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PsicoDOM – número 4 – junho 2009 - pag. 1 a 18
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REBELDIA ADOLESCENTE:
UM OLHAR À LUZ DAS CONTRIBUIÇÕES DA
PSICANÁLISE
Allan Martins Mohr
Psicólogo e Bacharel em Psicologia, formado pela Universidade Federal do Paraná, aluno do
curso de Pós-Graduação lato sensu – Especialização em Psicanálise: Teoria e Prática, da
Faculdade Dom Bosco.
Luciana Albanese Valore
Psicóloga pela UFPR, mestre em Psicologia Social pela USP e doutora
em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP. Professora do
Departamento de Psicologia e diretora do Centro de Estudos e Assessoria em
Psicologia e Educação (Ceape) da UFPR.
Resumo
O presente estudo debruça-se sobre a compreensão da rebeldia adolescente à
luz das contribuições de pesquisadores referenciados na psicanálise, e objetiva
subsidiar a reflexão de profissionais envolvidos com as sempre desafiadoras
questões da adolescência; também investiga comportamentos como vandalismo
e suicídio, dentre outros, buscando evidenciar os aspectos psíquicos
associados.
Palavras-chave: Adolescência; Rebeldia; Lutos.
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1. Introdução
O senso comum, assim como muitos autores, retrata a adolescência
como um período de turbulência e de crises, caracterizado por desequilíbrios e
instabilidades extremas, como o fazem Aberastury e Knobel (1981c), cujo
somatório de comportamentos foi premiado por um neologismo que hoje se
conhece como “aborrescência”.
O “período da vida humana que começa com a puberdade e se
caracteriza por mudanças corporais e psicológicas” (FERREIRA, 1993, p. 12),
estendendo-se dos 12 aos 20 anos, aproximadamente, já foi retratado por
inúmeros
autores,
psicólogos,
pedagogos
e
biólogos,
entre
outros
pesquisadores, que tentaram “desvendar” o “fenômeno” adolescência.
Para Artori (2006), por exemplo, o adolescente seria “um vulcão em
erupção, expelindo paixões, desejos e rebeldia” (p. 31); muitas vezes parecendo
um
ser
descontrolado.
Muitas
vezes,
pois
existem
aqueles
cujos
comportamentos, na medida do possível, não são tão perturbadores nem para si
nem para o mundo adulto, como mostram Aberastury e Knobel (1981c).
Conflitos presentes na adolescência, suas fontes e tentativas de
resolução constituem as bases deste estudo, sendo seu foco a rebeldia
adolescente, aqui tratada à luz das contribuições da psicanálise.
Levando em conta a sintomatologia que integra o que Knobel (1981)
classifica como “síndrome normal da adolescência” (p. 29), e selecionando mais
especificadamente a “atitude social reivindicatória com tendências anti ou
associais de diversa intensidade e constantes flutuações de humor” (p. 29),
entende-se por rebeldia um espectro de comportamentos que, socialmente, são
tidos como desajustes: sejam comportamentos contra a sociedade, sejam contra
si mesmo. Como problema norteador deste estudo, tem-se a questão: seria a
rebeldia adolescente uma das tentativas de elaboração dos conflitos psíquicos
existentes na adolescência; ou, em outras palavras, seria a rebeldia adolescente
uma maneira de auxiliar a realizar os lutos da adolescência1?
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Tal questão tem implícitas algumas hipóteses a respeito da rebeldia
adolescente e de suas possíveis fontes disparadoras. Sua investigação, a partir
da revisão de estudos empreendidos por alguns psicanalistas acerca da
adolescência, configurou o objetivo deste escrito.
Como se pode ver ao longo da obra de Clerget (2004), Adolescência: a
crise necessária, o fenômeno adolescência muitas vezes caracteriza-se por
trazer sofrimento aos pais dos jovens e à sociedade na qual estão inseridos. A
violência (que aqui poderia ser lida como rebeldia) “é descrita em todos os
casos, desde a Antiguidade, como uma disposição particular a este período da
vida” (p. 90), ou seja, a adolescência. Nesse sentido, supõe-se que o estudo
deste tema, para além das contribuições da ordem da produção do
conhecimento, poderá lançar alguns pontos para reflexão a todos aqueles que,
de um modo ou de outro, estejam envolvidos com as sempre desafiadoras
questões da adolescência.
Uma vez desveladas as intenções deste trabalho, parte-se então para
seus “achados”; lembrando, porém, que não se teve a pretensão de percorrer
todos os comportamentos rebeldes, direcionando-se o olhar aos possíveis
determinantes de alguns dentre eles, a saber: brigas entre gangues, vandalismo
em grupo, roubo e conduta agressiva solitária.
Para tanto, num primeiro momento, abordar-se-á a revisão de literatura
sobre o adolescer, os lutos na adolescência e a rebeldia em si, incluindo a
definição de alguns conceitos psicanalíticos com o auxílio de autores como
Arminda Aberastury, Maurício Knobel, Sigmund Freud, Clerget, entre outros
pensadores desse campo do saber.
2. O adolescer
O que é o “adolescer”? Parece plausível dizer que se tornar adolescente
pressupõe a passagem de um estágio a outro, no caso, a passagem da infância
para a adolescência. Ou, como afirma Aberastury (1981e), “literalmente,
adolescência (latim, adolescência, ad: a, para a + olescere: forma incoativa de
olere, crescer) significa a condição ou o processo de crescimento” (p. 89).
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Assim, a adolescência consiste numa etapa da vida em que o indivíduo
busca estabelecer sua identidade adulta, o que pressupõe uma identidade
anterior, que pode ser chamada de identidade infantil2.
Na concepção psicanalítica, o entendimento de tal passagem para a vida
adulta pressupõe a compreensão de alguns conceitos freudianos fundamentais:
conflito psíquico, luto, castração, complexo de Édipo e elaboração psíquica.
Torna-se então necessário abordá-los, ainda que de forma breve.
O conceito de conflito psíquico é descrito por Laplanche e Pontalis (1994)
como a oposição entre exigências internas contrárias, podendo ser manifesto
(entre um desejo e uma exigência moral ou entre dois sentimentos
contraditórios, por exemplo) ou latente, vindo a expressar-se pela via da
formação de sintomas, desordens do comportamento, perturbações do caráter,
etc.
O conceito de elaboração psíquica, por sua vez, é utilizado por esses
autores para designar o trabalho empreendido pelo aparelho psíquico, a fim de
controlar e dominar as excitações que lhe chegam, evitando seu acúmulo, o que
poderia acarretar consequências patológicas: “este trabalho consiste em integrar
as excitações no psiquismo e em estabelecer entre elas conexões associativas”.
(Ibid., p. 143).
Cabe, pois, questionar se se deve considerar o conflito interno como fonte
de excitação psíquica. Em caso afirmativo, poder-se-ia supor tal conflito interno
como passível de elaboração.
Outro conceito importante no estudo da rebeldia adolescente diz respeito
ao luto, compreendido por Freud (2003a) como um trabalho de retirada de libido
do objeto:
O teste da realidade revelou que o objeto amado não existe mais,
passando a exigir que toda a libido seja retirada de suas ligações com
aquele objeto. Essa exigência provoca uma oposição compreensível —
é fato notório que as pessoas nunca abandonam de bom grado uma
posição libidinal, nem mesmo, na realidade, quando um substituto já se
lhes acena. Esta oposição pode ser tão intensa, que dá lugar a um
desvio da realidade e a um apego ao objeto por intermédio de uma
psicose alucinatória carregada de desejo. Normalmente, prevalece o
respeito pela realidade, ainda que suas ordens não possam ser
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obedecidas de imediato. São executadas pouco a pouco, com grande
dispêndio de tempo e de energia catexial, prolongando-se
psiquicamente, nesse meio tempo, a existência do objeto perdido.
Cada uma das lembranças e expectativas isoladas através das quais a
libido está vinculada ao objeto é evocada e hipercatexizada, e o
desligamento da libido se realiza em relação a cada uma delas. (...) É
notável que esse penoso desprazer seja aceito por nós como algo
natural. Contudo, o fato é que, quando o trabalho do luto se conclui, o
ego fica outra vez livre e desinibido. (p. 276-277.)
Freud afirma que o luto é um trabalho psíquico que visa a desinibir e
libertar o ego da oposição de exigências entre o teste da realidade e uma
posição libidinal que “teima” em continuar. Nessa perspectiva, poder-se-ia
afirmar que o luto é a elaboração do conflito psíquico causado pela perda de um
objeto amado? Entende-se que sim, posto que consiste num trabalho de
elaboração, com o fim de dominar as excitações decorrentes da perda, que
chegam até o aparelho psíquico, e de estabelecer entre elas conexões
associativas (LAPLANCHE & PONTALIS, 1994).
Por fim, neste trabalho de resgate de conceitos fundamentais para o
estudo da rebeldia, cabe ainda situar os conceitos de complexo de castração e
de complexo de Édipo.
Sobre o complexo de castração, Laplanche e Pontalis (1994) afirmam que
está “centrado na fantasia de castração, que proporciona uma resposta ao
enigma que a diferença anatômica dos sexos (presença ou ausência de pênis)
coloca para a criança.” (p. 73). Pontuam ainda que “o menino teme a castração
como realização de uma ameaça paterna em resposta às suas atividades
sexuais [exploratórias]3, surgindo daí uma intensa angústia de castração” (p. 73).
E que “na menina, a ausência do pênis é sentida como um dano sofrido que ela
procura negar, compensar ou reparar” (p. 73).
Ainda sobre a castração, Laplanche e Pontalis (1994) afirmam que Freud
tentou sempre procurar as origens da “angústia de castração”, tendo chegado à
conclusão de que o que está em ação é “a categoria de separação, de perda do
objeto narcisicamente valorizado” (p. 75), ou, em outras palavras, a perda de
algo que tem valor.
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Para auxiliar na compreensão do conceito de complexo de castração, há
que se reportar ao entendimento do complexo de Édipo que, segundo Laplanche
e Pontalis (1994), é o “conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a
criança sente em relação aos pais” (p. 77). E esse mesmo complexo seria
revivido na puberdade; ou seja, revivido na adolescência. E ainda:
Sob sua forma positiva, o complexo apresenta-se como na história de
Édipo-Rei: desejo da morte do rival que é a personagem do mesmo
sexo e desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Sob a sua
forma negativa, apresenta-se de modo inverso: amor pelo progenitor
do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na
realidade, essas duas formas encontram-se em graus diversos na
chamada forma completa do complexo de Édipo. (Ibid., p. 77).
Mas onde o complexo de castração se “encaixaria” com o complexo de
Édipo?
Uma das funções fundamentais do complexo de Édipo, para Freud, é a
“escolha do objeto de amor, na medida em que este, depois da puberdade,
permanece marcado pelos investimentos de objeto e identificações [...] e,
também, pela interdição de realizar o incesto” (LAPLANCHE & PONTALIS,
1994, p. 79). No menino, a ameaça de castração pelo pai seria determinante
para a renúncia ao objeto incestuoso.
Feita essa breve retomada dos conceitos freudianos, pode-se estudar
mais claramente o fato de Aberastury et al. (1981b) afirmarem que o indivíduo,
ao adolescer, deve passar por três lutos essenciais, os quais seriam: luto pelo
corpo infantil, luto pela identidade e pelo papel infantil e luto pelos pais infantis.
Assim, resumidamente, pode-se então afirmar que, no decurso de seu
desenvolvimento, o indivíduo precisa passar por uma fase de lutos, onde
internamente tenta elaborar a perda de sua condição infantil, para dar
continuidade ao seu desenvolver e estabelecer sua identidade adulta. Essa fase
de lutos seria a adolescência4. Pode-se dizer, então, que a adolescência é uma
fase de elaboração daquilo que foi a infância, buscando estabelecer uma
identidade adulta?
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3. Entre crianças e adultos: um universo de perdas
Como já visto, Freud mostra que o luto é o processo de elaboração
psíquica, penoso, de um objeto que já não mais existe na realidade; com isso,
se nos voltarmos novamente aos três processos de luto que ocorrem na
adolescência, luto pelo corpo, pelo papel e identidade infantil e pelos pais
infantis, poder-se-á melhor entender tanto esses fundamentos como a
adolescência em si, além de imaginar essas perdas como uma castração, como
uma perda narcísica.
Sobre o luto pelo corpo infantil, Aberastury et al (1981b) escrevem que o
conjunto das modificações corporais ocorridas na adolescência, às quais o
jovem assiste passivamente, ou seja, sem nenhuma possibilidade de controlar5,
é sentido como uma “invasão”, o que faz com que o adolescente retenha muitas
de suas conquistas e características infantis, fato que será de grande
importância na compreensão da rebeldia adolescente.
Para os autores, são essas modificações e esse sentimento de invasão
que fazem o adolescente reter-se no seu mundo interno, como uma “pequena
depressão”, a fim de ligar-se ao seu passado e “programar” seu futuro, e
elaborar a perda de suas características infantis, mais especificamente, seu
corpo infantil. (ABERASTURY et al, 1981a, p. 69).
Como mostram os autores, o luto que o adolescente tem que fazer é
duplo, “(...) de seu corpo de criança, quando os caracteres sexuais secundários
colocam-no ante a evidência de seu novo status e o aparecimento da
menstruação na moça e do sêmen no rapaz, que lhe impõem o testemunho da
definição sexual e do papel que terão de assumir”. (p. 65).
Somado a isso, uma mente infantil num corpo que, aos poucos, torna-se
adulto, seriam os disparadores do fenômeno definido como despersonificação, o
qual implica “uma projeção na esfera de uma elocubração altamente abstrata do
pensamento e explica a relação lábil com objetos reais, que rapidamente perde,
como perde paulatinamente e progressivamente o seu corpo infantil”
(ROSENTHAL & KNOBEL, 1981, p. 81).
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Sobre o luto pela identidade e papel infantis, esses autores afirmam que
as contradições ocasionadas pela forma como os adultos encaram a
adolescência (os adolescentes não são mais crianças, mas também ainda não
são adultos) resultam numa angústia identitária e de papéis. Essa falta de
definição de “quem sou” deixa o adolescente angustiado e mais uma vez ele se
recolhe ao seu mundo interior, depressivamente, para tentar elaborar a perda da
identidade e, consequentemente, dos papéis infantis, e emergir com uma
identidade adulta, atribuindo-se papéis de adulto.
A questão primordial que aqui se encontra é a distinção entre o papel de
dependência da criança e de independência do adulto, assim como uma posição
onipotente infantil para uma posição adulta, na qual o indivíduo está inserido
num mundo de regras, que impõe limites. E, como se viu, o adolescente se vê
no meio dessa evolução, sofrendo um “fracasso de personificação”, uma falha
na tentativa de construir uma personalidade adulta própria (que pressupõe
responsabilidades, deveres e contribuições como um adulto perante a sociedade
e aos seus iguais), delegando ao grupo seus atributos e aos pais, as obrigações
e responsabilidades, fazendo também com que os grupos, as “tribos”
adolescentes, tenham forte representatividade nessa etapa do processo de luto.
Os processos grupais “permitem uma maior estabilidade através do apoio e do
aumento que significa o ego dos outros, com o que o sujeito se identifica”
(ABERASTURY et al, 1981a, p. 67), podendo assim permanecer com uma
identidade transitória por maior período de tempo.
Não possuindo identidade definida, o adolescente joga aos outros as
responsabilidades que deveria tomar para si. Nesse caso, como nos mostram os
autores, reside a falta de caráter típica do adolescente, como se ele não tivesse
“nada a ver com nada”.
Ao falarem sobre o luto pelos pais infantis, os autores mostram que
também os pais apresentam dificuldades para aceitar o desenvolvimento de
seus filhos, uma vez que aparece um sentimento de rejeição frente ao tornar-se
independente do adolescente, o que se pode caracterizar afirmando que os pais
também vivem um luto: o luto pelos filhos como crianças dependentes.
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Com a incompreensão parental frente às “flutuações polares entre
dependência – independência, refúgio na fantasia – ânsia de crescimento,
conquistas adultas – refúgio em conquistas infantis” (ABERASTURY et al,
1981a, p.67), os filhos também se veem perdidos em relação àquelas figuras
que deveriam servir-lhes como apoio, nessa etapa tão sofrida de seu
desenvolvimento.
Diante do sofrimento, algumas formas de defesa podem surgir, como a
desvalorização dos objetos, na tentativa de iludir os sentimentos de dor e perda,
e a busca de figuras substitutivas dos pais, a fim de elaborar a retirada de
cargas libidinais. Segundo os autores, a fragmentação de figuras parentais
atende à necessidade de dissociação de bons e maus aspectos paternos,
maternos e fraternos.
É interessante pensar no fato de que o luto, a elaboração da retirada de
cargas (leia-se catexia libidinal) das figuras paternas, dá-se pelo advento dos
“substitutos parentais”. Em seu artigo, Aberastury et al (1981a) ainda colocam
que não é coincidência que no ensino secundário ao redor do mundo, as aulas
são ministradas, diferentemente do que no ensino primário, por vários
professores ao invés de um único, facilitando a demanda adolescente de
identificações a bons e maus aspectos parentais.
Enfim, parece que a adolescência pode ser resumida como o fim da vida
infantil, de uma etapa em que, socialmente, tudo, ou quase tudo, é possível, e
início dos lutos e da confusão, sendo apurada, como resultado, a “perda de si
mesmo”, ou melhor, a perda de quem se era e não se é mais. Talvez a vida
adulta realmente só comece depois das cinzas e da apuração de tudo o que foi
nossa infância.
4. Rebeldia adolescente: vivência dos lutos necessários
Como reagem os adolescentes a esses fenômenos “normais” de seu
desenvolvimento? Para compreender melhor o comportamento rebelde em si,
recorre-se a Clerget (2004), que explica a violência adolescente como parte da
crise necessária dessa fase do desenvolvimento humano.
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Segundo Clerget (2004), “violência adolescente” é um termo sociológico,
sendo mais apropriado, no jargão psicológico, o uso da terminologia
“agressividade”. O que o autor classifica como agressividade aparece, a
princípio, como uma disposição do adolescente para praticar comportamentos
rebeldes. A fonte dessa “disposição”, todavia, não é por ele explicitada. Levantase então a hipótese inicial deste estudo: a rebeldia adolescente é uma forma de
elaborar os conflitos psíquicos dessa etapa do desenvolvimento; um auxílio na
realização dos lutos da adolescência.
Sigmund Freud (2003c), em seu texto O mal estar na civilização, afirma
que a agressividade é constituinte do ser humano. Pelo que se pôde observar na
literatura examinada, tal agressividade seria – de alguma forma e por uma série
de razões – exacerbada na adolescência.
Focalizando no momento os comportamentos rebeldes e essa mesma
adolescência, é válido lembrar de uma característica a ser considerada: a
reunião em grupos; as conhecidas “tribos” adolescentes.
5. “A união faz a força” e encobre a maldade
Segundo
Enriquez (2001),
o
grupo,
psicologicamente,
pode
ser
considerado como uma reunião de indivíduos em “torno de uma ação a realizar,
de um projeto ou de uma tarefa a cumprir” (p. 61). Em si, o grupo formado por
adolescentes não é algo ruim, porém, como pode-se ver na definição
apresentada por Enriquez (2001), em seu texto O vínculo grupal, tudo depende
do “projeto comum” que move o grupo, pois “um projeto comum significa, de
início, que o grupo possui um sistema de valores suficientemente interiorizado
pelo conjunto de seus membros, o que permite dar ao projeto suas
características dinâmicas (fazê-lo passar do estágio de simples plano ao estágio
da realização)” (p. 61).
A partir dessa definição, pode-se concluir que a reunião dos jovens em
grupo, por si mesma, não é de todo causadora de confusões, porém, se esse
“projeto comum” a que Enriquez se refere for, para determinado grupo, um
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projeto de destruição, toda a beleza da união de indivíduos em grupos cai por
terra, a partir do momento em que a tarefa a cumprir for sinônima de
comportamento rebelde.
Clerget (2004) cita o vandalismo como a principal violência atribuída a
grupos contra bens sociais. A turma de jovens, eventualmente desinibida pelo
álcool ou outros tóxicos, vai destruir, de preferência aproveitando-se da
obscuridade, equipamentos coletivos (placas de sinalização, cabines telefônicas,
escolas) ou bens individuais (carros).
Dentro dos grupos, os nomes se perdem, a individualidade tende a se
diluir e o inconsciente pode agir mais tranquilamente, como nos mostra Freud
(2003b) em Psicologia de grupo e análise do ego – e talvez os conflitos
psíquicos gerados pelos lutos da adolescência possam ser mais facilmente
elaborados.
Mais algumas inferências poderiam ser feitas sobre o que possa estar em
jogo nesses ataques contra os bens. Seria o roubo uma forma de preencher um
vazio psicológico? Uma forma de, não tendo maturidade psíquica suficiente para
lidar com as dores e os lutos, preencher uma demanda de compreensão, de
amor?
Também se poderia pensar que o roubo/furto praticado pelo adolescente
seria como uma afronta, uma tentativa de disputa de poder, uma maneira de se
colocar “superior” à ordem instituída pela sociedade? Como coloca Clerget
(2004): o roubo, saque ou furto “pode tratar-se de emulações lúdicas, com o
sentimento de impunidade que o grupo tem” (p. 96). Não seria, pois, justamente,
uma tentativa de elaborar o conflito psíquico gerado pela perda da identidade
infantil?
Tentando colocar-se contra a sociedade e a lei proveniente dela, parece
que o adolescente estaria fazendo uma tentativa de colocar-se acima da lei, a
qual, quando criança, indicava-lhe o caminho a seguir. Tratar-se-ia, desse modo,
da rebeldia adolescente como uma tentativa de independência, e não como um
mero “desajuste” acionado pelo desejo – sem sentido – de “provocar”.
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Finalizando o capítulo sobre ataques em grupos, em seu livro, Clerget
(2004) faz uma afirmação que merece ser retomada: “Os adolescentes que
agem com violência sofreram-na igualmente” (p. 99). Mas de qual violência
estaria falando o autor? Pode-se, pois, afirmar que, parafraseando Clerget
(2004), os adolescentes que agem com violência sofreram-na igualmente,
mesmo que uma violência interna, relativa ao seu adolescer e aos lutos que têm
de realizar?
6. Uma andorinha só não faz verão, mas pode fazer um grande estrago!
Complementando o estudo sobre a rebeldia adolescente, atenta-se para a
relação que Clerget (2004) estabelece entre a rebeldia e a conduta agressiva
solitária.
Dentre os comportamentos relacionados sob essa ótica, está a agressão
excremental. O autor afirma que, cobrindo de urina e fezes objetos pessoais ou
instituições (como carros, paredes da escola, ou casas de terceiros), o
adolescente testemunha uma reativação das pulsões anais, lembrando a criança
de 3-4 anos que fazia as necessidades na calça para contrariar a mãe.
Clerget (2004) aponta também a piromania, a qual consistiria na busca de
prazer derivada do ato de provocar incêndios, busca esta relacionada a uma
natureza sexual, ao calor amoroso e ao arder de amor. Segundo esse autor,
seria, então, possível afirmar que a piromania é uma maneira de o adolescente
elaborar o conflito e lidar com a nova identidade adulta, a qual pressupõe a
assunção de uma identidade sexual?
Devido ao alto grau de ocorrência na atualidade, outros comportamentos
são igualmente importantes para análise: as tatuagens e piercings, e o suicídio.
Clerget (2004) afirma que os adolescentes marcam seu corpo (com
tatuagens e piercings), a fim de assegurarem-se de que encontrarão o mesmo
corpo a cada manhã. Como se viu em Aberastury e Knobel (1981c), o luto pelo
corpo infantil traz uma preocupação de não possuir o próprio corpo. Assim, furarse, marcar-se, faz com que o adolescente possa sentir-se dono de seu próprio
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corpo, sabendo que dormiu e acordou com o controle do mesmo. Seguindo a
mesma lógica, tem-se o burning, que consiste, segundo Clerget (2004), em “criar
cicatrizes definitivas e significativas através de queimaduras a ferro quente” (p.
35).
Em relação ao suicídio, o psiquiatra Augusto Cury (2005), em seu
romance O futuro da humanidade6, escreve que esse comportamento é a forma
extremada de demonstração de amor pela vida e, uma vez que se sofre vivendo,
prefere-se a morte, para não ter que sofrer.
Clerget (2004) mostra que, com as transformações relacionadas ao corpo
em desenvolvimento, com o luto pelo corpo infantil, “a necessidade de controle
do adolescente sobre o seu corpo para lutar contra o sentimento de
despossessão pode tomar o rumo do ascetismo” (p. 35). Ascetismo, segundo o
Ferreira (1993), é a “prática da ascesse”, que por sua vez é o “exercício prático
que leva à efetiva realização da virtude” (p. 49).
Nas palavras de Clerget (2004): “A vontade é exigida e o ascetismo
celebra a vitória do espírito sobre o corpo” (p. 36). E, com o auxílio de Anna
Freud (1958 apud CLERGET, 2004), conclui que “o princípio mestre,
inconsciente, desse comportamento é de não ser submetido às necessidades
físicas” (p. 36).
Com isso, pode-se supor um dos motivos pelos quais os adolescentes
cometem o suicídio: seria como uma forma de maltratar o novo corpo,
mostrando que o espírito é superior, sendo o suicídio um modo extremado dessa
demonstração? E o que o adolescente mata seria o novo corpo, um corpo
estranho, que traz sofrimento?
Clerget (2004) aponta para outra construção do entendimento do suicídio
na adolescência. Para ele, ao invés de perder um objeto, “alguns preferem fazêlo desaparecer (...) como nos crimes passionais, antes se chega a matar a
pessoa que se ama do que aceitar que ela se vá” (p. 37). Seria então possível
dizer que o adolescente pode cometer suicídio como um crime passional? Ou
seja, ao invés de perder a criança que nele vivia, prefere que ela morra (e
consequentemente mata-se a si próprio)?
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O autor cita ainda outra possibilidade de pensar o suicídio na
adolescência, como a destruição do corpo que se torna sexuado, ou seja, um
pavor por assumir uma identidade adulta, de homem e mulher.
Com os pontos anteriormente abordados, espera-se ter delineado os
principais aspectos que configuram a rebeldia adolescente. A seguir,
apresentam-se as conclusões deste estudo, fazendo-se uso de uma metáfora, a
qual se entende, poderá fazer coro às tantas questões levantadas.
7. Cinzas de Fênix e considerações finais
Ao retomar as hipóteses apresentadas no presente artigo, a partir desta
revisão de literatura, pode-se concluir que a rebeldia adolescente, vista pela
ótica da psicanálise, consiste numa tentativa de elaborar os conflitos psíquicos,
aparecendo como distúrbios do comportamento decorrentes da perda do corpo
infantil, da identidade e papel infantil e dos pais infantis. Uma maneira, enfim, de
auxiliar a realizar o que Aberastury et al (1981b) chamaram de lutos da
adolescência.
Tal processo de “adolescer” sugere algumas metáforas. Dentre elas, há
uma que parece particularmente produtiva: o mito da ave Fênix, presente em
diferentes povos antigos, como os gregos, os egípcios e os chineses.
Sem a preocupação quanto à originalidade do mito – pois, como mostra
Claude Lévi-Strauss, citado por Diana e Mário Corso (2006), “fazem parte do
mito todas as suas versões e não haveria uma versão original a ser privilegiada”
(p. 28) – consideram-se aqui algumas de suas versões.
Na mitologia grega, por exemplo, a Fênix representa o Sol que morre e
renasce todos os dias, sendo símbolo de morte e renascimento. Sobre seu ciclo
de vida, que em escritos varia de 500 a 97.200 anos, encontram-se algumas
contradições, mas todas as versões estudadas concordam que a ave, após seu
ciclo de vida, morria entrando em autocombustão e, passado algum tempo,
renascia de suas próprias cinzas. Em alguns mitos ela renascia já como ave, em
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outros, em forma de um verme que se alimentava das cinzas e se desenvolvia
rapidamente numa nova Fênix (MAGALHÃES, 2006).
Após renascer, alguns mitos trazem que a nova Fênix carregava os restos
mortais de seu “pai” até a cidade de Heliópolis (Cidade do Sol), onde os egípcios
adoravam o deus Sol, e uma ave (que muitos acreditam ser a versão egípcia de
Fênix) chamada Benu.
A fênix, o mais belo de todos os animais fabulosos, simbolizava a
esperança e a continuidade da vida após a morte. Revestida de penas
vermelhas e douradas, as cores do Sol nascente, possuía uma voz
melodiosa que se tornava triste quando a morte se aproximava. A
impressão que sua beleza e tristeza causava em outros animais
chegava a provocar a morte deles. (...) Quando a ave sentia a morte
aproximar-se, construía uma pira de ramos de árvore da canela, em
cujas chamas morria queimada. Mas das cinzas erguia-se então uma
nova fênix (...) Dizia-se que essas cinzas tinham o poder de ressuscitar
um morto (...) (WIKIPÉDIA, 2006).
Com isso, conclui-se que se abordou neste escrito a adolescência como
período de construção da identidade adulta, obtida através da realização do luto
pela perda da identidade infantil. E questiona-se: pode-se comparar o ciclo de
vida da ave Fênix ao desenvolvimento humano, relacionando suas etapas de
vida – velha fênix, cinzas e nova fênix – às da vida humana – infância,
adolescência e vida adulta?
Fazendo uso dessa metáfora, vislumbra-se na adolescência a fase de
cinzas: o período da vida da ave Fênix relacionado ao meio do caminho entre a
morte de seu “pai” e o nascimento de um novo ser; a morte da infância e o
nascer de um adulto. Cinzas seria então um período de escuridão ou de
inexistência de ser? Um “não-ser”, ou melhor, um “vir-a-ser”7?
Nos relatos do mito da ave Fênix, suas cinzas tinham o poder de
ressuscitar os mortos. Assim também seria a adolescência, capaz de dar vida
nova ao indivíduo? Vida nova a uma criança buscando sua identidade e,
consequentemente, renovando a vida dentro da sociedade e de cada círculo aos
quais aquele ser pertence, renovando e recriando a vida, num eterno repetir?
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Notas
(Verificar se as notas são inseridas ao longo do texto ou somente no final)
1 - “Lutos da adolescência” é um conceito retirado de Aberastury e Knobel
(1984, p. 63).
2 - Entende-se o conceito de identidade como o faz Erickson: “uma concepção
de si mesmo, composta de valores, crenças e metas com os quais o indivíduo
está solidariamente comprometido”. (ERICKSON, 1972, apud SCHOENFERREIRA; AZNAR-FARIAS; SILVARES, 2003).
3 - Acrescido pelos autores.
4 - Não se deseja aqui reduzir a adolescência unicamente a lutos, mas mostrar
como esses lutos são intrínsecos e formam a base do adolescer.
5 - Passivamente pressupõe o fato de que, segundo os autores, a situação pela
qual o adolescente percebe a evolução de seu corpo, seu amadurecimento
genital, hormonal, cerebral, entre outros, não possa ser modificada por ele, a
não ser colocando fim a esse desenvolvimento com o suicídio, o qual será
abordado adiante.
6 - O futuro da humanidade, de Augusto Cury, é um romance, uma obra fictícia
de um estudante de medicina que se torna psiquiatra e começa a trabalhar com
pacientes internos em manicômio. Formula essa conclusão sobre o suicídio ao
trabalhar com pacientes depressivos.
7 - “Não-ser” e “vir-a-ser”, neste trabalho, são maneiras de se entender um
indivíduo em busca de sua identidade.
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