courrier/courrier 24-03-06

Transcrição

courrier/courrier 24-03-06
N
O passado dia 13 de Janeiro, escrevi nesta mesma
mim e que põe em causa a contiguidade da Cisjordânia, é
coluna que o «‘centrismo’ pragmático [que domipara preencher de colonatos; que o muro de separação se
na de momento o eleitorado israelita] constitui
vai tornar a nova fronteira internacional (embora com posum avanço, mas não chega». Desde então, a vitósíveis alterações de trajecto); que os maiores colonatos serão «consolidados» (à custa de mais terra palestiniana?);
ria do Hamas reforçou a inclinação israelita para um «autismais grave, Olmert sublinha categoricamente que o vale do
mo» unilateralista que importa agora analisar mais de perrio Jordão será a «fronteira de segurança» de Israel, com
to. Porque, quer queiramos quer não, tudo indica que esta
forte presença militar e de colonatos. Finalmente, o «raid»
abordagem vai determinar a dinâmica do conflito israesobre a prisão de Jericó foi levado a cabo como se não
lo-palestiniano nos próximos anos.
houvesse amanhã, como se não tivesse consequências infliA melhor pista para o que Ehud Olmert pensa fazer
gir mais uma tremenda humilhação aos vizinhos ocupados,
quando formar Governo, depois das eleições do próximo
como se mais uma operação militar bem sucedida e mais
dia 28, está numa entrevista de 10 de Março dada pelo
uns inimigos capturados trouxessem verdadeira segurança
primeiro-ministro em exercício ao diário israelita «Ha’Aa Israel.
retz». O que mais impressiol Ana Gomes
O que Olmert esquece, na
na é a tentativa de Olmert de
Eurodeputada socialista e ex-dirigente do PS
azáfama de ganhar as eleições,
corresponder à ânsia da popucom Ferro Rodrigues, nasceu em Lisboa há 52 anos.
de fazer de durão «à la Shalação israelita por normalidaDiplomata formada em Direito, foi consultora
ron», e de fazer promessas pade: idealiza um país que daqui
de Eanes em Belém e representou Portugal
ra agradar a gregos e a troiaa uns anos será «diferente»,
na ONU, Tóquio e Londres. Destacou-se na secção
nos, é que a comunidade intercom menos violência exterior
de interesses de Portugal na Indonésia (mais tarde
nacional, e especialmente a
e mais segurança pessoal;
embaixada), pela defesa do povo de Timor-Leste
Europa, não vão permitir que
«um país onde será divertio unilateralismo israelita, nos
do [‘fun’] viver». Para além
termos em que está a ser apresentado, constitua o novo
disso, Olmert diz que o principal objectivo do seu Govermapa final para a questão israelo-palestiniana. Todas as
no será o de estabelecer fronteiras permanentes, assentes
medidas provisórias e/ou unilaterais da parte de Israel que
num sólido consenso interno e internacional: «acredito
contribuírem para uma resolução definitiva do conflito de
que daqui a quatro anos, Israel estará desligado da
acordo com os parâmetros das últimas negociações apadriesmagadora maioria da população palestiniana». Renhadas pela administração Clinton serão bem acolhidas.
forçando esta mensagem, Olmert declarava há uma semaMas como outro diário israelita, o «Yediot Ahronot», explina que o Governo israelita ia pôr fim ao financiamento de
cava, Israel «não é um império vitorioso que possa trainfra-estruturas para além da Linha Verde de 1967.
çar linhas nas areias do Médio Oriente como lhe conSe a história acabasse aqui, poderia concluir-se que o
vém. Nunca nos permitiram isto no passado e nunca
«unilateralismo» herdado de Sharon e aperfeiçoado por Olnos permitirão isto no futuro». Com ou sem Hamas,
mert era uma alternativa aceitável a negociações com a Auuma solução permanente e duradoura, a normalização, a
toridade Palestiniana liderada por um Hamas que continua
paz, só se instalarão naquela região quando palestinianos e
a não dar sinais de se estar a transformar num futuro parceiisraelitas se puserem de acordo. Não é uma questão de
ro para a paz. O problema é o resto. Olmert declara abertaidealismo. É que nunca se fez a paz unilateralmente.
mente que a área E-1, que liga Jerusalém a Ma’aleh Adu-
SILVIA ARROYO CAMEJO
Diva da física
quântica
descoberta
dos «quanta»
de acção por Max
Planck? O actual
debate sobre a
gravitação quântica? Isso são brincadeiras de crianças para esta rapariga que, aos 17
anos, começou a escrever um livro sobre
física quântica. E, ainda por cima, sozinha!
Hoje, Skurrile Quantenwelt [O divertido
mundo quântico] é o número dois do
«top» de vendas alemão na Internet e espanta o mundo científico, o que vale a esta
linda berlinense de 19 anos ter sido coroada pela revista Der Spigel, de Hamburgo, como «a menina-prodígio do microcosmos». Quando recebeu o manuscrito desta jovem, Hans Dieter Zeh, físico da Universidade de Heidelberga, cuja teoria Silvia
Arroyo Camejo debate no seu livro, disse
ter ficado «espantado com o profissionalismo do trabalho». Nascida em 1986, de pai
espanhol e mãe alemã, Silvia começou há
pouco os seus estudos na Universidade
Humbolt, em Berlim. Violinista talentosa —
já ganhou dois concursos musicais — gosta de se escapar desse «mundo paralelo»
que é a física para «abanar o capacete» ao
som do «rock» ou do metal. O seu futuro?
A física, evidentemente. «Há ainda tantas
questões em aberto, apaixonantes, no
estudo das propriedades quânticas da
luz». Se ela o diz…
A
DR
convidado
Não há paz unilateral
GENTE D’AMANHÃ
TÜRKAN SAYLAN
Estender a mão
aos leprosos OS anos
60,
os turcos descobriram-na como
«aquela que seria
a mão dos leprosos». Vice-presidente da Organização Mundial dos
Leprosos (no seio
da OMS), a médica Türkan Saylan acabava de criar, na Turquia, uma associação para a erradicação
dessa doença terrível. Conseguiu o seu objectivo, mas o combate desta infatigável
avó de 70 anos, que percorreu as regiões
mais recônditas da Anatólia como jovem
médica de campanha, antes de se tornar
professora da Faculdade de Medicina de
Istambul, não terminou: longe disso. Ela luta contra as desigualdades, a miséria, a
opressão religiosa e até o cancro, que a
atingiu. Apesar de sujeita a uma forte quimioterapia, Türkan Saylan dirige activamente uma das associações mais importantes da Turquia, a CYDD (Apoio à vida
contemporânea), que está na origem de
cerca de 30 projectos em todo o país. «Kardelenler» (Fura-neves) é o programa em
destaque: assegura a educação de 11 mil
raparigas, desde a escola primária até ao
fim do curso superior. Republicana convicta, Türkan Saylan acha que «não basta salvaguardar as reformas de Ataturk; é preciso levá-las mais longe. O Governo actual encoraja a multiplicação das mesquitas, quando temos é falta de escolas». Birgün, Istambul
PALAVRAS DITAS
AMADOU
TOUMANI
TOURÉ,
Presidente
do Mali
l Colectivista
«Cresci numa
grande família
Í Ilustração de Glez,
onde o indivíUagadugu
duo não era nada e a solidariedade era tudo. Compreendi que o que fazia de mal maculava toda a minha comunidade. Foi o início do patriotismo». Continental, Cotonu
WALID JOUMBLATT,
líder dos drusos libaneses
l Justiceiro
«A base de Guantánamo deve manter-se aberta para poder receber Bashar al-Assad e a família». A propósito
do ditador sírio que a comunidade internacional suspeita estar envolvido no assassínio do ex-primeiro ministro libanês Rafik
Hariri. L’Orient-Le Jour, Beirute
IHAM ALIEV,
Presidente do Azerbaijão
l Belicoso
«Desejo que, no futuro, o orçamento militar azeri seja igual ao orçamento total
da Arménia. Quanto mais cedo os diri-
gentes arménios compreenderam que
nunca poderão competir connosco neste plano, melhor será para eles», declarou na abertura do segundo congresso
pan-azeri, a 16 de Março, em Baku, capital do Azerbaijão. Após o conflito do Alto
Carabaque não foi assinado nenhum acordo de paz entre os dois Estados. Prime-News, Baku
HEINZ-CHRISTIAN STRACHE,
líder do FPÖ, Partido da Liberdade,
direita populista austríaca
l Vencido
«Super». De facto, apenas 4,3 por cento
dos eleitores fizeram o esforço de se deslocar para apoiar a sua iniciativa «Österreich bleib frei» [Áustria permanece livre], marcada com o selo do «europopulismo» contra a Constituição Europeia e a
adesão da Turquia à União. Der Standard,
Viena
WOLFGANG SCHÄUBLE,
ministro da Administração Interna
alemão (CDU)
l Reservado
«Pedir esforços de integração antes de
conceder a nacionalidade não é exagerado. Muito pelo contrário, é natural». A
lei alemã deseja reforçar e harmonizar as
condições de naturalização de estrangei-
ros no país. Testes controversos que foram introduzidos no Estado de Bade-Wurtemberg são indícios disso. Handelsblatt,
Düsseldorf
STEPHAN KRAMER,
secretário-geral do Conselho Central
dos Judeus na Alemanha
l Destroçado
«Uma insondável provocação». É assim
que qualifica a ideia «artística» de transformar a velha sinagoga de Pulheim, perto de Colónia, numa câmara de gás que
se visitaria usando uma máscara de gás.
O projecto pôs a Alemanha em ebulição
no domingo, 12 de Março. O artista espanhol Santiago Sierra, autor desta ideia bizarra, anunciou que iria justificar-se. Entretanto, o espectáculo está suspenso. Spiegel online, Hamburgo
VLADIMIR JIRINOVSKI,
vice-presidente da Duma russa
l Provocador
«Espero que os soldados ucranianos regressem do Iraque em caixões», disse o
líder ultranacionalista durante um programa da televisão russa em directo de Kiev.
Não parou de insultar e de provocar os
outros convidados, ao ponto de alguns terem estado prestes a agredi-lo fisicamente. Novyé Izvestia, Moscovo
COURRIER INTERNACIONAL
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EDIÇÃO PORTUGUESA
Gurcan Ozturk
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