Banquetes - Desarquivo.org
Transcrição
Banquetes - Desarquivo.org
Banquetes E x pa n s õ e s d o d o m é s t i c o B A N Q U E T S | e x p an d e d d o m est i c i t y Breno Silva 1ª. Edição | Belo Horizonte | 2008 Louise Ganz | banquetes | 01 01 | BANQUETES | 02 03 Banquet es 23 DES DE O ART IFÍC IO 37 CORCOCKTA IL 42 Fracassos doc u m en ta i s Louise Ganz F a b í o l a Ta s c a Au g u s t i n d e Tu g n y F r e de r i c o C a n u t o 64 Tr anslat io n s 92 Currículo s Banquetes – Expansões do doméstico B ANQUETS e x p a n d e d d o m e s t i c i t y B r e n o S i l va e Loui se G a n z . Belo Horizonte: Instituto Cidades Criativas ICC, 2008. 96 p. ISBN9 7 8 -85 -61 6 5 9 - 0 1 - 1 b a n q u e te s @g m a i l .c o m Belo Horiz o n t e , B r a s i l – 2 0 0 8 01 02 texto | Louise ganz | 03 Há alguns anos passava de ônibus por uma ave nida e vi so bre a calçada quatro pessoas assentadas em vo lta de uma m esa quadrada, colocada diante do muro de uma casa. Coberta com toalha e flores, a mesa estava be m bonita, e as pessoas a lmoçavam tranqüilamente. Um sonho? Conv ersas, descanso, contemplação, movime nto na rua, pessoas e automóveis passando, som bra de árvores, per fume de fl ores sobre os muros. Talvez, o motivo d e estarem almoçando na calçada tenh a sido ap enas por praze r, e não pe rf ormático. Para o meu o lhar d e passante, aqui lo desp ertou um pensam ento sobre outros modos de viver o cotidiano nos espaços da cidade. Expandir o espaço da casa para a rua amplia o espaço d e vivência e d e convívio. 01 02 03 texto | Louise ganz | 04 A CALÇADA EM FRENTE DE CASA – EXPANSÃO DA VIDA DOMÉSTICA Já faz algum tempo que realizo almoços na calçada. Como moro em um apartamento no primeiro piso, com uma janela que se abre para a calçada, a rua tornou-se uma espécie de “varanda”. Aos domingos colocamos mesa e cadeiras em frente para almoçar com amigos, e passamos uma tarde agradável conversando e descansando sob a sombra da árvore existente diante da janela. Em algumas ocasiões colocamos uma piscina de plástico para as crianças e umas placas de grama formando um jardim. A rua, bastante movimentada durante os dias de semana, torna-se tranqüila aos domingos. D iversas pessoas caminham e passam por nós, principalmente para ir à igreja que fica logo no quarteirão de cima. Alguns idosos param para relembrar o passado, de uma forma nostálgica, lamentando a perda do hábito de colocar, ao entardecer, as cadeiras nas calçadas. Então, ao ocuparmos hoje esse esp aço para realizarmos os almoços, estaríamos retomando uma cidade do pa ssado? N ão, o que move é muito mais um des ejo de tornar a vida melhor, dentro do que a cidade oferece, do que reviver ou tentar congelar um tempo que não existe mais. Nas noites de passagem de ano fazemos uma festa caseira com amigos nessa mesma calçada. Ocupamos com mesa, cad eiras, tapetes, pufs, luminárias, comidas, bebidas e música. Nesta noite, quando a rua fica movimentada devido aos restaurantes e bares da região, passantes manifestam seu espanto, alegria e contentamento ao nos encontrar ali. texto | Louise ganz | 01 02 03 04 05 01 02 03 04 05 06 01 Dos almoços em frente à casa, passamos a fazer outros em locais diversos da cidade, com pessoas desconhecidas que fazem as comidas, levam as cadeiras, pratos e talheres. Foi daí que surgiu o projeto Banquetes, um vídeo onde registramos cinco almoços em Belo Horizonte. Primeiramente fizemos percursos aleatórios pela cidade em busca de lugares, situações e práticas cotidianas diversas. Eram de interesse espaços como canteiros, rótulas de circulação, finais de ruas, áreas sob viadutos, praças abandonadas, margens de córregos ou lagoas, calçadas e lotes vagos. Também procuramos conhecer pessoas que gostassem de cozinhar e casas onde houvesse a possibilidade de usar a cozinha para confeccionar pratos. Procuramos um local de abate de galinhas ou de produção de vegetais, para realizar um almoço. Encontramos situações diversas como um grupo de pessoas que ocupa a rua para dançar aos sábados, moradores que adaptaram uma churrasqueira do lado de fora do muro da casa, outros que instalaram redes na calçada amarradas em árvores. Desses diálogos com os lugares e as práticas existentes, nos infiltramos com uma mesa para o acontecimento dos banquetes. A MESA E A COMIDA A mesa é um objeto comum a todos e existe na maioria dos interiores de casas do ocidente. Para realizar os banquetes, transpomos a mesa para o lado de fora, para a rua, praça, ou calçada. Isso provoca um deslocamento nos hábitos cotidianos, c onstruindo-se uma situação que toca àqueles que participam ou que transitam, seja em suas lembranças, seja na descoberta de possibilidades de uso 02 03 04 05 06 07 texto | Louise ganz | EXPANSÃO PARA A CIDADE – OUT RAS RELAÇÕES 01 02 03 04 05 06 07 texto | Louise ganz | 08 de espaços que não eram antes incorporados dessa forma ao dia-a-dia. A comida é um elemento mediador entre as p essoas, tanto no ato de cozinhar, quanto no de comer. É uma forma de exp eriência dos s entidos e do prazer que possibilita trocas e a aproximação entre pessoas. “ A gas t r onom i a é o dom í ni o r es er va d o a Er o s a l i o nde t r i unf am quas e ex c l us i v ame n te a s fú r i a s mo r t ai s de Tanat os . I m pul s o de vi d a , cr i a ti va e c r i a d o r a , c o n s t i t u i n t e e r e g e n e r adora, a força v i t a l é a a u d á c i a c r i s t a l i z a d a p e lo conjunto dos a r dor es que, em nós , r es i s t em à m o r te . Co m e r é i n s t a l a r - s e n o p r ó p r i o c e n t r o do processo f o r m a d o r, g e r a d o r e c o n s e r v a d o r de si próprio. De c e r t o m o d o , é a s s i s t i r à preparação de a ur or as quando s e anunc i am c r epú scu p l o s.” 1 Ao pensar na comida e na cidade, logo imaginamos diversas nov as situações que incorporam especificidades dos lugares: em uma rótula gramada onde circulam carros, sob uma árvore, colocamos uma toalha para fazer um pic nic ; amarramos redes em árvores e postes nas calçadas, para o descanso após o almoço. Os trabalhadores da construção civil têm por hábito comer e dormir nas calçadas, e procuram o mínimo para poder usufruir de um efêmero descanso: a sombra de uma árvore e um piso plano. Poucas coisas são nec essárias para se construir uma experiência espacial esp ontânea e cotidiana. PÚBLICO E PRIVADO Estamos habituados a uma cidade desenhada segundo regras que limitam e separam o público e o privado. Ao longo da história das cidades ocidentais, os traçados Já os camelôs, as feiras, as bancas de comidas, o varal, o jogo, a música, a máquina de lavar roupas, os vasos de plantas, as cadeiras provocam, pela sua desordem, uma redefinição dos usos das ruas. Essa expansão doméstica ou as atividades privadas em áreas públicas são tidas como uma espécie de invasão indesejável, e não como algo próprio da vida urbana. Os almoços na calçada constituem uma invasão e uma expansão da vida doméstica. Rompem as fronteiras entre público e privado. E além disso, passaram a ser incorporados em nossa vida cotidiana. O ESPAÇO VAGO DA CIDADE A cidade possui diversos espaços residuais, campos abertos e vazios, que podem ser usados. Esses espaços possuem em grande parte um caráter de abandono e de vag o, o que, justamente por isso, os tornam campos livres para invenções. Diferentemente daqueles espaços planejados, com funções definidas, e que determinam o modo de uso e de comportamento, os espaços vagos são lacunas a serem preenchidas. Recordo-me aqui do arquiteto Álvaro Siza, que partiu de traços existentes em um terreno para realizar o projeto 01 02 03 04 05 06 07 08 09 texto | Louise ganz | urbanos, por mais diversos e distintos que sejam, reforçam essa fronteira. Assim, oficialmente, o espaço das ruas é exclusivo para o transitar, e raras vezes para a permanência ou o de senrolar de alguma atividade. As leis de ocupação e uso do espaço urbano tendem a reforçar as fronteiras e a gerar espaços higienizados, deterministas e hierarquizados. M esmo as ruas exclusivas para pedestre pertencem a uma lógica do trânsito e da limpeza urbana, passam a ser a exceção ao carro. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 texto | Louise ganz | 10 Habitacional da Malagueira 2 . Esse terreno encontrava-se entre dois outros conjuntos habitacionais já existentes, e, ao visitar o local, o arquiteto identificou várias marcas de linhas no solo. Eram indícios dos percursos que os habitantes vizinhos deixavam ao atravessar o terreno, que ao longo de anos tornara-se local de passagem. Por serem várias e intensas as marcas, Siza optou por não interromper essa prática cotidiana dos habitantes. M anteve as linhas como espaços abertos, públicos e de passagem, e paralelo a elas, implantou o aqueduto e as habitações. Além disso, deixou alguns espaços sem definição de uso, uns nichos abandonados ao tempo e às decisões dos futuros habitantes. Essas zonas de respiração pas saram a ser, após a ocupação do conjunto, locais para estender varais, pequenos campos de jogos, locais para colocar cadeiras, tomar sol, conversar, etc. Assim, o arquiteto partiu de elementos sutis e sensíveis. Entendeu o valor em deixar lacunas, mesmo que seus contemporâneos à época do projeto o tenham criticado, julgando-o incapacitado para desenhar todos os espaços. Com isso retomo o potencial dos espaços vagos e das ações espontâneas de ocupação dos mesmos. Ao afirmar que os espaços vagos são lacunas a serem preenchidas, faço-o ao modo de S iza. N ão se trata de acabar com o vazio, mas, ao contrário, de incorporar o vazio, mantendo-o como vago, mas sendo potencial de uso coletivo. Locais sem maquiagem, sem determinismos, não objetos de lucro ou especulações, nem espetaculares, mas apenas disponíveis e incompletos. Desse modo o ocupante pode ter uma presença ativa e construtiva. Os espaços vagos são necessários, porém nas cidades eles tendem a ser eliminados cada vez mais, e | CALÇADA DA casa louise| 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 com isso nos deixar sem possibilidades de intervir, criar e inventar. D iante do vago, podemos criar coisas de acordo com a nossa própria experiência. 01 02 03 04 As cidades contemporâneas organizam-se basicamente em ruas, grandes vias de tráfego, praças, parques, edifícios, aglomerados e condomínios. Para os espaços da rua, em diversas culturas, seja no Japão, na C hina, no Brasil ou no Egito, expandem-se os interiores de casas e comércios, normalmente como uma invasão. Aquilo que é do mundo privado desdobra-se para fora pelo uso. Ruas inteiras são espaços de vida contínua, de ofícios, de circ ulação e de moradia. Isso não ocorre apenas em áreas construídas informalmente, como aglomerados ou favelas, onde a porosidade dos espaços é muito maior, mas também em bairros planejados. No Japão, ruas locais são ocupadas pelo universo privado. Na porta de casas, que se abrem diretamente sobre a rua, ficam chinelos sobre os carpetes, alguns vasos de plantas ornamentais e hortaliças e, em alguns locais, máquinas de lavar roupa ou geladeiras. A dicotomia entre privado e público não é rígida, vive-se impregnado na própria fluidez ou passagem entre ambos. Percebe-se isso pelas cortinas que estão penduradas no lado externo das portas. Habitualmente, no mundo ocidental, acostumamo-nos com as cortinas no lado de dentro, quando nossas próprias mãos decidem quando abri-las ou fechá-las, mantendo distância do acesso público, pois vedam o olhar quando portas e janelas estão abertas. Q uando colocadas do lado externo, inverte-se o sentido, parecendo ser a rua a parte íntima da casa. Também é comum vermos garçons atravessando ruas com bandejas, trazendo pratos, copos 05 06 07 08 09 10 11 12 13 texto | Louise ganz | AS CALÇADAS 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 texto | Louise ganz | 14 e talheres, como se percorressem um corredor entre a cozinha e a copa. A cozinha é normalmente um pequeno cub ículo com portas abertas para a rua, e as refeições são levadas para diversos endereços nas proximidades, sempre com uma atmosfe ra de intimidade. A CIDADE DO ESPETÁCULO Desde o século XIX, com o projeto de limpeza urbana de Haussmann para Paris, que a tabula rasa ocupa o imaginário e o desejo de aç ão de arquitetos e urbanistas. No início do século XX , os projetos modernistas de urbanização con tavam com o arrasamento, sem deixar vestígios do que hav ia no local anteriormente, em prol das novas cidades compostas, basicamente, por extensas áreas verdes, unidades habitaci onais (arranha-céus) e intensas vias para circulação de veículos. Para viver nesses espaços contavase com um modelo de homem, idealizado e platônico, cujo tempo seria dedicado às reflexões, à contemplação e ao bem estar elegante. 3 Desde a década de 1950, os situacionistas e, principalmente, Guy Débord e Constant, 4 colocam em questão as cidades arrasadas: “ No s b a i r r o s a n t i g o s , a s r u a s t r a nsformaram-se e m a u t o - e s t r a d a s , o s l a z e r e s s ã o comercializados e d e t u r p a d o s p e l o t u r i s m o . O relacionamento s o c i al t or na- s e i m pos s í v el . O s b a i r r o s r e cé m c o n s t r u í d o s a p r e s e n t a m d o i s t e m as dominantes: o t r â n s i t o d e c a r r o s e o c o n f o r t o r esidencial. São a m i nguada ex pr es s ão da f el i c i da d e b u r g u e sa , e s v az i ada de qual quer pr eoc upaçã o l ú d i ca .” 5 Tom profético para falar, há cinqüenta anos, da invenção de necessidades para os atuais modos de vida: um mundo 14 15 texto | Louise ganz | 16 mediado pela imagem, que traz um ideal de conforto, proteção e isolamento. O que faz essas forças se movimentarem? A especulação imobiliária? Seria possível criar outras formas de especulação, que continuem gerando lucro, mas que, paralelamente, permitam a manutenção de áreas sem controle, de lacunas, espaços vagos e de vida comum? P ois quanto mais deterministas são os espaços, menores são as possibilidades de atuar e inventar, e maior é a paralisia. “ O p l a n e t a f o i i n v a d i d o p o r u m a doença mental: a banal i z aç ão. Todos es t ão hi pno ti za d o s p e l a p r oduç ão e pel o c onf or t o – es g o to , e l e va d o r, b an h e i r o , m á q u i n a d e l a v a r. E s s e e s t a d o d e f a t o , q u e n a s c e u de um protesto c o n t r a a m i s é r i a , u l t r a p a s s a s e u o bjetivo primeiro – l i b e r t a r o h o m e m d a s p r e o c u p ações materiais – p a r a s e t o r n a r u m a i m a g e m obsessiva no i m e d i a t o . E n t r e o a m o r e o t r i t u r ador automático d e l i x o, a j uv ent ude de t odos os p a íse s p r e fe r e o t r i t ur ador. ” 6 O ordinário A invenção da História das C idades fez-se, inicialmente, bas eada no desenho urbano e no seu funcionamento. A c onstrução de uma outra História baseada em dados corriqueiros do cotidiano como: atividades, ritmos, enc ontros, perturbações, rupturas, diagramas e narrativas, pertence ao século XX. 7 Esses dados não faziam parte do campo dos conhecimentos históricos até então, não eram de interesse para o projeto urbanístico, nem para o pen samento sobre as cidades. O cotidiano passou, portanto, a fazer sentido para a construção de um pensamento sobre as cidade s. Se os vestígios nas cidades são apagados e se elas s e tornam limpas, ordenadas e iguais, diminui juntamente com isso a capacidade de gerar espanto, devaneios e encontros fortuitos com a poeira, o desalinho ou o capim que brota indevidamente em um buraco na calçada. RelatoS sobre o filme Banquetes Banquetes foi uma série de cinco almoços realizados em espaços públicos de bairros distintos, em Belo Horizonte. Para a escolha dos locais partimos do mapa para nos direcionar para norte, sul, leste e oeste da cidade. Realizamos diversos passeios de ônibus, a pé ou de 14 15 16 17 18 19 texto | Louise ganz | Para exemplificar a relação cotidiano e cidade como formadora da história, cito Georges Perec, a partir de seu texto L’Infra-Ordinaire. 8 Perec realizou o mapeamento da rua onde viveu em P aris, a qual estava em processo de contínuas demolições. Seu procedimento foi de acompanhar de 1969 a 1975 as transformações, através de visitas freqüentes ao local, anotando as modificações sofridas casa por casa, construindo uma espécie de inventário das particularidades. Pela numeração dos edifícios registrava aqueles que estavam habitados, os que passavam a ter placas de ‘aluga-se’ ou ‘vende-se’, os que es tavam abandonados, os que eram demolidos. Ano após ano a paisagem foi se modificando, até chegar à total demolição. A partir desse simples procedimento ele revela a história dos modos de viver, de ocupar o espaço e as transformações ocorridas. 14 15 16 17 18 19 texto | Louise ganz | 20 automóvel, em busca de situações e locais in teressantes. No processo de escolha dos locais conhecemos pessoas que se disponibilizaram a participar como cozinheiros e definimos os cardápios em função da situação local. No caso do banquete na praça, por exemplo, escolhemos o cardápio de frango ao molho pardo por existir no local um pequeno abatedouro de galinhas. Um casal de moradores, que normalmente cozinha para os eventos festivos da igreja do bairro, dispôs-se a preparar toda a refeição. BANQU ETE 1 Onde: N a rua, diante de uma igreja, onde ocorria um casamento, na região leste da cidade. Esperamos a noiva entrar na igreja para em seguida instalarmos a mesa do lado de fora. R ealizamos uma espécie de invasão do local. O cardápio constou de algodão doce de diversas cores e maçãs do amor vermelhas, feitos por uma moradora do bairro, que produz para as barraquinhas de festas e vendedores ambulantes. Construímos sobre a mesa uma paisagem topográfica de algodões coloridos. Os noivos haviam contratado uma banda de música local para tocar na saída da igreja e isso somou-se à surpresa da nossa mesa. BANQU ETE 2 Onde: Em uma pequena praça de bairro rodeada pelo comércio local, na região norte da cidade. Escolhemos essa praça porque na esquina havia um abatedouro de galinhas. Mandamos matar doze galinhas. No mesmo quarteirão havia um casal, bastante conhecido no bairro, por serem os cozinheiros das festas da igreja local. O cardápio foi frango ao molho pardo. As mesas foram emprestadas pelo dono do bar da outra esquina. Eles limparam, carregaram e instalaram as mesas na praça. A participação foi ativa de toda a vizinhança. Cada pessoa BANQUE TE 3 Onde: Às margens de uma lagoa urbana - Lagoa da Pampu lha - região norte da cidade. Esse local foi escolhido por suas características b ucólicas, pseudo-pastoril e pictórica. Uma situação de natureza urbana. O cardápio constou de leitão assado e bacias de alface cobrindo toda a mesa. BANQUE TE 4 Onde: No meio da rua, no Quarteirão do Soul, região central da cidade. Queríamos nos inserir em uma situação já existente, por isso escolhemos esse quarteirão onde o grupo do Movimento Black Soul encontra-se para dançar, todos os sábados. Optamo s por fazer um banquete de bebidas coloridas e refrescantes, feitas na hora. As pessoas se aproximaram e se amontoaram em volta da mesa para escolher as bebidas. BANQUE TE 5 Onde: Em uma calçada em área residencial, região sul da cidade. Esse banquete foi realizado com um grupo de amigos e vizinhos. O cardápio constava de pratos diversos, chamados de pratos escultóricos. Diversas cenas ocorreram ao acaso nesse dia, sem prévio conhecimento, como: obra no asfalt o realizada pela prefeitura da cidade e blitz da polícia em grupo de jovens torcedores de time de futebol. Como é nossa proposta lidar com os acasos, todas as cenas foram inseridas no filme. 14 15 16 17 18 19 20 21 texto | Louise ganz | levou seus pratos, talheres e inclusive marmitas para levar para casa. 14 15 16 17 18 19 20 21 texto | Louise ganz | 22 1- ON F RAY, M i c h e l . A R a z ã o G u l o s a : f i l o s o f i a d o g o s t o . R i o d e Janeiro: Rocco, 1999, p. 167-168. 2- C o n s t r u í d o Portugal. na cidade de Évora, província do Alentejo, 3- R e f i r o - m e à c u l t u r a o c i d e n t a l m o d e r n i s t a , p r i n c i p a l m e n t e à s p r o p o s t a s u r b a n í s t i c a s e d o M o d u l o r d e L e C o r b u s i e r. 4- S o b r e o s S i t u a c i o n i s t a s c o n s u l t a r e m : DÉ B ORD , G u y. A S o c i e d a d e d o E s p e t á c u l o . J ACQU E S , P a o l a B e r e n s t e i n ( o r g . ) . Apologia da Deriva. Escritos Situacionistas sobre a Cidade / I n t e r n a c i o n a l S i t u a c i o n i s t a . SAD L E R , S i m o n . T h e s i t u a t i o n i s t city. E Situacionista: teoria e prática da revolução. 5- CONSTANT. O u t r a C i d a d e p a r a o u t r a Vi d a , IS n o . 3 , d e z . d e 1 9 5 9 . E m : J ACQU E S , P a o l a B e r e n s t e i n ( o r g . ) . A p o l o g i a d a Deriva. Escritos Situacionistas sobre a Cidade / Internacional S i t u a c i o n i s t a . R i o d e J a n e i r o : C a s a d a P a l a v r a , 2 0 0 3 , p . 11 4 . 6- IVAIN , G i l l e s . F o r m u l á r i o p a r a u m n o v o u r b a n i s m o . IS n o . 1 , j u n h o d e 1 9 5 8 . E m : J ACQU E S , P a o l a B e r e n s t e i n ( o r g . ) . A p o l o g i a da Deriva. Escritos Situacionistas sobre a Cidade / Internacional Situacionista. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, p.69. 7- N e s t e c a s o m e r e f i r o a o s s e g u i n t e s a u t o r e s q u e t r a b a l h a m a relação Cotidiano e Cidade: Michel de Certeau – A Invenção d o C o t i d i a n o , G e o r g e s P e r e c – L’ I n f r a o r d i n a i r e e E s p è c e s d ’ E s p a c e s , Wa l t e r B e n j m i n – I n f â n c i a e m B e r l i m , R u a d e M ã o única, Imagem e Pensamento. Em: Obras Escolhidas / Rua de Mão Única. vol 2. 8- P E R E C , G e o r g e . L’ I n f r a - o r d i n a i r e . P a r i s : É d i t i o n s d u S e u i l , 1989. 14 15 16 17 18 19 20 21 22 O banquete tem lugar na Rua P ernambuco, ex atamente em frente à casa de Louise Ganz. Há uma grande mesa arrumada na calçada para certo número de convidados. Eu che go com os ingredientes para preparar meu “prato escultórico”: uma modesta e prática alusão a C arl Andre: pão de forma sem casca e patê de frango de coloração rosada. Uma fatia de pão com patê e uma fatia de pão sem patê, uma fatia de pão com patê e uma fatia de pão sem patê dispostas horizontalmente lado a lado até completarem o tamanho da bandeja. O pão é utilizado em suas prontas dimensões: não há cortes, e isso é tudo. A mesa está cuidadosamente preparada, os outros convidados são quase t odos conhecidos de outras circunstâncias similares. Mas agora há uma câmera, há um filme sendo produzido: “Banquetes”. 23 texto | Fabíola tasca | D ES D E O A R T I F Í C I O 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 Em 2002 eu também participei de um projeto da dupla Breno Silva e Louise Ganz: “ P erpendicular Hotel Bragança”, um conjunto de intervenções de artistas e arquitetos em alguns aposentos de um hotel. N aquele contexto, e u não estava ali nem como artista, nem como arquiteta, mas como parte desta instância meio imprecisa à qual chamamos público. Enquanto visitante daquele evento alcancei uma experiência muito significativa em minha história de relações com a arte, uma experiência que procurei comunicar em um breve texto, relato ansioso, escrita motivada pelo encantamento da circunstância: texto | Fabíola tasca | 24 QUARTO 117 Olh a bem tu do o que pu d eres ver. Jú li o Ve rne, Mi guel St rogoff Acabo de retornar do “Hotel Bragança” onde, quero lhe contar, participei de uma experiência pe rturbadora. A min ha empresa aqui é da ordem do paradoxo: narrar uma situação para a qual as palavras sempre h ão d e me faltar. O nome do proje to é PERP ENDICULAR e gostaria de agrade cer aos responsáveis por este evento que me oportunizou um acontecimento inédito. A proposta constava de int ervenções de artistas e arquitetos em aposentos de um hotel em funcioname nto no centro da cidade de Belo Horizonte – o “Hot el Bragança”. Visitava os apose ntos int erferidos. Entre um e outro f ui definitivament e afetada pelo quarto 117. A porta estava entr e aberta. Delicadamente 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 texto | Fabíola tasca | empurrei-a, perc ebendo-m e lige iramente alt erada. Era como se estiv ess e penetrando em um aposento alheio. Senti meu corpo em estado de alerta, um ce rto aguçam ento dos sentidos pelo qual me percebia emocionada diante da ce na de um aposento usado. É isso mesmo, apenas isto, um quarto de hotel que conservava os indícios de uma presença recente. Um forte cheiro de cigarro, comprovado pel a visão de um cinze iro lotado d e guim bas; o som de algumas vozes conduzindo o meu olhar para uma televisão que , al ojada num dest es suportes de pared e e ligada num volume ge n eroso, apresentava as imagens da familiar novela das oito: Esperança; várias latas de cerveja já consumidas dispostas de maneira caótica sobre uma pequ ena cômoda entr e duas camas de solteiro; algumas roupas j ogadas sobre ambas as camas; outras roupas emboladas numa mala aberta aos pés de uma das camas e apoiada na parede que separava o quarto do provável ban heiro. Um par de tênis imundo bem no m eio do caminho. Todos estes objetos dispostos naquele espaço compunham um cenário enigmático. Eu só pensava na preciosidade da proposta: apenas um quarto usado. Como uma idéia tão simp les podia s er tão genial ? Como uma intervenção conseguia tamanha verossimilhança? O surpreendente era a aparência de ve rdade (ou seria a potência de ve rdade ?) que sugeria uma ação precisa, quas e cirúrg ica. O quarto estava mesmo repleto de ausência. E era mesmo isto o que fazia do aposento 117 indub itavelment e a proposta mais bem sucedida. 24 25 texto | Fabíola tasca | 26 A sensação de invasão pro l ongava-se fazendo com que e u me sentiss e comprimida pelo t empo, te ndo que me retirar o mais rápido possível, pe rcebendo-me sob eminente peri go. Talvez por isso me escapem de talhes do aposento, e este fato é tanto mais perturb ador. Ac ho m esmo qu e a experiência foi tão int ensa que, ao tentar re cordá-la, é como s e parecesse distante, e me smo qu e inexist ente. Fiquei curiosa para conhe c er o nom e do autor ou autores do projeto e pergunt ei aqui e ali. Não souberam m e respond er. Resolvi voltar ao 117 para prolongar, reafirmar ou mesmo confirmar a experiência. Fui surpreendida com a porta fechada. Foi uma espécie de curto circuito inf initesima l. Aos poucos f ui perc ebe ndo qu e não apenas o segundo andar f uncionava normalmente, mas naquele andar, ao lado dos aposentos interferidos, havia quartos efetivam ente ocupados. Não se tratava de performance, era o fluxo do hotel coabitando com aquele evento. Ciente disso comec ei a considerar se o 117 não seria apenas um quarto de hotel. Se aquel a presença que eu detectei em função da sua própria ausência não se tratava da retirada temporária de algum hóspede que, por prever a rapide z de seu retorno, não t eria se preocupado em fech ar a porta. Ou qu e ta lvez t enha m esmo esquecido de fazê-lo. A perg unta era se o quarto 117 seria aquilo mesmo que me parec eu: um quarto de hotel usado. Não foi necessária uma investigação minuciosa para confirmar esta suspeita. O quarto 117 tratavase realme nte de um aposento em uso, um espaço Este relato procurava contemplar minha percepção da descontinuidade entre o evento e o próprio funcionamento do hotel. A percepção de algo como um intervalo que unia e separava tais registros. O que estava em jogo ali era um “es tranhamento do familiar” que me parecia possível por meio da ambigüidade instaurada pela estratégia do evento: uma ação artística inserida no contexto de um hotel em funcionamento. Participar de um dos banquetes consistiu uma experiência muito distinta, embo ra cúmplice da experiência anterior. No banquete eu ocupava o lugar de partícipe da cena de maneira consciente, enquanto em “ Perpendicular” eu me tornava subitamente consciente de que participava de uma cena. C ertamente tal distinção modela de maneiras singulares as experiências, mas aqui gostaria de sublinhar 24 25 26 27 texto | Fabíola tasca | ha bitado. Coincidentem ente, e nquanto equaciono estas dúvidas, um hósped e sai do quarto e não r esisto em interpelá-lo? - Você é quem está no 117? Ele apenas asse nte com a ca beça, enquanto de sloca-se apr essadament e p el o corredor, de monstrando certo mau humor e de scontentamento. A experiência provoca em mim uma cisão irredutível entre PERPENDICULAR e o HOTEL BRAGANÇA, ressaltando a incontornável fronteira entre ambos, o qu e, curiosamente, e dirão alguns, paradoxalment e, v em potencializar as possibilidades das indecidíveis, insuspeitadas, incontroláveis e, por que não, re volucionárias conexõ es entr e estas PARALELAS. 24 25 26 27 texto | Fabíola tasca | 28 como ambas parecem constituir-se enquanto tributárias da instância do artifício. Assim como a realidade do Hotel Bragança assumia um matiz específico diante d o evento “ Perpendicular”, as circunstâncias da Rua Pernambuco naquele dia, embora casuais, pareciam especialmente elaboradas para compor o filme “Banquetes”: operários escavando a rua, policiais revistando alguns torcedores, transe untes, e toda uma cena corri queira parecia se revestir de um propósito alheio à própria circunstância. O expediente do filme tornava a realidade visível desde outro ponto de vista. Tanto minha experiência em “ Perpendicular” quanto em “Banquetes” sugerem que ver é produzir um olhar, um olhar que pode nos dirigir à consciência de como nossa apreensão da realidade é construída também por nossas expectativas, o que implica nos dirigir à consciência de como tal apreensão é sempre construída desde um determinado enquadramento. As cenas que encontramos no filme “Banquetes” são realidades tanto forjadas quanto fortuitas: encontros entre situações que antecedem ou que tem uma existência independente do filme – o casamento de Bruno e C amila, o convívio entre moradores do bairro Concórdia, os dançarinos, os laços de amizade que nos reuniram em frente à casa de Louise – e os expedientes das intervenções. As ações por meio das quais Breno e Louise procuram desestabilizar o hábito, infiltrando-se no contínuo do cotidiano, propõem convites vigorosos à percepção de um espaço de manobras mais elástico e inusitado. Um espaço de manobras ao qual acedemos mediante os encontros fortuitos promovidos pelos auspícios do artifício. 24 25 26 27 28 | Augustin de Tugny | 29 AZUL DANS LE GOBELET SANS SHAKER 2 CL DE CURAÇAO 5 CL DE CACHAÇA 2 CL DE JUS DE CITRON VERSER DANS LE VERRE EMPLI DE GLACE FEUILLES DE MENTHE ALARANJADO AU SHAKER AVEC DES GLAÇONS 4 CL DE CACHAÇA 10 CL DE JUS D´ORANGE 4 CL DE JUS DE PÊCHE VERSER DANS LE VERRE AJOUTER UN FILET DE GRENADINE 24 25 AMARELO 26 AU SHAKER AVEC DES GLAÇONS 6 CL DE CACHAÇA 4 CL DE LIQUEUR DE PEQUI 1 CUILLÈRE DE BLANC D´OEUF 27 28 29 VERSER DANS LE VERRE COMPLÈTER AU TONIC | Augustin de Tugny | 30 VERMELHO AU SHAKER AVEC DES GLAÇONS 4 CL DE VODKA 12 CL DE JUS DE TOMATE 0,5 CL DE JUS DE CITRON 0,5 CL DE SAUCE WOCERSTERSHIRE 2 GOUTTES DE TABASCO VERSER DANS LE VERRE SEL DE CÈLERI, SEL, POIVRE UNE BRANCHE DE CÈLERI VERDE AU SHAKER AVEC DES GLAÇONS 5 CL DE VODKA 3 CL DE PIPPERMINT 2 CL DE JUS DE CITRON 1 BLANC D´OEUF VERSER DANS LE VERRE COMPLÈTER À L´EAU GAZEUSE FEUILLES DE MENTHE ROXO DANS LE SHAKER AVEC PEU DE GLACE 15 CL DE FANTA UVA 15 CL DE LAIT VERSER DANS LE VERRE AJOUTER DE LA GLACE SÈCHE 24 25 26 27 28 29 30 31 | banquete 1 | 32 24 25 26 27 28 29 30 31 32 | banquete 4 | 34 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 37 | Augustin de Tugny | CORCOCKTAIL 36 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 na mesa bancada caduca de garrafas alinhadas derrete o gelo sob o deslize pneumático dos dançarinos afiados derrete o asfalto 34 35 36 37 | Augustin de Tugny | 38 rouge vert jaune bleu orange violet com fumaça este para as crianças beber as cores sol sol sol solo a moça rebola sola encerada sacode sacod sac sac sac sac sac sac sac no copo no gelo o liquido colorido sac sac sac sac sac sac sac in an oswaldian way com a cumplicidade de James Godfather of Soul Brown FELLAS, I´M READY TO GET UP AND DO MY THING (YEAH GO AHEAD!) GET UP (GET ON UP) GET UP (GET ON UP) GET UP (GET ON UP) 38 39 | Augustin de Tugny | 40 bebados triplicam as peles de alto-falante tremem o taxista buzina seu carro domado dá pulinhos lustre e a velha índia se desvia rindo no roxo duas endomingadas engomadas ensaiam na fila gentis merci becú a direita não lembra da esquerda, mãos cegas nos licores mas não esquece do penacho de verdura e da pimenta do reino da roça na maria sangrenta porpaganda pra quem? não há fundo de copo que não se engole afinal porque não titubear? WAIT A MINUTE SHAKE YOUR ARM, THEN USE YOUR BODY SHOULD I TAKE ´EM TO THE BRIDGE? LIKE A SEX MACHINE 38 39 40 41 texto | frederico canuto | 42 S O B R E F R A C ASSOS D OC UMENTAI S Ao andarmos pelas grandes cidades, não vemos pessoas voluntariamente colocando suas mesas nas ruas e oferecendo almoços ou qualquer outro tipo de refeição aos passantes, tal como pode ser depreendido do vídeo Ban quetes. Trata-se de um momento de deslocamento no cotidiano da paisagem urbana. Também não estão nas calçadas ou na televisão pessoas ocupando as ruas para almoços em família ou com amigos ou ainda desfrutando a orla de uma lagoa. Acontecimentos como esses não estão expostos ou sendo propagandeados em jornais ou revistas de moda ou de arquitetura. Não estão disponibilizados em catálogos de lojas, muito menos no meio da rua. Porém, durante os horários de almoço de trabalhadores de supermercados, por exemplo, vemos alguns deles almoçando nas calçadas e dormindo após a refeição em pequenos espaços residuais [pequenos jardins - gramados - ou pisos debaixo de marquises]. Entretanto, ainda que Contudo, repetidos usos da rua podem gerar oportunidades. N a repetição, tais ações no espaço da via podem tanto continuar indefinidamente, como se vê todos os dias nas ruas das cidades, como se transformar em um ‘banquete’, o que significa uma ruptura nesse cotidiano de distanciamentos. A tr avés do corte, da ruptura, transforma a repetição em oportunidade. Este é o momento, janela oportuna, espaço-tempo do porvir: “revelação da t otalidade de possibilidades contidas na existência diária [...] efêmeros e passados instantaneamente ao esquecimento sendo que [sic] durante esta passagem, toda sorte de possibilidades acaba por ser descoberta ou alcançada” 2 . Numa retrospectiva deste tipo de ação ‘momentânea’ no campo da arte, ver-se-á que inúmeros são os exemplares deste mesmo tipo de eventualidade e corte sobre o cotidiano vivido das cidades. Inspirados por, ou servindo de inspiração aos eventos acontecidos por volta de 1968, ano zero da cultura espetacular quando debaixo do asfalto 38 39 40 41 42 43 texto | frederico canuto | façam apropriações do espaço público, estes habitantes permanentes ou temporários da rua não tentam se aproximar e festejar um momento de forma coletiva. Não tentam estabelecer um contato com o passante distribuindo cocktails ou oferecendo pequenos concertos ao ar livre. Anunciando a emergência do caráter paradoxal da Modernidade vivida no século XIX em Paris, Benjamin 1 dirá que a rua como morada do coletivo significa muito mais o distanciamento diário entre pessoas anônimas na multidão, do que uma aproximação entre elas, ainda que ocupando um mesmo espaço físico. N o vídeo Banquetes as ações apresentadas insinuam e refutam ao mesmo tempo essa aproximação; há pessoas que aderem aos banquetes, assim como outras que passam por eles, curiosa e até mesmo indiferentemente. 38 39 40 41 42 43 texto | frederico canuto | 44 se encontra a praia [sous le pavês, la plage 3 ], ações como esta multiplicavam-se no espaço da cidade, vivida como palco para apropr iações e eventos. N um primeiro momento com estudantes e marginais, e com artistas como Gordon Matta-Clark e grupos de artistas como Fluxus, ou ainda como a Internacional Situacionista. No caso do grupo Fluxus, sua estratégia de construção artística era baseada na construção de pequenos acontecimentos que subvertiam o que era esperado habitualmente em certos lugares. Teatros em ruas destinadas a trânsito de veículos e anúncios vendidos em espaços de muros eram algumas das propostas. Ofereciase uma experiência artística onde o próprio estatuto da arte era redimensionado, quando não apagado na vida e no local, pois eram acontecimentos artísticos vividos como parte do cotidiano. Happenings e performances, assim, tent avam não somente retirar do museu e da galeria de arte o status de lugar de excelência de mostra e legitimação da arte, como também unir arte e vida através de obras abertas ao acaso produzido na participação dos próprios espectadores. O Fluxus Festspiele N euester Musik (Festival Fluxus de Música Novíssima ) foi uma mostra radical do grupo, criando ruídos no uso habitual de qualquer espaço, tornando-o cheio de desejos e possibilidades. Um espaço destinado à vivência da arte que, através de ações artísticas, reuniu artistas, espectadores e quaisquer outros: “ [...] in te r pr et am os a óper a al em ã ‘ J a es w a r n o ch d a ’ d e E mme tt W i l l i am s , em i ngl ês : f or am os 4 5 m i n u to s m a i s lo n g o s de m i nha v i da que c ons i s t i r am , p r i n ci p a l m e n te e m s a c u d i r u m a f r i g i d e i r a c o m u m r i t mo regular e a l a p s o s p r e c i s o s . [ . . . ] Vo s t e l l v e i o d e Co lônia [...] tocou 38 39 40 41 42 43 44 45 | chuva | 46 Ainda, numa análise de caráter mais historiográfico, tanto o surrealismo como o dadaísmo no início do século XX podem ser considerados precursores deste tipo de ação no campo da arte. Quando os dadaístas se encontravam para recitar poemas, mostrar suas novas obras e discutir sua produç ão, não se apropriavam das ruas, mas de lugares subutilizados ou muito utilizados, subvertendo o tipo de uso que normalmente ai ocorria, para conduzirem suas manifestações. Era a construção de pequenas vibrações, como acontecidas no C abaret Voltaire durante cinco meses em 1916: “ r e s u m o d a f e s t a : d a n ç a c u b i s t a , f i g u r i n o de jaco, c a d a h o m e m c o m s e u g r a n d e t a m b o r na cabeça, b a r u lh o [... ] poem a goás t i c o, c onc er t o de vo g a i s, p o e ma e s tát i c o, ar r anj os quí m i c os de id é i a s [...] Ma i s g r i t a r i a , o g r a n d e t a m b o r, o p i a n o e o canhão imp o te n te , t r aj es de papel ão r as gado s. To d o s o s p r e s e n t e s s e e n t r e g a m a u m a f e bre pueral in te r r o mp id a. ” 5 Tal como o ruído feito pela leitura dos poemas e pelos berros dos artistas num espaço de silêncio, o mesmo ruído foi feito pelo som de um violoncelo na lagoa da Pampulha e por um banquete em frente a um prédio residencial numa área nobre de uma cidade qualquer num dia qualquer, como visto em Banquetes. Um paradoxo: o almoço, evento 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 texto | frederico canuto | A r g h h , g o lpeou c om um m ar t el o al guns br i n q u e d o s a té e s tilh aç á- l os , r as gou um a r ev i s t a, d e str u i u a l g u m a s l â m p a d a s n u m c r i s t a l e l a ç o u t o r tas contra o v i d r o . [ . . . ] E r a o q u e W i e s b a d e n p r e c i s a v a. D urante u m c e r to tem po ov os v oar am pel os ar es a ca d a d o i s m i n u t o s . Du r a n t e a ó p e r a d e E m m e t W i l l i a ms, alguns e s t u d a n t e s s u b i r a m d a p l a t é i a c o m r a m o s de abeto e c a n t a r a m d i v e r s a s c a n ç õ e s e s t u d a n t i s [...] Assim a c o n te c e r a m as c oi s as ao l ongo de t r ês s e m a n a s.” 4 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 texto | frederico canuto | 50 tão comum dentro dos espaços privados da cidade, tornase estranho no espaço ampliado de uma lagoa, no local público. No início de cada ação uma mesa é carregada por um dos personagens. Ato comum este, de se preparar uma mesa para o almoço, e a chegada ou aproximação daqueles que irão comer constitui aquilo que virá a se desdobrar a partir do desejo de cada um. Ainda permanecendo no campo da arte como base de compreensão do objeto Banquetes, outros recortes podem ser feitos: pensar e expandir o entendimento do projeto como parte de algo maior que simplesmente um filme de 20 minutos. De um lado, se for tomado um distanciamento a fim de compreendê-lo como parte de um amadurecimento de uma série de ações que interpelam o uso privado do espaço, redimensionando-o, tornando-o coleti vo por breves instantes, o filme então é registro de uma ação. Igualase a um ponto dentro de todo um processo de construção artística vinda desde 2002 com o projeto Perpendicular Hotel Bragança e ampliado com Lotes Vagos e o DOCTV Metros Q uadrados pelos artistas. Ocupação de vazios urbanos, reenergizando-os publicamente com exposições ou ações públicas. D iscussão de uma nova noção de arte pública, onde os limites da arte e os limites da palavra público são tensionados e repesados à luz de questões contemporâneas como globalização e esfera pública, privatização dos espaços, discursos inte rdisciplinares entre arte, arquitetura, economia e outros. Um outro recorte ainda pode ser feito a fim de entender a proposta, se pensada a partir das estruturas institucionais financiadoras, da própria publicação e da extensão de todo o projeto: publicação impressa, filme e ações no espaço da Porém, o que resta é um filme. Ou melhor, o rastro do momento ou a experiência momentânea, é o filme. O FILME: REGISTRO DOCUMENTAL DE UM MOMENTO? Registro documenta l não parece preciso o bastante se for pensado na linha da maioria dos documentários produzidos e que assim são chamados. Estes, partindo de noções modernas, caracterizam-se normalmente por tomar um personagem ou situação como central e expor, ao longo de todo o filme, todos os ensinamentos e problematizações que podem advir de tal narrativa. Tentam abarcar o personagem de todas as maneiras e por todos os pontos de vista, ouvindo todos os lados para que o melhor julgamento, feito pelo espectador, possa ser feito. Muito mais do que uma apreensão estética, embora esta seja feita, o que se coloca em primeiro plano a partir destes filmes são questões éticas: quem está certo, porque está certo, quem errou, quais as condições que o levaram ao erro. Tais questões são sempre mais discutidas do que propriamente a linguagem cinematográfica: a imagem. 49 50 51 texto | frederico canuto | cidade. Pensar o lugar institucional que este projeto ocupa bem como suas táticas e estratégias de disseminação e legitimação traz ecos advindos de propostas e questões levantadas tanto por A ndy Warhol como Marcel Duchamp, a fim de entender o complexo de relações envolvendo produção, distribuição e consumo de arte - sistema onde a arte se insere e é vista como produto. Qual o lugar do artista, como ele é reconhecido artista, como se infiltra ou dilata o espaço de exposição da arte, como legitima uma noção própria da arte que escapa aos museus, entre outros, são questões trazidas a partir destes dois artistas. 49 50 51 texto | frederico canuto | 52 Porém, há registros documentais que colocam tais noções modernas sob nova perspectiva, se for pensado o tipo de cinema document al produzido, por exemplo, por Eduardo Coutinho em Edifício Master e Jogo de C ena ou por João Moreira Salles em S antiago. P ode-se entrever pistas do tipo de obra que é Banquetes a partir destes. Walter Benjamin, a respeito da figura do narrador, coloca que este não procura narrar histórias que tenham como pano de fundo uma moral edificante apenas, mas seu intuito é o de passar uma continuação de uma história para que esta, por sua vez, simplesmente continue atr avés daquele que a ouve 6 . Pequenos acontecimentos sendo relatados a terceiros para que estes se apropriem deles como sabedoria e os passem adiante. Analogamente, pequenos retratos do real, enquadrados pela câmera, para que estes sejam reenquadrados pelo espectador. Pequenos momentos ou situaçõezinhas sem futuro, como os integrantes da Inte rnacional Situacionista apregoavam com pixações pelos muros das cidades nos anos 60, visando provocar uma continuidade a ser vivida por quem os lessem. Um cronista que se afeiçoa e intervém no real, produzindo, por meio de uma oportunidade, sua continuação. Se o registro do cumental diz de uma situação ocorrida no cotidiano de um lugar e tenta esclarecê-la, que tipo de documentário seria aquele onde uma situaçãozinha é provocada e registrada, uma que não faz parte do lugar? Um documentário que age como dispositivo, “[…] relacional, uma máquina que provoca e permite filmar encontros, gatilho provocador de uma situação inexistente no local” 7 . Se ele produz seu próprio material, constrói sua própria matériaprima, que não e stá lá a priori, mas que será produzida, é então um documentário? Que tipo de documentário é Ban quetes, onde o narrador, ao contrário de ser aquele Distanciando-nos de perguntas de gênero cinematográfico ou de qualquer outro tipo de construção identitária onde o filme possa se instalar confortavelmente, manter seu estranhamento é central: sua capacidade de construir uma relação verídica a partir de uma ficção ou de uma falta...de lugar. O foco do que está sendo narrado está na rel ação estabelecida entre aquele que narra e o espect ador, na aderência do último ao fluxo daquilo que se pas sa diante dos olhos. A busca de verdades por cada espect ador neste encontro com a verdade do cineasta, e não a busca de uma verdade única. O diretor Eduardo Coutinho em Jogo de Cena, é o protagonista, pois ele personifica o olhar do espectador. Ele pergunta sobre a veracidade da informação tal como o espectador. Por isso mesmo, a parte lateral de sua face aparec e nos primeir os minutos do filme a fim de que o espect ador compactue com toda a indefinição acerca do que está sendo relatado. Desde a primeira entrevista de seu filme, deparamo-nos com indeterminações. Tal como o grupo Fluxus, que colocava indeterminação e aca so vindos do espectador-participante como fundamentais para o acabamento e construção de sentido da própria obra, como em 4:33’ de John Cage, repete-se com C outinho o mesmo proced imento. Se o silêncio da peça de Cage ao longo de 4:33’ é preenchida pelos sons do ambiente, com Coutinho é feita a pergunta pelo espectador, sem obter re sposta, a respeito deste real produzido. Em Banquetes a situação repete-se: quem é do local, quem é da equipe, quem é dançarino, quem foi pago, quem é quem? Ao es pectador, tais questões desaparecem ao adentrar no jogo proposto. 49 50 51 52 53 texto | frederico canuto | distanciado que mostra a situação, passa a expô-la e não explicá-la, preferindo mostrar sua continuação? 49 50 51 52 53 texto | frederico canuto | 54 De modo também singular, muito atencioso com seu próprio objeto de exposição e afeição, está o longa-metragem San tiago de Salles. Na tela, vê-se toda a tarefa de um documentarista sendo exposta, pois o que mais interessa e o que há de mais valioso escapa ao próprio realizador do filme, que pressupostamente deveria ser o que controla tudo, pois edita e monta sua obra. O filme não é sobre San tiago, o mordomo de sua casa, mas sobre o modo como Salles percebeu, filmou e tentou dar forma ao seu Santiago. É uma obra sobre o autor e um processo de descoberta compartilhado cinematograficamente. Ao espectador, cabe fluir junto com Salles tal incompetência imanente à tarefa proposta p elo cineasta de construir tal filme sobre San tiago. Só lhe resta falar de seu Santiago. M ais uma vez: um ponto de encontro. No filme Banquetes, filma-se uma descoberta própria: delírios fellinianos ao som de uma retro-escavadeira. O fracasso, então, é o tema destes filmes. Ao tentar construir uma veracidade, o resultado é apenas uma veracidade, construída a partir de percepções advindas do encontro entre o cineasta e os outros. A verdade foi perdida no local. P or outro lado, qualquer filme que se proponha a construir um diálogo com o espectador, este momento presencial, efêmero e parcial se constrói novamente na experiência cinematográfica. Depende tanto daquele que olha como daquele que monta o olhar. Fra cassar então constrói-se ao fluir o filme em acordo com sua singular qualidade estética. O fracasso é resultado desta procura pela língua pura, a forma maior destas vidas, sendo que em cada tradução-filme esteticamente experienciada está calcada a sobrevivência do próprio filme: 49 50 51 52 53 54 55 | banquete 3 | 56 “Da mesma ma n e ir a q u e o s fr a g me n tos e uma ânfora, para q u e s e p o s s a r e c o n s titu ir o to do, devem combinar un s c o m o s o u tr o s n o s mín imo s det al hes, apesar de nã o p r e c is a r e m s e r ig u a is , a tr a dução, em lugar de se fa z e r s e me lh a n te a o s e n tid o do ori gi nal , deve, de ma n e ir a a mo r o s a e d e ta lh a d a , p assar para a sua própria lín g u a o mo d o d e s ig n ific a r do ori gi nal ; assim como o s p e d a ç o s p a r tid o s s ã o r e c onhecí vei s como fragme n to s d e u ma me s ma â n fo r a , o ori gi nal e a tradução d e v e m s e r id e n tific a d o s c o mo fragment os de uma ling u a g e m ma io r.” 8 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 Ao deparar com o vídeo, vê-se uma mesa de cocktails infiltrando-se numa f esta de rua. N essa mesa, o bartender vai distribuindo bebi das, a música vai ficando mais alta, pessoas dançam de terno e de chinelo, e o espectador pergunta a si mesmo quem é o infiltrado e quem é que já estava lá. Quem é do local e o que foi produzido no local pelos documentaristas? Ou todos são artistas e figurantes? O u todos estavam lá e a filmagem foi um mero acaso? É uma intervenção de arte ou apenas um filme de uma festa? U ma ficção documental se forma a partir do rastro deixado ao espectador. A ambiguidade do filme: registro ao mesmo tempo que construção, que pergunta sobre sua própria veracidade e a noção de veracidade a cada corte, com pessoas dançando 59 texto | frederico canuto | Provocações dialetic amente sobrepostas: ver atores e não atores à frente, ment indo ou dizendo mentiras verdadeiras ou um mordomo que existe mas não está lá. Rastros são deixad os para que o espectador faça/monte sua própria versão. Ficções documentais construídas por um olhar construtor do espectador. Estes rastros construídos pelo encontro vivido provocativamente entre cineasta e mundo constituem a ficção documental Banquetes. 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 texto | frederico canuto | 60 ou bebendo ou conversando. A montagem vai colocando o espectador, aquele que ri de algumas cenas e se deixa penetrar no ambiente porque lhe é familiar, na função de participante. É neste poder de penetração na vida daquele que assiste ao filme que algo se realiza. No entroncamento da arte, no caso o filme, na vida ou na construída indissociabilidade das duas instâncias por aquele que vê, monta e edita as cenas e imagens, é que se ergue uma coautoria. A rte, corpo estranho que adentra a rotina de uso do local; vida, o cotidiano repetidamente construído pela reprodução habitual de gestos e relações com pessoas. Em Ban quetes uma relação de complementariedade é fundada. A partir do fracasso, teias entre espectador, cineasta e o objeto fílmico – banquetes – formam-se, fracassos sucessivos vão se dando. N o fluir, pequenos devires aparecem, perguntas são feitas a quem vê, mas não há respostas. Os pequenos instantâneos pastoris na imaginária paisagem novecentista, recortada por um carrinho de pipoca e um barco a motor em águas verdes, é paradoxo moderno, dependente daquele que vê a ironia na construção da imagem pictórica, um quadro cinematográfico. No caminho das galinhas - da morte ao banquete, comendo tripas e celebrando - um caminho da produção. Da doída morte da galinha - vira-se a cara - aos freezers das grandes cadeias de supermercados. Em uma calçada, a inserção de uma mesa de ‘burgueses decadentes’, segundo a fala de um dos que lá estavam, é ladeada por obras no piso feitas por uma retro-escavadeira. Ela arranca do chão o asfalto que, por sua vez, transforma-se em sala de jantar. Se ‘debaixo do asfalto, a praia’, sarcástica ironia aqui é retro-escavada. Ao som do soul, uma vassoura varre o asfalto, ao invés de abrí-lo, para transformá-lo em pista de dança. A cada um que aparece devidamente paramentado ou não, quaisquer Neste campo produzido - o filme - vislumbra-se o que a rotina e ritmos diário s não permitem perceber ou imaginar - tarefa básica de qualquer esforço crítico. Se o festival fluxus é o momento em que artistas e não artistas se confundem, pois ovos voam de um lado a outro lançados por ambos, dançar, e não o pensar sobre a dança, é o que une os sujeitos do filme e aquele que o vê e o aprecia. Não é uma reflexão sobre o filme, mas viver a partir deste rastro deixado no momento - ou situaçãozinha sem futuro - é o que se apresenta como possível impacto estético. À GUISA DE UMA CONCLUSÃO Quando vi o filme depois de acompanhar sua feitura e finalização, sozinho, ou em algumas salas de aula com alunos de disciplinas de Urbanismo e História da Arte, percebo que os sorr isos, risadas e o escutar d a música com o corpo, dançando na cadeira, sempre aparecem em momentos próximos. Quase sempre são os mesmos: a dança, o banquete ao som de N ino Rota somado ao da retro-escavadeira e a banda de música no casamento. Ou ainda, o estranhamento inicial na primeira cena: o casamento. Lembro-me da montagem in loco das cenas, do clima festivo dado p elo apropriar-se do espaço da rua, do sentar-se à 59 60 61 texto | frederico canuto | uns podem estar lá. Indistinguível na multidão, sujeitos que ora são réplicas de James Brown, ora faxineiros de uma via pública, ora D Js. S imulam identidades dando ao espectador a tarefa de dizer quem são. Desviam de uma pergunta ontológica, para respondê-la na ação dos próprios corpos. 59 60 61 texto | frederico canuto | 62 mesa ou de pé em volta dela. O estar junto para celebrar ou deflagar uma celebração de algo que está ali e de algo que está sendo suplemento ao evento. O estar ali, contraponto ao passar por ali, como se vê em inúmeras cenas do filme onde transeuntes passam pelo pequeno festival. Conversar, ao invés de estar de passagem, como normalmente vive-se pelas ruas das cidades. Ao ouvir perguntas dos alunos sobre como foi feito, quem eram as pessoas, quem havia me convidado, se e como conheço os realizadores, como eles pensaram o filme, se acontece com frequência, ou como isso aconteceu ou se é apenas uma encenação e outras perguntas relativas ao grau de verac idade do que está sendo visto; retorname não o evento, mas o que o filme espacializa. Ponto de convergência para o esquecimento como produção de um novo devir, ao contrário de Funes, o memorioso, personagem de Borges que não podia esquecer: esquecer para construir estas novas proximidades, novos fracassos. 59 60 61 62 1- BENJ AMIN , W. Ob r a s e s c o l h i d a s . B a u d e l a i r e . Um Lírico no auge do C a p ita lis mo . S ão P aul o: B R as i l i ens e, 1989, p.1 9 4 . 2- SHIE L DS, R . L e fe b v r e. Lov e and S t r uggl e . L o n d o n : R outledge, 2005, p.5 8 . 3- Slog a n s i t u a c i o n i s t a p i n t a d o n a s r u a s d e P a r i s , durante o m ai o de 6 8 fr a n c ê s : ‘d ebai x o do as f al t o, a pr ai a’ . 4- SICH EL , B . [c o o r d .] . F l ux y f l ux us f i l m s 1962- 2002 . Madri: Museo N a c io n a l C e n r o de A r t e R ei na S of i a, 2002, p.9 9 . a p u d Revis ta ARS . A n o 0 2 , núm er o 03, 2004. 5-DEMPS E Y, A my. Es ti l os , E s c ol as e M ov i m ent os . S ão Paulo: Cosac N a ify, 2 0 0 3 , p .11 6. 6- A con s e l h a r é m e n o s r e s p o n d e r a u m a p e r g u n t a q u e fazer uma sugestã o s o b r e a c o n t i n u a ç ã o d e u m a h i s t ó r i a q u e está sendo narrada . B EN J AMIN, Wa l t e r. O N a r r a d o r. C o n s i d e r a ç õ es sobre a Obra de N ic o la i L e s k o v IN: _______________. O br as esco l h i d a s 01. Magia e T é c n ic a . A r t e e P ol í t i c a. S ã o P a u l o : B rasiliense, 1989, p.2 0 0 . 7- S obr e a r e l a ç ã o e n t r e d i s p o s i t i v o e d o c u m e n t á r i o s, pode-se citar film e s c o m o 3 3 d e K i k o G o i f m a n e Pa s s a p o r t e Húngaro de Sandra K o g u t , o n d e o d e s e n r o l a r d a t r a m a é p r o v ocada pelo cineasta , e s t e e m b u s c a d e a l g o . D o i s t e x t o s e x p õ e m bem tal construç ã o d o c u m e n t a l : L INS, C o n s u e l o . O F i l m e -Di s positivo no Docum e n tá r io B r a s ile ir o C ont em por âneo IN: V. A . S obre Fazer Docum e n tá r io s . Sã o P a u l o : I t a ú C u l t u r a l , 2 0 0 7 ; e BE RNADT, Jean- Cl a u d e . D o c u m e nt á r i o s e m B u s c a : 3 3 e Pa s s a p o r te Húngaro IN: MOURÃO , M a r ia D or a, LA B A K I , A m i r. [ or g. ] O Cinema do Real . Sã o P a u lo : C o s a c NA i f y, 2005. 8 -BENJ AMIN , Wa lte r. A Tar ef a do Tr adut or apud B A HB A, Homi K. O Loc a l d a C u ltu r a . B el o H or i z ont e: E dU F M G , 2007, p .2 3 8 . texto | frederico canuto | 63 59 60 61 62 63 64 t r a n s l a t io n s A few ye a rs a g o I wa s passing by bus on an avenue and got a gli m p se o f p e o p le s i tti n g on the sidewalk around a square table, 59 60 p l a ce d i n fr o n t of the wa ll of a house. At the table , cov er ed w it h 61 a ta blec lo t h a n d de c o rated with flowe rs, peop le we re havin g 62 l u n c h . A dre a m? C o nv e rsations, moments of rest, observation of 63 o f t rees , s ce n t of flo wers hanging in bunches from the wall s. Per ha p s, fo r th i s g r o u p of people who was havin g lunch on t he s i dewa lk , p lea s u re ha d been the reason for them to be there. To my eyes , a s a pa s se rby, it awoke a though t about ot he r ways of l i v i ng e v e ry d ay l ife i n plac es of the city. Expanding t he space o f the h o u se to the s t ree t and ampl ifyin g the livin g spac e and the a r e a o f co nv i v i a l i ty. THE SID E WA L K IN FRONT O F H OUS E - E XPANSION OF THE DOMESTIC L I F E I started h a v i n g l u n c h o n t h e s i d e w a l k a l o n g t i m e ago. As I live in a n a p a r t m e n t o n t h e f i r s t f l o o r, w i t h w i n d o w s that open to the si d e w a l k , t h e s t r e e t h a s b e c o m e a k i n d o f “ b a lcony”. On S undays , w e p u t t a b l e a n d c h a i r s i n f r o n t o f t h e b u i l d i ng to have lunch wi t h f r i e n d s , a n d s p e n d a p l e a s a n t a f t e r n o o n , c h atting and r esting i n th e s h a d e o f a t r ee t hat i s r i ght i n f r ont of t he w i n d o w. On some o c c a s i o n s , w e p l a c e d a p l a s t i c s w i m m i n g p ool for the children a n d a fe w s la b s of gr as s t o f or m a gar den. The stre e t , v e r y b u s y d u r i n g t h e w o r k d a y s , b e c o m e s quiet on S undays . Se v e r a l p e o p l e w a l k a n d p a s s b y u s , m a i n l y to go to church, wh ic h is lo c a te d on t he nex t bl oc k . S om e el derl y p e o p l e stop to r e m e m b e r t h e p a s t , i n a n o s t a l g i c w a y, l a m e n t i ng the loss of the ha b i t o f p u t t i n g th e c h a i r s o n s i d e w a l k s a t t h e end of the day. So, w h e n w e o c c u p y t h e s i d e w a l k t o d a y t o h a v e our lunch, might it b e a n a t t e m p t t o r e s u m e a c i t y o f t h e p a s t ? N o, what moves u s i s m o r e a d e s i r e t o m a k e l i f e b e t t e r w i t h i n what the realm of t h e c i t y o ff e r s , t h a n t r y t o r e v i v e o r f r e e z e a time that no longer e x is ts . 64 65 texto | Louise ganz | the m o ve m e n t i n the s t ree t, people and cars passing by, shadow 59 60 61 62 63 64 O n Ne w Ye a r s E v e w e m a k e a p a r t y w i t h f r i e n d s on the same sidewa lk . We o c c u p y i t w i t h t abl e, c hai r s , c ar pet s , cu sh i o n s, l i g h ts and s o u n d b o x i n t h e w i n d o w, s u ff i c i e n t l y t o h a v e a dancing party. At th i s n i g h t , w h e n t h e s t r e e t i s b u s t l i n g d u e t o t h e restaurants and bars o n th e n e a r b y c or ner, pas s er s by ex pr es s t hei r su r p r i se a n d conte n tme n t wh e n th ey s ee us t her e. 65 texto | Louise ganz | 66 EXPANSION TO T HE CIT Y - OTH E R R E LATIONS Begin n i n g w i t h t h e l u n c h e s i n f r o n t o f t h e h o u s e , we started to make o t h e r s i n d i ff er e n t p l a c e s , w i t h u n k n o w n p e o ple, who join us in pr e p a r i n g t h e f o o d , c a r r y i n g c h a i r s , d i s h e s a n d cutlery. From these e x p e r ie n c e s e m er ged t he pr oj ec t B anquet s , a video in which w e rec o r d e d fiv e lu n c hes i n t he c i t y of B el o H or i z on te . First , w e r e a l i z e d r a n d o m r o u t e s t h r o u g h t h e c i t y in search of place s , s i t u a t i o n s an d d i ff e r e n t e v e r y d a y p r a c t i c e s. The areas of inter e s t w e r e p l a c e s s u c h a s f l o w e r - b e d s , r o t u n d as, dead-ends, areas u n d e r v i a d u c t s , a b a n d o n e d s q u a r e s , r i v e r - b anks of brooks or po n d s , s i d e w a l k s a n d v a c a n t l o t s . We w e r e a l s o trying to meet peop l e w h o w o u l d l i k e t o c o o k a n d h o u s e s w h e re there was a poss i b i l i t y t o u s e t h e k i t c h e n t o p r e p a r e t h e d i s hes. We looked for a p l a c e t h a t s l a u g h t e r s c h i c k e n s o r v e g e t a b l e plantations, as locat i o n s f o r t h e r e a l i z a t i o n o f t h e l u n c h e s . We found different situa t i o n s , s u c h a s a g r o u p o f p e o p l e o c c u p y i n g the streets on Satu r d a y s t o d a n c e , r e s i d e n t s w h o a d a p t e d a b arbecue on the exter n a l w a l l o u t s i d e t h e h o u s e a n d o t h e r s w h o tied hammocks from t r e e s o n t h e s i d e w a l k . We i n t e r v e n e d i n t h e s e dialogues with the pla c e s a n d a lr e a dy ex i s t i ng pr ac t i c es w i t h a t ab l e fo r th e e ve n t of th e b a n q u e t. THE TA B L E AND T H E F OOD The t a b l e i s a c o m m o n o b j e c t t o e v e r y b o d y a n d i t i s present in the inter i o r o f m o s t h o u s e s i n t h e We s t . To r e a l i z e t h e banquets, we The food i s a m e d i a t o r b e t w e e n p e o p l e , i n t h e a c t o f cooking, as well as i n t h e a c t o f e a t i n g . I t i s a w a y t o e x p e r i e n c e pleasure and the s e n s e s a n d e n a b l e s e x c h a n g e s a n d a p p r o x i mations of peopl e. “Gastronomy i s t h e a r e a r e s e r v e d f o r E r o s , t h e r e w h e r e t h e fatal furies o f Ta n a t o s t r i u m p h a l m o s t e x c l u s i v e l y. Im p u l s e of life, creativ e a n d c r e a t i n g , c o n s t i t u t i n g a n d r e g e n e r a t i n g ; a vital force i s t h e c r y s t a l l i z e d a u d a c i t y b y e n t i r e t y o f t h e he a t wh ich res i s t d e a th w i th i n u s . Ea ti n g i s i n s ta lling ones el f in the very c e n t r e o f t h e f o r m i n g p r o c e s s , g e n e r a t o r a n d conservator o f i t s e l f . In a w a y, i t i s t o a s s i s t t h e p r e p a r a t i o n of a u roras whe n th e tw i l i g h t i s a n n o u n c e d .” 1 While th i n k i n g a b o u t f o o d a n d t h e c i t y w e s o o n i m a g i n ed different situation s : a t o w e l o n t h e g r a s s o f r o t u n d a s t o m a k e a picnic, hammoc k s t i e d f r o m t h e t r e e s o n t h e s i d e w a l k s t o rest after lunch. T h e c o n s t r u c t i o n w o r k e r s e a t a n d r e s t o n t h e sidewalks, under th e s h a d e o f a t r e e a n d o n a f l a t g r o u n d . I t i s a way of spontan e o u s o c c u p a t i o n , a n d t h e y u s e t h e s p a c e o nly for the required e p h e me r a l r e s t . PU BLIC AND PRIVAT E We are u s e d t o a c i t y w hi c h i s d e s i g n e d a c c o r d i n g t o r u l es that limit and s tre n g th e n th e s e par at i on of publ i c and pr i v at e. Th r o u g h o u t the histo r y o f We s t e r n c i t i e s , t h e u r b a n p l a n s , f o r m ore diverse and diffe r e n t t h e y a p p e a r, w e r e b a s e d o n t h i s i d e a o f separation. So, offic i a l l y, t h e s p a c e o f t h e s t r e e t s i s e x c l u s i v e l y for transit and seld o m f o r a p e r m an e n t s e t t i n g o r a p l a c e w h e r e o ne realizes 59 60 61 62 63 64 65 66 67 texto | Louise ganz | transpos e t h e t a b l e t o t h e o u t s i d e , o n t o t h e s t r e e t , t h e square or the side w a l k . Th i s c a u s e s a d i s l o c a t i o n o f e v e r y d a y habits and construc t s a s i t u a t i o n t h a t a ff e c t s t h e p a r t i c i p a n t s o r passersby, either p r o v o k i n g t h e i r m e m o r i e s o r m a k i n g t h e m discover possibili t i e s f o r u s e s o f s p a c e s t h a t w e r e n o t i n c o r p o r ated before i nto eve r y d a y p r a c tic e s . 59 60 61 62 63 64 65 66 67 texto | Louise ganz | 68 any a c t i v i t y. T h e l a w s o f o c c u p a t i o n a n d u s e o f u r ban space tend to st r e n g t h e n t h e l i m i t s a n d c r e a t e h y g i e n i z e d , d e terministic and hiera r c h i c a l s p a c e s . T h e p e d e s t r i a n m a l l s w i t h a c tivities in some down t o w n a r e a s a r e p a l l i a t i v e s , w h i c h b e l o n g t o a logic of urban clean s in g , in o r d e r t o c r eat e m or e f l ui d pl ac es . But t h e s t r e e t p e d d l e r, t h e f a i r s a n d t h e f o o d s t a n d s cause, by their disor d e r, a r e d e f i n i t i o n o f t h e u s e s o f t h e s t r e e t s . This domestic expa n s i o n o r t h e s e p r i v a t e a c t i v i t i e s i n p u b l i c a r e a s are perceived as a k i n d o f u n d e s i r a b l e i n v a s i o n , a n d n o t a s s o m e t hing specific to urban l i f e . T h e l u n c h e s o n t h e s i d e w a l k c o n s t i t u t e an invasion and expa n s i o n o f d o m e s t i c l i f e . Th e y b r e a k t h e b o u n daries between public a n d p r iv a te . A nd m or eov er, t hey hav e bec ome i n co r p o r a te d i nto o u r d a ily life . The VACANT SPAC E O F T H E CIT Y The c i t y h a s s e v e r a l r e s i d u a l s p a c e s , o p e n a n d empty fields, whic h c a n b e u s e d . At l a r g e , t h e s e s p a c e s p o s s es a character of a b a n d o n m e n t a n d v a g u e n e s s , a n d e x a c t l y t his, transforms them i n t o f r e e f i e l d s f o r i n v e n t i o n s . U n l i k e t h o s e spaces planned acco r d i n g t o d e f i n e d f u n c t i o n s a n d w h i c h d e t e r m i ne the ways of us e an d b e h a v io u r, t he s pac es ar e v ac ant gaps t o b e fi l l e d o u t. I rem e m b e r h e r e t h e a r c h i t e c t A l v a r o Si z a , w h o parted from the ex is tin g lin e s o f a te r r ai n t o r eal i z e t he hous i ng pr oj e ct Ma l a g u e i r a 2 . The t e r r a i n w a s l o c at e d b e t w e e n t w o o t h e r a l r e a d y existing housing proje c t s , a n d , b y v i s i t i n g t h e s i t e , t h e a r c h i t e c t i d entified several types o f l i n e s o n t h e g r o u n d . T h e s e w e r e i n d i c a t i o n s of the courses that t h e n e i g h b o r i n g i n h a b i t a n t s l e f t t h r o u g h c r o s s ing the terrain, whic h o v e r t h e y e a r s h a d b e c o m e p l a c e o f p a s s a g e. Because they w ere v a r io u s a n d in t ens e and m ar k s , S i z a opt ed f o r n o t sto p p i n g this e v e r y d a y p r a c t i c e o f t h e i n h a b i t a n t s . T h e y b e c ame the guiding elem e n t s f o r t h e p r o j e c t , w h i c h h a s b e c o m e p a r t the place. He kept t h e l i n e s a s o p e n , p u b l i c s p a c e s , p a s s a g e s , p arallel to which Thus, th e a r c h i t e c t p a r t e d f r o m s u b t l e a n d s e n s i t i v e elements. He unde r s t o o d t h e v a l u e o f l e a v i n g g a p s , e v e n i f , a t t h e time, his contemp o r a r i e s c r i t i c i z e d t h e p r o j e c t , b e l i e v i n g h i m i n capable to design a l l p l a c e s . W i t h t h i s , I r e t u r n t o t h e p o t e n t i a l of vacant spaces a n d t h e i r o c c u p a t i o n t h r o u g h s p o n t a n e o u s a c t i ons. When I say tha t t h e g a p s w i l l b e f i l l e d , I u n d e r s t a n d i t t h e way it was done by Si z a . I t d o e s n ’ t m e a n t o e n d t h e e m p t i n e s s , b u t rather, to incorpor a t e i t b y k e e p i n g i t v a g u e , b u t k e e p i n g t h e p otential for collectiv e u s e . It o ff e r s p l a c e s w i t h o u t m a k e u p , w i t h o u t previous stipulati o n s , w i t h o u t b e i n g t h e o b j e c t o f p r o f i t o r s peculation, non-spec t a c u l a r, b u t o n l y a v a i l a b l e a n d i n c o m p l e t e . Thus the occupan t m a y h a v e a n a c t i v e a n d c o n s t r u c t i v e p r e s e n ce. That’s why I th i n k t h a t i t i s g o o d t o h a v e v a c a n t s p a c e s , as cities increasi n g l y t e n d t o e l i m i n a t e t h e m a n d t h u s l e a v e us with no possibili t y t o i n t e r v e n e , c r e a t e a n d i n v e n t . F a c e d w i t h v agueness, we can c r e a t e t h i n g s a c c o r d i n g t o o u r o w n e x p e r i e n c e . TH E SID EWA L KS The con t e m p o r a r y c i t y i s b a s i c a l l y o r g a n i z e d i n t o streets, squares, p a r k s , b u i l d i n g s a n d c o n d o m i n i u m s . Th e i nteriors of houses a n d s h o p s , e x p a n d t o t h e s p a c e s o f t h e s t r e e t , in various cultures , w h e t h e r i n J a p a n , C h i n a , B r a z i l o r i n E g y pt, usually as an in v a s i o n . W h a t i s f r o m t h e p r i v a t e w o r l d u n f olds itself out thro u g h u s e . W h o l e s t r e e t s a r e a r e a s o f c o n t i n u i ng life, of services , c i r c u l a t i o n a n d h o u s i n g . Th i s d o e s n ’ t o n l y occur in informal l y c o n s t r u c t e d a r e a s , s u c h a s a g g l o m e r a t i o n s or slums, where th e p o r o s i t y o f t h e s p a c e s i s m u c h g r e a t e r, but also in pl anned n e ig h b o r h o o d s . 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 texto | Louise ganz | he intro d u c e d t h e a q u e d u c t a n d t h e h a b i t a t i o n s . M o reover, he left som e a r e a s w i t h o u t a d e f i n e d u s e , s o m e n i c h e s abandoned to time a n d d e c i s i o n s o f f u t u r e i n h a b i t a n t s . T h e s e respiration areas ha v e b e c o m e , a f t e r t h e i r o c c u p a t i o n , p l a c e s to extend clothes l i n e s , s m a l l g am e f i e l d s , p l a c e f o r c h a i r s , s unbathing, conversa t i o n s , e t c . 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 texto | Louise ganz | 70 In Ja p a n , t h e p r i v a te u n i v e r s e o c c u p i e s l o c a l s t r e ets. A t the door of h o u s e , w h i c h o p e n s d i r e c t l y o n t o t h e s t r e e t , there are the slippe r s o n a r u g , s om e pot s of or nam ent al pl ant s a n d g r e e n e r y, and i n s o m e p l a c e s t h e r e a r e w a s h i n g m a c h i n e s a n d refrigerators. The d i c h o t o m y b e t w e e n p r i v a t e a n d p u b l i c i s n o t rigid, one lives impr e g n a t e d i n f l u id i t y o r p a s s a g e b e t w e e n t h e m. This can be perc e i v e d f r o m t h e c u r t a i n s t h a t a r e h a n g i n g o n t h e outside of the door s . U s u a l l y, i n t h e We s t e r n w o r l d , w e a r e u s e d to the curtains on th e i n s i d e , w h e n o u r o w n h a n d s d e c i d e w h e n t o open or close them , k e e p i n g d i s t a n c e f r o m p u b l i c a c c e s s , b e cause they bar the v i e w w h e n d o o r s a n d w i n d o w s a r e o p e n . W h e n placed on the outsi d e , t h e s i g n i f i c a t i o n i s i n v e r t e d , s e e m i n g t h a t the street is the intim a t e p a r t o f t h e h o u s e . I t i s a l s o c o m m o n t o s ee waiters with trays c r o s s i n g s t r e e t s , b r i n g i n g d i s h e s , g l a s s e s a nd cutlery, as if they w e r e c r o s s i n g a c o r r i d o r b e t w e e n a k i t c h e n a n d a pantry. The kitch e n i s a s m a l l c u b i c l e o p e n t o t h e s t r e e t , a n d the pantry is at som e o th e r n e a r b y addr es s . THE CITY O F T HE SPE CTACLE Since th e n in e te e n th c ent ur y, w i t h H aus s m ann´ s p r o j e ct o f u r b a n clean s i n g i n P a r i s , t h e “ b l a n k s l a t e ” t e n d e n c y o c c upies the minds of ar c h i t e c t s a n d c it y p l a n n e r s . At t h e b e g i n n i n g of the twentieth centu r y, t h e m o d e r n i s t s p r o j e c t s o f u r b a n i z a t i on counted on dem o l i t i o n , w i t h o u t l e a v i n g t r a c e s o f w h a t w a s p r eviously in the place , in fa v o r o f c it i es gar dens , c ons i s t i ng bas i c all y o f e xte n si ve green a r e a s , h o u s in g uni t s ( t he s k y s c r aper s ) and i n te n se r o u te s for t h e c ir c u la tio n o f v ehi c l es . To l i v e i n t hes e ar ea s th e y co u n te d on a m o d e l o f m a n , i d e a l i z e d a n d p l a t o n i c , w h o s e time would be spen t o n r e fle c tio n , c ont em pl at i on and el egant w el l - b e i n g 3 . Sinc e t h e 1 9 5 0 ’s , t h e S i t u a t i o n i s t s G u y Dé b o r d , Constant and Vaneig e n 4 p u t th e d e v as t at ed c i t i es i nt o ques t i on: “I n the o l d n e i g h b o r h o o d s , t h e s t r e e t s w e r e t u r n e d i n t o expressw a y s , l e i s u r e i s c o m m e r c i a l i z e d a n d m i s r e p r e s e n t e d A proph e t i c t o n e t o t a l k , f i f t y y e a r s a g o , a b o u t t h e invention of nece s s i t i e s f o r t h e c u r r e n t w a y s o f l i f e : a w o r l d mediated by imag e s , w h i c h b r i n g s a n i d e a l o f c o m f o r t , p r o t ection and isolation . W h a t b r i n g s t h e s e f o r c e s i n t o m o v e m e n t ? Is it the property s p e c u l a t i o n ? Wo u l d i t b e p o s s i b l e t o c r e a t e o ther forms of specu l a t i o n , w h i c h c o n t i n u e g e n e r a t i n g p r o f i t , b u t which also al low the ma in te n a n c e of ar eas w i t hout c ont r ol , hum an r e l a ti o n s and c om mo n life ? B e c a us e t he m or e det er m i ni s t i c t he pl a ce s a r e , the less a r e t h e p o s s i b i l i t i e s t o a c t a n d i n v e n t , a n d e v en greater is the par a ly s is . “T he planet h a s b e e n i n v a d e d b y a m e n t a l i l l n e s s : banalization. E v e r y b o d y i s h y p n o t i z e d b y p r o d u c t i o n a n d co mfort - sew a g e , e l e v a to r, b a th r o o m , w a s h i n g m ac hine. T his state of f a c t , w h i c h b e g a n a s a p r o t e s t a g a i n s t p o v e r t y, went beyond i t s f i r s t g o a l – t o f r e e m a n f r o m m a t e r i a l concerns - to b e c o m e a n o b s e s s i v e i m a g e i n t h e i m m e d i a t e present. Betw e e n l o v e a n d t h e a u t o m a t i c g a r b a g e d i s p o s e r, the you th o f a l l c o u n tr i e s p r e fe r s th e d i s p o s e r.” 6 The o rdina ry The inve n t i o n o f t h e c i t i e s ´ h i s t o r y w a s i n i t i a l l y b a s e d on urban design a n d i t s o p e r a t i o n . T h e c o n s t r u c t i o n o f a n o t h er history based o n t h e t r i v i a l o f e v e r y d a y l i f e s u c h a s a c t i v i t i e s, rhythms, meetings , d i s o r d e r s , r up t u r e s , d i a g r a m s a n d n a r r a t i v es belongs to the tw e n t i e t h c e n t u r y. T h e s e d a t a w e r e n o t p a r t o f t he realm of historica l k n o w l e d g e u n t i l t h e n , t h e y w e r e n e i t h e r o f interest to the urba n is tic p r o je c t n or t he r ef l ec t i ons about c i t i es . 69 70 71 texto | Louise ganz | by tourism. T h e s o c i a l r e l a t i o n s h a v e b e c o m e i m p o s s i b l e . T he newly bu i l t n e i g h b o r h o o d s h a v e t w o d o m i n a n t t h e m e s : the transit of c a r s a n d r e s i d e n t i a l c o m f o r t . Th e y a r e t h e limited expre s s i o n o f b o u r g e o i s h a p p i n e s s , d e v o i d o f a n y pla yful p reo cc u p a ti o n .” 5 69 70 71 texto | Louise ganz | 72 To ill u s t r a t e t h e e v e r y d a y r e l a t i o n s h i p a n d t h e c i t y as a former of his to r y, I q u o te Ge o r ges P er ec , f r om hi s t ex t L’ I n fr a - Or d i n a i r e 7 . Perec r e a liz e d a mappi ng of t he s t r eet w her e he l i ve d i n Pa r i s, whic h w a s i n a c o n t i n u o u s d e m o l i t i o n p r o c e s s . His procedure was t o m o n i t o r t h e c h a n g e s f r o m 1 9 6 9 t o 1 9 7 5 t h rough frequent visit s o f t h e s i t e . H e t o o k n o t e s a b o u t t h e m o d i f ications house by h o u s e , b u i l d i n g a k i n d o f i n v e n t o r y o f p a r t i c u l arities. Through the n u m b e r i n g o f t h e b u i l d i n g s , h e r e c o r d e d t h o se which were inhab i t e d , t h o s e w h i c h r e c e i v e d “ f o r r e n t ” o r “ f o r s a le” signs, those w hi c h we r e a b a n d oned and t hos e w hi c h w er e dem o l i sh e d . Ye a r after y e a r, t h e l a n d s c a p e w a s m o d i f i e d , u n t i l i t s t otal demolition. Thro u g h t h i s s i m p l e p r o c e d u r e h e r e v e a l s t h e h i story of modes of liv i n g , o f o c c u p y i n g t h e s p a c e a n d t h e t r a n s f ormation which oc c u r r e d in b o th . The e v e r y d a y l i f e , t h e r e f o r e , p a s s e d o n t o h a v e a meaning for the cons t r u c t i o n o f a r e f l e c t i o n a b o u t c i t i e s . I f t h e t r a c es in cities are eras e d a n d i f i t b e c o m e s c l e a n , o r d e r l y a n d e q u a l , one diminishes the a b i l i t y t o g e n e ra t e s u r p r i s e o r p r o v i d e f o r t u i t ous encounters with d u s t , t h e d i s o r d e r o r t h e g r a s s t h a t s p r o u t u n d uly from a hole i n the s id e wa lk a n d day dr eam s . REPORTS A B OUT T H E F I LM B anquets Banquets i s c o m p o s e d o f a s e r i e s o f f i v e l u n c h e s held in public spac e s i n n e i g h b o r h o o d s o f d i ff e r e n t s o c i a l c l asses in Belo H ori z o n te . For t h e c h o i c e o f t h e l o c a t i o n s w e r e a l i z e d s e v e r al local routes, by b u s a n d b y c a r, b a s e d o n a c i t y m a p . E a c h t o ur was done in differ e n t d ir e c tio n s i n s ear c h of i nt er es t i ng s i t uat i o n s a n d p l a ce s. After s e l e c t i o n o f t h e s i t e s w e t a l k e d w i t h r esidents, local merc h a n t s , o r g a n i z e r s o f t h e s t r e e t e v e n t s i n o r d e r to understand the m e c h a n i s m s o f u s e a n d a p p r o p r i a t i o n o f t h e places and the BANQUE T 1 In the st r e e t i n f r o n t o f a c h u r c h , w h e r e a m a r r i a g e t o o k place, in the easte r n p a r t o f th e c i t y. We inst a l l e d t h e t a b l e i n f r o n t o f t h e c h u r c h d o o r, i mmediately after the e n t r y o f t h e b r i d e . We r e a l i z e d a k i n d o f i nvasion of the site. Th e m e n u c o n s i s t e d o f c o t t o n c a n d y o f v a r i ous colors and red c a n d i e d a p p l e s . A r e s i d e n t o f t h e n e i g h b o r h ood, which produce s t h e m f o r p a r t y s t a n d s a n d s t r e e t s a l e s m e n , prepared them. T h e m a r r i a g e c o u p l e h a d h i r e d a l o c a l m u s i c b a nd to play at the ch u r c h p o r t a l f o r t h e i r e x i t a n d t h e m u s i c w a s a dded to the surpris e c a u s e d b y o u r t abl e. BANQUE T 2 In a sm a l l s q u a r e o f t h e n e i g h b o r h o o d s u r r o u n d e d by local com mer c e in th e n o r th er n r egi on of t he c i t y. We cho s e t h i s p l a c e b e c a u s e o f t h e c h i c k e n s l a u g hterhouse, which is n e a r b y. We o r d e r e d t h e k i l l i n g o f t w e l v e c h i ckens. On the sam e b l o c k t h e r e w a s a c o u p l e o f c o o k s , w h o a r e quite well known i n th e n e ig h b o r hood, as t hey pr epar e do t he l unch fo r th e fes tiv itie s o f th e lo c a l c hur c h. T he m enu w as c hi c k en “ a o m o l h o pardo ”. T h e t a b l e s w e r e l e n d b y t h e o w n e r o f t h e b a r form the other co r n e r. Th e y c l e a n e d u p , c a r r i e d a n d i n s t a l l e d the tables in the sq u a r e . T h e p a r t i c i p a t i o n w a s a c t i v e t h r o u g h o u t the whole neighbo r h o o d . E a c h p e r s o n b r o u g h t t h e i r d i s h e s , c utlery and even lun c h b o x e s t o c a rr y f o o d b a c k h o m e . 69 70 71 72 73 texto | Louise ganz | peoples ´ w a y s o f l i f e . A t t h a t t i m e w e m e t p e o p l e w ho agreed to partic i p a t e a s c o o k s , w e d e f i n e d t h e m e n u s a c c o r ding to the local si t u a t i o n . F o r e x a m p l e , f o r t h e b a n q u e t i n t h e square, w e c hoo s e c h ic k e n “ a o m ol ho par do ” s i n c e t h e r e w as a small slaughte r h o u s e n e a r b y. A c o u p l e o f r e s i d e n t s , w h o u s ually cook for churc h - r e l a t e d f e s t i v i t i e s o f t h e n e i g h b o r h o o d , w e r e available to prepar e th e e n tir e meal . 69 70 71 72 73 texto | Louise ganz | 74 BANQUET 3 At th e m a r g i n s o f a n u r b a n l a k e - t h e P a m p u l h a lake – in the nort h e r n p a r t o f t h e c i t y. This l o c a t i o n w a s c h o s e n f o r i t s b u c o l i c f e a t u r e s , conducive to a past o r a l b a n q u e t . A s i t u a t i o n o f u r b a n n a t u r e . T h e menu consisted of a r o a s te d p ig le t a nd a t abl e of l et t uc e. I t w as qui te p l a sti c a n d pic to r ia l. BANQUET 4 O n a s t r e e t , i n t h e “ B l o c k o f S o u l ” , i n t h e c e n t r al region of the city. We w a n t e d t o i n t e r v e n e i n a n e x i s t i n g s i t u a t i o n , s o we chose this stree t w h e r e a g r o u p o f t h e B l a c k S o u l M o v e m e n t comes together to da n c e , e v e r y S a t u r d a y. We o p t e d t o m a k e a f e a s t of colored and refre s h in g d r in k s . P eopl e c am e c l os e t o t he t abl e to ch o o se th e beve r a g e s ; th e ir p ar t i c i pat i on w as v er y i nt ens e. BANQUET 5 O n a s i d e w a l k i n a r e s i d e n t i a l a r e a i n t h e s o u t h e r n part of the city. The b a n q u e t wa s r eal i z ed w i t h a gr oup of f r i ends a n d n e i g h b o r s. The m e n u c o n s i s t e d o f s e v e r a l d i s h e s , n o m i n ated sculptural dis h e s . S e v e r a l s c enes oc c ur r ed at r andom t hat da y, w i th o u t o u r prior k n o w l e d g e , s u c h a s : e x e c u t i o n o f a r e p a i r w o r k of the asphalt reali z e d b y t h e c i t y h a l l a n d t h e p o l i c e s e a r c h i n g a group of young socc e r f a n s . S i n c e t h e p r o p o s a l o f t h e f i l m i s t o d eal with random i ncid e n ts , a ll th e s c enes w er e i ns er t ed i nt o t he f i l m . h 69 70 71 72 73 74 texto | Louise ganz | 75 1 - ONFRAY, Mich e l. A Raz ã o Gu l o s a : fi l o s o fi a d o g o s to . R i o d e J a n e i r o : Rocco, 19 9 9 , p . 1 6 7 -16 8 . 2 - Cons tructed in th e city o f É v o r a , p r o v i n c e o f A l e n te j o , P o r t ugal . 3- I refer to the western mod e r n i s t c u l t u r e , m a i n l y t h e u r b a n i s t i c p r o p o s a l s and t he Mod u lo r of L e Co r b u s i e r. 4- About the Situ a tio n ist s c o n s u l t: DÉ BORD , Gu y. A S o c i e d a d e d o E spet áculo . JACQU ES, P a o l a Be r e n s te i n ( o r g .) . A p o l o g i a d a D e r i v a . E scr it os Situ a cion istas sob r e a C i d a d e / I n te r n a c i o n a l Si t uac i onis t a . SAD LE R, Simo n. Th e situa ti o n i s t c i ty . And Situacionista: teoria e pr át ica da revolu ção . 5- CONSTANT. Ou tra Cid a d e p a r a o u tr a Vi d a , IS n o . 3 , d e z . d e 1 9 5 9 . In: JACQUES, Pa o la Ber e n s te i n ( o r g .) . A p o l o g i a d a D e r i va . E s c r i t o s S it uacionista s so b re a C i d a d e / I n te r n a c i o n a l Si tu a c i o n i s t a . R i o d e Janeir o: Ca sa d a Pala vra , 2 0 0 3 , p .11 4 . 6- IVAIN , Gille s. F o rmu lá r i o p a r a u m n o v o u r b a n i s m o . IS n o . 1 , j u n h o de 1958. Em: JACQU ES, P a o l a Be r e n s te i n ( o r g .) . Ap o l o g i a da D eriv a. E scr it os Situa cion istas so b r e a C i d a d e / I n te r n a c i o n a l Si tu a c i onis t a . R i o de Janei ro: Ca sa d a Pala v r a , 2 0 0 3 , p .6 9 . 7- PE REC, Geo rge . L’In fr a - o r d i n a i r e . P a r i s : É d i ti o n s d u S e ui l, 1989. 69 70 71 72 73 74 75 texto | Fabíola tasca | 76 FR O M A R T I F I C E Th e banquet t akes p l a c e o n Pe rn a m b u c o Stre e t, right in front of th e house of Loui se Ga n z . Se t o n th e s i d e wa l k , there is a large ta b le f or a cert ai n nu m b e r o f g u e s ts . I c o me wi th the ingredients to p r epare m y “scul ptu ra l d i s h ”, a mo d e s t a n d p ra ctical reference to C arl A ndre: t oast b re a d (wi th o u t c ru s t) a n d a rose-colored c h ic ken past e. A sl i c e o f b re a d wi th p a s te a n d a slice of bread with o ut past e, a sl ic e o f b re a d wi th p a s te a n d a slice of bread with o ut past e pl aced h o ri z o n ta l l y s i d e -b y -s i d e fi l l i n g up a tray. The b r e ad i s bei ng used i n i ts g i v e n d i me n s i o n s : n o cuts, and that’s a ll. T he t abl e i s care fu l l y p re p a re d . Th e o th e r g u ests are almost a ll acquai nt ances f r o m o th e r s i m i l a r o c c a s i o n s . Bu t now there is a c a me ra; a f i l m i s bei n g p ro d u c e d : “Ba n q u e ts ”. In 2 002 I part i ci pate d i n a n o th e r p ro j e c t o f Br eno Silva and L o u ise G anz: “P erpe n d i c u l a r”, a s e ri e s o f i n te rv e n tions by artists a n d archi t ect s i n se v e ra l ro o ms o f a h o te l . In th a t context, I was n e ith er t here as an a rti s t, n o r a s a n a rc h i te c t, b ut as part of a r a th er vague ent i t y, wh i c h i s c a l l e d p u b l i c . Wh i le visiting this e v e nt I experi enced a s i g n i fi c a n t m o m e n t i n my re l ations to art, an e x p eri ence t hat I t rie d to c o m mu n i c a te i n a b ri e f text, an anxious r e p ort , w ri t t en w hi l e I wa s e n c h a n te d b y th e c i rc u mstances: ROOM 117 L o o k w el l at everyt h i n g th a t y o u mi g h t s e e . J u le s Verne Mic hai l St rogoff I have just come back from “Hotel Bragança” where I took part in a disturbing experience I want to tell you about. My assignment here is of a paradox nature: to narrate a situation for which the words will always f a i l m e . T h e n a m e o f t h e p r o j e c t i s P E R P E N DIC U L A R a n d I w o u l d l i k e t o thank the people responsible for this event that lead me to an unexpected i n c i de n t . The proposal consisted of interventions made by artists and architects in rooms of a hotel in operation in downtown Belo Horizonte - the “Hotel Bragança.” 69 70 I visited the interfered-in rooms. Between one and another I was definitely 71 a ff e c t e d b y r o o m # 11 7 . T h e d o o r w a s h a l f - o p e n . I d e l i c a t e l y p u s h e d i t , 72 perceiving a slight change in me. It was as if I was entering into a strange 73 room. I felt my body in a state of alert; a certain hightening of the senses 74 a hotel room that preserved the evidence of a recent presence. A strong smell of cigarettes, confirmed by the sight of an ashtray full of cigarette butts, the sound of some voices leading my eyes to a television set which - placed on one of these wall supports and playing at a generous volume - showed the images of the popular eight o’clock soap opera: Esperança; several already consumed beer cans arranged in a chaotic way on a small drawer between two single beds; some clothes thrown on the two beds; other disarranged clothes in an open suitcase leaning against a wall which separated the room from a probable bathroom. A pair of filthy tennis shoes in the middle of the place. All these objects e x p o s e d i n t h a t s p a c e c o m p r i s e d a s t a r t l i n g s c e n e r y. I t h o u g h t o f t h e value of the proposal: just a used room. How could such a simple idea be so brilliant? How could an intervention achieve such a verisimilitude? The surprise was the appearance of veracity (or might it be the power of veracity?), which suggested a precise, almost surgical action. The room was full of absence. And it was p r e c i s e l y t h a t w h i c h m a d e r o o m # 11 7 u n d o u b t e d l y t h e m o s t s u c c e s s f u l proposal. The feeling of invasion was prolonged making me feel pressed by time, having to withdraw as soon as possible, perceiving myself in imminent d a n g e r. P e r h a p s b e c a u s e o f t h i s , d e t a i l s o f t h e r o o m e s c a p e d m e , a n d t h i s f a c t i s a l l t h e m o r e d is t u r b i n g . I e v e n t h i n k t h a t t h e e x p e r i e n c e w a s so intense that, when I try to remember it, it seems to be distant, and even non-existent. I was curious to know the name of the author or authors of the project and asked here and there. Nobody knew how to answer me. I decided to r e t u r n t o # 11 7 t o p r o l o n g , r e a ff i r m o r e v e n c o n f i r m t h e e x p e r i e n c e . T h e closed door surprised me. I experienced a sort of an infinitesimal short circuit. 75 76 77 texto | Fabíola tasca | m a d e m e f e e l t h r i l l e d b y t h e s c e n e o f a u s e d r o o m . T h a t ’s r i g h t , o n l y t h a t , 69 70 71 G r a d u a l l y, I r e a l i z e d n o t o n l y t h a t t h e s e c o n d f l o o r f u n c t i o n e d n o r m a l l y, b u t t h a t o n t h i s f l o o r, a l o n g t h e i n t e r f e r e d - i n r o o m s , t h e r e w e r e o t h e r s w h i c h were actually occupied. It wasn’t about performance, it was the transit of 72 the hotel cohabitating with the artistic event. 73 Aw a r e o f t h a t , I b e g a n c o n s i d e r i n g w h e t h e r # 11 7 w a s n ’ t j u s t a h o t e l 74 room. If the presence that I detected due to its own absence was not the 75 76 77 texto | Fabíola tasca | 78 temporary retreat of a hotel guest who, anticipating his immediate return, w a s n ’ t c o n c e r n e d a b o u t c l o s i n g t h e d o o r. O r h e m a y e v e n h a v e f o r g o t t e n to do so. T h e q u e s t i o n w a s w h e t h e r r o o m # 11 7 m i g h t b e w h a t i t s e e m e d t o m e : a used hotel room. There was a need for a detailed investigation to confirm t h i s s u s p i c i o n . R o o m # 11 7 r e a l l y w a s a r o o m i n u s e , a l i v e d - i n s p a c e . C o i n c i d e n t a l l y, w h i l e I ’ m e v a l u a t i n g t h e s e d o u b t s , a g u e s t l e a v e s t h e r o o m and I don’t resist asking him: - “ A r e y o u i n # 11 7 ? ” H e o n l y n o d s h i s h e a d w h i l e m o v i n g h a s t i l y o n t h r o u g h t h e c o r r i d o r, showing a certain bad mood and discontent. The experience provokes in me a irreducible division between P E R P E N DIC U L A R a n d HO T E L B R A G A N Ç A , e m p h a s i z i n g t h e i n e v i t a b l e l i n e b e t w e e n t h e m , w h i c h , c u r i o u s l y, a n d s o m e m i g h t s a y p a r a d o x i c a l l y, comes to enhance the possibilities of the unspeakable, unsuspected, uncontrollable and, why not, revolutionary connections between these parallels. Th is report sought to a d d re s s m y p e rc e p ti o n o f discontinuity b e tween t he event a n d th e a c tu a l o p e ra ti n g o f the hotel. The p e r cept i on of som et hi n g a s a n i n te rv a l wh i c h u n i te d and separated s u c h records. W hat wa s a t s ta k e th e re wa s a “s tra ngeness of the fa mil i ar” t hat seem ed p o s s i b l e th ro u g h th e a mb i g uity introduced b y the st rat egy of th e e v e n t: a n a rti s ti c a c ti o n inserted in the c o n text of a hot el i n o p e ra ti o n . Pa r ti ci pat i ng i n one o f th e b a n q u e ts c o n s i s te d o f a very different e x p eri ence, even t ho u g h i t i mp l i c a te d th e p re v i o u s experience. At th e b anquet I occupi e d th e p l a c e o f a p a rti c i p a n t o f the scene in a c o n sci ous w ay, w hi l e i n “Pe rp e n d i c u l a r” I s u d d e n l y became aware As th e real i t y of H ote l Bra g a n ç a c o n s ti tu te d a source for “ Pe r p e n di cul ar”, t he circ u ms ta n c e s o f Pe rn a m b u c o S treet that d a y, a lth ough casual , s e e me d e s p e c i a l l y e l a b o ra te d to compose th e film “Banquet ”: co n s tru c ti o n wo rk e rs d i g g i n g the street, p o lic e searchi ng som e s o c c e r-fa n s , p e o p l e p a s s i n g by, and a wh o le tri vi al scene see m e d to b e re v e rte d to a n o th er purpose u n r e la ted t o i t ’s ow n ci rc u m s ta n c e . Th e ta s k o f th e f ilm turned r e a lity v i si bl e f rom anoth e r p o i n t o f v i e w. My e x p e ri ences i n “P erpe n d i c u l a r” a n d i n “Ba n q u e t” s uggest that s e e in g i s t o produce a wa y o f l o o k i n g , a wa y o f l o o k i ng that can d ir e c t u s t o t he consci ou s n e s s o f h o w o u r a p p re h e n s i o n of reality is c o n s truct ed al so by ou r e x p e c ta ti o n s , wh i c h i n tu rn i mplies that we b e c om e consci ous on h o w s u c h a p p re h e n s i o n i s a lways built fr o m a speci f i c f ram ew ork . Th e s c e nes w hi ch can b e fo u n d i n th e mo v i e “Ba n quets” are b o th fo rged and f ort uito u s re a l i ti e s : e n c o u n te rs o f situations th a t p r ecede t hat w hi ch h a s a i n d e p e n d e n t e x i s te n c e in the film - th e w eddi ng of Bruno a n d Ca m i l a , th e c o e x i s te n c e between r e s id e n ts of t he nei ghbo rh o o d Co n c o rd i a , th e d a n c e rs , our ties of fr ie n d s hi p w hi ch m ade us g e t to g e th e r i n fro n t o f L o u i se’s house - a n d th e act i vi t i es of t he i n te rv e n ti o n s . Th e a c t i ons, t hrough wh i c h Bre n o a n d L o u i s e a re trying to d e s ta b il i ze cust om s, i nfi l tra te th e c o n ti n u u m o f e v e r yday life, o ffe r in g vi gorous i nvi t ati o n s to th e p e rc e p ti o n o f a p l a ce of more e la s tic and unusual m a n e u v e rs . A s p a c e o f a c ti o n s to which we a c c e d e our heads by m ea n s o f fo rtu i to u s e n c o u n te rs p romoted by th e a u s pi ces of art i f i ce. 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 texto | Fabíola tasca | th a t I was part of a sc e n e . Su re l y s u c h d i s ti n c ti o n forms our e x p e r ie n ces i n si ngul ar wa y s ; b u t I wo u l d l i k e to s tre s s here how b o th s e em t o const i t ut e tri b u te s to a n i n s ta n c e o f a rti fice. 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 texto | frederico canuto | 80 O N D OCUMENTA L FA I L U R ES Whe n o n e wa lk s th r ough t he s t r eet s of l ar ge c i t i e s, o n e d o e sn ’ t see p e o p l e v o l u n t a r i l y p u t t i n g t h e i r t a b l e s o n t he streets and prov i d i n g l u n c h e s or a n y o t h e r t y p e o f f o o d t o p a ssersby, as can be se e n in th e v id e o ”B anquet s ” . A m o m e n t o f d i s placement from the u r b a n l a n d s c a p e s u r r o u n d e d b y c a r s a n d p e o ple coming and going , w i t h o u t a n y c o n t a c t o r a c t i v e p a r t i c i p a t i o n in the lives of each o th e r, is n o t s o m et hi ng t hat i s nor m al l y off er e d . N or c a n o n e s e e , l i v e o r o n TV, p e o p l e o c c u p y ing the streets for l u n c h w i t h t h e i r f a m i l y o r f r i e n d s o r e n j o y i n g the margins of a lak e . E v e n t s l i k e t h i s a r e n o t b e i n g e x p o s e d o r advertised in news p a p e r s o r f a s h i o n a n d a r c h i t e c t u r e m a g a z i n es. Images like these a r e n o t a v a i l a b l e i n c a t a l o g s o f s t o r e s , m u ch less, in the midd l e o f t h e s t r e e t . O the r w i s e , d u r i n g l u n c h h o u r s o f s u p e r m a r k e t employees, for exam p l e , w e h a v e so m e l u n c h i n g o n s i d e w a l k s a n d sleeping after a me a l in s ma ll r e si dual s pac es [ s m al l gar dens , l aw n s o r o n th e floor u n d e r m a r q u ee s ] . W h i l e a p p r o p r i a t i n g p u b l i c space, these perm a n e n t o r t e m p o r a r y s t r e e t i n h a b i t a n t s d o n ’ t t ry to get closer to ea c h o th e r a n d c el ebr at e a m om ent i n a c ol l ec t i ve w a y. Th e r e is no a t t e m p t m a d e a t e s t a b l i s h i n g c o n t a c t w i t h the passersby distr i b u t i n g c o c k t a i l s o r o ff e r i n g s m a l l o p e n -air concerts. Anno u n c i n g t h e e m e r g e n c e o f t h e p a r a d o x i c a l character of Mode r n ity, B e n ja min 1 s a y s t h a t t h e s t r e e t a s t h e r esidence of the colle c t i v e , d e m o n s t r a t e s a l o t m o r e a d i s t a n c e a m ong people than an a p p r o x i m a t i o n . I n t h e v i d e o B a n q u e t s t h e a c t ions presented sugg e s t a n d r e f u t e t h i s a p p r o x i m a t i o n a t t h e s a m e time; there are peop l e w h o a d h e r e t o t h e b a n q u e t s , a s w e l l a s p eople who pass by th e m, c u r io u s a n d ev en i ndi ff er ent . R epe a t e d u s e s o f t h e s t r e e t a r e p r e s e n t e d , a n d possibilities are given t h r o u g h a n a p p r o p r i a t i o n . I n t h e c o n t e x t o f t he street, such In retros p e c t t o t h i s t y p e o f ‘ t e m p o r a r y ’ a c t i o n i n t h e f ield of art, one can s e e t h a t t h e r e a r e m a n y e x a m p l e s o f t h e s a me type of event a n d i n t e r r u p t i o n o f e v e r y d a y l i f e l i v e d i n c i t i e s. Inspired by, or, s e r v in g a s a n in s pi r at i on t o pas t ev ent s w hi c h h a p p e n e d around 1 9 6 8 , y e a r z e r o o f t h e s p e c t a c u l a r c u l t u r e , when one fi nds ‘th e b e a c h u n d e r t he as phal t ’ [ s ous l e pav e, l a p l a g e 3 ], actions l i k e t h i s , w h i c h t o o k t h e l i v e d s p a c e i n t h e c i t y as stages for even t s a n d a p p r o p r i a t i o n s , m u l t i p l i e d t h r o u g h o u t the urban space. A t t h e f i r s t m o m e n t w i t h s t u d e n t s , m a r g i n a l s , artists like Gordon Ma t t a -Cl a r k a n d g r o u p s o f a r t i s t s s u c h a s F l u x us, or with m ovem e n ts lik e th e I n ter nat i onal S i t uat i oni s t e. In the c a s e o f t h e F l u x u s g r o u p , i t s s t r a t e g y o f m a k i ng art was based o n t h e c o n s t r u c t i o n o f s m a l l e v e n t s t h a t s u b v erted what was no r m a l l y e x p e c t e d i n s o m e p l a c e s . T h e a t r e s in streets address e d t o t h e t r a n s i t o f v e h i c l e s a n d a d s s o l d o n the wall space, w e r e s o m e o f t h e p r o p o s a l s . F l u x u s o ff e r e d an artistic experien c e t h r o u g h w h i c h t h e s t a t u s o f a r t w a s r e - d i mensioned, if not e r a s e d i n s p a c e a n d t i m e , b e c a u s e t h o s e w ere artistic events, w h i c h w e r e e x p e r i e n c e d a s p a r t o f d a i l y l i f e . H appenings and per f o r m a n c e s , t h u s , w e r e t r y i n g n o t o n l y t o w i t hdraw the status o f p l a c e o f e x c e l l e n c e t o s h o w a n d a u t h o r i z e a rt from the museum a n d t h e a r t g a l l e r y, b u t a l s o , t o u n i t e a r t a n d l ife through works o p e n t o c h a n c e a n d p r o d u c e d w i t h t h e p a r t i cipation of spec tator s . 79 80 81 texto | frederico canuto | actions c a n c o n t i n u e i n d e f i n i t e l y, a s o n e c a n s e e e v ery day in the stre e t s o f c i t i e s , a s w e l l a s b e c o m e a ‘ b a n q u e t ’ , w hich means a ruptur e o f t h e r o u t i n e . T h r o u g h t h i s r u p t u r e a n o p p ortunity is created. Th i s i s t h e m o m e n t , a n o p e n w i n d o w, s p a ce-time of the futu r e : “ r e v e l a t i o n o f a l l p o s s i b i l i t i e s c o n t a i n e d i n the daily existenc e [ . . . ] e p h e m e r a l a n d i n s t a n t l y p a s s e d t o o b l ivion while [sic] du r i n g t h i s t r a n s i t i o n , a l l s o r t s o f p o s s i b i l i t i es can be dis c ove r e d o r a c h ie v e d “ 2 . 79 80 81 texto | frederico canuto | 82 Radic a lly, th is wa s the ‘ F l ux us F es t s pi el e N eues t er Mu si k ’, “Fluxus Fest i v a l o f n e w e s t M u s i c . ” A c o l l e c t i v e g r o u p - show, creating noise i n t h e n o r m a l u s e o f a n y s p a c e , f i l l i n g i t w ith desires and poss i b i l i t i e s . A p l a c e d e d i c a t e d t o a r t e x p e r i e n c e that, through artis tic a c tio n s , b r o ught t oget her ar t i s t s , s pec t at or s a n d o th e r s: “[...] we i n t e r p r e t E m m e t t W i l l i a m s ’s G e r m a n O p e r a ‘ J a e s war noch d a ’ , i n E n g l i s h : t h e l o n g e s t 4 5 m i n u t e s o f m y l i f e , which con s i s t e d m a i n l y i n s h a k i n g a f r y i n g p a n w i t h a r e g u l a r rhythm an d p r e c i s e l a p s e s . [ . . . ] Vo s t e l l c a m e f r o m C o l o g n e [...] playe d A r g h h , s t r u c k s o m e t o y s w i t h a ha m m e r u n t i l t h e y broke into s m a l l p i e c e s , t o r e a m a g a z i n e , d e s t r o y e d s o m e lamps in a c r y s t a l a n d t h r e w c a k e s a g a i n st a g l a s s . [ . . . ] I t was what W i e s b a d e n n e e d e d . F o r a c e r t a i n t i m e , e g g s f l e w th rou g h th e a i r e v e r y tw o m i n u te s . D u r i n g E m m et W illiam s ’s opera, so m e s t u d e n t s r o s e f r o m t h e a u d i e n c e w i t h b r a n c h e s of fir and s a n g s e v e r a l s t u d e n t s o n g s [ . . . ] t h i n g s l i k e t h i s h a p p e n e d o v e r a th r e e - w e e k p e r i o d . “ 4 . From a m o r e h i s t o r i o g r a p h i c a l p o i n t o f v i e w o f Surrealism as well a s Da d a i s m a t t h e b e g i n n i n g o f t h e t w e n t i e t h century, these move m e n t s c a n b e c o n s i d e r e d p r e c u r s o r s o f t h e s e kind of action in th e f i e l d o f a r t . W h e n t h e Da d a i s t s m e t t o r e c i t e poems, show their n e w w o r k s a n d d i s c u s s t h e i n d i v i d u a l p r o duction among each o t h e r, t h e y w e r e t h e f i r s t t o a p p r o p r i a t e u n d e rused or widely utiliz e d s p a c e s , s u b v e r t i n g t h e t y p e o f u t i l i z a t i o n which normally took p l a c e t h e r e . T h i s i s a n a c c o u n t o f t h e c o n s t ruction of small vibratio n s , a s o c c u r r ed dur i ng f i v e m ont hs i n t he Ca b a r e t Vo l ta i r e i n 19 1 6 : “Summary o f t h e f e s t i v a l : c u b i s t d a n c e , c o s t u m e s , e a c h p e rso n w i th h i s b i g b a r r e l o n th e h e a d , n oi s e [ . . . ] goas t i c poem, vo w e l c o n c e r t , s t a t i c p o e m , c h e m i c a l a r r a n g e m e n t s of ideas [ . . . ] M o r e s h o u t i n g , t h e l a r g e d r u m , t h e p i a n o a n d the impot e n t c a n n o n , c o s t u m e s o f t o r n c a r d b o a r d . A l l p r e s e n t surre n d e r e d to a n i n te r r u p te d c h i l d i s h fe v e r ” 5 . That da y, t h e b a n q u e t , t h e s p a c e a n d t i m e f o r a n y banquet, was pro d u c e d b y t h e i n f i l t r a t i o n o f a l o a d e d t a b l e b y one of the characte r s a t t h e b e g i n n i n g o f e a c h i n t e r v e n t i o n . T he banquet projecte d b y t h e a r t i s t s , w h i c h i s e x p e r i e n c e d o n t h e street is a moment c r e a t e d b y t h o s e w h o d e s i r e , e a c h o n e w i t h his or her non-indiffe r e n c e . Art as th e b a s is o f Ba n quet s c a n b e h e l p f u l i n c o m p r e h ending and ex pandin g th e u n d e r s tandi ng of t he pr oj ec t as par t of so m e th i n g larger t h a n s i m p l y a f i l m w h i c h l a s t s 2 0 m i n u t e s . S een from a distance i n o r d e r t o u n d e r s t a n d t h e f i l m a s p a r t o f a series of actions t h a t a d d r e s s t h e p r i v a t e u s e o f s p a c e , r e - d i mensioning it, maki n g i t c o l l e c t i v e f o r a s h o r t i n s t a n c e , t h e n , the film is a record o f a n a c t i o n . I t o p e r a t e s o n t h e s a m e l e v e l, equal to a whole p r o c e s s o f a r t i s t i c c o n s t r u c t i o n s t a r t i n g i n 2002 with the proje c t ‘Ho te l B r a g anç a’ and c ont i nui ng w i t h ‘ Vaca n t L o ts’ and the DOCTV ‘S q u a r e M et er s ’ 6 . T h e s e p r o p o s a l s o c cupy empty spaces, r e e n e r g i z i n g t h e m p u b l i c l y w i t h e x h i b i t i o n s or public actions. Th e y p a r t i c i p a t e i n t h e d i s c u s s i o n o f a n e w concept of publ i c a r t , w h e r e t h e b o u n d a r i e s o f a r t a n d t h e limits of the wor d ‘ p u b l i c ’ a r e t e n s i o n e d a n d r e - c o n s i d e r e d i n the light of conte m p o r a r y i s s u e s s u c h a s g l o b a l i z a t i o n a n d the public sphere, p r i v a t i z a t i o n o f s p a c e , i n t e r d i s c i p l i n a r y d i s courses of art, arch ite c tu r e , e c o n o m i c s am ong ot her s . Another a t t e m p t c a n s t i l l b e m a d e i n o r d e r t o u n d e rstand the proposa l i f o n e c o n s i d e r s t h e s u p p o r t i n g i n s t i t u t i o n a l structures, 79 80 81 82 83 texto | frederico canuto | Similar t o t h e n o i s e m a d e b y t h e r e a d i n g o f t h e poems and the sho u t i n g o f t h e a r t i s t s i n a s p a c e o f s i l e n c e , w a s the noise produce d b y t h e s o u n d o f a c e l l o a t t h e Pa m p u l h a lake and a banquet i n f r o n t o f a b u i l d i n g i n a u p p e r - c l a s s r e s i d ential area of a cit y, a s s e e n i n t h e v i d e o . A p a r a d o x : t h e l u n ch, such a common e v e n t i n p r i v a t e s p a c e s o f t h e c i t y, b e c o m e s strange in the ex p a n d e d s p a c e o f a l ak e. 79 80 81 82 83 texto | frederico canuto | 84 the p r o j e c t ’s o w n p u b l i c a t i o n a n d t h e e x t e n t o f t h e whole project: print e d p u b l i c a t i o n , f i l m a n d t h e a c t i o n s i n t h e urban space. Thi n k in g a b o u t th e i ns t i t ut i onal pl ac e t hat t hi s pr oj ect o ccu p i e s a s well a s i t s t a c t i c s a n d s t r a t e g i e s f o r d i s s e m i n a t i o n and legitimating reca l l s p r o p o s a l s a n d i s s u e s r a i s e d b o t h b y A n dy Warhol and M arc e l D u c h a m p , i n o r d e r t o u n d e r s t a n d t h e c o m p l ex relationships invol v i n g p r o d u c t i o n , d i s t r i b u t i o n a n d c o n s u m p t i on of art – a syste m w h e r e a r t i n s e r t s i t s e l f a n d i s s e e n a s a p roduct. What is the p l a c e o f t h e a r t i s t ? H o w i s h e r e c o g n i z e d a s an artist? How does h e i n f i l t r a t e o r e x t e n d t h e a r e a o f a r t i s t i c e xposition? How does h e le g itimiz e a not i on of ar t , w hi c h es c apes f r o m m u se u m s? Thes e a n d o t h e r i s s u e s a r e r a i s e d f r o m t h e w o r k of these two artis ts . H ow e v e r, wh a t r e ma i ns i s a f i l m . O r r at her, t he f i l m i s a tr a ce o f a mom e n t o r t e m p o r a r y e x p e r i e n c e . THE F I L M : A DOCUM E NTA L R E CORD O F A MOM E NT ? D ocu m e n t a l r e c o r d d o e s n o t s e e m a c c u r a t e e n o u g h if it is thought in co n t e x t o f m o s t d o c u m e n t a r y f i l m s t h a t a r e c u r r ently produced. They n o r ma lly fe a tur e a c har ac t er or s i t uat i on as ce n tr a l th e m e and e x p o s e i t t h r o u g h o u t t h e w h o l e f i l m a n d t h r oughout all the lesso n s a n d p r o b l em s t h a t m a y a r i s e f r o m t h i s narrative. They try to a p p r o a c h a ll w ay s and poi nt s of v i ew, l i s t eni n g to a l l si d e s, so th a t t h e s p e c t a t o r m a y m a k e h i s j u d g e m e n t . Much more than an a e s t h e t i c c o n c e r n t h a t i s b e i n g m a d e , w h a t i s placed in the foreg r o u n d o f t h e s e f i l m s a r e e t h i c a l q u e s t i o n s : Who is right? Why i s h e r i g h t ? W h o i s w r o n g ? W h a t a r e t h e conditions that l ed to th e e r r o r ? T h es e i s s ues ar e al w ay s m or e c e n tr a l th a n th e cinema to g r a p h ic d is c our s e: t he i m age. How e v e r, t h e r e a r e d o c u m e n t a l r e c o r d s t h a t s i t u a te such modern notio n s w i t h i n a n e w p e r s p e c t i v e . W h e n o n e t h i n k s about the type of doc u me n ta r y film s pr oduc ed by, f or ex am pl e, E du a r d o Co u ti n h o i n Edi fíc io M a s te r a n d J ogo de C ena o r J o ã o M o r e i r a Salles in Santiago 7 , o n e c a n p e rc e i v e m a r k s o f t h e t y p e o f f i l m present in Banque ts . 79 80 81 82 If the d o c u m e n t a r y s p e a k s a b o u t a s i t u a t i o n o c c u r ring in the everyda y l i f e o f a p l a c e i n o r d e r t o e l u c i d a t e i t , w hat kind of docume n t a r y w o u l d i t b e w h e r e a s m a l l s i t u a t i o n is created and rec o r d e d , o n e t h a t i s n o t p a r t o f t h i s e v e r y d a y life. The film pos e s a q u e s t i o n . A d o c u m e n t a r y a c t s a s a d evice “[…] relati ona l, a ma c h in e th at pr ov ok es and al l ow s t he r e co r d i n g o f meeting s , t r i g g e r i n g a p r o v o c a t i v e s i t u a t i o n w h i c h i s n on existent i n place 8 ” . Is a d o c u m e n t a r y t h a t p r o d u c e s i t s o w n m aterial, and builds i t s o w n r a w m a t e r i a l a d o c u m e n t a r y ? W h a t introduces a docum e n t a r y w h i c h d o e s n ’ t h a v e r a w m a t e r i a l , b u t produces it? If th e n a r r a t o r i n t h e d o c u m e n t a r y i s r e m o v e d , w hat kind of docum e n ta r y is Ba n q u et s w h e r e t h e n a r r a t o r e x p o s e s a situation rather th a n e x p la in in g i t , pr ef er r i ng t o s how i t s c ont i nua ti o n ? D istanci n g u s f r o m q u e s t i o n s o f f i l m - g e n d e r o r any other cons tru c tio n o f id e n tity, w hi c h det er m i nes t he t y pe of t h e fi l m , o n e m ai ntain s its s tr a n g e n es s w hen one t al k s about i t . T hi s i s w h a t 83 84 85 texto | frederico canuto | Walter B e n j a m i n , o n t h e f i g u r e o f t h e n a r r a t o r, a r g u e s, that the figure o f t h e n a r r a t o r d o e s n ’ t t r y t o n a r r a t e s t o r i e s , w h i c h only have a moral l y e d i f y i n g b a c k g r o u n d , b u t a i m s t o p a s s a c ontinuation of a sto r y, s o t h a t i t i n t u r n s i m p l y c o n t i n u e s t h r o u g h the person that l is te n s h . S m a l l e v e n t s a r e b e i n g r e p o r t e d t o o t h e rs, so that they appr o p r ia te th e m a s k now l edge and pas s t hem on. Si m i l a r l y, the cam e r a f r a m e s s ma l l p o r t r a i t s o f t h e r e a l s o t h a t they can be re-fr a m e d b y t h e v i e w e r. Sm a l l m o m e n t s o r l i t t l e situations without f u t u r e , a s t h e m e m b e r s o f t h e I n t e r n a t i o n a l S i tuationiste proclaim e d b y t h e w r i t i n g s o n t h e w a l l s o f c i t i e s i n the 60’s, aiming t o c a u s e a c o n t i n u i t y t o b e l i v e d b y t h o s e w h o read them. A colum n i s t f e e l s i n c l i n e d t o w a r d s a n d i n t e r v e n e s i n the reality, producin g its c o n tin u a ti on. 79 80 81 82 83 84 85 texto | frederico canuto | 86 is ce n t r a l t o t h e f i l m : i t s a b i l i t y t o b u i l d a t r u e r e l a tionship, based on a f i c t i o n o r a l a c k . . . o f p l a c e . T h e f o c u s o f w h at is being told i s no t a s e a r c h fo r tr ut h, but t he r el at i ons hi p bet w e e n th e n a r r a to r and t h e s p e c t a t o r, i n t h e a d h e r e n c e o f t h e l a t t e r t o the flow of what pass e s b e fo r e h is e y es , m ount ed by t he v i deogr aphe r. In Jo g o d e C e n a, t h e d i r e c t o r E d u a r d o C o u t i n h o i s the protagonist beca u s e h e p e r s o n if i es t he v i ew of t he s pec t at or. H e a sks a b o u t the v e r a c i t y o f t h e i n f o r m a t i o n a s t h e s p e c t a t o r does. That is the r e a s o n w h y t h e s i d e o f t h e f i l m m a k e r ’s f a c e appears in the first m i n u t e s o f t h e f i l m , s o t h a t t h e v i e w e r t a k e s part of all the unce r t a i n t i e s c o n c e r n i n g w h a t i s b e i n g r e p o r t e d . Likewise the Fluxu s g r o u p s a w i n d e t e r m i n a t i o n a n d c h a n c e c oming from the spec t a t o r - p a r t i c i p a n t a s f u n d a m e n t a l f o r t h e c ompletion and cons t r u c t i o n o f t h e m e a n i n g o f t h e w o r k i t s e l f , a s in John C age´s w ork 4 :3 3 ’. C o u tin h o r epeat s t he s am e pr oc edur e. If th e si l e n ce of C a g e ’s p i e c e i s f i l l e d o u t b y t h e s o u n d s o f t he environment durin g 4 : 3 3 m i n u t e s , C o u t i n h o p o s e s a q u e s t i o n regarding this produ c e d r e a lity wi t hout an ans w er. I n B anquet s , th e si tu a ti o n repe a t s i t s e l f : W h o i s f r o m t h e p l a c e ? W h o i s p a rt of the team? Who i s a d a n c e r ? W h o w a s p a i d ? W h o i s w h o ? F o r the spectator, these is s u e s d is a p pear w hen he or s he ent er s i nt o th e g a m e . Also p e c u l i a r, v e r y a t t e n t i v e t o i t s o w n o b j e c t o f exhibition and feel in g , is S a n tia g o , S a l l e s ’ f e a t u r e f i l m . O n t he screen, one sees t h e w h o l e w o r k o f t h e f i l m m a k e r b e i n g e x p osed, because w hat ma tte r s mo s t and w hat ’s m os t v al uabl e es c ap e s th e d i r e cto r of th e f i l m , w h o p re s u m p t i v e l y s h o u l d b e t h e o n e who controls ever y t h i n g b e c a u s e h e e d i t s a n d a s s e m b l e s h i s work. The film is n o t a b o u t S a n t i a g o , t h e c u s t o d i a n o f h i s h o use, but about how S a l l e s r e a l i z e d , f i l m e d a n d t r i e d t o s h a p e h is Santiago. It is a w o r k a b o u t t h e a u t h o r a n d a p r o c e s s o f d i s covery, shared cinem a t o g r a p h i c a l l y. I t b e l o n g s t o t h e s p e c t a t o r, to partake with Salle s i n s u c h i m ma n e n t i n c o m p e t e n c e w i t h r e g a rds to the task to m a k e a f i l m a b o u t Sa n t i a g o . I t o n l y l e a v e s o n e to talk about his San tia g o . A g a in : a m eet i ng pl ac e. I n t he f i l m B anq u e ts , the discove r y o f i t s e l f i s f i l m e d : F e l l i n i a n d e l u s i o n s t o t h e sound of an ex c a v a to r. 79 80 81 82 “In the sa me w a y th a t fr a g m e n ts o f a n a m p h o r a , i n order t o reconstitute a w h o l e , m u s t b e c o m b i n e d w i t h e a c h o t h e r i n the smallest d e t a i l , i n s p i t e o f n o t n e e d i n g t o b e e q u a l , t h e translation, i n s t e a d o f m a k i n g i t a n a l o g o u s t o t h e o r i g i n a l meaning, mus t c o n v e y a m a n n e r o f s i g n i f y i n g t h e o r i g i n a l , i n a loving and d e t a i l e d w a y, i n i t s o w n l a n g u a g e ; t h e s e p a r a t e pieces are re c o g n i z a b l e a s f r a g m e n t s o f t h e s a m e a m p h o r a and the origi n a l a n d t h e t r a n s l a t i o n m u s t b e i d e n t i f i a b l e a s fra g men ts of a l a r g e r l a n g u a g e .” j Dial ectic a lly s u p e r p o s e d pr ov oc at i ons : t o s ee ac t or s a n d n o n actors, l y i n g o r t e l l i n g t r u e l i e s . Tr a c e s a r e l e f t s o that the view er e d its h is o wn ver s i on. T hes e w oul d be t he d ocumental fi c tions , f o r m e d b y t h e s p e c t a t o r ’s c o n s t r u c t i n g v i ew of the reality p r e s e n t e d b y t h e f i l m . T h e t r a c e s , f o r m e d t hrough the provoca t i v e l y l i v e d e x p e r i e n c e b e t w e e n t h e f i l m m a k er and the w orl d, co n s titu te th e d oc um ent al f i c t i on of B anquet s . 83 84 85 86 87 texto | frederico canuto | Thus fa i l u r e i s t h e t h e m e o f t h e s e f i l m s . W h i l e t r y i ng to build veracity, t h e r e s u l t i s j u s t a r e a l i t y b u i l t f r o m p erceptions stemmin g f r o m t h e m e e t i n g b e t w e e n f i l m m a k e r a n d the other. The tru t h h a s b e e n l o s t o n t h e l o c a t i o n . O n t h e o ther hand, any film t h a t p r o p o s e s t o b u i l d a d i a l o g u e w i t h t h e viewer this pre s e n t m o m e n t , e p h e m e r a l a n d p a r t i a l - i s b u i lt again in the cine m a t i c e x p e r i e n c e . I t d e p e n d s a s m u c h o n t he person who vie w s a s o n t h e o n e w h i c h a s s e m b l e s t h e i m a ges to be seen. F a i l i n g t h e n i s c o n s t r u c t e d t h r o u g h t h e f l o w the film in accorda n c e w i t h i t s u n i q u e a e s t h e t i c q u a l i t y. Th e f ailure is a result o f t h e p u r s u i t o f p u r e l a n g u a g e , t h e h i g h e s t f o r m of these lives; in a n y a e s t h e t i c a l l y e x p e r i e n c e d t r a n s l a t i o n - m o vie lies the surviv al o f th e film its e l f : 79 80 81 82 83 84 85 86 87 texto | frederico canuto | 88 Whe n fa c e d with th e v i deo, t he i ns er t i on of a co ckta i l s’ ta b l e i nter v e n e s in a s t r eet par t y. O n t hat t abl e, a b a r te n d e r i s distr i b u t i n g d r i n k s , t h e m u s i c g e t s l o u d e r, p e o p l e d ance dressed in sui ts a n d flip - flo p s . T he v i ew er as k s hi m s el f w ho i s th e i n fi l tr a te d peop le a n d wh o was al r eady t her e. Who i s f r om th e p l a ce a n d who w a s p r o d u c e d a t t h e l o c a t i o n b y t h e f i l m m a k e r s? Or are all of them a r tis ts a n d e x t r as ? O r w as ev er y body t her e a l r e a d y a n d th e reco r d i n g w a s a m e r e c o i n c i d e n c e ? I t i s a n a r t i s t i c intervention or just a f i l m o f a p a r t y ? A d o c u m e n t a l f i c t i o n i s m a d e by the way of the t r a c e s le ft to th e v i ew er. The a m b i g u i t y o f t h e f i l m i s t h e r e s u l t o f t h e r ecording at the same t i m e a s c o n s t r u c t i n g t h e s i t u a t i o n s . Th i s q u e stions the film’s conc e p t o f t r u t h a n d v e r a c i t y a t e a c h s h o t o f p eople dancing, drink i n g o r t a l k i n g . Th e e d i t i n g t u r n s t h e v i e w e r, t h e one who laughs at so m e s c e n e s a n d i s p e n e t r a t e d b y t h e f a m i l i ar environment, i nto a p a r tic ip a n t. I t i s t hr ough t hi s pow er of penet r a ti o n i n to th e spec ta to r ’s life , th at s om et hi ng t ak es pl ac e. I n t h e ca se o f th e fi lm, it is in th e in te r s ec t i on of ar t and l i f e, or i n t he i n se p a r a b i l i ty of b o t h i n s t a n c e s , t h a t t h e s p e c t a t o r a s s e m b l e s and edits the scen e s a n d i m a g e s a n d t h a t a c o - a u t h o r s h i p i s brought about. Art, a s tr a n g e b o d y t hat ent er s i nt o t he r out i ne, us e s th e si te : th e ever y d a y l i f e r e p e a t e d l y b u i l t t h r o u g h t h e r e p r o d u c tion of habitual gestu r e s a n d r e la tio ns w i t h peopl e. I n ‘ B anquet s ’ a relationship of comp l e m e n t a r i t y i s f o u n d e d . F r o m t h e f a i l u r e o n , r elations among spec t a t o r, f i l m m a k er a n d f i l m o b j e c t - b a n q u e t s - are formed and succ e s s iv e fa ilu r e s oc c ur. I n t hi s f l ow s m al l dev i r e s appear and ques tio n s a r e a s k e d t o t he v i ew er ; but t her e ar e no a n sw e r s. The s ma ll p a s to r a l s naps hot s of an i m agi nar y ni nete e n th ce n tu r y lands c a p e , a c u t t o a p o p c o r n s t a n d a n d a m o t o r boat in green wate r s p r e s e n t a m o d e r n p a r a d o x w h i c h d e p e n d s on the one who sees t h e i r o n y o f t h e c i n e m a t o g r a p h i c i m a g e o f the shot. The sequ e n c e o f t h e c h i c k e n - f r o m d e a t h t o t h e b a n q uet, eating guts and c e l e b r a t i n g – i s a w a y o f p r o d u c t i o n . F r o m t he crazy death The film, p r o d u c e d in thes e c ont ex t s , c at c hes a gl i m pse o f w h a t the dail y r o u t i n e a n d r h y t h m s d o n ’ t l e t u s p e r c e i v e o r imagine – the bas ic ta s k o f a n y c r i t i c al eff or t . T he F l ux us f es t i v a l o ffe r e d a moment i n w h i c h t h e f r o n t i e r b e t w e e n a r t i s t s a n d n o n - artists was diluted b e c a u s e e g g s f l e w f r o m o n e s i d e t o t h e o t h e r and were l aunched b y th e two s id es . I n B anquet s danc i ng and not th i n ki n g about th e d a n c e u n i t e s t h e s u b j e c t s o f t h e f i l m a n d those who watch a n d a p p r e c i a t e i t . It i s n o t a r e f l e c t i o n o n t h e f i l m, but life, which s t a r t s f r o m t h e l e f t t r a c e s . O r : a l i t t l e s i t u a t i on without future, wh ic h is in tr o d u c ed as a pos s i bl e aes t het i c i m pa ct. THE GUIS E O F A CONCLUSION When I s a w th e film, af t er f ol l ow i ng i t s m ak i ng and c o m p l e ti o n , alone o r i n a c l a s s r o o m w i t h s t u d e n t s o f U r b a n Pl a nning and History o f A r t , I n o t i c e d t h e s m i l e s a n d l a u g h s . L i s t e ning to the m usic with th e b o d y a n d danc i ng i n t he c hai r al w ay s occu r r e d a t similar m o m e n t s . It h a p p e n e d a l m o s t a l w a y s d u r i n g the dance, the ban q u e t t o t h e s o u n d o f Ni n o Ro t a a n d t h e e x c avator and a band p l a y i n g m u s i c a t t h e w e d d i n g . O r, d u r i n g the initial 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 texto | frederico canuto | of the c h i c k e n – o n e t u r n s t h e f a c e – a t t h e f r e e z e rs of large superma r k e t c h a i n s . A ‘ d e c a d e n t b o u r g e o i s ’ t a b l e (according to a pe r s o n w h o w a s t h e r e ) b e c a m e w a s i n s t a l l e d in a street under c o n s t r u c t i o n a n d i n s e r t e d w i t h i n i m a g e s o f a n excavator. It tears t h e a s p h a l t f r o m t h e g r o u n d , w h i c h , i n t u r n , becomes a dining r o o m . Th e s a r c a s t i c i r o n y o f “ u n d e r t h e a sphalt, the beach” i s d u g u p . A b ro o m s w e e p s t h e a s p h a l t t o t h e sound of soul mu s i c ( i n s t e a d o f r i p p i n g i t u p ) a n d t r a n s f o r m s it into a stage. E v e r y o n e th a t a ppear s c an be t her e, pr oper l y equ i p p e d o r not. Und is tin g u is h a b le i n t he c r ow d, t he s ubj ec t s ar e so m e ti m e s James B r o w n r e p l i c a s , c l e a n e r s o f a p u b l i c r o a d a n d sometimes D Js. Th e y s i m u l a t e i d e n t i t i e s g i v i n g t h e v i e w e r t h e f unction to say who t h e y a r e . T h e y t u r n a s i d e a n o n t o l o g i c a l q uestion, to answer it th r o u g h th e a c t i on of t hei r bodi es . 79 80 81 82 83 84 85 86 87 strang e n e s s o f th e f i r s t s c ene: t he w eddi ng. I re me mb e r th e m ont age of t he s c enes i n l oco , the festive atmo s p h e r e r e s u l t i n g f r o m t h e a p p r o p r i a t i o n o f t h e street, taking a pla c e a t t h e t a b l e o r n e a r b y i t . B e i n g t o g e t h e r to celebrate or defla g r a t e a c e l e b r a t i o n o f s o m e t h i n g t h a t i s t h e r e and something that i s a s u p p l e m e n t t o t h e e v e n t . B e i n g t h e r e , in counterpoint to p a s s i n g b y, a s s h o w n i n s e v e r a l s c e n e s o f t h e film in which pass e r s b y w a l k p a s t a s m a l l f e s t i v a l . Ta l k i n g , i n s t e ad of transiting, refor min g th e wa y one nor m al l y l i v es i n t he s t r eet s o f th e ci ti e s. 88 89 texto | frederico canuto | 90 I list e n e d t o q u e s t i o n s f r o m s t u d e n t s : H o w w a s the film made? Who w e r e t h o s e p e o p l e ? W h o h a d i n v i t e d m e ? W h ether and how I knew t h e d i r e c t o r s ? W h a t d i d I t h i n k a b o u t t h e f i l m ? When and how did t h e film h a p p e n or w as i t s t aged? T hes e and o th e r q u e sti o n s relat e d t o t h e d e g r e e o f v e r a c i t y o f w h a t i s b e i n g viewed don’t reviv e t h e e v e n t , b u t w h a t t h e f i l m s p a c i a l i z e s . They bring about a po i n t o f c o n v e r g e n c e b e t w e e n t h e o b l i v i o n a n d the production of a n e w b e c o min g ; o n t h e c o n t r a r y o f F u n e s , t he remembered char a c t e r o f B o r g e s , w h o c o u l d n o t f o r g e t : f o r g et to build new proximitie s , n e w fa il ur es . 89 90 91 texto | frederico canuto | 1- BEN J AMIN, W. Obras e s c o l h i d a s . B a u d e l a i r e . U m L í r i c o n o a u g e d o Capit alis mo . São Pau lo : Br a s i l i e n s e , 1 9 8 9 , p .1 9 4 2- SH I ELDS , R. Lefebvre. L o v e a n d St r u g g l e . L o n d o n : R o u t l e d g e , 2 0 0 5 , p. 58. 3- S ituationist slogan pain t e d o n t h e s t r e e t s o f Pa r i s , d u r i n g M a y o f 6 8 : ‘under t he a sph a lt, th e b e a c h ’ . 4- SIC HEL, B. [coord.]. F l u x y f l u x u s f i l m s 1 9 6 2 - 2 0 0 2 . M a d r i : M u s e o N acional, Centro de A rte R e i n a S o f i a , 2 0 0 2 , p . 9 9 . a p u d R e v i s t a ARS . Year 02, nu mbe r 03 , 2 0 0 4 5- DE MPSEY, Amy. Estilos , Es c o l a s e M o v i m e n to s . S ã o P a ul o: C os ac Naif y, 2003 , p .116 . 6- ‘Hotel Bragança’ (200 2 ) ‘ Va c a n t L o t s ’ ( 2 0 0 5 / 2 0 0 8 ) a n d t h e DOCTV ‘S quare Meters’(2006) we r e p r o j e c t s r e a l i z e d b y t h e a r t i s t s B r e n o S i l v a and Louise Ga n z, in Belo H o r i z o n te – Br a z i l . 7- Edifício M aster ( 2002 ) a n d J o g o d e C e n a ( 2 0 0 7 ) b y E d u a r d o C outinho. Santiago (2006 ) b y J o ã o M o r e i r a Sa l l e s . B o t h ar e b r a z i l i a n f ilm m akers. 8- “ To advise is less an an s w e r t o a q u e s t i o n t h a n t o m a k e a s u g g e s t i o n about the continuation of a s t o r y t h a t i s b e i n g n a r r a t e d . ” B E N J AMIN , Walt er. O Narra d o r. Co n si d e r a ç õ e s s o b r e a O b r a d e N i c o l a i Les k ov IN : _ ______________. Obras e s c o l h i d a s 0 1 . M a g i a e Té c n i c a . Ar t e e P o l í t i c a . São Paulo: Bra silien se, 1 9 8 9 , p .2 0 0 . 9- O n the relationship b e t w e e n d e v i c e a n d d o c u m e n t a r i es , o n e c a n cite films like 33, by Kiko G o i f m a n , a n d H u n g a r i a n p a s s p o r t , b y S a n d r a Korgut, in which the filmm a k e r, w h o i s i n s e a r c h o f s o m e t h i n g , p r o v o k e s the development of the p l o t . Tw o t e x t s e x p o s e w e l l s u c h do c u m e n t a r y construction: L INS, Cons u e l o . O F i l m e -D i s p o s i t i v o n o D o c u m e n t á r i o Brasileiro Contemporâneo IN: V.A. So b r e F a z e r D o c u m e nt á r i o s . S ã o P aulo: I taú Cultural, 200 7 ; e B E RNADT, J e a n -C l a u d e . D o c u m e n t á r i o s em Busc a: 33 e Passaporte H ú n g a r o IN: MOURÃO, M a r i a D o r a , LA B A K I , Am ir. [ org .] O Cin e ma d o R e a l . S ã o P a u l o : C o s a c NA i fy, 2 0 0 5 . 10- B E NJAMIN, Wa lte r. A Ta r e fa d o Tr a d u to r a p u d BA H BA , H om i K . O Local da Cu ltu ra. Belo Ho r i z o n te : Ed U FM G, 2 0 0 7 , p .2 3 8 . 89 90 91 92 c u rr í c u lo s 89 B reno Silva A r t i s t a , a r q u i t e t o e p r o f e s s o r. Mestre em Arquitet u r a EAUF MG . P r o f e s s o r n a E s c o l a d e A rquitetura UNI LEST E \M G . D e s e n v o l v e p r o j e t o s c o l e t i v o s d e arte e arquitet u r a c o m o P e r p e n d i c u l a r H o t e l B r a g a n ç a ( 2 0 02), Lotes Vagos: A ç ã o C o l e t i v a d e O c u p a ç ã o E x p e r i m e n t a l ( 2 0 05), Lotes Vagos e x p a n s õ e s ( 2 0 0 8 ) . E d i t o r d a R e v i s t a E R . Pa r ticipou de seminár i o s c o m o P r o j e t o A r t e e E s f e r a P ú b l i c a , o r g . Graziela Kunsch e Vi t o r C é s a r – S ã o P a u l o / 2 0 0 8 / C o n exão Artes Visuais. O r g a n i z o u s e m i n á r i o P r o j e t o L o t e Va g o s – E xpansões, RJ / Fun a r te / 2 0 0 8 . Louise Ganz A r t i s t a , a r q u i t e t a e p r o f e s s o r a . M e s t r e em Artes Visuais, E B A- UF MG . Tr a b a l h a c o m a r t e , p a i s a g e m e vídeo. D esenv o l v e p r o j e t o s c o l e t i v o s d e i n t e r v e n ç ã o u r b a n a , em áreas residuai s , l o t e s v a g o s , h o t e l . C r i o u o p r o j e t o L o t es Vagos: Ação C o l e t i v a d e Oc u p a ç ã o U r b a n a E x p e r i m e n t a l . R ecebeu diversos p r ê m i o s , n o B r a s i l e n o e x t e r i o r, c o m o : E 2 : Exploring the Urb a n Co n d i t i o n , F r a n ç a / 2 0 0 3 , DOC TV 3 / 2 0 0 6 , Programa Petrobr á s Cu l t u r a l 2 0 0 5 / 2 0 0 6 , Tr a j e t ó r i a s - FUNDAJ R ecife/ 2007; C o n e x ã o A r t e s Vi s u a i s – F u n a r t e / M i n c / Pe t r o b rás/ 2007. Particip a d e e x p o s i ç õ e s c o l e t i v a s , c o m o : 9 a . B i e n a l I n t ernacional de Arqu i t e t u r a d e Ven e z a ( p a r c e r i a Ca r l o s Te i x e i ra)/ 2005; Q uase L í q u i d o – It a ú Cu l t u r a l SP / 2 0 0 8 . P a r t i c i p a d e festivais de cinem a e v í d e o ( d e 2 0 0 5 a 2 0 0 8 ) c o m o o 1 5 o . e 1 6 º. Festival de Arte E l e t r ô n i c a Vi d e o b r a s i l . Po s s u i a r t i g o s e trabalhos publicad o s e m r e v i s t a s c o m o R e v i s t a Co n c i n n i t a s n o . 13, R evista ARS – E CA/USP – d o s s i ê Mu n t a d a s ; Re v i s t a U r b â n i a no. 3 Arte e Esfer a Pú b l i c a , 2 0 0 8 ; U r b a n Tr a n s f o r m a t i o n - e outros. Particip a d e c o n g r e s s os e e n c o n t r o s d e a r t e e a r q u i t etura como Holcim F ó r u m f o r Su s t a i n a b l e C o n s t r u c t i o n – S h a n g ai, 2007 e organiza s e m i n á r i o s c o m o P r o j e t o L o t e Va g o s – E x p a nsões, R J / 2008 / p a l e s t r a n t e s : A u g u s t o I v a n Pi n h e i r o , M a r i s a Flórido e Paulo H e r k e n h o ff - C o n ex ão A r t es Vi s uai s . 90 91 92 93 89 90 91 92 93 94 Sobre o s convid a dos / e s cri tore s Aug us t i n d e T u g n y A r q u i t e t o d e i n t e r i o r es pela École C am o n d o , P a r i s , m es t r e e m a r q u i t e t u r a p e l a E s c o l a de Arquitetura UFMG, d o u to r a n d o em ar t es pel a E s c ol a de B el as Ar te s UFMG. Autor d e d i v e r s o s p r o j e t o s d e a r q u i t e t u r a d e i n t e r i ores na França e no B r a s i l . C o l o r i s t a , c e n ó g r a f o e i l u m i n i s t a , t r abalha para o teatr o , a mú s ic a e a óper a. Profe s s o r e m e s c o l a s d e a r q u i t e t u r a ( U n i l e s t e, UIT ), trata es pec ific a me n te d a s ques t ões do habi t ar. Fabíola Tas c a A r t i s t a pl ás t i c a gr aduada pel a E sco l a Gu i g n a r d U EM G , m e s t r e e m A r t e s Vi s u a i s p e l a E s c o l a d e Belas Artes da U FM G e d o u t o r a n d a e m Ar t e s Vi s u a i s n a m e s ma instituição; traba l h a c o m o p r o f es s o r a n a E s c o l a G u i g n a r d – U EMG. Participou do e v e n t o F i a t Mo s t r a B r a s i l , e m 2 0 0 6 , n o Po r ã o das Artes, em São Pa u l o ; O t e x t o “ A i n t e r v e n ç ã o c o m o m e i o ” - publicado na R evis t a Co n c i n n i t a s , R i o d e J a n e i r o : UE RJ , n ú m e r o 9, volume 1, j ul ho 2 0 0 6 - e n c o n tr a- s e ent r e s uas pr i nc i pai s publi ca çõ e s. Fred e rico Canu to A r q u i t e t o e p r o f e s s o r. Formado em Arqu i t e t u r a e U r b a n i s m o p e l a PUC M G . E s p ecialização em “Arqu i t e t u r a Co n t e m p o r â n e a : P r o j e t o e C r í t i c a ” . M estrado pela Esco l a d e Ar q u i t e t u r a d a U FM G n a á r e a d e An álise C rítica e Histó r i c a d a Ar q u i t e t u r a e U r b a n i s m o . A t u a l m e n te, doutorando na F a c u l d a d e d e L e t r a s d a U FM G n a l i n h a d e p e s quisa Poéticas da M o d e r n i d a d e e á r e a d e c o n c e n t r a ç ã o L i t e r a t u ra C omparada. Profe s s o r n o Cu r so d e Ar q u i t e t u r a e Ur b a n i s mo do C entro U nive r s i t á r i o Iz a b e l a H e n d r i x . Sobr e o livro 89 about the b ook 90 91 P roj et o Grá fico g rap h ic d e s i g n S i m o n e C o r te z ã o Fot ogr afias ph o to g rap h y L o u i s e Ga n z Tr aduçã o tran slatio n In e s L i n k e Text os texts Augustin d e Tu g n y, F a b í o l a Ta s c a , F r e d e r i c o C a n u t o e Louise Ga n z Sobr e o filme about the f il m coleção jardins de bolso P roj et o ide a L o u ise Ga n z D i r eção d irection Bre n o S i l v a e L o u i s e Ga n z Edi ção e Ca m e ra ed itio n a n d c a m e r a D a n i e l C a r n e i r o P roduçã o prod u ction Re g i n a Ga n z Tr i l ha Son ora sou n d trac k Br e n o S i l v a e P e d r o Ba s to s P at rocí nio sponsors Pr o g r a m a P e t r o b r a s C u l t u r a l p a r a P r o d u ç ã o d e Cur t a- m etrag e m em Míd ia s D i g i ta i s b a n q u e t e s @ g m a i l . com B el o H o ri z o n t e, B rasi l – 2 0 0 8 92 93 94 95 89 90 91 92 93 94 95 96 apoio s uppor t