INFORMATIVO Nr 117

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INFORMATIVO Nr 117
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
CURSO DE PREPARAÇÃO E SELEÇÃO
“ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO”
CURSO DE PREPARAÇÃO
À ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
(CP/ECEME)
INFORMATIVO Nr 117
− 1°/2011 –
ÍNDICES
INTRODUÇÃO À ESTRATÉGIA: FUNDAMENTOS TEORIAS E CONCEITOS GERAIS..........5
Formação de uma estratégia diplomática: relendo Sun Tzu para fins não belicosos...........................3
Desarmamento e não-proliferação........................................................................................................8
As revoluções do mundo árabe e o Irã: dois cenários para o Oriente Médio.....................................10
A ATUAL FASE DO CAPITALISMO GLOBALIZAÇÃO E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA.13
Preparar, apontar...enter.....................................................................................................................12
Acordo cria comissão para reduzir diferenças comerciais de Brasil e EUA.....................................14
A insustentável não leveza do crescimento .......................................................................................16
MEIO AMBIENTE E RECURSOS ESTRATÉGICOS...............................................................17
Comida ou biocombustível ................................................................................................................17
ANP assume o etanol e açúcar pode ser taxado.................................................................................18
Em Bangcoc, países concordam em priorizar discussão sobre clima.................................................19
ÁSIA NOVAS CENTRALIDADES...........................................................................................20
Americanos estão com medo da crise no Egito, diz analista .............................................................20
China? Que China?............................................................................................................................21
Notas sobre o comércio Brasil-Iraque................................................................................................28
Um inverno nuclear? .........................................................................................................................31
GEOGRAFIA SAÚDE.............................................................................................................32
Desafios do envelhecimento...............................................................................................................32
Metas de erradicar pobreza extrema depende da economia ..............................................................34
Viver mais custa caro ........................................................................................................................35
HISTÓRIA.............................................................................................................................39
Mão negra, espada branca..................................................................................................................39
Descendentes de confederados celebram em SP o fim da Guerra Civil dos EUA.............................41
Portugal já comandou império de 14 colônias em quatro continentes...............................................43
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INTRODUÇÃO À
ESTRATÉGIA:
FUNDAMENTOS TEORIAS E
CONCEITOS GERAIS
FORMAÇÃO DE UMA ESTRATÉGIA DIPLOMÁTICA (ED): RELENDO SUN
TZU PARA FINS MENOS BELICOSOS
Os argumentos constantes do presente ensaio analítico se inserem num conjunto
de trabalhos – já feitos ou em preparação – que podem ser enfeixados na categoria dos
“clássicos revisitados”, entre os quais um Manifesto Comunista adaptado a estes tempos
de globalização,1 e um Moderno Príncipe, 2 que pretende aproveitar os conceitos do
florentino para a política atual. Da mesma forma, pode-se reler Sun Tzu e aproveitar os
ensinamentos contidos na Arte da Guerra 3 para uma reflexão de caráter conceitual sobre
a estratégia diplomática – referida simplesmente neste texto como ED – no contexto das
relações internacionais contemporâneas. A esse título, não se trata de refazer,
obviamente, uma “arte da guerra para diplomatas”, e sim tão somente de tecer
considerações sobre uma (e não a) estratégia diplomática, com base nos argumentos
basicamente filosóficos – e, claro, muitas regras práticas – presumivelmente redigidos
pelo conhecido mestre chinês, legitimamente considerado o “pai da estratégia” (no seu
caso, militar).
Da diplomacia como um instrumento do Estado
A diplomacia é de vital importância para o Estado. Talvez não tão crucial quanto a
defesa do Estado por suas forças armadas, pois destas depende a própria sobrevivência
física do Estado. Este pode, teoricamente sobreviver sem manter intensas relações
internacionais, ou sem exercer uma diplomacia ativa. Mas ele dificilmente teria vida longa,
ou conseguiria preservar seus interesses vitais, sem uma capacitação adequada em
matéria de instrumentos defensivos (que são, igualmente, mecanismos ofensivos,
credíveis, tanto para a dissuasão quanto para o ataque).
A diplomacia é, todavia, crescentemente relevante não apenas para a defesa dos
interesses fundamentais de um Estado, mas sobretudo para se alcançar os objetivos
nacionais relevantes de uma nação no contexto contemporâneo, partindo do pressuposto
que a sociedade humana e a comunidade das nações se afastam, cada vez mais, do
direito da força para aderir à força do direito. O mundo contemporâneo abandonou,
progressivamente, os esquemas restritos dos arranjos inter imperiais – embora a última
instância da política internacional permaneça com as grandes potências – para adentrar
no multilateralismo dos esquemas de segurança coletiva consolidados nos instrumentos
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onusianos. Da diplomacia depende – paralelamente ao exercício potencial do poder
militar – a preservação de um ambiente de paz e de estabilidade, tanto quanto de
cooperação nos planos bilateral, regional ou multilateral a que aspira todo Estado que
privilegia a solução de controvérsias pela via das negociações. Esta é uma condição
essencial, hoje indispensável, para o crescimento econômico sustentado, os avanços
tecnológicos, o progresso social, a preservação do meio ambiente, enfim, para a
prosperidade comum.
Adaptando nossa releitura de Sun Tzu ao contexto diplomático, poderíamos dizer
que a arte da diplomacia implica cinco fatores principais, que devem ser objeto de nossa
contínua reflexão, com vistas a aperfeiçoá-los e incorporá-los cada vez mais às nossas
práticas de servidores do Estado no campo da política externa. Estes cinco fatores são: a
doutrina, a interação entre a conjuntura e a estrutura, os condicionantes econômicos e
geopolíticos da ação diplomática, o comando e a disciplina. A partir desses cinco fatores é
possível elaborar uma “estratégia diplomática”, que será objeto da segunda seção deste
ensaio introdutório.
A doutrina tem a ver com a concepção mesma da diplomacia, a sua razão de ser.
Ela diz respeito aos princípios inspiradores da diplomacia, aos valores que fundamentam
a sua ação, às diretrizes que guiam essa ação na prática. Ela também se refere a uma
noção clara dos interesses nacionais e aos instrumentos indispensáveis à implementação
dos objetivos fundamentais do Estado, cujo pressuposto básico é, obviamente, o ato de
dispor de uma doutrina básica para sua atuação diplomática – sem esquecer uma
estratégia militar – no cenário internacional.
A interação entre a conjuntura e a estrutura pode ser vista como o equivalente
funcional daquilo que Sun Tzu chamava de tempo. Essa interação supõe a combinação
da sincronia e da diacronia – ou seja, o momento presente e a flecha do tempo –, que
constituem os dois vetores de atuação diplomática ao longo de um determinado período.
Toda diplomacia lida com o aqui e o agora, mas ela o faz tendo em vista as
consequências futuras das ações adotadas na presente conjuntura e levando em
consideração a herança recebida do passado recente, que imprime sua marca sobre a
mente dos diplomatas e determina, em grande medida, a forma como eles vão agir no
presente.
Os condicionantes econômicos e geopolíticos representam o fator que Sun Tzu
chamava de espaço, isto é, o ambiente concreto no qual devem se movimentar os
“exércitos” diplomáticos, em busca da materialização dos objetivos nacionais.
O comando atende aos mesmos critérios estabelecidos pelo mestre chinês da arte
da guerra para esse conceito. Ele tem a ver com a capacidade exibida pelas lideranças
diplomáticas – o estadista, o chanceler, os altos responsáveis pela formulação da doutrina
e pela definição das principais diretrizes diplomáticas – de indicar claramente aos
membros da comunidade diplomática nacional quais são os objetivos pelos quais eles
devem se bater.
Sun Tzu considerava que o comando deveria ter as seguintes qualidades:
sabedoria, sinceridade, benevolência, coragem e disciplina. Dessas cinco qualidades, a
primeira é certamente necessária ao comandante, assim como a quarta, embora esta
deva pertencer mais ao comandante militar do que propriamente ao chefe da diplomacia.
Maquiavel certamente descartaria a segunda e a terceira, ou seja, a sinceridade e a
benevolência, embora considerasse esta última como um recurso a que o condotier
poderia apelar quando estivesse em situação de força, justamente. Quanto à ultima, deve
ser considerada mais como uma variante do rigor consigo mesmo do que o exercício da
disciplina “contra” seus próprios subordinados, que é o objeto do último fator da arte da
diplomacia.
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A disciplina, no plano da diplomacia, tem a ver com organização e métodos, ou
seja, a construção de uma ferramenta burocrática que seja, ao mesmo tempo, eficiente e
inovadora, prudente e ousada, preparada no plano da informação e do conhecimento e
apta a seguir instruções de forma ordenada e coerente, atuando como uma agência
homogênea e uniforme. Isto é possível quando o estamento burocrático -diplomático
possui processos de socialização e de construção de um pensamento relativamente
unificado e convergente.
Com base nesses cinco fatores, as autoridades diplomáticas de um Estado podem
planejar seus objetivos externos – a que chamaremos de “estratégia diplomática – a partir
de um conjunto adicional de fatores instrumentais que têm a ver, essencialmente, com a
implementação prática desses objetivos, quaisquer que sejam eles. Entre esses fatores
figuram os seguintes: a capacidade dos dirigentes diplomáticos em formular metas
realistas e adequadas para a mobilização efetiva do estamento profissional diplomático; a
avaliação correta dos limites e possibilidades oferecidas pelo sistema internacional para
que aqueles objetivos possam ser alcançados; o uso eficiente de todos os mecanismos e
instrumentos do sistema internacional – instituições formais, grupos informais, coalizões
temporárias de interesse, combinação de iniciativas bilaterais, coordenação regional e
exploração dos canais multilaterais – segundo a natureza de algum objetivo específico;
coordenação interna das agencias públicas que detêm alguma interface internacional e
instruções claras aos agentes diplomáticos nas diversas frentes negociadoras para se
alcançar eficácia máxima nas iniciativas diplomáticas desse Estado.
Mesmo sob condições democráticas, e portanto transparentes, a eficiência e a
eficácia na ação diplomática de um Estado depende, em parte, do tratamento discreto que
possa atribuir a determinados temas de seu interesse crucial na frente externa. Toda
negociação diplomática é, por definição, uma barganha entre interesses por vezes
convergentes, mas em certa medida contraditórios, quando não divergentes ou opostos
(na medida que todo e qualquer acordo sempre implica em custos políticos e econômicos,
a começar pela perda relativa de soberania, o que se deve limitar o máximo possível). Daí
a necessidade de se encaminhar um determinado tema com base em argumentos de
utilidade geral e de benefício recíproco que podem oferecer a base para um entendimento
mais próximo dos interesses nacionais.
Esta questão implica também que o trabalho de avaliação deve envolver não
apenas os interesses próprios do Estado em questão, mas igualmente os interesses do
Estado, ou dos Estados com os quais se negocia, de maneira a permitir as acomodações
necessárias. Dito isto, caberia, portanto, passar aos argumentos principais, que têm a ver
com a elaboração e a implementação de uma estratégia diplomática (ED).
Da estratégia diplomática como uma das artes especializadas do Estado
Analogamente a seu equivalente militar, mas nisso talvez destoando um pouco de
Sun Tzu, poderíamos dizer que a ED consiste na mobilização de instrumentos políticos,
econômicos e militares – ponderados com base numa avaliação comparada e em
análises conceituais e factuais sobre as intenções dos demais participantes do jogo
diplomático – com vistas à consecução de objetivos nacionais bem definidos, mas sem o
recurso à, ou a ameaça do uso da força militar ou à guerra. Nesse sentido, a ED se opõe
à, ou se distingue da estratégia militar, que pressupõe, de sua parte, o uso ou a ameaça
de uso da força bruta, segundo linhas que já foram suficientemente discutidas ao longo da
história, desde Sun Tzu até os modernos estrategistas militares, passando por
Clausewitz, Henry Kissinger ou Raymond Aron.
No plano puramente conceitual, a formulação de uma ED implica a análise dos
fatores contingentes, de obstáculos conjunturais e de barreiras de caráter estrutural que
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dificultam – em alguns casos até obstaculizam – o atingimento dos objetivos nacionais,
tais como definidos pelos estrategistas de um determinado Estado, uma comunidade
variada que pode envolver desde estadistas até burocratas do planejamento
governamental, passando por representantes da cidadania e consultores independentes
(membros da academia, especialistas setoriais, etc.). No plano operacional, a ED
pressupõe a mobilização de todos os instrumentos à disposição desse Estado para o
atingimento daqueles objetivos, o que implica o uso dos meios propriamente diplomáticos,
mas também o apoio das forças armadas e da comunidade econômica do país.
Todo Estado moderno, atuante, inserido na comunidade internacional,
normalmente dotado de órgãos executivos e de planejamento, possui, ou deveria possuir,
uma ED. Não se deve, evidentemente, superestimar uma ED: não se trata de algo fixo ou
rígido, estruturalmente determinado, mas de uma concepção determinada por fatores
conjunturais e até contingentes, concomitante às iniciativas dos Estados e às ações
humanas.
Uma ED realista e flexível deve submeter-se, desde logo, a constantes revisões,
tantos são os fatores de mudança conjuntural e as alterações no cenário político
internacional que influenciam ou impactam os objetivos nacionais de um Estado. Ela deve
estar, portanto, sujeita a avaliações regulares por parte de um staff especialmente
preparado para essa finalidade e dedicado funcionalmente a esse tipo de tarefa. Não
conviria, aliás, que o órgão encarregado da elaboração de uma ED fosse exclusivo e
excludente, ou seja, trabalhando unicamente em torno da ED, e sim que ele seja aberto a
insumos externos e à colaboração de especialistas e consultores alheios ao próprio
órgão, de forma a manter uma atmosfera aberta, inovadora, permitindo até revisões
radicais da “velha” ED (ou seja, indo temporariamente num sentido contrário à “razão de
Estado”).
Uma ED, ainda que elaborada por um governo determinado, não é, ou não deveria
ser, uma concepção e uma ação de um governo, e sim uma iniciativa e uma postura de
Estado, ou seja, interessando antes à Nação do que aos partidos e personalidades
ocupando temporariamente o poder. Como atividade típica de Estado, a ED deve estar
sujeita ao escrutínio de todas as forças, movimentos e grupos de opinião representativos
da Nação, ser objeto de discussão e de avaliação quanto a seus fundamentos concretos,
seus instrumentos operacionais, seus objetivos explícitos e suas metas implícitas.
Normalmente é isso que ocorre em sistemas democráticos, tanto mais intensamente
quanto mais abertos e transparentes são os elementos centrais que definem e ajudam a
implementar uma ED.
Os processos de concepção, elaboração e de revisão da ED se dão no corpo do
Estado, envolvendo as agências voltadas para as relações exteriores, os órgãos de
defesa e o governo central, ademais das instâncias voltadas precipuamente para
planejamento de políticas e de análises aplicadas; eles passam pelo parlamento e
alcançam a sociedade, por meio da opinião pública, devidamente informada pelos órgãos
de comunicação.
O planejamento de uma ED implica, antes de qualquer outra ação, tratar dos meios
próprios a uma organização diplomática: de nada serve ter uma ED sem a ferramenta que
a implementará. Estamos falando aqui de funcionários, equipamentos, recursos,
organização, enfim, todos os meios com os quais todo e qualquer Estado leva sua ED da
fase de concepção à de aplicação no terreno. Na diplomacia, como na guerra, nada existe
estaticamente, ou de forma puramente passiva, mas, sim, compõe-se de interações
dinâmicas; os meios precisam ser sempre mantidos, aperfeiçoados, substituídos,
instruídos e monitorados.
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Diferentemente da guerra, porém, não é preciso ter um planejamento logístico
destinado a concentrar forças e operações ofensivas num espaço de tempo delimitado e
num terreno previamente estudado. Em outros termos, as ações diplomáticas não
necessitam de uma “concentração de fogo” para se lograr alguma vantagem decisiva no
calor da batalha. A dinâmica diplomática é mais cumulativa, do que “destrutiva”, e as
operações podem ser delongadas em função de uma avaliação contínua e mutável das
condições do “terreno”, em função da interação com o “adversário”, que, no ambiente
diplomático, não significa uma atitude de confrontação como na guerra e nas demais
operações militares. A ED é bem mais intangível do que a EM, baseada no planejamento,
certamente, mas em última instância na força bruta.
Diferente da guerra, também, a conduta diplomática se baseia menos em meios
materiais, ou equipamentos “pesados”, e mais em negociações diretas, quase pessoais,
entre os atores. Não se trata de “aniquilar” o inimigo, mas sim de convencer e compor
com um parceiro, mais que um adversário. A guerra desgasta, se mantida durante muito
tempo, ao passo que a diplomacia avança, com a composição de interesses. A “logística”
da diplomacia possui uma lógica própria, baseada – aliás, como no caso das operações
militares – na presença sobre o “terreno” e na interação constante com o “adversário”;
diferentemente, porém, não se trata de vencê-lo, mas de compor com ele um novo terreno
de interações e de cooperação.
Essa presença tem um “preço”, que é o custo da manutenção de representantes
diretos – os “agentes avançados” dos serviços de inteligência militar – e do envio de
missões temporárias e permanentes, assim como o engajamento pleno em negociações
em nível bilateral, regional ou multilateral. Esse preço pode ser o equivalente funcional da
manutenção, bastante custosa no âmbito militar, de equipamentos pesados que se
destinam, na verdade, a não serem usados, mas que servem basicamente para
dissuasão. No caso da diplomacia, a “dissuasão” é na verdade o diálogo e o
entendimento, se possível no mais alto nível (mas de ordinário mantida pelo
representante permanente, normalmente chamado de embaixador).
A condução da diplomacia será, evidentemente, diferente, segundo o Estado
ostenta um regime político centralizado ou unitário, próximo do autoritarismo, ou se esse
Estado exibe características claras de descentralização, com dispersão relativa dos
centros de poder e participação de vários atores políticos e sociais. O Estado do mestre
chinês da arte da guerra, não obstante a descontinuidade ocasional trazida por uma
sucessão extraordinária de dinastias, invasões e de reconstruções sucessivas do sistema
político, exibiu notável continuidade na centralização imperial, no limite do despotismo
“hidráulico”. Nesse tipo de regime, a condução da diplomacia obedece, simplesmente, à
vontade do soberano, com alguma participação dos cortesãos e membros do aparato
estatal restrito (antigos mandarins, modernos aparatchiks).
A condução da diplomacia nas modernas condições democráticas se faz sob forte
pressão de forças sociais suscetíveis de expressar posições distintas e de influenciar o
processo de tomada de decisão no plano externo. A despeito da legitimidade que possam
exibir essas demandas, seria conveniente que o Estado, em especial seu aparelho
diplomático, preservasse sua latitude de ação e ampla margem de opções, de maneira a
escolher as melhores vias – que envolvem alianças ocasionais, coordenações formais e
até iniciativas individuais – para alcançar os objetivos nacionais desse Estado. Pode-se
inclusive conceber certa autonomia de iniciativa e de ações atribuída ao negociador
principal, da mesma forma como se concede pleno poder de comando ao general em seu
campo de batalha. Em momentos decisivos, essa autonomia deve ser plena, posto que a
autoridade responsável pelo sucesso (ou fracasso) de uma negociação ou iniciativa
diplomática é o próprio agente no terreno, não o soberano em sua capital distante.
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Em todas essas questões, Sun Tzu tem muito a ensinar aos diplomatas
profissionais (e até aos iniciantes).
[1] Ver Paulo Roberto de Almeida, Velhos e novos manifestos: o socialismo na era da
globalização (São Paulo: Juarez Oliveira, 1999).
[2] Cf. Paulo Roberto de Almeida, O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (Brasília: Senado
Federal, 2010).
[3] O clássico de Sun Tzu pode ser encontrado facilmente na internet, numa infinidade de edições
eletrônicas, em várias línguas e nas mais diferentes traduções e adaptações para o Português, voltadas
tanto para o contexto militar quanto para o mundo dos negócios.
Autor: Paulo Roberto de Almeida (Diplomata de carreira do serviço exterior brasileiro desde 1977).
http://mundorama.net/2011/03/07/formacao-de-umaestrategia-diplomatica-relendo-sun-tzu-para-fins-menos-belicosos-por-paulo-roberto-dealmeida/. Acesso em 18/03/2011;
Fonte: Revista Mundorama. Disponível em
DESARMAMENTO E NÃO-PROLIFERAÇÃO
Os temas do desarmamento nuclear e da não -proliferação ganharam novo impulso
na agenda internacional, com a maior ênfase dada ao desarmamento nuclear, que se
refletiu,em particular, na celebração, em 2010, do novo tratado START entre os Estados
Unidos e a Federação da Rússia para a redução de armamentos estratégicos e a
declarada disposição do novo governo norte-americano de buscar a ratificação do Tratado
de Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBT). Também contribuiu para esse
quadro o êxito da VIII Conferência de Exame do Tratado de Não -Proliferação de Armas
Nucleares (TNP), realizada em maio de 2010, que logrou aprovar Plano de Ação com
medidas concretas a serem empreendidas pelos Estados Partes nos três principais eixos
temáticos do Tratado (desarmamento, não -proliferação e usos pacíficos da energia
nuclear).
Panorama Internacional
Apesar dos sinais de compromisso renovado com o desarmamento nuclear, ainda
há muito a ser feito. Mais de quarenta anos após a entrada em vigor do TNP e vinte anos
após o fim do conflito Leste-Oeste, a continuidade da existência numerosos arsenais
nucleares e o risco de sua proliferação mantêm viva a possibilidade de uso de tais armas
- seja intencional, acidental ou por erro de cálculo -, com consequências catastróficas
para toda a humanidade. Essa possibilidade apenas aumenta em função do surgimento
de novos países dotados de armas nucleares e do eventual acesso à tecnologia nuclear
explosiva por parte de agentes não -estatais, como os grupos terroristas.
Na VI Conferência de Exame do TNP, em 2000, as cinco potências nucleares
reconhecidas pelo tratado assumiram um compromisso inequívoco com a eliminação
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completa de seus arsenais atômicos. Aceitaram, igualmente, um programa com 13
passos concretos para alcançar esse objetivo. No entanto, pouco do que estava previsto
naquele programa se cumpriu. As reduções numéricas de arsenais nucleares não
significaram, de modo geral, a redução da proeminência dessas armas nas doutrinas
estratégicas; manteve-se ou mesmo se ampliou a possibilidade de uso de armas
nucleares em diversos cenários de guerra, inclusive contra armamentos convencionais;
foram mantidas, em alguns casos, as instalações para a eventual retomada dos testes
nucleares; numerosas armas continuam em estado de alerta máximo; e prosseguem
vultosos investimentos na modernização das armas nucleares e de seus veículos de
lançamento. Espera-se que tais desdobramentos possam ser revertidos o quanto antes, à
luz dos compromissos assumidos ou reiterados na Conferência de Exame de 2010, de
forma a assegurar a credibilidade e a futura sustentabilidade do regime internacional de
não -proliferação e desarmamento nucleares.
O Brasil e o Desarmamento e a Não-Proliferação
O Brasil tem participação tradicionalmente ativa nos principais foros relacionados
ao desarmamento e à não -proliferação das armas de destruição em massa (nucleares,
químicas e biológicas). A convicção de que o desarmamento e a não -proliferação são
processos interdependentes e que se reforçam mutuamente tem balizado a posição do
Brasil. Desarmamento e não proliferação são as duas faces de uma mesma moeda. O
país busca manter a prioridade do processo de desarmamento nuclear, frisando a
necessidade de adoção de medidas concretas que traduzam o seu compromisso com a
eliminação completa dessas armas, conforme as obrigações que as potências nucleares
assumiram no âmbito do TNP. O Brasil entende que os esforços internacionais nessa
área devem culminar na proscrição completa, não -discriminatória e multilateralmente
verificável das armas nucleares, a exemplo da Convenção para a Proibição das Armas
Químicas (CPAQ), de 1993.
O Brasil integra a “Coalizão da Nova Agenda” (NAC), grupo de países que defende
uma série de medidas práticas na área do desarmamento nuclear, que vão além da
simples redução numérica dos arsenais. É membro fundador da Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA). É parte na primeira Zona Livre da Armas Nucleares do mundo,
criada na América Latina e Caribe pelo Tratado de Tlatelolco, em 1967. Firmou o Acordo
Quadripartite, de 1991, para a aplicação de salvaguardas nucleares com a Argentina, a
AIEA e a Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Material Nuclear
(ABACC). É membro do Grupo de Supridores Nucleares (NSG) e do Regime de Controle
de Tecnologia de Mísseis (MTCR).
Autor: Ministério das Relações Exteriores (MRE).
Fonte: Itamaraty, disponível em http://www.itamaraty.gov.br/temas/paz-e-segurancainternacionais/desarmamento-e-nao-proliferacao. Acesso em 20/03/2011.
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AS REVOLUÇÕES NO MUNDO ÁRABE E O IRÃ: DOIS CENÁRIOS PARA
O ORIENTE MÉDIO
Governos, serviços secretos e analistas políticos foram surpreendidos quando a
pressão popular levou à queda do ditador da Tunísia, Ben Ali. O exemplo desencadeou
movimentos que ganharam força pelo mundo Árabe. No Egito, a população protestou
durante semanas, até que o ditador Hosni Mubarack foi obrigado a deixar o poder. A Líbia
de Kadafi parece tomar rumos semelhantes.
As revoluções em andamento têm como principal componente a insatisfação
interna de populações empobrecidas e longamente submetidas ao jugo de ditadores.
Há ainda o maior fluxo de informações proporcionado pela internet como fator
catalisador. Em uma região como o Oriente Médio, as consequências dos deslocamentos
em curso deverão produzir mudanças significativas no atual quadro de forças. O caso do
Egito é emblemático. Mubarack deu continuidade ao posicionamento inaugurado por
Anwar Saddat, mantendo o tratado de paz assinado com Israel e a aliança com os EUA.
Sob seu comando o Egito foi importante ator no diálogo entre Israel e Palestinos e
representou contraponto à influência do Irã e de grupos radicais islâmicos como
Hezbollah e o Hamas na região. Tal posicionamento e a ajuda financeira norte-americana
não contribuíram, contudo, para a sustentação interna do regime, profundamente corrupto
e opressor.
A queda de Mubarack e a continuidade das revoltas por outros regimes árabes
trazem grande indefinição no que diz respeito aos rumos que o Oriente Médio irá tomar e
de como ficarão as relações com o ocidente e com Israel.
Nesse sentido, um ponto determinante será o impacto das revoltas populares sobre
o regime iraniano, com a aparente revitalização do chamado Movimento Verde, iniciado
em 2009 após evidências de fraude na reeleição de Mahmoud Ahmadinejad.
Se a revolução iniciada na Tunísia atingir apenas o mundo árabe, a queda de
regimes como o egípcio favorecerá forças anti -ocidentais, notadamente os radicais
islâmicos, antes contidos com brutalidade pelos ditadores.
Os EUA e a Europa terão profunda dificuldade em convencer a opinião publica dos
países árabes de que apoiam a legitima aspiração destes povos à democracia, uma vez
que sustentaram a ordem anterior. Assim, o Irã, cujo regime intenta exportar sua
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revolução pela região sob a bandeira do pan-islamismo, terá margem para consagrar as
revoluções árabes como de libertação islâmica.
Haverá desta forma, maior espaço para influencia iraniana no mundo árabe, o que
alteraria substantivamente o quadro de forças da região. Nessa hipótese, o equilíbrio
militar se deslocaria de modo a reduzir o poder de dissuasão israelense, favorecendo a
escalada de tensões.
É um contexto de enfraquecimento da solução de dois estados para a Questão
Palestina e de declínio da hegemonia americana na região.
Outro cenário, inteiramente diverso, se dá na hipótese de a revolução atingir o Irã
ao ponto de derrubar o regime. Nesse caso surge situação paradoxal, na qual as
revoluções árabes por um lado oferecerão maior liberdade de atuação política para seus
radicais internos, e, por outro lado, terão iniciado o fim do modelo de estado proposto pela
Revolução Islâmica iraniana.
Em qualquer dessas hipóteses os EUA terão dificuldades em lidar com a visível
contradição entre seus ideais e o longo apoio que deram aos regimes autoritários em
clássica realpolitik. Será possível, contudo, buscar conciliação por meio de valores
comuns às democracias.
O colapso do patrocínio iraniano aos grupos radicais da região - em especial no
Líbano e na Palestina - representaria oportunidade em termos da criação de ambiente
favorável à resolução do conflito árabe-israelense e de nova inserção internacional das
nações do Oriente Médio.
As duas possibilidades aqui elaboradas já se refletem de forma clara nas retóricas
de EUA e Irã. A queda de Mubarack foi saudada pelo Irã como o início de revoluções
islâmicas que moldarão um novo Oriente Médio.
Por sua vez, após ter perdido seu aliado no Egito, Obama valeu-se da onda
revolucionária ao declarar que o povo iraniano tem os mesmos direitos que o povo
egípcio.
O futuro do Oriente Médio é um quadro em aberto, mas é altamente provável que
as revoluções árabes, iniciadas de forma autônoma, passarão a sofrer crescentes
influências externas, que buscarão conformá-las aos seus interesses.
Autor: Rafael Seabra é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Federal
Fluminense, economista pela UFRJ e membro do GAPCon.
Fonte: Disponível em http://www.inforel.org/noticias/noticia.php?not_id=4705&tipo=2.
Acesso em 03/04/2011.
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GLOBALIZAÇÃO E
REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
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PREPARAR, APONTAR...ENTER
Cresce número de ciberataques. Levantamento mostra que 55 mil novos vírus surgem
todos os dias
Aproxima-se o dia em que, como no filme "Duro de Matar 4", hackers conseguirão
desorganizar um país atacando sua infraestrutura em vez de se valer de bombardeios?
Se, como sugeriu o teórico militar Karl von Clausewitz, "a guerra é a continuação da
política por outros meios", atualmente, a internet pode, sim, ser a continuação da guerra
por outros meios. Prova disso é o crescente número de casos de ataques que poderiam
ser classificados como hostilidades cibernéticas.
Vazamento de informação é o que não falta nos informes de empresas de
segurança. No ano passado, a violação de dados custou ao mundo corporativo US$7,2
milhões, contra US$6,8 milhões no ano anterior, segundo relatório da Symantec. E a
indústria do malware (software que pode causar danos ao computador) não para de
crescer - 55 mil novos vírus e afins surgem todos os dias, segundo levantamento da
fabricante de antivírus americana McAfee.
A primeira ciberguerra identificada por esse nome aconteceu na Estônia, em 2007,
quando a internet saiu do ar depois que um monumento a soldados soviéticos da
Segunda Guerra foi transferido do centro da capital, Tallin, para um cemitério. Sites de
órgãos do governo, bancos e jornais foram atacados. A suspeita da autoria recaiu sobre a
Rússia.
Mas talvez o primeiro ato conhecido de uso de guerra tecnológica guerra tenha
sido a quebra da criptografia da máquina alemã conhecida como Enigma por cientistas
reunidos em Bletchley Park, no Reino Unido, nos anos 30 e 40. As estruturas de cálculo
boladas para fazer a difícil decodificação inspiraram a criação do computador como o
conhecemos. Já em 1982, um sistema computadorizado canadense roubado por espiões
soviéticos explodiu numa companhia de gás na Rússia - o código do sistema havia sido
modificado por agentes da CIA para causar um defeito, segundo a revista "The
Economist".
Em 2001, os computadores de um avião americano de espionagem que caíra na
China foram aparentemente tomados pelos militares do país, que tiveram acesso a vários
planos da Marinha americana, relatou a revista "New Yorker". O incidente levou à troca de
todo o sistema operacional usado pela Marinha. Setor de energia elétrica é crítico Pamela
Warren, diretora de Setor Público e estrategista contra cibercrime da McAfee, é cautelosa
quanto à possibilidade de se desestabilizar países com ataques virtuais, mas admite que
há sistemas vulneráveis.
- Se por um lado um ataque dessa magnitude não é provável, por outro há
elementos de nossos setores críticos que são menos seguros do que deveriam - pondera
Pamela. - E serviços importantes se baseiam nesses setores. Tem havido ataques
voltados para debilitar tais sistemas.
Ela cita como exemplos o ataque ao sistema de tratamento de esgoto no condado
de Maroochy, na Austrália, que fez vazar milhares de litros de esgoto em parques e rios
por dois meses, e o malware SQL Slammer, que desabilitou a segurança de uma usina
nuclear americana em Ohio durante cinco horas. - E isso sem falar do infame Stuxnet
(verme criado para atacar sistemas industriais) - prossegue Pamela. - Houve vários
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incidentes públicos e muitos mais não divulgados, com certeza. O setor de energia
elétrica, por exemplo, precisa trabalhar rapidamente para fechar lacunas em suas redes
antes que elas comecem de fato a servir como meio de comunicação para os
consumidores, numa rede (grid) inteligente. A eletricidade é crítica para todos os outros
setores críticos de um país e tem que ser olhada com muita atenção.
Para Roel Schouwenberg, analista de vírus sênior do time de pesquisa global do
Kaspersky Lab, na Rússia, um ataque como esse, entretanto, não seria nada fácil. Teria
de lidar com muitos sistemas diferentes ao mesmo tempo. - Muito dependeria da
habilidade dos agressores, bem como da qualidade da defesa adotada pelo alvo.
Em compensação, Schouwenberg lembra que as botnets - redes de máquinas
infectadas, espalhadas pelo planeta - podem ser responsáveis por ataques devastadores.
- Já vimos grandes ataques de negação de serviço (em que os servidores de internet são
sobrecarregados com solicitações enviadas e saem do ar) botarem fora do ar a conexão
de internet de um país - conta. - E os países menores, que não têm uma infraestrutura de
internet bem desenvolvida, correm os maiores riscos.
Pamela conta que a McAfee entrevistou executivos de setores críticos de
infraestrutura em 14 países, 54% dos quais já tiveram que enfrentar ataques desse tipo.
Boa parte bem pesada. E dois terços dos ataques afetaram as operações deles:
- Outra ameaça a governos é o roubo de informação sensível ou confidencial, que, se
utilizada de forma inteligente pelos hackers, pode levar a ataques maiores e mais
precisos.
A isso tudo se alia o aparecimento constante de novas tecnologias - tablets,
smartphones turbinados e afins - cuja segurança ainda deixa a desejar. Schouwenberg,
da Kaspersky, alerta que esses novos gadgets também são alvos (ou podem virar armas),
através de seus sistemas operacionais, como iOS e Android. - Eles são muito mais
difíceis de proteger que os sistemas tradicionais. Por exemplo, a Apple não nos permite,
no Kaspersky Lab, criar um programa antimalware para o iOS - revela. - E o modelo de
segurança no Android, da Google, igualmente limita nossas ações, enquanto os hackers
podem trapacear e ganhar acesso total aos telefones ou tablets. Essa será uma batalha
dura. Estratégias também nas redes sociais
Um outro vetor da ciberguerra são as redes sociais. Do ponto de vista da
desinformação, elas podem virar uma arma - como bem comprovou a recente revelação
do "Guardian" de que o exército americano planeja usar perfis falsos controlados por
agentes especiais para disseminar na internet mensagens pró-EUA e baixar a bola dos
defensores da Al-Qaeda e do terrorismo. Outro uso das redes é para a mobilização
mundial, que se revelou eficaz nas recentes insurgências na Tunísia e no Egito. - Devido
à velocidade com que conectam as pessoas, mesmo nos lugares mais remotos, as redes
sociais conseguem granjear apoio para qualquer causa - admite Pamela. - São usadas
em causas nacionalistas, e no terrorismo também. Para muitos governos desejosos de
controlar movimentos, a tentação de cortar o acesso a elas é grande, mas essa é uma
longa e complexa discussão.
Já Schouwenberg vê o papel das redes sociais nos
conflitos de maneira bem mais pragmática:
- Não deveríamos ver a internet como algo totalmente diferente da mídia
tradicional. Esse tipo de mobilização ocorre desde a Segunda Guerra e mesmo antes, de
modo que vê-la acontecendo no Facebook e no Twitter é uma evolução natural.
Por outro lado, os vazamentos do WikiLeaks - que continuam a provocar saias
-justas diplomáticas - representam uma dura lição a ser aprendida. - É preciso reduzir ao
máximo o acesso a informações protegidas - diz Pamela. - Isso é parte fundamental da
ciber estratégia.
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Enquanto Schouwenberg crê que uma guerra de fato sempre terá consequências
físicas, embora reconheça que seus ciber elementos tendem a aumentar, Pamela acredita
que as guerras do futuro serão cada vez mais virtuais. - É fácil conceber um dia em que
guerras ou conflitos sejam travados virtualmente - diz a executiva. - Afinal, muitos dos
crimes hoje em dia são cometidos virtualmente, e acabam causando muitos danos
econômicos e operacionais mesmo à distância. Segurança como em grandes empresas
Por isso tudo, os governos precisam botar as barbas de molho. Schouwenberg diz que a
segurança de um governo deve espelhar a de uma grande empresa: investir em
segurança física e lógica, gerenciamento de risco, restrições de acesso. - A defesa dos
sistemas é cada vez mais complicada, até porque smartphones e tablets agora têm
acesso às redes, e os ataques são cada vez mais sofisticados.
Por sua vez, Pamela advoga forte treinamento a todos os envolvidos nos
procedimentos governamentais e uma "cadeia de suprimentos de segurança" em que
ferramentas detectem precocemente fluxos não -autorizados de informação e anomalias
para evitar que causem danos. - A chave é achar o menor denominador comum para que
a informação trafegue em segurança entre órgãos e agências, e mesmo entre países. A
tecnologia tem seu papel aí, e esse denominador pode ajudar contra as ameaças.
Autor: André Machado, “O Globo”.
Fonte: O GLOBO (RJ) • ECONOMIA • 28/3/2011 • PASTA ENERGIA, disponível em
http://www.mccomunicacao.com.br/mc/cliente/copelportal/clipping/materia.asp?
codmateria=15898487&codpasta=ENERGIA&codmeio=JORNAL
ACORDO CRIA COMISSÃO PARA REDUZIR DIFERENÇAS COMERCIAIS
DE BRASIL E EUA
Acordo é um dos dez assinados neste sábado entre os dois países. Objetivo é 'remover
obstáculos' ao comércio bilateral e ao investimento.
A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil resultou na
assinatura de dez acordos e memorandos bilaterais envolvendo os dois países. Um dos
principais acordos prevê a criação da Comissão Brasil-Estados Unidos para Relações
Econômicas e Comerciais, que será responsável por deliberar a respeito de questões
comerciais entre os dois países.
Segundo dois itens do acordo, a comissão "identificará oportunidades para
expandir o comércio bilateral e os fluxos de investimento" e "promoverá a remoção de
obstáculos desnecessários ao comércio bilateral e ao investimento, particularmente no
campo regulamentar".
O desequilíbrio nas relações comerciais - o Brasil atualmente tem déficit na balança
comercial com os EUA - é uma das principais diferenças entre os dois países. Os acordos
foram assinados na manhã deste sábado (19) pelo ministro das Relações Exteriores do
Brasil, Antonio Patriota, e pelo representante de Comércio dos Estados Unidos, Ron Kirk.
Os acordos preveem parcerias em diversos setores, como aéreo e comercial. O
embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, também participou da
assinatura dos atos. Dilma e Obama não participaram da assinatura dos acordos, mas
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farão um comunicado conjunto em que devem ressaltar as necessidades de parceria
entre os dois países.
Copa e Olimpíadas
Um dos documentos assinados pelos representantes dos dois países prevê a
cooperação dos Estados Unidos para apoiar o governo brasileiro na organização de
grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de
2016.
Segundo o Itamaraty, por ter grande experiência na área de segurança, os Estados
Unidos poderão ajudar o Brasil com treinamentos específicos. O setor de infraestrutura
também deve receber apoio americano, especialmente nas obras que precisam ser feitas
pelo Brasil para receber os jogos.
Biocombustíveis
Os dois países também assinaram um acordo que prevê parcerias para o
desenvolvimento de biocombustíveis, especificamente para a área de aviação. Ainda
nesta área, os dois países fecharam um acordo que deve facilitar a concessão de licenças
para voos de empresas aéreas brasileiras para os Estados Unidos.
Educação
Na área da educação, um dos acordos prevê a facilitação para ingresso de
brasileiros em universidades norte-americanas, a partir de programas de bolsas de
estudo. O ato prevê "aprofundar a cooperação entre acadêmicos e cientistas brasileiros e
americanos".
Veja abaixo a relação dos acordos firmados entre os dois países:
− Acordo de comércio e cooperação econômica;
− Acordo sobre transportes aéreos;
−
Acordo sobre cooperação nos usos pacíficos do espaço exterior;
− Memorando de entendimento sobre cooperação para apoiar a organização de
grandes eventos esportivos mundiais;
− Memorando de entendimento para a implementação de atividades de cooperação
técnica em terceiros países no âmbito do trabalho decente;
− Memorando de entendimento para o estabelecimento do Programa Diálogos
Estratégicos Brasil-EUA, assinado entre a Fundação Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Comissão Para o
Intercâmbio Educacional entre os Estados Unidos e Brasil (Comissão Fulbright);
− Memorando de entendimento sobre as dimensões da biodiversidade;
− Parceria para o desenvolvimento de biocombustíveis para aviões;
− Protocolo de intenções sobre a ampliação de cooperação técnica em terceiros
países;
− Acordo relativo ao exercício de atividades remuneradas por dependentes do
pessoal diplomático e consular.
Autor: Iara Lemos, “O Globo”.
Fonte: G1 Disponível em http://g1.globo.com/obama-no-brasil/noticia/2011/03/durante-visitade-obama-brasil-e-eua-assinam-10-acordos-bilaterais.html . Acesso em 21/03/2011.
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A INSUSTENTÁVEL NÃO LEVEZA DO CRESCIMENTO
Parmênides, o filósofo pré-socrático que inspirou Milan Kundera a escrever "A
insustentável leveza do ser", explorou os contrastes entre a presença e a ausência de
certas qualidades. Curiosamente, ao contrário do que seria a inclinação lógica natural, o
peso era definido como a ausência de leveza, ou a não leveza. O impressionante
desempenho do PIB brasileiro no ano passado revelou uma não leveza que torna a sua
manutenção insustentável.
De acordo com a última divulgação do IBGE, a economia brasileira cresceu 7,5%
em 2010, um ritmo certamente "milagroso", à la década de 70. No entanto, para o
desgosto dos não economistas, não faltam profissionais da área para dizer que tal ritmo
de expansão não é sustentável. De fato, a incapacidade de manter a economia brasileira
crescendo nessa velocidade já se reflete na aceleração inflacionária, em curso desde o
fim do ano passado. É este comportamento dos preços que revela os desequilíbrios do
crescimento brasileiro, ou a não leveza das suas fontes principais.
Ao menos dois fatores contribuíram fortemente para a expansão da demanda
agregada que impulsionou a atividade no país em 2010. Primeiro, a expansão do crédito,
sobretudo dos bancos públicos, que, em 2009, foi utilizada como instrumento de combate
aos efeitos recessivos da crise financeira de 2008, mas que posteriormente se
transformou em um forte impulso econômico pré-eleitoral. Segundo, o aumento dos
gastos do governo, sobretudo nos últimos meses de mandato do ex-presidente Lula. A
inflação só não foi maior do que os 6% registrados pelo IPCA porque o mundo ajudou. A
fragilidade da economia americana, a crise fiscal nos países europeus e a perspectiva de
desaceleração da atividade mundial, que deixaram todos apreensivos em meados do ano
passado, impediram que a dinâmica dos gastos internos provocasse um forte estrago
inflacionário.
O contexto global hoje é outro. Os preços dos alimentos no mercado internacional
se aceleraram substancialmente no fim de 2010, devido tanto a fatores climáticos e
quebras de safra quanto à maior demanda das economias emergentes, contaminando a
inflação em diversos países, inclusive no Brasil. A este quadro somam-se agora as
perspectivas sombrias para o preço do petróleo, influenciadas pelas revoltas no Oriente
Médio. Esse ambiente, combinado com as políticas monetárias frouxas nos países
avançados, gera um panorama bastante preocupante para a inflação global.
Inserido em um mundo de ambiente inflacionário mais hostil, o Brasil não pode
sustentar o peso dos seus desequilíbrios internos sem elevar substancialmente os riscos
de um maior descontrole da inflação. É hora, portanto, de restaurar a leveza do
crescimento brasileiro por meio dos cortes de gastos anunciados e dos ajustes
monetários e creditícios. Disso é que depende a sustentabilidade futura da expansão da
renda e dos ganhos de bem-estar para a população.
Autor: Monica Baumgarten de Bolle, economista, Profª PUC-Rio.
Fonte:
“O
Globo”,
disponível
https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/3/4/ainsustentavel-nao-leveza-do-crescimento. Acesso em 09/03/2011.
em
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MEIO AMBIENTE E RECURSOS
ESTRATÉGICOS
COMIDA OU BIOCOMBUSTÍVEL
Na sua edição de ontem, o New York Times publicou matéria com este título:
"Precisamos de proteína, não de biocombustíveis" (We Need Protein, Not Biofuels). A
escalada dos preços da comida está aumentando a fervura política. O Banco Mundial já
avisou que a escassez de alimentos empurrou 44 milhões de pessoas para abaixo da
linha de pobreza. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, na condição de presidente
rotativo do Grupo dos 20 (G-20) países mais ricos do mundo, quer intervenção para
garantir a segurança alimentar.
Por enquanto, Sarkozy e os críticos ainda vêm pondo força no diagnóstico errado,
o de que a disparada dos preços está sendo provocada preponderantemente pela ação
dos especuladores financeiros. Mas à medida que esse argumento vai sendo rebatido até mesmo pelo governo brasileiro - duas consequências parecem inevitáveis. A primeira
delas é a maior flexibilização para desenvolvimento e produção de culturas geneticamente
modificadas (transgênicas), que ainda hoje encontram fortes resistências na Europa e
também aqui no Brasil. A outra é o crescimento das pressões para proibir o desvio de
grãos e de outros alimentos para a produção de biocombustíveis.
Os Estados Unidos, por exemplo, canalizam mais de 100 milhões de toneladas de
milho para a produção de etanol, o suficiente para alimentar 240 milhões de pessoas, nos
cálculos do professor Kenneth Cassmann, da Universidade de Nebraska, citado em outra
matéria do New York Times. A própria União Europeia usa óleos vegetais (especialmente
de canola e girassol) para a produção de biodiesel.
E o Brasil também tem lá seus fortes programas de etanol e biodiesel. No ano
passado cerca de 335 milhões de toneladas de cana-de-açúcar foram usadas para a
produção de etanol e mais não foram porque os próprios usineiros puxaram mais matériaprima para suas fábricas de açúcar, cujos preços saltaram 72% no mercado internacional.
Também por aqui 1,9 milhão de toneladas de óleo de soja deixaram de ser utilizadas na
alimentação e foram empregadas na produção de 2,5 bilhões de litros de biodiesel.
Por enquanto, o Brasil vem defendendo a produção de biocombustíveis a partir de
matéria-prima alimentar com o argumento de que há espaço para os dois segmentos.
Mas à medida que crescer a escassez de alimentos, maiores serão as pressões e mais
vulnerável ficará o governo brasileiro.
O crescimento da procura de proteína tanto vegetal como animal parece inexorável
à medida que cresce a população dos países emergentes que ascendem à condição de
consumidores. Desapareceram as montanhas de trigo e de manteiga nos países ricos que
caracterizaram os anos de pós-guerra. Esta é uma extraordinária oportunidade para o
Brasil. No entanto, um após o outro, os governos brasileiros renunciaram a ter uma
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política agrícola. A produção vai crescendo, sim, mas na base da inércia, estimulada
apenas pelo que Deus manda, enfrentando custos predatórios e uma infraestrutura
precária e desestimuladora.
Autor: Ministério do Planejamento.
Fonte:Ministério
do
Planejamento,
disponível
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/2/17/comida-ou
biocombustivel/?searchterm=. Acesso em 05/03/2011.
em
ANP ASSUME O ETANOL E AÇÚCAR PODE SER TAXADO
A presidente Dilma Rousseff determinou aos seus principais ministros, em reunião
no fim da tarde de segunda-feira, a "transferência compulsória" do controle e da
fiscalização sobre a cadeia produtiva do etanol à Agência Nacional do Petróleo (ANP). O
produto passará a ser tratado como combustível estratégico e não mais como um mero
derivado da produção agrícola.
O governo sabe que tem pouco controle sobre níveis de estoques em mãos
privadas e das estatísticas de oferta e demanda internas. A determinação de Dilma à ANP
inclui maior controle sobre a quantidade produzida e o fluxo de comercialização das
usinas. "Agastada" com a forte alta de preços nas bombas e as ameaças de
desabastecimento, a presidente encomendou a quatro auxiliares estudos para reduzir
"substancialmente" a mistura de etanol à gasolina, que hoje varia de 20% a 25%.
Na reunião, ela avaliou serem necessárias "medidas complementares" para sanear
o setor. A certa altura, disse aos ministros que, se os EUA decidissem retirar as tarifas ao
etanol brasileiro, o país passaria pelo vexame de não ter como fornecer o combustível ao
exterior. Ao contrário, o país virou importador de etanol - e justamente dos EUA. Medidas
de fiscalização tributária, como a obrigação de instalar medidores de vazão nas usinas,
também estão no horizonte.
Aborrecida com os usineiros, sobretudo com executivos de companhias
estrangeiras, Dilma Rousseff chegou a mencionar que, "no limite", pensaria em uma
eventual taxação das exportações de açúcar. Seria uma forma de punir a alegada falta de
compromisso dos empresários do setor com os planos estratégicos do governo. Os
usineiros são acusados de produzir mais açúcar em detrimento do etanol. Os preços da
commodity são os maiores desde a década de 70 e sua remuneração supera a do etanol
em 75%. Mas há dúvidas sobre a eficácia dessa medida, tida como extrema.
A presidente acusou os usineiros de terem atuação "pouco solidária" e de "não
cumprirem" acordos. A entrada de empresas multinacionais no setor, avaliou, não
resolveu esse problema. Ao contrário, agravou a "visão restritiva" dos compromissos.
Dilma reconheceu que é necessário apoiar o setor com financiamentos e desonerações
da cadeia produtiva, mas que, antes disso, precisa ter o compromisso dos usineiros.
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Na reunião de segunda-feira, ficou clara a disposição do governo de não ficar "de
braços cruzados" esperando a situação se agravar. Estavam no encontro os ministros
Antonio Palocci (Casa Civil), Guido Mantega (Fazenda), Edison Lobão (Minas e Energia)
e Wagner Rossi (Agricultura).
Autor:Autor(es): Mauro Zanatta e Paulo de Tarso Lyra | De Brasília.
Fonte:
Valor
Econômico.
Disponível
em
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/6/anp-assume-o-etanol-eacucar-pode-ser-taxado. Acesso em 06/04/2011
EM BANGCOC, PAÍSES CONCORDAM EM PRIORIZAR DISCUSSÃO
SOBRE CLIMA
Segundo secretária executiva da ONU, houve demonstrações no encontro de que há vontade de
se seguir o Protocolo Kyoto
Brasília – Depois de quatro dias de discussões em Bangcoc, na Tailândia,
negociadores de países ricos e em desenvolvimento concordaram em dar prioridade à
agenda sobre a mudança do clima. Às vésperas de encerrar o prazo para os governos
atingirem as metas de redução da emissão de gases de efeito estufa, que, segundo
especialistas, é uma das principais causas do aquecimento global - conforme o Protocolo
de Kyoto -, o tema predominou nas reuniões.
Pelo acordo definido no protocolo, há um calendário que deve ser cumprido pelos
países, principalmente os ricos, cuja obrigação é reduzir a emissão de gases de efeito
estufa em, pelo menos, 5,2% em relação aos níveis de 1990 até 2012. As metas de
redução variam de acordo com cada país, com níveis diferenciados para os que mais
emitem gases.
A secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima, Christiana Figueres, disse hoje (8) que os debates foram “positivos e
construtivos”. Segundo ela, houve demonstrações de que está entre as prioridades o
“desejo de manter as regras de Kyoto e buscar soluções políticas em 2011".
Christiana destacou ainda que é necessário que cada país cumpra também as
metas estabelecidas individualmente para que o plano global atinja os objetivos definidos
nas reuniões anteriores. “Em casa, com seu próprio sistema político, é preciso
implementar as políticas adequadas. Não é uma escolha entre um ou outro, é um
conjunto. País algum pode agir sozinho.”.
Organizada pelas Nações Unidas, a conferência em Bangcoc reuniu 2 mil
representantes de 175 países. Participaram do encontro representantes de governos,
empresas privadas, organizações ambientais e instituições de pesquisa.
De acordo com as Nações Unidas, a reunião em Bangcoc foi a primeira de uma
série de debates internacionais destinados a preparar a Conferência da ConvençãoQuadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em Durban, África do Sul, em
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dezembro. A próxima reunião preparatória será realizada em Bonn, Alemanha, no dia 6
de junho.
Autor: Renata Giraldi, da AGÊNCIA BRASIL
Fonte: Revista Exame. Disponível em http://exame.abril.com.br/economia/meio-ambientee-energia/noticias/em-bangcoc-paises-concordam-em-priorizar-discussao-sobre-clima.
Acesso em 11/04/2011.
ÁSIA NOVAS CENTRALIDADES
AMERICANOS ESTÃO COM MEDO DA CRISE NO EGITO, DIZ ANALISTA
Rashid Khalili, da Universidade de Colúmbia, é uma das vozes mais influentes
sobre Oriente Médio nos EUA.. Ele vê uma mudança no comportamento americano em
relação ao Egito.
Até que ponto procedem temores de que se repita no Egito o que aconteceu no Irã em
79?
Os clérigos sempre exerceram um papel importante na política iraniana, desde o
fim do século XIX, e esse não é o caso do Egito. É uma situação diferente. Em segundo
lugar, eu faria um alerta contra a demonização do islamismo político, que tem sido a
moeda de troca do regime Mubarak e de outros regimes ditatoriais, um meio de justificar a
repressão e que tem recebido por plateias simpáticas em Washington e em muitas outras
capitais.
Não há sinais de que a Irmandade Muçulmana tenha tido um grande peso agora,
embora seja uma força importante. A oposição secular foi pulverizada pelo regime, muito
mais do que os muçulmanos. Acho que há possibilidades de uma transição democrática
que leve a uma maior influência islâmica no Egito; há risco de caos; há chance de os
militares tentarem reter o poder, não sabemos para que lado as coisas irão.
O senhor acha que Mohammed ElBaradei poderia ser comandante da transição?
Parece haver um entendimento entre as forças de oposição de que ele é uma
figura de proa, um interlocutor respeitado no Ocidente, então pode ter um papel. Vai
depender da habilidade dele.
Após tantas décadas de ditadura, a oposição pode se organizar na mesma velocidade
das mudanças?
Só o tempo dirá. Mas temos que dar um crédito aos egípcios, cuja sociedade civil é
forte, 70% alfabetizada e possui uma forte tradição democrática, apesar dos últimos 30
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anos. Mas ... será que um governo democrático conseguirá governar o Egito com os
problemas que terá pela frente? Esta, sim, é a questão mais importante. E, sim, é uma
questão muito mais importante.
Autor: Fernando Godoy, “O Globo”.
Fonte:Blog
do
Noblat.
Disponível
em
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/02/01/americanos-estao-com-medo-dacrise-no-egito-diz-analista-360321.asp. Acesso em 02/02/2011.
CHINA? QUE CHINA?
Com suas dimensões continentais e mais de 190 milhões de habitantes, o Brasil é
um prodígio de unidade cultural. Talvez essa seja a maior herança que a colonização
portuguesa nos deixou. Não podemos, também, esquecer o grande trabalho do Império
na manutenção dessa integridade territorial e cultural, conquistada contra todos os
inimigos externos e internos, não raro com a necessária utilização de seu braço armado.
Como hoje temos garantida essa situação, frequentemente somos levados a
esquecer o sacrifício e o esforço que nossos antepassados despenderam para nos
entregar o que agora temos.
Resultado desse trabalho hercúleo, quando se pensa no Brasil, vê-se um enorme
país, com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, falando a mesma língua,
usando o mesmo alfabeto, onde as pequenas diferenças regionais no vocabulário ou na
pronúncia não impedem o perfeito entendimento entre todos os brasileiros.
UMA CHINA
Outro gigante do mundo atual, a milenar China, também apresenta números
impressionantes: com mais de 1,3 bilhões de habitantes, praticamente 1/5 de toda a
humanidade, ocupa um território maior que 9,5 milhões de quilômetros quadrados. Sua
situação cultural e social, porém, é completamente diversa da brasileira. Embora ostente
uma história de quatro milênios, sua população é composta por várias etnias, povos, clãs
e tribos, algumas das quais inimigas entre si.
A República Popular da China reconhece oficialmente 56 grupos étnicos distintos, o
maior dos quais são a etnia Han, que constitui cerca de 91,9% do total da população do
país. Grande minorias étnicas incluem os zhuang (16 milhões), manchu (10 milhões), hui
(9 milhões), miao (8 milhões), uigur (7 milhões), yi (7 milhões), tujia (5,75 milhões),
mongóis (5 milhões), tibetanos (5 milhões), buyei (3 milhões) e coreanos (2 milhões).
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Quanto ao idioma, a língua chinesa é na verdade uma família de línguas que
pertence ao ramo sino-tibetano. Aproximadamente a quinta parte dos habitantes da Terra
fala alguma forma de chinês como língua materna, tornando a língua chinesa a mais
falada no planeta, embora não seja a mais difundida.
É uma língua tonal, isolante e, basicamente, monossilábica, tendendo ao
monossilabismo principalmente na variante escrita, enquanto as variantes faladas
(notoriamente o mandarim) costumam fazer amplo uso de palavras dissilábicas e
polissilábicas. As raízes lexicais são, no entanto, todas monossilábicas.
A língua chinesa apresenta grande variedade de dialetos, sendo tamanha a
diferença entre eles a ponto de muitos serem incompreensíveis entre si. O idioma
mantém a unidade por causa da origem genética comum e pelo fato de a escrita ser
comum a todos eles, transcrevendo ideias (ou melhor, palavras), e não sons.
A família de línguas chinesa está composta por vários idiomas diferentes entre si. Os
principais são:
- Mandarim, ou Putonghua - 836 milhões de falantes
- Wú - 77 milhões
- Cantonês ou Yue - 71 milhões
- Dialetos Min - 60 milhões
- Jin - 45 milhões
- Xiang ou Huanés - 36 milhões
- Hakka ou Kejia - 34 milhões
- Gàn - 31 milhões
- Hui – 3,2 milhões
- Pinghua - 2 milhões
Naturalmente, tal diversidade cultural é um grande óbice ao desenvolvimento
chinês, pois parcelas significativas do povo ficam alijadas do simples entendimento do
que é discutido pela maioria. Perdidos nos grandes números chineses, basta lembrarmos
que os mais de 140 milhões de chineses que falam os dialetos Wú e cantonês
representam uma população maior do que a da Rússia ou a do Japão.
Se
acrescentarmos os usuários do dialeto Min, apenas China, Índia, Estados Unidos e
Indonésia serão mais populosos.
Quanto à escrita, o alfabeto chinês surgiu há cerca de 4500 anos. Com o passar
dos anos, as letras foram se simplificando. Durante a Revolução Chinesa, foi criado um
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novo alfabeto chinês simplificado. O alfabeto simplificado hoje é utilizado na China e em
Singapura, enquanto o alfabeto tradicional é utilizado em Taiwan, Hong Kong, por
imigrantes chineses e vem ganhando força no sul da China.
Ao contrário do nosso alfabeto latino, onde a letra identifica um som, mas não dá
qualquer informação sobre seu significado, no alfabeto chinês cada letra tem um
significado, mas não um som. Ou seja, a não ser que você saiba o som de um caractere,
você não pode saber qual é o som apenas olhando para ele, mas pode saber o
significado. Isso faz com que os vários dialetos possam ler um mesmo texto, mesmo que
sua pronúncia seja diferente. Cada caractere chinês, normalmente, corresponde a uma
sílaba.
O alfabeto chinês era, inicialmente, composto por cerca de 50.000 caracteres. Os
sistemas de computador, hoje, incorporam cerca de 6.500 caracteres na China e 13.000
em Taiwan. Para que se leia um jornal comum, é necessário o conhecimento de 3.000
caracteres chineses (ou 4.000 em Taiwan). Uma pessoa é considerada alfabetizada na
China caso conheça 2.000 caracteres específicos (ou 1.500, se for um agricultor).
Antigamente os caracteres eram escritos apenas verticalmente, de cima para
baixo. Hoje, o alfabeto simplificado é escrito horizontalmente, da esquerda para direita,
como o nosso. O alfabeto tradicional ainda é escrito de cima para baixo, exceto em textos
científicos, onde o uso de equações torna essa escrita difícil.
Há, no total, vinte e quatro tipos diferentes de escrita.
Assim, conforme o ponto de vista considerado, podemos encontrar várias Chinas, como
nos exemplos a seguir.
DUAS CHINAS
A primeira grande divisão a considerar é a separação política, militar, social
econômica e física entre a República Popular da China (RPC) e a República da China
(RC). Neste artigo, quando nos referirmos à China, estaremos falando da RPC.
Durante 4.000 anos a China foi governada por uma série de monarquias hereditárias
(dinastias).
A última dinastia foi a Qing, que terminou em 1911, com a fundação da República
da China (RC) pelo Partido Nacionalista – Kuomintang (KMT). Na primeira metade do
século XX, a China mergulhou em um período de desunião e guerras civis que dividiram o
país em dois principais campos políticos – o Kuomintang e os Comunistas. As
hostilidades terminaram em 1949, quando a República Popular da China foi estabelecida
pelos comunistas vitoriosos. O KMT, liderado pelo governo da República da China, recuou
para Taipei, agora limitando sua competência para a ilha de Taiwan e algumas ilhas
adjacentes. Ainda hoje, a China está envolvida em disputas com a RC em relação a
questões de soberania e do estatuto político de Taiwan.
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Para todos os efeitos práticos, são dois países independentes, embora a RC só
não seja reincorporada à RPC em virtude do apoio militar por parte das potências
ocidentais, em especial dos EUA.
Taiwan tem governo próprio, eleito democraticamente, instituições independentes,
moeda nacional, forças armadas, participa ativamente do comércio internacional e é
membro da APEC (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico). Para efeitos práticos, é um
Estado soberano, mas apesar disso não é reconhecido pela ONU e pelas principais
organizações internacionais. Mantém relações diplomáticas com apenas 26 países.
A RPC considera Taiwan uma província rebelde, uma parte inalienável do seu
território. Nos últimos anos, tem se empenhado ostensivamente no projeto de
reunificação, inclusive recorrendo ao uso da força, caso isso seja inevitável. Desde a
década de 1990, tem realizado manobras militares no estreito de Taiwan, no sentido de
reforçar a sua disposição de impedir qualquer tentativa de independência.
Em busca de uma solução pacífica, contudo, Pequim propõe o conceito de "um
país, dois sistemas": o socialista no continente e o capitalista em Taiwan. Em tese, isso
permitiria a Taiwan adotar as suas políticas econômicas e manter as suas instituições
com relativa autonomia.
Do outro lado do estreito, o atual presidente taiwanês não ousa declarar
publicamente a independência ou tomar qualquer decisão contra a reunificação com a
parte continental. No entanto, tem manifestado que qualquer atitude a esse respeito
dependerá de um processo livre e democrático, cuja deliberação cabe aos 23 milhões de
pessoas que vivem em Taiwan, em sua maioria simpática à causa separatista. A
perspectiva de uma só China no futuro, declara ele, deverá ser fruto de negociações em
bases iguais.
TRÊS CHINAS
Desde sua fundação, em 1949, a República Popular da China adotava um estilo
soviético de economia planificada. Com a morte de Mao Tse-tung e o fim da Revolução
Cultural, os novos dirigentes chineses começaram a reformar a economia. A sua
transformação em economia mista foi iniciada por Deng Xiaoping em 1978, após a falha
da economia planificada em desenvolver os sistemas produtivos chineses a níveis
aceitáveis. As reformas de Xiaoping incluíram a privatização das fazendas, o que pôs fim
à agricultura coletiva, e de indústrias estatais que fossem consideradas de baixo
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desempenho na época, como mineração e produtos básicos (roupas, processamento de
alimentos), entre outras.
Uma das experiências econômicas mais interessantes e bem sucedidas foi a
criação da Região Administrativa Especial (RAE), uma divisão administrativa de nível
provincial da RPC. Cada RAE tem um chefe de governo executivo, como chefe da região,
e um chefe de governo político.
Atualmente, são duas as Regiões Administrativas Especiais – Hong Kong e Macau.
Trata-se de antigas colônias inglesa e portuguesa, respectivamente. A lei chinesa fornece
a estas regiões um alto nível de autonomia, um sistema político separado e uma
economia capitalista, sob o princípio de "um país, dois sistemas" proposto por Deng
Xiaoping.
As duas RAEs são responsáveis por todas as questões locais, exceto por atos de
Estado, como política externa e defesa nacional. Com algumas exceções, as leis
nacionais que se aplicam na PRC não se estendem a uma RAE. Cada uma das RAEs
emite passaportes próprios, apenas para residentes permanentes que também são
nacionais da RPC, ou seja, nacionais da RPC que satisfazem a determinadas condições.
Na verdade, trata-se quase de dois países semissoberanos dentro da RPC, que
funcionam como verdadeiras zonas francas ou portos livres, oxigenando o sistema
socialista com as vantagens do capitalismo. Naturalmente, existirão como experimentos
políticos e econômicos enquanto forem positivos para a RPC.
QUATRO CHINAS
As Zonas Econômicas Especiais (ZEE) da China constituem o principal mecanismo
de abertura da economia chinesa. Foram criadas na segunda metade da década de 1970,
junto ao litoral oriental da China.
A formação e consolidação das ZEE baseiam-se em:
•
•
•
•
•
•
•
Abertura do mercado ao capital estrangeiro, mas com forte participação estatal;
Proximidade das áreas portuárias e urbanas;
Produção industrial diversificada e voltada preferencialmente para as exportações;
Mão de obra barata e abundante;
Economia de mercado;
Isenção de impostos;
Salários mais altos do que os pagos no restante do País.
Entre 1980 e 1984 o governo da República Popular da China estabeleceu uma
série de zonas econômicas especiais, com leis próprias no que toca à iniciativa
econômica de particulares, que se afastam da rigidez do regime comunista vigente no
resto do território chinês. Estas foram estabelecidas em Shantou, Shenzhen, e Zhuhai,
todas na Província de Cantão e em Xiamen, na Província de Fujian, bem como a ilha
inteira que constitui a Província de Hainan.
Desde então, dezenas de cidades e regiões costeiras receberam o status de ZEE,
no que parece ser o caminho adotado pelo regime chinês para, progressiva e
controladamente, aproximar-se do capitalismo.
As principais Zonas Econômicas são: Shenzhen , Zhuhai , Shantou , Xiamen e Província
de Hainan.
CINCO CHINAS
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Há, ainda, cinco Regiões Autônomas (RA). São áreas incorporadas à China em
épocas mais recentes (na escala chinesa de tempo), onde existem várias minorias étnicas
e alguns movimentos separatistas e onde o domínio chinês é mantido por forte presença
militar. São elas:
-Região Autônoma Uigur do Xinjiang, que inclui a maior parte de Aksai Chin, uma
região reivindicada pela Índia como parte de seu estado de Jammu e Caxemira.
Xinjiang significa, literalmente, "a fronteira nova", um nome dado durante a dinastia Qing
da China manchu. O nome é considerado ofensivo por muitos defensores da
independência, que preferem usar nomes históricos ou étnicos, tais como Turquestão
Chinês, Turquestão Oriental ou Uiguristão. Devido à associação destes nomes com o
movimento de independência do Turquestão Oriental, tais denominações são condenadas
pelo governo chinês.
Por ocasião da intervenção soviética no Afeganistão, nos anos de 1980, a China
enviou combatentes uigures para apoiar os talibãs. Ao retornar à província, eles adeririam
ao separatismo uigur. Nos anos de 1990, os separatistas passaram a recorrer ao
terrorismo.
Ao lado do Tibete, Xinjiang é a maior região territorial da RPC: são 1.660.001 km2, com
uma população de 19.630.000 habitantes.
O Xinjiang produz um terço do algodão da China, bem como dispõe das maiores reservas
de petróleo e gás.
- Região Autônoma da Mongólia Interior é a terceira maior subdivisão da China,
abrangendo uma área aproximada de 1.200.000 km² (12% do território chinês) e uma
população de cerca de 24 milhões de habitantes em 2004.
A Região Autônoma foi criada em 1947. A maior parte do seu território é constituída por
altas mesetas e cadeias montanhosas. Nos vales cultivam-se preferencialmente cereais,
como o trigo. Nas pradarias, mais áridas, a criação de cabras e ovelhas é o método
tradicional de subsistência. Há abundância de recursos naturais, como carvão, lã de
Cachemira, gás natural, metais raros e os maiores depósitos de toda a China de nióbio,
zircônio e berílio.
- Região Autônoma do Tibete é uma região de planalto da Ásia, um território disputado
situado ao norte da cordilheira do Himalaia. É habitada pelos tibetanos e outros grupos
étnicos, como os monpas e os lhobas, além de grandes minorias de chineses han e hui.
O Tibete é a região mais alta do mundo, com uma elevação média de 4.900 metros
de altitude, e por vezes recebe a designação de "o teto do mundo".
Por diversas vezes, de 1640 até 1950, um governo nominalmente encabeçado
pelos Dalai Lamas (uma linhagem de líderes políticos espirituais tidos como emanações
de Avalokitesvara - o deus da compaixão) dominou sobre uma grande parte da região
tibetana. Durante boa parte deste período, a administração tibetana também esteve
subordinada ao império chinês da Dinastia Qing.
Em 1913, o 13º Dalai Lama expulsou os representantes e tropas chinesas do
território formado atualmente pela Região Autônoma do Tibete. Embora a expulsão tenha
sido vista como uma afirmação da autonomia tibetana, esta independência proclamada do
Tibete não foi aceita pelo governo da China nem recebeu reconhecimento diplomático
internacional e, em 1945, a soberania da China sobre o Tibete não foi questionada pela
Organização das Nações Unidas.
Após uma invasão contundente e uma batalha feroz em Chamdo, em 1950, o
Partido Comunista da China assumiu o controle da região de Kham, a oeste do alto rio
Yangtzé; no ano seguinte o 14º Dalai Lama e seu governo assinaram o Acordo de
Dezessete Pontos, praticamente reconhecendo o domínio chinês.
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Em 1959, juntamente com um grupo de líderes tibetanos e de seus seguidores, o
Dalai Lama fugiu para a Índia, onde instalou o Governo do Tibete no Exílio, em
Dharamsala. Pequim e este governo no exílio discordam a respeito de quando o Tibete
teria passado a fazer parte da China, e se a incorporação do território à China é legítima
de acordo com o direito internacional.
A Índia reivindica áreas que a China considera pertencentes à RA do Tibete.
- Região Autônoma de Nigxia Hui, região de origem da etnia Hui, com capital em
Yinchuan. A região é predominantemente desértica e pouco habitada, mas as grandes
planícies do Rio Amarelo, ao norte, têm sido irrigadas por séculos, com a construção, ao
longo dos anos, de extenso sistema de canais.
Em duas áreas industriais, há instalações siderúrgicas, fábricas de equipamentos e
indústrias farmacêuticas e de química fina. Mesmo assim, é uma das regiões mais
pobres da China.
- Região Autônoma de Guangxi - recebeu a qualificação de região autônoma, já que a
etnia majoritária é a dos Zhuang. Cerca de 90% dos membros desta etnia vivem na
região. Esta qualificação permite aos seus habitantes não estarem sujeitos a algumas leis
chinesas – como a do controle de natalidade – e favorece a promoção da língua e da
cultura das etnias minoritárias.
Localizada junto à fronteira do Vietnam, é uma região montanhosa e de belas
paisagens. Conta com alguma indústria pesada e sua principal fonte de renda é o
turismo.
À GUISA DE CONCLUSÃO, DÚVIDAS
O colosso chinês impressiona sob qualquer ponto de vista: extensão territorial,
população gigantesca, crescimento econômico espantoso e contínuo. Sob essa
aparência, no entanto, grandes desafios jazem submersos, levando-nos a questões de
difícil solução, mas que encerram os enigmas quanto ao futuro do grande país. Digo
grande país, não grande nação, pois as nações encerradas sob o mesmo governo são
muitas.
As respostas a essas e outras indagações, que ultrapassam o escopo deste artigo,
determinarão a evolução chinesa nas próximas décadas. Vamos, portanto, às perguntas
que nos ocorrem:
- Até que ponto será possível manter unidas tantas etnias, línguas, formas de escrever,
sistemas de gestão econômica, países subjugados, que latejam sob o guarda-chuva dos
atuais mandarins?
- Por quanto tempo as etnias mais prejudicadas na distribuição da riqueza e do poder
manter-se-ão controladas?
- Qual o resultado do processo de evolução de um governo totalitário comunista para uma
economia capitalista de mercado? Isso é possível, sem grandes choques ou rupturas
insolúveis?
- Até quando a evolução tecnológica permitirá ao governo controlar as informações que
chegam ao povo? Talvez isso já não seja possível nas grandes cidades, mas em breve o
mesmo acontecerá no grande interior chinês.
- Até quando o sistema suportará a pressão da necessidade de criar milhões de
empregos a cada ano, para absorver os milhões de chineses que ingressam no mercado
de trabalho? Como controlar a urbanização resultante do êxodo rural? Como gerenciar a
diferença de salários e de oportunidades entre as ZEE e as RAE e o restante das cidades
chinesas?
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- Até quando será possível conciliar uma sociedade da era espacial, potência nuclear,
com o feudalismo em vigor na área rural?
- Como solucionar o problema de Taiwan? Invasão militar? Como reagirão as potências
mundiais a essa aventura?
- Como controlar a explosão demográfica que continua acontecendo? Se a política do
filho único existe há tantos anos, como a população não para de crescer?
- O que fazer com as cinco Regiões Autônomas (Xinjiang, Mongólia Interior, Tibete,
Ningxia e Guangxi), incorporadas à China por força militar e mantidas na situação pela
presença de fortes contingentes militares e de governos submissos pela força?
- Até quando os parceiros internacionais tolerarão os preços irreais das mercadorias
chinesas, que invadem seus mercados domésticos a preços vis, resultado de salários
extremamente baixos, falta de custos sociais – férias, licenças, previdência – e do câmbio
controlado que mantém a moeda chinesa artificialmente barata?
-Será possível evoluir de forma controlada pelo Partido Comunista, de um sistema
totalitário comunista para um sistema totalitário capitalista? Ou o capitalismo imporá a
abertura política?
- E as empresas multinacionais que aceitam condições únicas e desvantajosas para
terem acesso ao megamercado chinês, continuarão a aceitar essas regras ou agirão para
mudá-las?
- Qual a possibilidade de ocorrer com a China o que aconteceu com a antiga União
Soviética, que se fragmentou quando o monopólio do Partido Comunista rompeu-se, em
consequência de formidáveis pressões internas e externas que não teve como enfrentar?
Autor: Gen Div R/1 Clovis Purper Bandeira, 1º Vice-Presidente do Clube Militar.
NOTAS SOBRE O COMÉRCIO BRASIL-IRAQUE
O Iraque, conhecido por ser berço da civilização e também pelas ricas reservas de
petróleo, nos últimos anos tem recebido uma alcunha não condizente com seu passado
de realizações, seja ao mundo muçulmano, seja à humanidade. Contudo, desde 2003 o
país busca estruturar-se e recomeçar. Por isso, propõe-se neste artigo lançar luz sobre
um outro Iraque, não apenas marcado pelo conflito, mas como ator internacional em
reconstrução e prenhe de reerguer sua economia, apoiando-se em parceiros estratégicos,
como pode figurar o Brasil.
O fim do embargo ao Iraque foi decretado pela Organização das Nações Unidas
em maio daquele ano, após a queda do regime de Saddam Hussein. Então, um governo
de ocupação provisório foi instalado, sob a tutela dos Estados Unidos, e iniciou-se um
processo de atração de investimentos e grupos do mundo todo para possibilitar a
reconstrução do país. Soma-se a isto o fato de em dezembro de 2010 o Conselho de
Segurança da ONU (CSNU) reconhecer “a importância do Iraque alcançar prestígio
internacional, igual ao que detinha antes da adoção da Resolução 661” (UN, 2011a).
O espírito de reconstrução e retomada iraquiano pode ser captado nas palavras do
vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que presidiu a sessão do CSNU, ao dizer
que se trata de “um importante marco para o governo do Iraque e ao povo do Iraque nos
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seus esforços contínuos para deixar para trás o seu passado conturbado e abraçar um
futuro muito brilhante”, e também que com “as três resoluções que passamos colocamos
um fim aos resquícios opressivos da sombria era de Saddam Hussein” (LEDERER, 2010).
Diante da destruição e do sucateamento de diversos setores econômicos, que
pode ser creditada ao ambiente de guerra dos anos 1980 e ao fechamento do mercado
iraquiano por quase treze anos (1990-2003), o governo do Iraque tem aberto
constantemente licitações mundiais para questões concernentes à reconstrução e
modernização do país. Não só, a indústria do petróleo, principal riqueza e motor da
economia iraquiana, têm recebido maciços investimentos para que possa recuperar seu
vigor produtivo.
Interessante observar o fato de que o orçamento de reconstrução iraquiano, que
ultrapassa a casa dos 500 bilhões de dólares, já começa a mostrar resultados, apesar de
não ter completado uma década. Cabe ressaltar que o país possui uma população de
quase 30 milhões de habitantes, o equivalente a nove países da região. Ademais, os
constantes investimentos de países interessados nesse processo vêm ocorrendo,
incentivados por ações como a do governo do estado autônomo do Curdistão, que
aprovou moderna regulação de investimentos estrangeiros na região.
Como resultado desses investimentos, o Iraque vem desenvolvendo não apenas
sua estrutura interna básica, mas também seu potencial exportador e importador, ao
remodelar aeroportos e portos do país, possibilitando a troca de produtos de maneira
direta, sem trânsito por seus países vizinhos – o chamado comércio triangular. Com isso,
aeroportos internacionais como os de Bagdá, Erbil, Sulaimaniyah e Najaf já realizam voos
diretos para diversas cidades do Oriente Médio e Europa, e portos como o de Umm Qasr
vêm passando por uma expansão qualitativa e quantitativa.
O relacionamento entre Brasil e Iraque pode, em um primeiro momento, soar tão
distante quanto as bombas que ecoaram pelo país árabe há alguns anos. No entanto,
uma análise mais acurada do dinamismo das relações de comércio permite afirmar que o
Brasil foi, e continua sendo, importante parceiro, diversamente do que um rápido
julgamento poderia supor (FARES, 2008).
Pela primeira vez, em outubro de 2010, o Brasil viu seu saldo na balança comercial
com o Iraque atingir níveis superavitários, alcançando a marca de 1,2 bilhões de dólares,
frente aos 42 milhões de dólares intercambiados em 2003. Ao final do ano o fluxo
comercial atingiu US$ 1,4 bilhão, tendo como principais componentes da cesta de
exportações: alimentos (carnes, cereais e açúcar), autopeças, máquinas agrícolas e
equipamentos hospitalares (MDIC, 2010).
Também, é importante ressaltar as vantagens históricas do Brasil junto ao mercado
iraquiano, dado que o país detém grandes prerrogativas políticas aos seus produtos e
serviços na concorrência em licitações governamentais e privadas.
Uma ótima referência da imagem brasileira ao mercado iraquiano são as antigas
relações bilaterais – na década de 80, por exemplo, o Brasil enviou profissionais e seus
familiares na ordem de 170.000 pessoas para auxiliar na construção de grandes obras
públicas no Iraque, além de ter exportado uma grande quantidade de veículos
Volkswagen Passat produzidos no Brasil, conhecidos em solo iraquiano como “Brasili”,
um dos carros de maior sucesso e durabilidade no país.
Com a expansão de investimentos e capacidade tecnológica do Brasil nos últimos
anos, não só bens de consumo têm espaço no mercado iraquiano. A Petrobras é uma das
grandes brasileiras que pode obter sucesso naquele país.
Segundo o Ministro de Política Energética do Iraque, Hussain Al-Shahristani,
“empresas da China, Coreia do Sul e Europa estão interessadas, mas também
gostaríamos de ter a Petrobras envolvida devido à sua importância” (IBN, 2011). Isto se
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dá pelo fato de que o país está aumentando sua produção de petróleo, no entanto, faltalhe capacidade de refino para derivados de maior valor agregado, como gasolina e diesel.
Atualmente o Iraque detém cerca de 143 bilhões de barris de reservas comprovadas, e
planeja construir quatro novas refinarias para elevar sua capacidade a 750.000 barris por
dia.
Certamente, após o conjunto das resoluções 1956 a 1958, de dezembro de 2010,
cuja implementação se dá a partir de julho de 2011, a capacidade de investimento do país
aumentará significativamente, incrementando os 90 bilhões de dólares orçamentários
programados para o ano de 2011.
A complementaridade das economias é patente e não só no que tange aos dois
países, é sabido que América do Sul e Oriente Médio possuem oportunidades
expressivas ao comércio. Desvela-se ao Brasil um mercado aberto, regulado e com
inúmeras opções setoriais, seja por seus anos de clausura, ou por seu amplo poder de
compra, cujas transações comerciais em 2010 corresponderam a 15% do comércio Brasil
Oriente Médio.
REFERÊNCIAS
CÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA BRASIL IRAQUE – CCIBI. Anuário Estatístico
2010. CCIBI: São Paulo, 2010.
FARES, Seme Taleb (2007). “O Pragmatismo do Petróleo: as relações entre o Brasil e o
Iraque”. Revista Brasileira de Política Internacional, vol. 50, nº 2, pp. 129-145, 2007.
HALLIDAY, Fred (2005). The Middle East in International Relations: power, politics and
ideology. New York: Cambridge University Press.
IRAQ BUSINESS NEWS – IBN. Iraq Wants Petrobras to Invest in Refining. Disponível em:
<http://www.iraq-businessnews.com/2011/02/01/iraq-wants-petrobras-to-invest-inrefining/>. Acesso em: 02 fev. 2011.
LEDERER, E. M. UN lifts key sanctions against Iraq. Associated Press. Disponível em:
<http://www.huffingtonpost.com/2010/12/16/iraq-sanctions-un-securit_n_797503.html>.
Acesso em: 20 jan. 2011.
LEWIS, Bernard (1996). O Oriente Médio: do advento do cristianismo aos dias de hoje.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
MILLER, Judith; MYLORIE, Laurie (1990). Saddam Hussein and the Crisis in the Gulf.
New York: Times Books.
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR – MDIC.
Balança Comercial 2010 – dados consolidados. Brasília, DF: MDIC, 2010.
UNITED NATIONS. Security Council. S/RES/1956 (2010). Disponível em: <http://daccessdds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N10/694/83/PDF/N1069483.pdf?OpenElement>. Acesso
em: 20 jan. 2011. 2011a.
UNITED NATIONS. Security Council. S/RES/1957 (2010). Disponível em: <http://daccessdds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N10/694/95/PDF/N1069495.pdf?OpenElement>. Acesso
em: 20 jan. 2011. 2011b.
UNITED NATIONS. Security Council. S/RES/1958 (2010). Disponível em: <http://daccessdds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N10/695/01/PDF/N1069501.pdf?OpenElement>. Acesso
em: 20 jan. 2011. 2011c.
Autor: Fabrício Henricco Chagas Bastos é Pesquisador do Núcleo de Pesquisa em
Relações
Internacionais
da
Universidade
de
São
Paulo
–
Nupri/USP
([email protected]).
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Fonte:
Mundorama
Relações
Internacionais,
Disponível
http://mundorama.net/2011/02/04/notas-sobre-o-comercio-brasil-iraque-por-fabriciohenricco-chagas-bastos/#more-7228. Acesso em 06/03/2011.
em
UM INVERNO NUCLEAR?
Reatores 5 e 6 de Fukushima foram colocados em modo de segurança. Apesar da melhora,
quadro no complexo nuclear ainda é “preocupante”.
A tragédia causada pelo terremoto e pelo tsunami converteu-se em pesadelo ainda
maior para o Japão: os reatores da usina atômica na região de Fukushima atingida pela
catástrofe, continuam com falhas no sistema de refrigeração, e a radiação por eles
emitida chegou a Tóquio, a capital do país. A semana terminou com a situação
parcialmente controlada, mas é inescapável a conclusão de que jamais será a mesma a
relação da humanidade com a energia gerada pela fissão dos átomos.
O número de mortos já passa de 7000 e há meio milhão de pessoas desabrigadas
no Japão, em decorrência do terremoto e do tsunami que devastaram a região nordeste
do país. A tragédia teve continuidade com os problemas de refrigeração nos quatro
reatores de uma das duas usinas nucleares próximo à cidade de Fukushima. No dia em
que um deles sofreu uma explosão, a radiação chegou a Tóquio, a capital do país, em um
nível vinte vezes maior do que o normal.
A falha no sistema de refrigeração dos reatores 1, 2 e 3 da usina deveu-se tanto ao
abalo em si como ao tsunami por ele provocado. O problema fez com que as varetas de
combustível atômico dos reatores, que aquecem seus vasos internos, transformando a
água no vapor que movimenta as turbinas, ficassem expostas e se aquecessem em
demasia. A explosão provocada pelo aumento da pressão interna destruiu parte da
estrutura do reator 1 no sábado. O mesmo ocorreu na segunda e terça-feira com os
reatores 3 e 2. Na quarta, um incêndio começou no reator 4, mas foi controlado. Na sextafeira, o temor maior era em relação ao reator 3. A estrutura do prédio foi danificada pela
explosão de segunda-feira e havia a possibilidade de que parte do combustível, uma
mistura de urânio e plutônio, fosse liberada para a atmosfera. Ou seja, os técnicos
japoneses passaram a semana toda lutando para evitar o derretimento do núcleo dos
reatores e a liberação de uma grande quantidade de partículas radioativas - uma
catástrofe de proporções inimagináveis. No Japão, o sábado começou com notícias
animadoras sobre o controle da situação. Mas, em Tóquio, as ruas vazias lembravam um
inverno nuclear - o cenário apocalíptico pós-guerra nuclear.
Uma das metrópoles mais populosas do mundo adquiriu as feições de uma cidade
-fantasma. Tóquio está literalmente nas sombras. Com o racionamento de energia
provocado. pela parada da usina de Fukushima, a iluminação nas estações de metrô e
prédios públicos foi reduzida ao mínimo e os telões barulhentos e coloridos que
decoravam o topo dos edifícios em bairros como Ginza e Shibuya viraram quadros
negros. A falta de eletricidade também afetou a frequência dos trens e, com isso, sair de
casa e chegar ao destino - pontualmente, como é mandatário no Japão - virou um desafio
que espíritos indômitos tentam vencer indo às plataformas com até duas horas de
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antecedência em dias normais. Não se vê pânico no rosto dos japoneses, só o sorriso
impassível de sempre. Mas, por trás dele, há precaução e desconfiança. O hábito de fazer
compras - que não de artigos de primeiríssima necessidade, como pilhas para lanternas e
comida enlatada - foi temporariamente suspenso. Nas elegantes lojas de departamentos
de Ginza, o que se via na última sexta-feira eram andares e mais andares ocupados
unicamente por atendentes (que, mesmo diante da ausência de fregueses, mantinham a
postura dos empregados japoneses: solenemente de pé, com as mãos cruzadas diante
do corpo e a cabeça engatilhada para reverências).
À escassez e aos imprevistos, os habitantes de Tóquio vinham reagindo com o
estoicismo habitual até quarta-feira. Mas a notícia de que o governo dos Estados Unidos
fretara aviões para tirar militares e suas famílias do arquipélago devido aos altos níveis de
radiação balançou a fleuma da população mais disciplinada do planeta. Mesmo com o
desempenho surpreendentemente acima do esperado do primeiro-ministro Naoto Kan, a
estratégia de comunicação do governo japonês no decorrer do desastre revelou-se
idêntica à exibida em dias normais - o que quer dizer meticulosamente vaga e, nesse
caso, especialmente inquietante. Para piorar a sensação de insegurança, a Tokyo Electric
Power Company (Tepco), empresa da qual o governo depende para avaliar o perigo da
situação, é a mesma que foi flagrada mentindo, em 2002; num episódio igualmente
relacionado à segurança nuclear. Em Tóquio, a Tepco foi eleita a vilã do vazamento
nuclear - e de agruras menores também. Na quarta-feira, ela divulgou a previsão de mais
um corte de luz na capital para o dia seguinte. O apagão acabou não ocorrendo, o que
deixou os moradores ainda mais exasperados. Eles não queriam luz? Queriam, sim. Mas,
ao cancelar o cancelamento, a empresa os privou de um artigo hoje mais escasso do que
a eletricidade: o gosto de saber que alguma coisa sairá conforme o planejado
Autor: Thaís Oyama.
Fonte:
Clipping
do
Ministério
do
Planejamento
https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/3/21/um-invernonuclear. Acesso em 29/03/2011.
GEOGRAFIA SAÚDE
DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO
Surpreendentemente rápida, a mudança do padrão de crescimento da população
está gerando uma grande oportunidade de expansão da economia e de melhoria das
condições de vida dos brasileiros, mas também aponta para a emergência de novas e
onerosas demandas econômicas e sociais nas décadas seguintes e para as quais o País
Informativo Nr 117 (1º/2011) – CP/ECEME 2011
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precisa preparar-se adequadamente desde já para não transferir todo o custo às gerações
futuras. A população brasileira está envelhecendo muito mais depressa do que
envelheceram as populações dos países desenvolvidos. Nestes, a faixa da população
com mais de 65 anos só começou a crescer mais depressa do que as demais faixas
etárias depois que eles se tornaram ricos. O Brasil está envelhecendo antes de ficar rico.
Isso tem um custo.
É o que mostra um pormenorizado estudo do Banco Mundial (Bird) sobre o
envelhecimento da população brasileira, os ganhos e os ônus desse processo e os
desafios que ele apresenta para a sociedade e para os governantes.
As políticas públicas e, sobretudo, as finanças públicas devem estar
adequadamente preparadas para suportar os custos do sistema previdenciário e do
sistema de saúde, que certamente crescerão mais depressa do que a população idosa,
pois os sistemas de proteção dessa população são geralmente mais caros do que os das
demais faixas.
No presente, o País ainda pode beneficiar-se do que os demógrafos e economistas
chamam de bônus demográfico, período que, pelos padrões atuais de evolução da
população brasileira, se estenderá de 2011 a 2020 e tem como característica o fato de a
população em idade de trabalhar crescer mais depressa do que a população dependente
(crianças e idosos). Esse é o período em que, proporcionalmente, as pessoas em idade
ativa representam a maior fatia da população, razão pela qual, por razões demográficas, a
economia tem a possibilidade de crescer mais depressa. O Bird estima que esse bônus
pode aumentar o PIB per capita em até 2,5% por ano.
Este é o momento, portanto, do País poupar e preparar-se para enriquecer
enquanto envelhece. Como na vida das pessoas, depois de velho será muito mais difícil
para o Brasil obter a renda de que necessitará para sustentar o envelhecimento.
O processo é rápido e requer decisões corajosas e tempestivas. A França levou
mais de um século para que a faixa da população com mais de 65 anos passasse de 7%
para 14% do total. Nos Estados Unidos, esse processo demorou quase 70 anos e na
Espanha, mais de 40. No Brasil, a fatia da população com mais de 65 anos será duplicada
em duas décadas, de 2011 a 2032. Hoje, os idosos correspondem a 11% da população
em idade de trabalhar; em 2050, serão praticamente a metade (49%). Em relação à
população total, os idosos representarão 29,7%, um índice maior do que o da Europa e
muito próximo do padrão do Japão, país que tem como grandes problemas a crescente
escassez de mão de obra e o crescente custo dos sistemas de proteção à velhice.
Já a partir da próxima década, a população brasileira em idade de trabalhar começará a
diminuir proporcionalmente, reduzindo gradual e sistematicamente os efeitos do bônus
demográfico do presente.
"Com as políticas adequadas, é possível envelhecer e se tornar desenvolvido ao
mesmo tempo", disse o diretor do Bird para o Brasil, Makhtar Diop. Políticas adequadas
incluem mais investimentos em educação, para melhorar o desempenho da população em
idade de trabalhar e, desse modo, assegurar mais eficiência e competitividade, o que
pode tornar ainda mais rápido o crescimento e elevar os ganhos do bônus demográfico.
É preciso também melhorar os sistemas de saúde, ampliando-os e dando-lhes
mais eficiência, pois os gastos de saúde com um idoso são de 7 a 8 vezes maiores do
que com uma criança.
E é necessário, sobretudo, rever o sistema previdenciário, a começar pela idade
mínima para aposentadoria, que precisa acompanhar o aumento da expectativa de vida.
"Mesmo em cenários mais otimistas, aumentos nas despesas previdenciárias dominarão
as perspectivas fiscais no Brasil", adverte o Bird.
Informativo Nr 117 (1º/2011) – CP/ECEME 2011
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Autor: O Estado de S. Paulo - 11/04/2011
Fonte:Disponível
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/11/desafios-do
envelhecimento/?searchterm= Acesso em 11/04/2011.
em
METAS DE ERRADICAR POBREZA EXTREMA DEPENDE DA ECONOMIA
A meta de erradicar a miséria no País até 2014 está mantida no plano, em
preparação no governo, que detalha um dos principais compromissos de campanha de
Dilma Rousseff. Para sair do papel, contudo, vai depender não apenas das medidas
adotadas, mas sobretudo do ritmo de crescimento da economia.
No fim de março, a presidente declarou que seus quatro anos de mandato poderiam
não ser suficientes para cumprir integralmente a meta.
O Bolsa Família considera miseráveis as famílias com renda de até R$ 70 mensais por
pessoa. Por esse critério, há cerca de 5 milhões de famílias vivendo em pobreza extrema
entre os beneficiários do programa. Também há miseráveis que não fazem parte do Bolsa
Família.
Outro compromisso de campanha de Dilma, exibido no endereço eletrônico da
Presidência da República, dificilmente sairá do papel: a erradicação do analfabetismo. O
problema atinge cerca de 10% da população com mais de 15 anos. Mais de 14 milhões
de pessoas não sabem ler nem escrever um bilhete simples.
Especialistas em educação do próprio governo acham possível, num cenário otimista,
uma redução em até 2 pontos porcentuais do analfabetismo até 2014 e contam com os
resultados do censo para uma nova contabilidade do problema. Bahia e São Paulo são os
Estados que lideram o ranking do analfabetismo no País. A redução do número de
analfabetos foi pequena durante o governo Lula, indicam os dados da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad).
Dilma prometeu "ampla mobilização, envolvendo poderes públicos e sociedade civil
para que o analfabetismo seja erradicado". Em relação à erradicação da extrema
pobreza, o reajuste dos benefícios do Bolsa Família anunciado no início de março teria
contribuído para a redução em 10% do número de famílias consideradas miseráveis que
recebem os pagamentos mensais - cerca de 500 mil famílias, segundo estimativa do
governo.
O benefício básico, pago às famílias com renda de até R$ 70 por pessoa, aumentou
2,9%, de R$ 68 para R$ 70. A parcela paga de acordo com o número de filhos até 15
anos subiu 45,5%, de R$ 22 para R$ 32. No benefício médio, a correção foi de 19,4%,
acima da inflação acumulada (9,9%) desde o último reajuste, concedido em 2009.
Renda e educação 5 milhões de famílias beneficiadas pelo programa Bolsa Família
vivem na pobreza extrema, com rendimento de até R$ 70 mensais por pessoa 10% da
população com mais de 15 anos de idade é analfabeta 14 milhões de pessoas não sabem
ler nem escrever um bilhete simples.
Autor: O Estado de São Paulo.
Informativo Nr 117 (1º/2011) – CP/ECEME 2011
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Fonte:Disponível
http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2011/4/10/meta-de-erradicarpobreza-extrema-depende-da-economia/?searchterm=. Acesso em 10/04/2011.
VIVER MAIS CUSTA CARO
O prêmio Nobel americano diz que o setor de saúde será um dos motores da economia
no século XXI - e que a alta de preços reverterá em ganhos para os mais pobres
Aos 84 anos, o americano Robert Fogel figura no rol dos mais renomados e
prolíficos economistas em atividade. Laureado com um Prêmio Nobel em 1993, diretor do
Centro de Economia Populacional da Universidade de Chicago, onde dá aulas. Fogel
notabilizou-se pela objetividade com que se debruça sobre montanhas de dados para
decifrar questões surgidas do crescimento econômico tanto de países desenvolvidos
como de nações emergentes, entre as quais a China, principalmente. No estudo que lhe
valeu o Nobel, o economista conseguiu estimar o peso do advento das ferrovias para o
avanço do produto interno bruto (PIB) americano em 1890.
Fogel atualmente vem se dedicando a analisar o setor de saúde, que vê como uma
das molas propulsoras do capitalismo moderno. Em meio às discussões sobre a reforma
proposta pelo presidente Barack Obama, que pretende universalizar o sistema médico
americano ao estilo europeu, ele desafia o senso comum ao afirmar, com base em suas
pesquisas, que para os cidadãos menos abastados a melhor saída é que os abonados
gastem mais. “Os bons hospitais construídos para os ricos acabam beneficiando também
os mais pobres por meio dos planos de saúde”, resume Fogel, na seguinte entrevista que
concedeu a VEJA.
O senhor acredita que os gastos médicos das pessoas tendem a aumentar?
Eles já estão aumentando. Fiz projeções para os Estados Unidos e para países da
Europa que mostram que, pelo menos até 2040, o acesso à saúde vai encarecer, ano
após ano. Isso porque, a princípio, a maior parte das novas tecnologias se traduzirá em
instalações e equipamentos também mais dispendiosos. Veja o que ocorreu com o
diagnóstico por imagens. Em pouco tempo, passamos de um simples raio X a imagens
incrivelmente precisas. Tudo muito caro, mas também maravilhoso do ponto de vista dos
benefícios. É um equívoco achar que as pessoas devem gastar menos com saúde.
Precisamos desmistificar essa ideia. Trata-se de um investimento que lhes traz cada vez
mais retorno. À medida que a tecnologia evolui, a tendência é que os cidadãos obtenham
resultados também mais eficazes. Em suma, as pessoas estão pagando para viver mais
tempo e com mais qualidade.
E como os mais pobres poderão se beneficiar dos avanços na saúde?
Infelizmente, nunca haverá igualdade absoluta entre ricos e pobres nesse campo.
Nos países mais avançados, a grande diferença no acesso à saúde não está tanto na
qualidade do tratamento, mas na conveniência. Sempre que puder, o cidadão pagará para
que o médico o espere, e não o inverso. Ainda assim, há uma correlação interessante
Informativo Nr 117 (1º/2011) – CP/ECEME 2011
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entre as vantagens que os dois estratos sociais podem obter quando o sistema de saúde
evolui.
Como isso ocorre?
Uma comissão da Organização Mundial de Saúde (OMS) da qual participei
concluiu que, em diversos lugares, a única forma de prover acesso à saúde aos mais
pobres é construindo hospitais para os muito ricos. Mesmo que a população que habita o
topo da pirâmide de renda não precise deles, porque tem dinheiro para voar até um país
vizinho e se tratar, se essas instalações estiverem disponíveis, poderão em algum
momento atender também os menos abastados, por meio dos planos de saúde. Por isso,
por mais paradoxal que pareça, apoiar a criação de hospitais privados no mundo em
desenvolvimento é a melhor maneira de conseguir tratamento para os mais pobres.
O setor de saúde será o grande propulsor da economia do século XXI?
Não tenho dúvida. Está claro que a demanda por serviços na área de saúde
seguirá em trajetória ascendente, seja nos países desenvolvidos, seja nas nações
emergentes. Primeiro, por uma questão demográfica. Pelos meus cálculos, graças à
evolução tecnológica e à maior disponibilidade de água e comida, a geração nascida nos
anos 1980 alcançará, em países mais ricos, uma expectativa de vida de 100 anos. A
cadeia produtiva nessa área é das mais extensas. Com os estímulos adequados, calculo
que o impacto da saúde no produto interno bruto (PIB) americano poderá chegar a algo
como 2,5% a 3% ao ano. Isso representa um enorme impulso para a economia. Se
considerados os valores de hoje, esse porcentual significa adicionar anualmente à riqueza
americana algo como 438 bilhões de dólares. Estamos falando de uma quantia
equivalente ao PIB da Suécia.
Os setores que mais avançaram nos séculos XIX e XX se originaram de monopólios
estatais. Qual será o maior vetor de crescimento para a saúde - estatal ou privado?
Certamente privado. Nos Estados Unidos, a maior parte do investimento na área é
patrocinada pelos próprios empregadores. Todas as empresas têm registrado aumento
em seus gastos com saúde, a ponto de eles se tornarem cada vez mais parte relevante
do pacote de benefícios dos funcionários. Tais gastos já representam mais de 20% da
remuneração média oferecida pelo setor privado americano. Vejo, no entanto, como um
claro papel do estado custear a saúde dos mais velhos e dos mais pobres, gente que não
é capaz de arcar com um plano de saúde. Acho que a reforma proposta pelo presidente
Barack Obama tem sido mal conduzida. Ela visa a cortar custos, mas, antes de fazer isso,
o governo teria de verificar se o sistema está caro porque é ruim ou simplesmente porque
as pessoas começaram a gastar mais. Para mim, essa última hipótese parece ser a mais
plausível - e incontornável.
Como um estudioso do impacto das novas tecnologias na economia, o senhor diria que
elas são hoje o grande motor do desenvolvimento?
As inovações têm sido fator decisivo para o crescimento dos países, mas os afeta
de forma muito distinta. Uma economia como a americana, situada na fronteira da
inovação, avança no ritmo de sua evolução tecnológica. Já nações como Índia ou China,
às quais venho me dedicando, aumentam seu PIB não exatamente por suas próprias
Informativo Nr 117 (1º/2011) – CP/ECEME 2011
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invenções, mas pela grande capacidade de aplicar à sua realidade tecnologias já
existentes no mundo desenvolvido. Elas estão indo muito bem. A China tem o
crescimento mais vigoroso de todo o mundo - três vezes o ritmo da União Europeia - e a
Índia avança apenas um pouco mais devagar. Os chineses apresentam uma evolução
particularmente consistente. Em não mais que três décadas, acredito que darão um passo
à freme, tornando-se fones produtores de tecnologia. Até lá, a China já será, nesse setor,
bem mais avançada do que países da Europa. E fará séria concorrência aos Estados
Unidos.
O senhor acredita que a economia chinesa superará a americana em algum momento?
Isso dependerá mais dos Estados Unidos do que da própria China. Se os
americanos continuarem aumentando a produtividade do trabalho em 2% ou 3% ao ano,
como acontece hoje, poderão manter-se na dianteira indefinidamente.
O que vem impulsionando o fenômeno chinês?
Em primeiro lugar, a opção dos chineses por uma forma de capitalismo que
abandonou de vez a velha ideia de que o governo central deve gerenciar tudo na
economia. Espantosamente, nos Estados Unidos a interferência do estado em alguns
setores é hoje até maior que na China. Só para dar um exemplo, são necessários muito
mais licenças para instalar uma usina termelétrica a carvão em solo americano do que em
território chinês. Os chineses também acertaram ao investir pesadamente em educação e
pesquisa científica. Eles entenderam que contar com capital humano é essencial para a
mudança de patamar. Na China, 100% das crianças de 6 a 15 anos e 80% dos jovens
frequentam as salas de aula, números incríveis. A taxa na universidade já é de 25%, e a
meta é chegar ao dobro disso em 2020. O pragmatismo dos chineses é tal que eles
deverão alcançar o objetivo bem antes do prazo.
O Brasil poderia dar um salto educacional tão acentuado como o da China?
O caso brasileiro é mais complexo. Para empreender uma transformação de
tamanha magnitude na educação, é necessário contar com forte apoio da população, já
que envolveria aumento de impostos e implantação de novas regras para o setor ganhar
eficiência. Tudo isso leva muito tempo numa democracia - algo que inexiste na China.
Mas não quer dizer que não possa ser feito no Brasil. Um ótimo exemplo de avanço
educacional numa democracia vem do Chile, que conseguiu saltar de nível na última
década. Como os chilenos atingiram tal feito? Além de investirem maciçamente e de
forma racional na educação, eles alçaram a sala de aula ao topo da agenda política. A
pergunta que deve ser respondida pelos brasileiros é se há, verdadeiramente, disposição
de concentrar esforços ai.
O senhor apostaria numa lenta transição para a democracia na China?
Não iria tão longe. E a principal razão é que a ditadura chinesa não tem
representado um obstáculo para o crescimento do país. Embora eu esteja convicto de que
o sistema democrático é ainda a melhor forma de conquistar o progresso econômico a
longo prazo, ele não é condição necessária para tal. Nenhum dos paises que
despontaram entre o fim do século XIX e o inicio do XX - incluindo ai Alemanha e Japão
vivia numa democracia.
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Levantes populares como os que ocorreram no Oriente Médio são improváveis de se
repetir na China?
Estamos falando de situações muito diferentes. Não creio que haverá grandes
tumultos na China. O país monitora o tempo todo o risco de isso acontecer, por meio de
institutos de pesquisa e universidades que considero honestas. Elas, que aferem a
satisfação da população com o governo, indicam hoje uma aprovação na casa de 80%.
Existe entre os chineses uma sensação disseminada em todos os estratos sociais de que
a vida está melhorando, o que distingue decisivamente a China dos países do Oriente
Médio. Não significa, obviamente, que tudo ali transcorra tranquilamente, sem greves ou
protestos. Mas, quando uma agitação ocorre, apesar de as administrações regionais
serem autoritárias, elas são levadas pelo governo central a ouvir os descontentes. O
objetivo é tentar lhes agradar de alguma forma, para apaziguar os ânimos.
Como o senhor classificaria o ciclo econômico iniciado nos Estados Unidos a partir da
crise de 2008?
A situação é certamente muito grave, mas eu não a poria no mesmo patamar da
crise que se instaurou no país depois da Grande Depressão. Entre 1932 e 1941, o
desemprego nos Estados Unidos ficou perto de 25%, e só viria a diminuir na II Guerra
Mundial, quando o envio de milhares de jovens aos campos de batalha levou à escassez
de mão de obra. Ainda assim, a atual taxa de desemprego americana, em torno de 9%, é
muito alta para os padrões do mundo desenvolvido. Em ciclos de crescimento vigoroso,
esse indicador não costuma passar dos 5%.
Por que o governo de Barack Obama não está conseguindo criar empregos na
quantidade necessária?
O governo exagerou na abordagem keynesiana, despejando uma montanha de
dinheiro em programas governamentais complexos e demorados, quando deveria ter
apostado em estímulos mais direto ao setor privado. Medidas, como abater das empresas
impostos relativos ao investimento na instalação de fábricas, ou o estimulo à redução dos
juros praticados pelos bancos, teriam muito mais efeito do que o incentivo à compra de
carros, por exemplo. A meu ver, essa iniciativa foi um enorme equívoco. Afinal, os
americanos já possuem dois automóveis por família. E em cada uma delas contam-se, em
média, apenas duas pessoas com idade para dirigir. Trata-se de um exemplo de como a
intervenção do estado pode ser não só inócua - como um obstáculo à prosperidade.
.
Autor: Robert Fogel.
Fonte: Revista Veja. Disponível em http://jeffersonws.blogspot.com/2011/04/viver-maiscusta-caro.html. Acesso em 09/04/2011.
Informativo Nr 117 (1º/2011) – CP/ECEME 2011
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HISTÓRIA
MÃO NEGRA,ESPADA BRANCA
Em 1762, durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), a fronteira noroeste de
Portugal foi invadida por forças francesas e espanholas. Graças ao auxílio inglês a
campanha militar foi breve. Mas a fragilidade lusa ficou patente no conflito. Era preciso
reformular sua arcaica estrutura militar. E isso era tarefa urgente, porque a Espanha
continuava ameaçando suas fronteiras. Mas desta vez do outro lado do oceano.
Desde a União das Coroas Ibéricas (1580), comerciantes das Américas portuguesa
e espanhola haviam formado redes que continuaram existindo depois da restauração de
1640. Para garantir suas posições no comércio que ligava a região do Rio da Prata com o
centro-sul do Brasil, Portugal criou a Colônia de Sacramento (1680), situada em frente a
Buenos Aires, e a capitania de Rio Grande de São Pedro (1713). Os espanhóis atacavam
estas posições sempre que podiam, tornando muito instável a situação daquelas
fronteiras. A crise chegou ao auge quando, numa investida a partir de dezembro de 1762,
forças espanholas lideradas por D. Pedro de Cevallos ocuparam a Colônia de
Sacramento, os fortes de São Miguel e de Santa Tereza (no que viria a ser o Uruguai), e
Rio Grande de São Pedro (atual Rio Grande do Sul). Tinha início o período da dominação
espanhola no sul da América portuguesa.
Era o momento de reagir, e Portugal contava com o homem certo para isso:
Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), mais tarde conhecido como marquês de
Pombal, tinha status de superministro e vinha empreendendo várias reformas desde que
assumiu o cargo, em 1755. Com o agravamento da situação ao sul do Brasil, ele deu
início a uma série de medidas militares e estratégicas para retomar o território.
A primeira delas, já em 1763, foi a transferência da capital de Salvador para o Rio
de Janeiro. Mais central e mais próxima do palco da guerra, a nova sede do Vice-Reino
receberia mais facilmente recrutas, munições e rações das outras capitanias, e os
remeteria ao Sul. À capitania de São Paulo foi atribuído o papel de muralha entre os
espanhóis e o cobiçado território das Minas. Finalmente, veio a Carta Régia de 22 de abril
de 1766. Enviado a todos os governadores e capitães-generais, o comunicado mandou
“alistar todos os moradores das terras da Vossa jurisdição que se acharem em estado de
poderem servir nas Tropas Auxiliares, sem exceção de Nobres, Plebeus, Brancos,
Mestiços, Pretos, Ingênuos e Libertos”.
Ao contrário do exército profissional, que era fardado, armado e remunerado pela
Coroa, os colonos alistados nas tropas auxiliares tinham que prover suas próprias armas,
munições e fardamentos. A Carta Régia reconhecia que, até então, essas tropas
pecavam pela “irregularidade e falta de disciplina”, mas apostava que, se fossem
“reguladas e disciplinadas como devem ser”, constituiriam “uma das principais forças que
tem o mesmo Estado para se defender”.
O esforço de guerra pretendido por Pombal esbarraria num problema social: as
relações escravistas e raciais no Brasil Colônia. Na década de 1760, negros livres e
escravos formavam quase dois terços da população da América portuguesa, e na maior
parte das capitanias havia mais negros do que brancos entre a população livre. Por isso,
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o resultado óbvio da convocação seriam corpos militares formados, em sua maioria, por
homens de cor.
Cada capitania respondeu à sua maneira ao chamado para a guerra lusocastelhana. Em Minas Gerais, o governador Luís Diogo Lobo da Silva (1763-1768) criou
regimentos – chamados de “Terços” – apenas com pardos e pretos, determinando que
eles deveriam ter seus próprios oficiais. Ordenou que os capitães-mores fizessem a
contagem de todos os escravos de suas freguesias para formar, com a quinta parte deles,
alguns “Terços de Negros Cativos”. E ainda sugeriu, para espanto local, que os senhores
providenciassem armas de fogo para seus escravos recrutados. Várias câmaras de vilas
consideraram essas medidas muito arriscadas. As de Caeté e Mariana, por exemplo,
recusaram-se a armar e a formar tropas com o que chamavam de “inimigos domésticos
dos brancos” e “bárbaros infiéis”.
Em São Paulo, o recrutamento de pardos e pretos começara antes mesmo da
publicação da Carta Régia de 1766. Em agosto do ano anterior, o governador D. Luís
Antonio de Souza Botelho Mourão, o morgado de Mateus (1765-1775), determinara a
formação de uma companhia de pardos na vila de Santos, uma de mulatos em São
Sebastião e revelou intenção de criar outra tropa de pardos em São Vicente. Também
colocou em marcha um projeto de armar com chuços (espécies de lanças) todos os
escravos do litoral. Depois da Carta Régia, surgiram ainda mais corpos militares de
homens de cor em São Paulo, como as Companhias de Mulatos de Taubaté e de
Pindamonhangaba, a Tropa de Pardos de Jundiaí e as Companhias de Pretos da vila de
Paranaguá.
Mas o berço das tropas dos homens de cor era mesmo Pernambuco, pois a
capitania já havia passado pelas guerras contra os holandeses de 1630-1635 (invasão) e
1645-1654 (restauração). A memória de Henrique Dias, mestre de campo das tropas
negras naqueles conflitos, eternizara-se: seu nome fora adotado pelos batalhões de
Pretos que surgiram em várias capitanias após sua morte, em 1662. Um século depois,
estavam ativos dois corpos militares de homens de cor em Pernambuco. O de Pardos
possuía 31 companhias e contava com 1.401 pessoas. O de Henrique Dias,
exclusivamente formado por Pretos, contava com 17 companhias formadas por 1.549
homens. A Carta Régia de 1766 chegou à capitania no governo de Antônio de Sousa
Manoel de Meneses, conde de Vila Flor (1763-1768). Ele decidiu estabelecer três novos
corpos militares: um Terço Novo de Henriques, destinado exclusivamente aos Pretos, e
dois Terços de Pardos.
Os combates se intensificaram a partir de 1774. Os espanhóis, que já haviam
conquistado o Rio Grande, avançaram até Santa Catarina. O Brasil tinha um novo vice-rei
desde 1769, o marquês do Lavradio, que diante da situação solicitou a Pombal que
militares de sua confiança assumissem o governo de algumas capitanias, ou fossem
remanejados de umas para outras, e mandou aumentar o recrutamento para a guerra. O
que gerou novos problemas.
De São Paulo, tropas de Pardos e Pretos foram enviadas para as fronteiras do
Mato Grosso. Determinou-se que todos os “homens solteiros, Brancos, Bastardos, Negros
forros, e ainda os papudos [pessoas com bócio]... e todos os mal casados” serviriam em
um mesmo corpo militar. As resistências por parte dos soldados brancos foram imediatas.
Os de Itu protestaram contra o alistamento do filho de uma mulata em suas fileiras. Em
Jundiaí, mães negras eram presas pelas autoridades caso seus filhos desertassem das
tropas. Perfazendo apenas 25% da população da capitania e considerados novatos na
região, os negros livres eram tratados como escória na capitania. As câmaras mineiras,
por sua vez, aceitaram a existência dos Terços de Pretos e Pardos, mas reclamavam que
eles fossem liderados por homens de cor.
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Para piorar o quadro, a situação das tropas era de evidente penúria. A maior parte
dos 4.085 soldados enviados de Minas Gerais foi descrita como “vadios”. Somente 757
deles portavam armas de fogo. O restante utilizava lanças de pau tostado. Muitos
estavam “inteiramente nus, sem mais que umas ceroulas e camisas”. O próprio vice-rei
Lavradio, ao constatar que não estavam preparados para enfrentar uma guerra, acabou
dispensando muitos soldados.
A discriminação às tropas de cor não era a mesma em Pernambuco. Ao contrário,
os Terços de Pretos e Pardos eram uma instituição respeitável. A Ordem Régia enviada
para a capitania em maio de 1775, determinando novo recrutamento, fazia menção
especial ao histórico de serviços prestados pelos homens de cor na capitania: “Sua
Majestade conserva muito vivas na sua lembrança as gloriosas ações com que sempre se
distinguiu o dito Terço”. Os que então o compunham deveriam “parecer não só
descendentes, mas verdadeiros imitadores dos heróis que tanto o ilustram”. Retórica bem
distante do que se viu: quase todos os recrutados estavam nus e poucos tinham armas.
Muitas sequer funcionavam. A solução, como em Minas, foi fazer oitocentos paus
tostados, recurso por sinal elogiado pelo governador, José César de Meneses, que se
lembrava “de terem sido estas as armas de que aqui se usou durante a expulsão dos
Holandeses, as quais os Pretos jogam com admirável destreza”.
Os combates heroicos de Henrique Dias eram coisa do passado. Prova disso foi a
reação dos soldados pernambucanos quando, no dia 7 de setembro de 1775, já
preparados para partir, chegou ao Recife a suspensão da ordem de recrutamento. A
guerra já estava em seu final. Pretos e Pardos correram “para suas casas, com tanta
pressa que se atropelavam uns aos outros, soando por todas as ruas as festivas
aclamações de viva El Rey Nosso Senhor”.
Autor: Luiz Geraldo Silva é professor da Universidade Federal do Paraná e autor de A
faina, a festa e o rito. Uma etnografia histórica sobre as gentes do mar, sécs. XVII ao XIX
(Campinas, Papirus, 2001).
Fonte: Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=2272.
Acesso em 06/04/2011.
DESCENDENTES DE CONFEDERADOS CELEBRAM EM SP O FIM DA
GUERRA CIVIL DOS EUA
Festa em Santa Bárbara d’Oeste tem cenário do sul dos EUA do século XIX.
Senhores trajando uniformes típicos dos veteranos da Guerra de Secessão
americana conversam numa roda, alguns em inglês com forte sotaque sulista, enquanto
moças vestidas como a personagem Scarlett O’hara (a protagonista do clássico filme...'E
o Vento Levou’) dançam a square dance (espécie de quadrilha americana) ao som de
jazz, country ou folk tocados por uma banda.
Ali perto, barracas ornadas com as cores da bandeira americana vendem
hambúrgueres e hot dogs. Todo o cenário remete a uma típica festa do sul dos Estados
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Unidos, não estivessem os personagens a apenas 130 quilômetros de São Paulo, entre
as cidades de Americana e Santa Bárbara d’Oeste.
É na região paulista que se concentra uma das maiores e organizadas
comunidades de norte-americanos no Brasil, muitos descendentes diretos dos primeiros
imigrantes que desembarcaram por aqui no final do século XIX. A “Festa Confederada”
(ou “Confederate Party”) chega neste domingo (11) à sua 24ª edição e lembra também os
145 anos do fim do conflito. Mas por que comemorar o fim de uma guerra considerada
uma das mais sangrentas da história americana, que deixou mais de 600 mil mortos e
arrasou com a economia do sul dos Estados Unidos?
“O Cemitério do Campo virou um lugar marcante que evoca lembranças da história
dessas famílias, que saíram de uma situação dramática e vieram para o Brasil. Marca a
experiência histórica dessas pessoas, um lugar de revitalização de laços e da própria vida
da comunidade”, diz o antropólogo John Dawsey, um dos organizadores da coletânea de
artigos “Americans: Imigrantes do Velho Sul no Brasil” (Ed. Unimep, 2005), cuja história
familiar está ligada à imigração americano no Brasil.
No cemitério fundado em 1868, local da festa, estão enterrados os primeiros
imigrantes, tratados como heróis nas homenagens em inglês nas lápides. “Fizemos a
festa para poder manter o cemitério. Com isso, a gente cobre esse custo e também faz a
confraternização dos descendentes”, conta Nancy Padoveze, membro da Fraternidade
Descendência Americana, que realiza o evento.
Tetraneta do coronel William Hutchinson Norris, considerado pela
fraternidade o pioneiro da colônia paulista, ela conta que até hoje só são enterrados no
campo os descendentes diretos dos confederados. Mais que uma atitude discriminatória,
trata-se de uma reparação histórica: na época dos primeiros imigrantes, os cemitérios
católicos brasileiros se recusavam a enterrar os protestantes americanos mortos.
“Não se sabe o que pesou mais: se o fato de serem protestantes ou de serem da
maçonaria, mas o cemitério começou no local onde foi fundada a primeira igreja batista do
Brasil, que está na terceira construção devido ao solo ruim”, conta Nancy Padoveze (o
sobrenome é herdado do marido italiano).
Nascido na Georgia, o coronel Norris chegou a ser senador pelo Texas antes que
os exércitos do industrializado norte dos EUA devastassem econômica e militarmente os
estados confederados do sul latifundiário, na guerra entre 1861 e 1865. Veio para o Brasil,
segundo a fraternidade, graças ao contato que tinha com a maçonaria (da qual o
imperador Dom Pedro II fazia parte) e do interesse brasileiro nas técnicas agrícolas
sulistas, principalmente o cultivo do algodão.
“Os americanos então trouxeram o algodão e o arado. Os italianos vieram e
desenvolveram o arado. Em seguida, chegaram os alemães e montaram as fábricas de
tecido. E assim Americana se tornou esse grande polo têxtil."
“O que nossos antepassados contavam é que a região de Santa Bárbara,
principalmente, tem um clima e uma terra muito parecidos com o sul dos Estados Unidos.
Este foi o motivo para escolher essa região. Os americanos então trouxeram o algodão e
o arado. Os italianos vieram e desenvolveram o arado. Em seguida, chegaram os
alemães e montaram as fábricas de tecido. E assim Americana se tornou esse grande
polo têxtil”, afirma a tetraneta do pioneiro.
Além das técnicas então desenvolvidas de agricultura, os descendentes dos
confederados orgulham-se do sistema americano de educação – considerado modelo
pelo governo brasileiro - que deu origem a escolas americanas até hoje em atividade no
país, como a Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), o Mackenzie, na capital, e o
Benedict, no Rio, entre outras. Isso sem falar nos descendentes renomados, como a
cantora Rita Lee e a ministra do Supremo Ellen Gracie Northfleet.
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“É interessante ver como nos Estados Unidos o sul ficou associado com as forças
do atraso, enquanto que no Brasil [os sulistas] foram associados ao progresso."
Boa parte desta história está exposta no Museu da Imigração, em Santa Bárbara
d’Oeste, que tem no acervo desde documentos históricos até as primeiras máquinas para
o arado trazidas pelos americanos e utensílios domésticos considerados modernos para
os padrões do império brasileiro, como moedores de café.“É interessante ver como nos
Estados Unidos o sul ficou associado com as forças do atraso, enquanto que no Brasil [os
sulistas] foram associados ao progresso”, diz o antropólogo John Dawsey. Segundo ele,
americanos que vão à festa paulista se assustam ao ver a bandeira dixie confederada –
nos EUA ainda associada a escravidão e racismo.
Para dona Nancy, responsável pelas apresentações artísticas da Festa
Confederada, graças à integração cultural, o evento acabou ganhando sabores
brasileiros. “A gente tenta fazer o típico, mas o típico, típico americano mesmo é
complicado. Então a gente abrasileirou um pouco algumas coisas para agradar o público.
Temos churrasco, hambúrguer, cachorro quente, frango frito. Mas o sabor é bem
brasileiro”, diz, rindo.
Autor: Amauri Arrais Do G1.
Fonte: Disponível em: http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL156478116107,00DESCENDENTES+DE+CONFEDERADOS+CELEBRAM+EM+SP+O+FIM+DA+
GUERRA+CIVIL+DOS+EUA.html
PORTUGAL JÁ COMANDOU IMPÉRIO DE 14 COLÔNIAS EM QUATRO
CONTINENTES
Regiões da África e Ásia foram principais fontes de escravos e pimenta.
Portugal, hoje, não é o país mais poderoso da União Europeia e nem tem a maior
economia do mundo. Mas, um dia, nossos colonizadores já estiveram no topo, dominando
um verdadeiro império global e se posicionando como a nação mais empreendedora do
planeta. Foi nos séculos XV a XVIII, quando as grandes navegações ajudaram a
encontrar terras novas – e a explorar tudo o que se podia delas.
Nessa época, territórios foram dominados e um intercâmbio mundial de produtos
tomou conta dos mares. Portugal submetia os povos pela força das armas, estimulando
rivalidades internas, e pelo comércio.
Além do Brasil, que, como sabemos, foi provedor de matérias-primas para a nação
portuguesa a partir do século XVI, outras regiões também ajudaram a concentrar a
riqueza do mundo na Europa – os portugueses chegaram até ao Tibete!
Muitas das colônias ficaram sob comando dos lusitanos por séculos – Timor Leste,
por exemplo, comemora neste domingo (30) dez anos de independência. Depois de terem
se desvinculado de Portugal, em 1975, os timorenses foram submetidos pelos indonésios
por mais 24 anos. O país era fornecedor de sândalo e, depois da expulsão dos
portugueses da China, foi palco para contrabando.
"As colônias asiáticas tinham um papel muito mais importante para Portugal,
porque eram o principal meio de obter capital, aí que estava o lucro, uma lucratividade
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imensamente maior do que na América Portuguesa. Enquanto na Ásia eles tinham um
lucro que chegava a mais de 40.000% principalmente com a pimenta, a porcelana e a
prata", explica em entrevista ao G1 Fábio Pestana Ramos, doutor em história social pela
USP e professor da Fundação Santo André.
Segundo o professor, que também é autor de "Por Mares nunca dantes navegados
- as aventuras dos descobrimentos" (Ed. Contexto), a África teve uma importância
fundamental para os portugueses no início das grandes navegações, no século XVI, como
produtora de pimenta malagueta. "Esse produto era uma alternativa de consumo da
pimenta do reino, monopolizada pelos italianos. Foi em parte com o dinheiro da venda
dessa pimenta que as grandes navegações do século XVI foram financiadas. Depois, a
África teve o papel de ser fornecedora de mão-de-obra escrava."
As viagens
Muitos fatores permitiram o pioneirismo português nos descobrimentos. Entre eles,
a posição geográfica e a centralização precoce da nação, que possibilitou investimentos.
Na era do mercantilismo, aventurar-se pelos mares e se tornar um império marítimo era
um sonho para os portugueses, que tinham poucas riquezas internas. "Porém, monstros e
medos povoavam o imaginário europeu. Enfrentar os mares desconhecidos, por exemplo,
não era fácil", escreve Fábio Ramos.
A ida a uma terra nova geralmente vinha com uma exploração de reconhecimento.
Depois vinham as carreiras - rotas regulares entre a nova terra e Lisboa. As maiores
carreiras eram as que iam para a Índia e demoravam um ano. As embarcações, as
maiores do mundo, geralmente partiam superlotadas. A fome e a doença eram problemas
constantes. Não havia instalações sanitárias e muitas vezes se morria por pragas.
As conquistas
Ao chegar em uma nova região, os portugueses geralmente enfrentavam
dificuldades no encontro com as culturas locais. Havia ainda a intolerância religiosa. Os
angolanos, quando viram os lusitanos pela primeira vez, acharam que eram mortos vivos,
zumbis que vinham das águas. "Os portugueses se acostumaram a resolver os impasses
com os nativos através do bombardeio às povoações que se recusavam a servir aos seus
interesses", escreve o professor Ramos.
Uma das primeiras conquistas portuguesas foi Ceuta em 1415 e a ilha de Madeira
em 1418. Madeira tornou-se grande produtora de trigo e açúcar. Já o arquipélago dos
Açores, encontrado em 1427, foi escolhido para servir de base para uma armada fixa, que
protegeria as embarcações que saíssem de Lisboa de ataques piratas - frequentes na
época.
O território de São Tomé e Príncipe, descoberto em 1471 e primeiramente
chamado de Ano Bom e Fernão do Pó, foi usado como verdadeiro laboratório de tipos de
colonização. Portugal conquistou a região e depois só aparecia para despejar populações
de escravos, crianças judias tiradas dos pais e homens livres.
A ilha de Santa Helena foi útil para a navegação para as Índias. Descoberta
em 1502, ela se tornou um ponto de apoio às longas viagens.
Os portugueses também chegaram na China em 1509. No Japão, aportaram em
1543 e foram os primeiros ocidentais a desembarcar na região, embora nunca tenham
conseguido estabelecer uma base firme.
As independências
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A decadência do império marítimo português ocorreu quando a Inglaterra e a
Holanda, principalmente, começaram a correr atrás do prejuízo e se lançar aos mares.
Esses países passaram a construir embarcações melhores e mais rápidas, enquanto os
portugueses continuavam com suas frotas antigas.
"Havia um desleixo em relação à frota naval. Não havia manutenção. Há registro
de vários navios que ficaram 24 anos em serviço. Além disso, há a fuga de profissionais
qualificados pra fazer essa manutenção, pois os portugueses não os remuneravam
adequadamente. Os ingleses foram bem mais espertos. Eles faziam navios menores,
mais ágeis e mais bem armados. Esperavam os portuguese chegarem, atacavam os
navios, roubavam tudo, raptavam as pessoas pra pedir resgate e queimavam as
embarcações", conta Fábio Ramos. O índice de naufrágios nessa época, em navios
vindos da Índia, era de 40% - a maioria por ataques piratas.
Após a abolição da escravatura, Portugal manteve suas colônias o máximo que
pode. Segundo Fábio Ramos, os portugueses "passam a tentar transformar as colônias
africanas em colônias agrícolas."
Na década de 1970, muitas colônias se libertaram: Timor Leste, Angola, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Autor: Giovana Sanchez do G1.
Fonte:
O
Globo,
disponível
em
http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL1283991-16107,00.html. Acesso em
08/04/2011.
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