Apostila 01 - PORTUGUES II - Modulo 33

Transcrição

Apostila 01 - PORTUGUES II - Modulo 33
Exercício 01
TEXTO I
Soneto
Os teus olhos gentis, encantadores,
Tua loira madeixa delicada,
Tua boca por Vênus invejada,
Onde habitam mil cândidos amores:
Os teus braços, prisão dos amadores,
Os teus globos de neve congelada,
Serão tornados breve a cinza!... a nada!...
Aos teus amantes causarão horrores!...
Céus! e hei-de eu amar uma beleza,
Que à cinza reduzida brevemente
Há-de servir de horror à Natureza!...
Ah! mandai-me uma luz resplandecente,
Que minha alma ilumine, e com pureza
Só ame um Deus, que vive eternamente.
(José da Natividade Saldanha. Poemas oferecidos aos amantes do
Brasil. 1822.)
(Eça de Queirós. "Cartas Inéditas de Fradique Mendes". In: Obras de
Eça de Queirós.)
TEXTO II
Soneto
TEXTO IV
Prefácio Interessantíssimo
Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra.
Em seus lábios que os meus lábios osculam
Micro-organismos fúnebres pululam
Numa fermentação gorda de cidra.
Duras leis as que os homens e a hórrida hidra
A uma só lei biológica vinculam,
E a marcha das moléculas regulam,
Com a invariabilidade da clepsidra!...
Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos
Roída toda de bichos, como os queijos
Sobre a mesa de orgíacos festins!...
Amo meu Pai na atômica desordem
Entre as bocas necrófagas que o mordem
E a terra infecta que lhe cobre os rins!
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Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo,
natural - tem a eternidade que a natureza tiver. Arte não
consegue reproduzir natureza, nem este é seu fim. Todos
os grandes artistas, ora consciente (Rafael das Madonas,
Rodin do Balzac, Beethoven da Pastoral, Machado de
Assis do Brás Cubas), ora inconscientemente (a grande
maioria) foram deformadores da natureza.
Donde infiro que o belo artístico será tanto mais
artístico, tanto mais subjetivo quanto mais se afastar do
belo natural. Outros infiram o que quiserem. Pouco me
importa.
*
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Nossos sentidos são frágeis. A percepção das
coisas exteriores é fraca, prejudicada por mil véus,
provenientes das nossas taras físicas e morais: doenças,
preconceitos, indisposições, antipatias, ignorâncias,
hereditariedade, circunstâncias de tempo, de lugar,
etc... Só idealmente podemos conceber os objetos como
os atos na sua inteireza bela ou feia. A arte que, mesmo
tirando os seus temas do mundo objetivo, desenvolve-se
em comparações afastadas, exageradas, sem exatidão
aparente, ou indica os objetos, como um universal, sem
delimitação qualificativa nenhuma, tem o poder de nos
conduzir a essa idealização livre, musical. Esta
idealização livre, subjetiva, permite criar todo um
ambiente de realidades ideais onde sentimentos, seres e
coisas, belezas e defeitos se apresentam na sua
plenitude heroica, que ultrapassa a defeituosa
percepção dos sentidos. Não sei que futurismo pode
existir em quem quase perfilha a concepção estética de
Fichte. Fujamos da natureza! Só assim a arte não se
ressentirá da ridícula fraqueza da fotografia... colorida.
(Augusto dos Anjos. Eu. 1935.)
TEXTO III
Idealismo e Realismo
Eu sou pois associado a estes dois movimentos, e se
ainda ignoro o que seja a ideia nova, sei pouco mais ou
menos o que chamam aí a escola realista. Creio que em
Portugal e no Brasil se chama realismo, termo já velho
em 1840, ao movimento artístico que em França e em
Inglaterra é conhecido por "naturalismo" ou "arte
experimental". Aceitemos, porém, realismo, como a
alcunha familiar e amiga pela qual o Brasil e Portugal
conhecem uma certa fase na evolução da arte.
(...)
Não - perdoem-me - não há escola realista. Escola é
a imitação sistemática dos processos dum mestre.
Pressupõe uma origem individual, uma retórica ou uma
maneira consagrada. Ora o naturalismo não nasceu da
estética peculiar dum artista; é um movimento geral da
arte, num certo momento da sua evolução. A sua
maneira não está consagrada, porque cada
temperamento individual tem a sua maneira própria:
Aprovação em tudo que você faz.
(Mário de Andrade. "Pauliceia Desvairada". In: Poesias completas. 1987.)
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Daudet é tão diferente de Flaubert, como Zola é
diferente de Dickens. Dizer "escola realista" é tão
grotesco como dizer "escola republicana". O naturalismo
é a forma científica que toma a arte, como a república é
a forma política que toma a democracia, como o
positivismo é a forma experimental que toma a filosofia.
Tudo isto se prende e se reduz a esta fórmula geral:
que fora da observação dos factos e da experiência dos
fenômenos, o espírito não pode obter nenhuma soma de
verdade.
Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar
o homem, inventava-o. Hoje o romance estuda-o na sua
realidade social. Outrora no drama, no romance,
concebia-se o jogo das paixões a priori; hoje, analisa-se
a posteriori, por processos tão exactos como os da
própria fisiologia. Desde que se descobriu que a lei que
rege os corpos brutos é a mesma que rege os seres
vivos, que a constituição intrínseca duma pedra
obedeceu às mesmas leis que a constituição do espírito
duma donzela, que há no mundo uma fenomenalidade
única, que a lei que rege os movimentos dos mundos
não difere da lei que rege as paixões humanas, o
romance, em lugar de imaginar, tinha simplesmente de
observar. O verdadeiro autor do naturalismo não é pois
Zola - é Claude Bernard. A arte tornou-se o estudo dos
fenômenos vivos e não a idealização das imaginações
inatas...
No
fragmento
transcrito
do
"Prefácio
Interessantíssimo", Mário de Andrade aborda, como Eça
de Queirós, a questão da composição literária pelo
escritor. Depois de reler ambos os textos,
a) demonstre que a frase de Mário de Andrade que
começa em "Esta idealização livre..." defende para a
composição literária e artística uma postura teórica
diferente da de Eça de Queirós;
b) explique o caráter "convencional, transitório"
atribuído por Mário de Andrade no início de seu texto ao
"belo da arte".
TEXTO V
(...) Não resguardei os apontamentos obtidos em
largos dias e meses de observação: num momento de
aperto fui obrigado a atirá-los na água. Certamente me
irão fazer falta, mas terá sido uma perda irreparável?
Quase me inclino a supor que foi bom privar-me desse
material.
Se ele existisse, ver-me-ia propenso a
consultá-lo a cada instante, mortificar-me-ia por dizer
com rigor a hora exata de uma partida, quantas
demoradas tristezas se aqueciam ao sol pálido, em
manhã de bruma, a cor das folhas que tombavam das
árvores, num pátio branco, a forma dos montes verdes,
tintos de luz, frases autênticas, gestos, gritos, gemidos.
Mas que significa isso? Essas coisas verdadeiras podem
não ser verossímeis. E se esmoreceram, deixá-las no
esquecimento: valiam pouco, pelo menos imagino que
valiam pouco. Outras, porém, conservaram-se,
cresceram, associaram-se, e é inevitável mencioná-las.
Afirmarei que sejam absolutamente exatas? Leviandade.
(...) Nesta reconstituição de fatos velhos, neste
esmiuçamento, exponho o que notei, o que julgo ter
notado. Outros devem possuir lembranças diversas. Não
as contesto, mas espero que não recusem as minhas:
conjugam-se, completam-se e me dão hoje impressão de
realidade. (...)
(RAMOS, Graciliano. Memórias do cárcere. Rio, São Paulo: Record,
1984.)
Questão 02
FOLHA DE SÃO PAULO, 09/05/1998
(CAMARGO, Iberê. In: NESTROVSKI, Arthur (Org.). "Figuras do Brasil: 80
autores em 80 anos de Folha". São Paulo: Publifolha, 2001.)
O fragmento transcrito expressa uma reflexão do
autor-narrador quanto à escrita de seu livro contando a
experiência que viveu como preso político, durante o
Estado Novo.
No que diz respeito às relações entre escrita literária
e realidade, é possível depreender, da leitura do texto, a
seguinte característica da literatura:
a) revela ao leitor vivências humanas concretas e reais
b) representa uma conscientização do artista sobre a
realidade
c) dispensa elementos da realidade social exterior à arte
literária
d) constitui uma interpretação de dados da realidade
conhecida
* Pode ser entendido como "inalcançável".
Questão 03
"A memória é a gaveta dos guardados" (1º parágrafo)
A frase expressa a importância das experiências
individuais na criação artística. A passagem do texto em
que mais facilmente se percebe o vínculo entre memória
e obra de arte é:
a) "A obra só se completa e vive quando expressa". (4º
parágrafo)
b) "Nos meus quadros, o ontem se faz presente no
agora". (4º parágrafo)
c) "Lanço-me na pintura e na vida por inteiro". (4º
parágrafo)
d) "A percepção do real tem a concreteza, a realidade
física". (6º parágrafo)
TEXTO VI
GAVETA DOS GUARDADOS
A memória é a gaveta dos guardados. Nós somos o
que somos, não o que virtualmente seríamos capazes de
ser.
Aprovação em tudo que você faz.
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Minha bagagem são os meus sonhos. Fui o poeta das
ruas, das vielas silenciosas do Rio, antes que se tornasse
uma cidade assolada pela violência. Sempre fui ligado à
terra, ao meu pátio.
No Rio Grande do Sul estou no colo da mãe. Creio que
minha fase atual, neste momento, em 1993, reflete a
eterna solidão do homem.
A obra só se completa e vive quando expressa. Nos
meus quadros, o ontem se faz presente no agora. Lançome na pintura e na vida por inteiro, como um
mergulhador na água. A arte é também história. E
expressa a nossa humanidade. A arte é intemporal,
embora guarde a fisionomia de cada época. Conheci em
Paris um escultor brasileiro, bolsista, que não
frequentava museus para não perder a personalidade,
esquecendo que só se perde o que se tem.
(...)
A memória é a gaveta dos guardados, repito para
sublinhar. O clima dos meus quadros vem da solidão da
campanha, do campo, onde fui guri e adolescente. Na
velhice perde-se a nitidez da visão e se aguça a do
espírito.
A memória pertence ao passado. É um registro.
Sempre que a evocamos, se faz presente, mas
permanece intocável, como um sonho. A percepção do
real tem a concreteza, a realidade física, tangível. Mas
como os instantes se sucedem feito os tique-taques do
relógio, eles vão se transformando em passado, em
memória, e isso é tão inaferrável* como um instante nos
confins do tempo.
Escrever pode ser, ou é, a necessidade de tocar a
realidade que é a única segurança de nosso estar no
mundo - o existir. É difícil, se não impossível, precisar
quando as coisas começam dentro de nós.
(...)
A vida dói... Para mim o tempo de fazer perguntas
passou. Penso numa grande tela que se abre, que se me
oferece intocada, virgem. A matéria também sonha.
Procuro a alma das coisas. Nos meus quadros o ontem se
faz presente no agora. A criação é um desdobramento
contínuo, em uníssono com a vida. O auto-retrato do
pintor é pergunta que ele faz a si mesmo, e a resposta
também é interrogação. A verdade da obra de arte é a
expressão que ela nos transmite. Nada mais do que isso!
Questão 01
Quaresma era considerado no Arsenal: a sua idade, a
sua ilustração, a modéstia e honestidade do seu viver
impunham-no ao respeito de todos. Sentindo que a
alcunha lhe era dirigida, não perdeu a dignidade, não
prorrompeu em doestos e insultos. Endireitou-se,
consertou o seu "pince-nez", levantou o dedo indicador
no ar e respondeu:
- Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar
ao ridículo aqueles que trabalham em silêncio, para a
grandeza e a emancipação da Pátria.
Uma luta de adjetivos. Touro indomável foi uma
solução mais precisa de "Ranging Bull" do que seria sua
tradução literal, "touro enraivecendo". A adaptação em
português enfatiza o aspecto do termo, não a noção de
tempo, como o original permitiria. Uma alternativa,
"Touro irado", tem igualmente menos força que o
adjetivo "indomável".
TEXTO VIII
Vocabulário:
amanuenses: escreventes;
doestos: injúrias.
"Million Dollar Baby" (a menina de um milhão de
dólares) não entrega o ouro de cara: descreve a
protagonista que tenta sair da sarjeta por meio do boxe.
Emite a ideia de um prêmio a coroar a obstinação da
heroína, que vive sentimentos crus e sem afagos. O
título em inglês nos induz a uma expectativa que será
redefinida. "Menina de ouro" esvazia a ambiguidade
original e confere uma afetuosidade à personagem que
não é a tônica da história.
Questão 05
Analise a frase:
"... deram não se sabe por que em chamá-lo Ubirajara."
a) Supondo-se que houvesse uma explicação de
natureza literária para o apelido, a que obra estariam os
empregados da repartição fazendo referência? Por quê?
b) Explique em que consiste a discriminação sofrida por
Policarpo Quaresma, tomando como referência o apelido
e a resposta dada por ele a Azevedo.
REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA. São Paulo: Segmento, n. 5, 2006, p. 3132.
Questão 04
Com base na leitura do texto II, pode-se afirmar que
"'Million Dollar Baby' não entrega o ouro de cara" porque
o título expressa
a) a ambiguidade que induz a uma interpretação que
será reformulada.
b) a ideia de contraposição que sugere o caráter
obstinado da personagem.
c) a ironia que remete ao estado de pobreza incorporado
pela protagonista.
d) o sentido de afetuosidade que revela um tipo
complexo de personagem.
e) o pressuposto que conduz a uma expectativa que será
comprovada.
TEXTO X
Olhava mais era para Mãe. Drelina era bonita, a
Chica, Tomezinho. Sorriu para Tio Terêz: - "Tio Terêz, o
senhor parece com Pai..." Todos choravam. O doutor
limpou a goela, disse: - "Não sei, quando eu tiro esses
óculos, tão fortes, até meus olhos se enchem d'água..."
Miguilim entregou a ele os óculos outra vez. Um
soluçozinho veio. Dito e a Cuca Pingo-de-Ouro. E o Pai.
SEMPRE ALEGRE, MIGUILIM... SEMPRE ALEGRE,
MIGUILIM... Nem sabia o que era alegria e tristeza. Mãe
o beijava. A Rosa punha-lhe doces-de-leite nas
algibeiras, para a viagem. Papaco-o-Paco falava, alto,
falava.
Leia o trecho de Triste fim de Policarpo Quaresma, de
Lima Barreto, para responder às questões seguintes:
TEXTO IX
Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas
estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua
história, na sua geografia, na sua literatura e na sua
política. Quaresma sabia as espécies de minerais,
vegetais e animais que o Brasil continha; sabia o valor
do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as
guerras holandesas, as batalhas do Paraguai, as
nascentes e o curso de todos os rios.
(...)
Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupiguarani. Todas as manhãs, antes que a "Aurora com seus
dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo", ele se
atracava até ao almoço com o Montoya, "Arte y
diccionario de la lengua guarani ó más bien tupi", e
estudava o jargão caboclo com afinco e paixão. Na
repartição, os pequenos empregados, amanuenses e
escreventes, tendo notícia desse seu estudo do idioma
tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo Ubirajara. Certa vez, o escrevente Azevedo, ao assinar o
ponto, distraído, sem reparar quem lhe estava às costas,
disse em tom chocarreiro: "Você já viu que hoje o
Ubirajara está tardando?"
Aprovação em tudo que você faz.
(In: Manuelzão e Miguilim; João Guimarães Rosa)
Questão 06
Do ponto de vista do estilo e da relação deste com o
sentido, esse trecho caracteriza-se:
a) pela sucessão de frases curtas e entrecortadas, que
mimetizam o ritmo da emoção implicado na cena.
b) pela conjunção de narrador em primeira pessoa e em
terceira pessoa, interligando solidamente emissor e
receptor.
c) pelo recurso intensivo às figuras de linguagem, com
predomínio das metáforas sobre as metonímias - o que
potencia o teor simbólico do texto.
d) pelo predomínio da função emotiva sobre as funções
poética e conativa, o que gera a força encantatória
própria do texto.
e) pela dominância da adjetivação afetiva, que traz à
tona e potencia a emoção própria da cena.
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TEXTO VII
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GABARITO
Questão 01
a) A criação literária, para Mário de Andrade, é
"subjetiva", baseada em "idealização livre" do autor. Eça
de Queirós, ao contrário, defende uma postura objetiva,
em que a criação artística é fruto da observação e da
análise, e não da fantasia.
b) Para Mário de Andrade, o belo artístico é histórico. Por
isso, seria uma "questão de moda". Assim sendo, a
beleza artística é transitória, por mudar com o tempo, e
arbitrária, por não obedecer a princípios necessários, já
que estes seriam diferentes em cada época.
Questão 02
Letra D.
Questão 03
Letra B.
Questão 04
Letra A.
Questão 05
a) A obra indianista "Ubirajara", de José de Alencar.
Porque o índio representava o nacionalismo.
b) Ubirajara representa um grande guerreiro indígena,
chamá-lo de Ubirajara seria como debochar de uma
obra, de um personagem que tiveram uma forte
participação no movimento nacionalista do Brasil, época
do Romantismo.
Questão 06
Letra A.
Aprovação em tudo que você faz.
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