11 DANIELA DADALTO AMBROZINE MISSAWA O JOGO
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11 DANIELA DADALTO AMBROZINE MISSAWA O JOGO
11 DANIELA DADALTO AMBROZINE MISSAWA O JOGO MANCALA COMO INSTRUMENTO DE AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DAS DIFICULDADES DE ATENÇÃO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia, sob a orientação da Prof.ª Drª Claudia Broetto Rossetti. CAPES UFES, Vitória, Junho de 2006 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA O JOGO MANCALA COMO INSTRUMENTO DE AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DAS DIFICULDADES DE ATENÇÃO Daniela Dadalto Ambrozine Missawa CAPES Vitória 2006 O JOGO MANCALA COMO INSTRUMENTO DE AMPLIAÇÃO DA COMPREENSÃO DAS DIFICULDADES DE ATENÇÃO DANIELA DADALTO AMBROZINE MISSAWA Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia. Aprovada em 17/07/2006, por: ______________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Claudia Broetto Rossetti – Orientadora - UFES ______________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria Thereza Costa Coelho de Souza - USP ______________________________________________________________ Prof. Dr. Sávio Silveira de Queiroz - UFES AGRADECIMENTOS À Deus, em primeiro lugar, pois é o Autor da minha vida, que me dá forças para continuar a caminhar; À minha mãe, Angelina, pelo esforço e dedicação durante todos esses anos para me dar condições de poder chegar até aqui; Aos meus avós pelo exemplo de honestidade, honradez e luta na conquista dos seus ideais; À Pedro, meu querido, pelo incentivo, amor, pela presença nos momentos de fragilidade e por ter participado ativamente na conclusão desse trabalho; À Marilda e Mere pelas orações e pelo cuidado comigo e com o Pedro; À Claudia, minha orientadora, pela paciência e dedicação com que orientou os meus passos até aqui; À Carol e Miriam pelo apoio na coleta e tabulação dos dados; À CAPES pelo incentivo financeiro, por meio de bolsa, fornecido no primeiro ano de participação no PPGP – UFES. Não há aqui espaço suficiente para falar de todas as pessoas que contribuíram e ainda contribuem para o meu crescimento pessoal e profissional. Gostaria de deixar então um agradecimento a todos que fizeram e fazem parte da minha vida e dizer que serei eternamente grata a todos que um dia importou-se com o meu bem-estar e com a minha formação enquanto pessoa. RESUMO As dificuldades de atenção constituem um tema largamente estudado no decorrer da História. Essas dificuldades têm recebido denominações como: Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA). Torna-se relevante a produção de conhecimento acerca dessas dificuldades no campo da Psicologia, pois grande parte do que foi produzido encontra-se relacionado às bases biológicas desse fenômeno. É importante analisar o papel dos jogos de regras como recursos que auxiliem na avaliação e intervenção dessas dificuldades. O objetivo deste trabalho é pesquisar a possibilidade de utilização de um jogo de regras como instrumento de observação dessas dificuldades, por meio do estudo comparativo do desempenho no jogo Mancala de crianças com e sem dificuldades de atenção. Participaram desse estudo quatro crianças, entre nove e 11 anos (três meninos e uma menina), três crianças estavam cursando a 4ª série e uma a 3ª série do Ensino Fundamental à época em que ocorreu a pesquisa. A escolha foi realizada por indicação de uma das professoras das crianças, sem determinação de gênero. Foram aplicadas: Escala de TDAH – versão para professores e Tabela de Diagnóstico de TDAH- versão para pais. Foram escolhidos nomes fictícios para os participantes e estes foram divididos em dois grupos: Grupo A (André e Antônio) – apresentavam traços de dificuldade de atenção, e não estavam tomando medicamento específico e Grupo B (Beatriz e Bruno) – não apresentavam traços dessa dificuldade. O jogo Mancala foi utilizado como instrumento para coleta dos dados. Estes foram coletados por meio de dez oficinas (50 partidas) que ocorreram na escola. Cada sujeito jogou 20 partidas (5 partidas por oficina). Após as oficinas quatro situações-problema foram apresentadas para cada criança separadamente. Os dados obtidos foram assim analisados: desempenho no decorrer das oficinas (vitórias) e condutas de desatenção às regras do jogo. Considerou-se conduta de desatenção: a) não jogar novamente quando a última semente da distribuição caía no oásis (CDT -1) e b) não capturar as sementes do jogador adversário quando a última semente da distribuição caía em uma cavidade vazia (CDT - 2). Essas condutas são prejudiciais para que o objetivo do jogo (armazenar o maior número de sementes no oásis) seja atingido. Os resultados obtidos apontam para o fato de que há um prejuízo quanto ao desempenho nas partidas dos sujeitos do Grupo B quando comparados aos sujeitos do Grupo A, contrariando a hipótese inicial. Com relação às CDT-1 e CDT-2 as crianças do Grupo A (com dificuldades de atenção) apresentaram um número maior das mesmas quando comparadas às crianças do Grupo B (sem dificuldades de atenção). Em seguida os dados foram confrontados com alguns aspectos da teoria de Piaget, com a questão dos processos de equilibração e a função do erro. Os resultados encontrados permitem a ampliação das discussões acerca do TDAH e a relativização das limitações que as crianças com tais traços possuem. Palavras-chave: Dificuldade de atenção, TDAH, jogos de regras, Mancala, infância, Piaget ABSTRACT The difficulties to focus attention are a theme greatly studied along history. These difficulties have been named: Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), Attention Deficit Disorder (ADD). It is relevant to generate knowledge about these difficulties in the Psychology field because great part of the studies is related to the biological facts of this phenomenon. It is relevant to analyze the role of rule games as a resource to help the evaluation and interference of theses difficulties. The objective of this work is to research the possibility of the use of a rule game as an observation instrument through a comparative study of the performance of children with or without attention disorder, in the Mancala board game. Four children, raging from nine to eleven years old, took part in the study (three boys and one girl). Three children were in the 4th and one in the 3rd grade of elementary school when the research took place. The choice was made by one of the class teacher regardless of gender. It was applied in the scale of ADHD – version for teachers and Table for diagnoses of ADD- version for parents. Ficticious names were choosed to the participants and they were split into two groups: Group A - André and Antônio who showed some signs of attention deficit, but not taking specific medication and Group B- Beatriz and Bruno who didn’t show any sign of deficit. The game Mancala used as an instrument to collect data which were gathered through 10 workshops (50 matches) and took place at the children’s own school. Each individual played 20 matches (five in each workshop). After the workshops four problem-situations were presented for each child separately. The data collected were analyzed: the performance along the workshop (winning) and lack of attention behavior to the rules of the game. The following were considered non-attention behavior: a) not playing again when the last seed of the distribution falls on the oasis (NAB-1), and b) not capturing the seed of the opponent when the last seed of the distribution falls in the in an empty hole (CDT-2). These behaviors are harmful for the goal of the game (gather the greatest number of seed in the oasis) is achieved. The results gained points to the fact that there is a loss concerning the performance of the individuals of Group B when compared the performance of the individuals of Group A, going against the initial hypotheses. In relation to CDT-1 and CDT-2 the children from Group A(with deficit of attention) have shown a greater number compared to the children from Group B (without deficit of attention). Than the data was checked against some aspects of Piaget’s Theory concerning the process of balancing and the function of the error. The results found allow broader discussing about ADHA and related limitation the children, with these traces, have. Key-words: Deficit of attention, ADHD, rule games, Mancala, childhood, Piaget. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Número total de vitórias, derrotas e empates por participante ................60 Gráfico 2 - Desempenho do participante André (Grupo A) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................62 Gráfico 3 - Desempenho do participante Antônio (Grupo A) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................63 Gráfico 4 - Desempenho do participante Bruno (Grupo B) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................65 Gráfico 5 - Desempenho da participante Beatriz (Grupo B) com relação à experimentadora e aos demais participantes. ...........................................................67 Gráfico 6 - Vitórias, derrotas e empates dos Grupos A e B.......................................69 Gráfico 7 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por participante .....................71 Gráfico 8 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por grupo. .............................74 Gráfico 9 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por participante. ....................75 Gráfico 10 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por grupo. ...........................77 Gráfico 11 – Número de questões corretas e incorretas por sujeito..........................81 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Critérios Diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) ..............................................................................................23 Quadro 2 - História de Pedro – Forma de Explicação do TDAH para Crianças .......26 Quadro 3 - Resumo do Desenvolvimento Cognitivo e Afetivo......Erro! Indicador não definido. Quadro 4 - Divisão dos Participantes por Grupos .....................................................51 Quadro 5 - Percentis de cada participante na escala de TDAH – Versão para Professores ...............................................................................................................55 Quadro 6 - Etapas da Coleta de Dados ....................................................................56 Quadro 7 - Número total de vitórias, derrotas e empates por participante ................59 Quadro 8 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por participante....................72 Quadro 9 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por grupo. ............................73 Quadro 10 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por participante. .................75 Quadro 11 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por grupo. ..........................76 Quadro 12 - Questões corretas e incorretas de cada indivíduo nas situaçõesproblema ...................................................................................................................79 Quadro 13 – Número de questões corretas e incorretas por sujeitos nas situaçõesproblema ...................................................................................................................80 Quadro 14 - Situação-problema I ..............................................................................81 Quadro 15 - Situação-problema II .............................................................................82 Quadro 16 - Situação-problema III ............................................................................83 Quadro 17 - Situação-problema IV............................................................................85 Quadro 18 – Número de questões corretas e incorretas dos grupos A e B ..............87 LISTA DE SIGLAS TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade DDA – Distúrbio do Déficit de Atenção CID-10 - Classificação Internacional de Doenças DSM-IV - Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais CDT-1 – Conduta de Desatenção Tipo 1 CDT-2 – Conduta de Desatenção Tipo 2 FG – Freqüência Geral SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO .............................................................................................12 2. O CONCEITO DE ATENÇÃO............................................................................15 3. DIFICULDADES DE ATENÇÃO NO CONTEXTO ATUAL................................18 3.1. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DO TDAH............................................20 3.2. ALTERNATIVAS TRADICIONAIS PARA O TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM TDAH ...............................................................................................................27 3.3. O TDAH E A SOCIEDADE.................................................................................30 4. TEORIA PIAGETIANA, COGNIÇÃO E JOGOS DE REGRAS..........................33 4.1. CONCEITOS BÁSICOS PARA ENTENDER PIAGET .......................................33 4.2. O LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO NA TEORIA PIAGETIANA ...................41 4.3. O JOGO MANCALA, A ATENÇÃO E A CONCENTRAÇÃO ..............................44 5. POSIÇÃO DO PROBLEMA...............................................................................48 5.1. OBJETIVO GERAL ............................................................................................48 5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..............................................................................48 6. MÉTODO ...........................................................................................................50 6.1. 6.2. 6.3. 6.4. PARTICIPANTES...............................................................................................50 INSTRUMENTOS ..............................................................................................51 PROCEDIMENTOS ...........................................................................................53 AVALIAÇÃO ÉTICA DE RISCOS E BENEFÍCIOS.............................................57 7. RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................58 7.1. ANÁLISE DO DESEMPENHO E DAS ESTRATÉGIAS NO DECORRER DAS PARTIDAS ................................................................................................................59 7.1.1. Desempenho do Participante André.........................................................61 7.1.2. Desempenho do Participante Antônio (Grupo A)......................................63 7.1.3. Desempenho do Participante Bruno (Grupo B) ........................................65 7.1.4. Desempenho da Participante Beatriz (Grupo B).......................................66 7.1.5. Desempenho dos Grupos A e B ...............................................................68 7.2. ANÁLISE DAS CONDUTAS DE DESATENÇÃO ...............................................70 7.3. ANÁLISE DA RESOLUÇÃO DAS SITUAÇÕES-PROBLEMA............................78 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................89 9. REFERÊNCIAS .................................................................................................93 APÊNDICE I – Quadro de Características do TDAH para Entrevista com os Pais ...........................................................................................................................97 APÊNDICE II - Protocolo de instrução padrão para apresentação do jogo Mancala aos participantes da pesquisa ................................................................98 APÊNDICE III – Protocolo de Registro de Jogadas por Partida ........................100 APÊNDICE IV: Respostas dadas pelos participantes às Situações-problema propostas ...............................................................................................................101 APÊNDICE V – Modelo de Termo de Consentimento dos Participantes da Pesquisa.................................................................................................................105 12 1. APRESENTAÇÃO As dificuldades de atenção têm sido estudadas e compreendidas de diversas formas no decorrer dos períodos históricos. Na atualidade, essas dificuldades têm recebido algumas denominações específicas como Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA), entre outras. As bases biológicas de tais transtornos e distúrbios têm sido largamente pesquisadas, principalmente no campo da Medicina. Por outro lado, torna-se relevante a produção de conhecimento e estratégias de intervenção que contribuam para a ampliação dos estudos acerca de tais dificuldades também no campo da Psicologia. Os jogos de regras têm recebido especial atenção no que diz respeito a uma possível contribuição para o desenvolvimento infantil saudável. A utilização de tais jogos em diversos contextos (escolar, doméstico, etc) tem sido bastante estudada pelos pesquisadores dessa área. O interesse em aliar o estudo das dificuldades de atenção aos jogos de regras adveio de uma experiência anterior com o TDAH. A participação, por um período de tempo, como auxiliar em uma pesquisa que utilizava medicamentos para observar a resposta dos pacientes diagnosticados como possuidores de TDAH suscitou diversos questionamentos, tais como: os medicamentos são a única alternativa para o tratamento do TDAH? Será que o TDAH é um transtorno apenas biológico ou é também uma produção social? Que outras alternativas podem ser construídas para a avaliação e o tratamento do mesmo? Essa experiência com o estudo do TDAH produziu inquietações e incertezas. Dessa forma, surgiu a necessidade em contribuir para a ampliação dos estudos acerca das dificuldades de atenção, principalmente em crianças. A identificação e familiaridade com o estudo dos jogos, especialmente os jogos de regras, foi a motivação para analisar o papel dos mesmos como instrumentos alternativos e potencializadores na construção dessa visão ampliada. 13 Pode-se observar, a partir de programas veiculados pela mídia, que há a necessidade em compreender de uma forma mais consistente o que vem a ser o TDAH para evitar um “diagnóstico em massa”. Os transtornos de atenção são muito complexos visto que muitas variáveis contribuem para que a criança ou o adulto seja diagnosticado como possuidora de tais características comportamentais e, além disso, algumas dessas características podem ser apresentadas, por um período de tempo determinado, devido a outros problemas enfrentados pela criança ou pelo adulto. O TDAH tem sido estudado e discutido largamente, visto que é um dos grandes problemas enfrentados por professores e pedagogos. O desconhecimento de tal fenômeno faz com que o número de crianças diagnosticadas “informalmente” como possuidoras de tal transtorno cresça consideravelmente. É importante ressaltar ainda a dificuldade encontrada pelos profissionais da educação em lidar com essas crianças em sala de aula e no convívio com os colegas, pois as escolas, geralmente, não podem contar com a estrutura transdisciplinar necessária para trabalhar com essas crianças. A introdução do presente trabalho é composta por três capítulos onde são apresentados os resultados das pesquisas acerca dos autores e das teorias que trabalham a questão das dificuldades de atenção. São eles: O conceito de atenção, Dificuldades de atenção no contexto atual e Teoria Piagetiana, Cognição e Jogos de Regras onde serão discutidas questões acerca da importância e utilização dos jogos, especialmente os jogos de regras, para o desenvolvimento infantil. O capítulo acerca do conceito de atenção tem o intuito de esclarecer os mecanismos da atenção para assim contribuir na ampliação da compreensão da mesma. O objetivo deste capítulo será o de apresentar como esse conceito tem sido estudado por diversos autores da Psicologia e da Filosofia. Em Dificuldades de atenção no contexto atual são apresentadas, as caracterizações e as diagnósticas do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), as alternativas que têm sido utilizadas no tratamento do mesmo e a relação entre o TDAH e a sociedade. 14 No capítulo acerca da teoria Piagetiana e as dificuldades de aprendizagem foram explicitados os conceitos básicos para entender a teoria de Piaget, especialmente a questão do erro e a análise dos processos cognitivos. Há ainda a descrição do Jogo Mancala que foi o jogo escolhido como principal instrumento para coleta dos dados. Nos capítulos seguintes a presente pesquisa será apresentada de forma detalhada, tanto em seus aspectos metodológicos, quanto em relação aos resultados obtidos, bem como a discussão desses. Espera-se que esse estudo contribua para que novas alternativas de avaliação das dificuldades de atenção sejam construídas, a fim de que uma análise mais complexa desse fenômeno possa ser realizada pelos profissionais que trabalham com tais dificuldades e por aqueles que desejam ampliar conhecimento acerca do mesmo. 15 2. O CONCEITO DE ATENÇÃO O fenômeno da atenção é algo complexo no qual muitas variáveis estão envolvidas. De acordo com Hallowell e Ratey (1999): O sistema atencional envolve quase todas as estruturas do cérebro, de uma forma ou de outra. Ele governa nossa consciência, nossa experiência na vigília, nossas ações e reações. É o meio pelo qual interagimos com nosso ambiente, seja esse ambiente composto de problemas de matemática, de outras pessoas ou das montanhas nas quais estamos esquiando (HALLOWELL E RATEY,1999, p.318). Dessa forma, podemos compreender a importância desse fenômeno, visto que é por meio dele que nos relacionamos com o mundo em redor. A realidade está subjugada à forma como a percebemos e a percepção possui uma íntima relação com o fenômeno atencional, pois percebemos as pessoas ou acontecimentos que nos interessam, ou seja, que “prendem” a nossa atenção. Cada pessoa direciona a sua atenção de forma particular de acordo com suas crenças, valores, cultura. Uma infinidade de estímulos está presente em um mesmo ambiente e, portanto, é necessário que os classifiquemos de acordo com nossos interesses e prioridades. A característica de seletividade da atenção torna possível esse processo fazendo com que consigamos elaborar um sistema lógico e coerente de atuação no mundo. De acordo com Machado (1993, p.198), Sabe-se que o sistema nervoso é, até certo ponto, capaz de selecionar as informações sensoriais que lhe chegam, eliminando ou diminuindo algumas e concentrando-se em outras, o que configura um fenômeno de atenção seletiva (grifo do autor). (…) Isto se faz por um mecanismo ativo, envolvendo fibras eferentes ou centrífugas capazes de modular a passagem dos impulsos nervosos nas vias aferentes específicas. William James (1842-1910), psicólogo americano, “(…) influiu amplamente sobre a psicologia, em especial como observador da vida mental e como inspiração para outros” (DAVIDOFF, 2001, p.11), pois Sua psicologia mais prática tentava captar o “temperamento” da mente em funcionamento. Ao caracterizar a consciência, usava frases como “pessoal e única”, “em mudança contínua” e “modificando-se ao longo do tempo”. Acima de tudo, achava notável como a consciência e outros processos mentais ajudam as pessoas a se ajustar a suas experiências. 16 Dentre os processos mentais estudados por James em seu compêndio The Principles of Psychology (1952), está a atenção. Os itens para os quais a atenção é direcionada são os responsáveis por modelarem a mente. Sem o interesse seletivo a consciência seria um “caos”, algo indiscriminado e, portanto, impossível à compreensão (JAMES, 1952). De acordo com Davidoff (2001) alguns fatores exercem uma importante influência no processo de atração da nossa atenção, tais como: dados novos, inesperados, intensos ou mutantes, assim como necessidades, interesses e valores individuais. Em um mesmo ambiente duas pessoas podem dirigir a sua atenção para estímulos diversos, mesmo que estes estejam ocorrendo de forma simultânea. De fato, “O que chama a atenção? Pessoas e outros animais geralmente voltam a atenção mais ao ambiente externo do que ao interno. Além disso, focalizamos as informações mais significativas (…)” (YARBUS, citado por DAVIDOFF, 2001, p.144). Dessa forma, A atenção depende de outras variáveis como a motivação, a hiperatividade, a impulsividade, o biorritmo preferencial, a presença de estímulos simultâneos, a função intraneurossensorial da figura-fundo e centroperiférica, a complexidade da tarefa, a sequencialização das operações em causa, a observância de condições que ocorreram antes e durante as situações, o tipo de reforço em causa, o nível da experiência anterior, o estado emocional do momento, etc (FONSECA, 1995, p. 254). É interessante observar a relação figura-fundo, segundo a Gestalt. Figura é tudo aquilo que está no foco da atenção em um determinado momento. Fundo é tudo que está ao redor da figura, o que pode ser chamado de plano de fundo ou plano secundário. Aquilo que é figura em um determinado momento pode se tornar fundo em outro, ou seja, a relação entre figura e fundo é dinâmica e mutável segundo as modificações pelas quais passamos sejam elas temporárias ou permanentes (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2001). Na sociedade atual existe uma infinidade de estímulos sendo apresentados de forma simultânea. A necessidade de absorver o maior número possível da informação é a máxima do nosso cotidiano. As pessoas precisam trabalhar, assistir aos telejornais, 17 ler os jornais e revistas impressos e saber o que acontece em sua comunidade ao mesmo tempo para permanecerem no “fluxo social” e não estarem à “margem da civilização”. Em nossa sociedade, A ocorrência de muitos estímulos, como acontece em muitas salas de aula – permanente barulho exterior, proximidade de recreios e ruas agitadas, várias classes a funcionar ao mesmo tempo, quadro repleto de informação visual mal-estruturada espacialmente, salas carregadas de estímulos nas paredes, ausência de rotinas etc. – tendem a desorganizar a criança. Em muitos casos, é necessário minimizar os estímulos competitivos e irrelevantes (FONSECA, 1995, p. 254). Essa infinidade de estímulos dificulta o processo de concentração da atenção em algum estímulo, especialmente para as crianças, pois começam a descobrir um mundo novo cheio de possibilidades, de novas descobertas. As crianças são impelidas a buscar e descobrir tudo aquilo que para o adulto já não é mais novidade. Segundo James (1952), nós conseguimos prestar atenção nas coisas que são de nosso interesse. Segundo o autor a atenção pode ser dividida em vários tipos: atenção sensorial (objetos dos sentidos); atenção intelectual (representação de idéias ou objetos); atenção imediata (quando o estímulo é interessante a priori, ou seja, não precisa ter relação com outra coisa qualquer); atenção derivada ou “aperceptível” (quando o estímulo se torna interessante ao estar associado à outra coisa imediatamente interessante); atenção passiva, reflexiva, não-voluntária, sem esforço e por último, atenção ativa e voluntária. Portanto, enquanto estamos em estado de vigília a nossa atenção está sendo utilizada por nós para nos relacionarmos e agirmos diante dos estímulos que chegam até nós. 18 3. DIFICULDADES DE ATENÇÃO NO CONTEXTO ATUAL No contexto atual as dificuldades de atenção têm sido abordadas de maneira bastante peculiar quando vêm associadas a outras características, tais como a impulsividade e a hiperatividade. A associação dessas três características tem sido denominada, por médicos e estudiosos, como constituinte do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). O estudo deste tem sido feito de forma sistemática, principalmente no campo da medicina, pois busca-se, prioritariamente, explicações biológicas para a compreensão de tal fenômeno. Na sociedade pós-moderna há um aumento expressivo do número de crianças que estão sendo diagnosticadas como possuidoras das características do TDAH, e, dessa forma, faz-se necessário entender a complexidade do mesmo para além de uma explicação biológica de causa-efeito. Desse modo, torna-se imprescindível a ampliação dos estudos acerca do TDAH no campo da Psicologia. A nomenclatura do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade vêm sendo modificadas desde meados do século XIX. A primeira referência foi feita com a denominação de Transtornos Hipercinéticos. A partir daí surgiram outras denominações como “lesão cerebral mínima” (década de 40) e “disfunção cerebral mínima” (1962). No entanto, as características dessa síndrome foram relacionadas menos a lesões cerebrais do que a disfunções em vias nervosas (ROHDE ET AL, 2000). No entanto, os estudos realizados nos anos 70 contribuíram de forma significativa para uma nova visão acerca do déficit de atenção (COES, 1999): (...) os problemas de atenção passaram a ser vistos como déficits de habilidade de manutenção da atenção, de habilidades de execução tais como o manejo eficiente do tempo e a organização, e de habilidades de auto-regulação do comportamento (COES, 1999, p.65). Dessa forma, os modernos sistemas classificatórios utilizados em Psiquiatria, como a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e o Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais (DSM-IV), apresentam as seguintes nomenclaturas 19 para a síndrome: Transtornos Hipercinéticos e Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), respectivamente. Apesar de utilizarem-se de nomenclaturas diferenciadas existem muitas similaridades no que diz respeito às diretrizes diagnósticas (ROHDE ET AL, 2000). De acordo com Cantwell e Copeland, citados por Coes (1999), houve uma variação significativa das explicações acerca da natureza e etiologia do problema. “No entanto, a personagem Fidgety Phil (Phil agitado), de contos infantis, criado pelo médico alemão Heinrich Hoffman, em 1848, é citado na literatura como exemplo de preocupação e familiaridade dos estudiosos da época com o problema (COES, 1999, p. 63). Figura 1 - Fidgety Phil Fonte: www.mynaleagues.com Segundo Coes (1999) o médico inglês George Still foi um dos primeiros a conceituar o déficit de atenção e de hiperatividade. O termo a que se referiu foi “déficit de controle moral” para caracterizar um grupo de crianças que apresentavam comportamentos de agressividade, de oposição e dificuldades de auto-controle. Para o médico “(...) tais comportamentos seriam resultantes de fatores biológicos herdados ou provocados por lesões, pré, peri ou pós-natais no sistema nervoso central” (COES, 1999, p.64). O TDAH recebe uma variedade de nomenclaturas de acordo com o manual adotado. No caso dessa pesquisa adotaremos os critérios utilizados pelo DSM-IV para caracterização desse transtorno, bem como os critérios que esse manual relaciona para o diagnóstico do mesmo. No entanto, em alguns momentos será necessária a alusão a nomenclaturas distintas da que o DSM-IV estabelece. Portanto, termos 20 como DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção), Hiperatividade e TDAH serão utilizados como sinônimos. 3.1. CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DO TDAH O Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade é um fenômeno complexo e de difícil diagnóstico. Para identificá-lo faz-se necessário uma avaliação minuciosa, pois os sintomas do TDAH podem ser decorrentes de comorbidades associadas ao mesmo ou até mesmo de outra síndrome. O diagnóstico da hiperatividade não pode ser baseado em estudos superficiais e fatos isolados encontrados no decorrer do estudo do caso da criança, visto que os sintomas atribuídos ao TDAH podem estar associados a problemas emocionais e de ajustamento social. Dessa forma, encontra-se freqüentemente na literatura o TDAH como um quadro diagnóstico complexo, de início precoce e evolução crônica (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003). Segundo Coes (1999) as pesquisas acerca da natureza neurobiológica do Déficit de Atenção apontam para diversos fatores causais desse distúrbio, tais como: presença de excesso de chumbo no sangue, fatores perinatais, alterações metabólicas (como distúrbios da tireóide), entre outros. Entretanto, a variabilidade das condições associadas ao Déficit de Atenção indica que não há uma causa única, mas que o mesmo se dá na interação de diversos fatores biológicos e psicossociais. De acordo com Goldstein e Goldstein (2003) um número grande de causas é associado ao aparecimento da hiperatividade. Medicamentos, lesões cerebrais, epilepsia, envenenamento por chumbo, hereditariedade são alguns exemplos de situações produtoras do transtorno. Apesar da origem e desenvolvimento do TDAH ainda serem um pouco obscuras, os autores acima citados consideram a hereditariedade como a causa mais freqüente da hiperatividade. Muitos estudos acerca do TDAH buscam encontrar causas biológicas para explicação do mesmo, no entanto, ainda não foi possível comprovar tal afirmação 21 visto que os estudos demonstram cada vez mais a complexidade de tal fenômeno (ANTONY E RIBEIRO, 2004). As crianças diagnosticadas como hiperativas geralmente possuem problemas de socialização, visto que as características comportamentais desse transtorno concorrem para que tais dificuldades surjam (SILVA, 2003). A criança que apresenta dificuldades na área da atenção, um dos sintomas componentes da tríade e foco do presente trabalho, poderá desenvolver problemas nos relacionamentos com amigos e parentes, principalmente se estes não souberem lidar e ajudá-la a conviver e a vencer tais obstáculos. Sob a égide de uma sociedade aberta às diferenças e sem preconceitos esconde-se uma sociedade em que elas são aceitas desde que você não tenha que conviver com elas. As crianças que estão fora daquilo que é estabelecido como norma são rotuladas, limitadas em suas capacidades e vistas como inferiores com relação àquelas que atendem tal padrão. Questionamentos como “Quem dita tais padrões? Quem escreveu tais normas?” são imprescindíveis para que os obstáculos que são colocados à frente das crianças que não atendem ao “perfil desejado” pela sociedade possam ser transpostos e permitam a construção de uma sociedade em que o ser humano em sua totalidade seja valorado e não apenas aos seus defeitos e faltas. Vivemos em uma sociedade em que é necessário TER para ser participante da mesma. No entanto, esse TER é restrito àquilo que se considera digno de ser possuído. Aqueles que possuem “itens fora dessa lista” são colocados à margem da mesma maneira que aqueles que não possuem tais itens. Por isso, quando uma criança apresenta dificuldade de atenção ela TEM algo que é inaceitável e que irá camuflar e relegar a segundo plano todas as características positivas que possua. Dessa forma, o nosso esforço deve ser direcionado para que o ser humano possa ser visto enquanto uma pessoa total e indivisível e não seja reduzido a um portador de doenças e incapacidades. É necessário iniciar um movimento contrário em que o SER seja colocado no plano principal e definidor de alguém. 22 De acordo com o DSM-IV há três sintomas que podemos considerar como característicos do Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade: impulsividade, desatenção e hiperatividade. Estes não estão presentes com a mesma intensidade nos casos de TDAH. O DSM-IV subdivide essa síndrome em três tipos: 1. TDAH com predomínio de sintomas de desatenção; 2. TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade e 3. TDAH com os três sintomas combinados (DSM IV, 2000). O Quadro 1 apresenta a sintomatologia bem como os critérios diagnósticos do Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) de acordo com o DSM-IVTR (2002). A. Ou (1) ou (2) (1) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram pelo período mínimo de 6 meses, em grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Desatenção: (a) freqüentemente não presta atenção a detalhes ou comete erros por omissão em atividades escolares, de trabalho ou outras (b) com freqüência tem dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (c) com freqüência parece não ouvir quando lhe dirigem a palavra (d) com freqüência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções) (e) com freqüência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (f) com freqüência evita, demonstra ojeriza ou reluta em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) (g) com freqüência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (p. ex., brinquedos, tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais) (h) é facilmente distraído por estímulos alheios à tarefa (i) com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias (2) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade persistiram pelo período mínimo de 6 meses, em ¬grau mal adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Hiperatividade: (a) freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira (b) freqüentemente abandona sua cadeira na sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado (c) freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações impróprias (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação) (d) com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer (e) está freqüentemente "a mil" ou muitas vezes age como se estivesse "a todo vapor” (f) freqüentemente fala em demasia Critérios Diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (continuação) lmpulsividade: (g) freqüentemente dá respostas precipitadas antes que as perguntas terem sido completamente formuladas (h) com freqüência tem dificuldade para aguardar sua vez (i) freqüentemente interrompe ou se intromete em assuntos alheios (p. ex., em conversas ou 23 brincadeiras) B. Alguns sintomas de hiperatividade-impulsividade ou desatenção causadores de comprometimento estavam presentes antes dos 7 anos de idade. C. Algum comprometimento causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (p. ex., na escola [ou trabalho] e em casa). D. Deve haver claras evidências de um comprometimento clinicamente importante no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de um Transtorno Global do Desenvolvimento, Esquizofrenia ou outro Transtorno Psicótico, nem são melhor explicados por outro transtorno mental (p. ex., Transtorno do Humor, Transtorno de Ansiedade, Transtorno Dissociativo ou Transtorno da Personalidade). Quadro 1 - Critérios Diagnósticos para Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH) Fonte: DSM-IV-TR, 2002, pp.118 e 119 Complementando a caracterização do TDAH, Silva (2003) afirma que a alteração da atenção é considerada o sintoma mais importante para o entendimento do DDA visto que é condição essencial para que o diagnóstico possa ser realizado. “Uma pessoa com comportamento DDA pode ou não apresentar hiperatividade física, mas jamais deixará de apresentar forte tendência à dispersão” (SILVA, 2003, p.20). O mesmo autor ressalta que a impulsividade “(...) tem um significado próprio: 1) ação de impelir; 2) força com que se impele; 3) estímulo, abalo; 4) ímpeto, impulsão” (SILVA, 2003, p.23). Essas definições são importantes para descrever o comportamento da criança com DDA. Esta poderá ter reações emocionais desproporcionais frente às situações cotidianas (SILVA, 2003). Ainda segundo Silva (2003) a hiperatividade poderá apresentar-se na forma física e mental. A hiperatividade física pode ser facilmente identificada: a criança se mostra agitada, não consegue ficar quieta e, por isso, move-se constantemente em casa, na sala de aula e em outros ambientes que freqüenta. A hiperatividade mental apresenta-se de forma mais sutil do que a física (SILVA, 2003). “Ela pode ser entendida como um “chiado” cerebral, tal qual o motor de um automóvel desregulado que acaba por provocar um desgaste bastante acentuado” (SILVA, 2003, p.27). De acordo com o mesmo autor, essa agitação psíquica é muitas vezes responsável pela dificuldade que muitas pessoas diagnosticadas como possuidoras das 24 características do DDA apresentam em suas relações sociais, principalmente no que diz respeito a fazer amigos e conservá-los. “O “chiado” de seus cérebros muitas vezes os impede de interpretar corretamente as “deixas” sociais que são tão necessárias no estabelecimento e na manutenção das relações humanas” (SILVA, 2003, p.27). De acordo com Antony e Ribeiro (2004, p.127) o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade “caracteriza-se por distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais, expressando dificuldades globais do desenvolvimento infantil”. Pois, (...) o que fala é o sujeito através do seu corpo, das variações tônicomotoras, do movimento, dos gestos e do esquema corporal que são representantes de uma organização psíquica. Este é o desafio que nos lança a criança hiperativa com o seu corpo em contínuo movimento” (ANTONY E RIBEIRO, 2004, p. 129). É importante ressaltar que o TDAH é um fenômeno complexo produzido na interação de diversos fatores biológicos e psicossociais. Essa diversidade também é encontrada no que diz respeito aos sintomas do transtorno. Portanto, o foco do presente trabalho é a questão específica do Déficit de Atenção que é um dos três principais sintomas descritos pelo DSM-IV. Em alguns casos os sintomas do TDAH não são evidentes em um contato superficial. Apenas quando há um contato mais profundo esses podem ser identificados. “Em geral, estes indivíduos têm muitas outras habilidades e uma capacidade intelectual que permite “driblar” o TDAH na maioria das situações” (MATTOS, 2005, p. 31). O TDAH não traz 100% de características negativas, por exemplo, (...) muitos portadores de TDAH são vistos como intuitivos, com razoável senso de humor e, talvez, criatividade. Imaginam diferentes projetos, conseguem ver ângulos diferentes dos usuais. Muitos são pessoas com sucesso social e profissional, apesar dos sintomas. Podem ser agradáveis no convívio (ao menos num convívio social) e ter muitas idéias divertidas (MATTOS, 2005, p.31). 25 Entretanto, as características negativas, como não levar as coisas até o final ou não conseguir administrar os projetos em longo prazo, estarão presentes “atrapalhando” a criança ou adulto com TDAH a colocar em prática as idéias e projetos imaginados (MATTOS, 2005). Dessa forma é necessário que a pessoa diagnostica como hiperativa encontre estratégias para “burlar” essas dificuldades e, assim, conseguir adaptar-se satisfatoriamente ao convívio social. De acordo com Antony e Ribeiro (2004, p.127) “a Gestalt-Terapia é uma abordagem fenomenológico-existencial com uma visão holística de doença. Compreende o adoecer como resultante de uma desarmonia relacional entre pessoa e ambiente que formam uma unidade dialética e indivisível”. Apesar de o presente estudo não estar fundamentado na Gestalt-Terapia o entendimento acerca do conceito de doença é compartilhado com essa área de estudo, visto que a busca que empreendemos é pela ampliação do entendimento do TDAH e, principalmente a quebra das estereotipias que circundam tal fenômeno. Tomando por base uma visão holística da hiperatividade entendemo-na aqui como fruto do contexto social, político, econômico e cultural no qual estamos inseridos e não como resultado de uma causa única e unilateral seja ela social, política, econômica, cultural ou genética. Existe ainda uma grande dificuldade que é explicar para a criança diagnosticada como possuidora das características do TDAH, o que significa e como isso afetará em sua vida. Rohde e Benczik (1999) no livro intitulado “Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade – O que é? Com ajudar?” descrevem “A história de Pedro” como uma forma para explicar o TDAH á criança. Um fragmento desta história será transcrito quadro a seguir: Meu nome é Pedro e vou contar a minha história para você. Quase nunca me sinto cansado... O mundo é muito grande e tem muita coisa para descobrir, mas tenho que ir para a escola. Lá tenho que fazer coisas que, às vezes, não estou nem um pouco a fim. Prefiro brincar no pátio ou na quadra. Ninguém acredita, mas bem que eu quero e tento fazer as lições bem caprichadas, mas acontece tanta coisa... De repente meu amigo conversa comigo, ou um carro buzina lá fora, ou até se eu escuto alguém conversar, um lápis caindo no chão, eu me distraio e me perco. Quando olho de novo para a lousa, demoro para achar onde parei, confundo tudo, e aí, todos já acabaram a tarefa, só eu que não. Fico muito chateado... De novo não consegui. 26 A professora sempre fala: - Pedro, você já terminou sua lição? Eu preciso apagar a lousa! Quase nunca presto atenção ao que minha professora diz, nem às lições. A professora sempre pede que eu seja mais organizado com o meu material e mais caprichoso com as lições. Na verdade, concordo que me mexo muito, levanto da cadeira a toda hora, faço barulho com o lápis e às vezes até com a boca (uns barulhos que só eu sei fazer), falo muito e atrapalho a professora. São dois grandes problemas: eu faço malfeito, pois quero acabar muito depressa, ou então quero fazer tudo muito bem-feito e terminar tudo, mas... não consigo! Aí todos pensam que sou preguiçoso, relaxado e vagabundo, ou ainda que sou bobo e não me esforço. Parece que ninguém me entende. Por mais que eu tente, não consigo prestar atenção e terminar toda a tarefa tão bem como as outras crianças. Mas bem que eu gostaria... De verdade! Na classe, quando o assunto é lição, as crianças tiram sarro de mim, fazem muitas gozações. Eles me chamam de “minhoca” e de “supertartaruga lerdinha”. Todos acham engraçado, menos eu. Quando estou sentado, ali sozinho, sem perceber, começo a morder o lápis, desmontar meu estojo, rabiscar as folhas no caderno e a mexer com os pés sem parar. Acho que preciso me movimentar mais do que os meus colegas porque assim me sinto mais ligado e esperto. Estou sempre mexendo minhas mãos e balançando os pés. A professora vive me dizendo que parece que tenho o bichocarpinteiro no corpo. Ela pergunta também se tem formiga ou prego na cadeira, porque não tenho parada nem sossego. Percebo que quando a professora pergunta alguma coisa para mim eu respondo rapidinho. Muitas vezes começo a responder antes de ouvir a pergunta inteira. Só quando estou falando é que me dou conta de que não era nada daquilo... E quando se trata de escrever... Hum! É tão mais complicado... Eu bem que gostaria não precisar escrever tanto. Sabe, acho bem mais interessante ver o que está se passando fora da sala de aula. Pela janela, vejo a árvore a balançar, o passarinho a voar; e, pela porta, sempre vejo quem passa no corredor. Fico triste, irritado e confuso porque sei que as pessoas ficam cansadas de mim. Outro, dia vi minha mãe chorando. Também ouvi meus pais brigando por minha causa. A professora vive mandando bilhetes para minha mãe. Ela avisou que minhas notas estão ruins, que assim não vou passar de ano e que não sabe mais o que fazer comigo. Além do mais, falou que sou distraído, que caminho pela escola sem olhar por onde ando, que derrubo com facilidade as coisas da minha mão. Ela diz que parece que estou sempre voando, como se eu estivesse no mundo da lua. Muitas vezes me chama de “rei do espaço”. Fico triste. Às vezes tento disfarçar, finjo que não ligo, mas não é verdade. Queria que todos dissessem: - Olha, o Pedro foi o melhor! Ah como eu gostaria que a minha tarefa fosse realmente a melhor (Rohde and Benczik, 1999, p. 16-23). Quadro 2 - História de Pedro – Forma de Explicação do TDAH para Crianças Fonte: Rohde and Benczik (1999) Essa história é uma maneira simplificada de explicar para a criança o TDAH e suas conseqüências. É importante ressaltar que a mesma não deveria ser contada apenas para as crianças que possuam tais características, mas também para aquelas que não as possuam, para pais, professores e todos que mantenham 27 contato com essas crianças. Há uma grande necessidade em desnaturalizar o TDAH e suas implicações, bem como compreendê-lo de forma ampliada, pois, atualmente, há uma excessiva rotulação das crianças por parte de pais, professores e amigos, devido ao pouco conhecimento desse fenômeno. 3.2. ALTERNATIVAS TRADICIONAIS PARA O TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM TDAH De acordo com a literatura revisada, para o tratamento do TDAH faz-se necessário uma abordagem múltipla que envolva intervenções psicossociais e psicofarmacológicas. No entanto, o medicamento tem sido o ponto central nos tratamentos, o que tem ocasionado um excesso de utilização dos mesmos, principalmente na intervenção em crianças. Atualmente a saída medicamentosa é a mais utilizada e o conhecimento produzido na área médica com relação à eficácia dos mesmos é bastante amplo. A intervenção psicofarmacológica para tratamento do TDAH tem sido realizada com medicamentos estimulantes, com o intuito de melhorar a concentração e de controlar o comportamento hiperativo, na maior parte das vezes. Com relação aos estimulantes, No Brasil, o único estimulante encontrado no mercado é o metilfenidato. A dose terapêutica normalmente se situa na faixa de 20 a 60 mg/dia. Como a meia-vida do metilfenidato é curta (de 3 a 4 horas), geralmente pode-se utilizar o esquema de administração de três doses por dia: uma de manhã, outra ao meio-dia e uma última ao final da tarde (ROHDE E HALPERN, 2004, p.S68). De acordo com Rohde and Halpern (2004, p.S68), “cerca de 70% dos pacientes com TDAH respondem adequadamente aos estimulantes, com redução de pelo menos 50% dos sintomas básicos do transtorno. Segundo Filho e Pastura (2003), a maioria dos efeitos colaterais do metilfenidato é transitória, leve e aparecem nos primeiros dias ou semanas de tratamento e pouco depois desaparecem. Alguns efeitos adversos são: insônia, irritabilidade, ansiedade e dores abdominais, entre outros. 28 Os medicamentos são tratados como a solução rápida e eficaz para todos os problemas. Os remédios são vistos como o caminho para uma vida mais feliz e segura em que o sofrimento é banido totalmente. No entanto com relação ao TDAH, o tratamento medicamentoso agirá nos sintomas de hiperatividade, déficit de atenção e impulsividade, mas dificilmente irá auxiliar a criança a compreender o que está acontecendo com ela e a desenvolver estratégias para lidar de uma forma menos danoso com tais sintomas. Dessa forma, concede-se uma solução para “a parcela biológica” deixando de lado as questões afetivas e sociais que também estão envolvidas. De fato, As promessas das novas medicações são cada vez mais sedutoras, pois ao invés de anos de tratamentos em um processo psicoterapêutico, as novas substâncias desenvolvidas acenam com a abolição dos sintomas em poucas semanas (RODRIGUES, 2003, p.13). Dessa forma, houve uma supervalorização da reação clínica às substâncias farmacológicas de forma que a mesma passou a fazer parte na caracterização do quadro nosológico de cada doença. Nesse sentido, a compreensão neuroquímica dos fenômenos psíquicos ganhou significativa importância na definição dos mesmos (RODRIGUES, 2003). É importante ressaltar que a medicação torna-se um importante instrumento no tratamento de doenças e distúrbios, desde que utilizada de forma ética e responsável. No entanto, a compreensão do ser humano não pode ser reduzida a uma única abordagem, seja ela biológica, psicológica ou social. O homem é muito mais amplo e complexo. Contudo, (...) a medicação vem sendo utilizada não somente como forma de alívio ou de cura de uma determinada síndrome, mas também como parte de um sistema que produz subjetividades privatizadas, desinvestidas de qualquer cogitação social ou política, alicerçadas na crença de uma suposta natureza humana normal, que ela promete restaurar (RODRIGUES, 2003, p.21). 29 É acerca dessa forma de utilização despotencializadora dos medicamentos que queremos refletir, pois os efeitos dessa prática são danosos para a sociedade como um todo e, sobretudo, aos indivíduos como sujeitos capazes de positivar modos de existência que privilegiam a vida e sua capacidade de adaptação e superação dos obstáculos. Quando um diagnóstico minucioso é concluído, e a avaliação é de que a criança apresenta o TDAH, é necessário que intervenções na família e na escola sejam iniciadas. A intervenção com os pais possui a finalidade de, principalmente, fornecer informações acerca da hiperatividade para que os mesmos conheçam o transtorno de forma a poder contribuir potencializando as habilidades da criança e, para que não apresentem dúvidas e receios ao tratamento prescrito para a criança. O trabalho desenvolvido na escola tem como objetivo preparar o professor para lidar com a criança diagnosticada como hiperativa, pois sabendo das dificuldades da mesma o profissional terá condições de trabalhar efetivamente para desenvolver as habilidades e competências dessa criança (GOLDSTEIN E GOLDSTEIN, 2003). A presença dos sintomas básicos (hiperatividade, impulsividade e desatenção) do TDAH por curtos períodos de tempo apontam para a possibilidade de que estes estejam associados a outros problemas (emocionais, sociais ou até mesmo um outro tipo de distúrbio) decorrentes de situações que a criança esteja vivendo. Para que a possibilidade da criança apresentar o TDAH seja aventada é necessário que esses sintomas básicos apresentem-se de forma sistemática, contínua e prolongada. Segundo Rohde e outros (2000), existem algumas pistas que indicam a presença da hiperatividade: os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade se apresentam de forma duradoura, sejam freqüentes e intensos, persistam em vários locais e ao longo do tempo e haja um prejuízo clínico significativo na vida da criança. De acordo com Andrade e Scheuer (2004), 3% a 5% das crianças em idade escolar apresentam esse transtorno, e nos EUA, dos encaminhamentos para serviços de saúde mental, de 30% a 50% são determinados por sintomas de TDAH. 30 Considerando as discussões desta seção foi possível perceber que a compreensão, bem como o tratamento das dificuldades de atenção, especialmente com relação ao TDAH, estão centralizadas no campo da medicina. Portanto, torna-se necessário a relativização e ampliação do entendimento acerca das dificuldades de atenção para que novas estratégias de abordagem sejam construídas no intuito de fornecer alternativas àqueles que possuem tais dificuldades. 3.3. O TDAH E A SOCIEDADE A aceleração que o mundo globalizado nos impõe, bem como o excesso de estimulação e o volume de informação a que somos submetidos, contribuem de forma significativa na produção de tais problemas. É possível observar em nossa sociedade a diminuição dos espaços públicos e o conseqüente aumento dos espaços privados. A cada dia os espaços de moradia e de convivência coletiva são diminuídos e as crianças, bem como os adultos, tem refletido essa “falta de espaço” em suas condutas cotidianas. Em muitos casos, a escola é o único lugar de convivência entre as crianças e onde elas podem extravasar a energia acumulada nos apartamentos. Se considerarmos tais exemplos como participantes no processo de produção das dificuldades de atenção, vislumbramos a necessidade de que outras áreas do conhecimento participem no diagnóstico e, principalmente, na intervenção de tais problemas. O objetivo não é negar a existência de tais dificuldades e, sim, ampliar a compreensão e as alternativas de abordagem das mesmas. O termo estigma foi criado pelos gregos “para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava” (GOFFMAN, 1998, p.11). Na Era Cristã dois significados foram agregados a esse termo: sinais de graça divina, expressos no corpo com a forma de flores em erupção sobre a pele e sinais corporais de distúrbio físico (alusão médica a essa alusão religiosa) (GOFFMAN, 1998). 31 De acordo com Macedo (2005), para conhecermos o mundo é necessário transformarmos o desconhecido em algo conhecido e comum, pois este se apresenta como ameaçador. Esta é a lógica da semelhança que consiste em organizar as coisas pelo conhecido. Tendemos a organizar aquilo que é desconhecido em algo conhecido, pois agindo assim temos a impressão de que podemos controlar o mundo, ao preço de excluirmos ou negarmos o que cai fora ou escapa. Cada sociedade estabelece categorias, com seus respectivos atributos, para classificar as pessoas que dela fazem parte. Em nossa sociedade possuímos uma série de categorias, tais como: classe média, classe baixa, classe alta, trabalhadores, desempregados, “normais1“, deficientes físicos, deficientes auditivos, hiperativos. As pessoas podem ser alojadas em uma, ou mais, dessas categorias a partir de uma rápida avaliação por meio do observador, o que ocasiona, em algumas situações, mal-entendidos e situações desagradáveis. O termo estigma é usado em referência a algum atributo depreciativo. O estigma é uma relação entre o atributo e o estereótipo, sob duas perspectivas a do desacreditado e a do desacreditável (GOFFMAN,1998). A do desacreditado enquanto aquele que já deu mostras das suas limitações e a do desacreditável enquanto aquele que, mesmo sem dar mostras dessas, deve ser considerado a priori como tal devido a características que não estão de acordo com o padrão de normalidade da sociedade e, portanto, são responsáveis por conferir uma parcela de descrédito “natural” àqueles que as possuam. Características sociológicas do estigma: “um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor à atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus. Ele possui um estigma, uma característica diferente da que havíamos previsto” (GOFFMAN, 1998, p.14). Assim, 1 As aspas são para questionar esse termo, largamente utilizado, pois a normalidade é algo complexo e que deve ser cautelosamente discutido e utilizado. 32 Por definição, é claro, acreditamos que alguém com um estigma não seja completamente humano. Com base nisso, fazemos vários tipos de discriminações, através das quais efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida. Construímos uma teoria do estigma, uma ideologia para explicar a sua inferioridade e dar conta do perigo que ela representa, racionalizando algumas vezes uma animosidade baseada em outras diferenças, tais como as de classe social (GOFFMAN, 1998, p.15). No entanto, existe uma outra lógica, a da diferença, que se apresenta como (...) uma forma de organizar as coisas quanto à sua dimensão desconhecida, daquilo que está entre nós e dentro de nós, mas que não reconhecemos ou não sabemos como encaixar. Daí, como conseqüência, às vezes temos o vazio, o pânico, o êxtase que este vazio nos provoca ou produz (MACEDO, 2005, p. 13). As considerações feitas acerca das crianças que possuem um diagnóstico de TDAH são muito similares as das crianças que possuem indícios de tal síndrome. Os professores e pais passam a enxergar essas crianças através da “lente do TDAH”, limitando suas habilidades, competências e, por fim, as suas perspectivas de vida. O TDAH se configura, em muitos casos, como um pesado fardo para o portador que o torna “predestinado” ao fracasso em sua vida social, afetiva, psicológica, familiar. Dessa forma, a busca neste trabalho é pela compreensão das crianças com dificuldades de atenção de acordo com a lógica da diferença, ou seja, apreender as particularidades das mesmas, de modo a construir uma visão menos estigmatizada e reducionista, no intuito de resgatar a possibilidade de nos surpreendermos, positivamente, com essas crianças ao olharmos para elas como sujeitos capazes de vencer os obstáculos que lhe são apresentados pela vida. 33 4. TEORIA PIAGETIANA, COGNIÇÃO E JOGOS DE REGRAS 4.1. CONCEITOS BÁSICOS PARA ENTENDER PIAGET De acordo com a pesquisa realizada nas obras de Jean Piaget, não há trabalhos desse autor que abordem diretamente a questão da atenção. Portanto as considerações a seguir foram construídas com base nos conceitos mais gerais de sua obra. Piaget (1962) explicita a existência de uma íntima relação entre afeto e inteligência. Pois, para o mesmo É incontestável que o afeto exerce um papel essencial no funcionamento da inteligência. Sem afeto não haveria interesse, necessidade, motivação; e conseqüentemente, não haveria inteligência. A afetividade é uma condição necessária na constituição da inteligência, mas, em minha opinião, não é suficiente (PIAGET, 1962, p.01). Dessa forma, em algumas situações o afeto pode levar ao erro, mas apenas os fatores cognitivos poderiam corrigir tal estrutura. O afeto participa no desenvolvimento da inteligência, no entanto, não é a causa da formação da mesma. Portanto, a afetividade não é a única condição necessária para o desenvolvimento estrutural (PIAGET, 1962). A atenção é também regulada pela afetividade, pois a mesma é motivada e direcionada segundo as necessidades e interesses do indivíduo. Assim, “Não há atos de inteligência, mesmo de inteligência prática, sem interesse no ponto de partida e regulação afetiva durante todo o processo de uma ação, sem prazer do sucesso ou tristeza no caso do fracasso” (PIAGET, 1962, p.03). Até mesmo a criança diagnosticada como possuidora do TDAH tem a capacidade de direcionar e focar a atenção naquilo que é do seu interesse. Dessa maneira, (...) a construção do conhecimento, segundo a abordagem piagetiana, implica em momentos de equilíbrio – ou seja, de estabilidade provisória no funcionamento intelectual – e momentos de desequilíbrios, onde os esquemas disponíveis ao sujeito não são suficientes para assimilar os objetos” (DAVIS E ESPÓSITO, 1990, p.73). 34 Os sucessivos equilíbrios e desequilíbrios fazem com que a relação do sujeito com o ambiente esteja em constante modificação, pois os esquemas vão sendo aperfeiçoados a partir da vivência de novas experiências (PIAGET, 1976). Um conceito importante para entender como Piaget compreende o processo do desenvolvimento cognitivo é o da Equilibração. Pois, para esse autor esse é um problema central no desenvolvimento. Para Piaget (1976), (...) a equilibração progressiva é um processo indispensável do desenvolvimento e um processo cujas manifestações se modificarão, de estágio em estágio, no sentido de um melhor equilíbrio em sua estrutura qualitativa como em seu campo de aplicação, (...) (PIAGET, 1976, p.23). Na equilibração o indivíduo se encontra em sucessivos equilíbrios e desequilíbrios, pois é dessa forma que ele conseguirá avançar no que diz respeito ao desenvolvimento de suas estruturas cognitivas. Portanto, o esse processo é central para a compreensão das etapas e das estruturas que se formam no decorrer do desenvolvimento do indivíduo. Esse processo envolverá processos de acomodação e assimilação. Os processos de assimilação e acomodação estão dialeticamente relacionados, pois participam ativamente na construção de novos sistemas de ação. Dessa forma, define-se assimilação como “(...) incorporação de um elemento exterior (objeto, acontecimento, etc.) em um esquema sensorimotor ou conceitual do sujeito” (PIAGET, 1976, p.13). A acomodação é “(...) a necessidade em que se acha a assimilação de levar em conta as particularidades próprias dos elementos a assimilar” (PIAGET, 1976, p.14). Piaget (1976) postula acerca da acomodação e da assimilação: 1) todo esquema de assimilação tende a incorporar elementos novos e 2) os elementos assimilados serão acomodados ao esquema de assimilação, ou seja, este irá se modificar em função desses novos elementos, mas sem perder a sua continuidade. Dessa forma, Piaget (1976) demonstra a necessidade de que exista um equilíbrio entre os esquemas de assimilação e acomodação. A definição do termo conduta é algo complexo, no entanto, entender a conduta como um recorte de um campo mais amplo que é a afetividade faz com que a importância 35 do mesmo seja clarificada. Portanto, a conduta está intimamente relacionada à afetividade e a compreensão dessa relação é fundamental para a compreensão do desenvolvimento da inteligência. Com o intuito de esclarecer um pouco mais essa relação entre conduta, afetividade e inteligência nos remetemos a Queiroz (2000): Piaget pôde novamente criticar sua hipótese de partida, assim enunciada: se a afetividade constitui a energética da conduta e se a inteligência ou a percepção constituem a estrutura, então muito naturalmente, cada transformação da conduta será simultaneamente uma transformação de estrutura (transformação intelectual) e uma transformação nas regulações energéticas (transformação afetiva) (QUEIROZ, 2000, p. 41). Dessa forma, a afetividade se constitui enquanto o centro direcionador da conduta e a relação entre ambas influencia no desenvolvimento das estruturas intelectuais (inteligência). Portanto, as transformações afetivas culminam na transformação do comportamento do indivíduo que, por sua vez, reverbera no desenvolvimento intelectual do mesmo. De acordo com Piaget (1976) há três tipos de conduta que estão relacionadas ao nível de desenvolvimento estrutural desenvolvido pelo indivíduo. Essas condutas são denominadas: alfa, beta e gama. Na conduta alfa os elementos novos que aparecem não produzem modificações no sistema ou constituem uma perturbação. No primeiro caso, o indivíduo negligenciará o fato novo e no segundo caso o mesmo irá rejeitar o elemento novo. Portanto, as compensações nesse tipo de conduta são parciais e o equilíbrio resultante permanece instável (PIAGET, 1976). A conduta beta consiste em modificar o sistema até tornar o fato novo como uma variável do mesmo. A estrutura é então reorganizada para incorporar o elemento novo aos que participavam da antiga organização. Nesse tipo de conduta considerase a existência de uma forma de compensação ainda parcial, mas bem superior à conduta alfa (PIAGET, 1976). A conduta gama, superior às duas primeiras, consiste em antecipar as variações possíveis para que elas deixem de ser perturbadoras e sejam inseridas nas 36 transformações virtuais do sistema. A compensação não tem mais o sentido de eliminar as perturbarções do sistema e sim o de uma simetria que é inerente à organização do mesmo (PIAGET, 1976). Para continuarmos essa discussão é necessário esclarecer um ponto ainda obscuro. Utilizamo-nos com frequência o termo conduta, mas como defini-la de forma clara? Para tanto, recorreu-se a um dicionário comum para obter a definição desse que é um tema bastante utilizado em nossa linguagem cotidiana. De acordo com o Novo Dicionário da Língua Portuguesa (FERREIRA, 1986) o termo conduta possui as seguintes definições: 1. Procedimento moral (bom ou mau); 2. Comportamento. Tomando como referência essa definição o que podemos apreender do significado do termo conduta? Será que esse é também o significado do termo conduta na teoria de Piaget? Para Piaget (1980/ 1996), o desenvolvimento ocorre de forma dialética, e para compreendê-lo faz-se necessário aprofundar o conhecimento acerca das implicações entre ações e operações, pois é por meio de tais implicações que o processo de transformação é desencadeado. As implicações entre as ações e operações configuram-se enquanto um processo de construção de significações para as experiências vividas, ou seja, é como damos significados a tudo aquilo que se constitui enquanto foco da nossa atenção. Dessa forma, (,,,) a dialética consistirá essencialmente em construir novas interdependências entre significações, as mais simples sendo solidárias e indissociáveis desde o início, e o mais geral dos círculos dialéticos sendo, sem dúvida, aquele que liga as implicações e as significações (PIAGET, 1980/ 1996, p. 13). Portanto, a formação da dialética de se dá a partir da construção de tais interdependências “(...) que constituem o aspecto inferencial de equilibração e que procedem por implicações entre ações enquanto portadoras de significações” (PIAGET, 1980/1996, p. 14). Dessa forma, observa-se a íntima relação entre a formação da dialética e o processo de equilibração. 37 Ainda de acordo com Piaget (1962), o desenvolvimento infantil das estruturas cognitivas se dá por meio de quatro estádios: sensório-motor, pré-operatório, operatório-concreto e operatório-formal. Em cada estádio o indivíduo desenvolverá noções que serão utilizadas pelo indivíduo nos estádios subseqüentes para que esse avance até o último estádio do desenvolvimento – o operatório formal. Os estádios não são fixos, ou seja, um indivíduo não estará totalmente em um único estádio; ele estará prioritariamente em um estádio, mas poderá apresentar condutas referentes a estádios anteriores. De acordo com Piaget (1973), o desenvolvimento intelectual é dividido em três grandes períodos: período da inteligência sensório-motor, período de preparação e de organização das operações concretas de classes, relações e números e o período das operações formais. A seguir os períodos serão explicitados de forma mais detalhada. O período mais importante para presente pesquisa é o período das operações concretas, visto que os participantes da pesquisa encontram-se na faixa etária dos nove aos onze anos. A principal noção desenvolvida no período sensório-motor é a de objeto permanente. Pois, “O estado inicial é caracterizado pela ausência de objetos permanentes. O universo consiste numa série de figuras momentâneas e em movimento” (PIAGET, 1962, p.5). Portanto, se um chaveiro, ou até mesmo uma pessoa, for retirada da frente da criança deixará de existir para a mesma. Dessa forma, a cada vez que um brinquedo for apresentado à criança é como se ela o visse, novamente, pela primeira vez. No início do estádio sensório-motor é como se a criança visse os objetos sempre pela primeira vez. No entanto, “No final, acontece a descentração, onde há um universo de objetos permanentes, de um espaço e uma causalidade entre os objetos” (PIAGET, 1962, p.5). De acordo com Piaget (1973) o período sensório-motor vai do nascimento ao aparecimento da linguagem e é subdividido em seis estágios. Estes estão descritos no Quadro 3. 38 O período de preparação e de organização das operações concretas de classes, relações e número é subdividido em duas partes: subperíodo das representações pré-operatórias ( 2 a 7- 8 anos) e subperíodo das operações concretas ( 7- 8 a 11 – 12 anos). São consideradas operações concretas as que se dirigem sobre objetos manipuláveis (manipulações efetivas ou imediatamente imagináveis), por oposição ás operações se dirigindo sobre hipóteses ou enunciados simplesmente verbais (lógica das proposições) (PIAGET, 1973, p.55). No subperíodo das representações pré-operatórias ocorre o aparecimento da função simbólica (linguagem, jogo simbólico (ou de imaginação) em oposição aos jogos de exercício do período sensório-motor e o começo da interiorização dos esquemas de ações em representações, ou seja, “Plano de representação nascente: dificuldades de aplicação ao espaço não próximo e ao tempo não presente dos esquemas de objeto, de espaço, de tempo e de causalidade já utilizados na ação efetiva (PIAGET, 1973, p. 56). De acordo com Piaget (1973), o subperíodo das operações concretas é formado por várias estruturas em vias de consolidação: “tais são as classificações, as seriações, as correspondências termo a termo, as correspondências simples ou seriais, as operações multiplicativas (matrizes), etc” (PIAGET, 1973, p.57). Portanto, nesse subperíodo a criança desenvolve tais noções, pois é uma preparação para chegar ao último estádio – o operatório formal. Ainda com relação a esse subperíodo das operações concretas, (...) pode ser subdividido e dois estágios: um, das operações simples e o outro, do acabamento de certos sistemas de conjunto no domínio do espaço e do tempo, em particular. No domínio do espaço, é o período onde a criança atinge, aos 9-10 anos somente, os sistemas de coordenadas ou de referências (representação das verticais e das horizontais em relação a essas referências (PIAGET, 1973, p.57). Portanto, neste subperíodo a criança desenvolve a capacidade de resolver problemas, entretanto, essa capacidade encontra-se limitada ao concreto, ou seja, 39 ela precisa que as situações sejam apresentadas concretamente (ou representadas) para que consiga resolvê-las. O período das operações formais é marcado por diversas transfomações e pela consolidação das estruturas necessárias para o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático. O que aparece, principalmente nesse nível “é a lógica das proposições, a capacidade de raciocinar sobre enunciados, sobre hipóteses e não mais somente sobre objetos postos sobre a mesa ou imediatamente representados” (PIAGET, 1973 p.59). Esse é período em que a criança desenvolve o pensamento abstrato e, diferentemente do subperíodo das operações concretas, não e resolução de problemas não está restrita à representação concreta do mesmo, pois ela desenvolveu a capacidade de representar mentalmente os problemas, bem como os objetos e as situações a serem resolvidas. De acordo com Piaget, os estágios são interdependentes e indispensáveis para o desenvolvimento, ou seja, a criança não poderá “pular” os mesmos. A ordem apresentada de sucessão é fixa, no entanto, um estágio não desaparece completamente quando a criança passa para o seguinte, eles se interpenetram em uma relação dialética. Pois, de acordo com Piaget (1980/ 1996, p.12) (...) toda dialética comporta processos circulares entre os passos proativos e retroativos, e são estes que dão conta da formação das aparências de necessidades pré-formadas, enquanto a necessidade autêntica só se constitui ao longo e no final de todo desenvolvimento dialético. Dessa forma, há um contínuo movimentar da criança pelos estágios que acompanha as experiências que vão sendo experimentadas a cada instante da vida, ou seja, enquanto há vida, há movimento e desenvolvimento e vice-versa. Para finalizar, de acordo com Piaget (1973, p. 59), (...) esses três grandes períodos, com seus estágios particulares, constituem processos de equilibração sucessivos, marchas para o equilíbrio. Desde que o equilíbrio seja atingido num ponto, a estrutura está 40 integrada num novo sistema em formação, até um novo equilíbrio sempre mais estável e de campo sempre mais extenso. Portanto, durante todo o desenvolvimento o indivíduo passará por sucessivos equilíbrios e desequilíbrios, pois apenas dessa forma é que novas estruturas e novos esquemas serão construídos e incorporados possibilitando um desenvolvimento permanente. Esses novos esquemas que serão construídos não estão pré-determinados e, portanto, estão passíveis de se configurarem de forma diferente do esperado. O diferente é muitas vezes considerado com errado e na sociedade em que vivemos não há espaço para o que “sai da norma”, pois o intuito é padronizar os indivíduos nos modos de agir, de pensar, enfim, de existir. Em nossa sociedade erro é o contrário de acerto e, portanto, precisa ser castigado para que não venha a ocorrer novamente. É fonte de culpa, sofrimento, angústia, especialmente no contexto escolar. Neste o erro é sinônimo de fracasso. No entanto, para Piaget, citado por Macedo (1994, p.64), o erro deve ser interpretado de uma outra forma, pois para a teoria construtivista “(...) a questão é a de invenção e descoberta e não necessariamente de acerto ou erro, como considera, muitas vezes, uma visão formal ou do adulto”. O erro pode ser considerado como uma alternativa que não se enquadra na visão padronizada ou formal, mas isso não significa que, necessariamente, será algo ruim ou negativo. Contudo, em nossa sociedade há uma forma paradoxal de lidar com o erro, pois este é expurgado na linguagem escrita e aceito na linguagem coloquial. Existe um verdadeiro abismo entre essas duas formas de linguagem no que tange à aceitação do erro. De acordo com Davis e Espósito (1990) para uma proposta de ensino-aprendizagem derivada da teoria psicogenética a conduta apropriada deveria ser a seguinte: (...) partir dos conhecimentos que os alunos já possuem, ou seja, de seus sistemas de significação; apresentar problemas que gerem conflitos cognitivos; dar ênfase à maximização do desenvolvimento e não apenas à busca de resultados, centrando-se no processo de construção do conhecimento; aceitar soluções “erradas” como pertinentes, desde que indicadoras de progressos na atividade cognitiva; fazer com que os alunos tomem consciência dos erros cometidos, percebendo-os como problemas a 41 serem enfrentados, sem que se lhes imponham caminhos previamente traçados (p.73). Dessa forma o erro seria uma fonte de novas possibilidades e de aprendizado e não um símbolo do fracasso individual. O erro é tido como algo que pertence, intrinsecamente, a alguém, ou seja, é fruto da incapacidade da própria pessoa. No entanto, para que o erro seja estuda de forma construtiva faz-se necessário analisálo em toda a sua complexidade, buscando a compreensão dos múltiplos fatores que estão envolvidos nesse processo. 4.2. O LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO NA TEORIA PIAGETIANA Atualmente, o brincar tem sido considerado de fundamental importância para o desenvolvimento da criança. Dessa forma, Fatores como a entrada da mulher no mercado de trabalho, alterações nas concepções de família e o ritmo frenético da vida nas grandes cidades contribuíram para realçar a importância do lúdico no contexto do desenvolvimento humano, na medida em que cada vez mais, nos dias atuais, o tempo e o espaço do brincar encontram-se ameaçados, acarretando conseqüências funestas para o desenvolvimento da criança, tais como o isolamento e a falta de solidariedade, que sinalizam uma diminuição exacerbada da dimensão humana, a qual floresce nas relações com o outro” (VECTORE, 2003, p.106). As características dos jogos em geral permitem a construção de uma situação prazerosa para a criança, fazendo com que ela se sinta à vontade para partilhar o seu universo com os demais. O jogo motiva a criança e a torna receptiva com relação à colaboração na situação de pesquisa. É necessário ressaltar que “o jogo proporciona o treino das capacidades deficitárias das crianças hiperativas e, conseqüentemente, conduz a resultados satisfatórios em outras habilidades de desenvolvimento” (BARROS, 2002, p. 74). Os conceitos de Jogo, Brinquedo e Brincadeira são muitas vezes confundidos, pois possuem uma relação muito próxima, no entanto, faz-se necessário diferenciá-los para que possam ser entendidos de forma mais aprofundada. “No Brasil, termos 42 como jogo, brinquedo e brincadeira ainda são empregados de forma indistinta, demonstrando um nível baixo de conceituação deste campo”(KISHIMOTO, 1997, p.17). Definir o conceito de jogo é algo complexo, pois pode ser entendido de diversas formas por diferentes pessoas. Há vários tipos de jogos: amarelinha, faz-de-conta, xadrez, dama, jogos políticos. Apesar de todos serem denominados como jogo, cada um possui a sua especificidade (KISHIMOTO, 1997). Portanto, Uma mesma conduta pode ser jogo ou não-jogo em diferentes culturas, dependendo do significado a ela atribuído. Por tais razões fica difícil elaborar uma definição de jogo que englobe a multiplicidade de suas manifestações concretas. Todos os jogos possuem peculiaridades que os aproximam ou distanciam (KISHIMOTO, 1997, p.15). Dessa forma, podemos considerar o jogo como algo variável e que o significado que receberá está intimamente relacionado com os valores e os costumes de cada sociedade. Algumas atividades podem ser consideradas como jogo em uma determinada cultura e como não-jogo em uma outra. De acordo com Huizinga, citado por Rossetti (2001), (...)para ser jogo, uma atividade tem que ser não-séria, livre (no sentido de que só joga quem quer jogar), diferente e separada da vida cotidiana, desvinculada de qualquer interesse material, tem que apresentar regras que sejam partilhadas por todos os jogadores, tem que ser uma atividade fictícia e com começo meio e fim (ROSSETTI, 2001, p.24). Diferentemente do jogo, “o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança e uma indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização” (KISHIMOTO, 1997, p.18). O brinquedo permite à criança representar a realidade em que ela vive (KISHIMOTO, 1997). É uma forma de a criança exercitar os valores e as regras que ela terá que apreender no decorrer da sua vida em sociedade. A brincadeira, 43 É a ação que a criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica. Pode-se dizer que é o lúdico em ação. Desta forma, brinquedo e brincadeira relacionam-se diretamente com a criança e não se confundem com o jogo (KISHIMOTO, 1997, p.2, grifo do autor). Segundo Piaget (1978) os jogos são caracterizados em três grupos principais: os jogos de Exercício, os Jogos Simbólicos e os Jogos de Regras. Os dois primeiros grupos surgem em um período anterior ao do terceiro grupo. Cada tipo aparece em período determinado do desenvolvimento. Estes são assim caracterizados: Os Jogos de Exercício, “(...) não supõem qualquer técnica particular: simples exercícios, põem em ação um conjunto variado de condutas, mas sem modificar as respectivas estruturas, tal como se apresentam no estado de adaptação atual” (PIAGET, 1978, p.144). Portanto, os jogos de exercício proporcionam à criança o prazer da repetição. É como se essa repetição a ajudasse a fixar as estruturas que estão em fase de consolidação. A criança executa a tarefa que se propõe não por necessidade, mas por mero divertimento (PIAGET, 1978). Os Jogos de Exercício são atividades lúdicas típicas do período sensório-motor (0 a 2 anos) em que as ações são repetidas pelo prazer funcional que proporcionam (ROSSETTI, 2001). É um período em que a criança está conhecendo a si e ao mundo que a cerca, portanto é uma atividade que visa a exploração com a finalidade de conhecer os mesmos. Quanto aos Jogos Simbólicos, Ao invés do jogo de exercício, que não supõe o pensamento nem qualquer estrutura representativa especificamente lúdica, o símbolo implica a representação de um objeto ausente, visto ser comparação entre um elemento dado e um elemento imaginado, e uma representação fictícia, porquanto essa comparação consiste numa assimilação deformante (PIAGET, 1978, p. 146). Portanto, os Jogos Simbólicos são típicos do período pré-operatório (2 a 7 anos) e caracteriza-se pela capacidade de presentificar coisas, pessoas e objetos por meio 44 da representação dos mesmos. São exemplos destes os jogos de faz-de-conta, as fantasias, entre outros (ROSSETTI, 2001). E os Jogos de Regras que (...) caracterizam a atividade lúdica da criança a partir do período de desenvolvimento cognitivo operatório concreto, que se inicia, em geral, entre sete ou oito anos, tendo como particularidade principal a presença e a utilização de regras que regulam as ações durante o jogo. Em lugar do símbolo que é puramente individual e específico para cada criança, as regras supõem, necessariamente, relações sociais ou interindividuais. Assim, a regra é uma regularidade imposta pelo grupo e a sua violação representa uma falta (ROSSETTI, 2001, p.29-30). O jogo de regras pode ter os mesmos componentes do jogo de exercício e do jogo simbólico, no entanto, apresenta um elemento novo que é a regra (PIAGET, 1978). “A regra é uma regularidade imposta pelo grupo, e de tal sorte que a sua violação representa uma falta” (PIAGET, 1978, p. 148), portanto, ela é responsável pelo desenvolvimento do senso de limites, tão imprescindível para a convivência em sociedade. Dessa forma, a importância do jogo é ressaltada constantemente, tanto pela sua fonte de divertimento, descontração, integração como pelo seu importante papel no desenvolvimento cognitivo não só do indivíduo no período da infância, mas durante toda sua vida. 4.3. O JOGO MANCALA, A ATENÇÃO E A CONCENTRAÇÃO De acordo com Ribeiro (2001), O jogo e a brincadeira têm sido tema de reflexão de vários pensadores por sua importância para o ser humano e para o desenvolvimento da criança. Na área das disciplinas aplicadas, têm sido propostos como recursos pedagógicos, de diagnóstico psicológico ou psicopedagógico e como forma de psicoterapia (RIBEIRO, 2001, p.28). Portanto, a escolha do jogo como instrumento de intervenção se deve, principalmente, ao seu importante papel na produção de “(...) uma experiência significativa para as crianças tanto em termos de conteúdos escolares como do 45 desenvolvimento de competências e de habilidades.” (MACEDO, PETTY E PASSOS, 2000, p.06). Dessa maneira, o jogo pode tornar-se um instrumento bastante eficaz no trabalho com crianças que apresentam traços de déficit de atenção, em ambiente escolar, pois podem ajudar a controlar os sintomas típicos com esforço voluntário ou em atividades de interesse (ROHDE ET AL, 2000). Considerando que os participantes do presente trabalho estarão na faixa etária que corresponde ao período operatório-concreto o jogo escolhido como forma de intervenção será o jogo de regra denominado Mancala. Segundo Retschitzki, Assandé e Loesch-Berger (1986), no Mancala, No que concerne à natureza das atividades colocadas em ação quando de uma partida, podemos afirmar que são os aspectos intelectuais que dominam. Com efeito, o acaso não tem qualquer influência sobre o desenrolar do jogo” (RETSCHITZKI, ASSANDÉ E LOESCH-BERGER, 1986, p. 308). O Mancala é um jogo de regra que possui cerca de 200 diferentes modalidades de realização. Estima-se que o Mancala tenha entre 3500 e 7000 anos e que seja originário do antigo Egito já que vestígios de tabuleiros foram encontrados na pirâmide de Keops, nos templos de Luxor e Kamak e nos desertos da Arábia e que tenha sido jogado por diversas culturas ao longo dos anos. Cada cultura possui uma forma particular de jogar o Mancala e concede ao mesmo uma significação social específica. A particularidade comum do Mancala, (...) é de se jogar com grãos (ou pedregulhos ou pequenas conchas) que são semeados nas casas escavadas geralmente num tabuleiro de madeira (às vezes no solo). Essas casas são dispostas em várias fileiras e um, sentido de percurso das sementes é fixado. O objetivo do jogo é colher o máximo de grãos segundo as regras que se referem à repartição numérica dos grãos nas casas (RETSCHITZKI; ASSANDÉ E LOESCH-BERGER, 1986, p .308). O Mancala recebe diferentes denominações de acordo com a região em que é jogado. No Sudão, Gâmbia, Senegal e Haiti é conhecido como Wari, na Nigéria como Ayo e no Brasil era chamado de Adi pelos escravos que o trouxeram da África (Neto,1989). Além disso, “Existem múltiplas variantes que se apresentam com 46 nomes muito diversos: Kalah, Mancala, Serata, Palankuli, Wari, Solo, etc...” (RETSCHITZKI; ASSANDÉ E LOESCH-BERGER, 1986, p.308). Segundo Retschitzki (1990), a particularidade dos jogos de sementes está no fato de que as peças (sementes) não pertencem a nenhum dos jogadores. A posição das mesmas (o território do jogador em que ela se encontra) é que determinará quem poderá manipulá-las. Como o Mancala é uma reunião de diversos jogos (com regras e tabuleiros distintos) faz-se necessário que uma das diferenciadas formas de jogar seja escolhida. A descrição do jogo que será utilizado, bem como as regras do mesmo serão apresentadas nos tópicos que se seguem (MACEDO, PETTY E PASSOS, 2000; ZASLAVSKY, 2000). Na modalidade escolhida o jogo é composto por um tabuleiro retangular de madeira com 14 cavidades divididas em duas fileiras de 6 casas cada uma em que as duas casas restantes serão utilizadas como reservatório (denominado oásis) e 36 sementes que serão distribuídas no mesmo. Figura 2 – Tabuleiro e Peças do Jogo Mancala Podemos descrever as suas regras da seguinte forma: é um jogo para apenas dois jogadores; são colocadas 3 sementes em cada uma das 12 cavidades, com exceção dos oásis; a área de cada jogador é composta por uma fileira e o oásis que está à sua direita (que só será utilizado pelo proprietário); para jogar o participante deverá distribuir todas as sementes, de uma de suas 6 casas (exceto o oásis), uma a uma nas casas subseqüentes, em sentido anti-horário; o jogador nunca colocará sementes no oásis adversário; toda vez que o jogador passar pelo seu próprio oásis uma semente será colocada no mesmo, sendo que as sementes que forem 47 colocadas não poderão ser utilizadas novamente no jogo; quando a última semente da distribuição (semeadura) parar em uma casa vazia pertencente ao jogador, ele poderá capturar todas as sementes que estiverem na casa adversária em frente, colocando-as em seu oásis; ao terminar a semeadura o jogador passa a vez, exceto quando a última semente distribuída for colocada no próprio oásis (nesse caso, ele poderá jogar novamente, selecionando uma casa do próprio campo para realizar a distribuição); o jogo será encerrado quando todas as casas estiverem vazias, ou quando o número de sementes não for suficiente para alcançar o lado do adversário; o vencedor será aquele que tiver um maior número de sementes em seu oásis; as sementes que restarem no tabuleiro não participarão na contagem final. A simplicidade das regras apresentadas acima possibilita uma rápida aprendizagem das mesmas. O bom desempenho no jogo é adquirido por meio da experiência prática do jogador com o mesmo. Essas facilidades fazem com que o estudo das práticas de crianças com dificuldades de atenção em comparação com crianças que não possuem indícios das mesmas no que diz respeito a estratégias e condutas no decorrer do jogo sejam possíveis e repletos de ensinamentos (RETSCHITZKI; ASSANDÉ E LOESCH-BERGER, 1986). O Jogo Mancala é um instrumento que possibilitará a análise dos elementos: atenção nas próprias jogadas e nas jogadas do adversário, construção de estratégias, observação das estratégias do outro jogador, antecipação e relacionamento interpessoal. A possibilidade de observação desses elementos no jogo Mancala torna-o adequado para a utilização no presente trabalho, visto que são essas características, ou a ausência delas, que objetivamos observar nos participantes com indícios de déficit de atenção. 48 5. POSIÇÃO DO PROBLEMA Diante do exposto, torna-se pertinente o questionamento: As crianças com indícios de dificuldade de atenção têm um desempenho geral inferior às crianças que não possuem tais indícios com relação ao desempenho no Jogo Mancala? Para tanto, foi realizado um estudo comparativo entre crianças com indícios de dificuldades de atenção e crianças que não possuem os mesmos, com respeito ao desempenho no jogo Mancala. O presente trabalho visa avaliar se traços referentes à dificuldade de atenção são apresentados, no decorrer do jogo Mancala, pelas crianças apontadas pelos professores como possuidoras de tais indícios no contexto escolar e se o desempenho das crianças que possuem tais indícios é discrepante com relação ao desempenho das crianças ditas “normais”. 5.1. OBJETIVO GERAL Esse trabalho tem como objetivo avaliar a possibilidade de utilização do jogo Mancala, como uma forma de ampliar a compreensão acerca das dificuldades de atenção, seus sintomas e efeitos e para favorecer a construção de estratégias de diagnóstico dessa dificuldade. 5.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Discutir questões teóricas acerca do Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH); b) Identificar especificidades acerca da prática dos Jogos de regras, em especial o Jogo Mancala; c) Identificar, no contexto escolar, crianças que possuem indícios do TDAH e crianças que não possuem tais indícios; d) Realizar um estudo comparativo entre essas crianças por meio de oficinas, utilizando o Jogo Mancala para observar as diferenças no desempenho das mesmas, bem como as condutas de desatenção ocorridas durante a prática do jogo; 49 e) Observar o desempenho dos dois grupos de crianças quando expostas a situações-problema relacionadas ao Jogo Mancala; f) Verificar a possibilidade de utilizar o jogo Mancala como alternativa para avaliação de crianças com dificuldades de atenção. 50 6. MÉTODO 6.1. PARTICIPANTES Para que a presente pesquisa fosse viabilizada duas escolas foram contatadas: uma de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Vitória e uma Escola Privada de Ensino Fundamental, ambas em Vitória, ES. O contato foi realizado no intuito de que as mesmas participassem e colaborassem com a pesquisa. Foi solicitado, à Escola da Rede Pública, permissão para que as oficinas entre os participantes das duas escolas fossem realizadas em suas dependências. Não houve resistência por parte da escola em permitir a realização das oficinas e, portanto, a maior parte da coleta de dados foi realizada na escola de ensino fundamental da rede pública, e na escola da rede privada foi realizado o contato com a professora. Os participantes foram indicados pelas professoras das mesmas. As crianças que participaram da pesquisa se encontravam na faixa etária de 09 – 11 anos, três crianças estavam cursando a 4a. série e uma cursava a 3a. série à época em que a pesquisa foi realizada. Três dos participantes estudavam na mesma escola, portanto, apenas uma professora, que lecionava nas duas classes, participou da seleção. O outro participante foi selecionado pela professora da escola onde estudava. A escolha dessa faixa etária baseou-se nos escritos de Piaget (1978) sobre a evolução dos jogos infantis, no que diz respeito ao período de constituição dos jogos de regras. Segundo esse autor, os jogos de regras só se constituem no decorrer da fase II (dos quatro (4) aos sete (7) anos), mas principalmente no decorrer da fase III (sete (7) aos onze (11) anos). O gênero não foi utilizado como critério para a seleção dos participantes. A escolha dos participantes deu-se de acordo com a indicação da professora. Os participantes dos dois grupos passaram pelas mesmas etapas para que a seleção fosse efetivada. 51 Para a seleção dos participantes foi utilizado o método da escolha “cega”, ou seja, a pesquisadora não teve conhecimento acerca de quais eram as crianças que possuíam os traços de TDAH e quais as que não possuíam tais traços. As entrevistas com a professora e com os pais foram realizadas por duas monitoras, sem a participação da pesquisadora. Esse método foi utilizado no decorrer de toda coleta de dados a fim de que conceitos e expectativas não fossem construídos antes do contato com os participantes. A pesquisadora foi informada acerca do grupo (com ou sem dificuldades de atenção) das crianças apenas ao final da coleta de dados. Os participantes foram divididos em dois grupos: os do Grupo A foram indicados pelas professoras como possuidores de traços de TDAH. Portanto, essas crianças não possuem um diagnóstico fechado e, conseqüentemente, não estavam fazendo uso de medicação no decorrer da coleta de dados. Essa medida visa eliminar a variável medicamento, pois a mesma poderia interferir de forma significativa no resultado final da pesquisa. Há ainda um Grupo B formado por crianças que também foram indicadas pelas professoras como não possuidoras de traços de TDAH. Cada grupo foi formado por 02 participantes, dessa forma a pesquisa foi realizada com um total de 04 participantes. Para garantir o anonimato dos participantes os nomes originais foram trocados por nomes fictícios. Grupo A Fem/Masc Idade Grupo B Fem/Masc Idade André M 10 Bruno M 9 Antônio M 9 Beatriz F 10 Quadro 3 - Divisão dos Participantes por Grupos 6.2. INSTRUMENTOS Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram o jogo Mancala, a Escala de TDAH – versão para professores (BENCZIK, 2000) e a tabela de diagnóstico utilizada para pais. A confirmação das indicações das professoras foi efetivada por meio da aplicação da escala de TDAH – versão para professores (BENCZIK, 2000). Após essa etapa uma tabela2 diagnóstica para pais foi utilizada. 2 A escala encontra-se disponível em: www.tdah.org.br. Acesso em 12/08/2004. Página eletrônica da Associação Brasileira do Déficit de Atenção - ABDA. 52 O Jogo Mancala foi descrito na seção introdutória (VER PÁG.44) do presente trabalho. A Escala de TDAH – versão para professores foi construída, validada e padronizada no Brasil e, portanto, considera questões sociais e políticas da nossa realidade. Essa é composta por 49 itens agrupados em três fatores: déficit de atenção/problemas de aprendizagem; hiperatividade/impulsividade e comportamento anti-social. O número de itens ficou assim distribuído: déficit de atenção (itens 1 a 16 da escala, sendo que 6 são positivos para o TDAH e 10 negativos); hiperatividade/impulsividade (itens 17 a 28, sendo 9 positivos e 3 negativos); problemas de aprendizagem (itens 29 a 42, sendo 6 positivos e 8 negativos) e comportamento anti-social (itens 43 a 49, sendo 4 positivos e 3 negativos). Os itens positivos o são para a presença do TDAH e os negativos para ausência do TDAH. A escala é do tipo Likert de 6 pontos em que a professora deve assinalar: DT (discordo totalmente), D (discordo), DP (discordo parcialmente), CP (concordo parcialmente), C (concordo) e CT (concordo totalmente) de acordo com as afirmações apresentadas em cada item (BENCZIK, 2000). O objetivo dessa escala é avaliar sintomas comportamentais do TDAH em ambiente escolar considerando, para tanto, as informações apresentadas pelo professor (BENCZIK, 2000). Não se pretende traçar um quadro completo das condutas da criança, mas sim obter informações relativas às impressões dos professores acerca da mesma já que “Certamente, há outros métodos para avaliar a resposta da criança ao tratamento, mas as escalas de verificação de comportamentos são uma ferramenta de valor na identificação e na avaliação da eficácia das intervenções” (BENCZIK, 2000, p. 22). A tabela utilizada com os pais possui 18 itens em que 09 estão relacionados ao déficit de atenção e 09 a hiperatividade/impulsividade. Essa está organizada para que os pais assinalem: Nunca ou raramente, Pouco, Bastante ou Quase sempre, de acordo com a freqüência em que os filhos apresentam os comportamentos descritos na tabela. Essa tabela pode ser visualizada no APÊNDICE I. 53 6.3. PROCEDIMENTOS Após a permissão por parte das escolas para efetivação da coleta em seus respectivos espaços físicos e com seus alunos, foi realizada uma entrevista com as professoras de crianças na faixa etária de 09 a 11 anos de idade, no intuito de que os possíveis participantes fossem identificados. Assim, solicitou-se à professora que identificasse dois alunos com indícios de dificuldade de atenção e dois alunos que não possuíssem tais indícios. Após a indicação dos participantes, as professoras responderam à Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – versão para professores, com a finalidade de confirmar as indicações feitas. As professoras preencheram uma escala para cada criança, analisando-as individualmente. Após essa etapa inicial, foi realizada uma entrevista de anamnese com os responsáveis pelos participantes. Nesse encontro foi aplicada uma outra tabela de diagnóstico TDAH – versão para pais e um termo de consentimento informado foi assinado pelos mesmos. Portanto, antes que as oficinas fossem iniciadas realizou-se uma reunião com as professoras para identificar os possíveis participantes e, posteriormente, com os pais para que pudessem assinar o termo de consentimento e, dessa forma, permitir a participação do filho na coleta de dados. Os dados foram coletados por meio de oficinas de jogos que ocorreram nas de pendências da própria escola. As oficinas iniciais ocorreram no primeiro tempo de aula e as finais, por solicitação da própria escola, ocorreram no horário do recreio. Cada criança participou de um total de 04 (quatro) oficinas, sendo que em cada uma foram jogadas cinco (05) partidas, totalizando vinte partidas para cada participante. A primeira oficina foi realizada com a participação da criança, do pesquisador e de um monitor (para auxiliar no registro das informações coletadas), e teve como objetivo apresentar, por meio de um protocolo de instrução padrão (APÊNDICE II), as regras do jogo Mancala, utilizado como instrumento no presente trabalho. Esse protocolo tem como finalidade padronizar a forma de apresentação das regras do 54 jogo para os participantes fazendo com que isso não se converta em variável capaz de modificar significativamente o resultado final desse trabalho. Durante o processo de seleção dos participantes foi utilizado como instrumento principal a Escala de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – versão para professores (BENCZIK, 2000). Nesse período, doze (12) crianças foram indicadas pelas professoras. Portanto, esta preencheu doze (12) escalas – uma para cada criança. O número elevado de crianças no processo de seleção foi necessário, pois a indicação da professora deveria ser confirmada na referida Escala por meio da apresentação de, no mínimo, um percentil 95 no item “Déficit de Atenção”. De acordo com o manual da referida Escala no percentil 95 encontra-se a região onde há maior probabilidade de ocorrer esse transtorno (BENCZIK, 2000, p.56). Houve ainda um caso em que os pais não autorizaram a participação da criança na pesquisa. Em um outro caso, a mãe revelou, previamente, para a experimentadora que a criança possuía tais problemas. Devido a técnica da “experimentação cega” os dados, acerca desse participante, não foram utilizados. A correção da Escala de TDAH – versão para professores (BENCZIK, 2000) se dá por meio de um somatório entre os sub-itens de cada grupo (Déficit de atenção, Hiperatividade/Impulsividade, Problemas de Aprendizagem e Comportamento Antisocial), após faz-se a correspondência desses números em uma tabela contendo percentis. Estes são os responsáveis pela localização do indivíduo que está sendo avaliado em uma das quatro regiões descritas como: abaixo da expectativa – apresenta menos problemas que a maioria das crianças (até percentil 25); média e/ou dentro da expectativa (percentis de 26 a 75); acima da expectativa – apresenta mais problemas que a maioria das crianças (percentis de 76 a 94) e região onde há maior probabilidade de apresentar o transtorno (percentil 95) (BENCZIK, 2000). Os percentis apresentados por cada participante de acordo com a escala preenchida pela professora serão apresentados no quadro a seguir: 55 Déficit de Hiperatividade/ Problemas de Comportamento Atenção Impulsividade aprendizagem anti-social André 95 65 80 40 Antônio 99 95 99 85 Bruno 5 45 10 1 Beatriz 5 10 10 35 Quadro 4 - Percentis de cada participante na escala de TDAH – Versão para Professores Participante O critério de seleção adotado foi de que o participante, com dificuldade de atenção, deveria apresentar um percentil 95 no item “Déficit de Atenção” na Escala de TDAH – versão para professores. Para os participantes que não possuíssem tais dificuldades o percentil deveria estar classificado como “abaixo da expectativa ou média e/ou dentro da expectativa” (até o percentil 75). Assim, após o processo de seleção apenas três crianças puderam participar da coleta de dados, pois cumpriram os requisitos da escala. Devido a essa dificuldade foi necessário buscar uma outra escola para que o último participante fosse selecionado. Dessa forma foi estabelecido contato com uma escola de ensino fundamental do setor privado e o número de participantes foi então completado. Ao final do processo de seleção, das 12 crianças indicadas inicialmente pelas professoras, apenas quatro participantes atenderam aos critérios preestabelecidos. Realizou-se então uma entrevista com os pais para confirmação da indicação das professoras. Nas entrevistas, os pais corroboraram a avaliação da professora por meio do preenchimento da tabela de TDAH – versão para pais. De acordo com os dados apresentados no quadro acima, os participantes ficaram assim organizados: André e Antônio no grupo das crianças com dificuldade de atenção e Bruno e Beatriz no grupo das crianças sem dificuldade de atenção. Por meio dessa análise pode-se concluir que o preenchimento da Escala pelas professoras foi o instrumento-chave para a seleção dos participantes. Após a certificação de que cada participante havia compreendido as regras do jogo, na primeira oficina que foi realizada apenas com o participante e o pesquisador, as oficinas em que os participantes jogariam em duplas foram iniciadas. Nenhum participante apresentou dificuldade significativa com relação ao entendimento das 56 regras do jogo e, portanto, não foi necessário repetir o procedimento inicial de explicação do mesmo. As demais oficinas ocorreram com a presença de dois participantes, o pesquisador e o monitor, com exceção da última oficina de cada participante que foi realizada de forma semelhante a primeira com a finalidade de possibilitar uma análise mais aprofundada, por parte do pesquisador, da evolução do participante durante a intervenção. Na última oficina foram apresentadas às crianças situações-problema relacionadas ao Mancala, a fim de observar a evolução dos participantes no que diz respeito à busca da melhor jogada possível para cada situação. As situaçõesproblema utilizadas foram propostas por Macedo; Petty e Passos (2000). Foi realizado um rodízio entre os jogadores de forma que todos jogaram contra todos. As oficinas foram filmadas, com o prévio assentimento dos pais dos participantes, a fim de possibilitar uma análise mais detalhada dos dados coletados e as partidas foram registradas por meio de um protocolo de registro, como um instrumento complementar de fornecimento de informações acerca das partidas. O protocolo de registro das partidas encontra-se no APÊNDICE III. A análise do desempenho dos participantes, bem como as condutas de desatenção foram analisadas por meio das filmagens. No entanto, as situações-problema foram registradas em protocolo e os dados de cada participante encontram-se no APÊNDICE IV. Portanto, a coleta de dados foi realizada em seis etapas que se encontram descritas de forma resumida no Quadro 6. Etapas 1a 2 Participantes Pesquisador e Diretor ou Coordenador Pesquisador e Professores 3a Pesquisador e Pais a a 4 a 5 Pesquisador, um Participante e o monitor Pesquisador, dois participantes e o monitor a 6 Pesquisador, um participante e o monitor Quadro 5 - Etapas da Coleta de Dados Atividade Contato com a escola. Entrevista com as professoras para indicação dos participantes e aplicação da Escala de TDAH – versão para professores. Entrevista com os pais para assinatura do Termo de Consentimento e aplicação da tabela de TDAH – versão para pais. 1a Oficina – apresentação do Mancala para cada participante em particular. 2a a 6a oficinas – os participantes jogarão entre si (haverá um rodízio para que todos joguem com todos) e o pesquisador participará como observador. 7a oficina e apresentação das situações-problema para cada participante em particular. 57 6.4. AVALIAÇÃO ÉTICA DE RISCOS E BENEFÍCIOS A Resolução Nº 196/96 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde e a Resolução Nº 016/2000 de 20 de dezembro de 2002 do Conselho Federal de Psicologia estabelecem uma série de normas para que se possam realizar pesquisas que envolvem seres humanos no Brasil. De acordo com as regras firmadas nessas resoluções, a presente pesquisa é de risco mínimo, já que os procedimentos realizados não representam riscos físicos ou psíquicos, além dos já existentes na vida cotidiana dos participantes. Entre os procedimentos adotados junto aos participantes e responsáveis pelos mesmos, nenhum contém assunto de foro íntimo que pudesse expor o indivíduo a alguma situação desconfortável. Todo o material utilizado ficará a cargo da pesquisadora, e quaisquer outros custos advindos da pesquisa são de sua responsabilidade. Como a pesquisa foi realizada com crianças entre 09 e 11 anos, foi proposto ao responsável legal pelas mesmas, como condição para participação, que assinem um termo de consentimento, visando deixar claros os fins da pesquisa e a livre vontade do indivíduo em colaborar com o presente trabalho. O modelo desse termo consta no APÊNDICE V. A análise dos dados coletados nas entrevistas será divulgada por meio de participação em congressos e publicação de artigos em periódicos especializados, contribuindo para a ampliação do corpo de conhecimentos acerca da temática em questão. Contudo fica assegurado aos participantes o anonimato. O questionário e as escalas a que se respondeu, bem como o relatório solicitado, depois de analisados, serão guardados por um prazo mínimo de cinco anos pela pesquisadora. No caso de os participantes desejarem ter conhecimento dos resultados, estes serão fornecidos de acordo com a disponibilidade de ambos – pesquisadora e participante. 58 7. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com Piaget, citado por Ribeiro (2001), (...) toda conduta cognitiva comporta sempre dois aspectos solidários e aparentemente antitéticos, os procedimentos e as estruturas. Ambos implicam transformações na atividade cognitiva. Nos procedimentos, essas transformações visam alcançar objetivos particulares ou variáveis, como, por exemplo, os envolvidos na tentativa de resolução de um problema prático e, nesse sentido, tem um caráter temporal (RIBEIRO, 2001, p. 23). Os aspectos da conduta dos participantes estudados no presente trabalho foram os procedimentos, ou seja, as ações de cada um com vistas a atingir o objetivo principal que é o de vencer o jogo. Dessa forma, os dados foram analisados buscando-se um aprofundamento na compreensão das condutas dos participantes com indícios de dificuldades de atenção por meio de um estudo comparativo entre estes e participantes sem tais indícios e por meio do estudo das estratégias utilizadas pelos mesmos no jogo Mancala, visando apreender as transformações ocorridas na atividade cognitiva, na tentativa de resolução do problema colocado pelo mesmo. Assim, duas categorias denominadas “condutas de desatenção” foram formuladas com a finalidade de que tais análises pudessem ser realizadas. Portanto, os estilos de jogar de cada participante foram analisados de forma a fornecer dados para que um estudo inter-grupos e inter-participantes fosse realizado, no que concerne ao estudo das dificuldades de atenção. Para tanto, os dados obtidos por meio da coleta de dados foram analisados sob três aspectos: desempenho no decorrer das partidas, as condutas de desatenção nas regras do jogo e as principais estratégias utilizadas no jogo. A análise do desempenho no decorrer das partidas foi realizada por meio da observação do resultado final das oficinas (sendo considerado como vencedor aquele que obteve o maior número de vitórias sob o número total de partidas de cada oficina), também da observação do participante que mais venceu sob o número total de partidas (somando-se todas as oficinas). A análise das estratégias construídas pelos participantes para vencerem o jogo foi realizada por meio do estudo das situações-problema apresentadas ao participante ao final das oficinas. 59 Após esse levantamento foi realizada uma comparação entre os participantes dos dois grupos (A e B), bem como entre os quatro participantes. 7.1. ANÁLISE DO DESEMPENHO E DAS ESTRATÉGIAS NO DECORRER DAS PARTIDAS A análise do desempenho dos participantes foi realizada a partir da tabulação do número de vitórias, derrotas e empates: a) dos jogadores; b) de cada jogador com os demais participantes e c) entre o Grupo A (participantes com dificuldade de atenção) e o Grupo B (participantes sem dificuldade de atenção). Os dados de cada jogador encontram-se no Quadro 7 e serão discutidos a seguir. GRUPO PARTICIPANTE André A Antônio Bruno B Beatriz Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % VITÓRIAS 12 60,00 6 30,00 9 45,00 4 20,00 DERROTAS 7 35,00 13 65,00 10 50,00 15 75,00 EMPATES 1 5,00 1 5,00 1 5,00 1 5,00 TOTAL DE PARTIDAS 20 100 20 100 20 100 20 100 Quadro 6 - Número total de vitórias, derrotas e empates por participante O jogador André foi o que obteve a maior percentagem de vitórias (60%), e a jogadora Beatriz foi a que obteve a maior percentagem de derrotas (75%). A percentagem de empates foi a mesma para todos os quatro participantes (5%). É importante ressaltar que os valores foram medidos para cada jogador em particular e não inter-jogadores. Considerando uma ordem decrescente da percentagem de vitórias ficaria assim configurado: André (60%), Bruno (45%), Antônio (30%) e Beatriz (20%). A ordem decrescente de derrotas seria a seguinte: Beatriz (75%), Antônio (65%), Bruno (50%) e André (35%). Considerando esses dados pode-se perceber que houve um intercalamento entre os participantes dos Grupos A e B, com uma pequena vantagem para os participantes que possuem dificuldades de atenção. 60 Observa-se que o jogador que obteve o melhor desempenho no decorrer das oficinas foi o André, participante do grupo com indícios de TDAH, e o que obteve o pior desempenho foi a Beatriz, participante do grupo que não possuía traços de TDAH. Diante dessas informações podemos observar que a questão de possuir ou não dificuldades de atenção não pode ser entendida enquanto garantia de fracasso ou de sucesso a priori. Todos os seres humanos possuem limitações, a questão é que as de alguns são mais evidentes e menos compreendidas do que a de outros. Para uma melhor visualização da relação entre vitórias, empates e derrotas de cada jogador será apresentado a seguir o Gráfico 1. 16 15 14 12 13 12 10 9 8 6 7 10 VITÓRIAS DERROTAS EMPATES 6 4 4 2 1 0 André 1 Antônio 1 Bruno 1 Beatriz Gráfico 1 - Número total de vitórias, derrotas e empates por participante O Gráfico 1 explicita que apesar de Beatriz ter apresentado uma percentagem superior de derrotas com relação aos demais jogadores, em números absolutos, este não foi significativamente superior ao número de derrotas apresentados por Antônio. É válido ressaltar que a mesma diferença, em números absolutos, existente entre o número de derrotas apareceu com relação ao número de vitórias, só que em ordem inversa, ou seja, Antônio apresentou um número superior de vitórias. Antônio e Beatriz foram os dois jogadores que apresentaram o número de derrotas maior do que o número de vitórias. É importante ressaltar que eles possuíam características diferentes durante o jogo. Antônio foi um jogador mais agitado, falava bastante enquanto Beatriz jogava em silêncio, aparentemente mais centrada no jogo. 61 Pode-se observar que houve uma significativa discrepância entre os números de vitórias e derrotas de Beatriz. O que não ocorreu com Bruno, pois apresentou uma diferença mínima (igual a 1, em números absolutos) entre vitórias e derrotas. É importante ressaltar que o menor número de vitórias foi igual a 4, ou seja, nenhum participante perdeu todas as 20 (vinte) partidas disputadas. Esse é um resultado importante, pois demonstra que as diferenças com relação à presença ou ausência das dificuldades de atenção não afetaram de forma significativa o desempenho dos jogadores. Em seguida serão analisados os números de vitórias, derrotas e empates de cada jogador em particular. 7.1.1. Desempenho do Participante André (Grupo A) O participante André mostrava-se bastante tranqüilo, falava pouco e aparentava estar concentrado no jogo como um todo no decorrer das oficinas. Mostrou-se competitivo apenas quando jogou contra Antônio, pois este competia o tempo todo com os adversários e chegava a incitá-los a competirem também. Durante essa oficina André e Antônio ficavam apontando os erros alheios e este, mesmo quando estava perdendo criticava as jogadas de André. Em determinado momento André começou a apresentar comportamento semelhante ao de Antônio. O Gráfico 2 apresenta o desempenho do jogador André no decorrer das oficinas com a experimentadora e com os demais participantes. 62 5 5 4 4 4 3 VITÓRIAS 2 1 0 DERROTAS EMPATES 2 2 1 0 DANIELA 0 0 BRUNO 0 1 ANTÔNIO BEATRIZ 1 Gráfico 2 - Desempenho do participante André (Grupo A) com relação à experimentadora e aos demais participantes. Com relação aos jogadores Bruno e Antônio, André obteve um número de vitórias significativas, perdendo apenas uma partida para o jogador Antônio. Nas oficinas com a participante Beatriz, ambos apresentaram o mesmo número de vitórias e derrotas. A única vez em que o jogador André empatou também foi com Beatriz. O pior desempenho de André foi quando jogou com a experimentadora, no entanto, é válido ressaltar que foi nessa oficina em que ele aprendeu as regras do jogo, pois não possuía conhecimento prévio acerca do mesmo. Essa foi oficina de apresentação do Mancala e, portanto, o número elevado de derrotas não deve ser considerado tão expressivo tendo em vista o objetivo da mesma. Deve-se ainda ressaltar que o jogador André, que obteve um desempenho superior aos demais, encontrou maiores dificuldades na oficina que participou com Beatriz, jogadora que obteve o menor desempenho dos quatro participantes. Durante a coleta de dados, em que a pesquisadora não tinha conhecimento de quem eram as crianças com dificuldades de atenção, em nenhum momento foi cogitada a possibilidade do jogador André pertencer a esse grupo. Pelo contrário, o pensamento foi de que ele pertencia ao grupo das crianças sem dificuldades de atenção devido à forma segura e à ampla visão que demonstrava possuir do jogo no decorrer das oficinas. Essa visão mostra como os julgamentos a priori baseados em conceitos pré-concebidos, ou seja, baseado naquilo que a sociedade considera como normal pode gerar uma série de erros de análise e dificultar o relacionamento com os demais. 63 7.1.2. Desempenho do Participante Antônio (Grupo A) Antônio apresentou uma certa dificuldade em apreender as regras do jogo quando este lhe foi apresentado pela pesquisadora. Mostrou-se impaciente ao escutar as regras do mesmo e se distraiu algumas vezes, durante a explicação, com as peças do jogo. Fazia erros de distribuição das peças no tabuleiro regularmente. Este foi o jogador que apresentou mais claramente os “sintomas” da dificuldade de atenção. O Gráfico 3 apresenta o desempenho do jogador Antônio no decorrer das oficinas. 5 5 5 4 4 4 VITÓRIAS 3 DERROTAS 2 1 0 EMPATES 1 0 0 DANIELA 0 BRUNO 1 ANDRÉ 0 0 0 BEATRIZ Gráfico 3 - Desempenho do participante Antônio (Grupo A) com relação à experimentadora e aos demais participantes. De acordo com a sua forma de jogar aparentava não possuir uma estratégia definida para vencer o jogo. Ele repetia freqüentemente que tinha conhecimento da jogada do outro, no entanto, nunca fazia as mesmas jogadas. Aparentemente a sua estratégia de jogo estava ligada à desestabilização do jogador adversário muito mais do que à construção de estratégias no tabuleiro do mesmo. Ele fazia um “jogo psicológico” com os adversários, muito mais do que prático. Em alguns momentos Antônio tenta burlar algumas regras do jogo para capturar sementes. Ele mostravase impaciente, conversava muito durante o jogo dando a impressão de que a sua estratégia era incomodar o jogador adversário para tirar a sua concentração. No decorrer das oficinas foram observadas duas situações bastante peculiares: quando jogou com a experimentadora perdeu todas as partidas e quando jogou com Beatriz venceu todas as partidas. Antônio perdeu o mesmo número de partidas para 64 o jogador André e para Bruno – quatro partidas para cada adversário. Ainda com relação ao Bruno ele empatou uma partida e venceu uma partida do jogador André. Na oficina em que jogou contra Beatriz, Antônio mostrou-se mais competitivo do que nas outras. Fez comentários em quase todas as jogadas de Beatriz. Ela parecia tão incomodada e irritada que começou a jogar rapidamente sem parar para pensar no que estava fazendo. É importante ressaltar que Beatriz era a que demorava mais a efetivar suas jogadas. Nessa oficina, ela fazia as suas jogadas quase que instantaneamente após as jogadas de Antônio. Foi uma oficina bastante peculiar, pois até mesmo a monitora e a pesquisadora sentiram-se incomodadas com a situação. Portanto, Antônio demonstrou uma estratégia muito peculiar ao jogar. Estratégia essa que nem sempre estava ligada diretamente ao jogo propriamente dito. A relação entre afetividade e inteligência pode ser observada de forma mais simples ao analisar a conduta de Antônio. Pois, considerando que esse “jogo psicológico” é fruto de uma grande dificuldade em lidar com perdas e fracassos, pode-se observar o nível elevado de influência que a mesma exerceu na determinação das estratégias, ligadas à movimentação das peças no tabuleiro, para vencer o jogo, dificultando ainda mais a concentração desse participante no mesmo e se sobrepondo à construção de estratégias mais efetivas. No caso de Antônio percebese que a afetividade exerceu uma influência muito significativa sobre a inteligência. Dessa forma, deve-se ressaltar a importância da afetividade no desenvolvimento cognitivo, inclusive, no desenvolvimento da inteligência, da capacidade de concentração e da implementação dos conhecimentos adquiridos nas estratégias construídas. A análise do desempenho de cada participante mostrou que Antônio não foi o que apresentou o pior desempenho, apesar das dificuldades acima discutidas, no entanto, o seu desempenho poderia ter sido superior se essa relação entre afetividade e inteligência estivesse mais equilibrada, no que diz respeito ao papel de cada uma na determinação da conduta do indivíduo. De acordo com as considerações realizadas, observa-se o que a afetividade não é o único fator de 65 determinação da inteligência, entretanto, é um fator que influencia significativamente no desenvolvimento da mesma. 7.1.3. Desempenho do Participante Bruno (Grupo B) No decorrer das oficinas Bruno demonstrou uma característica muito peculiar: chamar a atenção do jogador adversário quando ele esquecia de jogar novamente após colocar a última semente da distribuição no oásis e para capturar as suas próprias sementes quando o jogador adversário colocava a última semente da distribuição em uma casa vazia. Ele ainda “concerta” as jogadas do adversário quando esse esquece uma semente na casa que foi escolhida para a distribuição. Bruno foi o único jogador que apresentou esse comportamento de cooperação com os jogadores adversários. O Gráfico 4 apresenta o desempenho do jogador Bruno com relação ao número de vitórias, derrotas e empates no decorrer das oficinas. 5 5 4 4 4 4 3 VITÓRIAS DERROTAS 2 1 0 EMPATES 1 1 0 DANIELA 0 ANDRÉ 0 0 ANTÔNIO 1 0 BEATRIZ Gráfico 4 - Desempenho do participante Bruno (Grupo B) com relação à experimentadora e aos demais participantes. Quando indagado acerca da melhor forma de jogar respondeu que era “tapar os buracos dele (jogador adversário) e esvaziar o meu, pra poder capturar”. Ele ainda verbalizou que “observa os erros do outro jogador pra aproveitar”. Bruno disse a Antônio: - “Você tem que prestar mais atenção na minha estratégia”. O jogador Bruno apresentou um desempenho significativamente superior ao de Antônio e Beatriz – venceu quatro partidas de cada um, empatou uma com Antônio e perdeu uma para Beatriz. Nas partidas com a experimentadora e com André o 66 jogador Bruno perdeu a maior parte das partidas – quatro para Daniela e cinco para André. Ainda com relação à experimentadora, Bruno venceu uma partida. O desempenho de tal jogador foi equilibrado no que diz respeito ao número de vitórias e derrotas, sendo a diferença de apenas uma partida – oito partidas vencidas e nove perdidas. Bruno demonstrou possuir a habilidade de cooperar em um ambiente de competição (ambiente do jogo). Em nenhum momento ele demonstrou a vontade de perder o jogo, pelo contrário ele desenvolvia suas estratégias com o intuito de ganhá-lo. No entanto, isso não o impedia de mostrar ao jogador adversário os erros que este estava cometendo. Bruno aparentava estar bastante concentrado no jogo, não verbalizava muito durante as partidas e demonstrou tranqüilidade ao efetivar as jogadas escolhidas. Foi um dos jogadores que, aparentemente, possuía estratégias bem delimitadas para vencer o jogo, direcionando suas jogadas de acordo com tais estratégias. A conduta, apresentada por Bruno, cooperar com o aprendizado e com a construção de estratégias do jogador adversário é algo que pode ser analisado considerando a questão do erro, descrito na seção introdutória deste trabalho, pois observa-se que, nos momentos em que apresentou tal comportamento, Bruno estava transformando o erro em algo construtivo, ou seja, fazendo com que este passasse de sinônimo de fracasso para tornar-se fonte de aprendizagem. Esse comportamento apresentado por Bruno é muito interessante, visto ser uma conduta não esperada em um ambiente de competição como o do jogo proposto, pois esta ação implicava em um prejuízo direto (perdendo peças do jogo) ou indireto (chamando a atenção do jogador adversário para as regras do jogo). 7.1.4. Desempenho da Participante Beatriz (Grupo B) 67 Durante as primeiras oficinas, Beatriz cometeu erros de movimentação das sementes no tabuleiro, geralmente, movimentava as sementes para trás e não na direção do seu oásis. Tentava burlar algumas regras quando percebia que estava perdendo o jogo. Demorava em jogar e aparentava analisar as possibilidades de jogadas. A oficina em que jogaram Beatriz e Antônio foi bastante conturbada, pois ele falou durante toda oficina, o que tornou o ambiente bastante desagradável até mesmo para a pesquisadora e a monitora. Nas últimas partidas dessa oficina, Beatriz estava visivelmente incomodada e pareceu jogar de qualquer maneira como que para terminar logo a mesma. Apesar de Beatriz apresentar uma grande aversão pela possibilidade de perder no jogo, à medida em que isso se concretizava ela parecia “desestabilizada” não conseguindo construir estratégias que surtissem efeito no sentido de reverter a situação que se configurava, nesse momento ela passava a burlar algumas regras do jogo. Não tentava fazer isso constantemente, apenas esporadicamente. Dessa forma, novamente percebe-se a relação entre afetividade e desenvolvimento cognitivo. Desse modo pode-se observar como os sentimentos desestabilizam os indivíduos a ponto de influenciar significativamente o comportamento que será apresentado. Portanto, no momento em que isso acontece mesmo que o indivíduo esteja em uma determinada fase do desenvolvimento cognitivo poderá apresentar um comportamento não condizente com tal fase, pois ligado a uma fase anterior. Os dados acerca das vitórias, derrotas e empates estão apresentados no Gráfico 5. 5 5 4 4 4 3 2 2 1 0 1 1 0 DANIELA 2 0 BRUNO 0 1 VITÓRIAS DERROTAS EMPATES 0 ANTÔNIO ANDRÉ Gráfico 5 - Desempenho da participante Beatriz (Grupo B) com relação à experimentadora e aos demais participantes. 68 O desempenho da jogadora Beatriz foi significativamente inferior se considerado aos demais participantes, pois a mesma não venceu nenhuma oficina. A oficina em que apresentou o melhor desempenho foi contra André, em que obteve duas vitórias, duas derrotas e um empate. Com relação aos demais jogadores: uma vitória e quatro derrotas contra Daniela, o mesmo resultado quando jogou com Bruno e cinco derrotas quando jogou contra Antônio. Apesar do desempenho negativo Beatriz apresentava uma grande necessidade de vencer. Dois jogadores apresentaram desempenho que podem ser considerados surpreendentes: Beatriz (do Grupo B – crianças sem dificuldades de atenção) e André pertencente ao grupo das crianças com dificuldades de atenção (Grupo A). Beatriz apresentou o pior desempenho dos quatro participantes enquanto André apresentou o melhor desempenho. De acordo com a hipótese inicial os desempenhos esperados seriam os opostos. O outro jogador do Grupo A, Antônio, obteve um desempenho inferior a Bruno e André e superior apenas à Beatriz. Diante das informações até aqui apresentadas pode-se perceber um equilíbrio entre as crianças que possuem dificuldades de atenção e as que não possuem tais dificuldades. O que pôde ser observado é que a dificuldade de atenção não foi o único fator responsável pela derrota da criança que possuía as mesmas. O resultado do jogo não estava definido a priori. As oficinas mistas, entre crianças com dificuldades de atenção e crianças sem estas dificuldades, foram importantes momentos de superação de barreiras, de obstáculos e de estereótipos. Em seguida, serão apresentados dados relativos às vitórias, derrotas e empates dos Grupos A (com dificuldade de atenção) e B (sem dificuldade de atenção). 7.1.5. Desempenho dos Grupos A e B Observa-se no gráfico 6 que o desempenho dos participantes do Grupo A (crianças com dificuldades de atenção) foi superior ao desempenho dos participantes do Grupo B (crianças sem indícios de dificuldade de atenção), pois o primeiro grupo venceu um número maior de partidas do que o segundo. Importante ressaltar que a 69 diferença entre o número de vitórias (18 – Grupo A e 13 – Grupo B) e o número de derrotas (20 – Grupo A e 25 – Grupo B) foi igual a cinco, em ambos os casos. Cada grupo apresentou o mesmo número de empates (dois). 25 25 20 15 10 20 18 A 13 B 5 0 2 VITÓRIAS DERROTAS 2 EMPATES Gráfico 6 - Vitórias, derrotas e empates dos Grupos A e B Os números acerca das vitórias, derrotas e empates dos Grupos A e B apresentados no Gráfico 6 explicitam dados surpreendentes que alimentam a reabertura das discussões acerca da conduta e das limitações dos indivíduos considerados hiperativos. Pois o Grupo A que, teoricamente, deveria apresentar um desempenho inferior, demonstrou o contrário. Em contrapartida, o Grupo B que, teoricamente, seria mais apto, por não possuir dificuldades de atenção, apresentou um desempenho inferior ao primeiro grupo. O ser humano possui uma capacidade impressionante de se adaptar às situações mais adversas encontradas no decorrer da vida. Desde os primórdios a sociedade, sob a ótica da exclusão, vem produzindo identidades e catalogando pessoas. Essa produção é incorporada por nós durante todo o processo educacional. São inúmeras as categorias: os pobres e os ricos, os feios e os bonitos, os normais e os deficientes, os que possuem dificuldades de atenção e aqueles que não possuem. A utilização dessas categorias como se fossem naturais faz com que as pessoas esqueçam da impressionante capacidade de adaptação citada no início do parágrafo. Nesse ínterim, a pessoa como um todo é secundarizada e reduzida àquela parte ou capacidade que está ausente. 70 Os resultados apresentados até aqui nos fazem refletir acerca da hipótese que nós mesmos construímos (de que as crianças com dificuldades de atenção apresentariam um desempenho inferior àquelas que não possuem tais dificuldades), pois o que nos fez acreditar que as crianças apresentariam um desempenho inferior somente pelo fato de possuírem dificuldades de atenção, senão a crença de que aqueles que não possuem tais dificuldades são superiores, a priori? Está claro que não podemos negar que a existência de tais dificuldades exige uma capacidade de adaptação e superação muito maior do indivíduo que a possui. No entanto, isso não o faz melhor ou pior do que os outros e, sim, diferente, ou seja, os métodos que ele precisará utilizar serão diferentes dos que aqueles que não possuem tais dificuldades utilizam. Tais sujeitos poderão encontrar barreiras maiores, mas isso não significa que serão inferiores ou menos capazes. Os resultados apresentados remetem-nos novamente à teoria de Piaget, quando este afirma que os estágios de desenvolvimento não são fixos e que há um constante movimento de inda e vinda nos processos cognitivos. Portanto, o fato de não possuir dificuldade de atenção não significa que essa criança estará em uma fase mais adiantada do desenvolvimento com relação àquela que possui tal dificuldade. O desenvolvimento cognitivo é complexo e envolve uma combinação de diferentes aspectos a qual ainda não foi totalmente desvendada. 7.2. ANÁLISE DAS CONDUTAS DE DESATENÇÃO Para analisar as diferenças com relação à atenção dos participantes com indícios de TDAH (Grupo A) e aqueles sem indícios de TDAH (Grupo B) foram construídas duas categorias denominadas “Condutas de Desatenção Tipo-1 e Tipo-2”. Considerou-se conduta de desatenção a não execução de duas regras do jogo: a) jogar novamente quando a última semente da distribuição cair no oásis (Conduta de Desatenção Tipo 1 – CDT-1) e b) capturar as sementes do jogador adversário quando a última semente da distribuição cair em uma cavidade vazia – serão capturadas as sementes que estiverem na casa em frente à que estava vazia e que recebeu a última semente da distribuição – (Conduta de Desatenção Tipo 2 – CDT2). As regras acima descritas foram consideradas como as mais eficientes, no que concerne ao alcance do objetivo final do jogo, que é o de armazenar o maior número 71 de sementes no oásis. As condutas descritas foram prejudiciais para o alcance da meta estabelecida pelas regras do jogo. Realizou-se uma análise da freqüência em que esses episódios foram apresentados pelos sujeitos em particular, e em seguida, uma comparação inter-grupos. Cada uma dessas categorias foi confrontada com o número de vezes em que o participante poderia ter apresentado a Conduta de Desatenção, tal possibilidade foi denominada de “Freqüência Geral”. Na CDT-1 a Freqüência Geral significa o número de vezes em que a última semente da distribuição caiu no oásis; na CDT-2 a Freqüência Geral representa o número de vezes em que a última semente da distribuição caiu em uma casa vazia. Portanto, a Freqüência Geral em ambos os casos representa a possibilidade de exibição das Condutas de Desatenção (Tipos 1 e 2). O Gráfico 7 apresenta a relação entre a Freqüência Geral e a CDT-1 de cada participante. 120 115 100 80 94 91 84 CDT-1 60 FREQUÊNCIA GERAL 40 20 0 3 ANDRÉ 8 2 1 BRUNO Gráfico 7 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por participante Considerando a freqüência geral pode-se observar que a freqüência do CDT-1 não foi significativa. O jogador Antônio (Grupo A) foi o que apresentou o menor número relativo à freqüência geral (número de vezes em que a última semente da distribuição caiu no oásis) e o maior número relativo ao CDT-1. A simples visualização do Gráfico 07 permite observar que nenhum dos quatro participantes apresentou um número elevado de Condutas de Desatenção Tipo1 quando comparados à freqüência geral. 72 Abaixo (Quadro 8) estão explicitadas as porcentagens entre a freqüência geral e a freqüência do CDT-1. GRUPO A B CDT-1 Abs. % FREQÜÊNCIA GERAL André 3 2,61 115 Antônio 8 9,52 84 Bruno 2 2,20 91 Beatriz 1 1,06 94 SUJEITO Quadro 7 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por participante. A partir dos dados apresentados acima, pode-se perceber que os dois jogadores do Grupo A (crianças com dificuldades de atenção), Antônio e André apresentaram a maior porcentagem do CDT-1 (9,52% e 2,61%, respectivamente) com relação à freqüência geral. Apesar de que a porcentagem apresentada por Bruno (2,20%) esteve bem próxima à apresentada por André (2,61%). Beatriz apresentou a menor porcentagem (1,06%) de apresentação do CDT-1. A Conduta de Desatenção Tipo 1 – esquecer de jogar novamente quando a última semente da distribuição cair no oásis – é algo que pode vir a prejudicar o alcance do objetivo do jogo – acumular o maior número de sementes no oásis. Dessa forma, é válido ressaltar que a participante que obteve a menor porcentagem de apresentação do CDT-1 (Beatriz – 1,06%), ou seja, a que menos esqueceu de jogar novamente quando a última semente da distribuição caiu no oásis foi a que apresentou o pior desempenho com relação ao número de vitórias (venceu apenas quatro em um total de 20 partidas) no decorrer das oficinas. Com isso, percebe-se que apesar dos participantes do Grupo A terem apresentado um número maior de CDT-1, que era de se esperar visto que ambos possuem indícios de dificuldade de atenção, o jogador André conseguiu superar essa dificuldade apresentando um desempenho superior aos demais participantes. Apesar de o jogador Antônio não ter tido um desempenho tão bom quanto o do outro jogador do seu grupo, também não apresentou o pior desempenho com relação aos demais. 73 Considerando os dados apresentados acima pode-se observar que a estratégia de jogar a última semente da distribuição no oásis para jogar novamente foi bastante utilizada pelos quatro participantes, sendo que André (115) e Beatriz (94) foram os que mais se utilizaram de tal estratégia, seguidos por Bruno (91) e Antônio (84). Grupo A, Grupo B, Grupo B e Grupo A, respectivamente O jogador que utilizou essa estratégia o maior número de vezes (André) e o que apresentou a mesma o menor número de vezes (Antônio) pertencem ao Grupo A. A seqüência de apresentação da freqüência geral explicita um equilíbrio entre os grupos com relação à mesma. Dessa forma, percebe-se que não houve uma discrepância significativa no que diz respeito à utilização dessa estratégia entre os quatro participantes. Entretanto, o Quadro 9 apresenta um diferença significativa quanto à apresentação da CDT-1 entre os Grupos A e B, apesar de a freqüência geral não ter sido tão discrepante. Esse resultado vem confirmar a idéia inicial de que as crianças com dificuldades de atenção apresentariam um maior número de condutas de desatenção no jogo. Considerando que a situação de jogo como um momento agradável, descontraído e de divertimento, em que a pressão sobre a criança é menor esse resultado vem fortalecer a idéia de que os jogos de regras, nesse caso o Mancala, são importantes e eficazes na avaliação das dificuldades de atenção em crianças. As dificuldades apresentadas pelas crianças continuaram aparecendo só que de uma forma menos frustrante para as mesmas. GRUPO CDT-1 FREQÜÊNCIA Abs. % GERAL A 11 5,53 199 B 3 1,62 185 Quadro 8 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por grupo. O Quadro 9 explicita a relação entre os números absolutos de apresentação da CDT-1 e as porcentagens de cada grupo. O Grupo A obteve uma maior número de freqüência geral, ou seja, teve o maior número de possibilidades de apresentar a estratégia de jogar a última semente da distribuição mais vezes no oásis, no intuito de vencer o jogo. Percentualmente o Grupo A apresentou 5,53% de vezes o CDT-1, enquanto o Grupo B apresentou 1,62% das vezes tal comportamento. Pode-se 74 perceber que mesmo tendo apresentado uma freqüência geral maior do que o Grupo B, o Grupo A apresentou a porcentagem de CDT-1 superior. 200 199 150 185 A 100 50 0 B 11 CDT-1 3 FREQUÊNCIA GERAL Gráfico 8 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-1 por grupo. Observando o Gráfico 8 pode-se perceber que o número de CDTs-1 apresentado pelos participantes do Grupo A foi maior do que o apresentado pelos participantes do Grupo B. No entanto, faz-se necessário ressaltar que o Grupo A obteve uma maior freqüência geral, ou seja, da possibilidade de apresentar o comportamento de jogar novamente quando a última semente da distribuição cair no oásis. O grupo de crianças que possuem indícios de dificuldade de atenção (Grupo A) apresentou um maior número de Condutas de Desatenção Tipo 1 do que as crianças que não possuem tais indícios (Grupo B). Apesar de André (Grupo A) ter sido o segundo a apresentar o maior número do CDT-1, ele obteve o melhor desempenho dos quatro participantes. O participante Antônio que obteve um número bem elevado de CDT-1 se comparado aos demais (8 ou 9,52%) não foi o que apresentou o pior desempenho, pois este foi apresentado por Beatriz que, em contrapartida, apresentou o menor número de CDT-1(apenas uma vez). Portanto, podemos perceber que a CDT-1 não foi a causa determinante para o sucesso ou fracasso dos jogadores. Quanto a Conduta de Desatenção Tipo 2 (CDT-2) a apresentação da mesma pelos quatro participantes está explicitada no Quadro 10. 75 GRUPO CDT-2 Abs. % FREQÜÊNCIA GERAL André 5 4,63 108 Antônio 10 8,06 124 Bruno 3 2,56 117 Beatriz 2 1,74 115 SUJEITO A B Quadro 9 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por participante. A ordem decrescente de apresentação da CDT-2 foi a seguinte: Antônio, André, Bruno e Beatriz. Esta foi exatamente igual à ordem de apresentação da CDT-1. O participante que apresentou o maior número absoluto da CDT-2, bem como a porcentagem da mesma (8,06%) foi, novamente, Antônio. No entanto, o número de CDT-2 apresentado por André foi mais elevado se considerado ao CDT-1 e a porcentagem com relação à freqüência geral também se apresentou mais elevada. Diferentemente da CDT-1, Antônio foi quem teve o maior número de possibilidades de apresentar tal comportamento. A seguir, o Gráfico 11 será apresentado para uma melhor visualização da relação de apresentação da CDT-2 de cada participante. 140 120 124 117 108 100 115 80 CDT-2 FREQUÊNCIA GERAL 60 40 20 0 5 10 3 ANDRÉ ANTÔNIO BRUNO 2 BEATRIZ Gráfico 9 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por participante. Apesar de os participantes Antônio e André, pertencentes ao Grupo A – de crianças com dificuldade de atenção, apresentarem o maior número de CDT-2, pode-se observar que a freqüência geral, ou seja, as possibilidades de apresentação de tal comportamento foram significativamente superiores do que o comportamento efetivamente apresentado (Antônio: FG=124 e CDT-2=10 e André FG=108 e CDT2=05). 76 O número absoluto apresentado por André (05) não foi significativamente superior aos apresentados por Bruno (03) e Beatriz (02), ambos pertencentes ao Grupo B de crianças que não possuem dificuldade de atenção. A freqüência geral, ou seja, possibilidade de apresentação da CDT-2, do participante André foi a menor quando relacionada aos demais participantes. O Quadro 11 explicita a apresentação da CDT-2 dos Grupos A e B. GRUPO CDT-1 FREQÜÊNCIA Abs. % GERAL A 15 6,47 232 B 5 2,16 232 Quadro 10 – Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por grupo. Analisando o quadro acima se pode observar que o número absoluto de apresentações da CDT-2 foi três vezes maior para o Grupo A com relação ao Grupo B. Quanto à porcentagem o Grupo A também demonstrou um número mais elevado, 6,47% contra 2,16% do Grupo B. É válido ressaltar que a freqüência geral foi igual para ambos os grupos. Esses resultados novamente confirmam a idéia inicial de que as crianças com dificuldades de atenção apresentariam um número maior de tais condutas do que as crianças que não possuem tais indícios. No entanto, é válido ressaltar que tais condutas não foram apresentadas apenas pelas crianças do Grupo A. Todas as crianças apresentaram um certo índice tanto da CDT-1 como da CDT-2. Dessa forma, percebe-se que um certo limiar de desatenção é “normal” em todas as pessoas, visto que a manutenção da atenção concentrada consome bastante energia dos indivíduos. Isso nos faz pensar que os períodos de desatenção poderiam ser uma forma de “descansar” o cérebro do excesso de informações a que somos expostos. Se todos possuímos um certo grau de desatenção a diferença entre as crianças que possuem tais dificuldades das que não possuem será quantitativa e não qualitativa. Os que não são considerados como possuidores de dificuldade de atenção conseguem lidar com o limiar de desatenção como algo natural, portanto, isso nos 77 leva a crer que para as crianças que possuem um limiar de desatenção em um nível que prejudica a convivência e a realização de tarefas a questão é encontrar alternativas de superar tais dificuldades. O Gráfico 10 explicita a relação entre os dois grupos de forma a facilitar a visualização. 250 232 232 200 150 A 100 B 50 0 15 5 CDT-2 FREQUÊNCIA GERAL Gráfico 10 - Freqüência Geral e Freqüência da CDT-2 por grupo. Dessa forma, conclui-se que com relação às condutas de desatenção tanto nos participantes considerados individualmente quanto no desempenho por grupo quem obteve maior índice de apresentação de tais condutas foram os participantes com dificuldade de atenção (Grupo A). Confirmando, portanto, a hipótese inicial de que os participantes com dificuldades de atenção apresentariam um número superior de condutas de desatenção. No entanto, é importante ressaltar que essas condutas não prejudicaram significativamente o desempenho de André (Grupo A), pois foi quem obteve o melhor desempenho dos quatro participantes. A freqüência geral total dos Grupos (A e B) na CDT-1 e na CDT-2 ficou assim definida: CDT-1=384 e CDT-2=464. Esses resultados dão pistas acerca da estratégia montada pelos jogadores no decorrer das oficinas, pois observando os resultados apresentados pode-se perceber que a estratégia de jogar uma semente na casa vazia para capturar as sementes do adversário foi preferida por todos eles se comparada com a utilização da estratégia de jogar novamente quando a última semente da distribuição cair no oásis. 78 A análise das condutas de desatenção (CDT-1 e CDT-2) é senão a análise dos erros apresentados pelos participantes no decorrer das oficinas. É importante ressaltar que o participante Bruno lidou de forma diferenciada com relação ao erro apresentado pelo jogador adversário. Enquanto alguns torciam para que o outro cometesse algum tipo de erro no jogo, em alguns momentos o Bruno mostrava o erro que havia sido apresentado e permitia que o mesmo fosse corrigido. É importante ressaltar que o erro não foi o único responsável pelo sucesso ou fracasso dos jogadores, como pôde ser observado nos índices de conduta de desatenção apresentados pelos mesmos. O maior exemplo disso foi o jogador André, pois apesar de ter apresentado o segundo maior número de condutas de desatenção (CDT-1 e CDT-2) foi o que apresentou o melhor desempenho no que diz respeito ao número de vitórias, derrotas e empates quando comparado aos demais jogadores. 7.3. ANÁLISE DA RESOLUÇÃO DAS SITUAÇÕES-PROBLEMA As situações-problema foram apresentadas a cada sujeito individualmente, ao final das oficinas. Portanto, participou dessa etapa apenas um dos sujeitos por vez, a pesquisadora e a monitora. Nesta, as crianças foram questionadas acerca de qual seria a melhor jogada para cada uma das sete situações apresentadas, ou seja, foi requerido dos mesmos pensar acerca da melhor estratégia a ser utilizada em cada situação proposta. As questões utilizadas foram propostas por Macedo, Petty e Passos (2000), as quais serão apresentadas durante a exposição dos resultados. Os sujeitos não apresentaram dificuldade em compreender e responderam com certa velocidade às questões propostas. Pressupõe-se que cada criança adote estratégias para resolver as situações-problema que são colocadas. Essas estratégias envolvem, Dois aspectos centrais: uma idéia a respeito do objetivo a ser alcançado e uma noção acerca dos meios para atingi-lo. A resolução da tarefa envolve, assim, de um lado, compreensão do problema e, de outro, procedimentos para resolvê-lo. O nível estrutural fixa os limites dentro dos quais a criança pode assimilar a situação problema e oferece a gama de procedimentos possíveis de serem empregados para resolvê-la (DAVIS E ESPÓSITO, 1990, p.73). 79 Dessa forma, os três níveis de conduta propostos por Piaget (1976) e apresentados na seção introdutória do presente trabalho serão utilizados no intuito de identificar o nível e, portanto, o limite dentro do qual a criança se encontra para que haja uma maior compreensão das respostas apresentadas pela mesma. No entanto, fez-se necessário uma adaptação dessas condutas para o jogo Mancala, especialmente para a análise das situações-problema. Portanto, as condutas foram assim adaptadas: • Alfa: respostas incorretas às situações-problema (ressaltando que as respostas consideradas corretas foram as descritas por Macedo; Petty e Passos (2000); • Beta: respostas corretas, que não infringiam as regras do jogo, mas que não estavam de acordo com a resposta proposta por Macedo; Petty e Passos (2000); • Gama: repostas e justificativas de acordo com o proposto por Macedo; Petty e Passos (2000). As questões apresentadas nas situações-problema possuíam um nível crescente de dificuldade, sendo as últimas (IVA e IVB) as que exigiam um maior nível de atenção no território do jogador e do adversário. Em todas as situações apresentava-se uma determinada configuração do jogo e, em seguida, fazia-se perguntas ao participante. Nenhum dos quatro participantes acertou a questão IV por completo, o que implica em que nenhum dos participantes acertou a todas as questões propostas. Inicialmente foi realizado um levantamento acerca de quais questões foram respondidas de forma correta por cada sujeito e quantas questões cada sujeito acertou. Os dados dessa análise estão explicitados a seguir (Quadro 12). SITUAÇÕES Beatriz Antônio Bruno André I CORRETA CORRETA CORRETA CORRETA IIA INCORRETA INCORRETA INCORRETA CORRETA IIB CORRETA CORRETA CORRETA CORRETA IIIA INCORRETA INCORRETA INCORRETA CORRETA IIIB INCORRETA INCORRETA INCORRETA CORRETA IVA INCORRETA CORRETA INCORRETA INCORRETA IVB INCORRETA INCORRETA CORRETA INCORRETA Quadro 11 - Questões corretas e incorretas de cada indivíduo nas situações-problema 80 Todos os quatro participantes acertaram as questões I e IIB. Antônio (Grupo A) foi o único participante que acertou a questão IVA. Bruno (Grupo B) foi o único que acertou a questão IVB. André (Grupo A) foi quem apresentou melhor desempenho na resolução das questões, apresentou apenas dois erros (questões IVA e IVB) e foi o único jogador que acertou as questões IIA, IIIA e IIIB. A seguir será apresentado, no Quadro 13, o total de questões corretas e incorretas de cada sujeito, bem como o percentual de erros e acertos de cada um. GRUPO N° DE QUESTÕES CORRETAS N° DE QUESTÕES INCORRETAS TOTAL Abs.. 5 2 7 % 71,43 28,57 100 Abs.. 3 4 7 % 42,86 57,14 100 Abs.. 3 4 7 % 42,86 57,14 100 Abs.. 2 5 7 % 28,57 71,43 100 SUJEITO André A Antônio Bruno B Beatriz Quadro 12 – Número de questões corretas e incorretas por sujeitos nas situações-problema Beatriz (Grupo B) obteve 28,57% de acertos e 71,43% de erros, foi a participante com a maior porcentagem de respostas incorretas e a menor de respostas corretas. André (Grupo A) obteve números exatamente contrários aos de Beatriz, ou seja, 71,43% de acertos e 28,57% de erros. Dessa forma, ele foi o participante com o maior número de respostas corretas e com o menor número de respostas incorretas. Os participantes Antônio (Grupo A) e Bruno (Grupo B) obtiveram a mesma porcentagem de questões corretas (42,86%) e incorretas (57,14%). O Gráfico 11 demonstra de forma mais clara a relação entre erros e acertos de cada participante que foi discutida acima. 81 5 5 5 4 3 2 4 4 3 QUEST. CORRETAS 3 2 QUEST. INCORRETAS 2 1 0 BEATRIZ ANTÔNIO BRUNO ANDRÉ Gráfico 11 – Número de questões corretas e incorretas por sujeito A seguir serão apresentadas as situações-problema individualmente, de acordo com o modelo proposto por Macedo; Petty e Passos (2000, pgs. 74 e 75). A situaçãoproblema I está apresentada no Quadro 14. 1. Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique. 12 (3) (0) (3) B 1 A 11 (3) (3) 2 10 (3) (3) 3 9 (3) (3) 4 8 (3) (3) 5 7 (3) (0) (3) 6 Quadro 13 - Situação-problema I Fonte: Macedo, 2000, p.74 Como observado no Quadro 14, nessa situação-problema apresentava-se o tabuleiro pronto para iniciar uma partida e era dada a seguinte instrução “Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique”. De acordo com Macedo; Petty e Passos (2000, p.115) a resposta correta para essa situação seria: “começar pela casa 10, porque permite mais uma jogada”. Os quatro participantes não tiveram dúvidas para responder e justificar corretamente à questão. Diante de tal resultado pode-se perceber que nessa situação-problema todos os participantes puderam analisar de maneira bastante eficaz a configuração geral do jogo para poder tomar a decisão mais vantajosa quanto ao início do mesmo. Dessa forma, observa-se que os jogadores apresentaram a conduta gama, descrita por Piaget (1976), pois realizaram as antecipações e análises necessárias para equilibrar a situação que lhes foi proposta. 82 A seguir será apresentada a situação-problema II no Quadro 15. 2. O jogo está como mostra a situação ao lado. a) Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê? b) Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez? A (1) B 12 (4) (3) 1 11 (4) (3) 2 10 (0) (3) 3 9 (3) (3) 4 8 (3) (3) 5 7 (3) (3) 6 (0) Quadro 14 - Situação-problema II Fonte: Macedo, 2000, p.75 Na situação-problema II (Figura 4) havia duas questões IIA e IIB. Apenas André (Grupo A) respondeu corretamente a questão IIA “Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê?”, no entanto, a resposta estava incompleta considerando que a resposta esperada seria: “Mexeria as casas 9 ou 11 para se defender de B” (MACEDO; PETTY E PASSOS, 2000, p.115). André respondeu apenas a casa 11. Os demais jogadores dirigiram a atenção para a possibilidade imediata de capturar sementes, ou seja, de atacar o adversário, enquanto a resposta correta seria a de movimentar as sementes de uma forma defensiva, pois de outra maneira o número de sementes perdidas seria superior ao de sementes adquiridas. É importante ressaltar que a resposta desses jogadores não infringia nenhuma das regras do jogo, a questão é que foi uma resposta isolada, baseada apenas no momento presente e não uma resposta visando um resultado positivo no jogo em longo prazo. Portanto, a noção de implicação entre as ações, essencial para o desenvolvimento do pensamento dialético, já pode ser observada, embora acompanhada pelas limitações estruturais de cada participante. Considerando as condutas alfa, beta e gama com relação ao jogador André (Grupo A) a conduta apresentada foi do tipo gama, visto que ele continua incorporando ao sistema todas as informações necessárias para resolver o problema que lhe foi proposto. Ele apresenta um equilíbrio no momento de resolver o mesmo, apesar de não responder a questão de forma completa. A questão foi considerada correta, pois 83 na pergunta proposta ao jogador se faz referência a apenas uma casa (Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria?) O tipo de conduta dos demais participantes (Beatriz (Grupo B), Antônio (Grupo A) e Bruno (Grupo B) pode ser classificado como beta, visto que eles conseguem incorporar o novo ao sistema, no entanto, não apresentam a resposta mais equilibrada para o jogo, estando limitados a algumas percepções imediatistas. A questão IIB era a seguinte: “Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez?” Os quatro participantes responderam a questão como esperado: “Deve mexer a casa 4 e jogar novamente saindo da casa 1 para capturar 4 sementes que estão na casa 9 do adversário” (MACEDO; PETTY E PASSOS, 2000, p.115). No entanto, Beatriz e Bruno (Grupo B) e André (Grupo A) apresentaram o número total de sementes que seriam colocadas no oásis (1- que foi colocada no oásis para jogar novamente + 4 da casa 9 = 5 sementes), enquanto Antônio (Grupo A) se limitou a contar as 4 sementes adquiridas na casa 9. Nessa questão podemos observar que os quatro participantes apresentaram a conduta do tipo gama ao resolverem o problema proposto, no entanto, apesar de todos terem respondido corretamente à questão o jogador Antônio apresentou uma resposta diferenciada, no sentido de menos abrangente, que os demais. O Quadro 16 ilustra a situação-problema n°III. 3. Observe a figura ao lado. a) Descreva a seqüência de movimentos que o jogador A deve fazer para colocar o maior número de sementes em seu oásis. A (9) B 12 (1) (0) 1 11 (2) (0) 2 10 (3) (0) 3 9 (0) (1) 4 8 (0) (3) 5 7 (0) (4) 6 (13) b) Quantas sementes ganhou? Quadro 15 - Situação-problema III Fonte: Macedo, 2000, p.75 Na situação III também havia duas questões: na IIIA foi solicitado ao jogador que descrevesse a seqüência de movimentos que o jogador A deveria fazer para colocar 84 o maior número de sementes em seu oásis. A resposta esperada: “A sequência de movimentos é 12, 11, 12, 10, 12” (MACEDO; PETTY E PASSOS, 2000, p.115). Os jogadores que ficaram mais longe da resposta correta foram Antônio (Grupo A) e Bruno (Grupo B). Beatriz (Grupo B) conseguiu resolver a questão após três tentativas e André (Grupo A) foi o único que conseguiu descrever a seqüência corretamente. Para responder corretamente a essa questão era necessário ter uma visão geral do próprio tabuleiro e antecipar as jogadas, pois era necessário contar o número de sementes que havia em cada casa (principalmente as que ficam próximas ao seu oásis) e contar quantas haveria após a movimentação; só assim seria possível realizar toda a seqüência. Com relação aos tipos de conduta Beatriz (Grupo B) e André (Grupo A) apresentaram a conduta gama, no entanto, a primeira necessitou de um tempo maior para equilibrar os elementos necessários para a resolução do problema. Os demais jogadores, Antônio (Grupo A) e Bruno (Grupo B), apresentaram uma conduta do tipo alfa, pois não conseguiram equilibrar os elementos propostos na situaçãoproblema para resolvê-la corretamente e, além disso, não puderam perceber aonde estava a incoerência. A questão IIIB é continuação da IIIA, nessa pede-se para que a criança conte quantas sementes ganhou após a resolução da questão anterior (IIIA). Mais uma vez apenas André (Grupo A) respondeu corretamente (“O jogador ganhará 5 sementes”), pois Beatriz mesmo tendo conseguido resolver a questão IIIA corretamente, após algumas tentativas, não conseguiu contar de forma correta as sementes que haviam sido colocadas no oásis. Considerando essa questão em particular apenas o jogador André (Grupo A) apresentou a conduta do tipo gama, enquanto os demais apresentaram uma conduta do tipo alfa. No entanto, analisando a situação-problema III como um todo a conduta de Beatriz (Grupo B), que havia inicialmente sido classificada como gama e alfa, respectivamente, seria classificada como conduta beta, pois como não apresentou a justificativa correta para a questão inicial, respondida corretamente, pode significar que o acerto foi por acaso e não fruto de uma equilibração dos 85 elementos. Isso leva a considerar que ela percebeu os novos elementos e os incorporou, de maneira parcial, ao sistema. O Quadro 17 apresenta a situação-problema IV. 4. Analise a situação ao lado e responda às questões a seguir: a) Qual jogador você gostaria de ser? Justifique. A b) Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada. Quadro 16 - Situação-problema IV Fonte: Macedo, 2000, p.75 B (5) 12 (1) (1) 1 11 (2) (1) 2 10 (10) (0) 3 9 (3) (2) 4 8 (0) (1) 5 7 (0) (7) 6 (3) A quarta e última situação-problema foi a que exigiu uma visão mais completa do tabuleiro, tanto do território próprio quanto do território do adversário. Na questão IVA perguntava-se ao participante qual jogador ele gostaria de ser, sendo necessário justificar a resposta. De acordo com Macedo; Petty e Passos (2000, p.115) a resolução correta seria: “O jogador A, porque resgata 12 sementes. O jogador B consegue, no máximo, 10 sementes, movimentando sua semente de 2 para 3”. Os participantes Bruno (Grupo B), Beatriz (Grupo B) e André (Grupo A) responderam da mesma forma, e a resposta esta estava ligada à visualização da captura imediata de sementes no território do jogador B. Apenas Antônio (Grupo A) observou os dois territórios e percebeu que no território do jogador A ele poderia primeiramente jogar a última semente da distribuição no oásis, para jogar novamente, e então poderia capturar mais sementes do que o jogador B. É importante ressaltar que o jogador Antônio (Grupo A) que até então não havia demonstrado um grande desempenho na resolução das situações-problema conseguiu resolver corretamente, esta que foi considerada a questão mais difícil, pois exigia mais atenção, abstração e percepção do jogo. Na primeira parte dessa situação-problema pôde-se observar resultados bastante peculiares, visto que apenas o jogador Antônio (Grupo A) apresentou conduta do tipo gama, enquanto André (Grupo A), que até então só havia apresentado esse tipo de conduta, apresentou uma conduta beta, da mesma forma Beatriz e Bruno (ambos do Grupo B). Esses três participantes conseguiram equilibrar os elementos apenas 86 de forma parcial, pois não apresentaram as antecipações necessárias para perceber a melhor forma de combinar os elementos para que o sistema fosse equilibrado de forma total. Apenas Bruno (Grupo B) respondeu corretamente a questão IVB “Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada” – resposta esperada “seqüência de movimentos 12-11-1210” (MACEDO; PETTY E PASSOS, 2000, p.115). Esta pode ser considerada a questão com maior grau de dificuldade e de antecipação, raciocínio e atenção nos dois territórios. Beatriz (Grupo B) realizou quatro tentativas, mas o maior número de sementes que conseguiu reunir foram quatro. André (Grupo A) realizou três tentativas e conseguiu reunir o mesmo número de sementes que Beatriz (quatro). Antônio (Grupo A) chegou bem próximo, conseguiu reunir 10 sementes nas duas tentativas que realizou. Nessa questão todos os participantes apresentaram uma conduta do tipo alfa, pois não conseguiram equilibrar os elementos que foram propostos para resolução correta da situação-problema proposta. Analisando as condutas apresentadas pelos sujeitos ao longo das quatro situações apresentadas pode-se perceber a dialética do desenvolvimento cognitivo, pois não há uma seqüência linear na apresentação das condutas, da menos equilibrada, alfa, para a mais equilibrada, beta, o que podemos perceber é que estas vão se alternando no decorrer do desenvolvimento das estruturas cognitivas. No entanto, comparando-se os dois grupos (A e B) observa-se que o grupo A, especialmente o jogador André, apresentou um número maior de condutas do tipo gama do que os demais. Com isso pode-se observar a complexidade que envolve o desenvolvimento cognitivo, pois o Grupo A, de crianças com dificuldades de atenção obteve o melhor desempenho com relação ao número de vitórias, derrotas e empates, em contrapartida apresentou o maior índice de condutas de desatenção e, por último, apresentou o maior número de condutas gama. No Mancala a conduta gama significa que o jogador apresentou o nível mais elevado de desenvolvimento no jogo. Dessa forma observa-se que a dialética do desenvolvimento envolve uma 87 sucessão contínua de equilíbrios e desequilíbrios, de idas e vindas. Para que o desenvolvimento não recue ao invés de progredir existem os processos de compensação que buscam restaurar o equilíbrio momentaneamente perdido. A existência de tais processos torna possível ao indivíduo superar-se e evoluir constantemente no seu processo de desenvolvimento, percebendo as implicações entre as ações e, dessa forma, o significado das mesmas para o alcance dos objetivos desejados; é por isso que os indivíduos do Grupo A, mesmo apresentando condutas aparentemente contraditórias, puderam apresentar um desempenho geral superior, com relação ao número de vitórias, derrotas e empates e resolução das situações-problema, ao desempenho do Grupo B (crianças que não apresentam dificuldade de atenção). A seguir será realizada análise acerca das questões corretas e incorretas apresentadas no decorrer da resolução das situações-problema com relação aos Grupos A e B. As questões corretas e incorretas encontram-se no Quadro 18. N° DE QUESTÕES CORRETAS N° DE QUESTÕES INCORRETAS TOTAL Abs. 8 6 14 % 57,14 42,86 100 Abs. 5 9 14 % 35,71 64,29 100 GRUPO A B Quadro 17 – Número de questões corretas e incorretas dos grupos A e B De acordo com Quadro 18 pode-se observar que o Grupo A obteve o maior número absoluto de questões corretas (8) e o menor número absoluto de questões incorretas (6). Com relação Grupo B, este obteve cinco questões corretas e nove incorretas. Dessa forma, o Grupo A obteve desempenho superior na resolução das situações-problema com relação ao Grupo B. Portanto, assim corroborando o melhor desempenho com relação ao número de vitórias, derrotas e empates no decorrer das oficinas o Grupo A atingiu um melhor índice geral, com relação ao número de questões corretas e incorretas nas situações-problema, do que o Grupo B. Mais uma vez podemos perceber que as dificuldades de atenção apresentadas pelos sujeitos do Grupo A não foram suficientes para prejudicar significativamente o raciocínio, a percepção e a antecipação necessários para atingir o êxito no jogo. 88 Por meio da análise das situações-problema, bem como das condutas de desatenção e do desempenho dos participantes observa-se as significações que cada um vai construindo no decorrer do jogo. Dessa forma, a relação dialética entre as implicações entre as ações e a construção de significados é explicitada quando se observa a construção das estratégias para vencer o jogo e quando a criança fornece uma justificativa para as mesmas. 89 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Dificuldade de Atenção é um tema complexo e inquietante, visto que possui muitas variáveis a serem consideradas. Para entender com maior profundidade a mesma faz-se necessário considerar tanto questões de ordem biológica como questões relacionadas às produções na sociedade capitalista em que vivemos. Espera-se que os questionamentos levantados pelas discussões aqui iniciadas sejam úteis para a quebra de paradigmas excludentes e limitantes e para a mudança das posturas preconceituosas com relação às pessoas que apresentam características do TDAH nos diversos ambientes em que elas estiverem inseridas. Com relação à escola, (...) é importante que o professor faça uso, em sua prática docente, dos 3 desequilíbrios apresentados por seus alunos, de forma a lhes propiciar condições para construírem novas estruturas cognitivas e chegar a novos estados de equilíbrios, maiores e superiores aos precedentes (DAVIS E ESPÓSITO, 1990, p.74). A forma como o TDAH é abordado, especialmente nas escolas, precisa ser revista, pois a educação recebida pelas crianças na escola tem um papel muito importante, no que diz respeito, a como elas enxergarão e enfrentarão o mundo. O sistema de ensino precisa tornar-se menos excludente e limitante para que as diferenças sejam aceitas, respeitadas e devidamente trabalhadas. O processo educacional é longo e cheio de percalços, em que O ideal da educação, não é aprender ao máximo, maximalizar os resultados, mas é antes de tudo aprender a aprender; é aprender a se desenvolver e aprender a continuar a se desenvolver depois da escola (PIAGET, 1973, p.32). Portanto, o maior desafio para a criança com dificuldade de atenção é desenvolver a sua forma particular de aprender e é nesse momento em que ela precisa do educador para apontar as possibilidades. No entanto, o processo de formatação do 3 Os termos desequilíbrios e equilíbrios são utilizados segundo a teoria piagetiana 90 conhecimento e da forma de conhecer impetrado pela escola tem feito com que esta seja transformada em um ambiente de exclusão onde quem não se adapta é marginalizado e desrespeitado em sua singularidade. A lógica adaptativa não permite que as diferenças sejam expostas e trabalhadas; essa lógica tem produzido “indivíduos em série”, programados para atender ao regime capitalista vigente. De acordo com Piaget (1962) o afeto é essencial na constituição da inteligência, no entanto, não é a única causa dessa constituição. Pois, (...) o afeto explica a aceleração ou retardamento da formação das estruturas – a aceleração no caso de referir-se ao interesse e necessidade; retardamento quando os estados afetivos atuam como obstáculos para o desenvolvimento intelectual (PIAGET, 1962, p.02). Considerando essa íntima participação da afetividade no processo de constituição da inteligência, bem como sua importância no que diz respeito à produção e manutenção dos interesses e necessidades de cada indivíduo, é necessário ressaltar que cada pessoa possui interesses e necessidades diferenciadas e que, portanto, elas poderão responder de forma diferenciada a um mesmo estímulo. Dessa forma as crianças que possuem traços de TDAH poderão responder aos estímulos, tanto em casa como na escola ou em outro ambiente em que esteja, de forma diferenciada daqueles que não possuem traços de tais dificuldades. Não significa dizer que as primeiras são inferiores ou menos capazes e, sim que necessitarão de estímulos e alternativas, em alguns momentos diferentes das que não possuem tais dificuldades, que as toquem afetivamente. Construindo um paralelo entre a utilização das escalas para diagnóstico do TDAH e a utilização do jogo Mancala para observação das características do mesmo, podese observar, novamente, a complexidade de tal processo diagnóstico e, além disso, que tal diagnóstico não deve ser visto como um “limitador natural” das capacidades da criança ou do adulto. Fato que pode ser visualizado pelo desempenho das crianças com traços de TDAH, segunda as escalas utilizadas, nas oficinas realizadas. Dessa forma, a partir dos dados obtidos possibilitaram a produção de um novo olhar sobre o TDAH, olhar mais amplo, menos limitador, menos estigmatizado. E também a necessidade de construção de meios mais dinâmicos 91 para realizar o diagnóstico, visto que as escalas não são detentoras de verdades absolutas e inquestionáveis. Portanto, é necessário repensar o TDAH, bem como o processo diagnóstico realizado correntemente. O TDAH tem sido utilizado para produzir um rótulo permanente para a pessoa que possui tais características. No entanto, faz-se necessário que essa limitação impetrada pela sociedade seja desnaturalizada, possibilitando à criança a construção do conhecimento de forma ativa e responsável. Para que isso se torne possível é necessário que seja realizada uma flexibilização dos sistemas de avaliação para que estes passem a procurar e trabalhar com os erros construtivos que possibilitam um desenvolvimento mais participativo e menos doloroso para o indivíduo. Considerando os resultados das análises do desempenho dos participantes, das CDT-1, da CDT-2 e das situações-problema pode-se observar que houve um relativo equilíbrio entre o Grupo A (crianças com indícios de dificuldade de atenção) e o Grupo B (crianças que não possuem tais indícios). Dessa forma, os resultados encontrados possibilitam a desnaturalização das limitações e incapacidades atribuídas previamente às pessoas diagnosticadas como TDAH. O intuito não é negar que existam algumas particularidades e, sim dar a essas crianças o direito de ultrapassarem as barreiras, vencendo os desafios que lhe são colocados pelas suas dificuldades para que, dessa forma, possam lutar pelos seus sonhos e construírem uma vida de satisfação pessoal. Portanto, a busca aqui é para que as crianças com dificuldades de atenção não sejam vistas apenas pela lente do estereótipo, mas como pessoas com qualidades e defeitos aptas a aprender a lidar com eles da melhor forma possível. As discussões acerca desse tema não serão encerradas aqui, pois este trabalho é apenas o ponto de partida para que novos conhecimentos sejam produzidos contribuindo, dessa forma, para uma compreensão menos limitada acerca das dificuldades de atenção e do próprio TDAH. Esse é apenas o início de uma longa jornada em busca de uma visão mais positiva acerca da vida e de suas peculiaridades, em que a superação deve ser a palavra-chave. 92 De acordo com os resultados apresentados, pode-se considerar que o objetivo principal da pesquisa de investigar a possibilidade de utilização do jogo Mancala como instrumento de avaliação de crianças com dificuldade de atenção foi alcançado, visto que as condutas de desatenção das crianças que haviam sido diagnosticadas como possuidoras de tal dificuldade puderam ser observadas no decorrer das oficinas com o referido jogo. Os resultados aqui apresentados não devem ser considerados verdades absolutas, mas um direcionador de novos caminhos a serem percorridos. No entanto, no estudo comparativo entre crianças com dificuldades de atenção e crianças sem tais dificuldades observou-se que os dois grupos de crianças apresentaram condutas de desatenção. Entretanto, o número de tais condutas apresentadas pelas primeiras foi superior ao apresentado pelas do segundo grupo. Esses resultados exprimem a complexidade e dificuldade quanto ao diagnóstico de tais dificuldades, pois, como pôde ser observado, não existe uma separação radical entre os indivíduos que, teoricamente, possuem tais dificuldades e aqueles que não as possuem. Dessa forma, faz-se necessário buscar novos instrumentos para o diagnóstico para que este propicie uma visão ampliada das dificuldades de atenção. É importante ressaltar que o diagnóstico de tais dificuldades é complexo e deve ser realizado apenas por profissionais qualificados, pois dessa forma evita-se o rótulo e o excesso de crianças e adultos diagnosticados, de forma assistemática, como possuidoras dessas dificuldades. A promoção de discussões e de informação acerca dessa tema para a sociedade como um todo seria de grande valia na busca por uma melhor convivência com as diferenças apresentadas pelas pessoas que possuem dificuldades de atenção. 93 9. REFERÊNCIAS ANDRADE, Ê. R. de; SCHEUER, C. (2004). Análise da eficácia do Metilfenidato usando a versão abreviada do Questionário de Conners em Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade. Arquivos Neuro-Psiquiatria, 61, (1), 112-114. ANTONY, S.; RIBEIRO, J. P. (2004). A criança hiperativa: uma visão da abordagem gestáltica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, maio/ago., vol.20, no.2, p.127-134. ISSN 0102-3772. BARROS, J. M. G. (2002). Jogo infantil e hiperatividade. Rio de Janeiro: Sprint. BENCZIK, E. B. P. (2000). Manual da Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (versão para professores). São Paulo: Casa do Psicólogo. BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. (2001). Psicologias – Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. 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Ele tem dificuldade de ficar concentrado nos deveres e também nos jogos? Ele sai do lugar na sala de aula ou em outras situações (ex: mesa de jantar) quando deveria ficar sentado? Ele parece estar prestando atenção em outras coisas quando se fala com ele? Ele corre ou sobe nas coisas quando deveria ficar tranqüilo? Ele tem dificuldade em seguir instruções até o fim ou deixa os deveres sem terminar? Ele tem dificuldade de ficar em silêncio enquanto brinca? Ele é desorganizado com os deveres e outras atividades no dia-a-dia? Ele é "elétrico" e fica "a mil por hora"? Ele evita ou antipatiza com deveres ou atividades que exijam concentração? Ele fala demais? Ele perde material da escola ou coisas do dia-a-dia? Ele responde às perguntas antes dos outros terminarem de falar? Ele se distrai com facilidade com coisas fora daquilo que está fazendo? Ele tem dificuldade de esperar a vez? Ele se esquece de coisas que deveria fazer no dia-a-dia? Ele interrompe os outros ou se mete na conversa dos outros? Quase Sempre Bastante Pouco Nunca ou Raramente APÊNDICE I – QUADRO DE CARACTERÍSTICAS DO TDAH PARA ENTREVISTA COM OS PAIS 98 APÊNDICE II - PROTOCOLO DE INSTRUÇÃO PADRÃO PARA APRESENTAÇÃO DO JOGO MANCALA AOS PARTICIPANTES DA PESQUISA “Você conhece esse jogo? Já jogou alguma vez? O nome desse jogo é Mancala. Como você pode ver ele possui um tabuleiro com 14 cavidades – buracos - (6 em cada lado e um, que chamamos oásis, em cada extremidade e essas 36 peças para jogarmos). Apenas dois jogadores participam do jogo. Para aprendermos a jogar o Mancala vamos fazer o seguinte: eu vou falar uma regra de cada vez e toda vez em que eu falar uma regra nova vamos jogar uma partida para entendermos melhor como funciona esse jogo. As seis cavidades (buracos) que estão na sua frente e mais o oásis que está à sua direita são o seu território. Só você poderá utilizar o seu oásis. O restante das cavidades e o outro oásis fazem parte do meu território. Colocaremos 3 sementes em cada uma das 12 cavidades, com exceção dos oásis. Para jogarmos devemos distribuir todas as sementes, de uma de suas 6 casas (exceto o oásis), uma a uma nas casas subseqüentes, em sentido anti-horário. Você sabe o que é sentido anti-horário? Ë quando nos movimentamos da esquerda para a direita. Outra regra importante: toda vez que terminarmos de distribuir as sementes de uma de nossas cavidades passaremos a vez para o jogador adversário. Vamos movimentar um pouco nossas sementes!! Agora que você já entendeu as primeiras regras vou ensinar mais algumas: toda vez que passar pelo oásis você vai colocar uma semente nele, e essa semente não poderá ser utilizada novamente no jogo. O vencedor é o jogador que conseguir colocar o maior número de sementes do adversário em seu oásis. Agora uma regra importante: o jogador nunca colocará sementes no oásis do adversário. Vamos jogar mais uma partida para ver se você entendeu as novas regras. Muito bem... preste bastante atenção: quando a última semente da distribuição (semeadura) parar em uma casa sua que estiver vazia, você poderá capturar todas as sementes que estiverem na casa adversária em frente, colocando-as em seu 99 oásis. Vou lhe mostrar um exemplo... . Agora quero que você me mostre um exemplo. Vamos agora aprender as últimas regras do Mancala. Quando a última semente que você distribuir for colocada em seu oásis, você poderá jogar novamente, selecionando uma de suas casas para fazer uma nova distribuição. Por exemplo... entendeu? Então me mostre um exemplo. O jogo termina quando todas as casas, as minhas e as suas, estiverem vazias, ou quando o número de sementes não for suficiente para chegar até o lado do adversário. As sementes que restarem no tabuleiro não participarão na contagem final. Você entendeu todas as regras? Então vamos recapitular. Quantas sementes você coloca em cada cavidade? Como distribui as suas sementes no tabuleiro? Qual é o seu território no tabuleiro? Quando você passa a vez para o adversário? Como captura sementes para o seu oásis? Quando você poderá jogar novamente? Você pode colocar sementes no oásis do adversário? Como termina a partida? Como os pontos são contados? Quem vence o jogo? (Macedo; Petty e Passos, 2000) Agora que você entendeu as regras vamos jogar uma partida com todas as regras que aprendemos... 100 APÊNDICE III – PROTOCOLO DE REGISTRO DE JOGADAS POR PARTIDA Partida nº ___________ Data da partida _____/_____/______ Jogadores: (A) _________________, (B) ________________ Pesquisador atuou como _____________________________ 12 Jogador B ( ) Jogador A ( ) 1 JOGADAS 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 JOGADOR A 11 ( ) ( ) 2 10 ( ) ( ) 3 9 ( ) ( ) 4 JOGADOR B 8 ( ) ( ) 5 7 ( ) ( ) 6 101 APÊNDICE IV: RESPOSTAS DADAS PELOS PARTICIPANTES ÀS SITUAÇÕES-PROBLEMA PROPOSTAS Jogador: André 1. Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique. R. Casa 10. Pode jogar novamente. (0) 12 (3) (3) 1 11 (3) (3) 2 10 (3) (3) 3 9 (3) (3) 4 8 (3) (3) 5 7 (3) (3) 6 (0) (1) 12 (4) (3) 1 11 (4) (3) 2 10 (0) (3) 3 9 (3) (3) 4 8 (3) (3) 5 7 (3) (3) 6 (0) (9) 12 (1) (0) 1 11 (2) (0) 2 10 (3) (0) 3 9 (0) (1) 4 8 (0) (3) 5 7 (0) (4) 6 (13) (5) 12 (1) (1) 1 11 (2) (1) 2 10 (10) (0) 3 9 (3) (2) 4 8 (0) (1) 5 7 (0) (7) 6 (3) A B 2. O jogo está como mostra a situação ao lado. a) Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê? R. Na casa 11. Para se defender. A b) Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez? R. Jogar com as sementes da casa 4 e depois com as sementes da casa 1 para ganhar 5 sementes. B 3. Observe a figura ao lado. a) Descreva a seqüência de movimentos que o jogador A deve fazer para colocar o maior número de sementes em seu oásis. R. Casa 12, casa 11, casa 12, casa 10 e casa 12. A B b) Quantas sementes ganhou? R. 5 sementes 4. Analise a situação ao lado e responda às questões a seguir: a) Qual jogador você gostaria de ser? Justifique. R. O jogador B. Jogando da casa 2 para a casa 3 posso ganhar 10 peças. A b) Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada. R. 1ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12 e casa 09; 2ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12 e casa 10; 3ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12 e casa 09; B 102 Jogador: Antônio 1. Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique. R. Casa 10. Joga novamente. (0) 12 (3) (3) 1 11 (3) (3) 2 10 (3) (3) 3 9 (3) (3) 4 8 (3) (3) 5 7 (3) (3) 6 (0) (1) 12 (4) (3) 1 11 (4) (3) 2 10 (0) (3) 3 9 (3) (3) 4 8 (3) (3) 5 7 (3) (3) 6 (0) (9) 12 (1) (0) 1 11 (2) (0) 2 10 (3) (0) 3 9 (0) (1) 4 8 (0) (3) 5 7 (0) (4) 6 (13) (5) 12 (1) (1) 1 11 (2) (1) 2 10 (10) (0) 3 9 (3) (2) 4 8 (0) (1) 5 7 (0) (7) 6 (3) A B 2. O jogo está como mostra a situação ao lado. a) Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê? R. Na casa 7. Para capturar 3 sementes do jogador B. A b) Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez? R. Jogar com as sementes da casa 4 e depois com as sementes da casa 1 para ganhar 4 sementes. B 3. Observe a figura ao lado. a) Descreva a seqüência de movimentos que o jogador A deve fazer para colocar o maior número de sementes em seu oásis. R. Casa 10 e casa 12. A B b) Quantas sementes ganhou? R. 4 sementes 4. Analise a situação ao lado e responda às questões a seguir: a) Qual jogador você gostaria de ser? Justifique. R. O jogador A. Porque vai poder jogar de novo e ficar com mais peças do que o B. b) Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada. R. 1ª tentativa: casa 11 e casa 10; 2ª tentativa: casa 11 e casa 10; A B 103 Jogador: Bruno 1. Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique. R. Casa 10. Porque você pode repetir a jogada. (0) 12 (3) (3) 1 11 (3) (3) 2 10 (3) (3) 3 9 (3) (3) 4 8 (3) (3) 5 7 (3) (3) 6 (0) (1) 12 (4) (3) 1 11 (4) (3) 2 10 (0) (3) 3 9 (3) (3) 4 8 (3) (3) 5 7 (3) (3) 6 (0) (9) 12 (1) (0) 1 11 (2) (0) 2 10 (3) (0) 3 9 (0) (1) 4 8 (0) (3) 5 7 (0) (4) 6 (13) (5) 12 (1) (1) 1 11 (2) (1) 2 10 (10) (0) 3 9 (3) (2) 4 8 (0) (1) 5 7 (0) (7) 6 (3) A B 2. O jogo está como mostra a situação ao lado. a) Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê? R. Na casa 7. Para capturar 3 sementes do jogador B. b) Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez? R. Jogar com as sementes da casa 4 e depois com as sementes da casa 1 para ganhar 5 sementes. A B 3. Observe a figura ao lado. a) Descreva a seqüência de movimentos que o jogador A deve fazer para colocar o maior número de sementes em seu oásis. R. 1ª tentativa: Casa 11, casa 10 e casa 12; 2ª tentativa: Casa 11, casa 10 e casa 12. A B b) Quantas sementes ganhou? R. 3 sementes 4. Analise a situação ao lado e responda às questões a seguir: a) Qual jogador você gostaria de ser? Justifique. R. O jogador B. Porque pode capturar 10 sementes do Jogador A. A B b) Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada. R. Casa 12, casa 11, casa 12 e casa 10. 104 Jogador: Beatriz 1. Observe a situação ao lado. A partida será iniciada pelo jogador A. Qual a melhor casa para começar o jogo? Justifique. R. Casa 10. Porque vai colocar no oásis e vai poder jogar de novo. (0) 12 (3) (3) 1 11 (3) (3) 2 10 (3) (3) 3 9 (3) (3) 4 8 (3) (3) 5 7 (3) (3) 6 (0) (1) 12 (4) (3) 1 11 (4) (3) 2 10 (0) (3) 3 9 (3) (3) 4 8 (3) (3) 5 7 (3) (3) 6 (0) (9) 12 (1) (0) 1 11 (2) (0) 2 10 (3) (0) 3 9 (0) (1) 4 8 (0) (3) 5 7 (0) (4) 6 (13) (5) 12 (1) (1) 1 11 (2) (1) 2 10 (10) (0) 3 9 (3) (2) 4 8 (0) (1) 5 7 (0) (7) 6 (3) A B 2. O jogo está como mostra a situação ao lado. a) Se você fosse o jogador A, em qual casa mexeria? Por quê? R. Na casa 7. Porque vai capturar as sementes da Casa 10. A b) Suponha que o jogador A mexeu na casa 7 e ganhou, portanto, 3 sementes. O que B poderia fazer para ganhar mais que essa quantia de sementes já na próxima vez? R. Jogar com as sementes da casa 4 e depois com as sementes da casa 1 para ganhar 5 sementes. B 3. Observe a figura ao lado. a) Descreva a seqüência de movimentos que o jogador A deve fazer para colocar o maior número de sementes em seu oásis. R. 1ª tentativa: casa 10 e casa 12; 2ª tentativa: casa 11, casa 10 e casa 12; 3ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12, casa 10, casa 12 e casa 11. A B b) Quantas sementes ganhou? R. 4 sementes 4. Analise a situação ao lado e responda às questões a seguir: a) Qual jogador você gostaria de ser? Justifique. R. O jogador B. Porque pode capturar 10 sementes do Jogador A. b) Suponhamos que A seja o próximo a jogar. Descreva a seqüência necessária para ele conseguir 12 sementes nesta jogada. R. 1ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12 e casa 12; 2ª tentativa: casa 10 e casa 07; 3ª tentativa: casa 12, casa 11 e casa 09; 4ª tentativa: casa 12, casa 11, casa 12 e casa 09. A B 105 APÊNDICE V – MODELO DE TERMO DE CONSENTIMENTO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA “Concordo que meu filho participe do projeto de pesquisa abaixo discriminado, nos seguintes termos: Projeto: O jogo Mancala como instrumento de ampliação da compreensão das dificuldades de atenção. Responsável: Daniela Dadalto Ambrozine Missawa Orientadora: Profa. Dra. Claudia Broetto Rossetti Instituição: Universidade Federal do Espírito Santo – UFES – Programa de Pósgraduação em Psicologia Justificativa e objetivo da pesquisa: Tendo em vista a ampliação dos estudos acerca do Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH), principalmente em crianças, e a necessidade em pesquisar instrumentos que auxiliem no tratatamento desse transtorno, torna-se importante estudar e analisar o papel do jogo Mancala como instrumento de intervenção e diagnóstico das dificuldades de atenção. O presente trabalho visa avaliar a possibilidade de utilização de jogos de regras como uma forma de intervenção e diagnóstico das dificuldades de atenção, em crianças que apresentem indícios de tais dificuldades. Para tanto, participarão da pesquisa crianças que possuam indícios do Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade (TDAH). Descrição dos procedimentos a que o participante será submetido: Considerando que o sujeito da presente pesquisa possui entre 09 e 11 anos de idade, será realizada uma entrevista de anamnese com os pais ou responsável, uma escala de TDAH para pais será aplicada e será realizada uma entrevista com o professor do sujeito em que uma escala de TDAH – versão para professores, será aplicada. O responsável dará as devidas instruções, e cada pai/ responsável ou professor preencherá os campos destinados a esse fim, sempre tendo em vista os limites impostos pelo trabalho ou pelo estudo dos (as) respondentes. Após essa 106 etapa os sujeitos participarão de 08 oficinas em que realizarão partidas do jogo Mancala. Finalizando, haverá nova entrevista com pais e professores para reaplicação dos respectivos instrumentos de coleta de informações para avaliação dos resultados da intervenção. Todos os dados obtidos deverão ser analisados e utilizados somente para fins acadêmicos. As oficinas serão filmadas para a obtenção de dados complementares. Fica assegurado o anonimato. Benefícios esperados: Os resultados da pesquisa serão divulgados em congressos e artigos em periódicos especializados, contribuindo para a ampliação do corpo de conhecimentos que se têm produzido sobre os instrumentos utilizados na intervenção das dificuldades de atenção. Espera-se que os resultados possam gerar subsídios, contribuindo para que se confira a devida importância aos jogos de regras como instrumento na intervenção das mesmas. Análise de Riscos: Fica assegurado à criança o direito de desistir de participar da pesquisa, em qualquer momento, e acompanhamento em caso de problemas decorrentes da sua participação nas mesmas. Identificação do responsável legal do sujeito: Nome:______________________________________________________________ RG:____________________________________Órgão Emissor:______________ Estando assim de acordo, assinam o presente termo de compromisso em duas vias.” _________________________________ Responsável Legal ______________________________ Daniela Dadalto Ambrozine Missawa _______________________, _______ de _________________________ de 2005.