caso aluizio palmar - Documentos Revelados
Transcrição
caso aluizio palmar - Documentos Revelados
1) CASO ALUÍZIO PALMAR: Aluízio Ferreira Palmar nasceu em maio de 1943 , no Es tado d o Rio de Janeiro. Casado com Eunice de Almeida 1, tev e quatr o filhos : Florita, An dréa, Alexandre, Ana Luiza e Janaina de Almeida Palmar, os dois primeiros nascidos no exílio. Integrante de uma família humilde, ingressou na juventu de ao mesmo a o mesmo tempo em que ia descob rindo o m undo e os so nhos , desveland o a política e as adversidades de um país em que a maior parte da so ciedade enfrentava imensas dificuldades no co tidian o: “Eu tinh a 18 anos qu ando ingressei no Partidão, mas minha aprendizagem come çou na adolescên cia. Antes de completa r 15 a nos , já havia lido A Mãe, de Gorki, algumas obr as de Gra ciliano Ramos e também de Jorge Amado. Eu tomava os livros empresta dos d o doutor 1 Cunha , um geólogo q ue Vide Certidão de Casamento, apenso a Requerimento de Anistia nº 2001.01.00330, de Aluízio Palmar, Anexo Condor-061, p. 27. pesquisava o solo rico de malacache ta de minha cidade natal , São Fidélis, Nor te d o Esta do do Rio. Meu primeiro con tato com o marxismo acon tece u em 1 958. Foi por intermédio de um gr upo de operários cal ceteiros pavimentav a com q ue paralelepípedo s as ruas da cidade. Eles per tenciam a uma base do Partido Comunista Brasileiro (PCB) da vizinha cidade de Campos. 2 [...] O pela péssimo empresa serviço pres tado con cessionária do transp orte marítimo en tre Niterói e Rio de Janeiro deu o rigem, em maio de 1959 , a uma revolta popular de grande envergadura. O q ue havia começa do como um localizado a cabo u pro testo prop agando - se por toda a cidade e assumindo um aspecto de insur reição. A manifestaçã o começou pela manhã , atravessou a n oite e o sa ldo f oi a depredação da esta ção das bar cas , intervençã o militar, seis mor tos e uma cen tena de feridos. Eu par ticipei ativamente da rebelião das ba rcas , q ue po r sua ve z teve uma grande influên cia em meu process o de co nscien tizaçã o. Duran te a revolta popular , chamo u 2 PALMAR, Aluízio. Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Travessa Dos Editores, 2007. p. 169 minha atençã o a atitu de democrá tica e de s olidariedade com a massa trabalha dora tomada pelo então governad or fluminense Roberto Silveira, dos um influentes políticos d o PTB. ” mais 3 [...] Em agosto de 1 96 1, qu ando Jânio Quadr os ren uncio u, minh a militância no movimento es tuda ntil de Niterói era intens a. Mais uma vez a en tão ca pital d o Esta do do Rio se mobilizou, dessa ve z par a defender a legalidade, ameaçad a pela ten tativa de impedir a pos se de João Goulart. impulsionou massas e o fato movimento elevou cons ciência Esse dos o nível de de trabalhad ores. Naqueles dias a trincheira de luta era no Sindi cato dos Navais, localizado no Operário s bairr o de Barreto , e lá estávamos reunido s esperando as ordens Central do Par tido. do Comitê 4 [...] Nós não tín ham os dinheiro para senta r à mesa de bar, éramo s trabalhad ores assalariados , cheio s de co ntas e vivendo num país devorado pela infla ção. [...] 3 4 PALMAR, Aluízio. Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Travessa Dos Editores, 2007. p. 171. PALMAR, Aluízio. Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Travessa Dos Editores, 2007. p. 172. Naquela altura do campeona to , nã o bas tasse eu aind a morar em São Gon çalo , tra balhar n o Rio e estudar em Niterói, já nã o viajava mais no sucata do trem da Leopoldina. Pas sei a an dar de bonde , de ô nibus e de trolebus , q ue era um ônibus elé trico ; depe ndend o é lógico de quan to havia s obrad o d o salário minguado ou do que havia restado da féria na gaveta do armazém de papai. 5 Daquele ambiente con tur bado adveio o golp e de 19 64. O livro “On de foi que vocês e nterra ram noss os mor tos 6, cujos trech os es tão citad os acima , é em boa medida uma au to biografia e um tes temunho d aquele fa tídico períod o e de dé cadas de militância e resistên cia, percorre fato s e even tos que atingiram muitos dos que ousaram se opor à ditadura brasileira e permite conhe cer um pou co mais sobre vários daqueles que foram presos, torturados , desaparecid os ou m orto s. Aluízio relata a experiên cia do golpe de 196 4 d a seguinte forma: Em 196 3 e 1 964 o Brasil começava a pensar por si mesmo, a tomar cons ciência de seu s problemas e de como res olvê -los por conta pró pria. Parecia que o país inteiro estava ficando mais inteligente. Em todos os ca ntos, no s boteq uins 5 e salas de aula, no s PALMAR, Aluízio. Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Travessa Dos Editores, 2007. p. 174. PALMAR, Aluízio. Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Travessa Dos Editores, 2007. p. 167175, vide esta publicação na íntegra anexa à versão eletrônica deste relatório em Anexo Condor-060. 6 papos da fila do ônibus , na saída d o cinema, na praia, tod o mund o tinh a ideias novas, ques tionava e q ueria descob rir o que estava erra do com o Brasil. As pessoas cons cientizan do -se e es tavam acredi tavam que as mudan ças eram p ossíveis. No dia 13 de março, mais de cem mil pessoas se con centr aram no Comício da Centr al. O presiden te João Goular t afirmou para a multidão que era chegada a hor a das reformas e que as estruturas d o país estavam ultrapas sadas e nã o poderiam mais realizar o milagre da salvação nacio nal de milhões de brasileiros. Ainda no Comício Pró Reformas de Base , Jango disse q ue “a maioria dos brasileiros não se conf orma com vigente, a ordem imperfeita , s ocial inju sta e desumana”. Foi golpe elites então militar que aconte ceu o patro cinado econ ômicas e pelas política s brasileiras que viam n o govern o João Goular t uma an te -sala para a instalação de um regime comunista no Brasil. Na exacerbaçã o da luta de classes e paranóia da Guerra Fr ia , as propos tas de reformas de ba se do governo foram atr opeladas po r tanques e fuzis , entusiasmado fazendeiros , sob de grande o aplaus o empresários , par cela da Igreja Católica e da classe média. Ruas e p raças foram ocupadas po r tropas d o Exér cito e os age nte s policiais corriam de um lado para outr o em agentes de busca dos perigoso s M oscou , Pequim e Havana. Para evitar que eu fosse preso, meu escondida s pai para me o levou sítio do às tio Antônio , na Serr a da Ven tur osa, em São Fidélis, interior do Es tado d o Rio. 7 [...] “Na véspera, ainda resistíamos nas ruas de Niter ói. As notícias e ram de mo bilização de tropas em Mina s Gerais e de manifesto golpista. Na tarde do dia 31 de março organizamos uma passeata e saímos em marcha pela Avenida Almirante Amaral Peix oto gritando palavras de ordem em defesa d o govern o Joã o Go ulart, d a democra cia e das reformas. [...] Na manhã seguinte , 1º de Abril, estávamos na sede do PCB n o Edifício Ájax, ate ntos a o noti ciário que informava s obre o avanço do s golpistas em tod o o país , q uand o alguém exclamou, não sei se foi Afonsinho ou Miguel Batista : “Vamos resis tir”! Foi en tão que e u 7 PALMAR, Aluízio. Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Travessa Dos Editores, 2007. p. 176. peguei o Aquiles Reis pelo braço e pedi que me acompanhasse até Sã o Gonçalo para despedir -me de meu s pais e ap anhar umas mu das de roupa. Chegamos em ca sa por volta das on ze ho ras da manhã. Mamãe estava na cozinh a e quan do ela no s viu diminuiu o volume do rádio, que, naq uela altura do s acon tecimentos, tra nsmitia apena s marchas e do brados militares. Tiro u o avental e nos re cebeu com beijos. Não foi revelasse chegada , nem o pre ciso mo tivo assim, que de sem eu minh a mais nem menos. Sua intuição ma terna er a suficiente par a que ela percebes se o que estava aconte cend o. Por iss o não disse n ada. Prepar ou o ca fé com leite, des tapo u a manteigueira e ficou muda enqua n to no s acompan hava até o por tão. Beijei lhe a face molhada pelas lágrimas de seu pran to mudo e f ui. ” 8 Naqueles tempos de juventu de Aluízio estudo u Ciências Sociais na Universidade Federal Fluminense e, devido à sua militância revo lucio nária, não terminou o cur so: “Em meados de 1 96 8 tive que abando nar meus estudo s na Faculdade de Filosofia , Ciências e 8 PALMAR, Aluízio. Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Travessa Dos Editores, 2007. p. 167168 Letras , da UFF [Universidade Federal Fluminense], p or haver sid o intimado a compare cer n o F orte Rio Branco , em Niterói. Sabendo da prisão de outros colega s naquela guarnição da Marinh a, me desloquei para o Par aná, onde fui pres o em 0 4 de abril de 1 969 ”. 9 Fundad or do MR 8 10 (o primeiro, de Niterói) , em 1969 é preso e tr oca do , junto com ou tros revolu cionários pelo e mbaixador da Suíça no Br asil , Giovanni Enr i co Bu cher. Ap ós sua libertaçã o e banimen to d o País, passou a militar na VPR - Va nguarda P opular R evolucionária , organiza ção que militavam também as seis vítimas da chacin a do Parque Nacional do Iguaçu , caso rela tado anterio rmente . Com a anis tia política d e 197 9, v oltou ao Bra sil e deu iní cio à ca rreira j ornalística em F oz do Iguaçu. Documen to oriund o da Subse cre taria de In teligência da Casa Militar da Presidência da Rep ública, data do de 1º de dezembro de 199 7, relaciona os registros localizados à ép oca no s arquivos d a repressão a respeito de Aluízio Palmar, sob a guarda daquele órgão. O documento evidencia a extensão e a intensidade do moni toramen to de Aluízio de 196 9 até 19 88 , já em pleno process o de redemo cra tizaçã o do país: “Em conf ormidade com a Portaria n° 008 , de 16 JAN 96, d a Subsecre taria Presidência de da In teligência República, da [...] informo que nos arq uivos em poder desta 9 S ubsecretaria há registro s Vide Requerimento de Anistia nº 2001.01.00330, de Aluízio Palmar, Anexo Condor-061, p. 3, 8-10, 71. O MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) era uma organização política de ideologia comunista. Surgida em 1964 no meio universitário da cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro, com o nome de Dissidência do Rio de Janeiro (DI-RJ) foi depois rebatizada em memória ao dia em que Ernesto "Che" Guevara foi capturado, na Bolívia, em 8 de outubro de 1967. 10 sobre fa tos e si tuações com a s seguintes indicações a respeito d o requerente : ALUÍZIO FERREIRA PALMAR [...] Foi redator do semanário "Hoje Fo z"; editor e redator d o semanário "Nosso Tempo" em Fo z do Iguaçu/PR; p residente da Comissão Execu tiva Municipal d o Partido Dem ocrá tico Tra balhista de Foz do Igua çu/PR (PD T/FI/PR); e membro do Diretó rio Regional d o PDT/PR. Em 69, Inquérito f oi indiciado P olicial Militar em (IPM) , instaurad o n o Rio de Janeiro , par a apurar atividades pela organização dese nvolvidas s ubversiva denominada Movimento Revolucionário 8 de Ou tub ro (MR 8). No relatório do inquéri to f oram registrados sobre o os seguintes req ueren te: dado s co dinome "André"; foi um d os fun dadore s e dirigentes do movimento , p ois tomou pa rte na Fre nte de Qua dros ; em MAR 6 8, par tiu p ara o su does te do Paraná a fim de fazer um levantamento topográfi co da região e sobre as co ndições de vida de seus habi tan tes; e , compr ou um sítio para servir de "aparelh o" a o movimento. Em 29 S ET 6 9, o encarregad o do inquérito con cluiu que o req uerente in fringiu os ar ts. 21 e 23 do Decre to - Lei n º 3 14/6 7. Como os fatos apura dos cons titu íam crimes de tribunais competê ncia militares , do s remete u os autos ao Chefe do Estado - Maior d a Armada, a providenciar quem so bre a incumbia remessa à autorida de compe tente na forma d o art. 1 17 , § 2° , d o CMJ. Em 25 F EV 6 9, foi in timado a compare cer no quar tel do For te Rio Branco , a fim de presta r declarações no ca so em que era indiciado Lizt Be njamim Vieira. Não cons tam maiores dado s sobre o assunto. Em 0 7 ABR 69 , foi preso na 5ª Cia de Polícia do Exército 11, por determinaçã o do comand ante d a 5ª Região Mili tar, p or esta r indiciad o em IPM. Em 28 MAIO 69 , foi transferid o pa ra o 1 º Distrito Naval no Rio de Ja neiro. Em MAIO 6 9, foi indiciad o em IPM, manda do instau rar pelo Comandante da 5ª Região Militar (5ª RM) e 5ª Divisão de Infantaria (5ª DI), conf orme por tar ia n° 119 AJ/4, de 1 1 BAR 6 9, para apura r 11 A 5ª Cia de Polícia do Exército e o comando da 5ª Região Militar funcionavam em edificação do exército onde atualmente é a Praça Rui Barbosa, em Curitiba. Nesse local, muitos dos presos políticos foram torturados e mantidos incomunicáveis, sem direito à defesa ou a um advogado. Décadas mais tarde a edificação foi demolida e deu lugar a novo espaço da Prefeitura Municipal de Curitiba denominado “Rua da Cidadania”, onde funcionam serviços municipais, um mercado ambulante e estacionamento público. atividades su bversivas Cascavel/PR e adjacen tes. em municípios No relató rio do inquérito , verificou -se que no dia 04 ABR 69 o re queren te foi detid o em Cascavel/PR, após um aciden te de trânsito e que além de tentar usar um do cumento de identida de falso em nome de JOSÉ D E AUGUSTO LIMA, transp ortava vá rios livros e publicações de cará ter comu nista , conf orme co nsto u apreensão. [...] do Do a uto exp osto, de o Enca rregado do inquérito con cluiu que o requeren te fa zia par te de um grupo organiza do o rientad o po r uma chama da "co ordena ção ", com elementos inte rmediários chamado s "co nta tos " grupo e cujo implantar com execu tan tes , o bjetivo no comunista pais era o um obe decen do de regime a um planejamento que pa ssava pelas fases l evantamento da s de possibilidades, esquerdista e da p olitizaçã o da ins urreiçã o armada. Em 09 MAIO 69 , solicito u a decreta ção da prisão preven tiva d o requerente de acord o com a letra "b" do art. 149 do CJM. E como o fato ap urado con stituía crime da competê ncia da justi ça militar, remeteu os au tos ao coma ndan te d a 5ª RM e 5ª DI, a quem incumbia solucionar e remeter à au torida de compete nte , na forma d o § 2° do art. 17 do CJM. Em 23 MAIO 6 9, o comanda nte da 5ª RM e 5ª DI, verificou que cons tituía o fato cr ime ap urad o previsto no Decreto-Lei nº 31 4/67 , m odificad o pelo De creto-Lei n° 51 0/6 9, e determinou q ue os au tos f ossem remetidos ao auditor da Auditoria daquela Região Militar, para fins de direito de acordo com o ar t. 4 4 d o Decreto-Lei n° 510/ 69. Em sessão de 22 MAIO 69 , Permanente Auditoria de da unanimidade, o Conselh o Ju stiça (CPJ) 5ª RM, de cretou a da po r prisã o preventiva do requere nte , a fim de que permanecesse pres o à disposição do en carregado do IPM. Em 02 JUN 69, foi den unciad o n o process o nº 12 7/70 , na 5ª Circunscrição Ju diciária Militar (5ª CJM), recebida em 06 JUN 69. Pelo desaforamen to n° 174 , o Superio r Tribunal Militar (STM) determino u a remessa dos autos pa ra a 2ª Auditoria da Marinha da 1ª CJM, por haver co nexão com o pro cesso n° 70/69 12, seguindo o pr ocess o o rito 12 O IPM 70/69 (vide Anexo Condor-062), aberto no Rio de Janeiro pela 1ª Auditoria da Marinha, teve como encarregado do inquérito o militar Clemente José Monteiro Filho e investigava o MR-8. Foram denunciados na peça acusatória inicial de onze páginas, pelo procurador da Justiça Militar, João Vieira do Nascimento, trinta e três pessoas, entre elas Aluízio Ferreira Palmar, Cesar Cabral e Luiz Fábio Campana. O processo atingiu mais de 8.400 páginas (9 volumes, 26 anexos, 3 apensos e um índice). Um segundo IPM, de número 600/71 (vide Anexo Condor-063), foi aberto em Curitiba a partir de denúncia do procurador da Justiça Militar da 5ª CJM, Alceu Alves dos Santos. Ambos os processos integram o acervo do Brasil Nunca Mais Digital e estão disponíveis no seu repositório em do antigo CJM, na forma do art. 711 , Código de Pr ocess o Penal Militar (CPPM), com interr ogató rio ao final. Não e ncontr ado o a cusa do , foi expedido edi tal de intimação , para o dia 13 MAR 79. Em 2 9 AG O 70, foi co ndenad o pela 2ª Audi toria da Marinha da 1ª CJM, no pr ocess o nº 7 0/69 , à pena de 06 (seis) ano s de prisão , como incu rso no Decreto Lei nº 510/ 69 , tend o sido considera do o início da pena em 2 7 de MAI 6 9. Em JUL 69 , cons tou de relação de militantes pres os per tence ntes a Organizaçã o Político Militar ( OPM) , conhe cida como Movimento Revolucionário 8 de Ou tub ro (MR 8). Em NOV 69 , foi en caminhado ao CENIMAR no Rio de Janeiro/GB, onde f oi indiciado em nov o IPM. Encontrava-se p reso à disposição d a justiça. Em 09 DEZ 69 , con sto u de relação de pres os político s perten centes ao MR -8 à disposiçã o da 1ª Auditoria da Marinha, em fase de sumário de culpa e que se encon travam em greve de fome n o presidio da Marin ha. http://bnmdigital.mpf.mp.br/#!/ . Luiz Fábio Campana foi ouvido pela CEV-PR em audiência Pública realizada pela CEV-PR nos dias 29 e 30 de setembro de 2015 e seu testemunho está disponível no anexo à versão digital deste relatório. Em 70, o Secre tário -Geral do Conselho de Segurança Nacio nal elaborou exposi ção d e motivos a o Presidente da República , relativamente a represen ta ção d o presidente da extin ta Comissão - Geral de Inquérito Policial Militar (CG/IPM), direitos para s uspensã o p olíticos do do s requeren te , estudan te n o Paraná , n os te rmos d o Decreto-Lei n° 459 , de 10 F EV 69. A Secreta ria-Geral, após pro ceder a minucioso compulsar estudo a fa rta do assun to , do cumentaçã o encaminhada pelo Serviço Nacio nal de Informações (SNI) e pelos demais Órgãos de Informa ções e o uvir o Conselho de Segurança Nacio nal (CSN), sugeri u, na co nformidade d o art. 5º do Ato Complementa r nº 39 , a suspensã o dos direitos político s do requeren te pelo pra zo de 1 0 (dez) anos , cons oan te disposição n o art. 4º, do Ato Insti tucio nal nº 5 , de 13 DEZ 6 8 (AI/5). Em Dez 7 0, cons tou de relação de presos consider ados s ubversivos , recolhidos sob Superinten dência Penitenciário cus tódia do (SUSIPE) na Sis tema na Ilha Grande/RJ. Ainda em DEZ 70, foi propo sto para ser tro cado pelo embaixado r suíço Giova ni Enrico Bu cher , sequestra do a 07 DEZ 70 , no Rio de Janei ro/GB. Em declaraçã o de próprio punh o con cord ou com a indicaçã o de seu nome , ar cand o com a conseq uente medida de banimento do pais. Através do Ato Ins titu cional n° 13, de 05 de S ET 6 9, Decreto n º 68.05 0, de 13 JAN 71, foi banido d o Território Nacio nal e e xpulso, na conf ormidade d o ar t. 10 8 e seu § único , combina do com o ar t. 108 d o Decreto n º 66. 689 , de 11 JUN 70 , em troca da liberdade do embaixador suí ço no Brasil. Constou de relação de brasileiros banidos que viajaram a o Chile em 14 JAN 7 1. Em 72 cons tou de relação de brasileiros que deixaram o Chile. Em 01 JAN 79 , com a en trada em vigor da emenda Consti tucio nal n° 11, de 1 7 OUT 7 8, o req ueren te deixou de ser considera do pesso a banida d o Território Na cional. Em AGO 78, cons tou de relação de brasileiros República da re fugiados Argentina, na com provável localização n o muni cípio de Rafael Cas tillo/RA. O jornal "O Estado de São Paulo", ediçã o de 03 JAN 79 , publicou rela ção o nde cons tou o nome do requeren te como send o um dos revogação beneficiad os de com a ban imen to , determinado pelo Ato Complementar nº 64 , de 0 5 SET 6 9 e pelos Decre tos n° 66. 319/ 70 , 66.76 1/70 e 68.0 50/7 1. Em MAR 79 , fe z pa rte de uma relação de ex - banidos , que tiveram seus proces sos sobresta das ou conden açõe s por f or ça do banimento , revogad o pe lo De creto n° 82.9 60 , de 2 9 DEZ 78. Em 19 JUN 79 , re torn ou ao Brasil, sendo integrad o a eq uipe redatorial do semanário «Hoje Foz ", em Foz d o Iguaçu/PR , o nde pa ssou a residir. Entre 02 e 03 FEV 8 0, particip ou do Encon tro d os Comitês Brasileiros pela Anistia da Região Sul, re alizado em Curitiba/PR. Em 22 F EV 80 , fez a segur ança pessoal de Leo nel Brizola, q uand o de sua chegada a Fo z do Iguaçu/PR , para par ticipar da reo rganizaçã o d o Partido Trab alhista B rasileiro local. Em 14 JUL 80 , represen tand o a Comissão de Justiça e paz de Foz do Iguaçu/PR, par ticipo u dos deba tes , conversa ções e reivindicações, na s proximidades do escritório regional da Itaipu em San ta Helena/PR, entre os agricultores re sidente na á rea d o futur o lago da hidrelé trica e o Diretor Jurídico Adj u nto da Itaip u Binacional. 13 Em OUT 80, estava a serviço do Institu to Brasileiro de Ge ografia e Esta tística s (lBGE) em Foz do parti cipou de Iguaçu/PR. Em reunião MAR do 8 1, Partid o Comunista Paraguaio, em Fo z d o Igua çu/PR. Em ABR 8 1, edito r e s ócio proprietá rio semanário “Noss o Tempo", de Fo z d o Iguaçu/PR, foi indiciado n o inqué rito policial n º 030/8 1/DPF/SR/PR , instaurar pelo [inelegível] mandad o comanda nte com a a 5ª finalidade de apurar resp onsabilidades qua nto à veiculação no referido semanário , de artig os considera dos ofen sivos às Forças Armadas e au toridade s cons tituídas , po r infringência do s arts. 1 4 e 4 2, item V , da Lei n º 6.620/ 78. Em 15 JUN 81 , foi denuncia do na Audi toria da 5ª CJM, com base no art. 14 da Lei n° 6.620/ 78 , cuj o pro cesso tomou o n º 10/81 -9. O Juiz-Audi tor da 5ª CJM não acei tou a denún cia solicitada , alegando que a acusaçã o omitiu elementos e requisito s indispensáveis à cara cteriza ção d o 13 Sobre os eventos que atingiram campesinos e indígenas no processo de construção da usina hidrelétrica de Itaipu-Binacional, Aluízio Ferreira Palmar foi ouvido em audiência Pública realizada pela CEV-PR nos dias 29 e 30 de setembro de 2015. O arquivo em vídeo está disponível no anexo a versão eletrônica deste relatório. delito. Da decisã o d o Juiz -Audi tor , o Procura dor Militar jun to a 5ª CJM recorreu ao STM unanimidade, q ue, dete rminou po r que a denúncia fosse aceita. Em 27 S ET 82, a pós interr ogatório do a cusad o e audiência das testemunha s arroladas pelo Ministé rio Público Militar (MPM) e defesa, o requerente foi julgado e a bsolvido. Houve recurso par a o STM. Em 2 8 ABR 83, por maioria, f oi mantida a absolvição do requeren te , entreta nto, h ouve embargo do MP M ao S TM quan to a absolvição. Em 23 S ET 81 , como editor do semanário "Noss o Temp o" e ditad o em Foz do Igua çu/PR, foi a cusad o de contravençã o penal, jun tamen te com ou tro s, no Pr ocess o Contraven cional n° 202/ 81 , tipificado n o art. 4 7 da Lei das Contraven ções Penais, Decre to - Lei nº 3.68 8, de 03 OUT 4 1, insta urad o pela Divisão de Polícia Federal de Foz do Iguaçu/PR. O requeren te foi acusad o de exercer no períod o de ABR e MAIO de 81 , a pro fissão de jornalista , em Decreto-Lei desacor do n° regulamentado 83.28 4/79 , pelo com o 972/ 69 , De cre to segun do nº estava demonstra do nos au tos de infraçã o nº 2 2.83 7 e 22. 843 lavra dos , respectivamen te, n os dias 27 e 3 0 ABR 8J, pela Delegacia Regi onal d o Trabalho em F oz do Iguaçu/PR. Em 24 NOV 81 , a Câmara Municipal de Cas cavel/PR aprovo u requerimento consignando vo to de repúdio a denú ncia pr oferida pej o procurador da Jus tiça Militar contr a o requeren te e outr os jornalista s perten centes ao quad ro e di torial d o semanário "Noss o Tempo " de F oz d o Iguaçu/PR, a cusa dos de terem violado o art. 14 da L SN. Em 82 , cons tou de rela ção de candida tos à de putado federal pelo Partido Democr ático Trabalhista (PDT/PR), às eleições de 15 N OV 82 , apoiados por orga nizaçõ e s subversivas. Em 25 JUL 82 , foi escolhido candida to à Câmara Federal na s eleições de 15 NOV 82 , através d a Convenção Regional do PDT/PR , realizada em Curitiba/PR. Em JAN 83, era membro da Comissão de Justiça e PAZ (CJP) de Foz do Iguaçu/PR , recon duzido p ar a o biênio 82/ 84. Em 12 JUN 83, esteve presente à reunião do Comitê B rasileiro de Solidariedade ao Povo Paraguaio , realizada no plenário da Câmara Municipal tendo de Foz do Iguaçu/PR , como obje tivo discu tir os problemas dos daquele país. pres os político s Em OUT 83, es creveu um artigo no semanário 'Nosso Tempo", em defesa do presidente chileno Salvador AlJende. Em DEZ 83 , era ligado ao Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Povo Paraguaio. Constou de relação de pessoas que no período de 0 2 a 04 ABR 84 , visitaram Juvêncio Mazarollo na prisão. A imprensa paraguaia p ublicou que o re queren te, Depu tad o Esta dual pelo PDT, iria presen ciar um comício em comemora ção ao 4 8° aniversário da Revolu ção de Fevereiro, organizad o pelo Partid o Revolucionário Febreris ta (PRF ) d o Paraguai, numa pra ça p ública de Assunção. Entre 11 secretari ou e 12 AG O uma denominada 8 4, reuniã o Jorna da de Solidariedade ao Povo Paraguaio , realizada no Colégio Agrícola Manoel M oreira Pena , de Fo z d o Iguaçu/PR, com protes tar con tra paraguaia a finalidade a e de di tadur a emprestar solidariedade ao povo daquele pais na luta pela democratiza ção. Em Diretório 85 , era Regional membro do PDT do e presidente do Dire tório Mu nicipal daquele par tido em Fo z do Iguaçu/PR. Em 17 MAR 85, compôs a mesa diretora do I Encontr o do s Trabalhad ores Rurais Sem -Terra de Santa Terezinh a do I taipu/PR, cuj a finalidade foi deb ater a situaçã o d o trabalhad or sem -terra e a reforma agrária. No período de 21 a 2 2 ABR 8 5, duran te a realização do I En co ntr o dos Estudan tes Universitá rios do Oeste , em Foz do Iguaçu/PR , tece u críticas ao regime decorrê ncia da an terior , em situ açã o socioeconômica do país e, pelas negociaçõe s realizadas com o F und o Monetário In terna cional ( FMI). Em 21 JUL 85 , na qualidade de membro do diretório regional d o PDT de Foz d o Iguaçu/PR, comp ôs a mesa dos trabalh os do I En con tro d a Juventude Paraná, Árabe -Palestina realizad o no do salão de Convenções Don a Le opoldina do D. Pedro Palace Hotel, em Fo z d o Iguaçu/PR. Em 01 OUT 85 , foi indicado candida to a Vice -Prefeit o de Foz d o Iguaçu/PR, às eleições de 15 NOV 85, pelo P DT/PR. En treta nto desistiu da candida tura. Em presente 19 ao NOV ato 85 , esteve pú blico de lançamento Diretora oficial da Mu nicipal Comissão Provisória (CDMP) de Foz do Iguaçu/PR do Partido Comunista B rasileiro (PCB), realizado na Câmara Muni cipal de Foz do Igua çu/PR. Entre 14 particip ou do e 15 II DEZ Fórum 8 5, da s Juventudes Políticas do Cone Sul , promovido pej a Juventude Estad ual do PMDB , realizado em Foz do Iguaçu/PR. Em 86 , per ten cia do Comitê Regi onal do MR-8 n o Para ná. Em 05 FEV 8 6, foi coorde nador de um debate s obre ref orma agrária, promovid o pela Coordena ção Municipal do d os Partid o Pr ovisória Tr abalhad oras , realizado no Diretó rio Acadêmico Nilo Cairo (DANC), em Curitib a/PR. No período de 23 a 2 4 AGO 8 6, particip ou da mesa diretora do I Encontro de Dirigentes de Base , com lideranças Departamen to campo nesas do do Alto/Paraguai realizado em Foz do Iguaçu/PR. Em MAR 87, co nsto u de relação de militante s, simpa tizante s das fa cções comunistas e a tivida des de esquerda , infiltrad os n os órgão s de comunica ção so cial do Paraná. Em 08 MAIO 88 , f oi escolhido membro do diretório regional do PDT, para o biênio 88/9 0, atr avés da Convenção Regional do Partido , realizada em Curitiba/PR. É o que se con tém arquivado neste Órgão até a presen te da ta.” Isolamento, in comunica bilidade e tortu ra acompan haram Aluízio Ferreira Palmar em todas as vezes em que esteve preso nas mão s da repressão , sob a guarda e res ponsa bilidade do Es tado. E m 04 de abril de 19 69 na cidade de Ca s cavel, ap ós pass ar uma n oite no pa u -de-a rara , recebe ndo choq ues elétricos e afogamento , foi en viado para o 1º Batalhã o de Fronteiras , em F oz d o Iguaçu , o nde con tin uou send o torturad o e po r fim , cond uzido algemad o na par te traseira de u m veículo veraneio p ara a cidade de Curitiba. Na capital d o Es tad o do P araná pass ou p or tortu ras na Companhia da Política Exér cito , entã o situ ada na Praça Rui Barb osa 14 e em diversas ocasiões na sede da Delegacia de Ordem Política e Social - DOPS. O relatório da DOPS -PR , de 1 8 de novembr o d e 1970 , “ referente às dete nções [...] do MR-8 [ no Paraná ] 15”, assinado pelo d elegado Ozias Algauer registrou as unida des q ue o pre nderam e locais on de f icou detido : “detido pelo delegado de Polícia da 7ª Subdivisão Policial – Cascavel, naquel a cond uzido à elementos des ta cidade , es ta capi tal DOPS , e po r fi cand o detido na 5ª Cia de Polícia do Exército, CENIMAR.” 14 à dispo sição do 16 Refere-se ao Quartel da Polícia do Exército, que funcionava da Praça Rui Barbosa, em Curitiba, PR. O relatório informa quer haviam sido detidos no Paraná, além de Aluízio Ferreira Palmar: na cidade de Laranjeiras do Sul: Sebastião Medeiros Filho, Marco Antônio Faria de Medeiros, Antônio Rogério Garcia da Silveira e Joseph Bartholo Galvet e, em Curitiba: Nielse Fernandes, João Manoel Fernandes, Maria Cândida de Souza Gouveia, Iná de Souza Medeiros e Milton Gaya Leite. Vide Anexo Condor-068. Outro relatório, relativo ao ano de 1969, datado de 29 de dezembro do mesmo ano, inclui mais dois presos à lista: Ivens Marcheti do Monte Lima e Maria da Glória Leite. Vide Anexo Condor-069, p. A prisão destas pessoas, segundo relatório de 17 de julho de 1969, do delegado Ozias Algauer, foi uma operação, um “ plano conjunto DOPS · -· RP - RFFSA/SET/SEG, bem como, com a ajuda da 5ª CIA. PE”. 16 Vide Anexo Condor-068, p. 1. 1. 15 Contraditórios , os vários relatórios da DOPS - PR registravam informações diferente, de a cord o com a finalidade das me smas. Nos do cumen tos destinado s à comunida de de informaçõe s, passava a ideia de que os movimentos de resis tência à dita dura h aviam sido debelados , se us membros presos e punid os e os que e stavam s oltos não mais perseveravam n o propósi to de combater a di tadu ra. Complementava que du rante as de ten ções haviam logrado apreender mate riais impressos subversivos e pu blicações comunistas. Já nos relatórios q ue instruíam os inquéritos, inf ormavam que os presos, n o ato da deten ção , estavam for temente armados , que perte n ciam a grupos de terroris tas muito bem organizado s e de alta periculosidade e que via de regra alguns haviam reagido à prisão, o q ue j ustificava militante s feridos. Exemplo s dess a con tradição s ão: - Relatório de 0 8 de maio de 19 69 , do mes mo delegado Ozia s Alguauer, que info rmava que : “Em Relatório s ante riores esta DOPS inf ormou q ue os Movimento s Estu dan tis estavam decadên cia, em dada s as fase de prisões e conseq uentes co ndena ções dos seu s líderes. [...] Também, no tra nscu rso do mês findo, foi de tido GUERRILHEIRO estudan te: e com o SUBVERSIV O ALUIZIO o FERREIRA PALMAR, que , apesar de residen te no Rio de Janeiro , exer ce sua s atividades n o Para ná. [...] Em poder do mesmo , fo ram apreendidos diversos mapa s referentes a várias áreas de terr as Zona Cascavel, ao n de o mesmo fa zia seus treinamen tos jun tamen te com outr os pe rten cen tes a o Gr upo. [...] a previsão é que continue como está , ou sej a, qu ase inerte , ninguém querendo ser líder, face a s penas que o G overno justamente a s aplica, através os órgão s compete ntes.” 17 O relatório da D OPS de 29 de dezemb ro de 19 69 , d o mesmo delegado Ozias Algauer, especifi camente so bre o MR -8, cor robo rava a mesma informação , dizia q ue: “[...] [a organização d o MR -8] era compos ta de jovens , na maioria estudan tes [...] vindo [esta DOPS PR] a desbaratar uma Organiz açã o já meio disper sa.” 18 O relató rio de j ulho de 19 69 , o cita do de legado informa o que f or a apreendido com os de tidos , nã o cons tan do n a lista a rmas e munições : “Fora ar recad ados p ouco mais de NCr$ 8.ooo ,o o (oito mil cruzeiro s novos) em dinheiro, alguns moveis , vários objetos de es timável valor, três veículos , send o, uma R ural Wyllis e dois Volkswagen, além de farto- ma terial serviram para subversivo, car acterizar q ue os objetivos da Organizaçã o (materiais esses, 17 18 Vide Anexo Condor-069, p. 8 -9 e 11. Vide Anexo Condor-069, p. 1. em poder do C ENIMAR , mediante au to de apreensã o feito por es ta DOPS). ”[sic] 19 Não obs tan te, o relatório de 18 de nove mbro de 19 70 , também d o delegado Ozias Algauer, por tan to bem pos terior a todos o s outros citados , produzid o pa ra res ponde r a impre nsa q ue havia divulga do notí cias so bre violências ocorridas duran te as prisões de integrantes do MR -8 no Par aná , informa que d os cin co de tidos em Curitib a, três e stariam armad os e com grande estoque de munições, sendo que e u m teria reagido “à mão armada” e que os demais só nã o o fizeram porque a eficiência da ação policial não lhes permitiu. Neste relatório h á também insiste nte registr o q ue de tod os teriam recebido “um tra tamento condigno , como é de praxe ” e encer ra afirmand o que: Torturas , e ou tros meios de se obter confissõe s, nã o foram usad os por es ta espe cializada, que em princípio, é co ntra tal prá tica.” 20 O jo rnalista ga úch o Políbio B raga, em seu livro Ahú, Diários de Uma Prisão Política 21, relata as n oites de terror e m que Aluízio Palmar er a tirado do Presídio do Ahú e l evado para a tor tura. Com a queda do MR-8, a repressão ide ntificou a real organizaçã o política de Palmar e ele foi mandad o par a o Rio de Janeiro , on de novas tor turas lhe foram impingidas no CENIMAR, no Presídio da Ilha das Cobras e na Base Naval da Ilha d as Flores, até que após su a condena ção foi cumprir pena no Presídio da Ilha Grande , Esta do d o Rio de Janeiro. No pro cesso de apelação n º 38.49 5, uma das rara s opor tuni dades em que os presos políticos eventualmente conseguiam registrar as to rturas a que err am subme tidos 19 Vide Anexo Condor-069, p. 6. 20 Vide Anexo Condor-068. Ahú, Diários de uma prisão política, Editora Editorial Movimento XXI, 1ª edição. 21 duran te os interr ogató rios, Aluízio co nseguiu registrar suscin tamen te o que acon tecia nas verdadeiras masmorras da rep ressão: “(...) que no dia 4 de abril de 196 9 foi pre so às 17 horas , n a cidade de Cascavel; que dessas 1 7 horas a té as 20 h oras f oi submetid o a um bru tal espan camento po r parte de 2 0 homens , policiais da delegacia de Cascavel e jagu nço s (...) fiscais das compan hias imobiliárias e que estão a serviço da polícia; que nesse espan camento aplicaram ao declarante , telefone , espancamen to nos estômago que sangrando ; horas , a té que, como rins o no deixassem a pós já , essas não 20 f ossem suficientes esses espan camentos o colocaram no famoso pau - de-arar a e que ficou pe ndura do no pau -de arara das 20 h oras às 3 hora s do dia seguinte; que f oi preciso , inclusive , substituir um ferro q ue eles usam para pendu rar po rque o outr o tinh a amassado de pois de ta nto temp o em que o de claran te estava pendurad o; q ue enqua nto es tava n o pau- de- arar a con tinuar am os espancamen tos e lhe aplicaram uma tor tura chamado "caldo " ,ou seja , afogamento , isto é , aplica ção de água nas narina s e ja to d 'agua n o rosto e suficiente como ainda , isto n ão colo caram fos se um pano molhad o em seu r osto e con tinuaram com os jato s d'água ; que saiu desta to rtu ra às 3 horas d o dia 5 de abril de 1969; que fico u paralítico du rante q uase uma hor a após o s uplício, ou seja , n ão sen tia tato e não tin ha con trole dos órgão s motores ; que con tinuaram as no tor tura s Batalhã o de Fronteira de Foz do Iguaçu , n o DOP S de Curitiba, pr osseguindo , entã o , com menor intensida de; que os responsáveis por essas tor turas sã o representa ntes de uma mentalidade obscu rantis ta, Dr. Agostin ho , delegado de Cascavel e policiais q ue só deram apelidos ; que iss o com a convivência da 5ª Região Militar , foi instaurad o Inq uéri to Policial Militar, ain da em a bril de 19 69 , pelo coman dan te da 5ª Região Militar, par a apur ar a s ua prisão e os motivos dela; que respon deu a este inquéri to no Primeiro B atalhã o de Fronteira , em Foz do Iguaçu , sendo respon sável pelo mesmo o capitã o Gralha; que resp ondeu a este inquérito, em uma situa ção de total incomu nicabilidade; que nã o podia fumar , receber visitas, ler jornal ou qualquer outra pu blicaçã o e sem banho de sol; que ficou dois meses e meio incomunicável , setenta e cinco dias incomunicáv el , cons tan temente ameaça do de nova s tor turas , de f uzilamento e co açã o sob sua família; que , em maio de 196 9, entre os dias 20 a 30 foi decreta da a sua prisão preven tiva pela Auditoria da 5ª Região e dias após veio transferido par a a Ilha das Flores no Ri o de Janeiro , indiciado como lhe disseram nes te IPM sob a responsabilidade do capitã o José Clemente; que ficou mais vinte e cinco dias incomunicável; que fi cou tran cad o vinte e cinco dias num ba nheiro , sem ventilação , lo cal o nde teve trê s desmaios; que per gun tava sempre ao en carregado do IPM o por quê de sua incomu nicabilidade e o porq uê de sua remoçã o para o Rio se j á estava sub j udice , com audiência de qualificação mar cada para ju nho em Curitiba; que as suas pergun tas ele respondia que f ato s novos s urgiram ; que foi aber to o utr o IPM e que o Inquérito do Para ná seria anulado ; que terminou o IPM e hoje se vê em situaçã o ilegal, ( ... ) que foi submetido a torturas bru tais, d ois meses e meio de isolamento , está há nove meses e meio pres o, ( ... ) ” Lamentavel mente , nes te pro cesso há inte nso conjun to denún cias de tor turas de todas as maneiras - espan camento nos rins , estômago, ca beça e outras partes do corpo ; telefo ne; pa u - de-arara; afogamento, também chamado de “ caldo ; amea ça de morte por f uzilamento, enfo rcam en to , que da e outras formas ; ameaça de to rtur a de familiares, etc - de isolamento, incomunica bilidade e outras formas de violência de grande parte dos indiciados. No qu adro a baixo es tão rela cionados o s preso s pro cessad os juntamen te com Aluízio Palmar no pro cesso nº 38.4 95. No te-se que dos vin te e um acusad os, 20 registr aram haverem sof rido severas tortu ras. Destes , um teve morte por queda sugerida como suicídi o, pos sivelmente decorre nte das condi ções da prisã o (to rtur as) e um não há referências sobre a co n dição de preso: Seq. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 22 Nome do p reso Aluízio Ferreira Palmar 22 Antônio Rogério G arcia Silveira 23 Antônio San tos Nunes 24 Cesar Cabral 25 Francis co das Chagas Cordeiro dos Sa nto s 26 Geraldo Galiza Rodrigues 27 Hélio Gomes de Medeiros 28 Herberto João Gon çalves Tavares 29 Iná de Souz a Me deiros 30 Ivens Mar chetti 31 João M anoel Fernande s 32 Jorge Medeiros Vale 33 Josepf Bar th olo Valver t 34 Luiz Carlos de Souz a 35 Marco s An tônio Farias de Medeiros 36 Martha M ota Lima Alvarez 37 Mauro Ferna ndes de S ouza 38 Rosane Re znik 39 Rui Cardoso de Abreu Xavier 40 Vide Anexo Condor-070, p. 1-2. Vide Anexo Condor-070, p. 3-6. 24 Vide Anexo Condor-070, p. 7. 25 Vide Anexo Condor-070, p. 8. 26 Vide Anexo Condor-070, p. 9. 27 Vide Anexo Condor-070, p. 10. 28 Vide Anexo Condor-070, p. 11. 29 Vide Anexo Condor-070, p. 12-13. 30 Vide Anexo Condor-070, p. 14-16. 31 Vide Anexo Condor-070, p. 17. 32 Vide Anexo Condor-070, p. 18-19. 33 Vide Anexo Condor-070, p. 20. 34 Vide Anexo Condor-070, p. 21. 35 Vide Anexo Condor-070, p. 22-23. 36 Vide Anexo Condor-070, p. 24-25. 37 Vide Anexo Condor-070, p. 26. 38 Vide Anexo Condor-070, p. 27. 39 Vide Anexo Condor-070, p. 28. 40 Vide Anexo Condor-070, p. 29-30. 23 Situação em re lação a tortura tor turad o tor turad o tor turad o tor turad o tor turad o tor turad o tor turad o tor turad o tor turada tor turad o tor turad o tor turad o tor turad o tor turad o tor turad o tor turada não es pecificad o tor turada tor turad o Sebastião Medeiro s Filho 41 Reinaldo Silveira Pimenta 20 21 tor turad o morto Em janeiro de 1971 , Aluízio Palmar juntamente com outros 69 pres os políticos foi trocado pelo Emb aixador da S uíça no Brasil e enviad o para o Chile. No país andino fico u um a no e meio prepara ndo -se para voltar ao Brasil e coordena ndo po r um período a estrutura da Vangu arda Pop ular Revolucionária – VPR , n aquele p aís. Vários documentos refor çam o intens o moni toramen to 42 que a repressão promoveu s obre Aluízio n o Brasil e ex terior. O inte rrogatório n º 86/7 4, de 1 6 de julho de 1 974 , oriu ndo d o CODI do Ri o de Janeiro, revela nã o só os movimentos de Aluízio , mas também o interesse dos militares no lo cal de residência de sua família: “13. Q ue na volta ao Brasil o depoen te esteve com a mulher de ´Lu cho ` em Foz do Iguaçu; que a mulher era conhe cida n o local com o ´D. Flor a` e era costu reira; que o depoen te entregou a ´D. Flora` um bilhete fech ado ma ndad o po r ´Lu cho ` e a credita fazer ´D. Flora ` parte do esq uema de entrad a de elementos da VPR de volta ao Brasil; que a grosso modo o cro qui para se localizar a casa de ´D. Flora ` é o seguin te [...] 41 Vide Anexo Condor-070, p. 31-32. O monitoramento de brasileiros no exterior, com uso de agentes infiltrados e “cachorros” aparece em inúmeros documentos que revelam o trânsito intenso e a cooperação estratégica entre as ditaduras do cone sul, tanto na fase anterior à Operação Condor como em plena operação. O “Capítulo 5 – A participação do Estado brasileiro em graves violações no exterior “e o “ Capítulo 6 – Conexões internacionais: a aliança repressiva no Cone Sul e a Operação Condor” do relatório da Comissão Nacional da Verdade é especial revelador sobre como a repressão brasileira atuou contra seus nacionais em territórios estrangeiros. Vide http://www.cnv.gov.br/ . 42 14. que re con hece ´Lu cho ` na fotografia Palmar de Aluízio (´André`) , Ferreira banido do território n acional [...]; que Aluízio Ferreira Palmar (´L ucho`, ´André`) era mais ligado a Ono fre Pinto e de ter pe rmanecido com ele [...] 43 O informe n º 0 5/72 -IDN, d o Setor de Segu rança e Inf ormações da 11ª Divisão da Rede Ferroviária Federal S.A, cuja sigla é identificada com o “SETS/11ªD V/RFFSA” e difundid o para “ E2/5 ª RM - DPF/DR/PR – SNI/ACT – 5ª DN – DOPS/PR”, é expressivo ao afirmar nas primeiras linhas a existência de um informan te, den tre tan tos , que a tuava fo ra do te rritório brasileiro: “1 - ALUIZIO FER REIRA PALMAR foi visto Assunção por nos informan te dias 10/ 2 e em 13/ 2 p.passados. 2 - Secu ndo a mesma f onte , a esposa e filha do epigrafado já se radicaram em Foz do Igua çu , enquan to ALUIZIO estaria homiziad o em Posadas ou em algum outro local da frontei ra Argentina - Paraguai. 3 - Consta ainda que teriam eles desistindo de algum an tigo projeto de realizar curso superio r na Dinamar ca p ara q ue ALUIZIO faça treinamento Chile.”[sic] 44 43 44 Vide Anexo Condor-064, p. 3. Vide Anexo Condor-065 e Anexo Condor-066. de guerrilhas no Em junho de 1 972 , Aluízio Palmar saiu do Chile disfarçado, acompan hado pelo militante d o Exérci to de Liber taçã o da B olívia, Davi d Acebey Delgadillo e se instalam na região divisa entre o Brasil e Argentina, fronteira Paraná , San ta Catarina e Noroes te do Ri o Gran de d o S ul. O plano e ra organiza r bases de ada pta ção e ro tas de e ntra da n o território bra sileiro para os qua dros da VPR que es tavam n o Chile e em Cuba. Duran te esse perío do de s ua militância política, seus con tatos no Paraná, tod os co ordena dores de gru pos , José Carlos Mendes e Laur o Consentino , na região Oes te; Ha tsuo Fuk uda, em Curitiba , Joã o Ro berto Castro de Pinho, na região Centro -Nor te do Paraná, estavam rigidamente estancados , sem con tatos direto s en tre si e sem con tato direto com Aluízio, numa ten tativa de evitar que a ditadu ra br asileira descobrisse quem eram e suas lo calizações. Em janeiro de 197 4, an o marcad o pela intensificaçã o das opera ções d e caça a os com unistas , como a Oper açã o Maru mbi no P araná, Bar riga Verde em Santa Catarina , etc, Aluízio Palmar foi à Buenos Aires, distante 1 .2 0 0 quilômetros de s ua base opera cional, para ter um con ta to com João R oberto Castro Pinho. O assu nto era a desmob ilização com pleta da VPR. As organizações da resis t ência arma da esta vam “depond o armas” e seu s militantes desmobilizados. En quan to es pera va o h orário do e ncontr o com o con tato que atuava em Apucar ana e cidade s vizinhas, Aluízio saiu a passear pelo centro de Bue nos Aires e casualmen te viu à distância , na esquina da Avenida Corrientes com a Rua Florida, Ono fre Pinto conversan do com o ex sargento de B rigada Gaú cha , Alberi Vieira d os San tos. Aluízio entrou em um café, pa ra não ser visto , mas em seguida, poucos minu tos apó s, apare ceu Alberi que tocou no seu ombr o e após as co nversas de praxe, disse que tinh a um esquema de entr ada clandes tina p or Sa nto An tônio do Sud oeste , Esta do do Paraná e uma forte base de apoio camponesa e militância instalada nas regiões oeste e sudoeste. Alberi revelou que tinha conhe cimento d o trabalh o que Palmar desenvolvia na região e o convidou para unir os dois trabalhos numa frente comum de luta. Disse ainda que no projeto estava On ofre Pinto e outr os qua dros da VPR. Palmar marcou um encon tro para mais tarde , à n oite e saiu às pressas d e vol ta p ara s ua base ope racional, on de ficou até ir para o Rio de Janeiro e aguardar a Anistia Política. Este episódio, rela tado n o caso da Chacina do Parque Nacional do Iguaçu , e ntrelaça os des tinos de Aluízio e dos seis militantes da VPR , em um desfech o trágico d o qual Aluízio escap ou e que transf ormaria sua vida numa missão de busca pela verdade , tradu zida em parte no livro Onde f oi q ue vo cês e nterra ra m nossos mor tos ? 45 A morte de Aluízio chega a ser noticiada na imprensa. Os jornais d o dia 30 de mar ço de 19 79 , como o J ornal do Bra sil , publicam matéria inf ormand o que Aluízio Palmar, juntamente com Mad re Maurina haviam sido absolvido s em IPM da 2ª Auditoria da 2ª Região Milita r e que Aluízio estaria mor to ou desaparecid o. Uma das ch amadas , na F olha de São Paulo, estampa : “ Ex banido mo rto é absolvido no Rio”. 46 Agentes Repressão envolvido s - Agostinh o Card oso Ne to , delegado de Polícia, Cas cavel, 19 69 . - Tenen te Mário Espedito Os trovski , 2ª seção d o 1º Batalhã o d e Fronteira de Foz d o Iguaçu . - Capitão Marion Joel Gralha, 2ª seção do 1 º B atalhão de Fro nteira , Foz do Iguaçu. - Fábio Gu ttemberg , agen te d a Polícia Feder al – Curitiba – Para ná. - Aluízio Marques de V asconcelos , Capitã o d e Infantaria , PE – Curitiba – PR. - Capitão de Corveta Alfredo Magalhães, Ilha das Flores , RJ . - Ozias Algauer, che fe da D OPS, Curitiba - PR . Recomendações: 45 46 PALMAR, Aluízio. Onde foi que vocês enterraram nossos mortos? Travessa Dos Editores, 2007 Vide Anexo Condor-067 Que este relatório seja enviad o ao Minis tério Público Fe deral para oferecimento de den úncia crime co ntra os militares abaixo relacionados (se ainda vivos) p or f ormaçã o de quadrilha , s equestro , tor tura e tenta tiva de homicídio de Aluízio Ferreira Palmar: - Agostinh o Card oso Ne to , delegado de Polícia, Cas cavel, 19 69 - Tenen te Mário Espedito Os trovski , 2ª seção d o 1º Batalhã o d e Fronteira de Foz d o Iguaçu. - Capitão Marion Joel Gralha, 2ª seção do 1º Batalhã o de Fron teira de Foz do Igua çu. - Fábio Gu ttemberg , agen te d a Polícia Feder al Curitiba Para ná - Aluízio Mar ques de V asco ncelos , Capi tão d e Infantaria, PE Curitiba PR. - Capitão de Corveta Alfredo Magalhães, Ilha das Flo res , RJ . - Ozias Algauer, che fe da D OPS, Curitiba - PR .