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2ª Colocação – III Prêmio ECR de Pesquisa • • Juliano Aita Larán, UFRGS Ramiro Menegaz Melgaré, UFRGS Gerenciamento por Categoria no Varejo: Análise e Otimização do Portfólio Resumo Justificado pela importância do gerenciamento por categoria nas lojas de autoserviço, o principal objetivo deste trabalho é conceber subsídios para a tomada de decisão dos gerentes de categoria na análise e otimização do portfólio de produtos, a partir de um método científico. Para isso, os autores propõem: 1) verificar o desempenho da categoria em estudo, quanto aos indicadores de faturamento, quantidade de produtos vendidos e margem bruta de rentabilidade; 2) proporcionar a otimização da categoria, de forma a atingir objetivos gerenciais preestabelecidos. Com vista a esses objetivos, o trabalho inicialmente revisa a literatura acadêmica e empresarial sobre gerenciamento por categoria e otimização de portfólio de produtos no varejo. Após, é desenvolvida a análise e otimização do portfólio a partir da Matriz Faturamento X Margem Bruta, criada pelos autores com base na Matriz BCG, e do uso de programação linear. INTRODUÇÃO Com o intuito de apresentar uma forma de otimização do portfólio de produtos de uma determinada categoria de uma rede multinacional do varejo de auto-serviço, este estudo utiliza os princípios básicos do gerenciamento por categoria (GC), estendendo-os para aplicação de uma análise e otimização do portfólio. Essas etapas dar-se-ão em uma categoria de produtos que possui grande representatividade no setor alimentar da empresa em estudo. A categoria caracteriza-se por apresentar uma gama de produtos bem extensa e pulverizada em relação à marcas/fornecedores. Desta forma, mostra-se oportuno realizar um estudo que propicie aumentar a rentabilidade da categoria para o varejista e uma maior satisfação referente a variedade de produtos oferecidos ao consumidor. Em 1997, a ECR – Efficient Consumer Response – Europe, em conjunto com The Partnering Group e Roland Berger & Partner International Management Consultants, realizaram o estudo “Category Management: Best Practices Report”, em que apresentaram as diretrizes para um gerenciamento por categoria eficiente. Segundo o relatório, o processo de planejamento de negócios auxilia na obtenção, organização e análise das informações necessárias para gerar um melhor desempenho de uma categoria. Levy e Weitz (2000) ressaltam que um dos aspetos mais importantes no varejo está na decisão de compra quanto ao tipo de mercadorias, a escolha dos fornecedores, e o preço 1 a praticar na loja. É neste ponto que o gerenciamento por categoria cumpre sua função principal. Na literatura acadêmica de marketing, o tema gerenciamento por categoria também vem recebendo crescente importância, com estudos que analisam principalmente o gerenciamento de preços de uma categoria (Zenor, 1994; Basuroy et al., 2001) e o plano de sortimento (Broniarczyk et al.,1998; Hoch, Bradlow e Wansink, 1999; Boatwright e Nunes, 2001). Levando em consideração os aspectos abordados, o trabalho é estruturado de forma a revisar a literatura acadêmica e empresarial sobre gerenciamento por categoria e mix de produtos no varejo, para que então seja desenvolvida a análise e otimização do portfólio com o uso da Matriz Faturamento X Margem Bruta (criada pelos autores com base na Matriz BCG) e de programação linear. GERENCIAMENTO POR CATEGORIA O gerenciamento por categoria em todo o mundo tem sido uma resposta a um conjunto de tendências que vêm moldando a indústria de produtos de consumo. De acordo com a ECR Brasil et al. (1998), o gerenciamento por categoria proporciona ao varejista um processo de trabalho com benefícios quanto à reposição, promoção, lançamento e, principalmente, o sortimento eficiente de produtos em uma categoria. O sortimento eficiente de produtos torna-se o ponto essencial para um melhor uso da loja e do espaço de venda. Levy e Weitz (2000) afirmam que a adoção do GC no varejo é inevitável para a eficiência da administração do negócio, pois seria virtualmente impossível manter o processo de compras sem agrupar os itens em categorias. ECR Europe et al. (1997) caracterizam o gerenciamento por categoria como “um processo entre varejista e fornecedor que consiste em gerenciar um grupo distinto de produtos como unidades estratégicas de negócios, para produzir resultados comerciais melhorados por meio da concentração de esforços em entregar maior valor ao consumidor”. O processo de planejamento de negócios de uma categoria tem oito passos, conforme a abordagem da ECR Europe et al. (1997) e ECR Brasil et al. (1998), ilustrada na figura 1. Figura 1 - Etapas do Planejamento de Negócio Definição da Categoria Revisão da Categoria Papel da Categoria Avaliação da Categoria Cartão de Metas da Categoria Estratégias da Categoria Táticas da Categoria Implementação do Plano 2 Fonte: ECR Europe et al. (1997) e ECR Brasil et al. (1998) Estas etapas do processo de planejamento estratégico de uma categoria se caracterizam da seguinte forma, conforme a ECR Europe et al. (1997): Definição da categoria: determina-se os produtos que formam a categoria, subcategoria e principais segmentos. Esses produtos são identificados a partir da árvore de decisão do consumidor, que permite visualizar os produtos substitutos entre si ou intimamente relacionados, sujeitos a restrições operacionais. Papel da categoria: atribui-se um papel para a categoria com base na comparação multicategoria, considerando as informações sobre os consumidores, distribuidor, fornecedor e varejista. Isso também auxilia o varejista a alocar recursos entre as categorias. Avaliação da categoria: esta etapa envolve a obtenção, organização e análise das informações necessárias para entender o desempenho atual da categoria e identificar oportunidades para a melhoria dos resultados. Cartão de metas da categoria: determina os objetivos que serão definidos pelo varejista e o fornecedor a partir da implementação do plano de negócios da categoria. São basicamente as metas a serem atingidas, que devem estar de acordo com o papel da categoria. Estratégias da categoria: o objetivo desta etapa é que o varejista e o fornecedor desenvolvam estratégias que capitalizem as oportunidades da categoria, através do uso eficiente e criativo dos recursos que estão disponíveis para a categoria. Táticas da categoria: determinam-se as ações que serão tomadas para implementar as estratégias da categoria desenvolvidas previamente. Incluem táticas de sortimento, preço, apresentação nas prateleiras, promoções e abastecimento que assegurem a implementação das estratégias da categoria. Implementação do plano: é desenvolvido um programa específico de implementação, com a delegação de responsabilidades para se concretizar as táticas da categoria. Revisão da categoria: é feita uma revisão e mensuração do progresso do plano, através do papel da categoria e das medidas de desempenho, para que se modifique o plano se for apropriado. Basuroy et al. (2001) analisaram dois varejistas competidores, um que aplica gerenciamento por categoria e outro que utiliza o gerenciamento por marca, e encontraram que a adoção do GC aumenta o preço unitário médio da categoria e reduz o volume de vendas e receita. No entanto, segundo esse estudo, o varejista que adotou o GC tem aumento na sua margem de lucro bruta à medida que os preços do competidor caem. 3 Levy e Weitz (2000) afirmam que o ponto principal do planejamento de objetivos comerciais e financeiros de uma categoria de produtos é o plano de sortimento, representado por uma lista de mercadorias indicando com quais itens se deve trabalhar em uma categoria de produtos. As decisões são restringidas pelo espaço disponível na loja e pelo orçamento a ser gasto na categoria. Com base na importância do sortimento eficiente de uma categoria, o tópico seguinte trata da análise e otimização do portfólio de produtos. ANÁLISE DE PORTFÓLIO DE PRODUTOS A seleção do mix de produtos dentro de uma categoria constitui uma das decisões mais importantes. Essa definição de como o varejista irá trabalhar o trinômio variedade, sortimento e disponibilidade de produto depende de estratégias particulares de marketing (ECR Europe et al., 1998; Levy e Weitz, 2000). A área de tática de sortimento estabelece a variedade de produtos oferecidos aos consumidores e também critérios para estoque e eliminação de produtos das categorias. O sortimento pode se tornar uma importante fonte de diferenciação para o varejista, pois possibilita uma melhor composição de produtos e distribuição de espaço de venda, implicando decisivamente na rentabilidade das vendas por metro quadrado da categoria e uma melhor satisfação dos consumidores (ECR Europe et al., 1998; Levy e Weitz, 2000). A literatura recente aborda o impacto da redução de itens nas vendas de uma categoria. Boatwright e Nunes (2001) analisaram o impacto da redução de itens semelhantes nas vendas de várias categorias de produtos, realizando um experimento natural com um varejista on-line. Nesse estudo, 94% das categorias analisadas tiveram reduções de itens, e as vendas foram afetadas consideravelmente, tendo aumentado 11% em média, ao longo das 42 categorias estudadas. As vendas de mais de dois terços das categorias aumentaram (metade das quais 10% ou mais) e 75% das residências aumentaram seus gastos totais na loja depois dos cortes no número de itens oferecidos. Apesar de os consumidores nomearem a variedade do sortimento como um dos principais fatores de escolha de uma loja (Hoch, Bradlow e Wansink, 1999), o risco potencial de se reduzir o sortimento de produtos é mais limitado do que inicialmente se pensava, de acordo com os resultados obtidos por Broniarczyk et al. (1998). Os autores encontraram que os varejistas podem fazer reduções substanciais no número de itens sem afetar negativamente as percepções de variedade e opções de escolha dos consumidores, desde que sejam eliminados itens de baixa preferência e o espaço destinado à determinada categoria permaneça constante. Dada a sua relevância, a realização de uma análise de sortimento de categoria eficiente pode gerar excelentes benefícios para a tomada de decisão quanto à definição do portfólio de produtos, que representa o foco deste trabalho. 4 A Matriz BCG Segundo Kotler (2000), a utilização do modelo de avaliação de portfólio de negócios desenvolvida pela Boston Consulting Group (conhecida como matriz de crescimento/participação ou Matriz BCG), possibilita visualizar o desempenho de um portfólio, identificando as principais oportunidades para seu crescimento. A matriz de crescimento/participação de mercado (Matriz BCG) apresentada por Kotler (2000, p. 91) divide-se em quatro partes, que representam tipos de negócio diferentes: 1) pontos de interrogação: são negócios cujo administrador deve analisar com cuidado antes de investir, pois requerem um investimento significativo; 2) estrelas: são negócios considerados oportunidades que foram bem sucedidas. O administrador decide se deve aplicar recursos para torná-los futuras vacas leiteiras; 3) vacas leiteiras: são grandes geradores de recursos, podendo ser utilizados para pagar as contas da empresa e apoiar seus outros negócios; e 4) animais de estimação: são negócios que geram baixos lucros e até mesmo prejuízos; a empresa deve analisar se mantém, elimina ou aperfeiçoa esses negócios, pois consomem muito tempo da administração em comparação com o seu baixo retorno. Depois de situar os vários negócios em um dos quadrantes da Matriz BCG, o passo seguinte é verificar se o portfólio está balanceado. Um portfólio desbalanceado teria muitos animais de estimação ou pontos de interrogação e/ou poucos negócios estrelas e vacas leiteiras. Nesta etapa, a determinação da estratégia a ser adotada para cada unidade de negócio é o ponto-chave para o aprimoramento do portfólio (Kotler, 2000). Os autores propõem que a análise de desempenho do portfólio no gerenciamento por categoria pode ser fundamentada na matriz de crescimento/participação de mercado do Boston Consulting Group. A lógica da Matriz BCG será utilizada para avaliar o desempenho de uma categoria de produtos no varejo de auto-serviço, a partir de indicadores de faturamento, margem bruta de rentabilidade e participação na quantidade de produtos vendidos. Os autores utilizaram nomes próprios para a nova matriz, específica para o varejo. As subcategorias ou produtos com elevado faturamento e margem bruta serão considerados campeões. As vacas leiteiras serão chamadas de geradores de receita, e serão aqueles produtos ou subcategorias com elevada margem bruta, mas com faturamento baixo comparado aos 25% melhores resultados. As subcategorias ou produtos com elevado faturamento e margem bruta abaixo dos 25% melhores resultados serão considerados negócios potenciais (pontos de interrogação, na matriz apresentada por Kotler, 2000), pois representam uma oportunidade de crescimento a ser explorada. Por fim, os animais de estimação serão considerados aqueles produtos ou subcategorias com baixo faturamento e margem bruta em relação aos 25% melhores resultados, sendo chamados de problemas. 5 PESQUISA OPERACIONAL A utilização de ferramentas de pesquisa operacional na promoção da eficiência e eficácia organizacional em todos os níveis da gestão é uma realidade tornada viável pelo microcomputador e pelo avanço dos estudos nessa área (Goldbarg e Luna, 2000). Segundo Murolo (1998) e Andrade (1998), a pesquisa operacional é um método científico de tomada de decisões. Consiste na descrição de um sistema organizado com auxílio de um modelo, e através da experimentação, permite que uma decisão seja melhor avaliada e testada antes de ser efetivamente implementada. A economia de recursos e a experiência adquirida, advindas da experimentação, justificam o conhecimento e a utilização de pesquisa operacional como um instrumento gerencial. O uso da Programação Linear na resolução de problemas de otimização A construção de um modelo possibilita colocar as complexidades e possíveis incertezas que acompanham um problema na tomada de decisão dentro de uma estrutura lógica passível de análise abrangente, evidenciando alternativas de decisão e seus efeitos previstos (Wagner, 1986). Segundo Goldbarg e Luna (2000), a definição do problema é uma das fases mais importantes do processo e compreende a clara percepção do desafio colocado. O problema deve ser traduzido em elementos palpáveis englobando os objetivos, variáveis de decisão ou controle e níveis de detalhe. A figura 2 demonstra o processo de construção do modelo. Figura 2 - Processo de Construção de Modelos Definição do Problema Formulação e Construção do Modelo Inicial Simulação do Modelo Validação do Modelo Reformulação do Modelo Aplicação do Modelo Fonte: Goldbarg e Luna (2000, p. 11) 6 O modelo deve ser formulado para captar o ponto crucial do problema de tomada de decisão. A adequação pretendida depende também de elementos que escapam ao conteúdo estritamente técnico, envolvendo habilidades do criador do modelo, como experiência, criatividade, poder de síntese, entre outros (Wagner, 1986; Goldbarg e Luna, 2000). Uma das técnicas de solução no processo de modelagem matemática é a programação linear (PL). Segundo Prado (1999), este modelo consiste em uma técnica de planejamento que permite estabelecer a otimização de um problema, frente a situações nas quais se tem diversas alternativas de escolhas sujeitas a algum tipo de restrição ou regulamentação. Para Wagner (1986), um modelo de PL raramente restringe seu interesse aos valores numéricos de uma solução ótima. Tipicamente, deseja-se saber até que ponto o parâmetro de entrada pode variar sem causar variações violentas numa solução ótima ou nas variáveis que compõem uma base. Esta investigação é denominada de análise de sensibilidade ou de “pós-otimidade”, uma técnica utilizada para avaliar os impactos que o programa sofre quando existem modificações nas condições de modelagem (Ragsdale, 1997; Goldbarg e Luna, 2000). Por não fazer parte dos objetivos deste artigo, não será apresenta a análise de sensibilidade do modelo proposto. A PL permite otimizar modelos, se aplicada à alocação de recursos, mistura de produtos, carteira de investimentos, entre outros (Winston, 1993). Tomando como base estas afirmações, a PL será utilizada na otimização de uma categoria de produtos no varejo de auto-serviço. SIMULAÇÃO A simulação de uma solução ótima para a categoria em estudo será realizada a partir das etapas de solução de problemas propostas na literatura de pesquisa operacional, com a utilização da programação linear através do aplicativo Solver do Microsoft Excel. O objetivo desta simulação é identificar o melhor balanceamento por quadrante em relação a faturamento médio por produto, margem bruta de rentabilidade por produto e quantidade total de produtos a serem vendidos. A estrutura da categoria escolhida subdivide-se em cinco subcategorias de produtos. Devido à confidencialidade dos dados, a categoria em estudo será chamada de categoria ZAN. Definida a categoria de produtos, partiu-se para o levantamento, com base no desempenho das vendas de 2001, dos indicadores de faturamento, quantidade de produtos vendidos e margem bruta de rentabilidade. De posse destas informações, iniciou-se a elaboração da análise dos quadrantes e desenvolvimento da Matriz de Faturamento X Margem Bruta, baseada nos pressupostos da Matriz BCG, descritos na página 4. 7 A determinação dos eixos dos quadrantes foi estabelecida com base na medida de posição estatística. A medida utilizada para o estabelecimento dos eixos originou-se do estudo dos quartis, que tem sua concepção semelhante à mediana. Entretanto, a mediana divide um conjunto de dados ordenados em duas partes iguais, e os quartis dividem o conjunto de dados em quatro partes iguais (Vieira, 1999; Toledo e Ovalle, 1981). A determinação dos quartis possibilitou atribuir as delimitações para a análise dos quadrantes. A matriz foi confeccionada com base no terceiro quartil, sendo seus eixos delimitados em função de 25% dos melhores resultados. A figura 3 aponta os desempenhos das subcategorias através da margem de rentabilidade bruta (eixo X), faturamento (eixo Y) e participação na quantidade de produtos vendidos (tamanho da bolha), evidenciando as áreas com oportunidades de aprimoramento. Figura 3 - Matriz Margem Bruta X Faturamento da Categoria ZAN NEGÓCIOS POTENCIAIS 33% 16.000 12.000 8.000 20% 16% 22% Faturamento (R$ mil) CAMPEÕES 4.000 8% GERADORES DE RECEITA 2.100 1.800 1.500 PROBLEMAS 1.200 900 600 300 - - Margem Bruta Rentabilidade (R$ mil) Fonte: Dados da empresa em estudo Tendo sido identificadas três subcategorias presentes ou próximas ao quadrante dos problemas, utilizou-se a mesma metodologia apresentada na análise das subcategorias para analisar o desempenho do mix de produtos nos quadrantes da matriz. Figura 4 - Análise de Portfólio de Produtos da Categoria ZAN CAMPEÕES NEGÓCIOS POTENCIAIS Nº de Produtos Faturamento Quantidade de Produtos Vendidos Margem Bruta Rentabilidade 24% 86% 87% 78% Nº de Produtos Faturamento Quantidade de Produtos Vendidos Margem Bruta Rentabilidade 1% 1% 0% 1% GERADORES DE RECEITA Nº de Produtos Faturamento Quantidade de Produtos Vendidos Margem Bruta Rentabilidade Nº de Produtos Faturamento Quantidade de Produtos Vendidos Margem Bruta Rentabilidade 14% 5% 8% 9% 61% 7% 5% 12% PROBLEMAS 8 Fonte: Dados da empresa em estudo A análise do portfólio de produtos destacou que apenas 24% dos produtos que compõem a categoria representam 78% da margem de rentabilidade bruta (campeões), 86% do faturamento e 87% da quantidade de produtos vendidos da categoria ZAN . Esses dados são evidenciados na figura 4. Visando aprimorar os resultados verificados na análise do portfólio, confeccionou-se o modelo de otimização da categoria ZAN, a partir da identificação do objetivo a ser atingido para a categoria, da definição das variáveis de decisão e das restrições em relação a essas variáveis. Otimização do Portfólio Na otimização do portfólio utilizou-se a PL, que através de técnicas matemáticas auxilia no processo decisório, a partir de alternativas de decisão e seus efeitos previstos (Winston, 1993). Definidas as características do modelo para otimização, aplicou-se o método de solução através do aplicativo Solver (Microsoft Excel), que proporcionou a obtenção da solução ótima, assim como sua sensibilidade frente a uma variação do resultado. A análise de sensibilidade, conceituada anteriormente, não será demonstrada por não fazer parte dos objetivos deste artigo. A elaboração do modelo de otimização desenvolveu-se conforme as seguintes etapas (adaptadas de Ragsdale, 1997): 1º etapa - Definição do objetivo: maximizar a margem de rentabilidade bruta (objetivo principal) e o faturamento global (objetivo secundário) da categoria ZAN, com uma melhor composição das participações de cada quadrante em relação ao faturamento, à quantidade de produtos vendidos e à margem de rentabilidade em 2001. 2º etapa - Definição das variáveis de decisão: a otimização realizou-se a partir das variáveis margem de rentabilidade bruta, faturamento e quantidade de produtos vendidos por quadrante, identificados na análise do mix de produtos da categoria ZAN. 3º etapa - Definição das restrições: as restrições foram definidas com a participação dos gerentes de categoria da empresa, para que obedecessem aos objetivos da categoria. As três variáveis de decisão devem ser maior que zero, ou seja, devem respeitar o princípio da não-negatividade, de que deve ser sempre possível desenvolver dada atividade em qualquer nível não-negativo, e qualquer proporção de um dado recurso deve sempre poder ser utilizada (Goldbarg e Luna, 2000). Com base nas tendências de mercado, projeta-se um aumento máximo de 5% na quantidade total de produtos vendidos (779 mil unidades). 9 O quadrante campeões apresenta os produtos com os melhores desempenhos da categoria, planejando-se um incremento mínimo de 3% (R$ 893 mil) no faturamento. Devido ao quadrante negócios potenciais ter um faturamento acima dos 25% melhores resultados e uma margem de rentabilidade abaixo desses resultados, os produtos desse quadrante deverão ter um aumento mínimo na quantidade de produtos vendidos de 4% (51 mil unidades). Os produtos localizados no quadrante geradores de receita deverão ter um incremento máximo de 4% (R$ 3 mil) na margem bruta de rentabilidade e de 10% (4 mil unidades) na quantidade de produtos vendidos, pois se trata de um quadrante com margem de rentabilidade bruta acima dos 25% melhores desempenhos e um faturamento abaixo desse desempenho. Em relação ao quadrante problemas, caracterizado por produtos com desempenho abaixo dos melhores resultados da categoria tanto em margem de rentabilidade bruta quanto em faturamento, esses produtos deverão ter uma redução mínima de 5% (37 mil unidades) na quantidade de produtos vendidos. A racionalidade dessa diminuição encontrase no fato de haver um grande número de itens com baixo desempenho, devendo permanecer apenas os produtos principais para a formação da rentabilidade do quadrante. Definidas as restrições, pode-se observar na figura 5 a conclusão da elaboração do modelo de otimização de portfólio da categoria ZAN, obtido no Microsoft Excel. Figura 5 - Modelo de Otimização da Categoria ZAN 10 Após a elaboração do modelo de otimização, com a determinação dos objetivos, das variáveis de decisão e das restrições, obteve-se a maximização do faturamento e da margem bruta de rentabilidade através do aplicativo Solver. No modelo de otimização atribuiu-se um peso maior ao objetivo de margem de rentabilidade bruta do que ao faturamento total. Os resultados dessa etapa podem ser observados na figura 6. Considerando a projeção máxima de 5% de aumento na quantidade de produtos vendidos, o modelo apresentou uma melhor composição da participação dos produtos nos quadrantes. Com o resultado, observa-se um aumento na margem de rentabilidade bruta de R$ 5,3 milhões para R$ 5,5 milhões, correspondente a 4,4% de incremento. O modelo ainda aponta que os produtos localizados no quadrante campeões terão que manter a sua participação no faturamento (86%) e margem de rentabilidade bruta (78%), indicando uma leve redução na participação sobre a quantidade de vendida de 87% para 86% da categoria. Esses produtos caracterizam-se por faturamento e margem de rentabilidade entre os 25% melhores resultados, e a solução propõe que se trabalhe para que o faturamento médio por produto evolua de R$ 143 mil para R$149 mil, e a margem de rentabilidade média por produto de R$ 19,9 mil para R$ 20,8 mil. Figura 6 - Resultado do Modelo de Otimização da Categoria ZAN 11 Em relação aos produtos que constituem o quadrante negócios potenciais, a solução indica a possibilidade de aumento da participação na quantidade de produtos vendidos de 8% para 9%, do faturamento de 5% para 6% e da margem de rentabilidade bruta de 9% para 10%. Os números indicados encontram explicação no fato de que esses produtos, apesar de estarem entre os 25% melhores resultados do faturamento da categoria, possuem uma margem de rentabilidade abaixo desta faixa. Assim, o modelo aponta para um aumento no faturamento médio e na margem de rentabilidade média por produto de aproximadamente 17%, de R$ 16 mil para R$ 18,7 mil e de R$ 3,8 mil para R$ 4,4 mil, respectivamente. Quanto aos produtos do quadrante geradores de receita, o modelo sugere que as participações na quantidade de produtos vendidos, no faturamento e na margem de 12 rentabilidade bruta sejam mantidas, pois esses produtos proporcionam altas margens de rentabilidade, apesar de não terem uma grande participação na quantidade de produtos vendidos em relação ao total da categoria. Desta forma, o modelo indica um acréscimo de 4,9% na quantidade de produtos vendidos, 1,2% no faturamento médio por produto e 4,3% na margem de rentabilidade. Os produtos do quadrante problemas caracterizam-se por faturamento e margem de rentabilidade bruta abaixo dos 25% melhores resultados da categoria. A participação desse quadrante no faturamento total deve baixar de 7% para 6%, e a margem de rentabilidade bruta de 12% para 11%. Esta sugestão torna-se factível devido ao quadrante apresentar produtos de baixo faturamento médio e margem de rentabilidade média por produto (aproximadamente R$ 4,5 mil e R$ 1,1 mil, respectivamente), interferindo diretamente no desempenho global da categoria. Esse quadrante apresenta 536 produtos (61%) que representam somente 5% da quantidade de produtos vendidos, 7% do faturamento da categoria e 12% da margem de rentabilidade bruta, devendo-se decidir quanto à eliminação, aumento do valor agregado ou substituição desses produtos, que tendem a prejudicar o desempenho da categoria. A figura 7 apresentam as situações atual e otimizada propostas pelo modelo, em relação ao faturamento (eixo y), margem de rentabilidade bruta (eixo x) e participação nas quantidades de produtos vendidos (tamanho da bolha). Figura 7 – Situação Atual e Otimizada por Quadrante da Categoria ZAN CAMPEÕES NEGÓCIOS POTENCIAIS 31.000 9% 30.500 30.000 2.200 2.000 87% 29.500 8% 1.800 29.000 4.400 4.300 4.200 4.100 550 500 Margem Rentabilidade Bruta R$ mil 450 400 Margem Rentabilidade Bruta R$ mil 2.500 Faturamento R$ mil 360 5% 0% 350 2.400 4% 340 2.300 0% Faturamento R$ mil Faturamento R$ mil 86% Faturamento R$ mil 2.400 31.500 2.200 330 80 78 76 Margem Rentabilidade Bruta R$ mil GERADORES DE RECEITA 74 660 630 600 570 540 510 480 Margem Rentabilidade Bruta R$ mil PROBLEMAS Legenda: Situação Atual Otimizado 13 Fonte: Análise dos dados O modelo de otimização de portfólio pode apresentar algumas modificações em suas variáveis de decisão, mantendo a mesma solução ótima. Essas variações podem ser identificadas a partir da análise do relatório de resposta e do relatório de sensibilidade, também gerados a partir do aplicativo Solver e embasados na teoria de pesquisa operacional. Sugere-se ao leitor interessado que efetue a análise de sensibilidade para comprovar os resultados apresentados e aprofundar seu conhecimento desse método. DISCUSSÃO Este estudo objetivou prover uma ferramenta de auxílio no processo decisório de aprimoramento do portfólio de produtos de uma categoria no varejo de auto-serviço, com o uso da Matriz Faturamento X Margem de Rentabilidade Bruta e da programação linear. Esse processo analítico forneceu algumas conclusões, tanto em relação aos resultados da categoria quanto em relação ao método de solução utilizado. Resultados A Matriz Faturamento X Margem de Rentabilidade Bruta demonstrou os desempenhos de cada subcategoria no período. Os resultados obtidos levaram à realização de uma análise em relação ao mix de produtos, com a finalidade de avaliar o desempenho dos produtos nos quadrantes campeões, negócios potenciais, geradores de receita e problemas. De acordo com a análise do mix de produtos, verificou-se uma grande distorção da participação do número de produtos em relação à margem de rentabilidade e faturamento. O estudo salientou que apenas 24% dos produtos representam 87% da quantidade de produtos vendidas, 86% do faturamento total e 78% da margem de rentabilidade bruta da categoria ZAN. Estes indicadores serviram de base para a elaboração do modelo de otimização de portfólio, que apontou desempenhos distintos de cada quadrante no total da categoria. O modelo de otimização de portfólio proporcionou uma nova composição das participações dos quadrantes campeões, negócios potenciais, geradores de receita e problemas em relação à quantidade de produtos vendidos, ao faturamento e à margem de rentabilidade bruta, assim como os desempenhos quanto a faturamento médio e margem de rentabilidade média por produto. Isso possibilitou um aumento de aproximadamente 4,4% na margem de rentabilidade da categoria, considerando um incremento máximo de 5% na quantidade de produtos vendidos e as demais restrições exigidas. 14 A solução ótima apontada pelo modelo sugere o aprimoramento do desempenho dos produtos dos quadrantes campeões, negócios potenciais e geradores de receita, pois esses produtos são os principais da categoria. Desta forma, deve-se definir táticas mais perspicazes em relação às promoções, aos preços e à apresentação no ponto-de-venda, aproveitando o potencial desses produtos com o objetivo de atingir resultados ainda melhores. Não é indicado apontar táticas específicas que devam ser seguidas pelos gerentes de categoria, pois estas estão ligadas aos objetivos específicos do varejista, podendo variar de acordo com o porte, localização e escopo de atuação de cada empresa. Em relação ao quadrante problemas, o modelo aponta para a eliminação dos produtos com baixa quantidade vendida, tendo em vista o objetivo de aumentar o faturamento médio e margem de rentabilidade média por produto neste quadrante. Ressaltase que esses produtos com pouca representação prejudicam o desempenho da categoria, pois ocupam um espaço precioso no ponto-de-venda, têm elevados custos associados e comprometem o desempenho da categoria, sem satisfazer as necessidades do consumidor. Método A análise do portfólio, a partir da Matriz Faturamento X Margem Bruta e da programação linear, forneceu informações úteis ao processo de gerenciamento da categoria estudada. Além do aumento no faturamento global da categoria de da margem de rentabilidade bruta, que podem variar de acordo com as restrições impostas ao modelo, a análise inicial demonstrou algumas distorções na distribuição dos produtos entre os quadrantes, o que por si só indica alguns caminhos a serem percorridos. É importante que, ao formular o modelo, a categoria e o mercado em análise sejam muito bem conhecidos, pois não se pode dissociar a especificação das variáveis de decisão e restrição da estratégia da empresa para determinado setor. A partir dos resultados obtidos serão definidos recursos e medidas a serem adotadas para cada produto ou subcategoria, de modo que as atividades devem estar alinhadas desde o início. O estudo apresentou evidências de que a utilização da Matriz Faturamento X Margem de Rentabilidade Bruta na análise do portfólio de produtos, juntamente com a ferramenta de pesquisa operacional empregada – a programação linear -, pode ser eficaz na geração de informações para o gerente de categoria. Sua aplicação é especialmente útil na busca de uma composição mais eficiente do portfólio de produtos de uma categoria, pois o processo descrito possibilita a visualização de problemas em relação ao sortimento, assim como uma solução para o desenvolvimento de um portfólio eficiente. Além disso, busca-se obter uma variedade que considere as necessidades dos consumidores juntamente com as necessidades dos varejistas, evitando disponibilizar produtos que não obtenham um desempenho compatível à categoria. Limitações do Método Dentro dos limites do trabalho, é oportuno ressaltar que o estudo abordou o quadro atual de uma categoria de produtos quanto aos indicadores de faturamento, quantidade de produtos vendidos e margem de rentabilidade bruta. Ou seja, é difícil a utilização de uma 15 série histórica de dados mais ampla, visto que os produtos das categorias mudam constantemente e não se teria informações padronizadas para todos os anos. Além da dificuldade de validação do modelo em uma série temporal mais ampla, outra restrição se encontra no fato de não serem consideradas as características da categoria e subcategorias que a compõem, pois determinados produtos têm particularidades de mercado e diferentes processos de categorização por parte do consumidor, variáveis que não são inseridas no modelo. Essas especificações são de suma importância para a definição estratégica da categoria. Por fim, sugere-se que reaplicações da técnica sejam feitas com outras bases de dados, em categorias com características distintas, sendo aplicadas em redes varejistas de variados portes e localizações geográficas. Com isso, espera-se uma melhor avaliação da aplicabilidade da técnica ao gerenciamento de categoria, com possibilidade de melhorias e uma amplitude maior de uso no varejo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Eduardo L. Introdução à pesquisa operacional: métodos e modelos para análise de decisão. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1998. BASUROY, Suman; MANTRALA, Murali K.; WALTERS, Rockney G. The impact of category management on retailer prices and performance: theory and evidence. Journal of Marketing, vol. 65, n. 4, p. 16-32, oct.2001. BOATWRIGHT, Peter; NUNES, Joseph C. Reducing assortment: an attribute-based approach. Journal of Marketing, vol. 65, n. 3, p. 50-63, jul. 2001. BRONIARCZYK, Susan M.; HOYER, Wayne D.; McALISTER, Leigh. 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