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1989-2446 REID, 2 1 Nº 2 • junio 2009 Universidad de Jaén Departamento de Pedagogía Área MIDE Grupo de Investigación IDEO (HUM 660) Edificio de Humanidades y Ciencias de la Educación Campus las Lagunillas, S/N 23071 – Jaén (España) Universidad Federal de Santa Catarina (UFSC) Florianópolis - Santa Catarina (Brasil) Centro Universitario Barriga Verde (UNIBAVE) Orleans - Santa Catarina (Brasil). Edita: © Grupo de Investigación IDEO (HUM 660) Servicio de Publicaciones de la Universidad de Jaén Dirección Web: http://www.revistareid.net Correo electrónico: [email protected] Fecha edición: 2009 ISSN: 1989-2446 Diseño: Grupo de Investigación IDEO (HUM 660) http://www.grupoideo.net REID, 2 1 CONSEJO EDITORIAL Director Dr. Antonio Pantoja Vallejo Universidad de Jaén (España) Sudirector Dr. Roberto Moraes Cruz UFSC - Brasil Secretaría técnica Marlene Zwierewicz UNIBAVE – Brasil Secretaría adjunta España: Dra. Margarita Alcaide Risotto Brasil: Taís Evangelho Zavareze Consejo Científico Internacional España: Dr. José Antonio Delgado - UGR - (España) Dr. José Antonio Torres González - UJA (España) Dr. José Miguel Delgado Barrado - Director del Secretariado de Publicaciones - UJA (España) Dr. Lorenzo Almazán Moreno - Director del Departamento de Pedagogía - UJA (España) Dra. Mª Pilar Berrios Martos - UJA (España) Dr. Miguel Pérez Ferra - UJA (España) Comité de revisión Dr. Saturnino de la Torre - Universidad de Barcelona (España) Adriana Zomer de Moraes - UNIBAVE (Brasil) Dr. Tomás J. Campoy Aranda - UJA (España) Alcionê Damásio Cardoso - UNIBAVE (Brasil) Dra. Mª Luisa Zagalaz Sánchez - UJA (España) Ana Maria Dalsasso - UNIBAVE (Brasil) Antonio S. 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Alicia Graziela Omar - CONICET (Argentina) Maria Conceição Coppete - UDESC (Brasil) Dr. Matías Robles Maldonado - UJA (España) Dra. Maria Madalena B. da Silveira Baptista - IPC (Portugal) Silmara Cristiane de Medeiros Nochi - Ministério da Defesa (Brasil) Dr. Gilmar Rolando Anaguano Jiménez Universidad de Medellin (Colombia) Dr. David Molero López-Barajas - UJA (España) Dr. Jerry Bosque Jiménez - (Cuba) M. Sc. Miguel Vázquez Martí - (Cuba) Dra. María Victoria Gómez de Erice - (Argentina) María Luisa Porcar - FEEYE (Argentina) REID, 2 3 Currículo e docência: as práticas de seleção, organização e distribuição do conhecimento na sala de aula ÍNDICE Mundialização econômica versus estados nacionais: impactos no sistema de ensino no Brasil e na América Latina. ALOYSIO MARTHINS DE ARAÚJO JUNIOR ............................................................................................................................... 7 Influencia del rendimiento y autoconcepto en hombres y mujeres. MARGARITA ALCAIDE RISOTTO....................................................................................... 27 O mobbing nas organizações de trabalho. ANA PAULA MAFRA DE MOURA Y LUCIANA MARTINS SARAIVA .......................................................................... 45 Límites de la explicación interna (norma de internidad). Análisis de Escalamiento Multidimensional. MARÍA LUISA PORCAR GÓMEZ Y EDUARDO ESCALANTE GÓMEZ ........................................................................................ 59 Conflito escolar: Vulnerabilidade e desenvolvimento de habilidades sociais. DARÍO CUNHA RAMIREZ Y ROBERTO MORAES CRUZ ......................................... 79 Oficina de Criatividade: Vivência e convivência. IGOR RESZKA PINHEIRO.................... 97 Cyberbullying: Um novo risco advindo das tecnologías digitais. SIMONE MAIDEL ......................................................................................................................... 113 REID, 2 5 Consultado el (poner fecha) en http://www.revistareid.net/revista/n2/REID2art1.pdf MUNDIALIZAÇÃO ECONÔMICA VERSUS ESTADOS NACIONAIS: IMPACTOS NO SISTEMA DE ENSINO NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA Aloysio Marthins de Araújo Junior Universidade Federal de Santa Catarina. Brasil Resumo Diferentes instituições internacionais têm grande participação e influência sobre os destinos de diferentes países latino-americanos no tocante à educação. As mais importantes são o Banco Mundial (financiamentos à áreas sociais, incluindo a educação); e a Organização Mundial do Comércio, que regula o comércio entre os países. Nas últimas rodadas de negociação, tem-se discutido a abertura para o setor educacional. Este trabalho objetiva discutir as ações das Instituições Internacionais aplicadas no Brasil e na América Latina e relacioná-las com as proposições no campo educacional. Metodologicamente utiliza o materialismo histórico-dialético, apoiando-se na concepção dinâmica da realidade e das relações entre teoria e prática. Espera-se contribuir para o debate acerca da resolução dos graves problemas latino-americanos, especialmente ligados ao campo da educação formal. Palavras-chave: Mundialização Econômica; Estados Nacionais; Instituições Internacionais; Sistema de Ensino. ECONOMICAL MUNDIALIZATION VERSUS NATIONAL STATES: IMPACTS IN THE EDUCATION SYSTEM IN BRAZIL AND LATIN AMERICA Abstract Various international institutions have greater participation and influence over the destinies of different Latin American countries with regard to education. The most important are the World Bank (financing the social areas, including education) and the World Trade Organization, which regulates trade between countries. In recent rounds of negotiations, has discussed the opening for the education sector. This paper discusses the actions of international institutions applied in Brazil and Latin America, and relate them to the propositions in the educational field. Methodology uses the historicaldialectical materialism, based on the dynamic conception of reality and the relationship REVISTA ELECTRÓNICA DE INVESTIGACIÓN Y DOCENCIA (REID), 2, JUNIO 2009, PP. 7-26 ISSN: 1989-2446 De Araújo, A. M. between theory and practice. Is expected to contribute to the debate on the resolution of the problems Latin Americans, particularly related to the field of formal education. Keywords: Economical Mundialization; National States; International Institutions; System of Education. MUNDIALIZACIÓN ECONÓMICA VERSUS ESTADOS NACIONALES: EFECTOS SOBRE EL SISTEMA EDUCATIVO EN BRASIL Y AMÉRICA LATINA Resumen Diversas instituciones internacionales tienen una mayor participación e influencia sobre los destinos de los diferentes países de América Latina con respecto a la educación. Los más importantes son el Banco Mundial (la financiación de las áreas sociales, incluida la educación) y la Organización Mundial del Comercio, que regula el comercio entre los países. En las últimas rondas de negociaciones, ha debatido la apertura para el sector de la educación. Este artículo discute las acciones de las Instituiciones Internacionales aplicadas en Brasil y América Latina, y se refieren a las propuestas en el ámbito educativo. La Metodología utiliza el materialismo histórico-dialéctico, basado en la concepción dinámica de la realidad y la relación entre la teoría y la práctica. Se espera contribuir al debate sobre la resolución de los problemas latinoamericanos, particularmente relacionados con el ámbito de la educación formal. Palabras clave: Mundialización económica; Estados nacionales; Instituciones Internacionales; Sistema de Educación. Introdução Este artigo originou-se a partir da pesquisa “Internacionalização do capital e as exigências sobre o ensino de geografia”, apoiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina, desenvolvida entre os anos de 2007 e 2008. Procurou-se abordar nesta investigação as inter-relações entre a Economia Política, a Geografia e o Ensino Superior no Brasil e na América Latina. Foram impostantes também as contribuições apoiadas nos debates e reflexões ocorridos na disciplina Formação Econômica e Social Brasileira e Ensino de Geografia, ministrada 8 REID, 2, pp. 7-26 Mundialização econômica versus estados nacionais: impactos no sistema de ensino... no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina desde 2006. A pesquisa seguiu uma metodologia qualitativa, na forma de análise documental e indutiva. O procedimento para a coleta de dados foi efetivado através de fontes primárias documentais e bibliográficas, tais como livros, revistas científicas, periódicos e sítios na rede mundial de computadores. Conceitualmente pode-se estabelecer alguns marcos teóricos que dominam o entendimento da sociedade mundial. Autores ligados à corrente liberal, consideram o mundo atual globalizado. Todavia, as desigualdades econômicas, sociais e regionais fazem com que os países latino-americanos necessitem de aportes financeiros e produtivos das nações mais ricas. Isto irá se refletir no campo social e educacional no sentido da necessidade de formação de uma mão-de-obra mais especializada. Esta pesquisa objetiva analisar as políticas neoliberais aplicadas na região e relacioná-las com as proposições e ações do Banco Mundial e dos acordos sobre a desregulamentação do setor de serviços educacionais no âmbito da Organização Mundial do Comércio entre outras Instituições. Como um dos resultados desta investigação, este artigo trata da mundialização econômica e a atuação dos estados nacionais, particularmente da América Latina e os impactos sobre os respectivos sistemas de ensino. Estado e industrialização No processo histórico de desenvolvimento do capitalismo nos países industrializados desenvolvidos a participação do Estado foi primordial para a maturação de seus respectivos parques produtivos. Ainda hoje, nestes países, os governos têm mantido políticas que aproximam Estado e iniciativa privada, definindo setores que necessitem de proteção para aumentar sua competitividade interna e externa. No Brasil e nos principais países latino-americanos, as medidas de abertura comercial e de flexibilização econômica em princípios dos anos 1990, deixaram os países mais vulneráveis aos acontecimentos externos 1. Ao praticar uma política econômica de caráter neoliberal, estes países perderam a capacidade de gerenciar as melhores estratégias para os seus processos de desenvolvimento econômico. As privatizações que ocorreram em toda a década de 1990, delegaram aos agentes do mercado as decisões de investimentos. Setores que eram considerados estratégicos (energia elétrica, ferrovias, telecomunicações e outros) foram entregues à iniciativa privada. As políticas econômicas e sociais praticadas desde os anos 1950, quando se verificou enorme crescimento industrial e suas conseqüências (urbanização 1 Tais vulnerabilidades, todavia, vinham desde os anos 1970, a partir das crises do petróleo, com o fim do sistema de Bretton Woods e do aumento das taxas de juros nos Estados Unidos ao final desta década. Tais ações culminaram em imensas dívidas externas dos países latino-americanos, entre outras conseqüências. REID, 2, pp. 7-26 9 De Araújo, A. M. desordenada, problemas ambientais, maiores exigências de qualificação sobre a força de trabalho etc.) fez com que a América Latina se inserisse 2 no sistema capitalista de maneira subordinada aos interesses do grande capital internacional (e apoiado pelas respectivas burguesias nacionais). Dentre vários autores que estudaram o papel do Estado na economia há que se destacar a obra de G. Friedrich List. Este autor, que estudou a situação da Alemanha no século XIX, propôs uma série de medidas visando o desenvolvimento econômico daquele país. A partir dos estudos sobre a política imperialista inglesa no século XIX, List (1986) conclui que este país tinha por política fomentar e dar proteção ao desenvolvimento das forças produtivas e incentivar as exportações; proceder a determinadas concessões a outras nações, somente quando obtivesse em troca vantagens para os produtos manufaturados ingleses; incentivar guerras e alianças visando a salvaguarda de seus interesses econômicos; não explicitar sua verdadeira política imperialista, para que outras nações não procedessem da mesma maneira que a Inglaterra atuava. Uma das contribuições mais importantes do trabalho de List é o fato de ele destacar o uso do aparelho do Estado e do intervencionismo para os países que buscam o desenvolvimento econômico e social. Para isso, criticava a teoria clássica desenvolvida por Adam Smith e o liberalismo, demonstrando a incapacidade individual em realizar as soluções dos problemas que se colocavam à época. Entretanto, atualmente, é possível identificar que a política neoliberal é bastante aceita (ou imposta pelos países mais avançados do sistema capitalista) pelos países periféricos, onde é colocada em prática quase sem contestações 3. Contudo, esta não se verifica da mesma maneira nos países do centro capitalista. Guardadas as devidas proporções históricas, e transferindo-se a problemática estudada por List (1986) para os dias atuais, vê-se que, sob vários aspectos, a proposição listiana é bastante válida. A obra de List tem o mérito de discutir o crescimento e desenvolvimento de uma nação livre, visando em longo prazo estratégias para atingir tais objetivos. A chamada “globalização” 4 insere-se num contexto de imposição dos países industrializados àqueles em processo de industrialização mantendo a dominação sobre extensas regiões 2 Esta nova inserção se daria num processo mais avançado do estágio de desenvolvimento econômico, ou seja, num patamar de rápida industrialização, com produtos voltados para o mercado externo. 3 É preciso ressaltar que o momento político latino-americano, desde o início dos anos 2000, é diferente das duas décadas anteriores, pois vários realizaram eleições presidenciais que deram vitória a candidatos identificados mais a esquerda do espectro político. Pode-se afirmar que as péssimas condições de vida destas populações levaram a uma necessidade de mudanças. É perceptível também que as denominadas políticas neoliberais vêm perdendo influência. 4 Este termo é usado a partir das concepções de autores norte-americanos. A expressão “mundialização do capital” utilizado por Chesnais (1996) é o que mais se aproxima da realidade vivenciada pelos países nos últimos anos. 10 REID, 2, pp. 7-26 Mundialização econômica versus estados nacionais: impactos no sistema de ensino... produtoras de produtos básicos e receptores de investimentos, que deverão ser pagos com juros e outras formas de subserviência das classes dirigentes. Enfim, List traz uma proposta que resgata o sentimento de nação, tão esquecido nos dias atuais. Este sentimento foi duramente questionado no início dos anos 1990, quando se colocava que o Estado nacional-desenvolvimentista não tinha mais condições de alavancar o progresso e o desenvolvimento econômico. As teorias que pregavam a modernização e o afastamento do Estado das atividades produtivas colocaram o Brasil e diversos países latino-americanos em grave situação econômica e social. No caso brasileiro, esta situação tendeu a piorar após a abertura comercial iniciada no princípio dos anos 90 e intensificada a partir de 1994-95. Em médio e longo prazo, a retomada do crescimento e do investimento vai depender, em grande parte, de políticas que visem o desenvolvimento equilibrado, por meio dos recursos internos existentes e melhorar a distribuição de renda, o que elevaria as possibilidades de consumo interno, gerando um círculo virtuoso de expansão. Ao não contemplar o mercado interno, um país deixa de dinamizar internamente sua economia, buscando recursos nas exportações como forma de gerar divisas, apenas ancorado em produtos agropecuários e em produtos industrializados com baixo valor agregado. Autores que defendem a chamada globalização afirmam que a função dos Estados nacionais acabou e que as fronteiras não mais existem, bem como as ações produtivas foram transferidas aos agentes do mercado. Este atuaria com poder de determinar os rumos de todas as operações econômicas e financeiras dos países, por meio das empresas multinacionais que não mais teriam obrigações ou raízes com seus países de origem. Contudo, afirma Gorender (1995, p. 96-7): “Dotado que seja de relativa autonomia decisória, o Estado nacional é sempre o garante de determinada organização econômica e sócio-política. Tomada em conjunto, sua atuação defende e mantém o ordenamento institucional necessário a determinada dominação de classe. (...) Sem o poder legitimador e coercitivo do Estado, não haveria sequer como explicar a própria existência do capital financeiro. Do ponto de vista estritamente econômico, o Estado conserva sua força, mesmo após as mudanças liberais dos últimos tempos.” Ainda de acordo com este autor, não se pode afirmar que os Estados nacionais deixaram de exercer seu poder e papel centralizador na tomada de decisões em políticas de desenvolvimento. E, muitas vezes, eles o fazem em conjunto com as próprias empresas ou setores preestabelecidos entre os agentes econômicos. Para Hirst & Thompson (1998): (...) “as tendências à internacionalização podem ser acomodadas dentro de uma visão modificada do sistema econômico mundial que ainda atribui um papel importante às políticas e atores no nível nacional” (p. 18). Corroborando tais afirmativas, relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em conjunto com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em REID, 2, pp. 7-26 11 De Araújo, A. M. fevereiro de 2004 (Folha de S. Paulo, p. B1, 25 fev. 2004), aponta as imensas desigualdades entre países ricos e pobres depois do advento da chamada globalização. Tal estudo indica que entre 1985 e 2000, o Produto Interno Bruto (PIB) em 16 países em desenvolvimento cresceu mais de 3%, em 32 países cresceu menos de 2% e em 23 países houve retração. Além disso, o grupo dos países mais ricos do mundo, que representa 14% da população mundial, domina metade do comércio internacional. No começo dos anos 60, a renda per capita das nações mais pobres equivalia a US$ 212, enquanto nos países mais ricos era de US$ 11,417; em 2002, tais índices indicavam respectivamente, US$ 267 e US$ 32,339. As empresas multinacionais, a partir de suas matrizes, são as que decidem para onde devem dirigir seus investimentos, introduzir inovações tecnológicas, lançar novos produtos, definir as estratégias de marketing e expansão para outros países etc. As filiais remetem às suas matrizes somas consideráveis de lucros, que significam um substancial acréscimo negativo nos balanços de pagamentos de cada país. Entretanto, para implementar sua decisão de investimentos e facilitar sua inserção em outros países, as empresas multinacionais, via de regra, solicitam ajuda aos seus respectivos governos para garantir sua permanência e competitividade nos países onde mantém ou queiram instalar subsidiárias. Nos acordos internacionais de comércio são os Estados nacionais que se fazem presentes, por meio de seus representantes legais. No Brasil, a participação do Estado como fomentador para o desenvolvimento econômico sempre foi de grande atuação e importância, notadamente entre as décadas de 1930 até 1970. Entretanto, a partir de meados dos anos 80 e intensificado no início dos 90 em diante, esta função tem sido transferida à iniciativa privada. As premissas para esta nova direção são as políticas neoliberais, que são o corolário da “globalização”, implementadas a partir do referido período. Cabe ressaltar que a maior participação de empresas multinacionais no país pode acarretar, por exemplo, grande desequilíbrio na balança de pagamentos, transferência de recursos, concorrência e vulnerabilidade externa (Gonçalves et al, 1998). Em concorrência perfeita (estática), isto é, lucros normais, mobilidade de fatores de produção e tecnologia disponível no mercado internacional, a internacionalização da produção não é incentivada. Todavia, o mercado é caracterizado por suas imperfeições (monopólios, oligopólios). Dessa forma, as empresas estrangeiras precisam ter vantagens adicionais e específicas em relação à suas concorrentes, gerando superlucros que compensariam os custos pela instalação de filiais. As empresas que atuam no mercado internacional possuem tais vantagens, além de capitais para investimentos, recursos tecnológicos, organização industrial, estratégias de marketing etc. Sendo assim, a internacionalização da produção é o resultado das imperfeições de mercado. No caso do Brasil, que tem como característica uma economia monopolizada, tais imperfeições acentuariam ainda mais este processo. 12 REID, 2, pp. 7-26 Mundialização econômica versus estados nacionais: impactos no sistema de ensino... Crescimento e do desenvolvimento econômico A problemática entre desenvolvimento e crescimento econômico é bastante antiga. Inicialmente, a discussão girava em torno do crescimento, que abordava, primordialmente, as finanças públicas e o poderio militar dos principais Estados mercantilistas do século XVI. Somente em meados do século XX é que o debate sobre o desenvolvimento econômico tomou maior importância. O desenvolvimento econômico tem origem a partir das crises econômicas. Esta questão foi colocada a partir das análises empíricas e teóricas realizadas durante as grandes flutuações econômicas ocorridas em meados do século XIX e com a concentração de renda e da riqueza, avolumadas pelo aparecimento de alguns países industrializados, que aprofundou a divisão internacional do trabalho entre nações ricas e pobres. Nos países industrializados, a crise mundial dos anos 1930 colocou em foco o grave problema do desemprego. Naquele momento, fez-se necessário a atuação do Estado sobre a vida econômica, realizando investimentos diretos, aumentando os gastos públicos em ações sociais, definindo e organizando a política econômica. Ao final desta década, a questão do desenvolvimento econômico ficou mais clara, na medida em que colocou o conceito de Contabilidade Nacional, nascida sob influência da teoria keynesiana. Por este conceito, passou-se a comparar a renda per capita de diferentes países e a classificá-los entre “ricos” e “pobres”, dependendo do valor desta renda. Outros indicadores passaram a caracterizar os países pobres como “subdesenvolvidos”, por mostrarem reduzido crescimento econômico, elevadas taxas de natalidade e mortalidade infantil, atividades agrícolas como atividade principal etc. Ao final da Segunda Guerra Mundial, os diagnósticos realizados pela ONU e pelo Banco Mundial constataram as grandes desigualdades entre países industrializados e não-industrializados. Isto fez com que muitos países subdesenvolvidos reivindicassem maiores volumes de ajuda econômica junto aos países ricos nas instâncias econômicas e políticas internacionais. O combate à pobreza tornou-se o primeiro item dos estudos econômicos mundiais. Entretanto, apenas os investimentos produtivos e em infra-estrutura não bastariam para solucionar o problema. Também as políticas keynesianas 5, colocadas em prática por quase todos os países, não conseguiam dar respostas positivas ao problema, por ser uma questão de longo prazo. As respostas deveriam vir de outras fontes, com o auxílio de outras ciências e uma teoria que explicasse o processo de desenvolvimento. Nesse sentido, a principal constatação foi que o subdesenvolvimento deriva do desenvolvimento, como parte da expansão do capitalismo mundial em sua fase oligopolista (Souza, 1999). 5 Maior participação do Estado, organizando e fomentando setores considerados importantes para o crescimento econômico. O Estado se encarregaria de promover investimentos em áreas sociais e pela busca pelo pleno emprego, entre outros aspectos econômicos e sociais (Rossetti, 2003). REID, 2, pp. 7-26 13 De Araújo, A. M. A teoria do imperialismo, desenvolvida por autores marxistas 6, mostrava que os termos de troca entre os países ricos e pobres tendiam a piorar, devido à ligação colonial com as ex-metrópoles e pelos imensos volumes de capitais exportados para os países subdesenvolvidos. Dessa forma, seria necessário romper com tais vínculos, para que estes países pudessem progredir em seu processo de desenvolvimento econômico e social. O que se verificava era que um dos principais problemas ao desenvolvimento estava vinculado a uma questão política, pois aos países pobres cabia uma posição subalterna na Divisão Internacional do Trabalho. Também em relação ao pensamento marxista, Leon Trotski desenvolve uma teoria em que afirma que aos países da periferia do sistema capitalista necessitam pular algumas etapas no processo de industrialização e de crescimento econômico. Suas teses concluem que há um desenvolvimento desigual e combinado. O capitalismo, para Trotski, realiza sua universalidade a partir das relações hierarquizadas e diferenciadas que são estabelecidas entre os países centrais e os países periféricos, objetivando garantir: seu movimento em busca de novos mercados consumidores, a apropriação do excedente econômico produzido nos países periféricos e a internacionalização do projeto de sociabilidade burguesa. Estas relações entre os países centrais do capitalismo e os países periféricos geram dois movimentos: diferentes fases históricas confundem-se no interior de cada formação econômico-social e, sob pressão das condições de avanço mundial do sistema capitalista, os países periféricos absorvem valores e projetos dos países centrais, adaptando-os, por meio de saltos históricos, à sua formação econômico-social (Lima, 2007, p. 25-26). Entre as décadas de 1940 e 50, economistas dos países industrializados formularam teorias que colocavam no centro da questão a escassez de capitais como a causa para o subdesenvolvimento. Os autores que aceitavam as teorias neoclássicas 7 defendiam como estratégia de crescimento o aumento das taxas de poupança interna, o aporte de capitais externos e o aumento das exportações, que mais tarde seriam aceitos como formas para alavancar o desenvolvimento econômico. Um dos representantes mais expressivos desta corrente foi Alfred Marshall (que deu continuidade à obra de 6 Tais como: Bukharin, N. I. (1986). A economia mundial e o imperialismo. São Paulo: Nova Cultural, , Hilferding, R. O capital financeiro. São Paulo: Nova Cultural, 1985; Lenin, V I. (1987). O imperialismo: fase superior do capitalismo. São Paulo: Global. 7 A Teoria Econômica Clássica iniciada com Adam Smith no século XVIII foi aperfeiçoada por David Ricardo, a partir do início do século XIX. A chamada Teoria das Vantagens Comparativas colocava que os países deveriam se especializar na produção de bens que tivessem uma vantagem relativa maior (menores custos). O argumento para tal afirmativa residia no fato de que alguns países dispõem de recursos naturais e outros fatores de produção diferentes em quantidade e qualidade – o que os leva a ter custos de produção diferentes. Esta teoria tinha por hipóteses principais (dois países e duas mercadorias – uma economia estática): a mão-de-obra (força de trabalho) é móvel no mercado interno, mas completamente imóvel no mercado internacional; os custos de produção são constantes; o custo de transporte é zero; e o comércio entre estes países se dá somente por escambo (troca de uma mercadoria por outra, não envolvendo moeda). 14 REID, 2, pp. 7-26 Mundialização econômica versus estados nacionais: impactos no sistema de ensino... Adam Smith, David Ricardo e Stuart Mill 8), que teve grande influência sobre vários governos e economistas até a década de 1930. Suas análises consideram dois agentes: oferta e demanda. Ou seja, os consumidores querem sempre maximizar sua satisfação e os produtores buscam incansavelmente maximizar seus lucros. Pelo lado da demanda (procura) existe uma relação entre preços e quantidades demandadas; com preços mais baixos, os consumidores adquirem mais bens. Se, por outro lado, os produtos tiverem preços mais altos, aumenta a oferta (porque diminui a procura). Para solucionar este impasse, Marshall sugere que existe um ajuste automático da economia - que se dá pelo equilíbrio de mercado. Se houver desemprego, ele será temporário, esporádico e parcial. Outro autor da escola neoclássica foi Jean Baptiste Say (1983) que defendia que o processo de produção capitalista é, também, um processo de geração de rendas (lucros, salários, aluguéis) e, por isso, a oferta cria sua própria demanda. Este enunciado ficou conhecido como “Lei de Say-Mill”. Ainda quanto à explicação do funcionamento da economia capitalista, os autores clássicos e neoclássicos consideravam que os salários não obedeciam à lei da oferta e procura, pois a ação dos sindicatos de trabalhadores impedia que os salários caíssem. Quando os salários se tornam mais altos que o mercado oferece, em conseqüência as empresas não contratam, principalmente quando os salários estão muito altos. Concluíam, então, que os altos salários causavam o desemprego. Na perspectiva neoclássica, a economia funcionava em concorrência perfeita (estrutura de mercado estática), isto é, não apreciavam os monopólios e oligopólios - que destruíam as características de consumo e produção. Pelas leis do livre mercado, haveria um autoajustamento da economia. Desenvolvimento econômico na América Latina e Brasil Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América dirigiram grandes volumes de capitais para a Europa Ocidental e Japão. No contexto da guerra fria, estas regiões seriam de grande importância estratégica para fins militares, políticos e econômicos para os EUA. Este programa, conhecido como Plano Marshall, fez com que tais regiões conseguissem, em pouco tempo, recuperar-se dos efeitos da Guerra. Entretanto, a América Latina não compartilhou destes investimentos, pois os interesses norte-americanos ainda não haviam destacado os países desta região como área de importância para suas pretensões geoestratégicas. Devido a isto, estes países passaram a elaborar uma série de estudos visando diagnosticar os principais problemas para o crescimento e o desenvolvimento da região. 8 Marshall, Alfred. (1995). Princípios de economia: tratado introdutório. 2 ed. São Paulo: Nova Cultural. 2v. (Os Economistas). REID, 2, pp. 7-26 15 De Araújo, A. M. Um dos principais organismos internacionais que influenciou diversos governos foi a Comissão Econômica Para a América Latina e Caribe (Cepal), fundada em 1948, pela ONU. Suas atividades iniciais foram duramente criticadas, pois o órgão chamava a atenção para os graves problemas da região e contrariava os interesses dos países industrializados, que defendiam a tese de que os países em desenvolvimento deveriam especializar-se na produção de mercadorias que tivessem maiores vantagens comparativas, ou seja, bens primários e alimentos. Contudo, países como Brasil, México, Argentina e outros com semelhantes estruturas econômicas, já haviam iniciado seus processos de substituição de importações. Em outras palavras, estes países já entravam para um estágio superior no processo de desenvolvimento, incorporando em seus parques produtivos, bens industrializados. Além deste processo, houve também uma mudança na composição de alianças de classes, unindo as emergentes burguesias industriais e os respectivos Estados nacionais intervencionistas, que substituíram o antigo latifúndio feudal em acordo com o capitalismo internacional. Como resposta a esta situação, várias empresas multinacionais começaram a exportar capitais de risco, com a implantação de filiais para os países subdesenvolvidos como forma de expandir e garantir os mercados já conquistados, mas que corriam o risco de serem suplantados pelos primeiros. Conforme Soja (1993), o desenvolvimento geograficamente desigual é um fator necessário e importante para a reprodução ampliada do capital. A América Latina não foge a esta regra, dada sua inserção no atual sistema capitalista mundial. Mesmo considerando as particularidades que o Brasil tem em relação aos processos que atuam localmente nos vários espaços de seu território e no restante do continente latinoamericano, é possível encontrar uma gênese análoga e que se reproduz por todo o continente. A transferência geográfica de valor somente pode ser entendida pela própria troca desigual ancorada na diferenciação regional (Alves, 2005). No Brasil, os estudos sobre desenvolvimento econômico tiveram na Comissão Mista Brasil-Estados Unidos (1951-1953) e no Grupo Misto Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico 9/Cepal (1953-1955) os primeiros elementos para os planos nacionais que se seguiriam. A Comissão Mista ressaltou que, desde a década de 1940, o crescimento industrial tivera um ritmo vertiginoso e que o país já possuía um amplo setor de mercado interno, suplantando a agricultura, fato que justificaria a produção industrial em grande escala (Mantega, 1987). Entre os meados dos anos 1950 e início dos 60, as teses sobre o desenvolvimento econômico brasileiro complementaram-se com autores ligados à teoria marxista e ao pensamento independente de Ignácio Rangel. A primeira, a corrente socialista, estava ligada ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e ao Instituto Superior de Estudos 9 Banco estatal brasileiro. Atualmente sua nomenclatura é Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O BNDES é um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e tem como objetivo apoiar empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do país. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br>. Acesso em: 27 out. 2008. 16 REID, 2, pp. 7-26 Mundialização econômica versus estados nacionais: impactos no sistema de ensino... Brasileiros (ISEB). Esta corrente buscava, a partir da teoria marxista, fazer com que o desenvolvimento capitalista se aprofundasse no Brasil e, evidenciando suas próprias contradições, facilitaria a passagem para o socialismo. Suas análises consideravam que a agricultura brasileira, àquela época, permanecia feudal e que a reforma agrária seria necessária para modificar as relações de trabalho no campo e alavancar o desenvolvimento econômico. Sugeria, ainda, que havia duas contradições na sociedade brasileira: o monopólio da terra e o imperialismo internacional. Dessa maneira, criavase a necessidade do planejamento econômico, apoiando a empresa nacional privada em conjunto com o Estado para evitar-se a dependência do imperialismo (Bielschowsky, 1988). Entretanto, esta corrente nunca chegou a assumir o poder e implementar suas propostas. Desde o início dos anos 50, a outra corrente, sustentada por Ignácio Rangel, entendia que para o Brasil transformar sua estrutura econômica, deveria dar continuidade ao processo de substituição de importações. Segundo ele, apenas a exportação de produtos agrícolas não era suficiente para se promover o desenvolvimento econômico nacional, além de manter as mesmas estruturas no campo (Rangel, 1990). Era necessário promover uma política protecionista, pois isto aumentaria a expansão do consumo acima das condições da oferta interna, equilibraria a balança de pagamentos e alavancaria o crescimento industrial. Para que isto ocorresse seria necessária a participação do Estado no planejamento e estímulo à industrialização do país, o que nas condições do período, se daria exatamente pelo processo de substituição de importações. Dessa maneira, por tal processo, vários países latino-americanos transformaram suas bases econômicas agrícolas em industriais. Grosso modo, a substituição de importações, com as características daquele período, encerrou-se a partir do final dos anos 80 e início da década de 90 do século passado, quando estes países passaram a adotar políticas econômicas de caráter liberal e de maior integração econômica entre eles e com os principais países industrializados. Contudo, os efeitos destas políticas fizeram com que a região entrasse num processo recessivo e de instabilidades políticas e sociais. Assim, na metade da década de 80 a questão que Seabra (1982, p. 151) levantava ainda pode ser considerada válida para os dias que correm: “Que resposta tenta dar a América Latina para melhorar a sua posição desigual na economia capitalista mundial?” Comércio e economia internacional Em modelos teóricos tradicionais, a atividade e o funcionamento do sistema econômico são analisados dentro de cada fronteira nacional, isto é, fechado. Pressupõese que as operações de troca, a divisão do trabalho e os mercados consumidores situamse dentro de um país, sem manter quaisquer relações comerciais com outros países. Este é um modelo teórico-didático, não se verificando na realidade econômica. REID, 2, pp. 7-26 17 De Araújo, A. M. É evidente que nenhum país é auto-suficiente o bastante para não necessitar de produtos e serviços de outros países. É verdade ainda o fato de que, no mercado interno, a especialização e a divisão do trabalho são as grandes responsáveis pela economia social de troca. Isto se verifica também no plano internacional, onde existem diferentes culturas, estruturas físicas e tecnológicas de produção, que dinamizam as relações econômicas e comerciais. Pode-se inferir que o comércio internacional é mais complexo do que a simples troca de mercadorias e serviços entre as diferentes nações. Além das dificuldades no sistema de pagamentos em relação à troca de mercadorias entre os países, é preciso considerar outros fatores que podem criar barreiras às importações, tais como o idioma, sistemas de pesos e medidas, alfabeto, legislações etc. (Maia, 2003). Dessa forma, o comércio internacional vem se tornando importante instrumento não somente para a aquisição de mercadorias, mas também como fonte de financiamento, principalmente para os países em desenvolvimento que necessitam de recursos para promoverem seus processos de industrialização e a melhoria das condições de vida de suas populações. A Organização Mundial do Comércio (OMC), que substituiu o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (General Agreement on Tariffs and Trade – GATT) em 1995, se tornou a principal instituição internacional que tenta estabelecer e fazer cumprir as regras do comércio internacional. Nos acordos internacionais que vigoram no presente, principalmente no âmbito da OMC, se aceita o livre-comércio. Isto significa que os países não colocariam barreiras (alfandegárias ou não-alfandegárias) à entrada de produtos estrangeiros em seu território. Na prática, porém, alguns países não são tão competitivos em determinados setores - seus custos de produção são mais elevados. Isto se verifica em qualquer país, mesmo nos industrializados. Dessa forma, para não prejudicar as empresas locais, seus governos colocam algumas restrições (barreiras) à entrada de determinados produtos estrangeiros. É preciso salientar, ainda, que no comércio mundial acontece uma concorrência acirrada e variados graus de protecionismos que geram a necessidade de novas formas de acumulação. Assim, oligopólios e monopólios criam uma segmentação e regionalização do espaço econômico. O que se tem verificado é que nos anos 80 e 90 do século XX a maior internacionalização econômica e as políticas de caráter liberal (notadamente nos países da América Latina) acentuaram a hegemonia dos países mais ricos (CHESNAIS, 1996). Isto se reflete numa maior concentração e centralização de capitais 10 por parte das empresas transnacionais. 10 A análise marxista contempla dois conceitos fundamentais: a concentração de capital, ou seja, é o crescimento da empresa média em função da procura de maior produtividade, mediante a acumulação de capital, ou seja, parte dos lucros é transformada em novo capital; e a centralização de capital, que decorre da luta concorrencial e das vantagens das maiores empresas em possuírem maiores escalas de produção, em relação às menores. 18 REID, 2, pp. 7-26 Mundialização econômica versus estados nacionais: impactos no sistema de ensino... Nos últimos cinqüenta anos houve grande crescimento do comércio internacional, que pode ser associado à pelo menos dois aspectos: 1) o grande boom do capitalismo verificado logo após o fim da Segunda Grande Guerra, quando os países necessitavam reconstruir seus parques produtivos; 2) a criação do GATT e, posteriormente, da OMC, que deu grande impulso para o fim dos protecionismos existentes em quase todos os países. Isto pode ser associado com a formação de vários blocos econômicos regionais, além de novas tecnologias de informação que permite trocas de dados em tempo real. Porém, não é a liberalização comercial por si só que gera maior fluxo entre as nações, mas várias ações institucionais em âmbito nacional e internacional que estimulam o maior volume de comércio entre os países. Contudo, dada a vulnerabilidade externa verificada em praticamente todos os países latino-americanos, levando-os à insolvência, eles têm que reduzir os gastos públicos; aumentar suas receitas (via elevação e/ou ampliação da carga tributária) e vender seu patrimônio público (privatizações). Assim, a aplicação do receituário do Fundo Monetário Internacional (que, via de regra, gera recessão interna e desemprego), a utilização de novas tecnologias (desenvolvidas nos países centrais), entre outras medidas, mantém estes Estados numa inserção subalterna na Divisão Internacional do Trabalho. O Brasil e diversos países latino-americanos, ao adotarem as políticas neoliberais após o início dos anos 90, transformaram (ou mantiveram) suas economias como apêndices do capital financeiro internacional e das empresas multinacionais (o que já eram desde os anos 60-70). Deve-se considerar que um dos problemas é o afastamento do Estado da função de fomentador de políticas de desenvolvimento, deixando às regras do mercado que se auto-organizarem. Isto pode ser uma temeridade, pois ao não definir os setores estratégicos e não praticar políticas de apoio ao capital nacional, o Estado deixará aos interesses de outros países, colocando em risco a própria soberania nacional. Comércio internacional e educação Como já apontavam os estudos da Cepal, desde o início da década de 1950 vários países latino-americanos vinham se industrializando. Tal estruturação industrial ficou conhecida como Processo de Substituição de Importações. Neste processo, a participação de cada um dos Estados latino-americanos foi fundamental para que os principais países da região (Argentina, Brasil, Colômbia, México, Venezuela etc.) pudessem iniciar e, posteriormente, dar continuidade às suas necessidades de industrialização e de desenvolvimento econômico. A mudança nas políticas econômicas e sociais latino-americanas começou a ser gestada desde meados dos anos 80, mas foi somente a partir do final desta mesma década e início da seguinte que ações mais concretas foram implementadas. REID, 2, pp. 7-26 19 De Araújo, A. M. O novo foco de atuação do Estado delineou-se a partir de uma conferência realizada em Washington D. C., Estados Unidos, em 1989. Convocada pelo Institute for International Economics, sob o título Latin American Adjustment: How Much Has Happened? Mesmo sem caráter deliberativo, o encontro traçou um diagnóstico da situação econômica e política dos países latino-americanos e formas de promover o desenvolvimento “sustentado” 11. Esta reunião ficou conhecida simbolicamente como “Consenso de Washington” e contou com a participação de funcionários do governo norte-americano, de instituições internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), especializados em assuntos latino-americanos, além de diversos economistas da América Latina. Nesse encontro, a avaliação feita foi a de que os problemas das economias latino-americanas eram de origem interna, ou seja, não decorriam de antecedentes e políticas econômicas de caráter protecionista colocadas em prática principalmente pelos Estados Unidos da América. O que se colocava era que as diversas administrações latino-americanas tinham gasto todos os recursos de financiamentos externos pela má administração, por empresas estatais que davam prejuízos e tinham fortes conotações nacionalistas e protecionistas, e isto retardava o crescimento destes países. O encontro sinalizava a adoção imediata do receituário neoliberal. Naquela ocasião, o Brasil, o principal país da região, vinha sendo bastante pressionado para efetuar políticas de combate à inflação, pelo fim da reserva de mercado na informática, pela diminuição do tamanho e ineficiência das empresas estatais etc. (Batista, 1999). No Brasil, a partir do governo Collor de Mello (1990-1992), e na Argentina, com o governo Carlos Menem (1989-1999), para citar apenas dois exemplos, tais “recomendações” foram sendo implementadas de maneira quase acrítica. Nesse sentido, o papel de cada Estado nacional não seria mais o mesmo, pois havia esgotado sua capacidade de investimentos e de planejar o desenvolvimento estratégico. O novo promotor do desenvolvimento deveria ser o “mercado”, apresentado como fórmula da modernização. Tal modernização deveria ser transferida para todas as instâncias das sociedades latino-americanas. No bojo desta nova situação, a educação passa a ser considerada estratégica em vários sentidos – principalmente como mais um setor para alavancar a acumulação capitalista. No início da década de 1990 foi realizada a “Conferência Mundial de Educação para Todos”, organizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pelo Banco 11 Este termo, desenvolvimento sustentado ou sustentável, é bastante controverso, pois não está claro como isto se dá em uma economia capitalista, depredatória e monopolista historicamente demonstrada. 20 REID, 2, pp. 7-26 Mundialização econômica versus estados nacionais: impactos no sistema de ensino... Mundial, em Jomtien, Tailândia 12. A temática, “Educação para Todos”, inseria-se no contexto político e econômico de transformações liberais que marcou o período. Dois eixos de análise sobressaíram-se: a) os organismos internacionais do capital necessitam desenvolver políticas de alívio das tensões sociais causadas pela crise do endividamento dos países periféricos e pela execução dos ajustes estruturais impostos ao longo da década (perdida) de 1980; b) as políticas focalizadas no alívio da pobreza estarão articuladas com a necessidade de governabilidade, ou seja, da conjugação de segurança e estabilidade econômica para pagamento das dívidas; c) necessidade de ampliação de áreas de lucratividade para os investidores internacionais (Lima, 2007, p. 56). Com poucas divergências entre a Unesco e o Banco Mundial, o ponto de encontro entre todas as Organizações presentes enfatizou a necessidade de ampliação à educação. Esta ampliação se daria por etapas: primeiro a educação fundamental, depois a secundária e por fim, a superior. Além disso, colocava-se em curso a certificação em larga escala e o aumento da participação da iniciativa privada no setor educacional, tanto na área de financiamento como de execução de políticas educacionais, principalmente na educação superior 13. Conceitualmente, é preciso observar que numa sociedade, comandada pela burguesia, esta tenta, por diferentes formas, ocultar as diferenças sociais. A divisão social precisa ser camuflada para que se crie uma coexistência pacífica entre os seus habitantes, independente de sua condição econômica ou social. Articulada através de um discurso ideológico de ordem social despolitiza o debate democrático e retira a capacidade de reflexão acerca dos problemas vividos pela comunidade e evita o questionamento da própria expansão do sistema capitalista em áreas consideradas prioritárias para as populações de mais baixa renda. Outra Conferência 14, esta realizada em 1998, também organizada pela Unesco indicava uma série de ações que os países, principalmente os da periferia do centro do 12 Organização das Nações Unidas para a Educação, A Ciência e a Cultura; Fundo das Nações Unidas para a Infância; Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; Banco Mundial. Relatório Final: Declaração Mundial sobre Educação para Todos. In: Conferência Mundial de Educação para Todos, 1990, Brasília. Disponível em: <http://www.unesco.org.br/publicacoes/copy_of_pdf/decjomtien>. Acesso em: 29 out. 2008. 13 No Brasil, há atualmente 4,4 milhões de alunos matriculados em Escolas Superiores Privadas e 1,4 milhão em Escolas Superiores Públicas. No início dos anos 2000, vários grupos empresariais ligados ao setor educacional passaram a captar recursos no mercado financeiro (Bolsa de Valores). Exemplos: Anhangüera Educacional - 53 mil alunos em 20 cidades; captou R$ 512 milhões (US$ 282 milhões); Kroton Educacional - 10.803 alunos em cursos superiores e 183.956 no ensino básico; captou R$ 478,8 milhões (US$ 264 milhões); Estácio Participações S.A. - 185 mil alunos em 12 estados; captou R$ 447 milhões (US$ 246 milhões). É ilustrativo o depoimento de um empresário do setor: “Vejo o mercado de educação como um supermercado. Estou vendendo um produto. Só que, em vez de vender tomate, meu produto é um assento para o aluno estudar”, Marcelo Cordeiro, da Fidúcia Asset Management, especializado em buscar investimentos para o setor (Cartacapital, 21 nov. 2007, p. 54). 14 Tendências da Educação Superior para o Século XXI: conferência mundial sobre o ensino superior; Paris, 5-9 out. 1998. Disponível em: <http://www.brasilia.unesco.org/publicacoes/livros/tendencias>. Acesso em: 29 out. 2008. REID, 2, pp. 7-26 21 De Araújo, A. M. sistema capitalista, deveriam tomar para inserirem-se num mundo “globalizado”. Tais medidas abarcavam um amplo rol de atuações: adequação da educação superior à globalização da economia, processos de avaliação, regulação e autonomia das Instituições de Ensino Superior, busca de parcerias entre o setor público e privado, revisão curricular e flexibilização da formação profissional – voltados ao mercado de trabalho e estímulo e fomento do uso de Tecnologias de Informação e Comunicação – criação de universidades virtuais e cursos de Ensino a Distância – EaD 15. A expansão ao acesso à educação em países periféricos que se valem de políticas neoliberais vem se dando por meio de uma maior mercantilização do ensino. Com a crise de acumulação capitalista, a entrada de empresas estrangeiras e a tendência à monopolização e oligopolização no setor educacional evidenciam a necessidade de ampliação e reprodução do capital. Outro fator que vem corroborar o contexto atual são as negociações travadas na OMC. Desde sua criação, os países desenvolvidos vêm tentando colocar em debate temas referentes às compras governamentais incluindo produtos tecnológicos de informação, de propriedade intelectual e pacotes educacionais produzidos nos países capitalistas mais avançados. É sintomático que no documento elaborado pela OMC (Secretaria do Conselho de Comércio e Serviços) 16 intitulado Serviços em Educação, de 1998, explicita a educação como um novo setor para os investimentos privados. A educação, particularmente a superior, na ótica da OMC insere-se num contexto de internacionalização e comercialização como um movimento de expansão do capital. Ensino Superior na América Latina: algumas tendências atuais 15 O Brasil criou em 2005 o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Este sistema tem como prioridade a formação de professores para a Educação Básica, articulando instituições públicas de ensino superior, estados e municípios, para promover, através da metodologia da educação a distância, acesso ao ensino superior para camadas da população que estão excluídas do processo educacional. Disponível em: Acesso <http://uab.capes.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=111&Itemid=27>. em: 28 out. 2008. Em 2004 (antes da criação da UAB) o país já contava 59.611 alunos matriculados em cursos de graduação. Mais informações em: < http://www.inep.gov.br/informativo/informativo126.htm>. Acesso em: 28 out. 2008. 16 Disponível em: <http://www.wto.org/spanish/tratop_s/serv_s/education_s/education_s.htm>. Acesso em: 28 out. 2008. 22 REID, 2, pp. 7-26 Mundialização econômica versus estados nacionais: impactos no sistema de ensino... Na universidade contemporânea se manifestam determinadas tendências que supõem profundas modificações no modo de atuar e de pensar de todos os implicados e em especial os professores. Várias marcas desta Universidade (sob o neoliberalismo) podem ser verificadas: redução da presencialidade, com uma inclinação a diminuição da carga semanal de aulas; transformações relacionadas com a virtualização do processo de formação (ampliação de cursos de ensino a distância); redução de carga horária de ciências de disciplinas voltadas a uma formação humanística mais completa e estímulo às ciências e disciplinas técnicas, privilegiando a formação para o mercado de trabalho; aumento de instrumentos de avaliação institucionais com ênfase na produtividade em detrimento de sistemas de avaliação da aprendizagem centrados no desempenho qualitativo e integradores. Este último sistema supõe estabelecer quais aspectos do processo de formação determinam os níveis de excelência em uma carreira universitária. Vários fatores podem contribuir positivamente: dos recursos humanos (professores e estudantes); da base material (tanto a que existe nas universidades como a que se utiliza na sociedade); da gestão do processo de formação. Além disso, é preciso entender como a Universidade se insere na sociedade, ou seja, as relações que se estabelecem entre a universidade e seu entorno (não necessariamente geográfico). Historicamente a universidade se inter-relaciona com a sociedade de forma restrita, fundamentalmente como relações entre a universidade e o setor produtivo (Silva, 2008). Mesmo que seja (e o é) importante - o setor produtivo, as universidades têm que ser pertinentes também nos aspectos cultural e social. Não pode a universidade assumir, acriticamente, as demandas da sociedade. A universidade tem a obrigação de processar as demandas sociais a partir de sua capacidade científica e dar-lhe sua própria interpretação. Normalmente a função social da universidade se reduz a ser uma “entidade de serviços” para a sociedade, isto é, a resposta que a universidade dá aos setores econômico, social ou cultural. A universidade deve ser agente de transformação, de novas alternativas de pensamento, não só no sentido de reprodução e legitimação da vida econômica, social e cultural, mas também no sentido crítico, renovador, transformador (Silva, 2008). Várias questões ainda estão abertas e as soluções para as transformações educativas e sociais devem passar pela universidade. Como pode ser a nova universidade (brasileira e latino-americana)? a) Científica, tecnológica e humanista, tanto em sua concepção como em seu desempenho? b) Comprometida com o desenvolvimento cultural, econômico e social de seus respectivos países e de toda a sociedade americana? c) Aberta a todos que aspiram nela estudar; d) Estreitamente vinculada com a sociedade e com ampla presença em todo o território nacional? e) Formação integral dos estudantes, que os prepare para viver em sociedade? f) Ter plena resposta às necessidades da educação durante toda a vida; g) Ser uma universidade que REID, 2, pp. 7-26 23 De Araújo, A. M. produza uma investigação científica que combine pesquisas de ponta com o desenvolvimento local? Ou serão meros instrumentos de dominação de uma burguesia internacional com seus prepostos nacionais submetidos a uma lógica empresarial? Torna-se imperativo, portanto, que as nações em desenvolvimento tenham como políticas de estado o setor educativo para que a dependência e ingerência sobre os destinos de milhões de jovens latino-americanos não fiquem (mais uma vez) nas mãos de empresários e sujeitos às leis de mercado. Considerações Finais As decisões e práticas (políticas, econômicas, sociais, culturais) estão inseridas num contexto histórico e social. As exigências que o capital internacional têm feito aos países em desenvolvimento, principalmente desde a última década, vêm transformando as necessidades de educação (formal) das classes trabalhadoras, buscando maior aperfeiçoamento técnico. Diante disso, a questão que se coloca é discutir e propor alternativas viáveis sobre o papel das Universidades (que formarão os professores para o ensino fundamental e médio) diante de um mundo em rápida transformação conjugado com as determinações do grande capital, que muitas vezes não coadunam com as necessidades da sociedade. Cabe, portanto, aos países latino americanos encontrar soluções que combinem as necessidades de um ensino de qualidade com as imensas demandas sociais que estão sendo requeridas. O discurso atual de governos, Instituições Internacionais e de Organizações NãoGovernamentais (nacionais ou estrangeiras) em relação às Universidades (públicas ou privadas) é o de transferir sua função de produtora de conhecimento científico para ser um apêndice do capital, dando uma "utilidade" ao seu papel social. Com isso as Universidades se tornam produtoras de um saber voltadas ao mercado de trabalho, excluindo-se a pesquisa como fonte básica na aquisição de novos conhecimentos. O atual discurso neoliberal da escolarização “para todos” procura alternativas para a resolução dos problemas sociais a partir da lógica do mercado, condicionando professores a buscar uma formação individual, sendo responsabilizados pelos fracassos no processo ensino-aprendizagem. Entretanto, o professor e o educando estão inseridos num contexto pluri-social, com dinâmicas que fogem às leis de mercado. De outra parte, a fragmentação do ensino demonstra as carências de uma universalização do saber; isto é, ao compartimentalizar o conhecimento, este é direcionado a uma perspectiva "mais técnica". Devido às necessidades de expansão econômica, reduz a função do professor como mero reprodutor de conhecimentos originados fora do seu contexto educacional e além do ambiente de sua comunidade. É preciso, pois, criar e se utilizar de metodologias e instrumentos que busquem a interação entre a construção e a reconstrução do conhecimento, numa perspectiva de 24 REID, 2, pp. 7-26 Mundialização econômica versus estados nacionais: impactos no sistema de ensino... totalidade, de tal modo que o educando possa refletir sobre o presente/passado e discutir o futuro numa ação recíproca entre a sociedade e a natureza e a comunidade na qual está inserido. Referências Alves, G. da A. 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Doctora en Psicopedagogía. Resumen El objeto de este artículo es comprobar la posible relación entre las distintas dimensiones del autoconcepto y el rendimiento académico en alumnos de 1º de Bachillerato según el género. Palabras clave: Autoconcepto. Rendimiento Académico. Alumnos de 1º de Bachillerato. Género. INFLUENCE PERFORMANCE IN MEN AND WOMEN Summary The object of this article is to verify the possible relation between the different dimensions of the autoconcept and the academic performance in pupils of 1 º of Bachillerato according to the genre. Palabras clave: Autoconcept. Academic performance. Pupils of 1 º of Bachillerato. Genre. E O DESEMPENHO AUTO INFLUÊNCIA EM HOMENS E MULHERES Resumem O objecto deste artigo é comprovar a possível relação entre as diferentes dimensões do autoconcepto e o rendimento académico em alunos de 1º de Bachillerato segundo o género. REVISTA ELECTRÓNICA DE INVESTIGACIÓN Y DOCENCIA (REID), 2, JUNIO 2009, PP. 27-44 ISSN: 1989-2446 Alcaide, M. Palavras finque: Autoconcepto. Rendimento Académico. Alunos de 1º de Bachillerato. Género. 1. Introducción La distinción entre autoconcepto y autoestima no se ha demostrado ni conceptual, ni empíricamente. Por ello ambos términos aparecen como sinónimos en la literatura. Teniendo en cuenta que autoestima y autoconcepto no tienen una diferenciación muy precisa, ciertos autores como Fleming y Courtney (1984), Gecas (1982), Hughes (1984), Kernalegues y Conrad (1980), Rosenberg (1979), Shavelson y cols. (1976), Wells y Marwell (1976) y Wylie (1974) reconocen la tendencia a utilizarlos como sinónimos. Así, emplearé ambos términos indistintamente. Uno de los principales factores que diferencian al ser humano de los demás animales es la conciencia de sí mismo: la capacidad de establecer una identidad y darle un valor. El problema de la autoestima está en esta capacidad humana de juicio. Una cosa es que nos disgusten ciertos colores, ruidos, figuras o sensaciones pero cuando se rechazan partes de uno mismo, se dañan considerablemente las estructuras psicológicas que literalmente le mantienen a uno vivo. El juzgarse y rechazarse a sí mismo produce un enorme dolor. Y del mismo modo que uno atendería y curaría una herida física, solemos evitar todo lo que pueda agravar el dolor del rechazo a uno mismo. Sin ello se asumen menos riesgos sociales, académicos o profesionales. Uno tiene más dificultad en relacionarse con la gente, entrevistarse para un trabajo, o perseguir algo en lo que se pudiera no triunfar. Uno limita su capacidad de abrirse a los demás, expresar su sexualidad, ser el centro de atención, atender a las críticas, pedir ayuda o resolver problemas. Para evitar nuevos juicios y autorrechazos, uno levanta barreras defensivas. Quizás se inculpa y encoleriza, o se sumerge en un empeño perfeccionista, o bien fanfarronea, o se ponen excusas. En ocasiones se recurre al alcohol o las drogas. 2. Autoconcepto Existen muchas definiciones de autoconcepto o autoestima por distintos autores y se mostrarán algunas. Según Vera y Zebadúa (2002), la autoestima se considera una necesidad humana profunda y poderosa, básica para la vida sana, con un buen funcionamiento y para la autorrealización. Está relacionada con nuestro bienestar en general. Muchos problemas psicológicos que hoy existen como la depresión, los trastornos de conducta, de aprendizaje, el alcoholismo, la drogadicción, trastornos en la 28 REID, 2, pp. 27-44 Influencia del rendimiento y autoconcepto en hombres y mujeres alimentación, bajo rendimiento en el trabajo, malos tratos conyugales, el abuso a los niños, la pasividad, el suicidio están relacionados con una autoestima baja o defectuosa. La psicóloga De Narváez (2002) afirma que cuando se tiene un concepto bueno del niño, se acepta como es, se le ayuda a mejorar sus debilidades y se resaltan sus cualidades su autoestima se ve fortalecida. Todo lo que los padres dicen o hacen influye en el concepto que los niños se forman de ellos mismos. Si durante mucho tiempo se califica al niño como torpe e incapaz, o por el contrario, audaz e inteligente muy probablemente crecerá asumiendo esto como cierto y generando actitudes según estos conceptos. También la psicóloga Madrazo (1998) afirma que la autoestima es la función de evaluarse a uno mismo, por lo que implica por un lado un juicio de valor y por otro un afecto que le acompaña. La autoestima positiva está relacionada con afectos positivos como son el gozo, la confianza, el placer, el entusiasmo y el interés. La autoestima negativa conlleva afectos negativos como el dolor, la angustia, la duda, la tristeza, el sentirse vacío, la culpa y la vergüenza. Según Papalia y Wendkos (1992), la autoestima viene a ser el componente afectivo, la imagen positiva o la autoevaluación favorable de sí mismo, importante para el éxito y la felicidad durante la vida; son los sentimientos que uno tiene acerca del mayor o menor valor de su propia persona. Branden (1993), sostiene que el autoconcepto no es un simple concepto, sino una combinación de imágenes y perspectivas abstractas con respecto a los diferentes rasgos y características (reales o imaginarias). Así definido, es más amplio que la autoestima: el autoconcepto contiene a la autoestima. Podemos pensar en la autoestima como un círculo encerrado en otro de mayor tamaño correspondiente al autoconcepto. También considera la autoestima como el componente evaluador del autoconcepto. Además, para este autor, la autoestima representa una evaluación de la mente, la conciencia y, en un sentido profundo, de la persona. No se trata de una evaluación de determinados éxitos o fracasos, tampoco de determinados conocimientos o habilidades. Es decir, uno puede estar muy seguro de sí mismo en el nivel fundamental, y sin embargo sentirse inseguro de sus capacidades en situaciones sociales específicas. De la misma manera, puede desenvolverse bien en el trato social y, aún así, ser inseguro y dubitativo en su interior. Montgomery Urday (1999), sostiene que la autoestima del individuo es, en rigor, el sistema de repertorios verbal-emocionales que aquél ha adquirido y tiene, en un momento dado, sobre su propio comportamiento en general y las respuestas efectivas que puede emitir en situaciones impersonales e interpersonales. Se origina, por un lado, en la autoobservación y en las autoevaluaciones de su eficacia comportamental para el logro de sus objetivos; y, por otro lado, debido al reforzamiento y castigo social que constituye la opinión de aquellas personas significativas y no significativas para él. REID, 2, pp. 27-44 29 Alcaide, M. Según Vereau (1998), el autoconcepto es la imagen que un sujeto posee de sí mismo, de sus atributos, sus limitaciones y su capacidad potencial de interacción con los demás. Y sostiene, además que tanto los psicólogos sociales como los clínicos estiman que el autoconcepto es el ordenador de todas las manifestaciones conductuales relevantes, en la medida en que la imagen que se tiene de sí mismo influencia profundamente la percepción de los otros y del mundo externo en general. Además el mismo autor menciona que en un primer intento de definir operacionalmente el constructo del autoconcepto, el psicólogo Rogers (1959) lo presentó como una gestalt conceptual coherente y organizada, compuesta de percepciones de las características del yo, y de percepciones de las relaciones del yo con los otros y con los diversos aspectos de la vida, junto a los valores asignados a esas percepciones. Klausmeier y Goodwin (1990) afirman que el autoconcepto o concepto de sí mismo es lo que el individuo entiende como el yo, como la descripción más completa que somos capaces de hacer de nuestro actual yo. En tanto que Rogers (1994) efectuó algunas revisiones sobre el autoconcepto, y llegó a la conclusión en que éstas comparten algunas características básicas. Afirma que la expresión autoconcepto se entiende, más bien, sólo como un aspecto del yo, que coexiste con otros factores como la autoestima o el autorespeto. Deutsch y Krauss (1970) destacan el concepto del sí mismo como una estructura cognitiva que consiste en un conjunto de elementos organizados en una relación sistemática, que surge de la interacción entre el organismo humano y su ambiente social. En síntesis, consideramos que el autoconcepto constituye una variable basada en la idea que el sujeto tiene de sí mismo, elaborada en base a una observación de sus propias capacidades y limitaciones; observación que puede verse distorsionada por factores externos al sujeto, como son la interacción con los demás, los patrones estéticos que rigen su entorno social, el repertorio biológico con que ha nacido el individuo y las experiencias tempranas en el seno familiar. 3. El autoconcepto en la adolescencia. A menudo, la adolescencia es diferenciada de otros periodos evolutivos por su característica crisis de identidad (Erikson, 1968). En este periodo, con frecuencia los jóvenes se encuentran intentando responder preguntas tales como ¿quién soy?, ¿qué haré con mi vida? y otras muchas de contenido autorreferente. Este cuestionamiento interno se manifiesta en el intento del joven por desarrollar nuevos roles, identificación de preferencias ocupacionales y, especialmente, en el intento por conseguir la independencia familiar y de otros adultos significativos, aspecto este último que ya se encuentra vinculado a los niños iniciales del periodo de la adultez. La primera tarea del adolescente es el desarrollo del sentido de la propia identidad, lo cual aporta integración 30 REID, 2, pp. 27-44 Influencia del rendimiento y autoconcepto en hombres y mujeres y continuidad al yo (Archer, 1989; Berzonsky, 1990; Marcia, 1980; Neimeyer Rareshide, 1991; Waterman, 1982). y Desde una perspectiva más general, para los adolescentes el desarrollo de las relaciones interpersonales es un factor muy influyente sobre las autopercepciones, siendo el atractivo físico una de las variables que condicionan inicialmente la interacción (cantidad y satisfacción) con sujetos del sexo opuesto (Reis, Nezlek y Wheeler, 1980; Reis, Wheeler, Spiegel, Kernis, Nezlek y Perri, 1982; García, Stinson, Ickes, Bissonette y Bringgs, 1991) así como la propia percepción y asignación de atributos a otros (Dion, 1981; Patzer, 1985; Zucherman y Driver, 1989; Zuckerman, Hodgins y Miyake, 1990; Zuckerman, Miyake y Hodgins, 1991; Eagly, Ashmore, Makhijami y Lougo, 1991). Rosenberg (1965) ya señalaba que la magnitud de la influencia de lo que otros piensan sobre uno en particular depende, entre otros factores, del nivel del autoconcepto de éste último. Así, los adolescentes con alto autoconcepto son influenciados menos por las opiniones contrarias (y negativas) a sus autoesquemas de lo que son los jóvenes con pobres autoconceptos. Otro aspecto importante en el periodo de la adolescencia es que la naturaleza de la interrelación entre los jóvenes de diferente sexo es muy distinta, incluso a la propia de la pubertad. En este periodo evolutivo, tanto la naturaleza de la relación sexual como las normas sociales que regulan la misma posibilitan relaciones con un significado personal crítico. La importancia de este aspecto para el autoconcepto es notable ya que el resultado de la propia identidad, de la imagen, del autorrespeto, y en definitiva, de la conducta depende del resultado de si transgrede, o no, las normas (p.e., homosexualidad) y si resuelve las tareas normales de forma satisfactoria. En definitiva, las autopercepciones del adolescente tienen mucho que ver con sus conductas y actitudes. Los esfuerzos del adolescente por desarrollar un autoconcepto claro y positivo chocan frontalmente con la ambigüedad manifiesta de las normas culturales. De suma importancia es el hecho de que el adolescente debe asimilar y demostrar la responsabilidad de un adulto, pero se les niegan los correspondientes privilegios. 4. El rendimiento académico. Al igual que ocurre con el autoconcepto, el rendimiento ha sido muy estudiado por diferentes autores y existen muchas definiciones de éste. Algunas de ellas son las siguientes: el rendimiento académico es entendido por Pizarro (1985) como una medida de las capacidades respondientes o indicativas que manifiesta, en forma estimativa, lo que una persona ha aprendido como consecuencia de un proceso de instrucción o formación. El mismo autor, ahora desde una perspectiva propia del alumno, define el rendimiento como una capacidad respondiente de éste frente a estímulos educativos, susceptible de ser interpretado según objetivos o propósitos educativos pre-establecidos. REID, 2, pp. 27-44 31 Alcaide, M. Según Herán y Villarroel (1987), el rendimiento académico se define en forma operativa y tácita afirmando que se puede comprender el rendimiento escolar previo como el número de veces que el alumno ha repetido uno o más cursos. Kaczynska (1986) afirma que el rendimiento académico es el fin de todos los esfuerzos y todas las iniciativas escolares del maestro, de los padres de los mismos alumnos; el valor de la escuela y el maestro se juzga por los conocimientos adquiridos por los alumnos. En tanto que Nováez (1986) sostiene que el rendimiento académico es el quantum obtenido por el individuo en determinada actividad académica. El concepto de rendimiento está ligado al de aptitud, y sería el resultado de ésta, de factores volitivos, afectivos y emocionales, además de la ejercitación. Según Martínez-Otero (2002) define el rendimiento académico como el producto que da el alumnado en los centros de enseñanza y que habitualmente se expresa a través de las calificaciones escolares. Páez (1987) señala que el rendimiento académico es el grado en que cada estudiante ha alcanzado los objetivos propuestos y las condiciones bajo las cuales se produjo ese logro. De acuerdo a la normativa educativa vigente, el término rendimiento se define como el proceso alcanzado por los alumnos en función de los objetivos programáticos previstos, y que puede ser medido mediante la realización de actividades de evaluación. Resumiendo, el rendimiento académico es un indicador del nivel de aprendizaje alcanzado por el alumno, por ello, el sistema educativo brinda tanta importancia a dicho indicador. En tal sentido, el rendimiento académico se convierte en una "tabla imaginaria de medida" para el aprendizaje logrado en el aula, que constituye el objetivo central de la educación. Sin embargo, en el rendimiento académico, intervienen muchas otras variables externas al sujeto, como la calidad del maestro, el ambiente de clase, la familia, el programa educativo, etc., y variables psicológicas o internas, como la actitud hacia la asignatura, la inteligencia, la personalidad, el autoconcepto del alumno, la motivación, etc. 5. Características de la población de 1º de bachillerato (16-17 años). La adolescencia es el periodo que nos sitúa entre la infancia y la edad adulta. Tras el lento desarrollo durante la infancia, en la adolescencia los cambios surgen más rápidamente. El aspecto físico cambia de tal forma que parece ya un adulto, aunque sus emociones y sus capacidades intelectuales no se encuentran al mismo nivel de madurez. Su vida está afectada por un nuevo ritmo que perdurará en las siguientes décadas los adolescentes son poco a poco absorbidos por las preocupaciones adultas. 32 REID, 2, pp. 27-44 Influencia del rendimiento y autoconcepto en hombres y mujeres En cuanto al desarrollo intelectual, la madurez cognitiva es la capacidad para pensar de forma abstracta, hecho que se alcanza ordinariamente durante la adolescencia, entre los 11 y 20 años. Los adolescentes pueden pensar no sólo en función de lo que observan en una situación concreta sino que pueden pensar en situaciones hipotéticas, considerar todos los aspectos de una situación y plantearse un problema intelectual de forma sistemática. Desde ese momento los adolescentes pueden imaginar una infinita variedad de posibilidades (Piaget, 1972). 6. Investigación 6.1. Análisis del contexto El estudio se realizó en el I.E.S “Santa Catalina de Alejandría” de Jaén capital. Es un centro público dependiente de Consejería de Educación y Ciencia de la Junta de Andalucía, en el que se imparte enseñanza de E.S.O. y Bachillerato así como el ciclo formativo de Grado Superior “ Interpretación de Lenguas de Signos”. Hay matriculados unos 1000 alumnos aproximadamente. El curso en el que se realizó la investigación es 1º de Bachillerato, compuesto por seis clases, en cada una de las cuales hay una ratio de treinta alumnos. El nivel socioeconómico de los alumnos es medio, y el porcentaje de los que inician la universidad es alto. 6.2. Problema El problema que se planteó fue el siguiente: ¿Existe relación entre el autoconcepto y rendimiento académico en alumnos de 1º de bachillerato según el género? 6.3. Objetivo Comprobar la posible relación entre las distintas dimensiones del autoconcepto y el autoconcepto total y el rendimiento académico según el género. 6.4. Diseño Según el objetivo propuesto se realiza un estudio descriptivo para obtener una mayor información de la población objeto de estudio. 6.5. Métodología 6.5.1. Sujetos En un principio la muestra estaba formada por 189 alumnos, pero por circunstancias desconocidas ese día faltaron 17 chicos, por lo tanto, la muestra quedó reducida a 172 estudiantes (84 hombres y 88 mujeres) de 1º de Bachillerato de Educación Secundaria Obligatoria del I.E.S. “Santa Catalina de Alejandría” de Jaén. REID, 2, pp. 27-44 33 Alcaide, M. 6.5.2. Variables 1. Puntuaciones en 1º de Bachillerato. Obtuvimos las notas de la primera y segunda evaluación solamente en aquellas áreas comunes. 2. Nivel de autoconcepto obtenido a partir del cuestionario AFA (Autoconcepto forma A de Musito, García y Gutiérrez, 1991). 3. Género: hombre ó mujer. 6.5.3. Instrumentos 1. El instrumento de medida utilizado fue el Test de Autoconcepto (AFA Autoconcepto forma A de Musito, García y Gutiérrez, 1991). El cuestionario consta de cuatro componentes: -Componente emocional. -Componente social. -Componente familiar. -Componente académico. En este cuestionario hay que tener en cuenta lo siguiente: El autoconcepto total se consigue mediante la suma de los demás autoconceptos (académico, emocional, social y familiar) y a través del cual obtenemos la puntuación directa y los percentiles, pero en el baremo, el autoconcepto total no lo obtenemos mediante la suma de los demás autoconceptos sino que éste tiene su propia tabla de puntuaciones. 2. Puntuaciones de los alumnos en la primera y segunda evaluación de 1º de Bachiller. 6.5.4. Procedimiento El instrumento de medida utilizado fue el test de autoconcepto Forma A (de Musito, García y Gutiérrez, 1991). Durante una mañana se le pasó el test a seis clases de 1º de Bachillerato, en total 172 alumnos (84 hombres y 88 mujeres). En cada clase se dio una pequeña instrucción de cómo lo tenían que hacer. Una vez recogidos los cuestionarios se corrigieron con la plantilla de corrección y se obtuvo la puntuación directa de los cuatro componentes y el total. Los datos obtenidos se tabularon mediante una tabla. La puntuación directa se pasó a percentiles mediante la tabla y así obtuvimos la puntuación total. En primer lugar sacamos las puntuaciones de los alumnos de la primera y segunda evaluación de las asignaturas comunes y el autoconcepto de los distintos 34 REID, 2, pp. 27-44 Influencia del rendimiento y autoconcepto en hombres y mujeres componentes, al igual que la puntuación total y el autoconcepto total y se empezó a comparar la nota total con el autoconcepto académico, luego con el emocional, familiar, social y finalmente con el autoconcepto total. 7. Análisis de datos 7.1. Resultados El análisis estadístico de los datos fue efectuado mediante el programa informático SPSS versión 11. Una vez introducidos los datos se analizaron mediante las tablas de contingencia. Autoconcepto Académico- Género El 77,35 % de los hombres tienen un autoconcepto académico igual o por encima de 50, frente a un 84,12 % de mujeres. GÉNERO AUTOCONCE PTO HOMBRE (%) ACADÉMICO MUJER (%) 0-49 22,61 15,89 49-99 77,35 84,12 Tabla 1. Autoconcepto académico y género. 100 80 60 0-49 40 49-99 20 0 hombres mujeres Gráfico 1. autoconcepto académico y género Se puede observar que las mujeres puntúan más alto que los hombres en autoconcepto académico. REID, 2, pp. 27-44 35 Alcaide, M. Autoconcepto Emocional- Género El 57,91 % de las mujeres tienen un autoconcepto emocional por debajo de la media, frente a un 48,79 % de los hombres. El 51,17 % de hombres tiene un autoconcepto emocional igual o superior a 50, frente a un 42,02 % de mujeres. AUTOCONC EPTO GÉNERO HOMBRE (%) EMOCIONAL MUJER (%) 0-49 48,79 57,91 50-99 51,17 42,02 Tabla 2 Autoconcepto emocional y género 60 50 40 0-49 30 50-99 20 10 0 hombres mujeres Gráfico 2. Autoconcepto emocional y género Observamos mediante el gráfico que las mujeres tienen un autoconcepto emocional más bajo que los hombres. Autoconcepto Familiar- Género Respecto al autoconcepto familiar, el 74,97 % de los hombres lo tiene bajo, al igual que las mujeres, con un 73,85 %. Por consiguiente, el 24,99 % de los hombres, tiene un autoconcepto familiar igual o mayor de 50 y las mujeres un 26,12 %. 36 REID, 2, pp. 27-44 Influencia del rendimiento y autoconcepto en hombres y mujeres AUTOCONC EPTO GÉNERO HOMBRE (%) FAMILIAR MUJER (%) 0-49 74,97 73,85 50-99 24,99 26,12 Tabla 3. Autoconcepto familiar y género. 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0-49 50-99 hombres mujeres Gráfico 3. Autoconcepto familiar y género Según el gráfico, se puede apreciar que tanto hombres como mujeres tienen un autoconcepto familiar bajo, aunque el porcentaje es un poco más elevado en los hombres. Autoconcepto Social- Género El 61,89 % de los hombres tienen un autoconcepto social menor de 50, frente a un 54,54 % de las mujeres. El 38,08 % de los hombres tienen un autoconcepto social igual o superior a 50, frente a un 45,46 % que tienen las mujeres. REID, 2, pp. 27-44 37 Alcaide, M. AUTOCONC EPTO GÉNERO HOMBRE (%) SOCIAL MUJER (%) 0-49 61,89 54,54 50-99 38,08 45,46 Tabla 4. Autoconcepto social y género 70 60 50 40 hombres 30 mujeres 20 10 0 hombres mujeres Gráfico 4. Autoconcepto social y género. Se puede observar tanto en la tabla como en el gráfico que las mujeres tienen un autoconcepto social más alto que los hombres. Autoconcepto Total- Género El 100 % tanto de hombres como de mujeres tienen un autoconcepto total superior a 50. GÉNERO AUTOCONC EPTO TOTAL 38 HOMBRE (%) MUJER (%) TOTAL (%) 54 0 1,13 0,58 59 1,19 1,13 1,16 60 0 1,13 0,58 61 0 2,27 1,16 62 2,38 2,27 2,32 REID, 2, pp. 27-44 Influencia del rendimiento y autoconcepto en hombres y mujeres 63 4,76 2,27 3,48 65 1,19 4,54 2,90 67 5,95 9,09 7,55 70 2,38 0 1,16 72 13,09 9,09 11,04 73 4,76 4,54 4,65 74 5,95 6,81 6,39 75 3,57 7,95 5,81 76 4,76 6,81 5,81 77 10,71 1,13 5,81 78 2,38 1,13 1,74 79 4,76 1,13 2,90 80 3,57 0 0,58 81 1,19 0 0,58 82 1,19 0 0,58 83 1,19 0 0,58 90 0 4,54 2,32 95 0 4,54 2,32 96 4,76 7,95 6,39 97 8,33 3,40 5,81 98 7,14 5,68 6,39 99 3,57 11,36 7,55 48,8 51,2 100 Tabla 5. Autoconcepto Total y género. REID, 2, pp. 27-44 39 Alcaide, M. 14 12 10 PORCENTAJE DE INDIVIDUOS 8 HOMBRE 6 MUJER 4 2 0 54 60 62 65 70 73 75 77 79 81 83 95 97 99 AUTOCONCEPTO TOTAL Gráfico 5. Autoconcepto total y género. En el gráfico se observa que aunque todos puntúan por encima de 50, en autoconcepto total se aprecia que los hombres puntúan más alto que las mujeres en autoconcepto 72 y 77, sin embargo hay más mujeres que hombres que puntúan más alto en autoconcepto 99. Rendimiento académico- Género El 53,55 % de los hombres tienen una nota total de 5 o superior a 5, frente a un 65,88 % que obtienen las mujeres. Los hombres cuya nota total es inferior a 5 representan un 46,42 %, frente a un 34,07 % que representan las mujeres. GÉNERO NOTA TOTAL HOMBRE (%) MUJER (%) 0-4,99 46,42 34,07 5-10 53,55 65,88 Tabla 6. Rendimiento académico y género. 40 REID, 2, pp. 27-44 Influencia del rendimiento y autoconcepto en hombres y mujeres 70 60 50 40 0-4,99 30 05-oct 20 10 0 hombres mujeres Gráfico 6. Rendimiento académico y género Según el gráfico, los hombres superan en suspensos a las mujeres y las mujeres obtienen notas más altas que los hombres. 7.2. Conclusiones generales Las conclusiones a las que se han llegado en este trabajo de investigación son las siguientes: 1. Las mujeres tienen un autoconcepto académico más alto que los hombres. 2. Las mujeres tienen un autoconcepto emocional más bajo que los hombres. 3. Tanto los hombres como las mujeres tienen un autoconcepto familiar bajo, pero en los hombres es más bajo que en las mujeres. 4. Igual que la anterior tanto hombres como mujeres tienen un autoconcepto social bajo, aunque los hombres lo tienen más bajo que las mujeres. 5. Respecto al autoconcepto total tanto los hombres como las mujeres lo tienen alto. 7. Las mujeres obtienen mejores resultados académicos que los hombres. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARCHER, S.L. (1989). Gender differences in identity development: Sigues of process, domain, and timing. Journal of Adolescence, 12, 117-138. REID, 2, pp. 27-44 41 Alcaide, M. BERZONSKY, M. (1990). Self-construction on the life- span: A process perspectiva on identity formation. En G. Neiyemer (Eds): Advances in personal construct psychology. Greenwich, CT: JAI Press. BRANDEN, N. (1993). El respeto hacia uno mismo. Bacelona. Editorial Ibérica. Paidós DE NARVÁEZ, Mª T. (2002). Aprendiendo y creciendo juntos. Volumen III. Editora contusalud.com. Extraído el día 16 de Junio de 2004 de la wold wide web: www. contusalud.com/wedside/fólder/sepa_psicología-autoestima.htm. DEUTSCH, M., y R.M. KRAUSS (1970). Teorías en psicología social. México.Paidós. DION, K.K. (1981). Psysical attractiveness, sex roles, and heterosexual attraction. En M. Cook (Ed): The bases of human sexual attraction. 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Caracteriza-se por uma conduta abusiva no local de trabalho através de atitudes, gestos, palavras ou escritos, que possam ferir a integridade física ou psíquica do indivíduo que é alvo. A pesquisa usa a técnica da análise de conteúdo para investigar as percepções de professores da área de psicologia organizacional e do trabalho em cursos de Psicologia e Administração de uma universidade localizada no Estado de Santa Catarina, sobre vivências frente ao fenômeno mobbing. Os resultados apresentaram quinze categorias que impactuam na subjetividade e afetividade do trabalhador. As situações de mobbing provocam desequilíbrio nas relações interpessoais, em que os envolvidos experimentam o medo, a angústia, ansiedade, malestar e muitos outros afetos capazes de paralisar as pessoas e organizações como um todo, caracterizando um prejuízo, tanto para os sujeitos trabalhadores, como para a organização. Palavras-chave: Mobbing; Psicologia Organizacional e do Trabalho; Análise de Conteúdo. MOBBING IN ORGANIZATIONS Abstract Mobbing is a harassment phenomenon practiced by one or more than one person against another. It appears like an abusive, very often and intentional, lasting and/or systematic behavior through attitudes, gestures, words or writings, which might injure the physical or psychological integrity of an aimed person. As for it, the method of qualitative research through the Content Analysis was adopted. Half-structuralized Interviews with seven professors of the organizational area of Psychology and Administration courses of a university located in the State of Santa Catarina had been carried through, about their perceptions and experiences related to the mobbing phenomenon. The results showed fifteen categories that impact over the worker’s subjectivity and affectivity. The mobbing situations provoke disbalance into the interpersonal relations, in which the REVISTA ELECTRÓNICA DE INVESTIGACIÓN Y DOCENCIA (REID), 2, JUNIO 2009, PP. 45-58 ISSN: 1989-2446 Mafra, A. P. y Martins, L. involved ones try the fear, the anguish, anxiety, malaise and many other affection capable of paralyzing people and organizations globally, characterizing a damage, as for the diligent citizens, as for the organization. Keywords: Mobbing; Organizational and Labor Psychology; Content Analysis. MOBBING EN LAS ORGANIZACIONES Resumen Mobbing es el nombre dado a un fenómeno de acoso psíquico practicado por una o más personas a una otra persona. Se caracteriza por una conducta abusiva en el lugar de trabajo por actitudes, gestos, palabras o escritos que puedan herir la integridad física o psíquica del individuo que es víctima. Esta investigación usa el análisis de contenido para investigar las percepciones de profesores de Psicología Organizacional y del Trabajo en los cursos de Psicología y Administración de una universidad localizada en el estado de Santa Catarina, Brasil, sobre vivencias frente al fenómeno mobbing. Los resultados presentaron quince categorías que impactan en la subjectividad y afectividad del trabajador. Las situaciones de mobbing provocan desequilibrio en las relaciones interpersonales, en que los individuos involucrados experimentan miedo, angustia, ansiedad, malestar y muchos otros afectos capaces de paralisar personas y organizaciones como un todo, caracterizando un perjuicio tanto para los trabajadores como para la organización. Palabras clave: Mobbing; Psicología Organizacional y del Trabajo; Análisis de Contenido. Introdução As relações de trabalho nas empresas pressionam os trabalhadores por produtividade, gerando muitas vezes competitividade e luta pela sobrevivência no emprego. Por meio de discursos de cooperação e de trabalho em equipe, consultores organizacionais acabam por perpetuar elementos antagônicos: a necessidade da cooperação em equipe e a competição pela aquisição e manutenção de um posto de trabalho. Essa hipercompetitividade, como diria Christophe Dejours, é considerada uma guerra e forma de violência (Heloani, 2004). 46 REID, 2, pp. 45-58 O mobbing nas organizações de trabalho Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) rejeita-se a idéia de que a violência no ambiente de trabalho comporte unicamente fatores pessoais e passase a considerá-la como resultante de uma combinação de causas relativas às pessoas, ao meio ambiente, ao ambiente de trabalho, às condições organizacionais e contratuais do trabalho. Assim como as formas de interação entre os próprios trabalhadores, entre os clientes e os trabalhadores e entre estes e empresários (Guimarães & Rimoli, 2006). A presença da violência no ambiente de trabalho implica em custos consideráveis tanto para os indivíduos em termos de saúde e em relação a seu emprego, quanto para a organização dado o impacto causado pelo absenteísmo, baixa na produtividade e rotatividade de pessoal. Os atos de violência no trabalho provocam uma alteração imediata e geralmente duradoura das relações interpessoais, da organização do trabalho e do entorno laboral em seu conjunto. O termo mobbing é proveniente do verbo inglês to mob, significa maltratar, atacar, perseguir, tumultuar, importunar, assediar (Trombetta, 2005). Mobbing, conforme a nomenclatura utilizada neste trabalho é definido como toda e qualquer conduta que caracteriza comportamento abusivo, freqüente e intencional, através de atitudes, gestos, palavras ou escritos, que possam ferir a integridade física ou psíquica de uma pessoa, vindo a por em risco seu emprego ou degradando seu ambiente de trabalho. Constitui-se como uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização. A vítima é estigmatizada e isolada do grupo, enquanto gradativamente enfraquece e se desestabiliza, chegando ao adoecimento físico e psíquico, com risco de causar sua morte (Drida et al.,1999, Freitas, 2007, Heloani, 2004, Hirigoyen, 2002, Maciel et al., 2007).O assediado é considerado uma ameaça ao agressor, logo, a intenção do mobbing é neutralizar suas ações em termos de poder. Trata-se de um processo disciplinador, podendo ocorrer agressões físicas e levar à despersonalização do indivíduo acarretando para sua vida prejuízos biopsicossociais. O mobbing pode ser praticado de forma ascendente – um superior é agredido por subordinados – ocorre principalmente quando o novo líder é chamado de fora da organização e/ou não é aceito pela equipe. Também há o mobbing horizontal - o assédio ocorre entre colegas de mesmo nível hierárquico – e o mais comum é o descendente (Guimarães & Rimoli, 2006). Segundo Piñuel y Zabala (2001), o mobbing praticado no trabalho tem como objetivo intimidar, diminuir, humilhar, amedrontar, consumir emocional e intelectualmente a vítima, o assediador tem o objetivo de eliminá-la da organização ou simplesmente pelo desejo de agredir, controlar e destruir. Aproveita-se de situações particulares da organização - reorganização, redução de custos, burocratização, mudanças drástica, outros - para canalizar uma série de impulsos e tendências psicóticas. REID, 2, pp. 59-77 47 Mafra, A. P. y Martins, L. O termo foi utilizado pela primeira vez para descrever o comportamento agressivo de animais que expulsavam intrusos no território grupal. Através de pesquisa com aves, identificaram que durante o mobbing as aves podem até defecar e vomitar em suas vítimas, quando apenas ocasionalmente, ocorre o contato físico. A partir de pesquisas com esquilos e algumas espécies de primatas, pode-se definir comportamento de mobbing como um ataque coletivo a um alvo específico considerado ameaçador. Identificou-se que o mobbing é um comportamento em parte aprendido e parcialmente instintivo. Assim como com os animais, verificamos o mobbing na nossa sociedade, ocorrendo principalmente em ambientes de trabalho, permeado por relações de poder e pela competitividade gerada pelo medo do desemprego (Guimarães & Rimoli, 2006; Hirigoyen, 2002). Leymann é um dos principais pesquisadores contribuintes do assunto “mobbing” nas organizações de trabalho, ele deixa claro que o assédio moral é um fenômeno grupal (Trombetta, 2005). Marie-France Hirigoyen, psicanalista e psiquiatra, com formação em vitimologia na França e nos Estados Unidos, popularizou o termo por meio do lançamento de seu livro El acoso moral (Heloani, 2003). E Trombetta (2005) afirma que o assédio moral no trabalho é tão antigo quanto o próprio trabalho, no entanto, só a partir de 1990 é que foi identificado como fenômeno destruidor do ambiente de trabalho, que diminui a produtividade e favorece o absenteísmo, devido aos desgastes psicológicos que provoca. Contudo, a própria “invisibilidade” e, o alto grau de subjetividade envolvido no mobbing, são questões que dificultam a sua comprovação da relação entre a conseqüência - o sofrimento da vítima - e sua causa, a agressão, indispensável na esfera criminal, já que tais humilhações são causadas sem deixar as digitais do agressor (Heloani, 2004). Freitas (2007), Guimarães & Rimoli (2006) e Trombetta (2005) apontam que as vítimas são geralmente estagiários, trainees ou novos membros na organização, que são promessas de novos talentos, ou apresentam qualificação superior, ou das chefias que os recebem. Também são vítimas os que se destacam por alguma característica diferente do restante do grupo tais como, opção sexual, etnia e credo religioso. As conseqüências desse fenômeno ocorrem na esfera individual, organizacional e social. Freitas (2007), Guimarães & Rimoli (2007), Heloani (2004), e Maciel et al. (2007), corroboram que, no âmbito individual, o mobbing atinge a personalidade, identidade e auto-estima do indivíduo, gerando desordens na sua vida psíquica, social, profissional, familiar e afetiva. Podem surgir doenças psicossomáticas como depressão, sociofobia, ataques de pânico, baixa auto-estima, transtorno por estresse pós-traumático, transtorno obsessivo, transtorno bipolar, ansiedade, lesões por esforços repetitivos, úlcera, sudorese, tremores, disfunções sexuais, cefaléias, insônia, melancolia, apatia, aumento de estresse e tensão, agressividade, desconfiança, prejuízos cognitivos, pensamentos autodestrutivos, tentativas de suicídio, afastamento do trabalho 48 REID, 2, pp. 45-58 O mobbing nas organizações de trabalho redução da capacidade de concentração, isolamento, solidão, perda do emprego, sentimento de nulidade e de injustiça, descrença, alcoolismo e uso de drogas. Os prejuízos organizacionais estão vinculados ao afastamento de pessoal por doenças e acidentes de trabalho, elevação de absenteísmo e turnover, perda de equipamentos por desconcentração, queda de produtividade, custos judiciais com denúncias, custos de imagem da empresa perante clientes internos e externos, desmotivação dos funcionários, redução da atratividade de talentos e possível redução do valor da marca (Freitas, 2007). Ainda segundo a autora, na esfera social toda uma sociedade paga quando indivíduos são massacrados por essa violência, o aumento de suicídios na sociedade, a desestruturação familiar e social das vítimas e a perda do investimento social feito em educação e formação profissional são alguns exemplos. Acidentes de trabalho, despesas médicas, causas na justiça e benefícios previdenciários (licenças, hospitalizações, remédios subsidiados, longos tratamentos médicos, aposentadorias precoces) são questões trabalhistas que geram custos econômicos arcados pela organização, mas que serão repassados aos preços dos produtos e que será cobrado de forma indiscriminada aos consumidores, visto que as empresas não têm o hábito de sacrificar margens de lucro para acomodar custos jurídicos ou financeiros (Freitas, 2007). Método Este trabalho é uma pesquisa que utilizou o método qualitativo a partir da técnica de Análise de Conteúdo (Bardin, 1991) para compreender o mobbing e suas influências na subjetividade e afetividade do trabalhador a partir da percepção de professores universitários supervisores de estágio na área de psicologia organizacional e do trabalho. Para tanto, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com sete (07) professores da área de psicologia organizacional em cursos de Psicologia e Administração de uma universidade localizada no Estado de Santa Catarina. Resultados e discussão A partir da análise dos dados foram elaboradas 15 categorias. São elas: 1 - Conceito de mobbing: Através das entrevistas pode-se observar que os sujeitos da pesquisa apresentam conhecimento e detalhamento teórico frente ao conceito de mobbing. Isto evidencia que apesar da discussão sobre o mobbing no Brasil ser recente, os psicólogos participantes desta pesquisa encontram-se atualizados teoricamente frente ao tema. Referente às constantes mudanças que ocorrem na esfera organizacional, Jaques-Jesus (2004), afirma que o psicólogo necessita acompanhar essas modificações, para tanto deve incorporar novas intervenções e ser capaz de promover avanços na REID, 2, pp. 59-77 49 Mafra, A. P. y Martins, L. práxis organizacional, desenvolvendo medidas e estratégias apropriadas para a solução dos problemas que surgem continuamente nas organizações de trabalho e contribuindo para uma sociedade mais justa. 2 - Exemplos de situações vivenciadas: Três (03) entrevistados relataram que seus alunos estagiários nunca trouxeram em supervisão o tema mobbing. Quatro (04) entrevistados relataram experiências de mobbing vivenciadas direta ou indiretamente nas organizações de trabalho onde trabalharam ou encontram-se atualmente. Quatro (04) entrevistados relataram fatos descritos pelos alunos estagiários no campo de estágio, uma das estagiárias foi assediada sexualmente pelo empregador. Pode-se compreender que tal situação relaciona-se ao fenômeno mobbing, pois, de acordo com Maciel et al. (2007) o assédio dirigido às mulheres é freqüentemente acompanhado de conotações sexuais. Por fim, uma entrevistada relatou a atitude preventiva da empresa para inibir o aparecimento de mobbing na organização. 3 - Percepção quanto aos fatores favoráveis à ocorrência do mobbing: Na percepção de duas (02) entrevistadas, nos casos descritos, o gênero foi fator tendencioso para a ocorrência do mobbing, nas duas situações os assediadores eram sujeitos do sexo feminino. Os entrevistados apresentaram homens e mulheres como assediadores, e os resultados não concordaram com Maciel et al. (2007, p.126), quando afirmam que “[...] homens tendem a ser assediados por homens e as mulheres por mulheres”. De acordo a pesquisa quantitativa realizada pelas autoras, as mulheres tendem a apontar outras mulheres como agressoras com maior freqüência, e que mulheres em posições de comando dentro da organização são apontadas como assediadoras em um número maior de vezes que os homens. Contudo, os homens são apontados como agressores mais vezes, pois ocupam cargos elevados na organização com maior freqüência do que as mulheres. Três (03) entrevistados responsabilizam a cultura organizacional como favorecedor da ocorrência do mobbing. Dois sujeitos da pesquisa relataram que organizações baseadas no controle e poder, com gestores autoritários, foram determinantes para o fenômeno mobbing ocorrer na organização. Estresse, desmotivação e insatisfação generalizada também foram relatados como fator propiciador para esse tipo de violência. Dessa forma, compreende-se que a violência no ambiente de trabalho é resultado de uma combinação de causas relativas às pessoas, ao meio ambiente, ao ambiente de trabalho e às condições organizacionais e contratuais do trabalho. Assim como às formas de interação entre os trabalhadores, clientes e empresários (Guimarães & Rimoli, 2006). 4 - Enfrentamento da situação pela vítima: Dois entrevistados relataram o aparecimento de sintomas psicossomáticos nas vítimas. Dos dois entrevistados que relataram ter sido vítimas de mobbing, um lidou “muito mal” e pediu demissão, e o 50 REID, 2, pp. 45-58 O mobbing nas organizações de trabalho outro sujeito sentiu-se desrespeitado. Outra forma de enfrentamento refere-se às faltas ao trabalho. Um dos entrevistados relatou uma situação de mobbing em que o indivíduo que se sentiu manipulado e sem autonomia para tomada de decisões. Em concordância com estes resultados, Freitas (2007) referencia que o mobbing atinge a auto-estima e vida psicossocial do sujeito, provocando prejuízos à saúde, desencadeando sentimento de nulidade, de injustiça, descrença e apatia. Reduzindo sua capacidade de concentração, gerando afastamentos do trabalho, colocando em risco o seu emprego e até mesmo a sua vida. As vítimas temem fazer denúncias formais, com medo de uma possível demissão ou o rebaixamento de cargo, além disso, as denúncias tornam pública a humilhação vivida, o que gera ainda mais constrangimento. Assim, o medo e a vergonha se unem, acobertando a covardia dos ataques (Heloani, 2004). 5 - Enfrentamento da situação pelos trabalhadores em geral: Dois (02) entrevistados afirmaram que os trabalhadores não sabiam como reagir, muitas vezes não percebiam o fenômeno mobbing, não questionavam a situação, por vezes reclamavam, mas não havia um mecanismo coletivo, eram omissos, tendenciosos ao individualismo e agiam de forma permissiva. Desses entrevistados, um (01) relacionou essa falta de questionamento ao baixo grau de instrução dos trabalhadores, bem como, ao fato da empresa remunerá-los acima do valor oferecido em outras empresas, por isso se sujeitavam. Os demais entrevistados identificaram diversas formas de enfrentamento por parte dos trabalhadores, como por exemplo, aumento do índice de rotatividade, quebra de equipamentos, faltas ao trabalho. Além disso, relataram que os trabalhadores sentiram-se temerosos, estressados, desmotivados, insatisfeitos, ansiosos, coagidos, preocupados, mas ao mesmo tempo aliviados quando o mobbing é direcionado a uma pessoa só. Um dos entrevistados afirmou que o grupo utilizava como mecanismo de defesa a repressão, ou seja, reprimiram seus desejos deslocando e redirecionando a raiva para a família. Dois entrevistados nada relataram nesta categoria por não haver situações comentadas por seus estagiários. Esses feitos são explicitados por Freitas (2007), diante da ocorrência de mobbing no ambiente organizacional, se sucedem afastamentos de pessoal por doenças e acidentes de trabalho; aumento de absenteísmo e turnover; perda de equipamentos pela desconcentração dos trabalhadores; queda de produtividade em face do moral do grupo e da qualidade do clima de trabalho; desmotivação por contágio e enfraquecimento da adesão ao projeto organizacional. 6 - Enfrentamento da situação pelas chefias: Dos sete (07) entrevistados, dois não responderam por não haver relato em supervisão por seus estagiários. Em quatro casos citados pelos entrevistados, as estagiárias conversaram com as chefias sobre a ocorrência do mobbing na organização. Desses, dois gestores não tomaram atitude sobre o fenômeno, e nos outros dois casos, as psicólogas das organizações eram agentes REID, 2, pp. 59-77 51 Mafra, A. P. y Martins, L. produtores/reprodutores do mobbing. Após a percepção das estagiárias, tais psicólogas passaram a ignorá-las. Dois (02) entrevistados relataram que ao vivenciar o mobbing em suas organizações de atuação, relataram às chefias. No entanto, em ambos os casos não houve interesse de intervenção, denotando uma desqualificação ao trabalho do psicólogo organizacional. Se o assédio ocorre no espaço organizacional, é uma questão organizacional e não apenas individual. As organizações podem tanto estimular, coibir ou eliminar esse problema adotando medidas de estratégias. Cada empresa tem suas regras, normas, regulamentos, limites explícitos ou subjetivos que contribuem – ou não – com esse tipo de violência. Se a preocupação e interesse em prevenir e reparar o mobbing não ocorre por motivos altruístas e humanistas, as organizações podem motivar-se pelos prejuízos econômicos e os custos de imagem desencadeados pelo fenômeno (Freitas, 2007; Guimarães & Rimoli, 2006). 7 - Enfrentamento do(a) estagiário(a): Em geral, as estagiárias utilizavam a supervisão como um espaço de acolhimento e escuta, para o alívio da ansiedade. Questionavam os motivos do assédio sofrido direta ou indiretamente. Reagindo muitas vezes com indignação, sentindo-se impotentes e frustradas. Em um dos casos citados, a estagiária não conseguiu encerrar o estágio, devido ao desenvolvimento de uma ansiedade fóbica, a mesma tinha receio, não queria ir para o estágio. Dessa forma, é possível compreender que as estagiárias – dotadas de uma subjetividade, como qualquer outra pessoa – mobilizaram-se frente ao mobbing devido estarem implicadas nas relações de trabalho. No entanto, é fundamental que o psicólogo organizacional desenvolva um distanciamento necessário para intervir e auxiliar na resolução de problemas dentro das organizações de trabalho, e dessa forma, não comprometa sua atuação do ponto de vista técnico. O tratamento dado a análise desse material contém, como é evidente, elementos relativos à formação profissional em Psicologia que determinam o que se chama de atitude clínica. Tal perspectiva implica certa dissociação instrumental para interpretar os fenômenos, permitindo, de uma parte, a identificação com sujeitos e objetos, mas por outra, exigindo distância operativa. A postura de subjetividade disciplinada do psicólogo é essencial para a interpretação do significado dos fatos. Um (01) dos entrevistados percebeu uma dissociação entre o pensamento e emoção devido à falta de reação de seu estagiário frente ao mobbing, este parecia muito mais preocupado com a aprovação no estágio. A entrevistada que percebeu o mobbing em seu local de atuação como psicóloga organizacional relata ter feito uma leitura da realidade para definir estratégias e intervir. Um (01) dos entrevistados referiu que a empresa onde uma de suas estagiárias atua, faz treinamentos e está atenta em prevenir esses tipos de comportamentos, segundo ela, este campo de estágio gerou aprendizado, devido à preocupação com conhecimentos científicos. 52 REID, 2, pp. 45-58 O mobbing nas organizações de trabalho 8 - Saúde física: Houve um relato sobre a retirada de materiais de trabalho que resultaram em dano físico à vítima. Os entrevistados identificaram também doenças psicossomáticas decorrentes do fenômeno mobbing, como por exemplo, depressão, estresse, dores físicas, cansaço, fortes dores de cabeça, gripe e inflamação nos ouvidos, resultando em afastamentos ao trabalho. Diante disso, Guimarães & Rimoli (2006) concordam com os itens descritos pelos entrevistados e acrescentam outros prejuízos de ordem fisiológica, como por exemplo, insônia, tendência a adição ou consumo de tabaco e abuso de álcool, tentativas de suicídios, hipertensão, problemas dermatológicos, alterações digestivas e tendência ao risco de acidentes vasculares e coronarianos. 9 - Saúde psicológica: Foram apresentados pelos entrevistados, comportamentos do assediado resultantes das situações de mobbing, como por exemplo, evitação do ambiente de trabalho, fobia, irritabilidade e ansiedade persecutória. Dois (02) dos entrevistados relatam que houveram pedidos de demissão decorrentes do fenômeno. Segundo Guimarães & Rimoli (2006), a vítima se isola, ocorrendo a deterioração das relações interpessoais, ocasionando conflitos familiares, até mesmo divórcios e tentativas de suicídios diante da solidão e desesperança. Quatro entrevistados nada relataram sobre o assunto desta categoria. 10 - Estagiárias e Identificação do mobbing: Três (03) entrevistados relatam que suas estagiárias não identificaram por si o mobbing, mas que em supervisão conseguiram perceber. Em um dos casos, a estagiária foi vítima de mobbing e demorou a perceber o que se passava com ela, para sua supervisora isso deixou claro que quando acontece com o outro é mais fácil identificar. Em apenas um dos casos citados, a entrevistada afirma que a estagiária tinha certeza de que se tratava de mobbing. Quatro (04) entrevistados nada relataram sobre o assunto desta categoria. Segundo Zanelli et al. (2004), um amplo espaço de atuação se configura ao psicólogo, onde é possível explorar, analisar e compreender as interações das diversas áreas da vida do sujeito, dos grupos e das organizações, contribuindo para o estabelecimento de estratégias e procedimentos que possam promover, preservar e restabelecer a saúde mental e física das pessoas. Dessa forma, entende-se que o estagiário em momento de formação da sua identidade profissional deve buscar material teórico que embase a práxis de atuação do psicólogo e também um profissional – neste caso o supervisor de estágio – que lhe instrua. 11 - Estratégias de intervenção dos psicólogos nas organizações: Em cinco (05) casos citados, utilizou-se a via da comunicação como estratégia de intervenção para sinalizar às chefias quanto à ocorrência de mobbing nas organizações, dos quais, uma psicóloga interviu fornecendo referencial teórico para o assediador ler, no entanto, nos outros quatro casos os supervisores comunicados nada fizeram sobre o assunto. As estagiárias de um determinado caso utilizaram como técnica as conversas informais com REID, 2, pp. 59-77 53 Mafra, A. P. y Martins, L. os trabalhadores para fazer o diagnóstico. Verificada a demanda, formaram grupo com os trabalhadores para trabalhar os conflitos e comunicação. Os processos de comunicação e os comportamentos dos grupos afetam diretamente as organizações. Em concordância com os resultados desta pesquisa, em um estudo realizado descobriu-se que a escuta ativa era praticada por apenas 2,3% das vezes pelos administradores. A escuta envolvida, na qual o ouvinte processa o material, mas não fornece feedback ao emissor, era praticada em 23,3% das vezes. Em 34,9% das vezes a escuta era passiva, ou seja, as mensagens eram apenas recebidas. E por fim, a escuta desinteressada, onde o indivíduo encontra-se presente fisicamente apenas enquanto a mensagem era apresentada, mas sem respondê-la (Krumm, 2005). Um dos entrevistados informou que seu estagiário entrou no estágio neste semestre, portanto encontra-se em fase de levantamento de dados, e, através da pesquisa conseguirão fazer um diagnóstico situacional pra planejar a intervenção. Dois entrevistados nada relataram sobre o assunto desta categoria. 12 - Sugestões de prevenção ao mobbing: Dois (02) dos entrevistados concordam que se faz necessário identificar o fenômeno através dos métodos clínico e também quantitativos. Também é preciso, segundo eles, comunicar às chefias a necessidade de conscientização frente ao tema, fazendo um trabalho educativo com as lideranças – Treinamento e Desenvolvimento – utilizando técnicas para grupos, como por exemplo, psicodrama, vivência e dinâmicas. Trabalhando temas que perpassam pelo respeito, ética, limitações, conceito de mobbing e comunicação. Dois entrevistados nada relataram sobre o assunto desta categoria. A prevenção, segundo Hirigoyen (2002), deve iniciar-se por informar e sensibilizar todos os empregados sobre o assédio moral, por meio de um debate público; formar os líderes internos e funcionários do departamento de Recursos Humanos quanto às medidas preventivas; detectar ou administrar os casos já existentes e redigir uma agenda social e distribuir para cada empregado. 13 - Sugestões de reparação frente à ocorrência do mobbing: Três (03) entrevistados afirmam ser necessária uma reestruturação da empresa, que pode ser feito através de remanejamento de chefias, através de um trabalho com a direção conscientizando o que é mobbing, suas características e as perdas econômicas para a empresa, também por meio de criação de grupo para trabalhar a comunicação, conflitos e consequências negativas. Apenas um (01) dos entrevistados menciona sobre a importância da denúncia dos trabalhadores e de métodos preventivos, como por exemplo, não ficar sozinho com o assediador. Um (01) dos entrevistados aponta a necessidade de encaminhar o assediado para acompanhamento fora da organização. Segundo Guimarães & Rimoli (2006, p.188), enviar o funcionário para um acompanhamento fora é uma solução negativa do conflito, quando a empresa encara a vítima como o problema a ser combatido, acaba 54 REID, 2, pp. 45-58 O mobbing nas organizações de trabalho não reparando a origem do problema organizacional. “Desta maneira, a direção da empresa soma-se ao meio que assedia ativa ou passivamente a vítima”. Conforme Trombetta (2005, p. 29), “o ideal ao assediado, é reagir o mais cedo possível, antes que não tenha outra solução, a não ser, sair do emprego”. Em casos de reparação, Hirigoyen (2002) frisa que o trabalhador deve denunciar o agressor, para tanto, deve anotar em um caderno, as situações de assédio, os nomes das testemunhas e data, pois na hipótese de um processo, isso permite ao tribunal estabelecer o conjunto de indícios e faz com que o assediado reflita sobre a realidade e gravidade da agressão. 14 - Preparo e condições dos estagiários para avaliar o mobbing: Na percepção de dois (02) entrevistados, os estagiários não conseguem identificar e avaliar o mobbing. Desses, um afirma que os estagiários chegam ao estágio como se não tivessem obtido conhecimento anterior sobre a atuação do psicólogo em organizações de trabalho, e a outra entrevistada afirma que somente quem aprofundou no tema, fez monografia na área, conseguirá identificar. Quatro (04) entrevistados afirmaram que o tema é levantado em disciplinas do curso de Psicologia na universidade. Dessas, uma acredita ser suficiente para que os estagiários avaliem o mobbing, uma refere que estão tentando fortalecer o tema através das disciplinas e duas apresentaram dúvidas se somente com a discussão atual em sala de aula é suficiente, sendo frisado por uma delas a importância dos supervisores de estágio conversarem com seus estagiários sobre o assunto, independente do foco de trabalho. Um (01) dos participantes da pesquisa analisa o processo em que o estagiário encontra-se, afirma ser um momento de formação da identidade profissional, ao mesmo tempo em que este passa por um processo pessoal de dúvidas se dará conta do estágio, e de ser avaliado academicamente por seus conhecimentos práticos e teóricos. Conforme analisam Aguirre et al. (2000), este momento do curso de Psicologia é possivelmente o primeiro em que o estagiário se defronta com seu papel profissional. Quando seus conhecimentos teóricos não bastam é necessário que ele se encontre com seus conteúdos emocionais convertendo-os em instrumentos de trabalho. 15 - Preparo e condições dos psicólogos para avaliar o mobbing: Dois entrevistados acreditam que os psicólogos formados em gerações anteriores não estão preparados, pois não tiveram conhecimento do tema na grade curricular do curso. No entanto, percebem que a nova geração possui mais informação para avaliar o mobbing. Um (01) entrevistado afirma que o psicólogo é capaz de identificar, pois possui e oferece uma escuta diferenciada. Três entrevistados relatam que o psicólogo não está preparado, desses, um percebe que os psicólogos das empresas em que seus estagiários atuam são reprodutores de mobbing, e duas afirmam que o psicólogo limita-se em recrutamento e seleção, sendo poucos os atuantes em saúde mental do trabalhador. REID, 2, pp. 59-77 55 Mafra, A. P. y Martins, L. Segundo Krumm (2005), em um levantamento realizado evidenciou-se que os psicólogos organizacionais de hoje atuam principalmente em desenvolvimento organizacional, seleção de pessoal, levantamentos sobre atitudes, as avaliações de desempenho e é crescente a preocupação com a vida dos trabalhadores fora do trabalho e de que maneira esse aspecto afeta sua vida no trabalho. Dois (02) entrevistados evidenciam a necessidade de pesquisas na área de Psicologia Organizacional e do Trabalho, para que seja produzido material sobre o tema e publicados em meios científicos. Frente a esta atuação do psicólogo organizacional, um dos entrevistados relatou que o psicólogo não consegue mudar a organização sozinho, deve fazer um trabalho de conscientização da equipe. Entretanto, afirma que os psicólogos organizacionais e do trabalho que não desempenham seu papel, praticam uma violência contra si por não realizarem sua atuação profissional de modo satisfatório, e dessa forma, não conseguirão identificar sinais de violência – por exemplo, o mobbing – dentro da organização. Em concordância com o relato da entrevistada, Guimarães & Rimoli, (2006, p. 189) afirmam que “[...] a abordagem do fenômeno social do mobbing requer um enfoque multidisciplinar, tanto em sua conceituação como na intervenção para sua prevenção e tratamento”. A erradicação do mobbing nas empresas depende de informação, mobilização do grupo dos trabalhadores, intervenção dos dirigentes das empresas e de uma equipe de trabalho contendo diferentes profissionais, como por exemplo, profissionais da saúde, advogados, antropólogos e sociólogos. Considerações finais O principal objetivo desta pesquisa foi de compreender, a partir da percepção de professores universitários supervisores de estágio organizacional, os processos vivenciados por estes, estagiários e psicólogos nas organizações de trabalho diante da presença do mobbing e suas influências na subjetividade e afetividade do trabalhador. De acordo com as entrevistas pode-se perceber que as situações de mobbing provocam um desequilíbrio nas relações interpessoais, em que os envolvidos experimentam o medo, a angústia, ansiedade, mal-estar e muitos outros afetos capazes de paralisar trabalhadores, estagiários, psicólogos e a organizações como um todo, caracterizando um prejuízo, tanto para os sujeitos trabalhadores, como para a organização. Percebeu-se que o mobbing influencia diretamente na subjetividade e afetividade do trabalhador, prejudicando visivelmente suas relações sociais, e enquanto trabalhadores respondem geralmente através de formação de sintomas psicossomáticos, faltas ao trabalho, queda na produtividade e quebra de equipamentos. 56 REID, 2, pp. 45-58 O mobbing nas organizações de trabalho As manifestações dos professores universitários indicam que as organizações de trabalho não se implicam no processo de prevenção ou reparação do mobbing. Ainda que, nos casos relatados pelos sujeitos pesquisados, foi utilizada a via da comunicação com as chefias para intervir frente ao mobbing, em todos os casos não houve mobilização por parte das empresas. Este resultado permite-nos concluir que os argumentos levantados às chefias não foram suficientes para sensibilizá-las a uma mudança na cultura e clima organizacional. Sendo assim, ao verificar que as empresas ainda não se conscientizaram que o sofrimento no trabalho produz prejuízos financeiros consideráveis, parece ser este um bom argumento a ser levantado aos dirigentes organizacionais. Foi relatado por grande parte dos entrevistados que a maioria dos psicólogos atua apenas em Recrutamento e Seleção, sendo poucos os que desenvolvem atividades que se referem à saúde mental do trabalhador. No entanto, preocupa-nos essa desvinculação que se faz ao separar Recrutamento e Seleção de Saúde Mental. Pois, o perfil do profissional da Psicologia refere-se a um indivíduo qualificado que deve ser capaz de diagnosticar, planejar e desenvolver ações preventivas e interventivas em seu campo de atuação, dedicado à promoção da qualidade de vida dos indivíduos, grupos, organizações e comunidades. Referências Aguirre, A. M. B., Herzberg, E., Pinto, E. B., Becker, E., Carmo, H. M. S., Santiago, M. D. (2000). A formação da atitude clínica no estagiário de psicologia. 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Resumen: El objetivo es estudiar los límites de la explicación interna que realizan los estudiantes de carreras universitarias de educación de la Universidad de Cuyo (Argentina) en una muestra de 287 sujetos a partir del análisis de Escalamiento Multidimensional (Programa SPSS versión 15). La perspectiva adoptada es cognitivo-afectiva y motivacional (procesos psicológicos que intervienen en la conducta de futuros docentes). Se sustenta en la necesidad de reflexionar sobre la dicotomía establecida: interno/externo entre la explicación a partir del concepto de ¨locus de control¨ Rotter (1966) y la explicación a partir de la “atribución causal”, planteada por Heider (1958). Independientemente de las controversias que ponen en duda esta dicotomía, el trabajo responde a lo planteado por Dubois (1994) en relación a que la norma de internalidad es pertinente mantenerla en el estudio de la valorización social como: una norma de comportamiento (comportamiento-conducta) y otra de juicio o fortalecimiento (juicios, actitudes, creencias). Palabras claves: estudiantes de formación docente- norma de internalidad-educación. LIMITES DA EXPLICAÇÃO INTERNA (NORMA DE INTERNALIDAD). ANÁLISE DE ESCALAMENTO MULTIDIMENSIONAL. Resumo O objetivo é estudar os limites da explicação interna que realizam os estudantes de carreiras universitárias de educação da Universidade de Cuyo (Argentina) numa mostra de 287 sujeitos a partir da análise de Escalamento Multidimensional (Programa SPSS versão 15). A perspectiva adotada é cognitivo-afetiva e motivacional (processos psicológicos que intervêm na conduta de futuros docentes). Sustenta-se na necessidade de reflexionar sobre a dicotomia estabelecida: interno/externo entre a explicação a partir do conceito de ¨locus de controle¨ Rotter (1966) e a explicação a partir da atribuição “causal”, proposta por Heider (1958). Independentemente das controvérsias que põem em dúvida esta dicotomia, o trabalho responde ao proposto por Dubois (1994) em relação a que a norma de internalidad é REVISTA ELECTRÓNICA DE INVESTIGACIÓN Y DOCENCIA (REID), 2, JUNIO 2009, PP. 59-77 ISSN: 1989-2446 Porcar, M. L. y Escalante, E. pertinente mantê-la no estudo da valorização social como: uma norma de comportamento (comportamento-conduta) e outra de juízo ou fortalecimento (juízos, atitudes, crenças). Palavras finques: estudantes de formação docente- norma de internalidad-educação. LIMITS TO HE INTERNAL EXPLANATION (NORM OF INTERNALITY). MULTIDIMENSIONAL SCALING. Abstract Specifically, the goal is to study what are the limits of carrying out internal explanation of students of education of the University of Cuyo (Argentina) in a sample of 287 subjects applying the analysis of Multidimensional Scaling (SPSS Programme version 15). The prospect is that adopting cognitive and affective-motivational (psychological processes involved in the conduct of future teachers). It is underpinned by the need to reflect on the dichotomy established: internal / external between the explanation from the concept of “locus of control” Rotter (1966) and the explanation from the “causal attribution”, raised by Heider (1958) . Regardless of the current stance that casts doubt on this dichotomy is based on work to consider, as Dubois (1994), that the rule of internality is a social norm that establishes two forms of interpretation: a norm of behavior and a norm of judgement (attitudes, beliefs). Key words: students of educational formation(training) – norm of internalidad – education. I- Introducción La emergencia del modelo de competencias en diferentes tipos de organizaciones, incluidas las universidades, ha instalado la necesidad de reflexión de una dicotomía establecida hace bastante tiempo, en relación a los dominios explicativos de los éxitos y/o los fracasos. Han existido dos dominios explicativos: - la explicación a partir del concepto de “locus de control” , desarrollado principalmente por Rotter (1966), que alude a las sanciones recibidas (positiva o negativa), y - la explicación a partir de la “atribución causal”, que explica los comportamientos que se adoptan (explicación interna - el comportamiento- o explicación externa- las circunstancias-), desarrollada especialmente por Heider (1958). Los estudios actuales indican que se ha sobre-estimado el papel del sujeto al tratar de encontrar fundamentalmente explicaciones a los propios éxitos/fracasos. Esta 60 REID, 2, pp. 59-77 Límites de la explicación interna (norma de internalidad). Análisis de Escalamiento Multidimensional. situación actualmente es interpretada como un error. No obstante, ha sido este error, el que ha conducido a una valorización de las explicaciones internas; si esto es cierto, generaría que los individuos que tienen explicaciones internas se beneficiarían de la dinámica del contexto educativo y profesional. Compartimos la idea de Dubois (1994) acerca de que la preferencia por la “internalidad” es característica de las sociedades liberales, que acentúan las evaluaciones en términos individuales y que de algún modo se ha tendido a generar una “psicologización” que establece conexiones causales entre características psicológicas y conductas sociales. En nuestro caso las dificultades en el aprendizaje, se explicarían a partir de diferencias entre grupos o individuos que serían el resultado de rasgos o variables psicológicas exclusivamente. Se ha fundamentado que se debería prestar atención a las características interindividuales, al funcionamiento ideológico e institucional, y a la jerarquización del sistema de valores. Independientemente de si es o no un error, es importante investigar las características que tomaría la “norma de internalidad” en estudiantes universitarios en el área de la Educación en orden a indagar qué está ocurriendo con las percepciones y representaciones de los sujetos al enfrentar reactivos asociados a la “norma de internalidad”. II- Encuadre Teórico Norma social: Una aproximación interpretativa Los ¨valores sociales¨ se fundan en las motivaciones humanas: una deseabilidad. Las ¨normas¨ se fundan en prescripciones por las cuales un funcionamiento social particular indica las buenas maneras de pensar y comportarse, se trata de una utilidad. Es por ello, que por ejemplo, debe aclararse en las instituciones cuestiones como la siguiente: ¿Deseabilidad y Prescripción en el Proyecto Educativo Institucional? Y si se desea ¿Cuáles son los aspectos del Proyecto Educativo Institucional que apuntan a la Deseabilidad y Prescripción? Las normas sociales se refieren a: • los comportamientos, las conductas (Normas de comportamiento). • los juicios, las actitudes, las opiniones, las creencias (Normas de juicio). La función de una norma es diferenciar los sucesos en función de su deseabilidad desde el punto de vista del grupo que genera la norma. Una norma va a decir implícitamente lo que conviene hacer y lo que no conviene hacer. Es de naturaleza prescriptiva y supone obediencia a reglas. La norma se instaura en el grupo o medio social independientemente de todo criterio de verdad (Dubois, 1994). Hace que determinado comportamiento, que determinada opinión, sea más valorizada que otra. Es socialmente respaldable, deseable y sostenible. Una norma funciona siempre por la interiorización de los valores y siempre emanan de un grupo social o de una sociedad. Es la expresión de una colectividad (consenso de grupo) y tiene por objeto el aprendizaje social, la transmisión social, y en cuanto tal supone prácticas educativas fundadas en la utilidad social y en el criterio de aceptabilidad social. Diversas investigaciones muestran que los sujetos con REID, 2, pp. 59-77 61 Porcar, M. L. y Escalante, E. explicaciones internas son preferidos a los sujetos con explicaciones externas en las decisiones de reclutamiento (elección) y ello independientemente de la competencia técnica que tengan. Estos trabajos investigativos muestran que la internalidad puede ser concebida como un saber ser, importante a exhibir en las situaciones de evaluación. La norma es deseable aunque no se rija por un criterio de verdad como ya se dijo. Es el caso de la norma de internalidad que es valorizada, deseada ampliamente en nuestra cultura, pero no necesariamente en otras culturas. Esto sería la razón por la cual la explicación interna en nuestras culturas no es más verdadera que la explicación externa (el hecho de atribuir a causas exteriores la causa de los sucesos). Son ejemplos de causas internas: las capacidades, el esfuerzo, las actitudes, la motivación. Son ejemplos de causas externas: el azar, los otros, las circunstancias, el destino. Si una persona dice “yo tengo un empleo gracias a mi personalidad”, ella alude a una explicación fundada en atribuciones causales internas. Si esta persona hubiera dicho “yo obtuve un empleo debido a que tuve suerte¨, entonces la persona aludiría a la explicación desde la causalidad externa. Esto plantea una heterogeneidad de criterios de valorización de las conductas que dependería de las culturas traduciéndose por lo tanto la arbitrariedad de estos criterios. Al respecto dice Gangloff (2003), que no es conveniente este planteo ya que decir que los criterios por los cuales se distribuyen a los estudiantes, a los profesionales, a los individuos de distintos estratos sociales son arbitrarios, lleva a cuestionar a la misma distribución social. Norma de internalidad Adoptaremos el concepto de norma de internalidad elaborado por Nicole Dubois, del cual explicita que es “la intervención de un criterio normativo en las explicaciones de sucesos psicológicos, criterio susceptible de favorecer la explicaciones que acentúan el papel causal del actor” (es decir, las explicaciones reagrupadas en la categoría de explicaciones internas, en detrimento de las explicaciones que minimizan el papel del sujeto –explicaciones externas). La norma de internalidad, que puede ponerse en paralelo con el individualismo, se activa por intermedio de las diferentes instancias de socialización, como la escuela o la universidad. Hoy se escucha un discurso sobre la persona en términos de rasgos de personalidad diferenciados más que referirse a comportamientos efectivos. A este proceso se le denomina “psicologización”, lo cual ocurre en un contexto en el que se concibe en términos de naturaleza psicológica lo que de hecho es una arbitrariedad social (naturalización). La tabla 1, sintetiza de algún modo lo que se viene argumentando. Apropiación Integra sus saberes al dominio de sus competencias Característico personales Rasgo 62 Internalización Se conforma con los valores socialmente útiles al funcionamiento social REID, 2, pp. 59-77 Límites de la explicación interna (norma de internalidad). Análisis de Escalamiento Multidimensional. Evaluación Mejor conocimiento descriptivo de si mismo Adecuación de la normativa de si mismo a los valores Tabla 1: cuadro de doble entrada (comportamiento/personalidad) La Internalidad es normativa según Beauvois (1984) definiéndola como la “valorización social de las explicaciones de los sucesos que acentúa el peso del actor como factor causal”. Una norma es la expresión de una colectividad dada y representa los aspectos convencionales del grupo social. Es objeto de aprendizaje social y su transmisión social descansa siempre sobre una atribución de valor (bueno/malo, deseable/no deseable). Es independiente de un criterio de verdad, se refiere a una utilidad social (Dubois, 1994). Para esta autora, la norma de internalidad muestra la intervención de un criterio normativo en las explicaciones de los eventos psicológicos, criterio susceptible de favorecer la producción de explicaciones que acentúan la postura causal del actor (explicaciones agrupadas en la categoría de explicaciones internas) en detrimento de las explicaciones que minimizan la postura causal del actor (explicaciones externas). La norma de internalidad es el objeto de tres campos de estudio distintos: - la atribución causal que busca establecer cómo los individuos atribuyen la causa de una situación en la que se encuentran a factores internos o externos, - el lugar de control de los reforzamientos (Locus de control LOC) que busca establecer si son positivos o negativos (origen interno o externo), y - la norma de internalidad donde el estudio intenta explicar el por qué las personas tienden a valorar las explicaciones internas más que las externas. Por otro lado, las normas descansan en dos tipos de valores sociales: uno en relación con las motivaciones humanas, esto es, la deseabilidad; el otro se relaciona con las prescripciones del funcionamiento social, esto es, la utilidad. En síntesis: • Norma de internalidad: explicación fundada en atribuciones causales de un comportamiento a una causa interna versus una causa externa. • Norma de auto-suficiencia: poner el acento, en la explicación sobre la capacidad de encontrar en sí mismo la posibilidad de satisfacer sus necesidades. Es innegable, que en las culturas educativas que se han promovido en estos últimos tiempos, los docentes apelen a explicaciones fundadas en atribuciones internas disposicionales (son normativas) y a las atribuciones externas situacionales (son contranormativas). Entonces, vale la pregunta ¿Quiénes tienen más éxito académico en estas instituciones: los más internos y más auto-suficientes? (los más normativos) o ¿los más externos y hetero-suficientes? (menos deseables y menos útiles)? Independientemente de lo que esté ocurriendo lo peligroso sería el prejuicio de la auto-complacencia: tendencia a auto-atribuirse el éxito a si mismo, independientemente de los factores exteriores. REID, 2, pp. 59-77 63 Porcar, M. L. y Escalante, E. Determinantes de la motivación: enfoque tradicional. Tradicionalmente se presentan las siguientes características para estos grupos: - Internos (propios del sujeto) – motivación auto regulada. - Externos – motivación regulada por el ambiente (dinero, reconocimiento social). En la tabla 2, podemos observar las subcategorías de atribuciones que completan o tratan de romper la dicotomía que plantean: ESTABLE Interna Externa INESTABLE Controlable Esfuerzo prolongado, propio Esfuerzo puntual propio Incontrolable Habilidad, propias capacidades Estado de ánimo Controlable Esfuerzo prolongado de otros Esfuerzo puntual de otros Incontrolable Dificultad de la tarea Suerte Tabla 2: Modelo bidireccional de atribuciones (subcategorías) Algunas consideraciones pedagógicas Venimos de presentar subcategorías (cuatro factores atribucionales en función de dos escalas: atribución interna/externa y atribución estable/inestable) que están relacionadas con la motivación de los sujetos. Sin duda son elementos interesantes de analizar para correlacionar con los rendimientos académicos de universitarios que serán los futuros docentes de las nuevas generaciones. En nuestro contexto interesa conocer las atribuciones o las explicaciones que las personas se dan a sí mismas de sus éxitos o fracasos profesionales. Cuando las personas obtienen resultados inesperados o contrarios a sus expectativas tienden a buscar razones, explicaciones causales sobre los mismos y estas explicaciones influyen en la motivación, en la medida en que predisponen las actuaciones futuras en los mismos escenarios. Además, diferencian distintas dimensiones para sistematizar y organizar cualquier atribución posible. Así, por ejemplo, la dimensión de internalidad se refiere al lugar de procedencia de la causa explicativa: las causas internas, que se sitúan en el sujeto, se refieren a la habilidad, el esfuerzo, la fatiga, y las externas, que se sitúan fuera del sujeto, se refieren a la suerte, al profesor. Otra particularidad reside en que las propiedades identificadas en las atribuciones pueden ser percibidas como variables estables o variables inestables; controlables o no controlables (incontrolables). Cada una de ellas tienen repercusiones diferentes sobre la conducta de los sujetos. La internalidad o externalidad de las atribuciones influye en las respuestas emocionales de los sujetos ante el éxito o el fracaso: - 64 la mayor o menor estabilidad (atribuciones estables) influye sobre las expectativas y, a través de ellas, en el sentimiento de esperanza o desesperanza, y REID, 2, pp. 59-77 Límites de la explicación interna (norma de internalidad). Análisis de Escalamiento Multidimensional. - la controlabilidad (atribuciones internas o externas controlables) influye en las emociones (vergüenza, culpa, cólera, gratitud). Tanto las emociones como las expectativas influyen en el mayor o menor esfuerzo que ponen las personas para lograr sus objetivos. Según los estudios de Peterson and Seligman (1987), el patrón de atribuciones más perjudicial es la ¨indefensión aprendida¨. En este caso, los éxitos se atribuyen a causas externas, variables y no controlables. Según algunos estudios, este patrón aparece a partir de los 11 ó 12 años y suele corresponder a estudiantes lamentablemente habituados al fracaso escolar (Alonso et al. , 2004). El estilo atributivo más recurrente en casi todos los niveles académicos es el de la atribución del éxito al esfuerzo, que es uno de los modos más adaptativos y que mejor facilitan el querer aprender, lógicamente esta tendencia es mayor conforme aumentan los resultado académicos. En síntesis, la norma de internalidad permite distinguir a las personas por su tendencia a explicar o atribuir a factores internos las causas de sus éxitos y fracasos”, o de “externalidad”, o propensión a entender que el “lugar del control” de los factores que determinan los efectos de la conducta es externo al individuo, por lo que éste atribuye a variables y circunstancias del entorno la “responsabilidad” de su propia eficacia. En este marco social desde donde se estudia a la “norma de internalidad”, es necesario mencionar que el síndrome de la ¨cultura individualista¨ de nuestra ¨cultura occidental¨ impacta en cada uno de los sujetos que la conforman haciendo que sobresalgan algunas características específicas como se resume a continuación: • El individualismo en el sentido estricto, restringido. Valores individuales por sobre valores sociales (objetivos individuales por sobre objetivos sociales. • La autonomía y la suficiencia. Preferencia por la capacidad de encontrar por sí mismo las respuestas a las cuestiones que se presentan y las posibilidades de satisfacción de las necesidades. • La internalidad. Tendencia a acentuar el peso del actor en las explicaciones causales en relación a lo que se hace y a lo que se llega. • La independencia emocional. Tendencia a considerar la vida interior (las emociones, afectos, sentimientos), sin considerar que en sí mismo ni los otros la consideran. • Anclaje individual. Tendencia a ver su realidad psicológica sin referencia a categorías grupales. Hipótesis de trabajo Las preguntas que surgieron en relación con la conexión entre Norma de Internalidad y Educación fueron las siguientes: • ¿En la Institución, las explicaciones internas son socialmente más deseables que las explicaciones externas? • ¿En la Institución, las explicaciones internas son frecuentemente elegidas por las autoridades/profesores universitarios más que por los estudiantes? REID, 2, pp. 59-77 65 Porcar, M. L. y Escalante, E. • La elección de las respuestas internas aumenta con la edad, cognitivamente se hacen más complejas. ¿Es así en la Institución? • Los dispositivos psico-socio-educativos se caracterizan por una evolución hacia elecciones más internas.¿Depende esto de algún cambio educativo que ya va impactando en la escuela actual? De este planteo resultaron las siguientes hipótesis: • Las personas internas serían preferidas a la personas externas. • Las instituciones de inserción profesional desarrollan un grado de internalidad en su personal. • Esto se daría mayormente en las posiciones jerárquicas elevadas (catedráticos) y afectarían a los que tienen un rol sub-alterno (jefes de trabajos prácticos por ejemplo). • La norma de internalidad estaría implícita y no declarada, además formaría parte de los procesos evaluativos. En este contexto de argumentación se pudo establecer una hipótesis específica: Se da mayor peso a CAUSAS INTERNAS especialmente psicológicas en los actores, lo que ha generado NORMA DE INTERNALIDAD. En un contexto de esta índole puede ocurrir: - que se esté naturalizando el orden vigente o establecido. - se permita legitimar, invocando las cualidades personales, el “mérito”, a la posición de cada uno en la jerarquía social, no distinguiéndose la arbitrariedad social. No es sólo que los internos sean más sistemáticamente apreciados que los externos, sino que lo que puede estar ocurriendo es que sean valorizados, cuando sus explicaciones internas no resultan en una internalidad rebelde, que pueda significar un deseo de transformar el ambiente social o educativo. Esto trataría de una mayor aceptabilidad social de las personas internas pasivas. Es en este contexto de atribuciones internas, que se ha llegado a hablar de norma de alineación y no de norma de internalidad. III . Metodología Norma de internalidad: proceso investigativo 17 La aprobación social de una conducta y el menosprecio de la conducta opuesta constituyen características típicas de las normas sociales (Mayoral et al. 2007). Nuestro objetivo es explorar qué está ocurriendo con la norma de internalidad en estudiantes de carreras universitarias de educación. El proceso investigativo que se ha realizado, nos ha permitido identificar algunos cluster o conglomerados con estudiantes que al realizar atribuciones lo hacen centrados en explicaciones con razones internas estables o inestables y/o razones externas estables o inestables. La orientación es hacia el concepto de Heider 17 Los datos de este artículo forman parte de la tesis doctoral en preparación de M.L.Porcar Gómez. 66 REID, 2, pp. 59-77 Límites de la explicación interna (norma de internalidad). Análisis de Escalamiento Multidimensional. (atribuciones causales); en cuanto la preocupación es sobre la manera cómo los estudiantes atribuyen la causa de su éxito. Podemos postular un modelo bidireccional que define cuatro factores atribucionales en función de dos escalas: atribución interna/externa y atribución estable/inestable. Este modelo nos permite situar las percepciones o actitudes de los estudiantes frente a los aprendizajes a partir del control que ellos piensan pueden tener sobre los resultados de la tarea y las características durable u ocasional de este control. La capacidad podrá ser: - una atribución interna estable/ una atribución externa estable o - una atribución interna inestable/una atribución externa inestable. El cuestionario que se usó fue sometido previamente a una prueba piloto presentado en la Defensa de Estudios Avanzados (Porcar, 2007). Esto permitió establecer su confiabilidad y validez. Se incluye a continuación en tabla 3. Se exploran dos dimensiones: interno/externo; estable/inestable. Esto significa que existen cuatro cuadrantes para ser examinados: interno (estable), interno (inestable), externo (estable), externo (inestable). Por consiguiente, hablaremos de cuatro factores. ÍTEMS FACTOR DECLARACIÓN 1 F1 Cuando en su trabajo la gente obtiene lo que quiere, es habitualmente porque hace todo por alcanzarlo. 2 F1 Si la gente tiene buenos resultados en su trabajo, ello se debe a su capacidad y competencias. 3 F2 Por poco que valga la pena, el ciudadano medio puede tener influencia sobre las decisiones políticas. 4 F4 El éxito que la gente encuentra en su vida amorosa está ligado a su personalidad. 5 F2 Hay días particulares en la vida en los que en todo no se puede más que triunfar. 6 F1 Es inútil prever para un largo plazo, porque las cosas acontecen raramente como uno lo quiere. 7 F3 Es el azar lo que hace que uno tenga muchos amigos. 8 F1 El éxito profesional está directamente ligado a las capacidades de los individuos. 9 F4 Se debe estar siempre dispuesto(a) para aceptar los propios errores. 10 F3 Se debe estar siempre listo para aceptar los propios errores. REID, 2, pp. 59-77 67 Porcar, M. L. y Escalante, E. 11 F1 La mayoría de las infelicidades provienen de la incompetencia, de la ignorancia, de la pereza o de las tres. 12 F3 Hay siempre en la vida gente suficientemente poderosa para empujar a otros a triunfar en lo que emprenden. 13 F4 La mayor parte de la gente que ha triunfado progresando en su carrera debería agradecerlo al azar. 14 F4 Las experiencias cotidianas que uno ha hecho determinan lo que uno es. 15 F2 Numerosos fracasos en las entrevistas de selección se explican por una incompatibilidad de carácter entre el demandante de empleo y la persona encargada del reclutamiento. Tabla 3: cuestionario Norma de internalidad. Población y muestra La población estudiada fueron los estudiantes de la Facultad de Educación Elemental y Especial- UNCuyo-Mendoza, Argentina, durante el cursado 2007. La muestra final fue de 287 estudiantes de carreras de profesorado y de ciclos de licenciaturas. Método y técnica A efectos del procesamiento de los datos se seleccionó la técnica estadística multivariada denominada escalamiento multidimensional. Con el nombre de escalamiento multidimensional se conoce un conjunto de técnicas que persiguen como objetivo la representación de datos a través de la construcción de una configuración de puntos cuando se conoce una determinada información sobre proximidades entre objetos. Se siguió además a Cuadras (1991), Dillon et al (1984) y Escalante Gómez (2006) para desarrollar el análisis multivariante. En el análisis exploratorio de datos las técnicas de Escalamiento Multidimensional tienen gran aplicación. Múltiples son los campos donde estas técnicas contribuyen al esclarecimiento del fenómeno bajo estudio. En particular, en las investigaciones educacionales pueden ser de gran utilidad para los investigadores ya que a través de ellas se descubren relaciones complejas difíciles de observar. En las técnicas de escalamiento multidimensional, el primer requisito trata con los conceptos de objeto-estímulo y de similaridad-disimilaridad-distancia y el segundo requisito se refiere al procedimiento para alcanzar una configuración de puntos que refleje las similaridades observadas o percibidas. Los términos objeto y estímulo se usan de manera intercambiable. Realmente un objeto es simplemente una cosa, un individuo o un evento, mientras que estímulo se refiere al objeto percibido, o sea, a la percepción del objeto. Análisis de los datos 68 REID, 2, pp. 59-77 Límites de la explicación interna (norma de internalidad). Análisis de Escalamiento Multidimensional. Se aplicó a los sujetos de la muestra el cuestionario de Internalidad – Externalidad. Para el análisis de los ítems, se empleó un Análisis de Escalamiento Multidimensional a través del programa de análisis estadístico SPSS, v. 15.0. Se seleccionó el procedimiento ALSCAL del citado programa estadístico. Según Vivanco, el escalamiento multidimensional permite contrastar hipótesis y describir la estructura de una matriz de datos. Tiene fines confirmatorios. En general, no se trata de medir una propiedad única en los objetos, sino clasificar objetos considerando dos o más propiedades de éstos. En lo fundamental, se trata de reproducir en un mapa perceptual los juicios emitidos respecto de un conjunto de objetos bajo ciertos parámetros. Habitualmente los parámetros de enjuiciamiento no son explícitos. Por esta razón se trata en este caso de un análisis no métrico, compatible con el tipo de datos obtenido de nivel nominal y ordinal (Vivanco, 1999). Para generar una solución, según la metodología del escalamiento multidimensional, es preciso considerar dos materias complejas y que están relacionadas entre sí. A saber, la reducción de dimensiones que permitan explicar los resultados en un porcentaje significativo de certeza y la generación de un gráfico de coordenadas. Conceptualmente las dimensiones de análisis sólo pueden ser representadas gráficamente de dos formas a saber: un plano (dos dimensiones), o un volumen (tres dimensiones). Mayor número de dimensiones son sólo conceptuales. En este artículo el modelo del sistema se deducirá desde un análisis bidimensional. En la práctica, generalmente la dimensionalidad se determina según criterios estadísticos que permiten medir la bondad del ajuste de los datos. En este caso se utilizará el programa SPSS, en el módulo ALSCAL acrónimo de MultidimencionAL SCALing. En este software el ajuste de los datos se evalúa calculando el coeficiente “sstress”. Estos coeficientes pueden asumir valores entre cero y uno. El cero indica ajuste perfecto y valores superiores a 0,2 se asocian a malos ajustes. El coeficiente de “s-stress” se interpreta como indicador de la calidad con que la configuración reproduce la información original. ALSCAL, implementado en SPSS, utiliza este coeficiente en los algoritmos de evaluación del modelo (Meulman & Heiser, 2003). En cuanto a la Correlación Múltiple Cuadrática (RSQ) puede interpretarse como la proporción de varianza común de las disparidades –datos escalados óptimamenteexplicada por las dos dimensiones. La RSQ es un indicador de bondad de ajuste, mejor cuanto más se acerque su valor a 1. Resultados Obtenidos desde el Escalamiento Multidimensional La metodología de escalamiento multidimensional permitió resumir la información de los datos. La tabla 4 presenta las dimensiones generadas y las medidas de ajuste y “s-stress” que permiten valorar la efectividad del procedimiento al aplicarlo a los datos recopilados. En el análisis se consideraron los 15 ítems que conformaron el cuestionario. Las pruebas de ajuste y “s-stress” resultaron satisfactorias, evidenciando la propiedad de los resultados. Se obtuvo una configuración de dos dimensiones con los siguientes valores: RSQ = .94267 y “s-stress” = .11139 . En cuanto a la RSQ (correlación múltiple cuadrática) explicada por las dos dimensiones, se acerca al 94,267%. Su bondad de ajuste es muy bueno ya que es muy próximo a 1. REID, 2, pp. 59-77 69 Porcar, M. L. y Escalante, E. El algoritmo obtenido ha convergido en 5 iteraciones, deteniéndose cuando la mejoría (improvement) en el “s-stress” de Young no ha sido suficientemente importante (<0,001, valor por defecto del programa informático). A continuación se presentan los resultados: Iteration history for the 2 dimensional solution (in squared distances) Young’s S-stress formula 1 is used. Iteration S-stress Improvement 1 ,11995 2 ,10503 ,01492 3 ,10068 ,00434 4 ,09888 ,00181 5 ,09802 ,00085 Iterations stopped because S-stress improvement is less than ,001000 Stress and squared correlation (RSQ) in distances RSQ values are the proportion of variance of the scaled data (disparities) in the partition (row, matrix, or entire data) which is accounted for by their corresponding distances. Stress values are Kruskal’s stress formula 1. DIMENSIONES Número del Estímulo Nombre del Estímulo 1 2 1 It1 1,0699 - 1,0009 2 It2 1,4657 -,8892 3 It3 -,0990 1,4709 4 It4 ,7419 ,2841 5 It5 -1,3355 -,1860 6 It6 -,4596 1,1493 7 It7 -2,3556 -,6187 8 It8 1,1194 -,0654 9 It9 1,3392 ,0856 10 It10 1,0621 ,2257 11 It11 -1,2153 -,1388 70 REID, 2, pp. 59-77 Límites de la explicación interna (norma de internalidad). Análisis de Escalamiento Multidimensional. 12 It12 ,1846 -,9735 13 It13 -2,1234 -,2300 14 It14 ,9582 , 2030 15 It15 -,3527 ,6839 Tabla 4:Stress values- Dimensiones En seguida se recurrió a un procedimiento subjetivo de inspección visual de las coordenadas de los estímulos y su configuración derivada (mapping, gráfico 1), en el que hemos tratado de interpretar las dimensiones. La orientación real de los ejes, en el escalamiento multidimensional, es arbitraria. Así, si se desea se podría rotar la configuración para alcanzar una solución más fácil de interpretar. IT_1_Dedicación IT_12_Apoyo IT_2_Comptencia IT_7_Azar_Amistad IT_5_Límite IT_13_Azar_Progreso IT_8_Capacidad IT_9_Disposición IT_14_Determinacion IT_10_Preparación IT_11_Incompetencia IT_4_Personalida IT_15_Incompatble IT_6_Voluntad IT_3_Valía Euclidean distance model Derived Stimulus Configuration 1,5 Dimension 2 1,0 0,5 0,0 -0,5 -1,0 -1,5 -3 -2 -1 0 1 2 Dimension 1 Gráfico 1: mapa perceptual de dos dimensiones. El gráfico 1, comprende dos Dimensiones. La dimensión D1 se denominará CONTROLABILIDAD. Presenta una bipolaridad en las explicaciones de las atribuciones causales: incontrolable- controlable. Se leerá de izquierda a derecha la ubicación de las nubes. D1 representa a la abscisa. Se pueden observar por lo tanto dos conglomerados en los cuadrantes II y III y otros dos conglomerados en los cuadrantes I y IV. La dimensión D2 se denominará ESTABILIDAD. Presenta una bipolaridad en las explicaciones de las atribuciones causales: estable inestable. En el cuadrante II y cuadrante III se ubican dos nubes; ambas con explicaciones de las atribuciones causales incontrolables: una ubicada netamente en el cuadrante III (azar, amistad, progreso, incompetencia, límite) y la otra muy cercana a la ordenada D2 REID, 2, pp. 59-77 71 Porcar, M. L. y Escalante, E. con menos elementos y respondiendo a las explicaciones de las atribuciones causales como las siguientes: incompatible, voluntad, valía. Del lado derecho, es decir del lado de la abscisa positiva se encuentran dos cuadrantes: I y IV. Ambos con explicaciones de las atribuciones causales controlables: - una ubicada en el cuadrante IV, muy centrada en la región como se puede apreciar y que responde a ítems con atribuciones como apoyo, dedicación y competencia y - la otra en el cuadrante I que responde a la altura de la abscisa 0 con explicaciones de las atribuciones causales como determinación, personalidad, preparación, disposición. De los dos conglomerados (ubicados en el cuadrante I y IV), se observa mayor densidad en las nubes ubicadas a la derecha que están sobre las abscisas positivas, o sea en el cuadrante I. La Dimensión 2 (D2) corresponde a la ordenada D2. La ESTABILIDAD tomará dos tipos de explicaciones de las atribuciones causales: estable para la ordenada positiva e inestable para la ordenada negativa. Por lo tanto: - El cuadrante III estará demarcado por la abscisa D1 negativa y D2 ordenada negativa. - El cuadrante IV estará demarcado por la abscisa D1 positiva y D2 ordenada negativa. Los cuadrantes III y IV corresponden (ordenada negativa) explicaciones de las atribuciones causales estables. Las explicaciones de las atribuciones causales que corresponden a este conglomerado son para el cuadrante III azar-amistad, azar-progreso, incompetencia, límite. Las explicaciones de las atribuciones causales que corresponden al cuadrante IV son apoyo, dedicación, competencia. Los dos conglomerados corresponden a las explicaciones fundadas en atribuciones causales estables. - El cuadrante II estará demarcado por la abscisa D1 negativa y la ordenada D2 positiva. - El cuadrante I estará demarcado por la abscisa D1 positiva y D2 ordenada también positiva. Los cuadrantes II y I corresponden, (ordenada positiva), a las explicaciones de las atribuciones causales inestables. En el cuadrante II se encuentran las explicaciones de las atribuciones causales respondiendo a los ítems: incompatible, voluntad, valía. En el cuadrante I se encuentran las explicaciones de las atribuciones causales que responden a los ítems personalidad, determinación, preparación, disposición, capacidad. Al combinar los cuatro cuadrantes con la bipolaridad de la estabilidad y la controlabilidad quedan demarcadas cuatro regiones con las siguientes características: 72 REID, 2, pp. 59-77 Límites de la explicación interna (norma de internalidad). Análisis de Escalamiento Multidimensional. - Nube del cuadrante I: controlables- estables- Corresponde a sujetos en donde predomina la norma de internalidad asociada a logro y adaptación. - Nube del cuadrante II: incontrolables- estables-Corresponde a sujetos en donde predomina la norma de internalidad asociada a capacidades personales. - Nube del cuadrante III: incontrolables- inestables. En este cuadrante podemos observar un predominio de la externalidad asociada a lo fortuito. - Nube del cuadrante IV: controlables- inestables- predominio de la norma de internalidad asociada al logro A este gráfico le hemos aplicado las dimensiones causales que utiliza Weiner (1986) tomando sólo dos de las tres dimensiones. Se dejó de lado internalidad/externalidad como dimensión debido a que ya se había considerado en otros estudios. Conclusión parcial Se concluye que la tendencia es a tener cuatro conglomerados homogéneos que seguiremos analizando a partir del Diagrama de Shepard. Observemos ahora el gráfico 2 correspondiente al diagrama de Shepard. Este gráfico revela que el valor obtenido en nuestro caso denota el buen ajuste conseguido; consideración ésta que podemos verla gráficamente refrendada al examinar la nube de puntos que se mantiene más o menos asimilable a la recta. Euclidean distance model Transformation Scatterplot 4 Disparities 3 2 1 0 7,5 10,0 12,5 15,0 17,5 Observations Gráfico 2: Diagrama de Shepard Al examinar las dos dimensiones del mapa perceptual podemos señalar que en: La dimensión 1, valores superiores a 0: logro por esfuerzo (It1:1,0699), buenos resultados por capacidad (It2: 1,4657), éxitos por capacidad (It8: 1,1194), aceptación de errores (It9: 1,3392), disposición frente a errores (It10: 1,0621), experiencias determinan (It14: 0,9582), el éxito afectivo está ligado a la personalidad (It4: 0,7419). Estas categorías están muy cerca de otros, podemos hablar de agrupamiento. El resto de los ítems con valores más cercano a 0. En REID, 2, pp. 59-77 73 Porcar, M. L. y Escalante, E. esta misma dimensión, y también relativamente agrupadas, existen categorías con una localización en el plano horizontal a la izquierda del punto “0”. Amistad por azar (It7: -2,3556), progreso por azar (It13: -2,1234), no siempre se tiene éxito (IT5: -1,3355), El resto de los valores están bastante cercanos a 0. Esta dimensión opone determinación personal frente al azar. En la dimensión 2, parte superior: cualquiera sea la posición se puede influir en las cosas importantes (It3: 1,4709), es difícil controlar el acontecer (IT6:1,1493), incompatibilidad entre capacidades personales y requerimientos; (It15: 0,6839). En la parte inferior el logro depende del esfuerzo (-1,0009), personas en posición de poder pueden impulsar a otras (It12:-0,9735). El resto de los ítems tienen puntuaciones cercanas a 0. Esta dimensión opone situaciones externas con capacidades. Examinando en detalle el mapa perceptual (gráfico 1) se pueden detectar cuatro agrupamientos. El propósito de este análisis es comparar el agrupamiento de los micro-criterios considerados en el cuestionario. En este mapa se han destacado aquellos micro-criterios cercanos entre sí en el Gráfico 3 (agrupamientos). Gráfico 3: agrupamientos A continuación se analizará en detalle: Agrupamiento 1: Predominio de la Internalidad asociada a logro y adaptación ÍTEMS DESCRIPCIÓN 4 Éxito asociado a la personalidad (Internalidad) 8 Éxito profesional asociado a las capacidades personales (Internalidad). 9 Disposición a aceptar errores (Internalidad). 74 REID, 2, pp. 59-77 Límites de la explicación interna (norma de internalidad). Análisis de Escalamiento Multidimensional. 10 Preparado para aceptar errores (Internalidad). 14 Experiencia determina lo que se es (Externalidad). Tabla 5 : predominio de la internalidad asociada a logro y adaptación Agrupamiento 2: Predominio de la Internalidad asociada al logro: ÍTEMS DESCRIPCIÓN 1 Logro por esfuerzo (Internalidad). 2 Buenos resultados por competencias (Internalidad). 12 Superiores pueden impulsar el éxito de otros (Externalidad). Tabla 6 : predominio de la internalidad asociada al logro Agrupamiento 3: Predominio de la Externalidad asociada a lo fortuito. ÍTEMS DESCRIPCIÓN 5 No siempre tenemos éxito (Externalidad) 7 Amigos dependen del azar (Externalidad) 11 Infelicidad deriva de la incompetencia (Internalidad) 13 Éxito debido al azar (Externalidad) Tabla 7: predominio de la externalidad asociada a lo fortuito Agrupamiento 4: Predominio de la Internalidad asociada a capacidades personales. ÍTEMS DESCRIPCIÓN 3 Todos podemos influir en lo importante, independientemente de la condición (Internalidad) 6 El acontecer es azaroso (Externalidad). 15 Incompatibilidad entre capacidades personales y requerimientos (Internalidad) Tabla 8: predominio de la internalidad asociada a capacidades personales REID, 2, pp. 59-77 75 Porcar, M. L. y Escalante, E. Conclusiones finales: La primera conclusión derivada de este estudio estriba en denotar la fecundidad del MDS como técnica analítica multivariada que posibilita obtener inferencias fundadas. Las técnicas de Escalamiento Multidimensional son herramientas estadísticas importantes para las investigaciones empíricas ya que permiten la representación gráfica de relaciones complejas. Un vasto campo de investigación está abierto para idear mejores técnicas que permitan conseguir su objetivo esencial: lograr configuraciones de puntos cuyas interdistancias se acerquen lo más posible a las similaridades percibidas. La aplicación desarrollada en una investigación educacional como la que estamos realizando permite apreciar las posibilidades de estas técnicas. Desde el punto de vista teórico, sustantivo, se obtienen pistas claras de las características que toma la norma de internalidad en este tipo de estudiantes: una dimensión que opone la determinación personal frente al azar y una dimensión que opone situaciones externas con capacidades. Esta base empírica permite problematizar los límites conceptuales de la norma de internalidad, en cuanto es insuficiente teóricamente para explicar qué pasa con las atribuciones de los sujetos, y la necesidad de investigar si los estudiantes tienen conciencia de esta norma de manera global o si distinguen formas de concretarlas. Cuando decimos los límites conceptuales hacemos referencia a lo siguiente: la norma de internalidad permite distinguir a las personas por su tendencia a atribuir a factores internos las causas de sus éxitos y fracasos”, o de “externalidad”, o propensión a entender que el “lugar del control” de los factores que determinan los efectos de la conducta es externo al individuo, por lo que éste atribuye a variables y circunstancias del entorno la “responsabilidad” de su propia eficacia (es el caso, por ejemplo, del profesor que ante el mal rendimiento de sus alumnos concluye que sus alumnos no vienen de la escuela primaria o secundaria con las herramientas necesarias para tener un aprendizaje de calidad en sus clases). A esta situación de no aceptación del origen posible de la problemática se suman por ejemplo los criterios de preservación (orden establecido) que permiten detectar la jerarquía de valorizaciones siguientes: externos alineados, internos alineados, externos potencialmente rebeldes, e internos rebeldes. Esto permitiría identificar si los sujetos que formulan sus explicaciones internas se benefician de mejores pronósticos profesionales que los sujetos que se las formulan externamente. En este caso la norma de internalidad requiere ser examinada en relación a la norma de alineación. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alonso, M. P. y Lobato Soriano, H. (2004). Elementos que influyen en el fracaso universitario: un estudio descriptivo. Iberosicología, pp. 9.1.1. Beauvois, J.L. (1984). La psychologie quotidienne. Paris: PUF. Cuadras, C.M. (1991). Métodos de Análisis Multivariante. Barcelona: PPU (424-427). Dubois, N. (1994). La norme d´Internalité et le Libéralisme. Grenoble: PUG. Dillon, W. 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Vulnerabilidade, pela predisposição individual para o desenvolvimento de formas de comportamentos não adaptativos, que contribuem para o aumento do conflito. Assim sendo, assume importância a identificação dos fatores de risco, associados à vulnerabilidade nos planos individual, familiar e comunitário, assim como dos fatores protetivos que agem diminuindo ou neutralizando o efeito do agravo e favorecem um repertório mais amplo de adaptação eficaz. Nesse cenário, por ser a escola um dos ambientes privilegiados de convivência e desenvolvimento da criança, o desenvolvimento de habilidades sociais apresenta-se como importante contribuição para o controle do conflito, além de ir de encontro ao objetivo mais caro do processo educativo, a formação do sujeito. Nessa direção, a Educação enfrenta um dos seus principais desafios, trabalhar o conflito através do fortalecimento próprio e do reconhecimento do outro. Para tanto, ambas estratégias, capacitação e reconhecimento do outro exigem, por um lado, a identificação de situação de vulnerabilidade e por outro o desenvolvimento de habilidades sociais que aumentem o repertório de respostas mais adaptativas (fatores de proteção) entre elas, empatia. É nessa perspectiva que o desenvolvimento de fatores de proteção surge como uma estratégia capaz de auxiliar a escola a um maior controle sobre o conflito e ao mesmo tempo ao cumprimento de um dos seus principais desafios, transformar a experiência de convivência escolar no desafio de desenvolvimento da cidadania. Palavras-chave: conflito interpessoal, vulnerabilidade, desenvolvimento de habilidades sociais. REVISTA ELECTRÓNICA DE INVESTIGACIÓN Y DOCENCIA (REID), 2, JUNIO 2009, PP. 79-95 ISSN: 1989-2446 Cunha, D. y Moraes, R. CONFLICTO ESCOLAR: VULNERABILIDAD Y DESARROLLO DE HABILIDADES SOCIALES Resumen Los conflictos entre alumnos y profesores en el contexto escolar resultan ser uno de los reflejos más visibles de la condición de vulnerabilidad de niños, adolescentes, profesores y escuela. Vulnerabilidad, por la predisposición individual para el desarrollo de formas de comportamientos no adaptativos, que contribuyen para el aumento del conflicto. Por lo tanto, asume importancia la identificación de los factores de riesgo, asociados a la vulnerabilidad en los planos individual, familiar y comunitario, así como de los factores de protección que actúan disminuyendo o neutralizando el efecto del agravante y favorecen un repertorio más amplio de adaptación eficaz. En este escenario, por ser la escuela uno de los ambientes privilegiados de convivencia y desenvolvimiento del niño, el desarrollo de habilidades sociales se presenta como importante contribución para el control del conflicto, además de ir al encuentro del objetivo más elevado del proceso educativo, la formación del sujeto. En esa dirección, la Educación enfrenta uno de sus principales desafíos, trabajar el conflicto a través del fortalecimiento propio y del reconocimiento del otro. Para esto, ambas estrategias, capacitación y reconocimiento del otro exigen por un lado, la identificación de la situación de vulnerabilidad y por otro el desarrollo de habilidades sociales que aumenten el repertorio de respuestas más adaptativas (factores de protección), entre ellas, la empatía. Es en esta perspectiva que el desarrollo de factores de protección surge como una estrategia capaz de auxiliar a la escuela a un mayor control sobre el conflicto y al mismo tiempo al cumplimiento de uno de sus principales desafíos, transformar la experiencia de convivencia escolar en el desafío de desarrollo de la ciudadanía. Palabras-clave: conflicto interpersonal, vulnerabilidad, desarrollo de habilidades sociales. CONFLICTS AT SCHOOL: VULNERABILITY AND DEVELOPMENT OF SOCIAL ABILITIES Abstract The purpose of this article is to discuss the importance of identifying strategies that effectively develop social abilities required to conflict management in schools, especially 80 REID, 2, pp. 79-95 Conflito escolar: vulnerabilidade e desenvolvimento de habilidades sociais among children in social and personal risk. Conflicts among students and conflicts among teachers and students in the scholar field are consequences of the vulnerable conditions that children, teenagers and teachers are exposed to. Vulnerability is the individual predisposition to develop alternative non-adaptative behavior that cooperates to enlarge scholars´ conflict. Thus, it is important to identify risk factors associated with vulnerability in the individual, familiar and community fields as well as the protective factors that contribute to lower hazard effects and offer a large repertory of adaptation. As scholar environment is the place where children develop and establish relationship with others, the development of social abilities is important to control scholar conflicts. Besides, one of the most important challenges in the field of education is dealing with scholar conflicts towards individual´s empowerment and the recognition of the other. Therefore, development and recognition of other strategies demand the identification of the vulnerable situations and the development of social abilities that enlarge the repertory of more adaptative responses (protection factors). The development of protection factors come out as an important strategy that helps scholars to enhance conflicts control. Key words: interpersonnal conflicts, vulnerability, development of social abilities INTRODUÇÃO É na década de 80 que na sociedade ocidental, e particularmente no Brasil, que a infância e a adolescência surgem como assunto de preocupação impondo-se com maior ênfase no cenário de debates e no campo programático da saúde, tendendo a se consolidar no final dos anos de 1990 com a construção do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). No Brasil, tiveram papel fundamental para essa discussão, os movimentos sociais pela democratização, as instituições de direito, algumas organizações não governamentais (ONGs) de atenção aos maus-tratos na infância, e as organizações internacionais com poder de influenciar as pautas nacionais. A aproximação ao fenômeno vulnerabilidade social tem sido feita desde diferentes campos, desde a saúde, a justiça, a segurança pública, e também como objeto de movimentos sociais. Contudo, existem razões para que o assunto seja preocupação da área da saúde, pois, dentro de um conceito mais amplo de saúde, tudo o que significa agravo e ameaça à vida, às condições de trabalho, às relações interpessoais e à qualidade da existência, faz parte do universo da saúde pública (Minayo, 1999). Identificar grupos em situação de risco exige considerar diversas variáveis e aspectos como determinantes de tal condição. Entre elas, variáveis sociais, culturais, REID, 2, pp. 79-95 81 Cunha, D. y Moraes, R. psicológicas relacionadas à situação de vulnerabilidade e a fatores promotores de proteção. Estes últimos como processos capazes de promover estratégias adaptativas às situações de agravo. Por outra parte, identificar crianças em situação de vulnerabilidade na escola possibilita delimitar grupos com condições que os predispõem ao conflito no contexto escolar. Frente aos variados conflitos no cotidiano escolar o professor muitas vezes, fica sem saber como agir para resolvê-los. O que se observa, na maioria das vezes, as dificuldades desse professor para lidar com situações de conflito, de forma a propiciar ao aluno experiências educativas de interação social construtiva que favoreçam a sua formação ética e minimizem o índice de conflito na escola. Nesse sentido, a escola é o espaço por excelência onde o indivíduo tem possibilidades de aprender formas construtivas de interação, adquirindo um saber que propicie as condições para o exercício da cidadania (Gonçalves, 2005). As instituições de ensino desenham-se como um dos cenários onde se atualizam os conflitos. A Escola em particular encontra-se perante desafios que exigem mudanças e fundamentalmente, formas criativas de gerenciamento do conflito. Entre eles, construir um projeto de educação que contemple a diversidade da população escolar. Para tanto, a construção de um dispositivo com a pretensão de dar respostas a esta situação exige intervenções dirigidas às crianças, a suas famílias e a seus educadores. A interlocução com a escola também visa o questionamento e a ampliação do projeto educar, bem como o processo de reflexão e elaboração de propostas que possam favorecer um modelo integrador que considere os diferentes elementos que contribuem para o conflito. Vale à pena destacar que o conflito não deve ser visto apenas como algo negativo, muito pelo contrário, senão como um sintoma social como um fenômeno que enquanto configuração está composto por diferentes vetores. Resulta necessário então, pensar, quais estratégias poderiam ser mediadoras para a redução do conflito no contexto escolar? Consideradas a escola e a família instituições privilegiadas na formação do caráter humano, ambas instituições enfrentam desafios. As famílias em situação de risco, justamente pelas dificuldades que enfrentam na sobrevivência serão capazes de ser o “principal material escolar”? A escola, frente a estes grupos vulneráveis será capaz de oferecer uma proposta diferente que não reproduza e intensifique a vulnerabilidade? O que se observa em crianças e adolescentes em situação de risco social, uma rede familiar com dificuldades de atender às necessidades de desenvolvimento da criança. Por seu lado, a legislação brasileira materializa esta preocupação introduzindo novas responsabilidades em relação à criança e o adolescente. As novas garantias estabelecidas na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988 e regulamentadas pelo Estatuto da 82 REID, 2, pp. 79-95 Conflito escolar: vulnerabilidade e desenvolvimento de habilidades sociais Criança e do Adolescente – Lei n. 8.069/90, segundo Veronese (2006) se apóiam em dois pilares fundamentais: a concepção da criança e do adolescente como ‘sujeitos de direitos’ e a afirmação de sua ‘condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”. Observa-se nos currículos educacionais que habilidades tais como comunicar, negociar e resolver conflitos nas relações interpessoais têm sido ignoradas como temas de ensino. Paralelamente, observa-se o aumento de conflitos, indisciplina e violência nas escolas. Claro que a escola é apenas um dos espaços onde a situação social de violência ganha visibilidade, pois ao pensar o conflito nas escolas, ele se evidencia numa situação de interação e complexidade, fruto de uma rede de responsabilidades que vá desde o governo à família. Assim sendo, o fenômeno conflito envolvendo escola, família e criança ou adolescente em situação de risco social, exige não apenas o marco legal, senão o compromisso do estado na concretização de políticas voltadas para esta população. Por ser a escola uma das maiores instituições de formação do caráter humano e seu ambiente o grande cenário das inter-relações, propõe-se uma reflexão sobre a relação entre a condição de vulnerabilidade em crianças e o envolvimento em conflito no cenário escolar. Para tanto, o olhar que guia o presente artigo estará voltado para crianças em situação de risco psico-social, por considerar que as habilidades para o enfrentamento das diversas situações que fazem parte da rotina do dia a dia na escola exigem um repertório de respostas nem sempre presente nestes grupos pela própria condição de vulnerabilidade. A ênfase dada, a crianças surge da necessidade de identificar as estratégias que melhor traduzam um dispositivo criativo para o aumento do repertório de habilidades sociais necessários para a gestão de conflitos. Conceito ampliado de saúde na educação Embora a existência do estatuto da criança e do adolescente (ECA) observam-se dificuldades na consolidação do mesmo ao plano concreto das ações. Dessa forma, percebese, uma população distanciada de seus direitos básicos, e do exercício da cidadania. No plano das relações primárias, onde o lar, por exemplo, deveria ser o porto seguro para a criança e o adolescente, descobre-se a persistência de experiências de violência, fato que induz, em muitos casos, ao abandono do lar. Os registros policiais sobre conflitos interpessoais revelam que um número significativo dos mesmos é protagonizado, segundo Minayo (1999), por conhecidos, vizinhos ou parentes das vítimas. O que se observa, em grande parte, é o alto nível de violência que atravessa as relações interpessoais e particularmente nesse tipo de população, o baixo limiar de tolerância nas relações com o outro na resolução dos problemas nesse tipo de populações existe um privilegio do plano motor em detrimento do diálogo (Marinoni, 1994). REID, 2, pp. 79-95 83 Cunha, D. y Moraes, R. Ao abordar o tema situações de risco social, os profissionais da saúde colocam forte ênfase na analise das tendências epidemiológicas e no compromisso com a identificação de políticas e programas voltados para promover os fatores de sociabilidade, de discriminação, de intolerância, mas também para aperfeiçoar e dar qualidade à atenção aos grupos mais vulneráveis, crianças e adolescentes. Visam atuar (dentro do que lhes é específico) nos fatores de risco e na rede causal desses agravos, seja antes ou após o fato, tanto do ponto de vista individual, no que concerne às vítimas e aos atores, como nos fatores macro-sociais. Em síntese, a atuação no campo da saúde tem um lado específico, e uma face de integração com as políticas públicas e com os movimentos sociais. Contudo, desde um conceito ampliado de saúde, tudo o que significa agravo e ameaça à vida, às condições de trabalho, às relações interpessoais, e à qualidade da existência, faz parte do universo da saúde pública (Minayo, 1999). Importante contribuição para a abordagem voltada à promoção da resiliência, na prevenção de danos e problemas psicossociais, como delinqüência, drogadição, baixa escolaridade, desemprego, violência social e familiar, foi o conhecimento e a identificação dos fatores de risco, relacionados à vulnerabilidade em níveis individual, familiar, comunitário, assim como dos fatores protetores, que atuam protegendo ou neutralizando o efeito do agravo, mas, sobretudo, favorecendo o enfrentamento e superação da adversidade (Costa & Bigras, 2007). A resposta do indivíduo ao risco tem sido descrita em termos de vulnerabilidade e resiliência. Por vulnerabilidade entende-se a predisposição individual para desenvolver variadas formas de psicopatologias ou comportamentos não eficazes, ou susceptibilidade para um resultado negativo no desenvolvimento. Por outro lado, associa-se resiliência, a uma predisposição individual para resistir às conseqüências negativas do risco e desenvolver-se adequadamente (Koller, 2000). A importância de considerar os aspectos que contribuem para o desenvolvimento saudável da criança na interação com o ambiente radica na possibilidade de promover nas crianças processos adaptativos bem sucedidos nos diversos contextos, seja no desenvolvimento de recursos, disposições que diminuam o envolvimento em situações de conflito no contexto escolar. Vulnerabilidade: fatores de risco social Para avaliar situação de risco em crianças é necessário, previamente definir com alguma clareza o que significa estar em situação de risco (Hutz, 2002). Uma criança é considerada em situação de risco quando seu desenvolvimento não acompanha o esperado para sua faixa etária, segundo os padrões de sua cultura (Bandeira, Koller, Hutz & Forster, 1996). O risco pode ter diversas origens, física (doenças genéticas ou adquiridas, problemas 84 REID, 2, pp. 79-95 Conflito escolar: vulnerabilidade e desenvolvimento de habilidades sociais de nutrição, entre outros), social (ambiente violento) psicológica (efeitos de abuso, negligência ou exploração). O risco pode ter fontes externas, por exemplo, condições adversas do ambiente ou, ser provocado pelo próprio indivíduo. Comportamentos de risco referem-se a ações ou atividades realizadas por indivíduos que aumentam a probabilidade de conseqüências adversas para seu desenvolvimento ou funcionamento psicológico ou social entre outros. Às condições sócio-econômicas associam-se os fatores familiares e individuais, que favorecem a potencialização de diferentes agravos. Freqüentemente, a pobreza está relacionada ao desemprego, pais solteiros, estresse parental, baixo nível educacional, assim como pobreza e conflitos maritais está relacionada à criminalidade e problemas de adaptação (Costa & Bigras, 2007). Estas mesmas condições desfavoráveis de vida como resultado de uma situação de pobreza aumentam a probabilidade do acúmulo de fatores de risco (Garmezy, 1991; 1993). Obviamente a pobreza se torna um fator de risco uma vez que predispõe para a realização de delitos, provocando efeitos diretos e indiretos sobre a família e vizinhança da criança e do adolescente. Esta condição contribui para o risco social pela situação de carência na qual se encontram muitas das famílias no Brasil. Como conseqüência disso, têm que lidar com uma série de dificuldades e restrições que limitam a atenção e disponibilidade dos adultos. Dessa forma, resta menos tempo, menos energia e menos disposição para que a família exerça as tarefas parentais de forma competente: cuidar, proteger, disciplinar, monitorar e supervisionar seus descendentes. Portanto famílias nessas condições podem, portanto, ser consideradas famílias vulneráveis, frágeis para desempenhar suas funções elementares, que são o atendimento das necessidades básicas de seus filhos (Hutz, 2002). Entre os riscos focados na criança destacam-se algumas diferenças: 1) pessoais de gênero (homens e mulheres podem apresentar diferentes respostas ao processo de adaptação social), - de temperamento (forte timidez, passividade ou alta reatividade), - de dificuldades cognitivas; 2) interpessoais – de agressividade interparental ou com os pares; 3) contextuais - de comunidades pobres ou pouco estimulantes. Esses fatores de riscos interagem entre si provocando e retroalimentando outras dificuldades, como rejeição dos pares e familiares, aumento da agressividade, atitudes violentas, fracasso acadêmico, isolamento, entre outras (Fortin & Bigras, 2000). Entre os fatores que favorecem a inadaptação social ressaltam-se algumas condições de origem familiar, entre elas, o nível sócio-econômico e a estrutura monoparental. Claro que, esta última dependerá em grande medida da qualidade do vínculo estabelecido pelo casal entre si e com as crianças antes da separação. Outros aspectos familiares assinalados como estimuladores do comportamento anti-social, referem-se às REID, 2, pp. 79-95 85 Cunha, D. y Moraes, R. práticas educativas inapropriadas, com destaque para o privilegio da punição e de regras pouco claras de educação (Costa & Bigras, 2007). Este tipo de práticas no ambiente familiar, embora tenha a intenção de educar, além de ineficazes, favorecem condições de vulnerabilidade (Cecconello, De Antoni & Koller, 2003). O baixo nível sócio-econômico, somado ao número elevado de integrantes da família, assim como a ausência de um dos pais, junto com a baixa escolaridade, são considerados pelos autores como fatores de risco para o desenvolvimento (Yunes, 2003). Em síntese, são vários os fatores e processos que aumentam a predisposição ao risco ou contribuem para a vulnerabilidade, desde condições sócio-econômicas, familiares ou psicológicas, favorecendo dessa forma, respostas mal adaptativas evidenciadas, por exemplo, no envolvimento em situações de conflito no contexto escolar. Crianças e adolescentes no seu cotidiano convivem com situações de estresse e risco que representam uma ameaça à sua saúde psicológica. Do enfrentamento de tais situações, poderão surgir distúrbios emocionais e problemas de conduta, em função da vulnerabilidade na qual se encontram. Contudo, o que se observa é que algumas crianças nas mesmas situações de risco não apresentam problemas. Muitas delas conseguem superar situações de adversidade, adaptando-se às mesmas de forma favorável, demonstrando dessa forma, competência social (Cecconello, 1999). Estas crianças são chamadas resilientes. A literatura num sentido geral destaca cinco características determinantes nas variações individuais frente à adversidade: idade, personalidade, suporte social, experiências anteriores e os modelos de relação entre família e criança. Para Rutter (1987), a proximidade entre fatores de risco e proteção merece ser prioridade. Sugere, então, que se use o termo risco sob a ótica de um mecanismo e não de um fator, uma vez que risco numa determinada situação pode ser proteção em outra. Alerta para o perigo em definir de forma arbitrária eventos isolados como fatores de risco, dando importância à idéia de equilíbrio entre risco e proteção, de forma que os primeiros sejam moderados pelos segundos, proporcionando como resultado uma atitude positiva frente à adversidade da vida. São muitos os fatores de risco, crônicos ou agudos, que estariam afetando a capacidade de resiliência de crianças e adolescentes. Condições de pobreza, rupturas na família, vivência de algum tipo de violência, experiências de doença no próprio indivíduo ou na família e perdas importantes são alguns exemplos (Pesce, 2004). Os fatores de risco e de proteção podem ser inatos ou adquiridos, internos ou externos, gerais ou específicos e agem modificando a resposta individual ou coletiva à adaptação social. Uma situação de estresse pode representar um agravo (fator de risco), assim como favorecer (fator de proteção) o desenvolvimento de resistência para vencer e superar este agravo. Com efeito, as experiências exitosas atuam positivamente no desenvolvimento da criança; entretanto, o fator de proteção manifesta seus efeitos nas 86 REID, 2, pp. 79-95 Conflito escolar: vulnerabilidade e desenvolvimento de habilidades sociais situações em que ocorre estresse, diante da possibilidade do agravo ou do acontecimento instalado (Costa & Bigras, 2007). Pelos fatos explicitados anteriormente, constata-se que não é necessário compreender apenas a importância dos riscos para se desenvolver resiliência. Os fatores ou mecanismos de proteção que um indivíduo dispõe internamente ou capta do meio em que vive são considerados elementos cruciais para a compreensão do tema. Os termos mais utilizados para tratar a adversidade são fatores de risco, eventos de vida ou estressores, enquanto que os fatores de proteção são usualmente nomeados como mediadores (buffers) (Hutz, 2002). Por outro lado, uma alta auto-estima, baixos índices de depressão, locus de controle interno e a presença de habilidades sociais e de resolução de problemas são fatores que protegem contra o cometimento de atos infracionais. Percebe-se que as mesmas características podem ser fatores de risco ou fatores de proteção, conforme se apresentem ou interajam na vida do indivíduo (Hutz, 2002). Fatores de Proteção Fatores ou processos protetivos são todas aquelas influências que modificam, melhoram ou alteram a resposta dos indivíduos a ambientes hostis que predispõem a conseqüências mal adaptativas. Os fatores de proteção interagem com os fatores de risco diferenciando-se pela sua capacidade potencial de promover resiliência (Rutter, 2002). Garmezy e Masten (1994) identificaram três fatores de proteção em indivíduos: (1) características individuais, como auto-estima, inteligência, capacidade para resolver problemas e competência social; (2) apoio afetivo transmitido pelas pessoas da família, através de um vínculo positivo com os cuidadores; (3) apoio social externo, provido por outras pessoas significativas, como escola, igreja e grupos de ajuda. O conjunto destes fatores, em situações de estresse, serve como um recurso que auxilia o indivíduo a interagir com os eventos de vida e conseguir bons resultados, evitando conseqüências negativas. Nesse sentido, a competência social é vista como um fator de proteção para o indivíduo, pois está relacionada com a capacidade para alcançar uma adaptação favorável (Cecconello, 1999). Para Garmezy e&Masten (1994) competência social é uma característica individual que leva em conta a interação do indivíduo com os integrantes dos outros dois fatores: a família e outras pessoas significativas. Vários autores definem competência social dentro desse pressuposto (Del Prette & Del Prette, 1999). De uma parte, os fatores de proteção se relacionam aos recursos individuais que diminuem o efeito do risco, de outra parte, a resiliência se associa muitas vezes a fatores REID, 2, pp. 79-95 87 Cunha, D. y Moraes, R. protetores individuais que predizem conseqüências favoráveis para sujeitos expostos a condições de risco (Sapienza & Pedromônico, 2005). Os processos de proteção têm a característica essencial de provocar uma modificação catalítica da resposta do indivíduo aos processos de risco. Possuem quatro principais funções: (1) reduzir o impacto dos riscos, fato que altera a exposição da pessoa à situação adversa; (2) reduzir as reações negativas em cadeia que seguem a exposição do indivíduo à situação de risco; (3) estabelecer e manter a auto-estima e auto-eficácia, através de estabelecimento de relações de apego seguras e o cumprimento de tarefas com sucesso; (4) criar oportunidades para reverter os efeitos do estresse (Rutter, 1987). Diante dos fatores potencialmente geradores de desequilíbrio para cada indivíduo, os mecanismos de proteção são tomados como o ponto chave necessário para o restabelecimento do equilíbrio perdido e demonstração de competência apesar da adversidade (Costa & Bigras, 2007). Em resumo, dos estudos realizados sobre o efeito protetor do adulto sobre a criança sabe-se que, é necessário incluir os adultos ao redor das crianças e adolescentes nas estratégias de proteção e promoção da qualidade de vida. Estas estratégias devem ser aplicadas no estabelecimento de um vínculo de confiança adulto-criança; na qualidade da supervisão e nos modelos dos adultos, para que a criança adote, ao final, comportamentos de vida saudável (Costa & Bigras, 2007). Os fatores de proteção, por sua vez, tiveram associação com a resiliência, confirmando a hipótese teórica que molda esse construto. Pode-se interpretar essa relação entendendo que os fatores de proteção aqui abordados (auto-estima, apoio social, gênero, relacionamento com outras pessoas) atuam como facilitadores no processo individual de perceber e enfrentar situações avaliadas como ameaçadoras (Costa & Bigras, 2007). A perspectiva de interação entre fatores de risco e de proteção determina dois enfoques complementares; enquanto o enfoque de risco prioriza a atuação no problema e características associadas ao dano (biológico ou social), sendo amplamente utilizado nos programas de atenção primária, o enfoque na resiliência atua no desenvolvimento das competências individuais e coletivas que protegem, preparando o indivíduo ou grupo para enfrentar e superar a adversidade (problema). Essas estratégias de atuação devem estar pautadas nas normas culturais e sociais nas quais o sujeito se desenvolve. Muitas crianças crescem e se desenvolvem em contextos e situações que constituem ameaças à sua saúde psicológica. A própria condição de vulnerabilidade ao enfrentar situações de estresse e risco no seu cotidiano, pode desencadear distúrbios emocionais e problemas de conduta. Entretanto, observa-se que nem todas as crianças que vivenciam as mesmas situações de risco apresentam problemas. Pelo contrário, algumas delas conseguem 88 REID, 2, pp. 79-95 Conflito escolar: vulnerabilidade e desenvolvimento de habilidades sociais adaptar-se e superar essas situações, demonstrando, entre outras habilidades, competência social (Cecconello, 1999). Estas crianças são chamadas resilientes. Resiliência O estudo da resiliência emergiu então dos estudos de risco, amplamente difundidos nos programas de saúde, os quais observaram que, em condições adversas, diante de um determinado evento não favorável, alguns indivíduos sobreviviam e desenvolviam competências para enfrentar e superar a adversidade. As pesquisas em resiliência originaram-se da área da psiquiatria e psicologia do desenvolvimento psicossocial da criança. A partir da década de 90, a maioria dos estudiosos passou a enfocar a resiliência na perspectiva da abordagem ecossistêmica, considerando que o processo de adaptação é o resultado da dinâmica entre o ser humano e seu meio ambiente. Segundo esta abordagem, as trocas entre o indivíduo e o ambiente são as mais diferenciadas possíveis, uma vez que o indivíduo interage continuamente com o seu meio, sofrendo o impacto deste e, ao mesmo tempo, provocando reações. Nas ciências sociais o termo caracteriza os grupos que se desenvolvem adequadamente num tempo dado e numa área psicossocial delimitada, apesar de conviver sob condições adversas, em diferentes situações de risco, alcançando êxito social e adequação mental (Hutz, 2000). Compreende-se resiliência como o conjunto de processos sociais e intrapsíquicos que possibilitam o desenvolvimento de uma vida sadia, mesmo vivendo em um ambiente não sadio. Este processo resulta da combinação entre os atributos da criança ou jovem e seu ambiente familiar, social e cultural. Deste modo, a resiliência não pode ser pensada como um atributo que nasce com o sujeito, nem que ele adquire durante seu desenvolvimento. É um processo interativo entre a pessoa e seu meio, considerado como uma variação individual em resposta ao risco, sendo que os mesmos fatores causadores de estresse podem ser experienciados de formas diferentes por pessoas diferentes, não sendo a resiliência um atributo fixo do indivíduo (Rutter, 1987). Embora a ênfase na promoção da resiliência resulta de relevância, deve ser acompanhada de políticas públicas que diminuam os fatores de risco entre eles condições de miséria e desigualdade social que afetam um número significativo da população brasileira (Pesce, 2004). Na análise do comportamento da criança no ambiente escolar especial consideração exige, a relação entre qualidade do relacionamento com professores e resiliência e dificuldades de aprendizagem com habilidades sociais. As análises associam, problemas no relacionamento com professores a baixo nível de resiliência e problemas de aprendizagem a falta de habilidades sociais (Del Prette & Del Prette, 2001). REID, 2, pp. 79-95 89 Cunha, D. y Moraes, R. A escola como cenário de conflito: entre a vulnerabilidade e a resiliência A escola, enquanto espaço de convivência social na infância, resulta ser o cenário privilegiado onde a criança põe de manifesto a gama de habilidades necessárias para se adaptar às exigências do meio, ou pelo contrário, deixará visíveis o déficit de competências para se adequar a tais expectativas. Para Szymanski (2004), tanto escola quanto a família têm papel preponderante na construção da identidade do sujeito e na sua inserção futura na sociedade, sendo que, uma maior sintonia entre ambas, gera benefícios para o desenvolvimento da criança e do adolescente. Nesses casos o educando, em geral, transita pela fase escolar sem grandes dificuldades. Pelo contrário, quando vêem de ambientes de vulnerabilidade, entretanto, acabam encontrando dificuldades e são classificadas como fracassadas por serem avaliadas por critérios que não consideram tal contexto. Para Chrispino (2007) nas escolas onde há valorização do conflito, abrem-se canais de diálogo permanente, onde a melhor decisão é resultado de escutar as diferenças; nessas escolas, estimula-se a comunicação a fim de expressar o pensamento e amadurecer com seu exercício; por outra parte, o programa curricular considera o conflito como oportunidade para discutir soluções alternativas. O desenvolvimento de habilidades sociais para o fortalecimento dos fatores de proteção e a diminuição do conflito na escola Os estudos sobre violência envolvendo crianças e adolescentes consideram tal fenômeno como expressão de uma cultura de agressividade que se manifesta em instituições como a família e a escola. Alertam para a necessidade de programas voltados para a prevenção como opção para lidar com a violência e examinam os métodos usados para o enfrentamento do problema. Propõem o método vivencial como alternativa para o desenvolvimento sócio-emocional e cognitivo da criança, assim como a aprendizagem de habilidades sociais (Del Prette & Del Prette, 2006). Competência social define-se como a capacidade de integrar pensamentos, sentimentos e ações provocando conseqüências positivas para si e para os outros. Para o desenvolvimento de tal funcionamento adaptativo nas crianças, algumas habilidades são necessárias, tais como autocontrole e expressividade emocional, civilidade, empatia, assertividade, fazer amizades, solução de problemas interpessoais e habilidades sociais acadêmicas. Quando essas habilidades estão ausentes ou são ineficientes pode resultar em problemas comportamentais, emocionais e conseqüentemente, em transtornos psicológicos que podem se apresentar de duas formas, segundo Del Prette & Del Prette (2005) 90 REID, 2, pp. 79-95 Conflito escolar: vulnerabilidade e desenvolvimento de habilidades sociais problemas internalizantes manifestos em comportamentos com tendência à retração, à inibição e externalizantes, com manifestação de condutas anti-sociais embora existe o privilegio de uma tendência ou outra, ambas dependendo da gravidade da situação podem atuar em conjunto. Ambas formas revelam estratégias não adaptativas para lidar em situações de conflito. A empatia seria outra capacidade relacionada ao conhecimento das emoções. Essa capacidade se desenvolve nas primeiras etapas da infância, se manifesta na habilidade de perceber emoções nas outras pessoas. Na Psicologia, a ênfase na caracterização da empatia está na percepção da necessidade do outro e poderá ser desenvolvida no período de infância e adolescência por meio dos aspectos emocionais, afetivos e cognitivos. Da mesma forma, que propostas anteriormente citadas para a promoção de habilidades sociais, a empatia pode ser aprendida através de vivências que desenvolvam na criança a capacidade de identificar emoções e necessidades no outro, por exemplo, visitar um amigo doente ou promover a capacidade de escutar e acolher o outro (Cecconello & Koller, 2000). Para Del Prette & Del Prette (2004) assertividade é uma habilidade que merece destaque, uma vez que possibilita à criança a capacidade de se adaptar favoravelmente a uma situação. Para tanto, exige duas condições: a primeira, avaliar apropriadamente as expectativas do contexto, a segunda, fazer colocações que atendam a seus interesses, como por exemplo, a criança que espera o momento oportuno para questionar sua nota junto à professora de uma forma adequada. A importância dessa habilidade reside na inclusão de outras, tais como, civilidade, autocontrole e expressão emocional. Por outro lado, quando bem orientada a assertividade, sedimenta as bases para o aprendizado da reciprocidade, entanto capacidade para considerar o ponto de vista próprio e o do outro assim como o respeito de deveres e direitos como pilares fundamentais da convivência social. Em conseqüência do antes exposto decorre que, a ausência de habilidades sociais acentua o risco para respostas mais adaptativas e a presença de tais habilidades, (citadas anteriormente), resulta em fator de proteção, favorecendo a resiliência. Nesse entendimento, o treinamento de habilidades sociais (THS) é apresentado por Del Prette & Del Prette (2004) como uma alternativa para o desenvolvimento de Habilidades Sociais. O Programa pode ser utilizado tanto para superar algum déficit ou problema identificado, como para ampliar o repertório das habilidades existentes. O aprendizado de habilidades sociais oferece à criança mais ferramentas para solucionar conflitos interpessoais, uma vez que a assertividade possibilita saber diferenciar comportamentos adequados ou não adequados em determinados contextos incluindo outras habilidades como civilidade e empatia. Os estudos revelam que o modo como a criança lida com o estresse e a impulsividade está relacionado à capacidade de solucionar problemas de relacionamento. A proposta de Del Prette & Del Prette (2004) inclui o pensar antes de agir REID, 2, pp. 79-95 91 Cunha, D. y Moraes, R. e destacam a capacidade de fazer amizades como promotora de competência social e fonte para o auto-conhecimento. Nos estudos realizados por Giacomoni & Hutz (2006) os resultados evidenciam a importância dos “recursos do Self” nas relações sociais e a repercussão significativa para a promoção do bem-estar subjetivo. Os autores supra-citados discutem a relação entre déficits de habilidades sociais e dificuldades de aprendizagem e ressaltam que o desenvolvimento das mesmas pode influenciar favoravelmente o desempenho acadêmico. Algumas características no relacionamento com o outro, por exemplo na relação professor-aluno são apontadas pelos autores como favorecedoras da convivência social (Del Prette, & Del Prette 2004). Coping: entre a vulnerabilidade e a resiliência Se o desenvolvimento de habilidades sociais promove um repertório de respostas mais adaptativas, em situações adversas, o conceito de coping (Garmezy 1991) possibilita compreender a capacidade de resiliência do indivíduo. Trata-se de um empenho cognitivo e comportamental utilizado como recurso para administrar situações geradoras de estresse (Folkman & Lazarus, 1985). As estratégias de enfrentamento poderão se direcionar para o regulamento da emoção gerada pelo estresse ou para o problema; trata-se de atuar na origem do estresse e como conseqüência o esforço para mudar a situação. Em sujeitos resilientes existe uma tendência maior na utilização de um repertório mais amplo para o enfrentamento de situações promotoras de estresse, podendo amortecer o efeito da situação negativa, tornando-se dessa forma um fator de proteção (Silva, 2001). Por outro lado, é menos freqüente nesses indivíduos a tendência a evitar os problemas como estratégia de coping. Tanto as habilidades sociais mencionadas anteriormente, assim como algumas competências quando desenvolvidas favorecem a resiliência em crianças e adolescentes. Portanto, segundo Costa & Bigras (2007) a ampliação do repertório de habilidades, competências ou coping através de programas direcionados à promoção da qualidade de vida favorece os fatores de proteção no indivíduo. Tais programas incluiriam o desenvolvimento de algumas capacidades, entre elas: capacidade de resolver problemas, através da busca de soluções; competência social, incluindo diversas competências entre elas, perceber as expectativas do meio e o ponto de vista do outro, assim como, estabelecer uma comunicação positiva; projeto de vida, como síntese de autonomia, antecipação e coerência (Costa & Bigras, 2007). Do anteriormente exposto depreende-se que, previamente ao desenvolvimento de qualquer intervenção que vise diminuir o conflito na escola, haverá de se identificar as crianças em situação de vulnerabilidade, como condição que potencializa a predisposição 92 REID, 2, pp. 79-95 Conflito escolar: vulnerabilidade e desenvolvimento de habilidades sociais ao envolvimento em conflitos interpessoais. Nessa perspectiva, as ações estarão encaminhadas a dois focos bem definidos, por um lado, voltadas a diminuir os fatores de risco, por outro, dirigidas a fortalecer os fatores de proteção, de forma a favorecer nesses grupos respostas mais adaptativas. Para Martínez Zampa (2205) resulta utópico a pretensão de eliminar os conflitos, pois eles são parte da vida mesma, portanto, trata-se de buscar novas formas de prevenção, administração e resolução. Entre elas o autor propõe a mediação como alternativa para resolver conflitos no contexto escolar, mas esclarece que nem é aplicável em todos os casos, nem resulta a panacéia para a resolução de todos eles. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bandeira, D., Koller, S. H., Hutz, C., & Forster, L. (1996). Desenvolvimento psico-social e profissionalização: uma experiência com adolescentes de risco. Psicologia: Reflexão e Crítica, (9) 185-207. Cecconello, A. M. (1999). Competência social, empatia e representação mental da relação de apego em famílias em situação de risco. Dissertação de Mestrado Não-Publicada. Curso de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS. Cecconello, A., De Antoni, C., Koller, S. H (2003). Práticas educativas, estilos parentais e abuso físico no contexto familiar. Psicologia em Estudo, Maringá, (8) 45-54. Costa, M. C.; Bigras, M. (2007). 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Palavras-chave: Criatividade; Modelo Geral da Criatividade; Vivência. OFICINA DE CREATIVIDAD: VIVENCIA Y CONVIVENCIA Resumen Utilizando datos ex post facto provenientes de una oficina impartida durante una de las Semanas de Enseñanza, Investigación y Extensión de la Universidad Federal de Santa Catarina, este artículo describe seis perspectivas teórico-metodológicas de la creatividad y ejemplifica, en base al relato de los participantes, algunos comportamientos típicos de cada vector que compone el acto creativo. Lógicos, intuitivos, reflexivos y extrovertidos, aunque estén de acuerdo en relación a sus dificultades, tienden a interpretarlas de manera diferente, pues también atribuyen causas diferentes a esas mismas contingencias. Palabras-clave: Creatividad; Modelo General de la Creatividad; Vivencia. REVISTA ELECTRÓNICA DE INVESTIGACIÓN Y DOCENCIA (REID), 2, JUNIO 2009, PP. 97-112 ISSN: 1989-2446 Reszka, I. CREATIVITY WORKSHOP: LIVING AND SHARING Abstract This paper describes six creativity’s theorical-methodological perspectives and offer some behavior samples of each of its vectors, based on student speeches from a workshop ministrated at Universidade Federal de Santa Catarina. People focused on logic, or intuition, or reflexion, or extroversion seens to agree on what are their main difficulties but they also understand that there are different causes for each one. Key words: Creativity; General Model of Creativity; Experience. Desde o ano de 2000 a Universidade Federal de Santa Catarina reúne em um único evento os seus três campos de atuação na Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão [SEPEX], para articular, em cada edição, até 48.000 pessoas em atividades educativas e culturais tais como shows musicais, apresentações folclóricas, exposições de trabalhos, debates abertos e minicursos. Contando com um público misto de professores, alunos e comunidade, essas últimas atividades, os minicursos, também chamados de oficinas, proporcionam um espaço para a reflexão, a crítica, a troca e a aquisição de experiências, caracterizando-se, muitas vezes, como um estudo de caso, já que de tal investigação intensiva do assunto tende emergir relações que de outra forma não seriam descobertas (Fachin, 2001). Este artigo relata, de maneira crítica, a experiência vivenciada em uma dessas oficinas, compartilhando os seus saberes sobre a criatividade e discutindo as suas propostas com base nas mais disseminadas teorias desse fenômeno. Além de difundir o conhecimento oriundo da oficina, resultado pedagógico das pesquisas prévias dos facilitadores, o objetivo desse texto é ilustrar e questionar através de exemplos concretos, oferecidos pelos participantes, os alicerces do mais recente modelo de criatividade exposto, o chamado Modelo Geral da Criatividade. Acredita-se que o emparelhamento de teoria e realidade, mais que dar seqüência ao contínuo processo de aprimoramento do saber científico desse assunto, materializa os fenômenos abstratos que tangenciam a criatividade, possibilitando a organização e o desenvolvimento de tecnologias, didáticas e demais ferramentas que catalisam o seu ensino e a sua aprendizagem. Oferece-se, portanto, aos que urgem por uma definição mensurável da criatividade (Dietrich, 2007; Fink, Benedek, Grabner, Staudt, & Neubauer, 2007), exemplos de como interpretar as suas teorias no cotidiano; aos que questionam a possibilidade de um ensino da criatividade (Simonton, 1991), indícios de que essa tarefa é viável e essencial para uma vida equilibrada e; aos que anseiam por atividades práticas direcionadas ao estímulo de cada vetor da criatividade (Livingstone, 98 REID, 2, pp. 97-112 Oficina de criatividade: vivência e convivência Nelson, & Barr, 1997; Sawyer, 2006), experiências pessoais que ilustram a superação dos conflitos que precederam o estado criativo. É pertinente mencionar que a criatividade é considerada ao mesmo tempo mola propulsora da inovação (Pinheiro & Pinheiro, 2006), ao realizar os saltos qualitativos necessários à manutenção dos ciclos de vida da tecnologia, e objeto de realização pessoal (De Masi, 2003), ao proporcionar as sensações de satisfação e transcendência. A importância da sua investigação minuciosa, destarte, reside tanto na interdependência que existe entre mercado e novidade, quanto na possibilidade de se construir currículos voltados para o desenvolvimento integral do ser humano. Na seqüência, relatar-se-á a etapa expositiva da oficina para que, antes de discutir as repercussões da criatividade, haja fundamentos teóricos para a sua definição e compreensão. Vivência Mesmo reconhecendo a contribuição das teorias subjetivas da criatividade em psicologia, o escopo da primeira parte da oficina foi possibilitar o diálogo entre as várias epistemologias utilizadas nas pesquisas objetivas, na tentativa de convergir resultados e ampliar o conhecimento desse fenômeno. Situadas cronologicamente entre 1950 e 1996, as cinco mais difundidas propostas de compreensão da criatividade, contudo, aparentam mais concorrer que concordar. Nisso, uma sexta, e contemporânea, proposta foi inserida na apresentação, compilando os demais conteúdos e dando coesão aos focos tradicionais que variam entre a pessoa criativa, o produto criativo, o processo criativo e o ambiente criativo. A vivência desta etapa consistiu na explanação e diferenciação entre a teoria clássica de Guilford (1950), a perspectiva historiométrica de Simonton (1975), a perspectiva sistêmica de Csikszentmihalyi (1999), a perspectiva componencial de Amabile (1983), a teoria do investimento em criatividade de Sternberg (1999) e o modelo geral da criatividade de Pinheiro (no prelo). A Teoria Clássica de Guilford Celebrado como o maior expoente da pesquisa objetiva em criatividade, J. P. Guilford (1950) define esse fenômeno como as habilidades mais características das pessoas criativas. Dado que a teoria psicológica de seu tempo conferia aos indivíduos um determinado grau de todas as habilidades, patologias à parte, as habilidades criativas, portanto, deveriam se caracterizar pela manifestação de um determinado comportamento em grau notável. O acesso à criatividade, para essa teoria, logo, está vinculado à quantidade e à qualidade discriminativa das informações a respeito de cada uma dessas habilidades (Guilford, 1972). Para facilitar o acesso a tais manifestações, o próprio Guilford (1956) elaborou uma matriz com 4 x 6 x 5 células, obtendo 120 fatores distintos, dentre os quais poderia se identificar a criatividade. A primeira face desse cubo refere-se ao tipo de conteúdo REID, 2, pp. 97-112 99 Reszka, I. processado pelos seres humanos (se figurativo, simbólico, semântico ou comportamental); a segunda diz respeito ao produto resultante desse processamento (se unidades, classes, relações, sistemas, transformações ou implicações) e; o último lado representa as principais operações intelectuais (a avaliação, a produção convergente, a produção divergente, a memória e a cognição). As habilidades criativas, segundo Guilford, fazem parte da produção divergente, já que a sua natureza indutiva possibilita a conexão de várias idéias alternativas, o que é necessário para esclarecer um problema (Guilford, 1972). Percebe-se que uma limitação dessa teoria é a validade de critério, pois, não existe distinção comportamental entre produção convergente e produção divergente, caso seja levada em consideração a dependência da última em relação à primeira (Brown, 1989). O isomorfismo, para o próprio Guilford (1975), também fica comprometido quando fatores de diferentes níveis de generalidade são levados em consideração, uma vez que pequenas variações na população podem gerar indeterminação na correlação. Uma última consideração que esse mesmo autor faz referência é a difícil replicação dos resultados obtidos em uma determinada coleta de dados, já que os fatores psicológicos primários tendem variar de acordo com o contexto. A Perspectiva Historiométrica de Simonton Dean Simonton (1975), na tentativa de solucionar o problema da validade de critério das pesquisas em criatividade, propõe que a mensuração desse fenômeno deva ocorrer através dos produtos e não mais das pessoas. Nesse caso, o objeto de estudo passa a ser a realização ou a reputação de artistas, escritores, músicos e demais personalidade eminentes, através de dados plenamente objetivos da história. A criatividade como fenômeno, por conseguinte, torna-se o reconhecimento advindo do mérito oferecido por especialistas, os quais julgariam contribuições notáveis ex post facto. Considerando que as habilidades humanas possuem grande variação, que tais habilidades são inerentemente biológicas e que há relação direta entre essas habilidades e a reputação histórica dos indivíduos, a criatividade se torna um fenômeno social, cuja mensuração ocorre no acompanhamento de várias gerações (Simonton, 1999). As fontes de informação para a confecção de linhas do tempo variam entre jornais, revistas, listas de sucesso, números de venda, patentes, registros institucionais, pesquisas de opinião e investigações profissionais a respeito de elementos históricos (Simonton, 1975). Sabe-se que, ao mesmo tempo em que os dados históricos apresentam validade de critério, eles estão sujeitos à contaminação subjetiva dos juízes (Simonton, 1991). Em outras palavras, a qualidade da produção de uma época dificilmente será avaliada conforme padrões universais, variando de acordo com a área de especialidade, a localização geográfica, o status profissional, a afiliação acadêmica e, até mesmo, as influências estilísticas do tempo em que o julgamento é realizado. Apesar desse efeito 100 REID, 2, pp. 97-112 Oficina de criatividade: vivência e convivência na variância dos resultados, a epistemologia historiométrica introduz a necessidade de redes de causas complexas para o estudo da criatividade, abrindo caminho para novas perspectivas (Simonton, 1999). A Perspectiva Sistêmica de Csikszentmihalyi Mihaly Csikszentmihalyi (1999) acredita que mais importante que a pessoa criativa ou que o produto criativo, é o processo de criação, cerne da perspectiva sistêmica. Impulsionado pelo desejo de encontrar validade preditiva em suas pesquisas, déficit dos exames longitudinais, o viés sistêmico se utiliza de estudos de caso e do método clínico para se aproximar do intelecto dos sujeitos e entender a estrutura que governa as soluções para cada classe de problema (Gruber & Wallace, 1999). Compreende-se a criatividade como a interação entre indivíduo, campo e domínio, os quais representam uma fração seleta da história, da sociedade e da cultura, respectivamente. Cabe ao indivíduo, na realização criativa, gerar variação, essa impulsionada pela motivação, pelos traços de personalidade ou pela apropriação de conhecimentos. Já o campo consiste do seletor da inovação, o que ocorre pelo trabalho dos práticos ou especialistas imbuídos da tarefa de julgar, premiar ou desencorajar os indivíduos com base nos fatores econômicos, ideológicos, técnicos e logísticos de seu tempo. O domínio, por fim, é a parte simbólica que compila as necessidades, retém as informações e ensina os comportamentos para as próximas gerações, bem como para os demais adeptos do paradigma (Nakamura & Csikszentmihalyi, 2001). Mais que uma única saída, esse sistema propõe a formação de círculos concêntricos de crítica ao processo criativo, os quais, conforme a distância do observador, podem servir de parâmetro para a persistência ou desistência de uma iniciativa. Csikszentmihalyi (1999) percebeu que estudar as exceções deveria ser o foco das pesquisas em criatividade, já que a genialidade era, em si, uma grande exceção. Empregando sempre a unidade como amostra, portanto, essa perspectiva ignora as distribuições normais, restringindo os critérios de validade e confiabilidade à profundidade de análise fenomenológica e às relações que essa mesma instância possa construir (Gruber & Wallace, 1999). Apesar de único, cada caso trata de um sistema em constante evolução, cujo desenvolvimento multidirecional deflagra padrões que tornam possíveis as previsões. A Perspectiva Componencial de Amabile Ciente de que a validade de uma teoria qualquer é posta à prova na confrontação de seus enunciados e dos comportamentos observados, Teresa Amabile (1982) retoma as definições operacionais baseadas no produto criativo. Considera-se um produto ou resposta como criativo na medida em que observadores apropriados concordam, independentemente, quanto à sua criatividade (Amabile, 1983). Observadores REID, 2, pp. 97-112 101 Reszka, I. apropriados são aqueles que estão familiarizados com o domínio no qual o produto foi criado ou a resposta articulada, já que em muitos casos é necessário o reconhecimento técnico de contribuições específicas. A própria autora reconhece algumas limitações dessa perspectiva, tais como a falta de praticidade, a dificuldade de se encontrar avaliadores adequados para áreas novas do conhecimento e a impossibilidade de generalização temporal e geográfica dos resultados (Amabile, 1982). O conhecimento obtido pela técnica de Amabile, por conseguinte, troca validade externa, capacidade de generalização, por validade interna, controle das variáveis, ressaltando-se pela sua natureza experimental (Runco & Sakamoto, 1999). Tal corrente visa reduzir a complexidade de um fenômeno a um nível administrável através do isolamento e da manipulação dos elementos cognitivos e comportamentais (Plucker & Renzulli, 1999). A perspectiva componencial, destarte, percebe a criatividade como uma constelação de três atributos, muitas vezes sobrepostos, quase sempre sinérgicos e possivelmente complementares (Amabile, 1983). Mais especificamente, trata-se das habilidades relevantes ao domínio, das habilidades relevantes à criatividade e da motivação: 1) as habilidades relevantes ao domínio correspondem ao conhecimento técnico específico e necessário à confecção do produto, assim como do potencial genético para a manifestação de altos níveis dessa perícia; 2) as habilidades relevantes à criatividade consistem das características de personalidade vinculadas ao processamento heurístico de informações, às competências mnemônicas e à disciplina e; 3) a motivação caracteriza-se pela orientação favorável à tarefa e percepção dos mecanismos de gratificação social (Brown, 1989). A Teoria do Investimento em Criatividade de Sternberg Robert Sternberg dá seqüência à empreitada de Amabile conceituando, também, a criatividade como um conjunto de fatores, porém, inova ao dar ênfase ao ambiente criativo. Sternberg (2006) assimila as contribuições anteriores e desenvolve a teoria do investimento em criatividade, a qual compreende as pessoas criativas como aquelas capazes e dispostas a “comprar barato e vender caro” novas idéias. Comprar barato transmite a noção de perseguir idéias desconhecidas ou sem potencial aparente, cuja crítica é ferrenha e a defesa morosa. Vender caro, por sua vez, significa popularizar uma nova idéia, ganhando reconhecimento pelo feito e alterando as estruturas sociais na qual ela se insere. Existem sete tipos de mudança estruturais que uma idéia criativa pode acarretar no ambiente (Sternberg, 1999): replicação; redefinição; incremento; incremento progressivo; redirecionamento; reconstrução e; reinicialização. A replicação, mesmo caracterizando-se pelo trabalho de repetir a produção de outrem, é útil à criatividade, uma vez que possibilita o falseamento ou comprobação de informações e teorias em voga. A redefinição não altera o statu quo do ambiente, porém, repensa seus conceitos, 102 REID, 2, pp. 97-112 Oficina de criatividade: vivência e convivência agindo no intuito de clarificar fenômenos constituintes de um todo maior. O incremento, diferente do incremento progressivo apenas em relação à amplitude, diz respeito à manutenção da direção de inovação de um domínio, porém, quebrando a inércia ao agilizar as alterações. O redirecionamento representa uma mudança com quebra de paradigma, no qual o autor da idéia sugere não apenas dedicar esforços a uma nova linha de pensamento, mas abandonar a antiga, dado que as direções de progressão são divergentes. A reconstrução se assemelha com o tipo de contribuição anterior, contudo, propõe, ainda, o regresso a algum estado da arte anterior, pois, a idéia defendida necessita de diferentes alicerces para se tornar plausível. A reinicialização, por fim, demanda a alteração mais radical possível, uma meta-reconstrução: questionar os próprios valores do campo e propor algo novo, possivelmente contraditório. Os elementos que devem agir em harmonia para possibilitar o estado criativo são as habilidades intelectuais, o conhecimento, os estilos de pensamento, a personalidade, a motivação e o ambiente (Sternberg & Lubart, 1996). As habilidade intelectuais mais importantes para a teoria do investimento em criatividade são a assertividade, a capacidade de síntese e o raciocínio analítico. O conhecimento deve ser dosado para oferecer os instrumentos de criação e não gerar inflexibilidade. O estilo legislativo de pensamento é singularmente importante devido o seu caráter não conformista e individualista. Atributos como o gosto pelo risco, a vontade de superar obstáculos, a auto-eficácia e a capacidade de lidar com ambigüidades caracterizam a personalidade criativa. A motivação intrínseca possui o papel de força motriz da criatividade e, ademais, o elemento mais importante são os ambientes receptivos. O Modelo Geral da Criatividade de Pinheiro Uma proposta alternativa para a compreensão da problemática criativa é o modelo geral da criatividade, atualmente discutido na academia (Pinheiro, no prelo) e foco das atividades práticas da oficina relatada. Baseado nas teorias de processamento de distribuição paralela, esse modelo sugere que a criatividade é o resultado da integração matricial em rede dos neurônios, os quais podem assumir, complementarmente, configurações retilíneas, dispersas, elípticas e paralelas. Sempre que distribuídos em um eixo cartesiano, esses vetores representam os padrões de pensamento lógico, intuitivo, reflexivo e extrovertido, respectivamente. Ao contrário das cinco perspectivas mais difundidas na pesquisa em criatividade, o modelo de Pinheiro, porém, assume que cada par de vetores se somam, em vez de se anularem, gerando um terceiro valor, representado numericamente pelo desvio padrão. O fenômeno da criatividade é dito se manifestar nos momentos em que há equilíbrio entre ambos os pares de vetores divergentes, resultando no ponto x igual a zero e y igual a zero (0,0) (Fig. 01). REID, 2, pp. 97-112 103 Reszka, I. Figura 01: Modelo Geral da Criatividade Considerando que cada vetor dos eixos x e y varia de 0 a 100%, percebe-se que o universo no qual estão inseridos os padrões de pensamento possuem limites definidos entre x igual a -1 e y igual a -1 e x igual a 1 e y igual a 1. No interior desse espectro, logo, encontram-se quatro quadrantes, cada qual relacionando dois dos vetores do modelo. Já que, segundo Bogacz (2007), o comportamento baseado em estruturas conflitantes de estímulo difuso – redes neurais – obedece a uma relação exponencial, na qual a taxa de ativação de cada unidade torna a sua adjacente cada vez mais sensível à excitação, a dependência de x e y é tal que à medida que um dos vetores cresce os seus correspondentes perpendiculares necessitam de cada vez menos estimulo para gerar um mesmo estado mental limítrofe. A configuração resultante (áreas pretas da Fig. 01) faz referência a Perkins (1999) e à sua analogia de Klondike, o qual discrimina quatro situações que limitam a criatividade: o problema da raridade, o problema do isolamento, o problema do oásis e o problema do platô, ou, conforme interpretação psicológica, o medo, a raiva, o orgulho e o fanatismo, respectivamente. Mesmo que de maneiras diferentes, os quatro problemas inibidores da criatividade são basicamente motivos para a rigidez mental, acarretando a chamada “resistência a mudanças” (De Masi, 2003). Seria ingênuo não considerar a plasticidade cerebral do ser humano e deduzir que cada pessoa ocupa um lugar definido e estático nesse gráfico, restringindo o seu comportamento às atitudes peculiares de um único quadrante (Duffau, 2006). É constante e comum a oscilação entre as diversas áreas do modelo, especialmente após eventos traumáticos em ambos corpo e mente. Boa parte dos relatos históricos da criatividade, inclusive, se sustentam em uma narrativa cujo ponto de inflexão corresponde ao ápice das criações (Schaffer, 1999). Todas essas referências culminam na assertiva que baliza esta proposta: a criatividade se encontra no ponto de equilíbrio dos eixos. Em resposta, portanto, à tão corriqueira falácia do pensamento divergente criticada por Dietrich (2007), o modelo proposto encontra, precisamente, no ponto de 104 REID, 2, pp. 97-112 Oficina de criatividade: vivência e convivência equilíbrio entre os quatro vetores que compõem os seus eixos o estado de inspiração, a criatividade. Eis o principal elo que vincula os exemplos de criatividade artística, científica e demais: a capacidade de adquirir o estado mental complementar sem abdicar da sua já preponderante área de domínio. Não bastasse o meio ser o ponto mais distante e eqüidistante dos quatro problemas inibidores da criatividade, ele caracteriza o estado de clareza súbita no qual compreensão e capacidade de expressão se misturam, possibilitando não apenas a idealização, mas, a materialização da criação. “Paz de espírito”, “êxtase”, “felicidade”, “iluminação” ou qualquer outro substantivo vinculado ao momento criativo, portanto, deixa de possuir relação de causa e efeito e torna-se uma faceta da própria condição gerativa da cognição. Compreendida, com o auxílio desse modelo, a complexidade presente na criatividade, passa-se para o segundo objetivo deste artigo, que é discutir e propor meios de efetuar, na prática, a referida sinergia entre os vetores complementares. Não são novidades as propostas pedagógicas capazes de contemplar essa tarefa (Dawes, 2007), no entanto, apresentam-se aqui, alguns exemplos concretos de atividades aplicadas a pessoas com dificuldades diversas no que se refere ao exercício da criatividade, buscando demonstrar a amplitude das intervenções e a necessidade de integração entre sujeitos de natureza oposta. Convivência Seguindo a proposta de iniciar – dadas as restrições temporais – o desenvolvimento dos principais vetores complementares da natureza básica de cada participante, os facilitadores da oficina de criatividade dividiram o período de atividades práticas em duas instâncias: 1) identificação individual do padrão de pensamento predominante e; 2) convivência harmônica entre pessoas de domínios opostos. Na primeira etapa foram realizados exercícios específicos para cada um dos quatro vetores propostos pelo modelo geral da criatividade, o que permitiu a compreensão das forças e fraquezas específicas de cada um. Na segunda fase, após a formação de grupos com tendências afins, todos foram incentivados a compartilhar suas dificuldades no processo criativo, recebendo em troca as opiniões e sugestões daqueles que, em tese, lidariam melhor com a devida situação. Identificação Individual Existem inúmeras propostas para a medição dos itens que compõem a criatividade, as quais sugerem a utilização de índices de criatividade (O’Reilly, Dunbar, & Bentall, 2001), inventários de personalidade (Julien, O’Connor, & Aardema, 2007), escalas de opinião (Hocevar & Bachelor, 1989), técnicas de neurofeedback (Fink et al., 2007) e, até mesmo, o volume de patentes concedidas (De Masi, 2003). Apesar dos numerosos e constantes avanços das medidas psicológicas, ainda não existem testes REID, 2, pp. 97-112 105 Reszka, I. objetivos e precisos o suficiente para se saber em que ponto do gráfico do modelo geral uma pessoa qualquer se encontra. Essa dificuldade, longe de inviabilizar uma intervenção educacional, exige que se passe para uma segunda instância de análise, os vetores individuais do modelo. Nisso, utilizou-se na oficina uma série de tarefas, cada qual supostamente desafiadora em especial para um dos vetores do modelo, o que possibilitou o julgamento individual das suas competências e tendências de pensamento, posteriormente assinaladas em papel. Apresentados através de slides, cada exercício teve a duração aproximada de dez minutos e consistiu da resposta, algumas vezes heurística, outras algorítmica, a questões abertas. A primeira tarefa foi referente ao pensamento reflexivo e questionou: Como se distribuem os móveis da sala utilizada? Como essa distribuição poderia ser melhorada? É possível traduzir essa mesma melhora para um organismo vivo, considerando a forma e o conteúdo? O objetivo dessas perguntas foi verificar o grau de flexibilidade dos participantes, já que o vetor reflexivo (elíptico), ao repassar várias vezes uma mesma questão, quando bem desenvolvido tende à observância de diferentes pontos de vista sobre um mesmo tópico (Julien, O’Connor, & Aardema, 2007). A segunda questão disse respeito ao vetor intuitivo e indagou: Por que a universidade foi construída exatamente em sua localidade? Como a vida das pessoas do entorno próximo foi modificada em função da construção de tantos edifícios? Que dramas acompanharam essas mudanças? Dessa vez, o escopo da tarefa estava centrado na originalidade das respostas, uma vez que a intuição (rede dispersa, ou difusa) costuma permutar elementos rapidamente, gerando uma grande quantidade de informações atípicas com base em análise combinatória (Baylor, 1997). A terceira tarefa, por sua vez, focalizou o padrão de pensamento extrovertido ao interrogar: Como disfarçar a entrada tardia em uma sala de aula? Como descontrair uma equipe para que essa não julgue negativamente a sua ausência? De que forma transparecer comprometimento para com uma atividade? A medida da extroversão (rede paralela) é a quantidade absoluta de respostas, tendo em vista que esse vetor valoriza os pensamentos amplos e de pouca densidade (Rietzschel, Nijstad, & Stroebe, 2007). A quarta questão, por fim, tem a sua pertinência junto ao vetor lógico e pergunta: Que número seguiria a seqüência 12-13-15-18-22-27-33? Que número seguiria a seqüência 33-30-28-25-23-20-18? Que número seguiria a seqüência 1-1-3-624-72-360? Encontrar a lógica que rege cada seqüência significa dar prosseguimento ao padrão de rede linear, o qual categoriza, hierarquiza, segrega e administra através do grau de elaboração das idéias (McInerny, 2006). A classificação junto ao pensamento lógico é derivada da velocidade com que os participantes realizavam essas tarefas. Após os quarenta minutos de atividades, a auto-avaliação distinguiu um total de três participantes prioritariamente reflexivos, uma pessoa de tendência intuitiva, um sujeito de pensamento extrovertido e outros três no viés lógico. Nesse momento passou106 REID, 2, pp. 97-112 Oficina de criatividade: vivência e convivência se para a fase integrativa, na qual, seguindo as orientações do modelo geral da criatividade (Pinheiro, no prelo) e as propostas mais recentes para o estímulo do potencial criativo (De Masi, 2003), buscou-se o equilíbrio individual por meio da complementação coletiva. Troca de Experiências Dispostos espacialmente, conforme os eixos da Figura 01, na sala em que ocorreu a oficina de criatividade, cada participante teve a oportunidade de expor os momentos em que houve, ou em que há, maior dificuldade de se atingir a criatividade, assim como de solicitar o auxílio daqueles diretamente à sua frente (grupo com padrão de pensamento complementar). Nessa atividade, a interferência dos facilitadores se restringiu à organização das cadeiras, à exposição dos objetivos do exercício, ao controle do tempo disponível para cada indivíduo e à mediação dos inquéritos e réplicas. Coube aos próprios participantes articular seus respectivos discursos, assim como concluir, com base nas opiniões oferecidas e à luz do modelo geral apresentado, de que forma, se possível, a contribuição complementar ajudaria a sanar seu déficit. É interessante notar que, apesar do meio universitário ter de fato balizado os discursos a cerca de suas dificuldades (problemas para com a conclusão de seus respectivos trabalhos acadêmicos), o argumento gerativo alternou substancialmente conforme o tipo de pensamento aplicado. No momento em que, por exemplo, o primeiro participante se manifestou relatando atraso em seu trabalho de conclusão de curso, todos os demais assumiram explicitamente uma postura semelhante e concordaram com a necessidade de mais criatividade para esse tipo de empreitada. A diferença, contudo, permeou as razões que levaram a tal atraso: a) para os lógicos, o excesso de informações desconexas; b) para o intuitivo, a necessidade de encontrar uma abordagem inovadora para tratar de seu assunto recorrente; c) para os reflexivos, a constante revisão e aprimoramento do texto com base em novos dados obtidos e; d) para o extrovertido, a incapacidade de sentar e se concentrar para redigir o material que lhe sobrecarrega a mente. Tal sinergia foi esclarecedora quanto à proposta e significativa para a compreensão empírica do modelo, tendo em vista que o próprio elemento que embaraçava o trabalho alheio se apresentou como resposta à atitude individual. Isso significa que os lógicos perceberam o benefício de se perder em meio às informações, pois, de outra forma nunca superariam as suas expectativas; que o intuitivo chegou à conclusão de que é preciso delimitar sua pesquisa para saber discernir uma novidade de um senso comum; que os reflexivos decidiram desenvolver suas idéias em novos tópicos de seus textos, em vez de refazer aquilo que já havia sido escrito e; que o extrovertido determinou resolver apenas uma pendência de cada vez, mantendo o foco somente na atividade mais pertinente ao momento. REID, 2, pp. 97-112 107 Reszka, I. Além dessa questão, um dos participantes lógicos trouxe para o debate a sua inaptidão em se relacionar socialmente com o sexo oposto. Sua narrativa expôs a incompreensão da variedade de comportamentos observados no sexo alheio a um mesmo estímulo de sua parte, sua irritabilidade sempre que se julgava mal interpretado e a descrição de um suposto relacionamento ideal baseado em regras claras e transparentes, especialmente no que tange o contato físico. Primeiramente, o modelo geral da criatividade (Pinheiro, no prelo) confere à intuição a capacidade empática – se colocar no lugar de outrem – e, portanto, sua primeira queixa é plausível e derivada da incapacidade de processar dados antagônicos e, desta forma, de lidar com a coexistência de inúmeras verdades simultaneamente. O mesmo modelo, em consonância com Munro e colaboradores (2007), afirma que o excesso de lógica, sem o complemento da intuição, tende ao comportamento psicopático, em maior ou menor grau, o que torna a agressividade uma resposta coerente às tentativas de enquadrá-lo a um padrão contrário à sua natureza. Já a sua descrição hipotética, simplifica as relações humanas, ao convertê-las em um padrão cartesiano. Prognóstico oferecido pelo participante complementar: desenvolver a intuição ao submeter-se à ambientes caóticos, aprendendo a conviver com a sua complexidade, sem a necessidade de organizá-los seqüencialmente. A participação individual do sujeito intuitivo, por sua vez, não foi marcada pela exposição de uma outra dificuldade, mas pelo constante uso de paráfrases, referencias diretas e demais artifícios externos para expressar suas idéias. Sempre que questionada ou disposta a compartilhar suas experiências, a pessoa intuitiva demonstrava grande repertório nos saberes artísticos e esportivos, apesar de, todavia, também possuir grande dificuldade em sintetizá-lo e divulgá-lo através de suas próprias palavras. É válido mencionar que o recurso às analogias e às metáforas é um ponto comum (Wechsler, 2002) dentre as características atribuídas aos criativos, assim como a utilização do conhecimento proveniente da autoridade – religiosa, acadêmica, política etc. – marca o comportamento típico dos intuitivos (Pinheiro, no prelo). Quando os intuitivos desejam se manifestar em um ambiente cujo linguajar é heterogêneo o suficiente para não permitir ambigüidades, portanto, sua principal estratégia aparenta ser o emprego das palavras alheias de onde derivou seu conhecimento, as quais tendem sintetizar o seu ponto de vista sem que haja a necessidade de argüir seu raciocínio. Sugestão dos participantes complementares: buscar compreender a fonte primária das idéias para que, com isso, o intuitivo possa oferecer com clareza um maior grau de abstração por meio de sua interpretação. Já os reflexivos, que demoraram em se manifestar durante a oficina, apresentaram boa facilidade em resumir suas conjecturas, assumindo ter uma árdua tarefa nos momentos de tomada de decisão. Um exemplo concreto oferecido descreveu a impossibilidade de escolher sobre as vantagens e desvantagens de uma moradia alternativa, a qual acarretaria em mais autonomia e gastos fixos. Ao mesmo tempo em que uma residência individual possibilitaria menos interferência na rotina do reflexivo, 108 REID, 2, pp. 97-112 Oficina de criatividade: vivência e convivência os maiores custos repercutiriam negativamente em diversos outros aspectos de sua vida. Segundo o modelo geral, o retardo na decisão consiste do aprofundamento, cada vez maior, nas questões que envolvem a escolha, já que isso torna complexo o equacionamento do tamanho de uma possível recompensa e o tempo necessário para obtê-la (Bogacz, 2007). Alternativa sugerida pelo participante extrovertido: listar no papel todos os prós e contras, por menos significativos que sejam, de cada opção, já que isso facilita visualizar o peso das decisões. Esse mesmo extrovertido, por sugestão dos facilitadores, reteve sua participação até o fim, momento em que expôs sua inaptidão em prestar atenção nos conselhos de seu cônjuge. O relator afirmou ter consciência dos benefícios do diálogo, bem como do acréscimo que as sugestões do cônjuge trariam à sua qualidade de vida, o que, entretanto, não foi capaz de mudar o seu modus operandi. Para o modelo de Pinheiro (no prelo), tal comportamento é característico da associação entre um alto valor de extroversão e um baixo vetor reflexivo, atingindo, nos contrastes mais elevados, o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Interessante notar que a tomada de consciência do extrovertido não foi o suficiente para uma mudança de atitude, sendo necessário recorrer a outras, ainda desconhecidas, táticas. Proposta dos reflexivos: se disciplinar – obedecer a horários, práticas e conseqüências – em atividades do dia-a-dia, para conseguir, posteriormente, seguir outros tipos de regulamento mais rígidos e impessoais. Fecha-se, assim, o ciclo de vetores sugeridos pelo modelo geral da criatividade e seus respectivos exemplares de comportamento. Este artigo segue um dos direcionamentos de pesquisa sugeridos por Pinheiro (no prelo), buscando relacionar a descrição dos estados mentais gerais com os seus paralelos sociais, ao examiná-los sob o prisma da convivência humana. Futuras contribuições ainda podem contemplar a psicometria do fenômeno, estudos correlacionais quantitativos, estudos longitudinais, métodos de estímulo à solução criativa e a influência de diferentes abordagens pedagógicas no ensino da criatividade, pois, mais que compreender o fenômeno da criatividade em si, busca-se o desenvolvimento integral do ser humano. Considerações Finais Aproveitando-se de dados ex post facto, este estudo de caso qualitativo observou, nos participantes de uma oficina de criatividade, manifestações concretas de comportamentos supostamente originários dos diferentes vetores que compõem o modelo geral da criatividade. Independentemente da ênfase dada, os dados deste estudo servem para alimentar, respeitadas as restrições de precisão e generalização, qualquer uma das perspectivas empregadas para a pesquisa desse fenômeno. Lógicos, intuitivos, reflexivos e extrovertidos, em suma, por mais que percebam as mesmas dificuldades, tendem a interpretá-las de maneira diferente e podem buscar soluções no extremo oposto de seu eixo. REID, 2, pp. 97-112 109 Reszka, I. Seja para o êxito comercial, seja para a realização pessoal, a criatividade, cada vez mais, é foco de pesquisas nas áreas da psicologia e da educação, tornando imprescindível o acúmulo e o registro de fatos que melhorem o isomorfismo do fenômeno e a prática pedagógica. Longe de encerrar qualquer discussão a respeito do modelo de Pinheiro, este texto, apenas, sugere que a sua organização possa facilitar a categorização individual e a intervenção coletiva para esses mesmos fins. Enquanto não houver métodos mais eficientes para ambas medição e mediação da criatividade, louvam-se as próximas iniciativas de integração, tais quais a SEPEX, pois, se da troca de experiências entre pares emergem os lucros pessoais, é precisamente das reuniões coletivas que surgem as inovações metodológicas e conceituais. Referências Amabile, T. (1983). The social psychology of creativity: a componential conceptualization. Journal of Personality and Social Psychology, 45 (2), 357-376. Amabile, T. (1982). Social psychology of creativity: a consensual assessment technique. Journal of Personality and Social Psychology, 43 (5), 997-1013. Baylor, A. (1997). A three-component conception of intuition: Immediacy, sensing relationships, and reason. New Ideas in Psychology, 15 (2), 185-194. Bogacz, R. (2007). Optimal decision-making theories: Linking neurobiology with behaviour. Trends in Cognitive Sciences, 11 (3), 118-125. Brown, R. (1989). Creativity: What are we to measure? Em: J. 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O presente artigo tem por objetivo caracterizar o comportamento cyberbullying, alertar sobre os riscos de tal prática no desenvolvimento e saúde física, social e psicológica de crianças e adolescentes, bem como conscientizar sobre a possível dimensão e alcance dessa prática, que ainda requer muita atenção de estudiosos e pesquisadores do mundo todo. Palavras-chave: cyberbullying, crianças, tecnologias digitais, internet CYBERBULLYING: UN NUEVO RIESGO QUE PROVIENE DE LAS TECNOLOGÍAS DIGITALES Resumen El cyberbullying es un tema relativamente nuevo en la literatura y envuelve la utilización de las tecnologías digitales por parte de los niños y adolescentes para promover la vergüenza moral o psicológico, especialmente entre los pares. El actual artículo tiene como objetivo caracterizar el comportamiento cyberbullying, advertir sobre los riesgos de esta práctica en el desarrollo y la salud física, social y psicologica de los niños y adolescentes, así como la concienciación sobre la dimensión y posible alcance de esta práctica, que aún necesita de mucha atención estudiosos y investigadores del mundo todo. Palabras clave: cyberbullying, niños, tecnología digital, internet 18 Psicóloga, especialista em psicologia clínica, mestre em neurociências e doutoranda do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail: [email protected] REVISTA ELECTRÓNICA DE INVESTIGACIÓN Y DOCENCIA (REID), 2, JUNIO 2009, PP. 113-119 ISSN: 1989-2446 Maidel, S. CYBERBULLYING: A NEW RISK THAT COMES FROM DIGITAL TECHNOLOGIES Abstract Cyberbullying is a relatively new theme in the literature and involves the use of digital technologies by children and adolescents to moral or psychological’s harassment, especially among peers. This article aims to characterize the behavior cyberbullying, warn about the risks of such practice in the development and physical health, social and psychological care of children and adolescents, as well as awareness on the possible size and scope of this practice, which still requires a lot of attention scholars and researchers worldwide. Key-words: cyberbullying, children, digital tecnologies, internet Introdução O termo bullying origina-se da palavra inglesa bully, que como adjetivo significa “valentão” e como verbo (to bully), significa “brutalizar”, “tiranizar” e de modo mais amplo, maltratar, tratar abusivamente, afetar pela força ou coerção, usar linguagem ou comportamento amedrontador, intimidar (Fante, 2005). Especula-se que o termo tenha surgido na Grã-Bretanha, por volta de 1710, para designar uma forma de crueldade que se dava na relação entre crianças e adolescentes (Oxford Dictionary of English, 2006). Na França o termo usado para designar este fenômeno é harcèlement quotidien, na Itália é chamado de prepotenza ou mesmo de bullismo, no Japão de ijime, na Alemanha de agressionen unter schülern, na Noruega de mobbing e em Portugal, de maus-tratos entre os pares (Nogueira, 2005) – evidenciando, assim, o caráter universal do bullying. Por definição, o termo compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder. Essa assimetria de poder associada ao bullying pode ser em função da diferença de idade, tamanho, desenvolvimento físico ou emocional ou ainda, do maior apoio dos demais estudantes (Almeida, 2008; Antunes & Zuin, 2008; Lopes Neto, 2006; Neto & Saavedra, 2004). Na percepção de Oliveira e Votre (2006), “é a mais primária forma de violência, 114 REID, 2, pp. 113-119 Cyberbullying: um novo risco advindo das tecnologias digitais que pode manifestar-se por palavras, gestos e ações, e tem na linguagem gestual e verbal sua concretização mais comum, pois geralmente começa pela chacota e humilhação verbal, podendo ou não vir acompanhada de ações que discriminam e atemorizam”(p.174). Evidências sugerem que tais comportamentos estão comumente voltados para grupos com características físicas, sócio-econômicas, de etnia e orientação sexual, específicas (Smith, 2002), mas por se fazer presente em situações aparentemente corriqueiras do ambiente escolar (como por exemplo, colocar apelidos, zoar, gozar, sacanear, humilhar, ofender, ignorar, amedrontar, empurrar, roubar ou quebrar pertences, etc.) nem sempre o fenômeno do bullying é percebido ou mesmo combatido. Na opinião de Nogueira (2005), em função das fronteiras da violência se tornarem maleáveis, frágeis e difíceis de serem definidas é que muitas vezes a mesma se confunde, se interpenetra, se inter-relaciona com agressão e indisciplina na esfera escolar, e os casos de violência entre pares acabam naturalizados. Conforme a autora, “(...) a grande maioria dos profissionais da Educação não sabe tratar e distinguir os alunos agressivos dos indisciplinados e violentos, arriscando pseudodiagnósticos” (p.93) e isso, em si, já contribui para a dissimulação do próprio fenômeno, dificultando sua delimitação e estudo. Contemporaneamente convive-se com um agravante a mais, que poderia até ser considerado uma evolução na manifestação do próprio bullying, o chamado Cyberbullyng. Este comportamento envolve o uso da informação e das tecnologias digitais atuais, como emails, mensagens para celulares, mensagens de texto instantâneas (MSN, ICQ, etc), web sites pessoais, comunidades virtuais, sites de relacionamento, dentre outros, como meio de apoio deliberado para a propagação de comportamento hostil com o objetivo repetido de injuriar, caluniar e prejudicar alguém (Belsey, 2009). Considerando a utilização massiva das tecnologias digitais por crianças e adolescentes uma realidade atual e crescente, pois dela fazem uso habitual para comunicarem-se, para estudar e para se divertir, parece legítimo destacar a importância e necessidade de discussão para o assunto, especialmente ao que se refere ao tipo de uso e tipo de atividades ao qual se engajam crianças e adolescentes quando navegam na internet, sobretudo em função dos riscos e abusos que esta tecnologia admite. Contextualização e riscos Embora muitos pais e educadores já reconheçam o problema do bullying escolar, poucos estão atentos ao fato que crianças e adolescentes podem estar sendo atormentadas através dos meios de comunicação eletrônicos (Beran & Li, 2005). E mesmo reconhecendo a existência, muitos dos comportamentos agressivos observados entre pares são tradicionalmente admitidos como naturais e integrantes do próprio curso de desenvolvimento, sendo habitualmente ignorados ou não valorizados adequadamente, o que REID, 2, pp. 113-119 115 Maidel, S. por sua vez favorece a sensação de impunidade pelo ato praticado e a perpetuação do comportamento agressivo (Almeida, 2008; Johns, 2008; Lopes Neto, 2005). Com o cyberbullying não é diferente. Ademais, levando-se em conta que práticas dessa natureza geralmente ocorrem fora do alcance da supervisão dos adultos, bem como que grande parte das vítimas não reage nem comenta a agressão sofrida (Fekkes, Pijpers, & VerlooveVanhorick, 2005), pode-se entender por que professores e pais ainda subestimam a ocorrência do (cyber)bullying e ainda atuam de forma insuficiente para a redução e interrupção dessas situações (Bauer et al., 2006; Pingoello, 2009). Diferentemente do bullying, essa modalidade cibernética de violência parece não se caracterizar por uma relação desigual de poder, ou seja, no cyberbullying parece que diferença de idade, tamanho, desenvolvimento físico ou emocional, e mesmo o maior apoio dos demais estudantes não são determinantes para a sua prática (Ybarra & Mitchell, 2004). Dessa forma, até mesmo uma criança ou adolescente que em público não se envolveria com o bullying pode vir a praticar o cyberbullying, tornando a situação da vítima ainda mais angustiante por ignorar quem, ou quantos, estão por trás dos ataques (Zimmerle, 2003). Em acréscimo, o anonimato possível e permitido através dos meios digitais parece encorajar um comportamento ainda mais agressivo e ofensivo por parte dos autores do cyberbullying, possivelmente por percebem como reduzida a chance de serem detectados e punidos (Johns, 2008). Outra característica marcante desse tipo de violência, em função de seus recursos, é que ela extrapola limites de tempo e local, invadindo e se fazendo presente em espaços anteriormente considerados protegidos e seguros para as crianças e adolescentes, o que amplia, e muito, o alcance e potenciais malefícios dessas agressões sobre as vítimas. Nesse sentido, ressalta-se que apesar de serem praticados através de meios virtuais, as conseqüências e impactos do cyberbullying sobre a vida de crianças e adolescentes são tão reais e devastadoras quanto as do bullying, inclusive acarretando riscos de suicídio e automutilação por parte de vítimas mais vulneráveis (Totura et al., 2009). De acordo com a Childnet International 19 (2007) e o Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar (CEMEOBES, 2009), dentre as conseqüências mais comuns às vítimas encontram-se os prejuízos na socialização e baixa auto estima, pois a vítimas tendem a se isolar como forma de se proteger de novos ataques; prejuízos à aprendizagem, pois há uma queda na atenção da criança e quando sabido que o cyberbullying origina-se na escola, a vítima tende a faltar às aulas. Menciona-se também impacto sobre a saúde física e emocional da vítima, que se manifestam por diversos sintomas, como por exemplo: ansiedade, tristeza (podendo chegar à depressão e levar à pensamentos suicidas), estresse, medo, apatia, angústia, raiva reprimida, dores de cabeça e estômago, distúrbios do sono, 19 Entidade sem fins lucrativos criada em 1995 com o objetivo de fazer da Internet um lugar seguro e maravilhoso para as crianças, garantir e promover os seus interesses. Atua em 4 áreas chave: acesso; consciencialização; proteção e política. Para maiores detalhes: http://www.childnet-int.org/ 116 REID, 2, pp. 113-119 Cyberbullying: um novo risco advindo das tecnologias digitais perda do apetite, isolamento, dentre outros; bem como que muitas dessas conseqüências persistem ao longo da vida da vítima, mesmo cessados os ataques (Antunes & Zuin, 2008; Bauer et al., 2006; Pingoello, 2009; Totura et al., 2009). Contudo, os agressores necessitam tanto de ajuda quanto suas vítimas, pois o comportamento agressivo é apontado como resposta à falta de alicerce para a formação de sua autoconfiança, autoestima, auto-conceito e internalização de limites (Pingoello, 2009). Diferente das agressões pessoais que são localizadas e com tempo podem ter sua lembrança apagada ou diminuída, o cyberbullying além de envolver a ampla disseminação de calúnias, injúrias ou informações degradantes à exposição pública através das tecnologias digitais (via blogs, sites de votação, comunidades virtuais e outros recursos da internet, por exemplo), também implicam em uma gigantesca dificuldade, quiçá impossibilidade, de tirá-las novamente de circulação, o que acaba conferindo um certo aspecto perene a referidas agressões. Ou seja, qualquer criança ou adolescente vítima desses cruéis ataques ainda que mude de escola, bairro ou cidade, pode continuar alvo desse tipo de violência por um longo tempo, isso sem falar das agressões e difamações que já ficaram registradas e permanecem disponíveis a todo um universo online, podendo vir a desencadear ou motivar embaraços e humilhações (talvez até novos ataques) na rede social recém ingressada e, mesmo, angústia e constrangimento ao longo de sua vida. Quando se vislumbra certa noção da profundidade e alcance que o cyberbullying pode ter sobre o desenvolvimento e saúde física, social e psicológica de crianças e adolescentes, quer vítimas ou autores de referido comportamento, percebe-se a importância de discutir e popularizar esse assunto entre todo o tipo de profissionais que lidam com essa faixa etária, auxiliando na detecção do problema e na adoção de medidas mais assertivas para tentar prevenir ou cessar tal comportamento. Pingoello (2009) comenta que quando se fala em conter a violência escolar, “as primeiras atitudes a serem tomadas são as relacionadas com a contenção do comportamento agressivo por meio de sermões, advertências e castigos” (p.111), mas adverte que desse modo não se combate a causa do problema, podendo oportunizar que o mesmo fenômeno venha a se manifestar de forma mais forte e assustadora futuramente. Acaso não seria essa uma das possíveis conseqüências da sociedade ter se mantido tão lenta e inerte com relação ao reconhecimento e combate do próprio bullying? Considerações finais Para evitar que o uso das tecnologias digitais exponha crianças e adolescentes a riscos como o cyberbullying, aos pais e educadores cabe a tarefa de conscientizá-los quanto as conseqüências de todos seus atos, reais ou virtuais, bem como oportunizar situações e espaço para discussão sobre o tema, fornecendo apoio e estando atentos a qualquer tipo de REID, 2, pp. 113-119 117 Maidel, S. conduta que indique a prática ou a vitimização pelo cyberbullying , mas sobretudo acompanhando e conhecendo as atividades dessas crianças e adolescentes frente ao mundo digital para que possam orientá-los quanto ao uso responsável e correto dessas tecnologias. Enquanto fenômeno contemporâneo, o cyberbullying ainda requer muita atenção de estudiosos e pesquisadores do mundo todo, principalmente porque seu estudo é relativamente recente na literatura e ainda carece de uma visão integradora para que possa ser compreendido em sua totalidade e ações preventivas (ou remediativas, se é que é possível) possam ser adotadas. Dada as implicações e alcance dessa modalidade de violência, também se faz primordial uma ação sistemática e prolongada de toda a sociedade, para oportunizar a mudança de aspectos culturais intimamente relacionados a aceitação e respeito que se deve ter com relação a todo e qualquer tipo de diversidade humana – pois o melhor meio de evitar comportamentos como o cyberbullying é estimular a conscientização e o respeito incondicional às diferenças desde a tenra idade. Referências Almeida, A. (2008). O que sabemos da violência na escola e como podemos intervir. In: Fundação Prodignitate (ed.) Seminário nacional contra a violência. 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