a infidelidade abordada na obra “o primo basílio” de eça de queirós

Transcrição

a infidelidade abordada na obra “o primo basílio” de eça de queirós
FACULDADE ALFREDO NASSER
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LETRAS
A INFIDELIDADE ABORDADA NA OBRA “O PRIMO BASÍLIO” DE
EÇA DE QUEIRÓS
Marinez Leal de Brito
APARECIDA DE GOIÂNIA
2010
MARINEZ LEAL DE BRITO
A INFIDELIDADE ABORDADA NA OBRA “O PRIMO BASÍLIO” DE
EÇA DE QUEIRÓS
Artigo apresentada ao Instituto Superior de
Educação da Faculdade Alfredo Nasser, sob
orientação da Prof.ª Ms. Cristiane Galvão, como
parte dos requisitos para a conclusão do curso de
Letras.
APARECIDA DE GOIÂNIA
2010
A INFIDELIDADE ABORDADA NA OBRA “O PRIMO BASÍLIO” DE
EÇA DE QUEIRÓS
Marinez Leal de Brito
Resumo:
O enredo gira em torno do adultério cometido por Luísa e seu primo Basílio,
que acabava de chegar do Brasil. Luísa está casada com Jorge há três
anos, mas mesmo assim, se deixa seduzir pelo primo que fora seu primeiro
namorado. Enquanto seu esposo viajava para Alentejo a trabalho os dois se
encontram em um quarto alugado por Luísa especialmente para se dedicar
a Basílio. Após ter seduzido sua prima, e vendo a situação em que se
encontrava, desesperada de paixão e sendo chantageada por sua criada,
que havia interceptado uma de suas cartas de amor para Basílio e não
parava de tirar vantagem disso, conseguindo assim, dinheiro e regalias
dentro de casa. Basílio abandona Luísa partindo sozinho para Paris. Jorge
desconfia da situação quando retorna de viagem e acaba por saber de tudo.
Luísa adoece gravemente e morre.
Palavras-chave: Infidelidade, pecado, mulher
INTRODUÇÃO
Propõe-se neste artigo apresentar características do homem e da mulher
patriarcais, fazendo uma análise do contexto histórico, da evolução feminina, do
adultério praticado por Luísa, suas motivações e conseqüências.
A literatura procurou retratar a infidelidade feminina em suas obras, autores
clássicos como Machado de Assis fez dessa temática o conteúdo máximo de seus
livros.
O Primo Basílio de Eça de Queirós é um romance realista que retrata a
sociedade burguesa Lisboeta do século XIX, se expressa através de um episódio
doméstico, um adultério praticado pela personagem principal, Luísa.
Eça de Queirós trata em sua trama romanesca. O Primo Basílio (1878) as
conseqüências desastrosas que podem advir do adultério. O autor chama atenção
para aqueles que se aproveitam dos desvios e das fraquezas humanas, Luísa, a
protagonista, paga caro pelo seu envolvimento com Basílio.
As personagens são primorosamente construídas como que aprisionadas
em seus impulsos e alternativas, pela circunstância social que as limita e condiciona.
Com este “episódio doméstico”, o autor pretende mostrar as pessoas de forma
exemplar, a tese realista da corrupção da família vista como instituição burguesa,
mais especificamente a família da média burguesia lisboeta.
O romance faz parte da 2ª fase de Eça de Queirós, onde sua produção é
marcado pela influência realista – naturalista, compondo um vasto quadro da
sociedade portuguesa da época, ele analisa e critica as instituições, a hipocrisia do
clero, a aristocracia decadente e a família burguesa lisboeta. Afirmando que a
família lisboeta é produto do namoro, reunião desagradável de egoísmos que se
contradizem, e mais tarde ou mais cedo centro de bambochata.
CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DA OBRA DE EÇA DE QUEIRÓS: O PRIMO
BASÍLIO
A burguesia consegue definitiva ascensão ao poder político na Europa no
final do século XVIII. A Revolução Francesa de 1789 foi o marco histórico desse
processo. A consolidação do poder burguês se fez de forma expressiva durante o
século XIX, principalmente por causa do desenvolvimento que o capitalismo
alcançou neste período. Houve uma acelerada industrialização que acentuou os
mecanismos de exploração social do sistema capitalista. Os países industrializados
disputavam o tempo todo as áreas de exploração de matérias-primas e os mercados
de consumo de manufaturados. Deu-se então um processo conhecido como
Imperialismo.
As desilusões com os rumos da Revolução Francesa apareceram ainda no
momento romântico, mas este quadro aumentou ainda mais a decepção. O
espiritualismo e o sentimentalismo, bases do Romantismo, cederam espaço às
concepções materialistas e realistas. A realidade passou a ser objeto de estudo e
em toda a Europa surgiram filosofias que buscavam explicá-la através de
parâmetros científicos: tratava-se do cientificismo. O Positivismo foi a mais
representativa dessas filosofias.
O positivismo surgiu a partir dos escritos de Auguste Comte e pretendia
constituir uma teoria geral do conhecimento, a partir da qual todos os aspectos da
realidade poderiam ser explicados e normatizados.
O determinismo foi uma outra tentativa nesse sentido, de acordo com esse
pensamento as ações humanas poderiam ser determinadas e previstas a partir da
análise de alguns fatores básicos, como o meio social, a raça dos indivíduos
envolvidos naquelas ações e o momento histórico em que elas aconteceram.
Darwin escreveu em 1859 a Origem das espécies e através de seus estudos
chegou à conclusão de que existe um Evolucionismo e as Leis das Selvas, o que
também contribuiu em muito para o cientificismo.
CARACTERÍSTICAS DOS PERSONAGENS
Jorge x Basílio
O personagem Jorge era caracterizado por certa hipocrisia masculina aliada
à sua tranqüilidade, à sua capacidade de ponderação. Achava que tinha o direito de
julgar as mulheres que tinham amantes, chamando-se de promiscuas, devassas,
mas ele próprio teve um caso passageiro em Alentejo do qual apenas o amigo
Sebastião tinha conhecimento, Jorge Carvalho é o marido de Luisa, a protagonista.
“Era engenheiro de minas, no dia seguinte devia partir para Beja, para Évora, mais
para o sul até São Domingos”. (QUEIRÓS, 1979, p. 7)
É funcionário do Ministério das Obras públicas como engenheiro de minas.
Um burguês pacato e reservado. “Fora sempre robusto, de hábitos viris. Tinha os
dentes admiráveis de seu pai, os seus ombros fortes. Da mãe herdara a placidez, o
gênio manso”. (QUEIRÓS, 1979, p. 7) Mesmo enquanto jovem, preferia um bom livro
às boemias noturnas. Mantinha uma relação secreta com uma costureira casada,
Eufrásia.
Dado o seu temperamento extremamente racional e nada sentimental
chamava-lhe o proseirão burguês. Se apresentava sempre impecavelmente vestido
e aprumado, era um homem correto. “Era um homem caseiro e nunca fora
sentimental. Após a morte da mãe, começou a se sentir só, conheceu Luísa,
apaixonou-se por seus cabelos louros e causou-se” (QUEIRÓS, 1979, p. 13)
Conheceu Luísa no Passeio Público e “apaixonara-se pelos seus cabelos
louros, pela sua maneira de andar, pelos seus olhos castanhos muito grandes”.
(QUEIRÓS, 1979, p. 13)
O seu afastamento de Lisboa, por questões profissionais, facilita o adultério
da sua esposa com o primo, Basílio. “Havia doze dias que Jorge tinha partido e,
apesar do calor e da poeira, Luísa vestia-se para ir à casa de Leopoldina. Se Jorge
soubesse não havia de gostar [...].” (QUEIRÓS, 1979, p. 45)
Ao regressar, Jorge, totalmente alheado da situação, não compreende as
exigências de Juliana, bem como a sua morte pouco depois, e a doença de Luísa.
“Juliana por sua vez, tomava seus caldinhos, passeava e Joana, muito livre e só,
recebia o seu amante.” (QUEIRÓS, 1979, p. 165)
Contudo, uma carta de Basílio que ele lê revela-lhe a traição da mulher:
(...) Vejo pela tua carta que não acreditaste nunca que minha partida fosse
motivada por negócios. És bem injusta. A minha partida não te devia ter
tirado, como tu dizes, todas as ilusões sobre o amor, porque foi realmente
quando sai de Lisboa que percebi quanto te amava, e não já dia, acredita,
em que me não lembre do Paraíso (...) (QUEIRÓS, 1979, p. 175).
Ao confrontá-la com a notícia, provoca o agravamento do seu estado e a
morte, à qual Luísa não resistiu vendo-se descoberta, apesar de o marido a ter
perdoado.
Basílio era o conquistador e irresponsável, “bom vivant” pedante e cínico.
Personagem desprovido de qualquer senso moral. Joga com o sentimento alheio.
Não tem compromisso com nada nem com ninguém. É o protótipo do filho pródigo,
do janota, do “almofadinha”. É ele quem serve de elo na medição de forças entre
duas mulheres tão diferentes: a frágil Luísa e a obstinada Juliana.
Em se tratando de Basílio, é mais um tipo do que uma pessoa: sua
irresponsabilidade, cinismo, “mania de grandeza”, de superioridade, que o faz ter
uma relação de uso tanto com as mulheres quanto com o país. “Um maroto, sem
paixão nem a justificação da sua tirania – que o que pretende é a vaidadezinha de
uma aventura, e o amor grátis, de acordo com as palavras do autor, escritas a
Teófilo Braga”. (QUEIRÓS, 1979, p. 318)
Sua relação com Luísa é de amor antigo, os dois tiveram um relacionamento
amoroso no passado, quando adolescentes. Para Queirós (1979), “Há! Outros
tempos! (p. 63) “Eu era antigamente, quem lhe calçava e descalçava as luvas...
Lembras-te?”(p. 63).
“Éramos duas crianças!
Foi bom o tempo! Foi bom o meu tempo!
“Ela via a sua cabeça bem feita, descaída, naquela melancolia das
felicidades passadas, com um risca muito fina e os cabelos brancos – que
lhe dera a separação. Sentia também uma vaga saudade no peito”.
(QUEIRÓS, 1979, p. 64)
HISTÓRICO DA MULHER NA SOCIEDADE
Baseado em leituras o texto sobre o assunto buscamos fazer uma discussão
sobre o papel da mulher na sociedade, alguns fatores relacionados à sua vida
familiar e matrimonial são de suma importância.
Em toda a natureza foram criados macho e fêmea, um para o outro e com o
ser humano a situação não foi diferente, homem e mulher foram feitos. Assim como
acontece com os animais a reprodução humana só pode ocorrer com a participação
masculina e a feminina. Com o objetivo de procriação, homem e mulher criaram uma
relação estável, formando a família e a partir dela, a sociedade. (FREIRE, 2004).
O estabelecimento de papéis definidos para homem e mulher ocorreu a
partir do momento em que o homem começou a produzir seus alimentos. Nas
sociedades agrícolas já havia a divisão sexual do trabalho, marcada desde sempre
pela capacidade reprodutora da mulher, o fato de gerar o filho e de amamentá-lo. O
aprendizado da atividade de cuidar foi sendo desenvolvido como uma tarefa da
mulher, embora ela também participasse do trabalho do cultivo e da criação de
animais.
Segundo Freyre (2004), o fato de ser a mulher quem dá a luz às crianças
facilitou a sua subordinação ao homem. Esta passou a ser considerada mais frágil e
incapaz de assumir o comando de sua família.
As sociedades patriarcais surgiram, fundadas no poder do homem, que se
apresentava e assumiu o poder de mando. A idéia de posse dos bens, e a garantia
da herança dela para as gerações futuras levaram o homem a interessar-se pela
paternidade. Assim, a sexualidade da mulher foi sendo cada vez mais submetida
aos interesses do homem, tanto no repasse dos bens materiais, através de herança,
como na reprodução da sua linhagem. A mulher passou a ser do homem, como
forma dele perpetuar-se através da descendência. A função da mulher foi sendo
restrita ao mundo doméstico, submissão ao homem.
Neste período a mulher era criada no seio de sua família para o casamento,
que na maioria das vezes era arranjado, e só se conheciam no dia do casamento.
Quando casados, a maioria dormia em quartos separados, e só se deitavam juntos
algumas vezes, muitas vezes isso ocorria por não terem afinidades um com o outro.
Em relação aos filhos, a mulher tinha sempre uma ama de leite que deveria cuidar
de seu filho enquanto a mãe se recuperava, como mãe a mulher era dócil, devido ao
fato de seus maridos serem muito atarefados no trabalho, elas ficavam sozinhas e
se dedicavam inteiramente aos filhos.
As sociedades patriarcais permaneceram ao longo dos tempos, mesmo na
sociedade industrial. Porém, nas sociedades industriais o mundo do trabalho se
divide do mundo doméstico. As famílias multigeracionais vão desaparecendo e
forma-se a família nuclear (pai, mãe e filhos). Permanece o poder patriarcal na
família, mas a mulher das camadas populares foi submetida ao trabalho fabril.
As mães que trabalhavam nas fábricas não tinham tempo para dedicar a
seus filhos como era na sociedade patriarcal e o abandono do lar, a que tiveram que
se submeter para trabalhar, trouxe a desestruturação dos laços familiares, para as
camadas trabalhadoras e os vícios decorrentes do ambiente de trabalho promíscuo
fez crescer conflitos sociais.
No início da revolução industrial, no século XVIII, a mulher foi inserida no
trabalho febril e houve a separação entre o trabalho domestico e o trabalho
remunerado fora de casa, na fábrica, só que o preconceito e a desigualdade ao
invés de diminuírem foram se tornando cada vez maiores. Os salários pagos às
mulheres eram bem menores que os pagos aos homens e em decorrência disso,
nos momentos de crise, contratavam as mulheres, no intuito de economizar.
Durante todo o processo da revolução industrial mulheres e homens
brigaram entre si, elas eram acusadas de lhes tirarem os empregos. A luta contra o
sistema capitalista de produção aparecia permeada pela questão de gênero. O
problema passou a ser uma questão de produção aparecia permeada pela questão
de gênero. O problema passou a ser uma questão de gênero, e lutando
primeiramente contra os homens e a favor de direitos iguais elas aprenderam a
defender seus direitos e a lutarem também por melhores condições de trabalho e
logo no início do século XIX já se via mulheres lutando pela igualdade da jornada de
trabalho, pelo direito ao voto e reivindicando direitos trabalhistas.
O fato de trabalhar fora não eximiu a mulher de sua responsabilidade com os
filhos, ela passou assim a ter uma dupla jornada de trabalho. Cuidava dos filhos, do
marido, da casa e ainda trabalhava fora com remuneração. Devido a isso tudo seus
filhos passaram a ficar com as avós ou sozinhos em casa o que trouxe muita
preocupação e fez nascer os primeiros movimentos em busca de creches e escolas
para deixarem seus filhos e também nasceu ai a luta pela licença maternidade.
Segundo Bessa (2007), na década de 1980, quando nasceu a CUT, a
bandeira das mulheres ganhou mais visibilidade dentro do movimento sindical,
Surgiu na década de 1980 a Comissão Nacional da Mulher Trabalhadora, na CUT. A
luta pela democratização das relações de gênero persistiu e com a Constituição
Federal de 1988 a mulher conquistou a igualdade jurídica. O homem deixou de ser o
chefe da família e a mulher passou a ser considerada um ser tão capaz quanto o
homem.
A luta feminina é até hoje uma constante, muitos homens ainda “remam
contra a maré” tentando manter suas esposas em casa, somente com a função de
cuidarem do bem estar da família. O processo ocorre de forma contrária, pois um
homem de classe média não consegue sustentar sua família sem o auxílio da sua
esposa e cada dia mais mulheres assumem o papel de mães de família,
sustentando até mesmo seus maridos.
Fazendo uma análise do quarto capítulo intitulado “A mulher e o homem” do
livro de Gilberto Freyre, “Sobrados e Mucambos” encontramos um estudo detalhado
da evolução feminina do século XVIII até os dias atuais. O presente estudo faz uma
viagem nos anos da sociedade patriarcal, da semi-patriarcal até chegar aos anos em
que a mulher é figura significante na sociedade.
De acordo com este estudo as mulheres de toda a época patriarcal eram
franzinas e ficavam o dia todo dentro de casa, cuidando dos afazeres domésticos e
das crianças. Mas dentro desse grupo de mulheres surgiram algumas que se
diferenciavam dessas submissas, eram normalmente senhoras de engenho, que
apresentavam energia incomum para administrar fazendas. Elas mostraram-se
capazes de exercer o mando patriarcal quase que com o mesmo vigor dos homens.
Às vezes com maior energia do que os maridos já mortos ou ainda vivos porém
dominados, excepcionalmente, por elas.
Na visa da igreja e do padre-mestre a boa mãe de família não devia
preocupar-se senão com a administração de sua casa, levando-se a fim de dar
andamento aos serviços, mas essa mesma mãe de família, no inicio do século XIX
estava sendo substituída nos sobrados e até em algumas casas-grandes de
engenho, por um tipo de mulher menos servil e mais mundano; acordando tarde por
ter ido ao teatro ou a algum baile; lendo romances; olhando a rua da janela ou da
varanda; levando duas horas no toucador; outras tantas horas no piano, estudando a
lição de música ou a de francês. Muito menos religiosa que a de antigamente.
Devido à má alimentação da mulher tanto solteira quanto casada muitas
morriam antecipadamente. A solteira não podia comer nada forte e nem mostrar
sentir fome e as casadas engordavam, mas era uma gordura fofa, mole, causada
por doenças.
Assim como hoje, no século XIX era comum médicos estudarem as causas
de várias doenças que acometiam as pessoas, principalmente as mulheres. Há má
alimentação e o vestuário impróprio entre as causas da má saúde, das moças e
senhoras brasileiras.
O uso do espartilho apertava o diafragma dificultando assim a respiração
das mulheres. Percebendo-se que morriam mais moças que mulheres e mais
mulheres que homens.
A medida que outras figuras de homens foram ganhando prestígio foi se
dissolvendo o absolutismo do pater famílias, que teve como sua maior pureza de
traços o senhor de casa-grande, de engenho ou de fazenda. Profissionais como
médicos, chefes de polícia, juízes, diretores de colégios e correspondentes
comerciais ascenderam. Com essa ascendência, a figura da mulher foi aos poucos
se libertando da excessiva autoridade patriarcal. A mistura foi acontecendo através
dos casamentos de barcharéis pobres e mulatos com moças ricas e os filhos desses
casamentos herdavam não os nomes dos pais como era o costume e sim os nobres
nomes das mães.
A igreja perdeu assim a maior parte do poder autoritário que exercia sobre a
mulher e sobre seus filhos, sendo que estes recebiam agora maior influência dos
médicos, do colégio, do teatro e da literatura profana.
Liberta-se dos preconceitos de raça foi mais fácil e rápido para nós
brasileiros, do que nos libertarmos dos preconceitos do sexo. Já no primeiro século
de colonização foram quebrados os mais duros tabus contra os índios, a
“inferioridade” feminina subsistiu à “inferioridade” da raça e isso fez da nossa cultura,
uma cultura com muito dos seus elementos mais ricos abafados e proibidos de se
expressarem. Sexo fraco. Belo sexo. Sexo doméstico. Sexo mantido em situação
toda artificial para regalo e conveniência do homem, dominador exclusivo dessa
sociedade meio morta.
O homem era tão dominador que havia bem mais distância entre a mulher
branca e o escrevo negro do que entre ele e a escrava preta. Essa distância não era
só social era também psíquica. Isso não impediu porém, que essa mulher branca,
fina e sensível se interessasse pelo escrevo negro, que era aparentemente bem
mais forte fisicamente, mais vivo e mais estranho, talvez mais ardente que o branco.
O escravo se tornava para ela mais sexualmente atraente do que o primo branco, ou
quase branco, que era bem parecido com ela.
O declínio da família patriarcal no Brasil é marcado por raptos. Esses raptos
ocorriam devido ao fato da família não consentir no casamento de suas filhas com
homens de sua predileção sexual ou sentimental e elas já mostrando características
de um comportamento inovador, tido como rebelde na época, não se sujeitavam a
seus pais e fugiam com seus amados.
Sobre o fim do sistema patriarcal Freyre (1994, p. 46) diz:
Um sistema complexo como foi o patriarcal, no Brasil, tinha que ser, como
foi, um sistema de base biológica superada pela configuração sociológica.
Um sistema em que a mulher mais de uma vez tornou-se sociologicamente
homem para efeitos de dirigir casa, chefiar família, administrar fazenda.
Na sociedade capitalista persistiu o argumento da diferença biológica como
base para a desigualdade entre homens e mulheres. As mulheres eram vistas como
menos capazes que os homens. Mesmo assim, com todo este preconceito, não
houve desistência. O direito de propriedade passou a ser o ponto central, assim, a
origem da prole passou a ser controlada de forma mais rigorosa, levando a
desenvolver uma série de restrições a sexualidade da mulher. Cada vez mais o
corpo da mulher pertencia ao homem, seu marido e senhor. O adultério era crime
gravíssimo, pois colocava em perigo a legitimidade da prole como herdeira da
propriedade do homem.
Nos dias atuais a mulher é uma pessoa totalmente centrada nos seus
objetivos e propósitos, independente, tem suas próprias idéias e segue-as. Vive em
um mundo moderno, em que o homem perde cada dia mais um pouco do seu
espaço para elas.
As mulheres estão ganhando espaço no trabalho, na política, e em seu lar.
Muitas são donas de casa, mães, esposas e ao mesmo tempo trabalham fora. Elas
têm se desdobrado e cada vez mais tem conseguido conquistar seus objetivos.
Segundo Simone de Beauvoir (1949), na sociedade capitalista persistiu o
argumento da diferença biológica como base para a desigualdade entre homens e
mulheres. As mulheres eram vistas como menos capazes que os homens. Mesmo
assim, com todo este preconceito, não houve desistência. O direito de propriedade
passou a ser o ponto central, assim, a origem da prole passou a ser controlada de
forma mais rigorosa, levando a desenvolver uma série de restrições à sexualidade
da mulher. Cada vez mais o corpo da mulher pertencia ao homem, seu marido e
senhor. O adultério era crime gravíssimo, pois colocava em perigo a legitimidade da
prole como herdeira da propriedade do homem.
A mulher se torna propriedade do homem, ele quere-a virgem e dela exige,
sob ameaça dos mais graves castigos, uma fidelidade total; seria o pior dos
crimes dar direitos de herança a um adolescente estrangeiro: eis que ao
pater famílias cabe o direito de condenar à morte a esposa culpada.
Enquanto dura a propriedade privada, a infidelidade conjugal da mulher é
considerada crime de alta traição. Todos os códigos, que até aos nossos
dias mantiveram a desigualdade em matéria de adultério. (idem, 1949, p.
121).
No século XX nasceu o feminismo, a luta das mulheres contra as formas de
expressão a que eram submetidas. Elas se organizaram em prol de melhorias na
infra-estrutura social.
Mesmo após lutas e a conquista dos direitos, e da a criação dos movimentos
feministas que se iniciaram no século passado nos Estados Unidos da América que
culminaram em França com o célebre movimento do Maio de 1968, que defende as
idéias da liberdade, igualdade, fraternidade, da qual Simone de Beauvoir (1949) fez
parte tendo tido muita influência o seu livro intitulado “O Segundo Sexo”, muito
contribuiu no Maio de 1968 para a aquisição da igualdade de direitos da mulher, no
qual a autora refere que a mulher ainda hoje não adquiriu uma igualdade de direitos
em relação ao homem. A remuneração do trabalho da mulher sempre foi inferior ao
do homem. Na sociedade capitalista persistiu o argumento da diferença biológica
como base para a desigualdade entre homens e mulheres. Nesta linha e reforçando
a teoria de Simone de Beauvoir, “as análises sociológicas continuam a apontar
numerosas desigualdades entre os sexos”. (Dicionário das Ciências Humanas, 2006,
p. 490). A luta feminina também tem divisões dentro dela. Os valores morais
impostos às mulheres durante muito tempo dificultam a luta pelo direito de
igualdade.
O HISTÓRICO DO CASAMENTO
Segundo Glauciela Ferreira em seu artigo intitulado “O poder patriarcal e as
faces do capitalismo no casamento” diz que o casamento ergueu cidades, sustentou
impérios e formou nações, todavia, há que se dizer que por meio de negócios bem
sucedidos, o “sim” dos noivos gerou enlaces e acordos nupciais que quase sempre
descreveram trajetórias opostas: por um lado, a satisfação das famílias proponentes,
por outro lado, as incongruências do comportamento conjugal. A solidez com que
tais trajetórias se infiltraram no cotidiano da vida privada transformou o contrato de
casamento num símbolo máximo da patriarcalidade social: a esposa como um sócio
minoritário, sem voz e sem voto. Tão logo, a intensidade com que a nossa
sociedade validou o patriarcalismo foi responsável pela longa duração da tutelação
feminina, dentro e fora do quadro conjugal, contexto que foi se alterando
paulatinamente a partir das revisões impostas aos contratos de casamento através
de sucessivas mudanças legais e comportamentais relativas ao cônjuges durante a
adaptação social do matrimônio.
O contrato feito no momento da união não era ainda um documento escrito,
mas a sua importância e legitimidade estabelecia-se no momento em que, o mesmo,
passava a figurar como um elemento que respaldava publicamente a transação ou
o acordo firmando entre as duas famílias, então ligadas. Prova disso, é o fato de a
noiva não estar, necessariamente, presente ao ato de contração do matrimônio,
ficando a cargo de seu pai, seu representante legal, a composição da engýesis, uma
espécie de acordo nupcial de caráter verbal, bem como, o acerto das diretrizes
sobre as quais se assentariam seus direitos, deveres e garantias de mulher casada.
No mais, só uma celebração reconhecida publicamente seria capaz de afiançar o
futuro político da prole do casal. Contudo, é apenas no século XII, com a intervenção
da Igreja e seu sucessivo processo de controle organizacional dos enlaces
matrimoniais, que os contratos, outrora verbais, saíram do plano abstrato e
passaram a compor concretamente o cenário das uniões conjugais.
De acordo com esta estudiosa essa relação foi consolidada em nossa
sociedade como um rito de passagem, no qual, após anos de convivência e
obediência, a mulher deixava a tutela do pai e passava à tutela do marido, ficando
eternamente conhecida pelo predicado masculino.
A infidelidade abordada na obra: O primo Basílio de Eça de queirós
O adultério ocorre desde os tempos antigos, desde a Grécia, geralmente o
homem trai sua companheira por atração, por descontentamento no casamento, ou
por simples prazer, já a mulher comete a traição por vingança do parceiro, por se
sentir solitária e por não ser desejada, procurada por seu companheiro, ou até
mesmo por simples atração. Este é um assunto que sempre levanta polêmica e
assusta quem ama, por ter o poder de transformar a vida do casal em um verdadeiro
pesadelo.
A palavra adultério nos traduz um sentido de proibição lembrado por
inúmeros símbolos como: pecado, apedrejamento, cintos de castidade, infâmia,
honra lavada com sangue. No livro “A letra Searlate”, a adúltera carrega um símbolo,
a letra A, pendurada no pescoço, por onde ela for, jamais poderá tirar este símbolo,
este é o preço que ela terá de pagar pelo seu ato cometido, o adultério.
Antigamente, o homem não poderia se privar de relações amorosas fora do
casamento, pois era algo que feria e constrangia a sua masculinidade e devido a
isso era aceitável a poligamia do esposo. Mas isso era restrito ao esposo, a esposa
deveria se manter fiel, se cometesse adultério era expulsa de casa e perdia todos
seus direitos, até mesmo a guarda dos filhos.
Luísa comete adultério porque a sociedade a influência e a faz crer que tem
motivos para isso.
Primeiramente, naquela época tudo era completamente limitado, não
bastava apenas saber falar francês, tocar piano e cuidar da casa, nada disso
motivava a vida de Luísa. Ela tinha sua maneira de ver a vida de um modo
romântico, era cheia de ilusões lidas em seus romances diários, existia a amiga
Leopoldina que lhe influenciava muito, pois lhe relatava até os mínimos detalhes de
seus relacionamentos amorosos com seus amantes, mexendo com a imaginação e
o desejo reprimido de Luísa, por esta aspirava uma vida de luxo e regalias, e com as
constantes viagens a trabalho que o marido faz a conduz a traição. O que a leva a
isso é muito mais a necessidade de preencher o vazio de sua existência que o amor
a Basílio. É uma forma encontrada por ela para fugir da solidão e da mesmice de
todos os dias.
“[...] já fazia doze dias que Jorge havia partido e Luísa, enfastiada de ficar
só, preparava-se para ir à casa de Leopoldina [...]” (Queirós, 1979, p. 45)
Basílio usa todas as suas táticas para reduzir Luísa, “[...] falou muito de
Paris, contou-lhe a moderna crônica amorosa, anedotas, paixões chiques. Tudo se
passava com duquesas, princesas, de um modo dramático e sensibilizador, às
vezes jovial, sempre cheio de delicias. E de todas as mulheres de que falava, dizia
reconstando-se: Era uma mulher distintíssima; tinha naturalmente o seu amante [...]
Queirós, 1979, p. 130)
Quanto ao caráter romântico Machado de Assis escreve sobre a
personagem Luísa, que tem características românticas por se apresentar um ser
frágil e tolo.
A Luísa é um caráter negativo, e no meio da ação ideada pelo autor, é antes
um títere do que uma pessoa moral. Repito, é um títere; não quero dizer
que não tenha nervos e músculos; não tem mesmo outra coisa; não lhe
peçam paixões nem remorsos; menos ainda consciência. (ASSIS, 170-171).
Luísa por ser uma mulher ingênua e fútil acaba deixando ser seduzida por
Basílio, com seus galanteios
“Adoro-te” (Queirós, 1979, p. 173) E apertava-a contra si... (Queirós 1979, p.
174)
Cada vez mais ela se entregava aquele romance, sem pensar nas
conseqüências. “Que outras desejem a fortuna, a glória, as horas, eu desejo-te a ti!
Só a ti, minha pomba, porque tu és o único laço que me prende à vida, e se amanhã
perdesse o teu amor, juro-te que punha um termo, com uma boa bala, esta
existência inútil” (Queirós 1979, p. 178)
Ao ler este bilhete Luísa suspirava, beijava o papel várias vezes
devotadamente, era a primeira vez que recebia bilhetes de amor, tudo aquilo mexia
com sua existência, e a sua alma se cobria de um luxo radioso de sensações.
Finalmente tinha um amante!
“E imóvel no meio do quarto, os braços cruzados, o olhar fixo, repetia: tenho
um amante!” (Queirós 1979, p. 179)
Eça, chama atenção para aqueles que se aproveitam dos desvios e das
fraquezas humanas, Luísa, a protagonista, paga caro pelo seu envolvimento com
Basílio. A morte torna-se o destino de uma protagonista adúltera.
As conseqüências da infidelidade
Após a partida de Basílio, começa o sofrimento físico e mental de Luísa,
“onde iria ele, aquele infame? Dormindo tranquilamente nas almofadas do vagão. E
ela ali na agonia” (Queirós, 1979, p. 271)
Luísa fica por conta de Juliana, sua criada, que a ameaça sem piedade, “A
senhora bem sabe que se eu guardei as cartas, para alguma coisa era. Então a
senhora imagina que isso vai ficar assim?” (Queirós, 1979, p. 267)
A vida de Luísa se transforma num inferno de canseiras, trabalhos e
humilhações. Seu sofrimento mental é constante, pois ela tem medo de ser
desmascarada por Juliana. A pobre amante abandonada tem pesadelos quase todas
as noites, o que a impede de ter paz até quando esta dormindo. Suas dores e
agonias são longas e terríveis. “Que noite para Lúcia! A cada momento acordava
num sobressalto, abria os olhos na penumbra do quarto, caía-lhe logo na alma,
como uma punhalada (...)” (Queirós, 1979, p. 270)
Sem apoio de ninguém, Luísa recordava, vinha a lembrança, que Jorge a
amava com tanto respeito! “Jorge, para que ela era decerto a mais linda, a mais
elegante, a mais inteligente, a mais cativante!... E já pensava um pouco que
sacrificava a sua tranqüilidade tão feliz a um amor bem incerto” (Queirós, 1979, p.
220)
Luísa finalmente cai em si e vê realmente o que havia feito com sua vida,
com seu casamento. Somente agora ela percebe que ama Jorge, e que Basílio foi
apenas uma distração momentânea que lhe custara a própria vida.
Eça de Queirós quis nos mostrar em sua trama romanesca O Primo Basílio
(1878) as conseqüências desastrosas que podem advir do adultério. A própria
morte.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo o romance de maior êxito de Eça de Queirós, O Primo Basílio deve a
maior parte de seu sucesso ao fato de suas cenas eróticas aparecerem de forma
natural, mas teve também outros três grandes méritos; primeiro, a visão crítica da
pequena burguesia lisboeta, cujo alvo é a família, produto de namoros insólitos e da
educação romântica da mulher, entregue a sonhos idealizados e ao ócio. O segundo
mérito do livro está na montagem do enredo, construído a partir de uma lógica bem
norteada que contribui para a criação de uma atmosfera tensa. O principal mérito se
deve à perfeita elaboração de personagens secundários, entre os quais se destaca
Juliana, personagem de padrões naturalistas, construída para provar que os fins
justificam os meios. O enredo não vai além de um caso banal de adultério (Luísa e
Basílio), que atinge proporções mais amplas quando ameaçado pela chantagem da
criada Juliana, o caráter mais completo e verdadeiro do livro.
Trata-se de um romance de caráter sociológico, pois além de se apresentar
diferentes estratos sociais, o autor apresenta o conflito de classes. Sendo assim,
uma crítica profunda aos padrões burgueses e ao mesmo tempo funcionando como
uma denúncia das características maléficas da burguesia.
Verificou-se através da análise da obra que os casamentos ocorriam por
diversas razões entre as quais o amor não estava necessariamente incluído.
Ocorriam muito mais pela necessidade de ter uma família, mais especificamente
uma prole do que para viver uma vida em comum.
Devido as razões pelas quais se casavam quando as mulheres encontravam
alguém que lhes despertavam certos sentimentos fundamentais aos seres humanos,
cometiam adultério.
Abstract:
The plot revolves around the adultery committed by Louise and her cousin
Basilio, who had just arrived from Brazil. Louise is married to George for
three years, but even so, is seduced by her first cousin who was her
husband traveled to namorado. Enquanto Alentejo to work the two find
themselves in a room rented by Louise especially to devote himself to
Basilio. After having seduced her cousin, and seeing the situation he was in,
desperate passion and being blackmailed by her maid, who had intercepted
one of his love letters to Basilio and kept taking advantage of it thus, money
and benefits indoors. Basilio leaves leaving Louise alone to Paris. George
suspects the situation when he returns from trip and ends up knowing
everything. Louise becomes very ill and dies.
Keywords: Infidelity. Sin. Women.
REFERÊNCIAS
ASSIS, Machado de. Revista O Cruzeiro. Abril, 1878
BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo. Lisboa. Bertrand Editora, 1949. 9 – 353.
BESSA, Karla Adriana Martins (org.). Trajetórias do Gênero, Masculinidade.
Unicamp, Campinas, São Paulo. 1998.
DORTIER, Jean-Francois (org.). Dicionário das Ciências Humanas. Lisboa: Climepsi
Editores, 2006, 226
FERREIRA, Glauciela. O poder patriarcal e as faces do capitalismo no
casamento. São Paulo, 2003
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambo. São Paulo: Global, 2004
QUEIRÓS, Eça de. O Primo Basílio. São Paulo: Ática, 1979.

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