história transcrita

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P/1 – Você pode dizer seu nome completo, local e a data de nascimento.
R – Ana Lucia Gomes de Oliveira Silva, nascida em São Paulo, capital. Cinco de setembro de 1961.
P/1 – E o nome dos seus pais Ana?
R – Nelson de Oliveira e Aider Gomes de Oliveira.
P/1 – O que é que eles fazem? Faziam?
R – Meu pai foi de 52 a 57, trabalhou como pugilista profissional, foi campeão sul-americano, chegou a
isso, aí depois nessa época já casado, aí trabalhou como segurança, foi funcionário da Vasp. E minha
mãe trabalhou muitos anos como costureira.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho um irmão 18 anos mais novo que eu, que mora perto da minha mãe, mas somos só em dois.
Durante muito tempo então eu fiquei filha única, estar única, única sobrinha, que a minha família é um
ovo, é meu pai, um irmã e três primos só, éramos só nós.
P/1 – E o que é que o seu irmão faz?
R – Meu irmão trabalha como segurança particular de praças e tem duas meninas, mas ele trabalha assim
bem simplesinho, foi, era muito preguiçoso para estudar e aí terminou o colégio a pulso e aí trabalha
nessa área de segurança há uns cinco anos mais ou menos.
P/1 – E você sabe a origem da sua família?
R – Então, o meu pai é de Itatiba, ele teve mais nove ou dez irmãos, que a mãe dele casou-se com uma
pessoa 20 anos mais velha, foi um casamento arranjado e aí teve esse monte de irmãos. Só que a
diferença de idade muito grande, os irmãos perderam-se, separaram-se e aí sobrou basicamente minha
tia, irmã dele mais velha, que cuidou dos últimos três irmãos pequenos. A mãe faleceu meu pai acho que
tinha uns cinco, seis anos e o pai faleceu um ano depois, então ficou minha tia, meu pai e mais um irmão
para ela cuidar. Ficaram, a família foi separada, um veio morar para São Paulo, o outro ficou com uma
madrinha. E aí da parte do meu pai só isso, tanto é que meu pai reencontrou a irmã quase 30 anos depois
do falecimento dos pais dele. A minha mãe foi criada em um colégio interno e o pai dela na época teve
lepra e aí ficou internado, faleceu na faixa dos 40 e poucos anos e um hospital bem distante e minha vó
fazia chapéus ali na Liberdade, costurava chapéus. E aí criou a minha mãe e um irmão, mas assim os dois
em colégio interno. Só que meu tio não passou de dois anos porque ele era muito sapeca e foi expulso,
minha mãe ficou de criancinha até completar 18 anos. Aí aprendeu a profissão de costureira e aí
trabalhou com isso.
P/1 – E você conheceu sua vó?
R – A vó por parte de mãe sim, por parte de pai não.
P/1 – E como é que ela era?
R – Minha vó era mulher muito vaidosa, assim, muito bonita, muito caprichosa e para a época era uma
mulher muito bonita e muito independente porque como ela sempre trabalhou, sempre foi sozinha, sem o
marido, trabalhou bastante, tal. E aí eu brinco que ela tinha assim, na época eu não entendi, mas ela tinha
muitos namorados, então o pessoal, a gente não tinha assim um convívio mais familiar, porque agora eu
entendo isso, as pessoas eu acho que não aceitavam essa vida dela independente com namorados que vez
ou outra frequentavam a casa, passavam a noite lá, depois iam embora. Mas convivi bastante tempo com
a minha vó sim.
P/1 – E ela te ensinou costurar? Te contava histórias? Como é que era?
R – Não, a convivência com ela foi até os nove, dez anos no máximo. Depois ela e minha mãe acabaram
brigando, porque também minha mãe não teve contato com a mãe dela porque ficou sempre em colégio
interno e imagino que não se conformava da mãe ter deixado ela no colégio tanto tempo. E aí as duas
acabaram brigando, então eu só tive contato depois dos nove anos de idade com a minha avó, já ela
falecida e eu já casada, então uns 20 anos depois mais ou menos que eu fui reencontrar com a minha vó.
Mas aí ela já estava doentinha, aí ela acabou falecendo, ficou um ano e pouco com a gente, mas aí já
faleceu. Mas nesse um ano ela já não falava, ela teve um derrame, então não teve assim muita conversa,
mas era vaidosa, porque quando teve o derrame, a pessoa que ajudou, um amigo dela lá no prédio e disse
que ela na maca ela fazia assim, está com dor, está sentindo alguma coisa, derrame? Não, deram banho,
esqueceram de passar o talco e o perfume, lá na maca reclamando que estava sem perfume, , estava
saindo. Então bem caprichosa, muito, muito vaidosa e eu acho que eu puxei mais a minha vó do que a
minha mãe, minha mãe é mais sossegada.
P/1 – Puxou mais em que sentido?
R – Vaidade, independência, assim, talvez um pouco mais de paciência. Então nesse quesito minha mãe
é mais brava, mais briguenta e não liga para corte de cabelo, maquiagem, roupa. Eu já sou mais
preocupada com tudo isso.
P/1 – E como é que era a casa que você cresceu? Onde é que era Ana?
R – Era um apartamento, porque a gente morava, como o meu pai tinha essa profissão de pugilista, não
era uma coisa que rendia dinheiro, não tinha verba sempre. Então às vezes a gente mudava sozinhos, mas
eventualmente, o que eu me lembro, a maior parte do tempo a gente morava com a minha vó. Então era
um apartamento ali no Jardim Tremembé, perto de Palmas do Tremembé, perto do Horto Florestal, que
era da minha vó e aí era um apartamento grande, com três dormitórios, uma sala grande e tal, um
apartamento antigo. E aí eu lembro que se descia para brincar, mas ainda não tinha luz na rua, ali Palmas
do Tremembé é um lugar que só tinha ou algumas casas muito grandes ou terrenos imensos, assim,
pelados, sem nada, sem ninguém. Então era gostoso porque era só aquela vizinhança e aí você descia
para brincar, a escolinha ali era perto. Era muito bom ali, mas era um prédio, não tinha elevador, mas a
gente fez assim várias amizades que duraram até as pessoas mais idosas irem falecendo, que são os
conhecidos da minha mãe, da minha vó. Mas era bem gostoso ali, frio, muito frio.
P/1 – Do que é que você costuma brincar, o que é que você gostava de brincar?
R – Ixe, minha mãe não deixava muito ficar na rua sozinha, porque desde essa época, sete, oito anos, eu
já comecei no balé, ela tinha uma preocupação muito grande de ficar na rua, de ficar sem atividade.
Então tinha que ir para a escola, depois tinha as aulas de balé, eu comecei com o Jose Leão em 73, 74, ali
na, ele tinha uma escola na Duque de Caxias ali com Barão de Limeira, tal. Então era longe, demorava
para ir, para voltar, então não sobrava muito tempo para ficar na rua. Mas o tempo que eu ficava e podia
brincar, a gente brinca muito de mãe da rua, queimada, minha mãe brincava junto nessa época, andava-se
de bicicleta, era gostoso. E talvez até pelo esforço da minha mãe trabalhar fora, eu era uma das poucas
crianças, assim, a minha casa foi a ter tevê, então a vizinhança toda se reunia para assistir tevê e eram
meia dúzia de programas a tarde só. Então a criançada, quando eu estava em casa, minha mãe deixava, se
reuniam para assistir tevê. Bicicleta basicamente só eu que tive no começo, depois é que as outras
crianças foram tendo. E aí nessa época já com sete, oito anos, meu pai começou a trabalhar na Vasp,
então também era um diferencial porque o avião fazia a rotina, a viagem e sobrava, o lanche na época era
pão, misto frio, pão, queijo, presunto no pão Pullman e, quase ninguém tinha isso. Então ele trazia, as
pessoas desciam com aquilo do avião, era para ser jogado fora, normalmente ele recolhia, pedia para as
comissárias e elas traziam. Meu pai sempre teve esse hábito, ah, não vai desperdiçar, vamos guardar. E
aí, eventualmente escondido lógico, mas as pessoas entregavam para ele, quem fazia a troca dos lanches
do avião. Então eu costumava ter esse tipo de lanche ou a tarde, ou de manhã e com guaraná ainda, que
também era uma coisa muito difícil, ninguém quase tomava. Então eu era rica e não sabia na época, ,
porque só eu. Então assim, muitas crianças as vezes mais velhas que eu adoravam brincar comigo porque
na hora do lanche tinham essas coisas que quase ninguém mais tinha. E por eu ser talvez filha única na
época, era mais fácil da mãe e o pai trabalhando poder fazer essas coisas, trazer lanches diferenciados,
caixas de bombom, como minha vó também trabalhava fora no Centro, então ela trazia as vezes. Já tinha
um pouco do bairro japonês, então ela trazia uns biscoitos, o Sembei, parece um biju, então ela trazia
aquilo e, quase ninguém conhecia. Então eu tinha vários amigos interesseiros, mas eu tinha bastante
amigos, .
P/1 – E você se lembra do seu pai nas lutas, você chegou a ir? Como é que era?
R – Não, na época de pequena eu não assisti nenhuma luta porque ele parou, minha mãe ficava muito
nervosa, ele parou de lutar nessa época. Mas continuou treinando, fez judô, chegou a ser faixa preta de
judô, ainda hoje com 84 anos, 83, que ele faz em dezembro, mas ele ainda dá aulas, ainda dá aula de
boxe e, aí fez curso para juiz e tal. Eu comecei a assistir lutas do meu pai já com 13 para 14 anos, que aí
ele voltou a dar treino, aí tinham algumas academias, o tio do Eder Jofre ali em uma travessinha da
Ladeira Porto Geral, a Rua Varnhagen, eles tinham uma academia lá no prédio e aí eu o acompanhava, as
vezes acompanhava o meu pai dentro das academias. E aí na época ele até lutou, esqueci o nome agora
do tio do Eder Jofre, mas a família toda eles eram boxeadores e aí eu cheguei a assistir algumas lutas do
meu pai, mas dava muito aflição, não gostei muito da experiência não. Mas nessa, com 13 anos assim, já
assisti, aí assisti eu, meu marido, meu irmão chegou a ver, que já era grandinho, aí assistiu também.
P/1 – E o balé? Como é que foi o balé para você?
R – É, talvez até, eu sempre gostei de dançar, mas talvez até por frustração da minha mãe de não ter
podido fazer, porque era de um, estudava em um colégio interno, um colégio de freiras, não tinha muito
recurso para fazer coisas extracurriculares. Então ela me colocou, fez esse sacrifício para ela na época,
porque era uma escola particular no Centro, então tinha condução, deslocamento, tinha lanche porque eu
saía da escola e ia para lá. E aí ela fez a matrícula, eu era baixinha, rechonchudinha, bem gordinha e aí o
pessoal tipo, não vai dar muito para bailarina. Mas eu sempre fui muito ligeira em decorar coreografias,
aprender movimentos, eu sempre peguei muito rápido isso. E aí eu fiz no Jose de 73 mais ou menos até
75, aí entrei na Escola Municipal de Bailados, através deles, porque também na época como eu comentei,
na época que eu fiz só tinha eu e outra aluna negra, não tinha muito. A Marília Franco na época era
diretora, eu não entedia muito, mas ela com o passar do tempo ela se mostrou bem racista, não gostava
muito não, mas eu fiquei lá até final, como eu falei minha mãe era muito brava, teve duas ou três brigas
grandes com a diretora, que ela tentou me expulsar, tipo assim, “Ai, teve faltas demais”. E aí minha mãe
falou: “Como assim? Eu venho trazer, eu venho buscar a menina. A menina está aqui, como é que tem
tudo isso de falta?”, ela colocou que eu tinha faltado um mês direto e aí eu tinha perdido a vaga na
escola. Mas de briga em briga eu consegui me formar e formei em 80 na Escola Municipal e aí continuei
fazendo aulas particulares a partir de 77 com a Maria Helena Mazzetti, uma academia aqui na Praça da
Árvore. Aí ela ficou lá até 88 mais ou menos, meus filhos chegaram a estudar nessa mesma escola, tanto
o menino quanto a menina e aí ela dava aula também no Clube Sírio-Libanês e, aí a gente tinha as
apresentações lá em alguns teatros. E aí não parei mais de dançar, deixei o balé clássico por todas essas
dores de cabeça, você para participar de alguma apresentação, como o balé clássico é difícil teria que
brigar muito e eu não sou muito briguenta não, aí falei: “Ah”. Aí comecei fazer danças populares, danças
brasileiras, que é mais confortável, é mais cômodo e aí que cheguei até o maracatu de hoje. Mas o balé
clássico foi a minha formação, é uma coisa que eu adoro fazer, mas acabei ficando desestimulada, como
companhia de dança, como para participar de algum grupo. Precisa de muita dedicação e como eu
também não tenho o porte físico, altura e tal, seria mais difícil ainda para mim. Mas aí eu resolvi fazer
outra coisa, falei: “Mais confortável, menos briga”.
P/1 – E voltando um pouquinho lá na sua infância, você se lembra do seu primeiro dia de aula mesmo, na
escola, como é foi?
R – Escola de balé?
P/1 – Não, escola.
R – Escola normal?
P/1 – É, de alfabetização.
R – Ah, foi tranquilo porque era uma, na época estava começando uma escolinha como se fosse
maternal, o jardim, eu já tinha uns seis anos. E era uma professora particular que montou turmas na casa
dela, seria uma escolinha particular e eu peguei muito rápido, tanto é que eu fiz o primeiro e o segundo
ano em um ano só, porque eu ficava atrás da professora, ficava com ela e aí ela passava os exercícios de
“A” e tal, eu acompanhei. Aí ela me colocou em uma sala já de segundo ano para juntar, fazer as
pequenas frases, juntar palavras e tal e, eu consegui acompanhar. Então tanto é que com dez, dez anos aí
fui para escola normal, escola da Prefeitura, mas aí eu já não tinha muito problema, assim, que eu não era
uma criança muito agarrada em casa, sempre pela rua ali, pelo prédio, brincava, ficava com as crianças,
então eu não estranhei não, foi confortável. A única coisa que eu fazia, por ser talvez filha única, era
meio manhosa e para não ficar longe da professora, eu inventava que tinha dores de cabeça, toda tarde eu
tinha dor de cabeça, dor de cabeça. E aí ele me dava um remédio e passava, aí demorou um tempão para
descobrir, ela fazia Kisuco, , e ela me dava como remédio, eu ficava boa. E aí foi, mas eu achava o
máximo que ela ficava prestando atenção em mim, me dava remédio, tal, mas aí depois me pegaram pela,
, “Ah, mas a dor de cabeça passa, não passa nunca. Professora me dá um remédio?”, aí minha mãe
mostrou, falou: “Oh, você toma Kisuco”, eu falei: “Ah, está bom”, . Aí não deu mais para dar essa
desculpa, aí eu fiquei, passei a frequentar as aulas normalmente com as crianças e aí perdi a, como se diz,
o carinho todo da professora, que aí eu tinha que ficar na sala quieta.
P/1 – E por falar em professora, teve alguma professora no seu período infantil de escola que tenha sido
marcante para você?
R – De escola, de escola não, assim, não sei explicar, mas eu sempre meio que passei pela escola sem
muita atenção. Talvez até pela condição, cabelinho crespo, não era alisado, aí você não fazia parte das
meninas bonitas da sala de aula e aí tinham festas, aniversários que eu não fazia parte porque na época a
minha escola, apesar de ser ali na Zona Norte, ela tinha piscina, então era uma escola estadual vamos
dizer assim requintada para a época. Mas eu não fazia parte do círculo social das pessoas, meu pai não
tinha carro, a gente morava em uma área nobre, mas a gente era a ralé, não era, não fazia parte daquele
mundo. Então para mim acho que o mais cômodo, aonde eu me sentia mais a vontade, era na dança, no
balé, porque você fazia os personagens. Na dança eu tinha vamos dizer assim um destaque, eu tinha uma
atenção toda especial porque eu era boa aluna, eu decorava, eu sempre dançava na frente. Então aí eu me
sentia mais a vontade, mas de escola não tenho assim nenhuma lembrança marcante, quando eu
conseguia passar o ano tranquila, com as notas em dia, era uma maravilha. Aí o que era ruim era quando,
por exemplo, tinha as aulas de natação e eu não sabia pentear o meu próprio cabelo, quem penteava era a
minha mãe e aí uma vez eu fui desmanchar porque todo mundo, “Ah, você vai para a piscina e não
desmancha, não penteia”. E aí eu não consegui prender o cabelo de novo, então ficou uma coisa
medonha. Hoje em dia a gente usa, solto, crespo, aberto, mas antigamente não, tinha que estar super bem
preso ou muito alisado. E aí um professor, assim, além de me dar bronca por eu ter chegado atrasada,
ainda fez chacota porque eu estava toda descabelada. Aí eu sentei lá no fundo, fiquei quieta, terminei
colégio, terminei ginásio, mas assim bem quietinha, bem invisível vamos dizer assim. Para o meu grupo
de conhecidos que sabiam que eu dançava, então se tinha algum espetáculo, alguma apresentação, eu era
chamada e, uma época muito boa, foi final de colégio, foi que eu fiz ginástica olímpica, aí eu tive algum
destaque. Mas com relação a ginástica olímpica, porque eu ganhei títulos estaduais e aí representava o
colégio, então tive certo conforto, as pessoas me reconheciam e melhorou essa coisa de meio invisível.
Mas foi só, mas já estava final de ginásio, começo de colégio, então aí eu já, tipo, eu já estava formada
vamos dizer assim. Mas de pequena não tenho nenhuma lembrança assim especifica, especial, uma aluna
mediana.
P/1 – E essa fase sua de ginástica olímpica, você chegou a participar, o que, de torneios nacionais? Como
é que foi isso?
R – É, esse colégio Albino César, entrou uma professora de Educação Física, professora Karen. Oh, tem
uma, lembrei dela está vendo. E ela inscreveu a escola, alguns alunos, ela começou a dar o treino, porque
antigamente tinha assim vôlei e queimada como atividade da Educação Física. A minha escola tinha
natação, mas era uma piscina aberta, então não teve assim nenhum destaque para esse esporte. E aí essa
professora Karen pegou algumas alunas e levou para uma parte do ginásio, tinha todo material, espaldar,
cavalos, as coisinhas para saltar e começou a treinar. As alunas que foram de destacando ela foi treinando
de maneira mais intensa, aí depois de um ano, então tinha eu e mais seis meninas que faziam parte da
equipe de ginástica da escola. E aí ela inscreveu no campeonato municipal, depois campeonato estadual e
aí participamos de alguns campeonatos paulista. E aí foi uma época que a escola teve destaque, que a
gente ganhou várias medalhas e em 76 se eu não me engano, é, 76, eu ganhei campeã estadual paulista
com seis medalhas, por solo, por equipe, por aparelho. E aí peguei vários títulos assim e aí a gente
começou a treinar, ela conseguiu, como a escola não tinha mais material e ficou reduzido a esse grupo de
seis, sete meninas, então ela nos levou para treinar ali na polícia militar ali na Cruzeiro do Sul, que eles
na época tinham uma equipe masculina de ginástica olímpica. E aí treinamos lá um ano e pouco, terminei
o ginásio, então acabou a fase de participação, só que nós continuamos treinando pela polícia militar.
Mas aí não chegamos a competir porque não tinha, não formou equipe feminina, mas treinei acho que
uns cinco anos assim. A equipe masculina teve mais prêmios, a polícia militar manteve, a feminina não,
só deixou a gente treinar, mas depois não conseguiu formar equipe.
P/1 – E quantos anos você tinha mais ou menos?
R – Uns 12, 13 anos mais ou menos. Dessa época até, é, de 12 a 14 anos eu fiz a ginástica olímpica e
ganhei o campeonato com 13.
P/1 – E você tinha algum sonho, assim, de quando crescer eu quero ser?
R – Então, eu acho que eu sempre fui muito, vamos dizer assim muito tranquila nessa parte porque até
com relação a casamento, a namoro, eu não criei muitas expectativas, assim, de sonhos, de fazer o que,
de realizar. Nunca tive, estou tendo essas realizações, esses desejos de um ano para cá, que aí montei
uma loja e aí vou trabalhar na loja e a loja vai crescer e aí a gente vai transformar a loja em uma
boutique. Então eu estou tendo, todos esses sonhos, estou começando agora, depois dos 50. Mas antes
não tinha não, até mesmo para e, o casamento, o ponto mais alto de uma adolescente, namorar, vou casar,
quem programou, quem fez o enxoval foi todo minha mãe, eu só fui lá participar do casamento, . Eu
queria casar, mas tipo organização, o que você quer no casamento, o que você não quer, não. Só escolhi
o vestido, o resto o povo todo que fez, eu fiquei só de, vamos dizer assim, de espectadora, fiquei só
olhando as coisas acontecerem.
P/1 – E o seu primeiro namoro Ana?
R – É o que eu estou casado até hoje, 30 anos de casado. Comecei a namorar, mas foi, achei, o povo até
brincava, “Você não vai casar”, porque eu brinquei de casinha até os 16 anos. Conheci ele em um
aniversário de uma amiga de 15 anos, que eu fui dançar a valsa, ele se interessou, me deu telefone, ele já
trabalhava, até então eu não tinha trabalhado assim registrado, não fazia nada, a não ser dar as aulas, mas
era uma coisa mais informal. E aí ele me ligou para a gente passear e tal, para sair, aí saía, passeava com
ele. E aí ele vinha em casa, “Ah, eu vou aí esse final de semana”, só que eu sempre estava na vizinha
brincando de bola, brincando de casinha. E aí depois de um mês a minha mãe que me deu uma bronca,
falou: “Oh, estou cansada de tomar café com o rapaz, então você para de ficar, então você vem namorar”.
Mas eu realmente não tinha muito essa noção, esse compromisso, eu largava ele lá e ia brincar. E aí se
ele queria e chamava ele, “Você não quer empinar pipa com a gente?”, eu tinha 15 para 16, é 16 já
completo, ele já tinha 21. Então ele trabalhava, “Não, não quero”, eu falo: “Ah, então fica aí, eu vou
jogar bola”, ele ficava lá e eu ficava jogando bola na rua, empinar pipa. Eu ficava correndo, então, mas aí
ele coitado, ele me aguentou até o final, aí casamos em 82 e aí estamos até hoje lá. De vez em quando a
gente briga e aí ele fala: “Fica em casa”, eu falo: “Não, vou sair”, aí eu saio, ele não liga não.
P/1 – E como é que foi o seu casamento?
R – Olha, para época, com toda pompa e circunstância, porque a gente fez em casa a festa, mas foi uma
festa para 300 pessoas na época e ele comprou todas as bebidas, minha mãe, minha tia fizeram o jantar,
teve arroz com lagosta porque para poder encher o povo. E organizaram tudo, esvaziamos tipo a sala e
um quarto da casa, uma casa já lá na Vila Mazzei, a gente já não tinha mais o contato com a minha vó. E
a festa foi tipo a noite toda, que serviram e a única coisa assim, para você ver que eu estava tão
despreocupada, que a minha mãe foi e pagou para mim aqui na Augusta o Jacques Janine. Eu passei a
pobre metida, o povo não tinha dinheiro, mas minha mãe sempre trabalhava que nem uma doida e fazia
as coisas. E aí eu passei o dia lá no Jacques Janine, então assim, eu não vi a arrumação, eu não vi nada.
Os móveis do apartamento, a gente conseguiu comprar ali em Itaquera, na COHAB, estava começando
aquela COHAB de Itaquera lá perto de onde vai ser o clube do Corinthians, era um final de mundo.
Compramos um apartamento lá só que ele não ficou pronto e aí quando eu voltei, acabou a festa, tal, para
poder viajar para a lua de mel, não tinha roupa, porque como ele desmanchar o quarto e a sala para caber
as pessoas todas, tinha um monte de caixa uma em cima da outra, eu não tinha roupa. Aí eu fui para a lua
de mel com a camisola velha da minha mãe, ele com três cuecas do meu pai, que dava três dele, um
vexame só, porque puxava a camisola de um lado, ela abria do outro, eu morria de vergonha. E aí a gente
acabou ficando aqui em um hotel ali perto de onde eu casei, eu casei na Basílica de Santa Efigênia e aí
ficamos por um hotel ali mesmo, porque não tinha como viajar. Ia ir sem roupa, porque tinha um vestido
de festa que o tintureiro entregou, duas bermudas e o calção de boxe do meu pai, foi o que eu fiquei, . Aí
aproveitou, ficou os dois dias trancado dentro do quarto do hotel.
P/1 – E não viajaram?
R – Não, não viajamos. Acabamos ficando lá e depois voltamos já para a casa nova, para a casa da minha
mãe, tal, porque o meu apartamento não ficou pronto, ainda fiquei dois meses na casa da minha mãe.
Mas aí foi esse o passeio, foi ficar e, ficar literalmente dentro do quarto porque eu não tinha roupa para
sair, não tinha roupa nenhuma.
P/1 – E o que é que você sente que mudou da sua, dessa fase da juventude para a sua infância?
R – É, agora, nem da juventude porque eu saí do, vamos dizer assim, do controle do pai e da mãe, mais
da mãe, o pai sempre foi muito tranquilo, saí do controle da mãe para cair no controle do marido, porque
eu não tinha a menor ideia do que era ser dona de casa. A minha mãe não deixava cozinhar, não deixava
eu fazer nada porque, “Ah, você não sabe. Você vai se queimar”, eventualmente, eu nunca ficava assim
em casa porque era treino de ginástica olímpica, era o balé, era eventos e tal e, dava aula. Então não
ficava, minha tia muito boazinha, quando eu ficava lá, também, era dois primos homens, uma prima
caçula, mas eu com uma diferença de oito anos abaixo, então era mimada. “Ai tia, quero suco”, “Não,
deixa que eu faço. Você vai cortar o dedo”, “Ai tia, quero comer lanche”, “Não, fica aí que eu faço
porque você vai sujar”, enfim. Então não fazia nada e, casei nesses termos, então eu não sabia fazer nada,
não sabia cozinhar, não sabia lavar, não sabia passar. Limpava o básico assim da casa, mas também não
sabia fazer muita coisa. Então a diferença maior que eu vejo é que agora eu tenho poder de decisão sobre
o que eu quero fazer, eu tenho um planejamento. Antes eu era meio que orientada, eu era levada, “Oh,
você vai no mercado hoje fazer compra para casa”, “Está bom”. Aí na fase dos filhos pequenos, isso eu
soube cuidar porque eu cuidei do meu irmão, que ele nasceu logo que eu comecei a namorar, um ano
depois que eu comecei a namorar, ele é de 79. Então cuidei dele, então nisso, aí me prendi a cuidar de
criança, a ir para a escola, então passei uns seis anos mais ou menos só fazendo isso, levando criança
para lá, para cá, olhando caderno, indo a reuniões de escola. E aí as coisas de casa, já tinha seis, oito anos
de casada, então você já pega mais ou menos o ritmo. E agora que está todo mundo grande que eu meio
que fugi de casa, então montei a loja e aí eu saio, comecei a frequentar o maracatu, então de sábado, “Ah,
você vai fazer?”, “Não, não vou fazer nada, eu vou para o maracatu”. Mas como não me comprometi lá,
então nesse período é agora que eu decido algumas coisas que eu faço, algumas coisas. Mas antes eu era
comandada, fazia, “Vai lá” e, vou, “Vem aqui”, eu vinha, então.
P/1 – E você continuou estudando? Como que foi depois de casada?
R – Em 84, já formada pela Escola Municipal de Bailados, eu prestei o vestibular e passei, aí eu fiz a
Educação Física. Só que eu entrei em 84, minha filha nasceu em novembro de 84. Terminei, então esse
ano fiquei com algumas DPs, porque estava o começo de gestação, perdi algumas provas, só que aí em
85, eu voltei. O meu outro filho nasceu em 86, então eu já estava grávida de novo e, aí o terceiro ano foi
levando criança, eu estudava lá na UMC Mogi, morava em Itaquera, mas aí com duas crianças eu acabei
desistindo de ir para a faculdade, porque uma ainda até que dava, mas duas, a menina já andava, já tinha
um ano e pouco, aí eu não terminei. Mas sempre gostei de estudar e aí continuei fazendo cursos,
frequentando academias e, aí como eles faziam natação, eu fazia hidro. Aí quando coloquei eles no Sesc,
eles tinham atividade, eu fazia alguma outra coisa. Mas aí de 2000 mais ou menos para cá, que eles já
completaram 16, 17 anos, aí que eu comecei de novo a estudar, mas sem planejamento, voltei a estudar
porque eu gosto. E aí foram aparecendo oportunidades de trabalho, fui trabalhando esporádico e até que
apareceu esse contrato mesmo de trabalho agora, tanto da loja, a loja tem um ano e meio e esse contrato
tem uma semana, de prestação de serviços em condomínios e tal.
P/1 – E como surgiu essa ideia da loja? Fala um pouquinho o que é que esse negócio que você faz?
R – Tá. A minha loja é um espaço feminino, a ideia é que vire um boutique sensual onde eu dou aula de
pompoarismo, dou aula de pilates, dou aulas de ioga, melhora a postura, vamos dizer assim organização
corporal por inteiro. Minha filha dá aula de dança, ela faz parte de um grupo chama-se Cia Halim,
começou com dança do ventre, estilo tribal, que é uma fusão de vários ritmos, flamenco, dança árabe,
dança indiana. E aí culminou agora de três, quatro anos para cá, elas fazem o burlesque, o burlesque
então tem a chair dance, tem o strip-tease, ensina a pessoa a fazer esse tipo de coisa. E a gente levou essa
parte do sensual para a loja, então qualquer pessoa que queira fazer uma apresentação para o marido,
para o namorado, comemorar um aniversário de casamento, então a gente fornece, oferece a encenação, a
aula de strip se você quiser, a roupa, aonde você vai comprar espartilhos, calça vintage, coisas dos anos
20 e inclusive produtos sensuais, hidratantes, pétalas de rosa, toda a parte que você faz uma ambientação.
E aí como eu continuo dando as aulas de pilates, eventualmente sempre tem alguém mais travado, que
não se reconhece sensual, se acha feia, se acha gorda, tal e, a gente faz esse trabalho, da pessoa se gostar,
se reconhecer no corpo que ela tem. Então tem um ano e meio a loja, é ali perto de onde eu moro, na
Zona Leste, mas a ideia é agregar serviços, cabelereira, manicure, massagens, todo esse tipo de trabalho
para ser um bem estar geral mesmo e completo. Aí trabalhando na loja tem algumas amigas da minha
filha que se formaram também em Educação Física e trabalham na região e, aí ela me ligou que um
condomínio que ela trabalha estava com falta de professores, se eu daria a aula de pilates de solo. Aí eu
falei: “Ah, eu vou”, ela falou: “Ah, precisa fazer um currículo”, eu falei: “Jesus, eu nunca fiz um
currículo na vida”. Eu trabalhei, na época que eu trabalhei na Siluet em 82, foi uma coisa de contrato,
porque eu fazia aula de dança, foram na academia e me contrataram. Aí meu filho me ajudou a fazer o
currículo, aí eu falei: “Coisa feia, tudo de 1979 para trás, não tem nada muito, a não ser os cursos”, mas
como contratada não tinha nada, porque eu sempre trabalhei por conta própria, autônoma. E aí fui, fiz a
entrevista e aí o rapaz gostou, conversou comigo, pediu para eu desse uma aula, eu dei a aula, os alunos
gostaram, ele falou: “Ah, perfeito”. E aí fechamos o contrato e aí eu estou trabalhando agora para uma
empresa realmente de nome e tal. Estou trabalhando.
P/1 – E voltando ali atrás, um período quando você era bailarina clássica.
R – Uhum.
P/1 – Você estava mostrando as fotos para a gente, você chegou a dançar, se apresentar em alguns
lugares?
R – Sim. Dancei bastante, a escola da Maria Helena Mazzetti fazia apresentações regulares, todo final de
ano Teatro Paulo Eiró, Teatro João Caetano e Clube Esporte Sírio, aqui, para o Ibirapuera, porque
também ela mantém, mantinha lá uma academia, aulas de dança. E de lá tinha uma professora, ela
assumiu um academia ali em Santo Amaro e aí quando tinha espetáculo, de final de ano ela montava dois
a três espetáculos para reunir todas essas alunas, Teatro Paulo Eiró e tal. E eu participei, mas o mais
significativo foi a apresentação de Petrusca, foi um balé pelo corpo de dança de Curitiba, que veio esse
grupo fazer uma apresentação aqui e, pegaram as alunas formandas para fazer o fundo, da parte de fundo.
E aí na época a diretora da Escola Municipal foi anunciar que o diretor, um senhor português, estava
procurando alunas do último ano para fazer uma apresentação. E aí eu fui, levantei a mão, ela fez de
conta que não me viu, chamou algumas meninas e encaminhou para fazer o teste, para fazer teste de
roupa e tal. Aí eu fui até a frente, falei: “Ah, mas eu também quero participar” e aí ela me deu um sermão
que, não, o balé era muito antigo, de 1700 e pouco e, se passava na Rússia e só teriam pessoas loiras,
altas, magras. Eu não me encaixava nesse grupo. Aí fiquei meio assim, mas como eu sempre fui aérea,
nunca me liguei muito em coisas sociais, eu que sou de 71, tinha censura, eu não fazia menor ideia do
que seria isso. Aí terminou a minha aula, eu fui até o teatro municipal e falei com o diretor, falei que
queria participar, ele falou assim: “Ah, mas já foi, as meninas já fizeram a audição há uma hora”. Eu
repeti o que a diretora disse, eu falei: “Ah, que ela falou que eu não podia fazer parte, assim, assim”, ele
entrou em pânico, ele falou: “Não, essa mulher está louca, nunca falei isso. Imagina, no Brasil, como é
que eu vou achar um grupo”. E aí já me encaminhou direto, não precisei fazer o teste, participei da
apresentação e nos dias que se passaram, na preparação do espetáculo, durante os ensaios que foram
feitos na Escola Municipal, eu entrei, ela veio direto para mim assim, ela me viu, ela veio direto, “O que
é que você está fazendo aqui?”. Aí eu falei: “Ah, eu vou dançar”, “Você está louca, eu falei para você
que você não podia dançar, que você é muito escurinha, você é baixinha, você não pode fazer parte da
companhia”. Eu falei: “Mas o diretor me colocou”, aí ela saiu, foi lá perguntar para a assessoria dele se
eu fazia mesmo parte e aí eu ensaiei uma tarde com a mulher me fuzilando com os olhos, porque ela me
odiou para sempre, basicamente ela achou que eu passei por cima dela, para fazer parte do grupo de
dança. Mas aí sei lá, fiquei super feliz porque foi a primeira vez que eu dancei remunerada, recebi, foi
uma semana de apresentações e aí eu fiquei muito, muito contente. Mas foi acho que uma das últimas
apresentações como bailarina clássica profissional, porque era recém-formada, fiz essa apresentação,
depois eu casei logo um ano e pouco depois e, aí as apresentações voltaram a ser em escolas, aí eu
montava as coreografias para escola fazer a apresentação de final de ano. Então esse foi na formatura,
acho que foi a última coisa, eu falei: “É muito briga para pouca coisa” e, aí acho que meio que eu me
desencantei nessa época.
P/1 – E o que é que você fez com esse primeiro salário que você ganhou?
R – . Eu não tinha a menor noção de como gastar, então tipo assim, foi em lanche, foi roupas para o meu
irmão, foi em brinquedos e acabou, . Saía, gastava, comprava lanche, adorava comprar chocolate na
Kopenhagen e você já pode imaginar, em um quilo de chocolate, acabou o salário. Foi basicamente isso,
teve outro e, eu já passei muito apuro com isso de não ter controle. Trabalhei na Siluet logo depois de
casada, foi a primeira academia de musculação, de ginástica para mulheres ali na Avenida Paulista. Eu
entrava as nove da manhã e saía as três da tarde, um horário delicioso, recebia o salário, na época sei lá,
mas vou chutar, equivaleria hoje a um salário mínimo, 600, 700 reais. Descia na 25 de Março, meu irmão
tinha um ano, um ano e meio, tudo o que você pode imaginar que tem para criança naquele brechozinhos
da 25, eu comprei, eu só cheguei em casa com o dinheiro da condução. Aí minha mãe ficou olhando,
falou: “E agora, como é que você vai trabalhar amanhã?”, eu falei: “Ah, não sei”. Aí meu pai ficou um
mês, dava o dinheiro da condução e do almoço, todo dia de manhã, porque eu gastei todo, todo o salário
com bugiganga para o meu irmão. E assim passei também outro sufoco, porque já estava quase para
casar, marquei encontro, um hábito ruim que eu tinha, não tinha essa preocupação de guardar dinheiro. E
aí eu esperava ele, porque ele era Sapopemba ali, Vila Diva e eu de Santana, então a gente se encontrava
na Praça da Sé, pegava o metrô, descia na Sé, encontrava com ele. E aí ele estava demorando, aí eu entrei
nas Lojas Americanas ali e aí tipo, tinha 25 centavos, eu comprei chiclete, porque eu ia encontrar com
ele, ele pagava a condução. Só que ele não foi, aí eu andei da Praça da Sé até Santana, Santana não,
Tucuruvi, que eu morava depois de Santana, andei a pé, porque ele não foi se encontrar, eu gastei todo o
dinheiro e aí eu não tinha o dinheiro da condução, aí fui andando a pé. Demorei acho que duas horas para
chegar em casa, não tinha celular, ninguém tinha carro para ir socorrer, resgate, aí fiz o caminho a pé. Aí
depois disso eu aprendi, pelo menos o dinheiro da condução eu deixava, para não ter que andar.
P/1 – E quando seus filhos nasceram Ana, como é que foi?
R – 84 e 86. Eu curti bastante a gestação, da menina eu tive uma gestação bem tranquila, cheguei a
engordar mais de 30 quilos, porque com sete meses eu já estava 32 quilos acima do meu peso. Eu
engravidei com 48 quilos, e quando essa última consulta com médico, sete meses, eu já estava com quase
80 quilos, estava beirando os 80. E o médico deu bronca, mas eu fiquei muito chateada e não fui mais, aí
esse médico, passei a frequentar outro e aí o medo de não voltar, de não emagrecer. Mas não fiquei
preocupada, era só desconfortável, mas porque eu fiquei muito grande, inchei bastante, tive problema de
eclampsia e aí ela acabou nascendo de cesárea. Mas foi tudo normal e tal e os médicos aconselharam, em
caso pessoal, não tem o organismo muito bom para gerar filhos, tem problemas de útero, complicações
pós-parto e tal. Só que na sequência eu engravidei do meu segundo filho e aí todo mundo desesperado e
eu achando tudo uma maravilha. Não engordei tanto quanto dela, engordei menos, até pela questão, não
podia tanto, já tinha uma criança para tomar conta. Mas eu dou risada, eu acho que eu sempre fui muito
mãezona e sempre fui de carregar, eles foram, os dois faziam balé clássico, fizeram natação e aí eu
sempre levava comida, chá, suco. Sempre fui muito preocupada com alimentação mais saudável possível
e, aí acabou se tornando um hábito, então tinha competição de judô, eu que levava os lanches. Nas
apresentações do Clube Sírio, eles faziam balé, eu levava lanche, suco, café. E acabou se tornando meio
que uma condição natural para mim, “Ah, as crianças vão participar de alguma coisa, leva”. E aí com
sete para oito anos, oito anos a menina, sete anos o menino, eles começaram a frequentar um grupo de
escoteiros, ali no Tatuapé, no Carrão, o grupo São José. E aí reforçou mais isso, de carregar, vai acampar,
vai ajudar, levar, a mãe participa como apoio, vai fazer comida, porque os pequenos não fazem, mas os
escoteiros mesmo acima de 11, 12 anos, eles fazem a própria comida e a gente ajuda a comida da chefia,
do pessoal que está organizando as crianças. Então fui acampar várias vezes com eles, para fazer essa
coisa de equipe de apoio e aí leva coisas e traz coisas e carrega coisas no carro. E aí as vezes é gostoso,
as vezes você passa por situações meio complicadas, uma delas que, me lembrei agora, a gente foi
acampar no Clube do Banco do Brasil, ali perto de Mogi, para frente um pouquinho. E a pessoa que ia
buscar a turma que foi, nós fomos de trem, não voltou para buscar e aí eu fiz uma caminhada de 25
quilômetros até a estação de trem mais próxima. Só que algumas das crianças, dos meninos, já com 14,
16 anos a turma, uns adiantaram e outros ficaram para trás. E aí eu com mochila eu tive que fazer essa
ponte, porque quem se adiantou não sabia que os de trás tinham parado, então eu acho que eu fiz um
percurso maior porque eu corri acho que uns três quilômetros para avisar os da frente que os de trás
tinham parado para fazer lanche, que eles deveriam parar também. E aí corri para trás, depois corri para
encontrar os da frente e aí corri no meio para pegar mais mochila. Aí eu fiquei super, super cansada, mas
a gente fez uma caminhada de quase uns 30, 28 a, é, 28 a 29 quilômetros mais ou menos e eu fiz a pé. E
aí meu marido, “Mas você vai de novo?”, falei: “Ah, demorar uma semana, mas eu vou”, continuei indo
assim mesmo.
P/1 – Então depois da Siluet você continuou tendo outras experiências profissionais? Como que foi?
R – Trabalhei um ano, mas uma academia muito pequena. Porque na Siluet foi em 82, logo que eu casei,
aí logo que eu casei eu parei de trabalhar. Então nesse período que eu, antes da crianças nascerem, eu
trabalhei em uma academia bem pequenininha ali por São Miguel, que era mais perto, mais fácil aí
trabalhei ali, mas a Siluet foi meu primeiro serviço registrado mesmo em carteira e tal. As outras, não
tinha isso, eu ia mais como voluntária, assumia algumas aulas, dei algumas de dança, até o meu filho
nascer. Que aí eu estava indo na faculdade, mas aí depois não deu, porque eu comecei já as crianças para
fazer atividades, natação e tal, aí eu só ficava correndo com eles, entendeu, só cuidando mesmo da casa,
mais das crianças do que da casa, mas eu só fazia isso. E aí assim foi por uns seis anos, mas nunca desisti
do esporte, como eles faziam natação, eu me encaixei em um horário de hidroginástica enquanto eles
estavam na natação. Eles faziam o balé, a mesma turma anterior que nós casamos, várias moças, mais ou
menos na mesma época, a gente tinha filhos também. E aí a gente fez uma turma das bailarinas com
filhos e aí fazíamos aula. Então eu nunca fiquei completamente parada da atividade física, mas não
trabalhei mais por um bom período, fiquei bastante tempo sem trabalhar. Depois que eles já cresceram, aí
era só o final de semana, o grupo escoteiro, aí eu comecei a dar aulas particulares, alguém me chamava
para fazer um condicionamento físico, alguma coisa assim, aí eu ia. E aí em 79 para 80 e, não, desculpa,
89 para 90, 91, a gente construiu uma casa aqui na Vila Formosa, onde eu moro até hoje e, aí por ter uma
garagem grande e um espaço, eu atendia as vizinhas. E aí isso foi até dois anos atrás antes de eu montar a
loja, então aí sim que eu fiz o cadastro como empreendedora individual e aí que ficou uma coisa mais
oficial. Então esse período de 18, quase 20 anos, eu trabalhei como autônoma, mas assim, só atendia
minhas vizinhas, algum prédio ao redor ali de casa, mas nunca mais dei aulas para academias fora.
P/1 – E porque produtos sensuais? O que é que te levou a trabalhar com isso?
R – A gente marcou, há quatro anos um grupo de amigos, marcamos uma brincadeira entre as mulheres e
uma delas estava fazendo 40 anos de casada. E juntou-se a mulherada e, falou: “Mas e aí, o que é que a
gente vai dar para o casal? Cesta de café da manhã? Ah, não tem graça”. O pessoal é muito divertido,
essa senhora e eu somos os casais mais velhos, o restante é tudo na faixa dos 30 anos. E aí ficamos
olhando, falou: “Coisa sem graça, um casal, 40 anos de casado, dar uma cesta de café da manhã”. E aí
pensou, pensou, decidimos por uma cesta erótica, todo mundo com vergonha, eu fui comprar a cesta
erótica. E nesse ponto, é uma, a única coisa que me incomoda, é eu não conhecer alguma coisa, você me
apresenta e eu falo: “Ah, eu não sei o que é que é”, eu tenho essa curiosidade de descobrir o que é, para
que serve. A moça me vendeu, a gente montou a cesta, eu entreguei. Aí essa senhora me ligando, “Olha,
tem um produto aqui, para que serve?”, falei: “Eu não sei”, a mulher falou tudo de repente, mas eu não
gravei nada, porque ela vai colocando os produtos e vai falando: “Ah, isso, isso, isso”, mas. Aí eu falei:
“Eu não sei”, falei: “Espera aí que eu vou descobrir”. Voltei na loja, pedi para a mulher explicar de novo
o que é que era e tal, a moça deu uma explicação muito vaga, “Ah, é óleo de massagem, é um óleo de
massagem”. Falei: “Tá, mas eles tem função diferente”, não fiquei satisfeita, peguei minha filha, falei:
“Me ajuda aqui, vamos sentar e saber o que é que, para que serve. Porque eu dei e a moça não sabe como
usar”. Aí fomos fuçando e minha filha fez como se fosse uma bula, “Isso serve para isso”, ela me fez
uma lista de produtos.
P/1 – E quantos a sua filha?
R – Minha filha está com 27, vai para 28 e o caçula está com 26. Aí ela fez a lista, aí ela falou: “Oh, mãe,
tem mais coisa. Tem esse produto” e aí começamos a entrar em site de lojas de sex shop. Aí eu falei: “Ah
isso é legal”, aí fui, expliquei para essa amiga e aí ela contou, porque nessa altura ela já tinha distribuído
para as filhas delas, porque ela falou: “Eu não sei para que serve, eu não vou usar”, aí ela deu para as
filhas. Aí as meninas, “Então vamos marcar uma reunião, para a gente saber como se usa esses
produtos”, quase ninguém conhecia, uma só falou de algum produto que ela já tinha usado, assanhou
todo mundo, nós somos em oito, nove casais. E assanhou todo mundo, “Vamos marcar. Quem conhece
alguém que faz?”, uma delas falou: “Ah, eu conheço uma moça que vende alguns produtos, eu vou
chamar”. A moça demorou três meses, “Ah, tem que ter dez pessoas, tem que ter menos”. Eu falei: “Ah,
isso está muito enrolado, espera aí que eu vou dar um jeito”, fui na 25 de Março, comprei um monte de
quinquilharia, minha filha fez uma lista para o que é que serve, o que é, como é que usa, como é que não
usa. Fizemos a reunião, o pessoal adorou, “Tem isso, tem aquilo”, “Tem mais coisa?”. Eu falei: “Eu vou
vender essa birosca aqui. gostei disso, vou vender”. Aí minha filha comentou, falou assim: “Mãe, quando
eu fiz o curso de”, não é Economia, curso técnico, Administração, “No encerramento, precisava-se
montar uma empresa virtual e aí eu montei um sex shop”. E eu já estava com os produtos tipo sacoleira
mesmo, um sacolão cheia de coisa.
P/1 – E vendendo?
R – E vendendo, fazia reunião e vendia. Eu falei: “Você quer participar comigo? Eu gastei x em
produtos”, ela falou: “Então eu te dou mais x, você compra o mesmo tanto a gente fica sócia”. E aí ela
falou o nome da empresa fictícia dela, Põe Pimenta. Eu falei: “Tá, pode pôr esse nome” e aí nasceu.
Vendemos um tempão fazendo reuniões em domicílio e aí, só que ela é mais arrojada do que eu, ela foi,
foi atrás, alugou uma sala, alugou o espaço e aí juntamos as moedas e montamos a nossa empresa, . Mas
está dando certo, porque as pessoas estão gostando da proposta, um ambiente tranquilo, você não tem
acessórios expostos, principalmente próteses que deixa todo mundo constrangido. Mas a gente faz todo
esse trabalho, te orienta, o que é que você quer fazer, como você quer fazer. E aí deu certo, aí
trabalhamos nós duas juntas nessa proposta, mas ela já quer ampliar. Eu falei: “Tenha calma”, ela: “Não
mãe, precisa um espaço maior, uma casa maior e aí eu estou evoluindo com empresária”. Aí o meu filho
fez para mim uma, me adicionou, me inscreveu nos cursos do Sebrae, por computador, eu já fiz uns dois
ou três, ela de vez em quando me traz algum livro, “Olha, vai fazer”. Então estou ficando tecnológica,
acesso a internet, computador, marcar coisas, agendar, fazer pesquisa de preço. Aí estou aprendendo.
P/1 – E o seu marido, o que é que ele faz?
R – Ele faz tábuas de bolo. Ele trabalhou 25 anos em uma empresa, ventiladores industriais, tinha um
salário super bom, porque eu fiquei esse tempo todo só passeando, batendo perna, com criança. A
empresa fechou e ele foi mandado embora, aí ele ficou uns dois anos querendo trabalhar com madeira,
sem saber direito o que fazer, 2007, 2008 mais ou menos. E aí um dia ele chegou em casa, as coisas em
casa acontecem tudo meio assim, caem do nada, despenca, aí ele chegou em casa, foi em uma loja de
artigos de festa e falou assim: “Que tamanho tem a assadeira de bolo?”, eu falei: “Não sei, tem vários
tamanhos”. Aí ele mediu, aí ele falou: “Oh, eu fui em uma loja, tem a tábua que a gente põe o bolo, mas
está lá, o cara colocou tipo uns toquinho de madeira embaixo, eu não gostei daquilo. Eu vou fazer isso”.
E assim ele fez, comprou uma chapa, cortou, lixou e aí saiu oferecendo. E aí as lojas foram aceitando,
porque era um mercado que não tinha vamos dizer assim fornecedor, a pessoa pegava uma porta, uma
madeira, uma mesa que se quebrou, fazia e colocava na loja para vender. E aí quando o lojista precisava
de tábuas de outro tamanho, não conseguia contato da pessoa, porque a pessoa pegou uma tábua
qualquer. E assim ele está, há 12, é, 12 anos no mercado, a empresa dele virou uma referência como
tábuas de bolo, bolo para casamento, algumas lojas tem até site que ensinam a fazer coisas e ele vende
para essas lojas, então apresenta o produto dele. Hoje em dia já tem ateliês de bolo, algumas lojas
compram o tal de bolo falso de isopor, que ele vende também e, tem tábuas de vidro. E aí, só que ele
trabalha em casa, então minha casa é uma poeira só, porque ele faz tudo isso dentro de casa.
P/1 – Ah, não montou oficina?
R – Não, a garagem que eu usava para dar aula de ginástica, ele me expulsou de lá e montou a empresa
dele lá embaixo. Só que agora com as tábuas de vidro e o isopor, o bolo falso que eles chamam, pessoal
coloca uma pasta americana ou até tecidos para chá de bebê, então eu tenho pilhas assim no meio da
minha sala de isopor. Aí ele está me expulsando de lá, , rodei, que aí está tudo armazenado na minha
casa. Aí eu falei: “Ah, está bom”. A loja acabei mudando porque como ele usou o espaço da garagem
que eu dava aula, então passei a dar aula na loja.
P/1 – E hoje para você Ana, quais são as coisas mais importantes, assim?
R – Ai, o mais importante eu acho que é a tranquilidade de você ter uma renda, como a gente tem, eu
acho que pouca consegue. Ele trabalha com madeira, uma coisa que ele gosta, dentro de casa, a gente
desce um lance de escada, é um sobrado, você desce um lance de escada, você está no seu trabalho. O
meu filho faz as entregas, trabalha com o pai, faz as entregas, mas assim, é uma coisa que você pode
escolher caminhos e horários. Eu trabalho a três pontos de ônibus, nem um quilômetro a loja da minha
casa, eu vou a pé. Então e uma coisa que eu gosto de fazer e a minha filha trabalha comigo, então eu
acho que assim, o conforto que a gente tem no ambiente de trabalho, vamos dizer assim, você não pega
metrô, você não pega condução. É lógico que você como dono, você trabalha duas vezes mais, mas
assim, é dentro de casa, você não tem estresse, não posso falar que tem estresse do trânsito. As vezes o
meu marido sai, está na hora do almoço, vai no vizinho, aí eles colocam uma churrasqueira, o vizinho é
mecânico, trabalha também pertinho da casa dele, o terreno, a mecânica é dele mesmo, o espaço ele não
paga aluguel. E aí de tarde, é quatro horas da tarde, eles estão fazendo churrasco, sentados na calçada,
entendeu. Então eu acho que essa é a parte mais importante, eu tenho dois filhos que tem uma profissão e
já tem vamos dizer assim um empreendimento para tocar, então não tenho a preocupação, “Ai, o que é
que vão fazer? Vão trabalhar fora”. Não, os dois já tem o que trabalhar, o sustento. E eu acho que essa é
a parte e a parte mais importante.
P/1 – E sonhos, você tem?
R – Ah, sim, agora eu tenho. De ampliar a minha loja, que ela faça sucesso, que a minha filha trabalhe
bastante para eu poder sair pelo mundo andando de bicicleta. Porque a meta é quando eu e o marido
completarmos 60 anos, a gente vai viajar de bicicleta um ano, dois anos, sei lá, mas aí a ideia é passear
de bicicleta.
P/1 – Para onde? Já sabe?
R – Não tem caminho, é subir para o Norte, Nordeste. A minha vontade principal é que seja Norte,
Nordeste, para curtir São João lá na Paraíba, pegar todo o mês de junho, julho. Então para isso os filhos
tem estar bem encaminhados, com o salário, porque eu brinco com eles, que eu vou viver até os 120. E
eu vou estar longe e aí eu ligo, “Olha, manda dinheiro porque eu quero viajar”, se eles não mandarem eu
volto para São Paulo e fico dando bengaladas neles, então eles trabalhem bastante para que eu possa
passear e não volte para perturbar, . Mas é bem um sonho mesmo, mas a ideia é andar, durante quatro
anos nós andamos de bicicleta todo final de semana, de três anos para cá, meu marido machucou a mão
na serra e aí ele deu uma parada de andar de bicicleta. Mas a gente está retomando porque a vontade é
isso mesmo, é viajar, nós chegamos a ir até Suzano, nós dois de bicicleta, todo domingo a gente fazia. E
aí a gente já estava conseguindo fazer 60, 80 quilômetros de bicicleta, bem tranquilo, é bem passeio
mesmo, parando e tal, mas a gente já faz. Só que aí o meu caçula já está fazendo 120, ele e a namorada,
vai para Guarujá, foram para litoral norte, Bertioga, Bertioga não, enfim, praias mais distantes, ele já foi
sozinho de bicicleta e aí eu estou ficando para trás. Então eu tenho que retomar isso para a gente poder
continuar passeando, mas a ideia é viajar mesmo.
P/1 – Que bacana. Marta, você tem alguma coisa que você gostaria de perguntar?
P/2 – É, agora no final você falou dessa parte da bicicleta, seu marido, a sua família tem essa tônica então
envolvida com esporte?
R – Tem, tem sim.
P/2 – Então, é sobre isso que eu queria saber, a sua relação com o marido e essa questão do esporte como
é que isso cria a relação de vocês? Como é que você dá essa tônica para o relacionamento?
R – Ah, como o meu pai sempre me levou a academias de boxe, treino, minha mãe na época gostava,
queria emagrecer e meu pai que dava o treino para ela, então é uma coisa natural que em casa se faça
alguma atividade. Com a dança, a ginástica olímpica, eu não vejo mais parada, mesmo que eu não esteja
dando aula, eu não me vejo parada, sem nenhuma atividade física. Eu levanto de manhã, eu vou
caminhar com o cachorro, ah, não deu tempo de caminhar, a gente foi viajar para a praia, vamos andar na
praia de manhã. Então sempre na medida do possível a gente faz alguma atividade física. Meu marido é o
mais vamos dizer assim fujão, ele só caminha comigo ou ele só anda de bicicleta quando eu puxo para
que ele ande. Mas ele gostou, foi uma atividade que ele sentiu prazerosa, ele gostou bastante, então ele
acompanhou os passeios de bicicleta. Se eu chama-lo para fazer ginástica, tal, ele não gosta muito não,
mas por companheirismo ele até vai. E as crianças foram criadas nesse ritmo, nunca ficaram parados
assim em casa depois da aula, então criou esse hábito, tanto é que meu filho está namorando há um ano e
pouco, ele começou a levar a namorada e a namorada já está andando também de bicicleta. Não tinha o
hábito, aí começou a andar, emagreceu, gostou e aí eles estão andando. Então finais de semana o passeio
deles é sair de casa e, vão para todo lugar, que tem ciclovias, foram para Pinheiros, tudo o que você
possa imaginar eles vão. Meu filho anda de skate, minha filha com dança, ela faz a dança. Então eu acho
que é o elo que une toda a família, porque todo mundo gosta de uma atividade. A última coisa agora que
a gente deu risada, eu falei, só falta o filho, na Virada Cultural eu participei com o maracatu dançando, a
filha fez apresentação no palco do burlesque. Aí eu falei, só falta o filho agora arranjar alguma coisa para
fazer para ter uma atividade nesse porte, que chegue a uma Virada Cultural por exemplo, que tem n
coisas. Mas eles gostam bastante e acho que é isso que acaba unindo todo mundo, porque se reúne e fala,
“Ah, eu fui para tal lugar. Vamos?”, um aguça o outro, um chama a atenção do outro.
P/2 – Então posso perguntar mais uma coisa? O que é que você pensa de você mesmo, essa sua
personalidade tão forte assim que chega a influenciar e a dar direção para toda a família?
R – É, eu não tinha, até pouco tempo atrás eu não achava que eu tivesse toda essa energia, mesmo tendo
passado uma infância assim tão, vamos dizer tranquila. Porque eu nunca bati de frente para discutir
política, para discutir ponto de vista, eu sempre achei mais fácil concordar do que brigar, porque a minha
mãe era assim, minha mãe era de impor. Mas no final eu fico olhando que a família, as mulheres, porque
eu passei isso para a minha filha, então, olha, a gente precisa reformar aqui, a gente levanta e põe a mão
na massa. E parece que foi eu que puxei isso e aí eu fico super, super contente e acabo me emocionando
porque o que a gente vê normalmente, uma pessoa com 50 anos, “Ai, eu estou cansada. Já fiz tudo na
vida”. Não, eu estou começando, começando a trabalhar, estou começando um projeto, eu estou
começando mudar e isso me dá ânimo, eu não me vejo cansada, eu não me vejo abatida. Ah, mas você
nunca, vamos dizer assim, nunca trabalhou fora, não, mas eu comecei agora, então. É um início, para
mim isso é um estímulo maior ainda.
P/2 – Muito bom.
P/1 – E para a gente terminar aqui, como que foi para você contar a sua história Ana?
R – Ai, foi gostoso, achei uma delícia. Eu contando a história, porque a gente vive, mas você não fala
daquilo que você viveu, então você não tem noção. Me achei assim mais especial ainda, achei mais
gostoso eu ter essa memória, esse registro, lembrar de coisas que há tanto tempo, porque vai passando,
você não toca mais naquele assunto, aquilo fica para trás e morre. Mas achei bem interessante e me vejo
mais encorajada a realizar mais coisas, porque eu estou achando a minha história interessante, , não sei se
as pessoas vão achar. Mas me senti super bem.
P/1 – E foi um grande prazer para mim ouvir a sua história. Com certeza.
R – Obrigada, obrigada mesmo.
P/1 – Muito obrigada a você. Está bom?
R – Até. Obrigadão.
Rua Natingui, 1100 - São Paulo - CEP 05443-002
tel +55 11 2144.7150 | fax +55 11 2144.7151 | [email protected]
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