Volume 4

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Volume 4
As histórias e os personagens do mundo das instalações elétricas
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Volume 4
Apoio
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carta ao leitor
Hilton Moreno, engenheiro eletricista, consultor
e presidente da Associação Nacional de
Fabricantes de Produtos Elétricos - Nema Brasil
Caro amigo(a) do setor de instalações elétricas,
Nesta última edição da “Coleção Elétrica”, desejo agradecer a todos os amigos que
prestigiaram o projeto por meio da leitura atenta e das mensagens de incentivo.
Na primeira carta ao leitor, enunciei o objetivo da “Coleção Elétrica”, a saber:
“disponibilizar para os profissionais brasileiros um conjunto de informações históricas,
técnicas, normativas, de exercício profissional, educacionais, biográficas, etc., focados
no setor de instalações elétricas”. Entregues as quatro edições, tenho a certeza de que
nos esforçamos ao máximo para cumprir com o prometido.
Homenageamos personalidades marcantes do setor, começando pelo Professor
Ademaro Cotrim, passando pelo professor Eurico Freitas Marques e pelo Engenheiro
Armando Reis Miranda. E, nesta última edição, brindamos os leitores com a biografia
do saudoso engenheiro Moshé Gruberger, que tanto contribuiu para a evolução das
instalações elétricas no Brasil a partir de seu escritório localizado em Belo Horizonte.
Assim como no caso do engenheiro Miranda, Moshé não nasceu no Brasil, mas sua
família escolheu nosso País para viver e aqui deixou suas marcas de competência e
profissionalismo. Além das biografias, procuramos oferecer diversos temas específicos
do setor de instalações elétricos escritos de uma forma diferente do habitualmente
disponibilizado.
Para esta quarta e última edição da “Coleção Elétrica”, preparamos algumas
matérias que estão alinhadas com as metas deste projeto. Leia a curiosa passagem
sobre as discussões relativas ao uso das correntes alternada e contínua que incendiou
a rivalidade entre Thomas Edison e Nikola Tesla; aprenda um pouco mais sobre os
Dispositivos Protetores de Surtos (DPS), que a cada dia tornam-se mais populares e
necessários; não deixe de acompanhar a evolução das lâmpadas, desde sua invenção
até as tendências futuras; veja um interessante ponto de vista sobre o estado da arte
dos materiais elétricos disponíveis no mercado brasileiro; acompanhe o fechamento
da discussão sobre pirataria; e divirta-se com uma palavra cruzada totalmente
“eletrificada”.
Agradeço aos amigos da Atitude Editorial pela oportunidade oferecida de colaborar
neste projeto. Foi um trabalho de equipe fantástico, envolvente, emocionante, sempre
em busca da perfeição. Meus parabéns a todos da equipe pela altíssima competência,
envolvimento e paixão no trabalho que fazem. Foi uma honra fazer parte deste time.
Assim como eu apreciei muito este trabalho, espero sinceramente que você,
amigo(a) leitor(a), também desfrute deste último caderno da “Coleção Elétrica”, uma
obra que marcará o setor elétrico para sempre.
Boa leitura e abraços!
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Hilton Moreno
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dispositivo que ajuda a proteger as instalações e os aparelhos
ligados à eletricidade.
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Administração
Paulo Martins Oliveira Sobrinho
[email protected]
Jornalista responsável
Flávia Lima
MTB 40.703
[email protected]
Coordenador técnico
Hilton Moreno
Direção de arte e produção
Leonardo Piva
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Colaboradores
Bruno Moreira, Hanny Guimarães,
Mauro Júnior, Sergio Bogomoltz
Contatos Publicitários
Ana Maria Rancoleta
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Vanessa Marquiori
[email protected]
Cesar Dallava
[email protected]
Capa
Kanji Design
Impressão
Gráfica Ipsis
história
Da lâmpada incandescente ao moderno Led: a evolução de
uma brilhante idéia narrada com detalhes na reportagem de
Bruno Moreira.
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biografia
Homenageado desta edição, o engenheiro Moshé Gruberger
está reconhecido nas páginas e depoimentos que ilustram sua
força no setor elétrico.
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dentro da lei
Reduto de fábricas nacionais e estrangeiras, formais e informais,
a China é reconhecida por exportar produtos falsificados e de
Revisão
Gisele Folha Mós
Publicidade
Diretor comercial
Adolfo vaiser
[email protected]
Descargas atmosféricas podem interromper o fornecimento de
energia e trazer danos aos equipamentos elétricos. Conheça o
Gerência de planejamento
Sergio Bogomoltz
[email protected]
Circulação
Emerson Cardoso
[email protected]
Marina Marques
[email protected]
grandes questões
baixa qualidade, mas esforça-se para reverter a fama e tornarse provedora de qualidade e tecnologia de ponta.
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guerra das correntes
A histórica polêmica sobre o uso das correntes alternada e
contínua e a rivalidade entre seus criadores: Nikola Tesla e
Thomas Edison.
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desenvolvimento
Brasil trilha longo caminho em busca de crescimento no
mercado de materiais elétricos e de técnicas de instalação.
Distribuição
Correios
Com seriedade, muito já foi feito, mas veja nesta matéria os
desafios que faltam para o País se tornar referência no setor.
Atitude Editorial Ltda.
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Apoio
índice
expediente
Diretores
Adolfo Vaiser
José Guilherme Leibel Aranha
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descontração
Arrisque-se no jogo de palavras cruzadas e teste os seus
conhecimentos em elétrica.
Por Bruno Moreira
grandes questões
Salvem as máquinas!
O DPS é a maneira mais prática de lidar com uma sobretensão na
rede elétrica de uma edificação, evitando ou minimizando os danos aos
equipamentos elétricos e eletrônicos. E seu uso é praticamente obrigatório.
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Temporais costumam ser desoladores em muitos sentidos. Um deles refere-se aos efeitos que as descargas
atmosféricas, quase sempre presentes nos maus tempos, podem ocasionar. Trata-se de problemas na rede
elétrica que podem interromper o fornecimento de energia elétrica ou trazer danos aos equipamentos
elétricos ligados à rede.
Um raio é uma corrente elétrica muito intensa que ocorre na atmosfera com típica duração de meio
segundo e típica trajetória com comprimento de cinco a dez quilômetros. É conseqüência do rápido movimento
de elétrons de um lugar para outro, fazendo o ar ao seu redor aquecer e iluminar-se. Sua periculosidade é
sabida. Se uma pessoa for atingida diretamente por uma descarga elétrica desse porte, certamente, falecerá.
Por aí vê-se a importância do pára-raio, invenção de 1753 do norte-americano Benjamin Franklin. Contudo,
numa época de intenso desenvolvimento tecnológico, em que toda nossa vida é mediada por equipamentos
eletrônicos, outros tipos de proteções contra raios também se tornaram necessárias.
Segundo o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), Osmar Pinto Júnior, um raio pode produzir um campo eletromagnético que
O Brasil é o primeiro país em número
de incidência de raios, com mais de 50
milhões de descargas por ano, espalhadas
em praticamente todo o Brasil.
se propaga como uma descarga indireta de energia pelas redes de
distribuição elétrica, gerando um aumento momentâneo de tensão, ou
sobretensão transitória na alimentação de energia de uma determinada
instalação. Este fenômeno pode causar danos irreparáveis em aparelhos
eletroeletrônicos. Além dos raios, os chaveamentos manuais ou auto­
máticos que ocorrem nas redes de distribuição de energia elétrica
podem provocar sobretensões nos sistemas. Para que os transtornos
provocados por estas sobretensões não afetem as instalações elétricas,
seus componentes e os equipamentos eletroeletrônicos existentes é que
foi desenvolvido o Dispositivo de Proteção Contra Surtos (DPS).
O DPS atua quando há um pico de tensão na rede. Ele serve
para limitar as sobretensões e descarregar os surtos de corrente
originários de descargas atmosféricas ou chaveamentos nas redes
de energia. Segundo o engenheiro eletricista e diretor da Giullietto
Modena Engenharia, Jobson Modena, ele desvia a maior parte do
surto para a terra, deixando passar uma parcela suportável, que não
acarreta danos, para a instalação. “Proteção com 100% de eficácia
não existe”, diz.
Caso uma determinada instalação elétrica de baixa tensão não
possua o DPS, três tipos de danos podem ocorrer devido a uma
sobretensão na rede elétrica, de acordo com Modena: o primeiro, na
instalação elétrica, de uma forma geral; o segundo, no equipamento
eletrônico; e, no caso mais grave, no próprio operador, que é
atingido por uma descarga elétrica oriunda do equipamento.
Segundo Modena, todos eles podem ser evitados com o uso de DPS,
mas adiciona: “o dispositivo deve ser empregado em conjunto com
um sistema de aterramento e de uma instalação elétrica projetada e
construída de forma correta”.
Apoio
O que diz a normalização
Para que equipamentos eletroeletrônicos sejam protegidos e
vidas não sejam colocadas em risco, a norma NBR 5410 já traz como
praticamente obrigatório o uso de DPS nas edificações. Conforme
Modena, na revisão realizada em 1997, a norma já possuía uma certa
obrigatoriedade em relação ao uso do dispositivo de proteção, mas a
exigência em praticamente todas as situações tornou-se explícita na
versão de 2004.
De acordo com a norma, as edificações que devem utilizar de
maneira obrigatória um DPS são aquelas cuja região em que estão
localizadas se encontra sob muita incidência de descargas atmosféricas; o
que torna o uso necessário na maioria das residências, estabelecimentos
comerciais e industriais do Brasil, já que, segundo o engenheiro Osmar
Pinto Júnior, o País é o primeiro em número de incidência de raios, com
mais de 50 milhões de descargas por ano, espalhadas em praticamente
todo o Brasil, com menos incidência apenas na região Nordeste. “Mas
mesmo aí, há focos com mais descargas como os Estados do Maranhão
e do Piauí”, completa.
Não obstante a generalização das descargas atmosféricas pelo
País, a NBR 5410, baseda na norma internacional IEC, distingue
três classes de DPS: classe I, indicada para locais AQ3, que segundo
a norma brasileira, são os sujeitos a descargas diretas, e lidam com
energia de maior intensidade; classe II, indicada para locais AQ2,
sujeitos a surtos provenientes da linha externa de alimentação, e que
trabalha com energia de menor intensidade que a prevista na classe
I; e a classe III, indicada para locais que exigem uma proteção “fina”,
aplicáveis a equipamentos mais sensíveis, que lida com energia de
menor intensidade que a prevista na classe II.
O DPS desvia a maior parte do surto para a
terra, não acarretando danos para a instalação,
mas proteção 100% eficaz não existe.
Dessa forma, uma determinada edificação pode apresentar os três
tipos de dispositivos protetores instalados se atender os pré-requisitos
previstos na norma. Com o intuito de diminuir a tensão residual de
ponto para ponto, o DPS classe I deve ser instalado junto à entrada
principal da edificação, o mais próximo possível do Barramento de
Equipotencialização Principal (BEP). De acordo com o engenheiro
eletricista e diretor da MTM Eletroeletrônica, Manuel Martinez, essa
espécie de dispositivo é empregada em locais que possuem Sistema de
Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA) ou os tradicionais
pára-raios instalados.
Para Martinez, em edificações que não possuem SPDA instalado, o
dispositivo protetor classe II pode ser aplicado junto à entrada principal
no lugar do classe I. Caso contrário, sua localização mais normal é
nos quadros secundários de distribuição, formando um conjunto
com o DPS classe I instalado na entrada. O DPS classe III, informa
o diretor da MTM, é o protetor aplicado com o equipamento e deve
ser projetado conforme a suportabilidade elétrica do aparelho. São três
tipos de DPS para aplicações em redes de energia, além daqueles feitos
especificamente para os sinais emitidos aos aparelhos de informática e
telecomunicação.
Diferentes tecnologias
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Existem três tecnologias para fabricação de DPS: os que funcionam
à base de “gap” de ar, os que trabalham com “gap” de gás e os que
utilizam varistores. O primeiro, como o próprio nome diz, utiliza o ar
como dielétrico. Neste tipo de DPS, informa o engenheiro Martinez,
há dois eletrodos com um espaço vazio entre eles preenchido com ar.
“Quando a sobretensão atravessa este vão, o dispositivo atua ”, conta.
Conforme o diretor da MTM, todos os DPS da classe I são baseados
em “gap” de ar.
O problema, segundo ele, é que esses equipamentos a gap de ar não
tem a atmosfera controlada, ou seja, estão sujeitos à pressão atmosférica,
à umidade relativa do ar e à temperatura. Isso faz a tensão de disparo
do dispositivo não ser constante e a tensão de arco não ser controlada.
Em casos de redes industriais, que são, normalmente, alimentadas
por tensão de 380 V ou 440 V, e tem sua fase-neutro ou fase-terra
trabalhando com 220 V ou 254 V, os dispositivos classe I à base de ar,
por suportarem uma tensão menor que a exigida, acabam se tornando
condutores da corrente subseqüente da rede e isso acarreta na destruição
de seus eletrodos.
O DPS a “gap” de gás sana este problema, segundo Martinez.
Com atmosfera controlada, ele apresenta um tensão de arco superior
a 280 V e, por conseguinte, não permite que a corrente subseqüente
da rede elétrica seja transportada pelo DPS à terra. Isso, por sua vez,
mantém a integridade física do dispositivo por muito mais tempo.
Em relação aos dispositivos classe II e III, a tecnologia empregada é
a do varistor, que é basicamente, conforme explica Martinez, formado
por areia e por óxido metálico. “Há também alguns elementos de
terras raras, mas isso é um segredo de cada fabricante”, comenta. Este
composto apresenta características de limitador de tensão. O que no
DPS classe I é o gap de ar, nos DPS classe II e III, é o varistor. Ambos
funcionam como um elemento de fuga da corrente e o varistor é
também um grampeador de tensão.
A função do varistor é basicamente de deixar a corrente passar
quando a tensão em seus terminais ultrapassa a tensão limite. A
passagem da corrente é proporcional à tensão que o atinge e esta
passagem gradual é o que garante que a tensão de saída não aumentará.
O varistor é conectado a um dispositivo de segurança cuja função é
desativá-lo se ele tiver sua vida útil excedida, danificar-se ou for
submetido a tensões acima de sua capacidade.
O varistor começou a ser fabricado no final da década de 1950 e
seus primeiros modelos apresentavam apenas zinco em sua composição,
sendo, normalmente, compostos de óxido ou dióxido de zinco. Mais
tarde, no início dos anos 1960, foram adicionadas outras substâncias,
O DPS é fabricado a partir de três
tecnologias: à base de gap de ar, de
gap de gás ou com varistores.
como alumínio e bismuto e construídos sistemas binários.
Em 1971, surgiram os varistores cerâmicos multicomponentes
com propriedades mais avançadas que aquelas obtidas para sistemas
binários. Na atualidade, há uma grande variedade de elementos que
compõem o equipamento. O óxido de zinco ainda é o mais utilizado
como base, contudo, varistores de dióxido de estanho e de titânio
possuem um grande potencial tecnológico ainda pouco aproveitado.
Seja qual for a tecnologia utilizada pelo DPS, ele deve atender
às prescrições construtivas, de desempenho e ensaios da norma
IEC 61643-1, ainda sem sua corresponde norma ABNT.
Chaveamento
Os principais causadores de sobretensões são as descargas
atmosféricas, que incidem nas edificações ou em seus arredores, e as
manobras da rede elétrica – também chamadas de chaveamento –
realizadas pelas distribuidoras de energia quando detectam algum
problema no serviço. Em ambos os casos, não há como evitar a
sobretensão. Uma descarga elétrica é um fenômeno natural, portanto
incontrolável. E o desligamento da rede, por parte da distribuidora,
também, muitas vezes, é inevitável. Sem essas intervenções, os técnicos
de manutenção correriam grandes riscos.
Quanto ao chaveamento, há um grande problema envolvendo a
concessionária e seus clientes. Conforme relata Osmar Pinto Júnior, a
população está cada vez mais consciente sobre seus diretos enquanto
consumidores e sabe que, se o seu equipamento eletroeletrônico
queimar devido a uma sobretensão, ela tem que ter um ressarcimento,
afinal de contas, a energia elétrica é paga.
Para o engenheiro eletricista Jobson Modena, a situação não
é tão simples assim. Até 2004, a briga dos consumidores com as
concessionárias era maior. Atualmente, argumenta Modena, se a
concessionária realizar um chaveamento, causando uma sobretensão
e, por este motivo, danificando um equipamento elétrico de alguma
Apoio
residência, se esta edificação não apresentar uma instalação elétrica
projetada e construída de maneira correta, a concessionária se exime
de responsabilidade.
O gerente de engenharia da distribuição e automação da AES
Eletropaulo, Sergio Luiz Basso, informa que a Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel), por meio de resolução normativa, é que
determina o procedimento e as responsabilidades das partes em caso
de atribuição de culpa à concessionária por danos a equipamentos
elétricos de terceiros. Segundo ele, todas as distribuidoras de energia
elétrica seguem a resolução da agência, e indo ao encontro da opinião
de Modena, afirma que, necessariamente, para efeito de ressarcimento,
deve ficar absolutamente comprovado que a causa do defeito no
equipamento está diretamente associada a algum problema ocorrido
com a rede elétrica.
Pesa a favor da distribuidora ainda o fato de que, na maior parte
das vezes, de acordo com Basso, as sobretensões causadas por manobras
de rede não acarretam em perigo para os aparelhos elétricos. “Os níveis
de sobretensão para os sistemas de distribuição (até 69 kV) são muito
baixos”, diz. As próprias normas brasileiras estabelecem valores de
ensaios de sobretensão por surto de manobra para equipamentos de
classe de tensão igual ou acima de 230 kV. Segundo ele, abaixo disso
não existe obrigatoriedade e cuidados adicionais com os equipamentos
da rede.
Basso informa que as manobras que as distribuidoras realizam
para operar o seu sistema (até 69 kV) não causam o tipo de perturbação
que preocupa as normas técnicas. Isto acontece porque, para controlar
a sobretensão por impulso atmosférico, a concessionária instala
equipamentos denominados “pára-raios de distribuição”, cuja função
é manter os níveis de sobretensão da rede de distribuição dentro
dos valores especificados pela NBR 5410. “Como regra, na rede de
distribuição, fazendo-se este controle da sobretensão por impulso, já
temos o controle da sobretensão por manobra”, conclui.
Por Bruno Moreira
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história
Uma idéia brilhante!
Após diversas experiências, a lâmpada elétrica tomou forma graças à genialidade
de Thomas Edison. De lá para cá, com o progresso da humanidade, também
ela evoluiu e ganhou novos conceitos, tecnologias, tamanhos e formatos, mas o
propósito permaneceu o mesmo: o de iluminar caminhos.
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Uma idéia brilhante é, com freqüência, representada com uma lâmpada sobre a cabeça do gênio.
É como se o objeto iluminasse a mente da pessoa que até aquele momento se encontrava imersa
em sombras de ignorância. Contudo, não poderíamos ilustrar aquele dia de outubro de 1879, no
qual o jovem cientista norte-americano Thomas Alva Edison sentou-se à bancada de seu laboratório
para desenvolver o projeto mais audacioso de sua vida até então, com a imagem de uma lâmpada
pairando sobre sua cabeça, simplesmente porque a peça seria criada naquele instante.
Iluminado, talvez, pelo próprio lampião a gás, invenção do cientista, Edison pôs-se a realizar a
experiência que culminaria na execução da primeira lâmpada incandescente que se tem notícia.
A primeira experiência que conseguiu
produzir luz por meio da eletricidade
foi realizada pelo químico inglês
Humphry Davy em 1802.
Apesar do feito excepcional de Edison, não se deve pensar
que sua obra foi o desejo realizado por um gênio da lâmpada.
Desde o século XVIII, inúmeras invenções vinham sendo feitas
com o objetivo de fazer a eletricidade existente na natureza ser
domesticada e utilizada pelo homem. A primeira experiência
que conseguiu produzir luz por meio da eletricidade foi
realizada pelo químico inglês Humphry Davy em 1802. Ele
observou que duas peças de carbono ligadas aos terminais de
uma fonte de corrente, ao serem minimamente separadas,
produzem entre elas uma luz com alta luminosidade. Por essa
luz ser em formato de parábola, a invenção ficou conhecida
como lâmpada de arco.
Contudo, depois do início do fenômeno, observava-se
que o pólo negativo da barra tomava uma forma pontiaguda
e o pólo positivo uma forma de cratera. Ou seja, os eletrodos
queimavam rapidamente e precisavam de constante
monitoramento dos cientistas com o intuito de observar se
eles estavam na distância correta, pois se o caso não fosse esse,
o arco de luz se apagaria. Isso tudo fazia as barras de carbono
terem de ser substituídas constantemente, o que tornava seu
uso um tanto difícil e caro.
Não obstante todos os empecilhos, a lâmpada de arco
chegou a ser utilizada como fonte de iluminação pública e no
cinema durante todo o século XIX. Na Inglaterra, por exemplo,
muitos equipamentos desse tipo apareceram entre 1850 e 1870.
Entretanto, nenhum obteve sucesso econômico. A lâmpada de
arco deixou de ser utilizada nas primeiras décadas do século
Apoio
XX, mas seu legado existe até hoje, pois é a precursora das atuais
lâmpadas de descarga de mercúrio e de sódio.
Finalmente, a lâmpada
Não se encontrava um meio para fazer a luz gerada por via
elétrica ter intensidade e duração atrativas. Neste ponto, então,
entra o gênio de Edison. Diz a História que ele testou mais de
seis mil tipos de materiais que pudessem servir como filamentos
no período de dois anos, mandando até um agente procurá-la
nas florestas da Amazônia e outro nas florestas do Japão. Edison
achou que tivesse encontrado o filamento ideal: a platina. Mas
esta se mostrou dispendiosa do ponto de vista financeiro, além de
ter eficiência limitada quando testada na prática.
Em 1860, o físico e químico inglês Joseph Swan teria
desenvolvido uma lâmpada primitiva, que utilizava um filamento
de papel carbonizado em um bulbo de vidro sem ar, mas a
iluminação resultante não era das melhores.
O tipo de filamento correto para os propósitos do cientista
só foi descoberto, no entanto, acidentalmente. Reza a lenda que,
certa noite, mexendo em uma mistura de resíduo de carvão e
alcatrão, o inventor enrolou a massa até transformá-la em um
fino fio. Por curiosidade, resolveu testar o material e o colocou em
uma bola de vidro, tomando cuidado para que o ar fosse retirado
antes. Passou a corrente elétrica no fio, que brilhou por um curto
período de tempo, depois queimou e se desfez.
Para Thomas Edison, o filamento queimou rapidamente
porque continha ar em sua mistura. Dessa forma, foi à caça de
Com tensão de 14 V, lâmpada foi criada em
1900 para aplicação decorativa
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um material que oferecesse uma incandescência como aquela do
filamento anteriormente utilizado, mas que não apresentasse ar
em sua composição, para que, assim, a luz durasse mais tempo.
E o encontrou em uma máquina de costura: uma linha de
algodão carbonizada.
Depois de algumas tentativas frustradas, em 19 de outubro
de 1879, o cientista conseguiu fazer esse novo material emitir
uma luz intensa. Isso era uma boa notícia, mas ainda era preciso
que o tempo de duração dela fosse maior. Ele cobriu, então,
o filamento com o bulbo de vidro, retirando o ar e aguardou.
A linha carbonizada só foi ser consumida dois dias depois, e
o experimento foi considerado um sucesso. Estava inventada
a lâmpada elétrica incandescente, que foi revelada ao público
dois meses depois, no mês de dezembro, quando o cientista
abriu para visitação seu laboratório que, agora, contava com um
sistema completo de energia.
Em 1880, a nova invenção começou a ser vendida em
pequena escala e, paulatinamente, a luz dos lampiões a gás
foi substituída por pequenas redes elétricas de iluminação. O
primeiro lugar a receber iluminação elétrica por meio de uma
fonte de força municipal centralizada foi a região de Pearl Street
Station, na cidade de Nova York, em 4 de setembro de 1882.
Apesar do sucesso da lâmpada incandescente criada
por Edison, um problema ainda tinha de ser resolvido: o
filamento de linha de coser carbonizada. Mas como? Ela não
era a solução? Comparada com os outros materiais testados até
aquele momento, certamente sim, tanto do ponto de vista da
luminosidade como da duração, porém, há de se convir, que 40
horas de vida útil não é um tempo muito satisfatório.
Era preciso procurar um material mais resistente e Edison
e os demais cientistas da época foram atrás de novas opções.
Lâmpada criada por Thomas Edison em 1901
Encontraram a solução nos fios metálicos de ósmio ou tungstênio
e a composição da lâmpada incandescente passou a ser essa. O
design da lâmpada de Swan teria sido mantido por Edison, com
o aperfeiçoamento das técnicas de vácuo e, a partir de 1880,
ambos começaram a produzir uma lâmpada praticável.
Além do filamento com um material mais duradouro e do
bulbo de vidro cuja função é impedir o contato do fio de metal
com o oxigênio, a sua conseqüente oxidação e rompimento,
a lâmpada incandescente passou a ser preenchida também
com um gás inerte, em geral o argônio, que reduz o efeito de
sublimação do filamento, fazendo o bulbo não escurecer com
poucos dias de uso e diminuir sensivelmente a eficiência da
lâmpada, assim como sua vida útil. O gás inerte também possui
outra função importante: torna a lâmpada mais resistente, já
que, se fosse evacuada, ela poderia quebrar com muito mais
facilidade devido à própria pressão atmosférica.
Uma modificação da tradicional lâmpada incandescente, a
halógena leva este nome porque apresenta em sua composição
cloro, bromo, iodo e fluor, substâncias químicas halógenas cuja
função é ajudar na regeneração do filamento da lâmpada. Elas
se combinam com o tungstênio que é ejetado do filamento no
acionamento da lâmpada e se precipitam sobre o filamento depois
que a lâmpada é desligada. Tal efeito faz esse tipo de lâmpada
ter uma durabilidade até duas vezes maior que as tradicionais
lâmpadas incandescentes, além de permitir boa manutenção do
fluxo luminoso, uma vez que o efeito de enegrecimento por
sublimação é minimizado.
Novas luzes
A lâmpada incandescente é apenas um tipo desenvolvido
pelo homem, mas, mesmo antes da invenção de Thomas Alva
Fonte: bulbcollector.com
Lâmpada com bulbo de vidro na cor
verde fabricada pela GE em 1903
Edison, outros equipamentos com o mesmo objetivo já vinham
sendo testados pelo mundo. No entanto, devido aos problemas
apresentados e, como a invenção de Edison se mostrou, na
época, a única capaz de emitir uma luz de alta intensidade e
com alta duração, estes equipamentos ficaram relegados a um
segundo plano.
Entretanto, com o avanço tecnológico, novas espécies de
lâmpadas surgiram e aquelas que nasceram como concorrentes
das incandescentes foram melhoradas, ao ponto de os
equipamentos tradicionais não serem mais as únicas opções
eficientes no mercado. A lâmpada a arco voltaico, por exemplo,
criada antes da lâmpada incandescente, não deu tão certo
quanto esta na época, mas acabou servindo de modelo para as
atuais lâmpadas de descarga: a vapor de mercúrio, a vapor de
sódio e a fluorescente.
A todo vapor
Inventada por volta de 1930, a lâmpada a vapor de mercúrio
sob alta pressão deve boa parte de seu sucesso à expansão da
indústria automotiva norte-americana da década. Tem como
princípio de funcionamento a descarga entre dois eletrodos
que ficam imersos em uma atmosfera de argônio, com uma
pequena quantidade de mercúrio. Por apresentar um eletrodo
auxiliar no seu tubo de descarga, que ioniza o gás argônio nas
suas vizinhanças, a lâmpada a vapor de mercúrio dispensa
qualquer pico de ignição para que inicie seu funcionamento. O
equipamento possui também um reator cujo objetivo é limitar
sua corrente e tensão a valores aceitáveis para que sua operação
seja mais segura.
A lâmpada a vapor de mercúrio tornou-se realidade, mas,
no passado, as suas primeiras cópias encontraram uma série
Apoio
Lâmpada fabricada em 1929 em comemoração
ao aniversário de 50 anos de criação da primeira
lâmpada incandescente
de empecilhos; o principal deles se deu na selagem do tubo
de descarga, que acabava rachando. Isso acontecia porque a
temperatura do mercúrio sob a forma de plasma de alta pressão
era extremamente alta e exigia que os construtores empregassem
quartzo para a produção de seu tubo de descarga. A questão é
que o quartzo tem um coeficiente de dilatação térmica muito
baixo quando comparado ao coeficiente de dilatação térmica dos
metais, ou seja, os eletrodos de tungstênio encerrados dentro
do tubo de descarga acabavam o pressionando e causando as
rachaduras.
A resolução do problema deu-se com a utilização de finas
placas condutoras do metal nióbio que foram conectadas aos
eletrodos e aos terminais do tubo de descarga da lâmpada a
vapor de mercúrio. Quando o tubo se aquecia, as placas
apresentavam uma dilatação um pouco maior que a sua, mas,
por serem extremamente delgadas não forçavam o tubo e,
conseqüentemente, não rachavam sua selagem.
Com o passar do tempo, a lâmpada a vapor de mercúrio
sofreu aprimoramentos, o que desembocou na lâmpada a
vapor metálico, muito semelhante à primeira, mas com iodetos
metálicos que melhoraram seu desempenho. Ela conta também
com um revestimento de alumina nas extremidades de seu
tubo de descarga. Isso faz o calor produzido ser refletido pela
descarga para os eletrodos, evitando a condensação dos iodetos
no interior do tubo.
A chamada lâmpada mista também é uma variação da
lâmpada a vapor de mercúrio sob alta pressão. Tem esse nome
porque apresenta, dentro do mesmo bulbo, um tubo de descarga
com mercúrio e um filamento de lâmpada incandescente ligado
em série a ele. Tal característica não é mero enfeite, pois melhora
o espectro luminoso do equipamento e, ao mesmo tempo,
desempenha o papel de reator, possibilitando que a lâmpada
de luz mista seja ligada diretamente à rede elétrica, da mesma
forma que a incandescente.
Desenvolvida na mesma época que a lâmpada a vapor
de mercúrio, a lâmpada a vapor de sódio sob baixa pressão
surgiu com o objetivo de melhorar o rendimento das lâmpadas
existentes e também trazer mais segurança para a iluminação
das grandes vias expressas. O seu alto rendimento, chegando
a superar os 180 lumens/watt, foi extremamente popular na
década de 1950. Contudo, como o seu espectro luminoso era
praticamente monocromático na região do amarelo, caiu em
desuso logo que o aparecimento de sua sucessora: a lâmpada a
vapor de sódio sob alta pressão.
Isto aconteceu porque, apesar de seu rendimento ser menor
em relação à lâmpada anterior, a lâmpada a vapor de sódio sob
alta pressão apresentava um espectro de luz muito mais rico.
Seu funcionamento é baseado no mesmo princípio de sua
predecessora, diferindo apenas no fato de que, além do sódio,
apresenta mercúrio em sua composição e também gases nobres
que funcionam como agentes iniciadores da ignição.
O florescer da lâmpada fluorescente
16-17
A lâmpada fluorescente é composta por um tubo de vidro à
base de fósforo com um par de eletrodos em cada extremidade;
internamente ela é carregada com gás inerte a baixa pressão.
Assim como as lâmpadas a vapores, ela também funciona por
uma descarga inicial. Sua mistura gasosa ao excitar-se produz
radiação ultravioleta (UV), que é invisível e faz com que o espectro
luminoso produzido pela descarga seja extremamente pobre. Para
resolver este pequeno problema, o tubo é revestido de fósforo.
Este, devido às suas propriedades químicas, acaba convertendo a
radiação em luz visível. Por conter fósforo, a lâmpada fluorescente
também pode ser chamada de fosforescente.
Introduzida no mercado consumidor em 1938 pela General
Electric (GE), a lâmpada fluorescente deve seu surgimento,
no entanto, a outras invenções similares feitas no passado. Os
primeiros passos para sua invenção foram dados pelo físico
alemão Heinrich Gleisser, em 1856. O inventor conseguiu,
ao excitar, com uma bobina, um gás selado em um tubo de
vidro, produzir um brilho azulado. Após a descoberta de
Gleisser, inúmeros experimentos foram realizados até chegar
na invenção do cientista alemão Edmund Germer, que, em
1926, pegou uma lâmpada com vapor de mercúrio, aumentou
a pressão operacional dentro de seu tubo e o revestiu com pó
fluorescente para converter a luz ultravioleta em uma luz branca
mais uniforme. Estava inventada assim a lâmpada fluorescente.
Da mesma família, a lâmpada fluorescente de indução
possui basicamente a mesma estrutura da outra, mas não
apresenta eletrodos na sua parte interna; é constituída por
uma ampola com mercúrio e por uma bobina interna, que
excita o mercúrio, ou tem simplesmente um tubo fechado com
duas bobinas enroladas em suas extremidades. Há também a
lâmpada fluorescente compacta (CFL), que apresenta diâmetros
menores em relação às originais. De acordo com a GE, elas já
são construídas com reatores e bases rosqueadas para facilitar a
substituição por lâmpadas incandescentes.
Em comparação com as incandescentes, as lâmpadas
fluorescentes levam uma certa vantagem: além de produzirem
tonalidades de luzes brancas “mornas” semelhantes às da luz
incandescente, utilizam, aproximadamente, 70% menos
eletricidade do que essas, níveis de lumens semelhantes e vida
útil até 20 vezes maior. É considerada a lâmpada de descarga mais
Os primeiros passos para a invenção da lâmpada
fluorescente foram dados pelo físico alemão
Heinrich Gleisser, em 1856, que conseguiu
produzir um brilho azulado ao excitar, com uma
bobina, um gás selado em um tubo de vidro.
popular no mundo, sendo utilizada em aplicações residenciais,
comerciais, industriais e outras.
A velha novidade
O Diodo Emissor de Luz, o famoso Led é a última palavra em
tecnologia de lâmpadas no mundo. É uma invenção nova. Nova?
Não tão nova. Não só porque já se ouve falar dela há mais de dez
anos, mas porque antes de ser empregada na área de iluminação,
ela já era uma velha conhecida em outros lugares e com outras
funções. De acordo com a fabricante de lâmpadas Osram, os
Leds têm sido utilizados há mais de 30 anos como substitutos
das lâmpadas de sinalização ou lâmpadas pilotos nos painéis
dos instrumentos e aparelhos diversos. Eles podem ser visto em
diversas aplicações industriais, tais como gabinetes de comutação
a instrumentos de medição, em instalações de sinal de trânsito
para rodovia ou ferrovia e em produtos para o consumidor, como
iluminação interna e externa de automóveis, em computadores
pessoais, telefones, DVDs e outros aparelhos eletrônicos.
Soma-se a isso a sua origem, que remonta ao começo do
século XX, mais especificamente a 1907, quando o engenheiro
eletrônico inglês Henry Joseph Round, ao fazer experimentos na
área de rádio, descobriu o efeito físico da eletroluminescência.
Conforme a Osram, sua descoberta foi esquecida em um primeiro
momento, mas retomada posteriormente, o que acarretou
no primeiro diodo com luminescência vermelha, lançado em
1962. Anos mais tarde, em 1971, foram colocados a venda os
primeiros Leds nas cores verde, laranja e amarelo. É quando eles
começam a ter sua potência e eficácia aperfeiçoadas. Dois anos
mais tarde, surgem diodos altamente eficientes, que emitem
luz no espectro azul e verde. Dessa forma, foram atendidas as
condições para criar luz branca, fato que aconteceu em 1995.
Apoio
Segundo o engenheiro eletricista e diretor técnico da
Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux), Isac
Roizenblatt, em um futuro não muito distante, os Leds e o seu
“primo próximo”, o Diodo Orgânico Emissor de Luz (Oled)
terão uma significativa participação de mercado, tanto em
volume de unidades como em produção de luz artificial. Isto
deve ocorrer porque os produtos disponíveis no mercado e os
que estão em desenvolvimento já atingem mais de 100 lúmens
por watt, apresentam um índice de reprodução de cor superior
a 90, uma gama de temperaturas de cor e vida útil superior a 50
mil horas, podendo funcionar por mais de dez anos.
Novo paradigma
De acordo com Roizenblatt, não obstante as tecnologias surgidas
depois da invenção de Thomas Edison, as lâmpadas incandescentes
e sua variante, as halógenas, são ainda quantitativamente as de
maior volume no mundo. Contudo, elas produzem apenas cerca
de 10% da luz artificial para iluminação.
Conforme o engenheiro, aproximadamente 25% da luz
artificial é gerada pelas lâmpadas de descarga de alta intensidade,
10% pelas fluorescentes compactas e 55% pelas lâmpadas
fluorescentes. “Com essas proporções, vemos que 90% da luz
artificial é produzida pelas lâmpadas de descarga, e as lâmpadas
de descarga em baixa pressão fluorescentes lideram por larga
margem devido às suas características”, constata.
Por conta dessa estrutura mercadológica, segundo
Roizenblatt, as novas tecnologias entrantes, como os Leds e
os Oleds, devem ter as lâmpadas fluorescentes, fluorescentes
compactas, a vapor de sódio e as cerâmicas a vapor metálico,
como “benchmark”, ou seja, como modelo para se espelharem,
buscando sempre o seu grau de excelência máximo.
Por Bruno Moreira
biografia
A força de Moshé
18-19
O engenheiro civil Moshé Gruberger trouxe grandes contribuições para
o conceito de sistemas prediais em Belo Horizonte (MG) e é hoje,
reconhecidamente, um dos grandes nomes da engenharia brasileira.
“Não temos a tradição de homenagear os
grandes nomes da engenharia e Moshé é uma
referência. Ele merece”
Cristina Bráulio
Inúmeras qualidades fizeram do engenheiro civil Moshé
Gruberger o homenageado desta edição, como sua contribuição
para a evolução dos projetos prediais e sua convicção que fez suas
escolhas sempre darem certo. Outras evidências de que a nossa
escolha foi acertada foram encontradas ao longo da apuração
desta reportagem. Todas as pessoas ouvidas demonstraram
profunda admiração por Moshé e não pouparam elogios ao
engenheiro falecido no começo deste ano.
Uma delas é Cristina Bráulio, engenheira civil como Moshé
e proprietária da Printer Projetos e Construções. Embora
tenha conhecido Moshé superficialmente e apenas no âmbito
profissional – revisou um projeto de um shopping center feito
por sua empresa –, guardou dele boas recordações. “Também
trabalho como professora de uma universidade em Belo
Horizonte, lecionando disciplinas tanto na área de engenharia
como na de arquitetura e percebo que os arquitetos têm um
profundo conhecimento dos grandes nomes de sua área. Não
temos essa tradição de homenagear os grandes nomes da
engenharia e o Moshé é um grande nome, uma referência. Ele
merece”, avalia.
Este depoimento vai ao encontro desta seção, desde sua
Apoio
primeira edição: dar os louros da glória a quem merece. Com
Moshé não seria diferente, mesmo que este reconhecimento não
tenha vindo em tempo de encontrá-lo em pleno gozo da vida.
O início
Nascido em terra estrangeira no dia 25 de julho de 1939,
Moshé Gruberger morava no Brasil desde 1952; a capital
mineira Belo Horizonte foi o local escolhido por sua família
para estabelecer sua vida no País. Foi aí que ele, seguindo os
passos de seu pai, também engenheiro, cursou a faculdade
de engenharia civil na Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e conheceu sua esposa Neide Ures Gruberger, com
quem teve três filhos: Isaak, engenheiro eletricista; Tatiane,
arquiteta; e Rosane Gruberger, designer gráfica. Em 1968,
fundou sua empresa, a Enit Projetos e Consultoria, realizando
trabalhos na área de sistemas prediais.
Na opinião de Cristina Bráulio, a importância de Moshé
para a engenharia começou exatamente neste ponto, com a
abertura da Enit. “Tenho que dizer que ele revolucionou o
conceito de sistemas prediais aqui em Belo Horizonte”, conta.
Segundo ela, o escritório de Moshé foi importante por ter sido
Moshé tinha poucos, mas grandes projetos, como
shoppings centers, aeroportos, prédios industriais,
especializando-se nesse segmento. Abaixo, maquete
20-21
da sede da Petrobras em Vitória (ES).
Moshé, além de engenheiro, um empresário de sucesso.
um dos primeiros a realizar projetos nessa área e trabalhou de
modo que sua empresa não sofresse prejuízos, justamente por
projetar poucos, mas grandes trabalhos.
Conforme Cristina, ele montou sua empresa em uma
época que não era muito comum realizar projetos nessa área.
“Não havia muita procura”, diz. Apesar do grande desafio,
Moshé nunca desistiu e tornou-se, além de um engenheiro,
um empresário de sucesso. Neide Gruberger acrescenta que
a união de Moshé, em 1970, aos bons arquitetos Fernando
Graça, Eolo Maia, Paulinho Leander, Ney Gomes e Kleber
Gonçalves foi decisiva para a divulgação da empresa, que,
entre outros projetos, colocou sua marca na construção da
Pampulha.
Uma das grandes estratégias para o sucesso da Enit, na
visão da proprietária da Printer, foi a preferência de Moshé por
projetos de grande porte, como shoppings centers, aeroportos,
edifícios comerciais e prédios industriais, especializando-se
nesse segmento. “Ele tinha poucos projetos, mas grandes e de
qualidade”, conta. A participação na construção dos edifícios
comerciais do Banco Mercantil e do Brasil, e ainda da Telemig,
são prova disso.
Outra grande sacada de Moshé, de acordo com Cristina,
Apoio
foi a expansão dos negócios para fora de Belo Horizonte.
Percebendo a possibilidade de ultrapassar as fronteiras da
cidade, Moshé se aventurou em outras regiões do País, como
São Paulo. De acordo com a sua esposa, foi em 1978 que essa
mudança começou. “Moshe já não utilizava mais a régua de
cálculo e buscava máquinas de calcular elétrica e computadores
Radio Shack”, afirma. Foi nesse processo de inovação que
projetos fora de Minas Gerais, principalmente shoppings
centers, começaram a surgir. Destaque para o Norte Shopping
e Barra Shopping, no Rio de Janeiro; o Anália Franco, o Villa
Lobos e o Jardim Sul em São Paulo. E até fora do Brasil: a Enit
expandiu seus negócios, realizando a construção do Cascais
Shopping, em Portugal.
Exemplo humano e profissional
Por sua competência profissional e sucesso como empresário,
Moshé e sua empresa tornaram-se modelo de conduta para
muitos engenheiros que resolveram abrir também seu próprio
escritório. Um deles foi a própria engenheira Cristina Bráulio.
“Sua empresa foi, para mim, o exemplo do máximo que se
podia alcançar nesse setor”, conta. Outros dois engenheiros
que se inspiram em Moshé começaram como estagiários de
O jeito de ser de Moshé fez dos profissionais que os
cercavam um grupo de grandes colaboradores, fiéis e amigos.
22-23
sua firma. O primeiro foi o engenheiro eletricista Potirene
Ubirajara da Silva e o segundo, o também engenheiro
eletricista Marcelo Dicker.
Potirene conta que sua história junto a Moshé começou
com seu irmão arquiteto, Maruene. Segundo ele, Maruene e
Moshé viajaram juntos a trabalho, em 1972, para verificar um
projeto no município mineiro de Cataguazes. Nessa viagem,
Maruene falou sobre um irmão que estudava engenharia
elétrica e, coincidentemente, Moshé precisava de um estagiário
nessa área. “Me apresentei em dezembro 1972 e comecei a
trabalhar lá em janeiro de 1973”, diz. Mais de trinta anos se
passaram desde então e Potirene virou um dos sócios.
Com o falecimento de Moshé, Potirene comanda a Enit
com a viúva Neide Gruberger. E, para o engenheiro eletricista,
muito das lições ensinadas pelo antigo colega ainda está
presente no dia-a-dia da empresa. O jeito de ser de Moshé
dentro da empresa fez dos profissionais que os cercam um
grupo de grandes colaboradores, fiéis e amigos. Estes frutos,
de acordo com Potirene, que ainda hoje são aproveitados lá
dentro, foram incontestavelmente plantados por Moshé. “Esta
é hoje a grande bandeira que utilizo para dar continuidade aos
trabalhos e manter o nosso espírito de equipe”, diz.
O engenheiro eletricista Marcelo Dicker tem uma história
parecida com a de Potirene, pelo menos no tocante ao início de
suas carrerias. Ele também começou na Enit enquanto estudava
engenharia elétrica, por volta de 1986, e ficou lá por seis anos
até sair para abrir sua própria empresa de projetos de sistemas
prediais e industriais, a Ecom Engenharia Computadorizada.
Segundo Dicker, os anos passados na Enit foram uma
verdadeira escola. Ele observou a forma de trabalhar de Moshé
– sua preocupação com a qualidade do projetos, que eram
sempre bem concebidos, detalhados, mas de fácil execução e
de um jeito que facilitasse o uso para o cliente – e aprendeu
muito com isso. “Digo a todos que tive a oportunidade de
trabalhar na Enit e que muito do que eu sei devo ao Moshé”,
orgulha-se. Mesmo depois da saída de Dicker da empresa de
Moshé, os dois mantiveram um bom relacionamento, tanto
que, há dois anos, conta Dicker, a Ecom fez uma parceria com
a Enit para a realização de três projetos de sistemas prediais.
Gênio forte: presença marcante
Por conta do relacionamento que seu pai tinha com
Moshé, mesmo seguindo caminhos distintos, Dicker se
considerava um amigo do proprietário da Enit. “Sempre tive
“O fundador da Enit tinha a capacidade de
vislumbrar boas soluções com uma facilidade de
quem está montando um quebra-cabeça infantil”
Potirene Ubirajara da Silva
Edifício comercial, localizado na Avenida das Nações Unidas, em São Paulo (SP), foi projetado pela
Enit em novembro de 2006 e inaugurado em meados de 2008.
Apoio
Torre Paulista – prédio localizado na Avenida Paulista,
em São Paulo (SP), projetado em junho de 2007.
24-25
o Moshé como professor e acabei criando uma relação pessoal
com ele”, comenta. No entanto, o engenheiro eletricista
reconhece que o relacionamento com Moshé nem sempre era
fácil. “Por acreditar muito nas suas idéias, ele as defendia com
muito vigor, o que, às vezes, para algumas pessoas tornava a
convivência complicada”, conta.
Dicker define Moshé também como um sujeito divertido,
“boa-praça”, brincalhão e inteligente. Por ser tudo isso,
segundo ele, Moshé marcava a presença positivamente de uma
maneira muito intensa. “Tenho por mim, inclusive, que, para
as pessoas que viveram com ele rotineiramente, a sua perda
ainda deve ser muito sentida”, analisa.
Como conviveu quase sua vida toda com ele, Potirene
pode falar com propriedade sobre a falta que Moshé faz. O
engenheiro ainda lembra de sua voz marcante dentro da Enit,
o bom humor, a descontração e suas broncas nas horas certas.
“Ele faz toda a falta do mundo. A sua presença era suporte
para todos e em todos os sentidos, seja para assuntos pessoais,
seja técnicos”, afirma. O fundador da Enit tinha a capacidade
de vislumbrar boas soluções com uma facilidade de quem está
montando um quebra-cabeças infantil e, na relação com o
cliente, apresentava um carisma único difícil de ser coberto
por qualquer um de nós que estamos na sua sucessão.
A família Moshé
Quem entra no site da Enit logo percebe que se trata de uma
empresa diferente, que, mesmo não formada exclusivamente por
parentes, pode ser definida como familiar. Para se ter idéia, a
descrição da equipe técnica da empresa é apresentada da seguinte
maneira: “Todos os responsáveis técnicos realizaram sua vida
profissional tão somente na empresa, participando de todos os
projetos desenvolvidos, não tendo tido nenhuma experiência
profissional em outra empresa”.
O texto refere-se aos sócios-proprietários da Enit: o engenheiro
civil Moshé Gruberger e sua esposa, a engenheira mecânica Neide
Gruberger, e os engenheiros eletricistas Potirene Ubirajara e Mário
Sergio Pereira. De fato, todos não haviam trabalhado em nenhum
outro lugar. Potirene, que trabalha lá desde a época de estagiário,
conta que a situação, atualmente, é um pouco distinta. De acordo
com ele, há cinco anos, Mário Sérgio não está mais na companhia
e, com o falecimento de Moshé, a sociedade foi dividida entre ele,
que possui 10%, e Neide e os filhos, com 90%.
Projetado em 2005 pela Enit, o edifício Eldorado
Business Center foi um dos primeiros a receber o
certificado LEED (em inglês, Leadership in Energy and
Environmental Design) de sustentabilidade ambiental.
Embora possa se pensar que Neide Gruberger tornou-se
sócia por ser a esposa de Moshé, a verdade é outra. Ela sempre
foi atuante na companhia, sendo responsável, como engenheira
mecânica, pela parte dos projetos de ar-condicionado da
empresa. Segundo Potirene, ela trabalhou durante muito tempo
nesta função e só largou o emprego em certo momento para se
dedicar com mais afinco à família. De acordo com Potirene,
todas as funções na empresa eram bem divididas: os projetos
elétricos e afins ficavam com ele e o engenheiro Mário Sergio. Já
Moshé tinha como foco principal os projetos hidro-sanitários e
prevenção e combate a incêndio, sua especialidade. Mas o fato é
que, por sua versatilidade, coordenava, de modo geral, todos os
projetos de instalações que a empresa produzia. Mais tarde, seu
filho Isaak e sua filha Tatiana começaram a trabalhar na Enit:
ele, assumindo a direção comercial e ela, a direção da gerência de
projetos da empresa.
Depois de 35 anos trabalhando juntos, era de se esperar que
Potirene e Moshé se tornassem amigos. Mais que amigos, uma
família. “Neste período me casei, nasceram meus filhos, eles se
formaram e Moshé esteve sempre presente em tudo. Ele também,
nesse meio tempo, teve suas outras duas filhas, os meninos se
Apoio
formaram, casaram e eu estive sempre participando dos eventos
familiares”, diz saudosamente.
Ademais, segundo Potirene, as muitas viagens a trabalho
que os dois fizeram juntos geraram um grande companheirismo.
“Em uma preparação para essas viagens, aconteceu uma história
divertida e que Moshé contava sempre que podia”, lembra.
Quando a Enit iniciou uma série de projetos para a Mendes
Júnior, eles foram convidados a realizar um proposta para a obra
Express Way nº 1, no Iraque. Em uma reunião, para discutir as
condições do projeto, eles comentaram sobre a necessidade de
visitas freqüentes ao Iraque e um diretor da Mendes Júnior fez
a seguinte pergunte a Moshé, baseado em seu nome: “Você é
judeu?”, a qual Moshé respondeu: “Sim, eu sou!”. Diante dessa
reposta, os outros integrantes da Mendes Júnior alertaram sobre
a dificuldade para conseguir o visto, mas que iriam avaliar a
situação. Nesse instante, o diretor falou, novamente: “Bom, pelo
menos você não é iraniano. Estes sim não podem passar nem
perto da fronteira”. Depois de um momento de silêncio, Moshé
deu uma risada e disse: “Eu nasci em Teerã. Sou iraniano da
capital”. “A gargalhada foi geral. Bom, dessa forma, as visitas do
Iraque ficaram para mim”, relembra Potirene.
Por Flávia Lima dentro da lei
O grande
dragão chinês
Maioria dos produtos falsificados ainda é originada na China, mas o índice já foi maior.
Investimentos em educação e tecnologia têm feito do império chinês uma potência mundial
e uma fonte de produtos feitos com cada vez mais qualidade
26-27
Nova pujança econômica do século XXI, a China despontava como a única potencia capaz de ameaçar
a supremacia norte-americana e foi pivô de grandes transformações econômicas em todo o mundo. País de
extensão territorial com dimensões continentais, a China abriga cerca de 20% da população mundial – 1,3
bilhão de habitantes – e recebeu, apenas no primeiro semestre de 2008, investimentos estrangeiros diretos da
ordem de US$ 52,4 bilhões.
Mas nem sempre foi assim. Até a década de 1960, a China era um país fechado política e economicamente, o
que se deveu, principalmente, à ideologia contrária à vigorada na maioria dos países ocidentais e pela desconfiança
nos estrangeiros, gerada pelas imposições sofridas com a Guerra do Ópio, em 1840.
Já na década de 1970, com a entrada de Deng Xiaoping no poder, a China decide adotar um amplo
programa de reformas e ingressar de vez na ordem mundial. Houve então quatro grandes modernizações:
cultural, militar, industrial e agrícola. Em um país em que 70% da população era constituída por camponeses,
era natural que as reformas começassem na agricultura. Assim, as famílias poderiam cultivar o que desejassem
em terras pertencentes ao Estado, entregariam parte da produção para o governo e poderiam vender o restante
ao mercado. O resultado foi um notável crescimento da produção agrícola e disseminação da iniciativa
privada e do trabalho assalariado no campo. Nesse sentido, o sistema econômico chinês foi modificado e
O conjunto de reformas
promovido pelo governo de
Deng Xiaoping refletia a idéia
por ele declarada, de que “não
importa a cor do gato, importa
que ele pegue os ratos”.
incluiu em seus planos a abertura ao exterior e ao capital externo.
A grande revolução, entretanto, veio com a criação das chamadas
Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), instituídas com o intuito de
atrair capital estrangeiro. Na tentativa de ampliar suas exportações,
a China concedeu grandes benefícios aos investidores estrangeiros e
funcionou. A reforma econômica na China foi chamada de “economia
socialista de mercado”, ou seja, um país socialista com um mercado
livre. Conforme escreveu o advogado José Ricardo dos Santos Luz
Jr., em um artigo, “a participação do investidor estrangeiro na China
tinha como objetivo a introdução de tecnologia, métodos modernos
de administração (“know-how”), otimização do parque industrial
nacional e desenvolvimento da região favorecida. Em contrapartida,
o investidor estrangeiro receberia inúmeros incentivos fiscais, além de
flexibilização das normas trabalhistas em vigor”.
Nesse compasso, a economia chinesa cresceu, nos anos de 1980 e
1990, a taxas médias de 9%, destacando-se a província de Guangdond,
que crescia a uma média de 12,5% ao ano, taxa mais alta do mundo
no período. O PIB chinês saltou de 362 trilhões de yuan em 1978 para
1.854 trilhões de yuan em 1990.
Made in China
Com a abertura econômica e as crescentes exportações da China,
o mundo foi invadido por produtos chineses. Em 1980, período de
início das reformas econômicas, a China ficou em 25º no ranking
de exportadores, vendendo para o mercado externo cerca de US$ 18
bilhões. Em 1997, o país alcançou a soma de US$ 183 bilhões com
exportações, tornando-se o 10º no ranking mundial.
Para se ter idéia, em 2007, as importações da China para o Brasil
dispararam 54%, ultrapassando o Mercosul e tornando-se o segundo
maior fornecedor de produtos para o Brasil, depois apenas dos Estados
Unidos. As importações chinesas representam, atualmente, cerca de
10% do total de bens comprados pelo Brasil no exterior.
Desde os anos 1990, no entanto, os produtos chineses vêm
Apoio
adentrando o mercado brasileiro e de tantos outros países, mas muitos
deles vieram acompanhados por qualidade e desempenho duvidosos. Em
2005, cerca de 90% dos produtos contrafeitos que entraram no Brasil
eram provenientes da China. O coordenador do Grupo de Trabalho
de Combate aos Produtos Contrafeitos e Ilegalidades, da Associação
Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee), Mario Sergio Amarante
Filho, conta que é comum encontrar no mercado pilhas e baterias com
nomes e cores similares aos de empresas reconhecidas do setor. “No
início chegavam cópias perfeitas, mas mudaram a estratégia e agora
colocam produtos à imagem e semelhança do fabricante tradicional,
mas com sua marca própria”, reprova. Foi essa concorrência desleal
que levou diversos fabricantes a se unirem e formarem o grupo, com
o objetivo de conscientizar o usuário de modo que ele exija qualidade
e conformidade com as normas técnicas, ciente dos riscos que corre ao
consumir produtos baratos, falsificados e sem qualidade técnica.
Entretanto, o mapa da pirataria é amplo. De acordo com o
Sindicato Nacional dos Técnicos da Receita, o Brasil é o quarto país que
mais consome produtos pirateados, depois da China, Rússia e Paraguai.
As falsificações chegam ao Brasil por diversas rotas, com destaque para
os portos de Santos e de Paranaguá, por meio do Depósito Franco
Paraguaio, localizado no interior desses portos.
Esses produtos, geralmente, são produzidos na China, mas é
comum muitos deles receberem acabamento ou montagem final em
alguns países, como Paraguai e Uruguai, para chegarem ao Brasil e a
outros cantos da América do Sul com mais facilidade, considerando
as vantagens do comércio entre as nações que integram o Mercosul.
De acordo com a Federação do Comércio (Fecomércio), os produtos
trazidos do Paraguai (made in China) representam vendas superiores a
88% do mercado informal.
O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos
Elétricos Nema Brasil, o engenheiro eletricista Hilton Moreno, explica
que essas empresas são chamadas de “maquiladoras”, sendo, em sua
maioria, empresas chinesas que montam pequenas fábricas no Paraguai
O dragão é um símbolo mitológico que congrega os
quatro elementos do planeta: água, ar, fogo e terra.
É considerado o emblema do império chinês, representando a energia masculina e a fertilidade. Além
disso, corresponde à quinta criatura do zodíaco
Chinês, cuja função é guardar o Oriente.
28-29
e em outros países com o objetivo de receber os produtos chineses
para o acabamento final e então comercializá-los nos países vizinhos,
com benefícios fiscais. O mesmo acontece no México, tendo em vista
o mercado norte-americano. Moreno enfatiza que isso não é ilegal.
“Muitas dessas empresas são formais, mas é um artifício que prejudica a
concorrência no mercado”, completa.
O presidente da Câmera de Comércio Brasil–China, Charles
Tang, confirma que a China investe em montadoras localizadas em
países estratégicos, as quais, dentro da legislação da região, exportam
para outros países. Ele cita, entretanto, que os brasileiros e outras
nações fazem o mesmo processo. “Da mesma maneira, o Brasil
exporta etanol para ser hidratado na região do Caribe, por exemplo,
para, em seguida, exportar para os Estados Unidos, aproveitando
também facilidades de comércio entre os países. E isso não é ilícito e
nem exclusivo da China”, defende.
A contrafação é muito expressiva no cenário internacional. De
acordo com a Câmara de Comércio Internacional, nos últimos dez
anos, a contrafação provocou uma perda de 100 mil postos de trabalho
por ano na União Européia, e de 120 mil nos Estados Unidos. Outro
dado significativo da Câmara Internacional é a previsão de que 5% a 7%
do comércio mundial sejam constituídos por atividades relacionadas à
contrafação, com destaque para a indústria de softwares e eletrônicos.
Charles Tang conta que os juros e os tributos baixos foram e
continuam sendo a principal marca da economia chinesa. Ele enfatiza
que o problema não é o custo baixo da China, mas sim o alto custo
brasileiro. “Enquanto os tributos lá representam 17,5% do produto,
aqui no Brasil chegam aos 40%. O mesmo acontece com os encargos
trabalhistas, que são de 58%, e que aqui alcançam os 127%”, diz. Além
disso, os juros praticados na China são um dos menores do mundo,
ao passo que os juros brasileiros estão entre os mais altos. “Comparado
ao Brasil, a China não tem câmbio desfavorável, nem um sistema tão
burocrático. Se os custos brasileiros não fossem tão caros, não teríamos
tantos empresários ganhando tanto trazendo produtos da China”,
conclui Tang.
Livre arbítrio
A trajetória da China é similar à do Japão. Hilton Moreno
lembra que, nos anos 1960, o Japão começou a exportar produtos
de má qualidade e em grandes quantidades. Duas décadas depois, o
governo japonês implantou e incentivou uma filosofia de tecnologia e,
atualmente, os produtos lá manufaturados apresentam boa qualidade.
“Assim acontece com a China: no final dos anos 1990, praticamente
todos os produtos chineses eram de má qualidade, ao passo que, nos
dias de hoje, muitos produtos chineses apresentam bom desempenho”,
reconhece.
Ele afirma que a China abarca muitas empresas multinacionais e
milhares de empresas chinesas que podem e fazem produtos de boa
qualidade. “Em poucas palavras, o fabricante chinês faz o que o mercado
pede. Por exemplo, se ele precisar fazer o melhor disjuntor do mundo,
ele vai fazer”, completa.
Charles Tang, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China,
lembra que mais de 50% das exportações chinesas são provenientes
de empresas multinacionais que estão no país. “Então, se ainda há
problemas de qualidade, não tem de reclamar com o governo chinês,
mas com as multinacionais”, sugere.
Cada vez mais a China está sendo reconhecida pela qualidade dos
seus produtos. “O problema é que quem não conhece a China a teme,
pois não conhece as múltiplas oportunidades que ela oferece”, analisa
Tang. Gradativamente, os produtos são valorizados pela sua qualidade,
design e tecnologia e deixando de ser um país de produtos baratos e
qualidade relativa. “Claro que ainda há produtos baratos de qualidade
inferior, mas a pirataria está sendo duramente combatida pelo governo
“O problema não é o custo baixo da China, mas sim o
alto custo brasileiro. Enquanto os tributos lá representam
17,5% do produto, aqui no Brasil chegam aos 40%. O
mesmo acontece com os encargos trabalhistas, que são de
58%, e que aqui alcançam os 127%”
Charles Tang
chinês, que, inclusive, está considerando a pena de morte para aquele
que cometer o crime da pirataria”, revela.
O gerente comercial da Joining, Law Hwan Huei, explica que, como
estratégia, o mercado chinês possui pelo menos três níveis de qualidade
para um mesmo produto, ou seja, é possível comprar uma lâmpada com
qualidade A, B ou C. O aspecto externo do produto para um leigo é o
mesmo, porém a qualidade varia muito, o que influencia diretamente
a durabilidade do produto. “A principal diferença entre os produtos
A, B ou C é a qualidade da matéria-prima utilizada na sua fabricação:
produtos de baixa qualidade usam material reciclado”, conta.
Antigamente, havia softwares piratas, eletrônicos em geral
empilhados nas ruas da China, cenário que não se encontra mais por
lá. As vendas piratas caíram drasticamente. “Claro que, se o brasileiro ou
qualquer outro comprador procurar, vai encontrar fabricantes piratas nas
periferias do país, mas muitas fábricas foram fechadas por contrafação de
produtos”, afirma Charles Tang. Segundo ele, cabe mais ao importador
do que ao exportador chinês fazer as escolhas priorizando a qualidade.
“A China não tem como controlar os importadores nem a alfândega de
outros países”, conclui.
O presidente da Associação Brasileira de Importadores de Equipamentos
de Iluminação (Abilumi), Alexandre Cricci, concorda que os produtos
chineses estão aperfeiçoando sua qualidade. “É a terceira economia do
mundo, não está para brincadeiras”, diz. Ele também compara a China
com o Japão e afirma que ela está mais direcionada para a produção de
equipamentos de alta qualidade e, por isso, continua produzindo para o
mundo todo. “O padrão de qualidade é equiparado ao dos Estados Unidos
e da Europa”, completa. Além disso, o mercado brasileiro, assim como o
mundial, está mais seletivo e prezando pela qualidade.
O engenheiro Luiz Rosendo, consultor técnico senior da Schneider
– empresa que possui fábrica na China –, vai ao encontro das
declarações de Cricci e afirma que há alguns anos os produtos chineses
Apoio
eram realmente ruins, assim como também foram em um passado mais
distante, os japoneses. “Os chineses estão se aperfeiçoando bastante, mas
ainda é melhor comprar daqueles que possuem representantes no Brasil
para ter mais garantias”, aconselha.
Falsificações, alto desempenho, baixa qualidade convivem juntos
no mercado brasileiro e muitos produtos contrafeitos são atribuídos
genericamente aos chineses, mas a origem de um produto pirata pode
ser brasileira ou ter outras nacionalidades. Nesse sentido, Law Hwan
Huei, da Joining, afirma que o preconceito ainda existe, mas já foi muito
pior, principalmente no início dos anos 1990. “Neste período, houve
importação maciça de produtos chineses de baixa qualidade, mas, como
milagres não existem, o preço baixo era devido à péssima qualidade do
produto”, afirma.
Como empresa chinesa, a Joining, assim como outras, sofre
com o preconceito. Sobre isso, Huei conta que alguns dos produtos
comercializados por ela são similares aos comercializados e desenvolvidos
por outras empresas. “Entretanto, comercializamos apenas produtos
que não são patenteados ou que não possuem proteção do desenho
industrial”, esclarece.
O fato é que, desde 2001, o Brasil ganhou de mais de US$ 7
bilhões nas suas trocas comerciais com o império chinês. De acordo
com Charles Tang, a China provou ser uma importante saída para o
Brasil, principalmente no momento em que os parceiros tradicionais do
País criaram dificuldades para as nossas exportações e subsidiaram a sua
agricultura, que assim concorre de forma injusta contra o carro-chefe
das exportações brasileiras, o agronegócio.
Segundo ele, os chineses têm o que a empresa brasileira necessita:
capital de custo baixo e de longo prazo em abundância; máquinas de
boa qualidade e de custo muito competitivo; e experiência de comércio
internacional, que inundou as prateleiras do mundo com o “Made in
China”. A decisão é do importador.
Por Hanny Guimarães
guerra das correntes
Duelo de titãs
Discussões sobre o uso das correntes alternada e contínua mantêm
acesa a histórica rivalidade entre dois grandes inventores:
Thomas Edison e Nikola Tesla
30-31
O duelo era mesmo de gigantes. De um lado, Nikola Tesla. Sérvio, tinha como pai um
reverendo e uma mãe inventora, e era um dos cinco filhos do casal. Avançou nos estudos de
engenharia elétrica em uma escola politécnica na Áustria, graduando-se posteriormente na
Universidade de Praga. Passou por Budapeste, em que desenvolveu atividades como engenheiro
eletricista na National Telephone Company e por Paris, na Continental Edison Company,
trabalhando no aperfeiçoamento de equipamentos elétricos. Já de olho nos estudos sobre
corrente elétrica, Tesla arrumou as malas, emigrou-se para os Estados Unidos e se tornou
assistente de quem iria travar, mais tarde, uma pequena guerra, o famoso cientista da época,
Thomas Alva Edison.
Do outro lado, um tanto mais experiente e trazendo na bagagem a invenção da lâmpada
elétrica incandescente, o gramofone, o cinetoscópio, entre outros grandes inventos, Edison
tensão
Contínua
+A tempo
Alternada
tensão
+A T
f = 1/T
tempo
–A Se durante muito tempo, a corrente alternada de
Tesla reinou absoluta, atualmente, a corrente contínua
mostra-se mais poderosa que a rival e mais eficiente.
era o mais novo de sete irmãos. Garoto problema na escola,
um de seus professores chegou a dizer que ele tinha o diabo
no corpo. A inquietação o levou a estudar com a mãe. Logo,
o menino estaria apaixonado pelas ciências, fazendo tremer
a casa em que morava, em Michigan, com os experimentos
realizados no laboratório de química instalado no sótão.
Trabalhou por toda parte vendendo jornais e doces até tornarse telegrafista e, após várias tentativas e experiências, inventar
equipamentos de real valor que o permitiram se estabelecer
em Nova York. Reconhecido pelas suas invenções, motivou a
construção de um centro de pesquisas em Menlo Park, Nova
Jersey, chegando a patentear em um período de quatro anos,
cerca de 300 criações.
Rivalidade
O quase parque industrial – o centro possuía laboratórios,
oficinas, inúmeros técnicos e assistentes – foi a arena dos dois
inventores. Jovens, ambiciosos e inteligentes, os dois cientistas
trabalharam juntos em muitos projetos, sendo até algumas das
patentes de Edison de autoria de Tesla. Embora devotados a
um tema em comum, a energia elétrica, divergiam sobre as suas
ramificações. Tais discordâncias lhes renderam a qualidade de
inimigos e o início de uma guerra, a chamada “Guerra das
correntes”. Tesla defendia o uso da corrente alternada (CA)
em todos os processos de transmissão da energia elétrica, já
Edison acreditava cegamente que a corrente contínua (CC)
Apoio
abasteceria ruas, casas e empresas de todo o mundo. Um
engano, a segunda tinha limitações que só Tesla conseguia
enxergar e ir além.
Para somar à birra com Edison, Tesla não recebeu qualquer
pagamento por algumas de suas descobertas, que havia sido
prometido por seu superior. Com relações cortadas, o assistente
perdeu o emprego e teve de segurar as despesas com trabalho
braçal. Longe da Edison General Electric, que, como o nome já
sugere, era a empresa de Edison, buscou abrigo como inventor
na concorrência, para a sorte de George Westinghouse, dono
da Westinghouse Electric Company, empresário e também
engenheiro americano que injetou altas cifras no estudo e no
desenvolvimento da corrente alternada.
Com os conhecimentos de Tesla ao seu lado, Westinghouse
estaria armado para liderar as inovações no setor, que até então
estavam a cargo de Edison. Tesla tinha a seu favor as ciências
exatas e melhor formação matemática. Já Edison possuía baixa
escolaridade, mas dominava o conhecimento empírico e foram
as experiências realizadas que levaram sua corrente contínua a
ser padrão nos Estados Unidos logo no início do fornecimento
de eletricidade.
No campo de batalha, havia duas grandes idéias que
buscavam apresentar a forma mais apropriada de gerar e
transmitir energia elétrica. Se, por um lado, a corrente
contínua se mostrava eficiente diante das exigências da época
e graças a ela – e ao dinheiro e tempo investidos – Edison já
CURIOSIDADES
AC/DC – Não é por menos que a lendária banda australiana de heavy metal estampa como logomarca um pequeno raio e se
você acha que o significado está no som eletrizante que sai das guitarras dos irmãos Young está enganado. Na verdade, a sigla
quer dizer Alternating Current/Direct Current, que no português é traduzido para Corrente Alternada/Corrente Contínua,
batismo dado pela irmã dos integrantes, Margaret Young, que viu o nome em uma placa, atrás de uma máquina de costura.
Topsy, o elefante – Thomas Edison, para provar que a corrente alternada era mais perigosa que a corrente contínua, fez vários
testes com animais, inclusive com um elefante. O inventor não ficou imune aos vídeos disponibilizados na internet e seu filme
sobre o teste com Topsy pode ser visto neste endereço virtual: http://br.youtube.com/watch?v=RkBU3aYsf0Q
Cadeira elétrica – Mais um vídeo macabro dos testes de Edison. Desta vez, a execução do preso condenado Leon Frank
Czolgosz, em 1901. A filmagem, de acordo com o cientista, seria “como uma herança para a posteridade”. Veja neste endereço
eletrônico: http://memory.loc.gov/mbrs/lcmp001/m1b38298.mpg
Rivalidades produtivas – O jornalista Michael White descreveu no livro Rivalidades Produtivas como a competição de idéias
pode estimular novas descobertas científicas. A desavença entre Edison e Tesla está devidamente contada em um dos capítulos.
produzia geradores, motores e lâmpadas em seu negócio, por
outro, chegava imponente, ainda que complexa, a promissora
corrente alternada proposta por Tesla, que pretendia superar
as limitações da corrente elétrica oponente.
Alternada ou contínua?
32-33
A solução de Tesla mostrava-se mais atraente diante das
limitações da corrente contínua de Edison, a qual tinha
dificuldades para elevar a tensão de trabalho e se fazer chegar
ao consumidor. Pelas vantagens da corrente alternada, a
idéia de Tesla, vendida pela Westinhghouse, era a melhor
opção. Edison, empenhado em arrefecer o rival para não
perder a chance de ter seu sistema comercializado, travou
uma campanha com o intuito de abalar a corrente alternada,
desencorajando seu uso. A intenção era provar que todo o
processo de transmissão por CA era mais perigoso que por CC,
podendo ocorrer até acidentes fatais. O inventor da lâmpada
se armou de todas as formas para derrubar o injustiçado excompanheiro, inclusive filmando, publicamente, execuções
de animais sob CA para divulgar à população os riscos da
corrente. A princípio, cachorros, gatos e cavalos renegados
fugiam das garras do cientista, mas foi a cruel eletrocussão do
elefante Topsy que ficou marcada na memória da época. O ato
de desespero de Edison veio quando, mesmo contra a pena
de morte, o cientista criou a cadeira elétrica, promovendo a
idéia de que a corrente alternada era mais mortal do que a
contínua.
Não teve jeito. Entre os gladiadores, venceu a Westinghouse,
utilizando o sistema de Tesla, quando uma comissão anunciou
as propostas para aparelhar as Cataratas do Niágara a fim
de produzir eletricidade, gerando energia suficiente para
abastecer a indústria de Buffalo, em Nova York. As obras
começaram com muita desconfiança dos oponentes em 1893,
para três anos depois ser enviada à Buffalo a partir de geradores
construídos também pela Westinghouse, instalados na estação
hidrelétrica, usando o sistema de corrente alternada. A General
Electric de Edison, ressentida, ficou com o contrato das linhas
de transmissão que levariam energia até Buffalo. O sistema de
corrente alternada é utilizado até os dias de hoje.
A vingança de Edison
Ao que parece, com a história a favor de Tesla, Edison soa como
o gênio malévolo que levou a rivalidade com o ex-assistente
até as últimas conseqüências. Mas, como em toda guerra, é
ingenuidade pensar que a competição era apenas de idéias
virtuosas. Todo o processo envolvia altas cifras e royalties de
patentes, além de quase levar tanto a Westinghouse quanto a
General Electric à falência.
Se durante muito tempo a corrente alternada de Tesla
reinou absoluta, atualmente, a corrente contínua mostra-se
mais poderosa que a rival e, ainda, mais eficiente. O engenheiro
e diretor geral do Instituto Nacional de Eficiência Energética
(INEE), Jayme Buarque de Hollanda, brinca dizendo que esta
pode ser a vingança de Edison e acredita que, no futuro, a
corrente contínua será uma solução mais inteligente. “Amanhã
a companhia elétrica é que será chamada de alternativa, mas
no sentido certo, sendo uma alternativa ao sistema de geração
distribuída. Se a energia acumulada em uma bateria faltar
ou, em caso de alguma emergência, o usuário pode conectar
a tomada do aparelho na energia elétrica que antes era a
convencional – CA – e utilizar o equipamento”, prevê.
Na época, era fato que o uso da corrente alternada era
www.flickr.com/photos/wallyg
Criada pelo Comitê Bicentenário Iugoslavo-Americano,
a placa em homenagem a Nikola Tesla ilustra as paredes
do Hotel New Yorker, em Manhattan, N.Y.
mais viável geograficamente e financeiramente que a corrente
contínua. E, ainda naquele período, os equipamentos dos
consumidores eram apropriados para o sistema de Tesla. Todas
as cargas estavam sendo produzidas para suportar corrente
alternada. Entretanto, com as inovações tecnológicas a partir
da década de 1980, Edison se tornaria o grande vencedor,
ainda que postumamente – o inventor faleceu em 1931. A
proposta da corrente contínua não tinha morrido com seu
criador, mas ficava cada vez mais presente na vida das pessoas
do final do século XX em diante.
Com o aumento da digitalização, a proporção de cargas
em CC vem crescendo rapidamente. Equipamentos que
funcionam a pilha e a bateria, como rádios, computadores,
celulares, câmeras fotográficas, entre outros, já fazem parte do
dia-a-dia da sociedade. Além disso, criações como os carros
elétricos, os painéis fotovoltaicos e os geradores eólicos – que
utilizam CC – são reflexos da uma consciência ambiental
manifestada em tempos de preservação de fontes naturais.
Preocupação mundial que também força empresas de todos os
setores a se adaptar, principalmente as do setor energético. No
processo de transmissão de eletricidade por corrente alternada,
as perdas de energia são maiores que em corrente contínua.
Para que a energia percorra longas distâncias, é preciso que as
tensões sejam elevadas. Neste movimento, Hollanda explica
que os elétrons se chocam com átomos, perdendo energia
em forma de calor à medida que viajam pelos fios. As perdas
podem chegar a até 10%.
Os problemas não param, pois os retificadores – dispositivos
que permitem que uma tensão alternada seja transformada
em contínua – pioram a qualidade da energia que alimenta
um equipamento, criando o que os engenheiros chamam
Apoio
de “correntes alternadas parasitas”. Em casos extremos,
equipamentos mais sensíveis podem sofrer danos em seus
sistemas devido a essa operação precária. O contrário acontece
com a corrente contínua, já que a energia por esse sistema
deve ser produzida o mais próximo de onde ela é consumida.
A corrente alternada foi legitimada durante muito tempo
como única forma adequada para gerar e comercializar
energia, mas como toda máxima científica, as necessidades
que contextualizam o momento fazem tal verdade estremecer.
Jayme Buarque acrescenta que, na verdade, uma corrente não
exclui a outra. Há espaço para os dois gênios na história, mas
“a tendência é que os consumidores busquem fontes de energia
menos agressivas ao meio ambiente”, ressalta.
A Geração Distribuída (GD) significa a geração elétrica
realizada junto ou próxima de onde ela será consumida,
conceito que vale também para a corrente contínua. A geração
pode ser obtida por painéis fotovoltaicos que armazenam
energia solar em baterias ou por co-geradores que utilizam
resíduos combustíveis de processo, gerando eletricidade e
calor para a residência. Uma das evoluções nesse sentido são os
carros movidos a motor elétrico, que já representam 2,5% dos
novos carros americanos. No Brasil, o governo tem tomado
algumas medidas para garantir que as inovações no setor
energético evoluam na mesma proporção que as necessidades
naturais, mas o processo caminha na velocidade abaixo do
esperado. A primeira providência foi a Lei 10.848, de 2004,
em que figura a legislação sobre GD. Caso as previsões sobre
o uso de novas formas de geração de energia se concretizem,
certamente teremos dois heróis nesta história, claro, em
momentos diferentes. Tesla e Edison que tratem de fazer as
pazes e comemorar dupla vitória onde quer que estejam.
Por Flávia Lima
desenvolvimento
Da carroça ao jaguar
Mercado brasileiro de materiais elétricos e as técnicas de instalação progrediram significativamente nas
últimas décadas e caminham para um padrão ainda mais evoluído observado em países desenvolvidos
34-35
“Nossos carros são verdadeiras carroças”, declarou, no início da década de 1990, o então presidente
da República, Fernando Collor de Mello, sobre os automóveis que circulavam na época. Desde então,
o cenário automobilístico e o econômico, de modo geral, sofreram grandes transformações, estimuladas,
em sua origem, pela mensagem neoliberal que o Consenso de Washington transmitira em 1989 e que foi
abraçada pelo empresariado nacional e acolhida pelo governo de Collor.
O objetivo era promover abertura econômica ao capital estrangeiro, controle da inflação, moeda forte,
privatizações para redução de dívida pública, flexibilização das leis trabalhistas e corte dos gastos públicos.
Estas e outras medidas trouxeram muitos prejuízos ao País, mas também algumas vantagens. Entre estas,
Collor conseguiu que a frase do início desta reportagem não fizesse mais sentido com as importações
“Com a invasão dos eletrodomésticos e dos
eletrônicos a preços acessíveis e com a melhoria dos
sistemas de telecomunicações, dava-se início a uma
nova concepção de instalação elétrica”
Luis Costi
de automóveis, com a vinda de diversas multinacionais do setor
automobilístico para o Brasil e com as facilidades de crédito que, mais
tarde, chegaram às mãos do consumidor comum.
Passaram-se anos e as “carroças”, que representavam carros
populares e ultrapassados, foram substituídos por modernas máquinas
automotivas que circulam atualmente por todos os cantos do País.
Analogamente, a evolução dos materiais elétricos e das técnicas
brasileiras de instalação parece seguir um caminho similar ao do setor
automobilístico descrito anteriormente, claro que com outro cenário
de fundo e outras particularidades.
Globalização, normalização e uma gradativa mudança cultural são
os grandes fomentadores dessa evolução que, aos poucos, transforma
conceitos e práticas no segmento das instalações elétricas. Esse processo,
no entanto, é moroso e, embora já se perceba algumas transformações,
ainda há um longo caminho a se percorrer.
O caminho das pedras
Os produtos elétricos mais avançados tecnologicamente costumam
apresentar também maiores garantias quanto à segurança. Entretanto,
não são todos os profissionais brasileiros que estão em sintonia com as
novidades do setor e acabam atuando conforme a experiência adquirida
na prática, desempenhando, muitas vezes, técnicas conservadoras
de instalação e produtos obsoletos. Nesse sentido, as instalações
residenciais, comerciais e prediais trazem um índice muito maior de
erros, quando comparadas às industriais, mais atentas às tendências
internacionais.
Na opinião do presidente da Associação Brasileira de Engenharia
de Sistemas Prediais (Abrasip), o engenheiro eletricista Luis Costi,
em alguns países mais desenvolvidos, a preocupação com a instalação
elétrica costuma ser maior, mas há certa semelhança com o Brasil,
Apoio
exceto em países cuja fiscalização é mais rigorosa, como França,
Espanha e Portugal.
O processo de inserção de novas tecnologias no Brasil teria iniciado
há 20 anos com a abertura do mercado brasileiro e foi a partir de então
que os especialistas começaram a ter maior contato com as novidades
internacionais. Diante disso, é até aceitável que muitas inovações não
tenham sido completamente absorvidas pelo mercado.
Naquele momento, começavam a entrar no País produtos
importados e as instalações brasileiras passaram a ser comparadas
às executadas em outros países, em todos os aspectos. O mesmo
valia para a qualidade dos produtos aplicados. “Conheciam-se bons
produtos e equipamentos para uso nas instalações elétricas, mas
também havia as naturais ‘alternativas mais baratas e que faziam a
mesma função’ e, infelizmente, carecíamos de fiscalização e de uma
mínima padronização de qualidade e desempenho, pois não havia
parâmetros comparativos”, relata Costi.
Nesse período, os produtos elétricos eram muito simples e baratos
ou muito eficientes e caros. Era o começo do foco em segurança nas
instalações elétricas residenciais, as quais precisavam ser preparadas
para receber os novos equipamentos eletrodomésticos que chegavam
com força ao País. “Com a invasão dos eletrodomésticos e dos
eletrônicos a preços acessíveis e com a melhoria dos sistemas de
telecomunicações, dava-se início a uma nova concepção de instalação
elétrica”, explica o engenheiro. Foi nesse momento que o mercado da
construção experimentou a aceleração do profissionalismo. A partir
dos anos de 1980, para se construir, não bastava mais determinar o
custo da obra e a ele agregar o lucro desejado, mas começava a imperar
o preço de mercado, isto é, o máximo preço possível de se vender
aquele determinado empreendimento. Passa a prevalecer a equação
invertida: se o preço máximo de vendas será de x, e o custo histórico
Comportamento de mercado para produtos de alta tecnologia
Teoria “Crossing the chasm” foi elaborada pelo consultor norte-americano Geoffrey Moore para
explicar o processo de conquista e de aceitação do mercado, pelo qual passa toda nova tecnologia.
36-37
era y, só se conseguiria apurar um lucro limitado. “Se o lucro não era
atraente, restava mexer no custo para obter melhor resultado, pois
ficava cada vez mais difícil atuar no preço final”, conta. Entretanto,
alterar o custo implicava analisar o processo de construção, que era
totalmente artesanal, e começar a pensar a construção como uma
indústria, com padronização de procedimentos, de materiais e de
formas de organizar a sua aplicação, de fluxo de caixa dos gastos da
obra, além de treinamentos, segurança, etc. A evolução das técnicas de
projetos, segundo Costi, seguiu este mesmo curso.
Teria surgido, então, nesta época, a evolução das instalações
elétricas, que ainda segue um ritmo lento, com vetores que se movem
dos centros mais desenvolvidos para as áreas mais carentes do País.
“Mas essa evolução, sem volta, precisa da fiscalização do governo e da
sociedade para garantir que se perpetue”, alerta o engenheiro.
A partir desse ponto, as diferenças começaram a se dissipar,
primeiro porque mais pessoas, com a arrancada do turismo, tiveram
a oportunidade de conhecer outros países e observar o conforto de
instalações encontradas além da fronteira. Também nessa época,
começou a exigência pelos direitos do consumidor e de um mínimo de
performance dos sistemas prediais. Assim, o mercado passou a requerer
da construção um processo industrial, o qual, em um primeiro instante,
testou e errou diversas soluções, produtos e materiais. Balizado,
então, pelas normas técnicas e pelas exigências do consumidor, as
construções, assim como as instalações elétricas, passaram a se adequar
e, naturalmente, foram surgindo novos produtos, materiais, sistemas
construtivos, enfim, projetos e obras diferenciadas.
“Criaram-se padrões de qualidade, controle tecnológico na obra
e agora caminhamos para a certificação das instalações”, afirma Costi.
Segundo ele, estamos bem no meio desse processo, em que, de um
lado, estão os incorporadores, para os quais o custo é premente para
se permitir a um maior número de pessoas o acesso à casa própria,
ainda que se comprometa a durabilidade do produto, e do outro lado,
o consumidor, que quer o nível máximo sem pagar por isso. “Tudo
isso conduz a uma reorganização da cadeia produtiva, da forma de se
desenvolver o projeto e, conseqüentemente, das instalações elétricas,
que precisam atender aos dois senhores”, conclui.
Mercado conservador
Diante das inúmeras invenções tecnológicas globais em todas
as esferas econômicas, as diferenças técnicas são cada vez menores
entre os países, mas as particularidades são locais. O presidente da
Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Elétricos Nema
Brasil, o engenheiro eletricista Hilton Moreno, conta que há grandes
diferenças, por exemplo, entre os produtos trabalhados no Brasil e em
outros países por empresas multinacionais do setor elétrico. “Enquanto
no Brasil, os catálogos de uma empresa apresentam poucas famílias
de produtos, em outros países, a mesma companhia oferece diversas
famílias. Falta, no País, mais diversidade de materiais elétricos”, avalia.
Em relação à indústria local, vale a mesma observação: “embora o
acesso a informações sobre quais produtos existem lá fora esteja muito
facilitado por causa da internet e das diversas feiras internacionais,
não temos visto a indústria local introduzir muitos novos produtos e
Fotos: Legrand
Pontos utilitários multifuncionais, empregados
em larga escala fora do Brasil, encontram
dificuldades no mercado brasileiro
tecnologias, sobretudo, considerando a boa qualidade dos fabricantes
nacionais”, completa Moreno.
No caso das luminárias, o presidente da Associação Brasileira dos
Importadores de Equipamentos de Iluminação (Abilumi), Alexandre
Cricci, reconhece que a diversidade de peças disponíveis em mercados
de países da Europa, por exemplo, é muito maior do que o brasileiro,
mas esclarece que isso se deve à baixa demanda do ponto de venda.
Aqui há uma limitação de volumes, de escala, pois o poder de compra
desse tipo de equipamento é consideravelmente menor que o de um
europeu ou norte-americano.
Somam-se a isso as altas taxas de importação, que, para o
segmento, giram em torno de 15% a 20% do produto, mas que se
viabilizam, pois montar uma fábrica no Brasil encontraria muito mais
dificuldades tendo em vista o desenho da economia brasileira, os
encargos trabalhistas e a extensa burocracia.
Essa dessemelhança vai além dos produtos. Algumas
particularidades são prova de que o Brasil ainda situa-se em uma
posição ultrapassada com relação às técnicas observadas em outros
países. Nos Estados Unidos, por exemplo, há anos o Dispositivo
Diferencial Residual (DR), é não apenas empregado, como já vem
incorporado à tomada elétrica. O diretor da Finder Componentes,
Juarez Guerra, afirma que o DR e o Dispositivo de Proteção contra
Surtos (DPS) estavam prontos para aplicação e disponíveis no
Brasil há muito tempo, mas passaram a ser utilizados quando foram
inseridos mais incisivamente na norma de instalações elétricas – a
ABNT NBR 5410.
Apoio
Além disso, outros exemplos quanto à instalação atestam grandes
diferenças entre os países. “Enquanto as construções americanas são
baseadas em estruturas pré-fabricadas, o brasileiro constrói a parede,
a destrói para passar a fiação elétrica e a refaz em seguida”, indignase Moreno. Segundo ele, o método brasileiro não contribui para o
desenvolvimento de maneiras mais práticas de instalação.
Alguns especialistas afirmam que o problema é evidente: ainda
não temos escala para consumir esses produtos e técnicas, fato que
é contestado por Hilton Moreno: “o mercado brasileiro não é tão
pequeno, afinal, estamos entre as dez maiores economias do planeta,
basta estimular a necessidade, oferecendo os novos produtos. Não dá
para esperar que o mercado peça essas novidades”.
Juarez Guerra concorda e compara: “O telefone celular, quando
foi apresentado ao público, sofreu uma grande repulsa, mas depois
que as operadoras exibiram os benefícios, a tecnologia estourou em
vendas e não parou de apresentar novas aplicações e benefícios. Assim
também deve funcionar com as tecnologias aplicadas às instalações
elétricas: enquanto os usuários não identificarem os benefícios, mais
demorada será a sua absorção”. Ele explica que esse estímulo ao uso de
novas tecnologias deve vir com constantes mecanismos de divulgação e
menciona a teoria do “Crossing the chasm” (algo como “ultrapassando
barreiras”) de Geoffrey Moore, para descrever o processo: “os primeiros
a utilizarem uma nova tecnologia são sempre os entusiastas – curiosos
e exibidos –, em seguida, os visionários, fazendo a curva de volume
subir. Nesse instante, há um grande abismo, momento importante que
pode conferir sucesso ou fracasso à novidade. Vencido esse instante, a
“No Brasil, os catálogos de uma empresa apresentam
poucas famílias de produtos, em outros países, a
mesma companhia oferece diversas famílias. Falta, no
País, mais diversidade de materiais elétricos”
Hilton Moreno
tecnologia chega ao mercado de larga escala, conquistando os pragmáticos,
os conservadores e os céticos, que são os personagens que oferecem maior
resistência à cadeia”.
Automação
38-39
O Brasil viveu um momento delicado no inicio da aplicação
de automação no mercado da construção. Na tentativa de “tirar o
atraso”, sofisticou demais as instalações e os custos foram exorbitantes.
Luis Costi, da Abrasip, conta que o setor precisou equalizar o custo/
benefício para que o consumidor final começasse a ver a automação
como uma necessidade e não um acessório.
Para Juarez Guerra, o home theater foi o grande divisor de águas.
Segundo ele, há dez anos, o consumidor começou a entender que
o equipamento o levava a assistir um filme, com um bom áudio e
em segurança, que, por sua vez, tornaria ainda mais confortável o
momento com um controle de iluminação, com um sistema de
acionamento remoto de cortinas, câmeras e ar condicionado. Esses
sistemas começaram a ser integrados via cabeamento estruturado,
agregando outras tecnologias de áudio, vídeo e voz.
“Ainda estamos longe de termos residências automatizadas, mas
acredito na evolução contínua e no amadurecimento do consumidor,
do instalador, do projetista, da construtora e do incorporador”, confia
Guerra. No momento em que cada um identificar os benefícios que
as tecnologias estão aportando, as distâncias vão se estreitar e maior
segurança, economia e flexibilidade serão providas a toda a cadeia que
se insere neste processo. Para isso, Guerra recomenda que as empresas
que detêm essas tecnologias se esforcem mais para disseminálas, especialmente, levando informações a instituições de ensino
profissionalizantes e elaborando estratégias de marketing
eficazes, pois ninguém compra ou exige aquilo que não
conhece ou que não entende.
De modo geral, está havendo uma evolução no modo de
se projetar uma instalação elétrica. Isso porque, na visão de
Juarez Guerra, os projetos deixam uma abertura para que, no
futuro, possa receber equipamentos de automação. Trata-se de
uma infra-estrutura pré-automatizada com aplicação de relés,
permitindo que o usuário automatize sua instalação conforme
sua necessidade e condição financeira. Hilton Moreno concorda
com essa mudança de paradigma: “já encontramos prédios
residenciais e comerciais feitos à base de construções préfabricadas. Além disso, começam a surgir soluções parecidas
com as empregadas em outros países, como em hotéis de redes
internacionais”.
Globalização
Com o processo da globalização e com e a praticidade das
formas de comunicação, é preciso que se apurem as informações
técnicas confiáveis e as estatísticas idôneas, no caso de produtos.
“Da mesma forma que produtos novos podem ser importados
facilmente, eles precisam ser testados de acordo com as normas
técnicas vigentes para operarem nas condições locais e estarem
revestidos das respectivas garantias”, previne o engenheiro Costi.
O presidente da Associação Brasileira de Conscientização sobre
os Perigos da Eletricidade (Abracopel), Edson Martinho, lembra
que, apesar das facilidades de acesso a informações por meio da
internet, de seminários, de feiras, etc., há os pseudo-profissionais,
Dispositivo Diferencial Residual é há anos comercializado e empregado nos Estados Unidos e em
outros países. No Brasil, o DR de alta sensibilidade
só foi incorporado à norma de instalações elétricas
na revisão de 1997.
que aproveitam o aumento da oferta de trabalho e, não estando
devidamente preparados, contribuem para a proliferação de instalações
primitivas. Nesse sentido, embora haja, a cada dia, mais regulamentação
e maior exigência de controle na fabricação, ainda há muito o que
melhorar. O mercado pune com o tempo o produto enganador, que
tem vida curta, entretanto, ele deixa marcas antes disso.
Além do mais, há no Brasil fabricantes de produtos elétricos e
eletrônicos locais com qualidades similares aos importados, ou quando
não, exportando materiais em nível de primeiro mundo. A rigor, as
empresas hoje são transnacionais, são globais. “O mesmo ocorre com a
disponibilidade ao consumidor: há produtos disponíveis de toda sorte,
cabe ao consumidor se informar com bons projetistas, quais deles
atendem às normas e tem seu desempenho comprovado”, aconselha
Luis Costi. Para ele, os melhores exemplos de que estamos evoluindo
são a qualidade da proteção contra choque dos equipamentos atuais,
a eficiência energética (lâmpadas e motores, por exemplo), os novos
materiais cerâmicos e plásticos, os materiais que não propagam
incêndio ou emitem fumaças tóxicas, os sistemas de comando e
automação e controles de partidas de grandes equipamentos elétricos.
Essa evolução de projetos e produtos já permite ao País edificações
efetivas e não mais construções improvisadas de moradia.
Cada país tem suas especificidades. Temos restrições normativas
e técnicas que impedem o uso de algumas tecnologias. Além disso, a
aplicação de novos produtos depende também de normalização e de uma
adaptação cultural, isto é, o entendimento dos benefícios dessa tecnologia,
condição que nem sempre é instantânea à criação do invento.
O gerente de produto da Siemens, Luiz Eustáquio Perucci,
concorda que o portfólio brasileiro de normas técnicas precisa evoluir
Apoio
para deixar de limitar a vinda de novas tecnologias. Segundo ele, ainda
há muito o que fazer, documentos precisam ser revistos e atualizados
incorporando novas tecnologias que existem por aí. “Nos países
desenvolvidos, a população está acostumada há anos a trabalhar com
produtos mais sofisticados e estamos seguindo este caminho, mas
ainda temos uma grande gama de produtos que precisam de uma
reforma tecnológica”, critica Eustáquio.
O que nos falta é um processo mais ágil de atualização das normas
técnicas e um sistema atraente de desenvolvimento desses documentos
de forma a serem o mais isento possível entre consumidores, neutros
e fabricantes. “Houve e sempre haverá riscos de comissões de norma
exigirem no texto qualidade de materiais e garantias de segurança
superiores ao que o mercado está preparado para atender, mas como
conseguir evoluir tecnicamente e aumentar a segurança sem isso?”,
questiona Costi. Nesse sentido, o bom senso deve reger os prazos
de implantação de novos conceitos de norma que implicam custo,
tanto para a indústria do produto quanto para o direito adquirido
do incorporador do empreendimento. E há casos e casos: não basta
dar valor maior ao aspecto histórico do mercado, nem tampouco
desprezar a cultura local. Igualmente não se pode errar impondo as
vezes conceitos ainda não comprovados, apenas por serem importados
e funcionarem em uma realidade diferente.
Assim como a indústria automobilística encontrou um cenário
favorável para o seu crescimento no País, também o setor elétrico
precisa de um apoio governamental e esforços do empresariado de
forma a estimular a vinda de novas tecnologias e, quem sabe, tornarse um grande exportador de equipamentos, do mesmo modo que
automóveis brasileiros hoje são exportados para o mundo.
descontração
Palavras cruzadas
Responda as questões propostas abaixo e, de acordo com a orientação dada pela posição e
pela numeração, preencha os espaços reservados para cada palavra. Boa sorte!
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Vertical
1. Extensão elétrica múltipla para ampliar o número de tomadas
Horizontal
2. Indica o consumo e o fornecimento de energia elétrica em um
disponíveis em um ponto.
circuito de corrente alternada, a qual é igual ao produto da tensão e
da corrente.
4. Preço estipulado pelo consumo de energia elétrica.
5. Dispositivo elétrico utilizado para introduzir resistência em um
circuito.
6. Ato de conectar um circuito elétrico de baixa impedância à terra.
7. Dispositivo de proteção da instalação elétrica.
10. Dispositivo de aplicação rápida, utilizado para realizar emendas
ou ligações elétricas.
11. Dispositivo eletromecânico ou não, com inúmeras aplicações em
comutação (acionamento/desligamento) de contatos elétricos.
12. Grandeza escalar igual ao quociente do valor eficaz da tensão pelo
valor eficaz da corrente.
14. Transmutador de energia elétrica que converte corrente contínua
para corrente alternada.
15. Eletrocalha ou bandeja de dimensões reduzidas.
17. Parte condutora de um dispositivo elétrico com o qual se conecta
um condutor correspondente a um circuito elétrico.
3. Dispositivo elétrico utilizado para introduzir capacitância em
um circuito.
40-41
Fonte: glossário de eletricidade on-line (www.fazfacil.com.br)
8. Máquina que converte energia mecânica em elétrica.
9. Instrumento multiescala e multifunção destinado a
medir
tensão, corrente e outras grandezas elétricas, como a resistência,
por exemplo.
13. Conjunto de condutores elétricos que servem a determinado
número de pontos.
16. Sigla de American Wire Gauge, denominação norteamericana utilizada para bitola (espessura) de fios e cabos
elétricos.
18. Onda de tensão transitória que se propaga ao longo de um
sistema elétrico, caracterizada por elevada taxa de crescimento
inicial, seguida de decréscimo mais lento da tensão.
19. Equipamento destinado a suprir a alimentação elétrica
dos equipamentos a ele acoplados, quando é interrompido o
fornecimento de eletricidade.
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