionamento este, pertinente para a reflexão desta pesquisa. Nóvoa cita que, para ser um bom professor tornar-se necessário: o conhecimento, cultura profissional, tato pedagógico, trabalho em equipe e compromisso social. No que se refere ao conhecimento, Nóvoa (2009), afirma ser necessário que o docente tenha conhecimento do que será ensinado. Nesse mesmo sentido, seria necessário acrescentar as reflexões de autores como (GAUTHIER, 1998; TARDIF, 2002; PIMENTA, 2002), a citar PIMENTA (2002) o qual define que, além dos saberes do conhecimento, torna-se também necessário o domínio de diversos outros saberes inerentes à profissão como os saberes da experiência, adquiridos ao longo da carreira docente, e saberes pedagógicos, o qual envolve desde o planejamento à avaliação de aprendizagem dos alunos. 5343 Quanto à cultura profissional, o autor cita a importância do diálogo entre os professores, reflexão do trabalho, como também, da avaliação de aprendizagem. Uma avaliação que colabore tanto para a formação do sujeito aluno, quanto para o desenvolvimento e feedback de todo trabalho desenvolvido pelo professor ao longo de todo processo de ensino-aprendizagem. No que se refere ao tato pedagógico, Nóvoa (2009) menciona que, o professor precisa saber “conduzir alguém para outra margem”, ou seja, fazer com que o aluno se desenvolva enquanto sujeito. Para isso, torna-se necessário uma comunicação que permita uma exitosa relação entre o aluno e o professor, e que, portanto, não somente envolva as dimensões pessoais como profissionais do docente para que de fato, ocorra o processo de ensino – aprendizagem. O trabalho em equipe é também enfatizado pelo autor como referências ao bom professor, uma vez que a atividade docente deve ser pautada pela coletividade, intervenções conjuntas e relações que vá além dos “muros acadêmicos”. E finalmente, Nóvoa (2009) cita a ideia de que o compromisso social “princípios, valores, inclusão social e diversidade social” são termos essenciais a serem praticados e permeados no ambiente acadêmico universitário. Destarte as considerações de Nóvoa (2009), foram propostos questionários e entrevistas aos docentes universitários envolvidos nas ações formativas, a fim de, reconhecer os depoimentos dos professores universitários no que se refere ao questionamento: Para você o que significa ser um bom professor universitário? Resultados e discussões A partir da participação nas ações formativas foram feitas entrevistas junto a cinco professores participantes das ações formativas, sendo estes das áreas de exatas e humanas. Os depoimentos possibilitaram aos professores a revisão em relação às crenças e atitudes profissionais, além de se autoquestionarem o que para eles significa ser um bom professor e, quais critérios didático-pedagógicos incluiriam nessa reflexão. Dessa forma, mediante entrevistas os professores relataram: Um bom professor é aquele que realmente que instiga o aluno a falar, a querer algo mais. Ele tem que ter conhecimento da área que é especialista e tentar correlacionar com a prática também. (Sujeito 1) No depoimento do primeiro docente fica claro, o quanto em sua ação didático-pedagógica o conhecimento teórico alinhado a prática torna-se aspecto essencial. Para Behrens: Elas precisam interpenetra-se, interligar-se, possibilitando ao profissional conhecimento e atuação numa realidade concreta (Behrens, p.448, 2007). 5344 Além de destacar a importância teórico-prática a docente relata a necessidade em fazer com que o aluno não fique “preso” aos conhecimentos estudados em sala de aula, mas, busque conhecimentos extra-classe. Outros docentes afirmam que: Ser um bom professor não só transmitir o conhecimento, mas ajudar na formação comum do indivíduo. (sujeito 2) É aquele que entende que tipo de alunos que ele lida e com isso ele vai passando o conhecimento de acordo com o que é possível. (sujeito 3) Desse modo, ao mesmo tempo em que ambos os professores citam os conceitos transmitir e passar o conhecimento, remetendo a um aspecto tradicionalista de ensino, fica também explícito por parte dos depoimentos, a necessidade em reconhecer o perfil dos estudantes, para que de fato o processo de ensino-aprendizagem seja alcançado. O que segundo Gil torna-se prioritário, uma vez que: O professor, ao definir os objetivos de ensino, selecionar os conteúdos e determinar as estratégias de ensino, leva em consideração uma certa homogeneidade da classe. Mas naturalmente os estudantes apresentam muitas diferenças entre si. Assim, sabendo como se distribuem os estudantes segundo as variáveis relevantes, o professor passa a dispor de um conjunto importante de informações capazes de auxiliá-lo no trabalho docente. (GIL, 2012, p.41) Dessa forma, corrobora com as considerações feitas pelo docente os conceitos elaborados por Gil (2012), ao afirmar que é necessário reconhecer a diversidade de cada turma, para que de fato, o trabalho do professor possa ser elaborado a partir dos perfis apresentados. Outro docente afirma que: O bom professor deve ser flexível, adaptar à geração, o fato de a gente estar lidando com uma geração que é muito informatizada e muito vinculada à tecnologia. Identificar como a turma está respondendo, eu não consigo fazer isso, de modo que a minha forma de ensinar ainda é muito engessada. Mas, acho que essa é a dificuldade da formação mesmo. (sujeito 4) No depoimento do sujeito 4, é relatado a necessidade de flexibilidade do professor no que se refere, a adaptação a “nova geração” porém, ao mesmo tempo o docente reconhece os enfrentamentos no que diz respeito, a forma de lidar com a realidade apresentada. Nesse sentido, Masetto ( 2013, p.36) afirma que: A didática precisa inovar-se; o acúmulo de informações descontextualizadas já não surte efeito; não basta ao professor ensinar, ele deve desenvolver a aprendizagem do aluno e com o aluno. Mesmo reconhecendo a necessidade em mudar as práticas, durante o depoimento da docente fica explícita a dificuldade em revisar ações e práticas educativas, dados estes, provenientes de uma formação técnico-específica, desprovida dos aspectos didáticos pedagógicos. 5345 Daí, a necessidade das ações formativas “ampliando o ânimo para enfrentar os desafios da docência, alterando o sentimento de solidão com os problemas, levando à percepção de que é possível fazer diferente como ali narrado, vivenciando ações de ajuda e colaboração” (ANASTASIOU, 2011, p.49). As ações formativas proporcionam aos docentes envolvidos a partilha, o diálogo e a troca de experiências, fazendo-os refletir a respeito de sua práxis docente. Finalmente, para o sujeito 5, ser um bom professor esta relacionado a ter uma amistosa relação professor-aluno para que, de fato o processo de ensino-aprendizado seja alcançado. Eu acho que ter um bom relacionamento com o aluno, compreender quando realmente eles estão tendo dificuldade. (sujeito 5) No depoimento do último sujeito, a relação professor-aluno e o diagnóstico de dificuldades dos alunos são prioritários, resta-nos saber se a partir do diagnóstico feito, o professor seria capaz de elaborar e proporcionar ao aluno um feedback fazendo-o refletir os conceitos apreendidos. Em suma, foram citados pelos docentes entrevistados mediante o questionamento apresentado “para você o que é ser um bom professor”, os conhecimentos teóricos, práticos, a relação- professor-aluno, a formação do indivíduo, não havendo nenhuma citação ou entrelinhas dos termos cultura profissional e trabalho em equipe, dados esses apresentados pelo autor Nóvoa e que, de fato precisam estar presentes no trabalho do professor universitário para que, a “construção de redes de trabalho coletivo seja o suporte de práticas de formação baseadas na partilha e no diálogo profissional” (NÓVOA, 2008, p. 26), descontruindo uma política de individualismo e consequente, desprofissionalização do trabalho docente. 3. Considerações Finais Aos analisarmos os depoimentos dos docentes universitários participantes do curso de formação continuada propiciado pela “Divisão de Formação Docente” da universidade pesquisada, verificamos que os professores em seus depoimentos relataram que através do curso puderam rever crenças e atitudes profissionais, além de elaborarem e reelaborem os saberes inerentes á profissão. O questionamento feito colaborou para que os docentes repensassem o significado de ser um bom professor e permeado a isso, quais os critérios e ações didático-pedagógicos estariam envolvidas em seus depoimentos e prática em sala de aula. Ficou evidente a necessidade de promover ações formativas para os docentes, tendo em vista o seu pleno desenvolvimento profissional e a consequente melhoria de suas práticas pedagógicas, principalmente no que diz respeito a criação de uma cultura profissional e coletividade no ambiente acadêmico, a iniciar de ações formativas que proponham a partilha, o diálogo, a troca de experiências entre os profissionais. 5346 4. Referências BERBEL, Neusi Aparecida Navas. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011 CINTRA, J.C.A. A Aula Do Século Passado Já Era! 2010. Disponível em: http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/189524/mod_resource/content/1/A%20aula%20do %20se%CC%81culo%20passado%20ja%20era.pdf > Acesso em 24 de Julho de 2014. < CUNHA, A. M. de O.; BRITO, T. R.; CICILLINI, G. A. Dormi aluno (a)... Acordei professor (A): Interfaces da Formação para o Exercício do Ensino Superior. 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