A vida secreta de Walter Mitty

Transcrição

A vida secreta de Walter Mitty
Reflexões de Cinema
A ideia desta coluna não é uma crítica cinematográfica, mas trabalhar sobre os temas tratados
nos filmes para convidar a algumas reflexões. Recomendamos ao leitor ver o filme para melhor
desfrutar dos aspectos aqui tratados.
A vida secreta de Walter Mitty
Por Myrthes Gonzalez
Walter Mitty é um funcionário dedicado da revista Life. Um laboratorista responsável pelos
negativos e ampliações das fotos que serão publicadas pela revista.
Perdeu o pai aos 17 anos. Um pai que o incentiva a ser aventureiro e criativo. Quando este
faleceu, Mitty abandonou seus sonhos para ir trabalhar. Primeiro em uma lanchonete e depois
na revista, onde permaneceu durante 16 anos dentro do arquivo de fotos, trabalhando com as
imagens enviadas por famosos fotógrafos do mundo inteiro.
De certa forma Mitty paralisou durante este período, conformado em realizar com dedicação
seu trabalho, ele foi adquirindo um semblante tímido e apagado. Tudo o que gostaria de viver
se traduz por uma imaginação delirante que o afasta da realidade. No mundo da imaginação
Mitty é capaz de conversar com a garota que o atrai e dar limite ao bulling de seu novo chefe.
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Em meio ao caos gerado pelo anuncio do fim da revista impressa e do processo de demissão
em massa que vai ocorrer em consequência disso, Mitty se depara com um dilema e ao
mesmo tempo um convite.
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Mas, como sinal da passagem do tempo, seu trabalho se torna irrelevante na medida em que a
fotografia se torna digital e a revista vai deixar de ser publicada em papel para ter uma versão
eletrônica.
O famoso fotografo Sean O’Connell
envia seus últimos negativos
analógicos a revista e pede que a
última capa impressa seja com a
foto número 25 do filme. Quando
Mitty vai procurar no negativo é
justamente esta a foto que falta.
O’Connell é ao mesmo tempo um iniciador e um alterego de Mitty. Aventureiro, passa a vida
pelo mundo registrando imagens e vivendo apaixonadamente cada instante. O’Connell
presenteia Mitty enviando a este uma carteira de couro onde está escrita a missão da revista:
"Ver a vida, ver o mundo; testemunhar grandes acontecimentos, ver os rostos dos pobres e os
gestos dos orgulhosos".
O grande fotógrafo, através deste gesto, agradecia a parceria com o grande laboratorista. Por
trás da arte de registrar o instante sempre houve a arte de revelar a imagem para o mundo. As
grandes fotos analógicas sempre foram obras a quatro mãos.
Mas Mitty se tornara um homem em preto e branco e O’Connell o convida a despertar para a
vida, o impulsiona para sair de sua caverna laboratório e retomar suas cores através do
despertar de seus sonhos de adolescente.
Mitty viaja pelo mundo atrás de O’Connell. Groelândia, Finlândia e Afeganistão aparecem no
filme com um estilo de dar inveja a um documentário da National Geografic, o que não parece
por acaso, se continuarmos na reflexão sobre a fotografia e a mídia.
O filme dirigido e protagonizado por Ben Stiller é uma deliciosa surpresa em se tratando deste
diretor e ator. Por um lado é um convite para a coragem e paixão de viver. Por outro mostra
que nossa evolução tecnológica não é sinônimo de arte ou sabedoria.
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Proibida reprodução total ou parcial do texto, sem expressa autorização. © Myrthes Gonzalez 2014

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