Mme de Souza (1761-1836) - Antologia de Escritoras Francesas do

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Mme de Souza (1761-1836) - Antologia de Escritoras Francesas do
Antologia de Escritoras Francesas do Século XVIII. Biografias. Mme de Souza. Patrícia Rodrigues Costa.
Rodrigo D’Avila Braga Silva. Marie-Hélène C. Torres. ISBN: 978-85-61482-68-8
Mme de Souza (1761-1836)
Mme de Flahaut et son fils Charles, par Mme Labille-Guiard. (B.N. - Plon). Disponível em:
http://www.charles-de-flahaut.fr/Souza.htm
Adélaïde-Marie-Emilie Filleul nasceu em 14 de maio de 1761, filha de Marie Irène
Catherine du Buisson e do burguês Charles-François Filleul, que mais tarde tornou-se
secretário de Louis XV. A senhora Filleul teria tido diversos amantes, entre eles Louis XV,
em Parc-aux-Cerfs, de cuja relação teria nascido Marie-Françoise-Julie Filleul (1751) e
Adelaïde. Contudo, alguns pesquisadores creditam ao banqueiro parisiense Étienne-Michel
Bouret a paternidade de Adélaïde (CARPENTER, 2007, p. 40; GORDON, 2003, p. 622).
Em 1767, orfã aos seis anos, Adeläide foi internada em um convento, e posteriormente
levada à corte de Louis XV. Aos 18 anos, casa-se com Alexandre de Sébastien de Flahaut
de Billarderie, conde de Flahaut de Billarderie em 30 de janeiro de 1779, tornando-se
Antologia de Escritoras Francesas do Século XVIII. ISBN: 978-85-61482-68-8
Antologia de Escritoras Francesas do Século XVIII. Biografias. Mme de Souza. Patrícia Rodrigues Costa.
Rodrigo D’Avila Braga Silva. Marie-Hélène C. Torres. ISBN: 978-85-61482-68-8
Condessa de Flahaut de Billarderie e mais conhecida por Condessa de Flahaut
(CARPENTER, 2007, p. 10). Após o casamento passou a viver no Louvre, onde escreveu
acerca das pessoas conhecidas por ela e sobre a vida no século XVIII. Em 1785, nasce
Charles Joseph.
Anos mais tarde, em 1792, Adélaïde foge de Paris devido à Revolução Francesa com o
filho e emigra para a Inglaterra onde ingressa na Société des Émigrés em Surrey. Por dois
anos, a Condessa de Flahaut, que falava inglês fluentemente, e seu filho permaneceram na
Inglaterra. Ao se tornar emigrante, Madame de Souza passa a depender das vendas de seus
romances após seu marido ser guilhotinado em 1794, ano em que publicou seu romance
mais conhecido e parcialmente autobiográfico, Adèle de Senange ou Lettres de Lord
Sydenham. Após deixar o Reino Unido, muda-se para Suíça e, em 1798, retorna à Paris.
Casa-se em 1802 com o diplomata português Dom José Maria de Souza Botelho Mourão e
Vasconcelos e a partir de então passa a assinar por Madame de Souza (CARPENTER,
2007, p. 11).
Segundo Kirsty Carpenter (2007), os romances de Madame de Souza seriam o produto de
uma mente literária refinada e fértil e de duas forças motivacionais: a raiva pela falta de
controle que as mulheres tinham sobre as decisões que regiam suas vidas e um grande
estímulo financeiro para ter êxito com o fim de educar seu filho e para o seu conforto. Seus
escritos ainda como Condessa de Flahaut versavam sobre a sociedade e suas experiências,
motivo pelo qual por vezes é considerada a versão francesa da escritora inglesa Jane Austen
(CARPENTER, 2007). A necessidade de escrever para garantir sua sobrevivência, segundo
Carpenter (2007), a distingue das demais escritoras da sua época que tinham uma boa
situação financeira, a exemplo Germaine de Staël e Isabelle de Charrière.
Ainda como Condessa de Flahaut publicou três obras: Adèle de Sénange (1794), Emilie et
Alphonse (1799) e Charles et Marie (1802). Após o casamento, Madame de Souza passa a
escrever por prazer e para expressar as injustiças sociais, publicando quatro obras entre
1802 e 1822. Madame de Souza falece em 19 de abril de 1836 e deixa duas obras
inacabadas que foram publicadas postumamente.
Sua obra teve por temas o exílio, a experiência humana acerca do isolamento, a experiência
da guerra para as mulheres, a angústia da maternidade, a infância, o amor, os rituais sociais,
os sentimentos individuais e quase metade tinha características epistolares. Segundo
Carpenter (2007, p. 14), a obra de Madame de Souza tinha uma subjetividade característica
de toda literatura emigrante: ela sabia da importância de se manter positiva e ocupada.
Madame de Souza usou da escrita para se proteger das dores ocasionadas pelas doenças,
por sua separação imposta pela emigração e pela guerra e por sua separação de seu filho e
dos amigos próximos.
Antologia de Escritoras Francesas do Século XVIII. ISBN: 978-85-61482-68-8
Antologia de Escritoras Francesas do Século XVIII. Biografias. Mme de Souza. Patrícia Rodrigues Costa.
Rodrigo D’Avila Braga Silva. Marie-Hélène C. Torres. ISBN: 978-85-61482-68-8
Em sua obra, Madame de Souza iniciou um debate sobre o papel da mulher na sociedade.
Questionava os motivos das mulheres serem legal e socialmente excluídas do poder e serem
impossibilitadas de se proteger dos abusos causados dos excessos de poder (CARPENTER,
2007), o que a aproxima da escritora George Sand (1804-1876).
Os romances de Madame de Souza foram publicados durante o Período Napoleônico e a
Restauração Francesa e passaram por leis de censura que não aceitavam críticas ou
comentários políticos diretos. Todavia, Napoleão tinha senso de humor com relação à sua
escrita, o que foi surpreendente e importante para a escritora (CARPENTER, 2007, p. 19).
Dentre os admiradores de Madame de Souza, pode-se citar Tolstoy, o qual a mencionou em
Guerra e Paz (1868-1869) no livro 5, capítulo 1 e no livro 10, capítulo 17.
OBRAS
1794 – Adèle de Senange, ou Lettres de Lord Sydenham
1799 – Émilie et Alphonse ou le Danger de se livrer à ses premières
impressions
1802 – Charles et Marie
1808 – Eugène de Rothelin
1811 – Eugénie et Mathilde, ou, Mémoires de la famille du comte de Rével
1820 – Mademoiselle de Tournon
1823 – La Comtesse de Fargy
1832 – La Duchesse de Guise, ou intérieur d’une famille illustre dans le
temps de la Ligue (drame en trois actes)
1835 – La Pensionnaire mariée, comédie-vaudeville en un acte
1853 – Eugénie de Revel : souvenirs des dernières années du dix-huitième
siècle
1865 – Œuvres complètes de Madame de Souza
Antologia de Escritoras Francesas do Século XVIII. ISBN: 978-85-61482-68-8
Antologia de Escritoras Francesas do Século XVIII. Biografias. Mme de Souza. Patrícia Rodrigues Costa.
Rodrigo D’Avila Braga Silva. Marie-Hélène C. Torres. ISBN: 978-85-61482-68-8
REFERÊNCIAS
CARPENTER, Kirsty. The Novel of Madame de Souza in Social and Political
Perspective. Bern, Alemanha: Peter Lang AG, European Academic Publishers, 2007, 280p.
Disponível
em:
https://books.google.com.br/books?id=sVGxF2MwM5UC&lpg=PA286&ots=7ZJ5nBbM0&dq=The%20Novels%20of%20Madame%20de%20Souza%20in%20Social%20and%2
0Political%20Perspective%20Por%20Kirsty%20Carpenter&hl=ptBR&pg=PP1#v=onepage&q&f=false. Acesso: fevereiro 2016.
GORDON, Alden R. French Inventories I: The Houses and Collections of the Marquis
de Marigny. Documents for the History of Collecting. Malibu, Provenance: Index of the
Getty
Research
Institute,
2003,
701p.
Disponível
em:
https://books.google.com.br/books?id=hVlBqHgVuI8C&lpg=PA622&ots=GPmPL_nbL&dq=Michel%20Bouret%20madame%20de%20souza&hl=ptBR&pg=PA622#v=onepage&q=%C3%A9tienne&f=false. Acesso: fevereiro 2016.
SAINTE-BEUVE- Charles Augustin. Portraits de femmes (Nouvelle édition, revue et
corrigée).
Paris :
Garnier
frères,
1886,
542p.
Disponível
em :
http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k201416h/f47.item.r=de%20souza Acesso: fevereiro
2016.
SIEFAR – Société Internacionale pour l’Etudo des Femmes de l’Ancien Régime. Adélaïde
Filleul. Disponível em: http://siefar.org/dictionnaire/fr/Ad%C3%A9la%C3%AFde_Filleul/
Acesso: fevereiro 2016.
Talleyrand et Madame de Flahaut (Souza). Disponível em: http://www.charles-deflahaut.fr/Talleyrand_Souza.htm. Acesso: fevereiro 2016.
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