A doce tradição da - Revista Caminho Gerais
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A doce tradição da - Revista Caminho Gerais
A rapadura é um doce de origem açoriana ou canária. É feita a partir do caldo da cana após moagem, fervura, moldagem e secagem. No Brasil, o produto começou a ser produzido no período colonial, quando o açúcar era uma das mercadorias mais cobiçadas pelo mercantilismo ultramarino. Mas, a rapadura não é apenas um produto típico do nordeste brasileiro, em especial do Ceará, bem como de outras regiões da América Latina, onde recebe diferentes nomes, como piloncillo (México), papelón (Venezuela e Colômbia), chancaca (Bolívia e Peru), empanizao (Bolívia) ou tapa de dulce (Costa Rica). O nome rapadura (ou a variação raspadura) é utilizado também na Argentina, na Guatemala e no Panamá. Na América Latina o produto é usado ainda como medicamento, na receita básica de determinados drinques ou até de molhos para acompanhar pratos salgados. Seu uso também é disseminado na Índia. A doce tradição da Mercadoria de grande valor na Europa Produzir rapadura vem de uma época em que o açúcar, de cor escura, parecido com uma rapadura moída, era uma das mercadorias mais valiosas que atravessavam o Atlântico com destino à Europa. Superando o Ciclo do Pau-brasil, o Ciclo da Cana-de-açucar representou um dos mais longos períodos de pujança econômica no Brasil Colônia. A experiência bem-sucedida dos portugueses com a cana-de-açucar na ilha da Madeira e no arquipélago dos Açores, e o alto preço da mercadoria na Europa e o clima favorável, os motivaram a implantar a produção do açúcar na Colônia. Para alguns historiadores, o engenho de açúcar é a unidade produtiva que melhor caracterizava as condições de riqueza, poder, prestígio e nobreza no Brasil Colonial. A autoridade dos senhores de engenho ultrapassavam os limites de suas terras. Com o fortalecimento do Ciclo do Ouro em Minas, que absorveu grande parte da mão-de-obra dos canaviais, o Ciclo da Cana-de-açucar entrou em declínio Foto maior, seu Afonço nas últimas etapas da fabricação da rapadura. Ao lado, o sítio no alto da Serra de Santa Maria do Baixio, onde uma clientela fiel vai buscar FOTOS: MÁRIO CARVALHO NETO Processo de fabricação A produção artesanal da rapadura é uma atividade ainda existente em diversas localidades mineiras. No alto da Serra de Santa Maria do Baixio, em São João do Oriente, no Leste Mineiro, o casal Afonso Alves Pereira e Maria Aparecida Alves utiliza a mesma técnica rudimentar usada há mais de cem anos por seus familiares. O trabalho não é fácil. A labuta, de segunda a sexta-feira, começa às 5 horas da manhã, quando a brisa da serra ainda esmaece na bela paisagem do vale do Baixio, com suas plantações de inhame, quiabo e jiló. Por volta das 15 horas já foram produzidas duas tachadas de 50 quilos de melado, o que garante uma média de 100 quilos de rapadura ou de açúcar mascavo, produto também comercializado pelo casal. O processo de fabricação da rapadura exige dedicação, muito capricho e atenção. A cana é moída no engenho elétrico do sítio, enchendo rapidamente um reservatório de 250 litros. O caldo é colocado num tacho de dois metros de diâmetro para ser fervido, momento em que as impurezas irão "boiar" e retiradas com uma escumadeira de cobre. A lenha usada na fornalha é o próprio bagaço da cana, já seco, que é acrescentado instante a instante. Ao levantar a fervura, após a retirada de toda impureza, Maria Aparecida, atenta, bate a calda, que ameaça transbordar, com a escumadeira. O filho caçula do casal, Marcos Felipe, auxilia o pai, mexendo o melado para não se queimar no fundo do tacho.(...) CAMINHOS GERAIS 33