Adenomas hipofisarios secretores de hormona do
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Adenomas hipofisarios secretores de hormona do
Adenomas hipofisarios secretores de hormona do crescimento. Urna análise clínica, endocrinológica, imagiológica, neuro-oftalmológica e cirúrgica de 32 casos operados C. Pinheiro; M.J. Oliveira*; 1. Ribeiro e L. Ramos Servi~os de Neurocirurgia e Endocrinologia*. Hospital Geral de Santo António. Porto. Portugal. Sumário Introdu~ao A hipófise é O local de origem de 15 % dos tumores Aproximadamente 15% de todos os tumores intracraintracranianos. Os adenomas hipofisários secretores nianos tem origem na hipófise. de hormona do crescimento (GH) estao associados a A história clínica e o exame objectivo sao geralmente Documento descargado de http://www.revistaneurocirugia.com el 01/10/2016. Copia para uso personal, se prohíbe la transmisión de este documento por cualquier m sintomas e sinais com repercussao sistémica e consemuito sugestivos de um adenoma hipofisário produtor de hormona do crescimento (GH - "growth hormone"). quentemente tem influencia a nível da qualidade de vida e sua longevidade. Os autores fazem um estudo reApesar de tradicionalmente descrita como urna doen<;a de lenta evolu<;ao tem tradu<;ao importante em termos de trospectivo de 32 adenomas secretores de GH operados no Servi~o de Neurocirurgica do Hospital Geral de expectativa de vida. Numa série de acromegálicos nao traSanto António de Janeiro de 1987 a Dezembro de tados estudados por Evans e colaboradores em 1966 S, é 1996. É realizada urna análise clínica, imagiológica, endescrito que 50% dos doentes faleceram antes dos 50 anos docrinológica e neuro-oftalmológica. É feito também e 89% aos 60 anos. A causa mais frequente de morte foi a um estudo comparativo com a literatura. doen<;a cardio-vascular. Wright e colaboradores l9 , num estudo de 194 acromePALAVRAS-CHAVE: Hipófise. Acromegalia. Hormona gálicos realizado em 1970, descrevem que a taxa de mordo crescimento. Cirurgia transesfenoidal. talidade dos acromegálicos é quase o dobro da popula<;ao geral associada principalmente a hipertensao arterial e a diabetes melitus. Diagnóstico precoce e subsequente tratamento sao neGrowth hormone secreting pituitary adenomas cessários no sentido de travar as altera<;6es cosméticas, as deformidades ósseas e, principalmente, as a1tera<;6es metabólicas e cardiovasculares que constituem urna amea<;a a Summary vida. Os objectivos da cirurgia incluem a resolu<;ao do efeito Pituitary adenomas are known as representing de massa do adenoma na sela turca e no tecido nervoso 15 % of aH intracranial tumours. Growth hormone seadjacente, o controle da hiperactividade endócrina da creting pituitary adenomas are associated with symplesao, de modo a prevenir os efeitos sistémicos responsátoms and signs with systemic repercussion and deleteveis pela redu<;ao na qualidade e expectativa de vida e, de rious effects on quality and expectation of life. The modo ideal, a manuten<;ao da fun<;ao hipofisária prévia. authors performed a retrospective analysis of 32 patients operated on GH adenomas between JaMaterial e métodos nuary/1987 and December/1996 at the Neurosurgical Service of the Hospital Geral de Santo António, Porto. É realizado um estudo retrospectivo de adenomas hipoWe commenton the clinic, imaging, endocrinologic and fisários produtores de GH operados no Hospital Geral de neuro-ophtalmologic stuies. A comparative study with Santo António de laneiro de 1987 a Dezembro de 1996. data reported in the literature is also done. Durante este período de 10 anos, 36 casos foram operados. Contudo, 4 doentes abandonaram a consulta pelo que os KEY WORDS: Pituitary gland. Acromegaly. Growth horrespectivos processos nao foram incluidos neste trabalho. moneo Transsphenoidal surgery. Dos 32 doentes estudados, 20 foram operados na primeira metade deste pedodo (1987-1991) e os restantes 12 Neurocirugía 1999; 10: 10 1-107. na segunda metade (1992-1996). 101 Adenomas hipofisários secretores de hormona do crescimento. Urna análise clínica, endocrinológica, imagiológica, neuro-oftalmológi- Tabela 1 Varia~ao pré-operatória dos níveis de hormona do erescimento Tabela 2 Classifiea~ao imagiológica N° doentes Hormona do crescimento N° doentes Percentagem S-lO ng/ml 11 - SO ng/ml SI - 100 ng/ml ~ 101 ng/ml 9 10 6 7 Neurocirugía 28,1% 31,2% 18,8% 21,9% Dos processos foram colhidos e analisados os seguintes dados: Sexo e idade, clínica, estudo endócrino, imagiológico, neuro-oftalmológico e cirúrgico. Microadenoma Macroadenoma - Intra selar Macroadenoma - Intra + supra selar 3 6 . 23 (71,9%) trofia da calote e aumento dos seios peri-nasais) em 3 doentes, litíase renal em 3 doentes, osteopenia/porose em 3 doentes, compressao do seio cavernoso com diplopia em 1 doente e S. depressivo em 1 doente. Estudo endócrino: Estudo da fun<;:ao hipofisária anterior foi realizada pré e pós-operatoriamente em todos os doentes. Documento descargado de http://www.revistaneurocirugia.com el 01/10/2016. Copia para uso personal, se prohíbe la transmisión de este documento por cualquier m Os níveis da hormona do crescimento variaram de 6.0 Resultados a 244.4 ng/ml (valores matinais), com a seguinte distribui<;:ao (Tab. 1): Divisao por sexos e idades: Após o tratamento cirúrgico assocido a Radioterapia Dos 32 doentes operados, 23 sao mulheres. Portanto, a e/ou tratamento médico, nos casos com indica<;:ao, os regrande maioria dos doentes na série em estudo, aproximasultados finais sao: 53.1 % dos casos apresentam critérios damente 72%, pertencem ao sexo feminino. As idades variaram dos 22 aos 69 anos, com média de cura clínica, endócrina e imagiológica. etária de 40 anos na altura do tratamento. A média etária Hipogonadismo secundário no pré-operatório foi dedos doentes do sexo feminino (40 anos) é ligeiramente sutectado em 16 doentes. Nao foram encontrados hipocortiperior a do sexo masculino (34 anos). solismo ou hipotiroidismo pré-operatórios. Há, portanto, na série em estudo um predomínio dos No período pós-operatório, hipocortisolismo e hipogoadultos do sexo feminino. nadismo isolados foram observados em 2 e 10 doentes, respectivamente e, em associa<;:ao, em 1 doente. HipocorClínica: tisolismo associado a hipogonadismo e a hipotiroidismo O tempo médio entre o primeiro sintoma e a data em foram observados em 4 doentes. Hipogonadismo e hipotique o doente recorreu ao seu Médico é de 6 anos. roidismo em 1 doente. Todos os doentes (100%) apresentavam-se, a data da Teste do TRH e prova de tolerancia oral a glicose, foprimeira consulta, com estigmas somáticos de acromegaram realizadas em 6 e 19 doentes, respectivamente. lia, nomeadamente, espessamento das maos, pés, dedos, O doseamento da Somatomedina-C foi realizada prénariz e lábios, protusao do mento, macroglossia e conseoperatoriamente em 9 doentes. O valor médio pré-operaquente má oclusao dentária. tório foi de 923 ng/ml. No período de follow-up, o doseaCefaleias foi o segundo sintoma mais frequente e remento foi realizado em 26 doentes. Em 18 destes, foram ferenciado por 27 doentes (84%). considerados valores normais com média de 270 ng/ml. Sinais e sintomas de hiperprolactinemia (irregularidaEm 8 doentes valores anormais com média de 896 ng/ml. des menstruais, galactorreia, perda da líbido e impotencia) Os níveis de prolactina pré-operatórios foram consideocorreram em 66% dos casos, ou seja, 21 doentes. rados anormais (valores superiores a 15 ng/ml nos homens Patologia ósteo-articular com tendencia para a cronicie a 20 ng/ml nas mulheres) em 15 doentes (46.8%). Os vadade (hipertrofia das articula<;:6es, artralgias, osteo-artrites lores anormais variaram de 28.2 a 135 ng/ml, cam valor degenerativas e estenose espinal) e hipersudorese ocorremédio de 57.5 ng/ml. ram ambos em SO% dos casos. Patologia cardíaca com hipertensao arterial e cardioEstudo imagiológico: megalia foi encontrada em 13 doentes (41 %). O meio auxiliar de diagnóstico mais frequentemente Os sinais e sintomas que se seguiram por ordem de utilizado, na série em estudo, foi a TAC cerebral (30 dofrequencia sao: Astenia e adinamia em 9 doentes, diabetes entes). melitus em 8 doentes, síndrome do túnel do carpo em 8 A RMN tem sido utilizada mais frequentemente nos úldoentes, altera<;:6es identificáveis ao RX de cranio (hipertimos anos dada a melhor defini<;:ao imagiológica oferecida. 102 Adenomas hipofisários secretores de hormona do crescimento. Urna análise clínica, endocrinológica, imagiológica, neuro-oftalmológi- Tabela 3 Classifica~ao imagiológica de Vezina e Maltais e de Hardys N° doentes Grau Grau Grau Grau Grau O 1 2 3 4 o 3 13 (40,6%) 10 6 Neurocirugía nuou a manifestar-se no período pós-operatório, embora de um modo mais lento, até a estabilizar;ao do mesmo. Tratamento médico pré-operatório: Dos 20 doentes operados entre 1987 e 1991, 15 (75%) nao foram submetidos a tratamento pré-operatório, 2 foram submetidos a tratamento com Octreótido e 3 a tratamento com Bromocriptina. Dos 12 doentes operados entre 1992 e 1996, apenas 4 (33,3%) nao foram submetidos a tratamento médico préoperatório, 6 (50%) foram submetidos a tratamento com Octreótido e 2 com Bromocriptina. Angiografia cerebral foi realizada em 2 doentes, em 1987 e 1988, estudados com TAC cerebral e cujas imaVia cirúrgica: gens levantavam a suspeita de patologia vascular aneurisO tempo médio entre a primeira consulta e a cirurgia mática. variou de 1 a 60 meses (doente que recusou a cirurgia iniSegundo a classificar;ao imagiológica descrita para os cialmente). Documento descargado de http://www.revistaneurocirugia.com el 01/10/2016. Copia para uso personal, se prohíbe la transmisión de este documento por cualquier m adenomas hipofisários, encontramos a seguinte distriVinte e oito doentes foram submetidos a apenas urna buir;ao (Tab. 2): intervenr;ao cirúrgica, 25 dos quais a abordagens transesImagiologicamente foi possível determinar aspectos fenoidais e 3 a abordagens pterionais. compatíveis com erosao/remodelar;ao selar em 28 doentes Quatro doentes foram submetidos a duas intervenr;6es (87.5%). cirúrgicas: um doente a 2 abordagens transesfenoidais, um Extensao do adenoma ao seio esfenoidal e ao seio cadoente a 2 abordagens pterionais e dois doentes a 1 transvernoso foi determinado imagiologicamente em 6 e 2 caesfenoidal e a 1 pterional. sos, respectivamente. Segundo a classificar;ao de Vezina e Maltais 16 e de Tratamento adjuvante: HardyS, a distribuir;ao dos nossos doentes foi a seguinte Como tratamento complementar foi utilizado a Radio(Tab.3): terapia em 22 doentes, correspondente aos casos de adeOs asp~ctos imagiológicos pós-operatórios comuns nomas invasivos e de restos tumorais para os quais nao se aos 3 microadenomas operados foram de haste hipofisária considerou haver i.ndicar;ao para segunda cirurgia. normalmente centrada, sem alterar;6es das dimens6es ou O tratamento médico (Bromocriptina e Octreótido) foi densitométricas da hipófise, ou seja, sem evidentes imautilizado em 21 doentes, como meio de controlar a progens de lesao residual. gressao da doenr;a clínica. Em relar;ao aos restantes adenomas, os resultados foComplicar;6es pós-operatórias: ram os seguintes: - No caso dos adenomas invasivos 66.6% dos casos Na série em estudo nao houve mortalidade per ou pósapresentavam aspectos imagiológicos compatíveis com operatória. restos tumorais. Dentro do grupo dos 29 doentes submetidos a abor- No caso dos macroadenomas intra-selares e naqueles dangens transesfenoidais, cerca de 52% (14 doentes) aprecom componente intra e extra-selar a percentagem de casentaram complicar;6es directamente relacionadas com a sos com aspectos imagiológicos compatíveis com restos cirurgia. tumorais foi de 50% e 52.2%, respectivamente. A complicar;ao mais frequente foi a diabetes insípida transitória descrita em 10 doentes (34.5%). Estudo neuro-oftalmológico: Fístula de LCR detectada no per-operatório e resolvida No pré-operatório os campos visuais foram consideracom tamponamento selar com spongostam e plastia com dos normais em 19 doentes (59.5%) e alterados (hemiasepto, rinorráquia pós-operatória resolvida com punr;6es nópsias ou quadrantanópsias) em 13 doentes. Destes, 8 lombares e quadro clínico de obstrur;ao nasal associado a apresentavam simultaneamente um alargamento da mansinéquias pós-operatórias ocorreram, cada um deles, em cha cega. dois doentes. No pós-operatório, 25 doentes ficaram com campos viEpistaxis pós-operatória resolvida com tamponamento suais normais. Em 2 doentes houve melhoria, mas sem nasal e perfurar;ao septa1 foram descritas em 1 doente cada atingir a normalidade. Em 1 doente nao houve alterar;ao um. com a cirurgia. Em 4 doentes o progressivo agravamento Das 7 craniotomias realizadas, quatro apresentaram dos campos visuais, verificado no pré-operatório, conticomplicar;6es: Diabetes insípida transitória e hiperglice103 Adenomas hipofisários secretores de hormona do crescimento. Urna análise clínica, endocrinológica, imagiológica, neuro-oftalmológi- Tabela 4 Estudo comparativo da clínica da série em estudo com a literatura Série em estudo Tabela 5 Níveis de hormona do crecimento pós-operatório Hormona do crescimento N° doentes Percentagem Literatura'.4.9.11.15 Cefaleias 84% 8,2 - 31,3% Hiperprolactinemia 66% 13 - 50% Diabetes melitus 25% 9 - 50% Pat. cardíaca 41% 3,3 - 30% S. túnel carpo 25% 21,5% Neurocirugía :s; 2,5 ng/ml 2,6 - 5,0 ng/ml 5,1 - 10,0 ng/ml 210,1 ng/ml 17 12 2 1 53,1% 37,5% 6,3% 3,1% Estudo endócrino: Os critérios de cura continuam a ser ponto de controvérsia. 18,8 - 42% Part. ósteo-art. 50% Doseamento da hormona do crescimento, da Somato41% 20,8% Alt. visuais medina-C e testes dinámicos (TRH e teste de toleráncia oral a glicose) foram realizados no pós-operatório como Documento descargado de http://www.revistaneurocirugia.com el 01/10/2016. Copia para uso personal, se prohíbe la transmisión de este documento por cualquier m teste de cura/remiss3.o da acromegalia, como diagnóstico mias marcadas, que exigiram a insitui<;3.o de insulinoterade recorrencia tumoral e como factor prognóstico para a pia em regime de internamento, foram descritas em 2 donecessidade de Radioterapia e/ou tratamento médico. entes cada um. A literatura l" descreve que 25% da popula<;3.o em geral tem valores acima dos 5 ng/ml e, por outro lado, níveis inDiscussao feriores a 5 ng/ml est3.o descritos em doentes com acromegalia activa documentada. Outros autores l.6. 15 descrevem Os autores colocam em discussao aspectos clínicos, casos raros de acromegálicos com níveis basais normais endócrinos, imagiológicos e neuro-oftalmológicos do prede hormona do crescimento. sente estudo. Serao também discutidos a escolha da forma de tratamento, o tratamento realizado no pós-operatório e AIguns autores como Baskin et al.', Laws et al. IO , García-Dría et al.', Sang et al. 15 e Wilson et al. 18 e colaboradoas complica<;oes pós-operatórias. Como comentário final, res definem como valores normais e, portanto cura endóum resumo baseado nos resultados da presente série e dacrina, os níveis de hormona do crescimento pós-operatório queles da literatura acerca dos factores que influenciam o inferiores a 10 ng/ml. prognóstico dos adenomas hipofisários secretores de horOutros autoresl'.I' consideram que somente os níveis mona de crescimento. inferiores a 5 ng/ml significam cura. Puchner e colaboradores l) descrevem como critério de Sexo e idade: cura os valores inferiores a 4.5 ng/ml. A série em estudo, contrariamente ao descrito na literatura'4.91115, apresenta um predomínio do sexo feminino Os autores da presente série consideram como cura os valores de GH inferiores a 2.5 ng/ml associados a normacom 72%. Já a distribui<;3.o etária é sobreponível a encontrada na literatural'.ls. lidade dos valores de Somatomedina-C, correspondente a 53.1 % dos casos. Acreditam que estes critérios tem maior valor prognóstico que os testes dinámicos. Contudo, se os Clínica: critérios forem ampliados para 5 e lOng/mi, segundo a A dura<;3.o média dos sintomas apresentados pelos doopiniao de alguns autores descritos na literatura, a percenentes é de 6 anos. Leavens et al. 11 e Wilson et al. 18 e colatagem de cura é aumentada para 90.6% e 96.9%, respectiboradores apresentam 9 e 6.7 anos, respectivamente. vamente. Somente em 1 dos casos estudados, o nível de O quadro clínico apresentado pelos doentes da presenhormona do crescimento é superior a 10 ng/ml, corresponte série é o habitualmente encontrado na literatura, sendo dente a um doente que abandonou a consulta no período de referir urna percentagem de cefaleias significativamende follow-up (Tab. 5). te mais elevada (Tab. 4). Os sinais e sintomas estudados apresentam-se em Estudo imagiológico: maior percentagem nos doentes desta série do que generiO estudo dos resultados imagiológicos pós-operatórios camente descrito na literatura o que pensamos poderá trapermite concluir que os microadenomas apresentam meduzir um diagnóstico e um tratamento mais tardios da palhor prognóstico e que os adenomas invasivos estao no tologia em causa, o que equivale a tumores de maiores dioutro extremo. mensOes. 104 Adenomas hipofisários secretores de hormona do crescimento. Urna análise clínica, endocrinológica, imagiológica, neuro-oftalmológi- Neurocirugía normal é idealmente o objectivo do tratamento cirúrgico, objectivo este sempre considerado nos microadenomas; já nos tumores difusos e invasivos o principal objectivo é a cura da acromegalia, sendo difícil a preserva<;ao da hipófise normal. E. Laws 1. García-Uría Série Comparando a abordagem transesfenoidal com a abore col. e col. em estudo dagem pterional ou sub-frontal, os autores consideram como pontos a favor da primeira o facto de ser urna técnica 12,2% 8,5% Alt. campos visuais 40,5% cirúrgica eficaz com raras contraindica<;oes, mesmo nos doentes com idade avan<;ada ou mau estado geral, associa100% 100% 61,5% Melhoria da a urna baixa incidencia de hipopituitarismo pós-operatório, para além de oferecer urna remissao imediata no que Os macroadenomas intra-selares com ou sem expansao diz respeito a normaliza<;ao dos valores de hormona do supraselar apresentam resultados pós-operatórios sensivelcrescimento. mente semelhantes na série em estudo. Isto equivale a diOs 32 doentes da presente série foram submetidos a 29 zer que o componente supra-selar nao é factor agravante abordagens transesfenoidais e a 7 pterionais. Quatro doendodo prognóstico (desde que nao apresente característicasel 01/10/2016. tes Copia foram mais laque urna cirurgia: O 1.0por Documento descargado de http://www.revistaneurocirugia.com parasubmetidos uso personal, seaprohíbe transmisión de este documento cualquier m ente a duas abordagen transesfenoidais, o 2.° a duas aborinvasivas). A suspeita imagiológica de recorrencia tumoral só se dagens pterionais e o 3.° e 4. ° a urna transesfenoidal e considerou ter valor como indicativo se associda a elevaurna pterional. dos níveis de hormona do crescimento ou SomatomedinaA abordagem transesfenoidal foi colocada como priC, como aliás já tem sido referido J3 • meira op<;ao terapeutica em todos os casos, exceptuandose doentes considerados como indica<;ao para abordagem Estudo neuro-oftalmológico: pterional (volumoso macroadenoma com grande cresciNa série em estudo, 40.5% dos casos apresentaram almento supraselal' assimétrico e envolvimento bilateral das tera<;oes pré-operatórias dos campos visuais. Carótidas Internas e levantamento de ambas Al e, supeNeste grupo de doentes é de referir que 61,5% dos doriormente, envolvimento de toda a parede anterior do 3.° entes melhoraram, 7,7% nao tiveram altera<;oes e 30,8% ventrículo). As vias transesfenoidais foram realizadas através da deterioraram no período pós-operatório. Em estudos realizados por Laws et al,9 e García-Uría via rinoseptal sublabial mediana, segundo técnica c!ássica et al.' e colaboradores a percentagem de altera<;oes prédescrita por Harvey Cushing. A sela turca é alcan<;ada operatórias dos campos visuais é de 8.5% e 12.2%, resnum plano sagital mediano. A cirurgia é realizada com o pectivamente. Estes dois autores apontam urna melhoria apoio do microscópio óptico e da radioscopia para o conem 100% dos casos (Tab. 6). trole da posi<;ao dos instrumentos na área selar e supra-seNa presente série, constatou-se que o tempo médio enlar e das estruturas neurovasculares envolventes. tre o diagnóstico e o tratamento cirúrgico foi demasiado A interface adenoma/hipófise normal é identificada langa por dificuldades institucionais, o que se considerou pela diferen<;a de consistencia e col'. O adenoma compordeletério, apesar do controle da doen<;a com tratamento ta-se como um tecido gelatinoso de consistencia mole famédico (Octreótido e Bromocriptina). Deste modo, aprecilmente aspirável e que faz protusao para o seio esfenoisentamos um maior número de sequelas oftalmológicas. dal logo após a abertura dural. Após o esvaziamento do Estes resultados obrigam a procurar implementar medidas componente selar, o contéudo supraselar "desce", permique conduzam ao diagnóstico e tratamento mais precoces, tindo a remo<;ao total do tecido adenomatoso. no sentido de melhorar os resultados finais. Tratamento pós-operatório: Escolha da forma de tratamento: Os autores consideram como indica<;ao para RadioDesde a 1a descri<;ao da doen<;a em 1886, vanas terapia pós-operatória os níveis persistentemente elevados op<;oes terapeuticas tem vindo a ser utilizadas, nomeada hormona do crescimento associado a doen<;a clínica damente tratamento cirúrgico, vários protocolos de tratapersistente e a tumor residual conhecido (invasao da haste mento médico e de radioterapia, a criohipofisectomia e o ou do seio esfenoidal) nao susceptível de remo<;ao cirúrgiimplante de fontes radioactivas na hipófise, sendo actualca total, nos casos de tumores invasivos e nos casos de remente a cirurgia o método mais credenciado para o trataconencia. mento da acromegalia, opoiada pelamaioria dos autores. Na série em estudo, 22 doentes (68.7%) foram submeA remo<;ao tumoral total com preserva<;ao da hipófise tidos a RDT pós-operatória. Destes, em 5 casos (15.6%) a Tabela 6 Altera~oes dos campos visuais pré-operatórias e evolu~ao pós-operatória 105 Adenomas hipofisários secretores de hormona de crescimento. Urna análise clínica, endocrinológica, imagiológica, neuro-oftalmológi- Neurocirugía Radioterapia foi tratamento adjuvante único e os restantes Tabela 7 17 receberam associadamente tratamento médico com Relac;ao nível de hormona do erescimente bromocripitina e/ou octreótido. pré e pós-operatório Os autores apoiam a literatura l4 e consideram como indica9ao para 2a cirurgia tumor selar persistente ou recoGH :::; 2,5 ng/ml GH rrente (após um período inicial considerado de cura) actipré-op n° doentes follow-up vo do ponto de vista endócrino e com efeito de massa, traduzido geralmente na diminui9ao progressiva da acuidade :::; 10 ng/ml 83,3% 9 visual, casos em que a radioterapia está contraindicada e 11 - 50 ng/ml 42,8% 10 quando há rinorráquia como complica9ao da primeira ~ 51 ng/ml 33% 13 abordagem transesfenoidal, que nao cedeu ao tratamento conservador. - Estadio da classifica9ao de Vezina e Maltais com No que diz respeito ao tratamento médico, os agonispior prognóstico para os doentes em estadio 4 (evidencia tas da dopamina tem a vantagem da administra9ao oral, contudo, apresentam urna irriportancia limitada como traimagiológica de extensa destrui9ao das estruturas ósseas envolventes). tamento adjuvante nos tumores hipofisários produtores de - Nível de extensao supra-selar, com pior prognóstico GH. O octreótido, por outro lado, é mais eficaz na redu9ao Documento descargado de http://www.revistaneurocirugia.com el 01/10/2016. Copia para uso personal, se prohíbe la transmisión de este documento por cualquier m para os tumores com extensao ao recesso e a toda parede dos níveis de hormona do crescimento e Somatomedinaanterior do 3.° ventrículo. C, embora haja desvantagem na via de administra9ao A rela9ao dos dois últimos ítens referenciados está (subcutiinea). provavelmente associada a co-existencia de tumores invaOs autores consideram que o tratamento médico é urna sivos e com grandes dimens6es. importante arma no controle da doen9a quando a cirurgia e Radioterapia nao conseguiram sucesso completo. Os autores nao encontraram rela9ao prognóstica com sexo, idade, clínica pré-operatória ou dura9ao da sintomatologia pré-operatória. Complica96es pós-operatórias: A série em estudo apresenta como resultado urna reComparando as complica96es da série em estudo com as descritas noutras séries da literatura3.4.7.9.11.14.15.18, obtemos la9ao inversa entre os níveis pré-operatórios da hormona do crescimento e a taxa de remissao, o que equivale a dios seguintes resultados: - A literatura descreve urna percentagem de rinorrázer nível pós-operatório de hormona do crescimento (Tab. quia pós-operatória que varia dos 2.4% a 12.5%. Na série 7). em estudo é de 6.25%. Conclusoes finais - O hipopituitarismo "de novo" é descrito na literatura entre 9.8% e 24.3%. Na série em estudo é de 25%, corresDo presente estudo, os autores chegam sa seguintes pondente a 2 casos de hipocortisolismo, 1 caso de hipocortisolismo e hipogonadismo, 1 caso de hipogonadismo e conclus6es: - Os adenomas produtores de hormona do crescimento hipotiroidismo e 4 casos de hipogonadismo associado a hipocortisolismo e hipotiroidismo. estao associdos a sintomas e sinais com repercussao sisté- A literatura descreve casos de meningite que varia mica e consequente influencia a nível da qualidade de vientre os 0.8% e 6.25%. Nao foram descritas, na presente da e sua longevidade. série, casos de meningite. - Devido aos problemas sistémicos a langa prazo, o - Diabetes insípida transitória, complica9ao mais freobjectivo deve ser o tratamento no estadio mais precoce quente nas diversas séries, apresenta percentagens que vapossível. - Importiincia do tratamento precoce também manifesriam dos 9.8% a43.8%. Na presente série é de 34.5%. tado nos melhores resultados terapeuticos obtidos nos miOs dois casos de rinorráquia pós-operatória descritos croadenomas e, no outro extremo, os piores resultados nos ná série em estudo foram resolvidos com pun96es lombaadenomas invasivos. res, nao carecendo de tratamento médico com acetazola- Importancia de um controle clínico, imagiológico, mida, como preconizado por alguns autores l4 . neuro-oftalmológico e endócrino pré e pós-operatório. - A cirurgia transesfenoidal com ou sem tratamento Factores que influenciam o prognóstico: adjuvante (radioterapia) oferece ao doente boa possibiliOs resultados encontrados descrevem que a percentadade de cura clínica e laboratorial. gem de resposta terapeutica apresenta urna rela9ao inver- O objectivo da cirurgia deve ser a rem09ao completa samente proporcional com: selectiva do adenoma, poupando o tecido hipofisário nor- Níveis elevados de GH pré-operatório. 106 Adenomas hipofisários secretores de hormona do crescimento. Urna análise clínica, endocrinológica, imagiológica, neuro-oftalmológi- Neurocirugía 10. Laws, E., Fode, N., Redmond, M.: Transsphenoidal surgery following unsuccessful prior therapy. 1. Neurosurg. 1985; 63: 823-829. 11. Leavens, M., Samaan, N., Jesse, R., Byers, R.: Clinical and endocrino10gica1 eva1uation of 16 acromegalic patierHs treated by transsphenoidal surgery. 1. Neurosurg., 1977; 47: 853-860. 12. Nyquist, P., Laws, E., Elliott, E.: Novel features of tumors that secrete both growth hormone and pro1actin in acromegaly. Neurosurgery, 1994; 35: 179-184. Bibliografía 13. Puchner, M., Knappe, Lüdecke, D.: Pituitary surgery in elderly patients with acromegaly. Neurosurgery, 1. Arosio, M., Giovanelli, M., Riva, E., Nava, c., Ambro1995; 36: 677-684. si, B., Faglia, G.: Clinical use of pre and posturgicla evalua14. Ross, D., Wilson, c.: Results of transsphenoida1 mition of abnormal GH responses in acromegaly. 1. 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