Newsletter: Vol. 05 – # 01 – Editorial
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Newsletter: Vol. 05 – # 01 – Editorial
GBETH Newsletter Volume 05 Número 01 11 de fevereiro de 2007 Editorial GBETH Newsletter é uma publicação semanal distribuída aos sócios do Grupo Brasileiro de Estudos de Tumores Hereditários Sede R José Getúlio, 579 cjs 42/43 Aclimação São Paulo - SP CEP 01503-001 E-mail [email protected] Editores Erika Maria M Santos Ligia P Oliveira Diretoria Presidente Benedito Mauro Rossi Vice-Presidente Gilles Landman Diretor Científico André Vettore Secretário Geral Fábio de Oliveira Ferreira Primeira Secretária Erika Maria M Santos Tesoureiro Wilson T Nakagawa Conselho Científico Beatriz de Camargo José Claúdio C Rocha Maria Aparecida Nagai Maria Isabel W Achatz Samuel Aguiar Jr Conselho Fiscal Titulares André Lopes Carvalho Gustavo Cardoso Guimarães Stênio de Cássio Zequi Suplentes Fábio José Hadad Mariana Morais C Tiossi Milena J S F L Santos No início deste ano o Grupo Brasileiro de Estudos de Tumores Hereditários completa quatro anos de fundação. Neste período foram realizadas 120 reuniões científicas com discussão de casos clínicos, artigos e projetos de pesquisa. Estas reuniões possibilitaram aos sócios a atualização constante sobrecâncer hereditário. Em abril de 2006 foi realizado o I Simpósio Internacional sobre Tumores Hereditários que contou com convidados internacionais e com a presença de 120 participantes. A partir deste Simpósio foi possível estabelecer colaborações com profissionais que estudam o câncer hereditário na América do Sul. A criação de grupos cooperativos para estudos moleculares e clínicos sobre câncer hereditário é fundamental. Nesta perspectiva, na próxima Assembléia Geral dos Sócios, a ser realizada em 30 de abril será proposta a mudança do GBETH para GETH – Grupo de Estudos de Tumores Hereditários, ampliando a participação de membros de outros países como sócios efetivos e não mais como sócios correspondentes. Há profissionais da Argentina, Chile, Colômbia e Uruguai interessados em participar do grupo. Acreditamos que esta mudança possibilitará ao Grupo e também aos sócios uma maior integração com profissionais da América Latina. Na Assembléia Geral dos Sócios também serão eleitos e empossados os novos membros da Diretoria e dos Conselhos (Fiscal e Científico). As inscrições para as chapas serão abertas a partir de 28 de fevereiro. Para este ano também está previsto o lançamento do livro “Câncer Hereditário – Atualização 2005-2006”. O livro reunirá o conteúdo das reuniões científicas realizadas no biênio 2005-2006. Esperamos contar com a colaboração de todos os sócios para a expansão e desenvolvimento de nosso grupo. Na nossa primeira reunião científica realizada em 06 de fevereiro contamos com a participação de duas estudantes de medicina, em iniciação científica, que levantaram os dados sobre Síndrome de Lynch do Registro de Câncer Colorretal Hereditário (RCCH) do Hospital A.C. Camargo. A participação destas estudantes representa um dos objetivos do GBETH, que é o de contribuir para disseminar conhecimento sobre os tumores hereditários e estimular a atuação dos novos profissionais de saúde nesta área. A seguir serão apresentados um artigo publicado na American Journal of Gastroenterology e os dados preliminares do RCCH. Feliz 2007 Benedito Mauro Rossi Presidente tumores extracônicos em famílias com diagnóstico clínico da síndrome de lynch Comentário do artigo 9.458 casos de câncer colorretal (CCR). A partir deste ponto foram identificados os agrupamentos de CCR que Carolina da Silva Rossi Priscila Barile Marchi Candido preenchiam critérios de Amsterdam I. Dos 9.458 casos de CCR foram identificados 87 agrupamentos com um caso Maul JS, Warner NR, Kuwada SK, Burt RW, Cannon-Albright LA. Extracolonic cancers associated with hereditary nonpolyposis colorectal cancer in the Utah Population Database. Am J Gastroenterol 2006;101:1591-1596. Segundo os autores, análises prévias indicam que indivíduos com Síndrome de Lynch (SL) apresentam taxas elevadas de incidência de tumores extracolônicos, incluindo de CCR com dois familiares de primeiro grau com CCR. Destes 87 agrupamentos, apenas 18 apresentavam duas gerações sucessivas e pelo menos um caso diagnosticado antes dos 50 anos. O risco familiar foi medido utilizando a standardized morbity ratio (SMRs) ou risco relativo. Resultados útero, estômago, ovário, intestino delgado, pâncreas, trato Das 18 famílias que preenchiam critérios de Amsterdam hepatobiliar, cérebro, trato urotelial, e possivelmente, I foram observados 65 casos de CCR, o que correspondeu próstata. A maioria dos estudos anteriores utilizou dados a 0,007% dos casos de CCR do UPDB. de registros de câncer ou registros hospitalares o que Ao analisar os tumores encontrados nos 65 indivíduos possa ter gerado um excesso de casos, incluindo câncer com CCR, foram encontrados 19 tumores extracolônicos: colorretal. Estes estudos apresentam vieses e, geralmente, próstata (4 casos), útero (3), lábio (2), estômago (2), e não há informações suficientes do grupo controle para genitária feminina, laringe, cavidade oral, colo de útero, comparações adequadas. Os autores também argumentam ovário, leucemia, melanoma e trato urinário (1 caso cada). que dados baseados no relato dos indivíduos podem reduzir Os SMRs deste grupo foram estatisticamente significativos o número de relacionados familiares disponíveis para a análise. Este estudo tem como objetivo verificar a freqüência de tumores extracolônicos em um registro de base populacional. Métodos para: útero (SMR 10,2 IC 95% 2,10-29,76), lábio (SMR 16,3 IC 95% 1,98-58,97) e estômago (SMR 14,3 IC 95% 1,74-51,78). Também foram analisados 66 tumores extracolônicos observados em 509 familiares de primeiro grau dos 65 casos de CCR. Destes 66 tumores, os mais freqüentes foram próstata (19 casos), mama (6), pulmão (5), tireóide O Utah Population Database (UPDB) é um arquivo que (5), leucemia e melanoma (4 casos cada). No entanto a combina informações da Family History Library of Utah, do SMR foi estatisticamente significativa apenas para tireóide Utah Department of Health, e do Utah Cancer Registry. O UPDB contém informações genealógicas de 2,2 milhões de indivíduos, e o Utah Cancer Registry mantém registros de todos os indivíduos com câncer diagnosticados em Utah desde 1966. Dentre os 2,2 milhões de indivíduos com história familiar registra de pelo menos três gerações, foram identificados (SMR 9,32 IC 95% 3,03-219) e próstata (SMR 2,18 IC 95% 1,31-3,39). Os SMRs para tumores extracolônicos dos 1.611 familiares de segundo grau de indivíduos com CCR foram calculados, e apesar da indentificação de 136 tumores, o SMR foi significativo apenas para tumores da tireóide (RR 4,32 IC 95% 1,59-9,41). GBETH Newsletter 2007 Volume 05 Número 01 tumores extracônicos em famílias com diagnóstico clínico da síndrome de lynch Discussão O importante a destacar que a maior parte dos estudos Os autores relatam que muitos dos tumores sobre freqüência populacional da SL foi realizada em países extracolônicos relatados em famílias com SL não foram com população predominantemente de origem européia. observados de forma significativa desta amostra. Os autores Estudos em outras populações devem ser realizados para atribuem este fato a três aspectos: (1) o critério para verificar a freqüência destas manifestações. identificação dos casos nos outros estudos foi à existência de tumores extracolônicos; (2) os outros estudos utilizaram critérios mais sensíveis, mas menos específicos, tais como os critérios Bethesda; (3) não foram utilizados um base de dados tão extensa quanto a UPDB. Comentário O padrão de tumores extracolônicos identificados neste estudo é distinto de publicações anteriores. Apesar dos autores descreverem este como o único trabalho Câncer Colorretal e Manifestações Extracolônicas em Famílias que Preenchem os Critérios de Amsterdam I E II: Resultados Preliminares do Registro de Câncer Colorretal Hereditário do Hospital AC. Camargo Carolina da Silva Rossi Priscila Barile Marchi Candido com registro de base populacional, outros estudos foram publicados com esta metodologia. Eng et al (2005) avaliaram a população da Suécia, O Registro de Câncer Colorretal Hereditário (RCCH) com 10,5 milhões de indivíduos e 566.877 famílias e iniciou suas atividades em 1992, e tem, atualmente, cerca identificaram 21 famílias que preenchiam critérios de de 250 famílias cadastradas. Amsterdam I e 42 que preenchiam critérios de Amsterdam Em 2004, a partir dos dados do RCCH foram II. Neste estudo a percentagem de CCR das famílias identificados em famílias que preenchiam os critérios de Amsterdam I e II representaram, respectivamente 0,15% e Amsterdam I e II que os tumores extracolônicos mais 0,21% dos casos de CCR na população. Neste estudo, foi freqüentes foram endométrio (26,5%), mama (26,5%) e observada uma maior freqüência de tumores de endométrio estômago (35,1%) (Ferreira et al 2004). Três anos após essa e trato urotelial nas famílias Amsterdam I. publicação realizamos uma nova análise das famílias que Os autores investigaram apenas indivíduos que preenchem estes critérios. pertenciam a famílias que preenchiam critérios de Estão cadastradas no RCCH 43 famílias com Amsterdam I, e não consideraram famílias que preenchiam diagnóstico clínico da Síndrome de Lynch: 36 preenchem critérios de Amsterdam II. Para preencher os critérios os critérios de Amsterdam I e 7 preenchem os critérios de de Amsterdam I são considerados apenas os casos de Amsterdam II. CCR. Já nos critérios de Amsterdam II são considerados O tamanho das famílias com indivíduos registrados no também os tumores extracolônicos. Assim, os autores RCCH variou entre 4 e 137, com média de 34,6 indivíduos podem ter excluído famílias com uma maior incidência por família. Dentre os 1578 indivíduos registrados, 353 de tumores extracolônicos. Deve ser considerada também apresentaram câncer ou adenomas. A média de indivíduos a possibilidade de uma variação genótipo-fenótipo na afetado por família foi 8,21 com mediana de 8 e variação população estudada. entre 3 e 19 indivíduos afetados. GBETH Newsletter 2007 Volume 05 Número 01 tumores extracônicos em famílias com diagnóstico clínico da síndrome de lynch Foi analisado o número de indivíduos afetados em O tumor de estômago foi o terceiro em freqüência, relação ao grau de parentesco com o probando: 111 eram com 14 casos. No Brasil, o tumor de estômago é frequente familiares de primeiro grau (pais, irmãos, filhos), 116 eram e, apesar de ser relatado com uma maior freqüencia em familiares de segundo grau (avós, tios, sobrinhos) e 55 eram indivíduos pertencentes à famílias com Síndrome de Lynch, familiares de terceiro grau (primos). não faz parte dos critérios para diagnóstico clínico da Nesta amostra foram identificados 221 pacientes com síndrome. Gylling et al (2007) comparou o perfil molecular câncer colorretal (CCR): casos de CCR e 38 casos de de 13 tumores de estômago de mutação em genes de reparo adenomas. com 46 indivíduos com tumores esporádicos e verificou Foram identificados 139 tumores extracônicos: mama (19 casos), endométrio (15), estômago (14), útero (12), hematológicos (11), próstata (6), ovário, esôfago e pele (5 cada), pâncreas, bexiga, ureter e rim (4 cada), colo de útero, ausência de expressão da proteína correspondente a mutação no gene de reparo e instabilidade de microssatélite. Estes autores sugerem que os tumores gástriscos fazem parte da SL. laringe e sistema nervoso central (3 cada), duodeno, pelve Se agruparmos os tumores de bexiga, ureter, rim e renal, adenocarcinoma sebáceo (2 cada), vulva, apêndice e pelve renal, teríamos 14 tumores, sendo também o terceiro tireóide (1 cada). Do total de 139 em 11 não foi relatada a mais freqüente. Deve ser destacado que cerca de 7 destes localização. tumores foram observados em indivíduos de uma única Dos tumores identificados 12 foram classificados como família que preenche critérios de Amsterdam II. “útero sem especificação” quando o consulente informou Foram observados apenas dois tumores de duodeno, que o familiar apresentou tumor no útero sem especificar no entanto, a freqüência deste tumor na população é rara ou comprovar um tumor de endométrio. Se reuníssemos (menor que 0,01%) e ele esta associado a Síndrome de estes tumores com os 15 tumores de endométrios relatados, Lynch. os tumores de endométrio seriam os mais freqüentes nesta amostra, com um total de 27 tumores. No entanto, optamos por esta distinção visto que há uma incidência Referências elevada de tumores de colo de útero no Brasil, e dentre Bermejo JL, Eng C, Hemminki K. Cancer characteristics in estes 12 tumores citados como útero podem estar incluídos Swedish families fulfilling criteria for hereditary nonpolyposis tumores de colo de útero. colorectal cancer. Gastroenterol 2005;129:1889-99. O tumor de mama foi o mais freqüente. Deve ser considerada a incidência elevada deste tumor na população da cidade de São Paulo 103/100.000 habitantes, no entanto, a freqüência deste tumor parece ser elevada neste grupo, o que pode sugerir uma característica peculiar, abrindo um Ferreira FO, Ferreira CCN, Rossi BM, Nakagawa WT, Aguiar S, Santos EMM, Costa MLV, Lopes A. Frequency of extra-colonic tumors in hereditary nonpolyposis colorectal cancer (HNPCC) and familial colorectal cancer (FCC) Brazilian families: An analysis by a Brazilian Hereditary Colorectal Cancer Institutional Registry. Fam Cancer 2004;3:41-7. novo campo de invetigação. GBETH Newsletter 2007 Volume 05 Número 01