CONDUTA DO ENFERMEIRO FRENTE AOS CINCO ESTÁGIOS NA

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CONDUTA DO ENFERMEIRO FRENTE AOS CINCO ESTÁGIOS NA
CONDUTA DO ENFERMEIRO FRENTE AOS CINCO ESTÁGIOS NA
PERSPECTIVA DA MORTE
Julia Alves de Amorim Almeida1, Leila Dayane Viana Matos1, Talinny Rodrigues Neres1,
Karla Patrícia Moreira2, Roberto Harrysson Braga Tolentino³
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Graduanda do Curso de Enfermagem. Faculdade Guanambi – FG/CESG
Enfermeira. Mestranda em Terapia Intensiva. Docente Faculdade Guanambi – FG/CESG
³ Psicólogo. Especialista em Neurociências e Psicopedagogia – FIP. Docente Faculdade Guanambi – FG/CESG
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RESUMO: Diante do processo fisiológico da morte e a difícil realidade de enfrentamento dos
pacientes com este diagnóstico irreversível, se faz importante os conhecimentos e
identificação dos estágios de morte pelos profissionais de enfermagem que eventualmente se
deparam com tais pacientes, para que possam obter uma assistência adequada e eficaz. O
presente trabalho teve como objetivo avaliar o conhecimento do enfermeiro sobre os estágios
da morte, bem como a prática da assistência de enfermagem, frente ao paciente terminal. O
estudo trata de uma pesquisa de campo realizada no mês de maio do ano de 2013, onde a
coleta de dados aconteceu por meio de um questionário contendo quatro perguntas, aplicado a
uma amostragem de seis enfermeiros com experiência no setor de UTI. Os resultados
implicam na compatibilidade das condutas dos enfermeiros e na capacidade dos mesmos em
identificar os estágios de morte. Concluiu-se, portanto, que é perceptível a assistência
humanizada promovendo o apoio, conforto e a serenidade, bem como o pouco conhecimento
acerca dos estágios e seus conceitos e que há uma lacuna a ser preenchida nos centros
acadêmicos em relação a inclusão de matérias que prepare psicologicamente os discentes, na
assistência prestada a pacientes em leito de morte.
Palavras-Chave: Aceitação. Barganha. Depressão. Negação. Pacientes terminais. Raiva.
NURSING BEHAVIOR FACING THE FIVE STEPS IN DEATH PERSPECTIVE
ABSTRACT: Facing the physiologic process of death and the hard reality of taking care of
patients with this irreversible diagnosis, it’s important for nursing professionals to understand
and identify the death steps. It is also important for nursing professionals to be able to provide
effective and adequate assistance when they face these patients. This work intends to evaluate
the nursing professional’s knowledge and assistance practices of the death steps. This study
was performed using a survey completed in March 2013. The data was gathered using a form
with 4 questions, answered by six nurses whom have experience in an ICU setting. The
results display an existence of correct actions and capacity of these professionals in
identifying the death steps. It was concluded that a humanized assistance in order to promote
help, comfort and serenity exist, but there is poor knowledge about the death steps and its
concepts. Therefore there is a need for colleges to offer classes that will prepare students
psychologically in assisting terminal patients.
Key Words: Accepting. Dealing. Depression. Madness. Refusing. Terminal Patients.
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INTRODUÇÃO
A vida é algo finito, caracterizada pelo cessamento das funções vitais do ser humano,
visto que o encerramento das atividades biológicas finaliza o ciclo da vida. Em estudos,
Bernieri & Hirdes (2007), ressaltam que a morte é considerada como algo inaceitável, na qual,
os indivíduos estão despreparados psicologicamente para lidar com tal situação e o fim da
vida torna-se visto como algo não natural, sendo ocultada e banida das conversas por trazer
medo e insegurança.
Os profissionais da área da saúde são preparados para cuidar da vida. No período
acadêmico, os estudantes não recebem orientações teóricas sobre a morte, através de uma
disciplina específica por não fazer parte da matriz curricular, diante disso, os mesmos não são
suficientemente preparados para lidar psicologicamente e emocionalmente com a mesma de
forma natural. (BRÊTAS et al., 2005; BERNIERI & HIRDES, 2007; OLIVEIRA &
AMORIM, 2008).
Dentre os contribuintes sobre essa temática destacou-se a psiquiatra Kubler-Ross
(1996), que colaborou decisivamente para o esclarecimento sobre o processo do morrer. Ela
teve a oportunidade de publicar um livro que abordava como temática principal, os cinco
estágios que antecedem a morte: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. A princípio,
explora o histórico do comportamento humano para a compreensão da morte em todo o
processo de evolução.
Kubler-Ross, esclarece sobre os estágios, que se inicia com a negação sendo
caracterizada pela não aceitação da mesma, o segundo, é a raiva, que apresenta
comportamentos agressivos e hostis. Em seguida, surge a barganha ou negociação, que é a
tentativa do individuo tem, para adiar ou prorrogar a morte, através de promessas, acordos e
pactos. O próximo estágio é a depressão, em que o indivíduo não consegue mais negar a
doença, com isso surgem às lamentações, queixas, desinteresse e a necessidade de ficar só.
Por fim, manifesta a aceitação, momento em que o paciente aceitou o seu destino, que é de
superação, manifestando paz e tranquilidade.
É perceptível nos hospitais, certo descaso com relação aos pacientes que se
encontram em fase terminal, quando não são realizados os seus desejos ou vontades, por não
terem o direito de opinar sobre o seu tratamento, sentimento, destino e acima de tudo, o de ser
ouvido, tratando somente às suas patologias. Afinal, todo ser humano precisa de apoio,
carinho e afeto nos últimos instantes de vida.
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O referido tema foi proposto para avaliar a assistência de enfermagem prestada aos
pacientes em leito de morte. Ao contrário do que acontece na vivência prática, a conduta de
enfermagem muitas vezes está restrita apenas a execução técnica, em que o paciente encontrase em uma fase propensa a fragilidades físicas e emocionais.
Portanto, pretendeu-se através desse estudo avaliar o conhecimento do enfermeiro
sobre os estágios da morte, bem como a prática da assistência de enfermagem, frente ao
paciente terminal.
MATERIAL E MÉTODOS
Tratou-se de um estudo de campo de característica descritiva com abordagem
qualitativa, em que a coleta de dados aconteceu com enfermeiros que trabalham na UTI de um
hospital do interior da Bahia.
A coleta de dados aconteceu por meio de um questionário contendo quatro perguntas
que abordaram a conduta do enfermeiro frente ao paciente em fase terminal. De uma
população de 10 enfermeiros 06 enquadrava-se nos critérios de inclusão da pesquisa.
Após esclarecimento sobre o objetivo da pesquisa os entrevistados assinaram o termo
de consentimento livre e esclarecido autorizando sua participação. A pesquisa foi realizada no
mês de Maio de 2013. Os questionários foram entregues juntamente com a carta explicativa
sobre a natureza da pesquisa e sua importância para o meio científico.
Os critérios de inclusão para o estudo foram: ser enfermeiro do referido hospital,
participar espontaneamente do estudo e estar incluso na escala de plantão do setor selecionado
no referido hospital e de exclusão ser técnico de enfermagem e não aceitar participar do
estudo.
A avaliação dos dados foi feita por meio da análise de conteúdo e categorização. A
análise de conteúdo é muito empregada na análise de dados da pesquisa qualitativa no campo
da saúde. A mesma desenvolve em três fases: a primeira se refere à escolha dos documentos,
hipóteses e preparação do material para análise; a segunda envolve a exploração do material e
o terceiro, tratamento e interpretação dos dados.
Os dados foram categorizados em quatro eixos. Sabe-se que a categorização é um
tipo de metodologia utilizado nas diversas análises em pesquisa qualitativa a fim de classificar
as ideias que abarcaram as características comuns. As mesmas podem ser constituídas em
qualquer fase da pesquisa (MINAYO, 2004).
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As análises dos resultados foram classificadas em quatro eixos temáticos como
mostra a seguir:
Eixo I – Acesso as informações sobre os cinco estágios da morte.
Eixo II – O enfermeiro frente aos estágios da morte e qual a conduta frente ao
paciente.
Eixo III – Estágios que mais presenciou nos pacientes.
Eixo IV – Atitude frente ao paciente terminal.
Para a análise das falas, as mesmas foram transcritas na integra e identificadas com o
pseudônimo de Bromélia, Lírio, Rosa, Hortência, Cravo e Margarida na ordem que foram
entrevistadas com o objetivo de manter o sigilo dos pesquisados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos enfermeiros que trabalharam na Unidade de Terapia Intensiva, apenas 60%
aceitaram responder o questionário. Destes 83,3% são do sexo feminino e 16,7% do sexo
masculino. É perceptível com isso que, o sexo predominante na enfermagem é o feminino,
sendo mais específico em setor como a UTI. O estudo de Preto et al. (2009), colabora com
esse, quando descreve que na enfermagem o que predomina em relação ao sexo dos
trabalhadores foi o feminino, com cerca de 90,5% que trabalham especificamente no setor da
UTI.
A faixa etária predominante entre os entrevistados foi distinta que variaram entre 26
a 38 anos de idade e tempo de experiência. A pesquisa de Costa et al. (2009), corrobora com
este estudo com relação as idades dos enfermeiros atuantes no setor da UTI, pois estão entre a
faixa de 25 a 40 anos de idade, consequentemente implica no tempo de vivência prática e
ampla experiência em assistir um paciente terminal.
O tempo médio de trabalho na UTI foi de 06 anos, o mesmo varia entre 06 meses a
08 anos de trabalho. Desses, 03 (50%), atuaram no setor por um período de 02 anos, 01
(16,7%) a 08 anos, 02 (33,3%) com tempo de trabalho menor que 01 ano.
Foi observado que 50% atuam nesse setor por um período de dois anos, sendo esse,
considerado período adaptativo para com os procedimentos e rotina do setor. Vale ressaltar
que, o setor pesquisado tem o tempo de funcionamento de 08 anos e que os profissionais
trabalham com sistema de rodízio, o que torna significante, pois esse sistema dificulta ao
profissional tempo e habilidade para ganhar experiência no setor de UTI.
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Silva et al. (2006), denota em sua pesquisa, que o tempo de trabalho de enfermeiros
em UTI, foi de 58,4%, que executaram suas atividades no período de 5 a 10 anos, esses
profissionais tiveram um tempo médio de trabalho de 7,5 anos, considerado um período
significante para adquirirem experiência e habilidades profissionais.
A fala de Silva et al. (2008), fortalece as supracitadas, quando afirma que 92,2% dos
enfermeiros atuantes na UTI, são do sexo feminino e apenas 7,8% pertencem ao sexo
masculino, porem discorda do citado anteriormente e colabora com este quando aponta que o
tempo de atuação no setor foi de 06 meses a 14 anos, obtendo uma média de trabalho de 04
anos.
Conclui-se, portanto, que o tempo de trabalho no setor de UTI dos referidos
entrevistados na pesquisa encontram-se em concordância, pois os mesmos apresentam tempo
médio similares de serviço e experiência no setor, como também, em relação ao sexo, que
como nos demais estudos predominam o feminino.
Analisando o Eixo I, que se trata do acesso às informações sobre os cinco estágios da
morte, apenas 16,7% informaram não ter obtido nenhum tipo de informação acerca da
temática, sendo relevante considerar que esta fração descrita se relaciona a um curto período
de 3 meses de experiência no setor, enquanto 83,3% confirmaram o acesso relacionando a um
período extenso, em média 7,2 anos de experiência.
Entre o meio de informação mais citado foi o livro com 33,3% das respostas, já
11,1% tiveram acesso a essas informações por meio de artigos, revistas, literatura, internet,
filme e na faculdade.
Segundo Vargas & Braga (2013), além do conhecimento cientifico, a capacitação do
profissional atuante no setor da UTI é de suma importância para que o mesmo possa prestar
atendimento ao paciente com segurança. É importante também que esse enfermeiro esteja
apto a exercer atividades complexas exigidas no setor citado, para que a equipe e paciente
receba os resultados esperados.
É sabido, portanto, que, os profissionais que apresentaram tempo de experiência de
06 meses, não dispõem de suficiente conhecimento prático para identificar e analisar os
estágios da morte em pacientes que se encontram em fase terminal.
Através da pesquisa de Santos et al. (2011), foi observado que os profissionais que
trabalham num período curto de tempo, em setor que internam pacientes críticos, não dispõem
de manejos adequados e suficientes para expressão dos sentimentos como: alívio e conforto
por ver o fim do sofrimento de um paciente em fase final e dever cumprido, quando o
profissional ofereceu todos os cuidados para promover uma morte mais digna.
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Nesse eixo, foram abordados aspectos relacionados às informações sobre os estágios
da morte, sendo perceptível que uma porcentagem significante dos entrevistados já tiveram
acesso as informações por meios variados de estudo e pesquisa, enquanto que, uma parcela
menor não tiveram acesso as informações, não respondendo assim de forma plausível o
questionário correspondente.
Em relação ao eixo II, que se trata do enfermeiro frente aos estágios da morte e qual a
conduta frente ao paciente. 83,3% afirmaram que já se depararam com pacientes que
apresentaram alguns dos respectivos estágios da morte, contudo apenas 16,67% se depararam
poucas vezes com tal situação.
Em geral as falas abaixo de ambas as entrevistadas tentam aliviar o sofrimento dando
a esta paciente esperança, tentando mascarar a morte e adiantar o estágio final de aceitação do
seu diagnóstico o que comprova e evidencia a compatibilidade de condutas da maioria desses
profissionais:
Poucas vezes. Utilizo a escuta e tento transmitir tranquilidade para a pessoa.
Demonstro que ela não está sozinha, que vamos cuidar dela. Tento orientar que
existem coisas na vida que a gente não muda, não escolhe (Margarida). Rosa
descreve em sua fala que: Sim. “Deixa de besteira, a nossa hora só Deus sabe”.
De acordo com as falas dos entrevistados acima, é perceptível que o enfermeiro
apresente atitudes de respeito, afeto e apoio aos pacientes que estão em fase terminal, por ser
de sua competência através dos cuidados paliativos e oferecer assistência humanizada por
meio de medidas de conforto (GUTIERREZ & CIAMPONE, 2006).
Os autores citados acima corroboram com Belsky (2010), quando relata sobre a
importância dos cuidados paliativos, sendo estes caracterizados por atitudes que não objetiva
a cura dos indivíduos em estado patológico, visando, porém, promover a morte com maior
dignidade dos mesmos.
O enfermeiro que se depara com o paciente fora de possibilidades terapêuticas, não
dispõe de muitos meios para diminuir tal sofrimento, e neste momento, cabe à equipe de
enfermagem tranquilizar o paciente, através de conversas e conselhos que beneficie e traga
alivio aos mesmos, pois a maioria poderá apresentar alterações comportamentais e
emocionais, devido ao seu estado de patológico.
No momento em que o paciente se encontra em fase terminal, ele anseia por
profissionais e familiares que transmitam segurança e conforto, através de palavras e gestos
que amenize o sofrimento da fase final. Pois nesse período, o mesmo encontra-se fragilizado,
sem atitudes, esperança de vida, psicologicamente afetado, sem animo, necessitando de maior
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cuidado, atenção e que atenda seus desejos. É o que confirma Olivieri (1985) apud Augusto et
al. (2003), o profissional não deve pensar somente no tratamento da doença, mas promover
todo cuidado de acordo com a necessidade de cada paciente.
Os demais entrevistados quando questionados sobre sua conduta frente ao paciente,
chegaram às seguintes respostas.
Lírio afirma: “Sim. Orientar, incentivar, compartilhar momentos”, apoiado na escrita
de Inaba et al. (2004), quando o paciente se encontra no momento final de sua vida, em
determinada fase já não há possibilidades de ter uma comunicação verbal com a equipe de
saúde, como também com os familiares, para expor seus sentimentos. Com isso, cabe ao
enfermeiro avaliar a necessidade de cada paciente em se comunicar, adotando medidas não
verbais que possibilite a troca de informações.
É sabido que nem todos os pacientes que se encontra em fase terminal dispõem da
verbalização para se comunicar, havendo a importância do enfermeiro em orientar e
incentivar o paciente a expressar o seu infortúnio por meio de gestos e compartilhar tais
momentos, a fim de entender o que refere o mesmo, como também suas necessidades e
anseios, para que se possa confortar o enfermo e orientar a aceitar a situação.
É como relata Souza et al. (2009), para se prestar os cuidados aos pacientes fora de
possibilidades de cura, não requer somente o conhecimento da patologia, é preciso lidar com
os sentimentos e emoções do doente, entender o que se passa através das falar e dos gestos,
para que se possa atender suas necessidades e desejos e não ter falhas na prestação de
cuidados de enfermagem, pois ocorrerá um distanciamento do enfermeiro ao paciente
necessitado, ficando isentos de um cuidado adequado.
Conforme sua conduta Cravo transcreve, “Respeitei a sua fase (estágio) dentro dos
limites legais”. Sua fala encontra-se apoiada na de Chaves Neto et al. (2013), quando em seu
estudo demonstra que a equipe de enfermagem deve-se preocupar em fornecer assistência aos
pacientes terminais de acordo com as necessidades individuais de cada um, atentando para o
contato paciente/família que é visto também como um elemento terapêutico dentro dos
princípios éticos e legais do profissional de enfermagem.
É preciso saber também que, além do cuidado físico a esse paciente, cabe a equipe de
saúde cuidar e respeitá-lo nas questões humanas, sociais e culturais, mesmo que a patologia
esteja fora da possibilidade de cura, tais cuidados são importantes e valorizados pelo paciente
em leito de morte (CHAVES & MASSAROLLO, 2008).
Dentre todos os deveres do profissional de Enfermagem ao paciente em fase final, é
importante atentar para a individualidade do mesmo, respeitando-o em todas as fases e
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fornecendo a este, dignidade e conforto nos últimos momentos de vida. É como afirma na fala
de Hortência: “Acredito que sim, devido a rotina de pacientes graves na UTI; maior conforto
para eventual morte”.
A fala de Santana et al. (2009), colabora com a de Hortência quando descreve que o
processo do cuidar dos profissionais de enfermagem aos pacientes terminais, é necessário
fornecer cuidados paliativos de forma humanizada, com respeito e solidariedade, atentando
para questões emocionais e afetivas do mesmo, além de fornecer alívio às dores e angústias
para eventual morte.
Apesar do paciente se encontrar num estágio avançado de sua patologia e muitas
vezes não responder aos estímulos externos oferecidos pela equipe de saúde, cabe ao
enfermeiro proporcionar ao doente, um ambiente acolhedor que forneça mais tranquilidade e
conforto em todo o período de internação até o momento da morte.
Sabe-se que muitos profissionais ao se depararem com os pacientes fora de
possibilidades terapêuticas tentam atender as solicitações e desejos dos mesmos, assim relata
Bromélia:
Sim. Prestamos todos os cuidados de maneira humanizada, dando suporte emocional
à paciente e a família, que também eram acompanhadas por psicólogo.
Procurávamos atender as solicitações dela, como “desejo de comer pizza e tomar
fanta”, sempre que liberado pelo médico plantonista (Bromélia).
Kuster et al. (2010), afirma que muitos enfermeiros apresentaram coerência na
assistência, com ações e medidas de cuidados paliativos para proporcionar alivio do
sofrimento dos pacientes e familiares, por meio de tratamento aos sintomas de ordem
psicossocial, física e espiritual.
No momento da assistência, os enfermeiros atuam de forma humanizada
acompanhando os pacientes em todos os estágios da morte, tranquilizando e fornecendo
suporte emocional não somente ao doente que se encontra em fase final, mas também a
família que se torna parte primordial de todo o tratamento.
Ao ter consciência da gravidade da doença do paciente e que não existem recursos
terapêuticos para cura do mesmo, o enfermeiro procura meios para atender os desejos e
solicitações do doente, sempre que possível e permitido pelo médico.
Ainda a esse respeito Matté et al. (2001), comenta, para que o enfermeiro tenha
compromisso na conduta prestada ao doente, é necessário além da realização dos desejos do
mesmo, a aplicabilidade do processo de enfermagem aos pacientes críticos, pois tal ação
promove a melhoria na assistência prestada ao paciente, aumenta o conforto no leito e maior
credibilidade no profissional pelo doente.
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Diante das falas dos entrevistados, foi observado que os mesmos apresentaram
concordância no que diz respeito às medidas paliativas e que se preocupam com o estado
geral do paciente, trazendo em comum acordo maior conforto, procurando atender as
solicitações do mesmo, dando apoio emocional e psicológico dentro dos preceitos éticos da
Enfermagem e proporcionam a realização de seu desejo e vontade em momentos finais de
vida, tornando-os mais tranquilos e humanizados.
O eixo III aborda o estágio mais frequente observado pelos enfermeiros nos
pacientes, durante a fase em que o indivíduo enfrenta a morte, o mesmo sofre intensas
reflexões sobre a vida, entre elas: curso de vida, vínculos afetivos e desejos futuros. Diante
disso, identificar os estágios os quais o indivíduo vivencia durante o processo de morte, é de
suma importância para o profissional, pois isso faz com que o mesmo preste uma assistência
adequada e individualizada de acordo com o estágio em que cada paciente se encontra.
No decorrer da entrevista, pode-se observar que os estágios da morte, observados
com maior frequência foram: Negação, depressão e aceitação. Este pressuposto condiz com a
pesquisa de Susaki et al. (2006, p.145), que em seus achados são identificados os três
estágios, porém, não na mesma ordem: aceitação, negação e depressão, como sendo os mais
frequentes relatado por seus entrevistados.
A negação foi o mais identificado, sendo percebida por 3 (50%) dos enfermeiros, os
mesmos relataram que, quando os pacientes receberam o diagnóstico de doença terminal,
entram de imediato estado de torpor, descrença e desconfiança na credibilidade passada pelo
médico, sendo assim, confirmado assim o estágio de negação.
O estágio é expresso pelo paciente através da desconfiança do diagnostico médico,
onde o mesmo não acredita na credibilidade dos exames, e que isso não está acontecendo com
ele, observada em falas como: [...] “Não, eu não, é verdade” Susaki et al. (2006, p.145).
Em seguida, vem a depressão e aceitação, reconhecida por 2 (33,3%) dos
enfermeiros incomuns, onde é relatado que após o estágio da negação os pacientes
normalmente manifesta o estágio da depressão e em seguida aceitam a doença, nessa mesma
ordem, que geralmente ocorre próximo ao momento da morte.
Enquanto que 1 (16,7%) dos entrevistados não conseguiu identificar nenhum dos
estágios em pacientes terminais, esse enfermeiro por sua vez apresenta tempo de experiência
menor que 1 ano no setor da UTI.
Segundo Susaki et al. (2006), O doente em fase terminal poderá apresentar
simultaneamente mais de um dos estágios, que não serão necessariamente apresentadas na
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mesma ordem, ou até mesmo não manifestar nenhum dos estágios descritos no referente
artigo.
Tendo em vista, que os estágios da morte surgem em todos os pacientes fora de
possibilidades terapêuticas, é de suma importância à identificação de tais estágios pelos
enfermeiros assistenciais da UTI, pois dessa forma é possível promover cuidados com
equidade, sendo importante que profissionais da saúde atentem para as particularidades e
necessidades individuais de cada paciente, apesar da semelhança de diagnóstico de doença
terminal dos mesmos (SUSAKI et al., 2006).
O eixo IV trata da atitude frente ao paciente terminal. Sabe-se que, os pacientes que
se encontram em fase terminal necessitam de uma assistência intensa e humanizada, pois os
mesmos apresentam alterações físicas e emocionais. É como afirma Rezende et al. (2004), o
paciente necessita de disponibilidade e assiduidade do enfermeiro, para que o mesmo consiga
satisfazer as necessidades físicas, emocionais e sociais do doente, já que o mesmo se encontra
em desgaste físico e sobrecarga emocional.
Oliveira et al. (2005), aborda em seu estudo a importância do enfermeiro adotar
medidas diversificadas de comunicação terapêuticas, com a finalidade de melhorar a interação
enfermeiro/paciente, através de ações como: fala, escrita, escuta, frases descritivas, humor e
silencio, afim de promover uma comunicação satisfatória e cuidado humanizado para melhor
recuperação do paciente.
Foi perceptível que os enfermeiros entrevistados, apresentaram ideias que
correlacionam entre si, com o intuito de promover medidas de conforto ao doente, seguindo as
orientações terapêuticas, porém, os enfermeiros adotam condutas distintas diante do paciente
terminal, como afirma as falas a seguir:
Quando lúcido, procuro atendê-lo em suas solicitações, na medida do possível. Sigo
orientações e terapêuticas implementadas pela equipe. Falo para ela entregar nas
mãos de Deus, pedir que “Ele” haja da melhor maneira (Margarida).
A fala de Margarida entra em consonância com a de Rosa, “Tento ser o mais positiva
possível com o paciente quando possível”.
As falas acima estão apoiadas no estudo de Santana et al. (2009), quando descreve
que, os profissionais de enfermagem juntamente com a equipe multiprofissional, deve a todo
momento dispor de orientações, preocupação, responsabilidade e cuidado afetivo com o
paciente terminal, passando ao mesmo, positividade e aconselhamento para que assim, o
doente sinta confiança na assistência prestada pela equipe de saúde.
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Diante disso, foi observado que os profissionais proporcionam uma assistência de
forma a respeitar as solicitações sempre que possível do paciente terminal, sendo que, apenas
a primeira atentou para o estado de lucidez do paciente antes de oferecer assistência.
Observa-se que os enfermeiros, atentam para a importância de adotar medidas de
conforto ao paciente como meio de tratamento paliativo, já que os mesmos muitas vezes
podem apresentar ansiedade, nervosismo e agitação, sendo importante orientar a fim de
proporcionar tranquilidade e com isso promover maior alivio de tal sofrimento. Em
concordância, o estudo de Veiga et al. (2009), abrange importância do relacionamento
enfermeiro/paciente e as principais fontes adotadas pelo profissional como meio de ajuda,
apoio e suporte, com o intuito de promover uma melhor perspectiva terapêutica.
Como relata as entrevistadas a seguir, “Tento demonstrar tranquilidade e adotar
medidas de conforto” (Lírio), “Medidas de conforto” (Hortência), as falas citadas acima são
fortalecidas pelo estudo de Souza et al. (2009), quando afirma que os enfermeiros ao lidar
com pacientes em fase terminal, desenvolvem atividades com o intuito de proporcionar bem
estar físico, mental e sociocultural, além de promover tranquilidade e conforto através de
cuidados humanizados, para que dessa forma possa aliviar os medos, angústias e sofrimento
desses pacientes que se encontram sem possibilidades terapêuticas.
No momento final da vida, é necessário que o enfermeiro fortaleça os vínculos
familiares do pacientes, através do contato e visitas, para que assim minimize o sofrimento
enfrentado pelo doente, como também proporcionar alívio da dor.
Como afirma os entrevistados a seguir:
Atender os desejos do paciente dentro dos preceitos éticos e legais, minimizar o
sofrimento, como a dor por exemplo: saudade de um ente querido permitindo visita,
etc ( Cravo).
A assistência oferecida à ele era a mesma ofertado aos outros paciente. Procurava
atender a todas as suas necessidades, cuidava da sua aparência, dos curativos e dava
suporte emocional sempre que possível (Bromélia).
De acordo com Oliveira et al. (2011), são fornecidos os cuidados paliativos aos
pacientes terminais, através de medidas de conforto e controle dos sintomas, a fim de
proporcionar cuidados que preencham as necessidades individuais do doente.
Foi perceptível que os enfermeiros do setor estão preocupados e atentos com os
desejos dos pacientes em estágio final, tentando realiza-los da melhor forma, sempre quando
possível, identificando como algo importante para colaborar com o bem estar do paciente, a
fim de promover momentos finais de vida mais humanizada.
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CONCLUSÕES
Conclui-se que, os enfermeiros entrevistados prestam a assistência de enfermagem
aos pacientes em leito de morte com base na humanização, promovendo o conforto em seus
últimos momentos de vida, bem como o alivio do sofrimento, tanto dos próprios pacientes
como da família.
Em geral o levantamento de dados indica que a maioria dos entrevistados tem
conhecimento sobre os estágios de morte, e que estas fases em uns, apresenta-se com mais
intensidade do que em outros, não necessariamente todas em ordem sequencial, e segundo a
pesquisa, com predomínio mais frequente da negação.
O estudo denota a importância na identificação dos estágios para a equidade na
assistência prestada, pois cada paciente apresenta patologias diferenciadas e cada uma delas
necessita de um cuidado específico. Entretanto, não há qualificação acadêmica adequada em
preparar o profissional para lidar com o processo da morte, sendo interessante a importância
da inclusão de uma matéria dentro da matriz curricular que capacite os acadêmicos
psicologicamente e na abordagem ao paciente em leito de morte.
Diante disso, foi observado que os enfermeiros prestam assistência espontânea de
modo a garantir a tranquilidade, humanização e ética frente a pacientes terminais, salientando
que o profissional de enfermagem é indispensável nos cuidados paliativos, tanto como
profissional quanto seres humanos capazes de sentir, agir, apoiar e garantir o bem-estar físico
mental e social em favor do próximo.
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REFERÊNCIA
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Relacionamento
enfermeira/paciente: perspectiva terapêutica do cuidado. Revista de Enfermagem UERJ,
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