centro espírita fraternidade alan kardec cefak curso desequilíbrios

Transcrição

centro espírita fraternidade alan kardec cefak curso desequilíbrios
CENTRO ESPÍRITA
FRATERNIDADE ALAN KARDEC
CEFAK
CURSO DESEQUILÍBRIOS MEDIÚNICOS
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
BASE DE APOIO DO CURSO
OBRAS DE
MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
PSICOGRAFIA DE DIVALDO PEREIRA FRANCO
5
CURSO DESEQUILÍBRIOS MEDIÚNICOS
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
ÍNDICE
Página:
04 – Introdução
05 – Obras que embasam o Curso
06 - Biografia de Manoel Philomeno de Miranda
09 – Temas das aulas
10 – Programa
15- NOS BASTIDORES DA OBSESSÃO:
Examinando a Obsessão
21- NOS BASTIDORES DA OBSESSÃO:
Exórdio e prolegômenos
28 - GRILHÕES PARTIDOS:
Prolusão e Bastidores Cap4 - Hipnose e Obsessão
35- GRILHÕES PARTIDOS:
Epilepsia
40- NAS FRONTEIRAS DA LOUCURA:
Carnaval e Obsessão
44- NAS FRONTEIRAS DA LOUCURA:
Drogas Cap 9 a 11
50- PAINÉIS DA OBSESSÃO:
Prefácio
52- PAINÉIS DA OBSESSÃO:
Sintonia Mental Cap 6, 7 e 11
57- LOUCURA E OBSESSÃO:
Loucura e Obsessão
62- LOUCURA E OBSESSÃO:
Suicídio e Obsessão – Cap 24 e 25
70- TRILHAS DA LIBERTAÇÃO:
Fragmentos - O Poder e a Organização das Trevas
75 - TRILHAS DA LIBERTAÇÃO:
Terapias Desobsessiva – Cap 9
80 - TORMENTOS DA OBSESSÃO:
Fragmentos - Sanatório Esperança
87 - TORMENTOS DA OBSESSÃO:
Distúrbio Depressivo – Cap 19
94- SEXO E OBSESSÃO:
Sexo e Obsessão- Cap 15
99- TRILHAS DA LIBERTAÇÃO:
Medicina Holística Cap 1,3 e 3
6
CURSO DESEQUILÍBRIOS MEDIÚNICOS
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
BASE DE APOIO DO CURSO
OBRAS DE
MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
INTRODUÇÃO
OBJETIVO GERAL
Dar continuidade aos estudos da obsessão, tendo como apoio os casos concretos
relatados pelo autor.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Estudar temas correlatos com a obsessão tais como a depressão, a loucura, a
criminalidade, as dependências químicas, suicídio, desregramentos sexuais,
moratória e outros.
JUSTIFICATIVA
Como o próprio Manoel Philomeno adverte, no seu primeiro livro Nos Bastidores
da Obsessão, a abordagem do tema central “nada traz de novo que já não tenha
sido dito, todavia repete acrescenta o nobre instrutor, fiel à técnica de que o
exercício é um dos mais eficientes métodos da aprendizagem, muitas lições
conhecidas.
ESTRUTURA
O curso está estruturado em 18 aulas. No decorrer do curso, espera-se adptações
e melhoria incorporando didaticas que se mostrarem mais eficazes. A proposta é
de melhoria contínua na metodologia de estudo e na inserção de temas que se
mostrem mais adequados ao estudo e objetivo proposto.
Objetivo: Efetuar um breve relato do conteúdo das obras de Manoel P. de
Miranda, explicando a metodologia do estudo que se pretende aplicar,
conscientização sobre a necessidade do conhecimento e do aprendizado no lidar
com processos obsessivos com mais segurança. Para tal, a participação através
de estudos responsáveis e complementares em casa pelo estudante é
fundamental. Os dirigentes fazem parte do estudo do grupo exercendo o papel de
coordenação
Metodologia da aula:
A) - Apresentação em Power Point das obras estudadas fazendo breve relato
das mesmas, cujos conteúdos sejam de uma ou mais delas, além das
obras básicas e complementares .
B) - Atividade na sala com o tema selecionado extraído do livro em foco.
C) – A cada duas semanas estudaremos uma das obras.
APOSTILA: Envio eletrônico semanalmente de textos selecionados extraídos das
obras para serem impressos e estudados, e discutidos na reunião, ao final do
curso este material formará uma apostila do resumo do curso e das obras.
7
CURSO DESEQUILÍBRIOS MEDIÚNICOS
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
BASE DE APOIO DO CURSO
OBRAS DE
MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
APRESENTAÇÃO DAS OBRAS QUE EMBASAM O CURSO
1. “Nos Bastidores da Obsessão” – A História da família Soares – SalvadorBA – Publicado em 1970.
2. “Grilhões Partidos” – A História de Éster, jovem de 15 anos, acometida de
loucura no dia de seu aniversário e tambem os casos de Viviane, Aderson e
Eudoxia. Rio de Janeiro e Salvador – BA. – Publicado em 1974.
3.
“Nas Fronteiras da Loucura” – Atendimentos no período de carnaval, no
Rio de Janeiro. Casos de loucura obsessiva e drogas. – Publicado em
1982.
4. “Painéis da Obsessão” – A História de Argos e Áurea. O Sanatório para
tuberculosos em Campos do Jordão-SP. Os casos de tuberculosos.
Publicado em 1983.
5.
“Loucura e Obsessão” – Manoel Philomeno realiza período de estudo em
um centro de umbanda, acompanhando Dr. Bezerra de Menezes. Casos de
loucura e homossexualismo. Salvador-BA . Publicado em 1986.
6. “Trilhas da Libertação” – A Medicina Holística. O médium curador Davi. A
equipe mediúnica. A organização das trevas. Publicado em 1995.
7. “Tormentos da Obsessão” – A História de vários médiuns – Uns vitoriosos,
outros não. O Sanatório esperança. Depressão. Publicado em 2001.
8. “Sexo e Obsessão” – Apresenta a triste realidade causada pelos desatinos
humanos no que se refere ao sagrado instituto do sexo. O Pe. Mauro.
Publicado em 2002.
8
MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
Em 14 de novembro de 1876 nasceu, em Jangada, município do Conde, Estado
da Bahia, o discípulo fiel da seara de Jesus, Manoel Philomeno de Miranda.
Conheceu o Espiritismo em 1914 através do médium Saturnino Favila. Por essa
época conheceu, também, José Petitinga, estabelecendo forte amizade com ele,
ao mesmo tempo em que começava a freqüentar as sessões da União Espírita
Baiana que havia sido recentemente fundada, em 1915.
Discípulo de José Petitinga, tinha a mesma maneira especial de tratar e doutrinar
os assistentes das sessões da "União", sempre baseadas num magistral versículo
evangélico.
Desde 1918, Miranda participava assiduamente das sessões, interessado
superiormente nos assuntos doutrinários do Espiritismo e sendo um dos mais
firmes adeptos dos seus ensinos.
Fez parte da diretoria da União Espírita Baiana desde 1921 até o dia da sua
desencarnação, em 14 de julho de 1942. Também presidia as sessões mediúnicas
e trabalhos do Grupo Fraternidade, sempre muito empenhado em tratar as
obsessões.
Durante esse longo período Miranda foi um baluarte do Espiritismo. Onde
estivesse, aí estaria a doutrina e sua propaganda exercida com proficiência de um
doutor, um abnegado. Delicado no trato, mas heróico na luta.
Publicou, sem o seu nome, as obras "Resenha do Espiritismo na Bahia" e
"Excertos que justificam o Espiritismo", além do opúsculo "Porque sou Espírita" em
resposta ao Pe. Huberto Rohden.
Sofrendo do coração, subia as escadas a fim de não faltar às sessões, sorrindo e
sempre animado. Queria extinguir-se no seu cumprimento. Sentia imensa alegria
em dar os seus dias ao serviço do Cristo. Sobre as suas últimas palavras, assim
escreve A M. Cardoso e Silva: "Agora sim! Não vou porque não posso mais. Estou
satisfeito porque cumpri o meu dever. Fiz o que pude... o que me foi possível.
Tome conta dos trabalhos, conforme já determinei". Era antevéspera da sua
9
desencarnação.
Querido de quantos o conheceram - pois quem o conhecia não podia deixar de
amá-lo -, até o último instante demonstrou a firmeza da tranqüilidade dos justos,
proclamando e testemunhando a grandeza imortal da Doutrina Espírita.
Divaldo Pereira Franco nos conta como iniciou seu relacionamento com o
amoroso Benfeitor, conforme relato no livro Semeador de Estrelas, da escritora e
médium Suely Caldas Schubert:
"No ano de 1950 Chico Xavier psicografou para mim uma mensagem ditada pelo
Espírito José Petitinga e no próximo encontro uma outra ditada pelo Espírito
Manoel Philomeno de Miranda. ( ... )
"No ano de 1970 apareceu-me o Espírito Manoel Philomeno de Miranda, dizendo
que, na Terra, havia trabalhado na União Espírita Baiana, tendo exercido vários
cargos, dedicando-se, especialmente à tarefa do estudo da mediunidade e da
desobsessão. (...)
"Quando chegou ao Mundo Espiritual foi estudar em mais profundidade as
alienações por obsessão e as técnicas correspondentes da desobsessão. (...)
"Convidado por Joanna de Angelis, para trazer o seu contributo em torno da
mediunidade, da obsessão e desobsessão, ele ficou quase trinta anos realizando
estudos e pesquisas e elaborando trabalhos que mais tarde iria enfeixar em livros.
(...)
"Ao me aparecer, então, pela primeira vez, disse-me que gostaria de escrever por
meu intermédio.
"Levou-me a uma reunião, no Mundo Espiritual, onde reside, e ali, mostrou-me
como eram realizadas as experiências de prolongamento da vida física através da
transfusão de energia utilizando-se do perispírito.
"Depois de uma convivência de mais de um mês, aparecendo-me diariamente,
para facilitar o intercâmbio psíquico entre ele e mim, começou a escrever "Nos
Bastidores da Obsessão", que são relatos, em torno da vida espiritual, das
técnicas obsessivas e de desobsessão. ( ... )
"Na visita que Manoel Philomeno me permitiu fazer à Colônia em que ele se
hospedava, levou-me a uma curiosa biblioteca. Mostrou-me como são arquivados
os trabalhos gráficos que se fazem na Terra. Disse-me que, quando um escritor ou
um médium, seja quem for, escreve algo que beneficia a Humanidade - no caso
do escritor - é um profissional, mas, o que ele produz é edificante, nessa biblioteca
fica inscrito, com um tipo de letra bem característico, traduzindo a nobreza do seu
10
conteúdo. À medida que a mente, aqui, no planeta, vai elaborando,
simultaneamente vai plasmando lá, nesses fichários muito sensíveis, que captam
a onda mental e tudo imprimem.
"Quando a pessoa escreve por ideal e não é remunerado, ao se abrirem esses
livros, as letras adquirem relevo e são de uma forma muito agradável à vista,
tendo uma peculiar luminosidade. Se a pessoa, porém, o faz por ideal e estando
num momento difícil, sofrido, mas ainda assim escreve com beleza, esquecendose de si mesma, para ajudar a sociedade, a criatura humana, ao abrir-se o livro, as
letras adquirem uma vibração musical e se transformam em verdadeiros cantos,
em que a pessoa ouve, vê e capta os registros psíquicos de quando o autor
estava elaborando a tese.
"O oposto também é verdadeiro. ( ... )
"Eis porque vale a pena, quando estamos desalentados e sofridos, não
desanimarmos e continuarmos as nossas tarefas, o que lhes dá um valor muito
maior. Porque o trabalho diletante, o desportivo, o do prazer, já tem, na própria
ação, a sua gratificação, enquanto o de sacrifício e de sofrimento exige a
abnegação da pessoa, o esforço, a renúncia e, acima de tudo, a tenacidade, para
tornar real algo que gostaria que acontecesse, embora o esteja realizando por
entre dores e lágrimas."
Miranda, assim, pela psicografia de Divaldo Franco, nos presenteia com diversos
livros acerca da delicada problemática da obsessão, dentre os quais destaca-se:
"Nos Bastidores da Obsessão", "Nas Fronteiras da Loucura", "Tormentos da
Obsessão", e "Sexo e Obsessão", dentre vários outros.
Fonte: http://www.oespiritismo.com.br
11
CURSO DESEQUILÍBRIOS MEDIÚNICOS
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
TEMAS DAS AULAS
1- APRENTAÇÃO E INTRODUÇÃO:
Programa, Biografia, Resenha das Obras, Temas das Aulas
2- NOS BASTIDORES DA OBSESSÃO:
Examinando a Obsessão
3- NOS BASTIDORES DA OBSESSÃO:
Técnicas de Obsessão - A família Soares - Exórdio
4- GRILHÕES PARTIDOS:
Prolusão e Bastidores Cap4 - Hipnose e Obsessão
5- GRILHÕES PARTIDOS:
Doenças e Obsessão – Epilepsia, Histeria
6- NAS FRONTEIRAS DA LOUCURA:
Carnaval e Obsessão
7- NAS FRONTEIRAS DA LOUCURA:
Drogas e Obsessão
8- PAINÉIS DA OBSESSÃO:
Sintonia Mental e Obsessão - Caso Argos
9- PAINÉIS DA OBSESSÃO:
Doenças Físicas e Obsessão
10- LOUCURA E OBSESSÃO:
Loucura e Obsessão
11- LOUCURA E OBSESSÃO:
Suicídio e Obsessão
12- TRILHAS DA LIBERTAÇÃO:
O Poder e a Organização das Trevas
13- TRILHAS DA LIBERTAÇÃO:
Responsabilidade Perante a Desobsessão
14- TORMENTOS DA OBSESSÃO:
Sanatório Esperança
15- TORMENTOS DA OBSESSÃO:
Distúrbio Depressivo
16- SEXO E OBSESSÃO:
Sexo e Obsessão
17- TRILHAS DA LIBERTAÇÃO:
Medicina Holística
18- TRILHAS DA LIBERTAÇÃO:
Culto no Lar
19- REVISÃO, AVALIAÇÃO E ENCERRAMENTO:
Revisão, Avaliação e Encerramento
12
CURSO DESEQUILÍBRIOS MEDIÚNICOS
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
BASE DE APOIO DO CURSO OBRAS DE
MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
PROGRAMA
1ª AULA – APRESENTAÇÃO DO CURSO
Programa do Curso.
Biografia de Manoel Philomeno de Miranda.
Resenha das Obras de Manoel P. De Miranda.
Temas das Aulas
Distribuição dos Temas .
2ª AULA: LIVRO: NOS BASTIDORES DA OBSESSÃO
Tema: Examinando a Obsessão
Capítulo: Introdução
Objetivos: Estudar a Obsessão e os Desequilíbrios Mediúnicos
recordando conceitos dos cursos precedentes e adicionando
novos conhecimentos
3ª AULA: LIVRO: NOS BASTIDORES DA OBSESSÃO
1. Vingança, obsessão contínua; condicionamentos psíquicos; obsessão entre
encarnados; técnicos em obsessão; Vínculos com a organização das
trevas; encarnados no plano espiritual inferior; assistência negativa a
encarnados; voz de prisão ao espírito; processos hipnóticos deprimentes;
assédio ao lar; informantes das trevas; fiscalização por trabalhadores das
trevas; o julgamento de um encarnado no plano espiritual; perturbação dos
centros genésicos; sugestão sobre psicanalista; implante de célula
fotoelétrica; enfermidade simulacro; aumento das agressões; afastamento
voluntário e temporário do obsessor; ataque aos trabalhadores; agressores
espirituais. (Nos Bastidores da Obsessão, págs. 82/85; 98/109, 120/127,
141/143, 151/160, 189/190, 203/207, 213/219).
Tema: Técnicas de Obsessão - A Família Soares – (Trama)
Capítulo: Exórdio, Cap.1,2 3 e outros
Objetivos: Alertar os médiuns para a questão das técnicas e
dos processos obssessivos, mostrando que os espíritos
vingadores se utilizam dos mais variados processos para
alcançarem seus objetivos. Estudar tais técnicas e processos
para, conhecendo-os, dotar os médiuns de melhor preparo
para o exercício da tarefa mediúnica e se precaverem contra
as investidas dos obsessores
4ª AULA: LIVRO: GRILHÕES PARTIDOS
Tema: Prolusão e Bastidores Cap4 - Hipnose e Obsessão
Capítulo: 04 e 14
Objetivos: Nesta aula, o importante é o estudo das técnicas e
processos obsessivos
13
5ª AULA: LIVRO: GRILHÕES PARTIDOS
Tema: Doenças e Obsessão
Capítulo: Cap. 11, 12, 13
Objetivos: Estudar diversas doenças e suas relações com os
processos obsessivos tais como epilepsia, histeria,
esquizofrenia.
6ª AULA: O LIVRO: NAS FRONTEIRAS DA LOUCURA
Tema: O Carnaval e a Influência Espiritual
Capítulo: Cap. 6,7,8.
Objetivos: Estudar o intenso trabalhos dos bons espíritos nos
dias de festejos carnavalescos, procurando amenizar a
influência espiritual negativa sobre os encarnados, em face
dos desequilíbrios que se tornam mais acentuados nesse
período pelos desvarios que acontecem. (Nas Fronteiras da
Loucura)
7ª AULA: O LIVRO: NAS FRONTEIRAS DA LOUCURA
2. Fuga à responsabilidade; o uso de drogas é antigo, desprezo pela vida;
progresso tecnológico; obsessão pelas drogas; impregnação do perispírito;
alcoolismo; consequências do alcoolismo. (Nas Fronteiras da Loucura, cap.
9 e 11 e Trilhas da Libertação págs. 170/178) – Ajudas do CEFAK sôbre
vícios.
Tema: Drogas e Obsessão
Capítulo: Cap. 9 a 12.
Objetivo: Fortalecer o conhecimento sobre o perigo do uso de
drogas e ressaltar a vinculação perniciosa entre encarnados e
desencarnados,
gerador
de
deprimentes
processos
obsessivos.
8ª AULA: O LIVRO: PAINÉIS DA OBSESSÃO
1. Caso Argos –Painéis da Obsessão
Tema: O Processo Obsessivo de Argos
Sintonia Mental e Obsessão
Capítulo: Introdução e Cap. 3 A 6.
Objetivos: Estudar, Meditar e discutir a respeito do tema
acima registrado, para fortalecer nossos conhecimentos e
nossa fé. Tomaremos por base a narrativa de Manoel
Philomeno, recorrendo sempre aos indispensáveis ensinos da
Doutrina Espírita.
9ª AULA: O LIVRO: PAINÉIS DA OBSESSÃO
Tema: Doenças e Obsessão
Capítulo: Cap. 5 e 6
Objetivos: Estudar alguns casos analisados por Manoel
Philomeno em um sanatório para tuberculosos. Estudar as
causas das doenças e a atuação obsessiva sobre os doentes
14
e analisar a pertinência, ou não, do tratamento espiritual para
esses casos. (Painéis da Obssessão)
10ª AULA: O LIVRO: LOUCURA E OBSESSÃO
Resumo Explicativo: Esta aula está fundamentada em três livros de Manoel
Philomeno de Miranda. São eles: “Loucura e Obsessão”, “Nas Fronteiras da
Loucura” e “Grilhões Partidos”. No primeiro livro, o autor espiritual narra os
fatos que observou durante um mês, quando participou, junto com Dr.
Bezerra de Menezes, de trabalhos socorristas em um núcleo do sincretismo
afro-braileiro que, sem embargo da caridade que exerce, adota prática
estranhas à Doutrina Espírita, tais como o uso de incensos, usos de
determinadas vestimentas, música ao ritmo de instrumentos de percussão,
etc. O principal motivo da presença do Dr. Bezerra de Menezes no referido
núcleo foi o jovem Carlos, portador de esquizofrenia catatônica.
Em Grilhões Partidos Philomeno de Miranda narra o caso de Ester, menina
de quinze anos de idade, filha única do Coronel Constâncio Medeiros de
Santa Maria, que, em plena festa de sua apresentação à sociedade
carioca, foi acometida de inesperado ataque de loucura, agredindo ao pai
verbal e fisicamente, sendo, também, internada em um manicômio.
Costatou-se, depois, que se tratava igualmente de um processo obsessivo..
Tema: Loucura e Obsessão
Capítulo: Cap. 5 e 6 Casos: Carlos, Julinda, Ester, Viviane.
Objetivo: Estudar a loucura causada por obsessão, geralmente
confundida com a loucura patológica. Com tais estudos,
procuramos sedimentar os conhecimentos para nos
precavermos contra os perigos da loucura obsessiva, bem
como buscarmos melhores condições para orientar pessoas
que nos consultem a respeito. Nos interessa, para esse
estudo, os temas loucura e obsessão, tão somente.
11ª AULA: O LIVRO: LOUCURA E OBSESSÃO
RESUMO: No Livro “Loucura e Obsessão” Manoel Philomeno relata o
atendimento ao espírito de uma jovem de 25 anos de idade que cometeu
suicídio. Trata´se de jovem que recebeu esmerada educação e que, desde
cedo, foi encaminhada à fé religiosa. O Pai é dedicado trabalhador da
Seara espírita. O caso fornece ensejo para o estudo de dois temas
importantes, como o suicídio e a moratória, com especial atenção para os
seguintes ítens, relacionados aos temas: ambiente no necrotério; a ligação
do espírito com o corpo, após o desencarne; o ambiente em velórios;
determinismo; fatalidade; livre arbítrio; merecimento; responsabilidade; a
misericórdia e a justiça divina, alem de outros ítens que forem percebidos
pelo dirigente no decorrer do estudo. (Loucura e Obsessão Cap. 24 e 25)
Tema: Suicídio e Obsessão
Capítulo: Cap. 24 e 25
Objetivos: Estudar, Meditar e discutir a respeito do tema
acima registrado, para fortalecer nossos conhecimentos e
nossa fé. Tomaremos por base a narrativa de Manoel
Philomeno, recorrendo sempre aos indispensáveis ensinos da
Doutrina Espírita. Este estudo não deve dispensar a consulta
15
ao Livro dos Espíritos e ao Evangelho Segundo o Espíritismo,
na abordagem dos temas
12ª AULA: O LIVRO: TRILHAS DE LIBERTAÇÃO
1. O poder das trevas; Objetivo dos espírito das trevas, uma eleição
nas trevas, os planos do novo chefe, regiões infernais, as quatros
legítimas verdades (Trilhas da Libertação – pág. 8/9 – 95/108);
2. Uma organização do mal, combate às casas espíritas (Nos
Bastidores da Obsessão, pgs. 187/188 e 192/193)
3. A comunidade da perversão moral (Sexo e Obsessão, cap. 3)
4. Causas do relativo sucesso das trevas (Tormentos da Obsessão,
págs. 318/319)
5. O exemplo do médium Davi (Trilhas da Libertação)
Tema: O Poder e a Organização das Trevas
Capítulo: Vários
Objetivo: esclarecer a respeito da atuação dos Espíritos das
trevas sobre encarnados e desencarnados; sua organização,
seu poder, seus redutos de domínio e suplícios; alertar quanto
aos perigos de se estabelecer ligações com esses espíritos.
13ª AULA: LIVRO: TRILHAS DA LIBERTAÇÃO
1. Confiança em Deus e em Jesus; humildade; conhecimento do Espiritismo;
fortificar-se na fé; prece e meditação; despertar para a verdade; exemplo
para desencarnados; conduta e responsabilidade, compromisso espiritual
para com os enfermos; diantes dos sofredores; o poder do pensamento;
compromisso para a nossa evolução; o santuário da desobsessão;
ministério mediúnico; servir sem retribuição, educação da mente; os
médiuns são criaturas humanas; sintonia mental do dirigente; Casa
Espírita: educandário da alma; mediunidade. (Nos Bastidores da Obsessão,
págs. 51/54, 167, 201/215, 220/225, 228/229 ,253/254 e Trilhas da
Libertação, págs. 68/69, 78/79, 89/90, 73/74.) - (Mensagem M.Zeferina)
Tema: Responsabilidade Perante a Desobsessão
Capítulo: 9
Objetivos: Consolidar na mente do médium que o trabalho
espiritual de desobsessão exige muita responsabilidade ou,
por outras palavras, que é impossível a execução satisfatória
da tarefa desobsessiva sem um compromisso sério do
médium. Destacar que as qualidades morais do médium, a
sua confiança em Deus, em Jesus e nos mentores é
fundamental para o desempenho do trabalho mediúnico na
desobsessão.
14ª AULA: LIVRO: TORMENTOS DA OBSESSÃO
1. Fundação e objetivos do sanatório; razão da criação do sanatório; o
fundador, sua localização, seu ambiente físico; a administração e a equipe
técnica; especialidades, métodos de atendimento; processos socorristas
(Tormentos da Obsessão, págs. cap. 2 - pag. 12, 17, 21/36, 29/30, 37/39,
119, 89/90, 92/93 e 101, 123/124, 183/184, 229, 272, 310/315, e outras);
16
2. “A
AMARGA EXPERIÊNCIA DE LEÔNCIO E O INSUCESSO DE
AMBRÓSIO”
Tema: Sanatório Esperança
Capítulo: Cap 2 e outros
Objetivos: O estudo de casos, com a análise de
consequências das quedas será útil a todos nós que nos
interessamos em conquistar e manter o equilíbrio pessoal e
mediúnico. Serve também de alerta para não resvalarmos
pelos mesmos caminhos. (Tormentos da Obsessão, págs.
101/121 e 138/173)
15ª AULA: LIVRO: TORMENTOS DA OBSESSÃO
1. A conferência e o local da mesma; a platéia, histórico da depressão;
classificações
e definição; consequências físicas e emocionais da
depressão; as causas secundárias e essencial da depressão; programa
genético; a depressão nas mulheres; depressão por obsessão; terapias:
laborterapia; crença em Deus; a oração; a evangelhoterapia; os fármacos
antidepressivos. (Tormentos da Obsessão, capítulos 19 e 20 págs. 270 e
295 e Trilhas da Libertação, cap. 1, págs. 13/21). (No cap. V, pág 74 em
diante de Almério, que derrapou em perigosa depressão).
Tema: Distúrbio Depressivo e a Obsessão
Capítulo: 19 e 20
Objetivo: Mostrar que a depressão é uma doença muito grave
e que pode atacar qualquer pessoa, inclusive trabalhadores da
desobsessão, se forem invigilantes. Alertar para os sérios
risco da depressão e chamar a atenção para os cuidados que
se deve ter para evitá-la.
16ª AULA: LIVRO SEXO E OBSESSÃO
1. O espírito; complexidade do tema; conduta moral; matrimônio e
monogamia; conúbios obsessivos; comportamentos anteriores do espírito;
terapia preventiva; educação moral; atração do obsessor; pedofilia;
influência espiritual; deformação do perispírito; investida das trevas;
finalidade específica do sexo; estágio mais elevado do sexo, impulsos
animalizados; a gênesis do sexo, obsessão do sexo; domínio mental;
adversários espirituais, permuta de hormônios, o prazer, castidade. (Esta
aula está fundamentada basicamente no livro Sexo e Obsessão. Pode-se
também consultar o capítulo VI do livro Loucura e Obsessão.) além das
ajudas do CEFAK sôbre Sexo.
Tema: Sexo e Obsessão
Capítulo: ...
Objetivos:
1) Estudar as nobres e específicas finalidades do sexo,
destacando que o desequilíbrio nesse campo pode ser causa
de dolorosos processos obsessivos de duração incalculável.
Sedimentar no espírito de nós estudantes, os cuidados que
devemos ter para manter o equilíbrio na permuta sexual.
17
2) Fortalecer nossos conhecimentos a respeito de tão grave
problema como o homossexualismo e nos darmos conta,
mediante o estudo de um doloroso caso, cujo problema quase
sempre é agravado pela obsessão.
(Livro: Loucura e
Obsessão, a história do jovem Lício).
17ª AULA: MEDICINA HOLÍSTICA
2. Objetivos: Estudar mais demoradamente o tema da busca da saúde
integral, da perfeita interação mente-corpo, espírito-matéria, concluir o
curso com um assunto estimulante, que é a síntese de toda a nossa busca,
ou seja, o nosso equilíbrio pessoal e mediúnico. (Trilhas da Libertação
18ª AULA: MÉDIUNS VENCEDORES e CULTO NO LAR DE ERNESTINA
“A EXPERIÊNCIA DE LICÍNIO E AS ÁRDUAS LUTAS DE RAULINDA E
FRANCISCO”
1. Licínio (Tormentos da Obsessão, págs. 174/194)
2. Raulinda e Francisco: Não indicamos páginas específicas, pois as histórias
dos dois médiuns estão distribuídas aos longo do livro. (Trilhas da
Libertação)
3. O Lar de Dna. Ernestina – Ponto de Apoio para os bons Espiritos. (Trilhas
da Libertacao – pags. 116/124, 166/169, e 222)
Objetivos: Os exemplos de médiuns anônimos, sujeitos, como
nós, às tentações e quedas, mas que se tornaram vencedores,
mediante grandes lutas e dificuldades, são estímulos para
seguirmos em frente com fé e coragem. São lições de grande
profundidade a nos servirem de guia, verificar tambem como
podemos tornar o nosso lar em base de apoio dos bons
espíritos e, consequentemente, estar em permanente contato
com os bons espíritos; estudar temas correlatos como o Culto
do Evangelho no Lar, a prece, religiões, espíritos protetores e
outros.
19ª AULA: REVISAO DOS ESTUDOS E AVALIACAO
Objetivo: Revisao de todos os estudos do semestre, perguntas
e respostas e avaliacao final.
18
NOS BASTIDORES DA OBSESSÃO
Capítulo: Introdução
Examinando a obsessão
“Entre os que são tidos por loucos, muitos há que apenas são subjugados;
precisariam de um tratamento moral, enquanto que com os tratamentos corporais
os tornam verdadeiros loucos. Quando os médicos conhecerem bem o
Espiritismo, saberão fazer essa distinção e curarão mais doentes do que com as
duchas”. (2)
Com muito acerto asseverou o Codificador que «o conhecimento do
Espiritismo, longe de facilitar o predomínio dos maus Espíritos, há de ter como
resultado, em tempo mais ou menos próximo e quando se achar propagado,
destruir esse predomínio, o da obsessão, dando a cada um os meios de se pôr em
guarda contra as sugestões deles». E o iluminado mestre, não poucas vezes,
embora profundo conhecedor do Magnetismo, convocado a atender obsidiados de
variado jaez, utilizou-se dos eficientes métodos da Doutrina Espírita para libertálos com segurança, através da moralização do Espírito perturbador e do sensitivo
perturbado.
«Obsessão — segundo Allan Kardec — é o domínio que alguns Espíritos
logram adquirir sobre certas pessoas.
(2, 3 e 4) “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec, 24ª Edição da FEB. Página
263.
Ao tempo da publicação de “O Livro dos Médiuns” — 1861 — as duchas eram
tidas como dos mais eficientes tratamentos para as enfermidades mentais. Daí a
referência feita por Allan Kardec. — Nota do Autor espiritual.
Nunca é praticada senão pelos Espíritos inferiores, que procuram dominar. Os
bons Espíritos nenhum constrangimento infligem. Aconselham, combatem a influência dos maus e, se não os ouvem, retiram-Se. Os maus, ao contrário, se
agarram àqueles de quem podem fazer suas presas. Se chegam a dominar algum,
identificam-se com o Espírito deste e o conduzem como se fora verdadeira
criança. » Ainda é o egrégio intérprete dos Espíritos da Luz que comenta:
«As causas da obsessão variam, de acordo com o caráter do Espírito. É, às
vezes, uma vingança que este toma de um indivíduo de quem guarda queixas do
tempo de outra existência. Muitas vezes, também, não há mais do que desejo de
fazer mal: o Espírito, como sofre, entende de fazer que os outros sofram; encontra
uma espécie de gozo em os atormentar, em os vexar, e a impaciência que por
isso a vítima demonstra mais o exacerba, porque esse é o objetivo que colima, ao
passo que a paciência o leva a cansar-se... »
E prossegue: «Há Espíritos obsessores sem maldade, que alguma coisa
mesma denotam de bom, mas dominados pelo orgulho do falso saber. (3)
Asseverou Allan Kardec: (Não foram os médiuns, nem os espíritas que criaram
os Espíritos; ao contrário, foram os Espíritos que fizeram haja espíritas e médiuns.
19
Não sendo os Espíritos mais do que as almas dos homens, é claro que há
Espíritos desde quando há homens; por conseguinte, desde todos os tempos eles
exerceram influência salutar ou perniciosa sobre a Humanidade. A faculdade
mediúnica não lhes é mais que um meio de se manifestarem. Em falta dessa
faculdade, fazem-no por mil outras maneiras, mais ou menos ocultas.”
«Os meios de se combater a obsessão — esclarece o eminente Seareiro —
variam de acordo com o caráter que ela reveste.» E elucida: «As imperfeições morais do obsidiado constituem, frequentemente, um obstáculo à sua libertação.» (4)
A obsessão, todavia, ainda hoje é um terrível escolho à paz e à serenidade
das criaturas.
Com origem nos refolhos do espírito encarnado, obsessões há em escala
infinita e, consequentemente, obsidiados existem em infinita variedade, sendo a
etiopatogenia de tais desequilíbrios, genêricamente denominada distúrbios
mentais, mais ampla do que a clássica apresentada, merecendo destaque aquela
denominação causa cármica.
Jornaleiro da Eternidade, o espírito conduz os germens cármicos que facultam
o convívio com os desafetos do pretérito, ensejando a comunhão nefasta.
Todavia, não apenas o ódio como se poderia pensar é o fator causal das
Obsessões e nem somente na Terra se manifestam os tormentos obsessivos...
Além da sepultura, nas regiões pungentes e aflitivas de reajustamentos imperiosos
e despertamentos inadiáveis das consciências, defrontam-se muitos verdugos e
vítimas, começando ou dando prosseguimento aos nefandos banquetes de
subjugação psíquica, em luta intérmina de extermínio impossível...
Obsessores há milenarmente vinculados ao crime, em estruturas de
desespero invulgar, em que se demoram voluntàriamente, envergando
indumentárias de perseguidores de outros obsessores menos poderosos
mentalmente que, perseguindo, são também escravos daqueles que se nutrem às
suas expensas, imanados por forças vigorosas e crueis...
Na Terra, igualmente, é muito grande o número de encarnados que se
convertem, por irresponsabilidade e invigilância, em obsessores de outros
encarnados, estabelecendo um consórcio de difícil erradicação e prolongada
duração, quase sempre em forma de vampirismo inconsciente e pertinaz. São
criaturas atormentadas, feridas nos seus anseios, invariàvelmente inferiores que,
fixando aqueles que elegem gratuitamente como desafetos, os perseguem em
corpo astral, através dos processos de desdobramento inconsciente, prendendo,
muitas vezes, nas malhas bem urdidas da sua rede de idiossincrasia, esses
desassisados morais, que, então, se transformam em vítimas portadoras de
enfermidades complicadas e de origem clínica ignorada...
Outros, ainda, afervorados a esta ou àquela iniquidade, fixam-se,
mentalmente, a desencarnados que efetivamente se identificam e fazem-se
obsessores destes, amargurando-os e retendo-os às lembranças da vida física,
em lamentável comunhão espiritual degradante...
Além dessas formas diversificadas de obsessão, outras há, inconscientes ou
não, entre as quais, aquelas produzidas em nome do amor tiranizante aos que se
demoram nos invólucros carnais, atormentados por aqueles que partiram em
estado doloroso de perturbação e egocentrismo... ou entre encarnados que
mantém co-núbio mental infeliz e demorado...
*
20
Obsessores, obsidiados!
A obsessão, sob qualquer modalidade que se apresente, é enfermidade de
longo curso, exigindo terapia especializada de segura aplicação e de resultados
que não se fazem sentir apressadamente.
Os tratamentos da obsessão, por conseguinte, são complexos, impondo alta
dose de renúncia e abnegação àqueles que se oferecem e se dedicam a tal
mister.
Uma força existe capaz de produzir resultados junto aos perseguidores
encarnados ou desencarnados, conscientes ou inconscientes: a que se deriva da
conduta moral. A princípio, o obsessor dela não se apercebe; no entanto, com o
decorrer do tempo, os testemunhos de elevação moral que enseja, confirmando a
nobreza da fé, que professa como servidor do Cristo, colimam por convencer o
algoz da elevação de princípios de que se revestem os atos do seu doutrinador,
terminando por deixar livre, muitas vezes, aquele a quem afligia. Além da
exemplificação cristã, a oração consegue lenir as úlceras morais dos assistidos,
conduzindo benesses de harmonia que apaziguam o desequilibrado, reacendendo
nele a sede e a necessidade da paz.
Nem sempre, porém, os resultados são imediatos. Para a maioria dos
Espíritos, o tempo, conforme se conta na Terra, tem pouca significação.
Demoram-se, obstinados, com tenacidade incomparável nos propósitos a que se
entregam, anos a fio, sem que algo de positivo se consiga fazer, prosseguindo a
tarefa insana, em muitos casos, até mesmo depois da morte... Isto porque do paciente depende a maioria dos resultados nos tratamentos da obsessão. Iniciado o
programa de recuperação, deve este esforçar-se de imediato para a modificação
radical do comportamento, exercitando-se na prática das virtudes cristãs, e,
principalmente, moralizando-se. A moralização do enfermo deve ter caráter
prioritário, considerando-se que, através de uma renovação íntima bem encetada,
ele demonstra para o seu desafeto a eficiência das diretrizes que lhe oferecem
como normativa de felicidade.
Merece considerar, neste particular, que o desgaste orgânico e psíquico do
médium enfermo, mesmo depois do afastamento do Espírito malévolo, ocasiona
um refazimento mais demorado, sendo necessária, às vezes, compreensivelmente, assistência médica prolongada.
*
Quando, você escute nos recessos da mente uma idéia torturante que teima
por se fixar, interrompendo o curso dos pensamentos; quando constate, imperiosa,
atuante força psíquica interferindo nos processos mentais; quando verifique a
vontade sendo dominada por outra vontade que parece dominar; quando
experimente inquietação crescente, na intimidade mental, sem motivos reais;
quando sinta o impacto do desalinho espiritual em franco desenvolvimento,
acautele-se, porque você se encontra em processo imperioso e ultriz de obsessão
pertinaz.
Transmissão mental de cérebro a cérebro, a obsessão é síndrome alarmante
que denuncia enfermidade grave de erradicação difícil.
A princípio se manifesta como inspiração sutil, depois intempestivamente, para
com o tempo fazer-se interferência da mente obsessora na mente encarnada, com
21
vigor que alcança o climax na possessão lamentável.
Idéia negativa que se fixa, campo mental que se enfraquece, dando ensejo a
idéias negativas que virão.
Da mesma forma que as enfermidades orgânicas se manifestam onde há
carência, o campo obsessivo se desloca da mente para o departamento somático
onde as imperfeições morais do pretérito deixaram marcas profundas no
perispírito.
Tabagismo — O fumo, pelos danos que ocasiona ao organismo, é, por isso
mesmo, perigo para o corpo e para a mente.
Hábito vicioso, facilita a interferência de mentes desencarnadas também
viciadas, que se ligam em intercâmbio obsessivo simples a caminho de dolorosas
desarmonias...
Alcoolofilia — Embora necessário para o organismo sujeito a climas frios, o
álcool em dosagens mínimas acelera a digestão, facilitando a diurese (5). No
entanto, pelas consequências sóçio-morais que acarreta, quando se perverte em
viciação criminosa, simples em começo e depois aberrante, é veículo de
obsessores cruéis, ensejando, a alcoólatras desencarnados, vampirismo impiedoso, com consequentes lesões do aparelho fisiopsíquico.
Sexualidade — Sendo porta de santificação para a vida, altar de preservação
da espécie, é, também, veículo de alucinantes manifestações de mentes
atormentadas, em estado de angústia pertinaz. Através dele, sintonizam
consciências desencarnadas em indescritível aflição, mergulhando, em
hospedagem violenta nas mentes encarnadas, para se demorarem em absorções
destruidoras do plasma nervoso, gerando obsessões degradantes...
Estupefacientes — Á frente da ação deprimente de certas drogas que atuam
nos centros nervosos, desbordam-se os registros da subconsciência, e
impressões do pretérito ressurgem, misturadas às frustrações do presente, já em
depósito, realizando conúbio desequilibrante, através do qual desencarnados em
desespero emocional se locupletam, ligando-se aos atormentados da Terra,
conjugando à sua a loucura deles, em possessão selvagem...
Alienação mental — Sendo todo alienado, conforme o próprio verbete
denuncia, um ausente, a alienação mental começa, muitas vezes, quando o
espírito retoma o corpo pela reencarnação em forma de limitação punitiva ou de
corrigenda, ligado a credores dantanho, em marcha inexorável para o
aniquilamento da razão, quando não se afirma nas linhas do equilíbrio moral...
Glutoneria, maledicência, ira, ciúme, inveja, soberba, avareza, medo, egoísmo,
são estradas de acesso para mentes desatreladas do carro somático em
tormentosa e vigilante busca na Erraticidade, sedentas de comensais, com os
quais, em conexão segura, continuam o enganoso banquete do prazer fugido...
*
A etiologia das obsessões é complexa e profunda, pois que se origina nos
processos morais lamentáveis, em que ambos os comparsas da aflição
dementante se deixaram consumir pelas vibrações degenerescentes da
criminalidade que passou, invariàvelmente, ignorada da coletividade onde viveram
como protagonistas do drama ou da tragicomédia em que se consumiram.
Reencontrando-se, porém, sob o impositivo da Lei inexorável da Divina
Justiça, que estabelece esteja o verdugo jugulado à vítima, pouco importando o
tempo e a indumentária que os distancia ou caracteriza, tem Início o comércio
22
mental, às vezes aos primeiros dias da concepção fetal, para crescer em
comunhão acérrima no dia-a-dia da caminhada carnal, quando não precede à
própria concepção...
Simples, de fascinação e de subjugação, consoante a classificação do
Codificador do Espiritismo, é sempre de difícil extirpação, porqüanto o obsidiado,
em si mesmo, é um enfermo do espírito.
Vivendo a inquietação íntima que, lenta e seguramente, o desarvora, procede,
de início, na vida em comum, como se se encontrasse equilibrado, para, nos instantes de soledade, deixar-se arrastar a estados anômalos sob as fortes tenazes
do perseguidor desencarnado.
Ouvindo a mensagem em caráter telepático transmitida pela mente livre,
começa por aceder ao apelo que lhe chega, transformando-se, por fim, em
diálogos nos quais se deixa vencer pela pertinácia do tenaz vingador.
Justapondo-se sutilmente cérebro a cérebro, mente a mente, vontade
dominante sobre vontade que se deixa dominar, órgão a órgão, através do
perispírito pelo qual se identifica com o encarnado, a cada cessão feita pelo
hospedeiro, mais coercitiva se faz a presença do hóspede, que se transforma em
parasita insidioso, estabelecendo, depois, e muitas vezes em definitivo enquanto
na luta carnal, a simbiose esdrúxula, em que o poder da fixação da vontade
dominadora consegue extinguir a lucidez do dominado, que se deixa apagar...
Em toda obsessão, mesmo nos casos mais simples, o encarnado conduz em
si mesmo os fatores predisponentes e preponderantes — os débitos morais a
resgatar — que facultam a alienação.
Descuidado quase sempre dos valores morais e espirituais — defesas
respeitáveis que constroem na alma um baluarte de difícil transposição —, o
candidato ao processo obsessivo é irritável, quando não nostálgico, ensejando
pelo caráter impressionável o intercâmbio, que também pode começar nos
instantes de parcial desprendimento pelo sono, quando, então, encontrando o
desafeto ou a sua vítima dantanho, sente o espicaçar do remorso ou o remorder
da cólera, abrindo as comportas do pensamento aos comunicados que logo
advirão, sem que se possa prever quando terminará a obsessão, que pode
alongar-se até mesmo depois da morte...
Estabelecido o contacto mental em que o encarnado registra a interferência do
pensamento invasor, soa o sinal alarmante da obsessão em pleno desenvolvimento...
Nesse particular, o Espiritismo, e somente ele, por tratar do estudo da
(natureza dos Espíritos», possui os anticorpos e sucedâneos eficazes para operar
a libertação do enfermo, libertação que, no entanto, muito depende do próprio
paciente, como em todos os processos patológicos atendidos pelas diversas
terapêuticas médicas.
Sendo o obsidiado um calceta, um devedor, é imprescindível que se disponha
ao labor operoso pelo resgate perante a Consciência Universal, agindo de modo
positivo, para atender às sagradas imposições da harmonia estabelecida pelo
Excelso legislador.
Muito embora os desejos de refazimento moral por parte do paciente
espiritual, é imperioso que a renovação íntima com sincero devotamento ao bem
lhe confira os títulos do amor e do trabalho, de forma a atestar a sua real
modificação em relação à conduta passada, ensejando ao acompanhante
desencarnado, igualmente, a própria iluminação.
23
Nesse sentido, a interferência do auxílio fraterno, por outros corações
afervorados à prática da caridade, é muito valiosa, favorecendo ao desencarnado
a oportunidade de adquirir conhecimentos através da psicofonia atormentada, na
qual pode haurir força e alento novo para aprender, meditar, perdoar, esquecer...
No entanto, tal empreendimento, nos moldes em que se fazem necessários,
não é fácil.
Somente poucos Núcleos, dentre os que se dedicam a tal mister — o da
desobsessão —, se encontram aparelhados, tendo-se em vista a tarefa que lhes
cabe nos seus quadros complexos...
Na desobsessão, a cirurgia espiritual se faz necessária, senão imprescindível,
muitas vezes, para que os resultados a colimar sejam conseguidos. Além desses,
trabalhos especiais requisitam abnegação e sacrifício dos cooperadores
encarnados, com natural doação em larga escala de esforço moral valioso, para a
manipulação das condições mínimas psicoterápicas, no recinto do socorro, em
favor dos desvairados a atender...
Examine, desse modo, e sonde o mundo íntimo constantemente para que se
não surpreenda de um momento para outro com a mente em desalinho,
atendendo aos apelos dos desencarnados que o seguem desde ontem,
perturbados e infelizes, procurando, enlouquecidos, «com as próprias mãos fazer
justiça», transformados em verdugos da sua serenidade.
Opere no bem com esforço e perseverança para que o seu exemplo e a sua
luta solvam-sarando a dívida-enfermidade que o assinala, libertando-o da áspera
prova antes de você caminhar, aflito, pela senda dolorosa... e purificadora.
Em qualquer circunstância, ao exercício nobre da mediunidade com Jesus,
tanto quanto ao sublime labor desenvolvido pelas sessões sérias de desobsessão,
compete o indeclinável ministério de socorro aos padecentes da obsessão no
sentido de modificarem as expressões de dor e angústia que vigem na Terra
sofrida dos nossos dias.
24
NOS BASTIDORES DA OBSESSÃO
DIVALDO PEREIRA FRANCO
DITADO PELO ESPÍRITO MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
Exórdio
“Pululam em torno da Terra os maus Espíritos, em conseqüência da
inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja desses Espíritos é parte
integrante dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo. A
obsessão, que é um dos eleitos de semelhante ação, como as enfermidades e
todas as atribulações da vida, deve, pois, ser considerada como provação ou
expiação e aceita com esse caráter.” (*)
A obsessão, mesmo nos dias de hoje, constitui tormentoso flagício social. Está
presente em toda parte, convidando o homem a sérios estudos.
As grandes conquistas contemporâneas não conseguiram ainda erradicá-la.
Ignorada propositadamente pela chamada Ciência Oficial, prossegue colhendo
nas suas malhas, diariamente, verdadeiras legiões de incautos que se deixam
arrastar a resvaladouros sombrios e truanescos, nos quais padecem
irremissivelmente, até à desencarnação lamentável, continuando, não raro,
mesmo após o traspasse... Isto, porque a morte continua triunfando, ignorada,
qual ponto de interrogação cruel para muitas mentes e incontáveis corações.
(*) “A Gênese”, de Allan Kardec, 14ª edição da FEB, capítulo 14. “Obsessões e
Possessões”. — Nota do Autor espiritual.
As Disciplinas e Doutrinas decorrentes da Psicologia Experimental, nos seus
diversos setores, preferem continuar teimosamÉnte arregimentando teorias que
não respondem aos resultados da observação demorada e das constatações de
laboratório, como se a Imortalidade somente merecesse acirrado combate e não
investigação imparcial, capaz de ensejar ao homem esperanças e consolações,
quando tudo lhe parece conspirar contra a paz e a felicidade.
Desde as honestíssimas pesquisas do Barão von de Guldenstubbé, em 1855,
e as do professor Roberto Hare, insuspeito lente de Química, na universidade de
Pensilvânia, em 1856, que concluíram, pela realidade do espírito preecistente ao
berço e sobrevivente após o túmulo, que os cientistas conscientes das suas
responsabilidades se têm entregue ao afã da verificação da Imortalidade. E todos
aqueles que se dedicaram à observação e ao estudo, à experimentação e ao
fenômeno, são concordes na comprovação da continuidade da vida depois da
morte...
Nos Estados Unidos, se tornaram famosas as experiências psiquiátricas
realizadas pelo Dr. Carlos Wickland, que, utilizando-se da argumentação espírita,
conseguiu desobsidiar inúmeros pacientes que lhe chegavan, atormentados, ao
consultório. Simultâneanente, em seus trabalhos especializados, utilizava-se de
uma médium clarividente, sua própria esposa, que o ajudava na técnica da
desobsessão.
Diante de Alcina incorporada pelo espírito de Galeno, em plena sessão da
25
Salpetriêre, respondeu Charcot, aos interessados no fenômeno e que o inquiriram,
que lhes não convinha se adiantassem à própria época em que viviam... Sugeria
que se não buscassem raciocínios que aclarassem os resultados das
investigações, devendo contentar-se somente com aquela «observação
experimental», a que todos haviam presenciado. Tal atitude anticientífica tem sido
mantida por respeitáveis investigadores, por temerem a realidade da vida
imperecível.
*
Com Allan Kardec, no entanto, tiveram início os eloquentes testemunhos da
imortalidade, da comunicabilidade dos Espíritos, da reencarnação e das
obsessões, cabendo ao insigne mestre lionês a honrosa tarefa de apresentar
conveniente terapêutica para ser aplicada nos obsidiados como também nos
obsessores. A partir da publicação de «O Livro dos Médiuns», em janeiro de 1861,
em Paris, todo um conjunto de regras, com um notável esquema das faculdades
mediúnicas, foi apresentado, a par de seguro estudo do Espírito, nas suas
diversas facetas, culminando como exame das manifestações espiríticas,
organização de Sociedades e palestras dos Espíritos Elevados, que traçaram
rotas de segurança para os que ingressarem na investigação racional dos
fenómenos medianímicos. A bússola para o sadio exercício da mediunidade foi
apresentada com rigoroso equilíbrio, através da Obra magistral.
No entanto, diante dos lancinantes problemas da obsessão na atualidade,
tem-se a impressão de que nada até o momento haja sido feito a fim de ser
modificado esse estado de coisas.
De Kardec aos nossos dias, todavia, quantas edificantes realizações e
preciosos estudos em torno dos médiuns, da mediunidade, das obsessões e das
desobsessões têm sido apresentados! Este capítulo dos problemas psíquicos —
«a obsessão» — tem merecido dos cristãos novos o mais acendrado interesse.
Apesar disso, avassaladoramente vem-se mantendo em caráter epidêmico, qual
morbo virulento que se alastra por toda a Terra, hoje mais do que em qualquer
época...
«Sinal dos tempos», a que se relerem os Escritos Evangélicos, prenúncia essa
dor generalizada, a Era do Espírito Imortal. Milhões de criaturas, no entanto, dormem o sono da indiferença, entregues aos anestésicos do prazer e ao ópio da
ilusão.
Por todos os lugares se manifestam os Espíritos advertindo, esclarecendo,
despertando...
No entanto, o carro desatrelado da juventude corre na direção de abismos
insondáveis. Os homens alcançam a maturidade vencidos pelos desgastes da
quadra juvenil, e a velhice em desassossego padece ao abandono. Os altos
índices da criminalidade de todos os matizes e as calamidades sociais espalhadas
na Terra são, todavia, alguns dos fatores predisponentes e preponderantes para
as obsessões... Os crimes ocultos, os desastres da emoção, os abusos de toda
ordem de uma vida ressurgem depois, noutra vida, em caráter coercitivo,
obsessivo. É o que hoje ocorre como consequência do passado.
A Doutrina Espírita, porém, possui os antídotos, as terapias especiais para tão
calamitoso mal. Repetindo Jesus, distende lições e roteiros para os que se abeberam das suas fontes vitais.
26
*
Este livro deveria ter sido escrito faz muito tempo...
Todos os fatos nele narrados aconteceram entre os anos de 1937 e 1938, em
Salvador, na Bahia, quando da nossa jornada carnal, na Terra. Algumas das
personagens aqui aparecem discretamente resguardadas por pseudônimo,
considerando que algumas delas e seus familiares se encontram ainda
reencarnados...
Como nos impressionassem as técnicas da obsessão utilizadas pelos
Espíritos perseguidores e as técnicas da desobsessão aplicadas pelos Instrutores
Desencarnados, reunímos dados, fizemos verificação, e hoje apresentamos o
resultado das averiguações ao leitor interessado em informações do Mundo
Espiritual sobre o palpitante problema das perseguições espirituais.
Estes fatos transcorrem entre os dois mundos: o dos encarnados e o dos
desencarnados. Estes dois mundos se interpenetram, já que não há barreiras que
os separem nem fronteiras reais, definidas, entre ambos.
Grande parte das instruções, oriantações e socorros procederam do Mundo
Espiritual, durante as sessões realizadas com a participação de diversos membros
da União Espírita Baiana, quando presidida por José Petitinga, o amigo
incondicional do Cristo.
Diversos companheiros encarnados e nós participávamos, em desdobramento
parcial pelo sono, das atividades da desobsessão e das incursões no Mundo
Espiritual sob o comando de Abnegados Mentores que nos sustentavam e
conduziam, adestrando-nos nas realidades da vida eztracorpórea.
Desde vários anos, percebêramos a facilidade com que nos libertávamos
parcialmente dos liames carnais, em estado de lucidez, amealhando, desde então,
incomparáveis recursos para utilização oportuna. Quando nos aconteceram as
primeiras, experiências dessa ordem, no labor mediúnico em grupo, retornamos
ao corpo conservando intactas as lembranças, o mesmo acontecendo a diversos
membros daquelas atividades. Como se tornassem cada vez mais complexas as
tarefas em curso, a bondade dos Amigos Espirituais procedeu a conveniente
censura das lembranças, de modo a que a nossa vida material não fosse afetada
pelas recordações de tais realizações.
Em confabulações com Petitinga, quando ainda no plano físico,
conseguíamos, de certo modo, acompanhar as disposições socorristas dedicadas
aos membros envolvidos nas tramas da obsessão de que nos ocupamos nestas
páginas.
Foi, todavia, em cá chegando, após a libertação dos liames fisiológicos pela
desencarnação, que pudemos reunir todos os apontamentos de que tínhamos
necessidade, contando, também, com a valiosa cooperação do venerando amigo
Petitinga e das Entidades Superiores, que nos ajudaram naquele tentame, então
coroado de êxito, mercê da Divina Misericórdia.
*
Alguns dos subitems que constituem os Prolegômenos desta Obra
apareceram oportunamente em alguns periódicos espíritas. Aqui se encontram por
nós próprios refundidos para melhor entrosamento no conjunto.
Reconhecemos a singeleza deste trabalho. Com ele, todavia, objetivamos
27
cooperar de alguma forma com os nobres lidadores da mediunidade, os
infatigáveis servidores das tarefas da desobsessão, que se dedicam confiantes e
joviais aos trabalhos de socorro aos irmãos atribulados deste lado de cá e do lado
de lá, cooperando com o Cristo na implantação do Mundo Melhor a que todos
aspiramos.
Nada traz de novo, que já não tenha sido dito. Repete, fiel à técnica
educacional de que o exercício é um dos mais eficientes métodos da
aprendizagem, muitas lições conhecidas. Longe de ser um tratado sobre obsessão
e desobsessão, é um ligeiro estudo prático, através de uma família anatematizada
pelas perturbações de além-túmulo.
Imenso e fértil campo a joeirar, a obsessão continua aguardando os
estudiosos mais bem adestrados e mais capazes para mais amplos
esclarecimentos e mais eficazes elucidações.
O nosso pálido esforço tem o escopo de chamar a atenção para o problema.
Que outros, como já tem sido
feito por muitos, realizem a parte mais nobre e complexa da questão.
Reconhecidos e sensibilizados pelo auxílio recebido do Alto, que munca nos
tem faltado com o seu socorro, exoramos as bênçãos do Senhor para todos nós,
servo incompetente que reconhecemos ser, na Sua Vinha de Luz e Amor.
MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
Salvador, 12 de junho de 1970.
28
Prolegômenos
“Os Espíritos exercem incessante ação sobre o mundo moral e mesmo sobre o
mundo físico. Atuam sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das
potências da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenômenos até então
Inexplicados ou mal explicados e que não encontram explicação racional se-não
no Espiritismo. “As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os
bons Espíritos nos atraem para o bem, nos sustentam nas provas da vida e nos
ajudam a suportá-las com coragem e resignação. Os «maus nos impelem para o
mal: é-lhes um gozo ver-nos “sucumbir e assemelhar-nos a eles.” (1)
Os modernos pesquisadores da mente encarnada, fascinados pelas
experiências de Laboratório, surpreendem, paulatinamente, as realidades do
Mundo extrafísico. Ligados, porém, aos velhos preconceitos científicos, denominam a faculdade através da qual veiculam tais fatos pelo nome genérico de
“psi”. O “psi” é uma designação que da elasticidade quase infinita aos recursos
plásticos da mente, tais como conhecimento do passado (telepatia), ou
acontecimentos que tiveram lugar anteriormente e se encontram gravados nas
mentes de outras pessoas; conhecimento de ocorrências no mundo exterior
(1) “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec. Introdução, página 23, da 28ª
Edição da FEB. — Nota do Autor espiritual.
(clarividência), sem o contacto com impressões sensoriais; e percepção do futuro
(presciência).
Em princípio, os recursos valiosos da mente, nas experiências de transposição
dos sentidos, fenômenos de profetismo e lucidez, demonstrações de
insensibilidade táctil, nas alucinações, polarizações e despolarizações psíquicas,
realizadas em epilépticos e histéricos hipnotizados, ensejavam conclusões
apressadas que pareciam confirmar as características do “psi”.
Comprovou-se mui facilmente, através da sugestão hipnológica, que se pode
impressionar um percipiente a fim de que o mesmo assuma personificações
parasitárias momentaneamente, representando vultos da História ou simples
pessoas da plebe...
Considerando-se, todavia, em outras experiências, os fenômenos intelectuais,
como nos casos de xenoglossia e glossolalia, especialmente entre crianças de
tenra idade, ou naqueles de ordem física, tais como a pneumografia, o
metafonismo, a telecinesia, a teleplasmia e os diversos fenômenos dentro da
metergia, constata-se não haver elasticidade que se ofereça à mente encarnada
que os possa elucidar, senão através da aceitação tácita de uma força externa
inteligente, com vontade própria, que atua no sensitivo, a este conferindo tais
possibilidades.
Estudiosos do assunto, no passado, tais como William James, acreditaram
que todos vivemos mergulhados numa «corrente de consciência cósmica»,
enquanto Henrique Bergson supunha que «a mente possui um conhecimento de
tudo, em qualquer lugar, sem limitação de tempo ou de espaço», dando ao
cérebro a função de velador de tal conhecimento.
Enquanto tais fenômenos se demoram sem explicação definitiva, a
29
sobrevivência do Espírito após a morte do corpo não encontra aceitação pelas
Academias; distúrbios mentais de vária ordem aprisionam multidões em cárceres
estreitos e sombrios, povoados pelos fantasmas da loucura, reduzindo o homem à
condição primitiva do passado...
Muito embora os desvarios da razão estejam presentes nos fastos de todos os
tempos, jamais, como na atualidade, o homem se sentiu tão perturbado.
Tratadistas estudiosos dos problemas psico-sociológicos do presente atribuem
grande parte dos distúrbios mentais à “tensão” das horas em que se vive,
elevando, cada dia, o número dos desarranjados psiquicamente e aturdidos da
emoção.
Naturalmente que, além desses, afirmam os de procedência fisiológica, da
hereditariedade, de vírus e germens, as sequelas da epilepsia, da tuberculose,
das febres reumáticas, da sífilis, os traumatismos e choques que se encarregam
de contribuir larga e amplamente para a loucura. Fatores outros predisponentes a
que também se referem não podem ser relegados a plano secundário. Todavia,
além desses, que dão origem a psicoses e neuroses lamentáveis, outros há que
somente podem ser explicados pela Doutrina Espírita, no Capítulo das Obsessões
estudadas carinhosamente por Allan Kardec.
Fazendo-se ligeiro levantamento através da História — e os acontecimentos
têm sido registrados em todas as épocas do pensamento, mesmo nas mais
recuadas —, surpreendemos, ao lado dos alienados de qualquer procedência,
magos e sacerdotes manipulando exorcismos e orações com que pretendiam
afastar os Espíritos atormentadores, que se comprazem em vampirizar ou exaltar
suas vítimas em infeliz comércio entre os dois planos da vida: o corporal e o
espiritual.
Os livros sagrados de todos os povos, desde a mais remota antigüidade
oriental, em se referindo às leis morais, reportam-se à vida extraterrena. às
consolações e às penalidades impostas aos Espíritos — tal como se a informação
tivesse sido haurida na mesma fonte, tendo como única procedência a inspiração
dos desencarnados — estudando, igualmente, as aflições e perturbações de
origem espiritual, que remontam às vidas pregressas...
Considerados inicialmente como anjos maus ou demônios, ao tempo de Jesus,
foram por Ele classificados de (espíritos Imundos», com os quais se defrontou,
reiteradas vezes, durante a jornada vivida na Terra.
Todos os grandes pensadores, artistas, escritores, filósofos do passado, “psi”
de religiões», “doutores da Igreja», são unânimes em atestar as realidades da vida
além da carne, pelos testemunhos inconfundíveis da imortalidade.
Aos Espíritos dos ditos mortos se referem Anaxágora, Plutarco, Sócrates,
Heródoto, Aristóteles, Cícera, Horácio, Plínio, Ovídio, Lucano, Flávio José, Virgílio,
Dionisio de Halicarnasso, Valério Máximo... que, em seus relatos, apresentam
farta documentação comprobatória do intercâmbio espiritual, citando outras não
menos célebres personagens do seu tempo.
Ricos são os comentários sobre as aparições, as casas (assombradas», os
(avisos) e as consultas nos santuários de todas as grandes Civilizações.
Mais tarde Lactâncio, Orígenes, Ambrósio, Basílio e Arnóbio dão farto e
eloquente testemunho das comunicações com os desencarnados.
A Escola Neoplatônica de Alexandria, através dos seus mais expressivos
vultos, pregando a multiplicidade das existências (reencarnação), afirma, por
intermédio de Plotino, Porfírio, Jâmblico, Próclus, a continuidade da vida
30
concedida ao princípio espiritual.
A Idade Média foi farta em provas sobre os desencarnados. “Anjos” e
“espíritos imundos” sübitamente invadiram a Europa, e os “inspirados” e
“endemoninhados”, os “adivinhos» e “feiticeiros” foram levados à pira crematória,
sem que conseguissem extingui-los.
Das primeiras lutas entre o Empirismo e o Racionalismo intelectual à Era
Atômica, filósofos e cientistas não ficaram indiferentes aos Espíritos... No século
19, porém, fadado pelas suas conquistas a servir de base ao futuro, no que diz
respeito ao conhecimento, a sobrevivência mereceu por parte de psicólogos e
psiquistas o mais acirrado debate, inaugurando-se a época das investigações
controladas cientificamente.
Foi nesse período que Allan Kardec, convidado à liça da cultura e da
informação, empunhando o bisturi da investigação, clareou, com uma Filosofia
Científica — o Espiritismo, calcada em fatos devidamente comprovados, os
escaninhos do obscurantismo, oferecendo uma terapêutica segura para as
alienações torturantes, repetindo as experiências de Jesus-Cristo junto aos endemoninhados e enfermos de toda ordem.
Classificou como obsessão a grande maioria dos distúrbios psíquicos e
elaborou processos de recuperação do obsidiado, estudando as causas anteriores
das aflições à luz das reencarnações, através de linguagem condizente com a
razão, e demonstrável experimentalmente.
A Codificação Kardequiana, como um monumento granítico para os séculos
porvindouros, certamente não resolveu o “problema do homem”, pois que este ao
próprio homem é pertinente, oferecendo, todavia, as bases e direções seguras
para que tenha uma vida feliz, ética e socialmente harmoniosa na família e na
comunidade onde foi chamado a viver.
Psiquistas de nomeada, advertidos pelos resultados observados na Europa e
na América, em torno do fascinante assunto — comunicabilidade dos Espíritos —,
empenharam-se, então, em laboriosas experiências, criando, alguns, por mais
compatível com as suas investiduras acadêmicas, sucedâneos para a alma, que
introduziram na genética da Biologia, negando àquela o direito à legitimidade. O
Professor Gustavo Geley, por exemplo, criou a designação de “dínnamopsiquismo”, Pauley, a de “consciência profunda”, Hans Driesch a de “enteléquias”
e teorias metapsíquicas vieram a lume, em ferrenho antagonismo à imortalidade,
esgrimindo as armas do sofisma e da negação, sem conseguirem, no entanto,
resultado positivo.
O célebre Professor Charles Richet, estimulado pelas experiências
eminentemente científicas de Sir» William Crookes, elaborou a Metapsíquica e, ao
despedir-se da sua Cátedra de Fisiologia, na Universidade de Paris, deixou ao
futuro a satisfação de confirmar, de negar ou desdobrar as suas conclusões.
Com o advento da moderna Parapsicologia, novos sucedâneos têm sido
criados para o espírito imortal e, enquanto os pesquisadores se demoram no
problema da designação nominativa que inspira debates e celeumas, a Doutrina
Espírita, lecionando amor e fraternidade, estudo e conhecimento da vida sob a
inspiração dos Imortais, distende braços e liberta das malhas vigorosas da
obsessão aqueles que, por imprevidência ou provação, se deixaram arrastar aos
escuros precipícios da anarquia mental, perturbados ou subjugados por forças
ultrizes da Erraticidade, prescrevendo as mesmas diretrizes morais insertas no
Evangelho de Jesus-Cristo, vivido em espírito e verdade.
31
GRILHÕES PARTIDOS
DIVALDO PEREIRA FRANCO
DITADO PELO ESPÍRITO MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
Capítulo: Prolusão
PROLUSÃO
Tendo em vista o grave problema da obsessão, que aflige multidões e as
infelicita, o grupo que se afeiçoe a esse ministério de socorro a obsidiados e
obsessores deve observar, pelo menos, os seguintes requisitos mínimos:
1) A equipe de trabalho
Toda e qualquer tarefa, especialmente a que se destina ao socorro, exige
equipe hábil, adredemente preparada para o ministério a que se dedica.
O operário siderúrgico, a fim de poder executar o trabalho junto às fornalhas
de alta temperatura, resguarda-se, objetivando a sobrevivência, e adestra-se, a
benefício de resultados vantajosos.
O tecelão preserva o aparelho respiratório com máscaras próprias e articula
habilidades que desdobra, de modo a atender aos caprichos de padronagem, cor
e confecção com os fios que lhe são entregues.
O agricultor apreende os cuidados especiais de que necessitam o solo, a
semente, a planta, a floração e o fruto, com o fito de recolher lucros no labor que
enceta.
O mestre, o cirurgião, o artista, o engenheiro, o expositor, o escrevente,
todos os que exercem atividades, modestas ou não, se dedicam com carinho e
especializam-se, adquirindo competência e distinção com o que se capacitam às
compensações disso decorrentes.
No que tange às tarefas da desobsessão, não menos relevantes são os
valores e qualidades especiais exigíveis, para que se logre êxitOs.
Nos primeiros casos, necessita-se de fatores materiais, intelectivos e
artísticos, inerentes a cada indivíduo que se dedica ao mister, seguindo a linha
vocacional que lhe é própria ou estimulado pelas vantagens imediatas, através
das quais espera rendas e estipêndios materiais.
No último caso, deve-se examinar a transcendência do material em uso —
sutil, impalpável, incorpóreo — a começar desde a organização mediúnica até as
expressões de caráter moral das Entidades comunicantes.
A equipe que se dedica à desobsessão — e tal ministério somente é credor de
fé, possuidor de valor, quando realizado em equipe, —que a seu turno se submete
à orientação das Equipes Espirituais Superiores — deve estribar-se numa série
incontroversa de itens, de cuja observância decorrem os resultados da tarefa a
desenvolver.
O “milagre” tão amplamente desejado é interpretação caótica e absurda de
fatos coerentes, cuja mecânica escapa ao observador apressado. Não ocorre,
portanto, uma vez que tudo transcorre sob a determinação de leis de superior
contextura e de sábia execução.
32
Assim, faz-se imprescindível, na desobsessão, quando se pretende laborar
em equipe:
a) harmonia de conjunto, que se consegue pelo exercício da cordialidade
entre os diversos membros que se conhecem e se ajudam na esfera do
quotidiano;
b) elevação de propósitos, sob cujo programa cada um se entrega, em regime
de abnegação, às finalidades superiores da prática medianímica, do que decorrem
os resultados de natureza espiritual, moral e física dos encarnados e dos
desencarnados em socorro;
c) conhecimento doutrinário, que capacita os médiuns e os doutrinadores,
assistentes e participantes do grupo a uma perfeita identificação, mediante a qual
se podem resolver os problemas e dificuldades que surgem, a cada instante, no
exercício das tarefas desobsessivas;
d) concentração, por meio de cujo comportamento se dilatam os registros dos
instrumentos mediúnicos, facultando sintonia com os comunicantes, adredemente
trazidos aos recintos próprios para a assistência espiritual;
e) conduta moral sadia, em cujas bases estejam insculpidas as instruções
evangélicas, de forma que as emanações psíquicas, sem miasmas infelizes,
possam constituir plasma de sustentação daqueles que, em intercâmbio,
necessitam dos valiosos recursos de vitalização para o êxito do tentame;
f) equilíbrio interior dos médiuns e doutrinadores, uma vez que, somente
aqueles que se encontram com a saúde equilibrada estão capacitados para o
trabalho em equipe. Pessoas nervosas, versáteis, susceptíveis, bem se
depreende, são carecentes de auxílio, não se encontrando habilitadas para mais
altas realízações, quais as que exigem recolhimento, paciência, afetividade, clima
de prece, em esfera de lucidez mental. Não raro, em pleno serviço de socorro aos
desencarnados, soam alarmes solicitando atendimento aos membros da esfera
física, que se desequilibram facilmente, deixando-se anestesiar pelos tóxicos do
sono fisiológico ou pelas interferências da hipnose espiritual inferior, quando não
derrapam pelos desvios mentais das conjecturas perniciosas a que se
aclimataram e em que se comprazem.
Alegam muitos colaboradores que experimentam dificuldades quando se
dispõem à concentração. No entanto, fixam-se com facilidade surpreendente nos
pensamentos depressivos, lascivos, vulgares, graças a uma natural acomodação
a que se condicionam, como hábito irreversível e predisposição favorável.
Parece-nos que, em tais casos, a dificuldade em concentrar-se se refere às
idéias superiores, aos pensamentos nobres, cujo tempo mental para estes
reservado, é constituído de pequenos períodos, em que não conseguem criar um
clima de adaptação e continuidade, suficientes para a elaboração de um estado
natural de elevação espiritual;
g) confiança, disposição física e moral, que são decorrentes da certeza de
que os Espíritos, não obstante, invisíveis para alguns, se encontram presentes,
atuantes, a eles se vinculando, mentalmente, cm intercâmbio psíquico eficiente, de
cujos diálogos conseguem haurir estímulos e encorajamento para o trabalho em
execução. Outrossim, as disposições físicas, mediante uma máquina orgânica
sem sobrepeso de repastos de digestão difícil, relativamente repousada, pois não
é possível manter-se uma equipe de trabalho dessa natureza, utilizando-se
companheiros desgastados, sobrecarregados, em agitação;
h) circunspeção, que não expressa catadura, mas responsabilidade,
33
conscientização de labor, embora a face desanuviada, descontraída, cordial;
i) médiuns adestrados, atenciosos, que não se facultem perturbar nem
perturbem os demais membros do conjunto, o que significa adicionar, serem
disciplinados, a fim de que a erupção de esgares, pancadas, gritarias não
transforme o intercâmbio santificante em algaravia desconcertante e embaraçosa.
Ter em mente que a psicofonia é sempre de ordem psíquica, mediante a
concessão consciente(*) do médium, através do seu perispírito, pelo qual o agente
do além-túmulo consegue comunicar-se, o que oferece ao sensitivo possibilidade
de frenar todo e qualquer abuso do paciente que o utiliza, especialmente quando
este é portador de alucinações, desequilíbrios e descontroles de vária ordem, que
devem, de logo, ser corrigidos ou pelo menos diminuídos, aplicando-se a
terapêutica de reeducação;
j) lucidez do preposto para os diálogos, cujo campo mental harmonizado
deve oferecer possibilidades de fácil comunicação com os Instrutores
Desencarnados, a fim de cooperar eficazmente com o programa em pauta,
evitando discussão infrutífera, controvérsia irrelevante, debate dispensável ou
informação precipitada e maléfica ao
(*) Referimo-nos à lucidez da auto-doação do médium para o intercâmbio e não à
memória, velada ou não, durante o transe.
Nota do Autor espiritual.
atormentado que ignora o transe grave de que é vítima, em cujas teias dormita
semi-hebetado, apesar da ferocidade que demonstre ou da agressividade •de que
se revista;
1) pontualidade, a fim de que todos os membros possam ler e comentar em
esfera de conversação edificante, com que se desencharcam dos tóxicos físicos e
psíquicos que carregam, em conseqüência das atividades normais; e procurarem
todos, como leciona Allan Kardec, ser cada dia melhor do que no anterior, e de
cujo esforço se credenciam a maior campo de sintonia elevada, com méritos para
si próprios e para o trabalho no qual se empenham...
Claro está que não exaramos aqui todas as cláusulas exigíveis a uma tarefa
superior de desobsessão, todavia, a sincera e honesta observância destas darão
qualidade ao esforço envidado, numa tentativa de cooperação com o Plano
Espiritual interessado na libertação do homem, que ainda se demora atado às
rédeas da retaguarda, em lento processo de renovação(*).
2) O obsessor
O Espírito perseguidor, genericamente denominado obsessor, em verdade é
alguém colhido pela própria aflição. Ex-transeunte do veículo somático,
experimentou injunções que o tornaram revel, fazendo que guardasse nos
recessos da alma as aflições acumuladas, de que não se conseguiu liberar sequer
após o decesso celular. Sem dúvida, vítima de si mesmo, da própria incúria e
invigilância, transferiu a responsabilidade do seu insucesso a outra pessoa que,
por circunstância qualquer, interferiu decerto negativamente na mecânica dos
seus malogros, por ser mais fácil encontrar razões de desdita em mãos de algozes
imaginários, a reconhecer a pesada canga da responsabilidade que deve repousar
sobre os ombros pessoais, como conseqüência das atitudes infelizes a que cada
34
um se faz solidário. Perdendo a indumentária fisiológica mas, não o uso da razão
— embora
(*) Sugerimos a leitura dos Prolegômenos da Obra “Nos Bastidores da Obsessão”, de nossa autoria.
Nota do Autor espiritual.
normalmente deambulando na névoa da inconsciência, com os centros do
discernimento superior anestesiados pelos vapores das dissipações e loucuras a
que se entregou — imanta-se por processo de sintonia psíquica ao aparente
verdugo, conservando no íntimo as matrizes da culpa, que constituem verdadeiros
“plugs” para a sincronização perfeita entre a mente de quem se crê dilapidado e a
consciência dilapidadora, gerando, então, os pródromos do que mais tarde se
transformará em psicopatia obsessiva, a crescer na direção infamante de
conjugação irreversível.
Ocorrências há, de agressão violenta, pertinaz, dominadora, pela mesma
mecânica psíquica, em que o enfermo tomba inerme sob a dominação mental e
física do subjugador.
Pacientemente atendidos, nos abençoados trabalhos de desobsessão, nos
quais se lhes desperta a lucidez perturbada, concitando-os ao avanço no rumo da
felicidade que supõem perdida, faculta-se-lhes entender os desígnios sublimes da
Criação, convidando-os a entregarem os que se lhes fizeram razão de sofrimento
à Consciência Universal, de que ninguém se evade, e tratando de reabilitar-se,
eles mesmos, ante as oportunidades ditosas que fluem e refluem através do
tempo, esse grandioso companheiro de todos.
Em outros casos, — quando a fixação da idéia venenosa produziu
dilacerações nos tecidos muito sutis do perispírito, comprometendo o reequilíbrio
que se faria necessário para a libertação voluntária do processo obsessivo, o que
ocorre com freqüência, — os Instrutores Espirituais, durante o transe psicofônico,
operam nos centros correspondentes da Entidade, produzindo estados de
demorada hibernação pela sonoterapia ou utilizando-se de outros processos não
menos eficientes, para ensejarem a recomposição dos centros lesados, após o
que despertam para as cogitações enobrecedoras.
Na maioria dos labores de elucidação, podem-se aplicar as técnicas de
regressão da memória no paciente espiritual, fazendo-se que reveja os fatos a que
se vincula, mostrando-lhe a legítima responsabilidade dele mesmo, nos
acontecimentos de que se diz molesto, após o que percebe o erro em que
moureja, complicando a atualidade espiritual que deve ser aproveitada para reparo
e ascensão, jamais para repetições de sandices, pretextos de desídia, ensejos de
desgraças...
Obsessores, sim, os há, transitoriamente, que se entregam àfascinação da
maldade, de que se fazem cultores, enceguecidos e alucinados pelos tormentosos
desesperos a que se permitiram, detendo-se nos eitos de demorada loucura, em
que a consciência açulada pelos propósitos infelizes desvia o rumo das cogitações
para reter-se, apenas, na angulação defeituosa do sicário — verdugo impiedoso
de si mesmo — pois todo o mal sempre termina por infelicitar aquele que lhe
presta culto de subserviência. Tais Entidades — que oportunamente são colhidas
pelas sutis injunções da Lei Divina — governam redutos de sombra e viciação,
com sede nas Regiões Tenebrosas da Erraticidade Inferior, donde se espraiam na
35
direção de muitos antros de sofrimento e perturbação na Terra, atingindo,
também, vezes muitas, as mentes ociosas, os espíritos calcetas, os renitentes,
revoltados, cômodos e inúteis, por cujo comércio dão início a processos muito
graves de obsessão de longo curso, que se estende em conúbio estreito, cada vez
mais coercitivo, inclusive após a morte física dos tecidos orgânicos, quando o
comensal terreno desencarna.
Reunidos em magotes, momentaneamente ferozes, se disputam primazia
como sói acontecer entre os homens de instintos primitivos da Terra, nos
combates de extermínio, em que os próprios comparsas se encarregam de
autodestruir-se, estimulados por ambições que culminam na vanglória da ilusão
que se acaba, estando sempre atormentados pelas lucubrações de domínio
impossível, face à carência de forças para se dominarem a si mesmos.
Exibindo multiface de horror, com que aparvalham aqueles com os quais se
homiziam moral e espiritualmente, acreditam-se, por vezes, tal a aberração a que
se entregam, pequenos deuses em competição de força para assumirem o lugar
de Deus. Trazendo no substrato da consciência as velhas lendas religiosas do
Inferno eterno, das personificações demoníacas e diabólicas, crêem-se tais
deidades irremediavelmente caídas, estertorando, em teimosa crueldade, por
assumirlhes os lugares...
Expressivo número deles, esses irmãos marginalizados por si mesmos do
caminho redentor — que são, todavia, inconscientes instrumentos da Justiça
Divina, que ignoram e pensam desrespeitar — obsidiam outros desencarnados
que se convertem em obsessores, a seu turno, dos viajantes terrenos, em
processo muito complexo de convivência e exploração físio-psíquica.
Todos, porém, todos eles, nossos irmãos da retaguarda espiritual, — onde
possivelmente já estivemos também, — são necessitados de compaixão e
misericórdia, de intercessão pela prece e oferenda dos pensamentos salutares de
todos os que se encontram nas lídimas colméias espiritistas de socorro
desobsessivo, ofertando-lhes o pábulo da renovação e a rota luminescente para a
nova marcha, como claro sol de discernimento íntimo para a libertação dos gravames sob os quais expungem os erros em que incidiram.
3) O obsidiado
Somente há obsidiados e obsessões porque há endívidados espirituais,
facultando a urgência da reparação das dívidas.
Todo problema, pois, de obsessão, redunda em problema de moralidade, em
cuja realização o Espírito se permitiu enredar, por desrespeito ético, legal,
espiritual. Como ninguém se libera da conjuntura da consciência culpada, já que
onde esteja o devedor aí se encontram a dívida e, logo depois, o cobrador. É da
lei!
No fulcro de toda obsessão estão inerentes os impositivos do reajustamento
entre devedor e cobrador. Indubitavelmente o Estatuto Divino dispõe de muitos
meios para alcançar os que lhe estão incursos nos códigos soberanos. Não é,
portanto, condição única de que o defraudador seja sempre defrontado pelo
fraudado, que lhe aplicará o necessário corretivo. Se assim fora, inverter-se-ia a
ordem natural, e o círculo repetitivo das injunções de dívida-cobrança-dívida culminaria pela desagregação do equilíbrio moral entre os Espíritos.
Como todo atentado é sempre dirigido à ordem geral, embora através dos que
36
estão mais próximos dos agressores, à ordem mesma são convocados os
transgressores. Normalmente, porém, graças às condições que facultam ligações
recíprocas entre os envolvidos na trama das dívidas, estes retornam ao mesmo
sítio, reencontram-se, para que, através do perdão e do amor, refaçam a estrada
interrompida, oferecendo-se reciprocamente recursos de reparação para a
felicidade de ambos. Porque transitam nas emanações primitivas que lhes
parecem mais agradáveis, facultam-se perturbar, enredando-se na idéia falsa de
procurar aplicar a própria justiça, em face do que, infalivelmente, caem,
necessitados, por sua vez, da Justiça Divina.
Quando o Espírito é encaminhado à reencarnação traz, em forma de
“matrizes” vigorosas no perispírito, o de que necessita para a evolução. Imprimemse, então, tais fulcros nos tecidos em formação da estrutura material de que se
utilizará para as provações e expiações necessárias. Se se volta para o bem e
adquire títulos de valor moral, desarticula os condicionamentos que lhe são
impostos para o sofrimento e restabelece a harmonia nos centros
psicossomáticos, que passam, então, a gerar novas vibrações aglutinantes de
equilíbrio, a se fixarem no corpo físico em forma de saúde, de paz, de júbilo.
Se, todavia, por indiferença ou por prazer, jornadeia na frivolidade ou se
encontra adormecido na indolência, no momento próprio desperta
automaticamente o mecanismo de advertência, desorganizando-lhe a saúde e
surgindo, por sintonia psíquica, em conseqüência do desajustamento molecular no
corpo físico, as condições favoráveis a que os germens-vacina que se encontram
no organismo proliferem, dando lugar às enfermidades desta ou daquela natureza.
Outras vezes, como os recursos trazidos para a reencarnação, em forma de
energia vitalizadora, não foram renovados, ou, pelo contrário, foram gastos em
exagèros, explodem as reservas e, pela queda vibratória, que atira o invigilante
noutra faixa de evolução, a sintonia com Entidades viciadas, perseguidoras e
perversas, se faz mais fácil, dando início aos demorados processos obsessivos.
No caso de outras enfermidades mentais, a distonia que tem início desde os
primórdios da reencarnação vai, a pouco e pouco, desgastando os depósitos de
forças específicas e predispondo-o para a crise que dá início à neurose, à psicose
ou às múltiplas formas de desequilíbrio que passa a sofrer, no corredor cruel e
estreito da loucura.
Através de experiências realizadas pelo dr. Ladislaus von Meduna, no Centro
Interacadêmico de Pesquisas Psiquiátricas de Budapeste, foram constatadas
diferenças fundamentais entre os cérebros dos epilépticos e dos esquizofrênicos,
verificando-se que a presença de uma dessas enfermidades constitui impedimento
à presença da outra. Assim, desde o berço, o espírito imprime no encéfalo as
condições cármicas, para o resgate das dívidas perante a Consciência Cósmica,
podendo, sem dúvida, a esforço de renovação interior —já que do interior
procedem as condições boas e más da existência física e mental — recompor as
paisagens celulares onde se manifestam os impositivos reabilitadores, exceção
feita às problemáticas expiatórias..
Quando a loucura se alastra em alguém, é que o próprio espírito possui os
requisitos que lhe facultam a manifestação. A predisposição a este ou àquele
estado é-lhe inerente, e os fatores externos, que a fazem irromper, tais os
traumatismos morais de vária nomenclatura, os complexos, bem como os
recalques já se encontram em gérmen, na constituição fisiológica ou psicológica
do indivíduo, a fim de que o cumprimento do dever, em toda a sua plenitude, se
37
faça impostergável. Há, sem dúvida, outros e mais complexos fatores causais da
loucura, todos, porém, englobados nas “leis de causa e efeito”.
Daí a excelência dos ensinos cristãos consubstanciados na Doutrina dos
Espíritos e vazados na mais eloqüente psicoterapia preventiva, mediante os
conceitos otimistas, valiosos, conclamando à harmonia e à cordialidade, do que
decorrem conseqüentemente, equilíbrio e renovação naquele que os vive, em cuja
experiência realiza o objetivo essencial da reencarnação: produzir para a
felicidade!
No que diz respeito ao problema das obsessões espirituais, o paciente é,
também, o agente da própria cura. É óbvio que, para lográ-la, necessita do
concurso do cireneu da caridade que o ajude sob a cruz do sofrimento, através da
diretriz de segurança e esclarecimento que o desperte para maior e melhor visão
das coisas e da vida, em cujo curso se encontra progredindo. Não se transfere,
por tanto, para os passistas, doutrinadores e médiuns, a total responsabilidade
dos resultados, nos tratamentos das obsessões. Ë certo que ocorrem amiúde
curas temporárias, recuperações imediatas sem o concurso do enfermo. Sem
dúvida são concessões de acréscimo da Divindade. O problema, porém, retomará
mais tarde, quando o devedor menos o espere, já que, a esse tempo, deverá estar
melhor preparado para fazer o seu reajustamento moral e espiritual com a Lei
Divina.
Esclareça-se, portanto, o portador das obsessões, mesmo aquele que se
encontra no estágio mais grave da subjugação, através de mensagens
esclarecedoras ao subconsciente, pela doutrinação eficaz, conclamando-o ao
despertamento, do que dependerá sua renovação. Por outro lado doutrine-se o
invasor, o parasita espiritual; entrementes, elucide-se o hospedeiro, o suporte da
invasão, de modo que ele ofereça valores compensadores, eleve-se moral e
espiritualmente, a fim de alcançar maior círculo de vibração, com que se erguerá
acima e além das conjunturas, podendo, melhormente, ajudar-se e ajudar aqueles
que deixou na estrada do sofrimento, marchando com eles na condição de irmão
reconhecido e generoso, portador das bênçãos da saúde e da esperança.
4) O grupo familial
Vinculados os Espíritos no agrupamento familial pelas necessidades da
evolução em reajustamentos recíprocos, no problema, da obsessão, os que
acompanham o paciente estão fortemente ligados ao fator predisponente, caso
não hajam sido os responsáveis pelo insucesso do passado, agora convocados à
cooperação no ajustamento das contas.
Afirma-se que aqueles Espíritos que acompanham os psicopatas sofrem,
muito mais do que eles mesmos. Não é verdade. Sofrem, sim, por necessidade
evolutiva, já que têm responsabilidade no insucesso de que ora participam,
devendo, por isso, envidar esforços para a liberação dos sofredores, libertando-se,
igualmente.
São comuns os abandonos a que se relegam os alienados, quando os
deixam nas Casas de Saúde, através de endereços falsos fornecidos pelos
familiares, que se precatam contra a futura recuperação do familiar, impedindo,
desse modo, o seu retorno ao lar. Não poucos os que atiram, imediatamente, os
seres, mesmo os amados, nos Sanatorios de qualquer aparência, desejando,
assim, libertar-se da carga, que supõem pesada, incidindo, a seu turno, em
38
responsabilidades mui graves, de que não poderão fugir agora ou depois.
Sem dúvida, quando alguns pacientes, especialmente nos casos de
obsessão, se afastam do lar, melhoram, porque diminuem os fatores incidentes do
grupo endívidado com o dos cobradores desencarnados, o que não impede
retomem os desequilíbrios, ao voltarem ao seio da família, que por sua vez não se
renovou, nem se elevou, a fim de liberar-se das viciações que favorecem a
presença da perturbação obsessiva.
Por isso, torna-se imprescindível, nos processos de desobsessão, seja a
família do paciente alertada para as responsabilidades que lhe dizem respeito, de
modo a não transferir ao enfermo toda a culpa ou dele não se desejar libertar,
como se a Sabedoria Celeste, ao convocar o calceta ao refazimento, estivesse
laborando em erro, produzindo sofrimento naqueles que nada teriam a ver com a
problemática do que padece.
Tudo é muito sábio nos Códigos Superiores da Vida. Ninguém os desrespeitará
impunemente.
39
NAS FRONTEIRAS DA LOUCURA
Capítulo: 6
Origens do Carnaval - Prosseguia o Carnaval e a cidade, regurgitante, era um
pandemônio. Multidão de Espíritos, que se misturava à mole humana em
excitação dos sentidos físicos, dominava a paisagem sombria das avenidas, ruas
e praças, cuja iluminação, embora feérica, não conseguia vencer a psicosfera
carregada de vibrações de baixo teor. Grupos mascarados eram acolitados por
frenéticas massas de Espíritos voluptuosos, que se entregavam a desmandos e
orgias lamentáveis, inconcebíveis do ponto de vista terreno. Algumas Entidades
atacavam os burlescos transeuntes tentando prejudicá-los com suas induções
nefastas. Outras buscavam as vítimas em potencial para alijá-las do equilíbrio,
dando início a processos nefandos de obsessões demoradas. Muitas pessoas
fantasiadas haviam obtido inspiração para as suas expressões grotescas em
visitas a regiões inferiores do Além. Aliás, as incursões aos sítios de desespero e
loucura são muito comuns aos homens que se vinculam aos ali residentes pelos
fios invisíveis do pensamento, em razão das preferências que acolhem e dos
prazeres que se facultam no mundo íntimo. A sucessão de cenas, deprimentes
umas, selvagens outras, era constrangedora, o que mereceu de Dr. Bezerra o
seguinte comentário: "Grande, expressiva faixa da humanidade terrena transita
entre os limites do instinto e os pródromos da razão, mais sequiosos de sensações do que ansiosos pelas emoções superiores. Natural que se permitam,
nestes dias, os excessos que reprimem por todo o ano, sintonizados com
Entidades que lhes são afins. E' de lamentar, porém, que muitos se apresentam,
nos dias normais, como discípulos de Jesus, preferindo, agora, Baco e os seus
assessores de orgia ao Amigo Afetuoso..." O Mentor referiu, então, que as origens
do Carnaval se encontram na bacanalia, da Grécia, quando era homenageado o
deus Dionísio. Mais tarde, essas festas apresentavam-se em Roma, como
saturnalia, quando se imolava uma vítima humana, adredemente escolhida.
Depois, já na Idade Média, aceitava-se a tese de que "Uma vez por ano é lícito
enlouquecer", o que tomou corpo, modernamente, no Carnaval de nossos dias.
"Há estudiosos do comportamento e da psique -- asseverou Dr. Bezerra --,
sinceramente convencidos da necessidade de descarregarem-se as tensões e
recalques nesses dias em que a carne nada vale, cuja primeira sílaba de cada
palavra compôs o verbete carnaval. Sem dúvida, porém, a festa é vestígio da
barbárie e do primitivismo ainda reinantes, e que um dia desaparecerão da Terra,
quando a alegria pura, a jovialidade, a satisfação, o júbilo real substituírem as
paixões do prazer violento e o homem houver despertado para a beleza, a arte,
sem agressão nem promiscuidade." (Cap. 6, pp. 51 a 53)
.No Carnaval, raros divertem-se - O Posto de Socorro Central localizava-se
em Praça arborizada, no coração da grande metrópole, com diversos sobpostos
espalhados em pontos diferentes, estrategicamente mais próximos dos lugares
reservados aos grandes desfiles e às mais expressivas aglomerações de
carnavalescos. A equipe espiritual fora cuidadosamente preparada e se
estabelecera que o socorro somente seria concedido a quem o solicitasse,
ampliando-o a todas as vítimas que padecessem ultrajes e agressões, violências e
tragédias. "De nossa parte -- informou Manoel P. de Miranda --, nenhuma
40
insistência ou interferência indébita deveria ser assumida." Perto do Posto Central
a movimentação fazia-se maior. Benfeitores Espirituais atendiam pessoas encarnadas que, em parcial desprendimento pelo sono, rogavam ajuda para seus
familiares inexperientes arrojados à folia enlouquecedora, assim como aos que se
preocupavam com a alucinação de pessoas queridas que se desvincularam dos
compromissos assumidos a fim de mais se atirarem no dédalo das paixões. Eram
atendidos também Espíritos que pretendiam volver à carne e pediam
oportunidade, nos lances dos encontros irresponsáveis; desencarnados que
rogavam apoio para pessoas amadas com problemas de saúde, e recémdesencarnados em pugnas decorrentes da ingestão de alcoólicos, de desvarios
sexuais e das interferências subjugadoras de seres obsidentes... O local mais
parecia uma praça de guerra, burlescamente apresentada, em que o ridículo e a
dor se ajustavam em pantomina de aflição. Dr. Bezerra disse então ao seu amigo:
"Não se creia que todos quantos desfilam nos carros do prazer, se encontrem em
festa. Incontáveis têm a mente subjugada por problemas de que procuram fugir,
usando o corredor enganoso que leva à loucura; diversos suicidam-se,
propositalmente, pensando escapar às frustrações que os atormentam em longo
curso; numerosos anseiam por alianças de felicidade que os momentos de sonho
parecem prometer, despertando, depois, cansados e desiludidos..." "Raros
divertem-se, descontraem-se sadiamente, desde que os apelos fortes se dirigem à
consunção de todas as reservas de dignidade e respeito nas fornalhas dos vícios
e embriaguez dos sentidos." (Cap. 6, pp. 53 e 54)
Para Noel, o Carnaval é passado de dor - Silenciando e olhando em
derredor, Dr. Bezerra comentou que é por isto que os imortais informaram a
Kardec que "a Terra é um planeta de provas e expiações", onde programamos o
crescimento para Deus. "Saturado pelo sofrimento e cansado das experiências
inditosas -- asseverou o Benfeitor Espiritual -- o homem, por fim, regenerar-se-á
ao influxo da própria dor e sôfrego para fruir o amor que lhe lenificará as íntimas
aspirações da alma." Na seqüência, como Dr. Bezerra tinha diversos
compromissos a resolver, Philomeno pôde ver, com surpresa, que entre os
cooperadores do Posto Central se encontrava um célebre poeta e compositor,
cujas músicas populares foram-lhe familiares quando na Terra. (N.R.: Trata-se do
notável compositor Noel Rosa.) O compositor, atendendo a uma pergunta de Philomeno, confessou-lhe haver buscado, em sua última existência na Terra, os
alcoólicos e outras drogas, para compensar suas tristezas e tormentos... A
desencarnação colheu-lhe a vida física ainda jovem. "Despertei sob maior soma
de amarguras, com fortes vinculações aos ambientes sórdidos, pelos quais
transitara em largas aflições", contou ele, que se declarou mais um fracassado do
que um infelicitador. "Embora eu não fosse um herói, nem mesmo um homem que
se desincumbira corretamente do dever, a minha memória -- disse o poeta da Vila
-- gerou simpatias e a mensagem das músicas provocou amizades, graças a cujo
recurso fui alcançado pela Misericórdia Divina, que me recambiou para outros
sítios de tratamento e renovação, onde despertei para realidades novas."
Começou aí uma nova vida para ele, que passou a compor outros sambas ao
compasso do bem, com as melodias da esperança e os ritmos da paz, "numa Vila
de amor infinito". "O Carnaval, para mim, é passado de dor e a caridade, hoje, éme festa de todo dia, qual primavera que surge após inverno demorado, sombrio",
41
asseverou o compositor, acrescentando: "Apesar da noite vitoriosa, o dia de luz
sempre triunfa e o bem soberano tudo conquista..." (Cap. 6, pp. 55 e 56)
Cap.7 – Posto Central de Atendimento
Saldos do Carnaval - A área reservada ao Posto Central correspondia
quase à Praça inteira. Antes de serem instaladas as dependências que abrigariam
os pacientes espirituais naqueles dias, engenheiros do plano espiritual haviam
tomado providências defensivas, para que o ministério da caridade não sofresse
danos decorrentes das invasões de Espíritos perniciosos. Como não há improviso
nas tarefas superiores, estabeleceram-se planos e traçaram-se diretrizes para a
construção do Núcleo transitório. Substância ectoplásmica, retirada das pessoas
residentes nas cercanias, como da Natureza, foi movimentada para a edificação
do conjunto e das muralhas defensivas que renteavam, internamente, com as
grades protetoras do parque. Duas largas entradas, opostas entre si, permitiam a
movimentação das Entidades. Voluntários adestrados e premunidos de recursos
magnéticos faziam a vigilância nos portões de acesso e em torno da construção.
Amplos barracões, semelhantes a tendas revestidas de lona, espalhavam-se pelo
recinto. Camas colocadas em filas duplas recebiam os desencarnados enfermos,
que foram arrebanhados nos três últimos dias, antes de serem transferidos para
colônias espirituais. Desde o sábado, as ocorrências inditosas tomaram corpo
mais volumoso: homicídios tresvariados, suicídios alucinados, paradas cardíacas
por excesso de movimento e exaustão de forças, mortes por abuso de drogas
ofereciam um índice elevado de vítimas de si mesmas, pela imprevidência, nos
dias tormentosos da patuscada irrefreável... Além desses, diversos encarnados
em transe demorado, recebiam socorro de urgência antes de retomarem seus
corpos em Hospitais ou nos lares. (Cap. 7, pp. 57 e 58)
O ataque dos inimigos do bem - Os encarnados -- diz Philomeno -transitavam por aqueles sítios, sem dar-se conta do que ocorria entre aquelas
árvores vetustas, noutra dimensão vibratória. O véu da carne constitui uma
barreira à mais ampla percepção de realidade. Um sistema de alarme prevenia as
invasões ou intromissões indébitas de hordas violentas, enquanto veículos
especiais, trazendo os recém-colhidos para atendimento mais imediato,
trafegavam com freqüência na área protetora. Em dado momento, próxima da
entrada, mas além da barreira defensiva, uma turba de Espíritos levianos e
vingativos ameaçava os vigilantes e atirava petardos que, felizmente, não
conseguiam ultrapassar as ondas repelentes que se elevavam acima dos muros,
exteriorizadas por aparelhagem própria. Eles blasfemavam e zombavam, agredindo verbalmente os trabalhadores diligentes. Pedidos irônicos de socorro eram
emitidos por aquelas Entidades em que a acrimônia e o sofrimento se misturavam,
produzindo mal-estar e compaixão. Tudo, porém, em vão, porquanto os
atendentes, já acostumados àquelas cenas, não se deixavam perturbar. O irmão
Genézio, encarregado do serviço, aproveitando o ensejo explicou que aqueles
Espíritos constituíam grupos de desordeiros desencarnados muito perigosos.
"Alguns -- informou Genézio -- são técnicos nos processos da chacota e da ironia,
com que sabem insuflar desequilíbrio, a fim de colherem sintonia mental." Esse
comportamento denunciava sua inferioridade moral. "Em nosso campo de ação -aditou o companheiro --, pululam companheiros infelizes, que se sentem
42
propelidos às atitudes de revolta após o fracasso pessoal, afivelando nalma as
máscaras do cinismo e da rebeldia, derrapando na vala das reações
escarnecedoras, com as quais se imunizam, momentaneamente, contra os
sentimentos superiores, únicos a abrirem portas à renovação e caminhos à paz."
(Cap. 7, pp. 59 e 60)
Prisioneiros da turba - Continuando seus comentários em torno da horda
de Espíritos desordeiros que atacavam o Posto, o irmão Genézio afirmou que tais
indivíduos são mais doentes do que eles supõem. "Não são insistentes -- afirmou
Genézio --, porque irrequietos e ansiosos passam a vampirizar psiquicamente os
grupos com os quais se ajustam e se afinam, permanecendo com eles em
demorado comércio de forças fluídicas desgastantes." Convidado a observar
melhor a turba, Philomeno percebeu que entre os desordeiros havia um grupo de
criaturas espirituais de aspecto horrendo, ultrajadas, que se faziam arrastar em
correntes umas, em cordas outras, e esse grupo grotesco era acompanhado por
cães que ladravam, em atitude de perturbadora agressividade. Genézio
esclareceu: "Trata-se de Espíritos profundamente sofredores, que lhes caíram nas
mãos desde quando se encontravam encarnados. Eram vítimas e comensais da
súcia, embora transitassem em situação relevante, trajando roupas de alto preço e
ocupando situações invejáveis. Demais, controlavam destinos, manipulando
recursos alheios; subtraíam documentos que falsificavam para atender a interesses inconfessáveis; regulamentos e leis que menoscabavam, sofismando sobre
eles, de modo a atenderem às paixões inferiores. Triunfaram sobre os fracassos
dos outros; sorriram no mar das lágrimas dos a quem defraudavam; campeavam
nos lugares de projeção, enquanto os dilapidados pela sua argúcia carpiam
desespero e miséria; sentiam-se inatingidos..." O mentor explicou então que a
morte os alcançou e os trouxe para a submissão de mentes mais impiedosas do
que as suas e sentimentos mais impermeáveis do que aqueles que os
caracterizavam. "Sofrem, o que fizeram sofrer...", asseverou Genézio. "Por algum
tempo a consciência sabe que necessitam da lapidação rude a que se submetem,
prosseguindo nos enleios que os prendem ao grupo afim." Logo, porém, que se
abram ao desejo de reparar seus erros, de reconhecer sua incúria e de
recomeçar, mudam de faixa vibratória e são resgatados pela Bondade Excelsa,
que a ninguém esquece. (Cap. 7, pp. 60 a 62)
Cap.8
O caso Genézio - Genézio Duarte, encarregado da vigilância ao portão
principal, participava da equipe do Dr. Bezerra de Menezes, a quem se vinculara
desde os dias de sua última encarnação naquela cidade. Espírita militante,
trabalhara numa Sociedade que mantinha o nome do "médico dos pobres" e era
dirigida espiritualmente pelo Amorável Benfeitor. Cético, ele ali chegara macerado
pelos conceitos materialistas, sob a injunção de enfermidade pertinaz, recebendo
naquela Casa orientação de tratamento homeopático de natureza mediúnica e os
recursos da fluidoterapia, com o que obteve o restabelecimento pleno da saúde
orgânica e, posteriormente, da saúde espiritual. Afeiçoando-se ao infatigável
mentor, cuja vida modelar o sensibilizara, dedicou-se ao estudo da Doutrina,
passando depois à militância no movimento doutrinário e à sua vivência, quanto
43
lhe permitiam as circunstâncias. Seu comportamento como espírita granjeou-lhe
amigos devotados e atraiu simpatizantes e estudiosos para a Causa. Por essa
época experimentou a prova da viuvez, que soube suportar com elevada
resignação e coragem, tendo padecido vicissitudes e sofrimentos diversos que
ajudaram a lapidar o seu Espírito, aproximando-o mais ainda do Amigo Espiritual,
de quem recebia inspiração e ajuda. Antes da desencarnação, tornou-se
responsável pela Casa espírita, a que doou seus melhores esforços. Palavra
segura e portadora de conceitos elevados, suas palestras de estudo e consolação
sensibilizavam os ouvintes, que renovavam os clichês mentais ante a meridiana
luz emanada d' O Livro dos Espíritos e d' O Evangelho segundo o Espiritismo, que
interpretava com beleza e correção. Quando retornou à pátria espiritual, após
enfermidade persistente e demorada, foi recebido por Dr. Bezerra e seus
familiares afetuosos, que o aguardavam em júbilo. Genézio era o triunfador de
retorno ao Lar sob a expectação feliz dos amigos, visto que a Doutrina fora para
ele alento e vida, e, descerrando os painéis da imortalidade, armara-o da
sabedoria que propicia forças para a superação pessoal e vitória sobre as
conjunturas difíceis. (Cap. 8, pp. 63 e 64)
Um exemplo positivo - Philomeno, relatando a experiência de Genézio,
lembra-nos que não são poucas as pessoas que se acercam do Movimento
Espírita desenformadas e, negando-se ao estudo sistemático do Espiritismo,
preferindo as leituras rápidas, em que não se aprofundam, pretendem submeter a
Doutrina ao talante das suas opiniões... O Espiritismo, graças ao seu tríplice
aspecto, atende a todos os tipos de necessidade do homem terreno, oferecendo
campo de reflexões e respostas em todas as áreas do conhecimento, além de
contribuir de forma eficaz para a eliminação dos mitos e tabus contra os quais luta
a ciência. Separá-lo, pois, de qualquer uma das suas faces ‚ o mesmo que o
desfigurar. O exemplo de Genézio Duarte é expressivo. Constatada a legitimidade
da sobrevivência da alma, adentrou-se pelo estudo da sua filosofia, enquanto
prosseguiam as experiências no campo da mediunidade para incorporar à vivência
pessoal o comportamento ético-religioso proposto pela Doutrina. Habituado à fé
responsável e ao clima de trabalho, ajustou-se com facilidade à Esfera definitiva,
onde pediu e obteve do seu Amigo e Instrutor permissão para engajar-se na ação
profícua do bem, a que já vinha se dedicando nos últimos vinte anos. Chamado
por Dr. Bezerra, Philomeno o acompanhou no atendimento de urgência a uma
jovem mulher em estado de coma. Ao lado da enferma encontrava-se veneranda
anciã que parecia ser sua avó. A jovem desencarnara havia pouco mais de quatro
horas. Cessado o intercâmbio do fluido vital com o corpo, seu Espírito fora retirado
do local onde o cadáver permanecia. A jovem estava sendo preparada para uma
pequena cirurgia que, segundo Dr. Bezerra, objetivava "drenar as cargas de
energia venenosa geradas pelo medo e que poderiam trazer demorada
perturbação ao Espírito recém-liberto". (Cap. 8, pp. 64 a 66)
O caso Ermance - A jovem chamava-se Ermance. Em vida pregressa
suicidara-se, atirando contra o próprio peito. Os tecidos sutis do perispírito,
lesados pela violência, impuseram-lhe então a modelagem de uma bomba
cardíaca deficiente. De organização física frágil, era, aos dezoito anos, portadora
de uma beleza lirial e enternecedora. Educada em rígidos princípios religiosos,
soubera manter-se com dignidade, residindo em zona suburbana próxima da
44
cidade. Atendendo a insistentes convites de amigos, veio observar o Carnaval e
passear, sem dar-se conta dos perigos a que se expunha. O seu grupo, jovial e
comunicativo, não passou despercebido de rapazes de conduta viciosa, que lograram imiscuir-se e participar do programa inocente que movimentava. Ermance
não teria uma existência longa, em razão do suicídio anterior, quando subtraíra
vários anos ao próprio corpo; poderia, contudo, lograr alguma moratória, caso
estivesse engajada em atividade de elevado teor que a necessitasse por mais
tempo... Iludida por hábil sedutor, que a convidou a descansar em casa de pessoa
amiga, próxima da Avenida, só quando penetrou a casa Ermance deu-se conta da
cilada em que caíra. O medo aterrou-a; a respiração fez-se-lhe difícil e a alta carga
de tensão produziu-lhe um choque fatal. O criminoso a conduzira a um bordel e,
ante a sua reação, aplicou-lhe um lenço umedecido com clorofôrmio, cuja dose
forte produziu-lhe uma parada cardíaca. No desespero em que se debatera,
Ermance lembrou-se dos pais, de sua querida avó e da mãe de Jesus, a quem
muito amava. Seu apelo de imediato encontrou ressonância. Sua avó Melide, que
já a acompanhava, antevendo os acontecimentos, deu-lhe assistência e, no
momento azado, rogou socorro dos Benfeitores Espirituais, que auxiliaram a
liberação de Espírito da neta, logo que cessou a vida física. (Cap. 8, pp. 67 e 68)
A cirurgia - Dr. Bezerra silenciou por alguns momentos e comentou:
"Pode-se imaginar a angústia dos amigos, que não a levarão de volta ao lar, dos
pais e irmãos, a esta altura e no dia seguinte, até que a polícia localize o corpo,
prosseguindo o desespero, dia após dia. O insucesso amargo, porém, sendo bem
suportado, será convertido pelas Leis Divinas em futura paz e renovação da
família, que reencontrar nossa Ermance, mais tarde, em situação feliz". "O grande
choque, fator da desencarnação, num atentado ao seu pudor de moça ‚ o capítulo
final da tragédia afetiva, culminada, antes, no suicídio. Pena a ingerência indébita
dos criminosos, de que a Vida não necessitava!" Dr. Bezerra afirmou então que
tudo, em nossa vida, transcorre sob controle superior, obedecendo ao equilíbrio
universal, "de que somente se tem uma visão mais clara e mais completa deste
para o plano terreno". Concluída a terapia, a avó de Ermance, irmã Melide, seria
destacada para acompanhar a família e sustentá-la, enquanto Ermance ficaria ali
em repouso para oportuna transferência e posterior despertamento. Na seqüência,
Dr. Bezerra deu início à cirurgia, na parte superior do cérebro, na região do centro
coronário, deslindando tenuíssimos filamentos escuros e retirando-os, ao tempo
em que, valendo-se de um aspirador de pequeno porte, fazia sugar resíduos do
centro cerebral, que haviam bloqueado a área da consciência. À medida que a
equipe recorria a instrumentos muito delicados para aquela microcirurgia, a cor
retornou à face da jovem e a respiração foi, a pouco e pouco, sendo percebida,
em face dos estímulos aplicados na área cardíaca. Mais ou menos vinte minutos
depois, a paciente, em sono reparador, foi conduzida para enfermaria contígua,
enquanto o dedicado médico comentou: "Morrer é fácil. Liberar-se da morte, após
ela, é que se faz difícil. Encerrando-se um capítulo da vida, outro se inicia em
plenitude de forças. Acabar, jamais!" (Cap. 8, p. 68 e 69)
45
Nas Fronteiras Da Loucura
MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
CAP. 9 a 12
O problema das drogas - Para aquela madrugada estava programada, num
dos módulos do Posto Central, uma palestra em que Dr. Bezerra de Menezes iria
abordar o problema das drogas, que afeta a economia social e moral da
comunidade brasileira, numa expansão surpreendente entre os jovens. A palestra
se destinava a trabalhadores desencarnados, em fase de adestramento para
socorro às vítimas da toxicomania, e a estudiosos do comportamento, ainda
encarnados, que se interessavam pelo magno assunto. O espaço comportava
cinqüenta pessoas. Philomeno identificou ali alguns espiritistas que se dedicavam
à prática psiquiátrica e à terapia psicológica, pregadores e médiuns, assim como
terapeutas não vinculados ao Espiritismo, sociólogos e religiosos em número não
superior a vinte. Os demais eram desencarnados. A reunião foi iniciada
exatamente às 3h e, tão logo foi proferida a prece, sem qualquer delonga ou inútil
apresentação laudatória, Dr. Bezerra levantou-se e deu início à sua mensagem,
saudando os presentes como os cristãos primitivos o faziam: "Paz seja convosco!"
Em seguida, ferindo diretamente o tema da palestra, o Benfeitor asseverou: "As
causas básicas das evasões humanas à responsabilidade jazem nos conflitos
espirituais do ser, que ainda transita pelas expressões do primarismo da razão.
Espiritualmente atrasado, sem as fixações dos valores morais que dão resistência
para a luta, o homem moderno, que conquistou a lua e avança no estudo das
origens do Sistema Solar que lhe serve de berço, incursionando pelos outros
planetas, não conseguiu conquistar-se a si mesmo. Logrou expressivas vitórias,
sem alcançar a paz íntima, padecendo os efeitos dos tentames tecnológicos sem
os correspondentes valores de suporte moral. Cresceu na horizontal da
inteligência sem desenvolver a vertical do sentimento elevado". "Como efeito, não
resiste às pressões, desequilibra-se com facilidade e foge, na busca de alcoólicos,
de tabacos, de drogas alucinógenas de natureza tóxica... Atado à retaguarda
donde procede, mantém-se psiquicamente em sintonia com os sítios, nem sempre
felizes, onde estagiou no Além-Túmulo, antes de ser recambiado à reencarnação
compulsória." (Cap. 9, pp. 70 a 72)
A gênese da questão - Dr. Bezerra explicou que, em face da necessidade
de se promover o progresso moral do planeta, "milhões de Espíritos foram
transferidos das regiões pungitivas onde se demoravam, para a inadiável
investidura carnal, por cujo recurso podem recompor-se e mudar a paisagem
mental, aprendendo, na convivência social, os processos que os promovam a
situações menos torpes". Revelou, no entanto, que dependências viciosas
decorrentes da situação em que viviam dão-lhes a estereotipia que assumem,
tombando nas urdiduras da toxicomania. O uso de drogas é muito antigo; o que
mudou ao longo dos séculos foram as justificativas para seu uso. No mundo
ocidental o seu uso, hoje, é quase generalizado, ora para fins terapêuticos, sob
controle competente, ora para misteres injustificáveis sob direção dos
46
manipuladores mafiosos da conduta das massas. "Em razão da franquia de
informações que a todos alcançam, encontrem-se preparados ou não, os meios de
comunicação -- afirmou Dr. Bezerra -- têm estereotipado as linhas da conduta
moral e social de que todos tomam conhecimento e seguem com precipitação."
Disse então que o consumo de drogas no Ocidente expandiu-se especialmente
após a Segunda Guerra Mundial e os lamentáveis conflitos no sudeste asiático,
tomando conta, particularmente, da juventude imatura. O desprezo pela vida, a
busca do aniquilamento resultantes de filosofias apressadas, sem estruturação
lógica nem ética, respondem pelo progressivo consumo de tóxicos de toda natureza. Os valores ético-morais que devem sustentar a sociedade vêm sofrendo
aguerrido combate e desestruturando-se sob os camartelos do cinismo que gera a
violência e conduz à corrupção, minimizando o significado dos ideais da beleza,
das artes, das ciências... Vive-se apressadamente e rapidamente deseja-se a
consunção. A incompreensão grassa dominadora, sem que os homens encontrem
um denominador comum para o entendimento que deve vigerá entre todos. O
egoísmo responde pelo inconformismo e pela prepotência, pela volúpia dos
sentidos e pela indiferença em relação ao próximo. O homem sofre perplexidades
que o atemorizam, desconfiando de tudo e de todos, entregando-se a excessos,
fugindo à responsabilidade através das drogas, num momento em que lhe faltam
lideranças nobres, inteligências voltadas para o bem geral, que se façam
exemplos dignos de serem seguidos... (Cap. 9, pp. 72 e 73)
Terapia para o problema das drogas - Prosseguindo, Dr. Bezerra lembrou
que vivemos dias de luta, em que as contestações, mais perturbadoras que
saneadoras, tomam o lugar do trabalho edificante. "Contestam-se os valores da
anterior para a atual geração, o trabalho, a ética, a vida exigindo elevadas doses
de tolerância e compreensão, a fim de se evitarem radicalismos de parte a parte",
disse o palestrante, advertindo em seguida que o progresso tecnológico torna-se,
de certo modo, uma ameaça, um monstro devorador, se não for moderado nos
seus limites e no tempo próprio. A automação substitui o homem em muitos
misteres e a ociosidade, o desemprego neurotizam os que param e atormentam
os que se esforçam no trabalho. Os homens separam-se, distanciados pela luta
que empreendem, e unem-se pelas necessidades dos jogos dos prazeres... Ora,
nesse dualismo comportamental a carência afetiva, a solidão instalam seus
arsenais de medo, de revolta e dor, propelindo para a fuga, para as drogas. "Em
realidade -- asseverou Dr. Bezerra --, foge-se de um estado ou situação,
inconscientemente buscando algo, alguma coisa, segurança, apoio, amizade que
os tóxicos não podem dar." E' preciso, pois, valorizar-se o homem, arrancando
dele valores que lhe jazem latentes, manifestação de Deus que ele não tem
sabido compreender, nem buscar. "Muita falta faz a presença da vida sadia,
conforme a moral do Cristo", advertiu o Apóstolo da Caridade, que propôs então:
"Como terapia para o grave problema das drogas, inicialmente, apresentamos a
educação em liberdade com responsabilidade; a valorização do trabalho como
método digno de afirmação da criatura; orientação moral segura, no lar e na
escola, mediante exemplos dos educadores e pais; a necessidade de viver-se com
comedimento, ensinando-se que ninguém se encontra em plenitude e
demonstrando essa verdade através dos fatos de todos os dias, com que se
evitarão sonhos e curiosidades, luxo e anseio de dissipações por parte de crianças
e jovens; orientação adequada às personalidades psicopatas desde cedo; am47
bientes sadios e leituras de conteúdo edificante, considerando-se que nem toda a
humanidade pode ser enquadrada na literatura sórdida da `contra cultura', dos
livros de apelação e escritos com fins mercenários, em razão das altas doses de
extravagância e vulgaridade de que se fazem portadores". (Cap. 9, pp. 74 e 75)
Os recursos psicoterápicos espíritas - Dito isto, Dr. Bezerra acrescentou: "A
estas terapias basilares adir o exercício da disciplina dos hábitos, melhor
entrosamento entre pais e mestres, maior convivência destes com filhos e alunos,
despertamento e cultivo de ideais entre os jovens... E conhecimento espiritual da
vida, demonstrando a anterioridade da alma ao corpo e a sua sobrevivência após
a destruição deste". "Quanto mais for materialista a comunidade -- ponderou o
palestrante --, mais se apresenta consumida, desequilibrada e seus membros
consumidores de droga e sexo em desalinho, sofrendo mais altas cargas de
violência, de agressividade, que conduzem aos elevados índices de homicídio, de
suicídio e de corrupção." Concluindo sua explanação, o Nobre Mentor foi incisivo:
"O Espiritismo possui recursos psicoterápicos valiosos como profilaxia e
tratamento no uso de drogas e de outras viciações. Estruturada a sua filosofia na
realidade do Espírito, a educação tem primazia em todos os tentames e as
técnicas do conhecimento das causas da vida oferecem resistência e dão força
para uma conduta sadia. Além disso, as informações sobre os valiosos bens
mediúnicos aplicáveis ao comportamento constituem terapêutica de fácil
destinação e resultado positivo. Aqui nos referimos à oração, ao passe, à
magnetização da água, à doutrinação do indivíduo, à desobsessão..." E' que nas
panorâmicas da toxicomania, da sexolatria e dos vícios em geral, defrontamos,
invariavelmente, "a sutil presença de obsessões, como causa remota ou como
efeito do comportamento que o homem se permite, sintonizando com mentes
irresponsáveis e enfermas desembaraçadas do corpo". Faz-se preciso, pois, que
em todo cometimento de socorro a dependentes de vícios nos recordemos do
respeito que devemos a esses enfermos, "atendendo-os com carinho e
dignificando-os, instando com eles pela recuperação, ao tempo em que lhes
apliquemos os recursos espíritas e evangélicos, na certeza de resultados finais salutares". (Cap. 9, pp. 75 e 76)
Um acidente fatal - A movimentação prosseguia mais intensa nas
atividades do Posto Central, à medida que a madrugada avançava. Os desfiles
das Escolas de Samba continuavam pelo amanhecer e os foliões permaneciam
excitados, quando dolorosa ocorrência reclamou a atenção do Dr. Bezerra de
Menezes. Cinco jovens que pareciam embriagados trafegavam com velocidade,
quando outro veículo fez uma ultrapassagem rápida. De repente, este freou
violentamente em razão de um obstáculo na pista. Colhido pelo imprevisto, o
jovem que guiava o outro carro tentou desviar-se, subindo ao passeio e chocandose contra a balaustrada. O golpe muito forte rompeu a proteção, indo o carro cair
nas águas lodosas do mangue, perecendo todos os seus ocupantes. Nas
imediações do local, Dr. Bezerra foi saudado por veneranda mulher,
desencarnada, que lhe relatou, comovida: "A par da compaixão que me inspiram
os jovens, ora tombados neste trágico insucesso, por imprevidência, sofro o drama
que ora se inicia com o meu neto, rapazote de 17 anos, cujo corpo jaz no fundo do
pântano entre os ferros retorcidos do veículo destroçado". Ela contou então que,
como se encontrava em serviço em local próximo, sentira a mente do netinho
48
tresvariando no excesso das alegrias dissolventes. "Fui atraída -- disse a avó -pelo impositivo dos vínculos que nos mantêm unidos, minutos antes, e percebi o
que sucederia. Tentei induzi-lo a interferir com o amigo para que diminuísse a
velocidade e não consegui. Inspirei-o a que mandasse parar, sob a justificativa de
alguma razão, porque estivesse indisposto, e não logrei resultado. A sua mente
parecia entorpecida, não me registando o pensamento... Acompanhei a tragédia,
sem nada poder fazer." Dito isto, a Entidade manifestou seu receio de que os
rapazes mortos viessem a cair nas mãos de irmãos infelizes, vampirizadores das
últimas energias orgânicas, postados nas proximidades, que se preparavam para
o assalto, mas o Mentor tranqüilizou-a com breves apontamentos. (Cap. 10, pp. 77
e 78)
A luz vence sempre as trevas - Os agressores formavam uma horda
ruidosa e expressiva e, logo que viram Dr. Bezerra e seus amigos, começaram os
doestos e as imprecações sem sentido. "Chegaram os salvadores! -- baldoou um
deles, de fácies patibular. -- Vêm em nome do Crucificado, que a si mesmo,
sequer, não se salvou." Um coro de blasfêmias estrugiu no ar. Punhos se
levantaram cerrados e as agressões verbais sucederam-se, ameaçadoras.
"Formemos uma muralha em torno deles -- rosnou ímpio verdugo, que se
aproximou denotando suas intenções maléficas -- e impeçamos que se
intrometam em nossos direitos. Esmaguemos os impostores, não convidados." Dr.
Bezerra mantinha-se em oração, tendo ao lado apenas três servidores do Bem, e,
subitamente, se transfigurou. Uma luz irradiante dele se exteriorizou, débil a
princípio, forte a seguir, envolvendo os quatro amigos, enquanto começaram a cair
leves flocos de substância delicadíssima, igualmente luminosa, que parecia
provocar choques na malta irreverente, graças às desencontradas reações que
eclodiam. Alguns se afastaram, assustados. Outros caíram de joelhos e, de mãos
postas, julgando estar diante de anjos, rogaram socorro e proteção. Os mais
pertinazes malfeitores teimavam, porém, em permanecer, afirmando que os
desgraçados que haviam acabado de morrer lhes pertenciam e dali não
arredariam pé. Um clarão mais forte fez-se, então, de inopino, atemorizando a
turba furibunda, que se dispersou em verdadeira alucinação... Rapidamente diluiuse a treva densa e desapareceram os comensais da maldade, vítimas de si
mesmos, ficando o ambiente respirável. As impressões fortes da cena
permaneciam, porém, na mente de Philomeno: aqueles Espíritos apresentavam-se
animalescos, lupinos e simiescos, enquanto os que preservavam as formas humanas estavam andrajosos e sujos, formando um quadro dantesco, realmente
apavorante. Aqueles seres vitalizados pelas emanações humanas no desenfreio
da orgia pareceram-lhe mais horripilantes e temerosos do que os que ele já vira
nas regiões inferiores... Dr. Bezerra pediu-lhe então não estranhasse sua aparente
indiferença em relação à dor dos que ali suplicaram socorro. "O apelo de ajuda
resulta-lhes, no momento, do medo e não de um sincero desejo de renovação. Todos respiramos -- asseverou o Mentor -- o clima dos interesses que sustentamos.
Logo os necessitados se voltem na direção da misericórdia, a terão." (Cap. 10, pp.
78 a 80)
O atendimento - A prece do Dr. Bezerra atraíra vários cooperadores,
inclusive do Posto Central, que captara a oração superior. Eram Espíritos
adestrados em diversos tipos de salvamento, inclusive naquele gênero de
49
acidentes. Os enviados do Posto haviam-se munido de uma rede especial. Os
Benfeitores desceram ao fundo do mangue repleto de resíduos negros,
densamente pastosos, onde jaziam os corpos dos cinco rapazes. Quatro
cooperadores distenderam a rede, que se fez luminosa à medida que descia
suavemente, sobre os despojos, superando a escuridão compacta. Alguns corpos
estavam lacerados, com fraturas internas e externas, estampando no rosto as
marcas dos últimos momentos físicos. Fortemente imantados aos corpos, os
Espíritos lutavam, em desespero frenético, em tentativas inúteis de sobrevivência.
Morriam e ressuscitavam, remorrendo em contínuos estertores... Se gritavam por
socorro, experimentavam a água pútrida dominar-lhes as vias respiratórias,
desmaiando, em angústias lancinantes. Os lidadores destrinçaram os laços mais
vigorosos e colocaram os Espíritos na rede protetora, que foi erguida à superfície
do mangue, sendo dali transferidos para padiolas. A equipe de salvamento
prosseguiu liberando os condutos que mantinham os corpos vivos sob a energia
vital do Espírito. Interrompida a comunicação física, permaneciam poderosos
liames que se desfariam somente à medida que se iniciasse o processo de
decomposição cadavérica, em tempo nunca inferior a cinqüenta horas, e,
considerando-se as circunstâncias em que se dera a desencarnação, no caso,
muito violenta, em período bem mais largo. Na verdade, não há mortes iguais. A
desencarnação varia de pessoa a outra, dependendo de suas condições morais.
Morrer nem sempre significa libertar-se. A morte é orgânica, mas a libertação é de
natureza espiritual. E' por isso que a turbação espiritual pode demorar breves minutos, nos Espíritos nobres, e até séculos, nos mais embrutecidos... Nas
desencarnações violentas, o período e intensidade de desajuste espiritual correspondem à responsabilidade que envolveu o processo fatal. O mesmo sucede
nos casos de homicídio, em que a culpa ou não de quem tomba responde pelos
efeitos. Já os suicidas, pela gravidade do gesto de rebeldia contra os divinos
códigos, carpem, sofrem por anos a fio a desdita, enfrentando em estado
lastimável e complicado o problema de que pretendem fugir... A operação de
desintegração dos laços fluídicos com os despojos físicos dos cinco rapazes
demorou meia hora, aproximadamente. A polícia só chegou ao local quando o
grupo socorrista partiu, enquanto o desfile das Escolas prosseguia, interminável.
(Cap. 10, pp. 81 a 83)
Treinamento para a morte - Os cinco jovens foram colocados em recinto
especial para o atendimento sonoterápico por algumas horas, cujo objetivo era
conceder-lhes a oportunidade do repouso, o que dificilmente se consegue, devido
aos apelos exagerados dos familiares. A lamentação e os impropérios por parte
destes produzem, no Espírito recém-liberto, grande desconforto, porque tais
atitudes transformam-se em chuvas de fagulhas comburentes que os atingem,
ferindo-os ou dando-lhes a sensação de ácidos que os corroem por dentro.
Nominalmente chamados, eles desejam atender, mas não podem,
experimentando então dores que os vergastam, adicionadas pelos desesperos
morais que os dominam. Se conseguem adormecer, não raro debatem-se em
pesadelos afligentes, que são a liberação de imagens perturbadoras das zonas
profundas do inconsciente. Como uma reencarnação exige anos para completarse, é natural que a desencarnação necessite de tempo suficiente para que o
Espírito se desimpregne dos fluidos mais grosseiros em que esteve mergulhado. A
morte violenta mata apenas os despojos físicos, mas não significa libertação do
50
ser espiritual. As enfermidades de longo curso, quando suportadas com
resignação, liberam o Espírito da matéria, porque ele, nesses casos, tem tempo de
pensar nas verdadeiras realidades da vida e desapegar-se de pessoas, paixões e
coisas, movimentando o pensamento em círculos superiores de aspirações.
Lembra então os que já partiram e a eles se revincula pelos fios das lembranças,
recebendo inspiração e ajuda para o desprendimento. As dores morais bem
aceitas facultam aspirações e anseios de paz noutras dimensões, diluindo as
forças constritoras que o atam ao mundo das formas. O conhecimento dos
objetivos da reencarnação e o comportamento correto diante da vida contribuem,
também, para a desimantação. O tempo no corpo tem finalidade educativa,
expurgadora de mazelas, para o aprimoramento de ideais, ao invés de constituir
uma viagem ao país do sonho, com o prazer e a inutilidade de mãos dadas. Como
ninguém investido na carne passar indene, sem despojar-se dela, é justo o
treinamento para enfrentar o instante da morte que vir , porque o Espírito é, no
Além, o somatório das suas experiências vividas. (Cap. 11, pp. 84 e 85)
O caso Fábio - D. Ruth, a atenciosa avó de Fábio (um dos jovens vitimados
no desastre), permitiu a Manoel P. de Miranda entender qual fora o mecanismo
pelo qual Dr. Bezerra havia sido cientificado da ocorrência. Como se sabe, ela
tentou desviar o curso do desastre. Como não obteve sucesso, pôs-se então a
orar, recorrendo pelo pensamento à ajuda do Posto Central, dedicado a essas
emergências. Os aparelhos seletores de preces e rogativas registaram o apelo, e
um sinal, na sala de controle, deu notícia da gravidade e urgência do pedido.
Decodificado imediatamente pelos encarregados de tradução das mensagens, um
assistente levou o fato ao Mentor Espiritual. O mecanismo de comunicação faziase nos mesmos moldes do adotado entre os desencarnados, mas Philomeno pôde
entender que o intercâmbio mental lúcido não é tão corriqueiro, especialmente em
campo de ação como aquele, em que eram fortes as descargas psíquicas do mais
baixo teor. Esse era um dos fatores que impuseram a edificação daquele Posto...
D. Ruth contou também que fora, em vida anterior, mãe de Fábio, que
desencarnara então aos 40 anos, após muitos abusos e irresponsabilidades,
razão pela qual foi levado a estagiar em redutos de sombra e dor, na Erraticidade
inferior, por quase trinta anos. Quando ela retornou à pátria espiritual, conseguiu
que ele fosse preparado e recambiado outra vez à vida corpórea, para atenuar-lhe
as faltas e amortecer as impressões mais duradouras daqueles anos sofridos. Foi
assim que Fábio renasceu, agora na condição de neto de sua antiga mãe e
benfeitora... (Cap. 11, pp. 86 e 87)
O efeito das drogas - D. Ruth entendia que a dor que agora batia à porta
dos atuais pais de Fábio significava também a presença da justiça alcançando-os,
em razão de sua conivência passada com o comportamento do filho. Ninguém
dilapida os dons de Deus, permanecendo livre da reparação. Dr. Bezerra, que
examinara o motorista, não teve dúvidas em afirmar que aquele jovem buscara o
acidente, em razão da ingestão de drogas. Apontando-lhe a área dos reflexos e
ações motoras, o Mentor informou: "Ei-la praticamente bloqueada, após a
excitação provocada pelas anfetaminas que foram usadas, sob forte dose
venenosa, que terminaria, ao longo do tempo, por afetar os movimentos, provocando paralisia irreversível". E esclareceu: "As drogas liberam componentes
tóxicos que impregnam as delicadas engrenagens do perispírito, atingindo-o por
51
largo tempo. Muitas vezes, esse modelador de formas imprime nas futuras
organizações biológicas lesões e mutilações que são o resultado dos tóxicos de
que se encharcou em existência pregressa". Dr. Bezerra disse então que a
dependência gerada pelas drogas desarticula o discernimento e interrompe os
comandos do centro da vontade, tornando seus usuários verdadeiros farrapos
humanos, que abdicam de tudo por uma dose, até à consumpção total, que
prossegue, no entanto, depois da morte... "Além de facilitar obsessões cruéis -acrescentou o Mentor --, atingem os mecanismos da memória, bloqueando os
seus arquivos e se imiscuem nas sinapses cerebrais, respondendo por danos
irreparáveis. A seu turno, o Espírito regista as suas emanações, através da
organização perispiritual, dementando-se sob a sua ação corrosiva." O rapaz que
dirigia o veículo já se habituara ao uso de drogas fortes, que lhe danificaram o
perispírito. Fábio estava apenas começando. Após passar pela experiência do uso
da maconha, experimentava então anfetaminas perigosas, o que lhe produziu,
inicialmente, estímulo e, logo depois, entorpecimento. "Eis porque não sintonizou
com a interferência psíquica da irmã Ruth." (Cap. 11, p. 88 e 89)
Desespero e dor no lar de Ermance - Recomendando que o recurso do
passe anestesiante fosse repetido de hora em hora, com o objetivo de vitalizar os
cinco pacientes desencarnados, fortalecendo-os para os próximos embates, Dr.
Bezerra convidou a todos para a oração coletiva no Posto Central, quando o
relógio assinalava 6h da manhã de terça-feira de Carnaval. Enquanto orava,
diamantina claridade envolvente se irradiava do Dr. Bezerra, restaurando as forças
e vitalizando a todos para os cometimentos porvindouros. Algumas horas depois,
ele foi procurado pela irmã Melide, que retornava do lar de Ermance, onde a
angústia se instalara. Como os amigos da jovem não a haviam encontrado,
volveram à casa dela e cientificaram seus pais do ocorrido. A inquietação tomou
conta do casal, que não sabia o que fazer. Já era dia quando o pai da jovem foi à
Delegacia Central. às 9h o cadáver foi encontrado. Informado do fato, o genitor foi
ao Necrotério, onde fez, em estado de grande aflição, o reconhecimento da filha.
Melide contou então que sua filha (a mãe de Ermance) foi acometida de pânico,
deixando-se abater em terrível desespero, logo que recebeu do marido a notícia.
Havendo desmaiado, providenciou-se um médico que velava à sua cabeceira,
ministrando assistência especializada. Após ouvi-la, Dr. Bezerra propôs fossem
ver Ermance. Ao pé do leito, um enfermeiro informou que a paciente, subitamente,
começou a dar sinais de inquietação, como se experimentasse forte pesadelo. Dr.
Bezerra aplicou-lhe recursos fluídicos e recomendou à irmã Melide ser de todo
conveniente despertá-la para o primeiro encontro com a realidade, de modo a
interromper a comunicação com o lar, donde chegavam pungentes apelos, quais
dardos que a alcançavam, dilacerando-lhe as fibras íntimas e fazendo-a reviver as
cenas que culminaram com a desencarnação. (Cap. 11 e 12, pp. 89 a 91)
O despertar de Ermance - Após terem sido ministrados recursos que
dispersaram os fluidos soníferos, Ermance despertou, um tanto aturdida, com
sinais de disritmia cardíaca, muito pálida e com a respiração ofegante. Ao ver a
avó, a surpresa se lhe estampou na face e, sem qualquer receio, distendeu os
braços e falou: "Deus meu!... Estou sonhando... Vovó querida, ajude-me!..." Melide
a abraçou com indescritível ternura. Ermance queixou-se, súplice: "Fui raptada e
querem matar-me. Tenho muito medo. Quero voltar para casa..." E prorrompeu em
52
dorido pranto. A avó, sem se perturbar, falou-lhe: "O rapto não se consumou, meu
bem. Tudo está bem. Estamos juntas. Você voltará para casa logo mais. Agora
acalme-se e lembre-se da oração". Denotando menos pavor sob a indução
magnética da palavra e da irradiação calmante que recebia, Ermance imaginou
que sonhava: "Estou sonhando com você, vovó. Que bom!" A avó redargüiu: "De
certo modo, você está despertando de um sonho demorado no corpo, a fim de
adentrar-se na realidade maior da vida..." Assustada, a jovem retrucou: "Digo
sonho, porque você já morreu..." E o diálogo prosseguiu assim, nesse diapasão,
em que a generosa avó iniciava a neta querida nas realidades da vida espiritual,
com todo o tato, para não chocá-la. Depois de afirmar-lhe que o corpo é frágil
veste que se rompe, libertando o ser espiritual, que é indestrutível, Melide
informou: "Você agora, filhinha, ficará comigo respirando novo ar, longe da
doença, do medo, da aflição que logo baterão em retirada. Você está viva, não
esqueça, e lúcida, sob o carinhoso amparo de Deus..." Denotando receio, a jovem
suplicou: "Não quero morrer, vovó!". "Não morrer , minha querida. Você está livre,
viva... Já venceu a morte", respondeu-lhe a avó. Ermance pareceu então
desmaiar, mas ainda assim balbuciou que queria ir para casa, o que fez com que
Melide, acarinhando sua cabeça, lhe dissesse com imensa doçura: "Irá, sim.
Iremos juntas. Tudo está bem. Encontramo-nos mergulhadas no amor de Deus,
que nunca nos desampara. Durma, esquecendo as aflições do mundo, para
sonhar com as alegrias do Céu. Descanse, meu amor". A jovem então adormeceu.
(Cap. 12, pp. 92 e 93)
Autópsia e sofrimento - Ermance dormia, mas seu sono era entrecortado de
soluços. Dr. Bezerra começou então a aplicar-lhe energias sedativas, que
anestesiaram o Espírito, precatando-o dos sofrimentos e apelos vigorosos que por
algum tempo chegariam dos pais, duramente vergastados pela tragédia.
Posteriormente, o Mentor dirigiu-se à capela onde o cadáver da moça era velado,
ocasião em que auxiliou os pais atoleimados, infundindo-lhes ânimo e
robustecendo-os com forças que lhes propiciassem alento para os testemunhos
purificadores. Graças à vigilância de Melide e outros cooperadores do grupo, o
corpo da jovem escapou à vampirização de suas últimas energias por Espíritos inditosos. De volta ao Posto Central, Philomeno pôde acompanhar o processo de
adaptação dos jovens acidentados e observou então que os Espíritos, mesmo
distanciados dos corpos, retratavam as ocorrências que os afetavam durante a
autópsia. O motorista, por ser incurso em maior responsabilidade, manteve-se em
sono agitado por todo o tempo e experimentou as dores que lhe advinham da
autópsia. Embora contido por enfermeiros diligentes, sofreu os cortes, os golpes
nos tecidos e as costuras... Ninguém há que se encontre isento à
responsabilidade pelos erros cometidos! Há autópsias em que Espíritos que se
deixaram dominar pelos apetites grosseiros enlouquecem de dor, demorando-se
sob os efeitos lentos do processo a que o cadáver é submetido -- quando não
fazem jus a assistência especializada. Desse modo, cada um dos jovens, embora
houvessem desencarnado juntos, experimentava sensações de acordo com os
títulos que conduziam, de beneficência e amor, de extravagância e truculência.
(Cap. 12, pp. 94 e 95)
Nossa cruz é intransferível - As autópsias demoraram mais de uma hora,
durante a qual a assistência dos Benfeitores procurou diminuir o sofrimento dos
53
recém-chegados. Fábio, por ser menos comprometido, recebeu mais alta dose de
anestésico, algo liberado das dores carnais que os outros, em maior ou menor
escala, haviam sofrido. Finda essa fase, volveram ao sono, embora em agitação.
Na hora do traslado dos corpos para as providências do sepultamento, Philomeno
pôde acompanhar o despertar de quase todos, sob os duros apelos de pais e irmãos, partindo semi-hebetados, para os atender... Dr. Bezerra explicou: "As
nossas providências de socorro não geram clima de privilégio, nem protecionismo
injustificável. Cada um respira a psicosfera que gera no campo mental. Todos
somos as aspirações que cultivamos, os labores que produzimos. O Senhor
recomendou-nos dar a quem pede, abrir a quem bate, facultar a quem busca,
dentro das possibilidades de merecimento dos que recorrem ao auxílio". E ajuntou:
"Quando albergamos os nossos jovens, na condição de humildes cireneus,
objetivamos ampará-los da agressão perniciosa das Entidades vulgares,
portadoras de sentimentos impermeáveis à compaixão e à misericórdia... Mercê
de Deus, conseguimos o tentame. A cruz, porém, é intransferível, de cada qual.
Podemos ajudar a diminuir-lhe o peso, não a transferi-la de ombros". A agitação
entre os pacientes era geral. Rápidas flechadas de forte teor vibratório
alcançavam os rapazes, fazendo-os estremecer. O motorista subitamente
apresentou uma fácies de loucura e, trêmulo, saiu dizendo coisas desconexas:
fora atender aos que o chamavam sob chuvas de blasfêmias e acusações
impróprias. Tendo sabido, pela Polícia, que ele havia ingerido alta dose de drogas,
seus pais ficaram magoados e revoltados. De todos, apenas Fábio e outro amigo
foram poupados à presença do cadáver e às cenas fortes que se desenrolaram
antes e durante o sepultamento. Desperta-se, cada dia, com os recursos morais
com que se repousa à noite. Além do corpo, cada Espírito acorda conforme o
amanhecer que preparou para si mesmo. (Cap. 12, pp. 95 e 96)
54
PAINÉIS DA OBSESSÃO
PREFÁCIO
A conduta mental promove a saúde ou a doença - Na raiz de todas as
enfermidades que sitiam o homem encontramos, como causa preponderante, o
desequilíbrio dele próprio. O Espírito é o modelador dos equipamentos de que se
utilizará na reencarnação. Assim sendo, desdobra as células da vesícula seminal
sobre as matrizes vibratórias do perispírito, dando surgimento aos folhetos
blastodérmicos que se encarregam de compor os tubos intestinal e nervoso, os
tecidos cutâneos e todos os elementos constitutivos das organizações física e psíquica. São bilhões de seres microscópicos, individualizados, que trabalham sob o
comando da mente, que retrata as aquisições anteriores, que cumpre aprimorar ou
corrigir. Cada um desses seres que se ajustam perfeitamente aos implementos
vibratórios da alma, emite e capta irradiações específicas, em forma de oscilações
eletromagnéticas, que compõem o quadro da individualidade humana. Em razão
da conduta mental, as células são estimuladas ou bombardeadas pelos fluxos dos
interesses que lhe aprazem, promovendo a saúde ou dando origem aos desequilíbrios que decorrem da inarmonia, quando essas unidades em estado de
mitose degeneram, oferecendo campo às bactérias patológicas que se instalam
vencendo os fatores imunológicos, desativados ou enfraquecidos pelas ondas
contínuas de mau humor, pessimismo, revolta, ódio, ciúme, lubricidade e viciações
de qualquer natureza que se transformam em poderosos agentes da perturbação
e do sofrimento. No caso dos fenômenos teratológicos das patogenias congênitas,
encontramos o Espírito infrator encarcerado na organização que desrespeitou
impunemente, quando a colocou a serviço da irresponsabilidade ou da alucinação.
Problemas de graves mutilações e deficiências, enfermidades irreversíveis surgem
como efeitos da culpa guardada no campo da consciência, em forma de
arrependimentos tardios pelas ações nefastas antes praticadas. (Painéis da
obsessão, pp. 7 e 8)
O papel do obsidiado é fundamental à própria cura - Neste capítulo, o das
culpas, origina-se o fator causal para a injunção obsessiva; daí porque só existem
obsidiados porque há dívidas a resgatar. A culpa, consciente ou
inconscientemente instalada na casa mental, emite ondas que sintonizam com
inteligências doentias, habilitando-se a intercâmbios mórbidos. A obsessão resulta
de um conúbio por afinidade de ambos os parceiros. O reflexo de uma ação gera
reflexo equivalente. Toda vez que uma atitude agride, recebe uma resposta de
violência, tanto quanto, se o endividado se apresenta forrado de sadias intenções
para o ressarcimento do débito, encontra benevolência e compreensão para
recuperar-se. Nas obsessões entre encarnados e desencarnados, estes últimos,
identificando a irradiação enfermiça do devedor, porque são também infelizes,
iniciam o cerco ao adversário do passado, através de imagens mediante as quais
se fazem notados, não precisando para isso de palavras. Insinuam-se, assim, com
insistência até estabelecerem o intercâmbio que passam a comandar. De início, é
uma vaga idéia que assoma, e depois se repete com insistência, até insculpir no
receptor o clichê perturbante que dá início ao desajuste grave. Não existe,
portanto, obsessão causada por um dos litigantes, se não houver sintonia perfeita
do outro. Quanto maior for a permanência do intercâmbio com o hospedeiro
55
domiciliado no corpo, mais profunda se tornará a indução obsessiva, levando à
alucinação total. E' nessa fase -- em que a vítima se rende às idéias infelizes do
outro -- que se originam os simultâneos desequilíbrios orgânicos e psíquicos de
variada classificação. A mente, viciada e aturdida pelas ondas perturbadoras que
capta do obsessor, perde o controle harmônico automático sobre as células,
facultando que as bactérias patológicas proliferem, dominadoras. Tal inarmonia
propicia a degenerescência celular em formas de cânceres, tuberculose,
hanseníase e outras doenças de etiopatogenias complexas. Só a radical mudança
de comportamento do obsidiado resolve, em definitivo, o problema da obsessão.
(Painéis da obsessão, pp. 8 e 9)
O materialismo favorece o suicídio - O materialismo, na atual conjuntura
moral e social do planeta, tem respondido por alta carga de compromissos
infelizes, visto que, negando os valores éticos da vida, incita o indivíduo ao
imediatismo do prazer a qualquer preço e tira do espírito os estímulos da coragem
nobre, facultando assim o desbordar das paixões violentas, que irrompem
alucinadas em caudais de revolta e desajuste. Preconizando da vida somente a
utilização da matéria, estabelece a guerra pela conquista do gozo, de que o
egoísmo se faz elemento essencial. Faltando, porém, os recursos para os
cometimentos que persegue, arroja o homem ao crime, em razão de assentar os
seus valores no jogo das coisas a serem conquistadas, aumentando as frestas
das competições insanas, em que a astúcia e a deslealdade assumem preponderância em forma de comportamento do ser. Certo, há pessoas que militam nas
hostes do materialismo e mantêm uma filosofia existencial digna e uma estrutura
ética respeitável. Mas a doutrina, em si mesma, anulando as esperanças de
sobrevivência, abrevia as metas da vida e retira as resistências morais diante do
sofrimento e das incertezas, dos acontecimentos desastrosos e das insatisfações
de variada gênese. Desarmado de recursos otimistas e sem esperança, o homem
não vê outra alternativa, senão o suicídio, quando chamado a testemunhos morais
para os quais está despreparado. Incluem-se também aqui os que, desestruturados por fatores sociais, culturais, econômicos e emocionais, embora
catalogados como membros de qualquer igreja, se deixam conduzir por atitudes
negadoras, em franco processo de entrega materialista. Emocionalmente frágeis,
em presença de qualquer desafio tombam e diante de qualquer infortúnio
desfalecem, porquanto não se dão ao trabalho de reflexionar sobre as finalidades
da existência física, vivendo, não raro, em expressões primarismo automatista das
necessidades primeiras, sem mais altos vôos do pensamento ou da emoção...
(Painéis da obsessão, pp. 9 a 11))
O suicídio é perfeitamente evitável - Uma outra larga faixa dos homens se
encontra em vinculação com o processo revolucionário do momento, em que
filosofias apressadas e doutrinas ligeiras empolgam os aturdidos novos fiéis, para
logo os abandonarem sem as bases sólidas de sustentação emocional, com que
enfrentariam as inevitáveis vicissitudes que fazem parte do mecanismo da
evolução na escola terrena. Sem os exercícios da reflexão mais profunda, sem os
hábitos salutares da edificação do bem em si mesmos, sem a constante da prece
como intercâmbio de forças parafísicas, derrapam nas atitudes-surpresa, avançando para o suicídio. E o fazem de um salto, quando excitados ou em profunda
depressão, ou logram alcançá-lo mediante o largo roteiro da alienação em
56
quadros psicóticos, neuróticos, esquizofrênicos... A princípio, o processo, porque
instalado nas matrizes da personalidade em decorrência de vidas passadas
malogradas, apresenta predisposições que se concretizam em patologias
obsidentes que se vulgarizam e se alastram, dando lugar a uma sociedade
ansiosa, angustiada, assinalada por distonias graves... Não desconsiderando os
fenômenos de compulsão suicida e de psicoses profundas, pululam os intercursos
obsessivos em verdadeiras epidemias. No início, é uma idéia que se insinua;
doutras vezes, são um relâmpago fulgurante na noite escura dos sofrimentos,
como solução libertadora. Fixa-se, depois, o pensamento infeliz que se adentra,
domina os painéis da mente e comanda o comportamento, assinalando o
autocídio como a melhor atitude ante problemas e desafios. Com o tempo, advém
o monoideísmo, em torno do qual giram as demais aspirações que cedem lugar ao
dominador psíquico, agora senhor da área do raciocínio que se apaga, para dar
campo ao gesto tresvariado, sem retorno... A obsessão é clamorosa enfermidade
social que domina o moderno pensamento -- que desborda do império de fatores
dissolventes, elaborados pela mecânica do materialismo disfarçado de idealismos
voluptuosos que incendeiam mentes e anestesiam sentimentos. A reflexão e o
exame da sobrevivência do Espírito, o posicionamento numa ética cristã, o estudo
da ciência e da filosofia espírita constituem seguras diretrizes para conduzir a
mente com equilíbrio, preservando as emoções com as quais o homem se equipa
com segurança para prosseguir na escala evolutiva. Conflitos, que trazemos do
passado ou das experiências de hoje, fazem parte da área de crescimento pessoal
de cada Espírito, devendo ser liberados através da ação positiva, diluídos no bem,
sublimados pelas atividades do idealismo superior, antes que constituam
impedimentos ao avanço, freio no processo de crescimento, amarra constritora ou
campo para a fixação de idéias obsessivas. Cada suicida em potencial necessita
de apoio fraternal, terapia espiritual, compreensão moral de quantos o cercam e
assistência médica especializada; contudo, é ao paciente que compete a parte
mais importante e decisiva, que é, de início, a mudança de atitude mental perante
a vida e, logo, o esforço por melhorar-se moralmente. (Painéis da obsessão, pp.
11 e 12)
Objeto deste livro - Feito de painéis que retratam obsessões, este livro
procura demonstrar como ao lado do desequilíbrio emocional, causado pelos
perturbadores do além-túmulo, a tuberculose mais facilmente se manifesta em
razão do bombardeio sofrido pelos macrófagos -- degenerados pela contínua ação
mental leviana do próprio paciente e pela intoxicação por sucessivas ondas
mentais desagregadoras do seu perseguidor --, o que favorece a instalação e
virulência do bacilo de Koch. (N.R.: Descoberto em 1888, o bacilo deve seu nome
a Robert Koch, médico alemão {1843--1910}, ganhador do Prêmio Nobel de 1905.)
Nesta obra, Manoel P. de Miranda examina ainda ocorrências diversas em que a
obsessão se encontra presente, bem como as técnicas e terapias espirituais
aplicadas, nem sempre aceitas ou assimiladas pelos enfermos de ambos os lados
da vida. As personagens centrais da narrativa eram conhecedoras da Doutrina
Espírita, o que não impediu tombassem nas ciladas que lhes foram armadas por
seus inimigos ou criadas por elas mesmas. A crença racional e o conhecimento
ajudam muito, quando o indivíduo se resolve honestamente a vivê-los. Mas não
representam recurso de imunização, se aquele que conhece não aplica, na
vivência, as informações que possui. Dr. Bezerra de Menezes, em mensagem
57
psicografada por Chico Xavier, assevera que os painéis da obsessão pintados por
Manoel P. de Miranda assemelham-se a chapas radiográficas revelando largos
traços da doença espiritual de todos os séculos -- a obsessão, enfermidade quase
sempre oculta nos escaninhos do ser. Divulgar esses painéis, pela feição de aviso
e socorro que expressam -- afirma Dr. Bezerra -- "é para nós um nobre dever".
(Painéis da obsessão, pp. 13 a 16)
58
PAINÉIS DA OBSESSÃO
MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
( capítulos 6 ,7 e 11.)
4. O débito segue sempre o endividado - Valendo-se da oportunidade de
compreender melhor os fatos atinentes ao caso Argos, Manoel P. de Miranda
perguntou à Irmã Angélica se a enfermidade do esposo de Áurea resultara da
ação obsessiva de seus adversários desencarnados. A Instrutora, antes de
responder diretamente à pergunta, explicou que todos nós somos o resultado das
experiências adquiridas pela vivência no campo da evolução. Há uma larga
estrada que ficou para trás e há um imenso caminho a percorrer, mas ninguém
logra avançar com êxito se não rompe as cadeias com a retaguarda, na qual estão
as marcas do nosso trânsito. Para conseguir o que nos aprazia, não trepidávamos
em ferir, chocar, destruir, infelicitar. Renovando a paisagem mental, mas com as
almas mutiladas pelos delitos praticados, mudamos a forma de pensar, mas não a
de agir. Muitos se reencarnam olvidando aqueles que lhes padeceram a
impiedade, e arrojam-se em novas aventuras constrangedoras. Assim,
defrontamos criaturas distraídas que esperam receber sem dar; que contam com o
perdão para suas faltas, mas não perdoam; que esperam carinho, e não gostam
de o retribuir; que admiram o trabalho, desde que não se dediquem a ele; que
teorizam sobre muita coisa, não indo além do verbalismo... Desse modo, iludemse mas não convencem a ninguém. Irmã Angélica informou então que Argos
deixou no passado graves compromissos, mas, desejando, honestamente, crescer
para o Bem, granjeou a oportunidade que vinha desfrutando e que agora se lhe
alongava promissora... Ele fora advertido, no entanto, quanto ao natural impositivo
de que, aonde vai o endividado, o débito vai com ele, do mesmo modo que a
sombra acompanha o corpo que a projeta. (Cap. 6, pp. 46 e 47)
5. E' rara a doença que não tenha componente espiritual - Ciente de que
seus adversários do pretérito estariam próximos, cabia a Argos desenvolver um
sério programa de iluminação interior apoiado na ação honesta, sem disfarces
nem pieguismos, a fim de ressarcir erros e comprovar aos inimigos espirituais a
autenticidade de propósitos na sua mudança de comportamento, com o que
conseguiria a modificação interior de uns e o perdão de outros. Os atos infelizes,
deliberadamente praticados, em razão da força mental de que necessitam,
destroem os tecidos sutis do perispírito, os quais, ressentindo-se do desconcerto,
deixarão matrizes na futura forma física, em que se manifestarão as deficiências
purificadoras. A queda do tom vibratório específico permitirá , então, que os
envolvidos no fato, no tempo e no espaço, próximos ou não, se vinculem pelo
processo de uma sintonia automática de que não se furtarão. Estabelecem-se aí
as enfermidades de qualquer porte. Os fatores imunológicos do organismo, padecendo a disritmia vibratória que os envolve, são vencidos por bactérias, vírus e
toda a sorte de micróbios patogênicos que logo se desenvolvem, dando gênese às
doenças físicas. Por sua vez, na área mental, os conflitos, as mágoas, os ódios
59
acerbos, as ambições tresvariadas e os tormentosos delitos ocultos, quando da
reencarnação, por estarem ínsitos no Espírito endividado, respondem pelas
distonias psíquicas e alienações mais variadas. Acrescente-se a isso a presença
dos cobradores desencarnados, cuja ação mental encontra perfeito acoplamento
na paisagem psicológica daqueles a quem perseguem, e teremos instalada a
constrição obsessiva. Eis porque é rara a enfermidade que não conte com a
presença de um componente espiritual, quando não seja diretamente o seu efeito.
Corpo e mente refletem a realidade espiritual de cada criatura. "Argos -- informou
Angélica -- reencarnou com a região pulmonar descompensada, em face do sério
comprometimento no qual se enleou, ao mesmo tempo com a mente aturdida,
lutando contra o ressumar das reminiscências que, de quando em quando, o
assaltam e a consciência que tem daquilo que lhe cumpre realizar." "Podemos
afirmar que o desencadear da sua enfermidade se deveu a fatores fisiológicos,
mas foi precipitado pela ação pertinaz de companheiros desencarnados",
esclareceu a Benfeitora, aditando que há enfermidades cujos fatores
propiciatórios são bem conhecidos, ao lado de outras em que os enfermos
absorvem fluidos desarmonizados e destrutivos de Espíritos desencarnados com
os quais se vinculam, dando campo a uma sintonia vigorosa que permite a
transmissão das sensações e dores e que, se não atendidas em tempo,
convertem-se em enfermidades reais. Trata-se de verdadeiros fenômenos de
incorporação, qual ocorre na psicofonia atormentada e consciente, e isso é mais
habitual do que se imagina. "Somente quando o homem se der conta da finalidade
da vida, na Terra, e procurar modificar as suas atitudes -- asseverou Angélica --, é
que se renovará a paisagem que, por enquanto, se lhe faz campo de conquistas
ao peso da dor e da amargura, já que lhe não apraz ainda crescer pelo amor,
nem pelo serviço do dever para com o Bem." (Cap. 6, pp. 48 a 50)
6. O caso Ruth Maria, a gestante enferma - Philomeno foi convidado por Dr.
Arnaldo Lustoza a assistir, no centro cirúrgico, a uma ocorrência de grave
significação. Uma jovem de aproximadamente vinte e cinco anos de idade,
seriamente vencida pela tuberculose, encontrava-se em trabalho de parto. Seu
estado de deperecimento era visível e tudo indicava que a jovem não teria
resistência para a délivrance. Tratava-se de Ruth Maria, que vinha de um passado
espiritual marcado por extravagâncias na área sexual e por abusos outros. Cedo
experimentou a constrição pertinaz de alguma das suas vítimas, especialmente de
um ex-companheiro vilmente traído e apunhalado, enquanto dormia, num
simulacro que ela preparou para dar idéia de latrocínio. O crime passara
despercebido, mas não ficou esquecido por aquele que o sofreu. Desperto no
além-túmulo, Francis buscou-a para o desforço, incendiado pelo ódio. Embora a
tenha reencontrado no corpo físico, esperou que ela retornasse à vida espiritual,
onde, em pugna com outros adversários da invigilante, dilapidou-a por mais de
trinta anos, em vampirização impiedosa e punições outras que a exauriram.
Recambiada à reencarnação, sem qualquer título de enobrecimento, que desperdiçara nos vícios e no gozo de uma vida frívola e dourada, foi recebida com
desagrado por antiga companheira de dissipações, ora habitando numa favela,
que se lhe tornou mãe carnal, desprezível e indiferente, relegando-a a uma Casa
de Caridade, onde foi deixada à porta, nos primeiros meses do novo corpo. Nesse
Lar, desde cedo Ruth Maria revelou-se uma criança frágil, silenciosa,
ensimesmada, que sofria as reminiscências inconscientes do padecimento nas
60
regiões mais infelizes da erraticidade. Seus inimigos não a deixaram, perturbandolhe o sistema nervoso e tornando-a agressiva por ocasião da puberdade, o que
degenerava num clima de antipatia e desagrado por parte daqueles que surgiram
no seu caminho na condição de benfeitores e amigos. (Cap. 7, pp. 51 a 53)
7. Na obra do bem não se deve desistir nunca - Ruth Maria, em razão do
mau uso da inteligência na vida passada, viera assinalada por dificuldades de
raciocínio e de memorização, embora não chegasse a ser uma retardada mental.
Mesmo assim, adaptou-se à aprendizagem artesanal, revelando aptidão para a
costura, com o que se preparou para viver fora daquele Abrigo, quando
alcançasse a maioridade. Atormentada pelas lembranças inditosas e pela
presença dos inimigos, tornou-se então motivo de constrangimento na Instituição,
levando os trabalhadores da Casa a anelarem pelo seu desligamento logo que
atingisse a idade-limite. Dr. Arnaldo aproveitou o ensejo para asseverar que nas
Casas de Beneficência o trabalho é bênção maior para aqueles que o desenvolvem. Muitas vezes, esses companheiros caem em desânimo diante dos resultados, às vezes decepcionantes, bem diferentes do que esperavam. Esforçamse, esfalfam-se; no entanto, os beneficiários, salvo raras exceções, tornam-se
exigentes, ingratos e difamadores, assumindo atitudes que insuflam revolta e
malquerença. "Ouvimos pessoas dedicadas ao bem -- informou Dr. Arnaldo -- formulando doridas interrogações sobre suas possíveis falhas e fracassos, impelidas
à desistência por falta do estímulo daqueles que são ou foram socorridos pela sua
dedicação e renúncia. Sucede que os doadores de hoje são os usurpadores de
ontem em recuperação; anteriores servidores desastrados, ora honestamente
arrependidos, fruem de paz com a feliz oportunidade de realização; formam os
grupos de obreiros que despertaram para servir, antes que para receber, já que
não devem guardar qualquer mágoa diante da ingratidão ou da ofensa dos seus
pupilos transitórios, mais se aprimorando, lapidando as arestas morais e
crescendo para Deus mediante o trabalho libertador." Não devem, por isso,
desanimar, nem desistir jamais. Na prece, na meditação, na leitura edificante e
nos exemplos dos heróis de todos os matizes encontrarão força e inspiração para
prosseguirem, adquirindo o salário da harmonia de consciência pelo dever retamente cumprido, seguindo os passos do Doador não compreendido, o Mestre
Jesus... Como a parturiente gemia e chorava, Dr. Arnaldo, enquanto Philomeno
orava, aplicou-lhe recursos magnéticos, através de passes circulares e logo
depois longitudinais. Ruth Maria, com o esforço despendido, fazia-se visitada pela
pertinaz hemoptise, que mais a debilitava, e a equipe médica, apreensiva,
aguardava a reação positiva do próprio organismo. (Cap. 7, pp. 53 e 54)
8. No ventre de Ruth estava Francis, o verdugo - Dr. Arnaldo explicou que
Ruth Maria, ao sair do Lar amigo para trabalhar como costureira numa casa
especializada, não deixou afetos que a pudessem acompanhar no futuro.
Passando a enfrentar o mundo em toda a sua abertura e agressividade, as suas
antigas inclinações, estimuladas por Francis, que a perseguia, foram tomando-a e
fazendo-a derrapar em abusos que se encarregaram de trazê-la ao Sanatório. A
princípio era o desejo de um cigarro inocente ou de um aperitivo sem
conseqüência, para depois instalar-se nela uma volúpia obsessiva pelo tabagismo
e pelo alcoolismo em altas doses, que lhe sacrificaram o organismo, já bastante
enfraquecido. Simultaneamente, caiu nas armadilhas brutais do sexo sem amor,
61
completando-se o quadro do seu autocídio a largo prazo, com o que se
compraziam os verdugos da sua paz, os quais, conhecedores de algumas
técnicas de subjugação e de suas preferências, passaram a obsidiá-la fisicamente,
despertando-lhe insofreável prazer pelo fumo e pelo álcool, ao mesmo tempo em
que, comprimindo-lhe a genitália, em especial os ovários, desequilibraram-lhe a
função sexual. Perturbado pelo ódio e enceguecido pela vingança, Francis foi
assimilando as descargas das sensações que a vítima experimentava na usança
do sexo em desconcerto e, em face de sua ligação continuada, foi-se-lhe alojando
na madre, sofrendo, inconsciente, um processo de transformação perispiritual
como sói acontecer nos mecanismos da reencarnação. E' que o ser obsidente
termina, pela insânia que cultiva, sendo vítima das ciladas e sofrendo-lhe os
efeitos. Resultado: Ruth Maria engravidou e, como é óbvio, ali estava o
perseguidor-mor atado a sua vítima... Recolhida ao Sanatório com dois meses de
gestação, em deplorável estado e na condição de indigente, Ruth recebia ali toda
a assistência que o caso requeria, embora fosse previsível o abortamento natural,
o que acabou não ocorrendo, por mais que ela o desejasse. (Nesse momento,
duas Entidades amigas se acercaram da paciente. Uma delas fora mãe de Ruth
por diversas vezes.) A gestante deveria desencarnar de imediato, explicou Dr.
Arnaldo, devido à dupla perda de sangue, pelo parto e pela via oral, o que tornaria
a parada cardíaca iminente. O filho, porém, sobreviveria, rompendo-se a cadeia da
obsessão pertinaz, visto que o arrependimento e a esperança se instalavam na
mente e no sentimento de Ruth, que, diante dos últimos padecimentos mais
vigorosos experimentados no Sanatório, passou a recordar-se das lições ouvidas
no Abrigo onde fora criada, permitindo germinassem as sementes da fé ali
depositadas com carinho. (Cap. 7, pp. 54 a 56)
9. Ruth Maria dá à luz o bebê, e morre - Ruth Maria ficaria, assim, liberada
por um largo período dos demais inimigos, até que refizesse suas forças para
posterior ajuste através do amor e da benevolência, que dispõem de inesgotáveis
recursos para o equilíbrio dos desajustes e dissabores que propiciam desdita.
Francis voltava, então, a respirar na atmosfera terrestre num corpo concedido por
aquela a quem muito amou e tanto odiou... Logo que o bebê foi expelido do útero
materno, ocorreu a parada cardíaca e Ruth começou a desligar-se do corpo,
mergulhada em sono inquieto, inconsciente da ocorrência. "As sementes da
insensatez -- disse Dr. Arnaldo -- reproduzem-se sempre em modalidades
diferentes, até que a ordem, a temperança e a ação profícua lhes erradiquem a
cultura perniciosa nas criaturas. Eis porque, a todos aqueles a quem atendia,
Jesus jamais deixou de admoestar quanto aos atos futuros, impondo-lhes como
condição de paz, de permanência da saúde, que não voltassem a pecar, cometendo atentados contra o equilíbrio próprio, ou do próximo, ou da Vida." O
médico desencarnado reportou-se em seguida a dois casos mencionados pelo
Evangelista Marcos relativamente à ação de Jesus na cura de um mudo
endemoninhado que, expulso o Espírito que o atormentava, passou a falar, e de
um outro que, sob a ação obsessiva, estava cego e mudo. Após curado por Jesus,
ele passou a falar e a ver. Epilepsia, paralisia das pernas, hidropisia, deformação
orgânica, surdez sob ação espiritual enfermiça receberam do Mestre a cura,
mediante o afastamento do fator causal -- o Espírito obsessor. "Quando os
estudiosos dos fenômenos paranormais melhor penetrarem nos intrincados
mecanismos das causas morais que regem a vida -- acrescentou Dr. Arnaldo --,
62
mais facilmente elucidarão os graves problemas na área da saúde, quer física,
quer mental, compreendendo que, no Espírito, se encontram as chaves para
solucionar-se os aparentes enigmas do comportamento e da vida humana." "Pelos
hábitos mentais e morais, pela ação, o homem reúne os valores para a paz ou
elabora os grilhões a que se prende por tempo indefinido." Philomeno emocionouse com tais ensinamentos, porque esclareciam dúvidas por ele trazidas da Terra
acerca do valor da fluidoterapia no tratamento das enfermos portadores das
chamadas doenças fantasmas. (Cap. 7, pp. 57 e 58)
5. O valor terapêutico da oração – Um novo paciente, em estado
muito grave, dera entrada no Sanatório. Tratava-se de um homem desgastado,
vítima da soez doença e de outros fatores sócio-econômico que contribuíram para
o seu mais rápido deperecimento orgânico. Era Valtércio, que deveria estar com
cerca de trinta e cinco anos, apesar da aparência envelhecida. Irmã Angélica logo
se acercou do enfermo, exclamando: "Graças a Deus! Ainda é possível auxiliar o
nosso Valtércio”. Ato contínuo, ela valeu-se da oração silenciosa, enquanto
Bernardo o acudiu com passes de dispersão fluídica, a princípio, e logo depois,
em movimentos rítmicos, circulares, objetivando a área cárdio-pulmonar, atendeuo com energias especiais. A reação do enfermo foi imediata. A transmissão de
forças fluídicas e a absorção das energias canalizadas pela prece constituíam-lhe
alta carga de recursos terapêuticos a estimularem os campos vitais encarregados
de aglutinar e fomentar o surgimento das células para o milagre da saúde. Como
Valtércio adormecera, Irmã Angélica se retirou, informando, antes, que o
atendimento ao enfermo, com vistas a liberá-lo da conjuntura espiritual negativa
que o estiolava, continuaria à noite. A notícia de que Valtércio padecia de
perturbação espiritual surpreendeu Philomeno, porque ele não havia percebido
qualquer Entidade perniciosa no seu campo de irradiação perispiritual. Dr.
Arnaldo, notando-lhe a perplexidade, socorreu-o, então, com as explicações
necessárias. ( Cap. 11, pp. 81 e 82. )
6. O caso Valtércio – O enfermo, conforme Dr. Arnaldo explicou, vinha de
um processo penoso na área espiritual, que assumia então proporções
gigantescas. A doença, que se alojou dois anos antes, alcançava o seu clímax em
razão da falta de recursos médicos e alimentares que a pudessem deter no
momento próprio. Com problemas domésticos, Valtércio construiu um quadro de
pessimismo mental e, com a desarmonia que se lhe instalou, corrosiva, a desferir
vibrações deletérias que completaram o desajuste e a destruição das frágeis
reservas físicas, permitindo a instalação e virulência devastadora da tuberculose
pulmonar. Logicamente, suas aflições atuais decorriam de suas atitudes em outras
vidas. Nessa conjuntura, desempenha papel de relevo a presença de ferrenhos
adversários desencarnados, entre os quais se destaca um impiedoso cobrador
que se imiscuiu na sua vida, terminando por imantar-se a ele e a subjugá-lo em
violenta vampirização, de tal modo pertinaz, que se justapôs à massa física, numa
quase simbiose parasitária que o condenava à desencarnação imediata, caso não
recebesse competente resistência. O mecanismo dessa parasitose, esclareceu o
médico, é semelhante ao que ocorre no reino vegetal, em que o parasita se aloja
em qualquer parte do receptáculo que lhe recebe a invasão, começando aí a
absorver a seiva que o nutre e desenvolve, propiciando um crescimento que
constringe o hospedeiro, com raízes vigorosas, e, no fim, acaba matando-o pela
63
absorção da vitalidade... No homem, inicialmente, o hóspede espiritual, movido
pela morbidez do ódio ou do amor insano, ou por outros sentimentos, envolve a
casa mental do futuro parceiro, enviando-lhe mensagens persistentes, em
contínuas tentativas telepáticas, até que sejam captadas as primeiras induções,
que abrirão o campo a incursões mais ousadas e vigorosas. A idéia esporádica,
mas persistente, vai-se fixando no receptor que, de início, não se dá conta,
especialmente se possui predisposição para a morbidez, se é psiquicamente
imaturo, se se compraz por cultivar pensamentos pessimistas, derrotistas e
viciosos, passando à aceitação e ampliação do pensamento negativo que lhe
chega. Nessa fase já está instalado o clima da obsessão que, não encontrando
resistência, se expande, porque o invasor vai-se impondo à vítima que o recebe
com certa satisfação, convivendo com a onda mental dominadora. Ao largo do
tempo, o obsidiado se aliena dos demais objetivos da vida, permanecendo em
fixação interior do pensamento que o constringe, cedendo-lhe a área da razão, do
discernimento e deixando-se desvitalizar. Quando se infiltram as forças do
hóspede na seiva psíquica do anfitrião, o desencarnado cai na armadilha que
preparou, porque passa a viver as sensações e as emoções, bem como os
conflitos do seu subjugado. Nesse estágio, raramente fica a ligação apenas no
campo psíquico, porque o invasor se assenhoreia das forças físicas do paciente,
através do perispírito, humanizando-se outra vez, isto é, voltando a vivenciar as
conjunturas da realidade carnal. O hospedeiro então deperece, enquanto o
hóspede se abastece, facultando a instalação de doenças ou a piora delas, caso o
indivíduo já se encontre enfermo. (Cap. 11, pp. 83 e 84. )
7. Os riscos da simbiose parasitária – A simbiose transforma-se também
numa obsessão física, informou o Dr. Arnaldo, porque o Espírito adere à câmara
orgânica, explorando-lhe a vitalidade e acoplando-se aos fulcros perispirituais do
encarnado, em doloroso e destruidor conúbio. O afastamento puro e simples do
agente obsessivo produz, normalmente, a desencarnação do paciente que lhe
sofre a falta e, porque desfalcado de energias mantenedoras da vida fisiológica,
rompem-se-lhe os laços que atam o Espírito à matéria, advindo a morte desta. O
obsessor, por sua vez, tomba, carregado do tônus vital que foi usurpado, em um
processo parecido a nova desencarnação que o bloqueia temporariamente ou o
leva a uma hibernação transitória. "Todo aquele que defrauda a Lei -- asseverou
Dr. Arnaldo -- sofre as conseqüências do ato arbitrário, que, por sua vez, se
converte em automático agente punitivo, levando o infrator ao reajuste.” A parte os
fatores cármicos preponderantes ou propiciatórios, os processos obsessivos se
instalam porque os Espíritos imaturos não se esforçam por adquirir uma
capacidade doadora, conforme chama os psicólogos oblativa, saindo de si para
oferecer, para dar-se, gerando relacionamento efetivo, duradouros, simpáticos,
que produzem bônus de valor moral e de paz. O homem nasceu para amar. O
Espírito é criado para amar. Nos estágios iniciais, infantis, pelo egocentrismo de
que se faz objeto, mesmo quando se dispõe ao amor, quase sempre o avilta com
as paixões subalternas. O amor, que jaz inato em todas as criaturas, pode,
contudo, ser educado, desenvolvido, ampliando a sua capacidade doadora, a fim
de que se possa expressar em toda a pujança e grandeza. Para isso, é
imprescindível que o indivíduo se desenvolva em plenitude, não somente através
da área do sentimento, mas também da inteligência e da razão, amadurecendo a
personalidade. As pessoas tornam-se presas fácies dos seus antigos comparsas,
64
tombando nos processos variados de alienações obsessivas, porque, além de se
descurarem da observância espiritual da existência, mediante atitudes salutares,
comportamento equilibrado e vida mental enriquecida pela prece, pela reflexão,
não se esforçam por libertar-se dos aborrecimentos e problemas desgastantes,
mediante a aplicação de recursos físicos e mentais, por acomodação preguiçosa
ou por dependência emotiva, infantil, que sempre transfere responsabilidades para
os outros e prazeres para si. Nas pessoas em que o hábito de bem pensar é
fugidio ou raro, porque a mente permanece em desconcerto, rica de imagens
perturbadoras e recordações de teor prejudicial, mais facilmente os parasitas
espirituais encontram campo para se instalar, desenvolvendo suas metas infelizes.
A vontade disciplinada e o hábito da concentração superior armam o homem para
enfrentar as mil vicissitudes que afronta na sua escalada evolutiva. Não há
milagre! ( Cap. 11, pp. 85 e 86. )
8. Como prevenir as obsessões – A concentração positiva, explicou Dr.
Arnaldo, libera a mente dos clichês viciosos, próprios ou recebidos de outras
mentes como do meio em que vive, já que todos somos sensíveis ao ambiente no
qual nos movimentamos. Por adaptação às ocorrências do dia-a-dia o homem se
deixa arrastar pela correnteza dos acontecimentos, sem despertar o pensamento
para que o intelecto raciocine com objetividade e discernimento... A preguiça
mental é um polo de captação de induções obsessivas pelo princípio da aceitação
irracional de tudo quanto o atinge. Cabe ao homem que pensa dar plasticidade ao
raciocínio, ampliando o campo das idéias e renovando-as com o aprimoramento
da possibilidade de absorver os elementos salutares que o enriquecem de
sabedoria e paz íntima. Com o tempo, a capacidade de discernir dota-o com a
aptidão da escolha dos valores que o impulsionam para mais altas aspirações,
com plena libertação dos vícios de toda natureza, inocente como uma criança, isto
é, sem os tormentos da insatisfação e equilibrado nas aspirações, como um sábio
que já se resolveu pela conquista, em harmonia, daquilo que lhe é melhor.
"Podemos chamar a essa atitude de psicoterapia preventiva ou tratamento para as
obsessões”, asseverou Dr. Arnaldo. Concluindo, o médico explicou que nas
enfermidades que acometem as criaturas humanas, em razão do passado
espiritual delas mesmas e em fase da atual situação moral do planeta,
normalmente encontramos interferências de Entidades enfermas, perturbadoras e
vingativas, sediada além das fronteiras físicas. Assim, Valtércio, embora tomado
pela tuberculose, podia ser definido, tecnicamente, como um obsidiado. (Cap. 11,
pp. 87 e 88.
65
“LOUCURA E OBSESSÃO”
MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA
(Fonte: capítulos 9 e 10)
A reação dos obsessores costuma ser violenta - Findo o relato de
Emerenciana, esta aproximou-se de uma mesa preparada na sala reservada ao
culto geral, então encerrado para os encarnados, e convidou Dr. Bezerra, Miranda
e um senhor de pouco mais de setenta anos, de nome Felinto, para sentarem-se,
rogando ao Médico dos pobres que proferisse uma oração introdutória, mediante a
qual se iniciaria, ali, uma nova atividade. Terminada a prece, Emerenciana
explicou: “Como de hábito, quando encerrado o atendimento aos que vêm à
consulta, fazem-se necessárias algumas providências como prosseguimento ao
primeiro serviço prestado. Não desconhecemos que, nos casos de obsessão e
vampirização espiritual, estamos lidando com personalidades desencarnadas
psicopatas e portadoras de alta dose de insensibilidade emocional, que as tornam
perversas, inclementes. Hoje teremos, como de outras vezes, que destacar alguns
voluntários do nosso Grupo de trabalho socorrista, para dar assistência àqueles
que nos parecem mais vulneráveis às agressões dos seus exploradores psíquicos.
Desse modo, requisitamos ajuda para Carlos, Lício e Aderson, que prosseguirão
recebendo-a, no esforço que empreenderão em favor da própria saúde. Todos
sabemos que, reconhecendo-se descobertos, os agressores investem com súbita
irrupção de violência, num tentame final de desforço ou como medida de
apavoramento, impedindo que os pacientes retornem ao socorro de que
necessitam”. Miranda ficou admirado com a argúcia de Emerenciana, superior ao
que ele imaginara, porquanto, além da terapia curadora, não descuidara das
providências preventivas, numa atitude de grande sabedoria. “Agradecerei -- disse
a Mentora -- que me informem a respeito de qualquer ocorrência que pareça
anormal ou inusitada, em relação aos nossos irmãos que, a partir de agora,
passam a ser pupilos da nossa afetividade, sem desrespeito aos códigos legais
que os surpreenderam, exigindo-lhes a regularização das suas infrações.” “A
função dos assistentes, que os devem acompanhar, é de vigilantes, sem que
tomem quaisquer providências precipitadas em seu favor. Devem inspirar-lhes
alento e coragem, bom-humor e pensamentos superiores, de modo que possam
romper as ligações com os adversários aos quais se acostumaram.” (Loucura e
Obsessão, cap. 9, pp. 107 e 108.)
. Deus é Espírito e nessa condição devemos adorá-lo - Depois de explicar
qual seria a função dos assistentes junto aos enfermos tratados pela Casa,
Emerenciana nomeou para a tarefa seis Entidades que se postavam na primeira
fila, destacando-as, duas a duas, para cada necessitado. Tratava-se de bons
Espíritos, de mediana capacidade, igualmente vinculados às práticas da Casa. A
ação do bem, naquele Núcleo, era contínua. Não havia ali margem para a
ociosidade perigosa e muitos cooperadores espirituais se exercitavam no trabalho
da solidariedade, adquirindo os valores positivos que os elevariam, liberando-os
da canga dos instintos primários. Essa luta, como sabemos, é de todo momento e
deve ser empreendida através do esforço contínuo de auto-superação e de
66
dedicação ao próximo. Prosseguindo, a Benfeitora tornou a falar: “A nossa Casa
prossegue sendo a escola-oficina de educação e ação para todos nós. Aqui
descobrimos a necessidade de crescimento e de libertação dos costumes
primitivos, exercitando novos hábitos evolutivos com vistas ao futuro feliz”. “Jesus
nos ensinou que Deus é Espírito e como Espírito devemos adorá-lo. Apesar de a
libertação ser fenômeno de conquista demorada em razão dos muitos milênios em
que nos temos retido no primarismo, já nos é possível compreender que muitas
das práticas às quais nos aferramos são de valor secundário, porque vivemos em
campo de vibrações onde a mente é mais poderosa do que qualquer coisa ou
ritual, que apenas têm a finalidade de servir de ímã que atrai a atenção, de motivo
para a fixação do pensamento.” Emerenciana explicou então que, diante do atraso
em que muitos Espíritos teimam em reter-se, as ocorrências de absorção das
forças vivas das oferendas permaneciam em preponderância, exigindo contínua
alimentação, quando já seria possível superar tal necessidade, direcionando o
pensamento em sentido superior. “No começo -- informou -- sempre há
estranheza, para depois adaptação. Do contrário, a diferença entre os protetores e
os exploradores espirituais das criaturas humanas será pequena, dando margem
para que as paixões mais fortes irrompam, quando os primeiros se sintam ou se
creiam desprestigiados ou não homenageados como é do paladar da presunção e
da ignorância.” “Tal fato acontece amiúde em nossas fileiras, senão em nossa
Casa, noutras de ação semelhante. Há protetores que, à força das paixões de que
não se libertaram, transformam-se em exploradores de seus médiuns, a quem
subjugam, ou daqueles que lhes buscam auxílio, cobrando-lhes dependência e
submissão. Com o tempo, esquecem-se da necessidade de evoluir, satisfazendose com a situação em que se encontram, renteando com os impulsos primeiros e
sem coragem de transferir-se para os degraus superiores da vida. Realizam as
tarefas mais brutais, sem dar-se conta dos recursos que podem ser aplicados com
mais eficientes resultados.” (Loucura e Obsessão, cap. 9, pp. 109 e 110.)
O homem é a soma de experiências adquiridas ao longo dos milênios Fazendo uma analogia com o arado de tração humana e animal, que foi
substituído com largas vantagens pelo de força elétrica, Emerenciana esclareceu:
“Em nossa área de ação, o recurso para a substituição dos instrumentos é a
vontade pessoal, com a conseqüente aceitação da lei do progresso que a todos
propele para o superior e para a liberdade. Os nossos meios de auxílio não podem
ser semelhantes aos métodos de destruição de que os maus, em deplorável
estado de perturbação e materialidade, se utilizam. O fogo não se apaga com o
fogo. Como é verdade que o semelhante com o semelhante cura, na área da
terapia homeopática, o nosso semelhante, aplicado na doença de que padecem
as criaturas, é a movimentação daquelas forças, utilizando energias mais sutis,
tanto mais poderosas. Deus é, para nós, a Força Total e Criadora da Vida, que
nos permite entender a grandeza da Sua Obra, lentamente, crescendo em mente
e amor”. O silêncio no auditório era geral. Estavam ali cerca de sessenta
Entidades desencarnadas que operavam na Casa. Eram silvícolas brasileiros,
antigos ex-escravos e anteriores praticantes do culto afro no Brasil. A Mentora, ao
largo do tempo, assim fazendo, libertava-os das práticas ancestrais ainda
predominantes. “Saímos do eito da escravidão -- disse Emerenciana -- com
imenso reconhecimento às provas redentoras que nos lapidaram as arestas...
Evocamos aquele período com emoção e júbilo, preferindo conservar os
67
caracteres daquelas benditas oportunidades aos de quando delinqüimos. É justo
que assim se dê, o que não implica que se nos faça indispensável assim
prosseguir. Como não aceitamos o preconceito contra o homem negro ou índio, é
injustificável a mesma infeliz atitude contra o branco. Não foi a cor da pele que nos
levou ao delito, mas, sim, o atraso moral que nos caracterizava, naquela
experiência carnal. Tanto é verdade que, embora não hajamos adquirido o
sentimento do amor pleno, naquelas sociedades, conseguimos reunir outros
valores que nos são úteis, auxiliando-nos na melhor maneira de aplicar a
afetividade, para que não erremos por partidarismo e precipitação, em face da
ignorância dos desígnios divinos.” A Benfeitora lembrou-lhes que todos somos a
soma das experiências adquiridas em várias condições sociais e em países
diferentes, ao longo dos milênios. “Outrossim -- acrescentou ela --, constituímos
um grupo de companheiros de jornada e não mais escravos coagidos ao serviço,
como supõem erradamente muitos clientes encarnados que buscam nossos
recursos. Trabalhamos por amor ao próximo e também a nós mesmos, por
necessidade evolutiva, e o fazemos espontaneamente, por conseqüência do dever
mais elevado.” (Loucura e Obsessão, cap. 9, pp. 110 a 112.)
A magia é uma ciência-arte muito antiga - Emerenciana lembrou aos que a
ouviam que há quem, na sua ignorância presunçosa, exija a presença dos
protetores e lhes dá ordens expressas, atado à antiga dominação de senhor, de
que ainda não se libertou. “É um erro -- disse a Instrutora --, que nos cumpre
corrigir com bondade, porém, com decisão, auxiliando-o a crescer para a
igualdade, para a fraternidade e para a compreensão da verdade. Como não nos
devemos envergonhar das nossas existências mais humildes e, portanto, mais
proveitosas, delas nos não devemos orgulhar tampouco. Toda transição é
demorada; apesar disso, devemos esforçar-nos para vencê-la no mais curto prazo
possível.” “Cada passo dado, nesse sentido, é terreno, à frente, conquistado.”
Terminados os trabalhos, o amigo Felinto permaneceu com Miranda e Dr. Bezerra
em palestra edificante. Supervisionava ele, na Casa, as tarefas da chamada magia
branca aplicada em favor dos que eram vítimas das práticas fetichistas que para
ali acorriam, rogando que fossem desmanchados os trabalhos da magia negra.
Inquirido por Miranda a respeito da ação dos feitiços, Felinto esclareceu: “A magia
é uma ciência-arte tão antiga quanto as primeiras conquistas culturais do homem.
Reservada à intimidade dos santuários da antigüidade oriental, é o uso do
magnetismo, que começava a ser descoberto, da hipnose e do intercâmbio
mediúnico, que os próprios imortais desencarnados propiciaram aos homens. A
superlativa ignorância das leis vestiu essas práticas de rituais e fórmulas
ensinadas pelos Espíritos, a maioria deles constituída de presunçosos e
prepotentes, que se acreditavam deuses, exigindo sacrifícios humanos, animais,
vegetais, conforme o processo da evolução de cada povo... Conhecendo, através
do estudo e da repetição das experiências, a exteriorização magnética das
chamadas forças vivas da Natureza e dos seres, manipulavam-nas com grande
aparato, para impressionar, colhendo alguns resultados, que projetavam os
sacerdotes e quantos as praticavam”. “Pela mesma forma -- prosseguiu Felinto --,
percebeu-se que a aplicação de tais recursos podia ajudar ou entorpecer as
criaturas, promovendo-as ou perturbando-as, daí nascendo as duas correntes
referidas.” O amigo espiritual lembrou que as pessoas vivem dentro dos limites
que suas conquistas evolutivas lhes facultam. Assinalados mais pelas
68
necessidades do que pelas realizações superiores, todos possuímos disposições
naturais para mais fácil sintonia com as forças primárias e violentas. A maioria das
criaturas ainda reage mais a uma ação negativa com a qual facilmente sintoniza,
do que a um gesto, um ato sutil de afetividade, de gentileza. (Loucura e Obsessão,
cap. 9, pp. 113 a 115.)
Porque a magia negra atinge certas pessoas - É disso que decorre que nas
práticas da magia negra há sempre aqueles que se fazem receptivos. Consciência
de culpa inata, insegurança emocional, desajustes temperamentais, invigilância
moral, insatisfação pessoal, ociosidade mental, conduta irregular e os débitos
passados constituem campo vibratório propício à sintonia com as induções
mentais dos maus -- telepatia e telementalização perniciosas --, assim como as
ondas da magnetização de objetos ofertados para as práticas nefastas -imantações fluídicas -- e, por fim, a afinidade vibratória com os Espíritos perversos
e com os Encantados que se deixam utilizar, na sua ignorância, para estes fins
ignóbeis ou elevados. “Na cultura religiosa do passado e do presente -- disse
Felinto -- encontramos esses seres sob a denominação de devas, elementais,
fadas, gênios, silfos, elfos, djins, faunos... A senhora Helena Blavatsky fez uma
exaustiva pesquisa a tal respeito e os classificou largamente. Os cabalistas
também classificaram os Elementais mais evoluídos, encarregados do Ar, da
Terra, do Fogo e da Água, respectivamente, Gnomos, Sílfides, Salamandras e
Ondinas...” (N.R.: Houve aí um cochilo do autor: os Gnomos cuidam da Terra; os
Silfos e as Sílfides são os gênios do Ar.) Felinto afirmou, então, que esses seres
encontram-se em trânsito evolutivo, mediante as reencarnações entre o psiquismo
do Primata homini e o Homo sapiens, ainda destituídos de discernimento,
ingênuos e simples na sua estrutura espiritual íntima e que são utilizados pelos
Espíritos, encarnados ou não, para uma ou outra atividade, conforme tem
demonstrado a experiência nesse campo. Existem, ademais, Entidades que se
atribuem valores que não possuem e que chegam às raias da autofascinação,
assumindo a personificação de certas deidades e atirando-se, embriagadas de
presunção, em tais misteres. Lembrando que acima de tudo, e comandando todas
as ações, está o amor de Nosso Pai, sempre vigilante, Felinto acrescentou: “O
determinismo não é absoluto, em face dos recursos do livre-arbítrio que está
sempre alterando o destino e os rumos da vida. O renascimento, algumas
ocorrências e a desencarnação constituem fatalismo durante cada existência
corporal. Pode ser até que se encontre estabelecido o modo pelo qual deve
ocorrer a desencarnação do homem. Apesar disso, a invigilância, a precipitação, o
mau gênio podem levá-lo a um suicídio, que não estava programado, a um
acidente fatal, que a sua incúria provocou, ou, no sentido inverso, a conduta moral
e psíquica equilibrada, sadia, ativa no bem, pode alterar-lhe completamente, na
forma e no tempo, o ato desencarnatório”. (Loucura e Obsessão, cap. 9, pp. 115
e 116.)
Como desfazer o chamado feitiço ou magia negra - A conclusão
decorrente das explicações de Felinto era clara: a ocorrência nefasta, obsessiva,
perturbadora, se dará ou não, conforme a sintonia, a receptividade do indivíduo.
Todavia, não resta dúvida de que, seja qual for o resultado da ação de quem a
encaminhou para o mal, ocorrerá o “choque de retorno”, ou seja, volverá ao
agente o efeito da sua realização. Miranda perguntou-lhe, na seqüência, como ele
69
atuava para desmanchar o chamado feitiço ou magia negra. “Conhecendo as leis
dos fluidos, podemos, de algum modo -- respondeu Felinto --, manipulá-los,
conforme a sua constituição. Utilizamo-nos de alguns recursos e materiais que
foram objeto da magnetização para atrair os Espíritos, que se lhes imantaram, e
os defendem, usurpando-lhes energias, em caso de alimentos e plantas,
liberando-os da escravidão a que se atêm, inclusive, quando das grosseiras e
macabras absorções de energia animal... Embora não recorramos a expediente
idêntico no último caso, aplicamos forças fluídicas que os desconcertam
emocionalmente, mudando neles a dependência da forma alimentar a que se
subordinam, para outras expressões fomentadoras de vida, conhecidas por todos
nós... No passo seguinte, retemo-los em barreiras magnéticas e passamos à fase
da doutrinação, do esclarecimento, pois que o nosso objetivo é a libertação
espiritual do ser, não a mudança de lugar ou de forma, mantendo-o aprisionado...
Por fim, temos em mente os impositivos do mérito ou do demérito de cada
paciente, auxiliando-o, também, no seu processo de crescimento espiritual.”
Felinto explicou ter conhecimento também das técnicas de desobsessão de alta
eficiência, aplicadas nas Instituições Espíritas e que, segundo ele, constituem um
passo avançado na terapêutica de socorro aos sofredores de ambos os lados da
vida. “Dia vem -- aduziu o amigo espiritual -- e já se apresenta em suave
amanhecer, no qual Espíritos e homens, esclarecidos da realidade
compreenderão melhor a finalidade da vida, emergindo do barbarismo para a
civilização, da violência para a bondade, em todos os campos comportamentais,
não mais se fazendo necessários os cultos e práticas ainda em voga, por se
haverem, Espíritos e homens, erguido à compreensão e certeza de que só através
do amor e da educação se poderá fruir da felicidade real.” (Loucura e Obsessão,
cap. 9, pp. 116 a 118.)
. A viagem evolutiva lembra-nos uma estrada com várias vias secundárias No retorno às suas atividades habituais, Dr. Bezerra disse a Miranda que a viagem
evolutiva recorda-nos uma estrada que possui diversas vias secundárias que
aumentam a distância em relação ao destino. “Assinalada por vários sítios de
descanso e espairecimento para a contemplação da paisagem, pode ser
percorrida sem parada ou através de estágios... A meta será fatalmente
alcançada, embora a cada viajante seja facultado fazê-lo com maior ou menor
rapidez”, comentou o Mentor. “A Revelação Espírita é alta concessão que chega
ao homem moderno, auxiliando-o a apressar a marcha. Ainda não compreendida
na sua grandeza intrínseca, é a mais alta expressão da verdade ao homem
dirigida. Não obstante, são muitas as concessões de Deus, que constituem as
diversas Religiões, Doutrinas de filosofia ético-moral, seitas e crenças, como não
poderia deixar de ser. Uma coisa não invalida a outra. Quem alcança o planalto,
de forma alguma pode desconsiderar a planície e o vale onde esteve e de onde
saiu. Se é um homem sábio, envidará esforços para auxiliar os que por lá ainda
transitam. Se, porém, a presunção o ensoberbece, não conseguiu outros valores
éticos senão os que lhe granjearam a posição externa, a do corpo físico, sem a
correspondente altura espiritual para entender o profundo significado da conquista
realizada.” Dr. Bezerra disse que, por tais razões, não devemos subestimar o
esforço nobre dos que militam nas diferentes escolas e igrejas espiritualistas,
especialmente naquelas em que o mediunismo realiza logros muito positivos com
a comunicabilidade do Espírito, os esclarecimentos sobre a reencarnação e a
70
justiça de Deus apresentada mediante as leis de causa e efeito. “É do nosso dever
-- aduziu Dr. Bezerra -- alfabetizar o ignorante, esclarecê-lo e auxiliá-lo no seu
desenvolvimento intelecto-moral. Todavia, indo a ele, não é pedagógico nem
proveitoso falar-lhe de coisas extraordinárias, embora verdadeiras, de forma que
as não entenda, gerando antipatia e animosidade. Jesus veio ter com os homens
e utilizou-se da linguagem deles, das expressões que lhes eram familiares e dos
temas que os interessavam, apresentando o reino de Deus com tal psicologia de
amor, que passou a suplantar as outras cogitações, vindo a tornar-se a questão
mais palpitante, quando puderam entender a sua magnitude e perenidade.”
(Loucura e Obsessão, cap. 10, pp. 119 e 120.)
. Como podem as pessoas defender-se das agressões do mal - Depois de
dizer que tais assertivas causariam surpresa e até desagrado entre os
companheiros muito ortodoxos e que se consideram defensores da verdade, Dr.
Bezerra aditou: “Nesta faixa da evolução, na qual transitam bilhões de Espíritos,
todo o empenho deve ser dirigido no sentido de auxiliá-los, entendendo-lhes a
situação e ajudando-os a crescer, conforme, por sua vez, fazem conosco os
Mentores da Humanidade”. “Enquanto se discutem técnicas de socorro, o auxílio
chegará atrasado. São tantos os sofrimentos que grassam e de tão variada
gênese, que, na falta de atendimento específico, toda contribuição que os
minimiza e libera é de alto valor e muito proveitosa. Em nossa esfera de ação não
ocorrem milagres, que os não existem, apenas porque a morte nos desvestiu do
corpo de carne. Os hábitos e crenças arraigados permanecem, reunindo os
indivíduos em grupos e ideologias afins, qual sucede na área dos idiomas, com
aqueles que atravessam o portal da morte sem treino mental... A sabedoria divina,
a fim de a todos atender, permite que pululem os Núcleos próprios aqui e na
Terra, donde esses desencarnados têm dificuldade de afastar-se, graças à
imantação que os liga ao Planeta.” Miranda aproveitou o momento, que lhe
parecia oportuno, para perguntar ao Mentor como poderiam defender-se as
vítimas das práticas descritas pelo irmão Felinto, de que se utilizam os indivíduos
que desejam prejudicar o seu próximo. Dr. Bezerra respondeu, paciente: “A
inteireza moral é uma defesa para qualquer tipo de agressão, difícil de atingida; a
conduta digna irradia forças contrárias às investidas perniciosas; o hábito da prece
e da mentalização edificante aureola o ser de força repelente que dilui as energias
de baixo teor vibratório; a prática do bem fortalece os centros vitais do perispírito
que rechaça, mediante a exteriorização de suas moléculas, qualquer petardo
portador de carga danosa; o conhecimento das leis da Vida reveste o homem de
paz, levando-o a pensar nas questões superiores sem campo de sintonia para
com as ondas carregadas de paixão e vulgaridade...” (Loucura e Obsessão, cap.
10, pp. 121 a 123.)
. Não devemos chocar a nenhum Espírito - Miranda ficou intrigado com
essa resposta. Quer dizer que as pessoas que não possuam esses requisitos
estão sujeitas a sofrer os trabalhos do mal que as alcancem? “Meu amigo -esclareceu o Mentor --, todos aqueles que se encontram em desalinho, em
desatenção, estúrdios e frívolos, gozadores que exploram sem nada oferecer, os
maus e viciados, nem necessitarão que se lhes intentem prejudicar, pois que já se
encontram mergulhados no mal que cultivam, tornando-se receptivos aos
fenômenos com os quais afinam...” Miranda disse recordar-se de que, nas
71
reuniões mediúnicas de que participou quando encarnado, apareciam com certa
freqüência Espíritos que se diziam mandados para prejudicar certas pessoas,
narrando a forma como foram contratados e o que haviam ganho para o
cometimento, devendo receber a parte final, quando estivessem conhecidos os
resultados danosos de suas atividades. “Por diversas vezes -- referiu Miranda --,
acompanhei a técnica utilizada pelo dirigente José Petitinga, que após dialogar no
mesmo diapasão verbal, oferecia-lhes vantagens maiores, como a paz, o amparo
que pareciam necessitar, o alimento e o repouso a tanta faina, conseguindo, não
poucas vezes, persuadi-los a uma mudança de atitude. Induzido pelo diretor
espiritual, este exercia a hipnose e a ideoplastia, atendendo a tais equivocados
que ali eram acolhidos e, posteriormente, elucidados quanto à desnecessidade de
todos aqueles apetrechos ridículos e formalismos a que se sujeitavam.” Dr.
Bezerra admitiu que tal procedimento é recurso válido que pode ser aplicado em
casos análogos, acrescentando que, da mesma maneira que é contraproducente
informar ao desencarnado a sua situação espiritual, bruscamente, sem lhe dar
tempo mental para aceitar a idéia ou concluir, ele mesmo, pela sua ocorrência,
não é recomendável chocar a nenhum Espírito, intentando extirpar-lhe, a fórceps
de verbalismo agitado, crenças e superstições nele arraigadas. “Como ocorre com
os homens que devem ser reeducados em muitos hábitos e esclarecidos conforme
a sua capacidade de entendimento, no labor mediúnico de intercâmbio espiritual o
processo não pode ser diferente. Falar ao comunicante de forma que ele possa
compreender e vivenciar a informação, eis o método eficaz para os resultados
felizes.” (Loucura e Obsessão, cap. 10, pp. 123 e 124.)
Como tratar os indivíduos que se crêem enfeitiçados - Há pessoas,
informou Dr. Bezerra, que são apologistas da informação direta ao paciente sobre
o diagnóstico feito, mesmo quando grave e desesperador. A experiência, contudo,
tem demonstrado que a maioria dos resultados é sempre danosa para o próprio
enfermo, que, sem estrutura moral para o choque, tomba em depressões
irreversíveis, em suicídio injustificável, ou se autodestrói com a ação da mente
desalinhada e em revolta. “A terapêutica -- asseverou o Mentor -- é mais
importante do que o conhecimento da diagnose, facultando ao paciente lúcido
identificar a moléstia que sofre e, animado pelo médico, lutar, emocional e
psiquicamente, pela superação dela.” Como proceder, porém, com os indivíduos
que se crêem ou que realmente estejam enfeitiçados? A essa pergunta de
Miranda, respondeu Dr. Bezerra: “Infundindo-lhes confiança em Deus e em si
mesmos. Demonstrando-lhes que assim se encontram porque o querem, desde
que deles mesmos depende a libertação, induzindo-os à renovação mental e
moral, com a conseqüente alteração de conduta para melhor. Além disso, e
principalmente, esclarecê-los a respeito das Leis de Ação e Reação,
demonstrando que sofrem porque devem e que a sua recuperação exigir-lhes-á
correspondente esforço ao nível de gravidade em que se encontram.
Concomitantemente, encaminhá-los ao estudo do Espiritismo, que os auxiliará no
trabalho de libertação espiritual, armando-os de valores para as futuras lutas
evolutivas”. E se eles se encontrarem em tratamento em Núcleos de vinculação
afro-brasileira? “Sem produzir-lhes choques desnecessários, quanto à eficiência
do método utilizado ou na área da fé -- explicou Dr. Bezerra --, estimulá-los a dar
mais amplos passos, fazendo que busquem o esclarecimento espírita que liberta
para sempre, a fim de que, liberando-se de um problema, mas permanecendo nas
72
atitudes levianas com que se comprazem, não venham a cair em mais graves
dificuldades, de solução mais complicada e difícil. Liberando os obsessos e
enfermos da alma, das suas aflições, Jesus sempre recomendava uma terapia
preventiva, propondo: Não voltes a pecar, a fim de que não te aconteça algo pior.
Entendamos a palavra pecado de forma ampla e mais completa, como sendo todo
e qualquer desrespeito à ordem, atentado à vida e desequilíbrio moral íntimo...
Esse retorno às baixas vibrações atrai ondas equivalentes e companheiros do
mesmo teor.” Dito isto, o Mentor falou sobre o valor terapêutico das substâncias
que muitos enfermos usam em problemas dessa natureza, esclarecendo que a
ação sugestiva do fato é que mais contribui para o resultado buscado.
“Normalmente, as coisas têm o valor que se lhes empresta”, acrescentou o
Mentor, ilustrando o ensinamento com o caso do moço rico, narrado no
Evangelho, o qual parecia possuir todos os requisitos “para entrar no reino de
Deus”, mas não se havia ainda apartado do apego às coisas materiais, a que
emprestava mais importância do que os valores de sua fé. “Conforme
consideremos algo, em nossa vã cegueira ou claridade mental, para nós assim é.”
(Loucura e Obsessão, cap. 10, pp. 124 a 127.)
A influência da cor branca na prática da mediunidade - Miranda
aproveitou o
ensejo para inquirir o Dr. Bezerra a respeito de duas questões relativas à prática
do mediunismo: 1a) a idéia de que a cor branca é a ideal nessa prática, porque
atrairia os Espíritos Superiores; 2a) o efeito real dos defumadores. Dr. Bezerra
respondeu-lhe dizendo que, segundo algumas tradições e em determinados
povos, o branco é símbolo de pureza, mas, embora seja um tom mais higiênico e
absorva menos raios caloríferos, nenhuma influência vibratória exerce em
relação aos Espíritos, que, na verdade, sintonizam com as emanações da mente,
as irradiações da conduta. Se isso tivesse fundamento, seria cômodo para os
maus e astutos manterem a sua conduta interior irregular, bastando-lhes ostentar
trajes alvinitentes... “Os judeus -- afirmou Dr. Bezerra -- eram muito formais e
cuidavam em demasia da aparência, sendo por Jesus reprochados com
severidade, por Ele considerar mais importante a pureza interna do que a
convencional, a exterior, de muito fácil apresentação, em detrimento daquela, mais
difícil e respeitável. A vida íntima do homem oferece-lhe a credencial com que
marcha em qualquer direção, caracterizando-lhe a individualidade eterna.” No
tocante aos defumadores, Dr. Bezerra disse que não existe evidência de que o
fumo que se evola dos incensadores e dos vasilhames com brasas exerça ação
sobre os Espíritos perturbados, ignorantes ou perversos. “O odor agradável -comentou o Mentor -- perfuma o ambiente e, em algumas religiões, têm essas
práticas um significado simbólico, recordando as oferendas que os reis do Oriente
teriam apresentado a Jesus recém-nascido... As resinas e madeiras perfumadas
sempre foram queimadas em cerimônias festivas como fúnebres, para odorificar o
recinto. Entre os homens mais primitivos resultavam positivas as práticas, porque,
sugestionados com os efeitos que lhes atribuíam os ancestrais que se demoravam
no comércio espiritual com os seus, os Espíritos fugiam, apavorados. Ainda
remanescem alguns estados desse teor e muitos desencarnados em fixação com
as cerimônias antigas que lhes podem aceitar a aparente ação, fazendo-os
afastar-se das pessoas ou lugares com quem e onde se encontram...” Concluindo,
Dr. Bezerra reiterou que nenhuma força real emana de defumadores e incensos.
73
São sempre os atos os agentes da realidade de cada Espírito, na Terra ou fora
dela. Consciência tranqüila, como efeito de uma conduta digna, eis o que é
fundamental para se possuir um sentimento pacificado (Loucura e Obsessão, cap.
10, pp. 127 a 129.)
74
LOUCURA E OBSESSÃO
Capítulo: 24 - O Trágico Desfecho
Suicídio
A invigilância do homem sempre posterga as soluções - As atividades socorristas
prosseguiam sem cessar, e cada momento brindava a todos, especialmente a
Miranda, com experiências novas ricas de ensinamentos e convites constantes à
reflexão. Dr. Bezerra dedicara-se ao caso Carlos e, por extensão, a outros, com o
amor e devotamento de pai vigilante e abnegado, apesar das múltiplas tarefas que
desenvolvia. Certo dia, ao cair da tarde, apresentando sinais de preocupação, o
amorável Mentor convidou Miranda a seguir com ele até ao Necrotério da cidade,
para atenderem, em regime de urgência, um casal desolado. O ambiente era
tumultuado por Entidades de variada procedência, entre as quais se destacavam
Espíritos perversos e vampirizadores, com facies lupina, dependentes das
viciações psíquicas a que se entregavam, altercando umas com as outras, em
pandemônio assustador. Não obstante, havia também ali Espíritos afeiçoados ao
bem, que se dedicavam à proteção dos recém-desencarnados que pudessem
receber ajuda, tanto quanto aos seus despojos cadavéricos. Numa sala, atendida
por gentil profissional, estavam uma dama de meia idade, em aturdimento, e um
senhor, algo mais velho, visivelmente abatido, quase em estado de choque,
segurando duas laudas de papel, escritas, a punho, que lhe pendiam sobre o colo.
Miranda não teve dificuldade em identificar os combalidos. Tratava-se do
companheiro Joaquim Fernandes e sua esposa, ele afeiçoado médium receitista e
trabalhador de respeitável Agremiação Espírita, que Miranda conhecia bem, em
face dos seus multifários misteres sob a luz esplendorosa do Espiritismo. Ante a
surpresa do amigo, Dr. Bezerra explicou: “É, sim, o nosso devotado médium, que
experimenta o traspassar do punhal da aflição, difícil de ser superada. Um drama
antigo tem, nesta hora, infausto desfecho nesse senhor, cujas conseqüências se
arrastarão por muitos anos, qual vem acontecendo desde o eclodir das suas
primeiras manifestações. A invigilância do homem sempre posterga as soluções
que poderiam ser realizadas antes que se transformassem em dores acumuladas.
Pensando na vida, apenas do ponto de vista material, deseja fruir hoje, e chorar,
arrependido, num demorado amanhã, a renunciar agora, para beneficiar-se,
largamente, depois...” Dito isto, o Mentor propôs: “Leiamos a carta, embora eu já
esteja informado da ocorrência, ali narrada”. (Loucura e Obsessão, cap. 24, pp.
302 e 303.)
As lágrimas que nascem do coração diminuem as dores da alma - A
missiva, grafada com letra irregular, traduzindo o estado nervoso de quem a
escrevera, terminava em dura sentença com pedido comovedor de perdão.
Dirigida aos pais, após as palavras de amor profundo, ricas de ternura e dor,
culminava dizendo: “(...) Vocês me deram a vida corporal e sacrificaram-se por
toda a existência, a fim de que sua filha fosse honrada e feliz. Nunca mediram
esforços em favor da minha ventura primeiro, para, depois, a sua. Facultaram-me
o título universitário e o excelente trabalho a que me tenho entregue com
responsabilidade e consciência de dever. Devo-lhes tudo e amo-os com total
75
empenho da alma... Todavia, sofro muito, experimentando ignota, estranha dor
que me macera revelar-lhes. Sou frágil, nessa área, que é a do amor. Apesar de
jamais ele me haver faltado nos seus sentimentos a mim dirigidos, a adolescência
e a idade da razão levaram-me a buscá-lo em expressão diferente. Há pouco,
quando o encontrei, passei a viver, no mesmo momento, um céu e um inferno que
agora alcança o seu estado máximo. O homem, a quem amo e que me diz amar,
é, infelizmente, para mim, casado e pai generoso. O nosso, é um amor impossível
na Terra, exceto se nos dispusermos a fruí-lo no mar das lágrimas dos outros, que
não lhe merecem a deserção do lar... Fui forjada nos metais da dignidade que o
seu carinho de pais modelou no meu caráter... Não é necessário minudenciar mais
nada. Não podendo viver com ele, nem me sendo possível prosseguir sem ele,
retiro-me de cena, preferindo sofrer e fazer os seus corações amantíssimos
chorarem uma filha digna, a permanecer, para desespero de muitos, inclusive de
vocês, que pranteariam uma filha alucinada... Perdoem-me, anjos da minha vida.
Não pensem que ajo egoisticamente, esquecida do amor de vocês. Pelo contrário,
atuo em homenagem ao seu amor e por amor também. Não avalio, em
profundidade, a tragédia do suicídio. Tenho-o, na mente, há algum tempo, e não o
posso adiar mais, ou optarei pelo suicídio moral, que culminará, certamente, mais
tarde, nesta forma infeliz.... Ele, o homem amado, ficará tão surpreso com o meu
gesto tresvariado, quanto vocês estarão ao ler esta carta. Mais uma vez
abençoem-me e intercedam à Mãe de Jesus, que tanto sofreu, pela filha que os
ama, porém, não suporta mais viver...” Despedindo-se com palavras assinaladas
pela dor selvagem, a moça assinava, trêmula, o nome. Miranda, finda a leitura,
percebeu lágrimas nos olhos do afetuoso Dr. Bezerra, que envolveu os pais
desolados em energias calmantes, permitindo-se detectar pelo sofrido Joaquim
Fernandes, que prorrompeu, naquele instante, em pranto volumoso, que procurara
conter a custo. “O choro far-lhe-á bem -- explicou o Mentor. -- As lágrimas que
nascem do coração diminuem as dores da alma e acalmam o sistema nervoso em
tensão.” (Loucura e Obsessão, cap. 24, pp. 304 e 305.)
O suicídio é a culminância de um estado que se instala sutilmente - Em
seguida, Dr. Bezerra passou a inspirar o médium, infundindo-lhe coragem para o
prosseguimento da luta e recordando-lhe a esposa mais fraca e os necessitados
que lhe pediam ajuda. A indução poderosa do Mentor levantou as forças do aflito,
que se recompôs interiormente, voltando assim à realidade dos deveres
assumidos... Entretanto, vendo o Guia bondoso e captando-lhe o pensamento,
exclamou, sem palavras: “O senhor estava com a razão, naquele já remoto dia!
Antes houvesse sido naquela ocasião. Oh! Deus meu!...” O Benfeitor admoestouo: “Fernandes, a lamentação é tóxico destruidor, que não podemos utilizar. A Vida
é mais sábia do que nós e deveremos aceitá-la conforme se nos apresenta. Nada
de lamúrias. Onde o combustível da fé, a fim de que “brilhe a sua luz”? Este é um
momento de reconstrução e não de abatimento. Sobre as ruínas surgem as flores;
da terra sulcada pela enxada, saem os trigais abençoados para o pão, e, na
frincha da rocha, débil planta se sustenta, diminuindo a aspereza do mineral...
Agora, levante-se e conforte a esposa abatida”. O alquebrado pai soergueu-se
com dificuldade e, enquanto o rio das lágrimas lhe fluía dos olhos, ele falou à
companheira: “Aceitemos com humildade o irrecusável e trágico acontecimento,
confiando em Deus e intercedendo pela filha infeliz...” Com a voz embargada, a
mãe respondeu: “Não me revolto! Dói-me a forma da evasão. Logo pelo suicídio é
76
que a perdemos? Onde ela pôs a razão, Deus meu?! Não sei se suportarei
carregar esta desdita. Ajuda-nos, Senhor da Vida!” O médico que atendera o casal
no necrotério, acostumado aos dramas do cotidiano, telementalizado pelo Mentor,
disse a ambos os genitores de alma esfacelada: “O suicídio é a culminância de um
estado de alienação que se instala sutilmente. O candidato não pensa com
equilíbrio, não se dá conta dos males que o seu gesto produz naqueles que o
amam. Como perde a capacidade de discernimento, apega-se-lhe como única
solução, esquecido de que o tempo equaciona sempre todos os problemas, não
raro, melhor do que a precipitação. A pressa nervosa por fugir, o desespero que
se instala no íntimo, empurram o enfermo para a saída sem retorno... Recordemse dela, nos seus momentos juvenis, na felicidade, sobrepondo, a estas
ocorrências, todos os dias de encantamento, que devem pesar mais do que os
momentos atuais, na balança do amor... Religiosos, que são, considerem-lhe a
alma e refugiem-se na fé”. (Loucura e Obsessão, cap. 24, pp. 306 e 307.)
A prece produz mal-estar nos Espíritos ociosos e eles se retiram - À medida
que a calma foi sendo restaurada, Dr. Bezerra convidou Miranda a visitar a sala de
necropsia, onde se encontrava o cadáver. Atada aos despojos que se exauriam
com vagar, apesar da brusca interrupção vital pelo suicídio, encontrava-se a pobre
equivocada, somando às dores do tóxico que ingerira as dilacerações produzidas
pela autópsia. Vigilante e triunfal, aguardando-a e alegrando-se com o seu
sofrimento, encontrava-se cruel obsessor, que não escondia os sentimentos de
impiedade, nem os propósitos que acalentava a respeito do prosseguimento da vil
planificação. “Aí está -- referiu Dr. Bezerra, defrontando o algoz da suicida -- o
pobre co-responsável pelo trágico desfecho deste drama de larga duração. Assim,
a pobre irmã conduz algum atenuante. Ela retorna à nossa esfera como suicidaassassinada. Induzida à solução insolvável, é responsável por aceitar-lhe a
inspiração infeliz e vitalizá-la, quando deveria reagir, valorizando os dons da vida e
preservando-a a qualquer custo. Todavia, é igualmente vítima, por haver sido
empurrada ao abismo por uma inteligência lúcida que lhe planejou a desdita e
pôs-se vigilante, aguardando o momento para agir com impunidade. Agora,
aguarda-a, antegozando a vitória e esperando prosseguir na intérmina vingança. A
alucinação a que o ódio reduz o ser não tem limite... Oremos por ambos, a fim de
os ajudarmos.” Com a prece fervorosa feita por ambos os amigos, a sala inundouse de tênue claridade, decorrente da vibração do amor e da oração, produzindo
inesperado mal-estar no perseguidor e noutros Espíritos ociosos ali presentes, que
saíram blasfemando, iracundos. Acercando-se do cadáver, junto ao qual a jovem
se debatia com irrefreável desespero, o Benfeitor aplicou-lhe energias
desimantadoras para o Espírito, induzindo-a ao sono, que foi logrado, depois de
extenuante esforço do Mentor. “Temos que deixá-la vinculada ao corpo por algum
tempo”, explicou Dr. Bezerra. “Ela preferiu este áspero caminho para aprender a
ser feliz. Como não há exceção para ninguém, podemos atenuar-lhe as dores
excruciantes, porém, a libertação é sempre conquista pessoal.” Retornando à sala
onde estavam os pais, Miranda notou que já havia, neles, um melhor estado de
alma. Em pouco tempo, iniciou-se o velório e parentes e amigos da família,
surpresos, foram chegando, oferecendo seus préstimos e permanecendo
solidários... Desencarnados solícitos, incluindo familiares e beneficiários da
generosidade cristã do irmão Fernandes vieram igualmente, amorosos,
77
participando do acontecimento lutuoso e contribuindo, em espírito, em favor da
pobre suicida e de seus pais. (Loucura e Obsessão, cap. 24, pp. 307 a 309.)
As disciplinas morais e espirituais são indispensáveis ao Espírito - Estavam
os amigos e parentes reunidos na sala mortuária, quando chegou nobre senhora
que, tomada de emoção resignada, ajoelhou-se diante do ataúde e orou com
unção e beleza, aureolando-se de safirina luz. Era a avó materna da jovem
suicida, que a havia precedido no retorno à vida espiritual, muitos anos atrás, mas
que a embalara nos braços durante a sua primeira infância. Depois de orar e
contemplar, desolada, a neta adormecida e fixada aos liames do envoltório
material, a avó, vendo o Mentor, acercou-se com respeito e indagou: “Pode-se
fazer algo mais, amoroso Guia?” Dr. Bezerra respondeu-lhe: “Não. O possível já
está realizado. A nossa menina repousa, após a primeira refrega. Confiemos em
Deus e aguardemos, orando”. A desencarnada aproximou-se então do desolado
pai e, tocando-lhe a testa, facultou-lhe vê-la e ouvi-la. Em seguida, com palavras
repassadas de fé e irrestrita confiança em Deus, exortou-o à coragem, informando
que a filhinha, amparada, dormia, a fim de seguir o ritmo das Leis. Miranda,
embora não soubesse das causas que levaram ao infausto acontecimento, passou
a meditar em torno das tramas que urde o destino, programado pelas próprias
pessoas. A impaciência, a irritação, as imperfeições morais respondem pelos
danos de demorado curso, que se instalam nas criaturas. São eles agentes
fecundos da morte, a arrebatar mais vidas do que o câncer, a tuberculose e as
enfermidades cardíacas somados, pois que são responsáveis pelo
desencadeamento da maioria delas. Fatores intoxicantes perturbam o equilíbrio
emocional e orgânico, psíquico e físico, facultando a instalação de doenças graves
conhecidas, quanto de outras de etiopatologia por ora ignorada... Rebelde, por
instinto, e indomado, o homem prefere a reação imediata à ação cautelosa, toda
vez que tem os seus interesses prejudicados e até mesmo nos momentos que
considera felizes. Sem o hábito salutar de meditar antes de agir, complica
situações fáceis, gerando futuras dificuldades para si mesmo e para aqueles que
lhe privam das horas. As disciplinas morais e espirituais são, por isso mesmo, tão
necessárias para o Espírito, quanto o alimento e o ar o são para o corpo. (Loucura
e Obsessão, cap. 24, pp. 309 a 311.)
Cap. 25 – Socorro de Emergência
O determinismo ora é absoluto, ora é relativo - Percebendo as reflexões e
indagações íntimas do amigo, Dr. Bezerra observou: “As sábias Leis da Vida
fundamentam-se em princípios de equilíbrio, que não podem ser derrogados sob
pena de apresentarem aflições mais penosas para os seus infratores. Todas
derivadas da Lei de Amor, são estatuídas com os objetivos superiores de dignificar
e desenvolver os valores inatos da criatura, que traz o anjo dormente na sua
estrutura profunda, aguardando o momento de despertar... Em razão disso, o
determinismo é natural resultado das realizações em cada etapa do processo da
evolução, ora absoluto -- mediante a fatalidade do nascer e morrer no corpo
transitório, em algumas expiações mutiladoras e dilacerantes, em vários tipos de
injunção penosa, nas áreas do comportamento da sociedade, dos recursos
financeiros --, ora relativo -- que o livre-arbítrio altera conforme a eleição pessoal
de realizações --, sempre, porém, objetivando o bem do Espírito, suas aquisições
78
libertárias, sua ascensão. O livre-arbítrio é-lhe recurso que expressa o estado
evolutivo, porquanto o seu uso deflui das aspirações elevadas ou egoístas que
tipificam cada qual. Porque prefere determinada realização, investe em
correspondente recurso, de cuja ação recolhe os frutos amargos ou apetecíveis,
que passam a nutri-lo. O imediatismo, que é remanescência da natureza animal
possuidora e egoísta, responde pelos insucessos que a escolha precipitada
proporciona, impondo o mecanismo redentor, de que necessitará amanhã para
selecionar com sabedoria aquilo que lhe é de útil, em detrimento do pernicioso.
Assim, a dor é sempre a resposta que a ignorância conduz para os desatentos. É,
também, de certo modo, a lapidadora das arestas morais, a estatuária do modelo
precioso para a grandeza da vida que se exalta...” Dito isto, depois de oportuna
pausa, Dr. Bezerra relatou: “Há uma vintena de anos, o nosso caro Fernandes
acompanhava, amargurado, grave enfermidade da filhinha Sara. Desenganada
pelo médico, extenuada pela difteria, deveria ter, ali, encerrado o capítulo da atual
reencarnação, em face de um suicídio anterior que a vitimou. Era o fenômeno
natural da morte biológica, concluindo um ciclo para abrir-se outro, mais amplo e
valioso”. “Colhido de surpresa -- prosseguiu o Mentor -- com a palavra do
facultativo, que prometeu retornar, na manhã seguinte, a fim de assinar o atestado
de óbito da moribunda, cuja noite seria lancinante e sem paliativo possível, em
razão da ausência de terapia conveniente, nosso Fernandes, angustiado,
prosternou-se, entregando-se a profunda e desesperada oração dirigida à Mãe de
Jesus, cuja intercessão pela vida da filhinha solicitava, com quase absurda
imposição. Nós acompanhávamos o processo aflitivo, e, ouvindo-lhe a súplica
superlativa, aparecemos-lhe na penumbra do quarto e lhe informamos quanto à
necessidade da submissão ao estabelecido... Sara resgatava o passado, e,
retornando ao mundo espiritual, adquiriria mais amplos e seguros recursos para
prosseguir mais tarde, na Terra, com possibilidades de triunfo.” (Loucura e
Obsessão, cap. 25, pp. 312 a 314.)
O pai suplica e Sara tem sua vida prolongada - Naquele momento, disse-lhe
Dr. Bezerra, a maior caridade que o Amor podia conceder à menina era a
desencarnação, mas Fernandes, obstinado, pediu a Maria de Nazaré que
intercedesse junto ao Senhor Soberano da Vida, prolongando a existência da filha,
seu tesouro, sua razão de luta, no mundo. Afinal -- argumentava em seu
desespero --, não se dedicava ele ao atendimento das aflições dos outros? Pelas
suas mãos não escorriam os fluidos curadores, que aplicava, devotadamente, aos
enfermos? Rogava, então, pelo seu anjo filial! “Ouvimo-lo, demoradamente -informou Dr. Bezerra --, e o informamos de que tomaríamos providências, a fim de
que o seu pedido fosse examinado. Minutos após, voltamos, enquanto ele se
abrasava na oração, e apresentamos-lhe a resposta: ‘A Senhora optava pelo
retorno do Espírito, após terem sido cuidadosamente estudados os motivos da sua
reencarnação. O passado, meirinho rigoroso, seguia-a, com exigências para as
quais ela não teria forças. Conveniente anuir ao estabelecido, quando seriam
providenciados recursos para diminuir a dor da sua ausência no lar, mediante a
presença contínua dos filhos do calvário a atender’. Nosso irmão, em copioso
pranto, prosseguiu, instando: ‘Como auxiliar aos outros, se iria carregar no peito o
coração estiolado? Como saciar a sede alheia, ardendo de necessidade de linfa?
Como ter forças para diminuir o peso do fardo em seu irmão, conduzindo
insuportável carga? Suplico-vos, Mãe celeste, em favor da minha filha, como
79
rogastes a Deus, na hora extrema, pelo vosso Filho. Peço ao Dr. Bezerra que
retorne, fazendo chegar à Mãe dos desafortunados e sem esperança a petição
deste pai inconsolado’.” Tão pungente e veraz era a rogativa do pai de Sara, que o
Mentor retornou para encaminhar seu pedido, regressando horas mais tarde
trazendo o resultado, que frisava: “Sara não possui resistências morais para
enfrentar os insucessos que a aguardam. Debilitada, poderá cair, outra vez, no
mesmo abismo donde está intentando sair. Já estão, na Terra, aqueles com os
quais se encontra vinculada e faltam-lhe títulos de enobrecimento para sair-se
bem do confronto. Todavia, se ficar, o seu calvário será mais vigoroso e fatal”.
Sem medir a extensão do que desejava, Fernandes compreendeu, mas assinalou:
“Eu assumo a responsabilidade. Minha esposa e eu cumularemos de cuidados a
filhinha idolatrada; vigiaremos as suas horas; preencheremos os seus vazios com
a luz do amor; colocaremos a claridade da fé na mente e no coração; choraremos
suas lágrimas e viveremos para ela... A sua presença dará cor e luminosidade à
nossa estrada; nela hauriremos forças para a prática do bem e nos desvelaremos
no ministério do auxílio, que é porta de acesso à felicidade, porém, com ela, no
mundo”. Celina, a mensageira de Maria, adentrou-se então na câmara onde
Fernandes e Bezerra estavam, e informou: “A Mãe de Jesus concede moratória,
um prolongamento de vida, para Sara, conforme solicitado. Ela viverá. Que Deus
nos abençoe!” (Loucura e Obsessão, cap. 25, pp. 314 e 315.)
Nós, em nossas preces, não sabemos ainda o que pedir - Ante a notícia
trazida por Celina, o irmão Fernandes foi acometido de nova explosão de
lágrimas, desta vez de júbilo e gratidão profunda, e, a partir daquele momento,
Sara, que contava cinco anos, adormeceu, enquanto mensageiros espirituais
especializados no setor da saúde lhe aplicaram energias próprias, restauradoras,
de modo que, pela manhã, quando o médico retornou, a fim de assinar o atestado
de óbito, encontrou a menina sem febre, iniciando uma impossível convalescença.
Os pais, tal como haviam prometido, desdobraram-se de fato em cuidados e amor
pela filha. Esmeraram-se na sua educação; selecionaram os amigos para ela;
infundiram-lhe a fé religiosa, que ela não conseguiu assimilar quanto deveria;
encaminharam-na à Universidade; experimentaram mil venturas, seguindo-a no
clima social de uma vida honrada e trabalhadora... Não puderam, porém, penetrar
no imo de sua alma e auscultá-la, sentir os problemas da afetividade, na qual
fracassara antes... Não se deram conta de que a filha possuía anseios do coração,
que os pais mais amorosos não podem atender, e, assim, não lhe perceberam o
emurchecer da alegria nos últimos dias.... Antes houvesse ela partido naquela
ocasião, naquela contingência e mediante os fatores estabelecidos, porquanto se
encontraria, agora, novamente reencarnada, ao invés de estirada no leito
mortuário! “Ninguém foge à Lei, nem à consciência de si mesmo, pois que Deus aí
escreveu os Seus soberanos códigos”, acrescentou Dr. Bezerra, em quem se
podiam ver lágrimas de piedade pela jovem recém-desencarnada e por seus
equivocados pais. Miranda assinala que, na verdade, nós, as criaturas humanas,
não aprendemos ainda a pedir, ignorando o que seja melhor para o nosso
progresso, no curso do tempo. Não possuindo uma clara visão da realidade,
detectamos-lhe, apenas, algumas linhas imprecisas que não a configuram,
corretamente, em razão das sombras que a encobrem. É por isso que, ao lado de
pessoas que a enfermidade limitou, que os acidentes paralisaram e, no entanto,
lutam tenazmente pela reconquista de parcos movimentos, que as alegram,
80
vemos indivíduos de aparência sadia que, por fatos de pequena monta ou paixão
momentânea, dominados pela rebeldia, atiram-se aos lôbregos sítios do suicídio,
deixando-se arrastar pelos cipoais da mágoa, imersos nos imensos corredores da
loucura... Paradoxalmente, não sabemos ainda eleger o melhor, não possuímos
consciência correta de valores para a aquisição da paz. Por isso, a dor renteia
com os nossos passos, vigilante e assídua, para que despertemos, embora todos
tenhamos ciência de quanto é breve o estágio no corpo, quão transitória é a vida
física e como são rápidos os dias de prazer e alegria... (Loucura e Obsessão, cap.
25, pp. 315 a 317.)
Na contabilidade do bem todos os valores são computados - Na seqüência
de suas reflexões sobre o caso Sara, Miranda adverte-nos: “Somente a lucidez a
respeito do bem operante confere os requisitos para que nos habilitemos a vencer
distâncias, preencher vazios, recuperar prejuízos, imolar-nos. O Espírito é tudo
aquilo quanto anseia e produz, num somatório de experiências e realizações que
lhe constituem a estrutura íntima da evolução. Nesse labor, a fé religiosa exerce
sobre ele uma preponderância que lhe define os rumos existenciais, lâmpada
acesa que brilha à frente, apontando os rumos infinitos que lhe cumpre percorrer.
Negar esse contributo superior sob alegações de superfície, é candidatar-se a
prolongada escuridão, embora os fogos-fátuos que surgem na falsa cultura, no
elitismo acadêmico, na presunção intelectual, que se esfumam céleres”.
“Respeitável, portanto, toda expressão de fé dignificadora em qualquer campo do
comportamento humano. No que tange ao espiritual, o apoio religioso à Vida
futura, à justiça de Deus, ao amor indiscriminado e atuante, à renovação moral
para melhor, é de relevante importância para a felicidade do homem.” No velório,
dado o adiantado da hora, era reduzido o número de encarnados presentes, mas
a movimentação espiritual era expressiva, porque muitos Espíritos que haviam
sido beneficiados pelo médium caridoso, cientes da ocorrência infausta,
apressaram-se a trazer-lhe solidariedade e sustentação, intercedendo por Sara,
presa de terríveis angústias, que a imaginação humana não é capaz de conceber,
embora adormecida pela indução de Dr. Bezerra. Miranda notou, porém, que o
irmão Fernandes insistia numa tônica mental perigosa, que era o conflito de culpa
pelo desfecho do caso. Afinal, ele se afirmara responsável pelo que viesse a
acontecer à filha! “Jamais supusera que isto sucedesse”, pensava o aflito pai.
“Não havia agido, no passado, por capricho de pai imaturo, por egoísmo
irresponsável?”, perguntava-se. Dr. Bezerra, percebendo que o médium se
angustiava de forma crescente, a ponto até de desequilibrar-se, acudiu,
acalmando-o com palavras esclarecedoras. “A concessão da moratória -- afirmoulhe o Mentor -- fez-se independente de quaisquer protestos de vigilância e
responsabilidade da tua parte. Como poderias penetrar o insondável das Leis e
responder pelas ocorrências imprevisíveis da vida? Com certeza, a tua
intercessão de pai constituiu quesito importante para a revisão do processo
estabelecido, pois que o amor é força viva de Deus em toda parte, possuindo os
recursos especiais para mover e fomentar os sucessos propiciadores do
progresso, que gera a felicidade. Todavia, devemos considerar que as
programações reencarnacionistas obedecem aos códigos da justiça, não se
descartando os contributos da misericórdia divina.” E acentuou: “Foi a misericórdia
do amor que facultou o prolongamento da existência planetária da nossa querida
Sara. Se o epílogo ocorreu trágico, o transcurso da jornada foi-lhe de aquisições
81
abençoadas e enriquecido de realizações benéficas para muitas vidas que dela
se aproximaram. Na contabilidade do bem todos os valores são considerados e
computados”. (Loucura e Obsessão, cap. 25, pp. 317 a 320.)
Se Deus sabia que Sara iria fracassar, por que permitiu a moratória? Fernandes respondeu às palavras do Mentor amigo, afirmando não desconhecer a
misericórdia de Deus. “O suicídio, porém, é crime supremo contra a vida”,
argumentou, agoniado. “Ela o sabia, por haver-lhe falado mil vezes sobre a sua
adaga fatal, ceifadora de todas as alegrias, destruidora de todas as bênçãos.” O
Benfeitor concordou, evidentemente, que o autocídio é agressão terrível que se
perpetra contra si mesmo, dirigida à Divindade, geradora de tudo, mas era preciso
aceitá-lo e lutar por minimizar-lhe os efeitos danosos, ao invés de bombardear
com cargas mentais de inconformação a jovem desatinada, que já, por si mesma,
lhe sofria os efeitos de demorado curso. “Saber é diferente de aceitar”, asseverou
Dr. Bezerra. “Sara sabia dos perigos e gravames do suicídio, porém, alucinada, foi
empurrada a vivenciar o conhecimento, que a armará de resistências morais para
os futuros embates. Não adiciones ressentimentos inconscientes e culpas ao fardo
que lhe pesará na consciência, na sucessão dos dias porvindouros, quando ela
adquirirá dimensão a respeito da fuga para o pior...” O argumento do Mentor era
irretocável. Se Deus permitiu que tal se desse, como poderia ele, Fernandes,
evitá-lo? “A lei de liberdade -- prosseguiu Dr. Bezerra -- funciona para os homens,
dentro de limites que se lhes fazem necessários, a fim de que, exercendo-a,
aprendam a ser livres e não libertinos; independentes, sem prepotência; liberais,
mas não permissivos... A liberdade por excelência é adquirida pela consciência do
bem no reto culto do dever. Agora, retifica a postura mental e ajuda a filhinha, sem
lamentar o passado nem antecipar o futuro.” Fernandes ouviu a advertência e
afastou-se, reconfortado. A sós com o Mentor, Miranda aproveitou o ensejo para
dizer ao Médico dos Pobres: “Também pensei que a moratória concedida a Sara
fora decorrência da intervenção do pai e que as conseqüências disso iriam pesarlhe na economia da responsabilidade. Além disso, excogitei se não era do
conhecimento da Divindade o que sucederia, anuindo ao pedido, e, em caso
positivo, por que a concessão?” Dr. Bezerra sorriu, simpático, e elucidou: “O caro
Miranda ainda raciocina em termos apressados e humanos, isto é, conforme os
hábitos terrestres. Deus tudo sabe, não nos iludamos. No entanto, suas leis não
nos coarctam às experiências fomentadoras da evolução pessoal. Como progredir
sem agir, sem acertar e errar, nunca o experimentando? Como adquirir
consciência do correto e do equivocado, do útil e do prejudicial sem o contributo
da eleição pela sua vivência que ajuda a discernir? Examinando-se as aquisições
de Sara, os Espíritos Superiores poderiam prever o que lhe sucederia, não,
porém, em caráter absoluto, pois que não há destinação, como sabemos, para o
insucesso, a desgraça, num fatalismo irreversível. Cada momento oferta
oportunidade que leva a mudanças de comportamento. Se uma fagulha ateia um
incêndio, uma palavra feliz e oportuna igualmente muda os rumos e toda uma
existência”. (Loucura e Obsessão, cap. 25, pp. 320 e 321.)
Fernandes foi filho de Sara numa existência anterior em que ela desertou Prosseguindo, Dr. Bezerra informou: “Sara vem de um suicídio moral anterior, com
a natural compulsão para repetir o ato desolador. Fracassando, no amor que não
soube respeitar, desertou, naquela época... Aquele que a induziu à delinqüência
82
moral, ela o reencontrou agora, não repetindo a desfortuna de destruir-lhe o lar,
conforme ele lhe fizera, mas, não teve forças para superar a impossibilidade da
convivência anelada. A vítima de ambos, que conhecemos horas atrás e trabalhou
pelo êxito do macabro desforço, não os perdoou e prossegue insaciado. Assim
estava armado o esquema que, se fora o amor dela mais santificado, poderia
haver superado...” Quanto a Fernandes, informou o Mentor que ele comparecia no
quadro afetivo na condição de filho do passado, que Sara havia levado ao evadirse do lar e a quem amava com extremada doação. Antes de reencarnar,
Fernandes pedira para ajudá-la, motivo por que veio na investidura de pai zeloso e
abnegado, socorrendo-a quanto pôde, não além disso. “Nunca esqueçamos -asseverou o Benfeitor -- que aquele que faz quanto lhe está ao alcance, realiza
tudo, porque só fazemos o que nos é possível, embora nem sempre este nos seja
lícito executar.” Miranda quis saber se a jovem Sara teria direito a ser
hospitalizada após o sepultamento do cadáver. Dr. Bezerra respondeu: “Não o
creio possível nem justo. Ela infringiu a ‘lei de conservação’ da vida. Lúcida e
culta, não obstante induzida a fazê-lo, optou pela decisão corrosiva, predispondose a sofrer os inevitáveis efeitos da opção. Receberá apoio e socorro compatíveis
com as suas necessidades, não porém fruirá de privilégios, que ninguém os
merece em nosso campo de ação. Os fenômenos do desgaste e transformações
biológicas serão vivenciados, a fim de que, em definitivo, se envolva na couraça
da resistência para vencer futuras tentações de fuga ao dever que nunca fica sem
atendimento. Visitá-la-emos, serão tomadas providências para evitar-se a
vampirização e outras ocorrências mais afligentes. As orações daqueles que a
amam luarizarão a noite da sua demorada agonia e a bondade de Maria
Santíssima derramará sobre ela a misericórdia do amor, resgatando-a,
oportunamente, de si mesma...” (Loucura e Obsessão, cap. 25, pp. 321 a 323.)
83
13
TRILHAS DA LIBERTAÇÃO
(Fragmentos.)
As Sociedades ligadas ao crime no Além são responsáveis pelas
congêneres da Crosta - Prosseguindo, Miranda diz que os Espíritos mais cruéis
organizam-se em grupos hediondos, nos quais aprimoram métodos e técnicas de
que se utilizam para afligir, aprisionar e explorar aqueles que têm o desar de serlhes vítimas. Qual se dá na Terra, e nesta em escala menor, as Sociedades que
controlam o crime e o vício no Além são as responsáveis pelas congêneres do
planeta, sendo que alguns dos seus chefes e condutores procedem das originais,
aquelas que imperam na erraticidade inferior. Atribuindo a si mesmos direitos e
poderes que não lhes é lícito usufruir, funcionam como braços de Justiça, que
alcançam os calcetas, os defraudadores, os hipócritas e criminosos de todo porte
que passam triunfantes no corpo que ultrajam e degradam impunemente, como se
Deus deles necessitasse para tal mister... Como não podem anular a consciência
de culpa neles inscrita, despertam, ao desencarnarem, na paisagem que lhes é
própria, com a qual sintonizaram, presas daqueles mesmos a quem se vincularam.
O Espiritismo prático, através das sessões experimentais, de educação mediúnica
ou de desobsessão, rompeu o véu que ocultava essa triste realidade e de que se
tinha notícia somente de forma fragmentária, pela revelação dos santos e místicos
que visitaram essas comunidades expungitivas e recuperadoras que a mitologia
denominou como inferno, purgatório, Hades, Averno etc. É, portanto,
compreensível que a fúria dos seus mantenedores se volte contra todos aqueles
que se dedicam ao bem, que lutam contra o crime e a hediondez, particularmente
os espíritas sinceros, que têm a tarefa de promover a sociedade, preparando
melhores dias para a humanidade do porvir. Da mesma forma agem contra os
médiuns, que são instrumentos da revelação desses antros, tentando explorá-los
psiquicamente e desmoralizá-los para, dessa maneira, anularem o efeito das suas
informações libertadoras. A campanha sórdida contra a mediunidade dignificada e
os médiuns responsáveis, promovida pelas Entidades obsessoras, é, pois,
ostensiva e vem de longa data, incessante, sem quartel, agressiva e sutil. (Trilhas
da Libertação, prefácio, pp. 8 a 10.)
A Medicina holística considera o ser como espírito, perispírito e matéria Concluindo sua introdução a esta obra, Miranda assevera que, não poucas vezes,
esses irmãos profundamente infelizes se atreveram a arremeter contra Jesus, que
os submeteu com a Sua superioridade, advertindo-nos, desde então, a respeito
deles e de suas insinuações malévolas. Quando um médium, ou outra pessoa
qualquer, particularmente o sensitivo, cai nas suas urdiduras, eles estuam de
júbilo e se julgam fortalecidos para continuarem o louco afã, que termina por
enredá-los, a eles mesmos, obrigando-os ao despertamento e, depois, à
reencarnação. Para lidar com esses cultivadores do Mal, Espíritos Nobres
renunciam a viver e trabalhar em Estâncias superiores, a que têm direito, a fim de
mergulharem nas sombras terrestres e mais ainda nos pauis e crateras onde se
homiziam, para esclarecê-los, libertá-los, amá-los e socorrer os que lhes padecem
a perseguição. Enfrentam-nos, então, com misericórdia, porém com austeridade,
84
conhecendo-lhes a hipocrisia e a sandice, utilizando-se, a seu turno, de recursos
especiais que desenvolvem, o que muito os surpreende e aturde. “A presente
Obra -- informa Miranda -- estuda algumas dessas técnicas e lutas pela libertação
dos seres, de si mesmos, de suas mazelas e imperfeições, em experiências
valiosas, e também como forma de contribuição para o estabelecimento de uma
Medicina holística para o futuro, que considere o ser humano como espírito,
perispírito e matéria.” Aqui -- enfatiza ele -- não se verão fantasias, nem novidades
que o estudioso do Espiritualismo em geral e do Espiritismo em particular não
conheça, mas sim um convite à meditação, à conduta saudável e à vivência dos
postulados ético-filosófico-morais da Doutrina Espírita e do Evangelho de Jesus.
(Trilhas da Libertação, prefácio, pp. 10 e 11.)
Muitos inimigos do bem são antigos religiosos fracassados - Miranda
e seus companheiros continuaram na Casa ao lado do irmão Vicente, mesmo
quando as atividades no plano físico já estavam encerradas. O Mentor da
Instituição sentia-se tranqüilo quanto aos resultados da etapa de renovação
iniciada naquela noite. “Conforme os nossos queridos visitantes perceberam -disse ele --, nossa Sociedade, graças à imprevidência de alguns companheiros
encarnados, aos quais não culpamos, derrapava para a sintonia com Entidades
perversas, que a si mesmas se intitulam Gênios das Trevas. Nesta reunião, que
ora se encerrou, alguns Espíritos, subordinados à comunidade de infelizes que
eles dirigem, aqui estiveram. Dando-se conta das novas diretrizes aplicadas, irão
levar-lhes notícias e, certamente, ao primeiro ensejo, seremos visitados por alguns
desses obsessores. O bom senso induz-nos a tomar certas providências,
especialmente através de atendimento cuidadoso aos encarnados que se lhes
vinculam mais diretamente. Recordo-me aqui do caro Davi que, por enquanto,
elegeu a viagem mais difícil, dos irmãos Raulinda e Francisco, que atuaram
mediunicamente, entre outros.” Havendo combinado visitar a jovem Raulinda dali
a três horas, Miranda e seus amigos, enquanto esperavam o momento, fizeram
um passeio pela orla marítima em cidade próxima. Fernando narrou então ter sido
ele quem atraíra à reunião a Entidade que se comunicara por Francisco, em razão
de vínculos pessoais que ambos mantiveram em existências passadas. “Além do
interesse de esclarecê-lo espiritualmente -- indagou Miranda --, há algum outro
motivo que me possa informar, sem ruptura do sigilo em que se devem manter
labores especiais como este?” O dr. Carneiro respondeu: “Ao convidar o caro
Miranda para esta excursão de trabalho, não lhe quisemos detalhar o
compromisso em tela porque muitas dificuldades estavam em pauta, aguardando
solução. A fim de não deixá-lo ansioso, resolvemos esperar a ajuda divina para
inteirá-lo depois, qual ocorre neste momento”. O Mentor fez breve pausa e
continuou: “Oportunamente, ao ser liberado das Regiões infernais antigo
comandante das forças do mal -- que reencontrou em Jesus a porta estreita da
salvação graças aos esforços sacrificiais e renúncias imensas de sua genitora --,
aqueles que permaneceram no esquema da impiedade reuniram-se para tomar
providências em conjunto contra o que denominam como os exércitos do Cordeiro,
que detestam.” “Estes seres, que se extraviaram em diversas reencarnações,
assumindo altíssimas responsabilidades negativas para eles mesmos, procedem,
na sua maioria, de Doutrinas religiosas cujos nomes denegriram com as suas
condutas relapsas, atividades escusas e cortes extravagantes, nas quais o luxo e
os prazeres tinham primazia em detrimento dos rebanhos que diziam guardar,
85
mas que somente exploravam, na razão do quanto os desprezavam.” (Os Gênios
das Trevas, pp. 95 a 97.)
Felizmente, tudo na vida marcha na direção de Deus - “Ateus e cínicos -continuou o Mentor --, galgavam os altos postos que desfrutavam mediante o
suborno, o homicídio, as perversões sexuais, a politicagem sórdida, morrendo nos
tronos das honras e glórias mentirosas, para logo enfrentarem a consciência
humilhada e, sob tormentos inenarráveis, sintonizando com os sequazes que os
aguardavam no Além, serem reconvocados aos postos de loucura, dispostos a
enfrentar Jesus e Deus, que negam e dizem desprezar...” Dr. Carneiro esclareceu,
na seqüência, que as figuras mitológicas dos demônios e seus reinos, bem como
os abismos infernais e seus torturadores de almas são relatos feitos inicialmente
por pessoas que foram até ali conduzidas em desdobramento espiritual, por
afinidade moral ou pelos Mentores, a fim de advertirem as criaturas da Terra.
“Variando de denominação, cada grupamento, como ocorre na Terra, tem o seu
chefe e se destina a uma finalidade coercitiva, reparadora”, disse o Mentor,
informando que, periodicamente, tais chefes se reúnem e elegem um comandante
a quem prestam obediência e submissão, concedendo-lhe regalias reais. Sandeus
e absolutos, esses Espíritos anularam a consciência no mal e na força, tornandose adversários voluntários da Luz e do Bem, que pretendem combater e destruir,
não se dando conta de que tais cousas ocorrem, porque vivem em um planeta
ainda inferior e em processo de desenvolvimento, onde os que o habitam são
também atrasados e padecem limites, em trânsito do instinto para a razão. Apesar
disso, luz, nesta época, o Consolador, e em toda parte doutrinas de amor e paz
inauguram a Nova Idade na Terra, convidando o homem ao mergulho interior, ao
rompimento dos grilhões da ignorância, à solidariedade e ao bem... “A ciência -observou dr. Carneiro -- dá as mãos à moral, e a filosofia redescobre a ética, para
que a religião reate a criatura ao seu Criador em um holismo profundo de fé,
conhecimento e caridade, numa síntese de sabedoria transcendental.” “Tudo
marcha na direção de Deus, é inelutável. A Grande Causa, a Inteligência
Suprema, é o fulcro para o qual convergem todos, mediante a vigorosa atração da
Sua própria existência. As lutas de oposição desaparecem com relativa rapidez,
rompendo-se as barricadas e trincheiras que se tornam inúteis. A trajetória do
progresso é irrefreável. Só o Amor tem existência real e perene, lei que é da vida,
por ser a própria Vida.” Dr. Carneiro calou-se novamente e, pouco depois,
informou que na mencionada reunião ficou decidido que o novo substituto deveria
ser impiedoso ao extremo e sem qualquer sensibilidade e que a escolha se faria
um mês depois, em novo encontro. (Os Gênios das Trevas, pp. 97 a 99.)
Os sicários mais abjetos candidatam-se a Comandante - Naturalmente, em
face do que fora deliberado, buscaram-se nas Trevas os sicários mais abjetos da
Humanidade, que fossilizavam nos antros mais hediondos das regiões de
sofrimento, de onde foram retirados temporariamente para apresentação de
planos, sua avaliação e imediata votação. “Difícil imaginar -- disse o Mentor -- tais
conciliábulos e conseqüente escrutínio para a eleição de um Chefe. Recordando
as reuniões de antigos religiosos, ontem como hoje, cada representante se vestiu
com as roupagens e características do seu poder, e, acolitados pelos subalternos,
compareceram em massa, diversos deles conduzindo os seus candidatos para o
pleito macabro e ridículo.” Mais de vinte algozes da sociedade apresentaram-se
86
ao terrível parlamento. Uns encontravam-se hebetados em padecimentos que se
auto-impuseram; outros pareciam desvairados, e um número menor, com facies
patibular e olhos miúdos, fuzilantes, chamaram mais a atenção dos governantes e
da turbamulta alucinada que repletava as galerias daquele simulacro infeliz de
tribunal. Nomes que fizeram tremer a Terra, no passado remoto como no mais
recente, foram pronunciados, enquanto eles se apresentavam, ou eram trazidos.
Muitos, em estado de loucura, foram apupados, embora seus defensores
prometessem despertá-los e colocá-los lúcidos para o ministério que lhes seria
delegado. A balbúrdia ensurdecedora interrompeu várias vezes as decisões. Os
árbitros, porém, ameaçaram expulsar a malta, que foi atacada por mastins
ferozes, até o momento em que assomou ao pódio um ser implacável, com
postura temerária, passos lentos, coxeando, corpo balouçante com ginga primitiva,
que, erguendo os braços para dominar o cenário, com facilidade o logrou, graças
ao terror que expressava nos olhos fulminantes. “Tenho a honra -- disse aquele
que o conduzia -- de apresentar o inexcedível conquistador que submeteu o
mundo conhecido do seu tempo, na Ásia, e esteve na Terra, novamente, apenas
uma vez mais. As suas façanhas ultrapassaram em muito outros dominadores,
graças à sua absoluta indiferença pela vida e aos métodos que utilizava para a
destruição da raça humana. Fundou o segundo império mongol, realizando
guerras cruentas. A sua existência corporal transcorreu durante o século XIV,
havendo renascido na Ásia Central, próximo a Samarcanda. Informando
descender de Gengis Khan, aos cinqüenta anos de idade alargou seus domínios
do Eufrates à Índia, impondo-se ao Turquestão, Coraçã, Azerbajá, Curdistão,
Afeganistão, Fars. Logo depois, invadiu a Rússia, a Índia, deixando um rastro de
dezenas de milhares de cadáveres, somente em Delhi, às portas da cidade e nos
seus arredores... Cruel até o excesso, realizou alguns trabalhos de valor na sua
pátria, porém as suas memórias são feitas de atrocidade e horror, por cujas
razões, ao desencarnar, mergulhou nas regiões abismais onde foi localizado, nas
Trevas...” (Os Gênios das Trevas, pp. 99 a 101.)
É maior do que se imagina a permuta de energias entre nós e os Espíritos O dr. Carneiro fez breve silêncio e depois prosseguiu: “À medida que a arenga
apaixonada conquistava os eleitores triunfantes, o horror mais humilhava os
presentes, que silenciaram diante do certamente vencedor hediondo. Encerrada a
apresentação do candidato, foi ele aceito por quase todos os chefes e aclamado
como o Soberano Gênio das Trevas, que se encarregaria de administrar os
corretivos na humanidade, a qual ele propunha submeter e explorar”. Relatados os
fatos verificados na assembléia, o Mentor lembrou aos companheiros que o
intercâmbio de energias psicofísicas entre os seres inferiores desencarnados e os
homens é muito maior do que se imagina. Dezenas de milhões de criaturas de
ambos os planos se encharcam de vitalidade, explorando-se umas às outras,
mediante complexos processos de vampirização, simbiose, dependência, gerando
uma psicosfera morbífica, aterradora. “Somente o despertar da consciência -afirma dr. Carneiro -- logra interromper o comércio desastroso, no qual se
exaurem os homens, e mais se decompõem moralmente os Espíritos. Para
sustentarem tão tirânica interdependência, são criados mecanismos e técnicas
contínuas de degradação das pessoas, que espontaneamente se deixam
consumir por afinidade com os seres exploradores, viciados, inclementes,
amolentados secularmente na extravagante parasitose. Pululam, incontáveis, os
87
casos dessa natureza. Enfermidades degenerativas do organismo físico,
desequilíbrios mentais desesperadores, disfunções nervosas de alto porte,
contendas, lutas, ódios, paixões asselvajadas, guerras e tiranias têm a sua
geratriz nesses antros de hediondez, onde as Forças do Mal, em forma de novos
Lucíferes da mitologia, pretendem opor-se a Deus e tomar-lhe o comando. Vão e
inqualificável desvario este do ser humano inferior!” Esclarecendo que o homem
marcha, na Terra, como nos círculos espirituais mais próximos, ignorando ou
teimando ignorar a sua realidade de ser imortal, dr. Carneiro diz que é por isso
que o ser humano dá preferência à sensação, em detrimento das emoções
enobrecidas, jugulando-se à dependência do prazer, cristalizando as suas
aspirações no gozo imediato e retendo-se nas faixas punitivas do processo
evolutivo. Devido a desse comportamento, reencarna e desencarna por
automatismo, sob lamentáveis condições de perturbação, perplexidade e
interdependência psíquica. As obsessões se sucedem. O algoz de hoje, ao
reencarnar, torna-se a vítima que, mais tarde, dá curso ao processo infeliz, até
quando as Soberanas Leis interferem com decisão. As religiões, por sua vez, na
maioria aferradas aos dogmas ultramontanos, preferem não descerrar a cortina da
ignorância, mantendo os seus rebanhos submissos, em mecanismos de rude
hipocrisia, desinteressadas do homem real, integral, espiritual. Sucede, também,
que grande número dos condutores religiosos está vinculado aos sicários
espirituais, que os mantêm em dependência psíquica e explorados, para que
preservem o estado de coisas conforme se encontra. Eis o motivo por que,
quando as doutrinas libertadoras se apresentam empunhando as tochas do
discernimento, seus apologistas, divulgadores e realizadores são perseguidos,
cumulados de aflições e tormentos, para que desistam, desanimem ou se
submetam aos mentirosos padrões dos triunfos terrenos. (Os Gênios das Trevas,
pp. 101 a 103.)
As quatro verdades segundo o Soberano das Trevas - Dr. Carneiro calou-se
por ligeiro espaço de tempo, e em seguida prosseguiu: “Pode parecer que o Pai
Misericordioso permanece indiferente ao destino dos filhos sob o domínio das
sombras de si mesmos. No entanto, não é assim. Incessantemente Sua Voz
convida ao despertamento, à reflexão, à ação correta, usando os mais diversos
instrumentos, desde as forças atuantes do Universo aos missionários e apóstolos
da Verdade, que não são escutados nem seguidos. Os líderes da alucinação
tornam-se campeões das massas devoradoras, enquanto as vozes do bem
clamam no deserto. Milhares de obreiros desencarnados operam em silêncio, nas
noites terrestres, acendendo luzes espirituais, em momentosos intercâmbios que
são considerados, no estado de consciência lúcida, no corpo, como sonhos
impossíveis, fantasias, construções arquetípicas, em conspiração sistemática a
favor das teses materialistas. Essas explicações, algumas esdrúxulas, travestidas
de científicas, são aceitas, inclusive, pelos religiosos, que aí têm seus
mecanismos escapistas para fugirem aos deveres e responsabilidades maiores”.
O Mentor asseverou, na seqüência, que as nobres conquistas das ciências da
alma, inclusive as abençoadas experiências de Freud, de Jung e outros eminentes
estudiosos, fundamentam-se em fatos incontestáveis. “Algumas das suas
88
conclusões -- afirmou o Benfeitor -- merecem, porém, reestudo, reexame e
conotações mais modernas, nunca descartando a possibilidade espiritualista, hoje
considerada pelas novas correntes dessas mesmas doutrinas. Quando as
criaturas despertarem para a compreensão dos fenômenos profundos da vida,
sem castração ou fugas, sem ganchos psicológicos ou transferências, romper-seão as algemas da obsessão na sua variedade imensa, ensejando o encontro do
ser com a sua consciência, o descobrimento de si mesmo e das finalidades da
existência corporal no mapa geral da sua trajetória eterna.” Feita nova pausa, o
Mentor retomou o relato da eleição em que as Trevas definiram seu novo
comandante. As reuniões ali sucederam-se tumultuadas e violentas, acalmadas
sempre pela agressividade do Soberano, que, ciente do advento do Consolador na
Terra e do seu programa de estudo e vivência do Cristianismo, decidiu escutar
fracassados conhecedores do comportamento das criaturas, tanto na área sexual
como na econômica e na social, após o que estabeleceu o seu programa, que
ironicamente denominou como as quatro legítimas verdades, em zombeteira
paráfrase do código de Buda em relação ao sofrimento. (Os Gênios das Trevas,
pp. 103 a 105.)
Os planos das Trevas se baseiam nas quatro verdades - Eis as verdades
relacionadas pelo novo Soberano das Trevas, com suas respectivas
conseqüências: 1a - O homem é um animal sexual que se compraz no prazer.
Deve ser estimulado ao máximo, até a exaustão, aproveitando-se-lhe as
tendências, e, quando ocorrer o cansaço, levá-lo aos abusos, às aberrações.
Direcionar esse projeto aos que lutam pelo equilíbrio das forças genésicas é o
empenho dos perturbadores, propondo encontros, reencontros e facilidades com
pessoas dependentes dos seus comandos que se acercarão das futuras vítimas,
enleando-as nos seus jogos e envolvimentos enganosos. “Atraído o animal que
existe na criatura, a sua dominação será questão de pouco tempo. Se advier o
despertamento tardio, as conseqüências do compromisso já serão inevitáveis,
gerando decepções e problemas, sobretudo causando profundas lesões na alma.
O plasma do sexo impregna os seus usuários de tal forma que ocasiona rude
vinculação, somente interrompida com dolorosos lances passionais de complexa e
difícil correção. 2a - O narcisismo é filho predileto do egoísmo e pai do orgulho, da
vaidade, inerentes ao ser humano. Fomentar o campeonato da presunção nas
modernas escolas do Espiritualismo, ensejando a fascinação, é item de alta
relevância para a queda desastrosa de quem deseja a preservação do ideal de
crescimento e de libertação. O orgulho entorpece os sentimentos e intoxica o
indivíduo, cegando-o e enlouquecendo-o. 3a - O poder tem prevalência em a
natureza humana. Remanescente dos instintos agressivos, dominadores e
arbitrários, ele se expressa de várias formas, sem disfarce ou escamoteando,
explorando aqueles que se lhe submetem e desprezando-os ao mesmo tempo,
pela subserviência de que se fazem objeto, e aos competidores e indomáveis
detestando, por projetar-lhe a sombra. O poder é alçapão que não poupa quem
quer que lhe caia na trampa. 4a - O dinheiro, que compra vidas e escraviza almas,
será outro excelente recurso decisivo. A ambição da riqueza, mesmo que
mascarada, supera a falsa humildade, e o conforto amolenta o caráter,
desestimulando os sacrifícios. O Cristianismo começou a morrer, quando o
martirológio foi substituído pelo destaque social, e o dinheiro comprou coisas,
pessoas e até o reino dos céus, aliciando mercenários para manter a hegemonia
89
da fé. “Quem poderá resistir a essas quatro legítimas verdades?”, perguntou o
comandante. “Certamente -- acrescentou --, aquele que vencer uma ou mais de
uma, tombará noutra ou em várias ao mesmo tempo.” Gargalhadas estrepitosas
sacudiram, então, as furnas, e a partir de então os técnicos em obsessão, além
dos métodos habituais, tornaram-se especialistas no novo e complexo programa
que em todos os tempos sempre constituiu veículo de desgraça, agora mais bem
aplicado, redundando em penosas derrotas. (Os Gênios das Trevas, pp. 105 a
107.)
90
TORMENTOS DA OBSESSÃO
INTRODUÇÃO
...“Nalguns, ainda muito tenazes são os laços da matéria para permitirem
que o Espírito se desprenda das coisas da Terra; a névoa que os envolve tira-lhes
a visão do infinito, donde resulta não romperem facilmente com os seus pendores,
nem com seus hábitos, não percebendo haja qualquer coisa melhor do que aquilo
de que são dotados. Têm a crença nos Espíritos como um simples fato, mas que
nada ou bem pouco lhes modifica as tendências instintivas.
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos
esforços que emprega para dominar suas inclinações más.”
Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. 17º, 52ª ed. FEB, p.
263 e 264.
91
TORMENTOS DA OBSESSÃO
A obsessão campeia na Terra, em razão da inferioridade de alguns Espíritos
que nela habitam.
Mundo de provas e expiações, conforme esclareceu Allan Kardec, é também
bendita escola de recuperação e reeducação, onde se matriculam os calcetas e
renitentes no mal, ...
Alertados para o cumprimento dos deveres morais e espirituais que são parte
do programa de crescimento interior de cada qual, somente alguns optam pelo
comportamento saudável... No entanto, aqueles que se tornam descuidados dos
compromissos de auto-iluminação e de paz enveredam pelas trilhas do abuso das
faculdades orgânicas, emocionais e mentais, comprometendo-se lamentavelmente
com as soberanas Leis da Vida através da agressão e do desrespeito aos irmãos
de marcha evolutiva.
Não é, portanto, de estranhar que a inferioridade daqueles que sofrem
injustiças e traições, enganos e perversidades, os arme com os instrumentos
covardes da vingança e da perseguição quando desvestidos da indumentária carnal...
E mesmo incontável número de adeptos do Espiritismo, com profundos
esclarecimentos e orientação, que não poucas vezes opta pela leviandade e
arrogância, comprometendo-se com a retaguarda onde ficam em expectativa
aqueles que foram iludidos, defraudados, maltratados pela sua insensatez.
Este livro é mais um brado de alerta aos companheiros da trilha física, para
que não se descuidem dos deveres que nos dizem respeito em relação a Deus, ao
próximo e a nós mesmos.
Reunimos, na presente Obra, várias experiências que vivenciamos no
Hospital Esperança em nossa Esfera espiritual,
Nesse Nosocômio espiritual encontram-se recolhidos especialmente
pacientes que foram espiritistas fracassados,
Apresentamos a narração de várias vidas e suas histórias reais,...
Salvador, 15 de janeiro de 2001.
Manoel Philomeno de Miranda
92
1
ERRO E PUNIÇÃO
Erro e punição, culpa e castigo, dolo e cobrança, fazem parte dos temas que
reservamos para análise e debate,.
...chama-me a atenção a grave interferência dos desencarnados no
comportamento dos homens.
A reunião fora reservada para pequeno grupo de pesquisadores.
Em uma área ao ar livre, reservada a tertúlias íntimas realizadas no
Nosocômio, que fora programado para obsidiados que faliram nos compromissos
terrestres, ...
Erguido, graças aos esforços e sacrifícios do eminente Espírito Eurípedes
Barsanulfo, na década de 1930 a 1940, aquele Sanatório passou a recolher desde
então as vítimas da própria incúria...
O missionário sacramentano havia constatado ser expressivo o número de
almas falidas nos compromissos relevantes, após haverem recebido as luzes do
Consolador, e que retornavam à pátria espiritual em lamentável estado de
desequilíbrio,.
Médiuns levianos,; divulgadores descompromissados; servidores que
malograram na execução de graves tarefas da beneficência; mercenários da
caridade, ali se encontravam recolhidos, muitos deles após haverem naufragado
na experiência carnal, por não terem suportado as pressões dos Espíritos
vingadores, inclementes perseguidores aos quais deveriam conquistar, ao invés
de se lhes tornarem vítimas...
...ouvimos o Apóstolo da caridade entretecendo considerações em torno do
erro e da punição, que logo o segue.
— A problemática do comportamento moral do ser humano encontra-se
relacionada com o seu nível de progresso espiritual.
“Por essa razão, Jesus acentuou que mais se pedirá àquele a quem mais se
deu,
- Em razão dessa atitude, renascem os Espíritos no clima moral a que fazem
jus... É certo que nunca falta, a Espírito algum, o divino amparo,
“As tendências inatas, que são reflexos dos com promissos vividos, impelemnos para as condutas que lhes parecem mais agradáveis e que não lhes exigem
esforços para superar. As conexões psíquicas, por afinidade, facilitam o
intercâmbio com os desafetos da retaguarda,
— A justiça está ínsita em a natureza, e o desenvolvimento moral do ser amplialhe os conteúdos sublimes na consciência. Das grotescas e impiedosas punições
do barbarismo e da Idade Média, , já se pensa em diretrizes humanitárias a serem
utilizadas, dignificando o delinqüente antes que apenas o punindo. oferecem
métodos de reeducação construtiva e terapeutica para todos os males,
“ “Um estudo profundo, à luz da psicologia, faculta identificar-se no delinqüente um
enfermo emocional, cujas raízes do desequilíbrio se encontram nas experiências
transatas das existências. Culpa, remorso, desarmonia interior, desamor, que
foram vivenciados, refletem-se em forma de comportamentos transtornados e
atitudes infelizes...
93
O SANATÓRIO ESPERANÇA
... interroguei ao amigo gentil, sobre a história daquele Santuário, o Dr. Ignácio
Ferreira, e ele, bondosamente respondeu:
— Quando ainda reencarnado, Eurípedes Barsanulfo foi portador de
verdadeiro medianato, porqüanto conduziu as faculdades mediúnicas, de que era
instrumento, dentro dos postulados enobrecedores da caridade e do amor, em
uma vivência aureolada de exemplos de renúncia e de abnegação, havendo sido
também educador emérito. Em razão dessas suas admiráveis faculdades,
dedicou-se a atender os portadores de alienação mental, psiquiátrica e obsessiva,
erguendo um Hospital na cidade em que nascera, para socorrê-los.
... acompanhou, também, após a desencarnação, muitos daqueles que lhe
receberam o concurso, neles constatando o estado deplorável em que retornavam
à Pátria,
...por identificar que muitos deles haviam recebido o patrimônio da
mediunidade iluminada pelas lições libertadoras do Espiritismo, mas preferiram
enveredar pelos dédalos da irresponsabilidade,
“Diante da massa imensa de desesperados que haviam conhecido as
diretrizes para a felicidade, mas que preferiram os jogos doentios dos prazeres
exorbitantes, edificação de um Nosocômio espiritual, especializado em loucura,..
— Eurípedes providenciou a convocação de admiráveis psiquiatras e
psicólogos desencarnados, que haviam na Terra cuidado das desafiadoras
patologias obsessivas e auto-obsessivas,
“Obedecendo a um plano cuidadoso, foram erguidos diversos blocos, que
deveriam atender a patologias específicas, tais como delírios graves, possessões
de longo porte, consciências autopunitivas, desespero por conflitos íntimos,
fixações mórbidas, hebetação mental, autismo conseqüente a arrependimentos
tardios, esquizofrenias tenebros as, obsessões compulsivas, etc.
“A região, amplamente arborizada, absorve o impacto vibratório dos
tormentos que se exteriorizam dos conjuntos bem desenhados e das clínicas de
repouso, para onde são transferidos aqueles que se encontram em processo de
recuperação.
94
O SANATÓRIO ESPERANÇA...
“Desse modo, os métodos de atendimento aos enfermos espirituais são
fundamentados no profundo conhecimento do ser, das suas necessidades, dos
fatores que levam ao fracasso os empreendimentos nobilitantes, das injunções
penosas provocadas pelo intercâmbio com Entidades infelizes e perversas, dos
desequilíbrios íntimos por acomodação e aceitação da vulgaridade e do crime...
“Estudadas as energias variadas que compõem o complexo espiritual de
cada indivíduo, abnegados especialistas em sexologia aqui trabalham, ajudando
os que vieram recambiados para este Centro de socorro, utilizando dos recursos
próprios e correspondentes, de modo a agirem nas causas dos dramas que se
desenrolaram por largo tempo, revigorando cada paciente com as incomparáveis
lições de Jesus.”
“É, sem dúvida, deplorável, o estado em que muitos aqui chegam,. Não
poucos deles aqui são instalados, mantendo a imantação psíquica com os
inimigos cruéis, que também passam a receber assistência conveniente,
“Para esse fim, uma ampla enfermaria de recepção acolhe a todos os recémchegados, após o que são examinados por diligentes psicoterapeutas, que os
encaminham aos respectivos núcleos onde poderão desfrutar do atendimento
correspondente às suas necessidades.
Aqui, além do ministério de recuperação de pacientes mentais, em razão da
sua especialidade, muitos candidatos a reencarnações como futuros psicoterapeutas e estudiosos da alma, conforme a visão das modernas Doutrinas
transpessoais, vêm fazendo estágio, a fim de adquirirem conhecimentos para lidar
com os problemas volumosos da obsessão, dos transtornos psicológicos e das
psicopatologias que se apresentam cada vez mais dominadoras na sociedade
contemporânea.
“De Thomas Willis, o psiquiatra inglês do século 17, a Filipe Pinel, de
Mesmer a James Braid, de Wilhelm Griesinger a Kraepelin, a Charcot, a Freud, a
Jung, apenas para nos referir a alguns dos cultos visitantes,
“Algumas das tentativas terapêuticas de que foram iniciadores esses
visitantes e ilustres mestres, agora são aqui aplicadas com eficiência,
Somente agindo-se no mesmo nível e campo, se pode aguardar resultados
satisfatórios
— Musicoterapia, preceterapia, amorterapia são as bases de todos os
procedimentos aqui praticados, cirurgias perispirituais de retirada de implantes
perturbadores,.
95
4
NOVOS DESCORTINOS
Menos de uma semana após a noite de convivência reconfortante com Dr.
Bezerra de Menezes, recebemos novo convite, agora firmado por Dr. Ignácio
Ferreira, para participarmos de novo encontro que deveria ocorrer no anfiteatro do
Nosocômio, e cujo tema que por ele seria debatido, tinha por título Homicídios
espirituais.
— Que a paz de Deus seja conosco! “Peregrinos do carreiro das
reencarnações, buscando a iluminação e a paz, temos mergulhado no corpo e
dele saído, graças à abnegação dos generosos Guias. O egoísmo, esse algoz
implacável de cada um de nós, tem sido o adversário declarado do nosso
processo de desenvolvimento espiritual. Face à sua dominação, resvalamos para
o orgulho, a presunção, logo despertamos para a razão, atribuindo-nos valores
que estamos longe de possuir.
“Esse comportamento malsão tem-nos gerado antipatias que poderiam ser
evitadas,.
“Mesmo quando convidados por Jesus para uma saudável mudança de
conduta, as vaidades intelectuais hauridas nas Academias ou fora delas nos assaltam, conduzindo-nos à soberba e fazendo-nos desdenhar o Mestre
“Soa, no entanto, o momento próprio para a nossa definição espiritual
-Enquanto mergulhado no denso véu da carne, entorpece-lhe parte do
discernimento e a visão global se lhe torna limitada. No entanto, face à rebeldia
que se demora na conduta de expressiva maioria, eis que adia a felicidade,
equivocando-se, para depois reparar,.
A aprendizagem, por isso mesmo, é conseguida através do erro e do acerto,.
“É mediante esse agir e arrepender-se, quando equivocado, que surgem as
vinculações dolorosas,
... o mecanismo do progresso exige disciplina e testemunho,.
... a obsessão é pandemia que permanece quase ignorada.”
sempre apresenta, graves oposições para o seu tratamento. Quando, ainda
lúcido, o mesmo se recusa receber a conveniente orientação, e, à medida que se
lhe faz mais tenaz, as resistências interiores se expressam mais vigorosas.
“Iniciando-se de forma sutil e perversa, a obsessão, salvados os casos de
agressão violenta, instala-se nos painéis mentais através dos delicados tecidos
energéticos do perispírito até alcançar as estruturas neurais, perturbando as
sinapses e a harmonia do conjunto encefálico. Ato contínuo, o quimismo neuronial
se desarmoniza, face à produção desequilibrada de enzimas que irão
sobrecarregar o sistema nervoso central, dando lugar aos distúrbios da razão e do
sentimento.
Noutras vezes, a incidência da energia mental do obsessor sobre o paciente
invigilante irá alcançar, mediante o sistema nervoso central, alguns órgãos físicos
que sofrerão desajustes e perturbações, registrando distonias correspondentes e
comportamentos alterados. implanta delicadas células acionadas por controle
remoto, que passam a funcionar como focos destruidores da arquitetura psíquica,
irradiando e ampliando o campo vibratório nefasto, que atingirá outras regiões do
encéfalo, ...
96
NOVOS DESCORTINOS...
“Estabelecidas as fixações mentais, o hóspede desencarnado lentamente
assume o comando das funções psíquicas do seu hospedeiro, passando a manipulá-lo a bel-prazer. Isso, porém, ocorre, em razão da aceitação parasitária que
experimenta o enfermo, que poderia mudar de comportamento para melhor, dessa
forma conseguindo anular ou destruir as induções negativas de que se torna
vítima..
Vitimado, em si mesmo, pela autocompaixão ou pela rebeldia
sistemática, desconsidera as orientações enobrecedoras.
“Muita falta faz a palavra de Jesus no coração e na mente das criaturas
humanas.
, é compreensível que, além das tormentosas obsessões muito bem
catalogadas por Allan Kardec, simples, por fascinação e subjugação — os
objetivos mantidos pelos perseguidores sejam muito variados. Eis porque as suas
maldades abarcam alguns dos crimes hediondos, tais como: autocídios,
homicídios, guerras e outras calamidades,
“Quando das suas graves intervenções no psiquismo dos seus hospedeiros,
suas energias deletérias provocam taxas mais elevadas de serotonina e
noradrenalina, produzidas pelos neurônios, que contribuem para o surgimento do
transtorno psicóticomaníaco-depressivo, responsável pela diminuição do humor e
desvitalização do paciente, que fica ainda mais à mercê do agressor. É nessa fase
que se dá a indução ao suicídio, através de hipnose contínua, não percebendo a
captação cruel da idéia autocida que se lhe fixa na mente..
“O mesmo fenômeno ocorre quando se trata de determinados homicídios,
que são planejados no mundo espiritual, nos quais os algozes se utilizam de
enfermos por obsessão, armando-lhes as mãos para a consumpção dos nefastos
crimes. Realizam o trabalho a longo prazo, interferindo na conduta mental e moral
do obsesso, a ponto de interromperem-lhe os fluxos do raciocínio e da lógica,
aturdindo-os e dominando-os..
“De maneira idêntica, desencadeiam guerras entre grupos, povos e nações,
ra:
- Na raiz de inumeráveis males que afetam a coletividade humana,
encontramos o intercâmbio espiritual manifestando-se. Isto não implica em dar
margem ao pensamento de que as criaturas terrestres se encontram à mercê das
forças desagregadoras da erraticidade inferior. Em toda parte está presente a
misericórdia de Deus
Somente, portanto, através do perdão e da reconciliação, da reparação e da
edificação do bem incessante, é que o flagelo das obsessões desaparecerá da
Terra...
— O amor é o bem eterno que sobrepaira em todas as situações,
97
TORMENTOS DA OBSESSÃO
Capítulo: 19 – Distúrbio Depressivo
19
DISTÚRBIO DEPRESSIVO
Os momentos, uns após outros, enriqueciam-me com as experiências
adquiridas no Hospital espiritual.
As diferentes vidas que prosseguiam buscando o rumo de segurança, e que
ali se encontravam ou eram trazidas para atendimento, constituíam-me um
laboratório expressivo para preciosas conquistas iluminativas.
Edmundo permanecia-me nas reflexões, que me facultavam compreender o
amor de Nosso Pai na sua essência mais elevada, sempre vigilante e misericordioso, não se detendo nas defecções daqueles a quem socorre, porém, ajudandoos sem cessar.
Assim pensando, refletia a respeito das incontáveis concessões de que fora
objeto durante a existência anterior, e de que, somente, a pouco e pouco, me dava
conta na vida após a morte. Como conseqüência desse conhecimento, o júbilo
era-me intenso e a gratidão a Deus tornava-se-me um constante hino de louvor.
Após visitar os irmãos, Ambrósio, que se renovava mui lentamente, Agenor,
que prosseguia adormecido, porém agora menos agitado, Honório, em refazimento vagaroso, mas seguro, prossegui observando as terapias energéticas
aplicadas no pavilhão. Detinha-me especialmente na observância dos pacientes
mais agitados, compreendendo cada vez melhor o alto significado do trabalho
anônimo de muitos Espíritos abnegados, que escolheram essas atividades
socorristas tomados pela afetividade em favor do próximo. Não se escusavam
dedicar-se à caridade em tempo integral mediante a assistência fraternal aos
portadores de alienação mental e àqueloutros portadores de seqüelas das
obsessões prolongadas. Gentis e pacientes, movimentavam-se em silêncio, interiorizados nos deveres que lhes diziam respeito, constituindo-se verdadeiros
exemplos de psicoterapeutas do amor em jubiloso serviço de elevação pessoal.
Tanto devotamento facultava-me entender quanto me encontro distante da
santificação, por me faltarem os recursos indispensáveis ao serviço libertador. Não
obstante, tornava-se-me estímulo para prosseguir na busca de informações que
pudessem elucidar os enigmas do comportamento humano durante a vilegiatura
carnal, assim facilitando a ascensão de todos os interessados no processo
evolutivo.
A assistência fraternal de Alberto, o seu conhecimento dos diversos setores
socorristas do Nosocômio, eram-me fatores de encorajamento para a aprendizagem, impulsionando-me ao avanço.
Nesse ínterim, fui convidado por dr. Ignácio a participar de um ato solene,
quando um estudioso dos transtornos psicológicos deveria proferir uma conferência sobre o fascinante e grave tema do distúrbio depressivo.
Enquanto estava na Terra, as informações a respeito do assunto eram
relativamente escassas, sendo mais abundantes entre os estudiosos da psiquiatria
e da psicologia, sem maior divulgação em relação aos leigos. Passadas algumas
décadas após a desencarnação, podia constatar que os avanços na pesquisa das
gêneses e terapêuticas dessa síndrome haviam avançado muito, e, no mundo
98
espiritual, sendo o conhecimento mais profundo, facultava respostas próprias para
o que podemos denominar quase de epidemia na atualidade do convulsionado
planeta de provas...
Assim, aguardei com interesse redobrado a ocasião para participar do magno
evento.
À hora aprazada dirigimo-nos, Alberto e eu, ao Auditório ao ar livre, onde teria
lugar o significativo cometimento.
Tratava-se de um recinto de amplas proporções com capacidade para
aproximadamente mil pessoas e a sua edificação recordava os anfiteatros grecoromanos, que facultavam uma bela visão do palco de qualquer lugar onde se
estivesse, O entardecer estava deslumbrante, abençoado por favônios perfumados, enquanto os convidados assentavam-se nas arquibancadas semicirculares. O
expositor adentrou-se no recinto acompanhado por Eurípedes, dr. Ignácio e outros
nobres Espíritos que eu não conhecia pessoalmente. Apresentava um semblante
calmo e demonstrava na face que houvera desencarnado com mais de setenta
anos... Jovial e de agradável expressão, foi conduzido à parte central, tomando
parte na mesa da cerimônia presidida pelo fundador do Nosocômio.
Encontravam-se presentes médicos especializados no estudo da psique,
enfermeiros e trabalhadores dos diversos departamentos do Hospital, interessados nos esclarecimentos que seriam oferecidos pelo culto conferencista e
muitos outros Espíritos especialmente convidados.
Após expressiva exoração ao Senhor da Vida, a todos sensibilizando,
Eurípedes fez breve apresentação do cientista-orador, esclarecendo que o mesmo
exercera a profissão de psiquiatra enquanto reencarnado na Terra, havendo
oferecido expressivo contributo à psicanálise e à psicologia, e que se encontrava
liberado do corpo havia mais de trinta anos, dando prosseguimento às pesquisas
em torno da mente e da emoção humana como resultado dos processos da
evolução espiritual.
Sem mais delongas, o esclarecido médico acercou-se da tribuna, deteve-se
em breve silêncio durante o qual exteriorizou uma suave claridade que o
emoldurou delicadamente. Em seguida, deu início à conferência, saudando-nos a
todos com jovialidade e adentrando-se no tema:
— A depressão, também identificada anteriormente como melancolia, é
conhecida na Humanidade desde recuados tempos, por estar associada ao
comportamento psicológico do ser humano. A Bíblia, especialmente no Livro de
Jó, dentre outros, nos apresenta vários exemplos desse distúrbio que ora aflige
incontável número de criaturas terrestres. Podemos identificá-la na Grécia antiga,
considerada como sendo uma punição infligida pelos deuses aos seres humanos
em conseqüência dos seus atos incorretos. Encontramo-la, desse modo, também
presente no século 4º a.C., graças a diversas referências feitas por Hipócrates.
Mais tarde, no século 2º a.C., Galeno estudou esse transtorno como sendo
resultado do desequilíbrio dos quatro humores: sangue, bílis amarela, bílis negra e
fleuma, que seriam responsáveis pelo bem-estar e pela saúde ou não dos
indivíduos. Aristóteles assevera que Sócrates e Platão, como muitos outros
filósofos, artistas, combatentes gregos, foram portadores de melancolia, que
acreditava estar vinculada às capacidades intelectuais e culturais do seu portador.
A Igreja romana, a partir do século 4º, também passou a considerá-la e defini-la,
ligando-a à tristeza, sendo tida como um pecado decorrente da falta de valor moral
do homem para enfrentar as vicissitudes do processo existencial. Posteriormente
99
esteve associada à acídia, passando a ser definida com mais severidade como
sendo um pecado cardinal, em razão de tornar os religiosos preguiçosos e
amedrontados ante as tarefas que deveriam desempenhar. As lendas a seu
respeito fizeram-se muito variadas e as discordâncias complexas, vinculando-a,
não raro, àbílis negra, responsável pelo ato impensado de Adão ao comer a maçã
no paraíso...
‘A história da medicina também relata que, já no século 10º, um médico
árabe, estudando a melancolia, confirmou que a mesma resultava da referida e
tradicional bílis negra. Com o Renascimento, porém, esse transtorno passou a ser
tido como uma forma de insanidade mental, surgindo nessa época diferentes
propostas terapêuticas de resultado duvidoso.
“À medida que se processava o progresso cultural, a melancolia passou a
expressar os estados depressivos e, a partir de 1580, tornou-se popular na
literatura com características melhor definidas. Foi a partir do século 15II, que a
tese de Galeno começou a ser superada e lentamente substituída por definições
que abrangiam a natureza química e mecânica do cérebro, responsável pelo
distúrbio perturbador. Não obstante a descoberta da circulação do sangue pelo
eminente Harvey, que facultou a apresentação de novos conceitos explicativos
para a depressão, esclarecendo que se podia tratar de uma deficiência
circulatória, permaneceram ainda aceitos os conceitos ancestrais de Galeno, e,
por efeito, a terapia se apresentava centrada nos métodos da aplicação de
sangrias, purgantes, vomitórios com o objetivo de limpar o como, eliminando os
humores negros nefastos. No século 19, ainda por um largo período foi associada
à hipocondria, responsável pela ansiedade mórbida referente ao estado de saúde
e às funções físicas... Logo depois, passou à condição de uma perturbação
mental, de um estado emocional deprimido.
“A melancolia alcançou homens e mulheres notáveis que não conseguiram
superá-la, e padeceram por largos períodos a sua afugente presença, e em alguns
casos, conduzindo-os a perturbações profundas e até mesmo a suicídios
hediondos. Inúmeros poetas, escritores, artistas, religiosos, cientistas famosos não
passaram sem sofrer-lhe a incidência cruel, dando margem a que alguns
desavisados pensassem que se tratava da exteriorização da genialidade de cada
um...”
Houve uma pausa oportuna, a fim de facultar o entendimento do discurso na
sua apresentação histórica para logo prosseguir:
- A depressão é hoje classificada como sendo uma perturbação do humor,
uma perturbação afetiva, um estado de mal-estar que se pode prolongar por
tempo indeterminado. Foi o admirável Emil Kraepelin, o nobre psiquiatra alemão,
quem apresentou melhores análises sobre a depressão no século passado,
classificando-a como de natureza unipolar, quando é menos grave, mais simples e
rápida, e bipolar, quando responsável pelas associações maníacas. Aprofundadas
pesquisas ofereceram novas classificações nos anos sucessivos, incluindo as
melancolias de involução, que se manifestam em forma de medo, de culpa e de
vários distúrbios do pensamento. O eminente psicanalista Sigmund Freud sugeriu
o luto como sendo responsável pela depressão, resultado de perda, de um ser
amado ou de outra natureza. A perda, para o nobre mestre austríaco, produz
dilacerações psicológicas muito graves, gerando distúrbios comportamentais que
se prolongam por tempo indeterminado. Concomitantemente, outros
pesquisadores estabeleceram que a depressão poderia ser endógena, quando
100
originada em disfunções orgânicas, portanto, de natureza biológica, e reativa,
como conseqüência de fatores psicossociais, sócio-econômicos, sócio-morais, em
razão das suas nefastas conseqüências emocionais. Outros observadores, no
entanto, detiveram-se em analisar a depressão sob dois outros aspectos: a de
natureza neurótica e a de natureza psicótica. A primeira é mais simples, com
melhores possibilidades terapêuticas, enquanto que a segunda, por se
caracterizar pelas alucinações e ilusões perturbadoras, exige procedimentos mais
cuidadosos e prolongados.
“A depressão, seja como for considerada, é sempre um distúrbio muito
angustiante pelos danos que proporciona ao paciente: dores físicas, taquicardias,
problemas gástricos, inapetência, cefalalgia, sentimento de inutilidade, vazio
existencial, desespero, isolamento, ausência total de esperança, pensamentos
negativos, ansiedade, tendência ao suicídio... O enfermo tem a sensação de que
todas as suas energias se encontram em desfalecimento e as forças morais se
diluem ante a sua injunção dolorosa.
“A perturbação depressiva ainda pode apresentar-se como grave e menos
grave, crônica ou distímica, cuja fronteira é muito difícil de ser estabelecida.
Somente através dos sintomas é que se pode defini-las, tendo-se em vista as
perturbações que produz nos pacientes. Nesse sentido, a somatização, decorrente
de estigmas e constrangimentos que lhe facultam a instalação, pode dar lugar ao
que Freud denominou perturbação de conversão, graças à qual um conflito
emocional se converte em cegueira, mudez, paralisia ou equivalentes, enquanto
outros psicoterapeutas, discordando da tese, acreditam que esses fenômenos
resultem de perturbações fisicas não identificadas...
“Por outro lado, a fadiga tem sido analisada como responsável por vários
estados depressivos, especialmente a de natureza crônica, que se apresenta acima do nível tolerável de gravidade. Não obstante, a depressão também se
manifesta em crianças e jovens, estruturada em fatores endógenos e outros de
natureza sociológica, decorrentes do relacionamento entre pais e filhos, do
convívio familiar e comunitário conflitivo.
“A mania, por outro lado, é mais severa em razão das alterações
manifestadas no humor, que se fazem mui amiúde em proporções gravemente
elevadas. Em determinado paciente pode expressar-se como um estado de
excessivo bom humor, de exaltação da emotividade, em contraste com os
acontecimentos vivenciados no momento, logo regredindo com rapidez para a
depressão, as lágrimas, envolvendo sentimentos contraditórios, que passam dos
risos excitados aos prantos pungentes. No momento de exacerbação o enfermo
delira, acreditando-se messias, gênio da política, da arte, com demasiada
valorização das próprias possibilidades. Vezes outras, experimenta estados de
temor, por acreditar que existe conspiração contra sua vida e seus desejos, seus
valores especiais. Apresenta-se em determinado momento palrador, mudando de
conduta com muita freqüência, ou então deixa-se ao abandono, sem higiene,
aparecendo, noutras vezes, de maneira extravagante e vulgar. Nessa fase, tornase sexualmente excitado, exótico, irresponsável, negando-se a aceitar a
enfermidade e mesmo a submeter-se ao tratamento adequado.
“A incidência do distúrbio depressivo apresenta-se quantitativamente maior
no sexo feminino. Nesse caso, podemos aduzir ao quadro geral, as manifestações
da depressão pré epost-partum, que se originam em disfunções hormonais,
conduzindo as pacientes a estados de grave perda do equilíbrio emocional e
101
mental.”
O expositor calou-se por um pouco, enquanto o público atento,
acompanhava-lhe o raciocínio rico de ensinamentos oportunos. De imediato, deu
curso àconferência:
— As influências básicas para a síndrome depressiva são muitas, e podem
ser encontradas nas crenças religiosas, nos comportamentos sociais, políticos,
artísticos, culturais e nas mudanças sazonais. Por outro lado, a hereditariedade é
fator decisivo na ocorrência inquietante, tanto quanto diversos outros de natureza
ambiental e social, como guerras, fome, abandono, seqüelas de enfermidades
dilaceradoras... Pode-se, portanto, informar que é também multifatorial. Do ponto
de vista psicanalítico, conforme eminentes estudiosos quais Freud, Abraham e
outros, a depressão oculta uma agressão contra a pessoa ou o objeto oculto.
Numa análise biológica, podemos considerar como fatores responsáveis pelo
desencadear do distúrbio depressivo, as alterações do quimismo cerebral, no que
diz respeito aos neurotransmissores como a serotonina e a noradrenalina. Em
uma análise mais cuidadosa, além dos agentes que produzem stress, incluímos
entre os geradores da depressão, os hormônios esteróides, estrênios e
androgênios, relacionados com o sexo, que desempenham papel fundamental no
humor e no comportamento mental.
“É claro que não estamos relacionando todas as causas que predispõem ou
que dão origem à depressão, antes desejamos referir-nos mui superficialmente a
somente algumas daquelas que desencadeiam esse processo alienante. Nosso
objetivo essencial neste momento é identificar o fator de natureza preponderante
para depois concluirmos pelo de natureza predisponente. E esse, essencial,
importante, é o próprio Espírito reencarnado, por nele se encontrarem ínsitas as
condições indispensáveis para a instalação do distúrbio a que faz jus, em razão do
seu comportamento no transcurso das experiências carnais sucessivas.
“O Espírito é sempre o semeador espontâneo, que volve pelo mesmo
caminho, a fim de proceder à colheita das atividades desenvolvidas através do
tempo. Não bastassem as suas próprias realizações negativas para propiciar o
conflito depressivo e as suas ramificações decorrentes, que geraram animosidades, mágoas e revoltas em outros seres que conviveram ao seu lado e foram
lesados nos sentimentos, transformando-se em outro tipo de razão fundamental
para a ocorrência nefasta.
“Ao reencarnar-se o Espírito, o seu perispírito imprime no futuro programa
genético do ser os requisitos depurativos que lhe são indispensáveis ao crescimento interior e à reparação dos gravames praticados. Os genes registram o
desconserto vibratório produzido pelas ações incorretas no futuro reencarnante,
passando a constituir-se um campo no qual se apresentarão os distúrbios do
futuro quimismo cerebral. Quando se apresentam as circunstâncias predisponentes, manifesta-se o quadro já existente nas intrincadas conexões
neuroniais, produzindo por fenômenos de vibração eletroquímica o transtorno, que
necessitará de cuidadosa terapia específica e moral. Não apenas se fará
imprescindível o acompanhamento do terapeuta especializado, mas também a
psicoterapia da renovação moral e espiritual através da mudança de
comportamento e da compreensão dos deveres que devem ser aceitos e
praticados.
“Nesse processo, no qual o indivíduo é responsável direto pelo distúrbio
psicológico, face aos erros cometidos, às perdas e ao luto que lhe permanecem no
102
inconsciente e agora ressumam, o distúrbio faz-se inevitável, exceto se, adotando
nova conduta, adquire recursos positivos que eliminam o componente cármico que
lhe dorme interiormente. Não são da Lei Divina a punição, o castigo, a vingança,
mas são impostas a necessidade da reparação do erro, da renovação do
equivocado, da reconstituição daquilo que foi danificado... O Espirito reflete o amor
de Deus nele insculpido, razão pela qual está fadado à perfeição relativa, que
alcançará mediante o esforço empreendido na busca da meta que lhe está
reservada. São, portanto, valiosas, as modernas contribuições das ciências da
psique, auxiliando os alienados e depressivos a reencontrar a paz, a alegria
interior, a fim de prosseguirem no desiderato da evolução.”
Novamente o lúcido orador fez uma pausa oportuna, logo dando
prosseguimento:
— Nesse capítulo, não podemos olvidar aqueles outros Espíritos que foram
vitimados pelo infrator, que agora retorna ao palco terrestre a fim de crescer interiormente. Quando permanecem em situação penosa, sem olvido do mal que
padeceram, amargurados e fixados nas dores terrificantes que experimentaram,
ou se demoram em regiões pungitivas, nas quais vivenciam sofrimentos incomuns,
face à pertinácia nos objetivos perversos do desforço pessoal, são atraí-dos
psiquicamente aos antigos verdugos, com eles mantendo intercurso vibratório
danoso, que a esses últimos conduz a transtornos obsessivos infelizes, O cérebro
do hospedeiro bombardeado pelas ondas mentais sucessivas do hóspede em
desalinho, recebe as partículas mentais que podem ser consideradas como
verdadeiros elétrons com alto poder desorganizador das conexões neuroniais,
afetando-lhe os neurotransmissores como a serotonina, a noradrenalina, a
dopamina e outros mais, aos quais se encontra associado o equilíbrio emocional e
o do pensamento.
“Instalado o plugue na tomada perispiritual, o intercâmbio doentio prosseguirá
atingindo o paciente até o momento quando seja atendido por psicoterapia
especial, qual seja a bioenergética, por intermédio dos passes, da água
fluidificada, da oração, das vibrações favoráveis à sua restauração, à alteração da
conduta mental e comportamental, que contribuirão para anular os efeitos
morbosos da incidência alienadora. Simultaneamente, a desobsessão, mediante
cujo contributo o perseguidor desperta para as próprias responsabilidades,
modifica a visão espiritual, ajudando-o a resolver-se pela mudança de atitude
perante aquele que lhe foi adversário, entregando-o, e a si mesmo também se
oferecendo, aos desígnios insondáveis do Pai Criador.
“Nunca será demasiado repetir que, na raiz de todo processo de desequilíbrio
mental e emocional, nas psicopatologias variadas, as causas dos distúrbios são os
valores morais negativos do enfermo em processo de reeducação, como
decorrência das ações pretéritas ou atuais praticadas. Não existindo efeito sem
causa, é compreensível que toda ocorrência infeliz de hoje resulte de atividade
agressiva e destrutiva anterior.
“Não poucas vezes, também se pode identificar na gênese da depressão o
fator responsável pelo funcionamento sexual deficiente, receoso, frustrante, que
induz o paciente ao desinteresse pela vida, à fuga da realidade...
“Desse modo, a depressão, mesmo quando decorra de uma psicogênese
bem delineada, seja pela hereditariedade ou pelos fatores psicossociais e outros,
sua causa profunda se encontra sempre no Espírito endividado que renasce para
liberar-se da injunção penosa a que se entregou.
103
“Assim sendo, aproxima-se o dia, no qual, a ciência acadêmica se dará conta
da realidade do ser que transcende a matéria, e cujas experiências multifárias
através dos renascimentos corporais responde pelo binômio saúde-doença.
“Nós próprio, quando nos labores terrestres, muito nos aproximamos da
fronteira da imortalidade, não a havendo transposto em razão dos preconceitos
acadêmicos, embora não nos houvessem sido regateados os recursos que
evidenciavam a indestrutibilidade do ser através da morte e isso demonstravam de
forma irretocável. Como ninguém pode deter o progresso, que se multiplica por si
mesmo, o amanhã constitui a esperança dos que tombaram nos processos
perturbadores e degenerativos, quando encontrarão a indispensável contribuição
dos cientistas e religiosos que, de mãos dadas, estarão trabalhando em favor da
sua recuperação mental e orgânica.”
Fez, propositadamente, uma nova pausa, que a todos nos comoveu pelo que
disse de imediato:
— Não há como negar-se: Jesus-Cristo é o Psicoterapeuta excepcional da
Humanidade, o único que pôde penetrar psiquicamente no âmago do ser, auxiliando-o na reestruturação da personalidade, da individualidade, facultando-lhe
uma perfeita identificação entre o ego e o self, harmonizando-o para que não mais
incida em compromissos degenerativos. Por isso mesmo, todos aqueles que lhe
buscaram o conforto moral, a assistência para a saúde combalida ou
comprometida, física ou mental, defrontaram a realidade da vida, alterando a
forma existencial do comportamento que lhes seria de inapreciado valor nas
futuras experiências carnais.
“A Ele, o afável Médico das almas e dos corpos, a nossa sincera gratidão e o
nosso apelo para que nos inspire na equação dos dramas que afligem a humanidade, tornando a Terra um lar melhor para se crescer moral e espiritualmente,
onde os sofrimentos decorrentes das enfermidades de vária gênese cedam lugar
ao equilíbrio e à produção da vera fraternidade assim como da saúde integral.”
Pairava no ambiente uma dulçurosa vibração de paz e de alegria. Todos
apresentavam o semblante irradiante de júbilo. O lúcido orador mantinha-se sereno e suavemente iluminado, banhado por peregrina claridade que jorrava dos
Altos Cimos...
Eurípedes levantou-se, abraçou-o, conduziu-o àmesa diretora da solenidade
e, visivelmente feliz, proferiu inesquecível oração gratulatória, dando como
encerrada a conferência.
A noite havia chegado e se encontrava banhada por argênteo luar e pelos
pingentes estelares que cintilavam muito ao longe.
Os mais interessados acercaram-se do palco, a fim de conhecer mais de
perto o convidado eloqüente e com ele dialogarem brevemente. Nós, Alberto, dr.
Ignácio e eu, fomos daqueles que se lhe acercaram, a fim de fruir mais
proximamente a sua vibração penetrante e saudável, congratulando-nos com a exposição oportuna e esclarecedora.
104
SEXO E OBSESSÃO
Capítulo: 15 – Sexo e Obsessão
SEXO E OBSESSÃO
O lúcido amigo concentrou-se, e lentamente começou a irradiar claridade argêntea
que o envolvia em tonalidades variadas, produzindo-nos incomum emoção.
Após a breve interiorização, começou a falar com inesquecível tonalidade de voz,
em que ressumavam os seus sentimentos de amor e de paternidade espiritual,
convocando-nos a reflexões muito profundas e significativas.
Sem delongas, considerou:
- O sexo é departamento importante do aparelho genésico criado com a finalidade
específica para a procriação. Responsável pela reprodução dos seres vivos,
constitui extraordinário investimento da vida, que o vem aperfeiçoando através
dos milênios, a fim de o transformar em feixe de elevadas emoções que exaltam a
Criação. Quando compreendido nos objetivos para os quais foi elaborado
transforma-se em fonte geradora de felicidade, emulando ao amor e à ternura que
expressa em forma de vitalidade e de bem-estar. Quando aviltado por qualquer
forma de manifestação incorreta,
faz-se cadeia retentora do ser na paisagem sórdida à qual foi atirado. Acionado
pelo instinto, manifesta-se automaticamente por meio de impulsos que induzem à
coabitação para o milagre da criação de novas formas de vida. Responsável pelo
invólucro material, responde pela bênção de proporcionar o instrumento corporal,
mediante o qual o Espírito evolve no rumo do Infinito. Com características
próprias em cada fase do processo evolutivo, no ser humano alcança o seu
estágio
mais elevado, por vincular-se às emoções, lentamente superando as sensações
mais
primárias por onde passou no período das experiências iniciais da forma animal.
Responsável pelos grandes envolvimentos na arte, na beleza, na fé, no
conhecimento científico e filosófico, é sede de valores ainda não desvelados.
"Em razão das explosões iniciais dos impulsos mais animalizados, vem
governando
a sociedade humana através dos tempos, constituindo-se instrumento de crimes
hediondos e de guerras lancinantes, destrutivas, gerando consequências
imprevisíveis para a sociedade de todas as épocas. Homens e mulheres de
destaque
na História utilizaram-no para fins ignóbeis, entregando-se a aberrações que
celebrizaram determinados povos e períodos, assinalados pelas suas orgias e
inomináveis aberrações chocantes que, no entanto, obedeciam às paixões
dominantes. Da mesma forma, produziu manifestações de sentimentos afetivos
celebrados em Obras de incomparável beleza, em que a renúncia e a abnegação,
o
sacrifício e o holocausto se transformaram em opções únicas para dignificá-lo.
"Profundamente arraigado na instrumentalidade material, encontram-se as suas
gêneses no ser profundo, no Espírito que, habituado às suas imposições,
transfere de uma para outra existência aspirações e desejos que, não atendidos,
105
se transformam em conflitos e sofrimentos dilaceradores, mas quando vivenciados
se expressam através de estímulos para o crescimento interior e para a conquista
da plenitude. Inegavelmente, na raíz de inumeráveis aspirações e anseios do
coração, encontra-se a libido como desencadeadora de motivações, mesmo que
de
forma sub-reptícia, o que induziu Freud a conceder-lhe valor excessivo. É
incontestável a ação do sexo no comportamento da criatura humana, merecendo
estudos cuidadosos e enobrecedores, a fim de ser avaliado no grau e no
significado que possui.
"Os seus impulsos e predominância no comportamento são tão vigorosos que vão
além do corpo físico e imprimem-se nos tecidos sutis do ser espiritual,
continuando com as suas manifestações de variada ordem, exigindo respostas
que,
não sendo de superação e sublimação, geram caos emocional e revinculam o ser
ao
carro orgânico que já se consumiu. Mediante a ideoplastia, à fixação nas suas
sensações, revigora a necessidade que se transforma em tormento no AlémTúmulo,
conduzindo de volta aos estágios perturbadores da organização somática. É,
nessa
fase, nesse terrível transtorno, que surgem as auto-obsessões, as obsessões que
são impostas às criaturas terrenas que estagiam na mesma faixa de desejos ou
entre os desencarnados do mesmo nível vibratório. Reunidos em grupos afins, as
suas exteriorizações morbíficas eliminam energias de baixa qualidade, que se
convertem em elemento construtor de regiões infelizes onde enxameiam em
convulsões penosas
e retêm aqueles que se lhes fazem vítimas, demorando-se por tempo
indeterminado
até que a exaustão dos sentidos e o tédio os induzam a mudanças de atitude,
permitindo-se a ajuda do Amor que os libertará da injunção exaustiva e penosa."
Fez uma pausa oportuna, a fim de dar-nos ensejo à reflexão, à absorção do
conteúdo da sua mensagem.
No mesmo tom, pausado e profundo, logo deu prosseguimento às explicações de
alto
significado:
- Quando emulado pelo amor - seu dínamo possuidor de inesgotáveis reservas de
energias - altera a manifestação e conduz-se rico de estímulos que fomentam a
coragem, propiciam o bom ânimo, o desejo de luta e de crescimento, alterando a
estrutura interna do ser humano e a condição da Humanidade que se transforma
para melhor.
"Diante dos grandes eventos da cultura, da arte, do pensamento, da fé, perguntese ao amor, o que constituiu razão para essa realidade, e ele responderá que
foram os sentimentos de ternura e de envolvimento afetivo, sem os quais não se
teria força nem valor para resistir às investidas da rebeldia, nem às
incessantes provas desafiadoras, ante as quais, somente os fortes, aqueles que
estão estruturados na coragem e seguros dos objetivos que perseguem,
conseguem
ultrapassar. O amor é o mais vigoroso instrumento de incitação para os logros
que parecem umpossíveis de conquistados. Ele se manifesta através de mil faces,
106
expressando-se em todas as aspirações do enternecimento, da comunhão afetiva,
da
fusão dos sentimentos, que seriam o êxtase da plenitude do sexo no seu sentido
mais elevado e puro.
"Por enquanto, todavia, o sexo tem sido objeto de servidão e de abjeção,
manifestando-se na loucura que grassa na Terra carente de ideais de
enobrecimento e repleta de desaires afligentes. Como mecanismo de fuga dos
compromissos de luta e de renovação, milhões de criaturas estúrdias e ansiosas
atiram-se aos resvaladouros das paixões sexuais, procurando, no prazer imediato
e relaxante, o que não conseguem através dos esforços renovadores do amor
sem
jaca e do bem sem retribuição. Eis por que, a obsessão do sexo, decorrente do
seu uso e sempre exigente de mais prazer, apresenta-se dominadora na
sociedade
terrestre dos nossos dias. Cada vez mais chocantes, as suas manifestações
alargam-se arrastando jovens e crianças inadvertidos ao paul da depravação, face
à naturalidade com que os veículos de comunicação de massa exibem-no em
atitudes
deploráveis e aterradoras a princípio, para se tornarem naturais depois, através
da saturação e da exorbitância, tornando-se mais grave a situação das suas
vítimas, e mais controvertidos os métodos de reeducação e preservação da saúde
emocional, psíquica e moral da criatura humana que lhe tomba nas malhas bem
delicadas mas vigorosas.
"Simultaneamente, as legiões de Espíritos viciosos e dependentes dos fluidos
degenerativos das sensações perversas, sincronizam suas mentes nesses
comportamentos doentios, passando a sofrer-lhes as injunções morbosas e
devastadoras. A cada dia, mais difícil se torna a saúde sexual das pessoas, em
razão desses e de outros fatores que procedem de reencarnações transatas, nas
quais se comprometeram com os usos indevidos da função sexual,
ou utilizaram-se do sexo para fins ignóbeis. Essa atitude gera processos danosos
que as afligem, e obrigam-nas a retornar ao proscênio terrestre em situações
deploráveis, atormentadas ante a multiplicidade de conflitos de comportamento,
para logo tombarem nas viciações que ora predominam nos grupamentos sociais,
fazendo-as vítimas de si mesmas e de outros do mesmo tipo, que se lhes acoplam
em processos complexos de obsessões perversas e devastadoras."
O Benfeitor silenciou novamente, exteriorizando na face a dor e a compaixão que
lhe inspiravam os atormentados do sexo, aqueles que se lhe fizeram vítimas,
todos os seus escravos e escravizadores.
Preservando o objetivo das elucidações, continuou no mesmo tom de mestre e de
psicoterapeuta:
- Destituído de equipamentos sexuais, o Espírito é neutro na forma da expressão
genésica, possuindo ambas as polaridades em que o sexo se expressa,
necessitando, através da reencarnação, de experienciar uma como outra
manifestação, a fim de desenvolver sentimentos que são compatíveis com os
hormônios que produzem. Face a essa condição, assume uma ou outra postura
sexual, devendo desenvolvê-la e vivenciá-la com dignificação, evitando
comprometimentos que exigem retornos dolorosos ou alterações orgânicas sem a
perda dos conteúdos emocionais ou psicológicos. Isto equivale dizer que, toda
vez quando abusa de uma função, volta a vivenciá-la, a fim de recuperá-la,
107
mediante processos limitadores, inibitórios ou castradores. Todavia, se insiste
em perverter-se, atendendo mais aos impulsos do que à razão, dominado pelo
instinto antes que
pelo sentimento, retorna em outra polaridade que não o capacita para a sua
manifestação conforme desejara, correndo o risco de canalização das energias de
forma equivocada. Em assim acontecendo, o fenômeno se torna mais grave,
produzindo danos perispirituais que irão exteriorizar-se em transtornos
profundos da personalidade e da aparelhagem genésica.
"Face aos processos evolutivos, muitos Espíritos
transitam na condição homossexual, o que não lhes
permite comportamentos viciosos, estando previsto
para o futuro, um número tão expressivo que chamará
a atenção dos psicólogos, sociólogos, pedagogos, que
deverão investir melhores e mais amplos estudos em
torno dos hábitos humanos e da sua conduta sexual.
"Jamais, porém, se deve esquecer que o sexo,
como qualquer outro órgão que constitui o corpo, foi elaborado para a vida e não
esta para aquele. Respeitar-lhe a função, utilizar-se dela com dignidade e
elevação, reflexionar em torno dos objetivos da vida, fazem parte do compromisso
para com a existência, sem o que são programados dores e conflitos muitos
graves
durante o trânsito das reencarnações.
"Assim considerando, o abuso na conduta sexual e o seu abastardamento, na
busca
atormentada de prazeres mórbidos, constituem grave desrespeito às Leis
Soberanas, cujo resgate se torna difícil e de longo curso em províncias de
sombra e de dores acerbas."
Novamente silenciou, medindo as palavras que
deveriam revestir-lhe o pensamento, a fim de dar continuidade à explicação:
- Nesta noite está programado o encontro com
um dos Espíritos infelizes que responde pela inspiração da onda de loucura e
insensatez na vivência do sexo e das suas manifestações. As lamentáveis e
alucinadas propostas que apresentou à sociedade do seu tempo e as aberrações
monstruosas geradas pela sua mente insana, que se distenderam pela Terra a
partir das suas narrações soturnas e cruas, de alguma forma já eram conhecidas
da Humanidade. Ei-las presentes nos hediondos espetáculos de Sodoma e
Gomorra,
da Babilónia, de Pompéia, da Grécia e de Roma com os seus atormentados
imperadores, de algumas cortes devassas da Idade Média, havendo, porém,
encontrado maior ressonância e aceitação pelos infelizes após as vivências do
inditoso marquês de Sade. Ele trouxe-as de experiências anteriores e ressumaram
dos porões do seu inconsciente ultrajado, para oferecê-las como realizações de
prazer aos desafortunados enfermos que, somente através das abjeções, da
selvageria e da animalidade, lograriam proporcionar prazer nas suas buscas
sexuais. Gerando obsessões incomuns, em face das vinculações que as suas
esdrúxulas práticas propõem aos seus escravos, a degião de infelizesinfelicitadores é expressiva e aterradora ainda hoje na Terra. Somente através
da compaixão elevada a uma grande potência é que podemos joeirar esse solo
sáfaro e pedregoso sob um aspecto e pantanoso e pútrido sob outro, que é o da
108
área genésica do ser humano, quando desrespeitada, a fim de semear equilíbrio e
harmonia indispensáveis à comunhão feliz das almas.
"Ante a situação deplorável em que muitos estorcegam nas apertadas malhas dos
vícios sexuais e daqueloutros que os acompanham,
tais o alcoolismo, o tabagismo, a toxicodependência, a banalização dos valores
éticos e da vida, a Lei de destruição, conforme assevera Allan Kardec, em O
Livro dos Espíritos (*) exercerá a sua função, destruindo para renovar, isto é,
chamando ao sofrimento e aos desastres coletivos, às aflições chocantes, às
lutas ensandecidas, aos trágicos acontecimentos, para que, por fim, os Espíritos
rebeldes despertem para a realidade, para o significado da existência terrena,
para os objetivos que têm pela frente, utilizando-se do corpo, do sexo, mas não
vivendo apenas e exclusivamente deles ou para eles. Esse abuso resultante da
utilização descabida responde pela loucura generalizada que a Vida se
encarregará de eliminar.
"A dor, a grande missionária silenciosa e dignificadora, lentamente trabalhará o
ser humano, admoestando-o, esclarecendo-o e conduzindo-o à estrada reta, na
qual
se utilizará dos tesouros que se encontram em toda parte para a auto-iluminação
e o crescimento na direção de Deus. Nesse comenos, as suas funções genésicas
serão transformadas em fontes de energia construtiva e trabalharão as imagens
superiores que serão criadas pela mente e pelos desejos elevados, a fim de que
se tornem também co-criadoras do belo, do útil, do nobre e do feliz. Até esse
momento, passarão muitos séculos de dor e de prova, nos quais o ser humano,
por
livre opção, ainda preferirá as obsessões calamitosas e as paixões dissolventes
à sintonia com a Divindade e à intuição libertadora do
primarismo que, por enquanto, caracteriza-o.
___
* O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, Cap. VI, questões 728 a
733, 76ª ed., FEB. (Nota do Autor espiritual.)
"Desse modo, exortemos a proteção do Sublime Criador, a fim de que os nossos
tormentos, que procedem da noite remota das manifestações primevas e dos
desalinhes morais que nos permitimos, então sejam superados com amor e
sublimados, abrindo espaços nobres para as vivências do sentimento aureolado
de
bênçãos. Agradeçamos, também, à mãe Terra, as suas dádivas fecundas que nos
facultaram desenvolver o psiquismo divino em nós adormecido, enflorescendo o
seu
solo generoso para nele depositar perfume e pólen fecundador de diferentes
expressões de beleza e vida."
Silenciou. A voz estava embargada pela emoção e todos nos encontrávamos
profundamente envolvidos pelas irradiações da sua mensagem de amor e de luz.
Automaticamente demo-nos conta que o momento esperado acercava-se. A
psicosfera
reinante, no entanto, era enriquecedora, dando-nos vitalidade e confiança, ante
a certeza de que os Céus sempre nos propiciavam, no ministério do amor, todos
os
recursos imprescindíveis aos resultados felizes.
109
Companheiros responsáveis pela sala de reuniões especiais começaram a
prepará-la
para o evento, movimentando singulares aparelhos que foram colocados em
diferentes lugares, como que para oportuna utilização, de modo a serem evitados
quaisquer prejuízos em relação ao cometimento significativo.
Os Espíritos que não se encontravam comprometidos com o programa que nos
trouxera à Instituição afastaram-se discretamente, após as despedidas gentis,
e em breves momentos encontrávamo-nos apenas os que constituíam a nossa
caravana
inicial: o venerando Dr. Bezerra de Menezes, madre Clara de Jesus e mais dois
assessores, que nos trouxeram D. Martina, o padre Mauro, o médium Ricardo,
ambos
em desdobramento espiritual e uma Entidade assinalada pelo horror, com terríveis
deformações perispirituais, que foi recolhida a um leito especial. Pude
depreender que se tratava do Espírito Rosa Keller, em profundo estado de
hibernação, ressonando de forma dolorosa, geradora de constrangimento e de
compaixão.
Enfermeiros e padioleiros espirituais postaramse juntos à parede do recinto,
formando um grupo de apoio preparado para socorros específicos que se
fizessem
necessários.
Logo depois, do teto desceu um aparelho reluzente, no qual se encontrava uma
lâmpada de amplas proporções que irradiava suave claridade bem diferente
daquela
que eu conhecia até o momento.
Ante a minha muda interrogação ao Benfeitor, esse explicou-me tratar-se de um
equipamento de energia especial, que seria utilizado caso a rebeldia do marquês,
e de alguns dos seus asseclas que seriam recebidos, apresentasse algum perigo
em
relação aos aguardados resultados superiores do empreendimento em pauta.
Percebi que o referido aparelho era acionado por uma espécie de controle remoto
mental e a sua exteriorização luminosa obedecia ao mesmo recurso.
Inesperadamente começamos a ouvir uma balada coral, como se vozes angélicas,
homenageando o Criador, entoassem uma música de incomum beleza que
possuía o
condão de enriquecer-nos de energias,
enquanto produzia emoção profunda que nos tomava os sentimentos preparados
para
a captação das concessões do amor.
Não podíamos dominar as lágrimas que nos desciam dos olhos, que nasciam no
coração invadido por profunda gratidão ao Pai Celeste, que nos honrava com
imerecida deferência no culto do dever, o qual nos dizia respeito para a própria
evolução.
Como ficar indiferente a esse amor que é a vida da nossa alma, que se extasia,
incapaz de entendê-lo em profundidade?
Nesse momento, tomando a palavra, a doce e meiga voz de madre Clara de
Jesus,
propôs-nos:
110
- Oremos em silêncio, aguardando a vontade do Senhor de todos nós, confiando
na
Sua inefável misericórdia.
TRILHAS DA LIBERTAÇÃO
Capítulo: 1 – Medicina Holística
4. Interação mente-corpo é a base do modelo holístico de saúde - Em pleno
coração da Natureza, num cenário que é um convite à reflexão, recordando um
anfiteatro grego, sem as paredes circunjacentes, costumam reunir-se, ao cair da
tarde, alguns milhares de ouvintes interessados nas conferências hebdomadárias
que estudam e discutem temas pertinentes ao futuro da humanidade terrestre. Os
oradores são ali convidados conforme suas especialidades; por isso, são
geralmente cativantes, arrebatadores, como o dr. José Carneiro de Campos,
médico baiano que contribuiu grandemente na Terra para o desenvolvimento e a
111
prática do sacerdócio a que se dedicara, e a quem estava destinado falar, num
naqueles encontros, sobre os desafios da saúde e sua visão holística. “A perfeita
interação mente-corpo, espírito-matéria -- asseverou o palestrante -- constitui
desde já a base do atual modelo holístico para a saúde. A anterior separação
cartesiana desses elementos, que constituem um todo, contribuiu para que a
terapia médica diante das enfermidades tivesse aplicações isoladas, dissociando a
influência de um sobre o outro, com a preponderância dos efeitos de cada um
deles na paisagem do equilíbrio orgânico assim como da doença. Cada vez mais
se evidencia que na raiz de muitos males está agindo a vontade do paciente, que
se compraz na preservação do estado que experimenta, negando-se, consciente
ou inconscientemente, à recuperação. Multiplicam-se, por conseqüência, as
técnicas da autocura, e mediante estas são colocados à disposição do enfermo os
recursos que ele deve movimentar a benefício próprio, liberando-se dos
mecanismos de apoio através dos quais mascara os conflitos, estresses e
desconfortos íntimos que lhe subjazem no cotidiano.” Após ligeira pausa, o
palestrante prosseguiu: “As tensões mal direcionadas e suportadas por largo
período, quando cessam, são substituídas por moléstias de largo porte, na área
dos desequilíbrios físicos, dando gênese a cânceres, crises asmáticas,
insuficiência respiratória, etc. Outras vezes, propiciando estados esquizofrênicos,
catatônicos, neuróticos, psicóticos, profundamente perturbadores. Quando afetam
a área do comportamento moral, conduzem à ingestão e uso de drogas aditícias,
alcoólicos, tabagismo, que representam formas de enfermidades sociais,
degenerando o grupo humano que lhe padece a presença perniciosa”. “A
influência da mente sobre o corpo é de grande significação para a saúde, pelo
estimular ou reter da energia que a sustenta, e, quando bloqueada pelo psiquismo
perturbado, cede campo à proliferação dos germes que se lhe instalam,
fomentando os distúrbios que se catalogam como doenças.” (Medicina Holística,
pp. 13 a 15.)
5. A intimidade do ser reflete-se diretamente no corpo somático - Na
seqüência à palestra, dr. Carneiro de Campos frisou que a ação da vontade,
quando aplicada com equilíbrio em favor da harmonia pessoal, desbloqueia as
áreas interrompidas, e a energia de sustentação das células passa a vitalizá-las,
restabelecendo o campo de desenvolvimento propiciador da saúde. “A
causalidade do comportamento psicofísico do indivíduo -- asseverou o médico -encontra-se no ser espiritual, artífice da existência corpórea, que conduz os
fatores básicos da felicidade como da desdita, que decorrem das suas
experiências ditosas ou desventuradas, responsáveis pela energia saudável ou
não, que lhe constitui o organismo, bem como pela vontade ajustada ou
descontrolada, que lhe assinala o psiquismo. O ser interior reflete-se no soma, que
somente se recompõe e renova sob a ação da conduta mental e moral dirigida
para o equilíbrio das emoções e da existência. A ação da vontade, no
restabelecimento da saúde ou na manutenção da doença, é de ponderável
resultado, refletindo os estados de harmonia ou os conflitos que decorrem da
presença ou ausência da consciência de culpa impondo reparação. Os estresses
e traumas prolongados desgastam os controles retentivos do bem-estar e
desatrelam as emoções que geram a desorganização celular.” O orador deixou
bem claro que, diante de qualquer problema na área da saúde, a conscientização
do paciente quanto ao poder de que ele mesmo dispõe para a autocura é de
112
primacial importância. Em todos os indivíduos existe, segundo o palestrante,
quase uma tendência para a autocompaixão, a autodestruição, a vingança contra
os outros, por causa de ocorrências que lhes sejam desagradáveis. Ante a
impossibilidade de assumir essa realidade exteriormente, transformam tal aptidão
em doenças, estimulando assim a degenerescência das células que aceleram a
sua multiplicação, formando tumores cancerígenos, matando as defesas
imunológicas e abrindo-se às infecções, às contaminações que perturbam a
maquinaria orgânica e fomentam a instalação das enfermidades. “Não raro -acrescentou o médico --, pessoas portadoras de neoplasia maligna e outras
doenças, quando recuperam a saúde, sentem-se surpreendidas e algo
decepcionadas, tão acostumadas se encontravam com a injunção mortificadora de
que eram objeto. Por outro lado, dão-se conta de que a família já lhes não
dispensa a mesma atenção e o grupo social logo se desinteressa por suas vidas,
despreocupando-se em relação às mesmas. Sentindo-se isoladas desmotivam-se
de viver, criam recidivas ou facultam a presença de outras mazelas com que
refazem o quadro de protecionismo que passam a receber, satisfazendo-se com a
ocorrência aflitiva.” (Medicina Holística, pp. 15 e 16.)
6. A doença não passa de acidente de percurso no caminho da evolução Dr. Carneiro de Campos foi enfático: “Uma terapêutica bem orientada deverá
sempre fundamentar-se na realidade do Espírito e nos reflexos do seu psiquismo
no corpo”. “Da mesma forma, diante dos fenômenos perturbadores da mente, o
conhecimento do estado somático é de importância para aquilatar-se sobre a sua
influência no comportamento mental. Espírito e corpo, mente e matéria não são
partes independentes do ser, mas complementos um do outro, que se interrelacionam poderosamente através do psicossoma ou corpo intermediário -perispírito -- encarregado de plasmar as necessidades evolutivas do ser eterno na
forma física e conduzir as emoções e ações às telas sutis da energia pensante,
imortal, então reencarnada.” Prosseguiu o palestrante: “Os traumas, os estresses,
os desconcertos psíquicos e as manifestações genéticas estão impressos nesse
corpo intermediário, que é o modelo organizador biológico sob a ação do Espírito
em processo de evolução, e irão expressar-se no campo objetivo como
necessidade moral de reparação de crimes e erros antes praticados. Se aquelas
causas não procedem desta existência, hão de ter sido em outra anterior.
Igualmente, as conquistas do equilíbrio, da saúde, da inteligência, do idealismo,
resultam das mesmas realizações atuais ou transatas que assinalam o ser. A
evolução é inexorável, e todos a realizarão a esforço pessoal, embora sob
estímulos e diretrizes superiores que a Paternidade Divina dispensa
igualitariamente a todos. A transitoriedade de uma existência corporal, como a sua
brevidade no tempo são insuficientes para o processo de aprimoramento, de
beleza, de felicidade a que estamos destinados. As diferenças entre o bruto e o
harmônico, o sábio e o ignorante, o feliz e o desventurado confirmam a boa e a má
utilização das experiências anteriores, como também assinalam as maiores ou
menores vivências mais ou menos numerosas de uns e de outros. A reencarnação
é, portanto, processo intérmino de crescimento ético-espiritual, facultando a
aquisição de valores cada vez mais expressivos na conquista da Vida”. O
palestrante, lembrando que não se pode opor limites ao crescimento do Espírito
projetado na sublime aventura da evolução, asseverou que a doença não passa,
nesse contexto, de mero acidente de trânsito evolutivo, de fácil correção,
113
experiência que emula à aquisição do bem-estar e das emoções saudáveis, que
compete tão-somente ao indivíduo obter. “Os processos degenerativos que se
manifestam como enfermidades dilaceradoras e de longo trânsito -- aditou o
médico -- procedem sempre do caráter moral do homem, com as exceções
daqueles que os solicitam para ensinar aos demais abnegação, dignidade e
sublimação. Originam-se nos profundos recessos do temperamento rebelde,
violento, egoísta, e explodem como flores em decomposição nos órgãos que se
esfacelam, sem possibilidades de recuperação. Pode-se dizer que esses
mecanismos ulcerativos sempre se apresentam nos déspotas, nos sanguinários,
nos ditadores, quando apeados do poder ou ainda durante a sua dominação,
refletindo os terríveis contingentes de energias deletérias que veiculam
intimamente.” “Os seus estágios finais são caracterizados por dores excruciantes
e decomposição do corpo, em vida, que ultrajaram com a mente perversa e
insana. Quando tal não ocorre, fogem do mundo através dos suicídios covardes,
que lhes demonstram a fragilidade moral, ou partem da Terra vitimados por
acidentes e homicídios dolorosos.” (Medicina Holística, pp. 16 a 19.)
7. Toda terapia deve fundamentar-se na transformação moral do paciente As mesmas vicissitudes, afirmou dr. Carneiro de Campos, alcançam aqueles que
se utilizam da roupagem física para o mercado do sexo, das sensações grosseiras
e vivem aspirando os tóxicos de potencial elevado de destruição vibratória. “No
seu tormento -- explicou o palestrante --, são destruídos pelo psiquismo que lhes
consumiu as forças e a capacidade de viver acima dos baixos padrões morais aos
quais se entregaram. E mesmo quando, no cansaço dos anos e no desgaste da
vitalidade, resolvem-se por mudanças éticas, por assumir nova compostura, não
logram tempo para evadir-se aos efeitos dos atos passados, tombando nas
engrenagens emperradas e esfaceladas do organismo escravo das construções
mentais viciosas. A mente, exteriorizando as aspirações do Espírito, impõe à
organização somática as suas próprias aspirações e preferências, que se
corporificam, quando mórbidas, nas mais diferentes dependências e patologias,
responsáveis pela desarticulação dos seus mecanismos. Assim sendo, qualquer
abordagem terapêutica não deve ser parcial e sim holística, atendendo a todas as
partes construtivas do ser. Em boa hora, a consciência médica confere atenção às
terapias alternativas que, na sua maioria, consideram o homem um ser total e
buscam-no essencial, imortal, trabalhando sobre a sua realidade profunda, que é o
Espírito, a fonte de energia a manifestar-se no corpo. Assim, mediante o novo
modelo biológico, todo tentame em favor do equilíbrio deve fundamentar-se na
transformação moral do paciente, na sua recomposição emocional, originada na
mudança dos painéis mentais para a adoção de pensamentos sadios e na
vivência concorde com os ideais de engrandecimento, que são catalisadores das
forças vivas presentes em a Natureza -- sintonia ecológica -- que interagem na
sua constituição global. Eis por que as preocupações com o verde, a harmonia do
meio ambiente e a sua preservação fazem parte do esquema de saúde social...”
Dr. Carneiro de Campos, finalizando a palestra, não poderia ser mais claro:
“Qualquer modelo de saúde holística terá que abranger o conjunto das
necessidades humanas e nunca deter-se, apenas, nas suas partes, isoladamente.
O homem é membro da Vida, tem vida integrada em a Natureza e deve ser
considerado globalmente, alterando o tradicional modelo biomédico para uma
visão mais completa, na qual o amor, conforme a proposta de Jesus-Cristo, tenha
114
prevalência, assinalando definitivamente as atitudes e condutas de cada um.
Enquanto a Medicina não se unir à Psicologia, à Ecologia, à Agricultura e a outras
doutrinas afins para um mais amplo conhecimento do ser, dando-lhe uma conduta
holística, as terapias prosseguirão deficientes, incapazes de integrá-lo no contexto
da realidade a que pertence, minimizando somente as doenças sem as erradicar,
atendendo às partes sem maior ação no conjunto, assim, permanecendo
incompleta, insuficiente portanto para a finalidade da saúde global. Jesus-Cristo,
por conhecer profundamente o homem, curava-o, admoestando-o para evitar-lhe o
comprometimento negativo, de modo a associá-lo ao bem geral, graças ao qual se
poupava a males outros maiores”. “O homem do futuro -- concluiu o orador --,
após superar as suas deficiências presentes, receberá mais amplo auxílio da
Medicina, adquirindo uma saúde integral, que será também resultado da sua
perfeita consciência de amor e respeito à vida.” (Medicina Holística, pp. 19 a 21.)
Cap.2 – Ampliando os Conhecimentos
8. É preciso, antes de tudo, mostrar ao enfermo que doença é efeito Terminada a palestra, José Petitinga e Miranda se aproximaram para
cumprimentar o orador, que logo foi rodeado de um grupo de estudiosos da
Medicina no plano espiritual, que o interrogavam educadamente, buscando
ampliar as informações nas suas áreas específicas. “Em face do que foi abordado
-- perguntou um jovem médico --, compreendi que as doenças físicas, em geral,
são resultado de um comportamento desequilibrado da mente. Assim sendo, como
ficam as injunções cármicas negativas em alguém que mantivesse o equilíbrio
psíquico?” O orador esclareceu: “Uma mente estúrdia, desarmonizada, em
desequilíbrio, é resultado do Espírito doente, devedor. Seria incoerência
encontrarmos em um calceta ou em uma vítima da consciência de culpa um
estado mental harmônico. Essa distonia reflete os efeitos da conduta deteriorada,
fazendo-a instrumento dos fatores degenerativos que se impõem no quadro da
saúde pessoal, na condição de enfermidades reparadoras”. O consulente indagou,
então, qual seria, em tais casos, o papel da Medicina holística, ao que dr. Carneiro
de Campos informou: “Trabalhar o paciente globalmente. De início, demonstrar-lhe
que a doença é efeito, e somente atendendo-lhe às causas torna-se possível
saná-la. Logo depois, conscientizá-lo da necessidade de modificação no
comportamento moral, mudando-lhe o condicionamento cármico, por cuja conduta
adquirirá mérito para uma alteração no seu mapa existencial. Desse modo, as
imposições reencarnacionistas, que dependem das novas ações do ser, alteramse para melhor, a mente reajusta-se a uma nova realidade, e, irradiando-se de
maneira positiva, providencial, contribui para o estado de bem-estar fisiopsíquico”.
“O médico, nesse programa -- aditou o orador --, torna-se também conselheiro,
sacerdote que inspira confiança fraternal e dispensa ajuda moral, ampliando a sua
antes restrita área de ação.” (Ampliando os Conhecimentos, pp. 22 e 23.)
9. O papel do perispírito no modelo da Medicina holística - Miranda
concorda plenamente com as colocações apresentadas pelo médico baiano. É
que a oficialização da Medicina tornou os seus profissionais instrumentos quase
automáticos de determinados comportamentos aceitos, que vêem no paciente
apenas um caso a mais, no variado número daqueles aos quais conferem
assistência, preocupando-se, só razoavelmente, em propiciar-lhe suspensão dos
115
efeitos -- as dores, a ansiedade, o medo, a insegurança -- ao invés de penetrar-lhe
mais profundamente as gêneses, trabalhando-as com maior soma de atenção. O
órgão doente reflete o desconforto do Espírito, em si mesmo insano, que
manifesta naquela área a deficiência, a mazela que o afeta. Miranda reflexionava
nesses termos quando uma senhora perguntou ao dr. Carneiro de Campos qual o
papel do perispírito no modelo da Medicina holística. O médico lhe respondeu:
“Sabemos que o perispírito, com a sua alta sensibilidade, é o veículo modelador
da forma, portador de inumeráveis potencialidades, tais como: memória,
penetrabilidade, tangibilidade, elasticidade, visibilidade, que manipuladas,
conscientemente ou não, pelo Espírito, através da energia psíquica, exteriorizamse no corpo físico, nele plasmando os implementos para ajudá-lo na evolução.
Assim, a irradiação mental agindo no campo perispiritual alcança a organização
fisiológica. Daí por que a mudança do pensamento para uma faixa superior, a da
saúde, por exemplo, propicia que a energia desprendida sintonize com as
vibrações desse campo, alterando o teor de irradiação que irá estimular o
equilíbrio das células e a restauração da saúde física. Da mesma maneira, a
reconquista do comportamento moral, trabalhando o corpo, produzirá
modificações na área do psicossoma, que influenciará a conduta mental. A
energia que provém do psiquismo, pelo modelo organizador biológico, alcança a
matéria, assim como a conduta orgânica disciplinada, pelo mesmo processo,
atinge o psiquismo, imprimindo-se no Espírito. Os hábitos, portanto, os
condicionamentos vêm do exterior para o interior e os anseios, as aspirações
cultivadas partem de dentro para fora, transformando-se em necessidades que se
impõem”. (Ampliando os Conhecimentos, pp. 23 e 24.)
10. A matriz das obsessões é a consciência de culpa - Miranda aproveitou o
ensejo para perguntar como se daria, no caso das obsessões, a assistência
holística. Dr. Carneiro de Campos, em sua resposta, lembrou inicialmente que em
todo processo de obsessão estão presentes dois enfermos em pugna de
desequilíbrio. “De igual forma -- acentuou ele --, não ignoramos que a obsessão se
torna possível, graças à ação do agente no campo perispiritual do paciente. A
consciência de culpa do hospedeiro desarticula o campo vibratório que o defende
do exterior e, nessa área deficiente, por sintonia fixa-se a indução perturbadora do
hóspede. A essa consciência de culpa chamaremos matriz, que facultará o
acoplamento do plugue mental do adversário. Não raro, a força de atração da
matriz é tão intensa -- por necessidade de reparação moral do endividado -- que
atrai o seu opositor espiritual, iniciando-se o processo alienador. Em outras
ocasiões, quando a culpa é de menor intensidade, o cobrador sitia a usina mental
do futuro hospedeiro, que termina por aceitar a inspiração perniciosa, tendo início
o intercâmbio telepático, que romperá o campo de defesa, facultando, assim, a
instalação da parasitose. Esta, graças à sua intensidade, através do perispírito se
alojará na mente, gerando alucinações, pavores, insatisfação, manias,
exacerbação do ânimo ou depressão, ou se refletirá no órgão que tenha
deficiência funcional, pelo assimilar das energias destrutivas que lhe são
direcionadas e absorvidas. Modelo de terapia holística para a saúde encontra-se
muito bem delineado na Codificação Espírita, especialmente pela abrangência que
esta faculta ao homem, que é um ser integral, importante em todos os aspectos
que o constituem, em particular quando o analisa reencarnado. As
recomendações espiritistas têm em mente os valores do Espírito: morais,
116
intelectuais, comportamentais, trabalhando-os em conjunto com o objetivo de
propiciar a saúde, como decorrência da reparação dos erros pretéritos, e a
aquisição de recursos positivos atuais para o pleno equilíbrio perante as Leis
Cósmicas. Na análise dos pacientes espirituais, a terapia espírita não dispensa a
de natureza psiquiátrica, seja nas depressões profundas -- transtornos psicóticos
maníaco-depressivos -- seja nas exaltações esquizofrênicas e paranóides...
Impõe, entretanto, como primordial, a renovação moral do paciente e a sua ação
edificante, assumindo o valioso concurso da praxiterapia, especialmente
direcionada para o bem, que lhe facultará créditos a serem considerados no
balanço moral da sua existência. Especificamente, para atender-se obsidiados, o
modelo espírita, que é holístico na sua profundidade, preocupa-se com o enfermo
encarnado, mas também com o desencarnado, não menos doente, procurando
demovê-lo do mal que pratica, porque esta nova atitude lhe fará bem, tanto quanto
preocupando-se com a família da aparente vítima, o seu meio social e ambiental.
A transformação moral do grupo familial para melhor é um efeito saudável da
terapia desobsessiva, que se expressa de maneira psicológica amorosa, abrindo
espaço social para o antagonizante, que então recebe o aceno para a
reencarnação.” (Ampliando os Conhecimentos, pp. 25 e 26.)
11. Como tratar a ocorrência de obsessões em crianças - As explicações do
dr. Carneiro de Campos mostravam, com clareza, que a obsessão é parasitose
profunda e grave, que tem de ser atendida globalmente, arrancando-se-lhe as
raízes perigosas, que repontam com mais vigor se não são extirpadas através da
conquista plena do adversário em perturbação. No caso de crianças obsessas, o
médico lembrou que a obsessão na infância possui um caráter expiatório como
efeito de ações danosas de curso mais grave. “Não obstante -- esclareceu ele --,
os recursos terapêuticos ministrados ao adulto serão aplicados ao enfermo infantil
com mais intensa contribuição dos passes e da água fluidificada -- bioenergia -bem como proteção amorosa e paciente, usando-se a oração e a doutrinação
indireta ao agente agressor -- psicoterapia --, por fim, através do atendimento
desobsessivo mediante o concurso psicofônico, quando seja possível atrair o
hóspede à comunicação mediúnica de conversação direta. A visão do Espiritismo
em relação à criança obsidiada é holística, pois que não a dissocia, na sua forma
atual, do adulto de ontem quando contraiu o débito. Ensina que infantil é somente
o corpo, já que o Espírito possui uma diferente idade cronológica, nada
correspondente à da matéria. Além disso, propõe que se cuide não só da saúde
imediata, mas sobretudo da disposição para toda uma existência saudável, que
proporcionará uma reencarnação vitoriosa, o que equivale dizer, rica de
experiências iluminativas e libertadoras.” “Adimos a terapia do amor dos pais e
demais familiares, igualmente envolvidos no drama que afeta a criança.” Dadas
estas explicações, Miranda propôs ao Instrutor uma outra questão: “Na hipótese
do ser prejudicado perdoar o seu malfeitor, desapareceria a possibilidade da
obsessão. Como seria a análise da injunção cármica reparadora, numa visão de
saúde espiritual holística?” Eis a resposta do atencioso médico: “Sabemos que o
perdão de uma dívida não isenta o seu responsável da regularização através de
uma outra forma. Quem perdoa fica bem, porém o desculpado permanece em
débito perante a economia da vida. Cumpre-lhe passar adiante o que recebeu,
auxiliando a outrem conforme foi ajudado. Assim no caso em tela, a consciência
de culpa do devedor faz um mecanismo de remorso que se transforma em
117
desajuste da energia vitalizadora, que passa a sofrer-lhe os petardos e termina por
produzir, como não desconhecemos, a auto-obsessão, ou engendra quadros de
alienação mental conhecidos na psicopatologia sob denominações variadas. A
consciência culpada do Espírito que se arrepende do mal que praticou mas não se
reabilita, emite vibrações perniciosas que o perispírito encaminha ao cérebro,
perturbando-lhe as funções. A terapia, no caso, será auto-reparadora, concitando
o paciente a refazer o caminho, a dedicar-se à ação do bem possível e trabalharse moralmente reajustando-se à tranqüilidade da recuperação”. (Ampliando os
Conhecimentos, pp. 27 e 28.)
Cap.3 – Perspectivas Novas
12. A ação mental de uma pessoa sobre outra pode gerar várias doenças - Ao
apresentar Miranda ao dr. Carneiro de Campos, que ele há muito já conhecia,
José Petitinga informou-o de que, desde quando se encontrava encarnado,
Miranda se dedicava à prática e ao estudo da desobsessão. “Desde que aqui
chegou, há quase cinqüenta anos -- acrescentou Petitinga --, prossegue nas suas
pesquisas, e vem, de quando em quando, escrevendo para a Terra, qual repórter
desencarnado, que busca informar e esclarecer os companheiros da experiência
carnal, a fim de adverti-los e orientá-los sobre o tema, desdobrando os
ensinamentos e instruções do emérito Codificador do Espiritismo a esse respeito.”
Dr. Carneiro de Campos, ciente disso, convidou Miranda a participar com ele de
algumas atividades dessa natureza, que teriam começo na noite seguinte.
Miranda, obviamente, aceitou o convite e, não podendo sopitar o júbilo, comentou
com o amigo Petitinga, logo que o médico se despediu: “A experiência e o trato
com os enfermos espirituais têm-me demonstrado que a interferência psíquica de
umas criaturas sobre as outras, desencarnadas ou não, é responsável pela quase
totalidade dos males que as afligem, dentro, naturalmente, das injunções cármicas
de cada qual”. “A ação mental de um agente sobre outro indivíduo, se este não
possui defesas e resistências específicas, termina por perturbar-lhe o campo
perispiritual, abrindo brechas para a instalação de várias doenças ou a absorção
de vibrações negativas, gerando lamentáveis dependências. Aí estão as
ocorrências dos prazeres sexuais, dos amores descontrolados, em que um dos
parceiros mantém a vampirização da vitalidade emocional do outro ou ambos se
exploram reciprocamente, tombando, em exaustão, no entanto permanecendo
insatisfeitos...” (Perspectivas Novas, pp. 29 a 31.)
13. Muitas pessoas se vinculam umas às outras em processo de parasitose
psíquica - Na seqüência, Miranda lembrou que a emissão da onda mental
invejosa, cobiçosa, inamistosa prende o emitente ao receptor, transformando-se
em uma forma não menos cruel de obsessão. “O agente não consegue -- diz
Miranda -- desvincular-se da vítima e esta, aturdida ou enferma, desequilibrada ou
desvitalizada, não logra recompor a paisagem íntima nem a orgânica de bemestar, alegria e saúde. Quantos desencarnados pululam vinculados uns aos outros
em deplorável parasitose psíquica, a alongar-se por largos períodos de
infelicidade! Quantos outros que, sofrendo as exigências mentais dos amores e
desafetos terrenos que continuam direcionando seus pensamentos com altas
cargas de tensões negativas sobre eles, incapazes de libertar-se, tornam-se-lhes
vítimas inermes, padecendo atrozmente, sem conforto íntimo nem esperança,
118
atormentados pelos apelos que recebem e não podem atender, bem como pelos
ódios que os envenenam! Escritores e artistas que optaram pela obscenidade,
pela violência, pelo açodar das paixões vis, tornam-se escravizados aos que se
lhes sintonizam e gostam das suas obras, revivendo os clichês mentais que eles
compuseram, na Terra, e ora tornam-se-lhes fonte de tormentos inimagináveis.
Ainda consideremos a técnica dos Espíritos obsessores mais impiedosos, que se
utilizam de intermediários para as suas cruéis reivindicações, controlando-os
mentalmente e induzindo-os à agressão aos viajores carnais, e teremos um elenco
expressivo de obsessões que excedem o quadro tradicional da perturbação mais
conhecida e trabalhada, que é a de um desencarnado sobre outro reencarnado.”
Petitinga concordou com as observações feitas por Miranda e acrescentou:
“Comparemos o homem a uma árvore. As suas raízes de sustentação e nutrição
fincadas no solo são o seu passado espiritual; o tronco é a existência atual; os
galhos e folhagens são as suas atitudes presentes; as flores e os frutos serão o
seu futuro. Se as raízes permanecem em solo árido ou pantanoso, infértil ou
pedregoso, a falta de vitalidade para manter a seiva termina por exterminar-lhe a
vida, que se estiola vagarosamente, mesmo que o ar generoso e a chuva
contribuam para a sua preservação. Somente através da correção da terra, da sua
adubação, é que as energias vitais lhe correrão por toda a estrutura, levando-a ao
vigor, à florescência e à frutificação. Em caso contrário, mesmo que consiga o
desenvolvimento, este será incompleto, frágil, e a produção mirrada”. “Assim
também somos nós, Espíritos em processo de crescimento. O nosso passado
moral torna-se-nos o terreno de sustentação das raízes e tudo dependerá das
ações praticadas, que respondem pelas ocorrências em desdobramento.”
(Perspectivas Novas, pp. 31 e 32.)
14. Tuberculose e úlceras diversas podem ser provocadas pela obsessão A terapia dirigida ao indivíduo doente assemelha-se, diz Petitinga, à providência
de salvação da árvore explorada pela erva que lhe suga a seiva: retirar o parasita,
sustentar o tronco e cuidar da seiva. “Ao ser humano -- recomenda ele -- deve-se
oferecer recurso, a fim de que os plugues de fixação (as raízes) se desloquem
das tomadas por falta de imantação e, lentamente, o agente estranho e
explorador, devidamente esclarecido (qual parasita vegetal da árvore, podado),
seja retirado sem maiores prejuízos para o hospedeiro.” Petitinga afirma ainda que
a obsessão desaparecerá do nosso mapa evolutivo, por total desnecessidade,
quando nos conscientizarmos dos resultados excelentes do equilíbrio mental, das
ações nobres e da conversação edificante. Contudo, enquanto houver predomínio
em a natureza humana dos baixos níveis de conduta e das aspirações
brutalizadoras, o intercâmbio de energias desse gênero produzirá afecções
psíquicas duradouras, com terríveis reflexos na saúde física. “A mente que se fixa
sobre outra, sendo portadora de carga predominante, sobrepor-se-á, passando ao
comando”, esclarece Petitinga. “A energia deletéria de que se constitui bloqueará
o campo de equilíbrio da vítima ou o destroçará, forçando a instalação de germes
e vírus destruidores ou transmitindo, em outros casos, os sintomas das
enfermidades que levarão o hospedeiro à desencarnação, atacando o órgão
correspondente e contaminando-o com a mesma doença. Essas obsessões
físicas, muitas vezes, tomam corpo mais amplo e vigoroso em processos de
cegueira, mudez, surdez, paralisias diversas, por interferência de onda mental
prevalecente sobre o corpo debilitado.” Miranda lembrou, em seguida, o fato
119
mencionado por Kardec, no capítulo XXIII de “O Livro dos Médiuns”, em que um
homem, agarrado pelos jarretes, era constrangido pelos adversários
desencarnados a ajoelhar-se diante de jovens senhoritas. E disse ter conhecido
na Terra diversos casos de pessoas com tuberculose pulmonar e laríngea
provocada pela interferência de inimigos desencarnados. As úlceras gástricas e
duodenais, bem como alguns distúrbios cardíacos, hepáticos e do aparelho
digestivo, têm, segundo ele, procedência nessa terrível e contínua emissão de
fluidos enfermiços que se infiltram nos órgãos, descompensando-lhes o ritmo
celular, funcional, e provocando a sua degenerescência. (Perspectivas Novas, pp.
33 e 34.)
15. O Espiritismo demonstra a excelência das terapias preventivas - Do
diálogo entre os dois amigos restou evidenciada a excelência da terapia
preventiva, mediante a preservação da saúde moral, do autoconhecimento, do
cultivo e vivência das idéias estimuladoras do progresso, da harmonia e do bem
geral que mantêm a dinâmica do equilíbrio, irrigando a vida com paz e
sustentando-a em níveis elevados. O indivíduo é, assim, responsável, próximo ou
remoto, por tudo quanto lhe sucede. “Conforme aspira, delineia, e de acordo com
o que vitaliza, ocorre”, asseverou José Petitinga, que logo se despediu,
permanecendo Miranda a meditar a respeito do trabalho prestes a iniciar e das
perspectivas novas em delineamento. “A visão holística da saúde -- considerou o
amigo, mentalmente -- possui grande abrangência de temas. Nessa
interdependência de questões que predispõem à doença ou fomentam o bemestar, constata-se a necessidade de uma equilibrada observância de itens de
natureza ética em vários ramos do conhecimento, contribuindo para a harmonia. O
efeito mais imediato não deve ser o único a receber consideração e interrupção,
pelo fato de ser, de alguma forma, possível conseqüência de outros fatores que
permanecem ocultos. O terapeuta alarga, então, os seus horizontes de ação e
transita por diferentes métodos que se ampliam desde as experiências
psicológicas às psicobiofísicas, aos acontecimentos ambientais, ecológicos,
sociais, morais e econômicos, assim tornando-se um verdadeiro sacerdote do bem
e não apenas um saneador de conseqüências. Sem o conhecimento do
Espiritismo, difícil lhe será distinguir se uma enfermidade física resulta de uma
indução obsessiva, ou se uma alienação mental não é portadora de típica
psicogênese. O preconceito ancestral que separava a Física da Metafísica
esfacelou-se, a Medicina das Terapias Alternativas e das Doutrinas psíquicas em
geral, e da espírita em particular, cede lugar a um perfeito entrelaçamento para
identificação correta do homem e suas necessidades, assim como dos melhores
processos para a sua promoção, o seu equilíbrio humano, espiritual, social.”
(Perspectivas Novas, pp. 34 a 36.)
120
121

Documentos relacionados