escola de comando e estado-maior do exército

Transcrição

escola de comando e estado-maior do exército
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO
EXÉRCITO
CURSO DE PREPARAÇÃO E SELEÇÃO
(ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO)
CURSO DE PREPARAÇÃO
AOS CURSOS DA ECEME
(CP/ECEME)
INFORMATIVO Nr 098 – 1º/2007
3º Volume
2
ÍNDICE
INFORMAÇÕES IMPORTANTES...............................................
4
BRASIL: DESIGUALDADES SOCIAIS E REGIONAIS.................
5
BRASIL PODE TER A DÉCADA DA REDUÇÃO DA DESIGUALDADE,
AVALIAM PESQUISADORES.......................................................
5
CIDADES BRASILEIRAS ESTÃO EM RELATÓRIO DE ONG
BRITÂNICA COMO EXEMPLO NO COMBATE À CRISE MUNDIAL DA
ÁGUA.....................................................................................
7
BRASIL: ESPAÇOS RURAIS E URBANOS.................................
8
SHOW DE VIOLÊNCIAS............................................................
8
BRASÍLIA É A PRIMEIRA EM QUALIDADE DE VIDA........................
9
AS CAMPEÃS EM INFRA-ESTRUTURA..........................................
10
MST REFORÇA ATAQUE AO AGRONEGÓCIO.................................
13
AULA COLOMBIANA.................................................................
15
FALSO AMBIENTALISMO...........................................................
16
GENERAL É CONTRA O USO DAS FORÇAS ARMADAS NO
POLICIAMENTO DO RIO............................................................
17
BRASIL: GESTÃO DOS RECURSOS ESTRATÉGICOS.................
20
MINISTRO: CULTIVO DE CANA NO PAÍS É RESPONSÁVEL.............
20
HIDRELÉTRICAS AMEAÇAM A BACIA DO PRATA...........................
20
EDUCAÇÃO TRARÁ MAIS RETORNO QUE FÁBRICAS, DIZ LULA.......
21
VÁRIAS SOLUÇÕES..................................................................
23
SHOW DE VIOLÊNCIAS............................................................
24
FUNDADOR DO GREENPEACE DEFENDE ENERGIA NUCLEAR..........
25
PEQUENA REVOLUÇÃO.............................................................
27
EDUCAÇÃO PÚBLICA NÃO É IGUAL PARA TODOS.........................
28
VÍTIMAS DE TODOS OS GOVERNOS...........................................
30
ENTRE A FINLÂNDIA E O PIAUÍ.................................................
31
PEQUENAS E INTELIGENTES.....................................................
33
ELES PRECISAM DE EDUCAÇÃO.................................................
36
CRISE AÉREA É PONTA DE ICEBERG..........................................
38
PLANO PARA O ENSINO............................................................
39
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO...........................................
41
BRASIL: FORMA E REFORMA DO ESTADO..............................
43
TRAGÉDIA BRASILEIRA............................................................
43
3
NEGOCIANDO PELOS OUTROS..................................................
44
SISTEMA FERROVIÁRIO BRASILEIRO PRECISA DE PLANEJAMENTO
A MÉDIO E LONGO PRAZO, DIZ CNT.......................................... 46
ETANOL O MUNDO QUER..........................................................
47
MANTEGA DIZ QUE GOVERNO QUER REMOVER OBSTÁCULOS A
INVESTIMENTOS PRIVADOS.....................................................
56
PARTICIPAÇÃO DE ÁLCOOL E BIODIESEL NOS COMBUSTÍVEIS
PODE CRESCER 10 VEZES ATÉ 2030.......................................... 57
ENERGIA. A ÚLTIMA FRONTEIRA...............................................
58
O DIA EM QUE O POÇO SECAR..................................................
62
A RETOMADA DAS GRANDES USINAS......................................... 64
LULA
CONFIRMA
PROPOSTA
BRASILEIRA
PARA
DESTRAVAR............................................................................ 66
A RODADA DOHA A BEIRA DO COLAPSO.....................................
67
NOVO PERFIL NAS IMPORTAÇÕES BRASILEIRAS..........................
68
BRAZIL EMERGING AS GLOBAL TRADE LEADER...........................
69
UM TERÇO DAS CIDADES TEM MÉDIA 2 OU MENOR NO ENSINO
BÁSICO.................................................................................. 71
BRASIL: ÁREAS DE INTERESSE.............................................
73
UNIÃO EUROPÉIA E BRASIL INTENSIFICAM DIÁLOGO..................
73
BRASIL-MÉXICO......................................................................
75
BRASIL ATRAI PARCEIROS........................................................ 76
LULA E BUSH VÃO ANUNCIAR PACOTE PARA HAITI......................
77
O PETRÓLEO CONTRA-ATACA....................................................
79
A PARCERIA PARA O PRESENTE E O FUTURO...............................
79
BRASIL, AINDA UM PAÍS DE FUTURO.........................................
81
BIOCOMBUSTÍVEIS UNEM BRASIL, ÍNDIA E ÁFRICA DO SUL.........
84
4
INFORMAÇÕES IMPORTANTES!
Reiterando informações anteriores, esta publicação será
a última apresentada sob a forma de arquivo. A partir do
próximo Informativo, a forma de apresentação será feita de
maneira continuada, inicialmente por meio da página do
Curso (www.eceme.ensino.eb.br/cpeceme/). Posteriormente
também será inserida no Ambiente EBAULA. Para acessar,
basta seguir os links disponibilizados na página.
LEMBRE-SE
Adote o hábito de consulta à página eletrônica do CP/ECEME
da ECEME na internet,( www.eceme.ensino.eb.br/cpeceme/) e por
meio dela, o acesso ao EB AULA. Informações relevantes do curso
são veiculadas por esses meios.
Além disso, consulte os diferentes sites da Internet. Existe
muita informação que pode ser extraída dessa fonte de informações.
Procure sempre idéias que respondam os diferentes objetivos
específicos constantes do PLADIS.
Procure estudar em grupo. Dessa forma, a busca pelas idéias
pertinentes que atendam as propostas constantes do PLADIS poderá
ser dividida pelos seus integrantes e posteriormente, compartilhada.
Isso aperfeiçoa a troca de informações e de conhecimento.
Serão apresentadas atividades para serem executadas de
forma individual ou em grupo. Algumas delas deverão ser remetidas
por meio da Internet para a Tutoria, de maneira que possam ser
analisadas e corrigidas.
Faça um planejamento de estudo e procure ser rigoroso no
seu cumprimento. Leia bastante, de forma seletiva e objetiva.
REDIGIR MUITO, É A CHAVE DO SUCESSO.
Você estará fazendo uso do Conhecimento, do Método e da
Expressão Escrita. Atualize-se nos assuntos de Geografia e
aprofunde os conhecimentos em História, pesquisando em diversas
fontes, especialmente nas recomendadas. Seja simples, lógico e
objetivo nas soluções das questões. Acredite na sua capacidade e
visualize a vitória.
Não deixe de reservar um tempo para o lazer e para a família.
5
BRASIL: DESIGUALDADES SOCIAIS E REGIONAIS
Brasil pode ter a década da redução da
desigualdade, avaliam pesquisadores
Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Brasil pode marcar definitivamente os anos 2000 como a
década da virada, iniciando um processo de diminuição da
desigualdade e da pobreza no país, concluem especialistas que
avaliaram os números da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) de 2005.
A Pnad é realizada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). A de 2005 foi a mais recente a ser divulgada, no
último mês de setembro. Segundo o IBGE, trata-se da maior
pesquisa por amostra realizada anualmente no país e a que possui a
mais longa série histórica, com dados desde o início dos anos 90.
Hoje, um evento reuniu representantes de cinco ministérios e da
Presidência da República para a apresentação de 15 pesquisas sobre
educação, trabalho e indicadores de pobreza e desigualdade, todas
baseadas nos dados da Pnad. Os pesquisadores que apresentaram
trabalhos sobre esse último tema divergem em relação ao que o
governo deve fazer para que a queda na desigualdade continue, mas
são unânimes num ponto: a Pnad aponta uma redução consistente da
desigualdade e da pobreza, nos últimos anos.
Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas (Ipea), destacou o papel do Bolsa Família na redução da
pobreza extrema. “O programa tem um enorme impacto para reduzir
aquela pobreza que é a mais grave de todas”, disse ele. “O Bolsa
Família vai aonde ninguém estava indo. Pela primeira vez, conseguiuse criar um canal de comunicação direto com a população mais
pobre.”
“O crescimento nos últimos anos não foi espetacular, mas a queda na
desigualdade foi”, afirmou o pesquisador Marcelo Néri, da Fundação
Getúlio Vargas. “Esta poderá ser a década da redução da
desigualdade”, completou.
As divergências entre os especialistas se dão em torno do papel
jogado nessa melhoria dos indicadores sociais pelo reajuste real do
salário mínimo nos últimos anos. Na avaliação de João Sabóia, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, houve um ganho real de
6
cerca de 40% (mais, ou menos, a depender do índice de inflação
usado) para o salário mínimo, entre 1995 e 2005.
Néri e Paes de Barros, entre outros, sublinham que o Bolsa Família é
mais eficaz como programa social, por focar a pobreza extrema a um
custo menor para os cofres públicos. Outros especialistas como
Sabóia e Cláudio Dedecca, da Universidade de Campinas (Unicamp),
lembraram que o reajuste do mínimo tem um papel importante por
ele servir de referência para o mercado de trabalho, evitando que o
“piso” geral seja achatado. Além disso, nos cálculos desses
pesquisadores, cerca de 60% do mercado de trabalho pode ser
diretamente beneficiado por um melhor reajuste para o mínimo.
Para o secretário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério
do Desenvolvimento Social, Rômulo Paes de Souza, as avaliações
mostram que essas políticas têm que ser conjugadas, porque atingem
diferentes objetivos. “O Bolsa Família se destina aos que ganham
muito pouco. Já o salário mínimo visa definir um padrão de
remuneração no país que seja o mínimo compatível com as
necessidades mais básicas da população”, diz ele.
Como também destacaram os pesquisadores, de qualquer forma, o
Bolsa Família e a valorização do salário mínimo só resolvem parte do
problema. Mais educação e expansão do mercado de trabalho com o
crescimento econômico são fatores essenciais, entre outros. “A
pobreza só pode ser enfrentada se conjugarmos tudo o que tivermos
com esse fim”, resume o secretário.
Entre as medidas sugeridas pelos especialistas ao governo estão o
aperfeiçoamento do Bolsa Família e a vinculação da transferência de
parte dos recursos às famílias ao desempenho escolar. Além disso, os
pesquisadores recomendam que se adote uma diferenciação entre o
valor recebido pelos aposentados e pensionistas que contribuíram
para a Previdência Social e os que não o fizeram, como forma de
incentivar a contribuição.
Nos debates sobre a educação, emergiram a problemática da
qualidade do ensino brasileiro, de forma geral, e a questão do acesso
à educação infantil e ao ensino médio. Por isso, os pesquisadores
recomendam medidas como a vinculação da transferência de recursos
a metas de qualidade pelas prefeituras e estados, além de uma
reformulação do currículo do ensino médio, como forma de torná-lo
mais atraente para os jovens.
Em 2005, a Pnad entrevistou cerca de 400 mil pessoas, em mais de
140 mil domicílios, distribuídos por todas as unidades da federação.
7
Por sua abrangência, a Pnad é considerada um poderoso instrumento
para que o governo possa planejar melhor suas ações, tendo uma
idéia mais clara do que acontece com os mais de 180 milhões de
brasileiros.
www.agenciabrasil.gov.br-Acessado em 07/03/2007
Cidades brasileiras estão em relatório de ONG britânica como
exemplo no combate à crise mundial da água
Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Quatro municípios brasileiros foram citados em um relatório
apresentado pela organização não-governamental (ONG) britânica
World Development Movement (WDM) como exemplos na solução de
problemas de abastecimento de água potável e coleta e tratamento
de esgoto. As quatro cidades brasileiras citadas no documento são
Alagoinhas (BA), Guarulhos (SP), Unaí (MG) e Porto Alegre (RS).
O relatório foi lançado por ocasião do Dia Mundial da Água,
comemorado na última quarta-feira (21), e fala sobre o
gerenciamento de recursos hídricos no Hemisfério Sul.
O relatório defende pontos-chave no sucesso de projetos de
administração do abastecimento de água e coleta de esgoto:
eficiência, responsabilidade, transparência e participação da
comunidade. Nos quatro casos brasileiros são mostradas iniciativas
de administração autônoma de água e esgoto pelo município,
envolvendo a população diretamente atingida pelas modificações. A
ONG britânica escolheu as cidades com base em documentos da
Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento
(Assemae).
Em Alagoinhas (BA), por exemplo, o texto afirma que desde 2001
foram incluídas nas contas de cada usuário as informações de receita
e despesas do serviço. Lá, a comunidade escolheu políticas básicas e
representantes para trabalhar em conjunto com o poder público no
desenvolvimento de um plano detalhado de água e saneamento.
O Brasil, entretanto, não atingiu o mesmo grau de saneamento
dessas cidades-exemplo. De acordo com os dados apresentados pela
WDM, 94.5% da população brasileira tem abastecimento de água,
enquanto 50.3% é atendida pela coleta de esgoto.
www.agenciabrasil.gov.br-Acessado em 25/03/2007
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BRASIL: ESPAÇOS RURAIS E URBANOS
Show de violências
FERNANDO DE BARROS E SILVA
SÃO PAULO - A percepção de que a violência passou a figurar no
topo das aflições dos brasileiros era algo óbvio para quem acompanha
os rumos do noticiário nacional nos últimos meses. Faltava-lhe
apenas a confirmação estatística, obtida pelo Datafolha e divulgada
ontem por este jornal. O desemprego, que reinou durante todo o
primeiro mandato de Lula como maior problema do país, foi
desbancado: hoje 31% dos brasileiros pedem em primeiro lugar por
segurança; eram 16% em dezembro. Sim, algo mudou de figura
muito rapidamente.
O que isso nos faz pensar? Seria decerto simplista atribuir tal
resultado apenas à exposição do assunto na mídia. Mas ignorar o
alcance desse aspecto seria outro erro, maior. Parece claro, para dar
logo nome aos bois, que a Rede Globo capitaneia, pelo menos desde
a morte de João Hélio, uma campanha por "justiça já" que só tende a
reforçar, ainda que involuntariamente, o caldo de cultura a favor do
aprofundamento das injustiças do país.
Há no ar (e na TV) um clima de "justiça justiceira", uma mistura
de clamor punitivo com alarmismo social cultivado pela mídia. Serve
como exemplo o reality show macabro protagonizado diariamente em
horário nobre pelos pais do menino brutalmente assassinado. O "JN"
os transformou em celebridades. A hiperexposição perversa do casal
faz com que a dor inominável daquela família seja triturada num
liqüidificador emocional até o ponto de servir de alimento ao desejo
coletivo de vingança e morte.
Só num ambiente social assim, de pernas para o ar, pode-se
considerar a estranhíssima "demonstração de força" da Polícia Civil na
última sexta como um gesto a favor da segurança e dos cidadãos. O
que se viu -sobretudo em São Paulo, onde a operação foi idealizada e
de fato executada- pareceu antes de mais nada uma mistura de
manobra midiática com demanda corporativa, sugerindo como saldo
quase um recado das forças de repressão do Estado ao governador.
Algo como: "Estamos aí, chefia".
FOLHA DE SÃO PAULO-26/03/2007
9
Brasília é a primeira em qualidade de vida
Do Correio Braziliense
02/04/2007
07h58-Em uma lista encabeçada por Zurique, na Suíça, a capital
federal aparece como a cidade brasileira mais bem colocada no
ranking mundial de qualidade de vida feito pela Mercer Consultoria de
Recursos Humanos. Brasília ocupa a 104ª posição, na frente de São
Paulo (114º) e do Rio de Janeiro (115º). A capital paulista caiu seis
posições na listas após os ataques do crime organizado, em 2006,
que provocaram a morte de dezenas de pessoas.
Na lanterna da lista está a capital do Iraque, Bagdá. “Com toda
certeza, os ataques de maio foram a principal causa da queda de São
Paulo”, disse a coordenadora regional de marketing da Mercer,
Denise Perassoli. Há 10 anos, a empresa realiza o levantamento em
mais de 200 cidades de todo o mundo.
O objetivo é fornecer subsídios para empresas calcularem prêmios,
aumentos salariais e outras vantagens a serem oferecidas aos
funcionários escalados para trabalharem em outros países. A empresa
observa 39 fatores de qualidade de vida agrupados em 10 categorias:
ambiente político e social (estabilidade política, rigor da lei, entre
outros), ambiente econômico (serviços bancários, regras de
conversão monetária, entre outros), ambiente sociocultural (censura,
limitações de liberdade individual e outros), saúde e saneamento,
escolas e educação, serviços públicos e transporte, diversão, bens de
consumo, acomodação e ambiente natural (clima, desastres naturais
e outros).
As 215 cidades avaliadas são comparadas com Nova York que sempre
entra no ranking com 100 pontos. Os dados foram coletados entre
setembro e novembro do ano passado e atualizados constantemente.
Das 50 primeiras posições do ranking, 49 cidades são da América do
Norte, Europa, Japão e Oceania. A única “intrusa” no grupo é
Cingapura (34º lugar). A cidade sul-americana mais bem colocada é
Montevidéu (Uruguai) na 76º colocação.
Com 78,8 pontos, Brasília se manteve na mesma colocação do ano
passado e está atrás de outras cidades do subcontinente, como
Buenos Aires (Argentina, 87,4 pontos e 79º lugar) e Santiago (Chile,
86,5 pontos e 83º lugar). Embora tenha subido uma posição no
ranking, o Rio manteve a mesma pontuação do ano anterior (74,5).
Já a capital paulista foi prejudicada pela onda de ataques de uma
facção do crime organizado a policiais em maio do ano passado.
Segundo Denise Perassoli, no ano anterior, São Paulo tinha nota 2 —
em uma escala até 10 — no quesito criminalidade. Com os ataques,
caiu para 1. “Nota zero é o Iraque em guerra”, comparou Denise.
Em 10 anos de avaliações, a Mercer constatou que a diferença entre
as cidades bem colocadas e as últimas do ranking aumentou.
“Recentemente, a diferença entre as cidades mal e bem colocadas
10
tem aumentado. Enquanto os padrões têm melhorado em algumas
regiões, permanece um contraste total entre aquelas cidades onde a
qualidade de vida em geral é boa e aquelas que enfrentam tumultos
políticos e econômicos”, disse Slagin Parakatil, pesquisador sênior da
Mercer. A cidade brasileira mais mal avaliada é Manaus, em 126º
lugar.
Jornal CORREIO BRAZILIENSE – 02/04/2007
As campeãs em infra-estrutura
16.11.2006
Pesquisa revela quais as cidades com a melhor infra-estrutura
do país -- fator decisivo na atração de investimentos
Lia Hama
Ao anunciar que abriria no Brasil seu terceiro centro de
tecnologia global, o conglomerado financeiro HSBC, com sede em
Londres, recebeu propostas de vários municípios interessados em
abrigar o pólo de excelência. Após analisar cuidadosamente todas as
ofertas, o HSBC anunciou a cidade vencedora: Curitiba. O motivo?
"Além de sediar a matriz da subsidiária do grupo no Brasil, Curitiba
ofereceu as melhores condições. A cidade conta com uma ótima
infra-estrutura de comunicação, um excelente sistema de transporte
público e é referência em planejamento urbano", afirma Jacques
Depocas, principal executivo do centro de tecnologia global do HSBC
no Brasil. Inaugurado em agosto, o centro tem como objetivo
desenvolver e exportar soluções de informática e serviços em
tecnologia da informação (TI) para outras unidades do banco
espalhadas por 76 países.
A escolha do HSBC não se deu por acaso. Curitiba está entre
os três municípios com a melhor infra-estrutura do país, atrás apenas
de São Paulo e do Rio de Janeiro, de acordo com estudo exclusivo
realizado pela consultoria paulista Simonsen Associados em parceria
com EXAME. O levantamento evidencia o peso que a infra-estrutura
de uma cidade tem nas tomadas de decisão de negócios de uma
empresa. É natural que cidades como São Paulo e Rio de Janeiro
ocupem as primeiras posições do ranking, dado o papel central que
exercem na economia do país. São Paulo tem a maior frota de
veículos, o aeroporto mais movimentado, o maior número de imóveis
ligados à rede de água. Entre as dez primeiras cidades, o Rio tem o
maior número de postos de gás natural veicular (GNV), o maior
consumo per capita residencial de energia elétrica, a segunda maior
frota de veículos. Mas outras cidades fora do eixo RioSão Paulo
também se destacam. Uma delas é Goiânia, em oitavo lugar na
classificação. No caso da capital goiana, o desenvolvimento da infra-
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estrutura de transporte está diretamente ligado ao agronegócio.
Localizada na região central do país, Goiânia fica próxima a
Brasília e é vizinha de Anápolis, onde há um porto seco que
possibilita as importações e exportações. Com estradas, ferrovias e
hidrovias, a cidade consegue fazer todo o escoamento de sua
produção de soja, milho, algodão e leite. O aeroporto da cidade,
Santa Genoveva, está sendo modernizado. Com a riqueza gerada
pelo campo, Goiânia tem mais veículos por habitante do que São
Paulo. "E é só frota nova. Dificilmente você vê carro velho na cidade",
afirma João de Paiva Ribeiro, secretário de Desenvolvimento
Econômico de Goiânia.
Mas não são apenas as capitais que aparecem na lista com
destaque. Outro município que chama a atenção é Campinas (SP), a
cidade do interior mais bem classificada no ranking -- quinto lugar, à
frente de Porto Alegre e Belo Horizonte. Alguns fatores ajudam a
explicar o excelente desempenho. Campinas encontra-se em uma
posição geográfica privilegiada, entre as rodovias Anhangüera,
Bandeirantes e Santos Dumont, e a apenas 100 quilômetros de São
Paulo. Isso ajudou a transformá-la em um dos principais pólos de alta
tecnologia, atraindo multinacionais como IBM, Compaq e HP.
"Exportamos excelência para o mundo todo", diz Sinval Dorigon,
secretário de Comércio e Indústria de Campinas. Esses fatores
também foram colocados na balança pela gigante indiana TCS (Tata
Consultancy Services), líder mundial em consultoria de TI. No final de
2005, a empresa decidiu instalar uma fábrica de softwares no parque
tecnológico de Campinas. "A cidade representa 9% do PIB paulista e
abriga indústrias de grande porte, que são potenciais clientes para
nós. Tem excelentes universidades e o aeroporto internacional de
Viracopos facilita a logística. Além disso, Campinas fica próxima a
São Paulo", diz Carlos Elias, diretor da TCS do Brasil.
Essa talvez seja a única (e leve) distorção do ranking. A
proximidade com São Paulo acaba beneficiando cidades que, se
ficassem em outros estados, não fariam tão boa figura. Mas a
localização, claro, é um dado concreto, real, e não pode ser
desprezada. São os casos, por exemplo, de São Bernardo do Campo
e Guarulhos, empatados em nono lugar. Ambos os municípios têm
localização privilegiada do ponto de vista logístico, principalmente
pela proximidade com algumas das mais importantes rodovias do
país (Dutra, Ayrton Senna e Fernão Dias) e com os portos de Santos
e de São Sebastião, além, é claro, do aeroporto de Cumbica. Apesar
da boa classificação, Guarulhos ainda tem um enorme desafio pela
frente. A cidade enfrenta um problema grave de saneamento básico.
A maior parte do esgoto da região vai para os rios que circundam o
município. Além disso, a população da cidade vem crescendo de
forma muito rápida -- em média, 3,3% ao ano --, o que provoca o
aparecimento de favelas. "O crescimento vem se dando de forma
desordenada. Há lugares com infra-estrutura muito boa e outros sem
12
nenhuma infra-estrutura", afirma Décio Pompeu, presidente da
associação comercial da cidade.
A questão do saneamento básico é, de forma geral, o mais
vergonhoso gargalo da infra-estrutura brasileira. Mesmo numa cidade
como São Paulo, primeira colocada no ranking, o índice de
tratamento de esgoto é de apenas 68,5%. "Os municípios terão de
enfrentar essa questão num contexto mundial em que há cada vez
mais pressão pela preservação do meio ambiente", afirma Antonio
João Vialle Cordeiro, sócio da consultoria Simonsen Associados e
coordenador do estudo. "Outro ponto crucial é como as cidades estão
se preparando para lidar com uma economia cada vez mais
globalizada. Portos, aeroportos, ferrovias, estradas e frota de veículos
são fundamentais para escoar a produção. Sem isso, a economia não
cresce", diz Cordeiro.
13
Os 30 melhores
Os municípios brasileiros que se destacam em infraestrutura
Município
Pontuação
média=100)
(em
1
São Paulo (SP)
180,27
2
Rio de Janeiro (RJ)
169,67
3
Curitiba (PR)
167,36
4
Brasília (DF)
163,67
5
Campinas (SP)
163,21
6
Porto Alegre (RS)
160,91
7
Belo Horizonte (MG)
159,52
8
Goiânia (GO)
153,07
9
São Bernardo do Campo
(SP)
144,31
10
Guarulhos (SP)
144,31
11
Florianópolis (SC)
139,24
12
Salvador (BA)
136,93
13
Fortaleza (CE)
136,47
14
Caxias do Sul (RS)
136,01
15
Piracicaba (SP)
136,01
16
Jundiaí (SP)
135,09
17
Vitória (ES)
134,63
18
Recife (PE)
133,71
19
Ribeirão Preto (SP)
133,24
20
Londrina (PR)
131,86
21
Joinville (SC)
131,40
22
Sorocaba (SP)
131,40
23
Blumenau (SC)
130,48
24
São José dos Campos (SP)
130,48
25
Uberlândia (MG)
130,02
26
São José do Rio Preto (SP)
128,17
27
Santo André (SP)
127,71
%
da
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MST reforça ataque ao agronegócio
Em parceria com Via Campesina, movimento planeja um mês
inteiro de ações contra empresas transnacionais
Roldão Arruda
O Movimento dos Sem-Terra (MST) decidiu intensificar o ataque
às grandes empresas do agronegócio. Especialmente as de capital
internacional - também chamadas de transnacionais. Um sinal claro
disso foi dado no início do mês de março, quando, em associação com
a Via Campesina, o movimento realizou protestos contra essas
empresas em vários Estados. Estuda-se agora a possibilidade de
dedicar um mês inteiro a novas mobilizações contra elas.
Em março, no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo, ativistas
ligadas ao MST e à Via Campesina ocuparam terras de
reflorestamento de três empresas do setor de celulose - Aracruz,
Votorantim e Stora Enso; no Paraná, fizeram protestos diante da
Nortox, fabricante de herbicidas; em São Paulo, invadiram áreas da
Usina Cevasa, produtora de álcool, que teve parte de seu capital
vendido há pouco para a Cargill, gigante mundial do agronegócio, e,
no Ceará, interditaram a chamada rodovia do agronegócio, usada por
exportadoras de frutas.
Essa inflexão do MST deve ser acentuada daqui para a frente,
em decorrência dos problemas que, segundo seus líderes, são
causados pelas transnacionais. Entre outras coisas, estariam impondo
um modelo de monocultura ao País, com ênfase em produtos para
exportação; promovendo novo processo de concentração de terras,
com riscos para a agricultura familiar; causando desemprego e
agredindo o meio ambiente, devido ao desmatamento e ao uso
intensivo de agrotóxicos. Também são acusadas de controlar a
produção de insumos ao redor do mundo e impor preços aos produtos
agrícolas.
A mudança do MST é impulsionada por dois fatores: seus
vínculos cada vez mais estreitos com a Via Campesina e a
necessidade de mostrar suas contradições com o governo Lula, que,
no segundo mandato, estaria se mostrando mais conservador e mais
próximo do agronegócio do que no primeiro.
A organização internacional Via Campesina está na base de um
esforço que vem sendo articulado ao redor do mundo contra as
transnacionais, tentando reunir movimentos de sem-terra, pequenos
agricultores e ambientalistas. Segundo Soraia Soriano, que faz parte
da coordenação nacional do MST e representa a Via no Brasil, tratase de uma tentativa de globalizar a oposição a empresas
globalizadas: “É natural que isso ocorra, uma vez que as mesmas
empresas estão presentes em diferentes partes do mundo.”
O que unifica os diferentes movimentos, ainda de acordo com
suas explicações, é a defesa dos recursos naturais e do conceito de
soberania alimentar. “No Brasil, a soja, a cana-de-açúcar e os
15
eucaliptos do reflorestamento estão ocupando cada vez mais espaço,
empurrando a pecuária para as regiões de floresta. No Rio Grande do
Sul, está sendo implantado um projeto que prevê um aumento de
100 mil hectares na área de plantio de eucalipto, para a produção de
celulose. Não é só a luta pela terra. Trata-se de ameaça à soberania
alimentar.”
ALVOS
Em fevereiro, a Via reuniu cerca de 600 representantes de
movimentos rurais de diferentes partes do mundo, entre eles o MST,
na pequena cidade africana de Sélingué, no Máli. Eles discutiram
soberania alimentar durante cinco dias e concluíram que devem
reforçar a luta contra “o imperialismo, o neoliberalismo, o
neocolonialismo e o patriarcado, e todo sistema que empobrece a
vida, os recursos, os ecossistemas e os agentes que os promovem,
como as instituições financeiras internacionais, a Organizações
Mundial do Comércio, os acordos de livre-comércio, as corporações
transnacionais e os governos que prejudicam a seus povos”.
Entre as corporações mais citadas no encontro estavam a
Monsanto e a Syngenta, que estão na ponta das pesquisas, produção
e comercialização de sementes transgênicas. No Brasil, elas têm sido
sistematicamente criticadas pelo MST.
Em relação a Lula, o MST vive uma contradição: tem mais
liberdade para atuar do que em governos anteriores, conta com mais
recursos e até influência no Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), mas está convencido de que o presidente se
rendeu ao agronegócio. Para seus líderes, ouvi-lo dizer que os
usineiros “estão virando heróis nacionais e mundiais porque todo
mundo está de olho no álcool” foi traição. Devem responder com
mais ataques ao agronegócio.
Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/04/2007
Aula colombiana
Com freqüência, a Colômbia é citada, no Brasil e em outros
países com graves problemas de criminalidade, como exemplo de
reação inteligente e eficaz do Estado. Não é à toa: os índices de
homicídios, embora ainda altos, caíram acentuadamente na capital
Bogotá e em outras cidades, como Medellín.
Mas, como revelam as reportagens publicadas no GLOBO, a
Colômbia está pagando um preço extraordinariamente alto por esse
êxito: 5% do PIB serão gastos este ano com segurança. No Brasil,
esse percentual equivaleria a R$50 bilhões, contra os atuais R$7,4
bilhões.
O que exigiu um investimento tão pesado, num país de recursos
escassos como a Colômbia, foi uma política passiva, no passado,
semelhante à que tem imperado no Brasil há muitos anos, levando
em conta, é claro, as diferenças entre os dois países. Primeiro, não se
16
agiu com a energia necessária quando a criminalidade era alavancada
pelo narcotráfico; depois, apenas se assistiu à violência exacerbada
pela guerra entre facções do tráfico; e, quando vieram as milícias lá, os paramilitares -, com seu poder de fogo e de organização muito
superiores, derrotando traficantes e os expulsando de seus
territórios, para muitos as coisas até mesmo pareceram estar
tomando um rumo melhor - no pior dos casos, seria um mal menor. A
percepção era de que, em troca das taxas cobradas dos moradores
das comunidades pobres, as milícias trariam paz e segurança e
manteriam as drogas ao longe.
Em pouco tempo, na Colômbia, isso se revelou uma ilusão. Os
paramilitares, além de explorarem, como aqui, máfias de transporte
alternativo e de caça-níqueis, além da prática da extorsão, acabaram
se associando aos próprios traficantes, ampliando e agravando a
criminalidade. E, finalmente, por meio do financiamento de
campanhas eleitorais, infiltraram-se na política. Não é de admirar o
preço altíssimo que a Colômbia está pagando para reprimir o crime.
O panorama no Brasil apresenta muitas semelhanças. Mas,
felizmente aqui, já está ficando claro que as milícias, em vez de
solução, são um agravamento do problema. A política de combate ao
crime, além de ganhar real eficácia, precisa se adequar a essa
percepção. As boas medidas adotadas na Colômbia devem ser
seguidas enquanto o seu custo não se tornar inviável.
Jornal O GLOBO - 11/04/2007
Falso ambientalismo
Apesar de suas bandeiras, camisetas e bonés - com o mapa do
Brasil em verde, dentro de um círculo branco no centro de um pano
vermelho - estarem sempre novos em folha, a demonstrar que
dinheiro não falta à entidade para sustentar seu marketing, o
Movimento dos Sem-Terra (MST) sempre se nutriu de idéias vetustas
e de um até ingênuo primitivismo ideológico, bem sintetizado no
pensamento de seu guru maior, João Pedro Stédile, expresso no
Estado de segunda-feira: “A direita só quer ganhar dinheiro e manter
a exploração e para isso se alia e controla qualquer governo, mesmo
que seja de um ex-líder operário.”
Reconheça-se, no entanto, o senso de oportunismo desse
movimento ilegal, que sempre usou métodos violentos - invasão de
fazendas, matança de animais, depredação de sedes, colocação de
trabalhadores rurais em cárcere privado, ocupação de estradas,
saque e destruição de cabines de pedágio, etc. -, mas, de uns tempos
para cá, longe de preocupar-se com reforma agrária, desfralda
bandeiras ambientalistas para entrar na grande corrente de combate
ao aquecimento global. É dentro dessa nova onda que, aliado à
transnacional Via Campesina, o MST planeja intensificar, durante um
17
mês inteiro, seus ataques às grandes empresas do agronegócio,
especialmente as transnacionais.
Na verdade, essa programação de ataques intensificados já se
iniciou em março no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo, onde
ativistas emessetistas e campesinistas ocuparam terras de
reflorestamento de três empresas do setor de celulose - Aracruz,
Votorantim e Stora Enzo -; no Paraná, onde os militantes dessas
entidades fizeram protestos diante da Nortox, fabricante de
herbicidas; em São Paulo, onde invadiram áreas da Usina Cevasa,
produtora de álcool, que teve parte de seu capital vendido há pouco
tempo para a Cargill, uma gigante mundial do agronegócio; e no
Ceará, onde interditaram a chamada Rodovia do Agronegócio, usada
por exportadores de frutas.
No rol de invectivas que essas entidades - que, com boa
vontade, podemos chamar de prototerroristas - lançam contra o
agronegócio transnacional está que as empresas impõem um modelo
de monocultura ao País, com ênfase em produtos de exportação, e
que promovem novo processo de concentração de terras, com riscos
para a agricultura familiar, causando desemprego e agredindo o meio
ambiente, pelo desmatamento e uso abusivo de agrotóxicos. Além
disso, elas controlariam a produção de insumos no mundo e imporiam
preços aos produtos agrícolas. Sem dúvida, algumas dessas
“acusações” poderiam constar do ideário de uma organização nãogovernamental de cunho ambientalista. Não, porém, com a
metodologia operacional do MST e da Via Campesina, que é a
vandálica invasão e destruição de equipamentos de laboratório, de
sementes, de material de pesquisa científica para aperfeiçoamento
genético - às vezes fruto de trabalho de muitos anos - e violências
assemelhadas.
A associação cada vez mais sólida entre o MST e a transnacional
da depredação - a Via Campesina - parece ter juntado “a fome com a
vontade de comer” no campo do primitivismo ideológico. Veja-se, a
propósito, as conclusões a que chegaram, em fevereiro, 600
representantes de movimentos rurais de diversas partes do mundo,
em reunião na pequena cidade africana de Sélingué, no Mali.
Pretendendo defender a “soberania alimentar”, discutiram durante
cinco dias e concluíram que devem reforçar a luta contra “o
imperialismo, o neoliberalismo, o neocolonialismo e o patriarcado, e
todo sistema que empobrece a vida, os recursos, os ecossistemas e
os agentes que os promovem, como as instituições financeiras
internacionais, a Organização Mundial do Comércio, os acordos de
livre-comércio, as corporações transnacionais e os governos que
prejudicam seus povos”.
Agora, o que essas entidades não costumam enfatizar é o fato
de serem confortavelmente subsidiadas. A transnacional da
depredação é sustentada por produtores rurais europeus que não
desejam a competição com o agronegócio caboclo. Já a nacional vive
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dos subsídios do governo - utilizando-os, inclusive, para atacá-lo.
Assim é fácil.
Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO - 11/04/2007
General é contra o uso de Forças Armadas no policiamento do
Rio
Mesmo assim, o governador Sérgio Cabral Filho pede hoje
ajuda ao presidente Lula
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
O comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, discorda
do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), que insiste no
emprego de tropas militares nas ruas do Rio. A restrição em apoiar a
proposta foi manifestada ontem em conversas com colegas da cúpula
do Exército e com o general Luiz Cesário da Silveira Filho,
comandante militar do Leste (representação oficial da Força no
Estado).
Nas discussões, Peri disse que só há uma alternativa para o
Exército atender o governador: que ele se declare incapaz de
desempenhar seu dever constitucional de suprir a segurança. Dessa
forma, teria que formalizar o pedido ao Ministério da Defesa -na
prática, uma intervenção militar nos órgãos de segurança do Estado.
Quando assumiu, em janeiro, o governador já anunciara a disposição
de ter Exército, Marinha e Aeronáutica nas ruas. Em reunião no
Palácio Guanabara, ele manifestou essa pretensão ao general Cesário
e aos comandantes do 1º Distrito Naval (Marinha), vice-almirante
Luiz Umberto de Mendonça, e do 3º Comar (Aeronáutica), majorbrigadeiro Ailton Pohlmann. Ouviu que essa ação não tinha amparo
na Constituição.
Na reunião, coube ao comandante militar do Leste explicar ao
governador os motivos da resistência. Mesmo assim, Cabral Filho
insistiu na idéia. Pela Constituição (artigo 144), cabe ao Estado
garantir e administrar a segurança pública. Só a decretação de uma
intervenção federal autorizaria as Forças Armadas a atuar no
patrulhamento ostensivo no Rio, em atuação na "garantia da lei e da
ordem", concordam advogados constitucionalistas e militares ouvidos
pela Folha. A medida é regulada pelo artigo 142 da Constituição e
pela Lei Complementar 117, de 2004.
Esta última prevê a atuação do Exército quando o governo
estadual se declarar incapaz na execução dessa "missão
constitucional". A partir daí, as Forças Armadas atuariam, mas, "de
forma episódica, em área previamente estabelecida e por tempo
limitado", em "ações de caráter preventivo e repressivo necessárias
para assegurar o resultado das operações na garantia da lei e da
19
ordem".
Nesse caso, o governo estadual perderia o comando de suas
polícias enquanto perdurasse a ação das Forças Armadas, a quem
caberia "o controle operacional dos órgãos de segurança pública".
Vulgarização
O comandante do Exército disse ontem a seu staff que a lei é
clara: a "missão", se ocorrer, será dentro das formalidades da lei,
com princípio e fim, senão haverá o que na cúpula da Força está se
chamando de "vulgarização" do emprego de militares na segurança
pública. Apesar da negativa dos comandantes, quando encontrar hoje
com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Rio, Cabral Filho vai
oficializar o pedido para que as Forças Armadas façam um trabalho
de policiamento ostensivo no Rio por tempo indeterminado.
Para ele, como as Forças Armadas têm seu maior contingente no
Rio, a atuação desses militares é mais fácil do que a permanência da
Força Nacional de Segurança pós-Pan. "O presidente teve uma reação
muito positiva de dividir comigo esse problema", disse. Ao saber da
intenção de Cabral, Lula disse que vai olhar "com carinho" o pedido e
que "a criança [referindo-se à segurança pública]" é de todos.
Tarso
O ministro da Justiça, Tarso Genro, disse, por meio da assessoria
de imprensa, que o uso das Forças Armadas em funções policiais ou
supletivas de segurança é uma decisão exclusiva do presidente. "No
caso do Rio, o presidente tomará uma decisão após ouvir a demanda
do governador Sérgio Cabral, que está justamente preocupado com a
segurança pública do seu Estado", disse.
Colaboraram TALITA FIGUEIREDO, da Sucursal do Rio, e a
Sucursal de Brasília
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO - 11/04/2007
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BRASIL: GESTÃO DOS RECURSOS ESTRATÉGICOS
Ministro: cultivo de cana no país é responsável
Luís Carlos Guedes rebate críticas e afirma que produção é
ambiental e socialmente sustentável
CINGAPURA. O ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto,
disse ontem em Cingapura que o cultivo de cana-de-açúcar no Brasil
é ambiental e socialmente responsável. Guedes, que deve deixar o
governo esta semana, viajou a Japão, Indonésia e Cingapura para
tentar abrir o mercado asiático para a carne brasileira e buscar
parcerias na produção de etanol.
Segundo o ministro, as críticas a supostos danos ambientais e
abusos trabalhistas na cadeia sucroalcooleira surgiram diante da
competitividade do Brasil nessa área:
- Toda vez que o Brasil avança isso acontece. O país é líder em
soja, cana, carnes e outros produtos e, então, surgem as críticas.
Mas não há qualquer fundamentação. A produção agrícola no Brasil é
feita de forma sustentável do ponto de vista ambiental e social.
Segundo Guedes, o último relatório da Organização Mundial do
Trabalho (OIT) sobre serviços forçados, de 2005, constatou que há
12,2 milhões de trabalhadores nessa situação em todo o mundo. No
Brasil, são apenas quatro mil. A OIT, disse o ministro, apontou o país
como caso exemplar na repressão do trabalho forçado.
Jornal O GLOBO-20/03/2007
Hidrelétricas ameaçam a bacia do Prata
Rede de rios que banha centro-sul do Brasil está entre as dez
do planeta mais afetadas pela ação humana, diz relatório
Barragens e hidrovias previstas pelo PAC devem aumentar
fragmentação dos cursos d'água da região, de cem milhões de
pessoas
DA REDAÇÃO
A bacia do rio da Prata, na América do Sul, está entre as dez
mais ameaçadas do mundo, listadas num relatório que a ONG WWF
(Fundo Mundial para a Natureza) divulga hoje. A saúde dos rios da
região está ameaçada por 27 projetos de barragens (seis já em
construção) e obras de hidrovias.
A bacia do Prata, que abriga cem milhões de pessoas em cinco
países, inclui os rios Paraguai, Uruguai e Paraná, entre outros
menores, como o Tietê.
Segundo a WWF, a biodiversidade mais afetada será a do
Pantanal mato-grossense. Ali, a hidrovia Paraná-Paraguai vai
"aumentar a capacidade de drenagem da foz do rio, afetar
populações de peixes locais e expor rios a invasões de espécies
21
exóticas por meio de ligações com a bacia do Amazonas".
Na opinião do geógrafo Samuel Barreto, especialista em recursos
hídricos do WWF, as obras projetadas, incluídas no PAC (Plano de
Aceleração do Crescimento) -somente na região Sul do Brasil são 15
hidrelétricas- deverão se somar à fragmentação dos rios já causada
por hidrelétricas existentes.
"Haverá alteração do balanço hídrico e da dinâmica de espécies",
afirmou. "A análise que a gente viu do PAC não faz nenhuma menção
a critérios ambientais, o que é um erro estratégico", continuou
Barreto.
O presidente da Agência Nacional de Energia Elétrica, Jerson
Kelman, contesta a visão geral da WWF. "A partir da década de 1970,
a vazão da bacia do Prata tem aumentado", disse. "Há mais água no
rio Paraná e no Prata. O lençol freático de Buenos Aires subiu."
Para Kelman, sem barragens, "haveria prejuízos por causa de
enchentes". Ele discorda que o PAC seja omisso com o ambiente. "O
Brasil pode ser criticado por excesso [de rigor], não por falta. É o país
que mais abdica de fazer obras por conta de restrições ambientais."
O relatório do WWF aponta a construção de barragens e obras
para hidrovias como as ameaças mais disseminadas pelo mundo. O
excesso de extração de água, as espécies invasoras, a mudança
climática, a sobrepesca e a poluição são os outros fatores de pressão.
Para lidar com problemas como os da bacia do Prata, o relatório
propõe medidas que minimizem o impacto humano. Seria preciso, por
exemplo, "evitar barragens em grandes planícies", "permitir a
passagem segura de peixes" e "controlar o fluxo de sedimentos".
O continente com mais bacias hidrográficas ameaçadas listadas
no relatório é a Ásia, com cinco.
Enquanto rios como o Indo sofrem com o aquecimento global
-suas águas vêm de geleiras que estão minguando-, outros, como o
Yangtze, sofrem com poluição e sobrepesca.
Colaborou a Sucursal de Brasília
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO – 20/03/2007
Educação trará mais retorno que fábricas´, diz Lula
Presidente disse ainda que, com escolas, País exportará a ´inteligência
do povo´
Lisandra Paraguassú
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Presidente Lula durante inauguração de escola técnica
em Inhumas
INHUMAS,
Goiás
- O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira, 20, ao inaugurar
uma escola técnica na cidade de Inhumas (GO), que os investimentos em
educação no País trarão mais retorno do que a construção de uma fábrica ou
outra empresa. Ao discursar para mais de mil jovens e políticos locais, Lula
afirmou que proibiu o uso da palavra "gasto" quando se refere aos recursos da
educação e cobrou de governadores e prefeitos a responsabilidade de também
investir na área.
"Educação não é gasto, é investimento que traz retorno para o País como
nenhuma fabrica trará", afirmou. "Porque cada jovem formado passa a
significar a possibilidade do Brasil começar a exportar a inteligência, o
conhecimento, o valor agregado. Não ficar exportando apenas soja e minério
de ferro, mas exportar inteligência do nosso povo".
A escola inaugura ontem em Inhumas, a 40 quilômetros de Goiânia, é uma
Unidade Descentralizada ligada a um Centro de Ensino Federal de Ensino
Tecnológico (Cefet) já existente - uma nova forma que o governo encontrou
para ampliar o número de escolas técnicas, criando campus avançado e,
assim, reduzindo os custos administrativos e a burocracia. A escola teve as
obras iniciadas em 1997, paralisadas em 1998 e retomadas em 2005. Deve
começar as aulas no próximo mês com 180 alunos.
Escolas técnicas e federais
Entusiasmado com o tema, o presidente voltou a prometer a expansão das
escolas técnicas e universidades federais. "Vamos fazer mais escolas técnicas
e universidade que qualquer governo já fez na história desse Pais", prometeu.
"Porque estamos convencidos de que esse é o caminho da igualdade, da
cidadania, do crescimento econômico, do fortalecimento da democracia
e.sobretudo, para que a gente aprenda definitivamente que é muito mais caro
23
construir uma cadeia que uma escola."
Lula também voltou a falar da necessidade de usar a educação para evitar a
violência. "Não tem outro instrumento para que a gente possa tirar a juventude
brasileira da rua e da desesperança, para que a gente possa ganhar a
juventude brasileira do crime organizado e do tráfico", afirmou.
"Não existe outra coisa se a gente não criar uma palavra mágica na cabeça
desses jovens chamada esperança e oportunidade. Se a gente não criar essa
esperança que poderemos oferecer para vocês um futuro mais digno, uma
formação escolar e profissional de qualidade e que vocês vão ter oportunidade
de entrar no mercado de trabalho e construir a cidadania plena. Ou
despertamos isso em vocês ou vamos criar uma geração de jovens totalmente
perdida."
Falando para uma platéia formada em sua maioria por adolescentes, Lula
afirmou que o País já tem hoje uma geração de 18, 19 anos "praticamente
perdida", mas que não perdeu a esperança de recuperá-los. "Eu sou um
homem que acredito nas coisas. Se não acreditasse não seria presidente,
porque eu estou aqui de teimoso", disse.
http://www.estadao.com.br – Acessado em 21/03/2007
Várias soluções
REYNALDO BARROS
O Brasil precisa investir R$87,7 bilhões por ano em todas as
áreas de infra-estrutura para garantir o crescimento desejado. Se o
país crescer 5%, o consumo de energia deverá aumentar cerca de
6,8%. Diante do atual cenário da infra-estrutura energética, é
impossível produzir essa quantidade.
O déficit de infra-estrutura prejudica também o comércio
exterior. Para atingir a meta de US$132 bilhões de exportações, o
governo deve dar mais atenção ao sistema viário, parte essencial da
logística das exportações. No Brasil, uma mercadoria leva 37 dias,
em média, para ser transportada da fábrica ao navio em que será
embarcada. Nos Estados Unidos esse tempo é de oito dias.
Estudo realizado pelo Centro de Estudos em Logística (CEL)
revela que os custos logísticos representam 12,8% do PIB do Brasil.
Mais uma vez a comparação com os Estados Unidos: lá, os custos
logísticos são de 8,19% do PIB.
Boa parte das grandes obras de infra-estrutura já realizadas no
Brasil, como a Ponte Rio-Niterói e a Linha Vermelha, nasceu de
projetos desenvolvidos por empresas de consultoria de engenharia.
Uma alternativa inteligente para que soluções mais práticas e
eficientes sejam criadas nos próximos anos é a articulação do
governo federal com estados, municípios e Conselhos Regionais de
24
Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) para a criação de um
banco de projetos.
Os profissionais da área estudariam os problemas do país a fim
de definir o que é necessário ser feito e como deve ser realizado,
dando uma importante contribuição para reverter a grave situação da
área de infra-estrutura.
Para que o desenvolvimento econômico do Brasil passe a ser
plausível e não somente uma utopia, é preciso investir em projetos
de infra-estrutura que minimizem os custos das empresas e
promovam o avanço social. Somente essa dinâmica permitirá que as
pessoas movimentem e façam a economia crescer. Os problemas já
foram há muito identificados e as soluções são inúmeras.
REYNALDO BARROS é presidente do Conselho Regional de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (CreaRJ).
Jornal O GLOBO-26/03/2007
Show de violências
FERNANDO DE BARROS E SILVA
SÃO PAULO - A percepção de que a violência passou a figurar no
topo das aflições dos brasileiros era algo óbvio para quem acompanha
os rumos do noticiário nacional nos últimos meses. Faltava-lhe
apenas a confirmação estatística, obtida pelo Datafolha e divulgada
ontem por este jornal. O desemprego, que reinou durante todo o
primeiro mandato de Lula como maior problema do país, foi
desbancado: hoje 31% dos brasileiros pedem em primeiro lugar por
segurança; eram 16% em dezembro. Sim, algo mudou de figura
muito rapidamente.
O que isso nos faz pensar? Seria decerto simplista atribuir tal
resultado apenas à exposição do assunto na mídia. Mas ignorar o
alcance desse aspecto seria outro erro, maior. Parece claro, para dar
logo nome aos bois, que a Rede Globo capitaneia, pelo menos desde
a morte de João Hélio, uma campanha por "justiça já" que só tende a
reforçar, ainda que involuntariamente, o caldo de cultura a favor do
aprofundamento das injustiças do país.
Há no ar (e na TV) um clima de "justiça justiceira", uma mistura
de clamor punitivo com alarmismo social cultivado pela mídia. Serve
como exemplo o reality show macabro protagonizado diariamente em
horário nobre pelos pais do menino brutalmente assassinado. O "JN"
os transformou em celebridades. A hiperexposição perversa do casal
faz com que a dor inominável daquela família seja triturada num
liqüidificador emocional até o ponto de servir de alimento ao desejo
coletivo de vingança e morte.
Só num ambiente social assim, de pernas para o ar, pode-se
considerar a estranhíssima "demonstração de força" da Polícia Civil na
25
última sexta como um gesto a favor da segurança e dos cidadãos. O
que se viu -sobretudo em São Paulo, onde a operação foi idealizada e
de fato executada- pareceu antes de mais nada uma mistura de
manobra midiática com demanda corporativa, sugerindo como saldo
quase um recado das forças de repressão do Estado ao governador.
Algo como: "Estamos aí, chefia".
CORREIO BRAZILIENSE-26/03/2007
27/03/2007 - 09h36
Fundador do Greenpeace defende energia
nuclear
JANAINA LAGE
da Folha de S.Paulo, no Rio
Patrick Moore, um dos fundadores do Greenpeace, é hoje um dos
principais defensores da energia nuclear. Em 1991, fundou uma consultoria, a
Greenspirit, que trabalha em parceria com governos e empresas em projetos
de equilíbrio entre necessidades econômicas e preservação ambiental.
Em entrevista à Folha, Moore afirma que a resistência dos
ambientalistas à energia nuclear é motivada por uma mentalidade típica da
Guerra Fria. Para ele, o Brasil tem condições de se tornar líder no setor de
álcool, mas deve procurar desenvolver em escala comercial a produção a partir
do bagaço da cana para não se tornar um imenso canavial. Ele destaca que a
produção a partir de alimentos como cana, milho e soja pode afetar
negativamente a indústria alimentícia.
FOLHA - O que o fez mudar de idéia em relação à energia nuclear?
PATRICK MOORE - Cometemos um erro nos anos 70. Estávamos focados em
armas e em guerras nucleares, preocupados com a possibilidade de a
civilização e o ambiente serem destruídos pelo holocausto nuclear. Vejo que
cometemos um erro ao incluir a energia nuclear como parte disso. Falhamos
em distinguir o uso pacífico da tecnologia do destrutivo.
Além disso, a preocupação com as mudanças climáticas criou uma situação
muito diferente no mundo. Agora queremos reduzir o consumo de combustíveis
fósseis, não só pelas mudanças climáticas como pela poluição do ar.
Outro argumento é que uma parcela significativa dos combustíveis fósseis é
proveniente de áreas de instabilidade política e até potencialmente hostis.
A única forma de reduzir o consumo de combustíveis fósseis de maneira
significativa é fazer isso com um programa agressivo de energias renováveis
combinado à energia nuclear.
FOLHA - As energias renováveis não podem cumprir esse papel?
MOORE - Não acredito que matematicamente seja possível mostrar que a
energia solar e a energia eólica possam fazer isso sozinhas. Devemos usar
energia hidrelétrica, a mais importante fonte de energia renovável, biomassa ou
biocombustíveis, como vocês têm feito com a cana-de-açúcar. Mesmo isso não
pode fazer tudo. Precisamos de uma grande quantidade de energia que seja
26
confiável, segura e que não polua o ar, e isso é a energia nuclear.
FOLHA - E é seguro ter países como o Irã enriquecendo urânio?
MOORE - Isso é um problema. Seria benéfico para o Irã ter energia nuclear, a
não ser que o país queira usar essa tecnologia para fins maléficos. O que
temos que ter é a Parceria Global da Energia Nuclear, com maior controle
sobre urânio e plutônio. Até a Rússia está começando a criticar o Irã. Se todos
os Estados que usam energia nuclear, como EUA, China, Rússia e França,
entrarem nesse grupo, eles vão controlar o urânio e o plutônio de forma que
não caiam em mãos erradas.
Você não precisa de um reator nuclear para fazer uma arma nuclear. As armas
nucleares que estão sendo construídas no mundo são feitas com plutônio de
reatores nucleares militares, que é outra categoria. Mesmo se fecharmos todos
os mais de 400 reatores que estão em funcionamento, isso não vai fazer os
generais desistirem de seus reatores nucleares militares. É preciso distinguir o
uso pacífico da energia nuclear do uso militar de armas nucleares.
FOLHA - No Brasil, o governo está bastante próximo de retomar o projeto
nuclear, mas há resistência entre ambientalistas e o Ministério do Meio
Ambiente. Por que os ambientalistas em geral ainda resistem ao uso
dessa fonte de energia?
MOORE - É uma infelicidade. Acredito que eles ainda estão presos a uma
mentalidade da Guerra Fria. O movimento pacifista é focado em guerras e
armas e incluíram a energia nuclear como se fosse a mesma coisa. O princípio
que devemos adotar é que não podemos banir os usos benéficos de uma
tecnologia só porque ela pode ser usada para o mal.
Mais de 1 milhão de pessoas já foram mortas na África com um simples facão.
Essa é também a ferramenta mais importante para fazendeiros. Eles limpam o
terreno e cortam a madeira, mas ela também pode ser usada para cortar
braços de humanos e matá-los. Temos que usar a energia nuclear para fins
pacíficos e dar ao mundo um exemplo. O Brasil pode fazer isso, mostrar ao
mundo que pode usar tecnologia nuclear, sem armas nucleares.
O problema com a posição dos ambientalistas é que, de um lado, eles estão
dizendo que as mudanças climáticas serão uma espécie de catástrofe que vai
destruir o ambiente e a civilização. Por outro lado, eles se recusam a aceitar
que a energia nuclear é a única grande fonte de energia que pode substituir os
combustíveis fósseis.
FOLHA - Mas a indústria nuclear já teve o acidente de Chernobyl...
MOORE - Chernobyl representou um erro estúpido. Foi uma combinação do
estilo ruim do reator construído pelos soviéticos com um erro dos operadores.
O saldo relacionado ao acidente, no entanto, é de 56 mortes. Do ponto de vista
industrial, não foi um acidente tão grande assim. Meu Deus, 1,2 milhão de
pessoas morrem em acidentes de carro todo ano!
FOLHA - A indústria já encontrou uma solução para os resíduos?
MOORE - O combustível que é tirado do reator não é totalmente desperdiçado.
Quase 90% poderia ser reciclado. O que devemos fazer é armazenar o
combustível usado de forma segura e cuidadosa até o momento em que possa
ser reciclado. Isso tem sido feito na França, na Rússia e no Japão. E deve
ocorrer logo nos EUA. Eles fizeram a opção de não reciclar o combustível
nuclear na gestão Jimmy Carter, que estava preocupado com a possibilidade
de o plutônio cair em mãos erradas. O que posso dizer é que há mais de 400
27
reatores em uso e ninguém nunca foi ferido pelo combustível guardado em
recipientes porque é armazenado de forma segura.
FOLHA - O Brasil tem condições de tornar o álcool uma commodity?
MOORE - Sim. Estive no Brasil por dez dias, vi as vastas plantações de cana.
O Brasil é provavelmente o líder mundial em biomassa e biocombustíveis. Isso
é muito importante, mas também é preciso considerar quanto do ecossistema
natural queremos transformar em um imenso canavial. Temos que ter um
equilíbrio para não transformar o país inteiro numa fábrica de fazer açúcar e
álcool.
FOLHA - É possível convencer outros países a usar álcool nos carros?
MOORE - Sim. Os EUA também estão fazendo álcool, mas a partir do milho, e
biodiesel a partir da soja. O problema é que você está retirando comida da
indústria alimentícia. A visão futura é fazer o álcool a partir do bagaço da cana.
Se tivermos sucesso nisso, podemos evitar a competição com as commodities
alimentícias e usar o açúcar, a soja, e o milho para alimentar pessoas. A
quantidade necessária desses produtos para substituir combustíveis fósseis
teria um impacto grande no suprimento alimentar.
FOLHA - Qual é a sua avaliação sobre o desmatamento na Amazônia?
MOORE - É muito hipócrita que pessoas da Ásia e da América do Norte
apontem o dedo para o Brasil sobre desmatamento, porque o fato é que a
Amazônia tem mais de sua floresta original do que os EUA e a Europa. As
pessoas gostam de pensar que elas não fazem desmatamento onde vivem,
mas toda a agricultura nos EUA e em cidades da Europa são sinais de
desmatamento. Antes eram locais de florestas. No Brasil, você tem que ter
comida, assim como no restante do mundo.
Estive na Amazônia e vi quão rapidamente a natureza se recompõe, se você a
deixa em paz. O clima tropical significa que as plantas podem crescer o ano
todo. Voei de um lado a outro da Amazônia e fiquei surpreso de ver quão vasta
é a área de floresta que continua lá. Acho que o Brasil está fazendo um bom
trabalho em definir áreas grandes para proteção ambiental.
Pequena revolução
ANTONIO DELFIM NETTO
NOS ÚLTIMOS dias, o Brasil recebeu duas mensagens
extraordinárias, capazes de abrir novos horizontes para o
desenvolvimento econômico e social do país. A primeira foi
apresentada pelo presidente Lula no dia 15 último. Trata-se do Plano
de Desenvolvimento da Educação, criado pelo ministro Fernando
Haddad.
Finalmente, pela primeira vez, o governo enfrentou o mais
dramático problema nacional. Revelou uma nova ênfase no suporte
ao futuro (a educação de crianças e jovens) correspondente à que,
até agora, tinha dispensado ao passado (os idosos). O diagnóstico do
setor no que respeita ao ensino na pré-escola, no fundamental e no
técnico mostrou a crueldade com que tratamos o futuro e a
formidável incompetência que tem acompanhado a educação no
28
Brasil. A falta de controle da qualidade do ensino e de sua avaliação
ao longo do aprendizado surpreenderam e horrorizaram o Brasil:
mostrou um país em que pobres alunos e infelizes professores
produzem analfabetos funcionais incapazes de compreender o
significado de uma frase simples e absolutamente ignorantes da mais
comezinha tabuada.
Num mundo onde o "motor do crescimento" é o conhecimento,
nada pode ser mais preocupante do que a qualidade do ensino que
estamos dando às nossas crianças e aos nossos jovens. Recusandolhes um mínimo de igualdade de oportunidade, comprometemos a
legitimidade da "economia de mercado". O PDE apresentado pelo
ministro Haddad será, se realizado, uma pequena revolução com
grande conseqüência. Juntando objetivos claros e seleção pelo
mérito, com avaliação segura, competição e incentivos adequados
para prefeitos, diretores, professores e alunos, ele poderá mobilizar e
cooptar a vontade nacional em torno da eliminação do analfabetismo
e dar à educação um papel muito maior do que uma necessidade
econômica e social. Ela transcende esse utilitarismo: é ela que
transforma o bípede animal em ser humano!
A segunda boa notícia foi o anúncio feito pelo secretário de
Gestão Pública do Estado de São Paulo, Sidney Beraldo, de que o
governo José Serra pretende eliminar os perniciosos aumentos
lineares de salários na administração pública, introduzindo
mecanismos objetivos de avaliação do funcionário e estabelecendo
reajustes por merecimento. De novo, objetivos claros, avaliação e
incentivos para atingi-los. Trata-se ainda de uma promessa, mas vale
a pena estimular a sua realização.
O Brasil vai surpreender-se. Vai descobrir que o que nos falta
mesmo é boa gestão, e não recursos!
FOLHA DE SÃO PAULO-28/03/2007
Quarta-feira, 28 março de 2007
OPINIÃO
Educação pública não é igual para todos
Estudo realizado pela ONG Ação Educativa constata que
rede pública de ensino não oferece a mesma qualidade de
educação para as regiões do Brasil
MARIA REHDER, [email protected]
O sistema educacional público não atende de maneira igual a
todos os brasileiros. Essa é a constatação de um estudo realizado por
Sérgio Haddad, presidente da ONG Ação Educativa, que cruzou os
indicadores do Ministério da Educação (MEC) - taxas regionais de
evasão e repetência, distorção idade-série no Ensino Fundamental,
matrículas por nível de ensino, índices de analfabetismo e acesso da
29
população à Educação Infantil e às turmas de Jovens e Adultos (EJA).
Segundo Haddad, que divulgou ontem o estudo, foi possível
constatar que o sistema educacional público faz com que as escolas
reproduzam as desigualdades sociais das regiões em que estão
inseridas. “Nas regiões Norte e Nordeste, as mais pobres, há uma
oferta de professores com menor qualificação, que acabam recebendo
menores salários em relação aos que atuam nas demais regiões do
País, pois justamente são as áreas mais carentes que acabam
recebendo menor verba do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), cuja
variação é dada de acordo com a arrecadação de impostos.”
Na cidade de São Paulo, a reprodução das desigualdades
socioeconômicas das regiões onde as escolas estão inseridas também
impacta na qualidade da educação. “Nosso estudo teve ênfase na
avaliação dos dados por regiões do Brasil, mas é evidente que, ao
comparar escolas da extrema periferia da Capital com as situadas nas
regiões centrais, é possível constatar que há entre elas uma oferta
qualitativamente diferente do próprio ambiente físico e até em
relação aos professores, pois os que vão às regiões mais distantes
geralmente têm menos experiência.”
Dentro da mesma escola
De acordo com Mônica Peregrino, especialista em educação da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), as desigualdades
também estão presentes dentro de uma mesma escola. “Ao realizar
pesquisas com escolas públicas pude constatar diferentes perfis
institucionais em uma mesma unidade, como é o caso da segregação
de classes por desempenho. Os considerados maus alunos acabam
recebendo atendimento diferenciado dos bons alunos.”
Universalização ainda é falsa
O estudo de Haddad destaca o dado de que no Brasil ainda
quase 68 milhões de pessoas acima de 14 anos não têm acesso a um
direito garantido por lei: o Ensino Fundamental de 8 anos. “A
universalização que todo mundo fala se restringe ao acesso e não ao
tempo necessário à qualidade, os 8 anos. Quase 97% das crianças de
7 a 14 anos estão na escola. Apesar da universalização estar próxima
aos 100%, atingir essa minoria que está fora das escolas é o maior
desafio”, diz Jorge Telles, diretor de Avaliação e Informações
Educacionais da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e
Diversidade do MEC.
O especialista também destaca o desafio de reter as crianças
que chegam às escolas. “Apenas dois terços das que se matriculam
30
se formam no Ensino Fundamental.”
Um dos caminhos apontados por Telles para o possível
combate à desigualdade da oferta de ensino público no País são os
programas de ações educativas. “A partir do momento em que
reconhecemos essas desigualdades, desenvolvemos programas
específicos para atuar sobre elas. Como exemplo, as políticas de
ações afirmativas para a inclusão do negro. Essas ações, juntamente
com merenda e transporte, ajudam a reter o aluno na escola.”
Já Sérgio Haddad acredita que o governo deveria criar uma
política que motivasse os professores mais experientes a atender o
público das regiões mais carentes. “É neste contexto que também
acredito que a criação de políticas compensatórias, como a oferta de
transporte público para os alunos, ajudariam a combater as
desigualdades.” No Estado de São Paulo, essa proposta já começa a
ser aplicada: ontem, o governador José Serra firmou um convênio
com 606 municípios que irá garantir transporte aos estudantes que
moram em locais distantes da área de abrangência da escola onde
estão matriculados.
EXCLUSÃO X ENSINO
57,4% dos jovens de 15 a 17 anos da região Sudeste cursam
o Ensino Médio. No Nordeste, a taxa cai para 30,1%.
10.541.043 dos moradores da região Sudeste com 15 anos ou mais
são analfabetos funcionais. No Nordeste, o número sobe para
13.325.961
http://www.jt.com.br/editorias - Acessado em 28/03/2007
Enviado por Míriam Leitão 9.4.2007
| 0h20m
Vítimas de todos os governos
O dado que está sendo divulgado pelo Globo nesta
segunda-feira, de que existem no Brasil dois milhões e
quatrocentos mil analfabetos jovens é alarmante e inaceitável.
O analfabetismo brasileiro tem índices altos, mas
concentrado em pessoas de idade mais alta: metade dos
analfabetos tem mais de 50 anos. São vítimas dos velhos erros
do Brasil de não dar a devida atenção à educação. Um dos
argumentos usados por alguns especialistas é que se são mais
velhos, não valeria a pena gastar tanta verba para alfabetizá-los
31
já que o dinheiro tem que estar concentrado na educação de
crianças e jovens. Mas e quando o dado é esse: quando se tem
um número tão impressionante de jovens analfabetos?
O que o dado revela é que eles são vítima dos erros
recentes. Quem tem trinta anos chegou à idade escolar, quando
a ditadura já tinha acabado e o governo Sarney prometia que
seria "Tudo pelo Social". Depois veio o governo Collor que
prometia modernização, acabar com carroças, abrir o país para
o mundo. Depois veio o governo Itamar que indicou um dos
seus amigos para o Ministério da Educação. Depois veio o
governo Fernando Henrique que fez a campanha "Toda Criança
na Escola". Depois veio o governo Lula com seus três ministros
e o primeiro deles, era Cristovam Buarque que prometia acabar
com o analfabetismo.
Os dois milhões e quatrocentos mil analfabetos que têm
menos de 30 anos não foram incluídos por nenhum desses
governos, nenhuma dessas campanhas. Para eles, todos os
governos, os ministros, as campanhas, as políticas, falharam.
http://oglobo.globo.com/economia/miriam - Acessado em 09/04/2007
Ponto de vista: Claudio de Moura Castro
Entre a Finlândia e o Piauí
"Os sistemas educativos que deram certo no mundo são
simples, óbvios e robustos. Praticam o feijão-com-arroz da
educação"
A Finlândia tem o melhor sistema educativo do mundo. O Piauí possui
a melhor escola secundária do Brasil. O que mais haverá de comum
entre a Finlândia e o Piauí? É simples, ambos praticam a teoria do
feijão-com-arroz educativo.
Ouvindo alguns oráculos da nossa educação, sentimos falta de um
dicionário para entender certas palavras e de suplemento de oxigênio
para navegar nos ares rarefeitos das teorias recitadas. Para outros,
sem doses fartas de tecnologia nada se vai resolver. Mas,
esquadrinhando o mundo em busca dos sistemas educativos que
deram certo, vamos descobrir que são simples, óbvios e robustos.
Praticam o feijão-com-arroz da educação. Vejamos o que dizem as
pesquisas peneirando os traços comuns das boas escolas e dos bons
sistemas.
32
• Boas escolas têm clara percepção dos rumos em que navegam, isto
é, possuem metas. Além disso, são poucas metas, que não mudam
de uma hora para outra e são compartilhadas por todos. E não é só
isso. As metas são quantificadas (exemplo: em dois anos, ganhar
tantos pontos nos testes).
• O ambiente é sempre saudável, os fluidos são bons e os professores
estão satisfeitos. De fato, para os professores, a atmosfera da escola
é pelo menos tão importante quanto o salário. Ademais, a sociedade
valoriza e prestigia os professores.
• As autoridades dão às escolas muita autonomia para operar. Há
forte liderança do diretor ("a escola tem a cara do diretor"). Ele
manda. É um real gerente, estando livre para se mover. Mas deve
atingir as metas estabelecidas, e seu desempenho é avaliado com
rigor. Quase não é preciso dizer: nem sua indicação é moeda de troca
na política nem ele é eleito pelos seus pares.
• Sejam públicas ou privadas, as escolas são administradas como as
boas empresas. Há cobrança de resultados e vantagens para quem
desempenha bem seu papel. Os melhores mestres são colocados nas
turmas mais difíceis. Ao mesmo tempo, malandros e incompetentes
ganham puxões de orelha.
• Provavelmente, os professores nunca ouviram falar nem nos
autores nem nas teorias da moda pedagógica. Contudo, conhecem
bem os assuntos que ensinam e aprenderam a ensinar. De fato,
pedagogia para eles significa saber ensinar cada ponto da matéria.
• Há muita ênfase em aplicar as teorias em problemas da vida real –
em vez de decorar fatos, fórmulas e definições. Os livros são de boa
qualidade, detalhados e universalmente usados. Os professores não
precisam "criar" sua aula (embora não esteja proibido), pois existe
uma retaguarda de planejamento e explicitação de tudo o que
acontece na aula (os livros e os guias dos professores oferecem
bancos de perguntas, de exercícios e de aplicações práticas).
• Os currículos oficiais são claros e precisos, dizendo exatamente o
que é para ser ensinado e aprendido. Segundo um funcionário do
Ministério da Educação da Finlândia: "Nosso currículo prescreve,
nossos professores ensinam e nossos alunos aprendem as mesmas
competências e conhecimentos que são avaliados no Pisa (Programa
Internacional de Avaliação de Alunos)".
• A sala de aula é convencional. Existem avaliações freqüentes,
bastante dever de casa e muito feedback para o aluno. A jornada de
33
trabalho é longa (pelo menos cinco horas), mas não há
necessariamente tempo integral. Os alunos são seriamente cobrados
e precisam estudar. A disciplina é "careta" (por exemplo, não se pode
conversar durante a aula).
• A família acompanha a vida escolar do aluno e o vigia de perto,
para assegurar que ele fez o dever de casa. Além disso, conversa
muito com ele e garante a existência de um ambiente físico e
psicológico que favorece o estudo e o aprendizado. Televisão
berrando ou sintonizada na novela pode ser a distração da família,
mas desvia o aluno do seu maior projeto de vida, que é a educação.
•
Quando examinamos as melhores escolas do Enem, lá está
também a predominância da doutrina do feijão-com-arroz,
observada nas melhores escolas de outros países. Colecionam os
melhores lugares as instituições (confessionais ou não) de tradição
rígida, os colégios militares e outras do mesmo estilo. Ainda bem
que não são necessárias fórmulas mirabolantes para oferecer uma
boa educação.
http://veja.abril.com.br/040407/ponto_de_vista.shtml - Acessado em
03 Abril
Pequenas e inteligentes
16.11.2006
O interior serve de campo de testes para a criação de
cibercidades onde todos têm acesso à internet rápida
Ana Lúcia Moura Fé
Quando se pensa em vanguarda tecnológica, o mais natural é
imaginar que as inovações obedeçam sempre a um roteiro
predeterminado: são adotadas nas grandes metrópoles para, bem
depois, espalhar-se pelas cidades menores. Em relação à internet
banda larga, está acontecendo uma inversão desse caminho. Hoje,
são as pequenas cidades que estão servindo de piloto para a
implantação de programas revolucionários na área de internet.
Algumas experiências no Brasil já se destacam no cenário mundial. É
o caso de Piraí, município fluminense que ligou, via web, todas as
repartições públicas da cidade e conseguiu que todos os seus 23 000
habitantes tenham acesso a serviços online e à internet de alta
velocidade. Em 2005, a iniciativa de Piraí foi reconhecida em Nova
York como um dos sete melhores projetos de tecnologia de
34
comunicação do mundo -- um feito inédito no Brasil.
Numa cidade digital, ou cibercidade, pessoas e instituições
estão interconectadas por meio de uma infra-estrutura de
comunicação de alto desempenho. Em Piraí, o projeto de
universalização da internet banda larga começou a ser implantado
em 2003, com o apoio da prefeitura. Atualmente, o parque instalado
soma 450 computadores distribuídos pelos prédios públicos
municipais. Todas as escolas da cidade contam com laboratório com,
no mínimo, 20 computadores. A infra-estrutura digital instalada na
cidade é híbrida, parte a cabo, parte sem fio. Mas a população pode
acessar a internet, por meio da tecnologia wi-fi (wireless fidelity), de
qualquer ponto. Os moradores também têm acesso gratuito à rede
mundial nos telecentros e quiosques espalhados pelos pontos de
maior movimento.
Uma cidade antenada
Por que Piraí é um exemplo no mundo digital
- O município instalou em todo o seu território, inclusive na
zona rural, uma rede sem fio e a cabo que transmite dados, voz e
imagem em alta velocidade.
- A rede de banda larga interliga 450 computadores públicos,
grande parte colocada à disposição da população para acesso
gratuito à internet. Todos os prédios públicos estão interconectados.
- Os moradores têm acesso livre a 66 terminais instalados em
locais como praças, rodoviária e sindicatos. São nove quiosques e
quatro telecentros.
- Cerca de 6 300 alunos de 20 escolas municipais acessam a
internet de alto desempenho por meio de 188 computadores. Esses
alunos representam mais de 90% dos estudantes do município.
O sucesso da experiência digital de Piraí foi resultado de um trabalho
repleto de desafios. O primeiro deles foi o tecnológico. O município
está situado em uma região montanhosa, o que exigiu a instalação
de um maior número de estações de radiobase (ERB) para a
transmissão do sinal digital. Ainda hoje, alguns problemas com a rede
não estão devidamente equacionados. "Ainda não encontramos a
melhor solução para a manutenção de todos os equipamentos que
estão espalhados por 540 quilômetros quadrados", diz André Manuel
de Moura Macara, coordenador técnico do projeto.
Outro desafio era fazer com que a população se engajasse no
projeto. Mas essa foi uma tarefa bem mais simples do que se
imaginava a princípio. "Aqui, todos abraçaram a causa. Muita gente
35
ofereceu o terreno de suas casas, energia e cabos para a instalação
das estações de radiobase", diz Macara. Hoje, as crianças acessam o
computador na escola para a realização de deveres, na hora do
recreio e mesmo depois das aulas. Quando não estão no colégio,
podem utilizar os quiosques espalhados pela cidade para dar uma
"navegada", gíria que eles já adotaram. O site preferido dos meninos
é o do programa de televisão Sítio do Picapau Amarelo. O das
meninas é o da boneca Barbie. Além das crianças, os adultos também
vêm aproveitando intensamente a oferta de internet banda larga na
cidade. Na rodoviária, onde estão instalados alguns computadores da
rede, chama a atenção dos visitantes a grande concentração de
pessoas esperando para acessar a internet.
Aos poucos, a experiência digital de Piraí começa a ser
estendida para cidades vizinhas. A primeira a se beneficiar foi Rio das
Flores, município com 8 500 habitantes, conectado à rede mundial
por meio de uma ligação de satélite fornecida pelo Ministério das
Comunicações. Fora do estado do Rio de Janeiro, outras iniciativas do
gênero começam a ganhar corpo. Em Sud Menucci, município de 7
500 habitantes no interior de São Paulo, a prefeitura cobriu toda a
cidade com rede wi-fi. Para ter acesso gratuito e ilimitado à internet,
os moradores só precisam ter computador com sistema operacional
Windows ou Linux e uma placa de rede sem fio com a freqüência de
2,4 GHz. Para manter a operação, a prefeitura investe pouco mais de
3 000 reais por mês.
Em Tiradentes, município de 7 000 habitantes no sul de Minas,
quem está por trás da empreitada digital é a Cisco, fornecedora de
tecnologia. "Escolhemos Tiradentes por ser uma cidade de serra, com
terreno ondulado, ideal para enfrentar todos os desafios de
implementar a tecnologia Mesh, que é similar à da telefonia celular",
diz Jorge Coelho, diretor da Cisco. Tiradentes conta hoje com acesso
à internet em banda larga, telefonia IP e serviço de vigilância. São
cinco câmeras para a proteção do patrimônio público, monitoradas
desde o prédio da polícia. A administração municipal constituiu um
comitê para definir um modelo de sustentação do projeto. Os
benefícios são visíveis. "Surgiram lan houses, casas para reparos de
micros e lojas de informática que já praticam até comércio eletrônico.
Antes, isso era encontrado apenas em cidades maiores da região",
diz Coelho.
Além da Cisco, quase todas as grandes empresas de tecnologia
da informação e telecomunicações, como a Nortel, a Motorola, a HP e
a Intel, estão investindo alto nas tecnologias que estão por trás das
iniciativas de cidades digitais. Na Intel, a estratégia consiste em fazer
contatos com as prefeituras e os órgãos do governo estadual para
36
explicar como a tecnologia funciona e doar a rede para que sejam
feitos os testes. Participando de diversas iniciativas de cidades
digitais no país, entre as quais Piraí, Ouro Preto (MG) e Mangaratiba
(RJ), a Intel aposta que a velocidade com que a população está se
conectando à rede mundial irá acelerar o surgimento das
cibercidades. "São 1 bilhão de computadores conectados à internet
no mundo, número que vai dobrar até 2010", afirma Maurício
Bouskela, diretor da Intel. "Esse crescimento se dará, certamente, a
partir das cidades menores."
http://portalexame.abril.com.br/static/aberto/infraestrutura - Acessado em
09/04/2007
Eles precisam de educação
Brasil tem 2,4 milhões de jovens analfabetos entre 10 e 29
anos, segundo a Pnad
Demétrio Weber
A universalização do ensino fundamental não fechou a torneira
do analfabetismo. Dos 15,5 milhões de brasileiros acima de 10 anos
que não sabem ler nem escrever, 2,4 milhões - 15% - têm menos de
30 anos. Embora o problema atinja todas as regiões do país, 65%
dos jovens analfabetos vivem no Nordeste.
Considerados apenas os jovens entre 15 e 29 anos, são 1,8
milhão de iletrados. São pessoas que chegam ao mercado de trabalho
incapazes de ler a placa do ônibus ou anotar um número de telefone.
Conseguir emprego fica difícil:
- É quase impossível. Não conseguem emprego estável, recebem
baixos salários - resume o presidente do Instituto de Estudos do
Trabalho e Sociedade, Simon Schwartzman, que presidiu o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no governo Fernando
Henrique.
Mesmo na escola, crianças iletradas
Os dados dizem respeito ao chamado analfabetismo absoluto.
Foram estimados em 2005, pelo IBGE, a partir da última Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
A maioria da população iletrada - 8,4 milhões - tem mais de 50
anos. São pessoas que estavam em idade escolar nas décadas de
1950 e 1960, quando estudar era privilégio. Naquela época, nem
metade das crianças e jovens tinha acesso ao sistema de ensino.
Hoje 97,3% dos brasileiros de 7 a 14 anos freqüentam a escola.
- É uma situação grave. Num país populoso e de extensão
territorial como o Brasil, um pequeno percentual que fique fora da
37
escola já representa muita gente. Tem que haver uma política
específica para esse público - diz a coordenadora de Programas da
organização não-governamental Ação Educativa, Vera Masagão
Ribeiro.
A Pnad 2005 mostra que o analfabetismo atinge 578 mil crianças
de 10 a 14 anos. São crianças que podem ter freqüentado a escola,
sem aprender a ler e escrever, ou mesmo nunca ter estudado. O
IBGE estima que 2,7% dos 27,4 milhões de brasileiros com idade
entre 7 e 14 anos não estavam matriculados. Ou seja, o país tinha,
em 2005, 741 mil crianças e jovens fora da escola nessa faixa etária.
A secretária de Educação do Distrito Federal, Maria Helena
Guimarães de Castro, que foi ministra interina no governo Fernando
Henrique, afirma que o problema é agravado pela baixa qualidade do
ensino. O Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), prova
aplicada a cada dois anos, mostra que mais da metade dos alunos de
4ª série tem dificuldade de compreender o que lê.
- Está demonstrada, pelo Saeb, a enorme dificuldade de
alfabetização no Brasil. É um problema da escola - diz Maria Helena,
elogiando a proposta do governo Lula de aplicar a Provinha Brasil,
teste para verificar a alfabetização das crianças de 6 a 8 anos.
A taxa de analfabetismo entre a população com mais de 10 anos
é de 10,2%. O índice sobe para 10,9%, se considerada apenas a
parcela acima de 15 anos - 14,9 milhões de pessoas. No Nordeste, a
proporção, nesse caso, chega a 21,9%, a mais alta do país, contra
6,5% no Sudeste e 5,9% no Sul, a mais baixa.
O IBGE estima também o índice de analfabetismo funcional, que
vale para quem consegue ler e escrever palavras ou frases, mas é
incapaz de compreender um bilhete ou fazer cálculos simples de
soma. A taxa brasileira de analfabetismo funcional é de 23,5%,
alcançando 45,8% no meio rural, segundo a Pnad 2005.
Brasil Alfabetizado será reformulado
Diante da persistência dos altos índices de analfabetismo no
país, o Ministério da Educação decidiu reformular o Brasil
Alfabetizado, programa lançado em 2003 e que teve pouco efeito na
redução do problema. O ministro Fernando Haddad já declarou que a
pequena queda na taxa de analfabetismo - de 11,5%, em 2003, para
10,9%, em 2005 - não é resultado do programa, que já consumiu
mais de R$700 milhões.
Haddad lançará nos próximos dias o novo formato do Brasil
Alfabetizado. A principal inovação é que professores da rede pública
serão contratados para dar aulas, no lugar de alfabetizadores leigos.
Com isso, o governo espera melhorar a eficácia do ensino não só de
jovens e adultos, mas das próprias crianças, uma vez que os
docentes receberão treinamento específico para ensinar a ler e
escrever.
38
Jornal O GLOBO - 09/04/2007
Crise aérea é ponta de iceberg
Gustavo Loyola*
A crise dos transportes aéreos no Brasil é apenas a ponta de um
iceberg de grandes proporções que há muito tempo vem afundando o
crescimento econômico do País. Houve, de fato, grande
incompetência na prevenção e no controle dessa crise específica por
parte do governo Lula. Porém o diagnóstico do problema não deve
parar nessa constatação quase óbvia, sob pena de assistirmos nos
próximos meses e anos à múltipla eclosão de episódios assemelhados
em outros segmentos da economia brasileira.
É necessário considerar inicialmente que a semente do colapso
da infra-estrutura do transporte aéreo foi plantada nos idos de 1988,
pela chamada “Constituição cidadã”. Ao criar direitos sociais onerosos
sem nenhuma preocupação com a aritmética das contas públicas, os
constituintes de 1988 deram partida a uma tétrica engrenagem que,
nos últimos 19 anos, praticamente aniquilou a capacidade de
investimento público no Brasil, embora tenha feito duplicar a carga
tributária como proporção do produto interno bruto (PIB).
Por causa disso, o Brasil sofre o paradoxo de ter elevada carga
tributária com péssimos serviços públicos. O Estado é grande, mas
ineficiente. As carências são enormes em áreas essenciais como
saúde, segurança e educação. Em contrapartida, os gastos de custeio
com pessoal e Previdência aumentaram exponencialmente nas duas
últimas décadas. No caso do governo federal, o porcentual de
despesas gerenciáveis cai seguidamente, pressionado pela elevação
contínua dos gastos obrigatórios.
Desse modo, o caos orçamentário é um dos responsáveis pela
crise do setor aéreo. O crescimento do tráfego aéreo não foi
acompanhado pelos necessários investimentos em infra-estrutura.
Como resultado, é provável que, no período mais recente, os
coeficientes de segurança se tenham estreitado e a carga de trabalho
dos profissionais do setor, aumentado de forma desarrazoada. Vale
ressaltar que esse estado de coisas não difere muito do que vem
ocorrendo em outros setores de infra-estrutura, como o de estradas e
o de portos.
Entretanto, há um outro ingrediente perverso da Constituição de
1988 presente na atual crise do setor aéreo. Hoje, o administrador
público está praticamente engessado no que se refere à prática de
uma política de pessoal coerente para os servidores civis e militares.
A “isonomite” - doença típica da “Constituição cidadã” - dificulta o
exercício de uma política de pessoal que dê os incentivos corretos aos
servidores, sem que isso importe no colapso das contas públicas.
Assim, o que se vê hoje é uma política do “leva quem grita mais”,
gerando distorções monumentais nas remunerações dos servidores e
39
incentivando atitudes extremas como a assumida pelos controladores
de vôo.
Não bastasse isso, a paralisia no governo Lula do processo de
modernização do Estado iniciado nas Presidências anteriores também
contribuiu para a eclosão dos problemas do setor aéreo. Num nítido
retrocesso, o governo atual adota uma postura estatizante que, por
exemplo, incentivou a Infraero a se tornar mais uma empresa de
administração de “shopping centers” do que de aeroportos. O ordálio
sem fim dos passageiros no Aeroporto de Congonhas ilustra bem a
lógica das prioridades invertidas dessa empresa estatal, que leva as
pistas a serem recuperadas somente após a construção do novo
terminal. O produto das caras taxas aeroportuárias pagas no Brasil
deveria estar sendo canalizado para fins mais nobres do que para a
construção de “aeroshoppings”, que, aliás, poderiam ser erigidos com
recursos exclusivamente privados.
Além do retrocesso estatizante, o governo Lula é culpado pela
politização das escolhas dos dirigentes das agências reguladoras,
incluindo os da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Trata-se de
uma agência recentemente criada, mas que aparentemente não
conseguiu substituir o antigo Departamento de Aviação Civil (DAC)
com vantagem. Ao contrário, a condução pela agência dos problemas
do transporte aéreo nos últimos meses vem deixando muito a
desejar, provavelmente pela inexperiência de seus diretores nos
assuntos sob sua responsabilidade.
Nenhum dos problemas acima citados é exclusivo do setor aéreo.
Eles existem também em outras áreas da infra-estrutura, como
transportes
terrestres,
portos,
energia
e
saneamento.
Lastimavelmente, o recém-lançado Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) indica que o radar do governo ainda não captou
as verdadeiras causas da crise da infra-estrutura no Brasil, já que
abriu mão de realizar as reformas necessárias para recuperar a
capacidade de investimento do setor público e melhorar o ambiente
para o investimento privado. Nada nos resta, ao que tudo indica, a
não ser torcer para que esse titanic chamado Brasil não encontre
outros icebergs mais adiante.
*Gustavo Loyola, doutor em Economia pela EPGE/FGV,expresidente do Banco Central, é sócio-diretor da Tendências
Consultoria Integrada, em São Paulo O colunista Ribamar
Oliveira está em férias.
Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO - 16/04/2007
PLANO PARA O ENSINO
Escolas também 'perto da perfeição'
Ao lançar plano, Lula diz que educação no Brasil será uma das
melhores do mundo
Chico de Gois
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Ao lançar ontem o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse estar convencido
de que, se as medidas forem postas em prática em sua totalidade,
seu governo passará para a História por deixar a educação brasileira
"em pé de igualdade com qualquer país do mundo". Há um mês, ao
anunciar pela primeira vez o pacote de medidas para a educação,
Lula reconhecera que o ensino no país está entre os piores do mundo.
Ontem, ele não fez por menos:
- Não tenham medo de errar, se nós implantarmos tudo o que
anunciamos aqui hoje, nós certamente passaremos para a História
como a geração de políticos que, definitivamente, não apenas disse
que a juventude era o futuro da nação, mas que preparou, como
legado para a juventude, um sistema de educação que finalmente
pôde colocar o Brasil em pé de igualdade com qualquer país do
mundo desenvolvido na área da educação - disse o presidente. Ano
passado, ao falar de outro setor vital, ele também dissera que não
estava longe "de a gente atingir a perfeição na saúde".
Lula disse enxergar um novo século na educação, no qual
prevalecerão "o mérito sobre a riqueza familiar" e onde haverá uma
elite do saber e não mais uma "elite de sobrenomes".
- Vejo nele (no PDE) o início do novo século da educação no
Brasil. Um século capaz de assegurar a primazia do talento sobre a
origem social e a prevalência do mérito sobre a riqueza familiar. Um
século de uma elite de competência e do saber, e não apenas de elite
do berço ou do sobrenome.
Críticas indiretas ao governo FH
Lula lembrou que, durante muito tempo, afirmou-se que a
juventude era o futuro do país, mas que o que se vê são jovens de 15
a 24 anos na criminalidade e meninas se prostituindo:
- Tudo isso porque em algum momento da História não foram
feitas as coisas corretas que deveriam ter sido feitas neste país,
sobretudo na questão da educação.
Segundo Lula, o PDE é um "esforço técnico e político do
governo". Ele criticou, indiretamente, o ex-presidente Fernando
Henrique, que havia proibido a criação de escolas técnicas. Apesar de
destacar que o governo vai disponibilizar mais recursos para
aplicação na educação - o que rendeu até elogio aos ministros Guido
Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento), por estarem
liberando verbas -, Lula destacou que a solução para os problemas do
ensino não depende apenas de mais dinheiro.
O presidente disse que o PDE vai tornar realidade seus
compromissos de campanha na área de educação. Para ele, o PDE é
complemento ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento),
lançado no fim de janeiro.
- Para diminuir a desigualdade entre as pessoas, a alavanca
41
básica é a educação; e para diminuir as desigualdades entre as
regiões, a alavanca básica são os grandes programas de
desenvolvimento, que ampliam a infra-estrutura produtiva e social.
Lula, que constantemente é criticado pelo número de medidas
provisórias que encaminha ao Congresso, sublinhou ontem, também
de forma bem-humorada, aos presidentes do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que,
desta vez, só está enviando ao Congresso projetos de lei.
- Vocês já me conhecem e sabem que estarei no calcanhar de
vocês para que cada coisa prometida seja cumprida até o final do
nosso governo - disse aos 17 ministros presentes.
Jornal O GLOBO - 25/04/2007
Desenvolvimento da Educação
Uma das 47 medidas que compõem o Plano de Desenvolvimento
da Educação (PDE) - saudado pelo presidente Lula como o “mais
abrangente” do gênero na história brasileira - estipula que até 2010
todas as 130 mil escolas públicas de ensino básico do País estarão
dotadas de computadores, a um custo estimado em R$ 650 milhões.
Ao todo, o programa deverá transferir para o setor nos próximos 3
anos recursos adicionais da ordem de R$ 8 bilhões. Essa notícia está
nos jornais de ontem. Nos jornais da segunda-feira, porém, a
informação mais significativa na área era outra: a partir de um
levantamento técnico, o governo de Pernambuco mandou interditar
72 escolas ameaçadas de desabamento, deixando sem aula mais de
68 mil alunos. Outras 275 unidades, consideradas precárias, também
poderão ser interditadas.
Ao justapor as duas notícias, que simbolizam o contraste entre o
espírito modernizador do chamado PAC da Educação e as amargas
realidades da educação nacional, não se pretende, de forma alguma,
desdenhar do programa que acaba de ser lançado oficialmente e cuja
primeira versão foi divulgada em meados de março. Os comentários
favoráveis ao PDE, no editorial publicado em seguida àquela primeira
apresentação, se sustêm, agora que o projeto ficou pronto. Não há
uma vírgula a remover da apreciação positiva inicial, sobretudo - e
isso é duplamente auspicioso - no que se refere às suas propostas
para o que mais importa: o resgate do ensino de base no País do
estado calamitoso em que jaz, com os piores índices de nãoaprendizagem já apurados nas provas anuais do Saeb, além de taxas
intoleráveis de evasão e repetência.
Mas é impossível deixar de ressaltar, de um lado, a imensa
distância a percorrer até que se considerem cumpridos os objetivos
do programa e, de outro, a escassez de meios ao alcance do Estado
42
nacional para assegurar a travessia, apesar do anúncio de valores
miliardários a serem aplicados. O máximo com que se acena é pouco
perto do que se precisa para levar a cabo a revolução que tanto tarda
num sistema que quase nada ensina aos muitos milhões de crianças
e jovens que conseguiu levar nos últimos anos às salas de aula - um
feito que não se deve omitir. Atente-se para o que o PDE contempla
em matéria de remuneração dos professores, sabendo da importância
crucial da valorização do magistério na batalha pela qualidade da
escola pública. Projeto de lei propõe um piso de R$ 850 mensais, a
ser alcançado por etapas até 2010.
Pois bem. Embora seja mais do que recebem cerca de 40% dos
professores brasileiros, esse mínimo é claramente insuficiente para o
imprescindível upgrading da profissão, que em outras gerações
conheceu dias melhores. E dificilmente as muitas prefeituras hoje
incapazes até de pagar o piso de R$ 300, vigente desde 1994, terão
ao longo dos próximos 3 anos os meios para emitir contracheques
nos novos valores estabelecidos. Prova disso é que o ministro da
Educação, Fernando Haddad, ainda que se diga seguro do
cumprimento da meta, como não poderia deixar de ser, aconselha
desde já os professores cujos salários ficarem aquém do piso a fazer
“o mesmo que qualquer trabalhador que não recebe o salário
mínimo: recorrer à Justiça”. Outra evidência do trabalho de Hércules
para transpor o abismo entre “a intenção e o gesto” está num cálculo
dos técnicos da Educação.
O Ministério estimou que só em 2021 - daqui a 14 anos, portanto
- o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que mede
o desempenho do ensino público, poderá avançar da atual marca
média, inferior a 4, para 6. Se tudo sair como planejado. Pelo menos
não se dirá que o ministro Haddad, com a cabeça nas nuvens, faz
promessas mirabolantes. Já o presidente Lula, no lançamento do
PDE, teve uma recaída de apoteose mental. Falou que o seu governo
entrará para a história se colocar o Brasil “em pé de igualdade com
qualquer país do mundo desenvolvido na área da educação”. Já será
um feito histórico o País reduzir no período de uma geração a sideral
diferença que o separa do mundo desenvolvido em matéria de
produção e transmissão de novos conhecimentos - o fim último da
atividade educativa, ainda mais quando o destino das nações
depende das suas elites “da competência e do saber”, como observou
Lula.
Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO - 26/04/2007
43
BRASIL: FORMA E REFORMA DO ESTADO
Tragédia brasileira
ANTONIO DELFIM NETTO
É CADA VEZ mais evidente que a execução do brilhante Plano
Real deixou como herança um Estado obeso e endividado que impõe
o baixo crescimento. A tabela abaixo registra a taxa de inflação de
2006 e a taxa média de crescimento do PIB desde o início de quatro
programas de estabilização.
Todos
os
latinoamericanos tiveram um resultado pífio, mas o do Brasil foi o pior.
Israel, mesmo numa situação de permanente beligerância, tem
crescido à média de 5% ao ano há 20 anos. O quadro é muito pior do
que parece. O crescimento anual da população do México é de 1%, o
que produz um crescimento per capita do PIB da ordem de 2,2% ao
ano (dobra em 32 anos), e a Argentina vê também sua população
crescer a 1% ao ano, com um crescimento per capita de 2,3% (dobra
em 30 anos). O Brasil registra um crescimento populacional de 1,4%
ao ano, o que nos deixa com um crescimento per capita de 1% ao
ano (dobra a cada 70 anos!). Em 2005, o PIB per capita (em paridade
de poder de compra, US$) dos três países era o seguinte:
Em mais uma geração, se continuarmos a conversar sobre o
crescimento em lugar de realizá-lo, teremos os PIBs per capita
previstos no quadro anterior na mesma unidade (US$PPP-2005). Não
se trata de destino. Aceitar a possível tragédia do empobrecimento
relativo do Brasil depende só de nós: da nossa capacidade de decidir
o que fazer para crescer a uma taxa per capita de pelo menos 3% a
3,5%, o que significa um crescimento do PIB em torno de 4,5% a
5%.
A mensagem cruel é que será muito difícil fazer isso: 1º) com a
sociedade do "bem-estar" social construída com mais paixão do que
44
razão na Constituição cidadã. Ela se acomodaria muito mal mesmo se
tivéssemos o triplo do nosso PIB per capita; 2º) se insistirmos em
ampliar a ênfase no passado (previdência e assistência) em
detrimento do futuro (educação e saúde dos jovens, o que começa a
ser corrigido pelo PDE) e 3º) se insistirmos em aumentar as despesas
de custeio do governo em detrimento das de investimento. Isso está
longe de sugerir a necessidade de um retorno aos bem-vindos
avanços sociais conseguidos. Exige apenas que se melhore o seu
"foco" e se aprofunde o seu monitoramento.
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta
coluna.
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO – 21/03/2007
Negociando pelos outros
O chanceler Celso Amorim continua empenhado, sem grande
resultado nos últimos tempos, em unir as economias em
desenvolvimento para enfrentar Estados Unidos, União Européia e
Japão nas negociações globais de comércio. Só a união daquelas
economias, disse o ministro num discurso em Jacarta, na Indonésia,
poderá garantir que a Rodada Doha seja de fato a Rodada do
Desenvolvimento. Foi essa a meta proclamada por mais de 140
ministros na conferência da OMC realizada em dezembro de 2001 na
capital do Catar.
As negociações, passados mais de cinco anos, continuam
travadas não só pelas diferenças entre ricos e pobres, mas também
pelas divergências no grande e diversificado grupo das economias
“em desenvolvimento”. Foi principalmente para cuidar dessas
divergências que o ministro brasileiro foi à reunião do Grupo dos 33
(G-33).
Os países do G-33, liderado pela Indonésia, reivindicam maior
acesso aos mercados do mundo rico para seus produtos agrícolas,
mas não estão dispostos a abrir os próprios mercados. Pretendem
manter elevadas barreiras protecionistas, sob o argumento de que
precisam proteger milhões de pequenos produtores pobres.
O ministro Celso Amorim foi à Indonésia para tentar uma
aproximação entre o G-20, por ele coordenado, e o G-33. Se essa
união resultar numa posição menos protecionista, será mais fácil
cobrar dos EUA e de outros parceiros desenvolvidos uma abertura
maior para o comércio agrícola. Se os governos do mundo em
desenvolvimento não forem mais flexíveis em relação ao comércio
agrícola, dizem os negociadores americanos, não haverá como
convencer os congressistas dos Estados Unidos a apoiar maiores
concessões.
Mas a mera proposta de aproximação entre G-20 e G-33 é
ilusória, neste momento. Alguns membros do G-20, como a Índia e a
45
Indonésia, participam também do outro bloco. Nos dois grupos há
países com políticas protecionistas para o campo. A única diferença é
que no G-20, organizado em 2003 por iniciativa brasileira, há alguns
produtores agrícolas altamente competitivos, como o próprio Brasil e
a Argentina, que podem batalhar com muito mais eficiência por uma
ampla liberalização do comércio agropecuário.
Mesmo entre estes, no entanto, há diferenças políticas. Enquanto
a Argentina defende a competição mais aberta nessa área, o Brasil
aceita, embora com reservas, a pretensão indiana de criação de uma
lista de produtos especiais que ficariam sujeitos a maior proteção.
Não se trata, no caso, apenas de uma relação de produtos “sensíveis”
para os quais haveria salvaguardas especiais. Em princípio, qualquer
país poderia negociar uma relação desse tipo. A pretensão de países
como a Índia e a Indonésia vai além disso. A idéia é proporcionar
uma defesa adicional para pequenos produtores, considerados
incapazes de competir globalmente.
Objetivamente, essa proposta é incompatível com os interesses
comerciais do Brasil, porque dispomos de condições de competir com
sucesso no comércio de grande variedade de produtos. Ao admitir a
pretensão indiana, os negociadores brasileiros cederam às pressões
do Ministério do Desenvolvimento Agrário, indisfarçavelmente
empenhado numa política de apoio à ineficiência e ao atraso.
A influência dessa política sobre a diplomacia comercial brasileira
é uma negação do sucesso alcançado pelos produtores que se
modernizaram, ganharam poder de competição e têm todo o direito
de lutar por um comércio mais livre.
A diplomacia brasileira desperdiça esforços por falta de uma
clara definição dos interesses nacionais. O G-20 foi importante para
os primeiros avanços da negociação agrícola na Rodada Doha, mas
hoje é um entrave. A liberalização agrícola está longe de ser uma
unanimidade nesse grupo e no conjunto dos países em
desenvolvimento. Não é unanimidade sequer no interior do governo
brasileiro, que defende ao mesmo tempo a modernidade e o atraso.
Índia, China e Indonésia sabem o que desejam e põem seus
interesses em primeiro lugar. Valeria a pena Brasília tentar algo
semelhante. O primeiro passo seria descobrir quais são de fato os
interesses nacionais.
Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO-22/03/2007
Sistema ferroviário brasileiro precisa
de planejamento a médio e longo
prazo, diz CNT
Gláucia Gomes
Repórter da Agência Brasil
46
Brasília - Embora a utilização do sistema ferroviário brasileiro tenha aumentado nos
últimos cinco anos, ainda é preciso ter um planejamento de médio e longo prazo para
melhorar o desempenho e reduzir as dificuldades do setor.
A conclusão é da Pesquisa Ferroviária 2006, divulgada hoje (22) pela Confederação
Nacional dos Transportes (CNT). O estudo traça um panorama do setor a partir de
meados da década de 90, quando começou o processo de concessão das malhas federais
à iniciativa privada. A primeira pesquisa nesse sentido foi publicada em 2002.
Apesar de 11 das 12 malhas (que juntas somam cerca de 29,5 mil quilômetros de
extensão) serem administradas atualmente pela iniciativa privada, o levantamento
afirma que faltam investimentos por parte do governo federal. Segundo a pesquisa,
aliados aos recursos do setor privado, o investimento público permitiria aumentar a
produtividade e a capacidade operacional das ferrovias brasileiras.
“É preciso injetar mais recursos, principalmente para a ampliação da malha”, disse o
presidente da seção de Transporte Ferroviário da entidade, Rodrigo Vilaça. Segundo ele,
o investimento público é "baixo", considerando que o orçamento para 2007 é de R$ 330
milhões.
Vilaça defende que "todos" os recursos arrecadados pelo sistema ferroviário que geram
receita para o governo deveriam ser reinvestidos no próprio setor.
"Se considerarmos que foram arrecadados R$ 6,1 bilhões na primeira década [após a
concessão] apenas em impostos [Constribuição Intervenção no Domínio Econômico
(Cide) e outros tributos], sem adicionar os investimentos privados, em torno de R$ 12,2
bilhões nos 10 anos de concessão, temos condições de, com o que geramos, eliminar
entraves que são de responsabilidade da União, como, por exemplo, as invasões de
domínio”.
De acordo com a pesquisa, hoje existem 824 focos de invasão nas faixas de domínio, o
que tem prejudicado o desempenho do transporte ferroviário. A legislação determina
que não pode haver pessoas e construções à margem dos trilhos em uma distância de
pelo menos 7,5 metros de cada lado.
O estudo também apontou que os corredores ferroviários (trechos da malha em que a
maior parte da produção é escoada) mais problemáticos são os que levam aos portos,
principalmente ao de Santos (SP); São Luís (MA); Vitória (ES); e Rio Grande (RS).
Isso ocorre porque esses corredores sofrem interferência da população e das passagens
de nível (o cruzamento de uma ou mais linhas com uma rodovia principal ou secundária
no mesmo nível).
A CNT informa que o sistema ferroviário brasileiro é o maior da América Latina. Está
distribuído nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste e em parte do Centro-Oeste e Norte.
Os principais produtos transportados são soja, minérios e combustíveis. Em 2005, foram
trasnportadas 392 bilhões de toneladas úteis, cerca de 100 bilhões a mais que em 2000,
47
quando foram transportadas 286 bilhões de toneladas úteis.
www.agenciabrasil.gov.br - Acessado em 22/03/2007
Etanol o mundo quer. O Brasil tem.O álcool virou a principal
estrela do mercado energético global -- e nenhuma economia
tem tanto a ganhar quanto a nossa
Lia LubamboUsina Vale do Paranaíba, em Minas Gerais: modernidade
Por Alexa Salomão e Marcelo Onaga
EXAME- A negociação foi mantida em absoluto sigilo por seis meses e
concluída com discrição na manhã de 10 de junho. Na sala de janelas
largas de um prédio comercial em Ribeirão Preto, no interior de São
Paulo, estavam apenas o holandês Auke Vlas, representante da
trading americana Cargill, maior comercializadora de alimentos do
mundo, e o empresário Maurílio Biagi Filho, um dos mais importantes
donos de usinas de álcool e açúcar do país. O encontro foi rápido -Vlas trouxe os documentos já assinados e Biagi preencheu as poucas
linhas que lhe foram reservadas. A partir daquele momento, o
empresário retirou-se da Cevasa, indústria por ele fundada em 1999,
e a Cargill finalmente assumiu o controle de uma usina no Brasil,
após quase dois anos de tentativas. O detalhe mais revelador do
negócio é o fato de a Cevasa não produzir um único grama de açúcar,
apenas álcool combustível -- o etanol. Com a aquisição, a Cargill
ingressa em um novo ramo de negócios no Brasil, o de energia. Sua
principal concorrente, a Bunge, também tem feito prospecções no
Brasil e, segundo especialistas, deve anunciar em breve uma compra
semelhante.
O Brasil no centro da revolução energética
Nos últimos anos, uma forte escalada no preço do petróleo, principal
produto da matriz energética global, tem levado o mundo a buscar
alternativas. O álcool desponta como a principal promessa
A disparada do preço do petróleo...
Preço do barril de petróleo (em dólares)
2000 27
2001 23
2002 25
2003 29
2004 37
2005 54
48
2006 75(1)
1) Em abril
Fontes: Unica e Energy Information Administration
...Abriu espaço para o álcool brasileiro...
Exportação de álcool (em milhões de litros)
2000 95
2001 545
2002 780
2003 1100
2004 2600
2005 2500
2006 2500(1)
(1)Previsão
Fontes: Unica e Energy Information Administration
...e esse mercado deve continuar a crescer
Projeção da produção mundial de álcool (em bilhões de litros)
2004 41
2005 50
2006(1) 54
2007(1) 58
2008(1) 61
2009(1) 66
2010(1) 70
(1)Estimativa
Fonte: F.O. Licht
A estréia da Cargill no mercado brasileiro de álcool é o exemplo de
uma das mais impressionantes transformações em curso na economia
nacional. As usinas de álcool brasileiras, há séculos parte de um
cenário que era símbolo do atraso, estão hoje no epicentro de uma
revolução energética que envolve todo o planeta. No ano passado, o
mercado brasileiro de etanol movimentou 6 bilhões de dólares. Em
2010, deve chegar a 15 bilhões -- quase o equivalente ao
faturamento atual do negócio de telefonia celular. Seria um equívoco
comparar o rápido crescimento do setor com o movimento vivido
pelas usinas nas décadas de 70 e 80, quando o governo brasileiro, à
base de fartos subsídios, criou o Proálcool, programa oficial de etanol.
49
Desta vez, não é o braço estatal a impulsionar o mercado -- mas o
próprio setor privado. Além disso, agora o que se vislumbra não é
apenas a demanda de carros brasileiros, mas de todo o mundo. Nos
últimos seis meses, o etanol foi alçado da condição de produto
tupiniquim, confinado ao Brasil, à posição de combustível
potencialmente global, em teoria capaz de aliviar de uma só vez dois
grandes males do século 21, a escassez do petróleo e o efeito estufa.
O álcool entrou na agenda de governantes, empresas de tecnologia e,
principalmente,
de
investidores
interessados
nas
grandes
oportunidades que o setor tende a oferecer daqui para a frente. O
homem mais rico do mundo, Bill Gates, fundador da Microsoft,
comprou 25% da Pacific Ethanol para produzir álcool de milho nos
Estados Unidos. Especula-se que Gates esteja prestes a concretizar a
aquisição de uma usina de etanol no Brasil. Larry Page e Sergey Brin,
do Google, estiveram em janeiro no interior de São Paulo para
conhecer a produção local e analisar oportunidades. Outro bilionário,
o investidor húngaro George Soros, fechou em fevereiro a compra da
usina Monte Alegre, em Minas Gerais. Em 2006, o setor de etanol
deve receber investimentos de 9,6 bilhões de dólares, entre
construções de novas usinas, aquisições e expansões.
Embalados pela sede mundial de combustível verde, consultores e
corretores trocam os elegantes escritórios nas metrópoles e se
deslocam para o interior em busca de usineiros interessados em fazer
parcerias ou vender seus negócios. Bancos rivais, como o
UBS/Pactual e o Credit Suisse Group, agora disputam clientes entre
produtores de cana na tentativa de lançar ações de usinas na bolsa
de valores. Mesmo com a atual instabilidade dos mercados
financeiros, o primeiro fundo de private equity criado para usinas,
com patrocínio do banco francês Société Générale, conseguiu
arrecadar mais de 200 milhões de dólares em pouco mais de um
mês. A tendência é que feche o ano com 1 bilhão em carteira.
A Votorantim, um dos maiores grupos empresariais do país, é uma
das empresas com atuação mais marcante no mercado de etanol.
Nos últimos três anos, a empresa da família Ermírio de Moraes
investiu 40 milhões de dólares em duas empresas destinadas à
pesquisa de ponta no setor. Até mesmo as petroleiras, em princípio
contrárias ao sucesso do etanol, já perceberam que não dá para
ignorá-lo. No início de junho, a anglo-holandesa Shell passou a
exportar álcool brasileiro para os Estados Unidos, o maior mercado
mundial. Nos últimos meses, representantes das tradings japonesas
Mitsubishi e Mitsui circulam pelo interior do país prospectando
negócios. O próprio mercado de trabalho no Brasil deve sentir os
efeitos do crescimento do setor -- executivos de várias indústrias já
percebem as oportunidades que vão se abrir com a profissionalização
da gestão das companhias de etanol. "Estamos assistindo a uma
50
verdadeira corrida do ouro", diz Marcelo Junqueira, sócio da
Econergy, empresa americana especializada em comercializar crédito
de carbono e dona de um fundo com 100 milhões de dólares para
investir em energias renováveis. "Não faltam bons negócios."
Usina de lucros
Os negócios com álcool no Brasil movimentaram bilhões no ano
passado
2,9 bilhões de dólares
com a venda de álcool para misturar na gasolina
2,2 bilhões de dólares
com a venda de álcool combustível
766 milhões de dólares
em exportação para 46 países
373 milhões de dólares
para indústrias de alimentos, perfumes e cosméticos
19 milhões de dólares
com a venda de álcool como insumo para a indústria química
Total 6,2 bilhões de dólares
Fonte: Datagro
O que está aguçando o apetite de tanta gente é a projeção de que o
mercado internacional de álcool, hoje ainda modesto, crescerá
exponencialmente nos próximos anos. Nos últimos meses, vem se
consolidando a percepção de que a era do petróleo barato está perto
do fim. "A aposta é que a cotação se mantenha elevada daqui para a
frente, pois custa caro explorar as reservas que restaram", diz
Shigeaki Ueki, ex-ministro de Minas e Energia e consultor na área de
petróleo. A aposta é que a frota mundial de automóveis terá,
necessariamente, de adotar a mistura de gasolina e álcool nos
próximos anos, seguindo o modelo pioneiro do Brasil. A indústria
automobilística mundial já aderiu em massa aos veículos
bicombustíveis, que permitem o uso tanto do álcool como da gasolina
(veja reportagem na pág. 28). Portanto, do ponto de vista
tecnológico, as condições para o sucesso do etanol estão
equacionadas. O que falta, agora, é que mais países adotem o novo
combustível.
As maiores empresas do mundo
Brasil e Estados Unidos ocupam a liderança na produção de álcool
Empresa Produção anual(1) (em milhões de litros)
51
ADM (EUA) 4000
Copersucar (Brasil) 2700
Crystalsev (Brasil) 1030
Cosan (Brasil) 1000
VersaSun Energy (EUA) 871
Aventine Renewable (EUA) 783
Hawkeye Renewables (EUA) 757
ASAlliances Biofuels (EUA) 757
Abengoa Bioenergy (EUA) 750
Midwest Grain (EUA) 575
U.S. Bioenergy (EUA) 549
Cargill (EUA) 454
São Martinho (Brasil) 440
Irmãos Biagi (Brasil) 403
João Lyra (Brasil) 251
Tércio Wanderley (Brasil) 230
Nova América (Brasil) 200
Carlos Lyra (Brasil) 196
(1) Em 2005 Fonte: Datagro
O sinal mais vigoroso de que isso pode ocorrer em breve veio do
presidente americano, George W. Bush. Bush é um republicano típico,
pouco afeito a programas ambientais e com sólidas ligações com as
maiores petroleiras do mundo. Mesmo carregando esse currículo, em
janeiro passado condenou publicamente "o vício americano pelo
petróleo" e passou a defender enfaticamente as energias renováveis.
Os americanos são donos de 40% da frota de veículos do planeta,
mas o álcool responde por apenas 2,5% do mercado local de
combustíveis. Pelos planos do Departamento de Energia dos Estados
Unidos, até 2030 essa participação subirá para 30%, o que
representa o consumo de impressionantes 230 bilhões de litros -- ou
14 vezes a produção brasileira de álcool combustível prevista para
este ano. "O etanol é a principal alternativa ao petróleo", diz
Lawrence Russo, coordenador do Programa de Biomassa do
Departamento de Energia americano. O combustível conta também
com o apoio da oposição -- a senadora democrata Hillary Clinton,
virtual candidata à sucessão de Bush, pediu que o senado libere 1
bilhão de dólares em pesquisas com etanol. Com tais movimentos,
acredita-se que os Estados Unidos levem outros países a seguir a
52
mesma rota. Afora Suécia, Austrália e um punhado de países, o
restante do globo só começou a avaliar com seriedade o álcool
recentemente.
Esse despertar mundial coloca o Brasil à frente da corrida da energia
alternativa -- o que não é pouca coisa. E estimula potenciais
produtores. Jamaica, Nigéria, Índia e outros países que cultivam cana
tentam organizar a produção inspirados nos moldes brasileiros. A
criação de mercados pelo mundo é considerada fundamental pelos
produtores locais. A percepção é que, enquanto o Brasil for quase
monopolista no comércio internacional de álcool, dificilmente será
possível convencer os países desenvolvidos a misturá-lo à gasolina.
"A experiência do petróleo ensinou que a concentração da produção
de combustível não é boa para os países consumidores, que se
tornam dependentes", diz Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da
União da Agroindústria Canavieira. "É importante que vários países
fabriquem etanol para que haja segurança de abastecimento."
Ainda assim, dificilmente algum outro será capaz de tirar a liderança
brasileira nesse campo, pelo menos no curto prazo. O Brasil tornouse uma espécie de meca na produção em larga escala de
combustíveis renováveis graças a uma perfeita combinação de clima,
extensão territorial e reservas de água. A produtividade é de longe a
maior do mundo. De cada hectare de cana plantada no país,
produzem-se 6 800 litros de álcool. Nos Estados Unidos, hoje o maior
produtor mundial de etanol, o álcool é feito de milho, e cada hectare
da cultura gera 3 200 litros de álcool -- abaixo da metade do
rendimento brasileiro. O preço da produção nacional é igualmente
imbatível. O litro custa cerca de 20 centavos de dólar, ante 47
centavos do álcool de milho americano e 32 centavos do álcool de
cana produzido na Austrália. "A beleza do processo brasileiro está
principalmente na eficiência ambiental", diz Plinio Nastari, diretor da
Datagro, consultoria especializada em açúcar e em álcool. “No Brasil,
as máquinas que fabricam o álcool são movidas à energia elétrica
produzida pela queima do bagaço de cana, o que reduz os custos.
Nos Estados Unidos, o processo depende da energia gerada do
carvão, do óleo combustível ou do gás natural, o que encarece o
produto final."
Para proteger os produtores americanos de milho, a importação do
álcool brasileiro é taxada, o que fere sua competitividade. Hoje há
muita pressão pela derrubada dos impostos. Dois projetos que
tramitam no Congresso americano suspendem a cobrança. Jeb Bush,
governador da Flórida e irmão do presidente, vem fazendo uma
cruzada para derrubar a taxação sobre o produto brasileiro. Se a
mobilização vingar, o Brasil deve virar um pólo ainda maior de
atração de investidores -- o que muitos consideram a senha para a
transição de um setor com ilhas de atraso para a modernidade.
53
Os pontos fracos do Brasil
O que pode tirar o país da liderança do comércio mundial de álcool
Infra-estrutura deficiente
Hoje o transporte de álcool é feitoprincipalmente por caminhão. Para
exportar grandes volumes a custo baixo, o país precisa construir
dutos, investir em ferrovias e hidrovias e equipar os portos
Baixo investimento em tecnologia
Por ano, o governo americano investe 350 milhões de dólares, a
fundo perdido, em biotecnologia para aumentar a produção de álcool
de milho. No Brasil, as pesquisas com cana estão restritas a algumas
empresas privadas. O total investido por ano no país é cerca de 25
milhões de dólares
Falta de credibilidade
Historicamente, o preço do açúcar guia a produção de álcool — se o
açúcar fica mais caro, o usineiro reduz a produção de álcool. Para se
estabelecer como fornecedor global, a indústria precisa manter uma
produção regular de álcool e formar estoques .
Os produtores brasileiros ainda dominam a fabricação de álcool no
país -- e é difícil prever hoje por quanto tempo essa realidade deve
se manter. Há em operação no Brasil cerca de 350 usinas, a maioria
delas controlada por famílias tradicionais, como Ometto, Junqueira,
Balbo, Zillo e Lyra. Apenas 3% desses negócios estão em mãos de
grupos estrangeiros. Há hoje quase 100 usinas de álcool sendo
construídas sobretudo por empresários locais. "Entender as
peculiaridades da produção agrícola no Brasil não é para qualquer
um", diz Pedro Mizutani, vice-presidente executivo da Cosan, o maior
grupo privado brasileiro do setor. "Os estrangeiros têm dificuldade
em lidar com a produção agrícola e de entender as legislações
tributária e trabalhista." É por isso que -- pelo menos por enquanto -os investidores de fora têm optado por assumir o controle de usinas,
mas deixar a parte agrícola para os brasileiros, como fez a Cargill na
Cevasa. A multinacional americana ficou com pouco mais de 60% de
participação. O restante ainda pertence à Canagril, uma sociedade de
agricultores que fornecem a cana.
Quando se olha para o futuro, no entanto, é possível visualizar um
agressivo aumento da participação dos estrangeiros. "Pelo menos
30% das sondagens que recebemos de novos projetos de usinas é de
estrangeiros", diz José Luiz Olivério, vice-presidente de operações da
Dedini, a maior indústria de equipamentos para construção de usinas
de etanol do mundo. "Se os negócios forem efetivamente fechados,
vamos assistir a uma radical mudança no perfil do setor e no
tamanho do mercado." O crescente interesse dos estrangeiros já está
produzindo uma superlativa valorização das usinas. Unidades
54
pequenas, muitas delas com problemas financeiros, esqueletos
tributários e dívidas trabalhistas, estão sendo avaliadas pelos donos
em 50 milhões de dólares. As maiores e mais produtivas podem ser
cotadas em meio bilhão de dólares.
É um dinheiro considerável. E, assim como aconteceu com os setores
de autopeças e de têxteis na década de 90, a maior parte dos
empresários brasileiros do etanol enfrenta o momento de definir qual
será seu papel no futuro. "Os acionistas precisam decidir se vão
continuar sozinhos, buscar associações com estrangeiros ou esperar a
melhor oferta para uma boa venda", diz Renato Gennaro, especialista
em agronegócio da BCS, área de consultoria da IBM. "A tendência é
que haja forte processo de consolidação, com fusões e aquisições,
pois escala será fundamental." Na Nova América, empresa que detém
a marca de açúcar União, a opção é crescer. Roberto Rezende
Barbosa, presidente do grupo, estuda a possibilidade de abrir o
capital para expandir os negócios com álcool. "Daqui para a frente
será necessário produzir em escala mundial", diz Barbosa. "Quem
quiser competir precisa se preparar." A Nova América tem uma
estrutura de comando incomum no setor. O poder está nas mãos de
Roberto e dois irmãos. Três pessoas, portanto, tomam as decisões.
Em muitas usinas, o patrimônio está dividido entre dezenas de
parentes com os mais diversos pontos de vista e idiossincrasias
pessoais. Eleger estratégias é uma operação delicada.
É o que se vê, por exemplo, na Vale do Rosário, uma das melhores e
maiores usinas do país, localizada em Morro Agudo, no interior de
São Paulo. A Vale do Rosário tem uma centena de acionistas. Em
julho, o grupo deve se reunir para discutir o futuro do negócio.
Alguns acionistas acreditam que o momento é ideal para vender a
empresa. Outros pensam que o melhor é abrir o capital para financiar
uma expansão mais agressiva. Se prevalecer essa segunda opinião, a
Vale seguirá os passos da Cosan, empresa dona de 16 usinas e única
do setor com ações cotadas na bolsa de São Paulo. "Nos próximos
cinco ou dez anos, vamos dobrar nossa participação e atingir 20% do
mercado interno", diz Rubens Ometto Silveira de Mello, controlador
da Cosan. Mesmo com os preços em alta, a empresa mantém a
estratégia de aquisições para se manter na liderança do setor.
Paralelamente, estuda a possibilidade de ingressar no mercado
americano.
A supremacia brasileira no mercado de álcool, no entanto, não deve
ser encarada como definitiva. O país tem debilidades que tendem a
agravar-se com o tempo. A mais perigosa é a falta de investimentos
em ciência e tecnologia. Assim como o desenvolvimento de novos
tipos de soja levou a produção de grãos para o cerrado, o
desenvolvimento de novas espécies de cana, resistentes a pragas e
adaptadas a regiões mais áridas, será fundamental para abrir novos
55
pólos de produção e elevar a produtividade. A cultura já está
migrando. Novas usinas estão sendo erguidas em Minas Gerais,
Goiás, Paraná e até no Pará. O trabalho científico, no entanto, está
concentrado em poucas instituições, como o Centro Tecnológico
Canavieiro, algumas universidades federais e as empresas privadas
CanaVialis e Alellyx, mantidas pela Votorantim Novos Negócios
(VNN). "Num cenário de 30 anos, os Estados Unidos tendem a utilizar
essa tecnologia para reduzir dramaticamente o custo de produção",
diz Fernando Reinach, diretor da VNN. "Se o Brasil não investir em
pesquisa, não conseguirá manter custos competitivos."
Outra falha elementar é a falta de infra-estrutura. A maior parte do
álcool produzido no país deixa a usina em caminhões, um meio de
transporte caro que compromete a rentabilidade de áreas no interior
do país. Também falta estrutura nos portos. "Se algum importador
comprar álcool hoje, vai ter de esperar até setembro para receber",
diz o empresário Maurílio Biagi Filho. Parte da solução do problema
estaria na construção de alcooldutos cortando o país. Um projeto da
Petrobras prevê a abertura de um duto que ligaria Goiás à refinaria
de Paulínia, em São Paulo, passando pelas principais regiões
produtoras. Para o economista Guillaume Le-Fur, diretor da Diapason
Management, empresa suíça especializada em commodities, a
presença de uma companhia como a Petrobras é estratégica para o
mercado brasileiro. "Uma grande empresa com capital, capaz de
competir com as petroleiras, será decisiva para a expansão do
mercado de álcool", diz Le-Fur. Os empresários, no entanto, vêem
com desconfiança o avanço da estatal. A Petrobras monopolizou o
mercado interno de gasolina e de gás natural, e suspeita-se que tente
fazer o mesmo com o álcool.
O ponto nevrálgico para o sucesso do Brasil, no entanto, está nas
mãos dos usineiros: garantir a produção do álcool. Pode parecer um
item primário na sofisticada agenda do setor de energia, mas
historicamente os usineiros locais reduzem a produção de álcool toda
vez que o preço do açúcar sobe -- e neste momento ele nunca esteve
tão alto. Essa velha artimanha para aumentar o faturamento da usina
no curto prazo tende a minar a confiança dos consumidores de outros
países. "O mercado de combustíveis trabalha com contratos de longo
prazo que precisam ser respeitados", diz José Ronaldo Rezende,
consultor da PricewaterhouseCoopers. "Temos de colocar o pé no
chão para não fazer besteira", diz João Lyra, presidente do Grupo
João Lyra, um dos mais modernos do setor. "Não respeitar contratos
pode ser fatal para as empresas e para o país."
Os entusiastas do etanol
Várias lideranças americanas apostam no combustível verde
Hillary Clinton
56
A senadora democrata propôs no Congresso a aplicação de 1 bilhão
de dólares em pesquisas para duplicar a produção americana de
álcool de celulose
George W. Bush
O presidente americano aumentou a isenção tributária do álcool,
destinou meio bilhão de dólares a pesquisas e aposta no etanol como
alternativa ao petróleo
George Soros
O megainvestidor acaba de comprar uma usina de álcool em Minas
Gerais por 200 milhões de dólares
Bill Gates
O fundador da Microsoft investiu 84 milhões de dólares na Pacific
Ethanol, cuja ação subiu 500% antes mesmo decomeçar a produção
Sergey Brin e Larry Page
Os fundadores do Google visitaram uma usina em São Paulo e
mostraram-se abertos a fazer investimentos no país
www.portalexame.abril.com.br – Acessado em 27/03/2007
Mantega diz que governo quer remover obstáculos a
investimentos privados
Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Depois de destacar os aspectos macroeconômicos do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o ministro da
Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje (13) que o governo quer
“remover os obstáculos” a maiores investimentos da iniciativa
privada, como é o caso da carga tributária que está no patamar de
39% do PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas
no país) .
Mantega fez a avaliação ao participar de audiência pública conjunta
das comissões de Assuntos Econômicos e de Serviços e InfraEstrutura, do Senado. Também participam os ministros do
Planejamento, Paulo Bernarddo, e da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Primeiro a falar aos senadores, Mantega disse que este é o momento
adequado para adotar medidas de crescimento “mais vigoroso”
porque o país vive uma estabilidade monetária confortável, com
inflação abaixo de 4%, com ganhos de salário e renda e um
“robustecimento” da demanda interna.
A presença dos três ministros no senado tem o objetivo de esclarecer
eventuais dúvidas dos parlamentares sobre o PAC, de modo a agilizar
a aprovação das medidas provisórias e projetos de lei que compõem
o programa, anunciado no final de janeiro pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Os três ministros já participaram de audiência pública
57
também na Câmara.
Ao instalar a audiência, o presidente do Senado, Renan Calheiros,
manifestou integral apoio de seu partido, o PMDB, a todas as
iniciativas voltadas para o crescimento do país.
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias - Acessado em
13/03/2007
27/03/2007 - 19h52
Participação de álcool e biodiesel nos
combustíveis pode crescer 10 vezes
até 2030
CLARICE SPITZ
da Folha Online, no Rio
Os biocombustíveis podem ampliar em dez vezes sua participação nos
combustíveis para transporte nos próximos 23 anos. A estimativa é
do representante do braço de biocombustíveis da BP (British
Petroleum), Phil New, que participou nesta terça-feira do seminário
organizado pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento
Sustentável, no Rio.
Segundo ele, o álcool e o biodiesel correspondem hoje a 3% de todos
os combustíveis para transporte e podem chegar a participação de
8,5% em 2015 e saltar para 30% em 2030. Isso significará um
aumento de cerca 10 bilhões de litros por ano nos próximos dez anos.
New afirmou que o Brasil vai desempenhar um papel fundamental na
produção de álcool, mas que, assim com o o resto do mundo, precisa
solucionar quatro questões: a disponibilidade de terras para o plantio
de matéria-prima para os biocombustíveis, a qualidade e a
sustentabilidade da produção, e o estabelecimento de preços
competitivos.
"Uma grande preocupação que temos é que os biocombustíveis não
sejam produzidos de uma maneira sustentável. Seria muito trágico se
isso acontecesse", afirmou.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ - Acessado em 27/03/2007
Energia
A última fronteira
Com tecnologia menos agressiva ao ambiente, novas usinas na
Amazônia evitarão repetir os desastres de Balbina e Tucuruí
Duda Teixeira
Uma nova fronteira está sendo aberta na Amazônia. Não se está
falando, desta vez, de agricultura, e, sim, de energia. O governo
58
federal pretende construir três hidrelétricas gigantes na região. Duas
delas, a de Santo Antônio e a de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia,
que constam do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), são a
solução que o Palácio do Planalto habitualmente contrapõe à previsão
feita por especialistas de que uma crise energética de grandes
proporções se aproxima. Pela vontade oficial, as construções no Rio
Madeira começariam no ano que vem, de modo que Jirau entrasse
em operação em 2011 e Santo Antônio em 2012. Com capacidade
somada de 6.450 megawatts, as duas usinas poderiam atender
sozinhas ao consumo do estado do Rio de Janeiro. A terceira
hidrelétrica, a de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, proporcionaria
ainda mais energia, 11.000 megawatts, e também está no PAC.
Apesar do empenho pessoal do presidente Lula, todos os projetos
permanecem em compasso de espera devido a restrições ambientais.
Na semana passada, o Ibama informou que o estudo da licença
prévia das usinas do Rio Madeira, iniciado há 22 meses, chegou à
fase final. Já os estudos de impacto ambiental de Belo Monte,
embargados pelo Ministério Público desde 2001, recomeçaram a ser
feitos em janeiro, com autorização judicial.
O Brasil dispõe de uma rigorosa legislação de proteção ambiental. Ela
impõe aos projetos de novas hidrelétricas exigências minuciosas para
reduzir ao máximo os efeitos negativos sobre a natureza e os
moradores das proximidades. Na prática, infelizmente, as regras são
usadas mais para bloquear obras de infra-estrutura do que para
fiscalizar e proteger a natureza. Pelos dados do Ministério do Meio
Ambiente, só no período de doze meses anteriores a agosto de 2006,
13.100 quilômetros quadrados de Floresta Amazônica – o equivalente
a meio estado de Alagoas – foram derrubados para abrir espaço para
a pecuária, a soja e outros fins. Os dados da devastação acelerada
comprovam que a ameaça ambiental não está na construção de
novas hidrelétricas, sobretudo porque estas adotam hoje tecnologias
menos agressivas à natureza. O que aumenta o risco de o avanço
energético na Floresta Amazônica fugir ao controle é o avassalador
fracasso demonstrado pelo estado brasileiro no cumprimento da
tarefa de fiscalizar e impedir a destruição de áreas que devem ser
preservadas. "As obras do Rio Madeira poderiam incentivar a
ocupação de uma vasta área da Amazônia cujo ecossistema é muito
delicado", preocupa-se o biólogo americano Thomas Lovejoy,
presidente do Centro Heinz para a Ciência, em Washington.
Os desafios ambientais e econômicos das três usinas previstas para a
Amazônia são proporcionais ao seu tamanho. Belo Monte, no Pará, foi
projetada ao lado de florestas com grande biodiversidade e tem como
vizinhos dez tribos indígenas. As usinas do Rio Madeira estão perto
demais de áreas preservadas e de terras indígenas e longe demais
dos principais centros de consumo. O custo da linha de transmissão
até o Sudeste já foi estimado em 10 bilhões de reais, o que
encareceria bastante o projeto, orçado inicialmente em 20 bilhões de
59
reais. O desafio ambiental, por sua vez, foi enfrentado com novas
tecnologias de construção com menores impactos diretos na
natureza. Dessa forma, será possível evitar a repetição dos desastres
causados no passado pela construção de grandes hidrelétricas na
região, como Balbina e Tucuruí. Inaugurada em 1984, Tucuruí, no
Pará, alagou uma vasta área de floresta e afogou, sem remorso, toda
a fauna que ali vivia. Também atraiu indústrias e migrantes, o que
provocou a devastação de mais da metade da floresta nos sete
municípios mais próximos. Nada disso se repetirá no Rio Madeira.
Em vez de uma só usina com um grande reservatório, o projeto prevê
duas menores, cujas turbinas serão acionadas pelo sistema a fio
d'água. Nesse método, toda a água que chega é aproveitada pelas
turbinas, do tipo bulbo, e, em lugar de formarem um lago, as águas
avançam 500 metros em cada margem do
rio durante o período de cheia. O projeto
prevê ainda que as árvores da área a ser
alagada sejam retiradas antes e de forma
progressiva. Desse modo, os animais
podem sair andando e não se forma um
lago que se tornaria uma fonte de gases de
efeito estufa causado pela decomposição do
material orgânico, como ocorre hoje na Usina de fio d'água no
Danúbio,
na
usina de Balbina. As empresas Furnas e Rio
Áustria:
sem
Odebrecht, que financiaram os relatórios de
impacto ambiental das usinas, propõem que reservatório
os canais laterais para a passagem dos peixes que sobem o rio no
período da desova tenham curvas e fundo irregular, para imitar o
leito natural. Seria possível controlar a quantidade de água e a
correnteza para favorecer diferentes espécies de peixe, de acordo
com a época do ano.
As medidas para reduzir os impactos ambientais nas novas
hidrelétricas representam uma gorda fatia do total da obra. Na usina
de Peixe Angical, uma obra da iniciativa privada inaugurada no ano
passado no Rio Tocantins, as medidas sociais e ambientais
responderam por 13% do orçamento. O projeto exemplar incluiu a
construção de hospital e residências para as pessoas desalojadas,
aterros sanitários, cursos de educação ambiental, viveiros de espécies
retiradas e o resgate de 55.000 animais, entre eles um milhar de
invertebrados. Até minhocas foram recolhidas e transportadas para
locais seguros. Nas usinas do Madeira, grupos de investidores já
deram demonstrações de que aceitam arcar com esse custo
ambiental. "A maior ou menor degradação do ambiente depende de
quanto um país está disposto a investir em medidas que reduzam ou
compensem o impacto", diz o engenheiro Rafael Schechtman, diretor
do Centro Brasileiro de Infra-estrutura (CBIE), uma consultoria do Rio
de Janeiro. "A questão é saber se a sociedade está disposta a arcar
com esse custo."
60
O último projeto das usinas do Rio Madeira enviado para análise do
Ibama reserva áreas para a construção, em uma segunda etapa, de
eclusas, tanques de água que permitem às embarcações superar o
desnível das barragens. Uma vez concluídas, as eclusas vão permitir
que a produção agrícola de Rondônia e de Mato Grosso – que hoje é
transportada com dificuldade por uma estrada federal toda
esburacada – seja levada em barcaças até Porto Velho ou Itacoatiara,
no estado do Amazonas. Neste último porto, o carregamento poderia
ser transferido para navios maiores e seguir diretamente para
destinos em qualquer ponto do mundo. Com a construção de mais
uma usina na fronteira com a Bolívia e outra no país vizinho –
projetos que teriam o apoio e o financiamento brasileiros –, a
hidrovia pode chegar a 4.155 quilômetros, por vários rios. Um estudo
considera que a hidrovia proporcionará um aumento na produção de
grãos de 28 milhões de toneladas ao ano na área de influência do
projeto. De acordo com uma conta feita pela ONG Amigos da Terra,
isso vai requerer um aumento de 350.000 quilômetros quadrados na
área agrícola, o que daria uma área maior do que São Paulo, Rio de
Janeiro e Espírito Santo juntos. Evidentemente, cabe ao estado o
dever de impedir que o crescimento da produção ocorra à custa de
desmatamentos da Floresta Amazônica.
As dificuldades criadas por motivo ambientalista vão adiar, mas não
devem impedir para sempre, a instalação de outras hidrelétricas na
Amazônia. A pressão por novas fontes de energia no Norte tem boas
razões para existir. Dados da Eletrobrás mostram que o Brasil dispõe
em seus rios de quedas-d'água em quantidade suficiente para
multiplicar por quatro sua capacidade hidrelétrica – mas 40% de todo
esse potencial está na bacia do Rio Amazonas. Fora da Região Norte,
poucos locais poderiam receber usinas com capacidade maior do que
1.000 megawatts, o necessário para abastecer uma cidade com 3
milhões de habitantes. "Estamos todos voltados para o norte. As
grandes hidrelétricas que podiam ser feitas no restante do Brasil já
foram construídas", diz Renato Lanzi, diretor da Alstom, que cogita
instalar uma fábrica de turbinas em Porto Velho para suprir futuras
obras na Amazônia e no exterior. Se a economia brasileira crescer
5% ao ano, como está nos planos do governo Lula, será preciso
acrescentar 3.500 megawatts por ano à capacidade energética do
país. Com a construção das pequenas hidrelétricas e termelétricas
que já receberam licença ambiental, o máximo de acrescimento até
2010 será de 1.272 megawatts anuais, segundo o CBIE. "A partir do
ano que vem, o sistema elétrico já poderá operar no limite", diz
Adriano Pires, diretor da consultoria. "Bastará uma temporada de
chuvas fracas ou um aumento no consumo para que tenhamos um
novo apagão."
Das usinas de menor porte que conseguiram a licença prévia do
Ibama e foram oferecidas em leilão para ser construídas pela
iniciativa privada, poucas despertaram o interesse dos investidores.
61
Um dos motivos é o medo de ter a construção interrompida.
Atualmente, qualquer cidadão munido de título de eleitor pode
recorrer à Justiça e mudar completamente o andamento da obra de
uma usina caso a ação seja aceita por um juiz. Segundo a Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), existem 25 usinas hidrelétricas
com cronograma parado ou atrasado devido a obstáculos criados pelo
Ibama, pelo Ministério Público, por órgãos estaduais e movimentos
ambientalistas. O preço congelado das tarifas e a elevada carga
tributária que incide nas contas de luz, de 51%, também afugentam
os investidores. "Não podemos nos comprometer com projetos que
nos farão perder dinheiro. É minha obrigação dar um retorno aos
acionistas", diz António Martins da Costa, diretor-presidente da
Energias do Brasil, grupo europeu responsável pela hidrelétrica de
Peixe Angical. A Energias anunciou no ano passado a disposição de
investir 1 bilhão de reais em novas usinas, mas o dinheiro ainda está
guardado no banco. "Em vez de termos um desenvolvimento
sustentável, estamos enfrentando uma estagnação insustentável",
define Jerson Kelman, diretor-geral da Aneel.
62
O dia em que o poço secar
16.11.2006
Enquanto busca retardar o declínio da produção de petróleo, a
Petrobras amplia investimentos em energias renováveis.
Stèferson Faria / Petrobras
Campo de Albacora, no Rio: tecnologia para adiar o fim
Por Ursula Alonso Manso
Foram necessários 125 anos para que o mundo consumisse o
primeiro trilhão de barris de petróleo, mas bastarão 30 anos para
consumir o segundo. A frase, de um recente anúncio publicitário do
grupo americano Chevron Texaco, ilustra o dramático aumento do
consumo de petróleo no planeta nos últimos anos. Prever quando
essa escalada vai levar ao esgotamento dos poços é um exercício de
futurologia -- a Agência Internacional de Energia (AIE), por exemplo,
diz que a produção mundial do óleo negro vai atingir o pico em algum
ponto "entre 2013 e 2037". Mas uma coisa é certa: é preciso se
preparar para viver num mundo sem petróleo.
A recomendação é especialmente válida para quem tem no
63
petróleo seu principal negócio, como a Petrobras, a maior empresa do
país. Das 276 concessões da estatal, 199 -- 72% -- estão na
maturidade, eufemismo para se referir aos campos em fase de
declínio da produção. Essas áreas representam 40% das reservas
provadas da Petrobras e cerca de 75% do óleo e do gás produzidos
no Brasil. Na bacia de Campos, no Rio de Janeiro, 30 das 32
concessões já entraram na fase de maturidade. Na tentativa de adiar
o declínio dos campos maduros, a Petrobras lançou em 2005 um
programa de revitalização que combina o uso de novas tecnologias
com melhorias no gerenciamento das operações. Com investimento
de 2,4 bilhões de dólares até 2011, a meta é recuperar 800 milhões
de barris de petróleo, o correspondente à descoberta de um campo
gigante. Os primeiros resultados começam a aparecer. Em Albacora,
na bacia de Campos, por exemplo, que hoje produz 116 000 barris
por dia, a empresa inaugurou um sistema inédito de injeção
submarina de água no reservatório que deverá resultar num ganho
de 45 000 barris diários em 2010.
Biocombustíveis
Além de tentar adiar o inevitável, a Petrobras começou a atuar
em outra frente: a das energias renováveis. Mais do que uma
companhia de petróleo, a estatal quer cada vez mais ser vista como
uma empresa integrada de energia. "Nossa estratégia prevê a
expansão da participação no mercado de biocombustíveis, liderando a
produção nacional de biodiesel e ampliando a participação no
mercado de etanol", disse o presidente da Petrobras, José Sergio
Gabrielli, no final de julho, ao apresentar o plano de negócios da
companhia para o período 2007-2011. O plano prevê investimentos
de 700 milhões de dólares em projetos de energias renováveis e
biocombustíveis, e mais 660 milhões de dólares na expansão de
alcooldutos. O projeto dos alcooldutos foi ampliado para contemplar a
Região Centro-Oeste e deverá triplicar as exportações brasileiras de
álcool. Demanda para isso não falta. "Estamos fechando contratos
com a Venezuela e a Nigéria que deverão somar 250 milhões de litros
de álcool neste ano", diz Paulo Roberto Costa, diretor de
abastecimento da Petrobras.
A partir de janeiro de 2008, todo o óleo diesel comercializado
no país deverá ter adição de 2% de biodiesel. Antecipando-se à
medida, a Petrobras está construindo três complexos industriais para
a produção desse combustível nos estados da Bahia, do Ceará e de
Minas Gerais. Orçadas em 90 milhões de dólares e previstas para
entrar em operação no final de 2007, as fábricas terão capacidade
para produzir 144 milhões anuais de litros de biodiesel extraído de
óleo de mamona, algodão, soja e dendê. Além disso, a Petrobras vai
processar outros 425 milhões de litros de óleo vegetal em suas
refinarias. O objetivo é adicionar o óleo vegetal ao diesel comum num
processo desenvolvido pelo Centro de Pesquisas da Petrobras
(Cenpes) e batizado de H-Bio, que resulta num "diesel verde", menos
64
poluente. Durante os testes do H-Bio, foram usados até 18% de óleo
vegetal na composição do novo combustível. "Vamos plantar diesel",
afirma Costa.
A nova aposta
Os investimentos da Petrobras em energias renováveis
— em milhões de dólares
2002/ 2006
65(1)
2007/ 2011
700(2)
(1) Estimativa
(2) Previsão
Outro projeto é o desenvolvimento de parques eólicos de geração de
energia elétrica, principalmente na Região Nordeste. No Rio Grande
do Norte, a estatal opera, desde 2003, a Usina Eólica de Macau. Com
capacidade de 1,8 MW (megawatt), ela fornece energia para a
operação de poços e unidades de produção de biodiesel. A meta para
os próximos cinco anos é ampliar a capacidade instalada de geração
de energia elétrica de fontes renováveis para 240 MW, suficiente não
só para o consumo próprio da Petrobras como também para
comercializar a energia excedente no mercado.
Entre outros estudos em andamento no Cenpes, está o uso da
energia geotermal, que flui do interior da Terra sob a forma de calor.
Valendo-se da elevada temperatura das águas subterrâneas em
Mossoró (RN), a Petrobras está utilizando um poço antes abandonado
no município para preaquecer a água que vai para seus geradores de
vapor. "Agora, queremos testar o uso do gás geotérmico para
produzir energia", diz João Norberto Noschang Neto, coordenador do
Programa Tecnológico de Energias Renováveis (Proger), criado pela
Petrobras em 2004.
http://portalexame.com.br/static/aberto/infraestrutura/
Acessado em 04/04/2007
A retomada das grandes usinas
16.11.2006
A meta do governo é ampliar a capacidade instalada no país em mais
de 40% nos próximos dez anos. Mas ainda há entraves importantes a
superar
65
Image China
Termelétrica na China: obras grandiosas para atender à crescente demanda de
energia
As grandes obras que marcaram o setor elétrico nas décadas de 70 e
80 estão de volta. Nos próximos dez anos, pelo menos três projetos
gigantescos devem sair do papel: as usinas de Santo Antônio e Jirau,
no rio Madeira, e a primeira etapa de Belo Monte, no rio Xingu. Essa,
pelo menos, é a expectativa do governo federal, que também conta
com a instalação de usinas de menor porte, mas não menos
importantes. O objetivo é garantir, até meados da próxima década,
uma potência instalada de 134 gigawatts (GW) no sistema interligado
brasileiro, ante os 94 GW atuais.
O mercado ainda se mostra cauteloso diante desses projetos
energéticos monumentais, que também têm sido implantados lá fora
-- a China, por exemplo, está investindo 25 bilhões de dólares na
construção da usina hidrelétrica de Três Gargantas, que será a maior
do mundo. Por um lado, os especialistas do setor no Brasil estão
animados com o volume elevado de investimentos previstos no plano
do governo federal -- a previsão para os próximos dez anos é de
gastos da ordem de 40 bilhões de dólares. Por outro, ainda mantêm
uma dose de ceticismo quanto à viabilidade dessas obras colossais.
Afinal, embora o novo modelo do setor tenha definido o formato de
contratação da energia, alguns entraves ainda persistem -- como as
dificuldades para a obtenção de licenças ambientais. Em particular, já
começaram a surgir problemas para licenciar as grandes hidrelétricas
previstas para a Região Norte. Outro projeto que está atrasado por
causa da legislação ambiental é o da usina nuclear Angra 3, prevista
para entrar em operação em 2013. O principal motivo de
controvérsia, nesse caso, é que não haveria um formato seguro de
acondicionamento dos rejeitos nucleares.
Em defesa dos projetos hidrelétricos, o governo afirma que as novas
usinas são muito mais ecológicas do que as obras hoje em operação.
Enquanto as usinas existentes alagaram uma área de 0,52 quilômetro
quadrado por MW instalado, os novos projetos devem exigir 0,27
quilômetro quadrado por MW -- pouco mais da metade. Tais medidas
devem diminuir o impacto ambiental desses projetos, mas não são
suficientes para tranqüilizar o mercado. A experiência com outros
empreendimentos que, no passado, causaram polêmica devido ao
porte grandioso, como as usinas de Itaipu e de Tucuruí, faz com que
66
alguns especialistas temam possíveis atrasos nos cronogramas
previstos pelo governo. Essa perspectiva deve ser levada em conta
na licitação das novas usinas: é certo que os empreendedores vão
exigir um preço maior pela energia por causa dos riscos associados
aos projetos. E essa conta, fatalmente, será repassada aos
consumidores.
http://portalexame.com.br/static/aberto/infraestrutura/
em 04/04/2007
-
Acessado
ECONOMIA
LULA CONFIRMA PROPOSTA BRASILEIRA PARA DESTRAVAR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou ontem a proposta do
governo brasileiro de redução das barreiras ao comércio internacional
em função da condição econômica de cada país.
13/03/07
Gazeta Mercantil
Antecipado por este jornal na sexta-feira, o plano para destravar a
Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê, por
exemplo, que os cortes de subsídios agrícolas deverão ser mais
expressivos para beneficiar os países mais pobres. Em contrapartida,
quanto mais forte a economia, menor será a concessão.
"Estamos dispostos a fazer a nossa parte, levando em conta a
propor-cionalidade e a riqueza de cada país, disse Lula, ontem, em
seu programa semanal de rádio "Café com o Presidente". "Um pouco
de concessão é que vai garantir o acordo que todos estamos torcendo
para que aconteça, porque seria a salvação dos países mais pobres",
declarou Lula.
Três dias depois de receber a visita do presidente dos Estados
Unidos, George W. Bush, Lula declarou que considerar "irreversível" a
transformação do álcool em uma commodity, tal qual foi defendido
pelo governo brasileiro. "Na medida em que o álcool começa a ganhar
corpo e ser misturado na gasolina, e os países do mundo inteiro
começam a se preocupar em diminuir a emissão de gás carbônico,
significa que logo, logo, o álcool vai ter um preço internacional.
Portanto, vai ser commodity.
Suprimento Segundo o presidente, o crescimento do plantio de canade-açúcar, necessário para garantir o suprimento de álcool nos
mercados brasileiro e internacional, não terá como conseqüência o
aumento de áreas desmatadas nem prejudicará o cultivo de
alimentos. O etanol e outros combustíveis alternativos, como o
biodiesel, voltarão à pauta de negociação dos dois presidentes no
67
próximo dia 31, durante a visita de Lula aos Estados Unidos.
A RODADA DOHA À BEIRA DO COLAPSO
O Brasil será o grande perdedor se houver um colapso das negociações
globais de comércio, um perigo cada vez mais próximo, dado o impasse em
torno da questão agrícola.
04/04/07
O Estado de SP
Se a Rodada Doha for interrompida nas próximas semanas, ou
mesmo nos próximos dois meses, dificilmente se poderá retomá-la
antes de 2010 - e ninguém sabe quais serão as condições políticas no
momento do reinício. O risco para o Brasil é especialmente grande
porque o governo jogou todas as fichas na rodada geral e na busca
de alianças de inspiração terceiro-mundista. Enquanto isso, os
concorrentes buscaram ampliar sua participação nos principais
mercados e formularam acordos bilaterais e regionais orientados pelo
pragmatismo e não por bandeiras ideológicas. Segundo pesquisa
conduzida pela Comissão Européia, 60% dos cidadãos dos 27 países
membros do bloco defendem a manutenção ou a ampliação dos
subsídios agrícolas.
Reformas da política são apoiadas por 80% dos europeus, mas em
benefício do ambiente, da segurança dos alimentos e do bem-estar
dos animais. A liberalização do comércio agrícola não está entre as
bandeiras valorizadas. Dias antes da publicação da pesquisa, o
candidato conservador à presidência da França, Nicolas Sarkozy,
declarou-se contrário à redução de subsídios. Sua posição pode ser
mais dura que a do governo atual, mas a ministra do Comércio,
Christine Lagarde, já tem desautorizado o principal negociador da
União Européia, Peter Mandelson, acusando-o de ir além de seu
mandato na apresentação de concessões aos parceiros.
As palavras de Sarkozy podem conter uma dose de retórica eleitoral,
mas obviamente refletem um ambiente político muito desfavorável à
abertura do mercado agrícola. Em Bruxelas, discutem-se novas
barreiras à importação de etanol, sustentadas com o pretexto de
proteção ao meio ambiente nos países produtores.Trata-se de uma
evidente manobra de caráter preventivo, diante da onda internacional
de valorização de combustíveis alternativos. Se essa onda crescer, o
Brasil estará pronto para se apresentar como um importante
fornecedor de etanol e talvez de biodiesel e os produtores europeus
não terão, pelo menos durante muitos anos, condições de enfrentar
esse competidor.
Do lado americano, o presidente George W. Bush promete um esforço
para salvar a Rodada Doha, mas a principal negociadora dos Estados
Unidos, Susan Schwab, deixou clara, em visita ao Brasil, a pouca
disposição de apresentar maiores ofertas em matéria de agricultura.
68
Enquanto a discussão internacional prossegue, o novo projeto de lei
agrícola em tramitação no Congresso americano embute um aumento
dos subsídios. Além disso, o fato de os democratas terem obtido
maioria no Legislativo é um prenúncio de resistência a novas
concessões comerciais. A autorização para o Executivo negociar
acordos não passíveis de emenda pelo Congresso vai expirar no final
do semestre. Uma nova autorização poderá ser conseguida, mas
provavelmente será condicionada a restrições maiores que as do
atual mandato negociador. Cláusulas sociais e ambientais poderão
complicar seriamente a formulação de um acordo global de
comércio.Tanto
europeus
quanto
americanos
cobrarão
dos
emergentes e pobres maior abertura para o comércio de produtos
industriais e para o setor de serviços.
Brasileiros e americanos têm explorado a possibilidade de acordos
setoriais no caso da indústria, mas o europeu Peter Mandelson já se
pronunciou contra essa forma de negociação, defendendo uma
redução ampla e geral de tarifas.Europeus e americanos cobram
também uma abertura dos emergentes para o comércio de produtos
agrícolas, mas não há acordo entre os países em desenvolvimento.
Alguns, como Índia e Indonésia, pretendem manter uma elevada
proteção, enquanto exportadores de peso, como Brasil e Argentina,
se mostram mais preparados para aceitar a competição. O diretorgeral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, deve
apresentar um esboço de acordo aos negociadores de maior peso até
meados de abril. Se aprovado, será proposto ao conjunto dos 150
membros da OMC. Se não der certo, o governo brasileiro terá de
pensar, com anos de atraso, numa estratégia alternativa, e mais
pragmática, para a diplomacia comercial.
"Novo perfil nas importações brasileiras" (Editorial da Gazeta Mercantil, 4
de abril de 2007)
Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior relativos à balança comercial do primeiro trimestre registram queda no
superávit brasileiro de 6,4% em relação ao mesmo período de 2006. Se a
comparação for feita apenas em relação ao mês de março, o quadro agravase, uma vez que a redução do superávit atingiu 8,5%. Parte deste recuo na
balança comercial pode ser localizada em um atípico movimento na corrente
de comércio entre Brasil e Argentina. As importações brasileiras do vizinho
cresceram 40,5% no primeiro trimestre (atingindo R$ 2,2 bilhões), ante o
mesmo período do ano passado, enquanto as exportações avançaram 15,5%
(US$ 2,8 bilhões). Este saldo, de US$ 581 milhões, é bem inferior aos US$ 855
milhões obtidos nos três primeiros meses de 2006.
O secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, observou que esta
redução representa uma "distensão" com os parceiros do Mercosul. O ministro
das Relações Exteriores, Celso Amorim, foi mais preciso ao ponderar que
intercâmbio comercial com a Argentina deve apresentar constante crescimento
69
porque, para o chanceler, "é importante o mínimo de equilíbrio". Com razão, o
secretário Meziat lembrou que os vizinhos sempre se queixam às autoridades
brasileiras do saldo negativo nas relações comerciais com o Brasil, concluindo
que o recuo no superávit demonstra o "acerto" das negociações com os
argentinos. Conforme o secretário, o crescimento das vendas dos vizinhos "é
preocupação nossa".
Este é, de fato, o ponto relevante: equilíbrio de negócios. É exatamente
deste equilíbrio que depende o futuro do Mercosul. O objetivo maior do bloco é
a busca de complementaridade de cadeias produtivas entre os dois lados da
fronteira. E o primeiro passo para que esta vontade se transforme em realidade
está, obviamente, na fina sintonia entre importação e exportação do Brasil e da
Argentina. O Mercosul foi feito para intensificar comércio, não enfrentamentos.
Obtido o equilíbrio, será bem mais fácil tanto expandir comércio no bloco como
enfrentar as novas formas de negociações comerciais internacionais.
O perfil das importações brasileiras, por outro lado, demonstra que bens de
capital avançaram 24% no primeiro trimestre, ante 2006, e matérias-primas e
produtos intermediários, 28,1%, mostrando, como argumentou o secretário
Meziat, que a indústria está "querendo produzir mais, reduzir custos e competir
com os importados". O item mais preocupante da pauta de importações é o
bem de consumo. No trimestre, as compras externas de bens de consumo
avançaram 39%, comparadas ao ano anterior, embora representem apenas
13,2% das compras do País. Para o secretário do Comércio Exterior, o
consumo reflete a taxa de câmbio favorável, mas só será preocupante,
segundo Meziat, "quando se tornar avassalador". Frente a tanto otimismo,
convém lembrar que o dólar ontem fechou a R$ 2,037, embicado na direção da
quebra do valor simbólico dos R$ 2, apesar de toda a tranqüilidade vigente no
governo.
As exportações argentinas para o Brasil tradicionalmente concentramse em bens de consumo, com exceção do setor automotivo. Sobre o perfil das
exportações dos dois maiores integrantes do Mercosul valem algumas
cautelas, principalmente quanto às vendas externas brasileiras e não às da
Argentina. No acumulado de 12 meses, as exportações de manufaturados
subiram 15,6%, abaixo dos semimanufaturados, que aumentaram 16,4%, e
muito abaixo da expansão das exportações dos primários, 26,4%. Aliás, como
apontou a Associação de Comércio Exterior do Brasil, entre janeiro e março as
exportações brasileiras de motores foram 11,4% menores e a de automóveis,
14% piores do que as registradas no primeiro trimestre de 2006.
O equilíbrio de comércio entre Brasil e Argentina está na própria origem
do Mercosul. Vale lembrar que o bloco se consolidou no Tratado de Comércio
de Buenos Aires, de 1988, que, a exemplo da União Européia, construída a
partir da aliança França/Alemanha, incentivava um mercado comum inicial e
consolidado entre Brasil e Argentina. Neste aspecto, equilíbrio na corrente de
comércio entre os dois países é realmente benéfico.
"Brazil emerging as global trade leader" (The Miami Herald [EUA] - 16 de
setembro de 2006)
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Jornal: The Miami Herald (EUA)
Título: 'Brazil emerging as global trade leader'
Data: 16/09/2006
Crédito: Jack Chang
Seeking to move stalled trade negotiations, Brazil is fast stepping to the
forefront as a global trading power along with the aid of a unified coalition of
nations known as the G-20.
BY JACK CHANG
McClatchy News Service
BRASILIA, Brazil - This giant South American country has long
dreamed of becoming a great global power. Now, at least part of that dream
seems to be coming true.
From global trade negotiations to diplomatic circles, Brazilian officials
are speaking out for fellow developing countries, and much of the Third World is
following its lead.
That was underlined this past weekend when representatives of 27
developing countries came to Rio de Janeiro to seek a common position on
stalled trade negotiations with the United States and other industrialized
countries. The group agreed to meet again.
From Argentina to Zimbabwe, the countries came at the invitation of
Brazil, which leads the coalition. They're known as the Group of 20, or G-20,
though the coalition's membership totals 21. Six observer nations also attended.
Over the past three years, the G-20 under Brazil has presented a
unified front to protect domestic farmers while negotiating proposals to slash
worldwide trade barriers.
Brazil's leadership will continue Wednesday, when the leaders of India
and South Africa come to Brasilia for the first summit of what Brazilian officials
say is a ''south-south'' coalition of developing countries. The goal, officials say,
is to foster more trade among such countries rather than rely on U.S. and
European markets.
Such initiatives follow Brazil's quest for a permanent seat on the U.N.
Security Council and its hosting of a summit last year between Arab and South
American countries, a meeting many saw as a challenge to U.S. leadership in
the Middle East.
Brazilian diplomats deny the country is seeking a larger international
role but add that the country's size makes it a trendsetter. With the world's fifthlargest population, Brazil is one of the top producers of sugar, soybeans and
coffee, among other products.
"The idea of Brazil as a leader comes from outside the country," said
Carlos Henrique Cardim, head of a research group linked to Brazil's foreign
71
ministry. "Yes, we are launching many of these initiatives, but we are working
with other countries to do it."
Foreign diplomats, however, said Brazil has clearly taken the lead on
several fronts, including creating the G-20 and guiding the Mercosur trade bloc,
which is made up of Brazil, Argentina, Venezuela, Paraguay and Uruguay.
Since taking office in 2003, Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva
has crisscrossed developing regions of the world, such as Africa and South
Asia, drumming up trade and promoting Third World unity.
"Before, it had been a very delicate and gentle situation, with Brazil
seeking more say behind the scenes," said David Fleischer, a University of
Brasilia political science professor. "Now, with this government, it's very
ostentatious and direct. Brazil is clearly seeking a greater international role."
With the presidential election on Oct. 1, the government's foreign policy
has become a subject of political debate in Brazil. Top presidential challenger
Geraldo Alckmin, who badly trails Lula in polls, has accused the government of
following political rather than economic principles in developing foreign policy.
"With this thing of south-south, why would we diminish the world for
workers and why would we diminish the world for business people?" Alckmin
asked during a recent campaign speech in Brasilia. ``We have to look for
markets and make bilateral and multilateral trade agreements to guarantee
markets."
Brazil's ambitions also have generated some international criticism.
India's minister of state for commerce, Jairam Ramesh, mocked Brazil's southsouth vision in an interview with the Brazilian newspaper O Estado de Sao
Paulo. "The idea that India and Brazil are natural allies is a little naive," Ramesh
said. "We are competitors."
Despite promises to strengthen trade with the developing world, Brazil
still remains highly dependent on the United States, its largest trading partner.
Brazil and the United States traded $35.6 billion worth of goods in 2005, about
15 times more than what Brazil traded with India that year.
To Brazilian officials, however, such numbers only show there's plenty
of room for growth in trade among developing countries. Brazilian exports to
India jumped by nearly 75 percent between 2004 and 2005.
"These are countries with a lot to share and a lot of room to grow
together, and they are going their own way in pursuing it", said Pedro Motta
Pinto Coelho, sub-secretary for political affairs in Brazil's foreign ministry. "We
believe in these kind of global coalitions, and we think it's something that's
completely new".
http://www.mre.gov.br - Acessado em 16/04/2007
18 de abril de 2007 - 16:35
Um terço das cidades tem média 2 ou menor no ensino
básico
A média nacional é 4, mas o País tem como meta chegar a 6, em 15
72
anos
Andréa Portella
SÃO PAULO - Cerca de 30% dos municípios brasileiros - 1,8
mil cidades - têm média igual ou menor a 2 no Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A média nacional é 4,
mas o País tem como meta chegar a 6, em 15 anos. A informação foi
dada na terça-feira, 17, pelo ministro da Educação, Fernando
Haddad. “Estou citando só municípios porque não há nenhum Estado
numa situação tão crítica”, disse.
O Ideb está em fase final de elaboração pelo Instituto Nacional
de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O índice usará uma
escala de 0 a 10, levando em conta avaliações, repetência e evasão
escolar.
A meta de atingir a média 6 deve-se ao fato de que, segundo
Haddad, os países da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) teriam essa nota. Para chegar a
esse patamar, o País precisaria aumentar sua média no Sistema
Nacional da Avaliação Básica (Saeb) em 50 pontos. Ou seja, alunos
de 4ª série teriam de passar a ter um conhecimento que hoje
equivale ao dos alunos de 8ª.
O ministro participou, em São Paulo, de um encontro
promovido pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife).
Ele apresentou as linhas gerais do Plano de Desenvolvimento da
Educação (PDE) a um grupo de representantes de instituições
ligadas, principalmente, a grandes bancos e empresas. O projeto
ambiciona estabelecer sistemas de definição de metas, de avaliação e
de cobrança de resultados nas escolas de todo o País.
Haddad anotou sugestões, críticas e perguntas. Muitas delas
referiam-se a investimentos e gestão. “O Brasil realmente deixa a
desejar em investimentos”, disse.
Segundo ele, a implementação do PDE deve enfrentar
dificuldades políticas e administrativas. “Os municípios que aderirem
terão de abrir mão de certas prerrogativas, como a de escolher um
diretor de escola por questões políticas, e fazer escolhas por mérito”,
afirmou. “E há questões de ordem executiva. O MEC tem de se
preparar para implementar o plano, o que não é fácil.”
Uma comissão do Gife reuniu-se ontem para avaliar o encontro
e divulgou nota, informando que quer conhecer melhor as propostas
do governo e deve apoiá-las, caso contemplem dez pontos
considerados essenciais. Entre eles estão a formação de um pacto
multissetorial e a priorização de políticas de Estado em detrimento
das políticas de governo.
http://www.estadao.com.br -Acessado em 20/04/2007
73
BRASIL: ÁREAS DE INTERESSE
União Européia e Brasil intensificam diálogo
Eneko Landaburu
Diretor-geral de Relações Exteriores da Comissão Européia
Brasília sediará amanhã a X Reunião da Comissão Mista União
Européia — Brasil e, nesse contexto, realizo visita oficial ao país na
qual, além de presidir a contraparte européia nesse encontro, terei
reuniões com autoridades brasileiras para avançarmos ainda mais as
estreitas relações bilaterais.
Estou seguro de que 2007 é um ano crucial para fazer progredir
o nosso relacionamento. Além da Comissão Mista, a UE, sob a
presidência alemã, e o Brasil vão ter pela primeira vez “consultas
políticas” para dar à sua relação um enfoque mais estratégico e
geopolítico. Ano passado, o presidente da Comissão Européia, Durão
Barroso, convidou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a participar
da Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, a ser realizada
no dia 7 de julho próximo, em Bruxelas. Detentor da mais avançada
tecnologia nessa nova fronteira dos combustíveis renováveis, o Brasil
muito terá a aportar para o êxito da reunião e para o maior
conhecimento dessa importante matriz energética que tem um
potencial imenso para a cooperação bilateral.
As relações entre a UE e o Brasil são fundamentadas em sólidas
bases históricas, étnicas e culturais. Difícil encontrar outros dois
parceiros que compartilhem valores essenciais como o compromisso
com a democracia e o estado de direito, a valorização dos direitos
humanos, o desenvolvimento com justiça social, o fortalecimento do
multilateralismo e a promoção da paz e segurança internacionais.
Tamanha identidade faz com que o Brasil e a UE rejeitem a pena
de morte e figurem entre os membros do Tribunal Penal
Internacional. Faz também com que sejam defensores intransigentes
do Protocolo de Kyoto e de suas iniciativas na luta pela preservação
do nosso planeta. Existe ainda uma forte convergência no plano de
valores culturais, tendo o Brasil e a UE assinado a Convenção da
Unesco sobre a proteção e promoção da diversidade e expressão
cultural.
Essa sinergia e convergência de posturas se reflete nas relações
econômicas e comerciais bilaterais. Assim, nos últimos anos a UE
persiste como principal parceiro comercial do Brasil. Em 2006, esse
intercâmbio somou 23,8 bilhões de euros, com um superávit
brasileiro de 7,8 bilhões de euros.
É de se destacar que mesmo num setor em que é criticada por
seu suposto protecionismo, o do comércio de produtos agrícolas, a UE
continua sendo o principal mercado para a competitiva agroindústria
brasileira. Em 2006, o intercâmbio agrícola com a UE gerou para o
Brasil um saldo de 6,5 bilhões de euros.
74
Aos dados do comércio deve-se somar o fluxo de investimentos
diretos realizados pelos países europeus no Brasil. Ano passado,
essas inversões totalizavam 6,8 bilhões de euros, o que fez da UE o
maior investidor estrangeiro no país.
Marco importante do adensamento das relações bilaterais foi a
visita pioneira ao Brasil do presidente da Comissão Européia, José
Manuel Durão Barroso, em maio de 2006. Naquela oportunidade
foram identificados diversos pontos de interesse comum e lançou-se
importante agenda de trabalho para o futuro.
É dos mais relevantes o papel desempenhado pelo Brasil nas
negociações da Rodada de Doha. Na condição de líder empenhado e
ativo do G20 das economias emergentes, o Brasil é ator de primeira
grandeza desse processo vital para maior equilíbrio no comércio entre
países industrializados e nações em vias de desenvolvimento.
Um acerto de posições entre a UE e o Brasil é certamente
decisivo para a conclusão da Rodada de Doha. Além disso, o avanço
significativo dessas negociações produzirá reflexos positivos no
desenrolar das negociações entre a UE e o Mercosul visando à
assinatura de um pioneiro e inovador Acordo de Associação entre os
dois blocos.
É nesse ambiente de convergência de interesses e posturas
políticas que será realizada em Brasília a X Reunião da Comissão
Mista que eu irei co-presidir. A agenda dos trabalhos é variada e
densa, em perfeita sintonia com os elevados interesses que unem os
dois parceiros.
No campo das relações comerciais, haverá oportuna troca de
opiniões sobre o comércio bilateral e acerca das negociações na OMC
e no plano bilateral com o Mercosul. Serão ainda tratadas questões
referentes ao agronegócio e aos diálogos setoriais bilaterais nas mais
diversas áreas.
Por tudo isso, tenho grandes expectativas quanto aos resultados
da reunião. Ela ocorre num momento em que a UE desempenha
função cada vez mais relevante na arena internacional. Essa função
fornece à UE plataforma firme para o desenvolvimento de relações
mais estreitas com seus parceiros no mundo, especialmente com o
Brasil.
Independentemente dos desafios internos com que se defronta,
a UE continuará voltada para o mundo, para seus interesses e seus
parceiros. Estabelecer sólidos vínculos de cooperação e amizade com
o Mercosul e em particular com o Brasil é parte importante da
projeção internacional da União Européia.
Jornal CORREIO BRAZILIENSE – 20/03/2007
75
BRASIL-MÉXICO
Energia vai puxar aproximação
Acordos sobre petróleo e biocombustíveis serão carro-chefe
das relações bilaterais, impulsionadas pela visita da chanceler
Patricia Espinosa a Brasília. Lula é esperado em agosto pelo
colega Felipe Calderón
Silvio Queiroz
Da equipe do Correio
O México aguarda o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no
segundo semestre, possivelmente em agosto, para assinar os
primeiros acordos de cooperação que começaram a ser discutidos
pela Comissão Binacional instalada ontem em Brasília, como marco
da visita da chanceler Patricia Espinosa. Ela e o colega brasileiro,
Celso Amorim, classificaram o mecanismo como “único e especial”,
destinado a elevar as relações bilaterais “à dimensão que devem ter
entre dois grandes países, as duas maiores economias da América
Latina”. Como ocorreu neste mês com Estados Unidos e Itália,
também com o México a locomotiva da cooperação deverá ser o setor
energético, com destaque para os biocombustíveis.
No almoço e na entrevista conjunta que deram em seguida, os
dois chanceleres elogiaram o modelo da nova comissão, que prevê
reuniões periódicas entre ministros das áreas envolvidas nos acordos.
“É comum que tenhamos um grande número de ministros quando
presidentes viajam, mas aqui eles já se reuniram e começaram a
trabalhar”, disse Amorim na coletiva.
Acompanharam a chanceler em Brasília os ministros da
Economia, Eduardo Sojo, e de Energia, Georgina Kessel. Ela deve se
reunir hoje, no Rio de Janeiro, com o presidente da Petrobras, José
Sérgio Gabrielli, para discutir a parceria com a estatal mexicana
Pemex na prospecção e exploração de petróleo em águas profundas.
Pelo lado brasileiro, estavam com Amorim os ministros da Fazenda,
Guido Mantega, das Minas e Energia, Silas Rondeau, e do
Desenvolvimento e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan.
A próxima reunião da comissão binacional está prevista para
2009, no México, mas o chanceler brasileiro não descartou a
possibilidade de que, durante a visita de Lula, os dois presidentes
decidam antecipar o encontro.
Vistos
Antes da viagem do presidente brasileiro ao México, a agenda de
contatos prevê para julho a visita de uma missão comercial
mexicana. Em maio, será realizada a segunda reunião para tratar da
exigência de visto feita aos turistas brasileiros — para coibir o
trânsito por território mexicano de candidatos a migrar ilegalmente
para os Estados Unidos. Na entrevista, a chanceler mexicana afirmou
que até aqui o problema recebeu “o tratamento adequado, que
76
permitiu identificarmos um número bem menor” de brasileiros em
situação irregular. Falando reservadamente ao Correio, um alto
funcionário mexicano que integrou a delegação confirmou o interesse
em “chegar o quanto antes a uma solução que contemple os
interesses dos dois lados”.
A aproximação com o Brasil confirma uma inflexão “para o sul”
na política externa mexicana desde a posse de Felipe Calderón,
conservador como o antecessor imediato, Vicente Fox, porém menos
afinado com os Estados Unidos. Calderón veio ao Brasil em outubro
passado, ainda como presidente eleito. “Uma parte importante da
estratégia do presidente é promover a integração com a América
Latina, sem exceções”, frisou Patricia Espinosa. Ao receber a visita do
presidente George W. Bush, há duas semanas, Calderón criticou a
construção de um muro antiimigrantes do lado americano da
fronteira, e colocou-se à parte das diferenças entre Bush e o
presidente venezuelano, Hugo Chávez.
Jornal CORREIO BRAZILIENSE – 29/03/2007
Brasil atrai parceiros
Claudio Dantas Sequeira
Da equipe do Correio
O chanceler Celso Amorim acha que “o Brasil está na moda”.
Pelo menos foi essa sua constatação feita ontem em audiência
pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado, onde falou
sobre os lineamentos da política externa do governo Lula neste
segundo mandato e o papel da diplomacia dentro do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC). Amorim comentou o recente
interesse de nações desenvolvidas, como os Estados Unidos e a União
Européia (UE), em firmar parcerias estratégicas com o país. “Acho
que a questão energética tem grande papel nisso. Nosso avanço na
área de biocombustíveis tem atraído a atenção desses mercados”,
avaliou Amorim.
No último mês, o Brasil recebeu a visita do presidente norteamericano, George W. Bush, e do alemão Horst Köhler. Na quartafeira passada, foi a vez do premiê italiano, Romano Prodi, vir a
Brasília. No sábado, Bush é quem receberá o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva em sua residência de veraneio em Camp David
(Maryland). O memorando sobre promoção do etanol está na mesa
de discussões. Além disso, eles vão criar um conselho empresarial
EUA-Brasil para explorar as possibilidades de investimento e comércio
nos dois países. Segundo Amorim, a agenda do encontro será ampla.
O ministro descartou qualquer relaxamento das tarifas de
importação do açúcar e do etanol brasileiros por parte dos EUA.
Lembrou o enterro da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e
se disse otimista com a possibilidade de que a visita impulsione as
77
negociações da Rodada de Doha (da OMC), sobre um acordo global
de liberalização de comércio. “Um bom resultado na Rodada de Doha
ajudaria a potencializar nossas exportações para os EUA e o resto do
mundo desenvolvido. Vamos continuar pressionando”, prometeu.
Rio+20
Outro tema abordado por Amorim foi a iniciativa para que o
governo organize em 2012 uma nova reunião nos moldes da
Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento
de junho de 1992, a Rio 92. A idéia de uma Rio+20 foi bem acolhida
pela diplomacia. “Poucos países terão a credibilidade e a legitimidade
do Brasil para atrair uma conferência como essa”, disse. Mas o
diplomata demonstrou preocupação com a sugestão do senador
Fernando Collor (PTB-AL) de se transformar o atual Programa Mundial
para o Meio Ambiente numa agência internacional com sede no
Brasil.
Na audiência, a proposta foi defendida pelo senador Aloizio
Mercadante (PT-SP), que propôs a taxação de 1% sobre as
importações realizadas em todo o mundo. Em resposta, Amorim disse
que o governo brasileiro pode aceitar a criação da agência, desde que
ela cuide tanto do meio ambiente como do desenvolvimento. E que
continue sediada em Nairóbi, capital do Quênia. O chanceler
aproveitou a ocasião para pedir aos senadores que ajudem na rápida
aprovação da medida provisória 354 sobre a destinação de R$ 20
milhões para o reassentamento de brasileiros que vivem na fronteira
boliviana, e estão ameaçados de desapropriação pelo governo de Evo
Morales. “É uma questão humanitária”, alertou.
Jornal CORREIO BRAZILIENSE – 30/03/2007
Lula e Bush vão anunciar pacote para Haiti
Maior parte dos US$ 9,2 mi que serão investidos vem do BID;
meta é desenvolver indústrias de biodiesel na América
Central.
Grupo de trabalho bilateral se reuniu ontem para acertar
detalhes da cooperação; foco da visita, porém, deve ser Doha.
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush
anunciarão um pacote de investimento financeiro de US$ 9,2 milhões
para que países da América Central e do Caribe possam pesquisar e
implantar ou desenvolver suas próprias indústrias de biocombustível.
O principal destino do dinheiro será o Haiti, mas os nomes de ao
menos outros três países da região devem ser anunciados no
encontro que o brasileiro tem com o americano amanhã, no retiro
presidencial de Camp David, no Estado de Maryland. O Brasil faz
parte de uma Força de Estabilização de Paz naquele país.
78
Do total previsto para o pacote, US$ 7 milhões virão do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento), US$ 1 milhão do Brasil,
a mesma quantia dos EUA, e US$ 200 mil da ONU (Organização das
Nações Unidas). O dinheiro será usado sobretudo em pesquisas.
No caso do Haiti, a meta será a implantação de uma indústria de
biodiesel. Segundo um funcionário do governo dos EUA, que não quer
ser identificado pois o anúncio ainda não foi feito, os dois países e as
entidades preparariam o terreno para que a iniciativa privada
encontrasse condições de investir.
A idéia é agir rapidamente.
Para tanto, serão despachados grupos de estudo de viabilidade e
avaliação técnica, e está previsto um intercâmbio de cientistas entre
Brasil e EUA.
O assunto foi tema do primeiro encontro do grupo de estudos de
biocombustíveis criado pelo memorando bilateral assinado por Bush e
Lula, em São Paulo. A reunião ocorreu ontem em Washington e teve
a participação do embaixador Antonio Patriota, representantes do
governo dos EUA, do Inmetro e da ABDI.
Chave para Doha
O detalhamento da agenda dos biocombustíveis será a face
institucional do anúncio formal que os dois presidentes farão às 16h
locais (17h de Brasília) de amanhã -até a conclusão desta edição, era
estudada a possibilidade de levar a Camp David os embaixadores dos
países da América Central e Caribe contemplados no pacote.
Ainda assim, membros envolvidos na preparação da reunião
disseram que "o verdadeiro foco" do encontro será a discussão sobre
a Rodada Doha, de comércio exterior, e outros temas comerciais,
ainda que nada seja anunciado. Na avaliação dos governos, Brasil e
EUA podem ser a chave para destravar as negociações.
Os presidentes e as equipes aproveitarão o segundo encontro
dos líderes em três semanas para levar adiante um possível tratado
de tributação bilateral, reivindicação antiga de empresários de ambas
as nacionalidades. Um primeiro passo foi tomado nesta semana, com
a assinatura de um tratado de troca de informações entre a Receita
Federal e o fisco dos EUA.
Aproveitarão também para tentar desbastar o que estão sendo
chamadas de "complicações" na relação entre as economias, como
incompatibilidades técnicas. Estão na pauta também uma maior
colaboração dos dois países na África.
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO – 30/03/2007
O petróleo contra-ataca
ELIANE CANTANHÊDE
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BRASÍLIA - Depois de passar quatro anos exercitando a política
externa da luta de classes (sul-sul versus a maior potência), Lula
chegou ao segundo mandato de portas abertas para o Primeiro
Mundo. Num único mês, março, recebeu em Brasília os primeirosministros da Alemanha e da Itália, teve um encontro com o
presidente dos EUA e terá outro amanhã.
Para início de conversa, Lula fala sobre o mundo do futuro e
desfila as maravilhas dos biocombustíveis e do álcool brasileiro, novo
fator de fortalecimento das relações com os EUA e pretexto para
programas comuns na África, na América Central e no Caribe em
primeiro lugar.
Fidel e Chávez não demoraram a passar recibo ao classificar o
etanol como um exterminador do futuro, que vai arrasar a agricultura
dos países pobres em favor da cana e do milho e matar de fome
milhões de pessoas mundo afora.
O temor faz sentido. Não exatamente o temor da fome, mas o do
etanol, pois a Venezuela come e vive do petróleo, e Cuba come na
mão da Venezuela e sobrevive à custa dos petrodólares de Chávez.
Imagine-se o que ambos andam falando de Lula. No mínimo devem
dizer que quem é cooptado por "el diablo" acaba no inferno com ele.
Mas o nosso Lulinha da cocada preta sabe como ninguém driblar
ciúmes, críticas, adversários. Ao sair da intimidade de Camp David,
ele já estará arrumando as malas e o discurso para receber Rafael
Correa (Equador) e visitar a Venezuela e a Argentina -antes que
Kirchner engrosse o coro dos aliados Chávez e Fidel contra o etanol e
todos passem a criticar abertamente Lula e o Brasil. Lula tem que
correr.
Em tempo: nada como fundo americano, que compra empresa
falida de ""país em desenvolvimento", se livra do passivo e leva mais
de US$ 100 milhões em meses. Negócio da China. Quer dizer, do
Brasil.
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO – 30/03/2007
A parceria para o presente e o futuro
Clifford M. Sobel *
Algumas semanas atrás acompanhei o presidente George Bush a
São Paulo para um dia intenso de reuniões e encontros que terão um
impacto significativo para o futuro das relações EUA-Brasil. Posso
dizer que, ao final daquele dia, o presidente e a sra. Bush ficaram
plenamente satisfeitos com a visita. Eles gostaram particularmente
de se encontrar com muitos paulistanos, em especial na Associação
Meninos do Morumbi, onde conversaram (e dançaram) com muitos
jovens promissores que representam o futuro brilhante do Brasil. Em
nome do presidente e da sra. Bush, quero agradecer a todos os
paulistanos pela hospitalidade e por terem suportado as
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inconveniências causadas pela visita presidencial.
O presidente Bush foi calorosamente recebido pelo presidente
Lula e, no decorrer de um encontro bilateral prolongado, eles se
concentraram em discutir maneiras como os dois países poderiam
cooperar, não somente na questão dos biocombustíveis, mas também
nas áreas de saúde, educação e no apoio às instituições democráticas
na América Latina e no resto do mundo. Houve muita convergência
de opinião e uma troca positiva de idéias e do compromisso
compartilhado de aprofundar ainda mais os nossos vínculos, que
certamente terá continuidade durante a visita do presidente Lula a
Camp David no dia 31 de março. Essa será a primeira visita dessa
natureza de um líder latino-americano durante a Presidência de Bush.
Muito foi realizado durante a visita do presidente Bush. Primeiro,
o Memorando de Entendimento sobre biocombustíveis, assinado pela
secretária Rice e o ministro Amorim, abre caminho para um aumento
sem precedentes da cooperação bilateral em um campo que não trará
benefícios apenas para os nossos dois países, mas também tem o
potencial de transformar as economias dos países menores do
hemisfério e ajudá-los a sair da pobreza. Com incentivo ao
desenvolvimento de combustíveis limpos, podemos gerar empregos e
renda, ajudar a proteger o meio ambiente e estimular o investimento
no setor privado. A produção maior de etanol permitirá que os países
da América Latina, do Caribe e da África com pouca disponibilidade
financeira reduzam sua dependência do dispendioso petróleo
importado - liberando assim recursos para o aumento do
desenvolvimento social. Brasil e Estados Unidos, como parceiros,
estarão democratizando esse novo recurso energético transformador.
A visita do presidente Bush à América Latina enfatizou o
compromisso dos EUA de promover maior desenvolvimento
econômico e justiça social e garantir que os nossos povos colham os
benefícios da democracia. A visita ao Brasil certamente deu o tom.
Em suas conversas, os dois presidentes ressaltaram o fato de
que, na década de 1970, alguns países na América Latina trocaram a
ditadura militar pelo regime democrático. Atualmente, esses mesmos
países têm-se expressado por meio do poder do voto democrático e é
mais importante do que nunca não perder a fé de nosso povo e de
nossos vizinhos.
Resolver o impasse da Rodada Doha trará muitos benefícios para
americanos e brasileiros e os presidentes conversaram bastante
sobre isso. Esse assunto é tão importante que nossa representante
de Comércio, embaixadora Susan Schwab, permaneceu no País por
mais um dia para dar continuidade ao seu diálogo com o ministro
Amorim e os líderes empresariais locais. A resolução e o avanço do
comércio global é uma questão importante para ambos os
presidentes, e eles buscam ativamente formas de encontrar uma
solução.
No momento, estamos vivendo um período intenso neste ano de
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engajamento e diálogo, cuja soma produzirá resultados tangíveis.
Pouco antes do acordo histórico sobre biocombustíveis, assinei um
novo acordo sobre ciência e tecnologia para ampliar a cooperação
bilateral em saúde, ciência e meio ambiente. Logo após a cúpula de 9
de março, assinei um Acordo para o Intercâmbio de Informações
Relativas a Tributo com o diretor da Polícia Federal, Jorge Rachid, que
visa promover a aplicação eficaz da lei, tanto no Brasil quanto nos
Estados Unidos. Estamos na expectativa de negociar outros acordos
que poderão aumentar nosso comércio bilateral.
Na última sexta-feira, o Brasil e os Estados Unidos anunciaram a
criação de um Fórum de CEOs EUA-Brasil. Esse novo fórum bilateral
será convocado pelo Planalto e pela Casa Branca, e será co-presidido
pelo ministro de Comércio e Desenvolvimento e pelo secretário de
Comércio. O objetivo do fórum é expandir nosso relacionamento de
comércio e investimento com o Brasil.
Nosso relacionamento estratégico é de muitas formas liderado
por nossos dois presidentes. O presidente Bush e o presidente Lula
têm uma relação excelente, fundamentada pelo respeito mútuo e
amizade sincera. Esse relacionamento ditará o tom para os próximos
anos em nosso crescimento como verdadeiros parceiros.
* Clifford M. Sobel é embaixador dos Estados Unidos no Brasil
Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO – 30/03/2007
DESENVOLVIMENTO
Brasil, ainda um país de futuro
Relatório da consultoria Eurasia Group, com sede em Nova
York, mostra que estabilidade econômica e política faz do
mercado brasileiro o de melhor perspectiva de crescimento no
grupo BRICs, que engloba Rússia, Índia e China
Vicente Nunes
Enviado especial
Xangai — Desde outubro de 2003, quando o banco americano
Goldman Sachs criou o termo BRICs, grupo que reúne Brasil, Rússia,
Índia e China, apontados como as futuras potências econômicas do
mundo nos próximos 40 anos, consolidou-se a visão de que, dessas
economias, a de menor perspectiva de crescimento era a brasileira.
Pois um relatório divulgado há poucos dias pela Eurasia Group, com
sede em Nova York, joga por terra essa teoria e garante: dos quatro
países, é justamente o Brasil que agrega, hoje, o melhor conjunto de
fatores para avançar no cenário internacional.
No documento de cinco páginas, a Eurasia justifica sua posição.
“Com estabilidade econômica consolidada e estabilidade política, o
Brasil se diferencia dos demais países e passa a exigir uma atenção
especial dos investidores”. Para os analistas da consultoria, ao optar
pela disciplina fiscal, por políticas macroeconômicas favoráveis ao
livre mercado e por ter solidificado o sistema democrático, o país
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criou os alicerces necessários para crescer por anos seguidos sem
atropelos. A Eurasia alega ainda que o pragmatismo do presidente
Lula, visto como uma grande ameaça pelo capital antes de sua
eleição em 2002, é hoje uma garantia de segurança. “Felizmente,
Lula não seguiu o caminho traçado por Hugo Chávez, presidente da
Venezuela. Ao mesmo tempo em que executa políticas voltadas para
a população mais pobre, mantém uma política econômica
responsável”, sintetiza a consultoria.
A Eurasia reconhece que, para muitos, o Brasil pode parecer,
neste momento, uma aposta estranha, por ter registrado, nos últimos
anos, taxas de crescimento econômico bem abaixo da média dos
demais BRICs, ter uma carga tributária elevadíssima, próxima de
40% do Produto Interno Bruto (PIB), e por conduzir, de forma muito
lenta, o processo de reformas constitucionais tão ansiado pelos
investidores. “Mas as transformações realizadas nos últimos anos no
Brasil, com as contas externas ajustadas, saldo comercial acima de
US$ 40 bilhões por ano, expansão do crédito, inflação sob controle e
risco de calote próximo de zero, pavimentaram um futuro promissor,”
frisa a Eurasia.
É essa visão que pode explicar parte da enxurrada de dólares
que tem migrado atualmente para o país. A previsão é de que os
investimentos estrangeiros diretos, voltados para o aumento da
produção e para a geração de emprego, alcancem, neste ano, US$ 25
bilhões, o maior volume desde 2000, quando se encerrou o período
áureo das privatizações.
Anders Pettersson, presidente da Magnum Opus Consultoria,
considera essa visão tão positiva do Brasil um exagero. “Mas tenho
de reconhecer que a economia brasileira conjuga, sim, fundamentos
muito melhores do que tinha em um passado recente”, ressalta. “O
governo, porém, precisa encampar rapidamente as reformas
constitucionais, para que o país se torne mais competitivo na nova
ordem mundial”, diz Pettersson.
Educação e Previdência
Assim como o Brasil, destaca a consultoria, a democracia
também dá vantagens competitivas à Índia. O problema, frisam os
analistas da Eurasia, é que, a despeito dos avanços registrados pelo
país nos últimos anos, seus fundamentos econômicos ainda são
frágeis. Na avaliação dos especialistas, o governo indiano necessita
empreender uma ampla reforma do sistema educacional, para
melhorar o nível dos trabalhadores que, futuramente, entrarão no
mercado de trabalho.
A despeito de a Índia ser apontada como um centro de talentos
na área de Tecnologia da Informação (TI), somente 25% das
universidades locais têm condições de formar trabalhadores
capacitados para exercer funções no setor de serviços, que têm
sustentado o crescimento daquele país. “A falta de coordenação
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política para as reformas e a deficiência na infra-estrutura sugerem
que o atual crescimento econômico da Índia — em torno de 8% ao
ano — pode não se sustentar no futuro”, alerta e Eurasia.
No caso da China, mesmo com o desempenho espetacular de
sua economia nos últimos anos, com crescimento médio anual de
10%, os desafios a serem enfrentados são maiores do que os
colocados para Brasil e Índia, destacam os analistas da consultoria. A
China é extremamente dependente de matérias-primas e alimentos,
o que exigirá contratos seguros de fornecimento de longo prazo.
Essas matérias-primas estão, principalmente, na América Latina e na
África, regiões com riscos que o Partido Comunista Chinês (PCC) não
está suficientemente preparado para lidar. O maior desafio chinês,
contudo, será a abertura de suas fronteiras para idéias, informação,
fluxo de dinheiro e de serviços na velocidade que a globalização
exige. O Estado ainda é o grande senhor da economia.
A Eurasia ressalta que o atual processo de crescimento da China
já escancarou seu lado negativo: destruição acelerada do meio
ambiente, concentração de riqueza e forte migração do campo para
áreas urbanas despreparadas para absorver tamanho fluxo de
pessoas. A China terá de encarar ainda uma população idosa
crescente e carente de um sistema previdenciário consistente.
Somente para mudar o atual sistema para uma estrutura mais
eficiente, incorporando a população rural, o governo chinês terá de
gastar pelo menos US$ 100 bilhões segundo os cálculos do Fundo
Monetário Internacional. Até 2020, a China terá 265 milhões de
pessoas com mais de 65 anos.
Para a Eurasia Group, entre os BRICs, a Rússia merece uma
análise a parte. A economia russa está muito concentrada na
produção de energia, particularmente petróleo. O problema é que,
mesmo respondendo por 20% do PIB da Rússia, o setor emprega
apenas 1% da mão-de-obra do país. A falta de dinamismo da
economia russa é tamanha que as pequenas e médias empresas,
tradicionais empregadoras, representam apenas 13% do PIB. A
situação se agrava porque os investidores que poderiam bancar a
diversificação e a expansão da economia se sentem desconfortáveis
com a insegurança política do país.
Segundo a consultoria, quando assumiu o poder pela primeira
vez, em 2000, o presidente Vladimir Putin assegurou que sua
administração seria marcada pela consolidação do sistema
democrático, pela transparência, por leis consistentes e pela abertura
de mercados. Sete anos depois, praticamente nada avançou. Houve,
inclusive, retrocessos sérios nos direitos democráticos. Quando criou
o termo BRICS, o Goldman Sachs ressaltou que, para que o
crescimento de longo prazo se consolidasse e os quatro países
fossem alçados a categoria de potências, seria preciso manter
políticas e instituições sólidas. A Rússia ainda está longe de se
adequar a esse figurino.
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O repórter viajou a convite do IEL
Jornal CORREIO BRAZILIENSE - 09/04/2007
Biocombustíveis unem Brasil, Índia e África do Sul
Países
assinam
acordo
para
pesquisar
o
nanotecnologia em novos combustíveis
Jamil Chade
uso
da
Brasil, Índia e África do Sul querem aplicar os avanços da
nanotecnologia ao desenvolvimento de biocombustíveis. Neste fim de
semana, os três assinaram acordo para iniciar pesquisas sobre o uso
da tecnologia no etanol e em outros combustíveis.
O acordo, assinado na Índia, prevê que cada um dos três países
destinará US$ 1 milhão às pesquisas em um primeiro momento. Mas
os recursos podem ser ampliados caso as pesquisas mostrem
resultados. Só a Índia, por exemplo, destina quase US$ 4 bilhões por
ano para pesquisas no uso da nanotecnologia em vários segmentos.
No caso brasileiro, a esperança é que a nova tecnologia consiga
decifrar formas para tornar alguns produtos agrícolas mais
competitivos para a geração de energia. O açúcar já é considerado
como um dos produtos mais competitivos para ser transformado em
etanol. Mas com o governo americano gastando mais de US$ 200
milhões ao ano para encontrar formas mais eficientes de produzir
esse combustíveis, o governo brasileiro sabe que não pode depender
só da cana.
Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/04/2007