Vinculação da perspetiva de vida John Lennon

Transcrição

Vinculação da perspetiva de vida John Lennon
“IMAGINE” SOBRE JONH LENNON
TEORIA DA VINCULAÇÃO
Psicologia do desenvolvimento
O documentário “Imagine” relata a vida marcante de um dos grandes artistas de todos os
tempos, que levou a fama dos Betles aos quatro cantos do mundo. Porém, toda a sua vida foi
rica de emoções fortes, mesmo antes de se revelar a grande estrela que foi para o público. No
que diz respeito à Psicologia do desenvolvimento, este documentário ilustra de forma brilhante o
impacto das relações vinculativas no processo de desenvolvimento, tendo estas um forte impacto
na vida do indivíduo e marcar o seu percurso.
Logo no inicio do documentário, ele revela a sua rebeldia e a sua necessidade de ser
acarinhado pelo mundo, sendo esta forma reveladora da total solidão e desproteção de que ele
foi alvo. Analisando a sua infância vemos que ele sempre teve uma presença instável dos pais.
O Pai, devido à profissão de Marinheiro, viajou e abandonou a família. Apesar da Mãe ter estado
presente até aos 4 anos de Lennon, esta acabou por o abandonar, ficando a tia a sua prestadora
de cuidados. Esta caracteriza o sobrinho de uma forma acarinhada, revelando o sua grande
predisposição para a escrita e o seu caracter animado e ativo. Aos 16 anos, Lennon foi
surpreendido com o regresso da Mãe, tendo restabelecido a ligação anteriormente quebrada. É
visível a importância da figura maternal uma vez que foi ela que o pôs em contacto com a música
e os instrumentos e assim acredito convictamente que estes, posteriormente, serviram de
“desabafo” a todos os sentimentos que ficaram entalados; tais desabafos ilustraram na sua
carreira toda a magoa e todo o trauma sentido quando este, aos 20 anos, perdeu a Mãe num
atropelamento efetuado por um policia bêbado. Este fato foi absolutamente marcante na vida do
Betle já que este sentiu que tinha perdido a Mãe duas vezes, sendo o sentimento de desamparo
ainda mais profundo. Podemos constatar todas estas conclusões na música “Mother” onde ele
diz “Mother, you had me, but I never had you / I wanted you, you didn't want me”. Nesta música
ele também revela o grande desamor mas ao mesmo tempo a grande saudade que sente do pai
já que, como foi abordado num trabalho anterior, a figura paternal representa imenso para a
estabilidade da criança “Father, you left me, but I never left you / I needed you, you didn't need
me (…) Daddy come home”. Estes versos revelam a infância instável que levou a que este
sentisse falta de amor e de proteção que, como é relatado por Harlow, são alimentos essenciais
a um crescimento estável.
A música sempre acompanhou Jonh Lennon mas ele não a via como forma de sustento
próprio. Chamou-me a atenção neste vídeo uma situação em que ele foi ver um filme sobre Elvis
e, quando este surgiu no écran, todos ficaram entusiasmados e agitados. Foi aí que ele percebeu
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que aquilo era uma “boa vida”. Grande parte desta constatação deveu-se, na minha opinião, ao
facto de ele sentir que assim podia ser acarinhado e admirado pelos outros, conseguindo assim
preencher o vazio que tinha ficado desde a infância. Nesse tempo o Rock estava no seu auge e
a banda Beatles surgiu praticamente por acaso, devido ao brilho especial que eles evidenciavam.
Lennon, nesse contexto de grande sucesso, revelava em conjunto com os colegas, um grande
sentido de humor e um charme especial que apaixonava o público. Eles, enquanto grupo, fugiam
muito às perguntas dos mídia, não querendo dar grandes opiniões sobre grandes temas da
atualidade (sendo discretos nessa perspectiva). Contudo, Lennon, de forma individual, revela
atitudes muito extremas, estando envolvido em confrontos físicos com fãs, por exemplo. Tais
atitudes também revelavam situações de provocação e confronto, destacando que a banda era
mais populares que próprio jesus cristo, o que suscitou reações exaltadas, demonstrando grande
ofensa, pelos povos em geral. Vemos que o sucesso atingido foi contra todas as expectativas,
estando as suas vidas fortemente ocupadas e mediatizadas 24 horas. Lennon e os seus
companheiros viveram toda a sua juventude rodeada de luxo e extravagância, tendo um forte
impacto da sua predisposição de exercer o seu papel de Pai. Isto foi relatado pela primeira
esposa do cantor que afirma que este percebeu um pouco tarde o total desacompanhamento
que deu ao filho, não tendo aproveitado o seu crescimento. A meu ver, a falta de amor sentida
na infância refletiu-se nos seus comportamentos como Pai, tendo tido dificuldade em perceber o
quão importante era a sua presença em pequenos momentos. Toda a fama que o rodeava
esgotava o seu tempo, estando o álcool e as drogas associadas a tal “desligamento”. Essa altura
esteve marcada pelo divórcio do cantor, já que Cinthya e Lennon pertenciam a mundos muito
diferentes.
A banda sofreu algumas crises porque já não estavam a conseguir ser admirados pela
mensagem da sua música, mas sim pelas figuras que eles representavam, que levavam o público
à loucura. Todavia, o rompimento definitivo surgiu com o aparecimento de Yoko, que
revolucionou toda a vida do cantor. Esta, que era o seu grande amor, começou a exercer uma
forte influência na sua vida, estando presente em todas as ocasiões e decisões. Esta relação de
dependência acabou por desfragmentar a banda mas revitalizou Lennon. Tome-se como
exemplo a letra “I don't believe in Elvis / I don't believe in Zimmerman / I don't believe in Beatles
/ I just believe in me / Yoko and me / And that's reality (…)But now I'm reborn”. Aqui está bem
visível a forte ligação que este estabelece com a sua nova esposa, sendo esta considerada uma
“segunda mãe” que o acompanha e lhe dá segurança para ele explorar o meio (sente-se mais
seguro em transmitir opiniões e excentricidades). Como se constata ao longo do visionamento
do documentário, as situações de confronto tornam-se muito mais evidentes uma vez que ele
não estava sozinho a defender as suas convicções. Isso é notório nas suas ações invulgares a
favor da paz “Imagine all the people / Living life in peace” e na forma como ele se expõe, sem
repúdios, junto da sua mulher. “Tal como tenho mão direita e mão esquerda, tenho a Yoko” é um
sinal forte de como ela é indispensável à sua sobrevivência. Tal dependência e amor
revitalizamte está presente na música Oh Yoko “In the middle of a cloud / In the middle of a cloud
I call your name / Oh Yoko, oh Yoko, my love will turn you on / Oh Yoko, oh Yoko, oh Yoko, oh
Yoko”. Outro momento marcante na sua vida foi quando Yoko percebeu que estava a ser um
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forte entrave no seu trabalho, querendo deixar Lennon uns tempos livre. Este esteve 14 meses
fora a viver uma vida com um ritmo alucinante, gravando imensas músicas com artistas
conhecidos. Contudo, foi aqui que ele voltou fortemente a cair na dependência da bebida,
sentindo-se desamparado longe do apoio e da proteção da sua esposa e voltando aos tempos
onde cantava “Help, I need somebody / Help, not just anybody / Help, you know, I need someone
/ Help”.
Apesar do Beatle tentar uma carreira a solo, vemos que ele adota uma vida mais calma
e caseira com o nascimento de Sean. Com este segundo filho, Lennon vive a paternidade de
uma forma completa, passando para o filho todo o aconchego e amor que Yoko lhe deu. Através
de relatos de Sean, vemos que este nem sequer tinha a noção da vida de sucesso que o Pai
tinha tido, afirmando que o pai tinha uma presença enorme e que lhe cantava imensas vezes.
Em suma, vemos que a relação com a Yoko representa um sistema de vinculação, não
diria seguro, mas ambivalente, devido aos relatos anteriores. Esta figura simboliza tudo que lhe
faltou ao longo do crescimento, fazendo com ele ficasse uma pessoa mais madura e confiante.
Em toda a vida do indivíduo, este tem necessidade de estabelecer relações satisfatórias que o
equilibrem nos momentos mais desafiantes. Como se pode ver no exemplo de vida de Lennon,
nunca é tarde para ser amado e para conseguir uma vida mais feliz e gratificante, não sendo os
comportamentos vinculativos negativos um “destino irremediável” que não pode ser mudado.
Para concluir esta reflexão “Attachment to parent figures may become attenuated as adulthood
approaches and may become supplemented and to some extent supplanted by other
attachments; but few if any adults cease to be influenced by their early attachments, or indeed
cease at some level of awareness to be attached to their early attachment figures.” (Ainsworth,
Blehar, Waters,Wall, 1978: p.28).
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