INFORMATIVO Nr 111 – 2°/2009

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INFORMATIVO Nr 111 – 2°/2009
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
CURSO DE PREPARAÇÃO E SELEÇÃO
“ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO”
CURSO DE PREPARAÇÃO
À ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
(CP/ECEME)
INFORMATIVO Nr 111
– 2°/2009 –
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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ÍNDICE
O MUNDO ATUAL..........................................................................................3
AMÉRICA LATINA.........................................................................................3
A ÚLTIMA A SAIR DA CRISE E A PRIMEIRA A SAIR DELA...............................................3
AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA.......................................................................4
OBAMA EXIGE QUE ISRAEL DETENHA ASSENTAMENTOS............................................4
A 1ª HISPÂNICA NA SUPREMA CORTE.............................................................................6
ÁSIA..............................................................................................................7
AFEGANISTÃO - O VALE DA MORTE................................................................................7
A CHINA NÃO VAI SALVAR O MUNDO.............................................................................11
ISRAEL CONTRARIA EUA E NÃO RECUA SOBRE COLÔNIAS......................................13
A BOMBA NAS MÃOS DE INSANOS.................................................................................14
ELEIÇÕES IRANIANAS......................................................................................................21
ELEIÇÕES IRANIANAS: ASSIM COMO BARACK OBAMA, MIR HOUSSEIN MOUSSAVI
PREGA MUDANÇA EM ESTRATÉGIA DE CAMPANHA...................................................23
HEZBOLLAH É DERROTADO NAS URNAS NO LÍBANO.................................................24
ORGANISMOS INTERNACIONAIS...............................................................26
A CRISE MUNDIAL E O G – 20..........................................................................................26
BRASIL: ASPECTOS SOCIAIS E REGIONAIS..............................................30
ESCOLA PARA PROFESSORES.......................................................................................30
NA SÉRIE B DA EDUCAÇÃO.............................................................................................31
RETRATOS DO ENSINO....................................................................................................33
BRASIL – CAMPO ECONÔMICO...................................................................35
ENERGIA LIMPA É OPORTUNIDADE ECONÔMICA PARA O PAÍS................................35
NINGUÉM SEGURA ESSE DÓLAR...................................................................................37
A SEGUNDA REVOLUÇÃO DO ETANOL..........................................................................38
UM MUNDO MAIS VERDE.................................................................................................40
PANCADA MENOR.............................................................................................................41
FUTURO EM XEQUE..........................................................................................................42
GEOGRAFIA – SAÚDE................................................................................ ..46
O CORAÇÃO DEVASSADO...............................................................................................46
DENGUE MATA 6 VEZES MAIS NO BRASIL DO QUE O TOLERADO PELA OMS.........47
HISTÓRIA....................................................................................................49
A GUERRA DO PACÍFICO.................................................................................................49
O TRABALHO NA AMÉRICA ESPANHOLA.......................................................................52
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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VOCÊ JÁ REDIGIU ESTA SEMANA?...........................................................53
O MUNDO ATUAL
AMÉRICA LATINA
A ÚLTIMA A ENTRAR NA CRISE E A PRIMEIRA A SAIR
17/05/2009
Relatório mostra recuo no emprego e no PIB na AL. Mas analistas dizem que região
vai liderar expansão global no futuro
A crise internacional não poupou a América Latina. Indicadores reunidos pelo Grupo
de Diários América (GDA), conglomerado que reúne 11 jornais de países da região,
mostram que, desde o fim do ano passado, o desemprego subiu e a atividade econômica
perdeu fôlego. O primeiro “Informe especial GDA: A crise na América Latina” —
levantamento que será feito trimestralmente — trouxe previsões sombrias do mercado: as
três maiores economias da região (Brasil, México e Argentina) vão sofrer uma recessão
este ano. Mas, na visão de especialistas, a América Latina, que foi uma das últimas
regiões a entrar na crise, será uma das primeiras a sair. E já há sinais de que isso pode
estar próximo.
A recente alta nos preços das commodities (matérias-primas) e a melhora na atividade
econômica da China trouxeram alívio para a região. Em abril, a cotação internacional da
soja fechou em alta de 13,7% frente à média do último trimestre de 2008. O aumento do
cobre foi de 13,5%. Na China, o pacote fiscal do governo começa a surtir efeito e já há
previsões de que a economia vá crescer 7,5% este ano.
— Até o fim do ano passado, havia um descolamento, com os países emergentes
crescendo apesar da recessão nos EUA e na Europa. Mas o agravamento da crise em
setembro não poupou ninguém, porque houve uma súbita interrupção do crédito. Agora,
já há indícios de um novo descolamento, muito associado à demanda da China, que levou
a uma alta nas commodities, o que beneficia a América Latina — afirma Luiz Guilherme
Schymura, diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas
(FGV).
Os exportadores são céticos em relação à melhora nos preços das commodities. Para
José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil
(AEB), parte dessa alta é fruto de apostas de especuladores. Mas, no mercado, a visão é
de que, mesmo diante de forte volatilidade, não há espaço para novas quedas nos preços
de produtos básicos.
— As cotações já chegaram a um piso, não vão cair mais. Os preços não voltarão aos
níveis recordes de meados de 2008, mas, frente às mínimas que alcançaram no fim do
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ano passado, deverão subir de 15% a 20%, especialmente em 2010, o que ajudará a
América Latina — prevê Alfredo Coutiño, diretor para a região da Moody’s Economy.com.
Com gripe suína, PIB do México deve cair 5,5%
Coutiño destaca que, ao lado de China e Índia, a América Latina vai liderar o
crescimento mundial na fase pós-crise. Em especial, diz o economista, Brasil, Chile e
Peru, que poderão até registrar um crescimento negativo em 2009, mas cujas economias
começarão a se recuperar já no segundo semestre deste ano. A América Central e o
México, porém, demorarão mais tempo para sair da crise, devido ao forte vínculo dessas
economias com os Estados Unidos.
Enquanto o México tem como ponto fraco a dependência dos EUA (destino de 80% de
suas exportações), na América do Sul quem tem sofrido mais com a crise é a Venezuela,
porque sua pauta é muito concentrada num só produto: o petróleo, que responde por 90%
das receitas com vendas externas.
— São os dois casos extremos. O Brasil está na outra ponta, com uma pauta de
exportações muito diversificada. A China, hoje nosso principal destino, não chega a
comprar 25% de nossas exportações. E o complexo de soja, que lidera a lista dos
produtos, tem só 5% da pauta — explica Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet,
entidade que reúne empresas transnacionais no Brasil.
Para Lima, a economia brasileira foi uma das menos afetadas graças também a um
forte mercado doméstico. O Informe GDA mostra que, aqui, as exportações respondem
por apenas 14% do PIB. No Chile, esse patamar é de 39% e na Costa Rica chega a 46%.
Outro trunfo do Brasil é um sólido sistema bancário, acrescenta Lima: 79% do crédito do
país vêm do setor financeiro nacional.
Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, acrescenta que o Brasil tem bancos
públicos de relevância. O BNDES vai desembolsar US$50 bilhões este ano, mais de
quatro vezes o volume de empréstimos previstos pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) para toda a América Latina (US$12 bilhões).
Se o Brasil é o país mais blindado, o México é o mais exposto à crise. Os indicadores
GDA apontam uma previsão de queda de 4% no PIB do país este ano. Coutiño, da
Moody’s é mais pessimista. Ele antes previa um recuo de 4,5% do PIB. Com a gripe
suína, que afetará o turismo e as exportações agrícolas do país, sua estimativa agora é
de queda de 5,5% do PIB. Coutiño lembra que 65% das receitas de turismo do México
vêm de visitantes americanos.
Luciana Rodrigues - O GLOBO
AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA
OBAMA EXIGE QUE ISRAEL DETENHA ASSENTAMENTOS
19/05/2009
Encontro com premier israelense marca uso de tom mais incisivo por parte dos
EUA e defesa de um Estado palestino
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O primeiro encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, só teve de consenso a idéia de que a
nuclearização do Irã não é apenas uma ameaça aos dois países, mas “profundamente
desestabilizadora” para a comunidade internacional. Após um encontro de 90 minutos —
descrito por uma fonte como “cheio de palavras bem escolhidas” — Obama e Netanyahu
discordaram de praticamente tudo com relação à questão palestina: da existência pacífica
de dois Estados à retomada imediata nas negociações com a Autoridade Nacional
Palestina (ANP).
Usando termos mais contundentes do que o governo anterior, Obama pressionou pela
criação de um Estado palestino. Ele recordou que Israel tem a obrigação de deter a
construção de assentamentos judaicos, como acertado no Mapa da Paz, de 2003. O
presidente acrescentou que “a situação humanitária em Gaza precisa ser tratada”.
— Os assentamentos devem parar para que possamos seguir adiante — afirmou
Obama.
— É do interesse não apenas dos palestinos, mas dos israelenses e da comunidade
internacional que se chegue a uma solução de dois Estados na qual israelenses e
palestinos viverão em paz lado a lado.
Mas Obama não conseguiu de Netanyahu um compromisso para a solução de dois
Estados. Ainda que o premier tenha dito estar pronto a retomar “imediatamente” as
negociações com os palestinos, estabeleceu condições: o reconhecimento, pelos
palestinos, do Estado de Israel, e que o país determine condições de segurança mínimas
para a convivência. Em entrevista, mais tarde, Netanyahu disse que os palestinos deviam
se autogovernar, mas não citou um Estado próprio:
— Eu não digo dois Estados para dois povos. Precisamos esclarecer o que é isso. Isso
significa um Estado do Hamas? Espero que não.
Conversas com Irã não serão infinitas
Ouvido pela TV árabe Al-Jazeera, Nabil Abu Rudeina, assessor de Mahmoud Abbas,
presidente da ANP, afirmou que o compromisso de Obama com a solução de dois
Estados era “encorajador”, enquanto a visão de Netanyahu era “desapontadora”. O
espírito de Obama sobre a questão palestina foi explicitado pelo próprio presidente: não
há chance de avanço dos países da região em objetivos comuns, como a
desnuclearização do Irã, se israelenses e palestinos não resolverem logo os seus
problemas.
— Para que possamos realinhar potencialmente os interesses na região de modo
construtivo, o caminho da paz entre israelenses e palestinos é crítico — ressaltou Obama.
Segundo o “Yediot Ahronot”, Netahyahu quebrou o protocolo e horas antes do encontro
ainda estava reunido com conselheiros. Contrariando a tradição dos visitantes, preferiu
realizar as reuniões na Embaixada de Israel e não na Blair House, onde ficam os
hóspedes da Casa Branca, por medo de escutas clandestinas.
Devido às diferenças na questão palestina, boa parte do pronunciamento dos líderes
após o encontro se concentrou no Irã. Ainda que Obama tenha afirmado que não existe
data limite para o início das conversas, disse que espera uma abertura diplomática do Irã
até o fim do ano, mas que mantém aberta “uma série de passos”, incluindo sanções mais
fortes, caso não haja resposta.
— Acredito que seja do interesse do Irã não desenvolver armas nucleares, porque
isso poderia iniciar uma corrida no Oriente Médio, um processo extremamente
desestabilizador. O Irã pode atingir seus objetivos de prosperidade por outros meios, mas
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sabemos que a história de negociações com o país é de muita conversa e nem sempre
ações. Por isso é importante ter em mente que não vamos conversar para sempre —
afirmou Obama.
Segundo a agência Irna, o Ministério do Exterior do Irã disse que a abordagem de
Obama é realista e que o país está esperando para ver o que ocorre na prática.
Gilberto Scofield Jr - O GLOBO
A 1ª HISPÂNICA NA SUPREMA CORTE
27/05/2009
Obama indica filha de porto-riquenhos para vaga no tribunal mais alto dos EUA
O presidente dos EUA, Barack Obama, fez ontem sua primeira indicação para a
Suprema Corte dos EUA: Sonia Sotomayor, 54 anos, juíza da Corte de Apelações de
Nova York. Nascida no Bronx e filha de porto-riquenhos, Sonia, se confirmada no cargo
pelo Senado dos EUA, se tornará o primeiro juiz de origem hispânica e a terceira mulher a
ocupar um lugar na mais alta corte americana. Sotomayor vai entrar na vaga do juiz David
Souter, que já anunciou sua aposentadoria. Ambos são considerados, pelo meio judicial
americano, como magistrados mais progressistas.
A juíza foi descrita por Obama como “uma mulher inspiradora, que será uma grande
juíza”, além de “dona de rigorosa inteligência e maestria das leis”. Mas o presidente não
deixou de mencionar que a história de vida de Sotomayor — uma menina humilde do
Bronx que venceu na vida e se tornou uma das mais respeitadas juízas do país, história
bem ao gosto do imaginário americano — embasou sua escolha, dando a entender que
sua ideia de Justiça é a de uma instituição com interpretação das leis mais ampla do que
o que dizem as palavras impressas no papel.
— A existência da lei não tem sido lógica, tem sido baseada na experiência. É de
importância vital que a Justiça conheça como o mundo funciona e como as pessoas
comuns vivem — disse ele, citando o juiz Oliver Wendell Holmes.
Sonia discursou visivelmente emocionada e homenageou a família ali presente: a
mãe Celina Sotomayor, o padrasto Omar Loez, seu irmão, cunhada e sobrinhos:
— Meu coração está explodindo de gratidão por tudo o que vocês fizeram por mim.
Só estou aqui devido a várias pessoas, mas, acima de todos, eu sou quem sou por conta
dela — afirmou, apontando para a mãe que trabalhou em dois empregos para criar
sozinha Sonia e o irmão após a morte precoce do pai. — Eu sou tudo que sou por causa
dela, e sou apenas metade da mulher que ela é.
A escolha de Sonia Sotomayor coloca os republicanos numa delicada situação num
momento em que o partido busca se reerguer das derrotas das últimas eleições e parece
imobilizado num passado dominado por ideais de direita anacrônicos que só fazem
afastar o eleitorado do próprio partido. Por trás da indicação de Sonia Sotomayor, fica
difícil esconder o fato de que 47 milhões da população americana são compostos por
hispânicos, dos quais 12 milhões eleitores.
Quando o ex-presidente Bill Clinton indicou Sonia Sotomayor para o posto de juíza da
Corte de Apelações em Nova York, em 1998, todos os votos negativos vieram dos
republicanos. Desta vez, a reação deverá ser menos negativa, o que faz da aprovação de
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Sonia Sotomayor algo praticamente certo. Primeiro, porque a juíza precisa ser aprovada
por maioria simples, de 51 votos. E, mesmo que os republicanos impedir sua aprovação
com manobras regimentais, os democratas possuem 59 dos 60 votos necessários para
que o nome da juíza possa ser bloqueado, se for o caso. E mais: quem indicou pela
primeira vez Sonia Sotomayor para uma corte federal foi George H.W. Bush, o que indica
um consenso maior sobre seu trabalho.
— Acredito que a juíza Sotomayor tem uma postura próxima de Souter, que entende
o impacto das decisões da Corte no mundo real. Acredito que a juíza entende que as
portas da Corte devem estar abertas para americanos comuns tanto quanto estão para
governos ou grandes corporações — afirmou o senador democrata Patrick Leahy,
presidente do Comissões de Justiça do Senado.
O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, foi mais cauteloso:
— Teremos um processo vigoroso de análise de seu currículo para garantirmos que
ela entende que o papel de um juiz numa democracia é o de aplicar a lei com
imparcialidade, apesar de seus sentimentos ou preferências políticas.
Os grupos aliados aos republicanos já trataram de selecionar despachos de Sonia
Sotomayor e colocá-los no site de vídeos YouTube para mostrar o quão “partidária” é a
juíza. Num dos comentários de 2008, Sonia diz: “as Cortes de Apelação são (o lugar)
onde política é feita. Eu sei que não deveria estar falando isso, eu sei, não estou
pregando isso porque não fazemos as leis”.
— Eu não concordo, como ela sugere, que juízes sejam encarregados de fazer
política — foi logo dizendo o senador republicano John Cornyn, também membro do
Comissão de Justiça do Senado.
Gilberto Scofield Jr - O GLOBO
ÁSIA
AFEGANISTÃO - O VALE DA MORTE
13/05/09
Os
combates
mais
violentos
do
Afeganistão
ocorrem
na
fronteira
com
o
Paquistão.
Para
conter
o
avanço
do
Talibã
nesses países, o governo americano tem uma nova estratégia
No Korengal, um vale com apenas 10 quilômetros de extensão próximo à fronteira
paquistanesa, ocorrem as batalhas mais violentas de uma guerra que, quase oito anos
depois de seu início, ainda precisa ser vencida. O fotógrafo inglês Adam Dean
acompanhou, com exclusividade para VEJA, o cotidiano das tropas americanas nessa
região montanhosa do Afeganistão. A companhia militar à qual ele se juntou era atacada
diariamente por combatentes talibãs e por jihadistas estrangeiros recrutados pela Al
Qaeda. Três quartos de todas as bombas despejadas pela Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan) no país são reservados para o Korengal e arredores.
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ROTINA DE GUERRA
Soldados americanos da base de Restrepo disparam morteiro de
120 milímetros. À noite, descansam à beira da fogueira.
A relevância estratégica das áreas de fronteira com o Paquistão explica a decisão
de enviar para lá a maior parte do reforço militar aprovado pelo presidente Barack Obama
em fevereiro. Até o começo do segundo semestre, quando é verão no Hemisfério Norte e
os combates se intensificam, estarão no Afeganistão mais 20 000 soldados americanos.
As forças internacionais no Afeganistão somam 75 000 homens e mulheres de 42
países, a metade dos soldados estacionada no Iraque. Com o aumento de contingente, o
governo americano quer impedir que a guerra se alastre para o Paquistão, causando um
desastre geopolítico. Mais soldados no terreno também reduzem a necessidade de
recorrer a bombardeios aéreos. Na segunda-feira da semana passada, por exemplo, as
bombas americanas mataram uma centena de civis em um ataque contra o Talibã no
oeste do Afeganistão. Dois dias depois, em um encontro em Washington com os
presidentes do Paquistão, Asif Ali Zardari, e do Afeganistão, Hamid Karzai, Obama pediu
mais empenho no combate às milícias talibãs. Se algo der errado e o número de baixas
americanas aumentar demasiadamente, o Afeganistão poderá ser para Obama o que o
Iraque foi para George W. Bush ou o Vietnã para o presidente Richard Nixon: um atoleiro.
Os Estados Unidos entraram no Afeganistão um mês depois dos atentados de 11 de
setembro de 2001, com o objetivo de destruir a Al Qaeda de Osama Bin Laden e derrubar
o governo fundamentalista que lhe dava abrigo. Não havia dúvidas de que a invasão era
necessária. A Guerra do Iraque, contudo, roubou as atenções e os recursos militares a
partir de 2003, quando a situação no Afeganistão parecia controlada. O Talibã não dava
mais as ordens na capital, Cabul, e os terroristas da Al Qaeda já não conseguiam usar o
país como base segura para organizar ataques em outras regiões do mundo. Mas, de lá
para cá, o panorama piorou muito. Nos últimos dois anos, o Talibã aumentou sua
presença em três quartos do território afegão. Além disso, à encrenca se somou outra: o
Paquistão. As áreas tribais do país próximas à fronteira com o Afeganistão tornaram-se
refúgio tanto de líderes do Talibã quanto de terroristas da Al Qaeda. Eles passaram a
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utilizar a região, sobre a qual o governo paquistanês tem controle quase nulo, para
organizar a retomada gradual do Afeganistão. E também ameaçam desestabilizar ainda
mais o Paquistão, uma nação muçulmana e dona de um arsenal atômico. O presidente do
país, Zardari, é viúvo de Benazir Bhutto, a candidata assassinada por fundamentalistas
islâmicos em um atentado a bomba em 2007. No início da semana passada, o Talibã
paquistanês assumiu o controle da principal cidade do Vale do Swat, localizada a apenas
130 quilômetros da capital, Islamabad. Nos dias seguintes, o exército intensificou os
combates contra a milícia fundamentalista, que já domina quase todo o vale.
INIMIGOS-FANTASMA
À esquerda, soldado americano na base de Restrepo dispara
contra insurgentes que ele não vê. No alto, patrulha procura
abrigo ao ser atacada em trilha na montanha. À direita,
funcionário afegão da base americana de Korengal é atendido
após ser ferido com estilhaços de granada lançada pelo Talibã.
No Afeganistão, os sinais de que os talibãs estão de volta são de uma evidência
feroz. Os atentados suicidas em zonas urbanas, antes um fenômeno mais associado ao
Iraque, tornaram-se comuns. O número de civis mortos na guerra aumentou de 1.523, em
2007, para 2.118, no ano passado. Os Estados Unidos e seus aliados perderam 294
soldados em 2008, um aumento de 27% em relação ao ano anterior. O cultivo de papoula,
matéria-prima do ópio e da heroína, disseminou-se de tal forma que a estimativa é que 1
em cada 8 dólares conseguidos com sua venda vá para o bolso do Talibã. Em troca, o
grupo oferece proteção aos produtores e traficantes. Com o dinheiro, os insurgentes
compram armas contrabandeadas do Paquistão, para onde também fogem para
descansar e tratar dos ferimentos. Eles sabem que os Estados Unidos não podem
combatê-los diretamente no país vizinho, porque isso significaria transformar o aliado em
inimigo.
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Controlar o Korengal é vital para a estratégia de frear o avanço do Talibã em direção
a Cabul. Até 2006, o vale funcionava como um corredor para terroristas e armas rumo ao
interior do Afeganistão. Já era assim na década de 80, quando a guerrilha afegã expulsou
as tropas da União Soviética do país. Nos últimos dois anos, o Exército americano tenta
interromper essa rota, lutando pelo controle de cada metro quadrado das montanhas ao
redor. O objetivo é empurrar os talibãs e os jihadistas árabes, chechenos, paquistaneses
e até chineses cada vez mais para o fundo do vale. O terreno íngreme favorece as táticas
de guerrilha dos insurgentes. As encostas das montanhas, algumas com picos nevados
de até 3 000 metros de altitude, são cheias de árvores, grandes pedras e cavernas.
Escondidos nesse cenário, os homens do Talibã são chamados pelos americanos de
"fantasmas". Alguns soldados passam um ano inteiro protegendo-se de tiros de fuzis AK47 e disparando de volta sem jamais ver o inimigo. Nas raras ocasiões em que isso
acontece, as tropas, legalistas ao extremo, não podem fazer nada. "Já ocorreu de, depois
de um combate, membros do Talibã passarem na nossa frente para ir pegar seus feridos.
Mas não podíamos prendê-los porque não tinham armas", disse a VEJA um capitão da
Companhia Viper 126.
Os moradores do vale são agricultores e madeireiros que seguem o wahabismo, um
ramo ultraconservador do Islã. Por questões ambientais, o presidente Hamid Karzai, que
assumiu o governo após a queda do Talibã, ordenou o fim do comércio de madeira com o
Paquistão. A proibição eliminou a principal fonte de renda da população de boa parte da
província de Kunar, onde se localiza Korengal, sem criar uma opção econômica viável.
Esse fato, somado aos bombardeios feitos por helicópteros americanos contra aldeias
onde os terroristas usam os civis como escudo, explica por que quase todos os jovens
adultos da região aderiram à guerrilha. Estima-se que eles recebam 100 dólares por mês
para compor as fileiras do Talibã. Há também outra motivação: o medo. Os que não
aderem são acusados de colaborar com os americanos e podem ser mortos. Nesse
contexto, ganha ares quixotescos a missão dos militares de conquistar a confiança dos
moradores do vale e de convencê-los a dar informações sobre o paradeiro dos
insurgentes. A ideia é mostrar aos chefes das aldeias que, se ajudarem, as forças
americanas vão lhes dar segurança e providenciar a construção de pontes e escolas. A
política de boa vizinhança é feita em reuniões com os anciãos das aldeias, muitos dos
quais suspeitos de apoiar o Talibã. Recentemente, em uma dessas visitas, a patrulha da
qual fazia parte o fotógrafo Adam Dean foi alertada pela base de que havia sido
interceptada uma comunicação por rádio entre os terroristas. Eles planejavam atacar os
soldados logo que deixassem o vilarejo e estivessem expostos nas trilhas próximas. Foi o
que aconteceu. O ataque partiu de vários pontos do vale, inclusive da própria aldeia. Os
americanos responderam com tiros de fuzil e de morteiro. Possivelmente, os chefes
tribais, que tão gentilmente serviram chá ao capitão do Exército americano, foram os
mesmos a avisar os insurgentes sobre a visita da patrulha. São os riscos da estratégia
anunciada por Obama de negociar com os apoiadores de ocasião do Talibã.
Os Estados Unidos tentam ajudar o Exército do Afeganistão a, pouco a pouco,
assumir a tarefa de dar segurança à população. Parte do novo contingente americano foi
designada para treinar os militares do país. Outro passo de Washington é apoiar a
formação de um governo forte. Está difícil. Apesar de estar à frente de uma das
burocracias mais corruptas do mundo, o presidente Karzai ainda é considerado o favorito
para as eleições de agosto deste ano. O terceiro caminho é de ordem diplomática e
consiste em aproximar Paquistão e Índia, inimigos históricos. Sem terem de se preocupar
com sua fronteira ao leste, com os indianos, quem sabe os militares paquistaneses
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comecem a dar mais atenção aos perigos que se avizinham a oeste. Em meio a tanta
incerteza, só uma coisa é certa: a população do Afeganistão não tolera o Talibã. Uma
pesquisa de opinião mostra que apenas 4% dos habitantes querem a volta do regime
fundamentalista. A luta, portanto, vale a pena.
Diogo Schelp com fotos de Adam Dean – Revista VEJA - Edição 2112
“A CHINA NÃO VAI SALVAR O MUNDO”
31/05/09
Modelo de desenvolvimento
Universidade de Pequim
asiático
morreu,
afirma
o
professor
da
A ascensão da China como principal destino das exportações brasileiras, deixando
para trás os Estados Unidos, é mais um reflexo da diversificação das exportações no
comércio global do que sinal de que a China estaria caminhando para se transformar no
grande consumidor mundial. Para que a China venha ocupar o posto de principal
consumidor mundial, será preciso uma mudança dramática na política econômica
chinesa. No entanto, o modelo de desenvolvimento chinês, que tem sido levado às
últimas consequências neste momento de retração global, está falido, diz o professor da
Universidade de Pequim Michel Pettis, um dos maiores especialistas em China.
Historiador e ex-executivo dos bancos Bear Stearns e Credit Suisse First Boston, Pettis foi
para a China por acreditar que a ascensão chinesa era o grande tema do século. Hoje, vê
com cautela as análises de que a China vai salvar o mundo.
EUFORIA NO BRASIL
“As exportações do Brasil para a China não são para consumo chinês, mas para
serem reexportadas. Seis ou sete anos atrás, muitos analistas começaram a falar sobre
como as exportações para os Estados Unidos estavam caindo em relação ao total das
exportações. E o argumento era que isso estaria indicando um descolamento, que a
economia americana estava ficando menos importante para a demanda de cada país
analisado. O problema dessa explicação é que as importações dos Estados Unidos e o
déficit comercial americano em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) global, na verdade,
têm aumentado de forma dramática. A redução da participação da demanda americana
na exportação de diversos países reflete o fato de que o comércio global ficou mais
especializado. Em vez de vender diretamente para os Estados Unidos, você vende para a
Itália, que vai processar e vender para os Estados Unidos."
INVASÃO CHINESA
"Com a redução do déficit comercial americano - que representa de dois terços a
três quartos do déficit mundial -, de um ano para cá, os superávits comerciais também
deveriam ter encolhido. Mas o superávit chinês, que representa três quartos do superávit
mundial, continua aumentando. E a China está falando em aumentar ainda mais suas
exportações. Para isso acontecer, todas as outras nações exportadoras terão de deixar
de exportar. Talvez isso aconteça e ninguém se importe. Mas, quando os Estados Unidos
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tentaram fazer isso, nos anos 30, criou-se uma guerra comercial e o comércio
internacional entrou em colapso."
NO ESPAÇO AMERICANO
"Para a China substituir a demanda dos Estados Unidos não é que o consumo da
China tem que crescer, é o consumo líquido da China que tem de crescer. Em outras
palavras, o consumo tem que crescer mais rapidamente do que a produção. Isso não é o
que está acontecendo. A produção cresce, pelo menos, tão rápido quanto o consumo. Na
China, a renda per capita é metade ou um terço da renda per capita brasileira. Se eu
disser que, em 50 anos, os brasileiros serão tão ricos quanto os americanos hoje, você
vai desconfiar. Agora, para a China alcançar isso é muito, muito mais difícil. A China
possui um quinto da população mundial. Você pode imaginar a população chinesa
consumindo o que a população americana consome hoje? Teríamos problemas com
preço de commodities, problemas com água, problemas ambientais. Não digo que é
impossível, mas o que estou dizendo é que o grau de certeza com que se fala sobre o
crescimento chinês é totalmente injustificável."
A CRISE NA CHINA
"O pacote de estímulo econômico adotado pela China não vai funcionar. O pacote é
destinado, primordialmente, para a produção. Nas crises de 1997 e 1998, a China
também respondeu à crise despejando recursos na produção industrial para a exportação.
É uma forma de manter a economia funcionando e gerando empregos. Mas o
investimento governamental não é o jeito mais eficiente de investir numa economia e
estamos vendo muito desperdício. A China está investindo na construção de navios,
mesmo sabendo que tem navio sobrando no mundo. Está produzindo alumínio porque na
região que produz alumínio tem alto desemprego e essa é única forma que eles
conhecem de combater desemprego. A diferença é que, naquela época, os Estados
Unidos estavam crescendo muito rapidamente, 3%, 4% ao ano, e absorvendo esse
excesso de capacidade. Mas esses dias acabaram. O PIB americano está crescendo de
forma muito lenta. E o consumo americano vai, necessariamente, crescer menos que o
PIB. Isso significa que o déficit comercial americano vai encolher. Portanto, a estratégia
que funcionou lá atrás, não vai funcionar dessa vez. Quem vai comprar os produtos que
os chineses estão produzindo? Essa crise não vai durar 6 meses, vai ser um problema de
3, 4 anos."
FIM DA HISTÓRIA?
"Isso não significa que a história da China acabou. Eu sempre acreditei que a
ascensão da China é o assunto mais importante do século 21. Mas o modelo de
desenvolvimento asiático morreu. O modelo é baseado em incentivar a poupança, que é o
mesmo que restringir o consumo e injetar dinheiro em produção. Se a produção cresce
mais que o consumo, você precisa ter um superávit comercial. Se alguém vai ter um
grande superávit, alguém precisa ter um grande déficit. Os Estados Unidos exerceram
esse papel durante muito tempo. A Europa está em uma situação ainda pior e não quer
nem é capaz de ter um déficit muito grande. O Japão está muito mal. E mais ninguém é
grande o suficiente. Ou seja, o modelo gera um excesso de capacidade e hoje não há
mais condição de exportar esse excesso de capacidade."
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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NA DIREÇÃO OPOSTA
"É preciso incentivar o consumo doméstico. Mas a evidência histórica mostra que
incentivar consumo é um processo muito lento e difícil. Não só é um processo difícil, mas
as políticas atuais estão indo na direção oposta."
RELAÇÕES COM O BRASIL
"Se a China crescer menos, não acho que é razão para inimizades. Só significa que
o Brasil vai crescer de forma mais lenta. De certa forma, acho que China e Brasil estão
em lados opostos. A China quer commodities baratas e o Brasil, preços mais altos. Vai
ser muito difícil chegar a um acordo que deixe os dois lados contentes. Hoje os preços
das commodities estão subindo por causa do estímulo fiscal, pois os chineses estão
comprando e produzindo. Mas é uma bolha. Em algum momento, eles terão de parar de
comprar. Acho que o Brasil deveria baixar as expectativas."
A CRISE NO BRASIL
"O Brasil está muito bem, tem a questão da dívida, que ainda é alta, mas melhorou
muito. A má notícia é que crises globais são sempre muito severas para países em
desenvolvimento, tanto para os bons quanto para os maus. O grande motor do
desenvolvimento da última década foi o desejo do americano de consumir como se não
existisse amanhã. Esses dias acabaram. Pelo menos pelos próximos 5 ou 10 anos. Essa
crise é tão dramática que os americanos poderão até começar a poupar."
Michel Pettis e Mariana Barbosa – O Estado de São Paulo
ISRAEL CONTRARIA EUA E NÃO RECUA SOBRE COLÔNIAS
02/06/2009
Premier israelense rejeita pedido de Obama alegando que não é razoável congelar
expansão de assentamentos na Cisjordânia
Em mais um sinal de distanciamento em relação ao governo americano na questão
palestina, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, rejeitou ontem o pedido do
presidente Barack Obama de paralisar a expansão de assentamentos na Cisjordânia,
classificando a medida, segundo fontes, como “não razoável”, e alegando que “a vida na
região não pode ser congelada.” A rejeição, no entanto, veio acompanhada de outros dois
sinais de concessão, mas de dimensões ainda indefinidas: a demolição de colônias ilegais
na Cisjordânia e a possibilidade de se flexibilizar o bloqueio à Faixa de Gaza.
Segundo uma fonte que pediu anonimato, Netanyahu disse ao Comitê de Assuntos
Exteriores e Defesa do Parlamento israelense que “a vida em Judeia e Samaria (regiões
da Cisjordânia) não pode ser congelada. Há pedidos razoáveis e pedidos que não são”.
Netanyahu teria dito ainda, segundo a fonte, que Israel “enfrenta uma pilha de ameaças
que nenhum outro país enfrenta” e destacou que tem “compromisso e responsabilidade
com a segurança do país”.
Colonos ferem 6 palestinos e queimam plantações
As declarações do primeiro-ministro foram divulgadas horas depois de as forças de
segurança do país desmantelarem o pequeno assentamento judaico ilegal de Nahalat
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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Yosef, no norte da Cisjordânia. O enclave era um dos dez assentamentos marcados para
evacuação em uma lista divulgada na semana passada pelas autoridades militares
israelenses encarregadas dos territórios ocupados. Os dirigentes dos colonos alertaram,
no entanto, que voltarão a erguer as estruturas destruídas.
Israel considera esses assentamentos como ilegais. Eles são em sua maioria
rudimentares, construídos sem a autorização do governo e após março de 2001, data na
qual Ariel Sharon assumiu o cargo de primeiro-ministro.
Para os palestinos e para boa parte da comunidade internacional, todas as colônias
judaicas construídas em território ocupado na Guerra dos Seis Dias, em 1967, são ilegais
e representam um sério obstáculo para a paz e a criação de um futuro Estado palestino.
Segundo dados da principal organização pacifista de Israel, Paz Agora, 280 mil colonos
judeus residem na Cisjordânia em 121 assentamentos.
A demolição gerou distúrbios na região. Seis palestinos ficaram feridos, um deles
gravemente, quando um grupo de colonos os atacou para se vingar da demolição. Outros
colonos queimaram vários hectares de terras palestinos, segundo moradores do distrito
cisjordaniano de Nablus.
Israel estuda liberar material de construção para Gaza
O anúncio de que Netanyahu estuda amenizar o bloqueio sobre a Faixa de Gaza está
sendo interpretado por analistas como uma possível concessão para as negociações de
paz. Israel, segundo fontes ligadas ao governo, considera permitir a entrada de materiais
para alguns projetos de reconstrução com financiamento externo. A proposta foi feita
pelas Nações Unidas, que pretende enviar material de construção para a região.
Mas qualquer alívio nos controles da fronteira com a região — governada pelo
Hamas e devastada por uma ofensiva israelense no começo do ano — deve ser gradual
por causa da forte oposição a qualquer abertura dentro do governo de direita de
Netanyahu.
A abertura para os materiais de construção seria o primeiro passo para a liberação de
outros itens, principalmente os ligados à recuperação econômica e à saúde.
— O premier indagou se, em vez de ter uma lista de produtos permitidos não
poderíamos ter apenas uma lista de produtos não permitidos — disse a fonte.
O GLOBO
A BOMBA NAS MÃOS DE INSANOS
03/06/09
A
posse
de
armas
nucleares
por
instáveis,
como
a
Coreia
do
Norte,
de o gatilho atômico ser acionado por terroristas
países
isolados
e
aumenta
o
risco
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HERANÇA ATÔMICA
Muito doente, Kim Jong-Il vai deixar para seu herdeiro um legado
infernal: um arsenal nuclear e o país mais isolado do mundo.
Montagem com fotos de David Guttenfelder/AP e Corbis/Latinstock
Terá chegado o momento de sentir saudade da segurança relativa da Guerra
Fria? Naquele tempo sombrio, quando a humanidade segurava o fôlego diante da ameaça
de aniquilação, pelo menos era possível acreditar que o gatilho nuclear estava em mãos
inimigas responsáveis. O cenário atual é mais incerto e mais perigoso. Os dois únicos
testes nucleares deste século foram realizados pela Coreia do Norte, uma ditadura tão
enigmática quanto insana. O segundo deles, na segunda-feira passada, numa região
montanhosa e inóspita no nordeste do país, reverberou como a confirmação de que a
proliferação nuclear atingiu o patamar a partir do qual o perigo é imediato e urgente. Dois
fatos principais justificam o alarme. A posse de um artefato atômico por um país isolado e
pobre demonstra que o desenvolvimento desse tipo de armamento está ao alcance de
qualquer nação disposta a investir os recursos necessários para fazê-lo. Se países
miseráveis e com governos frágeis se armam com átomos, não está distante o momento
em que o gatilho atômico cairá na mão do terrorismo. Um estudo da Universidade
Stanford estimou a probabilidade de um ataque terrorista com o uso de bombas sujas (ou
seja, explosivos comuns misturados a material radioativo) em 20%. Com bombas
nucleares, cai para 1%. Qualquer estimativa acima de zero é um pesadelo quando se fala
da combinação de terroristas e plutônio. O mais notável fenômeno da era nuclear talvez
seja o fato de que desde o ataque a Hiroshima e Nagasaki, em 1945, o último ano da II
Guerra Mundial, nenhum país ousou detonar uma bomba atômica em combate. Os
Estados Unidos tiveram o monopólio do átomo entre 1945 e 1949, mas não o usaram
contra a União Soviética, apesar das provocações de Stalin. Também poderiam ter
empregado esse recurso no Vietnã, onde a tonelagem de explosivos convencionais
lançados equivaleu a dúzias de bombas como a de Hiroshima. Armas nucleares não
foram usadas nem em situações desesperadas. A Casa Branca rejeitou os apelos nesse
sentido do general Douglas MacArthur, que se viu impotente diante do avanço das
divisões chinesas na Guerra da Coreia. O conflito terminou em 1953 no impasse que
ainda hoje divide a península coreana entre dois inimigos mortais. É complicado explicar
um evento que não ocorreu, mas é comum ouvir que o temor da aniquilação mútua
conteve os ímpetos guerreiros dos Estados Unidos e da União Soviética. Porém isso não
explica o comedimento em circunstâncias nas quais não havia o temor de retaliação, caso
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dos soviéticos no Afeganistão e dos americanos no Iraque.
QUESTÃO DE COMANDO
O contraste entre a guarda de mísseis no Paquistão (à esq.) e as instalações modernas do Comando
Norte-Americano de Defesa Aeroespacial. À direita, manifestante paquistanês: o risco de armas
nucleares em um país pobre e instável. Fotos Rizwan Tabussum/AFP
O cientista político James Lee Ray, da Universidade Vanderbilt, nos Estados
Unidos, acredita que por trás desse fenômeno reside uma espécie de "progresso moral".
Esses conceitos éticos obedeceriam aos mesmos padrões daqueles que determinaram a
eliminação da escravidão no século XIX – e, que, até hoje, mantêm a repulsa à sujeição
de seres humanos. Mesmo sem uma proibição formal do uso de armas nucleares, as
sociedades desenvolveram uma aversão moral a esse armamento. "As considerações
éticas ajudaram a evitar o uso de armas nucleares desde 1945, pelo menos no que diz
respeito a países detentores de um arsenal nuclear contra outros desprovidos dos
mesmos artefatos", disse Lee Ray a VEJA. Com o fim da Guerra Fria, os países
civilizados que assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear, em 1968 (Estados
Unidos, Rússia, China, Inglaterra e França), reduziram seus arsenais atômicos. Desde
1986, o número de ogivas no planeta caiu de 70 000 para 25 000, das quais cerca de 8
000 são operacionais. Outros países desistiram da bomba. Esse cenário animador,
infelizmente, está agora virado de cabeça para baixo.
O fim da Guerra Fria também fomentou o comércio ilegal e a proliferação de
programas nucleares em países periféricos, politicamente conturbados, como o
Paquistão, quando não governados por fanáticos, como o Irã. Com a bomba na mão
desse tipo de país, o capítulo seguinte se torna totalmente imprevisível. "Eu não diria que
o progresso moral eliminou as possibilidades de que países instáveis, como a Coreia de
Kim Jong-Il, desencadeiem uma guerra nuclear. No caso desses estados, na verdade,
nem sei se posso falar em progresso moral", diz Lee Ray. O ditador da Coreia do Norte,
Kim Jong-Il, é uma figurinha ridícula, que usa sapatos com salto plataforma para
compensar a baixa estatura e um topete ouriçado no estilo de Elvis Presley. Mas não
deve ser visto como irracional ou suicida. As negociações em torno do programa nuclear
norte-coreano se repetem há anos. Em bom português, pode-se dizer que a Coreia do
Norte se especializou em chantagem diplomática. Em alguns momentos, senta-se à mesa
com os demais países e acena com a paralisação de seu programa nuclear. Em outros,
abandona rispidamente os encontros – o último foi há dois meses –, lança mísseis e faz
novas ameaças. Com essa estratégia, Kim Jong-Il conseguiu ampliar o recebimento de
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ajuda humanitária internacional, da qual depende um terço da população, combustível e
algum dinheiro. "O ditador norte-coreano quer mostrar firmeza e enviar mensagem que
possa render-lhe novas concessões", disse a VEJA Stephen Noerper, analista do Nautilus
Institute, na Califórnia.
ARSENAIS MENORES
Russos desmontam mísseis capazes de levar armas nucleares, em
1995: temor de que ogivas soviéticas acabassem nas mãos de
terroristas. Fotos de Corbis/Sigma/Latinstock
Por isso é difícil interpretar o acesso de fúria que tomou conta do governo de
Pyongyang na semana passada. A escalada começou com o teste nuclear, subiu alguns
tons com o disparo de meia dúzia de mísseis e se tornou estridente com o anúncio de que
o país se retirava do acordo de armistício de 1953, que pôs fim à guerra. Em termos
técnicos, está-se de volta ao tempo em que o general MacArthur queria vaporizar os
comunistas. Desde a morte de Kim Il Sung, fundador e oficialmente presidente eterno, em
1994, não se via um comportamento tão errático da Coreia do Norte. Há explicações
variadas, nenhuma delas tranquilizadora. A deterioração do país coincide agora com a
decadência física de Kim Jong-Il. Ele sofreu um derrame cerebral no ano passado e, pelo
que se vê nas fotos, o que sobrou é sombra do sujeito rechonchudo do passado. Aos 68
anos, ele tem a aparência de um agonizante, caminha com passos trôpegos e já não se
arrisca a pronunciar uma única palavra em público.
O comunismo produziu um governo dinástico que tem mais a ver com os reis
coreanos do passado do que com os ensinamentos de Marx e Lenin. Até a boa vontade
divina para com o delfim é realçada na versão oficial de que Kim Jong-Il nasceu nas
encostas do sagrado Monte Paektu e seu nascimento foi saudado por um duplo arco-íris.
Na realidade, ele nasceu em um acampamento militar na Rússia, quando seu pai
comandava o batalhão coreano do Exército Vermelho. O regime está inquieto com a
sucessão – e talvez seja essa a razão de tanto rebuliço. O filho mais velho, Kim Jongnam, de 38 anos, seria o candidato natural à sucessão, mas perdeu a vez depois do
vexame de ser preso com passaporte falso no Japão, onde pretendia visitar a
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Disneylândia, em 2001. Também atrapalha sua presença assídua nos cassinos de Macau.
O segundo, Kim Jong-chol, não conta. É homossexual e prefere assistir a um concerto de
Eric Clapton na Alemanha ao tédio de um desfile militar. O favorito do ditador é o filho
caçula, Kim Jong-un, de 26 anos. Educado na Suíça, fala diversas línguas, adora artes
marciais e, dizem, tem a cara e o temperamento do pai: é prepotente, não gosta de ser
questionado e se enfurece facilmente. É nas mãos desse jovem desconhecido que pode
estar a bomba nuclear.
PÂNICO NA ESCOLA
Estudantes americanos aprendem a se proteger de um ataque nuclear na
década de 60: medo de uma hecatombe atômica nos anos da Guerra Fria. Fotos de
Bettmann/Corbis/Latinstock
A possibilidade de a Coreia do Norte desfechar um ataque nuclear contra seja lá
quem for é pequena. Em parte, porque sabe que, mesmo que arrase Seul, que está a
apenas 40 quilômetros de distância, não escaparia de ser igualmente devastada. Há
também que considerar que o desenvolvimento de seus artefatos bélicos está em estágio
primitivo. Os dois dispositivos testados possuem mais de 3 metros de comprimento e
pesam 4 toneladas. Com tais medidas, seria impossível colocá-los na ponta de um míssil.
"Os dispositivos coreanos são grandes e rudimentares e não podem ser transportados
nem mesmo a bordo de um avião", disse a VEJA o americano Rodger Baker, analista da
Stratfor, uma consultoria de geopolítica com sede nos Estados Unidos. Estima-se que o
artefato testado na semana passada tenha um poder de destruição de 4 quilotons, ou 4
000 toneladas de dinamite. A capacidade é menor do que a da bomba lançada pelos
americanos sobre a cidade japonesa de Hiroshima, de 17 quilotons, mas dez vezes
superior àquela testada pelos norte-coreanos em 2006.
A simples existência do programa norte-coreano é a prova da fragilidade dos
mecanismos contra a proliferação nuclear. O Paquistão iniciou seu programa nuclear com
os manuais de centrífugas de enriquecimento de urânio que o engenheiro Abdul Qadeer
Khan roubou da empresa em que trabalhava na Holanda. O projeto da bomba foi
comprado dos chineses. Festejado como herói nacional, Khan revelou-se um ladrão.
Montou um esquema para vender equipamentos e tecnologia nuclear a quem tivesse
interesse. Entre seus fregueses estavam o Irã, a Líbia e a Coreia do Norte. O esquema
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desabou em 2003, quando um carregamento com material para montar 1 000 centrífugas
foi interceptado a caminho da Líbia. A Coreia do Norte agora tem parceria com o Irã no
desenvolvimento de mísseis de longo alcance, capazes de levar ogivas nucleares. Montar
um programa nuclear clandestino custa mais caro, mas é perfeitamente possível. Israel
construiu seu arsenal às escondidas, nos anos 60. É verdade que até então não existia
um tratado de não proliferação nuclear e nenhum país tinha obrigação legal de se privar
de armas atômicas.
LEMBRANÇA DO HORROR
Little Boy, a bomba atômica lançada sobre Hiroshima: modelo rudimentar, mas letal. Fotos de
Bettmann/Corbis/Latinstock e AKG/Latinstock
Hoje é formalmente diferente. Devido ao tratado e à fiscalização da Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA), ligada à ONU, só os países isolados podem
tocar seus programas militares sem ligar para a opinião da comunidade internacional. O
Irã escondeu por duas décadas sua produção de urânio enriquecido e insiste em não
cooperar com as inspeções da AIEA. Que tipo de responsabilidade se pode esperar de
aiatolás com dentes nucleares? O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, fala
abertamente em varrer Israel do mapa. Basta esse tipo de exortação ao genocídio para
dar ideia do que esse país seria capaz de fazer se tivesse uma bomba nuclear, o que
pode ocorrer dentro de dois ou três anos. "A incerteza sobre o comportamento desses
regimes pode dar início a uma corrida armamentista no Oriente Médio e na Ásia", disse a
VEJA a americana Nina Tannenwald, autora do livro The Nuclear Taboo (O Tabu Nuclear).
Apesar das sanções econômicas impostas pela ONU, o Irã segue desafiando o
mundo com seu programa nuclear e está a dois ou três anos de ter a bomba. O arsenal
nuclear do Paquistão está, por enquanto, sob a guarda da instituição mais sólida do país,
o Exército. Mas há uma guerra aberta com o Talibã, que controla regiões fronteiriças com
o Afeganistão. "Não podemos nem contemplar a possibilidade de o Talibã ter acesso ao
arsenal nuclear do país", disse a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. A
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possibilidade de terroristas produzirem uma bomba a partir do zero é ínfima. O processo é
caro, exige tecnologia e pessoal altamente especializado. É mais simples fabricar uma
bomba suja, feita com explosivos comuns e material radioativo. Ninguém precisa pensar
muito para ver a conexão entre o perigo de um terrorismo atômico e os programas
nucleares em países instáveis e repletos de fanáticos religiosos ou políticos. Essas
condições fazem de cada um deles um potencial provedor de material atômico para
grupos terroristas. O terrorista, como se sabe, só se ocupa de promover a maior
atrocidade possível, sem nenhuma estratégia política que atenue sua perversidade. Se
isso ocorrer, a Guerra Fria poderá vir a ser lembrada como o saudoso tempo em que o
gatilho nuclear estava em mãos responsáveis.
Tomaz Favaro, Duda Teixeira e Gabriela Carelli – Revista Veja Nr 2215
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ELEIÇÕES IRANIANAS
07/06/2009
A vez dos jovens em Teerã - Campanha presidencial atrai juventude às ruas, e
polícia faz vista grossa a atos de rebeldia
Da janela de um Peugeot na avenida Vali-Asr — a maior de Teerã — se debruça uma
moça com seu véu de seda colorido cobrindo só metade da cabeça. Sentada na janela,
com meio corpo para fora do carro, ela nem se importa que boa parte de seus cabelos
oxigenados estejam descobertos: a sharia (lei islâmica) não permite, mas hoje em dia os
guardas fazem vista grossa para esses pequenos atos de rebeldia, principalmente em
período eleitoral. A jovem estica os dois dedos indicadores nos lábios, solta um forte
assovio, e grita: “Moussavi, Moussavi!”. Ela é uma das ousadas iranianas que estão à
frente da campanha de rua de Mir-Houssein Moussavi, ex-primeiro-ministro e artista
plástico que hoje é o maior fantasma do presidente Mahmoud Ahmadinejad, candidato à
reeleição no pleito do próximo dia 12.
O carro é dirigido por outra moça, que estende o braço esquerdo para fora e faz o “V”
da vitória. Na pista oposta, passa outro carro e de dentro dele um rapaz estende para fora
uma foto de Ahmadinejad. Teerã parece não dormir nos últimos dias. É difícil pegar no
sono ao som de buzinaços, cornetas, palavras de ordem entoadas aos gritos. O fôlego da
juventude parece inesgotável: a campanha dos iranianos acontece todos os dias até 2h
ou 3h da madrugada nos pontos mais agitados da capital.
Em meados de maio começou a campanha de uma das mais cruciais eleições da
história do país, justamente em um momento em que os iranianos comemoraram, em
fevereiro, os 30 anos da Revolução Islâmica e lembraram, no último dia 4, os 20 anos da
morte de seu líder, o aiatolá Khomeini.
No país dos aiatolás, são os jovens que estão à frente da história: eles são dois terços
dos 72 milhões do Irã. E são eles que vão dar as cartas na próxima sexta-feira. Estão
aptos para o voto — que não é obrigatório — cerca de 46 milhões de iranianos.
Os arredores da Universidade de Teerã se transformaram em um dos principais palcos
da campanha eleitoral. Há exatos 30 anos, o campus foi o epicentro da revolta que
derrubou a dinastia real e implantou a República Islâmica. Ali, partidários da mudança e
os cabos eleitorais do presidente trocam gritos de guerra. Vestindo o hijab (véu islâmico)
e o chador preto que cobre o corpo, a estudante de filosofia Fatemeh, 20 anos, era um
dos 200 jovens que se aglomeravam numa das esquinas da Avenida da Revolução, com
cartazes de Moussavi e gritando a principal palavra de ordem do candidato: “Azadi”
(liberdade) e “Moussavi é honesto”. Do outro lado da avenida, 300 partidários do
presidente reagiam aos gritos de “Ahmadinejad é forte”.
— Queremos reforma na educação, liberdade para estudar o que quisermos. Não
queremos mais ser ameaçadas de prisão só porque o véu mostra um pouco do cabelo —
disse ela.
Em junho de 2005 Ahmadinejad venceu a eleição com um discurso populista, pregando
o conservadorismo religioso, e construindo uma imagem de “homem simples do povo”,
em contraste com as imagens de aiatolás que enriqueceram no poder.
Seu estilo provocativo continua forte até hoje. Há poucos dias, ao pregar o
combate a corrupção, Ahmadinejad prometeu “cortar as mãos” dos que “prejudicaram o
progresso nacional”. A principal crítica sofrida por ele é com relação à economia: o país
amarga uma inflação de 25% ao ano, altas taxas de desemprego que acabam
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desembocando em desajustes sociais, como o problema do uso de drogas pelos jovens:
estima-se que quase um milhão de pessoas sejam viciadas.
40% da força de trabalho é feminina
A lei que impõe o uso do véu e de roupas largas que não marcam o corpo da mulher
passou a ser aplicada com mais firmeza. Em 2007, a polícia moral prendeu centenas de
mulheres por não seguirem à risca o código de vestimenta: quem deixava partes do
cabelo à mostra, por exemplo. Mas hoje as iranianas modernas voltaram, e é comum vêlas de jeans e mantôs.
Muitas delas cobrem a cabeça com lenços coloridos de seda que deixam de fora as
franjas e mostram parte dos estilosos penteados em coque. Nos mercados de Teerã, o
que mais se vê são lojas de lenços coloridos, maquiagem e óculos escuros. Nenhum
candidato propõe o fim do código islâmico com relação a vestimentas e ao véu — não há
ainda espaço para isso —, mas os mais liberais dão a entender que não aplicariam a lei
com rigidez.
Apesar dessas imposições, as mulheres iranianas estão longe do estereótipo ocidental
de que seriam submissas. Quatro em cada dez trabalhadores são mulheres. Elas são
vistas em escritórios, trabalhando em hotéis, lojas, restaurantes. Também estão em peso
nas universidades: 70% dos estudantes são mulheres. De olho nesse poderoso
eleitorado, um dos quatro candidatos, Mehdi Karroubi, chegou a fazer uma promessa
ousada: nomear uma ministra caso seja eleito.
Florência Costa - O Globo
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ELEIÇÕES IRANIANAS: ASSIM COMO BARACK OBAMA, MIRHOUSSEIN MOUSSAVI PREGA MUDANÇA EM ESTRATÉGIA DE
CAMPANHA
07/06/2009
Conservadores e reformistas em nova disputa - Programas dos dois principais
candidatos à Presidência revelam um Irã que vai às urnas dividido politicamente
A divisão do Irã em dois países distintos — o dos reformistas, que buscam a
modernidade; e o dos ultraconservadores religiosos, que insistem em manter uma
teocracia islâmica — tem sido refletida claramente na campanha eleitoral para a eleição
presidencial da próxima sexta-feira.
De um lado, o principal candidato da oposição, o ex-primeiro-ministro Mir-Houssein
Moussavi, 67 anos, vem fazendo propaganda através da internet, além de enviar
mensagens de texto para os celulares de eleitores. De outro, em busca da reeleição, o
presidente Mahmoud Ahmadinejad, 52, tem distribuído batatas, laranjas e tomates, além
de cheques equivalentes a US$60 a famílias das áreas pobres do país, e moedas de ouro
a funcionários públicos. Ele definiu tal agrado como uma entrega de “dividendos justos”.
Slogans copiados da campanha de Obama
Curiosamente, ao longo da campanha, que no Irã se estende por apenas três semanas,
surgiram ecos da recente eleição presidencial dos Estados Unidos. O populista
Ahmadinejad, que se esmera em apresentar-se como o mais ferrenho antiamericano no
Oriente Médio, adotou um slogan de campanha praticamente idêntico ao de Barack
Obama: “Nós podemos.” Faltou apenas a palavra “sim”, antes daquelas duas. (Yes, we
can). Já nos comícios do moderado Moussavi, surgem na plateia cartazes — no idioma
local, farsi, e em inglês — com a palavra que Obama utilizara como símbolos de suas
promessas: “Mudança” (Change).
Ninguém arrisca prever um resultado, embora Ahmadinejad pareça ser o favorito. As
pesquisas de opinião têm oscilado. Em alguns dias, apontam o presidente à frente com
quatro pontos. Em outros, o opositor surge na dianteira, com vantagem idêntica. As
sondagens eleitorais, no entanto, não são consideradas confiáveis no Irã. Há quatro anos,
por exemplo, atribuíram índices baixíssimos a Ahmadinejad. Ele aparecia em quinto lugar
na véspera da votação, e acabou sendo eleito.
Ambos os lados correm o risco de ver seus partidários divididos, pois cada um tem
dois candidatos. Moussavi, arquiteto e pintor que deixara a política há 20 anos, quando
morreu o aiatolá Khomeini, de cujo governo fora primeiro-ministro, é o mais forte dos
moderados — mas pode perder votos para o outro, Mehdi Karroubi, ex-líder do
Parlamento.
Ahmadinejad, por sua vez, poderia perder votos para outro representante da linha dura,
Mohsen Rezaie, que foi chefe da Guarda Revolucionária durante 16 anos. Há 46 milhões
de iranianos aptos a votar, ainda que não sejam obrigados a fazê-lo.
Um candidato precisa obter 50% dos votos para ser vitorioso. Do contrário, como
aconteceu em 2004, os dois primeiros colocados disputarão o segundo turno uma
semana mais tarde. Partidários de Moussavi, como o ex-presidente Mohammad Khatami,
tem insistido com os eleitores para que compareçam em massa às urnas. Trata-se de um
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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apelo destinado especialmente à classe média, cuja maioria, desencantada com a política
iraniana, preferiu ficar em casa na eleição passada.
— Muitos justificaram ter feito isso como uma forma de protesto, sem aparentemente
se darem conta de que a iniciativa serviu apenas para reforçar as alas ultraconservadoras
— disse Khatami.
Apenas 34% dos residentes de Teerã, onde a maioria dos eleitores é partidária dos
reformistas, deram-se ao trabalho de ir votar em 2004. O vácuo deixado por eles foi
ocupado pelos votos da camada pobre da capital, somados aos da zona rural, atraídos
pelas promessas de Ahmadinejad em lhes garantir casa própria e um salário digno.
Há uma clara insatisfação dos iranianos de classe média com um governo que se
intromete em sua vida social, mas não lhes cria empregos e tampouco oferece a
educação que desejavam. É evidente ainda a frustração com um sistema político que de
democracia tem apenas uma fachada.
Os oito anos em que Khatami permaneceu no poder contribuíram para esse sentimento.
Ele conseguira, por exemplo, convencer o Parlamento — que tinha maioria conservadora,
a aprovar duas reformas liberalizantes. Mas ambas foram rejeitadas em seguida pelo
ultraconservador Conselho dos Guardiães da Revolução Islâmica, formado por seis
aiatolás e seis juristas laicos: eles as consideraram inconstitucionais.
Ser presidente, no fundo, não significa muito no Irã
No Irã, chegar à Presidência da República e ter ainda maioria no Parlamento não
significa muito. O presidente, afinal, não tem controle sobre os militares, a polícia, ou
influência nos tribunais. Além do Conselho dos Guardiães existe a Assembleia dos
Experientes, com o poder de vetar qualquer legislação ou atos do Judiciário.
Há ainda outra instância superior: a do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Ele tem
a palavra final sobre tudo o que é planejado e decidido no país, pois lhe é atribuída
autoridade divina. E, como se nota desde que Khamenei assumiu o posto do falecido
Khomeini, há duas décadas, ele está sempre do lado dos ultraconservadores religiosos.
— Se Ahmadinejad vencer, será o fim do sonho reformista por um bom tempo. Muitos
jovens se sentirão deprimidos e acabarão deixando o país — previu o historiador
Mohammed Javad Mozafar.
José Meirelles Passos - O Globo
HEZBOLLAH É DERROTADO NAS URNAS NO LÍBANO
08/06/2009
Bloco governista pró-Ocidente consolida poder nas eleições, num duro golpe aos
regimes do Irã e da Síria
Numa disputa acirrada nas urnas, o bloco pró-Ocidente 14 de Março deve consolidar
sua influência no Líbano ao derrotar a oposição encabeçada pelo grupo guerrilheiro xiita
Hezbollah nas eleições parlamentares de ontem. A vitória dos governistas é vista por
analistas como um duro golpe nos regimes do Irã e da Síria, que esperavam desequilibrar
o tabuleiro político do Oriente Médio com uma vitória da oposição.
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Em meio a denúncias de compra de votos, pelo menos 54% dos 3,2 milhões de
eleitores compareceram aos 26 distritos eleitorais — um índice bem maior do que os
45,8% registrados no último pleito, há quatro anos.
— Perdemos a eleição, mas vamos respeitar os resultados, mesmo que sejam contrários
a nossos interesses — disse uma fonte da oposição ligada ao Hezbollah.
Um dos líderes da coligação governista, Samir Geagea, do partido cristão Forças
Libanesas, confirmou à rede de TV LBC o triunfo sobre o bloco xiita.
Analistas temiam que uma vitória do Hezbollah pudesse levar o Líbano ao isolamento
internacional, além de consolidar a influência síria e iraniana na polarizada política local e
favorecer ainda uma nova era de tensões com Israel. Os temores agora são de que o
resultado do pleito não sejam respeitados por todas as facções políticas.
Pelo menos 2.200 observadores internacionais acompanharam a votação.
— A eleição pareceu transparente. Como há muitos interesses em jogo, esperamos
apenas que EUA, Irã e Síria respeitem os resultados e não interfiram num processo que é
interno do Líbano — disse o ex-presidente americano Jimmy Carter, enviado a Beirute
para chefiar uma missão de observadores.
Todos os grupos religiosos do país têm uma representação garantida no Parlamento.
A coligação 14 de Março — liderada pelo filho do ex-premier assassinado Rafik Hariri,
Saad Hariri, do partido Mustaqbal, e pelo atual primeiro-ministro Fuad Siniora — reúne os
principais grupos sunitas, cristãos e drusos do país.
Do outro lado da batalha política está o bloco 8 de Março, liderado pelo Hezbollah do
xeque Hassan Nasrallah, e pelo partido Amal, do atual líder do Parlamento, Nabih Berri.
A expectativa maior é pelos resultados de redutos cristãos libaneses, polarizados entre os
dois blocos rivais. A facção que tiver o maior número de votos receberá a missão de
formar o novo governo, que, pela lei, deve ter um primeiro-ministro sunita e um líder do
Parlamento xiita. O complexo sistema eleitoral determina ainda que muçulmanos e
cristãos tenham o mesmo número de cadeiras no Legislativo: 64 cada grupo.
Sunitas e xiitas recebem 27 cadeiras cada, drusos têm direito a oito assentos e os
alauítas a dois. Já entre os cristãos, 34 cadeiras são destinadas aos maronitas, 14 vão
para os ortodoxos gregos, oito para os católicos romanos, seis para os armênios e duas
para outras minorias cristãs. No atual Parlamento, a coligação pró-Ocidente tem 70
cadeiras, contra 58 da oposição.
Diante da ameaça de crescimento da influência do Hezbollah, analistas já consideram
o pleito um dos mais importantes do país. Na semana passada, em seu discurso ao
mundo árabe no Cairo, o presidente dos EUA, Barack Obama, reafirmou que a Casa
Branca está aberta ao diálogo com “governos pacíficos”, numa mensagem velada de que
o fortalecimento político do Hezbollah, tido como um grupo terrorista pelos EUA, poderia
azedar de vez as relações entre Beirute e Washington.
Desde 2006, os EUA vêm dando uma ajuda estimada em US$1 bilhão por ano ao
governo pró-Ocidente, que estaria ameaçada caso o país viesse a se alinhar com o Irã
dos aiatolás ou com o regime de Damasco, acusado de abrigar células terroristas.
Renata Malkes - O Globo
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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ORGANISMOS INTERNACIONAIS
A CRISE MUNDIAL E O G – 20
15/04/09
Os líderes do G-20, reunidos em Londres, anunciaram que vão elevar a
capacidade de oferta de crédito do Fundo Monetário Internacional (FMI) dos atuais US$
250 bilhões para US$ 750 bilhões.
Além disso o G-20 também concordou em alocar US$ 250 bi em Direitos
Especiais de Saque (DES), espécie de moeda criada pelo FMI. O repasse de US$ 750
bilhões será usado para ajudar economias afetadas pela crise.
A última reunião do G-20, em Londres, foi realmente positiva, embora mais
teórica do que prática. Se o bloqueio dos paraísos fiscais, a regulação bancária e a
mobilização de recursos para manter as correntes do comércio internacional produzirem
resultados rápidos, isso será bom para encurtar a fase de recessão do atual ciclo
econômico. Mas, infelizmente, ninguém pode ter certeza de que isto vai acontecer.
O mundo pode estar saindo de uma crise de liquidez para uma crise fiscal e
inflacionária. Estão sendo injetados maciços recursos em empresas, bancos e
companhias de seguro, por conta do Tesouro e dos Bancos Centrais dos países
envolvidos. Isto significa expansão monetária e déficit fiscal. O resultado poderá ser uma
inflação universal e uma crise fiscal nos Estados Unidos e na Europa, inclusive com
retorno à elevação das taxas de juros. A situação no Brasil não é diferente.
A decisão do G-20 de carrear US$ 750 bilhões de reservas de vários países para
reforçar a caixa do FMI, inclusive US$ 10 bilhões do Brasil, pode ter apenas um resultado
pirotécnico e pífio. As reservas da China, do Japão, do Brasil, etc, foram aplicadas em
títulos públicos ou estão depositadas em grandes bancos
internacionais. Transferir parte desses depósitos dos bancos para o FMI pode até
agilizar um pouco a concessão de empréstimos, mas o resultado, se não for neutro e
nulo, é pelo menos duvidoso.
A explosão do consumo e a recessão inevitável
Nos últimos 20 anos, e especialmente a partir do ano 2000, a economia dos
Estados Unidos entrou em um processo explosivo de consumo, baseado no crédito fácil
que lhes proporcionavam os países emergentes (China, Coréia, Rússia, Brasil e outros),
cujas reservas inundaram de liquidez os bancos americanos. Paralelamente, o próprio
Governo dos Estados Unidos iniciou uma impressionante política de expansão de gastos
fiscais, com as guerras no Oriente Médio.
Os países emergentes foram altamente beneficiados pelo processo de
globalização, que elevou os preços do petróleo, das matérias primas e dos alimentos.
Pelos saldos positivos do comércio exterior, a China acumulou US$ 2.200 bilhões de
reservas cambiais, a Coréia US$ 200 bilhões, o Japão US$ 1.000 bilhões, o Brasil mais
de US$ 200 bilhões. Caminharam todos a reboque do “boom” nos países desenvolvidos.
Em setembro de 2007, explodiu a crise dos ativos podres (sub-prime), que levou
à falência imediata do Banco Lehman Brothers e da gigantesca seguradora AIG,
provocando uma crise sistêmica nos mercados financeiros e de capitais e nas Bolsas de
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Valores e Mercadorias nos Estados Unidos, na Europa e no resto do mundo. Em 2008, a
BOVESPA sofreu uma queda de 41,2%!
Assim é o ciclo econômico: um longo período de prosperidade e euforia,
estancado por uma brusca mudança de rumo, seguido de quedas de consumo, de
produção, de investimentos e de emprego.
De um certo modo, o ciclo econômico é um fenômeno natural e próprio do regime
capitalista, difícil de ser evitado. Acontece, quando tem de acontecer. Mas pode ser
alongado em sua fase de ascensão (up swing) e suavizado e encurtado nas fases de
recessão (down swing), dependendo, fundamentalmente, da administração equilibrada da
política fiscal.
O PAC brasileiro e o chinês
Se há uma lição válida, legada por John Maynard Keynes, é a de que uma
recessão se combate com investimentos na infraestrutura, o que exige a redução dos
gastos de custeio do governo. O governo brasileiro poderá usar o PAC, mas até agora
não fez qualquer redução de gastos de custeio.
O governo da China, ao contrário, deu alta prioridade à infraestrutura, iniciou um
formidável programa de investimentos com o objetivo de revitalizar a economia do interior
do país, com prioridade para a construção de ferrovias modernas destinadas ao
transporte de passageiros e de carga, de alta velocidade. No entanto, a China não
escapou dos efeitos da crise internacional, principalmente no quarto trimestre do ano
passado, que reduziu o crescimento do seu PIB a 9% em 2008, ante 13% no ano anterior.
Até agora, esse crescimento havia permitido que a população rural, extremamente pobre,
migrasse para os grandes centros urbanos. O Governo chinês percebeu o grande perigo
da redução da atividade econômica, em face da massa de assalariados imbuída de
grandes esperanças para o futuro, pela via de sua inclusão na economia urbana.
No Brasil, é desanimadora a lentidão com que caminham os projetos de
transporte urbano (metrôs), de ampliação dos aeroportos, de modernização das rodovias
e dos portos.
Com uma infraestrutura do Primeiro Mundo, a China vai sair da crise com uma
capacidade de concorrência internacional ainda maior. Porque o Brasil não pode fazer o
mesmo, ao invés de usar medidas “conta-gotas”, de efeito eleitoral?
Indústria
Segundo o IBGE, a produção industrial brasileira teve alta de 1,8% em fevereiro,
mas na comparação com o mesmo mês do ano passado, houve um forte recuo de 17%.
Com isso, o setor acumulou queda de 17,2% no primeiro bimestre de 2009.
Nos últimos 12 meses, a queda acumulada é de 1%, a primeira apurada desde
setembro de 2002. A indústria de bens de capital teve queda de 6,3% em fevereiro sobre
janeiro.
A produção aumentou 13,7% na Bahia e 8,3% no Espírito Santo, com queda de
5,6% em Pernambuco e 4,6% em Santa Catarina. No 1º bimestre, São Paulo acumulou
queda de 17,7%.
Pelos levantamentos da CNI, a indústria teve queda de 8,4% nas horas
trabalhadas em fevereiro na comparação com o mesmo mês do ano passado, e o
faturamento real caiu 10%. O emprego recuou 1,5% em relação ao nível de fevereiro de
2008, consolidando o quarto mês seguido de comportamento negativo do mercado de
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trabalho. A CNI também mostrou que fevereiro manteve a utilização da capacidade
instalada (UCI) em 77,8%,
que é um dos mais baixos índices da série histórica. Um ano atrás, estava em
83,1% Entre outubro de 2008 e fevereiro deste ano, a produção da linha branca caiu 10%
em relação ao período de outubro de 2007 a fevereiro de 2008. A produção de aço caiu
no primeiro bimestre e de acordo com o IBS, apenas 47,5% do parque siderúrgico foram
mantidos em produção plena em janeiro e fevereiro. Entretanto, após um fim de ano
conturbado, o comércio de veículos voltou com força nos três primeiros meses de 2009.
Segundo a Anfavea, as vendas tiveram alta de 16,9%. Em março, houve alta de 36,2%,
contra fevereiro. O consumo de combustíveis cresceu 0,4% em março em relação a
março/08, depois de uma queda de 4,2% em janeiro e fevereiro. Houve retração de 5,4%
na venda de diesel, mas a de gasolina aumentou 3,1%.
Segundo dados do Sinduscom/SP, as vendas de imóveis usados aumentaram
140,29% entre janeiro e fevereiro, voltando a níveis semelhantes aos do terceiro trimestre
de 2008.
De acordo com a Sondagem da FGV, a indústria brasileira começou a dar sinais
de recuperação no primeiro trimestre, com demanda concentrada na produção de bens
cujo consumo depende da renda do trabalhador, como alimentos, e da indústria
automobilística, que teve o corte de IPI renovado.
Comércio
Segundo a SERASA, a atividade do comércio, em base anual, cresceu 5,1% em
janeiro, 3,9% em fevereiro e 3,6% em março, revelando nítida tendência de baixa, em
relação a 2008. No acumulado do 1º trimestre, o varejo registrou alta de 4,2%, com
destaque para alta de 8,8% no setor de móveis e eletrônicos e 7,7% no ramo de veículos;
houve queda de 1,8% nos setores de tecidos, vestuário e calçados e de 8,1% em
materiais de construção; entretanto, em março, houve uma ligeira recuperação de 0,5%
sobre fevereiro.
A Fecomércio-SP registrou uma queda de 3,2% no faturamento de fevereiro, após
resultado também negativo de 3,2%, em janeiro. A Fecomércio-RJ aponta queda de
faturamento em 58,2% das empresas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Nos
dois primeiros meses do ano, o turismo cresceu 20%, tendo a taxa de ocupação hoteleira
no Rio de Janeiro chegado a 95%, em Pernambuco a 100% e em Santa Catarina a 85%.
Ainda de acordo com a Serasa, a inadimplência dos consumidores cresceu
22,6% em março, enquanto a Equifax informa que o volume de cheques devolvidos
aumentou 25,5%.
Agricultura
Previsão da safra de grãos 2008/09: queda de 6,5%, segundo o IBGE, e 4,5%
segundo a Conab. As exportações do agronegócio subiram 0,3% em março. As vendas
de soja cresceram 88,2%, em relação a março/08; de janeiro a março, houve queda de
9,4%.
De acordo com a Lei nº 11.775/08, o governo dará descontos de até 70% para o
pagamento de dívidas de produtores rurais com a União. A negociação abrange R$ 8,2
bilhões e 49.200 devedores.
Mercado de Trabalho
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Depois da queda recorde em janeiro, a taxa de desemprego em fevereiro
apresentou ligeira alta de 8,2% em janeiro para 8,5% em fevereiro, na média das seis
maiores regiões metropolitanas, segundo o IBGE. Na indústria, o aumento do
desemprego chega a 3,4%, no 1º bimestre. O nível de emprego na indústria caiu 1,5% em
fevereiro, comparado com o mesmo mês de 2008 e 1,1% em relação a janeiro. Foi a
quarta redução mensal consecutiva. Segundo a Caged, em fevereiro, foram criadas 9.179
vagas com carteira assinada.
Setor Financeiro
A queda de 10,0% na cotação das ações do Banco do Brasil na BOVESPA nos
dá a medida do que pode causar aos acionistas privados a intervenção política do
governo na administração de uma empresa mista de capital aberto. Em fevereiro, houve
crescimento tímido de 0,1% do crédito bancário, com expansão de 1,7% nos bancos
públicos e retração de 0,8% nas instituições privadas. A inadimplência registrou elevação
de 0,2 p.p., atingindo o percentual de 4,8% sobre o total das operações, principalmente na
área das pessoas jurídicas. A captação da caderneta de poupança voltou a ficar negativa
em março.
Inflação
Os índices de inflação continuam em queda. Em março, no varejo, o IPCA/IBGE
subiu 0,20%, contra 0,55% em fevereiro. No atacado, houve uma surpreendente deflação
de -0,84% no IGPDI/ FGV e -0,74% no IGP-M/FGV. A taxa de câmbio Real/US$ registrou
valorização de 2,66% em março, acumulando no trimestre -0,93%. A cesta de compras
acumulou queda de 0,76% no primeiro trimestre, no município do Rio, de acordo com a
pesquisa da Fecomércio-RJ.
Segundo o DIEESE, o custo de vida subiu 0,40% em março, na capital paulista. A
tarifa de energia aumentou 20% no início de abril, em 234 municípios no interior de São
Paulo.
Setor Fiscal
No primeiro bimestre, as receitas públicas caíram 3%, as despesas subiram
19,6%, enquanto os gastos com pessoal aumentaram 24%.
O Governo da União vai cortar R$25,4 bilhões no total das despesas previstas no
Orçamento de 2009. Serão preservados os gastos com o Bolsa-Família e os
investimentos do PAC.
As despesas com os juros da dívida pública, em fevereiro, foram de R$ 10,2
bilhões, acumulando nos últimos 12 meses R$ 158,4 bilhões (5,4% do PIB).
O governo destinará até R$ 1 bilhão para ajudar os municípios a enfrentarem a
crise econômica. Segundo O Globo, o Senado pretende construir uma nova sede para a
Universidade do Legislativo (Unilegis), que hoje funciona em um anexo da Casa. O
projeto é de “um grande complexo educacional e cultural, com museu, teatro auditório,
biblioteca, alojamentos e restaurante”.
Setor Externo
As exportações brasileiras subiram 23,2% de fevereiro para março, mas caíram
19,4% no trimestre, enquanto as importações subiram 28,4% e caíram 21,6% nos
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períodos indicados. A situação na área internacional continua indefinida. Entretanto, nos
Estados Unidos, alguns bancos estão ressuscitando: Citigroup, Bank of America, JP
Morgan, Wells Fargo. A China ainda não deu sinais claros de retração e, em março,
vendeu 1,03 milhão de veículos, ultrapassando os Estados Unidos, pelo terceiro mês
consecutivo.
No Brasil, o fluxo cambial que mede a entrada e saída de dólares ficou negativo
em US$ 2,974 bilhões, no 1º trimestre. O saldo comercial com os Estados Unidos
registrou déficit de US$ 1,8 bilhão e de US$ 220 milhões com a China. Com a Argentina,
houve superávit de US$ 43 milhões.
Ernane Galvêas - Síntese da Conjuntura – Confederação Nacional do Comércio
de Bens, Serviços e Turismo
BRASIL: ASPECTOS SOCIAIS E REGIONAIS
ESCOLA PARA PROFESSORES
13 / 05 / 09
Os candidatos a ensinar na rede pública de São Paulo terão agora de
frequentar um curso para reforçar os conhecimentos teóricos – e as técnicas
didáticas
Existe um consenso de que nada é tão decisivo para o ensino quanto um professor
bem formado – uma raridade no Brasil. Daí a relevância de uma medida anunciada, na
semana passada, pelo governador de São Paulo, José Serra. Trata-se da criação de uma
escola de formação de professores, concebida com um propósito bem diferente do dos
tradicionais cursos de aperfeiçoamento de docentes. Enquanto esses últimos funcionam
como uma espécie de recauchutagem para quem já dá aula em escolas públicas, o novo
curso vai atender os professores antes de eles assumirem a função. A passagem por tal
escola não será opcional, mas sim um pré-requisito para que esses profissionais possam
ensinar na rede estadual de São Paulo, a maior do país. Significa que, para conseguir o
emprego de professor, não bastará mais ser aprovado em concurso público. Com a
mudança, o candidato será avaliado uma segunda vez, com base numa prova cujo
objetivo é medir o conhecimento que assimilou ao longo do curso. Ali, todos
permanecerão por quatro meses, durante os quais terão dois tipos de aula: as teóricas,
em que receberão reforço nas disciplinas que pretendem lecionar, e as práticas, durante
as quais farão um estágio supervisionado dentro das escolas. O novo sistema já deve
valer a partir de setembro, data do próximo concurso. Até 2010, estima-se que 30 000
candidatos a professor terão frequentado tais aulas. Por que, mesmo depois de cursar
uma faculdade de pedagogia, alguém precisa estudar por mais quatro meses para se
tornar professor? A razão remete a um cenário desolador: grande parte dos docentes no
Brasil se forma sem saber o que nem como ensinar. "As faculdades se perdem em teorias
dissociadas da prática em sala de aula e não cumprem sua função básica: formar um
profissional realmente capaz de exercer seu ofício", avalia a consultora na área de
educação Guiomar de Mello. Para se ter uma medida do problema, nada menos do que 3
500 professores de São Paulo cravaram nota zero em uma prova aplicada, em dezembro,
pela própria secretaria. Não custa lembrar que o propósito dessa prova era medir o
domínio que eles tinham das matérias que já ensinavam – nenhum. Além da deficiência
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em relação aos conteúdos, faltam-lhes noções mínimas sobre técnicas didáticas. Apenas
20% das aulas nos cursos de pedagogia se dedicam às metodologias de ensino, e raras
vezes os alunos têm alguma experiência prática antes de pisar numa sala de aula como
professor. "A escola de formação de docentes é justamente uma resposta às lacunas
deixadas pelas faculdades", diz o secretário de Educação do estado de São Paulo, Paulo
Renato Souza. O contato dos aspirantes a professor com o dia a dia de uma sala de aula
é regra – e não exceção – em países de bom ensino, como Coreia do Sul e Finlândia. Em
Cingapura, considerado um dos países mais eficazes do mundo na formação de seus
docentes, pelo menos 30% do currículo nos cursos para professor é cumprido dentro dos
próprios colégios. "Funciona como uma espécie de residência médica para os futuros
profissionais. Eles são acompanhados pelos professores mais experientes, que os
orientam e indicam as melhores práticas de ensino", define Lee Sing Kong, diretor do
National Institute of Education de Cingapura. No Brasil, para ocuparem alguns cargos no
serviço público, como diplomata ou auditor da Receita Federal, os candidatos precisam
passar por um treinamento antes de assumir o posto (mesmo depois de aprovados em
concursos). Se forem bem, aí sim serão efetivados. Na educação brasileira, nunca houve
nada parecido com o modelo proposto, na semana passada, pelo governo de São Paulo.
É, sem dúvida, uma boa notícia num país que ainda precisa avançar – e muito – em sala
de aula.
Camila Pereira – Revista VEJA - Edição 2112
NA SÉRIE B DA EDUCAÇÃO
18/05/2009
Alunos do Brasil e outros países têm desempenho tão fraco que teste muda para
avaliá-los
O baixo desempenho do Brasil e de um grupo de países num dos mais importantes
testes de ensino, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em
inglês), obrigou a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
(OCDE) a reformular a nova edição da prova. O teste, que no Brasil será aplicado na
próxima semana, terá questões mais fáceis. O objetivo é traduzir melhor o desempenho
de quem vai mal no teste, separando estudantes que praticamente não sabem nada dos
que demonstram um mínimo de conhecimento.
Em 2000, o Brasil amargou o último lugar em leitura, entre 32 nações. Deixou a
lanterna mais tarde, após um grupo adicional de países fazer a mesma prova. No ranking
final, o Brasil passou para a 39ª posição entre 43 nações. Em 2006, o país ficou em 49º
lugar entre 56 participantes — à frente da Argentina, mas atrás de Indonésia, Romênia,
México, Uruguai e Chile. O Pisa é realizado a cada três anos. Em 2006, a Coreia do Sul
tomou a liderança da Finlândia na prova de leitura.
A decisão de incluir questões mais fáceis para todos os países que participam do
exame coincide com a ampliação do Pisa. Este ano, a prova avaliará jovens de 72 países
— mais do que o dobro dos 32 participantes na estreia, em 2000. O foco será a
capacidade de leitura.
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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— Não é que o teste vá ser mais fácil. Será tão difícil quanto antes. O que queremos é
descrever melhor o desempenho dos alunos com menos habilidades — resume o
coordenador-geral do Pisa junto à OCDE, Andreas Schleicher.
Pontuação inferior até ao nível mínimo
Ele diz que todos os países têm estudantes com fraco desempenho. Mas o que varia
— e muito — é a proporção. No teste de leitura de 2006, 55,5% dos jovens brasileiros
ficaram abaixo do nível 2, que é o mínimo recomendado pela OCDE, na escala até 5.
Nada menos do que 27,8% deles foram classificados abaixo do nível 1. Ou seja,
tiveram uma pontuação tão baixa que não aparece sequer na tabela de níveis de
proficiência em que são indicadas as habilidades dos alunos. Na Argentina, foram 35,8%
na mesma situação; na Colômbia, 30,4%; No Uruguai, 25,3%; no Chile, 14,8%. Entre os
países da OCDE, esse percentual ficou em 8,9%.
No nível 1, reservado a quem tirou pelo menos de 334,8 pontos na escala até 800, os
jovens são capazes de compreender somente textos simples, identificando o tema
principal e situando fragmentos de informação. O que dizer, então, de quem ficou abaixo
de 1?
— É exatamente o que queremos fazer com essa escala maior de questões: discriminar
melhor os estudantes que sabem muito pouco dos que sabem algo — afirma Schleicher.
No Brasil, 56 mil alunos fazem o teste
Único país sul-americano presente em todas as edições do Pisa, o Brasil volta a se
submeter ao exame entre 25 e 29 de maio. Cerca de 56 mil alunos brasileiros farão o
teste em 587 municípios. Participam jovens de 15 anos, de escolas públicas e
particulares, independentemente da série em que estão matriculados.
O Pisa testa a capacidade dos estudantes em três áreas: leitura, matemática e
ciências. O foco de 2009 será leitura. A OCDE reúne 30 países, a maioria de Primeiro
Mundo, além de México, Eslováquia e Polônia.
Dos 56 mil alunos brasileiros matriculados em 990 escolas públicas e privadas, cerca
de 30 mil constituem a amostra do Pisa propriamente dito, isto é, têm 15 anos e
frequentam turmas da 7ª série (8º ano) do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio.
Os demais 26 mil estão todos no 1º ano do ensino médio, independentemente da idade.
O motivo das duas amostras é que o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação responsável pelo
exame no Brasil, quer comparar o impacto do atraso escolar. Afinal, 47,5% dos
estudantes do 1º ano estão acima da idade prevista. A ideia é comparar as notas dos dois
grupos.
A defasagem idade-série é resultado da repetência e da evasão. Ela prejudica o
desempenho do país no exame.
— Temos mais de 3 milhões de jovens de 15 a 17 anos ainda no ensino fundamental. O
Brasil tem uma dívida social histórica — diz o diretor de Concepções e Orientações
Curriculares para a Educação Básica do MEC, Carlos Artexes.
O Inep pagará R$1,9 milhão para realizar o Pisa. Pelo menos 80% dos estudantes
sorteados devem fazer o exame. Em 2006, o Brasil não atingiu o índice, e a OCDE teve
de arredondar os dados de participação para cima, o que é previsto. A Holanda já ficou de
fora por não alcançar a amostragem mínima. Os resultados serão divulgados no ano que
vem.
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Coordenador do Pisa se impressiona com notas tão fracas após 10 anos de estudo
O coordenador-geral do Pisa na OCDE, Andreas Schleicher, considera surpreendente
uma parcela significativa dos estudantes de 15 anos aprender tão pouco, apesar de
frequentar a escola por quase uma década ou mais. Segundo ele, a melhoria da
qualidade do ensino é o maior desafio dos países, não só do Brasil.
O último exame, em 2006, mostrou que 10,2% dos alunos de países membros da
OCDE ficaram abaixo do nível 1 na prova de matemática. No Brasil, esse percentual foi
de 46,6%, o pior entre as seis nações sul-americanas que participaram do teste. A
Colômbia aparece em segundo nesse ranking ao contrário, com 44,6% dos alunos abaixo
do nível 1.
Sob esse aspecto, o desempenho em matemática dos países da OCDE foi pior do
que em leitura (8,9% dos jovens abaixo do nível 1) e ciências (6,9%).
— É muito surpreendente que, aos 15 anos, tamanha proporção de estudantes tenha
níveis tão baixos de leitura, matemática e ciências. O grande desafio para os sistemas de
ensino é diagnosticar as falhas e ajudar os alunos a melhorar — diz Schleicher de Paris,
de onde acompanha a aplicação do Pisa em 72 países.
Embora sublinhe que o Brasil precisa superar o abismo da falta de qualidade, o
coordenador-geral do Pisa elogia o país:
— Se você compara os últimos cinco ou seis anos do Brasil com os de países da região,
como Chile ou México, o Brasil fez claramente mais progressos do que a maioria dos
países na área.
Em abril, a OCDE divulgou um estudo sobre a última edição do exame, com ênfase nos
estudantes que atingiram pontuação alta. Entre os brasileiros, em leitura, 1,1% dos
estudantes atingiram o nível 5, o mais alto da escala (mínimo de 625,61 pontos, na escala
até 800). Em ciências, o percentual brasileiro no nível 6, o mais alto, foi irrisório, e 0,5%
chegaram ao nível 5; em matemática, 0,2%.
Na Coreia do Sul, 21,7% dos alunos chegaram ao nível máximo de leitura e 9,1%
alcançaram o de matemática. Na Nova Zelândia, 4% fizeram o mesmo em ciências.
— Os professores nesses países conseguem dar conta das diferenças dos estudantes de
modo muito construtivo: dão apoio aos mais fracos, sem deixar de incentivar as
habilidades dos mais fortes.
Demétrio Weber - O GLOBO
RETRATOS DO ENSINO
28/05/2009
País
tem
professores
com
menos
estudo
que
alunos.
Segundo o MEC, 20,3% dos docentes da educação básica não poderiam dar aulas
porque não têm formação adequada
Um em cada cinco professores de educação básica (20,3%) não poderia dar aulas, se
a legislação fosse levada ao pé da letra no país. Ao todo, pelo menos 382 mil professores
do total de 1,8 milhão de profissionais em atividade precisam de um diploma
imediatamente, revela estudo que será lançado hoje pelo Ministério da Educação (MEC),
com dados de 2007. Nesse contingente há 119 mil professores leigos, que cursaram no
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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máximo até o ensino médio; 127 mil docentes com diploma de nível superior mas sem
curso de licenciatura, exigido para o magistério; e 136 mil professores que têm apenas o
curso de normal ou de magistério e não poderiam dar aulas para alunos da 5ª à 8ª série
do ensino fundamental ou para o ensino médio, como fazem.
É preciso ter pelo menos o curso de magistério para lecionar em creches, pré-escolas
ou turmas da 1º à 4º série do ensino fundamental (1º ao 5º ano). Os chamados leigos,
que representam 6,3% dos professores do país, portanto, não atendem à exigência
mínima de formação do ponto de vista legal. Entre os 119 mil nesta situação, mais grave
é o caso de um grupo de 15.982 profissionais que só cursaram o ensino fundamental.
Desses, 3,8 mil atuam nas séries finais do fundamental (de 5ª a 8ª série) e 441
professores dão aulas no ensino médio — nível de ensino que eles próprios não têm.
Os 103 mil professores leigos com diploma de nível médio estão espalhados por
52.003 escolas, onde estudam 6,6 milhões de alunos. Outros 136 mil professores estão
em situação irregular: concluíram apenas o magistério, mas lecionam nas séries finais do
ensino fundamental (5ª a 8ª) ou até no médio. Para dar aulas da 5ª série em diante, a lei
exige a graduação em curso de licenciatura.
Do total de 1,8 milhão de profissionais, 594.273 (31,5%) não têm curso superior. O
MEC quer exigir que todos tenham diploma universitário. Projeto de lei nesse sentido será
enviado hoje ao Congresso.
Ciências: 80% sem diploma específico
O levantamento mostra ainda que, entre docentes da 5ª à 8ª série (6º ao 9º ano)
com nível superior, mais da metade é formada em curso diferente da disciplina que
leciona. O caso mais emblemático é o de ciências, em que somente 20,7% dos
professores têm diploma específico. Se forem acrescentados os profissionais formados
em áreas equivalentes (ciências da vida ou ciências físicas), o percentual sobe para
52,5%.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo
levantamento, considera como formação adequada a de profissionais que têm o mesmo
curso ou estudaram em área equivalente à da disciplina lecionada. O problema mais
grave nas séries finais do ensino fundamental ocorre em artes: apenas 25,7% dos
docentes se enquadram no critério.
A situação não é menos preocupante em matemática, em que somente 44,7% dos
docentes são formados na disciplina (43,9%) ou área equivalente, como estatística
(0,8%). A exceção fica por conta de língua portuguesa e literatura, em que 69% dos
docentes têm o diploma apropriado.
Entre os professores do ensino médio, o maior gargalo ocorre em física: só 39,4% dos
docentes são formados na área específica ou equivalente. Em artes, são 41,2% e, em
química, 55,6%. Em língua estrangeira, a proporção se inverte, com 82,2% dos
profissionais formados na área específica ou equivalente. Em língua portuguesa e
literatura, esse percentual atinge 82,1%.
O ensino médio tem o mais alto índice de professores com licenciatura: 87%. As séries
finais do fundamental vêm em segundo lugar, com 73,4%, seguidas pelas séries iniciais,
com 54,9%. Nas pré-escolas, o índice é de 45,5% e, nas creches, de 37,2%. O inverso
ocorre em relação aos professores leigos: no ensino médio, eles são 3%; nas séries finais
do fundamental, 4,9%; nas séries iniciais, 6,4%; nas pré-escolas, 7,5%; e nas creches,
12,9%.
O “Estudo exploratório sobre o professor brasileiro” analisa dados do Censo Escolar
2007. Pela primeira vez o Inep revela o número real de docentes, evitando dupla
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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contagem de quem leciona em mais de uma escola. Entram no cálculo professores de
creches, pré-escolas e estabelecimentos de ensino fundamental e médio.
Demétrio Weber - O GLOBO
BRASIL: CAMPO ECONÔMICO
ENERGIA LIMPA É OPORTUNIDADE ECONÔMICA PARA O PAÍS
25/04/09
Somos campeões mundiais no uso de fontes renováveis de energia. O que
precisamos fazer para manter a posição – e ganhar dinheiro com isso
VENTOS -Turbina eólica da
General Electric na Irlanda, feita com peças da
empresa brasileira Tecsis. O Brasil tem a
segunda maior produtora mundial de hélices de
cata-ventos. Mas ela só exporta.
OUTROS
O Brasil tem uma situação privilegiada em um mundo ameaçado pelas mudanças
climáticas. É um dos poucos países – e certamente a única grande economia – com
possibilidade de gerar toda a sua eletricidade a partir de fontes limpas. Cerca de 83% de
nossa eletricidade vem de usinas hidrelétricas ou nucleares, que não geram emissões
poluentes para a atmosfera.
É uma posição invejada por países como a China, que tem uma matriz energética
70% dependente do carvão, o mais poluente dos combustíveis. Mesmo a Alemanha,
louvada no mundo por suas iniciativas verdes, só produz 14% de sua eletricidade a partir
de fontes renováveis.
Isso pode ser uma vantagem competitiva para o país. Primeiro porque, nos
próximos anos, mesmo as nações em desenvolvimento provavelmente terão de assumir
metas para reduzir ou limitar as emissões poluentes. Em segundo lugar porque blocos
como a União Europeia já discutem taxar as indústrias pela emissão de carbono. Nesse
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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cenário, as empresas ficariam atraídas a implantar fábricas em países com geração de
eletricidade mais limpa. Apesar de tão importante para o desenvolvimento industrial do
país, a manutenção de nossa matriz energética pouco poluidora tem sido esquecida
diante do desafio de conter o desmatamento.
Por causa da devastação das florestas, responsável por 75% de nossas emissões
de poluentes, o Brasil está em quinto lugar no ranking global dos grandes poluidores. Mas
a Amazônia pode deixar de ser um problema ambiental e virar parte da solução. O
mecanismo que pode permitir receber dinheiro pela preservação, chamado Redução de
Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), será um dos temas mais
importantes nas negociações internacionais sobre como o mundo deve enfrentar as
mudanças climáticas, em dezembro, na Dinamarca. Muitos países estão dispostos a
pagar para o Brasil não derrubar suas matas. É o começo de um futuro mercado para as
florestas, similar à bolsa de créditos de carbono, na qual quem reduz suas emissões do
gás pode vender certificados a quem não conseguiu cumprir suas metas de redução. Se o
REDD for aceito como um instrumento de combate à crise climática, o Brasil poderá
receber dinheiro para financiar medidas de fiscalização e incentivo à produção florestal
sustentável.
É uma tendência ótima para o país. Só que ela nos desvia de outra preocupação
para o futuro – continuar produzindo energia limpa. A seguir, os principais desafios do
país.
Compensar os meses de baixa produção hidrelétrica
O Brasil precisa de alternativas para as hidrelétricas entre os meses de junho e
novembro, quando os reservatórios estão mais baixos, pela redução nas chuvas. Para
suprir essa lacuna, o plano decenal de energia do governo federal prevê a construção de
81 usinas térmicas até 2017, das quais 68 alimentadas por combustíveis fósseis, que
produzem gases do efeito estufa. A opção poderia ser outra. Estudos da Empresa de
Pesquisa Energética concluem que o potencial brasileiro para geração eólica é de 143
gigawatts. É mais que uma vez e meia a capacidade instalada de todas as nossas usinas
hidrelétricas, nucleares e termoelétricas juntas. Mas hoje não aproveitamos nem 1% do
potencial dos ventos.
Aumentar a eficiência energética das casas
Parte da demanda de eletricidade é causada por ineficiência nos prédios e nas
casas. O Brasil tem baixo uso de lâmpadas fluorescentes, de menor consumo. E 15% da
demanda nacional de eletricidade nos horários de pico é puxada só pelos chuveiros
elétricos. Um exemplo de como resolver isso é a Espanha. A partir de 2003, o país
começou a exigir que as novas construções usassem aquecimento solar ou a gás. E as
prefeituras, como a de Barcelona, passaram a subsidiar a troca de aquecimento elétrico
por gás e solar.
Substituir o diesel de ônibus e caminhões
Os programas para usar combustível de origem vegetal e não poluente nos
veículos pesados ainda não ganharam escala – diferentemente do etanol, que vem da
cana, o biodiesel é produzido a partir de óleos vegetais, como óleo de mamona, soja,
dendê, girassol e algodão, que geralmente têm maior valor comercial se vendidos para
outros fins. Daí que o biodiesel atinge apenas 3% do combustível usado por nossa frota.
Países como a China, os Estados Unidos e a Alemanha apostam em mais trens e navios
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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para transportar cargas. Agora estão adotando ônibus híbridos, elétricos e apostando no
hidrogênio.
Melhorar a tecnologia dos automóveis
A frota mundial de veículos híbridos passou de 1 milhão e deverá dobrar nos
próximos dois anos, mas até hoje não existe nenhum carro híbrido rodando no Brasil. “A
barreira é econômica. Os carros híbridos saem mais caros que os convencionais”, diz
Luso Ventura, diretor de Comissões Técnicas da Sociedade de Engenheiros da
Mobilidade, a SAE Brasil. A grande chance do país no mercado dos híbridos seria adaptar
esses motores à tecnologia flex nacional. Daria ao Brasil mais competitividade no
mercado internacional. Hoje, apenas a Mitsubishi mostrou interesse em trazer a
tecnologia ao país. “Deveríamos investir logo em híbridos para não ficar atrás no domínio
da tecnologia, mas não acredito que isso vá acontecer por incentivo do governo, e sim por
iniciativa das próprias empresas.”
Juliana Arini e Margarida Telles – Revista Época Nr 571
NINGUÉM SEGURA ESSE DÓLAR
30/05/2009
Moeda fecha a R$1,97. É 1ª vez abaixo de R$2 desde outubro. Queda no ano é de
15%
E o dólar comercial, enfim, ficou abaixo de R$2. A moeda americana encerrou os
negócios ontem a R$1,97, com perda de 1,94%, uma desvalorização forte até para os
últimos dias, depois de chegar a bater R$1,967 durante a tarde. Assim, a divisa completou
um ciclo de seis dias consecutivos de queda, que, acumulada, é de 3,29% desde o dia 22.
Um dos motivos para a queda recente do dólar é a entrada de dólares no país, para
investimento em ações e em operações atreladas à taxa básica de juros, a Selic, hoje em
10,25% ao ano, como os títulos públicos. Somente em maio, até o dia 26, o saldo
(compras menos vendas) de investimentos estrangeiros na na Bolsa de Valores de São
Paulo (Bovespa) está positivo em R$5,059 bilhões.
No ano, a conta já chega a R$10,176 bilhões. No ano, o dólar já acumula perda de
15,59%, mas a perda foi bastante concentrada em maio, quando a moeda caiu 9,67%,
tendo saído de R$2,181. No fim do ano, ainda era cotada a R$2,334. A cotação de ontem
é a mais baixa desde o início de outubro, que deve ser mais difícil de ser alcançada:
R$1,925. No turismo, a moeda foi vendida ontem no Banco do Brasil a R$2,04. No
Bradesco, a R$2,09.
Mas o movimento de desvalorização da moeda americana não é uma exclusividade
brasileira. A divisa está caindo no mundo todo. Contra o dólar canadense, por exemplo, o
dólar americano já caiu 10,20%. Em relação à libra inglesa, a perda é de 9,77%. Na
comparação com o franco suíço, o dólar ainda se valoriza no ano. No entanto, a divisa
americana já caiu 10,54% em relação à moeda suíça desde março. E é frente ao real que
o dólar mais perde valor entre as principais moedas do mundo.
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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— Não há um motivo só para a queda do dólar. Mas são muitas explicações
possíveis, entre elas o ingresso maior de recursos — diz Mario Battistel, gerente de
câmbio da Fair, lembrando ainda que ontem, último dia útil do mês, era data de formação
da Ptax, taxa fixada pelo Banco Central (BC), que baliza os contratos de câmbio
negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), motivo para a queda mais
acentuada no dia.
Nessas operações, há investidores que apostam na alta da moeda americana e os
que apostam na baixa. Os estrangeiros estão na ponta da venda, ou seja, apostavam na
queda do dólar.
Outro evento no mercado futuro que tem pressionado a queda da divisa é o
vencimento, na segunda-feira, dos chamados swaps reversos, operações em que o
Banco Central (BC) acerta a compra do dólar a uma cotação, no caso em torno de
R$2,14, e paga juros aos bancos que aderiram à operação. Estas instituições estariam
forçando a queda do dólar, para ganhar a diferença entre a cotação que o o BC pagará e
a do mercado.
Juros altos atraem investidores
Apesar do esforço do BC, que vem comprando diariamente dólares para tentar
suavizar a desvalorização, especialistas observam que o poder da autoridade monetária é
pequeno diante do tamanho do capital internacional. O Banco Central adquiriu no
mercado à vista US$2,408 bilhões este mês até o dia 22, mas não conseguiu conter a
queda livre. Segundo o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o capital
externo, diante da frustração com a economia americana — antes considerada inabalável
— encontra no Brasil um local estável para ser alocado.
— A desvalorização do dólar ocorre do mundo porque os investidores têm migrado
para outros países. Como a mobilidade do capital hoje em dia é alta, quando o agentes se
decepcionam, a reação é rápida. Mas, para reconquistar a confiança, é um processo bem
mais lento e difícil — diz.
O professor de derivativos e risco do Insper (ex-Ibmec-SP), Alexandre Chaia, aponta
a recuperação dos preços da commodities (matérias-primas negociadas em bolsas
mundiais) como outro fator que derruba o valor da moeda americana, por meio de um
mecanismo natural de equilíbrio das contas globais:
— A variação em relação ao real acaba potencializada pela atratividade do nosso
mercado financeiro, em grande parte devido aos altos juros que ainda são aqui
praticados. oglobo.com.br/economia Inclui quadro: A moeda no mundo
Felipe Frisch e Eduardo Rodrigues - O GLOBO
A SEGUNDA REVOLUÇÃO DO ETANOL
31/05/09
Empresas disputam uma corrida tecnológica para produzir combustível a partir de bagaço
da cana, capim e até lixo
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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Quem considera o etanol produzido de fontes primárias (como cana-de-açúcar e
milho) uma revolução da agroenergia nem imagina o que vem pela frente. Dentro de
alguns anos, os biocombustíveis também serão feitos a partir do bagaço da cana-deaçúcar, sabugo de milho, capim, casca de árvore, pneus e até lixo urbano. Para isso, os
principais centros de inovação do mundo, financiados por governos e grandes empresas,
como a petrolíferas BP e Shell, estão travando uma verdadeira corrida tecnológica.
Será o vencedor aquele que encontrar a rota mais viável para transformar os
diferentes tipos de biomassa em etanol. Os primeiros litros do biocombustível já foram
produzidos em escala experimental. Falta encontrar a fórmula perfeita para a produção
em larga escala com custo competitivo aos combustíveis atuais.
No mercado, essa tecnologia tem sido chamada de segunda geração (o etanol feito
de fontes primárias é de primeira geração) ou etanol de celulose. O processo consiste em
usar enzimas, micro-organismos ou ácidos para separar os açúcares existentes na
biomassa e a partir daí produzir o combustível. O potencial é elevado, mas ainda há
dúvidas em relação ao tempo para transformar os testes em produção comercial.
Todos os avanços e desafios da nova tecnologia serão expostos a partir de amanhã
na segunda edição do Etanol Summit, que contará com cerca de 130 palestrantes de
várias partes do mundo, incluindo o ex-presidente americano Bill Clinton, um entusiasta
dos biocombustíveis. Eles darão um panorama de quando essa tecnologia poderá sair do
papel.
Nos Estados Unidos, as pesquisas do etanol de segunda geração começaram há
algum tempo e foram reforçadas pela nova política energética que estabelece limite para
o uso do etanol feito a partir do milho com tecnologia convencional. A produção, que hoje
está em 40 bilhões de litros, poderá chegar a 57 bilhões. Para complementar a oferta, que
atingiria 136 bilhões de litros em 2022, seria usado o etanol de segunda geração e outros
biocombustíveis, afirma o presidente da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica),
Marcos Jank.
Embora o consumo de combustível do país tenha caído por causa da crise
econômica, grandes empresas mantiveram suas pesquisas. Até porque a meta do
governo americano é produzir no ano que vem cerca de 400 milhões de litros de
combustíveis de segunda geração. Ásia e Europa também desenvolvem tecnologias, que
estão sob segredo industrial. Além do discurso sobre o aquecimento global, o objetivo da
busca por um novo biocombustível é diminuir a dependência do petróleo.
No Brasil, por causa do enorme potencial de crescimento do etanol de primeira
geração, a corrida tecnológica ainda está um pouco mais lenta e com orçamentos mais
modestos comparados aos do mercado externo, que tem irrigado as pesquisas científicas
com bilhões de dólares. Apesar disso, alguns empreendedores acreditam que possam
sair na frente para manter a liderança brasileira no mundo dos biocombustíveis.
"O etanol de segunda geração, a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar,
teria capacidade para dobrar o volume de etanol produzido no País com a mesma área
plantada", diz Marcos Jank, destacando que este ano o setor alcançará 27 bilhões de
litros. Foi de olho nesse potencial que o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) firmou
uma parceria com a dinamarquesa Novozymes Latin America, especialista em enzimas
industriais.
Juntos, inauguraram em janeiro uma usina piloto, com capacidade para produzir 200
litros de etanol de segunda geração. A rota tecnológica usada chama-se hidrólise
enzimática, em que as moléculas de celulose são transformadas em açúcares por meio
de enzimas.
Hoje o grande desafio é evitar que essas enzimas encareçam demais o produto final,
diz o presidente regional para América Latina da Novozymes, Pedro Luiz Fernandes.
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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Segundo ele, a tecnologia já existe, mas, além do custo, ela exige aperfeiçoamentos e
ajustes. "Em meados de 2010, esperamos apresentar um modelo financeiro para vender
essa tecnologia."
Um dos ajustes que ela terá de fazer até lá refere-se ao tempo que a enzima leva
para transformar a celulose em açúcar. "O ideal seria ter um ciclo de 24 horas, como
ocorre no etanol tradicional", afirma o diretor superintendente do CTC, Nilson Boeta. A
expectativa dele é que em três ou quatro anos a tecnologia esteja dominada, para
produção em escala industrial.
O executivo acredita que, superada a fase de aperfeiçoamento tecnológico, o Brasil
terá enorme competitividade no etanol de celulose, já que a matéria-prima não exige
logística. "Ela está ali, na própria usina. Nos Estados Unidos, a palha e o sabugo do milho
ficam no campo."
Na Dedini, líder na fabricação de equipamentos para o setor sucroalcooeiro, a rota
tecnológica adotada é a hidrólise ácida. Com estudos iniciados há cerca de 20 anos, a
produção do etanol de celulose já passou pelos estágios de laboratório e piloto. Hoje a
empresa espera firmar alguma parceria para iniciar uma fase semi-industrial. "A
fabricação do etanol já existe. O problema é o custo", diz o vice-presidente de tecnologia
e desenvolvimento da empresa, José Olivério. Segundo ele, o combustível custa, pelo
menos, o dobro do etanol comum.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também entrou na
corrida pela nova tecnologia do etanol de celulose e desenvolveu um tipo de enzima para
o processo. Os testes já devem entrar em escala de demonstração (antes da escala
industrial). "Tínhamos duas alternativas: comprar a tecnologia ou entrarmos numa agenda
de desenvolvimento. Ficamos com a segunda opção", disse o chefe-geral da Embrapa,
Frederico Durães. Segundo ele, a Embrapa fechou acordo com a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para criar uma Empresa de Propósito
Específico (EPE) para desenvolver negócios nessa área.
Renée Pereira – O Estado de São Paulo
UM MUNDO MAIS VERDE
04/06/2009
Investimentos em energias limpas quadruplicam; Brasil é recordista na América Latina
Os insistentes alertas sobre o aquecimento global e o futuro do planeta parecem
estar, de fato, gerando ações concretas. Relatório divulgado ontem pelo Programa de
Meio Ambiente das Nações Unidas (Unep, na sigla em inglês) revela que o mundo está
mais ecologicamente correto do que nunca. Segundo os dados, em 2008 foram investidos
US$155 bilhões em energia limpa — quatro vezes mais do que o registrado em 2004. O
Brasil tem lugar de destaque no documento, apontado como um dos países que mais
investiram em energias renováveis no ano passado.
Do total investido, US$13,5 bilhões se destinaram ao desenvolvimento de novas
tecnologias. Outros US$117 bilhões foram investidos em projetos de energia renovável,
entre eólica, geotérmica, solar e biocombustíveis. Segundo o relatório, as energias
renováveis já respondem pela maioria dos investimentos no setor e por mais de 40% do
aumento da capacidade de geração de energia registrado no ano passado.
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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A despeito da crise econômica, os investimentos do ano passado excederam em 5%
os de 2007, sobretudo por conta de projetos no Brasil, na China e em outras economias
emergentes, como destacou o diretor-executivo do Unep, Achim Steiner:
— Sem dúvida, a crise econômica cobrou seu preço nos investimentos em energia limpa,
quando comparamos os valores do ano passado aos recordes dos anos anteriores.
De fato, o relatório aponta que, na América do Norte, por exemplo, os investimentos
em energias renováveis caíram 8%. Na Europa, o aumento foi de apenas 2%. Mas
ressalta pontos significativos, especialmente entre as economias em desenvolvimento.
A China tornou-se o segundo maior mercado do mundo para energia eólica, em termos
de capacidade, e o maior produtor de células fotovoltaicas, segundo Steiner, registrando
um aumento de 18% nos investimentos em energia limpa em relação a 2007.
Na
Índia, os investimentos aumentaram 12%. O Brasil foi o recordista em investimentos na
América Latina, com o etanol recebendo US$10,8 bilhões — um crescimento de nada
menos que 76% em relação ao ano anterior.
Relatório destaca uso de etanol
O documento destaca que 85% da geração de energia no Brasil vêm de fontes
renováveis graças às grandes hidroelétricas nacionais e à indústria do etanol. Segundo o
relatório, 90% dos novos carros do país são híbridos e o etanol responde por mais de
50% do combustível usado em veículos leves.
O Brasil também é líder global no financiamento de energias renováveis. Em 2008, o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi o maior investidor
em projetos de energia renovável.
O relatório revela que o maior montante de investimentos foi para a energia eólica
(US$51 bilhões), embora o crescimento em relação a 2007 tenha sido apenas de 1%.
Mas o setor que mais se ampliou foi o da energia solar, com um aumento de 49% em
relação ao ano passado (US$33,5 bilhões).
A tendência, aponta o documento, é que o mundo invista cada vez mais em energias
limpas em razão das ameaças crescentes do aquecimento global, da recuperação da
economia, de novas políticas de investimento e também com a redução de custos
decorrente da ampliação dos mercados de eólica e solar. Estima-se que os módulos de
células fotovoltaicas, por exemplo, tenham uma redução de preço de até 43% este ano.
Henrique Gomes Batista e Martha Beck - O Globo
PANCADA MENOR
10/06/2009
Com queda de 0,8% do PIB no primeiro trimestre e recuo histórico, país entrou em
recessão e voltou a níveis de 2007
A crise internacional fez o país retroceder dois anos na produção de sua economia.
Pelo segundo trimestre consecutivo, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e
serviços produzidos no país) ficou negativo, confirmando que o país atravessou uma
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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recessão. O IBGE informou ontem que o PIB recuou 0,8% entre janeiro e março deste
ano, frente ao fim do ano passado, acumulando queda de 4,4% desde outubro. Com isso,
o Brasil voltou aos patamares de produção do segundo trimestre de 2007, anulando
praticamente os ganhos da economia no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva. No primeiro trimestre, a economia brasileira produziu R$684,6 bilhões.
A queda do PIB foi mais intensa frente ao início de 2008: 1,8%, no primeiro recuo
nessa comparação desde o quarto trimestre de 2001 (ano dos atentados nos EUA e do
racionamento de energia) e a maior queda desde o último trimestre de 1998, quando a
economia ficou estagnada.
— Foi uma crise absolutamente profunda — resumiu Roberto Olinto, coordenador de
Contas Nacionais do IBGE.
Apesar da estatística negativa, o resultado veio bem melhor que o mercado esperava.
As previsões estavam entre -2,5% e -3,4% frente ao primeiro trimestre de 2008 e de até 2,5% ante o último trimestre de 2008.
— O resultado veio por cima da média das estimativas em qualquer comparação —
afirmou Silvio Sales, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A indústria, mais conectada com o mercado externo, foi o setor mais afetado e puxou
a economia para baixo, com recuo de 3,1% frente ao fim do ano passado e de 9,3%
contra o primeiro trimestre de 2008, o maior desde 1996, início da série histórica do IBGE.
Diferentes segmentos bateram o mesmo recorde de baixa: a construção civil recuou 9,8%
e a indústria de transformação, 12,6%.
Diante da crise mais forte na indústria e no setor externo, a arrecadação de impostos
ficou bem menor que o PIB. A queda foi de 3,3%, reflexo da menor atividade econômica.
Como as importações caíram mais que as exportações, o setor externo acabou
influenciando positivamente o PIB, o que não ocorria desde 2006. Segundo o vicepresidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), as exportações vêm
sendo sustentadas sobretudo pelas commodities, cujos preços subiram devido à
especulação, e não por causa de um aumento na demanda. Os números ainda não
mostram a recuperação que se desenha no país. Segundo analistas, indicadores de
indústria, de confiança do consumidor e do empresário, além das medidas de estímulo
monetário (queda de juros e aumento do crédito) e fiscais (redução de IPI em diversos
setores) já teriam afastado o risco de continuidade da recessão nos próximos trimestres.
— O pior ficou para trás. Devemos ter expansão no segundo trimestre — afirmou
Solange Srour, economista do BNY Mellon ARX.
Para fechar o ano estagnada, ou seja, com expansão zero do PIB, a economia brasileira
precisa crescer 0,6%, entre abril e dezembro, em relação ao mesmo período de 2008.
Pelo lado da demanda, o impacto maior da crise foi nos investimentos. As quedas de
12,6% frente ao último trimestre de 2008 e de 14% contra o início do ano passado foram
as maiores desde 1996.
— O investimento ficou pior com a indústria, a construção civil e a importação menor
de máquinas — explicou Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE.
Cássia Almeida, Luciana Rodrigues, Lucianne Carneiro e Liana Melo - O GLOBO
FUTURO EM XEQUE
14/06/2009
Energia de sobra à espera de obras - Questões ambientais ou indígenas reduzem
em 20% capacidade de geração no Brasil
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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A despeito do discurso otimista do governo, a expansão do sistema elétrico nacional
está esbarrando em entraves ambientais e jurídicos envolvendo questões indígenas.
Aguardando esse sinal verde, o país está deixando de iniciar a construção de hidrelétricas
capazes de produzir cerca de 19,5 mil megawatts (MW) de energia nos próximos anos,
quase 20% da atual capacidade de geração brasileira. De acordo com dados da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC), estão atrasados pelo menos 18 empreendimentos hidrelétricos, que representam
três vezes a potência das duas usinas do Rio Madeira — Jirau e Santo Antonio — em
Rondônia, as maiores obras do setor em andamento. As novas hidrelétricas são
consideradas fundamentais para possibilitar o crescimento do país, a um custo menor, na
comparação com outros tipos de geração de energia.
Jirau, com seus 3.300 MW de potência, deixou de fazer parte da conta dos
atrasados no início de junho, mas protagonizou um episódio exemplar dos problemas
vividos pelo setor elétrico. Por semanas, a empresa Energia Sustentável do Brasil travou
uma queda de braço com os governos de Rondônia e de Porto Velho em torno da
mitigação do impacto ambiental. Enquanto isso, a obra ficou parada. Só depois de se
comprometer a pagar mais R$114 milhões em ações para prefeitura e estado, a obra foi
liberada pelo Ibama. Em outro front, a polêmica usina de Belo Monte viu paralisada a
discussão pública do seu Estudo de Impacto Ambiental (EIA) por uma decisão da Justiça
Federal do Pará. O juiz Antonio Carlos de Almeida argumentou que não foi entregue
laudo antropológico do impacto sobre os indígenas da região. Com 11.181 MW de
potência, Belo Monte será uma das maiores usinas do país, e o governo pretende leiloá-la
até setembro.
As questões ambientais afetam obras de todos os tamanhos. De acordo com
balanço da Aneel, uma obra de menor porte, como a Usina de Baú 1, em Minas Gerais,
esbarrou em divergências com a prefeitura de Ponte Nova. Já na usina de Olho D’Água,
em Goiás, foi identificado um corredor de mata virgem remanescente em sua área. No
Paraná, as usinas de Cachoeirinha e São João tiveram o licenciamento suspenso pelo
órgão ambiental estadual, e falta ainda o Ibama declarar a autonomia do Instituto
Ambiental do Paraná (IAP) para retomar os estudos.
Para empresários, avanço é insuficiente
Para o país, os atrasos podem representar problemas na próxima década. Essa
energia, que só deverá ser gerada a partir de 2012, será fundamental para dar segurança
ao abastecimento energético. Se demorar demais, alerta uma fonte da área energética do
governo, o país não sofrerá um apagão, mas terá de optar pela energia térmica, mais cara
e potencialmente mais poluente que a hidrelétrica.
— Para termos tarifas mais baratas no futuro, é importante aumentar a geração
hidrelétrica. Caso contrário, não haverá falta de energia, mas as distribuidoras terão de
comprar de fontes bem mais caras. Vai sobrar para o consumidor — disse a fonte.
Só o sétimo balanço oficial do PAC aponta formalmente que cinco
empreendimentos têm questionamentos indígenas e sobre ameaça à fauna e à flora. Isso
deixa na berlinda a geração de 6.312 MW de energia, incluindo o estudo de inventário da
Bacia do Rio Juruena (AM/MT) e o estudo de viabilidade de parte do Rio Ji-Paraná (RO).
Para os empresários do setor, esses exemplos preocupam. O presidente do
Instituto Acende Brasil, Claudio Salles, que reúne as empresas do setor, diz que
ocorreram avanços na forma de concessão de licenças nos últimos anos, mas não são
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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suficientes. O Ibama reduziu em cerca de um ano os prazos para análise e concessão
das licenças, mas outros problemas persistem.
‘Quando país crescer problemas virão’
Salles admite que, do lado empresarial, há estudos ambientais malfeitos, que
atrasam as concessões. Porém, do outro lado, há sobreposição de funções entre
governos federal, estaduais e municipais, que fazem o processo andar mais devagar:
— Projetos de interesse nacional, que envolvem bilhões em investimentos, estão
se deparando com questões adicionais dos governos locais. Eles impõem condições não
previstas, que paralisam as obras.
Os ambientalistas questionam as críticas ao licenciamento. Segundo Sérgio Leitão,
diretor de Campanhas do Greenpeace, as licenças são uma garantia à sociedade de que
os empreendimentos hidrelétricos seguem a lei.
O consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), afirma
que ainda falta aprovação de uma legislação que determine os limites de atuação de cada
ente federativo, para evitar a sobreposição de poderes. Na Câmara dos Deputados, está
na fila de votação, há mais de um mês, um projeto de lei que regulamenta o artigo 23 da
Constituição e estabelece o papel dos órgãos federal, estaduais e municipais.
— Quando o país voltar a crescer, esse problema que atinge várias usinas voltará
à tona. E, até agora, nenhuma medida legal para resolver o problema foi aprovada no
Congresso. Com isso, o problema das licenças vai continuar — diz Pires.
O governo tem repetido que o licenciamento ambiental deixou de ser um problema.
Durante o balanço do PAC, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, pediu a palavra
para enfatizar que as autorizações têm sido facilitadas na esfera federal e anunciou uma
nova rodada de simplificação, a “Destrava 2”. Em vez de a concessão de licença ocorrer
caso a caso, será avaliada a bacia hidrográfica como um todo, agilizando o processo.
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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GEOGRAFIA - SAÚDE
O CORAÇÃO DEVASSADO
13 / 05 / 09
Graças
aos
novos
tomógrafos
que
estão
chegando
ao Brasil, capazes de registrar até 1 500 imagens por segundo, não existem mais artérias
invisíveis. O novo equipamento pode reduzir custos de tratamento, pois trará resultados
significativos na prevenção
Surgidos em meados dos anos 70, os exames de tomografia revolucionaram a
cardiologia. Eles permitiram que se flagrasse o coração, órgão com os movimentos mais
intensos e velozes do organismo, em plena atividade. Nas últimas três décadas, tais
máquinas evoluíram tanto que os primeiros tomógrafos pouco têm a ver com os atuais. As
imagens produzidas no passado possibilitavam principalmente a análise de vasos com
mais de 2 centímetros de diâmetro. Por meio delas, os médicos identificavam obstruções
na aorta e na artéria pulmonar, os grandes canais de irrigação do coração, quando já não
havia muito que fazer. Com os equipamentos desenvolvidos no início dos anos 2000,
começou-se a descobrir a existência de distúrbios cardíacos antes mesmo do
aparecimento de seus primeiros sintomas. "Esse progresso fez crer que a tecnologia dos
tomógrafos havia atingido o limite", diz o cardiologista Carlos Rochitte, do Instituto do
Coração, em São Paulo. Pois uma nova geração de tomógrafos, que começa a chegar
aos principais centros de saúde do Brasil a partir do próximo mês, mostra que ainda se
está muito longe desse limite. As máquinas de última geração analisam em detalhes a
estrutura de 90% do coração, contra 75% dos aparelhos antecessores. Tal diferença na
varredura do coração pode parecer pouca coisa. Mas o rastreamento detalhado do
músculo cardíaco traz resultados significativos para a prevenção e o tratamento de uma
das doenças que mais matam no mundo – o infarto. As imagens produzidas nos exames
de tomografia são formadas por raios X que cruzam o corpo do paciente, captando o
interior das artérias. Os registros obtidos são decodificados por computadores e
transformados em desenhos coloridos tridimensionais. Quanto mais velozes são os feixes
de raio X, mais definida é a imagem. Os tomógrafos em uso atualmente captam 192
quadros por segundo. Com eles, é possível visualizar vasos com calibre de 1,5 milímetro.
As novas máquinas são cinco vezes mais velozes e captam de 1 000 a 1 500 imagens por
segundo. Essa velocidade permite ao cardiologista observar a estrutura de vasos ainda
mais finos. Um avanço notável, visto que o entupimento das pequenas artérias responde
por cerca de 20% dos infartos. A precisão dos tomógrafos mais modernos permite ainda a
detecção de placas de gordura e de cálcio, as principais causas de obstrução arterial, em
estágios precoces – quando elas exibem somente 0,5 milímetro cúbico de volume. Os
aparelhos atuais só conseguem captar depósitos com o dobro desse volume. "A
visualização de obstruções minúsculas é decisiva para a reversão completa da doença",
diz o cardiologista Ibraim Masciarelli, do Hospital do Coração, em São Paulo. Nesses
casos, o tratamento é feito com estatinas, antiplaquetários e anti-hipertensivos. Os novos
aparelhos possibilitam também a análise do fluxo sanguíneo do coração em tempo real –
o que os tomógrafos mais antigos não conseguem fazer. "Essa é uma informação valiosa
para definir a escolha do tratamento", diz o cardiologista Roberto Kalil, diretor do centro
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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de cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. O comprometimento de uma
artéria coronária não está associado apenas ao tamanho do bloqueio. Influenciam nesse
processo a arquitetura da placa e a ocorrência de fatores externos, como a formação de
úlceras que podem atrapalhar a irrigação sanguínea do coração. Ultravelozes, os
tomógrafos de última geração reduzem o tempo de exposição do paciente à radiação.
Atualmente, por questão de segurança, a tomografia coronária como exame de check-up
é indicada apenas para pacientes com dois ou mais fatores de risco para doenças
cardíacas. Para os homens e mulheres com mais de 40 anos que não apresentam
histórico de doenças cardíacas, o exame só é recomendado de cinco em cinco anos. Em
breve, com a chegada dos novos aparelhos, a tomografia, segundo os especialistas, deve
se tornar mais frequente também para eles.
Adriana Dias Lopes – Revista Veja Nr 2112
DENGUE MATA SEIS VEZES MAIS NO BRASIL DO QUE O TOLERADO
PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE
16 / 06 / 09
Nos primeiros quatro meses do ano, 6% dos doentes morreram; padrão
internacional adota o máximo de 1%
A taxa de letalidade da dengue no País é seis vezes maior do que a considerada
aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Até 30 de abril, 87 pacientes com
dengue hemorrágica ou com complicações da doença morreram - 6% do total. Pelos
padrões da OMS, o máximo seria 1%. "É um índice muito alto, que revela ainda falhas
importantes na assistência aos doentes", diz o coordenador do Programa Nacional de
Controle da Dengue, Giovanini Coelho.
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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Das 87 mortes confirmadas pela doença, a maioria foi registrada na Bahia (49) e em
Mato Grosso (15). Fenômeno que se repete quando se analisa a distribuição de casos no
País. Até agora, oito Estados respondem por 78% dos casos.
Para Coelho, a epidemia em bloco registrada neste ano revela a diferença com que
Estados e municípios lidaram com prevenção e capacitação da rede para o atendimento.
Onde o trabalho foi bem feito, o número de casos foi menor. E nas áreas onde há
assistência mais estruturada, mortes são evitadas. "Neste ano, houve o agravante das
eleições municipais. Em áreas onde prefeitos não fizeram sucessor, a prevenção foi
relaxada, funcionários foram dispensados", afirmou.
Em números absolutos, a quantidade de casos caiu 49% comparada com o mesmo
período de 2008 - passando de 440.360 para 226.513. "Há, portanto, locais onde o
trabalho falhou e é preciso agora concentrar esforços", diz Coelho.
O Ministério da Saúde liberou R$ 1,08 bilhão para trabalhos de prevenção da
doença, como distribuição de nebulizador e pulverizador para combater os criadouros do
mosquito.
Mas o combate à doença na Bahia, um dos Estados com mais casos, tem um
complicador: em três das quatro cidades campeãs de registros, a maior concentração de
criadouros está nos depósitos de água. Um problema relacionado à deficiência de
infraestrutura, não ao comportamento da população. Rio Branco (AC), Várzea Grande
(MT) e Campo Grande (MS) apresentam a mesma vulnerabilidade. "Para esses locais, é
preciso reforçar o trabalho com larvicida, providenciar a compra de capas para caixa d?
água. Algo que o ministério está colaborando", contou.
O coordenador garante que a concentração de mortes está diretamente associada à
deficiência no atendimento, sobretudo na atenção básica. "Quando a hidratação é feita
rapidamente, há redução significativa do risco de o paciente piorar", afirma Coelho. Na
Bahia, tendas de reidratação e hospitais de campanha foram montados, a exemplo do
que ocorreu na epidemia de dengue registrada no Rio no verão de 2008. Em Mato
Grosso, no entanto, tal medida não foi adotada. De acordo com Coelho, o motivo foi a
rede de atenção básica ter sido considerada, no primeiro momento, bem estruturada.
"A concentração de casos traz outro recado: quando o serviço é bem feito, é
perfeitamente possível evitar as mortes por dengue", contou o coordenador. Como
exemplo, ele citou experiências registradas neste ano em Belo Horizonte, que, apesar do
grande número de casos da doença, não tem óbitos confirmados. "Material para
capacitação de profissionais brasileiros é considerado um dos melhores do mundo. O que
é preciso é colocá-lo em prática."
Os campeões de dengue no País também foram responsáveis por "exportar" 36,5%
de todas as 345 contaminações registradas na capital paulista. Segundo dados da
Secretaria Municipal da Saúde, desde o início do ano, 165 paulistanos adoeceram fora da
cidade, sendo que 126 deles foram picados pelo mosquito Aedes Aegypti nos locais que
lideram as estatísticas nacionais. Outros 180 moradores de São Paulo contraíram a
doença no próprio município, chamados de caso autóctones.
A Bahia foi o Estado em que mais paulistanos foram infectados: 100 casos. Minas Gerais
aparece em segundo lugar, com 17 registros, seguido por Espírito Santo, com 5.
A taxa de letalidade da dengue no País é seis vezes maior do que a considerada
aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Até 30 de abril, 87 pacientes com
dengue hemorrágica ou com complicações da doença morreram - 6% do total. Pelos
padrões da OMS, o máximo seria 1%. "É um índice muito alto, que revela ainda falhas
importantes na assistência aos doentes", diz o coordenador do Programa Nacional de
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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Controle da Dengue, Giovanini Coelho. Das 87 mortes confirmadas pela doença, a
maioria foi registrada na Bahia (49) e em Mato Grosso (15). Fenômeno que se repete
quando se analisa a distribuição de casos no País. Até agora, oito Estados respondem
por 78% dos casos.
Para Coelho, a epidemia em bloco registrada neste ano revela a diferença com que
Estados e municípios lidaram com prevenção e capacitação da rede para o atendimento.
Onde o trabalho foi bem feito, o número de casos foi menor. E nas áreas onde há
assistência mais estruturada, mortes são evitadas. "Neste ano, houve o agravante das
eleições municipais. Em áreas onde prefeitos não fizeram sucessor, a prevenção foi
relaxada, funcionários foram dispensados", afirmou. Em números absolutos, a quantidade
de casos caiu 49% comparada com o mesmo período de 2008 - passando de 440.360
para 226.513. "Há, portanto, locais onde o trabalho falhou e é preciso agora concentrar
esforços", diz Coelho.
O Ministério da Saúde liberou R$ 1,08 bilhão para trabalhos de prevenção da
doença, como distribuição de nebulizador e pulverizador para combater os criadouros do
mosquito.
Lígia Formenti - O Estado de São Paulo
HISTÓRIA
A GUERRA DO PACÍFICO
1. Antecedentes históricos
Desde a primeira metade do século XIX, a evolução das Repúblicas hispano-sulamericanas foi marcada por muitos conflitos. Estes, no plano interno, decorreram, muitas
vezes, da disputa dos caudilhos pelo poder. No plano externo, questões de fronteira e, em
última instância, problemas econômicos, acabaram provocando guerras interamericanas.
Em 1836, começou um conflito entre o Chile e a Confederação Peru-Bolívia,
tendo como pano de fundo divergências quanto às taxações sobre dois importantes
produtos de exportação: o trigo chileno era fortemente taxado pelo Peru, que tinha o seu
açúcar altamente tributado pelo Chile. A paz foi assinada em 1839. Decorridos apenas
dois anos, nova guerra ocorreu, desta feita opondo Peru e Bolívia (1841-1842), por causa
de questões fronteiriças: era pretensão do Peru anexar parte do território boliviano. Sob
mediação do Chile, a paz foi restabelecida sem que a República peruana atingisse seus
objetivos. Por esta época, na Europa, as teorias malthusianas de aumento populacional
acenavam ao mundo com o fantasma da fome. Fazia-se necessário renovar os solos
cansados para que a produção de alimentos pudesse acompanhar o vertiginoso
crescimento da população europeia. Os laboratórios ingleses pesquisavam novos adubos
agrícolas, descobrindo no guano (esterco de gaivotas e alcatrazes), encontrado nas
costas do Pacífico, principalmente no Peru, excelentes propriedades fertilizantes. O
governo peruano iniciou a exportação dessa matéria-prima para a Inglaterra. Pouco
depois, porém, o salitre revelou ser melhor adubo que os excrementos das aves
marítimas e rapidamente deslocou o guano no mercado internacional.
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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Vistos esses fatos históricos preliminares, para melhor entendermos a Guerra do
Pacífico, torna-se importante situarmo-nos na evolução política e econômica do Peru,
Bolívia e Chile, a partir da segunda metade do século XIX.
a. Peru
Desde 1851, o governo peruano empreendeu o fortalecimento da marinha de
guerra e incentivou a exploração do guano e do salitre. Esses dois recursos "ocuparam
um lugar de enorme destaque na economia peruana. Seus rendimentos constituíam-se na
principal renda fiscal. O país sentiu-se rico. O Estado usou o seu crédito sem limites.
Viveu no esbanjamento, hipotecando seu futuro às finanças inglesas" (MARIATEGUI,
1975. p. 9.). Foi também a partir do guano e do salitre que se desenvolveram os alicerces
do capitalismo peruano, estimulando os primeiros passos de uma burguesia, ainda que
incipiente e revestida dos vícios da velha oligarquia latifundiária: "Antigamente, as
grandes famílias limenhas floresceram à custa da prata de Potosí, e agora passavam a
viver do excremento dos pássaros e da seiva branca e brilhante das salitreiras: meios
grosseiros para os mesmos fins elegantes”(GALEANO, 1978, p. 153.).
Além das lutas internas que desgastavam a economia peruana, havia o problema
com a Espanha, que relutava em reconhecer a Independência do Peru. Exatamente por
isso, começou a guerra entre a Confederação Chile-Peru-Bolívia-Equador e a Espanha
(1865-1866), em que os espanhóis foram derrotados. Após a expulsão dos espanhóis,
recomeçaram os conflitos entre caudilhos. Nessa época o Chile e a Bolívia se
desentendiam por questões de fronteiras, o que ameaçava indiretamente o Peru. Além
disso, capitalistas ingleses já investiam maciçamente nos territórios chilenos e bolivianos,
ricos em nitrato e salitre, o que era outra ameaça, já que estes eram a base da economia
peruana. Assim, o governo Mariano Prado estabeleceu o monopólio da distribuição dos
nitratos e, logo depois, em 1873, assinou um tratado de aliança secreta com a Bolívia,
visando defender seus interesses contra a especulação de capitalistas chilenos e
ingleses. O governo peruano, contudo, foi mais longe: em 1875, expropriou "as minas
chilenas de nitrato situadas em Tarapacá [Província peruana], invocando o direito de
domínio eminente e pagando uma indenização que o Chile considerou inadequada"
(DOZER, D. M., 1966, p. 390.). Embora não houvesse protestos da companhia chilena de
nitratos, uma vez que ainda contava com uma concessão do governo boliviano para
exploração das jazidas situadas em seu território de Antofagasta, as relações entre o
Chile e o Peru ficaram prejudicadas.
b. Bolívia
A República da Bolívia, ainda que tivesse uma economia baseada em recursos
minerais (cobre, chumbo, zinco, estanho), também possuía regiões ricas em guano e
salitre. E foi a defesa dessas regiões que a levou à Guerra do Pacífico.
Antofagasta - Província boliviana rica em salitre e guano - era reivindicada pelo
governo chileno, que já explorava clandestinamente minas existentes, aproveitando-se da
fragilidade da Bolívia, sempre envolvida em numerosos golpes militares que
desestabilizavam o país política e economicamente. Mas, em 1866, o problema foi de
certa forma contornado, quando os dois países firmaram um convênio determinando que:
. o Chile reconhecia a soberania boliviana sobre o território em litígio;
. as tarifas de exportação sobre todas as riquezas minerais, compreendidas entre
os paralelos 23º e 25º , assim como as rendas provenientes dessa exportação seriam
divididas igualmente entre os dois países.
Depois disso, capitalistas chilenos realizaram grandes investimentos naqueles
territórios, inclusive na construção de ferrovias, facilitando o escoamento dos minérios
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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extraídos. O povo da Bolívia, entretanto, não via com bons olhos o desenvolvimento de
seus vizinhos às custas de riquezas que lhe pertenciam. Seu governo, que já havia
assinado, em 1873, um acordo de aliança defensiva e ofensiva com o Peru, aumentou as
tarifas sobre exportações minerais, o que violava tratado anterior com o Chile (1866). O
Chile protestou e, novo acordo foi assinado, em 1874, pelo qual eram reconhecidos os
direitos bolivianos ao norte do paralelo 24°; em compensação, a Bolívia comprometia-se a
não mais aumentar as tarifas sobre as exportações dos minérios de Antofagasta. Pouco
depois, assumiu o poder o ditador Hilarión Daza (1875-1879), em cujo governo eclodiu a
Guerra do Pacífico.
c. Chile
Entre os envolvidos na Guerra do Pacífico, o Chile era o que apresentava maior
desenvolvimento econômico e relativa estabilidade política, em que pese o seu
envolvimento nos conflitos com países vizinhos e com a Espanha. Em 1851, foi eleito
Presidente Manoel Montt. Seu governo empreendeu a construção de estradas de ferro e
desenvolveu o telégrafo entre Santiago e Valparaíso, além de incentivar a formação de
novas indústrias no país. Seu sucessor, Joaquín Pérez, efetuou modificações de cunho
liberal na Constituição, no que foi seguido por Federico Errázuriz (1871-1876), cujo
governo aprovou leis, como a que impedia a reeleição presidencial. Além disso, restringiu
a influência da Igreja e dissolveu tribunais eclesiásticos. Sua principal preocupação foi
reforçar a esquadra chilena, tomando-a poderosa, o que conseguiu graças a empréstimos
londrinos. Nessa época, o Chile sentia os efeitos da crise econômica que abalou o Mundo
Ocidental, em 1873. Como alternativa, seu governo investia vultosos capitais, tanto
chilenos quanto ingleses, nas minas de nitrato de Antofagasta, na Bolívia, e Tarapacá, no
Peru. O objetivo do Chile era conquistar as Províncias de Tarapacá e Antofagasta, cujas
riquezas interessavam a empresários chilenos e ingleses.
2. A guerra
Em virtude das lutas caudilhescas que enfrentava desde a Independência, o
governo peruano desgastava –se economicamente, e o estabelecimento do monopólio na
distribuição dos nitratos de Tarapacá, ainda no governo Prado, visava não apenas a
resguardar riquezas, mas a garantir recursos para o crescimento da economia peruana.
Deste modo, a concorrência anglo-chilena na exploração de nitrato a partir do território
boliviano representava uma ameaça à economia peruana. O governo Prado, então,
resolveu pressionar a Bolívia no sentido de aumentar os tributos sobre as exportações
chilenas de Antofagasta, em que pese o acordo de 1874, firmado entre esses países.
Em 1878, o Congresso boliviano aprovou um imposto de dez centavos por quintal
de fertilizante exportado pela Companhia Chilena de Salitre de Antofagasta. Os chilenos
recusaram-se a pagar tais tarifas e, por isso, suas empresas foram confiscadas e postas à
venda pelo governo boliviano. Logo depois, a Província de Antofagasta foi invadida por
tropas do Chile, dando início à chamada Guerra do Pacífico, que bem poderia ser
chamada de Guerra do Salitre.
3. O Chile venceu...
Iniciado o conflito, o Peru ofereceu-se como mediador, propondo algumas
condições preliminares, como:
. retirada das tropas chilenas dos territórios que ocupavam;
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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. administração conjunta da área disputada pelas três nações interessadas: Chile,
Bolívia e Peru; e
. que as rendas obtidas na exploração das minas de Antofagasta fossem divididas
igualmente entre Chile e Bolívia.
A imprensa, contudo, revelou o acordo secreto entre o Peru e a Bolívia, enquanto
os capitalistas ingleses pressionavam o Chile, que, convencido da interferência peruana
no caso das medidas fiscais contra as companhias de nitrato, acabou rejeitando a
mediação e declarando guerra a ambos os países, em abril de 1879.
"Concidadãos: É chegado o momento de se ver terminadas as disposições
necessárias para fazer frente à guerra a que, com tanta temeridade quanto injustiça, nos
provocou o governo do Chile. Se o tempo que essas preparações exigiram deu ânimo a
nosso adversário para cometer em nossa costa atos de crueldade e barbárie
desnecessários, lhe mostraremos que não se ferem os brios de um povo que ama sua
glória e sabe, em todo caso, levantar seu decoro." (Proclamação do General Prado ao
povo peruano, maio de 1878. DELGADO, L.H. Estampas de la Guerra Peru y Chile –
1879. Lima: Ariel Editores Publicistas, 1965. p. 23.)
Envolvido no conflito, o Peru acabou, quase que sozinho, sustentando as
operações bélicas contra o Chile, já que a Bolívia, além de mal preparada, revelou total
ineficiência nos combates. "O Chile, por outro lado, estava ansioso por experimentar suas
forças, inclusive uma nova marinha de guerra, moderna, com dois couraçados dotados de
torres giratórias e armamento de superior qualidade. A sorte da guerra foi, na verdade,
decidida pela marinha chilena, pois as condições topográficas das províncias litigiosas e
as dificuldades de transporte tornavam impraticável a luta por terra. Com o apoio da
marinha, as tropas chilenas assenhorearam-se rapidamente não só de Antofagasta, mas
também das Províncias peruanas de Tarapacá, Tacna e Arica, cuja ocupação estava
consumada em fins de 1880”. (DOZER, D.M.,1966, p. 391.)
Fonte: www.historia.net, acessado em 15 de junho de 2009.
O TRABALHO NA AMÉRICA ESPANHOLA
A conquista do espaço americano ofereceu aos espanhóis a possibilidade de rápido
enriquecimento, através do grande volume de metais preciosos existentes na região. Já
na primeira expedição de Cristóvão Colombo, houve o contato com os valiosos minerais
que despertavam a cobiça do reino espanhol. Logo em seguida, os colonizadores
ampliaram suas reservas de metais preciosos ao subjugarem as grandes civilizações
indígenas
americanas.
Ainda no século XVI, as primeiras notícias sobre a existência de grandes minas de
prata nos arredores do Alto Peru instigou a vinda de vários representantes da metrópole
no intuito de obter a riqueza fácil, proveniente do subsolo americano. Nos primeiros
duzentos anos da colonização, os
espanhóis
se
concentraram nesse
tipo
de
atividade, estabelecendo o caráter eminentemente exploratório e, ao mesmo
tempo, mercantil das atividades econômicas firmadas em seus domínios.
Para organizar a força de trabalho a ser empregada, os espanhóis preferiram trabalhar
junto às populações indígenas locais. A escravidão não era permitida, tendo em vista os
interesses religiosos que a Igreja tinha na conversão da população nativa. Dessa forma, a
Coroa Espanhola resolveu adotar outras modalidades de trabalho compulsório, que
resolvessem essa questão. Para tanto, utilizaram dos sistemas de repartimiento e da
Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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encomienda.
O repartimiento, na verdade, era uma modalidade já conhecida pelas populações
indígenas anteriormente subjugadas ao império inca (mita) e asteca (cuatéquil). Esse tipo
de sistema era usualmente gerido através de um sorteio onde os índios selecionados
deveriam trabalhar compulsoriamente durante certo tempo. Em geral, os indígenas eram
submetidos à realização de tarefas desgastantes em um ambiente bastante adverso. Ao
fim da jornada, os índios recebiam uma compensação financeira de baixo valor.
Com o passar do tempo, as populações escolhidas para esse tipo de atividade
passaram a receber um “partido”, ou seja, uma parcela dos metais preciosos recolhidos
durante o tempo de serviço. Em outro momento, a falta de indígenas disponíveis para a
execução das tarefas forçou a substituição do repartimiento pelo trabalho livre. O uso
desse tipo de trabalho acarretou na desintegração de várias comunidades indígenas
americanas.
Outra forma de exploração da mão-de-obra indígena foi a encomienda. Nesse sistema,
o rei espanhol, na figura de seus administradores, concedia uma permissão à um
encomendero. Este, por conseguinte, poderia utilizar a mão-de-obra de toda uma
comunidade indígena para a exploração dos minérios e terras disponíveis. Em troca, o
encomendero era obrigado a oferecer a catequização a todos os indígenas postos sob a
sua
responsabilidade.
O encomendero não poderia tomar as terras das comunidades indígenas e a sua
concessão era repassada somente às duas gerações seguintes. Apesar dessas
restrições, o sistema de encomienda também foi marcado pelo abuso e a exploração
intensa das populações nativas. Uma das maiores provas da violência e imposição dos
espanhóis pode ser observada no rápido processo de dizimação das várias comunidades
indígenas americanas.
Fonte www.historia.net, acessado em 15 de junho de 2009.
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Informativo Nr 111 (2º/2009) – CP/ECEME 2009
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