apostila 1pedro COM RODAPÉ

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apostila 1pedro COM RODAPÉ
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
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Sumário
1.
Apresentação ................................................................................................................. 3
2.
Agradecimento ........................................................................................................... 5
3.
Introdução ....................................................................................................................... 6
4.
Esperança em um mundo hostil [1Pe 1.1-2] ............................................. 16
5.
Salvos para a eternidade [1Pe 1.3-5] ............................................................. 26
1.
Onde Deus está quando mais preciso? [1Pe 1.6-9]................................ 35
2.
A grandeza da salvação [1Pe 1.10-12]........................................................... 44
3.
Desenvolvendo uma vida santa [1Pe 1.13-16] ......................................... 52
4.
Por que ser santo? [1Pe 1.17-21] ..................................................................... 61
5.
Sinais vitais do novo nascimento [1Pe 1.22-25]...................................... 70
6.
Desejando a Palavra de Deus [1Pe 2.1-3].................................................... 78
7.
As prioridades do povo de Deus [1Pe 2.4-10] .......................................... 88
8.
Uma vida cristã exemplar [1Pe 2.11-12] ..................................................... 98
9.
Uma vida exemplar na sociedade [1Pe 2.13-17] .................................. 103
10. Uma vida exemplar no trabalho [1Pe 2.18-25] ..................................... 112
11. Uma vida exemplar no lar [1Pe 3.1-7] ....................................................... 119
12. O segredo de uma vida feliz [1Pe 3.8-12] ................................................. 128
13. O testemunho cristão [1Pe 3.13-17] ............................................................ 137
14. O Salvador reina [1Pe 3.18-22] ...................................................................... 145
15. A morte para o pecado [1Pe 4.1-6]............................................................... 154
16. A conduta da Igreja no fim dos tempos [1Pe 4.7-11]......................... 163
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17. Como enfrentar o sofrimento? [1Pe 4.12-19] ........................................ 172
18. A vida exemplar dos presbíteros [1Pe 5.1-4] ........................................ 184
19. A vida exemplar da igreja [1Pe 5.5-14] ..................................................... 190
20. Referências ............................................................................................................... 201
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apresentação
O propósito deste estudo é fornecer uma simples e clara explicação da
Primeira Carta do apóstolo Pedro.
A grande necessidade do homem atual é relacionar-se
significativamente com seu semelhante, principalmente, com Deus.
Relacionamo-nos com Deus através da oração, quando expressamos a
Ele os nossos sentimentos, angústias, dores, alegrias e agradecimentos, mas
é na Bíblia Sagrada que tomamos conhecimento da Sua vontade. Pela Bíblia
conhecemos a vontade de Deus e o Seu querer para nossas vidas.
Depois de todas essas certezas recomendamos a todos os cristãos este
estudo da Primeira Epístola de Pedro que foi ministrado por Jocarli A. G.
Junior, grande homem escolhido por Deus para trabalhar na grande seara do
Senhor.
Através deste estudo, escrito numa linguagem simples, mas de
conteúdo espiritual tão profundo, é que teremos a alegria de nos
relacionarmos com o Altíssimo.
Francisco Rothier Teixeira
Vitória, 4 de setembro de 2013.
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agradecimento
Uma das grandes alegrias do ministério é poder expor as Sagradas
Escrituras. Não existe honra maior do que essa. Sou grato a Deus por tão
grande privilégio.
Minha gratidão a Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro, onde sirvo
como pastor titular. Sou extremamente grato pelo incentivo dos meus
colegas Presbíteros por me permitir investir tanto tempo em estudos
expositivos como este. Agradeço aos irmãos que pacientemente
contribuíram com suas sugestões e comentários durante várias quartasfeiras.
Por fim, Louvo a Deus pela minha família, uma verdadeira fonte de
encorajamento. Minha esposa Luciany, e nossos filhos: Daniel e Julia
permanecem como um porto seguro durante as tempestades da vida. Amo
vocês!
Meu desejo e oração é que em meio às densas nuvens do sofrimento,
você seja conduzido à verdade de que “... os olhos do Senhor repousam sobre
os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas” (1Pe 3.12).
Jocarli A. G. Junior
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Introdução
[ESTUDO 1]
“Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede,
portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas. E
acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos
açoitarão nas suas sinagogas; por minha causa sereis levados à
presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a
eles e aos gentios” (Mt 10.16-18).
Com estas palavras, Jesus enviou seus apóstolos para pregar a
mensagem do reino vindouro, advertindo-os que sofreriam perseguição.
Muitos anos depois, quando Pedro se sentou para escrever uma carta aos
crentes judeus e gentios nas províncias da Ásia Menor, esta profecia se
cumpriu com rigor sangrento.
As perseguições começaram com os judeus ortodoxos que resistiam
aos ensinamentos de que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. Incapazes de
atacar a Jesus depois de Sua ascensão, os inimigos da verdade perseguiram
Seus seguidores.1 Devido ao crescimento fenomenal, as autoridades judaicas
desesperadamente tentaram acabar com a igreja recém-formada. Lucas
escreveu:
“Falavam eles ainda ao povo quando sobrevieram os sacerdotes,
o capitão do templo e os saduceus, ressentidos por ensinarem
eles o povo e anunciarem, em Jesus, a ressurreição dentre os
mortos; e os prenderam, recolhendo-os ao cárcere até ao dia
seguinte, pois já era tarde” (At 4.1-3).
No dia seguinte, o Sinédrio ordenou-lhes que parassem de pregar em
nome de Jesus (4.5-21). Destemidos, os apóstolos continuaram a pregar, e,
como resultado, “... o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a
seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os
recolheram à prisão pública” (5.17-18).2 Porém, milagrosamente libertados
da prisão, foram ao templo e voltaram a pregar o evangelho (5.19-25).
Levados diante do Sinédrio pela segunda vez, os apóstolos foram novamente
condenados a deixar de pregar em nome de Jesus, mas desta vez, com
açoites (5.26-40).
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (2). Chicago:
Moody Publishers.
2 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (2–3).
Chicago: Moody Publishers.
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O corajoso pregador Estevão também enfrentou oposição (6.9-11),
prisão, julgamento perante o Sinédrio (6.12-7.56) e martírio (7.57-60). A
primeira perseguição eclodiu após o martírio de Estevão (8.1-4; 9.1-2;
11.19). Foi liderada pelo jovem Saulo de Tarso, que se tornou o apóstolo
Paulo (At 8.1-3).
Depois de sua dramática conversão a caminho de Damasco (9.3-18),
Paulo, o mais cruel perseguidor da Igreja, tornou-se o mais zeloso
missionário. O Senhor estabeleceu o curso de seu ministério quando disse a
Ananias, “... pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome”
(At 9.16). E Ele o fez sofrer, quase desde o momento de sua conversão (cf. At
9.20-25). Quando viajou por todo o Império Romano proclamando a fé que
uma vez havia tentado destruir (Gl 1.23), Paulo enfrentou aflição contínua e
oposição implacável (At 14.5-6, 19-20; 16.16-40; 17.5-9, 13-14, 18, 32;
18.12-17; 19.9, 21-41; 20.3, 22-23; 21.27-36; 23.12-24.9; 25.10-11; 27.128.28; 1Ts 2.2; 2Tm 1.12; 2.9-10; 3.11). Não surpreendentemente, o
sofrimento é um tema importante em suas epístolas (Rm 8.17-18; 2Co 1.5-7;
Fp 1.29; 3.8-10; 1Ts 2.14; 2Ts 1.5, 2Tm 1.8; 2.3).3
Mais tarde o rei ímpio Herodes matou Tiago, irmão de João e prendeu
Pedro, que em seguida, foi milagrosamente libertado da prisão por um anjo
(12.1-11).
O que começou com atos isolados das autoridades judaicas,
gradualmente evoluiu para a política do governo romano, que viu a recusa
dos cristãos em participar da religião do Estado como uma forma de
rebelião. Três séculos de perseguições cada vez mais sangrentas culminou
no início do século IV no esforço do Imperador Diocleciano de acabar com a
igreja. Um decreto emitido em Nicomédia em 23 de fevereiro em 303
ordenava que as igrejas e cópias das Escrituras do Novo Testamento fossem
destruídas.4 O castigo infligido por resistência foi tortura, aprisionamento e,
em alguns casos, a morte.5
Diocleciano foi violento em seu ódio contra a Bíblia e o cristianismo.
Ele matou tantos cristãos com crueldades ultrajantes e destruiu tantas
Bíblias que muitos fugiram para escapar de sua ira. Quando parecia que
Diocleciano havia feito tudo, ele mandou cunhar uma medalha com o lema:
“A religião cristã foi destruída, e o culto dos deuses (Romano) foi
restaurado”.6
Mas Diocleciano não aboliu o cristianismo. Ao contrário, o
cristianismo cresceu mais forte do que nunca, e eventualmente triunfou
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (3). Chicago:
Moody Publishers.
4 Mindeman, G. (1992). Diocletian. In J. Douglas & P. W. Comfort (Eds.), Who's Who in
Christian history (J. Douglas & P. W. Comfort, Ed.) (206). Wheaton, IL: Tyndale House.
5 Cross, F. L., & Livingstone, E. A. (2005). The Oxford dictionary of the Christian Church (3rd
ed. rev.) (486). Oxford; New York: Oxford University Press.
6 Tan, P. L. (1996). Encyclopedia of 7700 Illustrations: Signs of the Times. Garland, TX: Bible
Communications, Inc.
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sobre o trono de César. O Pastor britânico Charles Haddon Spurgeon cita um
pregador, William S. Plumer:
“De trinta imperadores romanos, governadores das províncias e
outros altos cargos, que se distinguiram por seu zelo e amargura
na perseguição aos primeiros cristãos, um tornou-se demente
rapidamente após alguma crueldade atroz, um foi morto por seu
próprio filho, um tornou-se cego, um morreu afogado, um foi
estrangulado, um morreu em um infeliz cativeiro, um morreu de
maneira tão repugnante que vários dos seus médicos foram
postos à morte, porque não puderam suportar o fedor que enchia
seu quarto, dois cometeram suicídio, um terceiro tentou, mas teve
que pedir ajuda para terminar o trabalho, cinco foram
assassinados por seus próprios povos e outros padeceram das
mais miseráveis e excruciantes mortes, várias delas tendo uma
complicação incalculável de doenças e oito foram mortos em
batalha ou depois de serem feitos prisioneiros.
Entre estes estava Juliano, o Apóstata. Nos dias da sua
prosperidade, dizem que ele apontou o punhal para o céu,
desafiando o filho de Deus, a quem comumente chamava de ‘o
Galileu’. Mas quando ele foi ferido na batalha, recolheu seu sangue
coagulado e atirou para o ar, exclamando: “tu conquistou, ó tu,
Galileu”.7
Assim tem sido ao longo da história. Quanto mais perto chegamos do
fim, mais feroz Satanás se lança contra o povo de Deus. Nesse período, pode
até parecer que o adversário está vencendo, mas a primeira e à última
palavra pertencem a Deus. Quando a paciência de Deus chegar ao fim, e o
cálice de Sua ira transbordar, o tempo do juízo vai se aproximar (Mt 23.32;
1Ts 2.16).
Em uma surpreendente inversão, o Imperador Constantino, em 313
d.C., juntamente com o governador da parte oriental do Império, Licínio,
publicou o edito de Milão, que concedia tolerância completa a fé cristã.8
Constantino convocou o primeiro conselho geral da igreja em Nicéia, em 325
d.C. Mais tarde, o cristianismo se tornou a religião oficial do Império
Romano.9
Apesar das perseguições esporádicas de autoridades romanas e em
face de ataques externos e internos sobre a fé cristã, o Cristianismo se
espalhou sobre toda a bacia mediterrânica, em 300 d.C. Ao mesmo tempo,
Roma caiu, em parte, pelos ataques dos bárbaros ao longo de suas fronteiras
e por causa da decadência moral e política interna.10
Nos últimos dias de seu ministério, Jesus predisse que Pedro um dia
iria “fortalecer” seus companheiros (Lc 22.32; Jo 21.15-17). Nesta primeira
de suas duas cartas, Pedro fez exatamente isso, encorajou os cristãos que
Boice, J. M. (2005). Psalms 1–41: An Expositional Commentary (24–25). Grand Rapids, MI:
Baker Books.
8 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (3). Chicago:
Moody Publishers.
9 Brisco, T. V. (1998). Holman Bible atlas. Holman Reference (276). Nashville, TN:
Broadman & Holman Publishers.
10 Brisco, T. V. (1998). Holman Bible atlas. Holman Reference (276). Nashville, TN:
Broadman & Holman Publishers.
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estavam enfrentando perseguição (2.12, 3.16, 4.4) e que em breve
experimentariam uma perseguição muito maior, com o imperador Nero (64
d.C.).11
Entretanto, nossa preocupação não deve ser apenas sobre o que o
Senhor estava dizendo aos contemporâneos de Pedro através desta carta,
mas o que Ele está dizendo a nós pessoalmente.12 Precisamos ser
fortalecidos e encorajados na mesma fé como os primeiros cristãos foram.
1. Para quem a carta foi escrita?
“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da
Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pedro 1.1)
Pedro responde à pergunta em 1.1. A região foi descrita nas
províncias romanas da Ásia Menor (atual Turquia) ao norte das montanhas
Taurus. A maioria era de origem gentia (2.10; 4.3), embora alguns fossem
cristãos hebreus (2.12; 4.3). Eles viviam em uma região ao norte das
montanhas, onde o apóstolo Paulo não havia pregado (At 16.6, 7).
“... aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia,
Capadócia, Ásia e Bitínia” (v. 1) – O historiador da igreja primitiva Eusébio
sugere que o próprio Pedro pode ter tido um papel na evangelização das
dessas áreas. Obviamente, Pedro teve alguma razão para abordar cristãos
nestas províncias ou regiões. É interessante observar que ele não inclui Lícia
e Panfília ou Cilícia, províncias ao sul das montanhas de Taurus.13 Ou seja,
Pedro tem em vista as áreas da Ásia Menor que estavam mais diretamente
relacionadas ao seu próprio ministério do que Paulo.
Ponto e Bitínia, na costa do Mar Negro, são nomeados separadamente
apesar de terem sido unificadas em uma província romana. É provável que
Pedro comece com Ponto e termine com Bitínia, porque estava pensando no
caminho que Silvano (5.12) ou outro mensageiro poderia percorrer ao
entregar a carta, um viajante poderia começar em Ponto, no Mar Negro e
terminar em Calcedónia, na Bitínia.
Não se sabe ao certo como o evangelho se espalhou para essas
regiões. Paulo ministrou em pelo menos parte da Galácia e na Ásia, mas não
há registro de seu trabalho evangelístico em Ponto, Capadócia ou Bitínia. Na
verdade, ele foi proibido pelo Espírito Santo de entrar em Bitínia (At 16.7).
Pode ser que Paulo tenha fundado algumas dessas igrejas (cf. At 19.10, 26).
E outras podem ter sido fundadas por aqueles que foram convertidos no dia
de Pentecostes (cf. At 2.9). Pedro também pode ter ministrado nessas
Willmington, H. L. (1997). Willmington’s Bible handbook (767). Wheaton, IL: Tyndale
House Publishers.
12 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (103–104). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
13 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (16). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
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regiões, embora não haja registro em Atos. As congregações consistiam
principalmente de gentios (cf. 1.14, 18; 2.9-10; 4.3-4), mas, sem dúvida,
incluiu alguns cristãos judeus também.14
“... aos eleitos que são forasteiros da Dispersão... (v. 1) – Ele usa três
palavras fortes para descrever o seu público: “eleitos”, “forasteiros” e
“dispersos”.15 Estes estrangeiros dispersos conheciam o Senhor, mas viviam
no exílio, em lugares longínquos. De um ângulo terrestre eram refugiados,
mas a partir de uma perspectiva celestial eram “eleitos”. Dispersos pela
perseguição, vítimas de circunstâncias, vagando no deserto do desespero,
porém, esses homens e mulheres ainda tinham motivo para se alegrar. Eles
eram escolhidos de Deus!16
2. Quem escreveu a carta?
“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da
Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pedro 1.1)
O escritor diz que ele é “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo” (1.1), e foi
uma “testemunha dos sofrimentos de Cristo” (5.1). Ele está escrevendo com
a ajuda de Silas (Silvano) a partir de um lugar que ele chama de “Babilônia”,
onde o seu “filho” Marcos estava com ele (5.12-13).17 Bem como esta
evidência direta de que o apóstolo Pedro foi o autor, a carta frequentemente
faz alusão à vida e os ensinamentos de Jesus.
A igreja foi construída sobre o fundamento dos apóstolos e profetas,
porque eles receberam a revelação de Cristo (At 2.14–41; 10.34–42). Os
apóstolos foram testemunhas oculares da ressurreição de Cristo. Pedro,
como apóstolo, juntamente com Silas, um profeta, trabalhou com outros
apóstolos e profetas para estabelecer as bases da igreja. Juntos, eles
ensinaram a doutrina que Jesus comprometidos com eles no Espírito. A
Igreja é apostólica hoje na medida em que ela permanece sobre o
fundamento doutrinário estabelecido pelos apóstolos. Ninguém hoje pode
reivindicar a autoridade de um apóstolo, quer por força de ofício eclesiástico
ou revestimento carismático. O trabalho e a vocação de apóstolo são
terminados em testemunhar a revelação final de Deus em Jesus Cristo. Ele é
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (9–10).
Chicago: Moody Publishers.
15 Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: Sharing christ’s sufferings. Preaching the Word
(23). Wheaton, IL: Crossway Books.
16 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (140). Grand Rapids, MI: Zondervan.
17 New Bible commentary: 21st century edition. 1994 (D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer
& G. J. Wenham, Ed.) (4th ed.). Leicester, England; Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press.
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o último profeta, assim como ele é o Sumo Sacerdote final, e Pedro escreve a
dar testemunho de autoridade a ele.18
Alguns liberais questionam se um pescador comum poderia ter
escrito esta carta, especialmente desde que Pedro e João foram ambos
chamados “homens iletrados e incultos” (At 4.13). No entanto, esta frase
significa apenas “leigos sem escolaridade formal”, ou seja, não eram líderes
religiosos. Nunca devemos subestimar o treinamento de Pedro, durante três
anos com o Senhor Jesus, nem devemos minimizar o trabalho do Espírito
Santo em sua vida.19 Pedro é um belo exemplo da verdade expressa em
1Coríntios 1.26-31.
Seu nome era Simão, mas Jesus mudou para Pedro, que significa “uma
pedra” (Jo 1.35-42). O equivalente aramaico de “Pedro” é “Cefas”, assim
Pedro era um homem com três nomes. O Senhor havia ordenado a Pedro
para fortalecer os irmãos (Lc 22.32) e para apascentar o rebanho (Jo 21.1517; 1Pe 5.1-4), e a escrita desta carta era uma parte do seu ministério.
Embora Peter se identifique como o autor da carta, no último capítulo
ele menciona: “Por meio de Silvano... vos escrevo resumidamente” (5.12). No
mundo do primeiro século, essa frase muitas vezes significava que a pessoa
nomeada servia como secretário tanto para escrever uma carta ditada ou
contribuir para a composição da mesma, sob a autoridade direta do seu
autor.20 Este é provavelmente o seu significado aqui. Pedro não diz que ele
enviou a carta por meio de Silvano, mas que ele realmente escreveu a carta
com sua ajuda.
Silas foi companheiro de Paulo, missionário na Ásia Menor e na
Grécia, e está associada com Paulo no endereço das cartas aos
tessalonicenses. Ele era também um representante dos apóstolos e anciãos
em Jerusalém, e é apontado como um profeta. Se ele fez servir como um
editor ou coautor, com Pedro, ele o fez como um homem inspirado.21
Pedro também mencionou João Marcos (1Pe 5.13), cujo fracasso no
campo missionário ajudou a causar a ruptura entre Paulo e Barnabé (At
13.13). Pedro levou Marcos à fé em Cristo (“Marcos, meu filho”) e,
certamente, manteve uma preocupação com ele.22 Sem dúvida um dos
primeiros grupos de oração se encontraram na casa de João Marcos em
Jerusalém (At 12.12). No final, Paulo perdoou e aceitou Marcos como alguém
útil no ministério (2Tm 4.11).
Embora Pedro tenha sido chamado de “analfabeto” e, embora o grego
não fosse a sua língua nativa, ele não foi nada comum. Os líderes judeus
Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (29). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
19 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
20 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (139). Grand Rapids, MI: Zondervan.
21 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (21). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
22 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
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viram Pedro como sem educação simplesmente porque não tinha sido
treinado na tradição rabínica, não porque era analfabeto. Lucas também
registra que esses mesmos líderes ficaram atônitos com a confiança de
Pedro e do poder de sua personalidade controlada pelo Espírito (At 4.13).23
O ministério de Pedro durou mais de 30 anos e o levou de Jerusalém a Roma.
Ele viveu e pregou em um mundo multilíngue.
3. Onde e quando a carta foi escrita?
“Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda,
como igualmente meu filho Marcos” (1Pedro 5.13)
Em 5.13 o escritor envia saudações de “Aquela que se encontra na
Babilônia, também eleita, vos saúda”. Esta parece ser uma referência à igreja
local, na Babilônia, mas é pouco provável que Pedro teria ido para a antiga
capital do império de Nabucodonosor.24 Na época de Pedro a Babilônia
estava em ruínas e era uma região pouco habitada (Is 14.23).
É mais provável que o termo “Babilônia” seja um pseudônimo de
Roma, escolhido por causa da capital do Império e da idolatria (que irá
caracterizar a Babilônia no fim dos tempos; cf. Ap 17 e 18). Diante da
perseguição que aparece no horizonte, Pedro tomou o cuidado de não pôr
em perigo os cristãos de Roma, que poderiam enfrentar grandes dificuldades
se a sua carta fosse descoberta pelas autoridades romanas.25
Tudo indica que a primeira epístola de Pedro tenha sido escrita pouco
antes de julho, no ano de 64 d.C., quando a cidade de Roma foi queimada.
Buscando bodes expiatórios para desviar as suspeitas do público que
tinha começado o grande incêndio de 64 de julho, que devastou Roma, Nero
apontou os cristãos com culpados, a quem ele já considerava como inimigos
de Roma, porque não adoravam o imperador, apenas Cristo. Como resultado,
eles foram envolvidos em cera e queimados na fogueira para iluminar seus
jardins, crucificados e lançados às feras. Embora a perseguição oficial,
aparentemente, foi confinada à vizinhança de Roma, ataques contra cristãos,
sem dúvida, se espalharam sem controle para outras partes do Império. Foi
como resultado da perseguição de Nero que ambos Pedro e Paulo foram
martirizados.26 Mas antes de morrer, Pedro escreveu esta magnífica epístola
aos crentes cujo sofrimento logo se intensificaria. Ao longo dos séculos, os
cristãos se beneficiaram do sábio conselho do apóstolo e suas palavras de
incentivo e conforto.
Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1985). Vol. 2: The Bible
Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (837–838). Wheaton, IL: Victor
Books.
24 New Bible commentary: 21st century edition. 1994 (D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer
& G. J. Wenham, Ed.) (4th ed.). Leicester, England; Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press.
25 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (10).
Chicago: Moody Publishers.
26 Myers, A. C. (1987). The Eerdmans Bible dictionary (758). Grand Rapids, MI: Eerdmans.
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Além disso, os pais da igreja primitiva entendiam que Pedro e Paulo
foram martirizados em Roma.27 Eusébio, o historiador da igreja primitiva,
cita Papias e Orígenes para comprovar isto (Eusebius, II:15:2; III:1:2–3.
Papias [bispo de Hierápolis, morreu cerca de 130 d.C.]). João Marcos, que é
mencionado por Pedro (5.13), também é mencionado por Paulo, escrevendo
de Roma (2Tm 4.11; Fm 24).
A tradição nos diz que Pedro teve que assistir à crucificação de sua
esposa, mas a encorajou com as palavras: “Lembra-te do Senhor”. Quando
chegou a sua vez, ele implorou dizendo que não era digno de ser crucificado
como seu Senhor, mas, em vez disso, solicitou que fosse pendurado e
crucificado de cabeça para baixo (67-68 d.C.).28
4. Qual é o propósito da carta?
“Por meio de Silvano, que para vós outros é fiel irmão, como também
o considero, vos escrevo resumidamente, exortando e testificando, de
novo, que esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes” (1Pedro
5.12).
A Primeira Carta de Pedro é uma epístola de encorajamento (1Pe
5.12). Assim, ao longo da carta vemos lembretes da realidade do sofrimento
(1.6-7; 2.18-19; 3.15-16; 4.12-16; 5.8-10). Conforme Swindoll, o apóstolo
Pedro desenvolve a sua mensagem encorajadora em tempos dolorosos
através de três maneiras. 29
Em primeiro lugar, Pedro informa os seus leitores sobre a sua
esperança viva (1.1-2.12). Nesta seção, ele nos permite saber que a graça e
a paz podem ser nossas, quando afirmamos nossa esperança (1.3-12),
enquanto caminhamos em santidade (1.13-25), e à medida que crescemos
em Cristo (2.1-12). Pedro destaca a graça de seguir em frente, descrevendo
uma viva esperança, mediante a ressurreição de Cristo (1.3). Cristo torna-se
a fonte de esperança em tempos dolorosos.
Em segundo lugar, Pedro exorta os seus leitores a vida
esperançosa apesar de sua vida estranha (2.13-4.11). Ele convida seus
leitores a se submeter às várias autoridades (2.13-3.7), para ser humilde de
espírito (3.8-22), a ser armado com resistência (4.1-6), e para glorificar a
Deus (4.7-11). Estes princípios se tornam a chave para viver como cristãos
em um mundo hostil. Pedro enfatiza a graça de permanecer firmes,
Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (23). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
28 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (105). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
29
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (142). Grand Rapids, MI: Zondervan.
27
13
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
descrevendo uma esperança calma através da submissão pessoal (3.6).
Cristo torna-se o exemplo de esperança em tempos dolorosos.
Finalmente, Pedro conforta seus leitores no meio de sua
provação ardente (4.12-5.14). Ele lembra que ninguém deveria ficar
surpreso diante das circunstâncias difíceis (4.12). Em vez disso, eles
deveriam se regozijar (4.13), confiar sua vida a Deus (4.19) e lançar suas
preocupações sobre Ele (5.7).
Além disso, a vida de Pedro nos ensina algo muito importante: O
fracasso do passado não anula os planos de Deus para o futuro. As pessoas
vão tentar persuadi-lo de que Deus segue uma regra “um erro e você está
fora”. Isto é, se você pecar, Ele vai passar o ministério que está em suas mãos
para alguém mais confiável e fiel. Se você acha que Deus trabalha desta
forma, pense no apóstolo Pedro. Depois de fracassar ao negar a Cristo, ele foi
deliberadamente restaurado e assumiu um lugar de liderança entre seus
companheiros. Não pense nem por um momento que um erro em seu
passado anula os planos de Deus para o seu futuro.
5. Qual é o esboço da carta?
Como vimos Pedro escreveu sua epístola para exortá-los a mostrar
resistência e compromisso em meio às provações. 30 As vívidas descrições de
sofrimento e morte de Cristo (2.21-25; 3.18) tornam-se um incentivo para os
cristãos vencerem o mal e perseverarem até o fim.
Saudação (1.1-2)
I.
Ao sofrerem, os cristãos devem se lembrar de Sua grande
salvação (1.3-2.10)
A. A certeza da salvação (1.3-12)
1. Preservada pelo poder de Deus (1.3-5)
2. Provada pelas provações da perseguição (1.6-9)
3. Prenunciada pelos profetas de Deus (1.10-12)
B. As consequências de nossa salvação (1.13-2.10)
1. A prioridade da santidade (1.13-23)
2. O poder da Palavra (1.24-2.3)
3. O sacerdócio dos crentes (2.4-10)
Lea, T. D. (1998). The General Letters. In D. S. Dockery (Ed.), Holman concise Bible
commentary (D. S. Dockery, Ed.) (633). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers.
30
14
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
II. Ao sofrerem, os cristãos devem se lembrar do seu exemplo
diante dos homens (2.11-4.6)
A. A vida honrosa diante dos incrédulos (2.11-3.7)
1. Submissão ao governo (2.11-17)
2. Submissão aos senhores (2.18-25)
3. Submissão na família (3.1-7)
B. A vida honrosa diante dos cristãos (3.8-12)
C. A vida honrosa em meio ao sofrimento (3.13-4.6)
1. O princípio de sofrimento pela justiça (3.13-17)
2. O modelo de sofrimento pela justiça (3.18-22)
3. O propósito do sofrimento pela justiça (4.1-6)
III. Ao sofrerem, os cristãos devem se lembrar de que o Senhor
voltará (4.7-5.11)
A. As Responsabilidades da vida cristã (4.7-11)
B. A realidade do sofrimento cristão (4.12-19)
C. Os requisitos para a liderança cristã (5.1-4)
D. A concretização da vitória cristã (5.5-11)
Conclusão (5.12-14)
15
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Esperança em um mundo hostil
[estudo 2 - 1pedro 1.1-2]
Todas as pessoas, em todos os lugares e em todos os momentos têm
algo em comum: o sofrimento! Se judeus ou cristãos, muçulmanos ou hindus,
ateus ou idólatras, as lágrimas são todas iguais. Charles Swindoll estava
certo quando escreveu: “Culturas fluem e refluem, nações ascendem e caem,
e grupos de pessoas vêm e vão, mas o sofrimento transcende todas as
culturas, invade cada nação, e traduz a mensagem de dor a cada pessoa que
já viveu”. 31 O que as pessoas precisam é de esperança em um mundo hostil.
A Primeira carta de Pedro foi escrita aos crentes dispersos, marcados
pelas chamas da perseguição. Eles viviam em circunstâncias sombrias, mas
Pedro não tenta estimulá-los com pensamentos positivos. Em vez disso, ele
insta os seus leitores a voltarem sua atenção para o céu, o que lhes permite
ver além de suas circunstâncias e de encontrar uma nova esperança em sua
vocação celestial.
Pedro é um apóstolo inspirado, e o que ele escreveu é Palavra de
Deus. Sua carta foi dirigida não apenas aos cristãos da Ásia, mas a todas as
igrejas de todos os séculos por meio do Espírito de Cristo.32
Assim, o apóstolo começa sua carta incentivando seus leitores a rever
sua posição diante de Deus. Eles são “eleitos”, segundo a presciência de Deus
Pai, em santificação do Espírito, para a obediência... , graça e paz vos sejam
multiplicadas” (1Pe 1.2). Nesta breve saudação, Pedro mostra ao seus
leitores que a graça e a paz de Deus serão “multiplicadas”,
independentemente do caos que estejam enfrentando. Sua carta expande a
bênção que é destilada em sua saudação.
I. Os cristãos vivem em um mundo hostil
“Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da
Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pedro 1.1).
Entre todas as religiões pagãs do mundo romano, o judaísmo era a
única religião legal não obrigada a oferecer sacrifícios ao imperador. Em vez
disso, eles poderiam oferecer orações em nome do imperador. Enquanto os
cristãos eram vistos como uma seita do judaísmo, os romanos os
consideravam sob essa cobertura de isenção e proteção.
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (145–146). Grand Rapids, MI: Zondervan.
32 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (31). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
31
16
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Mas quando a sinagoga começou a expulsá-los, o cristianismo assumiu
uma identidade distinta composta de ambos (gentios e judeus), que
perderam a sua proteção legal e se tornaram alvos da perseguição romana.
Esta era a situação do os cristãos que viviam na Ásia Menor (atual Turquia).
As palavras de Pedro são destinadas não apenas para confortar estes crentes
no seu sofrimento, mas também para prepará-los para as ondas posteriores
de perseguições.
Pedro se dirige aos seus leitores aos moradores de “... Ponto, Galácia,
Capadócia, Ásia e Bitínia” (v. 1). Como vimos no capítulo anterior, essas
igrejas podem ter sido fundadas por convertidos no dia de Pentecostes,
quando Pedro pregou e quase três mil foram acrescentados à igreja (At 2.9,
ou pelas viagens missionárias do Apóstolo Paulo, At 16.6-7; At 19), ou
através de uma combinação destes. Porém, é interessante observar que
antes do apóstolo Pedro informar a localização dos destinatários, ele
descreve a posição espiritual, social e política.33
Eles são dispersos: “... aos eleitos que são forasteiros da
Dispersão...” (v. 1) – A palavra “dispersão” é diáspora em grego (διασπορα).
A diáspora é um termo técnico que se refere à dispersão dos judeus em todo
o mundo pelos cativeiros assírios e babilônicos. Tiago usou o mesmo termo
ao se referir dos crentes judeus espalhados (Tg 1.1).34 Contudo, Pedro usa o
termo no sentido figurado, não se referindo aos judeus literalmente
deslocados de sua terra natal da Judéia, mas a todos os cristãos, judeus e
gentios que, impulsionados pelas perseguições acabaram fugindo para
outras regiões (At 8.1; 11.19).
“... no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” (1Pe 1.1) – Como as
áreas geográficas mencionadas na sua saudação indicam, esta carta teve
uma circulação muito grande. Havia pelo menos sete igrejas da Ásia Menor
(Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia), que 30
anos mais tarde receberam a revelação especial do próprio Cristo
ressuscitado (Ap 1.11; capítulos 2-3). Havia outros lugares notáveis na Ásia
Menor, como Colossos, que Pedro nem sequer mencionou. Então, ele estava
escrevendo para um grande número de crentes espalhados como
estrangeiros espirituais ao longo de uma região hostil e pagã.
Os leitores de Pedro não deveriam se ofender com o termo
“dispersão” ou “espalhados” (NTLH), pelo contrário, deveriam se alegrar por
ser um título de honra. Eles são da “diáspora”, porque são o povo de Deus,
espalhados pelo mundo. Jesus havia olhado com compaixão “as ovelhas
perdidas da casa de Israel”, porque estavam “aflitas e exaustas, como ovelhas
sem pastor” (Mt 9.36). Ele veio para reunir seu “pequeno rebanho”, incluindo
KISTEMAKER, Simon. Epístolas de Pedro e Judas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006,
p. 47.
34 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (146–147). Grand Rapids, MI: Zondervan.
33
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
outras ovelhas que não são do aprisco de Israel (Jo 10.16). 35 Pedro escreve
na certeza alegre de que os gentios na Ásia Menor são parte do rebanho do
Senhor (1.18; 2.25).
Pedro dirigiu a um público grande porque a perseguição romana
havia varrido o Império. Os crentes em todo lugar iriam sofrer (cf. Lc 21.12;
Fp 1.29; Tg 1.1-3). Logo, o apóstolo queria que os crentes se lembrassem de
que, em meio ao sofrimento, eles ainda eram os eleitos de Deus, e que, como
tal, eles poderiam enfrentar a perseguição com uma triunfante esperança (cf.
4.13, 16, 19, Rm 8.35-39; 2Tm 3.11; Hb 10.34-36).36
Eles são forasteiros: “... aos que são forasteiros da Dispersão...” (v.
1) – O termo “forasteiro” é uma referência aos estrangeiros e refugiados ou
residentes temporários (cf. 1Pe 2.111; Gn 23.4; Êx 2.22; 22.21, Sl 119.19; At
7.29, Hb 11.13).37
Como estrangeiros, não pertencemos a este mundo hostil. A igreja é
composta de estrangeiros e peregrinos espalhados por toda a terra, longe de
seu verdadeiro lar no céu (cf. Fl 3.20; Hb 11.13-16; 13.14). Nas palavras de
Jesus, estamos no mundo, mas não somos do mundo (Jo 17.13-16). Ou seja,
nosso comportamento deve ser distinto dos moradores deste mundo.
Entretanto, Pedro deixa claro, como fez Jesus, que não devemos nos
tornar eremitas e enclausurados no mundo, mas, viver de tal forma que os
outros possam ver Deus em nossa vida (2.12, 15, 20-21; 3.13-17; 4.19; 5.9).
Nem devemos viver separados da igreja, como indivíduos, mas em
comunidade como povo de Deus (1.22; 2.4-10; 3.8-9; 4.8-11, 17; 5.1-5, 9, 1314). Não devemos viver no mundo e ir à igreja, mas viver na igreja e ir ao
mundo. Assim, a palavra “forasteiro” significa que somos estrangeiros neste
mundo mau.
Os cristãos são peregrinos em busca do verdadeiro lar celestial. Pedro
trata sobre esse assunto várias vezes em sua carta, observe: “Nisso exultais,
embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por
várias provações...” (1Pe 1.6); “... portai-vos com temor durante o tempo da
vossa peregrinação...” (1Pe 1.17); “Amados, exorto-vos, como peregrinos e
forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra
contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios,
para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores,
observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação”
(1Pe 2.11-12; Cf. 4.2; 5.10).
As ideias de esperança, céu, a segunda vinda de Jesus Cristo e a glória
futura são destaques em 1Pedro (1.3-5, 7, 13, 21; 2.12, 3.5, 15; 4.5, 7, 13, 17,
5.1, 4, 6 “tempo adequado”, 10). Além disso, Pedro repetidamente mostra
Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (37–38). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
36 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (16).
Chicago: Moody Publishers.
37 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (14–15).
Chicago: Moody Publishers.
35
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que os incrédulos serão julgados por Deus (1.17; 2.7-8, 12, 23, 3.12, 18-20;
4.5, 17-18).
Ironicamente, estes peregrinos errantes herdarão a terra, enquanto
que aqueles que pensam que podem reivindicar o mundo vão perdê-lo no
julgamento de Deus.38 Tudo isso é mais prático para aqueles que estão
sofrendo, especialmente quando você olha ao redor e parece que pessoas
más são bem-sucedidas enquanto os cristãos tementes a Deus estão
padecendo. Vale a pena seguir a Cristo? É claro que vale! Paulo diz que, “Se a
nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes
de todos os homens” (1Co 15.19).
Como estrangeiros espirituais, o mais importante para os leitores de
Pedro não era a sua relação com o mundo, mas a sua relação com o céu.39
Descrevendo a esperança de Abraão, o autor de Hebreus disse: “porque
aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e
edificador” (Hb 11.10; 13-16; Jo 14.1-3; Fp 3.20).
Na verdade, o mundo é uma ponte. O homem sábio irá passar por ela,
mas não vai construir a sua casa sobre ela”.40 Isso é o que Pedro está
ensinando. Nossa vida na terra é temporária. Mas a salvação do Senhor é
eterna. É por isso que Pedro encoraja os seus leitores que sofrem a
concentrar-se na esperança desse grande dia, quando nosso Salvador
retornará do céu para nos buscar!
II. Os cristãos devem viver com esperança no mundo
hostil
“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do
Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo,
graça e paz vos sejam multiplicadas” (1Pedro 1.2).
A esperança bíblica não é como a esperança do mundo. A esperança
do mundo é incerta, na melhor das hipóteses. A esperança bíblica é certa,
porque é uma promessa do Deus que não pode mentir.
Na saudação de abertura, Pedro apresenta três razões de como viver
com esperança neste mundo hostil:
A. Podemos ter esperança porque fomos escolhidos por
Deus.
“... eleitos, segundo a presciência de Deus Pai...” (1Pe 1.2) – Esta
carta foi escrita para os eleitos de Deus. Eles são descritos aqui não pela
Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (39–40). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
39 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (16).
Chicago: Moody Publishers.
40 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (111). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
38
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
situação temporal, mas por suas condições espirituais. Os cristãos são os
eleitos de Deus não por acaso ou planejamento humano, mas pela escolha
soberana e incondicional do Eterno.41
É importante notar que a palavra “eleito” vem logo depois da
expressão “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo...” e antes de “... no Ponto, Galácia,
Capadócia...” (V. 1). Ela foi colocada no início para dar ênfase. Pedro declara
que o nosso relacionamento com Deus não depende de nossas forças, mas da
graça de Deus. Assim, podemos buscar a Deus durante os tempos de
perseguição, porque Ele é soberano para salvar e guardar os Seus filhos.42
Este reconfortante tema da soberania de Deus percorre toda a carta (1.3-5,
11-12, 20; 2.7-10; 3.17, 22, 4.11, 19; 5.10-11).
O apóstolo reitera esse conceito no capítulo 2, “Vós, porém, sois raça
eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a
fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Pedro faz alusão ao Antigo Testamento em que o
verso deixa claro que Deus havia soberanamente escolhido a Israel: “Porque
tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para
que lhe fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra” (Dt
7.6; cf. 14.2; Sl 105.43, 135.4).
“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai...” (1Pe 1.2) – A escolha
de Deus é “segundo” (kata, em grego) ou de acordo com sua presciência. A
palavra “presciência” (prognōsin) significa mais do que uma visão passiva,
que contém a ideia de “tendo em conta o favor”.43 A mesma palavra é usada
em 1.20 sobre Cristo, que foi “escolhido” pelo Pai antes da Criação. O Pai fez
mais do que apenas saber sobre o Seu Filho à frente do tempo, Ele conhecia
completamente. Assim, Deus escolheu todos aqueles a quem Ele concentrou
a sua atenção (por Sua graça, não por causa de seu mérito).44
No entanto, esta verdade reconfortante de que Deus nos escolheu
para a salvação, tem sido prejudicada por aqueles que dizem: “Sim, mas Ele
diz que Deus nos escolheu de acordo com a Sua presciência”. Eles ensinam
que a eleição significa que Deus olhou para baixo, através da história
(passado, presente e futuro), viu quem acreditaria Nele e colocou o nome
dos que creram no Livro da Vida. Porém, interpretar o termo “presciência”
desta forma possui, pelo menos, dois problemas, vejamos:
Em primeiro lugar, esse tipo de interpretação torna o plano do
eterno Deus soberano dependente da vontade do homem. Pensar que
Deus olhou para a história e disse: “Ah, seria ótimo se Saulo de Tarso
Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1985). Vol. 2: The Bible
Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (839). Wheaton, IL: Victor Books.
42 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (16).
Chicago: Moody Publishers.
43 Kenneth S. Wuest, First Peter in the Greek New Testament for the English Reader, p. 15.
44 Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1985). Vol. 2: The Bible
Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (840). Wheaton, IL: Victor Books.
41
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
acreditasse em mim, porque Ele seria um bom apóstolo”. “Excelente! Ele se
decidiu por mim! Eu vou colocá-lo na minha lista dos eleitos”. Contudo,
Paulo deixou claro que Deus o havia separado desde o ventre de sua mãe (Gl
1.15). Presciência não significa, meramente, que Deus sabe quem vai ser
salvo, mas que Ele está ativamente no processo antes do tempo.
No Antigo Testamento, “conhecer” alguém poderia indicar uma
relação íntima (Nm 31.18, 35; Jz 21.12; Cf Gn 19.8). Muito antes de Pedro
articular a natureza do conhecimento de Deus, o Senhor disse a Moisés:
“Farei também isto que disseste; porque achaste graça aos meus olhos, e eu te
conheço pelo teu nome” (Êx 33.17).
Em relação ao Cristo-Servo, o profeta Isaías declara: “Ouvi-me, terras
do mar, e vós, povos de longe, escutai! O SENHOR me chamou desde o meu
nascimento, desde o ventre de minha mãe fez menção do meu nome; fez a
minha boca como uma espada aguda, na sombra da sua mão me escondeu;
fez-me como uma flecha polida, e me guardou na sua aljava, e me disse: Tu és
o meu servo, és Israel, por quem hei de ser glorificado” (Is 49.1-3).
O profeta Jeremias declara que Deus tinha uma relação prédeterminada com ele: “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te
conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às
nações” (Jr 1.5).
O profeta Amós escreveu sobre a presciência de Deus: “De todas as
famílias da terra, somente a vós outros vos escolhi; portanto, eu vos punirei
por todas as vossas iniquidades” (Am 3.2).
Diante destas referências, a questão não é simplesmente que Deus
obtém informação sobre alguém, mas Ele estabelece uma relação íntima com
que lhe aprouver.45
Em segundo lugar, esse tipo de interpretação transforma a graça
de Deus em um favor merecido ao invés de imerecido. Se a eleição
significa apenas que Deus vê antecipadamente quem será salvo, então Ele
não escolheu soberanamente, mas escolhe por causa deles. Mas a Bíblia é
clara ao declarar que é Deus quem escolhe (Rm 9.11, 16, 18). A palavra
“presciência” significa que Deus sabia no sentido especial de escolher o seu
povo antes da fundação do mundo. A ideia de predestinação está implícita
no “conhecimento” (1Pe 1.20; Rm 8.29).
B. Nós podemos ter esperança, porque fomos salvos pelo
Deus Trino.
Pedro assumiu que seus leitores aceitavam a Trindade. Ele não gasta
tempo tentando explicar ou defender, ele só afirma que fomos escolhidos de
acordo com a presciência de Deus Pai, pelo trabalho santificador do Espírito,
para que possamos obedecer a Jesus Cristo. Deus é um Deus que existe em
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (20).
Chicago: Moody Publishers.
45
21
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
três pessoas co-iguais, eternas, o mesmo em substância, mas distintas em
subsistência.46 Cada pessoa da trindade possui um papel em nossa salvação.
As Escrituras apresentam o Pai como a fonte da criação, o doador da
vida, e Deus de todo o universo (cf. Jo 5.26, 1Co 8.6; Ef 3.14-15). O Filho é
retratado como a imagem do Deus invisível, a representação exata do Seu
ser e da natureza, e o Messias-Redentor (Fp 2.5-6; Cl 1.14-16, Hb 1.1-3). O
Espírito é Deus em ação, Deus alcançando as pessoas, influenciando,
regenerando, confortando e orientando (Jo 14.26, 15.26, Gl 4.6, Ef 2.18).
Todos os três trabalham juntos (Jo 16.13-15). Podemos ter esperança,
porque a nossa a salvação depende desse grande Deus Trino.
C. Podemos ter esperança porque a graça e a paz serão
multiplicadas.
“... graça e paz vos sejam multiplicadas” (v. 2) – A expressão “Graça
e paz” não é, simplesmente, uma forma de saudação cristã, é muito mais. A
graça de Deus foi o fator motivador na vida de Pedro, como deveria ser na
vida de cada cristão. Ele usa a palavra em todos os capítulos desta carta, 10
vezes no total (1.2, 10, 13; 2.19-20; 3.7; 4.10; 5.5, 10, 12). A primeira palavra
da epístola, “Pedro”, ilustra a graça de Deus de forma mais pessoal. O Simão
instável que negou o Senhor tornou-se Pedro (a rocha), muito usado por
Deus como um apóstolo. “Paz” é o resultado interior ao experimentar a graça
de Deus.
Já a palavra “apóstolo” significa “enviado sob autoridade”, e mostra
que as coisas que Pedro escreveu não são sugestões, mas mandamentos
divinos. Ele não é o “príncipe dos apóstolos”, mas um apóstolo, restaurado
depois de sua queda, pelo arrependimento, pelo próprio Cristo após a Sua
morte e ressurreição (cf. Jo 21). Assim temos na vida do apóstolo Pedro, um
caso especial da fragilidade humana, por um lado, e a doçura da graça divina,
do outro.47 Pela graça, Pedro tornou-se o mensageiro de Deus.
Portanto, os cristãos vivem em um mundo hostil como estrangeiros,
mas, eles podem viver com esperança.
A palavra “Trindade” não aparece na Bíblia, ela foi criada por estudiosos para descrever
os três membros da Trindade. Em toda a Bíblia, Deus é apresentado como sendo o Pai, o
Filho e o Espírito não três “deuses”, mas três distintas em um único Deus (Mt 28.19; 1Co
16.23-24, 2Co 13.13). Elwell, W. A., & Comfort, P. W. (2001). Tyndale Bible dictionary.
Tyndale reference library (1275). Wheaton, IL: Tyndale House Publishers.
47 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (14).
Wheaton, IL: Crossway Books.
46
22
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III. Os cristãos devem viver em santidade no mundo
hostil.
“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do
Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo,
graça e paz vos sejam multiplicadas” (1Pedro 1.2).
“eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do
Espírito...” (v. 2) – Santidade e obediência são os temas principais em
1Pedro (1.2, 14-17, 22, 2.1, 11, 24, 3.2, 6, 8-9; 4.1-11, 15-17). Na introdução
esses temas são realçados nas respectivas obras do Espírito e de Jesus Cristo
em nossa salvação.
Primeiro, o apóstolo Pedro diz que somos escolhidos “pela obra
santificadora do Espírito”. A mesma frase é usada em conexão com a
eleição em 2Ts 2.13. Santificação (hagiasmos, em grego) significa “separar”
(1Jo 2.15-17). Mas aqui é uma referência ao trabalho inicial do Espírito ao
tomar um crente e separá-lo para Deus na comunidade do povo eleito. Deus
o separa das trevas para a luz, os diferencia da incredulidade à fé, e
felizmente os separa do amor ao pecado e leva-o a um amor pela justiça (Jo
3.3-8; Rm 8.2, 2Co 5.17; cf. 1Co 2.10-16; Ef 2.1-5; 5.8, Cl 2.13).48
A palavra também tem um sentido contínuo que aponta para o
processo pelo qual o Espírito progressivamente separa os crentes para Deus
(cf. Fl 1.6; Rm 12.1-2; 2Co 7.1; 1Ts 5.23-24; Hb 12.14; cf. Ef 4.24, 30; 2Tm
4.18). Paulo diz que Deus escolheu os crentes “... antes da fundação do
mundo, para serem santos e irrepreensíveis perante ele” (Ef 1.4). John
MacArthur acertadamente escreveu: “O que começa na salvação é concluído
na glorificação.49 O processo de santificação é o trabalho do propósito
eletivo de Deus na vida terrena dos cristãos (cf. Rm 6.22; Gl 4.6; Fp 2.12-13;
2Ts 2.13; Hb 12.14).
Em seguida, Pedro diz que somos escolhidos “para a obediência e a
aspersão do sangue de Jesus Cristo...” (v. 2) – Obediência a Jesus Cristo é o
efeito ou subproduto da eleição divina. A palavra “obediência” (hypakoē, em
grego) significa “obediência ao cumprimento”. Esta palavra está relacionada
com o verbo “ouvir” (akoúō). No grego clássico se refere a um porteiro, cujo
dever era responder a uma batida na porta, assim, ela traz a ideia de
responder a um chamado ou obedecer a um comando.50 Para os cristãos, a
obediência absoluta é a Cristo como Senhor (1.2, 14, 22). Portanto, devemos
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (21).
Chicago: Moody Publishers.
49 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (22).
Chicago: Moody Publishers.
50 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (144). Grand Rapids, MI: Zondervan.
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
ouvir os Seus mandamentos, e quando Ele chamar, devemos responder
imediatamente, sem reservas.
“... para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo...” (v.
2) – Dentro da Lei do Antigo Testamento, havia três ocasiões em que
acontecia a aspersão do sangue: (1) Limpeza: Quando um leproso era
curado, o sacerdote aspergido o sangue de um pássaro (Lv 14.1-7). (2)
Separar alguém para o serviço a Deus: Arão e os sacerdotes do tabernáculo
foram aspergidos com o sangue do cordeiro sacrificial, quando foram
“santificados” para o seu serviço sacerdotal (Êx 29.20-22, Lv 8.30). (3)
Obediência à aliança de Deus: Quando o povo de Israel respondeu ao convite
de Deus para estabelecer uma aliança, Moisés aspergiu metade do sangue
dos bois sobre as pessoas e metade sobre o altar. O povo declarou: “Tudo o
que falou o SENHOR faremos” (Êx 24.1-8). Novamente, a palavra-chave na
aliança era “obedecer”.
O livro de Hebreus declara que de uma vez por todas o sacrifício de
Jesus inaugurou a Nova Aliança (Hb 9.19-28). Assim, Pedro está se referindo
a limpeza inicial do pecado que ocorre quando o sangue de Cristo é aplicado
aos nossos corações quando nos comprometemos pela fé. “Obediência” olha
a nossa parte, “aspersão” olha a parte de Cristo.
Tal como acontece com a palavra “santificação”, a palavra “aspersão” é
um substantivo ativo que também contém a ideia de um processo contínuo.
Embora o sangue de Cristo nos purifique de todos os nossos pecados no
momento da salvação, existe também uma limpeza repetida aplicada ao
confessarmos os nossos pecados (1Jo 1.7, 9).
Todos aqueles que são eleitos pelo Pai são redimidos pelo sangue de
Cristo e santificados pelo trabalho do Espírito. Assim, o apóstolo Pedro
declara que a vida cristã é um processo contínuo de separação do pecado e
obediência a Deus. É antes de tudo a obra do Espírito de Deus e de Jesus
Cristo em nosso favor, mas também envolve a nossa obediência ativa.
Conclusão:
Outra palavra-chave na primeira carta de Pedro é a palavra
“submissão” (2.13, 18, 3.1, 5, 22; 5.5). Não é uma palavra popular em nossos
dias, onde todos exigem seus “direitos”, mas esquecem dos deveres. Mas
“submissão” é chave para ter uma visão adequada do sofrimento. Quando
enfrentamos provações, temos uma escolha. Podemos nos queixar sobre
como a vida é injusta e procurar uma saída rápida e fácil. Ou, podemos nos
submeter à mão poderosa de Deus para que Ele em tempo oportuno nos
exalte (1Pe 5.6).
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
O famoso pregador americano D.L. Moody contou sobre uma mulher
cristã, brilhante, alegre e otimista, embora estivesse confinada em seu
quarto por causa de uma enfermidade. Ela morava no quinto e último andar
de um prédio velho e degradado. Certa feita, uma amiga decidiu visitá-la e
levou consigo uma mulher de grande riqueza. Como não havia elevador no
prédio, as duas senhoras começaram a subir as escadas. Quando chegaram
ao segundo andar, a amiga rica comentou: “Que lugar escuro e sujo!” Sua
amiga respondeu: “O melhor está mais acima”. Quando elas chegaram ao
terceiro andar, a observação foi a mesma: “As coisas parecem ainda pior”.
Novamente a amiga respondeu: “O melhor está mais acima”. As duas
mulheres, finalmente chegaram ao quinto e último andar, onde se
encontrava a mulher acamada. Com um sorriso no rosto, ela irradiava
alegria que enchia o seu coração. Embora o quarto estive limpo e as flores
estivessem no parapeito da janela, a visitante rica não conseguia superar o
ambiente austero em que a mulher vivia. Ela deixou escapar: “Deve ser
muito difícil para você estar aqui num lugar como este!” Sem hesitar, a
mulher respondeu: “O melhor está mais acima”.
Aquela mulher acamada não olhava para as coisas temporais. Mas,
seus olhos da fé estavam fixos no eterno, ela havia encontrado o segredo do
verdadeiro contentamento: o melhor está mais acima.
Às vezes parece que não vamos resistir. Em muitos casos, a dor é
intensa e implacável. No entanto, o sofrimento não vai durar a vida inteira.
Ele vai cessar!
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Salvos para a eternidade
[estudo 3 - 1pedro 1.3-5]
Durante um tempo de extrema perseguição, sofrimento e dor, o
apóstolo Pedro depois de sua saudação, a primeira coisa que ele faz é
irromper em louvor: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!”
Ele não começa com as necessidades dos seus leitores, mas com os louvores
que Deus merece. Todavia, como ele poderia fazer uma coisa dessas?
Deixe-me colocar desta forma: se você estivesse passando por algum
tipo de sofrimento e um amigo o visitasse e dissesse: “Louvado seja Deus!
Você vai receber uma herança de R$ 100 milhões!” Isso faria alguma
diferença? A herança de R$ 100 milhões não pode resolver todos os seus
problemas, mas ajudaria em algumas áreas. Com tanto dinheiro, pelo menos,
você poderia sair de férias e meditar sobre as coisas!
Entretanto, de volta à realidade! Você não herdou R$ 100 milhões.
Você herdou algo muito melhore maior! Pedro está dizendo: “Bendito seja
Deus, porque Ele nos deu muito mais do que R$ 100 milhões. Ele nos fez
nascer de novo para uma viva esperança. Nossa herança está reservada nos
céus!” Então, independente de nossos problemas, podemos louvar a Deus
porque Ele nos salvou para a eternidade.
O que esperamos deve afetar a maneira como vivemos. A passagem é
um hino de adoração projetado para encorajar os cristãos que vivem em um
mundo hostil para desviar os olhos de seus problemas temporais e se
alegrar em sua herança eterna.51 Quando exaltamos a Deus por quem Ele é e
por aquilo que tem feito, sentimo-nos fortalecidos para lidar com nossas
leves e momentâneas tribulações (2Co 4.16-18).
Assim, podemos louvar a Deus porque a nossa herança (salvação) vem
deEle (1.3), e, porque a nossa herança está segura na eternidade (1.4-5).
I. A natureza da nossa herança.
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a
sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança,
mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pedro
1.3).
Quando Pedro descreve a Deus como “o Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo”, isso não significa que Jesus não era Deus. Jesus é o Deus eterno
encarnado, a segunda pessoa da Trindade.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (29).
Chicago: Moody Publishers.
51
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Apenas com uma exceção (quando abandonado na cruz, Mt 27.46),
todas as vezes que Jesus se dirigiu a Deus nos Evangelhos, Ele chamou a
Deus de “Pai” ou “meu Pai”. Ao fazer isso, Jesus estava rompendo com a
tradição judaica que raramente chamava Deus de Pai, e sempre em um
sentido coletivo, em vez de pessoal (Dt 32.6, Is 63.16; 64.8, Jr 3.19; 31.9; Ml
1.6; 2.10). Além disso, ao chamar a Deus de “Pai”, Jesus estava reivindicando
compartilhar de Sua natureza. Ao falar com os judeus sobre a observância da
Festa da Dedicação, Cristo declarou: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). Mais
tarde, em resposta ao pedido de Filipe para que Ele revelasse o Pai, Jesus
disse: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14.9; v 8, 10-13). Jesus afirmou que Ele e o
Pai possuem a mesma natureza divina, que Ele é completamente Deus (cf.
João 17.1, 5). 52 Nenhuma pessoa pode reivindicar conhecer a Deus a menos
que conheça Jesus Cristo, Seu Filho. Jesus mesmo disse: “Eu sou o caminho, e
a verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim. Se vós me tivésseis
conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes
visto” (Jo 14.6-7; cf. Mt 11.27; Lc 10.22).
Que Jesus é plenamente Deus pode ser provado de várias formas a
partir do Bíblia. Mas basta olhar para o contexto imediato.
Em primeiro lugar, Jesus é mencionado com o Pai e o Espírito como
tendo um papel essencial na nossa salvação (1.2).
Em segundo lugar, o título “Senhor” é a mesma palavra no Antigo
Testamento usada para descrever Deus. Ou seja, ao chamar Jesus de
“Senhor” é reconhecê-Lo como soberano do universo (3.22).
Terceiro, o termo “Cristo” prova que Jesus é Deus, porque “Messias”
significa Cristo. O Salmo 110 declara que o “Cristo” não é apenas filho de
Davi, mas também Senhor de Davi (Mt 22.42-45).
Assim, Pedro deixa claro que a nossa salvação vem de Deus Pai, por
meio de Cristo e através do Espírito Santo (1Pe 1.3). A Trindade está
envolvida em nossa salvação.
A. Podemos louvar a Deus porque a nossa salvação vem de
Sua grande misericórdia.
“... que, segundo a sua muita misericórdia...” (v. 3) – A salvação
nunca vem de qualquer mérito ou algo de valor em nós. Na verdade, não
podemos fazer nada para merecê-la. Não podemos fazer nada para
predispor Deus a nos concedê-la.
Misericórdia não é o mesmo que graça. Misericórdia diz respeito à
condição miserável de um indivíduo, enquanto graça diz respeito a sua
culpa, o que causou essa condição. A misericórdia divina leva o pecador da
miséria para a glória (uma mudança de condição), e a graça divina o leva o
pecador da culpa a absolvição (uma mudança de posição, Cf. Rm 3.24; Ef
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (30).
Chicago: Moody Publishers.
52
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
1.7). O Senhor se entristece com a condição do pecador (Ez 18.23, 32; Mt
23.37-39). Jesus curou várias pessoas enfermas (Mt 4.23-24; 14.14, 15.30,
Mc 1.34, Lc 6.17-19). Ele poderia ter demonstrado sua divindade de muitas
outras maneiras, mas escolheu curar porque ilustrava melhor o coração
misericordioso de Deus para com os pecadores (cf. Mt 9.5-13; Mc 2.3-12).53
As curas realizadas por Jesus, que quase baniu a doença de Israel, serviram
para mostrar que o que o Antigo Testamento havia declarado a respeito de
Deus, o Pai misericordioso (Êx 34.6; Sl 108.4; Lm 3.22; Mq 7.18 ) era
verdade.
Como Martinho Lutero declarou, “a natureza humana alimenta a ideia
de que nós, através de nossa própria força, livre arbítrio, boas obras e
merecimento ou por manter a Lei de Deus, podemos expiar nossos pecados
e adquirir a salvação eterna. Mas isso é a mesma coisa que devemos deixar
se quisermos experimentar a misericórdia de Deus. Se merecêssemos a
salvação, não experimentaríamos a misericórdia de Deus. Merecemos
apenas a Sua ira por causa do nosso grande pecado, mas Ele nos mostrou
grande misericórdia”.54
Podemos louvar a Deus porque a nossa salvação vem de Sua grande
misericórdia! É por isso que Paulo O chama de “o Pai das misericórdias”
(2Co 1.3).
B. Podemos louvar a Deus porque a nossa salvação vem de
Seu poder em dar a vida eterna.
“... nos regenerou para uma viva esperança...” (v. 3) – Pedro diz que
Deus “nos regenerou”. O profeta Jeremias uma vez fez uma pergunta
retórica: “Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas?” (Jr
13.23). A resposta é um sonoro, não! Sua analogia serve para mostrar que o
pecador não pode mudar sua natureza (cf. 17.9). A natureza pecaminosa da
humanidade precisa mudar (Mc 1.14-15; Jo 3.7, 17-21, 36; cf. Gn 6.5; Jr 2.22;
17.9-10; Rm 1.18-2.2; 3.10-18), mas só Deus, trabalhando através do Seu
Espírito Santo, pode transformar o coração humano pecador (Jr 31.31-34; Jo
3.5-6, 8, At 2.38-39; cf. Ez 37.14, At 15.8; Rm 8.11, 1Jo 5.4).55 Isto é, a única
maneira do pecador receber a herança eterna de Deus, é por meio da
transformação espiritual, o novo nascimento, “... nos regenerou para uma
viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (v.
3).
Jesus declarou a Nicodemos (com quem Pedro, sem dúvida,
conheceu), que a menos que um homem nascesse de novo, não poderia ver o
reino de Deus (Jo 3.3). Assim como nascemos fisicamente, devemos nascer
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (31–32).
Chicago: Moody Publishers.
54 Commentary on Peter and Jude [Kregel], p. 20)
55 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (32).
Chicago: Moody Publishers.
53
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
espiritualmente. E, assim como não tivemos nada a ver com nosso
nascimento físico, não podemos ajudar em nosso nascimento espiritual. Ele
tem a sua origem no poder vivificante de Deus (Jo 1.12-13; 6.44).
Se a nossa salvação fosse resultado do nosso esforço ou desempenho,
então ela repousaria sobre um terreno movediço. Contudo, a salvação é obra
da soberana vontade de Deus, com base no Seu poder em nos tirar da morte
espiritual para a vida, então é algo concreto! Logo, podemos louvar a Deus
porque a nossa libertação da morte espiritual vem do céu e não da terra.
C. Podemos louvar a Deus porque a nossa salvação vem da
ressurreição de Jesus Cristo.
“... mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos...” (v.
3) – Se Deus houvesse deixado Jesus no túmulo, nossa salvação não seria
completa. Em Sua morte na cruz, Jesus levou sobre Si nossos pecados. Mas,
se Ele não tivesse ressuscitado não teria vencido o pecado e a morte. Como
Paulo disse: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis
nos vossos pecados” (1Co 15.17).
Sejam quais forem às provações que enfrentemos, podemos louvar
Deus, porque temos uma esperança viva que se baseia no fato da
ressurreição de Jesus Cristo. O Senhor Jesus disse a Marta, pouco antes da
ressurreição de seu irmão Lázaro da sepultura, “Eu sou a ressurreição e a
vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em
mim não morrerá, eternamente. Crês isto?” (Jo 11.25-26).
Paulo instruiu aos Coríntios sobre a verdade e a esperança da
ressurreição: “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida,
somos os mais infelizes de todos os homens” (1Co 15.19). Cristo ressuscitou
dentre os mortos para garantir uma viva esperança ao crente acerca da
salvação e o triunfo sobre a morte (1Pe 1.20-21; 1Co 15.20-28, 47-49, 5458).
Assim, Pedro deseja que seus leitores saibam que não importa a
grandeza dos nossos problemas, nosso futuro é glorioso, por que a nossa
salvação é um obra de Deus, de Sua grande misericórdia. Como disse o
apóstolo Paulo: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra
em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).
29
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
II. O poder da nossa esperança
“para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada
nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus,
mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último
tempo” (1Pedro 1.4-5).
Apesar do sofrimento, podemos louvar a Deus porque a nossa
salvação está segura na eternidade (1.4-5). Pedro descreve nossa salvação
como herança, trancada no cofre do banco celestial e protegida contra todos
os intrusos. Além disso, podemos ter plana convicção de que o poder de
Deus está nos guardando para que um dia desfrutemos de nossa herança.
A. Nossa salvação é uma herança segura no céu.
“Para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada
nos céus para vós outros” (1Pedro 1.4).
Confesso que não gosto muito de ler documentos legais. Por que
geralmente os advogados ou juízes não escrevem em linguagem acessível,
totalmente clara. Mas há um documento onde todos permanecem atentos a
cada palavra: A leitura de um testamento, quando sabemos que somos
legatários de uma grande herança.
Pedro diz que a nossa salvação é uma herança guardada nos céus. É
claro, o próprio Cristo está lá. Além disso, nossa herança é tão grande e
preciosa que a única maneira de Pedro descrevê-la é dizendo o que ela não
é: não é perecível, não é contaminada e não é destruída (v. 4).
Uma herança Incorruptível (aphtharton, em grego). Refere-se ao
que não é perecível, não é passível de morte ou sujeita a destruição. Nossa
herança espiritual não está sujeita a destruição. Nossa herança é um tesouro
glorioso que nunca será perdido.56
Qualquer herança humana está sujeita tanto a morte ou decadência.
Qualquer pessoa pode morrer antes mesmo de obter ou desfrutar de sua
herança. Você pode ser o herdeiro de uma grande fortuna, mas não desfrutar
de nada se morrer antes. Caso consiga obtê-la, ainda estará sujeito à traça,
ferrugem, e aos ladrões, como Jesus declarou (Mt 6.19-21). Mas a nossa
herança celestial é imperecível, ela não pode ser destruída.
Uma herança imaculada (amiantos). Significa livre de
contaminação.57 A herança pode ser maculada e pode contaminar a pessoa
que a recebe. Famílias de homens ricos que morreram são conhecidas pelas
brigas desagradáveis que duram anos por causa da ganância de seus
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (35).
Chicago: Moody Publishers.
57 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (650). Nashville, TN: T. Nelson.
56
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
membros. Mas a nossa herança celestial não é desse modo. Ela é pura e
imaculada como o nosso Senhor (Ap 5). Somente através dele, somos
capazes de entrar na presença de Deus e receber uma herança tão gloriosa,
uma herança “imaculada”.58
Tudo na criação está manchado e poluído pelo pecado (Rm 8.20-22,
1Jo 5.19), e, portanto, tudo é falho. Isso é o que o apóstolo Paulo se referiu
quando escreveu: “Porque sabemos que toda a criação geme e sofre as dores
de parto até agora” (Rm 8.22). Toda herança terrena está contaminada, mas
a herança imaculada dos crentes em Jesus Cristo é impecável e perfeita (cf.
Fl 3.7-9; Cl 1.12).
Uma herança imarcescível (amarantos, em grego). Por fim, a
herança do crente não vai desaparecer. A palavra “imarcescível” é usada no
grego secular para descrever uma flor que não murcha ou morre.59 Nenhum
dos elementos decadentes do mundo pode afetar o reino dos céus (Lc 12.33;
cf Ap. 21.27; 22.15). Nenhum dos estragos do tempo ou os males do pecado
podem tocar na herança do crente, porque é em um reino atemporal, sem
pecado (cf. Dt 26.15; Sl 89.29; 2Co 5.1). Mais tarde, na mesma carta, Pedro
reitera a natureza imperecível da herança da Igreja: “Ora, logo que o
Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1Pe
5.4).60
Mas você pode estar pensando, é bom saber que a nossa herança está
no céu. Contudo, como posso ter certeza de que vou tomar posse dessa
herança?
B. Nossa salvação é guardada pelo poder de Deus.
“... que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a
salvação preparada para revelar-se no último tempo” (1Pedro 1.5).
“... que sois guardados...” (phroureo, em grego) significa guardar,
proteger através de um guarda militar, seja para evitar invasão inimiga ou
impedir a fuga dos habitantes de uma cidade sitiada (ver 2Co 11.32).61 O
verbo foi escrito no particípio perfeito passivo. Ou seja, isso transmite a
ideia da herança já existente, mas que está sendo cuidadosamente guardada
58 Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: Sharing christ’s sufferings. Preaching the Word
(34). Wheaton, IL: Crossway Books.
59 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (221). Nashville, TN: T. Nelson.
60 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (35).
Chicago: Moody Publishers.
61 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (284). Nashville, TN: T. Nelson.
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
no céu para todos aqueles que confiam em Cristo.62 Nossa herança está
protegida, não por um exército vulnerável, mas pelo poder de Deus!
“... pelo poder de Deus...” (v. 5) – O poder de Deus é a Sua onipotência
soberana que protege continuamente Seus eleitos. Ninguém pode se opor a
eles (Rm 8.31-39; Judas 24).63 Todos os detalhes desta promessa são
oferecidos ao crente uma esperança duradoura, de modo a proporcionar
alegria e resistência.
Não importa a calamidade, não importa a causa da morte, a
profundidade da dor ou o horror da catástrofe, Deus está no controle. E Ele é
todo-poderoso. Isso significa que podemos confiar nele independentemente
das nossas circunstâncias. A morte pode destruir nossos corpos, mas Deus
prometeu proteger nossas almas e nossos corpos serão ressuscitados de
maneira gloriosa “no último tempo” (1Co 15.50-58). Ninguém pode nos
dizer as razões pelas quais passamos por esses momentos difíceis. Mas
porque sabemos o tipo de Deus que temos, podemos aceitar o mistério do
sofrimento e a certeza de que Deus nos protegerá pelo Seu poder, hoje, e por
toda a eternidade.64
O profeta Jeremias, mesmo no meio dos momentos mais difíceis foi
capaz de declarar: “A minha porção é o SENHOR, diz a minha alma;
portanto, esperarei nele” (Lm 3.24).
“... mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no
último tempo” (v. 5) – Nossa salvação está “preparada” para ser revelada,
como uma estátua esperando para ser revelada. Porém, a palavra
“preparada” também é usada em 1Pedro 4.5 para avisar que Deus está
pronto para julgar os vivos e os mortos. O futuro detém um ou outro para
cada pessoa: Ou você espera para ver o véu sendo removido e contemplar a
salvação, ou você espera pelo julgamento de Deus. Ambos estão preparados.
O que determina o seu futuro é visto na frase, “mediante a fé”. Nós
recebemos a salvação de Deus através da fé.
“... mediante a fé...” (v. 5) – A fé não é a causa meritória da nossa
salvação, mas a causa instrumental.65 Nossa fé se apodera do poder, e o Seu
poder fortalece a nossa fé, e por isso somos preservados. A alma que se
baseia na autoconfiança, na presunção de sua própria força será exposta a
todo tipo de perigo.66
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (37).
Chicago: Moody Publishers.
63 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (37).
Chicago: Moody Publishers.
64 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (149). Grand Rapids, MI: Zondervan.
65 LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 34.
66 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (25).
Wheaton, IL: Crossway Books.
62
32
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Todavia, este poderoso escudo é nosso, se vivemos pela fé no Cristo
vivo. A fé é absolutamente essencial para a vida cristã. É pela fé que vamos a
Cristo, e é pela fé que vivemos por Ele dia após dia (Gl 3.11). Paulo nos
ensina a usar o escudo da fé para apagar todos os dardos inflamados do
maligno (Ef 6.16).
Este escudo da fé nos manterá pelo poder de Deus até a nossa
salvação estiver pronta para ser revelada no último tempo (v. 5). Pedro está
falando sobre a revelação de Jesus Cristo em Apocalipse, quando Ele voltar
para reinar como Rei dos reis e Senhor dos senhores. Haverá um novo céu e
uma nova terra (Ap 21.1). Assim, “Deus habitará com eles. Eles serão povos de
Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e
a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as
primeiras coisas passaram” (Ap 21.3-4).
Que dia será aquele! Enquanto esse dia não chega, nosso Senhor
prometeu estar conosco (Mt 28.20). Ele nos prometeu a vida eterna que
ninguém pode nos tirar. E Ele nos ofereceu alguns benefícios adicionais
maravilhosos, incluindo uma viva esperança, uma herança celestial e um
poderoso escudo.67
Diante de tão grande verdade, Davi não se contentou com uma ou
duas expressões sobre a graça protetora de Deus, mas se deleitou em muitas
expressões: “O SENHOR é a minha rocha, a minha cidadela, o meu libertador;
o meu Deus, o meu rochedo em que me refugio; meu escudo, a força da minha
salvação, o meu baluarte” (Sl 18.2).
Aqueles que provaram da misericórdia do Senhor perseverarão na fé
até o grande dia, quando a fé se tornará visível.
Conclusão:
Muitos anos atrás, uma equipe de alpinistas começou uma descida
perigosa de um dos picos dos Alpes Suíços. O primeiro homem da fila perdeu
o equilíbrio e caiu sobre a rocha. Em seguida, dois homens que estavam mais
próximos dele foram arrastados, mas os outros alpinistas experientes acima
se prepararam e mantiveram-se firmes para suportar o impacto e o peso.
Mas quando a corda esticou, ao invés de suportar o peso, ela arrebentou.
Horrorizados, os alpinistas viram os três amigos despencaram para a morte
de uma altura de 4.000 metros. Durante meia hora os outros três alpinistas
ficaram imobilizados com medo. Finalmente eles recobraram a coragem e
continuaram a descida cuidadosamente. Horas depois, eles examinaram a
corda e descobriram a razão do acidente, eles ficaram chocados. A corda
Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (115). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
67
33
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para a prática de rapel possui um fio vermelho de segurança entrelaçado,
mas aquela corda não. Era um substituto fraco.68
Somente o sacrifício do Senhor Jesus Cristo é suficiente para nos
salvar da condenação eterna. Se sua fé está firmada em si mesmo ou em sua
própria bondade, a corda vai arrebentar e você vai perecer. Se sua fé estiver
no que Deus fez através de Cristo por causa de Sua grande misericórdia,
então não importa o problema que você enfrentar, você pode se juntar a
Pedro e proclamar: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
porque Ele me salvou segundo a sua grande misericórdia”. Porque a minha
salvação não depende das minhas próprias forças, mas de Deus, estou salvo
para a eternidade! É muito melhor do que herdar R$ 100 milhões!
68
Our Daily Bread, junho/1982.
34
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Onde Deus está quando mais preciso?
[estudo 4 – 1pedro 1.6-9]
Há muita confusão entre os cristãos sobre como lidar com o
sofrimento. Alguns dizem que se sofremos é por falta de fé e as dificuldades
da vida não veem de Deus.69 Assim, devemos reivindicar a cura pela fé e
rejeitar todos os pensamentos negativos.
Outros dizem que os cristãos devem enfrentar o sofrimento com um
sorriso no rosto. Eles citam versículos bíblicos para os que estão sofrendo
como, “Alegrai-vos sempre.... Em tudo dai graças” (1Ts 5.16, 18); “Todas as
coisas cooperam para o bem...” (Rm 8.28).
Você já deve ter percebido que as pessoas são rápidas em julgar a
nossa dor e a razão de nossas provações. Alguns anos atrás durante o velório
de um homem cristão que deixou a mulher e dois filhos. Após o culto, o
Pastor da viúva de forma equivocada e insensível disse: pare de chorar,
“louvado seja o Senhor, ele está na glória, agora!” O Pastor estava negando o
sofrimento e a dor daquela família.
Na verdade, nenhuma dessas abordagens é bíblica ou uma maneira
emocionalmente saudável de lidar com o sofrimento. A maneira correta não
é negar a dor ou sofrimento, mas, encontrar alegria genuína do Senhor nas
provações. R. C. Sproul estava certo quando escreveu: “O objetivo de nossa
vocação é o céu. Mas não há nenhum caminho para o céu, senão através do
vale”. 70
O apóstolo Pedro escreveu para cristãos que sofriam, mas, ele diz que
eles deveriam exultar ao mesmo tempo em que estivessem angustiados por
várias provações (1Pe 1.6). Pedro não está negando o sofrimento - mas ele
não descarta a alegria genuína de que um cristão pode experimentar em
meio à dor, se tiver a perspectiva correta. São lições preciosas para os
momentos mais difíceis de nossa vida, períodos em que com frequência
questionamos: Onde Deus está quando mais precisamos?
I. Deus está sempre ao lado dos Seus filhos amados.
“
Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário,
sejais contristados por várias provações” (1Pedro 1.6)
“Nisso exultais...” – O termo “nisto” remete à passagem anterior (1.35), que trata da primeira grande alegria dos cristãos, ou seja, a sua herança
MacArthur, J. F., Jr. (c1995.). The Power of Suffering (7). Victor Books.
SPROUL. R. C. Surpreendido pelo Sofrimento. São Paulo: Editora Cultura Cristã. Sãu Paulo,
1998, p. 23.
69
70
35
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
eterna que está protegida por Deus. Já a palavra “exultais” (agalliaō em
grego) transmite a ideia de “júbilo, alegria e uma exaltação espiritual”.71
Jesus usou “agalliaō” em Mateus 5.12, além da palavra comum para regozijo
(Chairo). Assim, Ele intensificou o significado de sua ordem para os
discípulos.72 No Novo Testamento, agalliaō sempre se refere ao espiritual,
em vez de uma alegria temporal, e, geralmente, tem referência a um
relacionamento com Deus (cf. 1.8, 4.13, Lc 1.47, 10.21; At 2,26; 16,34; Ap
19.7). Além disso, Pedro utilizou o termo no tempo presente, que transmite
a noção de uma alegria contínua. Porém, nem sempre é fácil se alegrar,
principalmente, quando as coisas vão de mal a pior.
Nossas provações não importam quão grandes sejam, são
insignificantes à luz da eternidade. Assim, no meio da nossa dor, nós
podemos ter uma grande alegria se nos concentramos na glória eterna que
nos espera quando Jesus voltar. Alegria não é a ausência de dor, mas a
presença de Deus.73
Hoje, a vida é uma escola em que Deus nos treina para o nosso
ministério futuro na eternidade. Na verdade, as provações são os livros
didáticos de Deus, na escola da experiência cristã.74 A experiência é a mais
difícil das professoras. Ela dá o teste primeiro e depois a lição. Sendo assim,
devemos ter em mente que todos os planos que Deus realiza é para preparar
os Seus filhos amados para o que Ele tem reservado no céu para eles.
A Bíblia tem muito a nos ensinar sobre as provações:
Sobre o filho amado Jesus, está escrito:
“... embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas
que sofreu” (Hb 5.8)
Sobre nós, a Bíblia diz:
“porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a
quem recebe... Mas, se estais sem correção, de que todos se
têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos”
(Hb 12.6, 8).
“Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo
Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12).
Jesus também declarou que devemos esperar problemas:
“No mundo tereis aflições...” (Jo 16.33).
“... através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino
de Deus” (At 14.22).
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (266). Nashville, TN: T. Nelson.
72 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (41).
Chicago: Moody Publishers.
73
DUNN, Ron. Por que Deus não me cura? São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1996, p. 213.
74 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:6). Wheaton, Ill.: Victor
Books.
71
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Como escreveu o apóstolo Pedro mais adiante: “Amados, não
estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos,
como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo” (1Pe 4.12).
Note que antes de falar sobre o sofrimento, Pedro declara que somos
amados.
Em certa ocasião, Pedro perguntou a Jesus: “Eis que nós tudo deixamos
e te seguimos; que será, pois, de nós?” (Mc 10.28). Jesus respondeu dizendo:
“Todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe [ou
mulher], ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes
mais e herdará a vida eterna que não receba, já no presente, o cêntuplo de
casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos...” (v. 29). Esse, sem dúvida, seria
um negócio maravilhoso! Quem não se inscreveria para um programa
desses? Mas em seguida, Jesus acrescentou: “... que não receba, já no
presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com
perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna” (Mc 10.30).
Assim, nesta vida: provações, perseguições, dificuldades fazem parte
da vida cristã. Há bênçãos incontáveis, como Jesus deixou claro aos
discípulos. É uma vida verdadeiramente abundante (Jo 10.10).
Existe uma planta marinha que cresce a uma profundidade de 150 a
200 pés e consegue boiar sobre as ondas do oceano. O caule desta planta
possui menos de uma polegada de espessura, mas é capaz de resistir às
ondas mais fortes e violentas do mar. Qual é a chave para a resistência desta
planta aparentemente frágil diante da pressão das ondas? De acordo com os
biólogos a planta sobrevive porque está solidamente ancorada às rochas que
se encontram no fundo do mar. 75
Da mesma forma, podemos suportar os golpes da vida se também
estivermos ancorados adequadamente na rocha. Não importa quão fraca
pareça a nossa fé, quando estamos ancorados nas promessas infalíveis da
Palavra de Deus, podemos resistir ao sofrimento mais difícil. Lembre-se de
Daniel e seus amigos que, apesar de estarem plantados na Babilônia, seus
corações e mentes estavam firmemente empenhados nos absolutos de Deus
e, portanto, eles foram capazes de enfrentar e resistir às pressões de uma
sociedade pagã (Dn 3).
Aqueles que são amados por Deus não estão isentos das dificuldades
da vida. Mas, por quê? Por que Deus permite que enfrentemos as mais duras
provas? Não é essa a mesma pergunta que fazemos?
75
MacArthur, J. F., Jr. (c1995.). The Power of Suffering (52–53). Victor Books.
37
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II. Ele está sempre ao lado dos Seus filhos amados para
refinar a nossa fé.
“Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário,
sejais contristados por várias provações. Para que, uma vez
confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro
perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e
honra na revelação de Jesus Cristo” (1Pedro 1.6-7).
O Salvador leva a todos a quem ama através das provações para
refinar a nossa fé. O comentarista bíblico Warren Wiersbe estava certo
quando escreveu: “Uma fé que não pode ser testada não pode ser confiável”.
Nos versículos 6 e 7, o apóstolo Pedro nos apresenta o propósito, a
perspectiva necessária e o objetivo das provações.
A. A perspectiva correta das provações
Pedro declara que as provações são temporárias, necessárias e
variadas.
As provações são temporárias. “Nisso exultais, embora, no
presente, por breve tempo...” (v. 6) – Graças ao bom Deus, as provações não
duram a vida inteira, pois elas são “por breve tempo”. Quando Deus permite
que Seus filhos passem pelo forno, ele mantém Seus olhos no relógio e Sua
mão sobre o termostato. Se nos rebelarmos, Ele pode ter que acertar o
relógio, mas se nos submetermos, Ele não permitirá que soframos um
minuto além do necessário.76 O importante é aprender a lição.
As provações são necessárias. “Nisso exultais, embora, no
presente, por breve tempo, se necessário...” (v. 6) – As provações são
necessárias para refinar nossa fé. O grande pregador britânico Charles
Haddon Spurgeon corretamente escreveu que não só as provações, mas
também as aflições são necessárias. Ele argumenta que se um cristão não
passa por esses momentos, ele vai crescer orgulhoso, e não será capaz de
relacionar-se com os outros que sofrem, e vai perder lições que nunca
aprenderia de nenhum outro modo. Ele cita Martinho Lutero quando
declarou que “a aflição é o melhor livro na minha biblioteca”.77 Ou seja,
lamentavelmente aprendemos mais sobre Deus nos momentos de dor do
que nos momentos de alegria. Neste sentido, Bill Hybels estava certo quando
escreveu: “Se não aprendemos nada com as tempestades dessa vida, então a
tragédia terá sido ainda maior”.78
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:6). Wheaton, Ill.: Victor
Books.
77 SPURGEON, Charles Hadsdon. The Christian’s Heaviness and Rejoicing, Sermon’s Sermons
[Baker], 5210 - 221).
78 HYBELS, Bill. Encontrando Deus nas Dificuldades da Vida. São Paulo: Editora Textus, p.
2003, p. 13.
76
38
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
O Eterno nos coloca na fornalha da aflição onde somos forçados a
confiar nEle, de forma que jamais o faríamos além de tais dificuldades.
As provações são variadas. “... se necessário, sejais contristados
por várias provações...” (v. 6) – Os problemas vêm de muitas formas (Tg
1.2). A palavra grega traduzida por “variadas” é poikilos, o que significa
“multicolorida”. Mais tarde, Pedro usa a mesma palavra (traduzida como
“multiforme”) para descrever a graça de Deus (1Pe 4.10). Assim como o
problema é diverso, a graça suficiente de Deus para os crentes é igualmente
diversificada.79 Não há nenhum problema que a graça divina não possa se
sobrepor (cf. 1Co 10.13). A graça de Deus é suficiente para cada provação
humana.
B. O propósito das provações é refinar a fé.
O Versículo 7 começa com a expressão “Para que” (1.7), ou seja, Pedro
vai declarar o objetivo das provações: uma vez confirmado o valor da vossa
fé como o ouro, para remover a escória, para que na vinda de Cristo redunde
em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo.
Mas no meio dessa tristeza, Deus está graciosamente assegurando-nos
que há uma finalidade positiva em nosso sofrimento. Deus não é a causa do
sofrimento e da dor, mas Ele não permite que ela seja desperdiçada. Ele usa
cada prova para o nosso bem (Rm 8.28).80
As provações são usadas por Deus párea refinar a nossa fé. “...
para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa
do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo...” (v. 7) – A Bíblia tem
muito a nos ensinar a respeito da fé. Somos salvos pela fé; andamos pela fé e
o autor de Hebreus diz que “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6).
Por isso, o apóstolo Pedro contrasta a fé com o ouro e, segundo ele, a fé é
mais preciosa do que ouro, porque o ouro é perecível, mas a fé não. Além
disso, o ouro sempre pode ser roubado ou perdido. A fé, por outro lado,
garante o acesso a uma herança não sujeita as intempéries terrenas (cf. Mt
6.19-20). 81 Destarte, no céu, o ouro será usado para pavimentar as ruas da
Nova Jerusalém. Aquilo que usamos com ostentação neste mundo, no céu as
pessoas pisarão (Ap 21.18).
Nossa fé precisa ser provada. As provações não visam a nossa
destruição e sim, nossa aprovação. As palavras: “confirmado” e “apurado”
têm a nuance de testes com vistas à aprovação. Deus não testa a nossa fé
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (43).
Chicago: Moody Publishers.
80 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (117). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
81 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 88.
79
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
para destruí-la, mas para queimar as impurezas assim como o ourives faz
com o ouro para deixá-lo ainda mais puro.
Nos tempos bíblicos o ouro era o metal mais valorizado, e também era
o padrão para todas as transações monetárias (Ed 8.27, Jó 28.15-16, Sl
19.10, Cf. 2Rs 23.35; Mt 2.11).82 Até hoje, o ouro é muito precioso. O trabalho
do ourives era colocar o ouro no fogo e deixá-lo tempo suficiente para
remover as impurezas, em seguida derramá-lo e fazer um belo artigo
valioso. O ourives mantém o ouro no forno até que ele possa ver o seu rosto
refletido nele. De modo semelhante, nosso Senhor nos mantém na fornalha
do sofrimento até que a glória e a beleza de Jesus Cristo sejam refletidas em
nós.83 O Eterno nos coloca na fornalha da aflição onde somos forçados a
confiar nEle, de forma que jamais o faríamos além de tais dificuldades.
Assim como o fogo separa o ouro da escória inútil, então Deus usa o
sofrimento e as provações para separar a verdadeira fé da profissão
superficial. Mas mesmo que o ouro seja purificado, quando provado pelo
fogo, ele é perecível (cf. Tg 5.3). No entanto, a fé comprovada é eterna,
tornando-se mais preciosa do que o ouro.84
Na parábola do semeador, Jesus disse que a semente que caiu no solo
rochoso onde a terra era pouca, logo brotou, mas quando o sol saiu, ela não
resistiu porque não tinha raiz. Jesus explicou que esta semente se refere
àqueles que primeiro recebem a palavra com alegria, mas quando aflição
chega, eles não resistem porque a fé não era genuína (Mc 4.5-6, 16-17).
A pessoa que abandona “a sua fé” quando as coisas ficam difíceis está
apenas provando que ele realmente não tinha fé.85 Mas a fé genuína crescerá
mais forte através das provações. A melhor decisão a tomar em meio às
aflições da vida é confiar no coração amoroso e misericordioso do Eterno.
Deste modo, o objetivo das provações é refinar nossa fé, a perspectiva
que precisamos nesse momento é entender que as provações são
temporárias, necessárias e, o melhor de tudo, as provações estão sob o
controle de Deus.
Quem sabe, hoje, você esteja na bigorna do sofrimento, mas Deus está
trabalhando. Ele está testando a autenticidade de sua fé.86 E para Ele, a fé
tem valor eterno.
MacArthur, J. F., Jr. (c1995.). The Power of Suffering (141). Victor Books.
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:6). Wheaton, Ill.: Victor
Books.
84 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (44).
Chicago: Moody Publishers.
85 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:6). Wheaton, Ill.: Victor
Books.
86 Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: Sharing christ’s sufferings. Preaching the Word
(42). Wheaton, IL: Crossway Books.
82
83
40
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
III. Ele está sempre ao lado dos seus filhos amados em
todas as provações.
“a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas
crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim
da vossa fé: a salvação da vossa alma” (1Pedro 1.8-9).
“Nisso exultais” (1.6). Em quê? Em nossa grande salvação descrita nos
versículos anteriores (1.3-5). Mas também, o motivo da alegria é que o
sofrimento cumpre o cuidado de Deus, bem como sua efetiva presença em
meio deles, ainda que disciplinadora (Hb 12.10, 11).87
Esse tipo de alegria não se baseia nas circunstâncias, mas se refere à
alegria que provém da relação eterna e imutável com Deus. Como encontrar
esta alegria nas dificuldades da vida? Pedro nos apresenta três maneiras:
A. Olhando para o Salvador com amor.
“... a quem, não havendo visto, amais...” (v. 8) – Os cristãos a quem
Pedro escreveu não eram discípulos pessoais de Jesus, mas convertidos dos
apóstolos. Eles não tinham visto o Senhor Jesus, no entanto, eles O amavam.
De forma semelhante, nosso amor por Cristo não é baseado em uma
visão física, porque não O vemos. Nosso amor por Cristo está fundamento
em nossa relação espiritual com Ele e o que Sua Palavra nos ensina a
respeito dele.88 Paulo declarou que Deus derramou o seu amor em nós pelo
Espírito Santo que nos foi outorgado (Rm 5.5), e assim, nos voltamos para
Ele em amor.
O comentarista bíblico Wuest, K. S. acertadamente escreveu: “É
preciso ter a natureza de um artista para realmente apreciar e amar a arte. É
preciso ter a natureza de Deus para apreciar e amar o Senhor Jesus” (2Pe
1.4).89 Às vezes, não entendo porque Deus permite certas situações em
minha vida, mas uma coisa posso compreender, a cada dia que passa, eu O
amo ainda mais.
B. Olhando para o Salvador com fé.
“... no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais...” (v. 8) –
Devemos viver pela fé e não por aquilo que vemos. Fé significa caminhar
apesar das evidências, crer apesar das circunstâncias e esperar apesar dos
sentimentos. Em seu comentário, Warren Wiersbe conta a história de uma
senhora idosa que certa vez, caiu e quebrou a perna enquanto participava de
uma conferência bíblia. Ela disse ao pastor que a visitou: “Sei que o Senhor
me levou para a conferência. Mas não vejo por que isso tinha que acontecer!
MUELLER. Ênio R. I Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 84.
88 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:8). Wheaton, Ill.: Victor
Books.
89 Wuest, K. S. (1997). Wuest's word studies from the Greek New Testament : For the English
reader (1 Pe 1:8). Grand Rapids: Eerdmans.
87
41
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
E eu não vejo nada de bom nisso”. Sabiamente, o pastor respondeu:
Romanos 8.28 “não diz que vemos todas as coisas cooperam para o bem. Ele
diz que nós sabemos”.90
Em um período de provações, se Cristo parece distante ou ausente,
então, pela fé, você deve dizer: “Ele prometeu estar comigo até a consumação
dos séculos” (Mt 28.20), “Ele prometeu nunca me deixar ou abandonar” (Hb
13.5), assim, “eu posso descansar nEle, pela fé”.
Fé significa entregar tudo a Deus e obedecer a Sua Palavra, a despeito
das circunstâncias, consequências ou sentimentos. As tragédias devem nos
levar a uma fé mais profunda e duradoura em Deus como a única âncora que
pode nos manter firmes durante os vendavais.91 É interessante observar que
o amor e a fé caminham juntos: quando você ama alguém, você confia nele. É
esse amor e essa fé que conseguem transformar nossa tristeza em alegria.
C. Olhando para o Salvador com alegria.
“a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas
crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória...” (v. 8) – Nem
sempre é fácil se alegrar com as circunstâncias da vida, mas podemos
experimentar alegria nesses períodos quando colocamos o nosso coração e
mente em Jesus Cristo.
Cada experiência nos ajuda a aprender algo novo e maravilhoso sobre
o nosso Salvador. Abraão descobriu que Deus era o Jeová-jiré (o Deus
provedor), no monte onde ele ofereceu seu próprio filho (Gn 22). Paulo
aprendeu a suficiência da graça divina, quando sofreu com um espinho na
carne (2Co 12). Cada experiência nos ajuda a aprender algo novo do
Altíssimo.
Pedro diz que é possível experimentar uma alegria “indizível” e “cheia
de glória”. A palavra “indizível” (aneklalētō em grego) literalmente significa
“mais alto do que a fala”.92 Isto é, aqueles que vivem em comunhão pessoal
com Cristo experimentam uma alegria tão divina que não podem expressar
em palavras. Além do mais, Pedro diz que a alegria também é cheia de glória
(doxazo), que significa “render altos louvores” e da qual deriva a palavra
doxologia.
Em sua comunhão com o Senhor, os crentes podem experimentar,
hoje, de alguns benefícios da glória futura (cf. Ec 2.26; Sl 4.7; 21.6; 68.3;
97.11; Jd 24). O príncipe dos pregadores, Charles Spurgeon costumava dizer,
“Uma fé pequena levará sua alma para o céu, mas uma grande fé trará o céu
a sua alma”.93
90 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:8). Wheaton, Ill.: Victor
Books.
91 HYBELS, Bill. Encontrando Deus nas Dificuldades da Vida. São Paulo: Editora Textus, p.
2003, p. 61.
92 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (47).
Chicago: Moody Publishers.
93 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1 Pe 1:8). Wheaton, Ill.: Victor
Books.
42
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Podemos realmente se alegrar no meio do sofrimento? Pedro
responde com um sonoro “Sim!” Mas não se alegrar porque estamos fora de
contato com a realidade, mas porque temos uma esperança viva, uma
herança permanente, uma proteção divina, a fé em desenvolvimento, um
Salvador invisível e um livramento garantido.94
As palavras de Pedro proporcionam conforto genuíno a todos os
crentes que enfrentam opressão, pois elas nos lembram de que alegria
indizível espera os que pertencem a Jesus.95
Conclusão:
Certa vez, um homem que amava o Senhor estava passando por
profundas e desencorajadoras provações, e sua fé em Deus estava fraca. Um
dia ele estava passeando com o filho em um pomar. O menino desejou
escalar a velha macieira, de modo que o pai permitiu e pacientemente
assistia o filho subindo nas árvores. Muitos dos galhos estavam fracos, e
alguns começaram a quebrar com o peso do menino.
Vendo sofrimento do filho, o homem ergueu os braços e gritou, “pula,
filho, eu vou pegar você”. O menino ainda pendurado, e depois quando outro
galho estalou, ele disse: “Posso largar, papai?” “Sim”, foi a resposta
tranquilizadora. Sem hesitar, o menino saltou e o pai o pegou com
segurança.
Mais tarde, o homem disse: “Esse incidente foi a mensagem de Deus
diretamente para mim! Eu entendi o que o Senhor estava tentando me
ensinar. Naquele momento em que eu não confiava completamente nele, e
não demorou muito até que Ele maravilhosamente suprisse todas as minhas
necessidades”.96
Assim, quando os problemas cruzarem seu caminho, abra sua mente e
seu coração e diga:
Deus age em minha vida nesses dias sombrios.
Fala comigo, Deus, estou ouvindo.
Ensina-me, Deus, quero aprender.
Diga-me o que fazer e eu farei.97
Com a ajuda de Deus, podemos acertar nossa perspectiva no meio da
calamidade e sair do outro lado melhores do que entramos.
94 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (151). Grand Rapids, MI: Zondervan.
95 Cabal, T., Brand, C. O., Clendenen, E. R., Copan, P., Moreland, J., & Powell, D. (2007). The
Apologetics Study Bible: Real Questions, Straight Answers, Stronger Faith (1849). Nashville,
TN: Holman Bible Publishers.
96 “Our Daily Bread,” July, 1982.
97 HYBELS, Bill. Encontrando Deus nas Dificuldades da Vida. São Paulo: Editora Textus, p.
2003, p. 62.
43
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
A grandeza da salvação
[estudo 5 – 1pedro 1.10-12]
A salvação é o tema principal da primeira carta de Pedro. Foi essa
mensagem básica que Pedro proclamou ao Sinédrio, quando ele e João foram
presos por pregar a ressurreição de Jesus Cristo, o apóstolo Pedro declarou:
“E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe
nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos
salvos” (At 4.12). É acerca desta salvação que Pedro escreve agora.
Os leitores de Pedro estavam sofrendo muitas perseguições. Alguns
sofriam no próprio lar, sob a pressão dos cônjuges pagãos. Outros sofriam
nas mãos dos seus empregadores e a igreja sofria diante da perseguição da
sociedade pagã. O clima era assustador! Devido a tanta amargura,
certamente, alguém poderia questionar: “Vale a pena seguir a Cristo?” Pedro
mostrou aos seus leitores que vale a pena porque a nossa salvação é
grandiosa! Agora, Pedro lembra aos seus leitores que não importa o quão
difícil sejam as circunstâncias, eles podem confiantemente manter a
esperança da salvação eterna.98
O apóstolo examina quatro agentes divinos envolvidos com a
mensagem da salvação. A salvação que desfrutamos foi almejada pelos
profetas, pregada pelos apóstolos, contemplada pelos anjos e confirmada
pela ação do Espírito.
I. A Salvação foi proclamada pelos profetas
“Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram,
os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada” (1Pedro
1.10).
Os profetas eram os porta-vozes de Deus no Antigo Testamento que
proclamavam acerca da graça divina. Pedro diz que eles fizeram uma
investigação cuidadosa para compreender a salvação prometida por Deus.
De Moisés a Malaquias, todos os profetas do Antigo Testamento foram
fascinados pelas promessas de salvação.
“... profetizaram acerca da graça a vós outros destinada” (v. 10) –
O Espírito de Cristo levou os profetas a predizer sobre a graça de Deus (10),
e até mesmo prever os sofrimentos de Cristo e as glórias que se seguiriam
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (50).
Chicago: Moody Publishers.
98
44
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
(1Pe 1.11; Sl 22.7-8, 17-18; Is 53; Lm 1.12). Mas por mais que tentassem,
eles não poderiam descobrir quando e como isso iria acontecer.99
Embora os profetas escrevessem sobre o Messias, eles nunca
compreenderam tudo o que estava envolvido na vida, morte e ressurreição
de Cristo.100 Eles profetizaram sobre os sofrimentos do Messias, e também a
glória que se seguiria, mas não podiam compreender a conexão entre os
dois. De fato, em algumas das profecias, os sofrimentos e a glória do Messias
estão associados em um verso ou parágrafo.101
Alguns teólogos, como Charles Swindoll, tentam explicar a dificuldade
dos profetas dizendo que eles viam dois montes: o Monte Calvário, onde
Cristo morreria por nossos pecados, e, o Monte das Oliveiras, onde Ele
voltará em poder e glória para estabelecer o Seu reino. Mas eles não podiam
ver o vale entre os dois montes, assim como não podemos, quando olhamos
para duas montanhas distantes.102 Deste modo, a primeira e segunda vinda
de Jesus são mescladas na mesma passagem em profecias do Antigo
Testamento (Is 9.6, 7; 61.1-3; Dn 12.2).
Como Jesus disse a seus discípulos: “Pois em verdade vos digo que
muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que
ouvis e não ouviram” (Mt 13.17; cf. Is 6.11; Hc 1.2). Porque os profetas do
Antigo Testamento, incluindo o último, João Batista, não conseguiam
compreender sobre o tempo, ministério e a vinda do Messias. Por isso, eles
se esforçavam para compreender as próprias mensagens.
O profeta Daniel procurou pela oração e jejum entender o que
Jeremias havia profetizado acerca do exílio na Babilônia. Então, o profeta
Daniel orou fervorosamente para que Deus acabasse com o exílio. Em
resposta as suas orações, Deus deu-lhe a profecia das 70 semanas (Dn 9.2427). Deus respondeu à oração dizendo: “Daniel, há algo muito maior”. E foi
em resposta a esta oração que Deus revelou uma das profecias sobre a vinda
de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Foi-lhe dito que essas coisas estão
escondidas para o tempo final (12.9).
Quando Jesus veio a Terra, os professores judeus (fariseus)
esperavam um Messias conquistador que iria derrotar os inimigos de Israel
e estabelecer o reino glorioso prometido a Davi. Até mesmo os próprios
discípulos não compreenderam a necessidade da morte de Cristo na cruz
(Mt 16.13-28). Eles ainda estavam questionando sobre o reino, mesmo
depois de sua ressurreição (At 1.1-8).103 Se os discípulos não haviam
99 New Bible commentary: 21st century edition. 1994 (D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer
& G. J. Wenham, Ed.) (4th ed.) (1Pe 1.10–12). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
100 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (51–52).
Chicago: Moody Publishers.
101 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.8). Wheaton, IL: Victor
Books.
102 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (151–152). Grand Rapids, MI: Zondervan.
103 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.8). Wheaton, IL: Victor
Books.
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
facilmente compreendido o programa de Deus, certamente, os profetas do
Antigo Testamento enfrentaram o mesmo problema.
Assim, mesmo que os profetas não compreendessem tudo o que o
Espírito Santo (aqui chamado de “Espírito de Cristo” porque Ele dá
testemunho de Cristo) revelou, eles profetizaram sobre a morte,
ressurreição, ascensão e segunda vinda de Cristo. Como Pedro escreve mais
adiantes: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética...” (2Pe
1.19).
Logo, nossa salvação é grandiosa porque foi prenunciada em todo o
Antigo Testamento. Se a salvação foi estudada intensamente por todos os
profetas, então deve ser tão preciosa, se não mais, para os crentes de hoje
que têm a plena revelação.104
II. A salvação foi revelada por Deus ao homem
“investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias
oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar
de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e
sobre as glórias que os seguiriam” (1Pedro 1.11).
A mensagem dos profetas é obra do Espírito Santo. Ela nasceu no céu
e não na terra. O verso 11 estabelece a inspiração divina do Antigo
Testamento. Como Pedro explica “porque nunca jamais qualquer profecia foi
dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de
Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21).
O apóstolo Paulo declarou que toda a Escritura é “inspirada por Deus”
(2Tm 3.16). Isto significa que a Bíblia inteira e cada palavra tem sua origem
em Deus. A palavra “inspirada” (theopneustos) significa “respirada por
Deus”. Embora a palavra seja usualmente traduzida “inspirada”, que significa
“respirar para dentro”, tecnicamente theopneustos se refere a respirar para
fora, que poderia mais acertadamente ser traduzida por “expirada”.105 Ou
seja, a Escritura foi soprada por Deus.
Entretanto, inspiração não significa que os profetas e apóstolos
passivamente registraram o que Deus falou de forma audível. Inspiração não
é um simples ditado. Em vez disso, o Espírito Santo guiou os autores
humanos, de modo que, conservando as suas diferentes personalidades e
estilos de escrita, eles escreveram sem erro os pensamentos e palavras
exatas de Deus. Este processo é chamado de dupla autoria da Escritura.106
Como Charles Hodge declarou: “A inspiração foi uma influência do
Santo Espírito na mente de certos homens selecionados, que os tornava
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (55).
Chicago: Moody Publishers.
105 SPROUL, RC. O que é teologia reformada. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009, 37.
106 Cornish, R. (2004). 5 Minute Theologian: Maximum Truth in Minimum Time (52).
Colorado Springs, CO: NavPress.
104
46
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
instrumentos de Deus para a comunicação infalível de Sua mente e vontade.
Eles estavam em tal sentido os órgãos de Deus que o que eles disseram, Deus
disse”.107
Apesar de escrita por muitos diferentes autores ao longo de milhares
de anos, há uma unidade e integridade na Bíblia que não poderia existir sem
a influência sobrenatural do Espírito. A Bíblia não é apenas o maior e o
melhor de todos os livros, mas é também, o mais antigo. Ela foi escrita por
cerca de quarenta homens diferentes e levou cerca de 1.600 anos para ser
composta. Moisés começou, por volta do ano 1500 a.C., e o apóstolo João
escreveu o último livro, Apocalipse, em 95 d.C. Além disso, se você rejeita a
inspiração divina do Antigo Testamento, você deve rejeitar os ensinamentos
do próprio Jesus, porque Ele repetidamente ensinou que a Escritura é de
Deus (Mt 5.17-18; 22.31-32, 43; Jo 10.35).
Wayne Grudem equivale a autoridade das Escrituras, com a
autoridade de Deus: “Ao descrer ou desobedecer a qualquer palavra da
Escritura é descrer ou desobedecer a Deus”.
“... indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava...” (v. 11) – O
escritor de Hebreus oferece uma visão adicional, “Todos estes morreram na
fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e
confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra” (Hb 11.13; cf.
v. 39-40).
Além do mais, o Novo Testamento se vê como não menos autêntico do
que o Antigo Testamento. Os apóstolos reconheceram a sua mensagem como
“a palavra de Deus” (1Ts 2.13). Pedro conferiu o mesmo status aos escritos
de Paulo, classificando-os com “as demais Escrituras” (2Pe 3.15-16). João
rotula seu último livro como “a palavra de Deus e do testemunho de Jesus
Cristo” (Ap 1.1-2).
“... ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes
a Cristo” (v. 11) – Pedro também demonstra o papel da segunda e terceira
pessoa da Trindade no plano de salvação de Deus: o Filho realiza e o Espírito
a torna conhecida.108
Portanto, a nossa salvação é grande porque foi predita pelos profetas
do Antigo Testamento e revelada por Deus ao homem através do Espírito
Santo.
Hodge, C. (1997). Vol. 1: Systematic theology (154). Oak Harbor, WA: Logos Research
Systems, Inc.
108 New Bible commentary: 21st century edition. 1994 (D. A. Carson, R. T. France, J. A. Motyer
& G. J. Wenham, Ed.) (4th ed.) (1Pe 1.10–12). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
107
47
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
III. A salvação foi proclamada pelos apóstolos
“A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros,
ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles
que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho,
coisas essas que anjos anelam perscrutar” (1Pedro 1.12).
Os apóstolos não produziram ou inventaram a sua própria mensagem.
Pedro diz que aqueles que pregavam o evangelho o fizeram “pelo Espírito
Santo enviado do céu” (v. 12). O Espírito Santo não apenas inspirou os
profetas do Antigo Testamento, mas também os apóstolos do Novo
Testamento, que proclamaram o Evangelho plenamente revelado (At 1.8).
“... ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas...” (v.
12) – A expressão “as coisas” se refere à graça da salvação que estava por
vir, especialmente na pessoa de Cristo e a proclamação do evangelho. Anos
antes Pedro anunciou estas verdades no sermão entregue no dia de
Pentecostes, “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e
recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para
vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o
Senhor, nosso Deus, chamar” (At 2.38-39; cf. 2Co 6.2).
Aqui está um paralelo muito evidente entre a geração dos profetas e a
igreja primitiva, entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. O Espírito
que toma a iniciativa de revelar ou anunciar é o mesmo; a mensagem é a
mesma. Isto é, a mensagem dos apóstolos é o cumprimento da mensagem
dos profetas.109
Além do apóstolo Pedro, aqueles que pregavam o evangelho incluíam
o restante dos Doze, Paulo, Barnabé, Silas, Timóteo, Felipe, Tiago, Judas, o
meio-irmão de Jesus, Estevão e outros. Nem todos eram apóstolos de Cristo,
no mesmo sentido, como Paulo e os Doze (eles não tinham visto o Senhor
ressuscitado), mas eles foram enviados pela igreja como mensageiros do
evangelho pelo poder do Espírito Santo enviado do céu.110 Assim, os atos de
profetizar no passado e de proclamar a salvação no presente (v. 12), se
devem a uma e mesma ação divina, fazendo-se presente em ambos uma
vontade divina uniforme, que leva a termo a sua salvação.111
Todos os dons do Espírito Santo, o chamado dos profetas, apóstolos e
evangelistas, e o ministério ordinário do Evangelho através de pastores e
109
MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 95.
110 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (57).
Chicago: Moody Publishers.
111 FELDMEIER. Reinhard. A primeira carta de Pedro. São Paulo: Editora Sinodal. 2009, p.
88-89.
48
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
mestres concretizam o grande plano de Deus para edificar a Sua igreja (Ef
4.11-13).112
Phillips Brooks definiu a pregação como sendo “verdade através da
personalidade”.113 Ou seja, o pregador não é somente um arauto, mas
também uma testemunha. Ele experimentou pessoalmente o poder da
verdade de Deus em sua própria vida e, portanto, pode compartilhá-lo com
os outros.
No Novo Testamento, o termo “pregação” significa, “o anúncio público
do cristianismo ao mundo não cristão”. Não é um discurso religioso de um
grupo fechado, mas uma proclamação pública da atividade redentora de
Deus através de Jesus Cristo.
Paulo ilustra bem a responsabilidade dos pregadores em proclamar a
mensagem da grandeza da salvação. Ele escreveu aos crentes de Corinto,
“Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o
testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou
de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus
Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande
tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha
pregação não consistiram em linguagem persuasiva de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para
que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no
poder de Deus” (1Co 2.1-5; cf. Rm 1.16-17).
IV. A salvação é desejada pelos anjos
“... coisas essas que anjos anelam perscrutar” (1Pedro 1.12).
A mensagem da salvação é tão maravilhosa que até mesmo os anjos
anelam entendê-la! Você consegue imaginar isso? Os anjos que estão na
presença da glória e majestade de Deus almejam compreender a mensagem
da salvação. A palavra “anelar” (epithumeo, em grego) comumente denota um
desejo intenso.114 Ela foi usada por Cristo ao expressar seu desejo de comer
a Páscoa (Lc 22.15); do desejo do filho pródigo em satisfazer sua fome com
as alfarrobas (Lc 15.16), e da carne militando contra o espírito (Gl 5.17).
Já a palavra “perscrutar” (parakúptō) significa “inclinar-se para olhar
alguma coisa”.115 A palavra parakúptō foi usada em referência ao apóstolo
Pedro ao abaixar-se para olhar o túmulo vazio (Jo 20.5) e para descrever
112 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (50).
Wheaton, IL: Crossway Books.
113 Lectures on Preaching: Delivered Before the Divinity School of Yale College in January
and February 1877, p. 5.
114 Vincent, M. R. (1887). Vol. 1: Word studies in the New Testament (635). New York:
Charles Scribner’s Sons.
115 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (120–121). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
49
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
alguém olhando “atentamente” alguma coisa (Tg 1.25). Implica em um
intenso interesse. Isso não é maravilhoso? Os anjos do céu querem
contemplar e entender a maravilhosa salvação que foi declarada pelos
profetas, revelada pelo Espírito Santo e está disponível a todos os que a
recebem pela fé a Jesus Cristo como Salvador e Senhor!
Os profetas indagaram sobre a salvação, mas como uma nota final,
Pedro acrescenta um breve lembrete de que a busca diligente ainda está em
curso. Agora, até mesmo os anjos, a quem os profetas frequentemente
direcionavam suas investigações, estão tentando descobrir o mistério do
plano redentor de Deus.116
Os anjos vivem na santa presença de Deus (Is 6.1-3). Eles são enviados
para fazer a Sua vontade (Hb 1.14). Eles são superiores aos homens em
sabedoria e capacidade (2Pe 2.11; Jd 8-9). E, no entanto, há algo que eles
ainda precisam aprender, sobre o amor de Deus pelos homens (Ef 1.4-5; Rm
5.5). Por isso, os anjos se inclinam para compreender nossa salvação!
Mas, qual a razão de tanto interesse por parte dos anjos? A resposta é
surpreendente! Quando Satanás e os outros anjos caídos pecaram, Deus não
concedeu salvação a eles. Contudo, quando o homem pecou, Deus em Sua
soberania, graciosamente concedeu salvação aos seres humanos caídos, mas,
a um grande preço: a morte de Jesus Cristo em nosso lugar na cruz!
Assim, os anjos perscrutam os mistérios da igreja, como os querubins
debruçados sobre o Propiciatório da Arca da Aliança, onde o homem tem
acesso a Deus através de um sacrifício substitutivo que o purificava do
pecado. Eles não são participantes da salvação, mas espectadores do mesmo.
Paulo escreveu sobre mistério: “para que, pela igreja, a multiforme sabedoria
de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares
celestiais” (Ef 3.10). A multiforme sabedoria de Deus, no contexto, é a
verdade do Corpo de Cristo. Isto é, a igreja é a universidade de Deus para os
anjos.117 Paulo diz que os apóstolos “... se tornaram espetáculo ao mundo,
tanto a anjos, como a homens” (1Co 4.9).
Se os anjos ficam maravilhados com a esperança que temos em Cristo,
não deveríamos fazer o mesmo?
Michaels, J. R. (1998). Vol. 49: 1Peter. Word Biblical Commentary (48). Dallas: Word,
Incorporated.
117 Wuest, K. S. (1997). Wuest's word studies from the Greek New Testament: For the English
reader (1Pe 1.10). Grand Rapids: Eerdmans.
116
50
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Conclusão:
Quando você estuda a Bíblia, uma boa dica é procurar palavras
repetidas. Às vezes, essas palavras não são tão significativas em si, mas a
repetição a torna relevante. Em nosso texto, existe uma palavra que ocorre
uma vez em 1.10 e três vezes em 1.12, o pronome “vós”. Pedro escreveu
acerca da graça “... a vós outros destinada” (1.10) e “A eles foi revelado... para
vós outros”, “... as coisas que, agora, vos foram anunciadas...”, “... vos pregaram
o evangelho...” (v. 12). A lição é simples: mesmo que a mensagem da salvação
de Deus seja a maior mensagem da história humana, não significará nada, a
não ser que você se aproprie dela pela fé em Cristo.
Em certa ocasião, o bispo John Taylor Smith, um ex-capelão do
exército britânico, estava pregando sobre o tema: “Você precisa nascer de
novo” (Jo 3.3). Ele disse: “Meus irmãos, nada substitui o novo nascimento.
Você pode ser membro de uma igreja, mas ser membro de uma igreja não
significa nascer de novo, e nosso texto diz: Você precisa nascer de novo”. O
reitor estava sentado à sua esquerda. Ele continuou: “Você pode ser um
reitor como o meu amigo aqui e ainda assim não ter nascido de novo, mas
você tem que nascer de novo”. A sua direita estava o clérigo. Apontando para
ele, John Taylor continuou, “Você pode até ser um clérigo como meu amigo
aqui e ainda assim não ter nascido de novo, mas você tem que nascer de
novo. Você pode até ser um bispo como eu e não nascer de novo, mas você
tem que nascer de novo”.
Ele terminou a mensagem e seguiu o seu caminho. Mas vários dias
depois, ele recebeu uma carta do clérigo que dizia: “Meu querido Bispo: Eu
tenho sido um clérigo há mais de 30 anos, mas eu nunca soube nada da
alegria que os cristãos falam. Eu nunca entendi. Mas quando você apontou
para mim e disse que uma pessoa pode ser um clérigo e não ter nascido de
novo, eu entendi o problema. Será que você, por favor, pode conversar
comigo?” Claro, Smith conversou com o clérigo e ele respondeu
positivamente ao chamado de Cristo para a salvação.118
Se você ainda não experimentou a alegria da salvação, talvez seja
porque você nunca respondeu pessoalmente a Jesus Cristo. Por que não
fazê-lo agora?
118
H. A. Ironside, Illustrations of Biblical Truth [Moody Press], p. 49-50).
51
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Desenvolvendo uma vida santa
[estudo 6 – 1pedro 1.13-16]
Um examinador para carteira de motorista na Califórnia contou sobre
um adolescente que havia dirigido e feito um teste quase perfeito. “Ele
cometeu apenas um erro”, disse o examinador, “quando ele parou e saiu do
carro”. Depois de respirar aliviado, o rapaz exclamou: “Estou muito feliz por
não ter que dirigir assim o tempo todo!”119
Esse jovem se parece com muitos evangélicos. Vivemos um tempo
onde boa parte dos cristãos fazem o que é certo quando estão sendo
observados, mas o restante do tempo vivem de maneira desleixada.
Lamentavelmente, hoje, não há muita diferença entre os que estão na igreja
e os que estão no mundo. Os cristãos assistem aos mesmos programas de TV
e filmes e gastam o mesmo número de horas semanais em frente à TV como
todos os outros. Não obstante, muitos empresários, políticos e empregados
cristãos têm uma péssima reputação. Recentemente, vários pastores de uma
igreja evangélica do Estado do Espírito Santo foram presos e acusados de
desviarem R$ 21 milhões de dízimos. Parece que o nosso cristianismo não
tem muito efeito sobre a maneira como vivemos.
Entretanto, depois de descrever a salvação suprema no plano de Deus
(1Pe 1.1-12). O apóstolo Pedro declara as responsabilidades de todos os que
vivem na esperança da salvação (v. 13-16). Conforme John MacArthur, estas
obrigações podem ser resumidas em três palavras: esperança, santidade e
honra.120
I. Os crentes devem viver com esperança.
“Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai
inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus
Cristo” (1Pedro 1.13).
O texto grego tem apenas duas ordens em 1.13-16: “... cingindo o
vosso entendimento...” e “Sede santos...”. As outras palavras (particípios) são
dependentes dos verbos principais. Assim, a ordem é: tenha um foco
determinado na volta de Cristo. Há três aspectos deste foco:
Reader’s Digest [1/84].
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (61–62).
Chicago: Moody Publishers.
119
120
52
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
A. Vida Santa à luz da vinda de Cristo começa na mente.
“... cingindo o vosso entendimento...” (v. 13) – Essa expressão é uma
figura de linguagem decorrente do fato de que os homens usavam longas
vestes que muitas vezes atrapalhavam andar, trabalhar ou lutar em uma
batalha (Êx 12.11; 1Rs 18.46; 2Rs 4.29; 9.1; Jr 1.17). Assim, eles prendiam a
túnica para mover-se rapidamente. Aqui, a expressão “cingindo” é utilizada
no sentido metafórico ao processo mental do indivíduo. A ideia é, esteja
mentalmente preparado para o combate na esfera da santidade. Em outras
palavras, a santidade começa em sua vida de pensamento. O que você pensa
que determina a forma como você vive. Por isso, cada cristão deve lidar com
o pecado, também, no do pensamento.
Pedro exorta os crentes a prenderem todas as pontas soltas de sua
vida, ou seja, os crentes devem corrigir seus pensamentos (cf. Rm 12.2),
vivendo de acordo com as prioridades bíblicas (cf. Mt 6.33), desvencilhandose do pecado do mundo (cf. 2Tm 2.3-5; Hb 12.1), tendo em vista a graça
futura que acompanha o retorno de Cristo (cf. Lc 12.35, Cl 3.2-4).121 Além
disso, Paulo nos ensina a pensar sobre as coisas que são verdadeiras e
nobres, justas e puras, amáveis e de boa fama (Fp 4.8).122
Assim, cada cristão deve confessar seus pensamentos impuros a Deus
e substituí-los por pensamentos expostos em Sua Palavra. Se você tem inveja
de alguém, julgue-o, confesse e peça a Deus para substituí-lo pelo amor por
essa pessoa. Se você está cobiçando uma mulher (ou homem), confesse a
Deus os seus sentimentos e fuja imediatamente, tanto mentalmente quanto
fisicamente! Como Paulo declarou: “... levando cativo todo pensamento à
obediência de Cristo” (2Co 10.5). Você pode enganar todo mundo, mas Deus
conhece os seus pensamentos. Se você não cultivar uma vida santa em sua
mente, mais cedo ou mais tarde esses pensamentos serão expostos
publicamente de alguma forma.
Logo, um cristão que contempla a glória de Deus tem uma motivação
maior para obedecer do que um cristão que ignora o retorno do Senhor. O
contraste é ilustrado na vida de Abraão e Ló (Gn 12-13; Hb 11.8-16). Abraão
estava com os olhos da fé na cidade celestial. Mas Ló foi avançando
gradualmente em direção a Sodoma. Abraão trouxe bênção para a sua casa,
Ló, porém, trouxe julgamento. Warren Wiersbe acertadamente escreveu: “O
que contemplamos determina o resultado”.123
Você precisa vigiar o que entra em sua mente tão cuidadosamente
quanto vigia o que come. Você não se alimenta do lixo porque sabe que
ficará doente. De forma semelhante, se você alimentar seus pensamentos
diários com o lixo sensual e materialista da TV e outros meios de
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (64–65).
Chicago: Moody Publishers.
122 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (122). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
123 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.13). Wheaton, IL: Victor
Books.
121
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comunicação e raramente se alimentar da Palavra de Deus, você não vai se
tornar um homem ou uma mulher que cresce em santificação.
Santidade começa em nossas mentes quando nos alimentamos da
Palavra e pensamos muitas vezes em nosso Salvador e a graciosa salvação
que vamos experimentar quando Ele voltar: seremos transformados à Sua
semelhança!
B. Vida santa à luz da vinda de Cristo requer um estado espiritual
de alerta.
“... sede sóbrios...” (v. 13) – O termo “sóbrio” (nepho, em grego) é uma
das palavras favoritas do apóstolo Pedro (ele utiliza a palavra três vezes dos
seis usos no Novo Testamento – 1.13; 4.7; 5.8). Significa literalmente “ser
livre da influência de entorpecentes”, mas, obviamente, tem uma aplicação
espiritual, ou seja, ser sóbrio, estar calmo e sereno de espírito.124 O
substantivo é usado como uma qualificação para os anciãos (1Tm 3.2, 11,
“temperante”).
Pedro usa a palavra “sóbrio” em 5.8: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo,
vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém
para devorar” (1Pe 5.8). Se um leão literalmente estivesse solto do lado de
fora de sua casa, certamente, você faria com que seus filhos permanecessem
dentro de casa. Você os avisaria sobre os perigos do lado de fora da casa.
Você tomaria todas as precauções para ninguém se tornasse a próxima
refeição do leão!
O ponto é, vivemos em um território inimigo. Nossas mentes precisam
se submeter e serem controladas pelo Espírito Santo e não sob a intoxicação
de qualquer espécie.125 Se você alimentar a sua mente com o lixo do mundo
e não se alimentar da Palavra de Deus, vai se tornar entorpecido com o lixo e
se tornará uma presa fácil nas garras do inimigo.
C. Vida santa à luz da vinda de Cristo é motivada pela graça.
“... e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na
revelação de Jesus Cristo” (v. 13) – A graça de Deus é a motivação para uma
vida santa. Nós fomos salvos pela graça e dependemos cada momento da
graça de Deus (1Pe 1.10). Olhar para a volta de Cristo fortalece a nossa fé e
esperança em dias difíceis (cf. 2Co 4.16-18; Tt 2.10-13). A graça futura deve
nos motivar a viver uma vida santa, agora, não importa o quanto sofremos. O
escritor e pregador Hernandes Dias Lopes estava certo quando escreveu: “O
Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New
Testament (633–634). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
125 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (122). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
124
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salvo olha para o passado e contempla a cruz, onde seus pecados foram
cancelados. Olha para o futuro e contempla a graça que está sendo
preparada para a segunda vinda de Cristo”.126 Em outras palavras, a única
maneira de suportar as intempéries da vida é vivendo na esperança da
glória.
Devemos olhar para o que é invisível. Devemos olhar para o eterno ao
invés do temporal. Assim como o rei Josafá (2Cr 20.12), os nossos olhos
devem estar postos em Deus, principalmente, quando não sabemos o que
fazer.
Assim, o primeiro aspecto do desenvolvimento de um estilo de vida
santo é se concentrar em Cristo, permanecer alerta em nosso pensamento e
motivado pela graça de Deus e a volta do Senhor Jesus.
II. Os crentes devem viver em obediência.
“Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis
anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo
aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em
todo o vosso procedimento” (1Pedro 1.14-15).
Os crentes que vivem na expectativa do retorno de Cristo e
consideram o seu pleno significado serão motivados a viver em santidade.127
O apóstolo João diz: “E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta
esperança, assim como ele é puro” (1Jo 3.3). Obedecer aos mandamentos de
Deus expostos em Sua Palavra é imprescindível na vida de qualquer pessoa
que diz amá-Lo. É impossível alguém amar a Deus e não amar os Seus
mandamentos. O apóstolo Pedro declara: “Como filhos da obediência, não vos
amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância...” (v. 14).
Há três coisas envolvidas em tal obediência:
A. Devemos estabelecer um hábito de obediência.
“Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que
tínheis anteriormente...” (v. 14) – A verdadeira salvação sempre resulta em
obediência (Rm 1.5, 1Pe 1.2). A palavra “obediência” (hupakoe), traduzida
como adjetivo é na verdade um substantivo genitivo em grego. Isso significa
que a obediência caracteriza todo verdadeiro filho de Deus (Jo 8.31-32;
14.15, 21; 15.10, Rm 6.17; Ef 2.10; 1Jo 5.2-3; cf. Lc 6.46), e distingue os
cristãos dos não cristãos, chamados de “filhos da desobediência”(Ef 2.2).128
LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 48.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (65–66).
Chicago: Moody Publishers.
128 O genitivo qualifica ou limita um substantivo por meio de uma caracterização específica.
O genitivo normalmente marca um substantivo como fonte ou possuidor de algo. Ele é
normalmente expresso pela preposição “de”. Por exemplo, na frase “trono do rei”, o
126
127
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Eles são opostos, o caráter básico de um crente é a obediência a Deus,
enquanto o caráter básico de um incrédulo é desobediência (Jo 3.20, Rm
1.28-32; 8.7-8, Ef 2.2; 4.17-18; 2Tm 3.2, Tt 1.16, 3.3).129 A obediência é um
resultado inevitável da salvação (Ef 2.10; 4.24; 1Ts 4.7; 2Tm 1.9), no
entanto, o apóstolo exorta aos crentes a viverem de acordo com os anseios
do novo coração, prosseguindo em santidade (cf. Rm 6.12-14; 12.1; 2Co 7.1;
Ef 5.1-3, 8; Cl 3.12-13, Hb 12.14; 2Pe 3.11). A obediência é o próprio
fundamento da vida cristã.
Como filhos de Deus, cada crente deve adquirir o hábito de perguntar:
“O que a Palavra de Deus diz?” Então obedecê-la. Assim, ser um discípulo de
Jesus é negar a si mesmo, tomar a cruz e segui-Lo (Mc 8.34). Jesus disse que
a pessoa que verdadeiramente O ama é aquele que O obedece (Jo 14.21).
B. Temos de fazer uma ruptura com o nosso estilo de vida
passado.
“... não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa
ignorância...” (v. 14) – A palavra “amoldeis” (suschematizo) é usada apenas
em outra ocasião no Novo Testamento, por Paulo em Romanos: “E não vos
conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade
de Deus” (Rm 12.2). Ou seja, significa assumir a forma de alguma coisa, a
partir de um molde. Nosso estilo de vida passado era marcado por nossos
esforços para cumprir desejos egoísta.
A palavra “paixão” (epithumia) não se refere apenas ao desejo sexual,
mas todos os tipos de anseio pelo que desejo pelo que é proibido. Hoje em
dia, o seu significado é confinado quase exclusivamente ao desejo imoral.130
Estes desejos têm pleno domínio sobre os incrédulos porque eles não
conhecem a Deus são ignorantes sobre Sua santidade e de graça, como
revelado em Sua Palavra.
Além do mais, muitos em nossa cultura estão constantemente
tentando nos tornar mais tolerantes com relação a imoralidade sexual.
Uma de suas estratégias é redefinir as diversas formas de imoralidade
sexual. Por exemplo, em 1998, um artigo apareceu no prestigioso
Psychological Bulletin, da American Psycological Association, alegando que as
provas científicas não apoiam a crença comum de que tais encontros sexuais
(pedofilia) invariavelmente fazem mal aos meninos envolvidos. Por
conseguinte, concluiu, é inapropriado rotular todos esses encontros como
substantivo “rei” está no genitivo e qualifica o tipo de trono. Em “sangue de Cristo”, Cristo é
o substantivo genitivo que descreve posse. Heiser, M. S., & Setterholm, V. M. (2013; 2013).
Glossary of Morpho-Syntactic Database Terminology. Logos Bible Software.
129 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (66).
Chicago: Moody Publishers.
130 Wuest, K. S. (1997). Wuest's word studies from the Greek New Testament: For the English
reader (1Pe 1.14). Grand Rapids: Eerdmans.
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“abuso sexual”. Encontros voluntários “com reação positiva” devem ser
apenas identificados como “o sexo entre adultos e crianças”.131
Porém, como cristãos, devemos crescer no conhecimento de Deus. A
igreja não pode tolerar a imoralidade sexual de qualquer forma. Para a igreja
de Corinto, que tolerava um homem acusado de incesto, Paulo escreveu:
“Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Lançai fora o
velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem
fermento...” (1Co 5.6-7). Se Deus é absolutamente intolerante com a
imoralidade sexual, a igreja também deve ser! Aliás, se a igreja não for pura,
o que vai proclamar ao mundo?
A nova vida em Cristo, transformando a pessoa por dentro, deve
traduzir-se em novas expressões concretas de vida.132 A fé salvadora
envolve mudanças drásticas, envolve arrependimento. Aquele que conhece a
Cristo faz uma ruptura com o estilo de vida do passado e procura seguir a
Jesus como Senhor.
Se quisermos ser santos, temos de reconhecer a fonte da santidade.
Devemos conhecê-Lo, amá-Lo e obedecê-Lo. Devemos andar em comunhão
com Ele.133 Na verdade, a essência da verdadeira santidade consiste em
conformidade com a natureza e vontade de Deus. Isso nos leva para o
terceiro e último assunto.
III. Os crentes devem viver em santidade.
“porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pedro 1.16).
A vida cristã é um processo de crescimento em conhecer a Deus
revelado nas Escrituras. Porém, nenhum cristão será plenamente santo
nesta vida. Mas podemos e devemos crescer em santidade quando
crescemos no conhecimento do nosso Deus Santo.
Tanto Stephen Charnock, em sua obra clássica, The Existence and
Attributes of God e RC Sproul em seu livro A Santidade de Deus apontam que
nenhum outro atributo Deus é elevado ao terceiro grau. A Bíblia nunca diz
de Deus, “Amor, amor, amor”, “Eterno, eterno, eterno”, ou “Misericordioso,
misericordioso, misericordioso”. Mas diz: “Santo, santo, santo é o Senhor dos
Exércitos, e toda terra está cheia da sua glória” (Is 6.3).
Pedro cita uma passagem central da antiga aliança. Israel como o povo
de Deus deveria ser santo, pois eles estavam separados das nações pela
presença de Deus em seu meio. A pureza da presença de Deus era
simbolizada por cerimônias elaboradas de lavagem e limpeza. Os soldados
TALBOT Mark R. Fascinado pela glória de Deus. O legado de Jonathan Edwards”. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011, p. 213.
132 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 101.
133 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (123). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
131
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de Israel, por exemplo, eram obrigados a carregar uma pá com suas armas.
Higiene no acampamento honrava a presença do Senhor em seu
acampamento (Dt 23.12-14).134
Os crentes são chamados, assim, a reproduzirem na sua vida o caráter
do Deus santo que os chamou.135 A palavra hebraica usada em Levítico 19.2
é gadosh, o que denota separação, santidade ou temor. Ser santo é ser
separado do pecado. A palavra grega que Pedro utilizou para “santo” foi
Hagios, também traz a ideia de estar sem pecado, sem culpa ou separado da
impureza.136
Blaise Pascal escreveu: “A beleza serena, silenciosa de uma vida santa
é a influência mais poderosa do mundo, ao lado do poder do Espírito de
Deus”. Santidade não deve ser apenas um assunto de nossa teologia, nem
simplesmente palavras nas páginas dos nossos hinários. A santidade é para
ser vivida em nossas vidas diárias.137 Invariavelmente, as testemunhas mais
eficazes são aqueles que tiveram uma visão exaltada do Senhor Jesus Cristo
e que são conscientes de sua própria indignidade de serem Suas
testemunhas.
As pessoas que se comparam a outras, geralmente, se comparam com
as piores pessoas, e assim se gabam de que são realmente melhores. Olhar
para as águas barrentas da vida das pessoas não é a maneira certa de ver
nossas falhas. Em vez disso, devemos olhar para a fonte pura da Palavra.
Considerando a infinita santidade de Deus nos levará a humildade.138
Pedro havia encontrado a santidade de Deus no seu barco de pesca.
Depois de uma noite de trabalho infrutífero, ele, a pedido do mestre, havia
lançado suas redes novamente ao lago. Quando Simão Pedro viu a pesca
milagrosa, ele percebeu que estava face a face com Deus. Pedro sabia que o
único que poderia ver as profundezas do lago poderia ver também as
profundezas do seu coração. Ele imediatamente se prostrou aos pés de Jesus
(literalmente caiu de joelhos), dizendo: “... retira-te de mim, porque sou
pecador”. Ao chamar Jesus de “Senhor” (kurios, em grego), significa “Deus”
como um judeu devoto, Pedro sabia que somente Deus deve ser adorado (Dt
4.8; Dt 6.13), por isso, ele caiu diante de Jesus na postura de um adorador.139
A atitude de Pedro foi idêntica a do cobrador de impostos
arrependido que, oprimido pelo seu pecado, nem levantava os olhos ao céu,
mas batia no peito dizendo: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” (Lc 18.13).
134 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (65). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
135 MUELLER. Ênio R. IPedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 103.
136 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (124). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
137 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (124). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
138 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (58).
Wheaton, IL: Crossway Books.
139 MacArthur, J. F., Jr. (2009). Luke 1–5. MacArthur New Testament Commentary (307).
Chicago: Moody Publishers.
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Quando Pedro viu o grande poder de Jesus, ele foi imediatamente
dominado com a santidade de Jesus, em contraste com seu próprio pecado.
Ele estava expressando o que Isaías sentiu quando teve um vislumbre da
santidade do Senhor: “Ai de mim, pois estou arruinado! Porque eu sou um
homem de lábios impuros, e eu vivo entre um povo de lábios impuros, e os
meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Is 6.5). Esta visão nos mostra
a nossa situação desesperada e nossa própria incapacidade de satisfazer
essa necessidade.
Entretanto, observe a resposta graciosa do Senhor a Pedro: “Não
temas; doravante serás pescador de homens” (Lc 5.10). A palavra de Jesus,
“Não temas; doravante...” são palavras de esperança para todos nós! Talvez
você tenha falhado terrivelmente. Mas, hoje, você pode se prostrar diante de
Jesus como Pedro e confessar seus erros e ouvir Suas palavras de graça,
“doravante”, “De agora em diante” (NTLH). Ele é o Senhor gracioso de novos
começos para aqueles que se arrependem.
Se você conhece a depravação de seu próprio coração, mas também
conhece a abundante graça do Senhor Jesus, então você vai sair como um
mendigo que encontrou pão e saiu para contar outros mendigos onde
encontrar o mesmo. Foi o reconhecimento de Paulo de si mesmo como o
principal dos pecadores que o levou a pregar o evangelho (1Tm 1.15, 1Co
15.9, 10).
Conclusão:
As boas obras não podem pagar o preço pelos nossos pecados.
Somente o sangue de Jesus Cristo pode satisfazer a justiça de Deus. Devemos
colocar nossa confiança nele, não em nossas boas obras. Mas, se a nossa fé
em Cristo é genuína, resultará em uma vida de santidade progressiva. Se
uma pessoa não está se esforçando contra o pecado e buscando crescer em
santidade, está apenas demonstrando que ainda não conheceu e
experimentou a fé salvadora. A Escritura diz: “Segui a paz com todos e a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Se você não tem buscado uma vida santa, uma vida que agrada a Deus,
a solução é a mesma para todos: Pare, confesse seus pecados e volte para
Deus. Clame ao Senhor por uma consciência limpa e um coração obediente,
com base no sangue de Jesus Cristo, que foi derramado por você. Veja o que
Deus diz em Isaías: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a
eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas
habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito
dos abatidos e vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15). Essa é uma
excelente notícia! Como o pai do filho pródigo (Lc 15), Deus acolhe a todos
com alegria quando voltam para Ele!
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
O escritor britânico Leonard Ravenhill escreveu: “O maior milagre que
Deus pode fazer nos dias de hoje é tirar um homem profano de um mundo
profano, e transformá-lo em um homem santo e colocá-lo de volta no mundo
profano e mantê-lo santo”.140 Ele faz isso quando nos concentramos na vinda
de Cristo, quando somos obedientes em tudo na vida e quando crescemos no
conhecimento da santidade de Deus.
140
Nosso andar diário. In: http://ministeriosrbc.org/2010/12/16/o-grande-milagre/
60
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
POR QUE SER SANTO?
[estudo 7 – 1pedro 1.17-21]
Se você estiver motivado, você pode fazer coisas incríveis. O que
levaria um universitário passar a noite inteira estudando em seu
computador? Certamente seu corpo na aguenta mais de tanto sono!
Certamente ele não está tão intrigado com um assunto que não consegue
parar de estudar! Na verdade, ele está motivado por um professor que disse:
“O trabalho vai contar 50% da nota geral. Nenhum trabalho será aceito
depois do prazo. Sem exceções!”
Há uma fábula sobre um cão que se gabava de sua habilidade como
corredor. Um dia, ele perseguiu um coelho e não conseguiu pegá-lo. Os
outros cães ridicularizavam por conta de sua jactância anterior. Sua resposta
foi: “Vocês devem se lembrar de que o coelho estava correndo por sua vida,
enquanto eu estava apenas correndo pelo meu jantar”. O incentivo é muito
importante.141 Seu sucesso na vida depende de sua motivação.
Por que não lemos nossas Bíblias com a consistência e o fervor que
deveríamos? Por que não oramos como deveríamos? Por que nossos
corações se esfriam com facilidade para as coisas de Deus? A resposta é que,
por um motivo ou outro, não temos motivação.
Em 1Pedro 1.13-16, o apóstolo nos chama para uma vida santa à luz
da grande salvação que Deus nos concedeu gratuitamente. Não apenas
devemos viver uma vida de santidade à luz da nossa esperança, mas,
também, devemos caminhar no temor do Senhor (1.17).142
Entretanto, a santidade não é algo fácil! Isso não acontece
automaticamente. Temos que lutar diariamente contra os desejos da carne e
a força do mundo. Para ter sucesso, temos que ser motivados. Então Pedro
passa a responder à pergunta: “Por que ser santo?”
Assim, em 1.17-21, o apóstolo Pedro apresenta algo negativo (uma
ameaça, Deus vai julgá-lo) e algo positivo (incentivo, o amor de Deus) como
motivação para viver de maneira santa neste mundo.
Tan, P. L. (1996). Encyclopedia of 7700 Illustrations: Signs of the Times. Garland, TX: Bible
Communications, Inc.
142 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (157). Grand Rapids, MI: Zondervan.
141
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
I. Devemos ser santos, porque nosso Pai é também o
nosso Juiz
“Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga
segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo
da vossa peregrinação” (1Pedro 1.17)
“Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas...”
(v. 17) – O fato de que invocamos a Deus como nosso Pai é algo maravilhoso.
Isto significa que somos Seus filhos, somos objetos de Seu amor especial. O
fato de Deus ser Pai significa que Ele cuida de cada um dos Seus filhos como
um pai terreno cuida de seus próprios filhos. Que pai não pagaria um milhão
de dólares, se tivesse, para obter assistência médica adequada para seu
filho? Um verdadeiro pai arriscaria a própria vida para salvar seu filho do
perigo!
Porém, isso não significa que devemos viver desatentamente. Deus é
Pai, mas, também, é Juiz! O mesmo Deus que nos proporciona um
relacionamento, tão intimo, é também o Deus que vai julgar a história. O fato
de chamarmos Deus de Pai não nos dá direito de nos amoldarmos às paixões
mundanas.143 O Pai e o Juiz são a mesma pessoa.
“... sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um...”
(v. 17) – Devemos lembrar quem é aquele que invocamos como Pai. Ele é
aquele que julga, sem parcialidade, o trabalho de cada um. Três vezes em sua
epístola, Pedro nos lembra do papel de Deus como juiz. Dentro deste
contexto, ele nos informa que Deus julga sem parcialidade (v. 17; 2.23; 4.5).
Pedro declara que Deus “não faz acepção de pessoas”. Ou seja, Seu
julgamento é imparcial. Ele vai julgar a todos. Em vista do fato de que o Pai
amorosamente disciplina seus filhos hoje, e vai julgar suas obras no futuro,
devemos cultivar uma atitude de temor a Deus.
“... portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação”
(v. 17) – Pedro nos lembra de que devemos viver como estrangeiros neste
mundo. A palavra “peregrinação” (Paroikia, em grego) é utilizada em Atos
para se referir à estada de Israel no Egito (At 13.17). Tendo em vista que
estamos aqui apenas temporariamente, não devemos nos contentar como se
fosse algo permanente. Não devemos viver para recompensas deste mundo,
mas sim para as recompensas eternas que o juiz imparcial vai entregar
quando Cristo voltar. Somos apenas peregrinos ou estrangeiros aqui na
terra.
A palavra “temor” é phoıbos (em grego) da qual temos a palavra
“fobia”.144 No entanto, o tipo de temor que Pedro sugere não é causado por
uma doença emocional. É um tipo de temor saudável. Este não é o temor
LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 51.
Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (126). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
143
144
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servil de um escravo diante do seu mestre, mas a reverência amorosa de
uma criança diante do seu pai. É o “temor de Deus” (2Co 7.1), uma
reverência sóbria diante do pai.145
Moisés experimentou esse temor. A visão de Deus foi tão “horrível”
que Moisés exclamou: “Sinto-me aterrado e trêmulo!” (Hb 12.21). Da mesma
forma, a nossa resposta a Deus, o “fogo consumidor”, deveria ser em
“reverência e santo temor” (Hb 12.28). Paulo diz que devemos viver a nossa
salvação “com temor e tremor” (Fp 2.12).146
Todo aquele que confia em Cristo e obedece aos Seus mandamentos
pode ter certeza de que a promessa do Senhor não falhará: “Agora, pois, já
nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Não
importa quão inútil seja, nenhum cristão perderá a salvação.
No entanto, como Paulo nos diz, “Contudo, se o que alguém edifica
sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha,
manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque
está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o
provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou,
esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas
esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo” (1Co 3.12-15).
Cristo pagou o preço de modo que nenhum cristão será jamais julgado pelo
pecado. Isso é somente para determinar o galardão (Cl 4.5). Porém, a
imagem de atravessar o fogo é assustador o suficiente para nos motivar a
viver em temor diante do Senhor diariamente.
Não despreze o amor de Deus: Ele é o nosso Pai Celestial. Mas não
esqueça o julgamento final: Ele é o Juiz imparcial! Nosso estilo de vida
“procedimento” (v. 18) prova a realidade da nossa fé. Devemos viver em
santo temor porque nosso Pai é também o nosso Juiz.147
II. Devemos ser santos porque Deus nos redimiu por um
alto preço
“sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou
ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos
pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem
defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pedro 1.18-19).
Aquele a quem chamamos de “Abba, Pai” não é apenas o nosso criador
e juiz, Ele é também o nosso redentor. Ele entregou o Seu Filho por nós,
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.17). Wheaton, IL: Victor
Books.
146 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (157). Grand Rapids, MI: Zondervan.
147 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (158). Grand Rapids, MI: Zondervan.
145
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como um cordeiro para o sacrifício (1.19).148 Consequentemente, devemos
viver não apenas como estrangeiros neste mundo, mas como aqueles que
foram resgatados por Jesus Cristo.
Mas o que Pedro quis dizer com a expressão: “que fostes resgatados do
vosso fútil procedimento”? A palavra “resgatado” (lutroo, em grego) significa
“libertar pelo pagamento de resgate”.149 Hoje, a palavra “redenção” soa como
um termo teológico, mas para os leitores de Pedro, era uma palavra
cotidiana carregada de significado emocional. Havia milhões de escravos no
Império Romano e muitos deles se tornaram cristãos. Alguns tinham nascido
escravos. Outros se tornaram escravos, quando Roma conquistou a sua
terra. Outros se tornaram escravos por causa das dívidas. Mas cada escravo
tinha conhecimento de que não pertencia a si mesmo. Ele não era livre para
fazer o que desejasse. Ele pertencia, como uma propriedade, à outra pessoa.
Pedro faz três declarações significativas sobre a vida daqueles que
foram resgatados.150
Primeiro, Pedro destaca que não fomos resgatados pelo que
nossos pais nos legaram (v. 18) – Somente Cristo pode nos redimir da
escravidão do pecado e da morte. Ele perdoa os pecados e dá poder para
viver uma vida santa. A palavra traduzida como “fútil” (mataios, em grego)
significa “inútil” ou “vão”. É a palavra que Paulo usa para descrever a
sabedoria deste mundo em oposição à sabedoria piedosa (1Co 3.20).
Uma geração só pode passar as coisas temporárias da vida à outra
geração. Nós viemos a este mundo sem nada, e deixamos este mundo sem
nada. Pedro sugere que mesmo o ouro e a prata, em última análise, são
perecíveis. Eles oferecem uma falsa sensação de segurança. Essas coisas
motivaram o rei Salomão, um dos homens mais ricos de todos os tempos, a
escrever: “Vaidade das vaidades... Tudo é vaidade” (Ec 12.8).
Mesmo as mais belas realizações dos incrédulos são inúteis do ponto
de vista da eternidade. Jesus deixou isso claro por meio de duas perguntas
penetrantes aos seus discípulos: “Pois que aproveitará o homem se ganhar o
mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua
alma?” (Mt 16.26).
Paulo reconheceu a futilidade da vida não redimida quando proibiu o
povo de Listra de adorá-lo: “Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos
homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o
evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o
céu, a terra, o mar e tudo o que há neles” (At 14.15; Cf. Rm 1.21; 6.20-21; 8.20,
1Co 3.20). Paulo também exortou aos crentes de Éfeso a abandonarem essas
Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (68). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
149 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (515–516). Nashville, TN: T. Nelson.
150 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (126). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
148
64
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
formas fúteis: “Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis
como também andam os gentios” (Ef 4.17).151
O ponto é, a pessoa sem Cristo, mesmo abastada de bens, é vazia. Sem
Jesus, todos são escravos do pecado e da futilidade, indo para o inferno!
Jesus ensinou isto. Ele disse que o inferno será um lugar horrível (Mc 9.4348) e que a menos que haja arrependimento, vamos perecer (Lc 13.3, 5). As
pessoas precisam saber disso!
O Pastor John Maxwell conta que, certa ocasião, começou a visitar um
homem que estava no hospital. Todos os dias da semana eles conversavam
sobre futebol americano ou qualquer outro assunto sem importância. Então,
certo dia, poucas horas depois de tê-lo visitado, ele recebeu a notícia de que
aquele paciente havia morrido. Maxwell diz que sofreu muito. Ele
reconheceu que durante todo o tempo estava mais preocupado com a
opinião que aquele homem tinha a respeito dele do que com o estado de sua
alma.152 John sofreu por vários anos com a indiferença para com aquele
homem.
Tristemente, somos mais motivados em agradar as pessoas do que
proclamar o elas realmente necessitam. Não é assim que agimos?
Segundo, Pedro destaca que não fomos resgatados com coisas
corruptíveis, como prata ou ouro, mas pelo sangue de Cristo (v. 18) –
Um escravo nos tempos romanos poderia ser resgatado mediante o
pagamento de certa quantidade de prata ou ouro. O mundo valoriza estes
metais acima de qualquer coisa. Eles estão entre os metais mais
imperecíveis. Mas Pedro chama de “coisas corruptíveis” e implica que são
corruptíveis em comparação com o “precioso sangue, como de cordeiro sem
defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”.
O Antigo Testamento previa a redenção dos escravos, e observou o
privilégio especial de um “resgatador” (gōʾēl, em hebraico), um parente
próximo que poderia resgatar os membros da família ou posses (Lv 25.25,
48; Rt 2.20; 3.9; 4.3). Na profecia de Isaías, Deus assume o papel de
“resgatador” do Seu povo: “Não temas, ó vermezinho de Jacó, povozinho de
Israel; eu te ajudo, diz o SENHOR, e o teu Redentor é o Santo de Israel” (Is
41.14; 43.14; 44.24; 47.4; 48.17; 49.7, 26; 54.5, 8; 60.16). Pedro faz a mesma
ligação. Deus, o Santo, comprou de volta o seu povo como sua herança.153
Um escravo poderia ser liberado com o pagamento de dinheiro, mas
nenhuma quantia de dinheiro pode definir um pecador perdido livre.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (75).
Chicago: Moody Publishers.
152 MAXWELL. John C. 21 minutos de poder na vida de um líder. Rio de Janeiro: Thomas
Nelson Brasil, 2001, p. 132.
153 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (70). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
151
65
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Somente o sangue de Jesus Cristo pode nos redimir.154 Mas o povo de Deus
foi redimido pelo sangue precioso de Cristo (v. 19)!
“... como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”
(v. 18) – Ao chamar Cristo de “Cordeiro”, Pedro estava lembrando seus
leitores de um ensinamento do Antigo Testamento, e que deveria ser
importante para nós hoje. A doutrina da substituição: uma vítima inocente
dando a sua vida pelos os culpados.
A doutrina do sacrifício começa em Gênesis 3, quando Deus matou
animais para revestir Adão e Eva. Um cordeiro foi morto no lugar de Isaque
(Gn 22.13) e o cordeiro pascal foi morto para cada lar judaico (Êx 12). O
Messias foi apresentado como um cordeiro inocente em Isaías 53. Isaque fez
a pergunta: “Onde está o cordeiro?” (Gn 22.7) e João Batista respondeu
quando apontou para Jesus e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo” (Jo 1.29). No céu, os redimidos e os anjos cantam, “Digno é o
Cordeiro” (Ap 5.11-14)
O apóstolo Paulo declarou: “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é
santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e
que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois,
glorificai a Deus no vosso corpo” (1Co 6.19-20).
Assim, viver em pecado após reconhecer o alto preço pago seria
semelhante a uma mulher cujo marido a amava muito e entregou sua
própria vida para salvá-la de um assassino. Após o funeral ela procura o
assassino cruel e mantém um romance com ele. Isso é algo terrível! Isso é
precisamente o argumento de Pedro: Porque Deus nos redimiu por um alto
preço, não deveríamos brincar com o pecado para o qual Cristo derramou o
Seu sangue precioso.
III. Devemos ser santos porque Deus nos redimiu para
uma viva esperança
“conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém
manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele,
tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu
glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus” (1Pedro
1.20-21).
Pedro declara que o Senhor Jesus foi “conhecido, com efeito, antes da
fundação do mundo...” (v. 21). Ou seja, Jesus não derramou Seu sangue na
Cruz por acidente... Sua morte e o derramamento do seu sangue fazia parte
do plano de Deus desde o princípio do mundo.155
Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (127). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
155 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (127). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
154
66
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Em primeiro lugar, Deus planejou a redenção do Seu povo antes
da fundação do mundo (v. 20) – A cruz não foi determinada depois que o
homem caiu em pecado. Na verdade, Deus ordenou a salvação antes da
criação da raça humana. A palavra “conhecido” (proginosko, em grego) não
se refere somente a Deus, conhecendo de antemão. Mas implica o Seu
propósito.156 Ou seja, o plano da redenção precede a criação. Em seu sermão
no dia de Pentecostes, Pedro disse: “sendo este entregue pelo determinado
desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de
iníquos” (At 2.23). Pedro deixou claro que a morte de Cristo foi um encontro,
não um acidente, pois foi ordenado por Deus antes da fundação do mundo.
A partir da perspectiva humana, nosso Senhor foi cruelmente
assassinado, mas a partir da perspectiva divina, Ele deu Sua vida pelos
pecadores (Jo 10.17-18). Mas Ele ressuscitou dos mortos! Agora, qualquer
um que confia nele será salvo por toda a eternidade.157
Segundo, Deus planejou a redenção ao manifestar o Senhor Jesus
ao Seu povo (v. 20) – No momento apropriado da história humana, em
cumprimento das profecias do Antigo Testamento, Deus enviou o Seu Filho
ao mundo. Deus, o Pai, inaugurou esse tempo no fim em sua encarnação e
consumará esse tempo em sua segunda vinda.
Quando jovem, a hinista Frances Ridley Havergal viu uma imagem de
Cristo crucificado com a frase: “Eu fiz isso por ti. Que fizeste por mim?”
Rapidamente, ela escreveu um poema, mas insatisfeita jogou-o na lareira. O
papel permaneceu ileso! Mais tarde, por sugestão de seu pai, ela publicou o
poema, e hoje nós cantamos.
Morri na cruz por ti:
Morri pra te livrar!
Meu sangue, ali, verti,
E posso te salvar.
Morri! morri na cruz por ti:
- Que fazes tu por mim?
Morri! morri na cruz por ti:
- Que fazes tu por mim?
Vivi assim por ti,
Em dor, em dissabor,
E tudo fiz aqui
Pra ser teu Salvador.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (82).
Chicago: Moody Publishers.
157 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.18). Wheaton, IL: Victor
Books.
156
67
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Sofri na cruz por ti,
A fim de te salvar.
A vida consegui,
E agora ta vou dar.
Eu trouxe a salvação,
Dos altos céus favor.
É livre o meu perdão,
É grande o meu amor. 158
Terceiro, Deus planejou a redenção para que o Seu povo vivesse
em esperança (v. 20-21) – Por fim, a redenção é de Deus, porque Deus
completou a redenção ao ressuscitar Jesus Cristo e dar-Lhe glória. Cristo
morreu por Sua causa! Se você confia em Cristo, é porque Deus transmitiu a
fé salvadora a você através de Cristo (Ef 2.8-9; 2Tm 2.25). Tudo o que você
pode fazer é humildemente dar glória a Ele.
Além disso, a ressurreição de Cristo prova que Deus é capaz de
ressuscitar os mortos. Logo, os crentes têm uma esperança inabalável de que
um dia Deus vai ressuscitá-los e recebê-los na glória. O apóstolo Paulo
lembrou aos romanos da esperança dos crentes: “E não somente ela, mas
também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em
nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo” (Rm
8.23; cf. Fp 3.20-21, 1Jo 3.2). Pela fé, os santos desfrutam atualmente da
redenção (“as primícias do Espírito”), e esperam pela redenção do corpo de
todos os demais efeitos da queda.159
À luz da nossa grande redenção do pecado e da morte; redenção esta
que custou a morte do Filho de Deus, Seu sangue precioso, a redenção que
Deus, quando ainda éramos Seus inimigos, independentemente de qualquer
merecimento, devemos viver em santa reverência diante dele.
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.19). Wheaton, IL: Victor
Books.
159 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (84–85).
Chicago: Moody Publishers.
158
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Conclusão:
Um aluno do seminário contou que, quando menino, deixou de amar o
golfe. Seus pais lhe deram um inofensivo taco de golfe para brincar no
quintal. Mas um dia, pensando que seus pais não estivessem em casa, ele
bateu com muita força e a bola acabou atingindo uma das janelas da casa.
Ainda pior, o acidente foi seguido por um grito angustiante.
O menino correu para a casa, entrou na sala e, para sua tristeza, viu
sua mãe em pé diante da janela quebrada com sangue escorrendo pelo rosto.
Ele gritou: “Mãe, eu poderia ter matado você!” Sua mãe o abraçou e disse,
“Está tudo bem. Eu estou bem!”
O seminarista concluiu a história, dizendo: “A visão da minha mãe
com sangue no rosto mudou o meu comportamento para sempre”.
Pedro deseja que seus leitores, pensassem seriamente sobre o grande
preço que Jesus pagou na cruz para nos redimir dos pecados. Penar no
sangue do Salvador deve nos motivar a buscar a santificação. Se Cristo
morreu por mim, não há nada tão grande que eu não possa fazer por Ele.
69
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Sinais vitais do Novo Nascimento
[estudo 8 – 1pedro 1.22-25]
Na noite em que Cristo instituiu a Ceia do Senhor, Ele disse aos seus
discípulos: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor
uns aos outros” (Jo 13.35). Para nossa vergonha e tristeza, nem sempre
somos conhecidos por nosso amor pelos irmãos. Um dos fatos dolorosos da
vida cristã é que o povo de Deus nem sempre se dá bem uns com os outros.
Àqueles que caminham na esperança e santidade devem andar em
harmonia, mas isso nem sempre é verdade. O renomado pastor americano
John MacArthur com inteireza declarou: “Do ponto de vista divino, há
apenas um só corpo (Ef 4.4-6.), mas o que vemos comumente é uma igreja
dividida e, às vezes, em guerra”.160 Precisamos urgentemente de uma
unidade espiritual e o amor que é o vínculo da paz (Cl 3.14).
Vivemos em uma cultura que tem tomado algumas palavras bíblicas e
utilizado de forma que redefine e deprecia o seu significado verdadeiro. Por
exemplo, a palavra “amor” se tornou desvalorizada em nossos dias. Com
muita frequência declaramos: “Eu amo pizza”, “Eu amo chocolate”, “Eu amo
meu cão”, “Eu amo minha família” ou “Eu amo Jesus”. Sem perceber, muitas
vezes, declaramos o nosso amor ao próximo sem refletir nas implicações.
É como a menina que foi convidada para jantar na casa de sua melhor
amiga. A mãe de sua amiga perguntou se ela gostava de brócolis. Ela
respondeu educadamente: “Ah, sim, eu amo!” Mas quando o vegetal foi
oferecido, ela recusou. A anfitriã disse: “Você não disse que amava
brócolis?”. A menina respondeu docemente: “Ah, sim, minha senhora, eu
amo, mas não o suficiente para comer!” É fácil dizer que se ama, difícil é
praticar o amor bíblico, o amor verdadeiro.
Como vimos no último estudo, sobre o tema da santidade, Pedro
declarou nossa responsabilidade (1.15-16), mas, em seguida, ele apresenta
uma longa justificativa por que os cristãos devem ser santos, ou seja, porque
o seu Pai celeste é também seu juiz e fomos redimidos pelo sangue precioso
de Cristo (1.17-21).
Pedro faz algo semelhante com o tema do amor. A resposta de uma
vida santa e a obediência à verdade produz um amor sincero para com os
irmãos (22-25). Quero convidá-lo a olhar primeiro para dois aspectos do
novo nascimento, e então analisar o resultado: o novo amor.
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.18). Wheaton, IL: Victor
Books.
160
70
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
I. O novo nascimento é marcado pela pureza da alma em
obediência à verdade
“Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade,
tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns
aos outros ardentemente” (1Pedro 1.22).
A Escritura repetidamente deixa claro que a pessoa não convertida
está longe de ter a capacidade de demonstrar amor verdadeiro (Jo 5.42, 1Jo
2.9, 11, 3.10, 4.20; cf. Jó 14.4; Sl 58.3, Jo 15.18, 25; Rm 8.7-8; 1Co 2.14, 2Co
3.5). O Senhor Jesus disse aos fariseus: “Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o
dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o
amor de Deus; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Lc
11.42). Eles estavam mais preocupados com os detalhes minuciosos da
religião que não conseguiam manifestar o amor de Deus (1Jo 3.16-17). Em
contraste, Jesus declarou que o amor é a marca inconfundível na vida dos
crentes: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor
uns aos outros” (Jo 13.35; cf. Jo 14.21; 2Co 5.14; 1Pe 1.8; 1Jo 2.5, 4.12, 19,
5.1).
“Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à
verdade...” (v. 22) – Vida santa exige purificação (2Co 7.1). Pedro declara
que os salvos não foram apenas redimidos da escravidão do pecado, mas
também purificados pela obediência à verdade.161 Foi na salvação que os
crentes receberam a capacidade de demonstrar amor sobrenatural. O
apóstolo Paulo diz que esse amor foi derramado em nossa vida pela ação do
Espírito santo que nos foi concedido (Rm 5.5).
Um resultado positivo da obediência à verdade é uma vida purificada.
“De que maneira poderá o jovem guardar puro o seu caminho? Observando-o
segundo a tua palavra” (Sl 119.9). Como as provações refinam a fé, de forma
semelhante à obediência à Palavra de Deus refina o caráter.162 Aquele que se
purifica por viver de acordo com a Palavra de Deus descobre a alegria da
obediência.
Além disso, é importante destacar que a palavra “purificado”
(hāgnikotes, em grego) é um “particípio perfeito” que descreve uma ação
passada com resultados contínuos.163 A ênfase não está no que aconteceu,
mas o “estado de coisas” no presente resultantes da ação passada.164 Em
outras palavras, Deus não apenas nos purificou (cf. Hb 4.1-3; 9.22-23), Ele
LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 58.
Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible
Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.)
(844). Wheaton, IL: Victor Books.
163 Vol. 1: Theological dictionary of the New Testament. 1964- (G. Kittel, G. W. Bromiley & G.
Friedrich, Ed.) (electronic ed.) (124). Grand Rapids, MI: Eerdmans.
164 Heiser, M. S., & Setterholm, V. M. (2013; 2013). Glossary of Morpho-Syntactic Database
Terminology. Logos Bible Software.
161
162
71
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
também nos concede recursos para o presente e futuro (2Co 5.17; cf. Rm
6.3-14, Co 3.8-10; 2Pe 1.4-9).
Entretanto, diante dessa nova vida em Cristo, é importante destacar
duas lições aqui.
Primeiro, o batismo não salva ninguém. A fé pessoal no sangue de
Jesus Cristo salva uma pessoa da ira e do julgamento de Deus. Mas o batismo
é a forma onde o indivíduo afirma sua confiança em Cristo publicamente.
Mas o batismo não salva a pessoa. O batismo é um símbolo externo de uma
obediência a Cristo que reflete a realidade interna da fé salvadora.
O batismo não é capaz de regenerar ou garantir a salvação do
indivíduo (Lc 23.39-43). Os Sacramentos não garantem por si mesmos a
salvação. O que os torna eficazes é a ação do Espírito Santo na vida da pessoa
que os recebe. Assim, quando uma pessoa é batizada, não podemos
realmente saber se ela, de fato, é um cristão comprometido com Deus (1Co
12.13).
No entanto, o batismo carrega um simbolismo mais profundo do que a
lavagem cerimonial da antiga aliança. Ele simboliza não apenas a remoção
de toda a corrupção, mas também a renovação do Espírito Santo e o início de
uma nova vida. Não apenas somos purificados pela Palavra, mas também,
somos regenerados pela Palavra viva e permanente de Deus.165
Segundo, a fé salvadora é acompanhada da obediência. Há um
ensino pernicioso em nossos dias de que você pode crer em Jesus Cristo
como Salvador, mas obedecê-Lo como Senhor é opcional.
Entretanto, não há essa distinção na Bíblia. Os cristãos são aqueles
que têm suas almas purificadas em obediência à verdade. Em 1Pedro 2.8 e
3.1, ele se refere aos incrédulos como aqueles que são “desobedientes à
palavra”. Em 4.17, ele se refere aos descrentes como “aqueles que não
obedecem ao evangelho de Deus” (cf. Rm 1.5, 10.16, 16.6; 2Ts 1.8; Jo 3.36).
No livro de Atos, o evangelista Lucas declara que: “Crescia a palavra de Deus,
e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos
sacerdotes obedeciam à fé” (At 6.7).
Logo, nas Sagradas Escrituras a salvação é acompanhada de
obediência. Se uma pessoa afirma ser salvo, mas vive em desobediência a
Deus e desrespeito à sua Palavra, a pessoa está enganada (1Co 6.9; Gl 6.7;
1Jo 3.7). A fé salvadora é marcada pela purificação do homem interior e a
obediência à verdade de Deus.
Assim, o primeiro ponto de Pedro é que o novo nascimento é marcado
pela pureza da alma na obediência à verdade.
Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: The way of the cross. The Bible Speaks
Today (75–76). Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
165
72
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
II. O novo nascimento ocorre por meio da Palavra de Deus
incorruptível
“pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de
incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.
Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva;
seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece
eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada” (1Pedro
1.23-25).
“pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de
incorruptível...” (v. 23) – Pedro novamente lembrou aos seus leitores que
eles haviam experimentado o novo nascimento. Essa transformação na vida
dos crentes não cessa, porque ocorreu através da Palavra de Deus, que é
imperecível. Pedro apresenta três aspectos desse novo nascimento que
ocorre por meio da Palavra de Deus:
A. O novo nascimento é realizado por Deus através da Sua
Palavra, não pelo homem.
“pois fostes regenerados...” – A palavra “regenerado” (“nascer de
novo” na NTLH e anagennao, em grego) é um particípio passivo (“tendo
nascido de novo”). Ou seja, aponta para a ação de Deus no novo nascimento.
É Deus quem nos salva “... Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo” (Tt 3.5).
Esse “nascer de novo” acontece através da Palavra de Deus (tanto
pregada quanto escrita). Tiago afirma: “Pois, segundo o seu querer, ele nos
gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das
suas criaturas” (Tg 1.18). Os homens podem especular sobre o que Deus é,
mas somente através da revelação e não da especulação, que podemos
conhecer verdadeiramente a Deus. Assim, Ele usa a verdade, especialmente
a verdade sobre o Seu Filho que se entregou na cruz por nossos pecados,
para transformar nossos corações de pedra em coração de carne: “Então,
aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas
imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo
e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos
darei coração de carne” (Ez 36.25-27; cf. Jr 31.31-34; Mt 26.28; Jo 3.5; Ef
5.26; Tt 3.5).
B. O novo nascimento não é temporário, mas duradouro.
“pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de
incorruptível...” (v. 23) – Pedro descreve o novo nascimento como vindo de
uma semente imperecível, em contraste com a semente perecível do
nascimento humano. A semente incorruptível é a Palavra (Lc 8.11), que é
73
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
viva e permanente. Assim, a vida nova que Deus dá através da Sua Palavra é
eterna, não está sujeita à morte.
Pedro cita Isaías para apoiar o seu ponto. No contexto, Isaías
profetizou ao povo de Deus que foi levado para o cativeiro na Babilônia,
confortando-os sobre o fato de que Deus cumpriria Suas promessas
restaurando-os a terra. A Babilônia, exteriormente, era um dos reinos mais
impressionantes e poderosos do mundo. Os jardins suspensos foram
considerados uma das maravilhas do mundo antigo. As muralhas da
Babilônia pareciam impenetráveis.
Mas Isaías diz: “Toda a carne é erva, e toda a sua glória, como a flor da
erva; seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do SENHOR. Na
verdade, o povo é erva; seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso
Deus permanece eternamente” (Is 40.6-8).
Em outras palavras, não se deixe enganar pela imponência da
Babilônia. Ela vai desaparecer como uma flor, mas a Palavra de Deus
permanecerá para sempre! É claro, a Palavra de Deus através de Isaías
provou-se verdadeira. Pedro acrescenta: “Esta é a palavra que foi anunciada
como uma boa nova para você”. Assim, quando você estiver sofrendo nesse
mundo que parece fascinante e duradoura, não se deixe enganar. Ele vai
desaparecer e perecer, mas o novo nascimento que você possui por meio da
Palavra de Deus habitará para sempre.
Além do mais, o amor também vai durar para sempre da mesma
forma que a Palavra de Deus. Paulo diz que o amor jamais acaba (1Co 13.8).
O amor vai durar para sempre (1Co 13.13). O amor deve ser visível na vida
daqueles que são obedientes à verdade.
C. O novo nascimento exige um novo amor.
“... tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de
coração, uns aos outros ardentemente” (v. 22b) – O amor está no centro
da vida cristã. Na verdade, o amor é o próprio caráter, a própria essência de
Deus (1Jo 4.8).166 Como vimos, Jesus declarou que seria por este amor que
todos iriam reconhecer seus discípulos (Jo 13.35).
Pedro usou duas palavras diferentes para o amor: philadelphia que
representa o amor de irmãos ou irmãs, amor fraterno.167 Pedro também
utilizou a palavra agape que expressa o tipo ideal de amor, aquele que é
exercido pela vontade ao invés da emoção, não determinado pela beleza ou
conveniência, mas a nobre intenção de quem ama.168 Mas o que isso
significa? Creio que o comentarista Warren Wiersbe estava certo quando
Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (129). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
167 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New
Testament (22). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
168 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (90–91).
Chicago: Moody Publishers.
166
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
escreveu: “Compartilhamos o amor fraternal, porque somos irmãos e irmãs
em Cristo e temos semelhanças. Compartilhamos o amor ágape, porque
somos de Deus e, portanto, podemos ignorar as diferenças”.169
Diante disto, o apóstolo Pedro nos ensina que o amor bíblico possui
três características específicas:
“... tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração,
uns aos outros ardentemente” (1Pedro 1.22).
Primeiro, é um amor sincero. A expressão “não fingido”
(anupokritos) significa “não hipócrita” (cf. Rm 12.9; 2Co 6.6). Este amor
entre irmãos (filadélfia) deve ser sincero. Sabendo do perigo da hipocrisia,
Paulo admoestou aos romanos: “O amor seja sem hipocrisia...” (Rm 12.9,
12.10). O apóstolo João nos exorta da mesma forma: “Filhinhos, não amemos
de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (1Jo 3.18; cf. 2Co 6.6;
8.8; Fp 2.1-2; Hb 13.1; 1Jo 3.11, 18). Ao viver esse tipo de amor, Deus pode
usar a unidade amorosa dos crentes para atrair um mundo perdido e
despertá-lo para a sua necessidade de salvação (cf. Jo 13.34-35; 1Co 10.3133).170
No entanto, o amor (ágape) só pode brotar de um coração
transformado pela ação do Espírito Santo de Deus. Como disse corretamente
o comentarista Hernandes Dias Lopes: “O amor é a marca do cristão, pois é a
evidência mais eloquente da nossa salvação”.171
Em segundo lugar, é um amor puro. O provérbio faz a seguinte
pergunta: “Quem pode dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou do meu
pecado?” (Pv 20.9). A resposta é: ninguém! Não se pode limpar ou purificar a
si mesmo do pecado. Somente Cristo pode fazer isso (1Pe 1.19-20).172
Você não pode amar biblicamente ao abrigar o pecado não confessado
em seu coração. Ele deve partir de um coração puro. Foi exatamente isso que
Paulo ensinou ao jovem Timóteo: “Foge, outrossim, das paixões da mocidade.
Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o
Senhor” (2Tm 2.22).
Terceiro, é um amor fervoroso. “... amai-vos, de coração, uns aos
outros ardentemente” (v. 22) – A palavra “ardentemente” (ektenōs em
grego) é um termo de origem fisiológica. Significa esticar um músculo ao
máximo. A palavra é traduzida por Lucas como “intensamente” (Lc 22.44; At
12.5, At 26.7). Pedro também utilizou da mesma forma: “Acima de tudo,
porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre
169 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.22). Wheaton, IL: Victor
Books.
170 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (90).
Chicago: Moody Publishers.
171 LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 58.
172 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (131). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
75
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
multidão de pecados” (1Pe 4.8). Na literatura grega a palavra era utilizada
para descrever um cavalo que corria a toda velocidade.173 Ou seja, o amor é
algo que temos que nos esforçar para praticar. Como um atleta olímpico que
treina a exaustão para alcançar o máximo de suas habilidades.
O amor cristão não é um sentimento, é uma questão de vontade.
Mostramos amor aos outros quando tratamos da mesma forma como Deus
nos trata. Deus nos perdoa, por isso, perdoamos. Deus é bom para conosco,
por isso, somos gentis com os outros. Não é uma questão de sentimento, mas
de vontade, e isso é algo que devemos trabalhar constantemente se
quisermos ter sucesso.174
Amar biblicamente requer muito trabalho e esforço. Nem sempre é
fácil. Mas é necessário como parte crucial do desenvolvimento de nossa
salvação.
Conclusão:
Quero concluir fazendo um importante pergunta: Você realmente
nasceu de novo?
Jesus advertiu que haverá muitos que O chamarão de “Senhor” e que,
inclusive, dirão que fizeram muitos milagres em Seu nome, mas no
julgamento Ele dirá: “Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci.
Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7.23). À luz destas
coisas, todos nós precisamos saber se realmente nascemos de novo ou não.
O primeiro teste dado a um recém-nascido é chamado de índice de
Apgar. O teste foi desenvolvido para avaliar rapidamente a condição física de
um recém-nascido após o parto e determinar qualquer necessidade imediata
de cuidados médicos ou de emergência. O teste verifica o tônus muscular, a
frequência cardíaca, reflexos, cor da pele e a respiração.
Quando Daniel, meu primeiro filho nasceu, fiquei maravilhado com a
graça do bom Deus. Ele nasceu com muita saúde, e em seguida, como todo
recém-nascido foi submetido ao teste de Apgar. Porém, quando presenciei o
pediatra realizando o teste fiquei muito assustado. O médico fez com que o
meu filho segurasse as pontas dos seus dedos e o levantou. Daniel parecia
um trapezista. Lembro que uma senhora, entre outros pais e avós, que
acompanhava o teste pelo vidro do berçário da maternidade, ao ver o
médico segurando o meu pequenino bebê apenas com as pontas dos dedos
declarou: “Isso é um absurdo!” “Como podem fazer isso com crianças tão
frágeis?”. O que ela não sabia é que o teste é fundamental.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (241).
Chicago: Moody Publishers.
174 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.22). Wheaton, IL: Victor
Books.
173
76
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Confesso que foi um misto de alegria e indignação. Alegria por saber
que tudo estava bem com o meu filho e indignação por contemplar aquela
cena tão pesada.
De forma semelhante, um verdadeiro filho de Deus terá um índice de
Apgar espiritual. Todo cristão precisa evidenciar três sinais vitais: a fé em
Jesus Cristo, o amor ao próximo e obediência aos mandamentos de Deus. Se
você respondeu afirmativamente que já nasceu de novo, então, verifique o
seu índice de Apgar espiritual.
Se não há sinais de uma nova vida em Cristo, então, você precisa
dobrar os joelhos e implorar a Deus por uma nova vida e “... uma viva
esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3).
77
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Desejando a Palavra de deus
[estudo 9 – 1pedro 2.1-3]
Em seu livro, “Santos no mundo, a visão Puritana da vida cristã”, JI
Packer relata que um pregador Puritano chamado Laurence Chaderton certa
ocasião pediu desculpas à sua Congregação por pregar durante duas horas.
Eles responderam: “Por amor a Deus, senhor, vá em frente, vá em frente!”
Ah! O sonho de todo pregador!
Minha oração é para que Deus em Sua graça utilize esse estudo para
que você deseje ainda mais crescer no conhecimento da Palavra de Deus.
Esse é o ponto do apóstolo Pedro: “desejai ardentemente, como crianças
recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado
crescimento para salvação” (1Pe 2.2).
O cristianismo não é apenas para ser crido, mas também para ser
vivido. No primeiro capítulo de sua epístola, Pedro tratou da realidade do
novo nascimento não por meio da semente corruptível ou temporária, mas
da semente incorruptível ou eterna que é a Palavra de Deus.
Todavia, todo recém-nascido precisa de alimentação. E assim como
um bebê natural necessita de leite, da mesma forma um novo convertido
necessita do leite espiritual, a fim de ser nutrido em Cristo.175 Pedro nos
convida a dar três passos específicos para o crescimento espiritual.
I. É necessário abandonar o pecado
“Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e
invejas e de toda sorte de maledicências” (1Pedro 2.1).
A conjunção “portanto” remete a 1Pe 1.23-25 onde Pedro declarou
que “a palavra do Senhor, permanece eternamente” a “semente
incorruptível”, o evangelho capaz de produzir um novo nascimento. Ou seja,
a Palavra de Deus é a fonte da salvação (2Tm 3.15). Logo, Deus em Sua graça
opera através da Palavra para gerar uma nova vida (Tg 1.18; cf. Jo 20.31; Rm
10.17; 1Co 15.36-37). Por isso, diante da Palavra semeada, todo cristão deve
abandonar as atitudes pecaminosas de sua velha vida e buscar diariamente
ser mais parecido com Cristo.
“Despojando-vos, portanto...” (v. 1) – Tiago compartilha o mesmo
conselho de Pedro quando escreve: “Portanto, despojando-vos de toda
impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós
Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (132–133). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
175
78
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma” (Tg 1.21). O
verdadeiro arrependimento deve sempre começar com o abandono do
pecado. O verbo “despojar” (apotıthēmi, em grego) significa “se livrar de” ou
“lançar fora”.176 Paulo usou a mesma palavra para expressar nossa atitude
em relação às obras das trevas: “Vai alta a noite, e vem chegando o dia.
Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz” (Rm
13.12).
Nas antigas cerimônias de batismo, aqueles que eram batizados
deveriam descartar as roupas que usavam na cerimônia. Após o batismo,
eles colocavam roupas novas que recebiam da igreja. O ato de trocar de
roupa simbolizava a realidade da salvação em abandonar as coisas do
passado e se revestir de uma nova vida (Rm 6.3-7; 2Co 5.17; Ef 4.24).177 O
autor de Hebreus nos encoraja a “desembaraçar de todo peso e do pecado que
tenazmente nos assedia e correr com perseverança, a carreira que nos está
proposta” (Hb 12.1). Assim, um cristão que experimentou o novo nascimento
deve abandonar todos os pecados que atrapalham o seu desejo pela Palavra
de Deus (2Tm 2.4).
Se abandonássemos o pecado, nossa vida seria muito mais completa e
abençoada. O pecado nos priva do melhor de Deus, e ainda assim, muitas
vezes brincamos com o algo extremamente perigoso. Tentamos chegar o
mais perto possível, sem se queimar. Mas o pecado nunca opera sem
consequências.178 O que semeamos, colheremos. “Porque o que semeia para a
sua própria carne da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o
Espírito do Espírito colherá vida eterna” (Gl 6.8).
Pedro lista cinco pecados que devemos nos despojar a fim de
experimentarmos um crescimento espiritual.
Em primeiro lugar, a Maldade – O termo maldade (kakia, em grego)
é uma palavra geral para todo o tipo de malícia (Rm 1.29, 1Co 5.8; Ef 4.31; Cl
3.8; Tt 3.3; Mt 6.34; At 8.22; Tg 1.21).179 Os outros pecados mencionados
nessa lista são decorrentes dessa maldade.
Em segundo lugar, o Dolo – Essa palavra originalmente significava
“isca” ou “armadilha”. Representa um espírito traiçoeiro. Refere-se a alguém
que conta uma mentira a fim de enganar os outros (2.22, 3.10; cf. Mc 7.2223; Jo 1.47; Rm 1.29). Lucas usou o mesmo termo no livro de Atos, quando
escreveu da repreensão de Paulo ao mágico Elimas por ser “cheio de todo o
engano e fraude” (At 13.10).
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (91). Nashville, TN: T. Nelson.
177 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (97).
Chicago: Moody Publishers.
178 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (134). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
179 Wuest, K. S. (1997). Wuest's word studies from the Greek New Testament: For the English
reader (1Pe 2.1). Grand Rapids: Eerdmans.
176
79
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Em terceiro lugar, a “Hipocrisia” – A hipocrisia (hupokrisis, em
grego) significa dissimulação. É utilizar uma máscara para esconder a
verdadeira identidade. Descreve qualquer comportamento que não seja
genuíno ou consistente com o que realmente acredita ou diz que acredita
(Mt 23.28; Mc 12.15; Lc 12.1; Rm 12.9; Gl 2.13; 1Tm 4.2; Tg 3.17).180
No grego clássico, um hipócrita poderia ser um intérprete, orador,
declamador de poesia ou ator. Jesus criticou os hipócritas de serem piedosos
apenas em público (Mt 6.2, 5, 16). Os hipócritas também foram culpados de
criticar as falhas dos outros e ignorar as próprias falhas (Mt 7.1-5). Jesus
muitas vezes chamou os fariseus de hipócritas por causa do conflito entre
suas ações externas e atitudes internas (Mt 15.1-9). Os hipócritas poderia
interpretar o tempo, mas não os sinais dos tempos (Lc 12.56).
Provavelmente, a discussão mais famosa de hipocrisia seja Mateus 23. Onde
os líderes religiosos não praticavam o que pregavam (Mt 23.3). Jesus
comparou-os aos sepulcros caiados que por fora eram impecáveis, mas por
dentro eram sujos (Mt 23.25-28).
Paulo acusou Pedro de hipocrisia por se recusar a comer com os
cristãos gentios em Antioquia (Gl 2.12-13). Paulo advertiu a Timóteo sobre
os falsos mestres hipócritas (1Tm 4.2).
Seis vezes no Novo Testamento, os escritores mostram que a
sinceridade (sem hipocrisia, anupokritos) deve caracterizar o cristão. O
amor cristão (Rm 12.9; 2Co 6.6; 1Pe 1.22), a fé (1Tm 1.5; 2Tm 1.5) e a
sabedoria (Tg 3.17) devem ser sinceros.181
Em quarto lugar, a “Inveja” – Descreve um sentimento avarento de
querer ocupar o lugar do outro. Foi esse o sentimento por trás da
crucificação de Jesus: os líderes religiosos tornaram-se invejosos diante da
popularidade de Cristo (Mc 15.10, Mt 27.18; Rm 1.29; Fp 1.15, Tt 3.3). A
inveja muitas vezes leva a ressentimentos, ódio, amargura e conflitos (cf.
1Co 3.3; 1Tm 6.4; Tg 3.16).
Em quinto lugar, “toda sorte de maledicências” – Por fim, o apóstolo
Pedro menciona a maledicência (katalalia, em grego) que significa calúnia. É
um termo onomatopeico, ou seja, soa como os sussurros ou fofocas por trás
de alguém (2Co 12.20).182 Refere-se, essencialmente, a difamação do caráter
(cf. 2.12, 3.16, Tg 4.11).183 Essa palavra (katalalia, em grego) aparece
somente aqui em 1Pe 2.1 e em 2Coríntios 12.20. O verbo relacionado
180 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (98).
Chicago: Moody Publishers.
181 McWilliams, W. (2003). Hypocrisy. In C. Brand, C. Draper, A. England, S. Bond, E. R.
Clendenen & T. C. Butler (Eds.), Holman Illustrated Bible Dictionary (C. Brand, C. Draper, A.
England, S. Bond, E. R. Clendenen & T. C. Butler, Ed.) (799). Nashville, TN: Holman Bible
Publishers.
182 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (98).
Chicago: Moody Publishers.
183 Vol. 4: Theological dictionary of the New Testament. 1964- (G. Kittel, G. W. Bromiley & G.
Friedrich, Ed.) (electronic ed.) (3–4). Grand Rapids, MI: Eerdmans.
80
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
katalaleō é traduzido como “falar contra” em Tiago 4.11.184 O caluniador diz
coisas boas diante da pessoa, mas o deprecia por trás. Ele sempre fala mal
quando a vítima não está por perto. Você conhece alguém assim?
O desejo do apóstolo Pedro é que os seus leitores jamais se
esquecessem de que o pecado é uma fraude. Ele promete alegria, mas paga
com tristeza. Promete prazer, mas paga com lágrimas. Quando Adão e Eva
foram tentados no Jardim do Éden, Satanás compartilhou mentiras, enganos,
e meias-verdades. Jesus declarou que o Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44).
Entretanto, Deus é a fonte de toda a verdade.185 Ou seja, quanto mais
conhecemos a respeito do Deus verdadeiro revelado em Sua Palavra, mais
parecidos com Cristo nos tornamos. Como resultado, até os nossos
sentimentos serão transformados (Fo 4.8-9).
Você não precisa de anos de terapia para abandonar estas coisas.
Basta obedecer! Tome a decisão de romper com as atitudes e pensamentos
pecaminosos de sua velha vida e viva como um verdadeiro cristão.
Alguém acertadamente declarou: “A Palavra de Deus irá mantê-lo
longe do pecado ou pecado vai mantê-lo longe da Palavra de Deus”. Confesse
seus pecados e os abandone o mais rápido possível! E volte para a Bíblia. Se
você não fizer isso, você não será motivado a se alimentar da Palavra de
Deus que é o segundo passo do crescimento espiritual.
II. É necessário se alimentar da Palavra de Deus
“desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite
espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação”
(1Pedro 2.2).
“desejai ardentemente...” (v. 2) – Pedro queria que seus leitores
desejassem ardentemente a Palavra como um bebê recém-nascido deseja o
leite materno.186 A palavra desejar (epipothēsate) é um verbo imperativo. O
apóstolo Paulo usou a palavra sete vezes (Rm 1.11; 2Co 5.2; 9.14; Fp 1.8;
2.26; 1Ts 3.6; 2Tm 1.4), e em cada caso, ela expressa um intenso desejo, ou
paixão insaciável (cf. Sl 42.1 e 119.174; Tg 4.5).187 Todo cristão precisa e
deve ansiar pelo alimento espiritual que produz crescimento, a Palavra de
Deus.
É interessante notar que ao utilizar a palavra “desejar” na epístola aos
Romanos, o apóstolo Paulo declara: “Porque muito desejo ver-vos...” (Rm
MacArthur, J. F., Jr. (2003). 2 Corinthians. MacArthur New Testament Commentary
(435). Chicago: Moody Publishers.
185 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (134). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
186 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible
Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.)
(844). Wheaton, IL: Victor Books.
187 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (98–99).
Chicago: Moody Publishers.
184
81
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
1.11) e quando escreve ao jovem Timóteo, ele disse: “Lembrado das tuas
lágrimas, estou ansioso por ver-te, para que eu transborde de alegria” (2Tm
1.4).188 Observe que há um sentimento de profunda saudade.
Além disso, é notável que Pedro não ordene aos crentes a ler a
Palavra, estudar a Palavra, meditar na Palavra, ensinar a Palavra, pregar a
Palavra, buscar a Palavra ou memorizar a Palavra. Todas essas coisas são
essenciais, e outras passagens ordenam os crentes a fazerem isso (cf. Js 1.8;
Sl 119.11; At 17.11; 1Tm 4.11, 13; 2Tm 2.15, 4.2). No entanto, Pedro foca no
elemento mais fundamental que os crentes precisam ter antes de exercer
qualquer dessas atividades, um desejo profundo e contínuo pela Palavra da
verdade (cf. 2Ts 2.10b).189 Você sente falta da Palavra de Deus?
É exatamente esse sentimento que os leitores de Pedro deveriam
nutrir em seus corações pela Palavra de Deus. Pedro declara que Palavra de
Deus é pura, racional e nutritiva.
A. A Palavra é pura.
“desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno
leite espiritual...” (v. 2) – A expressão “recém-nascida” (brephos, em grego)
identifica uma criança que acabara de nascer e está chorando
desesperadamente por alimento.190 Sua maior necessidade é o alimento. Ela
é tão frágil, mas a sua fome é grande! De forma semelhante, os crentes
devem desejar a Palavra de Deus. É um desejo singular e implacável, porque
a vida depende disso.
Contudo, Pedro proclama que não é qualquer tipo de alimento que
devemos ansiar. Pelo contrário, ele diz: “o genuíno leite espiritual”. O termo
“genuíno” (adolos, em grego) significa, literalmente, não misturado, não
adulterado.191 É a mesma palavra utilizada no versículo 1 (traduzida por
“dolo”). É um termo oriundo da indústria do vinho do primeiro século. O
vinho era muitas vezes misturado com água, especialmente o vinho mais
velho. Muitas vezes, os comerciantes tentavam vender vinho aguado ou
diluído. Portanto, este termo era usado metaforicamente para aquilo que era
“sem mistura” ou “genuíno”.192
Mas a adulteração não acontece apenas com o vinho. Em 2007,
investigações da Polícia Federal (PF) apontaram um suposto esquema de
adulteração de leite em Minas Gerais nas cooperativas. Segundo a PF, o leite
188 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (134–135). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
189 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (99–100).
Chicago: Moody Publishers.
190 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New
Testament (759). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
191 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (285). Nashville, TN: T. Nelson.
192 Utley, R. J. D. (2000). Vol. Volume 2: The Gospel according to Peter: Mark and I & II Peter.
Study Guide Commentary Series (225). Marshall, Texas: Bible Lessons International.
82
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
adulterado continha água ou soro, soda cáustica, peróxido de hidrogênio,
ácido cítrico, citrato de sódio, sal e açúcar. Este era um leite “adulterado”.
Alimentar um recém-nascido com leite contaminado é assinar o seu
atestado de óbito. O leite contaminado é um veneno capaz de matar mais
rápido do que a fome. Da mesma forma, sem o genuíno leite espiritual, que é
a Palavra de Deus, o crente vai perecer.
O comentarista bíblico Warren Wiersbe acertadamente escreveu: “A
Palavra de Deus tem a vida, dá vida e alimenta a vida. Devemos ter apetite
para a Palavra como bebês recém-nascidos famintos!”193 Davi declarou:
“Consumida está a minha alma por desejar, incessantemente, os teus juízos”
(Sl 119.20). Para Davi a lei se tornou o seu alimento dia e noite (Sl 1.2).
Porém, é muito triste quando os cristãos não têm fome pela Palavra de Deus.
Pedro nos diz para desejar ardentemente o leite genuíno, o leite não
adulterado. Isto é, a Palavra de Deus, sem quaisquer impurezas de erro, e
livre de quaisquer influências humanas.
B. A Palavra é racional.
“desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno
leite espiritual...” (v. 2) – A palavra “espiritual” (logikos) também significa
racional ou o que pertence à razão ou à lógica.194 A outra vez que ela ocorre
na Bíblia é em Romanos, onde Paulo diz que devemos apresentar nossos
corpos como “sacrifício vivo a Deus que é o nosso culto racional” (Rm 12.2).
Assim, o termo é propositadamente ambíguo. Pedro utiliza-o para
mostrar que não está falando sobre o leite materno literalmente, mas sim
sobre o leite espiritual da Palavra viva e permanente de Deus (1.23).195 Este
leite espiritual é racional. A razão humana deve se sujeitar à revelação
escrita de Deus. Ninguém pode conhecer a Deus sem o uso de sua mente,
pois Ele se revela na Palavra escrita.
Esse equilíbrio deveria corrigir muitos dos excessos de nossos dias.
Existem muitos cristãos subjetivos. Eles operam num nível de sentimento,
desprovido de conteúdo teológico sólido. Outros enfatizam conteúdo
teológico, mas têm medo das emoções. A Palavra de Deus deveria encher
nossas mentes com o conhecimento de Deus e mover os nossos corações
com Sua majestade e amor.
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 1.22). Wheaton, IL: Victor
Books.
194 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (509–510). Nashville, TN: T. Nelson.
195 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 122.
193
83
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
C. A Palavra é nutritiva.
“... para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação” (v.
2) – O objetivo do desejo de leite puro espiritual de Deus é o crescimento. É
sempre triste ver um ser humano desnutrido, fraco e em desenvolvimento
demorado. Mas muito mais triste é ver crentes espiritualmente desnutridos
e subdesenvolvidos.196 Todos os crentes devem ser motivados pela
oportunidade de crescer e amadurecer em Cristo.
“... vos seja dado crescimento...” – A palavra “crescimento”
(auxēthēte, em grego) é um verbo passivo, que significa literalmente “fazer
você crescer”.197 O apóstolo Pedro usou o mesmo verbo no fim da sua
segunda carta quando ordenou aos crentes a “crescerem na graça e no
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18; cf. At 20.32;
1Tm 4.6). É pela ingestão da verdade do Espírito Santo que o cristão
amadurece e cresce (cf. 2Co 3.18).
Deus quer que cresçamos na graça e no conhecimento de Jesus Cristo.
E assim deixaremos de ser um bebê espiritual ou crianças levadas de um
lado para outro por qualquer vento de doutrina. Em vez disso, cresceremos
em tudo naquele que é o Cabeça, Cristo (Ef 4.13-16).
A exortação de Pedro a respeito do crescimento na Palavra genuína
lembra a exortação do apóstolo Paulo aos Filipenses:
“Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa
de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa
da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor;
por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como
refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça
própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em
Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o
conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus
sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de
algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que
eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas
prossigo para conquistar aquilo para o que também fui
conquistado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo
havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das
coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de
mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.7-14).
Deus criou o leite materno como alimento ideal para os recémnascidos. Ele tem a capacidade de proteger o bebê de muitas doenças e
nutri-los para o crescimento. De forma semelhante, a Palavra de Deus
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (100).
Chicago: Moody Publishers.
197 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New
Testament (1229). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
196
84
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
protegerá os cristãos de muitas doenças espirituais. O leite materno vai
fazer o bebê crescer durante meses sem qualquer outro alimento. Já a
Palavra de Deus alimenta os cristãos para que “cresçam para a salvação”
(2.2). A salvação aqui significa o último capítulo da vida cristã, que inclui
tudo o que Deus tem proporcionado para seus filhos. Nós nunca chegaremos
a um lugar nesta vida onde podemos deixar de crescer.
Enquanto Pedro fala sobre o crescimento, ele também fala sobre
degustação. Antes de desejar profundamente o leite espiritual, Pedro mostra
que a degustação precede o desejo (v. 3).
III. É necessário provar do Deus da Palavra
“se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso” (1Pedro
2.3)
A motivação para desejar a Palavra de Deus ecoa das palavras do
salmista, “Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom” (Sl 34.8). O Salmo 34 deve
ter sido o favorito de Pedro - ele cita novamente em 3.10-12. Além disso, o
tema do Salmo 34 é aproximadamente o mesmo que o de 1Pedro: “Busquei o
SENHOR, e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores” (Sl 34.4) e
“Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra” (Sl 34.19).
“se é que já tendes a experiência...” (v. 3) – A palavra “experiência”
(geuomai, em grego) significa provar, traz a ideia de provar uma comida.198
Pedro se refere especialmente à bondade do Senhor ou a graça que foi
mostrada aos seus leitores. Em outras palavras, se você conhece a Cristo e
tem certeza de sua salvação, você experimentou da bondade do Senhor,
porque você sabe que merecia julgamento, mas Deus lhe mostrou
misericórdia (Rm 5.8).
Os crentes devem regularmente estudar as bênçãos de sua salvação,
lembrando-se das muitas vezes em que Deus respondeu suas orações (cf. Sl
40.1; 116.1; 138.3; Jr 33.3; Mt 7.7; Jo 15.7; 1Jo 5.14-15). O profeta Jeremias
escreveu: “Achadas as tuas palavras, logo as comi; as tuas palavras me foram
gozo e alegria para o coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó SENHOR,
Deus dos Exércitos” (Jr 15.16).199
Como o salmista todos devem afirmar, “Puríssima é a tua palavra;
por isso, o teu servo a estima. Pequeno sou e desprezado; contudo, não me
esqueço dos teus preceitos. A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria
verdade” (Sl 119.140-142).
MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 123.
199 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (101).
Chicago: Moody Publishers.
198
85
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Conta-se a história sobre um pai que teve que fazer uma viagem até a
cidade para comprar provisões para sua família. Antes de sair em viagem,
ele disse a seu filho para limpar o canal que conduzia água ao poço da casa.
O filho começou a fazer a tarefa todos os dias, mas depois ficou
cansativo para ele; assim, ele parou de ir ao canal e limpar os detritos que se
acumulavam lá. No dia seguinte, a mãe percebeu que a água já não estava
fluindo de maneira correta em casa.
Quando o pai chegou de viagem, uma das primeiras coisas que a mãe
lhe disse foi que a água já não estava fluindo corretamente. O pai chamou o
filho e perguntou se ele havia limpado o canal que conduzia água ao poço a
cada dia. O filho confessou que havia deixado de fazer a tarefa. Juntos, pai e
filho foram até o canal e limparam os escombros. Mais uma vez a água da
montanha fluiu perfeitamente até a cisterna da casa.
Assim é a nossa vida. Às vezes permitimos que os detritos se
acumulem em nosso relacionamento com o nosso Deus. Precisamos limpar
os escombros para que as águas vivificantes de Deus possam fornecer o
alimento espiritual a sua necessidade!
Conclusão:
As pessoas usam a Bíblia de formas estranhas. Você provavelmente
conhece a história do sujeito que sentia que precisava de alguma orientação
da Bíblia, então, ele fechou os olhos e abriu a Bíblia ao acaso e colocou o
dedo sobre um versículo: “Judas retirou-se e foi enforcar-se” (Mt 27.5). Ele
pensou: “Isso não pode ser a vontade de Deus para mim”, então ele tentou
novamente: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 10.37). Ele sabia que havia
algum engano, então tentou mais uma vez: “O que pretendes fazer, faze-o
depressa” (Jo 13.27). Pode ser perigoso usar a Bíblia de forma errada!
Podemos até rir desta história, todavia, não podemos rir da nossa
própria situação. Vivemos uma época de muitos compromissos e sem tempo
para nada. Com frequência invertemos os valores e trocamos o urgente pelo
que realmente importa. Quando deixamos de alimentar nossa alma com o
leite espiritual, tornamo-nos fracos e debilitados para a obra. Perdemos o
desejo pelas coisas de Deus. A igreja se torna sem graça e a vida secular
parece mais agradável. Quando não temos tempo para a Palavra de Deus
estamos apenas reafirmando que Deus não é prioridade em nossa vida. Por
isso, para o bem da sua alma, leia a Bíblia Sagrada! Você já percebeu que
conseguimos arrumar tempo para tudo àquilo que é prioridade para nós?
Uma vez um jovem estudante de violino, aluno de um renomado
mestre, experimentou a alegria de participar do primeiro recital. No final de
cada apresentação, a multidão aplaudia, mas o jovem artista parecia
insatisfeito. Mesmo após o último ato, apesar dos aplausos, o músico parecia
86
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
infeliz. Porém, ao levantar o arco percebeu que um homem idoso estava na
galeria do teatro assistindo a tudo. Por fim, o idoso sorriu e acenou com a
cabeça em aprovação. Imediatamente, o jovem sorriu com alegria. Ele não
estava olhando para a aprovação da multidão. Ele estava esperando a
aprovação do seu mestre.
Os cristãos devem viver para a aprovação de Deus. Seremos
aprovados na maneira como crescemos no conhecimento da Palavra de Deus
e na santidade. Você tem sido descuidado no uso da Palavra genuína de
Deus? O mau uso da Bíblia conduz à ruína, mas o bom uso leva à piedade.
Você ama a Palavra de Deus?
87
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
As prioridades do povo de deus
[estudo 10 – 1pedro 2.4-10]
Na correria da vida moderna, é muito fácil inverter nossas
prioridades. Sob pressão, tendemos a focar no urgente, ao invés do que é
realmente importante. Por isso é bom ser lembrado ocasionalmente de
nossas prioridades, como povo de Deus.
Os crentes a quem Pedro escreveu estavam sob pressão. Como vimos,
eles estavam dispersos devido à perseguição e viviam como estrangeiros em
um mundo pagão (1.1). Eles corriam um risco muito grande de perder de
vista suas prioridades como povo de Deus. Assim, o apóstolo Pedro relembra
aos seus leitores de suas prioridades diante do Senhor: nossa salvação deve
ser vivida por ser construída sobre Cristo, em Comunidade cristã e como
testemunho ao mundo:
I. O Senhor é a nossa prioridade
“Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos
homens, mas para com Deus eleita e preciosa” (1Pedro 2.4).
Nosso relacionamento com Deus deve estar no centro de tudo que
fazemos, tanto individualmente quanto coletivamente. Deus conhece o nosso
coração, nada escapa ao Seu olhar perscrutador. Ele não se impressiona com
nosso trabalho. Ele conhece nosso coração.
Quando o Senhor reprendeu a igreja de Éfeso em Apocalipse, é
interessante observar que, antes da repreensão, o Senhor elogiou a igreja
pelo seu trabalho, sua perseverança e atitude em manter-se firme
doutrinariamente quanto ao ensino dos nicolaítas.200 Todavia, o Senhor
repreendeu a igreja dizendo: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu
primeiro amor” (Ef 2.4).
Apesar de todos os elogios, o olhar penetrante e onisciente do Senhor
Jesus Cristo tinha visto uma falha fatal na igreja de Éfeso. Apesar de terem
mantido a ortodoxia, a adoração havia se degenerado em uma ortodoxia
mecânica. Apesar da sua robusta aparência externa, uma doença mortal
cresceu no coração da igreja de Éfeso.
Nosso trabalho deve ser o reflexo de nossa adoração. O Senhor deve
ser a nossa prioridade. Pedro nos apresenta duas lições importantes:
Os Nicolaítas, também mencionados na carta a Pérgamo (2.12-15), eram seguidores de
uma seita que perturbavam as igrejas de Éfeso e de Pérgamo. Comiam alimentos
sacrificados a ídolos e entregavam-se aos prazeres carnais (Ap 2.6-15).
200
88
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
A. Devemos buscá-Lo repetidamente.
“Chegando-vos para ele...” (v. 4) – O segredo do crescimento
espiritual é uma comunhão intensa com o Senhor Jesus. Na conversão nos
aproximamos do Senhor. Porém, não é essa aproximação que Pedro está
tratando aqui. Na verdade, a palavra “chegar” (proserchomai, em grego)
significa “ir e ver de perto”.201 É relevante destacar que o verbo “chegar” em
grego está no particípio presente do indicativo. Isso significa que devemos
nos achegar a Cristo repetidamente. É um ato de fé que acontece não apenas
uma vez, mas continuamente.202 Não se refere à nossa conversão, mas a
nossa diária comunhão com Ele.
“... a pedra que vive” (v. 4) – Pedro utiliza um paradoxo. Uma pedra
não tem vida. Mas isso nada mais é do que uma metáfora sobre o trabalho
daquele que sustenta a igreja, Jesus. Nas Escrituras o termo “pedra” (lithos,
em grego) às vezes se refere a uma pedra preciosa esculpida, mas
geralmente significa “pedra de construção”. O Antigo Testamento designa
Deus como a única rocha (Dt 32.3-4, 31), a fundação e a força do Seu povo.
No Novo Testamento, Jesus Cristo é a pedra (2.8; 1Co 10.4) e a pedra sobre a
qual a igreja descansa. Aqui imagem de Pedro é de uma pedra que foi
perfeitamente trabalhada para se tornar a pedra angular da Igreja, não
apenas uma pedra, mas uma pedra viva.203
A “Pedra viva” é Cristo, porque Ele vive para sempre, depois de ter
ressuscitado dos mortos (Rm 6.9). Não somente Ele está vivo, mas Ele
também dá a vida a todos os que confiam nEle (cf. 1.3, 23; Jo 5.21, 25; 6.5153, 1Co 15.45, Cl 2.13, 1Jo 4.9; 5.11-13).
Uma vez que você confiou em Cristo como Salvador, a vida cristã é um
processo de descobrir tudo o que Ele é para você. Como Pedro diz: “Visto
como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos
chamou para a sua própria glória e virtude” (2Pe 1.3). Nossa maior
necessidade na vida é crescer no conhecimento do Filho de Deus (Fp 3.10).
É importante destacar que Cristo, e não Pedro, é a pedra sobre a qual
a igreja é edificada. Somente Jesus Cristo é a pedra fundamental sobre a qual
a igreja foi construída. Os profetas do Antigo Testamento proclamaram
sobre isso (Sl 118.22; Is 28.16). Jesus mesmo declarou essa verdade (Mt
21.42), e assim o fez Pedro e os outros apóstolos (At 4.10-12). Paulo também
declarou que o fundamento da igreja é Jesus Cristo (1Co 3.11). Assim, este
fundamento foi estabelecido pelos apóstolos e profetas quando pregaram
Cristo aos perdidos (1Co 2.1-2; 3.11; Ef 2.20).
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (108). Nashville, TN: T. Nelson.
202 KISTEMAKER, Simon. Epístolas de Pedro e Judas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006,
p. 11.
203 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (104–105).
Chicago: Moody Publishers.
201
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Assim, se o Senhor não estiver no centro de sua vida, suas prioridades
estão erradas. Estamos construindo um trabalho na areia. Cristo foi a
escolha preciosa aos olhos de Deus (v. 4c). Ele deve ser a escolha preciosa
em nossa vida também.
B. Devemos adorá-Lo repetidamente.
“também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa
espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo” (1Pedro
2.5).
“também vós mesmos, como pedras que vivem...” (v. 5) – Ser
“pedras vivas” significa que os crentes têm a vida eterna de Cristo. Se Cristo
é a pedra que vive, os que estão nEle são como pedras que vivem. Eles estão
unidos com Ele, que é o seu primeiro privilégio espiritual.204 Ele é a pedra
angular e os cristãos se tornam participantes da natureza divina (Cl 3.3-4; cf.
Gl 2.20; Ef 2.19-22; 1Co 3.9).
“... sois edificados casa espiritual” (v. 5) – O objetivo desta “casa
espiritual” é tornar-se o lugar da habitação de Deus pelo Seu Espírito (Ef
2.22). No Antigo Testamento, a glória de Deus estava no templo, o que
representava a sua presença com o povo. Hoje, Deus habita em seu novo
templo que é construído não a partir de matérias inanimadas, mas de
crentes vivos. O Espírito Santo habita em cada crente (Jo 14.17; Rm 5.5; 8.9,
11; 1Co 2.12; Gl 3.2; 4.6, 1Jo 3.24; 4.13), que é, portanto, um “templo” (1Co
6.19).
As práticas de construção do primeiro século, muitas vezes incluíam o
corte de novas pedras de pedreiras frescas, em seguida, encaixavam as
pedras recém-colhidas perfeitamente no lugar. Mas uma maneira mais
rápida e menos dispendiosa de coleta de materiais era usar pedras de
prédios antigos ou derrubados, lapidando-as para o formato apropriado e
encaixando-as em novos edifícios. Na verdade, muitas vezes os arqueólogos
descobrem edifícios que incorporaram muitas pedras de séculos anteriores.
Isso se aplica perfeitamente a vida espiritual. Se as pedras vêm de
novas pedreiras (crentes gentios) ou de edifícios antigos (crentes judeus),
ambos requerem algum corte e lapidação para se encaixar em uma estrutura
unificada e estável (1Co 3.16-17; 2Co 6.16; cf. Ef 2.20 -22). 205
Inácio, pastor de Antioquia, martirizado no início do segundo século
por sua fé inabalável em Cristo, escreveu para a igreja de Éfeso por volta do
ano 110: “Vocês são pedras de um templo, preparados de antemão para a
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (106).
Chicago: Moody Publishers.
205 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (170). Grand Rapids, MI: Zondervan.
204
90
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
construção de Deus Pai, içados até as alturas pelo guindaste de Jesus Cristo,
que é a cruz, usando como corda o Espírito Santo” (Inácio, Aos efésios 9).206
Assim, existe uma unidade no meio do povo de Deus que transcende
todos os grupos e congregações locais.207 Ao usar o templo como uma
metáfora para a igreja, com suas pedras individuais como membros, Pedro
enfatiza também a unidade do corpo de Cristo e da presença sobrenatural do
Espírito Santo como crentes reunidos para adoração e comunhão com Deus.
Em 1Reis, está registrado que o grande templo de Salomão foi
construído “... Com pedras já preparadas nas pedreiras, de maneira que nem
martelo, nem machado, nem instrumento algum de ferro se ouviu na casa
quando a edificavam” (1Rs 6.7). Nenhum edifício na história jamais foi
construído dessa forma. Sua construção foi quase silenciosa, tão santo era
considerado o trabalho. Silenciosamente as pedras eram transferidas e
adicionadas ao templo.
As pedras eram retiradas da pedreira, moldadas e levadas ao local de
construção e, em seguida, colocadas lado a lado com outras (1Reis 6.7). É
uma imagem do Senhor encaixando todos os cristãos, uns com os outros, de
modo que cada pedra representa uma parte vital. Pedras individuais não
têm muito valor, mas quando elas se encaixam, toda a estrutura torna-se um
belo e funcional lugar onde Deus é adorado. A implicação é que só em
relacionamentos estreitos que Deus nos usa para o propósito de Sua glória.
Para fazer isso, Ele muitas vezes tem que lapidar a nossa vida, retirar as
bordas ásperas, que é um processo doloroso! Muitas vezes através de
conflitos na igreja que nós aprendemos que temos de crescer e mudar. Se
nos submetemos ao processo, o resultado final valerá à pena!
De forma semelhante, acontece com a igreja. Nós não ouvimos o que
está acontecendo dentro das mentes e corações, como e quando Deus cria
uma nova vida e a encaixa no templo que Ele está construindo. Ele adicionou
Lucas, Lidia, Filemom, Onésimo e os crentes em Éfeso, e outras cidades
gregas e romanas. Mais tarde acrescentou os chamamos pais da igreja
primitiva, e aqueles a quem ministravam.208 Na época da Reforma,
acrescentou Lutero e Calvino, Zwinglio, John Knox e muitos outros. Ele ainda
está adicionando “pedras vivas” ao seu templo hoje. Louvado seja Deus!
“... a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus...”
(v. 5) – Além de “pedras vivas” e “casa espiritual” somos sacerdotes santos
que oferecem a Deus sacrifícios espirituais. Este é o texto central na grande
doutrina do sacerdócio de todos os crentes. Não há tal coisa como um
sacerdócio cristão de apenas uns poucos que são ordenados para o
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (170). Grand Rapids, MI: Zondervan.
207 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.4). Wheaton, IL: Victor
Books.
208 Boice, J. M. (1988). Ephesians : An expositional commentary (93). Grand Rapids, Mich.:
Ministry Resources Library.
206
91
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
ministério. Todo cristão é um sacerdote e possui livre acesso à presença de
Deus (Hb 4.13-16).
No Antigo Testamento, somente os sacerdotes podiam estar perto de
Deus, oferecendo sacrifícios e incenso em seu altar. Apenas o Sumo
Sacerdote, uma vez por ano, podia entrar no Santo dos Santos para fazer
expiação para o povo. Na Antiga Aliança, a principal função dos sacerdotes
era oferecer sacrifícios a Deus (Êx 29.10-19; 2Cr 35.11). Mas quando Cristo
inaugurou a Nova Aliança, os sacrifícios de animais não foram mais
necessários (Hb 8.13; 9.11-15; 10.1-18).209 Agora, de acordo com o apóstolo
Pedro, devemos oferecer a Deus sacrifícios espirituais.
Mas o que isso significa? Conforme pastor e comentarista bíblico John
MacArthur esses “sacrifícios espirituais” podem ser resumidos em sete
áreas, observe: Devemos oferecer toda a energia do corpo a Deus (Rm 12.12). Louvar a Deus (Hb 13.15). Fazer o bem (Hb 13.16). Compartilhar os
próprios recursos (Hb 13.16). Levar as pessoas a Cristo (Rm 15.16).
Sacrificar os próprios desejos pelo bem de outros (Ef 5.2) e Orar (Ap 8.3).210
“... sacrifícios espirituais agradáveis...” (v. 5) – A palavra “agradável”
(euprosdektos, em grego) significa “favorável”. Contudo, pressupõe que
existem sacrifícios não “agradáveis” como o sacrifício de Caim (Gn 4.5; Hb
11.4). Além disso, várias passagens do Antigo Testamento mostram Deus
rejeitando o sacrifício do povo (Is 1.10-17; Jr 6.20; Os 6.6).211
“... por intermédio de Jesus Cristo” (v. 5) – Pedro destaca que esses
sacrifícios devem ser oferecidos a Deus por intermédio de Jesus Cristo. No
período do Antigo Testamento, o povo tinha um sacerdócio, mas hoje, o povo
de Deus é um sacerdócio.212 Ao morrer na Cruz, Jesus ofereceu o sacrifício
perfeito. Verteu Seu próprio sangue. O véu do santuário foi rasgado de alto
abaixo (Mt 27.51). Agora somos constituídos sacerdotes e temos livre acesso
à presença de Deus.213 Cada crente tem o privilégio de entrar na presença de
Deus (Hb 10.19-25). Nós não chegamos a Deus através de qualquer pessoa
na terra, mas somente através do único Mediador, Jesus Cristo (1Tm 2.1-8).
Porque Ele está vivo na glória, intercedendo por nós, podemos ministrar
como sacerdotes santos.
209 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (107–108).
Chicago: Moody Publishers.
210 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (114–119).
Chicago: Moody Publishers.
211 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 129.
212 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.5). Wheaton, IL: Victor
Books.
213
LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 71.
92
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
II. Temos que ser edificados em unidade
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”
(1Pedro 2.9).
Além de serem pedras vivas, o apóstolo Pedro declara que também
somos membros de uma “raça eleita”, cidadãos de uma “nação santa”, um
povo de “propriedade exclusiva de Deus” (v. 9). Como membros da família
de Deus, a igreja de Cristo, desfrutamos de uma maravilhosa salvação e
recebemos uma missão especial no mundo.
A. Recebemos uma nova identidade.
Todos os termos utilizados por Pedro foram retirados do Antigo
Testamento: A raça eleita (Is 43.20), o sacerdócio real (Êx 19.6), um nação
santa (Êx 19.6); povo de propriedade exclusiva de Deus (Êx 19.5).
1. Somos um povo escolhido. “Vós, porém, sois raça eleita...” (v. 9)
– Assim como Deus chamou o povo de Israel para ser uma nação exclusiva,
com um propósito especial entre os reinos pagãos, a igreja também foi
chamada para ser uma testemunha única de Jesus Cristo no meio de um
mundo perverso.214 Isso é graça! Deus não escolheu Israel porque eles eram
um grande povo, mas porque Ele os amava (Dt 7.6-9). Da mesma forma,
Deus nos escolheu puramente por causa de Seu amor e graça. “Não fostes vós
que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros” (Jo
15.16; Jo 15.16; At 13.48; Rm 9.13-16; 11.5; 1Co 1.9; Ef 1.3-5; 1Ts 1.4; 2Ts
2.13-14; 2Tm 1.9; 2.10; Ap 13.8; 17.8; 20.15).
2. Somos um sacerdote real. “Vós, porém, sois... sacerdócio real...”
(v. 9) – O conceito de um sacerdócio real vem do livro de Êxodo, onde Deus
através de Moisés disse a Israel: “Vós sereis para mim um reino de sacerdotes
e uma nação santa” (Êx 19.6). Lamentavelmente, Israel negligenciou seu
privilégio sacerdotal por causa de sua apostasia e a rejeição do Messias (cf.
Jo 12.37-48, Rm 10.16-21; 11.7-10; Hb 3.16-19).215 Mas todos aqueles que
creem em Jesus como Messias e confiam nEle para a salvação recebem o
privilégio de se tornarem sacerdotes reais (Ap 5.10).
3. Somos cidadãos de uma nação santa. “Vós, porém, sois... nação
santa...” (v. 9) – Desde o início de sua primeira epístola, Pedro tem
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.9). Wheaton, IL: Victor
Books.
215 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (125).
Chicago: Moody Publishers.
214
93
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
lembrado aos seus leitores que eles são cidadãos de uma nação santa. Ele se
refere aos cristãos como “peregrinos” [estranhos, estrangeiros] espalhados
por todo o mundo (1.1).216
Fomos separados para pertencer exclusivamente a Deus. A nossa
cidadania está no céu (Fp 3.20), de modo que devemos obedecer às leis do
céu e procurar agradar o Senhor do céu. Israel se esqueceu de que era uma
nação santa. Deus havia ordenado que era necessário uma “diferença entre o
santo e o profano e entre o imundo e o limpo” (Lv 10.10), mas eles ignoraram
as diferenças e desobedeceram a Deus.217
John MacArthur estava certo quando escreveu: “A santificação
envolve dois aspectos importantes: a posição dos cristãos diante de Deus e
seu desenvolvimento em santidade”. É por isso que no início de sua carta,
Pedro declarou que seus leitores são santos (1.1-2), mas em seguida, ele os
exortou a serem santos (1.16).218 Ou seja, no aspecto posicional de
santificação, Deus reconhece os crentes como separados da penalidade do
pecado, mas no aspecto progressivo e prático da santificação, através do
Espírito Santo, os crentes precisam desenvolver sua posição (Rm 6.4; 8.1-2;
Gl 5.16-23; Ef 4.20-24; Fp 2.12-13; 1Ts 4.3).
4. Somos a propriedade de Deus. “Vós, porém, sois... povo de
propriedade exclusiva de Deus” (v. 9-10) – Ao longo da história, Deus tem
tomado para Si o Seu próprio povo. No Sinai, Deus prometeu aos israelitas:
“Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis por
minha propriedade peculiar dentre todos os povos” (Êx 19.5; cf. Dt 7.6-7; 14,
26.18; Ml 3.17).
Paulo compartilha este fato em Romanos, quando ele cita o profeta
Oséias: “Chamarei povo meu ao que não era meu povo...” (Rm 9.25; Os 2.23).
E, no verso seguinte, ele diz: “Vós não sois meu povo, ali mesmo serão
chamados filhos do Deus vivo” (Rm 8.26; Os 1.10). Paulo compartilha também
a mesma verdade em 2Coríntios 6.16-17 quando ele cita Levítico 26.12,
Jeremias 32.38, 37.27 e Ezequiel. Além disso, o autor de Hebreus apresenta o
fato maravilhoso de que aqueles que não eram o povo de Deus na Antigo
Aliança tornaram-se o povo de Deus através da Nova Aliança (Hb 8.7-13; Jr
31.31-34).
Pense em quanto o valor de alguma coisa comum passa a ter quando
permanece nas mãos de alguém extraordinário. Um dicionário torna-se mais
valioso se fosse o dicionário de Abraham Lincoln. Da mesma forma, um
Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (142). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
217 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.9). Wheaton, IL: Victor
Books.
218 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (129).
Chicago: Moody Publishers.
216
94
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
homem ou uma mulher comum ganha um tipo diferente de significado
quando se torna propriedade do Deus Todo-Poderoso (2.10).219
A palavra “propriedade” (peripoiēsis, em grego) significa “comprar”,
“adquirir por um preço” (cf. Ef 1.14). Os crentes pertencem a Deus porque
foram comprados por alto preço (1.18-19; cf. 1Co 6.20; 7.23; Hb 13.12, Ap
5.9; Tt 2.13-14; cf. At 20.28, 1Co 6.20).
Em resumo, somos uma geração eleita, sacerdócio real, nação santa e
povo de propriedade exclusiva de Deus. Como o apóstolo Paulo escreveu:
“logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora,
tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se
entregou por mim” (Gl 2.20).
III. Devemos proclamar as excelências de Deus
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”
(1Pedro 2.9).
“vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus,
que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes
misericórdia” (1Pedro 2.10).
Depois de tratar dos privilégios da igreja, o apóstolo expõe a missão
da igreja. Deus nos chamou para fora do mundo como Seu povo, para que
possamos voltar ao mundo e proclamar as virtudes daquele que nos chamou
das trevas para a sua maravilhosa luz (2.9). Encontramos aqui dois pontos
importantes:
Em primeiro lugar, a missão. “... a fim de proclamardes as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (v. 9) –
Proclamar (exangeilēte, em grego) é uma palavra grega que aparece somente
aqui no Novo Testamento. Significa “publicar” ou “propagar”. Pedro encoraja
os crentes a divulgar as virtudes de Cristo, o Salvador. A palavra “virtude”
(aretas, em grego) refere-se aos atributos ou qualidades.220 Isto é, os cristãos
têm o privilégio de dizer ao mundo que Cristo tem o poder de realizar o
extraordinário trabalho da redenção (At 1.8; 2.22, 4.20, 5.31-32; Ap 15.3; cf.
Sl 66.3, 5, 16; 71.17; 73.28; 77.12, 14; 104.24; 107.22; 111.6-7; 118.17,
119.46; 145.4; Jo 5.36, 10.25).
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (172). Grand Rapids, MI: Zondervan.
220 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (133–134).
Chicago: Moody Publishers.
219
95
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Em segundo lugar, a motivação. “vós, sim, que, antes, não éreis
povo, mas, agora, sois povo de Deus...” (v. 10) – Pedro faz aqui um forte
contraste entre o passado dos cristãos e o presente.221 O que Deus fez por
nós deve ser uma forte motivação para cumprirmos com zelo, fidelidade e
urgência a missão que nos confiou. Estávamos perdidos, sem esperança no
mundo, entregues à nossa própria desventura, mas agora Deus derramou
copiosamente sobre nós Sua misericórdia.
Os crentes-sacerdotes devem viver de modo que as qualidades de seu
Pai Celestial sejam evidentes em suas vidas.222 A igreja não pode se esquecer
de sua missão: adorar a Deus e proclamar a mensagem do reino. Somos
embaixadores do Rei dos reis. Somos pescadores de homens. Nossa missão é
proclamar ao mundo o que Cristo fez por nós.
Há um provérbio africano que se aplica muito bem a nossa
responsabilidade, “há somente um crime pior do que um assassinato no
deserto é saber onde água está e não dizer”. Quem conhece a Jesus sabe
onde a água viva está.
Poucas imagens expressam mais vividamente a transformação da
chamada salvadora de Deus. Uma vez que estávamos trevas, agora somos luz
no Senhor, chamados a caminhar na luz de Jesus Cristo, a luz do mundo (Ef
5.8; 1Ts 5.5; Jo 8.12).
Conclusão:
Gostaria de pedir a você para examinar suas prioridades.
Primeiro e acima de tudo, você realmente acredita em Cristo como
Salvador e Senhor? Sua morte na cruz é preciosa para você? Se assim for, Ele
é o centro da sua vida? Você tem oferecido sua vida como sacrifício
espiritual a Ele?
Segundo, você está procurando edificar seus irmãos na fé ou
simplesmente, tem frequentado a igreja para assistir aos cultos?
Em terceiro lugar, você tem procurado proclamar as virtudes daquele
que o libertou das trevas para Sua maravilhosa luz? Você tem vivido como
sal da terra e luz do mundo?
O grande compositor, Giacomo Puccini, cujas óperas são
mundialmente conhecidas, foi acometido de câncer em 1922. Porém, ele
estava determinado a escrever sua última ópera, “Turandot”, que alguns
consideram a melhor. Seus alunos imploraram para que ele parasse e
descansasse, a fim de recuperar suas forças, mas ele persistiu, e declarou:
“Se eu não terminar a ópera, meus alunos vão terminá-la”.
221
LOPES, Hernandes Dias. 1Pedro. São Paulo: Editora Hagnos, 2012, p. 76.
Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible
Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.)
(846). Wheaton, IL: Victor Books.
222
96
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Em 1924, Puccini foi levado para Bruxelas, para ser operado. Ele
morreu dois dias depois da cirurgia. Mas seus alunos conseguiram concluir o
seu último trabalho. Em 1926, a estreia de gala foi realizada em Milão sob o
batuta do aluno favorito de Puccini, Arturo Toscanini. Tudo ocorreu
brilhantemente até que eles chegaram ao ponto da ópera onde o mestre
havia sido forçado a deixar sua batuta. Toscanini, com o rosto em lágrimas,
parou a orquestra, deixou a batuta, virou-se para a plateia e gritou: “Até
aqui, o mestre escreveu, mas ele morreu!”
Depois de alguns segundos, com um sorriso no rosto, Toscanini pegou
o batuta e gritou: “Mas os seus discípulos terminaram o seu trabalho!”
Nosso Mestre morreu, ressuscitou dentre os mortos e ascendeu ao o
Pai, deixando-nos a tarefa mais importante do mundo: terminar Sua obra,
para proclamar a Sua salvação grande entre as nações.
97
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Uma vida cristã exemplar
[estudo 11 – 1pedro 2.11-12]
Após apresentar nossa identidade: “... raça eleita, sacerdócio real,
nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus...” (1Pe 2.9), o apóstolo
Pedro declara nossa responsabilidade, a maneira como devemos viver
diante de tão grande privilégio.
O apóstolo começa dizendo que somos “peregrinos e forasteiros”. Isso
significa que não pertencemos a este mundo. Nossa verdadeira pátria não
está aqui. Ou seja, o cristão deve viver de tal forma que suas atitudes sejam
diferentes das ações de sua cultura.223 O pregador escocês Alexander
MacLaren, com inteireza, comentou: “O mundo tem suas noções de Deus,
acima de tudo, das pessoas que dizem pertencer à família de Deus. Eles nos
leem muito mais do que leem a Bíblia. Eles nos veem, pois só ouvem falar de
Jesus Cristo”.224
No Sermão do Monte, Jesus disse a todos que desejavam segui-Lo:
“Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas
boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16). Essa é a
essência do que Pedro trata nesta passagem.225 Os destinatários do apóstolo
Pedro precisavam de motivação e orientação para perseverar no
evangelismo mesmo em meio as mais intensas provações. Assim, Pedro
exorta aos seus leitores a fortalecer seu testemunho com dois aspectos
cruciais da vida cristã: santidade na vida particular e santidade na vida
pública.
I. Santidade na vida particular
“Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos
absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma”
(1Pedro 2.11).
Pedro começa sua exortação abordando seus leitores como “amados”.
Ou seja, como objetos do amor incomensurável de Deus, eles deveriam
obedecer Àquele que os amava (1Pe 2.9-11). Com base nisso, ele pode
suplicar “exorto-vos” (parakaleo, em grego), um termo que é utilizado para
um “chamado” que se destina a produzir um efeito particular, portanto, com
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (173). Grand Rapids, MI: Zondervan.
224 Alexander MacLaren. First and Second Peter and First John [New York: Eaton and Maines,
1910], 105
225 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (137).
Chicago: Moody Publishers.
223
98
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
vários significados, tais como “confortar, desejar, pedir”, além de “rogar” ou
“incentivar” (Rm 12.1). O grande amor de Deus é o motivo que nos permite
suportar as dificuldades deste mundo, pois vivemos como peregrinos.
Não apenas somos filhos amados de Deus, mas somos também
“peregrinos e forasteiros” neste mundo. “Peregrino” e “Forasteiro” são
usados como sinônimos. Eles apontam para alguém que é um residente
temporário ou viajante em um país estrangeiro, percorrendo o caminho para
o seu país de origem, tal como os patriarcas em direção à cidade celestial
(Hb 11.8-16). Paulo escreveu: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde
também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Como
estrangeiros, os crentes devem evitar as coisas deste mundo (1Jo 2.15-17;
Mc 4.19; Jo 12.25, 15.19; Rm 12.2; Cl 2.8, 20; Tg 1.27; 1Jo 5.4).
Se existe algo que tem influenciado a mudança do pensamento dos
crentes como “estrangeiros” é a medicina moderna. Devemos ser gratos pelo
avanço da medicina. Mas, ao mesmo tempo, o bom tratamento médico
removeu a dura realidade da morte de uma maneira que não era verdade em
épocas anteriores. Mesmo na virada do século, era muito raro a família que
não perdesse pelo menos um filho. O teólogo puritano John Owen (16161683) perdeu dez dos seus onze filhos antes de atingirem à idade adulta.
Em face da morte, ninguém fica tão focado nesta vida, ao contrário, a
pessoa vive mais consciente à luz do céu. Howard Hendricks acertadamente
declarou: “A maioria das pessoas pensa que está na terra dos viventes, em
direção à terra dos mortos. Mas a verdade é que estamos na terra dos
mortos, indo em direção à terra dos viventes”. Nossa casa está no céu!
“... a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a
alma” (v. 11) – Uma vez que os cristãos não fazem parte do mundo, eles
devem abster-se das concupiscências da carne (cf. Rm 8.5-9, 12-13; 13.14; Gl
5.13, 16-17).
O que são “paixões carnais”? O apóstolo Paulo advertiu aos gálatas:
“Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia,
idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões,
facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito
das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o
reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gl 5.19–21). Não é a toa que Pedro
diz que devemos nos “abster” de tais desejos.
A ordem para abster-se significa que, os santos, que possuem a
habitação do Espírito devem lutar contra os desejos da carne, mesmo em
uma cultura pós-moderna dominada pela sensualidade, imoralidade e
relativismo moral.226 Essa luta contra os desejos carnais é vitalícia, ao ceder,
o crente é levado à destruição.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (137–138).
Chicago: Moody Publishers.
226
99
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“... que fazem guerra contra a alma” (v. 11) – É importante observar
que a batalha contra o pecado é travada na alma (psuche, em grego). Se você
puder ganhar a guerra contra o pecado em seus pensamentos, você vai
ganhar em seu comportamento. Todo pecado começa na mente e deve ser
derrotado lá. Devemos aprender a levar cativo todo pensamento à
obediência de Cristo (2Co 10.5). O pecado sempre começa com pequenas
concessões.
O que Pedro está dizendo é que a nossa verdadeira batalha não é
contra as pessoas ao nosso redor, mas contra as paixões dentro de nós. O
grande pregador americano DL Moody, acertadamente declarou: “Eu tenho
mais problemas com DL Moody do que com qualquer outro homem que eu
conheço”.227 Quando um crente cede aos desejos da carne, ele começa a viver
como os perdidos ao seu redor, e se torna uma testemunha ineficaz.
Não se engane: andar com Deus há anos não elimina a necessidade de
fazer guerra contra o pecado. É significativo que muitos dos gigantes de
Deus que caíram em pecado, tropeçaram depois de anos de caminhada. Noé
ficou bêbado e foi exposto indecentemente depois do dilúvio. Davi, o homem
segundo o coração de Deus, provavelmente, estava com cinquenta anos
quando cometeu o pecado de adultério com Bate-Seba. Ezequias, que
realizou uma grande reforma religiosa, no final de sua vida tornou-se
orgulhoso (2Rs 20.12-21). A verdade é que enquanto estivermos neste
corpo, temos que permanecer vigilantes e lutar contra as paixões da carne.
Nossa velha natureza não é erradicada na conversão e não se tornará mais
fraca enquanto envelhecemos. A guerra vai durar a vida inteira.
Entretanto, através de fé salvadora em Jesus Cristo e através do poder
do Espírito que habita em nós e a Palavra de Deus, podemos abster-se
dessas paixões. Note que a vitória sobre a as paixões carnais não é o
enfrentamento, mas a abstinência.
II. Santidade na vida pública
“mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para
que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores,
observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da
visitação” (1Pedro 2.12).
O apóstolo Pedro teve o cuidado também, de salientar que os cristãos
na sociedade são representantes de Jesus Cristo. Isto é, o crente tem a
responsabilidade de “proclamar as virtudes de Deus” (1Pedro 2.9).228 Isto é
especialmente verdadeiro quando se trata de nossa relação com o governo e
as pessoas em posição de autoridade.
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.11). Wheaton, IL: Victor
Books.
228 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.13). Wheaton, IL:
Victor Books.
227
100
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios...”
(v. 12) – A palavra “exemplar” significa “bom” ou “atraente”.229 O mundo
deve olhar para a vida dos cristãos e admitir, mesmo que não aceitem a
Cristo ou a Bíblia, que somos boas pessoas. Conforme Simon Kistemaker, “os
cristãos estão vivendo numa vitrine; estão à mostra. Sua conduta, obras e
palavras são constantemente avaliadas pelos não cristãos que querem
constatar se os cristãos vivem aquilo que professam”.230
“naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores,
observando-vos em vossas boas obras...” (v. 12) – Note que os pagãos
(“gentios”) observam nossas boas ações. Mesmo se você não estiver ciente
disso, os incrédulos são observando a sua vida. Eles veem como reage às
coisas no trabalho. Eles observar como você fala sobre os outros. Eles
observam como você lida com problemas. Eles observam como você trata
sua família.
“... glorifiquem a Deus no dia da visitação” (v. 13) – Pedro diz que
aqueles que observam nossas boas ações devem “glorificar a Deus no dia da
visitação” (2.12). Mas o que é o “dia da visitação”?
Dia da visitação é um conceito do Antigo Testamento (cf. Jz 13.2-23; Rt
1.6; 1Sm 3.2-21; Sl 65.9; 106.4; Zc 10.3) refere-se às ocasiões em que Deus
visitava a humanidade para bênção ou condenação.231 O profeta Isaías
escreveu sobre a visitação divina com o propósito de julgamento: “Mas que
fareis vós outros no dia do castigo, na calamidade que vem de longe? A quem
recorrereis para obter socorro e onde deixareis a vossa glória?” (Is 10.3,
23.17). Por outro lado, Êxodo 3.2-10 fala da visitação de Deus para anunciar
a eventual libertação de Israel do Egito, o que seria uma bênção para o Seu
povo. O Antigo Testamento registra vários outros casos em que Deus visitou
pessoas para bênção e julgamento (Jr 29.10, 27.22).
Como, então, os pagãos vão glorificar a Deus no dia da visitação?
Alguns serão convertidos antes do julgamento, porque, humanamente
falando, eles observaram as boas ações dos cristãos que tanto perseguiram.
Assim, eles vão glorificar Deus por Sua graça salvadora e pela fidelidade do
Seu povo. Outros estarão diante de Deus com desculpas por sua
incredulidade e naquele momento diante de Deus seus joelhos se dobrarão e
suas línguas outrora orgulhosas, em seguida, confessarão que “Jesus Cristo é
o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fp 2.9-11).
Para o crente, o ponto é que, como peregrinos, devemos pensar
constantemente no dia da visitação, para que possamos ouvir: “Bem, feito,
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (222). Nashville, TN: T. Nelson.
230 KISTEMAKER, Simon. Epístolas de Pedro e Judas. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006,
p. 132.
231 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (140).
Chicago: Moody Publishers.
229
101
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
servo bom e fiel!” (Mt 25.21). E, enquanto estivermos neste mundo devemos
procurar convencer aqueles que estão no caminho para a condenação eterna
para receber a misericórdia de Deus, antes que seja tarde demais.
Quer queiramos ou não, estamos sendo observados. O mundo está
assistindo. Se eles não nos veem refletindo o amor inabalável, não vão
pensar muito na salvação ou em nosso Salvador.232
Antes de encerrar este estudo, gostaria de perguntá-lo: as pessoas
podem ver Deus em sua vida? Suas atitudes e palavras evidenciam que você
ama o Senhor? Você está preparado para o dia da visitação?
Conclusão:
Deus está chamando você para uma forma de vida radical – viver
como peregrino e estrangeiro neste mundo.
A vida do profeta Daniel é um belo exemplo de alguém que caminhou
com Deus e jamais negociou sua fé. Como resultado, o capítulo seis do seu
livro, termina dizendo que “Daniel prosperou no reinado de Dario...” (Dn
6.28). Daniel viu a Babilônia cair, mas permaneceu firme e foi promovido no
reino de Dario. Deus honra aqueles que o honram. Deus é quem exalta e
também quem humilha.
Por que Deus permitiu histórias como essa nas Escrituras? Para
encorajar o povo em sua luta contra o mundo, a carne e o diabo. É um
lembrete de que Deus está no controle de toda situação. Podemos servi-Lo
sem medo das consequências. Quer enfrentemos a fornalha de fogo (1Pe 1.68; 4.12-19) ou o leão que ruge (1Pe 5.8-10), está sob os cuidados do Senhor,
e Ele cumprirá Seus propósitos divinos para Sua glória.
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (173). Grand Rapids, MI: Zondervan.
232
102
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
umA vida exemplar na sociedade
[estudo 12 – 1pedro 2.13-17]
Os destinatários a quem Pedro escreveu viviam em um governo e
sociedade que não eram favoráveis a fé cristã. Tanto Pedro quanto o
apóstolo Paulo foram executados nas mãos do imperador romano Nero. Foi
apenas no século IV, sob o imperador Constantino, que o cristianismo
recebeu legitimidade oficial e proteção por parte do governo.
Em nosso último estudo, Pedro afirmou que os cristãos devem viver
uma vida santa como estrangeiros e peregrinos neste mundo (2.11-12). O
cristão não é um residente permanente nesta terra, mas um peregrino
caminhando para o céu. Assim, seria fácil para os seus leitores concluir que,
portanto, não possuem nenhuma responsabilidade cívica neste mundo.
Então, Pedro antecipa essa conclusão errada, mostrando que os cristãos
devem viver como bons cidadãos sujeitando-se ao governo humano (1Pe
2.13).
De forma semelhante, vivemos em meio a uma cultura pagã, que adota
uma filosofia pagã, uma forma de vida e uma atitude pagã para com os
crentes. Mas o Senhor nos estabeleceu aqui para sermos embaixadores de
um reino diferente e levar outros a melhor cidade cujo arquiteto e
construtor é Deus.233
O comentarista John MacArthur corretamente declara que esta
passagem, cheia de imperativos, contém seis elementos da submissão cristã:
a ordem, o motivo, a extensão, a razão, a atitude e a aplicação da
submissão.234
I. A ordem para submissão
“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja
ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele,
tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam
o bem” (1Pedro 2.13-14).
“Submissão” é uma das palavras favoritas do apóstolo Pedro. Na
verdade, ela domina grande parte do resto da epístola (ela ocorre em 2.13,
18; 3.1, 5, 22; 5.5, o conceito está implícito em 4.12-19). A palavra
“submissão” (hupotasso, em grego) é um termo militar (hupo, “sob” e tasso,
“organizar”).235 Significa “dispor-se como fazem os militares sob as ordens
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (175–176). Grand Rapids, MI: Zondervan.
234 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (144).
Chicago: Moody Publishers.
235 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (606). Nashville, TN: T. Nelson.
233
103
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
do comandante”, “colocar-se em atitude de submissão”. O Antigo
Testamento apoia o princípio da submissão à autoridade (cf. Dt 17.14-15;
1Sm 10.24; 2Reis 11.12; 1Cr 29.24). Em Provérbios está registrado: “Teme
ao SENHOR, filho meu, e ao rei e não te associes com os revoltosos. Porque de
repente levantará a sua perdição, e a ruína que virá daqueles dois, quem a
conhecerá?” (Pv 24.21–22). Submissão aos governantes é certo, porque Deus
instituiu (cf. Jr 29.4–14; Jo 14.2-3; Hb 4.9-10; 11.13-16; Ap 21.1-4).
Quase uma década antes de Pedro escrever a sua carta, o apóstolo
Paulo já havia ensinado a respeito da importância da submissão ao governo:
“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque
não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades
que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que
se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que
resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os
magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim
quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o
bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de
Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque
não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de
Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal” (Romanos
13.1-4).
Embora Pedro e Paulo tenham vivido no decadente Império Romano,
uma sociedade infame (inflamada pelo homossexualismo, infanticídio,
corrupção, abuso de mulheres, imoralidade e violência), nenhum dos dois
ensinou aos crentes a se rebelar contra as autoridades civis. Ou seja, o
distanciamento dos crentes do mundo deve ser equilibrado pelo respeito
adequado e submissão humilde a todas as instituições legítimas de
autoridade humana.236 O próprio Jesus ordenou: “Dai a César o que é de
César...” (Mt 22.21).
Certo pastor, pressionado pelo tempo e não conseguindo encontrar
uma vaga de estacionamento, parou o carro em uma vaga proibida e deixou
um bilhete no para-brisa: “Eu dei dez voltas no quarteirão e não encontrei
nenhuma vaga”. “Tenho um compromisso muito sério”. “Perdoa as nossas
dívidas...” (Mt 6.12). Quando ele voltou, encontrou uma multa juntamente
com um bilhete: “Eu ando com este bloco há dez anos. Se não lhe der a multa,
vou perder o meu emprego”. E, acrescentou: “Não nos deixes cair em
tentação” (Mt 6.13). Submissão significa obediência à lei.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (143).
Chicago: Moody Publishers.
236
104
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
II. O motivo para a submissão
“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja
ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele,
tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam
o bem” (1Pedro 2.13-14).
Pedro declara a motivação para se submeter à autoridade: “por causa
do Senhor...” (v. 13). A motivação para a obediência não é evitar a punição,
mas é por causa do Senhor.237 Os cristãos obedecem às autoridades civis por
que desejam honrar ao Senhor (cf. Sl 119.12-13, 33; At 13.48; 1Co 10.31).
Para honrar a Deus que ordenou o governo humano, os cristãos devem
observar as leis feitas pelo homem com cuidado desde que essas leis não
entrem em conflito com o ensino claro da Escritura (At 5.29).
Como vimos, Paulo afirma que os governantes são “ministros de Deus”
(13.4, 6). Daniel declara que Deus “remove reis e estabelece reis” (Dn 2.21;
2.37; 4.17; 5.18-19, 26; Jr 27.5-8; Ez 29.19-20; Jo 19.11). Ele dirige até reis
pagãos de acordo com Seus propósitos soberanos (Pv 21.1; Is 45.1-7; 46.1011).
Quando Daniel e seus três amigos se recusaram a obedecer à dieta
estabelecida por Nabucodonosor, eles desobedeceram a lei, mas a maneira
que como fizeram isso provou que eles honraram o rei e respeito pelas
autoridades (Dn 1). Eles não foram rebeldes, eles tiveram o cuidado de não
constranger o funcionário encarregado ou colocá-lo em apuros, e ainda
assim, se mantiveram firmes.238 Glorificaram a Deus e, ao mesmo tempo,
honram a autoridade do rei.
Os crentes também se submetem as autoridades, a fim de imitar o
exemplo de submissão obediente de Cristo ao Pai. Mais adiante Pedro
declara: “pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando
maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente”
(1Pe 2.23). Cristo viveu sob o domínio injusto e iníquo das autoridades
judaicas e romanas, mas Ele nunca se opôs ao direito de governar. Ele
denunciou os pecados dos líderes judeus (Mt 16.11-12; 23.13-33), mas
nunca tentou derrubar sua autoridade. Da mesma forma, Jesus nunca
liderou manifestações contra a escravidão e abuso da justiça romana. Ele
não se opôs, mesmo quando essas autoridades tentaram injustamente
crucificá-Lo (Mt 26.62-63; Mc 15.3-5; Jo 19.8-11). Em vez de focar a reforma
política e social, Cristo sempre focou os assuntos relativos ao seu reino (Mt
4.17; Mc 1.15; Lc 5.31-32, 19.10; At 1.3; Mt 11.28-30).239
237 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible
Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.)
(847). Wheaton, IL: Victor Books.
238 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.13). Wheaton, IL: Victor
Books.
239 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (147).
Chicago: Moody Publishers.
105
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Quando uma igreja local constrói um edifício, há um código local, que
deve ser obedecido. O governo não tem o direito de controlar o púlpito, mas
tem todo o direito de controlar os assuntos relacionados com a segurança e
funcionamento. Se a lei exige certo número de saídas, ou extintores de
incêndio, ou luzes de emergência, a igreja deve obedecer.240 Assim, tanto
quanto possível, devemos cooperar com o governo e obedecer à lei, mas
nunca devemos permitir que a lei nos leve a violar nossa consciência ou
desobedecer a Palavra de Deus.
III. A extensão da submissão
“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja
ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por ele,
tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam
o bem” (1Pedro 2.13-14).
“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer
seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por
ele...” (v. 13) – Pedro discorre sobre a extensão da submissão dos crentes,
observando que ela se aplica a todos os níveis de autoridade. Isto é, não
importa se a autoridade é um rei, presidente ou primeiro-ministro, nosso
dever é sujeitar-se a ela.
“... toda instituição humana...” (v. 13) – A palavra “instituição” (ktisis,
em grego) sempre ocorre no Novo Testamento em conexão com atividades
criativas de Deus (Rm 1.20, 25; 8.39; 2Co 5.17; Gl 6.15; Cl 1.15, 23; 2Pe
3.4).241 Isto significa que Deus criou todas as bases da sociedade, o trabalho
humano, a família e o governo.242Logo, os crentes se submetem às
autoridades porque foram estabelecidas por Deus (1Pe 2.18; Ef 6.5; Cl 3.22,
na família (Ef 5.21-6.2; Cl 3.18, 20, 22-24). Porém, há um equilíbrio que os
cristãos devem manter, entre o respeito ao homem e seu ofício, mas não
respeitá-lo mais que Deus.
Essa ordem não exclui as autoridades que tomam decisões ruins ou
injustas. O Antigo Testamento reconhece a existência de governantes
corruptos (cf. Dn 9.11-12; Mq 7.2-3), mas reconhece que Deus tem a
prerrogativa de julgá-los.243 Os crentes devem confiar que Deus ainda exerce
domínio soberano e perfeitamente sábio sobre sociedades e nações (cf. Gn
18.25).
240 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.13). Wheaton, IL: Victor
Books.
241 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New
Testament (484–486). Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
242 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (149).
Chicago: Moody Publishers.
243 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (149).
Chicago: Moody Publishers.
106
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“... tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que
praticam o bem” (v. 14) – Pedro declara que os reis e governadores são
“tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem”
(v. 14). Paulo fala sobre o governo “carrega a espada”, como um vingador
que traz a ira de Deus sobre aquele que pratica o mal (Rm 13.4). Isto aponta
para o poder do Estado em utilizar a pena de morte, bem como uma punição
menor, para trazer justiça a todos. O Antigo Testamento muitas vezes fala
sobre o papel do rei na promoção da justiça.
As autoridades geralmente recompensam a boa cidadania com
tratamento justo e favorável (Rm 13.3; Gn 39.2-4; 41.37-41; Pv 14.35; Dn
1.18-21).244 O papel do governo é punir aqueles que fazem o mal, e proteger
aqueles que andam retamente.
O governo faz isso (em parte) por legislar a moralidade. Leis contra
assassinato e roubo são morais e bíblicas. Leis contra discriminação racial
refletem o ensino bíblico de que Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34;
Dt 10.17). As leis devem proteger os cidadãos contra o pecado (Por exemplo,
pornografia, prostituição, drogas, etc.) O fato de que algo é ilegal vai conter
muitas pessoas de praticá-lo.
Assim, Pedro mostra que o governo é ordenado por Deus para
promover a justiça. O resultado da promoção da justiça será a promoção da
paz e ordem na sociedade: “Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de
súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens,
em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para
que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm 2.1–
2).
IV. A razão para Submissão
“Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais
emudecer a ignorância dos insensatos” (1Pedro 2.15).
“façais emudecer a ignorância dos insensatos” (v. 15) – Esse é o
objetivo o propósito de nossa submissão – que evitemos qualquer
condenação e sejamos elogiados a fim de fecharmos a boca daqueles
obstinados que procuram razões para criticar os cristãos.
A palavra “emudecer” (phimoo, em grego) significa “fechar a boca com
uma amordaça”. É usada por Paulo em 1Coríntios ao referir à prática de
fechar a boca do boi quando pisa o trigo (1Co 9.9; 1Tm 5.18).245
Paulo escreveu a Tito: “Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam,
às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (150).
Chicago: Moody Publishers.
245 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (423). Nashville, TN: T. Nelson.
244
107
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de
toda cortesia, para com todos os homens” (Tt 3.1–2).
Uma das qualificações para ser um Presbítero é que o homem “tenha
bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo”
(1Tm 3.7; Tt 1.6). Esse tipo de testemunho incontestável, mesmo diante
daqueles que rejeitam o evangelho, silencia os inimigos e permite que o
poder salvador de Cristo se manifestar.246
“façais emudecer a ignorância dos insensatos” (v. 15) – A palavra
que Pedro usa para “ignorância” (agnosia, em grego) significa mais do que
simplesmente uma falta de conhecimento. A palavra agnosia exprime a ideia
de algo diretamente oposto à gnosis, que significa “conhecimento” como
resultado de uma observação e experiência.247 Ou seja, indica uma rejeição
hostil da verdade (1Co 15.34). É uma falta de percepção espiritual
escancarada que o apóstolo ainda caracterizada como “tolo” (aphronōn, em
grego). Esse termo significa “sem sentido, sem razão”, e pode expressar a
falta de sanidade mental.248
Quando Israel foi enviado para a Babilônia, a sua situação era paralela
à dos cristãos de hoje, eram peregrinos em uma terra estrangeira, olhando
para a restauração prometida à sua terra. Deus disse a Jeremias (29.5-6) a
proclamar aos exilados para construir casas, plantar jardins, tomar esposas
e educar os filhos. Depois, acrescentou: “Procurai a paz da cidade para onde
vos desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz vós tereis paz” (Jr
29.7). Esse é um bom conselho para os cristãos que estão exilados como
estranhos neste mundo perverso.
V. A atitude de submissão
“como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto
da malícia, mas vivendo como servos de Deus” (1Pedro 2.16).
Pedro sabia que seus leitores (incluindo nós!) não aceitariam a ideia
de submeter aos governantes pagãos (e muito menos, aos bons governantes
cristãos!). Ele poderia nos ouvir a objeção: “mas somos livres em Cristo! Nós
não temos de obedecer a um tirano pagão!” Assim, o apóstolo Pedro
escreveu: “como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por
pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus” (v.16).
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (151).
Chicago: Moody Publishers.
247 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (317–318). Nashville, TN: T. Nelson.
248 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (150).
Chicago: Moody Publishers.
246
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Os cristãos desfrutam a verdadeira liberdade quando obedecem a
Deus e vivem como servos de Deus (douloi, “escravos”, Rm 6.22). Apesar de
viver como homens livres, eles também devem viver como escravos de
Deus.249
Assim como um trem só é verdadeiramente livre quando anda sobre
os trilhos, de modo semelhante, os seres humanos são livres quando
obedecem a Deus. A verdadeira liberdade é viver justamente em submissão
a Deus. Logo, por causa do Senhor, que ordenou o governo para o benefício
da raça humana, nos submetemos a Ele, quando nos submetemos a um
governo civil.
“... todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como
servos de Deus” (v.16) – Porém, Pedro adverte que os cristãos não devem
usar essa liberdade espiritual como um “pretexto” (epikaluma, em grego). A
palavra epikaluma significa “véu”, “cobertura” e metaforicamente “um
disfarce”.250 Isto é, a liberdade cristã nunca deve ser uma desculpa para a
satisfação dos próprios desejos ou para a licenciosidade (1Co 8.9-13; 2Ts
3.7-9).
Uma atitude verdadeiramente justa fará com que os cristãos a usem a
sua liberdade como servos de Deus, Paulo exortou aos coríntios: “Porque o
que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor;
semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo” (1Co
7.22). A liberdade tem os livrou da escravidão do pecado para servir o
privilégio de sermos escravos da justiça.
VI. A aplicação da submissão
“Tratai todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei”
(1Pedro 2.17).
Pedro continua o seu ensinamento sobre o assunto importante de ser
servos de Deus, listando vários exemplos específicos de como devemos fazer
isso.
“Tratai todos com honra” (v. 17) – A palavra “honra” (timão, em
grego) é a mesma palavra que Jesus usou ao declarar que temos que honrar
pai e mãe (Mt 15.4), e que devemos honrar o Filho assim como honramos o
Pai (Jo 5.23). Esta é uma marca de estilo de vida cristã autêntica, que
devemos honrar todas as pessoas. A ideia te a ver com grande consideração.
Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible
Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.)
(847). Wheaton, IL: Victor Books.
250 Thomas, R. L. (1998). New American Standard Hebrew-Aramaic and Greek dictionaries :
Updated edition. Anaheim: Foundation Publications, Inc.
249
109
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
A expressão refere-se não somente ao comprimento do dever, mas ao
respeito interior.
“amai os irmãos” (v. 17) – O amor (agapao, em grego) deve fluir
livremente e generosamente na vida de verdadeiros cristãos. Como Jesus
disse: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns
aos outros” (Jo 13.35).
“temei a Deus” (v. 17) – A palavra “temer” (phobeo, em grego)
significa “reverenciar, venerar, tratar com deferência ou obediência
reverencial”. O temor ao Senhor é o fundamento da vida cristã. O verbo
“temor” aqui não significa “terror”. Mas “respeito e reverência que leva à
obediência” (1Pe 3.16; 2Co 7.11).251 Você nunca vai realmente respeitar as
pessoas até que reverenciar a Deus.
“honrai o rei” (v. 17) – É natural homenagear um bom rei ou um
governante que respeitamos. No entanto, Pedro está a pedir aos seus
leitores para homenagear ninguém menos do que o próprio Nero. Essa é
outra marca do cristão autêntico, a capacidade de honrar até mesmo os
tiranos da nossa sociedade, aqueles que abusam e nos perseguem (Mt
5.44).252 Devemos respeitar a todos àqueles que Deus colocou em posição de
autoridade (cf. “o rei” em 1Pe 2.13 e “governadores” no v. 14, cf. Rm 13.1).
Mesmo que não sejamos capazes de respeitar um líder, porque ele é
corrupto ou imoral, devemos respeitar seu ofício. Uma vez que Deus
ordenou às autoridades, desprezá-las é desprezar o próprio Deus.
Entretanto, como cristãos, temos que ter discernimento em nosso
relacionamento com as autoridades humanas. Há momentos em que o certo
é deixar de lado nossos próprios privilégios e há momentos em que utilizar a
nossa cidadania é a coisa certa. Paulo estava disposto a sofrer pessoalmente
em Filipos (At 16.16-24), mas não estava disposto a “fugir da cidade” como
um criminoso (At 16.35-40). Quando foi preso sob falsas acusações, Paulo
usou sua cidadania para proteger-se (At 22.22-29) e insistiu em um
julgamento justo perante César (At 25.1-12).253
251 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Eds.), . Vol. 2: The Bible
Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Ed.)
(847). Wheaton, IL: Victor Books.
252 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (145–146). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
253 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.13). Wheaton, IL: Victor
Books.
110
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Conclusão:
Nosso texto se baseia na suposição de que você está em sujeição a
Deus e quer agradá-Lo. Pedro não está promovendo o moralismo, mas,
submissão ao senhorio de Jesus Cristo. Ele está nos mostrando como a
submissão se desenvolve em nossa relação com as autoridades. Portanto,
antes de acertar com o governo, você tem que se acertar com Deus,
arrependendo-se de seus pecados e confiando em Jesus Cristo como
Salvador e Senhor. Seu relacionamento com Cristo provê a base para a
submissão adequada em relação ao governo.
Sir Frederick Catherwood, um membro cristão do Parlamento
Europeu, declarou: “Tentar melhorar a sociedade não é mundanismo, mas
amor. Lavar as mãos para a sociedade não é amor, mas mundanismo”.254
Cidadãos cristãos devem ser bons cidadãos. A principal forma de fazer isso é
através da submissão ao governo humano.
254
Christianity Today [4/19/85], 1-5.
111
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
UmA vida exemplar no trabalho
[estudo 13 – 1pedro 2.18-25]
Hoje a cultura pós-moderna parece se apegar apenas a obrigação
moral básica, o sagrado dever de proporcionar igualdade de direitos a todos.
Ninguém mais fala de sacrifícios apenas de direitos, como direitos étnicos,
reprodutivos, direitos dos imigrantes, direitos homossexuais e direitos no
local de trabalho.255 Se você é pai, certamente, já ouviu seus filhos
reclamarem: “Mas isso não é justo!” E você, provavelmente, respondeu: “A
vida não é justa!” Nascemos com um forte senso interior de justiça e um
forte desejo de lutar por nossos direitos.
Neste parágrafo, o apóstolo Pedro se aproxima de um exemplo
particular de submissão que era comum no primeiro século: a escravidão.256
Pedro exorta aos seus leitores sobre o fato de que o cristianismo não dá
direito ao cristão de rebelar-se contra seus superiores. Quando tratados
injustamente por superiores na estrutura social, devemos suportar em
submissão e confiar em Deus, o justo Juiz.
I. A ordem para submissão
“Servos, sede submissos, com todo o temor ao vosso senhor, não
somente se for bom e cordato, mas também ao perverso” (1Pe 2.18).
A palavra “servos” (oiketes, em grego) refere-se a empregados
domésticos. Porém, eles não eram apenas empregados domésticos; eles
eram tratados como escravos. Eles eram tratados como objetos, como
propriedade de seus respectivos senhores (cf. At 10.7).
Para os primeiros leitores de Pedro, esta era uma exortação muito
relevante. Os historiadores acreditam que a porcentagem total de escravos
na sociedade romana na época de Pedro, era constituída entre 25 a 40 por
cento da população.257 Os romanos adquiriram a maioria de seus escravos
como despojos de guerra. Além disso, os filhos de escravos tornavam-se
automaticamente “propriedade” de seus senhores. As pessoas poderiam até
mesmo vender-se como escravo para quitar dívidas ou outras obrigações.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (155).
Chicago: Moody Publishers.
256 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 180). Grand Rapids, MI:
Zondervan.
257 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 181). Grand Rapids, MI:
Zondervan.
255
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“sede submissos, com todo o temor ao vosso senhor...” (v. 18) – A
ordem básica de Pedro para eles é “sejam submissos” (cf. 1Tm 6.1-2; Tt 2.9).
A submissão dos servos deveria ser feita com todo o temor. Isto é, sem
amargura ou negatividade, mas com uma atitude graciosa de honra.
No entanto, Pedro desafiou os escravos cristãos a um novo
comportamento que exigia deles submissão também aos senhores
perversos. “... não somente se for bom e cordato, mas também ao
perverso” (v. 18) – A palavra “bom” (agathois, em grego) significa “bom,
agradável, amável, alegre, feliz”. Já o termo “cordato” (epieikesin) refere-se a
“aquele que é atencioso, razoável e justo”. Portanto, bom e cordato
descrevem um bondoso e misericordioso senhor, o tipo de mestre para
quem é fácil de submeter.258
“... mas também ao perverso” (v. 18) – No entanto, Pedro desafiou os
escravos cristãos a um novo comportamento que exigia que eles se
submetessem e respeitasse até mesmo aqueles que são perversos. A palavra
“perverso” (skolios, em grego), literalmente, significa “curvado, dobrado ou
torto”. A palavra é utilizada na terminologia médica para descrever uma
condição distorcida da coluna vertebral. O termo “escoliose” refere-se à
curvatura da coluna.259
Desta forma, Pedro exorta os servos cristãos a se submeter aos seus
mestres, mesmo àqueles que são ásperos e irracionais. Na verdade, essa é
uma ordem difícil de praticar. Mas a exortação de Pedro faz sentido quando
conectada à nossa vocação de brilhar como reflexo do caráter de Cristo em
um mundo sombrio e sem Deus.260 Todo sevo cristão deve reconhecer que
não trabalha, principalmente, para os homens, na verdade, trabalha para
Deus.
O comentarista Howard Hendricks conta a história de quando estava
em um avião que aguardava na pista para decolar. Os passageiros estavam
cada vez mais impacientes. Um homem irritado descontou toda a sua
frustração na aeromoça. Mas ela respondeu graciosamente, apesar do abuso.
Depois que eles finalmente decolaram e as coisas se acalmaram, Dr.
Hendricks chamou a aeromoça ao lado e disse: “Eu preciso do seu nome
completo para escrever uma carta de recomendação ao seu empregador.”
Porém, Dr. Hendricks ficou surpreso com a resposta da aeromoça:
“Obrigada, senhor, mas eu não trabalho para American Airlines. Eu trabalho
para o meu Senhor Jesus Cristo”. Ela passou a explicar que, antes de cada
voo, ela e o esposo oravam juntos, para que fosse uma representante de
Cristo em seu trabalho. Ela procurava agradar a Deus em primeiro lugar.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 159–160). Chicago: Moody Publishers.
Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books.
260 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 182). Grand Rapids, MI:
Zondervan.
258
259
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
II. O motivo para a submissão
“
porque isto é grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo
injustamente, por motivo de sua consciência para com Deus. Pois que
glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com
paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente
afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus. Porquanto
para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em
vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos”
(1Pe 2.19-21).
“porque isto é grato...” (v. 19) – Quando o servo se submete ao seu
senhor, apesar do tratamento injusto “encontra graça diante de Deus”. A
linguagem de Pedro, aqui reflete a ensinamento de Jesus em Lucas 6.32-35.
Quando oferecemos o bem àqueles que nos dirige o mal, somos
recompensados por Deus. A ideia é que Deus dá graça (mesma palavra grega
como “crédito” e “favor”) aos humildes. Assim, “... por motivo de sua
consciência para com Deus” (v. 19) – Deus se agrada quando os crentes
fazem o seu trabalho de maneira humilde e submissa (cf. 1Sm 15.22, 26.3; Sl
36.10; Tg 1.25).261 É a submissão respeitosa ao sofrimento imerecido que
encontra graça diante de Deus, porque tal comportamento demonstra Sua
graça.262
“Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o
suportais com paciência?” (v. 20) – Aqueles que suportam pacientemente
tal sofrimento encontram o favor ou graça de Deus (cf. 3.14, 4.14, 16; Mt
5.11-12; 1Co 4.11-13; 2Co 12.9-10; Tg 1.12). Quando sofremos injustamente
nas mãos de um ditador cruel ou um patrão injusto e arrogante,
participamos do próprio ministério de sofrimento injusto de Cristo. Ele
sofreu em nosso favor. Ele sofreu em nome de incrédulos.263 De forma
semelhante, os cristãos são chamados a seguir a Cristo e imitar o Seu caráter
e conduta.
“Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também
Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os
seus passos” (v. 21) – Cristo sofreu em nosso favor. Seu sofrimento injusto
garantiu a nossa salvação no sentido substitutivo. Da mesma forma, mas não
totalmente análoga, o nosso sofrimento injusto pode levar à salvação de
pessoas perdidas, se veem o caráter de Cristo em nós quando sofremos. A
atitude de lutar por nossos direitos comunica ao mundo que estamos
vivendo para as coisas deste mundo. Se você está sendo tratado
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 161). Chicago: Moody Publishers.
Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books.
263 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 182). Grand Rapids, MI:
Zondervan.
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injustamente, pode ser uma excelente oportunidade para testemunhar de
Cristo.
“... deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (v. 21) – A
palavra “exemplo” (hupogrammos, em grego) significa subescrever.264
Professores traçavam ou pontilhavam as letras do alfabeto para que os
alunos pudessem escrever sobre elas para aprender a escrever. Ou, como em
nossos dias, os professores colocam exemplos do alfabeto na sala para que
os alunos possam olhar e copiar o modelo. Cristo é esse tipo de exemplo.
Jesus Cristo é o modelo que os cristãos devem seguir no sofrimento com
perfeita paciência.
Além do mais, Jesus provou que uma pessoa pode estar no centro da
vontade de Deus, ser muito amado por Deus e ainda sofrer injustamente.
Lamentavelmente, há uma marca superficial da teologia popular hoje que
afirma que os cristãos não vão sofrer se estiverem diante da vontade de
Deus. Todavia, Warren Wiersbe estava certo quando escreveu: “Aqueles que
promovem tais ideias precisam meditar um pouco mais sobre a Cruz”.265
“... para seguirdes os seus passos” (v. 21) – A expressão “Seus
passos” retrata uma criança pisando nas pegadas do pai na areia. Da mesma
maneira, devemos seguir o nosso Salvador. Pedro diz que somos chamados
para a mesma finalidade. Se as pegadas de nosso Mestre o levaram a cruz
onde Ele sofreu injustamente, podemos esperar o mesmo tratamento injusto
por parte dos homens. Devemos trilhar o mesmo caminho que Jesus andou,
em suma, ser semelhante a Cristo.266 Não significa que Cristo sofreu apenas
como um exemplo (1.18), mas nos deixou o Seu exemplo (1Jo 2.6).267 Muitas
pessoas nunca leem a Bíblia, mas leem nossas vidas.
III. O modelo de submissão
“o qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua
boca; pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando
maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga
retamente” (1Pe 2.22-23).
Quando Jesus foi injustiçado, Ele não pagou na mesma moeda. Ele
poderia ter chamado legiões de anjos para destruir Seus inimigos, afinal, Ele
é o Senhor do universo! Mas Ele não fez. Ele sempre agiu
desinteressadamente, mesmo quando confrontado por Seus acusadores.
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
265 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books.
266 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English
reader. Grand Rapids: Eerdmans.
267 Robertson, A. T. (1933). Word Pictures in the New Testament. Nashville, TN: Broadman
Press.
264
115
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Enquanto jamais seremos tão altruístas como Jesus, é uma meta que
devemos nos esforçar.
“pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando
maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga
retamente” (v. 23) – Pedro cita Isaías 53 para mostrar como Jesus não
revidou quando injustiçado. Existem quatro coisas mencionadas que
precisamos ter em mente quando somos tratados de forma injusta.
Em primeiro lugar, Jesus não cometeu pecado. Ele sempre agiu em
obediência ao Pai, nunca em vontade própria.
Em segundo lugar, nunca houve engano na Sua boca. Ele não torceu os
fatos para ganhar o argumento ou obter o Seu próprio caminho. Quando Se
defendeu, Ele sempre foi verdadeiro.
Em terceiro lugar, quando foi injuriado, Ele não revidou. Ele não
trocou insultos. Os sacerdotes e anciãos acusaram Jesus de muitas coisas,
mas Ele não retrucou (Mt 27.12-14).
Em quarto lugar, Ele não proferiu ameaças. Em outras palavras, Jesus
não respondeu às agressões verbais com mais agressões verbais. Nem
devemos. A vingança é sempre errada para o cristão (Rm 12.19).
O imaculado Cordeiro de Deus foi um cordeiro, tanto na
inculpabilidade quanto no silêncio. O profeta Isaías fala sobre isso: “Ele foi
oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao
matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a
boca” (Is 53.7). Todos os tormentos na cruz só tiraram de Cristo: “Pai,
perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem” (Lc 23.34).268
“carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos
pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça;
por suas chagas, fostes sarados” (v. 24) – Jesus fez isso por meio da cruz
continuamente confiando ao Pai que julga retamente. Ele não morreu como
mártir. A cruz não foi um acidente. Sua crucificação não foi o resultado da
traição de Judas. Na verdade, a expressão “Ele mesmo” salienta que o Filho
de Deus Se entregou voluntariamente (Jo 10.15, 17-18) e morreu como o
único sacrifício suficiente pelos pecados de todos os eleitos (cf. Jo 1.29, 3.16;
1Tm 2.5-6, 4.10; Hb 2.9, 17).269 O próprio nome Jesus indica que Ele “salvará
o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21).
A palavra “carregar” (anapherō, em grego) significa levar, conduzir.
Neste caso, o peso do pecado. O pecado é tão pesado que Paulo declarou:
“Toda a criação geme e suporta angústias até agora”. (Rm 8.22). Só Jesus
pode remover um peso tão grande na vida dos eleitos (Hb 9.28).
Ele sabia que seria justificado e ressuscitado dentre os mortos e
entronizado à direita da Majestade do Altíssimo. Ele sabia que Seus
perseguidores seriam julgados e tratados de acordo com os seus pecados.
268
269
Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter (p. 125). Wheaton, IL: Crossway Books.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 170). Chicago: Moody Publishers.
116
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Então, Ele “se entregou” (confiou) a Deus. É a mesma palavra usada em
referência a Jesus quando foi entregue a Pilatos pelos judeus e aos soldados
(Jo 19.11, 16). Eles o entregaram à morte, mas “Ele mesmo” se entregou por
nossos pecados, confiando a Sua vida ao Pai.
“... por suas chagas, fostes sarados” (v. 24) – Alguns erroneamente
aplicam a palavra “cura” para a cura física. Mas é evidente que essa
interpretação não está no contexto (Nem aqui nem em Isaías 53.5). A
preposição “por” é explicativa, Pedro está explicando melhor o que acabou
dizer com a cura realizada pela morte de Cristo. Ele foi ferido para que
pudéssemos ser curados. Ele morreu para que pudéssemos viver. Nós
morremos com Ele, e, portanto, estamos “mortos para o pecado” (Rm 6),
para que pudéssemos “viver para a justiça”.270
Durante as Guerras Napoleônicas, os homens eram recrutados pelo
Exército francês por um sistema de sorteio. O nome sorteado teria que ir
para a batalha. Em uma ocasião, as autoridades chegaram a certo homem e
disseram que o nome dele havia sido escolhido. Mas ele se recusou a ir,
dizendo: “Eu estou morto há dois anos”. No início, eles questionaram sua
sanidade, mas ele insistiu que realmente estava morto há dois anos. Ele
alegou que os registros comprovariam que ele havia sido escolhido há dois
anos e que havia sido morto em batalha. “Como pode ser isso?” Eles
questionaram. “Você está vivo”. Ele explicou que ao ser escolhido pela
primeira vez, um amigo próximo disse a ele: “Você tem uma família grande,
mas eu não sou casado e não tenho nenhum dependente. Eu vou em seu
lugar”. O caso foi encaminhado ao próprio Napoleão, que chegou a seguinte
conclusão: “O país não tem nenhum direito legal sobre esse homem. Ele está
livre, porque outro homem havia morrido em seu lugar”.
Entretanto, ninguém sofreu injustamente como Cristo. O único
homem perfeito que já viveu e foi mal interpretado pelos ouvintes, caluniado
pelos inimigos, abandonado pela família, traído pelos amigos, abandonado
pelos discípulos, torturado pelos guardas e executada pelos políticos. O
único na história, com todo o direito de apresentar uma queixa permaneceu
em silêncio. Ele fez tudo isso não para Si mesmo, mas por nós (2.24). Morrer
em nosso lugar na cruz, o justo pelos injustos, Ele curou as nossas almas
para que pudéssemos viver uma nova vida de justiça (2.24).271
“Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos
convertestes ao Pastor e Bispo da vossa alma” (v. 25) – Cristo não
somente deu o exemplo, mas Ele também dá orientação e proteção àqueles
que estavam desgarrados.272
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books.
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 182). Grand Rapids, MI:
Zondervan.
272 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books.
270
271
117
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
No Antigo Testamento, a ovelha morria para o pastor; mas no
Calvário, o Pastor morreu pelas ovelhas (Jo 10). Todo pecador perdido é
como uma ovelha desviada: perdida, errante, em perigo, longe do local de
segurança e incapaz de ajudar a si mesmo. O pastor sai para procurar a
ovelha perdida (Lc 15.1-7).273 Na verdade, Ele morreu pelas ovelhas!
“... agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo da vossa
alma” (v. 25) – Que bela imagem, especialmente para os escravos a quem
Pedro estava escrevendo, que estavam sendo maltratados por seus senhores
terrenos! Pedro diz que eles estão sob os cuidados do Bom Pastor. As
palavras “pastor” e “bispo” (episkopos, em grego) mais tarde serão aplicados
aos líderes da igreja (1Pe 5.1-2; At 20.28). Jesus, o Bom Pastor, preserva e
cuida de Suas ovelhas. No sofrimento, Ele se tornou exemplo, substituto, e,
principalmente, o Seu pastor.274 É o Pastor que morreu pelas suas ovelhas
(Sl 22), o Pastor que vive para Suas ovelhas (Sl 23) e o Supremo Pastor que
voltará para buscar Suas ovelhas (Sl 24).
Conclusão:
Certa mãe de três crianças foi a um conselheiro em busca de ajuda. No
decorrer da sessão ele perguntou: “Qual dos seus três filhos você mais ama?”
Ela respondeu imediatamente: “Eu amo todos os meus três filhos da mesma
forma”. A resposta foi rápida e simplista para o conselheiro. “Bem, seja
sincera, você ama os três da mesma forma?” Sim, ela afirmou. “Eu amo todos
da mesma forma”. O conselheiro então disse: “Isso é psicologicamente
impossível. Se você não está disposta a cooperar comigo, teremos que
acabar com a sessão”.
Diante disso, a mãe começou a chorar e disse: “Tudo bem, eu não amo
todas as crianças da mesma forma. Quando uma delas está doente, eu amo
mais aquela criança. Quando uma das crianças está com dor, eu amo mais
aquela criança. Quando uma das minhas crianças está triste, eu amo mais
aquela criança. Exceto esses momentos, eu amo todas as três crianças da
mesma forma”.
A cruz diz que Deus ama especialmente aqueles que estão sofrendo aqueles que estão debaixo do poder e das consequências do pecado. Se você
crer no que Jesus Cristo fez por você ao levar a sua justa penalidade do
pecado na cruz, Ele te livrará da penalidade do pecado e do seu poder. Ele
deseja ser o Seu Pastor e Bispo. Ele ama você exatamente como você é, mas
Ele te ama demais para deixá-lo dessa forma. Ele quer curá-lo dos efeitos
devastadores do pecado. Jesus Cristo, verdadeiramente, é o Seu Pastor?
273
274
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 174). Chicago: Moody Publishers.
118
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
UmA vida exemplar no lar
[estudo 14 – 1pedro 3.1-7]
Algo estranho acontece em nossa sociedade, nunca tivemos tantos
livros publicados sobre casamento, e ao mesmo tempo, nunca tivemos
tantos problemas conjugais. Além disso, é triste dizer, mas essa situação
também alcançou os lares cristãos.
O fato de que um homem e uma mulher frequentam uma igreja, não
lhes dá garantias de que o casamento será bem sucedido. Dizer “sim, eu
prometo!” no dia do casamento é muito fácil e exige apenas alguns segundos.
Porém, cumprir as promessas é trabalho para uma vida inteira. A felicidade
conjugal não acontece de maneira automática. E quando um dos cônjuges
não é cristão, pode tornar as coisas ainda mais difíceis.275 O sucesso não é
automático é necessário muito trabalho.
Depois de apresentar o dever do cristão em manter um testemunho
exemplar na sociedade (2.13-17) e no local de trabalho (2.18-25), Pedro
expõe o dever dos crentes em testemunhar na própria família (1Pe 3.1-7).
Embora, o apóstolo invista seis versículos sobre a responsabilidade da
esposa e a apenas um versículo sobre o papel do marido, isso não significa
desequilíbrio ou machismo. Pelo contrário, isso simplesmente demonstra a
preocupação do apóstolo Pedro.
Na cultura greco-romana do primeiro século, as mulheres recebiam
pouco ou nenhum respeito. Enquanto viviam na casa de seu pai, elas
estavam sujeitas ao direito romano de patria potestas (“o poder do pai”), que
concedia aos pais autoridade máxima, na vida e morte sobre os filhos. Os
maridos tinham um tipo similar de autoridade legal sobre suas esposas. A
Sociedade considerava as mulheres como meros servos que deveriam ficar
em casa e obedecer a seus maridos.276 Se uma mulher decidisse obedecer ao
evangelho, isso poderia acarretar em grande perseguição por parte do seu
marido não salvo.
Assim, Pedro desafia os seus leitores a um novo comportamento como
mulheres submissas e maridos atenciosos. Para um casamento bemsucedido precisamos conhecer e praticar nossas responsabilidades.
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 2.18). Wheaton, IL: Victor
Books.
276 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (176–177).
Chicago: Moody Publishers.
275
119
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
I. A responsabilidade da esposa
“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido,
para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra
alguma, por meio do procedimento de sua esposa” (1Pe 3.1-7).
Uma vida piedosa é um testemunho mais poderoso do que palavras.
Isso não significa que o testemunho verbal não seja importante. No
momento apropriado, as palavras são essenciais para comunicar o conteúdo
do evangelho. Mas o objetivo do apóstolo Pedro é mostrar que maridos
incrédulos são mais propensos à salvação por uma conduta piedosa do que
pela pregação de suas esposas.277
O apóstolo Paulo em Gálatas declara que: “... Não pode haver judeu
nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos
vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.27–28). Todavia, Deus ordenou que as
mulheres tivessem certos deveres para com seus maridos, e o apóstolo
Pedro identifica como submissão, fidelidade e modéstia.
A. Ela deve ser submissa e fiel
“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido,
para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra
alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso
honesto comportamento cheio de temor” (1Pe 3.1-2).
“Mulheres, sede vós, igualmente...” (v. 1) – Pedro começa com a
expressão “igualmente” (homoios, em grego).278 Este conjuntivo
imediatamente nos remete à discussão anterior de Pedro, uma vez que nos
leva a perguntar: “Igualmente o quê?” A pergunta mais apropriada deveria
ser “Igualmente a quem?” Não deveria nos surpreender que o contexto
imediato apresente o exemplo da fidelidade de Cristo ao plano e propósito
de Deus (1Pe 2.21-25).279 Assim como Jesus foi submisso e obediente à
vontade de Deus, então o marido e a esposa cristãos devem seguir o seu
exemplo.
“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio
marido...” (v. 1) – Duas vezes neste parágrafo Pedro lembrou às esposas
cristãs a necessidade de submissão (1Pe 3.1, 5). O apóstolo Paulo também
ensinou que as esposas devem se submeter à liderança de seus maridos (Ef
5.22-23; Cl 3.18, Tt 2.4-5). Submissão (hupotasso, em grego) não implica
inferioridade moral, intelectual ou espiritual na família, no trabalho ou na
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (176–177).
Chicago: Moody Publishers.
278 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (372). Nashville, TN: T. Nelson.
279 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (185–186). Grand Rapids, MI: Zondervan.
277
120
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
sociedade em geral. Mas é o projeto de Deus para as funções necessárias
para o bem-estar da humanidade.
A palavra submissão tem sua origem na palavra grega hupotasso
(hupo, “sob”; tasso, “alinhar”, “colocar em ordem”, “organizar”), que, no
sentido militar, significa “classificar abaixo”.280 Como cristãos, não devemos
nos comparar uns com os outros. A mentalidade de toda a vida cristã quando
nos relacionamos uns com os outros é de humildade e submissão.
Como disse John MacArthur: “Um comandante não é necessariamente
superior em caráter às tropas sob seu comando, mas a sua autoridade é vital
para o bom funcionamento da unidade”.281
“... para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem
palavra alguma...” (v. 2) – O propósito da submissão, como tudo na vida, é
glorificar a Deus (1Co 10.31). Uma bela atitude, graciosa e submissa é a
ferramenta evangelística mais eficaz que as esposas crentes possuem (Pv
31.26; Mt 5.16; Fp 2.15; Tt 2.3-5).
As esposas devem se submeter em tudo. Você pode perguntar, “Em
tudo?” Sim! Há apenas uma exceção. Se o marido pedir para a esposa fazer
algo contrário à Palavra de Deus, então a esposa deve dizer o que Pedro
disse: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29). Mas,
fora isso, tudo!
“... ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor” (v.
2) – O termo “honesto” (hagnos, em grego) pode ser traduzido como “pura”
ou “casta” (BEARC). É utilizado no Novo Testamento para se referir à
abstenção do pecado (1Tm 5.22). João usa esta palavra ao declarar que os
crentes devem ser puros como Jesus é puro (1Jo 3.3). Isto significa que uma
mulher que deseja ganhar seu marido para Cristo deve viver em obediência
a Deus. Ela é alguém moralmente pura.
Além disso, uma mulher piedosa é alguém cheia do “temor de Deus”,
consciente de que Ele vê tudo o que acontece (“aos olhos de Deus”, 3.4). Para
viver no temor de Deus significa reconhecer Sua santidade e ira contra todo
o pecado e, portanto, viver em obediência, mesmo quando a vida é difícil.
Entretanto, nada irá conduzir um homem para mais longe do Senhor
do que uma esposa irritante. Salomão disse há quase 3.000 anos, e ainda é
verdade hoje: “Melhor é morar no canto do eirado do que junto com a mulher
rixosa na mesma casa” (Pv 21.9). E, “... e um gotejar contínuo, as contenções da
esposa.” (Pv 19.13b). Uma esposa irritante é capaz de levar qualquer marido
à indignação, mas não levá-lo a Cristo.
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W. (1996). Vol. 2: Vine's Complete Expository Dictionary
of Old and New Testament Words (606). Nashville, TN: T. Nelson.
281 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (178).
Chicago: Moody Publishers.
280
121
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
B. Ela deve ser modesta
“Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de
cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem
interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso
e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim
também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que
esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido, como
fazia Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós
vos tornastes filhas, praticando o bem e não temendo perturbação
alguma” (1Pe 3.1-6).
“Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de
cabelos...” (v. 3) – É interessante que a palavra traduzida como “adorno” (é
kosmos, em grego) no grego, e a palavra que deu origem ao termo
“cosmético”. As mulheres romanas gostavam de moda, e competiam entre si
nas roupas e penteados. Era muito comum encontrar em Roma, mulheres
com penteados elaborados, cravejados de ouro e prata.282 Elas usavam
roupas elaboradas e caras, todos com o objetivo de chamar a atenção.
No entanto, Pedro não está proibindo o uso adequado de cosméticos,
joias ou penteados. Na verdade, mulheres que usam cosméticos de forma
adequada e de bom gosto não são “do mundo”.283 O objetivo de Pedro é que a
ênfase deve estar nas qualidades internas e não externas. É exatamente isso
que ele diz no verso a seguir, observe:
“seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível
trajo de um espírito manso e tranquilo...” (v. 4) – O versículo começa com
a conjunção adversativa “porém”. Pedro contrasta às atitudes internas do
coração (kardia, em grego) com os adornos externos do corpo (kosmos).
Embora a origem deste adorno seja invisível, manifesta-se em palavras e
ações externas. Então, Pedro contrasta kosmos com kardia, o externo com o
interno, o superficial com a virtude.284 Podem-se levar apenas algumas horas
para se preparar para uma noite elegante, mas é preciso uma vida inteira
para construir um caráter elegante.
“... trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor
diante de Deus...” (v. 4) – Pedro diz que esse espírito é precioso aos olhos de
Deus. Aqui está a beleza que nunca se deteriora, ao contrário do corpo
adornado. A palavra “manso”, também, significa “terno” e “humilde” e
“tranquilo” descreve o caráter de sua ação e reação ao marido e à vida em
geral. Isso é valioso para Deus! Sem dúvida alguma, é também precioso aos
olhos do marido!
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
283 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (187). Grand Rapids, MI: Zondervan.
284 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (187–188). Grand Rapids, MI: Zondervan.
282
122
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Um jovem oficial que ficou cego durante uma guerra conheceu e mais
tarde se casou com uma das enfermeiras que cuidou dele no hospital. Um dia
ele ouviu alguém dizer: “Sorte dela que ele é cego, por que se ele pudesse ver
não se casaria com ela”. Ele caminhou em direção à voz e disse: “Eu ouvi o
que você falou, e agradeço a Deus pela cegueira dos olhos que podem me
impedir de ver o valor maravilhoso da alma desta mulher que é a minha
esposa. Ela é a pessoa mais nobre que eu já conheci...”. A beleza exterior se
desbota, mas a beleza interior se torna mais forte ao longo do tempo.
“Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as
santas mulheres que esperavam em Deus...” (v. 5) – Pedro também
apontou para Sara como um modelo para as esposas cristãs. Sara não era
perfeita, mas provou ser uma boa companheira para Abraão, e ela é uma das
poucas mulheres nomeadas em Hebreus 11.285 “Outrora” (dias do Antigo
Testamento) muitas mulheres crentes “santas mulheres” apresentam estes
princípios de submissão (Rt 3.11; Pv 31.10-31).286
“que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos
tornastes filhas...” (v. 6) – O termo “chamar” (kalousa, em grego) é um
particípio presente, o que indica uma atitude contínua de respeito de Sara
para com o seu marido Abraão. Além disso, assim como todos os santos são
filhos de Abraão (Rm 4.1-16; Gl 3.7-29). Da mesma forma, todas as esposas
crentes que seguem o exemplo de submissão de Sara tornam-se, nesse
sentido, suas filhas. 287
Ou seja, ela o reconhecia como o líder e chefe de sua família (Gn
18.12). Como outras santas mulheres do passado, Sara colocou a sua
esperança em Deus. Este tipo de conduta dá às mulheres a herança espiritual
de Sara: “... da qual vós vos tornastes filhas praticando o bem e não
temendo perturbação alguma” (v. 6) – O termo “temer” (ptoēsin, em
grego) é uma palavra forte que significa “assustador” é utilizada apenas aqui
em todo o Novo Testamento. Esposas que têm medo (talvez por causa da
desobediência a seus maridos) não estão colocando toda a sua confiança em
Deus.
Assim, uma esposa cristã que deseja a conversão do seu esposo e
acima de tudo, que o nome de Deus seja glorificado em sua casa, vive
piedosamente de tal forma, que o seu cônjuge tenha interesse em conhecer o
Deus que ela serve.
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
286 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (180).
Chicago: Moody Publishers.
287 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (180–181).
Chicago: Moody Publishers.
285
123
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
II. A responsabilidade do marido
“Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com
discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como
parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente,
herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as
vossas orações” (1Pe 3.7).
A submissão também é responsabilidade do marido. “Maridos, vós,
igualmente...” (v. 7). A palavra “igualmente” se refere ao dever de
submissão (2.13, 18, 3.1). Desta vez é o marido crente que se submete em
servir sua esposa. Embora não deva se submeter a sua esposa como líder, o
marido deve submeter-se ao dever amoroso de ser sensível às necessidades,
temores e sentimentos de sua esposa. Pedro menciona três maneiras
básicas: Consideração, cavalheirismo e companheirismo.
A. Consideração
“Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar...” (1Pe 3.7a).
A palavra “comum” (sunoikountes, em grego) significa “habitar juntos”
e refere-se viver com alguém no mesmo lar.288 Alguém pode dizer: “Eu faço
isso! Eu e minha esposa vivemos no mesmo endereço; partilhamos a mesma
cama e tomamos muitas refeições juntos”. Mas a palavra grega significa mais
do que apenas compartilhar um quarto. Ela é usada somente aqui no Novo
Testamento, mas no Antigo Testamento aparecem várias vezes para se
referir à relação sexual no casamento. Pedro usa para se referir ao aspecto
da união.
Desta forma, o marido deve constantemente nutrir e amar sua esposa
no vínculo da intimidade. Ele deve prover suas necessidades físicas,
materiais e emocionais (1Tm 5.8). O apóstolo Paulo escreveu: “Maridos,
amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se
entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da
lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa,
sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.
Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo.
Quem ama a esposa a si mesmo se ama” (Ef 5.25-28; Pv 5.18-19; 1Co 7.3-5).
Certa ocasião, um homem fez um voto secreto de tentar ser mais
amoroso, sincero e mais presente na vida de sua esposa. Assim, ele
programou duas semanas de férias com a família. Ele trabalhou duro para
suprir todas as necessidades de sua esposa. Foi ótimo! No final do passeio,
ele fez uma nova promessa de continuar amando a esposa da mesma forma.
Mas na última noite das férias, a esposa estava chateada. Finalmente,
ela desabafou: “Querido, você está escondendo alguma coisa?” “O que você
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (180). Nashville, TN: T. Nelson.
288
124
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
quer dizer com isso?”, ele perguntou. “Bem, há algumas semanas eu fiz um
exame... o nosso médico lhe disse alguma coisa? Querido, você tem sido tão
bom para mim... eu estou morrendo?” Então, o esposo sorriu, tomou-a nos
braços e disse: “Não, querida, você não está morrendo, eu é que estou
começando a viver”.
“... como parte mais frágil, tratai-a com dignidade...” (1Pe 3.7b) –
Um marido crente também deve ser um cavalheiro. Ele reconhece que sua
esposa é mais frágil. O marido deve tratar a esposa como um vaso caro,
bonito e frágil, como um tesouro precioso.289 A palavra “frágil” não quer
dizer que as mulheres sejam inferiores aos homens (Gl 3.28). Significa
apenas que as mulheres geralmente possuem menos força física do que os
homens.290 Com isso em mente, os maridos cristãos são os provedores e
protetores de suas esposas (1Sm 1.4-5; Ef 5.23, 25-26; Cl 3.19; 1Tm 5.8),
sejam elas esposas crentes ou não.
Um marido pode não concordar com sua esposa e ainda respeitar e
honrá-la. Como o líder espiritual em casa, o marido deve, por vezes, tomar
decisões que não são agradáveis, mas deve agir com cortesia e respeito.291
Nenhum médico em sã consciência toma um delicado e preciso instrumento
cirúrgico para bater em um martelo. Pelo contrário, ele cuida e trata com
muito carinho.
O comentarista bíblico Warren Wiersbe acertadamente declarou: “O
marido deve ser o ‘termostato’ em casa, ajustar a temperatura emocional e
espiritual. A mulher muitas vezes é o ‘termômetro’, deixando-o saber o nível
da temperatura! Ambos são necessários”.292
Uma parte importante de honrar a esposa envolve a forma como o
esposo fala com ela e sobre ela. Além disso, se o casal tem filhos, é dever do
esposo se certificar de que está honrando a esposa no seu papel de mãe.
Todo marido deve ser como o esposo da mulher virtuosa (Pv 31.10-31).
B. Companheirismo
“... tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da
mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações”
(1Pe 3.7).
Em terceiro lugar, o marido deve ser um companheiro para sua
esposa. Pedro diz que os dois são “herdeiros da mesma graça de vida”. Aqui
não se refere à salvação, mas ao casamento – a melhor relação que a vida
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.7). Wheaton, IL: Victor
Books.
290 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (182).
Chicago: Moody Publishers.
291 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.7). Wheaton, IL: Victor
Books.
292 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.7). Wheaton, IL: Victor
Books.
289
125
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
terrena pode oferecer. Pedro nomeia o casamento como “graça da vida”,
porque a graça (charis) significa “favor imerecido” (Rm 1.5; 3.24, 5.15, 17,
12.3, 15.15; 2Co 8.1; 9.8; Gl 2.9; Ef 2.7; 3.2, 7; 4.7, 4.29; 2Tm 1.9; Hb 4.16; Tg
4.6). O casamento é uma providência divina dada ao homem,
independentemente da sua atitude para com o doador.293
“... para que não se interrompam as vossas orações” (v. 7) – Ao
invés de terminar o assunto dizendo: “todos viverão felizes para sempre” ou
“louvado seja Deus”, Pedro conclui de forma surpreendente. Pedro chama a
atenção para algo que muitas vezes esquecemos: há sempre uma correlação
entre seu relacionamento com sua esposa e seu relacionamento com Deus
(Mt 5.23-24; 6.14-15). Se você não quer nenhum obstáculo em sua vida de
oração, então aprenda a honrar sua esposa.
A oração está no centro da vida, uma vez que é a nossa ligação com o
Deus vivo. Nenhuma ameaça divina mais grave poderia ser dada a um crente
do que essa, a interrupção de todas as orações (Jo 14.13-14). 294 No entanto,
infelizmente, muitos casais cristãos nunca oram juntos.
Matthew Henry estava certo quando escreveu: “Todos os casais
devem ter o cuidado de se comportar com tanto carinho e pacificamente um
com o outro para não atrapalhar, com suas brigas, o sucesso de suas
orações”.295
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (182).
Chicago: Moody Publishers.
294 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (182–183).
Chicago: Moody Publishers.
295 Henry, M. (1994). Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: Complete and
unabridged in one volume (1Pe 3.1–7). Peabody: Hendrickson.
293
126
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Conclusão:
Que lição maravilhosa: Esposo e esposa são “co-herdeiros” (1Pe 3.6).
Se a mulher mostra submissão e o marido consideração, e ambos se
submetem a vontade de Cristo, o resultado será um casamento bemsucedido. Caso contrário, todo esforço será em vão (Sl 127.1).
Depois de aprender lições preciosas sobre a vida conjugal, concordo
com Warrem Wiersbe, todo casal deveria fazer uma avaliação,
ocasionalmente, do seu casamento. Aqui estão algumas perguntas, com base
no que Pedro escreveu:
1. Você é um parceiro ou um concorrente do seu cônjuge?
2. Você procura ajudar o seu cônjuge a se aproximar mais de Deus?
3. Você é sensível aos sentimentos e necessidades do seu cônjuge?
4. Você tem visto Deus responder suas orações?
5. Seus filhos sabem o quanto você ama o seu cônjuge? 296
As respostas honestas a essas perguntas podem fazer toda diferença!
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.7). Wheaton, IL: Victor
Books.
296
127
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
O segredo de uma vida feliz
[estudo 15 – 1pedro 3.8-12]
Qual é o segredo de uma vida feliz? Depois de dar instruções sobre
como devemos viver em relação aos gentios (2.11-12), às autoridades (2.1317), aos empregadores (2.18-25) e na vida conjugal (3.1-7), Pedro agora
apresenta um resumo das qualidades que os crentes devem expressar em
seus relacionamentos a fim de desfrutarem de uma vida feliz (v. 10).
Enquanto estiverem neste mundo, os crentes não estão isentos de
graves e variadas dificuldades que roubam a alegria (1Pe 1.6; 2.11). Aliás, a
perseguição e o sofrimento acompanham a vida cristã. Isso não é algo
estranho (2.20-21; 3.14-15, 17, 4.1, 12, 19, 5.10). Ainda assim, apesar do
sofrimento, Pedro menciona os crentes como àqueles que “amam a vida e
desejam viver dias felizes” (v. 10). Mas como isso é possível?
Uma vida feliz não está fundamentada nos bens, prestígio ou glória. O
rei Salomão tinha poder e influência e, aparentemente, era um homem feliz.
A Bíblia diz que ele possuía terras, palácios, carros e cavalos, ouro e prata, e
desfrutava da presença de muitas mulheres. Em 2Crônicas está registrado
que a rainha de Sabá ao visitar Salomão e observar sua imensa riqueza,
poder e glória, ficou ofegante! (2Cr 9.3-6). No entanto, até o final de sua vida,
Salomão não conseguiu experimentar a vida ao máximo. Em Eclesiastes, ele
escreveu: “Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se faz
debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec 2.17). Salomão
percebeu que uma vida feliz não é encontrada em grandes realizações e
muita educação (Ec 1.12-14, 16). Nem encontrada no prazer (Ec 2.3) ou bens
materiais (Ec 2.4-11; 4.1-3).
Nesta passagem, Pedro cita o Salmo 34 e apresenta aos seus leitores o
segredo de uma vida realmente feliz. Concordo com John MacArtur, em
1Pedro 3.8-12 existem, pelos menos, quatro áreas que os crentes devem
praticar a fim de viverem dias felizes: uma atitude correta, uma resposta
correta, um padrão correto e um incentivo correto.297
I. Uma atitude correta
“Finalmente, sede todos de igual ânimo, compadecidos, fraternalmente amigos,
misericordiosos, humildes” (1Pedro 3.8).
“Finalmente...” (v. 8) – O apóstolo conclui sua discussão sobre a
conduta do cristão em um mundo ímpio, que começou em 2.11. Pedro usa a
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (187).
Chicago: Moody Publishers.
297
128
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
palavra “finalmente” (telos, em grego). Isso não significa o fim da carta, mas a
conclusão da seção atual.298 Pedro menciona cinco características da vida
que trazem a bênção de Deus e, consequentemente, uma vida feliz:
“sede todos de igual ânimo” (v. 8) – A expressão “de igual ânimo”
(homophrōn, em grego) literalmente significa “ter a mesma mente”. Isso não
quer dizer que todos devem pensar e agir da mesma forma. Unidade não é o
mesmo que uniformidade, onde todo mundo parece e funcionar exatamente
da mesma forma. Pedro não está nos chamando para cantar em uníssono,
mas em harmonia.299 Todos os cristãos devem manter a paz e a harmonia (Jo
13.35; Rm 12.16, 15.5; 1Co 1.10; FP 2.1-2).
Desentendimentos na igreja não são novidades. Nem todos possuem o
mesmo pensamento “igual ânimo”. Todavia, devemos ter o mesmo objetivo,
o Senhor Jesus Cristo (Fp 2.5). A igreja é o corpo de Cristo, e em Cristo e com
o Seu poder, caminhamos acima das coisas que nos dividem. Em Cristo
temos uma unidade que transcende questões secundárias. Podemos
discordar de muitas coisas e ainda viver em harmonia uns com os outros, se
mantivermos nosso foco no Senhor Jesus Cristo.
Embora este seja o único lugar na Bíblia onde a palavra (homophrōn)
seja utilizada, ela é oriunda de uma família de palavras que são usadas
frequentemente para designar a união ou harmonia do corpo de Cristo. Por
exemplo, no livro de Atos, lemos: “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes,
estavam todos reunidos no mesmo lugar” (At 2.1). A palavra traduzida como
“reunidos” é homothumadón que aparece cerca de sete vezes somente no
livro de Atos para descrever a unidade e a harmonia dos primeiros crentes
que compunham a igreja.300
Deus chamou Seus filhos e filhas a viverem em harmonia com Ele e
uns com os outros (Ef 4.13). Quando vivemos debaixo do senhorio de Jesus
Cristo e estamos em sintonia com Ele, estamos em harmonia com nossos
irmãos e irmãs em Cristo. Quando há desarmonia e desunião na igreja, o
pecado está presente. A solução é espiritual!
“compadecidos” (v. 8) – A palavra grega traduzida como
“compadecidos” é sumpathés (“Sun”, com, “pascho”, sofrer) significa
literalmente “sofrer com o outro”, a partir da qual obtemos a palavra
“simpatia”, em português.301 Pedro nos instrui a sermos simpáticos ou
compassivos uns para com os outros.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (186).
Chicago: Moody Publishers.
299 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (195). Grand Rapids, MI: Zondervan.
300 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). Vol. 34: James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (159). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
301 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (116–117). Nashville, TN: T. Nelson.
298
129
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
O autor de Hebreus declara que o nosso Salvador se compadeceu de
nossas fraquezas (Hb 4.15) e por isso devemos fazer o mesmo. Na verdade,
todo crente deve ser sensível aos sofrimentos dos outros. Devemos nos
alegrar com aqueles que se alegram e chorar com os que choram (Rm
12.15). Simpatia é “a dor do outro em nosso coração”. Assim, não devemos
ser insensíveis, indiferentes ou cínicos sobre o sofrimento que vemos na
vida dos outros irmãos.
“fraternalmente amigos” (v. 8) – A palavra usada por Pedro
(philadelphos, em grego) é a mesma utilizada para “amor fraternal” em 1.22.
Refere-se a uma amizade carinhosa ou um amor de irmão.302 Essa palavra
aponta para o fato de que, como crentes, somos membros de uma mesma
família. Philadelphos indica um senso de lealdade tão forte como as relações
de uma família natural. Aqueles que demonstram esse carinho irão fazê-lo
através do serviço desinteressado (At 20.35, Rm 14.19, 15.2, 2Co 11.9; Fp
4.14-16; 1Ts 5.11, 14; 3Jo 6).303 Esse serviço começa na igreja entre os fiéis e
se estende para o mundo. Frequentemente uma oportunidade de ser
fraterno para com outra pessoa abre a porta para o testemunho de nosso
Senhor Jesus Cristo.
“Misericordiosos” (v. 8) – A palavra “misericórdia” (eusplagchnoi, em
grego) refere-se aos órgãos internos e às vezes é traduzida como “entranha”
ou “intestinos” (At 1.18). Afetos e emoções têm um impacto visceral,
portanto, esta palavra significa um tipo poderoso de sentimento (2Co 7.15;
1Ts 2.8).304 Paulo usa este termo em Efésios: “Antes, sede uns para com os
outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também
Deus, em Cristo, vos perdoou” (Ef 4.32).
Pedro chama os cristãos a ter emoções profundas para com aqueles
que estão sofrendo. A palavra mais tarde veio a significar coragem. Aqui está
a conexão. É preciso coragem para cuidar e se envolver com as necessidades
dos outros. A ideia é ter sentimentos profundos e uma preocupação genuína
para com os outros.
“humildes” (v. 8) – O último fator na lista de Pedro aprecia a bondade
da vida cristã, humildade de espírito (tapeinophrones, em grego). A palavra
“humildade” tem sua origem na raiz da palavra “amigo” (Filadélfia-Filos;
philóphrōn, em grego) significa, literalmente, ser “amigável de mente” ou ser
“cortês”.305 A humildade é sem dúvida a virtude mais essencial da vida cristã
302 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (195). Grand Rapids, MI: Zondervan.
303 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (188).
Chicago: Moody Publishers.
304 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (188).
Chicago: Moody Publishers.
305 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.8). Wheaton, IL: Victor
Books.
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
(Mt 5.3; 18.4, Lc 14.11, 18.14; Ef 4.1-2; Cl 3.12; Tg 4.6; Sl 34.2; Pv 3.34, 15.33,
22.4).306
John MacArthur estava certo ao declarar: “A alegria da vida em Cristo
é maximizado quando estamos unidos na verdade e na vida um com o outro,
na disposição pacífica, misericordiosa para com aqueles que precisam do
evangelho, sensíveis às dores dos pecadores caídos, sacrifício no serviço
amoroso a todos, compassivos, em vez de aspereza, e acima de tudo humilde
como o Salvador”.307 Assim, uma vida feliz está diretamente ligada a
relacionamentos saudáveis.
II. Uma resposta correta
“não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário,
bendizendo, pois para isto mesmo fostes chamados, a fim de
receberdes bênção por herança” (1Pe 3.9).
O versículo 9 nos dá uma aplicação muito específica das cinco ordens
no versículo 8. Pedro aplica seus ensinamentos para situações em que foram
maltratados por outros. Este versículo contém um mandamento negativo e
outro positivo.
“Em primeiro lugar, “... Não pagando mal por mal...” (v. 9) – Um
relacionamento saudável não é marcado apenas por atitudes corretas, mas
também, por respostas ou reações corretas, principalmente, quando somos
ultrajados. A palavra “pagar” (apodidomi, em grego) significa devolver ou
retribuir. O cristão não deve pagar na mesma moeda (cf. Lv 19.18; Dt 32.3536; Pv 20.22; 24.29; Rm 12.19; Hb 10.30). Aa verdade, a vingança é uma
resposta inaceitável para os crentes (Ef 4.29; Cl 3.8; Pv 4.24; 19.1; Ec 5.6).
“ou injúria por injúria...” – A tentação de responder “na mesma
moeda” deve ter sido muito grande para os crentes perseguidos, que foram
os primeiros leitores desta epístola. Assim, Pedro adverte seus leitores a não
revidar. A expressão “injúria por injúria” (loidoria, em grego) significa
“ultrajar”, “xingar” ou “falar mal de alguém” (2.23). O apóstolo Paulo
declarou: “Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos,
suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos
chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos” (1Co 4.12-13).
Mais adiante Paulo adverte aos crentes a não injuriar (6.10) ou se associar
com aqueles que fazem (5.11).308
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (188).
Chicago: Moody Publishers.
307 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (189).
Chicago: Moody Publishers.
308 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (190).
Chicago: Moody Publishers.
306
131
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Em segundo lugar, “bendizendo, pois para isto mesmo fostes
chamados” (v. 9) – A palavra “bendizer” (eulogeo, eu: “Bem”, logos: a
palavra) significa literalmente “falar bem de”, “elogiar” ou “exaltar”.309 O
ponto do apóstolo Pedro é que o crente deve livremente conceder perdão a
alguém que o tenha ofendido, uma vez que a ofensa é tão pequena em
comparação com a grandeza de Deus e como Ele foi ofendido pelos nossos
pecados. Os crentes receberam a bênção imerecida do perdão de uma dívida
impagável (Jo 10.28; Rm 5.8-9; 6.23; Gl 1.4; Ef 1.7; Cl 1.14; 2.13-14; 1Ts 5.9;
1Jo 4.9-10), ao invés de vingança merecida pelo pecado.310
Seja sincero, ao ser insultado, como você reage? Quando você recebe
uma carta ou um e-mail que te deixa indignado, você é rápido para escrever
uma resposta com raiva? Quando alguém faz uma acusação falsa contra
você, o que você faz? Você procura uma maneira de se vingar? Se assim for,
você precisa ouvir o que Deus está dizendo através desta passagem.
O escritor britânico CS Lewis corretamente declarou: “Ser cristão
significa perdoar o imperdoável, porque Deus perdoou o indesculpável em
você”.
III. Um padrão correto
“Pois quem quer amar a vida e ver dias felizes refreie a língua do mal
e evite que os seus lábios falem dolosamente; aparte-se do mal,
pratique o que é bom, busque a paz e empenhe-se por alcançá-la” (1Pe
3.10-11).
Você quer uma vida boa? Pedro proclama quatro orientações sobre
desfrutar da verdadeira felicidade.
Em primeiro lugar, “refreie a língua do mal...” (v. 10) – A língua é
muitas vezes rebelde e propensa ao pecado: “Ora, a língua é fogo; é mundo de
iniquidade; a língua está situada entre os membros de nosso corpo, e
contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da
existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno”
(Tg 3.6; 1.26; 3.9-10; Sl 12.3; Pv 12.18; 15.2, 4).311
Warren Wiesrbe estava certo quando escreveu: “Muitos dos
problemas da vida são causados pelas palavras erradas, proclamadas no
espírito errado.312 Se não utilizarmos nossas palavras com muita cautela,
nos tornarmos “incendiários espirituais”, capazes de causar uma destruição
309 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New
Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
310 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (191).
Chicago: Moody Publishers.
311 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (192).
Chicago: Moody Publishers.
312 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.8). Wheaton, IL: Victor
Books.
132
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
generalizada. Assim, todo cristão deveria ler Tiago 3 regularmente e fazer a
mesma súplica do salmista: “Põe guarda, SENHOR, à minha boca;
vigia a porta dos meus lábios” (Sl 141.3).
Em segundo lugar, “... evite que os seus lábios falem dolosamente”
(v. 10) – Além de abster-se da retaliação verbal, os crentes devem controlar
a sua língua, evitando fofocas, calúnias, linguagem crua, engano, exagero, e
todos os tipos de maldade e loucura.313 Um falar autêntico e dirigido ao bem
de todos significaria, em nosso mundo, uma revolução de imensas
proporções.314 Não há lugar para a mentira na vida de alguém que diz amar a
Deus. Você tem sido uma fonte de vida para as pessoas? Sua família é
abençoada pelas suas palavras?
Em terceiro lugar, “aparte-se do mal, pratique o que é bom... (v.
11) – Continuando sua citação do Salmo 34.14, Pedro continua sua
exortação para uma vida santa. O verbo “apartar-se” (ekklinatō) denota uma
intensa e forte rejeição do que é pecaminoso, neste contexto, o tratamento
pecaminoso dos outros, mesmo aqueles que perseguem os santos (cf. Mt
5.44; Rm 12.14).315 Assim, a palavra “apartar” significa mais do que apenas
“evitar alguma coisa”, significa abandonar porque você despreza e
detesta.316 Ou seja, devemos evitar o mal, porque odiamos aquilo que é
errado.
Em quarto lugar, “busque a paz e empenhe-se por alcançá-la” (v.
11) – Os verbos “buscar” e “empenhar” transmitem uma intensa e agressiva
ação. Como um caçador que busca vigorosamente sua presa. O termo “paz”
(eirēnēn, em grego) indica uma condição constante de tranquilidade que
produz alegria e felicidade permanente (cf. Lc 2.14; 8.48; 19.38; Jo 14.27,
16.33, Rm 5.1; 8.6, 15.13; Gl 5.22; Fp 4.7; Cl 3.15; 2Ts 3.16). Os cristãos
devem buscar a paz de forma intensa (cf. Rm 12.18; 14.19; 1Ts 5.13; 2Ts
3.16).317
No entanto, gostamos de discutir e brigar. Em vez de procurar e
buscar a paz, muitas vezes buscamos a polêmica.318 Sejam por divergências
doutrinárias pequenas ou pela cor do tapete, os cristãos podem rapidamente
roubar uns aos outros a paz. Em vez disso, os servos do Príncipe da Paz (Is
313 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (196). Grand Rapids, MI: Zondervan.
314 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 189.
315 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (192).
Chicago: Moody Publishers.
316 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.8). Wheaton, IL: Victor
Books.
317 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (192–193).
Chicago: Moody Publishers.
318 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (196). Grand Rapids, MI: Zondervan.
133
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
9.6) deveriam refletir a paz, tanto na igreja quanto no mundo. Jesus
declarou: “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados
filhos de Deus” (Mt 5.9).
IV. Um incentivo correto
“Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus
ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está
contra aqueles que praticam males” (1Pedro 3.12).
Manter a paz não é algo fácil. Na verdade, às vezes, é necessário muito
esforço. Paulo declarou: “Se for possível, quanto depender de vós, tende paz
com todos os homens” (Rm 12.18). Às vezes não é possível! Mas a verdade é
que a paz não acontece automaticamente. É necessário muito esforço!
“Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos...” (v. 12) –
Alguém pode argumentar: “Mas se os inimigos nos ultrajarem?”. A frase “os
olhos do Senhor” é muito comum no Antigo Testamento, significa uma
vigilância especial e carinhosa de Deus sobre o Seu povo (Pv 5.21; Zc 4.10).
Às vezes, a frase indica vigilância e julgamento de Deus (Am 9.8; Pv 15.3),
mas aqui a ênfase está na sua consciência onisciente de todos os detalhes da
vida dos crentes (cf. Sl 139.1-6.).319 Nada escapa aos olhos de Deus.
“e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas...” (v. 12) – A
palavra “súplica” (deēsin, em grego) significa “petição” ou “oração”, e referese aos crentes “clamando por Deus para suprir suas necessidades” (Sl 5.2;
Mt 7.7; Fp 4.6; 1Jo 5.14-15).
A frase “os olhos” e “ouvidos do Senhor” são figuras de linguagem,
antropomorfismos que atribuem características físicas humanas a Deus.
Enfatizam a supervisão atenta de Deus e uma atenção especial às
necessidades de seu povo (cf. 2.25).320 Deus está sempre e plenamente
consciente de tudo na vida de Seus filhos.321 É maravilhoso saber que o
Senhor está sempre observando e pronto para ouvir e responder nossas
orações (1Pe 4.7; Sl 50.15; 65; 2; 138.3; Rm 8.26; Hb 4.16). Como declarou o
comentarista K. S. Wuest, “Deus está mais desejoso em responder do que nós
em receber uma resposta”.322
Aqueles que fazem o bem não tem nenhuma razão para temer, porque
Deus recompensará sua justiça e punirá qualquer um que caluniar ou
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (193).
Chicago: Moody Publishers.
320 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books.
321 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (193–194).
Chicago: Moody Publishers.
322 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English
reader. Grand Rapids: Eerdmans.
319
134
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
oprimir os crentes, não importa como!323 Podemos confiar em Deus para nos
proteger e sustentar, pois somente Ele pode derrotar os nossos inimigos
(Rm 12.17-21).
“mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males”
(v. 12) – Em contraste com os olhos do Senhor, Pedro diz que “o rosto do
Senhor está contra aqueles que praticam males”. Isto significa que o Senhor
está atento para julgar a causa do Seu povo (cf. Gn 19.13; Lm 4.16). Sua face,
neste contexto, representa a manifestação da Sua ira contra os que fazem o
mal e os que desobedecem a Sua Palavra (cf. Sl 76.6-8; Ap 6.16).
Pedro citou estas declarações do Salmo 34.12-15, por isso seria de
grande proveito ler todo o Salmo. No Salmo 34, Davi declara que a vida do
crente não está livre de temores, “livrou-me de todos os meus temores” (Sl
34.4), problemas (Sl 34.6, 17), aflições (Sl 34.19), e até mesmo um coração
quebrantado (Sl 34.18). Ou seja, uma vida feliz não é ausência de
dificuldades, mas a certeza da presença de Deus em todas as situações. , por
causa dos problemas da vida e provações:
“Clamou este aflito, e o SENHOR o ouviu e o livrou de todas as suas
tribulações. O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o
temem e os livra. Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bemaventurado o homem que nele se refugia. Temei o SENHOR, vós os
seus santos, pois nada falta aos que o temem” (Sl 34.6-9).
Conclusão:
Você deseja dias felizes? Então você deve praticar o que está escrito
em 1Pedro 3.8-10. Pedro cita o Salmo 34, que diz que se alguém ama a vida e
deseja dias bons, então deve cuidar atentamente de suas palavras, ações e
reações diante das perseguições. Então, a Escritura promete que a bênção de
Deus estará sobre nós (3.12). Se não vivermos assim, o contrário é
verdadeiro: A face do Senhor estará contra nós.
Em certa ocasião, a primeira dama dos Estados Unidos, Barbara Bush
falou no início do semestre na Wellesley College. Ela disse:
“Tão importante quanto possam ser suas obrigações como
médico, advogado ou líder de negócios, seu relacionamento
com seu cônjuge, seus filhos e seus amigos são os
investimentos mais importantes que você fará. No fim de
sua vida, você não lamentará por não ter feito um exame
clínico, nem por não ter obtido sucesso em uma causa
jurídica, e nem por não ter conseguido fechar certo negócio,
323
Michaels, J. R. (1998). 1Peter (Vol. 49, p. 182). Dallas: Word, Incorporated.
135
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
mas lamentará não ter passado mais tempo com seu
cônjuge, seus filhos e seus amigos. O nosso sucesso na
sociedade não depende do que acontece na Casa Branca,
mas sobre tudo no que acontece dentro de sua casa”.324
Ela estava certa! Relacionamentos saudáveis é a essência de uma vida
feliz. Eles são essenciais se queremos glorificar a Deus e desfrutar de Suas
bênçãos. Não conheço nenhuma outra parte da Escritura que seja melhor
para nossos relacionamentos do que 1Pedro 3.8-12. Por isso, você faria
muito bem, se gravasse em seu coração e aplicasse em seus
relacionamentos. Essa é a única maneira de ter uma vida realmente feliz!
Aplique essas palavras em seu coração. Você vai ser um canal de
bênção para os outros, e você vai herdar uma bênção de Deus. Amém.
324
Reader's Digest [1/91], p. 157-158.
136
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
O Testemunho cristão
[estudo 16 – 1pedro 3.13-17]
Charles Earl Bowles (1829-1888), mais conhecido como Black Bart,
era um ladrão profissional cujo nome aterrorizava os passageiros da linha
férrea de San Francisco a Nova York nos Estados Unidos. Entre 1875 e 1883,
ele cometeu 29 assaltos em diferentes vagões. Surpreendentemente, Black
Bart fez tudo isso sem disparar um tiro se quer. Ele apenas utilizava um
capuz para cobrir o rosto. Quando foi preso, Black Bart declarou que não
havia necessidade de utilizar armas, ele usava o medo para paralisar suas
vítimas. “O medo, o rosto do desconhecido, era a minha arma, a minha arma
de intimidação”. Sua presença sinistra e as ameaças eram o suficiente para
superar o mais difícil guarda.
De forma semelhante, vivemos em um mundo marcado pelo medo
constante. O crescimento da violência, o perigo nas estradas, a ameaça de
guerras, terrorismo e o risco de bombas nucleares, biológicas ou químicas.
Como se não bastasse, sofremos também com a perseguição contra a igreja,
entre eles, a influência de partidários contrários aos ensinamentos bíblicos,
que fazem um grande alarde. Tudo isso é capaz de perturbar a nossa alma.
Mas, louvado seja Deus, seja qual for à situação temerosa a que
venhamos enfrentar, nosso mestre nunca muda. Como cristãos, somos
confrontados com as crises e tentados a ceder a nossos medos e tomar as
decisões erradas. É por isso que Pedro declara aos leitores que sofriam com
as perseguições: “... Não tenham medo de ninguém, nem fiquem preocupados”
(v. 14, NTLH). Pedro encoraja aos seus leitores com o fato de que a resposta
certa aos sofrimentos imerecidos resulta em bênçãos.325 Desta maneira,
podemos testemunhar em um mundo hostil de forma respeitosa e no poder
de Cristo.
I. O lugar onde somos chamados a testemunhar
“Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é
bom?” (1Pedro 3.13).
“Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é
bom?” (v. 13) – Citando o Salmo 34, Pedro lembra aos crentes sobre a
necessidade de se buscar a paz. Se formos zelosos no que é bom, em geral,
não seremos perseguidos. É o mesmo princípio registrado em Provérbios:
Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books.
325
137
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“Sendo o caminho dos homens agradável ao SENHOR, este reconcilia com eles
os seus inimigos” (Pv 16.7).
Isso não é uma promessa sem exceção, mas uma máxima que
geralmente é verdade. Uma vida correta é mais pacífica do que uma vida má.
É incomum as pessoas tratarem mal aqueles que se dedicam a fazer o bem.
Por exemplo, se você pagar suas dívidas, normalmente você vai ficar
financeiramente equilibrado. Se você permanecer sexualmente puro,
geralmente você vai evitar decepção e ciúme. Se você se comportar com
humildade e paz, na maioria das vezes você evitará inimigos. Assim, em
geral, o conselho de Pedro para uma vida sábia redundará em benefícios.326
Mas é provável que Pedro esteja dizendo muito mais do que isso.
Jesus declarou aos doze: “Não temais os que matam o corpo e não podem
matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a
alma como o corpo” (Mt 10.28). Como Pedro aponta (3.16, 17), se mantemos
uma boa consciência quando caluniados, um dia nossos inimigos serão
envergonhados. Hoje, podemos até sofrer, mas seremos recompensados na
eternidade. Da mesma forma, aqueles que nos perseguem sentirão o peso
das mãos do Senhor.
“... se fordes zelosos do que é bom?” (v. 13) – Se Deus está do lado
dos justos e contra os que fazem o mal, o que pode acontecer com aqueles
que fazem o bem? (Sl 56.4, 91.7-10, 118.6; Is 50.9; Mt 10.28-31; Lc 12.4-7;
21.18; Rm 8.31). O adjetivo zeloso (mimetes, em grego) significa imitador ou
seguidor (1Co 4.16, 11.1; Ef 5.1; Hb 6.12).327 A frase refere-se simplesmente
aos seguidores ávidos ou devotos do que é bom.328 A palavra “zelosos” é a
tradução de uma palavra grega que significa “fanáticos”. O verbo significa
“arder em zelo, desejar ardentemente”.329
Como veremos, Cristo é o Senhor e ainda podemos confiar nele e não
temer a hostilidade. Na realidade, o mundo é contrário a Cristo e se somos
identificados com Cristo, há sempre a possibilidade de que o mundo seja
hostil conosco (Jo 15.18-20). Mas Deus nos deixou aqui para dar testemunho
da Sua misericórdia para com aqueles que estão em guerra contra Ele. Como
é que vamos fazê-lo fielmente?
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 197). Grand Rapids, MI:
Zondervan.
327 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
328 Michaels, J. R. (1998). 1Peter (Vol. 49, p. 185). Dallas: Word, Incorporated.
329 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English
reader. Grand Rapids: Eerdmans.
326
138
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
II. A prática do nosso testemunho
“Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bemaventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas
ameaças, nem fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo, como
Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder
a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1Pe
3.14-15).
Pedro prepara a igreja, não simplesmente para suportar a
perseguição, mas para encontrar na perseguição uma oportunidade para
testemunhar.330 Pedro diz que podemos realmente “sofrer por causa da
justiça” (3.14). Pedro fornece aos seus leitores quatro conselhos sobre como
responder, como cristãos, as perseguições de um mundo hostil.
Em primeiro lugar, considere-se abençoado por Deus: “Mas,
ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois”
(3.14a) – Quando você recebe um tratamento injusto. Esta não é a resposta
que poderia esperar. Quando experimentamos um tratamento injusto,
poderíamos pensar, “o que eu fiz de errado?” Ou, “será que Deus viu minhas
boas obras?” Pedro tem uma abordagem semelhante de Tiago: “Meus irmãos,
tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo
que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tg
1.2).
Como os crentes podem se considerar “bem-aventurados” no
sofrimento? Primeiro, eles são abençoados, porque Deus usa esse tipo de
tratamento injusto, como parte de seu plano para fortalecê-los e torna-los
mais semelhantes a Cristo (ver 2.21-3.09).331 Um tratamento injusto indica
que estamos no centro da vontade de Deus. Em segundo lugar, somos
abençoados porque podemos olhar para frente e pela fé contemplar uma
recompensa futura por suportar tais provações. Jesus disse: “Bemaventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o
reino dos céus” (Mt 5.10). Certamente, ao escrever esta carta, Pedro, se
lembrara das palavras do Senhor.
A palavra “bem-aventurados” (makarioi, em grego, Cf. 4.14) é utilizado
nas bem-aventuranças em Mateus 5 e Lucas 6, é especialmente frequente no
Evangelho de Lucas, e encontrada sete vezes no Apocalipse (1.3, 14.13,
16.15, 19.9, 20.6, 22.7, 14).332 Significa “abençoado, feliz”.333 Os cristãos não
devem ter medo do que os homens podem fazer (cf. Mt 10.28).
Consequentemente 1Pedro 3.14 conclui com uma citação de Isaías 8.12 que,
330 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: the way of the cross (p. 145–146).
Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
331 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 198). Grand Rapids, MI:
Zondervan.
332 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
333 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New
Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
139
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
no contexto, é uma exortação para temer a Deus mais do que aos homens.334
Os cristãos devem trocar o medo dos homens pelo temor ao Senhor.
A segunda resposta ao tratamento hostil é abster-se do medo:
“Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis
alarmados” (3.14b) – O verbo grego para “amedronteis” (phobos, em grego)
deu origem à palavra “fobia” em português. Isso implica fugir ou evitar
alguma coisa.335 Pedro escreveu aos cristãos para não se intimidarem diante
das perseguições (cf. Sl 118.6; Pv 29.25; Mt 10.28; Lc 12.4-5; At 4.23-30).
Além disso, eles não deveriam ficar “alarmados”. A palavra “alarmados”
(tarasso, em grego) significa agitar, sacudir (algo, pelo movimento de suas
partes para lá e para cá). Jesus usou a mesma palavra no Evangelho de João,
quando disse aos discípulos: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus,
crede também em mim” (Jo 14.1).
Os crentes devem enfrentar todas as circunstâncias com coragem (cf.
Js 1.7, 9; 10.25; 2Sm 10.12; 1Cr 28.10, 20; Ed 10.4; Sl 31.24; Mc 6.50; 1Co
16.13). O sofrimento deve ser visto como uma oportunidade de receber as
bênçãos espirituais, e não como uma desculpa para comprometer a fé diante
de um mundo hostil.336 Os crentes cujas mentes estão postas nas coisas do
alto (Cl 3.2-3) se alegrarão quando forem submetidos aos sofrimentos.
Assim como o rei Josafá (2Cr 20.12), os nossos olhos devem estar postos em
Deus, principalmente quando não sabemos o que fazer.
Essa perspectiva eterna foi capaz de sustentar o apóstolo Paulo em
meio aos sofrimentos temporários que marcaram seu ministério. Como ele
lembrou aos Coríntios, o mundo e seus sofrimentos atuais estão passando
(1Co 7.31). As coisas que vemos são temporais. Elas estão sujeitas ao fim.
São todas perecíveis. Elas acabarão um dia (2Co 4.16-18). O sofrimento não
dura a vida inteira. Um dia suas lágrimas serão enxugadas pelas mãos
misericordiosas do Senhor Deus (Ap 21.4). A dor não vai durar a vida inteira.
Depois de uma noite sombria nasce uma manhã dourada (Sl 30.5).
A terceira resposta ao tratamento injusto é estar pronto para dar
uma defesa: “estando sempre preparados para responder a todo aquele
que vos pedir razão da esperança que há em vós” (3.15 b) – O termo
“defesa” é a palavra grega apologia, que significa “dar conta” ou fornecer
testemunho legal.337 Em português à palavra “apologética” deriva desse
termo. Pedro diz aos seus leitores que eles deveriam estar prontos para dar
a razão da esperança que temos em Cristo. Ele é a nossa fonte de esperança
334 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books.
335 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
336 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 199). Chicago: Moody Publishers.
337 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
140
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
em tempos dolorosos. Jesus sozinho fornece uma base sólida para esperança
em meio ao sofrimento.338
À medida que compartilhamos o evangelho gentilmente, sem brigas,
silenciosamente devemos pedir a Deus que nos conceda o arrependimento e
que conduza nosso ofensor ao conhecimento da verdade (2Tm 2.24-25).
Para a fé cristã, um forte ataque é a melhor defesa, aliás, é a única defesa.
Cristãos defendem a sua fé, proclamando o evangelho, declarando a
realidade da ressurreição de Jesus Cristo no plano e poder de Deus.339
Finalmente, Pedro exorta os crentes a responder a um
tratamento injusto, mantendo uma boa consciência: “fazendo-o,
todavia, com mansidão e temor, com boa consciência” (3.16) – No
entanto, apesar do ódio ou desprezo, o cristão apresenta a sua esperança,
humildemente proclamando obra e palavra de Deus. Pedro declara que o
testemunho do crente não deve ser administrado de forma arrogante, mas
com mansidão e respeito.
Os cristãos que sofrem injustamente e mantêm a consciência limpa
envergonham os que difamam o bom comportamento em Cristo. Mais uma
vez, Pedro encorajou os seus leitores com o fato de que o bom
comportamento é a sua melhor defesa contra a punição injusta e
perseguição.340
Uma consciência impura, no entanto, não pode ser confortável (cf. Gn
42.21; 2Sm 24.10; At 2.37) e é incapaz de suportar o estresse proveniente de
provações difíceis e perseguições. Os crentes devem ser capazes de
concordar com o apóstolo Paulo, que declarou: “Por isso, também me esforço
por ter sempre consciência pura diante de Deus e dos homens” (At 24.16; cf
2Co 1.12).341
Inscrita no monumento de Martin Lutero em Worms, Alemanha estão
as suas palavras corajosas pronunciadas perante o conselho da igreja em 18
de abril de 1521: “Minha consciência está cativa à Palavra de Deus: não
posso agir de outra maneira. Que Deus me ajude. Amém!”342
Certa baronesa cristã que vivia em Nairobi, no Quênia, possuía um
jovem empregado como secretário. Depois de três meses, ele pediu à
baronesa que lhe concedesse uma carta de referência para trabalhar no
palácio de um sheik amigável que residia há alguns quilômetros de distância.
A baronesa, não querendo que perder o empregado, ofereceu aumentar o
seu salário. O jovem respondeu que não estava saindo por causa do salário.
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 199). Grand Rapids, MI:
Zondervan.
339 Clowney, E. P. (1988). The message of 1Peter: the way of the cross (p. 149–150).
Leicester, England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
340 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures. Wheaton, IL: Victor Books.
341 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter (p. 204). Chicago: Moody Publishers.
342 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books.
338
141
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Em vez disso, ele decidiu que se tornaria um cristão ou muçulmano.
Foi por isso que ele aceitou o emprego para trabalhar com a baronesa por
três meses. Ele queria ver como os cristãos agiam. Agora, ele queria
trabalhar por três meses com o sheik para observar o comportamento dos
muçulmanos. A baronesa ficou surpresa ao lembrar-se de suas muitas falhas
em lidar com o jovem empregado ao longo dos últimos três meses. Ela só
pôde exclamar: “Por que você não me disse antes!”343
As pessoas que não conhecem a Cristo estão observando nosso
comportamento, mesmo quando o realizamos de maneira eficaz. Se formos
zelosos no que é bom, especialmente quando somos maltratados, é um
poderoso testemunho.
III. O poder para testemunhar vem do Senhor Jesus Cristo.
“antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando
sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão
da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e
temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam
contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso
bom procedimento em Cristo” (1Pedro 5.14).
“Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração...” (v. 15)
– A palavra “santificar” (hagiazo, em grego) significa “separado para
Deus”.344 Santificar significa tornar santo ou separado. É a mesma palavra
usada na oração do Senhor, quando Jesus disse: “Pai nosso que estás nos céus,
santificado seja o teu nome” (Mt 6.9).
Quando Cristo é o Senhor e Deus sobre todos os aspectos de nossa
vida, não precisamos temer a oposição dos inimigos.345 Quando Jesus Cristo
é o Senhor de nossa vida, cada crise torna-se uma oportunidade para
testemunhar.346
Pedro exorta aos seus leitores a santificar o Messias, o Senhor Jesus,
como o Senhor, verdadeiro Deus, em seus corações, dando o primeiro lugar a
Ele em obediência de vida. A palavra “Senhor” (kurios, em grego) também
tem a ideia de “mestre”. Assim, a segunda Pessoa da Trindade deve ser o
dono e senhor de suas vidas. Ele deve ser o recurso e defensor em meio à
perseguição.347
Para entender este versículo, devemos perceber que Pedro está
citando Isaías 8.12-13:
“Our Daily Bread,” [Dec.-Feb., '82-'83]) of a Christian.
Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude (Vol. 34, p. 164). Nashville,
TN: Thomas Nelson Inc.
345 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter (p. 199). Grand Rapids, MI:
Zondervan.
346 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary. Wheaton, IL: Victor Books.
347 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English
reader. Grand Rapids: Eerdmans.
343
344
142
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“Não chameis conjuração a tudo quanto este povo chama
conjuração; não temais o que ele teme, nem tomeis isso por
temível. Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o
vosso temor, seja ele o vosso espanto” (Is 8.12-13).
Nesse contexto, o infiel rei Acaz de Judá havia se aliado com a Assíria
para evitar uma invasão de Israel e a Síria. Isaías e o remanescente fiel
estavam sendo acusados de conspiração porque se opuseram a esta aliança
ímpia. Contudo, o Senhor os incentiva a não temerem os inimigos, mas sim,
deveriam temer apenas o Senhor dos Exércitos e considerá-lo como santo
(“santificai”).
É interessante observar a mudança feita pelo apóstolo Pedro ao citar
Isaías 8. Ele muda a expressão “O Senhor dos Exércitos” para o “Senhor Jesus
Cristo”, mostrando, assim, que Jesus Cristo é divino e que Ele é o Senhor dos
Exércitos em Isaías. Deste modo, se Jesus Cristo é o Senhor dos exércitos,
podemos confiar nEle para triunfar diante dos sofrimentos (Mt 11.2-6.).
Se os inimigos perseguiram e crucificaram a Jesus em Sua primeira
vinda, o mundo poder fazer o mesmo com aqueles que seguem a Cristo. Mas
somos chamados a suportar e testemunhar, mesmo em face da hostilidade,
através do nosso bom comportamento e palavras atenciosas, em submissão
ao Seu senhorio, sabendo que Ele vai voltar em poder e glória para esmagar
toda a oposição e reinar em justiça por toda a eternidade.
Conclusão:
O escritor Tom Eisenman conta uma história comovente que mostra
que todos podem ser testemunhas eficazes neste mundo hostil. Davi era um
pré-adolescente, um menino grande para sua idade, mas um coração
inteiramente voltado para Jesus. Na escola, ele estava confeccionando uma
mesa de café para sua mãe como presente de Natal. Ele terminou poucos
dias antes do Natal, e deixou-a em uma sala da escola para não levar para
casa e estragar a surpresa. No último dia de aula antes das férias, Davi foi
pegar a mesa. Ele ficou chocado ao descobrir que alguém havia roubado a
pequena mesa.
Davi tinha vários amigos. Não demorou muito para descobrir quem
havia roubado sua mesa. Era um menino mais novo, impopular e
“aparentemente” fraco. Davi facilmente poderia confrontá-lo. Em vez disso,
ele passou as férias na oficina de artes da escola fazendo outra mesa de café.
Quando havia terminado, ele foi até a casa do outro garoto. Quando o jovem
menino abriu a porta e viu Davi, ele ficou petrificado. Davi disse, “Eu gostaria
143
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
de dar algo a você e a sua família neste Natal”. Ele, então, entregou-a mesa
que havia preparado.
O menino mais novo caiu em prantos. Em seguida, pediu perdão, e
Davi concedeu. Dentro de algumas semanas o menino estava participando
das programações dos adolescentes na igreja onde Davi congregava e,
eventualmente, tornou-se um cristão.
Você tem examinado sua própria vida? Você é zeloso em boas ações,
mesmo quando é maltratado? Você é capaz de fazer uma defesa do
evangelho? Você teme o Senhor Jesus Cristo acima de todas as coisas? Caso
contrário, faça os ajustes necessários. Mude o que precisa ser mudado.
Então, Deus vai usá-lo poderosamente como testemunha neste mundo
hostil.
144
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
O Salvador reina
[estudo 17 – 1pedro 3.18-22]
Uma das lições que os seminaristas aprendem durante as aulas de
homilética (a arte de pregar) é a seguinte: se uma ilustração necessita de
explicação, então, o melhor é escolher outra. O objetivo da ilustração é
deixar algo bem claro, não torná-lo mais confuso.
Embora o Espírito Santo tenha usado o apóstolo Pedro para escrever
esta epístola, humanamente falando, seria excelente se o apóstolo tivesse
seguido princípio acima. Em 1Pe 3.18-22, o apóstolo utiliza uma ilustração
(a vida do Senhor Jesus) para aplicar os versículos anteriores (3.13-17). Ou
seja, somos chamados a testemunhar em um mundo hostil, mas podemos
confiar em Deus para nos sustentar. Nosso grande exemplo é Jesus Cristo.
No entanto, a maioria dos comentaristas reconhece que estes são
alguns dos versículos mais difíceis do Novo Testamento para interpretar.
Por exemplo, o reformador Martinho Lutero declarou “que esta seja talvez a
passagem mais obscura do Novo Testamento” e admitiu “que não sabia ao
certo exatamente o que Pedro queria dizer”.348
Assim, enquanto o tema geral de Pedro seja claro, o exemplo de Cristo
diante das perseguições sua longanimidade, os detalhes são complexos.
Porém, podemos resumir esses versículos (3.18-22) em quatro lições sobre
a vida do Senhor Jesus: Cristo reina sobre o pecado, sobre a morte, sobre o
inferno e sobre tudo.
I. Cristo reina sobre o pecado.
“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo
pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas
vivificado no espírito” (1Pedro 3.18).
Em primeiro lugar, Pedro declara que através de Sua morte e
ressurreição, o Senhor Jesus venceu o pecado.
A. Uma morte penal.
“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados”... (v.
18) – Pedro declara que Cristo morreu pelos pecados, isso quer dizer que a
morte de Jesus não foi algo natural. Na verdade, foi uma morte penal. Ele foi
condenado à morte por nossos pecados. Cristo “não cometeu pecado” (2.22).
348
Commentary on the Epistles of Peter and Jude [Kregel], p. 168.
145
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Ele nunca teve um único pensamento, palavra ou ação que desagradasse a
Deus, pelo contrário, Seu comportamento em todos os aspectos, foi
perfeitamente santo (Is 53.11; Lc 1.35; 2Co 5.21; Hb 4.15, 7.26; Jo 5.30; Hb
1.9).
O pecado causou a morte de Cristo. Este é o exemplo supremo de
sofrimento por causa da justiça (v. 18). Ele voluntariamente suportou em
nome dos pecadores (Is 53.4-6, 8-12; Mt 26.26-28; Jo 1.29, 10.11, 15; Rm
5.8-11, 8.32; 1Co 15.3; 2Co 5.15, 18-19; Gl 1.4; Ef 2.13-16; Cl 1.20-22; 1Ts
1.10; 1Tm 2.5-6; Hb 2.9, 17, 7.27, 9.12, 24-28, 10.10, 13.12; 1Jo 1.7, 2.2, 4.10;
Ap 1.5; 5.9).
Ele foi condenado à morte pelos nossos pecados porque éramos
inimigos de Deus (Rm 5.1). Em 2Cotínrtios, Paulo declarou: “Aquele que não
conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos
justiça de Deus” (2Co 5.21).
B. Uma morte eficaz.
“uma única vez, pelos pecados...” (v. 8) – A frase “uma única vez”
(hapax, em grego) significa “validade permanente, não necessitando de
repetição” (Hb 6.4, 9.28, 10.2; Jd 3).349
Para os judeus que estavam acostumados com o sistema sacrificial,
esse era um conceito novo. Para expiar o pecado, era necessária a morte de
animais. Mas a morte sacrificial de Jesus Cristo foi cabal (Hb 1.3; 7.26-27,
9.24-28, 10.10-12).350
C. Uma morte vicária.
“o justo pelos injustos...” (v. 8) – Cristo é nosso exemplo no
sofrimento, mas Ele é mais do que o nosso exemplo. Ele é o único justo ou
reto.
Nenhum de nós, quando sofremos, podemos verdadeiramente dizer:
“Eu sou uma boa pessoa! Eu não sou um assassino ou bandido! Por que eu
deveria sofrer quando pessoas perversas desfrutam de uma boa vida?”.
Mas o nosso problema é que comparamos com o padrão errado! Se
desejarmos fazer alguma comparação, então, devemos fazer com o padrão
absoluto da justiça de Deus, Jesus! Assim, veremos que a única coisa que
merecemos é a condenação eterna!
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
350 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 207).
Chicago: Moody Publishers.
349
146
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“... para conduzir-vos a Deus...” (v. 8) – Quando Cristo morreu o véu
do santuário foi rasgado de alto a baixo (Mt 27.51). Agora, simbolicamente, o
caminho para Deus está aberto. O Santo dos Santos celestial, o “trono da
graça” (Hb 4.16), está disponível a todos os verdadeiros crentes. Jon
MacArthur estava certo ao declarar, “Como sacerdotes reais (2.9), todos os
crentes são recebidos na presença de Deus (Hb 4.16; 10.19-22)”.351
O termo “conduzir” (prosago, em grego) significa “levar, abrir um
caminho de acesso, de alguém para Deus”.352 Nos tribunais antigos, certos
funcionários controlavam o acesso ao rei. Eles verificaram se a pessoa estava
pronta para ver o governante e, em seguida, conduzia essa pessoa até o
monarca. Cristo agora executa essa função para os crentes (Hb 2.17-18, 3.12, 4.14-15, 5.4-6, 6.20, 7.17, 21-22, 25, 8.1-2, 6, 9.13-14; Sl 110.4).
II. Cristo reina sobre a morte.
“... morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito no qual também
foi e pregou aos espíritos em prisão” (1Pe 3.18).
“... morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito...” (v. 18) –
Ainda que Cristo fosse condenado à morte no corpo (sarx, “carne”), Ele foi
vivificado pelo Espírito. A palavra carne aqui se refere ao corpo físico de
nosso Senhor. Pedro estava falando da morte física de nosso Senhor na cruz.
Alguns críticos têm contestado a ressurreição de Cristo dentre os
mortos, afirmando que Ele nunca morreu. De acordo com esse raciocínio
cético, Ele simplesmente desmaiou em um semicoma na cruz, foi revivido na
frieza do sepulcro, desembrulhou-se e fugiu.353 Mas a frase não deixa dúvida
de que Jesus, o seu corpo, morreu na cruz.
Uma prova de que Jesus realmente havia morrido na cruz foi o fato de
que os soldados não se preocuparam em quebrar Suas pernas porque viram
que Ele já estava morto (Jo 19.33). Além disso, um dos soldados furou o lado
de Jesus com uma lança. No mesmo instante saiu sangue e água, sinal
fisiológico de que estava morto (Jo 19.34).
“... mas vivificado no espírito...” (v. 18) – O termo “espírito”
(pneumati, em grego) pode ser uma referência a terceira pessoa da Trindade
ou a o espírito humano de Cristo, em contraste com seu corpo humano (cf.
1Pe 4.6). Provavelmente, o contraste seja entre a carne e o espírito (Mt
26.41; Rm 1.3-4).354 O texto grego omite o artigo definido, o que sugere que
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 207).
Chicago: Moody Publishers.
352 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985).Theological Dictionary of the New
Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
353 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 208).
Chicago: Moody Publishers.
354 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 3.18). Wheaton, IL: Victor
Books.
351
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Pedro não estava se referindo ao Espírito Santo, mas que o Senhor estava
espiritualmente vivo, contrastando a condição da carne de Cristo (corpo)
com o Seu espírito.355
É verdade que o nosso Senhor foi ressuscitado dentre os mortos pelo
poder do Espírito Santo, e que é ensinado por Paulo em Romanos 8.11. Mas
Pedro não está ensinando que a verdade aqui. Ele mantém o contraste
perfeito entre o corpo humano de nosso Senhor e de Seu espírito humano.356
O que Pedro está dizendo é que o Senhor Jesus triunfou sobre a morte,
Ele triunfou sobre a sepultura e Sua ressurreição é a prova de que Deus, o
Pai, aceitou a obra do Messias, o trabalho foi concluído. A palavra
maravilhosa que Jesus pronunciou na cruz, “Tetelestai” ou “está
consumado!” (Jo 19.30).
Isso significa que, por causa ressurreição de Cristo, nenhuma
sepultura pode nos impedir de viver eternamente com Ele. Porque assim
como Jesus ressuscitou dos mortos, todos aqueles que estão em união com
Cristo vão ressuscitar dos mortos e viver com Ele eternamente. Essa é a
segunda lição que Pedro deseja que seus leitores aprendam a verdade de
que Jesus venceu o pecado e ressuscitou para que pudéssemos desfrutar das
regiões celestiais.
III. Cristo reina sobre a pregação.
“no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão” (1Pedro 3.19).
Há pouco consenso entre os estudiosos quanto ao significado da
expressão “espíritos em prisão”. Ao longo da história da igreja surgiram
várias interpretações desta passagem, porém, vamos abordar as quatro mais
conhecidas.
Teólogo
Interpretação
Clemente de Alexandria
(200 AD)
Cristo foi ao inferno em seu espírito para proclamar a
mensagem de salvação para as almas dos pecadores
que haviam sido presos lá desde o tempo do dilúvio
(Stromateis 6:6).
Agostinho (400 dC)
O preexistente Cristo proclamou a salvação através de
Noé para as pessoas que viveram antes do dilúvio
(Epistolae 164).
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 208).
Chicago: Moody Publishers.
356 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English
reader (1Pe 3.18). Grand Rapids: Eerdmans.
355
148
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Cardeal Roberto Belarmino
(1570), um teólogo católico
romano.
O espírito de Cristo foi libertar as almas dos justos que
se arrependeram antes do dilúvio e foram mantidos no
limbo, o lugar entre o céu e o inferno, para onde foram
mantidas as almas dos santos do Antigo Testamento
(DeControversiis 2:4, 13).
Friedrich Spitta (1890)
Depois de Sua morte e antes de Sua ressurreição,
Cristo pregou aos anjos caídos, também conhecido
como “filhos de Deus”, que durante o tempo de Noé
haviam se casado com as “filhas dos homens” (Gn 6.2,
2Pe 2.4 e Jd 6).
Entretanto, essas interpretações ignoram o contexto da passagem. Ao
ler 1Pe 3.18-22, estes versículos sugerem, pelos menos, três
questionamentos:
1. Quem são os espíritos a quem Jesus pregou?
2. O que Jesus pregou?
3. Quando Jesus pregou?
1. Quem são os espíritos a quem Jesus pregou?
“no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais,
noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus
aguardava nos dias de Noé” (v. 19-20) – Em outras palavras, que são “os
espíritos que foram desobedientes nos dias de Noé”? O termo “espíritos”
(pneumasin, em grego) é geralmente aplicado a seres sobrenaturais, mas
também usado pelo menos uma vez para se referir a “espíritos” humanos
(Hb 12.23).
Provavelmente, o apóstolo Pedro estava se referindo àqueles que
foram desobedientes à pregação de Noé enquanto construía a Arca (Gn
6.3).357 Durante 120 anos, Noé proclamou a respeito do juízo de Deus
(dilúvio), mas os rebeldes não deram ouvidos a sua voz, exceto Noé e sua
família foram salvos (Gn 6.5-9). As pessoas rejeitaram sua pregação.
Assim, entendemos que o texto não trata de pessoas justas que
rejeitaram a mensagem de Noé e foram para o Hades (lugar dos mortos),
nem de anjos que foram aprisionados, mas simplesmente de pessoas que,
“noutro tempo” (época de Noé), rejeitaram a pregação.
Esses “espíritos” são agora “na prisão” aguardando o julgamento final
de Deus no fim dos tempos.358
Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 851). Wheaton, IL: Victor Books.
358 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 851). Wheaton, IL: Victor Books.
357
149
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2. O que Jesus pregou?
“no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão...” (v. 19) – Se
o apóstolo Pedro está se referindo a pregação de Noé, então, porque Pedro
diz que foi Cristo que pregou aos espíritos? A expressão “no qual também...”
não se refere ao lugar aonde Cristo foi depois da morte, mas onde Ele estava.
Ou seja, espiritualmente, Cristo estava presente no tempo de Noé. Mais
adiante, Pedro declara que Noé foi “um pregador da Justiça” (2Pe 2.5). No
entanto, no capítulo primeiro, Pedro havia declarado também que o “espírito
de Cristo estava presente nos profetas do Antigo Testamento” (1Pe 1.11).
O conteúdo da pregação do “espírito vivificado,” através de Noé, era a
salvação do juízo de Deus que haveria de vir sobre o mundo ímpio. Porém,
apenas oito pessoas foram salvas (1Pe 3.20).
3. Quando Jesus pregou?
“no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão...” (v. 19) –
Que prisão é essa que o apóstolo Pedro se refere? É o inferno? É o Hades? O
que significa?
Antes de tudo, precisamos entender para onde o Senhor Jesus foi
depois de sua morte. A Bíblia diz que ao morrer na cruz, Jesus foi se
encontrar com o Pai: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46).
Isto significa que o Senhor foi diretamente para o céu.
Além disso, quando questionado pelo ladrão à sua direita, que dizia:
“Lembra-te de mim, quando entrares no teu reino,” Jesus respondeu: “Hoje
mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43). A palavra “paraíso”
(paradeisos, em grego) é sinônimo de céu. Foi para lá que o apóstolo Paulo
foi arrebatado (“terceiro céu”, 2Co 12.4).359 Ou seja, o lugar em que Jesus
Cristo permaneceu após a sua morte e até a ressurreição, não foi o Hades (o
lugar dos mortos), mas o céu, o lugar de bem-aventurança.
Esta interpretação parece se encaixar com o tema geral desta seção
(1Pe 3.13-22) sobre uma boa resposta diante das perseguições. Noé é
apresentado como um exemplo de alguém que se comprometeu com uma
consciência limpa diante de Deus. Ele não temeu os homens, mas obedeceu a
Deus e proclamou sua mensagem. A recompensa de Noé em manter uma
consciência limpa em meio ao sofrimento injusto foi à salvação de si mesmo
e sua família do dilúvio.360
Portanto, concordo perfeitamente com a opinião de Heber Carlos
Campos quando diz: “A passagem de 1Pedro 3.18-20 não fala de uma viagem
de final de semana de Jesus Cristo ao inferno, mas refere-se a uma pregação
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
360 Zuck, R. B. (1994). A Biblical Theology of the New Testament (electronic ed., p. 449–450).
Chicago: Moody Press.
359
150
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feita pelo espírito de Cristo, que é o espírito vivificado, através de Noé (1Pe
1.11), aos seus contemporâneos (2Pe 2.5), que eram homens desobedientes
e, portanto, aprisionados à sua natureza pecaminosa.361
O Ministério de Noé
“a qual, figurando o batismo, agora também vos salva, não sendo a
remoção da imundícia da carne, mas a indagação de uma boa
consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo”
(1Pedro 3.21).
Pedro utiliza a libertação de Noé e sua família do dilúvio como uma
representação (antitupos, em grego) ou analogia da salvação cristã por meio
do batismo. Assim como Noé passou pelas águas do dilúvio para a salvação
do juízo de Deus, de modo que os crentes passam pelo batismo na salvação
do julgamento de Deus. Mas, antes de pular para conclusões equivocadas,
Pedro esclarece, não é o ato de batismo que salva (“a remoção da imundícia
da carne”), mas a indagação de uma boa consciência para com Deus.
O batismo é um testemunho externo do que a acontece internamente
na vida do crente. A pessoa é salva no momento em que coloca a sua fé no
Senhor Jesus. O batismo é o testemunho visível à sua fé e à salvação que foi
dada em resposta a essa fé.
“mas a indagação de uma boa consciência para com Deus, por
meio da ressurreição de Jesus Cristo...” (v. 21) – O termo “indagação”
(eperotema, em grego) é um termo técnico que era utilizado para fazer
contratos.362 Para um cristão do primeiro século, o batismo significava que
ele estava seguindo através de seu compromisso com Cristo,
independentemente das consequências.
O batismo não salva do pecado. Pedro ensinou claramente que o
batismo não era apenas um ato cerimonial de purificação física, mas um
compromisso feito com Deus. O batismo é o símbolo do que já ocorreu no
coração e na vida de alguém que confiou em Cristo como Salvador (cf. Rm
6.3-5; Gl 3.27; Cl 2.12).
CAMPOS, Heber Carlos. “Descendit ad inferna”: uma análise da expressão “desceu ao
hades” no cristianismo histórico. In: Revista Fides Reformata, Vol. 4, 1999.
362 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
361
151
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
IV. Cristo reina sobre tudo.
“o qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus, ficando-lhe
subordinados anjos, e potestades, e poderes” (1Pedro 3.22).
Há uma quarta e última lição que Pedro nos ensina a respeito da vida
de Jesus Cristo. Por Sua crucificação, Ele reina sobre o pecado, pela Sua
ressurreição, Ele reina sobre a morte, por sua proclamação, Ele reina sobre o
inferno e por Sua ascensão, Ele reina sobre tudo.
“o qual, depois de ir para o céu, está à destra de Deus...” (v. 22) –
Apesar de “ainda não vemos todas as coisas sujeitas a Ele” (Hb 2.8), sabemos
que a vitória foi conquistada e é apenas uma questão de tempo para o
resultado ser revelado. Como os anjos disseram aos discípulos que olhavam
para cima, enquanto o Senhor Jesus ressuscitado subia ao céu: “e lhes
disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus
que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o vistes subir” (At 1.11).
“... está à destra de Deus...” (v. 22) – A mão direita de Deus é o lugar
preeminente de honra e autoridade por toda a eternidade (Êx 15.6; Dt 33.2;
Sl 16.11; 18.35, 45.4, 48.10, 89.13, 98.1, 118.15-16; Mt 26.64; 7.55-56; Cl 3.1;
Hb 1.3; 8.1; Ap 5.7; cf Ap 2.1). Esse é o lugar onde Cristo foi depois que ele
terminou Sua obra de redenção, e é aí que Ele governa até hoje.363
Se alguém zomba: “Se isso é verdade, então por que ele não vem volta
mais cedo”? A resposta é: “Porque, assim como nos dias de Noé, Deus é
paciente, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao
arrependimento” (2Pe 3.3-10).
E Pedro está dizendo: “Eu quero que você olhe para cima e eu quero
que você olhe para além das estrelas, eu quero que você olhe para as partes
mais distantes do próprio céu e lá você vai ver este trono resplandecente de
glória e majestade e sentado em que trono, rodeado de anjos e arcanjos e
querubins e serafins e os redimidos de Deus, é o Cordeiro de Deus, a Jesus,
que foi crucificado, que foi condenado, que ressuscitou dentre os mortos,
que ascendeu à mão direita do próprio Deus”.
Não é um pensamento maravilhoso? Aquele em quem confiamos, o
único com quem temos união, é aquele que está assentado no próprio trono.
Isso não é uma coisa gloriosa?
Enquanto preparava esse estudo, tomei conhecimento de que o
Presidente do Egito Mohamed Morsi não suportou a pressão do exército e
foi deposto. Morsi não possui mais o poder em suas mãos. Sua autoridade foi
minada e o seu prestígio subjugado.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 219).
Chicago: Moody Publishers.
363
152
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Entretanto, isso nunca vai acontecer com o Jesus. Ele está assentado à
destra de Deus Pai e ninguém, nem mesmo Satanás é capaz de usurpar o seu
trono. Ele reina para todo o sempre, amém!
Conclusão:
“Aquela água representava o batismo, que agora salva vocês. Esse
batismo não é lavar a sujeira do corpo, mas é o compromisso feito com Deus, o
qual vem de uma consciência limpa. Essa salvação vem por meio da
ressurreição de Jesus Cristo” (1Pe 3.21, NTLH).
O batismo não pode salvar ninguém, mas é um passo importante de
obediência a Cristo, no qual nos identificamos publicamente com Ele em Sua
morte e ressurreição. Foi importante o suficiente para que Jesus
mencionasse como parte de sua Grande Comissão (Mt 28.19-20). Não nos
atrevemos a negligenciá-lo.
Se você já foi batizado, não deixe que o pecado comprometa a sua
nova vida. Publicamente testemunhe de sua fé em Cristo! Na verdade, sua
conversão a Cristo é um assunto privado entre você e Seu Senhor. Mas uma
vez que você assumiu um compromisso com Cristo, não esconda o seu
relacionamento com Ele.
No momento em que foi concluída em 1937 na Califórnia, a Golden
Gate Bridge era a maior ponte suspensa do mundo. Durante a primeira fase
do projeto de US$ 77 milhões, 23 homens morreram ao cair nas águas da
baía. Poucos dispositivos de segurança foram usados. Antes de começar a
segunda etapa, foi decidido que algo tinha que ser feito. Os engenheiros
elaboraram a maior rede de todos os tempos (um investimento de US$
100.000). Valeu à pena? Pergunte aos 10 homens que caíram sem se ferir! A
rede não apenas salvou dez vidas, mas, a obra foi concluída antes do
programado, porque os trabalhadores se sentiam seguros e estavam
aliviados do medo de cair.
Da mesma forma, todos aqueles que amam a Deus e obedecem aos
Seus mandamentos podem viver a vida cristã livremente e com segurança,
pois foram selados para este fim.
153
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
A morte para o pecado
[estudo 18 – 1pedro 4.1-6]
Em todo o Novo Testamento, lemos sobre a vida transformada, que
segue a conversão genuína. Quando Deus, livre e plenamente, perdoa os
pecados em nossa vida, quando a justiça de Cristo é creditada em nossa
conta e o Espírito de Deus passa a habitar em nossos corações, as coisas
velhas se passam e tudo se faz novo (2Co 5.17). Todavia, o processo de
transformação é longo, envolve mudança de atitudes, motivações, hábitos e
a escolha de verdadeiros amigos.
Nesta seção, Pedro nos lembra de que o mundo em que vivemos não é
o nosso verdadeiro lar. Somos representantes de um reino diferente, nossa
pátria está nos céus (Fp 3.20). E, assim como estrangeiros, podemos ser a
única maneira das pessoas terem uma imagem do reino de Deus.364 Ou seja,
pela maneira como vivemos, podemos atrair ou repelir as pessoas do lar
celestial.
O verbo chave neste parágrafo é “Armai-vos” (hoplizo, em grego).
Esse verbo é usado somente aqui no Novo Testamento. Significa “preparar”,
por exemplo, as refeições, sacrifícios, barcos, lâmpadas ou, no caso de
soldados, armas.365 Refere-se a um soldado que toma as armas em
preparação para a batalha. Paulo usa o substantivo relacionado (Hoplon, em
grego) para referir-se a “armadura” de luz (Rm 13.12), “armas” da justiça
(2Co 6.7), e “armas” da batalha espiritual (2Co 10.4).366
Desta forma, no capítulo 4, o apóstolo Pedro motiva aos crentes a
enfrentarem as perseguições e o sofrimento com quatro perspectivas.367 Os
crentes se fortalecem na perseguição quando estão armados com uma
compreensão da atitude de Cristo, a vontade de Deus, a conversão e a
esperança da vida eterna.
364 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 211). Grand Rapids, MI: Zondervan.
365 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985).Theological Dictionary of the New
Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
366 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 211–212). Grand Rapids, MI: Zondervan.
367 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 223–
224). Chicago: Moody Publishers.
154
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
I. A atitude de Cristo
“Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo
pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado”
(1Pedro 4.1).
“Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do
mesmo pensamento...” (v. 1) – A palavra “Ora” remonta a 3.18, onde está
escrito: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo
pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado
no espírito” (1Pe 3.18). O objetivo de Pedro é claro, Cristo não nos enviou ao
mundo como turistas em um parque de diversões, mas como soldados em
uma excursão do dever em um campo de batalha. Nós não somos chamados
para relaxar, apreciar a paisagem, e aguardar o nosso guia para nos levar
para casa. Em vez disso, estamos envolvidos em um conflito feroz em solo
estrangeiro. Precisamos nos armar com a armadura espiritual para resistir
às tentações deste mundo (cf. Ef. 6.10-18).368 A cruz de Jesus Cristo é a prova
definitiva de que o sofrimento pode levar à vitória sobre as forças do mal.
Se armar com Sua atitude, também significa compartilhar em seu
sofrimento e morte. Cristo sofreu em seu corpo, e um crente sofre em seu
corpo também. Por causa da morte de Cristo, “sabendo isto: que foi
crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja
destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu
está justificado do pecado” (Rm 6.6-7).
Em 1Coríntios, Paulo resume dramaticamente a vitória dos crentes
sobre o pecado e a morte, nos seguintes termos a respeito da ressurreição:
“E, quando este corpo corruptível se revestir de
incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade,
então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a
morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está,
ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a
força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por
intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 15.54-57).
Milhares de mártires ao longo da história da igreja estavam dispostos
a morrer (cf. Hb 11.13-16, 35-38), porque eles se armaram com o mesmo
propósito de Jesus Cristo. Nosso Senhor veio à terra para lidar com o pecado
e para conquistá-la para sempre. Ele lidou com a ignorância do pecado,
ensinando a verdade e por vivê-la diante dos olhos dos homens. Ele lidou
com as consequências do pecado por curar e perdoar, e, na cruz, Ele deu o
golpe de misericórdia final para o pecado em si. Ele estava armado, por
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 212). Grand Rapids, MI: Zondervan.
368
155
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
assim dizer, com uma atitude militante em relação ao pecado, apesar de ter
grande compaixão pelos pecadores perdidos.369
Nosso objetivo na vida é “deixar o pecado”. No entanto, sabemos que
não vamos atingir esse objetivo até morrer ou quando o Senhor voltar, mas
isso não deve nos impedir de lutar (1Jo 2.28-3.9). Pedro não disse que o
sofrimento em si levaria uma pessoa a parar de pecar. Faraó no Egito passou
por um grande sofrimento durante as pragas e pecou ainda mais!370 Cristo
sofreu e passou pela morte, uma morte tão vil, para adquirir a nossa vida.
Então, o que pode ser demais para suportar ou abandonar e segui-lo?371
Então, uma vez que Cristo morreu por nossos pecados de uma vez por
todas (1Pe 3.18), todo crente deve se armar com a intenção de lutar contra o
pecado, para viver a vontade de Deus, não para as paixões dos homens.
Warren Wiersbe, acertadamente declarou: “Como podemos desfrutar de
algo que fez Jesus sofrer e morrer na cruz? Se um criminoso cruel
esfaqueasse seu filho até a morte, você preservaria a faca em uma caixa de
vidro? Duvido. Você nunca desejaria ver a faca novamente”.372
Aqueles que compartilham esses sofrimentos são co-herdeiros da
glória de Cristo. “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de
Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos
glorificados” (Rm 8.17). Se morrermos com Cristo, viveremos com Ele para
sempre. O sofrimento de Cristo pelo nosso pecado deve nos motivar a viver
em santidade.
II. A Vontade de Deus
“para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de acordo
com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus” (1Pe
4.2).
Todo pecado é uma desobediência à vontade de Deus. Nesse sentido,
todo o pecado é um ato de rebelião dos crentes contra Ele (cf. Sl 51.4).373 Em
Romanos, o apóstolo Paulo declarou: “não vos conformeis com este século,
mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis
qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (cf. Rm 12.2; Ef 6.5-6; Cl
4.12). O pecado é uma expressão de desobediência (cf. Ne 9.26; 1Jo 3.4) e
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
370 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 852). Wheaton, IL: Victor Books.
371 Leighton, R., & Thomas, G. (1999). 1, 2 Peter. Crossway Classic Commentaries (p. 178).
Wheaton, IL: Crossway Books.
372 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
373 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 226).
Chicago: Moody Publishers.
369
156
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
uma recusa em fazer o que Deus ordenou (Sl 106.24-25; 107.11; Jr 22.21;
35.14b).
“para que, no tempo que vos resta na carne, já não vivais de
acordo com as paixões dos homens, mas segundo a vontade de Deus” (v.
2) – Em certo sentido, todos os crentes têm em suas vidas um a.C e d.C - um
antes de Cristo e depois de Cristo.374 O contraste é entre os desejos dos
homens e a vontade de Deus. Se fizermos a vontade de Deus, então, vamos
investir “o resto do nosso tempo”, em algo que é duradouro e satisfatório,
mas se nos voltarmos para as paixões do mundo, vamos perder “o resto do
nosso tempo” e se arrepender amargamente quando estivermos diante de
Jesus.375
A palavra “paixão” (epithumia, em grego significa “um desejo ardente”,
e, neste contexto denota um desejo mal.376 Paulo exorta aos crentes a evitar
o pecado e não mais viver impulsionados pelos desejos humanos (2Tm
2.22), que estão enraizados em sua carne não redimida (Rm 7.17-18; Gl
5.17) e caracteriza o seu estado regenerado (Ef 2.1-3) e vida neste mundo
(1Jo 2.15-17).377
Assim, os crentes devem se armar com o compromisso de fazer a
vontade de Deus e abandonar seus pecados anteriores. Isto é precisamente o
que o apóstolo Paulo declara em Romanos:
“Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele
viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado
dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio
sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre
morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus.
Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas
vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado
em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas
paixões” (Rm 6.8-12).
374 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 212). Grand Rapids, MI: Zondervan.
375 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
376 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
377 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 227).
Chicago: Moody Publishers.
157
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
III. A conversão
“Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos
gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras,
orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias” (1Pedro 4.3).
Há momentos em que olhar para o passado pode ser prejudicial,
porque Satanás pode usar essas memórias para desencorajá-lo. Mas Deus
pediu a Israel para lembrar que uma vez haviam sido escravos no Egito (Dt
5.15). O apóstolo Paulo lembrou que havia sido um perseguidor dos crentes
(1Tm 1.12), e isso o encorajou a trabalhar ainda mais para Cristo.378 Às
vezes nos esquecemos da escravidão do pecado e nos lembramos apenas dos
prazeres transitórios.
“Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade
dos gentios...” (v. 3) – Esta passagem é uma vívida descrição do padrão
trágico e devastador do estilo de vida do não convertido, que termina
inexoravelmente em julgamento.379 A expressão “a vontade dos gentios”
significa “a vontade do mundo não salvo” (1Pe 2.12). Pecadores perdidos
imitam uns aos outros. Pedro exorta aos crentes a deixarem tudo isso
porque pertence à sua antiga vida em pecado. Assim, o cristão deve ver a sua
vida anterior como uma questão fechada. Ele morreu com Cristo, e foi levado
a novidade de vida.380 As coisas velhas se passaram. Todas as coisas se
tornaram novas.
Em seguida, Pedro enumera alguns dos pecados que faziam parte
daquele mundo a partir do qual eles foram separados:
“tendo andado em dissoluções” – Descreve aqueles que se envolvem
em luxúria desenfreada. Todo o tipo de “devassidão, libertinagem e lascívia”.
“concupiscências” – Desejo pelo que é proibido, luxúria (1Ts 4.5; 1Tm
6.9; Jd 18).
“borracheiras” – Embriaguez (oinophlugia, em grego). Literalmente
significa “vinho transbordando” e refere-se à intoxicação. Este termo
também pode se referir aos efeitos do uso de narcóticos. 381
“orgias” – (Komos, em grego) refere-se a pessoas que participam de
festas ou orgias. O termo descreve um grupo de pessoas bêbadas que cantam
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
379 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
380 Wuest, K. S. (1997). Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English
reader (1Pe 4.3). Grand Rapids: Eerdmans.
381 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 229–
230). Chicago: Moody Publishers.
378
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
em voz alta e cambaleiam descontroladamente pelas ruas, causando uma
grande perturbação da ordem pública.
“bebedices” – Ato de beber, ato de farrear. Descreve pessoas
envolvidas em apenas com o objetivo de se tornarem embriagados. Uma
bebedeira, uma farra.382
“detestáveis idolatrias” – Denota o imoral, a adoração devassa de
falsos deuses (como Dionísio ou Baco, o deus grego do vinho) que
acompanhava as orgias e as festas regadas a bebidas.
Se você quer crescer em santidade, você tem que abandonar não
apenas os pecados listados aqui, mas também pessoas que vivem dessa
maneira. “Mas”, você diz: “Jesus era amigo de pecadores. Como posso
alcançá-los para Cristo, se eu me afastar deles?”, Porém, o apóstolo Paulo
escreveu: “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons
costumes” (1Co 15.33). Há uma grande diferença entre o propósito de ganhar
uma pessoa para Cristo e conviver com pecadores para satisfazer seus
desejos. Se você deseja viver em santidade, você deve separar-se da
multidão errada (2Co 6.14-7.1).
“Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles
ao mesmo excesso de devassidão” (v. 4) – Tais pecados eram tão comuns
para os leitores de Pedro que, ao abandonarem os companheiros pecadores,
ainda não regenerados, eles “estranharam” (xenizō, em grego), significa
“atônito” ou “surpreso”.
Talvez você tenha ouvido algumas destas reações no início de sua
caminhada com Cristo.
• “O que há de errado com você?”
• “Vamos lá! Quer dizer que Deus não quer que você se divirta?”
• “Então, agora você acha que é santo? Você é um santinho!”
• “Você acha que é melhor do que nós?”
Muitas vezes, o espanto dos “antigos amigos” com a sua nova vida
resultará em abandono e retaliação. Você logo descobrirá que não será mais
convidado para suas festas, reuniões ou passeios. Você, certamente, será
rejeitado devido ao seu comportamento.
Em muitos casos, o mundo vai responder com desdém. Pedro diz que
eles vão “difamá-lo” (v. 4). A palavra “difamar” é (blasphemeo, em grego), da
qual nós temos a nossa palavra “blasfêmia”. Trata-se de um desabafo
calunioso contra as coisas sagradas. Neste contexto, a coisa sagrada é o
crente separado para uma vida santa em um mundo profano (3.15). Por
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
382
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
blasfemar contra os embaixadores, no entanto, eles também estão
blasfemando o reino do Seu Rei, o grande Senhor e Juiz.383
“os quais hão de prestar contas àquele que é competente para
julgar vivos e mortos” (v 5) – Pedro, no entanto, assegurou aos seus leitores
que aqueles que caluniam e perseguem os crentes terão que prestar contas
àquele que julgará os vivos e os mortos. Tais ataques estão acumulando uma
dívida para com Deus que vão passar a eternidade pagando (cf. Mt 18.2334). Ninguém escapará desse julgamento final das palavras e obras de sua
vida terrena, quando Cristo julgará os vivos (zōntas) e mortos (nekrous) (cf.
At 10.42, Rm 14.9; 1 Ts 4.15; 2Tm 4.1).384
O apóstolo Paulo descreveu mais detalhadamente a gravidade do
julgamento dos incrédulos:
“se, de fato, é justo para com Deus que ele dê em paga
tribulação aos que vos atribulam e a vós outros, que sois
atribulados, alívio juntamente conosco, quando do céu se
manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em
chama de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem
a Deus e contra os que não obedecem ao evangelho de nosso
Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de eterna destruição,
banidos da face do Senhor e da glória do seu poder” (2Ts 1.69).
A iminência do julgamento deve motivar-nos a santidade. Nesse dia,
grandes e pequenos, vivos e mortos comparecerão diante do trono e serão
julgados (Ap 20.11-13).
IV. A esperança da vida eterna
“pois, para este fim, foi o evangelho pregado também a
mortos, para que, mesmo julgados na carne segundo os
homens, vivam no espírito segundo Deus” (1Pe 4.6).
Finalmente, cada cristão deve se armar com a esperança genuína da
realidade da vida eterna. Deus prometeu que através da morte, os cristãos
vencerão o pecado, escaparão do julgamento final e entrarão no céu em
glória.
“pois, para este fim, foi o evangelho pregado também a mortos...”
(v. 6) – Não devemos interpretar 1Pedro 4.6 além do contexto de
sofrimento, caso contrário, teremos a ideia de que há uma segunda chance
de salvação após a morte. Na verdade, Pedro estava lembrando aos seus
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 212–213). Grand Rapids, MI: Zondervan.
384 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 853). Wheaton, IL: Victor Books.
383
160
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
leitores a respeito dos cristãos que haviam sido martirizados por sua fé. Eles
haviam sido falsamente julgados por homens, mas agora, na presença de
Deus, receberam o seu verdadeiro julgamento. A expressão “Aos que estão
mortos” significa “os que estão agora mortos” no momento em que Pedro
estava escrevendo. O evangelho é pregado somente aos vivos (1Pe 1.25),
porque não há oportunidade de salvação depois da morte (Hb 9.27).385
Desta forma, Pedro lembra que, embora, julgados na carne
(fisicamente mortos), haviam triunfado e estavam vivos em espírito de
acordo com a vontade de Deus (cf. Hb 12.23).386
A maioria dos cristãos ao longo da história nunca enfrentou o
martírio, mesmo enfrentando vários níveis de zombaria e rejeição (Jo 15.1820; 1Jo 3.13). Ao enfrentarmos a ira de amigos e familiares, jamais devemos
esquecer que apesar do julgamento “segundo os homens” na carne, Deus nos
julgou “inocentes” por Sua graça. Então agora podemos viver no espírito,
independentemente do que as pessoas podem fazer contra nós.387
Conclusão:
Tudo em 1Pedro 4.1-6, tanto as advertências quanto às recompensas
pressupõe que você seja um cristão. Isso não significa usar uma cruz no
pescoço, colocar um adesivo no carro ou frequentar uma igreja. É fácil se
parecer com um cristão em certos momentos e em determinados lugares.
Mas, viver uma vida de integridade em todos os lugares e em todos os
momentos, isso é algo muito diferente.388
Warren Wiersbe conta à experiência que teve ao jantar com um
amigo. Era um daqueles restaurantes com poucas luzes. Ao olhar o cardápio,
Wiersbe ficou espantado com a facilidade que conseguiu ler o cardápio.
“Sim”, disse o amigo, “não é necessário muito tempo para se acostumar com
a escuridão”.389
Da mesma forma, não é necessário muito tempo para se acostumar
com o pecado. Ao invés de uma atitude militante que odeia e se opõe ao
pecado, nós gradualmente se acostumamos com o pecado, às vezes, mesmo
sem perceber. A única coisa que vai destruir “o resto do nosso tempo” é o
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.4). Wheaton, IL: Victor
Books.
386 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 231).
Chicago: Moody Publishers.
387 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 215). Grand Rapids, MI: Zondervan.
388 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 215). Grand Rapids, MI: Zondervan.
389 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
385
161
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
pecado. Um crente que vive em pecado é uma arma terrível nas mãos de
Satanás.390
O arminho, é um pequeno animal conhecido por sua pele branca como
a neve, vive nas florestas do norte da Europa. Deus colocou neste animal um
impulso instintivo de proteger sua branca de tornar-se suja. Os caçadores
aprenderam sobre essa característica. Em vez de espalhar armadilhas, eles
encontram a toca do arminho na fenda de uma rocha ou uma árvore oca e
sujam a entrada com piche, por exemplo. Em seguida, os cães iniciam a
perseguição, e o arminho foge assustado em direção à toca. Mas ao encontrála coberta com piche, ele não entra, nem mesmo para salvar sua vida. Para o
arminho, a pureza é mais preciosa do que a vida.
A pureza é preciosa para você também? Você não vai se tornar santo
por osmose se aproximando de cristãos ou igrejas. Isso não vai acontecer
espontaneamente. Você deve armar-se com a intenção de ser santo. A
motivação é o sofrimento de Cristo e Seu iminente retorno como Juiz.
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.1). Wheaton, IL: Victor
Books.
390
162
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
A Conduta da Igreja no fim dos tempos
[estudo 19 – 1pedro 4.7-11]
De vez em quando um líder religioso se torna tão convencido de que a
vinda do Senhor é iminente que persuade aos membros de sua seita a
venderem tudo e se isolarem em um lugar afastado da cidade para aguardar
a vinda de Jesus Cristo. Em 1988, milhares de igrejas na América receberam
pelo correio um folheto escrito por Edgar Whisenant, “88 razões pelas quais
o arrebatamento acontecerá em 1988”. Ele utilizou vários argumentos
interessantes, mas, tudo foi em vão. Como todos sabem Jesus Cristo não
voltou em 1988. Então, em 1989, ele publicou outro folheto explicando
porque seus cálculos estavam errados e afirmou que a vinda do Senhor
Jesus, na verdade, aconteceria em 1989. Seus cálculos também falharam
naquele ano. Porém, em 1990, ele não publicou mais nada!
Edgar Whisenant admitiu em seu livreto de 1989 que se confundiu
sobre a volta de Jesus, uma vez que havia muitos fatores complexos
envolvidos. Contudo, seu objetivo era despertar a igreja de sua apatia
espiritual. Whisenant levanta uma importante questão: De que forma
devemos nos comportar a luz do fato de que estamos vivendo no fim dos
tempos? Pedro responde essa pergunta em 1Pedro 4.7-11.
Nesta passagem, o apóstolo Pedro instruiu aos seus leitores sobre três
aspectos básicos da conduta cristã: o incentivo, as instruções e a intenção de
nossa conduta.391
I. O incentivo sobre a nossa conduta
“Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos
e sóbrios a bem das vossas orações” (1Pe 4.7).
Na seção anterior (1Pe 4.1-6), Pedro disse que Cristo está pronto para
julgar os vivos e os mortos (4.5). Alguns crentes haviam morrido, o que pode
ter atraído alguns escarnecedores (4.6): “Os cristãos morreram, assim como
todos os outros! Que diferença faz ser cristão? Eles morreram e não
aproveitaram os prazeres da vida!”. Mas Pedro afirma, “Ora, o fim de todas as
coisas está próximo” (v. 7).
“Ora, o fim de todas as coisas está próximo...” (v. 7) – A palavra
“fim” (telos, em grego) não indica, necessariamente, interrupção, rescisão ou
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 234).
Chicago: Moody Publishers.
391
163
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
conclusão cronológica. Mas significa “consumação, realização, um objetivo
alcançado”. Neste contexto, refere-se à segunda vinda de Cristo.392
O verbo “próximo” (ēggiken, em grego) indica um processo
consumado (a volta de Cristo), que pode ocorrer a qualquer momento (cf. Mt
24.37-39; Rm 13.12; 1Ts 5.2; Ap 16.15, 22.20; Mc 13.35-37; Lc 12.40; 21.36;
1Co 1.7; 1Tm 6.14; Tt 2.13; Tg 5.7-9).393 Assim, os termos “fim” e “próximo”
expressam a esperança do ato escatológico iminente da volta de Cristo Jesus.
Hoje, muitos zombam e dizem: “Isso é loucura! Já se passaram quase
2.000 anos e Jesus ainda não voltou. Como alguém pode dizer que o fim de
todas as coisas está próximo?” Pedro responde:
“Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que,
para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um
dia. Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a
julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para
convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos
cheguem ao arrependimento. Virá, entretanto, como ladrão, o
Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso
estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra
e as obras que nela existem serão atingidas” (2Pe 3.8-10).
O que tais escarnecedores não percebem é que a visão do tempo para
Deus é diferente da nossa. Mil anos para o Senhor é como um dia. Além
disso, Ele não deseja que nenhum dos Seus filhos pereça.
O fato de Jesus não ter voltado ainda, não significa que o fim de todas
as coisas não esteja próximo. Não é mesmo? Ainda que o Senhor Jesus não
retorne enquanto estivermos vivos neste mundo, individualmente, estamos
muito perto do fim, não estamos? Estou com 35 anos, faltam apenas 30 anos
para a aposentadoria! Mas não tenho nenhuma garantia de que vou viver até
os 36 anos. Aliás, ninguém possui essa garantia. Assim, todos precisam viver
na perspectiva de que o fim de todas as coisas está próximo.
À luz do retorno de Cristo e o desdobramento do julgamento do fim
dos tempos, Pedro diz que devemos responder com certas ações específicas.
II. A instrução sobre nossa conduta
“Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros,
porque o amor cobre multidão de pecados” (1Pedro 4.11b).
Se Cristo está pronto para julgar os vivos e os mortos (4.5), se o
julgamento vai começar pela casa de Deus (4.17), então aqui está como o
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
393 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 235).
Chicago: Moody Publishers.
392
164
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
povo de Deus deve se conduzir no fim dos tempos. Há três áreas específicas:
oração, amor e serviço.
A. O cristão deve glorificar a Deus através da oração (4.7 b).
“Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos
e sóbrios a bem das vossas orações” (1Pe 4.7).
A oração glorifica a Deus porque reconhece a fraqueza humana e a
total dependência dEle. São as orações que mantém os olhos dos cristãos na
direção certa.394 Não orar é, com efeito, afirmar nossa própria suficiência e
arrogância. Pedro menciona duas qualidades que vão nos ajudar a manter a
perspectiva correta diante da vinda do Senhor:
Em primeiro lugar, “Sede, portanto, criteriosos” (v. 7). A palavra
“criterioso” deriva de um termo que significa literalmente, “estar na mente
da pessoa certa” (sōphroneō, em grego) ou estar sob controle e não se deixar
levar por uma opinião errada (Rm 12.3; cf. Pv 23.7). Marcos usou a mesma
palavra para descrever o maníaco que foi libertado da legião de demônios
por Jesus, “Ele estava em perfeito juízo” (Mc 5.15). O verbo também se refere
à guarda do coração (Pv 4.23). A mente cristã deve ser claramente fixada nas
prioridades espirituais (Js 1.8; Mt 6.33; Cl 3.2, 16; Tt 2.11-12). John
MacArtur corretamente escreveu: “Quando as mentes dos crentes estão
sujeitas a Cristo” (2Co 10.5). E a Sua Palavra (Sl 1.2, 19.7, 10, 119.97, 103,
105; 2Tm 3.15-17) eles veem as coisas de uma perspectiva eterna.395 Todo
cristão deve viver na expectativa da vinda do Senhor.
Em segundo lugar, “Sede, portanto, sóbrios” (v. 7). A palavra
“sóbrio” (nepho, em grego) significa “estar livre da influência de
entorpecentes”. 396 Mas no Novo Testamento é utilizada, metaforicamente,
para a necessidade de vigilância quanto à volta de Cristo (1Ts 5.6, 8; 2Tm
4.5, 1Pe 1.13, 4.7).
O oposto da palavra é permanecer dormindo (1Ts 5.6-8). Pedro sabia
bem o que era isso. No jardim do Getsêmani ele dormiu enquanto deveria
orar e vigiar. Como resultado, ele caiu em tentação e negou o mestre (Mt
26.40-41). Agora, Pedro compartilha o mesmo com os seus leitores. É
necessário sobriedade e vigilância, pois estes são dias cruciais. O fim está
próximo.
394
MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 235.
395 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 240).
Chicago: Moody Publishers.
396 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
165
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
B. O cristão deve glorificar a Deus através do amor.
“Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros,
porque o amor cobre multidão de pecados. Sede, mutuamente,
hospitaleiros, sem murmuração” (1Pe 4.8-9).
1. A questão do amor.
“Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os
outros...” (v. 8) – Pedro admoesta aos seus leitores sobre a prioridade do
amor na vida da igreja. Jesus disse que o amor um pelo outro é o seu novo
mandamento, o sinal de que o mundo vai saber que somos Seus seguidores
(Jo 13.34-35). Paulo escreveu aos coríntios dizendo que poderia ter todos os
dons espirituais, mas sem amor, de nada adiantaria (1Co 13.1-3). Amar o
próximo é uma prova concreta de que amamos a Deus (1Jo 4.20; Mt 22.3739).
Além do mais, Pedro diz que o amor na vida do cristão tem que ser
“intenso” (v. 8). O termo “intenso” (ektenēs, em grego) denota o esforço
máximo dos músculos de um atleta durante a corrida. A literatura grega
utilizava a palavra para descrever um cavalo que se esforça para correr a
toda velocidade. Isso significa que tal amor é sacrificial, não sentimental, e
requer muito esforço, apesar do insulto, injúria e a incompreensão dos
outros (Pv 10.12; Mt 5.44; Mc 12.33; Rm 12.14-15, 20; 1Jo 4.11; Gl 6.10; Ef
5.2; Tg 1.27).397
O amor bíblico, muitas vezes, é mais uma questão de trabalho, atitude
do que sentimento. Trata-se de muito esforço!
“... porque o amor cobre multidão de pecados” (v. 8) – Essa frase é
oriunda de Provérbios: “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todas as
transgressões” (Pv. 10.12). A palavra “cobrir” (kalúptō, em grego) significa
“ocultar” ou “esconder”. Isso não quer dizer que o amor ignora a realidade
do pecado. Ao contrário, a única solução para o pecado é o perdão e o amor
nos motiva a perdoar. Além disso, o amor edifica (1Co 8.1). O amor se
concentra ao afirmar pontos fortes em vez de criticar as fraquezas. Ele
carrega os fardos uns dos outros e assim cumpre a lei de Cristo (Gl 6.2).398
Em Gênesis temos uma ilustração deste princípio. Noé bebendo do
vinho embriagou-se e se pôs nu dentro de sua tenda. Seu filho Cam viu a
vergonha de seu pai e contou para os outros. Então, Sem e Jafé, em amor,
tomaram uma capa, puseram-na sobre os próprios ombros de ambos e,
andando de costas, rostos desviados, cobriram a nudez do pai, sem que a
vissem (Gn 9.21-23). Não deve ser muito difícil para nós cobrir os pecados
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 241).
Chicago: Moody Publishers.
398 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (Vol. 34, p. 176). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
397
166
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
dos outros, afinal, Jesus Cristo morreu para que nossos pecados pudessem
ser lavados.399
2. A questão da hospitalidade.
“Sede, mutuamente, hospitaleiros, sem murmuração” (1Pedro 4.8-9).
O termo “hospitaleiro” (philoxenos, em grego) significa literalmente
“amigo de estranhos”.400 O que Pedro está dizendo é que o cristão não abre
apenas o seu coração, mas também a sua casa. O amor do cristão não deve
apenas ser intenso, mas também deve ser prático. Devemos compartilhar o
nosso lar com os outros em hospitalidade generosa (e sem murmurar).
Nos tempos do Novo Testamento, a hospitalidade era uma coisa
importante, porque havia poucas pousadas e os santos perseguidos
precisavam de um lugar para ficar onde pudessem ser assistidos e
encorajados.401 Jesus elogiou aos crentes que forneceram alimentos, roupas
e abrigo aos outros (Mt 25.35-40; Lc 14.12-14). Os cristãos promovem a
verdade quando abrem suas casas para os servos de Deus (3Jo 5-8).
Paulo ensinou que uma das qualidades dos Presbíteros é ser
hospitaleiro (1Tm 3.2; Tt 1.8). Paulo também advertiu as viúvas a
mostrarem as boas obras oferecendo hospitalidade (1Tm 5.10). Além disso,
a igreja primitiva era composta de irmãos e irmãs cristãos que gostava de
partilhar o que possuíam (At 18.1-4).
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no
partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e
muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos
apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo
em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo
o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade.
Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de
casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e
singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a
simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o
Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2.42-47).
Ser hospitaleiro não é uma questão apenas do Novo Testamento. De
acordo com a lei de Moisés, os judeus deveriam estender hospitalidade aos
estranhos também (Êx 22.21; Dt 14.29; Gn 18.1-2).402 Abraão hospedou três
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.8). Wheaton, IL: Victor
Books.
400 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
401 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.8). Wheaton, IL: Victor
Books.
402 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 242).
Chicago: Moody Publishers.
399
167
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
homens, e descobriu que havia hospedado o Senhor e dois anjos (Gn 18;. Hb
13.2).
C. O cristão deve glorificar a Deus através do serviço.
“Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como
bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale
de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força
que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado,
por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos
séculos dos séculos. Amém!” (1Pe 4.10-11).
Pedro declara que devemos “Servi uns aos outros, cada um
conforme o dom que recebeu...” (v. 10) – A palavra “servir” (diakoneo, em
grego) significa “ser um servo, atendente ou doméstico”. Cada cristão deve
colocar o dom que recebeu a serviço de todos, porque todo cristão é um
“despenseiro da graça de Deus” (v. 10).
A palavra traduzida como “dom” (charisma, em grego) vem da palavra
cháris que significa graça. Isto é, Pedro está escrevendo sobre um “dom de
graça” ou um dom espiritual que vem do Senhor.403 Cada cristão tem pelo
menos um dom espiritual que deve usar para a glória de Deus e a edificação
da igreja. Deus nos confiou esses dons para que possamos usá-los para o
bem da sua igreja.404 Ele mesmo nos dá a capacidade espiritual para
desenvolver e sermos fiéis servidores da Igreja.
“... como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (v. 10) –
Cada crente é um mordomo ou administrador dos recursos que Deus nos
concedeu para Sua glória. A palavra “despenseiro” (oikonomos, em grego)
era utilizada para o administrador do lar ou dos afazeres do lar. Alguém que
possuía a responsabilidade de atender os negócios do mestre, e, sobretudo,
de servir à mesa. Assim, cada cristão deve considerar o outro como superior
a si mesmo. Isso é possível porque todo cristão recebeu um dom com os
quais podem servir aos outros.405
Já o termo “multiforme” (poikilos, em grego) significa “de muitas
cores”. O termo implica uma grande variedade de dons dentro da
comunidade cristã.406 Existem quatro passagens principais do Novo
Testamento que nos ensinam sobre os dons espirituais: Romanos 12,
1Coríntios 12-14, Efésios 4 e 1Pedro 4. Além disso, Paulo encorajou o jovem
Timóteo a ser fiel no uso de seus dons espirituais (1Tm 4.14 e 2Tm 1.6).
403 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (Vol. 34, p. 178). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
404 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.8). Wheaton, IL: Victor
Books.
405 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 239.
406 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 222). Grand Rapids, MI: Zondervan.
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém
serve, faça-o na força que Deus supre...” (v. 11) – Qual é o propósito de tais
dons? Como devem ser usados? Pedro dividiu o serviço cristão em duas
categorias gerais: aquele que fala (lalei) e aquele que serve (diakonei; cf v.
10).407
Quem fala vai ministrar através da pregação, ensino, aconselhamento
e discernimento. Quem serve ministrará através de áreas como
administração, oração ou misericórdia. Essas duas funções gerais dos
ministérios muitas vezes se sobrepõem. Ambos os grupos funcionam através
da dependência graciosa da provisão de Deus (At 6.2-4).
“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus...” (v. 11) –
Em outras palavras, se Deus nos deu o dom de falar, devemos falar no poder
do Espírito Santo. O cristão deve falar não o que pensa, mas o que Deus
declarou em Sua Palavra (os oráculos). Devemos falar como se Deus
estivesse falando (cf. Atos 7.38; Rm 3.2).
O pregador não é um profeta. O pregador não recebe uma revelação
celestial inédita; sua tarefa é expor a revelação que já foi terminantemente
concedida (Hb 1.1-4). Além disso, embora o pregador seja usado pelo
Espírito Santo, ele não é “inspirado” da mesma maneira que os profetas. É
interessante notar que, na Escritura Sagrada, a última vez em que aparece a
expressão “veio a Palavra de Deus” foi usada com relação ao ministério de
João Batista (Lc 3.2). Ele, de fato, foi o último profeta. Entre o fim do Antigo
Testamento e o começo do Novo Testamento, nenhuma voz
verdadeiramente profética se fez ouvir na Terra. João Batista foi tanto um
cumpridor da profecia quanto o último dos profetas pré-cristãos.408 Sua
mensagem foi, portanto, descrita da mesma maneira como um profeta do
Antigo Testamento (Jr 1.1-2). Diante disto, o pastor e comentarista John
Stott acertadamente escreveu: “a Palavra de Deus não vem mais aos homens,
hoje. Ela já veio a todos os homens; agora os homens é que precisam ir até
ela”.409
“... se alguém serve, faça-o na força que Deus supre...” (v. 11) –
Aqueles que servem deverão fazê-lo pela força de Deus, o que aponta para a
total dependência do Altíssimo. A palavra “suprir” (choregeo, em grego),
principalmente, entre os gregos, significava “levar um coral ao palco”.410
Originalmente era utilizada para se referir a uma pessoa rica que custeava o
investimento necessário para um coral realizar a sua apresentação. Deus é
407 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 854). Wheaton, IL: Victor Books.
408 Carson, D. A. (1994). New Bible commentary : 21st century edition. Rev. ed. of: The new
Bible commentary. 3rd ed. / edited by D. Guthrie, J.A. Motyer. 1970. (4th ed.) (Lc 3:1).
Leicester, England; Downers Grove, Ill., USA: Inter-Varsity Press.
409 STOTT, John. O Perfil do Pregador. São Paulo: Editora Sepal, 1991, p. 7.
410 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
uma fonte abundante de força para tudo o que Ele nos manda fazer. Como
disse o comentarista Ênio Muller, acertadamente, “Aos cansados neste
serviço, fica a lembrança de que Deus supre as forças necessárias para
Ele”.411
III. A intenção sobre a nossa conduta
“Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém
serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas,
seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a
glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (1Pe 4.11).
“para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de
Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos
séculos” (v. 11b) – A Palavra “glória” (doxa, em grego) tem a nuance de
“magnificência, excelência, preeminência, dignidade ou graça”. Quando
aplicado a Deus, a Sua glória é a Sua majestade inerente e valor infinito. A
glória de Deus é a manifestação dos Seus atributos, muitas vezes expressa na
terra (Mt 17.2; At 26.13; Ap 1.16). No Antigo Testamento, a glória de Deus
foi vista como uma nuvem e uma coluna de fogo (Êx 24.16-18, 40.34-35).
Glorificar a Deus significa demonstrar sua excelência aos outros. Se
um fotógrafo deseja destacar uma maravilha da natureza, ele nos faz
deleitar-se com a beleza da cena. Vemos a fotografia e suspiramos “Olhe
para as cores e a grandiosidade da montanha!” Quando o fotógrafo faz o seu
trabalho corretamente, não exaltamos o fotógrafo em si; exaltamos o objeto
que ele aponta. E quando os cristãos apropriadamente glorificam a Deus, as
pessoas devem exclamar: “Que grande Deus é esse!” (Mt 5.16).
Lembre-se: Nossa motivação no serviço, como na oração e no amor
deve ser a glória de Deus. Alguns se envolvem no serviço ao Senhor para
satisfazer as suas próprias necessidades de reconhecimento.
Invariavelmente, eles se machucam em algum momento, quando seus
esforços passam despercebidos. Àqueles que falam (pregam) ou servem na
igreja buscando apenas a glória para si mesmo estão em desacordo com o
ensino do apóstolo Pedro.
O apóstolo termina esta passagem com a palavra “amém”, um termo
de afirmação que significa “que assim seja”.
411
MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e Comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 242.
170
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Conclusão:
“Ora, o fim de todas as cousas está próximo”, por isso, a igreja deve
glorificar a Deus através da oração, do amor e do serviço. Em 1959, a Rainha
da Inglaterra inesperadamente visitou o Estado de Michigan, nos Estados
Unidos. Todos os hotéis foram contatados sobre a possibilidade de receber a
Rainha. Porém, apenas o Drake Hotel, o mais antigo, mas de primeira classe,
estava preparado. O cais estava pronto para receber a embarcação e o tapete
vermelho havia sido estendido para receber a realeza e sua comitiva. Muitos
hotéis contatados se recusaram em receber a rainha por que não havia
tempo hábil para sem prepararem. Mas, quando entraram em contato com o
Drake Hotel, a gerente explicou: “Nossos quartos estão sempre prontos para
a realeza”.
Pedro está dizendo: “O rei está chegando”. Não adianta viver isolado
em um sítio ou no topo de uma colina esperando pelo Senhor. Em vez disso,
pergunte a si mesmo: Você está vivendo de tal forma que os outros consigam
ver quão grande é o Seu Deus? Você está dependendo dele em oração? E
sobre o seu amor pelos os outros cristãos? Além disso, de que forma você
tem administrado os dons que Deus lhe confiou? Sua vida deve estar sempre
pronta para a realeza. Não deixe que a vinda do Rei da glória encontre você
despreparado!
171
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Como enfrentar o sofrimento?
[estudo 20 – 1pedro 4.12-19]
O famoso escritor e pregador John Bunyan nasceu na Inglaterra em
novembro de 1628. Ele nasceu em um lar simples e por isso, recebeu apenas
uma educação básica, ou seja, aprendeu a ler e a escrever, nada mais do que
isso.
Em 1644, quando tinha 15 anos, sua mãe e sua irmã morreram num
intervalo de um mês. Para aumentar a sua inquietação, seu pai casou-se
novamente, um mês depois. Aos 21 anos, John Bunyan se casou e através de
alguns livros escritos por seu sogro, um homem piedoso, ele foi conduzido a
Cristo. Desta união, Bunyan teve quatro filhos: Mary, Elizabeth, John e
Thomas. Além disso, Mary, a mais velha, nasceu cega. Após dez anos de
casamento, sua esposa morreu, John Bunyan estava com 30 anos. Um ano
depois, em 1659, ele se casou pela segunda vez. No ano seguinte, ele foi
preso por pregar a Palavra de Deus enquanto caminhava para realizar um
culto a doze quilômetros de Bedford. Sua esposa Elizabeth Bunyan estava
grávida e teve um aborto durante a crise. Então, ela cuidou das quatro
crianças, como madrasta, sozinha, por doze anos.412
John Bunyan sofreu muito. O que ele poderia dizer aos membros de
sua igreja a fim de encorajá-los diante do sofrimento? O texto que ele usou
foi: “Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem
a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem” (1Pedro 4.19).
O fato de servir a Deus não significa que não sofreremos. Na verdade,
o apóstolo Pedro nos dá quatro duras lições sobre os tempos difíceis. São
lições necessárias, porque ninguém está isento de tempos difíceis nesta vida
(Hb 12.8).
I. Como cristãos, devemos esperar o sofrimento.
“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós,
destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos
estivesse acontecendo” (1Pe 4.12).
O sofrimento não é algo estranho. Pedro diz que não devemos
estranhar “o fogo ardente”. A expressão “fogo ardente” (purosis , em grego)
refere-se a uma experiência agonizante (Ap 18.9, 18). O artigo definido “o”
indica que Pedro tem em mente uma circunstância particular que seus
leitores estavam enfrentando. Sabemos que este julgamento está
Batson, E. B. (1992). Bunyan, John. (J. D. Douglas & P. W. Comfort, Orgs.)Who’s Who in
Christian history. Wheaton, IL: Tyndale House.
412
172
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
relacionado com o tratamento injusto nas mãos dos inimigos do cristianismo
do primeiro século. Esse julgamento cresceu o suficiente que levou o
apóstolo Pedro a escrever uma carta lembrando-lhes de sua fonte de
esperança em tais ocasiões.413 Pedro nos dá duas respostas adequadas a
estas provações angustiantes.
A. O sofrimento não é algo estranho à vida cristã.
“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de
vós...” (v. 12) – Pedro chama as provações de “fogo ardente”. Não sabemos
ao certo, mas pode ser uma referência à perseguição que o imperador Nero,
desencadeou contra a igreja em Roma.
Durante o verão de 64 d.C., um grande incêndio assolou a cidade de
Roma. As chamas se espalharam rapidamente pelas ruas estreitas da cidade
e os muitos cortiços de madeira. O fogo durou nove dias, deixando em ruínas
a maior pare da cidade – dez das suas catorze circunscrições. Milhares de
pessoas perderam a vida, e as ruas ficaram cheias de gente desorientada e
deslocada. Por causa de seu desejo conhecido de reformar a cidade de Roma,
a população acreditava que Nero fosse o responsável por iniciar o
incêndio.414 Enquanto o fogo destruía a maior parte dos bairros da cidade,
ele assistia alegremente da Torre de Mecenas. Para acabar com esses boatos,
Nero inventou bodes expiatórios – e puniu os cristãos com requinte de
crueldade. O zelo com o qual ele reconstruiu a cidade deu a impressão de
que, mesmo que Nero não tivesse ordenado o fogo, a destruição favoreceu
muito seus planos de reconstrução.415
O plano de Nero foi inteligente porque os cristãos no Império Romano
já eram alvos de muito ódio e difamação. Incrédulos acusavam falsamente os
cristãos de consumirem carne humana e beberem sangue durante a Ceia do
Senhor (cf. Mc 14.22-25; 1Co 11.23-26) e que o ósculo santo (cf. 5.14; Rm
16.16; 1Co 16.20; 2Co 13.12; 1Ts 5.26) era na verdade um sinal de luxúria
descontrolada. Assim, Nero se aproveitou do sentimento anticristão e puniu
os cristãos, usando-os como tochas humanas para iluminar suas festas no
jardim. Ele ordenou que alguns cristãos fossem vestidos com peles de
animais e lançados aos predadores, outros foram crucificados e submetidos
a torturas injustas.416 Nero foi um dos homens mais cruéis da história.
413 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 227–228). Grand Rapids, MI: Zondervan.
414 Myers, A. C. (1987).The Eerdmans Bible dictionary. Grand Rapids, MI: Eerdmans.
415 de Villiers, J. L. (1998). The political situation in the Graeco-Roman world in the period
332 BC to AD. (A. B. du Toit, Org.)The New Testament Milieu, Guide to the New Testament
(Vol. 2). Halfway House: Orion Publishers.
416 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 248).
Chicago: Moody Publishers.
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Ambos os apóstolos Pedro e Paulo, provavelmente, perderam suas
vidas nesta perseguição.417 Onde estava Deus em tudo isso? Por que Deus
permitiu tão grande sofrimento? O Senhor Jesus havia declarado aos seus
discípulos que o mundo iria odiá-los porque O odiaram primeiro (Jo 15.1819).
Deste modo, não fique surpreso quando as pessoas perseguirem você.
Muitas vezes achamos estranho quando enfrentamos oposição até mesmos
dentro da própria igreja. Mas Jesus também disse aos discípulos que eles
seriam perseguidos pela multidão religiosa e que seriam chicoteados nas
sinagogas (Mc 13.9; Mt 23.31). As pessoas religiosas muitas vezes escondem
seus pecados atrás de uma máscara de espiritualidade. Desta forma, não
devemos ficar surpresos com o sofrimento, você vai sofrer! Essa é a primeira
lição difícil sobre tempos difíceis!
B. O sofrimento não é para destruir, mas para purificar.
“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós,
destinado a provar-vos...” (v. 12) – O “fogo ardente” sobrevém em
decorrência de sermos fiéis a Deus e de nos apegarmos com firmeza ao que é
correto. Muitas vezes as pessoas dizem: “Eu não posso acreditar que isso
está acontecendo comigo!” Ou “Por que Deus não me protegeu dessas
coisas?”. Mas Pedro responde com um importante lembrete: o fogo ardente
vem sobre os crentes para “provar”. Como o fogo que prova e purifica o
ouro, separando o metal precioso de suas impurezas.418
No Antigo Testamento, o fogo simbolizava a santidade de Deus. O fogo
no altar consumia o sacrifício (Hb 12.28, 29; Ap 4.2). Mas Pedro vê na
imagem do fogo um processo de refinamento, não de julgamento divino (Jó
23.10; 1Pe 1.7).
“... como se alguma coisa extraordinária vos estivesse
acontecendo...” (v. 12) – O verbo “acontecer” é relevante, pois significa
“acompanhar”. Isso significa que nenhuma perseguição ou provação
simplesmente “acontece” por acidente. Antes, faz parte do plano de Deus, de
modo que Ele está no controle.419 O apóstolo Paulo declarou essa verdade:
“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a
Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).
Deste modo, não fique surpreso se você está sendo perseguido. Não
fique admirado, se a vida está difícil. Não fique admirado quando alguém
Achtemeier, P. J., Harper & Row e Society of Biblical Literature. (1985).Harper’s Bible
dictionary. San Francisco: Harper & Row.
418 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 228). Grand Rapids, MI: Zondervan.
419 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.12). Wheaton, IL: Victor
Books.
417
174
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
discordar do seu testemunho. Não fique surpreso. Isso é inevitável. Isso é
normal. Isso não é estranho!
É interessante observar que o apóstolo Pedro antes de falar a respeito
do sofrimento, ele chama os seus leitores de “amados”. A palavra “amado”
(agapetos, em grego, cf 2.11) é uma palavra pastoral, transmite ternura,
compaixão, afeto e cuidado (cf. 1Co 4.14; 1Ts 2.8).420 Isso é muito
importante porque o sofrimento nos leva a duvidar do amor de Deus.
Semelhante à esposa de Jó, em meio ao sofrimento, somos tentados a
proferir palavras desprezíveis contra Deus: “Ainda conservas a tua
integridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2.9). Assim, o apóstolo procurou
tranquilizar seus leitores a respeito do amor infalível de Deus.
II. Como cristãos, devemos nos alegrar em meio ao
sofrimento.
“pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos
sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória,
vos alegreis exultando” (1Pedro 4.13).
Esperar as provações é uma coisa; se alegrar é algo bem diferente! Na
verdade, é humanamente impossível. Só Deus pode nos dar
sobrenaturalmente grande alegria no meio das provações. Não podemos nos
regozijar no julgamento em si, o que seria masoquismo, mas, podemos nos
alegrar com o resultado. Como Paulo disse, “E não somente isto, mas também
nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz
perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança” (Rm
5.3-4). Tiago nos diz que podemos experimentar alegria ao passar por todo
tipo de aflição, sabendo que o resultado será a resistência e a maturidade
(Tg 1.2-4).
Aqui, Pedro nos dá três razões pelas quais podemos exultar nas
provações:
A. O sofrimento pode nos levar a uma profunda comunhão com
Cristo.
“pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo...” (v. 13) – A palavra “coparticipantes” (koinoneo, em grego) significa comunhão. Claro, o sofrimento
de Cristo foi penal e substitutivo, enquanto o nosso, não! Ele morreu por
nossos pecados, enquanto a nossa morte não pode pagar os pecados de
ninguém. Mas, mesmo assim, quando sofremos em nome do evangelho, nos
juntamos ao nosso Salvador que sofreu injustamente nas mãos dos
pecadores.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 249).
Chicago: Moody Publishers.
420
175
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Os apóstolos consideravam um privilégio sofrer por amor a Cristo (At
5.40, 41). Paulo diz: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por
Cristo e não somente de crerdes nele” (Fp 1.29).
Na medida em que os crentes sofrem injustamente como o Senhor
Jesus, devem manter a alegria da esperança celestial:
“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque
deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por
minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo,
disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é
grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos
profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.10-12).
O melhor de tudo é saber que, não importa a intensidade da
perseguição, o Senhor Jesus sempre está conosco (Is 41.10, 43.2). O
comentarista Warren Wiersbe com inteireza declarou: “Quando os
pecadores nos perseguem, eles, na realidade, estão perseguindo a Jesus
Cristo” (At 9.4).421
Quando os três amigos de Daniel foram lançados na fornalha ardente,
eles descobriram que não estavam sozinhos (Dn 3.23-25). Quando Estêvão
foi apedrejado pelo seu testemunho ao Sinédrio, ele olhou para céu e viu
Jesus em pé à mão direita de Deus (At 7.56). O apóstolo Paulo experimentou
a presença consoladora de Cristo em suas tribulações (At 23.11; 27.21-25).
Quando foi julgado em Roma, embora tenha sido abandonado pelos outros,
Paulo informou a Timóteo como o Senhor estava com ele e o fortalecia (2Tm
4. 9-18). Na verdade, o Senhor Jesus havia prometido que estaria com os
Seus “até a consumação dos séculos” (Mt 28.20). Amém!
B. O sofrimento representa glória no futuro.
“pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos
sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória,
vos alegreis exultando” (1Pe 4.13).
“Sofrimento” e “glória” são verdades gêmeas encontradas na carta de
Pedro. O mundo acredita que a ausência de sofrimento significa glória, mas a
perspectiva de um cristão é diferente. A prova de nossa fé, hoje, é a certeza
da glória, quando Jesus voltar (1Pe 1.7-8).422 Esta foi a experiência de nosso
Senhor Jesus (1Pe 5.1), e será também a nossa experiência.
Pedro usa duas palavras diferentes para “alegria”. Ele diz que quando
nos alegramos no sofrimento iremos nos alegrar exultando na glória
(agalliao, em grego). Ela transmite a ideia de uma jubilosa exaltação (Mt
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.13). Wheaton, IL: Victor
Books.
422 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.13). Wheaton, IL: Victor
Books.
421
176
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
5.12; Lc 1,47; 10.21; At 2.26; Jo 8.56; At 16.34).423 Nada neste mundo se
compara com a alegria que vai preencher o nosso coração quando
estivermos na presença de Deus – será uma alegria arrebatadora.
Pessoas maduras sabem que a vida inclui alguns “prazeres adiados”.
Um atleta passa horas treinando e se esforçando e acaba abrindo mão de
alguns prazeres momentâneos. Porém, ele olha para frente, ele contempla a
linha de chegada, ele sonha com a vitória durante tanto esforço.424 De forma
semelhante, todo o esforço e sofrimento que enfrentamos, hoje, redundarão
em uma alegria indizível e cheia de glória (cf. Rm 8.17-18; 2Tm 3.11.).
C. O sofrimento pode nos levar a uma profunda comunhão com
o Espírito de Deus.
“Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois,
porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1Pedro
4.14).
Quando o Espírito da glória repousa sobre um crente, algo dos
atributos de Deus é visto em nossa vida. Aqueles que apedrejaram a Estêvão
viram o seu rosto como o rosto de um anjo (At 6.15).
“... porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (v. 14)
– A palavra “repousar” (anapauo, em grego) significa “dar alívio, refrigério,
intervalo do trabalho” (cf. Mt 11.28-29; Mc 6.31), e descreve um de seus
ministérios. 425 A palavra “glória” lembra a Shekinah, que no Antigo
Testamento simbolizava a presença terrena de Deus (Êx 24.16-17; 34.5-8;
40.34-38; Hc 3.3-4). Quando o tabernáculo e a arca da aliança foram levados
para o templo recém-dedicado de Salomão, “a glória do Senhor encheu a casa
do Senhor” (1Rs 8.11). De forma semelhante, o Espírito Santo, hoje, vive e
ministra na vida dos crentes.
Helen Roseveare foi uma médica britânica cristã, que serviu mais de
vinte anos no Zaire, na África. Em 1964, durante uma revolução no país, ela e
seus amigos sofreram cinco meses e meio de brutalidade e tortura
inacreditáveis. Por um momento ela pensou que Deus a havia abandonado,
mas, em seguida, ela foi impactada com um senso de Sua presença, e fez
questão de registrar as palavras como se Deus estivesse dizendo a ela: “Vinte
anos atrás, você me pediu o privilégio de ser uma missionária, o privilégio de
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
424 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.13). Wheaton, IL: Victor
Books.
425 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 253).
Chicago: Moody Publishers.
423
177
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
ser identificada comigo. Você não quer isso? Isso é o que significa: Esses não
são os vossos sofrimentos, eles são meus”.426
Você está se sentindo abandonado? Pedro deseja que você enxergue o
que está por trás da cortina, se você pudesse olhar por trás do véu, veria a
presença da glória de Deus e do Espírito repousando sobre sua vida.
III. Como cristãos, devemos examinar a causa do nosso
sofrimento.
“Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou
malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; 16mas,
se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a
Deus com esse nome. Porque a ocasião de começar o juízo pela casa
de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim
daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus? E, se é com
dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o
pecador?” (1Pedro 5.15-18).
Estes versículos sugerem três perguntas que precisamos fazer a nós
mesmos quando nos deparamos com os sofrimentos:
A. Por que estou sofrendo?
“Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou
malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem” (v. 15) –
Nem todo sofrimento traz o refrigério do Espírito Santo. Problemas
decorrentes de ações ilegais, obviamente, não constituem sofrimento justo.
Se algum crente é um assassino ou ladrão, ele ou ela não tem o direito de
reclamar sobre a punição, nem qualquer direito de esperar o refrigério do
Espírito.427 O mesmo se aplica no caso de sofrer como um malfeitor
(kakopoios, em grego), um termo que abrange todos os crimes sem exceção
(cf. 2.14; 3Jo 11).
A palavra “intrometido” significa literalmente “aquele que se mete em
coisas alheias à sua vocação”, “agitador” ou “encrenqueiro”. Era um termo
legal para a acusação contra os cristãos como sendo hostis à sociedade.428 As
exortações de Paulo aos Tessalonicenses ilustram o significado da palavra:
“e a diligenciardes por viver tranquilamente, cuidar do que é
vosso e trabalhar com as próprias mãos, como vos ordenamos”
(1Ts 4.11).
Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: sharing christ’s sufferings. Preaching the Word
(p. 151). Wheaton, IL: Crossway Books.
427 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 254).
Chicago: Moody Publishers.
428 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
426
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas
que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se
intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e
exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando
tranquilamente, comam o seu próprio pão” (2Ts 3.11-12).
Certamente, alguns discípulos, em seu zelo pela verdade e
ressentimento ao paganismo, estavam causando problemas na sociedade
por razões além de uma preocupação sincera e legítima ao evangelho.429
B. Estou glorificando a Cristo?
“mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes,
glorifique a Deus com esse nome” (v. 16) – Esta declaração deve ter
lembrado a Pedro de sua própria negação (Lc 22.54-62). Jesus Cristo não se
envergonha dos Seus (Hb 2.11), embora muitas vezes poderia!430
Quando Pedro e João foram espancados pelo Sinédrio por pregar a
Cristo, continuaram o caminho “E eles se retiraram do Sinédrio regozijandose por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome” (At
5.41). O nome “cristão” só ocorre três vezes na Bíblia (At 11.26, 26.28; 1Pe
4.16). Significa “Pequenos cristos”, e era um termo depreciativo.
Os crentes do primeiro século eram chamados de “irmãos” (At 1.1516; 6.3; 9.30; 12.17; 15.13), “santos” (At 9.13; Rm 8.27, 15.25; 1Co 16.1) e os
do “caminho” (At 9.2; 19.9, 23, 22.4, 24.14 e 22). Ironicamente, no entanto,
“cristão” era uma designação irônica dada a eles pelos pagãos, associado
com ódio e perseguição. Tornou-se, e deve permanecer, o nome dominante e
amado pelo qual os crentes são conhecidos, os que pertencem a Cristo.431
Pedro diz que se um cristão sofre porque tem o nome de “Cristo” em
palavra e ação, não há razão para vergonha.432 Na verdade, tal sofrimento é
para ser visto como uma honra.
C. Estou considerando a gravidade do meu pecado e a perspectiva
eterna do julgamento?
“Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada;
ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem
ao evangelho de Deus?” (v. 17) – Pedro toma um conceito do Antigo
Testamento e aplica a igreja. Quando Deus purificava ou julgava, Ele
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 255).
Chicago: Moody Publishers.
430 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.15). Wheaton, IL: Victor
Books.
431 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 255–
256). Chicago: Moody Publishers.
432 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 230). Grand Rapids, MI: Zondervan.
429
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
começava pelo santuário (Ez 9.4-6; Jr 25.29; Ml 3.1-3). Paulo disse aos
coríntios que eles necessitavam julgar suas próprias vidas, lidar com os
próprios pecados, para que não fossem condenados com o mundo (1Co
11.31-32). O processo de purificação deve começar com o Seu povo antes de
julgar o mundo.
“E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o
ímpio, sim, o pecador?” (v. 18) – Pedro parafraseia a ideia por trás de
Provérbios: “Se o justo é punido na terra, quanto mais o perverso e o pecador!”
(Pv 11.31). Quando Pedro se refere a ser “salvo” com dificuldade, é uma
referência ao sofrimento e a luta que acompanha a salvação, não uma forma
de ganhar a salvação por causa do sofrimento.433
A palavra “dificuldade” (molis, em grego) refere-se à qualidade da
caminhada cristã. Lucas usou a palavra para contar sobre uma viagem difícil
que ele e outros experientes marinheiros sofreram enquanto navegavam em
direção a Creta: “Navegando vagarosamente muitos dias e tendo chegado com
dificuldade defronte de Cnido, não nos sendo permitido prosseguir, por causa
do vento contrário, navegamos sob a proteção de Creta, na altura de Salmona”
(At 27.7). Da mesma forma, os crentes encontram muitos obstáculos ao
longo da sua caminhada cristã. A obra clássica de John Bunyan, O Peregrino,
ilustra esse fato de maneira brilhante.
Deste modo, devemos esperar provações; a segunda lição é que
devemos nos alegrar em Deus em meio aos sofrimentos, em terceiro lugar,
devemos examinar nossa própria vida.
IV. Como cristãos, devemos confiar em Deus nas
provações.
“Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus
encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem” (1Pe
4.19).
A. Devemos entregar a nossa vida ao cuidado de Deus.
“Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus
encomendem a sua alma ao fiel Criador...” (v. 19) – Quem sofre dentro da
vontade de Deus pode entregar-se ao cuidado de Deus. O verbo
“encomendar” é um termo contábil e significa “depositar a fim de guardar
em segurança” (ver 2Tm 1.12). A palavra “encomendar” (paratithēmi, em
grego) significa colocar algo sob os cuidados de outra pessoa, fazer um
depósito em custódia.434 É evidente que, quando depositamos a vida no
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 231). Grand Rapids, MI: Zondervan.
434 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 232). Grand Rapids, MI: Zondervan.
433
180
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
banco de Deus, sempre recebemos dividendos eternos pelo investimento.435
Paulo usou essa palavra quando escreveu a Timóteo: “e, por isso, estou
sofrendo estas coisas; todavia, não me envergonho, porque sei em quem tenho
crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito até
aquele Dia” (2Tm 1.12). Foi a mesma palavra que Jesus proferiu quando
expirou na cruz: “Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego
[deposito] o meu espírito! E, dito isto, expirou” (Lc 23.46).
“... encomendem a sua alma ao fiel Criador...” (v. 19) – Esta é a única
vez no Novo Testamento que Deus é chamado de Criador. Se Deus criou o
universo pela palavra do Seu poder, Ele é poderoso para guardar o Seu
depósito e levá-lo em segurança para o Seu reino celestial.
Por que Pedro se refere a Deus como “fiel Criador” ao invés de “um fiel
Juiz” ou até mesmo “um fiel Salvador”? Porque Deus, o Criador atende todas
às necessidades do Seu povo (Mt 6.24-34). Ele é o Criador que fornece
alimento, roupa e proteção em tempos de perigo. Quando a igreja primitiva
foi perseguida, eles se reuniram para orar e dirigiram-se ao Senhor como o
“Deus que fez o céu, e a terra, e o mar, e tudo o que neles há” (At 4.24). Eles
oraram ao Criador!436 Nosso Pai Celestial é o “Senhor do céu e da terra” (Mt
11.25). Com esse tipo de Pai, não precisamos nos preocupar! Ele é o fiel
Criador e sua fidelidade jamais falhará.
Quando o resultado de um exame não é nada agradável, lembre-se
Deus é fiel. Quando você receber notícias sobre um dos seus filhos que
nenhum pai gostaria de receber, lembre-se Deus é fiel. Descanse nEle.
Quando você sofrer perseguições no trabalho e até mesmo na igreja, lembrese Deus é fiel. Descanse nEle!
2. Devemos praticar o bem, mesmo diante do sofrimento.
“... na prática do bem” (v. 19) – Enquanto nos entregamos ao nosso
fiel Criador, devemos fazer o bem (cf. 2.15, 20). Foi exatamente o que Paulo e
Silas fizeram quando sofreram na prisão de Filipos, e isso é o que devemos
fazer a cada dia, para a glória de Deus.437 Tempos de perseguição são tempos
de oportunidade para um testemunho de amor para aqueles que nos
perseguem (Mt 5.10-12, 43-48).
Depois de receberem muitos açoites, Paulo e Silas foram lançados no
interior do cárcere. Por volta da meia-noite, enquanto oravam e cantavam
louvores a Deus, de repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os
alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.19). Wheaton, IL: Victor
Books.
436 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.19). Wheaton, IL: Victor
Books.
437 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (Vol. 34, p. 184). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
435
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
todos. O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do cárcere,
puxando da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido.
Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, que todos aqui
estamos! E, tirando-os para fora, disse: Senhores, que é necessário que eu
faça para me salvar? E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás
salvo, tu e a tua casa (At 16.25-31).
Não foi o terremoto que levou o carcereiro de Filipos a Cristo. Na
verdade, foi a preocupação amorosa de Paulo que conduziu o carcereiro à fé
em Cristo.438
À medida que fazemos o que é certo em meio ao sofrimento injusto,
podemos confiar nossas vidas a Ele com esperança, mesmo em tempos
dolorosos.439 O apóstolo Pedro nos ensina que não importa o que aconteça
conosco, Deus sempre escreve o último capítulo. Portanto, não precisamos
ter medo. Podemos crer que Deus fará aquilo que é certo, por mais difícil
que seja nossa situação.
Conclusão:
Como cristãos, precisamos entender que o sofrimento não é algo
estranho, muitas vezes, é uma prova de um Pai amoroso que utiliza as crises
da vida não para nos destruir, e sim, para nos refinar e nos purificar como o
fogo purifica o ouro. Aliás, Deus só prova o que é precioso. O sofrimento é o
caminho para a glória. Além disso, é no sofrimento que nos aproximamos
mais de Deus, uma comunhão com Cristo e com o Espírito da glória de Deus.
John Bunyan sofreu com a morte da mãe, da irmã e a morte da esposa.
Ele sofreu com o nascimento de sua primogênita cega, com a prisão de doze
anos em Bedford, além das pressões e temores.
Todavia, enquanto permaneceu na prisão, ele escreveu mais de 50
livros. Esses livros até hoje, tem abençoado muitas vidas ao longo dos anos.
Seus sofrimentos o tornaram um grande escritor, mesmo sem ter uma
formação especial.440 Um desses livros foi “O Peregrino” - A Viagem do
Cristão da cidade da destruição para a Jerusalém celestial, publicado na
Inglaterra em 1678. O livro é uma alegoria da vida cristã. Cada casa Inglês
que possuía uma Bíblia também possuía a famosa alegoria. Eventualmente,
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 4.15). Wheaton, IL: Victor
Books.
439 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 231). Grand Rapids, MI: Zondervan.
440 Batson, E. B. (1992). Bunyan, John. (J. D. Douglas & P. W. Comfort, Orgs.)Who’s Who in
Christian history. Wheaton, IL: Tyndale House.
438
182
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ele se tornou o livro mais vendido (depois da Bíblia) na história da
publicação.441
“Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus
encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem” (1Pe 4.19). Foi
esse texto que confortou o coração de John Bunyan, o coração de Pedro, e o
coração dos cristãos que estavam sofrendo, e certamente confortará o seu
coração.
O grande pregador Charles Haddon Spurgeon declarou acerca do
sofrimento: “É no mar da aflição que encontramos as mais raras pérolas”.442
Uma ostra que não é ferida não produz pérolas. As pérolas são
produtos da dor, resultado da entrada de um parasita no interior da ostra,
como um grão de areia. A parte interna da concha de uma ostra é uma
substância lustrosa chamada nácar. Quando um grão de areia penetra, as
células do nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com
camadas e mais camadas para proteger a ostra. Como resultado, uma linda
pérola é formada. Uma ostra que não é ferida, de algum modo, não produz
pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada.
Spurgeon estava certo, “É no mar da aflição que encontramos as mais
raras pérolas”.
Galli, M., & Olsen, T. (2000). Introduction. 131 Christians everyone should know (p. 117).
Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers.
442 Piper, John. Why We Can Rejoice in Suffering. In: www.desired.com
441
183
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
A vida exemplar dos presbíteros
[estudo 21 – 1pedro 5.1-4]
Não é por acaso que Deus escolheu chamar o Seu povo de “ovelhas”,
escreveu W. Phillip Keller. “O comportamento das ovelhas e dos seres
humanos é semelhante em muitos aspectos... As ovelhas exigem mais
atenção e cuidado do que qualquer outra classe de animais”.443
Por exemplo, Deus criou a maioria dos animais com um instinto
misterioso para encontrar o caminho de casa. Mas se uma ovelha se perder
do aprisco, ela fica desorientada e não consegue encontrar o caminho de
volta, como na parábola da ovelha perdida (Lc 15.3-7). Ovelhas precisam de
um pastor para guiá-las, protegê-las, sustentá-las e às vezes também
resgatá-las do mal.
Não é de se estranhar, então, que Jesus comparou as pessoas perdidas,
espiritualmente, como ovelhas sem pastor (Mt 9.36; Mc 6.34). Eles não
podiam se alimentar espiritualmente e não tinham ninguém para liderá-los e
protegê-los (cf. Is 53.6).
Pedro estava preocupado com o comportamento da liderança e da
igreja diante do fogo ardente das perseguições (4.12). Desta forma, ele
estabelece a forma como cada um deve se comportar na igreja,
principalmente, em meio às lutas. Pedro sabia que uma igreja sobe ou desce
devido à qualidade de sua liderança. Contudo, nenhum líder pode
administrar sem apoio dos seguidores. E, mesmo com líderes fortes e
seguidores comprometidos com a obra, o pecado e o orgulho, muitas vezes,
ficam no caminho e provocam graves problemas. Com esses fatores em
mente, Pedro nos dá uma prescrição de uma igreja genuinamente saudável.
Diante disto, ele aponta a exigência, a responsabilidade e a recompensa em
apascentar o rebanho de Deus.
I. A exigência – “rogo, pois, aos presbíteros”
“Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como
eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda coparticipante da
glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há
entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus
quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5.1-2).
“Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como
eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo...” (v. 1) – A palavra “rogo”
(parakaleo) significa literalmente “chamar ao lado” ou no sentido geral,
W. Phillip Keller. A Shepherd Looks at Psalm 23 [Grand Rapids: Zondervan, 1979], 20–
21).
443
184
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“incentivar ou obrigar alguém em uma determinada direção”. O substantivo
correspondente é frequentemente associado com o ministério do Espírito
Santo (cf. Jo 14.16-17, 26, 15.26, 16.7).444 Aqui Pedro dirige o apelo aos
Presbíteros, que são líderes da igreja.
“Rogo, pois, aos presbíteros... eu, presbítero como eles...” (v. 1) – A
palavra “Presbítero” enfatiza a maturidade espiritual. Há três termos do
Novo Testamento usados como sinônimo para se referir a esses homens:
“Anciãos” (presbuterion, cf. 1Tm 5.19; 2Jo 1, 3Jo 1). “Bispo” (episkopos, cf.
2.25; Fp 1.1; 1Tm 3.2, Tt 1.7) e “Pastor” (poimēn, cf. Ef 4.11; At 20.17, 28; Tt
1.5, 7). “Ancião” enfatiza a maturidade espiritual necessária para tal
ministério. “Bispo” afirma a responsabilidade de supervisionar a igreja.
“Pastor” expressa o dever prioritário de alimentar ou ensinar a verdade da
Palavra de Deus.
É interessante observar que no Novo Testamento, o termo
“Presbítero” é sempre utilizado no plural (Presbíteros, Bispos e Pastores).
Em Atos, segundo o relatório de Paulo e Barnabé, havia “Presbíteros” em
cada igreja (At 14.23). Mais adiante, Paulo chamou os “Presbíteros” da Igreja
de Éfeso para se despedir (At 20.17). Em sua carta a Tito, Paulo lembra que
havia designado a Tito a responsabilidade de estabelecer “Presbíteros” em
cada cidade (Tt 1.5). Assim, em cada igreja havia um pluralidade de
presbíteros ou pastores.445
“Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como
eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo...” (v. 1) – Pedro havia sido
uma testemunha dos sofrimentos de Cristo e também um participante da
glória que está para ser revelada. Pedro testemunhou os sofrimentos de
Cristo durante o Seu ministério terreno, inclusive sua agonia no jardim, Sua
prisão e maus-tratos em Seu julgamento. Ele viu as cicatrizes nas mãos do
Salvador ressuscitado. Ele testemunhou, pessoalmente, os sofrimentos de
Cristo.
“... e ainda coparticipante da glória que há de ser revelada” (v. 1) –
Além disso, Pedro teve um vislumbre da glória futura do Salvador no Monte
da Transfiguração (Mt 17). Ele escreveu de suas próprias experiências com
Jesus Cristo. Ele foi uma testemunha (5.1). A testemunha (martus, em grego)
relata o que viu e ouviu. Deste modo, um Presbítero que deseja pastorear o
rebanho conscientemente deve ser um estudante do testemunho apostólico
na Escritura, especialmente no que se refere à cruz (“os sofrimentos do
Cristo”) e a vinda do reino de Cristo (“a glória que há de ser revelada”).
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 263).
Chicago: Moody Publishers.
445 O uso no singular da palavra “Presbítero” aparece nas cartas de João, quando o apóstolo
se autodenomina como “o Presbítero” (2Jo 1, 3Jo 1) e, também, em Timóteo, quando o
apóstolo Paulo utiliza o termo “Presbítero” no singular em referência a maneira de agir
diante de acusações contra um Presbítero (1Tm 5.19).
444
185
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A cruz é o centro da vida cristã e um Presbítero deve viver pela cruz e
ser capaz de ajudar os outros a fazê-lo. Um presbítero deve ser um homem
que caminha em estreita colaboração com o Senhor Jesus.
II. A responsabilidade – “pastorear o rebanho de Deus”
“pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por
constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por
sórdida ganância, mas de boa vontade” (1Pe 5.2).
“pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por
constrangimento, mas espontaneamente...” (v. 2) – A ordem, “Pastoreai o
rebanho de Deus”, traz à mente uma imagem bíblica do Antigo Testamento,
onde Deus é o Pastor e Seus filhos, o Seu rebanho (Sl 23; Sl 100.3; Is 40.11;
Ez 34.1-24.). Ele nomeou copastores para cuidar do Seu rebanho.
“pastoreai o rebanho de Deus...” (v. 2) – Pedro adverte aos
Presbíteros sobre a responsabilidade de pastorear o “rebanho de Deus”.
Observe que não é o seu próprio rebanho, mas o rebanho de Deus. O Senhor
Jesus Cristo veio a Terra para redimir a Sua Igreja (cf. Jo 10.11; Ef 5.25-27b).
Cristo adquiriu esse rebanho com o Seu próprio sangue (1.18-19; At 20.28),
o que demonstra o valor da igreja. O termo “pastorear” (poimnion, em grego)
é um diminutivo, um termo carinhoso, ressaltando ainda mais a
preciosidade da igreja (cf. Jo 10.1-5).446
Pastorear significa levar o povo de Deus aos caminhos de Deus. A
ovelha não pode ser conduzida como o gado. Elas devem ser conduzidas
pelo exemplo (5.3). Pastorear o rebanho significa conduzir as ovelhas ao
aprisco da Palavra de Deus, onde elas podem se alimentar. O pastor trata dos
feridos e disciplina as ovelhas que causam problemas. Além disso, o pastor
vai atrás das ovelhas desviadas e as conduz de volta ao redil. O pastor está
sempre alerta para proteger o rebanho dos inimigos. Muitas vezes, esse
trabalho envolve grande sacrifício e muito esforço. O exemplo supremo é
Jesus, que deu a Sua própria vida por Suas ovelhas.
O fato de que o “rebanho é de Deus” lembra aos pastores que eles não
são os donos e que eles devem prestar contas ao proprietário. A chave para
pastorear o rebanho de Deus de forma adequada é ter uma atitude correta.
Pedro descreve aqui essa atitude com uma série de três contrastes:
O que não fazer
Não por constrangimento (v. 2)
Nem por sórdida ganância (v. 2)
Nem como dominadores (v. 3)
O que fazer
Mas espontaneamente (v. 2)
Mas de boa vontade (v. 2)
Sendo modelos do rebanho (v. 3)
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 267).
Chicago: Moody Publishers.
446
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A. “Não por constrangimento, mas espontaneamente” (5.2).
Paulo diz que um líder deve “aspirar ao cargo” (1Tm 3.1). Servir como
um Pastor ou Presbítero não é uma questão de ambição, mas sim do
chamado de Deus, como pode ser visto na frase, “como Deus quer” (v. 2). Um
Presbítero deve servir de bom grado, porque Deus o chamou para a tarefa,
não com tristeza, porque ele foi forçado a isso.
O ponto óbvio é que o Pastor deve ser diligente em vez de preguiçoso,
um coração motivado ao invés de forçado e ser fiel e apaixonado por seu
dever privilegiado ao invés de indiferente.447
B. “Não por sórdida ganância, mas de boa vontade” (5.2).
Pastores verdadeiros nunca utilizarão o ministério para roubar o
dinheiro das ovelhas. Tal comportamento desprezível é típico de falsos
pastores, os charlatões e hereges que se mascaram como servos de Deus,
para tornar-se rico e suas vítimas indigentes (Is 56.11; Jr 6.13, 8.10; Mq
3.11).448 Em sua segunda carta, Pedro caracteriza os falsos mestres em
linguagem clara: “também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com
palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua
destruição não dorme” (2Pe 2.3).
Entretanto, Paulo ensinou que “Devem ser considerados merecedores
de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade
os que se afadigam na palavra e no ensino” (1Tm 5.17). Os Presbíteros que
trabalham na pregação e no ensino não devem ser apenas respeitados, eles
também devem receber pelo trabalho (1Tm 5.18). Em virtude de seu
compromisso de tempo integral, tais anciãos geralmente assumem o papel
de líder entre os líderes em uma igreja local (Pastor/docente). Mas eles
compartilham a tarefa de pastorear ou supervisionar com os outros homens
qualificados para o trabalho.
O desejo de ganhar dinheiro sem merecer nunca deve motivar o
serviço dos ministros (1Tm 3.3; 6.9-11; 2Tm 2.4; Tt 1.7; 2Pe 2.3). Pelo
contrário, eles devem servir a Deus de boa vontade (prothumōs, em grego)
por sua vontade, livremente e ansiosamente. Por causa da alta vocação e
privilégio (cf. 1Tm 1.12-17). Como Paulo disse aos coríntios: “Eu de boa
vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. Se
mais vos amo, serei menos amado?” (2Co 12.15). Verdadeiros líderes se
alegram pelo privilégio de servir a igreja.
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 268).
Chicago: Moody Publishers.
448 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 269).
Chicago: Moody Publishers.
447
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C. “Não como dominadores, mas como exemplos” (5.3).
“nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes,
tornando-vos modelos do rebanho” (1Pe 5.3).
Alguns vão para o ministério porque gostam do poder ou status da
liderança. A palavra traduzida “dominadores” (katakyrieuontes, em grego)
inclui a ideia de uma pessoa forte sobre aquele que é fraco (cf. Mt 20.25; Mc
10.42, At 19.16). Ezequiel advertiu os falsos pastores: “A fraca não
fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada
não tornastes a trazer e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com
rigor e dureza. Assim, se espalharam, por não haver pastor, e se tornaram
pasto para todas as feras do campo” (Ez 34.4–5).
Os líderes devem ser exemplos a serem seguidos (typoi, em grego)
traz a ideia de algo que é utilizado como modelo. Os líderes devem conduzir
o povo de Deus pelo exemplo de caráter cristão maduro.449
Assim, a exigência para pastorear a igreja de Deus é um
relacionamento íntimo com Cristo e uma atitude correta para com rebanho:
liderar espontaneamente (v. 2); de boa vontade (v. 2) e sendo modelos (v. 3)
III. A recompensa – “a coroa da glória”
“Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a
imarcescível coroa da glória” (1Pe 5.4).
As recompensas pelo trabalho somente virão quando o Supremo
Pastor retornar. O fato de Jesus Cristo ser o “Supremo Pastor” (archipoimen,
o pastor chefe) novamente relembra que os líderes da igreja são apenas
copastores, responsáveis perante o Chefe. A palavra “manifestar” (phaneroo,
em grego) significa, literalmente, tornar manifesto ou visível. Hoje, os líderes
não podem ver o Supremo Pastor, embora Ele esteja presente. Mas logo Ele
se tornará visível, quando Ele voltar em poder e glória, para pastorear as
nações com vara de ferro (Ap 2.27; 12.5, 19.15). Assim, a motivação de todo
líder na igreja nunca deve ser a de receber o louvor dos homens, mas apenas
o desejo de ouvir sobre esse grande dia, “Muito bem, servo bom e fiel!” Em
seguida, compartilhar de Sua glória!
“... recebereis a imarcescível coroa da glória” (v. 4) – Ao contrário
das recompensas terrenas que se desvanecem, a coroa que os líderes
receberão vai durar para sempre. Havia vários tipos de “coroas” naqueles
dias. A palavra “coroa” (stephanos, em grego) refere-se a uma guirlanda de
vitória, o prêmio nos jogos gregos, tecida de hera, salsa, murta, azeitona ou
carvalho. Porém, a coroa dos crentes é “imarcescível” e “não pode
Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 856). Wheaton, IL: Victor Books.
449
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murchar”.450 A coroa do pastor fiel é uma coroa de glória, uma recompensa
perfeita para uma herança que nunca irá desaparecer (1Pe 1.4).451 Tem a ver
não com a autoridade para governar, mas com a honra divinamente
conferida (1Pe 1.7).
O significado é que a glória que os crentes vão receber “não passa”
como a glória das flores e das realizações humanas (1.24). Nada pode tirar o
esplendor da coroa, pois ela não está sujeita a qualquer força que domina
este mundo.452
Conclusão:
O escritor e pastor John Sittema no seu livro “Coração de Pastor”,
acertadamente nos diz que “Os presbíteros são homens de Deus que
recebem dele responsabilidades pesadas e até assustadoras. Deus os chama
para dar uma expressão humana ao coração, aos olhos e às mãos do Bom
Pastor, Jesus, no seu cuidado diário do rebanho”.453 Em outras palavras, o
Presbítero tem a função de demonstrar com a sua vida a maneira como o
Senhor Jesus cuidaria de suas ovelhas se estivesse encarnado entre nós.
Apascentar o rebanho é uma tarefa muito séria. Tiago estava
plenamente consciente desta responsabilidade quando escreveu a seguinte
advertência: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo
que havemos de receber maior juízo” (Tg 3.1; Ez 3.17-19, 33.7-9; At 20.26-27;
2Tm 4.1-2; Hb 13.17). Tiago não estava tentando desencorajar os pastores
realmente qualificados e dispostos, mas lembrando aos gananciosos e
corruptos dos elevados padrões de Deus e da recompensa (“sentença”) que
receberão diante do tribunal de Cristo (cf. 1Co 3.9-15; 4.3-5, 2Co 5.9-11).
Destarte, copastores de Cristo enfrentam uma tarefa difícil, mas a supervisão
fiel traz recompensa eterna na forma de um serviço maior e alegria no céu
diante da presença do Senhor: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no
pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mt 25.23).
450 Jamieson, R., Fausset, A. R., & Brown, D. (1997). Commentary Critical and Explanatory on
the Whole Bible (1Pe 5.4). Oak Harbor, WA: Logos Research Systems, Inc.
451 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 5.4). Wheaton, IL: Victor
Books.
452 MUELLER. Ênio R. 1Pedro, Introdução e comentário. São Paulo: Editora Mundo Cristão,
1988, p. 258.
453 SITTEMA, John, Coração de pastor. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, prefácio.
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A vida exemplar da igreja
[estudo 22 – 1pedro 5.5-14]
Depois de exortar os Presbíteros da igreja, Pedro agora se dirige aos
cristãos mais jovens, especificamente sobre um assunto que a maioria das
pessoas prefere ignorar, o tema da submissão.454 Todavia, bons líderes
merecem bons seguidores.455 Os jovens devem se submeter aos anciãos
como autoridades legítimas da igreja. Em seguida, Pedro fala a toda a
comunidade: “Que todos prestem serviços uns aos outros com humildade, pois
as Escrituras Sagradas dizem: “Deus é contra os orgulhosos, mas é bondoso
com os humildes!” (1Pe 5.5, NTLH).
Quando Pedro chega ao fim de sua primeira carta, ele compartilha
algumas importantes orientações sobre como devemos permanecer firmes
na fé. Pedro sabia que uma “prova de fogo” estava prestes a ocorrer, e
desejava que toda a igreja estivesse preparada.456 Pedro deu aos seus
leitores seis advertências sobre como glorificar a Deus durante as
perseguições: sejam humildes, confiantes, vigilantes, esperançosos, fiéis e
amorosos.
I. Sejam humildes
“Rogo igualmente aos jovens: sede submissos aos que são mais
velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de
humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes
concede a sua graça” (1Pedro 5.5).
“Rogo igualmente aos jovens...” (v. 5) – Assim como fez no início da
carta ao tratar da submissão no lar (3.1, 7), Pedro utiliza o advérbio
“igualmente” (homoios, em grego) como uma palavra de transição. Em todos
os três usos, o termo representa uma mudança de foco de um grupo para o
outro. Ou seja, em 5.1-4 Pedro se dirigiu aos líderes da igreja, agora ele se
volta para a congregação. Primeiro os pastores, depois as ovelhas. Como os
pastores se submetem ao Supremo Pastor, o rebanho se submete aos seus
pastores.
O termo “jovens” (neōteros, em grego) significa “novo” ou “jovem”.
Também pode se referir a uma pessoa fisicamente jovem em contraste com
alguém mais experiente (At 5.6; Cl 3.10). Os membros mais jovens devem se
Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (Vol. 34, p. 191). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
455 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 856). Wheaton, IL: Victor Books.
456 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 5.4). Wheaton, IL: Victor
Books.
454
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colocar voluntariamente debaixo da autoridade dos que receberam a
responsabilidade da liderança.
“... sede submissos aos que são mais velhos...” (v. 5) – Os crentes
mais jovens devem submeter aos crentes mais experientes, não apenas por
respeito à sua idade, mas também por respeito a sua maturidade espiritual.
Pedro já escreveu muito sobre a importância da submissão em sua
carta: devemos submeter-nos a toda autoridade humana (2.13); servos
devem se submeter a seus mestres (2.18); mulheres devem se submeter aos
seus maridos (3.1-5) e todos os seres celestiais a Cristo (3.22).
Como vimos em 1Pedro 2.13-14, à palavra “submissão” (hupotasso,
em grego) é um termo militar (hupo, “sob” e tasso, “organizar”).457 Significa
“dispor-se como fazem os militares sob as ordens do comandante”, “colocarse em atitude de submissão”. Contudo, isso não dá aos anciãos da igreja, o
direito de fazer o que bem desejar e nunca ouvir os membros mais jovens!
Muitas vezes há uma guerra de geração na própria igreja, com as pessoas
mais velhas resistentes à mudança e as pessoas mais jovens resistindo às
pessoas mais experientes!458 Isso seria facilmente resolvido se todos
agissem em humildade. Os jovens não apenas devem ser submissos aos mais
velhos. Na verdade, todos os cristãos devem ser submissos uns aos outros
(v. 5b). Todos os crentes, mesmo aqueles com responsabilidades de
liderança, devem ser submissos aos outros.
“... outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de
humildade...” (v. 5) – Em seguida, o apóstolo Pedro exortou aos jovens e
velhos a se cingirem de humildade. A palavra “cingir” (enkombōsasthe, em
grego) significa vestir ou amarrar, como o avental de um escravo.459 Pode
ser uma referência a Cristo quando tomou uma toalha e ensinou aos
discípulos sobre a humildade como pré-requisito para o serviço (Jo 13.4-15).
Um rebanho insubmisso torna o ministério dos pastores muito difícil.
Respeitar a liderança é um dos requisitos mais importantes para o
desenvolvimento saudável da igreja. “Obedecei aos vossos guias e sede
submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar
contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não
aproveita a vós outros” (Hb 13.17).
“... porque Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes
concede a sua graça” (v. 5) – Para apoiar o seu apelo à humildade e
submissão, Pedro parafraseia um ditado favorito encontrado em várias
formas ao longo dos Antigo e Novo Testamento.
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vol. 2: Vine’s Complete Expository
Dictionary of Old and New Testament Words (606). Nashville, TN: T. Nelson.
458 Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 5.5). Wheaton, IL: Victor
Books.
459 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 856). Wheaton, IL: Victor Books.
457
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“O SENHOR é excelso, contudo, atenta para os humildes; os
soberbos, ele os conhece de longe” (Salmo 138.6).
“Certamente, ele escarnece dos escarnecedores, mas dá
graça aos humildes” (Provérbios 3.34).
“Quem a si mesmo se exaltar será humilhado; e quem a si
mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23.12).
“Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”
(Tiago 4.6).
“Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que
ele, em tempo oportuno, vos exalte” (v. 5-6) – A expressão “poderosa mão
de Deus” no Antigo Testamento representava duas coisas: disciplina (Êx
3.20; Jó 30.21; Sl 32.4) e libertação (Dt 9.26; Ez 20.34). Desta forma, quando
Pedro diz aos seus leitores para se “humilhar sob a poderosa mão de Deus”
significa aceitar tudo o que vem dEle.460
A palavra “humilhar” (tapeinōthēte, em grego) pode ser traduzida
como “permitir ser humilhado”.461 Aqueles que estavam sofrendo por causa
de Cristo poderiam ser encorajados pelo fato de que a mesma mão poderosa
que os permitiu sofrer, também, os exaltará (Tg 4.10).
Concordo com John MacArthur quando diz que a frase “em tempo
oportuno” (en Kairo, em grego) significa, literalmente, “no tempo” (At 19.23;
Rm 9.9). Não é um termo escatológico. É melhor interpretá-la como um
tempo determinado, quando o Senhor levantará o crente humilde e
submisso da dificuldade.462
Se você vai ao hospital, você se submete às mãos de um médico capaz.
Você faz isso na esperança de ser restaurado no devido tempo de sua
enfermidade. De forma semelhante, devemos nos submeter à poderosa mão
de Deus para que Ele nos exalte. Aqui está a boa notícia: a poderosa mão de
Deus está sobre o destino do Seu povo. Podemos louvar a Deus porque não
somos escravos das circunstâncias da vida, pelo contrário, somos guiados
pelas mãos bondosas do Altíssimo, que estão por trás das circunstâncias da
vida.
Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 243). Grand Rapids, MI: Zondervan.
461 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
462 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 278–
279). Chicago: Moody Publishers.
460
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
II. Sejam confiantes
“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado
de vós” (1Pe 5.7).
Quando nos humilhamos sob a poderosa mão de Deus, nos tornamos
cada vez mais dependentes dEle. Pedro diz: “Lançando sobre ele toda a
vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (v. 7). O verbo “lançar”
(epirhıptō, em grego) significa “jogar, lançar ao chão, jogar fora, lançar fora”
(Mt 15.30; Lc 4.35; Lc 17.2; At 22.23; Mt 9.36).463 Isso é exatamente o que
devemos fazer. Cristo deseja profundamente tomar nossas preocupações (Is
53.4). Ele nos convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de
mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a
vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11.28-30).
Quando Pedro nos diz para lançar toda a nossa ansiedade sobre Ele,
este é o meio pelo qual nós nos humilhamos debaixo de Sua mão poderosa
no versículo 6.464 Assim, Pedro exorta aos crentes a lançar no Senhor toda a
sua ansiedade, uma palavra que pode incluir todo o descontentamento,
desânimo, desespero, questionamentos, dor e sofrimento (cf. 2Sm 22.3; Sl
9.10, 13.5, 23.4, 36.7, 37.5, 55.22; Pv 3.5-6; Is 26.4; Na 1.7; Mt 6.25-34; 2Co
1.10; Fp 4.6-7, 19; Hb 13.5), porque podem confiar em Seu amor, fidelidade,
poder e sabedoria.465
“Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade...” (v. 7) – A palavra
“ansiedade” (merimna, em grego) significa “dividir”. A ansiedade divide
nossos pensamentos, de modo que não conseguimos nos concentrar em
qualquer outra coisa.466 Alguém definiu a “preocupação excessiva” como
uma pequena gota que vai contaminado todos os nossos pensamentos. Desta
forma, o medo consome nossos pensamentos e a ansiedade nos leva a
acreditar que nossos problemas são maiores do que o nosso Deus. A palavra
“ansiedade” também significa estrangular ou sufocar. Essa é uma imagem
útil porque, certamente, você já sentiu um aperto em seu coração diante das
intempéries da vida. Na verdade, a ansiedade é tirar os olhos de Deus e
colocá-los nas circunstâncias.
Entretanto, o apóstolo Pedro mostra como vencer a ansiedade: 1)
Lançando todos os seus temores diante do trono da graça (Sl 55.22a).
Devemos lançar “toda a ansiedade” e não apenas parte dela. 2) Nunca se
esqueça de que Deus tem cuidado de sua vida.
Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985).Theological Dictionary of the New
Testament. Grand Rapids, MI: W.B. Eerdmans.
464 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 244). Grand Rapids, MI: Zondervan.
465 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 280).
Chicago: Moody Publishers.
466 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
463
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
“... porque ele tem cuidado de vós” (v. 7) – Pondere nessas seis
palavras simples: “porque ele tem cuidado de vós”. Que verdade que elas
contêm. Que esperança no tempo da tribulação.
Ao pensar sobre isso, é bom saber que, quando Pedro escreveu esse
versículo, ele utilizou duas palavras gregas diferentes. A palavra traduzida
por “ansiedade” na primeira parte do versículo é completamente diferente
da palavra traduzida por “cuidado” na segunda parte. A palavra “cuidado”
(melei, em grego) significa “pensar em algo de tal forma a dar uma resposta
apropriada” (cf. 1Co 9.9).467 Isso significa que Deus tem você em Seu
coração. Ele está sempre pensando em você.
Aqui está a grande lição da vida cristã: Deus cuida de você (Sl 56.9c).
Ele provou isso enviando o seu próprio Filho para morrer em seu lugar (Jo
3.16). A questão foi resolvida por todos os tempos na cruz. Assim, podemos
lançar sobre Ele todas as nossas preocupações. Ele nos ama. Ele nos criou.
Ele veio a nós. Ele morreu por nós. Ele ressuscitou por nós. Ele voltará para
nos levar para as regiões celestiais.
No Sermão do Monte, Jesus deixou claro que a ansiedade resulta de
uma falta de fé e de um foco errado nas coisas deste mundo, ao invés do
reino de Deus:
“
Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto
ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto
ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e
o corpo, mais do que as vestes? Observai as aves do céu: não
semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso
Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais
do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode
acrescentar um côvado ao curso da sua vida? E por que andais
ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os
lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo,
vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu
como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do
campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto
mais a vós outros, homens de pequena fé? Portanto, não vos
inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou:
Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram
todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de
todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Portanto,
não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os
seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal” (Mt 6.25-34).
Louw, J. P., & Nida, E. A. (1996).Greek-English lexicon of the New Testament: based on
semantic domains. New York: United Bible Societies.
467
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
III. Sejam vigilantes
“Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em
derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar”
(1Pedro 5.8).
Agora, Pedro soa o alarme para a batalha. Ele faz isso, chamando a
atenção do exército para o seu adversário espiritual (5.8). Pedro informa aos
soldados de Cristo como derrotar o adversário (5.9). Ele nos lembra de que o
conflito feroz será doloroso, porém, um dia, sairemos vencedores (5.10). Em
última análise, ele aponta para Cristo, que triunfará e exercerá domínio
sobre tudo (5.11).
“Sede sóbrios e vigilantes...” (v. 8) – A palavra “sóbrio” (nepho, em
grego) significa “estar atento” ou “não influenciado por bebidas
alcoólicas”.468 Jesus usou essa palavra quando estava no Jardim do
Getsêmani, ao declarar a Pedro: “Vigiai e orai, para que não entreis em
tentação” (Mt 26.41). Paulo usou a mesma palavra ao escrever aos Coríntios:
“Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortaleceivos” (1Co 16.13).
“O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge
procurando alguém para devorar” (v. 8) – Satanás é um poderoso inimigo.
O nome “Diabo” significa “caluniador”. Em Apocalipse, ele é chamado de
Abbadon e Apollyon (Ap 9.11), que significa “destruidor”. Ele é descrito
também como o “acusador dos irmãos” (Ap 12.10). Sua estratégia é muitas
vezes atacar os crentes durante alguma provação, sugerindo também, que
“Deus não é forte o suficiente para os livrar” ou “que Deus não se importa
com os Seus filhos”. O Diabo é o “pai da mentira” (Jo 8.44).
Pedro descreve-o como “vosso adversário”. Satanás é como um leão
que espreita as suas vítimas. Ele anda e ataca quando menos esperamos. O
seu único objetivo é destruir os crentes, nosso testemunho, esperança,
santidade, e, se possível, as nossas vidas.469
Embora tenha legiões de demônios para fazer Sua vontade, Satanás
não é onipresente nem onipotente. Ele é um inimigo derrotado. Assim,
podemos resistir-lhe, firmes na fé, e saber que ele fugirá (Tg 4.7).
“resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos
vossos estão-se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo”
(v. 9) – Lembre-se que o versículo 6 vem antes do versículo 9: devemos nos
humilhar diante da poderosa mão de Deus, antes de enfrentar o Diabo.
Resistir o Diabo é uma postura defensiva. Satanás já foi derrotado por Cristo
Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996).Vine’s Complete Expository Dictionary of
Old and New Testament Words. Nashville, TN: T. Nelson.
469 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 248). Grand Rapids, MI: Zondervan.
468
195
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
(cf. Rm 16.20).470 É pela Palavra de Deus, crida e obedecida, que os cristãos
vencem a Satanás:
“Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são
perdoados, por causa do seu nome. Pais, eu vos escrevo, porque
conheceis aquele que existe desde o princípio. Jovens, eu vos
escrevo, porque tendes vencido o Maligno” (1Jo 2.12-13; 4.46).
IV. Sejam esperançosos
“Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna
glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de
aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar. A ele seja o domínio,
pelos séculos dos séculos. Amém!” (1Pe 5.10-11).
Embora a vitória seja certa, o apóstolo Pedro nos lembra de que o
sofrimento e a dor vão acompanhar a trajetória cristã. A batalha vai nos
abalar, chocar e muitas vezes deixar terríveis cicatrizes. Todavia, o Deus de
toda graça, que nos permite sofrer um pouco, vai usar esse sofrimento para
realizar quatro coisas importantes em nossa vida:
1. Ele vai nos aperfeiçoar. A palavra “aperfeiçoar” (katartızō, em grego)
significa “restaurar”, “consertar” ou “concluir”. Isso é exatamente o
que Deus deseja fazer com a nossa vida. Ele quer restaurar o que o
pecado causou, consertar o que o pecado quebrou e completar
cuidadosamente para que possamos crescer e se tornar cada vez mais
semelhantes a Cristo.
2. Ele vai nos firmar. O termo “firmar” (stērızō, em grego) significa
“virar resolutamente em uma determinada direção”, “firmemente
definido” ou “fortalecer”. Mais uma vez, Deus usa o sofrimento para
nos transformar resolutamente para Ele, a abandonar o pecado,
permanecer firme nEle e ser reforçado por Ele.
3. Ele vai nos fortificar. A palavra “fortificar” (sthenóō, em grego)
significa “dar vigor”. Deus nos fará fortes, vigorosos e firmes em nosso
compromisso com Ele. 471
4. Ele vai nos fundamentar. O verbo “fundamentar” (themelióō, em
grego) significa “consolidar” ou “estabelecer uma base”. É usado dessa
maneira em Hebreus 1.10. A casa edificada sobre a rocha resistiu à
MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 284).
Chicago: Moody Publishers.
471 Cedar, P. A., & Ogilvie, L. J. (1984). James / 1 & 2 Peter / Jude. The Preacher’s
Commentary Series (Vol. 34, p. 196–197). Nashville, TN: Thomas Nelson Inc.
470
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tempestade (Mt 7.24-27). Um crente que é equipado por Deus vai
“permanecer na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da
esperança do evangelho” (Cl 1.23). Ele não vai ser “levado ao redor
por todo vento de doutrina” (Ef 4.14). Quando um incrédulo passa por
sofrimento, ele perde a esperança, mas para um crente, o sofrimento
só aumenta a sua esperança.472
Como o sábio em Provérbios declarou: “O cavalo prepara-se para o dia
da batalha, mas a vitória vem do SENHOR” (Pv 21.31). O sofrimento é
temporário, mas as recompensas são eternas. Paulo expressa a nossa
esperança com eloquência: “Porque para mim tenho por certo que os
sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser
revelada em nós” (Rm 8.18).
“A ele seja o domínio, pelos séculos dos séculos. Amém!” (1Pe 5.11)
– A esperança cristã está no poder de Deus. E assim, o apóstolo Pedro
conclui suas observações atribuindo a Deus o eterno poder, que vai levar o
Seu povo para a glória eterna. O domínio de Deus nunca será extinto. Nunca
vai será apagado (cf. Êx 15.11-12; Jó 38.1-41.34; Sl 8.3, 66.7, 89.13, 102.25,
103.19, 136.12; Is 48.13; Jr 23.24; Mt 19.26; Rm 9.21).
O reformador Hugh Latimer e Nicolas Ridley foram queimados na
fogueira em Oxford por sua fé em outubro de 1555. Enquanto as chamas se
levantavam, Latimer declarou: “Neste dia arderemos como uma vela, um
fogo que, pela graça de Deus, na Inglaterra, nunca mais se apagará”. 473
Esses homens enfrentaram uma morte bárbara com extrema calma e
firmeza extraordinária. Tornaram-se mártires, com justiça, pela coragem e fé
que demonstraram.
V. Sejam fiéis
“Por meio de Silvano, que para vós outros é fiel irmão, como também
o considero, vos escrevo resumidamente, exortando e testificando, de
novo, que esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes” (1Pedro
5.12).
Se você fosse um dos destinatários de língua grega originais desta
carta, você teria notado uma mudança repentina em 1Pedro 5.12. O estilo da
escrita muda de repente. A gramática, sintaxe e vocabulário mudam
imediatamente. Neste ponto, torna-se óbvio que o secretário de Pedro, Silas,
Wiersbe, W. W. (1996). The Bible exposition commentary (1Pe 5.10). Wheaton, IL: Victor
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473 Helm, D. R. (2008). 1 & 2 Peter and Jude: sharing christ’s sufferings. Preaching the Word
(p. 173). Wheaton, IL: Crossway Books.
472
197
© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
entregou a caneta para o idoso apóstolo, que pessoalmente concluiu sua
carta com sua própria mão calejada.474
“Por meio de Silvano, que para vós outros é fiel irmão...” (v. 12) –
Pedro elogia Silvano (Silas), seu secretário, que provavelmente levou a carta
às igrejas mencionadas em 1Pedro 1.1. Ele era um irmão fiel. Este foi,
provavelmente, o mesmo Silas que acompanhou Paulo em sua segunda
viagem missionária (At 15.40). O mesmo Silas que havia cantado hinos com
Paulo por volta da meia-noite na prisão de Filipos depois de receber vários
açoites (At 16; 2Co 1.19; 1Ts 1.1; 2Ts 1.1). Aqui está ele, servindo fielmente
ao apóstolo Pedro. É um grande incentivo quando se enfrenta uma provação
ter ao lado um irmão fiel como Silas, que conhece bem o Deus que sempre
está conosco em meio às tempestades da vida.
Pedro o elogia chamando-o de “irmão fiel”, um modelo para a igreja, e
para o próprio Pedro, como indicado pela expressão “como também o
considero”.475
“... vos escrevo resumidamente, exortando e testificando, de novo,
que esta é a genuína graça de Deus; nela estai firmes” (v. 12b) – Pedro
resume o objetivo de sua carta. Ele escreveu para encorajar os cristãos a
suportarem a perseguição, manterem-se firmes, de modo que a verdadeira
graça de Deus (cf. 1.13, 4.10) seja evidenciada ao mundo incrédulo. Eles
deveriam “permanecer firmes” em Sua graça (cf. 5.9).476 No meio de toda a
opressão, maus-tratos, tentações ou provações, poderiam suportar com
esperança por causa do poder de Deus (5.12).477 Em suma, através de Cristo
podemos ter uma esperança inabalável.
VI. Sejam amorosos
“Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda,
como igualmente meu filho Marcos. Saudai-vos uns aos outros com
ósculo de amor. Paz a todos vós que vos achais em Cristo” (1Pedro
5.13-14).
Pedro envia saudações dos que se encontram na “Babilônia”. O termo
“Babilônia” pode ser uma referência disfarçada de Roma, utilizada para
proteger tanto a Igreja Romana quanto o próprio apóstolo Pedro da
474 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 251). Grand Rapids, MI: Zondervan.
475 MacArthur, J. F., Jr. (2004). 1Peter. MacArthur New Testament Commentary (p. 288–
289). Chicago: Moody Publishers.
476 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 857). Wheaton, IL: Victor Books.
477 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 251). Grand Rapids, MI: Zondervan.
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perseguição de Nero.478 Mas, nesse centro do mal, Deus havia plantado Sua
igreja. De acordo com a evidência histórica, Pedro estava em Roma durante
os últimos anos de sua vida. O uso de nomes de cidades simbólicas com
conotações negativas ou positivas também foi usado em outras partes do
Novo Testamento (cf. Gl 4.24-26; Ap 11.8).479
“... como igualmente meu filho Marcos” (v. 13) – Marcos também
estava na “Babilônia”, a quem Pedro chama de “meu filho”. O jovem Marcos
tornou-se como um filho para o apóstolo Pedro enquanto serviam a Cristo
juntos. Este é o João Marcos mencionado no livro de Atos (At 12.12). Ele era
primo de Barnabé e acompanhou o apóstolo Paulo na viagem de Antioquia a
Chipre (At 12.25, 13.4-5). Mais tarde, ele os abandonou em Perga (At 13.13),
o que fez Paulo se recusar a levá-lo na segunda viagem missionária (At
15.36-41). Contudo, mais tarde, quando estava em Roma, Paulo declarou que
João Marcos era útil para o seu ministério (2Tm 4.11). Marcos também foi o
autor do evangelho que leva seu nome.
“Saudai-vos uns aos outros com ósculo de amor. Paz a todos vós
que vos achais em Cristo” (v. 14) – Usando o costume da época, Pedro
termina a sua carta incentivando os fiéis a saudarem uns aos outros com
uma expressão sincera de amor. A prática do “ósculo de amor” era uma
calorosa saudação que consistia de um beijo na bochecha (homens com
homens e mulheres com mulheres), como acontece em algumas culturas
hoje (Rm 16.16; 1Co 16.20; 2Co 13.12; 1Ts 5.26; Lc 7.45; 22.47-48). O beijo
era um sinal comum de companheirismo e amor cristão.
Não precisamos violar nossa cultura ao adotar esta prática,
literalmente, mas devemos ser realmente calorosos ao cumprimentar uns
aos outros.
“... Paz a todos vós que vos achais em Cristo” (v. 14) – Pedro termina
a sua carta da mesma forma que começou desejando paz a todos (1.2). O
beijo refletia a paz interior entre os crentes.480 A paz está abundantemente
disponível a todos os que estão em Cristo, o Príncipe da paz (Jo 14.27).481
Quaisquer que sejam as circunstâncias, a pessoa que está em Cristo (cf. Ef.
1.3-14) pode sempre desfrutar da paz de Deus.482
478 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 857). Wheaton, IL: Victor Books.
479 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 252). Grand Rapids, MI: Zondervan.
480 Swindoll, C. R. (2010). Insights on James and 1 & 2 Peter. Swindoll’s New Testament
Commentary (p. 253). Grand Rapids, MI: Zondervan.
481 Raymer, R. M. (1985). 1Peter. (J. F. Walvoord & R. B. Zuck, Orgs.)The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 857). Wheaton, IL: Victor Books.
482 Carson, D. A., France, R. T., Motyer, J. A., & Wenham, G. J. (Orgs.). (1994). New Bible
commentary: 21st century edition (4th ed., 1Pe 5.12–14). Leicester, England: Inter-Varsity
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© 1PEDRO – FÉ ATRAVÉS DO FOGO – JOCARLI A. G. JUNIOR
Uma boa pergunta ao concluir o estudo desta epístola é “você tem a
paz em Cristo?” “Você tem a tranquilidade de saber que, em um mundo
hostil e caótico, Deus está no controle de tudo?”
Conclusão:
O sofrimento nunca é fácil. Mas se nos humilharmos diante da
poderosa mão de Deus, lançando sobre Ele toda nossa ansiedade, resistindo
ao diabo, confiando em Sua soberania e permanecendo firmes em Sua graça
com os outros santos, podemos crescer firmes através do sofrimento.
Dr. Lloyd-Jones, um dos maiores pregadores do século XX enfrentou
uma longa e difícil batalha contra o câncer – dois dias antes de morrer, ele
pediu a sua família: “Não orem mais pela minha cura, não me retenham da
glória”. Ele morreu enquanto dormia, em 1º de março de 1981.483
Pedro deseja que seus leitores tenham essa perspectiva celestial. Seja
na angústia, nas dificuldades, em meio à dor ou durante as batalhas da vida,
mantenha seus olhos na glória.
Enquanto preparava esse estudo, lembrei-me de uma música antiga
que aprendi ainda na adolescência e que descreve muito bem o tipo de paz
que podemos experimentar em meio às circunstâncias difíceis:
Esta paz que sinto em minh’alma
Não é porque tudo em mim vai bem;
Esta paz que sinto em minh’alma
É porque eu amo ao meu Senhor.
Ainda que a terra não floresça,
E a vide não dê o seu fruto;
Ainda que os montes se lancem ao mar,
E a terra trema, hei de confiar.
Não olho circunstâncias,
Olho Seu amor, Seu grande amor;
Não me guio por vistas,
Alegre estou.
Os que se encontram em Cristo podem desfrutar de paz em todos os
momentos da vida. Além disso, essa paz ninguém pode nos tirar!
“Paz a todos vós que vos achais em Cristo” (1Pe 5.14). Amém!
Larsen, T., Bebbington, D. W., & Noll, M. A. (2003).Biographical dictionary of evangelicals.
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