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Artigos CONDICIONAMENTO FÍSICO E QUALIDADE DE VIDA NA ACADEMIA DE GINÁSTICA1 Rodrigo Gomes de Souza Vale*,** , , Estélio Henrique Martin Dantas* ** *** RESUMO O condicionamento físico pode influenciar o estado de saúde, pois as mudanças do estilo de vida sugerem alterações positivas na qualidade de vida (QV) dos indivíduos. Este estudo teve como objetivo descrever o índice de qualidade de vida e o índice de condicionamento físico de clientes da Academia Capacidade Vital, na cidade de Araruama, Estado do Rio de Janeiro. Foram aplicados o questionário de 100 perguntas (WHOQOL-100) da Organização Mundial de Saúde (OMS) e testes de avaliação física, como percentual de gordura de Pollock/ jacson de sete dobras, VO2Máx de Ästrand no cicloergômetro, bem como testes de abdominal e flexão e extensão de braços de um minuto de Pollock/Wilmore e teste de flexibilidade no banco de Wells (23 cm), em 34 sujeitos de ambos os sexos (C = 34,91 ± 9,49 anos), praticantes de musculação, sendo relacionados por meio de estatística descritiva. Os resultados dos testes para os indicadores de condicionamento físico foram os seguintes: VO2Máx (C = 26,46 ± 8,73), %G (C = 20,33 ± 6,08), abdominal (C = 22,15 ± 9,96), flexão e extensão de braços (C = 21,00 ± 10,80), flexibilidade (C = 27,03 ± 7,99), e para os indicadores de qualidade de vida: domínio físico (C = 15,56 ± 2,08) e domínio psicológico (C =15,16 ± 2,17), sugerindo, assim, que a prática de uma atividade física regular interferiu beneficamente na QV da amostra. Palavras-chave: saúde, qualidade de vida, condicionamento físico. * Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana (PROCIMH), Universidade Castelo Branco, RJ (UCB-RJ), Brasil. ** Laboratório de Biociências da Motricidade Humana (LABIMH / UCB-RJ), Brasil. *** Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq. 1 Pesquisa realizada dentro das normas éticas previstas na Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 7 Introdução A busca da longevidade e da saúde vem fazendo com que muitos indivíduos se preocupem com o estilo de vida, visto que a mídia, através dos meios de comunicação de massa e também amparada pelo corpo científico, ressalta, na atualidade, a importância da prática de atividade física orientada para melhorar a qualidade de vida. A OMS considera qualidade de vida como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (WHO, 1994). WILLIAMS (2001) destaca o grande valor da atividade física moderada para obter os benefícios saudáveis nas pessoas e como importante fator de redução de risco de doenças cardíacas. WEINECK (1999) afirma ainda que “as causas destas doenças foram classificadas em um conjunto de fatores exógenos (hábitos de vida e alimentação não muito saudáveis, vícios) e endógenos (fatores de risco como alta pressão arterial, alto colesterol etc.)” inclusa em hábitos de vida está a atividade física. EVANS et al. (2001) afirmam que os efeitos dos exercícios físicos, combinados ou não com o tratamento de reposição hormonal, em mulheres no período pós-menopausa, alcançam redução de massa de gordura, sobretudo da gordura central, e melhora da ação da insulina no organismo. Segundo o ACSM (1994), “a avaliação do verdadeiro nível de aptidão do indivíduo engloba uma medida ampla de seu estado de saúde”, ou seja, é necessário mudanças de hábitos, como uma nutrição balanceada, eficiente controle do estresse, ausência de vícios e práticas de lazer, além da atividade física regular, todas envolvidas no fitness físico, para se viver com qualidade. A expectativa de vida média no Brasil está aumentando, pois, conforme o último censo, verificou-se que seu valor médio atual está em 68,6 anos, sendo 72,6 anos para as mulheres e 64,8 anos para os homens (IBGE, 2000). WEINECK (1991) declara que “a maior expectativa de vida leva a alterações degenerativas nos diferentes sistemas orgânicos, através de manifestações de desgaste naturais, progressivas, determinadas pela idade – elas se manifestam principalmente no campo vascular”; 8 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 portanto, esse desgaste pode ser retardado e minimizado com exercícios físicos regulares, observando então que a inatividade física pode ser considerada um fator de risco. Para FINCH et al. (2001), a promoção do aumento de atividade física, para indivíduos mais velhos e com sobrepeso, deve enfocar atividades que não agravem as suas limitações. O exercício físico, para POWERS e HOWLEY (2000), trata-se de prevenção primária, uma vez que, após uma revisão sistemática da literatura da década de 1990, esses autores constataram que o papel da atividade física não está relacionado à prevenção de apenas cardiopatias, mas também das doenças coronarianas e musculoesqueléticas, entre outras. Na função preventiva, VOLIANITIS et al. (2001) mencionam que o treinamento de resistência dos músculos inspiratórios melhora o desempenho cardiorrespiratório. Exercícios com pesos podem alterar a qualidade de vida (QV) das pessoas, pois também estão sendo encarados como medida preventiva, no intuito de evitar a perda de massa óssea e da massa muscular; SANTAREM (1998) afirma que “os exercícios físicos fazem parte da profilaxia da osteoporose, na juventude e na idade adulta, como também no tratamento.” VUILLERME et al. (2001) afirmam que praticantes de atividade física regular possuem melhor controle sobre a postura, o que retarda os desgastes ósseos com a idade, visto que, conforme estudos de ROOS et al. (2001), pessoas com idade mais avançada estão associadas a menores desempenhos musculares para recuperação de meniscectomia e de outras limitações funcionais; todavia, o treinamento com sobrecargas na musculação viabiliza essa reabilitação. A pesquisa de CHIEN et al. (2000) mostrou que exercícios aeróbicos de alto impacto, combinados com exercícios de intensidade moderada, aumentaram a força de quadríceps, a resistência muscular e o VO2max, sendo observado o aumento da densidade mineral óssea e o declínio da osteopenia de mulheres no período pós-menopausa; resultados semelhantes são observados em exercícios com pesos. Nesse contexto, WEINECK (1999) também afirma que “um treinamento de força associado a um treinamento de flexibilidade é muito significativo”, pois melhora a realização das tarefas comuns do dia a dia das pessoas. De acordo com WOOD et al. (2001), um programa de exercícios que incorpore treinamento cardiovascular e de resistência para adultos R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 9 mais velhos pode ser mais efetivo para a otimização dos aspectos de adaptação funcional que programas que envolvam somente um componente. Para KELL e BELL (2001), muitos benefícios da saúde estão associados a adaptações musculoesqueléticas, como “redução de fatores de risco coronarianos, aumento da densidade mineral óssea, aumento da flexibilidade, melhor tolerância a glicose e mais facilidade para completar as atividades da vida diária”. Assim, como afirma DANTAS (1997), “a busca por qualidade de vida tem sido uma constante na maioria das propostas sociais modernas”; logo, investigar como alcançar tal estágio de plenitude de vida passa a ser a meta de senso comum na sociedade; portanto, relacionar a influência da atividade física regular como fator de melhora de condicionamento físico - que, segundo ACSM (2003), é constituído da composição corporal, resistência aeróbica, força, resistência muscular localizada e flexibilidade - torna-se relevante para otimizar a qualidade de vida. Objetivo A pesquisa visa descrever o índice de qualidade de vida e o índice de condicionamento físico, sob o ponto de vista do fitness físico, de indivíduos praticantes da atividade física de musculação, não-atletas, da Academia Capacidade Vital, situada no município de Araruama, Estado do Rio de Janeiro. Metodologia Características da amostra A população pesquisada se encontra na faixa etária de 20 a 60 anos, de ambos os sexos, que praticam a atividade física de musculação entre um e quatro meses, com a média de freqüência semanal de quatro vezes. Dessa população foram selecionados, randomicamente, 34 sujeitos para integrar a pesquisa. 10 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 Procedimentos Foi utilizado o questionário da Organização Mundial de Saúde, o WHOQOL-100, para verificar a qualidade de vida, e para o condicionamento físico foram adotados o teste de flexão e extensão de braços em decúbito ventral de um minuto (POLLOCK e WILMORE, 1993), o teste abdominal de um minuto de deitar e sentar (POLLOCK e WILMORE, 1993), e o teste de flexibilidade do banco de WELLS com régua de medida posicionada no ponto de 23 cm (Canadian Standardized Test of Fitness, em POLLOCK e WILMORE, 1993). Para a capacidade cardiorrespiratória, o protocolo adotado foi de Ästrand, submáximo no cicloergômetro, e, para medir o percentual de gordura, foi realizado o protocolo de sete dobras de Jackson e Pollock. A estatística utilizada foi do tipo descritiva, para analisar os dados obtidos nos testes. A pesquisa foi realizada com o termo de participação consentida assinado por todos os sujeitos, de acordo com as normas e éticas de estudos envolvendo seres humanos previstas na Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde. Instrumentos Como instrumentos de avaliação para este estudo, foram adotados compasso de dobra cutânea (CESCORF, Brasil), paquímetro (CESCORF, Brasil), balança com estadiômetro (Filizola, Brasil), fita métrica (Graham Field, Tailândia), freqüencímetro (polar, Finlândia), esfigmomanômetro aneróide e estetoscópio (Brasil), bicicleta ergométrica mecânica da Monark (Brasil), banco de Wells (23 cm de ponto) e colchonete. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados e a discussão do presente estudo serão apresentados agrupados em três conjuntos distintos: caracterização da amostra, indicadores de condicionamento físico e análise de associação entre os indicadores de qualidade de vida e os indicadores de condicionamento físico. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 11 Caracterização da amostra Os componentes da amostra deste estudo apresentaram uma variação elevada quanto à idade, com o mínimo de 20 e o máximo de 60 anos e média de idade de C = 34,91 ± 9,49 anos, em que 68% dos testados (C = 36,22 ± 8,68 de idade) são do sexo feminino e 32% (C = 32,18 ± 10,93 de idade) do sexo masculino, caracterizando-se de forma heterogênea, mas sendo todos ativos fisicamente. Indicadores de nível de condicionamento físico Como já explicitado na introdução, condicionamento físico, segundo o ACSM (2003), é constituído de composição corporal, resistência aeróbica, força, resistência muscular localizada e flexibilidade. Foi encontrado ‘C = 20,33 ± 6,08 para o percentual de gordura (% G) geral, ‘C = 16,57 ± 5,15 para o grupo masculino (GM) e ‘C = 22,12 ± 5,74 para o grupo feminino; o volume de oxigênio máximo (VO2máx) geral obtido foi de ‘C =26,46 ± 8,73, sendo o grupo masculino com ‘C = 34,59 ± 9,19 e o feminino com ‘C = 22,58 ± 5,22, sugerindo então que, quanto maior a quantidade de gordura corporal, menor será o volume de oxigênio máximo (Figuras 1 e 2). A análise desses dados demonstra uma relação inversa entre os indicadores de % G e VO2max. Dessa forma, a inatividade física pode propiciar aumento de gordura corporal, que, por sua vez, pode proporcionar redução do consumo máximo de oxigênio, potencializando pelo somatório desses efeitos a probabilidade de aparecimento de doenças cardiovasculares (WEINECK, 1999). Acredita-se, porém, que para os sujeitos da pesquisa os exercícios regulares colaboram para evitar os riscos dessas doenças, pois, quando comparados aos padrões (Tabelas 1 e 2), os resultados estão na classificação regular e média. 12 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 Distribuição do %G 15 10 5 0 8,72 - 13,35 - 17,98 - 22,61 - 27,24 - 31,87 13,35 17,98 22,61 27,24 31,87 36,50 Figura 1 - Distribuição do % G. Distribuição de V02máx ml/Kg/min 20 10 0 14,560 - 20,824 - 27,088 - 33,352 - 39,616 - 45,880 20,824 27,088 33,352 39,616 45,880 52,144 Figura 2 – Distribuição de VO2máx. Quanto ao teste de RML na região abdominal, foi encontrado ‘C = 22,15 ± 9,96 geral, ‘C = 25,55 ± 8,24 para o GM e ‘C = 20,52 ± 10,46 para o GF, que se relaciona inversamente com o %G, visto que, quanto menor a percentagem de gordura, maior a capacidade de executar mais repetições de exercícios abdominais (Figura 3). A maior concentração de gordura central também deve dificultar a execução deste teste e, ainda, se associa a alguns problemas de saúde, como hipertensão arterial, diabetes tipo II e hiperlipidemia (MONTEIRO et al., 1999; ACSM, 2003). R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 13 Distribuição do Resultado do Teste de RML de Abdominal 10 5 0 0-8 8 16 16 - 24 24 - 32 32 - 40 Figura 3 – Distribuição do resultado do teste de RML de abdominal. Já os resultados do teste de RML de flexão e extensão de braços foram ‘C =21,00 ± 10,80 geral, ‘C = 24,09 ± 11,07 para o GM e ‘C = 19,52 ± 10,59 para o (GF), mostrando que o indivíduo desta população que apresentar uma grande capacidade de realizar exercícios abdominais também consegue fazer muitos exercícios de flexão e extensão de braços (Figura 4), em razão de o músculo abdominal proporcionar bom equilíbrio ao corpo para a execução deste teste. Estando esses níveis em média ou boa classificação (Tabelas 1 e 2), podem-se retardar as perdas de massa óssea e massa muscular (MATSUDO, 2001), como também manter ou aumentar os níveis de força e melhorar o equilíbrio e a postura (BEMBEN et al., 2000). Distribuição do Resultado do Teste de RML de Flexão e Extensão de Braços 15 10 5 0 412,2 12,2 - 20,4 - 28,6 - 36,8 20,4 28,6 36,8 45,0 Figura 4 – Distribuição do resultado do teste de RML de flexão e extensão de braços. 14 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 Foi encontrado para o teste de flexibilidade (banco de WELLS) ‘C = 27,03 ± 7,99 na amostra de forma geral (Figura 5), em que o GM obteve ‘C = 25,27 ± 8,28 e o GF ‘C = 27,87 ± 7,90; conforme comparação dos padrões internacionais (Tabelas 1 e 2), os resultados estão aceitáveis. A importância da flexibilidade, devido à sua estreita relação no contexto da qualidade de vida (ALTER, 1999), denota, segundo apontamentos do autor, uma necessidade de manter os níveis razoáveis desta qualidade física, para que se consiga melhora no desempenho da realização das atividades da vida diária (ACSM, 2003), elevando portanto os níveis de qualidade de vida, visto que a flexibilidade pode ser melhorada em qualquer idade (ROBERGS e ROBERTS, 2002). Distribuição do Teste de Flexibilidade cm 31,25 - 38,00 24,50 - 31,25 17,75 - 24,50 11,00 - 17,75 0 5 10 15 Figura 5 – Distribuição do resultado do teste de flexibilidade. As classificações por gênero dos indicadores de condicionamento físico podem ser mais bem visualizadas e comparadas a seguir, nas Tabelas 1 e 2. Tabela 1- Grupo masculino (GM) / Condicionamento Físico / Idade : ‘C = 32,18 ± 10,93 Indicadores de ⎯Χ ± Cond. Físico %G Classificação da Amostra 16,57 5,15 Médio Referência 15 - 21(ACSM) VO2Max 34,59 9,19 Médio 31 - 38 (ACSM) Flexibilidade 25,57 8,28 Regular 28 - 32 (CSTF) Valor Médio de Abdominal 25,55 8,24 Regular 27 - 30 (CSTF) Flexão Braços 24,09 11,07 Bom 17 - 21 (CSTF) R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 15 Tabela 2 - Grupo feminino (GF) / Condicionamento Físico / Idade : ‘C = 36,22 ± 8,68 Indicadores de ⎯Χ ± Classificação Valor Médio de da Amostra Referência Cond. Físico %G 22,12 5,74 Médio 21 - 29 (ACSM) VO2Max 22,58 5,22 Regular 28 - 33 (ACSM) Flexibilidade 27,87 7,9 Regular 32 - 35 (CSTF) Abdominal 20,52 10,46 Médio 20 - 23 (CSTF) Flexão Braços 19,52 10,59 Médio 13 - 19 (CSTF) Associação entre Indicadores de Qualidade de Vida e Indicadores de Condicionamento Físico O instrumento utilizado, conforme apresentado na introdução, analisa a Qualidade de Vida em seis domínios, porém, destes, foram observados apenas quatro e com maior ênfase para os domínios físico e psicológico, que estão a seguir, verificados no questionário WHOQOL100 da Organização Mundial de Saúde (1998). O domínio físico apresentou‘C =15,56 ± 2,08 (Figura 6), demonstrando resultados positivos quando mundialmente comparados com o padrão de Qualidade de Vida da OMS (índice de 14,00), pois o grupo amostral gosta de praticar atividade física e melhorar o seu bemestar através dos exercícios regulares. A amostra não apresentou índice de correlação significativo (Tabela 3) com nenhum indicador de aptidão física; contudo, só com o fato de praticar uma atividade física regular, percebeu-se que foi possível a realização das atividades da vida diária com menor esforço e viver de maneira auto-suficiente e digna (ACSM, 2003). Domínio Físico Escores 20 15 10 5 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0 Amostra Figura 6 – Domínio físico. 16 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 O domínio psicológico também mostrou efeito positivo, com ‘C = 15,16 ± 2,17 (Figura 7), acima do índice de qualidade de vida (14,00), caracterizando o alívio do estresse emocional proporcionado pela prática de exercícios físicos. Também não apresentou correlação significativa com os índices de condicionamento físico, todavia obteve correlação aceitável com o domínio físico (Tabela 3). Esse resultado é mais bem compreendido quando se observa que a quantidade de vida só tem valor quando é suportável e o objetivo de estender a vida só é viável se uma razoável qualidade de vida puder ser mantida através dos anos (SPIRDUSO, 1995). Nessa condição, o ser humano pode sofrer influências emocionais, que, segundo POLLOCK e WILMORE (1993, p. 625), “é a motivação dos participantes que determina o sucesso ou fracasso de qualquer programa de exercícios.” Esta afirmação mostra para os sujeitos da pesquisa que, por serem ativos fisicamente, eles podem alcançar modificações positivas na qualidade de vida, mesmo quando não se obtêm índices elevados de aptidão física. Escores Domínio Psicológico 20 15 10 5 0 0 10 20 30 40 Amostra Figura 7 – Domínio psicológico. O domínio das relações sociais obteve‘C = 16,23 ± 3,17, também superior ao índice de qualidade de vida citado anteriormente, demonstrando a alegria, o convívio e a interação social desta amostra, o que corrobora a citação de NAHAS (1997): “a qualidade de vida é resultante da inter-relação de fatores que modelam e diferenciam o diaa-dia dos indivíduos, sob os pontos das percepções, relacionamentos e pelas situações vivenciadas”. Sugere-se então que a atividade física R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 17 para este grupo funciona como um fator motivacional, levando à continuidade do programa de exercícios. O domínio meio ambiente foi o único que apresentou escores inferiores ao índice mundial de QV (14,00), com ‘C = 13,38 ± 2,37, pois o grupo participante da pesquisa mostrou-se descontente com questões relacionadas à poluição da natureza, principalmente a da Lagoa de Araruama, que, por deficiências de infra-estrutura, provoca redução de programas sociais, de entretenimento e diversão, que possam atender diversas faixas etárias. Poucos indivíduos da amostra apresentaram doenças ou complicações de saúde, e os que são portadores possuem o controle sobre estas. Neste estudo não se encontrou correlação expressiva entre os indicadores de condicionamento físico e de qualidade de vida, porém algumas correlações aceitáveis foram assim consideradas, como VO2max e % G, flexão e extensão de braços e abdominal, e o domínio físico e o domínio psicológico para a qualidade de vida, confirmando as questões destacadas anteriormente nesta discussão, conforme se pode visualizar e analisar na Tabela 3 a seguir. Tabela 3 - Correlação dos indicadores de qualidade de vida e condicionamento físico VO2max %G %G -0,70 1 Abdom 0,50 -0,56 Abdom Flexão Flexib Fis Psic Rel Soc Amb 1 Flexão 0,40 -0,40 0,69 1 Flexib 0,10 -0,17 0,31 0,31 1 Fis -0,10 0,12 0,11 -0,28 -0,11 1 Psic 0,03 -0,11 0,29 -0,08 -0,04 0,70 1 Rel Soc -0,06 -0,10 0,27 0,08 -0,01 0,21 0,38 1 Amb 0,00 -0,03 0,29 -0,08 0,03 0,33 0,49 0,54 1 Conclusão Esta pesquisa proporciona a visualização mais ampla dos clientes da referida academia, quanto aos aspectos que se relacionam com a busca da saúde e da qualidade de vida. 18 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 TRENAT (1998) afirma que “os idosos querem viver maior tempo possível”, o que justifica, assim, a grande procura das pessoas pelas academias de ginástica, pois procuram viver de forma mais saudável para alcançarem a longevidade. Além dessa referência, EAGAN e SEDLOCK (2001) afirmam que “mulheres que são ativas quando jovens têm maior probabilidade de serem mais ativas e fortes quando adultas mais velhas”. A preocupação de melhorar as condições do estado de saúde mostra-se evidente, mesmo que resulte em mudanças comportamentais que envolvam as dimensões do fitness físico. SANTAREM (1999) declara que “existem muitas atitudes a nível de treinamento, alimentação e suplementação que podem e devem ser tentadas para maximizar o aumento da massa muscular”; em conseqüência, a capacidade funcional das pessoas fica aumentada. Segundo os resultados encontrados, conclui-se que os indivíduos com menor percentual de gordura apresentam melhores índices de capacidade cardiorrespiratória; portanto, verifica-se a sua relação com a melhora da saúde e da qualidade de vida. Também os mesmos indivíduos supracitados possuem maior capacidade de realizar exercícios físicos, principalmente do tipo abdominal, que, por sua vez, propicia melhor aproveitamento para a execução de flexões e extensões de braços, pelo próprio equilíbrio e controle do corpo, aprimorando assim os níveis de resistência e força muscular. Para SANTAREM (1998), “o sedentarismo é a causa mais freqüente da má condição física”; dessa forma, os exercícios regulares proporcionam o desenvolvimento das qualidades físicas necessárias para otimizar a saúde. Em convergência com a citação anterior, KELL e BELL (2001) afirmam que “a manutenção das adaptações musculoesqueléticas pode aumentar totalmente a qualidade de vida”. Este estudo demonstrou que a realização de uma atividade física orientada com o intuito de melhorar o condicionamento físico, como a musculação, para os indivíduos desta amostra proporcionou e ainda proporciona um bom estado físico e psicológico, cultivando a alegria e o convívio social, aliviando o estresse e desenvolvendo a autonomia e a auto-estima, sendo necessárias, ainda, pesquisas mais profundas sobre o tema para se entender melhor as relações de condicionamento físico e qualidade de vida. R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 19 ABSTRACT PHYSICAL CONDITION AND QUALITY OF LIFE ON ACADEMY OF GYMNASTICS The physical condition can influence health status because a change on lifestyle suggests positive alternation on quality of life. The objective of this research is to describe the index of quality of life and the index of physical conditional of the clients from Academia Capacidade Vital, in Araruama, Rio de Janeiro state. It was used a questionnaire including 100 questions (WHOQOL-100) from World Health Organization and physical avaliation tests like 7 pleats Pollock/Jackson fatness percent, VO2max of Ästrand on the bicycle, abdominal tests and flexion and extension of arms during one minute of Pollock/Wilmore and flexibility test on Wells bench (23 cm), in 34 people (men and women), ‘C = 34.91 ± 9.49 years old, practice of resistance training, being compared, according to the percent of descriptive statistics. The results of the tests for the physical condition index were: for VO2max (‘C = 26.46 ± 8.73), %G (‘C = 20.33 ± 6.08), abdominal (‘C = 22.15 ± 9.96), flexion and extension of arms (‘C = 21,00 ± 10.80), flexibility (‘C = 27.03 ± 7.99), and the results for the quality of life index were: physical dominion (‘C = 15.56 ± 2.08) and psychology dominion (‘C = 15.16 ± 2.17), thus suggesting that the practice of a regular physical activity interfered advantageous on the sample of quality of life. Key words: health, quality of life, physical condition. Referências Bibliográficas ALTER, M. J. Ciência da flexibilidade. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. _________. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Prova de esforço e prescrição de exercício. Rio de Janeiro: Revinter, 1994. 20 R. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 11, n. 1, p. 7-24, 2003 _________. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. BEMBEN, Debra A.; FETTERS, Nicole L.; BEMBEN, Michael G.; NABAVI, Nima; KOH, Eunsook T. Musculoskeletal responses to high-and lowintensity resistance training in early postmenopausal women. Medicine and Science in Sports and Exercise, v. 32, n. 11, p. 1949-1957, 2000. CHIEN, M. Y., WU, Y.T, HSU, A.T., YANG, R. S. & LAI, J.S. Efficaly of a 24-week aerobic exercise program for osteopenic postmenopausal women. 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