Amor profundo

Transcrição

Amor profundo
MERGULHO + FOTOGRAFIA
N ONE OCEAN ONE BREATH
Amor profundo
O casal de mergulhadores Christina e Eusebio Saenz viaja o mundo para explorar
as belezas dos oceanos – e de lá emergem com fotos impressionantes e
inspiradoras POR MARIANA MESQUITA
TUDO COMEÇOU quando a australiana Christina Saenz, de 33
anos, viajou para Koh Tao, uma paradisíaca ilha da Tailândia, para
fazer um curso de mergulho livre. Durante sua estadia por lá, ela
conheceu o espanhol Eusebio, 42, que era instrutor e co-fundador
da escola na qual a moça se matriculou. Foi questão de tempo até
os dois se apaixonarem. Desde então, o hoje casal nunca mais
se separou — um do outro e também das profundezas dos oceanos. “Nosso relacionamento surgiu no mar e só reafirmou o
que já sabíamos: nós dois precisamos viver o máximo que podemos próximo a ele”, conta Christina. Atualmente a dupla viaja
pelos mais diversos oceanos do planeta, fazendo mergulho livre
Ao mesmo tempo que conhece países
diferentes, o casal tenta expandir os
limites do mergulho livre, esporte no qual
não são usados cilindros de oxigênio,
apenas o ar contido nos pulmões
e também explorando os animais, corais e plantas que vivem nas
águas. E, ao longo dos anos, caíram de amores por outro hobby:
registrar, em fotos e vídeos, as belezas que encontram por aquelas bandas.
Christina e Eusebio passam metade do ano viajando, e a outra metade na Tailândia, onde atualmente moram e dão aulas
de mergulho para ajudar a pagar as contas. Já carimbaram
seus passaportes em lugares como México, Havaí e Indonésia,
e aproveitam o gosto pela fotografia para alimentar a página
One Ocean One Breath (oneoceanonebreath.com) com imagens
e vídeos incríveis de suas experiências. E, para isso, não medem
esforços: chegam a mergulhar mais de 45 metros de profundidade para fazer um bom registro. “O objetivo desse projeto é,
de forma criativa, empurrar nossos corpos e mentes para novos
lugares e profundidades e, depois, compartilhar o que vimos
com as pessoas”, diz Christina, que elege a península de Iucatã,
no México, como um dos lugares mais belos de paisagem natural que ela já admirou com sua câmera.
Ao mesmo tempo que conhece países diferentes, o casal tenta
expandir os limites do mergulho livre, esporte no qual não são
usados cilindros de oxigênio, apenas o ar contido nos pulmões.
58 Go Outside
Em 2012, Christina esteve no Havaí e
conseguiu mergulhar a 60 metros de
profundidade, sem respirar por cerca
de dois minutos. Com isso, ela detém
o atual título australiano nas categorias imersão livre (em que a pessoa usa
apenas uma corda-guia como equipamento para auxiliar o mergulho) e peso
constante com barbatanas (quando o
atleta utiliza uma nadadeira para ajudá-lo a descer e subir).
Recentemente eles retornaram ao
Havaí para tentar um feito ainda mais
ousado: Christina viajou com o objetivo de mergulhar 89 metros de profundidade — um metro a mais do que
o atual recorde mundial feminino em
imersão livre, conquistado pela russa
Natalia Molchanova. Nas semanas de
treinamento que antecederam o mergulho, no entanto, a australiana se machucou. “Mas estou decidida a tentar
de novo”, diz ela.
A LIGAÇÃO DE EUSEBIO com os oceanos é ainda mais antiga, começando na
infância. “Minhas primeiras memórias
surgiram no mar”, diz ele, nascido no
Estado costeiro do País Basco, no norte da Espanha. Anos depois, mudou-se
para a Tailândia para se tornar professor de mergulho autônomo (ou scuba
diving), mas deixou essa ideia meio de
lado quando descobriu a apnéia, modalidade que o colocou, em 2005, na
terceira posição do ranking mundial
da AIDA (Associação Internacional de
Desenvolvimento de Apnéia), o órgão
máximo que regulamenta esse esporte.
Apesar de ser conhecido como o segundo esporte mais perigoso do mun-
WWW.ONEOCEANONEBREATH.COM
SEM PRESSÃO:
Christina mergulha
em caverna marítima
na península de
Iucatã, no México
WWW.GOOUTSIDE.COM.BR
Go Outside 59
MERGULHO + FOTOGRAFIA
FOTOS: WWW.ONEOCEANONEBREATH.COM
UNIDOS PELO MAR:
Eusebio e Christina
no México
Esperamos que
nossas fotos
ajudem a conscientizar
as pessoas sobre a
importância de se
cuidar da vida marinha”
do (o base jump está no topo desta
lista), o mergulho livre ou freediving
pode ser seguro, segundo o casal,
desde que a pessoa aprenda as técnicas necessárias e sempre mergulhe
com alguém. “Nunca passamos por
uma situação de perigo. É preciso
respeitar o mar e ter paciência com
os obstáculos da natureza”, conta
Eusebio. Durante sua carreira, ele já
testemunhou grandes quantidades
de lixo nos oceanos e até maus tratos
com animais como os golfinhos. “Esperamos que nossas fotos também
ajudem a conscientizar as pessoas
sobre a importância de se cuidar direito da vida marinha.”
Em seu próximo desafio, eles pretendem desbravar ainda mais as
águas do Caribe, onde vão explorar,
durante dois meses, cavernas e outras atrações. “Iremos começar por
Honduras e esperar para ver aonde essa nova aventura nos levará”,
diz Christina, com a empolgação de
quem sabe que essa viagem está
longe de ser sua última. E de quem
tem a certeza de que os verdadeiros
mistérios da natureza só são revelados àqueles que vão mais longe e
mais fundo.
60 Go Outside
QUE MARAVILHA:
Eusebio durante
mergulho livre no
México; abaixo,
Christina com
golfinhos no Havaí

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