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EFEITO DA CLARIFICAÇÃO COM GELATINA NOS TEORES DE FENÓIS E NA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE FERMENTADOS DE MAÇÃS Karolline Marques da Silva (UEPG - BOLSISTA PIBIC/FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA), José Ricardo Ferreira de Carvalho (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos/UEPG), Cíntia Maia Braga (PIBIC/CNPq-UEPG), Suelen Ávila (IC/UEPG), Gilvan Wosiacki (Pesquisador Sênior/UEPG), Alessandro Nogueira (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Ponta Grossa/Setor de Ciências da Terra e Tecnologia Resumo: A clarificação do fermentado de maçã inclui etapas de retirada de materiais que depreciam sua aparência, contudo pode causar alterações indesejáveis na bebida. Quatro mostos varietais de maçãs com diferentes tratamentos, em presença e ausência de sulfito, foram clarificados com gelatina. A despectinização do mosto das cultivares Imperial Gala e Fuji Suprema reduz em 38% a concentração de fenóis e no processo de clarificação com gelatina, 58%. A clarificação com gelatina resultou em diminuição da atividade antioxidante em todos os tratamentos, mesmo quando a redução de fenóis foi pequena. Palavras-chave: Gelatina, sidra, despectinização, suco de maçã. Introdução A clarificação de fermentados de maçãs é necessária para remoção de materiais de alto peso molecular que depreciam a aparência do produto. Entretanto, a retirada de compostos envolvidos na formação de sedimentos (haze) pela aplicação de agentes clarificantes pode causar alterações indesejáveis nas características organolépticas, como cor, adstringência e amargor, e formação de pigmentos amarelos e marrons (Hubert et al, 2007; Lea e Arnold, 1978; Spanos e Wrolstad, 1992). Os compostos fenólicos têm sido amplamente estudados devido a sua capacidade antioxidante, o que contribui para a proteção aos efeitos prejudiciais à saúde ocasionados pelo estresse oxidativo. Na combinação de pectina, taninos e gelatina há um efeito moderado de interação tanino-proteína. O grande conteúdo de prolina dota a gelatina de atividade floculante, que precipita com os taninos do suco (Charlton et al, 2002; Rababah, 2005; Reidl et al, 1998). São as propriedades anfifílicas e grupos hidroxilas conferem aos polifenóis capacidade de interação com polissacarídeos e proteínas, ativamente envolvidos na clarificação (Lea e Arnold, 1978; Noble, 2002). A gelatina é positivamente carregada no pH do suco de maçã e a floculação acontece por interações eletrostáticas com as cargas negativas das partículas remanescentes de pectina. A clarificação enzimática causa redução nos flavonóis de cerca de 14% (Hubert et al, Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 2007) e quase um terço dos flavonóis são perdidos após a finalização com gelatina (Spanos et al, 1990). Este trabalho teve como objetivos avaliar o efeito da clarificação no teor de fenólicos e de atividade antioxidante em fermentados de maçãs. Materiais e Métodos Maçãs das cultivares Imperial Gala, Fuji Suprema, Belgolden e Granny Smith (safra 2007/2008) foram cedidas pela Agrícola Fraiburgo de Santa Catarina. Foram utilizados 4 mostos varietais de maçãs, os quais receberam os seguintes tratamentos: [1] despectinização do mosto antes do inóculo de levedura; [2] adição simultânea da enzima e da levedura no mosto e [3] sem o processo de despectinização. Estes tratamentos foram conduzidos na presença e ausência de sulfito (100 mg.L-1). A clarificação com gelatina, após teste da concentração ideal (3 g.L-1) foi realizada em todos os tratamentos. Para determinação de compostos fenólicos foi utilizado o método de Folin-Ciocalteau (Singleton; Rossi, 1965). A determinação da atividade antioxidante foi feita pelo método de FRAP, descrita por Benzie e Strain (1996) e Pulido, Bravo e Saura-Calixto (2000). Resultados e Discussão Para evitar diminuição no teor de fenóis pela oxidação, agentes como sulfito e ácido ascórbico podem ser adicionados. Esta adição deve ser feita imediatamente após a trituração para que haja preservação. Neste experimento, o sulfito foi adicionado ao mosto a fim de verificar o seu efeito nos compostos fenólicos em produto oxidado. Porém não foram observados efeitos na ausência e presença de sulfito (Tabela 1). Tabela 1 - Efeito da clarificação com gelatina na concentração de compostos fenólicos Cultivar Conservante Gala Fuji Belgolden Granny Smith Gala Fuji Belgolden Granny Smith Gala Fuji Belgolden Granny Smith Gala Fuji Belgolden Granny Smith Fenóis, mg.L-1 Presença SO2 Antes da clarificação Ausência SO2 Presença SO2 Após a clarificação Ausência SO2 Mosto Despectiniz. 275±94 290±17 311±14 617±14 276±17 267±3 318±9 611±9 226±31 233±6 311±23 576±38 203±1 204±1 302±15 552±36 Mosto com pectinase 318±56 280±13 235±10 553±12 365±34 210±9 230±6 555±3 277±6 236±7 166±34 553±32 303±4 210±18 230±6 555±120 Mosto sem despect. 368±2 493±6 331±19 593±5 348±4 499±11 215±11 565±8 368±5 274±18 256±23 592±30 328±9 271±13 208±5 536±24 O processo de despectinização no mosto das cultivares Imperial Gala e Fuji Suprema diminui em 38 % a concentração de compostos fenólicos no Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 fermentado. Nos fermentados das cultivares Belgolden e Granny Smith não foi observado efeito da despectinização no teor de fenóis, possivelmente por apresentarem um perfil fenólico diferente. No processo de clarificação com a gelatina as perdas para os fermentados das cvs Fuji Suprema e Imperial Gala, foram ainda maiores, alcançando 58 % de perdas (Tabela 1). Estes resultados concordam com a literatura (Gokmen et al.,2001; Babsky et al. 1986; Spanos et al.,1990). Na Tabela 2, o fermentado da cultivar Granny Smith apresentou a maior atividade antioxidante antes da operação de clarificação, acima de 14000 µMol o que a caracteriza como um fermentado de elevada atividade antioxidante, porém após o tratamento com a gelatina os valores diminuem significativamente para valores abaixo de 5500 µMol sem ter havido uma perda expressiva de compostos fenólicos. A clarificação com gelatina resultou em uma diminuição importante da atividade antioxidante em todos os tratamentos, mesmo nos fermentados onde a redução de fenóis foi pequena. Desta forma, a clarificação com gelatina é prejudicial para a atividade antioxidante de fermentado de maçã e deve ser evitada se o objetivo for obter um fermentado com este apelo. Tabela 2 - Efeito da clarificação com gelatina na atividade antioxidante Cultivar Conservante Gala Fuji Belgolden Granny Smith Gala Fuji Belgolden Granny Smith Gala Fuji Belgolden Granny Smith Gala Fuji Belgolden Granny Smith ATT*, µMol Presença SO2 Antes da clarificação Ausência SO2 Presença SO2 Ausência SO2 Após a clarificação Mosto Despectinizado 7193±462 3063±746 5043±190 15891±123 7669±161 2805±170 5431±168 14367±1663 2270±40 2222±38 2939±25 4691±372 2500±50 2866±41 3058±56 4454±59 Mosto com pectinase 10911±1469 3075±375 3557±1744 14279±320 9748±158 1764±176 3808±134 14152±705 2801±69 3068±65 2791±107 4742±45 2421±61 1755±57 2410±32 3994±84 Mosto sem despectinizar 5706±240 5350±430 4781±286 15033±569 4014±120 4373±151 5023±1689 14120±460 2662±90 2509±34 2909±60 5597±148 2222±38 2511±25 2073±13 5295±209 Nota: (ATT) atividade antioxidante Conclusões O efeito da despectinização no teor de compostos fenólicos no fermentado foi em função do perfil fenólico da cultivar. A clarificação com gelatina foi nefasta para a atividade antioxidante, mesmo sem diminuir os teores de fenóis no fermentado as perdas de atividade alcançaram 75%.. Agradecimentos Os autores agradecem à Fundação Araucária, CNPq, DEA e ao GTM pelo apoio na realização do trabalho. Anais do XVIII EAIC – 30 de setembro a 2 de outubro de 2009 Referências Babsky, N. E.; Toribio, J. L.; Lozano, J. E. Influence of Storage on the Composition of Clarified Apple Juice Concentrate. J.Food Sci. 1986, 1, 564. Benzie, I. F. F.; Strain, J. J. The ferric reducing ability of plasma (FRAP) as a measure of “antioxidant power”: the FRAP assay. Analytical Biochemistry. 1996, v. 239, n. 1, 70-76. Charlton, A. J.; Baxter, N. J.; Khan, M. L.; Moir, A. J. G.; Haslam, E.; Davies, A. P.; Williamson, M. P. Polyphenol/peptide binding and precipitation. Journal of Agricultural and Food Chemistry. 2002, 50, 1593-1601. Gokmen, V.; Artik, N.; Acar, J.; Kahraman, N.; Poyrazolu, E. 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