universidade positivo - EXPO Unimed Curitiba

Transcrição

universidade positivo - EXPO Unimed Curitiba
UNIVERSIDADE POSITIVO
THERESA CHRISTINA DE CARVALHO CHAVES SCHIEL
INTERNACIONALIZAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL – ESTUDO DE CASO:
VOLVO DO BRASIL
CURITIBA
2010
THERESA CHRISTINA DE CARVALHO CHAVES SCHIEL
INTERNACIONALIZAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL – ESTUDO DE CASO:
VOLVO DO BRASIL
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Gestão Ambiental do curso de Mestrado
Profissional em Gestão Ambiental, da
Universidade Positivo (UP)
Orientador: Prof. Maurício Dziedzic
CURITIBA
2010
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BOVESPA
Bolsa de Valores de São Paulo
CBU
Veículo completo
CE
Comunidade Européia
CEE
Comunidade Econômica Européia
CFC
Cloro Fluor Carbono
CKD
Partes do veículo para ser montado
CNO
Construtora Norberto Odebrecht
CONAMA
Conselho Nacional do Meio Ambiente
CVRD
Companhia Vale do Rio Doce
EAP
European Environmental Action Plans – Planos Europeus de Ação Ambiental
EIA
Estudo de Impacto Ambiental
ETS
Emissions Trading Scheme – Sistema Comercial de Emissões
EU
União Européia
FDC
Fundação Dom Cabral
IBAMA
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
IBDF
Desenvolvimento florestal
ISO
International Organization for Standardization
NASDAQ
National Association of Securities Dealers
NYSE
New York Stock Exchange – Bolsa de Valores de Nova Iorque
P&D
Pesquisa & Desenvolvimento
PAM
Programa de Automonitoramento de Emissões Atmosféricas
PGRS
Programa de Gerenciamento de Resíduos
PNUMA
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
SEMA
Secretaria Estadual do Meio Ambiente
SGA
Sistema de Gestão Ambiental
SISNAMA
Sistema Nacional de Meio Ambiente
SOX
Lei Sarbanes Oxley
SPSS
Statistical Package for the Social Sciences
SSE
Secretaria de Estado de Educação
SUDEPE
Superintendência do Desenvolvimento da Pesca
SUDHEVEA
Superintendência da Borracha
UNCTAD
Órgão da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas sobre
Comércio e Desenvolvimento
SUMÁRIO
1.- INTRODUÇÃO .........................................................................................................
2 - OBJETIVOS ...........................................................................................................
2.1 - OBJETIVO GERAL...............................................................................................
2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................
3 - REVISÃO DE LITERATURA...............................................................................
3.1 - SUSTENTABILIDADE E SEUS CONCEITOS...................................................
3.2 - A SUSTENTABILIDADE E SUA INFLUÊNCIA NOS MODELOS DE
GESTÃO DAS EMPRESAS..........................................................................................
3.3 - ISO 14000...............................................................................................................
3.4 - O SETOR AUTOMOTIVO E OS ASPECTOS DE SUSTENTABILIDADE......
3.5 - POLÍTICA AMBIENTAL NO BRASIL...............................................................
3.6 - POLÍTICA AMBIENTAL NA UNIÃO EUROPÉIA..........................................
3.7 – GLOBALIZAÇÃO..............................................................................................
3.7.1 - Demandas ambientais........................................................................................
3.7.2 - A questão cultural ............................................................................................
3.8 - INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS...................................................
3.8.1 - Grau de Internacionalização..............................................................................
3.8.2 - Classificação das Transnacionais Brasileiras....................................................
3.8.3 - Escolha de Mercados e Distância Cultural........................................................
3.8.4 - Internacionalização e Regulamentação Ambiental............................................
3.8.5 - Internacionalização de Empresas Brasileiras.....................................................
3.8.6 - Caso O Boticário – Franquia em Portugal.........................................................
3.8.7 - O Caso Embraer.................................................................................................
3.8.8 - Internacionalização de Micro e Pequenas Empresas.........................................
4 – METODOLOGIA.................................................................................................
4.1 - Pesquisa bibliográfica...........................................................................................
4.2 - Estudo de caso......................................................................................................
4.2.1 - Análise documental...........................................................................................
4.2.2 - Aplicação de questionários ...............................................................................
4.2.3 - Realização de entrevistas...................................................................................
4.2.4 - Caracterização da Empresa................................................................................
4.2.5 – Valores..............................................................................................................
4.2.6 - Política de Sustentabilidade...............................................................................
4.2.7 - Política Ambiental.............................................................................................
4.2.8 - Cultura Organizacional......................................................................................
4.2.9 - Volvo no Brasil..................................................................................................
4.2.10 - Volvo em Curitiba...........................................................................................
5 – COLETA E ANÁLISE DE DADOS..................................................................
6 – RESULTADO DA APLICAÇÃO......................................................................
7 - RESULTADOS DA REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS...........................
8 – CONCLUSÕES.....................................................................................................
REFERÊNCIAS..........................................................................................................
ANEXO 01
ANEXO 02
RESUMO
A exploração dos recursos naturais de forma desordenada intensificou-se no período
da Revolução Industrial trazendo conseqüências para o meio ambiente. Com a aglomeração
dos homens em grandes centros, os problemas ambientais passaram a ter uma relevância
maior e a partir da década de setenta do século XX, iniciando a discussão do meio ambiente
com enfoque no desenvolvimento e suas implicações ambientais. Em um mundo globalizado
onde os indivíduos mudam de país, trocam o local pelo global, modificam suas formas de
organização social de vida por intermédio de intercâmbios culturais, torna-se relevante
comparar diferentes propostas e modelos de gestão ambiental. Esta comparação é
fundamental para que os futuros gestores possam escolher modelos ou exemplos mais
adequados à sua realidade e que tragam melhores resultados econômicos e sociais para a
empresa. Este trabalho teve como objetivo estudar o processo de internacionalização dos
programas ambientais de uma empresa multinacional. Para tal, a metodologia desenvolvida
foi a pesquisa descritiva e exploratória com a realização de estudo de caso. Para análise e
coleta dos dados foram utilizados métodos quantitativos. O local de estudo foi uma empresa
multinacional automotiva localizada em Curitiba. O estudo contou com aplicação de
questionário e realização de entrevistas. O público pesquisado foi composto por gestores, de
diversos setores e funções dispostos a participar da pesquisa. Os resultados obtidos foram ao
encontro dos objetivos propostos confirmando que a internacionalização dos programas
ambientais da empresa contribuem para uma maior conscientização e educação ambiental,
tanto do público interno da empresa quanto da comunidade em geral.
Palavras-chave: internacionalização, programas ambientais, cultura organizacional.
ABSTRACT
Environmental issues have been a growing concern as human beings moved to denser
settlements. The use of natural resources increased significantly since the Industrial
Revolution, with the consequent increase in ecological disruptions. From the seventies on, the
implications of human development on the environment became the focus of discussions. In a
globalized world where individuals move from country to country, go from local to global
and modify the organization of social life as a result of cultural exchanges, a comparison
among different environmental proposals and models becomes relevant. This comparison is
essential for future managers to choose models or examples that are better adapted to each
individual reality and that will bring higher returns, both economic and social, to their
businesses. This study investigates the process of internationalization of environmental
programs at a multinational corporation. The methodology adopted includes descriptive and
exploratory research in the form of case studies. The study was developed at a multinational
vehicle assembly plant based in Curitiba where managers of various departments, all with
different attributions and willing to participate, were interviewed. A questionnaire and surveys
were used and the results obtained met the objectives proposed, which confirms that the
internationalization of environmental programs within a company helps raise the level of
awareness and contributes to environmental education both in-house and in the community as
a whole.
Key words: internaciolization, environmental programs, organizational culture.
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1.- INTRODUÇÃO
Num contexto global, a escassez de recursos naturais sempre foi uma preocupação
humana, mas foi a partir da Revolução Industrial que houve uma intensificação dos problemas
ambientais. A Revolução Industrial gerou um aumento na escala de produção o que levou a
uma maior exploração dos recursos naturais e conseqüentemente o aumento dos problemas
ambientais. (BARBIERI, 2007).
A industrialização é tida como um processo ambíguo: por um lado aumenta a
prosperidade mundial, e, pelo outro, aumenta o potencial de rupturas ecológicas. À medida
que atividades empresariais aumentam, também aumentam as possibilidades de acontecer as
rupturas ecológicas. Como exemplo de ruptura ecológica, pode-se citar o ocorrido em 1982,
no Mar Morto, onde espécies de peixes foram transportados de um local distante e acabaram
por destruir reservas de plânctons, ovas de peixes e larvas de diversas espécies de fauna e
flora. (PARKER, 1998)
Segundo Barbieri (2007), no Brasil, o poder público já demonstrava interesse pelas
questões ambientais desde o início da década de 30, quando surgiram os primeiros
documentos, cujos objetivos eram preservar os recursos naturais por meio de gestões setoriais.
Porém, somente em 1972, em Estocolmo, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente Humano, foi dado destaque ao desenvolvimento e sua vinculação com os
efeitos ao meio ambiente. Estabeleceu-se um novo marco na forma de tratar as questões
ambientais no Brasil, culminando em 31 de agosto de 1981 com a Lei nº 6.938. Com o
estabelecimento desta lei, a proteção e a melhoria do meio ambiente integrou as diferentes
ações ambientais dentre as diversas entidades públicas, desta forma, os problemas ambientais
no Brasil passaram a ser tratados de maneira interdependente. Esta lei possibilitou um avanço
sobre alguns conceitos ambientais no país e juntamente com a Lei nº 7.347 de 24 de julho de
1985, possibilitou maior eficácia à proteção do meio ambiente, o aproveitamento racional de
recursos naturais, a responsabilidades dos gestores e dos danos causados ao meio ambiente.
Assim, um novo conceito sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável foi reforçado
na Constituição Federal de 1988. Ela é importante para o entendimento das questões
ambientais e suas implicações no Brasil, uma vez que incorporou o conceito de
desenvolvimento sustentável e se trata de uma constituição socioambiental.
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Dias (2000) afirma que, assim como no Brasil, em alguns países europeus as
preocupações com o meio ambiente já ocorriam antes mesmo da Conferência de Estocolmo,
em 1972. A diferença é que no caso brasileiro a formalização das políticas ambientais
aconteceu somente nos anos oitenta. Esta situação pode destacar diferenças no
comportamento da população daqueles países no que diz respeito à participação de forma
mais efetiva e consciente nos programas ambientais. Estas diferenças podem ser acrescidas de
aspectos culturais de diferentes países.
Com a evolução das tecnologias de informação e uma maior facilidade de acesso ao
conhecimento, as fronteiras tornaram-se invisíveis, facilitando o avanço dos contatos e as
trocas científicas e educacionais entre as instituições do mundo todo.
A internacionalização se configura como um desafio real para as lideranças. Inclui,
além da cooperação internacional no sentido geográfico das atividades, mudanças internas nas
instituições no que se refere aos programas por ela desenvolvidos. Estes programas
possibilitam a troca de experiências e motivam seus participantes a estabelecer comparações
de como as sociedades ao redor do mundo são formadas e sustentadas. Criam outras
perspectivas culturais que não as locais, despertam a curiosidade para as influências
multiculturais e a necessidade e importância em conhecer línguas estrangeiras e diferentes
culturas.
Desta maneira surgiu o conceito de interculturalidade, que é um conjunto de propostas
de convivência democrática entre diferentes culturas, buscando a integração entre elas sem
anular sua diversidade, buscando fomentar o potencial criativo e vital resultante das relações
entre diferentes agentes e seus respectivos contextos. (FLEURI, 2005)
Assim, é evidente a influência da cultura nos dias atuais, nos negócios, na vida
política, social e econômica, pois importantes relações de trabalho efetivadas hoje em dia se
devem muito a pessoas tecnicamente capacitadas a lidar com o outro culturalmente diferente.
Atitudes interculturais requerem uma mentalidade intercultural, pois a mudança começa de
dentro para fora. Perceber a diferença do outro como valor que pode enriquecer seu próprio
desenvolvimento (pessoal e profissional) e possibilitará que qualquer relacionamento
intercultural aconteça naturalmente.
No mundo corporativo a convivência com pessoas que possuem nacionalidades,
valores e costumes diferentes é uma realidade. Para que os resultados positivos possam ser
alcançados é importante levar em consideração as diferenças existentes no grupo respeitando
e valorizando os aspectos culturais de cada país. A implantação de programas internacionais e
multiculturais é complexa e requer cuidados específicos. Os executivos envolvidos na
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gerência de equipes interculturais devem procurar compreender as diferenças e semelhanças
entre o aprendizado prático, do dia a dia e o aprendizado transmitido pelo treinamento
intercultural de maneira a contribuir para o avanço do conhecimento.
Em um mundo globalizado, onde as fronteiras são modificadas os indivíduos mudam
de país, trocam o local pelo global e pluralizam suas identidades na mesma proporção em que
se diversificam experiências, intercâmbios culturais e formas de organização social de vida,
modelos de trabalhar, agir, sentir, pensar e imaginar. (IANNI, 1994).
O comércio e os serviços promovem interações entre os diferentes tipos de países e
suas culturas. Desta maneira, torna-se relevante estudar os aspectos culturais de diferentes
nações e comparar diferentes propostas e modelos de gestão ambiental. Esta comparação visa
verificar como o meio ambiente é percebido pela comunidade, quais os principais aspectos
que motivam as pessoas a mudar seus hábitos de consumo em prol do meio ambiente e de que
maneira isto é percebido e aceito na comunidade.
Dentro deste contexto, o estudo do processo de internacionalização de programas
ambientais desenvolvidos por empresas é relevante por destacar a forma como estes
programas são implantados, como seus funcionários percebem este processo e que adaptações
eventualmente são feitas para que estes programas tenham sucesso em diferentes países. Por
intermédio deste estudo, os futuros gestores poderão conhecer modelos ou exemplos mais
adequados à sua realidade e que possam trazer resultados econômicos e sociais mais
satisfatórios para a empresa e toda a sociedade.
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2 - OBJETIVOS
2.1 - OBJETIVO GERAL
Este trabalho tem como objetivo geral analisar o processo de internacionalização dos
programas ambientais das empresas, utilizando-se como exemplo uma empresa multinacional.
2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Pretende-se verificar como acontece o processo de internacionalização, como as filiais
recebem a transferência de valores e de que forma elas se adaptam e influenciam as culturas
ambientais locais e para tanto, foram formulados os seguintes objetivos específicos:
Comparar os aspectos culturais e os programas ambientais da empresa estudada
com os de sua matriz.
Verificar a percepção dos colaboradores da empresa no que diz respeito às
políticas ambientais implementadas.
Verificar mudanças no comportamento dos colaboradores da empresa após a
implantação dos programas ambientais.
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3 - REVISÃO DE LITERATURA
Segundo Rocha (2002) os assuntos relacionados às questões ambientais ocupam hoje
posição de destaque na agenda internacional ao lado de temas estratégicos sobre economia e
comércio. O meio ambiente e suas implicações são atualmente condição privilegiada nas
relações internacionais, sendo tópico obrigatório nos principais encontros mundiais. Desta
forma, governos de diversos países têm despendido esforços no sentido de ampliar suas ações
voltadas ao meio ambiente por intermédio de programas e políticas que estabelecem diretrizes
de atuação, tendo como objetivo, a preservação ambiental como um todo.
Neste sentido, países europeus, destacaram-se na implantação de programas
ambientais e hoje apresentam resultados consistentes que norteiam ações futuras de forma
mais avançada em relação a outros países menos desenvolvidos. Países que anteriormente não
tinham políticas ambientais bem estabelecidas e que hoje fazem parte da União Européia
mostram avanços inclusive no sentido de formalizar planos futuros.
3.1 - SUSTENTABILIDADE E SEUS CONCEITOS
A Comissão Mundial do Desenvolvimento e Meio Ambiente de 1987, chamada de
Comissão Brundtland, considerou viável prover as necessidades mínimas para uma população
mundial crescente de forma sustentável e sem a degradação continuada dos ecossistemas.
Neste sentido, surge o conceito de desenvolvimento sustentável destacando três aspectos:
econômico, social e ambiental. Assim um sistema economicamente, socialmente e
ambientalmente sustentável deve ser capaz de produzir produtos e serviços sem causar
problemas de ordem fiscal ou financeira, deve ser justo na distribuição de renda e de
oportunidades com igualdade de tratamento para todos os seus membros além de não
comprometer as bases de recursos renováveis ou não renováveis, mantendo a estabilidade da
atmosfera e as demais funções do ecossistema (HARRIS; WISDE; GALLAGHER;
GOODWIN, 2001, p.xxix).
Com o entendimento da amplitude do conceito de desenvolvimento sustentável a
legislação ambiental torna-se mais densa e começa a exercer maior rigidez no cumprimento
de suas normas. Desta forma, as atividades desenvolvidas pelas empresas são mais
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controladas e crescem as preocupações com a quantificação dos recursos consumidos pelas
mesmas no sentido de evitar ou minimizar os impactos sobre o meio ambiente. Surgem então
os modelos de sistemas de contabilidade ambiental para que as empresas possam gerenciar
seus ativos, ou seja, bens e direitos reservados à recuperação, à preservação, à proteção e ao
controle do meio ambiente. E também seus passivos, como gastos com a prevenção ou a
correção de problemas de natureza ambiental (SCHOEMAKER; SCHOEMAKER, 1995).
Sachs (1993) define sustentabilidade a partir de diferentes dimensões como: ecológica
cujo objetivo é manter os estoques de recursos naturais incorporados às atividade produtivas;
ambiental que refere-se à manutenção da capacidade de sustentação dos ecossistemas; social
que tem por objetivo a melhoria da qualidade de vida da população implicando na adoção de
políticas distributivas e a universalização de atendimento a questões como saúde, educação,
habitação e seguridade social; política que se refere ao processo de construção da cidadania
para garantir a incorporação plena dos indivíduos ao processo de desenvolvimento; e
econômica que é a gestão eficiente dos recursos em geral e se caracteriza pela regularidade de
fluxos do investimento público e privado. Na sustentabilidade cultural há um desafio quanto
ao equilíbrio entre o respeito à tradição e a busca de inovações. Sachs (1993) defende que, na
busca por modelos de desenvolvimento, deve-se prezar pela pluralidade de soluções e
diversidade das culturas locais. As preocupações com o meio ambiente e os problemas
ambientais devem ser discutidos em diversas dimensões como a social, a política e a
econômica. A importância do processo de conscientização e a participação da comunidade no
que se refere às questões ambientais é fundamental para a sustentabilidade do planeta.
Um estudo realizado pelo Banco Mundial em 2004 (Tabela 1) projeta o crescimento
demográfico mundial e mostra que a tendência de crescimento populacional é um importante
alerta para que os decisores em todos os países possam repensar suas estratégias e diretrizes
para uma gestão ambiental mais integrada e eficaz.
Ano
2000
2005
2010
2015
2045
Mundial
6.055.178
6.418.206
6.763.501
7.096.333
8.636.291
Brasil
170.101
180.641
190.988
200.976
243.482
Tabela 01 - Crescimento demográfico e sua projeção em milhões (WORLD BANK, 2005)
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Na tabela 1, considerou-se um aumento demográfico mundial de aproximadamente
34% no que diz respeito ao período de 2000 a 2045 e o mesmo percentual previsto no
contexto de crescimento demográfico do Brasil. Isto significa que há uma forte tendência para
que haja uma exploração cada vez maior dos recursos naturais e conseqüente aumento dos
problemas ambientais. Esta previsão tem o intuito de alertar para a importância de se realizar
ações no sentido de minimizar os impactos ambientais e planejar atividades integradas para a
preservação dos recursos naturais.
3.2 - A SUSTENTABILIDADE E SUA INFLUÊNCIA NOS MODELOS DE GESTÃO DAS
EMPRESAS
Donaire (1999) destaca que durante décadas a sociedade acreditou que a melhoria das
condições de vida para a sociedade seria fruto do crescimento econômico. Com o passar do
tempo observou-se que este crescimento causava sérios danos aos ecossistemas. Então surge
na sociedade uma nova maneira de pensar e agir que se reflete nas ações e estratégias do
governo e das empresas. As preocupações com o meio ambiente, saúde e segurança bem
como a responsabilidade social e ética perante a comunidade começa a ser incorporada nas
políticas internas das empresas, governo e sociedade civil.
A definição das estratégias das empresas tem levado em consideração as expectativas
dos consumidores, a valorização dos produtos que respeitam o meio ambiente e as ações de
responsabilidade social. Este novo posicionamento por parte das organizações tem trazido
desde melhorias nas atividades rotineiras até grandes modificações nos produtos e processos,
além de ganhos na imagem e reputação da empresa.
A habilidade em responder as necessidades de mercado, a capacidade de inovar e a
maneira que a empresa enfrenta os desafios de mercado determinam o quanto a organização
pode ser competitiva.
Lundvall (1988) observa que as subsidiárias de uma empresa multinacional constroem
capacidade tecnológica, aumentando o seu desempenho de mercado, quando interagem com
parceiros locais e esta interação pode resultar em aprendizagem e inovação. Em países com
economia emergente como o Brasil a visão da função da subsidiária está se tornando o foco
principal na busca do sistema de inovação doméstico.
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Com a crescente geração de tecnologia fora do país de origem da empresa
multinacional, alguns autores como Cantwell e Iammarino (2000) destacam que os países
hospedeiros estão desempenhando um importante papel nas atividades de pesquisa e
desenvolvimento, principalmente na área de tecnologia de informação e comunicação, e que a
geração da inovação no contexto da globalização ocorre através das subsidiárias das
organizações multinacionais.
Ettlie (2006) destaca que a inovação ocorre através de alterações ou melhorias na
tecnologia, entendendo-se tecnologia como uma das principais ferramentas com as quais
ocorre a inovação, podendo ser por intermédio da combinação de processos existentes
(pessoas, equipamentos, processos) ou da geração de novos recursos, produtos, processos e
serviços disponíveis no mercado.
Ferraz et al. (1995) observam que todas as empresas automotivas no Brasil são
multinacionais e que o acesso à inovação é relativamente fácil em detrimento do
relacionamento estabelecido com as matrizes. A maioria dos projetos são importados e são
adaptados para as condições locais. Os aspectos ambientais são considerados seguindo a
tendência internacional.
Porter e Van der Linde (1995) observaram a questão da sustentabilidade e sua
influência sobre a competitividade das organizações sob o ponto de vista macroeconômico.
As inovações de produto e processo podem servir para melhorar o desempenho ambiental das
empresas, podendo trazer benefícios ou vantagens como redução de custos, aumento da
produtividade e exploração de novos mercados, e garantindo desta forma posições
competitivas à frente dos concorrentes. Desta forma, a gestão estratégica para a
sustentabilidade é o caminho para a competitividade a longo prazo.
3.3 - ISO 14000
A ISO, (International Organization for Standardization) foi criada em 1946 para
promover e desenvolver normas e atividades para facilitar o comércio internacional e a
cooperação intelectual, científica, tecnológica e econômica. Sediada em Genebra, Suíça, está
presente em 153 países por intermédio de representação de órgãos de normalização nacionais.
No Brasil, é representada pela ABNT. Os padrões ISO 9000 e ISO 14000 já foram adotados
por cerca de 634 mil organizações (www.iso.org). A ISO possui uma parceria estratégica com
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a OMC – Organização Mundial de Comércio. É aplicável a qualquer tipo de organização e é
construída com base em iniciativas já existentes (INSTITUTO ETHOS, 2006).
A ISO, por ser uma norma de padronização utilizada por instituições no mundo todo, torna-se
um instrumento de comunicação unificado entre seus usuários. As discussões sobre Meio ambiente e
sustentabilidade, principalmente após a conferência Rio 92, aumentou a inserção da certificação
ambiental, que dá acesso à política e ao desempenho ambiental da empresa certificada (COELHO e
PRADO, 2009).
A ISO 14000 é referencial de vários aspectos de gestão ambiental sendo que as ISO
mais importantes são: o Sistema de Gestão Ambiental (SGA) ISO14001 e a ISO14004, que
fornece as diretivas e dá suporte ao SGA. Como uma ferramenta de gestão, a ISO 14001 pode
auxiliar as empresas no controle do impacto ambiental de forma contínua. Determinando
metas gerais, a ISO 14001 fornece os requisitos básicos para um SGA. Deste modo, é criado
um padrão o qual facilita a comunicação e entendimento do SGA entre os diversos níveis na
empresa, filiais, parceiros e acionistas. O fato da ISO 14001 não tratar de aspectos ambientais
específicos e não estabelecer indicadores de desempenho, permite que ela seja utilizada por
uma grande variedade de organizações e estabelece o cumprimento de exigências ambientais
legais (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION – ISO14000
ESSENTIALS, 2009).
O que a norma proporciona às instituições que as implementam é uma metodologia de
controle de custos, redução de riscos e melhoraria de desempenho. Os benefícios vão além da
parte financeira, pois há uma melhoria considerável no relacionamento das partes interessadas
e da formalização da comunicação interna. Gastos com materiais podem ser reduzidos além
de custos de descarte de resíduos. Há possibilidade de se ajustar os processos de produção
tornando a empresa mais eficiente e reduzindo riscos de acidentes. A percepção pública da
norma sugere que as empresas podem também alcançar ganhos na imagem, oportunizando
melhores vendas e negócios (BSI, 2004).
Fisher (2003) descreve que normas como as da ISO 14000 oferecem diversas
vantagens à instituição que as aplica, como, por exemplo, legitimidade (assegurando as
políticas ambientais), redução de risco de responsabilidade civil e criminal, cumprimento
legal, marketing (melhorando a imagem da instituição) e saúde humana. O autor destaca as
ISO 14001 e 14004 como as mais importantes numa iniciativa ambiental. Na questão prática,
a aplicação da ISO 14001 recomenda um diagnóstico ambiental inicial que deve auxiliar a
organização nas questões e objetivos que deseja incluir em suas políticas ambientais e que
permitem estabelecer um futuro SGA. As ferramentas que auxiliam neste diagnóstico incluem
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questionários, entrevistas, formulários de controle, inspeções, revisão de registros e
Benchmark.
Price (2005) destaca os fatores de sucesso da implementação da ISO 14000 como
sendo o comprometimento corporativo, o gerenciamento da estrutura organizacional
(alocação e uso apropriado de recursos), o entusiasmo ambiental e o apoio de especialistas.
3.4 - O SETOR AUTOMOTIVO E OS ASPECTOS DE SUSTENTABILIDADE
Segundo Philippi Jr et al. (1999) é crescente, no setor automotivo, a preocupação com
as questões ambientais interligadas aos seus processos produtivos e de sua cadeia de
distribuição mundial. Esta tendência destaca-se nas empresas montadoras, nas fábricas de
autopeças e concessionárias autorizadas devido às exigências das próprias montadoras que
estão expostas às pressões da legislação ambiental. Além da legislação outros fatores
influenciam as empresas para adoção de posturas ambientalmente responsáveis, tais como a
percepção das vantagens em termos competitivos, de melhoria na imagem perante a sociedade
e da redução de custos dos seus processos produtivos por intermédio da adoção de programas
de gestão voltados à solução de problemas decorrentes dos impactos ambientais desses
processos.
As crises no abastecimento do petróleo em nível mundial na década de setenta
contribuiu para uma mudança drástica na relação entre os consumidores e o setor automotivo
devido ao aumento da demanda por veículos mais econômicos e compactos, levando as
montadoras, lideradas pelas japonesas, a reprojetarem seus veículos usando motores mais
eficazes e menos poluentes, e utilizando materiais mais leves e duráveis feitos de
componentes recicláveis. No Brasil, as duas crises refletiram no desaquecimento da economia
e se traduziram na mudança da matriz do combustível de veículos comerciais produzidos de
gasolina para diesel.
Nos anos noventa, a indústria sinalizou que estava incorporando as práticas de
racionalização e redução dos custos, intensificando os processos automatizados na produção,
selecionando fornecedores por intermédio de certificações de gestão da qualidade e meio
ambiente.
Almeida (2002) observa que os consumidores têm se tornado cada vez mais exigentes
e esclarecidos sobre a legislação ambiental e tendem a pressionar as montadoras e sua rede de
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concessionárias, fornecedores, fábricas de autopeças, transportadoras, a buscar inovação
tecnológica para atingir desempenho ambiental cada vez maior.
O Relatório Intercalar AIS Comercial do Acordo de Associação e Negociação entre
Comunidade Européia e o Mercosul – Setor Automóvel de 2007, teve como objetivo
apresentar os resultados da avaliação do impacto da sustentabilidade oferecendo uma
avaliação preliminar das medidas de acompanhamento para a prevenção ou atenuação de
impactos potencialmente negativos.
Dentre os impactos ambientais na Comunidade Européia, destaca-se o aspecto
relacionado com eventuais mudanças na produção. Quanto ao Mercosul, os impactos
ambientais estão relacionados com as modificações nos níveis de produção e na utilização dos
veículos. Está prevista também uma queda da qualidade ambiental com a produção e a
utilização de veículos que aumentarão a poluição do ar. O impacto sobre recursos naturais,
inclusive a preservação das terras e a água, pode estar relacionado ao aumento da produção de
soja e cana de açúcar, utilizados para produção de biocombustíveis, causando inclusive
modificações nos modelos agrícolas adotados devido à demanda crescente do etanol.
O relatório final deste estudo contemplando o setor automotivo fará uma avaliação de
medidas de mitigação de impactos negativos. Serão propostas, pelos responsáveis das polícias
nacionais da Comunidade Européia e Mercosul, novas recomendações de ações no âmbito
comercial visando a cooperação entre o Mercosul e a Comunidade Européia.
Madruga e Nascimento (1999) realizaram estudo onde destacam medidas positivas do
ponto de vista ambiental adotadas pelas indústrias automotivas, tais como: sistemas de ar
condicionado que eliminam emissões de CFC, que destroem a camada de ozônio, pesquisa do
programa pró-álcool que coloca o Brasil em situação pioneira na utilização deste combustível
alternativo; certificações ISO 14001 das plantas de diversas montadoras multinacionais
localizadas no Brasil. Esforços também são feitos pelas montadoras no sentido de prover a
redução de resíduos sólidos industriais, eliminação de substâncias químicas de materiais e
processos produtivos, priorização na utilização de produtos recicláveis, adoção de filtros de
carbono no motor dos carros e inovações com o objetivo de diminuir a poluição sonora dos
carros.
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3.5 - POLÍTICA AMBIENTAL NO BRASIL
A política ambiental brasileira nasceu e se desenvolveu nas últimas décadas sendo
resultado da ação de movimentos sociais locais e de fora do país, como exemplo a
Conferência de Estocolmo. A legislação era baseada nos códigos de águas (1934), florestal
(1965) e de caça e pesca (1967), não havendo, entretanto, uma entidade coordenadora ou
gestora das áreas envolvidas. Em 1973 foi criada a Secretaria Especial de Meio Ambiente
(SEMA), órgão especializado em assuntos ambientais sob a coordenação do Ministério do
Interior. Nesta época o modelo de política ambiental brasileira tinha como premissas o
controle da poluição e a criação de unidades de conservação da natureza.
Em agosto de 1981, a Lei Federal 6.938 criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente
(SISNAMA), integrado por um órgão colegiado: o Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA). Essa Lei estabeleceu os objetivos, princípios, diretrizes, instrumentos,
atribuições e instituições da política ambiental nacional. O CONAMA era composto por
representantes de ministérios e entidades setoriais da administração federal, bem como de
órgão estaduais e municipais, entidades de classe e de organizações não-governamentais. Os
instrumentos contemplados eram a avaliação de impactos ambientais, o licenciamento e a
revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras. Estes procedimentos foram
ratificados na Constituição Federal de 1988.
No período de 1985 a 1989 foi dado início à redefinição da política ambiental
brasileira. Foram unificados os órgãos como SUDEPE (pesca), o SUDHEVEA (borracha), o
IBDF (Desenvolvimento florestal) e a SEMA (Meio Ambiente) em torno de um único órgão
federal: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA).
O decreto 99.274 de 1990, que regulamentou a Lei 6938/81 e suas posteriores
modificações, explicava os procedimentos para licenciamento ambiental, tornando o Conselho
Nacional de Meio Ambiente responsável pelos critérios básicos exigidos para o Estudo de
Impacto Ambiental (EIA/RIMA).
A visão preventiva da política ambiental dos anos oitenta cedeu espaço para uma ótica
integradora que passou a combinar os aspectos econômicos e sociais com os ambientais. O
conceito de desenvolvimento sustentável mostrou a necessidade de se redefinir as políticas
ambientais e dentro deste contexto foi criado, em 1987, o Relatório de Bruntland por
iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Novos temas de
22
política ambiental foram redefinidos no mundo todo e surgiu uma nova conferência
internacional conhecida como ECO-92, realizada no Rio de Janeiro. A Agenda 21, principal
documento resultante desta conferência apresentou programas para elaboração de políticas
públicas em todos os níveis, porém não teve força de lei das convenções e necessitava de
recursos financeiros para ser implantada no mundo todo. Em 1998 foi aprovada a Lei
brasileira de Crimes Ambientais, tratando não somente de punições, mas métodos e
possibilidades de não aplicação das penas, desde que o infrator recupere o dano ou pague sua
dívida à sociedade.
Em 2002 foi realizada a Conferência Ambiental Rio +10, em Johanesburgo, África do
Sul, com o objetivo de dar continuidade às discussões da ECO-92. Esta conferência
reconheceu a importância e urgência da adoção de energias renováveis em todos os países e
considerou legítimo que os blocos regionais de países estabelecessem metas e prazos para
cumpri-las. Como ponto negativo não foi possível fixar prazos para todos os países. Os
impactos desta conferência ainda estão sendo observados.
Desta forma, nota-se que a política ambiental brasileira se desenvolveu de forma tardia
em relação às demais políticas setoriais do país e em função das pressões externas dos países
desenvolvidos. Faz-se necessário combinar as dimensões sociais, ambientais, políticas e
econômicas com outras perspectivas baseadas na preocupação com os direitos humanos, com
os valores da autonomia nacional e da identidade cultural.
3.6 - POLÍTICA AMBIENTAL NA UNIÃO EUROPÉIA
A União Européia (EU), anteriormente designada por Comunidade Econômica
Européia (CEE) e Comunidade Européia (CE), é uma organização internacional constituída
por 27 estados membros. Foi estabelecida com este nome pelo Tratado da União Européia
(normalmente conhecido como Tratado de Maastricht) em 1992, mas muitos aspectos desta
união já existiam desde a década de 50. A União tem sedes em Bruxelas, Luxemburgo e
Estrasburgo. A União Européia possui uma união aduaneira, ou seja, o mercado único
europeu, uma moeda única (o euro, adotado por 13 dos 27 estados membros) e políticas
agrícola, pesqueira, comercial e de transportes comuns. Desenvolve várias iniciativas para a
coordenação das atividades judiciais e de defesa dos Estados Membros.
23
Grubb (2007) destaca que os aspectos ambientais são relativamente recentes na União
Européia - UE. Os Planos Europeus de Ação Ambiental (European Environmental Action
Plans) – EAP tiveram início em 1972. A Lei Européia Única (European Single Act)
estabelecida em 1986 marcou o início do mais importante papel dos legisladores em relação à
proteção ambiental. Esta lei estabeleceu como aspecto principal que a proteção ambiental
deve ser considerada em toda a nova legislação comunitária. A política ambiental da União
Européia foi expandida para os Tratados de Maastrich em 1992 e Amsterdã em 1997, nos
quais o tema central discutido foi o desenvolvimento sustentável. Este tema também foi
fundamental para a Estratégia de Lisboa estabelecida em 2000, no qual se apóia toda a
política no que diz respeito ao mercado único.
A EAP cuja validade é de 2002 a 2012 estabelece como prioridade quatro áreas:
mudanças climáticas, natureza e biodiversidade, meio ambiente, saúde e qualidade de vida e
recursos naturais e resíduos.
A União Européia desempenha papel importante nas negociações internacionais para
discutir assuntos ambientais tendo assinado em 1997, o Protocolo de Kyoto durante a
Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas. Na oportunidade, comprometeuse a reduzir os gases de efeito estufa em 8% comparados aos níveis de 1990. Porém, em
março de 2007, esta meta foi estendida para 20% até o ano de 2020. Para que a União
Européia possa cumprir as metas estipuladas, foi criado em 2002, o Sistema Comercial de
Emissões (Emissions Trading Scheme) – ETS, que estabelece limites nos valores de dióxido
de carbono produzidos pelas empresas em seis áreas industriais: energia, aço, cimento, vidro,
produção de tijolo e produção de papel/papelão. Recentemente a Comissão Européia
apresentou planos para que as emissões provenientes das aeronaves também fossem incluídas
neste sistema. Em dezembro de 2007, pressionou os produtores de automóveis para que
diminuíssem as emissões em pelo menos 20% nos próximos cinco anos.
As lideranças políticas da União Européia também concordaram que até 2020, 20% da
energia da EU deve ser proveniente de fontes de energia renováveis, como, por exemplo, o
biocombustível.
Apesar do esforço em estabelecer medidas em prol do meio ambiente a política
ambiental da EU sofre críticas no sentido de que os custos de implementação das regulações
estabelecidas podem prejudicar a competitividade dos negócios na EU, especialmente face ao
aumento da competitividade da China e Índia que não possuem regras ambientais tão severas.
24
3.7 - GLOBALIZAÇÃO
Segundo Lastres e Albagli (1999) a globalização é vista por muitos como um
fenômeno que irá unir países, culturas e fundir a tecnologia. Os bens que mais se encontram
globalizados são os intermediários, entre eles: máquinas equipamentos e insumos industriais e
os de consumo final como automóveis, computadores, eletrodomésticos, televisores e
aparelhos de som. Se as empresas não produzem estes bens, elas os importam, seguindo a
premissa da vantagem competitiva de cada local onde se encontram instaladas. No entanto,
quando se fala na retenção da informação de tecnologia, notou-se que esta se concentra em
espaços limitados, sendo a maioria das vezes na sede da empresa transnacional.
Segundo Lévy (2007), a globalização tem sido amplamente citada como dominante do
comércio internacional após a II Guerra Mundial, sendo profundamente ligada à abertura da
economia mundial. A relação entre comércio e crescimento tem sido amplamente debatida na
literatura econômica, dentro dos campos da economia, sociologia, ciências políticas e outros.
Contudo, na área de Negócios Internacionais e estudos de administração, merecem atenção
especial as pesquisas sobre uma aproximação integrada de assuntos relacionados à
globalização. Em particular, no século 21 as empresas estão sendo desafiadas a pensar
diferentemente sobre o objetivo e o impacto na sociedade das atividades desenvolvidas por
elas em países mais pobres.
Para Freitas (2008), a globalização da economia eleva o nível de competição
organizacional, faz surgir novos mercados, produtos, serviços e idéias. Novas economias
emergem e abocanham parcelas de investimentos internacionais que competem por taxas de
retorno cada vez mais atraentes em diferentes partes do globo; empresas globais se
consolidam em distintos mercados, fazendo uso de estratégias sinérgicas dos mais variados
tipos como fusões, aquisições e consórcios. Acordos bi e multilaterais são construídos por
empresas e governos para exploração de novas possibilidades de negócios.
3.7.1 - Demandas ambientais
Segundo Almeida et al. (2000), o ambiente da globalização econômica, em face da
questão ambiental, está impondo limitações à sobrevivência de empresas grandes ou
pequenas. As empresas estão reavaliando as diferentes atividades econômicas e todo o ciclo
de vida de seus produtos e serviços. A conceituação de ciclo de vida de produto tem impacto
25
sobre o meio ambiente e a ação de resíduos sobre o meio ambiente é componente de custo
ambiental. Este tema é relevante nas discussões de custos de produção do processo industrial
bem como da confecção de embalagens de produtos, sendo o passivo ambiental de uma
empresa atualmente fundamental para o patrimônio da mesma e sua sobrevivência.
Dias (2000) afirma que há um acentuado aumento das preocupações com o meio
ambiente que se refletem em sanções econômicas por parte das instituições internacionais de
crédito, normas legais de controle ambiental e aumento da fiscalização das empresas
potencialmente poluidoras. No setor privado, as empresas estão considerando em seus
planejamentos estratégicos aspectos institucionais (as leis, regulamentos e imposições do
poder público) e os que remetem à participação da comunidade, considerada tanto no seu
âmbito internacional quanto no seu envolvimento local. Existem diversas organizações nãogovernamentais mobilizadas para uma intervenção ativa junto a produtos/empresas que
afetam o meio ambiente. Pelo fato de haver uma predisposição positiva por parte da
comunidade, essas organizações conseguem mobilizar, em curto espaço de tempo, a opinião
pública em relação à defesa ambiental. A mídia apresenta um volume significativo de
informações acerca dos problemas ambientais e a sociedade sente a necessidade de uma
qualidade de vida melhor, o que inclui um meio ambiente saudável.
No que diz respeito à organização interna das empresas, a implantação de normas
internacionais para o meio ambiente como a ISO14000, traz muitas alterações em seus
processos internos e na relação com a comunidade e o setor público. O estabelecimento de
processos que asseguram qualidade e preocupação ambiental, assim como certificação
ambiental é fundamental para acessar os mercados europeu e norte americano. Outro aspecto
a ser considerado é que investimentos em novas tecnologias, necessários para a melhoria de
sistemas gerenciais ambientais são importante fator de competitividade quando ocorre
modernização dos processos industriais. A certificação de produtos ecologicamente corretos é
também fator importante. Uma pesquisa realizada em 1993 nos Estados Unidos revela que
50% dos consumidores dão preferência aos produtos menos agressivos ao meio ambiente e
estudos semelhantes desenvolvidos por instituições ambientalistas, realizados na Europa
mostram que o consumidor europeu está disposto a pagar de 5% a 15% a mais por produtos
com características ecológicas. (DIAS, 2000).
Na busca de soluções inovadoras por parte das empresas no sentido de minimizar os
impactos ambientais, cabe ressaltar o trabalho desenvolvido por Vachon e Klassen (2006). O
estudo aponta como exemplo um modelo de parceria no desenvolvimento de projetos verdes,
considerando o grau de interação entre as organizações de toda a cadeia logística, na obtenção
26
da solução de um problema ambiental decorrente da atividade produtiva de empresa do setor
de indústria gráfica. Os resultados do estudo indicam que as parcerias verdes são entendidas
pelos clientes de forma positiva em termos de qualidade, flexibilidade e desempenho
ambiental, enquanto as parcerias com os fornecedores são associadas com o melhor
desempenho na entrega. Mostra também que esforços no sentido de melhorar práticas
ambientais por intermédio de inovações tecnológicas podem ser obtidos através da
colaboração das empresas pertencentes à cadeia de fornecedores.
O conceito composto entre globalização da economia e mundialização da cultura tem
sido muito discutido. Segundo Pires (2006, p. 2), “a lógica que viabiliza os fenômenos da
globalização da economia e da mundialização da cultura tem como pressuposto a
transformação dos bens culturais em mercadorias ou bens simbólicos, e a sua disponibilização
aos mercados consumidores mundiais através das novas tecnologias” . A nova ordem visa
reduzir os custos de produção, implicando em novas alternativas, como otimização da
capacidade produtiva, com menos custos de mão de obra através de uma série de mudanças
estratégicas. Como exemplo dessas mudanças pode-se citar a produção em escala global dos
mesmos produtos. Para que esta produção possa ser viabilizada, torna-se necessária a
implantação de estratégias que promovam igualmente e a aproximação entre hábitos, valores e
preferências de consumo em esfera planetária, garantindo assim a criação de um mercado
consumidor global para produtos que pouco diferem entre si.
3.7.2 - A questão cultural
Para que se possa entender como o meio ambiente é percebido pela sociedade e como
as diferentes políticas ambientais influenciam o comportamento de suas populações, faz-se
necessário entender como os aspectos culturais são relevantes neste processo. Estes aspectos
são fundamentais para que haja uma mudança de comportamento em função de uma maior
conscientização ambiental.
Segundo Dias (2000), o estudo da cultura assume um papel relevante no sentido de
valorizar o ser humano em toda sua diversidade. O avanço tecnológico tem facilitado cada vez
mais o processo da globalização no qual os contatos interculturais têm aumentado e revelam
uma grande variedade cultural de hábitos e costumes. Estes, muitas vezes são diferentes e
opostos, mostrando a relatividade da cultura.
27
O conhecimento de cultura torna-se fundamental para se entender a cultura
organizacional. No contexto das relações interempresariais muitos negócios podem ser feitos
ou desfeitos em função de se conhecer os hábitos e costumes de outros povos.
A cultura tem como elementos básicos as crenças, os valores, as normas e sanções, os
símbolos, o idioma e a tecnologia. A cultura é transmitida de uma geração para outra, por
intermédio do convívio social. Ela se refere aos meios, através dos quais, idéias, atitudes e
hábitos passam das gerações mais antigas às gerações mais novas, podendo ser transmitidas
de um indivíduo ou de um grupo para outra pessoa ou grupo, sem levar em conta a faixa
etária. A transmissão da cultura é um importante fator no processo de socialização. Assim,
socialização pode ser entendida como a maneira pela qual os indivíduos obtêm o modo de
agir, pensar e sentir próprios do grupo, da sociedade ou da civilização a que pertencem.
(DIAS, 2000).
Pahl-Wostl et al. (2008) defenderam que a cultura demanda a compreensão de
barreiras para adoção de novas estratégias de gerenciamento, novas tecnologias e o
intercâmbio de experiências entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Entendem
o aprendizado social como o crescimento da capacidade das entidades sociais em
desempenhar tarefas afins. Referem-se ao processo de aprendizagem e às vantagens
decorrentes dele, questionam como as diferenças culturais influenciam o aprendizado social e
como o aprendizado social lidera a transformação da cultura. As dinâmicas e transições de
novos modelos de gerenciamento não poderão ser bem sucedidos em sua implementação se
não houver um entendimento da interdependência do aprendizado social e cultural.
Conforme Dias (2000), uma das mudanças mais relevantes que vem acontecendo é o
crescimento da presença de diferentes culturas na busca de uma reconstrução de identidade no
espaço global. O que se destaca é a compreensão de que nesse processo ocorre uma passagem
de identidades culturais relacionadas com o território, não diretamente vinculadas a uma base
territorial. As diversas culturas nacionais modificam-se e são modificadas na interação com a
produção cultural global.
Segundo Parker (1998), as empresas que atuam unicamente em um ambiente
doméstico derivam seus hábitos e valores culturais da nação de origem. Independente destas
organizações, atuarem e conviverem com variações étnicas e regionais, a maioria dos valores
adotados por elas são os da cultura dominante, normalmente os das nações de origem. Mas,
quando estas organizações começam a atuar cada vez mais em diferentes países, seus
membros são constantemente expostos a outras culturas, normas e hábitos e terminam por
adotar alguns destes. Estas adaptações culturais modificam as práticas organizacionais
28
gerando mudanças na cultura organizacional, que, no mundo dos negócios globais, são
devolvidas à cultura original. Uma vez que comportamentos, normas, premissas e valores
surgem fora das fronteiras nacionais, o estado-nação não é mais a fonte principal de
comportamentos e valores culturalmente aceitos. Assim, a cultura torna-se sem fronteira à
medida que as atividades empresariais transcendem fronteiras nacionais.
O avanço da tecnologia e o desenvolvimento de novos instrumentos de comunicação
têm contribuído para as novas formas de se fazer negócio. A globalização aumentou a
integração da economia global evidenciada principalmente pelo aumento do comércio
internacional e pelo fator da mobilidade. Reichert e Wächter (2000), referem-se à
globalização como fortes mudanças sociais, econômicas, políticas e no ambiente cultural,
trazidas principalmente por intermédio da competição global, da integração dos mercados
densamente aumentada pelas redes de comunicação, fluxo de informações e mobilidade.
A mobilidade da população como resultado da globalização produziu um processo de
mistura étnica gerando um processo chamado creolização. (KIRMAYER, 2006). Isto leva à
tentativa de aumentar a impermeabilidade das fronteiras entre grupos após uma resposta
inicial de hospitalidade. Esta resposta era inicialmente freqüente em função da falta de
trabalhadores para ocupar funções que não eram desejadas pela população hospedeira. Isto é
demonstrado no desenvolvimento de barreiras para imigração para países com os quais
historicamente há uma política de boas vindas a novos grupos.
O avanço científico e tecnológico, por sua vez descobre novas possibilidades de vida e
conforto; intensifica as trocas e intercâmbios econômicos e sociais, acelera a transmissão de
informações, dados e imagens; eleva de maneira exponencial a movimentação de capitais,
derruba as barreiras espaciais e temporais, promove a interação constante entre países,
economias, povos e culturas, estimula a pesquisa coletiva, propõe um novo paradigma que
considere o complexo, o flexível, o renovável, reforça a diferenciação de pessoas,
organizações e sociedades por meio da aprendizagem , criatividade e inovação permanentes.
Este novo cenário rompe conceitos e estruturas sociais até então consolidadas como
família, escola e meios de comunicação. Este é o novo contexto a ser analisado pelos
pesquisadores, o de uma nova sociedade que merece ser considerada na sua adjetivação. Em
nível organizacional, as conseqüências deste novo contexto são um ambiente de trabalho cada
vez mais qualificado, heterogêneo e com maior potencial de conflitos e exclusão. A
obrigatoriedade de complementação de saberes e expertises, a urgência no desenvolvimento
de maiores competências comunicativas e de negociação, a necessidade de habilidades para a
coordenação de equipes multiculturais e multidisciplinares, o desenvolvimento de novas
29
formas de sinergia estratégica e incessantes incorporações tecnológicas, a revisão de
processos produtivos, financeiros e administrativos e, principalmente, o desenvolvimento de
uma mentalidade intercultural. Assim, indivíduos, organizações e sociedade são partes
integrantes e indissociáveis de um mesmo e único processo de constituição e, nesse novo
cenário, no qual a mobilidade desponta como valor-chave na situação intercultural
(FREITAS, 2008).
3.8 - INTERNACIONALIZAÇÃO DE EMPRESAS
Os eventos mundiais estão rapidamente convergindo para delinear um mundo único e
integrado. As mudanças decorrentes do convívio com outros costumes fazem com que
práticas anteriormente tidas como tradicionais sejam vistas como violações dos direitos
humanos; tradições culturais somam-se aos insultos e às políticas imigratórias. As empresas,
por sua vez, na busca por novos produtos e mercados, não distribuem apenas produtos para os
consumidores, mas também idéias a respeito da criação de riqueza; idéias de como as pessoas
devem viver e trabalhar e ideologia sobre autoridade política e administrativa. A
internacionalização implica a expansão de interfaces entre a empresa e as nações. Na
internacionalização dos negócios, portanto, a nacionalidade está presente na consciência das
pessoas, significando os fluxos dos negócios, bens ou capitais de um país para o outro.
De acordo com Bertero (2006), Medeiros et al. (2001, apud BUCKLEY 1996),
considera-se a importação com ênfase nos produtos de tecnologia e conhecimentos como o
primeiro passo à internacionalização porque estes podem melhorar a competitividade de
produtos e serviços das empresas.
Andreff (2000) descreve que até o início do século XX as primeiras multinacionais
tinham uma estratégia de abastecimento. As implantações eram realizadas no estrangeiro para
abastecer a matriz a partir de plantações. Ainda no século XX, sobretudo até os anos 60,
apareceram as multinacionais com estratégias de mercado extrativas e de entreposto
comercial.
Segundo Lanzana et al. (2006), quando as empresas passam a ter ativos no exterior já
alcançaram um complexo estágio no processo de internacionalização. As estratégias de
atuação organizacional já devem estar estabelecidas. A escolha do modelo de estrutura
organizacional visa atender aos desafios das empresas diante da competitividade do mercado.
30
Mesmo que as empresas se decidam por um modelo específico, é necessário que conheçam
seu ritmo interno, seus valores e culturas, pois somente conhecendo estas instâncias é que
poderão dar início à implantação de mudanças. A literatura destaca quatro modelos de
internacionalização de empresas:
Modelo multinacional – adotado pelo mercado anteriormente à Segunda Guerra
Mundial. Objetivou atender os mercados nacionais de forma isolada e pautou-se pelo
fato de as empresas descentralizarem seus bens, recursos e administração. Essa
descentralização tem como vantagem a possibilidade de explorar os mercados locais
com mais rapidez e eficácia. Porém, uma desvantagem deste modelo é gerar uma falha
na comunicação entre as empresas subsidiárias. Esta falta de comunicação faz com
que processos inovadores implementados em uma empresa não sejam de
conhecimento das demais, que podem estar buscando ou implementando as mesmas
soluções.
Modelo Global – as empresas adotam uma postura de considerar o mercado mundial
como um todo. Este posicionamento leva a uma centralização de suas operações e de
suas estratégias, devendo a pesquisa tecnológica estar centralizada na matriz, enquanto
as fábricas se estendem às regiões em que a mão-de-obra é mais barata e os salários
mais baixos.
Modelo Internacional – modelo adotado na transferência e na adaptação do
conhecimento e habilidades da matriz aos mercados externos. As filiais possuem uma
maior autonomia em relação ao modelo global. Ao contrário do modelo de
multinacional, as filiais adotam a tecnologia da matriz adaptada ao mercado local, não
tendo autonomia para desenvolver sua própria tecnologia ou produtos e marcas locais.
Modelo transnacional – as decisões são seletivas, ou seja, em alguns casos, atendem
às necessidades de certas subsidiárias. É necessário que a empresa direcione as forças
de integração e de unificação para que este modelo se torne eficiente. A preocupação
principal dos gestores neste modelo é a de encorajar toda a empresa a ter uma visão
compartilhada dos problemas e das soluções, visando estimular o comprometimento
de todos os envolvidos.
Medeiros et al. (2002) destacam que além de todas as estratégias econômicas e
organizacionais, um enfoque fundamental na internacionalização de empresas diz respeito às
teorias
comportamentais,
pois
elas
explicam
melhor
os
diversos
estágios
da
internacionalização. Deste modo os autores destacam que as empresas devem inicialmente
31
procurar mercados culturalmente similares para em uma segunda etapa, e com maior
experiência internacional, buscar mercados culturalmente mais distantes.
No processo de decisão de como administrar as operações mundiais de uma empresa é
importante considerar a sua herança administrativa. Para que uma companhia se adapte às
demandas ambientais que estão surgindo internacionalmente é fundamental compreender sua
história corporativa. O impacto das lideranças nas normas e prioridades da organização, a
influência da cultura do país de origem nos valores e práticas da organização e a influência de
sua história organizacional. Qualquer mudança precisa começar com uma clara compreensão
das vantagens e limitações da herança administrativa de cada empresa em particular.
Ao ingressar em mercados externos através de investimento direto, ou mesmo de
exportação, ocorre uma escolha de mercados. As empresas selecionam o mercado onde darão
os primeiros passos no processo de internacionalização.(FREIRE E ROCHA, 2003).
No caso específico de franquias, a internacionalização assume contornos próprios, pois
os processos de escolha de mercados envolvem também a escolha de franqueados.
3.8.1 - Grau de Internacionalização de Empresas
Forte e Sette (2006), destacam que o modelo de Uppsala ou modelo dinâmico de
aprendizagem foi desenvolvido por intermédio de estudos realizados em empresas suecas no
ano de 1970, por Johanson e Wiedersheim-Paul. Mais tarde este modelo foi aperfeiçoado por
Johanson e Vahlne (1977; 1990; 2003) no qual, variáveis como conhecimento, mercado alvo e
comprometimento do e no mercado, entendendo-se por possibilidade de utilização de recursos
em outros mercados, integraram a definição do processo de internacionalização.
O modelo Uppsala recebeu diversas críticas uma vez que as etapas no processo
seqüencial previstas pelo modelo original estariam sendo eliminadas devido a novos entrantes
no processo. No caso de setores que envolvem questões relacionadas à alta tecnologia ou de
empresas que não estejam motivadas pela busca de novos mercados, o modelo também se
mostrou inadequado. Apesar das críticas à Escola de Uppsala, elas não chegam a inviabilizar
o modelo que ainda hoje é considerado uma importante corrente de pensamento.
Diversos trabalhos na área de internacionalização abordam estudos de casos de
empresas brasileiras que apresentam diferentes graus de internacionalização. Veiga e Rocha
(2003), por intermédio de estudo de casos de grandes empresas brasileiras, concluíram que as
32
teorias comportamentais de internacionalização (JOHANSON e WIEDERSCHEIM, 1975;
JOHANSON
e
VAHLNE,
1977)
não
explicam
adequadamente
o
processo
de
internacionalização de algumas empresas brasileiras estudadas, pois estas apresentaram desde
a sua fundação, uma vocação internacional.
Outros fatores, como a cultura empresarial e a atratividade do mercado externo podem
prejudicar o ciclo de conhecimento-comprometimento previsto na teoria comportamental. A
questão da distância cultural, cuja relevância para o processo de internacionalização
(JOHANSON e VAHLNE, 1977; 1990) e que vem sendo contestada em estudos recentes
(STÖTTNGER e SCHLEGELMILCH, 1998) não se evidenciou nos casos estudados.
Em seu estudo Medeiros et al. (2001) constataram que empresas do nordeste
brasileiro, possuem grande carência de informações voltadas às operações internacionais que
não a exportação/importação. O resultado da pesquisa proporcionou o mapeamento do grau de
internacionalização de empresas pernambucanas, por localidade, porte, setor de operações e
indústria. Pelo estudo, concluiu-se que a proporção de empresas pernambucanas com
comprometimento internacional é maior do que os índices para o Brasil como um todo e para
a América Latina.
No ano de 2002, a Fundação Dom Cabral (FDC), realizou uma pesquisa exploratória
em uma amostra de 109 das 1000 maiores empresas brasileiras de capital nacional. Esta
pesquisa teve como objetivo principal avaliar o nível de envolvimento em mercados
internacionais, as estratégias e os processos de internacionalização das empresas brasileiras.
Nos anos de 2006 e 2007, a Fundação Dom Cabral buscou atualizar, complementar e
aprofundar a pesquisa realizada em 2002 e estendeu-a a dois outros países da América Latina.
Os resultados deste trabalho foram apresentados em um Relatório que permite comparar o
comportamento de empresas brasileiras, argentinas e chilenas em diferentes níveis de
internacionalização. Inicialmente foram comparadas as pesquisas realizadas nos anos de 2002
e 2007 e constatou-se que a porcentagem de empresas brasileiras que atuam no exterior é
similar nas duas amostras analisadas, porém a intenção de atuar em negócios internacionais
caiu de 82% em 2002 para 26% em 2007. (FDC, 2008).
Outras considerações podem ser destacadas como: as empresas brasileiras analisadas
tiveram seu primeiro contato com os mercados externos nos anos 70 e 90. Já para as empresas
chilenas e argentinas, os principais períodos de ingresso foram os anos 80 e 90. A principal
estratégia internacional apontada pelas empresas consiste na alavancagem das vantagens
comparativas através de exportações. Os investimentos diretos no exterior representam uma
parcela pouco expressiva (de 10% a 16% dos ativos totais, em média). Nesse particular houve
33
uma pequena elevação de empresas brasileiras que atuam internacionalmente de 73% em
2002 para 78% em 2007 (FDC, 2008).
Com relação à atividade exportadora, as empresas começam a internacionalizar outras
atividades da cadeia de valor. O estabelecimento de subsidiárias comerciais desloca para o
exterior as atividades de marketing e de pós-venda. As atividades de compras de materiais e
averiguação da qualidade dos mesmos também representam um elo da cadeia bastante
internacionalizado. As atividades de operações/manufatura estão localizadas fora do país de
origem para 29% das empresas brasileiras, 29% das empresas argentinas e 36% das empresas
chilenas da amostra.
As principais ações adotadas pelas empresas para se adaptar aos mercados
internacionais das empresas analisadas em 2002 e 2007 diferem-se em alguns aspectos.
Investimentos em internet, relevantes para as empresas em 2002, não são ações importantes
para as empresas analisadas em 2007. Para as empresas de 2007 o mais importante são ações
de readequação da estrutura organizacional e dos processos internos, assim como para
investimentos com objetivo de melhoramento das tecnologias de produto/produção/processos
para atender às exigências dos mercados externos. Os itens de menor importância para as
empresas analisadas em 2007, no que diz respeito aos resultados do processo de
internacionalização, foram os benefícios de economia de escala e maior estabilidade nos
resultados econômicos e financeiros. Em contrapartida, a diversificação geográfica e menor
dependência do mercado doméstico foram os itens apontados como de maior importância.
(FDC, 2008)
3.8.2 - Classificação das Transnacionais Brasileiras
A Fundação Dom Cabral (FDC) realizou pesquisa e apontou a classificação das
empresas consideradas transnacionais brasileiras com base na avaliação de sete indicadores de
cada empresa pesquisada (FDC, 2008). Estes indicadores, somados, compõem o grau de
internacionalização das empresas brasileiras. A referência para a metodologia utilizada é o
grau de internacionalização desenvolvido por Sullivan (1994), sendo que os indicadores
foram
adaptados
para
a
realidade
brasileira
considerando-se
também
a
disponibilidade/confiabilidade dos dados. Outros indicadores sugeridos na literatura foram
introduzidos, a fim de abordar as principais dimensões de internacionalização (SULLIVAN,
34
1994; PERRIARD, 1995; RAMASWAMY et al., 1996; UNCTAD, 1995; IETTO GILLIES,
2001; HASSEL et al., 2003 apud FDC, 2009).
Em cada um dos sete indicadores utilizados, as empresas receberam um valor entre 0 e
1, segundo os números fornecidos. Assim, a pontuação máxima que uma empresa poderia
obter seria de sete pontos. Foram solicitadas às empresas brasileiras que investem no exterior,
informações referentes ao ano de 2005. De um total de 50 empresas contatadas, 24
responderam ao questionário, segundo o estudo divulgado pela Fundação Dom Cabral. (FDC,
2008).
Os indicadores de internacionalização utilizados foram:
Mercados: receitas brutas externas (receita de exportações + receitas das subsidiárias
no exterior/receitas totais).
Ativos: valor dos ativos permanentes no exterior que sejam parte da cadeia
transformadora da empresa (incluindo investimentos, mesmo sem deter 100% do
capital)/valor total dos ativos da empresa.
Recursos humanos: número de empregados no exterior/número de empregados total.
Dispersão geográfica dos mercados: número de regiões mundiais onde a empresa
possui atividades além de exportações/número total de regiões mundiais. As regiões
mundiais foram classificadas em: América do Norte; América do Sul e Central; União
Européia; Leste Europeu; Oriente Médio; Ásia; África e Oceania.
Cadeia de valor: número de atividades da cadeia de valor da empresa, executadas
pelas subsidiárias externas/número total de atividades da cadeia de valor da empresa,
classificadas segundo as seguintes categorias: vendas e pós-venda (assistência técnica
e serviços de instalação e manutenção); marketing; manufatura/operações; atividades
de compras e relações com fornecedores; pesquisa e desenvolvimento.
Governança: número de mercados de ações onde a empresa é listada/número máximo
de mercados onde as empresas brasileiras da amostra estão listadas (Bovespa, NYSE,
Madrid, Buenos Aires).
Experiência: número de anos desde o estabelecimento da primeira subsidiária de
produção (operações) da empresa no exterior/número de anos de estabelecimento da
subsidiária de produção (operações) mais antiga dentre todas as subsidiárias da
amostra de empresas pesquisadas.
35
A análise do estágio geral de internacionalização das empresas brasileiras, realizado
com base nos indicadores acima, sugere que as atividades internacionais dessas empresas
ainda possuem amplo respaldo em exportações, comandadas por ativos fixos e humanos nas
matrizes. As porcentagens de ativos e de empregados no exterior representam os menores
indicadores do grau de internacionalização das empresas brasileiras.
Segundo o estudo da Fundação Dom Cabral (FDC, 2006) , a Gerdau foi apontada
como a empresa brasileira mais internacionalizada, com um índice de 4,22. Seus indicadores
de internacionalização de mercados (0,61), ativos (0,38), recursos humanos (0,35), cadeia de
valor (1,00), governança (0,75) e experiência internacional (0,76) são superiores aos de 80%
das empresas pesquisadas. Seu menor indicador de internacionalização refere-se à dispersão
dos mercados, já que suas operações internacionais estão concentradas nas Américas,
enquanto as demais seis maiores empresas do ranking estão presentes com produção ou
operações (no caso de empresas de serviço) em pelo menos cinco regiões mundiais.
A Construtora Norberto Odebrecht (FDC, 2006) foi apontada como a segunda do
ranking, com um índice de 3,61. Apesar da baixa internacionalização da sua estrutura de
governança, 0,75 de suas receitas brutas são provenientes dos mercados externos, enquanto
0,35 dos seus recursos humanos estão localizados em 5 diferentes regiões mundiais. Com uma
estrutura descentralizada, a CNO realiza no exterior todas as atividades que possui no Brasil.
A estratégia essencialmente exportadora da Companhia Vale do Rio Doce - CVRD, a
terceira empresa do ranking, foi evidenciada pela sua baixa porcentagem de ativos e
empregados no exterior, apesar da sua diretoria de manganês possuir unidades de produção e
de P&D na França desde 1999. Listada nos mercados da Bovespa, NYSE e Madrid, o índice
de internacionalização da sua estrutura de governança é alto. A CVRD está presente em seis
diferentes regiões mundiais com subsidiárias comerciais que dão suporte às suas exportações.
(FDC, 2006).
Na quarta posição do ranking encontra-se a Petrobras, a primeira empresa da amostra a
iniciar atividades de produção no exterior, em 1972, na Colômbia. A empresa está listada em
quatro mercados de ações (Bovespa, NYSE, Madrid e Buenos Aires) e possui elevada
dispersão de mercados. Atividades de vendas, marketing, atividades de compras e relações
com mercado, e manufatura são realizadas pela Petrobrás no exterior, enquanto suas
atividades de P&D são concentradas na matriz. Por ser a maior empresa brasileira, seus
indicadores de mercado, ativos e recursos humanos no exterior são diluídos face aos elevados
valores de receitas, ativos e recursos humanos totais da empresa. As porcentagens de 0,10, 0,7
36
e 0,11, respectivamente, refletem, entretanto, o peso das operações brasileiras para a
competitividade da empresa.(FDC, 2006).
A quinta empresa do ranking foi a Marcopolo, cujo indicador de porcentagem de
ativos no exterior (0,46) é o maior dentre as empresas pesquisadas. A empresa está presente
em cinco diferentes regiões mundiais, com atividades de vendas, manufatura e atividades
com compras e relações com o mercado. Listada na Bovespa, a Marcopolo possui alta
internacionalização de suas receitas líquidas (0,55) e dos seus recursos humanos (0,22) em
comparação com as demais empresas pesquisadas.(FDC, 2006).
Também com destacada internacionalização de ativos, a Sabó, empresa familiar do
ramo de autopeças, está na sexta posição, com índices relativamente altos de
internacionalização de mercados e recursos humanos. Apesar da baixa internacionalização da
sua estrutura de governança, ela atua em cinco diferentes regiões e executa no exterior todas
as atividades classificadas, exceto P&D. Sua primeira unidade produtiva no exterior foi
estabelecida em 1992, na Argentina.(FDC, 2006).
Dentre as empresas com estratégias de exportações a partir do Brasil, suportadas por
subsidiárias comerciais, destacam-se a mineradora CVRD e as empresas das indústrias de
papel e celulose (Aracruz, VCP e Klabin) e do agronegócio (Sadia e Perdigão). As vantagens
comparativas do país nesses ramos produtivos explicam em parte a concentração de ativos
produtivos dessas empresas no Brasil.
Outra grande exportadora é a Embraer, que possui o maior índice de
internacionalização de mercados, com 0,92 de suas receitas brutas no exterior. Por outro lado,
seus ativos estão ainda muito concentrados no Brasil. Sua produção de aeronaves no exterior
iniciou-se em 2002, na China. Listada na Bovespa e no NYSE, a empresa possui subsidiárias
em três diferentes regiões mundiais e só não executa atividades de P&D no exterior. (FDC,
2006).
A Natura, também essencialmente exportadora, estabeleceu subsidiárias comerciais na
América do Sul no início da década de 90, mas ainda possui baixos indicadores de
internacionalização. Sua estratégia de expansão no exterior, entretanto, concentra esforços na
internacionalização das suas marcas e na aquisição de experiências no mercado mais
competitivo do mundo no seu setor de atuação, a França, o que favoreceria o aumento
posterior dos indicadores. (FDC, 2006).
No setor de serviços, as construtoras Construtora Norberto Odebrecht - CNO e a
Andrade Gutierrez destacam-se com elevados graus de internacionalização em termos de
dispersão geográfica, atividades exercidas no exterior e tempo de experiência internacional. A
37
CNO iniciou sua internacionalização em 1979 e a Andrade Gutierrez em 1988. Dentre as
empresas pesquisadas, seus indicadores de internacionalização de recursos humanos também
são maiores do que os de 85% das empresas pesquisadas.
Com menores portes, empresas como Escolas Fisk e Datasul no setor de serviços
possuem significativa experiência internacional, atuando no exterior há mais de 10 anos,
apesar de as suas operações internacionais ainda representarem pequenas parcelas de suas
receitas, ativos e recursos humanos. Também no setor produtivo brasileiro, empresas
menores, como a Eliane, iniciam sua internacionalização. A empresa estabeleceu uma
subsidiária de vendas nos EUA em 1997. Em 2005, 0,35 de suas receitas foram provenientes
dos mercados externos. (FDC, 2006).
É importante destacar que em nenhum momento as questões ambientais ou programas
ambientais desenvolvidos pelas empresas foram considerados de forma isolada para avaliação
do grau de internacionalização. É possível que estes aspectos estejam contemplados dentro do
item intitulado “cadeia de valor”.
3.8.3 - Escolha de Mercados e Distância Cultural
Segundo Rocha (2003), dentro do contexto das teorias de internacionalização, a escola
de Uppsala é reconhecida como a proponente do construto da distância cultural, ligeiramente
modificada e denominada distância psicológica. Diferentes autores possuem definições
distintas para a distância psicológica sugerindo três tipos que podem afetar a atuação
internacional das empresas:
1)
Distância psicológica entre países: relativa às diferenças de percepção de uma
empresa média de um país em relação às percepções do comprador médio em outro
país.
2)
Distância psicológica entre empresas: relativa às diferenças entre as percepções da
empresa compradora e da vendedora quanto às necessidades da primeira ou as ofertas
da segunda.
3)
Distância psicológica intra empresas: relativa às diferenças de percepção entre dois
atores específicos, um em cada organização, quanto às necessidades do comprador ou
as ofertas do vendedor.
38
O conceito de distância psicológica seria, para diversos autores, mais amplo do que a
distância cultural, por incluir, além da distância cultural propriamente dita, elementos
estruturais, tais como aqueles decorrentes dos sistemas administrativos, legais e as diferenças
de linguagem.
Para os teóricos de Uppsala, a distância psicológica interfere decisivamente nos
processos de escolha de mercados externos, principalmente quando a empresa se encontra nos
primeiros estágios de seu processo de internacionalização. O modelo propõe uma passagem
seqüencial de mercados de menor distância psicológica, à medida que a empresa amplia seu
escopo de atuação no mercado global.
O primeiro e mais amplo estudo realizado no Brasil sobre a questão da distância
cultural e a internacionalização analisou a relação entre a escolha de mercados de exportação
e a percepção de semelhanças e diferença culturais entre o Brasil e os principais mercados
externos servidos pelos exportadores de manufaturados brasileiros. A pesquisa, do tipo
survey, foi feita junto a uma amostra aleatória de 153 empresas brasileiras exportadoras de
manufaturados. Foram entrevistados nessas empresas 171 executivos, responsáveis pelas
atividades de exportação. Foram estudadas as percepções de distância cultural em relação a 35
mercados, utilizando-se a percepção global de distanciamento cultural e a percepção de
semelhanças e diferenças quanto ao idioma, costumes e raça. Foi utilizada uma escala de sete
pontos, do tipo Likert, para medir o grau de semelhança ou diferença percebido entre cada
país e o Brasil, variando de “muito semelhante“ a “muito diferente”.
Curiosamente, nenhum país, em média, foi considerado como muito semelhante ao
Brasil. Três países se destacaram entre os 35, sendo percebidos culturalmente próximos ao
Brasil: Portugal, Uruguai e Argentina. Logo a seguir, porém um pouco mais distantes vieram
outros países de cultura latina: Venezuela, Colômbia, Espanha, México, Paraguai, Bolívia,
Peru e Chile. A França apareceu bem mais distanciada, já vista como “um pouco diferente”.
Canadá e EUA encabeçaram a lista dos países percebidos como “diferentes” enquanto Síria,
Hong Kong, Índia, Japão e Kuwait eram vistos como “muito diferentes”.
No que se refere à relação entre distância cultural e escolha de mercados de
exportação, a pesquisa corroborou os pressupostos do modelo de Uppsala, encontrando forte
correlação entre a afinidade cultural com determinado país expressa pelos executivos e as
decisões empresariais que escolhiam este mesmo país como mercado para exportação.
Estudos mais recentes exploram a questão da distância cultural no contexto das
decisões de investimento direto no exterior. As evidências empíricas relatadas na literatura
sugerem, que a percepção de distância cultural pode ter papel decisivo nas escolhas
39
estratégicas e táticas das empresas, levando-as a melhor ou pior desempenho. Em particular, a
percepção de similaridade entre culturas não parece conduzir, necessariamente, a maior
sucesso na atividade internacional.
3.8.4 - Internacionalização e Regulamentação Ambiental
Leonard (1982), observa que em virtude da falta ou pouca regulamentação ambiental
em determinados países, comparado a países mais desenvolvidos, cujas regulamentações são
mais exigentes, estimulou-se a migração de organizações consideradas poluidoras para países
considerados menos desenvolvidos. Os custos das possíveis sanções que deveriam ser
incorporados pelas empresas consideradas poluidoras não se justificavam face ao
investimento da mesma empresa se instalar no exterior. A partir do momento que os governos
dos países cujas regulamentações impostas são rígidas e severas constataram este processo,
realizaram esforços no sentido de pressionar organismos internacionais com a finalidade de
que os países com regulamentações ambientais deficientes discutissem mais o assunto e
estabelecessem legislação compatível aos níveis internacionais.
Outro ponto importante a ser destacado é que uma empresa considerada poluidora em
um determinado país passa a realizar da mesma forma suas operações em outro país, não mais
sendo considerada poluidora. Neste sentido, o processo de internacionalização de empresas
considerando seus programas ambientais pode ser considerado uma imposição das nações
mais favorecidas para que não haja a retirada de grandes empresas em seus países de origem.
Uma vez não havendo um consenso internacional sobre legislação ambiental, o que é
aplicável a um determinado país passa a não ser válido para outro, estabelecendo desta forma
uma visão compartimentada sobre o meio ambiente.
Existem razões estratégicas para que as empresas implementem as normas de
certificação como a ISO 14000, pois observa-se um forte tendência mundial para que as
empresas busquem melhoria na sua gestão ambiental. Para Tibor e Feldman (1996), as
empresas de diversos setores tendem a assumir uma posição pró-ativa, movidas não somente
por imposições legais, mas com o intuito de superar imposições tarifárias, que poderão surgir
com a implantação da ISO 14000, impostas por países onde os consumidores estão atentos à
qualidade ambiental dos produtos. Estima-se que nos próximos anos os selos verdes deverão
estar presentes na maioria dos produtos vendidos. Como estes selos promovem a utilização de
40
métodos de produção menos impactantes ao meio ambiente, a qualidade ambiental passa a ser
incorporada na qualidade do produto.
3.8.5 - Internacionalização de Empresas Brasileiras
Segundo Rocha (2003), são diversos os motivos que levam as empresas brasileiras a
encontrar dificuldade para se internacionalizar. Falta de competitividade no mercado externo,
isolamento geográfico e lingüístico, formação cultural, a atratividade de um amplo mercado
interno, falta de incentivos governamentais e o impacto do ambiente, são alguns exemplos que
podem explicar o motivo de poucas empresas brasileiras se internacionalizarem. A conexão
entre fatores ambientais e motivacionais ao longo dos últimos anos, causou impactos na
internacionalização. Assim, na década de 90, com a expansão do mercado interno e a política
cambial de sobrevalorização do real houve um desestímulo à internacionalização, em
contrapartida ao investimento direto no exterior. No período entre 1998 e 2000, com a
desvalorização do real, em virtude da crise cambial de 1999, aumentou a competitividade dos
produtos brasileiros no exterior, estimulando desta forma a internacionalização via exportação
e reduzindo o investimento direto no exterior.
3.8.6 - Caso O Boticário – Franquia em Portugal
Freire e Rocha (2003) observam que empresas como O Boticário, Água de Cheiro e
L´acqua di Fiori utilizaram franquias (1980, 1981 e 1983 respectivamente), como estratégia
de expansão de mercado, na época, um conceito praticamente desconhecido no Brasil. O
sistema parecia vantajoso, dado o alto custo dos produtos de perfumaria e cosméticos e pouco
capital de giro de que as empresas dispunham. Ao mesmo tempo, as franquias eram uma
alternativa à venda direta de menor alcance e à colocação de produtos em canais tradicionais
cujo custo era alto. Assim, prometendo baixo investimento inicial para os franqueados e alta
rentabilidade associada a produtos de qualidade, aos poucos as empresas conquistaram uma
ampla cobertura no território nacional. Internacionalmente, os anos 80, foram marcados pela
crescente globalização da indústria, com fusões e aquisições de operações e licenças de
41
empresas familiares pelos grandes competidores internacionais do setor. Como resultado desta
maior globalização, estas empresas passaram a usar no segmento de perfumarias e cosméticos
as mesmas estratégias de desenvolvimento de produtos de marketing usados para vender
produtos de consumo, aumentando os custos necessários para o lançamento de produtos e a
construção de marcas diferenciadas.
Na década seguinte, a abertura da economia nacional com a queda das barreiras
tarifárias mudou o cenário competitivo interno. Para os concorrentes internacionais, a
fragmentação do mercado local e as altas margens ofereciam alternativa atraente para o
desaquecimento da demanda norte-americana e européia. Em relação ao consumidor, a queda
das barreiras comerciais representou a chegada de produtos recém lançados no exterior mais
rapidamente, com preços mais atraentes e em maior número de pontos de venda.
De modo a se manterem competitivas frente a concorrentes com experiência em
distribuição, gerência de marca e investimento em tecnologia, as empresas brasileiras tiveram
que repensar o sistema de franquias. Seguiu-se então, um período de reestruturação da
indústria, através do enxugamento das redes de franquia, redução de custos e margens de
lucro, profissionalização e seleção de franqueados. Ao mesmo tempo, as empresas nacionais
tiveram que investir na inovação de conteúdo, forma e embalagem e na busca de novos
nichos.
O Plano Real, programa brasileiro de estabilização econômica instituído em fevereiro
de 1984, trouxe muitas mudanças e permitiu a estabilização da economia, aumentando o
poder aquisitivo do consumidor brasileiro. Foi o plano de estabilização econômica mais eficaz
da história do Brasil, ampliando o poder de compra da população e remodelando os setores
econômicos nacionais. No ano 2000, a indústria cosmética brasileira era a quarta maior do
mundo.
Freire e Rocha (2003), comentam que até meados dos anos 80, O Boticário exportava
seus produtos visando atender aos pedidos vindos de outros países. A empresa não dispunha
de uma estrutura interna que lhe permitisse explorar melhor a atividade internacional. A
atratividade de um amplo mercado interno, ainda em processo de expansão nacional tornava a
atuação internacional pouco interessante. Na percepção dos executivos da empresa o fator que
mais restringia a exportação era a necessidade de troca de nomes de produtos, tradução da
rotulagem e eventuais modificações na formulação, pois a complexidade seria grande, uma
vez que abrangeria 400 fórmulas distintas.
A análise econômica também não se mostrava favorável. Apesar deste contexto, era
grande a quantidade de propostas de abertura de lojas franqueadas no exterior. Os dirigentes
42
da empresa acreditavam que para ter sucesso no exterior seria necessário repetir o modelo de
atuação no Brasil: a franquia. Acreditavam que a expansão internacional só seria bem
sucedida se o franqueado selecionado para a abertura de lojas no exterior conhecesse a
empresa e fosse de confiança da direção. Essa possibilidade se concretizou através de um
pedido de abertura de franquia no mercado de Portugal por sócios de uma franquia master de
O Boticário no Brasil, em conjunto com parentes sediados em Portugal. Tal proposta foi
percebida pela alta direção como uma oportunidade viável de internacionalização.
A entrada em Portugal foi feita através de três lojas administrativas pelo franqueados
de São Paulo em associação com os parentes de Portugal. As mercadorias eram produzidas no
Brasil e enviadas para as lojas no exterior. Para surpresa de alguns executivos as principais
dificuldades encontradas foram: transtornos nas comunicações publicitárias em função da
diferença da língua e problemas com o produto devido à falta de adaptação aos costumes
locais. Estas dificuldades trouxeram uma mudança na diretriz resultando na transição da loja
para um master franqueado local de nacionalidade portuguesa, mas que já havia morado e
estudado no Brasil.
A empresa manteve lojas próprias no mercado e as demais foram repassadas ao
franqueado. As lojas próprias eram utilizadas para testes de produto, abordagem de vendas e
merchandising. Assim, no ano de 2000, o Boticário dispunha de 1750 pontos de vendas no
Brasil e 60 em Portugal. Estava presente também no Peru, Bolívia, Paraguai, Japão México e
Canadá.
Freire e Rocha (2003) observam que O Boticário relutou para a expansão
internacional, pois estava em pleno crescimento no Brasil e não dispunha de recursos
excedentes para focar o mercado internacional, interessando mais naquele momento,
fortalecer sua posição no mercado doméstico. No caso da ida para Portugal a empresa tomou
uma decisão de caráter oportunista não sendo fruto de análise de opções de expansão.
O comprometimento com o mercado português verificou-se no decorrer do processo
de internacionalização, acontecendo de forma diferente ao modelo apresentado pela Escola de
Uppsala. A proposta aceita pelo Boticário de utilizar parentes e pessoas que já conheciam a
empresa para serem seus franqueados em Portugal reforça a proposição de que no Brasil as
networks pessoais e empresariais podem funcionar como mediadoras do processo de
internacionalização.
Com relação à distância cultural, cabe destacar que apesar das similaridades entre
Brasil e Portugal devido às questões de idioma, herança cultural, os brasileiros tendem a
observar as similaridades e não as diferenças entre os dois países. No caso da empresa O
43
Boticário, ela considerou inicialmente Portugal como uma pequena réplica do mercado
brasileiro, assumindo iguais os costumes e idiomas destes países, o que resultou em
comprometimento do desempenho e dificuldades nos primeiros tempos. Mas a empresa foi
capaz de identificar e reconhecer os problemas, repensando sua estratégia de atuação e
condução dos negócios naquele país.Neste caso específico nenhum aspecto ambiental foi
citado.
3.8.7 - O Caso Embraer
Em estudo realizado por Cardoso et al. (2008), foi destacado que a Embraer é uma
empresa com grande presença internacional, de tecnologia vanguardista e alta competitividade
no cenário internacional, produzindo e comercializando aeronaves no exterior, sendo seus
parceiros e fornecedores também internacionais. Como a aviação consome quantidade
significativa de combustíveis fósseis, ela contribui diretamente para o aumento de gases de
efeito estufa, impactando o aquecimento global. A Embraer opera nos mercados de aviação
comercial e executiva, mercado de defesa e governo e aviação agrícola. Tem ações
negociadas na Bovespa desde 1996, e neste mesmo ano passou a integrar o Índice de
Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa. A receita líquida em 2006 foi de R$ 8,3
bilhões.
Seu processo de internacionalização teve início em 1979 quando obteve licença para
produção de avião Piper. Com a certificação do modelo Bandeirantes nos EUA, França, e
Reino Unido as exportações intensificaram-se. Em 1994 a empresa foi privatizada e passou a
concentrar esforços em um novo produto, o jato ERJ 145, próprio para atender os mercados
regionais. Para assegurar presença internacional direta abriu escritórios na Austrália (1997),
China (2000), Cingapura (2000) e um novo centro de distribuição em Dallas, EUA. Após
consecutivos sucessos, a empresa passou a ter produtos que concorrem diretamente com a
Bombardier, a Boeing e a Airbus. (SULL, ESCOBARI, 2004, p. 71-90).
Para Cardoso et al. (2008), a Embraer possui uma estratégia de internacionalização
consolidada, pois é um dos quatro direcionamentos estratégicos do negócio da empresa:
internacionalização: ligada à conquista e presença física da empresa nos mercados alvo
internacionais. A gestão para a sustentabilidade é percebida pela empresa como um caminho
natural para a competitividade internacional futura. A empresa entende que o assunto meio
44
ambiente tem impacto sobre a competitividade da organização. Transfere práticas de gestão
ambientais adotadas no Brasil para seus centros produtivos na China e EUA e introduziu
aspectos socioambientais para qualificação da cadeia internacional de fornecedores.
3.8.8 - Internacionalização de Micro e Pequenas Empresas
O estudo realizado por Saarenketo et al. (2008), aborda a internacionalização de
micros e pequenas empresas finlandesas de tecnologia de informação e comunicação – ICT na
perspectiva da base do conhecimento. Apresentou um modelo de estratégia de
internacionalização com base na escolha do modelo de entrada de dados (choice of entry
mode) e na concentração/diversificação do mercado. Utilizou teorias que conectam as
estratégias de internacionalização das médias e pequenas empresas com a capacidade de visão
dinâmica e do conhecimento das firmas além dos custos de transição. O resultado deste estudo
destacou a incerteza das empresas na estratégia de internacionalização, a dificuldade em
especificar ativos, a apropriabilidade de ativos conhecidos por intermédio de falta de tática e
os aspectos legais em economias de escala. Entretanto, nenhuma ligação foi encontrada entre
oportunismo e estratégia de internacionalização das empresas estudadas.
45
4 - METODOLOGIA
4.1 - PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
No que diz respeito aos aspectos metodológicos deste estudo o referencial teórico deu
suporte para a escolha da estratégia a ser utilizada na realização do trabalho de pesquisa.
Mattar (2005) observa que a pesquisa exploratória pode utilizar-se de vários métodos
como levantamento de fontes secundárias, estudos de casos selecionados e a observação
informal. Selltiz et al. (1974) destaca que o estudo exploratório tem como motivação uma
nova compreensão de um determinado fenômeno buscando a formulação mais precisa de um
problema ou a criação de novas hipóteses.
Para Triviños (1987), o estudo descritivo exige do pesquisador uma série de
informações que levam à descrição com exatidão de fatos e fenômenos de determinadas
realidades.
Dentro deste contexto e com o intuito de se alcançar o objetivo proposto neste estudo,
utilizando-se como exemplo a internacionalização dos programas ambientais das empresas, a
metodologia a ser desenvolvida foi de pesquisa descritiva e exploratória.
4.2 - ESTUDO DE CASO
Tendo em vista o referencial teórico estudado, optou-se para a realização deste estudo
o método de pesquisa de estudo de caso, sendo a estratégia utilizada o levantamento de
informações por intermédio de revisão de literatura, documentos institucionais, relatórios,
publicações, artigos, páginas de internet, questionários, entrevistas e análise dos dados.
Pode-se destacar como definição de estudo de caso: “A essência de estudo de caso, a
principal tendência em todos os tipos de estudo de caso, é que ela tenta esclarecer uma
decisão ou um conjunto de decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram
implementadas e com quais resultados.” (SCHRAMM apud YIN, 2001 p.31).
Yin (2001) ressalta que para responder questões de “como” e “por que” a estratégia de
estudos de casos é a mais provável, pois são questões explicativas e tratam de relações
46
operacionais que ocorrem ao longo do tempo com mais incidência ou freqüência. O estudo de
caso como estratégia de pesquisa compreende um método abrangente, envolvendo etapas
desde planejamento, coleta e análise de dados.
Dentro deste contexto, este estudo coletou dados e analisou-os de maneira que as
idéias expostas foram associadas aos procedimentos de internacionalização dos programas
ambientais da empresa estudada. Assim foram utilizados métodos quali e quantitativos por
intermédio da aplicação de questionários e entrevistas.
O local de estudo foi a empresa Volvo de Curitiba, multinacional do setor automotivo
localizada na cidade industrial de Curitiba. O público pesquisado foi composto por gestores
de diversas áreas da empresa.
4.2.1 - Análise documental
Para obtenção dos dados e informações para a realização deste estudo de caso foram
utilizados documentos internos da empresa, o Relatório Socioambiental, folders institucionais,
manual explicativo sobre a filosofia The Volvo Way, bem como as páginas de internet da
própria empresa.
4.2.2 – Aplicação do Questionário
Segundo Parasuraman (1991) os questionários podem ser elaborados e aplicados de
diversas maneiras, de acordo com as necessidades. Possuem diversas formas de aplicação e
uma delas é intitulada de Auto-Resposta. O questionário do tipo Auto-Resposta pode ser
encaminhado via correio ou correio eletrônico. Apresenta como vantagem o fato de poder ser
enviado a um grande número de pessoas de forma não muito dispendiosa e o respondente
pode preencher o questionário quando lhe for mais conveniente. Como desvantagem tem-se o
baixo índice de resposta, não sendo indicado para perguntas que exijam respostas muito
detalhadas.
47
Segundo Goode e Hatt (1960) a construção de questionários deve seguir
procedimentos metodológicos e técnicos desde a formulação do problema até a aplicação a
uma amostra reduzida.
Mattar (2005) observa que os tipos de questões a serem utilizadas em questionário são
relevantes para a coleta de dados, pois têm efeito no tipo e qualidade das informações obtidas.
Os tipos mais freqüentes são as questões de resposta aberta (qualitativa) e resposta fechada
(quantitativa). Para o pesquisador decidir qual tipo utilizar deve levar em consideração o
modo como utilizará a informação obtida.
Assim, o presente estudo utilizou a aplicação de questionário do tipo Auto-Resposta,
apresentando questões de resposta fechada (quantitativas). O objetivo da utilização do
questionário foi estudar a percepção e possíveis mudanças de comportamento dos
funcionários da empresa após a implementação pela empresa de seus programas ambientais.
O questionário foi distribuído via correio eletrônico. O público alvo foi composto pelos
funcionários da empresa de diversos níveis hierárquicos e de diversos setores dispostos a
colaborar com a pesquisa.
Pretendeu-se aplicar um questionário simples, rápido e fácil de ser respondido com o
objetivo de se obter respostas concretas, possibilitando a participação de um maior número de
respondentes independente de suas atividades e cargos na empresa.
4.2.3 - Realização de entrevistas
A entrevista pessoal proporciona o contato direto entre o investigador e o questionado.
Neste caso o entrevistador é considerado parte do instrumento da coleta de dados. Como
instrumento de pesquisa e para apoiar o levantamento de informações válidas e úteis com
maior nível de detalhamento, este estudo utilizou a entrevista pessoal. O público alvo
entrevistado foram os gestores de diversas áreas da empresa Volvo, localizada em Curitiba PR
- Brasil. As entrevistas foram realizadas no período de 09 a 13 de novembro de 2009.
O papel das entrevistas com relação ao questionário foi levantar informações
detalhadas visando responder aos objetivos propostos neste trabalho. A aplicação do
questionário promoveu um levantamento de informações gerais e as entrevistas
complementaram as informações detalhando alguns temas e coletando opiniões relacionadas
às questões ambientais.
48
5 - COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
A coleta de dados para a realização deste trabalho teve início no segundo semestre de
2008 por intermédio de reunião da autora com a equipe da área de Segurança, Qualidade e
Meio Ambiente da Volvo. Após este encontro foram disponibilizados materiais institucionais
da empresa abrangendo temas como missão, visão, políticas e programas ambientais
implementados. Como apoio aos documentos da empresa foram utilizadas também
informações contidas no Relatório SocioAmbiental 2007 da Volvo bem como informações
contidas na página de internet da empresa.
Numa segunda etapa, foi encaminhado questionário com o objetivo de verificar o
conhecimento geral dos funcionários sobre os programas ambientais da Volvo e eventuais
mudanças de comportamento a favor das questões ambientais. A distribuição do questionário
foi feita para os funcionários da área administrativa da empresa. O número total de
respondentes foi de 40.
Após a aplicação do questionário foram realizadas entrevistas com os principais gestores
da empresa no sentido de verificar com mais detalhes como ocorreu o processo de
internacionalização dos programas ambientais. Pretendeu-se coletar informações que
justificassem os objetivos propostos no trabalho e que remetessem a conclusões relevantes.
Para tanto, foi elaborado um roteiro de entrevista contendo dez perguntas. O objetivo do
roteiro foi nortear a entrevista focando nos objetivos do trabalho, uma vez que a experiência
dos entrevistados é distinta principalmente em função de suas áreas de atuação. O roteiro
serviu como um guia, um documento escrito com as linhas orientadoras, um apoio à
entrevistadora para dar seqüência lógica às questões a serem respondidas. Procurou garantir
que os diversos participantes respondessem às mesmas questões, não exigindo uma ordem
rígida para as mesmas. As perguntas contidas no roteiro procuraram respeitar o conhecimento
dos entrevistados tendo a entrevistadora se assegurado previamente de que os entrevistados
estavam em condições de fornecer as informações solicitadas.
Durante a realização das entrevistas as questões surgiram de forma natural tendo a
entrevistadora o cuidado para que a entrevista não assumisse um caráter de inquisição ou
interrogatório. Pretendeu-se encorajar e estimular os entrevistados para as respostas,
realizando uma abordagem com bastante educação e respeito. Procurou-se também dar tempo
suficiente para que os entrevistados discorressem sobre o assunto levantado e conferissem
suas respostas sempre que desejassem.
49
Para maior captação de detalhes, todas as entrevistas foram gravadas, com o uso do
gravador autorizado pelos entrevistados.
A pergunta inicial foi a respeito da credibilidade das políticas ambientais junto ao
funcionário. A segunda pergunta teve como foco verificar se o funcionário possuía
conhecimento sobre a política ambiental do Grupo Volvo. Uma vez o entrevistado
respondendo positivamente a esta questão, a pergunta estendia-se para o conhecimento do
mesmo com relação aos resultados dos programas ambientais já implementados. Neste caso, o
destaque se dá para a forma como estão sendo comunicadas aos funcionários estas
informações. Aqui se pode averiguar se as informações que a empresa pretendeu difundir
estão sendo absorvidas pelos funcionários da forma desejada.
A terceira pergunta objetivou constatar quais os programas ambientais implementados
pela empresa; quais são os mais populares perante seus funcionários e, entre os destacados,
quais foram implantados por iniciativa da matriz ou por iniciativa da Volvo de Curitiba.
A pergunta número quatro buscou verificar se houve relação entre a implantação da
ISO 14001 com os programas ambientais da empresa. Pretendeu-se, ainda, levantar quais
foram os pontos fortes e fracos durante a implantação da ISO. Foram solicitados também
exemplos da Volvo Curitiba que eventualmente tivessem sido repassados para outra unidade
do Grupo. As respostas a estas indagações foram importantes para que se pudesse analisar
como os funcionários reagiram perante o processo de implantação da certificação ISO 14001,
como os eventuais conflitos resultantes deste processo foram trabalhados e de que maneira a
empresa realiza benchmarking entre suas unidades.
A questão de número cinco procurou verificar quais programas, como reciclagem do
lixo, conservação de água, redução do consumo de energia, entre outros, contam com a
participação efetiva dos entrevistados, e se os resultados destes programas são divulgados de
maneira formal na empresa. As respostas a esta pergunta demonstram o interesse em
participar ativamente de ações em prol do meio ambiente. Para a empresa, estas informações
são relevantes no sentido de contar com a colaboração de funcionários mais atuantes para
liderar ações internas.
A sexta pergunta buscou verificar o comportamento dos funcionários, dentro e fora da
empresa, com relação às boas práticas ambientais. Pretendeu-se analisar de que maneira a
empresa pode contribuir com esta atitude. É interessante destacar que a empresa, por
intermédio de seus treinamentos, da disponibilidade de informações, e do exemplo de suas
políticas, pode exercer papel relevante na formação e conscientização ambiental.
50
A pergunta sete teve o objetivo de verificar a interação da empresa estudada com a
comunidade no que diz respeito à área ambiental. Neste item puderam ser levantados os
resultados eventualmente já obtidos e formalizados. Ações de melhoria de imagem, da marca,
e relacionamento com a comunidade podem ser observadas conforme as respostas dos
entrevistados. A proximidade e o conhecimento das necessidades da comunidade com que se
deseja trabalhar são fatores importantes a serem levantados e relacionados nesta questão.
A oitava questão buscou exemplos de ações concretas na área ambiental que vão além
do exigido pela legislação brasileira. Neste item é dado destaque para o caso de eventuais
ações inovadoras.
A pergunta de número nove buscou verificar se os entrevistados acreditavam em
possíveis melhorias de desempenho da empresa como resultado da influência dos seus
programas ambientais. Neste caso é interessante verificar a visão estratégica dos programas já
implementados pela empresa dentro de um cenário competitivo.
A décima pergunta pretendeu verificar a credibilidade dos entrevistados quanto ao
grau de influência dos programas ambientais da empresa junto à comunidade.
51
6 - RESULTADOS
6.1 - Caracterização da Empresa
O Grupo Volvo é uma das maiores organizações mundiais na área de soluções para o
transporte comercial com mais de 80 anos de tradição no mercado. Sediado na Suécia, o
Grupo atua em 180 países e conta com cerca de oitenta e três mil funcionários. Por meio de
suas unidades industriais – localizadas em 18 países da América do Norte, América do Sul,
Europa e Ásia – o Grupo Volvo produz caminhões, ônibus, equipamentos de construção,
motores marítimos e industriais, turbinas e propulsores para aeronaves comerciais e foguetes
espaciais.
Atua no Brasil desde 1934 e atualmente possui duas fábricas, em Pederneiras , SP e
Curitiba, PR. Seus principais negócios são: caminhões, ônibus, equipamentos de construção,
motores marítimos e industriais e serviços financeiros. A Volvo instalou-se em Curitiba no
ano de 1977 e desde então comercializa os seguintes produtos: caminhões, chassis de
caminhões, cabines, motores e blocos de motores.
O Grupo Volvo é uma organização de capital aberto com ações cotadas nos mercados
americano (NASDAQ) e sueco (SSE). Em 2008, obteve um faturamento global de US$ 46,2
bilhões.
4.2.5 - Valores
Os valores corporativos são: qualidade, segurança e respeito ao meio-ambiente:
Qualidade: qualidade em produtos, serviços e relações humanas, por intermédio de
Programas de Gestão para Excelência, Certificação ISO 9001 para caminhões, ônibus
e equipamentos, Programa Volvo Qualidade de Vida para todos os empregados e
constantes pesquisas de satisfação dos clientes.
Segurança: investimentos constantes em pesquisas, tecnologia e testes de segurança
nos veículos produzidos, política interna de segurança no trabalho e Programa Volvo
de Segurança no Trânsito.
52
Respeito ao Meio Ambiente: plantas com certificação ISO 14001, cuidado ambiental
em todas as etapas do ciclo de vida dos produtos, política interna com campanhas de
conscientização envolvendo os empregados; Programa de Automonitoramento de
Emissões Atmosféricas – PAM; Programa de Gerenciamento de Resíduos –PGRS;
desafio ambiental do Grupo Volvo: redução de consumo de energia, aumento das
fontes livres de emissão de CO2 e o desenvolvimento de produtos com menor índice
de emissão de gases poluentes e com níveis crescentes de componentes recicláveis.
Estes valores norteiam a estratégia global da organização e as práticas organizacionais
do Grupo Volvo e traduzem sua visão de sustentabilidade empresarial.
6.1.2 - Política de Sustentabilidade
Para o Grupo Volvo há três dimensões fundamentais e igualmente importantes quanto
ao desenvolvimento sustentável:
desenvolvimento econômico;
desenvolvimento social;
gestão ambiental.
O conceito de sustentabilidade do Grupo relaciona-se pelo modo como a empresa se
integra com a sociedade em um contexto global. A organização está consciente de seu
impacto nas comunidades onde possui operações e concentra esforços para promover
prosperidade e sustentabilidade no relacionamento com todos os seus públicos de interesse:
funcionários, fornecedores, clientes, concessionários e distribuidores, comunidade, governo e
associações empresariais.
Em 2003, o Grupo Volvo lançou seu Código de Conduta que foi traduzido para vários
idiomas e é disponibilizado para todos os empregados. Este Código estabelece os princípios
éticos que norteiam as relações internas e externas da empresa. O Código de Conduta e os
Valores Corporativos constituem os pilares da Política de Sustentabilidade da Volvo.
Dessa forma, todas as unidades possuem gerentes responsáveis pelas áreas de
qualidade, segurança e meio ambiente. Esses aspectos são integrados nas rotinas e processos
diários de trabalho, com metas e indicadores de desempenho. Em âmbito global, existe um
conselho composto por executivos que representam as três áreas provenientes de todas as
53
unidades do Grupo Volvo. Esse conselho proporciona suporte consultivo, técnico e
estratégico aos diretores mundiais do Grupo. A coordenação geral da política de
sustentabilidade da organização é realizada pelo seu Comitê Executivo.
Desde 2001, o Grupo Volvo é signatário do Pacto Global (Global Compact) da
Organização das Nações Unidas que apresenta um compromisso com dez princípios
universais de direitos humanos e do trabalho, proteção ambiental e combate à corrupção. A
Declaração das Metas do Milênio, compromisso complementar ao Pacto Global, definiu o
papel e as responsabilidades de governos, redes de organizações internacionais, sociedade
civil e setor privado em relação aos desafios traçados pelo Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento. A declaração estabelece os oito jeitos de mudar o mundo até 2015. Um
deles é Qualidade de Vida e Respeito ao Meio Ambiente.
6.1.3 - Política Ambiental
A Política Ambiental estabelecida pelo Grupo Volvo possui âmbito mundial, é
caracterizada por uma visão holística, melhorias contínuas, desenvolvimento técnico e uso
eficaz de recursos. Esta política norteia estratégias, ações táticas e metas em todos os países
onde atua. Está centrada em dois grandes desafios: reduzir o impacto ambiental causado pelas
atividades produtivas e pelo uso dos produtos Volvo. Neste sentido, a AB Volvo, holding do
Grupo Volvo, lançou para todas as unidades o Desafio Ambiental que estabeleceu focos de
atuação e metas para o período compreendido entre 2003 e 2008. Este Programa englobou
quatro grandes objetivos:
a) gestão ambiental
b) gestão dos produtos
c) gestão da divulgação do tema
d) gestão da infra-estrutura industrial.
a) Gestão Ambiental
Desde a formulação de sua primeira Política Ambiental em 1972, a Volvo preocupa-se
em gerenciar de forma estruturada as questões relacionadas a meio ambiente, garantindo o
cumprimento da lei e a melhoria contínua dos impactos ambientais. Em dezembro de 2006,
cerca de 99% dos empregados do Grupo Volvo envolvidos em atividades produtivas estavam
54
trabalhando
de
acordo
com
sistemas
de
gerenciamento
ambiental
certificados
internacionalmente, como a ISO 14001:2004.
b) Gestão dos Produtos
A Volvo vem investindo continuamente no desenvolvimento de novos produtos e
tecnologias menos poluentes em sintonia com as legislações internacionais. A principal ação
tem sido os motores a diesel que provaram ter alto desempenho associado à menor emissão de
gases poluentes. Na Europa, a Volvo já tem também ônibus, caminhões e equipamentos de
construção híbridos, movidos a diesel e eletricidade, além de desenvolver inúmeras pesquisas
com combustíveis e fontes alternativas de energia para seus veículos.
c) Gestão da Divulgação do Tema
A preservação ambiental é tema presente de forma contínua na comunicação da Volvo
com seus empregados, e contratados, tanto através de treinamentos específicos sobre sistemas
de gestão ambiental, como em pauta de publicações internas.
d) Gestão da Infra-estrutura industrial
A área de infra-estrutura industrial de todas as unidades do Grupo Volvo teve como
desafios específicos para o período de 2003-2008: o aumento das fontes de energias livres de
CO2, redução em 50% do consumo de energia por unidade produzida, eliminação do uso de
óleo carvão para fins de aquecimento e a inclusão da infra-estrutura de transporte na
otimização do consumo de energia.
6.1.4 - Cultura Organizacional
Com relação à cultura organizacional, a empresa adota o que é denominado “The
Volvo Way”- O caminho para as ações práticas. Criado em 1988, traduzido em 11 idiomas e
distribuído a todos os funcionários do Grupo Volvo, sintetiza a filosofia empresarial da
organização, descrevendo seus valores, a cultura corporativa, a forma de trabalho e os
objetivos que a empresa pretende conquistar. O “The Volvo Way” sinaliza o caminho para se
passar do discurso às ações práticas e está baseado em três pilares: energia, paixão e respeito
55
pelas pessoas. A capacidade de liderar a introdução de mudanças é um elemento importante
na cultura global da empresa.
O Grupo tem como objetivo estratégico ser líder em qualidade e estratégia de marca
entre os fornecedores mundiais de produtos e serviços relacionados com transportes. Assume
o compromisso de utilizar metodologias modernas de gestão e melhoria contínua envolvendo
todo o ciclo de desenvolvimento e gerenciamento de produtos: do projeto inicial ao serviço
pós-venda.
A cultura corporativa da Volvo privilegia a descentralização, a gestão participativa e o
diálogo aberto no ambiente de trabalho. Procura manter um diálogo aberto e transparente com
seus empregados, fornecedores, clientes, concessionários e revendedores, poder público,
instituições empresariais e com a comunidade. Por intermédio de seus diversos canais de
comunicação busca as seguintes premissas:
verdade;
abertura;
relevância;
consistência;
prontidão.
Por meio de um consciente processo de comunicação a Volvo promove o
envolvimento de todos nas decisões sobre os rumos a serem tomados pela organização. A
comunicação interna estimula a reflexão e o entendimento das estratégias de negócio. Por
meio da Volvo Attitude Survey, a empresa adota a prática de ouvir seus funcionários
independentemente de seu nível hierárquico, avaliando o clima organizacional e trabalhando
as questões diagnosticadas, objetivando a melhoria contínua de gestão de pessoas.
56
Parceiros
Comunidade
Funcionários
THE
VOLVO WAY
Filiais
Fornecedores
Clientes
27
Figura 01 – Filosofia corporativa “The Volvo Way”
A cultura organizacional The Volvo Way é transmitida pelos funcionários da Volvo
para seus clientes, fornecedores e comunidade em geral. São ações que buscam melhoria
contínua não somente no sentido de cumprir metas e objetivos propostos pela empresa, mas
também de proporcionar uma melhoria de qualidade de vida. Valores como segurança,
qualidade e respeito ao meio ambiente são levados em consideração nas tarefas e metas
estipuladas pela empresa e quando incorporados, desencadeiam uma rede de atitudes positivas
que podem ser compartilhados por todos os envolvidos. Assim, cada funcionário tem a
oportunidade de praticar estes conceitos com seus clientes, fornecedores, sua família, amigos
e comunidade.
6.1.5 - Volvo no Brasil
Os produtos Volvo são comercializados no Brasil desde 1934. A unidade brasileira da
Volvo é responsável pelos negócios de caminhões, ônibus, equipamentos de construção,
motores marítimos e industriais e serviços financeiros para toda a América do Sul. O Grupo
Volvo produziu e comercializou mais de 160 mil veículos no continente desde 1977. Possui
57
uma ampla rede de concessionárias e distribuidores com mais de 100 pontos de atendimento
divididos entre caminhões e ônibus, 07 para equipamentos de construção e 37 oficinas
autorizadas para a Volvo Penta. Encerrou o ano de 2008 com 3.000 empregados e um
faturamento da ordem de R$ 4,7 bilhões. Possui duas fábricas, uma localizada em Curitiba,
Paraná e a outra em Pederneiras, São Paulo.
O Brasil está alinhado com os programas, projetos e diretrizes globais do Grupo no
sentido de desenvolver uma liderança social que combine prosperidade econômica, justiça
social e conservação ambiental em todas as ações e relações empresariais.
Desde 2003, a Volvo do Brasil adota o Modelo de Gestão para a Excelência – MEG,
desenvolvido pela FNQ – Fundação Nacional da Qualidade, que se propõe a analisar uma
organização de uma forma ampla e integrada. Para tanto, foram criados os Conselhos de
Excelência, formados por líderes e representantes de todas as áreas, com a finalidade de
discutir oportunidades para melhoria da gestão da organização.
Em 2006, a Volvo do Brasil criou o Comitê de Ética. Formado por um grupo de cinco
pessoas, representando a presidência e as áreas de recursos humanos, jurídico, auditoria
interna e comissão de fábrica. Este comitê surgiu com o objetivo de atender a uma das
exigências da Lei Sarbanes Oxley (SOX), voltada para as companhias de capital aberto com
ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Cada unidade do Grupo Volvo definiu
a melhor maneira para atender à necessidade de criação de um canal para os funcionários
registrarem denúncias de transgressões à ética, com seu anonimato garantido.
a) Política Ambiental
No que diz respeito à gestão ambiental, desde 1995, a Volvo do Brasil gerencia uma
série de indicadores ambientais que seguem os padrões do Grupo e a legislação brasileira
vigente. Estes dados são consolidados e encaminhados para a matriz na Suécia.
b) Produtos
A empresa está antecipando a legislação brasileira que prevê para 2013 a adição de 5%
de biodiesel no tanque de combustível. Além dos atuais caminhões e ônibus da marca já
estarem preparados para receber até 2% de biodiesel, os testes para adição de 5% estão em
andamento. O Grupo também busca utilizar a maior quantidade possível de materiais
recicláveis. Após a vida útil dos caminhões e equipamentos de construção Volvo, 96% das
suas peças podem ser recicladas.
58
6.1.6 - Volvo em Curitiba
A empresa instalou-se em Curitiba, Paraná, em 1977, iniciando a criação do segundo
pólo automotivo do país. A fábrica instalada na Cidade Industrial de Curitiba fabrica
caminhões pesados (CBU), caminhões semipesados (CBU e CKD), chassis de ônibus (CBU e
CKD), cabines pintadas, motores e blocos de motores.
Vale destacar que as siglas CBU e CKD possuem os seguintes significados: CBU –
Veículo completo CKD – Envio de partes do veículo para ser montado no destino (Fábricas
da Volvo em outros países).
Dentro do Pacto Global, compromisso assumido publicamente pela Volvo, a unidade
Curitiba contribui de forma significativa desenvolvendo o Projeto Caravana Ecológica e o
Centro Volvo Ambiental, além de apoiar os desafios ambientais como sistema de gestão
ambiental e Certificação 14000. Dentro deste contexto, busca o desenvolvimento de
tecnologias com sistema de produção energeticamente eficiente e o desenvolvimento de
produtos com alta eficiência de combustíveis e baixas emissões.
a) Centro Volvo Ambiental
Localizado no terreno da fábrica de Curitiba, possui uma área de floresta de araucária
preservada, com diversas espécies de plantas e animais silvestres. Tem como objetivo maior
criar um espaço de lazer e pesquisa ambiental para a comunidade. As ações têm como foco
principal os temas relacionados à conservação ambiental e à preservação da cultura. O Centro
Volvo Ambiental oferece trilhas em meio ao bosque de araucárias permitindo o contato com a
fauna e flora. Além das trilhas, este Centro desenvolve em sua sede diversas atividades
culturais com a participação da comunidade interna e externa. É um projeto promovido pela
associação de funcionários da empresa (Associação Viking), patrocinado pela Volvo por meio
da lei federal de incentivo à cultura.
b) Caravana Ecológica
Realizada desde o ano de 2000, em parceria com a Escola Municipal de Teatro de
Londrina, essa iniciativa tem como objetivo conscientizar os caminhoneiros sobre questões
ambientais relevantes envolvendo seu dia-a-dia nas estradas do Brasil como, por exemplo, o
tráfico de animais silvestres, o consumo consciente da água, etc. O projeto já conquistou
importantes premiações dentre elas destacam-se Prêmio Aberje 2001, Frontline Special
Award da Associação Internacional de Relações Públicas. A Caravana Ecológica também é
patrocinada pela Volvo por meio da Lei de incentivo à cultura.
59
6.2 Resultados da Aplicação do Questionário
Este trabalho incluiu a aplicação de questionário cujo objetivo foi verificar a
percepção dos colaboradores da empresa estudada em relação aos seus programas ambientais.
O questionário, composto por 13 perguntas, foi enviado por correio eletrônico para os
funcionários da área administrativa da empresa. O total de respostas obtidas foi de quarenta.
As perguntas números 1 e 2 do modelo de questionário utilizado neste trabalho
tiveram o objetivo de caracterizar o grupo que se dispôs a responder o questionário quanto ao
gênero e faixa etária. Esta informação é interessante para que se possa averiguar se faixas
etárias diferentes possuem opiniões distintas ou não em função de suas experiências. A
pergunta número 3 buscou levantar informação sobre o hábito do respondente quanto às
ferramentas de comunicação utilizadas para obter ou acessar qualquer tipo de informação. Ela
é relevante no sentido de relatar qual o meio de comunicação é mais utilizado pelos
respondentes. Esta informação auxilia no planejamento de ações futuras possibilitando
escolher as ferramentas de comunicação mais eficazes atingindo o público-alvo de maneira
mais adequada.
A pergunta número 4 teve como objetivo averiguar o nível de conhecimento dos
respondentes em função dos programas ambientais da empresa. Esta questão é fundamental
para se ter um referencial do conhecimento dos funcionários em função dos programas
ambientais existentes. A partir desta informação, é possível propor ações de melhoria na
divulgação e comunicação dos programas ou ações ambientais da empresa.
A questão número 5 teve a intenção de verificar a freqüência com que as informações
são percebidas pelos funcionários. Esta freqüência pode ser intensificada ou não dependendo
do objetivo proposto. Pode ser muito relevante para o planejamento de ações futuras
principalmente quando se exige uma mudança de hábito ou atitude em relação às questões
ambientais, promoção à saúde e qualidade de vida.
O resultado da pergunta número 6 mostrou a participação do respondente nos
programas ambientais propostos pela empresa. Ela não teve o objetivo de detalhar de que
forma ou maneira o colaborador participa destes programas, mas busca saber em qual(quais)
programa(s) há uma maior participação. A pergunta número 7 buscou como resultado a
informação se os respondentes antes de se tornarem funcionários da empresa já possuíam
60
conhecimento sobre programas ambientais. Com este resultado é possível destacar o papel da
empresa na educação ambiental.
Com as respostas obtidas a partir da questão número 8, pode ser percebido se o
respondente tem certa afinidade na participação das causas ambientais independentemente de
estar em seu ambiente de trabalho. As respostas da questão número 9 permitiram interpretar a
motivação do respondente com as questões ambientais, pode-se verificar com estes resultados
se o respondente tem disposição para ser participativo caso a empresa tenha interesse em
organizar grupos internos para liderar determinadas ações na área de meio ambiente.
A pergunta número dez disse respeito à credibilidade do respondente em relação à
aplicabilidade de programas ambientais na comunidade e se existe pré-disposição para
replicar os conhecimentos adquiridos fora da empresa. A questão número onze diz respeito ao
papel do educador ambiental, com este resultado se pode interpretar o nível de
conscientização do respondente referente aos aspectos ambientais.
Os resultados da pergunta número doze verificaram o papel da empresa na educação
ambiental. Apontaram também a possibilidade dos colaboradores da empresa terem adquirido
conhecimento sobre as questões ambientais em outras empresas. As respostas da questão treze
puderam indicar a opinião dos respondentes quanto às ações ambientais desenvolvidas pela
empresa, destacando se o que é feito é o esperado ou além do que o esperado.
Para a compilação das respostas do questionário foi utilizado o aplicativo SPSSStatistical Package for the Social Sciences (Pacote Estatístico para Ciências Sociais) que é
um programa de computador do tipo científico, de apoio à tomada de decisão que inclui:
aplicação analítica, Data Mining, Text Mining e estatística.
A seguir serão apresentados os resultados obtidos por intermédio da aplicação dos
questionários aos funcionários da empresa Volvo de Curitiba, lembrando que o total de
respostas obtidas foi de quarenta.
Do total dos 40 respondentes 58% são do gênero masculino e 42% do gênero
feminino. 33% dos respondentes encontra-se na faixa etária entre 26 e 33 anos e o mesmo
percentual também foi observado no intervalo de 34 a 40 anos. 26% dos respondentes
possuem mais de 40 anos e 8% estão na faixa etária entre 18 e 25 anos. Se pode concluir
destas informações é que existe um equilíbrio entre os respondentes com relação ao sexo e
que o maior número de respostas obtidas foi de um público jovem, na faixa compreendida
entre 26 e 40 anos.
61
Com relação ao hábito dos respondentes quanto às ferramentas de comunicação
utilizadas por eles para obter informações sobre os programas ambientais da empresa, a figura
1 ilustra os resultados obtidos.
Contato Pessoal com
colegas
24%
intranet
28%
Informe, Jornal, revista
da empresa
6%
e-mail
24%
Memorando Interno
18%
Figura 2 - Ferramentas de Comunicação – Resultados de questionário de pesquisa Volvo de
Curitiba, PR em agosto de 2009.
Com o intuito de verificar o nível de conhecimento dos respondentes em função dos
programas ambientais da empresa vale destacar que 41% dizem ter participado dos programas
internos para conhecer as políticas ambientais da empresa, 38% responderam que conhecem a
política ambiental porque está descrita nos documentos institucionais e 21% afirmam que
quando entraram na empresa foram informados das políticas ambientais. Estes resultados
mostram que a divulgação da política ambiental dentro da empresa é bastante difundida.
Com relação à freqüência com que as informações relacionadas aos programas
ambientais são percebidas pelos funcionários da empresa, 45% afirmam que é de uma vez ao
mês, 20% uma vez por semana, 18% uma vez a cada quinze dias e novamente 18% não se
recordam. Observa-se, pelos resultados obtidos, que a freqüência com que as informações
sobre a política ambiental da empresa são divulgadas e percebidas pelos funcionários é
elevada. No caso específico desta questão as respostas obtidas podem vir ao encontro da
estratégia que a empresa utiliza com relação à divulgação de suas ações na área ambiental ou
62
ações que exijam mudanças de atitude em relação às práticas ambientais, como, por exemplo,
economia de água e de luz.
Quanto à participação dos funcionários nos programas ambientais da empresa como
reciclagem do lixo, emissão de gases, conservação de água e conservação de energia elétrica,
os resultados obtidos mostram que 43% dos funcionários que responderam ao questionário
participam de todos os programas, 36% participam da reciclagem de lixo e 21% não
participam de nenhum programa.
As respostas referentes à pergunta se o funcionário já possuía conhecimento sobre
programas ambientais antes de iniciar sua vida profissional destacam, conforme a figura 2,
que cerca de 50% dos respondentes afirmam ter obtido informações por intermédio da
Escola/Universidade. Cabe ressaltar a importância do papel das instituições de ensino para a
formação de cidadãos mais conscientes com relação às questões ambientais e a possibilidade
de dar continuidade a este trabalho por parte do setor empresarial bem como de direcionar
ações que estejam de acordo com os objetivos da empresa.
63
Não há informação
sobre o assunto
2%
Nunca prestei
atenção
12%
Através de Programas
Públicos
25%
Através da
Comunidade
12%
Através da
Escola/Universidade
49%
Figura 3 Conhecimento sobre programas ambientais antes de iniciar suas atividades na
empresa - Resultados de questionário de pesquisa Volvo de Curitiba, PR em agosto de 2009.
Indagados se os conhecimentos adquiridos na empresa sobre programas ambientais
são utilizados fora dela, cerca de 92% afirmaram utilizar os conhecimentos sempre que
possível, 2% utilizam somente com as questões relacionadas a reciclagem de lixo e 5%
afirmam não ter interesse em aplicar os conhecimentos.
Destaca-se, entre as perguntas do questionário aplicado, o resultado da questão sobre a
possibilidade de mudanças de comportamento dos funcionários fora do ambiente empresarial,
após o recebimento de informações sobre as questões ambientais obtidas na empresa; 30%
afirmaram que passaram a contribuir e se envolver mais com as causas ambientais. Este grupo
de respondentes demonstra alteração no comportamento, passando o mesmo a ser mais
participativo. Aproximadamente 42% dos respondentes afirmaram que já possuíam bons
hábitos em relação às práticas ambientais. É importante ressaltar também o resultado de 25%
que passaram a motivar outras pessoas a participar mais das campanhas ambientais, o que
destaca o interesse dos funcionários em compartilhar com a sociedade o conhecimento
adquirido dentro da empresa. Somente 2% dos entrevistados afirmaram entender a
problemática sem, no entanto, ter interesse em se envolver com as práticas ambientais.
Com relação à credibilidade dos funcionários em relação à aplicabilidade de
programas ambientais na comunidade, cerca de 50% dos entrevistados acreditam ser possível,
64
aproximadamente 42% acreditam ser possível desde que haja programas contínuos e somente
2% acreditam não ser possível, pois pensam que faltam informações mais específicas.
Quanto a responsabilidade do educador ambiental, cerca de 79% afirmam que cabe a
todos os cidadãos, 10% ao setor governamental, 8% ao setor educacional e somente 3% ao
setor empresarial. Cabe ressaltar que o maior percentual obtido mostra que os respondentes
acreditam que todos são responsáveis pela educação ambiental, ou seja, não há nenhuma
instituição ou órgão regulamentador mais responsável do que o próprio cidadão. O alto
percentual desta alternativa de resposta indica que os respondentes apresentam alto grau de
consciência ambiental.
O papel da Volvo na educação ambiental é bastante relevante, uma vez que
aproximadamente 50% dos respondentes afirmaram que tiveram seus conhecimentos sobre
programas ambientais complementados na empresa. Somente 2% dos entrevistados afirmaram
que a Volvo não ofereceu nenhuma nova informação a este respeito e 48% não obtiveram
nenhum conhecimento sobre programas ambientais em outra empresa. Cerca de 95% dos
funcionários que participaram da pesquisa acreditam que a empresa vai além do exigido pela
legislação brasileira com relação à implementação de ações práticas na área ambiental. Este
dado é significativo uma vez que os respondentes reconhecem que a empresa busca a
melhoria contínua dos processos ambientais e se esforça para implementar ações inovadoras
no contexto do cenário brasileiro.
65
6.3 – Resultados da realização de entrevistas
A segunda etapa do trabalho contemplou a realização de entrevistas envolvendo 13
profissionais da Volvo Curitiba de diferentes áreas, tais como: Comunicação Corporativa;
Engenharia de Fábrica; Assuntos Governamentais e Institucionais; Sistema de Gestão; Saúde,
Segurança e Meio Ambiente; Recursos Humanos; Desenvolvimento de Concessionárias;
Logística; Direção Industrial e Marketing. Destaca-se que no grupo objeto de estudos nove
pessoas, onde cinco são homens e quatro mulheres, todos acima de 30 anos com grau de
escolaridade superior sendo a maioria com especialização concluída. A duração média das
entrevistas foi de sessenta minutos. Todos os entrevistados demonstraram boa receptividade e
aceitação para participar das entrevistas.
Para iniciar o processo foi feito um pequeno resumo do objetivo do trabalho
destacando seu foco principal. A pergunta inicial foi a respeito da credibilidade da política
ambiental da empresa. Cabe destacar que todos os entrevistados demonstraram conhecer e
compartilhar a política ambiental da empresa, bem como acreditar na contribuição de cada
indivíduo na formação desta política.
“...eu acredito, desta forma, na política ambiental da empresa, porque a gente vê toda
dia esta prática funcionando aqui, os funcionários recém chegados, você nota que eles ainda
não têm esta cultura, mas depois de alguns anos já adquirem esta prática, isto leva algum
tempo, aquela consciência ambiental que é natural do sueco acaba “contagiando” o
brasileiro.”
É importante ressaltar que a filosofia corporativa The Volvo Way, é muito presente no
discurso dos entrevistados e que define os valores corporativos da empresa, que são:
Segurança, Qualidade e respeito ao Meio Ambiente. Estes valores são compartilhados pelos
funcionários da empresa não somente nos desafios e projetos de trabalho, mas também na
vida particular de cada um, pois estão em consonância com os valores pessoais dos
funcionários. A seguir a opinião de alguns entrevistados que resume a importância do The
Volvo Way na rotina dos funcionários.
“A proteção ambiental, o respeito ao meio ambiente, não é somente um valor, a gente
tenta vivê-lo em nosso cotidiano. Especificamente na área de logística, nós temos
aplicabilidade deste valor sim. Como? Nós fazemos contratação por ex. de empresas de
transporte tanto aéreo, quanto marítimo e rodoviário, quando fazemos estas contratações nós
pedimos por ex. caminhões que tenham até 60 meses de rodagem, ou seja, que sejam
66
caminhões relativamente novos em função do nível de emissão de fumaças e poluentes destes
veículos”.
“o peso maior aqui é a cultura Volvo, é muito forte é o The Volvo Way, ter isto na
cabeça, incorporado, vivenciados aqui. Você está falando coisas do bem, que todos
acreditam...”
Conforme as respostas dos entrevistados percebe-se a que a cultura organizacional
influencia de forma marcante as ações rotineiras dos funcionários da empresa. Os valores
corporativos são bastante claros, concisos e são percebidos de maneira positiva pelos
funcionários.
“A gente trabalha muito com o Volvo Way, questões como relacionamento,
educação...eu já ouvi em bate papo os funcionários comentando que isto não é Volvo Way.
Isto num bate papo informal, as pessoas percebem que tal comportamento não está alinhado
com aquilo que a empresa pratica”.
A empresa trabalha sua filosofia e seus valores de maneira formal e consegue êxito na
adesão e divulgação de sua cultura corporativa.
“Os valores de qualidade, segurança e meio ambiente, por exemplo, são sempre
mencionados nos programas de treinamento.”
O cuidado com as questões ambientais envolve todas as áreas da empresa, como na
área de desenvolvimento de produto. Dentro dos processos desta área já estão enfronhados os
valores corporativos do The Volvo Way. Em termos de organização são colocados desafios
pela matriz e que se espalham para cada uma das filiais, entre as unidades até chegar aos
departamentos e para cada indivíduo dentro da empresa. O prazo para cumprimento destes
desafios é de aproximadamente três anos. Dentro do contexto ambiental, no que diz respeito à
área de desenvolvimento de produto, um dos desafios é reduzir em 50% a emissão de CO2,
com base nos valores de 2006, até 2012. A meta estipulada pela matriz é colocada como um
desafio para todas as unidades, mas cada unidade estuda caso a caso como cumprir o proposto
e tem autonomia para decidir a melhor maneira de alcançá-lo, sempre respeitando os valores
corporativos. Há também troca de informações entre as diversas unidades do Grupo para que
ações de benchmarking sejam desenvolvidas.
“Na área de Meio Ambiente, por exemplo, um dos desafios é reduzir 50% a emissão
de CO2, valores de 2006 até 2012.“
Independentemente da área de atuação, a política ambiental é conhecida e respeitada
na empresa, os procedimentos e seus resultados são formalizados e comunicados através das
67
ferramentas disponíveis como internet, intranet, Revista Viking, mural Viking On Line, jornal
Viking Família.
“...existe o Relatório Sócio Ambiental, de maneira mais macro, mas se precisar de
mais detalhes tem disponível na intranet e também nos departamentos específicos.“
“Todos os funcionários têm acesso aos programas, são envolvidos e têm acesso aos
resultados das implementações, que são comunicados internamente.”
Os programas ambientais da empresa são de conhecimento dos entrevistados. A
maioria apontou como principais os programas Centro Volvo Ambiental e a Caravana
Ecológica. O projeto Caravana Ecológica é mantido pela empresa desde o ano de 2000 e tem
como principal objetivo realizar trabalho de conscientização junto aos motoristas profissionais
de caminhão espalhados por todo o Brasil, no que se refere ao tráfico de animais. Este projeto
é da Revista Carga Pesada, especializada no segmento automotivo e coordenado pela
jornalista Dilene Tonuti. São realizadas ações culturais como apresentação teatral itinerante
em eventos de grande concentração de caminhoneiros e motoristas profissionais de todo o
Brasil, além de distribuição de material informativo. O aspecto financeiro e logístico é
viabilizado pela lei Rouanet e tem a Volvo como apoiadora. Existem parceiros que auxiliam a
operacionalização das ações em diversos estados brasileiros, como por exemplo, a FAVET –
Fundação de Formação de Motoristas Profissionais, em Concórdia, Santa Catarina dentre
outras.
“Os nossos projetos, para o Grupo Volvo, eles são de referência, Caravana
Ecológica, já foi divulgado em revistas do Grupo que circulam em todas as unidades, o
Centro Volvo Ambiental, que está sendo ampliado, está na fase de construção de barracões,
cujo objetivo é trabalhar a comunidade do entorno para geração de renda, então são
projetos que são de referência e que são divulgados para todo grupo Volvo, pelos canais de
comunicação do Grupo e para outras unidades também.”
“... Todos os funcionários e isto é amplamente divulgado tanto na intranet como em
mostras
na área que temos para este tipo de exposição, a questão da Casa Verde, a
Caravana Ecológica, então nós temos consciência, nem todos conseguimos participar
ativamente mas, às vezes indiretamente temos conhecimento.”
O programa Centro Volvo Ambiental é também muito citado entre os entrevistados.
Ele foi lançado internamente no dia mundial do Meio Ambiente (05 de junho). Este programa
compreende dois grandes eixos: a questão da própria cultura do Grupo Volvo por intermédio
dos valores corporativos que permeiam a todos os funcionários fortemente e o envolvimento
da Volvo com a comunidade. A Casa Verde, que é sua sede, foi aberta à visitação
68
primeiramente para os funcionários da empresa e depois aberta ao público externo. Foi feita
uma ação interna para visitação dos funcionários e quem tivesse interesse deveria se inscrever
para conhecer este novo espaço. Aproximadamente 75% dos funcionários participaram
voluntariamente da visitação. Na sede, são realizadas palestras, apresentações teatrais
envolvendo as comunidades interna e externa com o objetivo de educação e conscientização
ambiental.
“Criamos por ex. programas no Centro Volvo Ambiental, na Casa Verde, criamos
este programa, porque acreditamos ser importante. É difícil dizer quantas pessoas da
comunidade vão lá e participam e seguem as orientações lá fornecidas, mas elas acabam
sabendo porque a empresa faz, qual o seu papel, suas preocupações. Estas ações vão
mudando a cabeça das pessoas, não temos um indicador agora, mas daqui a alguns anos
podemos ter depoimentos de pessoas que dirão que despertaram para estas questões aqui
dentro, por intermédio dos nossos programas. Por que a primeira vez que ouviu falar sobre
isto foi na Volvo, pensamos que estes conceitos também podem ser incorporados pela
comunidade.”
Conforme os depoimentos dos entrevistados, a comunicação dos resultados dos
programas ambientais é de conhecimento dos funcionários. As informações relacionadas a
estes programas são de fácil acesso. A empresa disponibiliza ferramentas específicas para que
todos possam ter conhecimento das questões trabalhadas.
“Outro grande canal é o Viking Família, é um jornal que vai para casa do
funcionário, da área de saúde, segurança, Meio Ambiente e a AV- Associação Viking. Nós
colocamos sempre no jornal uma sugestão de boa prática, a programação social da
Associação e páginas sobre saúde, segurança e meio ambiente. Enviamos para a casa dos
funcionários para que haja comprometimento da família nos compromissos socioambientais,
e, segundo, para mantermos o cadastro. O grande objetivo é compartilhar as práticas
socioambientais com a família dos funcionários e mostrar alguns canais caso precisem de
ajuda.”
A Volvo do Brasil implantou primeiramente a ISO 9000. Na seqüência a ISO 14000 e
14001, estando em processo de implantação a OSAS 18000 para a questão da saúde e
segurança. O relato dos entrevistados com relação às certificações é bastante positivo. A
adoção do sistema de gestão através das normas ISO foi considerada um grande passo para a
empresa e para a melhoria dos sistemas de gestão. A implantação da ISO 14000 foi uma meta
estipulada pela matriz que ajudou a todos a formalizar os procedimentos de forma clara e
concisa. A experiência da implantação da ISO 9000 e do programa PNQ – Programa Nacional
69
da Qualidade possibilitou que a implantação da ISO 14000 acontecesse de maneira natural e
sem grandes problemas.
Para muitos dos entrevistados a implantação da ISO 14000 ocorreu de forma tranqüila,
formalizando somente o que já acontecia na prática. O setor de qualidade da empresa foi o
responsável pela implantação. Porém uma das dificuldades citadas foi a questão de
formalização dos
procedimentos
o que
muitos
funcionários
interpretaram
como
burocratização dos procedimentos, conflitando com a filosofia de trabalho da empresa. Podese citar como exemplo: existindo um ruído que gera impacto na saúde, há necessidade de se
utilizar protetor auricular. As pessoas de um modo geral têm esta noção, tendo protetor
auricular elas o utilizam conforme a necessidade. A legislação brasileira diz que é preciso
escrever este procedimento e que temos que ensinar aos funcionários que toda vez que eles
forem utilizar o protetor auricular deverão assinar que receberam este instrumento de
proteção. Para a Volvo isto significa que o funcionário não tem discernimento para fazer isto
de maneira livre e acaba conflitando com os valores pregados pela instituição. Quando há
necessidade de formalização e de padronização, este tipo de conflito acaba surgindo e gerando
discussão interna.
“A grande dificuldade foi quebrar barreiras no sentido de implementar um sistema de
gestão que muitas vezes é visto pelas pessoas como burocratizar determinadas atividades.”
“...a gente vê que ela ajuda, você acaba colocando os teus procedimentos bem claros para
todos, sempre uma gestão assim acaba ajudando, como no caso da ISO 9000, em termos de
qualidade.”
“...foi só uma questão de validar isto junto às ferramentas exigidas pelo SGA. De ter isto
padronizado, validado dentro de uma instrução ou procedimento, era só oficializar uma coisa
que já acontecia. Uma formalização da documentação.”
A percepção dos funcionários é clara quanto à importância da implantação da Norma
ISO 9000 e ISO 14001. Funcionários conscientes e informações adequadas contribuíram para
que o processo fosse desenvolvido de maneira tranqüila.
“A adoção do sistema de gestão através das normas ISO foi um grande passo que nós
demos. Já tínhamos a ISO 9000 de gestão de processos, a 14000 de meio ambiente e agora
estamos implantando a OSAS 18000 para a questão de saúde e segurança. Tudo isto está
padronizando o nosso sistema de gestão.”
É importante ressaltar que para obtenção de certificações houve uma conscientização
prévia que mostrava a importância deste procedimento para a empresa como um todo. No
caso da ISO 9000 houve uma ação muito grande por parte da área de comunicação da
70
empresa mobilizando todos os canais de comunicação com o objetivo de sensibilizar os
funcionários para este processo. Até hoje a empresa mantém um canal chamado momento
ISO que contém informações específicas para as certificações. O setor de comunicação mune
o funcionário de informação para que durante todo o processo de certificação ele saiba o que
está acontecendo, ou seja, todos os canais de comunicação se voltam para aquele objetivo. No
caso da ISO há uma cobrança muito forte por parte das lideranças da empresa.
“A comunicação é muito forte no sentido de mobilizar os funcionários para aquele
objetivo....mas existe toda uma mobilização dos canais de comunicação para sensibilizar os
funcionários para este processo. Até hoje temos um canal chamado Momento ISO que contém
informações específicas para as certificações, ali são comunicadas informações que todos os
funcionários precisam saber, são distribuídos também na entrada cartõezinhos sobre a
política de meio ambiente, para todos os funcionários.”
A participação dos entrevistados nos diversos programas ambientais da Volvo
acontece de forma bastante ativa. As ações são propostas internamente e acabam
incorporadas por todos e praticadas diariamente na empresa pelos funcionários. De uma
maneira geral a matriz na Suécia pensa o mundo, o todo, a questão do desenvolvimento do
produto daqui a 20 anos e até seu final de vida útil, como dar fim às partes e as conseqüências
disto. Depois vêm as adaptações para a realidade de cada país, pois não se consegue exportar,
por exemplo, um caminhão com alta tecnologia e um alto nível de sofisticação se a estrutura
do país não está preparada para este produto. Em relação à poluição gerada pela queima de
combustíveis fósseis, a Volvo já possui tecnologia para atender as normas Euro 4 ou Euro 5.
Porém, o Brasil não tem o combustível adequado, havendo necessidade de ajustes para que se
possa implantar este sistema no Brasil até o ano de 2012. Esta lógica é aplicada a todos os
programas, como foi também o caso do programa de separação do lixo. Foi implantado na
instalação da fábrica, que na época era uma novidade, mas com o passar do tempo foi sendo
incorporado por todos naturalmente.
“...E entendendo que quando você tem produtos que funcionam para o mundo todo,
sendo os mais modernos e se você pudesse rodar isto para o mundo todo sem adaptações é
menos custo, para a empresa, para o cliente e para a comunidade.”
“Você tem as listas negras dos produtos e cinzas dos programas. Você passa a adotar
programas globais e ajusta aqui. E depois tem iniciativas como é a questão do Centro
Ambiental, isto ninguém falou, então são questões nossas, iniciativas nossas.”
71
O interesse dos entrevistados em participar dos programas ambientais é relevante.
Ações que dizem respeito à melhoria de qualidade de vida, são vistas de maneira positiva e
propagadas para seus familiares e amigos.
“...eu diria que sim. O Programa casa limpa quando alguém joga o lixo orgânico em
outra lata o pessoal já vem reclamando e pede para mudar, então isto é bacana. Nesta
instigação, no desafio, no sentido de que você está muito sedentário e isto estimula mais as
pessoas a estarem mais em convívio com o MA e prestar atenção nos sinais do MA como um
todo.”
“Participo principalmente com relação ao lixo, a gente acaba levando para casa,
para outros ambientes, é natural.”
Os exemplos trazidos pela matriz ou até mesmo por outras unidades proporcionam
oportunidades para inovação tecnológica e mudança de comportamento. De maneira gradual
as novidades são trabalhadas e adaptadas à realidade local com alto grau de aceitação.
“O que ocorre, no momento inicial é desconhecimento total destes programas, destes
avanços, depois você é introduzido a este mundo com estes avanços, você passa a visitar e
ver os ganhos em outros contextos, em outros países, aí você vê que faz sentido e passa a
defender também.”
“Porque você não consegue colocar um produto, um veículo concebido, o estado da
arte ali e colocar em todos os países, é a história do lixinho, você coloca, mas não roda, pega
um caminhão com uma alta tecnologia um nível alto de sofisticação se a estrutura não está
preparada não adianta.”
Exemplos de práticas ambientais também foram destacados durante as entrevistas,
como participação dos funcionários na explicação e convencimento para que outras pessoas
realizem a separação do lixo, conceitos sobre educação ambiental que são repassados a
familiares, economia de água, energia, participação em programas que envolvem a
comunidade, dentre outros.
“...a gente estranha quando vai em algum lugar e não há separação de lixo, a gente faz em
casa, e aí você vai na casa de outras pessoas e vê que está incorporando os conceitos...”
“...separação do lixo, que as pessoas levam para as suas famílias, pais, tios, amigos, e assim
vai aumentando a rede, nossa é um presente para a natureza”
O depoimento dos entrevistados reforça que o que é comunicado e trabalhado na
empresa por intermédio de programas ambientais é absorvido pelos funcionários de maneira
positiva. A disposição dos mesmos em extender estas informações a sua rede de
relacionamentos foi evidenciado, mostrando que a educação ambiental traz bons resultados.
72
“Eu moro num condomínio fechado e faço parte do conselho do condomínio e estou
prezando, olhando para estas questões lá também, chamo a atenção do filho quando faz
alguma coisa errada. Acho que é importante.”
“Aqui na Volvo do Brasil a gente tem diversos colegas que deixam o carro em casa e vêm
trabalhar de bicicleta”.
Os entrevistados mostraram muito interesse e preocupação com as causas ambientais.
Cada indivíduo, à sua maneira e dentro de sua realidade, tem buscado contribuir com alguma
ação que possa mudar a realidade de nossa sociedade.
“Um grande exemplo é quando eu vejo alguma coisa que está ferindo a questão
ambiental, devastação da floresta, tivemos uma notícia boa esta semana que parece que
reduziu a velocidade do corte de árvore, isto tudo me impacta e me aborrece, então acho que
é um sinal que estou contaminado positivamente com esta questão. E em casa eu faço coleta
seletiva, eu tomo todas as providências para não agredir o meio ambiente, uso só detergentes
biodegradáveis, coisas deste gênero, que eu acho que é a contribuição que eu posso dar neste
momento”.
Todos os entrevistados atestaram que, mesmo sem participar de programas ambientais
promovidos sem vínculo com a Volvo, intercedem ativamente quando se deparam com
situações de maus tratos com a natureza, falta de separação de lixo, consumo não consciente
de energia entre outras ações. No caso de alguns entrevistados a intervenção é bastante
grande, podendo-se citar como exemplo denúncias de despejo inadequado de lixo para a
Prefeitura de Curitiba.
“Outra situação hoje é o ramal 156 que você liga para a Prefeitura para denunciar os
maus tratos de animais, problemas de jogarem lixo na rua, denúncias em geral e antes a
gente não tinha este ramal, e eu digo que eu sou uma pessoa que talvez até tenha contribuído
para esta situação pois quando não tínhamos este ramal eu ligava para o 190 e denunciava
algumas coisas como pessoas que jogavam lixo na rua e falava para o guarda, segurança, a
pessoa que me atendia dizia que não podia fazer nada e eu dizia mas anote pelo menos a
placa para que a URBS possa fazer alguma advertência, pois esta pessoa está sujando nossa
cidade.”
Depoimentos como estes demonstram atitudes positivas e ações de cidadania que
contribuem para uma sociedade melhor.
“Por exemplo, outro dia fui ao shopping e tinha uma torneira no banheiro que não
parava de correr água, eu procurei a atendente para avisar o que estava acontecendo, pois
73
podia ser que ela não soubesse que este problema estava acontecendo. E aí indiretamente
você cobra uma providência.”
A maioria dos entrevistados relatou ter percebido mudança de comportamento dos
funcionários da empresa em favor das questões ambientais, seja por intermédio de uma maior
conscientização ou até mesmo na realização de boas práticas ambientais. Vários exemplos
foram citados, entre eles, a convivência mais natural com o meio ambiente, o respeito à
natureza, informações mais precisas sobre separação e coleta de lixo, maior interesse para
consumir produtos ecologicamente corretos, a disponibilidade de levar informação a
familiares e amigos e até mesmo mudança de comportamento. A empresa coletou
depoimentos de diversos caminhoneiros que após participar do Programa Caravana Ecológica
tornaram-se conscientes de que tráfico de animais é ilegal e que quando o faziam não tinham
idéia do que este ato representava.
“Temos vários depoimentos de caminhoneiros comentando que faziam o tráfico de
animais mas não sabiam o que isto representava. Você vê que a pessoa melhorou, isto é
cidadania, e agora a partir do momento que há que começar as oficinas no Centro não tenho
dúvida que o benefício será maior ainda. Ninguém cobrou da empresa, é uma postura de
responsabilidade mesmo, de pensar, é muito forte.”
“...muitos dos caminhoneiros não tinham noção da amplitude desta ação, de que
representava tráfico de animais e qual a proporção com relação a questão ambiental do
Brasil.”
A filosofia The Volvo Way trabalha fortemente as questões culturais. Em determinados
momentos pode-se antecipar alguns conceitos e práticas realizados em países mais
desenvolvidos, porém respeitam-se sempre os costumes locais. Neste caso pode-se citar como
exemplo a implantação da fábrica de Curitiba em 24 de outubro de 1980, onde desde sua
fundação implantou a coleta seletiva de lixo. Na história da Volvo, em 1927, já se pensava em
meio ambiente. Um dos entrevistados citou como exemplo o fundador da Volvo, Sr.
Gabrielson, que teve na época a inspiração de pensar em segurança, qualidade e meio
ambiente. Teve também a atitude de colocar em prática estes valores que permeiam a empresa
até hoje.
“Em 1927 na história da Volvo, na década de 20 já se pensava em Meio Ambiente.
Então a gente costuma dizer que somos precursores de muita coisa, mas volto a falar,
depende do ser humano, de atitude, se o Sr. Gabrielson lá atrás não tivesse tido a atitude de
pensar em segurança, qualidade e MA nada disto aconteceria, a empresa não seria a
potência que a é hoje.”
74
“Uma vez que existe no Grupo Volvo esta crença, quando acreditamos que este é o
caminho temos que medir, acompanhar, mas este é o mínimo que temos que fazer. Temos que
criar na cabeça das pessoas a necessidade de pensar, de mudar o modelinho mental para
estas questões e mostrar que existem ganhos.”
Outros exemplos são a compra da fábrica da Renault na França, fábrica de caminhões
nos Estados Unidos, Nissan no Japão, na China entre outros. No momento da compra não há
imposição por parte da matriz que os executivos suecos assumam a direção destas fábricas.
Desde que não estejam em declínio é dado apoio ao gestor cuja nacionalidade é daquele país.
Todos devem seguir os mesmos valores e a filosofia do The Volvo Way e com isto estar
alinhados com todos os funcionários da Volvo, independente da unidade onde estão lotados
ou de suas nacionalidades. São implementados programas globais, porém os ajustes são
locais.
“...Eu vejo que o sueco vê e traça certas estratégias e táticas muito facilmente, eles
compraram a Renault, mas não fizeram nenhuma mudança, ou seja, eles são donos da
Renault, mas não colocam na cabeça um sueco, ou seja aquele lance de topdown, eles deixam
um sueco ali observando.”
“É questão de realidade, cultura também, mas a cultura da empresa acaba se
sobrepondo.”
Por intermédio do Jornal Globetroternews, é possível conhecer a cultura de outras
nações em que a Volvo tenha suas unidades instaladas. Esta ferramenta é um jornal bimestral
em inglês, porém hoje oferece a versão em língua portuguesa e que noticia o lançamento de
produtos, mudança de estrutura, mercado, depoimento de funcionários, carreira, entre outros
tópicos tendo como objetivo relatar o “mundo Volvo”. Todos os funcionários recebem a
revista. As questões de interculturalidade são destacadas, pois são feitos relatos de
funcionários de diversos países sobre suas impressões quando transferidos, questões
relacionadas à adaptação e diferenças culturais.
“...como eu também conheci como é a vida dos indianos, como é a cultura deles, na
China, nas várias partes do mundo, sem você viajar acaba tendo informação. Eu não sei
como é que funciona por exemplo na Rússia, mas se você ler a Revista te trará alguma
informação cultural. Eles entrevistam pessoas da América do Sul que vão para a Indonésia e
eles relatam a questão da adaptação, como que é a vida lá, as diferenças culturais.”
Apesar da matriz internacionalizar a maioria de seus programas para as unidades,
existem casos em que a Volvo do Brasil contribui fortemente para replicar seus casos de
sucesso. O Programa Volvo de Segurança no Trânsito está iniciando na Argentina e conta
75
com o apoio da Volvo de Curitiba. Há interesse também da Volvo da Polônia em implementar
este programa. Na área social a Fundação Solidariedade é exemplo de sucesso e recebe
contribuições de funcionários da Volvo do mundo todo. Um produto que nasceu no Brasil e
está indo para o mundo é o ônibus bi-articulado - VM. Os exemplos não se restringem
somente aos produtos, mas também aos gestores. Executivos brasileiros têm desempenhado
papel de destaque dentro do Grupo Volvo. Hoje existem inúmeros brasileiros em posições
estratégicas e de confiança nos Estados Unidos, México, Turquia, China entre outros países.
“Porque quando que o Brasil ia imaginar que ia exportar não só produto mas também
gente, gestores!!!!”
“tem algumas ações como o prêmio Volvo de Segurança no Trânsito,e esta ação a
Argentina está implantando, eles já divulgaram o prêmio e estão na 3ª. Edição do mesmo. É
um exemplo. A princípio a Polônia também tem interesse em começar alguma ação a
exemplo do Volvo Segurança no Trânsito.”
Todos os entrevistados afirmaram que a Volvo vai além do exigido pela legislação
brasileira para implantar programas ambientais. Vários exemplos foram mencionados como a
fundação do Centro Volvo Ambiental, o lixo da fábrica que não é enviado ao aterro sanitário
da prefeitura, sendo totalmente co-processado, o tratamento de efluentes na fábrica que
iniciou antes da exigência da legislação e motores com emissão de poluentes menores dos que
os exigidos.
“Sem dúvida nós vamos além, existem requisitos e políticas internas da empresa que
são mundiais, iguais para as empresas do mundo inteiro, e que vão além do que a nossa
legislação prevê. Como exemplo, a gente não manda nada de lixo para o aterro sanitário da
Prefeitura, é tudo co-processado.”
“Na área de fábrica, nós atendemos a legislação, com relação ao tratamento de efluentes,
quando fizemos o tratamento aqui a legislação brasileira ainda não exigia, mas nós já
tínhamos”
Exemplos concretos de ações e programas da empresa demonstram que seus
funcionários têm conhecimento de que a Volvo implantou alguns programas de forma inédita,
ou seja, em épocas em que as empresas não tinham como prática ações de responsabilidade
sócio-ambiental.
“Outro exemplo é a Fundação Solidariedade, este ano completa 20 anos, numa época
que ninguém falava de responsabilidade social, o Programa Volvo de Segurança no Trânsito
que vai completar 23 anos, começou em 87, quando não se falava nada de responsabilidade
sócio-ambiental.”
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Cabe ressaltar que todos os entrevistados destacaram a participação da Volvo em
programas que envolvem a comunidade bem como o papel da empresa como influenciador na
tomada de decisão e discussão de novos conceitos. Pode-se citar como exemplo a implantação
do novo Código de Trânsito, pois quando este foi alterado, foram incluídas diversas ações que
saíram dos programas da Volvo. O Programa Volvo de Segurança no Trânsito foi trabalhado
primeiramente dentro da empresa, e após extendeu-se para a comunidade. Este programa, que
surgiu em 1987, teve como foco principal contribuir para a redução do número de acidentes
de trânsito. Surgiu em uma época em que não era comum as empresas promoverem
discussões sobre responsabilidade sócio-ambiental. Este programa realizou diversas ações
sendo uma delas a de incentivar e promover concurso das melhores idéias para a redução de
acidentes de trânsito no Brasil. As melhores propostas eram premiadas e encaminhadas para o
governo. Dentre as sugestões apresentadas estava como deveria ser o cinto de segurança para
que sua utilização fosse a mais segura possível, como deve ser o pára-choque ideal, entre
outras observações. Muitas das idéias apresentadas foram acatadas no novo Código. Em
diversos momentos as autoridades ouviram a Volvo antes de tomar importantes decisões.
”..Então você vê hoje no Código de Trânsito o pára-choque tal, porque foi uma idéia
que surgiu lá, o cinto de segurança que deve ser assim, isto teve influência da Volvo, de
sugestões, porque foi um trabalho forte junto ao governo sobre a importância disto tudo. É
muita pretensão dizer que foi a Volvo, mas ela ajudou sim para fazer a cabeça! . Em vários
momentos as autoridades ouviram a Volvo antes de tomar determinadas decisões, pediram
informações, tenho certeza que a Volvo influenciou e muito. ...mas a Volvo demonstrou como
pode reduzir acidentes a partir da Suécia e por seus programas, reduziu em tanto, fez
simpósios pelo país todo, discutiu junto a comunidade, etc isto com certeza fica na cabeça
das pessoas, tem muita influência, uns admitem publicamente, outros nem tanto.”
A empresa exerceu seu papel perante a comunidade no sentido de levar informações,
promover debates e discussões com base em dados reais, mostrar novos modelos e fazer com
que as pessoas repensassem suas atitudes e comportamentos. Como exemplo pode-se citar que
na cidade de Maringá, foi promovido pela Volvo um debate técnico envolvendo
representantes de vários segmentos da comunidade, prefeitura, bombeiros, policiais, médicos,
associação comercial, autoridades e outros e a partir deste encontro foi criado um grupo que
propôs um plano de ações. Este plano foi executado e trouxe uma séria de melhorias para a
cidade. Foi a vivência da ação em si que demonstrou que o objetivo do programa foi
cumprido. A empresa recebeu diversas manifestações de agradecimento referente a esta ação.
77
Outros depoimentos de ações da Volvo que influenciaram a comunidade também foram
dados.
“A gente tem uma série de inputs, contatos, e-mails. Ações de agradecimento por uma
questão, por um encontro que a empresa fez em Maringá. A cidade estava com um índice de
mortes no trânsito altíssimo. Promovemos um debate técnico... Então não foi o programa que
fez, mas ele proporcionou discussões, mobilizou agentes daquele local, e uma série de ações
que trouxe benefícios para a comunidade. Não conseguimos mensurar isto tudo mas
recebemos agradecimentos.”
“...comentei que trabalhava na Volvo e então ela disse que tinha que me agradecer e
eu pensei que fosse pelo ônibus, pelo projeto da Volvo, mas não foi só pelo ônibus. Ela
contou que o colombiano que mora em Bogotá está muito mais educado no trânsito, mais
educado dentro do ônibus, a Volvo depois que foi para Bogotá mudou o comportamento das
pessoas Foi um depoimento tão simples, mas emocionante. “
Os funcionários da empresa recebem constantemente depoimentos de pessoas da
comunidade que de alguma maneira se sentem agradecidos pela Volvo ter proporcionado
determinada ação ou ter contribuído com determinado resultado. Este feedback é importante
na valorização dos trabalhos desenvolvidos pela Volvo e no orgulho de seus funcionários em
ter, de alguma forma, participado deste processo.
“...o projeto Transitando é um projeto que é para educar e cuidar do Meio Ambiente,
de educação no trânsito, educa as crianças para estas questões. Eu tenho um relato de uma
criança na estrada, na Serra do Mar chamou a atenção para os pais porque viu um carro
jogando lixo na estrada.”
Exemplo da influência da empresa perante seus fornecedores é a adoção do selo de
gestão de qualidade e gestão ambiental. Hoje, exige-se mesmo para os fornecedores-chave
que ainda não possuam estes requisitos, a apresentação de programas para a adoção destes
sistemas. Há casos inclusive de fornecedores de serviços que tomam conhecimento das
práticas adotadas pela Volvo e acabam adotando as mesmas em suas organizações, por
concluírem que é um bom exemplo a ser seguido.
“De alguma maneira, a Volvo
sempre exerce influência para apresentar seus
programas. E há casos de alguns fornecedores de serviço que por verem a prática aqui
acabam adotando nas empresas deles, não por imposição, mas como exemplo.”
“Acho que muito da comunidade ela se espelha, ou vê a Volvo como uma certa referência, o
que não deixa de ser uma responsabilidade muito grande. Tanto pelos últimos
acontecimentos de mídia, Melhor Empresa para se Trabalhar, prêmio PNQ, a expectativa
78
gerada passa a ser grande e eu acho que cada um dos colaboradores da Volvo na verdade
representam e passam isto para a comunidade no seu convívio diário.”
79
7 - CONCLUSÕES
Os estudos mostraram que a cultura organizacional é fortemente influenciada pelos
valores corporativos, criando na instituição uma postura pró-ativa que vai ao encontro desses
valores - qualidade, segurança e cuidado com o meio ambiente - independente do local onde o
funcionário esteja lotado, de sua função na empresa ou de sua nacionalidade. Assim, a
internacionalização dos programas ambientais da empresa acontece de forma clara, tendo-se
como objetivo a realização de programas globais com adaptações locais.
O respeito às culturas locais é evidente e a participação da comunidade nos inúmeros
projetos e atividades desenvolvidos é bastante intensa. As metas estabelecidas respeitam as
limitações de países menos desenvolvidos, porém motivam as unidades a trabalhar com novos
conceitos buscando apoio na comunidade e principalmente junto aos formadores de opinião,
para que sejam promovidas ações de mudança comportamental.
A oportunidade de trocar informações com outras unidades aproveitando-se da
experiência de sucesso dos executivos do próprio grupo, participar de eventos com discussões
relevantes e estratégicas em nível mundial mostra que há possibilidade de criação de novas
idéias, conceitos e novos modelos, apesar da matriz ser o órgão que determina as estratégias
do Grupo a longo prazo. Esta possibilidade facilita o contato com novas culturas e diferentes
formas de pensamento contribuindo para ações de melhoria não só em termos de cidadania,
mas na contribuição de uma sociedade melhor e mais justa.
A influência da empresa na comunidade e em especial nos formadores de opinião é
fato conhecido internamente e reconhecido externamente. A empresa tem muito clara e
definida sua função perante à sociedade, e seus funcionários estão conscientes com relação ao
papel que desempenham e sua responsabilidade junto à comunidade. Há conhecimento das
políticas ambientais propostas pela empresa bem como o compartilhamento dos seus valores.
As mudanças no comportamento dos funcionários, após o ingresso na empresa, foram
também constatadas neste estudo, de maneira que a instituição, por intermédio da
internacionalização de seus programas, contribui de forma positiva para a educação e
conscientização ambiental.
Atender a legislação de cada país é o mínimo que a empresa se propõe a fazer porque
acredita em sua filosofia de trabalho e desde o período de sua implantação no Brasil contribui
fortemente para a melhoria da sociedade.
80
Neste sentido, os objetivos propostos foram devidamente cumpridos por meio do
estudo de caso realizado.
O trabalho aqui descrito pode servir de base para outras investigações, como, por
exemplo, o levantamento de possíveis benefícios econômicos e sociais resultantes dos
programas ambientais da empresa e percebidos pela comunidade local.
81
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ANEXO 01
Questionário de pesquisa Acadêmica – Universidade Positivo
Esta pesquisa visa um estudo sobre a percepção e mudanças de comportamento dos
colaboradores da empresa após a inclusão de programas ambientais. Os resultados obtidos
neste questionário serão utilizados somente como dados estatísticos.
Assinale somente um item marcando-o com um “X”
1-Gênero:
Masculino ( )
Feminino ( )
2- Idade:
18 a 25 ( )
34 a 40 ( )
mais que 41 ( )
26 a 33 ( )
3- Ordene os meios de comunicação que você prefere para se manter informado sobre os
assuntos da empresa.
A
Memorandos internos
B
e-mail
C
Intranet
D
Informe, jornal, revista da empresa
E
Contato pessoal com os colegas
4- Você conhece a política ambiental da sua empresa?
A-
Sim, já vi em algum lugar, mas não me lembro aonde.
B-
Sim, já participei de programas internos para conhecer as políticas.
C-
Sim, conheço porque está escrito nos documentos institucionais.
D-
Sim, quando entrei na empresa fui informado das políticas ambientais
E-
Não, nunca ouvi falar
5- Você lembra quando foi a última vez que viu estas informações?
A- Não me recordo
B- 1 vez por semana
C- 1 vez a cada 15 dias
D- 1 vez por mês
87
E- Eventualmente – 1 vez por ano
6- Você participa dos programas ambientais da empresa? Assinale quais.
A-
Reciclagem do lixo
B-
Emissão de gases
C-
Conservação de água
D-
Conservação de energia elétrica
E-
Não participo de nenhum programa
F- Participo de todos os programas
7- Antes de iniciar sua vida profissional você possuía conhecimento sobre programas
ambientais?
A-
Sim, através da minha comunidade
B-
Sim, através da escola/universidade
C-
Sim, através dos programas públicos
D-
Não. Nunca prestei muita atenção
E-
Não. Não há informação sobre o assunto
8- Você utiliza os conhecimentos adquiridos sobre os programas ambientais da sua empresa
para aplicá-los fora dela?
A-
Sim, sempre que eu posso
B-
Sim, mas somente as questões relacionadas à reciclagem de lixo
C-
Não, não sei como repassá-los
D-
Sim, somente em relação à economia de uso de água e luz
E-
Não, não tenho interesse
9- Você acredita que as informações sobre as questões ambientais trabalhadas na sua empresa
provocaram mudanças em seu comportamento?
A-
Sim, passei a motivar as pessoas a participar mais de campanhas ambientais
B-
Sim, passei a contribuir e me envolver mais com as causas ambientais
C-
Não, continuei não contribuindo.
D-
Não, entendo a problemática, mas não quero me envolver
E-
Sim, já possuía bons hábitos em relação às práticas ambientais anteriormente
88
10- Na sua opinião, é possível aplicar a política ambiental de sua empresa na comunidade?
A-
Sim, acredito ser possível.
B-
Não, as pessoas ainda não possuem consciência ambiental.
C-
Não, faltam informações mais específicas.
D-
Não, pois faltam recursos.
E-
Sim, acredito desde que hajam programas contínuos.
11- Na sua opinião, a quem cabe o papel de educador ambiental?
A
A todos os cidadãos
B-
Ao setor empresarial
C-
Ao setor governamental
D-
Ao setor educacional
E-
Ao terceiro setor
12 – Você adquiriu conhecimentos sobre programas ambientais em outras empresas que por
ventura tenha trabalhado antes da Volvo?
A-
Sim, porém o conhecimento foi complementado na Volvo.
B-
Sim, porém não houve na Volvo nenhuma novidade ao que eu já tinha aprendido em
outras empresas.
C-
Não, não obtive nenhum conhecimento sobre programas ambientais em outra empresa.
13 – Você acredita que a Volvo desenvolve programas ambientais para atender a legislação
vigente ou vai além do exigido pela legislação brasileira?
A-
Acredito que vai além da legislação exigida no Brasil.
B-
Acredito que ela cumpre somente o exigido pela legislação brasileira.
C-
Acredito que ela cumpre o que é determinado pela matriz.
D
Não tenho opinião formada à respeito
89
ANEXO 02
Roteiro de Entrevista
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Esta entrevista tem como objetivo geral estudar o processo de internacionalização dos
programas ambientais da empresa.
Data:
Horário:
Local:
Nome: (mencionar ou não)
Cargo:
Tempo de trabalho na empresa:
Ocupação atual:
Ocupação anterior:
Faixa etária:
Nível de escolaridade:
1) Você acredita na importância das políticas ambientais e seus programas? (por ex.
mudança climática, políticas de resíduos, energia, etc)
2) Você tem conhecimento sobre a política ambiental da empresa e os programas
ambientais da Volvo na Suécia? Tem acesso aos resultados dos programas
implementados na matriz?
3) Quais os programas ambientais que você conhece na Volvo do Brasil e como
funcionam? Destes, quais vieram da matriz na Suécia como modelo a ser implantado
na filial de Curitiba.
90
4) O surgimento desses programas apresentou vinculação com a demanda de implantação
da ISO 14001? Esses programas e documentos procederam somente da matriz Sueca
ou outra filial. Como foi realizada essa implantação? Quais foram as dificuldades
encontradas e quais as adaptações realizadas? Teve algum programa de Curitiba que
foi implantado em outra filial ou até mesmo na matriz (existem evidências
documentais)?
5) Você atua em algum destes programas? (Reciclagem do lixo, energia elétrica, emissão
de gases, conservação de água, outros) Considera seus resultados positivos para a
organização? ex. redução no consumo de água e energia, redução na geração de
resíduos
6) Você acredita que estes programas influenciam o comportamento dos funcionários
dentro da empresa? De que maneira? Você vem observando se o conhecimento e
prática resultante dos programas que a empresa implantou influenciaram a atitude das
pessoas fora dela? Como?
7) Esses programas ambientais implantados pela Volvo já existiam de alguma forma na
comunidade? Se não existiam anteriormente, trouxeram benefícios? Quais?
8) A legislação brasileira influenciou a Volvo a implantar os programas ambientais ou a
empresa se antecipou e foi além do exigido pela legislação? Exemplifique.
9) Você acredita que os programas ambientais influenciam o desempenho da empresa no
mercado brasileiro? Comente.
10) Você acredita que os programas sócio-ambientais implementados na Volvo Curitiba
influenciam a relação da comunidade com a empresa? Como?