Oficinas de Educação Ambiental
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Oficinas de Educação Ambiental
SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL Márcia Andaluza Xavier OFICINAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Contribuição à educação continuada dos professores do município de Luis Eduardo Magalhães – Bahia Brasília - DF 2008 MÁRCIA ANDALUZA XAVIER OFICINAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL CONTRIBUIÇÃO À EDUCAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DO MUNICÍPIO DE LUIS EDUARDO MAGALHÃES – BAHIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – DF, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Educação Ambiental. ORIENTADORA: MSc. Maria Luiza Marcico Publio de Castro Brasília - DF 2008 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Coordenadoria de Biblioteca SENAC, Brasília, DF, Brasil) X3o Xavier, Márcia Andaluza Oficinas de educação ambiental: contribuição à educação continuada dos professores do Município de Luiz Eduardo Magalhães-BA / Márcia Andaluza Xavier. – Luiz Eduardo Magalhães/BA, 2008. 50p.; 30cm. Orientador: Maria Luiza Marcico Publio de Castro Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Educação Ambiental a Distância). – SENAC/DF, 2008. 1. Educação ambiental 2. Formação de professores I. Título CDU 504: 378.124 Folha de aprovação Dedico este trabalho aos professores de Luis Eduardo Magalhães – Bahia, profissionais que no dia-a-dia contribuem para a formação de seres humanos conscientes de seu papel no mundo. AGRADECIMENTOS A Mariângela Pereira Pinho, os meus mais sinceros agradecimentos, pelo incentivo as minhas potencialidades e respeito as minhas limitações. Ao Instituto Lina Galvani, pelo apoio financeiro na produção deste trabalho. A Paula F. Grutka Bueno, por seu valioso auxílio na realização das oficinas. A Galvani Indústria Comércio e Serviços Ltda, na figura de seu diretor Ronaldo Galvani Junior, pelo apoio financeiro na realização das oficinas. “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” (Paulo Freire) RESUMO O presente trabalho parte da problemática socioambiental presente no município de Luis Eduardo Magalhães – Bahia e da presença de uma visão ingênua das questões ambientais por parte dos professores atuantes na rede municipal de ensino. O objetivo principal é contribuir para a educação continuada dos professores que atuam na rede municipal de ensino fornecendo um espaço de formação reflexivo-crítica em Educação Ambiental para que estes se sintam sensibilizados e motivados a levar para a escola o debate sobre as questões ambientais contribuindo para a formação de cidadãos socioambientalmente educados. A metodologia utilizada são as oficinas, estas serão divididas em oito módulos - Ser humano, sociedade, natureza; Meio ambiente na escola; Projetos em Educação Ambiental; Sustentabilidade; Sociobiodiversidade; Água; Energia e Resíduos. Palavras-chave: Educação Ambiental; Formação de Professores; Oficinas; Meio Ambiente; Temas Ambientais. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Localização do município de Luis Eduardo Magalhães – Bahia ......... 13 Figura 2 – Foto de satélite de Luis Eduardo Magalhães - BA ............................... 13 Figura 3 – Vista aérea do Parque Fioravante Galvani ........................................... 15 Figura 4 – Visita monitorada ao recinto do Cervo-do-pantanal ............................ 16 Figura 5 – Visita monitorada ao recinto do Lobo Guará ...................................... 16 Figura 6 – Dinâmica dos balões – motivação e apresentação ............................... 21 Figura 7 – Leitura dos textos ................................................................................. 21 Figura 8 – Participantes assistem vídeo sobre Educação Ambiental ..................... 22 Figura 9 – : Atividade de sensibilização e estudo do meio..................................... 22 Figura 10 – Hora do almoço .................................................................................. 22 Figura 11 – Participantes das oficinas em 2006 .................................................... 24 Figura 12 – Participantes das oficinas em 2007 .................................................... 24 Figura 13 - Participantes das oficinas em 2008 ..................................................... 24 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 10 2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 11 2.1 Geral ................................................................................................................... 11 2.2 Específicos .......................................................................................................... 11 3 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................... 11 3.1 O Município de Luis Eduardo Magalhães ...................................................... 11 3.2 O Parque Fioravante Galvani .......................................................................... 14 3.3 Educação Ambiental e a Formação de Professores........................................ 17 4 METODOLOGIA................................................................................................. 19 5 RESULTADOS .................................................................................................... 23 5.1 Resultados preliminares.................................................................................... 23 5.2 Resultados esperados......................................................................................... 23 6 CRONOGRAMA.................................................................................................. 25 7 ORÇAMENTO ..................................................................................................... 26 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 27 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 28 ANEXOS ANEXO A – Roteiro de realização da 1ª oficina ................................................... 30 ANEXO B – Roteiro de realização da 2ª oficina.................................................... 38 ANEXO C – Ficha avaliativa para os professores ................................................. 49 ANEXO D – Ficha avaliativa para a equipe executora .......................................... 50 10 1. INTRODUÇÃO O município de Luis Eduardo Magalhães localizado no Cerrado baiano nasceu a partir da migração de sulistas para o plantio da soja na região. O município que conta hoje com 8 anos de emancipação e aproximadamente 50.000 habitantes possui uma série de problemas socioambientais advindos da ocupação desordenada. As escolas municipais desenvolvem atividades ambientais pontuais em datas comemorativas e projetos ambientais desarticulados do currículo, baseados apenas na proposta conservacionista de Educação Ambiental. São atividades descontextualizadas da realidade local, que não levam em conta os diagnósticos regionais e/ou locais, se concentrando apenas em aspectos ecológicos não contemplando fatores culturais, políticos, econômicos e sociais. O artigo 2 da Lei de Política Nacional de Educação Ambiental, Lei Federal nº. 9.795 de 27 de abril de 1999, prevê que a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. O Parque Fioravante Galvani acredita que a importância da Educação Ambiental no cotidiano escolar vai além da obrigação legal uma vez que ela transcende conceitos, integra áreas do conhecimento e faz pensar no papel da educação e, consequentemente no papel do professor que não pode limitar-se a transmitir informações; permite o posicionamento de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões. A partir destas problemáticas, o Parque Fioravante Galvani idealizou para o ano de 2008 o Projeto Oficinas de Educação Ambiental - Contribuição à educação continuada dos professores do município de Luis Eduardo Magalhães - Bahia, este será desenvolvido no Parque Fioravante Galvani promovendo um espaço de formação reflexivo-crítico destes profissionais, para que estes se sintam sensibilizados e motivados a levar para a escola o debate sobre as questões ambientais contribuindo para a formação de cidadãos socioambientalmente educados. 11 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Promover a formação reflexivo-crítica dos professores em Educação Ambiental, para que estes se sintam sensibilizados e motivados a levar para a escola o debate sobre as questões ambientais contribuindo para a formação de cidadãos socioambientalmente educados. 2.2 Objetivos específicos • Estimular o educador a acreditar na sua capacidade de atuação individual e coletiva; • Refletir sobre a maneira como pensamos acerca de nós mesmos, nosso meio, nossa sociedade e nosso futuro; • Refletir sobre nossos valores e crenças que orientam nosso pensamento e nossas ações; • Adquirir uma percepção integrada do mundo e uma postura ética, responsável e solidária. • Desenvolver atitudes positivas para com o Cerrado e Luis Eduardo Magalhães a partir de interação com a dimensão estética do bioma e com a história de vida do município. • Contribuir com conhecimentos teóricos sobre os temas ligados a Educação Ambiental; • Discutir os conceitos complexos que compõem o universo teórico da Educação Ambiental. • Discutir e assimilar as práticas metodológicas participativas utilizadas em Educação Ambiental para futura utilização em sala de aula; 12 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 O município de Luis Eduardo Magalhães O Brasil destaca-se por sua megabiodiversidade, não totalmente conhecida e muito menos aproveitada, destaca-se ainda pelo rápido processo de eliminação dessa riqueza potencial. (BRASIL, 2004). O Cerrado, com sua ampla extensão e heterogeneidade de ecossistemas, abriga uma enorme biodiversidade, formando um complexo conjunto de mosaicos de habitats e de fisionomias vegetais. Ao lado da biodiversidade, o Bioma caracteriza-se como uma grande caixa d’água no continente sul-americano sendo fundamental para a manutenção do equilíbrio hidrológico no país, possuindo imensos aqüíferos, entre eles o aqüífero Guarani e captando águas pluviais que abastecem nascentes que formam rios das bacias do Amazonas, Tocantins, Parnaíba, São Francisco, Paraná e Paraguai. (BRASIL, 2004). Além dos aspectos ambientais, o Cerrado distingue-se também pela sua importância social, representado por cerca de 1.500 municípios brasileiros que sofrem entre outros problemas com a imigração e ocupação desordenadas. (BRASIL, 2004). O município de Luis Eduardo Magalhães (Figuras 1 e 2) , nascido sob a égide da cultura da soja, que tem determinado, ao lado de outras culturas, o crescimento socioeconômico da região, é um exemplo desta ocupação. Localizado na Região Oeste da Bahia, com população estimada em 50.000 habitantes em menos de 8 anos de emancipação, Luís Eduardo Magalhães é uma cidade nova e uma das mais promissoras do oeste da Bahia, atraindo todos os dias migrantes em busca de oportunidades de negócios ligados, principalmente, às atividades de agricultura mecanizada e pecuária extensiva. A diversidade cultural de seus habitantes é observada entre o “gaúcho”, estereótipo que qualifica os sulistas, e entre os “baianos”, estigma da condição nordestina. (BAHIA, 2001). O fato de estar localizada em região de cerrado, e abrigar nascentes dos rios que contribuem para a manutenção da perenidade do Rio Grande, um dos principais afluentes do Rio São Francisco, torna essa realidade de crescimento desenfreado bastante delicada que aliada ao crescimento desordenado gerou no município uma série de problemas socioambientais como a diminuição da cobertura vegetal natural com a transformação em campos antrópicos, aumento da exploração dos recursos hídricos, desvalorização dos modos de vida, dos saberes e dos produtos locais das populações tradicionais, e a conseqüente perda destas culturas e conhecimentos além da carência de serviços sociais básicos como saúde, etc. (BAHIA, 2001). Fonte: http://pt.wikipedia.org 13 Fonte: EMBRAPA Figura 1: Localização do município de Luis Eduardo Magalhães - Bahia Figura 2 – Foto de satélite de Luis Eduardo Magalhães- BA 14 3.2 Parque Fioravante Galvani Por iniciativa do Grupo Galvani, o Instituto Lina Galvani começou a ser estruturado no início de 2003 visando contribuir de maneira mais efetiva para as comunidades em que a empresa atua. Constituído juridicamente em julho do mesmo ano, o Instituto obteve o certificado de OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - em fevereiro de 2004. O nome é uma homenagem feita, em vida, à mãe dos três sócios-diretores do Grupo e Conselheiros Consultivos da instituição. Dona Lina sempre foi uma grande incentivadora dos projetos sociais da empresa, tendo dedicado sua vida à família e às obras sociais. Atualmente atua em três comunidades, com equipes técnicas compostas para atender as demandas de cada realidade. No Programa SERvindo, Favela do Jaguaré em São Paulo: 1 Coordenadora Pedagógica, 1 Assistente Operacional e 8 Educadores. Para o Parque Fioravante Galvani, em Luis Eduardo Magalhães no oeste da Bahia : 1 Tratador de Animais, 1 Técnico Florestal, 1 Bióloga e 1 Educadora Ambiental. No Conhecendo uma Empresa, em Paulínia: 20 voluntários. O Instituto recebe doações anuais do Grupo Galvani, configurando-se como principal mantenedor. Com o objetivo de ampliar suas ações e alcançar a sustentabilidade de seus projetos, o Instituto tem como estratégia a realização de parcerias com outras empresas e organizações. Com o intuito de investir na área socioambiental no município de Luís Eduardo Magalhães, região de cerrado no oeste do estado da Bahia, um dos diretores idealizou a implantação de um criadouro conservacionista de animais do cerrado. Este projeto cresceu e no ano de 2004, em uma área de aproximadamente 20 hectares de cerrado preservado, iniciou-se a implantação do Parque Fioravante Galvani (Figura 3), local que comporta: Criadouro Conservacionista de Animais do Cerrado, Viveiro de Mudas de Espécies Nativas, Núcleo de Educação Ambiental e sede do Instituto Lina Galvani no município de Luis Eduardo Magalhães - Bahia. Totalizando um investimento de aproximadamente 1 milhão de reais, o Parque é o primeiro criadouro conservacionista de espécies animais e vegetais do oeste baiano. Neste espaço, a natureza tem um aliado para a conservação, pois a finalidade é contribuir para a reprodução da fauna e flora da região. Por meio da Educação Ambiental, o Parque pretende resgatar nas comunidades locais a importância desse bioma para o ecossistema brasileiro. Foto Vespa 15 Figura 3: Vista aérea do Parque Fioravante Galvani Inaugurado no dia 11 de setembro de 2006 (Dia Nacional do Cerrado), já conta com importantes resultados até o fim de 2007: Criadouro - 4 recintos construídos das espécies Cervo-do-Pantanal que possui um casal (Figura 3) , Lobo-Guará – uma fêmea (Figura 4), Ararajuba e Arara Azul Grande – dois exemplares, além da presença de dois veados catingueiros e um búgio; Viveiro de Mudas: 11.800 mudas produzidas, sendo que 800 foram destinados ao Projeto Renasce o Cerrado de arborização urbana; Núcleo de Educação Ambiental: 2.590 pessoas passaram pelo Parque em visitas monitoradas, dentre elas crianças e educadores de escolas municipais da região, e 45 professores da rede pública foram capacitados para o trabalho com educação ambiental. Para o Parque Fioravante Galvani a escola é um espaço de formação humana, relacional e vivencial tendo um papel importantíssimo na concretização da cidadania e para isso é preciso ultrapassar os muros que isolam a escola de seu ambiente circundante. Norteado por estes princípios o Parque Fioravante Galvani desenvolve vários projetos de Educação Ambiental: Projeto Renasce o Cerrado – projeto de arborização urbana, Projeto Férias no Parque – as crianças passam o dia todo no Parque participando atividades lúdicas ligadas a temas ambientais, as Visitas Monitoradas e o Projeto Oficinas de Educação Ambiental para professores da rede municipal de ensino. Márcia Xavier 16 Márcia Xavier Figura 4: Visita monitorada ao recinto do Cervo-do-pantanal Figura 5: Visita monitorada ao recinto do Lobo Guará 17 3.3 Educação Ambiental e a Formação de Professores O surgimento do ambientalismo nos Estados Unidos e a publicação do livro Primavera silenciosa, ambos na década de 60, trouxeram para o mundo um sinal de que os problemas ambientais não poderiam ser deixados de lado e soluções precisavam ser encontradas. Na década de 70 os movimentos em defesa do meio ambiente se fortaleceram e vários encontros internacionais, intergovernamentais e interinstitucionais aconteceram. (BRASIL, 2001). Em Estocolmo, em 1972 e Tbilisi, em 1977, apenas a título de exemplo, as ações educativas foram consideradas fundamentais para a resolução das questões ambientais No Brasil, com a promulgação da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei Federal nº. 9.795 de 27 de abril de 1999) e com a reorientação curricular produzida pelo Ministério de Educação e Cultura, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a Educação Ambiental passou a fazer parte do currículo do ensino formal, não como disciplina específica do currículo, mas como Tema Transversal. (BRASIL, 2001). Definida e recomendada mundial e nacionalmente pelos órgãos competentes oficiais e da sociedade civil, a Educação Ambiental tem-se inserido em nossa sociedade através de programas e/ou projetos desenvolvidos na escola por meio de ações implantadas pelos professores junto às suas turmas. Em geral as escolas restringem essa prática de Educação Ambiental a projetos temáticos, desarticulados do currículo e das possibilidades de diálogo das áreas de conhecimento com a temática. Frequentemente são campanhas ou ações isoladas em datas comemorativas. (BRASIL, 2001; GUIMARÃES, 2004; LEME, 2006; CASCINO, 2007). Estes mesmos autores afirmam que muitos professores não tiveram a oportunidade de estudar os referenciais teóricos da Educação Ambiental, não conhecem sua história, seus objetivos e princípios, portanto seus conhecimentos e práticas são fragilizadas e produzidas a partir de tentativas individuais com acertos e erros o que acarreta um maior tempo para serem constituídos tornando-os pouco producentes e acabam repassando aos estudantes uma visão de mundo moldada pela racionalidade, incapazes de fazer diferente. De acordo com Leme (2006) os professores reconhecem que se faz necessário um trabalho persistente e continuado quando se trata de questões ambientais que envolvem mudança de posturas, valores e desenvolvimento de habilidades, portanto para lidar com as questões socioambientais os professores precisam adquirir conhecimentos acadêmicos (técnico, metodológicos, político e filosófico) para articulá-los com os conhecimentos pedagógicos passando pela experimentação, pela investigação da própria atividade, pelo ensaio de novos 18 modos de trabalho pedagógicos e por uma reflexão crítica sobre sua utilização. A escola ao contribuir com a mudança na postura dos indivíduos, está contribuindo para mudanças na sociedade e para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Guimarães (2004) nos convida a uma reflexão sobre a formação dos professores com o objetivo de formar multiplicadores para a educação ambiental, para ele não bastam alguns professores multiplicarem as informações e técnicas metodológicas apreendidas em um curso, pois: A educação em uma perspectiva crítica se propõe a formar dinamizadores de ambientes educativos (e não multiplicadores), que, ao compreenderem a complexidade dos processos (movimentos) sociais, motivados pela reflexão crítica, mobilizem (mobilização = ação em movimento – práxis), com sinergia, processos de intervenção sobre as dinâmicas constituídas e constituintes da realidade socioambiental. Sena, Garla e Andrade (2007) afirmam que a formação continuada de professores em Educação Ambiental tem sido considerada como fundamental para o pleno envolvimento dos professores nas atividades de Educação Ambiental, afirmam ainda que são raras as oportunidades para que os professores sejam inseridos em uma atividade de formação continuada, quanto à existência, na literatura, de metodologias que favoreçam o desenvolvimento da autonomia, de espírito crítico e de comprometimento, fatores-chave para o exercício de uma educação verdadeiramente voltada à sustentabilidade. Para Leme (2006) a Educação Ambiental pode ser compreendida como uma prática social e política, por meio da qual os indivíduos interferem na realidade de modo a transformá-la. Assim os sujeitos agem não somente como autores, mas também como atores, muito embora não possamos delegar à educação toda a responsabilidade de transformar a sociedade, mesmo porque muitas vezes ela é reflexo dos problemas sociais. As oficinas com o objetivo de fornecer espaço para o debate técnico, metodológico, político e filosófico pautado pela Educação Ambiental constitui-se em uma prática interdisciplinar, pois os problemas ambientais ultrapassam a especialização do saber, é preciso compreender os complexos processos biológicos, geográficos, históricos, econômicos e sociais que geram esses problemas, pois como afirma Carvalho (2006): A interdisciplinaridade não pretende a unificação dos saberes, mas deseja a abertura de um espaço de mediação entre os conhecimentos e articulação de saberes, no qual as disciplinas estejam em situação de mútua coordenação e cooperação, construindo um marco conceitual e metodológico comum para a compreensão de realidades complexas. 19 4. METODOLOGIA A prática da Educação Ambiental nas escolas, está reduzida a atividades pontuais em datas comemorativas, na maioria das vezes envolvendo apenas um professor e sua turma (BRASIL, 2001; MEDINA, 2001; GUIMARÃES, 2004; LEME, 2006; CASCINO, 2007). Os projetos, quando presentes, estão desarticulados do currículo e das possibilidades de diálogo entre as áreas de conhecimento relacionadas às temáticas, se baseiam na proposta conservacionista de Educação Ambiental e estão descontextualizados da realidade local pois não levam em conta os diagnósticos regionais e/ou locais se concentrando em aspectos ecológicos não contemplando fatores culturais, políticos, econômicos e sociais, trabalhando muitas vezes uma visão catastrófica do mundo, do futuro e das ações do ser humano (BRASIL, 2001). As representações sociais (REIGOTA, 2004) dos profissionais em relação ao meio ambiente transitam por todas as sete categorias idealizadas por Sauvé et al. (2000 apud Sato 2004) o que confere aos grupos uma riqueza de vivências que pode ser compartilhada pelos professores durante as oficinas, mas na maioria das vezes estas vivências se mostram bastante ingênuas, incapazes de romper com a armadilha paradigmática, como apresentado por Guimarães (2004). Estes indicativos indicam que a melhor metodologia, como sugerido por Guimarães (2004), é aquela que proporciona ao professor uma formação político- filosófica além de técnicometodológica e como propõem Zakrzeski e Sato (2007) “através de um processo de investigação reflexiva e crítica, que permite a construção de alternativas aos problemas mais relevantes da atividade escolar e dirigido à intervenção e ação profissional” e que permita ao professor diagnosticar e interpretar problemas reais de âmbito local em suas múltiplas e diversas implicações (sociais, econômicas, políticas e ecológicas), Leme (2006). As oficinas, como afirmam Andrade, Soares e Pinto (1995), “têm por excelência, a dinâmica, a velocidade, o movimento harmônico. É a intenção viva da descoberta, por parte de todos, pensando, fazendo, criando, experimentando, discutindo.” Tendo como eixo norteador do trabalho o Programa Parâmetros em Ação – Meio Ambiente na Escola (BRASIL, 2001) o Projeto Oficinas de Educação Ambiental - Contribuição à educação continuada de professores do município de Luis Eduardo Magalhães – Bahia é dividido em oito módulos - Ser humano, sociedade e natureza (Anexo A); Meio ambiente na escola (Anexo B); Projetos em Educação Ambiental; Sustentabilidade; Sociobiodiversidade; 20 Água; Energia e Resíduos - com duração de oito horas cada um totalizando 64 horas, sendo realizada aos sábados, totalmente gratuito e com entrega de certificados aos participantes. O Projeto Oficinas de Educação Ambiental - Contribuição à educação continuada de professores do município de Luis Eduardo Magalhães – Bahia tem como atores o Parque Fioravante Galvani que fornecerá o espaço físico e parte da equipe executora para realização das oficinas, o Mercado Empório Mais que fornecerá a alimentação e os professores que participarão das oficinas. A equipe executora será composta de uma médica veterinária coordenadora geral do Parque Fioravante Galvani, responsável pela organização e distribuição das tarefas entre a equipe, acompanhamento constante e visibilidade do projeto, por uma bióloga responsável pela execução das tarefas relacionadas a infra-estrutura e pela facilitadora (bióloga, pedagoga e educadora ambiental) , responsável pela execução das oficinas. No início do ano letivo o Parque entra em contato com a Secretaria Municipal de Educação e solicita um espaço durante a semana pedagógica para apresentação do mesmo aos professores. Durante este momento os professores entram em contato com as atividades que são realizadas no Parque Fioravante Galvani, entre elas, a das oficinas. Ao final da apresentação é passada uma lista para que os interessados em participar das oficinas assinem, próximo a data da realização do primeiro módulo estes professores são contatados para confirmarem a participação. Além deste momento o Parque Fioravante Galvani visita as escolas, explica e entrega às coordenadoras a proposta das oficinas que a repassará aos professores daquela unidade. Os trabalhos desenvolvidos nos oito módulos são previamente planejados e organizados em roteiros flexíveis que permitem sua adaptação às necessidades do grupo. Os anexos A e B apresentam os roteiros do primeiro e segundo módulos, durante o desenvolvimento destes módulos bem como dos seguintes, acontecerão dinâmicas de apresentação, motivação e sensibilização com o objetivo de construir acordos, vínculos, preparar os participantes para o longo dia de atividades ou simplesmente para “acordar” o grupo. A explicitação dos objetivos de trabalho, dos papéis de cada um, das tarefas e responsabilidades de cada participante, das expectativas de aprendizagem, das pautas de trabalho, das regras de conduta, convívio e funcionamento será uma preocupação constante para o bom andamento dos trabalhos. As estratégias utilizadas serão voltadas à abertura de horizontes reflexivos, tentando romper com os tradicionais discursos verificados na prática educativa (CASCINO, 2007), e que associem teoria e prática, intercalando palestras, leitura de textos e discussões em grupo, jogos educativos, atividades que utilizam os sentidos, projeção de slides e vídeos, estudos do 21 meio, visitas de campo, observação sistemática e reflexão individual e não menos importante, o registro das impressões do grupo. (Figuras 6 a 10). A metodologia avaliativa de curto prazo são as fichas avaliativas previamente elaboradas (Anexo C) preenchidas pelos professores ao final de cada módulo, nesta ficha o professor avalia o espaço, as várias estratégias, realiza uma auto-avaliação e deixa sugestões. A partir destes dados e de uma avaliação da equipe executora (Anexo D), serão realizadas as correções de rumo necessárias ao atendimento das necessidades dos professores não perdendo de vista Márcia Xavier os objetivos pretendidos. Márcia Xavier Figura 6: Dinâmica dos balões – motivação e apresentação Figura 7: Leitura dos textos Márcia Xavier 22 Figura 8: Participantes assistem vídeo sobre Educação Ambiental Márcia Xavier Figura 9 : Atividade de sensibilização e estudo do meio Márcia Xavier Figura 10: Hora do almoço 23 5. RESULTADOS 5.1. Resultados preliminares O número de professores participantes do Projeto Oficinas de Educação Ambiental durante os anos de 2006 e 2007 (Figuras 11 e 12) estava vinculado a participação das escolas no Projeto Renasce o Cerrado. Para o ano de 2008 a participação nas oficinas foi estendida a todos os professores interessados atuantes na rede municipal de ensino. O número esperado de professores participantes para o ano de 2008 (Figura 13) era de no mínimo 20 professores em um universo de 700. O número de inscritos chegou a 40, ultrapassando em muito as expectativas, mas já na realização do primeiro módulo compareceram apenas 16 e no segundo 12 professores. A falta de compromisso dos professores, pois durante a semana que antecedeu a oficina estes mesmos professores confirmaram presença, foi um sinal de que a projeção dos resultados deve ser realizada com muito cuidado. A educação ambiental é um processo complexo, de grande abrangência, longa duração, e que envolve a tomada de atitudes e de mudanças de valores pessoais. Quantificar se isto está realmente acontecendo envolve o desenvolvimento de metodologias avaliativas de curto, médio e longo prazo e de modo periódico. 5.2. Resultados esperados O acompanhamento a médio e longo prazo é difícil de ser realizado, pois os professores são de variadas unidades escolares, muitos destes professores abandonam o magistério em troca de outro emprego mais rentável ou mudança de cidade. Os professores ao aplicarem em sala de aula os conhecimentos adquiridos durante a oficina, alcançarão um grande número de alunos vivenciando questões socioambientais dentro de suas unidades. Entende-se que são muitas as dificuldades encontradas pelos professores na implementação dos trabalhos em suas respectivas unidades escolares, entre elas a própria estrutura do sistema escolar que dificulta o trabalho interdisciplinar tão caro às práticas de Educação Ambiental. Como a participação nas oficinas é uma escolha do professor e não uma imposição dos órgãos dirigentes é esperado que estes se sintam sensibilizados e motivados a levar para a escola o debate sobre as questões ambientais. Márcia Xavier 24 Márcia Xavier Figura 11: Participantes das oficinas em 2006 Márcia Xavier Figura 12: Participantes das oficinas em 2007 Figura 13: Participantes das oficinas em 2008 25 6. CRONOGRAMA O Projeto Oficinas de Educação Ambiental: contribuição à educação continuada de professores do município de Luis Eduardo Magalhães – Bahia foi programado para acontecer aos sábados, em oito módulos de acordo com o cronograma abaixo: Data/2008 Evento Janeiro Apresentação da proposta a Secretaria de Educação de Luis Eduardo Magalhães – Bahia 12 de Fevereiro Apresentação da proposta aos professores durante a realização da semana pedagógica e aos diretores e coordenadores das escolas. 15 de Março Realização do 1º módulo – Ser humano, sociedade e natureza 12 de Abril Realização do 2º módulo – Meio Ambiente na Escola 17 de Maio Realização do 3º módulo – Projetos em Educação Ambiental 07 de Junho Realização do 4º módulo - Sustentabilidade 05 de Julho Realização do 5º módulo - Sociobiodiversidade 09 de Agosto Realização do 6º módulo - Água 13 de Setembro Realização do 7º módulo - Energia 18 de Outubro Realização do 8º módulo – Resíduos 26 7. ORÇAMENTO Os itens listados abaixo são relativos a 20 professores: Valores (R$) Recurso Unitário Total – 8 Fonte Módulos Alimentação – almoço e dois 300,00 2.400,00 80,00 640,00 Empório Mais lanches Material didático Honorários da capacitadora Instituto Lina Galvani Galvani Indústria e 1.150,00 9.200,00 Comércio e Serviços Ltda. Honorários da equipe 400,00 3.200,00 executora Instituto Lina Galvani Galvani Indústria e Transporte 100,00 800,00 Comércio e Serviços Ltda. Total 2.030,00 16.240,00 Observações: Os custos para pagamento de parte da equipe executora para a realização das oficinas e o transporte serão conseguidos a partir de parceria firmada entre o Parque Fioravante Galvani a Galvani Indústria e Comércio e Serviços Ltda., empresa localizada no município de Luis Eduardo Magalhães, Bahia. A alimentação (dois lanches e almoço) será fornecida pela parceria com o Mercado Empório Mais, um mercado local, que já é parceiro constante do Parque doando alimentação para vários eventos. 27 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS È mais do que presente o fato de estarmos iniciando um século movido pela dicotomia desenvolvimento e sustentabilidade. Ao ligar a televisão, ler revistas lá estão presentes questões ambientais das mais diversas: lixo, aquecimento global, água, desigualdade social, pobreza, saneamento básico e por aí vai. A Educação passa por uma fase de questionamentos profundos, enquanto as escolas privadas são na sua maioria centros de excelência dentro do contexto capitalista as escolas públicas vivem a mingua. A Educação Ambiental, já foi vista como a salvadora, através dela, achavam que poderiam resolver todos os problemas, tanto ambientais como sociais. Atualmente, diante de uma análise mais cuidadosa e depois de aproximadamente 10 anos de sua implantação através da Lei Federal nº. 9.795 de 27 de abril de 1999, podemos perceber um avanço no que diz respeito aos campos de discussão, se antes não se falava nos problemas ambientais, hoje eles estão presentes no espaço escolar, mas sua prática ainda deixa muito a desejar. A escola apresenta a problemática do lixo, da água, do aquecimento global, do desmatamento, enfim dos tantos problemas ambientais, com a denominação de Educação Ambiental. Uma observação mais profunda revela alguns pontos de fragilidade neste discurso e nas práticas desta chamada Educação Ambiental. Percebe-se que a prática desta Educação Ambiental está voltada muitas vezes para atividades pontuais de sensibilização, em que os resultados são questionados, uma vez que não apresentam continuidade e nem ações de intervenções na comunidade. Outra prática questionável são os projetos realizados sobre a denominação de Educação Ambiental, muitas vezes são projetos desenvolvidos porque a secretaria de educação e/ou direção assim o querem, não existe a construção a partir de um diagnóstico e os estudantes são meros executores de tarefas. O Projeto Oficinas de Educação Ambiental: contribuição à educação continuada dos professores do município de Luis Eduardo Magalhães- Bahia é uma tentativa de promover a formação reflexivo-crítica dos professores em Educação Ambiental estimulando-os a acreditar na sua capacidade de atuação individual e coletiva, fornecendo instrumentos para que eles possam inovar e reformular suas práticas e incorporarem a questão ambiental no programa escolar tornando-se capazes de fazerem da escola um espaço de formação de cidadãos socioambientalmente ativos. 28 REFERÊNCIAS ANDRADE, Lícia; SOARES, Geraldo; PINTO, Virgínia. Oficinas ecológicas: uma proposta de mudanças. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1996. BAHIA (Estado). Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia. Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional. Luis Eduardo Magalhães: Perfil Municipal. Salvador, 2001. BRASIL. Lei n. 9795 de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Disponível em: <http://www.lei.adv.br/9795-99.htm>. Acesso em: 29 mar. 2008. ______. Ministério da Educação. Programa parâmetros em ação, meio ambiente na escola: guia do formador. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC; SEF, 2001. ______. Ministério do Meio Ambiente. Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável do Bioma Cerrado: Programa Cerrado Sustentável. Brasília: 2004. 67 p. CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006. CASCINO, Fabio. Educação Ambiental: princípios, história e formação de professores. 4. ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007. GUIMARÃES, Mauro. 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SENA, Ligia Moreiras; GARLA, Ricardo Clapis; ANDRADE, Daniel Fonseca de. Formação continuada de professores em educação ambiental: Proposta metodológica utilizada em Fernando de Noronha, PE. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande, v. 18, jan./jun. 2007. Disponível em: <http://www.remea.furg.br/indvol18.php>. Acesso em: 27 mar. 2008. 29 ANEXOS 30 ANEXO A – Roteiro de realização da 1ª Oficina Projeto Oficinas de Educação Ambiental Módulo 1 – Ser humano, sociedade e natureza • Público: 16 Educadores da rede municipal de ensino e 3 funcionários da Galvani • Espaço disponível: Núcleo de Ed. Ambiental do Parque Fioravante Galvani . • Data: 15/03/2008 • Horário: 8:30 até 18:00 horas • Objetivos: 9 Propiciar a reflexão a respeito da ação e do olhar humanos em relação à natureza em diferentes contextos históricos, a partir de princípios orientados por valores econômico, sociais, culturais e religiosos. 9 Debater e avaliar concepções de meio ambiente e algumas controvérsias inerentes a ela. 9 Perceber a amplitude temporal e espacial da questão ambiental e refletir sobre suas dimensões global e local. 9 Perceber que na questão ambiental sempre há diferentes interesses, expectativas, desejos e visões envolvidos, o que gera conflitos e implica a busca de soluções por meio de negociações. 9 Discutir o que é EA, conhecer um pouco da sua história e refletir sobre sua importância. 9 Refletir sobre EA nas escolas, como ela ocorre e como deveria estar inserida no cotidiano escolar. 9 Conhecer as dependências e potencialidades do Parque Fioravante Galvani, • Roteiro: 9 8:30 até 9:00 – Café com prosa. 9 9:00 até 9:30 – Acolhida: boas vindas e apresentação pessoal de Mariângela, Paula e Márcia. Apresentação DVD Institucional da Galvani e Instituto. Contrato de convivência – celulares, cafezinho, apresentação do roteiro e dúvidas. 9 9:00 – 10:30 - Música com a dinâmica dos balões (cada um escreve, sem assinar, como deseja que seja aquele dia para o grupo, coloca dentro do balão, enche o balão e o amarra.). Ao som da música Não quero dinheiro (Tim Maia) todos devem tentar manter o balão no alto usando (ao comando do facilitador) as mãos, a cabeça, o ombro. Lembrar que se deve tentar ao máximo não deixar os balões cair. Ao final, quando todos os balões estiverem no chão, estourar os balões, cada participante deve pegar uma mensagem. Ao ler a mensagem o autor deve se identificar – nome, história de vida, turmas e/ou disciplinas e escola onde atua, e suas expectativas com relação às oficinas, após sua apresentação ele 31 deve ler a mensagem que pegou e assim as apresentações continuam. Ao final das apresentações os participantes fazem um momento de reflexão sobre o significado da dinâmica dos balões associando com a sua vida. 9 10:30 até 11:00 – Solicitar aos participantes que escrevam em um papel como ele conceitua meio ambiente. Pedir que guardem estes conceitos para uma análise ao final da oficina. 9 11:00 até 12:30 - Convidar os professores a fazer um passeio pela história da relação homem/natureza através do estudo de textos. Dividir os professores em 4 grupos, utilizando para isso a música hora da alegria (CD Prof. Bahia) .Distribuir os textos, explicar que durante a leitura eles devem identificar qual a concepção de natureza da sociedade e localizá-la no contexto histórico e cultural da época. Após a leitura e debate entre os elementos do grupo estes devem construir na folha de papel pardo um esquema/resumo que será socializado com os participantes. 9 12:30 até 13:30 – Almoço 9 13:30 até 13:45 – Dinâmica para “acordar” e perceber a dificuldade de mudanças: pede-se aos participantes que fiquem de pé e que procurem ficar em uma posição confortável enquanto ouvem a música Dia Branco – Elba Ramalho. Ao final da dinâmica conversar com os participantes sobre os sentimentos envolvidos e como eles se perceberam durante a dinâmica. 9 13:45 até 14:45 – Os grupos devem colar os cartazes, socializar as idéias principais associando estas idéias com o que acontece com o meio ambiente hoje e abrindo para o debate com os outros grupos. 9 14:45 até 15:15 – Convidar o grupo a construir coletivamente o conceito de meio ambiente. Cada participante deve escrever uma palavra chave que para ele defina o que é meio ambiente. 9 15:15 até 15:30 – A partir destas palavras chaves os participantes devem montar um conceito coletivo com os participantes de meio ambiente. 9 15:30 – 16:30 -. Os participantes agora munidos do conceito coletivo apresentam individualmente seus conceitos e avaliam as diferenças entre o seu e o coletivo. Ao final fazemos uma leitura crítica das mudanças ocorridas no grupo após os debates ocorridos ao longo do dia associando a mudanças de comportamentos nas suas atividades diárias a partir daquele momento. 9 16:30 até 17:30 – Visita monitorada ao Parque Fioravante Galvani. 9 17:30 até 18:00 - Encerramento com a fala das professoras sobre a oficina, preenchimento da ficha avaliativa, entrega dos brindes (sacolas de lixo para carro com folder do Parque Fioravante Galvani), sorteio de uma camiseta e de um DVD com calendário produzido pela Galvani Indústria e Comércio Ltda.. Encerramento com a mensagem bom final de semana. • Material de apoio: Canetões, Clipchart, Cópias do texto, Crachás, Fita adesiva, Lanche, Papel A4 rascunho, Papel madeira, Data show, Folha de chamada, Tapetes, DVD Galvani e Instituto, Questionário avaliativo. 32 • Anexos: Textos: A evolução cultural do ser humano A idade do planeta Terra é calculada em cerca de 4,5 bilhões de anos. Esse tempo é um tempo geológico que ultrapassa, em muito, o tempo de vida do ser humano. É importante termos sempre em mente que esse planeta, tal como o conhecemos hoje, é resultado de um longo processo de transformações e que esse processo continua, mesmo que durante nossa vida nós não possamos identificar tais mudanças. E que mudanças são essas? Na evolução da Terra, vários acontecimentos, como mudanças climáticas, atividades vulcânicas, terremotos, alteração do nível do mar etc. interferiram na formação do que hoje conhecemos como superfície terrestre. Ora, se todos esses acontecimentos influenciaram a formação do quadro físico do planeta – distribuição das terras e mares, formação de cadeias montanhosas, distribuição das jazidas de recursos naturais, diversidade da cobertura vegetal –, então imaginamos que tais acontecimentos também influenciaram a origem e a distribuição dos seres vivos. Isso significa que durante esses 4,5 bilhões de anos muitas espécies surgiram, se transformaram, se adaptaram às mudanças climáticas ou simplesmente desapareceram. Há cerca de 2 milhões de anos, a espécie humana começou a se estabelecer no planeta. Desde então, começamos a interferir nos processos naturais de uma forma completamente diferente das demais espécies, principalmente nos últimos 200 anos da nossa história. Tal como as demais espécies, a espécie humana também apresentou sua própria evolução biológica, adaptando-se às condições do meio e transformando-o. Sabemos que há uma diferença entre nosso ancestral Ramapithecus, que viveu na savana africana há aproximadamente 12 milhões de anos, e o Homo sapiens sapiens, forma atual da espécie humana. Para se tornar Homo sapiens sapiens, o homem passou por um processo evolutivo que se iniciou como Homo habilis, espécie com o corpo ereto que utilizava algumas ferramentas para aproveitar melhor os elementos da natureza necessários à sua subsistência. Quando a espécie humana descobriu o fogo como técnica de defesa e para o aprimoramento de utensílios e de instrumentos de trabalho, tornou-se Homo erectus. Continuando sua evolução, tornou-se Homo sapiens, considerado o primeiro hominídeo a ser capaz de desenvolver rituais e cerimônias relacionadas à sua vida cotidiana. Posteriormente, a descoberta das técnicas de cultivo e a domesticação de alguns animais possibilitou sua sedentarização, transformando-o em Homo sapiens sapiens. Para a maioria dos autores, as sociedades nômades e as sociedades coletoras foram progressivamente se tornando sedentárias entre 8.000 e 5.000 anos a.C. Foi nessa época que o ser humano conseguiu controlar melhor o uso do fogo e aprendeu a transformar argila em cerâmica. Posteriormente, passou a fundir os metais encontrados na natureza e utilizá-los como ferramentas mais resistentes e eficientes para a realização de tarefas que asseguravam sua sobrevivência. Além dessas técnicas, o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais para criação também constituíram importantes inovações. A fixação de grupos humanos está diretamente ligada ao desenvolvimento da agricultura. É possível haver agricultura sem fixação de grupos humanos, mas não pode haver sedentarização sem essa atividade. Por isso as inovações que apontamos foram tão importantes, uma vez que significaram a capacidade de as sociedades humanas modificarem e controlarem a natureza. Mas se, por um lado, a agricultura permitiu o crescimento populacional, por outro a ampliação das terras cultivadas diminuiu a variedade de espécies nos ecossistemas que progressivamente eram utilizados para o cultivo. Foi um processo contínuo de criação de ambientes artificiais pela introdução de espécies domesticadas, de 33 novas técnicas e de práticas de manejo que interferiram na dinâmica desses ecossistemas. Lembramos que antes de adotar práticas mais conservacionistas, como a rotação de culturas e o pousio, a queimada foi e ainda é muito utilizada no preparo do solo para a agricultura. Nas sociedades nômades e coletoras, a idéia de natureza revestia-se de um caráter sagrado. Tratava-se de uma noção orgânica, isto é, todos os seres vivos pertenciam ao mesmo mundo, não havia separação entre espírito e matéria, entre natureza animada e inanimada. Essa idéia corresponde ao que se denomina, hoje, de visão sacralizada da natureza: os frutos e as coisas da terra, assim como os demais elementos da natureza, eram considerados deuses ou entes sagrados, respeitados pelo seu poder de propiciar a vida. Os cultos sagrados dessas sociedades reverenciavam a Terra e seus elementos constituintes e, portanto, suas religiões eram predominantemente politeístas. Algumas dessas sociedades, ainda que submetidas ao ritmo da natureza, provocaram uma mudança fundamental na maneira de se relacionar com ela. Isso significou uma mudança no modo de pensar, e assim uma outra idéia de natureza passou a ser construída. Essa ruptura no modo de ver e se relacionar com a natureza representou um processo de dessacralização, ou seja, a natureza e os frutos por ela oferecidos deixaram de ser considerados sagrados. A maioria dos estudiosos se reporta à filosofia grega de Platão e de Aristóteles, base da moderna civilização ocidental, para mostrar que no século V a.C. a idéia de que a natureza existia para servir ao ser humano começou a ser esboçada. Posteriormente, a incorporação da filosofia grega pela tradição judaico-cristã, segundo a qual o homem teria sido criado à imagem e semelhança de Deus, completou a separação entre o espírito e a matéria, homem e natureza. Essa separação foi traduzida pela concepção do antropocentrismo, em que o homem era o centro do universo e, assim, o único ser capaz de dominar a natureza. Surgiram, então, as religiões monoteístas, que se tornaram hegemônicas no mundo ocidental, discriminando e reprimindo as práticas religiosas politeístas, baseadas na sacralização da natureza. A importância dessa ruptura reside no fato de que o ser humano, fora da natureza, estaria livre para dominá-la, transformando-a em mercadoria. É, pois, nesse sentido que se considera a gênese das sociedades modernas, fundamentada nesse processo de dessacralização da natureza. Fonte; SENAC. Educação Ambiental, Temas teoria e prática. Rio de janeiro: Centro de Produção de Rádio e Televisão. E-Book. 2007. p. 28 As revoluções científicas e o início da Idade Moderna Os séculos XVII e XVIII foram marcados por uma forte reação às crenças religiosas que caracterizaram a Idade Média e pela emergência da possibilidade de representar o mundo quantitativamente. Esse novo modo de pensar privilegiava o conhecimento do mundo como produto da razão, da dedução intelectual e da realização de experiências científicas. Nos termos de Grün (1996, p. 27): O mundo passa a ser construído a partir de um ponto de vista privilegiado e único – o do Homem... As modificações na estrutura lógica espaço-temporal abriram o caminho para a fundamentação de uma nova ética na qual o Homem reinaria absoluto. Qual é a origem dessa maneira de pensar que condicionou o avanço do conhecimento científico? Como ela atuou de forma determinante na dessacralização da natureza e na afirmação do domínio do homem sobre o meio? 34 No século XVII, a ética antropocêntrica, em que o ser humano era o modelo do mundo, começou a influenciar a ciência. Essa visão apoiava-se na oposição homem/natureza, ou seja, o homem constituía um ser fora da natureza e, por conseguinte, poderia dominá-la. De modo esquemático, observamos essa influência nas ciências aplicadas por meio de dois pensadores: Galileu (1564-1642) e Descartes (1596-1650). A descoberta de Galileu de que a Terra não constituía o centro do universo representou um dos principais elementos da mudança paradigmática que caracterizou o século XVII. Essa descoberta permitiu que os cientistas desenvolvessem uma explicação lógica do funcionamento do universo à imagem de uma máquina, cujas engrenagens funcionavam em perfeita sintonia, constituindo o que hoje conhecemos como paradigma mecanicista. A afirmação do paradigma mecanicista apoiava-se na ética antropocêntrica que pressupunha, então, que a natureza podia ser apreendida pela razão. No livro Discurso do Método, Descartes apresentou a idéia de que a natureza existia para servir ao ser humano e que ele poderia dominá-la através da ciência: (...) é possível chegar a conhecimentos que sejam úteis à vida, e que (...) se pode encontrar uma Filosofia prática, pela qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam, tão distintamente como conhecemos os diversos misteres de nossos artífices, poderíamos empregá-los da mesma maneira em todos os usos para os quais são adequados, e, assim, tornar-nos como que senhores e possuidores da natureza. As revoluções científicas não se limitaram às ciências aplicadas, tendo também atingido as ciências naturais, especialmente a Biologia. As descobertas e viagens científicas realizadas no século XIX em todo o planeta resultaram no conhecimento da distribuição geográfica da grande maioria das espécies. Parte dessas descobertas deveu-se a Charles Darwin, que desenvolveu a teoria da seleção natural das espécies. A constatação da magnitude do tempo geológico foi um parâmetro decisivo para que Darwin pudesse compreender o comportamento das diferentes populações de plantas e animais, percebendo que o funcionamento da natureza era o de uma rede complexa de interações entre os organismos. Dessa forma, ele considerou a espécie humana como o resultado de uma evolução, e não como criação de Deus. Em seu livro A origem das espécies, Darwin indicava a possibilidade de diferenciação de grupos de indivíduos da seguinte forma: O meio no qual vive uma espécie se compõe de outras espécies que dividem com ela o mesmo território e condições de vida (solo, clima, relevo) sobre este território. Uma modificação de equilíbrio entre as espécies é um fator de evolução da mesma maneira que, por exemplo, o clima. A explicação racional e lógica oferecida pela teoria da evolução reforçou a idéia de que a natureza segue seu caminho, independentemente de uma vontade superior. Será essa maneira de pensar, caracterizada pelo antropocentrismo e pelo racionalismo, apoiados nas ciências aplicadas e nas ciências naturais, que vai nortear, no século XIX, o desenvolvimento dos meios de se explorar a natureza. Os interesses na organização e no financiamento das pesquisas nessas duas áreas do conhecimento são atribuídos, pela maioria dos autores contemporâneos, às necessidades do sistema capitalista nascente. Fonte: SENAC. Educação Ambiental, Temas teoria e prática. Rio de janeiro: Centro de Produção de Rádio e Televisão. E-Book. 2007. p. 33. 35 A Revolução Industrial e a subordinação da natureza No século XIX, o conhecimento científico tornou-se o meio quase exclusivo de compreensão do mundo. Os avanços em todas as áreas de conhecimento propiciaram uma nova explosão em termos de inovações, aqui referida não como fatos isolados que convergiram num dado momento, mas sim como um processo que compreende períodos de intensa atividade e períodos mais ou menos longos de lentas transformações. Essa explosão de inovações deu início ao que se convencionou chamar de Revolução Industrial, caracterizada como a passagem de um sistema técnico, baseado no trabalho de artesãos, para um sistema apoiado na indústria. Ela é o marco que situa a origem do próprio sistema capitalista. Que fatores poderiam explicar essa revolução? A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, em fins do século XVIII, e em outros países da Europa, nas duas primeiras décadas do século XIX. A conjuntura favorável a essa revolução foi a da escassez. Até meados do século XVIII, a energia que movia todo o sistema de produção provinha da madeira, gerando grandes áreas desmatadas. Foi, portanto, a prática de uma economia destruidora que gerou a necessidade de invenções e inovações. No entanto, para caracterizar um período como esse é preciso entender que as invenções e inovações estavam integradas à produção. Grande parte dos historiadores costuma assinalar essa integração a partir do momento em que a Inglaterra operou uma mudança importante em sua política de patentes. As patentes, antes concedidas para enriquecer os favoritos do rei, formando verdadeiros monopólios nas mãos de poucos privilegiados, passaram a ser publicadas como forma de premiar os inventores. Tal fato não só provocou um século fértil em invenções mecânicas no país, como também acabou com o mistério e o sigilo do artesanato (Drucker, 1993). Um segundo fator, de ordem política, deve ser mencionado. Houve, nessa época, uma mudança nas políticas coloniais, quando a formação dos impérios coloniais passou a se apoiar na constituição de mercados consumidores, assinalando uma importante diferença. Em várias regiões colonizadas pelos países europeus, os colonizadores redirecionaram a política de exploração e extração simples dos recursos naturais para uma política de formação de um mercado consumidor para seus produtos. Finalmente, há ainda um terceiro fator. As inovações técnicas exigem investimentos e, portanto, é necessário que antes de um período de inovações haja uma acumulação de capital que viabilize esses investimentos. Ora, nessa época a Inglaterra era uma potência comercial que controlava todo o comércio mundial, propiciando a necessária acumulação de capital, com o propósito de realizar os investimentos em novas formas de produzir. Mas que relação podemos estabelecer entre a Revolução Industrial e a concepção de uma natureza subordinada ao ser humano? A Revolução Industrial traduziu a afirmação do progresso técnico como elemento fundamental da civilização do Ocidente. Os sistemas técnicos criados ao longo dos séculos XVIII e XIX eram intensivos em recursos naturais, uma vez que consumiam grande quantidade de matéria-prima ou de recursos naturais para produzir uma quantidade relativamente pequena de artigos ou energia. Esses sistemas atuavam como aceleradores do ritmo da natureza pela concentração cada vez maior de energia, pois sempre que ocorre um processo de transformação, uma energia é liberada para o meio ambiente, intensificando alguns processos de ordem natural. As novas tecnologias da época, como as invenções na área da mecânica, por exemplo, exigiam uma concentração de energia diferente daquela do artesanato praticado nas pequenas unidades fabris. 36 Mas além das invenções mecânicas, também surgiram, em 1830, os primeiros resultados de pesquisas químicas relativas à produção de substâncias não-naturais, como foi o caso dos fertilizantes. E, assim, uma outra noção de natureza ia sendo construída. As diferentes regiões do mundo passaram a ser incorporadas pela dinâmica das conquistas territoriais, tecnológicas e predadoras do sistema capitalista que se tornava dominante. A necessidade de compreensão dos mecanismos de funcionamento da natureza tinha o objetivo primordial de conhecê-la melhor para, então, melhor explorá-la e controlá-la. A consolidação da Revolução Industrial e do sistema capitalista como modelo no mundo ocidental constituiu, assim, a imposição de novas relações entre ser humano,natureza e produção. Para ilustrar esse ponto, vejamos como Karl Polanyi descreve essas mudanças no sistema capitalista, em seu célebre livro A grande transformação (1985, p. 180): A produção é a interação do homem e da natureza; se este processo deve ser organizado pela intermediação de um mecanismo regulador de troca, é necessário então que o homem e a natureza acompanhem este funcionamento; eles devem ser submetidos à oferta e à demanda, isto é, eles devem ser tratados como mercadorias, como bens produzidos para a venda. Do homem (sob o nome de trabalho), da natureza (sob o nome de terra) tudo poderia ser feito para ser negociado. Essa foi, pois, a mudança fundamental que se processou neste período, em relação à noção de natureza. A natureza deveria seguir o ritmo da produção, e não o contrário. Com os avanços em todas as áreas de conhecimento foi possível consolidar, no plano econômico, a idéia de que natureza era aquilo que seria útil e passível de ser transformado pelos diferentes processos de produção. Todo esse processo que acabamos de analisar não ocorreu sem resistências, diante dos problemas ambientais que começaram a surgir. No fim do século XIX, as críticas ao modo industrial de exploração deram origem ao que hoje conhecemos como Ecologia. Fonte: SENAC. Educação Ambiental, Temas teoria e prática. Rio de janeiro: Centro de Produção de Rádio e Televisão. E-Book. 2007. p. 37 Das sociedades industriais à crítica ecológica das sociedades pós-modernas Na sociedade ocidental, o atual momento histórico está sendo denominado pósmodernidade. Embora o termo não constitua um consenso, ele vem se impondo como referência importante desde os anos 1960, para caracterizar, uma vez mais, a ruptura com o passado. Como, então, podemos definir pós-modernidade? Em linhas gerais, a pós-modernidade se caracteriza pela descoberta de que há incertezas no processo de conhecimento, de que as explicações científicas são necessariamente parciais e de que não há uma versão única de progresso. Trata-se de um termo que descreve um processo de reestruturação política, econômica e cultural. Assim, o fundamental é desconstruir o que se entendia como progresso e como invariabilidade das condições ambientais. Para muitos autores, pós-modernidade significa a ênfase ao imediato e ao evidente, a substituição do fato pela aparência e da palavra pela imagem. Para outros, a pós-modernidade caracteriza-se pela consciência da incerteza e pela compreensão das interações entre elementos dissociados. É nesse sentido de associação de elementos dissociados que se pretende compreender o meio ambiente como elemento em mudança permanente. 37 Para Octavio Ianni, a pós-modernidade retrata o universo da fragmentação, do virtual, do presente que se dissolve, imediatamente superado: As conquistas da ciência, traduzidas em tecnologias, abrem muitas possibilidades práticas e imaginárias. Tanto assim que alguns, os que dispõem de meios e informações, podem desprender-se dos parâmetros sedimentados, das explicações acumuladas... São padrões e valores socioculturais, alterações nas formas de sociabilidade, desenraizamentos de coisas, gentes e idéias (1995, p. 176-177). Em que esse período se diferencia da modernidade, em termos de relação ser humanonatureza? Do ponto de vista do movimento ecológico, começa a despontar a noção de que, apesar do avanço técnico, há uma situação de dependência do ser humano em relação à natureza, mas que não tem nada de subordinação. Ao contrário, ela remete à idéia de compromisso e integração, o que pressupõe que a natureza deixe de ser vista como o grande e inesgotável reservatório de recursos e passe a ser entendida como uma questão que toca as próprias raízes do ser humano e sua sobrevivência. Para os movimentos ecológicos, a base para a compreensão do atual período pós-moderno está no conceito de cidadania ambiental que esses movimentos trouxeram à tona. Fundamentada na idéia de compromisso, a cidadania ambiental coloca a defesa do meio ambiente no campo político. Esse é o desafio para a compreensão das relações sociedade/natureza como sendo diferenciadas e traduzindo as diversas formas com que cada sociedade se relaciona com a natureza. Fonte: SENAC. Educação Ambiental, Temas teoria e prática. Rio de janeiro: Centro de Produção de Rádio e Televisão. E-Book. 2007. p. 42 38 ANEXO B – Roteiro de realização da 2ª oficina Projeto Oficinas de Educação Ambiental Módulo 2 – Meio Ambiente na Escola • Público: 16 Educadores da rede municipal de ensino e 3 funcionários da Galvani. • Espaço disponível: Núcleo de Ed. Ambiental do Parque Fioravante Galvani . • Data: 12/04/2008 • Horário: 8:30 até 18:00 horas • Objetivos: 9 Discutir o que a questão ambiental tem a ver com cada um de nós. 9 Promover momentos de reflexão sobre o papel da Educação Ambiental como proposta de trabalho em sala de aula. 9 Motivar os participantes a construírem coletivamente um conceito crítico de Educação Ambiental. 9 Discutir o que é Educação Ambiental, conhecer um pouco da sua história e refletir sobre sua importância. 9 Refletir sobre EA nas escolas, como ela ocorre e como deveria estar inserida no cotidiano escola • Roteiro: 9 8:30 até 9:00 – Café com prosa. 9 9:00 até 10:00 – Acolhida: boas vindas, entrega de crachá e dinâmica de aquecimento – bingo: é entregue uma cartela a cada participante, com vários itens, como viajou para o exterior, está lendo um livro, gosta de cachorro, etc., os participantes devem encontrar no grupo pessoas que preencham esses itens, quem preencher primeiro leva o prêmio, no caso uma camiseta do Parque Fioravante Galvani. Ao final realiza-se uma roda de conversa sobre a dinâmica do bingo e como foram as atividades realizadas após a primeira oficina, ou seja, se houve alguma modificação nas ações dos participantes. Contrato de convivência: celulares, cafezinho, apresentação do roteiro e tirar as dúvidas. 9 10:00 – 11:00 – Solicitar aos participantes que escrevam seu conceito de Educação Ambiental e o guardem. Depois de assistir ao vídeo Educação Ambiental: uma viagem pela história construir uma linha do tempo apresentando os principais acontecimentos relacionados à Educação Ambiental. 9 11:00 – 12:00 – Dividir os grupos em dois grupos. Distribuir os textos Educação Ambiental e cidadania e Por que Educação Ambiental na escola. Solicitar aos grupos que façam uma leitura, destaquem os pontos principais para compartilharem com o outro grupo. Ao final promover um debate sobre a importância da Educação Ambiental na Escola. 9 12:00 – 14:00 – Almoço 9 14:00 – 14:15 - Dinâmica para “acordar” – a casa do Zé – CD do Prof. Bahia 9 14:15 – 15:30 – Dividir os participantes em três grupos, entregar os textos vertentes contemporâneas. Solicitar aos grupos que faça a leitura e dos mesmos, montem uma aula 39 baseada na vertente e a apresentem ao final. Após a apresentação os grupos devem identificar as diferenças percebidas na realização das aulas. Abrir o debate para os três tipos de vertentes e sua presença nas salas de aula. 9 15:30 – 16:00 – Lanche 9 16:00 – 17:00 - Entregar revistas aos participantes que devem recortar uma figura (cada um) que para ele, naquele momento, represente o que é Educação Ambiental. Colar as figuras no quadro. Após a colagem dividir os participantes em grupo e solicitar que, a partir das figuras coladas escrevam um conceito de Educação Ambiental que serão também colado no quadro. Ao final ler todos os conceitos e coletivamente montar um conceito coletivo. 9 17:00 – 17:45 – Solicitar que leiam suas definições de Educação Ambiental, realizem comparações com o conceito construído coletivamente e comentem com o grupo o que mudou de um para outro. Aproveitar para que os participantes apresentem suas impressões sobre a oficina. 9 Preenchimento da ficha avaliativa, entrega dos brindes livreto com fotos do Cerrado produzido pela Escola Municipal São Francisco em 2007.. Encerramento com a mensagem um toque de luz. • Material de apoio: Canetões, Clipchart, Cópias do texto, Crachás, Fita adesiva, Lanche, Papel A4 rascunho, Papel madeira, Data show, Folha de chamada, Tapetes, DVD SENAC. • Anexos: Textos: Por que Educação Ambiental na Escola? O desenvolvimento da consciência ecológica no espaço escolar é uma meta que deve ser perseguida por todos aqueles que fazem à escola e que acreditam no saber como motor de desenvolvimento das nações. A Educação Ambiental deve ser estimulada por todos os setores envolvidos no processo de construção do conhecimento e deve fazer parte do projeto pedagógico de toda escola. A juventude é cheia de ideais e tem muito a contribuir na construção de um processo de defesa e conservação do ambiente da escola e de sua comunidade. É extremamente importante estimular o jovem a entender o ambiente e as problemáticas sócio-ambientais ao seu redor, dando-lhe a oportunidade plena de estar antenado com o mundo em que vive e contribuir para a redução dos problemas ambientais que o cercam. O desenvolvimento da consciência ecológica tem papel fundamental para integrar a escola com a comunidade e oportunizar uma prática pedagógica voltada para o real. É de grande valia desenvolver atividades que envolvam todas as disciplinas na defesa do ambiente e do patrimônio histórico, cultural e ambiental. O desenvolvimento da consciência ecológica na escola passa por uma atitude firme e engajada de todos aqueles que dela fazem parte. As atividades escolares devem ser voltadas para um processo de entendimento do ambiente e dos motivadores sociais, econômicos e ideológicos que levam a um processo de degradação ambiental e social da sociedade moderna. As mudanças propugnadas para a educação, no momento atual, procuram fazer com que o 40 projeto pedagógico da escola tenha a participação de todos os elementos envolvidos. Para isso é necessário oportunizar e efetivar a defesa do ambiente como meta prioritária da educação. Só é possível o alcance de um ambiente saudável com o engajamento de todos os setores da sociedade civil organizada. É preciso que todos aqueles que fazem à escola tenham atitudes responsáveis e comprometidas com o mundo que os cerca. É preciso romper os muros que isolam a escola de seu ambiente circundante. A proposta de uma ação comprometida com a natureza e com a sua defesa é, antes de tudo, uma proposta de uma educação voltada para o real e plenamente determinada à modificação do sistema que segrega, depreda e reprime. Os jovens precisam ser incentivados a compreender os problemas sociais e ambientais de seu ambiente de vivência. Este objetivo só é possível a partir do momento em que eles são levados a questionar a realidade que os cerca. A defesa do ambiente e o desenvolvimento de uma consciência ecológica na escola passam por um processo de busca de uma escola de qualidade voltada para a compreensão do real e intimamente ligado a um entendimento crítico da realidade. O estímulo ao desenvolvimento desta consciência se dá a partir de propostas pedagógicas engajadas e comprometidas com a sociedade. É extremamente importante fazer da escola um ambiente de ideários voltados para concretização da democracia e da cidadania. A cidadania ambiental passa pela defesa do ser humano no sentido pleno e na concretização de um mundo justo. A educação é um fator de desenvolvimento da consciência ecológica e faz parte de um processo de concretização de valores éticos que se refletem num processo de luta pela dignidade do ambiente e por um mundo melhor. Antes de tudo, é necessário amor, ação e luta, na certeza de que o ambiente que nos cerca é nossa morada e de que a justiça social deve ser privilégio de todos, indistintamente. Modificado de Francisco Djacyr de Souza em Mundo Jovem (104) junho/2003. Educação Ambiental e Cidadania As árvores são derrubadas, a fauna sacrificada ou o meio ambiente poluído por desconhecimento de nossa espécie dos impactos dessas ações sobre a natureza. A falta de conhecimento, assim como a falta de consciência ambiental são grandes responsáveis pelas destruições ambientais. Mas não é só isso. O meio ambiente é destruído, também –e principalmente – devido ao atual estágio de desenvolvimento existente nas relações sociais de nossa espécie. Certos caçadores e desmatadores, por exemplo, possuem muito mais conhecimentos sobre ecologia, natureza e a vida silvestre que muitos ecologistas, mas usam esses conhecimentos para destruir e matar. Na década de 70, governos internacionais preocupados com a rápida destruição dos recursos naturais e a poluição do planeta, defenderam a tese do crescimento zero, ou seja, congelar os níveis de progresso à época. Ora, por diversas vezes durante nossa história econômica, o Brasil teve crescimento abaixo de zero, portanto negativo, e nem por isso viu diminuído seus problemas ambientais, muito pelo contrário. Devido à crise econômica, as empresas investiram menos em controle de poluição. A destruição da natureza não resulta da forma como nossa espécie se relaciona com o planeta, mas da maneira como se relaciona consigo mesma. Ao desmatar, queimar, poluir, utilizar ou desperdiçar recursos naturais ou energéticos, cada ser humano está reproduzindo o que aprendeu ao longo da história e cultura de seu povo. Portanto, a ação destruidora não é um ato isolado de um ou outro indivíduo, mas reflete as relações culturais, sociais e 41 tecnológicas de sua sociedade. Então, é impossível pretender que seres humanos explorados, injustiçados e desprovidos de seus direitos de cidadãos consigam compreender que não devam explorar outros seres vivos, como animais e plantas, considerados inferiores pelos humanos. A atual relação de nossa espécie com a natureza é apenas um reflexo do atual estágio de desenvolvimento das relações humanas entre nós próprios. Vivemos sendo explorados, achamos natural explorar os outros. Não há educação ambiental sem participação política. Logo, não é de estranhar que os governos até hoje não tenham conseguido estabelecer diretrizes e investir realmente em educação ambiental, pois é impossível estimular a participação mas não garantir os instrumentos, direitos e acesso à participação e interferência nos centros de decisão. Não é à toa que os Conselhos de meio ambiente, nas diversas esferas do governo, onde se prevê a participação direta da sociedade civil, funcionam ainda tão precariamente, isso quando conseguem funcionar. O ensino sobre o meio ambiente deve contribuir principalmente para o exercício da cidadania, estimulando a ação transformadora, além de buscar aprofundar os conhecimentos sobre as questões ambientais de melhores tecnologias, estimular mudança de comportamentos e a construção de novos valores éticos menos antropocêntricos. A educação ambiental é fundamentalmente uma pedagogia de ação.Não basta se tornar mais consciente dos problemas ambientais sem se tornar também mais ativo, crítico participativo. Em outras palavras, o comportamento dos cidadãos em relação ao seu meio ambiente, é indissociável do exercício da cidadania. Como Fazer Educação Ambiental Vilmar Berna Vertentes contemporâneas em Educação Ambiental A Educação Ambiental, em seu processo de institucionalização, vem ganhando cada vez mais visibilidade e adesão nos diversos setores da sociedade. Contudo, devemos estar atentos para o fato de que não existe uma uniformidade entre as propostas educativas na área ambiental. Segundo Carvalho, a Educação Ambiental vem sendo associada “a diferentes matrizes de valores e interesses, gerando um quadro bastante complexo de educações ambientais com orientações metodológicas e políticas bastante variadas” (1998, p. 11). Mas apesar da existência desse complexo quadro de orientações teóricas e metodológicas, podemos considerar que dentro dele predominam três linhas que orientam as práticas da Educação Ambiental: uma conservacionista, outra comportamental e, ainda, uma outra socioambiental. Chamamos a atenção para o fato de ser essa divisão um esforço de esclarecimento didático. Podemos encontrar em alguns projetos em Educação Ambiental conjugações, sobreposições, mesclas entre as diferentes vertentes. Em alguns outros podemos, inclusive, sentir dificuldades em categorizá-los. Importa, contudo, que essa categorização permite-nos vislumbrar algumas tendências contemporâneas no campo da Educação Ambiental. Sendo assim, ela nos parece importante de ser estudada. Ao nos depararmos com essas três vertentes, cabe-nos mostrar alguns aspectos concernentes a cada uma delas. Sem dúvida, cada uma dessas vertentes associa-se a uma concepção de meio ambiente, compreendendo distintamente as relações que diferentes seres humanos podem vir a estabelecer com o mesmo. 42 Conservacionismo: meio ambiente como sinônimo de “natureza” A concepção de meio ambiente foi associada, em sua origem, apenas aos elementos naturais, como conseqüência de um sistema de idéias que não considera os seres humanos como parte da natureza. É essa concepção naturalista ou ecologizada de meio ambiente que vem embasando a vertente conservacionista da Educação Ambiental. Na visão de Brügger, a educação conservacionista é: “aquela cujos ensinamentos conduzem ao uso racional dos recursos naturais e à manutenção de um nível ótimo de produtividade dos ecossistemas naturais ou gerenciados pelo homem” (1994, p. 35). A linha conservacionista ainda é uma forte tendência dentro das práticas educativas relacionadas à Educação Ambiental, principalmente nos países do chamado Primeiro Mundo, como os Estados Unidos, Canadá, Austrália e países europeus. Ela está baseada numa concepção em que o meio ambiente é tomado como sinônimo de natureza, em que o componente humano é percebido em oposição ao meio natural. Dessa forma, existe uma tendência a se considerar, de forma negativa, a influência dos seres humanos sobre a natureza. E, nesse caso, o homem é visto, basicamente, como o responsável pela destruição e pelo uso indiscriminado dos recursos naturais. Para reverter tal situação, a educação conservacionista propõe a promoção de uma reintegração dos humanos ao seio da natureza e, para isso, são incentivadas as práticas pedagógicas que levam a um contato direto com a natureza, como, por exemplo, aulas extraclasse em parques, florestas e praias. Como conseqüência, as práticas educativas conservacionistas estão direcionadas, prioritariamente, para os aspectos ecológicos da questão ambiental, reduzindo-a ao ensino da Ecologia e da preservação da natureza. Nesse contexto, os aspectos socioculturais e político-econômicos são pouco ou nada considerados. A linha conservacionista faz uma forte crítica ao antropocentrismo, propondo a adoção de uma ética biocêntrica nas práticas educativas, isto é, uma ética que considere de forma igual todos os elementos vivos do planeta. Segundo os educadores conservacionistas: Somente quando o entendimento e a consciência ecológica estiverem se espraiado em nossa cultura, a ética biocêntrica poderá surgir como uma conseqüência natural e psicologicamente necessária em nossa sociedade. O conceito básico da Ecologia estabelece que os seres naturais não humanos – solo, água, plantas e animais – são membros de uma comunidade natural da qual todos nós participamos e dependemos para sobreviver. Quando esse conceito básico de Ecologia estiver presente em todos os níveis da educação, desde as histórias e canções no jardim de infância até as teorias matemáticas, ciências e filosofia na universidade, a ética biocêntrica será transformada em realidade (Callicot, 1988, p. 237. Tradução de Isabel Carvalho). O apelo por uma outra ética, contudo, não superou a lógica dicotômica que separa os seres humanos da natureza mas, ao contrário, revelou a outra face dessa mesma moeda. Para o conservacionismo é a natureza que se situa acima do homem, visto como seu destruidor, e por esse motivo acredita-se que, enquanto ele não tiver conhecimento e consciência sobre o valor que a natureza possui, deve ser mantido afastado dela. Aqui percebemos, claramente, que a proposta conservacionista está intimamente associada ao dualismo cartesiano, apesar de pretender superar a ética antropocêntrica, pois continua considerando a sociedade e a natureza separadamente. Nessa perspectiva, diz-se que o ser humano está destruindo a natureza e não se fala em modo de produção. Ao se generalizar a responsabilidade sobre a destruição da natureza, são encobertas questões importantes que devem ser consideradas numa análise mais aprofundada, como, por exemplo: quais são os segmentos sociais diretamente responsáveis por essa 43 destruição? Quem está ganhando com isso? E, por outro lado, quem perde e por que está perdendo? As práticas educativas propostas pela educação conservacionista não são capazes de esclarecer que a questão ambiental compreende uma complexidade de causas que não ocorrem somente na relação entre sociedade e natureza. Antes de tudo, essas causas têm origem no seio da própria sociedade, que é permeada por muitos conflitos de interesses. E a crise ambiental nada mais é do que o resultado desses conflitos. No entanto, a educação conservacionista é norteada por uma visão romântica, que prega a harmonia entre homem e natureza sem considerar os conflitos e interesses presentes na sociedade. É como se a selva representasse o paraíso e as culturas primitivas fossem um modelo ideal de relação com a natureza. Os conservacionistas acreditam que o contato com a natureza e a compreensão dos seus processos produzem um sentimento de amor em relação ao mundo natural e que, portanto, quem ama preserva. Essa visão simplista encontra muitos adeptos e vem embasando inúmeras práticas de Educação Ambiental, inclusive no Brasil e demais países do Terceiro Mundo. Nesses países, apesar de existirem graves questões sociais, com freqüência são desenvolvidos projetos que não incluem o contexto sociocultural em suas abordagens. Assim, as práticas educativas conservacionistas dificilmente produzem transformações mais profundas e permanentes no público beneficiário de suas ações, pois elas estão baseadas numa visão da realidade romântica, ingênua e descompromissada. Referências: BRÜGGER, Paula. Educação ou adestramento ambiental? Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1994. CALLICOT, J. Baird; SHANER, David Edward. In defense of the land ethic: essays in environmental philosophy. New York: State University of New York Press, 1989. CARVALHO, Isabel. As transformações na cultura e o debate ecológico: desafios políticos para a educação ambiental. In: NOAL, Fernando Oliveira (Org.); REIGOTA, Marcos (Org.); BARCELOS, Valdo Hermes. A proposta comportamental A abordagem comportamentalista apresenta várias características, entre elas - segundo Loureiro (2005) - estão: “compreensão naturalista e conservacionista da crise ambiental; educação entendida em sua dimensão individual, baseada em vivências práticas; o foco na redução do consumo de bens naturais, descolando essa discussão do modo de produção que a define e situa; baixa problematização da realidade e pouca ênfase em processos históricos.” Para entendermos melhor essa linha da Educação Ambiental, apresentamos, a seguir um texto, adaptado de um artigo de Fernando Jaeger Soares, intitulado “Caminhos para o desenvolvimento da sensibilidade ambiental: uma incursão sobre as evidências” . “Uma das dúvidas mais freqüentes nas escolas e que alguns alunos às vezes perguntam é: para que me serve saber isso? Ou ainda: onde é que eu vou usar isso na minha vida? Costumo responder estas perguntas com uma estória, que aqui servirá também para iniciar a minha argumentação sobre a educação pela experiência, e evidenciar o potencial ambientalmente educador das atividades que ocorrem fora da escola, em ambientes silvestres, em trilhas, acampamentos, museus, fábricas, enfim, em todo lugar que não seja a escola 44 propriamente dita, pois ela, em sua estrutura, ainda que se esforce para ser rica em experiências, pode tornar-se tediosa diante da vida lá fora. Há 19 anos atrás, tive a oportunidade de participar de um curso de Biologia Marinha para crianças, no Centro de Estudos Limnológicos e Marinhos da UFRGS (Ceclimar) em Imbé, RS. Não sabia que a visita a um caranguejal estava incluída no programa. Não sabia ainda que lá, enquanto centenas de caranguejos eriçavam suas garras ameaçadoras, teríamos que pegá-los não com as mãos, mas com os pés, e absolutamente descalços. Isto faz parte da técnica de coleta, já que esses animais são muito ágeis e não dá tempo de se abaixar para pegá-los com as mãos sem que fujam. (...) Voltei daquele programa sabendo mais sobre a vida marinha, mais sobre os caramujos e as tatuíras, mas, muito mais do que isso, voltei com uma visão diferente e uma sensibilidade enriquecida. Nunca mais precisei pegar caranguejo com o pé, ou explicar como os moluscos bivalves se alimentam, ou porque a tatuíra se enterra de costas, mas aprendi a caminhar na areia da praia de uma maneira diferente, acompanhado de toda aquela sabedoria. Então para que serviu? Onde é que vou usar? Seria mais difícil responder onde é que não vou usar isso ou para o que não me serviria. Afinal, aquela simples experiência, contida em um currículo sobre animais bentônicos, tem influenciado toda a minha práxis de professor. Não consigo menosprezar a experiência e acredito que é justamente a experiência significativa que desperta a criatividade, a cognição, a aprendizagem que tanto prezamos em nossos alunos. Experiências como estas muitas crianças vivem ao longo de suas vidas, porém surpreendentemente elas não são freqüentes na escola. Ao menos não como poderiam, já que a escola e os projetos curriculares continuam com sua ênfase na razão, como se viver fosse somente racionalizar. (...) Hoje existem hipóteses que tentam explicar os benefícios deste tipo de abordagem. Em McKenzie (2000) encontramos alguns pontos de partida que experimentalmente identificam diversas variáveis influentes da experiência em si. Por exemplo: vivenciar um ambiente no qual o aluno não está familiarizado causa um estado de dissonância que gera uma ansiedade construtiva diante do risco e do desconhecido. Há muitos elementos descritos na experiência acima que causam ansiedade e, nestas circunstâncias, caberia ao professor equalizar este efeito de maneira que permaneça construtivo e prazeroso. (...) Hoje sabemos que a cognição se constrói, impreterivelmente, sob a razão e a emoção. Não há como separá-las, como operá-las de maneira distinta (Maturana, 2001). No entanto, o universo escolar, com raras exceções no Ensino Infantil, parece desconhecer esta natureza e permanecer perpetuamente focalizado na informação, na razão. Não há dúvida de que a estrutura do sistema escolar como se apresenta hoje dificulta uma educação que priorize a experiência ou que, no mínimo, a considere de igual para igual com a informação. Felizmente, existem saídas promissoras para isso, sobretudo no campo da Educação Ambiental. (...) Precisamos considerar que, assim como qualquer expressão do comportamento humano, a sensibilidade ambiental tem suas origens histórico-genéticas e histórico ambientais. Ou seja, tem influências de dentro para fora, e de fora para dentro. Para Platão, todo o conhecimento e toda virtude humana eram inatos. Em outras palavras, somos o que nascemos para ser. Em contraste, John Locke, filósofo inglês do século XVII, propôs que uma criança recém-nascida é como um bloco de ardósia em branco, liso, onde a experiência de vida imprime suas mensagens. Hoje, a ciência comprova que tanto a hereditariedade quanto todas as nossas experiências ao longo do nosso desenvolvimento, desde o ambiente pré-natal, nos tornam o que somos (Glassman, 1995). (...) Mas para simplificar a reflexão e a abordagem prática, vou simplesmente desconsiderar aqui o que a genética tem para dizer, o que não significa que estou eliminando a sua relevância no tema. Vou apenas me concentrar nas experiências vividas que contribuem 45 para a formação da sensibilidade ambiental, considerando ainda que estas experiências estejam imbricadas na cultura do educando desde a concepção. (...) São incontáveis os programas de Educação Ambiental e as campanhas de conscientização da população sobre o lixo, sobre a economia de energia, sobre o consumo sustentável de água, que incluem no currículo atividades ou estratégias de sensibilização ambiental. Parece ser do senso comum que precisamos fazer alguma coisa para nos sensibilizar em relação ao meio ambiente, isto é, que precisamos demonstrar sensibilidade à sujeira nas ruas e nos rios, ao barulho e ao fedor dos ambientes que criamos e nos quais vivemos. Não obstante, precisamos ter sensibilidade à morte de animais silvestres ou, para ser mais abrangente, à perda da biodiversidade como um todo. O Levantamento Nacional de Projetos de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (1997) registrou que daqueles projetos cujo eixo principal era a Educação Ambiental, isto é, projetos de Educação Ambiental e não projetos que continham simplesmente Educação Ambiental como um de seus ramos, 39,8% caracterizavam-se como sendo projetos de sensibilização do público em geral. Como educadores julgamos que esta ou aquela atividade possa operar como um sensibilizador, isto é, lançamos mão de alguma atividade que acreditamos ter um potencial sensibilizador. A esta chamamos de atividade de sensibilização. Para um ou outro educador pode ser simplesmente fazer com que todo mundo se abrace na sala, pode ser colher flores e observar quão belas são, pode ser caminhar na beira do rio e não fazer nada, pode ser visitar o lixão ou o zoológico, pode ser tirar os sapatos e as meias diante de gente que a gente nunca viu. Mas o que torna uma pessoa mais ambientalmente sensível do que outra? Porque para uns é tão fácil simplesmente ignorar a poluição enquanto que para outros parece ser tão agressivo? O que nos torna insensíveis então? Não sabemos. Ao menos não sob o ponto de vista das explicações científicas. Claro que respostas a estas perguntas abrandariam significativamente as dificuldades de criarmos ambientes curriculares eficientes para a Educação Ambiental. Isto porque a sensibilidade ambiental parece ser um dos principais pré-requisitos para o comportamento ecologicamente responsável. Em outras palavras, pessoas ambientalmente sensíveis, afetuosas à natureza estão em uma condição mais propícia para o desenvolvimento de sua cidadania ambiental, ou possuem a predisposição necessária para o aprender e o educar-se à cerca das questões ambientais, conforme Hungerford e Volk, (1990). Para estes autores, a sensibilidade ambiental é a porta de entrada para uma vida ecologicamente correta (...)”. Referências BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal. I Conferência Nacional de Educação Ambiental. Relatório do Levantamento Nacional de Projetos de Educação Ambiental. Brasília. 1997 CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas – ciência para uma vida sustentável. São Paulo: Cultrix, 2002. FEDRIZZI, Beatriz Maria. Improving Public Schoolyards in Porto Alegre. Alnarp: Swidish University of Agricultural Sciences, 1997. GLASSMAN, William E. Approaches to Psychology. 2a ed. Philadelphia: Open University Press,1995. HUNGERFORD, Harold, R. & VOLK, Trudi L. Changing Learner Behavior Through Environmental Education. The Journal of Environmental Education, v.21, n.3, p.8-21, 1990. 46 GRANT. Tim & LITTLEJOHN, Gail. Greening School Grounds: creating habitats for learning. Toronto: New Society Publishers, 2001. MATURANA, Humberto. Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. Belo Horizonte: UFMG, 2001. McKENZIE, Marcia D. How are Adventure Education Program Outcomes Achieved?: a review of the literature. Australian Journal of Outdoor Education, v.5, n.1, p.19- 28, 2000. RAFFAN, James. Nature Nurtures: investigating the potential of school grounds. Toronto: Evergreen, 2000. SOARES, Fernando. J. Caminhos para o desenvolvimento da sensibilidade ambiental: uma incursão sobre as evidências. Projeto-Revista de Educação, n.8. Porto Alegre: Projeto, 2004. LOUREIRO, Carlos Frederico. Complexidade e dialética: contribuições à práxis política e emancipatória em educação ambiental. Educação e Sociedade, vol.26 no.93. Campinas: sept./dec. 2005. A proposta socioambiental Apesar de ainda vigente em nossa sociedade, a concepção ecologizada de meio ambiente vem cedendo espaço a uma concepção mais ampla, de tendência socioambiental. Nessa concepção, o meio ambiente é considerado a partir das dinâmicas das interações sociedade/natureza, sendo concebido como o espaço habitado pelo homem e do qual ele também é parte integrante. Portanto, na vertente socioambiental o meio ambiente é percebido dinamicamente, como um produto gerado e construído pela sociedade ao longo do processo histórico de ocupação e transformação do espaço. As práticas educativas resultantes dessa vertente priorizam a abordagem dos aspectos socioculturais e político econômicos inerentes à questão ambiental, buscando o desenvolvimento de uma consciência ecológica crítica, comprometida com a realidade vivida. Ao evidenciar as causas da problemática ambiental e não apenas se deter em suas conseqüências, a Educação Ambiental implica mudança de valores e uma nova visão de mundo, ultrapassando, em muito, o universo meramente conservacionista. A vertente socioambiental não contradiz a conservacionista. Ao contrário, ela a incorpora, uma vez que as idéias sobre conservação e preservação da natureza não são descartadas pela linha socioambiental. Elas também fazem parte do seu ideário, contudo estão sempre articuladas ao contexto social, econômico e cultural do qual fazem parte A Educação Ambiental, ao incluir a dimensão social em sua abordagem, passa a considerar os processos participativos como aspectos fundamentais em suas práticas educativas. Segundo a educadora Isabel Carvalho: “É preciso situar a Educação Ambiental dentro de uma matriz que considere as relações sociais e ambientais sob o primado da política. Isto significa considerar o meio ambiente como um espaço físico e simbólico em disputa, habitado pelos atores que estão envolvidos no uso e na gestão dos recursos e atravessado pelas relações de força que configuram as diferentes situações de acesso ou inacesso aos recursos. 47 É nessa esfera que a Educação Ambiental, como qualquer outra prática social, pode se articular aos atores da democratização na construção de novas bases éticas, políticas e ambientalmente sustentáveis para as interações entre sociedade e natureza” (1995, p. 60). Dessa forma, podemos concluir que a Educação Ambiental deve estar voltada, prioritariamente, para a construção da cidadania. Segundo os técnicos José Quintas e Maria Gualda, do Ibama, ela deve estar voltada para a gestão ambiental, criando as condições para: “a participação dos diferentes segmentos sociais, tanto na formulação de políticas públicas para o meio ambiente quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do meio natural, social e cultural” (1995, p. 28). Para que esses objetivos sejam alcançados, os autores propõem as seguintes premissas básicas para a Educação Ambiental: — biossociodiversidade: o reconhecimento e o respeito à biossociodiversidade compreendem a apreensão e a consideração das condições socioeconômicas, dos diversos saberes e linguagens, das especificidades culturais, e das prioridades, interesses e necessidades das comunidades envolvidas, para a contextualização das ações e atividades que se pretende desenvolver em Educação Ambiental; — interdisciplinaridade: frente à complexidade do meio ambiente, se faz necessária a contribuição das diversas áreas da ciência no sentido de que cada uma, dentro de suas especificidades, possa contribuir para uma visão mais abrangente e integrada das questões ambientais tratadas; — participação: para que a participação seja atingida no processo educativo, o educador deve adotar uma postura de diálogo, abrindo-se à interação com seu público-beneficiário, reconhecendo-o como sujeito do conhecimento. Trata-se de um confronto criativo, em que o educador pode facilitar a participação dos demais membros da comunidade na prática e na reflexão sobre as questões ambientais. Por meio dessa abordagem, diferentes saberes, motivações e interesses são contemplados nas práticas educativas; — descentralização: além de aglutinar os diferentes órgãos públicos, as ações de Educação Ambiental necessitam estar em articulação com os movimentos sociais, sejam os locais ou os que atuam num universo mais amplo, como o país ou outras partes do planeta, de maneira a potencializar os resultados dos esforços realizados na busca de maior qualidade de vida. Para Enrique Leff, “na Educação Ambiental confluem os princípios da sustentabilidade, da complexidade e da interdisciplinaridade” (1999, p.123), e sendo assim ela adquire: “um sentido estratégico na condução do processo de transição para uma sociedade sustentável. Trata-se de um processo histórico que reclama o compromisso do Estado e da cidadania para elaborar projetos nacionais, regionais e locais” (1999, p.128). Referências CARVALHO, Isabel. Movimentos sociais e políticas de meio ambiente: a educação ambiental aonde fica? In: SORRENTINO, Marcos (Org.); TRAJBER, Rachel (Org.); BRAGA, Tania (Org.). Cadernos do III Fórum de Educação Ambiental. São Paulo: Gaia, 1995. 48 GUIMARÃES, Mauro. Educação Ambiental. Duque de Caxias: Ed. Unigranrio, 2000. LEFF, Enrique. Educação ambiental e desenvolvimento sustentável. In: REIGOTA, Marcos (Org.). Verde cotidiano: o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. QUINTAS, José Silva; GUALDA, Maria José. A formação do educador para atuar no processo de gestão ambiental. Meio Ambiente em Debates, 1. Brasília: Ibama, 1995. LAYRARGUES, Philippe P. A resolução de problemas ambientais locais deve ser um temagerador ou a atividade fim da educação ambiental? In: REIGOTA, Marcos (Org.). Verde Cotidiano: o meio ambiente em discussão. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. Fonte: SENAC. Educação Ambiental, Temas teoria e prática. Rio de janeiro: Centro de Produção de Rádio e Televisão. E-Book. 2007. p. 246 – 257. 49 ANEXO C – Ficha avaliativa dos professores Justificativa Local Duração Tema Material Café manhã Almoço Lanche Acolhida Atividade x Atividade y Atividade z Dinâmica a Dinâmica b Dinâmica c Encerramento Legenda: - Ruim - Bom - Excelente Como você avalia a sua participação na oficina? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ De 6 a 10 como você avalia a nossa primeira oficina? _______ Sugestões: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 50 ANEXO D – Ficha avaliativa da equipe executora: Justificativa Planejamento Participação Organização do espaço Condução das atividades Acolhida Atividade x Atividade y Atividade z Dinâmica a Dinâmica b Dinâmica c Encerramento Legenda: - Ruim - Bom - Excelente Observações: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ De 6 a 10 como você avalia a nossa primeira oficina? _______