O Jogo do copo pela visão do Judaísmo
Transcrição
O Jogo do copo pela visão do Judaísmo
O Jogo do copo pela visão do Judaísmo Por Fernando Bisker, Miami Abaixo a transcrição de uma matéria assinada por Maria Luisa Barros, publicada esta semana no Jornal O Dia Online (25.9.2010) - Rio de Janeiro: " Novo jogo do compasso leva histeria a estudantes - Grupo de adolescentes entrou em transe após brincadeira em colégio da Baixada Rio - Adolescentes de escola particular em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, experimentaram fenômeno que chamou a atenção de cientistas, religiosos e familiares. Há uma semana, dez estudantes do Instituto Politécnico Millennium entraram em transe depois de participar de um jogo de perguntas e respostas, com um compasso, uma variante da antiga brincadeira do copo, que se move em direção às letras do alfabeto escritas numa folha de papel e que é febre no YouTube e no Orkut. O passatempo, em horário vago dentro de sala de aula, levou a histeria coletiva entre estudantes do Ensino Médio. Alguns foram parar no hospital. 'Eu comecei a me sentir mal, com falta de ar, vontade de vomitar e chorava muito. Sentia angústia tão grande, e meu coração ficou acelerado,' contou D., 16 anos, que desmaiou, com outra amiga. Os garotos choravam descontroladamente e se debatiam. 'Minha filha parecia que estava drogada quando chegou em casa. Fiquei assustada,' disse N., 48 anos, que prefere não se identificar." Quem de nós nunca se perguntou se místicos de segmentos diversos legitimariam o dito contato extrasensorial? E talvez a pergunta que nunca nos tenha ocorrido, e no entanto ao ser respondida acende uma luz em direção ao entendimento de nós mesmos: Como a explicação deste episódio se enquadraria na sabedoria judaica milenar? O livro "A Mística na Prática - Não brinque com o fogo" - que será lançado em breve em Português pelo rabino e autor Shimshon Bisker - assinala todas as fontes textuais para a interpretação de fenômenos como este. Abaixo alguns trechos extraídos do livro: “O jogo do copo” O sábio R. Yossef Chaim Zt'l (Cabalista consagrado que viveu em Bagdá no final do século XIX) - mais conhecido como Ben Ish Chai - explica em seu livro Yedei Chaim (pág.77) que, embora seja proibido segundo as leis da Torá, segundo as leis da metafísica seria possível comunicar-se com o espírito de uma pessoa que faleceu através de um objeto qualquer, com letras grafadas ao seu redor como veículo para a comunicação. Ele ensina, enfatizando que esta prática é proibida, que aquele que quiser fazer contato deve concentrar-se exclusivamente neste objeto e, ao sinal de instabilidade no objeto, poderá verificar a presença do espírito invocado. Logo, será possível fazer qualquer pergunta, e esta será respondida através das letras no seu entorno. O indivíduo conecta-se com o espírito invocado através da força de seu pensamento, canalizada para o objeto em questão, e a comunicação verbal entre eles se dá a partir de cada movimento deste objeto. Retrato do Ben Ish Chai Como esta prática funciona? Ao concentrar-se total e exclusivamente em apenas um objeto, desejando que ele seja o receptáculo de uma entidade incorpórea, cria-se uma força espiritual que transcende a própria fonte do pensamento. Esta força pode invocar o espírito com o qual se deseja comunicar, porém, uma vez que esta foge ao controle daquele que a gerou, pode também invocar qualquer espírito errante que encontre-se no plano dimensional mais inferior e ligado às esferas mais terrenas. O Ben Ish Chai, descreve, neste mesmo livro, outras variáveis e maneiras diversas de comunicação com espíritos inferiores, em que se permite até mesmo transportar-se para outras localidades, e obter informações que não estariam ao alcance de um indivíduo de forma natural. Ele pontua, citando o nome de seu contemporâneo, outro sábio cabalista da Bagdá do século XIX, Rav Yaakov Chaim SoferZt'l: 'Esta prática é expressamente proibida segundo as leis da Torá.' Descreve também que, além de transgedir as leis da Torá, esta prática normalmente causa um desgaste físico e espiritual muito grande àqueles que invocaram o espírito, variando de acordo com a resistência de cada um. O sábio também nos adverte de que as informações adquiridas desta forma nem sempre são claras e tampouco deve-se conferí-las tanta credibilidade, já que espíritos menos elevados podem relatar mentiras. Ele afirma ainda que, ao perguntar-se a qualquer espírito a respeito da chegada do Messias, nenhum deles terá permissão de responder. Na realidade seria possível auferir de textos ancestrais que os Hebreus já teriam acesso a este conhecimento há milhares de anos, através do Profeta Hoshéa (Oséias 4,12, Israel, Século 8 A.C.) - ele descreve a manipulação destas forças e enfatiza que não devemos fazê-lo, uma vez que o prejuízo espiritual seria muito grande. Existem maneiras para a utilização da força do pensamento através de certos objetos ou seres vivos como, por exemplo, na sabedoria contida no 'verdadeiro sorteio da areia,' prática efetuada por outros povos e também proibida, na época do PatriarcaAvraham (Abraão), explicada em detalhes também em seu livro pelo Ben Ish Chai. Este é provavelmente o princípio utilizado [canalizando para energias menos elevadas] em todos os métodos de especulação através de 'sorteios,' como por exemplo, os búzios, cartas, bolas de cristal e afins. De fato, assim escreveu o Rambam - o famoso médico, filósofo e sábio Maimônides (Leis de A”Z 11,6), do século XIII: ele enumerou os métodos para investigar o futuro , que foram proibidos pelas leis da Torá: '...alguém que conseguir esvaziar os seus pensamentos até um certo ponto, poderá revelar futuros acontecimentos, ou revelar o caminho a ser seguido, através de areia ou de pedras, ou mesmo através de imagens em metais ou em um vaso de vidro, usando a força da imaginação para revelar o futuro'." Para concluir, terminando as citações dos trechos do livro - este é um assunto já tão popular, e muitos de nós já tivemos curiosidade em saber mais a respeito, e muitos até mesmo já participaram de alguns destes rituais. Conforme o próprio título do livro citado, a mística é um assunto completamente inerente à nossa Torá, e no entanto para envolver-se com o lado místico e poder manipulá-lo deve-se ter preparo, estudo e um certo nível de conhecimento, pois as consequências podem ser muito perigosas. O mundo espiritual existe e é parte integral do judaísmo, porém usando de critérios, de regras e limites. Deve-se estar consciente do que pode ser feito, e também de que práticas devemos manter-nos o mais afastado possível, como no caso, do jogo do copo. E, como diz o livro, amigos, "não brinquem com fogo"! ([email protected])
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