Artigos - Fernando Kubitza I

Transcrição

Artigos - Fernando Kubitza I
 Um a Coleção de Artigos sobre Tilápia
Por Dr. Fernando Kubitza e Publicado no Panorama da Aqüicultura 1999 ‐ 2008
Indice Nutrição e alimentação de tilápias - Parte 1 - 1999 ................................................................. 4
Nutrição e alimentação de tilápias - Parte 2 – Final - 1999 .....................................................14
Qualidade da água, sistemas de cultivo, planjamento da produção, manejo nutricional e
alimentar e sanidade - Parte 1 - 2000 ..................................................................................24
Qualidade da água, sistemas de cultivo, planjamento da produção, manejo nutricional e
alimentar e sanidade - Parte 2 - 2000 ..................................................................................35
Questões freqüentes dos produtores sobre a qualidade dos alevinos de tilapia - 2006 .............53
Ajustes na nutrição e alimentação das tilápias - 2006 ............................................................63
Tilápias na bola de cristal - 2007 ..........................................................................................74
Tilápias na mira dos patógenos - 2008 .................................................................................82
Estes artigos foram selecionados de artigos referenciados publicados no Panorama da
Aqüicultura 1999-2008. Distribuído com permissão do Panorama da Aqüicultura Ltda. pelo
Southern Ocean Education and Development Project, CIDA/Univ. of Victoria, Canada.
Agosto 2009
Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999
Nutrição e Alimentação de Tilápias - Parte 1
Por: Fernando Kubitza, Ph.D. - Consultoria e Treinamento em Aqüicultura
Obs.: Devido a sua extensão este artigo será editado em duas partes consecutivas.
Dentre mais de 70 espécies
de tilápias, a maioria delas
oriundas da África, apenas
três conquistaram destaque
na aquicultura mundial: a
tilápia do Nilo Oreochromis
niloticus; a tilápia azul ou
áurea Oreochromis aureus; e
a tilápia de Mossambique Oreochromis mossambicus. A estas
3 espécies somam-se os seus
mutantes e híbridos, com cores
variando do branco ao vermelho
e, genericamente, chamados
de tilápias vermelhas.
Atrás apenas das carpas, as
tilápias estão entre os peixes
de água doce de maior volume
de produção. A pesca e a aquicultura mundial produziram
855 mil toneladas anuais de
tilápia em 1990. A FAO relatou
um aumento na produção de
tilápias para 1,1 milhão de
toneladas em 1994, ou seja
um incremento de 245 mil
toneladas atribuído à aqüicultura. Lovshin (1997) estimou
que 800.000 toneladas anuais
de tilápias são produzidas
em cultivo. Esta produção
se iguala à captura anual de
pescado em águas oceânicas
e interiores no Brasil.
42
Tilápias vermelhas desenvolvidas com estratégias adequadas de manejo alimentar
Tilápia: um produto internacional
As importações de tilápias pelos países norte americanos e europeus crescem
ano a ano e conferem à carne da tilápia o
status de “commodity” internacional. As
importações de tilápia pelos Estados Unidos
podem ser usadas como um termômetro
do potencial de mercado deste produto.
Em 1993, os EUA importou 11,3 mil toneladas de tilápia (10% como filés e 90%
como peixe inteiro congelado). Em 1996
este montante cresceu 68%, ultrapassando
19 mil toneladas, sendo 20% na forma de
filés e 80% como peixe inteiro congelado.
Costa Rica, Taiwan, Indonésia e Equador
lideraram as exportações de filés para os
Estados Unidos em 1996 (28%, 16%, 15% e
15%, respectivamente, do total importado).
Taiwan detém a primazia nas exportações
de peixe inteiro congelado (95% do total
importado pelos EUA em 1996).
De acordo com as informações apresentadas por Fitzsimmons e Posadas (1997), os
preços pagos pelos importadores de países
latino americanos são ao redor de US$ 1,25/
kg pelo peixe inteiro (Honduras e Costa
Rica) e US$ 5,50/kg de filé FOB Miami
(Colômbia). Peixes inteiros de Taiwan são
vendidos entre US$ 1,45 a 1,65/kg. O mercado japonês chega a pagar preços de US$
7,4 a 10/kg para tilápias frescas de grande
tamanho e qualidade para sashimi.
Em curto prazo o Brasil pode se tornar o maior produtor de tilápia cultivada
no mundo. Para abocanhar uma fatia do
mercado internacional é preciso que a
tilápia brasileira tenha preço e qualidade competitivos comparados aos países
asiáticos e latino-americanos tradicionais
exportadores de tilápias. Estes requisitos
também são necessários para conquistar e
dividir espaço com outras carnes no mercado interno. No sudeste do Brasil o custo
de produção de tilápias em viveiros varia
entre R$ 0,9 a 1,0/kg. Em tanques-rede e
raceways este custo normalmente ultrapassa R$ 1,20/kg. Devido a instabilidade
do Real, o autor não se atreve a calcular
este custo em dólares, tarefa que fica para
o leitor. No entanto, por conta da recente
alta do dólar, hoje estes preços parecem
competitivos para exportação. Faltam
volume de produção (bastante pulverizada
entre milhares de pequenos produtores),
padronização da qualidade do produto e
Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999
abertura dos canais para exportação.
O potencial para tilapicultura no
Nordeste, principalmente em Alagoas,
Bahia, Ceará, Pernambuco e Sergipe e,
no Centro-Oeste, particularmente Goiás*,
vem atraindo o interesse de empresas
nacionais e estrangeiras. Ao contrário do
Centro-Oeste, rico em soja, milho e outros
grãos, grande parte do nordeste ressente
da insuficiência e altos preços destes insumos, o que encarece o custo das rações.
O avanço da produção de soja, milho e
outros grãos em áreas como o oeste baiano,
Tocantins e sul do Maranhão, aliados a
investimentos governamentais em infraestrutura para escoamento da produção
(hidro, rodo e ferrovias) podem viabilizar
a chegada de grãos no Nordeste a preços
mais competitivos. Ambas as regiões são
privilegiadas com temperaturas elevadas
o ano todo e intensa radiação solar. Isto
favorece a produção de plâncton (alimento
de grande qualidade e baixo custo) e o
crescimento das tilápias. O uso de sistemas que combinem o aproveitamento do
alimento natural disponível com rações
granuladas suplementares será o caminho
para a produção anual contínua de tilápias
com qualidade, a um custo inigualável,
em volumes suficientes para o mercado
interno e exportação.
Tilápias podem ser produzidas a um
baixo custo. Para isto é
necessário explorar a sua
habilidade em aproveitar
alimentos naturais e adotar estratégias adequadas
de manejo nutricional e
alimentar nas diferentes
fases de cultivo. O presente trabalho resume as
exigências nutricionais de
tilápias e as estratégias de
alimentação das diversas
fases de desenvolvimento
e sistemas de cultivo.
“As rações podem compor 40% a 70% do custo
de produção, representando o principal item
de custo na piscicultura
intensiva de tilápias.”
1. Importância da nutrição e alimentação
Em função do sistema de produção
adotado, as rações podem compor 40 a
70% do custo de produção, representando o principal item de custo na piscicultura intensiva de tilápias. Portanto,
uma das maneiras mais eficazes dos
produtores minimizarem este custo é
ajustar adequadamente a qualidade das
rações e o manejo alimentar às diferentes
fases de produção e ao sistema de cultivo
utilizado.
A adequada nutrição e manejo alimentar:
Possibilita o melhor aproveitamento do
potencial de crescimento dos peixes.
Acelera o crescimento dos peixes, aumentando o número de safras anuais.
Melhora a eficiência alimentar, minimizando os custos de produção.
Reduz o impacto poluente dos efluentes
da piscicultura intensiva, contribuindo
para o aumento da produtividade por área
de produção.
Confere adequada saúde e maior tolerância às doenças e parasitoses.
Melhora a tolerância dos peixes ao
manuseio e transporte vivo.
Aumenta o desempenho reprodutivo
das matrizes e a qualidade das pós-larvas
e alevinos.
E, consequentemente, possibilita otimizar a produção e maximizar as receitas da
piscicultura.
2. Nutrientes essenciais e
exigências nutricionais das tilápias
Através dos alimentos disponíveis
ou oferecidos, os animais devem obter
suficientes quantidades de nutrientes essenciais de forma a garantir a normalidade de
seus processos fisiológicos e metabólicos,
assegurando adequado crescimento, saúde
e reprodução. De uma forma geral, com
algumas particularidades dependendo
da espécie, é reconhecido que os peixes
apresentam exigências em pelo menos 44
nutrientes essenciais, que incluem a água,
* Consideramos atualmente
apenas Goiás e Distrito Federal, visto que o cultivo de
tilápias foi proibido no Mato
Grosso e nas áreas do Mato
Grosso do Sul que abastecem
a Bacia do Rio Paraguai
(Pantanal).
43
Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999
aminoácidos essenciais, energia, ácidos
graxos essenciais, vitaminas, minerais e
carotenóides.
2.1. Aminoácidos essenciais
Os aminoácidos são unidades formadoras das proteínas, portanto de fundamental
importância na formação de tecido muscular (crescimento) dos animais. Como para
a maioria dos animais, os peixes necessi-
44
tam de 10 aminoácidos essenciais em sua
dieta. As exigências destes aminoácidos
em rações nutricionalmente completas
para tilápia do Nilo são apresentadas na
Tabela 1.
A Tabela 2 resume alguns resultados
de estudos quantificando as exigências em
proteína de tilápias em diferentes fases de
desenvolvimento. Sinais indicativos da
deficiência em proteínas e aminoácidos são:
atraso no crescimento, piora na conversão
alimentar, redução no apetite e, em alguns
casos, deformidades na coluna (triptofano)
e cataratas (metionina).
2.2. Energia
Os animais necessitam de energia para
a manutenção de processos fisiológicos
e metabólicos vitais, para as atividades
rotineiras, o crescimento e a reprodução.
Esta energia provém do metabolismo de
Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999
carboidratos, lipídios (gorduras e óleos)
e proteínas. Os peixes são mais eficientes
no uso da energia comparados às aves e
aos mamíferos, pois não gastam energia
para regular a temperatura corporal. Desta
forma, grande parte da energia é utilizada
para crescimento. Este é um dos fatores que
explicam os melhores índices de conversão
alimentar dos peixes (0,9 a 1,8) comparados
às aves (1,6 a 1,9) e suínos (2,5 a 2,9).
Tilápias aproveitam bem carboidratos
e gorduras como fonte de energia, poupando assim a proteína das rações para
crescimento. O balanço energia digestível/
proteína (ED/PB) nas rações é fundamental para maximizar a eficiência alimentar
e o crescimento dos peixes. Além disso,
também determina a composição corporal
em gordura. A relação ED/PB em rações
completas para tilápias deve variar de 8 a
10 kcal ED/g de PB. Alta ED/PB resulta
em excessiva deposição de gordura visceral, reduzindo o rendimento de carcaça no
processamento. Por outro lado, uma baixa
ED/PB faz os peixes utilizarem proteína
como fonte de energia, prejudicando o
crescimento e a conversão alimentar.
O conhecimento da energia digestível
dos alimentos é fundamental para a formulação de rações suplementares e completas para as tilápias. A Tabela 3 resume
informações sobre a energia digestível dos
principais ingredientes utilizados em rações
comerciais para tilápias.
A energia digestível das rações depende da combinação dos ingredientes, da
habilidade digestiva dos peixes, do grau de
moagem e do tipo de processamento (peletização, extrusão seca, extrusão úmida) que
determina o grau de gelatinização do amido
e a destruição de fatores anti-nutricionais
presentes nos alimentos.
“ O conhecimento da
energia digestível dos
alimentos é fundamental
para a formulação de
rações suplementares e
completas para
as tilápias. ”
As exigências em ácidos graxos essenciais são bastante distintas entre os peixes de
clima frio e temperado e os peixes tropicais.
Peixes de águas frias e temperadas, como
os salmonídeos e o bagre-do-canal, bem
como as espécies marinhas, apresentam
exigências em ácidos graxos polinsaturados
da família ω-3. Os principais ácidos graxos
desta família são o ácido linolênico - 18:3,
ácido eicosapentenóico (EPA) - 20:5 e
o ácido docosahexenóico (DHA) - 22:6.
2.3. Ácidos graxos essenciais
Os ácidos graxos são os componentes
dos lipídios (óleos e gorduras). Ácidos graxos
essenciais são aqueles que não podem ser
sintetizados pelo organismo animal a partir de
outro ácido graxo ou qualquer outro precursor.
Portanto, os peixes obtém os ácidos graxos
essenciais via ração ou alimentos naturais
disponíveis no ambiente de cultivo.
45
Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999
Estes ácidos graxos são bastante abundantes
nos organismos planctônicos e nos óleos de
peixes marinhos.
Os peixes tropicais e de água doce,
como as tilápias, geralmente apresentam
apenas exigência em ácidos graxos da
família ω-6 (ou ácidos graxos da família
do linoléico - 18:2). Takeuchi et al. (1983)
observou que alevinos de tilápia do Nilo
necessitam pelo menos 1% de ácido linoléico (18:2) em rações completas. Esta exigência é de 2% para a tilápia azul (Stickney
e McGeachin 1983).Os ácidos graxos são
importantes componentes das membranas
celulares e servem como fonte de energia,
principalmente para as espécies carnívoras
que apresentam baixa capacidade de aproveitamento de carboidratos. Os sinais de
deficiência em ácidos graxos são: atraso no
crescimento, redução na eficiência alimentar, podridão das nadadeiras, síndrome do
choque, reduzido desempenho reprodutivo
e alta mortalidade.
2.4. Minerais e vitaminas
Minerais e vitaminas desempenham
papel importante na formação dos tecidos
ósseos e sanguíneos, no crescimento muscular e em diversos processos metabólicos
e fisiológicos essenciais para o adequado
crescimento, saúde e reprodução dos
animais. Embora as exigências minerais e
vitamínicas dos principais peixes cultivados já sejam conhecidas, até o momento
pouca atenção foi dada a este assunto na
nutrição das tilápias. Uma das razões está
no fato da maioria dos sistemas de cultivo
destes peixes contar com a contribuição de
alimentos naturais, reduzindo os problemas
nutricionais devido a deficiência de minerais e vitaminas nas rações.
A recente intensificação do cultivo das
46
“A intensificação do cultivo
das tilápias no Brasil, em
sistemas onde a disponibilidade
de alimento natural é limitada,
aumentou a incidência de
desordens nutricionais devido
ao inadequado enriquecimento
vitamínico e mineral
das rações.”
tilápias em diversos países, inclusive no
Brasil, utilizando tanques-rede, raceways
e tanques com recirculação de água (sistemas onde a disponibilidade de alimento
natural é limitada) aumentou a incidência de desordens nutricionais devido ao
inadequado enriquecimento vitamínico e
mineral das rações. Estes sistemas mais
intensivos demandam o uso de rações
nutricionalmente completas, com enriquecimentos vitamínicos e minerais próximos
dos valores apresentados na Tabela 4.
Os peixes podem absorver minerais,
como o cálcio, diretamente da água. No
entanto, as exigências da maioria dos
minerais é satisfeita através dos minerais
presentes nos alimentos naturais e nas rações. Os alimentos de origem animal como
as farinhas de carne e ossos e as farinhas
de peixes são boas fontes de minerais. No
entanto, rações completas formuladas à
base de farelos vegetais necessitam suplementação adicional.
As exigências vitamínicas são satisfeitas através de vitaminas obtidas no alimento
natural ou nas rações. Uma particularidade da nutrição vitamínica dos peixes é a
não capacidade, da grande maioria das
espécies, em sintetizar o ácido ascórbico
(vitamina C). De fundamental importância
ao crescimento, formação da matriz óssea
e funcionamento do sistema imunológico,
a vitamina C deve ser obtida no alimento
natural ou na ração. Rações completas para
sistemas intensivos de produção devem ser
suplementadas com fontes estáveis desta
vitamina (Kubitza et al. 1998).
2.5. A importância do alimento natural
na nutrição de tilápias
Em ambientes naturais os peixes equilibram sua dieta, escolhendo os alimentos
que melhor suprem suas exigências nutricionais e preferências alimentares. Raramente são observados sinais de deficiência
nutricional nestas condições. O alimento
natural dos peixes é composto de inúmeros
organismos vegetais (algas, plantas aquáticas, frutos, sementes, entre outros) ou animais (crustáceos, larvas e ninfas de insetos,
vermes, moluscos, anfíbios, peixes, entre
outros). Em geral, os alimentos naturais
explorados pelos peixes são ricos em energia e em proteína de alta qualidade (Tabela
5), e servem como fonte de minerais e
vitaminas. Estudos realizados em Israel
(Gur 1997) demonstraram, com base no
crescimento dos peixes, não ser necessário
o enriquecimento vitamínico em rações
usadas no cultivo de tilápias em viveiros
com disponibilidade de alimentos naturais.
No entanto a suplementação vitamínica
destas rações melhorou a sobrevivência
dos peixes. Em Israel, a suplementação
vitamínica completa é apenas feita em
rações destinadas às pós-larvas e ao cultivo
em sistemas de produção mais intensivos,
e em rações usadas no período de inverno
e no tratamento de peixes doentes ou sob
estresse.
Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999
Tilápias são eficientes no aproveitamento de alimentos naturais, notadamente
o plâncton. Em viveiros com baixa renovação de água, cerca de 50% a 70% do
crescimento de tilápias foi atribuído ao
consumo de alimentos naturais (Schroeder
1983), mesmo com o fornecimento de
ração suplementar. Este detalhe explica o
menor custo de produção de tilápias em
viveiros de baixa renovação de água comparado ao cultivo intensivo em tanquesrede e raceways.
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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999
não dispõem de um correto balanço em
aminoácidos essenciais, possuem menores
níveis protéicos (22% a 24%), maior relação
energia/proteína e não são suplementadas,
ou o são apenas parcialmente, com premix
vitamínico e mineral.
Rações nutricionalmente completas
Estas rações devem ser empregadas em
sistemas de produção onde a disponibilidade
ou o acesso ao alimento natural é limitado
ou nenhum. O sucesso econômico dos sistemas de produção em tanques de alto fluxo
de água (raceways) ou em tanques-rede e
gaiolas depende do uso de rações completas. Estas rações também são necessárias
48
“O sucesso econômico dos
sistemas de produção em
tanques de alto fluxo de água
(raceways) ou em tanquesrede depende do uso de rações
completas. Estas rações
também são necessárias em
viveiros quando a biomassa
ultrapassa 6.000 kg/ha.”
em viveiros quando a biomassa ultrapassa
6.000 kg/ha. Nas rações completas todos os
nutrientes devem estar presentes de forma
equilibrada e em quantidades que supram
as exigências dos peixes para um adequado
crescimento, saúde e reprodução. O enriquecimento em vitaminas e microminerais
é completo.
3. Subsídios à formulação de rações
para tilápias
Nesta seção são resumidas informações
básicas à formulação de rações para tilápias em
diferentes fases de desenvolvimento, produzidas em viveiros, tanques-rede e raceways.
Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999
3.1. Perfil básico das rações para
diferentes sistemas e fases de cultivo
Na Tabela 6 são apresentadas sugestões
sobre a composição básica, necessidade de
suplementação vitamínica e mineral, forma
de apresentação e tamanho dos peletes de
rações para tilápias em diferentes fases de
desenvolvimento, cultivadas em tanquesrede, raceways ou em viveiros com maior
ou menor disponibilidade de alimentos
naturais. Sugestões quanto ao enriquecimento vitamínico em rações utilizadas na
reversão sexual e alevinagem, e na recria
e engorda de tilápias em viveiros ou em
tanques-rede e raceways são apresentadas
na Tabela 7. Tais sugestões contemplam os
conhecimentos sobre a nutrição de tilápias
no mundo, bem como a experiência de profissionais familiarizados com a produção
comercial destes peixes.
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Panorama da AQÜICULTURA, março/abril, 1999
3.2. Restrições quanto ao uso de alguns ingredientes em
rações para tilápias
Os nutricionistas de peixes vêm dedicando grande atenção
aos estudos visando substituir as fontes protéicas e energéticas de
origem animal (por exemplo, as farinhas e óleos de peixes) por
fontes de origem vegetal, como os subprodutos do processamento
de sementes de plantas oleaginosas (soja, girassol, algodão, entre
outras) e amiláceas (trigo, arroz, milho, mandioca, entre outras).
Também é de interesse o aproveitamento de subprodutos industriais, como os resíduos de cervejaria, leveduras, polpa de frutos e
sementes, entre muitos
Comparativamente a outras espécies de peixes, as tilápias parecem apresentar maior habilidade em aproveitar estes alimentos
alternativos. Rações formuladas à base de produtos de origem vegetal,
com o farelo de soja como principal fonte de proteína podem ser
utilizadas sem prejuízo ao desempenho das tilápias comparado ao
uso de rações contendo produtos animais. Na Tabela 8 são reunidas
informações sobre os níveis de inclusão de diversas fontes alternativas de proteínas de origem vegetal nas rações de tilápias. Maiores
informações sobre ingredientes alternativos para inclusão em rações
para peixes podem ser encontradas na revisão de Pezzato (1995).
Na próxima edição (n. 53) publicaremos a Parte 2 desse artigo contendo:
Nutrição e manejo alimentar durante a reversão sexual
Nutrição e manejo alimentar na recria e engorda
Nutrição e manejo alimentar de reprodutores
Conversão alimentar (CA) de tilápias
Cursos Avançados em Piscicultura
em Jundiaí - SP
Instrutor: Fernando Kubitza, Ph.D.,
especialista em Nutrição e Produção de Peixes
1- Planejamento da Produção de Peixes
Dias: 25-26/06/99 e 13-14/08/99
• Conceito de planejamento e controle da produção
• Fatores que afetam o crescimento dos peixes a capacidade de suporte,
a biomassa crítica e econômica nos diferentes sistemas de produção;
determinação do ponto de biomassa econômica
• Índices de desempenho e expectativa de crescimento dos peixes
cultivados; aplicação dos conceitos de biomassa econômica e dados de
desempenho no planejamento do cultivo; exercícios práticos; orçamento
e balanço econômico do cultivo.
2- Qualidade da Água na Produção de Peixes
Dias: 16-18/07/99 - 27-29/08/99 e 15-17/10/99
• Importância, monitoramento e manejo da qualidade da água
• Impacto da intensificação do cultivo e da qualidade do alimento e a
qualidade da água
• Sistemas de aeração: características, dimensionamento e operação.
Aula de campo: instrumentos para monitoramento da qualidade da água;
ensaios dinâmicos de qualidade da água. Problemas práticos enfrentados
por técnicos e criadores de peixes.
3- Nutrição e Alimentação dos Peixes
Dias: 30/07 a 01/08/99 e 17-19/09/99
• Anatomia e fisiologia do trato digestivo; hábito alimentar e exigências
nutricionais dos peixes
• Processamento e granulometria das rações
• Fatores que afetam a conversão alimentar dos peixes
• Sinais indicadores da má nutrição dos peixes
• Estratégias e equipamentos para alimentação dos peixes
Prático: visita à uma fábrica de rações; indicadores de qualidade das
rações; ensaio de estabilidade na água; discussões de problemas enfrentados por técnicos e criadores de peixes.
4- Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes
Dias: 01-03/10/99
• Condições que favorecem a ocorrência de doenças
• Sinais indicativos, estratégias de prevenção, profilaxia e tratamento
das principais doenças e parasitoses dos peixes
Prático: técnicas de identificação de parasitoses e doenças; medicamentos e agentes profiláticos. Discussões de problemas práticos enfrentados
por técnicos e criadores de peixes.
5- Reprodução e Reversão Sexual de Tilápias
Dias: 22-23/10/99
• Estratégia de produção em larga escala e reversão sexual de pós-larvas
de tilápias; reprodução; instalações; estratégias usadas na reversão
sexual; preparo da ração e manejo alimentar
Prático: Preparo de ração para reversão; sexagem de reprodutores; coleta
e classificação de pós-larvas; instalações para reversão sexual; Técnicas
para avaliar o sucesso da reversão.
Inscrição: Incluído material didático:
R$ 280,00 (com até 28 dias antecedentes à data do curso)
R$ 330,00 (com menos de 28 dias do curso ou no dia)
Conta para depósito: Banco Itaú- Agência 0796 c/c 45320-7
Os dados para inscrição deverão ser enviados junto ao comprovante
de depósito para o fone/fax: (011) 7312-2064
Horário: Sextas e Sábados das 8:00 às 12:00 hs e das 14:00 às 18:00hs;
Domingo (alguns cursos) das 8:00 às 12:00 hs
Local : Center Park Hotel *****
Av. Jundiaí, 300 - Centro - Jundiaí - SP- Fone: (011) 7396-2000
50
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999
Nutrição e Alimentação de Tilápias - Parte 2 - Final
Por: Fernando Kubtiza, Ph.D. - Consultoria e Treinamento em Aqüicultura
Devido a sua extensão, o texto “Nutrição e alimentação” foi dividido em duas partes.
A parte 1 foi publicada na última edição 52 – março/abril da Panorama da AQÜICULTURA.
Sua referência bibliográfica encontra-se disponível em nossa redação e poderá ser
enviada por fax ou e-mail aos assinantes que a solicitarem.
Pós-larvas de peixes crescem rapidamente, portanto, são
bastante
exigentes
em nutrientes. Devido
às pós-larvas apresentarem
reservas
corporais mínimas de
nutrientes,
qualquer
deficiência na nutrição
das mesmas é prontaLegenda: Fernando Kubtiza, Ph.D. - Consultoria e Treinamento em Aqüicultura
riavelmente, catastró-
4. Nutrição e manejo alimentar
durante a reversão sexual
Em condições naturais e em viveiros,
o primeiro alimento das pós-larvas de tilápias são o fitoplâncton e os copépodos
e cladóceros. Estes organismos possuem
alto valor energético e podem conter níveis de proteína na matéria seca variando
de 20 a 60%. Isto talvez explique o motivo dos melhores resultados de crescimento de pós-larvas de tilápias terem sido
obtidos com rações contendo entre 40 a
50% de PB (como apresentado na Tabela
2) e energia digestível entre 3.600 a 4.000
kcal/kg.
Devido a necessidade de moagem fina
para obter partículas de tamanho inferior
a 0,5mm, as rações para pós-larvas estão
sujeitas a maiores perdas de nutrientes
por dissolução na água, principalmente
os minerais, as vitaminas hidrossolúveis,
mente notada e, inva-
proteínas e aminoácidos livres. Para minimizar estas perdas é preciso que estas rações apresentem boa flutuabilidade, reduzindo o contato das partículas com a água
e assim as perdas de nutrientes por dissolução. Uma boa flutuabilidade das rações
pode ser alcançada com a correta combinação de ingredientes e moagem fina da
mistura. As rações usadas para pós-larvas
e alevinos durante o período de reversão
sexual devem ser fortificadas com pelo menos 3 vezes mais vitaminas e minerais do
que o mínimo recomendado. Na Tabela 7 é
apresentada a sugestão de enriquecimento
para estas rações, bem como um exemplo
de enriquecimento vitamínico e mineral de
rações com 40 a 45% de proteína que vêm
garantindo bons resultados na alimentação
de pós-larvas de tilápias em pisciculturas de
São Paulo.
fica. As pós-larvas de
tilápias possuem trato digestivo completo
e conseguem utilizar
adequadamente
ra-
ções de moagem fina,
boa palatabilidade e
nutricionalmente completas na primeira alimentação exógena.
41
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999
Manejo alimentar. A reversão sexual
deve ser iniciada com pós-larvas entre 9
a 12mm. A ração com 60mg de metiltestosterona/kg deve ser fornecida em 5 a
6 refeições diárias. Em cada refeição, a
ração deve ser fornecida até o momento
em que os peixes estiverem saciados. Isto
é conseguido através de contínuo forne-
cimento de ração e atenta observação do
consumo e atividade dos peixes. Deve
se evitar excessiva sobra de ração nas
unidades de reversão. Anéis de alimentação flutuantes são úteis para evitar que
a ração se espalhe, sendo muito usados
quando a reversão é feita em “happas”.
Os peixes devem receber rações com me-
tiltestosterona por um período de 28 dias.
Cerca de 600 a 800 gramas de ração são
necessárias para cada 1.000 alevinos de 4
a 5 cm produzidos.
Desempenho na reversão sexual. Os
seguintes parâmetros indicam um bom
desempenho após os 28 dias de reversão
sexual: a) Tamanho dos alevinos: 4 a 5
cm (0,8 a 1g); b) Sobrevivência > 80%; c)
Índice de reversão > 99%. Para alcançar
este desempenho é necessário adequar o
manejo nutricional e alimentar dos reprodutores; atentar para a qualidade nutricional das rações, à qualidade da água e
ao manejo alimentar; adquirir hormônio
de fornecedor idôneo; uso de práticas
auxiliares de manejo, como exemplo a
classificação periódica dos alevinos por
tamanho e eliminação de peixes que não
apresentaram bom desenvolvimento durante a reversão. Maiores detalhes sobre
as estratégias de reversão sexual de tilápias podem ser encontrados nos trabalhos
de Popma e Green (1990), Contreras-Sánchez et al (1997), Desprez et al (1997),
Gerrero III e Guerrero (1997), Rani e
Macintosh (1997), Mainardes-Pinto et al
(1998) e Sanches e Hayashi (1998).
5. Nutrição e manejo alimentar na
recria e engorda
A importância do alimento natural,
notadamente o plâncton, no crescimento
das tilápias já foi ressaltado anteriormente. Muitos sistemas de produção combinam os benefícios do alimento natural
com o uso de rações suplementares ou
completas, visando um aumento na produtividade e melhora na conversão alimentar. Os piscicultores e nutricionistas
devem estar atentos para ajustar a densidade dos nutrientes nas rações e o manejo
alimentar em função do sistema de cultivo adotado, otimizando a produtividade e
minimizando os custos de produção.
5.1. Recria (5 a 100g) em viveiros
com plâncton
Enquanto a biomassa de tilápias em
viveiros de recria com plâncton não ultrapassar 4.000 kg/ha, rações com 24 e
28% de proteína, 2.600 a 2.800 kcal de
42
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999
A importância do plâncton e como estimular a sua formação
· Com a estocagem dos peixes e início da alimentação a água começa a adquirir uma coloração esverdeada, o que indica a presença de plâncton.
· O plâncton contribui de forma significativa na alimentação das tilápias, produz oxigênio e remove a
amônia da água, favorecendo assim um rápido desenvolvimento dos peixes. Além disso o plâncton
sombreia o fundo dos tanques, impedindo a entrada de luz e o desenvolvimento de algas filamentosas e plantas submersas.
· Se houver muita troca de água no início das etapas de recria o plâncton não se forma e o desenvolvimento dos peixes será prejudicado. A água fica muito transparente, facilitando o desenvolvimento
de algas filamentosas e plantas aquáticas no fundo dos tanques, o que pode prejudicar a qualidade
da água e dificultar as operações de despesca.
· Se a água estiver muito cristalina no início das fases de recria, a formação do plâncton pode ser
estimulada fechando toda a entrada de água e aplicando 2 a 3 kg de uréia/1.000m2/semana e cerca
de 4 a 6 kg de farelos vegetais/1.000m2/dia. Farelos de arroz, trigo ou algodão, por exemplo, podem
ser usados e também servirão de alimento para os peixes estocados.
· O ideal é deixar a água ir adquirindo uma coloração esverdeada até atingir transparência entre 40 a
50cm, o que pode ser medido com o auxílio do Disco de Secchi. Atingida esta transparência, pode
se interromper o uso de uréia e farelos.
· Quando a transparência da água for reduzindo e se aproximar a 30cm, é hora de começar a renovar
um pouco de água. A quantidade de água renovada deve ser ajustada de forma a manter a transparência da água entre 40 a 50cm.
· Lembre-se que o excesso de renovação de água é o principal fator responsável pelo insucesso na
formação de plâncton.
43
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999
ED/kg e sem enriquecimento vitamínico
e mineral podem ser utilizadas mantendo adequado crescimento e conversão
alimentar. Durante esta fase os peixes
devem ser alimentados entre 2 a 3% do
peso vivo ao dia, quantidade dividida em
2 refeições diárias. O uso de rações flutuantes permite melhor ajustar a quantidade
de ração fornecida. Alimentar os peixes
tudo o que eles podem consumir numa
refeição maximiza o crescimento, o que
é desejado nas fases iniciais. Porém, tal
prática pode não ser a melhor estratégia
do ponto de vista econômico, principalmente nas fases de engorda (Tabela 9).
Estes níveis de arraçoamento de 2 a 3%
do PV ao dia podem parecer insuficientes para peixes deste tamanho. No entanto não deve ser esquecido que os peixes
consomem plâncton o tempo todo, complementando o nível de ingestão de alimentos. A conversão alimentar na recria
em tanques com plâncton deve ficar abaixo da unidade, com valores de 0,8 sendo
“Em tanques-rede
e raceways a disponibilidade de alimento
natural é limitada e
os peixes estão submetidos a uma maior
pressão de produção
e estresse”
bastante comuns. Se isto não se confirmar, pode estar ocorrendo problemas na
qualidade da ração, qualidade da água,
manejo alimentar, produção de plâncton,
qualidade dos alevinos, doenças, ou bai-
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44
xas temperaturas.
Quando a biomassa nos viveiros ultrapassar os 4.000 kg/ha, o plâncton disponível
não é capaz de complementar a nutrição e
manter os mesmos índices de desempenho
dos peixes na recria. A partir deste ponto
é recomendável o uso de rações com 28 a
32% de proteína, energia digestível entre
2.900 a 3.200 kcal/kg (Tabela 6) e suplementação mínima de vitaminas e minerais
(Tabela 7). Deve ser esperada uma piora
nos índices de conversão alimentar a partir deste ponto, devido tanto à diminuição
no plâncton disponível por animal, quanto
à deterioração progressiva na qualidade da
água. Ainda assim valores de conversão entre 1,0 e 1,2 devem ser obtidos. Sob condições adequadas de temperatura da água (28
a 32 °C), tilápias de 1g atingem o peso de
100g após 60 a 70 dias de recria em viveiros
com plâncton. Se isto não ocorrer, confira
as densidades de estocagem, a qualidade da
água e das rações, a abundância de alimento
natural, o manejo alimentar e a qualidade
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999
dos alevinos.
5.2. Recria (5 a 100g) em tanques-rede
e raceways
Em tanques-rede e raceways a disponibilidade de alimento natural é limitada
e os peixes estão submetidos a uma maior
pressão de produção e estresse. Portanto,
é recomendável que as rações sejam mais
concentradas em proteínas (36 a 40%),
energia digestível (3.200 a 3600 kcal/kg)
e recebam um enriquecimento mineral e
vitamínico ainda maior, conforme sugerido nas Tabelas 6 e 7. Descuido com este
detalhe pode resultar em grandes perdas
econômicas devido a distúrbios nutricionais e uma maior susceptibilidade dos
peixes às doenças. A taxa de alimentação
diária deve ser ajustada para 70 a 80%
do máximo consumo diário, ou cerca de
3 a 4 % do peso vivo ao dia, em função
principalmente do tamanho dos alevinos,
da temperatura da água e da concentração
em nutrientes da ração. Esta quantidade
de alimento deve ser dividida em 3 refei-
“Quando a biomassa nos viveiros ultrapassar os 4.000 kg/ha,
o plâncton disponível
não é capaz de complementar a nutrição e
manter os mesmos índices de desempenho
dos peixes na recria.”
ções. O consumo pode ser aferido periodicamente alimentando os peixes tudo o
que eles puderem consumir durante um
dia, permitindo assim reajustar a taxa de
alimentação para 70 a 80% do máximo
consumo. A conversão alimentar espera-
da nesta fase deve girar entre 1,1 e 1,3.
5.3. Engorda (100 a 600g) em viveiros
com plâncton
Durante a engorda em viveiros até o
limite de 6.000 kg/ha, o piscicultor pode
utilizar rações sem suplementação mineral
e vitamínica, entre 24 e 28% de proteína e
energia digestível de 2.600 a 2.800 kcal/kg.
O nível de arraçoamento deve ficar entre 1,5
a 2,% do peso vivo ao dia, dividido em 2
refeições. O tempo necessário para que as
tilápias alcancem 600g não deve ultrapassar
110 dias sob condições adequadas de temperatura. A conversão alimentar deve fica
entre 1,3 a 1,5. Se o objetivo é produzir mais
do que 6.000 kg de tilápia/ha, a partir desta biomassa é recomendável o uso de uma
ração suplementada com minerais e vitaminas e com maior concentração protéica (28
a 32%) e energética (2.800 a 3.000 kcal/kg).
Deve ser esperada um piora nos índices de
conversão alimentar (1,5 a 1,7) e uma redução na velocidade de crescimento, devido à
diminuição no plâncton disponível e a progressiva redução na qualidade da água.
45
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999
5.4. Engorda (100 a 600g) em tanques-rede e raceways
Rações com 32 a 36% de proteína e
2.900 a 3.200 kcal ED/kg e enriquecidas
com pelo menos níveis duplos de vitaminas e minerais devem ser usadas na en-
gorda de tilápias em raceways e tanquesrede (Tabelas 6 e 7). O arraçoamento
diário entre 1,5 a 2,5% do peso vivo deve
ser dividido em 3 refeições. A expectativa
de conversão alimentar é de 1,5 a 1,8. Sob
condições adequadas de temperatura (28
a 32 °C). Cerca de 130 dias serão necessários para os peixes chegarem a 600g.
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46
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999
6. Nutrição e manejo alimentar
de reprodutores
A crescente demanda, tanto em quantidade como em qualidade, por pós-larvas
e alevinos de tilápias vem exigindo atenção especial no que diz respeito à nutrição de reprodutores. A intensa coleta de
pós-larvas ou ovos gera a necessidade
de fornecer aos reprodutores um alimento nutricionalmente completo. Diversos
estudos demonstram a importância da
correta nutrição sobre o desempenho reprodutivo dos peixes, à semelhança do
observado com outros animais. Alguns
exemplos são listados na Tabela 10.
A seguir são listados alguns exemplos
da influência da nutrição sobre o desempenho reprodutivo de tilápias:
Tilápia de Mossambique / Oreochromis
mossambicus:
Rações deficientes em vitamina C resultou em reduzida taxa de eclosão, aumento na
proporção de embriões deformados, atraso no
...“Muitos piscicultores subestimam ou
esquecem os índices
de conversão alimentar obtidos. A correta
determinação da conversão alimentar e do
tempo de cultivo é fundamental para avaliar a
relação custo/benefício
das rações comerciais
disponíveis.”
crescimento e redução na sobrevivência das
pós-larvas e dos alevinos (Tabela 11).
Tilápia-do-Nilo / Oreochromis niloticus:
Baixos níveis de proteína na ração resultou em atraso na maturação sexual (puberdade) e no desenvolvimento e maturação
dos oócitos (Gunasekera et al 1995)
Machos alimentados com ração contendo farelo de algodão apresentaram atraso na maturação dos testículos e redução
no número e na motilidade dos espermatozóides (Salaro et al 1998a). Em fêmeas
houve atraso e diminuição do número de
desovas (Salaro et al 1998b). Estes efeitos
foram atribuídos ao gossipol, fator antinutricional presente no farelo de algodão.
Rações contendo 40% de farelo de
folhas de leucena resultou em redução
na produção de pós-larvas e no peso
corporal das fêmeas. Estes efeitos foram
atribuídos à mimosina, composto antinutricional presente na leucena (Santiago et al 1988).
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Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999
Cursos Avançados em Piscicultura
em Jundiaí - SP
Instrutor: Fernando Kubitza, Ph.D.,
especialista em Nutrição e Produção de Peixes
1- Planejamento da Produção de Peixes
Dias: 13-14/08/99
• Conceito de planejamento e controle da produção
• Fatores que afetam o crescimento dos peixes a capacidade de suporte,
a biomassa crítica e econômica nos diferentes sistemas de produção;
determinação do ponto de biomassa econômica
• Índices de desempenho e expectativa de crescimento dos peixes
cultivados; aplicação dos conceitos de biomassa econômica e dados de
desempenho no planejamento do cultivo; exercícios práticos; orçamento
e balanço econômico do cultivo.
2- Qualidade da Água na Produção de Peixes
Dias: 16-18/07/99 - 27-29/08/99 e 15-17/10/99
• Importância, monitoramento e manejo da qualidade da água
• Impacto da intensificação do cultivo e da qualidade do alimento e a
qualidade da água
• Sistemas de aeração: características, dimensionamento e operação.
Aula de campo: instrumentos para monitoramento da qualidade da água;
ensaios dinâmicos de qualidade da água. Problemas práticos enfrentados
por técnicos e criadores de peixes.
3- Nutrição e Alimentação dos Peixes
Dias: 30/07 a 01/08/99 e 17-19/09/99
• Anatomia e fisiologia do trato digestivo; hábito alimentar e exigências
nutricionais dos peixes
• Processamento e granulometria das rações
• Fatores que afetam a conversão alimentar dos peixes
• Sinais indicadores da má nutrição dos peixes
• Estratégias e equipamentos para alimentação dos peixes
Prático: visita à uma fábrica de rações; indicadores de qualidade das
rações; ensaio de estabilidade na água; discussões de problemas enfrentados por técnicos e criadores de peixes.
4- Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes
Dias: 01-03/10/99
• Condições que favorecem a ocorrência de doenças
• Sinais indicativos, estratégias de prevenção, profilaxia e tratamento
das principais doenças e parasitoses dos peixes
Prático: técnicas de identificação de parasitoses e doenças; medicamentos e agentes profiláticos. Discussões de problemas práticos enfrentados
por técnicos e criadores de peixes.
5- Reprodução e Reversão Sexual de Tilápias
Dias: 22-23/10/99
• Estratégia de produção em larga escala e reversão sexual de pós-larvas
de tilápias; reprodução; instalações; estratégias usadas na reversão
sexual; preparo da ração e manejo alimentar
Prático: Preparo de ração para reversão; sexagem de reprodutores; coleta
e classificação de pós-larvas; instalações para reversão sexual; Técnicas
para avaliar o sucesso da reversão.
Inscrição: Incluído material didático:
R$ 280,00 (com até 28 dias antecedentes à data do curso)
R$ 330,00 (com menos de 28 dias do curso ou no dia)
Conta para depósito: Banco Itaú- Agência 0796 c/c 45320-7
Os dados para inscrição deverão ser enviados junto ao comprovante
de depósito para o fone/fax: (011) 7397-2496
Horário: Sextas e Sábados das 8:00 às 12:00 hs e das 14:00 às 18:00hs;
Domingo (alguns cursos) das 8:00 às 12:00 hs
Local : Center Park Hotel *****
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48
7. Conversão alimentar (CA) de tilápias
O índice de conversão alimentar (CA) é calculado dividindose a quantidade total de ração fornecida (em um viveiro, tanquerede, ou raceway) pelo ganho de peso dos peixes. O ganho de
peso é calculado subtraindo-se da produção obtida em um viveiro, tanque-rede ou raceway, o peso total dos peixes na estocagem.
Muitos piscicultores esquecem deste detalhe, e subestimam os
índices de conversão alimentar obtidos. A correta determinação
da CA e do tempo de cultivo é fundamental para avaliar a relação
custo/benefício das rações comerciais disponíveis. Diversos fatores afetam a conversão alimentar dos peixes. Alguns deles são
comentados a seguir:
Qualidade do alimento. Quanto mais próxima for composição
em nutrientes disponíveis nos alimento das exigências nutricionais do peixe, melhor será a CA. Outros fatores como o grau de
moagem dos ingredientes, a palatabilidade e a estabilidade das
rações na água também afetam a conversão alimentar.
Espécie de peixe. As espécies de peixes apresentam respostas diferenciadas quanto à demanda energética para atividades
essenciais (natação, respiração, osmorregulação, captura de alimento; expressão do seu comportamento; reprodução; digestão
do alimento e metabolismo dos nutrientes assimilados, entre
outras). Portanto, é natural que estas diferenças influenciem os
índices de CA de cada espécie.
Idade ou tamanho dos peixes. Dentro de uma mesma espécie, peixes menores (mais jovens) apresentam melhores índices
de CA, o que pode ser explicado pelo fato dos peixes menores
apresentarem uma maior relação taxa de crescimento/exigência
de manutenção comparados a peixes de tamanho maior. Peixes
de menor tamanho também são mais eficientes na utilização do
alimento natural quando este for disponível.
Sexo e reprodução. No caso específico de tilápias este fator é
muito importante. Por exemplo, as fêmeas de tilápias-do-Nilo
direcionam grande quantidade de energia dos alimentos para a
produção de ovos e cuidado parental, portanto crescem mais lentamente e apresentam piores índices de CA que os machos. De
uma forma geral, quando os peixes entram em fase de reprodução os índices de conversão alimentar tendem a piorar devido
ao maior gasto da energia com as atividades relacionadas à reprodução (formação de gônadas, côrte e disputa pelos parceiros,
construção e defesa de ninhos, cuidado parental, entre outros).
Disponibilidade e capacidade de aproveitamento do alimento natural. Anteriormente foi discutida a importância do alimento natural no crescimento das tilápias. Como os cálculos de CA
são feitos com base na quantidade de ração fornecida, uma maior
disponibilidade de alimento natural nos tanques e viveiros contribui para a redução dos valores de CA. Peixes como as tilápias, que aproveitam bem o alimento natural disponível tendem
a apresentar melhores índices de CA do que, por exemplo, peixes
carnívoros, que não possuem habilidade no aproveitamento do
plâncton e outros alimentos naturais disponíveis nos viveiros.
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 1999
Qualidade da água. Quanto melhor for a qualidade da água
melhor serão os índices de conversão alimentar. Reduzidos níveis de oxigênio dissolvido, elevada concentração de gás carbônico e metabólitos tóxicos como a amônia e o nitrito resultam
em redução no consumo e no aproveitamento dos alimentos,
prejudicando os índices de CA.
Densidade de estocagem. O aumento na densidade de estocagem geralmente piora a CA, pois reduz a disponibilidade de
alimento natural por peixe e acelera a degradação da qualidade
da água devido aos maiores níveis de arraçoamento exigidos.
Temperatura da água. O peixe é um animal pecilotérmico,
portanto sua atividade metabólica aumenta com a elevação na
temperatura da água. Cada espécie exige uma faixa específica de
temperatura (zona de conforto térmico) para melhor expressar o
seu potencial de crescimento e utilização do alimento disponí-
vel, o que influencia sobremaneira os índices de CA. No cultivo
de tilápias a zona de conforto térmico está entre 28 a 32 °C. No
inverno a conversão alimentar das tilápias piora sensivelmente.
Nível de arraçoamento. Se o nível de arraçoamento for muito
baixo, é possível que os peixes consigam ter atendidas apenas as suas
necessidades de manutenção, resultando em ganho de peso zero. O
aumento nos níveis de arraçoamento acima das exigências de manutenção melhora a CA. Níveis excessivos de arraçoamento (Tabela 9),
mesmo não havendo desperdício de ração, geralmente promove uma
maior velocidade de passagem do alimento no trato digestivo, o que
reduz a sua digestão e assimilação, piorando a CA.
Na Tabela 12 são resumidos os índices de conversão alimentar obtidos com tilápias de diferentes tamanhos, mantidas em
ambientes distintos e alimentadas com rações de composição e
formas de apresentação variadas.
49
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
1
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
Por: Eng° Agr° Fernando Kubitza (Ph. D.)
Méd. Vet. Ludmilla M. M. Kubitza
ACQUA & IMAGEM SERVIÇOS
TILÁPIAS:
qualidade da
água, sistemas
de cultivo, planejamento da
produção, manejo nutricional
e alimentar e
sanidade.
Parte I
N
um médio prazo o Brasil poderá
se tornar um dos maiores produtores de tilápia no mundo. Embora
a maior parte da produção comercial de tilápias esteja no momento
concentrada nos estados do Paraná,
São Paulo, Santa Catarina e Minas
Gerais, as regiões Nordeste e Centro
Oeste deverão abrigar os maiores
pólos de produção de tilápia em
nosso país. O reconhecimento deste
potencial culmina com a realização,
em setembro próximo, do 5º Simpósio
Internacional sobre a Aqüicultura de
Tilápias (5º ISTA). Com o intuito de
contemplar o referido evento, e sob a
sugestão da Panorama da Aqüicultura, elaboramos em duas partes, este
artigo especial com enfoque sobre os
sistemas de produção, o planejamento
do cultivo, o manejo nutricional e
alimentar e as principais doenças
registradas no cultivo intensivo de
tilápias. O material aqui apresentado
é uma síntese de alguns dos capítulos
do livro que será lançado durante o
5º ISTA, e que reúne a tecnologia hoje
disponível no mundo para a produção
comercial de tilápias.
44
Através de um adequado
planejamento da produção em fases
e ajuste do manejo nutricional e
alimentar às diversas fases de desenvolvimento e sistemas de cultivo,
as tilápias podem ser produzidas
com custos e rentabilidades mais
atrativos do que a grande maioria
das espécies de peixes cultivadas
no Brasil.
Para que isto seja possível,
os piscicultores e técnicos devem
conhecer particularidades deste
peixe no que tange à tolerância
às condições adversas de qualidade da água; sua habilidade
de aproveitamento do alimento
natural, suas características de
manejo e índices de desempenho.
Neste artigo vamos sumarizar alguns fundamentos e informações
importantes ao planejamento da
produção de tilápias em diferentes
sistemas de produção.
Tilápias
Características das principais
espécies de tilápia
Algumas das características
que colocaram as tilápias no pódio
das principais espécies cultivadas comercialmente são: 1) a facilidade de
reprodução e obtenção de alevinos;
2) a possibilidade de manipulação
hormonal do sexo para obtenção de
populações masculinas; 3) a boa aceitação de diversos tipos de alimentos;
4) a grande capacidade de aproveitar
alimentos naturais em viveiros; 5)
conversão alimentar entre 1 a 1,8; 6)
bom crescimento em cultivo intensivo
(5 a 500g em 4 a 5 meses); 7) grande
rusticidade, suportando bem o
manuseio intenso e os baixos
níveis de oxigênio dissolvido
na produção e, sobretudo, sua
grande resistência às doenças; 8)
a carne branca, de textura firme,
sem espinhos, de sabor pouco
acentuado e de boa aceitação.
Dentre mais de 70 espécies de tilápias, a maioria delas
oriundas da África, quatro conquistaram destaque na aqüicultura mundial:
a tilápia de Moçambique Oreochromis
mossambicus, a tilápia-do-Nilo Oreochromis niloticus; a tilápia azul ou tilápia
áurea Oreochromis aureus e a tilápia
de Zanzibar Oreochromis urolepis
hornorum. Na Tabela 1 são resumidas
as principais características destas espécies. Combinações entre estas espécies
foram usadas para obtenção de tilápias
híbridas, em particular as tilápias vermelhas. As características destes híbridos
são intermediárias, dependendo do grau
de contribuição das espécies que lhe
deram origem.
Panorama
da AQÜICULTURA,
julho/agosto,
20002000
Panorama
da AQÜICULTURA,
maio/junho,
Qualidade da água na produção
de tilápias
Dentro dos seus limites de tolerância, as tilápias se adaptam bem às
diferentes condições de qualidade de
água. São bastante tolerantes ao baixo
oxigênio dissolvido, convivem com uma
faixa bastante
ampla de aci-
dez e alcalinidade na água, crescem
e até mesmo se reproduzem em
águas salobras e salgadas e toleram
altas concentrações de amônia tóxica
comparadas à maioria dos peixes
cultivados.
Oxigênio dissolvido. Alevinos
de tilápia-do-Nilo de 10 a 25 gramas
sobreviveram à exposição ao oxigênio
dissolvido entre 0,4 a 0,7mg/litro por 3
a 5 horas, até quatro manhãs consecutivas, sem registro de significativa mortalidade. Também há relatos desta tilápia
tolerar oxigênio zero (anoxia) por até 6
horas. Apesar desta tremenda habilidade em sobreviver algumas horas mesmo
sob anoxia, tilápias freqüentemente
expostas ao baixo oxigênio dissolvido
ficam mais susceptíveis às doenças
e apresentam desempenho reduzido.
Quando a concentração de oxigênio
dissolvido atinge 45 a 50% da saturação
(aproximadamente 3 a 3,5 mg/litro, a
28-30°C), a tilápia-do-Nilo começa
a reduzir sua atividade e, portanto, o
consumo de oxigênio. Este parece ser
um mecanismo regulador do consumo
de oxigênio, compensando assim a
redução do oxigênio na água. A concentração
crítica de
oxigênio
(grande
desconforto) para a
O autor do artigo, Feras tilápias
nado Kubitza com um
está entre
exemplar de tilápia nilótica pesando 4,2 kg,
20 a 10%
criada em Porecatu
da saturação a temperaturas
entre 26 a
35°C, ou
seja, entre 1,6 a 0,7mg/litro.
pH. O pH da água no cultivo de
tilápias deve ser mantido entre 6 a 8,5.
Abaixo de 4,5 e acima de 10,5 a mortalidade é significativa. Morte total entre
1 a 3 dias ocorre
com tilápias em
água com pH 3 e
uma mortalidade
de 50% foi registrada após 19 dias
em água de pH 4.
Quando exposta
ao pH baixo, as
tilápias apresen-
Tabela 1. Caracteristicas das espécies de tlápias mais cultivadas.
45
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da AQÜICULTURA,
julho/agosto,
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Panorama
da AQÜICULTURA,
maio/junho,
tam sinais de asfixia (movimentos operculares acelerados e
boquejamento na superfície). O corpo e as brânquias apresentam excesso de muco. Peixes mortos permanecem com
a boca aberta e apresentam os olhos saltados, semelhantes
aos sinais de morte por falta de oxigênio. Acidez excessiva
causa aumento na secreção de muco, irritação e inchaço nas
brânquias, culminando com a destruição do tecido branquial.
Em viveiros com excesso de fitoplâncton (águas muito
verdes) e baixa alcalinidade total (< 20mg de CaCO3/litro)
o pH pode alcançar valores acima de 12 ao final da tarde
em dias muito ensolarados. Isto pode inibir o consumo de
alimento e, se ocorrer com freqüência, afetar o crescimento
dos peixes. Mortalidade direta devido a esta elevação do
pH geralmente não é observada, pois os peixes geralmente
encontram conforto em águas mais profundas. No entanto,
o elevado pH pode potenciar os problemas com toxidez por
amônia e aumentar a susceptibilidade dos peixes às doenças,
ao manuseio e transporte.
Amônia. Proveniente da própria excreção nitrogenada dos peixes e da decomposição do material orgânico na
água, a amônia está presente na água sob duas formas: o íon
amônio NH4+ (forma pouco tóxica) e a amônia NH3 (forma
tóxica). Os kits de análise de água mensuram a amônia total
na água, ou seja, NH4+ e NH3 juntos. Para saber quanto da
amônia total está na forma tóxica, é preciso medir o pH da
água. Quanto maior for o pH, maior será a porcentagem de
Tilápias
amônia tóxica na amônia total. Assim, uma água com 2mg
de amônia total pode conter apenas 0,0014mg de NH3/litro
a pH 7 (0,7%) ou níveis tóxicos maiores que 1mg em água
com pH acima de 9,3. Tabelas relacionando a porcentagem
de amônia tóxica ao pH da água podem ser encontrados em
livros de qualidade de água e nos manuais dos kits de análises. A concentração de amônia não ionizada de 0,20mg/L
deve servir como alerta no cultivo de tilápias. Mesmo sem
observar mortalidade diretamente atribuída à toxidez por
amônia, a exposição dos peixes a níveis sub-letais de amônia
afeta a lucratividade do empreendimento, por comprometer o crescimento e a conversão alimentar, a tolerância ao
manuseio e transporte e a condição de saúde dos peixes.
As concentrações letais que mata 50% dos animais (LC50)
dependem da espécie de tilápia, do tempo de exposição, do
tamanho do peixe, da pré-exposição ou adaptação a níveis
sub-letais de amônia, entre muitos outros fatores. A LC50
para 24 a 96h de exposição varia de 2,3 a 6,6mg de NH3/l.
O monitoramento semanal da amônia e pH deve ser feito em
viveiros e tanques com altos níveis de arraçoamento. Como
o pH da água nos viveiros tende a subir ao longo do dia, as
medições de amônia e pH devem ser feitas ao final da tarde,
quando a probabilidade de ocorrer problemas com toxidez
por amônia é maior.
Temperatura. Tilápias são peixes tropicais que
apresentam conforto térmico entre 27 a 32°C (Figura 1). O
manuseio e o transporte sob baixas temperaturas (<22°C),
principalmente após o inverno, resultam em grande mortalidade. Tilápias bem nutridas e que não sofreram estresse
por má qualidade da água, toleram melhor o manuseio sob
baixas temperaturas. Temperaturas acima de 32°C e abaixo
de 27°C reduzem o apetite e o crescimento. Abaixo de 20°C
o apetite fica extremamente reduzido e aumenta os riscos
de doenças. Temperaturas abaixo de 14°C geralmente são
letais as tilápias.
Salinidade. Em regiões onde a expansão da aqüicultura
só é possível com o uso de água salobra ou salgada o cultivo
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Tilápias
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julho/agosto,
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de tilápias tolerantes à salinidade é uma alternativa. A tilápia
de Moçambique e a tilápia de Zanzibar apresentam grande
tolerância à alta salinidade, crescendo e se reproduzindo
de forma mais eficiente em águas salobras do que em
água doce. Ambas são capazes de se reproduzir à salinidade acima de 32ppt (água salgada). A tilápia azul e
a tilápia-do-Nilo também podem ser aclimatadas à água
salgada. A tilápia-do-Nilo se reproduz normalmente em
salinidades de até 15ppt. No entanto, a reprodução não
ocorre a 30ppt (água salgada). O crescimento da tilápia
azul e da tilápia-do-Nilo é maximizado é maximizado
a salinidades ao redor de 10ppt. Além das particularidades de cada espécie, outros fatores parecem afetar a
tolerância das tilápias à salinidade, entre muitos a estratégia de adaptação, a idade dos peixes no momento da
transferência e a prévia exposição de ovos e pós-larvas
à água de maior salinidade. Uma adaptação gradual,
com o aumento da salinidade na ordem de 5ppt ao dia,
resulta em melhor sobrevivência após a transferência
para água salgada do que com a transferência direta. A
tolerância à salinidade aumenta com a idade/tamanho do
peixe. Para a tilápia vermelha da Flórida, a tolerância
é maior aos 40 dias de vida, embora isto não exclua a
necessidade de adaptação gradual. A tilápia-do-Nilo
apresenta baixa tolerância até os 40-45 dias de vida. O
tamanho parece ser mais importante do que a idade, no
que diz respeito à tolerância à salinidade. Para a tilápia
do Nilo, a tolerância máxima a salinidade parece ser
atingida com alevinos maiores que 5cm.
Limites de produção no cultivo de tilápias
Os sistemas de produção utilizados no cultivo de
tilápias são bastante diversificados em função: 1) da
disponibilidade de recursos financeiros e insumos de
produção; 2) do acesso e da viabilidade do emprego de
tecnologia; 3) da disponibilidade de recursos hídricos; 4)
da disponibilidade de área; 5) das condições climáticas
prevalentes; 6) das particularidades do mercado consumidor; 7) das características intrínsecas de cada empresa;
entre outros fatores. Assim, os índices de produtividade,
custos de produção e lucratividade são bastante distintos
entre os diferentes sistemas de produção de tilápias.
Por exemplo, biomassa entre 30 a 400kg de peixes/ha
podem ser sustentadas em viveiros que não receberam
qualquer aporte de nutrientes (ração ou fertilizantes).
Viveiros nos quais os peixes são alimentados com ração,
podem sustentar entre 4.000 a 40.000kg de peixe/ha, em
função da qualidade da ração, uso ou não de aeração e
intensidade de troca de água. Em outro extremo, 200kg
de peixes/m3 (extrapolando, seriam 2.000t de peixes/ha)
são produtividades comuns em tanques de alto fluxo e
tanques-rede de pequeno volume.
47
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2000 2000
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maio/junho,
Capacidade de suporte e o conceito de biomassa econômica
Independente dos sistemas de
cultivo e das estratégias de produção
adotadas, o conhecimento dos conceitos e a quantificação da capacidade de
suporte, biomassa crítica e biomassa
econômica, bem como dos índices de
desempenho das espécies cultivadas,
é fundamental para o adequado planejamento e otimização da produção. Na
Figura 1 é representado, graficamente,
os conceitos de Biomassa Crítica,
Biomassa Econômica e Capacidade
de Suporte.
CAPACIDADE DE SUPORTE (CS). É a
máxima biomassa de peixes capaz de ser
sustentada em uma unidade de produção
(viveiro, tanque-rede, raceway, etc). O
crescimento dos peixes (ou da população de peixes) é zero no momento em
que a capacidade de suporte foi atingida
(Figura 1). Qualquer tentativa de superar
este limite de biomassa sem incrementar
a estratégia de cultivo pode resultar em
perda parcial ou total da produção. A
capacidade de suporte pode ser expressa
em relação à área (kg/ha, kg/1.000m2
ou kg/m2) ou ao volume (kg/m3) da
unidade de produção. A determinação da
capacidade de suporte é feita com base
nos resultados de cultivos anteriores ou
pode ser estimada através dos dados de
produção obtidos em outras pisciculturas ou mesmo obtidos em publicações
técnicas.
BIOMASSA CRÍTICA (BC). Em algum
momento do cultivo o crescimento
diário dos peixes (ou da população de
peixes) atinge um valor máximo, ou
seja, o máximo ganho de peso possível
por peixe (g/dia) ou por unidade de
área (kg/ha/dia) ou volume (kg/m3/
dia). Neste momento dizemos que
a unidade de produção atingiu a sua
biomassa crítica (Figura 1). A partir
do ponto de biomassa crítica o crescimento dos peixes começa a ser cada
vez mais reduzido até que o sistema
atinja sua capacidade de suporte e os
peixes parem de crescer.
48
BIOMASSA ECONÔMICA (BE). A
biomassa econômica corresponde a
uma biomassa entre a capacidade de
suporte e a biomassa crítica (Figura
1). A biomassa econômica representa
o valor de biomassa onde há o maior
lucro acumulado durante o cultivo
(máximo lucro possível) e o ponto
onde a despesca (parcial ou total) deve
ser realizada. Avançar o cultivo além
da biomassa econômica resulta em
redução da receita líquida por área ou
volume, ou seja, diminuição no lucro,
além de gasto adicional de tempo com
a ocupação desnecessária da unidade
de produção.
Tilápias
quer pelo consumo de outros resíduos
orgânicos. Soma-se a isto sua grande
capacidade em tolerar baixos níveis
de oxigênio dissolvido. Isto explica a
maior capacidades de suporte observada na produção de tilápias quando
comparada a maioria dos peixes de
respiração branquial. Na Tabela 2 são
sumarizados os valores de capacidade
de suporte observados em diferentes
sistemas de produção de tilápia. Também é apresentada uma estimativa dos
valores de biomassa econômica para
estes mesmos sistemas.
Figura 1.
Representação gráfica dos
pontos de Biomassa Crítica,
Biomassa Econômica e
Capacidade de Suporte, em
viveiros de baixa renovação
de água e sem aeração,
usados na de peixes alimentados com ração.
O ponto de biomassa econômica
de uma unidade de produção depende,
basicamente, do custo de produção e
do valor de mercado do peixe produzido. Por hora vamos assumir que, em
geral, a biomassa econômica gira em
torno de 60 a 80% da capacidade de
suporte. A capacidade de suporte dos
sistemas de produção em tanques e
viveiros com baixa renovação de água
é determinada, em sua ordem, pelos
seguintes fatores: (1). Quantidade de
alimento disponível; (2). Qualidade
do alimento; (3). Níveis críticos de
oxigênio dissolvido; (4). Concentração de amônia e gás carbônico
na água. Tilápias são reconhecidas
pela grande habilidade em reduzir
a carga orgânica nos viveiros, quer
pelo eficiente consumo de plâncton,
A produção em fases e o
uso eficiente do espaço
A produção em fases (Figura 2)
otimiza o uso das unidades de produção
(viveiros, tanques-rede e raceways). Na
Tabela 3 é apresentado uma comparação
onde, com a mesma área de produção,
uma piscicultura pode produzir 38%
mais tilápias utilizando 3 fases, contra
um única fase de produção. O fundamento básico é a manutenção de uma
biomassa sempre próxima ao ponto
de biomassa crítica, o que permite um
arraçoamento médio mais elevado e
maior ganho diário em biomassa (kg/
ha/dia ou kg/m3/dia). Em cada fase, a
estocagem deve ser feita a uma biomassa de peixes logo abaixo da biomassa
crítica e a despesca realizada quando a
Tilápias
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Viveiros adubados. A tilápia pode ser cultivada
em viveiros adubados com fertilizantes inorgânicos,
estercos animais e subprodutos vegetais. A calagem é
utilizada para corrigir a acidez, a alcalinidade e a dureza
da água sempre que necessário. A adubação promove a
produção de alimento natural, notadamente o plâncton,
eficientemente aproveitado pelas tilápias. A capacidade
de suporte pode variar entre 1.000 a 3.700 kg/ha, em
função da qualidade e da quantidade dos fertilizantes
aplicados. A adubação execessiva compromete a qualidade da água, prejudicando o desenvolvimento e a
sobrevivência dos peixes.
* Sistemas de cultivo: 1. Extensivo ou rudimentar; 2. Adubação orgânica e/
Adubação e alimento suplementar. A substituiou inorgânica; 3. Alimento suplementar com ou sem adubação; 4. Ração comção
de
parte dos fertilizantes por um alimento suplemenpleta em viveiros de baixa renovação de água; 5. Ração completa e aeração de
emergência com baixa renovação de água; 6. Ração completa e troca parcial
tar aumenta a oferta de alimento e reduz a carga orgânica
de água com aeração; 7. Recirculação de água com aeração; 8. Tanques de alto
nos viveiros, permitindo o aumento na capacidade de
fluxo de água (raceways); 9. Tanques-rede de pequeno volume (até 6m3).
suporte. Uma mistura de farelos, restos de restaurantes e
varejões, e até mesmo rações peletizadas de baixo custo
são usados como alimento suplementar. No alimento nabiomassa econômica for atingida. No ciclo seguinte repete-se
tural os peixes obtém aminoácidos essenciais, vitaminas
este mesmo procedimento (Figura 2). A adoção da produção
e minerais que faltam no alimento suplementar. Apesar
em fases exige, porém, um uso mais intenso de mão-de-obra
do menor impacto sobre a qualidade da água comparado
e um sistema eficiente de movimentação dos peixes dentro
ao uso exclusivo de adubos, os alimentos suplementares
da piscicultura. Os resultados, no entanto, compensam este
geralmente apresentam baixa estabilidade na água e
maior empenho.
reduzida digestibilidade, favorecendo um considerável
acúmulo de nutrientes e resíduos nos viveiros. As fezes
dos peixes e as sobras de alimento contribuem com o
Sistemas de produção de tilápias
desenvolvimento do plâncton. O excesso de fitoplâncton
e a degradação da matéria orgânica reduz o oxigênio na
água, particularmente à noite. Assim, a capacidade de
suporte é limitada entre 2.500 a 8.000kg/ha, dependendo da qualidade do alimento suplementar utilizado e da
quantidade de adubos aplicada.
Viveiros com baixa renovação de água e ração
completa. O próximo passo para incremento da capaciaFigura 2.
Representação da produção
de de suporte é o uso de rações completas (que reúnem
de tilápias em fase única e
todos os nutrientes exigidos pelos peixes). Isto diminui
em três fases.
a depêndencia quanto ao alimento natural. No entanto, a
tilápia ainda assim se beneficia do alimento natural
disponível. Adubar os viveiros nas fases iniciais
também traz benefícios às tilápias. A adubação
é interrompia com o avanço do cultivo, pois as
fezes e a excreção nitrogenada dos peixes são
suficientes para manter uma adequada produção
de plâncton e outros organismos. O excesso de material orgânico nos viveiros acelera a degradação
da qualidade da água e prejudica o crescimento
e a sobrevivência dos peixes. A capacidade de
suporte de tilápias em viveiros com ração comTabela 3. Expectativa de produtividade no cultivo de tilápia do Nilo
utilizando estratégias de produção com uma única fase (1g a 800g), ou
pleta, baixa renovação de água e sem aeração
uma estratégia de produção com 3 fases (1g _ 30g _ 200g _ 800g).
varia entre 6.000 a 10.000kg/ha, sendo limitada
pela concentração de oxigênio dissolvido, a qual
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Cursos Avançados em Piscicultura
em Jundiaí - SP
Instrutor: Fernando Kubitza, Ph.D.,
especialista em Nutrição e Produção de Peixes
1 - Tanque-rede: Produção, Problemas e Soluções
Dias: 14-15/07/00
• Fundamentos; planejamento e controle;
• Manejo nutricional e alimentar; índices de produção;
• Introdução aos problemas no cultivo de peixes em tanques-rede.
• Seminário participativo com técnicos e produtores/empresários apresentando os
problemas práticos e soluções encontradas no cultivo de peixes em tanques -rede.
• Debate sobre as perspectivas futuras para a atividade no Brasil.
2- Planejamento e Economia Aplicados à Piscicultura
Dias: 28-30/07/00
• Planejamento e controle da produção;
• Controle do crescimento dos peixes;
• Capacidade de suporte, biomassa crítica e biomassa econômica nos diferentes
sistemas de produção;
• Determinação da biomassa econômica;
• O uso dos índices de desempenho e da biomassa econômica no planejamento
da produção;
• Noções aplicadas de orçamento, fluxo de caixa, cálculo da depreciação e
inventários; avaliação do desempenho econômico em pisciculturas.
• Exercícios Práticos.
3 - Nutrição e Alimentação de Peixes Cultivados
Dias: 04-05/08/00
• Anatomia / fisiologia digestiva; hábito alimentar e exigências nutricionais dos
peixes.
• Processamento e granulometria das rações.
• Fatores que afetam a conversão alimentar dos peixes.
• Sinais indicadores da má nutrição dos peixes.
• Estratégias e equipamentos para alimentação dos peixes.
Prático: visita à uma fábrica de rações; indicadores de qualidade das rações; ensaio de estabilidade das rações na água. Discussões de problemas práticos.
4 - Parasitoses e Doenças dos Peixes Cultivados
Dias: 25-26/08/00
• Condições que favorecem a ocorrência de doenças.
• Mecanismos de defesa dos peixes e modos de transmissão de doenças.
• Sinais indicativos, estratégias de prevenção, profilaxia e tratamento das principais
doenças e parasitoses dos peixes.
Prático: Técnicas de identificação de parasitoses e doenças; medicamentos e
agentes profiláticos. Discussões de problemas práticos enfrentados por técnicos
e criadores de peixes.
5 - Técnicas de Transporte de Peixes Vivos
Dias: 15-16/09/00
• Fisiologia aplicada ao transporte.
• Fatores que o transporte.
• Condicionadores e profiláticos.
• Tanques e Equipamentos.
• Procedimentos rotineiros.
• Cargas para alevinos e peixes adultos vivos.
• Previsão do consumo de oxigênio no transporte.
Prático: Ensaios dinâmicos de transporte; difusores e equipamentos; condicionadores e profiláticos.
Horário: Sextas e Sábados das 8:00 às 18:00hs;
Domingo (alguns cursos) das 8:00 às 12:00 hs
Inscrição: Incluído material didático e almoços (sexta-feira e sábados):
R$ 300,00 com 7 dias de antecedência ao curso;
R$ 350,00 na semana que antecede, ou no dia do curso.
Conta para depósito: Banco Itaú- Agência 1586 c/c 08120-8
Os dados para inscrição deverão ser enviados junto ao comprovante
de depósito para o fone/fax: (11) 7397-2496
Aqua & Imagem Serviços
[email protected]
50
Tilápias
diminui progressivamente com o aumento na quantidade
diária de ração fornecida. Portanto, a capacidade de suporte
é limitada pelo máximo arraçoamento que pode ser aplicado
sem comprometer o oxigênio dissolvido na água. Em viveiros
para tilápia isto gira em torno de 60 a 100kg de ração/ha/dia,
dependendo da qualidade da ração utilizada.
Aeração de viveiros e produção de tilápias. Em
viveiros com baixa renovação e uso de ração completa, a
aeração de emergência permite aumentar o arraçoamento
para 120kg/ha/dia ou mais. No entanto, mais que 120kg de
ração/ha/dia pode elevar a concentração de amônia na água.
Níveis tóxicos de amônia podem ocorrer ao final da tarde
com o pH da água acima de 8,5. Embora a aeração segure o
oxigênio dentro de valores aceitáveis, a amônia reduzirá o
desempenho dos peixes. A capacidade de suporte é atingida
entre 10.000 a 20.000kg/ha, em função da qualidade da
ração e da potência de aeração empregada. Em Honduras,
Coddington e Green (1993) observaram melhoria de 18 a
21% no crescimento, 3 a 5% na sobrevivência e 21 a 25%
na produção de tilápias em viveiros com aeração. Iniciar
a aeração quando a concentração de oxigênio atingia 30%
da saturação (ao redor de 2,4mg/litro) não melhorou o desempenho produtivo ou a sobrevivência da tilápia-do-Nilo,
comparado ao início da aeração a 10% da saturação (ao
redor de 0,8mg/litro). Para fins práticos, podemos esperar
um incremento de 20 a até 60% na capacidade de suporte de
tilápias com o uso de aeração de emergência. Deste ponto
em diante, o incremento na capacidade de suporte depende
da renovação de água.
Viveiros com renovação de água e aeração. A renovação de água diminui a a carga orgânica e a concentração
de amônia na água, o que permite aumentar o araçoamento
e, portanto, a capacidade de suporte. Muitos sistemas com
renovação parcial de água usam aeração, geralmente a partir
do ponto de biomassa crítica. A capacidade de suporte pode
chegar a 40.000kg/ha, em função da taxa de renovação de
água, da existência ou não de aeração, da forma como a
aeração é aplicada, entre muitos outros fatores. Em Israel,
biomassa, de tilápia ao redor de 70.000kg/ha foram alcançadas em tanques com 3 trocas parciais de água por dia para
remoção das fezes.
Produção de tilápias em raceways. “Raceways” são
tanques com alto fluxo de água, entre 1 a 20 trocas totais por
hora (Figura 3). Os resíduos (fezes e sobras de rações) são
arrastados com a corrente de água para fora do raceway. A
capacidade de suporte para tilápias em raceways 60 a 200kg/
m3, em função da renovação de água disponível e do uso
ou não de aeração. O oxigênio dissolvido é o primeiro fator
limitante da produção em raceways. Berman (1998) descreve
o sistema de produção da Aqua Corporation International
S.A., na Costa Rica. Cerca de 4.200 toneladas de tilápias de
900g são produzidas anualmente. As últimas duas fases de
Tilápias
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20002000
reservatório (geralmente um viveiro ou
represa), onde ocorrem a sedimentação
dos resíduos orgânicos, os processos de
nitrificação e a reoxigenação parcial
da água através da fotossíntese. No
reservatório geralmente são estocados
peixes como a carpa comum e mesmo
tilápias, que se beneficiam dos resíduos
orgânicos e do
alimento natural disponível.
Do reservatório, a água
retorna, por
bombeamento
ou por gravidade, aos tanques
de produção de
Figura 3.
Representação esquemática
tilápias. Biode sistemas de alto fluxo.
massas entre
10 a 25 kg de
2
tilápia/m
(100.000
a
250.000
kg/ha)
filtros mecânicos para remoção dos
resíduos orgânicos e de filtros bioló- são mantidas nos tanques de produção.
gicos para transformar a amônia em No entanto, quando considerada a área
ocupada pelo viveiro-reservatório, a
nitrato (Figura 4).
capacidade de suporte cai para 3,9 a
4,5 kg/m2 (39.000 a 45.000 kg/ha).
O sistema de cultivo “Dekel”,
Em geral, a capacidade de suporte no
desenvolvido em Israel e difundido
cultivo de tilápias com recirculação de
em vários países, serve como um bom
água gira entre 20 a 60kg/m3. O risco
exemplo de um sistema de recirculade perdas de peixe por
ção utilizado no cultivo de tilápias
falha instrumental ou
por doenças aumenta
nos sistemas de recirculação, exigindo
do piscicultor uma
Figura4.
atenção maior quanRepresentação esquemática
to aos pontos críticos
de um sistema de recirculação
de água.
do sistema.
produção (50 a 300g e 300 a 900g) são
feitas em raceways, com uma biomassa
final ao redor de 70kg/m2.
Sistemas de recirculação de
água. A recirculação é uma boa alternativa quando a água for limitada ou
quando há necessidade de aquecimento
da água. Há necessidade de instalar
(Figura 5). Neste sistema os peixes
são produzidos em tanques circulares
ou hexagonais com fundo cônico para
facilitar a remoção dos resíduos orgânicos (fezes, restos de ração e plâncton).
Os tanques são escavados em terra e
podem ou não ser revestidos. Aeradores
de pá são usados para oxigenação e
promoção de um movimento circular
da água que concentra os resíduos orgânicos ao redor de um dreno central
para eliminação através de descargas de
água periódicas. A água que deixa os
tanques de produção é conduzida a um
Produção de tilápias em gaiolas. No cultivo de tilápias em gaiolas
a produção por ciclo pode variar de
30 a 300kg/m3, em função do tamanho
da gaiola (ou tanque-rede) utilizada.
Gaiolas de baixo volume (até 6m3)
permitem produzir 200 a 300kg de
tilápia/m3 por ciclo. Alguns recordes
foram estabelecidos em gaiolas de
baixo volume/alta densidade. Na
China 680kg de carpas foram produzidos em gaiola de 1-m3 (Schmittou,
comunicação pessoal). No Brasil, a
biomassa de tilápias em gaiolas de
4-m3 pode chegar a 480kg/m3 (Ivantes,
comunicação pessoal). Estes valores
devem estar próximos à capacidade de
suporte em gaiolas de baixo volume.
Em outro extremo estão os tanquesrede de maiores dimensões (acima de
10m3), onde a produção pode variar
entre 30 a 100kg/m3. Esta diferença
se deve a maior taxa de renovação de
água em tanques-rede de baixo volume
comparado aos de grande volume, permitindo a manutenção de uma qualidade
de água melhor no interior dos tanquesrede. O Dr. Holmer R. Schmittou foi o
idealizador do sistema de tanque-rede
de baixo volume e alta densidade, hoje
bastante popular no cultivo de tilápias
em diversos países, notadamente a China e o Brasil. No cultivo em gaiolas, o
acesso dos peixes ao alimento natural
é limitado. Assim, para se obter adequado crescimento e saúde dos peixes
ao longo do cultivo é necessário o uso
de rações nutricionalmente completas
e de alta qualidade.
Figura 5.
Representação esquemática do sistema de recirculação tipo “Deckel”
desenvolvido em Israel.
51
Tilápias
Panorama
da AQÜICULTURA,
maio/junho,
Panorama
da AQÜICULTURA,
julho/agosto,
2000 2000
Tabela 4. Expectativas de ganho de peso (GDP, em g/
peixe/dia) e da duração (em dias) de algumas fases no
cultivo da Tilápia-do-Nilo.
Figura 6.
Esquemática de gaiolas de baixo
volume (até 6m3).
O conceito de capacidade de
suporte no cultivo de peixes em gaiolas.
Os limites de capacidade de suporte e
os níveis de arraçoamento estabelecidos para cultivo em viveiros servem
como referência para definir os limites
de capacidade se suporte em represas
com gaiolas. Por exemplo, um açude
suporta 6.000kg de peixes/ha e um arraçoamento de até 60kg de ração/ha/dia
quando os peixes são cultivados soltos.
Se optarmos por gaiolas, A biomassa
de todos os peixes confinados não deve
exceder estes limites. Por segurança, a
capacidade de suporte nos viveiros com
gaiolas constuma ser mantida abaixo
dos limites para peixes soltos. A vantagem do uso de gaiolas é a facilidade
de colheita dos peixes. Para pequenos
açudes e viveiros utilizados com gaiolas,
a biomassa econômica deve ficar entre
2.500 a 3.500kg/ha quando a renovação
de água for limitada. O arraçoamento é
mantido entre 30 a 40kg/ha/dia.
Planejando a produção
de tilápias
Para planejar a produção de
tilápias, o piscicultor precisa definir,
com base nos resultados de cultivos
anteriores, ou de acordo com os sistemas de produção detalhados neste
artigo, a capacidade de suporte e a
biomassa econômica do seu sistema.
Adicionalmente, precisa ter uma noção
dos índices de desempenho das tilápias
nas diferentes fases de desenvolvimento
(Tabela 4).
52
Planejamento da
produção de tilápias em viveiros
No exemplo a seguir está o planejamento da produção de tilápias em
viveiros com o uso de ração completa,
aeração de emergência e baixa renovação de água. Estabelecemos a biomassa
econômica ao redor de 8.500 kg/ha na
Fase 3 (fase final) e 6.500 kg/ha nas
Fases 1 e 2. Usamos a expectativa média
desempenho (Tabela 4) e deixamos 10
dias extras para completar a despesca e
realizar a estocagem dos viveiros nas
Fases 1 e 2 (duração do ciclo= 50 dias
+ 10 dias = 60 dias) e mais 20 dias para
a Fase 3 (duração do ciclo= 100 dias +
20 dias). A expectativa de sobrevivência
é de 85%, 95% e 98% para as fases 1, 2
e 3, respectivamente. Assim, montamos
a Tabela 5.
peixes/m2. Isto é suficiente para estocar 2,9m2 (22/7,6) de viveiro da Fase
2. Assim, a relação entre as áreas da
Fase 1 e Fase 2 é de 1 para 2,9 (ver a
Tabela 5). A despesca da Fase 2 rende
7,2 peixes/m2, o suficiente para estocar
3,6m2 (7,2/2) de viveiros na Fase 3. No
entanto, os viveiros da Fase 2 giram
um ciclo de 60 dias contra 120 dias na
Fase 3. Assim, quando os viveiros da
Fase 2 completarem mais um ciclo será
necessário disponibilizar um segundo
grupo de viveiros da Fase 3. Portanto,
cada 1m2 da Fase 2 abastecerá 7,2m2
(3,6 x 2) da Fase 3. Mantendo a relação
entre as áreas das 3 fases teremos: Fase
1: 1,0m2; Fase 2: 2,9m2; e Fase 3: 21,0m2
(2,9m2 x 7,2m2). Agora podemos dividir
a piscicultura em partes:
1 parte para a Fase 1;
2,9 partes para a Fase 2;
e 21 partes para a Fase
3. A soma de todas as
partes corresponde a
24,9 (100%). A Fase 1
ocupará 4% da área total
(1x100/24,9); a Fase 2
ocupará aproximados
12% (2,9x100/24,9) e, a
Tabela 5. Plano de produção de tilápia-do-Nilo em
Fase 3 ocupará 84% da
viveiros de baixa renovação, sem aeração e com o uso
área total (21x100/24,9).
de ração completa.
Vamos supor que exista
uma piscicultura já imPara calcular a necessidade de plantada com uma área total de viveiros
área em cada fase é preciso conhecer de 40 hectares. A área total de viveiros
a relação entre a área das mesmas. Na alocada para as Fases 1, 2 e 3 será 0,16ha
despesca da Fase 1, são capturados 22 (4% de 40ha), 4,8ha (12% de 40ha) e
Tilápias
33,6ha (84% de 40ha). O potencial de
produção de tilápias de 450g da piscicultura em questão pode ser calculado
da seguinte maneira:
·
·
Os viveiro da Fase 3 permanecem
ocupados 120 dias por safra, ou
seja, podem produzir 3 safras por
ano (365dias/120dias);
Se todos os 33,6 hectares destinados à Fase 3 forem utilizados, o
potencial de produção anual será:
33,6 ha x 3 safras x 8,5t/ha/safra =
857 toneladas.
No entanto, nem sempre todos os
viveiros disponíveis se ajustam perfeitamente ao planejamento inicialmente
realizado. O piscicultor ou o técnico
deverá avaliar como os viveiros estão
distribuídos dentro da propriedade e
alocá-los às fase de cultivo que melhor
convier, de forma a atender satisfatoriamente a logística de produção. Os viveiros também apresentam dimensões
variadas, o que dificulta a alocação dos
mesmos nas proporções ideais entre as
fases de cultivo. Deste modo, nem sempre é possível aproveitar com 100% de
eficiência a área de produção disponível. Outros fatores também contribuem
com a diminuição da eficiência de uma
piscicultura. Por exemplo, os atrasos
na entrega de alevinos e na venda dos
peixes terminados; mortalidades inusitadas de alevinos após o transporte;
entre muitos outros. O piscicultor/
técnico deve estar atento e antecipar
tais problemas, assegurando estoques
reguladores de alevinos, antecipando
compromissos de venda, entre outros
cuidados.
Panorama
da AQÜICULTURA,
maio/junho,
Panorama
da AQÜICULTURA,
julho/agosto,
20002000
20 hectares, com renovação mínima
de água. O primeiro passo é estabelecer a biomassa econômica para este
açude. Neste exemplo, será de 2.500
kg/ha, ou seja, em momento algum a
soma da biomassa de todas as gaiolas
deve exceder a 50 toneladas no açude
em questão. Com esta biomassa econômica, o arraçoamento diário não
deverá exceder 40 a 50kg de ração/
ha. Com base nos níveis de oxigênio
dissolvido pela manhã, o piscicultor
poderá decidir, ao longo do cultivo,
sobre o aumento ou redução no número
de gaiolas no açude. Cada gaiola tem
4m3 de volume útil. Os alevinos serão
estocados com peso médio ao redor
de 4g. Na Tabela 6 segue um resumo
da estratégia de produção e índices de
desempenho esperados em cada fase
do cultivo.
Fase 3: 82 gaiolas, equivalente a Biom.
média de 82 x 4m3 x 121kg/m3 =
39.688kg.
A relação entre volumes é a
porcentagem do volume de gaiolas
destinadas a cada fase é calculada da
mesma forma que no exemplo anterior.
Portanto, a as Fases 1, 2 e 3 utilizarão 7,
11 e 82% das gaiolas, respectivamente.
Com base nesta proporção vamos estabelecer um módulo de gaiolas como
detalhado a seguir:
Esperamos que esta primeira
parte tenha ajudado o leitor a conhecer
um pouco mais sobre as tilápias, suas
particularidades quanto à qualidade de
água e a capacidade de suporte para este
peixe em diferentes sistemas de cultivo.
Com base nestas informações básicas,
já é possível iniciar o planejamento da
produção na próxima safra. Na segunda
parte deste artigo traremos sugestões
quanto ao manejo alimentar em cultivo
intensivo e uma resenha das principais
doenças registradas na produção comercial de tilápias.
Fase 1: 7 gaiolas, equivalente a Biom. média de 7 x 4m3 x 53kg/m3 = 1.484kg;
Fase 2: 11 gaiolas, equivalente a Biom. média de 11 x 4m3 x 102kg/m3 = 4.488kg;
A biomassa total do módulo é
45.660kg, o que representa 91% (0,91)
das 50 toneladas estabelecidas como
biomassa econômica para o açude.
Assim, poderemos ter no açude:
Fase 1: 7 gaiolas / 0,91 = 8 gaiolas
(8x4x53= 1.696kg);
Fase 2: 11 gaiolas / 0,91 = 12 gaiolas
(12x4x102= 4.896kg);
Fase 3: 82 gaiolas / 0,91 = 90 gaiolas
(90x4x121= 43.560kg).
No total seriam 50.152kg de peixes estocados em um dado momento,
o que está bem próximo da biomassa
econômica proposta.
Planejamento da produção
de tilápias em gaiolas
Com os mesmos dados do exemplo anterior podemos planejar a produção de tilápias em gaiolas. Os
cálculos seguem a mesma lógica do
planejamento para viveiros. Vamos
supor que dispomos de um açude de
Tabela 6. Estratégias de produção e expectativa de desempenho para o planejamento da produção no cultivo de tilápias
em gaiolas em 3 fases.
53
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
1
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
Por: Eng° Agr° Fernando Kubitza (Ph. D.)
Méd. Vet. Ludmilla M. M. Kubitza
ACQUA & IMAGEM SERVIÇOS – Jundiaí, SP
Inúmeras são as variáveis e processos que envolvem a qualidade final do peixe para consumo.
Neste artigo serão apresentados os aspectos básicos do manejo nutricional e alimentar, bem
como as principais parasitoses e doenças no cultivo comercial de tilápias. O leitor poderá obter
informações mais detalhadas sobre estes assuntos nas edições 52 e 53 da Revista Panorama da
Aqüicultura, no livro “Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes Cultivados” 3a. Ed. (Kubitza e
Kubitza 1999) e no livro “Tilápia: tecnologia e planejamento na produção comercial” (Kubitza
2000) que será lançado no 5 ISTA -Simpósio Internacional sobre Tilápia na Aqüicultura.
MANEJO NUTRICIONAL E ALIMENTAR
O
s alimentos podem compor 40 a
70% do custo de produção de tilápias, dependendo do sistema de cultivo
empregado, da escala de produção, da
produtividade alcançada, dos preços dos
outros insumos de produção, dentre outros
fatores. Os produtores podem minimizar de
forma significativa este custo com a adoção
de um manejo alimentar adequado e uso de
rações com qualidade compatível com as
diferentes fases de desenvolvimento dos
peixes e com o sistema de cultivo utilizado. Através de uma adequada nutrição e
manejo alimentar é possível:
· Melhora a eficiência alimentar, mini-
· Melhor explorar o crescimento dos peixes e aumentar o número de safras anuais.
· E, finalmente, otimizar a produção e
mizando os custos de produção.
· Reduzir o impacto poluente dos efluentes da piscicultura intensiva, aumentando a
produtividade dos sistemas de produção.
· Obter melhor saúde e maior tolerância
às doenças e parasitoses.
· Melhorar a tolerância dos peixes ao
manuseio e ao transporte vivo.
· Incrementar o desempenho reprodutivo
e a qualidade das pós-larvas e alevinos.
maximizar as receitas da piscicultura.
Qualidade da água,
sistemas de cultivo, planejamento da
produção, manejo
nutricional e alimentar e sanidade.
Parte II
Com a recente intensificação do
cultivo das tilápias em diversos países, inclusive no Brasil, utilizando tanques-rede,
raceways e tanques com recirculação de
água (sistemas onde a disponibilidade de
alimento natural é limitada), houve um aumento na incidência de desordens nutricionais devido ao inadequado enriquecimento
vitamínico e mineral das rações. Estes
sistemas mais intensivos demandam o uso
de rações nutricionalmente completas, com
enriquecimentos vitamínicos e minerais.
Mais informações sobre as exigências
nutricionais e os subsídios à formulação de
rações para tilápias podem ser encontrados
no artigo de Kubitza nas edições 52 e 53
desta revista. Neste artigo nos limitaremos
31
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
aos aspectos práticos do manejo alimentar
no cultivo intensivo de tilápias.
A importância do alimento natural na
nutrição de tilápias
O alimento natural dos peixes é
composto de inúmeros organismos vegetais
(algas, plantas aquáticas, frutos, sementes,
entre outros) ou animais (crustáceos, larvas e ninfas de insetos, vermes, moluscos,
anfíbios, peixes, entre outros). Algumas
espécies de tilápias, em particular a tilápiado-Nilo, aproveitam de forma eficiente o
fito e o zooplâncton. Em viveiros com baixa
renovação de água, cerca de 50 a 70% do
crescimento de tilápias foi atribuído ao consumo de alimentos naturais, mesmo com o
fornecimento de ração suplementar. Este
detalhe explica o menor custo de produção
de tilápias em viveiros de baixa renovação
de água comparado ao cultivo intensivo em
tanques-rede e raceways. O plâncton é rico
em energia e em proteína de alta qualidade
e serve como fonte de minerais e vitaminas
no cultivo de tilápia em viveiros. Estudos
realizados em Israel demonstraram, com
base na resposta em crescimento, não ser
necessário o enriquecimento vitamínico
em rações usadas no cultivo de tilápias em
viveiros com disponibilidade de alimentos
naturais. No entanto a suplementação
vitamínica das rações melhorou a sobrevivência dos peixes. Em Israel, apenas as
rações destinadas às pós-larvas e ao cultivo
em sistemas mais intensivos recebem suplementação vitamínica completa. Esta suplementação também é feita em rações usadas
no período de inverno e no tratamento de
peixes doentes ou sob estresse.
natural é limitado. O sucesso do cultivo de
tilápias em raceways ou em tanques-rede
depende do uso de rações completas. Estas
rações também são necessárias em viveiros
quando a biomassa ultrapassa 6.000 kg/ha.
Nas rações completas todos os nutrientes
devem estar presentes de forma equilibrada
e em quantidades que supram as exigências
dos peixes para um adequado crescimento,
saúde e reprodução. O enriquecimento em
vitaminas e microminerais é completo.
Programa nutricional e alimentar para tilápias
Na Tabela 1 são apresentadas sugestões quanto a composição nutricional
básica, a necessidade de suplementação
vitamínica e mineral, a forma de apresentação e o tamanho dos peletes em rações
para tilápias em diferentes fases de desenvolvimento e sistemas de cultivo.
Manejo alimentar na reversão sexual.
A reversão sexual é aplicada em
pós-larvas com 9 a 13mm. A ração com
30 a 60mg de metiltestosterona/kg deve
ser fornecida em 5 a 6 refeições diárias.
Durante uma refeição os peixes devem ser
alimentados até serem saciados. Para tanto,
é preciso que o tratador observe atentamente
o consumo e a atividade dos peixes, evitando
excessiva sobra de ração nas unidades de
reversão. O uso de anéis de alimentação
facilita o manejo alimentar em hapas e
permite uma boa observação do consumo
quando a reversão é realizada em unidades
de maiores dimensões (hapas, tanques e
viveiros). Os peixes devem receber rações
com metiltestosterona por um período de
28 dias. Cerca de 600 a 800 gramas
de ração são necessárias para 1.000
alevinos de 4 a 5 cm produzidos.
Nutrição e manejo alimentar na
recria e engorda.
A importância do alimento
natural, notadamente o plâncton, no
crescimento das tilápias já foi ressaltado anteriormente. Muitos sistemas
de produção combinam os benefícios
do alimento natural com o uso de
rações suplementares ou completas,
visando um aumento na produtividade
e melhora na conversão alimentar. Os
piscicultores e nutricionistas devem
estar atentos para ajustar a densidade
dos nutrientes nas rações e o manejo
alimentar em função do sistema de
cultivo adotado, otimizando a produtividade e minimizando os custos
de produção.
Manejo alimentar na recria (5 a
100g) em viveiros com plâncton.
Enquanto a biomassa de tilápias em viveiros de recria com
plâncton não ultrapassar 4.000 kg/
ha, rações com 24 e 28% de proteína,
2.600 a 2.800 kcal de ED/kg e sem
enriquecimento vitamínico e mineral podem ser utilizadas mantendo
adequado crescimento e conversão
alimentar. A taxa de alimentação deve
ser ajustada entre 4 a 2% do peso vivo
ao dia, do início ao final desta fase,
sendo estas quantidades divididas em
2 refeições diárias. O uso de rações
flutuantes permite melhor ajustar
Rações suplementares.
A produção de tilápias em viveiros de baixa renovação de água pode ser
feita de forma eficaz com o uso de rações
suplementares (nutricionalmente incompletas). De um modo geral estas rações não
dispõem de um correto balanço em aminoácidos essenciais, apresentam menores
níveis protéicos (22 a 24%), maior relação
energia/proteína e não são suplementadas,
ou o são apenas parcialmente, com premix
vitamínico e mineral.
Rações nutricionalmente completas.
Estas rações devem ser empregadas em sistemas de produção onde a
disponibilidade ou o acesso ao alimento
Tabela 1. Sugestões quanto aos níveis de proteína bruta (PB), energia digestível e suplementação
vitamínica (Sup. vitam.) e mineral (min.) em rações para tilápias nas diferentes fases de desenvolvimento, cultivadas em viveiros com plâncton (VIV) ou em tanques-rede e raceways (TR/RW).
33
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
a quantidade de ração fornecida. Alimentar os peixes tudo o que eles podem
consumir numa refeição maximiza o
crescimento, o que é desejado nas fases
iniciais. Porém, tal prática pode não ser
a melhor estratégia do ponto de vista
econômico, principalmente nas fases de
engorda. Na Tabela 2 pode ser observado
o efeito dos níveis de alimentação sobre
o crescimento e a conversão de tilápia.
Níveis de alimentação entre 4 a 2% do
PV ao dia podem parecer, à princípio,
insuficientes para peixes entre 5 a 100
gramas. No entanto, não deve ser esquecido que os peixes consomem plâncton
o tempo todo, complementando o nível
de ingestão de alimentos. A conversão
alimentar na recria em tanques com
plâncton deve ficar abaixo da unidade,
com valores de 0,8 sendo bastante comuns. Se isto não se confirmar, pode
estar ocorrendo problemas na qualidade
da ração, qualidade da água, manejo
alimentar, produção de plâncton, qualidade dos alevinos, doenças, ou baixas
temperaturas.
Quando a biomassa nos viveiros
ultrapassar os 4.000 kg/ha, o plâncton
34
34
disponível não é capaz de complementar
a nutrição e manter os mesmos índices
de desempenho dos peixes na recria. A
partir deste ponto é recomendável o uso
de rações com 28 a 32% de proteína,
energia digestível entre 2.900 a 3.200
kcal/kg (Tabela 1) e suplementação
mínima de vitaminas e minerais, conforme recomendado por Kubitza (Revista
Panorama da Aqüicultura, vol. 9, nos.
52 e 53 1999). Deve ser esperada uma
piora nos índices de conversão alimentar a partir deste ponto, devido tanto à
diminuição no plâncton disponível por
animal, quanto à deterioração progressiva na qualidade da água. Ainda assim,
conversão alimentar entre 1,0 e 1,2 deve
ser obtida. Sob condições adequadas de
temperatura da água (28 a 32°C), tilápias
de 5g devem atingir o peso de 100g entre
os 60 a 70 dias de recria em viveiros com
plâncton. Se isto não ocorrer, confira as
Tabela 2. Influência da taxa de
alimentação diária sobre o ganho
de peso (GDP) e conversão alimentar (Conv. alim.) de alevinos
de tilápia do Nilo em aquários
(Xie et al 1997) e de tilápia vermelha da Flórida, híbrido entre
O. hornorum e O. mossambicus,
cultivadas em tanques-rede (Clark et al 1990).
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
densidades de estocagem, a qualidade
da água e das rações, a abundância de
alimento natural, o manejo alimentar e
a qualidade dos alevinos.
Manejo alimentar na recria (5 a 100g)
em tanques-rede e raceways.
Em tanques-rede e raceways a
disponibilidade de alimento natural é
limitada e os peixes estão submetidos
a uma maior pressão de produção e
estresse. Portanto, é recomendável
que as rações sejam mais concentradas em proteínas (36 a 40%), energia
digestível (3.200 a 3600 kcal/kg) e
recebam um enriquecimento mineral
e vitamínico ainda maior, conforme
sugerido na Tabela 1. Descuido com
estes detalhes pode resultar em grandes
perdas econômicas devido ao reduzido
crescimento e conversão alimentar, aos
distúrbios nutricionais e a uma maior
susceptibilidade dos peixes às doenças.
A taxa de alimentação diária deve ser
ajustada para 6 a 3% do peso vivo ao
dia, do início ao final desta fase. Esta
quantidade de alimento deve ser dividida em 3 refeições. O consumo pode ser
aferido periodicamente alimentando os
peixes tudo o que eles puderem consumir durante dois ou três dias. Utilizando
a média de consumo nestes dias, a taxa
de alimentação deve ser ajustada para
80 a 90% deste valor. Quando o objetivo for máximo crescimento, mesmo em
detrimento da conversão alimentar, os
peixes devem ser alimentados à vontade. A conversão alimentar nesta fase
deve girar entre 1,1 e 1,3.
Manejo alimentar na engorda (100 a 600g) em viveiros
com plâncton.
Durante a engorda em
viveiros até aproximadamente
6.000 kg/ha, o piscicultor pode
utilizar rações sem suplementação mineral e vitamínica,
com 24 a 28% de proteína e
energia digestível de 2.600
a 2.800 kcal/kg. O nível de
arraçoamento deve ficar entre
2 a 1% do peso vivo ao dia,
do início ao final desta fase,
dividido em 2 refeições. O
tempo necessário para que as
tilápias alcancem 600g não
deve ultrapassar 110 dias sob
condições adequadas de tem-
peratura. A conversão
alimentar deve ficar
entre 1,2 a 1,5. Se o
objetivo é produzir
mais do que 6.000 kg
de tilápia/ha, a partir
desta biomassa é recomendável o uso de
uma ração suplementada com minerais
e vitaminas e com
Tabela 4. Recomendações da taxa de alimentação para tilápias cultivadas
maior concentração
em sistemas de recirculação e raceways (Rakocy 1989).
protéica (28 a 32%)
e energética (2.800 a
3.000 kcal/kg). Deve
se esperar uma piora
nos índices de conversão alimentar (1,5 Tabelas de alimentação para tilápias.
a 1,8) e uma redução na velocidade de As tabelas de alimentação podem auxiliar
crescimento, devido à diminuição no no ajuste da quantidade de ração fornecida
plâncton disponível e a progressiva as tilápias. No entanto, devemos ter em
mente que outros fatores diferentes da
redução na qualidade da água.
temperatura e do tamanho dos animais
Manejo alimentar na engorda (100 a podem influenciar o consumo de alimento
em tilápias. Assim, o piscicultor deve ficar
600g) em tanques-rede e raceways.
Nestas condições devem ser usa- bem atento ao manejo da alimentação,
das rações com 32 a 36% de proteína e ajustando o arraçoamento de acordo com
2.900 a 3.200 kcal ED/kg. O enrique- a resposta dos peixes e com as alterações
cimento mineral e vitamínico deve ser na qualidade da água.
dobrado. O arraçoamento diário varia de
3 a 1,5% do peso vivo, sendo dividido Nutrição e manejo alimentar de reprodutores
em 3 a 2 refeições do início ao fina
Para a produção de pós-larvas e
desta fase. A expectativa de conversão
alimentar é de 1,4 a 1,8. Sob condições alevinos de tilápias em quantidades e quaadequadas de temperatura (28 a 32°C), lidade que supram a crescente demanda de
são necessários 120 a 130 dias para as mercado, é preciso atenção especial no que
diz respeito à nutrição de reprodutores. A
tilápias alcançarem 600g.
intensa coleta de pós-larvas ou ovos gera a
Tabela 3. Recomendações gerais da taxa
de alimentação e do
número de refeições
por dia (Ref./dia) na
produção da tilápia em
tanques-rede usando
ração flutuante com
32% de proteína bruta,
sob diferentes condições de temperatura
da água (adaptado de
Schmittou, sem data).
35
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
necessidade de fornecer aos reprodutores um
alimento nutricionalmente completo. A seguir
são resumidos o resultados de alguns estudos
sobre o efeito da nutrição no desempenho
reprodutivo de tilápias:
Tilápia de Moçambique O. mossambicus:
• Rações deficientes em vitamina C resultou em reduzida taxa de eclosão, aumento na
proporção de embriões deformados, atraso no
crescimento e redução na sobrevivência das
pós-larvas e dos alevinos (Tabela 5).
Tabela 6. Efeito do tipo de alimento no desempenho produtivo da Tilápia
de Moçambique (adaptado de Uchida e King 1960).
Híbridos vermelhos de tilápia (Oreochromis spp.)
• Eguia (1996) observou uma produção de 6
a 12 pós-larvas/fêmea/dia em fêmeas de tilápia
vermelha soltas em tanques e alimentadas com
ração contendo 42% de proteína. Estes números
não passaram de 2 pós-larvas/dia em fêmeas
abrigadas em happas e que não foram alimentadas
com ração.
Tabela 5. Efeito da suplementação ou não de rações com ácido
ascórbico sobre o desempenho reprodutivo e o desenvolvimento
das pós-larvas de tilápia de Mossambique, Oreochromis mossambicus (Soliman et al. 1986).
• Uchida e King (1960) observaram que reprodutores de Tilápia
de Moçambique alimentados com ração para peixes (25%PB),
produziram 6 vezes mais pós-larvas comparados a reprodutores
alimentados com ração para coelho (16% PB) e, 14 vezes mais que
reprodutores alimentados com um subproduto da moagem de trigo
(12%PB; 10% fibra), conforme apresentado na Tabela 6.
Tilápia-do-Nilo Oreochromis niloticus
• Baixos níveis de proteína na ração resultou em atraso na
maturação sexual (puberdade) e no desenvolvimento e maturação
dos oócitos (Gunasekera et al 1995)
• Machos alimentados com ração contendo farelo de algodão
apresentaram atraso na maturação dos testículos e redução no
número e na motilidade dos espermatozóides (Salaro et al 1998a).
Em fêmeas houve atraso e diminuição do número de desovas
(Salaro et al 1998b). Estes efeitos foram atribuídos ao gossipol,
fator anti-nutricional presente no farelo de algodão.
• Rações contendo 40% de farelo de folhas de leucena resultou
em redução na produção de pós-larvas e no peso corporal das fêmeas.
Estes efeitos foram atribuídos à mimosina, composto anti-nutricional
presente na leucena (Santiago et al 1988).
36
Inverno?
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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
Juvenis de tilápia-do-Nilo com olhos opacos e saltados (exoftalmia). O corpo dos
peixes se encontra escurecido e podem ser observadas áreas despigmentadas e lesões
superficiais na pele. Um quadro com sinais clínicos externos semelhantes à septicemia
por Streptococcus. A exoftalmia, a opacidade da córnea e o corpo escurecido também
são sinais freqüentes em deficiências nutricionais. Assim, a confirmação das infecções
por Streptococcus exige o isolamento desta bactéria em meios de cultura específicos.
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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
PRINCIPAIS PARASITOSES
E DOENÇAS EM TILÁPIAS
D
oenças e parasitoses diversas são
observadas no cultivo de tilápias.
Embora algumas doenças ou parasitoses
sejam mais freqüentes que outras, ainda não
foram identificados parasitos ou patógenos
específicos para as tilápias. Os patógenos
e parasitos coexistem com as tilápias no
ambiente de cultivo. Qualquer desequilíbrio causado pelo uso de densidades de
estocagem excessivas, pela inadequada
manutenção da qualidade da água, má
nutrição e o manuseio grosseiro, aumenta
a incidência de problemas com doenças. A
susceptibilidade das tilápias às parasitoses
e doenças dependem de diversos fatores,
entre muitos: a espécie ou linhagem de
tilápia; as condições de qualidade da água e
a carga orgânica nas unidades de produção;
o estado nutricional dos peixes; e, principalmente as condições de temperatura da
água. Condições sub-ótimas de temperatura aumentam a predisposição das tilápias às
doenças e parasitoses. Temperaturas baixas
inibem a resposta imune e a habilidade dos
peixes em reagir a diferentes antígenos. A
resposta imune das tilápias é praticamente
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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
inibida sob temperaturas ao redor de 16 a
18ºC. Nestas condições a atividade bacteriana também é reduzida. No entanto,
quando ocorre uma elevação da temperatura ambiente, as bactérias retomam sua atividade de forma mais rápida comparado à
habilidade dos peixes em restaurar de forma
eficiente o funcionamento do seu sistema
imunológico. Isto explica a maior incidência de doenças em tilápias nos períodos de
inverno e início da primavera. As tilápias
cultivadas sob condições de temperatura
entre 23 a 32ºC, são menos propensas às
parasitoses e doenças, a não ser quando são
submetidas à água de má qualidade, a um
manejo nutricional e alimentar inadequado
e a um manuseio grosseiro. Assim, a qualidade do manejo da produção é fundamental
para o sucesso no cultivo. A intensificação
no cultivo de tilápias cria condições para
uma maior ocorrência de doenças. Os sistemas de recirculação de água, o cultivo
em raceways e em tanques-rede são marcados pelas altas densidades de estocagem
e intenso arraçoamento. Isto aumenta o
contato entre os peixes e a transmissão dos
patógenos. Em sistemas de recirculação,
40
em particular, há uma mistura das águas
de diferentes tanques de produção, favorecendo a distribuição dos patógenos por
todo o sistema. Isto favorece os surtos de
doenças, podendo causar consideráveis
perdas econômicas.
Principais parasitos das tilápias
Diversos parasitos externos e internos causam problemas no cultivo de tilápias. Estes parasitos normalmente estão
presentes na água, e se aproveitam de
alguma situação de estresse causada
pelo abaixamento da temperatura,
má qualidade da água, má nutrição
ou manuseio inadequado, que reduzem a resistência das tilápias.
O acúmulo de material orgânico
nos viveiros e tanques durante o
cultivo pode favorecer o aumento
na população de alguns parasitos,
gerando desequilíbrios na relação
peixe-parasito-ambiente. As lesões
causadas por estes parasitos geralmente
não são tão severas, a não ser que um
grande número de parasitos esteja presente
e que a infestação ocorra em órgãos vitais.
Alguns parasitos, no entanto, se alimentam
do sangue dos peixes e podem causar lesões
bem severas, mesmo quando presentes em
pequenos números. Seus danos também são
mais severos em peixes menores. Muitos
parasitos infestam as brânquias, dificultando
a respiração dos peixes, causando a morte dos
mesmos por asfixia.
Figura 1: Hifas de Fungos (Saprolegnia) em
tilápia do Nilo. Esfregaço de pele visto ao
microscópio (400X)
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
Protozoários parasitos: a) são organismos microscópicos e unicelulares; b) a maioria
se multiplica sem a presença do hospedeiro; c) se beneficiam do aumento na carga
orgânica da água; d) ocorrência comum em cultivo intensivo; e) geralmente são encontrados em pequenas quantidades em tilápias aparentemente sadias; f) alterações
bruscas na qualidade do ambiente favorecem grandes infestações. Diversos tipos de
protozoários foram isolados de tilápias em cultivo intensivo durante infestações de
intensidade variável. A seguir é apresentado um resumo das principais características
de alguns destes organismos e suas infestações em tilápias:
PROTOZOÁRIOS PARASITOS DE TILÁPIAS
O cisto maduro se rompe, liberando
milhares de formas infestantes, os
“terontes”. Os terontes se encistam na
epiderme, onde vivem se alimentando
dos fluídos celulares e das células das
tilápias. Cada cisto tem a aparência de
um ponto branco.
Ichthyophthirius multifiliis: a) causa a
“Ictiofitiríase” ou “Doença dos Pontos
Brancos”; b) perdas significatvas em
regiões com inverno bem marcado; c)
apresenta célula ovóide recoberta por cílios, diâmetro entre 0,5 a 1,5 mm e núcleo
na forma de “ferradura” ou “C”; d) maior
incidência durante em meses de temperaturas amenas; e) peixes jovens são mais
O parasita encistado na pele, ao
atingir a maturidade, abandona o
corpo do peixe para multiplicação.
Aloja-se no fundo dos viveiros ou
em qualquer substrato disponível
e começa a se dividir por fissão
celular.
susceptíveis que peixes adultos; f) peixes
que se recuperam de infestações moderadas
desenvolvem resistência; g) Sinais clínicos:
pontos brancos visíveis a olho nu na pele,
nadadeiras e brânquias auxiliam no diagnóstico; excesso de produção de muco e
prurido nos peixes; lesões na pele favorece
infecção bacteriana ou fúngica seundária;
infestação severa nas brânquias dificulta a
respiração e causa asfixia; h) Tratamento
(ver Tabela 7): formalina por tempo indefinido nas concentrações de 15 a 25ml/m3, em
3 a 4 aplicações com intervalos de 3 dias;
sal a 1%, em 3 a 4 tratamentos espaçados
a intervalos de 3 dias (viável em sistemas
de recirculação e em aquários); elevar a
temperatura acima de 30°C prejudica a
reprodução do parasito.
Chilodonella sp: a) infestações mais freqüentes quando as tilápias são submetidas
à condições de estresse, após o manejo
inadequado, nutrição desbalanceada e
queda na temperatura da água; b) estresse
por elevada temperatura também pode favorecer a infestação por Chilodonella; c) é
um protozoário ciliado, de formato ovóide
à semelhança de um coração; possui 8 a
15 fileiras paralelas de cílios na superfície
ventral da célula; é um parasito obrigatório
e se alimenta das células epiteliais (pele)
dos peixes; d) pode se alojar em cistos,
sobrevivendo por grande período na água
ou no substrato dos viveiros e tanques; e)
se reproduz por divisão binária e as formas jovens podem nadar e infestar outros
peixes; f) sinais clínicos: pruridos e lesões
cutâneas; aumento na secreção de muco;
causam inflamação no tecido branquial,
fusão das lamelas secundárias, dificuldades
respiratórias e morte dos peixes por asfixia;
g) diagnóstico: facilmente identificada
em raspados de muco e brânquias vistos
ao microscópio; h) controle: corrigir os
desequilíbrios ambientais (no caso de
baixas temperaturas, pouco pode ser feito
em áreas abertas, embora em sistemas de
recirculação o controle de temperatura
pode ser viável); terapia com formalina, na
concentração de 25 a 50ml/m3, aplicada por
tempo indefinido e, se houver necessidade,
repetir o tratamento após 4 a 5 dias.
Tricodinídios (Trichodina e Tripartiella):
a) estão presentes em todos os ambientes de
cultivo e geralmente ocorrem em pequeno
número nos peixes; b) nas Filipinas foram
registradas 5 espécies de Tripartiella infestando as brânquias de tilápias; c) maiores
problemas em pós-larvas e alevinos, porém
podem causar mortalidade severa em tilápias de maior porte, quando estes peixes
são expostos à água de inadequada qualidade e excessiva carga orgânica; d) baixas
temperaturas favorecem as infestações;
após o inverno, a elevação na temperatura
leva a uma rápida multiplicação dos para43
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
Figura 2:
Ichthyophthirius multifiliis
de raspado de brânquias de
tilápia visto ao microscópio.
Notar o núcleo em forma de
“ferradura“.
sitos, que se beneficiam do estado debilitado dos peixes que
ainda não se recuperaram do estresse causado pelas baixas
temperaturas; e) os Tricodinídios são um problema particular
em tilápias que protegem as larvas na boca; estes ciliados
se alojam na cavidade bucal e infestam as larvas; f) os tricodinídios apresentam a forma de um disco; o diâmetro da
célula geralmente está entre 40 a 60mm; a célula é circundada
por cílios que auxiliam na locomoção e alimentação dos
parasitos; g) possuem uma estrutura de fixação compostas
por dentículos, que auxilia na aderência à pele, nadadeiras
e brânquias; se alimentam filtrando o material orgânico presente na água; o acúmulo de resíduos orgânicos nos viveiros
e tanques favorece o aumento da população destes parasitos;
altas densidades de estocagem aumentam o contato entre os
peixes e favorece a infestação; h) a reprodução destes parasitos ocorre por fissão binária (simples divisão em dois); i)
sinais clínicos: excessiva produção de muco; prurido, corpo
de coloração escura; lesões na pele favorecem a infestação
secundária por fungos e bactérias; inflamação das brânquias
e dificuldade respiratória, podendo culminar com massiva
mortalidade dos peixes por asfixia; a mortalidade é maior
em peixes mais jovens, principalmente quando ocorre uma
infecção bacteriana secundária; j) diagnóstico: a identificação dos tricodinídios é relativamente fácil uma vez que
possuem aparência peculiar e inconfundível; raspado de pele
e brânquias são examinados ao microscópico; k) controle:
manutenção de adequada qualidade da água, bons níveis de
oxigênio e redução da carga orgânica nos tanques e viveiros; tratamento com formalina na concentração de 170 a
250ml/m3 em banhos de 30 minutos a 1 hora; formalina na
concentração de 15 a 25ml/m3 por tempo indefinido; sal em
banhos de 30minutos a 1 hora 2,5 a 3%; tilápias toleram altas
concentrações de sal; permanganato de potássio em banhos
de 10 a 15 minutos na concentração de 5g/m3.
Epistylis sp, Ambiphrya (Scyphidia sp) e Apiosoma sp.: a) se
desenvolvem em grande número em ambientes com grande
carga orgânica; b) tilápias submetidas a estresse térmico podem sofrer grande infestação por estes parasitos; são mais freqüentes em alevinos; c) estes protozoários são sésseis (fixos),
apresentam tamanho entre 40 a 100mm e possuem cílios em
um arranjo circular na extremidade da célula; d) se fixam à
pele, nadadeiras e brânquias dos peixes através de uma haste
transparente e se alimentam de partículas orgânicas em suspensão na água; e) a reprodução ocorre por fissão binária; f)
a distinção entre estes três gêneros é fácil de ser realizada,
com base no formato do corpo e na aparência do núcleo; o
Epistylis sp é o único que forma colônias, com aspecto se-
melhante a cachos de uvas; g) Sinais clínicos: infestações severas
levam a uma excessiva produção de muco; hiperemia e lesões na
pele; insfestação pesada no opérculo pode dificultar o batimento
opercular e a respiração; Epistylis formam colônias com aspecto de
pus nos raios duros das nadadeiras dorsais e também sobre o corpo;
infestações nas brânquias podem causar asfixia; h) diagnóstico:
feito através do raspado de pele e brânquias e posterior visualização
ao microscópio; i) controle: manutenção de adequada qualidade
da água, bons níveis de oxigênio e redução da carga orgânica nos
tanques e viveiros; estes parasitos são facilmente combatidos com
formalina a 170ml/m3 em banho de 1 hora se a temperatura da água
estiver próxima a 14°C; para controle de Ambiphrya (Scyphidia)
pode se usar o sal comum (cloreto de sódio) na concentração de
0,5 a 1% por tempo indefinido; as tilápias toleram bem estas condições de salinidade, sendo que algumas espécies se adaptam bem
a salinidade equivalente a água do mar (3,6%).
Ichthyobodo: a) se manifesta quando o peixe é submetido a condições ambientais desfavoráveis (altas densidades, inadequada
qualidade da água, deficiências vitamínicas, ou peixes já acometidos
por outras infecções); b) pode causar mortalidade severa em tilápias,
principalmente em pós-larvas e alevinos, infestando até mesmo
os ovos em incubação; c) em tilápias maiores, o Ichthyobodo se
Tabela 7. Produtos e formas de tratamento usados na prevenção
e controle de parasitos, fungos e bactérias em tilápias.
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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
aproveita da queda da resistência associada
a alguma condição de estresse, particularmente sob temperaturas abaixo de 25°C;
d) este parasito não tolera temperaturas
acima de 30°C; e) o Ichthyobodo é um
dos menores ectoparasitas que infectam
os peixes (diâmetro ao redor de 5-8 x 1015mm); tem formato esférico e piriforme;
f) se fixa ao hospedeiro com o auxílio de
um disco adesivo; possui 4 flagelos com
movimentos rápidos e que podem ser
observados ao microscópio; g) apresenta
grande potencial reprodutivo e um caráter
oportunista; h) sinais clínicos: encontrados na pele (geralmente nos espaços entre
escamas), nas nadadeiras e nas brânquias
de tilápias em água doce e salgada; causam
lesões de pele similares às lesões causadas
por outros protozoários; infestação severa
nas brânquias podem causar a morte dos
peixes por asfixia; i) diagnóstico: feito
com a visualização, sob microscopia, de
material raspado da superfície do corpo
(muco e pele) e das brânquias; j) controle: medidas preventivas como as já
sugeridas para outras parasitoses devem
ser aplicadas; tratamento terapêutico é
feito com sal comum na concentração de
0,5 a 1%; o Ichthyobodo apresenta caráter
eurialino e pode resistir a alta salinidade;
formalina ou permanganato de potássio
nas concentrações e formas de aplicação
recomendadas na Tabela 7.
Piscinoodinium e Amyloodinium: a) o
Piscinoodinium é considerado um problema potencial no cultivo de tilápias
em água doce em diversos países; é um
dinoflagelado de formato arredondado ou
amebóide (formato de pêra) e tamanho
entre 30 a 140 mm; possui um aparato de
fixação denominado rizocisto (com a aparência de raízes) que penetra no tecido do
hospedeiro; é um organismo clorofilado, o
que lhe confere
uma coloração
Figura 4:
Hemorragia intestinal (presença de grande quantidade de fluído sanguinolento nas
alças intestinais) em tilápia vermelha.
46
ligeiramente esverdeada; em seu interior
podem ser observados os dinosporos,
que são formas flageladas e móveis; o
ciclo de vida é semelhante ao do Íctio.;
as infestações são mais comuns quando a
temperatura está ao redor de 23 a 25°C.
Infestações em tilápias são mais comuns
quando estas são estocadas em alta
densidade, mal nutridas e submetidas a
uma água de má qualidade e alta carga
orgânica; c) o Amyloodinium é um dinoflagelado parasito de tilápias e em água
salobra ou salgada; o parasito adulto (trofontes) tem diâmetro entre 50 a 350mm;
seu ciclo de vida também é semelhante
ao ciclo do Íctio, sendo completado em 5
dias a uma temperatura de 25°C; também
possui rizóides como o Piscinoodinium; a
temperatura ideal para o desenvolvimento
do Amyloodinium varia de 23 a 27°C; as
infestações não são observadas a temperatura abaixo de 17°C; d) sinais clínicos:
estes parasitos se fixam na pele das tilápias, causando irritação e grande produção
de muco que confere ao corpo um aspecto
aveludado ou ‘’empoeirado”. Daí o nome
comum de “veludo” dado a infestação por
estes dinoflagelados; também se aloja no
tecido branquial, sendo que infestações
severas dificultando a respiração, fazendo
com que os peixes fiquem boquejando na
superfície da água e possam morrer por
asfixia; a infestação pode atingir os olhos
e os parasitos podem penetrar debaixo
da pele e se alojar no tecido subcutâneo,
favorecendo a ocorrência de infecções
bacterianas secundárias; e) diagnóstico:
é feito através da observação de raspados
de pele ou de brânquias ao microscópio
ou em exame histopatológico da pele ou
brânquias contendo alguma fase dos parasitos; profissionais pouco familiarizados
com estes parasitos podem realizar diagnósticos imprecisos; f) controle: não é
fácil; melhor prevenir assegurando
uma boa qualidade da água nos
tanques e viveiros, mantendo os
peixes bem nutridos e ajustando
corretamente a densidade de
estocagem dentro dos limites
adequados para o sistema de
cultivo; alguns profissionais
mencionam que a elevação da
temperatura da água para 32 34°C, onde possível, auxilia no controle
da infestação; o sulfato de cobre também
pode ser uma opção de tratamento em
Figura 3:
Edema em brânquias
de tilápia causado
por infestação maciça por Chilodonella
sp.
doses de acordo com a alcalinidade total
da água (Tabela 7); o Piscinoodinium é
bastante tolerante ao sal comum (cloreto
de sódio) e ao tratamento com formalina.
Muitos problemas com oodiniose ocorrem
em águas com alta transparência. A entrada de luz favorece o desenvolvimento
destes parasitos clorofilados. Assim, uma
medida prática que tem apresentado bons
resultados no controle do Piscinoodinium
em viveiros é o estímulo da formação
do fitoplâncton através da diminuição
do fluxo de água, aplicação de calcário
quando necessário e adubação química
dos viveiros ou mesmo a manutenção do
arraçoamento se os peixes ainda estiverem
se alimentando.
Esporozoários (Mixosporídios): a) são
endoparasitas pertencentes ao filo Myxozoa, família Myxobolidae (Myxobolus e
Henneguya); foram observados cistos cutâneos com microsporídos em alevinos de
tilápia de Moçambique (O. mossambicus);
infestações severas por Henneguya sp.
foram observadas em ciclídeos nativos na
América do Sul; os mixosporídios podem
ser encontrados em tilápias em ambientes
naturais, mesmo sem que os peixes apresentem qualquer sinal patológico evidente;
sob condições de cultivo intensivo, as
infestações por mixosporídios podem ser
mais freqüentes; b) a infestação ocorre com
a liberação dos esporos dos microsporídios
que estão presentes nas cartilagens dos
peixes mortos e em decomposição; esporos
também podem ser liberados diretamente
de peixes vivos; antes de estarem aptos
para a infecção, os esporos necessitam
passar por um período de potenciação
nos sedimentos; c) Myxobolus cerebralis
causa a doença de “whirling” ou “doença
do rodopio”; este parasito parece estar
disseminado no mundo todo e já foram
observadas infestações em várias espécies de peixes, inclusive em tilápias em
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
ambientes naturais; ocorre na forma de cistos repleto de esporos
localizados nos tecidos; a severidade da doença é maior em peixes
jovens; possui ciclo de vida complexo, envolvendo um hospedeiro vertebrado (o peixe) e um invertebrado (o anelídeo Tubifex
tubifex); os esporos apresentam formato oval a circular e variam
muito de tamanho, geralmente com 7 a 10mm de comprimento
por 7 a 10mm de largura e 6 a 8mm de espessura; c) Henneguya:
inúmeras espécies de Henneguya foram encontradas em peixes de
água doce; em tilápias há muitas referências de infestações por
este parasito; a Henneguya apresenta um envelope de formato oval
e alongado, no interior do qual estão alojados dois esporos ovais
ou fusiforme; do envelope são projetados dois longos processos
caudais semelhantes a um chicote, conferindo ao parasito a aparência de um espermatozóide; o tamanho dos esporos varia de 8
a 24mm de comprimento e o processo caudal de 20 a 45mm; d)
sinais clínicos: cistos na pele e nas brânquias; também podem ser
encontrados cistos no fígado, intestino, músculos, coração, rim,
baço e outros tecidos; dentro destes cistos podem ser encontrados milhares de mixosporídios; infestações nas brânquias podem
levar a uma oclusão da circulação branquial, necrose e disfunção
respiratória; quando alojados nos músculos, os parasitos parecem
ter pouco efeito sobre o hospedeiro; relatos de grande mortalidade
de tilápias por infestações de microsporídios não freqüentes na
literatura; no entanto, em alguns sistemas intensivos com recirculação de água nos Estados Unidos, os microsporídios estão
associados a consideráveis perdas econômicas no cultivo deste
peixe; o movimento típico de rodopio em infecções por Myxobolus
cerebralis resulta da destruição, pelo parasito, dos nervos cerebrais
ligados à coordenação motora; lesões na coluna vertebral, com
curvatura do tronco e da cauda, estão freqüentemente associadas
a destruição do tecido cartilaginoso onde se alojam os cistos com
os esporos dos parasitos; o escurecimento da parte posterior do
tronco dos peixes também parece estar associado a destruição de
nervos associados com o controle da pigmentação do corpo; outros
sinais indicativos ocorrência de infestaçõpes por Myxobolus são as
deformidades corporais em peixes que sobreviveram as infecções
(má formação e retração do opérculo, a curvatura da coluna vertebral e a mal formação da mandíbula); peixes com aspecto sadio e
aparentemente não infectados, podem ser portadores dos esporos
de mixosporídeos; infestações por Myxobolus cerebralis ou por
Henneguya podem reduzir a imunidade das tilápias, tornando-as
mais susceptíveis a bactérias, fungos e a infestação por
outros parasitos; e) diagnóstico: feito a partir de
raspados das lesões e cistos, observando a
presença de esporos sob microscopia;
a “doença do rodopio” também
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Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
pode ser diagnosticada com um relativo
grau de convicção com base nos sintomas,
antes do desenvolvimento dos esporos; o
diagnóstico definitivo é feito através de
exame histopatológico da cabeça, cartilagem vertebral ou brânquias dos peixes
e posterior identificação dos esporos; f)
controle: não há terapia para esta doença;
a prevenção pode ser feita evitando a introdução de peixes portadores de esporos na
piscicultura; peixes adquiridos devem ser
submetidos a quarentena; equipamentos e
tanques devem ser desinfectados quando
suspeitar da ocorrência de mixosporídios;
em alguns países como nos Estados Unidos, a ocorrência de mixosporídios deve ser
obrigatoriamente notificada às autoridades
sanitárias; constatado um foco da doença,
alguns procedimentos são adotados: incineração dos peixes que estão com a doença ou
com esporos dos parasitos; desinfecção de
incubadoras e equipamentos; drenagem e
desinfecção dos tanques para a erradicação
dos esporos.
Trematodos monogenéticos: a) são ectoparasitas do grupo dos platelmintos; possuem uma estrutura de fixação denominada
MIXOSPORÍDIOS
“haptor”, a qual é equipada com ganchos;
o Gyrodactylus sp e Dactylogyrus sp. são
os monogenéticos mais freqüentes em
tilápias; os problemas com estes parasitos
aumentam com a intensificação dos sistemas de produção (aumento nas densidades
de estocagem e na carga orgânica na água
dos tanques e viveiros); b) Gyrodactylus
sp: facilmente identificado pela ausência
de olhos e pela existência de um embrião
em desenvolvimento dentro do parasito
adulto (vivíparo); possui “haptor” com
um par de ganchos longos e rodeado por
16 ganchos menores; encontrado no corpo
e nas nadadeiras, embora
possa se instalar nas brânquias dos peixes; infestação
pesada pode causar irritação
na pele, fazendo com que
o peixe fique letárgico e
frequentemente se esfregue no fundo e nas laterais
dos tanques; o movimento
destes vermes sobre a pele
Figura 8: Tilápia com lesão fúngica na cabeça.
pode ser observado mesmo
a olho nu; c) Dactylogyrus
sp: facilmente reconhecido
pela presença de 4 manchas
oculares (4 olhos) e “haptor” com um par
microcrustáceos da família Branquiurea; b)
de ganchos pequenos e 14 ganchos menoestes microcrustáceos já foram observados
res marginais; não gera embriões; a sua
infestando tilápias; c) infestações por estes
reprodução é feita através da liberação de
parasitos depreciam valor comercial dos
ovos, dos quais eclodem larvas ciliadas
peixes e podem abrir caminho para doenças
que se desenvolvem em formas adultas e,
fúngicas e bacterianas secundárias, que
posteriormente, invadem outros peixes. O
resultam em considerável mortalidade; c)
Dactylogyrus é encontrado nas brânquias
estes organismos utilizam estruturas especídos peixes; d) sinais clínicos: ocorrem na
ficas de fixação no hospedeiro, causando lesuperfície do corpo, nadadeiras e brânquias;
sões na pele e brânquias; infestações severas
aumento na produção de muco, peixes letárnas brânquias pode resultar em asfixia nos
gicos e boquejando na superfície; infestação
peixes; o Argulus em particular, se alimenta
severa nas nas brânquias resulta em inflados fluídos dos peixes com o auxílio de um
rostro; pode servir como vetor de vírus e
mação do epitélio branquial e ruptura
bactérias; infestações por Argulus resultam
dos capilares sanguíneos, prejudicando
em anemia, redução no crescimento e até
a respiração e levando os peixes à morte
mesmo na perda de peso dos animais; d)
por asfixia; e) diagnóstico: feito atraLernaea sp.: várias espécies de Lernaea
vés do raspado da superfície do corpo
afetam os peixes; possui ganchos especiais
ou das brânquias dos peixes e exame
na região cefálica os quais penetram na
do material coletado sob microscopia.
musculatura dos peixes; apenas a região
Há a possibilidade de se fazer a idencaudal, com aspecto de verme, é visível
tificação do parasita diretamente nas
externamente; vários órgãos podem ser
brânquias através do uso de uma lupa
invadidos pelos processos cefálicos quando
de mão; f) controle: manter os peixes
a infestação do parasito ocorre na região
bem nutridos e garantir adequada
abdominal; mortalidade de tilápias devido
qualidade da água, ajustando correa infestações por Lernaea foram registradas
tamente as densidades de estocagem
e evitando grandes cargas orgânicas
nos viveiros e tanques; banhos com
TREMATODOS
formalina a 170-250ml/m3 por 1 hora em
MONOGENÉTICOS
tanques e aquários; formalina por tempo
indefinido 25ml/m3 em tanques e viveiros;
permanganato de potássio como recomendado na Tabela 7; triclorfom em tratamento
por tempo indefinido nas doses de 0,5ml/m3
(para tilápias); tratamento indefinido com
sal nas concentrações de 0,5 a 0,75%, viável
em sistemas de recirculação de água.
Crustáceos parasitos: a) a Lernaea cyprinacea e o Ergasilus sp são microcrustáceos
pertencentes à família Copepodidae (copépodos). O Argulus sp e o Dolops sp são
49
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
em diversos países; no Brasil, infestação de
Lernaea em tilápias geralmente são restritas
ao período do inverno, quando os peixes
se apresentam debilitados com as baixas
temperaturas; o ciclo de vida da Lernaea
deve ser entendido para que as estratégias
de controle do parasito sejam mais eficazes;
e) Argulus sp: mais de 100 espécies de
Argulus já foram identificadas; é conhecido
como “piolho dos peixes”; há vários relatos
de infestação em tilápias; parece ser um
importante vetor de doenças virais e bacterianas; apresenta o corpo achatado e oval,
podendo medir até 1cm; f) Ergasilus sp:
ocorre frequentemente nas brânquias dos
peixes, sendo denominados de “larvas das
brânquias”; as tilápias parecem apresentar
maior resistência à fixação destes parasitos
comparados a outros peixes; embora seja
um parasito pouco freqüente em tilápias,
grandes infestações podem ocorrer em
cultivos intensivos com alta densidade de
estocagem; causa hipertrofia, inflamação
e fusão dos filamentos branquiais, dificultando a respiração dos peixes mesmo sob
condições de adequado oxigênio dissolvido
na água; g) diagnóstico: os parasitos são
visíveis ao olho nu e facilmente identificados; fases jovens (copepoditos) podem ser
identificados com o uso de estereoscópio
(lupa). h) controle: no caso da Lernaea a
melhor política e evitar a introdução de
peixes infestados ou não adquirir peixes
de fornecedores suspeitos; o uso da quarentena é recomendável antes de distribuir
os novos peixes por toda a piscicultura;
infestações por microcrustáceos não têm
sido observadas em tanques de larvicultura
e alevinagem de tilápias; uma explicação
para este fato é o hábito alimentar zooplanctófago das pós-larvas e dos alevinos, que
acabam controlando as fases jovens destes
parasitos; isto abre a perspectiva de uso de
um controle biológico, particularmente da
Lernaea, em tanques e viveiros de cultivo
ou pesca recreativa com a estocagem
simultânea de peixes plânctófagos ou
filtradores; a duração do ciclo de vida da
Lernaea depende da temperatura da água,
sendo um fator determinante da estratégia
de tratamento a ser adotada. Banhos com
sal nas concentrações de 3 a 5% durante 1
minuto é um tratamento eficaz para todos
os estágios da Lernaea; o Argulus não é
sensível a elevação da salinidade na água,
portanto tratamentos com sal comum são
ineficazes contra este parasito. O triclor50
fom na concentração de 0,5mg de I.A./L,
controla as fases de náuplios e os copepoditos, mas sua eficiência no controle das fases
adultas é questionável. Durante o verão
(28 a 32oC) devem ser feitas 3 aplicações
a intervalos de 7 dias entre as aplicações.
Nos meses mais frios (15 a 20oC) o intervalo
entre as aplicações deve ser aumentado para
12-14 dias; tilápias são bastante tolerantes
a doses elevadas de triclorfom; o controle
químico do Argulus também é feito com o
uso do triclorfom; outro produto utilizado
no controle da Lernaea é o diflubenzuron
(dimilin), um inibidor da formação de
quitina, aplicado na dose de 0,05 a 0,10
mg/L (0,05 a 0,1g/m3). Antes de proceder
ao tratamento com estes produtos, consulte
um profissional experiente para melhor
esclarecer os risco envolvidos no tratamento e sugerir as melhores estratégias
para solucionar o problema;
DOENÇAS BACTERIANAS
Pelo fato de serem de fácil disseminação e por apresentarem caráter oportunista,
as bactérias são importantes patógenos na
piscicultura intensiva. Embora inúmeras
bactérias patogênicas já tenham sido isoladas em tilápias, apresentaremos neste artigo
apenas as mais freqüentes e importância
econômica: Streptococcus, Aeromonas
e Pseudomonas e Flavobacterium columnare.
Existem vários fatores que predispõem os peixes a infecções por bactéria
(bacterioses). Dentre os principais destacamos: a) má nutrição; b) inadequada
qualidade da água (baixo oxigênio dissolvido e elevados níveis de amônia tóxica e
nitrito); c) excessivo acúmulo de resíduos
orgânicos nos tanques e viveiros, o que
serve de reservatório e substrato para a
multiplicação de bactérias e outros organismos patogênicos; d) o abaixamento
da temperatura, fator de particular importância no cultivo de tilápias em regiões
com inverno bem definido; e) o manuseio
grosseiro durante as despescas e as transferências de peixes entre as unidades de
cultivo; f) estresse durante o transporte
vivo; g) infestações por outros parasitos.
Streptococcus sp.: a) a infecção por Strep-
CRUSTÁCEOS PARASITOS
Após fecundadas, as fêmeas da
Lernaea começam a se alongar.
Dois sacos de ovos ficam bem
evidentes no corpo das fêmeas.
Os copepoditos, em suas formas
infestantes, vão se alojar na
pele dos peixes, onde crescem
e atingem maturidade.
As fêmeas adultas da Lernaea
liberam seus ovos na água. Dos
ovos eclodem os náuplios.
Os naúplios crescem e se transformam em copepoditos. Estes
passam por diversas fases de
desenvolvimento antes de se
instalarem nos peixes.
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
Figura 8: Tilápia com lesão
fúngica na cabeça.
tococcus é uma das doenças mais sérias
nos sistemas de cultivo de tilápias em
diversos países; a mortalidade é mais
severa e freqüente em sistemas intensivos de criação, principalmente onde há
um manejo inadequado da qualidade da
água e da nutrição dos peixes; b) é uma
bactéia Gram positiva com formato
esférico (cocos), encontrada nos mais
diversos ambientes; causa infecção em
tilápias cultivadas em água doce e salobra; tilápias em água com salinidade
entre 15 a 30g/l, sob temperaturas variando de 25 a 30°C, apresentam maior
susceptibilidade ao Streptococcus do
que quando cultivadas em água doce
na mesma condição de temperatura
(Chang e Plumb 1996); c) a transmissão do Streptococcus ocorre de forma
horizontal (de peixe para peixe), sendo
que a bactéria é liberada do peixe já
morto ou moribundo para a água. Outra
via de infecção é o uso de peixes contaminados com Streptococcus no preparo
de rações, procedimento comum em
diversos países; d) sinais clínicos:
coloração escura do corpo, letargia ou
natação errática, em sentido espiralado
devido inflamação da meninge cerebral
dos peixes; corpo levemente curvado;
abdômen distendido; córnea opaca e
hemorrágica; hemorragia difusa na
pele, ao redor da boca e do ânus; hemorragia na base das nadadeiras e no
opérculo; em um estágio mais avançado os olhos podem estar saltados uni ou
bilateralmente (exoftalmia); os olhos
podem apresentar uma inflamação
granulomatosa bastante severa; podem
ocorrer lesões na epiderme, infecções por Streptococcus e podem
incialmente se apresentando abrir novas perspectivas para o controle
como áreas despigmentadas, desta bactéria.
evoluindo para lesões mais
definidas; Os sinais clínicos Flavobacterium columnare: a) causa a
internos são: acúmulo de columnariose ou “doença da boca de algofluído sanguinolento na ca- dão ou da cauda comida”; é uma bactéria
vidade abdominal, causando Gram-negativa, na forma de bacilos alonascite (acúmulo de líquido gados (bastonetes) e móveis, encontrado
no abdômen); fluído san- em colônias na forma de colunas, daí a deguinolento no intestino que nominação “Columnare”; b) normalmente
é facilmente eliminado pelo habita os sistemas aquáticos e convive em
ânus após compressão abdo- pleno equilíbrio com os peixes, até que haja
minal; o fígado se apresenta algum distúrbio ambiental (má nutrição ou
pálido, o baço aumenta de piora na qualidade da água) ou pressão de
tamanho e adquire uma co- manejo (excessiva densidade de estocagem
loração escura, quase negra; e inadequado manuseio) e a resistência dos
o trato digestivo apresenta peixes seja diminuída; c) maior incidência
aparência geral avermelhada (hiperêminos meses de verão; temperaturas da água
co); o coração e o rim também podem
entre 28 e 30oC são ótimas para a bactéria;
estar infectados; e) diagnóstico: o isose instala em ferimentos ou lesões corporais
lamento da bactéria é feito com o uso de
causadas aos peixes durante o manuseio
meios de cultura seletivos como o BHI,
(despesca, pesagem, transporte e descarreo TSA e o Todd-Hewitt; um diagnóstico
gamento) ou por parasitos, bem como em
presuntivo pode ser realizado com a
injúrias nas brânquias causadas por infesdetecção de coccus Gram positivos no
tações parasitárias ou por um aumento na
exame histológico do tecido infectado ou
turbidez mineral da água; a tilápia-do-Nilo
em esfregaços; f) controle: para evitar
parece ser mais susceptível a esta doença
maiores problemas, manter adequada
quando exposta à água com pH muito ácido
condições ambientais e boa nutrição;
ou muito alcalino; d) sinais clínicos: perda
remoção imediata de peixes mortos e
de apetite e natação vagarosa; o peixe se
moribundos; quando a infecção é diagisola do grupo e fica boquejando (asfixia)
nosticada tardiamente, pouco se pode
na superfície devido à infecção da bactéria
fazer para reduzir a mortalidade; terapias
nas brânquias; manchas descoloridas e
atuais para o tratamento de septicemia
localizadas na pele; lesões nas margens
por Streptococcus se baseiam no uso de
das nadadeiras, principalmente na caudal,
ração medicada com antibióticos. Em
com aspecto de apodrecimento (podridão
casos avançados da doença, os peixes
das nadadeiras); lesões esbranquiçadas/
deixam de se alimentar e este tratamenamareladas ao redor da boca, apresentando
to pode ser de pouco efeito.
Em casos menos severos a
mortalidade diminui com o
Figura 9:
uso de ração medicada com
Tilápia do Nilo com áreas despigmenantibióticos (Tabela 7); o uso
tadas sobre o corpo com desenvolviindiscriminado de antibiótimento de fungos e hemorragias nas
cos pode levar a um aumento
nadadeiras.
na resistência das bactérias; o
melhor procedimento é realizar um antibiograma para se
certificar a respeito de qual
antibiótico é mais eficaz.
Também é importante que o
tratamento seja indicado por
um profissional experiente
e seja administrado corretamente. Vacinas estão sendo
avaliadas na prevenção de
51
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
Figura 10:
Tilápia do Nilo com lesões ulcerativas e
hemorragias na pele.
crescimento bacteriano com aspecto de tufos
de algodão; áreas necróticas amareladas nas
brânquias (colônias de bactérias), indicando
a destruição do epitélio branquial, o que
dificulta a respiração e causa a morte dos
peixes por asfixia; e) diagnóstico: diagnóstico presuntivo com base nos sinais clínicos
característicos da doença; a visualização das
bactérias sob microscopia também auxilia;
o diagnóstico definitivo é feito com o isolamento da bactéria em meios de cultura
específicos como o meio Ordal?s ou HsuShotts. Descrições destes meios de culturas
podem ser encontradas em Pavanelli et al
(1998) e Inglis et al. (1993); f) controle: a
columnariose é uma infecção secundária;
o uso de boas práticas de manejo ajuda a
evitá-la; evite injúrias aos peixes durante
o manuseio; evite manuseio excessivo em
períodos com temperaturas elevadas; o sal
serve como profilático nas concentrações
de 0,5 a 0,8% (5 a 8kg/m3) em banhos
após o manejo ou durante o transporte; o
permanganato também pode ser utilizado
como preventivo, em banhos de 15 a 30
minutos, após o manuseio e transporte, na
concentração de 5mg/litro. Tratamento:
oxitetraciclina em banhos prolongados nas
concentrações de 20 a 50 mg/litro (20 a 50g/
m3); ou na ração em quantidade suficiente
para um consumo ao redor de 50 a 75mg/
kg PV/dia, durante 10 dias; permanganato
de potássio em tratamento por tempo indefinido nas concentrações de 2 a 4mg/L; ou
em banhos de 30 minutos a 1 hora na concentração de 5 a 10mg/L; outras opções de
tratamento podem ser encontradas no livro
“Principais Parasitoses e Doenças dos Peixes
Cultivados (Kubitza e Kubitza 1999).
Septicemias causadas por Aeromonas
e Pseudomonas: a) são bacilos móveis
52
Gram negativos, e freqüentemente estão
associadas a um quadro de infecção generalizada (septicemia hemorrágica) em
peixes; a incidência é maior em tanques
com excessiva carga orgânica e água de
má qualidade; peixes submetidos a uma
inadequada nutrição e a injúrias físicas
durante o manuseio são ainda mais susceptíveis a estas bactérias; b) septicemia
por Aeromonas e Pseudomonas em tilápias
ocorrem com maior freqüência em períodos
de temperaturas baixas ou amenas, quando
a resposta imunológica dos peixes é mais
reduzida. Nestas condições a mortalidade
e os prejuízos podem ser consideráveis; c)
sinais clínicos: perda de apetite; natação
vagarosa com os peixes se posicionando nas
áreas mais rasas dos tanques; escurecimento
do corpo; perda do equilíbrio; palidez das
mucosas e brânquias (sinais indicativos de
anemia; a Aeromonas destrói as hemácias);
perdas de escamas; erosão ou destruição das
nadadeiras; lesões circulares ou irregulares
sobre o corpo, a semelhança de ulcerações;
hemorragia nas bordas das lesões e na base
das nadadeiras peitorais, pélvicas e caudal;
olhos saltados (exoftalmia) e de aspecto
opaco e hemorrágico; abdômen distendido com a presença de líquido de aspecto
opaco e/ou ligeiramente sanguinolento na
cavidade abdominal; fluído amarelado ou
sanguinolento no intestino; hemorragia do
tipo petequial nos órgãos internos; fígado
hiperplásico (com aumento de tamanho),
com coloração pálida ou ligeiramente
esverdeada e hemorragias focais; o baço
apresenta tamanho aumentado (esplenomegalia); os rins também ficam hiperplásicos e
com aspecto friável; podem ser observados
pontos hemorrágicos na parede interna da
cavidade abdominal. Todos estes sinais são
comuns em septicemias causadas por bactérias; d) diagnóstico: os sinais indicam que
existe uma septicemia generalizada, porém
o diagnóstico definitivo só pode ser feito
com o isolamento da bactéria em meios de
cultura específicos (Rimler-Shotts e TSA);
e) controle: devido ao caráter oportunista
destas bactérias, a melhor forma de evitar
problemas com Aeromonas e Pseudomonas
é utilizar boas práticas de manejo; banhos
com sal nas concentrações de 25 a 30kg
de sal/m3 por 10 a 30 minutos; ou com
permanganato de potássio em banhos de
30 minutos a 1 hora na concentração de
5g/m3 são boas medidas profiláticas após o
manuseio da despesca e transferências; no
transporte utilize sal na concentração de 0,5
a 0,8% (5 a 8kg//m3); terapia para septicemia
por Aeromonas e Pseudomonas geralmente
empregam o uso de antibióticos devido ao
caráter sistêmico destas bactérias. Na Tabela
7 são indicados algumas possibilidades de
terapia para bactérias sistêmicas.
Saprolegniose: a) é o nome dado às infecções em ovos, larvas, alevinos e peixes
adultos causadas por fungos da família Saprolegniaceae; dentre muitos fungos desta
família, podemos destacar os do gênero
Saprolegnia, Achlya e Dictyuchus; estes
fungos estão distribuídos por todo o mundo,
sendo encontrados na maioria dos ambientes
aquáticos, vivendo às custas de resíduos
orgânicos em decomposição; b) a Saprolegnia parasitica é um dos mais frequentes
fungos parasitos de peixes; é identificada
pelo seu crescimento micelial branco ou
cinza claro, com aspecto de algodão; as hifas
(ou filamentos) são longas, finas, ramificadas e não possuem segmentos; na porção
final das hifas se formam os esporângios,
estruturas que abrigam os esporos, formas
infestantes do fungo. Os fungos geralmente
agem como agentes secundários em peixes
com lesões externas causadas por bactérias
e parasitos. A inadequada nutrição e injúrias
físicas devido ao mau manuseio durante a
despesca, pesagem, transporte e descarregamento facilitam a infestação. Infecções
por Saprolegnia em tilápias são bastante
freqüentes durante o período do inverno e
no início da primavera (quando o manuseio
dos peixes começa a ser intensificado), e os
peixes ainda apresentam reduzida resposta
imunológica. O crescimento do fungo é acelerado a temperaturas entre 18 e 26oC e tende
a se reduzir em temperaturas mais elevadas.
Infecções em tilápias são facilitadas quando
FUNGOS
Panorama da AQÜICULTURA, julho/agosto, 2000
estes peixes estão submetidos às seguintes
condições: 1) temperaturas abaixo de 24 oC e
variações bruscas de temperatura; 2) pH da
água em valores extremos; 3) má nutrição; 4)
manuseio grosseiro, ocasionando perdas de
escamas e outros ferimentos; 5) água com
excessiva carga orgânica, o que favorece a
proliferação dos fungos; c) sinais clínicos:
o primeiro sinal de infecção é a presença de
áreas despigmentadas na pele dos peixes;
com a multiplicação e crescimento das
Figura 12:
Tilápia de diferentes colorações (laranja normal
e vermelha com manchas pretas).
Figura 11:
Tilápia Vermelha com hemorragia
generalizada no corpo e nadadeiras.
hifas, as áreas necrosadas começam a ser
recobertas por pequenos “tufos de algodão”
ou micélio (colônia formada pelas hifas); a
destruição da pele e das escamas pode chegar
a um ponto letal aos peixes; infecções nas
brânquias podem resultar na asfixia dos peixes; peixes mortos são ricos reservatórios de
esporos destes fungos devendo, portanto, ser
removidos dos aquários tanques e viveiros;
d) diagnóstico: é feito através dos sintomas
observados no peixe e com a visualização,
ao microscópio, do material raspado das
lesões; e) controle: antes de iniciar qualquer
tipo de tratamento, devem ser identificadas
e corrigidas as causas que predispuseram
os peixes à infecção fúngica: má nutrição,
manuseio inadequado, infecções bacterianas
ou parasitárias, queda brusca na temperatura,
inadequada qualidade da água, manuseio
de peixes sob condições inadequadas
de temperatura (geralmente sob baixas
temperaturas), entre outras. Os possíveis
tratamentos para controlar infecções por
saprolegnia são: Formalina em banhos
de 1 hora nas concentrações de 150 a 300
ppm (15 a 30ml/100L); ou tratamento por
tempo indefinido na concentração de 25ml/
m3 em tanques e viveiros; Sal comum na
concentração de 3 a 5% (300 a 500g/10L)
em banhos de 5 a 10 minutos ou até o ponto
em que o peixe tolerar ou se mostrar estressado; Sulfato de cobre em doses de acordo
com a alcalinidade total da água (Tabela
7). Outras opções de tratamento podem ser
encontradas em “Principais Parasitoses e
Doenças dos Peixes Cultivados (Kubitza e
Kubitza 1999).
53
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006
1
Foto: BRFISH
Alevinos de tilápia tailandesa
Por: Fernando Kubitza, Ph.D.
Acqua & Imagem - Jundiaí-SP
[email protected]
Questões freqüentes dos produtores
sobre a qualidade dos alevinos de tilápia
A
valiar a qualidade e o custo benefício dos lotes de
alevinos de tilápia é uma tarefa que exige experiência
e organização por parte dos piscicultores. Aos olhos de um
leigo, alevinos são todos praticamente iguais. Uma grande
quantidade de peixes miúdos adensados em embalagens
plásticas ou em caixas de transporte. No entanto, quando se
trata de tilápias, muitos pontos devem ser considerados pelos
produtores. A começar pela eficiência da reversão sexual, a
qualidade genética, o tamanho mínimo e a uniformidade de
tamanho dos alevinos. A presença e grau de infestações por
parasitos, os sinais indicativos de doenças e a sobrevivência
registrada nos primeiros dias após o transporte. Outros pontos como o preço, a confiabilidade na entrega e o atendimento
pré e pós-venda também merecem ser considerados. Fundamental ainda é avaliar o desempenho de cada lote de alevinos
recebidos (a taxa de crescimento, a conversão alimentar, a
sobrevivência, o percentual de alevinos aproveitados e o
descarte do fundo dos lotes; a participação do custo destes
alevinos no custo total de produção). Portanto, todos estes
14
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006
critérios devem ser avaliados para identificar fornecedores de alevinos que atendam às expectativas do seu empreendimento.
Problemas no fornecimento e na qualidade dos alevinos
comprometem severamente os resultados e o retorno financeiro
dos cultivos. Neste artigo são reunidas e discutidas as principais
questões sobre qualidade de alevinos de tilápia que tenho recebido
de piscicultores de diversos estados.
Nota: Para fins de orientação ao leitor, gostaria de definir
rapidamente os termos pós-larvas, alevinos e juvenis utilizados neste artigo. O termo “pós-larva” deve ser entendido
como sendo os indivíduos que iniciam o processo de reversão
sexual (peixes com 8 a 13mm). O termo “alevino” deve ser
entendido como peixes entre 3 e 6cm, geralmente obtidos ao
final do processo de reversão sexual. O termo “juvenil” deve
ser entendido como peixes acima de 6cm (>2g) e não maiores
do que 100g. Em alguns momentos no texto é especificado o
tamanho dos juvenis a que se faz referência.
Lotes de alevinos de tilápia bem produzidos geralmente
apresentam peixes com tamanho entre 4 e 5cm ao final de 28
dias de reversão sexual. Idealmente, os alevinos devem atingir
tamanho de pelo menos 3cm ao final dos 28 dias de tratamento
com o hormônio metiltestosterona. Nos períodos de altas temperaturas (média de pelo menos 28oC) a reversão sexual pode ser
finalizada com 21 dias. Ainda assim, os alevinos devem terminar
a reversão com tamanho mínimo de 3cm, devido ao maior consumo de ração e crescimento sob estas altas temperaturas.
Diversos motivos podem fazer com que os alevinos
não atinjam tamanho de 3cm ao final da reversão sexual.
Entre muitos, a baixa temperatura durante a reversão; a
elevada densidade de estocagem; os problemas de qualidade
de água; a inadequada nutrição e alimentação; a infestação
por parasitos.
Em condições de boa produção, um percentual muito
pequeno dos peixes (geralmente menos de 5% do lote) deveria
ter tamanho inferior a 3cm. Estes peixes pequenos devem ser
descartados, pois geralmente são peixes que possuem baixo
potencial de crescimento (e serão os retardatários ou rabeiras na
engorda) e pode haver um percentual mais elevado de fêmeas
neste grupo (particularmente no grupo de peixes com tamanho
inferior a 2cm).
Alevinos muito pequenos ao final do período de reversão
sexual estão adequadamente revertidos?
A resposta a esta pergunta depende muito da condição que
provocou o atraso no crescimento destes peixes. As pós-larvas
no início da reversão apresentam tamanho entre 8 e 13mm. Peixes que após 28 dias sequer atingiram tamanho de 2cm (20mm)
apresentam grande probabilidade de não terem sido revertidos,
pois provavelmente não consumiram suficiente ração com
hormônio. Lotes com peixes pequenos assim podem apresentar
elevado percentual de fêmeas. Diversos fatores podem provocar
atraso no crescimento dos alevinos. Baixa temperatura da
água - se o motivo do reduzido crescimento foram as baixas
temperaturas da água durante a reversão é possível que após 28
dias de tratamento com hormônio ainda haja um significativo
percentual de peixes não revertidos no lote. Sob temperaturas de
água mais amenas (entre 23 e 25oC) é recomendável prolongar a
reversão sexual para cerca de 35 dias, visto que o metabolismo
dos peixes é mais lento, o que faz com que a definição do sexo
demore mais tempo. Assim, se o produtor de alevinos conduziu
a reversão por apenas 28 dias em um período de temperaturas
amenas, os alevinos serão pequenos ao final da reversão e poderá
haver um maior percentual de fêmeas no lote. Infestações por
parasitos - quando o crescimento é prejudicado por parasitoses
é possível que o percentual de fêmeas no lote seja maior. Isso
se deve ao fato das pós-larvas e alevinos, quando parasitados,
diminuírem o consumo de ração. Sob infestações severas, os
peixes podem perder o apetite por completo e deixarem de se
alimentar. Com isso, além do atraso no crescimento, ocorre um
aumento na mortalidade durante a reversão. Quando a
mortalidade começa a ocorrer o produtor de alevinos geralmente recorre a um tratamento terapêutico, que muitas
vezes acaba controlando ou minimizando a infestação por
parasitos. Após o tratamento, as pós-larvas que haviam
diminuído ou paralisado o consumo de ração, retomam a
alimentação. No entanto, como parte das pós-larvas pode
ter ficado alguns dias sem consumir ração (e, assim, sem
ingerir o hormônio), o percentual de fêmeas no lote tende
a ser maior. Alta densidade de estocagem das pós-larvas durante a reversão - com o aumento na densidade
de estocagem, o crescimento das pós-larvas e alevinos
tende a ser mais lento e os peixes terminam a reversão
com menor tamanho. Isso não chega a prejudicar a eficiência
da reversão sexual. No entanto, alevinos estocados sob altas
densidades correm mais risco de serem expostos a problemas
de qualidade de água e a organismos patogênicos durante a reversão, ficando assim mais sensíveis ao manuseio e transporte.
Com isso a sobrevivência após o manuseio e transporte pode
ser comprometida. Baixa qualidade nutricional do alimento
usado na reversão - o atraso no crescimento dos alevinos pode
ocorrer com o uso de rações nutricionalmente inadequadas ou
de baixa qualidade (por exemplo, rações com níveis protéicos
abaixo de 32%, e/ou rações com inadequada suplementação
vitamínica e mineral; rações de baixa palatabilidade; rações
de baixa estabilidade na água). Embora isso possa ter pequeno
efeito na eficiência da reversão sexual, alevinos mal nutridos
tendem a apresentar menor sobrevivência após o manuseio e
transporte. Como salientado anteriormente, há uma tendência
de encontrar um percentual maior de fêmeas entre os alevinos
que terminam a reversão com tamanho inferior a 3cm.
Qual o máximo percentual de fêmeas aceitável em um lote
de alevinos?
A resposta a esta pergunta depende muito do sistema de
cultivo empregado e do peso médio desejado ao final da engorda. Nos cultivos em tanques-rede a reprodução é inibida pelas
altas densidades de estocagem e pela inadequada condição do
ambiente para a reprodução. Assim, um lote de alevinos com
alto percentual de fêmeas (>5%) causaria poucos problemas no
cultivo em tanques-rede na produção de tilápias com peso médio
ao redor de 500 a 600g. No entanto, na produção de tilápias
maiores (acima de 800g), lotes com alto percentual de fêmeas
geralmente resultam em maior heterogeneidade de tamanho
ao final do cultivo, com as fêmeas do lote alcançando um peso
médio bem inferior ao dos machos.
No cultivo em tanques de terra a estocagem de lotes
de alevinos com mais do que 2 a 3% de fêmeas pode resultar
em excessiva reprodução durante o cultivo. Estes problemas
são ainda mais agravados quando o objetivo é produzir tilápias
de grande tamanho (peixes acima de 800g), o que demanda um
ciclo de produção mais longo. Assim, as fêmeas presentes no
estoque terão tempo para se reproduzir diversas vezes e superpovoar os tanques de cultivo. Este problema é ainda mais agravado
quando se utiliza lotes de alevinos ou juvenis com mais de 2%
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006
15
Alevinos de Tilápia
Qual o tamanho mínimo que um alevino de tilápia deve ter
ao final do processo de reversão sexual?
Alevinos de Tilápia
de fêmeas e que foram estocados durante o inverno
para comercialização no início da primavera. Estes
peixes, embora ainda pequenos, já atingiram ou estão
muito próximos de atingir a idade de maturação sexual. Isso ocorrerá logo nos primeiros meses da recria e
engorda, aumentando o potencial de superpopulação
dos tanques de cultivo.
O que é a tilápia GIFT que está sendo
ofertada no mercado?
A linhagem de tilápia denominada GIFT (lê
se “guifiti”) foi obtida através de um programa de
melhoramento genético que teve como base genética
8 linhagens de tilápias do Nilo. Este programa foi
um esforço conjunto de países do sudeste asiático
(Filipinas, Indonésia, China, Tailândia, Índia, entre
outros) e da África (Costa do Marfim, Ghana e Egito),
coordenado pelo ICLARM (International Center for
Living Aquatic Resources Management). Instituições
governamentais, universidades e centros de pesquisas
de diversos países também colaboraram com este
programa. Este programa foi batizado com o nome
de GIFT que significa Genetically Improved Farmed
Tilapia (na tradução, Tilápia Cultivada Geneticamente Melhorada).
16
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006
Foto do autor
Reprodutor de tilápia tailandesa
Qual a espécie ou linhagem de tilápia de mais
rápido crescimento hoje no país?
No Brasil são cultivadas diversas linhagens de tilápia. Existem
linhagens de cor cinza e as linhagens vermelhas. A maior parte das
linhagens cinzas tem como base genética a tilápia do Nilo (Oreochromis
niloticus). Exemplos destas linhagens são a tilápia tailandesa, a tilápia
GIFT e as tilápias nilóticas não selecionadas. Esta última predominou
nos cultivos comerciais no Brasil até o final dos anos 90.
A tilápia tailandesa (ou Chitralada) é a linhagem mais cultivada no Brasil no momento. Esta
linhagem descende de um grupo de tilápia do Nilo
levada do Egito ao Japão e daí para a Tailândia e
outros países do sudeste asiático. Nestes países esta
linhagem foi melhorada. A Tailândia foi o país que
lhe emprestou o nome e de onde vieram, em 1996, os
primeiros alevinos de tilápia tailandesa para o Brasil.
Alevinos para a formação de plantel de reprodutores
foram vendidos a diversos produtores em todo o Brasil.
Outros produtores de alevinos montaram seus plantéis a
partir de alevinos nascidos em desovas que ocorreram
em tanques de engoda. O DNOCS e a CODEVASF
importaram novo material genético de tilápia tailandesa
em 2003 e disponibilizaram este material a produtores
de alevinos, particularmente na região Nordeste. A
linhagem tailandesa apresenta crescimento superior ao
das linhagens de tilápia do Nilo não selecionadas que
se cultivava (e ainda se cultiva) no Brasil. No entanto,
muitos produtores ainda preferem as tilápias do Nilo
não selecionadas ou a tilápia cruzada (tilápia do Nilo
não selecionada cruzada com a tailandesa) quando o
mercado alvo é o pesque-pague. As tilápias do Nilo não
selecionadas e as cruzadas toleram melhor o transporte
de longa distância e são mais facilmente capturadas na
pesca com anzol do que a tailandesa. Por outro lado,
a tilápia tailandesa tem comportamento mais dócil, se
adapta melhor nos cultivos adensados em tanques-rede
e são um pouco mais fáceis de serem capturadas com
rede de arrasto em tanques escavados, comparada a
outras linhagens de tilápia cinza.
As linhagens de tilápia do Nilo denominadas
GIFT (Genetically Improved Farmed Tilapia) foram
recentemente introduzidas no Brasil. A primeira iniciativa foi da Aquabel, que adquiriu a linhagem comercial
Genomar Supreme TilapiaTM (da empresa norueguesa
Genomar). Esta linhagem é comercializada no Brasil
com o nome de Supreme ®. A segunda iniciativa de
introdução da GIFT foi uma ação conjunta entre a
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006
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Alevinos de Tilápia
Foto do autor
Reprodutor de tilápia vermelha da linhagem Red Stirling
Universidade Estadual de Maringá no Paraná e a SEAP/PR
(Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca). Foi importado material genético da linhagem GIFT diretamente das
Filipinas. Alevinos desta linhagem já estão disponíveis a
produtores interessados em formar plantel de matrizes. Um
estudo realizado em Bangladesh comparou o crescimento da
linhagem GIFT com o crescimento de linhagens de tilápia
do Nilo não selecionadas e que vinham sendo cultivadas
naquele país. Neste estudo foi observado um ganho médio
de peso 40 a 57% superior para a linhagem GIFT. Estudos
semelhantes nas Filipinas demonstraram que a base genética
original da linhagem GIFT (formada por uma combinação
de 8 linhagens de tilápia do Nilo) apresentou crescimento
cerca de 50-60% superior ao obtido com linhagens de tilápia
do Nilo não selecionadas e que vinham sendo usadas pelos
piscicultores Filipinos. Outros estudos compararam a linhagem
GIFT com linhagens de tilápia do Nilo já submetidas à seleção
e demonstraram a superioridade da linhagem GIFT em cerca de
10-15% no que diz respeito ao ganho de peso.
Quando foram usados alevinos não revertidos, o crescimento de uma das gerações da linhagem GIFT foi 15 a 20%
superior em comparação com a linhagem tailandesa (Chitralada).
Isso foi atribuído à maturação sexual mais tardia das tilápias
GIFT, possibilitando atingir um peso médio maior antes do
início da reprodução. Outro experimento realizado no Vietnam
registrou crescimento cerca de 10% superior para a linhagem
GIFT contra a linhagem tailandesa em tanques fertilizados onde
os peixes também receberam ração extrusada.
Nestes países asiáticos o peso médio da tilápia ao final
do cultivo raramente ultrapassa 400g, sendo mais comum a
produção de peixes entre 200 e 300g. No Brasil, este ganho de
peso de pelo menos 10% superior da linhagem GIFT sobre a
linhagem Tailandesa não tem sido evidente em cultivos comerciais. A impressão que colhi junto a produtores com os quais
conversei é de que a taxa de crescimento da tilápia GIFT é mais
acelerada no início do cultivo e diminui quando o peixe atinge
cerca de 200 a 300g. No entanto, como nos cultivos brasileiros
a tilápia normalmente é recriada a um peso médio acima de
600g (muitas vezes próximo a 1kg ou até mesmo acima disso),
após 300g parece haver uma recuperação da tilápia tailandesa
quanto ao ganho de peso, equiparando seu crescimento ao da
GIFT até o final de cultivo.
As linhagens vermelhas- no Brasil alguns produtores
cultivam linhagens vermelhas de tilápia. “Tilápia vermelha” é
uma denominação que engloba tilápias de coloração que varia do
rosa claro (quase branco) a um tom laranja-claro – laranja-forte.
Algumas linhagens são desprovidas de pigmentação ou manchas escuras, enquanto que outras podem apresentar manchas
escuras bem evidentes em diversas partes do corpo. Denominações comerciais como Saint Peter, Saint Pierre e San Pietro
foram utilizadas inicialmente para a tilápia híbrida de Israel.
O nome Saint Peter foi generalizado como sinônimo de tilápia
vermelha na região sudeste e diversas linhagens vermelhas são
assim denominadas. De um modo geral as linhagens vermelhas
cultivadas no Brasil apresentam crescimento 30 a 50% inferior
e uma menor eficiência reprodutiva comparada à linhagem
Alevinos de Tilápia
tailandesa, resultando em maior custo na produção dos
alevinos e na engorda. Apesar disso, existem nichos de
mercado que valorizam mais a tilápia vermelha e seus
produtos do que as tilápias cinzas, justificando assim o
cultivo das vermelhas em algumas localidades.
Um ponto deve ser ressaltado no que diz respeito
à qualidade genética e à qualidade dos alevinos: apesar
da genética ser muito importante, é comum ver alevinos
de excelente base genética apresentarem desempenho
inferior ao de alevinos de base genética aparentemente
inferior (por exemplo, linhagens de tilápia do Nilo não
selecionadas comparadas com a linhagem tailandesa).
Isso acontece porque fatores outros que a genética, também
exercem grande influência na qualidade e desenvolvimento
dos alevinos estocados na engorda. Dentre muitos vale
ressaltar a nutrição e alimentação das matrizes; a qualidade
da água durante a reversão sexual; a nutrição e o manejo
alimentar das pós-larvas e alevinos durante a reversão; a
eficiência da reversão sexual (medido pelo percentual de
machos no lote); a condição sanitária durante a produção
dos alevinos (grau de infestação por parasitos); a qualidade
do manuseio e da preparação dos alevinos para o transporte
e o próprio transporte. Estes fatores afetam o desenvolvimento dos peixes após a reversão e podem dar vantagens
iniciais em crescimento e sobrevivência a alevinos bem
produzidos, mesmo sendo estes de base genética inferior.
Estas vantagens dificilmente serão minimizadas ao longo da
engorda por alevinos que sofreram privações nutricionais,
infestações por parasitos e estresse durante a produção.
Por quê ocorre variação no tamanho dos peixes durante o
cultivo? Se o produtor de alevinos fornecer alevinos de tamanho uniforme, a desuniformidade de tamanho na recria
e engorda será solucionada? Quais estratégias de manejo
18
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006
podem reduzir os problemas com a desuniformidade de
tamanho dos peixes durante o cultivo?
Estas são três questões muito freqüentes na cabeça
dos produtores de tilápia. Diversas considerações merecem
ser feitas para que se compreenda a estratégia de produção
que deve ser adotada para melhorar o resultado dos cultivos,
mensurado quanto ao crescimento dos peixes, conversão
alimentar média dos lotes, uniformidade de tamanho dos
peixes e custo de produção.
Diversos motivos contribuem com a desuniformidade
no tamanho dos peixes. A diferença inicial no tamanho
dos alevinos estocados certamente é um importante fator
na heterogeneidade de tamanho dos peixes (mas não é o
único). De uma maneira geral, os maiores alevinos do lote
tendem a terminar a primeira etapa de cultivo com peso
médio maior do que os alevinos menores. Deste modo, se
houver uma boa classificação dos alevinos antes da venda,
a desuniformidade de tamanho ao final do berçário ou recria
é amenizada, mas não é eliminada por completo, pois outros
fatores também contribuem com a variação no tamanho dos
peixes durante o cultivo. Diferenças genéticas entre os
indivíduos contribuem para aumentar a desuniformidade
de tamanho. Assim, em um lote de alevinos de tilápias há
sempre um grupo de peixes que possuem a melhor combinação genética (peixes que convertem melhor o alimento
ingerido, que têm maior apetite, que se adaptam melhor às
condições do ambiente de cultivo, que são mais tolerantes
às infestações por parasitos, dentre outras características
desejáveis). Portanto, estes peixes com a melhor combinação destas características se destacam no crescimento e
formam o grupo “cabeceira”. No outro extremo ficam os peixes
retardatários ou a “rabeira” ou o “fundo do lote”. Os peixes do
fundo do lote “se arrastam” durante a fase de crescimento.
Entre o o fundo do lote e os cabeceiras existem os peixes
com potencial de crescimento intermediário. A única ação do
produtor para amenizar este problema é realizar o descarte dos
peixes do fundo do lote. Manejo alimentar e densidade de
estocagem também são fatores que contribuem com a desuniformidade dos lotes. De um modo geral, o uso de elevadas
densidades de estocagem em tanques-rede e em tanques de terra
exacerbam a desuniformidade de tamanho entre os peixes. Restrição alimentar associada a um aumento no número de refeições
por dia também agravam este problema. Muitos produtores realizam um número elevado de tratos diários na recria e engorda,
utilizando pequenas quantidades de ração em cada refeição.
Isso promove maior competição por alimento em cada refeição,
com os peixes maiores e mais agressivos comendo mais do que
precisam e os peixes menores ficando na míngua.
Devemos considerar que qualquer lote de alevinos
adquirido durante o berçário ou recria se segmentará em
três grupos: o cabeceira, o intermediário e o rabeira. Mesmo
que o produtor de alevinos adote uma política de descarte
de fundo de lotes ao final da reversão, o produtor que fará
a recria destes alevinos ainda lidará com estes três grupos
de peixes. No entanto, como os peixes muito ruins foram
descartados pelo produtor de alevinos, o lote rabeira não
será tão ruim assim, demandando o descarte de um menor
percentual de peixes do fundo do lote. No entanto, quando
o produtor de alevinos não adota a estratégia de descarte da
rabeira ou do fundo dos lotes após a reversão, o comprador
do alevino é quem vai ter que fazer o descarte e assimilar
este custo.
Estudo de caso - Recentemente tive a oportunidade
de analisar o resultado da engorda de tilápias em tanquesrede na Piscicultura Palmares de propriedade do Dr. Francisco Leão. A Piscicultura Palmares se dedica exclusivamente
à engorda de tilápias para venda aos pesque-pagues. No manejo de rotina são adotadas 2 fases de cultivo. Na primeira
fase (ou berçário) os alevinos pós-reversão são estocados em
tanques-rede onde são crescidos até um peso médio entre 50
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006
19
Alevinos de Tilápia
"Quando o produtor de
alevinos não adota a
estratégia de descarte da
rabeira ou do fundo dos lotes
após a reversão, o comprador
do alevino é quem vai ter que
fazer o descarte e assimilar
este custo"
e 60g. No entanto, ao final desta primeira fase os peixes
se distribuem em grupos de peso que variam entre 20
e 90g. Neste momento os alevinos são classificados
em dois grupos: o lote cabeceira (peixes maiores e
geralmente com peso entre 50 e 90g, dependendo do
lote) e o lote “rabeira” (peixes menores e geralmente
com peso médio entre 20 e 40g dependendo do lote).
Em geral, os peixes rabeiras necessitam 60 a 70 dias a
mais que os cabeceiras para atingir peso de venda próximo de 600g. A conversão alimentar média dos lotes
“cabeceiras” gira ao redor de 1,4, enquanto que para
os lotes “rabeira” a média é de 1,7. Ou seja, além de
ocupar por mais tempo as unidades de cultivo, os lotes
rabeiras usam mais ração por quilo de peixe produzido. Esta diferença de 0,3 na conversão alimentar (1,7
– 1,4 = 0,3) por si só implica em um custo adicional
de ração de R$ 0,27/kg de tilápia (considerando o preço da
ração de engorda a R$ 0,90/kg). Resultado: o maior uso de
ração e o tempo adicional na engorda aumentam o custo
médio de produção.
Tenho visto resultados como estes da Piscicultura
Palmares em muitos outros cultivos de tilápia e de outras
espécies no Brasil. E, certamente, os produtores já visualizaram esse problema. Porém, por falta de controle ou por
descuido na análise dos dados de produção, muitos ainda
não conseguiram quantificar o que isso representa no custo
de produção. A estratégia que deve ser adotada para amenizar este problema é o descarte o mais cedo possível de um
percentual dos peixes do lote (os peixes rabeiras). Para fazer
este descarte de forma eficaz, os lotes de alevinos adquiridos
devem apresentar tamanho bem uniforme, para eliminar a
influência do tamanho inicial dos alevinos no peso final no
momento do descarte. Se os alevinos chegam desuniformes,
o produtor tem que classificá-los antes da estocagem nos
tanques de produção. Para quem trabalha com tanquesrede esse descarte é fácil de ser realizado. Com cerca de
10 a 14 dias no berçário os peixes devem ser novamente
classificados (enquanto ainda são pequenos e não custaram
muito ao produtor). Para os produtores que trabalham com
tanques de terra, seria oportuno estocar inicialmente os
alevinos em hapas com malha de 5mm para que seja fácil
capturar os peixes após 10 a 14 dias para a classificação.
Nesta classificação deve ser eliminado o fundo dos lotes.
O percentual de peixes que deve ser eliminado é difícil de
precisar. Se houve um descarte de fundo de lotes por parte
do fornecedor dos alevinos ou juvenis, o percentual de descarte adotado pelo produtor pode ser menor, por exemplo,
cerca de 10-15% dos peixes do lote. Se o fornecedor dos
alevinos não fez o descarte, o produtor terá que descartar
uma quantidade maior de peixes, que pode variar entre 20 e
30% do lote. Fatores econômicos (custo dos alevinos, preço
de ração e preço de venda final da tilápia) também devem
ser analisados para determinar o percentual de descarte.
Quanto maior for o percentual de descarte, melhor será o
desempenho do lote no cultivo.
Alevinos de Tilápia
Foto do autor
Classificação de juvenis de tilápia vermelha com o uso de um
classificador de barras ajustáveis
Vamos ilustrar o impacto dessa estratégia de manejo no
custo de produção da tilápia com o exemplo da Piscicultura
Palmares. Vimos que a diferença em conversão alimentar
média dos lotes “rabeira” foi de 1,7, o que representa um custo
de ração de R$ 1,53/kg (1,7 x R$ 0,90/kg de ração). Para os
lotes cabeceira, a conversão média foi 1,4, o que representa
um custo de ração de R$ 1,26/kg de tilápia (1,4 x R$ 0,90/kg
de ração). Se os lotes “rabeira” fossem eliminados o custo
de ração seria o obtido com o lote cabeceira. Ou seja, uma
redução no custo de produção de R$ 0,27/kg somente com a
economia de ração.
No entanto, o descarte dos lotes “rabeira” implica em
maior custo de aquisição de alevinos. Vamos considerar que
sem o descarte dos lotes “rabeira” o aproveitamento global
dos alevinos até o final do cultivo seja de 70% e que o objetivo
é produzir tilápias com peso médio de 1kg (para facilitar os
cálculos). Para cada tilápia de 1kg que chega ao final do culti-
20
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006
vo foi necessário adquirir 1,43 alevino (1 / 70%). Se o custo
do alevino for R$ 0,10/unidade, o custo de alevinos será de
R$ 0,143 por quilo de tilápia (R$ 0,10 x 1,43 alevino). Com
um descarte drástico de metade dos alevinos sobreviventes
logo nas primeiras semanas do berçário (os 50% menores de
cada lote), o custo de alevino por quilo de peixe dobrará, ou
seja, passará a ser R$ 0,286/kg. Pois bem, neste exemplo,
o descarte de metade dos alevinos aumentou o custo de
alevinos em R$ 0,14/kg e reduziu o custo da ração em R$
0,27/kg. Ou seja, ainda houve uma economia de R$ 0,13/kg
de tilápia produzida.
Além dessa economia direta, há de se esperar uma
redução adicional no custo de produção devido a economia
de tempo na engorda, que se traduz em maior produção na
mesma instalação e, portanto, redução do custo fixo. Por
exemplo, se o ciclo de produção leva em média 300 dias (10
meses para sair de 0,5g e chegar a 1kg), usando somente os
lotes “cabeceira” o ciclo de produção deve ficar no mínimo
uns 60 dias mais curto (sendo conservador e considerando
os 60 a 70 dias de economia de tempo para a produção de
uma tilápia de 600g na Piscicultura Palmares). Assim, ao
invés de 300 dias, os ciclos serão de 240 dias (8 meses).
Isso possibilitaria aumentar em 25% a produção anual com
a mesma instalação e possivelmente com a mesma equipe de
funcionários, reduzindo assim o componente fixo do custo
de produção.
O mais lógico e menos oneroso seria o produtor de
alevinos descartar o fundo dos lotes ao final da reversão
sexual. Assim quem vai produzir juvenis ou engordar a
tilápia não precisará descartar um percentual muito grande
de alevinos.
Quando estes alevinos não são descartados logo no
começo do cultivo, eles lentamente chegam a um porte de
juvenil (20g ou mais) e já carregam um considerável custo
acumulado. E com esse porte, o produtor fica com dó de fazer
o descarte. E esses peixes vão se arrastando até atingirem
Quando a mortalidade dos alevinos ocorre no transporte e continua por 3 a 4 dias após o transporte, esta, invariavelmente, é resultado de problemas durante a produção e/ou
o transporte. Alevinos que passaram por restrição alimentar
ou foram mal nutridos; que sofreram com problemas de qualidade de água; que foram manuseados grosseiramente durante
a despesca e a classificação; que estavam com alta infestação
por parasitos; que não receberam adequado jejum antes do
transporte; que sofreram estresse no transporte (descuido com
o oxigênio nas caixas de transporte; carga excessiva de
alevinos no transporte; temperatura elevada na água de
transporte). Todas estas condições adversas contribuem
com a mortalidade logo após o transporte.
A mortalidade também pode estar associada a
problemas de qualidade de água no local de destino.
O produtor deve preparar adequadamente os tanques
onde os alevinos serão estocados. No caso de alevinos estocados em tanques-rede, a malha utilizada não
deve ser muito grande a ponto de permitir que estes
machuquem a cabeça tentando sair do tanque-rede.
Use uma panagem macia e com menor tamanho de
malha nos primeiros 5 dias até que os alevinos se
habituem ao tanque-rede. Em geral alevinos pequenos
(2-3cm) apresentam maior mortalidade pós-transporte, pois
geralmente não conseguem tolerar a combinação estresse
de manuseio e transporte e uma possível infestação por
parasitos. A mortalidade destes pequenos alevinos é rápida
(ocorre dentro de 1 a 3 dias após o transporte). Em tanques
de terra esta mortalidade nem sempre é visível ao produtor, pois os alevinos mortos geralmente têm suas barrigas
comidas pelos sobreviventes e com isso não aparecem na
superfície da água. Em tanques-rede é mais fácil observar
esta mortalidade. Alevinos de 5 a 6 cm geralmente são os
que melhor toleram o manuseio e transporte. Como são
maiores, também toleram um grau maior de infestação por
parasitos comparados a alevinos menores. Juvenis de 20 a
30g podem apresentar alta mortalidade pós-transporte,
principalmente por se machucarem mais durante o manuseio
e a classificação por tamanho, dependendo do tipo de classificador utilizado. Quando estocados em tanques-rede os
juvenis podem se machucar tentando escapar pelas malhas
das telas. Isso é mais comum com juvenis produzidos soltos
em tanques de terra. Juvenis produzidos em tanques-rede
já estão acostumados com o confinamento e não têm dificuldade de se adaptar em um novo tanque-rede.
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006
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Alevinos de Tilápia
peso de mercado. Esses alevinos deveriam ter sido descartados ao final da reversão, onde ainda não acumularam muito
custo. Descartar uma rabeira de 15 a 20% dos alevinos ao
final da reversão seria uma prática justa e que em pouco tempo retornará benefícios ao produtor de alevinos. Um cliente
descontente por ter recebido um fundo de lote significa um
cliente a menos na carteira e muitos potenciais novos clientes
indo direto nos concorrentes.
Se o produtor de alevinos não descarta o fundo dos
lotes, algum produtor vai ser premiado com um lote de alevino formado pela rabeira de diversos lotes de alevinos. São
todos bonitinhos, de bom tamanho e bem classificados. Um
capricho. Mas simplesmente eles se arrastam nos tanques
de cultivo. O risco de receber fundo de lotes é maior para
os produtores de pequeno porte que geralmente compram
lotes pequenos de alevinos ou juvenis. O atraso na produção
causado por fundos de lotes custará muito mais do que pagar
15, 20, 30% a mais por lotes de alevinos que tiveram o fundo
dos lotes descartados.
Invariavelmente a mortalidade dos alevinos de tilápia nos
primeiros dias após o transporte tem sido relativamente
alta, principalmente no caso de alevinos pequenos (0,3
a 0,5g). A mortalidade diminui quando estoco alevinos
maiores (1,0 a 2,0g ou 5-6cm). O que posso fazer para
diminuir esta mortalidade?
Foto do autor
Foto do autor
Estimativa volumétrica de
alevinos com o auxílio de
peneiras em preparação para
o transporte
O que o produtor pode fazer para melhorar a sobrevivência dos alevinos recebidos? Avaliar a sobrevivência de cada
lote. Verificar se os alevinos recebidos estão com parasitos (exames microscópicos) ou sinais de doença. Sugerir ao fornecedor
de alevinos que realize um tratamento profilático para reduzir a
infestação por parasitos antes do transporte. Se este tratamento
não está sendo feito pelo fornecedor de alevinos, ele pode ser feito assim que os alevinos chegarem na propriedade. Na primeira
semana pós-estocagem pode ser utilizada uma ração medicada
para prevenir problemas com bacterioses, sob a recomendação
e supervisão de um profissional qualificado. Quando a engorda
é feita em tanques-rede e a estocagem é de juvenis, o produtor
deve dar preferência aos fornecedores que produzem os juvenis
em tanques-rede, ou mesmo aos fornecedores que adaptam os
juvenis ao confinamento antes da comercialização. Se isso não
foi possível, na primeira semana de estocagem nos tanques-rede
os juvenis devem ser confinados em bolsão ou hapa de panagem
macia e de malha de menor abertura, para que os mesmos não
se machuquem tentando escapar dos tanques-rede.
Quais os principais fatores determinantes da qualidade
dos alevinos de tilápia e como identificar isso no campo?
Para avaliar a qualidade dos alevinos é preciso acompanhar
atentamente os lotes desde a estocagem até a finalização do cultivo. Qualidade genética é importante e este parâmetro não dá para
avaliar apenas olhando os alevinos. Tem que ver o resultado do
cultivo (taxa de crescimento, conversão alimentar, sobrevivência,
uniformidade de tamanho, dentre muitos outros fatores).
O que pode ser verificado de imediato? a) a condição
corporal dos alevinos : observe a musculatura no dorso dos alevinos. Alevinos que foram bem alimentados apresentam dorso bem
desenvolvido. Os que passaram por severa privação alimentar
podem apresentar musculatura dorsal rebaixada. O produtor
também deve se certificar da ausência ou da ocorrência de um
número muito pequeno de peixes machucados ou de peixes com
manchas ou descamação no corpo, ou ainda com podridão nas
nadadeiras também deve ser verificada; b) a coloração vermelho
vivo das brânquias: que serve de indicativo da condição
nutricional e da saúde dos alevinos; c) a presença e o grau de
infestação por parasitos: através de exames microscópicos
das brânquias e do muco; d) a uniformidade de tamanho:
que indica o capricho do produtor em ofertar um bom produto. No entanto, a uniformidade no tamanho dos alevinos
por si só não é garantia de qualidade dos alevinos. Lembrese que você pode estar recebendo um lote bem uniforme de
peixes rabeiras; e) início da alimentação após-transporte:
alevinos saudáveis e que sofreram pouco no manuseio e
transporte começam a se alimentar poucas horas após a
estocagem. Lembre-se que estes peixes ficaram um bom
período em jejum e o normal é demonstrarem grande apetite
em poucas horas após a estocagem; f) sobrevivência pós-transporte ou sobrevivência na primeira etapa do cultivo: alevinos
de boa qualidade apresentam alta sobrevivência pós-transporte.
Mas não se isente da responsabilidade em contribuir com esta
sobrevivência, assegurando um adequado ambiente e nutrição
aos alevinos recebidos; g) percentual de peixes no fundo do lote:
para avaliar isso é preciso verificar a distribuição de tamanho dos
peixes após a fase de berçário. Se houve o descarte de fundo de
lote pelo fornecedor dos alevinos, o produtor deverá encontrar
ao final da primeira etapa de cultivo um percentual muito baixo
de peixes no fundo dos lotes. Esse é um importante parâmetro
indicador da qualidade dos alevinos.
Considerações finais
Conhecendo um pouco mais os critérios importantes na
avaliação da qualidade dos alevinos, os produtores de tilápia
podem agora apreciar o quão complexo e dedicado deve ser o
trabalho dos produtores de alevinos para ofertar um produto de
alta qualidade. E, quando encontram este produto no mercado,
devem saber valorizá-lo. Por outro lado, devem cobrar mais profissionalismo dos seus fornecedores quando o produto ofertado
esta aquém de suas expectativas. A participação dos alevinos no
custo de produção é relativamente pequena diante da importância da qualidade deste insumo no resultado da produção. Assim,
o produtor deve sempre considerar a opção de pagar mais por
alevinos de melhor qualidade e entregues dentro das condições
especificadas. A aparente economia na compra de lotes de alevinos baratos pode resultar em maior custo do produto final. A
insatisfação quanto à qualidade do produto recebido e a ocorrência
de elevada mortalidade de alevinos pós-transporte desgastam a
relação entre o produtor e o fornecedor dos alevinos e atrasam
os ciclos de produção. A estrutura e o pessoal ficam ociosos, os
custos de produção se elevam e a programação de vendas acaba
comprometida. Este furo na produção faz com que muitos compromissos de entrega de peixes sejam adiados e descumpridos, Os
clientes órfãos e insatisfeitos vão buscar a salvação junto aos seus
concorrentes e podem nunca mais precisar da sua tilápia. Assim,
esta rachadura no processo de produção e venda que começou
com uma falha na qualidade no fornecimento dos alevinos pode
acumular consideráveis perdas ao seu empreendimento, muitas
das quais podem ser irreparáveis.
Panorama da AQÜICULTURA, setembro/outubro, 2006
23
Alevinos de Tilápia
Classificação de alevinos com
classificador de barras
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
1
Ajustes na nutrição e
alimentação das tilápias
No atual desenvolvimento da tilapicultura no Brasil, falar
sobre a importância da nutrição e alimentação no desempenho
e saúde das tilápias pode até parecer preciosismo. Mas ainda há
muitos piscicultores em nosso país com dificuldades na definição
de um programa nutricional e alimentar e na avaliação da relação
custo/benefício das rações disponíveis no mercado. Uma dúvida
freqüente nas fazendas é se o manejo alimentar empregado é o
mais adequado. Portanto, nada mais oportuno do que começar
2007 apresentando estratégias de alimentação que possam
melhorar ainda mais o desempenho dos cultivos de tilápia, que é
hoje a espécie mais produzida na aqüicultura nacional.
Por: Fernando Kubitza, Ph.D.
Especialista em nutrição e produção de peixes
Acqua Imagem Serviços Ltda
[email protected]
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Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
Alimentação de Tilápia
Os equívocos têm início já na produção dos alevinos.
No intuito de fornecer a melhor nutrição possível, o produtor
lança mão de rações com níveis de proteína muito acima das
exigências nutricionais estabelecidas para pós-larvas e alevinos
de tilápia. As conseqüências disso serão discutidas oportunamente. Na recria e engorda em tanques de terra os complicadores são outros na hora de definir a estratégia alimentar. Com
pouca compreensão da relação entre a densidade de plâncton e
a biomassa estocada, há produtores que se excedem nas taxas de
alimentação sob baixa estocagem (1 a 2 tilápias/m2), não tirando
proveito da contribuição do alimento natural. Outros utilizam
densidades elevadas e, para isso, investem em aeração e dispõem de renovação de água, mas ainda insistem em usar rações
baratas de baixa densidade nutricional, e que acabam resultando
em pior conversão alimentar, menores taxas de crescimento e
maior acúmulo de gordura visceral.
Outro complicador em tanques de terra é a dificuldade
que muitos tilapicultores têm em estabelecer e manter uma adequada densidade de plâncton e implementar um eficiente manejo
nutricional e alimentar. Geralmente os peixes são alimentados
em excesso e acabam ficando preguiçosos no aproveitamento
do alimento natural. Nos cultivos de tilápia em tanques-rede
o manejo nutricional é um pouco mais uniforme, pois não há
muita margem para brincadeiras e experimentações. Isso, no
entanto, não impede que cada produtor experimente e encontre
estratégias de alimentação que melhor sirvam às características
do seu empreendimento, sem é claro prejudicar o desempenho
dos peixes. Ainda assim, tenho visitado muitos produtores que
já trabalham com tanques-redes há anos e uma das grandes questões é se o manejo alimentar que empregam está adequado.
Em oportunidades anteriores nesta revista foram apresentadas matérias específicas sobre a nutrição e o manejo alimentar
no cultivo de tilápias (Panorama da Aqüicultura, 1999 – Ed.52
e 53; Panorama, 2000 – Ed.60). Não por mera coincidência,
estas matérias sempre acompanharam momentos importantes
na tilapicultura nacional. O primeiro deles foi o início do cultivo
da tilápia em tanques-rede no reservatório de Xingó no Rio São
Francisco, marcado pelo Festival da Tilápia de Paulo Afonso
(maio, 1999), que teve repercussão nacional e foi o estopim da
tilapicultura em tanques-rede no Nordeste do Brasil. O segundo,
foi o Simpósio Internacional sobre a Aqüicultura de Tilápias
(ISTA – setembro, 2000) realizado no Rio de Janeiro, e que deve
ser considerado um importante marco na difusão da tecnologia
de cultivo de tilápias em nosso país.
Nos anos que seguiram até o momento houve
um grande avanço no cultivo de tilápias. Primeiramente pelo papel dos fabricantes de rações em ofertar
produtos de qualidade para assegurar o sucesso dos
cultivos intensivos (particularmente em tanques-rede,
que até então vinha sofrendo grandes prejuízos com
desequilíbrios nutricionais e doenças decorrentes da
má nutrição). Segundo, pelos investimentos feitos em
anos recentes na industrialização e comercialização
da tilápia, com foco na exportação e na popularização
deste peixe no mercado interno. A tilápia é hoje a espé-
cie mais produzida na aqüicultura nacional (seguramente
cerca de 100 mil toneladas anuais) e um produto comum
de se encontrar nas principais redes de supermercados do
país, com poucas exceções. E, na lembrança deste autor,
de 2000 até o momento, nada mais foi escrito nesta revista
especificamente sobre o manejo nutricional e alimentar
no cultivo de tilápias. Portanto, nada mais oportuno do
que começar 2007 discutindo importantes aspectos do
manejo nutricional e alimentar na produção de tilápias e
apresentando estratégias de alimentação que possam ser de
utilidade para a melhoria do desempenho dos cultivos.
Os cuidados com a nutrição dos reprodutores
Ao contrário do que muita gente imagina, não são o
hormônio, o álcool, a ração e a mão de obra usada na reversão
os principais componentes do custo de produção de alevinos.
Mas sim, as despesas com a formação e manutenção dos reprodutores que, em uma situação normal, chegam a representar
algo entre 30 e 60% deste custo, dependendo do sistema de
produção de alevinos adotado. Portanto, descuidos no manejo
dos reprodutores que prejudiquem a produção e a qualidade
das pós-larvas e alevinos, amplificam em muito o custo de produção. Entre estes descuidos está a má nutrição. Deficiências
na nutrição comprometem não apenas a produção de ovos e
pós-lavras, mas também o desenvolvimento, a sobrevivência
e a qualidade dos alevinos.
Em diversas espécies de peixes já foram investigados os
efeitos negativos da má nutrição sobre o desempenho reprodutivo e a qualidade dos ovos e pós-larvas. No caso particular
das tilápias, são resumidas aqui algumas informações. As
rações para reprodutores de tilápia do Nilo devem ter entre
28 e 40% de proteína (Wee e Tuan, 1988; Siddiqui et al 1998;
Al-Hafedh et al 1999). Baixa ingestão de proteína resulta em
atraso na maturação sexual e baixa produção de ovos. Além
da importância da nutrição protéica, é de conhecimento geral
o impacto negativo de deficiências em vitaminas, minerais e
ácidos graxos na eficiência reprodutiva de diversas espécies
de peixes. Com tilápia, em particular, há um estudo digno de
discussão neste artigo (Tabela 1).
Tabela 1 - Efeito da deficiência de vitamina C na ração dos reprodutores sobre
a eclosão dos ovos e a qualidade das pós-larvas de Tilápia de Moçambique
(Oreochromis mossambicus). Adaptado de Soliman et al 1986
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
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Alimentação de Tilápia
Reprodutores de tilápia de Moçambique alimentados
com ração desprovida de vitamina C produziram ovos e
larvas de baixa qualidade. A cada 1.000 ovos gerados pelas
fêmeas mal nutridas, apenas 540 eclodiram (taxa de eclosão
de 54%), resultando na produção de 540 pós-larvas. Destas,
57% (307 pós-larvas) apresentaram deformidades corporais que comprometiam o seu desenvolvimento, restando
apenas 132 pós-larvas aparentemente sadias (43% das que
nasceram). Já para fêmeas bem nutridas, a cada 1.000 ovos
produzidos, eclodiram 880 pós-larvas sadias (6,7 vezes
mais pós-larvas sadias). As pós-larvas produzidas por matrizes que receberam ração com vitamina C apresentaram
peso médio de 7,25mg (45% mais pesadas) do que as póslarvas oriundas de fêmeas mal nutridas, com peso médio
de 5mg. Ambos os grupos de pós-larvas foram submetidos
a um período de crescimento de 35 dias, o equivalente à
fase de reversão sexual. Durante este período as pós-larvas
receberam ração nutricionalmente completa.
O interessante de notar é que, mesmo fornecendo
uma adequada nutrição na fase de reversão sexual, as pós-larvas oriundas
de matrizes mal nutridas apresentaram baixa sobrevivência (1,8%) e
crescimento (peso médio final de
0,03g), contra uma sobrevivência de
86,4% e peso médio final de 0,24g
para as pós-larvas oriundas de matrizes bem nutridas. Este exemplo
nos dá uma boa idéia do impacto da
deficiência de uma única vitamina
na ração dos reprodutores sobre a
viabilidade dos ovos e a qualidade
e a sobrevivência das pós-larvas.
Deficiências de outras vitaminas e
minerais com importantes funções
fisiológicas na reprodução e no desenvolvimento embrionário e larval
podem comprometer seriamente a
produção de alevinos.
Tilápias estão constantemente formando, enriquecendo seus
ovos e desovando para atender a demanda reprodutiva imposta
nos sistemas intensivos. Assim, mudanças na nutrição resultam
em rápida resposta na produção e na qualidade dos ovos e das
pós-larvas.
Minha recomendação aos produtores de alevinos de tilápia começa com o uso de rações nutricionalmente completas
com pelo menos 32% de proteína na alimentação das matrizes.
Estas rações devem ser usadas mesmo quando os reprodutores
são estocados em tanques de terra com água verde (presença
de fitoplâncton) e a uma baixa densidade (0,4 a 0,6kg de reprodutor/m2). Rações de boa qualidade usadas na recria e engorda
em tanques-rede geralmente suprem bem as necessidades
nutricionais dos reprodutores. No entanto, em sistemas mais
intensivos de reprodução (como a coleta de ovos em hapas) o
uso de rações com 40% de proteína pode aumentar em 20 a 50%
a produção de ovos e pós-larvas, além de melhorar a qualidade
de ovos e conferir maior resistência das pós-larvas durante a
reversão sexual, comparativamente ao uso de rações com 28
e 32% de proteína. Vale a pena avaliar
isso, usando uma boa ração para peixes
carnívoros. No entanto, o produtor deve
estar ciente de que o fato de uma ração
ter 40% de proteína não assegura que
a mesma seja melhor do que uma com
32%. Importam a qualidade da proteína
(digestibilidade e balanço em aminoácidos) e dos ingredientes, bem como o
enriquecimento mineral e vitamínico e
a qualidade do processo ao qual a ração
foi submetida, dentre muitos outros
fatores que podem interferir no valor nutritivo das rações. Na produção de ovos
e pós-larvas em hapas os resultados da
troca de uma ração podem ser avaliados
rapidamente, desde que haja um registro
preciso do número de ovos e pós-larvas
coletados em cada hapa.
Quanto ao manejo alimentar dos
reprodutores, algumas particularidades
devem ser compreendidas. Durante a reprodução as fêmeas se
alimentam pouco, comparativamente aos machos, pois estão
ocupadas com a incubação e proteção dos ovos e pós-larvas.
Grande parte da farra na alimentação é feita pelos machos.
Quando não é desejável que os reprodutores cresçam muito
rápido, a taxa de alimentação deve ficar próxima dos níveis
de manutenção (em torno de 0,4 a 0,5% do PV/dia). Assim,
a ração deve ser fornecida de forma restrita. Uma boa estratégia é fornecer dia sim, dia não, uma quantidade de ração
não superior a 1% da biomassa dos machos, em uma única
refeição no dia. Dividir a alimentação em várias refeições
pequenas não é recomendável quando se faz uma alimentação restrita. Isso pode favorecer os peixes mais vorazes em
detrimento dos mais tímidos, acentuando assim as diferenças
de tamanho entre os machos.
"Deficiências de
vitaminas e minerais
com importantes
funções fisiológicas
na reprodução e no
desenvolvimento
embrionário e larval
podem comprometer
seriamente a produção
de alevinos"
Recomendações quanto ao manejo
nutricional e alimentar na reprodução
Durante alguns anos tenho acompanhado o trabalho
de diversos produtores de alevinos, não apenas de tilápias,
mas também de peixes nativos, em diversas regiões do
país. E, em muitas oportunidades, me deparei com situações de baixa produção e qualidade de ovos (baixa taxa
de fecundação e eclosão) e de pós-larvas, as quais foram
corrigidas com a simples troca da ração que vinha sendo
usada, confirmando o grande impacto da nutrição sobre a
reprodução. Com espécies nativas, que desovam em uma
época definida no ano, errar na nutrição dos reprodutores
significa comprometer toda uma safra, porém com a tilápia,
os erros com a nutrição podem ser rapidamente reparados.
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
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Alimentação de Tilápia
Quando se deseja que os reprodutores ganhem
peso, a taxa de alimentação diária deve ficar entre 0,8 e
1% da biomassa total estocada (machos e fêmeas). Uma
única refeição diária deve ser oferecida, para que todos os
peixes tenham oportunidade de se alimentar. As fêmeas
ganham peso durante a reprodução. Porém, este ganho de
peso seria maior se elas fossem mantidas separadas dos
machos, em descanso dentro de hapas ou de tanques. Se o
interesse é aumentar rapidamente o tamanho das fêmeas,
estas devem passar um tempo sem reproduzir e devem ser
alimentadas diariamente entre 1 a 2% do PV dividido em
duas refeições diárias.
Em meio à reprodução, os reprodutores devem ser
alimentados preferencialmente antes das 10-11 horas, pois
grande parte das desovas das tilápias ocorre em horários
de muita luz (11 às 14 horas). Assim, não queremos muito
alvoroço com peixes brigando pela ração no momento mais
íntimo dos casais, principalmente se a reprodução é feita
em hapas. Evite alimentar os peixes ao final do dia, para
que eles não entrem o período noturno com a barriga cheia
e possam sofrer mais com uma eventual queda nos níveis
de oxigênio.
espécies de peixes. Seguindo estas orientações, muitos produtores de alevinos, com o intuito de oferecer a melhor nutrição
possível e assim melhorar o crescimento e a condição dos seus
alevinos, vêm utilizando estas rações na reversão sexual.
Em 2003 realizei um teste comparativo entre duas rações
comerciais em pó para pós-larvas e alevinos: uma com 40% de
proteína e outra com 55% (Tabela 3).
Proteína na ração das pós-larvas e alevinos
durante a reversão sexual
O principal motivo que me levou a realizar este teste foi o
grande número de consultas que vinha recebendo, na ocasião, de
produtores de alevinos de tilápia que se queixavam basicamente
da baixa resistência dos alevinos que estavam produzindo. Havia
alta mortalidade de alevinos ao final da reversão, particularmente
após o manuseio, a depuração e o transporte. Muitos relataram
que os alevinos, ainda durante a reversão, desenvolviam manchas esbranquiçadas na pele. Um elo em comum entre estes
produtores era o uso de rações comerciais com mais de 50%
de proteína. Assim, estoquei alevinos de tilápia do Nilo (linhagem tailandesa) com cerca de 0,3g em aquários de 50 litros (4
aquários para cada tipo de ração e 100 alevinos por aquário).
Forneci quantidades iguais de ração (4 vezes ao dia) a todos os
aquários durante um período de 20 dias.
Uma revisão nas pesquisas sobre a nutrição de póslarvas e alevinos de tilápia do Nilo indica que, para póslarvas e alevinos até cerca de 1g (fase de reversão sexual),
os níveis adequados de proteína geralmente ficam entre 40
e 45%. Para alevinos de 1g a 10g os níveis de proteína na
ração que resultaram em máximo crescimento ficaram entre
30 e 38% (Tabela 2).
Tabela 2 - Níveis de proteína para máximo crescimento de pós-larvas
e alevinos de tilápia do Nilo (Adaptado de Kubitza 2000; El-Sayed,
sem data; Rotta et al 2003)
Tabela 3 - Desempenho de alevinos de tilápia do Nilo (linhagem
tailandesa) em aquários alimentados com duas rações comerciais
(dados do autor)
Alimentação de pós-larvas de tilápia em hapa de reversão sexual
O interessante é que, mesmo com muitas informações
disponíveis sobre as exigências protéicas para pós-larvas e
alevinos de tilápia, a partir de 2002 diversas empresas de
rações disponibilizaram e recomendaram rações com mais
de 50% de proteína para a larvicultura de tilápias e outras
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Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
catfish americano Ictalurus punctatus.
Resultados de estudos como estes e a observação de problemas práticos no campo devem fazer os
produtores questionarem o real benefício do uso de
rações com altos níveis de proteína na reversão sexual
de tilápias. Ainda mais diante do atual manejo da alimentação empregado pela maioria dos produtores, no
qual se aplicam altas taxas de alimentação diária (acima
de 30% do PV/dia) e um grande número de refeições
(muitas vezes mais do que 8 refeições/dia). Com tanta
ração e refeições assim, sobra proteína (aminoácidos),
ainda mais quando são usadas rações com altos níveis
protéicos.
Tabela 4 - Efeito dos níveis de proteína na ração sobre o desempenho de
alevinos de tilápia do Nilo (Adaptado de Hayashi et al 2002)
Rações com 50% ou mais de proteína
também estão sendo usadas durante a fase de
recria em tanques-rede, com tilápias de 5 a
20g. Recomendo fortemente aos produtores
de alevinos reavaliar as estratégias nutricionais, até por que hoje se paga entre R$ 1,90
e 2,50/kg pelas rações com mais de 50% de
proteína contra R$ 1,40 e 1,60/kg nas rações
com 40%. Para justificar esta diferença de
preço, um grande adicional em crescimento
e sobrevivência ao manuseio e transporte
deveria ser esperado usando rações com alta proteína.
O produtor tem que avaliar isso, pois cada fabricante
tem sua fórmula, seus procedimentos de controle de
qualidade de ingredientes, suplementações minerais
e vitamínicas específicas, formas diferentes de processamento, dentre muitas outras variáveis que determinam a qualidade de uma ração. Os parâmetros que
possibilitam avaliar isso (crescimento, tolerância ao
manuseio e transporte e custo de ração por milheiro de
alevino produzido) somente podem ser apurados com
uma cuidadosa experimentação.
Em outro estudo, um pouco mais antigo, realizado
desta feita com alevinos de tambaqui também foi verificado
que o aumento excessivo nos níveis de proteína prejudicou
o crescimento e a conversão alimentar (Tabela 5). Lim et al.
(1979) também verificaram uma ligeira redução no crescimento do milk fish com rações com 50 e 60% de proteína,
comparado ao uso de rações de 40% e atribuíram isso à insuficiente quantidade de energia de origem não protéica nas
rações com alta proteína. Prather e Lovell (1973) também
sugeriram que rações com altos níveis de proteína e baixa
quantidade de energia não protéica podem ser tóxicas ao
Alimentação de Tilápia
Os aquários receberam aeração e troca contínua de
água de forma a manter condições de qualidade de água
semelhantes em todos os aquários. Os alevinos alimentados
com a ração de 40% apresentaram um peso médio final de
1,6g contra 1,4g nos alevinos que receberam a ração de
55%. A conversão alimentar de 0,9 contra 1,2. Um resultado
surpreendente, não acham? Principalmente considerando
que, na ocasião, a ração de 40% custava cerca de R$ 1,20/kg
contra R$ 1,80/kg da ração com 55% de proteína.
O leitor não deve concluir com isso que toda a ração
com 40% de proteína é melhor que qualquer ração de 55%
de proteína. O que deve concluir é que é preciso avaliar o
resultado de desempenho e o custo benefício das rações
que estão disponíveis no mercado. Mas, nesta questão de
rações com alta proteína na alimentação de pós-larvas, eu
não fui o único que experimentou tal resultado. Pesquisando na internet (aliás, esta é uma excelente ferramenta
para os produtores e técnicos na busca de informações
sobre tilápias e outros peixes), encontrei a
íntegra do trabalho do Dr. Carmino Hayashi
e colaboradores da Universidade Estadual
de Maringá – PR. Eles haviam verificado
que o nível de 38,6% de proteína digestível
(41% de proteína bruta) proporcionou maior
crescimento em pós-larvas de tilápia do Nilo
(Tabela 4) e também registraram uma ligeira
redução no crescimento e na sobrevivência
dos peixes ofertando rações com níveis mais
elevados de proteína.
Tabela 5 - Influência dos níveis de proteína bruta (PB) sobre
o ganho de peso (GDP), a conversão alimentar (Conv. alim.) e
a composição em gordura na matéria seca (MS) de juvenis de
tambaqui (Adaptado de Meer et al 1995)
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
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Alevinos de Tilápia
Sugestão de manejo alimentar na reversão sexual
No box abaixo seguem resumidas minhas recomendações sobre a qualidade das rações e o manejo da alimentação durante a reversão sexual de tilápias. Informações
mais detalhadas sobre o assunto poderão ser encontradas
no livro Tilápia (Kubitza, 2000).
Manejo alimentar na recria e engorda de tilápias
O produtor deve ter em mente um importante fundamento no manejo da alimentação: quanto mais próximo da
máxima capacidade de consumo um peixe for alimentado,
maior será o crescimento, porém, pior será a conversão
alimentar. Com tilápias pequenas (até 20 a 30g), o produtor deve buscar máximo crescimento, em detrimento
da conversão alimentar. Isso é conseguido alimentando
os peixes próximo da máxima capacidade de consumo
em cada refeição. Por outro lado, quando os peixes ficam
maiores e o consumo de ração significativo (o que ocorre
com tilápias acima de 150 a 200g), o produtor deve priorizar a conversão alimentar em detrimento do crescimento.
Isso é alcançado alimentando os peixes de forma restrita,
entre 80 a 90% do máximo consumo. Um modo prático
de se atingir isso é usar a regra dos 15 minutos que tenho
indicado para muitos produtores. Esta regra também deve
ser aplicada no cultivo de tilápias em tanques de terra.
Regra dos 15 minutos
Durante uma refeição deve-se observar o tempo necessário para o
consumo da ração fornecida. Se durante as refeições de um dia a
ração ofertada demorou mais de 20 minutos para ser consumida,
nas refeições do dia seguinte deve ser reduzida a quantidade de
ração em cada refeição. Se, por outro lado, a ração fornecida foi
consumida em menos de 10 minutos, no dia seguinte a quantidade
de ração por refeição deve ser aumentada. Assim, o produtor deve
buscar fornecer em cada refeição o que os peixes são capazes de
consumir em cerca de 15 minutos.
Recomendações sobre a qualidade das rações
e o manejo da alimentação
• Proteína entre 40 e 45% e moagem fina, com partículas
menores que 0,5mm;
• Suplementação extra de vitaminas e minerais - para
compensar as perdas por lixiviação na água. Esta suplementação adicional é uma prática de grande parte dos
fabricantes. No entanto, muitas vezes o próprio produtor
pode se encarregar disso na propriedade, adicionando premix
vitamínico e mineral completo e, até mesmo, fortificando as
rações com mais vitamina C (até cerca de 1g/kg).
20
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
Usando a regra dos 15 minutos, o tratador poderá determinar a quantidade adequada de alimento que deve ser fornecida
aos peixes, visando otimizar o crescimento e maximizar a eficiência alimentar. Atenção para não usar peletes demasiadamente
grande. Quando isso ocorre, a tilápia demora mais tempo para
consumir a ração por uma limitação física, e assim fica a impressão após 20 minutos de que os peixes estão saciados, devido
à sobra de ração que ficou na superfície.
O acúmulo de gordura visceral, freqüentemente notado
pelos produtores, está muito relacionado com a qualidade das
rações. Rações com excessiva relação energia/proteína (àquelas com níveis protéicos baixos, geralmente abaixo de 28%),
assim como rações desbalanceadas em aminoácidos essenciais,
podem resultar em peixe demasiadamente gordo. No entanto, é
no manejo da alimentação onde reside a causa mais comum do
acúmulo de gordura corporal. Peixes alimentados em excesso,
mesmo com uma ração bem balanceada, acumulam grande
quantidade de gordura, particularmente nas vísceras. E isso,
somente o produtor pode prevenir.
Cultivo em tanques-rede
No cultivo de tilápias em tanques-rede é muito fácil comparar os resultados de diferentes rações e estratégias alimentares,
de modo que o produtor pode rapidamente ajustar o manejo nutricional e alimentar e, até mesmo mudar de fornecedor de ração.
Apesar de muitos produtores terem suas estratégias particulares de
alimentação (número de refeições, quantidade fornecida, tamanho
dos peletes e níveis de proteína para cada fase), é inquestionável
a necessidade do uso de rações nutricionalmente completas, visto
que as exigências nutricionais devem ser totalmente atendidas
através da ração. Há alguns anos era comum observar desordens
nutricionais em tilápias cultivadas em tanques-rede. Felizmente
hoje a maioria dos fabricantes dispõe de rações nutricionalmente
completas de alta qualidade especificamente desenhadas para
atender às exigências do cultivo intensivo da tilápia tanto em
tanques-rede como em sistemas de alto fluxo ou de recirculação.
Na tabela 6 segue a minha recomendação de manejo nutricional
para tilápias nestes sistemas de cultivo.
• Estabilidade na superfície da água (flutuabilidade) - rações
em pó que permanecem mais tempo na superfície d´água apresentam menores perdas de nutrientes, ficam mais tempo à disposição
dos peixes e possibilitam uma melhor visualização do consumo
e ajuste da oferta de ração. A flutuabilidade das rações em pó
depende basicamente do tipo de ingrediente usado na fórmula e
do grau de moagem da ração. Também o produtor irá notar que
uma ração que flutua bem antes de ser impregnada com o álcool,
pode não flutuar tão bem após a evaporação do álcool.
• Uso da extrusão no processo de fabricação - submeter a mistura
ao processo de extrusão e a uma nova moagem aumentam os custos de
fabricação. No entanto, melhora o valor nutricional da ração (devido
ao aumento na disponibilidade e digestibilidade dos nutrientes de
Recomendações complementares: A indicação apresentada nesta tabela sobre a quantidade de ração a ser
fornecida diariamente deve ser usada como uma referência. O consumo real dos peixes pode ser afetado pela
temperatura da água, por infestações parasitárias, pela qualidade da água nas unidades de cultivo, entre outros
fatores. Assim, o tratador deve ficar atento ao consumo dos peixes e ajustar a quantidade de ração com base na
resposta alimentar (presença de sobras ou velocidade de consumo). Use a regra dos 15 minutos na Fase 2 e Fase
3. Na Fase 1 procure alimentar próximo a saciedade em cada refeição.
Na Fase 1a do berçário geralmente são estocados alevinos pós-reversão entre 0,3 e 1,0g. A alimentação deve ser
feita com ração farelada com 40%PB. Quando os peixes
atingem cerca de 5g de peso médio (10 a 20 dias mais ou
menos, dependendo do tamanho inicial e da temperatura
da água), deve ser feita uma classificação para descarte dos
peixes do fundo do lote. Os peixes com peso entre 3 e 8g
(média de 5g) vão para a Fase 1b do berçário. Na primeira
semana da Fase 1b ainda deve ser fornecida a ração em
pó 40%PB, porém deve ser iniciada a oferta de peletes de
2mm de 35-36%PB. Como os peixes maiores e vorazes
geralmente são os que se alimentam primeiro, procure
fornecer primeiro os peletes de 2mm na quantidade que
os peixes forem capazes de consumir (visualizar a sobra
de ração nos anéis de alimentação). Em seguida, deve ser
ofertada a ração farelada, para que os menores peixes do
lote ainda possam se alimentar adequadamente e também
crescer. Após esta primeira semana, a alimentação deve
seguir exclusivamente com peletes de 2mm. No final desta
fase (peixes próximos a 30g) é possível iniciar o fornecimento de peletes de 3-4mm com 32%PB. Durante as fases
de berçário, em cada refeição o produtor deve alimentar os
peixes próximo à saciedade. No entanto, não deve haver
muito desperdício (sobras) de ração.
alguns ingredientes), confere maior homogeneidade na composição
das partículas da ração (o que reduz a seletividade alimentar pelas
pós-larvas), minimiza as perdas de nutrientes por dissolução na água
e reduz a carga microbiológica da ração (pois alguns ingredientes, em
particular os de origem animal, podem apresentar elevada contagem
de bactérias nocivas ao desempenho e saúde dos peixes).
Estratégia de alimentação
• Quantidade de ração ofertada diariamente - Semana 1 – 25-30%
do PV (peso vivo)/dia; Semana 2 – 20-25%; Semana 3 – 15-20%; e
Semana 4 – 10-15% do PV/dia. Estas quantidades devem ser divididas
em 5 a 6 refeições/dia. Não se prenda tanto ao percentual do peso vivo,
pois o consumo de ração é regulado por diversos fatores, entre eles a
Alevinos de Tilápia
Tabela 6 - Recomendações quanto ao manejo nutricional e alimentar da
tilápia em tanques-rede, sistemas de alto fluxo ou de recirculação
Alimentação de tilápias em tanques-rede no
reservatório de Xingó - Rio São Francisco
Na Fase 2 - recria os peixes passam a ser alimentados
com ração contendo 32% de proteína e peletes de 3-4mm,
em quantidades entre 5 e 3% do peso vivo/dia, dividida
em 3 ou 2 refeições. A quantidade de ração fornecida
deve ser reajustada de acordo com a resposta alimentar.
Use a regra dos 15 minutos.
Na Fase 3 – terminação os peixes são alimentados com
peletes de 3-4mm contendo 32% de proteína, em quantidade
entre 3 e 2% do peso vivo ao dia. Não é necessário mais do
que duas refeições ao dia. O tamanho dos peletes deve ser
aumentado de acordo com o tamanho dos peixes. Quando os
peixes atingem cerca de 300 a 400g, podem ser usados peletes
de 5-6m, mantendo assim até um peso de 600g. Para tilápias
acima de 800g podem ser fornecidos peletes de 8mm. Use a
regra dos 15 minutos para ajuste da oferta de ração. Quando os
peixes atingem cerca de 300 a 400g muitos produtores optam
pelo uso de ração com 28% de proteína, acreditando que com
isso haverá uma redução no custo de produção. Geralmente a
diferença de preço entre uma ração com 28%PB e outra com
32%PB não é muito grande (cerca de 10%) e não compensa a
redução no ganho de peso, o aumento na conversão alimentar
e o maior tempo necessário para terminação da tilápia. Além
disso, rações com baixa proteína geralmente promovem
maior deposição de gordura visceral.
temperatura da água, o oxigênio, as infestações por parasitos, a
composição e palatabilidade da ração, entre outros tantos, tornando difícil precisar exatamente o que será consumido. Portanto,
tome como base a resposta dos peixes. Daí a importância de usar
uma ração de boa flutuabilidade na água, que permita visualizar
as sobras e, assim o ajuste na quantidade ofertada.
• Como fornecer: a quantidade diária acima sugerida deve ser
dividida em 5 ou 6 refeições/dia. Em uma refeição, evite jogar
toda a ração de uma vez só nos hapas ou tanques. Divida em pelo
menos 3 parcelas, de forma que as pós-larvas tenham tempo de
consumir as partículas antes que estas atinjam o fundo dos hapas
e tanques. Anéis de alimentação ajudam a visualizar o consumo e
não deixam que a ração escape através da malha dos hapas.
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
21
Alimentação de Tilápia
Taques-rede com anéis de alimentação
Cultivo tanques de terra
No cultivo de tilápias em tanques de terra a estratégia nutricional e
alimentar para cada fase de cultivo deve
ser ajustada em função do estoque de
peixes no tanque (biomassa) e da disponibilidade de plâncton (notadamente
o fitoplâncton). O produtor de tilápia
deve ter em mente que o plâncton
chega a contribuir com 50 a 70% do
crescimento das tilápias em tanques
com água verde e baixa renovação
de água. Mesmo em tanques com alta
densidade de tilápias, porém com água
verde, esta contribuição ainda pode
chegar a cerca de 30%. O plâncton
contribui para o balanceamento da dieta
das tilápias, fornecendo aminoácidos
essenciais, ácidos graxos, minerais e
vitaminas que podem estar ausentes ou
em quantidades limitantes nas rações.
Por isso, dificilmente são observados
sinais de deficiências nutricionais em
tilápias cultivadas em tanques de terra
com águas verdes. Portanto, promover
a formação do plâncton (deixar a água
verde) é o primeiro dever de casa para
quem cria tilápia em tanques de terra.
As próprias tilápias contribuem para
isso, realizando uma forte predação
sobre os organismos do zooplâncton,
que são importantes consumidores de algas. Controlando o zooplâncton, a população de algas do fitoplâncton tende a aumen-
tar. Tilápias também exploram intensivamente algas de maior
porte que compõem o fitoplâncton, favorecendo a proliferação
de algas de menor tamanho (conhecidas como nanoplâncton),
que são ainda mais eficientes em termos de produção de massa
planctônica. As algas do nanoplâncton também são aproveitadas
pela tilápia, graças a sua habilidade em secretar, na faringe,
um muco que auxilia na aglutinação destas minúsculas algas,
concentrando-as para o consumo. Esta reciclagem de nutrientes
do alimento natural e a constante oferta de ração aportam diariamente nutrientes importantes para a manutenção do plâncton.
Mesmo com esta facilidade, muitos produtores têm falhado na formação e manutenção do plâncton. Diversos erros de
manejo contribuem com isso. O mais comum deles é o excesso
de renovação de água nos tanques. Isso se deve ao equivocado
conceito de muitos produtores e técnicos de que, se não tiver
água renovando constantemente, faltará oxigênio aos peixes.
Assim, com o excesso de renovação de água, há uma diluição
dos nutrientes e o plâncton não se desenvolve. Quando os peixes são alimentados com ração, os nutrientes excretados nas
fezes e através das brânquias são suficientes para manter uma
adequada biomassa de plâncton (se não houver uma renovação
excessiva de água). Troca de água na recria e engorda de tilápias
em tanques de terra somente faz sentido quando se atinge uma
determinada biomassa de peixes (a partir
de mais ou menos 600g/m2 ou 6.000
kg/ha). Ou melhor, quando se atinge uma
determinada taxa de alimentação (acima
de 80kg/ha/dia). O disco de Secchi é uma
ferramenta útil para determinar quando
a água deve ser renovada. A transparência da água em tanques de tilápia deve
ser mantida entre 20 e 30cm. Quando
a transparência cai abaixo de 20cm, é
o momento de começar a renovar um
pouco de água. Quando a transparência retorna a valores entre 20 e 30cm
a troca de água deve ser interrompida.
Além da excessiva troca de água, outras condições impedem a formação de
adequado plâncton: a baixa alcalinidade
da água (corrigida através da calagem);
a presença de argila em suspensão na
água (devido a enxurradas, aeração mal
aplicada, dentre outros fatores) e a estocagem inicial de uma biomassa pequena
de peixes. Esta última condição é algo
muito comum quando os produtores
não adotam o sistema de produção por
fases. Por exemplo, quando se estoca 2
a 3 alevinos de tilápia de 1g nos tanques
de terra, a biomassa que na estocagem
é de apenas 2 a 3g por m2, permanece
baixa durante um longo período. Assim,
a quantidade de ração aplicada no tanque é muito pequena, não
fornecendo nutrientes suficientes para manter uma adequada
"Estamos em 2007
e muitos produtores
estocam pequenos
alevinos e esperam
meses para colher os
peixes de tamanho de
mercado, sem nenhum
manejo intermediário.
O conhecimento de
noções básicas de
qualidade de água e
de planejamento da
produção fariam uma
grande diferença nestas
pisciculturas"
22
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
Alimentação de Tilápia
massa de plâncton. Além do atraso no crescimento, tal prática
implica em ineficiente uso do espaço na piscicultura.
Muitos produtores ainda conduzem seus cultivos em
uma única fase (estocam pequenos alevinos e esperam meses
para colher os peixes de tamanho de mercado, sem nenhum
manejo intermediário). O conhecimento de noções básicas de
qualidade de água e de planejamento da produção faria uma
grande diferença nestas pisciculturas.
Diferente do cultivo em tanques-rede, onde as condições
de qualidade de água se mantêm relativamente constantes, nos
tanques de terra, além das diferentes condições de disponibilidade de alimento natural e das diferentes taxas de estocagem (e
biomassa) de peixes, ainda ocorrem variações diárias em importantes parâmetros de qualidade da água (oxigênio dissolvido,
temperatura, gás carbônico, pH e amônia tóxica), que interferem no consumo de alimento dos peixes. Isso faz do manejo
alimentar das tilápias em tanques de terra uma arte. Uma arte
que precisa ser assimilada e aprimorada dia a dia.
Para auxiliar nesta arte, deixo aqui uma referência:
fiquem atentos à coloração das fezes da tilápia. Este é o mais
eficiente indicador para a adequação do manejo alimentar em
tanques com plâncton. O produtor atento irá notar na superfície
da água a presença das fezes. Fezes de coloração marrom-esverdeada indicam que o peixe está explorando o alimento natural
em conjunto com a ração fornecida. Se as fezes são de cor verde
intenso, é possível que a quantidade de ração fornecida
esteja abaixo do adequado. Já quando as fezes se apresentam com coloração bege-marrom, muito pouco tom
de verde, seguramente a oferta de ração está excessiva
(ou pode não haver plâncton na água, no caso de águas
transparentes ou barrentas).
Peixes que recebem muita ração ficam preguiçosos em explorar o alimento natural (fitoplâncton). Na
tabela 7 são apresentadas as estratégias de alimentação
que tenho indicado para a recria e terminação de tilápias
em tanques de terra com plâncton. Essa estratégia está
adaptada às rações comerciais disponíveis no mercado
(tamanho de peletes e níveis de proteína).
No cultivo de tilápias em tanques de terra com
plâncton, conforme a biomassa de peixes aumenta em
cada fase do cultivo, a disponibilidade de alimento natural por peixe (ou por quilo de peixe) diminui. Assim,
o lógico seria iniciar uma fase com uma ração menos
concentrada em nutrientes e finalizar cada fase com uma
ração mais concentrada em nutrientes. Por exemplo, no
berçário se a água estiver bem verde, no início poderia
ser usada uma ração farelada com 30-32% de proteína,
passando gradualmente para uma ração mais rica em
proteína e na forma de peletes 2mm (32-36% de proteína)
quando os peixes se aproximam de 5g. No entanto, geral-
Tabela 7 - Recomendações para o manejo alimentar de tilápias em tanques com água verde (plâncton)
Recomendações complementares: Promova rapidamente a formação do plâncton (mantenha a água fechada; calagem quando necessário;
adubação inicial 5kg uréia/1.000m2 nas primeiras 2 a 3 semanas. Também pode ser feito o uso de farelos e estercos de aves e suínos em conjunto
com a uréia nas primeiras semanas, não ultrapassando uma taxa de aplicação de 5kg de matéria seca por 1.000m2/dia).
Mantenha a água verde com transparência entre 20 e 30cm (se estiver fazendo adubação, pare de adubar quando a transparência chegar aos
30cm). Renove um pouco de água se a transparência cair abaixo de 20cm.
Na recria e engorda, enquanto a biomassa for menor que 200g/m2 (2.000kg/ha) forneça ração apenas uma vez ao dia em quantidade equivalente
à metade da taxa de alimentação indicada nesta tabela. Quando a biomassa superar 200g/m2, alimente como indicado na tabela. Fique atento
à coloração das fezes dos peixes e ajuste a taxa de alimentação com base nesse indicativo. Fezes marrons: reduza a oferta de ração; fezes
verdes: aumente a oferta de ração; fezes marrom-esverdeadas: mantenha a alimentação como está.
Lembre-se que, com o aumento na biomassa de peixes do início ao final de cada fase de cultivo, a disponibilidade de alimento natural por
quilo de peixe diminui. Assim, não reduza a qualidade da ração no final de cada fase de cultivo, pois os peixes precisam de um alimento ainda
melhor nestes momentos.
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
23
Alimentação de Tilápia
mente o produtor não encontra uma ração em pó com 30-32%
de proteína. Duas alternativas ao produtor: moer peletes com
30 a 32% de proteína ou fornecer uma ração em pó com 40%
de proteína de forma limitada (alimentação restrita).
Outra consideração importante no cultivo de tilápia em
tanques com plâncton: na fase de terminação, principalmente
da metade para o final da fase, o consumo de ração fica muito
alto e há uma tendência dos produtores em comprar rações
mais baratas, geralmente com baixo teor protéico (menos de
28%), acreditando que isso reduzirá o custo de produção. Neste
momento a biomassa de peixes está alta e a disponibilidade de
alimento natural diminui. Usar uma ração de baixa proteína,
principalmente em situações em que se espera produzir mais
do que 15-20 toneladas de tilápia por hectare, pode ser um tiro
pela culatra. Principalmente se a ração for desbalanceada em
aminoácidos essenciais e tiver baixo enriquecimento mineral e
vitamínico (o que, geralmente, é uma regra nas rações de baixa
proteína e de preços extremamente atrativos disponíveis no
mercado). Mesmo o uso de uma boa ração com 28% de proteína
nesta fase final pode não trazer vantagens em termos de redução do custo de produção (exceto quando a biomassa final não
ultrapassa 800g/m2 ou 8 toneladas/ha e há plâncton disponível).
A economia no preço da ração é da ordem de 10%. No entanto
é comum a conversão alimentar se elevar em mais de 15 a 20%
quando se troca uma ração de 32% por uma de 28% de proteína.
Assim, economiza 10% no preço de compra. No entanto, usa-se
15 a 20% mais ração por quilo de peixe produzido. Além disso, o
crescimento um pouco mais lento do peixe com a ração de 28%
de proteína requer um tempo adicional de cultivo de cerca de 30
(para tilápias até 600g) a 60 dias (no caso de tilápias de 1kg). O
produtor deve lembrar que tempo é dinheiro e esta extensão da
24
Panorama da AQÜICULTURA, novembro/dezembro, 2006
engorda onera o custo de produção.
No cultivo de tilápia, todo dia é dia de aprendizado e revisão
de conceitos e procedimentos. É natural que a tecnologia de cultivo,
assunto do interesse de muitos pesquisadores e produtores em todo
o mundo, passe por aprimoramentos e ajustes finos diariamente. E
nem sempre estes novos avanços estão disponíveis de forma pronta
e mastigada ao setor produtivo. Assim, os produtores e técnicos devem estar sempre abertos para rever seus conceitos e estratégias de
produção, bem como estabelecer uma rotina ou hábito diário de busca
de informações que lhe permitam expandir seus conhecimentos. Seja
via internet, livros, revistas, seminários, cursos, entre outros.
A experimentação cuidadosa na propriedade também possibilita grande aprendizado e identificação de correções no manejo
da produção. Não devemos, também, nos esquecer que muito pode
ser aprendido com os seus funcionários e os funcionários dos seus
vizinhos e amigos tilapicultores, que estão dia a dia envolvidos diretamente com a produção e enfrentando problemas muito parecidos
com os seus. Ouvir a experiência destas pessoas pode ser um hábito
muito prazeroso e de integração de sua equipe de funcionários com
a equipe de outras pisciculturas e até com você mesmo. Ainda mais
quando estas reuniões informais são acompanhadas de um saboroso
filé de tilápia e uma cerveja bem gelada.
Nunca se esqueçam de valorizar o material humano que
têm em suas mãos. Lembrem-se de que pela mão dos seus tratadores, passa, na forma de ração, pelo menos 50% do seu capital
de giro. Assim, estimule-os a serem os melhores possíveis.
Premiem quem merece. Finalmente, deixo aqui meus votos de
que 2007 seja um ano de mudanças de atitude, de busca incessante por mais aprendizado e de resultados cada vez melhores
nos cultivos. Esta somatória de evolução e sucesso contribuirá
com a expansão da tilapicultura em nosso país.
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
1
Estimulada pela crescente expansão do consumo
em mercados nacionais e internacionais, a aqüicultura
mundial de tilápias experimentou grande intensificação a
partir da década de 90. As estratégias de cultivo seguiram
em direção ao aumento nas densidades de estocagem
e a uma dependência cada vez maior das rações formuladas, reduzindo a contribuição dos alimentos naturais
antes abundantes nos cultivos. Em diversos países proliferaram sistemas intensivos de cultivo com recirculação de água,
cultivos em tanques de alto fluxo e também em tanques-rede
com alta densidade. No Brasil, em particular, a grande expansão
da produção de tilápias deve ser atribuída ao aproveitamento dos grandes
reservatórios para o cultivo em tanques-rede de pequeno volume e alta densidade, além da
intensificação dos cultivos em tanques de terra.
Antes desta intensificação as tilápias eram consideradas peixes de superior rusticidade e resistentes às doenças, comparadas às demais espécies cultivadas. No entanto, o cenário que se presencia hoje nos cultivos intensivos
de tilápia tem sido marcado por episódios de massiva mortalidade devido à desatenção e inabilidade no manejo e/
ou por infecções causadas por uma grande gama de patógenos.
Tilápias na mira dos patógenos
Por:
Fernando Kubitza, Ph. D.
Acqua & Imagem Serviços Ltda.
[email protected]
Da euforia ao desastre
A
rápida expansão no cultivo intensivo de tilápias no Brasil,
particularmente com tanques-rede nos grandes reservatórios do país, está associada à instalação de um grande número
de empreendimentos de pequeno porte, alguns de gerenciamento
individual, outros conduzidos por associações de pescadores ou
de pequenos produtores rurais. Geralmente, no início da operação
destes empreendimentos tudo é uma festa. Porém, muitos destes
empreendimentos negligenciam as boas práticas para um eficaz
manejo sanitário preventivo. Adquirem alevinos e juvenis infestados por parasitos e não dão a devida importância a uma nutrição
adequada, achando que todas as rações são a mesma coisa, e o
que vale é o preço. Não contam com supervisão experiente, nem
equipamentos adequados para as atividades de rotina. Assim,
produtores iniciantes geralmente derrapam no manejo básico das
classificações e transferências de peixes, experimentando alta
mortalidade logo após as primeiras operações de manejo. Produtores iniciantes e sem orientação técnica segura, tendem a pecar
pelo excesso de alimento fornecido aos peixes, o que geralmente
compromete a conversão alimentar e a resistência dos peixes a
algumas doenças. Ansiosos em retornar o capital investido aos
caixas do empreendimento, se lançam sem conhecimento em
irresponsáveis transportes de longa distância, sem um preparo
correto dos peixes e sem dispor de equipamentos adequados.
28
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
Portanto, a inexperiência dos produtores debutantes, o
desconhecimento das boas práticas de manejo e dos fundamentos
técnicos da atividade, bem como o inadequado preparo técnico
dos profissionais que prestarão suporte a estes empreendimentos,
são fatores que contribuem com as grandes perdas de peixes e
prejuízos durante as primeiras incursões na criação. E isso pode
contribuir de forma significativa com a instalação e proliferação
de perigosos agentes patogênicos nas áreas de cultivo.
Foto 1 – Mortalidade de juvenis de tilápias em
tanque-rede (Foto: Fernando Kubitza)
QUADRO 2 – Sinais clínicos de bacterioses nos peixes
Doenças bacterianas de potencial risco
Diversas bacterioses em tilápia que, há alguns anos eram
de pouca expressão ou mesmo sequer haviam sido diagnosticadas
no Brasil, hoje impõem consideráveis prejuízos econômicos ao
setor (Quadro 1 e Quadro 2). A globalização da tilapicultura, com
a transferência de pós-larvas, alevinos e matrizes entre diversos
países, tem favorecido a rápida disseminação de agentes patogênicos junto aos principais centros de cultivo.
Quadro 1 – Principais bactérias
patogênicas na tilapicultura
Tilápia
• Perda do apetite e letargia;
• Ocorrência de mortalidade crônica (todos os dias aparecem peixes mortos nos tanques);
• Natação errática e com movimentos espiralados;
• Hemorragia nas nadadeiras e no corpo;
• Hemorragia nos olhos e no ânus;
• Podridão (necrose) das nadadeiras;
• Lesões na pele (manchas brancas, lesões com aspecto inflamado ou ainda lesões na forma de úlceras
ou furúnculos);
• Abdômen distendido (ascite) geralmente devido ao acúmulo de fluído na cavidade abdominal;
• Escamas eriçadas, em função da excessiva distensão do abdômen;
• Hemorragia nas vísceras e nos órgãos internos;
• Baço aumentado e de coloração escura;
• Nódulos brancos no baço, rins e fígado;
• Intestino com fluído sanguinolento.
Em 2001 foi publicado na revista Panorama da AQÜICULTURA (Vol. 11, no 66) um dos primeiros relatos alertando
para a ocorrência de infecções por Streptococcus em exemplares de tilápias provenientes de cultivos em tanques-rede e de
pesque-pagues da Região Sudeste (Foto 2). Na ocasião, alguns
patologistas e técnicos duvidaram da existência deste patógeno
nos plantéis de tilápia em nosso país. Hoje, reconhecidamente, a
septicemia causada por bactérias do gênero Streptococcus é tida
como uma das mais graves patologias nas criações intensivas
de tilápia no Brasil (como também é em outros países) e o seu
potencial patogênico por diversas vezes mereceu destaque nas
páginas desta revista (Panorama da AQÜICULTURA: Vol.
11, no 66; Vol. 15, no 89; Vol. 17, no 103 e Vol. 17, no 104) e em
palestras apresentadas em diversos eventos do setor.
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
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Foto 2 – Tilápia com infecção por Streptococcus apresentando natação errática
e espiralada, corpo curvado em forma de “S” e coloração escurecida (Foto:
Fernando Kubitza)
Tilápia
As septicemias causadas pelas bactérias do gênero Aeromonas, Edwardsiella (especialmente a espécie
Edwardsiella tarda - Foto 4) e Vibrio também são bastante
freqüentes nos cultivos de tilápia, geralmente acometendo
peixes com a resistência comprometida após estresses
associados ao manejo ou a problemas de qualidade de
água (Quadro 3).
Quadro 3 - Fatores que favorecem a ocorrência de
doenças bacterianas nos peixes
• Deterioração da qualidade da água;
• Nutrição deficiente (deficiências nutricionais);
• Excessiva alimentação dos peixes;
• Temperatura da água muito elevada;
• Estresse físico e fisiológico no manuseio e
transporte;
• Excessiva estocagem nos tanques de cultivo;
• Infestações por parasitos potenciais vetores
de doenças.
Mortalidade massiva de alevinos e juvenis devido
à infecção por Flavobacterium columnaris (Panorama da
AQÜICULTURA: Vol. 17, no 101) sempre foram comuns no
cultivo de tilápias e outras espécies, particularmente após o
manejo relacionado às despescas, classificações (Foto 3) e
transporte. No entanto, no cultivo de tilápias em tanques-rede
esta bactéria ganha importância econômica ainda maior quando
acomete peixes de maior porte. Em virtude da particularidade de
alguns mercados como, por exemplo, o mercado de peixes vivos
para consumo ou pesca esportiva, tem havido a necessidade de
realizar a seleção (classificação) dos lotes prontos para despesca,
de forma a assegurar a venda de peixes com peso acima do mínimo determinado pelos compradores. Este manuseio com peixes
de grande porte muitas vezes é bastante traumático, resultando
em perdas de escama, lesões no corpo e supressão da resposta
imunológica dos peixes, favorecendo a Columnariose tanto
nos peixes que foram vendidos como os que acabam ficando
na piscicultura para completar o crescimento.
Foto 4 – Tilápia com septicemia provocada por
Edwardsiella tarda (Foto: Fábio Mori)
Foto 3 – Manejo de classificação dos peixes em empreendimento
de tanques-rede (Foto: Daniel Umezu)
Recentemente uma bactéria do gênero Francisella sp.,
extremamente virulenta para diversas espécies de peixes marinhos e de água doce, foi associada a massivas mortalidades de
tilápia em cultivos comerciais em Taiwan, Havaí e Costa Rica
(Hsieh et al 2006; Mauel et al 2007; Soto et al 2007). As baixas
nos estoques de peixes nos tanques devido a esta bacteriose
foram entre 5 e 80%, com média de 50%. Em 2005, esta bacteriose, a princípio confundida com a doença causada por bactérias
do gênero Pisciriketsia (comum causadora de septicemias em
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
31
Doenças virais em tilápias
Apesar de ainda serem escassos
os registros de viroses em tilápias,
diversas espécies de peixes são acometidas por doenças virais, algumas delas
extremamente severas e de notificação
obrigatória em diversos países, levando
à eliminação completa do estoque de
peixes suspeito de ser portador da virose, bem como de estoques de matrizes
potencialmente infectados.
Em 1994, Avtalion & Shlapobersky observaram perda de apetite, escurecimento do corpo e natação espiralada em
tilápias com menos de 30 dias de idade,
mantidas em laboratório. A mortalidade
tinha início por volta do 4o e 6o dia de
vida e um novo pico de mortalidade
ocorria próximo do 14o dia de vida. Estes
pesquisadores identificaram partículas
semelhantes a iridovírus em células isoladas do cérebro dos peixes. Em 1997,
Ariel e Owens, também observaram póslarvas de tilápia de Moçambique com os
mesmos sintomas de natação espiralada
e corpo escurecido. A morte das póslarvas ocorria cerca de 24 horas após o
aparecimento dos sintomas. Não foram
identificadas bactérias ou parasitos que
pudessem explicar esta mortalidade. Ao
"É bem provável
que episódios de
viroses estejam
ocorrendo em
cultivos de tilápia
no Brasil e no
mundo sem que
haja um real
diagnóstico do
problema devido
à carência de
profissionais
treinados e de
laboratórios
equipados para
o diagnóstico de
doenças virais
nos peixes."
fornecerem pós-larvas com sintomas
da virose como alimento a alevinos
de um peixe carnívoro (Lates calcarifer - barramundi), estes últimos
desenvolveram sinais clássicos de
virose causada por iridovírus. Póslarvas de tilápias aparentemente
sadias também se tornavam infectadas com o vírus, após comerem
pós-larvas sintomáticas, moribundas
ou mortas, que apresentavam os
sintomas da virose. Mortalidade de
até 100% era possível de ser observada. Em diversos empreendimentos de
produção de alevinos de tilápia no Brasil,
sinais clínicos semelhantes aos relatados
por estes pesquisadores podem ser observados nas pós-larvas durante a reversão
sexual. Em alguns casos que acompanhei,
não foi detectada a presença de parasitos
ou bactérias que pudessem explicar a
sintomatologia da doença. Tampouco
tratamento com produtos terapêuticos
na água ou a inclusão de antibióticos na
ração foi capaz de amenizar a mortalidade
de pós-larvas e alevinos.
Sinais clínicos de doenças virais em
peixes incluem hemorragia no corpo, anemia severa (brânquias ficam extremamente
pálidas, quase brancas), os peixes apresentam abdômen distendido devido a um
acúmulo de fluído na cavidade abdominal.
Alevinos e juvenis costumam arrastar longos cordões de fezes de coloração branca.
Outros sinais clínicos de viroses se assemelham aos sinais das septicemias bacterianas
(Quadro 2). Assim, muitos casos de viroses
acabam sendo equivocadamente diagnosticados como bacteriose, particularmente
quando alguma bactéria é isolada dos peixes
afetados. É bem provável que episódios de
viroses estejam ocorrendo em cultivos de
tilápia no Brasil e no mundo sem que haja
um real diagnóstico do problema devido
à carência de profissionais treinados e de
laboratórios equipados para o diagnóstico
de doenças virais nos peixes. Em casos de
mortalidade de peixes onde não é possível
isolar ou diagnosticar um agente patogênico
(parasitos ou bactérias), e/ou tampouco há
indicativos de problemas ambientais ou de
manejo, ou mesmo quando a terapia com
antibióticos ou a aplicação de produtos
terapêuticos na água não resolva o
problema, o produtor deve suspeitar da
ocorrência de virose e notificar algum
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
33
Tilápia
salmonídeos), dizimou os estoques de
tilápia de uma das principais empresas
produtoras e exportadoras de filés frescos
para os Estados Unidos, a Aqua Corporation, na Costa Rica. Os sinais clínicos
não específicos desta bacteriose incluem
perda do apetite, comportamento letárgico, natação errática e olhos saltados. Internamente foi observado um sinal mais
específico da doença, que é a presença de
um grande número de nódulos brancos
nas brânquias, no baço, no rim e nas
gônadas. Estes nódulos ocasionalmente
eram vistos no fígado e no coração. Até
30% dos filés dos peixes provenientes de
estoques afetados apresentavam lesões
granulomatosas de aspecto escurecido.
Produtores que observarem os sinais
clínicos típicos da infecção por esta
bactéria (granulomas viscerais) devem
comunicar o fato e enviar amostras de
peixes moribundos a laboratórios de
patologia de peixes para o diagnóstico
do agente patogênico.
laboratório de patologia que possa
assisti-lo no diagnóstico.
Diversas doenças bacterianas e virais na criação de salmões, trutas, “catfish”
americano e de diversas espécies de peixes
marinhos, entre outros, são hoje controladas
através da vacinação de alevinos e juvenis. A
relevância da tilápia na aqüicultura mundial
e a magnitude dos prejuízos causados pelas
infecções bacterianas têm estimulado o
investimento em pesquisas para o desenvolvimento e avaliação de vacinas para prevenir
as principais bacterioses que acometem este
peixe. Vacinas contra Estreptococcose, Columnariose, Vibriose e septicemias causadas
por bactérias do gênero Aeromonas e Edwardsiella têm sido experimentalmente avaliadas. Vacinas contra Streptococcus iniae e
Streptococcus agalactie (esta última espécie
já diagnosticada no Brasil) já são produzidas
comercialmente e utilizadas em diversos
países. No país apenas uma vacina contra
vibriose foi registrada para uso na aqüicultura. Em breve, novos produtos deverão estar
disponíveis, visto que as empresas/laboratórios que produzem vacinas para organismos
aquáticos estão de olho no grande mercado
representado pela tilapicultura no Brasil. O
Ministério da Agricultura (MAPA) deve
priorizar o atendimento às solicitações de
registros de vacinas para uso em aqüicultura.
Uma boa parte destas vacinas é preparada a
partir dos patógenos que comprovadamente
já estão presentes nos cultivos aquáticos no
Brasil. Portanto, o risco do uso destas vacinas
nas pisciculturas nacionais é praticamente
inexistente.Também há um grande espaço
para pesquisa e desenvolvimento nesta área
a partir de cepas de patógenos isolados em
nossos próprios cultivos. É preciso incentivar
parcerias entre as instituições de pesquisa na
área de ictiopatologia e as empresas públicas
que dispõem, em seu corpo de especialistas,
de profissionais altamente tarimbados no
desenvolvimento de vacinas para outras
espécies animais e mesmo para uso na medicina humana. As instituições de fomento
à pesquisa devem priorizar o financiamento
de iniciativas neste sentido.
O tratamento convencional das
bacterioses na tilapicultura, feito através
da administração de antibióticos incorporados às rações nem sempre é eficaz, por
"É preciso
incentivar
parcerias entre
as instituições de
pesquisa na área
de ictiopatologia
e as empresas
públicas que
dispõem, em
seu corpo de
especialistas,
de profissionais
altamente
tarimbados no
desenvolvimento
de vacinas para
outras espécies
animais e mesmo
para uso
na medicina
humana. "
Boas práticas de produção para a prevenção de doenças
Medicamentos e vacinas são ferramentas importantes na produção. No
entanto, nenhuma delas é capaz de reparar
os estragos causados pelo descaso no uso
de boas práticas de produção e de manejo
sanitário, que abrem as portas dos cultivos às doenças.Dentre as principais boas
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
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Tilápia
Vacinas
diversos motivos:
a) os animais doentes geralmente deixam de se alimentar. Assim os antibióticos acabam servindo
apenas para prevenir que outros
animais do plantel manifestem os
sinais da doença:
b) os produtores invariavelmente usam antibióticos sem ter a
certeza de que o produto realmente é
eficaz contra a bactéria combatida;
c) é muito difícil precisar a
quantidade correta do produto que
deve ser adicionada à ração, pois deve se
levar em conta uma estimativa do consumo dos peixes no lote a ser tratado e uma
possível perda do produto por dissolução
na água;
d) alguns peixes comem mais do
que outros e, portanto, a eficácia do tratamento pode não ser homogênea no lote.
Além disso, a administração de antibióticos via ração implica em custo adicional, nem sempre recuperado adequadamente
visto que o tratamento sempre é feito após
o início do curso de uma doença, quando
já ocorreu alguma ou muita mortalidade.
Portanto, a vacinação massiva de lotes de
alevinos como forma de prover imunidade
específica a estas doenças é de fundamental
importância para a sustentabilidade da indústria. Por se tratar de uma prática preventiva, a
vacinação pode colaborar significativamente
para que a aqüicultura não seja manchete nos
noticiários devido aos episódios constantes
de mortalidade nos cultivos mundo afora.
Com isso, além da melhor previsão dos
resultados da produção, da redução no uso
de medicamentos e da minimização dos
custos associados ao tratamento de doenças,
a aqüicultura se beneficiará imensamente
ao passar a ter uma percepção mais positiva
por parte do consumidor em relação ao desenvolvimento da atividade e à qualidade e
segurança dos seus produtos.
Tilápia
práticas de manejo sanitário em piscicultura, vale a pena ressaltar pontos
fundamentais que todo produtor e
técnico devem ter cristalizados em
seus conceitos de produção (ver
resumo no quadro 4).
Atenção à qualidade da
água - monitoramento contínuo e
manutenção de adequada qualidade
da água nos tanques de criação.
No caso da criação de tilápias em
tanques-rede nos grandes reservatórios, o produtor pouco (ou nada)
pode fazer no que tange à correção da
qualidade da água. Portanto, é fundamental a escolha dos locais adequados para
a instalação dos seus cultivos com base
em uma análise criteriosa dos possíveis
riscos associados ao local de implantação
do projeto e das séries históricas dos
parâmetros de qualidade de água dos reservatórios quando estas são disponíveis.
Em geral as análises dos parâmetros de
qualidade de água são freqüentemente
negligenciadas ou realizadas de maneira
muito pontual, desconsiderando alterações sazonais que costumam ocorrer em
alguns reservatórios.
Adequada nutrição e alimentação - ajustar os níveis nutricionais das
rações, o tamanho dos peletes e a oferta
diária conforme a fase de desenvolvimento e as condições do cultivo.
Evitar o uso de resíduos animais
na alimentação dos peixes - em épocas de altos preços das rações, muitos
produtores buscam alternativas caseiras
para baratear a alimentação dos peixes.
Muitos deles lançam mão de resíduos
animais (carcaças e vísceras de frango,
por exemplo) ou dos resíduos resultantes do processamento do peixe, muitas
vezes realizado na própria piscicultura.
Tal prática pode favorecer a ocorrência
de doenças bacterianas e virais.
Cuidados na introdução de
alevinos, juvenis e reprodutores - dar
preferência para a aquisição de alevinos
e matrizes junto a produtores que empregam boas práticas de manejo sanitário na
produção. Alguns parasitos comuns durante a reversão sexual de tilápias, como
a tricodina e os monogenóides podem
favorecer a infecção por bactérias. Em
trabalho de pesquisa recente, pesquisadores do USDA nos Estados Unidos (Xu
36
"Para baratear
a alimentação
dos peixes alguns
Panorama da AQÜICULTURA, maio/junho, 2008
piscicultores
lançam mão
de resíduos
animais, tais
como carcaças
e vísceras de
frango, ou
mesmo resíduos
resultantes do
processamento
do peixe, muitas
vezes realizado
na própria
piscicultura.
Tal prática
pode favorecer
a ocorrência
de doenças
bacterianas
e virais."
et al 2007) demonstraram que o monogenóide Gyrodactylus niloticus serve como
reservatório e vetor do Streptococcus e
que infestações por este parasito podem
agravar a severidade da mortalidade de
tilápias infectadas com esta bactéria.
Manter os novos estoques recebidos (alevinos e juvenis) em locais
isolados dos estoques já em produção
- no caso do cultivo em tanques-rede,
manter uma linha de tanques distante
das demais linhas, exclusivamente para o
recebimento de alevinos e juvenis.
Remoção imediata de peixes moribundos ou mortos, que servem como
potencial reservatório e propagadores dos
patógenos. Peixes mortos em decomposição liberam na água aminas biogênicas,
dentre muitas a histamina, que podem
provocar reações adversas (como o choque
anafilático) ou deprimir o sistema imunológico de peixes sadios no mesmo tanque
ou, no caso do cultivo em tanques-rede, de
peixes que estão em tanques posicionados
próximos aos tanques-rede onde estão se
acumulando os peixes mortos.
Isolamento das unidades de
produção onde os peixes apresentam
mortalidade crônica e sinais clínicos de
doenças infecciosas - no caso da criação
em tanques-rede, as unidades de cultivo
afetadas devem ser deslocadas para uma
linha isolada do bloco da produção.
Exames de rotina para detectar
problemas - mesmo em lotes de peixes
aparentemente sadios, periodicamente devem ser feitos raspados de brânquias e do
muco dos peixes, de modo a detectar uma
infestação parasitária ainda em seu início,
facilitando o controle. Peixes moribundos
devem ser sempre inspecionados para detecção de parasitos ou observações de sinais
clínicos externos e internos indicativos de
doenças. Peixes sadios também devem ser
rotineiramente inspecionados, verificando
a condição de integridade e coloração das
brânquias, a integridade do muco e a firmeza das escamas, bem como a condição dos
órgãos internos dos peixes, sempre atento a
sinais clínicos que possam indicar alguma
anormalidade.
Atenção constante ao comportamento dos peixes - em especial
durante as alimentações, observando a
resposta em termos de tempo de consumo da ração.
Quadro 4 - Fundamentos básicos do manejo sanitário preventivo
• Contínuo monitoramento e correção da qualidade da água;
• Assegurar uma correta nutrição através do uso de rações
de qualidade adequada às condições do cultivo;
• Prover adequado manejo alimentar, evitando alimentar os peixes de maneira excessiva;
• Manter adequadas condições de estocagem;
• Aquisição de alevinos com fornecedores idôneos e atentos ao manejo sanitário dos seus estoques;
• Atenta observação do comportamento dos peixes e
dos sinais indicativos de anormalidades e doenças;
• Exames rotineiros de peixes sadios e moribundos;
• Controle preventivo de infestações parasitárias e de
potenciais vetores de doenças;
• Rotina de remoção de peixes moribundos ou mortos;
• Adequado manejo de classificação e manuseio
dos peixes;
• Uso de técnicas eficazes e equipamentos adequados
no transporte de peixes vivos;
• Apoio de profissional especializado para o
estabelecimento de ações para o controle de doenças;
• Desinfecção de equipamentos sempre que necessário.
Do ponto de vista sanitário e, até mesmo, de
segurança alimentar, a sustentabilidade da tilapicultura
no Brasil depende de atitudes responsáveis por parte
dos produtores e profissionais envolvidos no setor, bem
como de ações melhores planejadas das instituições
que fomentam o desenvolvimento aqüícola no país (em
caráter estadual e federal). Um primeiro passo é padronizar os procedimentos sanitários nas pisciculturas através da elaboração e distribuição de um manual de boas
práticas para o manejo sanitário em pisciculturas em
tanques escavados e em tanques-rede, voltado à orientação de técnicos e produtores sobre os procedimentos
mais adequados para a prevenção e controle das principais enfermidades. Ainda há um tabu muito grande entre
profissionais de diversas classes sobre o quanto o produtor
deve saber sobre tratamento de doenças na piscicultura. Em
minha opinião ele deve saber o máximo possível sobre o
assunto, pois na hora do aperto geralmente o produtor não
encontra um especialista de plantão para socorrê-lo e acaba sendo dele próprio a decisão sobre o que fazer. Se não
tiver a mínima idéia, palpites de vizinhos e comerciantes
leigos acabam sendo a única alternativa que lhe resta. É
preciso, também, que o Ministério da Agricultura, através
de suas agências competentes, regulamente os produtos
seguros para a prevenção e controle de enfermidades em
animais aquáticos. Hoje, por exemplo, aplicar calcário
ou sal nos tanques de cultivo pode ser considerado um
procedimento ilícito, pois não há regulamentação sobre o
uso destes produtos para fins de aqüicultura no país. Nesta
regulamentação vale usar o bom senso. O melhor caminho
é simplificar esta tarefa, balizando-se pelas normatizações
existentes em países onde este assunto já está bem mais
evoluído e sacramentado. Não adianta querer inventar a
roda nesta questão. Melhor é empreender esforços para
um maior rigor no controle da compra e na fiscalização
do uso destes produtos.
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Tilápia
Evitar uso indiscriminado de terapêuticos e fazer o uso
de medicamentos apenas sob a orientação de um profissional experiente no tratamento de patologias em peixes.
Realizar a desinfecção de equipamentos que foram usados
em outras propriedades (redes, puçás, caixas de transporte, roupas,
calçados, bombas de água, entre outros).
No cultivo em tanques de terra, periodicamente os tanques
devem ser drenados deixando que o seu fundo seja exposto ao sol
forte por um ou mais dias. Tal prática também pode ser utilizada nos
cultivos em tanques-rede, entre uma despesca e outra, mantendo os
tanques suspensos, expondo a malha dos mesmos ao sol.

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