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R E V I S TA
SET/OUT 2013 • ANO II • Nº 07
A REVISTA DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
o espetáculo das
superações
O esporte como
protagonista
da sustentabilidade
bate-papo
Marco Lentini,
presidente do FSC
Retrofit
Destaque
reconquistado
Por Amanda Santana
O
som que ecoava por meio dos rádios na cidade maravilhosa na década
de 1940 tinha um ponto de partida: o número 43 da Rua Venezuela,
na região portuária carioca. Lá, estavam instalados os estúdios
da Rádio Tupi – hoje chamada Super Rádio Tupi –, fundada em 1935 por Assis
Chateaubriand, sob a frequência 1280 AM. Anos depois, mais precisamente em
1951, no mesmo prédio foi inaugurada a TV Tupi, o canal 6.
O prédio, que recebeu diversos artistas nacionais e internacionais durante
os programas, tem grande importância histórica, contudo, sofreu o desgaste
do tempo. A região da cidade, durante anos, esteve em estado de degradação
que vem sendo superado graças ao projeto de requalificação urbana Porto
Maravilha. Nesse contexto de melhorias, diversos edifícios estão sendo
recuperados e modernizados.
O Venezuela 43, erguido na década de 1930, no entanto, se antecipou. Depois
de passar por um retrofit, nos anos 2011 e 2012, já está pronto e totalmente
renovado. “O edifício está inserido em uma área em transformação. A região do
porto passa neste momento por um grande processo de reurbanização, sendo
que o retrofit do Venezuela 43, sem dúvida, agrega valor a esta mudança”,
diz o engenheiro Wagner Oliveira, coordenador de pesquisa e desenvolvimento
do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE).
Arquitetura
Área interna do prédio durante as obras de retrofit
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Foto: Divulgação RRA - Ruy Rezende Arquitetura
Hoje, internamente adequado às demandas e aos valores atuais, o prédio
manteve as características de sua identidade arquitetônica externamente, como
a antiga fachada principal em estilo Art Déco. “Todas as fachadas ganharam
novas janelas, que vão praticamente do chão ao teto, visando um ambiente
clean e favorecido pelo day light”, diz o arquiteto Ruy Rezende, do escritório
RRA - Ruy Rezende Arquitetura, responsável pelo projeto.
Edifício Venezuela, que abrigou
no passado a Rádio e TV Tupi,
foi retrofitado e recebeu uma
certificação ambiental
Ficha Técnica
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Localização: Av. Venezuela, 43 - Região Portuária - Rio de Janeiro - RJ
Área locável: 4.488 m²
Investimento total: R$ 19 milhões
Data de finalização: outubro de 2012
Expectativa de consumo anual de energia: 706.535,43 kWh
Proprietário: São Carlos Empreendimentos e Participações
Arquitetura: RRA - Ruy Rezende Arquitetura
Projetos de elétrica e hidráulica: AQ Projetos de Instalações
Projetos de ar-condicionado: Vetor Projetos
Luminotécnica: Senzi Luminotécnica
Paisagismo: RRA - Ruy Rezende Arquitetura
Consultoria de sustentabilidade: CTE - Centro de Tecnologia de Edificações
Construtora: Sinco Engenharia
Infraestrutura
• Número de salas: 14
• Número de banheiros: 42
• Número de bacias sanitárias: 53
• Número de vagas na garagem: 14 vagas cobertas para veículos + 14 vagas para bicicletas
Fotos: Divulgação São Carlos
Vista do core do edifício
Proteção colocada na fachada para evitar impactos no entorno
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Retrofit
A mudança na estrutura do core foi proposta pela equipe
de arquitetura, assim como o novo sistema de transporte
vertical, o conjunto de banheiros, as áreas de serviço e as
áreas técnicas. Essas alterações, segundo Ruy, adequaram
a edificação às mais modernas soluções de tecnologia
e garantiu aos novos usuários acessibilidade, segurança
e todo o conforto das novas edificações Triple A.
Sustentabilidade
Cada passo dado no Venezuela 43 foi referenciado na
certificação LEED, desde o projeto até a gestão da obra,
para que o edifício conquistasse o selo expedido pelo United
States Green Building Council (USGBC), em nível Gold.
“Essa certificação foi escolhida porque representa elevado
padrão de certificação para edifícios sustentáveis, de acordo
com os critérios específicos de racionalização de recursos
naturais atendidos por um edifício inteligente”, afirma Fabio
Itikawa, diretor de relação com investidores da São Carlos
Empreendimentos e Participações, empresa de investimentos
e administração de imóveis comerciais, proprietária do prédio.
Pensando na sustentabilidade do edifício, foi elaborado
um projeto eficiente de iluminação e reúso de água
e um jardim no terraço, além de implantados um bicicletário
e vestiário para incentivo da locomoção dos usuários
por bicicletas. Mas para o arquiteto Ruy Rezende, os pontos
positivos desse projeto vão além das intervenções realizadas.
“A própria recuperação de um edifício reafirma o conceito
de sustentabilidade, pois, além do benefício social, não
se descarta a energia e os materiais já gastos na primeira
construção”, opina.
Já do lado de fora do edifício é possível notar a fachada
composta por vidros maiores e com alta eficiência energética,
que permitem baixa transmissão de radiação solar para
o ambiente interior e favorecem a entrada de luz natural.
Para complementar a iluminação do prédio, lâmpadas de alta
eficiência (T5) foram instaladas, proporcionando economia
de energia, bem como o equilíbrio entre conforto visual
e nível de iluminância.
Já o sistema de ar-condicionado funcionará por meio
do “sistema Variable Refrigerant Flow (VRF) eficiente, com
Gestão de Resíduos
5.000 m³ de
resíduos
]
= 1,7 mil caçambas de
lixo = 1 caçamba por dia
770 m³ de madeiras reaproveitadas
Meta de 75% dos resíduos
destinados à indústria da
reciclagem
]
= alcançado o índice de
93% de reutilização
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drivers de frequência variável nos compressores elétricos
das unidades condensadoras, modulando a expansão
do refrigerante de acordo com a demanda da temperatura
na zona climática, contribuindo para a eficiência energética
do sistema”, conforme explica Wagner, do CTE.
Equipamentos com sensores de presença e restritores de
vazão constante, além de descargas sanitárias com sistema
de duplo acionamento, ajudam na economia de água. O uso de
água não potável no abastecimento das descargas e do sistema
de irrigação também contribui nesse sentido. Isso é possível
devido ao sistema de tratamento que capta a água da chuva
e a água condensada do sistema de ar-condicionado.
A sustentabilidade do edifício também é percebida
na preocupação com a inserção de uma área verde, que
soma mais de 180 metros quadrados na cobertura do edifício
e pode ser acessada pelos ocupantes.
Fase de obra
Recuperar os 4.488 metros quadrados do edifício para
locação exigiu um investimento de R$ 19 milhões, sendo
que aproximadamente R$ 600 mil foi destinado à adequação
do prédio para receber a certificação LEED, de acordo com Fabio
Itikawa, da São Carlos. Ele conta que o imóvel foi adquirido por
R$ 6 milhões e ao final da obra, antes mesmo de receber o selo
LEED, foi avaliado em R$ 35 milhões. “O projeto de retrofit
promoveu a modernização estrutural da edificação, alinhada
aos padrões econômicos, sociais, estéticos e ambientais
da sociedade contemporânea”, ressalta Ruy Rezende.
Além de todo este investimento financeiro, foram
necessários 22 meses de obras para que o projeto fosse
concluído. De janeiro de 2011 a outubro de 2012, diversos
profissionais participaram do processo. A principal adversidade,
segundo o arquiteto da RRA, foi a falta de informações sobre
o prédio existente. “Isso nos levou praticamente a um projeto
correndo um pouco à frente da obra, na medida da permanente
descoberta durante a fase de demolições, embora tendo sido
realizadas diversas prospecções preliminares”, conta.
Executar a obra mantendo um canteiro limpo e seguro era
o objetivo desde o início, contudo, foram encontradas dificuldades para isso devido ao espaço disponível. “Com o espaço
Economia estimada
57% de redução de água para dispositivos
sanitários
100% de redução de água potável para irrigação
do paisagismo
15% do custo anual de energia
“
A própria recuperação de um edifício reafirma o conceito de
sustentabilidade, pois, além do benefício social, não se descarta a
energia e os materiais já gastos na primeira construção”
Ruy Rezende, arquiteto do escritório RRA
exíguo, entre três ruas, praticamente sem área externa,
a gestão do canteiro desafiou arquitetos, engenheiros e operários. Sem local para armazenamento, a entrada e a saída de
materiais precisaram ser meticulosamente controladas para
evitar o risco da formação de estoques e desperdícios”, conta
o arquiteto Ruy Rezende.
Como praticamente toda a edificação foi mantida, uma
das etapas que gerou maior volume de entulho foi a demolição
do auditório da antiga Rádio Tupi, que tinha capacidade para
1.500 pessoas sentadas. Isso foi necessário para que o espaço
desse lugar aos últimos três pavimentos da atual construção.
Esses resíduos, assim como os equipamentos retirados para substituição, foram enviados para reciclagem
ou reaproveitamento. A obra gerou mais de 5 mil metros
cúbicos de resíduos, o equivalente a 1,7 mil caçambas de
lixo, uma caçamba por dia. Só de madeiras, 770 metros
cúbicos foram reaproveitados. Segundo Ruy Rezende,
a meta de destinar 75% dos resíduos à indústria
da reciclagem foi superada, alcançando o índice de 93%
de reutilização. A coleta seletiva, com a separação de
madeira, aço, plástico e entulho, facilitou a destinação
do material para a indústria da reciclagem. O processo
de gestão de resíduos foi documentado e monitorado
pelo CTE. Com isso, foi possível o controle total dos
resíduos retirados, com frete e destinos conhecidos.
Uma das características de um retrofit é a economia de
recursos naturais que seriam utilizados para construção das
estruturas que foram mantidas. No caso do Venezuela 43,
é esperada também a redução de 57% de água para dispositivos sanitários e 100% para irrigação do paisagismo, além de
economia de 15% do custo anual de energia, durante o uso
do prédio. Mas, além da redução dos custos operacionais
para os usuários, será proporcionado um ambiente de
trabalho mais saudável e responsável. GB