Artigo 13

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Artigo 13
V Seminário Internacional de Defesa Civil - DEFENCIL
São Paulo – 18, 19 e 20 de Novembro de 2009
ANAIS ELETRÔNICOS – ARTIGOS
O Twitter e suas potencialidades como ferramenta de comunicação em
ambientes acometidos por desastres
Carla Cardoso1
Evandro Paulo Bolsoni2
Carlos Henrique Medeiros de Souza3
Resumo
As redes sociais estão sendo cada vez mais utilizadas pela nossa sociedade em
geral. Para tanto estão surgindo novos fenômenos de ambientes que a cada dia atrai
milhares de usuários. Nesta perspectiva, optamos em analisar o Twitter, que de maneira
avassaladora vem trazendo e levando informações para todo o canto do mundo. Dentre
os espaços que vem sendo ocupado esta a comunicação em ambientes acometidos por
desastres. Por meio de um pequeno celular ou micro-computador se tornou possível
mandar mensagens (na forma de som, texto ou imagens) de qualquer ponto utilizando o
fantástico crescimento das redes de comunicação e da internet (ciberespaço). Este artigo
propõe uma reflexão sobre a evolução e importância destes recursos midiáticos na
divulgação, controle e comunicação de desastres.
Palavras Chaves: Desastres; Mídia; Redes Sociais
Abstract
Generally, social networks are increasingly being used among us. Because of
that, phenomena of new environments emerges and attract thousands of users. From this
perspective, we chose to examine the Twitter, that is widely bringing and taking
information to every part of the world. Among the areas that have been occupied, it is
the communication in environments affected by disasters. By means of a simple mobile
or a personal computer, it became possible to send messages (in the form of sound, text
1
2
3
Mestranda em Cognição e Linguagem - UENF
e-mail: [email protected]
Mestrando em Cognição e Linguagem – UENF
e-mail: [email protected]
Doutor em Comunicação (UFRJ)
Coordenador do mestrado em Cognição e Linguagem - UENF
Universidade Estadual do Norte Fluminense– UENF
e-mail: [email protected]
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or images) from any part by the use of the fantastic growth of networks communication
and internet (cyberspace). This article proposes a reflection on the evolution and
importance of media resources in the disclosure, control and communication of
disasters.
Keywords: Disasters, Media, Social Networks
O ciberespaço e suas potencialidades perpassam por quase todos os setores da
sociedade. A mediação pelo computador gerou essas novas formas de sociabilidade,
vindo a tornar-se uma importante ferramenta de comunicação também ambiente
acometido por desastres. As Redes Sociais e suas facilidades de acesso podem ser
utilizadas, inclusive, para salvar vidas. Notícia publicada no dia 1º de setembro de 2009
no site de notícias G14 confirma esse parecer. A matéria notifica que americanos se
inscreveram no site da Safe America Foundation para participar de treinamento de
formas alternativas de comunicação em casos de desastre. O grupo de segurança norteamericano Safe America Foundation diz que o Twitter, as redes sociais e mensagens de
texto podem ajudar as famílias a estabelecerem contato com unidades de resgate ou
órgãos competentes, logo após um desastre.
Tomemos como ponto de partida, as informações noticiadas na reportagem
vinculada a Safe America Foundation5 , que está liderando uma campanha no território
norte americano para “treinar famílias sobre formas alternativas de comunicação”,
caso, os métodos tradicionais conhecidos apresentem problemas de funcionamento. Um
texto vinculado a esta mesma fundação aponta que: “A expectativa é de que mais de
200 mil pessoas participem da iniciativa, que oferecerá treinamento sobre como usar
instrumentos alternativos de comunicação de emergência”.
No mesmo site, esta um nota que aponta o perfil dos interessados neste curso:
“Entre os participantes das primeiras turmas, estão pessoas que se inscreveram no site
da organização, assim como funcionários de diversas empresas que planejam realizar
exercícios de segurança com suas equipes”.
Para dar prosseguimento a esses apontamentos, partiremos do seguinte
questionamento: o que pode ser considerado um desastre?
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No site: www.g1.com.br. Acesso em 26/10/09.
Mais informações sobre a instituição podem ser obtidas no site: www.safeamerica.org.
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A revista eletrônica Geo Brasil 20026, publicada pelo IBAMA identifica
características diversas e aponta uma variedade de fatos considerados desastrosos. Sua
evolução, sua intensidade e origem, são as bases para a identificação de um desastre,
que pode ser identificado dentro dos seguintes parâmetros:
a)Desastres súbitos ou de evolução aguda: deslizamentos, enxurradas,
vendavais, incêndios em instalações industriais e em edificações com grandes
quantidades de usuários, abalos sísmicos, erupções vulcânicas e outros.
b) Desastres de evolução crônica, ou graduais: seca, erosão, perda de solo
agricultável, desertificação, salinização do solo e outros.
c) Desastres por somação de efeitos parciais: acidentes de trânsito, acidentes
de trabalho, incremento da violência, tráfico de drogas, cólera, malária,
síndrome da imunodeficiência adquirida, (IBAMA, 2002, p.148).
O documento aponta níveis de intensidade para cada fator desastroso e observa
que, no Brasil,
(...) desastres de Níveis de intensidade III e IV são reconhecidos, legalmente,
pelos Governos Federal, Estaduais e Municipais, como situação de
emergência e estado de calamidade pública.
Os desastres agudos e os de muito grande intensidade são raríssimos em
nosso país. Em compensação, os desastres por somação de efeitos parciais e
de evolução crônica ocorrem com grande freqüência e geram, a cada ano,
maiores danos e prejuízos, (Ibidem).
Identifiquemos, portanto, as características dos desastres, frisando, que, como
ressalta o documento, a maioria dos desastres pode causar danos humanos, materiais e
ambientais, sendo que, estes últimos, englobariam a quase totalidade dos fatos
desastrosos.
De acordo com a Doutrina Brasileira de Defesa Civil, desastre é o resultado de
eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem, sobre um ecossistema
vulnerável, causando danos humanos, materiais e ambientais, e prejuízos econômicos e
sociais.
A revista Geo Brasil identifica ainda os desastres como: desastres humanos ou
antropogênicos, casos de natureza tecnológica, social e biológica. Os primeiros
relacionam-se, por exemplo, a “(...) incêndios em instalações industriais e em
edificações, com concentrações demográficas e com riscos de colapso ou exaurimento
de energia e de outros recursos ou sistemas essenciais”, (IBAMA, 2002, p.148).
Já os de natureza social, (...) são os relacionados a ecossistemas urbanos e rurais
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No site: http://ibama2.ibama.gov.br/cnia2/download/publicacoes/geobr/Livro/cap2/desastres.pdf.
Acesso em 28/10/09.
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(destruição intencional da flora e da fauna, depredação por desmatamento
sem controle e má gestão agropecuária, acumulação de rejeitos da mineração
e outros); relacionados com convulsões sociais (desemprego, fome e
desnutrição, migrações intensas e descontroladas, intensificação da violência,
infância e juventude marginalizadas ou carentes, tumultos e desordens
generalizadas, tráfico de drogas, incremento dos índices de criminalidade,
banditismo e crime organizado, terrorismo, perseguições de conflitos
religiosos, ideológicos e raciais), relacionados com conflitos bélicos (guerras
urbanas, civis e revolucionárias, guerras convencionais, guerrilhas, guerras
biológicas, químicas e nucleares), (Ibidem).
Os de natureza biológica, dizem respeito a: “(...) dengue, febre amarela,
malária, doença de chagas, cólera, salmonelas, shigeloses, intoxicações alimentares,
sarampo, tuberculose, meningite, hepatite B e C, e outros”, (Ibidem).
Após traçar breves conceitos e características do que seja um considerado um
desastre, vamos tratar do contexto do ciberespaço, pois será possível relacioná-lo com
tamanha comoção e oferecer uma oportunidade prática de comunicação global, quando
se trata de um fato desastroso? E como utilizar a Rede a esse favor? Sobre essas
questões, pontuaremos a seguir.
Informação no ciberespaço
Castells (2003) define a Rede como o novo modelo organizacional da chamada
Era da Informação. Segundo o autor, a rede, que tem por base tecnológica a Internet, é
um conjunto de nós interconectados, cujo modelo de organização permite a conexão de
muitos em escala global, moldando, desta forma, um novo modelo de sociabilidade
inserida nessa sociedade, as redes sociais.
Redes sociais, ou comunidades virtuais (Recuero, 2001), são um grupo de
pessoas que estabelecem entre si relações sociais através da Comunicação Mediada por
Computador (CMC)7. Essas relações são construídas por interações mútuas e reativas,
de acordo com a classificação de Primo (2000). Outras características das comunidades
são a utilização dos virtual settlements, „lugar‟ onde os membros da comunidade se
associam (Jones, 1998, apud Recuero, 2003), a permanência, ou seja, o tempo de
freqüência dos membros de uma comunidade no espaço, o pertencimento, que é o
7
Também conhecida como comunicação eletrônica, trata-se da comunicação realizada entre duas ou mais
pessoas, ante a utilização de tecnologias computacionais e redes telemáticas que possibilitam essa
comunicação. Esse formato surgiu em meados dos anos 70 do século XX e tem como sua mais famosa
representante a internet, surgida inicialmente para comunicação em ambientes militares.
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sentido de ligação entre os freqüentadores da comunidade (Palácios apud Recuero,
2003) e a moral da reciprocidade (Lévy, 1999), onde os participantes sentem a
necessidade de expressar seus conhecimentos quando se deparam com algum
acontecimento ou a formulação de questionamentos. Fato importante para situarmos a
construção da informação nesses ambientes, a uma multiplicidade de receptores que
alimentam o fluxo dessas informações. Mas como o ciberespaço propicia essa
divulgação?
Há sempre uma novidade no ciberespaço que visa buscar cada vez mais
agilidade e eficácia na comunicação, em um momento em que o homem vive numa
sociedade onde as novas ferramentas tecnológicas são rapidamente substituídas por
outras, ainda mais velozes e eficazes. Kucinski (2005) diz que a Internet, portanto, o
ciberespaço, é a mais importante derivação das novas tecnologias que fazem parte do
campo de atuação da comunicação. O pesquisador identifica quatro principais funções
exercidas pela Rede:
(...) a de transmissão de dados, ampliando o leque de instrumentos de meios e
transmissão que compreende também o telefone, o telégrafo e o fax; a de
mídia, a mais nova depois da invenção da TV nos anos 1950; a de ferramenta
de trabalho, que permite acessar bancos de dados, fazer entrevistas, ler
jornais e publicações de todo o mundo e trabalhar com base nesse material; a
de memória de toda produção intelectual, artística e científica, na forma de
arquivos digitalizados, acessíveis de qualquer parte do mundo, (Kucinski,
2005, p.73).
Neste espaço, identificamos o Twitter, uma espécie de microblog que mantém
um serviço global de mensagens rápidas, onde os participantes postam as informações
respondendo a uma pergunta básica: What are you doing? (O que vocês está fazendo?).
O serviço de troca de mensagens foi criado em 2006 por Jack Dorsey, Biz Stone e Evan
Williams, foi “descoberto” pelos internautas, principalmente pelos brasileiros, em 2008,
e vem crescendo de forma absurda. Segundo aponta o artigo de Rodrigo Afonso8,
(...) o número de internautas residenciais brasileiros que visitou serviço de
microblogging pulou de 344 mil em fevereiro deste ano para 677 mil em
março, aumento de quase 97%, segundo dados do Ibope Nielsen Online. Esse
contingente representa 2,7% dos internautas residenciais do Brasil, que
somaram 24,8 milhões em março.
8
No
artigo:
„Sua
empresa
deve
estar
no
Twitter?‟,
de
28/05/09,
disponível
http://pcworld.uol.com.br/dicas/2009/05/28/sua-empresa-deve-estar-no-twitter, com acesso em 16/06/09.
Rodrigo Afonso fez a matéria especialmente para a PC World.
em
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Mas o que vem a ser o Twitter? Quais suas características dessa ferramenta
alternativa e como suas potencialidades podem ser utilizadas na comunicação de
desastres ambientais e até mesmo, na salvação de vidas? Prosseguiremos buscando
apontamentos para as questões.
O Twitter
Mistura de blog e celular, o Twitter é um espaço onde troca-se mensagens de
140 toques, assim como os torpedos de telefones celulares, só que, num espaço na
Internet, como um blog, ou, neste formato, um microblog. Segundo a pesquisadora
Gabriela Zago (2008):
Microblogs podem ser considerados como espécies de “blogs simplificados”,
na medida em que possuem os recursos inerentes ao formato blog (como
publicação de conteúdo em ordem cronológica inversa, e as demais
características dos blogs), mas de forma simplificada. A principal diferença
diz respeito ao fato de que as atualizações possuem limitações de tamanho,
como no caso da ferramenta Twitter, na qual cada atualização não pode
ultrapassar o limite máximo de 140 caracteres (que é também o tamanho
máximo permitido em uma mensagem de celular), (Zago, 2008 p.3).
O serviço foi lançado em outubro de 2006 pela empresa Obvious. Essas
mensagens curtas, constantemente enviadas, são também chamadas de tweets ou piados
(está aí a explicação do nome e do símbolo do serviço, um pássaro). É possível utilizar
o espaço para se postar fotografias, imagens que complementem as notícias.
Desde coisas banais como qual o menu do dia, no almoço, ao fato de se ter
presenciado algum incidente grave. No espaço, é possível acompanhar múltiplas
informações o que faz com que o interesse em “seguir” seja grande. São milhares e
milhares de seguidores atentos às informações postadas a todos os momentos, numa
comunicação rápida e contínua.
Outra característica citada por Gabriela Zago é o fato de que, além da internet,
os microblogs podem ser atualizados também a partir de ferramentas como o telefone
celular (através de SMS9 ou web móvel), o que amplia ainda mais a possibilidade de se
comunicar uma questão emergencial, como são os casos dos desastres ambientais, e
buscar um socorro com maior facilidade.
No caso do Twitter, as mensagens, no entanto, não vão para apenas uma
pessoa, como acontece no celular, mas sim, para todos os “seguidores”, ou seja, aqueles
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Do inglês Short Message Service. Tecnologia amplamente utilizada em telefonia celular para a
transmissão de mensagens de texto curtas. (Wikipedia, acessado em 09/04/2009)
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que acompanham o cotidiano do emissor da mensagem – sejam elas do seu convívio
social, ou desconhecidas. Quem se cadastrar no espaço vai ficar informado de todos os
passos do twitteiro10.
A proposta inicial de construção das mensagens colocada pelo site era a
resposta a pergunta “What are you doing?” (O que você está fazendo?), presente na
página inicial do site. Nela, os participantes, através dos 140 caracteres já mencionados,
tentam responder a essa pergunta a cada um dos seus seguidores que, voluntariamente,
recebem todos os posts do autor. No lado direito da página inicial de cada usuário, pode
ser encontrada uma lista com cada um dos outros usuários que ele segue.
Além das postagens mais pessoais, que basicamente respondem à pergunta
proposta pelo site, tornou-se comum no meio a utilização do espaço para a publicação
de opiniões e links favoritos dos autores dos posts, fazendo também com que os
usuários tenham a função de gatewatchers. De acordo com a definição de Primo e
Trasel11, gatewatching seria o processo de seleção das notícias (ou conteúdo) presente
na web, em função semelhante à de um bibliotecário.
Essa função popularizou ainda mais o Twitter, e o transformou em uma
importante fonte de informação em pautas importantes da mídia, como a cobertura das
eleições norte-americanas de 2008, onde os candidatos Barack Obama e John McCain
mantiveram seus perfis sempre atualizados Nos EUA, o serviço chamou a atenção no
ano passado, durante as eleições para a presidência, em 2008. Barack Obama e John
McCain mantiveram seus perfis no Twitter sempre atualizados.
A pesquisadora Raquel Recuero (2009) lembra que a comunicação, base das
formas de organização, é preciso que essas informações circulem “para que os
processos sociais coletivos possam manter a estrutura social e as interações possam
continuar acontecendo”, (Recuero, 2009, p. 89.)
Recuero (2009) explica que as relações e laços sociais têm como matéria-prima
a interação. A pesquisadora cita Parsons e Shill (1975) ao explicar que na interação, um
constitui-se em elemento de interação para o outro.
A ação de um depende da reação do outro, e há orientação com relação às
expectativas. Essas ações podem ser coordenadas através, por exemplo, da
conversação, onde a ação de um autor social depende da percepção daquilo
10
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Pessoa que utiliza o serviço, assim como internauta.
Retirado de HTTP://www.ufrgs.br/limc
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que o outro está dizendo. Interações... são parte de suas percepções do
universo que os rodeia, influenciadas por elas e pelas motivações
particulares desses atores. Neste sentido, Watslawick, Beavin e Jackson
(2000) explicam que a interação representa um processo sempre
comunicacional. (Recuero, 2009, pp.30-31)
A pesquisadora aponta ainda a interação como um caráter social
intrinsecamente ligado ao processo comunicacional, e cita Cooley ao afirmar que este se
torna, com isso, o último mecanismo das interações sociais. Ressaltamos, portanto, que,
embora tenha sido criada como um micro diário onde é possível postar fatos
corriqueiros do cotidiano, o Twitter faz parte do processo de “metamorfose dos
dispositivos informacionais” apontada por Lévy (1997), onde suas potencialidades
foram acopladas e transformadas em uma alternativa de denúncia social.
A iniciativa é interessante e vem a corroborar para a atuação funcional do
Twitter, microblog que se tornou conhecido pelo grande público, exatamente como
ferramenta de denúncia, como vemos a seguir.
O caso do uso do twitter durante os conflitos nas eleições do Irã
No mês de junho de 2009, um fato político-social em especial marcou o Irã: as
polêmicas eleições presidenciais daquele país. Depois da reeleição do presidente
Mahmoud Ahmadinejad, eclodiram no Irã manifestações violentas nas ruas contra o
resultado do pleito, considerado fraudulento. Instaura-se, nesse caso, um desastre
humano de natureza social, como identifica a Revista Geo Brasil 2002 (p.148).
A censura e as restrições do governo iraniano foram os motivos para que os
partidários do candidato reformista derrotado e líder da oposição, Mir Hossein Mousavi,
apelassem para o Twitter, para noticiar o que realmente estava a acontecer nas ruas da
capital durante os protestos em massa12.
Olhares de todo o mundo puderam observar as constantes manifestações de
iranianos, por meio da ferramenta da web. Se não fosse o microblog, muitas atrocidades
que aconteceram no país passariam despercebidas no resto do globo.
12
Informações obtidas nas edições de 16, 17 e 18 de junho de 2009 na Folha Online, no site:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica. Acesso em 18/06/09.
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Apoiador do candidato derrotado Mir Hossein Mousavi protesta em Teerã (Foto: Olivier Laban-Mattei/AFP)
Partidários do candidato reformista Mir Hussein Moussavi protestam contra a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad para a
Presidência do Irã, em Teerã (Foto: AP)
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http://fernandodeholanda.com/o-twitter-nas-eleicoes-do-ira/
No quadro acima, disponível pelo blogueiro Fernando de Holanda13, podemos
perceber que o verde é a cor da oposição no Irã. O grupo, por meio da desta importante
ferramenta, levou fotos e mensagens para o mundo todo. Diversos jornalistas, famosos e
anônimos mudaram seus avatares (imagens que ilustram os perfis) para tons de verde a
fim de apoiar tais manifestações. Holanda explica a importância da ferramenta para a
mundialização e publicização de tais acontecimentos.
Para se ter uma idéia da dimensão da manifestação virtual, palavras como
iranelection, seguido de Tehran e Iranian são algumas das mais acessadas na busca do
Twitter. Apesar de proibidos e bloqueados pelo governo de Ahmadinejad, o Twitter e o
Facebook continuam sendo acessados e são, nos últimos dias, uma das poucas
ferramentas para divulgar as informações do que está acontecendo no Irã (jornalistas
estrangeiros que cobriram as eleições estão proibidos de deixar os hotéis).
Por conta disto, o Departamento de Estado dos EUA pediu que as manutenções
periódicas do sistema fossem interrompidas para que ele permanecesse no ar
13
No site http://fernandodeholanda.com/o-twitter-nas-eleicoes-do-ira - acesso em 20 de outubro de 2009.
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continuadamente, e foi atendido. Um dos dirigentes do Twitter, Biz Stone, publicou um
post em seu blog oficial afirmando que a NTT America, responsável pelo servidor do
site, reconhece o papel do Twitter como uma importante ferramenta de comunicação no
Irã e por isso as manutenções foram temporariamente suspensas.
Considerações – Twitter como comunicação alternativa no Brasil
Assim como foi apontado nos Estados Unidos pela Safe America Foundation,
no Brasil, o Twitter também pode ser aproveitado como meio alternativo de
comunicação para denúncia de desastres. Embora sejam culturas diferentes, é possível
essa adaptação no país, já que a ferramenta é bem aceita por aqui, vide as diversas
manifestações apontadas na Rede, por usuários que denunciam corrupção política por
exemplo.
O espaço já é utilizado como local de protesto, como foi com o senador José
Sarney14. O fato fez com que políticos também aderissem ao espaço que, durante as
campanhas eleitorais, será aproveitado como local de propaganda, segundo a permissão
da legislação.
Outro exemplo pode ser bem aproveitado neste caso, específico em um caso de
desastre ambiental. Em maio deste ano, um temporal atingiu Salvador, na Bahia. O
blogueiro Emílio Moreno15, do blog Liberdade Digital, relatava que no Twitter, “(...) os
moradores da cidade alertavam sobre os pontos de alagamento, acidentes, escolas
inundadas(...)”. Moreno prossegue pontuando que “(...) a todo instante a página retorna
com informações e fotos das pessoas, via Twitpic(...)”.
Por meio da ferramenta, as pessoas puderam colaborar, enviando fotografias
que mostravam além dos pontos do alagamento, outras situações de risco, avisando
umas às outras, por meio da rede, onde estavam os pontos mais críticos. O fato,
certamente, serviria como uma bússola norteadora para equipes da defesa civil, por
exemplo.
14
Uma
página
intitulada
'Fora
Sarney'
foi
criada
no
http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1211395-5601,00SARNEY+E+ALVO+DE+PROTESTO+VIRTUAL+NO+TWITTER.html. Acesso em 27/10/09.
15
micro
blog.
No site http://liberdade.blogueisso.com/2009/05/05/enchentes-nordeste-em-salvador-jornalismo-naofaz-prestacao-de-servicos. Acesso em 28/10/09.
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O que observamos é um crescimento abrupto na utilização do ciberespaço.
Citamos mais uma vez a pesquisadora Raquel Recuero que postou no site Pontomídia16,
em 28 de abril de 2009, uma pesquisa do Via Ibope/NetRatings, que contabiliza dados
do crescimento do número de usuários residenciais do Twitter no Brasil no mês de
março, mostrando uma consistência no serviço. A pesquisa mostra que até janeiro de
2009, a média de usuários residenciais ficou em torno de 40 mil usuários. De fevereiro
em diante essa base aumentou para mais de 240 mil usuários (mais de 500%!). Recuero
lembra que os dados do Ibope focaram apenas os usuários residenciais, enquanto muitos
afirmam que a maioria dos acessos vem do local de trabalho, usuários que muitas vezes
podem não ter internet em casa.
Nota-se, contudo, um forte potencial para que a ferramenta seja aproveitada e
utilizada para auxílio na comunicação aos mecanismos de defesa civil do país. O
assunto, ainda em processo de pesquisa, rende muitos outros questionamentos
pertinentes a serem investigados e respondidos em outros momentos, pois o tema não se
esgota neste trabalho que teve como objetivo apresentar uma leitura inicial sobre a
questão.
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