Baixar PDF - Sicredi Crescer

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Baixar PDF - Sicredi Crescer
D I Á LO G O S S O B R E
CO O P E R AT I V I S M O
Evolução do Cooperativismo
no Mundo
© Fundação Sicredi
1ª edição, 2015 – Diálogos sobre Coopera vismo, 1
Coleção Crescer
Programa de Aculturamento dos Colaboradores ao Coopera vismo e
Formação Con nuada de Coordenadores de Núcleo do Sistema.
A presente obra foi desenvolvida pela Fundação Sicredi, em representação
às en dades integradas ao Sistema de Crédito Coopera vo (coopera vas
Singulares, Centrais, Confederação e Banco Coopera vo), em parceria com
Ins tuto Criar e MPQuatro Produções.
Realização
Fundação de Desenvolvimento Educacional e Cultural do Sistema de Crédito
– Fundação Sicredi.
Consultoria educacional e edição de textos
Daniela Hae nger e Max Günther Hae nger
– Ins tuto Criar Ltda.
Produção de Vídeos
MPQuatro Produções
Diagramação e Arte Final
Marcos Filomena
D229e
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
É uma série de encontros com convidados
especiais, que colocam em pauta os assuntos
exclusivos do dia a dia das Coopera vas de
Crédito Sicredi.
A inicia va celebra o diálogo e a cooperação
como fontes de novos aprendizados, visa ao
Aculturamento dos colaboradores ao
Coopera vismo, e integra as ações de formação
con nuada dos Coordenadores de Núcleo.
A ideia é criar espaços para que cada
colaborador possa cooperar com o seu
conhecimento, seja ao par cipar
presencialmente de um encontro ou acessando
os vídeos e os cadernos temá cos com os
destaques da programação, disponibilizados no
site do Programa Crescer.
Acesse h ps://crescer.sicredi.com.br
Dasenbrock, Manfred Alfonso.
Evolução do coopera vismo no mundo / Manfred Alfonso
Dasenbrock. – Porto Alegre: Fundação Sicredi, 2015.
16p. (Diálogos sobre Coopera vismo, 1)
1. Formação coopera va. 2. Coopera vismo de crédito. I.
Título. II. Diálogos sobre coopera vismo. III. Dasenbrock,
Manfred Alfonso.
CDU 334.732.2
Copyright by Fundação Sicredi.
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Saudação a todos!
Parabenizo a Fundação Sicredi pela iniciativa e a
todos os que estão envolvidos com essa ideia. É
uma satisfação estar aqui e trocar alguma
informação.
Sou Manfred Alfonso Dasenbrock. Eu presido o
Conselho da SicrediPar desde 2009, sou
presidente da Central Paraná/São Paulo/Rio de
Janeiro desde 2006, membro do Conselho
Mundial de Cooperativas de Crédito (Woccu), e
também eleito presidente do Conselho do Fundo
Garantidor das Cooperativas de Crédito do Brasil,
em 2013.
Meus pais são imigrantes da Europa, vieram no
pós-guerra aqui pro Brasil e trouxeram na sua
bagagem o espírito de cooperação e
solidariedade. Foram fundadores de uma
cooperativa agropecuária nos anos de 1960; e, nos anos de 1980, da Cooperativa de Crédito da região de
Medianeira, no oeste do Paraná. Então, eu tenho uma trajetória ligada toda vida ao cooperativismo,
nessa bagagem do espírito familiar, espírito de cooperação e, principalmente, espírito de solidariedade.
Quando você está na posição de coordenar, de presidir, você tem o grande desafio de dar os
encaminhamentos. Você abre a discussão e normalmente é o último a votar, o último a dar o
encaminhamento. Quero dar a minha opinião enquanto Presidente do Conselho [da SicrediPar], mas
também trazer a opinião das Cooperativas da Central que presido.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Qual a sua visão de cooperativismo?
Eu trago uma primeira visão de que eu gosto muito, do Ram Charam, chamado “guru da governança”. Ele
expressa coisas importantes que o mundo vive, uma nova fase de governança que saiu dos regimes
militares, de estruturas estratégicas. Ele diz claramente e tem a ver com a nossa missão:
“Somente as empresas que conquistam os corações e mentes de sua
força de trabalho serão capazes de criar valor no curto e no longo prazos,
aquelas que investirem em pessoas terão performance sustentável”
(Ram Charam).
Missão Sicredi:
como sistema cooperativo,
valorizar o relacionamento,
oferecer soluções financeiras
para agregar renda e
contribuir para a melhoria
da qualidade de vida dos
associados e da sociedade.
Não adianta enquanto empregador contratar qualquer um de vocês pela
inteligência, pela capacidade de entrega, pelo desempenho, pelas notas de
faculdade ou por aquilo que a gente é capaz, isto seria contratar mesmo, mas
nós precisamos do coração. O coração é muito mais, é o engajamento: a gente
tem que gostar do Sicredi, tem que amar o Sicredi, senão é melhor outra
organização, porque aqui todos nós somos associados. Quem é o
empregador? Somos nós mesmos, nós somos proprietários, somos sócios.
A segunda [visão] é um pouco da
história pessoal de cada um de
nós. Cada um de nós tem raízes e
as raízes são globais. Poucos aqui
no Brasil, especialmente na região
Sul, são nativos. O Sicredi é
construído em cima de várias
etnias, várias religiões, então ele
consegue efetivamente ser neutro
nessa questão.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
A gente tem que se honrar da nossa história, isso
nos traz muito à visão do cooperativismo.
Cada um de nós tem que pesquisar um pouco a história dos nossos familiares e dos
nossos pais, a gente vai ver que tem muita riqueza, que nos orgulha bastante.
Qual a inspiração do modelo Sicredi?
O nosso modelo Sicredi tem uma inspiração europeia. Tudo gira em torno do
Raiffeisen... Assim como o Desjardins no Canadá e outros precursores. Apesar das
experiências anteriores ao Raiffeisen, o modelo que ele estabeleceu é considerado
genuíno, deu inspiração ao Padre Amstad e aos seguidores daqui.
Vou citar o exemplo da Cooperativa de Castro, no Paraná. A última imigração da
Europa pra cá [1952], veio com uma cooperativa constituída e tinha esses pilares:
a educação era o ponto principal, a religião (tinham as suas igrejas em volta, eles
são evangélicos), e a cooperativa como a parte do negócio, o business.
É um pouco do triple bottom line,
Educação
se a gente for traduzir também: o
econômico, o social e o ambiental.
Inspiração
Europeia
Então, nossa inspiração é
europeia, mas muito genuína.
Cooperativa
Religião
Friedrich Wilhelm Raiffeisen
liderou associações agrícolas
baseadas na ajuda mútua,
desde meados dos anos de
1840. Fundou a Heddesdorfer
Darlehnskassenveirein
(Associação de Caixas de
Empréstimo de Heddesdorf),
em 1864.
Alphonse Desjardins foi
precursor da primeira
cooperativa de crédito das
Américas, chamada Caisse
Populaire de Lévis, fundada
em 1900, no Quebec,
Canadá.
O padre jesuíta Theodor
Amstad fundou a primeira
cooperativa de crédito do
Brasil e da América Latina,
em 1902, na Linha Imperial,
em Nova Petrópolis/RS.
A Sparkasse Amstad foi
semente da Sicredi Pioneira,
e influenciou a criação e
integração de outras Caixas
Rurais nas primeiras décadas
do século 20.
A Política de Sustentabilidade Sicredi fundamenta-se na abordagem triple bottom line (TBL): uma instituição
sustentável gera resultado econômico, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e melhora a qualidade
de vida das pessoas com as quais interage.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
E a nossa filosofia?
Quando a gente fala dos princípios que a alicerçam, a gente tem que estar repetindo eles sempre.
Quando a gente fala em adesão voluntária e livre, claro que o gerente da Unidade tem que ter meta, tem
que correr atrás, mas ele tem liberdade de ficar ou sair. Quando o associado quer sair, a gente pergunta o
porquê, liga pra ele, pede pro conselheiro visitar – tudo isto faz parte – , mas ele tem ao final a liberdade.
A gestão democrática: o cooperativismo faz um grande serviço para a nação, especialmente para a
civilização atual, porque é um modelo democrático, porque nós votamos tudo. A participação
econômica, a autonomia e independência de cada cooperativa, dentro da sua realidade. A educação,
formação e informação... É toda uma filosofia muito importante.
Eu tenho o dever de investir em educação, de atuar na formação
dos colaboradores, na formação dos associados, faz parte da minha
lógica, do meu DNA.
Filosofia do
Cooperativismo
Modelo de Governança
Acionistas
Sócios
Tradicional
Cooperativa
A intercooperação, o crédito faz melhor do que todos [os ramos do
cooperativismo], porque tem um produto que é a moeda, hoje tem
também os serviços, mas consegue fazer isso muito bem com os outros
ramos, de forma interdependente. O interesse pela comunidade, o mais
novo [dos princípios], que se mostrou um diferencial enorme e que pra
nós tem grande valor.
O modelo de governança também precisa ser entendido. No modelo
tradicional, tem o principal acionista e os acionistas minoritários. O
nosso modelo é invertido, nós temos os sócios e aqui [embaixo] está o
presidente. É a pressão que está em cima de você: três milhões de
associados, eles são os donos do processo, você está a serviço deles.
Nós temos que nos alicerçar em saber a diferença de um banco e de
uma cooperativa, e a gente tem que ter convicção disso. A hora que
vacilar [dizendo] “nós somos que nem um banco”, “nós somos banco” –
pronto, você misturou tudo e confundiu a cabeça do cidadão.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Quais os principais movimentos do cooperativismo no mundo?
Tem o Conselho Mundial de Cooperativas de Crédito [WOCCU], do qual o Sicredi é integrante, uma
liderança de mais ou menos 200 milhões de associados. E o modelo chamado banco cooperativo, um
modelo europeu, tem outros 200 milhões.
Chega a praticamente 500 milhões de associados
ao redor do mundo, associados em cooperativas
de crédito ou bancos cooperativos.
Infelizmente, na Europa, eles cederam na visão da bancarização. Culpo um bocado a Margaret Thatcher,
ela desmutualizou o cooperativismo na Inglaterra, então a dificuldade do ressurgimento. Agora tem
problemas sérios na Itália, na França e na Áustria, onde as leis estão limitando, por exemplo: se chegar a
R$ 500 milhões de ativos, tem que desmutualizar na Itália, [a cooperativa] tem que virar um banco, tem
que devolver capital para os associados. Então tem um movimento ali bastante complicado.
[Vejamos] os principais movimentos ao redor do
mundo, que são inspiradores aos demais...
O Rabobank, nosso parceiro
com o Rabo Development,
que participa da nossa
sociedade e tem uma
inspiração importante na
Holanda. Aqui, talvez um
dos poucos modelos em que eles procuram
entender o cooperativismo na sua essência.
Nos outros países, eles atuam como uma
sociedade anônima, por exemplo, no Paraguai
é um banco normal que visa lucro. O negócio deles na Califórnia visa lucro, na Uganda visa lucro, na
Espanha visa lucro, apesar de ter a vocação, de estar vinculado ao agro...
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Esse modelo alemão é um modelo [mutual] bastante
pujante, ele tem ativos significativos. E o modelo
canadense, também bastante inspirado no Desjardins,
que foi colega de Raiffeisen. O modelo francês é um misto também (o Desjardins,
quando imigrou para o Canadá, levou ensinamentos), e tem tudo a ver com a
origem rural.
Já o modelo americano tem a ver com associações de funcionários. As
cooperativas nasceram desse movimento e hoje são – só nos Estados Unidos – 100 milhões de
associados. Numa população de 250 [milhões], 100 milhões são associados em
FIRST CLASS cooperativas de crédito de origem básica mutual.
AMERICAN
Quando o movimento trabalhista evoluiu nos Estados Unidos, começaram a
fazer pagamentos pelas associações. Aqui também algumas nasceram dessa forma, depois recrudesceu
um pouco a questão associativa e as cooperativas criaram um vínculo rural. A livre admissão, mais um
modelo, outro modelo, especialmente do Sicoob em outros estados, também mutual, exceto Santa
Catarina, Minas, Espírito Santo, de origem rural, os demais [estados] têm bastante a ver com a origem de
associação de funcionários.
C R E D I T U N I O N
Agora estão surgindo alguns movimentos de ressurgimento do cooperativismo, por exemplo, na Coreia.
Na Índia houve algum avanço, depois a legislação podou bastante, eles estão com bastante dificuldade.
A China com alguns movimentos, mas movimentos do Estado, então é bastante complicado, não é
democrático.
Nós tivemos sorte quando
Mário Kruel Guimarães
teve papel de destaque no
movimento de retomada
do cooperativismo de
crédito no Brasil. No início
da década de 1980, criou
e presidiu a Central das
Cooperativas de Credito
do RS (Cocecrer/RS),
origem do Sicredi.
o Mário Kruel Guimarães
começou o movimento de
retomada do cooperativismo
no Brasil, e foi inspirador
inclusive para outros
movimentos.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Que estratégias norteiam a visão global do cooperativismo?
Quando a gente fala aqui da visão global, é um pouco da visão do Conselho Mundial (Woccu).
Marco Regulatório
Nós temos que estar atentos a toda questão da regulação, ao nosso lobby. A Itália, por exemplo,
recentemente perdeu muita coisa porque não tinha uma frente organizada, e está perdendo direitos que
tinha conquistado. A gente tem que estar atento, e aí tem todo um trabalho junto com o Federal Reserve,
junto com o Comitê da Basileia e o Banco Central Europeu. O Comitê da Basileia é regulador e os outros
são influenciadores – o Federal Reserve dos Estados Unidos e o Banco Central Europeu. O resto do mundo
segue a dança dos maestros da Basileia, não o maestro de Viena, mas os maestros da Basileia.
Inclusão financeira
A inclusão financeira será feita pelos novos meios de pagamento. Essa é a grande sacada quando se fala
de educação cooperativa. É só pegar a geração [atual], como ela gostaria de ser atendida.
Apoio às pequenas cooperativas de crédito
O apoio às pequenas cooperativas de crédito é
importante, e o Sicredi é exemplo para o mundo.
Recentemente recebemos um prêmio nesse
processo, porque fizeram a análise do Sicredi e
entenderam que uma cooperativa pequena é tão
bem tratada como uma grande. Uma cooperativa
pequena tem a mesma condição porque ela paga o
mesmo preço pela participação, então ela não fica
inibida. Nos outros países, as grandes simplesmente
têm uma força de pressão nos seus conselhos e
impõem para as pequenas regras realmente de
extorsão.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Inclusão de jovens
A inclusão de jovens é um movimento no mundo inteiro, e o Sicredi é
vanguarda em algumas frentes do nosso Programa Touch. Claro que os
produtos têm que ir se moldando, mas já começa a haver um
entendimento de que o jovem no Sicredi é bem-vindo. E aí tem um desafio
muito grande: nós temos que adaptar as nossas regras, os nossos
regulamentos, para essa inclusão. Por exemplo, quando eu falo na missão
“valorizar o relacionamento”, eu estou dizendo isso para um jovem. E o jovem diz assim: “Cadê o touch?
Como é que eu faço para acessar? Eu tenho que seguir aquela regra antiga? Eu tenho que levar a
papelada lá no banco? Que negócio é esse?”.
Qual a sua análise sobre a presença nacional do Sicredi?
Ano passado [2014], na Austrália, o Sicredi foi reconhecido como outstanding
dos membros na questão das cooperativas, dizendo que as pequenas, as médias
e as grandes são iguais, e no crescimento do número de associados. O nosso
crescimento é linear, já de uma década ou mais, vem crescendo todo mês entre
20-25 mil associados, isso foi observado de forma constante, analisaram cinco
anos, pegaram todos os dados. Eles fizeram essa análise e, para nós, foi essa
satisfação.
Em 2014, a Confederação
Interestadual das
Cooperativas Ligadas ao
Sicredi recebeu o prêmio
World Council of Credit
Unions Outstanding
Membership Growth
Award, pelo excelente
crescimento no número
de associados.
Nós estamos retomando o plano estratégico. É o ano de encaminhar os próximos
cinco, estamos falando de 2020, e um vetor importante é bom compartilhar: a
nossa decisão é ter o Sicredi com presença nacional e com atuação regional.
Quando estamos falando em presença nacional, estamos falando que nós
vamos para o Amazonas, para o Nordeste, Minas, Bahia. A gente está dizendo isso abertamente, é uma
fase nova da terceira onda. Tudo isso está em discussão no Conselho e no fórum dos presidentes também,
e deve ser firmado agora no fórum de agosto.
É importante dizer “presença nacional” – pode ser por meio de
pagamentos, de cooperativas regionais, por novas centrais...
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Quando a gente fala que o Sicredi é a 6ª rede de
atendimento, e você pega e soma todas as
cooperativas, você chega na 2ª rede, só perde para o
Banco do Brasil. Nós somos a 6ª rede desse ranking; em
termos de clientes associados, a 10ª; em ativos, a 11ª;
em crédito rural, a 3ª, só perde para o Banco do Brasil e
o Bradesco, pelo volume. Em números de operações,
nós estamos bem à frente, estamos em 2º lugar, no
Paraná somos o 1º.
E como explicar o nosso modelo
de organização?
O modelo não é mandatório? A SicrediPar não tinha que
estar em cima e todo mundo embaixo? Não. Você tem todo esse modelo associados, cooperativas,
centrais, tem pessoas, a governança ordenada, e, a partir daí, você tem um banco, tem as instituições,
mas todo mundo voltado para atender os três milhões de associados.
É importante fazer essa tradução para todos que estão a sua volta entenderem esse organograma e
"linkar" isso com a história. Por que tem uma cooperativa singular, uma central, uma confederação?
A inspiração está no modelo Raiffeisen, ele dizia isso. O Amstad, o padre, entendeu isso. Mário Kruel, na
reconstrução, entendeu isso, pelo menos na
pesquisa feita – e tem vários documentos da
Trajetória Sicredi, acho que é um trabalho
fantástico, feito para os estudiosos, para as
gerações que estão vindo... O porquê está muito
claro, explicado, pelo menos quando a gente vai
fazer a pesquisa.
Tem o modelo hoje que está intrigando um pouco as
pessoas, um modelo chamado cooperativas com
áreas não contínuas ou não contíguas. É uma nova
história que está sendo construída, porque...
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
hoje é possível atender associados a uma distância de mais de
1000km, 5000km, porque você tem a governança organizacional,
você tem o voto do delegado, você tem meios de controle, tem
toda uma questão que é bastante lógica.
O cenário aponta para mudanças nas estratégias do Sicredi?
Quando se fala da missão, de valorizar o relacionamento, se nós estamos falando que jovem é
importante para o Sicredi, vamos arregaçar as mangas e acertar essa questão. O relacionamento não é
aquele feito como antigamente: o café e o chimarrão, e sentar ali
em volta e bater-papo. Claro que tem isso, mas o relacionamento
precisa ser retomado, tem vertentes no planejamento estratégico
que vão chamar essa atenção.
Nós colocamos primeiro o relacionamento
e depois os negócios, esse é o jeito Sicredi.
Somos uma entidade sem fins lucrativos, deu R$ 1,2 bilhão no ano
passado. Para quê? Interesse pela comunidade, esse dinheiro fica
na comunidade. Quanto vai gerar ao longo do tempo, nas crises, especialmente? Quem hoje está sendo
mais bem visto na crise de mercado e tal, como foi em 2008, 2009? Foram as cooperativas de crédito. Na
tradução da missão é sempre importante a gente fazer essa reflexão...
Sobre o nosso norteador estratégico como instituição financeira cooperativa, nós temos que atualizar a
nossa visão para o futuro. [O Sicredi] já é compreendido como instituição financeira cooperativa
comprometida com o desenvolvimento econômico e social. Onde o Sicredi está presente ninguém duvida,
então dá para modernizar isso.
O sócio tem individualidade? Tem, tem o sigilo bancário, etc. No desenvolvimento das pessoas, nós temos
que investir. Quando eu estou fazendo treinamento, capacitação, isso é um valor nosso, faz sentido pra
gente. Como Sicredi nós brigamos por isso.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
[O respeito às] normas oficiais internas é algo significativo, assim como a transparência, talvez um dos
maiores valores. Mas tem que ter coisa para mostrar, então,
ser eficaz também: você não perder dinheiro; você não dilapidar
o patrimônio; fazer crescer o patrimônio; não enterrar o talento,
fazer ele se desenvolver.
O que dizer sobre a atualização do marco regulatório no Brasil?
O marco regulatório das cooperativas no Brasil talvez seja o melhor do mundo, hoje. O que ainda tem de
problema é a reserva de mercado, ainda origem do regime militar.
Uma prefeitura não pode operar com
o Sicredi... O recurso do Sescoop tem
que ficar no Banco do Brasil, na Caixa
[Federal], não pode circular pelo Sicredi.
Felizmente, a Frencoop [Frente Parlamentar do
Cooperativismo] está trabalhando nesse sentido, para
mudar a legislação. Tem o Projeto de Lei nº 100, de 2011,
com um deputado lá de Minas Gerais que foi presidente da
Cooperativa, Domingos Sá, que defendeu com muita
propriedade na última reunião do CECO [reunião de abril de
2015, do Conselho Especializado do Ramo Crédito].
É um marco [regulatório] importante porque nós somos participantes do Sistema Financeiro Nacional
(SFN). A Lei 5764 [Lei do Cooperativismo] é a que dá o embasamento. Desde 1988 querem mudar essa lei,
o que toda hora volta para trás... As cooperativas de produção, as comerciais e as outras cooperativas
também querem mexer, especialmente no ato cooperativo, pelo movimento que tem. É a nossa lei maior,
de 1971, vejam bem, muita coisa aconteceu nesse período, mas ela ainda é atual.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Na minha visão, a gente tem que
manter a Lei 5764 como nosso chão
e avançar com a Lei 130. Tem coisas
que dá para avançar.
Nós temos a Lei 130, que nos dá identidade, essa sim precisa
até ter alguns avanços, e as resoluções do Banco Central nos
norteiam. Ele é um grande parceiro das cooperativas,
entende que o único agente capaz de concorrer com a
avareza dos bancos são as cooperativas.
Que entidades representam hoje o cooperativismo no Brasil?
O Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (aqui eu falo um pouco da instituição lobista) é muito
observado também quando o mundo olha para o Sicredi, porque nós temos a livre admissão. Vai sair a
nova resolução, vai dar uma abertura maior e a grande diferença é o seguinte: nós somos cooperativas e
temos um banco – aliás, no Brasil tem dois bancos cooperativos, tratados de modo diferente dos outros
bancos. O banco não visa resultado, ele tem que crescer, etc., mas é o grande prestador de serviço, ele faz
a interface com o Sistema Financeiro Nacional.
Quando nós olhamos o nosso Fundo Garantidor, temos em
volta dessa mesa todas as cooperativas de crédito do Brasil.
Nós temos o Sicredi, o Sicoob, a Confesol, as Unicreds, as Centrais Independentes, que tem parceiras
nossas no norte e nordeste, a Sicredi Blumenau, a Uniprime, e a OCB [Organização das Cooperativas
Brasileiras] representa as cooperativas solteiras ou independentes ou não filiadas a centrais. É uma
reunião realmente interessante, a cada dois meses, claro que falamos bastante dos desafios do Fundo.
A gente arrecada hoje 11 milhões por mês, já temos 250 milhões
de patrimônio, não usamos nada ainda porque os sistemas são
solidários. Não tem nenhum sinal de uma cooperativa ser liquidada.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Quem mais faz propaganda do Fundo Garantidor é o sistema Confesol, a Unicred também,
porque reverteram o dinheiro do fundo que eles tinham para dentro do resultado, o Sicoob
também fez isso. O resultado desse ano estava atomizado porque reverteram todos os
fundos para dentro dos resultados, apresentando R$ 2 milhões de resultado… Nós
decidimos diferente: manter os nossos fundos, apenas administramos um pouco o fundo de
depósito, que a gente incorporou no fundo de solidez.
CECO
Os países de fora olham para o Brasil e dizem assim:
“vocês conseguiram se organizar, todas as cooperativas
em torno do Fundo, e vocês fizeram uma organização lobista”.
Nós temos a nossa Frencoop mais organizada do que a dos Estados Unidos. Lá eles fazem a
organização regional, mas têm uma forma de arrecadação de dinheiro diferente da nossa.
[No Brasil] as organizações estaduais contribuem com os políticos, principalmente lá pelo
Paraná, que tem uma visão um pouquinho diferente. A gente contribui financeiramente, só
que, agora, as pessoas jurídicas não podem contribuir mais, tem que ser pessoa física...
A Fr e n co o p te m u m a a g e n d a
legislativa importante, com os
principais projetos. É um trabalho
que a OCB faz muito bem. E quando a
gente fala da relação com o Banco
Central, é uma relação que alguns
países talvez não tenham melhor. A nossa é
organizada, nós temos um convênio da OCB com o
Banco Central, assinado em 2010, eles levam muito
a sério. As reuniões do CECO, por exemplo, têm um
período em que os técnicos do Banco Central
sentam com a gente, com grupo técnico e
coordenação, discutem normas, regulamentos.
Uma relação muito aberta, muito clara.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
E quanto às boas práticas de governança como forma de
representação?
A nossa pesquisa de clima, a própria satisfação do
associado em relação ao atendimento, é um índice
ótimo: 60% da pesquisa NPS e 80% de favorabilidade,
isso é coisa para poucos. Quando a gente fala em
favorabilidade, nós temos exemplos. Quando
chamam, por exemplo, o Sicredi para participar das
conferências mundiais, para fazer exposição das
práticas, eles querem saber: “O que tem por trás desse
movimento, que cresce mais de 20% ao ano?”. Isso ao
longo dos últimos 10-15 anos, e tem perspectiva de
nesse ano continuar crescendo, mesmo com a crise.
Aí você começa a entender a nossa posição do investimento
em pessoas, reconhecido por um agente externo:
está numa posição de 38º, é o 3º em cooperativas
e 1º em instituição financeira.
E tem uma coisa virtuosa no Sicredi: os presidentes das cooperativas estão
comprometidos com essa causa. Eles gostam de fazer o Crescer. Eles
gostam do Pertencer, de fazer reuniões de núcleo, assembleias de núcleo,
de fazer esse exercício, dá uma estabilidade para a governança. Nas crises
tem se mostrado mais efetivo do que o modelo tradicional, [porque] tem
regra, tem regulamento...
A gente tem que se orgulhar disso, falar disso,
O Programa Crescer
tem como objetivo
qualificar a participação
dos associados na
gestão e no
desenvolvimento da
cooperativa, e o
Pertencer busca
aprimorar o processo
de gestão e
desenvolvimento das
cooperativas
integrantes do Sicredi.
traduzir isso para dentro da Casa, tem que falar com
propriedade que é um diferencial que os outros não têm.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Como ser cooperativa em grandes movimentos e em grandes
cooperativas?
Eu não tenho medo de pensar em cooperativas grandes, em termos de ativos, em termos de número de
associados, em termos de estrutura, porque, hoje, pelo nosso modelo, a governança segue as melhores
práticas de mercado, você sabe quem se reporta a quem.
A governança dita o sucesso do empreendimento.
Quais os principais desafios do Sicredi para os próximos anos,
para decolar de fato no cenário financeiro?
Nós precisamos ter um investimento
maior em TI [tecnologia da informação].
Acho que esse é um ponto para poder competir, porque, quando
você compara o número de associados com os outros bancos, eles
têm proporções bem maiores, a diversidade é maior.
O segundo [ponto] é não se desvirtuar da capacitação em todos os
níveis. Estudar, estudar, estudar. A organização tem que dar o
suporte, tem que ter a visão da flexibilidade de horário, da
flexibilidade da questão das imersões, dos intercâmbios, da
formação externa, da visão externa. Isso não pertence só aos
presidentes e aos diretores executivos, precisa permear toda a
organização.
O terceiro ponto, que eu acho fundamental, é consolidar aquilo que
a gente inventa. Se nós temos o Programa Crescer, temos que cuidar para não criticar e sempre pensar
em contribuir para melhorar. Nós temos que persistir naquilo em que nós acreditamos, nos nossos
programas, na nossa causa, persistir, melhorar, reformular, para poder avançar. A gente não pode abrir
mão do ser cooperativo. A grande sacada está nos nossos valores.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Manfred Alfonso Dasenbrock
20 de maio de 2015
Diálogo 1:
Evolução do Cooperativismo no Mundo
Como o senhor vê esse movimento dos bancos comunitários?
A questão da inclusão financeira é um novo movimento de
responsabilidade social de governo. Quando eu olho a camada
da sociedade que tem necessidade, eu posso me aproximar
dela, mas eu não tenho o dever porque eu sou uma organização
não governamental, privada. Quem tem o dever é o governo
para o qual a gente contribui com tributos. Pode sim uma
cooperativa decidir, através de uma ação de assembleia, por
iniciativa de aproximação, oferecer soluções ou coisas dessa
natureza.
É um movimento ascendente no mundo, especialmente para
países que saíram de guerras, e as cooperativas têm
necessidade de se aproximar. Então, eu acho que é um movimento crescente e a gente pode se aproximar,
ver aquilo que pode fazer, muitas vezes são iniciativas que surgem a partir do debate e da necessidade.
Qual sua mensagem final para
nossos colegas colaboradores?
Eu quero dizer que trabalhar no Sicredi deve ser
um orgulho para todos, porque tem uma causa
nobre. E não só dedicar a sua capacidade
intelectual, mas também abraçar de coração,
porque faz diferença para as pessoas que
usufruem desse serviço. Então, dentro desse
espírito, eu chamo todos a ombrearem e se
engajarem nessa causa, que a causa é nobre.
DIÁLOGOS SOBRE COOPERATIVISMO
Diálogo na Prática
Após a leitura deste caderno sobre o tema Evolução do Cooperativismo no Mundo, propomos que você
ou o seu grupo faça um momento de reflexão...
• Que visão você(s) tem sobre o cooperativismo de crédito? Em que medida essa
visão se aproxima daquela apresentada pelo convidado Manfred Alfonso
Dasenbrock?
• Quais as boas práticas de governança vigentes no dia a dia da sua Cooperativa?
O que ainda precisa ser aprimorado nesse sentido?
• Na sua opinião ou do grupo, em que medida os aspectos a serem valorizados nos
colaboradores do Sicredi, indicados pelo nosso convidado, fortalecem o
relacionamento diário com os associados? Por quê?
• Quais os benefícios para os associados Sicredi da sua região, em fazer parte de
uma organização com presença nacional e atuação regional? E os associados,
por sua vez, como eles podem contribuir com o crescimento da sua Cooperativa?

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